vida só vale se for por prazer - Beija-Flor
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vida só vale se for por prazer - Beija-Flor
Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER Life is only worthwhile if lived with pleasure 2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21. Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a chegada do século 21?. Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere, indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos não buscados, aos sorrisos não compartilhados. Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta sobre o que temos feito de nossas vidas. Quantos de nós podemos olhar para trás e dizer: no novo século, fiz tantas coisas novas e diferentes, construí e realizei novos sonhos, deixei o que não prestava para trás e avancei em busca de novas conquistas e alegrias. Quantos de nós? O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes mudanças de comportamento - pode ser o estímulo para a construção de anos cada vez melhores, aproveitando cada minuto e cada momento com prazer. O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir... Hoje é carnaval. Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar, cantar.... E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para nos oferecer alegres e descontraídos momentos de alegria e prazer. Então não perca essa oportunidade! Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite! Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só vale se for por prazer”. 2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year of the first decade of the twenty-first century. How many of us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life, indifferent to plans not materialized, dreams not pursued, smiles not shared. For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year for reflection on what we’ve been doing with our lives. How many of us can look back and say: in the new century Neide Tamborim I’ve done many new things, constructed and realized new dreams, left behind the bad and advanced in search of new conquests and happiness. How many of us can say this? The year that has already started – marking the end of a decade that was filled with important changes in behavior – can stimulate us to build better lives, by taking advantage of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming, smiling .... Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”. Fevereiro 2010 Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER Life is only worthwhile if lived with pleasure 2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21. Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a chegada do século 21?. Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere, indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos não buscados, aos sorrisos não compartilhados. Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta sobre o que temos feito de nossas vidas. Quantos de nós podemos olhar para trás e dizer: no novo século, fiz tantas coisas novas e diferentes, construí e realizei novos sonhos, deixei o que não prestava para trás e avancei em busca de novas conquistas e alegrias. Quantos de nós? O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes mudanças de comportamento - pode ser o estímulo para a construção de anos cada vez melhores, aproveitando cada minuto e cada momento com prazer. O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir... Hoje é carnaval. Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar, cantar.... E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para nos oferecer alegres e descontraídos momentos de alegria e prazer. Então não perca essa oportunidade! Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite! Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só vale se for por prazer”. 2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year of the first decade of the twenty-first century. How many of us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life, indifferent to plans not materialized, dreams not pursued, smiles not shared. For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year for reflection on what we’ve been doing with our lives. How many of us can look back and say: in the new century Neide Tamborim I’ve done many new things, constructed and realized new dreams, left behind the bad and advanced in search of new conquests and happiness. How many of us can say this? The year that has already started – marking the end of a decade that was filled with important changes in behavior – can stimulate us to build better lives, by taking advantage of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming, smiling .... Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”. Fevereiro 2010 Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER Life is only worthwhile if lived with pleasure 2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21. Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a chegada do século 21?. Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere, indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos não buscados, aos sorrisos não compartilhados. Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta sobre o que temos feito de nossas vidas. Quantos de nós podemos olhar para trás e dizer: no novo século, fiz tantas coisas novas e diferentes, construí e realizei novos sonhos, deixei o que não prestava para trás e avancei em busca de novas conquistas e alegrias. Quantos de nós? O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes mudanças de comportamento - pode ser o estímulo para a construção de anos cada vez melhores, aproveitando cada minuto e cada momento com prazer. O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir... Hoje é carnaval. Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar, cantar.... E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para nos oferecer alegres e descontraídos momentos de alegria e prazer. Então não perca essa oportunidade! Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite! Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só vale se for por prazer”. 2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year of the first decade of the twenty-first century. How many of us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life, indifferent to plans not materialized, dreams not pursued, smiles not shared. For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year for reflection on what we’ve been doing with our lives. How many of us can look back and say: in the new century Neide Tamborim I’ve done many new things, constructed and realized new dreams, left behind the bad and advanced in search of new conquests and happiness. How many of us can say this? The year that has already started – marking the end of a decade that was filled with important changes in behavior – can stimulate us to build better lives, by taking advantage of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming, smiling .... Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”. Fevereiro 2010 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Fevereiro 2010 A ALMA DO BRASIL ANIZIO ABRÃO DAVID Uma escola de samba não é um agrupamento de pessoas isolado da sociedade. Ao contrário: seu movimento de vida é realizado por pessoas que, com seus sonhos, observações e motivações, interagem com a sociedade, no trabalho, junto à família, e nos momentos de lazer e entretenimento, trocando informações, influenciando e sendo influenciado a cada momento de suas vidas. Nesse sentido, cabe à administração da escola de samba entender seus integrantes e o que esperam da agremiação a qual fazem parte, para que haja uma identificação de propósitos que culminem em um convívio pacífico e produtivo. Além do cuidado que a diretoria da Beija-Flor de Nilópolis dedica a cada componente - uma das marcas da nossa escola -, a definição de enredos que se identifiquem com o pensamento de seus integrantes é uma importante receita para uma convivência harmônica. Nesse sentido, se voltarmos o olhar para o passado da azul e branco de Nilópolis, vamos observar uma forte tendência em desenvolver enredos que retratam a força e capacidade do país e do seu povo. “Riquezas áureas do Brasil”, “Café, riqueza do Brasil”, “Exaltação a José de Alencar”, “Rio, quatro séculos de glória”, “O Gigante em Berço Esplendido”, “Bidu Sayão e o Canto de Cristal”, “Aurora do Povo Brasileiro”, “Macapaba” e, agora, “Brasília”, entre tantos outros enredos inesquecíveis, é a constatação dessa afirmação. Revista Beija-Flor de Nilópolis Uma escola de samba não é um agrupamento de pessoas isolado da sociedade. Somos uma célula viva, atuante e atenta. Por essa razão, a escolha desses enredos: porque acreditamos verdadeiramente - diretoria e componentes - na força do povo brasileiro e no seu potencial de realização. Recentemente, após a crise financeira que abalou o mercado mundial, os olhos dos especialistas se voltaram para o Brasil. O desafio, temperado com pitadas de surpresa, era entender porque nosso país não ruiu com a crise. Mais ainda, como foi possível o Brasil sair da crise com tanta rapidez. Naturalmente, existem as explicações acadêmicas, dadas por sociólogos, economistas, jornalistas, e outros “istas”. Cada um deles, no entanto, apesar de dar ênfase à sua especialidade de conhecimento, são unânimes em afirmar que o elemento primordial dessa realidade foi o papel exercido por cada brasileiro. A grande descoberta desses experts é um segredo já desvendado pela Beija-Flor de Nilópolis há muito tempo: a força de um país reside no seu povo. Daí porque, desde os nossos primeiros desfiles retratamos a força e capacidade do Brasil e do seu povo. E é em homenagem a esse povo, que fez e faz o Brasil que desejamos a todos um ótimo espetáculo. www.beija-flor.com.br THE SOUL OF BRAZIL A samba school isn’t a group of people isolated from society. On the contrary: it’s a living organism made up of people that, with their dreams, observations and motivations, interact with society, at work, with their families and in their moments of leisure and entertainment, exchanging information, influencing and being influenced by others at each moment of their lives. In this sense, the directors of a samba school must understand its members and what they want, so there will be unity of purpose culminating in a harmonious and productive effort. Besides the care that the directors of Beija-Flor dedicate to each member – one of Beija-Flor’s “registered trademarks” – the definition of carnival themes that are in line with the members’ thinking is an important ingredient for a harmonious effort. Recently, after the financial crisis that rocked the international market, the eyes of specialists have returned to Brazil. The challenge, tempered with a pinch of surprise, was to understand why our country weathered the crisis so well, and emerged from it so quickly. Naturally there are academic explanations, given by sociologists, economists, journalists and other “ists”. All of them – though each focusing on his or her own specialized knowledge – are unanimous that the basic reason for this was the role exercised by the Brazilian people. The great discovery of these experts is a secret long ago realized by Beija-Flor: a country’s strength resides in its people. This is why since our first carnival parades we’ve depicted the strength and capability of Brazil and its people. And in homage to these people, who make Brazil what it is, we dedicate our efforts to put on another in a long line of spectacular shows. We need only take a backward look at the blue and white crew from Nilópolis to find a pronounced tendency to develop themes that reflect the strength and capability of Brazil and its people. “Golden Riches of Brazil”, “Coffee, Wealth of Brazil”, “Exaltation to José de Alencar”, “Rio, Four Centuries of Glory”, “A Giant in a Splendid Cradle”, “Bidu Sayão and the Voice of Crystal”, “Aurora of the Brazilian People”, “Macapaba” and now “Brasília”, among so many other unforgettable carnival themes, serve as proof to this claim. A samba school isn’t a group of people isolated from society. We’re a living cell, active and aware. This explains the choice of these themes: because we really believe – the directors and members – in the force of the Brazilian people and their potential for achievement. Fevereiro 2010 A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e produzido pela WideBrasil Comunicação Integrada. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Fevereiro de 2010 - Tiragem: 60 mil exemplares www.widebrasil.com e-mail: [email protected] Produção WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO E EDITORA www.widebrasil.com Editores Ricardo Da Fonseca Hilton Abi-Rihan Jornalista Responsável Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR Redação Ana Caroline Chaves, Débora Zampier, Hilton Abi-Rihan, Íris Ágatha, Miro Lopes, Renata Leal, Thais Medeiros, Ricardo Da Fonseca e Vicente Dattoli. Transcrição de áudio Macarena Iranzo Thais Medeiros Projeto Gráfico R. Gatto Edição e Tratamento de Imagens Francisco Ragna Junior Recorte de Imagens Francisco Ragna Junior Ramon Gonzaga Agradecimentos Álvaro Caetano (Alvinho), Ana Saraiva, Augusto Ivan, Bianca Behrends, Djalma Sabiá, Elmo José dos Santos, Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Hiram Araújo, Jorge Coutinho, Luciana Luz, Márcia Sant’Anna, Maria Augusta Rodrigues, Moacyr Luz, Monarco, Perfeito Fortuna, Plínio Fróes, Rubem Confete, Ubiratan Silva e Vó Nadyr. Capa Brasília e Beija-Flor de Nilópolis: Dois Gigantes na Avenida. Criação da capa: R. Gatto Fotos: Carnaval (Henrique Matos e Augusto Pedoni) e Brasília (Luiz Trazzi Martins) SUMÁRIO Hoje é o nosso dia Samba carioca - Patrimônio Cultural Brasileiro Entrevista com Márcia Sant’Anna, Iphan Revisão de Texto Anizio, o amigo do samba Marco Antonio Nicolau Será o fim da ala das baianas? Versão para o Inglês Guy Fulkerson Brasília: uma jovem senhora com muita história para Versão para o Francês (digital) contar Melina Lobo Carnaval 2010. Recriando a capital federal Versão para o Japonês (digital) Carnaval 2010 Naomi Kumamoto Laíla: 50 anos de carnaval Fotografia Augusto Pedoni, Edgar Rocha, Henrique Matos, Irapuã Gabriel David: sangue bom nas pistas e na avenida Jeferson, Luiz Pinheiro, Luiz Santos, Luiz Trazzi Martins, Ricardo Da Fonseca e Robson Barreto. 08 26 30 36 38 40 44 49 74 84 Ilustração Moacyr Luz Amorim Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br VOCAÇÕES Novamente nossos corações aceleram e ganham o mesmo ritmo dos pés e a força de nossos tambores. Voltar à Sapucaí é, para a Beija-Flor, reencontrar sua maior vocação, que é transformar suor, trabalho e dedicação em arte, cultura e folia. Cada membro da grande família Beija-Flor trabalhou muito para tornar possível esse momento, de significado tão grandioso. Quando os mestres Rodney, Plínio e Binho sacudirem a passarela do samba com nossa bateria, teremos a certeza de que cada ritmista estará apresentando seu maior talento, como em um momento único em sua vida. Ser uma família é algo muito maior do que ser uma equipe ou uma torcida, e por isso a Beija-Flor é grandiosa e estende-se por toda a nação. Este ano nosso encantamento é ainda mais especial, pois vamos homenagear o cinquentenário do coração desse país. Nossa capital, de arquitetura arrojada e cultura tão extensa, dá o norte de nosso desfile em 2010. Recebemos o apoio do poder público em suas três esferas, como também a representação de nossa comunidade, unida pela realização de um espetáculo de qualidade, que fortalece e consolida, principalmente, a vocação do Brasil de realizar e sediar eventos de grande porte. O país, que será o foco da atenção de olhos do mundo inteiro na realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, demonstra sua capacidade de organização e profissionalismo na perfeição do maior espetáculo cultural da Terra: O Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Temos a convicção de que continuaremos conquistando novos espaços no cenário mundial, pois esta é também nossa aptidão. Por isso, a Beija-Flor de Nilópolis agradece a todos os seus membros por lutar com afinco por sua verdadeira vocação, por se empenhar em transformar todas as adversidades em conquistas e todos os desafios em vitórias. Tenho muito orgulho de, ao lado de meu irmão e nosso grande Patrono Anizio, ser mais um elemento nessa massa que carrega nas veias o DNA da família Beija-Flor. VOCATIONS Once again our hearts speed up, beating with the same rhythm as our feet and force of our drums. For Beija-Flor, returning to Sapucaí Avenue is like reencountering its greatest vocation, which is to transform sweat, work and dedication into art, culture and merrymaking. Each member of the great Beija-Flor family has worked hard to make such a significant moment as this possible. When masters Rodney, Plínio and Binho vibrate the Sambadrome with our percussion unit, we’re sure that each member will be presenting his best talent, as if his life depended on it. Being a family is much more than being a team or a group of fans. This is why Beija-Flor is so grand and extends throughout the nation. This year, our enchantment is even more special, because we’re going to pay homage to the fiftieth anniversary of our nation’s heart: Our Capital, with its daring architecture and varied culture, is our parade theme in 2010. We’ve received support from the public sector at all three levels, but particularly from the efforts of our community, which is united in putting on this spectacular show, one that strengthens and consolidates Brazil’s vocation of producing and hosting big events. The country on which the world’s eyes will focus during the 2014 World Cup and 2016 Olympic Games already demonstrates its capacity for organization Farid Abrão and professionalism with the perfection of the greatest cultural spectacle on earth: The Parade of the Samba Schools of Rio de Janeiro. We know we will continue conquering new space on the global stage, because it’s in our blood. For this reason, Beija-Flor of Nilópolis thanks all its members and fans for their dedication to our true vocation, transforming adversities into conquests and challenges into victories. I’m proud to be, along with my brother and our great patron, Anísio, one more element in this mass that carries in its veins the DNA of the Beija-Flor family. Fevereiro 2010 E J HO ! a i d o s s o n o é Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br ANA CAROLINE CHAVES O Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis é a prova de que uma escola de samba pode fazer mais do que música pela comunidade. Seus projetos sociais auxiliam na formação de crianças e jovens, na busca de um futuro melhor e ajudam-nos a acreditar no potencial que existe em cada um deles. Concebidos e estruturados por Anizio Abrão David, presidente de honra da Beija-Flor, eles encontram no patrono a força necessária para servirem de exemplo para todo o Brasil. CRECHE JÚLIA ABRÃO DAVID Inaugurada em 09 de maio de 1980, a Creche Júlia Abrão David completa mais um ano de ótimos resultados. O projeto educacional que começou com 60 crianças hoje possui cerca de 280 alunos matriculados. A escola foi planejada para ter toda a infraestrutura necessária visando oferecer o melhor aos pequenos e contribuir com eles no seu desenvolvimento para que se tornem cidadãos mais aptos a aproveitar as oportunidades que a sociedade oferece. Nomeada em homenagem à matriarca da Família Abrão David – D. Júlia, mãe dos irmãos Nelson, Anizio e Farid –, a creche encontra em Anizio um porto seguro para sua existência. Para participar do projeto educacional da Beija-Flor de Nilópolis a família das crianças deve comprovar uma renda de até três salários mínimos e as crianças devem ter entre seis meses e seis anos de idade. Para Maria de Lourdes Goulart, diretora geral desde a inauguração, a proposta da creche é ser uma extensão do lar dessas famílias: “A partir do momento que uma mãe entrega essa criança aqui na creche, ela tem que ter o melhor. Tratamos delas com muito carinho e amor, e seus pais sabem disso”, afirma a diretora. A creche funciona em regime de semi-internato e os alunos são divididos em três turmas: Berçário (dos seis meses aos 3 anos), Jardim I (dos três aos quatro anos) e Jardim II (dos quatro aos seis anos). Para que todos tenham conforto, as atividades das crianças são divididas em turnos. Enquanto parte dos alunos estuda pela manhã, os outros participam de atividades no pátio. Depois as turmas se invertem. Na creche, as crianças também encontram o suporte que necessitam para manterem uma vida saudável: são quatro refeições diárias, além de assistência médica e odontológica – essa realizada no consultório odontológico instalado no local. A sede da creche conta, ainda, com berçário, salas de aula, salas de atividades e de vídeo, dormitórios, TODAY is our day! ANA CAROLINE CHAVES Beija-Flor (or Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, as it is officially known) does more than make music for the community. Its social projects help provide a better future for children and youths by giving them a chance to realize their potential. Conceived and structured by Anízio Abrão David, Beija-Flor’s president of honor, these projects find in their patron the force necessary to serve as examples for all of Brazil. Júlia Abrão David Daycare Center Opened on May 9, 1980, the Júlia Abrão David Daycare Center has completed another year of outstanding results. An educational project that started with 60 children now has some 280 kids enrolled. The center was planned with the full infrastructure necessary to help the little ones develop into useful citizens more able to seize the opportunities that society offers. Named in honor of the Abrão David family matriarch – the mother of Nelson, Anízio and Farid – the center finds safe harbor in the hands of Anízio. To participate in this educational project of Beija-Flor, the children must be between six months and six years old and their families must have an income of no more than three times the minimum monthly wage. For Maria de Lourdes Goulart, general director since the start, the idea is to make the center an extension of home for these families: “From the moment mothers deliver their children here, the little ones receive the best we can give. We treat them with tenderness and love, and their parents know this,” she says. The center functions all day and the children are divided into three groups: “Nursery” (from six months to three years old), Kindergarten I (three and four years old) and Kindergarten II (from four to six years old). The kids’ activities are divided into two schedules. While part of them study in the morning, others participate in activities in the play yard. Afterward the activities invert. Besides learning and play, the kids find the support they need for healthy lives: there are three meals and a snack every day and medical and dental assistance, the latter provided in a dental office on site. Fevereiro 2010 refeitórios, cozinha industrial e um espaço verde. Tudo para oferecer às crianças e às famílias uma oportunidade de crescer e se desenvolver em um ambiente de cooperação e incentivo. Também participam da creche alunos de municípios vizinhos, como Queimados, São João de Meriti, Anchieta, dentre outros. O importante é dar o suporte necessário para que as crianças cresçam em um ambiente saudável e estimulador. Na equipe de profissionais, babás, psicólogos, assistentes sociais, dentistas, faxineiros, cozinheiros, auxiliares de cozinha, secretárias, porteiros, todos por uma infraestrutura impecável. “Existe uma união entre todos que trabalham no projeto para que as crianças recebam o que merecem. E isso é inovador. E sempre foi inovador, desde que fundamos a casa. Aqui todos trabalham com amor e comprometimento”, conta a diretora. A paixão pela creche transparece ainda mais em Maria de Lourdes quando fala de seus alunos: “Ninguém é mais verdadeiro que uma criança. Eles não mascaram seus sentimentos, nem suas intenções. São verdadeiras e diretas. Fazem questão de escrever ou dizer ‘eu te amo’ quando sentem isso. É comum chegarmos à creche e sermos abordados por alguma criança 10 Revista Beija-Flor de Nilópolis The daycare building also contains a nursery, classrooms, activity and video rooms, a nap room, cafeteria and kitchen, and there’s a grassed courtyard outside – everything to offer the children and their families an opportunity to grow and develop in a setting of cooperation and encouragement. Besides Nilópolis, the center takes kids from adjacent municipalities, such as Queimados, São João de Meriti and Anchieta, among others. The important point is to give the support necessary for the kids to grow in a healthful and stimulating environment. There’s a full staff of babysitters, psychologists, social assistants, dentists, cooks, kitchen helpers, secretaries and doormen, to serve all the kids’ needs in an impeccable facility. “Everyone who works in the project is united so that the kids receive what they deserve. And this is innovative. It always has been innovative, since we founded the center. Here everyone works with love and commitment,” explains the director. Maria de Lourdes’ passion for the center shines even more when she speaks of her young charges: “Nobody is truer than a child. They don’t mask their feelings or intentions. They’re truthful and direct: they make a point of writing or saying ‘I love you’ when they feel this way. We often are greeted by a smiling child saying ‘hi teacher, I missed you.’ Little things like this that we experience daily have no price,” she concludes. Abrão David School Children grow and projects evolve with them. When they reach the age of seven, the students from the Júlia Abrão David Daycare Center are automatically transferred to the Abrão David School. Opened on February 19, 1987, the facility is intended to complete the crèche’s work by continuing the pedagogic concepts, in a rich educational environment where the students not only learn in classroom subjects, but www.beija-flor.com.br que, sorridente, nos dirige a palavra dizendo: ‘oi tia, senti saudade’. Acontecimentos como esse, que vivenciamos no nosso dia a dia, não tem preço”, conclui emocionada. EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID As crianças crescem e os projetos evoluem. Ao completarem seis anos, todos os alunos da Creche Júlia Abrão David são transferidos automaticamente para o Educandário Abrão David. Inaugurado em 19 de fevereiro de 1987, o projeto veio para complementar o trabalho da creche e resgatar conceitos pedagógicos, como continuidade da vida acadêmica dentro e fora da escola, compreensão profunda dos assuntos abordados em sala, autodesenvolvimento e entendimento dos diferentes perfis de cada um. Do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental, os alunos recebem aulas de matemática e português, e até informática e civilidade. A proposta do educandário é ter um ensino de qualidade que prepare os jovens para o mercado de trabalho. Alunos de outras comunidades também podem entrar na escola e buscar lá um caminho de aprendizagem. Maria de Lourdes Goulart, também diretora geral, ressalta que o apoio e orientação às famílias continuam no educandário, além de todos os serviços prestados na creche. A escola não se fixa apenas ao ensino formal e oficial; funciona também como incentivadora de cultura e comportamentos. Em datas comemorativas, apresentações, pesquisas e trabalhos são fornecidos para que a comunidade se integre. “No desfile de escolas de sete de setembro, tivemos o maior contingente de alunos desfilando, mais de 1.700, pois juntamos as crianças da creche e os jovens do educandário. As autoridades nos aplaudiram de pé. Não podia ficar mais feliz”, diz Maria de Lourdes. Com uma biblioteca variada e um laboratório de informática, o educandário oferece uma estrutura para que seus alunos aprendam a viver com dignidade e construam uma personalidade responsável e com conhecimento para terem um also learn how to develop themselves and understand their individual profiles. From the first through the ninth grades, the students are schooled in the full range of subjects, such as math, Portuguese, civics and informatics. The proposal is to provide an excellent education to prepare young people for the job market. Students from other communities can also attend the school. Maria de Lourdes Goulart, the general director of the school as well, stresses that support and orientation to the families continues at the school, along with all the other services provided at the daycare center. The school offers more than just the required basic curriculum. It also encourages culture and good citizenship. On commemorative dates, the studies and works are formulated so the whole community can interact. “In the school parade on September Seventh [Independence Day], we have the largest contingent marching, over 1,700, because we combine the kids from the daycare center with the pupils from the school. The authorities give us a standing ovation, and I couldn’t be happier,” says Maria de Lourdes. With a varied library and computer room, the school offers a structure so its students can learn to live with dignity and become responsible adults, with the knowledge necessary for a brighter future. This is why professionals like Maria de Lourdes have worked so many years on the project. “The students are a large Fevereiro 2010 11 futuro melhor. É por isso e para isso que profissionais como Maria de Lourdes trabalham tantos anos no projeto. “Os alunos são muito da minha razão de viver. Eles me fortalecem e me confortam. Enchem-me de esperança quando vejo aqueles olhinhos vidrados no aprendizado, esperançosos para construir uma vida feliz para eles e seus familiares... Estar aqui é uma verdadeira lição de vida”, afirma a diretora. CENTRO DE ATENDIMENTO COMUNITÁRIO NELSON ABRÃO DAVID Os projetos do Grêmio Recreativo de Nilópolis não param por aí. O Centro de Atendimento Comunitário (CAC) Nelson Abrão David surgiu em 3 de agosto de 1991 para dar uma especialização aos jovens da comunidade e de adjacências. Anizio pode com este projeto ajudar centenas de adolescentes a saírem das ruas e terem a chance de um futuro melhor. Aroldo Carlos da Silva, coordenador do projeto desde sua abertura, reconhece o valor que a família Abrão David dá para o trabalho: “Em todos os lugares do Brasil, vamos encontrar necessidades a serem tratadas. Infelizmente, nem todos serão atendidos pelo poder público, principal responsável por dar aos nossos jovens as oportunidades que necessitam. Por outro lado, existem pessoas, como o Anizio, que está atento a essa questão, e se vê em condições de fazer alguma coisa. Anizio e a família Abrão David nos ajudam de diversas maneiras a fazer e dar continuidade a um trabalho sério que tem dado bons resultados desde que foi criado.” Com cursos gratuitos, o CAC tem uma diversidade de cursos profissionalizantes nos horários da manhã ou da tarde. Para ingressar neles, os alunos devem ter mais de 16 anos de idade e comprovar que estudam na rede pública. O processo de seleção é específico de cada curso, uma vez que cada curso tem como foco atender as demandas do mercado de trabalho, uma demanda que é específica de cada atividade: umas precisam de um determinado nível de escolaridade mínimo para a participação, outros não... Cada caso é um caso. No entanto, o ponto em comum dos cursos é que todos são ministrados por profissionais altamente qualificados. Alguns cursos funcionam em parceria com grandes empresas e instituições. O CAC possui, por exemplo, convênio com o SENAC (Serviço de Aprendizagem Comercial) para cursos de qualificação comercial (informática, telemarketing, atendimento ao cliente, administração) e cursos voltados para a área carnavalesca (adereços, fan- 12 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br part of my reason for living. They strengthen and comfort me. I fill with pride when I see those attentive little eyes, looking forward to building a happy future for themselves and their families…Being here is a veritable lesson in life,” she states. Nelson Abrão David Community Center The projects of Beija-Flor of Nilópolis don’t end there. The Nelson Abrão David Community Service Center was opened on August 3, 1991 to provide specialized job training for youths from the community and surrounding areas. Through this project, Anízio helps hundreds of teens and young adults to have a chance for a brighter future. Aroldo Carlos da Silva, coordinator of the project since its founding, recognizes the value the Abrão David family attaches to the work: “Everywhere in Brazil there are needs to be dealt with. Unfortunately, not all of them are met by the public authorities, despite the main role that government plays in giving our young people the opportunities they need. On the other hand, there are people like Anízio who are aware of this need, and have the means to do something. Anízio and the Abrão David family help us, in various ways, to give continuity to a serious effort that has been producing good results from the outset.” The community center has a variety of free job training courses, in the mornings and afternoons. To attend, the students must be 16 years old and prove they study in a public school. The selection process is specific for each course, since each one has a different focus depending on the profession taught: some require a certain level of schooling and others don’t. All the courses are taught by highly qualified instructors. Some of the courses are given in partnership with large companies and training institutions. For example, the community center has a working arrangement with the Commercial Training Service (SENAC) to give certain commercial courses (informatics, telemarketing, customer service, administration) and courses focused on carnival (regalia and costume making, metalworking and woodworking). Besides these, in 2010 Tigre, a company that makes pipes and connections, will join the project, sponsoring industrial qualification courses (plumbing and basic sanitation, among others). Another important aspect is that many students can’t afford the cost of transportation and eating outside the home. For this reason, the Nelson Abrão David Community Center offers a meal and bus coupons to enable the Fevereiro 2010 13 tasias, serralheria e marcenaria). Além desses, está previsto que, em 2010, a Tigre, empresa de tubos e conexões, também se filiará ao projeto com cursos de qualificação industrial (hidráulica e saneamento básico, dentre outros). Outro aspecto importante da relação do CAC com os alunos é que a administração entende que muitos alunos não possuem condições para arcarem com os custos de uma alimentação fora de casa ou para o transporte até o CAC. Por isso, o Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David oferece para os alunos inscritos nos seus cursos refeição e transporte, tudo para lhes fornecer o necessário para se manterem nos cursos. Ele conta que o projeto vai além: pesquisa e realiza contatos com diversas empresas buscando algum tipo de apoio a esses futuros profissionais, auxiliando, assim, os estudantes a ingressarem no mercado de trabalho. “Muitos dos nossos alunos – especificamente os que fizeram os cursos de adereços, fantasias, serralheria e marcenaria - são aproveitados pela própria BeijaFlor de Nilópolis”, confidencia. “Todo esse trabalho tem efeitos transformadores. Um jovem orientado, capacitado profissionalmente e com um emprego está em condições de dar início à sua vida econômica, podendo comprar um presentinho para a namorada ou para a mãe, além de poder investir em si mesmo, comprando um livro, fazendo outros cursos fora do CAC. Além disso, empregados, esses jovens que ainda não precisam sustentar uma nova família, em boa parte das vezes acabam ajudando seus familiares na divisão das despesas de casa... Todos esses benefícios – os diretos e os indiretos – são bem compreendidos pelo nosso povo de Nilópolis e da baixada. Eles reconhecem nosso trabalho e muitos dos alunos – até mesmo seus pais – depois dos cursos voltam ao CAC para agradecer a ajuda que tiveram”, conclui Anizio. PROJETO “O SONHO DE UM BEIJA-FLOR” Transformar sonhos em realidade é a expressão que define o objetivo do projeto “O Sonho de um BeijaFlor”. Também é uma atividade de inserção social e educativa realizada pela escola de samba, onde os alunos recebem aulas de Jiu-Jitsu, tênis de mesa, futebol, natação, dança, dentre outras. Atualmente, 700 crianças participam do projeto, que espera alcançar dois mil alunos até o final de 2010. Com as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e a parceria com a Petrobras, novos cursos serão implantados como vôlei, basquete, handball, karatê e judô. O que o projeto propõe é valorizar o potencial dessas crianças e jovens, reconhecendo seus talentos e fazer que eles acreditem que seus sonhos são possíveis de se tornarem realidade, desde que se empenhem nisso. students to attend. The center’s administration also makes regular contacts with companies to learn the specific skills in demand and the latest job market trends, and to help place the graduates in good jobs. “Many of our students – specifically those who complete the courses in regalia and costume making, metalworking and woodworking – are hired by Beija-Flor itself,” says Aroldo. “All this work has transforming effects: a young person with the proper guidance, professional skills and a job is ready to start his economic life, can afford to buy a present for his girlfriend or mother, besides being able to invest in himself, by buying a book or taking other courses elsewhere. Even though most of these youths don’t yet need to support a new family, they often help their parents by sharing household expenses.... All these benefits – the direct and indirect ones – are understood by our people in Nilópolis and surrounding communities. They recognize our work and many of the students – and even their parents – return to the center afterward to thank us for the help,” concludes Anizio. The “O Sonho de um Beija-Flor” Project Transforming dreams into reality is the motto that defines the objective of the project called “O Sonho de um Beija-Flor” (“A Hummingbird’s Dream” – beija-flor means hummingbird). It’s also an activity for education and social inclusion carried out by the samba school, where the students take classes in jiu-jitsu, table tennis, soccer, swimming and dance, among others. Currently 700 children take part in the project, which is planned to expand to 2,000 kids by the end of 2010. With Rio de Janeiro having been chosen to host the 2016 Olympics, Petrobras has provided funding for new classes, such as volleyball, basketball, handball, karate and judo. The project proposes to enhance the potential of these kids and teens, recognizing their talents and making them believe their dreams can come true if they work for it. Jiu-Jitsu The jiu-jitsu classes have been given since 2006 in the multi-sports court of Beija-Flor. They are taught by black belt Elan Santiago, who has worked with teams from the United States and Korea: “The jiu-jitsu classes are given in two periods, so the kids and youths can participate depending on each one’s school schedule. Today we have around 200 JIU-JITSU As aulas de Jiu-Jitsu são realizadas desde 2006 na quadra de esportes da agremiação de Nilópolis, e ministradas pelo faixa preta Elan Santiago, que já trabalhou com equipes dos EUA e da Coreia: “As aulas de Jiu-Jitsu são realizadas em dois turnos, para poder atender o contingente de crianças e jovens que nos procuram e de acordo com o horário escolar de cada aluno. Hoje estamos com cerca de 200 alunos matriculados. O perfil atual dos alunos é formado por crianças e jovens da região que possuem de seis até 17 anos, mas que comprovem estar estudando. Não abrimos mão disso; afinal, nossa proposta é que esses pequenos beija-flores voem alto, para alcançarem todos os sonhos de conquista e felicidade. E o estudo, na escola, é tão importante quanto o esporte aqui na Beija-Flor para esse grande voo“, reflete Elan. Considerada uma das “meninas dos olhos” do patrono da escola, Anizio Abrão David, de todas as atividades esportivas da Beija-Flor de Nilópolis o Jiu-Jitsu é a que mais tem se empenhado em participar e disputar competições. É, por isso, a que mais tem trazido medalhas e títulos para casa. Desde o início das atividades foram mais de 150 medalhas, entre ouro, prata e bronze: “Em 2009 participamos de diversas disputas fora de casa. As mais importantes foram o campeonato brasileiro e o estadual de Jiu-Jitsu, além da competição organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No campeonato brasileiro, a equipe da Beija-Flor de Nilópolis foi representada por 24 atletas, que conquistaram sete medalhas de ouro, doze de prata e uma de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. No campeonato estadual, 26 atletas nossos participaram, levando para casa nove medalhas de ouro, três de prata e três de bronze, e conquistando o 3º lugar por equipe. Na competição organizada pelo Raphael, filho do nosso amigo Hilton Abi-Rihan, conquistamos doze medalhas de ouro, oito de prata e cinco de bronze, com a participação de 38 atletas. Nesse campeonato, onde todas as grandes academias de Jiu-Jitsu do Rio de Janeiro participam, conquistamos o 5º lugar por equipe”, conta orgulhoso o mestre Elan. Mas se engana quem acha que essa garotada e seus instrutores estão exclusivamente pensando em títulos e medalhas. Segundo Elan, “a proposta será sempre passar para essa criançada que eles devem enfrentar seus desafios e lutar, com respeito e equilíbrio, para alcançar os resultados que querem obter, seja onde for.” students enrolled. The current profile is kids from the region aged six to seventeen years old. They also must prove they have good school attendance. We don’t overlook this point, because our aim is for these young ‘hummingbirds’ to fly high, to realize their dreams and be happy. And studying in school is just as important for this flight as sports here at Beija-Flor,” says Elan. Considered one of the “apples of the eye” of the BeijaFlor’s patron, Anizio Abrão David, of all the sports activities, jiu-jitsu is the one where the students most participate in competitions. For this reason, it’s the sport in which the program’s students have brought home the most medals and titles: since its start, over 150 gold, silver and bronze medals. “In 2009 we took part in various competitions. The most important were the national and state jiu-jitsu championships and the competition organized by the athlete Raphael Abi-Rihan. In the Brazilian championship, Beija-Flor’s team consisted of 24 athletes and they won seven gold medals, twelve silvers and one bronze, putting the team in third place. In the state championship, 26 of our athletes participated, bringing home nine gold, three silver and three bronze medals, again putting the team in third place. And in the meet organized by Raphael, the son of our longtime friend Hilton Abi-Rihan, our 38 athletes won twelve gold, eight silver and five bronze medals. All the large jiu-jitsu schools in Rio de Janeiro participated at this meet, and we placed fifth,” Elan proudly recalls. But the students and their instructors are not only thinking of medals. According to Elan, “the idea is always to convey to these young people that they have to face their challenges and fight, with respect and equilibrium, to attain the results they want, no matter in what facet of life.” The work is bearing such fruit that the Beija-Flor jiu-jitsu team this year will host the first Brazilian Social Projects Championship, with the official sanction of the Brazilian Jiu-Jitsu Confederation and the support of Petrobras, “an important partner,” according to Elan. Table Tennis In its third year, the table tennis program teaches some 80 children one of the world’s most popular sports in terms of number of players, but still one in its development stage in Brazil. According to the instructor, Pablo Ribeiro, vicepresident for the eastern region of the Brazilian Table Tennis Elan Santiago e Mário Dias com alunos do Jiu-jitsu da Beija-Flor de Nilópolis, após conquista de medalhas. E o trabalho desenvolvido pela agremiação de Nilópolis está oferecendo tantos resultados que a equipe de Jiu-Jitsu da Beija-Flor de Nilópolis estará organizando, neste ano, a primeira edição do Campeonato Brasileiro de Projetos Sociais, com a chancela da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu e o apoio da “Petrobras, uma importante parceria”, segundo Elan. TÊNIS DE MESA Em seu terceiro ano de existência, o curso de Tênis de Mesa ajuda cerca de 80 crianças a conhecer melhor um dos esportes mais populares do mundo em termos de número de jogadores, mas ainda em desenvolvimento no Brasil. Ministrado pelo presidente da confederação da modalidade na região leste, Pablo Ribeiro, a prática desse esporte contribui para os jovens terem um raciocínio mais rápido e maior nível de concentração. De acordo com Pablo, “todos os esportes são importantes meios de desenvolvimento pessoal e social. Quando um aluno pratica um esporte com dedicação, ele conquista não apenas qualidades dentro do esporte. Por isso é que considero a prática esportiva essencial 18 Revista Beija-Flor de Nilópolis Confederation, playing the sport helps develop faster reasoning and better concentration. He goes on to say: “All sports are important means of personal and social development. When students practice a sport with dedication, they gain more than just the qualities offered by that particular sport. For this reason, I think playing sports is essential in the formation of good citizens. And what we do at Beija-Flor is give young people in the region an important instrument of independence. When we show a path to youths without bearings, they latch onto it because they see in sports an opportunity to build a better life. But not everyone who comes to us is adrift in life. Many understand from a young age how to take advantage of opportunities, often with the support of their parents. In table tennis these opportunities start here at Beija-Flor and open up wider paths. This year, for example, our students will compete in the state championships. As their visibility increases, so do their chances to improve their lives. Besides this, table tennis is an Olympic sport, so it’s natural that many of these young people dream www.beija-flor.com.br na formação do cidadão. E o que realizamos aqui na Beija-Flor de Nilópolis é isso: dar aos jovens da região esse importante instrumento de libertação. Quando damos aos jovens sem rumo um caminho, eles se agarram com afinco, pois veem no esporte uma oportunidade de construírem uma vida melhor. Mas nem todos que procuram a prática do esporte são jovens sem um rumo definido. Muitos, desde cedo e com o apoio dos seus pais, sabem o que podem fazer se aproveitarem as oportunidades. Essas oportunidades no Tênis de Mesa começam aqui na Beija-Flor e avançam para caminhos maiores. Esse ano, por exemplo, nossos alunos vão competir nos campeonatos estaduais. O nível de visibilidade aumenta, e as chances de melhorarem suas vidas também. Além disso, o Tênis de Mesa é um esporte olímpico, e por isso é natural que muitos desses jovens pretendam se preparar e competir para participarem das Olimpíadas de 2016. E nós estaremos aqui para dar todo o suporte para eles”, conclui. Assim como o Jiu-Jitsu, as aulas funcionam nos turnos da manhã e da tarde, de acordo com o horário de estudo de cada um. Para se inscrever basta ter entre 10 e 17 anos e comprovar estar estudando. Tênis de mesa na quadra da Beija-Flor de Nilópolis. of competing for Brazil in the 2016 Games in Rio. We’re here to give them all the support we can.” As with jiu-jitsu, the classes are given in the mornings and afternoons, so students can participate who attend school in either the morning or afternoon session. The classes are open to all between 10 and 17 years of age who are regularly enrolled in school. Soccer The project directed by Mário Dias, coordinator of sports activities for Beija-Flor, unites Brazil’s two greatest national passions: soccer (or futebol, if you please) and samba. The roughly 150 students enrolled learn the fundamentals of both regular soccer and “society” soccer (played on a smaller field with only 7 players to a side). As Mário puts it: “Here at BeijaFlor the problem is there are so many activities that I run the risk the kids will prefer to take jiu-jitsu or table tennis classes (chuckles). Just joking. We have plenty of kids for all sports activities. It’s logical that Brazilian culture concentrates on soccer. Most other sports arrived here more recently. But one day I’m sure we’ll have greater demand for all sports. The fact is that today soccer excites the kids’ imaginations the most, especially because they believe – justifiably so – that soccer is Fevereiro 2010 19 FUTEBOL O projeto ministrado por Mário Dias, coordenador das atividades esportivas da Beija-Flor de Nilópolis, une as duas maiores paixões dos brasileiros: o futebol e o samba. Com aproximadamente 150 alunos matriculados no ano de 2009, a comunidade tem acesso à aulas de futebol society e de campo. “Aqui na BeijaFlor de Nilópolis o problema acaba sendo que existem tantas atividades que eu corro o risco das crianças preferirem entrar para as aulas de jiu-jitsu ou de tênis de mesa (risos). Estou brincando. Sabemos que há alunos para todas as atividades esportivas. É lógico que a cultura do brasileiro privilegiará o futebol. Até porque as demais atividades são ainda recentes no próprio país. Mas um dia, tenho certeza de que teremos todas as atividades com procura cada vez maior. O fato é que hoje o futebol desperta o interesse da molecada, inclusive porque eles acreditam – e devem continuar acreditando – que o futebol é um dos esportes que melhor paga aos seus atletas. Além disso, o futebol está no sangue desses meninos. Eles não têm praticamente que aprender nada. Eles precisam mais é treinar jogadas, corrigir fundamentos e outros pequenos detalhes, porque saber jogar, todos sabem. É do brasileiro”, comenta o professor Mário. among the sports with the highest professional salaries. In the final analysis, soccer is in their blood. They hardly need any explanation of the rules. All they need is to practice plays, correct fundamentals and other details, because they already know how to play. It’s part of being Brazilian.” Dance The social project of Beija-Flor includes more than just sports. For the past nine years, Ghislaine Cavalcanti, a professional choreographer, has headed the “learning through dance” program, which includes classical ballet and jazz dance, and in 2010 will be expanded to include tap dancing as well. Around 150 students between 5 and 17 learn a little of the history of dance and by participating acquire discipline and concentration. “I have an intense relationship with the Nilópolis community and I observed that people need to expand some of their artistic horizons. Art is a human manifestation that should always be encouraged. Artists – whether painters, musicians or dancers – need to challenge themselves at every moment. In an environment where samba has such wide acceptance, it’s only natural that everyone plays or dances samba. This is great. But since Anízio’s proposal for Beija- DANÇA Não só de esportes é feito o projeto social da BeijaFlor de Nilópolis. Há nove anos, Ghislaine Cavalcanti, coreógrafa profissional, coordena o “aprendendo com o balé”, que inclui as aulas de balé clássico, jazz e sapateado, nova modalidade que integrará o curso em 2010. Cerca de 150 alunos, entre 5 e 17 anos, conhecem um pouco mais sobre a história da dança e com a prática adquirem disciplina e concentração. “Convivi intensamente com a comunidade de Nilópolis e observei que eles careciam de ampliar algumas das suas condições artísticas. A arte é uma manifestação humana que deve estar sempre sendo provocada. Um artista, seja da pintura, da música ou da dança precisa estar a todo momento se auto desafiando. Em um ambiente onde o samba é um gênero de grande aceitação, nada mais natural que todos toquem e dancem samba. E isso é ótimo. Mas se a proposta do Anizio e da Beija-Flor de Nilópolis é contribuir para a formação de um ser humano mais integral, nada mais natural que busquemos ultrapassar os limites de cada um. Vi, então, nos cursos de balé clássico e jazz um importante meio para que essas crianças e jovens, que possuem uma enorme veia artística, pudessem alçar voos mais altos.”, explica Ghislaine. Hoje, já com algumas turmas bastante avançadas, a coreógrafa já pode até aproveitar algumas de suas 20 Revista Beija-Flor de Nilópolis Turma de balé, com a ilustre visita de Haroldo Costa www.beija-flor.com.br Alunos da escolinha de futebol. alunas para compor a Comissão de Frente da agremiação de Nilópolis. E é isso que, há alguns anos, Ghislaine tem feito: “Os resultados são ótimos, porque além delas já terem a disciplina que é preciso para ensaiar e decorar as coreografias, elas têm o total envolvimento afetivo com a Beija-Flor de Nilópolis, o que é muito importante na avenida”. PASSISTA MIRIM, MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA Ainda atenta à importância da arte e sua preservação, a agremiação de Nilópolis não perde tempo: sabe que seu futuro está nas mãos, ou melhor, nos pés das novas gerações que crescem na região. Por isso, não abre mão das aulas para formação de passistas, mestres-sala e porta-bandeiras. Os alunos do curso de passista mirim recebem semanalmente informações sobre conceitos e fundamentos dessa arte de sambar. Na prática, exercitam passos, coreografias e gingas, se igualando, em beleza e emoção, aos grandes passistas da agremiação, que fizeram história no carnaval. Com aproximadamente 120 matriculados de diversas idades, os alunos precisam estudar e passar de ano para permanecer na atividade. Selminha Sorriso, ex-passista e coordenadora do projeto, passa sua experiência para as crianças: “Espero que através da minha experiência de vida eu possa colaborar com a formação do futuro dos meus pequeninos”. Os alunos das aulas de mestre-sala e porta-bandeira também podem comemorar a dedicação que recebem do Mestre-Sala Claudinho e da Porta-Bandeira Selminha Sorriso. Iniciadas em julho de 2006, as aulas para formação de novos casais de mestre-sala e porta-bandeira são uma importante iniciativa para a preservação da mais importante figura do desfile de carnaval, e responsável por conduzir pela avenida, com graça e beleza, o pavilhão da agremiação. A partir dos três anos de idade, os alunos podem aprender com o casal a dançar e muito mais. “Eles aprendem a interagir, a dividir, aprendem a viver em comunidade, ou seja, em sociedade, aprendem a ter disciplina, respeitar hierarquia, respeitar os amiguinhos”, afirma Selminha. Com as aulas, essas crianças e jovens aproveitam a oportunidade de despertar o potencial artístico que carregam e, melhor ainda, de crescer dentro da própria agremiação, perpetuando essa arte tão mágica, expressa no bailado do casal de mestre-sala e a porta-bandeira. 22 Revista Beija-Flor de Nilópolis Flor is to contribute to the formation of a complete person, it’s equally natural for us to try to expand horizons for all. I see in the ballet and jazz dance classes an important way for these children and teens, who have huge latent artistic talent, to be able to fly higher,” explains Ghislaine. Today, with some of the groups quite advanced, the choreographer can use some of her students to participate in BeijaFlor’s front unit of dancers during carnival. In fact, she’s been doing this for several years. “The results are excellent because besides the fact they have the discipline needed to rehearse the routines, they have total affective involvement with Beija-Flor, which is very important on the avenue.” Junior Pace Dancers, Masters of Ceremonies and Standard Bearers Looking ahead, the group from Nilópolis knows its future is in the hands – or better put, the feet – of the new generations growing up in the region. For this reason, it provides classes to train pace dancers, masters of ceremonies and standard bearers, the key components of the carnival parade. The students of the junior pace dancer course receive information on the concepts and fundamentals of this particular samba art, besides practicing the steps and movements so they can reproduce the beauty and emotion of the group’s great pace dancers who have marked the history of carnival. All of the 120 students of various ages must be making normal school progress to remain eligible. Selminha Sorriso, a former pace dancer and coordinator of the project, passes her experience to the children: “I hope that through my experience in life I can help mold a good future for my little ones.” The students in the master of ceremonies and standard bearer classes also can commemorate the dedication they receive from Beija-Flor’s current master of ceremonies, Claudinho, and standard bearer, Selminha Sorriso. Started in 2006, the classes to train new master of ceremonies-standard bearer couples are an important initiative to preserve the most important figures of the carnival parade, responsible for leading the group on the avenue with grace and beauty. Starting at the age of three, the students get a chance to learn to dance, and much more, with the couple. “They learn to interact, share, live in a community, that is, in society, they learn to have discipline, respect hierarchy, respect their friends,” states Selminha. With the classes, these children and teens have an opportunity to discover and develop their artistic potential, and to grow within the group, to perpetuate this magic art, expressed in the dancing of the carnival couple formed by the master of ceremonies and standard bearer. www.beija-flor.com.br Beija-Flor de Nilópolis Uma Escola de samba sem fronteiras Uma revista sem fronteiras RICARDO DA FONSECA A Beija-Flor de Nilópolis nos últimos quarenta anos vem se consolidando como a principal e mais bonita escola de samba do Brasil – e do mundo. Os resultados alcançados nos desfiles de carnaval, expressos no Ranking da Liesa no período 2005/2009, são claros: a agremiação de Nilópolis mantém a primeira colocação, com 83 pontos, mais de vinte pontos além do segundo colocado. Por levar para a avenida há muitos anos consecutivos um desfile bonito, bem cuidado, empolgante e de qualidade, é natural que a legião de torcedores da agremiação aumente a cada ano. Paralelo a esse crescente interesse, o surgimento de novos instrumentos eletrônicos e de transmissão de dados tem levado as imagens com os desfiles e ensaios da agremiação para os mais diversos pontos do planeta. Hoje, a Beija-Flor de Nilópolis não é mais um patrimônio exclusivo de Nilópolis. Ela ganhou o mundo. Por essa razão, nada mais natural do que serem pensadas formas de retribuir o carinho e a atenção desses milhares de torcedores estrangeiros com ações específicas voltadas para eles. E a equipe de editores da revista BeijaFlor de Nilópolis – uma escola de vida, considerada atualmente a principal publicação impressa de escola de samba e carnaval, não poderia pensar e agir de outra maneira. Em homenagem e respeito a essa nação Beija-Flor, que nasce e cresce a cada dia nas Américas, Europa, Ásia, África e Oceania – e dando mais uma evidente demonstração de comprometimento com a valorização e difusão da cultura brasileira em nível mundial –, a revista Beija-Flor de Nilópolis – uma escola de vida lança a sua versão eletrônica da edição nº 9 em dois importantes idiomas: francês e japonês. Para conhecer a edição, acesse: www.beija-flor.net.br. Fevereiro 2010 23 24 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Tem coisas que combinam perfeitamente. Produzida com água de excelente qualidade e ingredientes importados e selecionados, Itaipava é uma cerveja única. Por isso, ela combina com o que existe de melhor. Itaipava. A cerveja sem comparação. Combina com tudo. Principalmente com você. www.cervejaitaipava.com.br Fevereiro 2010 25 UM PATRIMÔNIO BRASILEIRO PEDE PASSAGEM: O SAMBA CARIOCA ÍRIS ÁGATHA RICARDO DA FONSECA 26 Revista Beija-Flor de Nilópolis Apesar dos preconceitos, discriminações e prisões, o som e a poesia do samba carioca convenceram o país de que um violão, um cavaquinho, e um pandeiro nas mãos de negros pobres geniais fazem mais do que simplesmente música; compõem uma obra que em qualquer parte do planeta é reverenciada como o retrato do Brasil. Portanto, não foi à toa que o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - reconheceu as matrizes do samba carioca (samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo) como Patrimônio Cultural do Brasil. No dia 27 de novembro de 2007, Márcia Genésia de Sant’Anna, Diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, sacramentou o que, empiricamente, muitos já supunham: o samba carioca foi e é fonte onde compositores de outras regiões bebem para criar subgêneros desse ritmo. E tem mais: “As matrizes do samba carioca são referências culturais importantes para a identidade de um segmento social extremamente relevante na história do Estado do Rio de Janeiro. É um passo fundamental em Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos Muitos não se lembram ... outros nem eram nascidos, mas houve uma época em que o samba carioca foi chamado de barulho. Mas a genialidade de compositores e a cadência desse gênero musical foram ecoando e envolvendo de tal maneira cada canto da cidade, que o samba tornou-se um símbolo cultural de um povo apreciado nos mais diversos pontos do planeta. Originário das reuniões de escravizados, que em torno de batuques, cantos e danças manifestavam crenças e lembranças de suas regiões de origem, o samba no Rio de Janeiro foi sendo moldado a partir do crescimento da população negra, vinda das mais variadas regiões do país para a lavoura de café, e que trouxeram consigo, além de uma potente mão de obra, diversos ritmos e hábitos que foram sendo incorporados ao longo do tempo pelo carioca. Mas essa aceitação por parte da população carioca não se deu de modo simples e sem sofrimento. De acordo com o historiador e diretor cultural da Liesa, Hiram Araújo, “nos primórdios do samba no Rio de Janeiro, quem fosse pego com um violão ia para a cadeia. João da Baiana foi preso porque estava com um pandeiro na mão”. www.beija-flor.com.br uma política de patrimonialização inclusiva”, diz Márcia Sant’Anna. Trocando em miúdos: O Iphan reconhece que o samba une pessoas de uma comunidade, une comunidades de áreas populares, e essas às chamadas áreas nobres da cidade, do país e do mundo. Já repararam quanta gente que reside na Zona Sul vai para as quadras localizadas no subúrbio e na baixada fluminense participar das festas, feijoadas e ensaios das escolas de samba? E tem os turistas nacionais e internacionais que amam rodas de samba. UMA ARTE QUE UNE PESSOAS A vocação do samba carioca para unir pessoas é inegável. Segundo o radialista Hilton Abi-Rihan, assessor do presidente de honra da agremiação de Nilópolis Anizio Abrão David, “além dos nossos grandes sambistas, como Monarco, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Alcione, Beth Carvalho, levarem aos quatro cantos do planeta essa música envolvente que é o samba, as escolas de samba, como a Beija-Flor de Nilópolis, voam em turnês mundo afora, levando além das fronteiras do país o samba e a cultura do carioca e do fluminense, contagiando muitos ‘gringos’ com esse gênero musical, nos quais desperta, a partir desse momento, uma paixão pela nossa música e pela nossa cultura, fazendo com que na primeira oportunidade venham conhecer o país e, especialmente, a cidade maravilhosa. É inegável que a magia e o envolvimento do samba carioca despertam o interesse do turista em se aproximar do nosso país e do nosso povo, que é, aliás, muito hospitaleiro.” Acostumado a fazer shows no exterior, o escritor e produtor Haroldo Costa atesta: ”O samba tem sido a carteira de identidade do brasileiro.” Monarco excursiona muito com a Velha Guarda da Portela e relata: “Fomos à França, ao Japão, à Itália... e nos emocionamos. Na França, crianças cantaram em português ‘Foi um Rio que passou em Minha Vida’ com a Velha Guarda, num teatro lindo.” Além de agregar pessoas de diferentes posições sociais, intelectuais e culturais – incluindo de nacionalidades diferentes –, o samba carioca faz outros prodígios, lembra Abi-Rihan: ”Conduzo programas de rádio há mais de quatro décadas, sempre prestigiando as manifestações artísticas do povo brasileiro. E uma coisa que vi, entre tantas, e que me emocionou muito, foi o que as escolas de samba fizeram em suas comunidades, como por exemplo a Beija-Flor de Nilópolis, investindo na melhoria da qualidade de vida das pessoas do entorno, com a instalação de escola de ensino fundamental e médio, cursos profissionalizantes, cursos de arte, dança e música, além de outras importantes ações sociais. Tudo isso faz do samba sim, um instrumento de desenvolvimento artístico, social e pessoal”, conclui. GRANDES BATALHAS PELA DIFUSÃO DO SAMBA O respeito que o samba conquistou é resultado de uma luta em várias frentes. Além da dedicação desinteressada dos artistas, compositores e intérpretes, que persistiram na manutenção dos sambas em seus repertórios, muitas vezes pagando um preço alto – como o do preconceito e da discriminação – o empenho de comunicadores, especialmente nos veículos de massa como as rádios, foi fundamental para a consolidação e sobrevivência desse gênero musical. Hilton Abi-Rihan foi um desses importantes amigos do samba. Como diretor da Rádio Continental, ele concebeu e criou diversos programas de samba, que valorizavam os mais variados estilos do samba, resgatando verdadeiras obras de arte e apresentando aos ouvintes novidades e tendências musicais do gênero. Além disso, Abi-Rihan tinha um diferencial que o tornou querido em todo o mundo do samba: ele sabia dar valor não só às músicas que apresentava, mas também aos sambistas que as compuseram e as interpretaram. “O Abi-Rihan foi um dos primeiros radialistas, que me lembre, que davam uma atenção especial ao sambista, como intérprete e como compositor. Era muito comum as rádios darem atenção às músicas que tocavam sem destacar seus compositores. Lembro que essa sua forma de tratar os compositores e intérpretes de samba foi uma das coisas que muito agradou meu irmão Nelson David, que se tornou um grande amigo do Abi-Rihan.”, confidencia Anizio Abrão David, presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis, e um dos mais dedicados defensores do samba. Outra importante trincheira em favor do samba foi montada pelo ator e produtor Jorge Coutinho, que influenciou uma considerável parcela dos futuros formadores de opinião residentes na Zona Sul carioca: ”Eu achava que os universitários tinham que conhecer o samba. Por isso eu promovia shows que misturavam diversos gêneros, como por exemplo músicas do Milton Nascimento, do Som Imaginário e de Cartola. Também levava sambistas para cantar na PUC (Pontifícia Universidade Católica) – que na época só tinha alunos da classe A”. Além disso, Jorge Coutinho, junto com Leonides Bayer, idealizou, na década de 70, um interessante Fevereiro 2010 27 projeto chamado “Noitadas de Samba”, que era realizado todas as segundas-feiras no Teatro Opinião, em Copacabana. Nas “Noitadas de Samba”, artistas dos morros e do subúrbio carioca, como Cartola, Guilherme de Brito, Nelson Cavaquinho, Martinho da Vila, Rosinha de Valença, Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da Mangueira, Clara Nunes, entre tantos outros, se apresentavam para um público formado por moradores da Zona Sul carioca. ANIZIO E O SAMBA Se o samba resistia ao preconceito e o sambista sobrevivia a duras penas era porque, longe da zona sul carioca, importantes redutos de samba abrigavam e acolhiam os representantes da arte negra brasileira. Eram os Grêmios Recreativos, ou melhor, as escolas de samba, que valorizavam o sambista como se fosse um integrante de sua família. Eram nas agremiações que os sambistas entregavam parte do seu tempo. Lá eles compunham, cantavam, sonhavam... criavam. Era o genuíno espírito do sambista do Rio de Janeiro, estereotipado, depois, nos meios de comunicação pelo mundo. Era um tempo em que grande parte dos sambistas e compositores era ligada a alg u m a agremiação: Mangueira, Salgueiro, Portela, Império Serrano... e tantas outras. Mas, se as agremiações eram redutos de samba, elas também enfrentavam dificuldades para sobreviver. Subjugadas por uma cultura de exploração da força de trabalho, os sambistas continuavam à margem, explorados, mal remunerados, largados de mão. Entretanto, as escolas de samba foram se fortalecendo, ganhando respeito, prestígio e espaço, resultando também no fortalecimento, no ganho de prestígio e espaço para o sambista. 28 Revista Beija-Flor de Nilópolis Esse capítulo da história do samba é muito bem lembrado pelo radialista Hilton Abi-Rihan: “O samba vivia um momento muito difícil porque saía da clandestinidade para se tornar um produto de consumo cultural. No entanto, os agentes que promoviam essa mudança faziam por questões financeiras. Não entendiam o samba como manifestação cultural de força, mas sim como um negócio. Com isso, os sambistas ganhavam muito mal, tanto nas apresentações em público, como quando tinham suas músicas gravadas por intérpretes de sucesso. O sambista mal podia contar com o dinheiro que ganharia como sambista... Felizmente, essa realidade estava mudando. Considero, no entanto, que um dos fatores mais importantes para essa mudança foi a criação e o fortalecimento da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), quando, então, muita coisa pode ser feita pelo samba e pelo sambista. E o Anizio tem um papel de destaque em toda essa história. Foi ele que encarou as gravadoras para que os compositores não ficassem de ‘pires na mão’, se humilhando para receber o que era de direito deles.”, recorda o radialista. “Além de toda a importância que o Anizio tem para o samba e para o carnaval do Rio de Janeiro e para as escolas de samba, ele tem uma importância especial para os compositores de samba. Sou compositor, e quero destacar que foi através das ideias e ações tomadas por ele que os compositores das escolas de samba passaram a ser reconhecidos e a ser pagos dignamente pelo trabalho que desenvolviam. Gosto de enfatizar isso, porque eu e minha família sentimos no nosso dia a dia os benefícios dessa e de outras posições tomadas pelo Anizio em favor do samba e do sambista. Além disso, é bom que se saiba como o Anizio é um homem justo: apesar do amor todo que ele tem pela Beija-Flor de Nilópolis, durante o período que esteve na presidência da Liesa, a sua escola - a Beija-Flor de Nilópolis - não ganhou nenhum título. Isso prova o carinho e o respeito que ele tem pelo carnaval e por todas as escolas de samba.”, enfatiza o ex-presidente da Estação Primeira de Mangueira, Álvaro Caetano, o Alvinho. E em razão desse respeito que Anizio manifesta ao sambista e ao público que, quando presidente da Liesa, implantou diversas melhorias. É ainda seu amigo e radialista Hilton Abi-Rihan que destaca: “Foi o Anizio que botou pé firme para que o espetáculo tivesse hora certa para iniciar e para acabar. Lembro-me que na época o Anizio me contou que essa questão do horário do desfile havia sido uma das suas principais vitórias como presidente da Liesa. E é verdade! Lembro-me que ninguém acreditava que ele conseguiria impor esse ní- www.beija-flor.com.br Foto: Acervo Iphan / Luiz Santos vel de organização. A própria imprensa especializada não acreditava. Mas ele conseguiu. Ele conseguiu manter o horário do desfile, do começo ao fim, o que valorizou ainda mais o espetáculo, além de ser uma importante decisão em respeito aos sambistas e ao público presente. Foi ele, também, o Anizio, que com seu temperamento guerreiro conquistou o direito de arena para as escolas de samba.”. Sobre isso, é o próprio Anizio quem relata: “Lutamos muito, mas consegui que a televisão pagasse o direito de arena às escolas de samba. (direito de arena é o direito que as escolas têm de negociar, autorizar ou não a fixação, transmissão ou retransmissão de imagem de espetáculos de que participem). Na época, eu consegui 33 %, para ajudar as escolas a fazer um carnaval melhor. Hoje a Liesa recebe 51%, e foi uma grande melhoria. Mas eu consegui 33% na época, quando não se ganhava nada. Era quase impossível fazer um espetáculo de qualidade. Se não fosse o esforço de algumas pessoas, inclusive da comunidade, seria impossível levar ao público um espetáculo como o que levávamos! E hoje não! Hoje você tem condições de dar um cachê para o mestre-sala e para a porta-bandeira. Você tem condições de dar um cachê para uma comissão de frente, para a bateria. Então, hoje as escolas têm condições de fazer um espetáculo que é divulgado em todo o mundo e atrair turistas dos mais diversos países.”, conclui. Mas a atuação de Anizio em defesa do samba não se limitou às ações como presidente da Liesa. Segundo Elmo José dos Santos, ex-presidente da Estação Primeira de Mangueira e atual diretor da Liesa, “se hoje as escolas de samba são reconhecidas, elas têm que agradecer muito ao Anizio. Porque, na realidade, as autoridades não respeitavam o sambista. E o Anizio sempre disse: ‘Eu não vim aqui para vender pessoas, eu vim aqui para vender artista’. E a partir disso, e das iniciativas que ele promoveu, o samba passou a ser valorizado, acabou aquele negócio de livro de ouro. Acabou aquela história das escolas de samba fazendo seus carnavais embaixo do viaduto. E eu tenho um depoimento muito forte para dar, porque quando eu assumi a presidência da Mangueira, ela devia meio milhão de reais na praça. As lojas não vendiam para mim nem um prego, nem um prego! Para você ter uma ideia, a Mangueira tinha 20 cadeiras! O Anizio chegou e falou para mim: ‘Elmo, o que você precisa?’ Anizio me deu crédito na praça, quero dizer, ele foi o meu avalista para que as lojas pudessem voltar a vender para a Mangueira, porque eu tinha que fazer carnaval. Como é que eu ia fazer carnaval se não tinha nem som, não tinha nada? E o Anizio, além disso, me deu carpinteiro, me deu ferreiro, e me deu um dos melhores homens do barracão dele que era o Torim, que até hoje está no carnaval. E eu consegui erguer a nossa querida Estação Primeira de Mangueira. Eu só tenho a agradecer a papai do céu e agradecer ao Anizio, que em nenhum momento me deixou na chuva. Em todos os momentos me ajudou a levantar a Estação Primeira de Mangueira. E dentro de três anos a Mangueira já andava com as suas próprias pernas. E o Anizio, em nenhum momento, deixou que a disputa na avenida interferisse na sua decisão. E me lembro de uma coisa que ele falou: ‘Elmo, trate todo mundo com carinho, com amor e com respeito. Nada de valentia. Eu acho que você tem uma grande escola e o desfile das escolas de samba tem que ter uma Mangueira forte! ’. Então, eu só tenho a agradecer ao Anizio. O Anizio é meu padrinho, é meu pai, é meu irmão, é uma pessoa que, na verdade, é um grande ídolo que eu tenho no carnaval”, conclui com emoção. O RECONHECIMENTO DO IPHAN Se as conquistas desse gênero musical são resultado dos esforços de artistas, comunicadores, veículos de mídia e do público – que prestigia seus artistas e suas obras –, é inegável que o registro concedido pelo Iphan cria novas possibilidades de conquistas, não só para essa arte carioca como para a cultura brasileira de um modo geral. A partir de agora, os próprios sambistas e demais integrantes desse segmento social poderão propor, negociar e executar ações para salvaguardar esse novo patrimônio do Brasil, dialogando com o Poder Público a implementação de ações que proporcionem a produção, reprodução, reconhecimento, valorização e divulgação desse bem cultural. Fevereiro 2010 29 Em defesa da identidade cultural O Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – criado em 13 de janeiro de 1930, é uma instituição ligada ao Ministério da Cultura e responsável por identificar, documentar, proteger e promover o patrimônio cultural brasileiro, desde construções arquitetônicas até ao modo de viver de comunidades do território nacional. Além disso, o Iphan também é responsável pela implantação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, que viabiliza projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural. A revista Beija-Flor de Nilópolis foi a Brasília, na sede do Iphan, para conversar com a diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília, Mestre em conservação e restauro, e Doutora em Urbanismo, ambos os títulos pela Universidade Federal da Bahia, Márcia Sant’Anna trabalha há mais de duas décadas junto a organismos governamentais de preservação do patrimônio cultural. Entre 1998 e 2000, coordenou o grupo de trabalho criado pelo Ministério da Cultura que realizou os estudos para a implantação do Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial. Ricardo Da Fonseca – O que significa “tombar” um bem imaterial? Márcia Sant’Anna – No caso de um bem imaterial, utilizamos um instrumento parecido com o tombamento, mas que é mais específico, que é o registro. O instrumento registro foi criado para dar conta da dimensão imaterial da cultura. Isto é, aos processos culturais, saberes e práticas que vão além da dimensão material (edificações, obras de arte, sítios urbanos, sítios arqueológicos...). Os processos de registro são fundamentados em interlocução do Estado com as bases sociais concretas, grupos, comunidades e segmentos sociais que produzem e reproduzem os fatos culturais, no sentido de construir um consenso sobre o que se pretende reconhecer como patrimônio e os motivos para isso. É realizada uma ampla pesquisa para a identificação e entendimento do universo cultural em questão, a identificação dos segmentos sociais envolvidos e as ações de salvaguarda necessárias para que o fato cultural em questão tenha condições de permanência. É importante destacar que o registro contempla transformações no bem cultural registrado, pois leva em conta a dinâmica cultural inerente a qualquer sociedade. Os livros do registro são: Saberes, Formas de Expressão, Lugares e Celebrações. tombada dessas construções, fica passível de punição. Existirão punições ou regras de controle do Iphan para o samba, como bem imaterial? Márcia Sant’Anna – O registro não engessa, congela ou cria normas ou parâmetros para a prática. Não há punição, nem fiscalização, posto que toda cultura se modifica conforme os interesses da sociedade...e a política para o patrimônio imaterial pressupõe isso. O registro abre a possibilidade do segmento social envolvido desenvolver o diálogo com o Estado no sentido de implementar ações que proporcionem a produção, reprodução, reconhecimento, valorização e divulgação do bem cultural em questão. Mesmo que para essa continuidade sejam necessárias modificações. No caso do samba-enredo, por exemplo, desde a criação do gênero musical muitas mudanças ocorreram... e ocorrerão. O Registro proporcionou um conhecimento dos processos de transformações de modo que seja possível conhecer e reproduzir cada momento; e assim ampliar as possibilidades de criação. No limite, o maior patrimônio cultural que se tem é a criatividade humana, que não pode ser tolhida desde que não fira os direitos humanos. Nesse sentido, a política é voltada para dar as condições dos segmentos sociais fazerem a gestão de seu patrimônio em parceria com o Estado; com liberdade e movidos pelo interesse coletivo. Ricardo Da Fonseca – E por que com o samba carioca? Qual sua importância na cultura brasileira e na cultura mundial? Márcia Sant’Anna – As matrizes do samba carioca (partido-alto, samba-enredo e samba de quadra) são referências culturais importantes para a identidade de segmento social extremamente relevante na história do Estado do Rio de Janeiro. E o reconhecimento, pelo Estado, da história e legado cultural deste segmento é passo fundamental em uma política de patrimonialização inclusiva. Além do mais, trata-se de um fato cultural cuja relevância transcende o Estado do Rio, posto que é senso comum tratar-se de um signo da identidade nacional, tanto externa, quanto internamente. Ricardo Da Fonseca – Quais outros benefícios e/ou facilidades o samba passa a ter a partir da aquisição do título de “Patrimônio Cultural do Brasil”? Márcia Sant’Anna – Há recursos disponibilizados pelo Estado por um tempo determinado, os quais são geridos por instituição oriunda do universo cultural em questão. Eles são utilizados no sentido de realizar ações definidas previamente junto com a base social e, sobretudo, no sentido de dar condições de sustentabilidade para a gestão do patrimônio de maneira autônoma em relação ao Estado. Além disso, o registro é uma espécie de credenciamento para a captação de recursos junto a parceiros. Ricardo Da Fonseca – Que tipo de proteção o samba tem a partir desse título? Os bem materiais tombados são obrigados a manterem a sua aparência e outras qualidades especificas. Se alguém ou alguma instituição infringe essa norma e modifica alguma parte 30 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Que paraíso é este de águas cristalinas? A B C D ( ( ( ( ) ) ) ) Ilhabela, SP Florianópolis, SC Aracati, CE Praia dos Carneiros, PE Se você é brasileiro e não sabe a resposta, está na hora de conhecer melhor o Brasil. RESPOSTA: D – PRAIA DOS CARNEIROS, PE VIAGEM É PARA TODA A VIDA. VIAJE POR TODO O BRASIL. Consulte seu agente de viagem. www.turismo.gov.br Fevereiro 2010 31 CARIOCA SAMBA: A KEY PART OF BRAZIL’S HERITAGE ÍRIS ÁGATHA RICARDO DA FONSECA Many years ago in the Rio de Janeiro neighborhood of Estácio, a school principal complained of the “mischief” of sambistas, as samba musicians are called. One of them, the clever Ismael Silva (later to become one of the most celebrated samba composers) is said to have retorted, “Deixa falar” (“Let us speak”). The phrase became the name of the first samba “school”: “We’re leading this school. You teach the students to read and write, but we’re teachers too. We’re a school...a samba school.” And so goes the story of why carnival groups are called escolas de samba, or “samba schools”. Many don’t remember... Others weren’t even born. But there was a time when samba in Rio was looked down on as just so much noise. Fortunately, driven by the ingenuity of its composers, the cadence of this musical genre caught on and spread so thoroughly to every corner of the city, and then the country, that samba has become a cultural icon of the entire nation, besides being appreciated by listeners throughout the world. Samba traces it roots to gatherings of slaves, who would express their beliefs and recollections of their origins in song and dance, accompanied by drumming. Rio de Janeiro, as an important entry port of slaves and a coffee-growing region that demanded labor, was a concentration point for Africans and their descendants from many places in Africa and Brazil itself. Besides their labor, they brought their various rhythms and dances, which were gradually absorbed by all Cariocas (as Rio’s residents are called). But this acceptance by the Carioca population at large was not easy and without suffering. According to the historian and cultural director of Rio’s League of Samba Schools (LIESA), Hiram Araújo, “in the early days of samba in Rio de Janeiro, a poor black person with a guitar was subject 32 Revista Beija-Flor de Nilópolis to arrest. João da Baiana was jailed just because he had a tambourine in his hand.” Despite the prejudice, discrimination and even jailing, the sound and poetry of Carioca samba finally managed to convince the country that a guitar, ukulele and tambourine in the hands of poor blacks represented more than just music. From such humble beginnings, samba has become a trademark of Brazil, recognized and appreciated around the world. So it was no accident that the National Institute of Historic and Artistic Heritage (IPHAN) recognized Carioca samba and its roots elements (samba de terreiro, partido alto and samba enredo) with the Brazilian Cultural Heritage designation. On November 27, 2007, Márcia Genésia de Sant’Anna, head of IPHAN’s Department of Intangible Heritage, made official what was already empirically established: Carioca samba is the wellspring from which composers from other regions drink to create the various sub-genres of this musical genre. As she declared: “The roots elements of Carioca samba are important cultural references for the identity of an extremely important social segment in the history of Rio de Janeiro. This is a fundamental step in a policy of preserving heritage.” IPHAN further recognizes that samba unites people within communities, unites working-class and upper-class communities, unites the entire country and even the world. It has become de rigueur for people residing in the more “chic” areas of the city’s South Zone to go to the carnival school rehearsal grounds in the suburbs and outlying municipalities of the Baixada Fluminense region, not only to prepare to parade during carnival, but also for parties and feijoada feasts. The same goes for tourists looking to experience more than just the city’s deservedly famous landmarks and beaches. www.beija-flor.com.br AN ART THAT UNITES PEOPLE The vocation of Carioca samba to unite people is unquestionable. According to radio commentator Hilton Abi-Rihan, also an aide to the president of honor of Beija-Flor of Nilópolis, Anizio Abrão David, “besides Brazil’s great samba artists, such as Monarco, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Alcione and Beth Carvalho, who have taken this music to the four corners of the world, samba schools like Beija-Flor make frequent foreign tours to perform their carnival dance and music, taking samba and Carioca and Fluminense culture to the rest of the world, attracting overseas fans to this musical genre and instilling a passion for our music and culture, making people yearn to visit our country, especially the “marvelous city”. There’s no question that the magic and magnetism of Carioca samba whets this interest to experience our country and its people’s hospitality first hand.” GREAT BATTLES FOR THE DIFFUSION OF SAMBA The respect achieved by samba is the result of a struggle on various fronts. Besides the selfless dedication of the performers, composers and interpreters, who insisted on keeping sambas in their repertoires, often paying a high price for this – such as prejudice and discrimination – the efforts of communicators, especially in the mass media such as radio, was fundamental to the survival and consolidation of this musical genre. Hilton Abi-Rihan was and is one of these important friends of samba. As the programming director of Rádio Continental, he created many programs that featured the varied samba styles, rescuing veritable works of art and presenting to listeners the latest trends of the style. Besides this, Abi- Monarco travels frequently performing with the group Velha Guarda da Portela and relates: “We’ve been to France, Japan, Italy... and the people’s reaction has been touching. In France, kids in the audience sang along with us in Portuguese, ‘Foi um Rio que passou em Minha Vida’.” Foto: Acervo Iphan / Edgar Rocha Accustomed to putting on shows abroad, the writer and producer Haroldo Costa attests: “Samba has become a Brazilian calling card.” Besides bringing together people of different social, intellectual and cultural positions – including different nationalities – Carioca samba can be credited for other achievements, as recalled by Abi-Rihan: ”I’ve hosted radio programs for over four decades, always featuring the artistic manifestations of the Brazilian people. And among the many things I’ve seen, one that really impresses me is what the samba schools do in their communities, as Beija-Flor does in Nilópolis, investing to improve people’s quality of life, establishing the elementary and high school, job training programs, art, dance and music classes, besides other important social actions. All this means that samba is an important instrument for artistic, social and personal development.” Rihan had a quality that made him beloved throughout the world of samba: he not only played the songs, he also gave proper credit to the artists who composed and interpreted them. “Abi-Rihan was one of the first deejays, from what I remember, who gave special attention to the samba interpreters and composers. It was very common for the radio stations only to play the music without giving the composers’ names. I remember that his way of treating samba composers and interpreters was one of the things that pleased my brother, Nelson David, who became a close friend of Abi-Rihan,” says Anizio Abrão Fevereiro 2010 33 David, Beija-Flor’s president of honor and one of the most dedicated supporters of samba. Another important advance for samba was achieved by actor and producer Jorge Coutinho, who influenced a considerable contingent of future trendsetters living in the city’s South Zone (Leme, Copacabana, Ipanema and Leblon): “I thought that college students had to experience samba. So I promoted shows that mixed various styles, such as songs by Milton Nascimento, Som Imaginário and Cartola. I also took sambistas to sing at Pontifical Catholic University, whose student body at the time was almost exclusively drawn from wealthy families.” Besides this, in the 1970s Jorge Coutinho, together with Leonides Bayer, created an interesting social project called “Noitadas de Samba” (“Samba Nights”). These were held every Monday at the Teatro Opinião in Copacabana. At these events, performers from Rio’s hillside slums and suburbs, such as Cartola, Guilherme de Brito, Nelson Cavaquinho, Martinho da Vila, Rosinha de Valença, Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Xangô da Mangueira and Clara Nunes, among many others, played for audiences from the South Zone. ANIZIO AND SAMBA But if samba resisted prejudice and the samba singers and musicians (sambistas) survived, with great difficulty, it was because far from Rio’s middle class South Zone, important samba redoubts sheltered and welcomed these representatives of this important Afro-Brazilian art form. It was the carnival associations, or the samba schools, that valued the sambistas as if they were part of the family. It was at the samba schools where the sambistas spent a good deal of their time, where they composed, sang, dreamed … created. This was the genuine spirit of the sambista from Rio de Janeiro, later stereotyped in the global media. It was a time when most sambistas and composers were linked to a samba school: Mangueira, Salgueiro, Portela, Império Serrano... and so many others. But if the carnival associations were redoubts of samba, the sambistas still faced difficulties to survive. Subjugated by a native culture of exploitation of the work force, the sambistas continued at the margin, exploited, poorly paid, with no security. But as the samba schools became stronger and gained respect, prestige and space, the same thing happened to the sambistas as well. This chapter in the history of samba is clearly recalled by radio host Hilton Abi-Rihan: “Samba was going through a difficult moment even though it was moving from the margins to the mainstream. The problem was that the agents promoting this change were doing so for financial questions. They didn’t 34 Revista Beija-Flor de Nilópolis understand samba’s importance as a cultural manifestation. To them it was just a business. The upshot was that the sambistas still were poorly paid, both for public presentations and when their songs were recorded by mainstream singers. It was hard to make a living as a sambista. Fortunately, this reality was changing, due to various factors. But I believe one of the most important factors for this change was the creation of the Independent League of Samba Schools (LIESA). This allowed a lot of things to be done for samba and sambistas. And Anízio has a leading role in all this history. He was the one who confronted the record companies so the composers didn’t have to go with hat in hand, humiliating themselves to try to receive their proper royalties. Besides the importance Anízio has for samba, carnival in Rio de Janeiro and samba schools, he has a special importance for samba composers. I’m a composer myself, and I want to highlight that it was through his ideas and actions that the samba schools’ composers became recognized and paid properly for their work. I want to emphasize this, because my family and I feel in our daily lives the benefits of this and other positions take by Anízio in favor of samba and sambistas. Besides this, Anízio is a fair man: despite his great love for Beija-Flor, during the entire period he was president of LIESA, his school didn’t win a single title. This proves his love and respect for carnival and all samba schools,” says former president of Mangueira, Álvaro Caetano, or Alvinho as he’s better known. And because of this respect that Anízio expresses for sambistas and the public, when he was president of LIESA, he implemented various improvements. His friend the radio announcer Hilton Abi-Rihan points points out: “It was Anízio who took a firm stance and insisted that the parades have a definite time to start and finish. I remember that at the time Anízio told me this question of the parade timetable was one of his main accomplishments as president of LIESA. And it’s true! I remember that nobody believed he’d manage to impose this level of organization. The press certainly didn’t believe it. But he did it. He managed to keep all the schools’ parades on time, from the start to the finish, which really added to the spectacle’s value, besides being an important decision showing respect for the sambistas and spectators. It was Anízio also who, with his strong-willed temperament, won the arena rights [the rights to transmit television images of the parades] for the samba schools,” recalls Abi-Rihan. Anízio himself remembers: “It was a hard fight, but we managed to get the TV networks to pay the arena rights to the samba schools. At the time I managed to get 33% to help the samba schools put on a better carnival. Today LIESA receives 51%, a big improvement. But I managed to get 33% at the time. Before that it was zero. It was almost impossible to put on a good show. Without the effort of some people, including from the community, it would have been impossible to produce the spectacular show we do today! www.beija-flor.com.br Today you can pay something to the master of ceremonies and the standard bearer. You can pay something to the comissão de frente (lead dancers), to the bateria (percussion unit). So, today the samba schools have the money to put on a show that is transmitted all over the world and attracts tourists from many countries,” says Anízio. But Anízio’s efforts in support of samba weren’t limited to his actions as president of LIESA. According to Elmo José dos Santos, past president of Mangueira and current director of LIESA, “the recognition the samba schools enjoy today owes a lot to Anízio. Because in reality the authorities didn’t respect the sambistas. And Anísio always said: ‘I didn’t come here to sell a coon show; I came here to sell an art form.’ And this was the starting point of the valorization of samba, it ended the old practice of asking for donations from local businesses. It ended the old practice of the samba schools putting on their parades on a shoestring. And I can attest to this, because when I became president of Mangueira, it had debts adding to a half million reais. Stores wouldn’t sell me a nail, not a single nail. To give you an idea, Mangueira had 20 chairs! Anízio arrived and said: ‘Elmo, what do you need?’ Anízio gave me credit, I mean, he was my guarantor so the stores would resume selling to Mangueira, because I had to put on a carnival show. How could I do this without even having a sound system, without anything? And besides this, Anízio sent me a woodworker, a metalworker, one of his best craftsmen, Torim, who is still working on carnival today. And I managed to rebuild our dear Estação Primeira de Mangueira. I only have Our Father in Heaven and Anísio to thank. He never left me out in the cold. He helped me in every way to resurrect Mangueira. And within three years, Mangueira was back on its own two feet. And Anísio never let the dispute on the avenue interfere in his decision. I recall one thing he said: ‘Elmo, treat everyone with love and respect. Don’t look down on anyone. I think you have a great samba school and carnival needs a strong Mangueira.’ So, I can only thank Anísio. He was my godfather, my father, my brother. He’s one of my carnival idols,” he concludes. RECOGNITION BY IPHAN While the conquests of this musical genre are the result of the considerable efforts of composers and performers, and of the communicators and media outlets that gave exposure to their works, the Brazilian Cultural Heritage designation granted by IPHAN certainly has created new possibilities, not only for this Carioca art, but for Brazilian culture in general. This recognition provides more opportunities for sambistas and other members of this social segment to carry out actions with government support to protect and promote this important heritage. Fevereiro 2010 35 O AMIGO DO SAMBA Ricardo Da Fonseca – Hoje o samba está nas ruas: na Lapa, Zona Sul, baixada fluminense. E em todo o mundo. Houve, no entanto, uma época na qual o samba não era valorizado. Como era a vida do sambista no passado? Anizio Abrão David – Durante muitos anos, a vida do sambista não era fácil. Ele não podia sobreviver com dignidade, nem sustentar sua família com o samba. Ele passava era fome e morava mal. Quando conseguia alguma coisa, como ganhar um samba para carnaval ou ter uma cantora de sucesso gravando uma composição sua em um disco, não recebia quase nada. Ricardo Da Fonseca – Muitas pessoas que viveram nessa época dizem que você é o grande amigo do samba. Por quê? Anizio Abrão David – Eu acredito que seja porque, quando pude, fiz alguma coisa pelos sambistas e pelo samba. Quando fui presidente da Liesa, já assumi brigando com a ECAD (órgão responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das obras musicais) porque para mim eles não tinham direito a intermediar o pagamento dos sambistas. E fomos para a briga, fomos à Justiça e ganhamos! Nessa época os compositores e seus herdeiros suavam a camisa para receber o dinheirinho que tinham direito! Você imagina que naquela época, com inflação de até 70%, o que era para ser recebido em fevereiro só era pago em setembro. O que recebiam não dava para nada! E a maioria dos compositores naquela época não sabia nem como assinar um documento para receber seu dinheiro. Então, chegavam lá, assinavam qualquer papel e levavam o que lhes dessem. Hoje não. Hoje o compositor recebe valores mais justos e diretamente da Liesa, e sabe antecipadamente quanto que tem direito a receber. Ricardo Da Fonseca – Tudo o que você falou está relacionado aos sambas-enredo. Mas existem sambistas que não disputavam sambas-enredo. Como era a vida desses sambistas... Inclusive os sambistas da baixada fluminense? Anizio Abrão David – A vida deles também era muito difícil. O sambista no Brasil nunca teve nada. Se a gente não ajudasse, acho que nem samba tinha mais no Rio de Janeiro e no Brasil afora, porque o sambista sempre passou necessidade. Você tinha que ajudar um pouquinho para ele ter ânimo de continuar no samba. 36 Revista Beija-Flor de Nilópolis Ricardo Da Fonseca – Mas como você ajudava esses sambistas? Anizio Abrão David – Eu patrocinei a gravação em estúdio e a impressão de discos (LPs) de diversos sambistas que vinham me procurar. Se você não bancasse, eles não teriam como gravar. Não havia de onde eles tirarem dinheiro para custear essa produção. Não existiam leis do governo para incentivar empresas a patrocinar esses discos... Então as empresas não patrocinavam cultura. Você tinha que bancar um LP para eles. Nessa época era muito comum o “livro de ouro”, que era passado pelos sambistas para conseguir Anizio e Jamelão. um dinheirinho. Lembro-me que o Cabana, nosso querido compositor, fez um samba - usando a ideia do samba do crioulo doido - que falava assim: “Nem todo crioulo é doido. Nem todo crioulo é doido. Presta atenção pessoal O crioulo só endoida quando chega o carnaval. Quando chega o carnaval O crioulo sai, com o livro de ouro na mão passa o dia inteiro, sem arranjar um tostão.”... Ricardo Da Fonseca – Como você se sente sabendo que fez muitas coisas importantes para o sambista e o samba? Anizio Abrão David – Sinceramente, quem me conhece sabe que não fiz nada que não fosse motivado pelo meu desejo sincero de ajudar. Papai do céu sempre me deu muito e seria natural que eu fizesse alguma coisa pelas pessoas que precisam. Se fico feliz de ver hoje que ajudei muitos homens a poderem sustentar seus filhos, colocá-los em uma boa escola, comprar um bom presente para a mulher, ter uma casa boa para morar? Sim, eu fico feliz. Mas quem não ficaria? www.beija-flor.com.br Fevereiro 2010 37 SERÁ O FIM DA ALA DE BAIANAS? FELIPE FERREIRA Um dos momentos mais sublimes do desfile de uma escola de samba é a passagem da ala de baianas. Aquelas lindas senhoras com suas grandes saias rodadas são verdadeiros reservatórios de emoção e amor capazes de dar legitimidade a qualquer agremiação. Uma escola de samba sem ala de baianas não é uma escola de samba. Fica-lhe faltando a alma, a essência, a raiz e a verdade. Presentes desde os primeiros momentos das escolas, as baianas têm passado, durante todos estes anos, por muitas modificações, tanto em suas fantasias quanto na forma como se apresentam. Inicialmente desfilando em filas laterais, passaram a se reunir em grupos cada vez maiores formando verdadeiras massas de grande destaque nos desfiles. Sua musicalidade sempre foi louvada como uma expressão fundamental da alma brasileira, ecoando os cantos negros, os sons do interior do país e a essência musical popular. Em seus movimentos de braços e giros acumulavam-se devoções, procissões, cultos africanos, católicos, cortejos e danças religiosas traduzidas em apresentações únicas, soberbas, sempre louvadas pela intelectualidade e aplaudidas pelo público mesmerizado por uma “coreografia” popular e espontânea. Sua fantasia – baseada nas indumentárias tradicionais das baianas quituteiras que ocupavam as ruas do Rio de Janeiro desde finais do século XVIII – reunia itens tradicionais – como os panos da costa, os torsos, as saias rodadas e o balangandãs – a elementos singelos – como cestinhas de flores, pequenas bandeiras, aviões de plástico, réplicas de planetas – que ajudavam a contar o “enredo” apresentado pela escolas. Em suma, os grupos de baianas eram como verdadeiros traços de união entre Vó Nadyr (a mais antiga baiana em atividade da Beija-Flor de Nilópolis), Felipe Ferreira (pesquisador de cultura brasileira) e Laíla (diretor de Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis) 38 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br a tradição mais profunda e a modernidade velhas senhoras possível das escolas de samba na expressão que guardam, mais popular de seus primeiros anos. em seus moviAs modificações por que passaram os desfimentos e em les – crescendo em importância e tamanho e seu cantar, boa transformando-se na principal expressão do parte da história carnaval brasileiro na década de 60 – tiveram e da memória reflexos na ala de baianas que cresceu em das escolas de tamanho, em organização e em imponência. samba. Pouco a pouco, suas indumentárias tornaA pergunta que vam-se iguais em cada detalhe, impedindo fizemos no títuque cada baiana utilizasse suas pulseiras e lo deste artigo colares pessoais. As fantasias ampliavammarca, desse se com a incorporação dos grandes aros modo, uma predos miniaques (em substituição às antigas ocupação, cada anáguas engomadas) capazes de sustentar vez mais presaias cada vez mais rodadas e decoradas. sente, daqueles Permaneciam, entretanto, as peculiaridades que amamos das baianas de cada escola, representadas, os desfiles das principalmente pelos gestos e movimentos escolas. Como de sua dança, nos quais, um olhar atento, equilibrar a neainda podia perceber ecos de um passado Vó Nadyr, em Desfile pela agremiação de Nilópolis (dé- cessidade de cada de 70) não tão remoto. engrandecimenEntretanto, a transformação dos desfiles to do espetáculo em espetáculos audiovisuais, no final do século XX, com a preservação do sentido mais profundo de uma iria encontrar na ala de baianas uma espécie de de- ala tão representativa de uma escola de samba? O safio. Como adaptar aquele grupo de senhoras às caminho da grandiosidade parece ter chegado a um necessidades de um espetáculo que se queria cada beco sem saída na medida em que força o afastavez mais grandioso e internacional? Como traduzir mento exatamente daquelas senhoras que mais a respeitabilidade e a importância daquela ala sem amamos ver desfilar e das quais nenhuma escola perturbar a unidade de um desfile cada vez mais im- pode prescindir. Outras soluções precisam ser desponente? cobertas pela criatividade e engenhosidade de nosA “solução” encontrada foi a valorização visual da sos carnavalescos. Novas regulamentações talvez ala, ampliando suas fantasias – que adquiriam rodas possam ser pensadas no sentido de limitar tamanho cada vez mais gigantescas – incorporando esplendo- e peso das fantasias. Soluções inesperadas podem res, golas, adereços de mão e decorações suntuosas sair do diálogo entre a inovação dos criadores e a associados a temáticas que a afastavam cada vez sabedoria das próprias baianas. As possibilidades mais da baiana tradicional. O sucesso deste novo são muitas. O importante é percebermos a tempo formato, entretanto, vem cobrando seu preço às es- que um caminho diferente precisa ser descoberto colas. O deslumbrante visual das grandes fantasias com urgência. Com isto, poderemos ter a certeza de criou a necessidade de um desfile cada vez mais or- que, ao contrário do que poderíamos temer, estareganizado, em filas e colunas, e com lugares prede- mos presenciando o renascimento da ala que reúne terminados para cada baiana. A grandiosidade das e representa tudo que mais amamos no carnaval das indumentárias passou a impedir os movimentos es- escolas de samba: nossas “mães” baianas. pontâneos individuais, que se transformaram em coreografias ensaiadas nas quais todas as baianas só podem girar num determinado momento e para um ______________ mesmo lado, por exemplo. Além disso, o peso exces- Felipe Ferreira é professor do Instituto de Artes da sivo das fantasias, que chegam a atingir mais de 30 Uerj, coordenador do Centro de Referência do Carquilos, acaba por afastar aquelas que deveriam ser naval e Membro do Estandarte de Ouro de O Globo. as mais importantes personagens do desfile, as mais Fevereiro 2010 39 BRASÍLIA uma jovem senhora com muita história para contar DÉBORA ZAMPIER Amada ou odiada, Brasília só não desperta um sentimento: indiferença. A cidade, que completa 50 anos no próximo dia 21 de abril, foi concebida com o objetivo de chamar atenção para uma região até então esquecida do interior do país. E cumpriu sua missão: desde os primeiros discursos apaixonados sobre sua criação até a imponência política e econômica ostentada atualmente, Brasília rompeu com o Brasil costumeiro. Um rompimento salutar na definição de nossa própria identidade, embora, parafraseando Caetano Veloso, muitos narcisos ainda achem feio o que não é espelho e ainda torçam o nariz para a capital federal. Brasília já habitava mentes e corações muito antes de existir no papel. Foi em 1893 que se pensou criar uma cidade longe do abarrotado litoral, ideia passada para o Pequeno Atlas do Brasil em 1922. A região era conhecida como Quadrilátero Cruls, referência ao grupo do astrônomo belga Luiz Cruls, que liderou a Comissão Exploradora do Planalto Central entre 1892 e 1893. Já em 1927, um documento registrado em um cartório de Planaltina, hoje cidade-satélite do Distrito Federal, mostrava os primeiros traços simples e despojados pelos quais a nova capital seria conhecida. Seria ingênuo imaginar que Brasília surgiu por meio de uma vocação natural, muitas vezes respaldada em argumentos que sugerem o sobrenatural, como o sonho de Dom Bosco. Entretanto, não há brasiliense que desconheça a passagem referente ao padre italiano Giovani Bosco, que falava sobre um “leito muito largo, que partia de um ponto onde se formava um lago, situado entre os paralelos 15 e 20 graus de latitude sul”, uma “terra prometida, donde correrá leite e mel”. O devaneio onírico é datado de 40 Revista Beija-Flor de Nilópolis meados do século XIX e Bosco jamais havia visitado a região. Apesar da importância histórica, Bosco e Cruls chegam a ser coadjuvantes se comparados a um nome definitivo para o surgimento da nova capital: Juscelino Kubitschek. JK e Brasília são quase sinônimos, em uma anomalia sintática que aproxima criador e criatura. Antes de chegar à presidência, o político mineiro já havia se destacado no Executivo como prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais. Como presidente, fez de Brasília a meta-síntese de seu governo. A cidade no coração do Brasil atenderia vários propósitos e marcaria tanto a trajetória de JK quanto o destino do país. O momento histórico do surgimento de Brasília era de extrema falta de governabilidade no Rio de Janeiro devido a pressões político-militares. A gravidade assustava a ponto de JK se imaginar deposto antes de seu mandato terminar. Era preciso pensar em uma saída estratégica. A solução vinha de uma tese que surgiu um século antes, defendida sucessivamente por várias gerações: o desbravamento do “sertão” brasileiro para levar desenvolvimento e integração ao Brasil. A ideia era substituir o bandeirante passageiro pelo pioneiro perene, conforme defendido pelo próprio JK em seu livro de memórias Por que construí Brasília. Foi assim que JK e seus aliados lutaram pela transferência da capital na Câmara dos Deputados ainda na década de 40, conquistando a aprovação do projeto de lei para a construção de cidade em meados de 1956. Segundo historiadores, a casa só aprovou a matéria por acreditar que Juscelino não conseguiria cumprir o prazo, o que resultaria na cova política do presidente visionário. Para surpresa geral, até www.beija-flor.com.br calçadas e esquinas, causando tanto estranhamento aos visitantes. Se ainda hoje Brasília surpreende por ser “diferente”, imagine o impacto que causou há 50 anos. O impacto também foi financeiro: a construção da cidade consumiu nada menos que 1,5 bilhões de dólares – cerca de 19,5 bilhões com correção monetária atual - coincidindo com a explosão da inflação e da dívida externa do país. Relatos veiculados nos principais jornais da época - um deles do ilustre dramaturgo Nelson Rodrigues para o Última Hora - mostravam ao Brasil que a nova capital era ao mesmo tempo possível, mas irreal. Em quatro anos, foram erguidos Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal, onze edifícios ministeriais e Palácio da no uso dos materiais. O aço ganhou destaque pela facilidade com que dava forma aos prédios imaginados por Niemeyer, além de possibilitar ousadias, a exemplo das colunas da entrada do Alvorada, “leves como penas pousando no chão”, segundo as palavras do próprio arquiteto. Nome injustamente esquecido pelos menos avisados, o urbanista Lúcio Costa deu a forma de “avião” a Brasília. É dele o projeto que acumula poder na área central, espalha residências entre asas, amplia o horizonte com a abolição de arranha-céus, divide a cidade por setores temáticos e a despe de Alvorada. Seus habitantes já disporiam de serviço de eletricidade, de água e de esgoto; mais de 3000 moradias; hospital público com 500 leitos; escolas e estação rodoviária. Sua estreia atraiu entre 150 mil e 250 mil visitantes, inclusive aqueles que torciam o nariz para o sucesso do empreendimento de JK. Um ditado diz que os pioneiros que ergueram a cidade trabalhavam 36 horas por dia: 12 horas durante o dia, 12 a noite e 12 pelo entusiasmo. Entretanto, esses mesmos pioneiros, que chegaram a dar a vida pela conclusão da urbe, foram excluídos de seu Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins mesmo dos oposicionistas mais ferrenhos, Brasília foi erguida em quatro anos, um verdadeiro oásis em meio ao cerrado praticamente intocado. Mais uma vez criador e criatura se aproximam. Desta vez, a referência está nos prédios e na arquitetura da cidade que reluz de tão nova. Impossível falar de Brasília e não lembrar do arquiteto Oscar Niemeyer, responsável por obras de fama e reconhecimento mundial, como o Congresso Nacional e o Palácio da Alvorada. A ideia era que a cidade parecesse moderna mesmo sem estar completa ou densamente povoada. O objetivo foi atingido com o uso de traços que desafiavam os padrões vigentes, resultando em inovações na concepção das estruturas e na proporção Fevereiro 2010 41 Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins convívio. Acabaram levados para as cidades-satélites, uma vez que não se encaixavam no modo de vida moderno e requintado exigido pela Brasília que acabaram de conceber com as próprias mãos. Hoje há um bolsão de pobreza que cerca o Plano Piloto e lagos Sul e Norte. Seus habitantes vivem das sobras da pujança financeira das áreas mais ricas. No início, a nova capital causou ciumeira generalizada na cidade que a abrigou por tantos anos: o Rio de Janeiro. Os cariocas sabiam que uma perda irreversível se abatia sob a Cidade Maravilhosa, embora muitos tenham comprado o discurso desenvolvimentista de JK, acreditando que a transferência da capital seria benéfica para o Brasil. Ainda assim, a doce vida à beira mar dos funcionários públicos federais seria trocada pelo calor seco revestido de poeira do cerrado, que cobria de tons amarronzados a fina vestimenta de seus novos e ilustres habitantes. Apesar do esforço hercúleo para disponibilizar de recursos de infraestrutura e lazer, a cidade ainda estava a milhas do desenvolvimento urbano de sua antecessora fluminense. Os poucos hotéis e restaurantes ficavam lotados, faltavam artigos básicos, como cabides e travesseiros, que chegavam às pressas de avião. As pessoas reclamavam da falta do que fazer e do enorme silêncio e solidão que pairavam sob o Planalto Central após o frenesi da inauguração. Essa sensação atingiu até mesmo 42 Revista Beija-Flor de Nilópolis a escritora Clarice Lispector, que, em uma crônica publicada em 1962, clamou: “Cadê as girafas de Brasília? É urgente. Se não for povoada, ou melhor, superpovoada, uma outra coisa vai habitá-la. E se acontecer, será tarde demais: não haverá lugar para pessoas”. Para alívio dos solitários, as pessoas começaram a chegar. A cidade foi sendo ocupada por burocratas que chegavam para assumir seus postos no funcionalismo público, trazendo família e o estilo de vida da classe média e média alta. Moravam nos prédios de seis andares, todos iguais ao molde de grandes pombais; mas as ruas, essas continuavam vazias. As enormes distâncias impediam a locomoção a pé (como ainda fazem hoje), e os pontos de encontro possíveis eram restaurantes, clubes ou salas de cinema. Pessoas vinham de todo o país em busca de trabalho e de enriquecimento, ninguém estava ali para brincadeira. Daí a fama de “formal” que até hoje caracteriza a cidade e seus ocupantes. Tanta formalidade acabou criando um movimento diametralmente oposto na década de 80: o rock brasiliense. Filhos de pais abastados começaram a se revoltar contra uma vida boa demais, que não dava brechas para contestação. Surgiram bandas como Capital Inicial, Plebe Rude, Detrito Federal, e a mais famosa expoente do movimento, Legião Urbana. O poeta Renato Russo conseguiu sintetizar em suas músicas o pensamento dos jovens que já estavam “cheios de se sentirem vazios”, como diz a letra de Baader-Meinhof Blues. Acabou extrapolando os limites do Plano Piloto e arrebatando toda uma geração, que passou a olhar a pulsante capital federal com curiosidade e inquietação. Os escândalos políticos, a farra com o dinheiro público, os altos salários e uma geração criada sem muitos limites financeiros e éticos acabaram mostrando um lado repulsivo da cidade, dando a falsa impressão que na ilha da fantasia tudo pode. Mas Brasília é muito mais que um estereótipo, habitada e impulsionada por milhares de pessoas de bem. De fato, está mais para um Brasil em miniatura, com suas maravilhas e seus problemas. Também está longe de não ter uma identidade, embora essa seja a avaliação de nove entre dez observadores. Assim como nosso país, que se caracteriza pela união e mescla de vários povos e culturas nos últimos cinco séculos, a identidade de Brasília está no mosaico de cada pedacinho do Brasil reunido aqui nas últimas cinco décadas. E como ele, avança para um futuro promissor. www.beija-flor.com.br Foto: Luiz Trazzi Brasília está comemorando 50 anos. E nada melhor que uma cidade em festa para receber o seu evento. O Centro de Convenções Ulysses Guimarães, localizado no centro da capital, conta com infraestrutura completa e capacidade para mais de nove mil pessoas. Além disso, você também vai se surpreender com os monumentos do arquiteto Oscar Niemeyer e com as obras de renomados artistas brasileiros que fizeram da capital Patrimônio Cultural da Humanidade. Brasília é muito mais do que você imagina. CENTRO DE CONVENÇÕES ULYSSES GUIMARÃES – BRASÍLIA NO CENTRO DAS ATENÇÕES, ASSIM COMO O SEU EVENTO. Foto: Aparecido Pinto Foto: Luiz Trazzi Foto: Luiz Trazzi Para mais informações, ligue 61 3214-2756. Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Monumental como Brasília. [email protected] Fevereiro 2010 43 CARNAVAL 2010 Recriando a capital federal Empenhada em conquistar mais um título de campeã do carnaval carioca – o sexto nesse novo século –, a Beija-Flor de Nilópolis apresentará ao público o enredo “Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília: do sonho a realidade, a capital da esperança”. Esse sonho teve início quando a Comissão multidisciplinar do governo do Distrito Federal, responsável pelo planejamento dos diversos eventos que serão realizados em 2010 em comemoração aos 50 anos da Capital Federal, decidiu incluir nos festejos a participação de uma escola de samba do Rio de Janeiro homenageando a data. Depois de muita negociação, a Comissão do GDF (Governo do Distrito Federal), em parceria com a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), definiu que estariam habilitadas para essa iniciativa as cinco primeiras colocadas no ranking da Liesa. O resultado foi o melhor para Brasília: a escola nº 1 do ranking ficou com a responsabilidade de levar para a avenida um desfile à altura dessa que é a maior obra arquitetônica e administrativa planejada do século 20. THAÍS MEDEIROS Iluminando o carnaval carioca com grandes shows de criatividade e elegância, a Beija-Flor de Nilópolis prepara para 2010 um desfile cheio de surpresas e emoções que promete despertar em seu público sonhos e paixões. Com esse enredo, a azul e branco de Nilópolis tem como principal objetivo apresentar uma Brasília diferente do que conhecemos, desmistificando a associação da cidade à política do país. O enredo é uma comemoração à Capital Federal que fora sonhada já por Tiradentes na época da Inconfidência e tornada realidade por Juscelino Kubitschek anos mais tarde, através do trabalho árduo dos candangos, aqueles que partiram de diferentes partes do país rumo a Brasília para a construção da terra idealizada, criando a grande miscigenação que há hoje na cidade e que fez dela uma região de grande mistura racial e cultural. De olho no título, a Beija-Flor de Nilópolis prepara para a avenida um desfile diferente de tudo que já foi feito pela escola. Para isso, ela conta com o 44 Revista Beija-Flor de Nilópolis talento de sua competente comissão de carnavalescos, formada por Alexandre Louzada, Ubiratan Silva, Fran Sérgio e pelo diretor geral de carnaval da agremiação, Laíla, que juntos desafiaram a lógica popular, pensando numa nova forma de se apresentar Brasília. “Eu procurei traçar uma história que iria além das expectativas de todos, ou seja, falar um pouco da pré-história de Brasília, falar de todas as coincidências, as inspirações que levaram as cabeças que pensaram no projeto da cidade e na sua realização, e que ela é um resultado dessas suposições ou dessas inspirações, que remontam até 3.000 anos antes de cristo”, conta Louzada. ESTUDANDO O CAMINHO PERCORRIDO É inegável que a Beija-Flor de Nilópolis tem se tornado cada vez mais exuberante na avenida; daí o apelido de “princesinha da passarela”. Mas para manter esta fama é necessário muito trabalho duro e muita dedicação também, já que não é qualquer uma que consegue se manter como a escola número um no ranking da Liesa, posição mais do que www.beija-flor.com.br merecida, já que nos últimos sete carnavais ela foi campeã por cinco vezes. Neste sentido, o primeiro grande desafio da agremiação de Nilópolis para o carnaval de 2010 será superar a si mesma. Para alcançar esse objetivo a escola está empenhada em corrigir seus erros, a fim de atingir algo o mais próximo da perfeição. “Estamos investindo em vários pontos que a escola falhou no carnaval 2009. Nós verificamos a justificativa dos jurados, e vimos o que era coerente e o que não era, o que a gente achava que eles estavam certos, e o que não concordávamos. Achamos realmente que havíamos errado em alguns pontos, os quais nesse ano buscamos aprimorar e corrigir, para que não cometêssemos os mesmos erros que cometemos no carnaval de 2009.”, relata Ubiratan Silva, o Bira. Por essa razão, a participação do Laíla na direção de carnaval da escola para esse desfile foi e é muito mais efetiva, e tem que ser destacada. Esse é um carnaval que o Laíla está dirigindo minuciosamente, verificando cada detalhe, discutindo cada ponto, sendo muito exigente com ele mesmo e com todos os integrantes da comissão de carnavalescos e do Barracão, para que cada um realize o melhor. Segundo Fran Sérgio, a direção e os componentes da agremiação de Nilópolis são muito exigentes uns com os outros, no bom sentido. “Temos um respeitável histórico como campeões do carnaval carioca. Respeitando nossas coirmãs, sabemos que podemos vencer sempre, se nos preparamos bem para isso. Temos uma grande experiência, boas ideias, bons sambas, ótimos profissionais e muito, muito coração. Todos nós temos uma autocrítica muito grande, e é isso que torna a nossa escola cada vez melhor, cada ano mais bonita. E o envolvimento e as orientações do Laíla são essenciais nesse processo, porque despertam em cada componente o desejo de realizar seu trabalho da melhor maneira, buscando o melhor de si”, revela. O resultado disso nos bastidores da azul e branco é um clima bastante harmônico, e de muito ensaio também. Além da correção dos erros identificados, a escola está investindo em grandes surpresas. Segundo Alexandre Louzada, “a Beija-Flor de Nilópolis sempre prepara surpresas para a avenida. Nada assim de muito tecnológico não. Queremos surpreender pela própria riqueza desse enredo, que a primeira vista pode parecer banal, uma simples homenagem, um enredo puramente patrocinado, mais é uma história muito bonita para ser contada. Uma das surpresas pode acontecer nos teatros que o Hilton Castro fará no chão. Mas a grande surpresa, do meu ponto de vista, será a realização de um carnaval totalmente diferente do que foi preparado até hoje. Bastante diferente, porque o Laíla não quer nada parecido com algo que já tenha sido feito. Acho que a grande surpresa é essa mudança: as fantasias mais leves, os carros mais trabalhados, porque nós estamos falando de algumas obras de arquitetura mundialmente conhecidas, e temos que respeitar esse traço, o traço de Oscar Niemeyer; Alexandre Louzada, Laíla, Bira e Fran-Sérgio, integrantes da Comissão de Carnavalescos da agremiação. Fevereiro 2010 45 isso tem que ser colocado de uma forma bastante correta, porque ele é um dos ícones da arquitetura mundial”, conclui. E não dá para contar a história da capital da esperança sem lembrar desses grandes nomes que estão envolvidos, de forma direta ou indireta, em sua construção, nomes de grande importância não só para a construção de Brasília como também para a construção do Brasil: Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, autores do projeto do Plano Piloto. Mas para fugir dos padrões esperados, foram feitas muitas pesquisas para se achar o caminho de como se fazer um desfile à altura da tradição da Beija-Flor de Nilópolis e da importância de Brasília. Assim, colocando para fora toda a sua experiência e competência, a agremiação conseguiu desenvolver o enredo de uma maneira que foge totalmente do que as pessoas costumam pensar a respeito da Capital Federal. A azul e branco levará para a avenida uma cidade planejada, uma verdadeira obra de arte arquitetada pelo homem, localizada no centro de nosso país, e que é hoje um Patrimônio da Humanidade e também nossa Capital Federal. O in- 46 Revista Beija-Flor de Nilópolis tuito é despertar no povo o carinho e respeito por esta metrópole. Por fim, a escola conta ainda com o apoio da comunidade, sua marca registrada, para dar um toque a mais no seu desfile, abrilhantando sua apresentação, fazendo com que seu enredo ecoe como uma melodia suave aos ouvidos do público. Segundo Laíla, esse é na verdade o grande trunfo da Beija-Flor de Nilópolis: “temos uma comunidade muito forte, e isso está servindo de exemplo para muitas escolas. O futuro das escolas de samba será com comunidades, porque se não acaba.” Com todos esses ingredientes, podemos esperar para 2010 um desfile com muita garra, emoção, alegria e confiança na busca de mais um título de campeã, mostrando mais uma vez ao seu público que a Beija-Flor de Nilópolis é uma escola que vai à luta e que não desiste de seus objetivos. “As expectativas são as melhores. Acho que a escola vem mais forte do que nunca, o espírito dela é de união, um espírito que tem tudo para dar certo. Nós vamos fazer um belo carnaval... Beija-Flor 2010 campeã”, encerra Anizio Abrão David. www.beija-flor.com.br CARNIVAL 2010 BRASÍLIA Recreating the Capital Committed to winning another Carioca carnival title – the sixth of this new century – Beija-Flor of Nilópolis will present the theme “Shining in the New World Sun, Brasília: From dream to reality, the capital of hope”. This dream started when the multidisciplinary committee of the Federal District government, responsible for planning the various events that will be part of the commemorations of the 50th anniversary of Brazil’s capital city, decided to include the participation of a carnival association, or samba school, from Rio de Janeiro to mark the date. After extensive negotiations, the government committee, in partnership with the Independent League of Samba Schools (LEISA), decided that one of the top five samba schools in the LEISA ranking would be eligible to make the construction of Brasília its carnival theme in 2010. The result couldn’t have been better for Brasília: none other than Beja-Flor, the top-ranked school, accepted the challenge and will take to the avenue the theme of the greatest architectural and administrative undertaking of the twentieth century. To light up Carioca carnival with a truly creative and elegant show, Beija-Flor’s parade in 2010 will be full of surprises and emotions that promise to whip spectators into a frenzy of dreams and passions. With this theme, the blue and white crew from Nilópolis will present a Brasília different than we know, demystifying the city’s association with the country’s politics. The theme is a commemoration of the federal capital that was a dream even of Brazil’s independence movement hero Tiradentes at the time of the Inconfidência uprising in the eighteenth century, and that finally became reality under President Juscelino Kubitscheck so many years later, through the arduous work of the candangos, the laborers who came from all over the country to build the idealized city, creating as well the miscegenation that still marks the city today, making it a great racial and cultural melting pot. With its eye on another title, Beija-Flor has prepared a different parade from anything it has ever done. To do this, it called on the multiple talents of its carnival committee, formed of Alexandre Louzada, Ubiratan Silva, Fran Sérgio and the group’s general director, Laila. Together their challenge was to find a new way to present Brasília. “We tried to trace out Foto: Acervo BrasíliaTur / Luiz Trazzi Martins THAÍS MEDEIROS Fevereiro 2010 47 a history that goes beyond everyone’s expectations, that is, to present something of the region’s prehistory, and then to depict all the coincidences and inspirations that entered the heads of those who idealized and built the city, and show that today it is a result of these inspirations, in a history that goes back 3,000 years before Christ,” says Louzada. STUDYING THE PATH FOLLOWED Beija-Flor has unquestionably been growing ever more exuberant on the avenue, earning it the endearing nickname of the “princess of the parade”, but to live up to this fame takes plenty of hard work and dedication. After all, it’s no mean feat to stay atop the LEISA ranking, an honor gained for being champion in five of the past seven carnivals. The first big challenge for the group from Nilópolis for the 2010 carnival will be to surpass its own past performances. To achieve this, the school is focusing on its own errors, to be as perfect as possible. “We’re investing to correct various points where we fell short in last year’s carnival. We examined the reasoning of the jury members and saw what was coherent and what wasn’t, where they were right and where we disagreed. And we realized that we really had erred in some aspects, and this year we intend to correct and improve these, so we won’t make the same mistakes this year as we did in 2009,” states Ubiratan Silva, or Bira as he’s better known. For this reason, this year Laila has been even more engaged as carnival director and he deserves to be highlighted for this. Laila has overseen the preparations for this year’s carnival meticulously, checking every detail, discussing every point, being more demanding of himself and all the other members of the carnival committee and the work crew, so that each can achieve his or her best. According to Fran Sérgio, the leaders and the rest of the group from Nilópolis are very demanding of each other, in the positive sense of the word. “We have a notable history of winning Carioca carnival championships. While respecting our peers, we know we always have a chance of winning if we prepare properly. We’ve got unmatched experience, good ideas, good sambas, excellent staff and lots and lots of heart. All of us are severe self-critics, and this is what makes our school get better and more beautiful every year. And Laíla’s involvement and guidance are essential in this process, because they instill in each of us the desire to work better, to do our best,” he reveals. The result of this is a backstage climate of harmonious effort and dedicated rehearsal among the blue and white crew. Besides correcting the errors identified, the group is investing in big surprises. According to Alexandre Louzada, “Beija-Flor 48 Revista Beija-Flor de Nilópolis always prepares surprises for the avenue. This doesn’t necessarily mean something high-tech. We want to surprise people with the richness of this theme, which at first glance might appear banal, a simple homage, a purely sponsored theme. But there’s a beautiful story to be told. One of the surprises can occur with the theaters that Hilton Castro will create on the ground. But the big surprise, in my point of view, will be the realization of a totally different carnival parade from anything seen so far. Very different because Laila doesn’t want anything like what’s been done before. I think the big surprise will be this change: lighter costumes, more elaborate floats, because we’re talking about architectural works that are world renowned, and we have to respect what Oscar Niemeyer sketched out. This has to be in the forefront and with no mistakes because Brasília is one of the world’s architectural icons.” And no story of this capital of hope would be complete without remembering the great visionaries who were involved, directly or indirectly, in its construction, names of great importance not only for Brasília’s construction, but for Brazil’s as well, particularly Oscar Niemeyer and Lúcio Costa, the creators of the Pilot Project. But to surpass expectations, extensive research was done to create a parade worthy of Beija-Flor’s great tradition and Brasília’s huge importance. With all their experience and skill, the staff members managed to develop parade motifs and theme music that go beyond what people usually think about the country’s capital. The blue and white will take to the avenue a planned city, a veritable work of art, located in our country’s heartland, recognized today as a World Heritage Site, but also our working capital. The aim is to impart love and respect for this metropolis. And in this effort, the school as always counts on the support of the Nilópolis community, its trademark, to give that extra boost to its parade. The public will see this difference in a shining parade and hear it in a smooth and melodious theme samba. According to Laila, this is Beija-Flor’s real trump card: “We’ve got a really strong community, and this is serving as an example to many other schools. The future of samba schools rests with the communities, because they’ll never cease being a wellspring of inspiration.” With all these ingredients, Beija-Flor’s 2010 carnival parade will be a truly joyous and emotional experience, based on the hard work and confidence of everyone involved in seeking one more in a long line of championships, showing once again that Beija-Flor is a carnival group that faces its challenges and never deviates from its goals. “The expectations are for the best. I think we’re stronger than we’ve ever been, our spirit of working in harmony will assure that everything goes right. We’re going to put on a beautiful carnival... BeijaFlor, 2010 champion,” predicts Anizio Abrão David. www.beija-flor.com.br Brilhante ao Sol do Novo Mundo BRASÍLIA Do Sonho à Realidade, a Capital da Esperança Fevereiro 2010 49 ABERTURA Dádivas Concedidas pelo Criador num Sonho Divinal Ala: Comissão de Frente Presidente: Ghislaine Cavalcante Número de Componentes: 15 O beija-flor, símbolo vivo do G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis voa velozmente, ultrapassando as fronteiras do tempo, materializando o vislumbre que apontava para o local onde deveria ser construída a futura capital do Brasil, então representada por um de seus mais suntuosos monumentos, a Catedral de Brasília. O pequenino pássaro baila entre a legião de arautos que conduziram o espírito celestial que fez, através de um sonho, a grande anunciação para o padre Dom Bosco. “... quando vierem explorar as riquezas prometidas neste planalto, surgirá aqui a Grande Civilização, a Terra Prometida, onde jorrará leite e mel...” O Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial vem se tornando, a cada ano, uma arena de arte e competição. As agremiações, comprometidas com resultados que as levem a brigar pelo título de campeã, investem cada vez mais em inovação e criatividade. Na Beija-Flor de Nilópolis as surpresas já iniciam no formato da comissão de frente, agora integrada por rapazes mais jovens que nos anos anteriores – uma média de 20 anos de idade. Segundo a core- 50 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br ógrafa Ghislaine Cavalcanti, “o enredo desse ano é muito especial. Ele permitiu que concebêssemos movimentos bem interessantes que, tenho certeza, agradarão ao público. Esses movimentos, no entanto, vão exigir mais agilidade e dinâmica de cada um deles, o que justificou a mudança na formação da equipe. Para o carnaval de 2010, vamos entrar na avenida com 14 homens – todos eles jovens – e apenas uma mulher.” Mas as surpresas não param por aí. Abusando de um belo figurino, concebido especialmente pelo designer Henrique Filho, a comissão de frente promete empolgar o público do primeiro setor com muita alegria, beleza e criatividade. Criatividade que, aliás, é uma marca imposta pela Coreógrafa Ghislaine Cavalcanti, que comemora com muita alegria 14 anos na direção da comissão de frente da agremiação de Nilópolis. “Quatorze anos é um tempo considerável dentro de uma escola de samba. E o que me deixa muito O Brilhante Olhar de Jaci Ala: 1o Casal MS e PB Presidente: Selmynha SorrisoZ & Claudinho Número de Componentes: 2 Jaci (do Tupi îasy, “lua”), na mitologia Tupi, é a deusa da Lua, protetora dos amantes e da reprodução. Segundo o Mito Goyás, uma versão indígena para a formação geográfica da capital Brasília, por contrariar os desígnios do supremo Deus Tupã, a deusa foi condenada a ficar eternamente no céu, sob a forma de lua. O romântico brilho do luar tornou-se seu único elo com Paranoá, através de seu reflexo nas águas do lago Paranoá. A Futura Capital Presencia a Quimera de sua Geografia Ala: Força Negra Presidente: Alessandra Oliveira Número de Componentes: 15 A Fascinante Ira de Tupã Ala: Primavera Presidente: Aroldo Carlos Número de Componentes: 100 Consoante o Mito Goyás, Tupã, o Deus supremo, fica irado e enciumado da paixão de Jaci, a Deusa Lua, pelo índio Paranoá e, em meio à raios e trovões, retira o encanto de Jaci, a condenando a ser somente lua, e transformando Paranoá em um lago.. Gislaine Cavalcanti. feliz e realizada é saber que pude dar a minha contribuição – pelo meu conhecimento e pela minha experiência como bailarina – a essa escola de samba que tem como marca a vanguarda. Acredito que ajudei a construir um capítulo dessa história vitoriosa, que é a história da Beija-Flor de Nilópolis. E isso me deixa muito realizada”, confidencia a coreógrafa. Alegoria Abre-Alas “O Nascer do Mito Goyás - O Reflexo do Amor nas Águas do Paranoá” Harmonia do Setor: Anízio, Laíla & Marcos Aurélio Fevereiro 2010 51 SAGRAÇÃO NEGRA NA SAPUCAÍ Selminha e Claudinho celebram 15 anos de realeza na Deusa da Passarela MIGUEL SANTA BRIGIDA Dunga Tara Singuerê: Salve o grande Senhor! O verso deste samba-enredo, herança da riqueza do imaginário africano diversas vezes cantado pela Beija-Flor de Nilópolis, certamente formaria um emocionado coro de canto e reza do país do carnaval em agradecimento e louvor a Selminha Sorriso e Claudinho, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da azul e branco, cujo bailado nobre é signo de consagração ritualística de beleza, sedução, magia e religiosidade. O moderno e luxuoso desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, em sua complexa e apaixonante unidade estética e dramática, entrou no terceiro milênio reafirmando a força das culturas populares brasileiras em intercorrência com as novas mídias, tecnologias e sua peculiar capacidade de atualização de seu caráter ritualístico que o consagrou como o maior espetáculo da terra dentre os diversos eventos desta natureza no planeta. É, sem dúvida, esse denso ritual de canto e dança herdado de nossa mãe África, cujos ancestrais tambores são matrizes do espetáculo do samba carioca e m forma de cortejo dançado que instaura o sentido d e reencantamento do mundo contemporâneo. Na diversidade de modalidades coreográficas revelada na Sapucaí, encontramos a singular dança do casal mestre-sala e porta-bandeira, que concilia e sintetiza a um só tempo aspectos 52 Revista Beija-Flor de Nilópolis das linguagens dramática, teatral, coreográfica e performática, dentre outras, além dos códigos e passos característicos desta dança que definem a sua tradição. É no rico universo desses casais de dançarinos, espécie de constelação de estrelas negras, que brilha de maneira especial e reluzente, há quinze anos - o sorriso de Selminha e a alegria de Claudinho - fazendo o céu nilopolitano iluminar de azul e prata o nosso país. Dançando juntos na escola há quinze anos, o casal se consagrou com todas as honras e glórias que todos os casais ambicionam: receberam notas máximas dos jurados em quase todos os desfiles, diversos estandartes de ouro, além de uma infinidade de prêmios que, a cada ano, enriquecem suas galerias sublinhando suas trajetórias de excelência coreográfica. www.beija-flor.com.br Para além do domínio técnico e expressivo de sua dança, que contempla de forma ilustre todas as responsabilidades, deveres e predicados que um primeiro casal requer, Selminha e Claudinho brindam o país com momentos de rara beleza e poética ao atravessarem com enorme arrebatamento e sentido ritualístico o mar de emoção e paixão que se configura o rio-rito mágico da cena sapucainiana. Num traço personalizado de suas criações, o casal é responsável por suas próprias coreografias, numa assinatura autoral de suas performances que a cada enredo apresenta um vocabulário gestual em consonância com o imaginário e contexto do tema e do samba escolhido pela escola. Esta dança autoral é vital para a originalidade da cena coreográfica do casal, que dispensa coreógrafos profissionais, hábito cada vez mais comum nas grandes escolas e que tem gerado alguns equívocos na compreensão e realização desta dança. Nesses anos de parceria no mundo do samba nasceu uma bonita amizade, construída com afeto e respeito. Em sua generosidade de doação e beleza, Selminha e Claudinho multiplicam-se em cumplicidade também em outra profissão, ao integrarem o Corpo de Bombeiros, onde o casal faz de seus gestos a delicada e corajosa arte de contribuir para salvar vidas. Mas é na passarela do samba que, ao dançarem eles rezam, celebram, louvam, agradecem, seduzem e, sobretudo, enamoram-se. É quando Claudinho, simbolicamente alado, incorpora sua escola, tornando-se um beija-flor encantado e seduzido pelo belo sorriso e beleza de sua flor, Selminha. Ele então a beija e a oferece ao mundo, brindando mais uma vez o amor e a vida. É nesta contracena de poesia que eles elevam nossas almas pelo poder mágico de seus corpos em estado de amor ao samba e a escola. Seus corpos aprenderam a dançar nas escolas de samba, em suas vivências e experiências de construírem juntos sua dança no estar - junto com a comunidade e o no sentido da experiência coletiva que o samba promove. Não são corpos moldados em academias de dança, e sim desenhados na cadência e ritmo do tambor. E é sob o signo da paixão que sua dança revela uma profunda sintonia espiritual, artística e espetacular. E os deuses africanos os abençoam do alto do panteão, e tudo neles é sagrado. Como legítimos filhos da deusa nilopolitana, o casal, em sua iluminada trajetória no carnaval brasileiro, avançou sua dança para outros espaços de transmissão de sua arte, sabedoria e respeito às escolas de samba e à cultura brasileira. Eles sistematicamente ministram cursos no país inteiro e no exterior. Selminha criou e coordena a escola de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-flor, devolvendo e comungando saber e sabedoria com a comunidade. Ao comemorarem quinze anos conduzindo o pavilhão da escola, Selminha e Claudinho merecem todas as homenagens da comunidade nilopolitana, e em especial do país, que se reconhece na brasilidade de sua dança. E a deusa da passarela continuará abençoando o rei e a rainha de seus desfiles, ofertando ao mundo a força mítica, mística e miscigenada de seu bailado. E assim, o samba e os deuses permitirão que se diga então: “são eles maravilhosos e soberanos enamorados desse meu país.” Salve o Grande Senhor! ______________ Miguel Santa Brigida é doutor em Artes Cênicas e Pesquisador de Carnaval. Fevereiro 2010 53 SETOR 01 Deus Nekhebet – O Vôo do Pássaro Sagrado e o Plano Piloto Ala: Karisma Presidente: Cleber Moura Número de Componentes: 70 Nekhebet, a Deusa-Abutre, é uma divindade da antiga religião egípcia. Deusa de todo o Alto Egito e uma das protetoras da realeza egípcia, protegia ainda os nascimentos, em especial o nascimento dos reis. Era representada como um abutre, como uma mulher com cabeça ou toucador em forma de abutre, ou ainda como uma mulher com a coroa branca do Alto Egito. Entre os epítetos utilizados para se referir à deusa, encontram-se “Senhora dos Céus” e “Regente das Duas Terras” (o Alto e o Baixo Egito), daí ser considerada o elo entre os dois Egitos. Akhenaton - O Revolucionário Faraônico Ala: Dos Cem Presidente: Terezinha Simões Número de Componentes: 70 Ala: Amar é Viver Presidente: Teresinha Alves O faraó Akhenaton, visionário, revolucionário e idealista, fundou uma nova capital, batizada com o seu nome – que significa “o horizonte de Aton”. O faraó impulsionou o monoteísmo, instituindo o deus Aton como a única divindade a ser cultuada, sendo o próprio faraó o único representante e mediador dessa divindade. A cidade de Akhenaton apresenta muitas semelhanças com Brasília, no que diz respeito à construção e ao traçado da cidade. Os Templos do Deus Sol e as Cidades Satélites Ala: Jovem Flu Presidente: Sérgio Ayub Número de Componentes: 70 O deus egípcio Aton, uma manifestação do deus solar, era representado fisicamente pelo disco solar. Aton surgiu a partir do monte Benben, e iniciou a criação do mundo. O faraó Akhenaton era devoto de Aton, e mandou construir vários templos em homenagem ao deus solar, além de ter criado um hino e fundado a nova capital do Egito para celebrá-lo. 54 Revista Beija-Flor de Nilópolis Nefertiti – A Beleza Feminina Como Fonte de Inspiração Ala: As Guerreiras Presidente: Norma Pereira & Carlos Dantas Número de Componentes: 70 Nefertiti, também chamada de Nefertiit ou Nefronete, foi rainha do Egito. A união com Akhenaton fez com que Nefertiti alcançasse um protagonismo político sem antecedentes entre as esposas reais. Adepta fervorosa do culto atoniano, desempenhava um papel central nas concepções religiosas de Akhenaton. Seu nome significa “a bela que chegou”. Sumo Sacerdote - A Imponência da Arquitetura Religiosa Ala: Camaleão Dourado Presidente: Waltemir Valle Ala: Uni-Rio Presidente: André Porfírio Número de Componentes: 70 No Antigo Egito o rei ou faraó era o elo entre o mundo dos homens e o mundo dos deuses. Como não era possível o rei estar presente fisicamente em todos os templos egípcios para celebrar os cultos, ele delegava o seu poder religioso aos sumos sacerdotes, que conduziam as cerimônias em seu nome. Os Sumos Sacerdotes eram os Servidores de Deus, que realizavam o culto diário representando o faraó. Tinham enorme poder e prestígio, tanto espiritual como material, pois administravam as riquezas e os bens dos grandes e ricos templos. Eram também os sábios do Egito, guardadores dos segredos das ciências e dos mistérios religiosos com seus inúmeros deuses. A Divindade do Disco Solar Ala: 1o Passista & Passista Destaque Presidente: Cássio Dias & Jaqueline Faria Número de Componentes: 2 Alegoria 01 “Akhetaton Ergueu-se no Egito a Fonte de Inspiração” Harmonia do Setor: Celso Bastos & Luis Cláudio www.beija-flor.com.br Fevereiro 2010 55 SETOR 02 56 A Subjugação dos Índios Avás-Canoeiros As Arrebatadas Minas de Ouro dos Índios Goyazes Ala: Foco de Luz Presidente: Mariza dos Santos Número de Componentes: 70 Os índios Avás-Canoeiros, também conhecidos como Canoeiros, Carijós, Índios Negros ou CarasPretas, compõem uma tribo indígena brasileira, a qual localiza-se na região Centro-Oeste e fala uma língua da família Tupi-Guarani. As marchas dos desbravadores na direção do interior do Planalto Central, rasgando o coração da mata, principalmente em busca de riquezas minerais e indígenas para escravização, ocasionaram um choque cultural para as tribos indígenas que habitavam a região e a subjugação dos Avás-Canoeiros. Ala: Baianas I Presidente: Pai Jorge Número de Componentes: 110 Os índios Goyazes, também denominados Goiases, Guayazes, Guaiás, Guoyá, Goyá ou Goiá povoaram as terras da nascente do rio Vermelho e a região próxima à Serra Dourada, sendo considerados a tribo ou nação aborígine do Centro-Oeste. Acredita-se que os silvícolas Goyazes tenham se extinguido com a chegada do desbravador Anhangüera, dizimados pelo violento embate com os sertanistas, ávidos por riquezas, principalmente o ouro encontrado nas minas Goyazes durante o processo de ocupação e exploração. O Desrespeito aos Índios Javaes AS BAIANAS DA BEIJA-FLOR Ala: Bem Querer Presidente: Osvaldo Luiz Corrêa & Wanda Mercedes Número de Componentes: 70 A tribo dos índios Javaes, um dos três subgrupos em que se dividem os índios Karajá, está localizada na região Centro-Oeste. Este povo fala a língua Javaé/Iny, além do português. As marchas dos desbravadores na direção do interior do Planalto Central, rasgando o coração da mata, principalmente em busca de riquezas minerais e indígenas para escravização, desrespeitaram os índios Javaes e ocasionaram um choque cultural para as tribos indígenas que habitavam a região. As baianas foram incluídas nos desfiles das escolas de samba nos anos 30, como uma homenagem às “tias baianas” que abrigavam sambistas em suas casas, marginalizados e perseguidos que eram, na época, pela prática desse gênero musical. Essas senhoras, cozinheiras de mão cheia, confeitavam deliciosos quitutes, que vendiam pelas ruas do Rio de Janeiro. Com suas vestimentas características - saia rodada, pano da costa, roupa rendada - e seus colares e pulseiras, elas foram se integrando ao cenário cotidiano da cidade para ganharem, então, a atenção e o respeito das classes dominantes cariocas. Era ao redor dos tabuleiros com seus quitutes que elas estabeleciam seus contatos sociais mais amplos, criando laços e se estabelecendo definitivamente no cenário cultural carioca. Muito respeitadas pela comunidade negra, as “tias baianas” em sua comunidade exerciam a função de mãe-de-santo de candomblé e, por essa razão, participavam ativamente do cotidiano dos cidadãos negros e suas famílias - formada por homens e mulheres vindos principalmente da Bahia. As casas dessas “tias” eram, então, pontos de reunião e resistência da comunidade negra. Lá, além dos rituais e cultos afro-brasileiros, que fortaleciam suas raízes religiosas, eram realizados encontros re- Revista Beija-Flor de Nilópolis (RENATA LEAL) www.beija-flor.com.br gados ao samba na sua expressão mais original. E por ser uma festa popular que representava e fortalecia os simbolismos do cotidiano do subúrbio da cidade da Rio de Janeiro, o Desfile de carnaval e seus blocos naturalmente inseriu a baiana nesse universo. Para o diretor de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, Laíla, as baianas sempre foram figuras representativas das suas escolas. “É a mãezona! A ala de maior respeito no desfile de carnaval. Seja onde for. E a Beija-Flor de Nilópolis tem um carinho todo especial por suas avós e tias baianas. Neste ano, serão 170 mulheres brilhando, e entre elas estarão senhoras de garra e tradição como a Vó Odete, 71 anos, a Vó Maria, 75 anos e a Vó Ana Nízia, 69 anos. E fazemos questão de ter essas senhoras em nossa Ala das Baianas: somos uma escola de samba tradicional e por isso não abrimos mão de termos na ala das baianas as verdadeiras vovós baianas. Somos a agremiação que mantém senhoras de faixa etária mais elevada representando a comunidade na Avenida”, declara Laíla. Senhoras como a Vó Nadyr, 93 anos, que desfilando desde os 19 anos na ala de baianas da Beija-Flor, fazem parte da história de tradição da escola e também daquelas baianas que começaram a participar do carnaval na década de 30. Vó Nadyr é a baiana mais antiga da comunidade e só parou de desfilar na Ala das Baianas há 5 anos. Ela carrega o ideal de ser baiana no peito: “Eu tenho o maior orgulho de ter sido baiana, e tenho certeza que a nossa ala é muito importante para o carnaval e para as escolas”. Mas ela não deixou os desfiles, apesar da idade. Vó Nadyr não consegue mais carregar as fantasias de baiana, e agora sai no carro alegórico, representando o respeito que a Beija-Flor de Nilópolis tem por suas baianas e por sua tradição. “Eu tenho um orgulho imenso de ter sido baiana e vou continuar sempre com esse entusiasmo no meu coração”. Vó Nadyr viveu a época em que a saia não tinha bambolê para ficar tão rodada, e as baianas tinham que colocar goma misturada com farinha de trigo e depois estender ao sol para secar. “Eu espero ser um estímulo para novas baianas e também uma fonte inspiração”, diz Vó Nadyr. O PESO DE UMA RESPONSABILIDADE A ala das baianas não é quesito de julgamento do desfile, mas é indispensável para o carnaval carioca. Elas são as mulheres de raça e tradição da Avenida. “É o coração da escola”, declara o líder das baianas da Beija-Flor, Humberto Martins, o Beto. A ala das baianas é uma unanimidade entre os re- presentantes da escola. Alexandre Louzada afirma que as baianas são o xodó de qualquer carnavalesco. “Eu tenho uma estima especial pelas baianas, pelo que elas representam, pelo que a Vó Nadyr representa para a escola.” Para Laíla, a Vó Nadyr, baiana mais antiga, é “a mãe das baianas da BeijaFlor e vai ser eternamente”. O Aprisionamento dos Índios Carajás Ala: É Show Presidente: Rosimere Ezequiel & Carlos Roberto Número de Componentes: 70 Os índios Carajás, cuja vida social baseia-se na família extensa, vivem tradicionalmente da agricultura, da caça de animais da região, e principalmente da pesca. As marchas dos desbravadores na direção do interior do Planalto Central, rasgando o coração da mata, principalmente em busca de riquezas minerais e indígenas para aprisionar e escravizar, ocasionaram um choque cultural para as tribos indígenas que habitavam a região. Os Bandeirantes e a Escravização Indígena Ala: Pura Raça Presidente: Edson Reis Número de Componentes: 70 Denominam-se bandeirantes os sertanistas que, a partir do século XVI, penetraram nos sertões brasileiros buscando encontrar riquezas minerais (sobretudo a prata), indígenas para escravizar, e exterminar quilombos. A maioria dos bandeirantes era composta por índios (escravos e aliados), caboclos (mestiços de índio com branco) e alguns brancos, que eram os capitães. Os caboclos eram os principais elementos do grupo, pois eram a ligação direta entre o branco-colonizador e o nativo que conhecia as terras. Alegoria 02 “Anhanguera - O Desbravador Rasga o Coração da Mata” Harmonia do Setor: Gilvan Ribeiro & Eduardo Sumaré Fevereiro 2010 57 SETOR 03 O Afã de Ver um Novo Amanhã Ala: Comigo Ninguém Pode Presidente: Maria Ignêz Número de Componentes: 70 Na época do Império, surgiu no Brasil o emprego de acendedor de lampião. Cotidianamente, iam caminhando pelas ruas a parodiar o sol, associandose à lua e iluminando toda a cidade. Acendiam os lampiões ao cair da noite, voltando para apagá-los ao amanhecer do novo dia. Executavam a função de modo poético e incansável, tendo sido retratados nas telas pitorescas do famoso desenhista e pintor francês Jean-Baptiste Debret, artista cujas obras são exímia importância para a retratação da História do Brasil. Ala: Força Total Presidente: Hilton Castro Com o objetivo de dar um equilíbrio ao desfile da agremiação de Nilópolis, nesse ano uma das mais esperadas alas – as teatrais, compostas por 680 integrantes e dirigidas por Hilton Castro – não se apresentará nos primeiros setores. Sucesso nos últimos desfiles devido às inovações que apresentaram na Avenida, as alas teatrais iniciam no setor 3 com a ala “Tiradentes – um mártir da conjuração mineira”. No entanto, a grande inovação – marca dos trabalhos de Hilton Castro – poderá ser vista na ala dos candangos: “Essa ala, para mim, é uma ala muito especial. Ressalto, no entanto, que todas as alas que dirijo e cada componente que ensaio são especiais e dignos de meu afeto e admiração. São pessoas comuns, mas todas vitoriosas. Não necessariamente a vitória que se alardeia aos quatro cantos, mas a vitória cotidiana, de autossuperação, de dedicação às suas crenças, de envolvimento em cada detalhe da vida... Tenho muito orgulho de trabalhar com essas pessoas, que me ensinam muito. Mas como dizia, a ala dos candangos é muito especial para mim – e acredito que será para o público – por Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Inconfidência Mineira - Em Busca de uma Nova Capital Ala: Tom & Jerry Presidente: Rogério Coutinho Número de Componentes: 70 A Inconfidência Mineira foi uma tentativa de revolta de natureza separatista, desencadeada contra a execução da derrama e o domínio português, a qual foi abortada, pela Coroa portuguesa, na então capitania de Minas Gerais. Os inconfidentes, patriotas da Conjuração Mineira, de 1789, pretendiam instalar a capital do país na cidade de São João Del Rey / MG, e alertavam sobre as vantagens de a capital se localizar no interior do país. Tiradentes - Um Mártir da Conjuração Mineira 58 Número de Componentes: 56 Joaquim José da Silva Xavier, denominado Tiradentes, foi preso no Rio de Janeiro, acusado de crime de rebelião e alta traição contra a Coroa, de que se constituiu chefe e cabeça na capitania de Minas Gerais. Após um longo período de interrogatório, foi julgado e condenado, assumindo toda a culpa pela Conjuração. Tiradentes foi enforcado no Largo do Lampadário, no Rio de Janeiro, no dia 21 de Abril de 1792. Dos Inconfidentes, é o único que foi executado, o que serviu de exemplo. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços foram espalhados ao longo da estrada que segue para Vila Rica. diversas razões. A primeira é porque o assunto “candango” já é envolvente: foram homens anônimos que dedicaram sua vida na construção dessa monumental obra de arte e que não puderam usufruí-la. Apesar disso, orgulham-se do que fizeram. E é essa a marca do cidadão brasileiro, trabalhador. O que importa para ele é fazer parte da construção – fazer parte da engrenagem que eleva o país ou a sua cidade. A segunda razão é porque nessa ala estarei aplicando um conceito novo dentro do desfile de carnaval: Será a primeira vez que uma única ala se apresentará com figurinos e performances diferentes. Isso porque a ala será subdividida em cenas, cada uma com o seu figurino específico, para contar uma parte de uma bela história. Composta por 228 elementos, nessa ala vamos brincar com o cotidiano dos candangos. Vamos falar da grande ceia depois do trabalho braçal do candango...”, conclui Hilton Castro. Guarda do Brasil-Império – A Vinda da Família Real Ala: Vento Forte Presidente: Hilton Castro, Gisele & Renata Número de Componentes: 70 Foi Dom João VI quem criou o 1º Regimento de Cavalaria de Guardas, em 13 de maio de 1808. Na época, o regimento tinha a função de fazer a guarda da Família Real, que naquele ano havia se refugiado no Brasil, devido à invasão de Portugal pelo exército francês. No início do século XIX, o regimento da tropa de elite do exército brasileiro tinha a função de fazer a guarda da família real, que havia se refugiado no Brasil devido à invasão de Portugal pelo exército francês. Eram os dragões (soldados da cavalaria) que acompanhavam D. Pedro I quando ele declarou a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822; momento imortalizado por Pedro Américo no famoso quadro intitulado “O Grito do Ipiranga”. Tropa de Elite do Exército Brasileiro Ala: 1a Passista e Passistas Especiais Presidente: Charlene Costa Número de Componentes: 4 Ala: Diretora dos Passistas Presidente: Aline Silva Número de Componentes: 1 Ala: Passista Presidente: Jade Barbosa Número de Componentes: 1 Ala: Passistas Presidente: Selminha Sorriso Número de Componentes: 100 Fevereiro 2010 59 60 O Grito do Ipiranga Independência ou Morte! Intérprete Neguinho da Beija-Flor Rainha de Bateria Raíssa Oliveira Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br A Supremacia dos Dragões da Independência Bateria Mestres Rodney & Plínio Número de Componentes: 265 Dragões da Independência é a denominação oficial dada ao Primeiro Regimento de Cavalaria de Guardas (1º RCG). É uma Unidade do Exército Brasileiro, que foi criada em 1808, pelo Príncipe Regente D. João VI. Os Dragões da Independência usam um fardamento do século XIX, em branco e vermelho, que são as cores tradicionais da cavalaria desde a Idade Média. Em festas cívicas e algumas competições esportivas de hipismo, os dragões se apresentam e fazem demonstrações de agilidade e destreza. OS MOSQUETEIROS DO RITMO Comissão da bateria da Beija-Flor Atento às necessidades que a cada ano o regulamento do desfile, a competição e especialmente as exigências do público impõem às escolas de samba – isso sem falar na necessidade interna de mudanças, que exige o aprimoramento do trabalho, o aperfeiçoamento do produto e o enriquecimento profissional da equipe visando resultados positivos em todos os quesitos do desfile –, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis preparou-se para o grande enfrentamento do dia 14 de fevereiro com uma inovação. Depois de criar a Comissão de Carnavalescos, o diretor Luiz Fernando “Laíla” Ribeiro do Carmo criou a Comissão da Bateria da BeijaFlor de Nilópolis. O capa-e-espada de Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros, é o mote para se reportar a mais significativa mudança promovida na estrutura de Carnaval da Beija-Flor da Nilópolis – e de todas as escolas de samba da atualidade. Para tal, o D’artagnan desta estória, que ficará na história do Carnaval (e que, provavelmente, assim como a Comissão de Carnavalescos alcançará os resultados esperados), ascendeu à condição efetiva do ofício de mestre o músico e diretor Rodney José Ferreira (seria ele Athos?), que passa a dividir essa função com mestre Plínio de Moraes (possivelmente Porthos?). Uniu-se] à dupla uma cria da casa, o mestre Binho (seria ele Aramis?) – Robson da Silva de Oliveira - que vem com uma experiência musical específica fora da bateria, e pontuada: supervisor. Não é à toa que os mosqueteiros da bateria da BeijaFlor adotaram a epígrafe “Um por todos, todo por um”. A referência foi endossada e adotada pelos doze diretores que compõem o esquadrão rítmico da escola nilopolitana. À trinca cabe a supervisão do segmento, auxiliada pela diretoria de bateria composta por Carlos Alberto Menezes (Carlinhos), Anderson Miranda da Silva (Kombi), Renato Alves Gomes (Renato Azul), Márcio do Nascimento Andrade (Márcio da Frigideira), Celso Geraldo Alves da Silva (Paduana), Alexander Braga (Orelha), Carlos Henrique da Cruz (Perninha), Adelino Vieira Filho (Saul) e Walneir Ferreira Nascimento (Estrela). Encabeçando essa diretoria-executiva, mestre Rodney informa que todos têm uma função determinada, mas insiste que o lema dumasiano é que realmente move todo o esquema. O esquema é simples, mas Rodney enfatiza: “Todo mundo trabalha em prol da bateria. Todos trabalham pela Beija-Flor de Nilópolis”. Integrantes da comissão de Bateria: Mestres Plínio, Binho e Rodney. Fevereiro 2010 61 62 O comando do pelotão, que garante a pulsação da escola (280 ritmistas) durante todo o desfile, foi assumido em maio passado. Na ocasião, Laíla apresentou a comissão e diretores de bateria à comunidade, numa noite que inaugurou uma nova era do calendário de atividades da Beija-Flor de Nilópolis: os ensaios técnicos da bateria, todas as segundasfeiras. A ideia de realizar ensaios práticos com todos os ritmistas da escola, até mesmo aqueles ainda não confirmados no grupo de elite que irá para a avenida, atraiu ao longo do ano – adentrando 2010 – os poderem apresentar suas sugestões, propostas e, principalmente, serem ouvidos. Nem sempre serão atendidos. Mas isso é assim em qualquer segmento da vida do homem. Porém, mesmo que suas ideias não sejam aproveitadas integralmente, ou em parte, acreditam que sempre deixam uma importante contribuição que poderá suprir lacunas inesperadas. As reuniões são sempre fervorosas, mas o clamor dos ânimos não supera a preocupação de reforçar e buscar o que é melhor para a escola. Nesse ponto todos comungam o mesmo ideal. demais segmentos, comprovando que esses ensaios são indispensáveis para uma maior sincronia entre as diversas alas com o toque, com o andamento, com o estilo da orquestra de percussão nilopolitana. Se a antecipação do início dos ensaios técnicos da bateria e a participação das alas interessadas foram uma grande mudança revelada pela criação da Comissão da Bateria, outra grande motivação que os doze diretores encontraram para se dedicar cada vez mais à escola, através de suas atuações tanto burocráticas quanto artísticas, foi o fato de QUEM É QUEM Paduana – Descoberto em um bloco por mestre Pelé, Paduana está na ala de ritmistas desde os 14 anos. Toca surdo de 3ª, o chamado “fofoqueiro”. Entre outras atribuições que lhe cabem como diretor de bateria está a de fazer a manutenção dos instrumentos. Sua filha, ex-passista mirim, faz parte do naipe de tamborins. Kombi – Está na escola desde 97, integrando-se imediatamente à bateria. Responsável direto pelos assuntos administrativos do segmento vem coordenando a entrega do troféu “Ao mestre, com carinho”, Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br premiação criada pela nova comissão para homenagear os mestres de bateria das escolas coirmãs. Marcinho da Frigideira - Desde criança é ligado à escola na qual só ingressou definitivamente no ano 2000. Sua tia foi baiana da escola e o primo Albinho toca tan-tan na bateria. Mestre Pelé e vários ritmistas da Beija-Flor são oriundos da escola do seu avô. Ajudou a formar a Velha Guarda Musical da Beija-Flor. É responsável pelos naipes de frigideiras (10), e agora da cuíca (12). Ambos os instrumentos, que foram excluídos da bateria, vêm agora dar um ‘molho especial’ ao conjunto rítmico. Renato Azul – Ex-mestre-sala, Renato entrou na ala mirim em 1988. Convidado pelo Laíla em 98, passou a diretor de bateria. É responsável pela marcação, com Kombi e Orelha, mais especificamente. Na parte administrativa, é responsável pelo setor de alimentos e bebidas do grupo. Água gelada, cafezinho esperto, e às vezes aquela cervejinha malandreada, que ninguém é de ferro. Carlinhos – Há doze anos acompanha a família Beija-Flor. Declarase feliz em participar mais um ano da equipe. Uma das suas atribuições é fazer a manutenção dos instrumentos. Promete dar o melhor de si para a “gente ser feliz na avenida”. Walneir Estrela – É o mais novo no mundo do samba. Está na Beija-Flor desde 2000. Torna pública sua gratidão ao amigo Perninha ao enfatizar que “quem me ensinou a tocar tamborim foi o Perninha.” Perninha – Entrou na BeijaFlor em 92. É responsável pelo naipe de tamborim. A humildade sobrepõe-se à gratidão de Walneir: “Apenas passei para ele o que aprendi”. Segundo Perninha, ele achou na escola um cara, Daniel Colete, que teve paciência para ensiná-lo a tocar tamborim. Orelha - Considera-se o estilista Jacques Leclair, personagem de novela, pois é responsável por providenciar a roupa dos ritmistas, especialmente da diretoria de bateria, que veste modelo exclusivo. É ele quem trata de todo o vestuário do dia do desfile, além das roupas que o grupo usa para apresentações em shows e festividades da escola. Chegou à Beija-Flor em 96 pelas mãos de Nei, ex-diretor. Mestre Rodney – Com 35 anos de pista, Rodney Fevereiro 2010 63 está na Beija-Flor de Nilópolis desde 98. O futebol foi uma das estratégias que ele usou para aproximar mais os ritmistas fora do período carnavalesco. Laíla o convidou para participar das gravações dos sambas-enredo das escolas de samba. É um dos “afinadores” dos instrumentos e também faz a troca dos “couros” das peças de percussão. Com Plínio, ele forma a dupla de mestres de bateria. Saul – É da comunidade e frequentador da quadra desde criança. Foi se infiltrando na bateria durante os ensaios até ser percebido por mestre Pelé, que o efetivou na ala. Os filhos Sandro e Adriano seguiram o pai e também são ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis. A filha Juliana é passista da escola. Binho – A mãe, D. Sirinha, integrou a ala das baianas, e o pai, Rubens, a bateria. Entrou para a ala mirim em 1977, e participou da comissão de frente. Aos 14 anos foi alçado por mestre Pelé à condição de ritmista. Fez incursões especiais tocando tumbadora nos desfiles de tres Rodney e Plínio, e demais diretores de bateria. Mestre Plínio – É ritmista da escola há 37 anos, atendendo o honroso chamado de Nelson Abrão David para integrar a bateria regida pelo mestre Vicente, pai do intérprete Gilson Bacana. Em 1993, o então mestre Odilon o promoveu a categoria de diretor, dividindo com ele a regência da bateria, funções que exerce até hoje. NELSON DAVID Apresentando a Rainha de Bateria ao grande público vem Nelson David, vice-presidente da agremiação nilopolitana e filho de Nelson Abrão David, um dos baluartes da Beija-Flor de Nilópolis e irmão do patrono Anizio Abrão David. Nelsinho, que é empresário do ramo de eventos, é pai de Julia (7 anos) e de David (10 anos) e vive com a companheira, segundo ele ‘de todas as horas’, Vanessa Pinheiro. Nelsinho descobriu sua vocação junto à bateria quando, ao decidir desfilar com o “coração da escola”, conduziu e apresentou pela primeira vez a Rainha de Bateria. “A bateria transmite uma energia muito forte, que não é somente sonora. É orgânica também. O corpo da gente arrepia, o coração acelera... E quando apresento ao público a Rainha de Bateria, já com todo o envolvimento da bateria, cria-se um momento único. O público delira. É um acontecimento muito emocionante e não consigo me ver em outro lugar senão ao lado da Raíssa e da Bateria. Esse ano, com a instalação da comissão de bateria, muitas novidades estaremos levando para a avenida, e acho que isso tornará o desfile da Beija-Flor de Nilópolis ainda mais mágico e emocionante.” A Nobreza das Damas da Corte Imperial 2000/20004. Durante dez anos atuou como percussionista da banda de Neguinho da Beija-Flor até se agregar ao conjunto Pique Novo. Há 21 anos atuando como músico nas gravações dos sambas-enredo, recebeu o convite de Laíla para supervisionar a atuação do segmento com os mes- 64 Revista Beija-Flor de Nilópolis Ala: 100% Mídia Presidente: Luís Carlos & Léo Mídia Número de Componentes: 70 D. João VI, ao embarcar com a Família Real Portuguesa para o Brasil, trouxe a companhia de diversas Damas da Corte, que usavam vestes cujo aparato e originalidade podiam ser observados através do romantismo dos laços, babados, bordados e vidrilhos, tão usuais nos trajes característicos da moda européia no século XIX. O racionamento de água durante a precária e superlotada viagem dificultou bastante a higiene à bordo, e um surto de piolhos fez com que a muitas Damas da Corte Imperial tivessem que raspar as cabeças a fim de evitar a propagação, o que foi disfarçado com o uso de adereços. www.beija-flor.com.br O Aclamado Imperador D. Pedro I Ala: Energia do Amor Presidente: Aroldo Carlos Número de Componentes: 120 Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, filho de D. João VI , Rei de Portugal, Brasil e Algarves, e de Dona Carlota Joaquina, infanta da Espanha, nasceu em Queluz, Portugal. Dom Pedro I do Brasil e IV de Portugal, foi o primeiro imperador do Brasil (de 1822 a 1831) e 28º rei de Portugal (durante sete dias de 1826). Em Portugal é conhecido como O Rei-Soldado ou O Rei-Imperador; sendo também conhecido, de ambos os lados do Oceano Atlântico, como O Libertador — Libertador do Brasil do domínio português e libertador de Portugal do governo absolutista. Recebeu diversos títulos honoríficos; entretanto abdicou de ambas as coroas. Um Clamor de Liberdade Ala: Esperança Presidente: Simone Sant´Anna Número de Componentes: 70 Liberdade é a ausência de submissão, de servidão, aquilo que qualifica autonomia, independência. E foi D. Pedro I que, às margens do rio Ipiranga, clamou pela liberdade do Brasil com relação à Portugal, em 07 de setembro de 1822, com sua frase histórica: “Viva a independência e a separação do Brasil! Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a liberdade do Brasil! Independência ou Morte!”. Alegoria 03 “No Coração do Brasil - Revolta, Insurreições, Coroas e Brasões” Harmonia do Setor: Cleber Silva & Helinho Fevereiro 2010 65 SETOR 04 Onça Pintada - O Perigo Noturno do Cerrado Brilhantes Jazigos de Preciosos Cristais Ala: Cabulosos Presidente: Luizinho Cabulosos Número de Componentes: 70 A onça pintada, também chamada de jaguar ou jaguaretê, é um animal solitário, carnívoro e territorialista, com hábitos predominantemente noturnos. Excelente caçadora e nadadora, é muito cautelosa para atacar a vítima, aproximando-se silenciosamente para surpreender a presa, saltando sobre o seu dorso. Membro da família dos felídeos, de tons mesclados de amarelo, preto e branco, costuma ser encontrada em reservas florestais e matas cerradas do Brasil, mas infelizmente encontra-se em extinção. Ala: Baianas II Presidente: Pai Jorge Número de Componentes: 60 Os cristais são sólidos nos quais os constituintes – átomos, moléculas ou íons –estão organizados num padrão tridimensional bem definido, que se repete no espaço, formando uma estrutura com uma geometria específica. Durante a realização de escavações no rico solo de Brasília, foram encontradas diversas jazidas de cristais, preciosas riquezas do Planalto Central; as quais inspiraram, inclusive, um projeto paisagístico de Burle Marx. Veado Campeiro – A Força das Galhadas Ala: Sorrizo Presidente: Marcos Gomes Número de Componentes: 70 O veado-campeiro é um veado campestre. Tais cervídeos possuem pelagem dorsal marrom, círculo branco ao redor dos olhos e galhada com três pontas e cerca de 30 cm de altura. São animais extremamente ágeis, podendo correr a 70 km/h e pular obstáculos sem diminuir a velocidade. A hierarquia social é determinada através de disputas nas quais os machos empurram seus adversários com os chifres, numa prova de força. Esta disputa não tem por objetivo perfurar o oponente e o dano mais comum é a quebra de algumas pontas. 66 Revista Beija-Flor de Nilópolis Lobo Guará - O Avermelhado Solitário Uivante Ala: Ouro Negro Presidente: Cátia Cristina Sant´Ana Número de Componentes: 70 O Lobo Guará é um animal selvagem típico dos cerrados da região Centro-Oeste. A sua pelagem característica é avermelhada e, ao contrário de outros lobos, esta espécie não forma alcatéias, possuindo hábitos solitários, juntando-se apenas em casais durante a época de reprodução. Foi devido ao som dos seus uivos, interpretado pelos indígenas como “Gua-á gua-á”, que essa espécie, única do gênero em toda a América Latina, foi chamada, no Brasil, de Lobo Guará. Está em extinção.De aspecto elegante. Possui pernas compridas e ágeis, e hábitos exclusivamente noturnos. Tamanduá Bandeira - O Peludo Caçador de Insetos Ala: Sol Brilhante Presidente: Rosinaldo Vieira Número de Componentes: 70 O Tamanduá Bandeira, apelidado de “papa-formigas”, é um mamífero quad- www.beija-flor.com.br rúpede e desdentado, o qual apresenta uma pelagem espessa, que se torna maior na cauda. É dotado de longas e fortes garras dianteiras, as quais utiliza para se defender dos predadores e para escavar as resistentes paredes dos formigueiros e cupinzeiros em busca de comida. Se alimenta de insetos, normalmente formigas, cupins, larvas e besouros. A Poderosa Rainha Cupim e seus Ninfos Alados Destaques de Chão Kaíka Sabatella, Letícia e Thuãn Soldados Cupins - Os Super Decompositores Ala: Alegria, Alegria Presidente: Hilton Castro Número de Componentes: 158 Os cupins são insetos conhecidos por serem pragas de madeira e de outros materiais celulósicos, e ainda pragas agrícolas. Entretanto, em termos de biomassa e abundância, os cupins apresentam enorme significância, podendo ser comprados, por exemplo, às formigas e minhocas, estando entre os mais abundantes invertebrados de solo em ecossistemas tropicais. Esta grande abundância dos cupins nos ecossistemas, aliada à existência de diferentes simbiontes, confere a estes insetos a possibilidade de desempenhar papéis como o de “super decompositores” e auxiliares no balanço Carbono-Nitrogênio. Alegoria 04 “Missão Crulls - A Natureza em sua Essência é Revelada” Harmonia do Setor: Leonardo Carvalho & Luiz Silva Fevereiro 2010 67 SETOR 05 68 Bossa Nova - A Trilha Sonora do Sertão Ala: Vamos Nessa Presidente: Tuninho Número de Componentes: 70 Ala: 1001 Noites Presidente: Luiz Figueira Número de Componentes: A Bossa Nova é um movimento da música popular brasileira que surgiu no final da década de 1950 e que, anos depois, se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos no mundo. Fruto principalmente das reuniões casuais agendadas por músicos da classe média carioca em apartamentos da Zona Sul, a Bossa Nova foi o primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, o qual abordava temáticas leves e descompromissadas. O Movimento surgiu num momento em que o país vivia uma profusão cultural singular, e ficou associado ao crescimento urbano brasileiro, impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1960). Os maiores representantes deste movimento foram: Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto. Revista Beija-Flor de Nilópolis JK e Sarah Kubitschek - A Visão do Amanhã nos Anos Dourados Ala: Ouro em Pó Presidente: Hilton Castro Número de Componentes: 72 O mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito Presidente da República Federativa do Brasil – cargo que exerceu entre 1956 e 1961 – foi casado com Sarah Kubitschek, com quem teve duas filhas, Márcia e Maria Estela Kubitschek. Responsável direto pela construção de Brasília, JK participou das muitas comemorações em homenagem à inauguração da nova capital, sendo pertinente destacar o Baile no Palácio do Planalto, onde JK e Dona Sarah recepcionaram cerca de 3.000 convidados em farto evento, que se deu ao som de música orquestral. Durante o mandato de JK, o Brasil viveu um período de grande desenvolvimento econômico e estabilidade política, o qual ficou conhecido como “Anos Dourados”, período em que evoluímos “50 anos em 5”. www.beija-flor.com.br A Indústria Automobilística Ajuda a Traçar o Destino Ala: Casarão das Artes Presidente: Graça Oliveira Número de Componentes: 70 Indústria automobilística, automotiva ou automóvel, é a indústria envolvida com o projeto, o desenvolvimento, a fabricação, a publicidade e a venda de veículos automóveis que sirvam para auxiliar no deslocamento e/ou transporte da população, bens ou serviços. A prioridade dada pelo governo JK ao crescimento e desenvolvimento econômico do país foi fundamental para traçar o destino do Brasil, e recebeu apoio de importantes setores da sociedade, incluindo empresários e industriais, como a Indústria Automobilística, que se instalou no Brasil em 1956. O Desejo de Realizar Ala: Casais de MS & PB Presidente: Selminha SorrisoZ & Claudinho Número de Componentes: 6 Candangos - O Sangue e o Suor Deste País Ala: Explosão Geral Presidente: Hilton Castro Número de Componentes: 194 Candango, é o termo dado aos trabalhadores que migravam à futura capital para a sua construção, embora comumente seja utilizado para designar os brasilienses. Em sua maioria, eram nordestinos que migraram para a região do cerrado Planalto Central e trabalharam arduamente, dia e noite, para construir e concluir Brasília até a data prefixada de 21 de abril de 1960, em homenagem à Inconfidência Mineira. “... Uma caravana parte, épica, qual êxodo caboclo, epopéia de pioneiros, desterrados candangos, operários guerreiros, vários Brasis, num só Brasil que se juntam a construir e a crescer...” na planta do urbanista Lúcio Costa, foi o nome pelo qual ficou conhecido o plano urbanístico da capital, Brasília. O Plano Piloto de Brasília, baseado em quatro escalas – escala monumental, escala residencial, escala gregária e escala bucólica, é o único projeto urbanístico contemporâneo reconhecido pela Unesco como Mundial, Cultural e Natural da Humanidade. A Arte dos Mestres Ala: Amigos do Rei Presidente: Presidência Número de Componentes: 120 A idealização e construção de Brasília contaram com o conhecimento, a dedicação e o trabalho árduo de diversos arquitetos, engenheiros, técnicos, mestres de obras e operários, profissionais responsáveis pelo projeto, supervisão e execução das obras. A arte dos mestres torna real as idéias bem planejadas, definindo o traçado básico da cidade e a disposição dos principais elementos da estrutura urbana, considerando pontos relevantes tais como o urbanismo, o paisagismo, e diversas formas de design, incluindo a edificação de monumentos e praças. Alegoria 05 “O Desabrochar da FlorCapital pelas Mãos de JK” Harmonia do Setor: Flávio , Sérgio Sá & Jorge Alexandre Plano Piloto - Num Traço, um Poema Ala: Signus Presidente: Débora Rosa Número de Componentes: 70 Plano Piloto, inicialmente uma cruz riscada à lápis Fevereiro 2010 69 SETOR 06 Palácio da Alvorada - A Morada Presidencial Ala: 08 ou 80 Presidente: Ivone Farranha Número de Componentes: 70 O Palácio da Alvorada é a residência oficial do presidente da República Federativa do Brasil. Situa-se às margens do lago Paranoá, e foi o primeiro edifício inaugurado em Brasília. Projetado por Oscar Niemeyer, foi símbolo do progresso cultural e técnico do Brasil durante a década de 1950, tornando-se um dos ícones da arquitetura moderna brasileira. O formato diferenciado dos pilares brancos da edificação deu origem ao símbolo e ao emblema da cidade. A construção de Niemeyer foi batizada por JK, que quando questionado sobre o porquê do nome “Alvorada”, respondeu: “Que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?”. Palácio do Planalto Central - Sede do Poder Executivo Ala: Tudo por Amor Presidente: Élcio Chaves Ala: Colibri de Ouro Presidente: Dinéia Amâncio Número de Componentes: 70 Palácio do Planalto é o nome não oficial do Palácio dos Despachos. É o local onde está localizado o Gabinete Presidencial, a Casa Civil, a SecretariaGeral e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Sede do Poder Executivo do Governo Federal Brasileiro, o edifício, que foi projetado por Oscar Niemeyer, está situado na Praça dos Três Poderes, e foi o centro das festividades da inauguração de Brasília. Catedral de Brasília - O Templo Iluminado de Vidro Ala: Damas do Samba Presidente: Adilson Pedro & Rosângela Número de Componentes: 100 A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida é mais conhecida como Catedral de Brasília. O monumento, que é um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, é composto por uma nave principal em planta circular, executada em colunas de concreto que surgem de um espelho d’água, e encimada por 70 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br uma cruz metálica, simbolizando mãos erguidas em prece na direção do céu. Palácio Itamaraty - O Elo do Brasil com o Mundo Ala: Borboletas Presidente: Néia Nocciole Número de Componentes: 70 Ala: Travessia Presidente: Delano Sessim O Palácio Itamaraty, também conhecido como Palácio dos Arcos, foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer no estilo modernista. É onde está localizado o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE), um órgão do Poder Executivo, responsável pelo assessoramento do Presidente da República na formulação, desempenho e acompanhamento das relações do Brasil com outros países e organismos internacionais. Atualmente três edifícios compõem a sede do Ministério: o Palácio, o Anexo I e o Anexo II, conhecido popularmente como “Bolo de Noiva”. É considerado um dos monumentos mais representativos de Brasília e parece flutuar sobre um espelho d’água. Congresso Nacional do Brasil - Sede do Senado e Câmara dos Deputados Ala: É Luxo Só Presidente: Nádja Gomes Número de Componentes: 70 O Congresso Nacional do Brasil é bicameral, constituído pelo Senado do Brasil (Câmara Alta) e pela Câmara dos Deputados do Brasil (Câmara Baixa). Tal como acontece com a maioria dos edifícios oficiais na cidade, foi projetado por Oscar Niemeyer, seguindo o estilo da arquitetura moderna brasileira. Vistas desde o Eixo Monumental, a calota à esquerda é a sede do Senado e a da direita é a sede da Câmara dos Deputados; e entre elas há duas torres de escritórios. O Congresso também ocupa em torno outros edifícios, alguns deles interligados por um túnel. A excepcional luminosidade do céu de Brasília proporciona uma visão deslumbrante do prédio. A Luz da Alvorada Anuncia a Capital da Esperança Ala: Dá Mais Vida Presidente: Ana Maria Mascarenhas Número de Componentes: 70 Brasília passou a ser denominada “A Capital da Esperança” após um discurso feito pelo então Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, no dia 02 de outubro de 1956, em campo aberto, quando da assinatura do primeiro ato no local da futura capital, onde ele afirmava: “Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.” Alegoria 06 “Capital da Esperança Orgulho e Patrimônio Mundial” Harmonia do Setor: Carlos Máximo & João Fevereiro 2010 71 SETOR 07 Cavalhadas de Pirenópolis - Os Mascarados e as Danças Eqüestres Ala: Kurtisamba Presidente: Marcus Vinícius Número de Componentes: 70 o Brasil, as Cavalhadas foram introduzidas pelos jesuítas com autorização e recomendação da Coroa, com o objetivo de catequizar os gentios e escravos africanos, demonstrando o poder da fé cristã. Reconhecida como uma das mais significativas Cavalhadas do Brasil, a Cavalhada de Pirenópolis foi introduzida na cidade em 1826, pelo Padre Manuel Amâncio da Luz, como um espetáculo chamado de “O Batalhão de Carlos Magno”. A pompa, a garbosidade e a seriedade de tal manifestação envolve toda a população, que mantém viva a infindável rixa entre mulçumanos e cristãos, apresentando um belo espetáculo de prazer pela montaria. Bumba-meu-Boi do Seu Teodoro - O Misto Folclórico se Fez Raiz Ala: Arte Folia Presidente: Valéria Britto Número de Componentes: 97 O Bumba-meu-Boi, mistura folclórica de dança e tea- 72 Revista Beija-Flor de Nilópolis tro, combina elementos de comédia, drama, sátira e tragédia. Surgiu no século XVIII, e é um dos traços culturais mais marcantes da cultura brasileira, principalmente no Nordeste. O maranhense Teodoro Freire, um apaixonado pela tradição do Boi, mudouse para Brasília na década de 1960 e criou o Centro de Tradições Populares, concretizando o sonho de divulgar o folclore nordestino. O Bumba-meu-Boi apresentado em Brasília, uma espécie de auto que encena o rapto, a morte e a ressurreição do Boi, deu popularidade à Seu Teodoro. A Doutrina Espiritualista Cristã do Vale do Amanhecer Ala: Sambando na Beija-Flor Presidente: Jorge Luiz Soares Número de Componentes: 70 Ala: Amizade Presidente: Cleide Alves Número de Componentes: O Vale do Amanhecer é uma comunidade criada para abrigar a Doutrina do Amanhecer, doutrina espiritualista cristã, fundada em 1959, pela médium clarividente Neiva Chavez Zelaya, a Tia Neiva. Localizada a 45 km de Brasília, a Doutrina do Amanhecer foi trazida, através da clarividente, pelo espírito de Francisco de Assis, conhecido neste meio como “Pai Seta Branca”, e por sua equipe espiritual, contendo elementos de várias outras religiões. A Doutrina do Amanhecer já conta com mais de 600 templos em todo o Brasil e em outros países. www.beija-flor.com.br Sou Brasiliense! Sou Calango! Sou Artista! Ala: Os Impossíveis Presidente: Iara Mariano & Cosme Número de Componentes: 70 Brasília é composta por nordestinos, paulistas, cariocas, mineiros, nortistas, sulistas, estrangeiros e brasileiros, formando um verdadeiro caldeirão de culturas e biotipos. Calango, o nome do pequeno lagarto que suporta altas temperaturas em lugares secos e ensolarados, foi escolhido por artistas, músicos e esportistas do cerrado para definir o seu trabalho e representar a miscigenação cultural da cidade. Justamente por estar presente em diversas regiões do país, o nome tem algo que representa Brasília e o som diversificado que está sendo feito na capital, bastante influenciado pelo punk e pelo rock. Brasília é candanga, é brasileira, é artista! O Prestigiado Festival de Cinema Brasileiro Ala: Raízes da Flor Presidente: Luciana Castro & Ivone Pinheiro Número de Componentes: 70 O Festival de Brasília, que tem por nome oficial Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – FBCB, existe desde 1965, e é promovido pelo Governo do Distrito Federal. O festival, que nas duas primeiras edições foi chamado de Semana do Cinema Brasileiro, deve apresentar filmes inéditos, tantos os de curta, como os de longa metragem. Os vencedores recebem o Troféu Candango, em homenagem aos brasilienses, bem como prêmios em dinheiro. A Legião de Artistas Brasilienses – Velha Guarda Ala: Velha Guarda Presidente: Débora Rosa Número de Componentes: 70 Brasília é um grande palco, que reúne uma legião de artistas de variados segmentos. São artesãos, atores, cantores, compositores, escultores, pintores, escritores, músicos e artistas diversos, que misturam aptidões, dons, sons, ritmos e crenças, caracterizando a identidade local. Brasília, cenário artístico, caldeirão cultural! Alegoria 07 “Brasília – A Esquina do Brasil em um Caldeirão Cultural” Harmonia do Setor: Reinaldo Santos & Everaldo Araújo Fevereiro 2010 73 Laíla 50 anos de carnaval “Devíamos balançar a roseira Dar um susto na Portela No Império e na Mangueira Se houvesse opinião O Salgueiro apresentava Uma só união No meio de gente bamba Frequentadores de samba Iam conhecer o Salgueiro Como primeiro em melodia Acontece que chegou a academia” Geraldo Babão RICARDO DA FONSECA O Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial pode ser considerado o mais importante evento cultural e turístico do Brasil e do mundo nesse período. Destino certo de milhares de pessoas, o Desfile de Carnaval, como é conhecido, conquista a cada ano o interesse de brasileiros e estrangeiros, que encontram nesse espetáculo a céu aberto emoções e divertimento que serão lembrados pelo resto de suas vidas. A evolução deste quase secular espetáculo se deve, entre tantos fatores, à dedicação de alguns personagens que conceberam caminhos, criaram formas e inovaram expressões, tornando o Desfile de Carnaval o que é hoje. Esse ano, no dia 28 de fevereiro, um desses personagens comemora 50 anos de dedicação e serviços prestados ao samba e ao carnaval carioca: Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla. 74 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Se existem histórias que parecem ter sido prédeterminadas pela vida, em outra esfera além da Humanidade, a de Laíla nos parece ser uma delas. Em um cenário de pobreza e dignidade, essa história teve início na cidade do Rio de Janeiro. Mais precisamente no Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca. Ali, debruçado na janela de uma pequena casa de madeira e alvenaria, quase que diariamente o pequeno Laíla observava, no quintal vizinho, os diretores de uma escola de samba do Morro do Salgueiro discutindo, tomando decisões, festejando e organizando a escola de samba. Com o olhar atento, o menino observava, percebia, ouvia tudo que acontecia naquele quintal. Moleque ainda – entre oito e nove anos –, o pequeno Laíla fundou no Morro do Salgueiro, onde nasceu e foi criado, uma agremiação mirim de samba e carnaval, formada apenas por crianças do morro. Era uma escola de samba mirim onde aproximadamente 40 crianças, no período de carnaval, saíam do Morro do Salgueiro e, seguindo pela Rua General Roca, iam até a Praça Saens Peña, atraindo a atenção das pessoas que passavam pelo bairro. “Era o maior sucesso. As pessoas paravam e acompanhavam o nosso desfile até a Praça Saens Peña”, relembra Laíla. Era início da década de 50, e a “Independente da ladeira” – esse era o nome da agremiação – já tinha em sua formação um casal de mestre-sala e portabandeira mirim e uma imponente bateria, formada de latões e latas coloridas. Os carros alegóricos, feitos de caixotes de bacalhau, e os desfilantes, fantasiados com muito papel crepom e muito brilho – das pequenas lâmpadas que, por ideia do Laíla, enfeitavam as fantasias – eram atração garantida. A “Independente da ladeira”, tendo como grande comandante o Laíla, que também criava os sambas-enredo e as alegorias com a ajuda do menino Totonho, foi sucesso no bairro por mais de cinco anos, tempo que durou a agremiação mirim. Já naquela época, as suas ideias e iniciativas evidenciavam que aquele garoto tinha o talento para a liderança e para a inovação. E que vinha para fazer e contar uma história importante. Sempre ao lado de D. Corina, sua mãe e primeiro destaque da “Depois eu digo”, uma das tradicionais escolas de samba do Morro do Salgueiro, Laíla acompanhava de perto as disputas de sambas-enredo no Morro do Salgueiro. Não demorou muito para que fosse convidado a integrar uma das principais escolas de samba da época. “Era 1956. Eu tinha 13 anos de idade e gostava de cantar, e cantava relativamente bem. Um dia, o Duduca (autor de sambas-enredo da agremiação tijucana e presidente da Ala de Compositores) me procurou e me convidou para defender no Salgueiro o samba que ele havia composto. Muitos estranharam o convite do Duduca, porque era um garoto de 13 anos e nunca tinha acontecido de uma pessoa tão jovem defender um samba-enredo. Fiz o que tinha que ser feito e o samba foi vice-campeão.” Nesse ano D. Corina faleceu com 34 anos de idade, e Laíla passou a ser criado por seu tio Adão e sua tia Madalena. A perda de uma pessoa importante na sua vida foi compensada com o acolhimento pelo casal de tios, figuras marcantes e de grande importância na formação do caráter de Laíla: “Eu tenho muita gratidão pela tia Madalena e pelo tio Adão, que me criaram. Eles me deram educação. Fizeram-me ser homem de verdade, pessoa correta, honesta, porque meu tio Adão era uma pessoa muito trabalhadora e correta, que me ensinou o caminho. E eu sou muito grato a isso.” Se em sua vida privada Laíla equilibrava perdas e ganhos, na Acadêmicos do Salgueiro um novo ciclo estava se iniciando. Sob o olhar atento dos diretores da agremiação, em 1960 Laíla fez o seu primeiro desfile, na Av. Rio Branco, em frente ao Teatro Municipal: “Lembro-me muito bem. O ano era 1960. Era um domingo, dia 28 de fevereiro. Entramos na Av. Rio Branco com o enredo que falava do Quilombo dos Palmares, de autoria do Nelson de Andrade. Eu era a pessoa da harmonia na avenida, que fazia o vai e vem. Minha função era circular com o megafone entre as alas para não deixar o samba atravessar. Na época, os sambas atravessavam muito, porque não tinha o apoio dos sons que tem hoje...” E na Avenida Laíla não decepcionou. Exercendo a função com muita eficiência, a atenção dos mais velhos da agremiação se voltou para o jovem sambista. Começava ali a trajetória do mais respeitado e mais completo diretor de harmonia e de carnaval da história das escolas de samba. Desde sua primeira participação na avenida, em 1960, muita coisa aconteceu. Foram 50 anos de carnaval, e neles Laíla não só acompanhou todas as importantes mudanças ocorridas no carnaval e nas escolas de samba – na avenida e nos barracões – como foi o idealizador de Fevereiro 2010 75 Na foto, alguns dos integrantes da Ala dos Compositores da Acadêmicos do Salgueiro: Zuzuca, Sílvio Pompeu, Carlinho Pepé, Italianinho, Noel Rosa de Oliveira, Mário e Laíla. muitas delas. Ele foi o primeiro diretor de harmonia a sair da posição fixa tradicional, que era vir à frente da ala das baianas, para circular por todas as alas da escola. Foi ele também quem substituiu a figura central de um carnavalesco por uma equipe de carnavalescos. “A comissão de carnavalescos foi ideia minha. Com a saída do carnavalesco da Beija-Flor de Nilópolis para outra escola, o Anizio me chamou e o Cid Carvalho para uma conversa. Ele queria contratar um novo carnavalesco, mas era inviável para a agremiação, porque estávamos com uma despesa crescente devido ao investimento que estava sendo realizado na estruturação e fortalecimento das alas de comunidade. Eu sugeri ao Anizio que não contratasse nenhum carnavalesco de fora, porque eu iria formar uma comissão de carnaval com as pessoas talentosas que tínhamos dentro de nossa casa.” Laíla, que na Acadêmicos do Salgueiro já havia trabalhado com um modelo semelhante ao que planejava para a agremiação nilopolitana, sabia que os resultados chegariam. “Eu participei, no Salgueiro, de uma comissão que tinha Fernando Pamplona, 76 Revista Beija-Flor de Nilópolis Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda, João 30 e Maria Augusta Rodrigues. Era uma grande comissão onde cada um tinha sua função, apesar de nenhum de nós usarmos o termo ‘comissão’. Na época, ainda se valorizava muito um desfile que tivesse a assinatura de um único carnavalesco, ou de uma dupla de carnavalescos. No Salgueiro, os nomes eram Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona, mas o nosso grupo de carnavalescos realizou coisas fantásticas no Salgueiro.” Montada a comissão de carnavalescos, com sucesso comprovado pelos resultados, Laíla lançou na Beija-Flor de Nilópolis, para as outras áreas vitais da escola, a proposta de substituir figuras centrais por equipes de profissionais. Hoje, a agremiação de Nilópolis conta com uma equipe de harmonia, uma equipe de representantes de comunidade e uma equipe de bateria – a comissão de bateria, integrada pelos Mestres Rodney, Binho e Plínio, além da comissão de carnavalescos, formada por Alexandre Louzada, Fran Sérgio e Ubiratan Silva, e pelo próprio Laíla. “Nas escolas de samba, cada área, cada departamento é muito individualizado, centralizado em uma única pessoa. E, para mim, um bom www.beija-flor.com.br Eu era diretor de patrimônio do Salgueiro, e reparava que ele ficava da janela da casa dele observando as nossas reuniões, que eram realizadas no quintal ao lado da casa do Laíla. Ele ficava lá, moleque ainda, vendo os diretores da escola decidirem as coisas do carnaval do Salgueiro. E ele era um menino muito inteligente, muito esperto. Sabia que ele ia conseguir conquistar alguma coisa boa, porque ele era diferente dos outros meninos... Ele chegou, inclusive, a fundar uma escola de samba. Admiro muito o Laíla, por tudo que ele conseguiu conquistar no carnaval. E suas conquistas não foram só para ele, foram para todos os que trabalham no carnaval. Djalma Sabiá carnaval é o resultado de um trabalho de base, de equipe. Não dá mais para centralizar em uma única pessoa, seja carnavalesco ou mestre de bateria.” Durante esses anos, Laíla tem atuado dessa maneira; entra na escola, observa o que funciona bem e o que não funciona como deveria. Líder nato, Laíla comanda: briga, exige, pede, faz, aconselha, incentiva, orienta, pune... Tudo para que a escola possa fazer um carnaval com a qualidade que o espetáculo e o público exigem. Temperamento ou vocação, o fato é que ele sabe muito bem comandar. E por mais que pareça um ato autoritário, comandar não é uma ação ditatorial. Comandar tem o significado de coordenar esforços. E comandar exige um profundo conhecimento do que se faz para poder fazer de modo mais eficaz. Comandar é identificar potencialidades e desenvolvê-las. É gritar, é avançar... E recuar, se preciso for... Mas comandar é sempre, e acima de tudo agir. E talvez seja essa a grande marca de Laíla na história do carnaval: atitude. “Lembro-me que em um determinado ano, durante uma terrível crise financeira no Salgueiro, duas semanas antes do carnaval os caras que mandavam na escola fizeram uma reunião dizendo que a Salgueiro não ia ter condições de colocar o carnaval na rua. Eu fui o único que peitei – moleque, garoto –, peitei e falei assim: ’vai colocar o carnaval do Salgueiro na rua sim, senão morre!’(risos), aquela coisa da ocasião... Eu era um moleque meio brabo no morro. Ninguém se metia comigo não. E tem horas que a gente tem que partir para dentro, não dá para ficar olhando calado, sentadinho. E o Salgueiro desfilou.” Um homem de atitude, a despeito do que os outros possam dar em troca. Atitude de coragem, como a que teve na Unidos da Tijuca, em 1981, quando a escola estava totalmente desfalcada de seus componentes, que ainda não haviam chegado ao desfile. “Eu atrasei o desfile da Unidos da Tijuca. Chamei o Quiro, presidente da agremiação, e o Paulo César, que era o diretor de carnaval, e falei: ‘não tem ninguém, não tem baiana, não tem bateria, não tem ninguém’. E o desfile iria começar às 18h. Aí tomei uma decisão, que transmiti a eles: ‘Eu vou atrasar, eu vou arrumar um jeito, mas vou atrasar. Assim como está a escola não entra na Avenida! ’ Os carros já estavam lá perto da pista. Fui lá, tirei os carros, coloquei todos lá na área de concentração. A hora começou a passar... Aquela coisa de entra, não entra, uma confusão. A Unidos da Tijuca foi entrar às 21h45. A escola fez um grande desfile e foi a sétima colocada geral. Tinha que ser feito algo, e eu fiz. Infelizmente, a escola perdeu cinco pontos e, para piorar, as pessoas que me apoiaram na decisão, depois de terminado o desfile, acovardaram-se e atribuíram a mim a culpa pela perda dos pontos, acusando-me de ter feito sem a autorização deles. Fiquei muito decepcionado, mas não recuei e tomei a decisão que tinha que ser tomada. É bem possível que, se a escola entrasse na Avenida tão desfalcada como estava, perderia mais pontos ainda. Mas isso ninguém quis ver”, desabafa Laíla. Injustiças à parte, quem conhece Laíla sabe que a lealdade dele é ao carnaval. Onde houver algo errado a ser identificado e corrigido, lá estará o olhar atento e a língua afiada no carnavalesco. Mas essa competência e capacidade que Laíla possui em identificar necessidades da escola de samba não é um bem herdado; é fruto de uma vida inten- Fevereiro 2010 77 samente dedicada ao samba e ao carnaval. “Dediquei minha vida ao samba em uma época em que não se podia viver decentemente dele. As dificuldades eram muitas... Eu era moleque, não bandido. Podia ter me desviado e não me desviei. Muitos que foram criados comigo no Morro do Salgueiro acabaram caindo no mundo do crime. Eu tinha preferência por duas coisas: Samba e Futebol. Eu jogava bem – tanto que eu fiz parte do time juvenil do Vasco e do São Cristóvão. Mas eu tive que optar entre o samba e o futebol, porque o samba me obrigava ficar acordado até de manhã. Não tinha como eu ir treinar... Eu chegava ao treino muito cansado. Eu tive que optar e optei pelo samba. No samba como lixeiro, tudo para ganhar seu próprio dinheiro, que o samba não lhe dava. “Depois que eu constituí família, ela sofreu junto comigo todas essas privações. Eu era o Laíla do Salgueiro... e duro. Não tinha dinheiro para comprar leite para os meus filhos, nem pão... E minha família dividia isso comigo: minha esposa Marli e meus filhos Luís Cláudio e Denise dividiram essas dificuldades comigo... Mas eu nunca desisti. E encontrei na minha família muita força para persistir, correr atrás e chegar onde chequei. Hoje, Marli, Luís Cláudio e Denise, e meus três netos Amanda, Carol e Luís Antônio são a minha fortaleza. A Marli eu conheci na escola de samba mirim que eu fiz. Comecei a namorar ela com “Laíla tem o samba na alma, nos pés e na cabeça desde os tempos de moleque no Morro do Salgueiro. Herdeiro direto da sabedoria e da paixão carnavalesca de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, ele fez da Beija-Flor sua morada espiritual e lúdica. Exercendo a liderança com firmeza e determinação, criou os fatores que ajudaram a formar a história do orgulho da comunidade de Nilópolis, estado de alegria, cuja capital é a Beija-Flor.” Haroldo Costa e no carnaval eu sempre buscava, desde moleque, saber de tudo, entender tudo, fazer tudo. Sempre observava para aprender. Nessa época de garoto, eu tocava todos os instrumentos de percussão. Fui mestre-sala, fui compositor, cantor... Eu tenho uma trajetória sólida, eu não entrei pela janela. Foi essa a minha opção de vida.” Uma opção que o obrigava a viver com restrições. Acusado de vagabundo por familiares por ter optado pelo samba, não faltaram críticas e conselhos para Laíla procurar um emprego, seja em uma obra ou em qualquer outra coisa. Eram tempos difíceis para quem estava predestinado a realizar uma grande missão transformadora no carnaval do Rio de Janeiro. ”Eu passava dificuldades, mas sempre me mantinha na minha. Eu persisti no samba.” Nesses momentos difíceis, muitas vezes desempregado, sem abandonar o samba – que corria solto nas suas veias –, Laíla trabalhou nas mais diversas atividades. Ele foi faxineiro, trabalhou como pintor, 78 Revista Beija-Flor de Nilópolis 15 anos. Ela tinha 11 anos e desde aquela época a Marli sempre esteve comigo em todos esses momentos de dureza. Ela é uma mulher forte que eu admiro muito.” O fato é que Laíla persistiu e hoje é reconhecido pelo seu trabalho, pelo que realizou em favor do carnaval carioca. O mundo do samba e do carnaval – e o grande público na avenida e nos lares ao redor do mundo – agradecem felizes ao Laíla – o comandante do carnaval – os serviços prestados em favor da arte, do samba e da cultura brasileira. Valeu Laíla! www.beija-flor.com.br “Admiro muito a trajetória seguida pelo Laíla. Ele demonstra uma profunda inteligência, percepção e sensibilidade em relação à vida como um todo. Ele criou e definiu o que é o diretor de carnaval, uma figura decisiva para um bom desempenho de uma escola de samba. Se analisarmos hoje cada escola que tem acertado, vamos ver que elas têm um bom diretor de carnaval, ainda que com outra designação. Laíla definiu, criou a função de diretor de carnaval. Ele fez isso com a sua atuação ao longo da sua vida no carnaval. É uma função que engloba a atuação e o conhecimento do diretor de harmonia, do diretor de quadra, do mestre de bateria, do presidente da ala dos compositores... Vejo o carnaval com duas dimensões: a dimensão material, que engloba o aspecto visual, ligado à fantasia, à alegorias e adereços. E a dimensão imaterial, que envolve o ritmo da bateria, o andamento e a evolução da escola, a tonalidade e qualidade do samba-enredo e a relação do samba-enredo com a bateria. Ambas dimensões são vitais para um bom desfile. E o Laíla conhece profundamente todas essas dimensões, e por isso ele é um diretor de carnaval e harmonia da qualidade que todos reconhecem. E com esse conhecimento, e acima de tudo com essa vivência, ele vai e faz. É uma pessoa que eu nunca vi ficar satisfeito com o mais ou menos. Ele sempre quer fazer o melhor.” Maria Augusta Rodrigues Fevereiro 2010 79 BOAS PARCERIAS MIRO LOPES Uma nova parceria, feita de inspiração e talento, traçou em samba a trajetória dos 50 anos de Brasília, que a Beija-Flor de Nilópolis mostrará na avenida. Todos sambistas da Azul e Branco, de pouco ou muito tempo: Picolé, Samir, Sumaré, Sérgio, André e Marimba. O grupo foi se formando aos poucos: ao “quarteto” inicial Picolé, Samir, Sumaré e Serginho, uniu-se André e Marimba, vencedor da etapa brasiliense do concurso de samba-enredo, formando assim a parceria vitoriosa do Carnaval 2010. Amigo comum de todos eles, o compositor Pixulé apresentou Samir Trindade ao Picolé da Beija-Flor, que recebeu convite de Sérgio Sumaré para disputar o novo enredo da Beija-Flor. Sumaré veio com o xará Aguiar a reboque. Alguns até já haviam trabalhado juntos, e outros nunca tinham se cruzado. Portanto, era uma parceria inédita; e tinha tudo para dar errado. Em um primeiro momento, o cavaquinista sumiu. Felizmente alguém teve a ideia de sugerir o nome de André para integrar o grupo. A gravação do disco de demonstração somente foi possível um mês após a data prevista. O refrão foi rejeitado quase às vésperas da finalíssima. O intérprete que apresentaria o samba na quadra só pôde ser confirmado em cima da hora. Entretanto, a determinação e a persistência foram maiores que os problemas e a nova parceria teve a escolha do seu samba ratificado pela euforia da comunidade na grande final. Parceiros, se reuniam diversas vezes por semana, conversavam por telefone todos os dias, construíam poesia e harmonia, discutiam versos e rimas, sustenidos e bemóis, tudo por um único objetivo: levar sua versão poética e melódica de “Brasília, 50 anos - Brasília do Sonho à Realidade, a Capital da Esperança” para a Passarela do Samba, com toda a comunidade nilopolitana cantando e sambando com a alegria de sempre rumo à conquista de mais um título de campeã do carnaval carioca. Quem é quem? Picolé da Beija-Flor. Escreveu seu nome na agremiação desde a primeira hora. Segundo ele, a escola está “sempre de braços abertos para receber as pessoas”. Seus antecedentes têm tudo a ver com samba e Carnaval: participou dos blocos Deixa Comigo e Embaixada do Sapo. Por orientação dos amigos Sebastião Adilson e Isaias Chorão (da Mangueira), e a convite do então presidente a Ala de Compositores, Aluisio Machado, ele entrou para Azul e Branco em 1968. E nela logo venceu o concurso de sambas de quadra de 1970, “Assim Você Mata, Papai”. Em 1981, assinou sua primeira conquista: “Carnaval do Brasil, a Oitava das Sete Maravilhas do Mundo”, com Dicró. Uma fusão com o samba de Nego e Neguinho da Beija-Flor, esses autores passam a integrar a parceria. Diante do êxito com os atuais companheiros, Picolé declara: “se eu soubesse que fazer parceria era tão bom, eu já teria feito outras vezes”. E se serve da mais exata das ciências para resumir o processo de criação do grupo, que acredita tenha garantido a escolha do samba: “a gente soma, multiplica, divide e subtrai... isso é igual a... essência do trabalho”. E arremata: “tivemos a 80 Revista Beija-Flor de Nilópolis felicidade de fazer um trabalho que conquistou a comunidade inteira”. Filho de D. Antonieta e seu José, Hélio Nascimento nasceu, sob o signo de Capricórnio, em Estância, no Sergipe, há 66 anos. É fisioterapeuta com graduação em trauma-ortopedia. Ele também expressa sua criatividade e talento através da pintura. André do Cavaco. Carioca de Anchieta, chegou à Beija-Flor, com seu amigo Betinho, para contar e cantar a sua história no enredo de “Saco vazio não pára em pé”, com Bira e Havaí. A experiência valeu: “Nosso samba tem um diferencial, que permitirá a galera expressar toda a emoção da letra e da melodia”. André colocou todo seu conhecimento e percepção musical a serviço dessa parceria. Para quem respira e vive unicamente de música – e com ela sustenta a família –, André apostou todas as fichas do seu talento e dedicação nessa parceria. Formado em Harmonia pelo Centro de Aperfeiçoamento Musical, André lapidou sua arte como violonista, tecladista e também como cavaquinista acompanhando intérpretes bem conhecidos como Jorge Aragão. Agora é só expectativa e ansiedade. www.beija-flor.com.br Serginho Aguiar. Sérgio Luiz da Costa Aguiar. Nasceu e se criou na Vila Militar. Milita (sem trocadilho!) no meio do samba mais da metade dos anos que já viveu. O mundo do Carnaval tem seus mistérios. Serginho conhece bem essas coisas. Os atabaques tocaram, a parceria se confirmou e os caminhos da criação se abriram para os poetas do samba. Tinham que molhar a palavra na preciosa fonte da inspiração. Todos obedeceram às orientações de Ogã. E entre um e outro gole, o samba foi fluindo. Um pitaco aqui, uma ideia ali... todo mundo rezando pela mesma cartilha. Foram alguns meses de trabalho. Hoje o samba está ai. Ter fé é bom. Mesmo quando não se é mais marinheiro de primeira viagem. Serginho já é campeão: venceu o concurso de samba-enredo na Vizinha Faladeira, em 2002, com Helinho 107, “Todo mundo tem família, só muda o endereço”. Pagodeiro inveterado, ele marca presença na roda de samba da Tia Doca e no pagode do Cinema (Madureira). Integrou a ala dos Compositores, em 2005, e concorreu ao samba de “Poços de Caldas”. Diretor de harmonia do Salgueiro há três anos, Serginho dá um tempo para se dedicar integralmente às homenagens a Brasília. Samir Trindade. Samir é o mais jovem da turma. E está em estado de graça. Além do samba ser escolhido para representar a Beija-Flor na avenida, sua mulher espera mais um filho para janeiro. Dos seus 26 anos, doze ele já consumiu nas noitadas de samba, levado pelo avô Dom Beto, compositor da Portela, quando defendeu “Olhos da Noite”, estreando como cantor aos 14 anos. Alma de sambista e de intérprete, para Samir se tornar compositor foi quase natural. Defendia as composições do avô, mas logo mostrou que também sabia versejar. Nos últimos oito anos, Samir participou das disputas de samba-enredo na Azul e Branco nilopolitana. Defendeu o enredo “Levanta a poeira abala geral é o Boi com a Beija-Flor no Carnaval”, com que o Bloco do Boi homenageava a escola, e continua como intérprete oficial da Escola de Samba Arame de Ricardo (grupo D). Já era parceiro de André, mas foi Pixulé quem o aproximou dos atuais parceiros. Serginho Sumaré. O mundo do samba é mesmo envolvente. Paulo Sérgio Alves Teixeira, carioca do Méier, que o diga. Tem samba na cabeça, nas mãos e nos pés. Compositor, percussionista e mestre-sala. Competiu diversas vezes, tanto no Bloco Carnavalesco União do Parque Vitória (Duque de Caxias), quanto na Beija-Flor de Nilópolis. Em ambas sempre foi finalista, mas só em 2005, com o samba “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani...” sentiu o doce gosto da vitória. Agora, o repeteco. Sumaré exulta: “Hoje eu me sinto um verdadeiro campeão. Segui os conselhos do compositor portelense Beto Sem Braço: tem que ler e que se aperfeiçoar”, comenta, agradecido pelas dicas. E completa: “a parceria esteve sempre unida”. Percussionista, é como músico e autor que ele afirma que “o samba-enredo está mudando harmonicamente”, e que ele considera isso muito bom, porque exige mais dos compositores. E tem no DNA a vocação adormecida do mestre-sala; sua mãe, Vera Lúcia, foi a única mulher da história do Carnaval que se tem notícia a exercer oficialmente as funções de mestre-sala da União do Parque Vitória e, de quebra, seu pai ser o Ébio Nota Dez, mestre-sala da Flor da Mina do Andaraí. Picolé e os compositores do samba enredo de 2010 Fevereiro 2010 81 82 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Fevereiro 2010 83 Gabriel David sangue bom nas pistas e na avenida HILTON ABI-RIHAN Onde quer que estejam, os integrantes da família Beija-Flor de Nilópolis deixam a sua marca de guerreiros dedicados. De Nilópolis à Copacabana, do Amapá ao Rio Grande do Sul, de Kobe à Paris – em pequenas casas ou em grandes apartamentos – esses personagens da história do samba não renunciam ao seu direito de conquista e de felicidade. E Gabriel David é um querido representante dessa família que empolga a Marquês de Sapucaí. Apesar da pouca idade - 12 anos - o jovem Gabriel sabe aproveitar as oportunidades que tem, e não mede esforços para conquistar seus sonhos e seu espaço. Abi-Rihan – Sua vida é um pouco diferente da vida dos meninos da sua idade, não é? Essa relação tão intensa com o Samba e o Carnaval que você tem... E agora com o kart... Diga-me como você se relaciona com essas diferenças? Gabriel David – É verdade que tenho uma vida muito diferente. Poucos meninos da minha idade estão ligados ao Samba e ao Kart como eu estou. Mas eu não vejo nenhum problema nisso. As pessoas devem procurar desde cedo fazer as coisas que gostam. Além disso, para mim, o importante é que tanto no samba, na BeijaFlor de Nilópolis, quanto na escola ou no kart eu faço o que gosto e tenho muitos amigos. Em cada um desses lugares venho aprendendo a agir da maneira certa, entendendo e respeitando meus amigos e as pessoas como elas são. Meu pai e minha mãe sempre falam sobre isso para mim. Então, essas diferenças acabam sendo uma coisa legal, pois estou aprendendo a ser uma pessoa legal, que entende e que vive bem com todas as pessoas, não importando onde elas vivam ou o que fazem. 84 Revista Beija-Flor de Nilópolis Abi-Rihan – Você toca algum instrumento? Gabriel David – Dos instrumentos de percussão, eu sei um pouco de alguns. Sei tocar caixa, No pódium, os pilotos João Roberto repique e surdo. Mas (4), Flavio Mateus (2), Gabriel David não é a melhor coisa que (1) e Ketheryne Marques (3). eu faço. No samba, o que eu sei tocar mesmo é o tamborim. Abi-Rihan – Diversas vezes eu vi o seu pai, o Anizio, com o olhar de orgulho quando vê você tocando tamborim ou conduzindo a Beija-Flor de Nilópolis. Como você se sente? Gabriel David – Sinto-me bem. Eu acho que meu pai fica orgulhoso de mim porque samba é uma coisa que ele conhece bem! E quando ele me vê tocando ou conduzindo a escola, ele entende que estou fazendo direito. Eu acho que é isso que todos os pais querem www.beija-flor.com.br Abi-Rihan – E obteve bons resultados nesses campeonatos? Equipe Power (da esquerda para a direita): em primeiro plano, os pilotos Gui Pessoa e Gabriel David. Em segundo plano, os técnicos Alcindo Teixeira e Jeison Teixeira. Em terceiro plano, os mecânicos Alan, Walmir e Bolão. Gabriel David – Meu primeiro campeonato foi o Serrano, no qual conquistei o título de campeão. É oficial, da Federação Internacional de Automobilismo, com oito etapas. Nas duas primeiras corridas eu fiquei em segundo lugar, o que não foi um resultado ruim. Na terceira eu já consegui ganhar. Foi a minha primeira vitória em um campeonato. Mas, além da vitória, o que foi muito importante nesse campeonato foram as coisas que aprendi, principalmente com o Flávio Mateus, um piloto de kart de São Paulo. Ele é um piloto muito bom, com uma grande experiência em kart, que participa de todos os campeonatos importantes do Brasil. Pilotar perto dele, observando-o, foi um grande aprendizado. Evoluí muito pilotando perto dele. Eu aprendi muito com ele, um grande amigo meu. para os seus filhos; que façam direito as coisas que escolheram fazer. E gosto de saber que ele e minha mãe querem o meu bem. Abi-Rihan – E no kart é assim também? Conte como começou a sua vida no kart? Gabriel David - É assim também no kart, apesar de meus pais não entenderem tão bem assim as estratégias que envolvem uma corrida de kart. Mas eles sabem que é um esporte que eu gosto e me dão a maior força. Sobre o meu início, quando era pequeno eu brincava muito de kart com meus primos e amigos. Nessa época eu tinha uns seis anos. Com nove anos eu descobri que tinha um kartódromo ‘indoor’ na Barra da Tijuca. Comecei a ir muito com uns amigos lá. Aí fui gostando. Eu ia para me divertir, porque é gostoso dirigir nas pistas, mesmo sendo ‘indoor’. Aos poucos fui vendo que levava jeito para corrida. Um dia falei para minha mãe que eu queria fazer isso profissionalmente, que eu estava gostando muito de kart. Ela e meu pai me viram correndo, e gostaram. Eu, inclusive, ganhei a corrida! Eles acabaram aceitando meu pedido. Então, em 2008 comecei a pilotar um kart bem mais veloz, e fazendo parte de uma equipe muito boa. No começo de 2009 eu já estava participando de campeonatos. Fevereiro 2010 85 Gabriel David, ao lado de Djalma Neves, presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Rio de Janeiro (FAERJ) e de Cleyton Pinteiro, presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). À direita, sua mãe, Fabíola David, seu pai, Anizio Abrão David, sua irmã Micaela David e sua prima Marina David. Abi-Rihan – Quais os motivos dos seus bons resultados? Gabriel David – Acho que levar jeito para uma coisa é importante. Mas é muito importante também que você treine bastante. Se você quer chegar a algum lugar, você tem que treinar! Isso, tanto no kart como na escola de samba e em qualquer coisa... Se não se esforçar não consegue nada. Abi-Rihan – Qual foi o momento de maior emoção nessas corridas? Gabriel David – Cada competição, cada corrida, tem a sua emoção. É como no desfile de carnaval. Cada um tem o seu significado. Mas a corrida que fiz em Guapimirim foi emocionante. Eu tinha feito a pole position com um sol muito forte. Saí na frente e, de repente, começou a chover! Na terceira volta eu rodei e fui para o último lugar. Vi que os outros pilotos abriram três retas de vantagem sobre mim. Podia até chegar em último, porque minha colocação no campeonato era excelente. Mas aí pensei: ‘não estou aqui para assistir a corrida. Estou aqui para ganhar!’ Aí fui pra cima deles, sempre respeitando meus colegas, e fui tirando a diferença, até passar todos os outros pilotos e ganhar a corrida. Para mim foi a melhor corrida do ano! Acho que superei meus limites. E devo isso aos meus pais, que me apóiam e me incentivam, aos meus treinadores – o Jeison e o Alcindo – e aos mecânicos da minha equipe, a Power Motorsport. Abi-Rihan – Que lição ficou dessa corrida? Gabriel David – Acho que é a certeza de que se queremos vencer na vida, não importa a idade ou as dificuldades. Se a gente tiver vontade e lutar vai conseguir o que quer. 86 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br LIGA INDEPENDENTE DAS ESCOLAS DE SAMBA JORGE CASTANHEIRA Hilton Abi-Rihan – Presidente Jorge Castanheira, como será o Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial em 2010? Jorge Castanheira – No próximo carnaval nós vamos ter 12 agremiações, desfilando seis em cada dia. As escolas de samba diversificaram bastante, e estamos prevendo a apresentação de belos espetáculos e enredos muito variados. Hilton Abi-Rihan – Na Avenida, essa variedade de enredos é promessa de variedade de formatos e imagens, o que garante um espetáculo de qualidade. E em termos de disputa, de regras, de avaliação de quesitos. Há alguma alteração para esse ano? Jorge Castanheira – Sim. Algumas mudanças técnicas foram introduzidas para esse ano, por decisão da maioria do plenário: ao invés de 40 julgadores, nós teremos 50 julgadores para analisar a apresentação das agremiações, sendo cinco julgadores para cada um dos 10 quesitos. E desses cinco julgadores, as cinco notas serão analisadas e abertas no dia da apuração, sendo que a menor nota e a maior nota dada em cada quesito para cada uma das escolas será eliminada. Então, das cinco notas num determinado quesito, a menor e a maior de cada escola será eliminada, valendo as três notas intermediárias. Esse é um processo que já foi usado pela Liesa, e que aplicaremos novamente este ano para fazer um novo teste, e verificar a possibilidade de incrementar ainda mais a disputa. Além disso, temos uma novidade para o Desfile: além do limite de cinco a oito alegorias, as agremiações poderão levar para a Avenida até, no máximo, seis tripés ou elementos cenográficos com até duas pessoas sobre eles. Hilton Abi-Rihan – Então, deixe sua mensagem final... Jorge Castanheira – Temos certeza e esperança de que as escolas farão um grande carnaval, se superando em criatividade e ousadia, realizando um grande espetáculo. Então, a nossa mensagem é que todos tenham um excelente carnaval, que tudo transcorra num clima de muita paz e de fraternidade. E que o carnaval seja mais um exemplo de reunião de todas as classes sociais em prol de um objetivo comum que é realizar a maior festa popular do mundo. Fevereiro 2010 87 UM OLHAR SOB BRASÍLIA SIMÃO SESSIM No ano em que a Capital Federal comemora 50 anos, a revista Beija-Flor de Nilópolis foi ouvir um dos mais ilustres parlamentares do Estado, que há 31 anos representa com honestidade e pragmatismo a população fluminense: o deputado federal Simão Sessim. Ricardo Da Fonseca – Em que momento de sua vida surgiu o desejo de se dedicar à política? Simão Sessim – Foi na década de 60, quando eu lecionava nos principais colégios de Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu. No contato com os jovens, principalmente os mais carentes, emergia sempre o desejo, o sonho permanente de ver um Brasil grande, desenvolvido, democrático e com justiça social. Da mesma forma, eu imaginava uma forma de ajudar a oferecer melhor qualidade de vida ao povo da cidade de Nilópolis, que me viu nascer e crescer. Ricardo Da Fonseca – Como foi o seu ingresso na carreira política? Houve alguma dificuldade? Qual? Simão Sessim – As condições precárias de Nilópolis, comum a toda Baixada Fluminense, mostrava que só através da política poderíamos concretizar o nosso sonho de ver chegar o progresso, o desenvolvimento, a justiça social, enfim, o respeito, a dignidade ao povo sofrido e abandonado. Assim, formamos um grupo na família, aliado a grandes amigos, e ingressamos nos partidos políticos dispostos a disputar as eleições. Nesse grupo estavam Jorge David, Miguel Abrão, Nelson Abrão, Anizio Abrão David, Luiz Cláudio de Azevedo Viana, Farid Abrão, Nagib Sessim, Dr. Israel José de Melo, Dr. Otadélio Magalhães e muitos outros. Tivemos dificuldades para conseguir vagas nos partidos que eram dominados pelos deputados estaduais da época, como Egídio Mendonça Thurler, Lucas de Andrade Figueiras e Jarbas Lopes. O partido que nos aceitou foi a UDN (União Democrática Nacional), comandada pelo saudoso e inesquecível João de Moraes Cardoso Junior, que foi o primeiro prefeito de Nilópolis. Conquistamos cerca de 20 mil votos, derrotando grandes políticos da época, como João Machado Barcelos, o Mangueira; o deputado estadual Gilberto Rodrigues; o suplente de deputado federal Adauri Fernandes; o vereador Orlando Hungria, que era apoiado pelo prefeito Sérgio Cardoso; e o ex-prefeito Eracyoes Lima. É importante destacar que, já nas eleições de 1962, conseguimos eleger Jorge David deputado estadual, e os vereadores Israel José de Melo e Otadélio Magalhães do Vabo, além de Miguel Abrão, pelo PTB. Ricardo Da Fonseca – Que fato marcante o senhor destacaria durante toda a sua trajetória política? Simão Sessim – Sem dúvida alguma a minha eleição para prefeito em 1972. Jovem, com 37 anos, professor, primeiro diretor do Colégio Aydano de Almeida, que acabara de ser fundado. Recordo que tive uma campanha apoiada, principalmente, pelos meus alunos dos colégios Olindense, Nilopolitano, Filgueiras, José D´Alessandro e o próprio Aydano de Almeida. Foi fundamental, sem dúvida alguma, o apoio da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, presidida, na época, pelo saudoso Nelson Abrão David e o patrono Anizio Abrão David, que ainda pertencia ao 2º Grupo, cujo enredo foi “Educação Para o Desenvolvimento”, tema que tinha muito a ver com a nossa campanha e o nosso projeto de governo. Esse enredo, no Carnaval de 1973, levou a Beija-Flor de Nilópolis ao 1º Grupo. Ainda no meu mandato de prefeito, no Carnaval de 1976, ela conquistou o seu primeiro título de campeã entre as grandes escolas do Rio de Janeiro, com o antológico enredo “Sonhar com o rei dá leão”, ocasião em que a cidade inteira parou para homenagear Anizio, Nelsinho, Joãozinho Trinta e todos os componentes da escola. Depois vieram o bi e o tricampeonato, em 1977 e 1978. Ricardo Da Fonseca – Como tem sido a sua vida em Brasília, e como foi a sua adaptação? Simão Sessim – Assumi o meu primeiro mandato como deputado federal no dia 1º de fevereiro de 1979. Hoje, já cumpro o meu oitavo mandato consecutivo. Mas, sem dúvida alguma, me encheu de alegria, felicidade, emoção e orgulho a minha chegada a Brasília como representante do Rio de Janeiro no Congresso Nacional, mais precisamente na Câmara dos Deputados. Já se vão 31 anos consecutivos, ininterruptos, de minha participação no mais importante cenário da política brasileira, militando com homens e mulheres que ajudaram a construir este país ao longo desse período. Na verdade, não tive problemas de adaptação, uma vez que, logo no primeiro mandato, fui escolhido pelos meus colegas da ARENA do Rio de Janeiro, meu partido político na época, para exercer o cargo de coordenador da bancada fluminense. Fiquei surpreso com a deferência, visto que a nossa bancada, naquele tempo, era composta de renomados e experientes parlamentares, como Célio Borja, Álvaro Valle, Amaral Neto, Lígia Lessa Bastos, Alair Ferreira, Darcílio Ayres, Hidekel de Freitas, entre outros. Entendo que o Congresso Nacional é uma universidade, e você precisa se nivelar com os principais políticos do país e ser participativo, criativo e sensível aos grandes problemas e aos anseios da nação. Ricardo Da Fonseca – Como legislador, estando em Brasília, o senhor com certeza deve ter participado e também presenciado grandes fatos que, consequentemente, entraram ou entrarão para a história do nosso país. Dentre esses fatos, qual foi o que mais lhe marcou, e por quê? Simão Sessim – O primeiro grande fato, na minha concepção, foi a anistia, que serviu de transição do regime militar para a redemocratização do país. Votamos a anistia debaixo do clamor de que ela deveria ser ampla, geral e irrestrita. Valeu para os dois lados, governo e oposição. Isto possibilitou o retorno, ao Brasil, dos grandes líderes que estavam exilados. Depois, sem dúvida alguma, o orgulho de ter sido Constituinte juntamente com Lula, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, e tantos outros grandes líderes. A Assembléia Constituinte foi presidida pelo deputado Ulysses Guimarães, que batizou a nova Lei Maior do país como “Constituição Cidadã”, em 1988. Outro grande episódio foi o afastamento do presidente Collor. Votamos, nesse dia, com a presença de mais de 200 mil pessoas na frente do Congresso Nacional e com todo o Brasil acompanhando a sessão do Congresso Nacional através do rádio e da televisão. Uma noite que também nos marcou muito foi a impossibilidade de o presidente Tancredo Neves assumir a Presidência da República, por ter sido acometido de uma crise de diverticulite, que, infelizmente, culminou com a sua morte. A decisão para que José Sarney o substituísse foi tensa, complicada e negociada entre líderes civis e militares. E nós acompanhamos de perto todos os lances. Ricardo Da Fonseca – Ainda como deputado federal, quais as suas principais realizações em favor do cidadão da Baixada Fluminense e de Nilópolis? Simão Sessim – Ao longo de meus mandatos tenho ajudado a resolver os problemas do país, do meu Estado do Rio de Janeiro e, principalmente, da Baixada Fluminense. Cito como obras marcantes a construção do Porto de Itaguaí e a criação das Escolas Técnicas Federais de Nilópolis e de Nova Iguaçu, o saneamento e asfaltamento das principais estradas que interligam os municípios de Nova Iguaçu, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias. Levamos também várias áreas de esporte e lazer para os municípios da região; lutamos ainda pela melhoria da saúde, com a implantação dos Hospitais da Posse e de Queimados, cuja construção esteve paralisada por longos anos. Brigamos, da mesma maneira, pelo Polo Gás-Químico de Duque de Caxias e pelo Complexo Petroquímico de Itaboraí. Outra importante reivindicação nossa foi o Anel Rodoviário (Arco Metropolitano), ligando Xerém ao Porto de Itaguaí, e que, sem dúvida alguma, vai representar a redenção econômica da Baixada Fluminense. Em Nilópolis, de modo especial, podemos garantir que ajudamos a construir toda a infraestrutura urbana da cidade, além da conquista de uma grande área de Gericinó. Além disso, estamos presentes em todas as reivindicações e liberações de recursos do Governo Federal que estão sendo aplicados no novo viaduto de Nilópolis, no novo reservatório de água no bairro do Cabral e na revitalização do Centro da cidade. Ricardo Da Fonseca – Que mensagem o senhor gostaria de deixar para os nossos leitores? Simão Sessim – Uma mensagem de esperança e de muita fé para todos os brasileiros que acreditam e, por isso mesmo, sonham com um país mais humano e justo. O futuro desta nação depende de cada um de nós. E que no enredo de nossas fantasias o Brasil maravilhoso faça um belo desfile de campeão, com muito ritmo, cadência e empolgação. Até porque o enredo sobre os 50 anos de Brasília, que a nossa querida escola de samba Beija-Flor de Nilópolis está levando para a avenida, fala exatamente de esperança, de sonhos e inspirações para que o Brasil se torne grandioso e justo. O D N U OM O H L O DE O R I E N A J E D NO RIO VICENTE DATTOLI Quando a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro foi criada, em 24 de julho de 1984, suas dez agremiações fundadoras buscavam um grito de independência. Beija-Flor de Nilópolis, Salgueiro, Caprichosos de Pilares, Portela, Mangueira, Império Serrano, União da Ilha, Unidos de Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel estavam cansadas de ver suas propostas derrotadas pelos interesses, menores, das demais agremiações que compunham a Associação das Escolas de Samba. Nesses pouco mais de 25 anos de história, muitas conquistas podem ser contabilizadas. Direitos autorais pagos diretamente aos compositores que têm seus sambas cantados durante os desfiles, valorização por parte do poder público, mais recursos na comercialização do espetáculo – leia-se maior interesse e investimento por parte das emissoras de televisão – e, principalmente, um crescente aumento do interesse dos veículos de comunicação, notadamente do exterior. A cada ano que passa mais e mais jornais, revistas, sites e emissoras de televisão querem falar e mostrar o nosso desfile do Grupo Especial. Nada disso teria acontecido se a organização não fosse o ponto forte do espetáculo apresentado pelas 12 principais Escolas de Samba do Carnaval do Rio de Janeiro. Se, hoje, aquele grupo de dez fundadoras sente a ausência de algumas agremiações, momentaneamente em outros desfiles, não se pode negar que as presenças de Unidos da Tijuca, 90 Revista Beija-Flor de Nilópolis Viradouro, Grande Rio e Porto da Pedra (para citar as mais bem colocadas no ranking da Liga) servem para dar mais brilho à apresentação que é feita nas noites de domingo e segunda-feira de Carnaval. Com a escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016, sente-se claramente que uma boa parcela dos meios de comunicação, que não via no lado sul do globo terrestre fatores maiores para mostrar a seu público, teve de alterar o seu padrão. E, desde a vitória da Cidade Maravilhosa, na primeira semana de outubro, quando derrotou Tóquio, Madrid e Chicago, não há exagero em se dizer que os olhos do mundo estão voltados para o Rio de Janeiro. www.beija-flor.com.br Antes do Carnaval tivemos o réveillon, manifestação que atraiu cerca de 650 mil turistas para o Rio de Janeiro. Foi o primeiro grande evento internacional desde a escolha da sede olímpica. Um evento, porém, que possui diversos parâmetros de comparação. Todas as emissoras de televisão mostram, no dia 31 de dezembro, as passagens de ano mais famosas no mundo: Sidney, na Ponte Habour; Moscou, na Praça Vermelha; Paris, na Avenida Champs Elysees; Londres, nas proximidades do parlamento... Agora, em fevereiro, porém, seremos somente nós. O mundo inteiro vai parar para ver o desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial, que pela 26ª vez será organizado pela Liga. Não se pense, porém, que o padrão de excelência internacional exibido hoje foi conseguido de uma hora para outra, e sem esforço. Nada disso. Foram necessários anos de aprendizado. Cada erro cometido era um aviso e um sinal do que precisava ser alterado, melhorado. Felizmente, ao longo de todo este tempo a Liga soube olhar para trás e organizar-se – e, claro, organizar ainda melhor o grande espetáculo. Para os desfiles de 2010 algumas importantes novidades serão colocadas em prática. Sem alteração do tempo máximo de apresentação (82 minutos), cada Escola precisará exibir-se para mais um julgador – agora serão cinco, com as notas extremas eliminadas. Também serão introduzidos seis novos elementos cenográficos, que poderão conduzir até duas pessoas. Tudo pensado para dar ainda mais brilho às performances das Escolas de Samba e manter a atenção do mundo voltada para o Rio de Janeiro. A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida presta aqui, uma homenagem em vida ao jornalista esportivo e de carnaval Vicente Dattoli, que completa em 2010 dez anos ininterruptos de expressivos serviços ao carnaval carioca e à Liga Independente das Escolas de Samba - Liesa, exercendo a função de assessor de imprensa da Liesa. Graduado pela UFF - Universidade Federal Fluminense, Vicente já trabalhou na redação de diversos importantes veículos de comunicação, entre eles, Última Hora, Jornal do Brasil e O Dia e TV Globo, tendo iniciado sua atuação na Liesa à convite do presidente Luiz Pacheco Drumond (2000) e permanecido na função até os dias atuais. Parabéns, Vicente! Fevereiro 2010 91 QUER ENCONTRAR A ALMA CARIOCA? VÁ À LAPA. ÍRIS ÁGATHA Pelos idos de 1751, havia uma praia chamada Areias de Espanha ao lado de uma lagoa – Lagoa do Boqueirão – tão insalubre e cheia de mosquitos que o vice-rei mandou aterrar. Assim surgiu a região conhecida como Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Em volta de um seminário e uma capela erguida em nome de Nossa Senhora da Lapa nasceu o bairro-síntese da alma carioca; da boemia, malandragem, travestis (antigamente bem mais discretos), prostitutas e histórias trágicas ou hilariantes nessa animadíssima região que se estende do Passeio Público ao Bairro de Fátima. Decadente entre as décadas de 40 e 80, a Lapa está vigorosa, com as mais variadas tribos cariocas e visitantes que curtem os diversos sons nas ruas e que ecoam dos velhos casarões reformados. Samba, música eletrônica, choro, forró, salsa e merengue, rock, sinfonia; de tudo se ouve na Lapa. UM PASSADO CHEIO DE MALANDRAGEM O radialista Rubem Confete vivenciou o reduto entre os anos 50 e 60, onde “gente de bem” não pisava: “A Lapa era uma região da malandragem. Eu estava no Juca Pato (Rua Visconde de Maranguape, junto ao Largo da Lapa) e Nelson Cavaquinho também, com seu violão. Passou uma comitiva de carros, e num deles estava o Vinícius de Moraes (diplomata na época), de smoking. Ia ser paraninfo na Faculdade de Direito, na Praça da República. 92 Revista Beija-Flor de Nilópolis Quando viu o Nelson, saltou e bradou: ‘Não vou fazer discurso pra reitor nenhum. A garotada que venha pra cá’. Resultado: rapazes de smoking e moças de soirée se formaram no bar.” Confete conheceu também João Francisco dos Santos, o lendário Madame Satã, encarregado pelos rufiões de cuidar e defender as “meninas” que moravam no atual Bairro de Fátima. Confete recorda que, em 1972, Madame Satã, em má situação, recebeu ajuda de uma ex-meretriz viúva de um general. Nos anos de 1920 e 1930 a vida noturna do bairro era tão intensa que ele foi chamado de “Montmartre Carioca” (alusão a um bairro de Paris, na França). Havia residências e também cabarés, cassinos, bares e restaurantes. Mas a repressão do Estado Novo, com o combate às atividades ilícitas, e a concorrência de Copacabana levaram a Lapa à decadência. UM NOVO RUMO Em 1982 aconteceu uma união em defesa da Lapa. O Circo Voador fora expulso do Arpoador (Zona Sul carioca) e a prefeitura da cidade apresentou como alternativa o terreno baldio do Largo da Lapa (que iria ser uma extensão do estacionamento da Catedral). Idealizador do Circo, o produtor cultural Perfeito Fortuna conta: “De positivo, o lugar tinha o caráter central, atraía uma variedade de público muito maior que o Arpoador. O acesso era mais fácil. Só percebemos isso depois que nos mudamos, e foi muito positivo. O Circo jogou luz sobre a Lapa e valorizou a região”. Mas o Circo Voador não só deu um novo rumo à Lapa, como lançou, na cidade, sucessos como o Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do Sucesso, Lobão, Deborah Colker e a Intrépida Trupe. Além de lançar, o Circo Voador exibiu artistas de gerações passadas, como www.beija-flor.com.br Ângela Maria, Cauby Peixoto, e a gafieira moderna com a Orquestra Tabajara na Domingueira Voadora. Augusto Ivan, arquiteto e urbanista, trabalhou no projeto do Corredor Cultural – criado por decreto pelo então prefeito Marcelo Alencar em 1984 – e na reurbanização do entorno dos Arcos da Lapa. Segundo Augusto Ivan, que foi subprefeito do Centro e Secretário Municipal de Urbanismo, ”os comerciantes da Rua do Lavradio vinham fazendo um trabalho importantíssimo para reabilitar e recuperar a economia da área. Sem o trabalho deles nada teria sido possível. A reabilitação da rua do Lavradio é um exemplo para todo o país e mesmo para fora dele”. Uma outra luta empreendida em favor da memória carioca e que resultou na criação de um ponto de importantes manifestações culturais foi protagonizada na Fundição Progresso – de fogões e cofres –, localizada ao lado do Circo Voador. A Fundição estava desativada em 1987 e começava a ser demolida. Os integrantes do Circo Voador, que tinham uma visão apurada da importância da preservação e da valorização da arte e da cultura carioca, não se conformaram com essa situação e foram à luta: com o apoio de artistas e personalidades cariocas, eles se puseram entre o prédio antigo e os tratores e marretas, impedindo a demolição enquanto parte do grupo ia buscar ajuda para o embargo da demolição por ordem judicial. O esforço não foi em vão. Após o esforço do grupo e o apoio da sociedade civil, o prédio da Fundição Progresso foi mantido de pé e os governos municipal e estadual concederam ao Circo Voador o uso do espaço físico da Fundição para a realização de eventos culturais. A Fundição surgiu, então, com capacidade de atender um público de cerca de 7000 pessoas, com quatro teatros, três palcos para shows, uma arena, o Palco São Sebastião (primeiro piso) e a choperia Parada da Lapa, para shows. Na Fundição, importantes grupos artísticos encontraram o espaço para desenvolver suas propostas, entre eles a Intrépida Trupe, o Centro Interativo de Circo, o Armazém Cia. de Teatro e o Teatro de Anônimo. Hoje, a Fundição Progresso permanece um espaço democrático de acesso à arte e à cultura brasileira, bem no coração da Lapa. UM BAIRRO DE MUITAS OFERTAS Segundo informação da Associação Polo Novo Rio Antigo existem atualmente cerca de 400 bares, restaurantes, sebos, antiquários e casas de shows na região. Plínio Fróes, diretor da Associação, que liderou a reabilitação, saiu de Copacabana e foi morar na Rua do Lavradio. É sócio de três estabelecimentos: da casa noturna Rio Scenarium, da cachaçaria Mangue Seco e do restaurante Santo Scenarium. A dançante Rio Scenarium, que chega a receber dois mil clientes em uma noite, tem novo espaço para músicas líricas e de câmara. Li hoje cedo no jornal que a borracharia que havia na Rua Mem de Sá, na Lapa, enche seu último pneu só até o Natal, começando o ano com cerveja gelada e churrasquinho na farofa. Aliás, tô muito atrasado. Hoje, aquele cubículo de graxa e aro 26 tá sendo disputado por franquias de barescom-estilo. A verdade é que esse bairro trouxe um novo sol nessa turma não bronzeada. Através dos Arcos, novas águas passam por cima dessa ponte chamada cultura carioca. O samba acenou de vez pra juventude, a escuridão de um centro abandonado deu luz e emergentes boêmios que povoarão de história o futuro próximo do Rio de Janeiro. Hoje, não precisamos mais inventar novas ‘rabanadas’ nos pés do lendário Madame Satã, nem depositar aos malandros punguistas a essência desse logradouro. As sandálias da Carmem Miranda estão calçando a herdeira Teresa Cristina. No mesmo chapéu do Geraldo Pereira, a cabeça de Moyses Marques. O Capela berra a cada cabrito servido. Do lado, O Bar Brasil põe mais gelo na serpentina pra ‘entulipar’ de chopp os novos e talentosos cariocas, alma de Manuel Bandeira, sede de Albino Pinheiro. Não será raro você encontrar alguém entusiasmado pela Rua do Lavradio, desdenhando da Vieira Souto. É capaz de frasear: - Lá só tem mar. A Lapa tem vida!! Moacyr Luz Santa Tereza, Rio de Janeiro, 22/12/2009 Fevereiro 2010 93 DO YOU WANT TO FIND THE CARIOCA HEART? GO TO LAPA. ÍRIS ÁGATHA Until 1751 there was a beach called Areias de Espanha nearby a lagoon – Lagoa do Boqueirão – that was so miasmic and full of mosquitoes that the viceroy ordered it filled in. This is how the region known as Lapa in the city of Rio de Janeiro was born. Around a seminary and chapel built in honor Our Lady of Lapa grew the neighborhood that’s the essence of the Carioca soul – filled with Bohemians, rascals, transvestites (more discreet in the old days), prostitutes and tragic or hilarious stories. That’s an apt description of this animated region that stretches from Passeio Público in the downtown Cinelândia district to the Fátima district. Decadent between the 1940s and 80s, Lapa is now reinvigorated, attracting the most varied Carioca tribes and visitors seeking to enjoy the many sounds that echo in the streets and waft from remodeled buildings turned into nightspots. Samba, electronic music, choro, forró, salsa and merengue, rock, even chamber music. Lapa has it all and more. A PAST FULL OF LOWLIFE The radio host Ruben Confeti experienced the redoubt in the 1950s and 60s, when “decent folk” dared not enter: “Lapa was filled with lowlife. I was in Juca Pato (Visconde de Maranguape Street where it meets Lapa Square) along with Nelson Cavaquinho, who was holding his guitar. A procession of cars passed by, one of them carrying Vinícius de Moraes (a diplomat at the time, later one of Brazil’s greatest composers), wearing an elegant tux. He was going to give a keynote speech at the School of Law in Praça da República. When he saw Nelson, he hopped out and shouted: ‘I’m not going to give a speech to any dean. Let’s go everybody’. The result: young men in tuxedos and ladies in soirées lined up at the bar.” 94 Revista Beija-Flor de Nilópolis Confeti also was an acquaintance of João Francisco dos Santos, the legendary drag queen “Madam Satan”, put in charge by the local ruffians to defend the “girls” who lived in the Fátima district. Confeti remembers that in 1972, Madam Satan, having fallen on hard times, received help from a former call girl, widow of a general. In the 1920s and 30s the district’s nightlife was so intense it was called the “Carioca Montmartre” (alluding to the district in Paris). There were residences along with cabarets, casinos, bars and restaurants. But the repression during the Estado Novo dictatorship years (1937-1945), with the crackdown on illicit activities, along with competition from newer and more chic nightspots in Copacabana, caused Lapa to enter a long decline. A NEW LIFE A key event in Lapa’s revival happened in 1982. The Circo Voador (“Flying Circus”) show venue lost its zoning permit in Arpoador (between Copacabana and Ipanema in Rio’s South Zone) and city officials presented as an alternative a vacant lot across from Lapa Square (which had been earmarked as additional parking for the Metropolitan Cathedral). The head of Circo Voador, the producer Perfeito Fortuna, recounts: “On the plus side, the place was centrally located and attracted a much more varied public than Arpoador. The access was easier. We only realized this after the move, and it turned out very positively. Circo Voador put a spotlight on Lapa and triggered the region’s revival.” But Circo Voador not only gave a new life to Lapa, it also provided a stage in the city to launch successful bands and performers like Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do Sucesso, Lobão, Déborah Colker and Intrépida Trupe. Besides new stars, Circo Voador has always also booked old-guard performers like Ângela Maria and Cauby Peixoto, as well as www.beija-flor.com.br offering modern ballroom dancing to the tunes of Orquestra Tabajara on Domingueira Voadora (“Flying Sundays”). governments to use the Progresso Foundry building as a space to hold cultural events. Augusto Ivan, an architect and urban expert, worked on the Cultural Corridor project – created in 1984 by then mayor Marcello Alencar – and on the reurbanization of the area around the Lapa Arches. According to Augusto, who has been sub-mayor for downtown and municipal secretary of urbanism, “the merchants on Lavradio Street have been doing important work to revitalize the area and its economy. Without them none of this would have been possible. The recuperation of Lavradio Street is an example for the entire country and even abroad.” The building has now been remade into a venue that can hold nearly 7,000 people, with four theaters, three stages for shows, an arena (the ground-floor Palco São Sebastião) and the Parada da Lapa beer hall. Another struggle in favor of preserving Rio’s heritage, one that resulted in the creation of a venue for important cultural manifestations, was experienced by Progresso Foundry, a maker of stoves and safes, located alongside Circo Voador. The foundry was deactivated in 1987 and started to be demolished. The members of Circo Voador, who had a sharp insight into the importance of preserving and valuing Carioca art and culture, refused to stand for this. They joined with performers and personalities and formed a cordon between the old building and the bulldozers and wrecking balls, preventing its demolition while their lawyers sought a court order to halt it. The effort was not in vain. After this effort, Circo Voador, with the help of civil society organizations, obtained permission from the city and state Important artistic groups find a place to develop their projects, among them Intrépida Trupe, Centro Interativo de Circo, Armazém Cia. de Teatro and Teatro de Anônimo. Today Progresso Foundry remains a space for democratic access to Brazilian art and culture in the heart of Lapa. A DISTRICT WITH MUCH TO OFFER According to the Associação Pólo Novo Rio Antigo, there are around 400 bars, restaurants, used bookstores, antique shops and show venues in Lapa. Plínio Fróes, the association’s director, led the revitalization effort and moved from Copacabana to an apartment on Lavradio Street. He’s a partner in three establishments: Rio Scenarium nightclub, Mangue Seco bar (specialized in cachaça, Brazil’s homegrown cane liquor) and Santo Scenarium restaurant. The swinging Rio Scenarium, which can hold two thousand people, even has a new space for lyrical and chamber music concerts. Fevereiro 2010 95 AMOR PELO SAMBA SE APRENDE EM CASA THAÍS MEDEIROS – de tantas outras – de muita fibra e determinação. A primeira delas é a tão conhecida Pinah Ayoub, Já dizia o velho ditado: “De casa vai à praça”, ou que começou sua história na arte do samba através ainda “filho de peixe, peixinho é”. Ambas as ex- do Luiz Carlos Ribeiro, decorador com quem partipressões podem ser vistas por muitos apenas como cipava de concursos de fantasias nos teatros cafamosos ditos populares, mas ilustram de forma riocas e que a convidou para desfilar no GRES Em quase perfeita a realidade de muitas pessoas. Isso Cima da Hora, em 1974. Embora tenha começado em outra escola de samba, Pinah porque tem sido muito comum encarrega a Beija-Flor de Nilópolis contrarmos filhos que por motivos no coração, e dedica os méritos diversos acabam seguindo pelo do que é hoje tão somente ao mesmo caminho que seus pais. E samba: “O samba é uma parte assim como os motivos, as expliessencial na minha vida, ele me cações para o fato também são fez quem eu sou, e eu devo honmúltiplas: uma das mais comuns ras a ele”. encontra-se na tão conhecida A segunda é a aderecista Márcia curiosidade, já que é mais do que Medeiros, que sempre sonhou em normal que um filho se interesse Pináh e Cláudia Ayoub fazer parte do mundo do carnaval, pelo trabalho de seus pais. façanha que conseguiu no ano de A grande passarela do samba carioca, tablado da alegria e assembléia multirracial, 2003, quando criou coragem e saiu batendo de pornão poderia deixar de ser palco dessa grande “reu- ta em porta nos barracões. A iniciativa rendeu uma vaga para trabalhar no GRES São Clemente com nião familiar trabalhista”. E a Beija-Flor de Nilópolis, fazendo jus ao apelido Milton Cunha, então carnavalesco da escola, e descarinhoso de “princesinha da passarela”, integra-se de o carnaval de 2008 permanece na agremiação niao cenário dessa confraternização servindo como lopolitana. O trabalho é bastante agitado, mas Mársede para essa agregação de famílias e abrindo alas cia está feliz e garante que isso tudo já faz parte de para essa grande família pelas mãos duas mulheres sua vida: “No momento, o carnaval é uma coisa que 96 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br eu já não consigo mais ficar sem. Eu me identifico muito com o trabalho de carnaval”. Já Neguinho da Beija-Flor conhece bem a avenida. Ele começou sua história com o samba de uma forma bem arriscada, já que, seguindo um conselho de seu comandante, largou sua farda e deixou tudo para trás para construir sua carreira no mundo da música, mais especificamente do samba. Sua decisão final foi no quartel, mas seu histórico no samba já existia desde pequeno: aos dez anos, Neguinho ganhou o seu primeiro prêmio musical, que ocorreu em um parque de diversões, onde arrebatou a terceira colocação cantando a música do saudoso Jamelão: “Se acaso você chegasse no meu ‘chateau’ e encontrasse aquela mulher que você gostou...”. Luís Antônio Feliciano Marcondes, seu nome verdadeiro, tornou-se peça tão importante na história da agremiação de Nilópolis que hoje é difícil imaginar BeijaFlor nem Neguinho, e vice-versa. E assim, como em coração de mãe, a agremiação nilopolitana sempre abre espaço para mais alguém. O auxiliar de almoxarifado Jorginho Leite começou em meio a uma forte rivalidade protagonizada pelos então blocos de carnaval BeijaFlor de Nilópolis e Unidos de Nilópolis. Porém, sua mãe sempre o incentivou a ir para a Azul e Branco, escola que aprendeu a amar e respeitar e de onde hoje tira o seu sustento: “Através do samba, eu estou aqui trabalhando, criei meus filhos e sempre trabalhei na Beija-Flor. Quer dizer, o samba é a minha vida e o meu ganha pão”. E se os filhos são mesmo a luz da casa, como muitos acreditam por aí, a Beija-Flor está bem representada nesse quesito. Tem filhos para todos os gostos e estilos. Filhos agitados, filhos calmos, filhos dóceis, filhos não tão dóceis assim, enfim... filhos. Cláudia Ayoub, filha da ex-destaque Pinah, aceitou com carinho o incentivo de sua mãe e ingressou nesse mundo do samba carregando-o como uma herança a ser cuidada e preservada com muito respeito. História não muito diferente da do aderecista Thiago Medeiros, filho da também aderecista Márcia, que o trouxe para esse universo carnavalesco como uma espécie de terapia ocupacional, o qual Thiago encara também como uma forma de diversão, já que garante que faz seu trabalho com muito prazer. Fevereiro 2010 97 Outro filho, digamos que um tanto quanto dedicado, é o Luís Antônio, mais conhecido como JR que, embora estivesse esbanjando desejo, não herdou o dom de seu pai, Neguinho da Beija-Flor. Mas, apesar de não cantar, JR acredita que não teria muito como fugir desse destino do samba, já que por ter sempre acompanhado o trabalho de seu pai acabou conhecendo de A a Z essa profissão. Mas o troféu de filho “rebelde” foi mesmo para Daniele Leite, filha da Jorginho Leite, que tentou de todas as formas não “cair no samba”. Mas não teve jeito; o incentivo da família foi mais forte e ela acabou entrando também para a arte do carnaval. Outro filho muito “rebelde” é o aderecista Fábio Santos, que seguiu os caminhos do irmão Fabiano Santos emprestando sua arte ao carnaval. É a primeira vez que os irmãos trabalham juntos e, embora não estejam juntos o tempo todo, estão achando muito boa a ideia de trabalharem no mesmo ramo e na Beija-Flor de Nilópolis. Quem também adora trabalhar em família é a aderecista Leide Jane dos Santos, que divide a bancada com sua irmã Marisa dos Santos há cerca de cinco anos. Elas garantem que mesmo que não houvesse um incentivo mútuo, ainda assim buscariam esse 98 Revista Beija-Flor de Nilópolis mundo do samba. Ainda no setor adereço, os irmãos Rogério Madruga e Dora começaram com o pé direito. Isso porque Dora, ainda lá no interior, na de cidadezinha de São Fidélis, onde moravam, ganhou o concurso para rainha do carnaval. Mas a faísca reacendeu mesmo quando, já no Rio de Janeiro, visitou o seu irmão no barracão da Beija-Flor de Nilópolis. A defensora do pavilhão da escola Selminha Sorriso aparece fechando com chave de ouro esse time de irmãos. Seu irmão, Celso Matos, atribui o seu ingresso ao carnaval não só ao seu interesse por essa arte, mas principalmente à admiração pelo trabalho de sua irmã e sua força de vontade. E dando aquela forcinha para o samba, define-o como a “cultura do mundo”. Contudo, essa grande família não se encerra por aqui, já que toda família feliz conta também com os tios, que aqui estão representados pela chefe de ateliê Bete Leite, irmã de Jorginho Leite. E, coincidência à parte, também teve um pai compositor, que come- www.beija-flor.com.br çou levando-a para a quadra da Beija-Flor, e logo depois carregou o seu irmão também, e a partir daí desenvolveu-se a paixão por essa arte. E já que tem tia, não poderia faltar o famoso primo. Alex Marcondes, sobrinho do também patriarca Neguinho da Beija-Flor, começou sua vida na arte do carnaval devido ao forte interesse que possuía por arte em geral, e acredita que samba se aprende sim em casa, já que no seu caso foi de onde veio o incentivo maior. Neste sentido, os protagonistas, além de serem grandes profissionais, são provas de que o incentivo familiar é essencial para a valorização por parte dos mais jovens dessa arte divina que é o samba. A reunião termina aqui; porém, as cortinas desse espetáculo permanecerão abertas para sempre, oferecendo ao público os próximos espetáculos protagonizados pelos herdeiros das nossas histórias, que farão do samba uma eterna e maravilhosa arte de ser feliz. Fevereiro 2010 99 EXPRESSÃO DO SAMBA Instituído pela revista Beija-Flor de Nilópolis – uma escola de vida, o título de “Expressão do Samba” reconhece o talento e a dedicação que personalidades das artes e da cultura brasileiras devotaram ao samba e ao Carnaval. A homenagem é realizada durante o coquetel de lançamento da revista, quando o presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis, Anizio Abrão David, recebe os indicados, amigos e convidados, numa cerimônia de congraçamento animada e fraternal. A indicação dos homenageados é feita pelo conselho editorial da RBFN, liderado por Hilton Abi-Rihan e Ricardo Da Fonseca (editores) e por Anizio, o anfitrião da grande noite, que acontece no Clube Monte Líbano, no Rio de Janeiro. Eleitos na edição passada, Alcione, Jorge Goulart, Zé-Di, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão e Délcio Carvalho tiveram seus nomes confirmados como os homenageados este ano. MIRO LOPES Alcione é música do Brasil Acesa, atenta e perfeccionista, a cantora (e trompetista) sabe detectar mais do que as sutilezas de uma letra e a força de uma melodia, que se enriquece com seu talento e interpretação. Disso ninguém discorda. E sua trajetória e sucessos confirmam. Em 1972, Alcione gravou pela primeira vez um compacto simples com os sambas “O sonho acabou” (Gilberto Gil) e “Figa-de-Guiné” (Nei Lopes e Reginaldo Bessa). No ano seguinte gravou “Tem dendê”, outro samba da dupla. Reginaldo declara que “é um orgulho que vou sempre levar comigo, o de ter participado da alvorada deste sol maravilhoso que é a voz de Alcione”. E sacramenta: “não existe prazer maior para um autor do que ver sua obra bem interpretada”. Assim, a Marrom ultrapassa pouco mais de três décadas pontificando nas paradas com sucessos memoráveis – “Não deixe o samba morrer”, “O surdo”, “Meu ébano”, “Você me vira a cabeça” – e ganhando prêmios como o Sharp, Tim e Grammy Latino. Atenta e acesa, Alcione homenageou Jamelão em “Pedra 90”. Acesa e atenta Alcione dedicou “Faz uma loucura por mim” ao radialista Luiz Carlos Paladino. Atenta e acesa, Alcione faz justiça as suas origens e grava artistas de sua terra: Carlinhos Veloz (“Jóia rara”) e Raimundo Makarra (“Boi de lágrimas”). Acesa e atenta, Alcione lança novos autores e cantores, como Telma Tavares, autora da música título do atual CD da Marrom. E recebe no 100 Revista Beija-Flor de Nilópolis show Áurea Martins, sua amiga desde os tempos do Beco das Garrafas, onde começaram suas carreiras. Lançado ano passado, “Acesa” é mais uma comprovação desnecessária e inevitável de que Alcione é uma expressão maior do samba. Considero Alcione a mais carioca de todos os maranhenses. A mais mangueirense também. E a mais sambista (por que não?) de todas as cantoras não cariocas. Há 38 anos vivendo na Cidade Maravilhosa, ela ratifica seu amor à capital: “O Rio sempre foi pra mim uma cidade sem defeitos”, disse ao repórter global que pedia a opinião da cantora sobre os problemas sociais que assolam a cidade. Porém, Alcione faz uma ressalva: “mas eu acho que precisa fazer uma ocupação cultural nos morros”. Sem sombras de dúvidas, Alcione adotou o Rio como sua segunda terra natal e fez também da Estação Primeira sua segunda casa. Ela prestigia todos os eventos e projetos da Verde e Rosa. É madrinha dos meninos da Mangueira da escola mirim e da Orquestra de Violinos. Enfim, o coração de Alcione é verde e rosa. www.beija-flor.com.br Jorge Goulart, o dono da voz Quando se fala de Jorge Goulart, a memória sempre nos remete às marchinhas que ele tornou inesquecíveis, por mais que nos sonegem esse delicioso entretenimento momesco. Alguém imaginaria que um cantor criado em Vila Isabel, que coleciona marchinhas de sucessos como “Cabeleira do Zezé”, “Joga a chave meu Amor”, de João Roberto Kelly, “Miss Mangueira” de Antônio Almeida e “Balzaqueana”, de Antônio Nássara, entre outras, seja um inveterado imperiano e por isso tenha por escolha e admiração uma estreita e importante relação com o mundo do samba? Pois é, foi ele quem cantou pela primeira vez um samba-enredo no rádio. Quer mais ainda: acompanhado pela Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional de São Paulo. O samba era de Elton Medeiros. Bastava isso para ele se inscrever na história do samba, mas tem mais: Jorge Goulart foi o primeiro cantor profissional a puxar um samba-enredo, justamente “O Último Baile da Monarquia”, de autoria de Silas de Oliveira. Por seis anos puxou sambas do Império Serrano, no megafone, dispensando qualquer pagamento, pois seu objetivo era contribuir para a divulgação dos compositores do morro. Fez o mesmo na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos de Vila Isabel. Primogênito do jornalista Iberê Bastos e da cant o ra Arlete Neves Bastos, foi registrado como Jorge Neves Bastos. O nome artístico foi sugerido pela notável rádio-atriz Heloísa Helena, inspirada numa marca de elixir ( Inhame Goulart ) e na potência do vozeirão do cantor, que recebeu de César de Alencar o epíteto de “Gogó de Ouro”, por suas interpretações de “Dominó”, “Smile”, “Laura” e “Jezebel”. Paralelamente, Jorge Goul a r t participava dos filmes da Atlântida, como “Carnaval de fogo”, “Aviso aos Navegantes”, entre outros. Durante dois anos foi figura destacada do espetáculo teatral “Um Milhão de Mulheres”. Mas Jorge começou a cantar ainda menino, no programa “Escada de Jacó”, do professor Zé Bacurau, ganhando o 1º prêmio. Antes dos 18 anos,já atuava em circos e “dancings”, aumentando a idade para isso. Estudou no Colégio Pedro II, onde começou sua participação política. Como militante, Jorge Goulart sofreu as agruras impostas pelo golpe militar de 1964. Em 1983, extraiu a laringe e, mesmo sem seu principal instrumento de trabalho, se apresenta dublando seus sucessos. Até se expressando por gestos, o gogó de ouro está sempre cantando. Dona Ivone Lara, a senhora do samba Negra, pobre e mulher, Yvonne Lara da Costa viveu todas as mazelas de gênero, raça e desigualdade social ao longo de quase nove décadas de vida. Nasceu em Botafogo, passou a infância num internato, aprendeu a tocar cavaquinho e se formou em enfermagem trabalhando no tratamento para doentes mentais com a Drª Nise da Silveira (que introduziu a psicologia junguiana no Brasil). Depois exerceu as atividades de assistente social nessa área até se consagrar como, simplesmente, Dona Ivone Lara, nome artístico sugerido pelo radialista e apresentador Oswaldo Sargentelli, o rei do ziriguidum. Mudou-se para Madureira nos anos 40, passou a compor para a Prazer da Serrinha, participou de rodas de samba e conviveu com as mais significativas expressões do samba, do jongo e do choro, até consolidar sua carreira com determinação e trabalho, mas, principalmente, com seu talento para fazer melodias. Embora sua vocação já se tivesse manifestado aos 12 anos, quando compôs “Tiê, tiê”, os mais de 70 anos de carreira de Dona Ivone Lara se contabilizam a partir do momento em que, oficialmente, ela faz da música sua ocupação definitiva. Até então, a seu pedido, o tio Fuleiro (um dos fundadores do Império Serrano e seu parceiro no samba-enredo Fevereiro 2010 101 “Não me Perguntes”) cantava as composições da sobrinha como se suas fossem, devido ao machismo da época. Quando Fuleiro revela a autoria das canções, Dona Ivone se torna a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, consagrada como parceira ‘intrometida’ de Bacalhau e Silas de Oliveira em “Os Cinco Bailes da História do Rio”(1965). No livro “Nasci para Sonhar e Cantar”, Mila Burns conta como se deu a parceria: “Silas e Bacalhau não conseguiam escrever o hino do Império. Haviam bebido demais. Quando Dona Ivone os encontrou e soube da dificuldade, cantarolou parte de uma melodia, que logo ganharia os inspirados versos da dupla. E a obra estava completa.” Participou das rodas de samba do Teatro Opinião nos anos 60, vindo a gravar o primeiro disco apenas em 1978. Nesse mesmo ano, seu maior sucesso, “Sonho Meu”, em parceria com Délcio Carvalho, é gravado por Gal Costa e Maria Bethânia. A música foi premiada como a melhor do ano. Aos 93 anos, Dona Ivone agradece a Deus e diz que não pensa em parar de cantar e compor: “Desde que Ele e Nossa Senhora das Cabeças conservem minha cuca direita.” Assim seja! Zé Di e o “xamêgo” premiado Paulista de nascimento - afinal “sambista não pede lugar pra nascer” - o salgueirense de coração Zé Di (nova grafia para o nome artístico, com o qual o poeta-cantador Luiz Vieira batizou José Dias) está se preparando “para quando o Carnaval chegar ”. Cultivado desde o início de carreira, seu v a s t o e respeitável bigode não chega para esconder um sor- riso largo pela satisfação que sentiu ao receber o convite para desfilar com seu “Salgueiro chorão”. Zé Di já pensa numa nova roupa vermelho e branco, além de programar o descanso da garganta e tranquilidade da alma, tudo isso para seu regresso à Passarela do Samba dez anos depois. Assim vai comemorar seu retornou à ala de compositores do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, escola que lhe deu o campeonato de 1974, com o enredo “Rei da França na Ilha da Assombração”, samba dele e Luiz Malandro. Como autor, Zé Di sempre encontrou abrigo no repertório de intérpretes dos mais variados gêneros musicais. De Wanderley Cardoso a Sérgio Reis, do internacional Cauby Peixoto a Benvienindo Granda, de Marlene à Emilinha Borba, de Waldick Soriano a Sílvio Mazurca e sua orquestra, de Luiz Vieira (é claro!) à Alaíde Costa, muitos cantores fizeram suas composições, como “Samba Sem Viola”, “Perdoe meu amor”, “Salgueiro Chorão”, “Último Verão”,”Caminhos do Amor”, chegar ao grande público. Jair Rodrigues é quem registra o maior número de gravações assinadas por Zé Di. E a louruda Hebe Camargo fez o seu lançamento fonográfico, com a gravação de Catira (dele e Luiz Vieira) vencedora do 1º Festival da Música Sertaneja, em 1966. Até o então sisudo e radical José Ramos Tinhorão – crítico musical temido por cantores e compositores – se rendeu ao talento de Zé Di,: “de fato (...), dois sambas do próprio Zé Di, os intitulados ‘Meu Recado’ e ‘Não Me Atire Pedra’ - recomendam por si só a compra do LP”. Em “Meu Recado”, observou Timborão, Zé Di conta e canta maravilhosamente a sua própria experiência de criador das camadas humildes, confessando seu deslumbramento diante do sucesso, e aproveitando para responder aos que estranhavam o fato de um paulista ser capaz de se revelar bom compositor de sambas. Jorge Aragão, um sambista de respeito Quem nasceu no Rio, já nasceu com um pé no samba, canta Aragão, que nasceu em Padre Miguel, num dia 1º de março, data do aniversário da Cidade Maravilhosa. Cria do subúrbio carioca, Jorge foi educado nas rodas de samba de fundo de quintais, sem grana, sem glória, enfrentando preconceitos e desdém até chegar onde chegou. Está tudo isso aí escrito no autobiográfico e inspirado samba 102 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br “Moleque Atrevido”, que fez com Flávio Cardoso e Paulinho Rezende. Em tom de ressentimento, Aragão responde, com apurada afinação, alguns atrevimentos que julga ter sido vítima. Susto o coração já lhe deu, mas continua em estado de graça com a vida. Entretanto, não faz mais sentindo o ‘moleque atrevido’ versejar “procure primeiro saber quem eu sou”. Depois de ter gravado dezenas de discos, CDs e vídeos, vendido milhões de cópias desses produtos e com eles colecionado muitos sucessos e prêmios, hoje todo mundo sabe quem é Jorge Aragão. A nova geração pode não saber que Aragão fez parte da formação original do Fundo de Quintal, mas jamais pode afirmar que não sabia que “Coisinha do pai” (uma parceria Dida e Neoci Dias) serviu para acordar ‘Mars Pathfinder’, robô da Nasa que fez pesquisas em Marte e, muito menos, que desconhece esse samba. Além da interplanetária “Coisinha do pai” (composta com Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila), quem já não sacudiu o corpo com a comemorativa “Vou festejar”?! Ambas foram gravadas por Beth Carvalho, madrinha dos pagodeiros do Fundo de Quintal, onde Aragão ganhou fama de bamba, como músico e compositor. Com o projeto “Samba de bambas”, apresentado no Canecão, Jorge Aragão lançou, em 2005, a Velha Guarda Musical da Beija-Flor de Nilópolis. E mais recentemente, compartilha seu interesse pela gastronomia com os fãs que frequentam o restaurante Bossa Nossa, na Barra da Tijuca (onde Jorge Perlingeiro grava o programa “Samba de Primeira”). Não dá para não concordar com o ‘moleque atrevido’; tem que se respeitar quem soube chegar onde a ‘gente’ chegou. Délcio Carvalho, poeta, sambista e cidadão carioca Carioca, como diria Fernando Sabino, é alguém que, tendo nascido em qualquer parte do Brasil (ou do mundo) mora no Rio de Janeiro e enche de vida as ruas da cidade. Délcio Carvalho deixou Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, onde nasceu e veio para o Rio cantar nos bailes da vida e exercer sua profissão de compositor. Daí, Délcio encheu as ruas, os botecos, os clubes da cidade, o radinho lá de casa com samba e poesia. Batizado na roda de samba por uma casta rara de bambas de primeira linha, como Carlos Cachaça, Monarco, Nelson Sargento, Zé Kéti , Aluisio da Mangueira , Jorge FP (parceiro de Candeia) e Silas de Oliveira, que certamente abençoou a parceria Délcio-Dona Ivone Lara, já que o primeiro sucesso da dupla, “Alvorada”, nasceu durante as exéquias do baluarte do imperiano. E tempos depois, a carioquice de Délcio é sacramentada pela Medalha Pedro Ernesto, que oficializa sua cidadania carioca. Dona Ivone é uma parceira constante (“Acreditar”, “Liberdade”, “Minha Verdade” e “Sonho meu” - gravado por Maria Bethânia, Gal Costa e Clementina de Jesus,). Assim também foi Ivor Lancelloti (“Havia festa”, “Clarão”, “Velha cicatriz”, “Quando essa paixão me dominar”, etc.) e seguindo o rastro, vem o compositor Mário Lago Filho (“A voz que ficará” - uma homenagem a Mário Lago, “Arma da paixão”, “Cara ou coroa”, “Estranho”, “Apertamento”, “Coisa feia” e “Eu estou sofrendo”). A parceria com Francis Hime aconteceu. Compuseram “De repente”, que Peri Ribeiro gravou para a minissérie sobre a vida de seus pais, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. A rotina de gravar e regravar dá margem a equívocos, como não dar crédito aos autores das composições, principalmente quando não são as do próprio. O MPB-4 cometeu a omissão em “Nasci para cantar e sambar”, mas não titubeou na hora de fazer o reparo publicamente com uma carta aberta distribuída para a imprensa. E Aquiles, Dalmo, Magro e Miltinho, integrantes do MPB4, não exageram quando afirmam: “E estamos certos de que o samba e a música brasileira muito devem a Délcio Carvalho”. Fevereiro 2010 103 Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília: do sonho à realidade, a capital da esperança Dádivas o Criador concedeu Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal Lágrimas, fascinante foi a ira de Tupã Diz a lenda que o mito Goyás nasceu O brilho em Jaci vem do olhar Pra sempre refletido em suas águas A força que fluiu desse amor é Paranoá... Paranoá Óh! Deus sol em sua devoção Ergueu-se no Egito fonte de inspiração Pássaro sagrado voa no infinito azul Abre as asas bordando o cerrado de Norte a Sul Ah! Terra tão rica é o sertão Rasga o coração da mata desbravador! Finca a bandeira nesse chão Pra desabrochar a linda flor No coração do Brasil, o afã de quem viu um novo amanhã Revolta, insurreições, coroas e brasões Batismo num clamor de liberdade! Segue a missão a caravana em jornada Enfim a natureza em sua essência revelada Firmando o desejo de realizar A flor desabrochou nas mãos de JK A miscigenação se fez raiz Com sangue e o suor deste país Vem ver... A arte do mestre num traço um poema Nossa Capital vem ver ... Legião de artistas, caldeirão cultural! Orgulho, patrimônio mundial Sou candango, calango e Beija-Flor! Traçando o destino ainda criança A luz da alvorada anuncia! Brasília capital da esperança 104 Revista Beija-Flor de Nilópolis www.beija-flor.com.br Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER Life is only worthwhile if lived with pleasure 2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21. Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a chegada do século 21?. Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere, indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos não buscados, aos sorrisos não compartilhados. Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta sobre o que temos feito de nossas vidas. Quantos de nós podemos olhar para trás e dizer: no novo século, fiz tantas coisas novas e diferentes, construí e realizei novos sonhos, deixei o que não prestava para trás e avancei em busca de novas conquistas e alegrias. Quantos de nós? O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes mudanças de comportamento - pode ser o estímulo para a construção de anos cada vez melhores, aproveitando cada minuto e cada momento com prazer. O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir... Hoje é carnaval. Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar, cantar.... E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para nos oferecer alegres e descontraídos momentos de alegria e prazer. Então não perca essa oportunidade! Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite! Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só vale se for por prazer”. 2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year of the first decade of the twenty-first century. How many of us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life, indifferent to plans not materialized, dreams not pursued, smiles not shared. For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year for reflection on what we’ve been doing with our lives. How many of us can look back and say: in the new century Neide Tamborim I’ve done many new things, constructed and realized new dreams, left behind the bad and advanced in search of new conquests and happiness. How many of us can say this? The year that has already started – marking the end of a decade that was filled with important changes in behavior – can stimulate us to build better lives, by taking advantage of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming, smiling .... Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”. Fevereiro 2010 Ricardo Da Fonseca / Hilton Abi-Rihan VIDA SÓ VALE SE FOR POR PRAZER Life is only worthwhile if lived with pleasure 2010 é um ano de simbologia muito especial. É o último ano da primeira década do século 21. Quantos de nós, lá nos anos 80 e 90, não pensávamos como seria o ano 2000 e como estaríamos com a chegada do século 21?. Pois ele chegou. E mais ainda; chegou e segue célere, indiferente aos planos não concretizados, aos sonhos não buscados, aos sorrisos não compartilhados. Por isso, 2010 poder ser para cada um de nós um ano que traz consigo uma importante mensagem de alerta sobre o que temos feito de nossas vidas. Quantos de nós podemos olhar para trás e dizer: no novo século, fiz tantas coisas novas e diferentes, construí e realizei novos sonhos, deixei o que não prestava para trás e avancei em busca de novas conquistas e alegrias. Quantos de nós? O ano que se inicia - e que representa o fim de uma década marcada por importantes mudanças de comportamento - pode ser o estímulo para a construção de anos cada vez melhores, aproveitando cada minuto e cada momento com prazer. O prazer de ser útil, prazer de aprender, prazer de ensinar, de compartilhar, de sonhar, de sorrir... Hoje é carnaval. Queremos sim viver momentos felizes, pular, brincar, cantar.... E o carnaval da cidade do Rio de Janeiro está aí para nos oferecer alegres e descontraídos momentos de alegria e prazer. Então não perca essa oportunidade! Pule, brinque, sorria, dance, cante, grite! Valorize esse momento, e seja feliz! Afinal, como diz o poeta e músico brasiliense Toninho Alves, “vida só vale se for por prazer”. 2010 is a very special and symbolic year. It’s the last year of the first decade of the twenty-first century. How many of us, in the 1980s and 90s, didn’t wonder what 2000 would bring, what the coming century would be like? Well, it arrived. And it did so with an ever more hectic pace of life, indifferent to plans not materialized, dreams not pursued, smiles not shared. For this reason, 2010 can be for each of us a wake-up year for reflection on what we’ve been doing with our lives. How many of us can look back and say: in the new century Neide Tamborim I’ve done many new things, constructed and realized new dreams, left behind the bad and advanced in search of new conquests and happiness. How many of us can say this? The year that has already started – marking the end of a decade that was filled with important changes in behavior – can stimulate us to build better lives, by taking advantage of every minute, every moment, with pleasure. The pleasure of being useful, of learning, teaching, sharing, dreaming, smiling .... Today is carnival. This is a time to be happy, to dance, sing and play.... And carnival and the city of Rio de Janeiro are here to offer us joyful and carefree moments. So, don’t miss this opportunity! Dance, sing, smile, shout! Savor this moment, be happy. After all, as the Brazilian musician and poet said, “life is only worthwhile if lived with pleasure”. Fevereiro 2010