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SUMÁRIO Director: J. M. Dias Miranda Editorial 04 Entrevista 05 Centro de Segurança Segurança Contra Incêndio 08 Certificação Energética de Edifícios 10 Prevenção de Acidentes Graves envolvendo Substâncias Perigosas 13 Directivas Atex 15 Redacção e Administração: ISQ - Instituto Soldadura e Qualidade Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 33 TAGUSPARK - OEIRAS 2740 - 120 PORTO SALVO Inspecção aos equipamentos instalados e avaliação da sua adequabilidade e condição 19 RAMS 22 Tel. 214 228 100 Fax 214 228 120 Certificação de instalações industriais de processo 25 Coordenação: Marta Miranda Secretariado: Nazaré Almeida Revisão: Lília Brandão Propriedade: ISQ - Instituto de Soldadura e Qualidade NIPC: 500 140 022 Concepção Gráfica: SAR, Publicidade Paginação: Alexandre Rodrigues - ISQ Patrícia Brito - ISQ Impressão: OFFSETMAIS Artes Gráficas S.A. Rua Latino Coelho, 6 2700-516 Venda Nova-Amadora Periodicidade: Trimestral Dir. Técnica Segurança e Saúde no Trabalho 2008-2012 28 Homo Aprehendis Aprender Hoje 34 Edificações Pólo de Loulé 36 Labiagro Monitorização de pesticidas em águas para consumo humano e alimentos 37 Eng.º Guimarães Lobato 40 Notícias ISQ 42 Tiragem: 3 000 exemplares Depósito Legal: 36 587/90 ISSN: 0871-5742 Registo ICS: 108 273 EDITORIAL Centro de Segurança Os temas da Segurança e da Qualidade estão na génese do desenvolvimento das competências do ISQ, com o objectivo de assegurar que as actividades dos seus clientes se desenrolem com a maior eficácia e o mínimo de riscos. Tendo iniciado a sua actividade na década de 80, o Centro de Segurança foi integrado na Área Operacional Indústria em finais de 2005, altura em que foi definido um Plano de Desenvolvimento Estratégico. A referida integração decorre das sinergias existentes entre a actividade tradicional do Centro de Segurança - dedicada à exposição ocupacional e J. M. Dias Miranda Presidente do Conselho de Administração do ISQ segurança de Pessoas - e a segurança de Bens desenvolvida para a actividade terciária (máquinas e equipamentos de trabalho, equipamentos sob pressão, instalações eléctricas e segurança contra incêndio). Na actual conjuntura, a aposta do Centro de Segurança traduz-se na criação de novos serviços de valor acrescentado, sendo de destacar a Gestão de Risco através da avaliação qualitativa e quantitativa do risco associado à actividade industrial, e no investimento na qualificação das suas equipas técnicas, preparando-as para actuarem em áreas de grande especialização como seja a qualificação de Verificadores SGSPAG conferidos pela APA - Agência Portuguesa do Ambiente para a Directiva Sevesso no T & Q 64/65 âmbito dos Acidentes Industriais Graves. 4 ENTREVISTA Eduardo Goulão Ferreira Goulão Ferreira: O Centro de Segurança - CSEG - é um Departamento da Área Operacional Indústria e reúne competências em áreas bastante diversificadas, nas quais se incluem a Segurança Industrial, a Segurança con- tra Incêndio, a Higiene Industrial e a ATEX, entre outras. Após a reorganização estrutural do ISQ, nos finais de 2005, os nossos esforços foram direccionados para a análise da organização existente nos vários sectores de actividade, com particular enfoque no Centro de Segurança. 5 T & Q 64/65 Tecnologia & Qualidade: O Centro de Segurança, com a estrutura que hoje conhecemos, é de criação recente. Como e quando surgiu? Foi então definido um Plano de Desenvolvimento Estratégico, que tem vindo a ser implementado e permanentemente revisto, por forma a concretizar as novas oportunidades que vão sendo identificadas e que visam a melhoria dos serviços. Os resultados têm sido francamente animadores: os objectivos traçados até 2008 foram largamente ultrapassados, criaram-se as condições de consolidação e expansão das actividades tradicionais e procedeu-se ao lançamento de novos serviços. TQ: E a partir de 2008? GF: A crise económico-financeira nacional e internacional veio afectar, de modo significativo, a consolidação e expansão das actividades do Centro de Segurança. Tem-se verificado uma retracção do volume de trabalho solicitado, motivada pelas dificuldades financeiras que a maioria das empresas industriais atravessam neste momento. Por outro lado, sofremos os efeitos de uma forte concorrência, nomeadamente por parte de pequenas entidades que, como no caso da prestação de serviços de Organização dos Serviços de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, apesar de não possuírem recursos, nem o obrigatório reconhecimento oficial, continuam a sua actividade, oferecendo os seus serviços a valores só justificados pela sua ausência de estrutura e não cumprimento de obrigações legais. cionados com a SHST. TQ: Referiu a criação de novos serviços. Quer especificar? GF: Farei apenas referência a dois novos serviços, por me parecerem exemplificativos. Um deles tem como objectivo a Identificação de Perigos e a respectiva Avaliação e Controlo dos Riscos nas actividades dos nossos clientes. Para isso, foi desenvolvida uma aplicação informática de Gestão de Risco, que designámos por IPACR, actualizável, e que será disponibilizada, em tempo real, mas com acesso controlado, aos nossos clientes, que serão apoiados, sempre que necessário, pelos técnicos do CSEG. No âmbito da Segurança, área muito abrangente e com um enorme conjunto de legislação, a maioria das vezes muito dispersa, sentimos que os nossos clientes tinham alguma dificuldade em se manterem actualizados. Para obviar essa situação, foi criada uma Base de Dados de Legislação de Segurança e Ambiente, cujo acesso controlado será disponibilizado em tempo real e que também será apoiado por serviços de consultoria, de modo a identificar a legislação aplicável a cada um dos clientes e assim promover a elaboração de um Plano de Acções que lhes permita a conformidade com essa legislação. TQ: Que outras acções têm em curso? TQ: Esta situação impõe mudança de estratégia? uma T & Q 64/65 GF: Para combater esta situação, temos vindo a implementar um conjunto de acções, das quais destaco uma acção concertada de marketing/comercial, e a identificação, criação e promoção de novos serviços de valor acrescentado que salientem a diferença em relação à concorrência e que, em simultâneo, permitam às empresas nossas clientes um melhor controlo interno dos aspectos rela6 GF: Adicionalmente, e em linha com a estratégia definida, há um esforço significativo de promoção de uma oferta de serviços integrados, sejam da Indústria ou de outras Áreas do ISQ, de modo a que se possa atender às múltiplas necessidades das empresas. Este esforço tem vindo a dar resultados, pois existem já múltiplos exemplos de contratos que incluem, para um mesmo cliente, a prestação de serviços tão diversos como a Segurança Industrial, a Higiene Indus- No caso particular do CSEG, estão em fase de implementação duas actividades com potencial de penetração no Mercado Nacional. Em paralelo com as acções orientadas para o mercado interno, e na sequência da Estratégia de Internacionalização que vem sendo seguida no ISQ, estamos a dar os primeiros passos com vista à expansão das actividades do CSEG, em particular nos Mercados de Angola e Moçambique. A Administração Central do Sistema de Saúde está na fase final da elaboração da regulamentação que visa o licenciamento de Unidades Privadas de Saúde. Esta é uma das actividades em que o CSEG pretende envolver-se, estando já a preparar uma estrutura organizativa que nos permita o reconhecimento como Entidade Licenciadora. Já se realizaram alguns pequenos trabalhos pontuais nesses mercados, mas abrem-se agora boas perspectivas para uma progressiva implementação da nossa actividade, que será obviamente suportada quer pelo ISQAPAVE, em Angola, quer pelo futuro ISQ Moçambique. TQ: Existem perspectivas de novas áreas de actuação? GF: Tem sido um desafio constante para a equipa da Área Operacional Indústria a permanente identificação de oportunidades e a implementação de novas áreas de actuação. A Segurança e Fiabilidade Funcional é a outra actividade que está em fase de lançamento pelo CSEG, e que permitirá responder a uma crescente necessidade das empresas industriais. Já dispomos de qualificação técnica reconhecida internacionalmente e estamos, neste momento, a proceder à divulgação desta nova oferta de serviços, quer junto do tecido industrial existente, quer junto dos promotores dos novos grandes projectos que se avizinham. Não sendo propriamente uma nova área de negócio, gostaria ainda de referir a alteração significativa que necessariamente terá lugar no sector da Segurança contra Incêndio, face à recente publicação do novo Regulamento. Mantendo a sua oferta de serviços tradicional, o CSEG está igualmente apostado em posicionar-se como parceiro técnico da Autoridade Nacional de Protecção Civil na implementação do novo Regulamento que vem alterar profundamente os moldes de aprovação dos Sistemas de Segurança contra Incêndio em Edifícios. TQ: O ISQ dispõe de recursos humanos e capacidade técnica adequada? GF: Para conseguirmos apoiar as empresas em todas as vertentes de intervenção do CSEG, tem sido necessário um grande investimento na formação da equipa técnica e os resultados são bem evidentes. Podemos afirmar que possuímos especialistas qualificados em todas as nossas áreas de intervenção e habilitados para a prestação de serviços de elevada qualidade. 7 T & Q 64/65 trial, a Classificação de Áreas (ATEX), o Ruído, as Inspecções a Equipamentos de Trabalho e a Instalações Eléctricas, a Termografia, entre outros. CENTRO DE SEGURANÇA Ana Isabel Santos Segurança contra incêndio Uma das actividades desenvolvidas pelo Centro de Segurança, Sector Técnico do ISQ integrado na Área Operacional Indústria, é a prestação de serviços relacionados com a Segurança contra Incêndio. A Segurança contra Incêndio - SCI tem, nos dias de hoje, um papel marcante nas sociedades e economia de cada País. O incêndio do Chiado em 1988, bem como alguns casos de outros países, fizeram-nos consciencializar da necessidade de adoptar medidas de prevenção, actuação e de autoprotecção. Um incêndio num estabelecimento poderá resultar em perdas de vidas humanas, de bens de produção ou na destruição da própria instalação e provocar danos ambientais, podendo ainda causar prejuízos significativos para a organização e seus funcionários, por suspensão da produção, e afectar a imagem da organização. Actividade da Segurança contra Incêndio a verificação de toda a documentação entregue Fase de Exploração e Utilização do Edifício / Instalação Inspecção (inclui eventual realização de ensaios), aprovação e emissão do relatório do sistema, do equipamento, da instalação ou do edifício respectivo. São também analisadas as eventuais acções de manutenção a realizar Gestão de Risco de Incêndio análise de toda a documentação existente, verificação do que foi implementado, realização de um diagnóstico das condições actuais (com eventual recurso a ensaios funcionais) e proposta de acções de melhoria Sempre que são identificadas Não Conformidades, o ISQ enumera as acções a implementar para se ultrapassarem essas Não Conformidades e se atingir um nível de segurança contra incêndio apropriado e aceitável. Existem três áreas distintas nas quais a SCI intervém: Segurança Passiva, Segurança Activa e Organização de Segurança (Figura 1). Novo Regulamento de Segurança contra Incêndio em Edifícios Em Portugal, a legislação sobre segurança contra incêndio, até há bem pouco tempo, encontrava-se dispersa por inúmeros diplomas por vezes divergentes e contraditórios nas soluções preconizadas para o mesmo problema e, em algumas situações, era mesmo inexistente. A partir de Janeiro de 2009, com a entrada em vigor do Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios (RT-SCIE), dispomos de uma legislação que aplica um regulamento específico para cada uma das 12 utilizações-tipo (UT) apresentadas na Figura 2, que são classificadas, ainda, em quatro Categorias de Risco. As Categorias de Risco permitem classificar em quatro níveis de risco de incêndio qualquer UT de um edifício e T & Q 64/65 A actividade desenvolvida pelo ISQ no âmbito da SCI apresenta diferentes níveis de intervenção, em função das várias fases da vida útil de um edifício, instalação industrial, sistemas ou equipamentos de segurança. Fases de Ante-Projecto, de Projecto e Execução e de Implementação Elaboração ou aprovação das especificações técnicas, na fase de ante-projecto, que constituirão o suporte para o projecto Aprovação do projecto Acompanhamento, inspecção e aprovação durante a implementação dos equipamentos ou sistemas de segurança Recepção e ensaios finais dos sistemas ou equipamentos, incluindo 8 Figura 1 - Áreas de intervenção da Segurança Contra Incêndio recinto. Deste modo, às 1ª, 2ª, 3ª e 4ª categorias, correspondem, respectivamente, Risco Reduzido, Risco Moderado, Risco Elevado e Risco Muito Elevado. Os edifícios ou recintos podem ser de utilização exclusiva, quando integram uma única UT, ou de utilização mista, quando integram vários tipos de UT, e devem sempre respeitar as condições técnicas gerais e específicas definidas para cada UT. O RT-SCIE contempla, entre outras, as medidas necessárias de autoprotecção e de organização de segurança contra incêndio, aplicáveis quer a edifícios já existentes, quer a edifícios a construir. Existe também uma atribuição mais clara das responsabilidades e competências dos diversos intervenientes (projectistas, donos de obra, responsáveis de segurança, etc.) em questões relacionadas com a segurança contra incêndio, durante todo o ciclo de vida do edifício. Figura 2 - Utilizações-tipo do Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio Educação de Segurança Conclusões A entrada em vigor deste novo regime jurídico aconselha que se proceda à avaliação do seu impacto na efectiva redução do número de ocorrências, de vítimas mortais, de feridos, de prejuízos materiais, de danos patrimoniais, ambientais e de natureza social, decorrentes dos incêndios urbanos ou industriais que se venham a verificar. Todos os anos são registadas centenas de ocorrências de incêndio, resultando em danos e prejuízos avultados, alguns irreparáveis. É urgente uma transformação cultural no nosso país, tornando a Segurança contra Incêndio uma prioridade na educação de todos, a começar nas nossas casas até aos nossos locais de trabalho. Desta forma, estaremos a contribuir para um desenvolvimento da segurança de todos nós. Infelizmente, o risco de ocorrência de um incêndio encontra-se em toda a parte. É, por isso, fundamental tentar minimizar esses riscos, bem como as suas consequências. As soluções mencionadas no RT-SCIE conduzem a níveis elevados de segurança contra incêndio em edifícios, não se prevendo um impacto significativo no custo final da construção, isto porque algumas dessas soluções são já adoptadas, quando é requerida a aplicação de Normas e Standards internacionais, por exigência da Seguradora ou por decisão do dono de obra. Apesar dos grandes avanços tecnológicos ao nível de equipamentos e sistemas de segurança, é fundamental confiar mais nas pessoas do que na tecnologia, mantendo a formação como ponto-chave. É essencial que todos nós sejamos os "responsáveis pela segurança" (desde os administradores, projectistas, construtores, funcionários, etc.) em todas as fases do ciclo de vida de um edifício. O investimento associado à implementação de acções de melhoria traduz-se na redução do nível de risco de incêndio, bem como das suas consequências (danos pessoais, patrimoniais e ambientais), podendo o reconhecimento destas acções de melhoria conduzir à redução do prémio de seguro, por parte das Seguradoras. Como já foi referido, vão ser muitas as mudanças previstas com a recente entrada em vigor do Novo Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios. Assim, é necessário estar na vanguarda da Segurança e da Formação. 9 T & Q 64/65 Simultaneamente, é estabelecido um regime sancionatório por incumprimento das novas regras de segurança, actualmente inexistentes para uma parte significativa de edifícios. CENTRO DE SEGURANÇA Ana Dias A vertente QAI na Certificação Energética de Edifícios Com a transposição para a legislação nacional da Directiva Europeia sobre o Desempenho Energético de Edifícios (DIR 2002/91/CE), através dos Decretos-Lei n.º 78/2006, 79/2006 e 80/2006 e a sua gradual aplicação, as empresas foram tomando consciência da necessidade de efectuar avaliações da Qualidade do Ar Interior dos edifícios, por forma a garantir o conforto e a saúde dos seus ocupantes e aumentar a sua produtividade. T & Q 64/65 Portugal foi o único País da Comunidade Europeia a complementar a transposição da Directiva 2002/91/CE com a introdução da vertente relativa à Qualidade do Ar Interior (QAI). O objectivo desta Directiva versa apenas a poupança energética, conseguida através da "...melhoria do desempenho energético dos edifícios da Comunidade, tendo em conta as condições climáticas externas e as condições locais, bem como as exigências em matéria de clima interior 10 e a rentabilidade económica". O início da aplicação dos referidos regulamentos foi feito de acordo com o estabelecido na Portaria nº 461/2007 (Figura 1). Esta regulamentação aplica-se nas situações referenciadas na Figura 2. No caso dos edifícios de habitação, só os edifícios novos, nas condições referidas na Figura 2, estão sujeitos aos requisitos QAI, mas não às auditorias. Nomeadamente, terão de cumprir com as taxas de renovação de ar especificadas no RSECE. Existem três fases no processo de certificação: 1.Fase de Projecto, antes da construção, para emissão de Declaração de Conformidade Regulamentar (DCR) 2.Autorização de Utilização, após a construção do edifício, para verifica- ção da conformidade do que foi construído com o projecto 3.Certificado energético, após a primeira licença de utilização. Durante o funcionamento normal do edifício, a certificação é feita mediante a realização de auditorias periódicas, consoante a tipologia do edifício Em cada uma destas fases tem de ser efectuado um determinado conjunto de verificações. Assim, na fase 1, têm de ser analisados os seguintes aspectos: Na fase 2, a análise deverá incidir sobre: as condições de limpeza do sistema a comprovação de que as taxas de renovação em cada espaço satisfazem as taxas de renovação especificadas no projecto a verificação da presença de fontes poluidoras a confirmação da existência e verificação do conteúdo do plano de manutenção a verificação das qualificações do técnico responsável pela implementação do Plano de Manutenção de QAI do edifício Figura 1- Fonte: ADENE a verificação das qualificações do técnico responsável pela instalação e manutenção dos sistemas de climatização e da QAI do edifício Na fase 3, deverão ser efectuadas: a monitorização dos parâmetros físicos, químicos e biológicos constantes do regulamento a análise dos registos da manutenção preventiva realizada, por forma a verificar o cumprimento do plano de manutenção da QAI a inspecção dos componentes críticos do sistema de climatização com impacto na QAI A inspecção dos sistemas instalados é crucial para a manutenção da qualidade do ar interior e promoção da saúde pública. A inexistência de parâmetros físicos, químicos e biológicos, fora da gama de valores recomendada, não é garantia de que esteja tudo bem do ponto de vista da QAI, tendo em conta as limitações que existem ao nível dos equipamentos de medida e a natureza de alguns dos parâmetros em causa, como no caso dos Compostos Orgânicos Voláteis (COV), fungos e bactérias. Metodologia Escolha dos locais de amostragem/ medição À semelhança de qualquer outra avaliação que se pretenda pôr em prática e em que se recorra a amostragens, é fundamental que as mesmas sejam representativas, ou seja, que retratem da forma mais fiel possível a realidade, pois, se tal não acontecer, põe-se em causa tudo o que fizermos daí em diante. Os pontos de amostragem/medição têm de ser cuidadosamente seleccionados, tendo sempre presente qual(ais) a(s) fonte(s) dos parâmetros que se pretendem avaliar e a homogeneidade da sua concentração no interior do edifício. Nessa selecção temos de atender aos seguintes factores: locais que no interior do edifício são servidos pela mesma UTA ou sistema de ventilação mobiliário existente ocupação actividades cargas térmicas Os locais escolhidos deverão reflectir a diversidade potencialmente existente 11 T & Q 64/65 velocidade do ar na zona ocupada < 0.2 m/s taxas de renovação efectiva previstas por espaço verificação da existência de materiais ecologicamente limpos verificação das especificações do projecto em relação à exigência de uma adequada limpeza durante as fases de construção e montagem do sistema, bem como durante o funcionamento da instalação existência de níveis de filtragem adequados existência de espaço para manutenção do sistema, ou seja, acesso facilitado a todos os componentes do sistema que tenham impacto na qualidade do ar interior no ar interior, em termos de parâmetros físicos, químicos e biológicos, para se poder ter uma amostra representativa do edifício. Tendo em consideração a complexidade que pode existir no interior de um edifício e a dificuldade que daí advém na escolha dos locais adequados de amostragem, do número de pontos a considerar e do tempo de medição/ amostragem de cada parâmetro, a ADENE, como entidade gestora do Sistema de Certificação Energética (SCE), e as entidades supervisoras Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG) -, conjuntamente com outras entidades, prepararam um Guia (NT-SCE-02) para ser utilizado pelos Peritos, por forma a garantir a uniformidade da sua actuação. Valores de referência Os valores de referência utilizados são os constantes do Anexo VII do Decreto-Lei n.º 79/2006 e coincidem, em parte, com os referenciais internacionais utilizados [1] [2] [3]. No que respeita aos Compostos Orgânicos Voláteis Totais (COVT), o valor diminuiu substancialmente face ao valor habitualmente considerado (3 mg/m3), que se baseava em recomendações europeias. Por isso, tem-se verificado que esse valor excede muitas vezes o valor de referência da legislação, já no ar exterior, ou seja, antes da sua entrada no edifício. Essa situação ocorre nomeadamente em locais de grande tráfego automóvel, pois este é uma das várias fontes emissoras destes compostos. T & Q 64/65 Esses valores são por vezes agravados no interior do edifício, devido a contribuições internas como, por exemplo, os bioefluentes dos seres humanos e produtos de higiene como perfumes e colónias que, no entanto, podem não ser perigosos para o homem, do ponto de vista toxicológico. Quando se fala em COVT estamos a referir-nos a centenas de compostos que têm uma estrutura de carbono e hidrogénio na sua composição e que, à temperatura ambiente, se apresentam 12 Figura 2 como gases ou vapores. Devido à sua complexidade e ao elevado valor que seria necessário despender na análise em laboratório de todos os compostos desta natureza, presentes no ar interior, tem-se recorrido a métodos de leitura directa que permitem obter a concentração total de um elevado número de compostos. No entanto, os COVT detectados no ar interior dependem dos métodos de medida utilizados e variam em função do método escolhido, podendo obter-se valores muito diferentes para o mesmo conjunto de COVT, por exemplo, em leituras obtidas no mesmo local e no mesmo ponto [4]. Alguns investigadores de qualidade do ar interior [5] começam a chegar à conclusão de que a medição dos COVT tem um valor muito limitado, devido à grande variabilidade da composição dos COVT na mistura de ar interior e porque o limite de odor e a capacidade para causarem irritação sensorial variam amplamente consoante a sua composição. Plano de Acções Correctivas (PAC-QAI) Sempre que ocorra a ultrapassagem de um valor regulamentar (excesso de concentração de um poluente ), terá de ser preparado um estudo devidamente fundamentado que indique as medidas necessárias para repor a situação dentro dos níveis regula- mentares. Esse estudo deve identificar, clara e inequivocamente, as causas para o excesso de concentração e demonstrar que as medidas propostas resolvem completamente o problema. O PAC-QAI deve propor um cronograma para a implementação das medidas identificadas e deve ser submetido à aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente, entidade supervisora do sistema. Bibliografia 1 WHO, "Air Quality Guidelines for Europe", 2nd Edition, 2000 2 WHO, "Air quality guidelines for particulate matter, ozone, nitrogen dioxide and sulfur dioxide" - Global update 2005 3 EPA, "Building Air Quality: A Guide for Building Owners and Facility Managers", 1991 4 Christopher C. Coffey, Terri A. Pearce, Robert B. Lawrence, Judith B. Hudnall, James E. Slaven, and Stephen B. Martin Jr., "Measurement Capability of Field Portable Organic Vapor Monitoring Instruments Under Different Experimental Conditions". Journal of Occupational and Environmental Hygiene, 6: 1-8, 2009 5 Wolkoff, P., et al., "Organic compounds in office environments-sensory irritation, odor, measurements and the role of reactive chemistry". Indoor Air, 16(1): 7-19, 2006 CENTRO DE SEGURANÇA Rui Tenera Prevenção de Acidentes Graves envolvendo Substâncias Perigosas Na sequência de alguns acidentes graves ocorridos um pouco por todo o mundo, foram publicadas Directivas europeias que visam controlar os perigos associados a acidentes graves que envolvam substâncias perigosas, prevenir esse tipo de acidentes e limitar as suas consequências sobre o homem e o ambiente. Um dos primeiros grandes acidentes ecológicos industriais na Europa ocorreu em 10 de Julho de 1976, no norte de Itália. Uma fuga de dioxina causou a contaminação de centenas de hectares de terras e milhares de pessoas e animais foram intoxicados. Posteriormente, foi publicada a Directiva 96/82/CE (Seveso II) que foi determinada, mais uma vez, por um grave acidente ocorrido em Bhopal Índia, na noite de 2 para 3 de Dezembro de 1984. Este acidente deveu-se a uma fuga de gás ocorrida numa fábrica de pesticidas, que provocou a morte de milhares de pessoas e cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir. Uma explosão de Nitrato de Amónia que provocou a morte de 31 pessoas e ferimentos em 2442, ocorrida em Toulouse em 21 de Setembro de 2001, teve como consequência a Directiva 2003/105/CE (Alteração à Directiva Seveso II). Actualmente encontra-se em vigor o Decreto-Lei nº 254/2007, de 12 de Julho, que é a transposição da Directiva 2003/105/CE para Portugal e estabelece o regime de prevenção de acidentes graves que envolvam substâncias perigosas e a limitação das suas consequências para o homem e o ambiente. O regime de prevenção de acidentes graves determina o enquadramento dos estabelecimentos em relação à sua perigosidade, definindo três níveis em função do tipo e quantidade das substâncias e preparações perigosas neles existentes. Considera-se um "estabelecimento" a totalidade da área, sob controlo de um operador, onde se verifique a presença de substâncias perigosas, numa ou mais instalações, incluindo as infra-estruturas ou actividades comuns ou conexas. No Decreto-Lei n.º 254/2007 é dado um especial enfoque aos deveres do Operador (qualquer pessoa singular ou colectiva que explore ou possua o estabelecimento ou instalação, ou quaisquer pessoas em quem tenha sido delegado um poder económico determinante sobre o funcionamento técnico do estabelecimento ou instalação), definindo quais são as suas obrigações e deveres nesta matéria. De acordo com o conteúdo do Anexo I (Quantidades limiar para os produtos designados como substâncias perigosas ou para grupos de substâncias perigosas) os estabelecimentos classi- ficam-se do seguinte modo : Estabelecimentos não abrangidos pelo Decreto-Lei nº 254/2007 Estabelecimentos abrangidos pelo Decreto-Lei nº 254/2007 • Estabelecimentos de Nível Inferior de Perigosidade - onde existem substâncias perigosas em quantidades iguais ou superiores aos limiares previstos na Coluna 2 do Anexo I, do Decreto-Lei nº 254/2007 • Estabelecimentos de Nível Superior de Perigosidade - onde existem substâncias perigosas em quantidades iguais ou superiores aos limiares previstos na Coluna 3 do Anexo I, do Decreto-Lei nº 254/2007 Verificação da Aplicabilidade da Directiva Seveso II Em traços gerais, os passos a dar para a verificação da aplicabilidade da Directiva Seveso II são os seguintes: Inventário de "substâncias perigosas" Proceder à identificação da totalidade das "substâncias perigosas" existentes no estabelecimento através da desi13 T & Q 64/65 Na sequência deste acidente foi publicada a Directiva 82/501/CEE, denominada de Directiva Seveso, o nome da região italiana mais afectada pelo desastre. gnação química, composição química, nº CE (EINCS ou ELINCS), nº CAS e nº de indexação relativo a cada substância ou componente da preparação, além da sua forma física. Classificação de perigosidade das "substâncias perigosas" Para cada substância perigosa, identificar a respectiva classificação de perigosidade, de acordo com a legislação em vigor para a Classificação, Embalagem e Rotulagem de Substâncias e Preparações Perigosas. Quantidade máxima (em massa) de cada "substância perigosa" Identificar as substâncias designadas (como definidas no Decreto-Lei nº 254/2007) de cada "substância perigosa". Enquadramento SEVESO Verificar se as quantidades de "substâncias perigosas" ultrapassam os valores limiares estabelecidos na legislação (Decreto - Lei nº 254/2007, Anexo I Colunas 2 ou 3). Se as quantidades de cada "substância perigosa" não ultrapassarem os limiares das Colunas 2 e 3, aplicar a regra da adição. Para as substâncias e preparações perigosas é essencial considerar as informações das Fichas de Dados de Segurança. T & Q 64/65 Em relação aos Resíduos, adoptam-se os critérios e fontes de informação utilizados como suporte da Proposta de Classificação de Perigosidade que o Operador tem obrigatoriamente de fazer. Neste caso, são importantes as informações seguintes : Código LER - Lista Europeia de Resíduos Identificação dos componentes do resíduo Fichas de Dados de Segurança dos componentes do resíduo Fichas de Dados de Segurança das substâncias ou preparações que estiveram na base da formação do resíduo Fichas de Transporte Resultados de testes realizados 14 No caso dos Explosivos é essencial a informação constante na respectiva Ficha de Transporte ou na Ficha de Dados de Segurança. Para que possamos ter a percepção do universo em causa, pode-se referir que existem em Portugal Continental 127 estabelecimentos abrangidos por esta legislação (54 de Nível Superior e 73 de Nível Inferior), existindo dois de Nível Superior na Região Autónoma da Madeira e cinco de Nível Superior na Região Autónoma dos Açores. Em função do nível de perigosidade em que um estabelecimento se enquadra, existem diversos requisitos que o mesmo tem de cumprir. Assim, um Estabelecimento de Nível Inferior de Perigosidade tem de: Realizar a avaliação da compatibilidade de localização Emitir notificação à APA - Agência Portuguesa do Ambiente Elaborar uma Política de Prevenção de Acidentes Graves Colaborar no intercâmbio de informação no âmbito do Efeito de Dominó de um potencial acidente Proceder, como a lei determina, relativamente às acções de comunicação e informação em caso de acidentes graves Um estabelecimento de Nível Superior de Perigosidade tem, por sua vez, de observar os itens anteriormente considerados, para além de: Elaborar o Relatório de Segurança, de acordo com o estabelecido na legislação Possuir evidência da realização de auditoria ao sistema de gestão da segurança para prevenção de acidentes graves Possuir um Plano de Emergência Interno (PEI) Realizar simulacros no âmbito do PEI Fornecer elementos ao Serviço Municipal de Protecção Civil para a elaboração do plano de Emergência Externo No âmbito do Efeito de Dominó, realizar exercícios conjuntos no máximo de 3 em 3 anos Regulamentação Como se depreende, por forma a garantir e verificar que os estabelecimentos abrangidos pela Directiva Seveso se encontram dentro dos requisitos por ela determinados, foi a mesma regulamentada pela Portaria nº 966/2007, de 22 de Agosto, que delibera que a Auditoria ao Sistema de Gestão de Segurança para Prevenção de Acidentes Graves, em Estabelecimentos de Nível Superior de Perigosidade, apenas possa ser efectuada por profissionais qualificados para tal. Consequentemente, foi definido o perfil para Verificador do Sistema de Gestão de Segurança de Estabelecimentos de Nível Superior de Perigosidade. O Verificador é, assim, a pessoa singular, agindo em nome próprio ou de outrem, independente do operador e do estabelecimento, que é detentora da qualificação exigida e que é conferida por certificado emitido pela Agência Portuguesa do Ambiente - APA. Fundamentalmente, a actuação do Verificador é a realização de auditorias anuais aos sistemas de gestão de segurança (na vertente da prevenção de acidentes graves) dos estabelecimentos classificados como de Nível Superior de Perigosidade e a elaboração do respectivo relatório de auditoria. Estas auditorias obedecem a requisitos legais específicos e podem ser acompanhadas por um elemento da APA (Agência Portuguesa do Ambiente). Os relatórios de auditoria são sempre enviados à APA. A APA procede à avaliação do Verificador, com base na análise da preparação da auditoria (que o verificador tem de enviar), no acompanhamento da própria auditoria e na análise do relatório produzido. A manutenção do certificado está dependente destas avaliações, bem como da avaliação realizada na sequência das acções de formação obrigatórias, de dois em dois anos. CENTRO DE SEGURANÇA Margarida Boto Gonçalo Pedreira Ana Luísa Martins As actividades do ISQ no âmbito das Directivas ATEX As explosões colocam em perigo a vida e a saúde dos trabalhadores, devido aos efeitos incontrolados das chamas e das pressões, sob a forma de radiação térmica, ondas de pressão e projecção de destroços, bem como em virtude da presença de produtos de reacção nocivos e do consumo do oxigénio do ar indispensável à respiração (Figura1). Neste contexto, por forma a reduzir os riscos pessoais e materiais, surgiu a necessidade de diminuir a incidência de explosões e incêndios nos locais de trabalho. O Parlamento Europeu e o Conselho Europeu adoptaram a Directiva 1999/92/CE, que visa a segurança e saúde dos trabalhadores em risco de exposição às atmosferas explosivas e a Directiva 94/9/CE, que diz respeito ao equipamento e aos sistemas de protecção para uso nos locais com esse tipo de atmosferas. Essas Directivas foram transpostas para a legislação nacional pelo Decreto-Lei nº 236/2003, de 30 de Setembro e pelo Decreto-Lei nº 112/96 de 5 de Agosto, sendo designadas por ATEX (Atmosferas Explosivas). em áreas classificadas e de elaboração do Manual de Protecção contra Explosões nos sectores de: Petroquímica Indústria de produção de pasta e de papel Indústria química Empresas de distribuição de gás Empresas de produção de tintas Indústria farmacêutica Aterros sanitários ETAR's Metalurgia Indústria alimentar Dado que a maior parte dos processos fabris e procedimentos de trabalho comportam riscos, devido à formação de atmosferas explosivas, são afectados, para além dos já enumerados, praticamente todos os sectores industriais, tais como a Produção de Energia Eléctrica, a Agricultura e as Refinarias, entre outros. Numa empresa, o conjunto de medidas de protecção contra explosões é consubstanciado num documento, designado por Manual de Protecção Contra Explosões, que define o conjunto de medidas organizacionais e técnicas tendentes a minimizar os riscos de explosão. Com fundamento no estabelecido nas Directivas ATEX, o ISQ aplica uma metodologia para a elaboração do referido manual, assente em estudos de avaliação de risco. O Manual de Protecção Contra Explosões inclui: a. A documentação de referência, a que o Manual pretende dar cumprimento, tal como legislação, directivas comunitárias, códigos e normas nacionais, europeias e internacionais b. Identificação dos locais onde são processadas ou armazenadas substâncias inflamáveis (gases, vapores e névoas) e/ou poeiras combustíveis c. Classificação de áreas perigosas e determinação da extensão da zona classificada, com base na aplicação directa de exemplos de códigos (IP 15, API 505, etc.) ou de modelos matemáticos. Estes últimos assentam em folhas de cálculo em conformidade com a Norma EN 60079-10 e na modelização com o software PHAST Alicerçado na larga experiência do ISQ nas várias áreas industriais, o Centro de Segurança da Área Operacional Indústria desenvolveu um conjunto de serviços que visam apoiar as empresas na implementação dos requisitos estabelecidos nas Directivas ATEX ou na simples verificação do seu cumprimento. O Centro de Segurança tem vindo a realizar trabalhos de classificação de áreas perigosas, de verificação da adequação de equipamentos instalados Manual de protecção contra explosões d. Identificação de possíveis fontes de ignição Figura 1 e. Análise e Avaliação de Risco de Explosão nas instalações, devido à formação de atmosferas explosi15 T & Q 64/65 No âmbito da Segurança Industrial, a protecção contra explosões reveste-se de uma particular importância. Para além da análise das propriedades das substâncias, que constam nas Fichas de Dados de Segurança, serão também analisadas as quantidades armazenadas e/ou manuseadas de cada substância considerada como inflamável. No caso de se tratarem de substâncias líquidas ou gasosas, serão utilizados softwares específicos, nomeadamente uma folha de cálculo elaborada de acordo com a norma EN 60079-10 e a modelização com o software PHAST. Figura 2 - Gases vas, conforme especificado no número um do artigo quinto do Decreto-Lei nº 236/2003. Na Avaliação de Riscos é quantificado o nível de risco de danos pessoais e materiais f. Definição das Medidas de Prevenção e de Protecção contra Explosões g. Proposta de alteração de procedimentos Identificação dos locais potencialmente perigosos Substâncias inflamáveis As Substâncias Inflamáveis surgem na forma de gás, vapor, líquido, sólido ou em misturas das formas atrás referidas e são capazes de desencadear uma reacção exotérmica com o ar quando incendiadas. Com base na Ficha de Dados de Segurança das substâncias e através das suas características, são identificadas as substâncias consideradas como inflamáveis e os locais onde as mesmas se encontram. T & Q 64/65 Poeiras combustíveis Caso surjam dúvidas na caracterização das poeiras, deve-se procurar a melhoria da sua caracterização. Isso consegue-se através da realização de 16 análises fisico-químicas, nomeadamente através da análise da sensibilidade da ignição e severidade da explosão. O ISQ recorre a um laboratório acreditado nesse domínio para determinar a combustibilidade das poeiras, sendo analisados os seguintes parâmetros de explosividade: Análise granulométrica com distribuição de tamanhos de partículas mediante difracção laser, por via seca ou via líquida Medição de humidade mediante analisador de halogéneo Temperatura mínima de ignição em camada Temperatura mínima de ignição em nuvem Limite inferior de explosividade Energia mínima de ignição Resistência eléctrica em camada Pressão máxima de explosão Razão máxima do aumento de pressão, constante de poeiras Kst (Kmáx) e classe de explosão de poeiras (St) Classificação de áreas perigosas Após análise da documentação fornecida e das constatações verificadas nas instalações do Cliente, procede-se à classificação de áreas perigosas. Através destes programas é possível determinar o tipo de zona e a sua respectiva extensão. Se não for possível aplicar este procedimento à situação em questão, será utilizada a Norma EN 60079-10, o código IP 15 e/ou API 505. Noutras situações particulares, nomeadamente para o caso de cabines de pintura, carregamento de baterias e estações de tratamento de águas residuais, poder-se-á recorrer a normas específicas. No caso de se tratarem de poeiras ou fibras, utilizamos a norma EN 6124110. Posteriormente, a classificação terá uma representação gráfica, sobre desenhos da instalação (plantas) ou sobre desenhos de equipamentos (alçados e plantas). O Decreto-Lei nº 236/2003, de 30 de Setembro, classifica as áreas em três zonas distintas, tanto para gases como para poeiras (Figura 2). Gases • Zona 0 - Área onde existe permanentemente, ou durante longos períodos de tempo, ou com frequência, uma atmosfera explosiva, constituída por uma mistura com o ar de substâncias inflamáveis, sob a forma de gás, vapor ou névoa • Zona 1 - Área onde é provável, em condições normais de funcionamento, a formação ocasional de uma atmosfera explosiva constituí- da por uma mistura com o ar de substâncias inflamáveis, sob a forma de gás, vapor ou névoa • Zona 2 - Área onde não é provável, em condições normais de funcionamento, a formação de uma atmosfera explosiva constituída por uma mistura com o ar de substâncias inflamáveis sob a forma de gás, vapor ou névoa, ou onde, caso se verifique, essa formação seja de curta duração. Poeiras Combustíveis (Figura 3) • Zona 20 - Área onde existe permanentemente, durante longos períodos de tempo, ou frequentemente, uma atmosfera explosiva sob a forma de uma nuvem de poeira combustível • Zona 21 - Área onde é provável, em condições normais de funcionamento, a formação ocasional de uma atmosfera explosiva sob a forma de uma nuvem de poeira combustível • Zona 22 - Área onde não é provável, em condições normais de funcionamento, a formação de uma atmosfera explosiva sob a forma de uma nuvem de poeira combustível ou onde, caso se verifique, essa formação seja de curta duração. A classificação de áreas perigosas, como se pode verificar pelas definições dos vários tipos de zona, está relacionada com os graus de fuga que originam a formação de uma atmosfera explosiva. Existem três graus de fuga distintos: Contínua - Fuga que é permanente ou expectável que ocorra por longos períodos (> 1000 horas/ano) Primária - Fuga periódica ou ocasional durante a operação normal (10-1000 horas/ano) Secundária - Fuga cuja ocorrência não é esperada durante a operação normal e, se ocorrer, não é frequente e é por períodos curtos (1-10 horas/ano). Estudo de ventilação de atmosferas potencialmente perigosas Para melhor avaliar a probabilidade de formação de uma atmosfera explosiva pode ser necessário proceder a um estudo de ventilação. Para isso, é realizado um estudo que determina as taxas mínimas de renovação de ar nas unidades industriais, para que as substâncias inflamáveis resultantes do processo fiquem com uma margem de segurança abaixo do seu limite inferior de explosividade. São também tidas em conta considerações gerais, como sejam a localiza- ção dos pontos de captura de ar/substância inflamável (ventiladores, extractores, grelhas, etc.), necessidade de pressurização de salas/espaços, análise de unidades de ventilação, entre outras. Identificação de possíveis fontes de ignição Na maior parte das vezes, dada a impossibilidade de substituirmos as substâncias inflamáveis por não inflamáveis, de modo a evitar a formação de atmosferas explosivas, a minimização do risco de explosão é conseguida através do controlo das fontes de ignição. Assim sendo, dado que os equipamentos instalados nessas áreas poderão constituir uma potencial fonte de ignição, procede-se a uma inspecção aos mesmos, para verificar a sua adequabilidade. Análise e avaliação de risco de explosão Quando se avaliam os riscos de explosão importa verificar, em primeiro lugar, as condições em que existe a probabilidade de se formarem atmosferas explosivas, bem como a sua duração. Posteriormente, será analisada a possibilidade dessas atmosferas se inflamarem (fontes de ignição). É igualmente importante, nesta fase, ter em conta os equipamentos utilizados, as características de construção, as substâncias utilizadas, as condições de trabalho e especificidades dos processos, as possíveis interacções entre estes elementos, assim como as interacções com o ambiente de trabalho. Figura 3 - Poeiras combustíveis O ISQ, ao proceder à avaliação de riscos, baseia-se num método que permite quantificar a amplitude dos mesmos e hierarquizar as prioridades de intervenção. Este modelo apresenta os níveis de risco, probabilidade e conse17 T & Q 64/65 A avaliação deve ser realizada para cada processo de trabalho ou de produção, bem como para cada estado de funcionamento de uma instalação, e sempre que essas condições se alterarem. quências, desagregados numa escala com várias possibilidades. O nível de risco (NR) resulta do nível de probabilidade (NP) e do nível de consequências (NC), sendo expresso através da expressão NR = NP x NC. A Tabela 1 permite calcular o nível de risco e, através da agregação dos diferentes valores obtidos, estabelecer quatro níveis de prioridade de intervenção. Medidas de prevenção e protecção contra explosões As medidas de controlo de riscos têm como objectivo eliminar os riscos existentes ou, em caso de impossibilidade manifesta, controlar os mesmos para níveis toleráveis, de forma a garantir a segurança e saúde dos trabalhadores. Consideram-se medidas de prevenção contra explosões todas as medidas que previnam a formação de atmosferas explosivas, que evitem a ignição dessas atmosferas ou reduzam os Tabela 1 - Nível de Risco Nível de Probabilidade 1 2 3 4 1 IV IV III III 2 Nível de Consequência 3 4 IV III III II III III II II III II II I 5 II II I I efeitos de explosões. Essas medidas podem ser de carácter técnico e/ou organizativo. Dado que as medidas técnicas de protecção contra explosões, centradas na prevenção da formação de atmosferas explosivas e da presença de fontes de ignição não podem ser aplicadas com fiabilidade suficiente, devem ser tomadas medidas que limitem os efeitos de uma explosão a um nível seguro. Essas medidas consistem em controlar o risco do seguinte modo: Concepção resistente à explosão Descarga da explosão Supressão da explosão Prevenção da propagação de chamas e da explosão Se existirem potenciais riscos de explosão, num local de trabalho, as medidas organizativas deverão igualmente obedecer a exigências específicas. Devem ser tomadas medidas organizacionais sempre que as medidas técnicas não sejam suficientes para garantir e manter o risco de explosão, no local de trabalho, a um nível aceitável. Assim sendo, consideram-se como medidas organizacionais de protecção contra explosões: Instruções de trabalho escritas Formação dos trabalhadores Garantia de que os trabalhadores possuem qualificação suficiente Sistema de autorização de trabalhos em áreas classificadas Realização de trabalhos de manutenção Inspecção e supervisão Sinalização das áreas perigosas CENTRO DE SEGURANÇA Margarida Boto Gonçalo Pedreira Ana Luísa Martins Inspecção aos equipamentos instalados e avaliação da sua adequabilidade e condição Nas áreas onde se possam formar atmosferas explosivas perigosas, devem ser utilizados aparelhos e sistemas de protecção que correspondam às categorias definidas na Directiva 94/9/CE , transposta para o direito nacional pelo Decreto-Lei nº 112/96 de 5 de Agosto. Com vista ao funcionamento seguro dos aparelhos em áreas perigosas, devem igualmente ser tomados em consideração outros critérios, como a classe de temperatura, o tipo de pro- tecção contra a ignição, o grupo de explosão, etc.. Estes critérios dependem dos parâmetros de combustão e explosividade das substâncias utilizadas. Os equipamentos de trabalho, utilizados em áreas onde se podem formar atmosferas explosivas, que já estivessem em uso e/ou tenham sido colocados, pela primeira vez, à disposição na empresa ou no estabelecimento, antes de 30 de Junho de 2003, devem satisfazer, a partir dessa data, as prescrições mínimas previstas no Anexo II, Parte A, da Directiva 94/9/CE. Relativamente a equipamentos colocados pela primeira vez à disposição na empresa e/ou no estabelecimento, após 30 de Junho de 2003, devem ser satisfeitas as prescrições mínimas previstas no Anexo II, Partes A e B, da mesma Directiva 94/9/CE. T & Q 64/65 É responsabilidade do empregador assegurar que o local, os equipamentos de trabalho e respectivos dispositivos de ligação postos à disposição dos trabalhadores em áreas perigosas sejam concebidos, construídos, instalados, mantidos e utilizados de forma a minimizar ou a controlar os riscos de explosão e a sua propagação. Figura 1 - Marcação de um equipamento a instalar em áreas classificadas 19 A Inspecção dos equipamentos utilizados em áreas classificadas é uma das fases da elaboração do Manual de Protecção Contra Explosões. Contudo, existem clientes que apenas nos solicitam esta fase do trabalho, dado que já possuem a classificação das áreas. Em fase de Projecto, também poderá ser solicitado um acompanhamento na escolha dos equipamentos eléctricos, de instrumentação e mecânicos a instalar nas áreas classificadas. Pretende-se com a inspecção Avaliar a adequabilidade dos equipamentos às áreas classificadas onde se encontram instalados, de acordo com desenhos de Classificação de Áreas Avaliar o estado dos mesmos equipamentos, tendo em conta as exigências resultantes da sua localização em áreas classificadas. Estas avaliações dos equipamentos têm por objectivo evitar a ignição de eventuais atmosferas explosivas, através do controlo das fontes de ignição. T & Q 64/65 A Directiva 94/9/CE aplica-se a aparelhos e sistemas de protecção para utilização em atmosferas potencialmente explosivas. Também diz respeito a dispositivos de segurança, de controlo e de regulação utilizados fora das atmosferas potencialmente explosivas, desde que sejam necessários ou contribuam para o funcionamento seguro dos aparelhos e dos sistemas de protecção, no que respeita ao risco de explosão. O fabricante que pretenda colocar pela primeira vez um produto no mercado e procure assegurar que o seu produto cumpre os requisitos de segurança prescritos, deverá ter em atenção a regulamentação e normalização aplicáveis, nomeadamente: Decreto-Lei n.º 236/2003 de 30 de Setembro (Classificação de áreas) Decreto-Lei n.º 112/96 de 5 de Agosto e Portaria n.º 341/97 de 21 de Maio (Equipamentos) EN 60079-0 (Gases, vapores ou névoas) 20 Figura 2 - Exemplo de marcação de uma electroválvula EN 61241-0 (Poeiras cobustíveis) EN 60079-10/EN 61241-10 (Classificação de Áreas) EN 60079-14/EN 61241-14 (Selecção e Instalação de Equipamento) EN 60079-17/EN 61241-17 (Inspecção e Manutenção de Equipamento) Marcação de equipamentos A adequabilidade dos equipamentos verifica-se através da marcação dos mesmos e deverá estar de acordo com o indicado nas normas que fundamentam a sua certificação. A marcação deve conter de forma clara a informação do modo de protecção, a classe de temperatura, o grupo e subgrupo de explosão, certos parâmetros específicos, siglas do organismo de certificação e o número do certificado (Figura 1). Esta marcação será necessária para uma adequada instalação, manutenção e utilização do equipamento. O objectivo da marcação é seleccionar os equipamentos adequados, tendo em consideração: A zona de perigo (classificação de áreas e zonas de protecção) As propriedades dos materiais perigosos (grupo do equipamento) A temperatura de ignição dos materiais perigosos (classes de temperatura) Os índices IP (protecção contra sólidos e líquidos) e IK (resistência mecânica) que deverão ser instalados A garantia de possibilidade de manutenção. Deste modo, assegura-se que os equipamentos são adequados e estão instalados e ligados de forma correcta, devendo os mesmos ser mantidos sem deficiências, sem modificações e em boas condições, por uma pessoa com competências para o efeito. Assim, todos os trabalhos de inspecção e manutenção devem ser feitos por técnicos especialistas, treinados em aparelhos ATEX ou sob sua supervisão. Os técnicos devem ter conhecimento das normas (EN 60079, Partes 10, 14 e 17) e das regras e regulamentação adequadas para instalações eléctricas em áreas perigosas, bem como dos princípios gerais para a classificação de áreas perigosas. Devem ser tomadas medidas, no sentido de manter a integridade do tipo de protecção providenciada pelo apare- lho. As reposições de partes do aparelho só devem ser feitas de acordo com a documentação de segurança. Também as alterações ao aparelho só são permitidas desde que estejam de acordo com as devidas autorizações e não afectem a respectiva segurança, definida na documentação. Inspecção e manutenção de equipamentos Existem quatro tipos de inspecção a. Inicial - O objectivo da inspecção inicial é verificar se os modos de protecção utilizados e a sua instalação são os adequados às áreas classificadas. É uma inspecção realizada com as instalações fora de serviço, através de análise da documentação existente, a disponibilizar pelo cliente b. Periódica - Inspecção à totalidade de equipamentos e sistemas eléctricos, instrumentação e equipamentos mecânicos diversos, de acordo com uma periodicidade definida (3 anos) c. Amostragem - Inspecção realizada a uma parte da totalidade dos equipamentos eléctricos, de instrumentação e mecânicos diversos. O objectivo principal deste tipo de inspecção é controlar e verificar os efeitos das condições ambientais Norma com o equipamento fora de serviço e aberto d. Contínua - Inspecções realizadas em instalações que carecem de uma grande fiabilidade Se, no decorrer do trabalho, forem constatadas não conformidades ou deficiências graves, o cliente será informado, de imediato, de tais factos. Serão ainda avaliados o estado e as condições de utilização das zonas tornadas seguras por pressurização, caso existam. Critérios de avaliação de equipamentos (instalações) inspeccionados O nível de inspecção a realizar também é variável a. Visual - Inspecção realizada ao equipamento, sem utilização de ferramentas, em que são verificados apenas os defeitos visíveis à vista desarmada (como, por exemplo, falta de parafusos, identificação, de marcação). Esta inspecção é realizada com o equipamento em serviço e fechado b. Próxima - Inspecção que engloba as verificações realizadas na inspecção visual, utilizando meios para aceder aos equipamentos (escadas, andaimes) e algumas ferramentas. Esta inspecção é realizada com o equipamento em serviço e fechado c. Detalhada - Inspecção que engloba todas as verificações descritas na Para a avaliação de equipamentos eléctricos e não eléctricos são disponibilizados vários tipos distintos de fichas a serem preenchidas com informações obtidas a partir de inspecções efectuadas nos vários locais. Para a avaliação da adequabilidade dos equipamentos inspeccionados em áreas classificadas deverão ser tidos em consideração os seguintes aspectos: Equipamentos possuindo marcação de acordo com o Decreto-Lei nº 112/96 Equipamentos possuindo marcação não totalmente de acordo com o Decreto-Lei nº 112/96 Equipamentos com ausência total de marcação CENTRO DE SEGURANÇA José Gomes Ferreira RAMS um desafio à competitividade das empresas portuguesas Com os novos projectos estruturantes previstos ao nível do Sector de Transportes - Comboio de Alta Velocidade, Novo Aeroporto e nova Travessia sobre o rio Tejo - a incorporação de bens de equipamento nacionais nesses empreendimentos passa, sem dúvida, pela capacidade da indústria nacional demonstrar que os seus produtos garantem os requisitos especificados nos cadernos de encargos, nomeadamente os parâmetros RAMS (Fiabilidade, Disponibilidade, Manutibilidade e Segurança) ao longo de todo o ciclo de vida do projecto e ao menor custo. Com este artigo pretende-se abordar, não as técnicas de cálculo de fiabilidade, manutibilidade, disponibilidade e segurança, mas sim descrever, de uma forma sucinta, a metodologia RAMS no ciclo de vida de desenvolvimento de novos produtos, como factor de melhoria da competitividade das empresas. T & Q 64/65 No caso concreto, aos construtores das infra-estruturas ferroviárias e aos fornecedores de sistemas e/ou equipamentos é exigido contratualmente que concebam e fabriquem as instalações e os equipamentos, não só de acordo com as especificações técnicas de interoperabilidade (ETI) definidas na Directiva 96/48/CE - Interoperabilidade da Rede de Alta Velocidade, mas também que demonstrem que os parâmetros RAMS (Reliability, Availabiilty, Maintenability and Safety), acrónimo anglo-saxónico de fiabilidade, disponibilidade, manutibilidade e segurança, estão de acordo com os definidos nos cadernos de encargos e com a Norma NP EN 50126 - Aplicações ferroviárias - Especificação e Demonstração de Fiabilidade, Disponibilidade, Manutibilidade e Segurança (RAMS). Conceitos Fiabilidade (Reliability) - É a probabili22 dade de um sistema / equipamento funcionar correctamente durante um determinado período de tempo. desenvolvimento de novos produtos. O modelo proposto é composto das fases que enunciamos em seguida. Disponibilidade (Availability) - É a probabilidade de um sistema / equipamento funcionar correctamente, num determinado momento, em condições de trabalho especificadas. Fase de configuração Manutibilidade (Maintenability) - É a probabilidade de que um sistema / equipamento seja colocado de novo em funcionamento, após uma falha, dentro de um dado período de tempo, mediante a acção de uma operação de manutenção. Esta fase é definida pelas seguintes actividades: Definição da equipa de projecto RAMS Definição do sistema de gestão do projecto Segurança (Safety) - Ausência de risco não aceitável. Análise do caderno de encargos Requisitos gerais do sistema Requisitos RAMS • Tempo de vida previsto • Fiabilidade (MTBF) • Downtimes (MTTR) Sistema - De uma forma geral, adoptaremos a designação Sistema para designar, indiferentemente: Componente, órgão, equipamento, máquina e instalação. Cronograma das actividades a desenvolver • Definição das actividades • Designação dos Responsáveis pela implementação Falha - É a incapacidade de um sistema para realizar a sua função nos limites de actuação definidos. Sistema de informação - Um dos aspectos críticos da análise dos parâmetros RAMS é a qualidade da informação processada. Para tal é necessário definir previamente a configuração do sistema de informação, os circuitos de processamento e tratamento de dados durante as diversas fases do ciclo de vida do sistema, desde a fase de concepção (base de dados e dados dos fabricantes dos componentes e/ou equipamentos) até à fase de exploração (tratamento do registo de avarias) Metodologia RAMS é um acrónimo anglo-saxónico que significa a combinação de fiabilidade, disponibilidade, manutibilidade e segurança de funcionamento. É uma metodologia que permite especificar e demonstrar a Fiabilidade, Disponibilidade, Manutibilidade e Segurança (RAMS) dos sistemas ferroviários e aplica-se a todos os níveis de uma dada aplicação, desde um sistema completo até aos subsistemas e componentes que integram o sistema, em todas as fases relativas do seu ciclo de vida. A metodologia desenvolvida constitui um modelo genérico de gestão de parâmetros RAMS, válido tanto para produtos existentes como para o Fase de concepção A fase de concepção contempla as actividades seguintes: Análise funcional - Identificação das funções básicas do sistema Decomposição do sistema por grupos funcionais Estimativa dos parâmetros-base RAMS de cada grupo funcional Recorrendo a bases de dados de fiabilidade, a dados fornecidos pelos fabricantes de componentes e equipamentos e à experiência acumulada dos membros da empresa: Tempo de vida previsto Fiabilidade (MTBF) Downtimes (MTTR) Classificação de falhas Diagramas funcionais Análise FMECA - Failure Mode, Effect and Criticality Analysis (ou AMEF - Análise dos Modos e Efeitos de Falha e sua Criticidade) por grupos funcionais, mediante: Decomposição do sistema em componentes (diagrama de blocos) Descrição dos possíveis modos de falha Identificação das causas de falha Identificação das possíveis consequências das falhas Determinação da probabilidade de falha de cada componente (a partir de dados publicados, da experiência do fabricante ou de ensaios de fiabilidade) Cálculo da fiabilidade do conjunto Classificação da severidade da falha Descrição das acções correctivas ou preventivas Análise da integridade das funções de segurança - A estrutura do circuito do sistema de comando deve assegurar, basicamente, que um defeito acidental nesse circuito não produza a impossibilidade de parar os elementos móveis e a neutralização das protecções dos elementos móveis, e também que uma variação ou interrupção de energia não produza arranque intempestivo dos elementos móveis ou movimentos incontrolados de órgãos. Deve assegurar ainda que as ordens de paragem tenham prioridade sobre as ordens de arranque. Na concepção dos sistemas de comando devemos ter em consideração as seguintes técnicas: Arranque intempestivo - Deve ser evitado o arranque intempestivo de uma máquina, quando é realimentada após uma interrupção de energia, se daí puder resultar algum risco Fiabilidade dos componentes - Os componentes das funções de segurança devem ser capazes de suportar as perturbações e constrangimentos, em dadas condições e durante um dado período de tempo, sem avaria na função requerida Duplicação/redundância dos componentes "críticos" - Permite a utilização de componentes não intrinsecamente seguros para a realização de uma função de segurança, com a condição de que, em caso de falha de um componente, um outro (ou outros) possa(m) continuar a assegurar essa função, garantindo assim o nível de segurança requerido Vigilância automática - A vigilância automática tem por efeito desencadear uma acção de segurança, se diminuir a aptidão de um componente para desempenhar a sua função e/ou se as condições do processo forem modificadas de tal forma que provoquem um risco Redundância + auto-controlo - A associação destas duas técnicas assegura ao mesmo tempo a disponibilidade e a segurança da máquina. Com o auto-controlo um primeiro defeito é obrigatoriamente detectado a partir do fim do ciclo, o que impede a reactivação de um novo ciclo. A redundância faz com que, sobre o primeiro defeito, o funcionamento não seja interrompido e que a função segurança seja mantida A análise da integridade das funções de segurança deve permitir a identificação das funções relacionadas com a segurança e especificar para cada uma delas: Os modos de avaria Probabilidade de ocorrência de cada modo de avaria Definição dos níveis de integridade de segurança (SIL) Arquitectura da função (redundância, auto-controlo) Cálculo dos MTBF e MTTR por grupo funcional 23 T & Q 64/65 Avaliação do risco potencial de falha do sistema Identificação das situações potencialmente perigosas - Pretende-se identificar quais os fenómenos perigosos existentes num sistema / máquina (e as respectivas causas) ao longo do seu ciclo de vida, considerando os casos previsíveis de utilização. • Funcionamento normal - modos de comando. • Funcionamento deficiente - falha de componentes ou dos circuitos (hardware, software), perturbações externas (choques, vibrações, campos electromagnéticos) e perturbação na alimentação de energia, etc. • Mau uso previsível - comportamento anormal previsível (negligência), comportamento reflexo em caso de mau funcionamento, de falha, comportamento resultante da aplicação da “lei do menor esforço”, etc. Probabilidade de ocorrência Consequências e gravidade Critérios de análise, avaliação e aceitação dos riscos Avaliação do risco potencial Adopção de medidas de prevenção do risco com a finalidade de evitar ou reduzir os fenómenos perigosos e/ou limitar a exposição de pessoas aos fenómenos perigosos Determinação e análise global dos parâmetros RAMS por grupos funcionais e sistema/máquina: Fiabilidade Manutibilidade Disponibilidade Nível de Integridade das funções de segurança (SIL) Elaboração de plano de inspecção e ensaio de cada sistema para as fases de: Fabricação / Montagem Comissionamento / Entrada em serviço Definição e implementação de acções de melhoria Fase de Fabricação e Validação do Protótipo Esta fase deverá permitir a validação da fiabilidade do protótipo e a definição e implementação de acções de melhoria, sendo factor determinante o cumprimento do plano de inspecção e ensaio de fabricação. Fase de Comissionamento / Entrada em serviço Esta fase tem por finalidade a validação dos objectivos RAMS pré-definidos, através de: Ensaios funcionais Análise de pontos fracos Análise documental - Manual de segurança e Manual de operação e manutenção Definição e implementação de acções de melhoria T & Q 64/65 Fase de Exploração Os factores RAMS apenas podem ser testados pela operação efectiva, e em condições reais, dos sistemas, durante o período de garantia ou de demonstração. Esta fase é basicamente caracterizada por: Plano de manutenção (preventiva e correctiva) Programa de inspecções Recolha e tratamento de dados Cálculo dos valores reais de fiabili24 dade, manutibilidade e disponibilidade do sistema Optimização dos planos de manutenção baseada na fiabilidade (RCM - Reliability Based Maintenance) Programa de controlo de fiabilidade Programa de eficiência da manutenção Definição e implementação de acções de melhoria Relação custos/benefícios Custos Acesso a base de dados de fiabilidade Software específico Recursos humanos especializados Benefícios para o fabricante Identificação e avaliação de componentes críticos Identificação do comportamento das falhas e determinação de parâmetros para a sua monitorização Identificação de pontos de melhoria Melhor conhecimento do produto Redução dos custos dos serviços de assistência técnica Avaliação custo-benefício das soluções de projecto e das modificações do sistema Melhoria das relações com o cliente Melhoria do LCC e consequente vantagem competitiva Melhoria de imagem de marca Benefícios para o cliente final Presunção de conformidade com as Directivas Comunitárias Alta disponibilidade dos sistemas/ máquinas Redução ou eliminação das paragens não planeadas Diminuição de paragens de manutenção planeadas Redução dos custos de manutenção Menor LCC Conclusões A gestão dos parâmetros RAMS vai permitir identificar e actuar sobre as causas das falhas, maximizando o tempo entre falhas (MTBF) e diminuindo o tempo médio de reparações (MTTR) no caso de se produzir uma falha. Por outro lado, a redução de tempos de manutenção e número de falhas traduz-se num aumento da fiabilidade, disponibilidade e manutibilidade do sistema e incide directamente na redução do custo do ciclo de vida (LCC), o que supõe uma importante vantagem competitiva face à concorrência. Para além disso, esta metodologia é "modular", permitindo o tratamento de modificações de um sistema e de alterações de dados (novos modos de falhas, novos valores de MTBF e MTTR ou, inclusive, novos grupos funcionais) de uma forma fácil, com a possibilidade de reutilizar grande parte da análise inicial, para além dos benefícios apontados anteriormente. Para além das técnicas e metodologias utilizadas, é determinante para o êxito de um projecto desta natureza o envolvimento da alta direcção da empresa no processo de melhoria contínua, e a aposta no trabalho de equipa e nas relações de parceria fabricante-cliente que permitem os fluxos de informação, ao longo do ciclo de vida do sistema. "Não basta garantir quotas de participação da indústria nacional nos projectos, temos de apostar na inovação e na aquisição de Know-how ao longo de todo o ciclo de vida do sistema. Penso que não será um exagero afirmar que as empresas que não se estruturarem / adequarem à metodologia RAMS perdem o comboio". Eis o grande desafio... CENTRO DE SEGURANÇA José Gomes Ferreira Certificação de instalações industriais de processo Neste artigo pretende-se analisar a metodologia da certificação de instalações industriais de acordo com a norma EN IEC 61511 - Functional safety: Safety instrumented systems for the process industry, assim como alguns dos conceitos que caracterizam probabilisticamente o risco de uma instalação. As instalações industriais de processo originam diferentes riscos para as pessoas, meio ambiente e equipamentos. Por conseguinte, quanto maiores são os riscos, maiores são também os requisitos impostos aos sistemas de segurança. São várias as questões que se colocam, quer ao projectista /integrador de soluções, quer ao utilizador final, ao longo do ciclo de vida de uma instalação industrial de processo, nomeadamente: Quais as funções de segurança necessárias para fazer face aos riscos identificados? Qual o nível de integridade das funções de segurança (SIL) de que necessito? Quais os requisitos de Segurança que é necessário especificar? Como mantenho o nível de integridade de segurança ao longo da vida da instalação? Como evidenciar que a instalação está conforme com os requisitos de segurança legislativos e normativos? A resposta a estas questões passa pela certificação da instalação industrial, de acordo com a norma EN IEC 61511 - Functional safety: Safety instrumented systems for the process industry. Segurança funcional Controlo de processo Numa instalação podemos considerar vários níveis ou sistemas de protecção. Em circunstâncias normais, o controlo básico do processo (BPCS) mantém as variáveis processuais (pressão, temperatura, caudal, etc.) dentro das condições pré-estabelecidas (Fig.1). Se uma variável ultrapassar os limites definidos, o alarme actua e o operador deverá levar o processo para os valores pré-estabelecidos. No caso de o operador não conseguir ou se não actuar no devido tempo, o sistema instrumentado de segurança (SIS) deverá actuar e repor o processo nas condições normais de funcionamento. Se isso não for possível, os dispositivos mecânicos deverão actuar, permitindo a despressurização da instalação. A instalação possui, portanto, uma série de sistemas de protecção que, em caso de anomalias no processo, permitem levar as variáveis processuais para os níveis normais de funcionamento e/ou a instalação para um estado seguro. É, pois, necessário conhecer o factor de redução de risco (FRR) associado a cada dispositivo de segurança, factor esse que nos é dado pela diferença entre o risco existente na instalação e o risco tolerável. Por sua vez, um dado FRR é igual ao inverso da Probabilidade de Falha na Demanda e está associado a um nível de integridade de segurança (SIL) que caracteriza os requisitos de integridade de uma instalação industrial. Risco tolerável de uma instalação As organizações têm a obrigação legal, moral e financeira de limitar o risco inerente às suas operações. O risco tolerável de uma instalação é o nível de segurança desejável para o processo e é uma medida corporativa, política ou social. A diferença entre o risco tolerável e o risco existente numa instalação é a redução do risco resultante da adopção de medidas de protecção. Factor de redução de risco Expressa a magnitude da redução de risco conseguida com a implementação de uma medida de redução de risco (Fig.2). Figura 1 O Sistema Instrumentado de Segurança (SIS) permite prevenir ou atenuar os acontecimentos perigosos, levando o processo a um estado seguro quando determinadas condições são violadas. É composto por sensores de campo, pela unidade de processamen25 T & Q 64/65 Sistemas Instrumentados de Segurança dos, ou seja, após uma "demanda" As suas falhas são ocultas, isto é, ocorrem sem serem detectadas (os operadores não tomam conhecimento delas) A título de exemplo, SIL = 1 significa que o nível de perigo e de risco financeiro é tão pequeno que aceitamos uma probabilidade de 10% de falha do SIS, no momento em que a sua actuação for necessária para impedir um acidente. Considerando o controlo de nível de um depósito, em cada 10 vezes que se atinja o nível máximo permitido no depósito, o SIS actuará, em média, 9 vezes e falhará uma vez, originando o derramamento do líquido do tanque (overflow). Isto é um risco aceitável? Se for, o SIL = 1 é adequado. Figura 2 Funções Instrumentadas de Segurança (SIF) T & Q 64/65 Figura 3 to de segurança (controlador lógico) e pelos elementos finais de accionamento (actuadores), que são independentes do controlo básico do processo (BPCS) (Fig. 3). bilidade de falha. À medida que o nível SIL aumenta, maiores serão os custos de instalação e de manutenção, assim como a complexidade do sistema de segurança (Fig.4). Nível de Integridade de Segurança (SIL) Probabilidade de Falha na Demanda (PFD) Para cada função instrumentada de segurança (SIF) é calculado um determinado Nível de Integridade de Segurança (SIL), que mede o desempenho do sistema de segurança, em termos de probabilidade de falha (PFD): quanto maior for o nível SIL, maior será o nível de segurança associado, bem como menor a sua proba- A Probabilidade de Falha na Demanda (toda a condição ou evento que gera a necessidade de actuação de um sistema de segurança) é um indicador de fiabilidade apropriado para sistemas de segurança, sistemas esses que: Permanecem "adormecidos" durante a operação normal Somente actuam quando solicita- 26 São as funções de segurança implementadas por um SIS, que têm como finalidade manter o processo num estado seguro face a um evento perigoso específico. Exemplos: Fecho do fornecimento de combustível a um forno Arrefecimento de emergência de alta temperatura Abertura de válvula para reduzir o excesso de pressão Direccionar um derrame para um sistema residual Activação do alarme de fogo Activação de mensagens de emergência programadas (Fig. 5) Metodologia A avaliação dos requisitos de segurança das funções instrumentadas de segurança de uma instalação de processo, com vista à sua certificação de acordo com a norma EN IEC 61511 - Functional safety: Safety instrumented systems for the process industry, compreende as seguintes fases: 1ª Fase - Projecto Definição do nível de Risco tolerável de uma instalação • ALARP - As Low As Reasonably Practical Análise do risco da instalação industrial • Hazard and Operability (HAZOP) • Identificação das funções críticas do processo • Cálculo do risco associado Avaliação dos níveis de segurança de uma instalação • LOPA - Layers of Protection Analysis • Cálculo do FRR - Factor de redução de risco • Cálculo dos níveis de integridade de segurança (SIL) Concepção das funções instrumentadas de segurança • Arquitectura (XooY) • Tolerância às falhas (HDD) • Fracção de falha segura (SFF) • Falha de modo comum ( • Cálculo do SIL Análise e validação de dados de fiabilidade Especificação das funções de segurança instrumentadas • Requisitos funcionais • Requisitos de integridade Análise e validação dos sistemas instrumentados de segurança • Análise funcional • Análise FMEA - Failure Modes and Effects Analysis • Análise FTA - Fault Tree Analysis Verificação da conformidade do projecto com a EN IEC 61511 Inspecções periódicas aos SIS Sistemas Instrumentados de Segurança Conclusões A certificação de instalações industriais de processo, de acordo com a norma EN IEC 61511 - Functional safety: Safety instrumented systems for the process industry, permite uma abordagem sistemática às medidas de segurança implementadas ao longo do ciclo de vida de uma instalação, além de permitir a presunção de conformidade da instalação com o Decreto-Lei nº 254/2007 - Directiva Seveso, a quantificação e a redução do risco da instalação para níveis toleráveis, a possibilidade de redução dos prémios das companhias seguradoras e o aumento da fiabilidade e disponibilidade da instalação. Figura 4 3ª Fase - Operação e manutenção Análise e optimização da fiabilidade e disponibilidade dos sistemas T & Q 64/65 2ª Fase - Construção e montagem Recepção de componentes Verificação da conformidade das especificações Ensaios e testes funcionais e de integração (FAT, SAT / SIT) Verificação da conformidade da instalação com a EN IEC 61511 Emissão de certificado EN IEC 61511 Figura 5 27 DIR. TÉCNICA João Carlos Costa A Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho 2008-2 2012 T & Q 64/65 O artigo apresenta uma análise global da Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho em Portugal para o período 20082012, identifica o respectivo enquadramento e define os correspondentes referenciais e antecedentes, apresentando ainda uma breve reflexão crítica sobre a evolução da Segurança e Saúde no Trabalho em Portugal traçada na própria Estratégia. Apresenta os objectivos operativos e as correspondentes medidas, sendo neste caso realçadas aquelas cujo impacto pode ser mais significativo para a Indústria da Fundição. A Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho em Portugal para o período 2008-2012 (ENSST 2008-2012) foi publicada a 1 de Abril na forma de uma Resolução do Conselho de Ministros - a Resolução nº 59/2008. Este instrumento foi apresentado formalmente pela 28 Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) a 16 de Abril, em sessão pública. A ENSST 2008-2012 apresenta-se como o contributo Português para a consecução dos objectivos ambiciosos traçados pela União Europeia na "Estratégia Comunitária para a Saúde e a Segurança no Trabalho 20072012" e considera como referenciais esta Estratégia, adoptada pela Comissão e a Resolução sobre a mesma, adoptada pelo Conselho em 25 de Junho de 2007. Objectivos e medidas O principal objectivo da Estratégia Comunitária é uma redução contínua, duradoura e uniforme dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais, estabelecendo-se como meta global, para o período, a redução em 25% da taxa total de incidência de acidentes de trabalho na UE-27. Para atingir aquele objectivo estão previstas medidas que podemos agrupar em dois conjuntos essenciais: o primeiro, integrando as medidas de carácter nacional, ou seja, aquelas cuja preparação e principal desenvolvimento se pode considerar àquele nível; o segundo, integrando as medidas de carácter empresarial, pois a respectiva aplicação é feita nas próprias empresas. No primeiro conjunto podemos realçar as medidas: Garantir a correcta aplicação da legislação da UE Adaptar o quadro normativo à evolução do mundo do trabalho Definir métodos para a identificação e apreciação de novos riscos Favorecer o desenvolvimento e execução de estratégias nacionais. No segundo conjunto, as medidas mais relevantes na vida das empresas serão: Apoiar as pequenas e médias empresas (PME) na correcta aplicação da legislação da UE Incentivar as mudanças de comportamento dos trabalhadores e encorajar os empregadores a adoptarem abordagens favoráveis à saúde. Análise da Estratégia A análise da Estratégia não pode deixar de começar por uma cons-tatação simples mas profundamente significativa: é estabelecido um objectivo quantificado, relativamente aos acidentes de trabalho, mas relativamente às doenças profissionais não é formulado qualquer objectivo desse tipo. Esta situação serve para acentuar a reco-nhecida diferença do nível de conhecimento da natureza, características, incidências e custos, entre aqueles dois tipos de consequências indesejáveis dos riscos profissionais. Dada aquela diferença, qualquer acção que contribuísse para um aprofundamento do conhecimento relativo às doenças profissionais, teria sido um aspecto muito relevante para a melhoria dos desempenhos no domínio da Segurança e Saúde do Trabalho (SST). Do conjunto de medidas avançadas para a consecução dos objectivos da Estratégia salienta-se a importância conferida à aplicação da legislação da SST, à respectiva adequação, designadamente às realidades das PME, assim como aos "novos riscos". Estes são, de facto, aspectos que merecem uma grande atenção, de molde a auxiliar a definição de programas e actividades da SST eficazes nas empresas. De entre estas medidas, torna-se imperioso realçar a preocupação relativa à identificação, caracterização e apreciação de "riscos novos", pois é essencial ter presente que alguns destes riscos constituem o aprofundamento e a interligação e/ou potenciação da combinação de riscos conhecidos (muitas vezes não avaliados de forma estruturada e consistente). Refira-se aqui que se reconhece que tais riscos podem estar associados a novas tecnologias, como o caso das nanotecnologias, ou podem resultar do cruzamento de agentes já conhecidos, como os agentes químicos ou os agentes físicos, ou ainda, estar associados a aspectos organizacionais, designadamente, à própria gestão da SST. Um aspecto menos positivo que se pode mencionar será uma falta de referência objectiva à adopção de sistemas de gestão da SST nas empresas, ainda que sem a correspondente certificação. De facto, as vantagens associadas à adopção de um instrumento do tipo Sistema de Gestão da SST não estão suficientemente explicitadas na Estratégia, não podendo ser consideradas incluídas na medida que prevê "…encorajar os empregadores a adoptarem abordagens favoráveis à saúde". Para a indústria da Fundição, as medidas explicitadas na Estratégia são particularmente relevantes, uma vez que já anteriormente algumas daquelas medidas tinham sido identificadas como oportunidades de melhoria, em estudos sectoriais desenvolvidos entre 2000 e 2007, no âmbito da Higiene do Trabalho - agentes químicos e agentes físicos (campos electro-magnéticos). A Estratégia Nacional 2008-2012 Natureza, enquadramento antecedentes e A ENSST 2008-2012 surge como a resposta portuguesa a uma das medidas da Estratégia comunitária que consiste em "favorecer o desenvolvimento e a execução de estratégias nacionais". A ENSST 2008-2012 foi concebida como um instrumento de política global de promoção da SST, numa perspectiva de médio prazo, que visa dar resposta à necessidade de aproximação aos padrões europeus, quer relativamente aos acidentes de trabalho, quer às doenças profissionais. A ENSST 2008-2012 surge, ainda, com um conjunto de antecedentes, remontando a 1991, quando o Acordo de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (que previu a estruturação do Sistema Nacional de Prevenção dos Riscos Profissionais), associado ao novo Enquadramento legal da SST, na forma do Decreto - Lei nº 441/91, marcaram o início de uma nova era no domínio da SST em Portugal, centrada numa nova abordagem na prevenção dos riscos profissionais. Relevante é reconhecer que, ao contrário do ocorrido noutros países, esta viragem ocorre, essencialmente, por via da obrigatoriedade de adopção dos requisitos legislativos do direito comunitário, ou seja, da Directiva Quadro da SST e das correspondentes directivas especiais. Podem-se ainda referir como antecedentes o Acordo de Concertação Estratégica, de 1996, o Livro Branco dos Serviços de Prevenção das Empresas, de 1999, e o Acordo sobre Condições de Trabalho, Higiene e 29 T & Q 64/65 A Estratégia Comunitária Tabela 1 - Objectivos da ENSST 2008-2012 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Desenvolver e consolidar uma cultura de prevenção entendida e assimilada pela sociedade Aperfeiçoar os sistemas de informação no domínio da SST Incluir, nos sistemas de educação e investigação, abordagens no âmbito da SST Dinamizar o Sistema Nacional de Prevenção dos Riscos Profissionais Melhorar a coordenação dos serviços públicos que exercem competências no domínio da SST Concretizar, aperfeiçoar e simplificar normas específicas de SST Implementar o modelo orgânico da ACT Promover a aplicação efectiva da legislação da SST, em especial nas pequenas empresas Melhorar a qualidade da prestação dos serviços da SST e incrementar a competência dos respectivos intervenientes Aprofundar o papel dos parceiros sociais e implicar empregadores e trabalhadores na melhoria das condições de trabalho e bem-estar nos locais de trabalho Segurança no Trabalho, de 2001. Objectivos 1, 3, 4 e 10 Em termos de medidas e relativamente ao objectivo 1, não podemos deixar de mencionar, pela sua importância, a medida 1.1, ou seja, o inquérito nacional às condições de trabalho, pois configura uma acção cuja informação resultante poderá constituir uma base de trabalho de extrema utilidade. Também a medida 1.6, que prevê a dinamização dos programas de prevenção de riscos profissionais na administração central, regional e local, nos parece igualmente importante, não só pela dimensão do universo envolvido, mas também pelo efeito indutor que poderá representar para outros agentes económicos. Reconhecendo que terá de ocorrer uma "mudança de mentalidades" para que a SST seja cada vez mais entendida pela sociedade em geral como um factor de criação de riqueza e, pelas empresas, como factor de criação de valor, os objectivos 1 e 3 permitirão avanços significativos na compreensão da SST e, sobretudo, nas atitudes e comportamentos exigíveis no âmbito da respectiva aplicação. Relativamente ao objectivo 3, consideramos que todas as medidas são muito relevantes, devendo salientar a medida 2.1 - Inclusão de matérias referentes a SST na aprendizagem a partir do 1º ciclo básico - pelo carácter formador que representa, pois é nas camadas realmente novas que há que apostar, para uma efectiva e eficaz mudança de mentalidades. menos visível não nos levará a aprofundar qualquer destes objectivos. Composição A ENSST estabelece 10 objectivos que se desdobram por 59 medidas. A Tabela 1 mostra os objectivos estabelecidos e, no final deste artigo, elencamos a totalidade das medidas, associando-as a cada um dos objectivos estabelecidos. Análise dos objectivos e medidas associadas T & Q 64/65 A análise dos objectivos, na sua globalidade, permite perspectivar o significativo alcance que a ENSST 2008-2012 poderá ter em caso de sucesso. Este alcance estará desde logo associado aos objectivos que podemos considerar absolutamente estruturantes e de alcance nacional. Consideramos neste grupo os objectivos 1, 3, 4 e 10. Passamos seguidamente a uma análise não exaustiva dos objectivos e correspondentes medidas dos dois primeiros grupos acima identificados. Os objectivos que poderão ter maior e mais directo impacto, no dia-a-dia empresarial, integram o conjunto que podemos apelidar de dedicados e de alcance empresarial. Consideramos neste grupo os objectivos 2, 6, 8 e 9. O objectivo 4, ainda que de algum modo complementar, também apresenta características que podem contribuir para aquela mudança de atitude, via incremento do conhecimento sobre riscos profissionais, respectivas consequências e correspondente estado daquele conhecimento. Os objectivos restantes, objectivos 5 e 7, são essencialmente dirigidos a aspectos de funcionamento da própria Administração Pública, quer ao nível da ACT (objectivo 7), quer em relação a uma melhor articulação entre entidades públicas (objectivo 5). Embora com potenciais reflexos positivos na vida das empresas, o seu carácter O objectivo 10, não obstante apresentar um alcance que também reputamos de significativo em sede de relações de trabalho, não deixa de parecer uma declaração de intenções que, em termos práticos, não se materializará em actividades que possam ser identificáveis como melhorias ou contribuições para melhorias da SST. 30 Um singelo exemplo desta realidade, que gostaríamos de ver alterada, são as medidas práticas adoptadas em Portugal pela Administração Pública relativamente à aplicação do "Social Dialogue Agreement" (SDA) à sílica cristalina, seja nos aspectos de divulgação, de discussão, de análise de objectivos, de práticas ou de resultados. Relativamente ao objectivo 4, as medidas consideradas, envolvendo directamente as entidades da Rede Nacional de Prevenção de Riscos Profissionais, falam por si, pois o conhecimento sobre a RNPRP, não obstante constar da legislação de enquadramento da SST (e, portanto, desde 1991), é praticamente inexistente junto da generalidade dos agentes económicos. Relativamente ao objectivo 10, salientamos a importância e alcance da medida 10.5, de apoio à formação de "trabalhadores designados" bem como de "representantes dos trabalhadores". O objectivo 2 visa uma reestruturação da informação relativa a acidentes de trabalho e a doenças profissionais, tanto no aspecto da respectiva geração e constituição, como no da sua divulgação. Com o objectivo 9, pretende-se uma melhoria dos serviços de SST disponíveis, através de todos os agentes: técnicos e empresas prestadoras de serviços (modo e práticas de funcionamento). Estes dois objectivos permitirão às empresas um acesso mais alargado a recursos humanos e técnicos que permitam estruturar e desenvolver as suas próprias actividades da SST, com acrescida profundidade e mais altos níveis de qualidade, evidenciáveis. O objectivo 6 representa uma visão importante para a SST, mas a sua aplicação é muito direccionada sectorialmente, com excepção da medida 6.1 que respeita ao Código do Trabalho. O principal comentário que nos merece é que não foi incluída neste objectivo qualquer medida tendente à revogação (ou revisão) de legislação, que está completamente obsoleta quer na abordagem, quer no conteúdo, designadamente no aspecto técnico. Um bom exemplo desta realidade é o vetusto Regulamento de Segurança e Higiene no Trabalho nos Estabelecimentos Industriais, não sendo caso único. Para a indústria da Fundição, os objectivos 2 e 9 representam a disponibilização de recursos de informação e técnicos utilizáveis na sua própria gestão do risco profissional. Relativamente ao objectivo 9, só a medida 9.1- revisão do código do trabalho - tem relevância, dados os erros técnicos que a actual versão do código contém. O objectivo 8 representa para as empresas o grande campo de aplicação da ENSST, pois abarca a aplicação de toda a legislação da SST e, para além disso, faz uma centragem específica nas pequenas empresas. Assim, desde logo configura uma visão de significativo âmbito e com notável alcance. As medidas aí previstas iniciam-se com a muito relevante gestão do risco em pequenas empresas (menos de 10 trabalhadores), desenvolvida pelo empregador ou por trabalhador designado (medida 8.1), e desenvolvem-se ainda pela disponibilização de manuais de auto-avaliação (medida 8.2) e publicação de "guias de aplicação" (medida 8.3). Este conjunto de medidas configura um apoio extremamente importante às empresas, designadamente às de menores dimensões. Regista-se, contudo, que não são avançadas medidas tendentes à formalização das práticas de gestão da SST que, naturalmente, não têm por único objectivo a respectiva certificação e que seriam um factor acrescido de competitividade empresarial. Julgamos que este aspecto é uma falha relevante na ENSST. Um outro aspecto que consideramos não constar na ENSST tem a ver com a utilização dos documentos normativos, quer como referenciais para componentes materiais do trabalho (por ex. produtos, sejam ou não do tipo "nova abordagem”), quer como referenciais para apoio a estratégias de gestão do risco (por ex. no domínio da Higiene do Trabalho). Para a indústria da Fundição, a concretização destas medidas poderá ser um factor bastante relevante na adaptação e melhoria de algumas práticas actuais que possam concorrer para a diminuição dos níveis de risco. Desenvolvimento da ENSST No âmbito do desenvolvimento da ENSST 2008-2012 a ACT prevê a elaboração de planos de acção anuais, a aprovar pelo Conselho Consultivo para a Promoção da Segurança e do Trabalho. Ocorrerá uma avaliação intermédia da ENSST a 31 de Dezembro de 2009 e uma avaliação global após 31 de Dezembro de 2012, data de conclusão da respectiva aplicação. Conclusões A análise do enquadramento e conteúdo da ENSST 2008-2012, não considerando eventuais resultados de uma continuada reflexão, permitem concluir: 1 A ENSST 2008-2012 constitui uma estratégia nacional articulada com a Estratégia Comunitária para a Saúde e a Segurança no Trabalho 2007-2012 2 A ENSST 2008-2012 apresenta um conjunto de 10 objectivos operacionais que se desdobram por 59 medidas. Onze dessas medidas, integrando 4 objectivos, representam aspectos que têm uma aplicação directa nas empresas, podendo contribuir de forma objectiva para melhorias da SST 3 A ENSST 2008-2012 não contém medidas claras para a implementação da Gestão do Risco e seus processos como base instrumental na estratégia empresarial da prevenção dos riscos profissionais 4 A ENSST 2008-2012 não contém medidas claras para a utilização dos Sistemas de Gestão da SST como ferramenta para o desenvolvimento de actividades da SST, para o cumprimento dos requisitos legais e para a melhoria dos níveis de risco profissional 5 A ENSST 2008-2012 não contém medidas para a revogação de legislação obsoleta da SST em vigor 6 A ENSST 2008-2012 não contém medidas de divulgação, promoção e utilização da Normalização como ferramenta de apoio à SST, quer no aspecto dos produtos enquanto componentes materiais do trabalho, quer no aspecto de abordagens técnicas aplicáveis a riscos específicos, como na Higiene do Trabalho (normalização existente e em elaboração) 31 T & Q 64/65 Objectivos 2, 6, 8 e 9 Medidas da ENSST 2008-2012 Objectivo 1 - Desenvolver e consolidar uma cultura de prevenção entendida e assimilada pela sociedade 1.1 Realizar inquérito nacional às condições de trabalho 1.2 Conceber e implementar campanhas de consciencialização e sensibilização da opinião pública 1.3 Revalorizar o Dia Nacional da Prevenção e Segurança no Trabalho 1.4 Dar projecção adequada às iniciativas da Semana Europeia da Segurança e Saúde no Trabalho 1.5 Meios de comunicação como elo essencial entre a Administração Pública e o grande público 1.6 Dinamizar o desenvolvimento de programas de prevenção de riscos profissionais no âmbito da administração pública central, regional e local 1.7 Desenvolver programas de prevenção em meio laboral para combater o alcoolismo e outras toxicodependências Objectivo 2 - Aperfeiçoar os sistemas de informação no domínio da SST 2.1 Reestruturação do sistema estatístico de acidentes de trabalho e doenças profissionais 2.2 Criação de modelo único de participação de acidentes de trabalho e mapa de encerramento de processos 2.3 Recolher, tratar e disponibilizar informações sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais, através da ACT 2.4 Assegurar efectivo diagnóstico das doenças profissionais Objectivo 3 - Incluir, nos sistemas de educação e investigação, abordagens no âmbito da SST 3.1 Reforçar a inclusão de matérias referentes a segurança e saúde na aprendizagem efectuada a partir do 1º ciclo básico 3.2 Apoiar a formação de professores, no âmbito da segurança e saúde e a produção de conteúdos e de materiais pedagógicos 3.3 Promover ao nível do ensino profissional a inclusão de conteúdos curriculares reportados à especificidade da prevenção dos riscos profissionais 3.4 Dinamizar a consolidação da integração dos conteúdos de segurança e saúde nas estruturas curriculares dos cursos de licenciatura T & Q 64/65 Objectivo 4 - Dinamizar o Sistema Nacional de Prevenção dos Riscos Profissionais 4.1 Promover a troca de informações pertinentes no domínio da segurança e saúde entre as entidades que integram a RNPRP 4.2 Divulgar informação sobre as entidades integrantes da RNPRP Objectivo 5 - Melhorar a coordenação dos serviços públicos que exercem competências no domínio da SST 32 5.1 Definir e implementar mecanismos de articulação em rede entre os serviços com competências na SST 5.2 Promover estreita colaboração entre as estruturas da Administração Pública do Continente e das Regiões Autónomas Objectivo 6 - Concretizar, aperfeiçoar e simplificar normas específicas de SST 6.1 Revisão do Código do Trabalho e sua regulamentação, simplificando e clarificando as normas relativas a SST 6.2 Ratificação da Convenção 167 e adopção da Recomendação 175 (OIT) [Construção] 6.3 Ratificação da Convenção 184 e adopção da Recomendação 192 (OIT) [Agricultura] 6.4 Ratificação da Convenção 187 e adopção da Recomendação 197 (OIT) [Quadro promocional para a SST] 6.5 Conclusão da elaboração do Regulamento da ST para os empreendimentos da construção 6.6 Conclusão das normas definidoras do exercício da Coordenação de Segurança na construção 6.7 Elaboração de normas específicas de SST para o sector da agricultura 6.8 Revisão das normas existentes e elaboração de normas específicas da SST para o sector das pescas Objectivo 7 - Implementar o modelo orgânico da ACT 7.1 Implementar o modelo orgânico da ACT em todo o país, com dinamização das áreas de intervenção 7.2 Reforçar os meios humanos Objectivo 8 - Promover a aplicação efectiva da legislação da SST, em especial nas pequenas empresas 8.1 Gestão do risco em pequenas empresas (<10 pessoas; sem risco elevado) 8.2 Disponibilização de manuais de auto-avaliação (designadamente para empresas da medida 8.1) 8.3 Publicação de "Guias de aplicação" (Pequenas e micro-empresas) 8.4 Disponibilizar informação técnica sobre a aplicação da legislação da SST (em particular para as pequenas, médias e micro-empresas) 8.5 Concretizar os objectivos da Resolução da AR 24/2003, relativa ao amianto 8.6 Elaborar Guias Técnicos relativos a operações em que o amianto possa estar presente (cumprimento da legislação recente sobre amianto) 8.7 Regular o processo de certificação de empresas para intervirem nos trabalhos de remoção do amianto 8.8 Consagrar as acções preventivas e inspectivas adequadas, nos planos de actividade da ACT, para cumprimento das normas de SST Objectivo 9 - Melhorar a qualidade da prestação dos serviços da SST e incrementar a competência dos respectivos intervenientes 9.1 Privilegiar e incentivar os serviços internos da SST 9.2 Estabelecer incentivos à formação de trabalhadores para exercício da função "trabalhador designado" 9.3 Promover alteração legislativa para agilizar os procedimentos relativos a serviços externos 9.4 Desenvolver processo de auditoria e de acompanhamento dos serviços externos de SST 9.5 Reforçar as auditorias aos cursos de formação em SST homologados pelo IDICT e ISHST 9.6 Estabelecer programas de auditorias aos serviços internos da SST 9.7 Definir planos de visitas inspectivas aos serviços internos da SST das empresas 9.8 Conceber e implementar um sistema de avaliação da qualidade dos serviços de SST 9.9 Proceder à simplificação do relatório anual das actividades da SST 9.10Incentivar e apoiar financeiramente a formação de técnicos superiores de SHT 9.11Avaliar a organização e duração da formação 9.12Restringir a formação de técnicos superiores da SHT a estabelecimentos de ensino superior e outras entidades idóneas 9.13Articulação eficaz entre a ACT e a DGS 9.14Dinamizar e apoiar a formação de Médicos do Trabalho 9.15Elaborar guias gerais ou sectoriais para as actividades de vigilância da saúde dos trabalhadores 9.16Promover a formação de jovens empresários em matéria de SST e gestão da segurança nas PME Objectivo 10 - Aprofundar o papel dos parceiros sociais e implicar empregadores e trabalhadores na melhoria das condições de trabalho e bem-estar nos locais de trabalho 10.1Institucionalizar mecanismos de concertação social sectorial, a implementar nos sectores de maiores índices de sinistralidade: construção, agricultura, transportes, entre outros 10.2Dinamizar a constituição de comissões paritárias para a promoção da SST, a implementar nas grandes obras 10.3Incentivar a introdução de matérias da SST na negociação colectiva 10.4Proceder ao acompanhamento, através do CNHST, da implementação dos acordos estabelecidos no âmbito do diálogo social europeu, nas matérias de SST 10.5Promover, incentivar e apoiar financeiramente a formação dos trabalhadores designados para o exercício das actividades de SST nas pequenas e micro-empresas, bem como para representantes dos trabalhadores 10.6Reequacionar e clarificar as formas de participação dos trabalhadores no domínio da SST HOMO APREENDIS Margarida Nunes T & Q 64/65 Aprender Hoje A sociedade do presente, para além de estar dependente do desenvolvimento tecnológico, das comunicações e de máquinas mais ou menos "inteligentes", está na dependência de pessoas que, mediante estes meios, consigam aprender e partilhar informação e conhecimento. 34 Vivemos hoje no Admirável Mundo Novo da Informação, onde esta flui a uma velocidade impensável há alguns anos atrás. Uma catástrofe, uma revolução, uma descoberta ou outros acontecimentos que, ainda há bem pouco tempo, só se divulgavam ao fim de várias semanas ou de vários meses, são agora imediatamente conhecidos, ou mesmo vividos, por espectadores ou ouvintes de uma grande parte do planeta, em tempo real. A par do volume de informação disponível, a capacidade ao nível das comunicações é cada vez maior, permitindo a sua difusão a grande velocidade e a custos mais reduzidos. Este cenário coloca novos desafios aos indivíduos no que se refere à utilização do fluxo informativo disponível, dado que a informação ou o acesso à mesma pouco significado têm se não forem aplicados e transformados em conhecimento. Feuerstein (1996) enfatiza esta ideia quando nos diz que "mais importante que conhecer é saber o que fazer com esse conhecimento e estar pronto para aprender todos os dias". A sociedade do presente, para além de estar dependente do desenvolvimento tecnológico, das comunicações e de máquinas mais ou menos "inteligentes", está na dependência de pessoas que, mediante estes meios, consigam aprender e partilhar informação e conhecimento. Neste contexto, as empresas do presente que pretendam ter um lugar no futuro necessitam de investir em soluções de aprendizagem, conferindo estabilidade profissional às equipas de profissionais que as integram e assegurando a sua competitividade no mer- É neste contexto que surgem empresas prestadoras de serviços na área do e-Learning, proporcionando oportunidades formativas e ambientes de aprendizagem à medida das necessidades e contexto dos seus Clientes. Estas soluções são equacionadas tendo em conta a caracterização do público ao qual se destina, o conteúdo e o perfil tecnológico da organização na qual este se insere. Esta caracterização inclui aspectos como a faixa etária predominante no grupo, os estilos de aprendizagem, os conhecimentos que o formando tem das temáticas a abordar, a relação afectiva com os conteúdos, a familiaridade com as tecnologias de informação e a possibilidade de acesso às mesmas. mesmo nos conteúdos e a capacidade de implementação em sistemas de gestão da formação distintos. Concluído o desenvolvimento dos conteúdos, os mesmos são alojados na infra-estrutura tecnológica e testados por uma amostra do público-alvo. Este teste-piloto tem por objectivo verificar se o conteúdo produzido cumpre os requisitos definidos para o utilizador, integrando-o no ciclo de criação dos materiais pedagógicos. Segue-se a disponibilização massiva dos conteúdos, segundo as parametrizações da metodologia pedagógica definida. O roll-out do curso é concertado com uma estratégia de comunicação, envolvendo o público-alvo e respectivas hierarquias no processo de formação. No final do projecto de e-Learning, para além de se avaliar a aprendizagem e a satisfação dos formandos, avalia-se o retorno do investimento na solução de aprendizagem. Numa lógica de melhoria contínua, são introduzidas melhorias sempre que os resultados da avaliação apontem para essa necessidade. Após a análise ao contexto do aprendente, segue-se a definição da estratégia adequada aos requisitos do Cliente, sendo especificados os passos sucessivos a executar para atingir os objectivos traçados. A introdução do e-Learning apresenta-se, desta forma, como uma alternativa ou complemento aos modelos convencionais de formação, com capacidade de resposta a diversos tipos de necessidades, contribuindo para: A estratégia assumida pode incluir contextos de aprendizagem totalmente a distância, suportados pela utilização do potencial da Internet ao serviço da formação, ou contextos mistos, onde o potencial das tecnologias de informação e comunicação se une à formação convencional. Promover a oferta de serviços à medida das necessidades específicas do mercado Definidas as especificações do projecto, parte-se para a concepção dos recursos multimédia, tendo como principal requisito a facilidade de manipulação por parte do formando, a possibilidade de registo do posicionamento do Alargar a oferta formativa a um grande número de formandos, a custos reduzidos Criar novos métodos de trabalho mais abertos e que envolvam partilha de experiências Compatibilizar melhor a aprendizagem com uma actividade profissional ou com a vida familiar Personalizar o processo de ensino e de aprendizagem Reduzir, de forma significativa, os custos e o tempo desperdiçado em deslocações. Em contraste com o conjunto de vantagens atrás enumeradas, existe uma série de factores menos positivos que surgem associados à utilização do e-Learning: Necessidade de investimento inicial em infra-estruturas técnicas (hardware, software e comunicação) Necessidade de alterar práticas de trabalho tradicionais - o que implica, frequentemente, dificuldade de adaptação a esta metodologia, na qual o formando tem de assumir uma atitude eminentemente activa e que enfatize a partilha de experiências, num contexto profissional em que a competição impera Eventuais problemas técnicos no acesso aos conteúdos - com origem em questões relacionadas com o hardware, o software ou as comunicações Sentimentos de isolamento na aprendizagem - originados pela falta da componente humana, dado que este tipo de metodologia não proporciona a relação humana típica da formação presencial Dificuldade na gestão de eventuais conflitos - na medida em que não há possibilidade de gestão imediata de reacções imprevistas Reduzida confiança neste tipo de estratégias educativas - com origem na associação frequente ao ensino por correspondência, "comercial" e sem objectivos pedagógicos, e na recente utilização do e-Learning em Portugal. 35 T & Q 64/65 cado. Segundo Toffler (1974), "os analfabetos do futuro são aqueles que se recusem a aprender, reaprender e voltar a aprender" e, consequentemente, aos operadores do mercado na área da formação cabe o papel de oferecer soluções de aprendizagem que possibilitem este aprender permanente. EDIFICAÇÕES António João Miguel Pólo de Loulé No final do ano de 2000 decorria a última fase da intervenção do ISQ na operação da Mudança de Gás de Lisboa, com a participação de uma equipa de mais de uma dezena de Técnicos dedicados ao Controlo de Qualidade e à Inspecção dos trabalhos de substituição das redes de abastecimento, distribuição e utilização do gás de cidade pelas do gás natural. Nessa altura, o ISQ reforçou a regionalização das suas actividades, até então asseguradas com a deslocação de Técnicos a partir da Sede e da Delegação Norte, com a criação de Pólos situados em diferentes regiões que apresentavam um potencial de desenvolvimento e permitiam o aproveitamento das competências técnicas já adquiridas, com vantagens para os clientes, por permitir uma actuação mais próxima, mais célere e, portanto, mais eficaz. T & Q 64/65 Viseu, Braga, Castelo Branco e a região do Algarve foram os locais escolhidos para o desenvolvimento dessa estratégia. Em relação ao Sul, o ISQ tinha uma ainda muito fraca penetração na região, realizando aí apenas trabalhos pontuais, nomeadamente na análise de projectos e na inspecção de redes de utilização de gás, para os quais deslocava dois técnicos da Sede, um dia por 36 semana. Em Julho de 2001 o ISQ decidiu colocar, em permanência, um Técnico da área do Gás no Algarve. O trabalho desenvolvido por este Técnico, num mercado de difícil penetração, justificou a abertura do primeiro escritório do ISQ, em Janeiro de 2002, situado em Loulé, o maior Concelho do Algarve. Em 2003, foi necessária a admissão de mais dois Técnicos, para garantir a realização dos trabalhos que, com regularidade, empresas como a Gáscan S.A., a BP, Repsol e Petrogal contratavam ao ISQ. A aposta no crescimento da actividade no Algarve, a partir desse momento, implicava uma diversificação dos serviços, pelo que o Núcleo de Inspecções a Instalações Eléctricas e de Telecomunicações - NIIET -, sector operacional actualmente integrado na Área de Edificações, deu início, em Novembro de 2004, à realização de acções de sensibilização, dirigidas aos Técnicos Instaladores da Região. Essas acções visaram a transmissão de conhecimentos sobre a interpretação e aplicação das normas definidas no Manual ITED - Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios, e o seu formato essencialmente prático susci- tou uma grande adesão por parte dos Técnicos Instaladores do Algarve e também do Alentejo. A partir daí, os Técnicos passaram a recorrer cada vez mais ao ISQ, quer para a avaliação da conformidade dos Projectos de ITED, quer para a Certificação das Instalações, consolidando assim estas actividades no Pólo de Loulé e permitindo o seu crescimento sustentado. Em finais de 2006, a Área de Metrologia, que vinha desenvolvendo trabalho na Região, mas a partir da Sede, em Oeiras, decidiu também alocar Técnicos ao Pólo de Loulé, facilitando assim a sua actuação ao nível da Metrologia Legal e o alargamento do âmbito de actividade à Metrologia Industrial. Hoje, o Pólo de Loulé conta com 15 pessoas, da Área de Edificações e da Área da Metrologia. No final de 2008 foram inauguradas novas instalações, num espaço com dimensão apropriada à continuação do crescimento da actividade do ISQ na região, permitindo o alargamento dos serviços a disponibilizar e a apresentação de soluções globais e integradas para a satisfação das necessidades dos clientes. LABIAGRO Cristina Tendinha Monitorização de pesticidas em águas para consumo humano e alimentos A segurança dos produtos que consumimos é hoje uma preocupação transversal, partilhada por todos nós, um tema sempre em foco e em constante debate. Nesta área de actividade, a contínua inovação tecnológica e o crescente nível de exigência, por parte de todos os intervenientes na cadeia alimentar, impõem aos laboratórios um grande dinamismo e constante desenvolvimento, bem como a necessidade de implementação de novos métodos de ensaio. efi- Para a determinação de pesticidas, os laboratórios deparam-se com desafios que têm de ser ultrapassados, sendo os mais relevantes: a necessidade de equipamento sofisticado e tecnologia de ponta, dada a exigência cada vez maior para a detecção de níveis muito baixos dos compostos de interesse a exigência de analistas altamente qualificados tempos de análise muito morosos (preparação da amostra, extracção dos compostos de interesse da matriz, purificação, detecção e quantificação) a necessidade de actualização científica permanente disponibilidade para investimentos extremamente elevados. Extracção dos compostos de interesse À análise cromatográfica estão associadas diversas etapas para preparação das amostras, dependendo Figura 1 - Stir Bar Sorptive Extraction (SBESE) do tipo de matrizes e analitos em estudo, nomeadamente compostos voláteis, semi-voláteis ou não voláteis. Estas etapas podem incluir extracção ou enriquecimento dos analitos da matriz, processos de filtração, limpeza, concentração e, em certos casos, derivatização, tendo em conta todas as vantagens intrínsecas a cada sistema analítico em particular. São usadas variadas técnicas para extrair os compostos de interesse da matriz da amostra, de modo a obter a ciência máxima de extracção dos resíduos e a mínima co-extracção de quaisquer substâncias que possam originar interferências na determinação. O principal objectivo dos métodos de preparação de amostras é a transferência dos compostos-alvo da matriz numa forma mais adequada para introdução no sistema cromatográfico. Podem ser usadas técnicas de extracção líquido-líquido (LLE), extracção em fase sólida (SPE), micro-extracção em fase sólida (SPME) e, mais recentemente, a extracção sorpti37 T & Q 64/65 Irei referir as principais etapas dos métodos de ensaio para determinação de resíduos de pesticidas, dando especial destaque a técnicas emergentes como a extracção sorptiva em barra de agitação (SBSE) e a análise cromatográfica por cromatografia líquida de alta resolução acoplada a um espectrómetro de massa Triplo Quadrupolo (Triplo Quadrupolo LC-MS/MS). va em barra de agitação (SBSE - Stir Bar Sorptive Extraction), baseada numa nova metodologia de enriquecimento (extracção), utilizada para análise de inúmeros compostos orgânicos. A SBSE (Figura 1) consiste numa barra de agitação revestida por um filme em polidimetilsiloxano (PDMS), colocada directamente na amostra sob agitação, de modo a promover o movimento de rotação na matriz líquida e a extracção dos compostos de interesse. A barra é retirada da amostra, introduzida num tubo de vidro e colocada numa unidade de dessorção térmica (TDU) acoplada a um injector de vaporização a temperatura programada (PTV). Os analitos são termicamente dessorvidos e criofocados, sendo de seguida analisados por cromatografia gasosa capilar hifenada a um espectrómetro de massa (GC-MS). A eficiência da extracção dos analitos é descrita pelos respectivos coeficientes de partição octanol - água (Ko/w), uma vez que esta é uma medida da polaridade dos compostos orgânicos. A eficiência de recuperação é influenciada pelo tempo de extracção, velocidade de agitação, força iónica, temperatura e pH. Esta técnica apresenta inúmeras vantagens, das quais salientamos: isenção de solventes orgânicos tóxicos solventless, rapidez, fácil manipulação, requer reduzida quantidade de amostra, é altamente sensível e possibilita automatização da instrumentação analítica de topo. T & Q 64/65 Purificação Este passo consiste na eliminação de substâncias interferentes do extracto da amostra, com a finalidade de se obter uma solução dos resíduos extraídos num solvente adequado à determinação pelo método seleccionado. Uma técnica muito utilizada pela sua eficácia e aplicabilidade é a cromatografia de permeação em gel (GPC). É uma técnica separativa de 38 exclusão molecular, na qual a amostra passa por uma coluna que contém um gel de poliestireno que apresenta porosidade variável e sítios activos que promovem a distribuição das moléculas entre as fases móvel e estacionária, permitindo a eliminação de moléculas interferentes. Detecção, quantificação e confirmação da à espectrometria de massa (GC-MS) é muito útil na identificação e quantificação de compostos puros e desconhecidos, confirmação da massa molecular de compostos e caracterização da estrutura através dos dados espectrais. Esta técnica combina a separação cromatográfica e a informação espectral, resultando na informação analítica a três dimensões, qualitativa e quantitativa. Para análise de resíduos de pesticidas são usadas várias técnicas cromatográficas, nomeadamente: cromatografia gasosa (GC), cromatografia líquida de alta resolução (HPLC) e estas técnicas hifenadas à espectrometria de massa GC-MS e LC-MS/MS, respectivamente. Essas técnicas constituem poderosas ferramentas analíticas cuja principal finalidade é a separação de compostos de misturas complexas, permitindo a identificação e quantificação de compostos puros e desconhecidos. Figura 2 Cromatografia em fase gasosa Pode ser usada para análise das diferentes classes químicas de pesticidas recorrendo, para tal, a detectores selectivos, tais como: Detector de azoto fósforo (NPD) Este detector é altamente sensível e é fundamentalmente usado para a análise de compostos de azoto ou fósforo Detector micro-cell de captura electrónica (µ-ECD) É utilizado na análise de traços e escolhido para a determinação de resíduos de pesticidas halogenados, principalmente clorados Detector fotométrico de chama (FPD) Habitualmente usado para análise de compostos organofosforados e sulfurados Figura 3 Figura 4 Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC-MS) A cromatografia gasosa capilar acopla- Figura 5 - Fonte iónica ESI (2) O processo MS compreende três fases: Ionização na fonte - São criados iões em fase gasosa. Destacamos os modos de ionização por impacto electrónico (EI) e ionização química (CI) Analisador de massa - Separam-se iões m/z no espaço e no tempo, sendo o quadrupolo o analisador mais comum Detecção - Nesta fase mede-se a quantidade de iões m/z. Existem dois modos de operação: modo de varrimento contínuo (full-scan), usado principalmente para identificação de compostos, e modo SIM, ou seja, monitorização de iões seleccionados, particularmente usado na quantificação de compostos por ser mais sensível e selectivo. Cromatografia Líquida de Alta Resolução Uma outra técnica separativa que permite identificar e quantificar os compostos-alvo é a cromatografia líquida de alta resolução (HPLC) com detectores de Diode Array (DAD) e fluorescência (FLD). Cromatografia líquida de alta resolução acoplada a um espectrómetro de massa - Triplo Quadrupolo LC-MS/MS Esta técnica tem sido recentemente utilizada para determinação de resíduos de pesticidas, permitindo limiares de detecção extremamente baixos. em modo de ionização electrospray (ESI), na qual se dá a nebulização e dessolvatação da amostra (Figura 5). Segue-se um sistema óptico de iões que transfere os iões para o primeiro quadrupolo posicionado à direita da fonte. O quadrupolo é constituído por quatro hastes hiperbólicas paralelas, através das quais os iões seleccionados são filtrados antes de chegarem à célula de colisão onde são fragmentados. A célula de colisão é tipicamente chamada de segundo quadrupolo, mas, neste caso, geometricamente é um hexapolo preenchido com azoto, o mesmo gás que é usado na fonte iónica. Um espectrómetro de massa Triplo Quadrupolo pode ser usado desta forma para identificação e quantificação de compostos, nomeadamente estudo das suas "impressões digitais" (Figura 4). Figura 6 - Triplo Quadrupolo (MS) Os fragmentos de iões (Figura 6) formados na célula de colisão são depois enviados para o terceiro quadrupolo, por um segundo passo de filtração de iões que permite ao operador isolar e analisar ao pormenor um ião precursor e um ião filho (product ion). Representando o analisador de massa quadrupolo como correias em andamento, a célula de colisão pode ser colocada entre as correias para fragmentar os iões. A primeira correia pode ser fixa, para seleccionar qual o ião precursor que é transportado para a célula de colisão. A célula de colisão representa outro quadrupolo, independentemente da sua geometria, e é necessário um gás de colisão inerte, não reactivo, como o azoto. A voltagem aplicada na célula de colisão deve ser diferente daquela aplicada nos quadrupolos, para melhorar o movimento de todos os "iões filhos" em direcção ao terceiro quadrupolo. Em que consiste e como funciona um espectrómetro de massa Triplo Quadrupolo? O ião precursor é seleccionado através do primeiro quadrupolo e é enviado para a célula de colisão para fragmentação (Figura7). Os fragmentos são varridos através do terceiro quadrupolo resultando num varrimento dos iões filhos (product ions) . Após separação por HPLC, a amostra é bombeada para o espectrómetro de massa Triplo Quadrupolo que consiste numa fonte iónica externa que trabalha Desde que os iões fragmentados constituam parte de um precursor, representam porções da estrutura completa da molécula precursora. Figura 7 - Modo de funcionamento Tripo Quadrupolo Figura 8 Bibliografia (1) - Manual do equipamento da Gerstel "Operation Manual Twister Desorption Unit TDU" (2) - Manual do equipamento "Agilent 6410 Triple Quad LC/MS Concepts Guide" (3) - Manual do equipamento Agilent "Hardware Manual 5973 Mass Selective Detector" (4) - C. Almeida, P. Rosário, P. Serôdio, J.M.F. Nogueira "Novas perspectivas na preparação de amostras para análise cromatográfica" 39 T & Q 64/65 Os resultados obtidos por espectrometria de massa (MS) constituem a prova mais conclusiva da confirmação/identificação dos pesticidas encontrados na amostra. Eng.º Guimarães Lobato Foi com grande mágoa que tomámos conhecimento do falecimento do Sr. Eng.º Luís Maria Nolasco de Guimarães Lobato, a 4 de Janeiro deste ano. O ISQ, que teve a honra de o ter como Presidente do Conselho de Administração entre 1981 e 2001, durante quase dois terços da existência do Instituto, num período que foi caracterizado pela transformação do ISQ na grande organização e importante infra-estrutura tecnológica que hoje conhecemos, não poderia deixar de recordar o seu notável contributo para esse desenvolvimento. Com uma carreira profissional que se prolongou por 60 anos, iniciada nos anos 30 do século passado, após a Licenciatura no Instituto Superior Técnico, instituição onde, mais tarde, foi Professor Catedrático, o Eng.º Guimarães Lobato começou a colaborar com o Eng.º Duarte Pacheco - por muitos considerado a mais proeminente figura do século vinte na área das Obras Públicas - na Câmara Municipal de Lisboa, onde veio a exercer, entre outras funções, as de Director de Urbanização e de Vice-Presidente. Como técnico, o Eng.º Guimarães Lobato participou na elaboração de projectos que ficaram na história da Inovação Tecnológica da Engenharia Civil portuguesa. São exemplo os velhos Hangares do Aeroporto de Lisboa, os Armazéns do Porto de Lisboa, bem como a participação importante que teve na construção da Barragem de Castelo de Bode, a primeira obra portuguesa com dimensão no ramo da energia hidráulica. Teve um papel preponderante nas mais emblemáticas obras de Urbaniza- ção e Transportes realizadas na Região de Lisboa - lançamento dos Bairros dos Olivais, cobertura do Caneiro de Alcântara, planeamento do Bairro de Alvalade, coordenação dos estudos do Metropolitano, planeamento de obra, acessos e ligações ferroviárias da 1ª Ponte sobre o Tejo em Lisboa. Foi Presidente do Conselho Directivo do GEPT - Gabinete de Estudos e Planeamento de Transportes Terrestres - onde, entre muitos outros trabalhos, se produziram os Planos de Transportes Rodoviários e Ferroviários do país, tendo presidido, nos anos 60, ao Grupo de Política de Transportes na Europa, função para a qual foi anualmente eleito, durante dez anos, pelos seus pares europeus. Colaborador próximo do Dr. Azeredo Perdigão no lançamento da Fundação Calouste Gulbenkian, é da sua responsabilidade a escolha dos terrenos para a instalação da Fundação e a coordenação dos projectos e da construção da instituição de que foi Administrador durante trinta anos, com intervenção intensa nos domínios da Gestão, no Instituto de Ciência, no lançamento de obras financiadas pela Fundação no estrangeiro, etc.. Paralelamente foi membro destacado do Conselho Superior de Obras Públicas. Sempre atento ao mundo das Inovações Tecnológicas, no início dos anos 70 lançou o projecto de um novo hotel capaz de acompanhar o lançamento dos aviões de grande capacidade então aparecidos, os Jumbo. Assim nasceu, com o apoio do Eng.º Alfredo Vaz Pinto, a empresa SOTEIS e o novo Hotel Penta - hoje Marriot. As questões relacionadas com a Formação Académica e Profissional estiveram sempre no centro dos seus interesses, tendo apoiado centenas de quadros e dirigentes portugueses no complemento das suas formações e especializações no estrangeiro, em escolas e empresas mais avançadas. Colaborou intensamente no lançamento da Universidade Católica, à qual deu o seu apoio durante dezenas de anos. Como reconhecimento desta sua dedicação foi agraciado com o Doutoramento Honoris Causa por esta Universidade. No processo que conduziu à primeira eleição e escolha do Eng.º Guimarães Lobato para presidir ao ISQ foi determinante o facto de se tratar de uma figura nacional, com sólido prestígio, cuja simples presença desde logo seria o garante de Qualidade e Credibilidade das actividades do ISQ, abrindo portas, facilitando contactos. A experiência confirmou a bondade destes pressupostos, mas mostrou também quanto eles eram redutores! O contributo do Eng.º Guimarães Lobato foi, efectivamente, muito para além do que dele se esperava, traduzindo-se num contributo inestimável para o sucesso conseguido, em particular na transformação do ISQ na mais importante infra-estrutura tecnológica nacional e no desenvolvimento de importante actividade também no plano internacional. O que é hoje o ISQ, o seu imparável crescimento, só foi possível graças a três factores-chave: Inovação, Criatividade, Internacionalização. E esta trilogia, esta modernidade, será talvez o que melhor caracterizou a personalidade profissional do Eng.º Guimarães Lobato. Sem esta postura, a evolução verificada no ISQ - diversificação das actividades, criação de empresas participadas, internacionalização, o esforço de Investigação e Desenvolvimento, etc. - teria estado em risco. Durante o período em que o Eng.º Guimarães Lobato presidiu ao Conselho de Administração, órgão de gestão então não remunerado, o ISQ deixou de ser uma pequena organização focada na tecnologia da Soldadura, operando quase exclusivamente nos domínios da Formação e da Inspecção e com uma expressão territorial confinada às regiões de Lisboa, Sines e Porto. Passou a ser uma grande organização, multifacetada em todos os domínios da prestação de Serviços Técnico-Científicos à Indústria, sistematicamente suportados na Formação Profissional e na Investigação, em áreas de forte conteúdo tecnológico, com expressão em todo o território nacional e com uma actividade muito significativa a nível internacional - Europa, América do Sul, África e Ásia. O ISQ é um excelente exemplo do que é possível conseguir com a filosofia do Team Work. É neste quadro que emerge a figura do Eng.º Guimarães Lobato, que deu o exemplo da sua visão e experiência no entendimento perfeito do que é o trabalho de equipa. É de realçar a sua capacidade de delegar sem nunca renunciar ao assumir das responsabilidades daí decorrentes, a sua total solidariedade com a então Direcção Geral nos momentos de maiores dificuldades, o estímulo permanente, o encorajar a autonomia de acção. O Eng.º Guimarães Lobato foi, sobretudo, um Homem Solidário, Generoso, devotado ao Bem Comum, Amigo do seu Amigo, que soube sempre motivar, enriquecer as relações humanas e, acima de tudo, que se preocupou permanentemente em acompanhar a vida do Instituto, estar sempre informado, disponível e cooperante, enquadrando muitas das iniciativas tomadas pela então Direcção Geral. Dias Miranda (Presidente do Conselho de Administração do ISQ) Mestrado em Engenharia da Soldadura ISQ – Parceria Técnica com o INAG No dia 20 de Março o ISQ assinou um protocolo com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para a implementação de um Mestrado em Engenharia da Soldadura. A parte curricular deste Mestrado corresponde ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia da Soldadura do ISQ, que segue as linhas de orientação da directriz do IIW - IAB – 252 - 07 “Personnel with Responsibility for Welding Coordination”. As aulas correspondentes a esta parte curricular do Mestrado seguirão as regras do IAB/IIW e serão leccionadas no ISQ. A tese de Mestrado será feita sob a responsabilidade da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova. Os formandos aprovados obterão um diploma EWF/IIW de Engenheiro Soldador, emitido pelo ISQ, e também um diploma com o grau de Mestre, emitido pela Universidade Nova. Inauguração da Escola de Soldadura em Sines A Área de Desenvolvimento Sustentável do ISQ, mais concretamente o Sector de Ambiente, vai iniciar uma parceria técnica com o INAG, a entidade nacional responsável pela Água no nosso País, em termos ambientais e de gestão do domínio público hídrico. A colaboração do ISQ será feita no âmbito do QREN - POVT – Plano Operacional de Valorização do Território – Eixo Prioritário II (Rede Estruturante de Abastecimento de Água e Saneamento) e consistirá na prestação de serviços de apoio técnico na apreciação de Candidaturas aos Sistemas de Incentivos deste Quadro. T & Q 64/65 O ISQ será responsável pela verificação do cumprimento legal de cada candidatura, face aos requisitos do POVT, bem como pela análise em relação ao cumprimento dos objectivos do PEAASAR II – Plano Estratégico de Abastecimento de Águas e Saneamento de Águas Residuais – 2007-2013. No dia 16 de Março o ISQ inaugurou, na Delegação de Sines, mais uma Escola de Soldadura. À semelhança das Escolas de Oeiras e Carvalhos, é realizada formação prática em processos de soldadura e corte em SER, TIG, MIG/MAG e a respectiva qualificação dos formandos como soldadores. A inauguração contou com a presença de alguns membros do Conselho de Administração do ISQ. 42 Em apreciação estarão cerca de vinte e cinco DEE - Documentos de Enquadramento Estratégico Nacional, dos quais devem constar: descrição das infra-estruturas existentes e do seu estado funcional, as expansões e ampliações previstas, a eventual integração em planos de abastecimento de água ou de saneamento de águas residuais, os custos estimados de investimento e exploração, o cronograma previsto para a implementação e uma avaliação económica e financeira dos projectos. Serão ainda avaliadas cerca de cem candidaturas apresentadas, maioritariamente, por entidades gestoras de águas e de saneamento, com propostas técnicas e financeiras que visam a melhoria das redes de saneamento e abastecimento de água em Portugal.