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ANO XV - Nº87 - R$ 15,00 - www.revistalaticinios.com.br ISSN 1678-7250 EMBALAGEM GANHA NOVA MISSÃO A SUSTENTABILIDADE LÁCTEOS FUNCIONAIS COMER, NUTRIR E BENEFICIAR FAZER MELHOR Caderno de Tecnologia de Laticínios LANÇADO O LIVRO Nova Legislação 2 Embalagem sustentável Ano XV – nº 87 – Nov/Dez 2010 www.revistalaticinios.com.br ISSN 1678-7250 Diretor e Editor Luiz José de Souza [email protected] Redação Setembro Editora e colaboradores redaçã[email protected] Publicidade Luiz Souza Carol Senna Daiane Domingues [email protected] Atendimento Ana Carolina Senna de Souza [email protected] Capa Imagem de arquivo Diagramação AC&R Artes [email protected] Projeto gráfico Vision Comunicação www.visionline.com.br Assinatura Assinatura anual - R$ 88,00 (6 edições) Número avulso - R$ 15,00 Comitê Editorial Airton Vialta – Tecnolat/Ital Antônio Fernandes de Carvalho – UFV Ariene Gimenes Van Dender – Tecnolat/Ital Darlila Aparecida Gallina – Tecnolat/Ital Izildinha Moreno – Tecnolat/Ital Sebastião César Cardoso Brandão – UFV Outra publicação: SETEMBRO EDITORA Ed. Green Office Morumbi Rua Domingues Lopes da Silva 890, Cj. 402 Portal do Morumbi CEP 05641-030, São Paulo, SP, Brasil Tels.: (11) 3739-4385 / 8141-3274 / 2307-5561 / 2307-5563 / 2307-5568 / 2307-5574 [email protected] As opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados não representam necessariamente a posição da revista Indústria de Laticínios. Mantenha seus dados atualizados preenchendo os formulários no site www.revistalaticinios.com.br A embalagem ganha mais uma missão. Além da funcionalidade, eficiência e garantia de segurança alimentar, outro aspecto toma espaço no desenvolvimento e escolha dos materiais para embalagens, a sustentabilidade, que entra como um dos principais itens a ser analisado por fabricantes. Atualmente, a preocupação com o meio ambiente é uma tendência dos fornecedores de embalagens que investem em tecnologias mais eficientes para preservação ambiental e em processos de reciclagem eficazes. Confira na matéria de capa mais detalhes sobre este assunto super atual. Um estudo técnico de especialistas do Ital/Cetea, Centro de Tecnologia de Embalagem, complementa a matéria de capa. Outro tema abordado refere-se aos funcionais. A tendência mundial é agregar cada vez mais funcionalidade aos alimentos e os lácteos destacam-se como excelentes veículos para trazer benefícios complementares aos produtos. Desde o pioneiro Yakult, nos anos 30 do século passado, até os mais recentes desenvolvimentos mundiais são abordados na matéria da jornalista Juçara Pivaro – Comer, Nutrir e Beneficiar. No caderno de artigos técnicos Fazer Melhor são apresentados os seguintes trabalhos: Ultrafiltração e sua utilização na indústria de laticínios, de autoria de pesquisadoras do Tecnolat/Ital; Perfil lipídico, caracterização físico-química e sensorial de requeijão com baixo teor de lactose e requeijões comerciais, de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria – Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos; Características físico-químicas e sensoriais de iogurte de leite de ovelha tradicional, light, e light com fibras de trigo, também de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria e Qualidade percebida pela consumidor de produtos lácteos: modelo teórico e evidências empíricas, de autoria de especialistas da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em agronegócios. Boa Leitura! Luiz Souza Diretor 3 4 5 Entrevista – Quem sabe faz a hora Matéria de capa – Avaliação da folha de flandres para acondicionamento de leite condensado Um pouco do passado Gestão – Relatório de Resultados Epamig 2003-2010 Tecnologia – Especialidade italiana no Brasil Divulgação – Formare – Oportunidade de aprendizado a jovens e desenvolvimento social Legislação – Edição atualizada Empresas & Negócios Produtos & Serviços Conjuntura – Média de dezembro é a segunda maior para o mês desde 1994 Fazer Melhor – Caderno de artigos técnicos 14 TECNOLOGIA Embalagem ganha nova missão na escolha de materiais: a sustentabilidade 34 08 20 30 31 38 43 46 51 52 54 57 Allegis 50 Hiper Centrifugation 28 Anhembi 29 Injesul 41 Anhydro 14 Intermarketing 83 Cap Lab 47 Macalé 42 Capi/PZL 45 M Cassab 27 Casa Forte 33 Quinabra 45 Chr Hansen 35 Rentank 43 Cupom assinatura 82 São Caetano 08 Danisco 44 Separatori 04 Delgo 40 SIG Combibloc 02 Doce Aroma 11 Somarole 53 Doremus 13 Tangará 07 Fermentech 09 Terra Viva 39 Fortitech 84 TetraPak 15 Genkor 37 TKC 20 Guia do Comprador 19 Unopar 34 FUNCIONAIS Lácteos destacam-se como veículos para agregar funcionalidade aos alimentos 6 7 Entrevista foto: divulgação Aldo Baccarin, presidente do ILSI Brasil Quem sabe faz a hora No Brasil, o momento é propício para corrigir a imensa defasagem que existe em relação a outros países na área de Pesquisa e Desenvolvimento. Este é um dos temas abordados na entrevista do presidente do ILSI Brasil. Aldo Baccarin é presidente do Ilsi Brasil (Instituto Internacional das Ciências da Vida) e membro do IFT (Institute of Food Technologists e AOAC (Association of Official Analytical Chemist) nos Estados Unidos. Como empresário, é diretor geral da Food Intelligence – Consultoria Técnica para alimentos, com foco nas áreas de análise de alimentos, desenvolvimento de produtos, consultoria de qualidade e treinamento. Engenheiro Químico e Técnico Agrícola por formação, tem pós-graduado em Tecnologia de Alimentos, pela Universidade de São Paulo e iniciou sua carreira profissional, em 1974, na Kibon, especializando-se nas áreas de Novos Produtos, Qualidade e Inovação, sendo diretor técnico da empresa até 1994. Na Kraft do Brasil, foi diretor de tecnologia e garantia de qualidade. Em entrevista, Baccarin fala dos objetivos do ILSI, das áreas relacionadas à alimentação que estão no foco dos trabalhos da entidade e do cenário atual em Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil. RIL – Quais os principais objetivos do ILSI nos próximos anos? Aldo Baccarin – Para este novo milênio, o ILSI está muito empenhado em trazer boa informação e não abre mão de uma ciência baseada somente em fatos. A entidade tem como objetivo unir o que há de melhor da ciência, da academia, da pesquisa, junto com o governo e indústrias da cadeia produtiva de alimentos, para provocar o debate. Com essa forma de atuação, fica muito mais fácil para a sociedade tomar decisões sobre os mais variados temas das ciências da vida. O ILSI foi criado devido a uma situação em que a sociedade precisava de alguns esclarecimentos sobre determinado produto, a cafeína, que teve seu uso questionado, na década de 70, com o argumento de que poderia ser prejudicial à saúde. Neste contexto, constatou-se, nos Estados Unidos, que indústria, ciência e governo não se comunicavam eficientemente. Foi então que o ILSI foi criado em Washington, com a proposta de se tornar um fórum neutro de discussões, onde somente a ciência seria válida. A cafeína foi o primeiro tema a ser debatido. Esse fórum cresceu, a organização amadureceu e, hoje, está presente em todos os continentes. Desfrutamos de uma percepção positiva na sociedade porque o instituto não se envolve em política. Nosso compromisso é com a verdade e a ciência pura. Com esses princípios nos mantemos em pé e, se não fosse dessa forma, a organização perderia a credibilidade que tem. RIL – Com tantos produtos alegando benefícios à saúde, a exemplo dos funcionais, como vê a legislação brasileira em relação a esse segmento? Aldo Baccarin – Atualmente são muitos os produtos inovadores, mas com informações inadequadas sobre a sua composição, que podem causar certa confusão para os consumidores. Os alimentos funcionais, cujo fenômeno 8 9 Entrevista sta sst tta a surgiu no Japão e ganhou o mundo, já gerou muitas controvérsias. No Brasil, precisamos estar atualizados e educados em relação a grandes temas como os funcionais. Afinal, estamos entre os dez maiores produtores de alimentos, devido ao nosso tamanho e potência. Um dos aspectos positivos no Brasil é nossa legislação para funcionais. Embora haja reclamações sobre a não aprovação de alguns claims ou deste processo, que é muito lento e exigente, o Brasil tem uma legislação moderna, bem considerada por especialistas e que serve de exemplo para vários países do mundo. O que poderia melhorar é clareza no fornecimento das informações, que poderia reduzir o tempo de aprovação. A Europa, logicamente, possui uma legislação muito boa e o Japão, que abraçou os funcionais com muita força, tornouse o país que possui um grande número de claims aprovados e estão bastante maduros nesse segmento. motivos como esse é que o ILSI também tem uma forçatarefa em Biotecnologia, que discute os alimentos “bioengenheirados”. Como o Brasil tem vocação para ser o celeiro de alimentos do mundo, precisamos conhecer todas as tecnologias e usar isso a nosso favor como uma vantagem competitiva e duradoura. RIL – Como o instituto se posiciona em relação aos transgênicos? Aldo Baccarin – O ILSI não tem posição mandatória com relação a esse tipo de alimento. Como em todos os casos, colocamos todos para discutir. Em todos os países que adotaram essa forma de tecnologia comprovou-se que não existe problema de segurança alimentar, mas tem um aspecto fundamental, cada país tem um grau de maturidade em relação a essa questão. Por isso digo que a sociedade brasileira deve discutir o assunto e aprovar as tecnologias seguras. Quando a sociedade está envolvida existe confiança, a exemplo dos americanos, que confiam no FDA. O órgão fez estudos de segurança alimentar sobre os transgênicos e, já na década de 90, assegurou que não havia problemas, que os alimentos produzidos com essa tecnologia não causavam mal aos consumidores. Por durante o ano. RIL – Quais outros pontos da alimentação o ILSI vem dedicando atenção? Aldo Baccarin – O instituto está se dedicando também com grande empenho à área que trata de Estilos de Vida Saudáveis, que engloba uma alimentação balanceada em relação aos teores de proteína, gordura, carboidratos, fibras e outros micronutrientes. Há 50 anos, as pessoas não comiam tanto porque não havia logística, importar era mais complexo e não tinha condição de abastecer as populações com tanta variedade e fartura. Hoje, por exemplo, comemos morangos e cerejas o ano inteiro, vindos RIL – É positivo ou ruim aprovar tantos claims? Aldo Baccarin – Considero que seja positivo aprovar de outros países. A logística aproximou o mundo e, com todos os claims, desde que baseados em estudos sérios tanta disponibilidade de alimentos, desaprendemos bons consistentes. Os japoneses são mais ousados e consta- hábitos, além de comermos mais. Nesse contexto mundial da alimentação, o ILSI decidiu tamtaram os benefícios, liberando mais bém atuar no sentido de incentivar produtos. Os orientais têm uma culO papel da ciência é ajudar as pessoas a ter uma alimentação batura que sempre valorizou e conhea reduzir a polêmica e lanceada e a dar atenção ao exercício ceu muito bem certos ingredientes, encontrar a verdade. físico para chegar ao equilíbrio necesa exemplo dos chineses, que utilisário para a boa saúde. zam cerca de três mil tipos de ervas em sua medicina tradicional, tendo hoje grande domínio RIL – Como são escolhidos os temas dos congressos dos claims de alguns chás. Não consideramos errado o realizados pelo instituto? Brasil ter uma postura de cautela em relação aos novos Aldo Baccarin – Todo início de ano há um evento interalimentos funcionais e temos que continuar os processos nacional que reúne os branches (escritórios) do ILSI de educativos, sempre tendo a ciência e governo discutintodo mundo, onde ouvimos mais de 300 cientistas. Na do o assunto juntos, para podermos tomar as melhores ocasião tomamos conhecimento do que acontece na área decisões. Nossa missão no ILSI é colocar os players para das ciências da vida em diversos países e os participantes discutirem o assunto. Se fizerem isso, tomarão decisões levam as novidades para seus países. O que é levantado boas para a sociedade. nessa reunião, geralmente, é o que o mundo vai conversar 10 RIL – Como está posicionado o ILSI Brasil no contexto mundial da entidade? Aldo Baccarin – Em alguns países existem o ILSI com apenas seis sócios e em outros chegam a mais de 70, logicamente que os pequenos acabam tendo menor número de atividades. O ILSI Brasil está entre os quatro maiores do mundo, com aproximadamente 40 sócios e produz praticamente um encontro científico por semana durante o ano todo. E, consciente de sua responsabilidade regional, incentiva projetos científicos no âmbito do Mercosul e América Latina. Nosso sonho de longo prazo é incentivar discussões entre estes países com o objetivo de harmonização de regulamentações e indicadores de necessidades nutricionais. Este esforço vai facilitar o comércio de alimentos entre os países latino-americanos. 11 Entrevista sta sst tta a RIL – O Brasil possui inúmeros ingredientes com empresas locais copiavam ou tinham sua própria ó tecnologrande potencial para produção de alimentos funcio- gia, mas o Brasil foi um dos países que menos investiu em nais. Eles já são reconhecidos pela ciência daqui e do P&D em alimentos. Há oportunidade para grandes emexterior? presas investirem, a exemplo do que fazem Nestlé, UnileAldo Baccarin – Nas últimas décadas, sentimos que o ver e Kraft. Porém, existe uma defasagem imensa do Bramundo se abriu para coisas novas e isso aconteceu com sil em relação a outros países e que precisa ser corrigida. a descoberta de ingredientes desconhecidos antigamente Quase matamos uma geração inteira de pesquisadores. pela maioria das pessoas. Temos alguns exemplos de pro- Prova de que este mercado é potencial e promissor, como dutos brasileiros, como o açaí, que tem alto poder antioxi- empresário, tenho apostado nesta área de P&D, construindante e, curiosamente, seu valor foi reconhecido primeira- do mini-fábricas de vários segmentos da alimentação para mente no exterior. A acerola é outro produto nacional que que as empresas possam desenvolver seus produtos e tesaté laboratórios mundiais já utilizam intensamente para tar novos ingredientes. obter a vitamina C. Existe ainda uma fruta chamada camuRIL – O que poderia tornar o P&D mais ativo no Brasil? camu, que tem um potencial enorme, é uma verdadeira Aldo Baccarin – Existe uma dificuldade de comunicação fábrica de vitamina C. Poderão sempre entre empresas produtoras de alisurgir polêmicas sobre certos ingreQuase matamos uma geração mentos e universidades que realizam dientes, como foi o caso do ipê roxo, inteira de pesquisadores. pesquisas. Muitos projetos de univerque tinha a fama de curar doenças e, sidades não têm aplicação prática e posteriormente, constatou-se que não alegam que não fazem mais porque as indústrias não se possuía esse atributo. Alguns produtos também foram comunicam corretamente com a universidade. É necesquestionados e o papel da ciência é justamente ajudar a sário aproximar essas duas áreas para conversarem mais, reduzir a polêmica e encontrar a verdade. como é feito no Japão e Coréia, exemplos clássicos de inRIL – Nos últimos anos vimos muitas inovações em teração. Acredito que no Brasil estejamos numa jornada alimentos e bebidas chegarem ao mercado e, no de melhoria. Estamos num caminho relativamente bom, caso de lácteos, poderia citar alguns exemplos de mas falta chão para nos destacarmos em P&D. É simples de medir. Companhias de alimentos e ingredientes inovaevolução? Aldo Baccarin – A tecnologia também contribuiu para doras investem, no mínimo, 1% do faturamento em P&D. enriquecer o panorama da alimentação. O leite é um O Brasil ainda está aquém deste indicador, mas está consexemplo da evolução. Aprendemos a secar e produzir o ciente de sua necessidade de aumentar seus investimenleite em pó integral. Depois, o primeiro funcional em lei- tos no setor. te, o desnatado. Posteriormente, aprendemos a fracionar RIL – O ILSI contribui para a evolução da área de peso leite, separando a lactose e o açúcar, uma solução para quisas no Brasil? pessoas que têm intolerância à lactose e puderam se beAldo Baccarin – O instituto tem ações, mas não em neficiar dos outros nutrientes do leite. Conseguimos tamquantidade suficiente, pois o fazemos dentro de nossas bém fracionar suas proteínas, indo para os aminoácidos, possibilidades. Ainda não temos suporte para grandes começando a abrir para coisas maravilhosas e novos proinvestimentos nessa área, mas estamos conscientes e dutos que surgiram a partir dos novos conhecimentos. dividimos o pouco que temos e o Prêmio ILSI para pesAtualmente, na Dinamarca, existem empresas que sepaquisadores de universidades é um exemplo disso. Seria ram a gordura do leite e fracionam os ácidos graxos, obinteressante criar uma agenda de prioridades discutidas. tendo manteigas com texturas extremamente diferenciaExistem países que identificam assuntos importantes e das. Trata-se de um fracionamento daquilo que já existia, colocam na agenda de todo o mundo e já estamos nescriando produtos novos. Isso é maravilhoso. se caminho. Ao dar maior retorno para as universidades, RIL – Como estão, a seu ver, as áreas de Pesquisa e De- muitos países investiram em projetos de melhor uso prásenvolvimento nas indústrias e nas universidades? tico. Já temos diagnósticos de onde investir, que são áreAldo Baccarin – No final da década de 90, algumas em- as de Estilos de Vida Saudáveis, Biotecnologia e os vários presas foram obrigadas a enxugar seus quadros e as áreas aspectos da Nutrição. O documento Brasil Food Trade de P&D foram muito afetadas no Brasil. As grandes mul- 2020 traz algumas indicações de caminhos e faz uma tinacionais passaram a ter centros localizados em dois ou ponte para o futuro, identificando os gaps das áreas que três países no mundo, onde centralizaram tecnologia. As devem melhorar e receber investimentos. 12 13 Matéria de capa Embalagem Ganha mais uma missão Além de funcionalidade, eficiência e garantia de segurança alimentar, outro aspecto toma espaço no desenvolvimento e escolha dos materiais para embalagens, a sustentabilidade, que entra como um dos principais itens a ser analisado por fabricantes. Com o mercado de consumo aquecido e em expansão, as embalagens ganham importância para conquistar os diversos perfis de consumidores. O setor de embalagens apresenta potencial de crescimento no Brasil para produtos industrializados e, logicamente, para produtos lácteos também. Por ser um país de dimensão continental, no Brasil, todas as tecnologias que garantem segurança alimentar na logística são bem-vindas. A diversidade de mercados, capacidade produtiva, vida de prateleira e logística são fatores que exigem estudos sobre quais os sistemas de embalagem podem se aplicar melhor em determinadas regiões e não funcionar adequadamente em outras. As características territoriais brasileiras foram determinantes para o sucesso das embalagens cartonadas assépticas entre os produtores de leite, pois trouxeram maior prazo de validade para o produto, além de dispensar refrigeração em armazenagem e transporte. A diversificação para outros usos, design mais sofisticados e tamanhos vieram com os anos, embarcando outras categorias de produtos, como creme de leite, leite condensado, achocolatados, bebidas lácteas entre outros. Evaporadores tubulares, Torres de Secagem, Leitos Fluidizados, Aglomeradores de pó, Granuladores de pó, Plantas piloto de evaporação e secagem ANHYDRO INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE CONCENTRAÇÕES E SECAGENS INDUSTRIAIS LTDA Tel: 11 2166-4050 / Fax: 11 2166-4070 www..anhydro.com e-mail: [email protected] 14 Com o crescimento das classes C e D no Brasil, as embalagens cartonadas assépticas menores ganharam esse novo mercado. “Elas atendem as classes entrantes no mercado consumidor, por isso crescem muito mais rápido. As embalagens de 250 ml estão registrando um aumento de vendas superior àquele verificado no longa vida e na média de vendas da empresa. São tamanhos que permitem o acesso ao produto, custando menos que as maiores. No segmento de lácteos, a alta tem sido satisfatória também em produtos como creme de leite, leite condensado, fermentados e achocolatado, mas o leite longa vida não cresce como os outros produtos da categoria”, afirma Eduardo Eisler, vice-presidente de estratégia de negócios da Tetra Pak. A inovação que chegou ao Brasil pela Tetra Pak, em 2010, contemplou a área de meio ambiente com o desenvolvimento de novas tampas de “plástico verde”, produzido a partir do etanol de cana-de-açúcar. O projeto coloca o país como pioneiro mundial no uso do material, que será comercializado a partir de 2011. “Com essa etapa definida, as embalagens Tetra Pak caminham mais forte em direção ao uso de matéria-prima de fontes renováveis, que hoje já correspondem a 75% da embalagem. A empresa também pretende apresentar outros lançamentos, que serão divulgados no próximo ano”, acrescenta o vice-presidente. Dentro de uma embalagem da Tetra Pak, você encontra uma solução que transforma o seu negócio. Além de proteger seu produto com qualidade, a Tetra Pak oferece muito mais para sua empresa: soluções integradas de processamento, envase e distribuição de alimentos de forma segura e sustentável, onde quer que seja. Com a Tetra Pak, você transforma o seu negócio. Acesse www.tetrapak.com.br 15 Matéria de capa permite o consumo da bebida em movimento (on the go). A Tetra Pak trabalha com conceito de ecodesign para o desenvolvimento de novas embalagens, máquinas de envase e processo no sentido de minimizar o impacto ambiental de novas tecnologias no consumo de água, energia e a geração de resíduos. Eisler ressalta: “Isto significa que um projeto de novo produto ou solução só é aprovado se for ambientalmente melhor do que seu antecessor”. Atualmente, a preocupação com meio ambiente é uma tendência dos fornecedores de embalagens, que investem em tecnologias mais eficientes para preservação ambiental e em processos de reciclagem eficazes. Outro fabricante de cartonadas assépticas no Brasil, a Sig Combibloc, desde 2009, é certificada de acordo com o critério do Conselho de Gerenciamento da Floresta (FSC) para uma custódia completa de verificação da cadeia (CoC). O sistema assegura que apenas a madeira de floresta de manejo e outras fontes controladas são usadas na produção de embalagens cartonadas da empresa. “Isto permite contribuir efetivamente com a manutenção sustentável de um dos principais filtros de dióxido de carbono, as florestas.Ao usar materiais renováveis, com baixa pegada de carbono, criamos uma economia amiga do meio ambiente. Além disso, a Sig continuará a otimizar suas embalagens em termos de impacto ambiental, mantendo as funções de proteção e qualidade do 16 produto. Como parte desse processo, examinamos a performance e o impacto das embalagens cartonadas em todo o ciclo de vida do produto. Até 2015, pretendemos atingir os seguintes objetivos de negócio ambiental: redução de 35% de energia, 25% de resíduos e 40% de emissões de CO2 em nossas plantas de produção”, explica Luciana Galvão, gerente de marketing da Sig Combibloc para a América do Sul. Entre os recentes desenvolvimentos da empresa para o mercado estão as embalagens drinkplus, que possibilitam o envase de pedaços de frutas juntamente com o líquido. A inovação permite saborear os pedaços, a partir de um canudo. Além de frutas, é possível envasar vegetais e cereais em grãos em bebidas. A tecnologia permite envase de produtos com até 10% de partículas, os pedaços podem ter até 6 milímetros de comprimento e diâmetro. O canudo compatível com o tamanho das partículas A gerente de marketing ressalta que: “o conceito drinkplus abre um extenso leque de oportunidades em diversas categorias de produtos, seguindo tendências de saúde e bem estar. O grande trunfo da nova tecnologia da empresa está no envase conjunto dos componentes líquidos e sólidos, usando a tecnologia padrão da Sig Combibloc para produtos lácteos e bebidas não carbonatas, sem afetar a esterilidade do produto e a produtividade da linha”. Alternativas Também com a característica de disponibilizar embalagens com produtos com shelf life prolongado, os sachets para leite constituem alternativa para os produtores e já são utilizados em mais de 70 países. A Colômbia está entre os países que utiliza mais intensamente o pouch para envase, que representa cerca de 80% do mercado colombiano. Os sachets de leite possibilitam redução de 20% a 40% no custo da embalagem e torna o leite acessível para a parcela da população com baixo poder aquisitivo. Além de trazer um maior shelf life para leites UHT, sem refrigeração de até 120 dias ou até 30 dias para leite ultra-pasteurizado com refrigeração, tem baixo peso para transporte, cerca de 7 g. A embalagem é composta de resina termoplástica de EVOH especial, que forma uma barreira ao oxigênio, além da Admer®, resina adesiva especial em estrutura co-extrudadas de 5 a 7 camadas, que oferece absoluta proteção e segurança aos diversos tipos de leite UHT. A Intermarketing é responsável pela introdução do pouchs no Brasil e representa a Kururay Evalca, que produz o Eval®, a resina de alta barreira e também é parceira da Elecster, empresa finlandesa que fabrica diversos tipos de equipamentos para a indústria do leite e que produz esterilizadores para envase de leite ou líquidos em atmosfera asséptica. O menor custo das embalagens, associado ao fato de o fabricante de leite ter independência no envase, escolhendo o fornecedor que melhor se adapta às suas necessidades são fatores que devem contribuir para que muitos fabricantes adotem o pouch em suas linhas de envase no Brasil. Alguns produtores do Rio Grande do Sul já aderiram à tecnologia, como a Cooperativa Languiru, que envasa o leite Mimi. Os pouchs podem ser produzidos também em formatos menores para atender o mercado single ou on the go. São adequados ainda para embalagens de 200 ml para envase de iogurtes, requeijão, entre outros produtos lácteos. “Com a entrada da embalagem flexível asséptica, lançada no Brasil em 2008, na região Sul, é possível que ocorram mudanças no segmento de envase de leite, porém ainda não houve tempo suficiente para a disseminação da tecnologia e avaliação da aceitabilidade pelo mercado”, ressalta Tiago Bassani Hellmeister Dantas, pesquisador científico do Cetea/Ital. O novo velho Atualmente, é impossível desvincular embalagem de sustentabilidade e materiais que estavam perdendo espaço na produção de embalagem. São os casos do vidro e do aço. A pressão das questões ambientais, aos poucos, valoriza antigos materiais para acondicionar produtos. Especialmente na Europa, os próprios consumidores estão buscando produtos mais comprometidos com a preservação do meio ambiente. No Brasil, entre o público com maior poder aquisitivo, as embalagens sustentáveis já ganham a preferência. Investindo nesse consumidor consciente, a Vitallate, do Rio de Janeiro, resgatou a antiga garrafa de vidro. “Tínhamos muitos pedidos para comercializar o leite fresco, notava-se uma demanda reprimida desse produto e quisemos trazer o produto em uma embalagem que passasse um sentimento de maior frescor e nada melhor do que o vidro e por que não trazer de volta um costume que deixou saudades?”, afirma Patrick Bouzon de Urbano, sócio-diretor da empresa. A Verallia, fabricante de embalagens de vidro, já vinha tralhando no desenvolvimento de garrafas para envase de leite. “Tínhamos alguns desenhos prontos para atender o segmento. Quando começamos o projeto Vitalette, diversas opções foram apresentadas e o laticínio optou pelo design atual”, explica Paulo Dias, gerente comercial da Verallia. A nova garrafa pesa 480 g, enquanto as fabricadas até a década de 70 pesavam mais de 600 g, ou seja, uma redução de mais de 20% para o mesmo formato. A embalagem foi desenvolvida dentro do conceito Ecova (embalagem eco-sustentável), que consome menos matéria-prima e energia na fabricação. As garrafas são one way e, posteriormente, coletadas para voltar ao processo produtivo, retornando como novas garrafas e potes. “Devido à logistica complicada do leite, com cinco dias de validade, inicialmente, trabalharemos apenas no Rio de Janeiro, porém com possibilidade 17 Matéria ad de e ccapa apa de nos ajustarmos para atender São Paulo e Minas Gerais”, completa Urbano. A Vitallate produz também queijos especiais italianos, além de ricota e minas frescal, todos em embalagens de plástico, porém os planos da empresa são adotar aquelas ecologicamente corretas para esses produtos. Além de projetos em desenvolvimento no Brasil, a Verallia possui uma gama de produtos que já são comercializados na Europa e que estão à disposição no mercado brasileiro, como potes e garrafas para creme de leite, iogurte, bebidas lácteas, entre outros. “A Vitalatte foi a pioneira na iniciativa de adotar a garrafa de vidro, pois enxergou os benefícios de trabalhar com esse tipo de embalagem. Em um futuro próximo, outras empresas do setor se juntarão a eles”, prevê Dias. Dantas do Cetea afirma que: “definir a melhor alternativa para envase de leite é difícil devido à diversidade de mercados, capacidade produtiva, vida de prateleira e logística, dada a extensão do território brasileiro. Alguns sistemas de embalagem podem se aplicar melhor em determinadas regiões e podem não funcionar adequadamente em outras”. Outro material que ganha terreno por suas características adequadas ao envase de alguns lácteos é o aço. Tradicional embalagem para leite em pó, creme de leite, leite condensado ou evaparado, fó fórmulas infantis, entre ó f outros, o lata de aço mostra-se mais vigorosa, também em função de meio ambiente. Em algumas categorias de produtos, o uso de lata vem apresentando crescimento, como o de leite condensado, que, por ser viscoso, perde velocidade de envase em outros tipos de embalagem e a lata tem preferência, inclusive, por essa característica do produto. O volume de latas por ano utilizadas para leite condensado é de 561 milhões. O creme de leite, que não apresenta dificuldades para envasamento em outras embalagens, apresenta número menor, cerca de 200 milhões por ano. Entre os lácteos, o líder em utilização de lata ainda é o leite em pó, atingindo a marca de 800 milhões por ano. Por preservar as propriedades e sabor do produto, proporcionar barreira total para luz e oxigênio, a lata ganhou a preferência dos produtores de leite em pó e também dos fabricantes de fórmulas infantis e leite para recém nascidos. O prazo de validade do produto pode chegar a 24 meses e, em alguns casos, bem mais. “Notamos que muitas empresas que haviam deixado de utilizar lata, hoje, estão voltando pela possibilidade de valorização de seus produtos. Um exemplo é a Itambé. A questão ambiental colabora para a valorização do aço, que é 100% reciclável e volta infinitas vezes, em forma de embalagem, de bicicletas e qualquer outro produto” destaca Thais Fagury, gerente executiva da Abeaço. Queijos Uma categoria que ainda tem muito espaço para evolução em embalagens são os queijos. Dantas resume: “há alguns anos, a indústria investiu um pouco em embalagens nesse segmento, criando alguns produtos diferenciados em embalagem cartonadas. 18 Porém, acredito que ainda existem possibilidades de inovação, principalmente na linha de produtos premium, porcionados, a exemplo dos cárneos processados em embalagens vaccum skin packaging, embalagens termoformadas e com atmosfera modificada”. Carlos Zardo, coordenador do Comitê de Design, a Abre (Associação Brasileira de Embalagens), afirma: “na área de iogurtes não ocorreram grandes novidades, todos olham para o fabricante líder e as garrafas com cintura predominam. Poucas inovações surgiram em laticínios, o queijo frescal trouxe embalagens que imitam as queijeiras e alguns fabricantes estão utilizando as embalagens de margarina com transparência para embalar queijos também”. Para Zardo, a tendência em embalagens é atender cada vez mais os nichos setoriais de mercado e entregar diferenciação, buscar novos materiais sustentáveis. A previsão é de que a discussão de sustentabilidade deve crescer muito e, atualmente, ainda está superficial. O consumidor vai exigir mais conteúdo e pesquisas indicam que 25% das pessoas já são impactadas por redes sociais na decisão de compra e alguns temas, como empresas afinadas ou não com questões ambientais estarão em evidência. Portanto, os novos desenvolvimentos no setor de embalagens ganharam mais uma variável ao escolher materiais e tecnologias. Anuncie na edição especial do GUIA 2011 DO COMPRADOR O Guia do Comprador(ed.89) é uma obra de consulta anual, pois ele traz uma ampla listagem de empresas fornecedoras e seus respectivos produtos, apresentando as novidades e lançamentos da indústria. É um catálogo atualizado de produtos dividido em cadernos setoriais: Embalagens, Ingredientes e Aditivos, Máquinas e Equipamentos, Refrigeração e Transporte, Equipamentos para Laboratórios e Serviços Industriais. 1 Reportagem e perfil das empresas fornecedoras. 15 anos Para anunciar [email protected] | 11 2307 5561 [email protected] | 11 2307 5563 [email protected] | 11 8141 3274 • 11 3739 4385 19 Matéria de capa Avaliação de latas de folha de flandres para acondicionamento de leite condensado Evaluation of tinplate cans for sweetened condensed milk Autores | Authors: Sílvia Tondella DANTAS Instituto de Tecnologia de Alimentos Beatriz Maria Curtio SOARES Elisabete Segantini SARON Jozeti Aparecida Barbutti GATTI Paulo Henrique Massaharu KIYATAKA Instituto de Tecnologia de Alimentos / Centro de Tecnologia de Embalagem RESUMO Neste trabalho, dois tipos de latas de folha de flandres foram avaliados: uma revestida internamente com verniz epóxi-fenólico (lata CV) e outra sem revestimento interno (lata SV), sendo ambas revestidas com baixa estanhagem, isto é, 2,0 g de Sn.m-², alternativas às folhas comumente utilizadas para acondicionamento de 395 g de leite condensado, que possuem 2,8 g de Sn.m-². Os dois tipos de latas contendo o produto foram condicionados a 35 °C durante 450 dias e a 40 °C durante 180 dias (estudo acelerado). Durante a estocagem foram realizadas avaliações periódicas de determinações de metais, pressão interna e composição gasosa, com o objetivo de se verificar a interação embalagem/alimento. Após o período estudado pôde-se concluir que é possível utilizar latas de folha de flandres com revestimento de estanho de 2,0 g.m-², desde que haja envernizamento interno para minimização da interação entre o material metálico e o alimento. Palavras-chave: Folha de flandres; Interação; Leite condensado; Metais. SUMMARY Two types of tinplate cans with a low level of tin (2.0 g de Sn.m-2) were evaluated in this study: cans with an internal layer of epoxy-phenolic lacquer (called ‘lata CV’ cans) and plain cans (called ‘lata SV’ cans), as an alternative to the foil normally used for sweetened condensed milk in Brazil, which contains 2.8 g de Sn.m-2. These two types of can were conditioned at temperatures of 35 °C for 450 days and of 40 °C for 180 days (accelerated study). Iron and tin, the internal pressure and the gas composition were determined periodically in order to monitor the package/food interaction. After completing the storage period it was concluded that tinplate cans with an internal layer of 2.0 g de Sn.m-2 can be used so long as they have an internal lacquer to minimize interactions between the metallic foil and the food. 20 Key words: Tinplate cans; Packaging/food interaction; Sweetened condensed milk; Metals. 1 INTRODUÇÃO A interação embalagem/alimento é caracterizada principalmente pela dissolução dos metais que constituem a embalagem, como o ferro e o estanho, em folhas de flandres, e o ferro e o cromo, em folhas cromadas. O resultado dessa interação pode conduzir a alterações no produto, que podem determinar sua vida de prateleira. Até 2007, a legislação brasileira (BRASIL, 1996) estabelecia que para folha de flandres sem envernizamento interno, destinada ao acondicionamento de alimentos e bebidas, a massa nominal mínima de estanho permitida era de 5,6 g Sn.m-2, enquanto que para materiais envernizados internamente essa massa podia ser reduzida para 2,8 g Sn.m-². Atualmente é permitido o uso de latas de folha de flandres, com ou sem envernizamento interno, que possuam revestimento interno de estanho (Sn) em quantidade suficiente para cumprir com sua função tecnológica (BRASIL, 2007). A possibilidade de redução do revestimento de estanho na fabricação de latas para alimentos tem como uma das consequências a redução do custo de fabricação da embalagem. A avaliação de palmito pupunha acondicionado em latas com diferentes camadas nominais de estanho demonstrou que embalagens com menor revestimento (2,8 g Sn.m-²) apresentaram desempenho superior quanto à qualidade sensorial do produto em relação a embalagens de maior revestimento nominal de estanho (5,6 g Sn.m-²) (FARIA, 2000). Dantas et al. (2000) avaliaram a possibilidade da utilização da folha de flandres, com camada de estanho de 2,0 g.m-² e envernizamento interno, no acondicionamento de palmito e concluíram que, além do revestimento de estanho, a película e a qualidade do verniz aplicado são fatores decisivos na definição dos mecanismos e velocidades dos processos decorrentes da interação lata/produto. Ao compararem este revestimento com outros (2,8 e 5,6 g Sn.m-²), concluíram que a utilização de folhas de flandres com menores camadas de estanho de corpo é possível, desde que seja garantida uma proteção eficiente na costura lateral eletrossoldada. A redução da camada de estanho em latas de folha de flandres também foi estudada por Saron et al. (2006). Neste estudo foi avaliado o desempenho de latas com 2,0 g Sn.m-² para acondicionamento de suco de maracujá pronto para beber, e pôde-se concluir que a especificação da embalagem era adequada para manter o produto em condições de comercialização por 12 meses. Embora inicialmente o leite condensado fosse utilizado para reconstituição e consumo como leite fluido, com os avanços tecnológicos ocorridos a partir da década de 1940 na produção de leite desidratado (PEACOCK, 1972), seu consumo foi orientado para propósitos de processamento de alimentos, como por exemplo, produtos de confeitaria e catering. Estudos de estocagem são normalmente realizados para avaliação da manutenção das características próprias do leite condensado, sendo utilizada a temperatura ambiente (PEACOCK, 1972). Labuza (1982) menciona que a temperatura máxima de estocagem, de forma a não promover alteração no produto, é de 25 °C. Segundo Richardson (1976), a vida útil de leite condensado enlatado a 25 °C corresponde a um ano. No Brasil, entretanto, a prática industrial para a vida útil de leite condensado (395 g) tem sido de 18 meses. O leite condensado é conservado pelo aumento da pressão osmótica devido à presença de açúcar, sendo estável à temperatura ambiente, desde que as etapas de fabricação e acondicionamento sejam executadas com boas condições de higiene, de forma a prevenir o desenvolvimento microbiológico. A ausência de ar auxilia na inibição do desenvolvimento de fungos e leveduras (ALVES et al., 1994). Os vernizes epóxi-fenólicos englobam a maioria das características desejáveis para revestimentos de latas, apresentando resistência mecânica, boa flexibilidade, adesão, resistência ao escoamento e ao processamento (GATTI, 1999). O objetivo deste estudo foi verificar o comportamento das latas de folha de flandres, com e sem aplicação de verniz epóxi-fenólico, com revestimento na face interna de 2,0 g Sn.m-2, no acondicionamento de leite condensado à temperatura de 35 °C, a fim de se demonstrar, do ponto de vista da interação embalagem/alimento, se é viável a utilização destes tipos de latas. O condicionamento a 40 °C por 180 dias também foi realizado com o objetivo de verificar a possibilidade de utilização dessa condição como alternativa aos testes acelerados. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Material Foram avaliados dois tipos de latas de três peças eletrossoldadas com diâmetro de 73 mm, produzidas em folha de flandres com revestimento interno de 2,0 g de Sn.m-2, acondicionando 395 g de leite condensado, sendo uma das latas envernizada internamente com verniz epóxi-fenólico (denominada lata CV) e outra sem envernizamento interno (denominada lata SV). 21 Matéria de capa As amostras foram condicionadas em câmara com temperatura controlada de 35 ± 2 ºC por 450 dias, sendo realizadas avaliações periódicas aos 0, 45, 90, 180, 270, 365 e 450 dias de estocagem; e 40 ± 3 ºC por 180 dias, sendo realizadas avaliações periódicas aos 0, 45, 90, 120 e 180 dias, com exceção da avaliação de composição gasosa do espaço livre, que foi realizada na época inicial e final. Todas as avaliações foram conduzidas em cinco replicatas. 2.2 Métodos 2.2.1 Caracterização do material metálico Os dois tipos de latas foram caracterizados quanto ao revestimento de estanho na face interna e camada de passivação; e a lata CV, quanto ao envernizamento interno (camada seca, aderência, grau de cura e porosidade), conforme descrito em Dantas et al. (1996) e pela norma D 3359 (ASTM, 2009). A camada de estanho total da face interna da folha de flandres do material do corpo, tampa e fundo das latas foi determinada pelo método coulométrico, utilizando-se sistema de potenciostato/ galvanostato EG&G modelo 273, operando por meio do programa EG&G 354. A camada de passivação, expressa como cromo total (óxidos de cromo + cromo metálico) dos materiais do corpo, tampa e fundo foi determinada simultaneamente em ambas as faces pelo método colorimétrico, que se baseia na reação do cromo com a difenilcarbazida. A avaliação do grau de cura foi realizada pelo método de dissolução com solvente (DANTAS et al., 1996), por meio de fricção de almofada de algodão embebida em metiletil-cetona, acoplada a acessório específico de 1 kg de massa, determinando-se o número de ciclos de passadas de algodão a que o verniz resiste sem apresentar evidências de dissolução. A porosidade do verniz interno foi determinada na lata (corpo + fundo) e na tampa, em equipamento WACO - Wilkens Anderson Co, aplicando-se uma diferença de potencial de 6,2 V e determinando–se a corrente que flui pelas descontinuidades do verniz. Utilizou-se solução de sulfato de sódio a 0,2% acrescida de 0,1% de agente umectante como eletrólito (DANTAS et al., 1996). 2.2.2 Avaliação visual A avaliação visual foi realizada na face interna das latas (tampa, corpo e fundo) para verificação de alterações na folha metálica ao longo do período de estocagem. A intensidade de oxidação foi classificada pela comparação com a escala G da norma D610 (ASTM, 2008). 2.2.3 Quantificação de ferro e estanho no produto Os teores de ferro (Fe) e estanho (Sn) foram determina- 22 dos no leite condensado pelo método de digestão ácida a quente em sistema fechado de digestão por microondas, marca CEM, modelo MARS 5. A pressão do sistema de digestão por microondas foi controlada através da temperatura e pressão da digestão, sendo empregados três estágios com rampas de aquecimento por um tempo total de 40 min até atingir 150 °C e pressão de 300 psi, permanecendo por 20 min nessa condição. A seguir, foi feito o resfriamento do sistema até aproximadamente 30 °C. Após o tratamento, os teores de Fe e Sn foram quantificados por espectrometria de emissão atômica induzida por plasma com detector óptico – ICP-OES, utilizandose um equipamento marca Varian, modelo Vista MPX, e empregando-se curvas de calibração apropriadas para as análises. 2.2.4 Determinação do volume e da composição gasosa do espaço livre O volume gasoso do espaço livre das latas foi determinado e a sua composição foi avaliada quanto à presença de oxigênio (O2), hidrogênio (H2), dióxido de carbono (CO2) e nitrogênio (N2), utilizando um cromatógrafo a gás Shimadzu, modelo 14A, operando com detetor de condutividade térmica equipado com colunas Porapak-N e Peneira Molecular 13X. Os resultados de cromatografia gasosa foram quantificados em um integrador processador e os percentuais de cada gás determinados com base nos respectivos tempos de retenção na coluna utilizada, por meio de curvas de calibração previamente construídas (DANTAS et al., 1996). 2.2.5 Determinação da pressão interna A determinação da pressão interna foi realizada utilizando-se manovacuômetro digital Zürich, modelo Z-10-B, com resolução de 0,01 psi para pressão positiva e negativa e faixa de medição de –15 psi a +15 psi, após o condicionamento das latas a 23 ºC por no mínimo 8 h (DANTAS et al., 1996). 2.2.6 Análise estatística dos resultados Os resultados foram submetidos à análise de variância a um critério de classificação e comparação das médias pelo teste da mínima diferença significativa, utilizando-se o programa Statistica, versão 5.0. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização da embalagem A Tabela 1 apresenta os resultados da determinação da camada de estanho na face interna e da camada de passivação do corpo, tampa e fundo das latas com verniz interno (CV) e sem verniz interno (SV). Tabela 1. Resultados dos testes de caracterização da lata de folha de flandres com revestimento interno nominal de 2,0 g de Sn.m–2, usada no acondicionamento de leite condensado durante este estudo. Lata Parâmetro Sem verniz Camada de estanho (g.m–²) Corpo Tampa Fundo Livre 1,3 ± 0,05 1,3 ± 0,071 1,1 ± 0,037 Liga 0,61 ± 0,05 0,55 ± 0,024 0,62 ± 0,036 Total 1,9 ± 0,087 1,8 ± 0,050 1,7 ± 0,028 7,8 ± 0,56 6,4 ± 0,42 8,0 ± 0,34 Livre 1,1 ± 0,059 0,92 ± 0,028 0,88 ± 0,064 Liga 0,69 ± 0,056 0,79 ± 0,016 0,78 ± 0,050 Total 1,8 ± 0,038 1,7 ± 0,030 1,7 ± 0,046 3,4 ± 0,34 4,7 ± 0,45 5,4 ± 0,16 Camada de passivação (mg.m-².face) Com verniz Camada de estanho (g.m-²) Camada de passivação (mg.m-².face) M ± DP: média ± desvio-padrão. A camada de estanho variou entre 1,7 e 1,9 g.m-2 para os dois tipos de latas. Segundo a norma NBR 6665 (ABNT, 2006), para folhas com revestimento nominal de 2,0 g Sn.m-2, é permitido um desvio de massa para menos de 0,30 g Sn.m-2 na média de ensaio em triplicata. Assim, os dois tipos de latas usados no acondicionamento do leite condensado durante este trabalho atendiam a este requisito. Quanto ao revestimento de passivação, identificado pelo fabricante da lata como sendo 311, a norma NBR 6665 (ABNT, 2006) estabelece intervalo entre 3,5 e 8,0 mg.m-2 em cada face. Para a lata SV, a camada de passivação apresentou gramatura próxima ao limite superior, enquanto para a lata CV esta camada apresentou valores dentro do intervalo, com exceção do material do corpo, cujo valor médio apresentou-se ligeiramente inferior ao mínimo. A Tabela 2 apresenta os resultados da avaliação do verniz epóxi-fenólico (camada seca, grau de cura, aderência e porosidade) aplicado na face interna da lata CV. A avaliação do grau de cura mostrou condição adequada em todas as partes da lata, tanto pelo método de dissolução em solvente, como pela absorção de corantes. A aderên- cia também se mostrou muito boa, classificando-se no melhor grau em todas as partes da lata. A porosidade do verniz interno mostrou valores compatíveis com os normalmente observados em latas de alimentos, embora não haja limite estabelecido. Observou-se que a principal região de porosidade de verniz interno da lata foi a costura eletrossoldada. 3.2 Avaliação visual interna da lata De acordo com a classificação de alteração da superfície da norma D610 (ASTM, 2008), que apresenta uma escala variando de 9-G (alteração de 0,03%) a 1-G (alteração de 50%), as latas CV apresentaram classificação média da superfície correspondente a 9-G em todas as épocas de avaliação e regiões da lata nas duas temperaturas de estocagem. A região de soldagem permaneceu inalterada, sendo observados pontos de corrosão nessa região em apenas uma lata aos 450 dias de estocagem a 35 ºC. No entanto, para as latas SV, foram observadas importantes alterações na superfície interna ao longo do tempo, principalmente no corpo e no fundo, chegando a Tabela 2. Resultados da avaliação do envernizamento aplicado na face interna das latas denominadas CV. Parâmetro Lata de leite condensado Camada seca (g.m-2) 2 Grau de cura (nº de ciclos de passadas MEK) Aderência (graus) 1 Porosidade de verniz interno (mA/lata ou tampa) Corpo Tampa Fundo Side Stripe 5,7 ± 0,30 4,9 ± 0,23 4,7 ± 0,47 8,6 ± 0,38 >100 >100 >100 n.a. 5B 5B 5B Boa 5,3 ± 6,10 3 (3) 65,5 ± 18,80 () 1 Dez determinações; 2 solvente metil etil cetona; 3 resultado apresentado para o corpo da lata; n.a: não se aplica; e M ± DP: média ± desvio-padrão 23 Matéria de capa Figura 1. Fotografias ilustrando a superfície interna das latas CV (linha superior) e SV (linha inferior) após 450 dias de estocagem a 35 ºC: (a) e (e) corpo, (b) e (f) tampa, (c) e (g) fundo, (d) e (h) região de soldagem. Figura 2. Fotografias ilustrando a superfície interna das latas SV após 180 dias de estocagem a 40 ºC: (a) corpo, (b) tampa, (c) fundo. atingir, aos 270 dias de estocagem a 35 ºC, classificação 1-G, ou seja, alteração de 50% da área. Apesar das alterações observadas nessa lata, a região de soldagem, que apresentava verniz de proteção, permaneceu inalterada. No condicionamento a 40 ºC foi verificada classificação 1-G no corpo da lata aos 120 dias de estocagem. As Figuras 1 e 2 ilustram a aparência interna das latas com verniz (CV) e sem verniz (SV) acondicionando leite condensado ao final dos 450 dias de estocagem à temperatura de 35 ºC e ao final dos 180 dias de estocagem à temperatura de 40 ºC, respectivamente. 3.3 Quantificação de ferro e de estanho no produto Durante o período de estudo, as concentrações de ferro 24 e estanho no produto acondicionado na lata CV a 35 e 40 ºC permaneceram baixas ( 2,0 mg de Fe.kg-1 e 1,08 mg de Sn.kg-1), assim como a concentração de ferro na lata SV a 40 ºC. Os resultados da determinação de metais migrados para o produto acondicionado nas latas SV estocadas a 35 e 40 ºC foram plotados em relação ao período de estocagem e são apresentados na Figura 3. Para o leite condensado acondicionado na lata SV, os teores de estanho aumentaram progressivamente durante o período de estocagem, atingindo concentração de 31,78 mg de Sn.kg-1 de produto aos 450 dias a 35 °C. Correlacionando essa concentração com a quantidade de produto acondicionada na lata e também com a quanti- no contendo pêssego em calda, Dantas et al. (2008) constataram que a estocagem a 35 ºC acelera o mecanismo de desestanhamento, tendo o produto alcançado após 420 dias de estocagem concentração superior a 300 mg de Sn.kg-1 de produto. Saron et al. (2006) reportam teores inferiores a 0,5 mg de Sn.kg-1 de suco de maracujá, no acondicionamento deste suco à temperatura de 35 ºC por 12 meses em latas de folha de flandres com camada de 2,0 g de Sn.m-² e envernizamento interno, ao passo que os teores de ferro superaram 14 mg.kg-1 de produto. Figura 3. Concentração de ferro (Fe) e estanho (Sn), em mg.kg-1, no leite condensado acondicionado em lata com verniz interno (CV) e em lata sem verniz interno (SV) durante a estocagem. Pontos representam as médias das replicatas e as barras o desvio-padrão entre as replicatas. dade de Sn presente na folha metálica (camada de estanho total), pode-se estimar que aproximadamente 24% do Sn total presente na folha migrou para o produto após os 450 dias de interação entre produto e embalagem quando estocados a 35 °C. Os teores de ferro (Fe) na lata SV a 35 °C se mantiveram baixos (inferiores a 2 mg.kg-1) ao longo do período de estudo, ocorrendo drástico aumento na sua concentração no leite condensado após os 365 dias, resultando aos 450 dias (15 meses) de estocagem numa concentração final de 33,74 mg de Fe.kg-1 de produto. Dantas et al. (2000) verificaram, no acondicionamento de palmito em folha de flandres com diferentes revestimentos de estanho (2,0, 2,8 e 5,6 g.m-²), que as latas de menor estanhagem apresentaram uma maior dissolução de ferro em relação às latas de maior estanhagem. Greger e Baier (1981) compararam os teores de ferro e estanho em alimentos enlatados em latas com envernizamento interno total e em latas não envernizadas ou envernizadas parcialmente. Verificaram que os alimentos acondicionados em latas que não eram totalmente protegidas apresentavam teores mais elevados desses metais e que, após algum tempo de estocagem sob refrigeração, o teor de estanho aumentava proporcionalmente mais do que o teor de ferro. Para latas de folha de flandres sem envernizamento inter- A maioria dos alimentos não processados apresenta teores de estanho inferiores a 1 mg.kg-1, porém valores mais altos são encontrados nos alimentos enlatados, os quais apresentam valores de até 25 mg.kg-1 em latas envernizadas, podendo superar 100 mg.kg-1 quando acondicionados em latas não envernizadas (WHO, 2004). No entanto, a ingestão humana de estanho inorgânico, através de bebidas e alimentos enlatados, em concentrações superiores a 150 mg.kg-1 e 250 mg.kg-1, respectivamente, podem produzir manifestações agudas de irritação gástrica em certos indivíduos (JOINT FAO, 2006). No Brasil, o limite máximo de estanho estabelecido para vários alimentos é de 250 mg.kg-1, sendo de 150 mg.kg-1 para sucos cítricos (BRASIL, 1965; 1998). As Equações 1 e 2 foram obtidas a partir da regressão dos dados apresentados na Figura 3 e são representativas do comportamento da migração de estanho nas condições estudadas, as quais indicam que o produto apresentaria 250 mg de Sn.kg-1 após 681 dias de estocagem a 35 ºC, enquanto a 40 ºC esse valor seria alcançado em 353 dias. Sn(35ºC,SV) [mg.kg-1] = 1,731.e0,0073t[dias] (R² = 0,9307) -1 0,0155t[dias] Sn(40ºC,SV) [mg.kg ] = 1,0425.e (1) (R² = 0,9338) (2) O elevado teor de ferro verificado aos 450 dias de estocagem do leite condensado na lata sem envernizamento interno pode ser associado ao desestanhamento da folha metálica, que foi classificada nessa época como 1-G (alteração em 50% da área superficial) em avaliação visual. A perda de estanho da folha metálica ao longo do período de estocagem, observada através da determinação do teor de estanho no produto, resultou na exposição do ferro do aço base ao produto, que passou a ser dissolvido a partir dos 365 dias de estocagem, resultando no elevado teor deste elemento, verificado na última época. Como a legislação brasileira (BRASIL, 1965; 1998) não estabelece um limite máximo para a concentração de Fe em alimentos e a concentração de Sn é inferior ao permitido, os teores destes elementos no leite condensado não implicam na finalização da vida útil deste produto. 25 Matéria de capa Tabela 3. Resultados do volume gasoso e da composição de O2, H2 e CO2 presentes no espaço livre das latas CV e SV contendo leite condensado. Época de estocagem Volume gasoso (mL) Porcentagem de gás (v/v) O2 H2 CO2 2,4 ± 0,44 19,5 ± 0,26 0,1 ± 0,00 0,1 ± 0,1 Inicial (Lata SV) 3,3 ± 1,58 19,2 ± 0,30 0,2 ± 0,10 0,2 ± 0,19 40 ºC/180 dias (Lata CV) 1,7 ± 0,44 1,9 ± 2,96 0,1 ± 0,05 3,9 ± 0,59 40 ºC/180 dias (Lata SV) 1,6 ± 0,72 0,5 ± 0,70 15,5 ± 3,41 3,5 ± 0,70 Inicial (Lata CV) 35 ºC/450 dias (Lata SV) < 1,0 n.d. n.d. n.d. 35 ºC/450 dias (Lata SV) 8,8 ± 2,75 <0,500 48,9 ± 33,12 n.d. M ± DP: Média ± Desvio-padrão; n.d.: não determinado. 3.4 Determinação do volume e da composição gasosa do espaço livre As avaliações de volume e composição gasosa foram conduzidas apenas nas épocas inicial e final e os resultados são apresentados na Tabela 3. Ao final do período de estocagem a 35 ºC, a quantidade de volume gasoso na lata CV apresentava-se muito baixa (<1 mL), não sendo possível fazer a quantificação dos gases presentes nesse volume. Entretanto, o fato de não ter ocorrido formação de gases demonstra que não houve desenvolvimento de corrosão interna. Para a lata SV, os resultados da determinação do volume e composição gasosa demonstram que a concentração inicial de oxigênio correspondeu praticamente à observada no ar, tendo apresentado queda importante ao longo da estocagem. Normalmente a evolução dos gases no espaço livre de alimentos enlatados e corretamente elabora- dos apresenta um decréscimo do teor de oxigênio, que é reduzido quase totalmente nos primeiros dez dias após a sua produção (CATALÁ, 1985). Ao contrário do verificado para o oxigênio, a concentração de hidrogênio nas latas SV sofreu grande aumento, mostrando o desenvolvimento de processo de corrosão (DANTAS et al., 1999), que consumiu o oxigênio, paralelamente às reações ocorridas no leite condensado. Catalá (1985) menciona que a formação de hidrogênio se inicia logo após o consumo de oxigênio e se acumula no espaço livre da lata lentamente, quando o processo de corrosão, resultante da interação lata/alimento, se desenvolve normalmente. 3.5 Determinação da pressão interna A Tabela 4 apresenta os resultados de pressão interna das latas CV e SV estocadas a 35 ºC contendo leite condensado. Tabela 4. Pressão interna, em psi, em latas com verniz (CV) e sem verniz (SV) interno contendo leite condensado ao longo da estocagem a 35 ºC por 450 dias. Tempo de estocagem (dias) Tipo de lata CV (35 ºC) 4,7 ± 1,2 4,2 ± 0,8a 45 3,6 ± 0,7ac 3,7 ± 0,8a 3,5 ± 0,9a 3,3 ± 0,4a a 3,9 ± 1,7 a 3,3 ± 1,1 3,1 ± 0,5b - 3,5 ± 1,4a 3,3 ± 0,6a 3,3 ± 0,8 a SV (40 ºC) 4,2 ± 0,8 bcd a CV (40 ºC) 4,7 ± 1,2 120 - 180 3,4 ± 1,1ad 3,4 ± 1,1a 3,1 ± 1,7a 3,8 ± 1,2a 270 b b - - a - - - - 365 450 a,b,c,d SV (35 ºC) 0 90 a 2,0 ± 0,5 bcd 2,4 ± 1,0 bcd 2,4 ± 0,7 1,4 ± 0,5 3,1 ± 0,8 c 10,2 ± 0,8 Em uma mesma coluna, médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo Teste da Mínima Diferença Significativa, ao nível de erro de 5%; M ± DP: Média ± Desvio-padrão; e 1 psi = 6,894 kPa. 26 Em função das características do produto e da condição de enchimento, as latas de leite condensado apresentam pressão interna positiva. Observa-se nas latas CV uma redução praticamente constante em relação à pressão no início do acondicionamento, sendo, ao final dos 450 dias, observada uma redução de 49% em relação à pressão inicial, provavelmente em função do consumo do conteúdo gasoso em reações do produto. No entanto, para a lata SV é observada essa redução da pressão interna até os 270 dias de estocagem, quando se inicia uma fase de aumento da pressão interna que atinge, aos 450 dias de estocagem, um valor 2,4 vezes superior ao observado inicialmente. O aumento de pressão interna equivalente a 628% nos últimos 180 dias de estocagem está associado à elevada concentração de hidrogênio verificada ao final do período de estocagem nessa lata, em função do processo corrosivo ocorrido. Os resultados obtidos durante os 180 dias de estocagem a 40 ºC para as latas SV e CV foram muito similares aos verificados nessas latas a 35 ºC durante esse período. 4 CONCLUSÕES O estudo da viabilidade da redução da camada de estanho em latas de folha de flandres com verniz interno para acondicionamento de 395 g de leite condensado mostrou que durante os 450 dias de estocagem a 35 °C não houve alteração importante em relação à dissolução de metais da lata para o produto, que se manteve em condições normais, assim como a aparência da superfície interna da embalagem. As latas apresentavam pressão interna positiva desde o início da estocagem, a qual foi reduzida ao longo da estocagem. Ao final desse período não foi detectado volume gasoso nem a presença de gás hidrogênio que pudesse ser relacionado ao desenvolvimento de corrosão interna, resultado esse compatível com a baixa concentração de metais observada no produto. Assim, pode-se afirmar que este tipo de produto não sofre alteração em decorrência da interação com este tipo de embalagem, podendo ser usado para vida útil superior à adotada comercialmente no Brasil (18 meses). 27 Matéria de capa No entanto, a lata sem verniz interno não se mostrou adequada para acondicionamento do leite condensado a 35 ºC por períodos prolongados, em virtude do desenvolvimento de reação de corrosão, resultando em elevado teor de hidrogênio e em alterações da superfície do material metálico. A estocagem a 40 ºC por 180 dias, como condição alternativa para acelerar estudos de estocagem, não se mostrou favorável na obtenção de dados preditivos, uma vez que os resultados obtidos nessa condição foram muito similares aos resultados verificados na estocagem a 35 ºC por esse mesmo período. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6665. Folhas laminadas de aço-carbono revestidas eletroliticamente com estanho ou cromo ou não revestidas: especificação. 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Fonte: BJFT - Brazilian Journal of Food Technology 29 Matéria ad de e ccapa apa Um pouco do passado Algumas embalagens fizeram história e se transformaram em verdadeiros ícones para os consumidores. Veja alguns exemplos que marcaram época e despertam a nostalgia. 1937 1983 1964 30 1990 1946 1997 1965 1950 2001 1987 1994 Gestão Relatório de Resultados Epamig 2003-2010 A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) acaba de divulgar o Relatório de Gestão 20032010 com os principais resultados obtidos no período. E o Relatório apresenta um quadro bastante positivo para a Empresa, que reflete diretamente em toda a sociedade, pois os bons resultados da EPAMIG significam bons resultados relacionados ao desenvolvimento de tecnologias para o progresso da agropecuária mineira, que possibilitam cada vez mais melhor produção e qualidade dos alimentos que todos consumimos diariamente. Esse período também foi, inicialmente, de recuperação da Empresa nas áreas administrativa e financeira e foi positivo também para os empregados da EPAMIG. Dentre as ações na área de Recursos Humanos, destaca-se aumento salarial médio, de 2003 a 2010, de 78,59%, mediante Acordos Coletivos de Trabalho. O Relatório de Gestão evidencia a ampliação de todas as fronteiras técnicas e administrativas da EPAMIG, com destaque para presença maior da Empresa no território mineiro, pois passou de 20 para 28 Fazendas Experimentais, criou cinco Núcleos Tecnológicos (Azeitona e Azeite; Batata e Morango; Florestas; Floricultura; Uva e Vinho) e mais duas Estações Experimentais durante esse período. As áreas de pesquisa foram expandidas, com o aumento do número de pesquisadores, que passou de 138 em 2003 para 193 em 2010, e a grande oferta de produtos tecnológicos. A captação de recursos para pesquisa foi largamente ampliada, dando margem ao incremento do volume de projetos. Uma nova metodologia de gestão das Fazendas foi implementada, com maior participação dos municípios, com vistas às demandas regionais. Renovação de edificações, reestruturação da área laboratorial, renovação e aumento da frota de veículos despontam entre as melhorias estruturais da EPAMIG. Com relação aos projetos de pesquisa elaborados, em 2003 foram 96 e em 2010, 286 projetos. Em reais, significa: R$11,2 milhões em 2003 e R$23,2 milhões em 2010. Projetos de pesquisa em execução: 130 em 2003 e 340 em 2010. Em reais, R$ 4,7 milhões em 2003 e R$ 21,8 milhões em 2010. Em 2003 foram concluídos 29 projetos de pesquisa e nesse ano que termina, 77 projetos. Já os eventos tecnológicos passaram de 396 em 2003 para 1326 em 2010. O diretor de Operações Técnicas, Enilson Abrahão, destaca o sucesso das pesquisas com oliveiras, com a primeira extração de azeite extravirgem no Brasil, feita pela EPAMIG em 2008; o lançamento de novas cultivares de café; intensificação dos treinamentos destinados à extensão rural; da nova bebida láctea que está sendo patenteada pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT): “Essas são algumas das muitas ações que dão uma noção da qualidade e do tamanho do trabalho que está sendo realizado pela EPAMIG”, disse o diretor. Foto: Divulgação Epamig O fortalecimento da empresa que embasa o crescimento do agronegócio de Minas Gerais O presidente da EPAMIG também destacou o Plano Diretor do Cândido Tostes para os anos 2005-2010 que contém, dentre outras ações, reforma da fábrica-escola e reforma geral da rede física; construção da Estação de Tratamento de Efluentes; reforma administrativa e aquisição de veículos; aumento da produção e venda de produtos lácteos; consolidação do Curso Técnico de Laticínios; curso superior e mestrado; Centro de Treinamento de Produtores de Queijo; implantação do Museu Nacional do Leite; aumento das atividades de pesquisa; aumento das atividades de transferência de tecnológica; ampliação do Congresso Nacional de Laticínios. Outro destaque foram as aquisições em 2008 com recursos do Plano de Sustentabilidade Financeira (PSF): Com tratores e veículos/máquinas e implementos foram investidos R$ 2.824.279,99. Já em instalações, animais, insumos, o investimento foi de R$ 3.166.234,30. As aquisições em 2009 foram conseguidas com recursos do PAC-EmbrapaOEPAS-Consepa: Foram comprados 61 veículos e investidos R$ 3.295.437,81, dentre outras aquisições. De acordo com Baldonedo, o crescimento da EPAMIG nesses oito anos foi possível devido ao bom momento vivido pelo estado de Minas Gerais e todo o trabalho foi realizado com base nas diretrizes delineadas pelo Planejamento Estratégico da Empresa, que começou a ser implantado no final de 2004. O início da gestão, em 2003, não foi fácil, segundo Baldonedo: “Nós recebemos a EPAMIG numa situação muito difícil, pois a Empresa tinha uma dívida trabalhista de R$60 milhões, que vinha desde 1987, e um patrimônio de 31 Gestão R$11 milhões. A consequência disto foi que todo o patrimônio da Empresa, ou seja, fazendas experimentais, sede, veículos e máquinas, laboratórios, tudo estava penhorado como garantia do pagamento dessa dívida e todas as contas bancárias bloqueadas. Além do mais, nós tínhamos uma dívida de R$20 milhões com INSS, FGTS e Imposto de Renda. O resultado de tantas dívidas, durante quase vinte anos, foi o sucateamento da Empresa, uma situação de desânimo, falta de confiança e de perspectiva entre os empregados. A situação era dramática. Mas, a partir de 2003, saneamos as finanças da Empresa e restabelecemos a sua capacidade de produzir pesquisas tecnológicas, que são a retaguarda sólida do desenvolvimento agropecuário do Estado”, explica Baldonedo. Prodesag Outra iniciativa importante nesse período foi a criação do Programa Microrregional de Desenvolvimento Tecnológico da Agropecuária (Prodesag), uma das estratégias utilizadas pela EPAMIG para promover a transferência tecnológica e, assim, beneficiar número maior de regiões e municípios mineiros com a sua presença. O Prodesag permite reestruturar e revitalizar as Fazendas Experimentais existentes na EPAMIG; implantar Fazendas Experimentais em regiões onde a Empresa ainda não está presente, por meio de parceria com os municípios, universidades públicas e privadas, empresas e entidades de classe; aproximar as Fazendas dos produtores rurais e de seu entorno; estreitar as relações entre as Fazendas Experimentais da EPAMIG e as prefeituras municipais, por meio de suas Secretarias de Agricultura; implantar nas Fazendas Experimentais os Planos Anuais de Trabalho, realizado por pesquisadores da Empresa em conjunto com produtores rurais; fazer levantamento das potencialidades agropecuárias da região; implantar Unidades Demonstrativas nos municípios, viabilizando a transferência e a difusão tecnológica e também a disponibilização de sementes, mudas, animais e publicações aos produtores rurais. A gestão das Fazendas Experimentais é participativa, por meio da implantação de Conselhos Gestores formado por representantes de diversos segmentos da sociedade. De 2006 a 2010 aderiram ao Prodesag 43 municípios, que receberam da EPAMIG 25 cursos, 35 dias de campo, 72 palestras, 60 reuniões técnicas, 177 visitas técnicas, tiveram implantadas 21 Unidades Demonstrativas, dentre outras várias ações. Novos equipamentos para o Instituto de Laticínios Cândido Tostes O Plano Diretor do Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), em Juiz de Fora, continua sendo executado. Em 2010 a EPAMIG deu continuidade às obras de revitalização do núcleo industrial do ILCT. Com toda a parte estrutural 32 da reforma completada, o Instituto iniciou a aquisição de novos equipamentos que darão suporte para que a fábrica atinja capacidade máxima de produção, processando cerca de oito mil litros de leite/dia. Com recursos de R$ 944 mil, estão sendo adquiridos cerca de 40 itens, entre compressor de ar comprimido, fermenteiras, tachos e tanques de salga de queijo. A verba contempla ainda a manutenção das caldeiras, recuperação da separadora centrífuga, do pasteurizador, dos tanques em aço inox e outros equipamentos. No total, a EPAMIG investiu R$ 2,5 milhões nas obras do ILCT, recursos provenientes dos governos federal e estadual. Em sequência ao Plano Diretor, terá início em 2011, com os recursos da segunda etapa do PAC, outra grande obra: a transformação do antigo prédio de dormitórios em Centro de Treinamentos. “A ideia é termos instalações adequadas para realização de cursos rápidos destinados a produtores de queijos do Brasil e até de outros países. Essa obra já foi licitada e receberá investimento de R$ 2,1 milhões”, afirma o presidente da EPAMIG, Baldonedo Napoleão. Outros resultados de 2010 Destaque para: Lançamento do Livro EPAMIG e a Pesquisa Agropecuária em Minas Gerais: UMA HISTÓRIA DE CONQUISTAS - DEZ 2010; foram entregues através de Programas Estruturadores do Estado de Minas Gerais 1.033.260 quilos de sementes e beneficiados com essas sementes aproximadamente 700 municípios em Minas; depósito da patente: “Bebida láctea acidificada” à base de soro de leite e leite, aromatizada, enriquecida com luteína; processo de fabricação e uso. Obras Dentre as principais obras realizadas nos anos 2003-2010 o diretor de Administração e Finanças, Luiz Carlos Gomes Guerra, destaca: Conclusão do Laboratório de Geoprocessamento na Fazenda Experimental de Lavas/EPAMIG Sul de Minas; construção do laboratório de biotecnologia na Fazenda Experimental do Gorutuba/EPAMIG Norte de Minas; reforma do bloco da fábrica-escola e construção de Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do ILCT; construção de galpões nas Fazendas Experimentais de Leopoldina e Vale do Piranga/EPAMIG Zona da Mata; construção de laboratório de micropropagação - 2º piso, Fazenda Experimental do Gorutuba/EPAMIG Norte de Minas; reforma da casa oficial da Fazenda Experimental de Felixlândia/ EPAMIG Centro-Oeste; construção de Centro de Treinamento e Difusão de Tecnologia da Fazenda Experimental de Montes Claros/EPAMIG Norte de Minas; construção do minilaticínio e construção do anexo ao minilaticínio na Fazenda Experimental Risoleta Neves/EPAMIG Sul de Minas; reforma e ampliação dos laboratórios de solos e sementes na EPAMIG Zona da Mata, em Viçosa; dentre várias outras obras, como construção e/ou reforma de salas de difusão de tecnologia, vestiários e refeitórios para empregados em várias unidades da Empresa. Neste início de 2011 a EPAMIG já trabalha em grandes eventos, como a 14ª. Expocafé, em Três Pontas (Sul de Minas), nos dias 14 a 17 de junho; o 28º. Congresso Nacional de Laticínios, em Juiz de Fora, que este ano será realizado nos dias 11 a 14 de julho e a 5ª. Vitrine do Gado F1 Holandês de leite com o Zebu de carne, em Prudente de Morais (Centro-Oeste), no segundo semestre, dentre outros eventos. EPAMIG 2020 – Uma visão de futuro O acesso às tecnologias geradas pela EPAMIG é um direito de todos os produtores rurais e um dever da Empresa e do Estado. Na estrutura administrativa estadual, a EPAMIG é a instituição responsável pelo atendimento desse direito dos produtores e pelo cumprimento dessa obrigação governamental. E para que isso ocorra, é preciso que a Empresa tenha presença em todas as microrregiões de Minas Gerais. Essa presença se dá, principalmente, por meio das Fazendas Experimentais. Assim, para o ano 2020, a proposta é que: • A EPAMIG tenha 13 Unidades Regionais (hoje são cinco); • Cada Unidade Regional conte com, pelo menos, 27 pesquisadores, de acordo com a vocação agropecuária da região; • Todas as microrregiões do Estado tenham, pelo menos, uma Fazenda Experimental (o total passará de 28, hoje, para 51 em 2020); • A EPAMIG tenha 2.000 empregados, dentre eles, 350 pesquisadores (hoje são 1.032 funcionários e desses, 193 são pesquisadores); • A EPAMIG tenha orçamento de pessoal, custeio e investimento de R$200 milhões (hoje são R$80 milhões). “A EPAMIG mantém-se firme nesse propósito de crescimento, organizando-se para acompanhar os avanços que visam o êxito diante dos desafios de contribuir, por meio da pesquisa agropecuária, com a melhoria da qualidade de vida de toda a população de Minas Gerais”, conclui Baldonedo Napoleão. 33 Funcionais Probióticos Comer, nutrir e beneficiar A tendência mundial é agregar cada vez mais funcionalidade aos alimentos e os lácteos destacam-se como excelentes veículos para trazer benefícios complementares aos produtos. foto: divulgação Chr. Hansen Juçara Pivaro Quando se previa a alimentação no século XXI, imaginavase que algumas pílulas trariam nutrientes necessários ao organismo e produziriam saciedade. A humanidade pode não ter enveredado por esse caminho, mas os alimentos ganharam novas faces que vão além de nutrir, saciar a fome e dar prazer. Nunca se viu tantas teorias sobre as funções de alguns alimentos e, em muitos casos, os efeitos benéficos de certos ingredientes já foram comprovados pela ciência. Assim, podemos desfrutar de inúmeros produtos funcionais que trazem benefícios à saúde. A tendência atual na área de alimentos, inclusive, entre os lácteos é o desenvolvimento de produtos com alegação de funcionalidade. “O mercado exige da indústria produtos que, além de nutrir, contenham na sua formulação, compostos bioativos que possam carrear funções visando uma alimentação mais saudável, com benefícios para a saúde dos consumidores”, afirma Paulo Cesar Stringheta, Professor Titular. Coordenador do Laboratório de Corantes Naturais e Compostos Bioativos da UFV (Universidade Federal de Viçosa). O primeiro lácteo com alegação de funcional foi o Yakult, desenvolvido nos anos 30, no Japão. O médico sanitarista Minoru Shirota descobriu os Lactobacillus casei, denominado Shirota, que possuem alta capacidade de resistência à passagem pelos sucos digestivos e chegam vivos aos intestinos, onde se desenvolvem. 34 Pela ação de seus metabólitos, provocam a diminuição da população de bactérias nocivas na microbiota intestinal e estimulam o desenvolvimento das benéficas. A ação dos lactobacilos equilibra e melhora o desempenho intestinal, proporciona maior absorção de nutrientes, contribui para a eliminação de substâncias nocivas e diminui concentração de toxinas. Atualmente, o fabricante do Yakult produz também uma sobremesa láctea fermentada, a Sofyl, com os mesmos lactobacilos utilizados no seu produto pioneiro. Em 2001, a empresa introduziu em sua linha, o Yakult 40, desenvolvido para pessoas que têm ritmo de vida mais agitado, com mais estresse ou que tomam medicamentos e também para pessoas mais maduras, que acabam adquirindo uma microbiota intestinal mais desequilibrada com o passar dos anos. Outro pioneirismo em funcionais veio pela Parmalat, que trouxe para o mercado os leites adicionados de ômega 3. O desenvolvimento desses lácteos foi um dos fatores que levaram a ANVISA a criar, em 1999, a CTCAF – Comissão Técnico-Científica para Alimentos com Alegação de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde. Comprovação de eficiência Para que uma propriedade funcional seja utilizada em produto alimentício, há necessidade de aprovar a alegação pretendida na ANVISA. Para que a avaliação seja realizada, a empresa deve seguir as exigências das normas publicadas pela agência, mais especificamente, no que se refere à Avalia- ção de Risco do Produto e da Eficácia da alegação pretendida. O processo encaminhado, normalmente é avaliado pelo grupo técnico da própria ANVISA e, quando necessário, é encaminhado à CTCAF para apreciação. “Como um dos pesquisadores que contribuiu para o desenvolvimento de toda a legislação de funcionais no Brasil, acredito que nossa legislação seja uma das mais evoluídas e consistentes do mundo. Somos um dos pioneiros a normatizar as alegações de propriedades funcionais em alimentos. A legislação existe para proteger o consumidor de possíveis excessos nas alegações pretendidas, pois determinada propriedade tem que ser comprovada para evitar incentivo ao consumo de alimentos com funções que podem não existir”, justifica Stringheta. 35 Funcionais Probióticos A ANVISA trabalha com corpo técnico competente e preparado para analisar todos os processos encaminhados para o órgão, porém o número de técnicos ainda é reduzido, contribuindo muitas vezes, para retardar as decisões com prejuízo considerável ao planejamento da indústria. ingredientes oferecem suporte para desenvolvimento de novos produtos, como a Chr. Hansen que dispõe culturas de bactérias que combinam culturas de fermentação e culturas probióticas. “Nossa experiência em formulação possibilita criar o produto perfeito em sabor e textura e, ao mesmo tempo, garantir altas contagens de células de bactérias probióticas que, por sua vez, asseguram benefícios à saúde”, afirma Lucio Alberto Forti Antunes, gerente da divisão de laticínios da empresa. Para orientação dos consumidores, todos os produtos alimentícios com alegação de propriedade funcional aprovados pela ANVISA devem conter no rótulo a indicação da quantidade diária necessária a ser consumida para atingir o efeito funcional que consta na alegação. Já existem inúmeros produtos com alegação de propriedade funcionais aprovados e comercializados no Brasil. Entre eles, estão os probióticos, o creme vegetal com fitosterol e bebidas elaboradas a base de soja. O portal da ANVISA (www.anvisa.gov.br) possui uma página especial contendo a relação dos produtos aprovados com suas respectivas alegações e essas informações podem ser acessadas por qualquer cidadão. Novas propostas Stringheta acrescenta que: “a cada dia surgem novas propostas de produtos lácteos inovadores encaminhados pelas indústrias para aprovação, requerendo alguma alegação de propriedade funcional. Entre eles, podemos mencionar os probióticos com alegação relacionada ao sistema imune do organismo humano. São alegações novas, importantes para a saúde, porém de difícil comprovação frente às metodologias disponíveis hoje”. A Chr Hansen possui em seu portfólio algumas das cepas probióticas melhores documentadas disponíveis no mercado, como BB-12®, LA-5® e L. casei 431®. A Danone está entre as empresas que obteve aprovação da ANVISA para seu funcional ao lançar, em 2004, o Activia, desenvolvido a partir do isolamento de um microrganismo com propriedades probiótica, o bacilo Dan Regularis. Simultaneamente, foi desenvolvida uma matriz alimentar com características nutricionais adequadas à saúde do consumidor. Os benefícios do produto foram comprovados por dezenas de estudos clínicos publicados em revistas científicas. “A matriz base do produto é a mesma, desde o lançamento, mas a marca frequentemente traz inovações de sabor e possibilidades de novos momentos de consumo para o consumidor” acrescenta César Tavares, gerente de marketing da Danone. Também para a linha de funcionais, a Danone desenvolveu o Actimel, um leite fermentado com propriedades probióticas, oferecidas pelo Lactobacillus Casei Defensis, que atua no equilíbrio da microbiota intestinal. Suporte para inovar Para os fabricantes de produtos funcionais, as indústrias fornecedoras de 36 A empresa introduziu no mercado uma nova série de culturas Yoflex® e culturas probióticas nu-trish®, especialmente desenvolvidas para fabricantes de iogurtes bebíveis. As novas culturas garantem qualidade em suavidade, agradável sensação na boca, além da redução do tempo de fermentação do iogurte. Outro ponto favorável das culturas é a possível diminuição da adição de amido/espessantes, atualmente, utilizados na maioria dos iogurtes bebíveis, como um custo adicional aos fabricantes. Disponíveis em três diferentes perfis de sabores: mild, classic e twist, as novas culturas permitem atender às expectativas dos consumidores, através da elaboração de produtos com baixo teor de gordura, com uma lista de ingredientes reduzida e, ao mesmo tempo, produtos saborosos, suaves e com probióticos Bifiodobacterium BB-12®. Os produtos lácteos podem ser considerados ótimos veículos para fornecer propriedades probióticas aos consumidores. As principais razões para isso são a praticidade e conveniência que oferecem, possibilitando uma dosagem diária adequada. Além disso, os produtos lácteos apresentam alto valor nutritivo que, associados aos probióticos, agregam benefícios à saúde. Antunes ressalta: “também existe uma tendência em funcionais para o segmento de queijos. Hoje, esse conceito ainda é mais difundido em países da Europa, mas os consumidores e a as indústrias no Brasil já começam a mostrar interesse nesse tipo de produto, podendo ser uma grande oportunidade para nosso mercado”. Fibras O prebióticos também estão na lista de ingredientes que agregam benefícios funcionais aos produtos. Entre as empresas que trazem esses elementos ao mercado brasileiro está a Colloids Naturels Brasil, que disponibiliza a Equacia, um texturizante inovador, uma combinação de fibras solúveis prebióticas da goma acácia com fibras insolúveis do trigo, utilizado como substituto de gordura. A empresa oferece a linha Fibregum, goma acácia, produto em pó, total- mente natural, livre de modificações genéticas, químicas ou enzimáticas. Pode ser utilizada para enriquecer produtos com fibras uma vez que tem 95% de fibras prebióticas em base seca. A CNI possui ingredientes que ainda não pode comercializar no Brasil por ainda não ter aprovação da ANVISA. Por enquanto, fornece apenas para as indústrias farmacêuticas, que vendem para magistrais (farmácias de manipulação). Entre esses produtos estão: o Serenzo, ingrediente cítrico com características antiestresse, aliviando sintomas como a ansiedade, variação de humor, agressividade, problemas digestivos, insônia e vícios. Na área de laticínios, pode ser incorporado, por exemplo, a iogurtes uma vez que seu sabor á agradável devido à sua origem cítrica; Vinitrox, extrato de frutas ricas em polifenóis que oferecem dupla ação (antioxidante e vasodilatora) para aplicação em nutrição esportiva, que pode ser aplicado em uma bebida para consumo pré-treino para melhoria da perfor- mance do atleta; Resveravine, resveratrol natural padronizado com 20% de oligoestibenos, possui alto poder antioxidante, pode ser incorporado a qualquer tipo de produto lácteo; Cactinea, ingrediente original do fruto do cacto, contém propriedades diuréticas e antioxidantes, elimina o excesso de fluidos preservando os minerais, pode ser incorporado a uma bebida láctea matinal, por exemplo, para o alívio do inchaço e retenção de líquidos. As empresas de ingredientes estão prontas para ampliar sua atuação no mercado de funcionais e possibilitar que as indústrias de alimentos tragam inovação para seus consumidores. O Japão, Estados Unidos e Europa estão entre os mercados mais ricos em funcionais e a tendência de crescimento é mundial. No Brasil, os consumidores já estão atentos a esses produtos que prometem contribuir para a prevenção de doença e, à medida que as alegações dos produtos sejam comprovadas, é possível esperar muitas inovações nesse segmento nos próximos anos. SOLUÇÕES INTELIGENTES E EFICAZES PARA SUA EMPRESA. A NOSSA PARCERIA FAZ A DIFERENÇA. GenkorLac é uma linha de ingredientes composta por sistemas estabilizantes, espessantes, corantes naturais, agentes de corpo e sais fundentes para produtos lácteos como: creme de leite e bebida UHT, petit suisse, iogurte, requeijão, sobremesas diversas, bebida fermentada, entre outros. A Genkor desenvolve ainda projetos especiais e personalizados. (19) 3246-3186 | www.genkor.com.br 37 Tecnologia Especialidade italiana no Brasil Simone Pegorini, diretor da fábrica “Fior di Latte” Dois especialistas italianos em tecnologia para produção de queijos, os irmãos Tito e Simone Pegorini, estiveram no Brasil, durante a Expomaq 2010, a convite da Fermentech, e iniciaram contatos com empresas brasileiras, abrindo possibilidade para trazer um pouco de conhecimento e tecnologia italiana para o mercado nacional. Com uma cultura de mais de dois mil anos na produção de queijos, os italianos estão entre os maiores especialistas mundiais em laticínios, tendo seus queijos reconhecidos e prestigiados por gourmets. Nesta entrevista, Tito Pegorini e Simone Pegorini, que participam do programa de desenvolvimento de tecnologias para a produção de queijos, pela empresa da família, a Food. com, falam dos motivos que diferenciam os queijos italianos e da importância da identidade própria para promover os queijos. Os especialistas analisam também a produção brasileira e sugerem como deve ser a implementação de tecnologias para tornar a produção mais uniforme e com maior qualidade. Como nasceu seu interesse no mercado de queijo? Irmãos Pegorini - Nosso interesse nesse assunto veio de nossa mãe que, durante toda sua carreira profissional, trabalhou como técnica na associação de produtores de leite e no desenvolvimento de ordenha mecanizada. Simone Pegorini participa do programa de desenvolvimento na fábrica “Fior de Latte” 38 Como descobriram a vocação? Poderiam nos contar um pouco sobre sua experiência profissional? Irmãos Pegorini - A vocação nasceu, durante o período na escola, graças à paixão e habilidades de alguns de nossos professores pelo queijo italiano, além também dos primeiros anos de trabalho com produção de queijo com alguns dos melhores técnicos italianos. É um tipo de transferência de informação e experiência que têm raízes históricas e culturais que são difíceis de achar em outros lugares do mundo. Quando e como apareceu a oportunidade de fazer essa integração com o mercado brasileiro? Irmãos Pegorini - A integração ocorreu por conta dos brasileiros – um de nossos grandes amigos, o italiano Vincenzo Bozzetti, juntamente com um grande amigo de Nanci H. Ohata Santana, diretora executiva da Fermentech, organizaram um evento na Itália com um grupo de técnicos e funcionários de laticínios brasileiros. Trabalhamos juntos visitando alguns produtores italianos e, a partir daí, nasceu uma aproximação muito interessante. Quando esteve no Brasil e conheceu um pouco dos queijos nacionais, qual foi sua impressão sobre a esses produtos? Irmãos Pegorini - No Brasil, há uma situação mista, há produtos excelen- A tecnologia antiga e empírica agora tem respostas científicas e a indústria de laticínios é capaz de organizar produção e quantidade, sempre com alta qualidade. tes e de alta qualidade, produtos de média qualidade e outros que necessitam aprimoramento. Em relação às tecnologias de produção, quais são as principais diferenças entre a produção de laticínios na Itália e no Brasil? Irmãos Pegorini - A principal di- ferença é cultural. Na Itália, a produção de queijos existe há aproximadamente dois mil anos. Muitos produtos locais são resultado de padrões históricos, hábitos, condições climáticas. Algumas tecnologias são frutos de erros relacionados a tradições, como o Gorgonzola. A tecnologia antiga e empírica agora tem respostas científicas e a indústria de laticínios é capaz de organizar produção e quantidade, sempre com alta qualidade. Este é o que, hoje, tornou-se um sistema de trabalho que chamamos de “Método Pegorini” e significa que você pode processar o leite com a estratégia correta ao combinar o conhecimento tecnológico e os objetivos industriais. Nossa filosofia requer que tenhamos um método de trabalho com muitos controles. Nosso “Método Pegorini” supõe ter o domínio de todo o processo, todas as atividades envolvidas na fermentação e produção de enzimas, com a responsabilidade de determinar o resultado final. 39 Tecnologia Da esquerda para direita: Simone Pegorini; Múcio Furtado, da Danisco; Nanci H. Ohata Santana, da Fermentech e Tito Pegorini. • Selos, seladoras e envasadoras sistemas automáticos, semi-automáticos e manuais para o envase de produtos alimentícios em embalagens plásticas rígidas e aplicação de selos para fechamento • Aplicadores de tampa, rosqueadores, esteiras, mesas acumuladoras, misturadores e alimentadores DELGO METALÚRGICA LTDA Tel/Fax: 11 4612-0011 e-mail: [email protected] www.delgo.com.br 40 No Brasil, há muitos produtos que plementações in loco. Esses quesitos não utilizam uma tecnologia nativa não são teóricos, mas sim práticos; (autóctone), muita informação veio provavelmente nosso método não de fora, no último século, e não pro- irá produzir livros, mas certamente duziu um irá produzir resultado queijos. É uniforme. n e c e s s á r i o É importante ter Muitos contrabalhar uma identidade própria. ceitos estão em coopedefasados ração, unir ou são apeexperiênnas teóricos, faltando muitos “tru- cias, conhecer a qualidade do leite ques” que trazem uma riqueza de de cada fazenda produtora, é necesexperiência. sário aplicar um sistema contínuo e É possível implementar essas tec- repetitivo. nologias no Brasil? Quais seriam as recomendações? Irmãos Pegorini - Sim, é possível. Mas é necessário trabalhar essas im- Quais são os principais tipos de queijo e os mais consumidos na Itália ? Irmãos Pegorini - Na Itália, há os ti- pos genéricos de queijo como o Mussarela, Itálico, Caciotta, etc. e uma produção histórica de queijos relacionados com áreas geográficas específicas e as culturas de cada área. Os principais tipos de queijo são Grana Padano (158 mil ton. = 35%), Parmiggiano Reggiani (113 mil ton. = 30%), Gorgonzola (47 mil ton. = 12%), Mussarela de Búfala (33 mil ton. = 9%), Pecorino Romano (26 mil ton. = 7%), Taleggio (8 mil ton.), Provolone (8 mil ton.), Quartirolo, entre outros. O mercado brasileiro é conhecido por consumir produtos mais frescos. Quais queijos italianos entram nessa categoria? Irmãos Pegorini - Os queijos frescos italianos são muito interessantes, por exemplo, Taleggio, Crescenza, Robiola, Asiago, Quartirolo, Toma, que têm alta lucratividade. A Mussarela fresca em bola é o produto que terá o maior crescimento, temos que trabalhar em qualidade e logística, os produtos brasileiros nesse segmento devem crescer. o mesmo ocorre para mussarela. O Minas Frescal é mais brasileiro, é necessário promover o queijo por suas qualidades e razões históricas. Que tipo de trabalho técnico desenvolvem na Itália ou em outros países? Irmãos Pegorini - Nosso trabalho na Itália é imensamente apreciado, os Irmãos Pegorini têm uma experiência que vem de longe e que cresceu dentro das fazendas em contato muito próximo com a produção. Este é o requisito das fazendas hoje em Os queijos italianos são famodia: serem assistidas por aquesos e conhecidos em todo o les que têm conhecimento esmundo. Quais são as particuÉ necessário trabalhar em pecífico e que podem trazer laridades desses produtos e o segurança aos trabalhadores do cooperação, unir experiências, que os faz tão especiais? Qual local, buscando um resultado, é o mais típico dos queijos? conhecer a qualidade do leite de cada desenvolvendo um projeto junIrmãos Pegorini - Os queijos fazenda produtora, é necessário aplicar tos. Hoje, é importante ter as italianos são típicos porque estão um sistema contínuo e repetitivo. informações corretas sobre insligados ao território, esta é a ratalações, ter os equipamentos zão de seu sucesso internacional; corretos para suas necessidades, há mais de um tipo de queijo as mudanças apropriadas para metípico e cada região tem seu melhor O que é necessário para o Brasil lhorar serviços e processos, além de queijo, por exemplo, Grana Padano, ampliar sua participação no mercasugerir os melhores investimentos. no Norte; Mussarela de Búfala, em do internacional? Campânia, no Sul; Teleggio, na Lom- Irmãos Pegorini - É necessário ter Um exemplo concreto está no atubardia; Pecorino Romano, na Itália uma identidade própria; se um queijo al desenvolvimento de um projeto Central e Sardenha, etc. Cada um des- chama-se Gorgonzola, um mercado no Brasil para construir, juntamente ses queijos tem sua própria historia. potencial de referência é o italiano; com a Trevi Indústria Mecânica, uma 41 Tecnologia inovadora filatriz (filatrice) para mussarela, um grande projeto que tornará a tecnologia italiana disponível no Brasil para os laticínios do futuro. Com isso, haverá maior assistência técnica para servir às necessidades de cada processo diferente. Quais outros países você visitaram profissionalmente e como analisa o trabalho desses países no setor de queijos? Irmãos Pegorini - Não conhecemos ainda a América do Sul e acreditamos que haja grandes diferenças entre os países latinos e os outros. É uma importante evolução no uso de culturas selecionadas. Para aumentar a demanda, será necessário selecionar as culturas e uma tendência do mercado no futuro será customizar o mix de culturas e criar individuais l i soluções l õ i di d id i para alcançar os objetivos específicos. Este é o desafio que, juntamente com a Fermentech, queremos vencer. O que você recomenda para o produtor brasileiro de queijo, em temos de desenvolvimento de produtos e métodos de produção? Irmãos Pegorini - Sugiro que o produtor brasileiro trabalhe em colaboração com especialistas que possam visitar regularmente a produção. Eu proponho desenvolver uma cultura queijeira que não esteja escrita em livros. É necessário investir em treinamento de pessoal juntamente com tecnologia em equipamentos. Ressalto que a questão é ter o domínio da tecnologia porque essa é a base para o desenvolvimento de produtos. Trajetória profissional dos especialistas Tito e Simone Pegorini já tinham o DNA familiar ligado à produção de queijos e o aprimoramento em boas escolas, além de experiência em empresas do segmento tornaram os irmãos especialistas de destaque na produção de queijos. Tito iniciou seus estudos, em 1984, na mais importante escola do laticínios da Itália, localizada em Pandino, próximo de Cremona. Já formado, trabalhou cerca de 12 anos em diversas funções relacionadas à produção de queijos típicos italianos. Atuou em diferentes cooperativas especializadas na produção dos queijos: Grana Padano, Provolone Picante, Provolone Suave, Ricota, Mussarela, Taleggio, Pasta Filata, Provolone Val Padana, Mussarela, Mascarpone, Ricota e Crescenza. Atuou também em indústria de laticínios, que produzia Grana Padano e Parmigiano Reggiano. Na Henkel Group, trabalhou na divisão de enzimas e leveduras, durante 10 anos, como assistente técnico para o mercado italiano e, nessa fase, sua experiência foi reforçada com o conhecimento técnico, comercial e conhecimento das operações em fábrica. Por sua vez, Simone Pegorini, também iniciou sua formação na escola de Padino e trabalhou com produção de queijos frescos, por seis anos. Atuou também no Gist Brocades Group, atual DSM, sob a chefia de Vincenzo Bozzetti. Passou também pela Rhone Poulenc, atual Danisco e, em 2003, fundou sua própria consultoria, a Food.com Tito Pegorini juntou-se a Simone na sociedade na Food.com e, atualmente, participam do programa de desenvolvimento de tecnologias para produção de queijos típicos italianos, tais como Grana, Provolone, Gorgonzola, Mussarela, Mussarela de Búfala, Bolas de Mussarela, Ricota, Taleggio, Asiago, Crescentina e todos os tipos de queijo de cabra e ovelha. 42 Divulgação Formare Oportunidade de aprendizado a jovens e desenvolvimento social Rita Ramos Há 22 anos, o projeto Formare, idealizado pelas empresas Iochpe-Maxion, uma das maiores fabricantes de rodas e chassis para veículos comerciais e vagões de carga do Brasil, formava a sua primeira turma. A iniciativa visava dar uma oportunidade de formação profissional a jovens com idades entre 16 e 18 anos, provenientes de comunida- des de baixa renda, e se propunha a ser uma opção de aprendizado ao adolescente que desejava ingressar no mercado de trabalho, tendo como ambiente de estudo, a própria empresa e seus profissionais como professores. Hoje, o programa acumula sucessos, já tendo beneficiado mais de 6,5 mil pessoas em todo o país. Os cursos são ministrados em um ambiente com equipamentos modernos, iguais aos utilizados pelas indústrias, de acordo com as atividades e o programa de aulas. Além da oportunidade de aprendizado, o jovem ainda 43 Divulgação ação recebe bolsa alimentação, vale transporte, assistência médica e seguro de vida. A qualificação e experiência dos profissionais envolvidos na formação dos alunos, desde o domínio dos temas tratados até a utilização do maquinário, também são quesitos fundamentais para que o jovem possa concluir o programa com as aptidões necessárias para serem contratados. De acordo com Beth Callia, coordenadora do Formare, a orientação pedagógica baseia-se nas recomendações do Ministério da Educação - MEC, que prevê o desenvolvimento de competências e habilidades obtidas a partir da associação entre teoria e prática. As aulas acontecem nas próprias instalações da empresa e têm duração de um ano. Ao final, os jovens recebem o certificado de conclusão de curso aprovado pelo MEC. “Além de beneficiar a comunidade e contribuir para o desenvolvimento social, a empresa que se torna parceira melhora seu clima organizacional, ao incentivar a atividade voluntária entre seus colaboradores que, após passarem por processo de capacitação, atuam como educadores voluntários em sala de aula”, explica Beth. Atualmente, cerca de 60 empresas de todos os setores fazem parte do projeto, num total de 90 centros de formação, em 12 cidades brasileiras, além de uma escola na Argentina. A previsão é que em 2010, recebam seus certificados, mais de 1,6 mil jovens, com participação de cerca de cinco mil colaboradores voluntários e a cada ano, segundo a coordenação do projeto, cresce o número de pessoas interessadas em atuar no projeto como professores. Ela explica que muitos dos voluntários voltam a frequentas as universidades apenas para poderem proporcionar um nível de formação melhor aos alunos do projeto. Outros, passam a se destacar em posições de liderança na empresa, desenvolvendo potencialidades antes desconhecidas, tudo graças aos centros de formação. divisão de alimentos da PepsiCo no Brasil, Otto Von Sothen, o Formare se enquadra na estratégia de crescimento sustentável da empresa, que tem como visão de negócios o investimento em um futuro mais saudável para as pessoas e o planeta. “Um dos pilares desta visão é o compromisso de deixar um impacto positivo nas comunidades em que atuamos”, acrescenta. Para ele, a Escola Formare PepsiCo é um bom exemplo destas ações. “A experiência está sendo bem sucedida não apenas por causa do benefício oferecido aos jovens participantes, que residem na região de Itaquera, em São Paulo, mas também pela grande sensibilização voluntária que está acontecendo entre os funcionários. Eles acabam compartilhando a filosofia da empresa e querem participar ativamente deste movimento”, diz. As escolas do projeto Formare ganham destaque, principalmente, quando consideramos sua atuação na estrutura macroeconômica de um país como o Brasil, onde cerca de metade dos desempregados têm entre 15 e 24 anos, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada no segundo semestre deste ano. De acordo com os dados, a questão principal que cerceia o emprego entre os jovens é a baixa escolaridade e a falta de formação profissional. Segundo Beth, em média, 80% dos alunos do Formare conseguem ingressar no mercado de trabalho logo após a conclusão do curso, o que é um dado importante para o sucesso do programa. Se, por um lado, o jovem passa a ver a empresa como um ambiente de aprendizagem. Por outro, ela exercita a sua responsabilidade social em seu próprio espaço ao mobilizar funcionários, parceiros e organizações da sociedade civil em prol da educação de jovens provenientes de famílias de baixa renda. O resultado é que a empresa os qualifica para o primeiro emprego e melhora significativamente seu clima organizacional. O material de apoio pedagógico é desenvolvido de acordo com as aulas que serão oferecidas. Na PepsiCo, por exemplo, o curso é assistente de operações da indústria alimentícia. A compania, que é dona de marcas como Toddynho, Gatorade e Pepsi, é a primeira do setor a fazer parte do projeto. Segundo o presidente da 44 O Projeto Formare pode ser implantado em qualquer empresa interessada, seja ela de médio ou grande porte. A única exigência é a necessidade de um número mínimo de funcionários que atuarão como educadores voluntários no processo. Como o curso é desenvolvido junto a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, conforme o campo de trabalho da organização, todos podem fazer parte, inclusive a indústria de laticínios e alimentos em geral. Para conhecer mais: www.formare. org.br 45 Legislação ççã ão Ana Lídia Zanele Rodrigues especialista em legislação de alimentos, da Allegis Consultoria Edição atualizada Livro traz legislação completa para produtos lácteos A nova edição do livro Nova Legislação Comentada de Produtos Lácteos, que será lançada pela Setembro Editora, que também publica há 15 anos a revista iL – Indústria de Laticínios, chega atualizada, incluindo todas as regulamentações dos últimos anos para o setor de laticínios. O novo livro traz as mudanças que ocorreram desde sua primeira edição em 2002. Na época, a publicação foi um marco por reunir legislação de todos os segmentos de produtos lácteos, facilitando a consulta para profissionais que atuam em universidades e empresas do setor de laticínios. A edição de 2011 inclui as últimas inserções que regulamentam a área, trazendo também comentários de profissionais e pesquisadores que contribuem para o esclarecimento de vários pontos da legislação para o leitor. Para comentar os itens incorporados ou modificados na atual regulamentação do setor, a Editora Setembro contou com a colaboração de pesquisadores e especialistas do Tecnolat/Ital de São Paulo. A responsável pela revisão técnica e também comentarista da nova edição, junto com a equipe de pesquisadores do Tecnolat/Ital, a engenheira de alimentos Ana Lidia C. Zanele Rodrigues, diretora da Allegis - Consultoria em Assuntos Regulatórios, fala sobre as últimas atualizações na legislação para o setor e de alguns pontos que ainda devem passar por mudanças e melhorias. RIL - Quais as mudanças mais recentes na legislação para produtos lácteos? Quais os produtos tiveram suas normas de fabricação modificadas? Ana Lidia C. Zanele Rodrigues - Desde a última revisão do livro “Nova legislação Comentado de Produtos Lácteos”, editada em 2002, até esta revisão, em 2010 foram várias as mudanças na Legislação Brasileira tanto no âmbito de regulamento técnico de produtos quanto no de regulamento técnico de rotulagem para produtos lácteos. Foram publicados novos regulamentos técnicos de produtos, tais como: Leite Aromatizado (Instrução Normativa nº 26/07); Leite em pó modificado (Instrução Normativa nº 27/07); Composto Lácteo (Instrução Normativa nº 28/07) e queijo Azul (Instrução Normativa nº 45/07). Também passaram por revisão ou complementação os regulamentos técnicos de produtos já existentes: Bebida Láctea (Instrução Normativa nº 16/05) e Leite Fermentado (Instrução Normativa nº 46/07). 46 47 Legislação ççã ão Em termos de legislação geral de rotulagem não houve nenhuma nova publicação, apenas a revisão e complementação dos regulamentos técnicos exigentes - Rotulagem de alimentos embalados – MAPA (Instrução Normativa nº 22/05); Rotulagem nutricional obrigatória (Resolução RDC nº 360/03 e Resolução RDC nº 163/06); Porções de alimentos e bebidas embalados (Resolução RDC nº 359/03 e Resolução RDC nº 163/06); Promoção comercial de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância (Lei 11.265/06 e Lei 11.474/07). RIL - Existem pontos que considera pouco claros ou não eficientes nas recentes mudanças? Ana Lidia C. Zanele Rodrigues - É muito difícil construir uma legislação que seja completamente clara em todo o seu conteúdo e que não possibilite diferentes interpretações. Um ponto que foi muito polêmico, que gerou muitas discussões e as mais diversas interpretações foi um dos itens da Instrução Normativa nº 22/05 sobre rotulagem geral, que dizia: “Denominação de venda do produto de origem animal: o nome do produto de origem animal deve ser indicado no painel principal do rótulo em caracteres destacados, uniformes em corpo e cor, sem intercalações de desenhos e outros dizeres. O tamanho da letra utilizado deve ser proporcional ao tamanho utilizado para a indicação da marca comercial ou logotipo caso existam;” O que são caracteres destacados e tamanho de letra proporcional à marca? Enfim, depois de alguns anos de discussão o MAPA divulgou no Ofício Circular nº 31/2009/DIPOA/DAS a padronização para este item, que passou a dizer: “Fica estabelecido que a denominação de venda não deverá ser inferior a 1/3 da maior inscrição do rótulo, incluindo-se a marca.” RIL - O que poderia ser mudado na legislação para produtos lácteos e que ainda não foi contemplado pela legislação? Ana Lidia C. Zanele Rodrigues - O processo evolutivo do marco regulatório nas questões de regulamento técnico, rotulagem e registro de produtos lácteos não devem parar por aí, têm-se ainda grandes oportunidade de melhoria, entre elas, os regulamentos técnicos de produtos lácteos definem muitos parâmetros; sejam eles tecnológicos, físico-químicos, de ingredientes, dentre outros, para garantir a identidade do produto. Adicionalmente, os processos de atualização da legislação são morosos e burocráticos, portanto, em algumas situações a legislação sanitária de produtos lácteos restringe os negócios, pois dificulta o lançamento de novos produtos, cujas tecnologias não estão contempladas na legislação. Em 4 de setembro de 2009, presenciamos mais um passo importante no processo evolutivo dos registros de produtos lácteos com a publicação do Ofício Circular DIPOA 6 nº 48 23/2009, complementado pelo Ofício fíí Circular nº 031/09/ DIPOA/SDA. Esses ofícios trazem a continuidade do processo de descentralização da análise de registro de rótulo para os SIPAG’s e FFA’s, registro on-line e padronização dos procedimentos de registros. Porém, ainda pode evoluir, desde uma maior simplificação dos processos de registros - registro de fórmula e não mais registro de rótulo - até a dispensa da obrigatoriedade de registro desses produtos. RIL - Se comparada com legislação de outros países desenvolvidos, a legislação brasileira é mais ou menos exigente? Ana Lidia C. Zanele Rodrigues - Em geral, as legislações sanitárias nacionais são elaboradas ou revisadas com base em legislações internacionais de referência, tais como Codex Alimentarius, UE e FDA. No entanto, antes mesmo da comparação com a legislação de outros países, vale ressaltar que aqui mesmo no Brasil temos diferenças de rigor nas legislações da ANVISA e do MAPA. Para elucidar algumas dessas diferenças podemos citar os dois órgãos possuem legislações sobre rotulagem geral, porém na legislação do MAPA, temos exigências adicionais do tipo: contém gordura e é obrigatória a declaração da data de fabricação. RIL - De modo geral, como vê a atual legislação de produtos lácteos? Ana Lidia C. Zanele Rodrigues - Alguns dos objetivos de se ter legislações são: proteção à saúde do consumidor; assegurar práticas comerciais justas através da padronização de critérios e procedimentos; minimizar práticas abusivas e informações enganosas ao consumidor e implementar políticas de saúde pública. Com base nestes objetivos e no direito do consumidor à informação em relação aos produtos lácteos que ele adquire e consome, a legislação brasileira está adequada, porém sempre se há grandes oportunidades de melhoria. Os regulamentos técnicos de produtos lácteos do MAPA definem muitos parâmetros; sejam eles tecnológicos, físico-químicos, de ingredientes, dentre outros para garantir a identidade do produto. Porém, em algumas situações, esse modelo de legislação restringe os negócios, pois dificulta o lançamento de novos produtos, cujas tecnologias não estão contempladas na legislação. Já nos regulamentos técnicos da ANVISA o objetivo é garantir a identidade do produto através de definições claras e parâmetros necessários para garantir a qualidade e segurança alimentar do produto. Ou seja, não é o objetivo deste órgão sanitário publicar legislações para controlar parâmetros comerciais de produtos, sendo assim, a legislação se torna mais flexível para as novas tecnologias e para novos produtos. Para fazer pedido do livro, acesse o site www.revistalaticinios. com.br ou ligue para a Setembro Editora - 011 3739 4385 / 2307 5561. Adquira o livro Nova Legislação Fique por dentro de toda a legislação de produtos lácteos. Edição revisada, ampliada e comentada por diversos especialistas e coordenada pela equipe técnica do Tecnolat/Ital e da Allegis Consultoria. Pedido do livro - R$ 120,00 Forma de pagamento: Pedidos diretamente no site www.revistalaticinios.com.br ou depósito bancário Bradesco, agência 2403-1 Portal do Morumbi, c/c 22.584-3 – Setembro Editora (Ana Carolina Senna de Souza-ME) Conheça e adquira nossos outros livros no site www.revistalaticinios.com.br 49 50 Empresas & Negócios Tirolez lança Creme de Ricota Light Menos 27% calorias Cada vez mais o mercado investe em produtos mais saudáveis. Em vista disso, a Tirolez expande sua linha de queijos light, lançando o Creme de Ricota Light, produto à base de soro de leite, leite desnatado, creme de leite e sal. Mesmo com a redução de gorduras, o produto permanece saboroso, exatamente, como a versão tradicional da Tirolez. Seu sabor lácteo, fresco, puro e sua textura cremosa faz de mais desse produto light, um prazer para o café da manhã ou lanche da tarde. VALOR ENERGÉTICO – 38 Kcal/ 30g – menos 27% calorias que o produto tradicional. A marca Tirolez oferece mais de 50 tipos de queijos que estão divididos em Light, Frescos, Defumados, Especiais, Fatiados e Institucionais, além de Fondue e Requeijões. Podem ser encontrados nas grandes redes supermercadistas e nas melhores lojas de laticínios. Outras informações pelo SAC: 0800 552035 ou pelo site www.tirolez.com.br. Prevenção de doenças é foco de pesquisa Eureka, a mostra anual dos trabalhos de conclusão de curso dos alunos do Instituto Mauá de Tecnologia, que aconteceu em outubro, apresentou projetos desenvolvidos pelos formandos em diversas áreas. Entre os projetos apresentados na área de alimentos está um funcional que contribui na prevenção de doenças neurodegenerativas e no equilíbrio da microbiota intestinal. A ingestão diária do produto atua também como prevenção de doenças como Mal de Parkinson e Alzheimer. A Bebida Láctea Funcional contém bactérias probióticas viáveis, vitaminas, minerais e Omega 3. As alunas do curso de Engenharia de Alimentos, Cinthya Bueno Caretta, Erika de Andrade Parreti, Fabiana Marotti Togneri e Larissa Gonçalez Redigolo desenvolveram a bebida com foco nos consumidores da terceira idade por verificarem ausência de produtos destinados a esse público no mercado. As vitaminas A e E, do complexo B (riboflavina, piridoxina, colina), vitamina D, inositol, cálcio e ômega 3 contribuem para prevenir doenças neurodegenerativas e estão presentes na composição da bebida. As vitaminas A e E têm função antioxidante, atuam sobre os radicais livres e na proteção das estruturas celulares e teciduais, podendo auxiliar no retardamento de doenças como o Mal de Parkinson e de Alzheimer. Já o cálcio e a vitamina D auxiliam na prevenção de osteoporose. O ômega 3, por sua vez, atua na redução da gordura total no sangue, diminuindo o LDL-colesterol (mal colesterol) e aumentando o HDL-colesterol (bom colesterol). As vitaminas do complexo B e o inositol são importantes para o funcionamento normal do sistema nervoso e sua carência pode estar relacionada com algumas doenças mentais. Para que o produto atue como funcional, traga os benefícios probióticos e auxilie a prevenir doenças degenerativas, o con- sumidor deve ingerir diariamente uma porção de 200 ml da bebida, que contém parte da Ingestão Diária Recomendada (IDR) das substâncias indicadas. Os alunos consideram importante ressaltar que são essenciais a prática de exercícios físicos e uma boa alimentação para atingir o objetivo desejado. Diversas empresas contribuíram para o desenvolvimento do projeto, fornecendo amostras das substâncias e soro de leite, uma das principais matérias-primas da bebida e, durante a apresentação do projeto, no evento Eureka, uma empresa que desenvolve alimentos funcionais demonstrou interesse pelo produto, porém na forma sem refrigeração, o que é impossível por se tratar de uma bebida a base de leite fermentado adicionado de microrganismos vivos e isento de conservantes. Eliana Paula Ribeiro, professora do curso de Engenharia de Alimentos e orientadora do trabalho explica que: “além do tempo dos orientadores, a escola fornece suporte técnico, econômico, equipamento e material para os desenvolvimentos”. No caso da Bebida Láctea Funcional criada pelas alunas, não foram realizados testes para comprovar as alegações do produto e, segundo Eliana, esse trabalho precisaria ser realizado junto com uma faculdade de medicina. “Alguns trabalhos dos alunos já despertaram interesse de empresas, mas ainda não houve nenhum caso de transferência tecnológica e nosso foco é a formação de recursos humanos, de nossos engenheiros”, ressalta a orientadora. Além da Bebida Láctea Funcional, no Eureka, foram apresentados mais 11 trabalhos da área de engenharia de alimentos, alguns deles valorizando ingredientes brasileiros, como açaí e polpa de coco verde. 51 Produtos & Serviços Chr. Hansen lança geração de inovadoras culturas para iogurtes bebíveis Após dois anos de pesquisa e desenvolvimento, a Chr. Hansen apresenta a primeira linha exclusiva de culturas para iogurtes bebíveis, também na versão probiótica. A Chr. Hansen introduz no mercado uma nova série de culturas Yoflex® e culturas probióticas nutrish®, especialmente desenvolvidas para os fabricantes de iogurtes bebíveis – uma das categorias que mais cresce no mercado lácteo. De acordo com o site www.dairyfoods.com, as vendas globais superaram 7.2 bilhões de litros em 2008 e a expectativa é que essa tendência cresça ainda mais. Entendendo a direção para inovar Sólido conhecimento na seleção e caracterização de bactérias ácidas lácticas e concepção de culturas únicas, combinado com uma consistente estrutura de desenvolvimento global, foram fatores essenciais para a introdução da primeira linha de culturas específicas para a produção de iogurtes bebíveis. Com as novas culturas é possível garantir excelente qualidade em termos de suavidade e uma agradável sensação na boca, além da redução do tempo de fermentação do iogurte. Outro ponto favorável é a possível diminuição da adição de amido/espessantes, os quais são atualmente usados na maioria dos iogurtes bebíveis, como um custo adicional aos fabricantes. O primeiro passo foi construir uma base de conhecimento fundamentado em amostragem de grandes quantidades de iogurtes bebíveis de todas as partes do mundo. Isso nos permitiu estabelecer parâmetros específicos para trabalhar em toda a cadeia de desenvolvimento. Disponíveis em três diferentes perfis de sabores – Mild, Classic e Twist -, as novas culturas permite aos fabricantes lácteos atender as expectativas dos consumidores, através da elaboração de produtos com baixo teor de gordura, com uma lista de ingredientes reduzida e ao mesmo tempo, produtos saborosos, suaves e com probióticos Bifiodobacterium BB-12® que trazem benefícios à saúde. Em sintonia com a predominante tendência de saúde “Iogurtes bebíveis são ótimos veículos para fornecer probióticos aos consumidores, pois eles podem ser oferecidos em uma dosagem diária adequada de forma conveniente. Consumidores querem os benefícios à saúde proporcionados pela cultura probiótica BB-12®, mas isso pode ser oferecido em combinação com um ótimo sabor e textura, e é exatamente o que as novas culturas garantem”, declara Sarita Bairoliya – Gerente Global de Marketing, Divisão de Probióticos. De acordo com Mintel – Agência de Inteligência de Mercado Global, as principais tendências dos iogurtes bebíveis são as relacionadas à saúde (baixo teor de gordura, baixo teor de açúcar), benefícios funcionais (efeitos saudáveis, além da nutrição), produtos elaborados com ingredientes naturais e fortificantes (com vitaminas e minerais). As novas culturas garantem aos produtores lácteos a fabricação de produtos com baixo teor de gordura e açúcar, e ao mesmo tempo, oferecem excelente sabor e textura. 52 Como resultado, as novas culturas apresentam propriedades robustas para suportar processos de produção rigorosos necessários para obter produtos homogeneos. “Com a nova linha, estamos introduzindo soluções premium para os produtores de iogurtes bebíveis. Pelo que sabemos, está é a primeira linha desenvolvida especificamente para esse propósito”, comenta Morten Boesen, Gerente de Marketing, Culturas para leites fermentados. Para mais informações, contate: Jéssica Braga, Comunicação: (19)3881-8338 – [email protected] Lúcio Antunes, Gerente Divisão Laticínios: (19)3881-8370 – [email protected] Sobre a Chr. Hansen A Chr. Hansen é uma empresa de biotecnologia que desenvolve soluções em ingredientes naturais para as indústrias de alimentos, nutrição, farmacêutica e agrícola. Todas as soluções são baseadas em sólida pesquisa, desenvolvimento e significativos investimentos em tecnologia. O faturamento global no ano fiscal de 2008/09 foi 511 milhões de euros. A empresa possui a liderança do mercado em todas as divisões: Culturas & Enzimas, Saúde & Nutrição e Corantes Naturais. Existem mais de 2.200 dedicados colaboradores em mais de 30 países. A Chr. Hansen foi fundada em 1874 e hoje, é uma empresa de capital aberto, listada na bolsa de valores de Copenhagen - NASDAQ OMX. Fortitech Nutrição Estratégica À medida que mais e mais consumidores adotam alimentos e bebidas funcionais fortificados para manter sua saúde e bem-estar, prevenir a ocorrência de condições de saúde específicas ou gerenciar tais condições de saúde, o crescimento dentro dessas categorias irá continuar num nível sem precedentes. Durante a Fisa 2010, a Fortitech (stand 355) mostrou aos fabricantes como atender a essa demanda através de parcerias com suas equipes de pesquisa e desenvolvimento de produtos para criar formulações específicas de nutrientes, customizadas para uso em seus próprios produtos, o que pode contribuir no fortalecimento do perfil de tais produtos. Todas as pré-misturas são certificadas com o selo de qualidade “Fortitech Quality Stantard Seal”. Informações sobre o selo de qualidade podem ser encontradas no site www. fortitech.com/quality. A Fortitech está posicionada como a única empresa global totalmente dedicada ao desenvolvimento e criação de pré-misturas de nutrientes customizadas – mais de 30 mil até o momento – para as indústrias de alimentos, bebidas e farmacêuticas. Sobre a Fortitech South America Fortitech South America é parte integrante da rede global de empresas fabricantes e distribuidoras da Fortitech Inc, a líder mundial no desenvolvimento de pré-misturas de nutrientes customizadas para as indústrias de alimentos, bebidas e farmacêuticas. Localizada na cidade de Campinas, Brasil, a empresa dedica-se exclusivamente a fabricação de pré-misturas de nutrientes. A Fortitech South America tem o certificado ISO 9001:2008, sob o rigoroso Programa de Monitoramento Allergen e atende aos padrões HACCP. Para mais informações, visite: www.fortitech.com Além de trabalhar com fabricantes de alimentos e bebidas no mundo todo, a Fortitech também age proativamente para diminuir significativamente o número de pessoas afetadas pela carência de micronutrientes, através de sua mais nova unidade de negócios, a World Initiative for Nutrition (WIN – Iniciativa Mundial para a Nutrição). Atualmente, a empresa já produz pré-misturas de vitaminas e minerais para fortificar alimentos de primeira necessidade para a Ásia e África. O foco da WIN é trabalhar com organizações não-governamentais, agências governamentais e internacionais cujo objetivo seja melhorar a nutrição da população. Com o apoio sob demanda das seis unidades produtoras internacionais da Fortitech, a WIN entrega soluções nutricionais que são praticas, eficazes e de qualidade garantida. A Fortitech também fornece à UNICEF e ao Programa Mundial de Alimentos pré-misturas de micronutrientes de alta qualidade para os alimentos enriquecidos com cereais fortificados distribuídos através de seus programas. Para maiores informações sobre o WIN, acesse www.fortitech.com/win. 53 Conjuntura Média de dezembro é a segunda maior para o mês desde 1994 RETIFICAÇÃO: O valor pago em dezembro foi o segundo maior para o período desde 1994, ficando abaixo apenas do registrado em 2007, e não em 2008, como informado anteriormente (primeiro parágrafo). Além disso, o preço em dezembro/07 foi de R$ 0,7910/litro, e não R$ 0,7845/litro (em termos reais). Em dezembro, o preço médio bruto pago pelo leite aos produtores foi de R$ 0,7207/litro, leve alta de 0,9% (0,6 centavo por litro) frente a novembro; em relação ao mesmo mês de 2009, houve aumento de 19,6%. O valor pago em dezembro foi o segundo maior para o período desde 1994, ficando abaixo apenas do registrado em 2007, quando chegou a R$ 0,7910/litro, em termos reais. Apesar da recuperação da produção de leite, o volume ofertado ainda não foi suficiente para desvalorizar o produto. O patamar de preços relativamente mais elevado neste período do ano é resultado de condições climáticas desfavoráveis (seca) em algumas regiões e do aumento dos custos de produção (concentrado) durante o segundo semestre, que limitaram um maior avanço da produção de leite nos últimos meses. Vale lembrar que, neste ano, de forma atípica, houve quedas de preços durante o período de entressafra. Além do clima e dos elevados custos no segundo semestre deste ano, o consumo interno aquecido ajudou a sustentar o mercado em 2010, tendo em vista a retomada da economia. Considerando-se a média dos 12 meses deste ano, constata-se que houve aumento de 0,59% em relação a 2009 – já descontada a inflação. Em termos nominais (ou seja, sem descontar-se a inflação), o acréscimo foi de 5,5%. Em novembro, o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-Leite), ponderado pelos estados de RS, PR, SP, MG, GO e BA, teve aumento de 2,7% frente ao de outubro. Houve queda na captação apenas no Rio Grande do Sul, devido à menor quantidade de pastagens. Nos demais estados pesquisados, houve aumento do índice entre outubro e novembro. No entanto, em comparação com o mesmo período de 2009, o ICAP-Leite/Cepea teve recuo de 3,3% – é importante ressaltar que, naquele período de 2009, as chuvas intensas no segundo semestre favoreceram o aumento da produção de leite. No correr de 2010, de janeiro a novembro, o índice de captação registrou aumento de 3,5% frente ao mesmo período de 2009. Para dezembro, espera-se novo aumento da oferta de leite com o aumento das chuvas. 54 Para o pagamento de janeiro (referente à produção entregue em dezembro), 53,9% dos compradores entrevistados (representantes de laticínios/cooperativas), que representam 53,3% do volume amostrado, acredita em estabilidade de preços. Para 28,1% das indústrias/cooperativas (responsáveis por 16,4% do volume de leite da amostra), deve haver novo aumento de preços e, para os 18% restantes (que representam 30,3% do volume amostrado), deve haver redução nos preços. O mercado spot (comercialização do leite cru/resfriado entre as indústrias/cooperativas) seguiu firme entre novembro e dezembro, o que pode sinalizar que os preços a serem pagos aos produtores em janeiro também permaneçam nos mesmos patamares. O mercado spot funciona como um “termômetro” para o setor. As variações ocorrem de forma mais intensa e antecipada nesse segmento em relação ao mercado ao produtor. Entre os derivados, o leite UHT permaneceu estável em meados de dezembro, enquanto o queijo muçarela perdeu um pouco de força devido ao aumento da oferta, segundo agentes consultados pelo Cepea. DEZEMBRO – O Sul do País continuou registrando as maiores altas de preços do leite em dezembro. Em Santa Catarina, o aumento foi de 4,22% (quase 3 centavos por litro) em relação a novembro, com média de R$ 0,7373/ litro (preço bruto). No Rio Grande do Sul, houve acréscimo de 3% (1,9 centavo por litro), com o litro passando para R$ 0,6513. No Paraná, a alta foi de 1,3% (quase 1 centavo por litro), com a média a R$ 0,7469/litro. Em Goiás, houve aumento de 1,1% (menos de 1 centavo por litro), com o litro a R$ 0,7366. O maior preço médio continuou sendo verificado em São Paulo, de R$ 0,7586/ litro, praticamente estável frente a novembro. Em Minas Gerais, os preços também se mantiveram praticamente estáveis, com leve recuo de 0,3%, com a média a R$ 0,7235/ litro. Na Bahia, a queda foi de 2,4% (1,6 centavo por litro), com média a R$ 0,6538/litro. Gráfico 1: ICAP-L/Cepea - Índice de Captação de Leite - NOVEMBRO/10. (Base 100=Junho/2004) Fonte: Cepea-Esalq/USP Tabela 1. Preços pagos pelos laticínios (brutos) e recebidos pelos produtores (líquidos) em DEZEMBRO/10 referentes ao leite entregue em NOVEMBRO/10 Fonte: Cepea-Esalq/USP 55 Conjuntura Médias estaduais das novas regiões – RJ e MS Fonte: Cepea-Esalq/USP Gráfico 2: Série de preços médios pagos ao produtor - deflacionada pelo IPCA (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA) Fonte: Cepea-Esalq/USP Outras informações podem ser obtidas no site do Cepea www.cepea.esalq.usp.br/leite ou com a pesquisadora Aline Barrozo Ferro e prof. Sergio De Zen, através do Laboratório de Informação: (19) 3429 8837 / 8836 e [email protected]. Acompanhe atualizações de mercado em nosso Twitter! http://twitter.com/CepeaEsalq 56 FAZER Quem sabe faz a hora, não espera acontecer MELHOR foto: divulgação Chr. Hansen Caderno de Tecnologia de Laticínios Ultrafiltração e sua utilização na indústria de laticínios 58 Perfil lipídico, caracterização físico-química e sensorial de requeijão com baixo teor de lactose e requeijões comerciais 62 Características físico-químicas e sensoriais de iogurte de leite de ovelha tradicional, light e light com fibras de trigo 68 Qualidade percebida pelo consumidor de produtos lácteos: modelo teórico e evidências empíricas 72 UFV Universidade Federal de Viçosa 57 Fazer Melhor Ultrafiltração e sua utilização na indústria de laticínios Adriana T. Silva e Alves; Ariene G. F Van Dender; Leila M. Spadoti; Patrícia B. Zacarchenco; Izildinha Moreno Pesquisadoras TECNOLAT/ITAL 1. Introdução Os processos de separação seletiva dos componentes de um meio fluído por meio de membranas apresentam vantagens como menor consumo energético, maior eficiência de separação e produtos finais de maior qualidade. Além disso, tais processos podem ser contínuos e totalmente automatizados (RIBEIRO, 2010). O desenvolvimento do processo de ultrafiltração (UF) forneceu uma nova fórmula de concentrar solutos de alto peso molecular presentes em solução, sem a aplicação de calor e sem o uso de condições físicas ou químicas severas. Para as proteínas isso significa concentração sem qualquer modificação séria da sua estrutura e funcionalidade. Assim, proteínas podem ser concentradas com um mínimo de desnaturação e enzimas podem ser concentradas sem perda significativa de sua atividade (VIOTTO, 1997). Embora as características anteriormente relatadas tenham levado à popularização da técnica de UF no fracionamento e concentração de materiais biológicos na indústria química e farmacêutica, foi na indústria láctea que ela se implantou no início da década de 70 e é para esse setor que tem se dirigido a maioria das pesquisas e estudos publicados na literatura (VIOTTO, 1997). Assim, dentre os diferentes setores da indústria de alimentos, o de leite e derivados foi o que mais contribuiu para o desenvolvimento e aplicação dos processos de separação por membranas (RIBEIRO, 2010). 2. Tecnologia de membranas e ultrafiltração do leite A tecnologia de membranas envolve a passagem de um meio fluído por uma membrana semi-permeável. Por meio de um gradiente de pressão através da membrana, as moléculas menores capazes de permear a mesma são separadas, constituindo a fração chamada de permeado, e as moléculas maiores e/ou partículas que não conseguem atravessar a membrana são concentradas, originando a fração denominada de retentado. A porosidade da membrana é dada através do diâmetro dos poros ou do peso molecular que expressa o tamanho da maior molécula passível de permeação, sendo muitas vezes denominada tecnicamente como valor de corte (“cut off”). Com base nessa porosidade, as membranas podem ser classificadas em membranas de microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa. 58 De todas as tecnologias de membranas, a ultrafiltração (UF) é a mais utilizada na indústria de alimentos (RIBEIRO, 2010), sendo que essa técnica pode ser usada na separação e concentração de substâncias com peso molecular entre 103 a 106 Daltons (0,001-0,02 m) (RENNER; ABD ELSALAM, 1991). As membranas de UF utilizadas em laticínios normalmente têm o valor de “cut off” para constituintes com peso molecular de aproximadamente 20.000 Daltons, permitindo a retenção de totalidade da matéria gorda e de mais de 95% das proteínas do leite (NEVES; DUCRUET, 1988). Portanto, na UF de leite, a membrana retém gordura, componentes protéicos, vitamina B12 e ácido fólico, que são concentrados em proporção inversa à diminuição do volume do leite. A água e os componentes solúveis como lactose, sais e algumas vitaminas solúveis em água atravessam a membrana e são concentrados apenas parcialmente de acordo com a retenção de umidade. A inclusão da etapa de diafiltração no processo proporciona, através da diluição com água, uma maior concentração das proteínas e maior remoção da lactose e sais que permanecem juntamente com o retentado (HUFFMAN, 1996). Retentados de UF obtidos a partir de leite ou de soro de queijo podem ser utilizados como matéria-prima ou como ingrediente no preparo de queijos, iogurtes, bebidas lácteas, sorvetes, enfim, em uma série de derivados lácteos bem como em diversos produtos alimentícios, com o objetivo de aumentar e/ou melhorar o rendimento, valor nutricional ou funcionalidade dos mesmos. Para que o uso da tecnologia de UF na indústria de alimentos atinja os objetivos desejados, alguns fatores operacionais devem ser estabelecidos previamente e outros controlados durante o processo de concentração, incluindo a área, pressão e características da membrana como natureza química, porosidade, configuração, seletividade e estabilidade à temperatura e à químicos corrosivos e oxidantes e pHs extremos. A viscosidade e a densidade do fluido devem ser conhecidas, para que se possa manter um escoamento turbulento, favorecendo as condições de fluxo na membrana. Outros fatores adicionais que afetam o desempenho da membrana de ultrafiltração são: difusividade, pressão osmótica e propriedades das moléculas existentes no retentado, que contribuem para a polarização e o “fouling”. A principal dificuldade que ocorre no processo de ultrafiltração é o “fouling”. O “fouling” manifesta-se como um declínio no fluxo de permeação com o tempo de processo, quando todos os parâmetros operacionais, tais como pressão, velocidade tangencial, temperatura e fator de concentração são mantidos constantes, ou em regime estacionário (RIBEIRO, 2001). 3. Aplicação da UF na fabricação de queijos A técnica de UF do leite foi aplicada pela primeira vez na indústria laticinista para fabricação de queijos, tendo seu uso sido proposto pelos pesquisadores franceses MAUBOIS, MOCQUOT e VASSAL (1969, 1980) (patentes francesa número 2052121 e americana número 4.205.090). Esse processo foi denominado MMV em homenagem aos seus inventores e tem como principal característica o uso direto do retentado obtido por UF do leite na fabricação de queijos, dispensando a dessora e o trabalho da massa nos tanques de fabricação. O processo MMV, em linhas gerais, consiste em filtrar o leite integral ou desnatado sob pressões entre 100 e 1000 kPa em membranas com diâmetro de poro de 1 a 10 nm, permitindo a obtenção de dois líquidos: o permeado (constituído por uma solução aquosa com as moléculas de pequeno tamanho do leite, ou seja, a lactose (0,8 nm), sais minerais, compostos nitrogenados não protéicos e vitaminas) e o retentado ou pré-queijo líquido, que é, na verdade, um leite onde os teores em proteína e em matéria graxa aumentam proporcionalmente à quantidade do permeado retirado, a partir do volume de leite inicial. Adicionando-se fermento láctico, coalho e sal ao retentado obtêm-se, em alguns minutos, um queijo com a composição e as dimensões adequadas para ser comercializado (MISTRY; MAUBOIS, 1993). As vantagens da fabricação de queijos utilizando a técnica de UF do leite, pelo processo MMV são: maior rendimento, em função do aproveitamento de 100% da gordura e 95% das proteínas, a possibilidade de fabricação contínua com uso de sistema fechado e sanitário, menor requerimento de renina e produção de um soro com menor poder poluente, quando comparado com o processo tradicional (KOSIKOWISKI, 1978; NIELSEN, 1987; VAN DENDER, 1995; 1999). Esse processo vem sendo utilizado com sucesso em vários países para fabricação de queijos como Ricota, Camembert, Cottage, Feta, entre outros. No Brasil temos atualmente o queijo Minas Frescal sendo fabricado com uso dessa técnica, sendo que, no caso desse tipo de queijo, além das vantagens econômicas a coagulação do queijo diretamente na embalagem de comercialização propicia uma garantia higiênica suplementar ao consumidor, já que elimina os riscos de contaminação associados à manipulação. Estudo recente realizado com queijo minas frescal produzido a partir de retentado de UF adicionado de 59 Fazer Melhor Lactobacillus acidophilus concluiu que o queijo produzido apresentou grande potencial como alimento probiótico (RIBEIRO et al., 2009). Segundo revisão de literatura (SPADOTI, 2003) há 4 métodos básicos de aplicação da UF na manufatura de queijos: a) concentração total, b) concentração parcial, c) préconcentração e d) padronização de proteínas a valores de 3,6% ou acima de 4%. No método de concentração total, o leite é concentrado a níveis de sólidos totais idênticos ou quase idênticos aos teores encontrados em um queijo pronto (proceso MMV, já descrito) e no de concentração parcial a valores de até 40% de sólidos totais. O uso de tais concentrações exige equipamentos especiais para corte e manipulação da coalhada. Na pré-concentração trabalha-se com fatores de concentração volumétrica (FCV) de valores iguais ou inferiores a 2 e no caso do uso da UF para padronização de proteínas o objetivo é conseguir níveis regulares deste componente no leite, evitando assim problemas de variações sazonais. Nestes dois últimos métodos não há mudanças nas etapas, nem nos equipamentos normalmente envolvidos no processamento tradicional de queijos (NIELSEN, 1987). Leites concentrados a valores de FCV menores ou iguais a 2 têm sido utilizados com sucesso na fabricação de vários tipos de queijos, permitindo a obtenção de produtos de boa qualidade, com economia de coalho e de fermento, além de rendimentos de fabricação superiores aos obtidos com o uso do processo tradicional, embora inferiores aos que podem ser obtidos pelo processo MMV, onde a incorporação de gordura e de proteínas do soro no queijo é máxima (KOSIKOWSKI, 1986). A técnica de concentração parcial do leite pode ser utilizada como uma alternativa para conseguir maiores ganhos de rendimento e melhor aproveitamento do espaço físico da fábrica e ao mesmo tempo produtos mais próximos do tradicional (NIELSEN, 1987). No Brasil apesar de existirem indústrias de grande porte produzindo queijos Minas Frescal através do processo MMV, elas ainda não se lançaram na produção comercial de queijos UF duros e semi-duros, provavelmente porque esses queijos apresentariam um processo de maturação/ cura mais complexo. Quando se elabora queijos semi-duros e duros pelo processo MMV, embora se aumente substancialmente o rendimento de fabricação, à medida que se eleva o FCV do retentado as qualidades organolépticas de textura e sabor do produto tendem a ficar diferentes e usualmente desfavoráveis em relação ao queijo tradicional. Isso ocorre por- 60 que queijos elaborados com retentado de UF contêm em sua composição as proteínas do soro, que interferem de várias formas na proteólise dos queijos e a proteólise é um dos principais processos reponsáveis por conferir textura e sabor adequados aos queijos durante o período de maturação/cura dos mesmos. Outros usos para os retentados de UF de alto teor protéico vêm sendo estudados por grupos de pesquisa. Uma dessas aplicações é na obtenção dos chamados “queijos-base”, os quais podem ser usados em substituição aos queijos não maturados empregados na fabricação de queijo fundido. Na obtenção dos “queijos-base” o leite é concentrado por ultrafiltração e o retentado obtido é fermentado e a seguir evaporado em um trocador de calor. O produto, o qual pode substituir o queijo natural na fabricação de queijos fundidos, apresenta o mesmo pH e composição do queijo, além de bom sabor e estabilidade (ERNSTROM et al., 1980; SIMBUERGER et al., 1997). Ainda com relação à fabricação de queijos fundidos vários pesquisadores brasileiros estudaram o emprego da ultrafiltração na fabricação de requeijão cremoso. Em um dos estudos os produtos obtidos foram considerados similares ao requeijão cremoso fabricado tradicionalmente (NEVES; DUCRUET, 1988). Em outro, o autor concluiu que o uso de retentado acidificado diretamente por adição de ácido láctico é uma alternativa viável e de fácil aplicação prática na fabricação do requeijão cremoso e do requeijão cremoso “light” (SILVA, 2003). O retentado que serve de base para produção de requeijão é de composição semelhante àquela proposta para a fabricação de queijo Minas Frescal pelo método MMV, o que permite, a partir de um retentado da mesma ultrafiltração, produzir os dois tipos de produtos. 4. Outras aplicações da UF na indústria laticinista Embora a aplicação de ultrafiltração em laticínios tenha se iniciado e tomado pulso com a fabricação de queijos, sua utilização tem se ampliado para outros produtos lácteos, destacando-se iogurte, leite condensado com açúcar, doce de leite, sobremesas lácticas congeladas, entre outros (VAN DENDER, 1999). A UF também pode ser utilizada como ferramenta para concentrar a fração protéica do soro de queijo, a qual pode ser utilizada como ingrediente em vários produtos alimentares, aumentando e/ou melhorando as características nutricionais e/ou funcionais dos mesmos. Embora a ultrafiltração esteja sendo utilizada na indústria laticinista principalmente para concentrar a parte protéi- ca do leite, pesquisas recentes indicam que quando uma carga é adicionada à membrana de UF, por meio de tratamento químico, os equipamentos de UF podem ser usados para fracionar as diferentes proteínas do leite. Isso significa que os fabricantes de ingredientes lácteos podem aumentar o retorno dos investimentos feitos em sistemas de membrana produzindo frações de proteínas do leite que possuem maior valor econômico (DAIRY MANAGEMENT INC., 2010). Apesar das vantagens que podem ser obtidas pelo uso da técnica de ultrafiltração na indústria laticinista, o núnero de membranas em operação no Brasil ainda é pequeno, em relação ao número de instalações em operação na Europa e nos Estados Unidos (RIBEIRO, 2010). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAIRY MANAGEMENT INC. Fractionating with charged UF membranes. Emerging milk protein opportunities the latest research on applications, processing and markets. p.6, May 2010. Disponível em: http://www.usdec.org/files/ IntranetPublicAccessDocs/MPF%20Special%20Report%20 APPROVED_FINAL%204-27-10.pdf >. Acesso em 31 ago. 2010. ERNSTROM, C. A.; SUTHERLAND, B. J.; JAMESON, G. W. Cheese base for processing. A high yield product from whole milk by ultrafiltration. 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Back¹ Resumo Este trabalho teve como objetivo avaliar o perfil lipídico e caracterizar físico-química e sensorialmente um requeijão cremoso desenvolvido com baixo teor de lactose e seis requeijões de marcas comerciais. O requeijão cremoso com baixo teor de lactose foi desenvolvido utilizando-se leite pasteurizado padronizado, tratado com enzima lactase (0,8%), sal fundente, manteiga, soro de leite e sal. O produto desenvolvido e seis marcas comerciais de requeijão cremoso foram submetidos às análises cromatográficas, físico-químicas e sensoriais. Para as análises cromatográficas foi utilizado cromatógrafo a gás (Agilent), com detector FID e coluna capilar de 30 m. As análises físico-químicas constaram de determinação do teor de proteína, gordura, lactose, umidade e cinzas, além da determinação do pH, acidez, extrato seco total e gordura no extrato seco. A avaliação sensorial foi realizada em três sessões com 20 julgadores semi-treinados em cada sessão. Nas duas primeiras realizou-se teste de aceitação, utilizando uma escala hedônica de 7 pontos, e teste de ordenação para os requeijões comerciais. Na terceira sessão, o produto desenvolvido, foi comparado com as duas melhores amostras obtidas anteriormente através dos testes de aceitação e de ordenação. Os principais ácidos graxos encontrados foram o ácido palmítico, oléico, esteárico e mirístico, tanto no requeijão cremoso desenvolvido (31,65±1,78, 26,82±2,11, 12,69±0,27 e 11,52±0,54, respectivamente), quanto nos requeijões de marcas comerciais. As análises físico-químicas revelaram que o produto encontra-se dentro dos parâmetros estabelecidos para requeijão cremoso, além disso, a análise sensorial demonstrou que o produto deslactosado não foi diferenciado dos demais requeijões. Os resultados obtidos apontam este produto como uma opção positiva para pessoas com intolerância a lactose, uma vez que o grau de hidrólise do leite tratado enzimaticamente foi de 85%. Palavras-chave: requeijão cremoso, perfil lipídico, lactose. INTRODUÇÃO Segundo a classificação genérica de queijos, o requeijão pertence ao grupo de queijos denominados processados pasteurizados e é o produto que melhor representa essa classe no Brasil (Rodrigues, 2006). ¹ Universidade Federal De Santa Maria - Departamento de Ciência e Tecnologia dos Alimentos. Avenida Roraima (1000), Santa Maria, Rio Grande do sul, Brasil e-mail: [email protected] 62 O requeijão cremoso é definido como produto obtido por fusão da massa coalhada, dessorada e lavada, obtida por coagulação acida e/ou enzimática do leite com adição de creme de leite ou manteiga e /ou gordura anidra do leite ou butter oil. Deve conter no mínimo 55% de matéria gorda no extrato seco e 65% de umidade no máximo (Brasil, 1997). O requeijão surgiu como subproduto feito a partir de leite desnatado, considerado descarte das regiões produtoras de creme para a fabricação de manteiga (Munck e Campos, 1984; Oliveira, 1986). A produção se restringia ao uso local, mas com a evolução dos meios de transporte, de acondicionamento e de tecnologia, o requeijão se tornou expressivo no mercado de queijos, ocupando a preferência de consumo de muitos brasileiros. Atualmente são muitas as tecnologias empregadas na fabricação de requeijão assim como formato dos produtos, embalagens consistência e coadjuvantes tecnológicos (Rodrigues, 2006). Intolerância à lactose é um termo usado para descrever a incapacidade de digerir a lactose devido à deficiência do sistema digestivo (Antunes e Pacheco, 2009; Téo, 2002). Nos casos de intolerância, a lactose passa ao cólon sem ser hidrolisada e é fermentada pelas bactérias aí presentes, produzindo ácido láctico, ácido butírico e outros ácidos voláteis que reduzem o pH das fezes para menos de 6,0. Como resultados aparecem sintomas de desconforto em virtude da excessiva produção de gases dentro do intestino seguida de desordens intestinais como cólicas e diarréias (Aggett et al., 2003). O excesso de lactose também exerce um efeito hiperosmótico, aumentando o volume de fluídos no intestino. Por esses sintomas desagradáveis, as pessoas deficientes em lactase privam-se do consumo de leite e com isto de seus benefícios nutritivos (Angelis, 2006; Ferreira, 1997). Além de modificar a solubilidade da lactose, a hidrólise dessa molécula é cada vez mais importante na alimentação, pois se torna digerível aos consumidores intolerantes ao carboidrato (Schlimme e Buchheim, 2002). Este trabalho teve como objetivo desenvolver um requeijão cremoso com baixo teor de lactose, bem como analisar seu perfil lipídico, suas características físico-químicas e sensoriais em comparação com seis marcas comerciais de requeijão cremoso. MATERIAIS E MÉTODOS Amostras Todas as análises foram realizadas nos laboratórios do Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos (DTCA) do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além do produto desenvolvido (requeijão cremoso com baixo teor de lactose) seis marcas comerciais de requeijões cremosos, obtidos em supermercados da região de Santa Maria, RS, também foram submetidas a análises físico-químicas, sensoriais e cromatográficas. Elaboração do requeijão cremoso com baixo teor de lactose Para a preparação do requeijão cremoso com baixo teor de lactose, foi primeiramente adicionado 0,8% de enzima lactase (enzima ß-Galactosidase Lactozym® 3000L HPG -Novozymes), ao leite pasteurizado padronizado. O leite adicionado de enzima permaneceu 12 horas sob temperatura de refrigeração controlada (8±0,5ºC). Posteriormente o leite tratado foi aquecido a 63ºC por 15 minutos para a inativação da enzima (Trevisan, 2008). O leite foi então resfriado (aproximadamente 32ºC) e adicionado de coalho (0,8mL/L). Após a coagulação, dessora e prensagem a massa formada (matéria prima) foi acondicionada por 8 horas sob temperatura de refrigeração. A massa foi então adicionada de soro de leite (35%), manteiga (25%), sal (1,2%) e sal fundente (2,5%). A mistura foi então aquecida (o processo de fusão se deu a 85ºC por 8 minutos, sob agitação). Após a etapa de fusão a mistura foi homogeneizada e acondicionada em embalagens de plástico de 100 mL. Os requeijões foram mantidos sob refrigeração até o momento das análises. Extração e esterificação da gordura A gordura dos requeijões foi extraída pelo método de Bligh e Dyer (1959), corrigindo a proporção de água conforme a umidade de cada amostra. Para a preparação de metil-ésteres de ácidos graxos foi utilizado o método de Hartman & Lago (1973). Análises por cromatografia gasosa Os metil-ésteres de ácidos graxos foram separados por cromatografia gasosa (CG) usando aparelho Agilent Technologies, série 6890N, equipado com coluna capilar (HP Innowax) de sílica fundida (30m de comprimento x 250m diâmetro interno x 0,25 ưm de espessura do filme) e detector por ionização de chama (FID). A coluna foi aquecida a 120°C, após aumentou 20ºC por minuto até atingir 250ºC, por 13,5 minutos, totalizando a corrida em 20 minutos. Nitrogênio foi usado como gás de arraste a 0,9 mL/min. O volume de amostra injetada (modo split) foi de 1ưL. A temperatura usada para o detector (FID) foi de 280°C. Os ácidos graxos foram identificados por comparação com os tempos de retenção de padrões de referência (Supelco 37 FAME Mix, Sigma, Bellefonte, EUA). Os tempos de retenção e as áreas foram computados automaticamente pelo software GC Solution. 63 Fazer Melhor Análises físico-químicas Uma fração de cada requeijão foi analisada em triplicata quanto à sua composição físico-química. Para obtenção da umidade, 5g de amostra foram secos em estufa a 105°C até peso constante (AOAC, 2005). O teor de cinzas foi determinado por gravimetria pelo aquecimento de 2g de amostra isenta de umidade em forno de mufla a 550°C até completa incineração (AOAC, 2005). em torno de 50g, acompanhados de bolacha água e sal e água. A ficha sensorial foi composta pelos parâmetros aparência global, cor, aroma, textura, formação de fios, sabor e sabor residual, avaliados através de teste com escala hedônica de 7 níveis (1- desgostei muitíssimo, 4indiferente, 7- gostei muitíssimo) e teste de ordenação (Ductoski, 1996). Cada sessão contou com 20 painelistas semi-treinados. A proteína foi estimada pelo método de Kjeldahl, utilizando fator de correção 6,38 (IAL, 2008). A gordura foi analisada por Butirômetro de Gerber, seguindo metodologia proposta por Pereira et al. (2001) para queijos. O valor de pH foi medido utilizando-se pHmetro digital (Micronal Modelo 320, com eletrodo de vidro combinado) previamente calibrado e a acidez titulável (expressa em porcentagem de ácido láctico) foi obtida por titulação com NaOH 0,1N (AOAC, 2005). Análise Estatística Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas entre si através do teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade de erro. Os resultados foram analisados através do programa Statistic 6.0 (SPSS, 1997). O teor de lactose das amostras comerciais foi determinado de acordo com o método de Fehling (Brasil, 2003). Para o requeijão com baixo teor de lactose foi determinada a glicose (através de Kit Glicose Monoreagente K082 Bioclin) para então fazer-se a estequiometria da reação, considerando que para cada molécula de lactose degradada são formadas uma molécula de glicose e uma molécula de galactose (Acton, 1997). Também foi calculado por diferença o teor de gordura no extrato seco. Análise Sensorial A avaliação sensorial foi realizada em três sessões. Nas duas primeiras sessões realizou-se teste de aceitação, utilizando uma escala hedônica de 7 pontos e teste de ordenação para os requeijões comerciais. Na terceira etapa, o produto desenvolvido, foi comparado com as duas melhores amostras obtidas anteriormente através dos testes de aceitação e de ordenação. Os requeijões foram servidos em potes brancos de cerâmica contendo RESULTADOS E DISCUSSÃO Perfil de ácidos graxos saturados e insaturados A Tabela 1 apresenta o perfil de ácidos graxos dos requeijões analisados. Os principais ácidos graxos encontrados nos requeijões analisados foram o ácido cáprico, láurico, mirístico, palmítico e oléico. A quantidade de ácido oléico variou de 25,04%(±1,56) a 33,71%(±2,56), e do ácido mirístico de 24,66%(±0,75) a 31,72(±0,95), sendo estes os dois ácidos graxos encontrados em maior quantidade nos requeijões. O perfil de ácidos graxos encontrado nos requeijões analisados reflete seus componentes principais, o leite e a gordura utilizada. Segundo a legislação brasileira vigente para requeijão cremoso (Brasil, 1997) pode-se adicionar ao produto: creme de leite, manteiga, gordura anidra do leite ou butter oil. As marcas comerciais podem então ter sido adicionadas de qualquer um destes componentes. O requeijão cremoso com baixo teor de lactose foi desenvolvido com adição de manteiga. Richards e Gioielli (2001) analisaram a composição em ácidos graxos da manteiga e os predominantes foram: mirístico (14:0), palmítico (16:0), esteárico (18:0) e oléico (18:1). Tabela 1: Perfil de ácidos graxos (expressos em %) dos requeijões comerciais (A a F) e da amostra desenvolvida (G). Amostras* C10:00 C12:00 C14:00 C16:00 C18:00 A 2,39±1,78a 3,10±1,78a 11,14±1,42ab 31,08±1,37a 12,13±1,98c B 1,70±1,25 b b ab a C 1,48±1,30b 2,08±0,97c 9,31±0,85c D 0,93±1,25c 1,47±1,35d 6,33±1,98d b 2,55±1,26 10,66±1,20 b 10,11±0,80 abc 31,72±0,95 bc 25,04±1,56b 26,56±2,00ab 27,69±0,85ab 15,05±1,23a 28,83±1,25ab 24,66±0,75b 12,04±0,96c 33,71±2,56a 30,38±1,20 a 14,57±1,53 ab 29,07±0,95ab E 1,58±1,12 2,45±1,34 F 1,59±1,45b 2,17±1,34c 9,45±1,40bc 29,95±0,80a 13,86±1,35abc 29,35±1,64ab G 1,66±1,20b 2,32±1,23bc 11,52±1,19a 31,65±1,78a 12,69±0,27bc 26,82±2,11ab Resultados são as médias ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatística pelo Teste de Tukey (p<0,05). *Amostras de A a F, correspondem as marcas comercias, amostra G, corresponde ao requeijão desenvolvido 64 12,56±1,40 C18:1n9 A gordura do leite tem como característica a presença de ácidos graxos de cadeia curta e elevada proporção de ácidos graxos saturados. O teor de acido oléico na gordura bovina é de cerca de 28,5%, enquanto as porcentagens medias de C18:00, C16:00, C14:00, C12:00, C10:00, C8:00, C6:00 e C4:00, são, respectivamente, 12,1%, 26,9%, 10,8%, 2,9%, 2,5%, 1,2%, 2,2% e 3,6% (O’Brein, 2003). Conforme pode ser observado na Tabela 1, a maior parte dos ácidos graxos é representada em todas as amostras pela sua porção saturada. Os valores encontrados são semelhantes aos relatados por Lucas et al. (2008) para queijos frescos. A oxidação lipídica em derivados lácteos é apontada como o fator que mais afeta sua qualidade no armazenamento, principalmente em produtos com alto teor de umidade e gordura (Kristensen e Skibsted, 1999). Tais condições são encontradas no requeijão, o que pode favorecer a oxidação das duplas ligações e consequente redução dos ácidos graxos insaturados durante o armazenamento. Entretanto, como a oxidação lipídica não foi medida neste trabalho, mais estudos são necessários para confirmar esta hipótese. Análises Físico-Químicas A Tabela 2 apresenta os resultados físico-químicos para umidade, gordura, extrato seco total (EST), gordura no extrato seco (GES), proteína, cinzas, pH, acidez e lactose dos requeijões analisados. O teor de umidade dos requeijões variou de 55,65%(±0,01) a 62,45%(±0,03), estando todos os valores dentro dos exigidos pela legislação brasileira vigente, que estabelece um máximo de 65% de umidade para requeijões cremosos (Brasil, 1997). Esta mesma legislação estabelece um mínimo de 55% de matéria gorda no extrato seco, ficando os requeijões comerciais das marcas, B e F, com valores abaixo do estabelecido. O requeijão cremoso com baixo teor de lactose (amostra G) obteve valores dentro da legislação (umidade 55,65%(±0,01), e gordura no extrato seco 55,49%(±0,46)). O conteúdo de extrato seco total (EST) do requeijão da marca comercial E (40,50±0,18%) e do requeijão desenvolvido F (43,36±0,70%), obtiveram valores superiores ao conteúdo médio de extrato seco total requerido para o requeijão cremoso de 37 a 40% (Fernandes et al., 1985). Os valores encontrados para gordura variaram de 19,28%(±0,56) a 23,05%(±0,06), e os valores de proteína de 10,03%(±0,14) a 12,61%(±0,10), sendo estes valores semelhantes aos relatos por Rapacci (1997) para requeijões cremosos. O teor de cinzas variou de 2,48%(±0,02) a 3,35%(±0,03), resultados semelhantes aos mesmos tipos de produtos descritos por Van Dender et al., 2003. Segundo Santos (2002), a faixa ideal de pH para requeijão cremoso é de 5,70 a 5,90. Valores de acidez e pH em requeijões estão relacionados com a vida útil devido à sua influência na estabilidade microbiológica, além de afetar as características reológicas e sensoriais do produto final (Van Dender, 1997). O pH dos requeijões analisados variou de 5,37(±0,04) a 6,25(±0,01), estando dentro da fai- Tabela 2: Resultados físico-químicos (umidade, gordura, EST, GES, proteína, cinzas, pH, acidez e lactose) dos requeijões comerciais (A a F) e da amostra desenvolvida (G). Amostras* A B c C D d E F G 55,65±0,01f 62,45±0,03ª 60,31±0,06 Gordura** 21,20±0,08bc 19,28±0,56c 23,04±0,66ab 20,04±0,01c 23,05±0,06ab 21,16±0,04bc 22,44±1,09a EST** 39,11±0,40cd 37,55±0,20e 39,69±0,20c 38,82±0,10d 40,50±0,18b 39,53±0,21c 43,36±0,70a f a b bc e 55,49±0,46c GES 54,20±0,03 51,34±0,20 Proteína** 10,12±0,01c 12,61±0,10a 11,10±1,02bc 10,43±0,19c 10,03±0,14c 10,31±0,07c 12,13±0,04ab Cinzas** 2,62±0,05cd 2,48±0,02c 2,86±0,05b 2,58±0,01bc 2,61±0,06bc 2,60±0,02bc 3,35±0,03a bcd b 6,01±0,01 bc 5,37±0,04f de 57,30±0,90 e 56,91±0,08 60,47±0,03 d 60,89±0,06 58,04±0,04 59,50±0,05 e Umidade** d 61,18±0,12 b a 53,52±0,40 pH 5,96±0,01 6,01±0,01 5,88±0,05 Acidez*** 0,73±0,04d 0,76±0,04bcd 0,85±0,01b 0,68±0,03d 0,73±0,03cd 0,82±0,03bc 1,22±0,01d Lactose**** 2,53±0,02ab 2,94±0,04a 1,79±0,19c 2,67±0,01b 2,89±0,04ab 2,65 ±0,03b 0,70±0,03d 6,25±0,01 6,00±0,03 Resultados são as médias ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma linha indicam diferença estatística pelo Teste de Tukey (p<0,05). *Amostras de A a F, correspondem as marcas comercias, amostra G, corresponde ao requeijão desenvolvido. **expresso em g/100g de amostra. ***expresso em % de ácido lático. **** expresso em porcentagem 65 Fazer Melhor xa quantificada em nove marcas comerciais de requeijões que era de 4,85 a 6,28 avaliados por Rabêlo et al. (2002). O teor de lactose para os requeijões de marcas comerciais (amostras de A a F) variaram de 1,79%(±0,19) a 2,94%(±0,04). Já para o requeijão desenvolvido com baixo teor de lactose (amostra G), o valor de lactose encontrado foi de 0,70%(±0,03). Este foi preparado com leite pasteurizado com teor de lactose de 4,69%, observa-se assim que o grau de hidrólise obtido foi de 85%. Segundo Manan et al. (1999), os sintomas da intolerância podem ser eliminados quando a lactose é reduzida em 70%. O teor de lactose do requeijão cremoso desenvolvido com leite tratado previamente com enzima lactase é considerado baixo, podendo ser utilizados tanto para pessoas que possuem má absorção de lactose quanto pelos intolerantes à lactose. Avaliação Sensorial A avaliação sensorial é um fator importante para se ter conhecimento quanto à aceitação do requeijão cremoso com baixo teor de lactose por parte de consumidores em potencial (Gigante et al., 1999). Essa análise teve como finalidade observar possíveis diferenças estatísticas entre as amostras em relação aos atributos aparência global, cor, aroma, textura, formação de fios, sabor e sabor residual. Todos os atributos analisados receberam escores de avaliação que enquadraram-se como “gostei” e “gostei muito” na escala adotada. Do teste de ordenação foram obtidas as formulações “preferidas” de cada sessão conforme a Tabela de Newell & Mac Farlane (Ductoski, 1996) sendo estas duas submetidas a uma terceira sessão junto com o requeijão desenvolvido. O requeijão desenvolvido obteve escores elevados principalmente para aparência global (5,44±0,42), cor (5,53±0,26) e sabor (5,3±0,40). Não houve diferença estatística (p<0,05) entre nenhum dos requeijões analisados, nem entre os requeijões de marcas comerciais e o requeijão com baixo teor de lactose desenvolvido, conforme pode ser observado na tabela 3. CONCLUSÃO As análises do perfil lipídico, físico-químicas e sensoriais do produto desenvolvido em comparação com marcas de requeijão cremoso comerciais demonstraram que apesar de haver diferenças estatísticas entre os requeijões, sua composição é semelhante, apontando sua aprovação para pessoas com intolerância a lactose. O requeijão cremoso com baixo teor de lactose mostra-se como uma alternativa positiva, já que as análises físico-químicas revelaram que o produto encontra-se dentro dos parâmetros estabelecidos para este tipo de produto, além disso, a análise sensorial demonstrou que o produto deslactosado não foi diferenciado dos demais requeijões. Assim contribui-se para o aprimoramento de técnicas para que a indústria alimentícia possa atender melhor os consumidores intolerantes à lactose, proporcionando-lhes produtos que atendam as suas necessidades especiais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acton, G.H. The determination of lactose in cheese. The Australian Journal of Dairy Technology, Victoria, v. 32, n. 3, p.111, 1997. Tabela 3: Média das notas da avaliação sensorial por escala hedônica. Amostras* Sessão Sensorial Parâmetros Sensoriais Aparência Global Cor Aroma Textura Formação de Fios Sabor Sabor Residual A 1 5,52a 5,43a 5,44a 5,11a 5,23a 5,60a 5,04a B 1 5,29a 5,49a 5,43a 5,23a 5,49a 5,12a 5,25a C** 1 5,61 a a a a a a 5,52 5,10a D 2 E** 5,59 5,63 5,45a 5,44a 2 5,53a F 2 a 5,40 5,52 5,42 C 3 5,50a 5,40a E 3 5,48a G 3 DP*** 5,38 5,50 5,53a 5,37a 5,38a 5,50a 5,25a 5,52a 5,55a 5,50a 5,45a 5,55a 5,23a a a a a a 5,50 5,11a 5,38 5,13 5,23a 5,12a 5,23a 5,10a 5,02a 5,51a 5,48a 5,28a 5,44a 5,22a 5,20a 5,44a 5,53a 5,24a 5,13a 5,16a 5,30a 5,02a 0,9076 0,8946 0,9023 0,9535 0,8841 0,9674 0,9134 Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatística pelo Teste de Tukey (p<0,05). *Amostras de A a F, correspondem as marcas comercias, amostra G, corresponde ao requeijão desenvolvido. **Formulações escolhidas nas diferentes sessões. ***Desvio padrão. 66 Aggett, P. J., Agostini, C. e Axelsson, I. Nondigestible carbohydrates in the diets of infants and young children: a commentary by the ESPGHAN Committee on nutrition. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr. v. 36, p.329-337, 2003. Angelis, R. C. Alergias Alimentares. São Paulo: Atheneu. 123p. 2006. Antunes, A. E. C. e Pacheco, M. T. B. Leite para adultos: Mitos e fatos frente à ciência . São Paulo: Varela, 2009. AOAC - Official methods of analysis.18th. ed. Association of Official Analytical Chemistry, Washington, DC, USA, 2005. Bligh, E. G.; Dyer, W. .J. A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadian Journal Biochemistry Physiology, 27, 911-917, 1959. Brasil Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Leite e Produtos Lácteos. Portaria nº 359 de 04 de novembro de 1997. Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade do Requeijão Cremoso ou Requesón. 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Caracterização físico- química e análise do perfil de textura de amostras comerciais de requeijão cremoso e de requeijão cremoso light. Anais do XX Congresso Nacional de Laticínios, v.58, n. 333, p.164-170, 2003. AGRADECIMENTOS Ao CNPq e a CAPES, pelo apoio financeiro. A empresa Novozymes, pela doação da enzima utilizada neste trabalho. 67 Fazer Melhor Características físico-químicas e sensoriais de iogurte de leite de ovelha tradicional, light e light com fibras de trigo Physico-chemical and sensory characteristics of traditional, light and light with wheat fibers sheep’s milk yogurts Juan Marcel Frighetto, Luiz Gustavo de Pellegrini, Neila Silvia Pereira dos Santos Richards. Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. RESUMO Iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora, nas formulações tradicional, light e light com fibras de trigo, comercializados no estado do Rio Grande do Sul, foram submetidos a análises físico-químicas (pH, acidez titulável expressa em ácido láctico, proteínas, gorduras, sólidos totais e cinzas) e à análises sensoriais (aceitação e preferência). Os percentuais de proteínas, gorduras, sólidos totais e cinzas foram significativamente superiores para a formulação tradicional em relação às formulações light. As formulações light apresentaram redução do conteúdo de gordura em relação à formulação tradicional, garantindo a conformidade destes produtos com o regulamento técnico referente a alimentos para fins especiais. Todas as formulações apresentaram aceitação sensorial. As formulações light apresentaram médias superiores aos resultados obtidos para a formulação tradicional, em relação à aceitação, e a formulação light com fibras de trigo destacou-se positivamente da formulação tradicional, em relação à preferência sensorial. Palavras-chave: leite de ovelha, iogurte, físico-química, sensorial, light. ABSTRACT Traditional, light and light with wheat fibers sheep’s milk yogurts with mulberry jam, marketed on the state of Rio Grande do Sul, were submitted to physico-chemical analysis (pH, lactic acid, protein, fat, total solids and ashes) and to sensory analysis (acceptance and preference). Protein, fat, total solids and ashes levels were significantly higher in traditional formulation than light formulations. Light formulations showed a reduction of fat content in relation to the traditional formulation, which ensures the suitability 68 of these products with the technical regulation related to food for special purposes. All formulations presented sensory approval. In acceptance test, light formulations showed higher averages than traditional formulation, and in preference test, the light with wheat fibers formulation distinguished positively from the traditional formulation. Keywords: sheep’s milk, yogurt, physico-chemical, sensory, light. INTRODUÇÃO O leite de ovelha é amplamente utilizado em países como Bulgária e Grécia como matéria-prima para a produção de iogurtes (BONCZAR et al., 2002). Para garantir um fornecimento regular destes produtos, o leite de ovelha produzido durante a alta temporada é congelado e armazenado, para processamento em outras épocas do ano (KATSIARI et al., 2002). No Brasil, animais da raça Lacaune, importados da França, foram introduzidos em 1992 e, atualmente, estão adaptados às condições alimentares e climáticas da região sul do país, ampliando as oportunidades de industrialização de produtos de leite de ovelha (BRITO et al., 2006). Produtos de leite de ovelha podem apresentar uma rentabilidade alternativa aos produtos de leite de vaca devido à sua imagem saudável e às suas características nutricionais e sensoriais específicas. Estas características podem ser influenciadas por diversos fatores, incluindo raça, genética, fisiologia, alimentação, ambiente e tecnologia (RAYNALLJUTOVAC et al., 2008). As normas brasileiras contemplam apenas padrões de identidade e qualidade de produtos derivados de leite de vaca. O leite de ovelha e produtos derivados carecem de informações relacionadas às características físico-químicas e sensoriais, levando à necessidade de estudos para o estabelecimento de padrões e para a publicação de normas regulamentadoras no futuro. O objetivo deste estudo foi determinar as características físico-químicas e sensoriais de iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora comercializados no estado do Rio Grande do Sul e estabelecer diferenças elementares entre as formulações tradicional, light e light com fibras de trigo. MATERAL E MÉTODOS Material Iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora, nas formulações tradicional, light e light com fibras de trigo, comercializados no estado do Rio Grande do Sul, foram adquiridos e encaminhados ao Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Santa Maria para determinação de pH, acidez titulável expressa em ácido láctico, proteínas, gorduras, sólidos totais e cinzas, e realização dos testes sensoriais de aceitação e preferência. Métodos Análises físico-químicas Os parâmetros pH, acidez titulável expressa em ácido láctico, proteínas e gorduras foram determinados segundo Brasil (2006). O pH foi mensurado em pHmetro digital (Aaker Solutions, Porto Alegre, Brasil) e a acidez titulável, expressa em ácido láctico, obtida por titulação potenciométrica. O percentual de proteínas foi determinado pelo método micro-Kjeldahl e o percentual de gorduras, obtido pelo método butirométrico. A determinação de sólidos totais foi realizada por evaporação de água a 105 ºC e a determinação de cinzas, obtida por eliminação de matéria orgânica a 550 ºC (AOAC, 1995). Todas as análises físico-químicas foram realizadas em triplicata. O valor energético das formulações foi calculado utilizando-se os fatores de conversão estabelecidos por Brasil (2003). Análises sensoriais Os atributos aspecto, odor, sabor, cor e textura das formulações tradicional, light e light com fibras de trigo foram avaliados segundo o teste de aceitação por escala hedônica estruturada verbal numérica de 9 pontos, contendo termos definidos situados entre “gostei extremamente” (9) e “desgostei extremamente” (1), e um ponto intermediário com o termo “não gostei, nem desgostei” (5). A preferência entre as amostras também foi avaliada, segundo o teste de ordenação-preferência, no qual, as amostras foram distribuídas em “mais preferida” (3), “intermediária” (2) e “menos preferida” (1) (IAL, 2008). A equipe sensorial compreendeu 30 avaliadores semitreinados, incluindo professores, técnicos e estudantes de graduação e pós-graduação, com atuação na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Os avaliadores receberam cerca de 20 mL de cada uma das amostras em copos plásticos codificados com números de três dígitos e procederam ao preenchimento do formulário de análise sensorial. Análise estatística Os resultados das análises físico-químicas e do teste de aceitação foram analisados estatisticamente pela análise de variância e comparação das médias de pares de amostras pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%, utilizando o aplicativo Statistical Analysis System 6.11. 69 Fazer Melhor Os resultados do teste de preferência foram analisados estatisticamente pela diferença entre as somas de pares de amostras, comparada ao valor estabelecido em tabela de Newell & Mac Farlene (QUEIROZ & TREPTOW, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO Análises físico-químicas Os resultados obtidos através das análises físico-químicas de iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora encontram-se na Tabela 1. Tabela 1 – Análise físico-química de iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora. Parâmetros Tradicional Light Light com fibras de trigo pH 4,49 + 0,02 ª 4,16 + 0,02 c 4,22 + 0,00 b Ácido Láctico (%) 1,04 + 0,09 ab 1,34 + 0,28 a 0,88 + 0,02 b Proteínas (%) 4,49 + 0,03 ª 3,68 + 0,03 b 3,44 + 0,01 c 4,40 + 0,29 ª b b Gorduras (%) 3,12 + 0,19 c Sólidos Totais (%) 24,90 + 0,17 ª 20,28 + 0,06 Cinzas (%) 0,85 + 0,08 ª 0,68 + 0,04 b 3,00 + 0,35 22,01 + 0,10 b 0,67 + 0,01 b a,b,c Médias seguidas de letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de significância de 5%. Todas as formulações diferiram entre si em relação ao pH. As formulações light e light com fibras de trigo apresentaram diferença significativa em relação ao percentual de ácido láctico. O nível de proteínas da formulação tradicional superou em 22% a formulação light e em cerca de 30% a formulação light com fibras de trigo. O elevado percentual de proteínas é característico do leite de ovelha. Segundo Anifantakis et al. (1980), esse percentual é de aproximadamente 6,2% neste leite. A formulação tradicional apresentou nível de gorduras 41% maior em relação à formulação light. As formulações light e light com fibras de trigo não apresentaram diferença significativa para este parâmetro. Uma das principais características do leite de ovelha é seu elevado percentual de gorduras, próximo a 7,9% (ANIFANTAKIS et al., 1980). Segundo revisão de Park et al. (2007), os percentuais de gorduras em leites de vaca e de cabra se encontram próximos a 3,6% e 3,8%, respectivamente. Em relação aos sólidos totais, a formulação tradicional apresentou maior percentual, seguida das formulações light com fibras de trigo e light, respectivamente. A diferença estatística entre as formulações light e light com fibras de trigo pode refletir, principalmente, do aumento do conteúdo de carboidratos nesta última. A presença de fibras de trigo não influenciou significativamente o percentual de cinzas entre as formulações light. O valor energético calculado, em quilocalorias por 100 g (kcal/100 g), das formulações tradicional, light e light com fibras de trigo foi de 121, 98 e 103 kcal/100 g, respectivamente. O termo light pode ser utilizado quando for cumprido o atributo de redução mínima de 25% no valor energético total ou do conteúdo de um dos nutrientes dos alimentos comparados (BRASIL, 1998). Desta forma, as formulações light estão aptas à utilizarem este termo, visto a redução do conteúdo de gorduras destas formulações em relação à formulação tradicional. Análises sensoriais Os resultados obtidos através do teste de aceitação de iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora encontram-se no Gráfico 1. Gráfico 1 – Aceitação de iogurtes de leite de ovelha com geléia de amora. 70 A formulação tradicional diferenciou-se das formulações light e light com fibras de trigo, apresentando escores inferiores. Apenas em relação ao sabor, as formulações tradicional e light não apresentaram diferença significativa entre si. As formulações light apresentaram, para todos os atributos, escores que expressam o grau de aceitação entre “gostei regularmente” e “gostei moderadamente”. Na formulação tradicional, os atributos sensoriais foram avaliados entre “não gostei nem desgostei” e “gostei regularmente”. A maior aceitação das formulações light pode estar relacionada à menor intensidade dos atributos sensoriais nestas formulações, semelhante aos iogurtes de leite de vaca comercialmente disponíveis. Comentários, descritos nos formulários de análise sensorial, descreveram o sabor marcante e coloração intensa da formulação tradicional. Os lipídios são os componentes mais importantes do leite, e estão relacionados às características sensoriais conferidas aos produtos lácteos (PARK et at., 2007). O conteúdo de gordura, superior na formulação tradicional, pode ter refletido na intensidade de odor e sabor e consequentemente, ter sido responsável pela menor aceitação da formulação tradicional em relação às formulações light. No teste de preferência, a formulação light com fibras de trigo destacou-se positivamente em relação à formulação tradicional. As relações entre formulações light e light com fibras de trigo e entre formulações light e tradicional, não apresentaram diferença significativa. CONCLUSÃO Os iogurtes de leite de ovelha possuem características distintas dos iogurtes de leite de vaca, assegurando oportunidades diferenciadas de mercado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANIFANTAKIS, E. M. Comparison of the physico-chemical properties of ewe’s and cow’s milk. In: International Dairy Federation (Ed.), Proceedings of the IDF Seminar Production and Utilization of Ewe’s and Goat’s Milk. Athens, Greece, n. 202, p. 42–53. 1980. AOAC. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. 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Composição do sangue e do leite em ovinos leiteiros do sul do Brasil: variações na gestação e na lactação. Ciência Rural, v.36, n.3, p.942-948, 2006. IAL. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. KATSIARI, M. C.; VOUTSINAS, L. P.; KONDYLI, E. Manufacture of yoghurt from stored frozen sheep’s milk. Food Chemistry, v.77, p.413-420, 2002. As quantidades de proteínas, gorduras, sólidos totais e cinzas foram significativamente superiores para a formulação tradicional em relação às formulações light. A redução do conteúdo de gordura nas formulações light, comparadas à formulação tradicional, garante a conformidade destes produtos com o regulamento técnico referente a alimentos para fins especiais. PARK, Y. W.; JUÁREZ, M.; RAMOS, M; HAENLEIN, G. F. W. Physico-chemical characteristics of goat and sheep milk. Small Ruminant Research, v. 68, p. 88-113, 2007. As formulações light apresentaram médias superiores aos resultados obtidos para a formulação tradicional, em relação à aceitação, e a formulação light com fibras de trigo destacou-se positivamente da formulação tradicional, em relação à preferência sensorial. RAYNAL-LJUTOVAC, K; LAGRIFFOUL, G.; PACCARD, P.; GUILLET, I.; CHILLIARD, Y. Composition of goat and sheep milk products: an update. Small Ruminant Research, v.79, p.57-72, 2008. QUEIROZ, M. I.; TREPTOW, R. O. Análise sensorial para avaliação da qualidade dos alimentos. Rio Grande: FURG, 2006. 71 Fazer Melhor Qualidade percebida pelo consumidor de produtos lácteos: modelo teórico e evidências empíricas João Garibaldi Almeida Viana; Jean Philippe Palma Révillion. Programa de Pós-Graduação em Agronegócios - UFRGS, Porto Alegre - RS - BRASIL. Resumo O presente artigo teve como objetivo desenvolver um modelo teórico sobre a formação de percepção de qualidade pelos consumidores de lácteos e confrontá-lo com as evidências empíricas de qualidade percebida discutidas na literatura nacional e internacional. O modelo foi desenvolvido a partir da revisão teórica de modelos de qualidade percebida nos alimentos, acrescidos de informações específicas de pesquisas de consumidor de produtos lácteos. Posteriormente, foram apresentadas as evidências empíricas sobre percepção de qualidade nos lácteos da literatura internacional e do Brasil e confrontaram-se os resultados com as dimensões do modelo desenvolvido. A percepção de qualidade dos lácteos no estudo proposto segue três etapas: a formação de expectativas de qualidade, a percepção de qualidade a partir da experiência e a crença na qualidade a partir de atributos de confiança. O modelo e as evidências demonstraram que a qualidade percebida nos lácteos está vinculada, fundamentalmente, ao processo de experiência, por meio do desempenho dos atributos sensoriais, dos sinais extrínsecos e intrínsecos inferidos antes do consumo e na crença em atributos de confiança. A revisão teórica apresentada no artigo possibilitou inferir que a temática proposta desafia futuras investigações a desvendar as diferentes formas de percepção de qualidade pelos consumidores de alimentos. Palavras-chave: Laticínios, qualidade percebida, tecnologia dos alimentos. Perceived quality for consumers of dairy products: theoretical model and empirical evidences Abstract The aim of this paper is to develop a theoretical model about the perceived quality of dairy products and discuss the extent to which results from previous research support the proposed framework. The theoretical model was developed based on a review of previous research on perceptions of quality of dairy products as well as consumer behavior studies. Subsequently, was presented empirical evidences on the perception of quality of dairy products of international and Brazil’s literature and confronted the results with the dimensions of the model. The perceived quality of dairy products follow a process based on tree stages: the formation of expectation of quality, the forma- 72 tion of quality inferences based on experience attributes, and the formation of quality inferences based on credence attributes. The model and the evidences showed that perceived quality is first linked to the product experience, especially to the sensory attributes of the product, linked to the intrinsic and extrinsic product cues assed prior to consumption, and the belief in credence attributes By the theoretical review presented in this paper its possible to infer that the proposed theme challenges future research to uncover the different perceptions of quality by consumers of food. Key words: Dairy products, perceived quality, food technology. 1. INTRODUÇÃO A bovinocultura de leite e os segmentos processadores de produtos lácteos desempenham um papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico brasileiro. O setor lácteo no Brasil, durante as décadas de 1970 e 1980, foi subsidiado por instrumentos públicos de comercialização, fundamentalmente por meio da fixação de preços, visando à geração de excedentes ao produtor. O protecionismo resultou em preços de produtos lácteos ao consumidor superiores aos preços internacionais e no desestímulo por investimentos em qualidade e em produtividade dos sistemas produtivos (FARINA et al., 2005). Ao longo da década de 1990, a cadeia láctea passou por intenso processo de reestruturação decorrente das profundas transformações estruturais da economia brasileira. As mudanças tiveram início pela desregulamentação do setor lácteo (1989 a 1993) e, posteriormente, pela abertura de mercado, o ajuste macroeconômico estrutural, o rápido fluxo de investimentos estrangeiros, o estabelecimento de empresas multinacionais, e pela consolidação do MERCOSUL (FARINA et al., 2005; MARGARIDO, BUENO & MARTINS, 2004). Os investimentos externos concentraram-se nas indústrias de transformação e no setor varejista, intensificando a concorrência, reduzindo os preços em nível de consumidor e elevando a diferenciação de produtos e a segmentação de mercado. A expansão da produção e do consumo de produtos lácteos foi acompanhada pela difusão de tecnologias e pela adoção de estratégias competitivas seguidoras. As inovações no setor lácteo brasileiro basearamse na difusão da técnica de ultra-pasteurização (UHT), em métodos de controle de qualidade e no desenvolvimento de produtos funcionais (FARINA et al., 2005; LIMA, RÉVILLION e PADULA, 2009). As condições favoráveis de mercado permitiram a implementação do Programa de Melhoria da Qualidade do Leite e da Instrução Normativa nº. 51, que estabeleceram critérios para a produção, identidade e qualidade do leite. Os principais elementos do programa de monitoramento da qualidade e segurança do leite foram à obrigatoriedade de realização dos testes de contagem bacteriana total, de células somáticas e de resíduos de antibióticos em laboratórios credenciados, e a refrigeração e coleta a granel da matéria-prima nas propriedades rurais produtoras (MAPA, 2002; FAGUNDES, 2006). A qualidade dos alimentos tornou-se um atributo fundamental para a transformação dos sistemas agroalimentares e determinante para a competitividade da indústria de laticínios (FARINA et al., 2005). Os investimentos em controle de qualidade no processamento de alimentos lácteos se justificam basicamente por três razões: a. garantia de segurança alimentar; a otimização do uso de recursos; e a conquista e manutenção de mercados consumidores (DÜRR, 2006). A qualidade pode ser identificada por meio de características que assumem dimensões objetivas e subjetivas. No entanto, para a identificação de um parâmetro de qualidade nos laticínios se faz necessária a especificação do conceito (TOLEDO, 2001). Garvin (1987) apresenta uma síntese das abordagens de gestão da qualidade, vinculadas fundamentalmente ao desenvolvimento de produtos e processos, propondo oito dimensões de qualidade que podem servir como um modelo para análise estratégica: desempenho; recursos; confiabilidade; conformidade; durabilidade; manutenção; estética; e qualidade percebida. Para Steenkamp & Van Trijp (1996), os mercados exigem que as empresas busquem melhorar a qualidade do produto a partir da perspectiva do consumidor (qualidade percebida), ao invés de dar atenção apenas às exigências normativas e conformidades de produto e processos. Assim, a percepção dos consumidores frente à qualidade dos alimentos é um fator preponderante para o crescimento do mercado agroalimentar (CARDELLO, 1995; POULSEN et al., 1996). Os produtos como queijos, iogurtes e bebidas lácteas podem ser diferenciados pelo valor organoléptico (sabor, aparência, odor, textura), pelo valor nutricional (composição) e pelo grau de segurança (qualidade microbiológica, presença de resíduos) (DÜRR, 2006). Entretanto, os consumidores apresentam diferentes percepções em relação às dimensões de qualidade e são orientados por uma gama de atributos, sinais e comunicações (MOSKOWITZ, 1995). A literatura internacional destaca a importância da análise da percepção do consumidor frente às dimensões de qualidade dos produtos lácteos (HEKMAT & REID, 2006; 73 Fazer Melhor GREBITUS et al., 2007; DRAKE, 2007). No entanto, as formas pelas quais os consumidores aceitam ou rejeitam novos produtos lácteos ainda estão longe de serem compreendidas (GRUNERT, BECH-LARSEN & BREDAHL, 2000). Neste sentido, o desafio de futuras pesquisas está em compreender e analisar o processo de percepção dos consumidores frente aos diferentes tipos de dimensões de qualidade dos laticínios (GARVIN, 1987; CARDELO, 1995; CARVALHO et al., 2005; DÜRR, 2006). Como se pode avaliar a qualidade percebida pelos consumidores de laticínios? Quais são as dimensões de qualidade que afetam a percepção do consumidor de produtos lácteos? Quais são as principais percepções dos consumidores brasileiros frente à qualidade destes produtos? Estes questionamentos demonstram a necessidade de maior profundidade de investigações cientificas sobre a percepção no consumo de produtos lácteos no Brasil. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo desenvolver um modelo teórico sobre a formação de percepções de qualidade dos consumidores de lácteos e confrontá-lo com as evidências empíricas de qualidade percebida discutidas na literatura nacional e internacional. A compreensão da qualidade percebida pelo consumidor de laticínios no Brasil auxiliará no desenvolvimento de novos produtos e na formulação de políticas que visem fortalecer o consumo de produtos lácteos no mercado interno. O modelo teórico de formação da percepção de qualidade dos consumidores de produtos lácteos será desenvolvido a partir da revisão bibliográfica dos modelos de Olson & Jacoby (1972), Steenkamp & Van Trijp (1996), Poulsen et al., (1996) e Grunert (2002), acrescidos de informações específicas de pesquisas sobre o consumidor de alimentos na literatura. Posteriormente, busca-se apresentar evidências empíricas sobre percepção de qualidade nos lácteos da literatura internacional e do Brasil, confrontar os resultados com as dimensões do modelo desenvolvido e discutir as relações entre as evidências e os principais desafios para o agronegócio do leite e derivados. O artigo está segmentado em quatro tópicos. Após a introdução, o segundo tópico apresenta os principais modelos para análise da qualidade percebida dos produtos alimentares e propõe um modelo teórico da formação de percepção de qualidade dos produtos lácteos. O terceiro tópico apresenta, confronta e discute as evidências empíricas sobre a qualidade percebida pelo consumidor de laticínios na literatura nacional e internacional com base no modelo teórico desenvolvido. O quarto tópico traz as considerações finais do artigo e provocações para futuras pesquisas. 74 2. A PERCEPÇÃO DE QUALIDADE NOS CONSUMIDORES DE ALIMENTOS A qualidade percebida é uma dimensão subjetiva baseada na inferência dos consumidores por meio de informações presentes no produto e no ambiente de compra. A tradução das exigências dos consumidores em relação às dimensões de qualidade é um dos fatores essenciais para o desenvolvimento de programas de melhoria da qualidade dos alimentos (POULSEN et al., 1996; STEENKAMP & VAN TRIJP, 1996). A compreensão da qualidade percebida pelo consumidor se torna vital para quem não quer apenas produzir alimentos, mas comercializar e tornar-se competitivo nos mercados globais (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). O esforço das empresas do setor alimentar em desenvolver constantemente novos produtos é uma tentativa de satisfazer as diferentes necessidades dos consumidores e oferecer a qualidade exigida pelos usuários finais (GRUNERT et al., 2008). A qualidade percebida é o resultado de um processo de percepção. O juízo sobre a qualidade de um alimento é formado a partir de características visíveis ou invisíveis, as quais podem ser experimentadas, ou apenas associadas com o produto avaliado. As dimensões da qualidade percebida podem ser diferentes dependendo do produto ou da categoria de produtos em estudo. A qualidade percebida varia de acordo com as decisões do consumidor, que diferem entre si, por meio de suas habilidades de percepção, preferências pessoais, nível de experiência e pela finalidade do uso do produto alimentar (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). O estudo da percepção da qualidade do consumidor deve, portanto, mapear os vários aspectos dos produtos alimentares que conduzem a variações de juízos (HANSEN, 2005). A modelagem do processo de percepção de qualidade oferece um quadro útil para explorar a importância dos sinais e atributos de qualidade e suas interações no desenvolvimento de novos produtos alimentares (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). Na literatura, autores como Olson & Jacoby (1972), Steenkamp & Van Trijp (1996), Poulsen et al., (1996) e Grunert (2002) oferecem diferentes modelos analíticos para avaliar a percepção das dimensões de qualidade pelos consumidores finais. Olson & Jacoby (1972) foram os primeiros a identificar na literatura a carência de uma estrutura teórica direcionada a avaliar a percepção dos consumidores, a partir de diversas formas de sinalização, frente à qualidade dos produtos. Estes autores desenvolveram um modelo conceitual para avaliar os sinais de qualidade e testaram empiricamente no processo de compra de cinco categorias de pro- dutos (tapetes, secador de cabelos, café moído, shampoo e aspirina). A principal contribuição deste trabalho foi desenvolver e aplicar os conceitos de sinais intrínsecos e extrínsecos de qualidade. Steenkamp & Van Trijp (1996) desenvolveram um modelo conceitual e metodológico para melhorar a qualidade dos produtos alimentares com base nas demandas dos consumidores. O modelo “Quality Guidance”, de Steenkamp & Van Trijp (1996), fundamenta-se na crença de que os produtos alimentares devem ser desenvolvidos e melhorados de modo a refletir os desejos e gostos dos consumidores, onde a percepção de qualidade é um pré-requisito. O modelo é dividido em duas etapas: um processo de abstração, que relaciona as características físicas do produto com os sinais intrínsecos e atributos de qualidade (sensoriais), e um processo de integração, que descreve como as percepções são transformadas em expectativas e experiências de qualidade. Poulsen et al. (1996) propôs uma extensão do modelo de “Quality Guidance” para avaliar a importância relativa das etapas de expectativa e experiência de qualidade. Para Poulsen et al. (1996) as duas etapas no processo de formação de qualidade não são independentes. As expectativas influenciam a percepção da qualidade por experiência e a experiência influencia a percepção de expectativas de qualidade futuras. Assim, os autores inseriram uma estrutura adicional sobre o processo de integração de Steenkamp & Van Trijp (1996), através de indicadores múltiplos, denominado de “Quality Formation”, onde os sinais extrínsecos de qualidade apresentam um papel mais preponderante. Posteriormente, Grunert (2002) apresentou um modelo denominado de “Total Food Quality” para analisar questões relacionadas à escolha e a percepção do consumidor frente à qualidade dos alimentos. A principal contribuição do trabalho do referido autor foi à organização das dimensões em intenção de compra, por meio de atributos de busca (sinais intrínsecos e extrínsecos na qualidade esperada) e em motivação para compras futuras (experiência de qualidade). Os modelos apresentados se complementam e oferecem um amplo arcabouço conceitual e analítico para compreender o processo de percepção de qualidade por parte dos consumidores de alimentos. De uma forma geral, a percepção de qualidade dos alimentos, nestes modelos, segue três etapas: a formação de expectativas de qualidade, a percepção de qualidade a partir da experiência e a crença na qualidade a partir de atributos de confiança. 2.1. A Formação de Expectativas de Qualidade Durante o processo de aquisição de alimentos, as dimensões de qualidade dos produtos são determinadas, de forma limitada, por características de busca. A fim de tomar decisões de compra, os consumidores necessitam formar expectativas de qualidade, sendo que, apenas após a compra o consumidor irá determinar a qualidade do produto por meio da experiência (GRUNERT, 2002). A expectativa de qualidade é um fator importante no comportamento de escolha do consumidor. Por este motivo, o consumidor tem que confiar em sinais de qualidade no ponto de venda para direcionar a sua escolha entre as diversas alternativas de produtos (STEENKAMP & VAN TRIJP, 1996). As informações utilizadas para formar as expectativas de qualidade são chamadas de “sinais de qualidade1” (OLSON & JACOBY, 1972; GRUNERT, 2002). A compreensão das expectativas de qualidade dos consumidores fornece a indústria alimentar informações valiosas sobre como priorizar determinados sinais de qualidade no desenvolvimento de novos produtos (POULSEN et al., 1996). 2.1.1. Sinais intrínsecos e extrínsecos de qualidade As expectativas de qualidade são baseadas em sinais, definidos como estímulos informativos que estão, de acordo com o consumidor, relacionados com a qualidade do produto, e podem ser verificados através dos sentidos antes do consumo. A expectativa no ponto de compra é resultante de uma integração dos diferentes sinais intrínsecos e extrínsecos de qualidade na percepção do consumidor (POULSEN et al., 1996; OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). Sinais intrínsecos referem-se a atributos do produto que não podem ser alterados ou manipulados sem alterar as características físicas do produto em si (OLSON & JACOBY, 1972). Nos alimentos, alguns exemplos de sinais intrínsecos são: cor, textura, aparência e consistência (STEENKAMP & VAN TRIJP, 1996). Os sinais extrínsecos referem-se a atributos que não fazem parte da estrutura físico-química do produto, como, por exemplo, marca, publicidade, preço e o estabelecimento de venda (OLSON & JACOBY, 1972; GRUNERT, 2002). Enquanto os sinais intrínsecos estão ligados as características físicas do produtos, os sinais extrínsecos são predominantemente determinados pelos esforços de comunicação e de mercado (STEENKAMP & VAN TRIJP, 1996). A observação de um único sinal intrínseco não necessariamente leva a uma percepção definitiva de qualidade. 1 Os sinais de qualidade também são denominados como atributos de busca (GRUNERT, 2002). 75 Fazer Melhor Por exemplo, a textura do salame pode contribuir positivamente para a percepção do sabor, mas negativamente para a percepção do teor de gordura do produto. As interações entre os diferentes sinais de qualidade também contribuem para a formação de juízos sobre um atributo sensorial. Por exemplo, a percepção sobre o sinal intrínseco “aparência” da carne bovina pode ser influenciada por diferentes sinais intrínsecos e extrínsecos, como a cor, a quantidade de gordura intramuscular e o tempo de prateleira (STEENKAMP & VAN TRIJP, 1996). Os consumidores podem utilizar vários atributos do produto como critérios para decisões de compra. Isto sugere que pesquisas que objetivem avaliar a percepção dos consumidores devem incluir várias combinações de sinais de qualidade. Contudo, verifica-se que os sinais intrínsecos apresentam uma tendência de indicar de forma mais precisa a qualidade de um alimento (OLSON & JACOBY, 1972). Dentre os sinais extrínsecos, as marcas são os principais estímulos na avaliação da qualidade esperada por parte dos consumidores. Produtos sem marca, como carne fresca, peixe fresco, frutas e legumes, tornam-se mais difíceis para o consumidor formar expectativas de qualidade. Quando os produtos não apresentam marcas, selos podem oferecer aos consumidores um outro meio de inferir a qualidade dos produtos. Evidencia-se uma proliferação de selos de qualidade e selos de denominação de origem, o que resultou na emergência de dimensões de qualidade baseadas na confiança (GRUNERT, 2002). 2.2. A Percepção de Qualidade a partir da Experiência Após o consumo, o consumidor é capaz de avaliar a qualidade dos produtos alimentares com base no seu desempenho real. O julgamento realizado no processo de consumo é denominado de desempenho e/ou experiência de qualidade. As experiências de qualidade são formadas com base no desempenho percebido dos atributos sensoriais, ou seja, o benefício funcional e psicossocial oferecido pelo produto (HANSEN, 2005; STEENKAMP & VAN TRIJP, 1996; POULSEN et al., 1996). Durante o consumo, o consumidor terá uma experiência de qualidade que muitas vezes não coincidirá com a qualidade esperada. A relação entre a expectativa e a experiência de qualidade é o fator determinante para a satisfação do consumidor com o produto e, portanto, a probabilidade de repetir a compra (GRUNERT, 2002). Os consumidores ao experimentar determinado alimento realizam seu juízo de qualidade, fundamentalmente, por meio das características sensoriais (sabor, odor, frescor, etc.) e características de conveniência (praticidade, forma de preparo, etc.) do produto (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). A experiência com a qualidade é influenciada por 76 vários fatores. O produto em si é um fator fundamental, porém muitos outros desempenham um papel relevante: a forma de como o produto foi elaborado e integrado no processo de preparação da refeição, fatores como dia e tipo de refeição, o humor do consumidor, etc. (GRUNERT, 2002). 2.3. A Qualidade a partir de Atributos de Confiança Atributos de confiança referem-se a propriedades dos produtos que não podem ser percebidas e avaliadas pelo consumidor durante o consumo ou apenas podem ser avaliadas por meio da ajuda de um “expert” (HANSEN, 2005). Os atributos de confiança têm sido cada vez mais relevantes na formação da percepção de qualidade esperada e de experiência de alimentos. Um exemplo de atributo de confiança são os selos ou as informações de produção orgânica nos produtos alimentares. O consumidor não tem como avaliar a credibilidade dos procedimentos agroecológicos e nem identificar a qualidade do produto sem acreditar nos benefícios de tais características de produção (GRUNERT, 2002). Na mesma direção, os benefícios desejáveis nos produtos, como valor nutricional e salubridade, não podem ser experimentados de forma direta, os consumidores têm que confiar no julgamento de outros indivíduos ou nas informações contidas no produto para perceber a qualidade desejada. A margarina, por exemplo, apresenta uma alta porcentagem de gorduras poliinsaturadas, que são consideradas benéficas para a saúde devido à sua capacidade de reduzir o colesterol, entretanto, o efeito é projetado em longo prazo e não é mensurável diretamente pelo consumidor (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). O crescente desenvolvimento de alimentos funcionais fortaleceu as dimensões de qualidades vinculadas aos atributos de confiança. Estes atributos tornaram-se fundamentais no processo de comunicação, uma vez que a maioria dos efeitos dos produtos funcionais na saúde é abstrato, e por vezes, imperceptível. Neste sentido, produtos sinalizados por meio de atributos de confiança necessitam de dispositivos de credibilidade para gerar percepções positivas em relação à qualidade do alimento (GRUNERT, 2002). Os valores pessoais afetarão o grau de importância dos atributos de qualidade de confiança. A relevância dos atributos como benefícios à saúde, preservação ambiental e segurança sanitária estarão dependentes dos valores pessoais e dos diferentes níveis sócio-demográficos dos consumidores (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995). 2.4. A Formação da Qualidade Percebida dos Produtos Lácteos A percepção de qualidade de um produto alimentar é determinada pelas relações entre a expectativa de qualidade, por meio dos sinais intrínsecos e extrínsecos; a experiên- cia de qualidade, por meio do desempenho dos atributos sensoriais durante o consumo; e a crença nos atributos de confiança. Alguns consumidores são mais qualitativamente orientados pelas expectativas, pela experiência, e outros pela confiança em comunicações sobre benefícios à saúde e sobre processos de produção naturais e/ou orgânicos. Nesta perspectiva, Grunert, Bech-Larsen & Bredahl (2000) apresentam quatro dimensões de qualidade que norteiam a percepção dos consumidores de produtos lácteos: a) Dimensão hedonista: relacionada ao prazer sensorial e, principalmente, ligada ao sabor, aroma e aparência. A dimensão hedonista está vinculada ao processo de expectativa e experiência de qualidade. b) Dimensão de saúde: relacionada às formas em que o consumo do produto irá afetar a saúde dos consumidores. A dimensão de saúde está vinculada aos sinais intrínsecos e extrínsecos antes da compra e aos atributos de confiança. c) Dimensão de conveniência: relacionada com o tempo e o esforço que tem de ser gasto ao comprar, armazenar, preparar e consumir o produto. A conveniência faz parte do processo de expectativa e experiência de qualidade. d) Dimensão de processo: refere-se ao interesse dos consumidores com as características do processo de produção do produto, mesmo quando estes aspectos não façam parte do produto físico final. Esta dimensão está ligada à credibilidade da comunicação dos atributos de confiança. Assim, para avaliar a qualidade percebida por parte dos consumidores lácteos torna-se fundamental a integração destas características em um modelo teórico a fim de identificar as especificidades de percepções do mercado consumidor (Figura 1). O modelo teórico apresenta as principais formas de percepção e as características sobre as quais se determina a qualidade percebida pelos consumidores de laticínios. O modelo fornece uma visão geral do que influencia o consumidor antes e após a compra de produtos lácteos, e contempla os principais aspectos conceituais destacados pela literatura. A partir deste modelo teórico, se faz necessário confrontar os aspectos conceituais com as evidências empíricas resultantes de pesquisas de consumidor. 3. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DA QUALIDADE PERCEBIDA NOS LATICÍNIOS A questão fundamental para o avanço do setor lácteo está na relação entre a introdução de novos produtos no mercado e a evolução das necessidades e preferências do consumidor (GRUNERT et al., 2008). Este tópico busca apresentar e discutir evidências empíricas sobre o processo de percepção de qualidade dos lácteos na literatura internacional e no Brasil. A análise e discussão de evidências são realizadas com base nos pressupostos teóricos apresentados e no modelo proposto no tópico anterior. 3.1 Evidências na Literatura Internacional Os principais formadores da qualidade percebida dos laticínios são os atributos sensoriais. Estes são primordiais para a difusão da imagem dos lácteos como saborosos e saudáveis (DRAKE, 2007). Em pesquisa de percepção do consumidor na Austrália, Bus & Worsley (2003) indicam que o sabor é um dos principais determinantes da escolha do tipo de leite para consumo e está vinculado ao teor de gordura contido no produto. Para os consumidores australianos, leite de qualidade é um produto prático e seguro, com boas propriedades sensoriais e que proporciona uma boa fonte de nutrientes. O sabor, por vezes, não é Figura 1 – Modelo teórico do processo de formação da qualidade percebida pelo consumidor de produtos lácteos. Características físico-químicas Acidez, Gordura, Proteínas, Lactose, Vitaminas, Minerais, Adição de Prebióticos e/ou Probióticos. Atributos de Busca Atributos de Confiança Comunicações de produção orgânica e benefícios à saúde. Sinais Intrínsecos Aparência, Forma, Cor, Validade, Tamanho, Umidade, Estrutura, Inspeção sanitária. Sinais Extrínsecos Preço, Marca, Origem, Informação Nutricional, Embalagens, Loja Propaganda, Conveniência. Expectativa de Qualidade Atributos Sensoriais Sabor, Aroma, Odor, Textura, Consistência, Umidade, Cremosidade. Antes da compra Após a compra Experiência de Qualidade Qualidade percebida Fonte: elaborado pelo autor com base em Olson & Jacoby (1972); Steenkamp & Van Trijp (1996); Poulsen et al. (1996); e Grunert (2002). 77 Fazer Melhor o principal determinante do tipo de leite para consumo. A crença sobre benefícios a saúde é um atributo decisivo para a compra e percepção de qualidade do leite com baixo teor de gordura (BUS & WORSLEY, 2003). Na pesquisa de Grebitus et al. (2007) com consumidores de leite da Alemanha, a validade, o frescor e o preço são os principais fatores que afetam a compra e a percepção de qualidade do produto, enquanto que comunicações de receitas, informações nutricionais e a variedade de produtos têm um baixo impacto nas decisões dos consumidores. Os sinais extrínsecos relacionados às características de conveniência aumentam a freqüência de consumo do leite integral. A pesquisa de Bower & Baxter (2003) sobre a percepção do consumidor de sorvete na Escócia conclui que os consumidores percebem qualidade e adquirem o sorvete devido ao peculiar sabor do produto e pelos aspectos sensoriais de aroma e textura. Segundo os autores, apesar do elevado grau de gordura saturada contida nos sorvetes, os consumidores vinculam o consumo a dimensão hedônica de qualidade, privilegiando o prazer e o sabor do produto. Em Zimbábue, na África, Chimboza & Mutandwa (2007) identificaram cinco fatores determinantes na escolha de produtos lácteos em geral: comunicação, preço, disponibilidade do produto, embalagens e sinais de qualidade. Dentre estes cinco fatores, a percepção de qualidade dos consumidores está vinculada, fundamentalmente, ao sabor e ao tempo na qual o produto pode ser armazenado e consumido sem perder os benefícios nutricionais. Novos produtos lácteos, como os alimentos funcionais, estão sendo lançados nos mercados posicionando-se na dimensão de qualidade relacionada à saúde (GRUNERT, BECH-LARSEN & BREDAHL, 2000). Para Siró et al. (2008) as principais condições para a aceitação dos produtos funcionais estão vinculadas ao sabor, segurança sanitária, preço, conveniência e a confiabilidade das alegações de saúde. A pesquisa de Hekmat & Reid (2006), no Canadá, procurou avaliar e comparar as propriedades sensoriais do iogurte com probiótico e do iogurte padrão. Os resultados demonstraram que a aparência, o sabor, a textura e a qualidade global do iogurte com probiótico foram semelhantes ao do iogurte padrão. Evidencia-se também o crescente desenvolvimento de produtos lácteos orgânicos. Grebitus et al (2007) conclui que os consumidores de leite orgânico são influenciados, em maior grau, pelos atributos de qualidade de confiança associados à credibilidade do processo de produção orgânica. A comunicação da produção orgânica através de um selo funciona como um sinal de qualidade extrín- 78 seco que pode ser utilizado em atividades de promoção (GREBITUS et al., 2007). 3.2. Evidências na Literatura Brasileira A pesquisa de Carvalho et al. (2005) buscou identificar, por meio de um estudo de caso em Minas Gerais, os atributos considerados relevantes pelos consumidores para que o leite seja considerado um produto de qualidade. Os resultados indicam que os consumidores valorizam, especialmente, o sabor, o odor, a consistência e a aparência do produto para inferirem-lhe qualidade. Os consumidores afirmaram ser necessário que o leite seja limpo, livre de conservantes, e rico em nutrientes. Consumidores de faixa etária mais jovem consideram a gordura do leite um componente maléfico à saúde. Em relação aos sinais extrínsecos, os consumidores atribuem qualidade ao leite pela praticidade, marca, procedência, comunicação de higiene, ponto de venda, e embalagem de fácil abertura, manuseio, armazenamento e descarte. Em relação ao sinal intrínseco de validade alguns consumidores desejam que o leite tenha uma vida de prateleira prolongada, enquanto outros percebem que a maior durabilidade está vinculada à adição de conservantes ao produto. Para alguns consumidores, o leite desnatado é de melhor qualidade por conter baixo teor de gordura, característica físico-química que beneficia a saúde (CARVALHO et al., 2005). O trabalho de Santana et al. (2006) realizou a análise sensorial de qualidade de três amostras de iogurte (produzido com leite integral, com leite desnatado e com leite desnatado adicionado com proteína de soja). Os resultados demonstraram que os três tipos apresentaram boa aceitação, destacando-se a percepção de qualidade em relação à aparência, aroma, sabor e textura. No caso do sorvete, Maia et al. (2008) avaliou a qualidade no consumo de dois tipos de sorvete (produzido com sacarose e com xilitol). A adição de xilitol no sorvete busca a prevenção da cárie dentária e auxilia no tratamento de obesos, diabéticos e em indivíduos com nutrição parenteral. Ambos os tipos de sorvete apresentaram boa aceitabilidade e qualidade percebida nos quesitos aparência, cor, doçura e sabor. Para consumidores obesos e diabéticos, a percepção de qualidade está vinculada à adição de xilitol e as comunicações dos benefícios de tal substância a saúde (MAIA et al., 2008). O estudo de caso de Araujo, Silva & Khan (2004) buscou identificar o motivo de consumo do iogurte na Bahia. Os autores verificaram que o valor nutricional, o sabor, a identificação de um produto natural e o preço são os principais motivadores da compra. A qualidade percebida pelos consumidores do iogurte está atrelada ao registro na embalagem do iogurte que indique a existência de algum órgão que controla a qualidade do produto. No estudo, 53,1% dos consumidores têm a preocupação de fazer a verificação sobre a inspeção sanitária. O perfil de consumo de queijo do município de Campinas foi avaliado por Garcia (2003) que identificou que a percepção de qualidade de diferentes tipos de queijo está vinculada aos sinais intrínsecos de aparência e validade, ao sinal extrínseco de marca e ao atributo sensorial de sabor. Cada vez mais queijos e produtos lácteos fabricados com leite de ovinos e búfalos têm entrado no mercado brasileiro. O consumidor tem procurado os produtos lácteos de leite de búfala, pois atribuem maior qualidade a estes laticínios devido à maciez, paladar suave e aspectos nutricionais (TEIXEIRA, BASTIANETTO & OLIVEIRA, 2005). Na maioria dos estados brasileiros existe a tradição do consumo de produtos artesanais/coloniais por serem considerados, pela população, mais naturais e saborosos, e por vezes, de melhor qualidade devido o produto não ser industrializado e produzido com conservantes (ZAFFARI, MELLO & COSTA, 2007). Entretanto, os estudos de Brant, Fonseca & Silva (2007) e Zaffari, Mello & Costa (2007) demonstram que a qualidade higiênico-sanitária dos queijos coloniais é muito precária e o seu consumo constitui perigo de infecção à população em geral. 3.3. Análise e Discussão das Evidências A formação da qualidade percebida pelos consumidores de produtos lácteos, tanto no Brasil como em nível internacional, segue três caminhos: a qualidade esperada, qualidade na experiência e a qualidade por meio de atributos de confiança. Uma síntese das evidências empíricas sobre percepção de qualidade e motivação de compra nos diferentes produtos lácteos é apresentada na Tabela 1. Os principais indicativos de qualidade são os atributos sensoriais avaliados no consumo, como: sabor, consistência, textura, aroma, e frescor. Na formação da qualidade esperada, por meio dos atributos de busca, os sinais extrínsecos aparecem com maior relevância, onde os consumidores atribuem qualidade por meio da embalagem, da conveniência, do preço, da marca e das comunicações do valor nutricional. Dentre os sinais intrínsecos mais destacados estão à aparência e a validade do produto. Constata-se que as características e comunicações de inspeção sanitária nem sempre são citadas como um sinal de qualidade percebida nos produtos lácteos. As exigências de controle sanitário através de normativas institucionais e por processos de controle de qualidade industrial crescem à medida que o consumo se fortalece no mercado interno e quando se vislumbra a possibilidade de acesso a mercados externos. No Brasil, a conformidade dos produtos às normativas de qualidade deve ser melhor comunicada em Tabela 1 - Principais formas de percepção e características dos laticínios que afetam o processo de inferência da qualidade percebida dos diferentes produtos lácteos. Produto Principais formas de percepção Características do produto Leite Atributos sensoriais Sinais intrínsecos Sinais extrínsecos Características físico-químicas Atributos de confiança Sabor, Frescor. Aparência, Validade. Embalagem, Conveniência, Preço, Marca, Informações nutricionais. Teor de gordura. Comunicações de benefícios à saúde (leite desnatado e orgânico). Queijos Industrializados Atributos sensoriais Sinais intrínsecos Sinais extrínsecos Características físico-químicas Sabor, Consistência Inspeção Sanitária, Validade, Aparência. Preço, Informação nutricional, Marca. Teor de gordura Coloniais Atributos sensoriais Atributos de confiança Sabor, Consistência Comunicações do processo de produção natural e/ou orgânico. Iogurtes Atributos sensoriais Sinais intrínsecos Sinais extrínsecos Atributos de confiança Sabor, Consistência, Aroma. Aparência. Conveniência, Preço, Marca. Comunicações dos benefícios à saúde dos iogurtes funcionais Sorvetes Atributos sensoriais Sinais intrínsecos Sinais extrínsecos Atributos de confiança Sabor, Aroma, Textura. Aparência. Marca. Comunicações dos benefícios da adição de xilitol e assemelhados. Fonte: elaborado pelo autor a partir da revisão de evidências empíricas. 79 Fazer Melhor sinas intrínsecos e/ou extrínsecos para que os consumidores possam atribuir importância e utilidade aos aspectos de segurança sanitária. Outra questão importante a salientar é a alegação, por parte de consumidores brasileiros, de que os produtos coloniais apresentam melhor qualidade. A qualidade, neste sentido, está apenas baseada na crença em processos de produção naturais e orgânicos, criando um paradoxo, na qual, na visão do consumidor, o produto não industrializado traz benefícios à saúde, enquanto pesquisas2 demonstram que grande parte destes laticínios apresenta um elevado risco de contaminação por microorganismos patogênicos. Um desafio para o setor de lácteos do Brasil está em fortalecer o controle de qualidade sanitária das agroindústrias familiares a fim de prover e comunicar a segurança dos produtos coloniais e orgânicos. Os iogurtes e bebidas lácteas funcionais têm sua qualidade identificada por meio da crença nas comunicações de benefícios à saúde (atributos de confiança). Para a indústria de laticínios se torna imprescindível aliar os atributos sensoriais desejáveis com a adição de probióticos para competir no mercado interno. A percepção de qualidade vinculada a aspectos de saúde e de processo de produção é uma questão de credibilidade de comunicação. Neste sentido, cresce a importância para o setor de lácteos do Brasil de fornecer credibilidade ás informações dos atributos de confiança (selos de produtos naturais e/ou orgânicos e comunicações dos benefícios dos aditivos funcionais), fundamentalmente, por meio de parcerias entre produtores/indústrias com organizações de apoio da cadeia produtiva (instituições de pesquisa e extensão rural, cooperativas, sindicatos, etc.). Por fim, cabe destacar três questões vitais apresentadas por Grunert, Bech-Larsen & Bredahl (2000) para o desenvolvimento e a aceitação de novos produtos lácteos que corroboram com as evidências empíricas de percepção no Brasil e com a discussão até aqui realizada: a) comunicação sobre dimensões de qualidade de confiança; b) as atitudes dos consumidores para dar crédito às características de confiança; e c) os processos de inferência na percepção 2 Zaffari, Mello & Costa (2007) constataram que 27 dos 29 estabelecimentos pesquisados que comercializam queijo colonial no litoral norte do Rio Grande do Sul apresentavam queijos com coliformes fecais acima do limite máximo determinado pela ANVISA, e 16% das amostras continham Listeria spp (bactéria que pode causar meningite e septicemia). Brant, Fonseca & Silva (2007) concluíram que 92,5% das amostras pesquisadas de queijo minas colonial de Minas Gerais eram impróprias para o consumo humano, sendo a principal causa de condenação à contagem de Staphylococcus coagulase positiva. 80 de qualidade. A compreensão da qualidade percebida no mercado brasileiro auxiliará na difusão e desenvolvimento de novas categorias de produtos, atendendo as diversas demandas dos consumidores finais. Evidencia-se que o caminho para o fortalecimento do setor de lácteos no Brasil passa pelo aperfeiçoamento das comunicações de qualidade, seja elas de aspectos físicosanitários, sensoriais, de conveniência ou funcionais, para que o cliente final realize um consumo consciente a partir das percepções das diferentes dimensões de qualidade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O modelo teórico desenvolvido buscou compreender o processo de percepção de qualidade pelos consumidores dos produtos lácteos. O relato e discussão das evidências empíricas encontradas na literatura internacional e do Brasil possibilitou verificar que o modelo contempla os principais atributos e sinais de qualidade percebidos pelo consumidor de laticínios. Constatou-se que a qualidade percebida está diretamente vinculada ao processo de experiência, por meio do desempenho dos atributos sensoriais do produto, seguidos dos sinais extrínsecos e intrínsecos inferidos antes do consumo e da crença nos atributos de confiança. Assim, fortalecer as comunicações em torno dos benefícios a saúde, dos atributos sensoriais e o desenvolvimento de produtos e embalagens que explorem a dimensão de conveniência são estratégias a serem mais bem exploradas no Brasil. A percepção da qualidade por meio da conformidade a requisitos de controle higiênico-sanitário foi pouco citada nos estudos empíricos pesquisados. Acredita-se que o controle de qualidade higiênico-sanitário é de extrema relevância para a competitividade e credibilidade do setor, porém deve ser comunicado de forma mais contundente nos atributos de busca dos produtos lácteos para que os consumidores se conscientizem da importância de um consumo seguro. Cabe destacar que esta comunicação não deve ser vista como uma forma de diferenciação, mas como uma forma de otimizar as informações relativas a segurança do alimento. A crescente demanda por produtos lácteos naturais/orgânicos e funcionais está atrelada à confiança em atributos de qualidade de difícil mensuração, que devem ser comunicados de forma fidedigna para garantir a segurança sanitária e os benefícios à saúde creditados pelo setor industrial e varejista. O mercado de lácteos funcionais encontra-se em amplo crescimento no Brasil para atender a constante renovação das necessidades dos consumidores. A viabilidade do desenvolvimento de novos produtos passa pelo estudo da percepção de qualidade, o que estimulará a demanda em toda a cadeia produtiva. As pesquisas que avaliam a qualidade percebida pelos consumidores de laticínios no Brasil ainda são restritas e baseadas em estudos de caso com produtos específicos. A revisão teórica apresentada no artigo possibilitou inferir que a temática proposta desafia futuras investigações de caráter multidisciplinar no âmbito do agronegócio do leite e derivados a desvendar as diferentes formas de percepção de qualidade pelos consumidores de alimentos. Grunert, K. G., Jensen, B. B., Sonne, A., Brunso, K., Byrne, D. V., Clausen, C. et al. (2008). User-oriented innovation in the food sector: relevant streams of research and an agenda for future work. Trends in Food Science & Technology, 19, 590 – 602. Hansen, T. (2005). Understanding consumer perception of food quality: the cases of shrimps and cheese. British Food Journal, 107(7), 500-525. 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