CD X.cdr - Fundação Torino
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CD X.cdr - Fundação Torino
REVISTA CULTURAL CARPE DIEM Revista dos alunos da Fundação Torino - Número X - Fevereiro, 2011 - Distribuição gratuita Editorial Mais uma Carpe Diem, mais uma confirmação de que vale a pena acreditar nos jovens. Mais uma vez, uma equipe, um olhar, uma publicação, que se concretiza no ato de escrever com confiança e prazer, num movimento que educa pela leitura e por novas descobertas. Com autonomia e competência, os alunos nos mostram, na maneira em que se expressam, a voz própria daqueles que sabem “dar o seu recado”. Sem dúvida, sabem tratar das coisas do nosso tempo com criatividade. Queria escrever alguma coisa que demonstrasse minha alegria de ver mais este novo número da revista. Queria falar do desafio de um trabalho como este. Queria mostrar o comprometimento do grupo que se reúne todas as sextas-feiras. Queria descrever o envolvimento que percebo e a cumplicidade que vejo se consolidar todos os dias. Não é fácil! E me dou conta de que, na verdade, estou meio fora de tudo isso. Mais uma observadora que uma coordenadora. Qualquer coisa que eu diga parece que deixa escapar o que eu queria dizer. Não posso usar palavras em vão. Disponíveis, elas são vulneráveis e tenho de tratá-las com um cuidado de que temo não dispor. A pequena sala em que se realizam os encontros é um espaço que, mesmo democrático, é muito particular. É o universo da confabulação, da troca, da interação, da amizade, por isso indizível. O fato é que este projeto tem se mostrado uma ferramenta eficaz na criação do vínculo intelectual, no aprimoramento da escrita, na relação qualificada de colegas. Um jeito dinâmico de pensar a língua, a liberdade de trânsito nos múltiplos trajetos do texto impresso, não só em português, vem conquistando outros públicos, fora do ambiente escolar. Isso é muito! E muito bom! As palavras concretas e atentas de Arnaldo Antunes, o entrevistado nesta edição, ilustram de maneira brilhante a relação que este grupo da Fundação Torino, através da linguagem, estabelece com o mundo. Como acho que faz parte da natureza humana querer retribuição pelo esforço, faço aqui um agradecimento especial a Amanda, que com talento, dedicação e responsabilidade, trabalhou nos últimos 4 anos para que a Carpe Diem continuasse cada vez melhor. Boa leitura! Lourdinha Professora de português da Fundação Torino Arte: Chiara Costanzi I Liceo Cartas É realmente engraçado como, quando paro mesmo que um minuto para reparar em um ou outro detalhe da revista – alguma imagem que me chama a atenção ou algum poema – sempre acabo por passar quase horas inteiras lendo e relendo-a, e simplesmente me esqueço do que estava fazendo ou iria fazer. A Carpe Diem tem essa característica meio viscosa - por mais que soe um adjetivo terrível em se tratando de elogio; ela consegue captar a atenção do leitor e transmitir tanta informação útil de uma forma fluida, sutil, mas que se conserva, permanece na gente. E dá vontade de mais, depois disso: o visco se adere na gente. Até mesmo o fato de ter matérias em quatro idiomas faz com que o interesse cresça: as palavras possuem uma significação inerente às respectivas línguas, o que dá margem ao leitor que as interprete dentro das características culturais de cada idioma. É ótimo poder ver o trabalho tão interessante que alunos – humanos e cidadãos, antes de qualquer outra coisa – mantêm, e é ainda melhor ele existir de forma tão palpável – na palavra impressa. Carolina Santana Colaboradora Index Cartas 3 Pelo Mundo 4 Entrevista 5 Clinamen 8 Opinião 14 Poesias 16 Perfil 18 Biografia 20 Etimologia 21 Carpe Noctem 21 Recomenda 22 Tirinha 24 Passatempo 25 Seção Curinga 26 Plunkt Plakt Zum 27 Envie sua crítica, sugestão, desenhos, textos ou comentários: [email protected] Praga Scendendo le scale di una vecchia bottega c’è una pasticceria. Nuotando tranquillamente in mezzo alla rumorosa folla si vedono piuttosto spesso dei cigni. Conosciuta per i suoi bellissimi ponti , i suoi caffè e, naturalmente, le defenestrazioni di Praga, la città mostra un movimento culturale molto forte. Con un gran numero di teatri e diversi spettacoli di burattini essa offre un’incredibile gamma di possibilità turistiche o meno. Essendo una città ancora profondamente legata all’Impero Austroungarico essa ha una struttura architettonica assai bella e particolare. Ci sono, inoltre, da assolutamente visitare, le PeloMundo 04 birrerie e, per i fan del cinema europeo, diversi set cinematografici , musei e castelli. La così detta “Roma del Nord” ha, inoltre, pure lei un suo Tevere. Il fiume Moldava, che da un’aria, in un certo senso, magica alla città, è forse la più bella “attrazione” di Praga. Cigni e anziani aspettando il tramonto compresi. Saranno le pasticcerie in vicoli nascosti, o gli uomini leggendo il giornale nelle piazze oppure, ancora una volta, i cigni. Non so. Fatto sta che la città di Kafka ha qualcosa di speciale. Mantenuta attraverso i secoli. Laura Rende III Liceu Como é seu processo criativo? Eu sempre trabalho com muito rascunho, com muitos pedaços de papel, nunca penso em uma coisa, e ela já está feita. Eu tenho sempre um momento de criação que é mais um insight aquela coisa que sai mais espontânea. Só que sempre existe um trabalho de reler, de lapidar, editar, tirar o que está s o b r a n d o, i n c l u i r a l g o, retrabalhar - a criação tem uma função muito seletiva. O engraçado é que às vezes o resultado ao qual se chega é muito diferente da ideia inicial. Às vezes é o próprio processo que dá o caminho para o resultado final. No ritual da criação, você pensa em como o seu trabalho será recebido pelo público e como o afetará? Não penso muito no público, não. É um impulso de expressão emocional e acho que a graça de se fazer produção artística é sempre a imprevisibilidade, a surpresa: cada pessoa vai entender e se sentir de um jeito. No universo da música popular, o aspecto coletivo faz parte da linguagem, aquela coisa de todo mundo cantar junto, mesmo assim eu tenho a mesma liberdade de não me reger por expectativas externas. Não dá para pensar de maneira uniforme sobre o público. Foto: Divulgação - Márcia Xavier O músico e poeta Arnaldo Antunes esteve em Belo Horizonte para uma performance poética. Apresentou-se no auditório da Reitoria da UFMG, convidado pelo projeto Sentimentos do Mundo. A equipe assistiu à performance, participou de uma conversa aberta ao público e teve o prazer de conhecêlo. Trazemos para vocês trechos do batepapo. O seu trabalho tem um humor sutil, simplicidade e, às vezes, teor infantil. Já aconteceu de você estar fazendo uma música e colocar algumas palavras complexas, longe do vocabulário popular, e então voltar atrás e colocar alguma coisa mais simples? Não, nunca pensei “ah, vou usar aqui uma linguagem mais simples”. Ac ho que isso naturalmente se adequa à natureza de cada composição. Às vezes soa quase infantil, porque às vezes tem essa coisa de revelar algo que é óbvio, mas passa a ser estranha no momento em que você menciona, porque ninguém Entrevista Arnaldo Antunes 05 estava reparando daquele ponto de vista, causando sempre um estranhamento, mas ao mesmo tempo sendo muito simples e claro. Você acha que qualquer um pode criar? Eu acho, sim, que qualquer um pode criar. Acho que existem pessoas que conseguem ser artistas na maneira como exercem suas atividades, não precisa ser um poeta ou um artista plástico ou um músico. Conheci cantadores do Nordeste que eram analfabetos, mas viviam de uma tradição oral. Conheci até um poeta cego que era interessantíssimo, cheguei até a copiar muita coisa dele e depois mandar para ele poder vender. Às vezes a pessoa não tem o código escrito, mas tem o código oral impregnado e faz um sistema de línguas complexo, uma estrutura bem Entrevista 06 «[...] acho que a graça de se fazer produção artística é sempre a imprevisibilidade, a surpresa [...]» elaborada. Consegue ser um bom poeta sem ter uma formação tradicional. Claro que todas as informações que você tiver, todas as leituras, vão se somar e lapidar o tipo de produção que você vai ter. Isso pode melhorar a sua arte, mas existe sempre o mistério que faz com que as pessoas possam ser artistas. Acho que a questão da produção artística tem muito mais a ver com o ‘como’ do que com o ‘que’ até. É o como você faz. O que você pensa da relação entre música e poesia? Como funciona esta fronteira? Eu vivo o paradoxo de fazer as duas coisas: trabalho com música popular e publico livro de poesia, ambos têm penetração, público, natureza e linguagem diferentes. A palavra na canção está associada à melodia, ao ritmo, ao acompanhamento, ao Quem é? Arnaldo nasceu em São Paulo em 1960. Sua carreira de músico e compositor teve início em 1982, com a banda Titãs, e continuou em discos solo e parcerias, como os projetos musicais Os Tribalistas, ao lado de Marisa Monte e Carlinhos Brown, e Pequeno Cidadão, junto a Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto, só com músicas para crianças. Sua obra poética está mergulhada na sonoridade e nas imagens que as palavras evocam - inspirada em Haroldo e Augusto de Campos. Publicou diversos livros, entre eles As coisas, ilustrado pela filha Rosa, então com três anos, e Como É que Chama o Nome Disso, que reúne poemas, ensaios, letras de música e caligrafias. Lançou o disco Iê Iê Iê no ano passado e, mais recentemente, o livro n.d.a.. Isabel Pellegrinelli ex-aluna De que maneira as pesquisas sobre as poesias de vanguarda (que no início do século romperam a barreira dos sentidos) influenciam a matriz sonora do seu trabalho? N u n c a f i z u m exe r c í c i o totalmente sonoro de poesia, como vários artistas da época dadaísta experimentavam. Mas a minha poesia, várias vezes, usa a sonoridade como elemento material. De certa forma, as linguagens experimentais servem pra alimentar um repertório de ousadias que qualquer artista deve ter, sem ter que seguir uma escola ou repetir o que já foi feito. Eu conheço muita coisa, sempre tive interesse nessas manifestações artísticas, mas nada que eu tenha pesquisado metodicamente para o meu trabalho, ou me inspirado com mais afinco. Na cena artística brasileira, quais os nomes você acha que merecem destaque? Nossa, tanta coisa, né? De música popular: Noel Rosa, Sinhô, Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi; de Bossa Nova: Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Luiz Melodia, Tim Maia, Jorge Ben Jor; depois vem Paulinho da Viola, Roberto Carlos, Erasmo Carlos; sem falar da minha geração, Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Lobão, Titãs; e depois, tem mais coisa dos anos 90, mas é muito pra falar. E sobre a musicalidade mineira? Não citei antes, mas adoro e cresci escutando Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, o pessoal do Clube da Esquina. São muito importantes na minha formação. Gosto, conheço e admiro Pato Fu, Skank e Jota Quest, colegas de gerações mais próximas à minha. Você consegue enxergar na sua obra algum eixo central que se desgalha? Acho que tem alguns eixos: um lado mais construtivista, um mais lírico, um mais comportamental. Falei há pouco dos rascunhos, e acho que são uma espécie de eixo. Acho que a preocupação material em coisificar a linguagem também pode ser um tronco que norteia tudo que faço. Tem algumas imagens recorrentes, como o sol, a morte, as coisas do mundo, mas não dá pra dizer que há um eixo temático. Editada pela equipe Entrevista timbre, ao comportamento no palco, a todo um universo muito diferente do ato solitário de quem lê a palavra impressa no livro ou em outro meio. A música popular tem uma penetração de massa, já a poesia possui um público minoritário, é uma arte para quem se interessa. Eu acho que o trânsito entre essas duas coisas é muito fluente, já crio sabendo se aquilo é para ser cantado ou se é para ser lido, ou visto como elemento gráfico. Mas é importante citar que muita gente menospreza a canção popular, como se ela fosse só uma ar te de entretenimento e a poesia uma a r t e m a i s c u l t a , intelectualizada. Não compartilho esse preconceito, é claro. Me interessa desfazer este tipo de compartimentagem de territórios. 07 Vivaldi Variante - Clinamen 08 Vivaldi! Raquel França Batista ex-aluna -Verônica? -Venha varrer o vedete! -Vai varrer você! -Vagal! Vagabundo!Vergonhoso- vive do ventriloquismo. -Verdade, viciei veemente. -Verme. -Vou vegetar vergonhosamente. -Vivi vitalizando você, que viveu vagalmente! Vergonhoso, você! -Vergonhoso...Vergonhoso?Vadia! -Vagabundo! -Virei VERUSCA! -VERUSCA? Que vulgar... -Vegetariano também. -Você virou variante!Que vedetismo! -Velha varizenta! -Vacilou,vadio! -Vai me vaiar? -Vou. -Venha! -Vulturino! -Vultosa! -Voyer! -Vesga! Vesga! Vesga! -Vitrola! -Viscosa! -Vigarista! -Vulgar! -Vurmoso! -Ah, vou vadiar. -Vá. -Vou viajar. -Vá! -Vou para Varginha. -VÁ! -Vou vegetar! -Vá, que vou viver minha vida! Arte: Raquel França Batista - ex-aluna Story knew that I had to do it. Very, very slowly, I walked a few more reluctant steps towards the plane, and climbed up the stairs that brought me to the door of the white robotic bird. I would be fine. I told myself, as I ignored the stares and showed my ticket to the smiling flight attendant with her perfect white teeth. 14-D, 14-D .... there it was! I sat down mec hanically and hugged my bag, disgusted at the cold and hospital-like air conditioner that silently blew in every direction of the plane. It soon started to get fuller, as worried mothers and uninteresting businessmen sat down. Suddenly, a little porcelain-skinned boy sat down beside me, proudly showing off his “Unaccompanied Minor's” card. I could still run, I desperately thought. At some point, he asked me “Are you okay?”, but I did not have the time to even nod, because the plane started moving. I clutched my bag even more frantically. “You're afraid, aren't you?” he asked in his slightly mocking voice. “Don't worry, you'll be okay. I used to be afraid too, you know, but I got used to it. It even gets to be kind of fun. I mean, when the bumps aren't too violent, because then...” My eyes widened with fear. “Oh, I'm sorry. Look, at least you're not as bad as the lady over there” he said, pointing to a chubby dark-skinned woman with closed eyes that trembled and desperately prayed. “Here, have some gum,” he said, as he took out a tablet of mint Trident. “It helps the pressure.” I stared at him inquisitively, but took one. The plane's movement got faster. Foto: Alexandre Fonseca “Take my hand” he whispered, as the plane took off. Well, I survived. Laura Lobato-Baars II Liceu Clinamen I had never felt so nervous in my life, but I 09 O Túnel Clinamen 10 de um túnel de uma cidade grande, paredes pichadas (ou grafitadas? Ela nunca entendeu qual era a diferença). As paredes estavam fracamente iluminadas por uma luz que parecia vir de trás. Ela se virou e viu uma iluminação fortíssima na saída do túnel que penetrava muito pouco dentro dele. “Irônico”, pensou, “uma luz no fim do túnel.”. Ela sentiu uma enorme vontade de ir em direção à luz, era completamente branca, limpa e convidativa. Curiosa, ela deu o primeiro passo, o túnel ficou mais escuro, ele fedia, era úmido e frio, a luz era um convite bem mais agradável. Ela deu mais um passo, o túnel ficou ainda mais escuro, úmido e malcheiroso. “O lugar de onde vem essa luz provavelmente terá algo para comer, eu estou morrendo de fome!”, pensou. Antes que ela desse o próximo passo, a luz no fim do túnel falhou, mas ela estava decidida a seguir em frente. “Carregue em cento e cinquenta!” , disse uma voz ainda muito baixa em sua cabeça, antes de a luz falhar mais uma vez. Ela não deu importância, quando chegasse à luz, tudo aquilo acabaria. “Dora! Dora!”, disse outra voz dentro de sua cabeça. Parecia muito com a de seu marido, a voz parecia assustada, mas não deu importância, ele deveria estar no fim do túnel, esperando por ela. “Duzentos!” a luz oscilou novamente. “Dorinha, minha filha!”, chamou a voz de sua mãe. “Ela parece preocupada. O que aconteceu?”, pensou ela. “Trezentos 'joules'!” a luz falhou e ficou um pouco mais fraca do que antes. “Dora, minha filha, não se vá!”, a mãe agora estava chorando e Dora finalmente entendeu o que estava acontecendo, ela tinha que decidir: ir ou não até a “luz”. Ela estava cansada do túnel, aquele lugar sujo, fétido e frio, apesar dos momentos de claridade. O outro lado do túnel era um lugar onde a “luz” predominava, um lugar onde a visão não era limitada por paredes. Mas Dora não queria deixar seus amigos e família para trás… ela não sabia o que fazer… A luz estava ficando cada vez mais fraca, agora estava na hora de decidir… “Não nos deixe, Arte: andmo nkeysmightfly Estava escuro, ela podia ver que estava dentro Um breve relato sobre a televisão e seus telespectadores Henrique Pimenta III Média A Fernanda Santos Rossi aluna em intercâmbio Cliname meu amor! Agora ela está nas mãos de Deus, Ricardo…”. Dora deu um passo à frente, foi até a “luz”, minutos antes de ela se apagar… A televisão brasileira é hoje alvo de inúmeras críticas, muitas vezes fundamentadas. Entende-se televisão brasileira pela famosa TV aberta, que consiste em alguns canais lutando pela audiência, na maioria das vezes, a qualquer custo. O grande público de suas programações é a corriqueiramente denominada “massa”, que normalmente não tem acesso a uma “televisão a cabo”. O que acontece no final das contas é uma interminável disputa da atenção de seus telespectadores. Suas principais armas são o sensacionalismo e a “enrolação” (não caberia outro verbete mais adequado), os quais prendem a atenção utilizando-se da emoção e da curiosidade. Posso criticar de diversas maneiras as artimanhas da nossa querida televisão, mas não posso deixar de destacar que essa também possui a sua qualidade. Muitas emissoras apostam em programas informativos e culturais, o que pode ser extremamente útil, pois dispensa muitas vezes a leitura de um jornal renomado quando não temos tempo ou até mesmo disposição. E o que dizer sobre as pessoas que têm acesso a outros canais que não sejam somente da televisão aberta? Acredito por incrível que pareça que esse privilégio pode acarretar em certa alienação, digo principalmente no universo dos mais jovens. O fato é que, ao se deliciar com seriados e programas de entretenimento em geral, o jovem de hoje, já muito atarefado e sem tempo para se informar com qualidade, acaba por viver sem procurar nenhuma fonte de informação, seja ela televisiva ou não. Obviamente, existem as exceções, que conseguem lidar com a vida escolar e extra-escolar sem perder o que acontece de mais importante ao seu redor e no mundo. Deixo enfim o meu alerta a qualquer pessoa, não importando a idade ou condição financeira: informação enriquece e te faz sentir mais “participante do mundo”, e mais, o primeiro passo para qualquer solução de qualquer problema é conhecê-lo a fundo. 11 Epidemia O Arte: Celtic Beauty Clinamen 12 amor contaminou minha razão, meus pensamentos e meus sonhos. O amor afetou todos os membros do meu corpo. O amor se alastrou pela minha pele e trouxe arrepio, tremedeira e suor frio. O amor se espalhou pelo meu sangue, minhas veias e foi direto para o meu coração. O amor atacou meus pulmões. O amor se instalou como borboletas em meu estômago. O amor contaminou meu sistema imunológico. O amor desarmou minhas defesas, me deixou vulnerável. O amor tornou inútil todos os antibióticos, todas as receitas, todos os remédios. O amor passou despercebido pelo raio x, pelo ultrassom e pela ressonância. O amor contaminou meus diagnósticos que agora estão cheios de amor, amor e mais amor. O amor tirou o meu sono, minha fome, minha sede. O amor me trouxe dor de cabeça, enjoo, dificuldade para respirar. O amor acelerou meus batimentos cardíacos. O amor enfraqueceu meus ossos e músculos, enrouqueceu minha garganta, assumiu o controle dos meus nervos. O amor se fortaleceu e me causou delírios. O amor me causou amnésia, me fez esquecer quem eu sou, onde estou e para onde vou. Insatisfeito, o amor contaminou os meus DVDs, meus livros e meus CDs. O amor contaminou minhas idas ao cinema, ao teatro, à ópera. O amor passou pelos meus álbuns de fotografia, contaminou meus desenhos e meus poemas. O amor desequilibrou meus passos de dança. O amor contaminou minhas conversas, meus gestos, meus sorrisos. O amor se espalhou pelo meu rosto, meus olhos, meus cabelos. O amor contaminou minhas memórias, minha identidade, minhas certezas. O amor não deixou possibilidade de cura. Mariana Ribeiro II Liceo Crônica de fim de primavera Desde o início, pra Jui, mo chara. Mo anamchara. Ei, só tô te escrevendo pra dizer que estou feliz. Amanda Bruno ex-aluna Arte: Juily Manghirmalani Clinamen Pra você não ficar preocupada como ficou aquele dia. É que a gente acha demais que ficar até tarde de noite no computador trabalhando não faz mal, que no dia seguinte vai estar tudo bem. É que a gente pensa demais que pode viver como se não fosse com a gente, como se não tivesse nada a ver com isso. E continuaria pensando que viver assim também pode ser felicidade, se não existissem esses dias de fim de primavera. Esses em que a gente vive como se fosse assunto nosso. Esses em que a gente não vai à aula ou ao trabalho para fazer teatro, e vê mais cedo a luz do dia que aparece pela primeira vez em algumas semanas. Aí a gente entende que existe plenitude, e se sente o super homem do Nietzsche em alegria. Se permite correr na rua quanto e como quer, e entrar até nas lojas que não têm nada a ver, e de repente se vê no alto do arco do viaduto de Sta. Tereza, em plena luz do dia, e se acha dono do mundo. Hoje eu iria a pé do Floresta até Nova Lima, e já fiz metade do caminho. É que me sinto vontade de Schopenhauer e todo mundo é igual a mim. Hoje realizo a vontade toda e ela se desfaz, e o mundo todo é radiante como eu. Não tenho coragem de ouvir minhas músicas e ligo o rádio, quero cantar e só na minha língua. Até os cafés que tanto amo para escrever me parecem repugnantes com sua luz baixa e cheiro de gente que não descansa. Hoje quero receber luz e achar que crio vento quando corro e meus cabelos parecem rir. Quero também alguém com quem eu possa compartilhar tudo isso, mas não tem... Todos meus amigos estão longe: pro norte, pro sul, pra dentro. Dentro de si ou de preocupações... mas tudo bem. Hoje posso reinventar vocês todos e compartilhamos do mesmo desvario, entre nós não há mais espaço que num abraço. Amo vocês, e lembremse sempre que amo vocês como só é possível em dias como esse. Mesmo nos outros dias, mesmo quando e se voltar a achar que se pode viver de outro jeito. Sejam felizes também, queridos. 13 O excesso que pode gerar a falta Mundo Opinião 14 virtual, realidade.com, espaço cibernético, era da informação, cultura digital, conexão on-line são algumas das denominações ligadas às revoluções tecnológicas que invadiram nosso mundo, promovendo mudanças fascinantes e assustadoras, numa velocidade incontrolável. A internet, pilar dessas revoluções, alterou definitivamente os modos de interação social. Eu, que não faço parte dessa nova geração, tento pegar o bonde que está aí para todos exceto para os excluídos digitais, que no Brasil, infelizmente, ainda são milhões. É muita novidade para pouco tempo. E circular com segurança nesse universo recém-descoberto não é fácil. Provavelmente alguém já disse (uma consulta à internet pode confirmar) que como um novo Renascimento, marco da Idade Moderna, o ciberespaço inicia a “Idade Virtual”, alterando o comportamento e as relações humanas. O homem contemporâneo, como o renascentista, já não é o mesmo, sente-se mais confiante numa nova realidade, que lhe traz na ponta do dedo todo conhecimento produzido, com respostas imediatas e variadas a todas as suas indagações. Atraídos e levados por um turbilhão de informações, pegamos, confiantes, o barco da tecnologia e continuamos na incessante busca da felicidade. Do mundo virtual ao real, do real ao virtual, z i g u e z a g u e a m o s s e m r u m o, n a expectativa e no deleite de novas descobertas. Agora somos (li não sei onde) “Homo Digitalis”. O crescimento vertiginoso da informatização trouxe muito da ficção Arte: Deviantart científica para o cotidiano. Somos todos seres reais e virtuais. Nossa subjetividade e nossa memória se transformam. O tempo se torna mais veloz, pois temos de dividi-lo entre o mundo concreto e o on-line, que, distantes num primeiro momento, agora se misturam, sendo quase impossível separá-los. Mais ocupados, nossa memória registra menos. Transferimos para a “máquina” a tarefa de memorizar e, desincumbidos desta função, já não somos os mesmos. O surgimento de um ser mais solitário que se comunica e relaciona virtualmente, privado da efetiva convivência social, é uma das consequências dessa nova era. O ciberespaço amplia as possibilidades de interação social (é possível fazer parte de uma comunidade como as do Orkut e as dos chats) e cria o estabelecimento de laços importantes, muitas vezes, duradouros. Por outro lado, traz também situações ameaçadoras (páginas ofensivas, com ameaças e zombarias), que requerem a criação de uma nova legislação, que proteja a p r i va c i d a d e d o s navegadores. Nesse imenso universo, livre e por vezes tão invasivo, surgem inúmeras questões éticas, difíceis de serem Reféns das tecnologias de comunicação on-line, a responsabilidade e o compromisso dos professores são fundamentais. É preciso, mais do que nunca, que repensemos continuamente nossa função de ensinar e reconheçamos a necessidade de assimilar, aprender e compartilhar com os alunos toda a cultura disponibilizada pela internet. Devemos ser críticos para ajudar na formação de indivíduos também críticos, que saibam relacionar fatos, levantar questões e utilizar as informações disponíveis com autonomia e compromisso. Adquirindo um conhecimento sólido, esses alunos podem transformar o mundo e deixá-lo mais humano. Que todo esse EXCESSO que veio encher nossa vida não se caracterize numa grande falta! Opinião 15 Arte: Deviantart resolvidas! O homem quer ser reconhecido, desejo que faz parte de sua humanidade, mas é continuamente empurrado para o anonimato. Já não ocupa a posição central de controle, embora o creia, mas cedeu à interface do computador esse lugar. E mais, deu-lhe “autonomia”, atribuindo-lhe também responsabilidade e culpa de suas ações. O que fazer diante desse impasse ambíguo e sufocante? Como não ser vítima, mas senhor desse novo universo? Como manter a individualidade num espaço tão frio e impessoal? Eis o novo desafio! Difícil, impossível mesmo, privarmo-nos das tecnologias de comunicação, responsáveis por serviços essenciais, que facilitam nossa vida, principalmente nos centros urbanos. E as consequências dessa dependência tecnológica parecem ser determinantes. Somos já seres cibernéticos e não vamos regredir. Vivemos ainda um momento de transição e parece normal o receio do novo, que vai, pouco a pouco, se firmando. A comunicação se ampliou e com ela nossos medos também. Toda mudança traz conflito. Eis o inevitável! Como, então, aproveitar o melhor e minimizar o ruim que nos é oferecido? Como, usando um velho clichê, separar o joio do trigo? A população de cibernautas “pré-programados” cresce em progressão geométrica e quem está fora do ciberespaço é excluído. Uma triste realidade brasileira e a prova de que o mundo virtual reflete o real. Os computadores se modernizam num ritmo alucinante. As lan houses, responsáveis pela maior parte dos acessos das classes de baixa renda à internet, se proliferam e contribuem para a inclusão digital no Brasil. A nova ordem do dia é o letramento digital, que passa a ser a meta minimizadora das diferenças sociais, num momento em que o conhecimento se expande e se torna mais democrático. Tarefa difícil num país que primeiro tem de alfabetizar para depois “incluir digitalmente”. Maria de Lourdes Barreto Carneiro Professora de Português da Fundação Torino viver é uma fadiga porque mala tempora currunt mas há sempre quem diga que omnia abibunt. homo homini lupus guerrilha na alcatéia sobreposição por insultos mors tua, vita mea. Porógero: que contêm ou produz esponjas ser feliz é se adequar pois dura lex, sed lex tendo em mente o conselho milenar: Poesia 16 O que perturba a mente Consome o corpo mens sana in corpore sano e sempre carpe diem antes de entrar pelo cano. Definha a alma. Jade Marra ex-aluna É preciso deixar livre as mãos E os pés descalços Para o corpo ter osteoporose Para a leveza da alma se apossar dos ossos vazios e por entre estes as gotas de chuva penetrar Karol Penido Colaboradora Arte: Amanda Rodrigues Aluna em intercâmbio [in]finito Poesia e amore connubio per una vita perfetta Ti vedo tutti i giorni Ma non mi basta Perché tu mi illumini In un buio che sembra non finire Ti parlo tutti i giorni Eppure so che non è abbastanza Perché la tua voce mi risveglia Dal silenzio che mi angoscia e terrorizza Sempre caro me foi este simples arco e não estes prédios, que de tanto céu e da última serra a visão bloqueiam. Mas sentada enquadrando as paisagens que escapam deles, e além-homens silêncios, e profundíssima paz eu tento inventar, mas logo o coração meu se descompassa. E como o trem ouço rugir sob este viaduto, eu aquele impossível silêncio a esta fúria vou comparando: e me foge o eterno, e os quietos tempos, e o presente fica, e o desespero dele. Assim entre esta agitação se perde o pensar meu: e o naufragar me seria doce sob estes trilhos. Amanda Bruno ex-aluna Poesia Ti penso sempre Ma non abbastanza Perché pensarti mi rende felice Mi rende semplicemente vivo E m’è dolce Il naufragar in questo mare 17 Se guardo verso l’orizzonte Riesco a fare tutto questo In una volta sola Ma non basterà mai Perché tu sei come l’infinito Edoardo Prioglio II Liceu Arte: Deviantart Non stanchi mai la vista E di cui scopri sempre Del nuovo. Os irmãos Siamesmos O Perfil 18 “ poeta é aquele que sabe que a palavra amor não é o amor, mas não se conforma”¹. E nesse não se conformar ele faz o possível e o impossível para superar o abismo que separa a palavra do mundo e alcançar a palavra ancestral, aquela que por si só é capaz de criar vida, pois ela é a vida. É nesse contexto que se insere a poesia dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Poetas de nascença e paulistas por excelência, em 1952 criaram junto com Decio Pignatari a revista Noigandres. Surgida como um “elixir contra o tédio”² que se instaurara no cenário poético nacional com a poética conservadora da chamada “geração de 45”, ela propunha uma nova poesia inspirada na obra (mas não na ideologia política) de Ezra Pound. Esse sopro de ar fresco se autodenominou poesia concreta. Inovadora ao ponto de não o ser, pois remontava aos rituais animistas primitivos que confundiam o objeto e a palavra, a poesia concreta propunha a ruptura da linearidade discursiva do verso. A poesia não deveria falar do mundo, ela deveria criar o mundo como linguagem. Ela deveria recriar a palavra na sua materialidade original, na sua dimensão “verbovocovisual”. Além disso, a poesia concreta se valia da ideia de Pound do “poeta inventor” da qual deriva o experimentalismo concreto, que marcou profundamente a obra dos dois poetas. Segundo Pound, a poesia deveria continuamente reinventar-se, criar linguagem. A criação pressupunha o aprendizado com os inventores do passado, experimentalistas de seu próprio tempo. Nasce daí o conceito de “paideuma”, os ancestrais de um poeta, os inventores do passado que o inspiram. Essa é a motivação também das várias traduções feitas pelos dois ao longo de suas vidas. A escolha dos poetas a serem traduzidos sempre se vinculou a essa idéia. Embora os dois poetas tenham trilhado, durante toda a vida, caminhos muito semelhantes e feito inúmeras colaborações, após a ruptura do grupo Noigandres, a obra de cada um se individualizou: Haroldo, além de poeta, se tornou um renomado tradutor e teórico de poesia e Augusto seguiu como poeta vanguardista por excelência apesar de ter escrito ensaios e feito várias traduções aclamadíssimas. Conhecedor desde a mocidade de várias línguas modernas e arcaicas, Haroldo foi um tradutor muito importante trazendo para o leitor brasileiro autores e obras até então inéditos no país. Desde sua primeira viagem a Europa em 1959, estabeleceu vínculos que manteve com renomados poetas, artistas e intelectuais também muitas interpretações musicais de seus versos. Se algum legado a poesia concreta nos deixa é a constatação de que toda boa poesia do passado teve algo de concreto. A verdadeira poesia é aquela que traz a palavra da página à vida. Como dizia o grande inventor francês “A flor que está ausente de todos os buquês: a palavra flor”. Ou, parodiando Mallarmé, a palavra flor é a flor que está presente em todos os buquês. Ao menos para o poeta. Sofia Caetano Avritzer II Liceu ¹ Décio Pignatari in Comunicação Poética, Editora Moraes, 1981 ² Um dos possíveis significados da palavra provençal usada por Arnaut Daniel segundo Augusto de Campos em “Margem da Margem”. MINIMA MORALIA já fiz de tudo com as palavras agora eu quero fazer de nada Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos Haroldo de Campos Na página anterior, poesia «Código», de Augusto de Campos. Perfil estrangeiros. Além disso, ele resgatou, junto com Augusto, autores brasileiros que haviam ficado à margem da literatura tais como Oswald de Andrade e Sousândrade. Trabalhou em colaboração com outros poetas na tradução de obras do russo, como os poemas de Maiakovski, e do hebraico, como as obras de Yehuda Amichai e outros. Traduziu ainda nessa época a Ilíada de Homero na íntegra. Foi também ensaísta, crítico literário, poeta e arqueólogo de textos preciosos. Tanto assim que sua última aventura literária foi a tradução de poemas do egípcio antigo. Augusto também tem sido, ao longo desses anos, ensaísta, tradutor e teórico, mas, acima de tudo, um grande poeta. Seu primeiro livro, “O rei menos o reino”, de 1951, é ainda anterior à estética concreta. A grande aventura da poesia concreta começa para Augusto com a publicação, no segundo número da revista Noigandres, de uma série de poemas com palavras dispostas na página em arranjos de cores aos quais ele chamou “Poetamenos” e que são considerados os primeiros exemplos consistentes de poesia concreta. Ao longo de sua vida, sua produção poética foi vasta e abrangente e acha-se quase na sua totalidade reunida em “Viva Vaia”, “Despoesia” e “Não”. Como tradutor Augusto tornou-se um mestre na recriação das obras de vanguardistas e inventores c o m o Po u n d , J o yc e, Cummings, Mallar mé, Arnaut Daniel e outros. Como ensaísta, foi co-autor de “Teoria da poesia concreta” e autor de “Margem da margem”, “Linguaviagem”, “O anticritico”, etc. Durante sua trajetória poética, Augusto tem transitado em várias mídias, colaborando com músicos e artistas plásticos e inspirando 19 Tiramisù Esthio 20 D epois de muito pesquisar sobre a origem da mais famosa sobremesa italiana na atualidade, o Tiramisù, encontrei histórias das mais diversas. Assim como em vários pratos típicos e famosos da gastronomia mundial, “lendas” são atribuídas à sua origem, e suas receitas clássicas sofrem alterações pelo tempo, disponibilidade de ingredientes, preferências de paladar bem como vaidades pessoais (chefs e cozinheiros que alteram as receitas e creditam a si mesmos a reinvenção de clássicos). Farei um passeio em torno das ditas “lendas” do delicioso Tiramisù. 1º - Comecemos pelo nome: - “Tiramisù” significa literalmente "ponha-me para cima", ou seja, tem doce mais alto astral do que este? A ideia é que o açúcar, o café e o licor que vão neste doce são capazes de levantar o ânimo de qualquer um. Tem capacidades afrodisíacas graças ao seu valor energético, associado à cafeína e ao cacau. 2º - Sobre a origem do doce: - Há muito debate em torno da origem do Tiramisú e não há menção a ele, em documentos, antes de 1983. - Uma das hipótese diz que o foi criado em Siena, por ocasião da visita do Gran Duque de Toscana, Cosimo III de Medici, em finais do século XVII. Como O Gran Duque era um grande amante de culinária (um guloso) e gostava de tudo o que era luxuoso, prepararam esta magnífica sobremesa em sua honra batizando-a de "Sopa del duque". Esta receita passou a seguir O Gran Duque por toda a Florença e mais tarde espalhou-se por toda a Europa, tornando-se assim famosa. A popularidade da "Sopa del Duque" aumentou ainda mais quando lhe atribuíram propriedades excitantes e afrodisíacas por toda a corte italiana. Passados alguns anos, correu a lenda de que em grandes quantidades o Tiramisù aumentaria a performance sexual antes de um encontro amoroso. - Outra versão diz que foi criado no norte da Itália por ocasião da Primeira Guerra Mundial, quando as mulheres preparavam este doce para os maridos levarem consigo quando iam para a guerra, já que a cafeína e o açúcar dariam mais energia para a luta e os trariam salvos de volta para casa. - Diferentes fontes creditam o aparecimento do tiramisù na cidade italiana de Treviso, no restaurante Le Beccherie, pelas mãos do confeiteiro Roberto Linguanotto. - Em 1998, Fernando e Tina Raris (autores do livro “La Marca Gastronomica”, dedicado inteiramente à cuisine da cidade de Treviso) disseram que o Tiramisù era uma invenção recente. Enquanto revelavam sua origem ao mundo, várias receitas e adaptações começaram a surgir. - Uma última versão com menos glamour diz que o tiramusù foi criado adaptando-se uma antiga receita de bolo, para usar os restos de bolo amanhecido. Assim, molhava-se o bolo em café e acrescentava-se um creme para torná-lo mais atraente. A meu ver, essa é a versão mais provável, já que historicamente acontece assim: as ideias culinárias inovadoras surgem da necessidade, de aproveitamentos e modificações que evitam o desperdício de alimentos. Se localizarmos sua origem na Europa do século XVII ou durante a I ou II Guerra Mundial, aí sim essa teoria se contextualiza e ganha sentido prático. 3º - Receita: Tiramisù (receita “dita” original italiana) Ingredientes 200 de tiras de pão de ló adormecidas 4 ovos 300 g de Mascarpone 60 g de açúcar 400 ml de café preto 6 colheres (sopa) de Marsala ou conhaque 4 colheres (sopa) de cacau ou chocolate em pó. Modo de Preparo Misture o açúcar com as gemas até formar espuma. Acrescente o Mascarpone e mexa bem até formar um creme liso. Junte a metade do Marsala às claras batidas em neve e mexa Nonsense armazém e bistrô Horário de funcionamento: de Segunda a Sexta, de 9h30 a 20h30. Sábado, de 9h30 a 15h30. reservas e eventos: 3281-8603 www.nonfashion.com.br Carla Prazeres Colaboradora para outras receitas de tiramisù e informações sobre os ingredientes, visite www.carpediemrevista.blogspot.com O café funciona em um dos ambientes e na varanda de uma loja de moda, no clima agradável e convidativo do Bairro São Pedro. Tem, no cardápio, cafés, sucos, cervejas especiais, petiscos, lanches e opções para almoço. As ervas utilizadas nas receitas e em alguns sucos, plantadas na horta da casa, oferecem uma ótima pausa neste mundo sempre mais industrial, de sabores sempre mais padronizados. A loja também merece uma visita: além dos chapéus Lenice Bismarcker, possui um mix de coleções passadas de 21 marcas de moda, com até 70% de desconto.Todos os funcionários são estagiários de gastronomia, moda ou arte, o que confere um atendimento muito mais cuidadoso. Amanda Bruno ex-aluna Noctem Rua Viçosa, 226 São Pedro cuidadosamente. Em uma vasilha, misture o café com o restante do Marsala. Passe o pão de ló rapidamente nesta mistura e coloque numa forma refratária ligeiramente untada. Coloque, por cima, a metade do creme de Mascarpone. Faça uma nova camada com biscoitos passados na mistura de café. Cubra com o restante do creme. Coloque na geladeira, pelo menos por 3 horas. Na hora de servir, polvilhe com cacau ou chocolate em pó, se preferir mais doce. Se quiser sentir um pouco mais do sabor alcoólico, aumente a quantidade de Marsala. 21 Lenine Recomenda 22 Pernambucano de Recife e roqueiro até os 17 anos, após começar a ouvir os discos de Milton Nascimento e Gilberto Gil, Lenine se mudou para o Rio e participou do festival MPB 81, da rede Globo, concorrendo com a música “Prova de Fogo”. Com um som muito influenciado pela música nordestina e ao mesmo tempo com uma pegada de rock, ele é, na minha opinião, um dos maiores compositores brasileiros da atualidade. Com músicas interpretadas por diversos artistas contemporâneos e uma discografia que começa em 1982 com o disco “Baque Solto”, em parceria com Lula Queiroga, o músico não se prende a estilos e mistura como ninguém batidas eletrônicas, música brasileira e até música pop, com letras bem interessantes e um violão rebuscado. Em 1993 Lenine lança o disco “Olho de Peixe”, em parceria com o percussionista Marcos Suzano, um disco de arranjos simples (praticamente só percussão, voz e violão) e que contém obras primas como as faixas “Miragem do Porto” (detalhe para o contra-canto entre o violão e a voz), “Gandaia das Ondas” e “Leão do Norte” (em que mistura rock com frevo) além de uma samba inusitado com marcação em cinco por quatro (para os leigos, quando a gente conta a música de 5 em 5 tempos) faixa que dá nome ao disco. Me despeço aqui com a dica: Escutem com carinho o disco “Olho de Peixe” e descubram um compositor brasileiro que não faz só samba e bossa (nada contra, mas o Brasil não é só isso) e, no mais, até a próxima. Matheus Almeida Professor de música da Fundaçao Torino O medo e o mar O menino tem a chave. A chave abre o baú. Ninguém sabe onde está o baú. Ninguém sabe o que tem dentro do baú. Mas todos sabem de uma coisa: alguém tem de abrir o baú. Paraty, linda cidade litorânea do Estado do Rio de Janeiro, é cenário de uma intrigante história de suspense sobre uma família sem mãe, cujo filho traz em seu pescoço uma chave, dizendo ser um amuleto da sorte. Será mesmo um amuleto da sorte ou uma espécie de ímã que atrai sapos, fantasmas, espíritos e uma babá do mal, que inicialmente se parecia com a mãe morta reencarnada? Bom, só mesmo uma velha com uma cobra enrolada no pescoço para responder a essa pergunta. Maria Camargo, autora da história intitulada “O medo e o mar” (Cia das Letras: 2009), constrói um suspense obscuro e hipnotizante, com uma simples pergunta que levamos até o fim do livro: “Miguel, uma criança hiperativa, carente do amor da mãe, viciado em ciências e coisas estranhas, um menino que fala muito, mesmo ninguém querendo ouvi-lo, e Stela, sua irmã, que não tira por nada seu iPod do ouvido e que se auto-exclui do mundo, conseguirão abrir o baú que salvará Paraty de uma maldição horrível”? Eu realmente gostei do livro. É muito fantasioso c o m u m a l i n g u a ge m , m u i t a s ve z e s, excessivamente simples, nada que impeça a autora de nos prender em um suspense contemporâneo, que nos faz acabar o livro muito, muito rápido. Sabe-se que alguns leitores, talvez aqueles que se julgam muito maduros ou os que perderam a imaginação da infância, dizem que o livro é muito infantil, porém a maioria gosta, e gosta muito. Mas há um ponto em comum entre os que gostam e os que não gostam da história: é impossível parar de lê-la antes de ficar sabendo seu final. Agora cabe a você saber se vai ou não gostar do livro. De uma coisa tenho certeza: você vai terminá-lo em menos de um dia! André Bicalho Ceccotti I Liceu B Hair mostrando uma história sobre lealdade, liberdade e coragem. O diretor Milos Forman, aclamado cineasta tcheco, criador de filmes como “Os Fantasmas de Goya” e “Amadeus” (pelo qual ganhou o Oscar), recebeu reações controversas pela sua obra, que, em Foto: Divulgação geral, apesar dos prêmios e das boas críticas, o mundo assistiu de olhos arregalados. Afinal, ninguém esperava tantos tabus em um pacote só: no Brasil o filme, censurado, só foi ser exibido no início da década de 80. Bukowski então se encontra, junto a seus amigos, perante a máquina da guerra, para nos fazer refletir sobre a futilidade do dever para com o próprio país para dizimar milhares de pessoas anônimas. O final, tão surpreendente como emocionante, é também extremamente irônico, e pode, sim, causar algumas lágrimas. Apesar disso, o filme não perde sua leveza, e continua a nos impressionar, como diz o título, com os enormes, brilhantes, diferentes e coloridos cabelos de seus personagens. Laura Lobato II Liceu Recomenda Hair foi uma revolução. Para a época, um escândalo, banido de casas, cinemas e países, inclusive no Brasil. Baseado no musical de 1968 de mesmo nome, é considerado o clássico filme ícone dos anos 60 e 70 e, em especial, do movimento hippie. Lançado em 1979, conta a história de um rapaz de uma cidade do interior, Claude Bukowski (John Savage), que, em sua passagem por Nova Iorque, um dia antes de ir para a Guerra do Vietnã, conhece um grupo de hippies que vivem no C e n t r a l Pa r k . F a z amizade com o líder do grupo, Berger (Treat Williams), e começa a conviver com eles, aderindo-se aos poucos aos seus conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e mudando como vê a guerra e o mundo. Assim vão se envolvendo em vários episódios engraçadíssimos, intercalados por famosíssimas músicas como “Aquarius”, “Hair”, “Three-FiveZero-Zero”, “Let the Sunshine In”. Infelizmente Claude, mesmo apaixonado por Shelia (Beverly d’Angelo), tem que ir à base cumprir o próprio dever. O musical continua simbolizando não só o espírito hippie e o psicodelismo da época, mas também 23 Sociedade cega Fantasmas do passado Visionário Espírito jovem Olhos inocentes A criança e o herói Arte: Brunno Coura Tirinha 24 CaCa A Poesia Concreta nascida no Brasil, em São Paulo, com a publicação do jornal do grupo Noigandres pelos irmãos Haroldo de Campos (autor de Xadrez de Estrelas) e Augusto de Campos e o idealizador da "Teoria da Poesia Concreta", Décio Pignatari, teve também a participação do jornalista José Lino Grünewald, do artista plástico e holografista Moyses Baumstein, dentre outros. Aparentemente o nome do jornal foi emprestado de textos do trovador Arnaut Daniel. Augusto de Campos teve uma obra que dialogava com a música e com a Bossa Nova, fazendo parcerias com Caetano Veloso. Os dois irmãos fizeram várias traduções de textos do russo Vladimir Mayakovski, dos italianos Umberto Eco e Dante Alighieri, do escritor Irlandês James Joyce, do alemão Goethe e de muitos outros autores. www.carpediemrevista.blogspot.com Passatempo As respostas para todos os desafios propostos pela Carpe Diem estarão, de agora em diante, disponíveis no nosso blog. Confira! 25 Acordar De manhã pressa. Lucky coitadinho, sozinho, ontem choveu. Não posso deixá-lo sem comida. Sem jeito de ir para a escola. Vermelho no lugar do verde. Não, vermelho nào, cinza. Saxofone, eu hein… Pão de sal, presunto, suco, leite, acabou tudo. Tocou ou não tocou? Cadê as horas? Izabela Lamego ex-aluna Arte: Deviantart Seção Curinga 26 Daniel Nunes ex-aluno O Rio Uma cidade tinha um rio, neste rio tinha duas cachoeiras. Uma cachoeira era cheia de sujeira. A outra limpa e perfumada, como moça amada que tinha cheiro de roseira. Então você entendeu: não jogue lixo no chão. Girassol e Rosa Primavera uma bela estação, com muitas flores, mais as belas mesmo são os girassóis e as rosas. O girassol girando ao redor do sol e a rosa com a cor de apaixonar qualquer coração. Matheus Barcellos Cordeiro Lages IV Elementar Rafael Dutra Vinci III elementare A Arte: Sofia I Mésia Coordenação Geral e revisão de português: Maria de Lourdes Barreto Carneiro Projeto Gráfico: Amanda Bruno Daniel Nunes (baseado no de Fábio e Renato Araújo) Diagramação: Amanda Bruno Isabel Pellegrinelli Sofia Avritzer Capa: Raquel França Revisão de inglês: Jaime Quintão Textos: Alunos, Ex-alunos, Pais, Professores, Diretores, Funcionários da Fundação Torino, Amigos e Colaboradores-Simpatizantes do Projeto. Equipe Carpe Diem: Amanda Bruno* Brunno Coura Chiara Costanzi Daniel Nunes* Francesco Oviedo Isabel Pellegrinelli* Laura Lobato Laura Vitral Lorraine Moia Raquel França* Sofia Avritzer *Alunos da Fundação Torino até o fechamento desta edição Agradecimentos a: Annie Oviedo, Mateus Portugal, Alexandre Fonseca, Sandra Cavalcante, Lucia Ferrari, Giuseppe Ferraro, Alessio Gava, Marco Sbicego, Jeanclaude Arnod, Alessandro Trani, Anna Motta, Daniela Mendes, Luciano Sepulveda, Jaime Quintão, Matheus Almeida, Arnaldo Antunes, Ana Caetano, Patrícia Kauark, Heloisa Starling, Carla Ballesteros, Juily Manghirmalani, Horácio e demais pessoas que, indiretamente, colaboraram para a conclusão deste projeto. Gráfica: Pampulha Editora Gráfica - (31) 3468-3969 Rua Taquaril, 660 - Saudade, Belo Horizonte - Minas Gerais Tiragem: 2000 exemplares Carpe Diem - Revista Cultural é uma publicação da Escola Internacional Fundação Torino, produzida pelos alunos. Distribuição Gratuita. Laboratório de Produção e Recepção de Textos Rua Jornalista Djalma Andrade, 1.300 Piemonte - Nova Lima - MG - BRASIL tel: (31) 3289-4200 www.fundacaotorino.com.br Presidente: Raffaele Peano Cônsul da Itália: Maria Pia Calisti Diretor Didático - Parte Italiana: Umberto Casarotti Diretora Didática - Parte Brasileira: Daniela Mendes “Carpe diem, quam minimum, credula postero” Horácio