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Presidente da Republica Dilma Rousseff Ministro da Educa~ao Fernando Haddad Nucleo de Estudos e Pesquisas em Educa~ao Continuada para as Humanidades Coordenadora Maria Neyara de Oliveira Araujo Universidade Federal do Ceara - UFC Reitor Jesualdo Pereira Farias Capa Vinicios Rocha de Souza e Daniel Benevides Catalogat;:50 na Fonte Bibliotecaria: Perpetua Socorro T. Guimaraes C.R.B. 3/801 Universidade Federal do Ceara . Formar;ao continuada, cotidiano escolar e pratica docente.l Vinicios Rocha de Souza, Vera Maria Soares Fick e Joyce Carneiro de Oliveira [organizadores].- Fortaleza: Expressao Gra- fica e Editora, 20 II. 86 p. ISBN: 978-85-7563-857-6 I. Formar;ao continuada- docentes- praticas 1. Souza, Vinicius Rocha de II. Fick, Vera Maria Soares III. Oliveira, Joyce Carneiro de IV. Titulo Vma das questoes enfrentadas na formas;ao de professores e a de estabelecer quais sao os saberes, validos e exeqiiiveis, necessarios para a prMica docente, pois a profissao de professor acarreta responsabilidades, 0 que faz com que os membros da sociedade sintam-se livres para cobrar dos professores certas obrigas;oes que sua carreira exige. Por isso, de urn tempo para ca, comes;ou-se a pensar em fomecer condis;oes reais para a efetividade do trabalho docente. Propos-se uma serie de cursos, treinamentos e materiais dedicados, exclusivamente, a fornecer aos futuros e atuais docentes, ferramentas e informas;oes que os auxiliassem nessa dificil tarefa de formar os membros da sociedade. Assim, foram desenvolvidos temas curriculares vitais para que a formas;ao daqueles que pretendem exercer 0 trabalho docente fomecesse-os subsidios necessarios a efetivas;ao dos objetivos da educaS;ao. Nesse trabalho, pretendemos contribuir com esse projeto analisando dois desses temas essenciais ao trabalho docente: a autodeterminar;iio etica e a autonomia. Porem, para levarmos adiante nossas reflexoes, devemos estar munidos de uma atitude critica. Critic a? Como assim? Comumente as pessoas afirmam que so aceitam critic as se essas forem "positivas", ou seja, "produtivas", ao inves de criticas "negativas", mas no discurso cientifico tal postura e, no minimo, despropositada. Na ciencia, nao existe uma critica positiva e outra negativa, e sim a atitude critica enquanto tal, que serve de base a todo saber cientifico. Mas, 0 que caracteriza tal atitude e porque e tao importante? Para entendermos sua importancia busquemos, primeiramente, compreender seu significado, observando a definiS;ao do termo critica por Chaui (2008): Palavra proveniente do grego; possui tres sentidos principais: I) "capacidade de julgar, discemir e decidir corretamente"; 2) "exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem prejulgamento"; 3) "atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, urn valor, urn costume, urn comportamento, uma obra artistica ou cientifica". (CHAU!, 2008, p. 19) Esse passo e importante porque nos permite uma apreensao conceitual e contextual dos elementos envolvidos naquilo que se pretende estudar. Quando nos perguntamos pelo conceito das coisas estamos, na verdade, fazendo uma pergunta pelo sentido das coisas, e nao apenas por uma mera definis;ao das mesmas. Pois so faz ciencia quem e capaz de apreender 0 processo pelo qual algo se determina, ou seja, faz ciencia quem busca saber como as coisas sao e por que sao assim, somente dessa forma podemos afirmar 0 que algo e e, a partir dai, expressa-Io atraves de urn discurso racionalmente compreensivel e justificavel, caracteristicas irrenunciaveis de quem pretende fazer ciencia. Mas, 0 que e Ciencia? Para nao nos perdermos, vejamos 0 seguinte conceito de ciencia: Ciencia e urn conjunto de descriyoes, interpretayoes, teorias, leis, modelos, etc., visando ao conhecimento de uma parcela da realidade, em 1 ProfessorAssistentedo CursodeFilosofiada UniversidadeEstadualdo ValedoAcarau- UVA.Mestreem Filosofia pelo Programade P6s-Graduayaoem Filosofiado ICAlUFC.Doutorandoem Educayaopelo Programade P6sGraduayaoemEducayaoBrasileirada FACEDfUFC. continua amplia~ao e renova~ao, que resulta da aplica~ao deliberada de uma metodologia especial (metodologia cientifica). (FREIRE-MAlA, 2000,p.24) Essa metodologia especial pode variar de ciencia para ciencia, mas a atitude critica, que visa apreender os conceitos envolvidos no discurso que nos propomos erigir, e urna condiyao que, sem a qual, nao podemos nos dizer autorizados a propo-lo. Ao pensar nisso, lembramos daqueles que aceitam ou rejeitam algurna coisa, rnesmo sem saber 0 que realmente estao analisando. Tal procedimento acritico acaba por nos desautorizar pelo risco que corremos de distorcer ou mesmo de ocultar 0 saber que desejamos transmitir. Assim, assumir uma atitude critica, ou rnelhor, analisar sem preconceitos ou prejuizos algo (em nosso caso 0 trabalho docente) e 0 primeiro passo para que possamos adentrar na analise dos elementos necessarios a prlitica docente. Assurnimos uma atitude critica quando perguntamos por algo que, para maioria das pessoas, esta fora de discussao, quando nos perguntamos pelas "certezas" que possuimos sobre nossa realidade. Atraves da atitude critica nao aceitamos, de antemao, urn discurso, seja de afirmayao ou negayao, sem antes saber responder a algumas questoes basicas sobre 0 objeto em discussao: 0 que e esse objeto? Como esse objeto veio a ser? Por que esse objeto e assim? Ele pode ser feito de OUtramaneira, ou essa e sua unica forma de existencia? Com essas perguntas vislumbramos os fundamentos de urn discurso. Por isso, antes de aprofundarmos nosso tema, e born determinar da forma mais clara possivel nosso conceito de educayao, pois essa concepyao sera 0 principio norteador de nosso discurso: sabendo 0 que e educayao, podemos determinar quem realmente esta sendo educador. Por isso, nao e algo tao ingenuo comeyarmos pela pergunta: o que e educayao? Se nos basearmos na etimologia da palavra veremos que: A palavra educa~ao tern sua origem nos verbos latinos educGre (alimentar, criar), significando "alga que se dd a alguem", com 0 sentido de "algo extemo que se acrescenta ao individuo, procurando dar-Ihe condi~5es para o seu desenvolvimento", e educere, com a ideia de "conduzir para fora, fazer sair, tirar de", que "sugere a libera~ao de for~as que estao latentes e que dependem de estimula~aopara virem a tona" (OLIVEIRA, 2006, p. 26) Com essa base etirnologica, podemos estabelecer a educayao como urn processo composto por tres momentos: Alimentar, Conduzir e Criar. Alimentar, porque e urn processo de suprir as novas gerayoes com conhecimentos e valores socio-culturais, fomecendo-lhes os elementos necessarios ao born desenvolvimento fisico, intelectual e moral. Conduzir, porque e urn processo de acompanhamento continuo dos avanyos e retrocessos do desenvolvimento do educando, no qual os mais experientes, por ja terem trilhado 0 caminho do saber e tendo-o por referencia, guiarn 0 educando no processo. Criar, porque e urn processo de fomecer aos educandos algumas possibilidades que os levem, atraves das proprias reflexoes, a criar seus processos de participayao e decisao nos assuntos que afetam suas vidas. Por isso, ser professor e algo que esta alem da simples definiyao encontrada em dicionarios, como: "Aquele que ensina uma ciencia, arte, tecnica" (FERREIRA, 1988, p. 385), pois 0 ato de educar e conseqilencia do acumulo e transformayao de vivencias e saberes, construidos na experiencia cotidiana da trajetoria pessoal de vida social, cultural e profissional que, por sua vez, proporcionam maiores condiyoes de leitura do mundo. Notemos que todas essas conclusoes brotaram de nossa atitude critica de questionar 0 "obvio": a partir do questionar 0 que e educar;ao, lomos foryados a buscar uma resposta. Tal procedimento descende do personagem Socrates dos dialogos de Plata02, que ao afirmar "Eu so sei que nada sei", pas a pergunta, e nao a resposta, como a forc;;amotriz do saber. Quem pergunta, quer saber. Encontramos essa atitude em urn dos maiores educadores do seculo XX, 0 educador brasileiro Paulo Freire3, que juntamente com Antonio Faundez, cobrou de educadores e educandos, em seu livro-dialogo Por uma pedagogia da pergunta, essa atitude, a qual reproduzimos na fala de Faundez: No ensino esqueceram-se das perguntas, tanto 0 professor como 0 aluno esqueceram-nas, e no meu entender to do conhecimento come9a pela pergunta. Come9a pelo que voce, Paulo, chama de curiosidade. Mas a curiosidade uma pergunta! (FREIRE; FAUNDEZ, 1985, p. 24). e E seraessa anossametodologia especial no decorrer do texto, acuriosidade epistemol6gica, como afirma Freire (1996, p. 25). Seremos guiados por uma pedagogia da pergunta. Por isso, em nossa reflexao sobre a autodeterminac;;ao etica e a autonomia docente, iremos, antes de pensar como podemos vivencia-Ias, perguntar: 0 que e autodeterminac;;ao? 0 que e ser etico? Por que e para que ser etico? Ora, somente se e etico quando se e livre, mas 0 que e liberdade? Quem e livre? Aquele que se autodetermina pode ser considerado autanomo? Mas, afinal, que e autonomia? Quem e autOnomo? A considerac;;ao dessas perguntas nos abrira 0 horizonte para nos debruc;;armos sobre aquelas perguntas especificas da pratica docente, tais como: E possivel ser professor sem etica e autonomia? Tal questao esta em que ambito: pessoal, profissional ou essencial? Ou seja, estas sao virtudes intrinsecas ao ser humano ou ferramentas profissionais de urn determinado grupo, que pode usa-Ias ou nao? Todo ser humano e etico e autanomo? Por que? Autonomia e etica sao coisas que se ensinam? Quem as ensina? Como podem ser exercidas em sala de aula? Todas estas sao quest5es que assumem para nosso tema uma relevancia sem igual, e nos servirao de guias para apresentarmos a influencia desses conceitos no trabalho docente. E como "nao e possivel fazer uma reflexao sobre 0 que e educac;;ao sem refletir sobre 0 proprio homem" (FREIRE, 1981, p. 27), fac;;amos urn estudo fi10sofico-antropologico dessas questoes, reveladoras da condic;;ao de incomp1etude humana, sem a qual a prMica educativa nao ocorreria. Quando algo esta determinado? Ao que parece a resposta e simples: quando esta delimitado, estabelecido, definido, discriminado, fixado e decidido. A determinac;;ao de algo esta fundada em sua nao mudanr;a, pois ja se encontra acabado, pronto! Pensamos isso porque associamos a determinar;ao ao que e real, ou seja, tudo que e determinado esta dado no real, logo nao pode mais ser questionado, pois ja esta definido. Mas sera somente isso mesmo? Ao pensarmos que algo esta determinado, lidamos com 0 resultado de urn processo que, poucas vezes, atentamos: uma determinar;ao indica os termos e os limites dentro dos quais uma realidade se estabelece em sua identidade especifica frente a outra realidade, da qual se diferencia. quantidade consideravel de dialogos filos6ficos e fundou a Academia (Primeira instituiyao de Ensino Superior do ocidente), em Atenas. Seus saberes contribuiram para aliceryar a filosofia natural, a ciencia e a filosofia ocidental. Destacam-se dentre seus temas a etica, a politica, a metafisica e a teoria do conhecimento. Platao fora discipulo de S6crates desde os vinte anos, por isso transforma-o na personagem central dos seus diaiogos, em particular n' A Republica, naApologia de Socrates, no Fedon e no Criton. Nestas obras e ressaltada, sobretudo a sua dimensao moral. 3 Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921 em Recife, no nordeste do Brasil, e faleceu em 2 de maio de 1997, em Sao Paulo. Como estudioso, ativista social e trabalhador cultural, Freire desenvolveu, mais do que uma pratica de alfabetizayao, uma pedagogia critico liberadora. Em sua proposta, 0 ato de conhecimento tern como pressuposto fundamental a cultura do educando; nao para cristaliza-la, mas como "ponto de partida" para que ele avance na leitura do mundo, compreendendo-se como sujeito da hist6ria. E atraves da relayao dial6gica que se consolida a educayao como pratica da liberdade. Essa outra realidade tambem possui termos e limites, sendo tambem uma determinac;ao. Mas, 0 que isso quer dizer? Pensemos: como posso dizer "eu sou Marcos", e ser reconhecido por meus amigos ao afirmar isso? Ora, sou Marcos porque nao sou Diala, nem Raul, nem Maciel e nem Samuel, eu sou eu, sou alguem distinto de todos que me cercam! Isso s6 e possivel porque eu sou determinado, limitado, definido, por minhas diferenc;:as em relaC;aoaos outros. Da me sma forma, Diala, Raul, Maciel e Samuel sao determinados por serem diferentes urn dos outros, de mim, e de todos os outros seres humanos. Se estendermos esse pensamento a todas as coisas que existem na realidade, notaremos que vivemos em urn intenso processo de determinac;ao. Assim, a determinac;:ao e urn processo no qual as pessoas, ou coisas, obtem sua identidade e marc am suas diferenc;:as com todas as outras pessoas, ou coisas. Algo s6 e 0 que e, porque nao e outra coisa. Parece urna ideia boba, mas este e 0 famoso principio de identidade, e sera muito importante em nossa analise da autodeterminac;:ao etica mais a frente. Mas nosso intui~o e entender quando alguem pode ser considerado autodeterminado eticamente, portanto, agora que ja sabemos 0 que e determinac;:ao, pensemos como algo pode se autodeterminar. o prefixo grego auto significa "por si mesmo", sem a interferencia de nada ou de ninguem, nao precisa de mais nada para ser, existir ou acontecer. Dai 0 motivo de aparecer em autom6vel, por exemplo, onde 0 mesmo da 0 sentido de algo que move a si mesmo. Logo, aquilo que se autodetermina deve ser aquilo que nao precisa de mais nada para se determinar, passa de urn processo exterior, que era a determinac;:ao, para urn processo interior. Nao serei mais determinado por algo exterior a mim, eu mesmo me determinarei. Mas, como isso e possivel? Essa afirmac;:ao nao se choca diretamente com nossa definic;:ao de determinac;:ao como processo de relac;:oes? Como algo pode se determinar sem estar em relac;:ao com outro algo? Em uma primeira vista, estariamos sim entrando em contradic;:ao ao afirmar tal coisa, mas a apreensao do conceito de autodeterminac;:ao e, na verdade, 0 processo de determinac;:ao em urn nivel superior. Autodeterminac;:ao e tomar consciencia de determinac;:ao, sou autodeterminado quando sou consciente de ser fruto de urn processo de determinac;:ao. Isso nos auxilia a compreender a esfera etica, que esta na dimensao do agir humano, que nao esta vinculado a urn plano 16gico, apenas. A autodeterminac;:ao aqui tratada e urn processo pr6prio do ser humano, que se autodetermina ao perceber-se como urn ser inacabado (Cf. FREIRE, 1981, p. 28). A autodeterminac;:ao do homem nao esta no fato de estar determinado exteriormente, ja que, essencialmente sempre sera inconcluso (Cf. Ibdem.), mas no fato de ser consciente daquilo que e, de seu inacabamento. 0 processo de autodeterminac;:ao do ser humano perpassa uma esfera que s6 faz sentido em seu mundo, a esfera da auto-reflexao, atitude que 0 ja antes mencionado fil6sofo grego S6crates conseguiu expressar atraves de sua celebre frase: "Conhece-te a ti mesmo". Assim a busca de autodeterminac;:ao nao implica uma determinac;:ao 16gica, ou mesmo fisica/material, mas uma determinac;ao etica. Etica? Mas, 0 que e etica mesmo? Continuemos nosso itinerario de perguntas. A etica diz respeito a nossa experiencia cotidiana, pois nos leva a pensar sobre os val ores que adotamos, 0 sentido dos atos que praticamos e a maneira pela qual tomamos decisoes e assurnimos responsabilidades em nossa vida. Etimologicamente, a palavra etica origina-se do termo grego ethos, que significa 0 conjunto de costumes, habitos e valores de uma determinada sociedade ou cultura. Ao pensar urn termo que traduzisse 0 ideal grego do ethos, os romanos elegeram 0 termo latina mos, moris, para representar-Ihe 0 sentido, do qual devem 0 termo moralis, que deu origem a palavra moral em nossa lingua portuguesa. A etica, enquanto saber, e uma parte da Filosofia - a filosofia pratica - que tern por objetivo elaborar uma reflexao sobre os problemas fundamentais da ac;:ao,tais como: a finalidade e 0 sentido da vida humana, os fundamentos da obrigac;:ao e do dever, a natureza do bem e do mal, 0 valor da consciencia moral, entre outros. Porem, normalmente opta-se por distinguir os termos moral e etica. Mas, por que isso ocorre? Nao expressariam a mesma coisa? 0 motivo dessa distinc;ao se da pelo ambito particular e pelo ambito universal que nossas ac;6es podem assumir. Para deixar isso mais claro, tomemos duas perguntas existenciais: "Como devo agir?" e "Que vida eu quero viver?". A primeira e uma pergunta moral, pois diz respeito aos deveres e regras que organizam a vida social, por isso seu ambito e 0 da particularidade, pois varia de acordo com 0 tempo e 0 espac;o que nos encontramos. Por exemplo: 0 que e moral mente aceitavel para mim, brasileiro do seculo XXI, pode nao ser aceitavel do ponto de vista moral de urn talibii da segunda metade do seculo XX. A moral sup6e a exeCUc;aode urn ato, que deve estar de acordo com urn c6digo de conduta pr6prio de minha realidade. Ja a pergunta "Que vida eu quero viver?", assume urn aspecto mais abrangente e atemporal, e e uma pergunta etica porque esta relacionada ao ideal de uma vida boa, ou seja, de uma busca pelafelicidade. A etica passa a representar a analise de quest6es de ambito universal, que transcendem 0 aspecto secular. Entra em cena a ideia de ato etico como ato coerente, pr6prio de urn ser consciente e responsavel por suas escolhas. Mas, quem seria esse ser etico? 0 homem e 0 unico ser etico da face da terra. E assustador, nao e? Mas e verdade. Reflitamos isso a partir do seguinte relato. Uma emissora de TV exibiu urn documentario sobre a vida selvagem. Tratava da vida de urn grupo de le6es. Esse grupo era formado por varias feme as, por seus filhotes e por urn leao, que os pesquisadores denominaram leiio-alfa, por exercer 0 dominio do grupo. Com 0 passar do tempo, os filhotes foram crescendo, enquanto as femeas se tomavam novas "esposas" do leaoalfa, aos machos eram dadas duas opc;6es: ou partiam para desafiar outros le6es em busca do dominio de urn grupo, ou desafiavam 0 leao-alfa pelo dominio daquele grupo. Normalmente 0 destino daqueles que optavam por desafiar 0 leao-alfa era a morte ou a derrota seguida do exilio. Mas urn dia, outro lean, possivelmente provindo de outro grupo desafiou 0 leao-alfa que,ja velho e ferido de outras batalhas, fora derrotado. Ap6s banir 0 velho leao-alfa, 0 novo leao dominante tomou como primeiro ato matar todos os filhotes da comunidade. Sem a menor piedade, seguiu sua matanc;a ate nao existir nenhum filhote vivo. 0 documentario interpretava tal ato como uma especie de limpeza genetica: agora era 0 sangue do novo leao-alfa que prevaleceria. Diante dessas cenas, urn dos telespectadores, indignado, afirma: "Que leao maul Como pode ser capaz de uma atrocidade dessas?". A resposta e simples: nao M etica no mundo dos le6es. Nunca se vera urn leao refletindo se seu ato e ou nao aceitavel eticamente. Mas, por que? 0 que the falta para isso? Falta-Ihe a consciencia de seus atos, pois somente 0 individuo consciente e capaz de ser etico ou antietico, moral ou imora!. Neste caso, 0 lean sempre se guiara por seu instinto, ja 0 homem possui uma oPc;ao: se deixar guiar pela consciencia. Nao e por acaso que as crianc;as, as pessoas que estejam passando por determinados problemas psicol6gicos, ou as pessoas portadoras de algumas deficiencias mentais, nao possam, em alguns casos, ser responsabilizadas por seus atos legalmente. Falta-Ihes 0 elemento necessario ao ato etico: a consciencia da a9iio. Somente ela, pode acarretar responsabilidade de urn sujeito etico. Por isso, somente 0 horn em consciente pode ser etico - e, consequentemente, antietico. A etica, entao, indica a reflexao sobre urn tipo de comportamento propriamente humann, mas que niio e natural. 0 homem nao nasce com ele, como se fosse urn instinto, e algo a ser adquirido pelo Mbito. Portanto, a autodeterminac;ao etica diz respeito a uma realidade humana que e construida hist6rica e socialmente a partir das relac;6es coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. Compreendamos melhor isso. Voltemos a sentenya socnitica: "Conhece-te a ti mesmo". a que se propoe com isso? Esse ideal grego e uma proposta de formayao para a autodeterminayao inteligente da vontade, 0 que envolve guiar-se por principios racionais e pelas tendencias que concordam com a razao, a fim de que a vontade niio permanec;a determinada apenas por impulsos ou por coayoes extemas. a conceito de vontade, na esfera etica, deve ser distinto do conceito de desejo, 0 que assume uma importancia primordial para nossa reflexao. a desejo e sempre algo imediato, ou seja, desejamos algo e sentimos a necessidade de fazer qualquer coisa para saciar esse desejo, e e aqui que esta 0 perigo. Podemos passar por cima de principios basicos de convivencia e coerencia em nome dessa satisfayao. Isso ocorre porque, por natureza, somos seres passionais, cheios de apetites, impulsos e desejos cegos, desenfreados e desmedidos, por isso cabe a nossa razao, estabelecer limites e controles a nossas paixoes e desejos. Porem, isso nao e tao facil. Nossa vontade e influenciada por nossos desejos, que brotam do nosso melhor e do nosso pior. au seja, em urn processo de decisao nao apenas nossas virtudes entram em cena, mas, como afirma Chaui (2008, p. 221), tambem nosso egoiSmo, nossa ambiyao desmedida, nosso desejo de posse (tanto de pessoas como de coisas), nossa busca desenfreada por prazer, sao fatores que acabam por nos levar a usar de meios como a mentira, a hipocrisia, a ma-fe, a crueldade, 0 6dio, 0 que nos faz romper com 0 ideal de relayao coerente frente a vida, principalmente frente a vida do outro. A etica, ao contrario, nos capacita a convivencia, e nao apenas a coexistencia (existir ao mesmo tempo que). Coexistimos com objetos, animais e as demais pessoas, e verdade, mas 0 que a vida etica nos cobra e que aprendamos a conviver, a viver com, e isso somente sera possivel pelo primar de uma coerencia. Coerente e todo aquele que une palavra e ayao, discurso e prMica. Por isso, a autodeterminac;iio etica se faz necessaria, ela nos auxilia a dominar e controlar nossas paixoes. Enfatiza-se aqui a distinyao entre vontade e desejo: o desejo e paixao, a vontade e decisao. a desejo nasce da imaginayao, enquanto a vontade e originaria da reflexao. Chaui nos deu uma boa compreensao sobre 0 conceito de vontade que nos auxilia a entender essa distinyao: e, A vontade refere-se ao possivel, isto ao que pode ser ou deixar de ser e que se toma real ou acontece gra9as ao ate voluntario, que atua tendo em vista os fins e a previsao das consequencias. Por isso a vontade e inseparavel da responsabilidade. (CHAU!, 2008, p. 222) Enquanto 0 desejo e algo imediato, a vontade realiza-se no tempo, 0 esforyo e a ponderayao trabalham com a relayao entre meios e fins e aceitam a demora da satisfayao. Enquanto 0 desejo nos aprisiona, a vontade e urn ato de liberdade, pois se relaciona com uma escolha. A escolha ocorre quando temos opyoes, quando a vida nao nos determina de fora, ou seja, quando a realidade exterior nao nos furta as possibilidades de ser ou fazer diferente. Recorramos a uma parabola biblica: A ovelha desgarrada.4 Urn pastor era responsavel por 100 ovelhas. Ao notar que uma das ovelhas se desgarrou do bando e nao retomou, opta por ir atras da ovelha desgarrada, abrindo mao das outras 99 a que ora pastoreava. Essa atitude do pastor, de nao olhar para tras em sua busca daquela ovelha que se desgarrou, e urn 6timo exemplo do que ocorre conosco ao deliberarmos algo. Pois, assim como 0 pastor, no ate da escolha, abrimos mao de inumeras outras opyoes, algumas tilo boas ou mesmo melhores que a escolhida, mas escolhemos uma. Somos "condenados a liberdade", como diria 0 fi16sofo Jean-Paul Sartre.5 Somos condenados 4 A passagem biblica em questlio encontra-se 1894). no Evangelho de Mateus 18, 10-14. (Cf. BIBLIA SAGRADA, 1994, p. 5 Jean-Paul Sartre (1905-1980), novelista frances, teatr6logo, e maior intelectual do Existencialismo - filosofia que prociaIna a totalliberdade do ser humano. Foi premiado com 0 Nobel de literatura de 1964, que desconsiderou. Autor do classico 0 Ser e 0 Nada, a obra fundamental da teoria existencialista no seculo xx. a escolha, 0 que implica nos responsabilizarmos por ela. Somos 0 motor da a9ao, nao podendo responsabilizar ninguem, a nao sermos nos mesmos, pelas conseqiiencias de nossos atos ou escolhas. Por isso, a escolha gera em nos a responsabilidade. Mas a responsabilidade e uma conseqiiencia da liberdade, e 0 que e liberdade? Sigamos esclarecendo nosso discurso atraves dessa pergunta. o premiado curta-metragem Ilha das Flores, de Jorge Furtado, em seu final, nos da urn curioso parecer sobre a liberdade humana: o ser hurnano se diferencia dos outros anirnais pelo telencefalo altarnente desenvolvido, pelo polegar opositar e par ser livre. Livre e 0 estado daquele que tern liberdade. Liberdade e urna palavra que 0 sonho hurnano alirnenta, que nao hi ninguern que explique, e ninguern que nao tenha. Paremos e pensemos: nao tern razao 0 parecer acima? Qual de nos seria capaz de dar, nesse momento, uma definiyao do que seja liberdade? Isso, vamos concordar, e no minimo uma tarefa bem desgastante - a qual nos lanyaremos logo a frente! Mas qual de nos nao sabe 0 que ela representa em nossa vida? Quem nao lutaria por sua liberdade, caso essa fosse ameayada? Todos nos sabemos de sua importancia, mas sera que poderiamos explicar 0 que ela e? Vamos tentar solucionar 0 desafio que 0 parecer do documentario llha das Flores nos lanyou. Mas, antes de qualquer coisa, e interessante esclarecer 0 que a liberdade decididamente nao e. A liberdade nao e fazer "0 que der na telha", nem se trata de "fazer 0 que eu quiser", isso nao e ser livre, nao no sentido etico aqui abordado. Fayamos 0 seguinte: recorramos as reflexoes do pensamento ocidental compiladas em urn Dicionario de Filosofia, no caso, daquele elaborado pelo filosofo espanhol Jose Ferrater Mora. Nele, 0 conceito de liberdade fora exposto de divers as maneiras e em divers os contextos, dos quais selecionamos alguns: liberdade como possibilidade de autodetermina9ao - 0 qual muito nos interessa; como possibilidade de escolha; como ato voluntario; como espontaneidade; como margem de indetermina9ao; como ausencia de interferencia; como liberayaofrente a algo; como liberayao para algo; como realiza9ao de uma necessidade. (Cf. MORA, 1964, p. 49) Mas, 0 mais interessante e saber que todos esses sentidos derivam da palavra latina liver que, representava para os romanos, a "pessoa na qual 0 espirito de procriayao se encontra naturalmente ativo", ou seja, estado em que urn jovem romano poderia ser incorporado a comunidade como homem capaz de assumir responsabilidades. Recebe entao a toga virilis ou toga libera. Neste sentido, 0 homem livre e aquele que nao e escravo. Dai os varios significados anteriores, pois se e livre quando se e capaz de fazer algo por si mesmo. A liberdade e entao a possibilidade de decidir-se e, ao decidir-se, de autodeterminar-se. Assim, a liberdade esta intrinsecamente vinculada a ideia de uma responsabilidade ante si mesmo e ante a comunidade: ser livre quer dizer, neste caso, estar disposto e ser capaz, porem, estar disposto e ser capaz para cumprir certos deveres. Desde sua origem, 0 conceito de liberdade aponta para essas duas direyoes: a de urn poder fazer, e a de uma limita9ao no fazer. Por isso, a autodetermina9ao etica e 0 processo da tomada de consciencia da necessidade de limitar nossos impulsos, "educar nossa vontade", pois somente assim realizamo-nos como seres eticos, como seres autonomos. Autonomos? E 0 que e autonomia? Etimologicamente autonamia deriva da junyao dos vocabulos gregos autos (por si mesmo) e nomos (lei), que em sentido literal e dar a lei a si mesmo. Representando a faculdade que urn individuo possui de se govemar por leis pr6prias, de estabelecer as suas pr6prias normas. Assim, autonomia "e a condiyao de uma pessoa ou de uma coletividade cultural, que determina ela me sma a lei a qual sesubmete" (Cf. LALANDE, 1997, p. 101). A autonomia exige uma existencia que nao e, de antemao, determinada, mas sim autodeterminada, porque e livre. Notese que a autonomia nao e urn principia etico, mas uma predisposiC;iio dos seres humanos, que lhes permite autogovemarem-se, decidirem por si pr6prios, fazerem as suas pr6prias escolhas. E porque esta predisposiyao e estruturante da pessoa humana, urn dos suportes da dignidade humana, merece ser respeitada. 0 principio etico nao e a autonomia, mas 0 respeito pela autonomia de cada pessoa, em cada situayao concreta. Nao e 0 respeito por uma propriedade ou qualidade abstrata, atribuida em geral aos seres humanos, mas por essa qualidade, a autonomia, tal como ela se manifeste em uma pessoa concreta e em uma situayao concreta. Agora, munidos desse arcabouyo conceitual, direcionemos 'nossa atenyao ao trabalho docente e sua relayao com essas duas tematicas, a autodeterminayao etica e a autonomia. Comecemos por uma pergunta: 0 que e trabalho docente? 0 trabalho docente e a pnitica de urn determinado sujeito - 0 educador - de buscar uma trans/formlaya06 atraves de uma interayao com outro sujeito - 0 educando -, na qual ocorre a produC;iio de saberes. Para Terrien (2010), 0 trabalho docente e urn processo educativo de instruyao e formayao hurnana, atraves da mediayao e da interayao entre professor e alunos, a partir do conteudo de ensino em direyao a construyao de uma sociabilidade verdadeiramente humana. Eis uma condiyao inalienavel do trabalho docente, a construyao da sociabilidade. Mais a frente, justificaremos tal comentario. Assim, como afirmamos acima, 0 trabalho docente deve estar fundado em urn tripe: alimentar, canduzir e criar. 0 que faz com que a docencia constitua urn ato de instruyao, coerencia e motivayao, realizado por sujeitos autonomos. 0 professor ensina conteudos, e ao mesmo tempo alimenta, conduz e conscientiza 0 educando. Mas, para que isso se efetive, devemos considerar o professor como urn intelectual autonomo, que investiga, prop5e e busca novas formas de agir em urpa ayao coletiva e nao de forma isolada, pois preconiza a capacidade do educando de propor perguntas, e buscar respostas, exercitando tambem sua formayao autonoma. Da mesma forma, devemos considerar 0 professor como urn individuo etico, coerente e maduro, unificador de discurso e ayao, pois uma educayao pela ayao vale muito mais que uma educayao baseada somente nas palavras, nao e verdade? No final do processo educativo as lembranyas mais fortes sao as dos momentos vividos, e nao as das palavras lidas. A melhor forma de ensinar, portanto, e estimular reflex5es e vivencias. Mais do que os discursos, sao a pratica, 0 exemplo, a convivencia e a reflexao, em situay5es reais, que farao com que os educandos desenvolvam atitudes coerentes. Ter consciencia disso e algo muito importante para nosso intento, vejamos por que. Ao tomar consciencia disso, 0 professor vai, pouco a pouco, relacionando em sua vida docente, 0 discurso e a ayao, na medida em que percebe que, em sua pratica docente, deve respeitar para ser respeitado, assumir e cumprir suas responsabilidades como forma de ensinar e compartilhar com seus educandos a importancia da responsabilidade. Ao pensar nisso; confirmamos aquilo que Freire (1996) ja cobrava e que nos questionamos nas primeiras paginas de nosso texto, respondendo a questao: E possivel ser professor sem etica ou autonomia? Resposta: NAO! - e urn sonoro NAO! Freire e firme em colocar a exigencia etica do trabalho docente, afirmando que sem ela nao e possivel haver docencia. 0 professor deve assumir uma etica que condena 0 cinismo, a explorayao, a perversao hip6crita da pureza em puritanismo, a discriminayao da raya, do genero, da classe, na atividade pedag6gica e social. A melhor forma de lutar por ela e vive-la e testemunha-la (Cf. FREIRE, 1996). E obvio que alguem podera argumentar: "Mas essas duas virtudes sao necessarias a qualquer profissional!" No entanto, esqueceu este alguem, que os demais profissionais, ou pelo menos a maioria deles, foram frutos de bons ou maus professores (se e que "mau" pode ser urn termo qualificador de "professor", urn mau professor e ainda professor?), alem de que, pelo que refletimos, 0 professor educa para a vida e nao para determinadas especificidades da vida. Pensando nisso, Freire (1987) formulou urn termo interessante para qualificar urn ideal de professor: ele e 0 sujeito que busca ser mais, ou seja, por ser consciente de seu inacabamento, trabalha pela efetivayao dessa vocayao ontol6gica do homem: Esta vocayao para ser mais que nao realiza na inexistencia de ter, na indigencia, demanda liberdade, possibilidade de decisao, de escolha, de autonomia. Para que os seres humanos se movam no tempo e no espayo no cumprimento de sua vocayao, na realizayao de seu destino, obviamente nao no sentido comum da palavra, como alga a que se esta fadado, como sina inexor:lvel [...] a vocayao para ser mais, enquanto expressao da natureza humana fazendo-se na Histaria, precisa de condiyoes concretas sem as quais a vocayao se distarce. (FREIRE, 2001, p. 8) Essa pretensao freireana de que to do ser humano deve ser mais, e absolvida pela nossa pretensao de que todo ser humano deve chegar a uma autodeterminar;ao etica, que todo ser humano deve ser aut6nomo, mas vimos que a etica e a autonomia nao san instintos naturais, elas sao adquiridas pelo habito. Nesse caso, 0 professor, como aquele que ira auxiliar a formayao do ser humano, deve ser aquele a qual a urgencia desse Mbito e mais necessaria. Porem, isso imp5e urn problema: Etica e autonomia san coisas ensinaveis? Se forem, quem as ensinaria? Pois, ao concluirmos que tais virtudes san extremamente necessarias a formayao do ser humann, somos obrigados a justificar a possibilidade de ser ensinada. Nesse caso Arist6teles, fil6sofo grego7, pode nos auxiliar: Sendo pois, de duas especies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce gray as ao ensino - por isso, requer experiencia e tempo; enquanto a virtude moral e adquirida em resultado do habito. Nao e pois por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nos. Diga-se, antes, que somos adaptados par natureza a recebe-Ias e nos tomamos perfeitos pelo babito. Com as virtudes (...) adquirimo-Ias pelo exercicio, como tambem sucede com as artes. Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder faze-las, aprendemo-Ias fazendo; por exemplo, os homens tomam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo 0 instrumento. Da mesma forma, tomamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperanya, a bravura, etc. Do que acabamos de dizer, segue-se que nao e facil ser born, pois em todas as coisas e dificil encontrar 0 meio-termo. Por isso a bondade tanto e rara como nobre e louvavel (ARISTOTELES, 1974, p. 267-268). 7 Arist6teles foi urn famoso fil6sofo grego, viveu do ano 384 a.C. ao ano 322 a.C., faleceu aos 62 anos. Ao longo de sua vida recebeu apelidos como "0 leitor", "0 estagirita" e "perceptor da inteligencia humana", dentre outros. Atuou como aluno de Platao e professor de Alexandre, 0 grande. Produziu registros textuais de seus estudos acerca de temas como a fisica, a metafisica, a poesia, 0 teatro, a musica, a l6gica, a biologia, 0 govemo, e principalmente, sobre a etica. o eminente pensador grego nos afirma que e possivel adquiri-Ia, que ela e passivel de ser aprendida, pois somos adaptados por natureza a recebe-las, mas cabe saber se ela seria ensinavel, e se fosse, quem e como a ensinaria. Pensemos no seguinte exemplo a fim de verificar essa possibilidade: em uma reuniao de pais e mestres, a dire<;ao da escola prop5e aos pais e professores urn projeto de prepara<;ao das crian<;as para enfrentarem os problemas pr6prios de nosso seculo. Inicia-se uma serie de encontros gerais, onde apresentam fatos as crian<;as: fatos sobre quest5es ambientais, sobre as quest5es sociais, sobre quest5es hist6ricas, etc. Todos percebem que isso e born, mas tambem concordam que, na medida em que os encontros vao ocorrendo, ainda e uma a<;ao pedag6gica insuficiente: "Precisamos desenvolver nas crian<;as urn senso etico mais apurado", conclui urn professor. Este mesmo professor prop5e urn programa no qual as crian<;as possam desenvolver urn senso etico mais adequado as necessidades impostas pelos novos tempos. Na reuniao de pais e mestres seguinte, e apresentado esse novo programa ao projeto. Ap6s a exposi<;ao desse novo ideal, urn pai levanta a seguinte questao: "Mas voces ensinarao a etica de quem?", e completa: "Se voces estao pensando em ensinar etica a meus filhos, eles irao assumir os seus valores, com os quais posso nao concordar." Como sair desse impasse? bra, a partir do conceito de etica que adquirimos: "Nao pensamos em the ensinar val ores morais tao somente, mas a reconhecer valores e escolher dentre eles". Nao se trata de urn ensino meramente moral (particular), mas etico (universal). E nesse caso, nao se trata de urn ensino verbal, mas de urn ensino prMico. 0 que se pretende ensinar e uma atitude etica, e essa atitude esta pautada numa capacidade de se autodeterminar, de ser aut6nomo, de ser responsavel. A proposta de forma<;ao etica do ser humano deve ser a de dar condi<;5es para que 0 educando seja capaz, assim como seu educador e, de refletir suas a<;5es e escolhas. Nesse sentido, a educa<;ao etica nao e uma tarefa de especialistas, ou seja, nao existem professores de etica, mas sim professores eticos. Embora 0 trabalho docente deva reger-se por uma serie de valores, prMicas e objetivos institucionais decorrentes da peculiaridade de sua hist6ria e de sua tarefa social de inicia<;ao dos educandos no mundo, e a uma atitude de reflexao da a<;aoque 0 professor deve levar ao alunos, e 0 fara a partir de sua pratica. Nesse ponto e salutar a critic a realizada pela cientista politica Hanna Arendt8 sobre a a<;aoeducativa: o educador esta aqui em relayao ao jovem como representante de urn mundo pelo qual deve assumir responsabilidade, embora nao 0 tenha feito e ainda que secreta ou abertamente possa querer que ele fosse diferente do que e. Essa responsabilidade nao e imposta arbitrariamente aos educadores; ela esta implicita no fato de que os jovens sac introduzidos por adultos em urn mundo em continua mudanya. Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo nao deveria ter crianyas, e e precise proibi-la de tomar parte em sua educayao. (ARENDT, 1990, p. 239) Arendt (1990) e taxativa: quem nao esta disposto a assumir sua responsabilidade pela forma que as coisas estao ocorrendo no mundo, nao deve tomar parte da educa<;ao de ninguem. Podemos tirar dessa afirmayao uma conclusao que nos auxilia na resoluyao de nosso problema - se a etica e passivel de ser ensinada. Tenderiamos responder: e sendo urn professor justo que ensinamos 0 valor e 0 principio da justiya aos nossos alunos, sendo respeitosos e exigindo que eles tambem 0 sejam e que ensinamos 0 respeito, nao com urn conceito, mas com urn principio de conduta. Simples assim! 8 Fil6sofa e cientista politica norte-americana de origem alema (1906-1975). Destaca-se por seus escritos sobre as questi'ies judaicas e seus ensaios sobre 0 totalitarismo. Escreve, entre outras obras, A Condil;:CioHumana (1958), Entre o Passado e 0 Futuro (1961), Homens em Tempos Obscuros (1968) e Crises da Republica (1972). Em As Origens do Totalitarismo (1951), seu ensaio mais conbecido, atribui a mesma raiz sociocultural ao nazismo e ao stalinismo. Mas e precise ainda ressaltar que 0 contrario tambem e verdadeiro, pois se as virtudes, como 0 respeito, a tolerancia e a justiya sac ensinaveis, tambem 0 sac os vicios, como 0 desrespeito, a intolerancia e a injustiya. Por isso, esta certo 0 cidadao que, como mencionamos no comeyO de nosso texto, cobra do professor certas obrigayoes, dentre as quais a vivencia de uma autodeterminayao etica. Assim como e correta a cobranya daquele que indaga: Como 0 professor po de formar 0 aluno como cidadlio aut6nomo, se muitas vezes ele proprio nlio po de exercer sua autonomia? Nesse sentido, compreendemos que 0 exercer da mesma se da por uma atitude critica, consciente, que respeita as diferenyas, que estimula a curiosidade epistemologica, que e coerente, que busca saber, que age com humildade e tolerancia, pois, 0 professor autonomo sabese inacabado, respeita os saberes e a identidade cultural de cada educando e, principalmente, escuta e dialoga com 0 educando. 0 professor e critico para formar crfticos, e livre para promover libertayao, e consciente para superar a alienayao, acredita na mudanya para promover transformayoes, e possui 0 aspecto que mais nos interessa nesse texto, e autonomo para formar autonomos (Cf. FREIRE, 1996, p. 37-38) Assim, 0 educador possibilitara uma formayao que promovera 0 desenvolvimento dessas mesmas dimensoes no educando. 0 ensino da Mica e da autonomia somente pode ocorrer assim. Mas agora tentemos sair da mera teorizayao e fayamos algumas propostas. Conclusao: E possive!! E sempre complicado para nos, teoricos da educayao, propormos urn plano de ayao para aqueles que estao vivenciando a realidade de uma sala de aula, pois nao ha como esquivar-se das dificuldades e desafios inerentes ao trabalho docente em sua realidade. Somos cientes que cada professor possui uma realidade (mica, assim como cada escola, sala de aula, cad a aluno. Alem de ser obvio que os professores sabem que tudo isso que comentamos em nosso texto sac coisas importantes - diriamos ate que e inconcebivel que alguem entre em uma sala de aula sem essas nOyoes -, mas eles tambem sabem 0 quanta e dificil a realizayao desses ideais em sala de aula, e e aqui que nos, teoricos da educayao, encontramos nosso maior desafio: prop or algo possive!. Nao diremos 0 contrario, e realmente uma tarefa bem complex a 0 relacionar teoria e pratica. Porem, replicaremos: E dificil mas E possive!! Relembramos aqui uma passagem do livro A alegria de ensinar, de Rubem Alves, na qual fala sobre 0 prazer que 0 professor deve ter em "deleitar" seus educandos com os saberes por ele ensinados, vejamos: Pois 0 que voces ensinam nao e urn deleite para a alma? Se nao fosse, voces nao deveriam ensinar. E se e, enta~ e preciso que aqueles que recebem, os seus alunos, sintam prazer igual ao que voces sentem. Se isso nao acontecer, voces terao fracassado na sua missao, como a cozinheira que queria oferecer prazer, mas a comida saiu salgada e queimada ... (ALVES, 1994, p. 10) Isso nao e uma proposta fantasiosa, que soa mais como urn discurso de auto-ajuda do que com uma proposta pedagogica, isso e algo rea!. Por mais poetico que soe ser 0 ensino "urn deleite para alma", isso e uma das maiores verdades do trabalho docente. 0 dia em que urn educador deixar de ver senti do em uma frase como essa, deixara imediatamente de ser responsQvel pelo mundo, e deve ser proibido de tomar parte da educayao (ARENDT,1990). Cremos que a autodeterminayao etica e a autonomia docente sac principios exequiveis e ensinaveis, mas nao atraves de projetos mirabolantes e complexos, e sim por atitudes simples e diretas. Vejamos algumas dessas atitudes a partir de urn quadro cunhado pelo pedagogo portugues Antonio N ovoa9 (2009) onde destacamos cinco passos. 9 Antonio Novoa e professor catednitico na Faculdade de Psicologia e de Ciencias da Educayao da Universidade de Lisboa. Autor de varias obras no campo da formayao de professores e no dominio das Ciencias da Educayao, seus livros abriram novos caminhos a reflexao e a pesquisa no campo da formayao docente. Valorizando 0 cotidiano pedagogico e discutindo a importiincia que as "bistorias de vida" podem adquirir nos estudos sobre os professores, a profissao docente e as praticas de ensino, Antonio Novoa tern procurado despertar, nos professores, a vontade de Primeiro passo: a autonomia docente se da pelo conhecer bem aquilo que se ensina (ALAIN, 1986, p. 55). 0 percurso trilhado ate aqui nos mostrou como e importante para trabalho docente aquilo que Freire denominou saber-fazer, ou seja, 0 saber-ser-pedagogico, que implica diretamente a posse do conhecimento por parte do professor. Nao podemos esquecer que 0 trabalho docente consiste na construyao de praticas que conduzam os alunos a aprendizagem. Para enfatizar isso Novoa (2009, p. 3) cita Gaston Bachelard!O, filosofo e epistemologo frances, que afirmou: "E preciso substituir 0 aborrecimento de viver pela alegria de pensar". E da responsabilidade do professor impedir que seus educandos pensem sobre 0 vazio. Conhecer e possivel! o segundo passo possivel para vivenciar as reflexoes por nos feitas e apropriayao por parte do professor de uma cultura profissional. Pois, ser professor e compreender os sentidos da instituiyao escolar, integrar-se em sua profissao, aprender com os colegas mais experientes. Novoa nao esta equivocado, nem exige 0 impossivel. Alguem tern duvida de que e na escola e no diaIogo com os outros professores que se aprende a profissao? Alguem pensa que a reflexao sobre o trabalho e 0 exercicio da auto-avaliayao nao sao elementos centrais para 0 aperfeiyoamento e a inovayao de nossa pratica? Nao se enganem, sao essas praticas simples que fazem avanyar a profissao docente. Profissionalizar-se e possive!! o terceiro passo esta na valorizayao de sua capacidade de relayao e de comunicayao com seus educandos. Sem 0 escutar e 0 dialogar, Freire ja alertara, nao se cumpre 0 ato de educar. E na serenidade de quem e capaz de se dar ao respeito, que ocorre a conquista dos educandos para o trabalho escolar. Sim, para 0 trabalho escolar. Saber conduzir alguem para a outra margem, 0 conhecimento, nao esta ao alcance de todos. Valorize seu trabalho. Valorizar-se e possive!! o quarto passo nao serve para 0 trabalho docente apenas, mas para qualquer funyao, mas e na educayao que os resultados dessa pratica serao mais acentuados. 0 trabalho docente implica em ayoes coletivas e colaborativas, implica no trabalho em equipe, na intervenr;:iio conjunta nos projetos educativos de escola. Thomas Morus!! ja afirmara: "Ninguem e uma ilha", nunca se pode esquecer que ha uma "comunidade escolar". Conviver e possivel! Por fim, 0 quinto e ultimo passo, a consciencia de que autodeterminayao etica implica em urn compromisso social. Novoa diz que podemos chamar essa ayao de diferentes nomes, mas que todos convergem no sentido dos principios, dos valores, da inclusao social e da diversidade cultural. 0 educador autonomo sabe que educar e conseguir que a crianya ultrapasse as fronteiras que, tantas vezes, the foram trayadas como destino pelo nascimento, pela familia ou pela so.ciedade. Educar e possibilitar que 0 aluno seja mais. Por fim, bradamos em alto e born som: Vivenciar 0 ethos da educa~ao e possiveI! refletir sobre os seus percursos profissionais, sobre a forma como sentem a articulayao entre sobre a forma como foram evoluindo ao longo da sua carreira. 10 11 0 profissional e 0 pessoal, Gaston Bachelard (1884-1962) foi reconhecido como fil6sofo e poeta. E importante nao apenas por seu trabalho na area de filosofia da ciencia, mas tambem por sua recepyao no debate de inumeros fil6sofos franceses, incluindo Georges Canguilhelm, Louis Althusser, Michel Foucault e Michel Serres. Desenvolveu a filosofia da ciencia antipositivista, pois para ele a ciencia era uma atividade aut6noma, dependente apenas de si mesma para suas normas e praticas. Nao procurou em suas construyoes estabelecer a relayao do saber, produzido pelos homens, com as coisas, mas a relayao entre homens com seu pr6prio saber. Ele acreditava, tam bern, que as teorias fisicas nao eram divorciadas de comprometimentos metafisicos, ainda que elas reivindicassem essa separayao. Thomas Moros (1478-1535) destacou-se como urn dos grandes hurnanistas do renascimento. No campo educacional sua proposta era 0 de uma formayao integral e univeral, ideal que proporcionou a seus filhos uma educayao excepcional e avanyada para a epoca, nao discriminando a eduCayao dos filhos e das filhas. A todos indistintamente fez estudar latirn, grego, 16gica, astronomia, medicina, matematica e teologia. A sua obra mais famosa e "Utopia" (1516) (em grego, ulopos, que significa "em lugar nenhum"). Neste livro criou uma ilba-reino imaginaria que alguns autores modemos viram como uma proposta idealizada de Estado e outros como satira da Europa do seculo XVI. Para saber sobre 0 tema da autodeterminar,;ao etica e autonomia docente recomendamos, alem das obras constantes em nossas referencias bibliograficas, as obras disponibilizadas pelo MEC, dentre as quais citamos: FNDE. Etica e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade. Brasilia: Ministerio da Educar,;ao, Secretaria de Educayao Basica, 2007; FAFE - Fundayao de Apoio a Faculdade de Educar,;ao (USP). Etica: protagonismo juvenii. Brasilia: Ministerio da Educar,;ao, Secretaria de Educar,;ao Basica, 2007; ambas disponiveis no site do MEC: www.portal.mec.gov.br. Nessas obras os autores buscam apresentar ao docente, alem de conceitos, determinadas reflex5es sobre 0 tratamento de quest5es eticas em sala de aula, 0 que os toma urn material bem interessante para dar continuidade as reflex5es aqui esbor,;adas. Uma opr,;ao tambem e a musica Autonomia (Marcelo Fromer/Arnaldo Antunes/Paulo Miklos), do grupo brasileiro Titas, a partir dela e possivel identificar a tematica : "Somos livres em sociedade?". Outra sugestao sao os filmes 0 clube do imperador (Direyao Michael Hoffman, EUA: Beacon Pictures, 2002, 109 min.), e Escritores da liberdade (Direr,;ao de Richard LaGravenese, EUA! Alemanha, Paramount Pictures do Brasil, 2007, 123 min). Ambos os filmes retratam 0 esforr,;o de professores no ensino da autodeterminar,;ao etica e na ar,;ao autonoma dos educandos, mas retratam situar,;5es bem diferentes. Enquanto 0 clube do imperador se concentra em uma escola que prioriza uma autodeterminar,;ao etica que capacite para uma responsabilidade moral do educando, 0 filme Escritores da liberdade e uma proposta de ser mais aos educandos, vistos como sujeitos autOnomos. Valera a pena assistir os dois. Fica a dica. ALAIN. Propos sur l'education. Paris: Quadrige/PUF, 1986. ALVES, R. A alegria de ensinar. 3" Ed. Sao Paulo: Ars Poetica, 1994. ARENDT, H. Entre ARISTOTELES. 0 passado e 0 futuro. Sao Paulo, Perspectiva, 1990. Etica a Nicomacos. Sao Paulo: Abril Cultural, 1974 (Coleyao Os Pensadores). BIBLIA SAGRADA. Tradulfao Ecumenica da Biblia - TEB. Sao Paulo: Loyola, 1994. CHAU!, M. Filosofia. Sao Paulo: Atica, 2008. FERREIRA, A. B. H. Diciomirio Aurelio Basico da Lingua Portuguesa. Rio de Janeiro: Folha de Sao Paulo/Nova Fronteira, 1988. FREIRE, P. Politica e educalfao. 5" ed. Sao Paulo: Cortez, 2001. ____ . Pedagogia da Autonomia: Janeiro: Paz e Terra, 1996. Saberes necessarios a pratica pedagogica. Rio de FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17" Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. ____ . Educalfao e mudanlfa. 4" Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. ____ ; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. FREIRE-MAlA, ILHADAS N. A ciencia por dentro. 6" Ed. Petr6polis: Vozes, 2000. FLORES. Direr,;ao de Jorge Furtado. Brasil (RS) 1989. Urn documentario (12 min), colorido. LALANDE, A. Vocabulaire technique et critique de la phiiosophie,Vol. Quadrige/PUF, 1997. 1: A-M. 4" Ed. Paris: MORA, 1. F. Diccionario de filosofia, tomo II: L-Z. Buenos Aires: Sudamericana, 1964. NOVOA, A. Para uma formar;ao de professores construidos dentro da profissao. In: Revista de Educacion, n. 350, set.-dez. de 2009. Disponivel em http://www.revistaeducacion.educacion.es/ re350/re350_09por.pdf. Acesso em 22 de Julho de 201l. OLIVEIRA, I. A. Filosofia da educa«;ao: reflexoes e debates. Petr6polis: Vozes, 2006. TERRIEN, 1. Da epistemologia da pratica a gestao dos saberes no trabalho docente: convergencias e tensoes nas pesquisas. In: DALBEN,A. I. L. F.; ET. AL. (Orgs.). Convergencias e tensoes no campo da forma«;ao e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autentica, 2010. p. 307-323.
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