ANABELA TAVARES CAMPOS OLIVEIRA Universidade
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ANABELA TAVARES CAMPOS OLIVEIRA Universidade
ANABELA TAVARES CAMPOS OLIVEIRA DINÂMICA DA MATÉRIA PARTICULADA EM SUSPENSÃO NA PLATAFORMA CONTINENTAL MINHOTA - SUA RELAÇÃO COM A COBERTURA SEDIMENTAR Universidade do Algarve Faro 2001 ANABELA TAVARES CAMPOS OLIVEIRA DINÂMICA DA MATÉRIA PARTICULADA EM SUSPENSÃO NA PLATAFORMA CONTINENTAL MINHOTA - SUA RELAÇÃO COM A COBERTURA SEDIMENTAR Dissertação apresentada à Universidade do Algarve para obtenção do grau de Doutor em Ciências do Mar, na especialidade de Geologia Marinha Universidade do Algarve Faro 2001 AGRADECIMENTOS A elaboração desta tese contou com o auxílio de diversas pessoas e instituições a quem quero expressar os meus sinceros agradecimentos: Ao Professor Alveirinho Dias, por me ter iniciado e transmitido o gosto pela Geologia Marinha e também por ter contado com a sua orientação, ajuda e apoio. Ao Professor Jean-Marie Jouanneau, pela sua dedicação e empenho demonstrados durante todas as fases deste trabalho. Ao Professor Olivier Weber, pela sua amizade, colaboração e cedência de meios técnicos e laboratoriais da Universidade de Bordéus I (França) imprescindíveis à elaboração desta tese. Ao Professor Galopim de Carvalho, pela sua amizade e disponibilização das instalações do Museu Nacional de História Natural. Ao Professor Mário Cachão, que me transmitiu o gosto pelos estudos paleontológicos e em particular do nanoplâncton calcário. Pelo excelente acompanhamento nas várias sessões de microscópio petrográfico e microscópio electrónico de varrimento sem cuja colaboração seriam impossíveis e também pelo seu grande interesse e entusiasmo demonstrado na discussão dos resultados. Aos Professores Fernando Rocha e Celso Gomes da Universidade de Aveiro, pela colaboração inestimável e frutífera no estudo da mineralogia da fracção fina e argilosa das amostras colhidas, com disponibilidade para discussão dos resultados e elaboração de artigos. À Doutora Fátima Araújo pelo estímulo, amizade e frutuosas trocas de ideias. Aos meus colegas do Instituto Hidrográfico, em particular da Divisão de Oceanografia, que me proporcionaram uma óptima integração e bom ambiente de trabalho, com agradecimento especial à Aurora Rodrigues e João Vitorino pelo apoio e amizade com que sempre pude contar. A Octávio Chaveiro, pelo profissionalismo demostrado no manuseamento do microscópio electrónico de varrimento e revelação das fotografias. À CPPE (Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade), Direcção de Produção de Hidráulica pela cedência dos dados de caudais. Aos meus colegas e amigos do Grupo DISEPLA e do CIACOMAR, que sempre transmitiram amizade, interesse e proporcionaram um espaço aberto a discussões e trocas de ideias. Um agradecimento especial ao Fernando pela leitura deste trabalho, ao Rui e João pela troca e i discussão de ideias, à Teresa sempre disponível para ajudar, à Aurora pelo apoio e incentivo constante, ao Óscar e Francisco pela amizade e estímulo. Ao Instituto Hidrográfico, na pessoa do seu director, pela cedência das condições de laboratório e de espaço, imprescindível à execução de grande parte das tarefas da elaboração da tese. Aos comandantes e tripulações dos navios N.R.P. "Auriga", N.R.P. "Andrómeda", N.R.P. "Almeida Carvalho" e N.R.F. "Cotê de la Manche", a bordo dos quais foram efectuados os cruzeiros científicos, sem cuja colaboração a realização deste trabalho seria impossível. A todos os que participaram nos cruzeiros científicos, com especial agradecimento a M. Marreiros, J. Caldas e L. Rosa, cuja assistência e colaboração técnica foram determinantes para o sucesso dos cruzeiros. À Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pelo apoio financeiro obtido através da bolsa de estudo PRAXIS XXI/BD/5667/95. Aos meus pais e em especial ao Manel, por todo o apoio… ii Resumo O objectivo principal do presente trabalho consiste na caracterização dos processos que determinam e controlam a dispersão do material particulado em suspensão (MPS) na plataforma e bordo continentais portugueses a norte de 41ºN, com a elaboração de um modelo conceptual de dinâmica sedimentar da MPS. Para a prossecução deste objectivo foram realizados diversos cruzeiros científicos com aquisição de dados in situ, nomeadamente, hidrológicos, meteorológicos, correntométricos e sedimentológicos em épocas contrastadas. Pretendeu-se efectuar a caracterização composicional e dimensional da MPS presente nas massas de águas tipicamente oceânica e costeira, com identificação das possíveis fontes quer continentais, quer orgânicas ou com origem na cobertura sedimentar da plataforma. A dinâmica dos níveis nefelóides na plataforma e bordo continental, são controladas principalmente pelos seguintes factores: a) a hidrologia das águas da plataforma e bordo, isto é, os níveis nefelóides geralmente acompanham as isopícnicas; b) circulação prevalecente na plataforma em situação de upwelling ou downwelling; c) dispersão do material dos rios (sobretudo o rio Douro); d) ressuspensão dos depósitos finos da plataforma média induzida pela ondulação; e) existência de uma morfologia peculiar com a presença do canhão do Porto e de afloramentos rochosos na plataforma externa. Foram identificados dois níveis nefelóides de superfície (CNS) e de fundo (CNF) que se definem a partir dos 25-30m de profundidade, coalescendo a profundidades inferiores. A circulação geral controla a extensão e desenvolvimento dos nefelóides apresentando comportamentos distinto em situação de upwelling e downwelling. No Inverno, em condições de downwelling, foi observada uma CNF intensa devido ao fornecimento dos rios e remobilização pela onda dos depósitos finos da plataforma média (≈100m de profundidade) que se estende até ao bordo seguindo as isopícnicas. No bordo da plataforma destaca-se dando origem a camadas nefelóides intermédias (CNI). A CNS encontra-se muito limitada à plataforma interna, sendo essencialmente formada por partículas terrígenas. O transporte de partículas para zonas profundas é feito essencialmente na CNF e através do canhão submarino do Porto. Em situações de upwelling, desenvolve-se uma CNS na plataforma e bordo bem evidente e separada da CNF por águas com baixa turbidez. A estratificação da coluna de água e a circulação para o largo à superfície favorece a dispersão das partículas na CNS que é essencialmente formada por partículas de origem orgânica. iii No bordo da plataforma foram identificadas CNI, com origens diversas. Podem resultar do destacamento da CNF, desenvolvem-se no bordo por acção conjunta da corrente da vertente e marés ou pelo efeito das ondas internas. O estudo de amostras seleccionadas de MPS ao microscópio electrónico de varrimento revelou que o material pode ocorrer em agregados que usualmente incluem cocólitos. A componente terrígena da MPS geralmente tem maior expressão na CNF, sendo a CNS formada maioritariamente por partículas orgânicas. A componente terrígena determinada por difractometria de raios X (DRX) é composta essencialmente por minerais das argilas (ilite, caulinite, clorite e esmectite) com outros minerais em quantidades menores, como quartzo, micas, feldspatos potássicos e plagioclases O estudo da componente orgânica da MPS durante o Inverno, nomeadamente o nanoplâncton calcário (cocolitóforos), permitiu a identificação de espécies típicas de regiões subtropicais e temperadas, que se aproximam do offshore ibérico em períodos de downwelling. A espécie G. oceanica parece preferir áreas com turbidez elevada mas salinidade normal, tendo sido detectada a bordejar as plumas dos rios. Perto do fundo, foi reconhecido a importância destas pequenas partículas orgânicas para a identificação de processos de ressuspensão. A mineralogia da fracção fina dos sedimentos de fundo, determinada por DRX, foi usada como indicadora da dinâmica sedimentar. Este estudo permitiu confirmar a circulação predominante para norte que se verifica sobretudo de inverno em condições de downwelling. Os sedimentos a sul do paralelo 42ºN são mais imaturos e consequentemente mais próximos à fonte, sendo evidente um aumento da maturidade do sedimento para norte do rio Minho, expresso pelo conteúdo de feldspatos e micas nos sedimentos finos. O padrão de distribuição dos minerais das argilas depende essencialmente da descarga dos rios, sendo a composição do material que sai dos mesmos muito semelhante à composição mineralógica da fracção argilosa da cobertura sedimentar formada essencialmente por ilite (70-85%), caulinite (15-25%), clorite (5%) e esmectite (vestigial). Os dados disponíveis (mineralogia e cristalinidade) parecem também indicar uma rede de transporte para norte e para o largo dos sedimentos silto-argilosos. Palavras chaves: hidrologia, nefelóides, matéria particulada em suspensão, circulação, plataforma continental norte portuguesa, sedimentos silto-argilosos. iv Abstract The general objective of this work is the understanding and characterisation of the processes that control the dispersion of suspended particulate matter (SPM) in the Portuguese continental shelf and slope north of 41ºN, together with the elaboration of a conceptual model of sedimentary dynamic for SPM. For this purpose, several scientific cruises were conducted in order to acquire in situ hydrologic, meteorological, currentometric and sedimentological data. The obtained data were used to characterise the SPM composition and grain size in relation with the ocean and coastal water masses, with the identification of possible continental, biological and resuspension sources. The nepheloid layer dynamics along the shelf are controlled by the following major factors: a) the hydrography of the shelf-slope waters, i.e. the nepheloid layers follow isopycnals; b) prevailing of upwelling or downwelling circulation over the shelf; c) dispersion of material by river discharge (mainly from Douro river); d) resuspension of mid shelf fine deposits induced by swell; e) a peculiar morphology, with the presence of the Porto Canyon and several rock outcrops in the outer shelf. Two main nepheloid layers were identified at the surface (SNL) and the bottom (BNL), which are found deeper than 25-30m depths, combining at lower depths. The general circulation controls the seaward extension of the nepheloid layers, with distinct behaviour in upwelling or downwelling situations. In winter, under dominant downwelling conditions, an intense BNL was observed on the shelf, due to river born particle supply and remobilisation of mid-shelf muddy sediments (depth≈100m), expanding until the slope following the isopycnals. Near the shelf-break, the BNL detached to form intermediate nepheloid layers (INL). The SNL was limited to inner-shelf, mainly formed by terrigenous particles. The transport of SPM to deeper areas occurs preferentially in the BNL mainly through the Porto submarine canyon. Under an upwelling situation, a SNL appears in the surface water over the shelf and slope, well evident and separated from the BNL by clear waters. The water column was highly stratified and dispersion of particles in the SNL was offshore, but this layer was mainly formed by organic particles. In the shelf-break, small INL were identified with different origins. They can result from BNL detachment, joint action of poleward current and tides or internal waves. v The visual inspection under the microscope of selected SPM samples from SNL and BNL revealed that the material can occur as aggregates that commonly enclose minute coccoliths. Terrigenous mineralogical components generally increased toward the BNL, whereas particles from the upper water column were more organic. X-ray diffraction analysis of SPM showed that terrigenous components were mainly plate-like clay minerals as illite, kaolinite, chlorite and smectite, together with other mineral grains, such as quartz, mica, K-feldspar and plagioclases in small amount. The study of the organic component of SPM, namely the calcareous nannoplankton (coccolithophores), shows the presence, in the winter period, of typical species of subtropical and temperate regions that became closer to Iberia offshore in downwelling situations. The G. oceanica species seems to prefer areas with high turbidity but normal salinity and was detected staggering the river plumes. Near bottom, the importance of this particles was recognised in the identification of resuspension processes. The mineralogy of the fine fraction of bottom sediments was determined by XRD and used as an indicator of sedimentary dynamics prevailing in the open shelf system. The distribution of the fine fraction minerals in the top layer of the sedimentary cover is related to the continental sources of detrital particles and also reflect the importance of dynamic winter events and alongshore currents in the sedimentary transport processes. The sediments south of 42ºN parallel are more immature and consequently closer to the source, with an evident increase of sediment maturity to north of Minho river, expressed in terms of feldspar and mica content. On the other hand, clay mineral distribution patterns are highly dependent upon river discharges. The mineralogical composition of material coming out from rivers is very similar to that of the fine fraction of bottom sediments. Illite (70-85%) is the predominant clay mineral, followed by kaolinite (15-25%), chlorite (5%) and smectite (vestigial). From the available data, the clay minerals thus indicate a net northward and off-shelf fine sediment transport. Keywords: hydrology, nepheloid, suspended particulate matter, circulation, northern Portugal continental shelf, silt-clay sediments. vi ÍNDiCE GERAL Agradecimentos Resumo Abstract Índice geral Índice de figuras Índice de tabelas CAPÍTULO I - Considerações gerais CAPÍTULO II - Enquadramento geral da área em estudo 1. Plataforma continental 1.1 Cobertura sedimentar - características texturais 1.1.1. Silte e argila (fracção <63µm) 1.1.2. Areia (2mm-63µm) 1.1.3. Cascalho (fracção>2mm) 2. Vertente continental 3. Enquadramento climático 4. Características das águas da plataforma e vertente continental 4.1 Regime de agitação marítima (norte de cabo Raso) 4.1.1. Acção da onda 4.2. Condições hidrológicas do Atlântico Norte 4.3. A circulação na plataforma e vertente continental 4.3.1. Padrão de circulação de Inverno 4.3.2. Padrão de circulação de Verão 4.3.3. Corrente de maré 4.3.4. Ondas internas 4.4 Ressuspensão e remobilização de sedimentos finos na plataforma continental norte de 41ºN 5. Características da área continental adjacente 5.1. Zona costeira 5.2. Bacias hidrográficas 5.2.1. Cheias 5.2.2. Influência das barragens nas cheias 5.3. Estuários 5.3.1. Sedimentos dos estuários dos rios 5.3.2. Sedimentos das rias galegas 5.3.3. Correntes de maré 5.4. Abastecimento sedimentar à plataforma 6. Conclusões CAPÍTULO III- Métodos 1. Introdução 2. Trabalhos realizados a bordo 2.1. Perfis Hidrológicos realizados com a sonda Zullig 2.2. Perfis Hidrológicos realizados com o CTD MKIIIc 2.2.1. Sensores 2.2.2. Tratamento dos dados de CTD 2.3. Perfis de nefelometria (Aquatracka III- Chelsea Instruments, Ltd) 2.4. Colheita e filtração de água 2.5. Sedimentos de fundo 3. Trabalho laboratorial 3.1. Sedimentos em suspensão 3.1.1. Concentração da MPS (mg/l) 3.1.2. Carbono orgânico particulado na coluna de água 3.1.3. Análise dimensional - Microgranulometria laser 3.1.4. Composição da MPS vii i iii v vii xii xix 1 4 4 6 6 8 10 11 12 15 15 17 18 20 20 24 27 28 30 33 33 33 35 36 37 37 39 39 42 43 45 45 46 47 47 47 48 49 50 51 52 52 52 52 52 53 1. Lupa binocular 2. Microscópio petrográfico 3. Microscópio electrónico de varrimento 4. Difractometria de raios X 3.2. Sedimentos de fundo 3.2.1. Preparação das amostras de fundo para a análise mineralógica (DRX) 3.2.2. Composição mineral por DRX 4. Intercalibração entre a turbidez e a concentração de matéria em suspensão CAPÍTULO IV - Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa 1. Campanhas oceanográficas 1.1. Campanha PLAMIBEL I (Verão, 1990) 1.1.1. Dados hidrológicos 1.1.2. Dados climáticos 1.1.3. Diagramas TS de superfície 1.1.4. Diagramas TS de fundo 1.1.5. Gradiente de salinidade de superfície 1.1.6. Perfis E-W de salinidade 1.1.7. Gradiente de temperatura de superfície 1.1.8. Perfis E-W de temperatura 1.1.9. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo 1.1.10. Perfis E-W de turbidez 1.1.11. Interpretação das condições hidrológicas e de circulação 1.2. Campanha CORVET (Outono, 1996) 1.2.1. Dados hidrológicos 1.2.2. Dados climáticos 1.2.3. Diagramas TS de superfície 1.2.4. Diagramas TS de fundo 1.2.5. Gradiente de salinidade de superfície 1.2.6. Perfis E-W de salinidade 1.2.7. Gradiente de temperatura de superfície 1.2.8. Perfis E-W de temperatura 1.2.9. Gradiente de densidade 1.2.10. Perfis E-W de densidade 1.2.11. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo 1.2.12. Perfis E-W de turbidez 1.2.13. Interpretação das condições hidrológicas e de circulação 1.3. Campanha CLIMA (Inverno, 1997) 1.3.1. Dados hidrológicos 1.3.2. Dados climáticos 1.3.3. Diagramas TS de superfície 1.3.4. Diagramas TS de fundo 1.3.5. Gradiente de salinidade de superfície 1.3.6. Perfis E-W de salinidade 1.3.7. Gradiente de temperatura de superfície 1.3.8. Perfis E-W de temperatura 1.3.9. Gradiente de densidade de superfície 1.3.10. Perfis E-W de densidade 1.3.11. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo 1.3.12. Perfis E-W de turbidez 1.3.13. Interpretação das condições hidrológicas e de circulação 1.4. Campanha PLAMIBEL III (Inverno, 1992) 1.4.1. Dados hidrológicos 1.4.2. Dados climáticos 1.4.3. Diagramas TS de superfície viii 53 53 54 55 55 56 56 60 63 64 64 64 65 65 65 66 67 68 68 68 69 70 71 72 72 73 73 74 75 77 78 80 80 82 82 85 86 86 87 88 88 89 91 91 91 95 95 97 98 101 103 103 104 104 1.4.4. Diagramas TS de fundo 1.4.5. Gradiente de salinidade de superfície 1.4.6. Perfis E-W de salinidade 1.4.7. Gradiente de temperatura de superfície 1.4.8. Perfis E-W de temperatura 1.4.9. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo 1.4.10. Perfis E-W de turbidez 1.4.11. Interpretação das condições hidrológicas e de circulação 1.5. Campanha PLAMIBEL II (Fim do Inverno de 1991) 1.5.1. Dados hidrológicos 1.5.2. Dados climáticos 1.5.3. Diagramas TS de superfície 1.5.4. Diagramas TS de fundo 1.5.5. Gradiente de salinidade de superfície 1.5.6. Perfis E-W de salinidade 1.5.7. Gradiente de temperatura de superfície 1.5.8. Perfis E-W de temperatura 1.5.9. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo 1.5.10. Perfis E-W de turbidez 1.5.11. Interpretação das condições hidrológicas e de circulação 1.6. Campanha OMEX II/99 (Maio, 1999) 1.6.1. Dados hidrológicos 1.6.2. Dados climáticos 1.6.3. Diagramas TS de superfície 1.6.4. Diagramas TS de fundo 1.6.5. Gradiente de salinidade de superfície 1.6.6. Perfis E-W de salinidade 1.6.7. Gradiente de temperatura de superfície 1.6.8. Perfis E-W de temperatura 1.6.9. Gradiente de densidade de superfície 1.6.10. Perfis E-W de densidade 1.6.11. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo 1.6.12. Perfis E-W de turbidez 1.6.13. Interpretação das condições hidrológicas e de circulação 2. Síntese- Evolução sazonal dos parâmetros hidrológicos das águas da plataforma NW portuguesa: temperatura e salinidade 2.1 Situação de Inverno 2.2. Situações intermédias 2.3. Situação estival 3. Níveis nefelóides e MPS 3.1. Concentração das águas em MPS 3.1.1. Cruzeiros PLAMIBEL 3.1.1.1. Conclusões 3.1.2. Cruzeiro CORVET 96 3.1.3. Cruzeiro CLIMA 97 3.1.4. Cruzeiro OMEX II/93 3.2. Níveis nefelóides e distribuição da MPS - relação com os parâmetros hidrológicos 3.3. Formação e desenvolvimento dos níveis nefelóides 3.4. Conclusões CAPÍTULO V - Matéria particulada em suspensão na coluna de água 1. Carbono Orgânico Particulado 1.1. Introdução geral ao ciclo de carbono 1.2. COP em ambiente fluvial e marinho 1.3. Análise do COP ix 106 106 106 107 107 108 108 109 110 110 111 111 112 113 113 114 114 114 115 116 117 117 118 119 119 120 121 123 123 125 125 126 128 129 132 133 134 134 135 135 135 137 137 137 138 140 144 146 147 147 147 148 149 1.4. Evolução sazonal da fracção orgânica particulada 1.5. Conclusões 1.6. Resumo 2. Composição das suspensões 2.1. Componente biogénica 2.1.1. Zooplâncton 2.1.2. Fitoplâncton 2.1.2.1. Microplâncton 2.1.2.2. Nanoplâncton A. Cocolitóforos - Generalidades A.1. Interesse e originalidade dos cocolitóforos B. Thoracosphaerales 2.2. Componente inorgânica 2.3. Composição da MPS obtida por observação à lupa 2.3.1. Cruzeiros PLAMIBEL 2.3.2. Cruzeiro CORVET96 2.3.3. Cruzeiro CLIMA97 2.4. Composição da MPS obtida ao microscópio petrográfico e MEV 2.4.1. Nanoplâncton calcário 2.4.1.1. Campanhas de amostragem 2.4.1.2. Análise dos resultados das campanhas oceanográficas A. CORVET (Outono de 1996) B. CLIMA (Inverno 1997) C. Análise estatística 2.4.2. Síntese - Comunidade de cocolitóforos presentes nas águas da plataforma NW portuguesa em regime de Inverno 2.4.3. Conclusões 2.5. Análise da MPS por DRX - Mineralogia das suspensões 2.5.1. Conteúdo mineralógico do material particulado em suspensão na plataforma continental norte 2.5.2. Identificação das fontes mineralógicas continentais 2.5.2.1. Conteúdo mineralógico do material particulado em suspensão dos rios 2.5.2.2. Conteúdo mineralógico dos sedimentos do fundo dos rios 2.5.3. Conclusões 3. Características granulométricas das suspensões 3.1. Introdução 3.2. Análise granulométrica das suspensões de Inverno 3.2.1. Conclusões 3.2.2. Estudo da moda siltosa 3.2.2.1. Conclusões CAPÍTULO VI - Interface água/sedimento 1. Carbono orgânico particulado 2. Granulometria 2.1. Caracterização textural 2.1.1. Moda siltosa 2.2. Relação entre a granulometria da MPS e dos depósitos finos da plataforma 2.2.1. Conclusões 3. Composição mineralógica dos sedimentos finos da plataforma continental norte 3.1. Interpretação da mineralogia da fracção fina dos sedimentos da plataforma continental NW Ibérica 3.1.1. Conclusões 3.2. Interpretação dos minerais argilosos dos sedimentos da plataforma continental NW Ibérica 3.2.1. Visão geral da dinâmica sedimentar obtido com o padrão de distribuição dos x 157 158 158 159 159 160 161 161 161 162 165 167 168 169 170 170 170 173 176 176 177 177 183 189 195 197 199 200 203 203 206 209 210 210 212 216 217 221 222 222 223 225 226 229 231 232 237 241 242 minerais das argilas 3.2.2. Conclusões obtidas com os minerais argilosos 4. Análise factorial aplicada aos sedimentos finos CAPÍTULO VII - Conclusões gerais 1. Factores que influenciam a distribuição de MPS 2. Hidrologia e nefelometria 3. Composição da MPS 4. Formação e desenvolvimento das camadas nefelóides 5. Sedimentos finos da plataforma média 6. Perspectivas futuras de investigação 250 251 252 254 254 254 259 260 261 262 Referências bibliográficas Apêndice A - Nefelometria Apêndice B - Tabelas da análise à lupa Apêndice C - Sistemática cocolitóforos Apêndice D - Fotografias tiradas ao MEV Apêndice E - Tabelas da análise granulométrica da MPS 265 xi ÍNDICE DE FIGURAS CAPÍTULO I Figura I- 1. Esquema representativo dos níveis nefelóides superficial e de fundo que se formam na proximidade de um rio (plataforma interna). Figura I-2. Representação esquemática dos processos de erosão e deposição da plataforma continental (adaptado de Dronkers & Miltenburg, 1996). 1 2 CAPÍTULO II Figura II-1. A- Enquadramento morfológico da plataforma continental portuguesa e planície abissal (Dias, 1987); região em estudo assinalada a azul. B- Batimetria da plataforma continental setentrional em estudo, segundo Vanney & Mougenot, 1981 e Dias et al .,2000. Espaçamento de 10 em 10m até aos 200m de profundidade e de 200m abaixo do referido valor. Figura II-2. Variação sazonal da direcção do vento (I.N.M.G., 1990). C= calmas. Figura II-3. Distribuição sazonal (Verão/Inverno) das direcções do vento, sua frequências (%) e velocidades médias para as estações de Viana do Castelo e Pedras Rubras (I.N.M.G., 1990). As barras brancas representam a frequência do vento (%) no Inverno e as cinzentas no Verão. Figura II-4. Precipitação média mensal registada ao longo de 35 anos (Viana do Castelo e PortoSerra Pilar). Dados compilados pela Direcção Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos (actual INAG). Figura II-5. A. Altura significativa e período da onda médios para épocas diferenciadas (Verão/Inverno) e no global na Figueira da Foz; B. Distribuição sazonal de direcção da onda (POWAVE, 1994). Figura II-6. Informação mensal da altura da onda significativa (H0) e períodos (T0 ) para a bóia ondógrafa da Figueira da Foz (Set.1986-Jul.1993) (retirado de PO-WAVES, 1994). Figura II-7. Mapa da circulação superficial das massas de água, para o Oceano Atlântico NE (adaptado de Broerse, 2000). Área de estudo representada pelo rectângulo a negro. Fig.II-8.A -Trajectória de 16 bóias derivantes WOCE/TOGA (com transmissão via satélite), ao largo da costa NW de Portugal. Estas bóias, colocadas pelo projecto MORENA, no período entre Junho de 1993 e Outubro de 1994 (11 foram colocadas entre Novembro e Maio de 1994) mostram a trajectória da contra-corrente quente, mais evidente, a norte do paralelo 40ºN. B – Velocidade superficial média das bóias (setas), calculada para uma caixa com área de 2º latitude × 1º longitude. Na área em estudo a velocidade superficial variou entre 2.3 e 33.4 cm/s (retirado de Martins, 1996). Fig.II-9. Evolução de uma corrente geostrófica na plataforma continental, em resultado de um gradiente de pressão produzido na costa (a) Corte na plataforma continental, que mostra a superfície de inclinação das isobáricas e o declive da superfície da água. (b) Visão tridimensional do downwelling, com as diferentes orientações do stress do vento, corrente de Eckman de superfície, corrente de fundo e corrente geostrófica central (in Allen, 1997). Figura II-10. Observações realizadas no Inverno (Novembro 96-Janeiro97) (Vitorino et al., 2001). a) Diagrama da velocidade do vento; b) Nível do mar em Viana do Castelo; c) Temperatura; d) Diagrama das correntes de baixa frequência (período acima de 2 dias) verificadas aos 29m, 53m, 76m e 82m de profundidade; e) Série temporal da velocidade de corte da onda, estimada a partir de uma bóia ondógrafa. Fig.II-11. Upwelling forçado pelo efeito de Ekman, no hemisfério norte (lado leste do oceano), com direcção predominante do vento paralelo à costa. (a) O transporte de Ekman total, leva a água para longe da costa, causando afloramento e um abaixamento da superfície da água, em direcção à costa. (b) A subida de águas frias, mais densas provoca um campo baroclínico, tendo como resultado, a nível superficial (para fora da página) um escoamento geostrófico para sul, um nivel onde não há movimento (velocidade geostrófica de zero) e uma contracorrente profunda, para norte (para dentro da página). A corrente superficial resultante continua a favorecer o upwelling (in Allen, 1997). Fig.II-12. Elipses de maré obtidas por Vitorino, (1999), durante o inverno (verdes) e verão xii 4 13 13 14 16 16 19 21 23 23 25 (vermelho). Localização dos correntómetros na Tabela II-5. Cobertura sedimentar adaptada de Rodrigues et al., 1991. Figura II-13. Geologia das bacias hidrográficas dos rios NW Portugueses e da Galiza Ocidental (adaptado de Julivert et al., 1980, in Cascalho, 2000). 28 34 CAPÍTULO III Figura III-1. Fotografia do conjunto CTD+rosette. r = rosette com as 12 garrafas tipo Niskin; c = CTD; n = nefelómetro. Figura III-2. Gráfico de Esquevin (1969). 48 59 Figura III- 3. Relação entre a turbidez (FTU) e o conteúdo em MES (g/m3 ) para os cruzeiros CORVET 96 (Novembro 1996), CLIMA 97 (Dezembro 1997) e OMEX II/99 (Maio 1997). CNS= camada nefelóide de superfície; CNF= camada nefelóide de fundo; n= nº de amostras; R2=correlação; Y= turbidez (FTU); X=Concentração (g/m3 ). 60 CAPÍTULO IV Figura IV- 1. Mapa das estações hidrológicas ocupadas durante o cruzeiro PLAMIBEL I e localização dos perfis referidos no texto. Figura IV- 2. Caudais dos principais rios minhotos, para o período que procedeu a campanha PLAMIBEL I (fonte: CPPE e INAG). Figura IV- 3. Diagramas TS de superfície (A) e fundo (B), cruzeiro PLAMIBEL I (Setembro 1990). I,II e III designam as diferentes massas de água descritas no texto. Figura IV- 4. Distribuição horizontal da salinidade à superfície (Setembro 1990). Figura IV-5. Salinidade observada na secção 1 (Setembro 1990). Figura IV- 6. Distribuição horizontal da temperatura à superfície (Setembro 1990). Figura IV- 7. Distribuição da turbidez à superfície e junto ao fundo, para o cruzeiro PLAMIBEL I. Figura IV-8. Nefelometria observada na secção 4 (Setembro 1990). Figura IV-9. Mapa das estações hidrológicas ocupadas durante o cruzeiro CORVET96; 1º parte com 40 estações distribuídas por 3 secções longas e 2º parte com 54 estações localizadas na região em estudo. Figura IV-10. Caudais dos principais rios minhotos, para o período da campanha CORVET 96 (fonte: CPPE). Figura IV-11. Diagramas TS para as águas superficiais (5m) e perto do fundo, para o cruzeiro CORVET96. Na fig. B, esta representada a linha de TS da água Central do Atlântico Norte (CW). I,II,III, IV, V e VI representam as massas de água referidas no texto. Figura IV-12. Distribuição horizontal da salinidade à superfície. Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. Figura IV-13. Secções E-W de salinidade, realizadas durante o cruzeiro CORVET 96. Figura IV-14. Carta de temperatura superficial da campanha CORVET96: A- Imagem de satélite do período de 3-9 Novembro de 1996); B- Imagem de satélite do período de 10-16 Novembro de 1996 (imagens cedidas gentilmente pelo Remote Sensing Data Analysis Service of the Plymouth Marine Laboratory). Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. Figura IV-15. Perfis verticais de temperatura; a) antes do temporal (secção 4) e b) depois do temporal de 19 de Novembro (secção 5). Figura IV-16. Secções E-W de temperatura, realizadas durante o cruzeiro CORVET 96. Figura IV-17. Carta de densidade superficial da campanha CORVET96 (Novembro de 1996). Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. Figura IV-18. Secções E-W de densidade, realizadas durante o cruzeiro CORVET 96 Figura IV-19. Carta de turbidez superficial e junto ao fundo da campanha CORVET96 xiii 64 65 66 67 67 68 69 70 71 72 74 75 76 78 78 79 80 81 (Novembro, 1996). Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. Figura IV-20. Secções E-W de nefelometria, realizadas durante o cruzeiro CORVET 96. Figura IV-21. Perfis verticais de nefelometria realizados antes e depois do temporal. Batimetria dos 25-43m, 80-90m, 120-150m e bordo da plataforma (>160m). Delimitação das CNS, CNF e CNI. Figura IV-22. Mapa da localização das estações hidrológicas (cruzes), realizadas durante o cruzeiro Clima (6-16 de Dezembro). Delimitação dos depósitos finos segundo Drago (1995). Figura IV-23. Caudais dos principais rios minhotos, para a semana anterior ao cruzeiro e para o período em que decorreu a campanha CLIMA 97 (Fonte CPPE). Figura IV-24. Estações hidrográficas do cruzeiro CLIMA (6-14 de Dezembro) e as observações de vento e onda em cada estação (Vitorino, 1998). Fig. IV-25. Diagramas TS para as águas superficiais (5m) e perto do fundo, para o cruzeiro CLIMA 97. Na fig. B, encontra-se representada a linha de TS da água Central do Atlântico Norte (CW). I,II,III,IV,V e VI, designam as diferentes massas de água referidas no texto. Figura IV-26. Distribuição da salinidade à superfície (Dezembro 1997). Figura IV-27. Secções E-W de salinidade, realizadas durante o cruzeiro CLIMA 97. Figura IV-28. Distribuição da temperatura á superfície (Dezembro 1997). Figura IV-29. Perfis verticais de temperatura para a secção 2. 82 83 84 86 87 88 89 90 92 93 93 Figura IV-30. Secções E-W de temperatura, realizadas durante o cruzeiro CLIMA 97. Figura IV-31. Distribuição da densidade à superfície (Dezembro de 1997). 94 Figura IV-32. Secções E-W de densidade, realizadas durante o cruzeiro CLIMA97. Figura IV-33. Distribuição da turbidez á superfície (Dezembro de 1997). 96 97 Figura IV-34. Distribuição da turbidez, perto do fundo (Dezembro de 1997). 98 99 Figura IV-35. Secções E-W de turbidez, realizadas durante o cruzeiro CLIMA 97. Figura IV-36. Perfis verticais de nefelometria para as secções 3 e 4 (canhão do Porto). Delimitação das CNS, CNF e CNI. Figura IV-37. Mapa das estações ocupadas durante o cruzeiro PLAMIBEL III (Janeiro de 1992). Figura IV-38. Caudais diários médios dos principais rios minhotos, para o período que procedeu o cruzeiro PLAMIBEL III (Janeiro de 1992) (CPPE). Figura IV-39. Diagrama TS de superfície (A) e de fundo(B), e localização das massas de água durante a campanha PLAMIBEL III (Inverno, 1992). I, II, III e IV massas de água definidas no texto. Figura IV-40. Distribuição horizontal da salinidade à superfície (Janeiro, 1992). Figura IV-41. Distribuição da temperatura (ºC) à superfície, cruzeiro PLAMIBEL III (14 a 19 Janeiro de 1992). Figura IV-42. Distribuição de turbidez à superfície (A) e perto do fundo (B), para o cruzeiro PLAMIBEL III. Figura IV- 43. Mapa das estações hidrológicas ocupadas durante o cruzeiro PLAMIBEL II. Figura IV-44. Caudais dos principais rios minhotos, para o período que procedeu a campanha PLAMIBEL II (Fonte: INAG e CPPE). Figura IV-45.Diagramas TS de superfície (A) e fundo (B), cruzeiro PLAMIBEL II (Março de 1991). I,II,III, IV e V representam as massas de água definidas no texto. Figura IV-46. Distribuição horizontal da temperatura à superfície (Março 1991). Figura IV-47. Distribuição horizontal da salinidade à superfície (Março de 1991). Figura IV-48. Distribuição de turbidez à superfície (A) e perto do fundo (B), para o cruzeiro PLAMIBEL II. Figura IV-49. Mapa da localização das estações hidrográficas (triângulos), realizadas durante o cruzeiro OMEX II/99 (18-28 de Maio). Delimitação dos depósitos finos segundo Drago, 1995. Figura IV-50. Caudais de alguns rios minhotos, para os dois meses que antecederam e, durante o cruzeiro OMEX II/99 (Fonte: CPPE). Figura IV-51. Mapa com as observações de vento e onda obtidas a bordo durante o decorrer do xiv 95 101 103 104 105 106 107 108 110 111 112 113 114 115 117 118 cruzeiro OMEX II/99. Figura IV-52. Diagrama TS para as águas superficiais (5m) e perto do fundo (max. 1500m), para a campanha OMEX II/99. I a VII representam as massas de água identificadas. Figura IV-53. Distribuição da salinidade para a campanha OMEX II/99 (Maio de 1999). Figura IV-54. Secções E-W de salinidade, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. Figura IV-55. Mapa de distribuição da temperatura à superfície (-5m), para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 1999). Figura IV-56. Secções E-W de temperatura, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. Figura IV-57. Perfis verticais de temperatura para as secções 1 e 4 (mais a Sul). Figura IV-58. Mapa de distribuição da densidade à superfície (-5m), para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 1999). Figura IV-59. Secções E-W de densidade, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. Figura IV-60. Mapa de distribuição da turbidez à superfície (-5m), para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 1999). Figura IV-61. Mapa de distribuição da turbidez no fundo, para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 99). Figura IV-62. Secções E-W de nefelometria, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. Figura IV-63. Perfis de nefelometria das secções 3 e 4. Delimitação das CNS, CNF e CNI. Figura IV-64. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície, para os cruzeiros PLAMIBEL (Setembro 1990, Março 1991 e Janeiro de 1992). Figura IV-65. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície e perto do fundo, para o cruzeiro CORVET 96 (Novembro de 1996). Secções P4 e P5 separadas pelo temporal de 19 de Novembro. Figura IV-66. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície e perto do fundo, para o cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro de 1997). Figura IV-67. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície e perto do fundo, para o cruzeiro OMEXII/99 (Maio de 1999). Figura V-68- Comparação entre os valores de turbidez encontrados à superfície e fundo para os vários cruzeiros. Figura IV-69. Secções perpendiculares à costa representativas da densidade e nefelometria observadas durante os cruzeiros CORVET96, CLIMA97 e OMEX99. Figura IV-70. Relação entre os perfis verticais de nefelometria e isopícnicas verificadas na secção que atravessa o canhão do Porto. A) CORVET96; B) CLIMA97 e C) OMEX99 (página seguinte). Linhas a tracejado indicam as isopícnicas. Notar que nos diferentes perfis de turbidez (FTU), existe um decréscimo da escala de turbidez à medida que se caminha para o largo. CAPÍTULO V Figura V-1. Fluxos de carbono (gCm- 2ano-1 ) no reservatório oceânico de acordo com Wollast (1999). pp=produção primária; dep=deposição; f.ratio=exportação/pp. Figura V-2. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%) para o cruzeiro PLAMIBEL I (Set. 90). Figura V-3. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%) para o cruzeiro PLAMIBEL II (Março 91). Figura V-4. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), colhidas a -5m e no fundo, para o cruzeiro CORVET (Novembro 96). O perfil 4 e 5 estão separados pelo temporal de 19 de Novembro. Figura V-5. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), colhidas a -5m e no fundo, para o cruzeiro CLIMA (Dezembro 97). Figura V-6. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), colhidas a -5m e no fundo, para o cruzeiro OMEX II (Maio 99). Figura V-7. Secções perpendiculares á costa de COP (%), para o cruzeiro Omex ll/99 (Maio 99). Figura V-8. Variação do COP (%) versus matéria em suspensão total (mg/l), na CNS. A linha a tracejado agrupa amostras onde a influência da produção oceânica é superior (1); a linha a cheio agrupa amostras onde a influência dos rios é superior(2); amostras ricas em COP encontradas só xv 118 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 136 138 139 139 140 141 142 143 147 149 150 151 152 153 155 no Verão e Primavera(3). Figura V-9. Variação do COP (%) versus matéria em suspensão total (mg/l) na CNF. Linha a cheio delimita as amostras com baixos valores de COP, que provêm da resuspensão do sedimento de fundo e a linha a tracejado as amostras mais ricas em COP onde a influência da produção oceânica é superior (plataforma média a externa). Figura V-10. Distribuição biogeográfica de algumas espécies actuais de nanoplâncton calcários (adaptado de Abreu, 1996). Figura V-11. Morfologia dos cocólitos e cocosferas. Figura V-12. Centros produtores de argilas na região NW portuguesa (adaptado de Gomes, 1988). Figura V-13. Mapas da distribuição relativa da componente orgânica em relação à detritica, determinada por observação visual à lupa (amp.250x), para os cruzeiros CORVET96 e CLIMA97. Figura V-14. Exemplo dos filtros de superfície, onde um mucos seco cobre a totalidade do filtro (est. 80), assinalado com uma seta branca. Figura V-15. Exemplos de filtros com muco (A e B); agregados apertados (C e D), abertos (E) e partículas dispersas (F). Figura V-16. A)D) grãos de quartzo arredondados; B)E) mineral arredondado (feldspato?); C)F) minerais planares com clivagem (micas). Figura V-17. Abundância das diferentes espécies dos cocolitóforos (-5m), nas 3 secções realizadas no cruzeiro Corvet 96:A) perfil norte (Póvoa do Varzim); B)perfil sul-norte e C)perfil sul (Cabo S. Vicente). Figura V-18. Distribuição da abundância das mais importantes espécies de cocolitóforos, segundo um perfil perpendicular à costa, para o cruzeiro CLIMA 97. Observam-se os máximos de abundância, perto do bordo plataforma. Figura V-19. Distribuição horizontal (5m), para as várias espécies de cocolitóforos encontrados, assim como para a temperatura e salinidade, do cruzeiro CLIMA 97. As isolinhas de cor azul a rosa representam as abundância dos litos (x103 litos -1 ), geralmente mais abundantes nos locais onde temos os máximos de cocosferas. Figura V-20. Determinação dos factores significativos da análise factorial para as espécies de cocolitóforos (cocosferas) encontradas a -5m e tabela com a variância explicada para um universo de 12 variáveis. Figura V-21. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o primeiro e segundo factor significativo da análise factorial, feita com as abundâncias absolutas das cocosferas (-5m). Interpretação das associações encontradas. Figura V-22. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o terceiro e quarto factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas das cocosferas (-5m). Figura V-23. Determinação dos factores significativos da análise factorial para as espécies de litos encontradas a -5m e tabela com a variância explicada para um universo de 13 variáveis. Figura V-24. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o primeiro e segundo factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas dos litos (-5m). Figura V-25. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o terceiro e quarto factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas dos litos (-5m). Figura V-26. Determinação dos factores significativos da análise factorial para as espécies de litos encontradas perto do fundo e tabela com a variância explicada para um universo de 11 variáveis. Figura V-27. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o primeiro e segundo factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas dos litos perto do fundo. Figura V-28. Formas de cocolitóforos mais comuns durante o Inverno, associados com as principais massas de água do Atlântico NE. ACNAt - Água Central Norte Atlântica de origem subtropical (a vermelho) e ACNAP (a azul) de origem subpolar (definidas por Fiúza, 1984). Localização das estações realizadas durante os cruzeiros CORVET 96 e CLIMA 97. Figura V-29. Mapa da distribuição percentual do quartzo e de filossilicatos nos sedimentos em suspensão presentes nos rios e plataforma norte. Figura V-30. Difractograma natural representativo dos minerais das argilas (<2µm), colhidos na xvi 156 156 163 165 169 171 173 174 175 179 183 186 189 190 191 192 193 193 194 195 198 200 CNS e CNF (est.34). Figura V-31. Mapa da distribuição das percentagens dos minerais argilosos (matriz de 100%) dos sedimentos em suspensão dos rios e da plataforma continental. A) % ilite e caulinite; B) % clorite e esmectite. Figura V-32. Difractograma representativo do material <63µm depositado sobre os filtros colhidos nos rios (amostra L51 fundo, rio Lima). A nomenclatura usada representa: Chl= clorite; I+M=ilite+mica; Q=quartzo; Ca=calcite; K=caulinite; Fk=feldspato potássico; Plag.=plagioclase; An=anidrite; Filo.=filossilicatos. Figura V-33. Localização e mineralogia das amostras de MES colhidas nos rios minhotos (Fevereiro de 1993). Nos gráficos de barras, estão representadas as % dos minerais detriticos (<63 µm) em suspensão (a vermelho as % dos minerais referentes às amostras colhidas perto do fundo e azul as de superfície). Nos gráficos circulares estão representados as % dos minerais das argilas (cinzento-ilite; azul escuro-caulinite; amarelo-esmectite; azul claro-clorite). Figura V-34. Difractogramas representativos dos minerais das argilas obtidos nos sedimentos de fundo dos rios Douro (D5) e Minho (M6). Figura V-35. Localização das amostras dos sedimentos de fundo colhidos nos rios minhotos (campanha SEDIMINHO I/93). Nos gráficos circulares estão representados as % dos minerais das argilas (cinzento-ilite; azul escuro-caulinite; amarelo-esmectite; azul claro-clorite) obtidas por DRX. Figura V-36. Caracterização textural da MPS desagregada (5m), para o cruzeiro CORVET 96 (Novembro de 1996). Figura V-37.Mapa de distribuição do diâmetro médio aos 5m para o cruzeiro CORVET 96 (Novembro 96). Figura V-38 Curvas de frequência relativa e acumulada para amostras colhidas na plataforma interna ( a azul) e média (a preto), aos 5m. Figura V-39. Caracterização textural da MPS desagregada, para o cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro 1997); A) -5m; B) fundo. Figura V-40. Mapa de distribuição da assimetria, aos -5m e fundo, para o cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro 97). Figura V-41. Histograma representativo da abundância percentual do número de modas presentes nas suspensões dos cruzeiros CORVET96 e CLIMA97. Figura V-42. Distribuição de caracter modal (n.º de amostras) das suspensões colhidas durante os cruzeiros CORVET 96 (Novembro 1996) e CLIMA 97 (Dezembro 1997). Figura V-43. Curvas granulométricas representativas das amostras colhidas durante o cruzeiro CLIMA97, na plataforma interna e média (5m e perto do fundo). Figura V-44. Distribuição da moda principal do material em suspensão (-5m e fundo), por classes para os cruzeiros CORVET 96 e CLIMA 97. CAPÍTULO VI Figura VI-1. - A) Mapa de distribuição do conteúdo em COP da interface água/sedimento; os traços diagonais representam os afloramentos rochosos; B) gráfico que relaciona % COP com o tamanho médio do grão e C) gráfico relação % COP com a profundidade. Figura VI-2. Localização das amostras de sedimentos de fundo colhidos durante o cruzeiro CORVET 96 (bolas a negro) e GAMINEX (estrelas a negro), sobrepostos ao mapa da distribuição percentual dos sedimentos finos, segundo Dias et al., 2000. Figura V-3. Diagrama ternário com as distribuições das fracções granulométricas para as amostras de fundo colhidas nos cruzeiros CORVET96 e GAMINEX. Delimitação de algumas amostras pertencentes aos depósitos silto- argilosos do Douro e Minho-Galiza. Figura VI-4. Caracterização textural dos sedimentos desagregados do 1cm da amostra total, colhidos na plataforma norte Portuguesa (círculos) e Galega (quadrados). Figura VI-4. Mapas de distribuição dos parâmetros texturais, média, desvio padrão e assimetria, da interface água sedimento. Figura VI-6. Evolução da moda principal ao longo de um perfil E-W (est.7 na plataforma média e est.10 na plataforma externa), que atravessa o depósito silto-argiloso do Douro. xvii 201 202 204 205 207 208 212 213 213 214 216 217 218 219 220 223 224 225 225 226 227 Figura VI-7. Evolução da moda principal ao longo de um perfil E-W (est.36 na plataforma média e est.39 na plataforma externa), que atravessa o depósito silto-argiloso do Minho. Figura VI-8- Curvas de distribuição granulométricas representativas das amostras colhidas na CNS (A) e na CNF (B) comparadas com amostras de sedimento da interface (1cm). A localização das estações encontra-se no mapa ao lado; os triângulos representam as estações de MPS e os círculos as amostras de sedimento colhidas no cruzeiro CORVET96. Figura VI-9. Difractograma representativo da fracção fina dos sedimentos da plataforma galega (amostra KRGX20,frente á ria de Pontevedra). A nomenclatura usada representa: Chl= clorite; I+M=ilite+mica; Q=quartzo; Ca=calcite; K=caulinite; Fk=feldspato potássico; Plag.=plagioclase; Dol=dolomite; Filo.=filossilicatos; Si=siderite; Op=opala Figura VI-10. Difractograma representativo da fracção argilosa das amostras dos sedimentos de fundo (amostra 11). A nomenclatura usada representa: Chl= clorite; I=ilite; K=caulinite. Figura VI-11.Mapa da distribuição percentual do quartzo, mica, e feldspatos na fracção fina. Figura VI-12. Mapa da distribuição percentual da calcite e opala na fracção fina dos sedimentos da plataforma continental NW da Ibéria. Figura VI-13. Variação latitudinal da percentagem de quartzo e micas. Figura VI-14. Mapa da distribuição da maturidade do sedimento. Figura VI-15. Mapas com a distribuição dos principais minerais das argilas. Figura VI-16. Gráfico de Esquevin (1969) aplicado ás amostras colhidas na plataforma NW ibérica. Figura V-17. Mapas de distribuição da cristalinidade da caulinite. Figura V-18. Mapas de distribuição da razão caulinite/clorite e caulinite/ilite. CAPÍTULO VII Fig. VII-1. Modelo conceptual de dispersão da MPS na plataforma continental NW portuguesa. Evolução sazonal. A) Verão); B) Inverno. xviii 228 229 232 235 238 239 240 240 244 245 247 249 258 INDÍCE DE TABELAS CAPÍTULO II Tabela II-1. Principais relevos da plataforma continental setentrional (Vanney e Mougenot, 1981). Tabela II-2. Características principais dos depósitos silto-argilosos. Tabela II-3. Situações meteorológicas na Península Ibérica (adapt. de Ribeiro, 1988 e Pires, 1985). Tabela II.4 – Condições de agitação marítima características da costa ocidental (adapt. de Pires 1989; PO-WAVES, 1994). Tabela II-5. Valores médios mensais da componentes residual da corrente, medidas durante o verão e outono de 1987 (adaptado de Vitorino, 1999). Valores positivos indicam escoamento para norte (N) e este (E) e negativos escoamento par sul (S) e oeste (W). Tabela II-6. Velocidade de correntes teóricas necessárias á remobilização de areia muito fina a média. Tabela II–6. Características das bacias hidrográficas dos rios minhotos (Loureiro et al., 1986; Ribeiro, et al., 1988) e rios galegos (Marqués, 1985). Tabela II-7. Conteúdos percentuais médios de cascalho, areia e lodo dos sedimentos de fundo dos estuários dos principais rios minhotos. O símbolo (*) refere-se aos resultados publicados por Mimoso (1995). Os restantes dados respeitam aos sedimentos colhidos na campanha Sediminho II/93 (Agosto de 1993). Tabela II–8.Distribuição superficial das fácies texturais do fundo das rias (%) (Salgado, 1993). Tabela II–9. Valores de velocidade média da corrente para o estuário do rio Douro. Observações feitas em Setembro de 1994, com baixo caudal fluvial (Mimoso, 1995). Tabela II-10. Presumíveis valores de materiais transportados na totalidade, junto ao fundo e em suspensão, calculados pelo método de Langbein & Schumm (1958), para alguns dos rios mais importantes da Península Ibérica (Dias, 1987; Magalhães, 1999), após a construção das barragens. CAPÍTULO III Tabela III- 1. Campanhas oceanográficas e descrição sucinta dos dados colhidos. Tabela III- 2. Características dos sensores do CTD Zullig. Tabela III- 3. Características dos sensores do CTD General Oceanics Mk IIIC do Instituto Hidrográfico (adapt. do Manual 00201 MARK IIIC/WOCE CTD UWV, 1994). Tabela III- 4. Tipo de filtros usados e volumes de água filtrados. Tabela III- 5. Poderes reflectores adoptados (Rocha, 1993). 5 7 12 15 27 31 35 38 39 40 43 46 47 47 51 57 CAPÍTULO IV Tabela IV- 1. Campanhas oceanográficas realizadas entre 1990 e 1999, na plataforma NW portuguesa pelo Instituto Hidrográfico. CAPÍTULO V Tabela V-1. Importância da fracção orgânica nas suspensões, na plataforma continental NW Portuguesa ao longo de 5 períodos diferentes. Em Nov. 96, separou-se os valores encontrados antes e depois do temporal de 19 de Novembro. Tabela V-2. Zonação vertical dos cocolitóforos recentes, na zona fótica do oceano Atlântico. Compilado de Houghton, 1991. Tabela V-3.Informação geral sobre os cruzeiros onde houve colheita de amostra para o estudo do nanoplâncton calcário. Tabela V-4. Abundâncias absolutas de cocosferas versus cocólitos, em amostras da superfície (5m) do perfil sul (x103 células/l). Tabela V-5. Tabela de abundâncias absolutas de cocosferas versus cocólitos, em amostras da xix 63 157 163 176 178 superfície (5m) do perfil sul-norte (x103 células/l). Tabela V-6. Tabela de abundâncias absollutas de cocosferas (x103 células l-1 ) e de cocólitos (*103 litos l -1 ), em amostras da superfície (5m) do perfil norte. Tabela V-7. Comparação dos valores de concentração de litos à superficie (x103 litos l-1 ) com a camadas nefelóides de fundo e intermédia da coluna de água. (*) menos de 100 litos l-1 . Tabela V-8A. Localização, temperatura, salinidade e abundância de cocolitóforos (×103 células l 1 ) em amostras colhidas, a 5 m, 30 m and 80 m, durante o cruzeiro CLIMA 97. Tabela V-8B. Abundância absoluta de cocolitóforos (×103 célulasl-1 ) em amostras colhidas às profundidades de 5 m, 30 m e 80 m, durante o cruzeiro CLIMA 97. (*) - litos livres. Tabela V-9. Comparação dos valores de concentração de litos (x103 litos l-1 ) obtidos nas CNS, CNI e CNF. Tabela V-10. Mineralogia dos sedimentos em suspensão na plataforma norte (%). Tabela V-11. Mineralogia das argilas nos sedimentos em suspensão (100% amostra de argila). Tabela V-12. Minerais detríticos em suspensão dos rios (fracção <63µm). Tabela V-13. Mineralogia das argilas do material em suspensão nos rios (100% minerais das argilas); superfície =sup; fundo=fd. CAPÍTULO VI Tabela VI-1. Teores mínimos, máximos e médios das percentagens das fracções argila e arenosa. Tabela VI-2. Mineralogia da fracção fina da plataforma minhota e galega (%). Amostras do cruzeiro GAMINEX, representadas por um x Tabela VI-3. Mineralogia das argilas nos sedimentos de fundo (100% amostra de argila), da plataforma minhota e galega. Amostras do cruzeiro GAMINEX, representadas por um x. Tabela VI-4. Mineralogia das argilas de algumas amostras colhidas nos rios. Localização das amostras na figura V-44. Tabela VI-6. Variáveis significativas para os primeiros cinco factores, da análise factorial (sem rotação) dos minerais das argilas, minerais detriticos, composição e textura dos sedimentos. CAPÍTULO VII Tabela VII-1. Compilação das características da CNS e CNS. xx 180 181 182 184 184 187 200 201 203 206 231 233 236 246 252 259 Capitulo I Considerações gerais _________________________________________________________________________ ______ CAPITULO I Considerações gerais Os rios transportam para os estuários água doce, carregada de nutrientes, contaminantes e partículas terrígenas. A água doce mistura-se com a água do mar que penetra nos estuários pela acção da maré, o que induz gradientes de salinidade importantes que podem provocar alterações químicas na carga em suspensão, principalmente ao nível dos elementos metálicos (contaminantes), com mudanças de fase (Particulado ↔ Dissolvido). A circulação estuarina, com movimentos essencialmente ligados às correntes de maré, mais ou menos modificadas pelo débito fluvial, é responsável pelos fortes teores de matéria em suspensão observados nos estuários. Estas águas estuarinas, com conteúdo elevado de matéria em suspensão (turbidez) e com diferenças em termos de temperatura, salinidade, nutrientes e materiais contaminantes são transportados para a plataforma continental pelo efeito da maré, modificando os parâmetros hidrológicos, químicos, biológicos e ópticas das águas costeiras. A entrada desta massa de água na plataforma forma plumas térmicas, dessalinizadas e/ou túrbidas (nefelóides de superfície), visíveis nas imagens de satélite (Landsat). É comum ocorrerem também camadas nefelóides de fundo, essencialmente formadas por partículas finas ressuspensas da cobertura sedimentar oceânica (fig.I-1) e também por agregados de partículas que sofrem períodos de deposição e resuspensão rápida no fundo (Drake, 1976). Figura I- 1. Esquema representativo das camadas nefelóides superficial e de fundo que se formam na proximidade de um rio (plataforma interna). O objectivo geral do presente trabalho é a identificação das contribuições sólidas (particulada) dos rios minhotos para a plataforma continental e, principalmente, a caracterização dos processos que determinam e controlam a dispersão e deposição do material particulado em suspensão (MPS) na plataforma continental e bordo da plataforma, ou seja, a dinâmica e 1 Capitulo I Considerações gerais _________________________________________________________________________ ______ distribuição dos níveis nefelóides em relação com os processos hidrodinâmicos o que permite esboçar e caracterizar o mecanismo geral de transporte de MPS na plataforma NW portuguesa (a norte de 41ºN). Para tal, foram realizados diversos cruzeiros científicos para aquisição de dados in situ, com o objectivo de elaborar um modelo conceptual de dinâmica sedimentar da MPS. As fontes mais importantes de MPS são os rios, a erosão das arribas, os sedimentos de fundo e a produção primária. A fig. I-2 representa esquematicamente os mecanismos responsáveis pela circulação dos sedimentos finos, sua deposição e erosão. Sucintamente, alguns dos processos que determinam a erosão e/ou deposição da MPS são as ondas, as marés, os ventos e as diferenças de densidade (estratificação salina e térmica). A deposição da MPS ocorre preferencialmente em áreas protegidas ou na plataforma externa a profundidades elevadas. Figura I-2. Representação esquemática dos processos de erosão e deposição da plataforma continental (adaptado de Dronkers & Miltenburg, 1996). No presente trabalho, as características composicionais e granulométricas do material em suspensão (oceânico ou continental) permitiram identificar áreas de influência estuarina e relacionar esse material com a cobertura sedimentar da plataforma. É ainda efectuado o estudo integrado do material inorgânico (terrígeno) e orgânico (partículas biogénicas), com particular 2 Capitulo I Considerações gerais _________________________________________________________________________ ______ incidência no nanoplâncton calcário, que se revelou um excelente traçador da dinâmica das massas de água oceânicas. Os capítulos seguintes desta dissertação abordam os seguintes temas: v No 2º capitulo efectua-se a descrição genérica da área estudada, com a apresentação da plataforma continental e área costeira adjacente. Efectua-se ainda a caracterização do regime climático e de agitação marítima. v Na 3º parte descrevem-se os métodos. Os resultados das campanhas hidrológicas são descritas de forma detalhada no IV capítulo, com esboço da circulação dominante em cada um dos cruzeiros e identificação dos níveis nefelóides. No capitulo V é efectuada uma descrição do tipo de MPS, com especial incidência nos níveis nefelóides de superfície e fundo, sua composição e características granulométricas. Efectua-se ainda o estudo do nanoplâncton calcário abordado numa perspectiva mista (paleo)biológica considerando que as cocosferas e cocólitos têm significados distintos e complementares. v O capitulo VI descreve as características composicionais e dimensionais da interface águasedimento (1 cm do sedimento), com especial incidência nos depósitos finos da plataforma continental NW, visto corresponderem a áreas preferenciais de deposição da MPS. A mineralogia da fracção fina (<63µm) e argilosa do sedimento permitiu complementar o estudo da dinâmica sedimentar da região em estudo. v Finalmente as conclusões gerais são apresentadas na 7º parte, com a proposta de um modelo conceptual de dispersão e deposição do material em suspensão, sugerindo-se vias de investigação futuras. Este trabalho realizou-se no âmbito dos projectos OMEX II1 -Phase II:MAST3-CT-0076 (1 Junho 1997 a 31 Maio de 2000) e CODENET2 (EU program:ERB 4061-PI-97-0764). Foram principalmente utilizados as instalações e os meios técnicos e científicos existentes no Instituto Hidrográfico, Museu Nacional de História Natural, Universidade do Algarve, Universidade de Bordéus I (França) e Universidade de Aveiro. OMEX II - Ocean Margin Exchange. Projecto designado para medir e modelar as trocas de energia e de matéria entre a plataforma europeia e o oceano profundo. Inst. participantes: U. Libre de Bruxelles (BE), 1 UAlg, IH, IST, IPIMAR e várias outras instituições europeias. 2 CODENET- Coccolithophorid Evolutionary Biodiversity and Ecology Network. Rede de trabalho na área dos cocolitóforos destinada a treinar e mobilizar os investigadores. Inst. participantes: The Natural History Museum (Londres), Museu Nacional de His tória Natural de Lisboa, U. de Caen (Normandia) e várias outras instituições europeias. 3 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ CAPITULO II Enquadramento geral 1. Plataforma continental A largura média da plataforma continental portuguesa a norte de Espinho é de cerca de 42 km, com 36,6 km frente ao rio Minho e 46,7 km frente ao rio Douro. Apresenta, geralmente, um pendor regular e suave, com as batimétricas grosseiramente paralelas à costa (fig.II-1B). O bordo da plataforma situa-se, em média, aos 160m de profundidade (Musellec, 1974). B ho Min Rio ga Ga le al da Pont a Lim Rio B eiral ana de Vi o do Foss 100 200 nha de cam i 42ºN 42.0 B eiral A RioCávado 10 0 41º30'N 41.5 Rio Ave 50 Canhão do Porto Afloramentos rochosos 41ºN 41.0 9º30'W -9.5 Rio Do ur o 9ºW -9.0 Figura II-1. A- Enquadramento morfológico da plataforma continental portuguesa e planície abissal (Dias, 1987); região em estudo assinalada a azul. B- Batimetria da plataforma continental setentrional em estudo, segundo Vanney & Mougenot (1981) e Dias et al ., (2000, 2001). Espaçamento de 10 em 10m até aos 200m de profundidade e de 200m abaixo do referido valor. 4 8º30'W -8.5 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Os acidentes geomorfológicos ocorrentes na plataforma (fig.II-1) incluem: relevos (tectónicos, resultantes da estrutura em monoclinal e da diferente resistência das rochas) incisões (canhões submarinos) e formas ligadas à progradação (Pereira, 1992). a) Relevos Os relevos mais importantes (Sumalha, Parcel, Beiral de Caminha, Beiral de Viana e Pontal do Cerro), com orientação predominante N/NW-S/SE, estão relacionados com factores estruturais correspondendo a horsts. Estes relevos destacam-se na superfície aplanada, condicionando a evolução sedimentológica da plataforma (Tabela II-1). Tabela II-1. Principais relevos da plataforma continental setentrional (Vanney e Mougenot, 1981). Nome SumalhaParcel-Moiteira Beiral de Caminha Beiral de Viana Cume(m)/ Orientação Localização aproximada -10-20 N-S Soco polimetamórfico Paleozóico N-S Calcários Cretácico superior N/NWS/SE Calcários de fácies marinha Cretácico superior NW-SE Calcários Eocénico superior (plat. interna) -110-120 Idade (plat. externa) -88 (plat. externa) Pontal do Cerro Litologia -74 (plat. média) Na plataforma interna, nas imediações de Viana do Castelo, os afloramentos rochosos do soco precâmbrico e paleozóico (pequenas elevações pontiagudas), conferem um traçado conturbado às batimétricas. Na plataforma média e externa o relevo é, em geral, simples e suave, com excepção do Beiral de Viana que se define ao longo de 50Km, por volta dos 88110m de profundidade. Mais a sul, a plataforma apresenta estrutura relativamente simples, essencialmente constituída por formações mesozóicas e cenozóicas. b) Canhões submarinos Os canhões submarinos, importantes veículos de transporte de sedimentos para a plataforma abissal e zonas preferenciais de afloramento de águas profundas (upwelling), correspondem a acidentes morfológicos que indentam a plataforma e vertente continental. O canhão do Porto, amplo e pouco profundo, com forma em U, tem origem tectonosedimentar. A sua cabeceira situa-se num acidente (falha), cujo recuo se encontra relacionado com a ocorrência de movimentos de massa. (Boillot et al., 1974). 5 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 1.1. Cobertura sedimentar - Características texturais A cobertura sedimentar da plataforma minhota foi originalmente reconhecida através dos trabalhos conducentes à Carta Litológica Submarina, no início do século XX (1913-14). A partir da década de 80, o número de trabalhos relacionados com a cobertura sedimentar recente da plataforma continental norte portuguesa aumentou substancialmente com a implementação do programa SEPLAT (Instituto Hidrográfico), e com o financiamento de diversos projectos ligados à área da Geologia Marinha (Projectos DISEPLA1 , PETDS2 , PROCOST 3 e BEVICAP 4 ). Estes projectos possibilitaram a pormenorização de estudos realizados anteriormente por Dias et al. (1980/81, 1984), Monteiro et al., (1982) e Dias (1983, 1985, 1987), destacando-se os trabalhos de Cascalho & Carvalho (1989, 1990, 1993), Fatela (1989, 1995), Magalhães et al. (1991), Rodrigues et al. (1990, 1991, 1992, 1994, 1995), Magalhães & Dias (1992), Magalhães (1992/3/4, 1993, 1999), Cascalho (1993, 1998, 2000), Drago et al., (1994, 1998, 1999), Drago (1995), Oliveira et al., (1994, 1995, 1998a,b, 1999, 2000) e Oliveira (1994). O estudo da plataforma galega foi menos detalhado, evidenciando-se os trabalhos de Rey & Díaz del Rio (1987), Rey & Medialdea (1989), Díaz del Rio et al., (1992), Lopez-Jamar et al., (1992) e Rey Salgado (1993). Por cima de formações cretácicas e cenozóicas existe uma cobertura sedimentar Plistocénicaactual, horizontal, constituída sobretudo por areias (Dias, 1987). É de salientar que o conteúdo em siltes é, geralmente, baixo, mas superior ao da argila (teores médios de 19.2% e 4.3%, respectivamente). A espessura desta cobertura, obtida por reflexão sísmica ligeira contínua, varia de 0 a 10mseg (correspondendo "grosso modo" a uma espessura de 0 a 10m). As espessuras máximas estão associadas à colmatação de pequenas bacias, localizadas junto às desembocaduras dos rios, e a depressões estruturais (Rodrigues & Ribeiro, 1994). 1.1.1. Silte e argila (fracção <63 µm) Na plataforma a norte de Espinho a fracção silto-argilosa está preferencialmente localizada na plataforma média a externa. Esta classe granulométrica apresenta um enriquecimento gradual até aos 100m de profundidade (Magalhães, 1993), com desenvolvimento preferencial 1 DISEPLA – Dinâmica Sedimentar da Plataforma e Vertente Continental Portuguesa. PETDS – Pesquisa e Caracterização dos elementos Traçadores da Dinâmica Sedimentar da Margem Setentrional Portuguesa. 3 PROCOST- Os Processos Costeiros e a Evolução do Litoral Português entre Espinho e Nazaré: Causas Naturais e Influências Antrópicas. 4 BEVICAP – O Beiral de Viana e o Canhão Submarino na Evolução da Margem Continental Portuguesa. 2 6 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ nas proximidades do canhão do Porto (depósito silto-argiloso do Douro), e mais a norte, perto do rio Minho (depósito silto-argiloso da Galiza-Minho). Em ambas as zonas, a percentagem de silte e argila excedem frequentemente os 90% (Magalhães, 1993). Na tabela II.2 estão apresentadas as principais características destes depósitos silto-argilosos. O depósito do Douro foi inicialmente detectado e reconhecido por Dias (1987) e estudado com mais pormenor por Drago (1995). Segundo estes autores, as suas características principais são as seguintes: • é um corpo sedimentar recente, cuja idade é cerca de 2 000 anos B.P (considerando uma taxa de deposição constante), que apresenta uma taxa de sedimentação elevada e é formado maioritariamente por material de origem continental; • é dissimétrico, sendo a sua forma aparentemente controlada pela existência do canhão do Porto e pela distribuição dos afloramentos rochosos; • do ponto de vista granulométrico, a zona siltosa é muito homogénea, correspondendo a um silte grosseiro (média que varia de 27.2µm a 15.6µm), unimodal; • o cortejo mineralógico das espécies argilosas é homogéneo e formado por ilite, caulinite, esmectite, clorite, vermiculite e interstratificados clorite-vermiculite, que demonstram a forte alimentação pelo continente e de condições de sedimentação semelhante. A glauconite encontra-se quase completamente ausente; • representa o limite dos acarreios continentais, estando este limite compreendido entre os 105 e 135m de profundidade correspondendo ao alinhamento de relevos da plataforma externa. Tabela II-2. Características principais dos depósitos silto-argilosos. Profundidade Fonte principal Espessura Idade Massa Superfície Taxa sedimentação Douro 65-130m Douro (Araújo et al., 1994; Drago, 1995) 2.6-4.4m (Drago, 1995) ≈ 2000 anos B.P. (?) (aos 4.4m) (Drago, 1995) <63µ -950x106 ton. (14% do material do Douro) (Magalhães, 1999). 504 km2 0.16cm/ano (sul) (Carvalho & Ramos, 1989) 0.57cm/ano (centro) (Drago et al., 1994); 0.55cm/ano (norte)(Drago, 1995); 7 Minho-Galiza 65-130m (140m) Rias Bajas (Arosa, Pontevedra, Vigo); Minho (Rey, 1993) 1-14m (Lopez-Jamar et al., 1992) 1.5 m (Jouanneau et al, 2000) 2650±280 anos B.P. (80 cm) (Drago, 1995) 720 km2 0.1 cm/ano (Carvalho & Ramos, 1989) 0.08 (norte) (Jouanneau & Weber, 1999) 0.18/0.19 (em frente das rias de Pontevedra e Vigo) (Jouanneau & Weber, 1999) Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ O depósito silto-argiloso do Douro é limitado a ocidente por afloramentos rochosos do Cretácico e Paleocénico com diminuta expressividade morfológica (5-30m de altura). Pelo contrário, o depósito da Galiza estende-se sobre uma superfície plana sem relevos; a distribuição granulométrica mostra que o depósito do Douro é mais fino (Drago, 1995; Jouanneau et al., 2000) e apresenta taxas de sedimentação superiores, nomeadamente na sua zona central e norte (>0,55 cm/ano, Drago, 1995) . Estes depósitos, formados por material de origem continental e com idades que variam entre 3000 e 1500 anos B.P., encontram-se provavelmente relacionados com a acumulação de sedimentos posterior à estabilização do nível do mar, há cerca de 3000-6000 B.P. (Drago, 1995, Magalhães, 1999). 1.1.2 Areia (2mm-63µm) As areias finas a muito finas dominam a sul do rio Minho, especialmente na plataforma interna e média, representando, certamente, o tipo de material que actualmente é transportado pelos rios para a plataforma. As areias médias, grosseiras e muito grosseiras que ocorrem na plataforma externa e média, estão provavelmente relacionadas com paleo-litorais e/ou com deltas de vazante dos rios que afluem à região (Dias, 1987, Magalhães, 1993). A componente mais importante da areia é a terrígena (62% em média), constituída essencialmente, por quartzo e micas (70% e 20%). A componente biogénica, principalmente constituída por clastos de moluscos e carapaças de foraminíferos, só se torna dominante a partir dos 100m de profundidade, constituindo cerca de 74% da amostra (Magalhães et al., 1991). As micas (moscovite e biotite) são abundantes na plataforma minhota, correspondendo em média a 10% da componente terrígena da areia, valor este que pontualmente se eleva a 90% (Magalhães, 1993). Esta abundância de micas encontra-se relacionada com o fornecimento fluvial e com a presença, no continente, de afloramentos ricos nestes minerais (granitos antemesozóicos). Sendo boas indicadoras dos ambientes de deposição (Doyle et al., 1968, 1979; Dias et al., 1984) e hidraulicamente equivalentes a partículas de dimensões bastante menores (Doyle et al., 1983), estão associadas a locais onde a remobilização é fraca ou inexistente, ou onde os processos de fornecimento, superam os de distribuição (Dias, 1987). Na cobertura sedimentar minhota, as zonas mais ricas estão situadas a profundidades superiores a 70m (depósitos silto-argiloso), e em pequenas áreas ligadas às desembocaduras dos rios Minho, Lima e Ave (Magalhães & Dias, 1992, Magalhães et al., 1993). 8 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Segundo Cascalho (1999), na plataforma a norte do cabo Mondego a percentagem de minerais pesados na amostra total varia entre 0 e 3,7%, na areia fina (0,250-0,125mm) e entre 0 a 9 %, na areia muito fina. Os minerais pesados, embora sejam um componente menor da amostra total, dão indicações sobre a origem dos materiais e os processos de dinâmica sedimentar. Além disso, sofrem também processos de alteração e meteorização que dão origem a alguns dos minerais das argilas usados neste trabalho como traçadores da dinâmica sedimentar. As áreas com percentagens superiores de minerais pesados encontram-se na plataforma interna, em locais próximos das desembocaduras dos rios, o que sugere fornecimento actual, e por volta dos 100m de profundidade, de carácter possivelmente relíquia (Cascalho, 1999). Na vertente continental portuguesa a quantidade significativa de biotite pode também ser representativa de uma alimentação actual, embora actualmente a deposição ocorra principalmente na plataforma média, a profundidades entre os 50 e 80m (Cascalho & Carvalho, 1993). Cascalho & Carvalho (1993) identificaram mais de 16 espécies de minerais pesados nas fracções granulométricas 2-3φ (0,250-0,125mm) e 3-4φ (0,125-0,063mm), sendo os de densidade mais elevada, a granada, o rútilo, e o zircão, mais abundantes na classe mais fina (3-4φ). Na plataforma interna (10-50m) predominam os minerais pesados de densidade mais elevada. A granada é particularmente abundante, tendo origem provável em rochas granatíferas, presentes na plataforma interna, que constituem o prolongamento para NW das rochas precâmbricas polimetamórficas (zona de Ossa-Morena), que afloram no litoral entre Cortegaça e Espinho (Cascalho & Carvalho, 1993). A plataforma média é caracterizada por uma diminuição da percentagem da maioria dos minerais pesados e pela elevada representatividade da biotite (Cascalho & Carvalho, 1990). As piroxenas (augite e hiperstena), a hornoblenda verde e a olivina, associadas normalmente a rochas básicas e com resistência baixa à meteorização e transporte, são significativas a profundidades superiores a 100m e a sul do canhão submarino do Porto. A não existência de afloramentos destas rochas no continente emerso e a sua alta alterabilidade indiciam a existência de massas vulcânicas, localizadas nas proximidades do canhão (Cascalho & Carvalho, 1993). A instalação de uma massa vulcânica máfica no seio de formações carbonatadas, permitindo o processo de dolomi tização (dolomitos ricos em magnésio), explica a presença de minerais máficos nos sedimentos, que podem ter origem no filão e/ou na rocha encaixante (Rodrigues et al., 1995a). 9 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ A plataforma galega, tal como a minhota, é coberta na sua grande maioria por depósitos arenosos onde a componente terrígena é, igualmente, mais importante que a biogénica. O aspecto de maior realce nesta plataforma, é a presença de uma banda de fácies fina (areias siltosas), com orientação norte-sul, paralela à costa, e limitada a oriente por afloramentos rochosos. A granulometria mostra uma tendência geral de diminuição do diâmetro médio da partícula no sentido norte-sul. Do litoral para zonas mais profundas pode-se observar a seguinte sequência: areias médias e cascalho na plataforma interna, lodos e areias muito finas (0,25mm) na plataforma média e areias médias, e areias finas a médias na plataforma externa. De um modo geral, a fracção arenosa aumenta a partir dos 150m de profundidade, diminuindo a fracção fina (Rey Salgado, 1993). 1.1.3 Cascalhos (fracção >2mm) Esta fracção de sedimento é pouco abundante na plataforma norte, estando provavelmente relacionada com paleo-desembocaduras dos rios e com paleo-litorais (Dias & Nittrouer, 1984; Magalhães, 1993). Ocorre segundo duas bandas subparalelas à costa, uma localizada na plataforma média, a profundidades de 40 a 60m na qual corresponde, por vezes, a mais de 80% da totalidade da amostra, e outra na plataforma externa a profundidades de 100m a 140m, raramente atingindo os 20% da amostra. Na vertente continental pode ainda aparecer em quantidades significativas (5 a 25%). A componente terrígena desta fracção é predominantemente constituída por quartzo, quartzitos, litoclastos de gneisse e granitos e, por vezes, fragmentos de calcário provenientes dos afloramentos rochosos (Beirais de Viana e de Caminha). Os elementos biogénicos mais comuns são os fragmentos de conchas de moluscos corroídos e perfurados (Magalhães, 1993). Na plataforma galega, os cascalhos são pouco importantes e apresentam composição predominantemente carbonatada (às vezes 100% da amostra) e biogénica (Rey Salgado, 1993). Geralmente estão associados aos afloramentos rochosos (25-125m de profundidade) e na plataforma interna ocupam pequenas depressões e canais. 10 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 2. Vertente continental A vertente continental tem cerca de 60km de largura, mais estreita que a média mundial, mas igualmente profunda apresentando, portanto, declive mais pronunciado, cerca de 100m/km (Regnauld, 1987). Caracterizada por um traçado irregular, com entalhes (canhões) e depressões, possui montanhas marginais. Na margem setentrional norte portuguesa, onde a vertente é mais extensa, destacam-se o banco da Galiza e as montanhas de Vigo, de Vasco da Gama e do Porto (Fig-II.1). Estes relevos separam a vertente galega e a do Minho da planície abissal. Foram levantados por movimentos pirenaicos terciários sendo maioritariamente formados por rochas clásticas do Mesozóico (Mougenot, 1989). Encontram-se cobertos por sedimentos pelágicos finos (argilas e argilitos), havendo locais onde o soco calcário aflora. Com uma estrutura em patamares, a acção das correntes submarinas paralelas à costa (por ex. contra corrente da vertente) modelam os sedimentos das séries progradantes neogénicas que fossilizam a escadaria de escarpas de falha normais (Regnauld, 1987). 11 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 3. Enquadramento climático A costa ocidental portuguesa está sujeita a condições meteorológicas particulares, dominadas pelo anticiclone dos Açores e pelo núcleo de baixas pressões da Islândia (Fiúza et al., 1982). Em consequência, o seu clima é fortemente afectado pelas deslocações em latitude destas duas massas de ar, produzindo tempo seco e estável no Verão e chuvoso e instável no Inverno. Tendo como base os dados de Pires (1985) e Ribeiro et al., (1988), foram considerados 6 tipos de situações meteorológicas diferentes, três tipos anticiclónicos e três ciclónicos, apresentados em síntese na tabela ll-3. Tabela ll-3. Situações meteorológicas na Península Ibérica (adapt. de Ribeiro, et al., 1988 e Pires, 1985). Caract. Antic. dos Açores a W de Portugal. Tempo seco e ventos de N e NW Frequência Activo durante todo o ano, mais frequente de Verão. Ondas largas N e NW Efeito Tempo anticiclónico Crista antic. a Antic. N da Penin. térmico sobre Ibérica. a Penin. Tempo seco, Ibérica. vento fraco Vento fraco, de NE, E ou frio, variável SE Fim do Verão, Verão, Primavera Primavera Mar regular, ondas 1.5-2m (14s) Mar instável, fraco Depressão a N da Penin. Ibérica. Chuva fraca e vento forte Outono e princípio do Inverno Mar agitado Tempo ciclónico Depressão à Circulação Oestelatitude da Este (frente Penin.Ibérica ou polar a latitudes a Sul. Chuva e baixas). vento forte de Temporal. Vento SSE-NE, forte SW. trovoadas Inverno, Inverno Primavera Mar forte (34m) a muito forte (7m) Ondas fortes a muito fortes de W (8m, 16s) O vento é o factor climático preponderante para a dinâmica oceânica e costeira (ondas e correntes). Assim, tanto as variações diurnas como sazonais têm repercussões importantes nas condições de agitação. Por exemplo, no Verão, quando se estabelece o regime de “nortada”, a agitação marítima sofre uma variação periódica diurna com maiores alturas e períodos para o fim da tarde, decrescendo depois até ao principio da manhã (Pires, 1985). Da mesma forma que as variações diurnas do vento são importantes, as variações sazonais na frequência e na força dos diferentes tipos de vento são essenciais para compreender como a circulação induzida pelo vento vai intervir, e mesmo momentaneamente controlar, a dispersão das águas estuarinas na plataforma continental norte Portuguesa. A fig. II-2 representa a frequência sazonal dos ventos, obtida a partir de dados observacionais recolhidos pelo Instituto de Meteorologia (1990). Os diagramas incluídos nesta figura correspondem às situações de Inverno e Verão, nas estações meteorológicas de Viana do Castelo e Porto Pedras Rubras. 12 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Frequência sazonal (%) Viana do Castelo (1970/80) Inv (Out-Abr.) Ver.(Mai-Set.) Frequência sazonal (%) Porto-P. Rubras (1956/80) N N 30 NW 30 NE 20 NW 10 W NE 20 10 0 E W 0 E C=7.7 SW C=7.4 SE SW SE S S Figura II-2. Variação sazonal da direcção do vento (I.N.M.G., 1990). C= calmas. É possível ver que dois sectores predominam ao longo do ano: o sector NW-W e o NE-E, o sector SW é mais importante na estação de V. do Castelo. Os ventos mais fortes sopram do sector S e SW, sendo os ventos de SE os menos frequentes. No Inverno os ventos de Este e N são os mais frequentes, enquanto que no Verão os ventos de N e NW aumentam a sua importância, com o estabelecimento das "nortadas" (fig.II-3). Na costa ocidental norte, os ventos com intensidade superior a 35 km/h são pouco frequentes (2-3.5%), aumentando de importância na costa sul (5-6%). Ocorrem sobretudo de Outubro a Maio, embora os ventos mais fortes (50 e 74 km/h) apresentem frequências maiores em Fevereiro e Dezembro (Carvalho et al., 1991). Viana do Castelo (1970/80) Ver. 10 5 0 N NE E SE S SW W 30 25 Inv. 25 20 20 15 Ver. 15 10 10 5 5 0 NW 0 N Direcção do vento Vel. média (km/h) 15 14 12 10 8 6 4 2 0 Frequência (%) Inv. Vel. média (km/h) Frequência (%) 20 Porto-P. Rubras (1956/80) NE E SE S SW W NW Direcção do vento Figura II-3. Distribuição sazonal (Verão/Inverno) das direcções do vento, sua frequências (%) e velocidades médias para as estações de Viana do Castelo e Pedras Rubras (I.N.M.G., 1990). As barras brancas representam a frequência do vento (%) no Inverno e as cinzentas no Verão. A precipitação tem origem em massas de ar húmido provenientes do Atlântico Norte, na dependência da passagem de sistemas frontais e de depressões. Desta forma, a chuva é mais frequente de Inverno (Novembro a Março), com forte variação interanual de quantidade e de ritmo enquanto que no Verão (Julho e Agosto) a precipitação é fraca e pouco frequente. As 13 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ estações de Viana do Castelo e Porto, representativas da região norte, mostram o valor de precipitação médio máximo no mês de Dezembro e o valor mínimo no mês de Julho (fig.II.4). Segundo os dados do INAG, na estação de Viana do Castelo e referentes ao período de 19371985, a altura média anual de precipitação oscilou entre 851mm em 1964-65 e 2512mm em 1953-54; para a estação do Porto (serra de Pilar) e durante o período de 1950-1985, a altura média anual de precipitação oscilou entre 624mm em 1952-53 e 1944mm em 1976-77. As bacias hidrográficas do noroeste recebem em média anual cerca de 2000mm enquanto que as do Sul interior recolhem menos de 700mm de precipitação (Ribeiro et al., 1988). 250 mm 200 150 100 50 Set Ago Jul Jun Mai Abr Mar Fev Jan Dez Nov Out 0 V.Castelo (1950-1985) Porto (1950-1985) Figura II-4. Precipitação média mensal registada ao longo de 35 anos (Viana do Castelo e Porto- Serra Pilar). Dados compilados pela Direcção Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos (actual INAG). Na região do Alto Minho, a temperatura média diária anual do ar é inferior a 12.5ºC e na faixa litoral é inferior a 15ºC (Atlas do Ambiente). O mês mais quente é o de Agosto (valor médio de 22.5ºC) e o mês mais frio o de Janeiro (valor médio de 10.8ºC). A região em estudo encontra-se incluída na Província Atlântica do Norte, que abrange a região litoral, desde o rio Minho até perto do Mondego (Ribeiro et al., 1988). Sucintamente as suas características climáticas são: Verão fresco com temperatura média de 20ºC e Inverno suave, com temperatura superior a 8ºC em Janeiro; precipitação superior a 1000mm, com dois meses secos (Julho e Agosto, com menos de 30mm); nevoeiros e trovoadas frequentes e ar húmido todo o ano. 14 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 4. Características das águas da plataforma e vertente continental 4.1 Regime de agitação marítima (norte do cabo Raso) A plataforma continental ocidental Portuguesa, pela sua localização geográfica, está directamente exposta à ondulação gerada no Atlântico Norte, apresentando, por isso, ondas com alturas e períodos superiores aos esperados se apenas fosse considerada a acção dos ventos locais. É um meio altamente energético, caracterizado por uma amplitude média da onda de 2.2m (Figueira da Foz). Durante a maior parte do ano (50%), a altura da onda varia entre 1-3m, com direcção NW e períodos predominantemente compreendidos entre 9-13s. Ondas com alturas superiores a 4-5m ocorrem em apenas 5% do ano, com direcção predominante NW e W e períodos superiores a 13s (Pires, 1985; PO-WAVES, 1994). Tento em conta as condições meteorológicas que geraram as ondas e as características da própria onda gerada, Pires (1985) agrupou as condições de agitação marítima em 5 tipos diferentes (Tabela II.4). Tabela II.4 – Condições de agitação marítima características da costa ocidental (adapt. de Pires 1985; PO-WAVES, 1994). Condições de agitação Mar de Noroeste Mar de Sudoeste Temporal Oeste Mar de fora Mar banzeiro Período Inverno Verão Inverno Verão Inverno Ver./Inv. Ver./Inv. Direcção da onda NW NW SW SW W (vaga SW) NW-W NW-WNW Altura da onda (m) 2.5 1-1.5 3-4 3 8 Período da onda (s) 9 7-8 9-10 % Ocorrência 16 Direcção do vento N-NW N S-SW S-SW SW 1.5-2 0.5 14 - Este Este 16 4 75 4 1 Os estudos do projecto PO-WAVES (1994) e de Pita & Santos (1989), realizados na costa ocidental, permitem distinguir duas épocas características, ao longo de um ano (fig.ll.5 e fig. ll.6): • Verão (Maio a Setembro), durante o qual a onda tem altura significativa média inferior a 2m e com períodos curtos (6-7s); • Inverno (Outubro a Abril), com uma maioria de ondas com altura significativa média superior a 2m e períodos longos (>7s). Durante os meses de Dezembro e Abril registaramse ondas com altura significativa (H0 ) máxima superior a 7.5m (T0 ≥ 12s). 15 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ A B 80 8 HM0m 6 TO2m Verão 60 40 Inverno 4 20 Global 2 0 %obs. HM0(m)/T02(s) 10 N 0 Verão Inverno E SE SW W NW Direcções Global Figura II-5. A. Altura significativa e período da onda médios para épocas diferenciadas (Verão/Inverno) e no global na Figueira da Foz; B. Distribuição sazonal de direcção da onda (PO-WAVE, 1994). Em ambos os períodos é evidente a predominância das ondas do sector NW (fig. II.5b). As ondas desta direcção têm fundamentalmente duas origens (Pires, 1985): vaga, originada por Figueira da Foz (TO) 16 14 12 Max. TO 10 8 Média 6 4 Dez. Out. Set. Ago. Jul. Jun. Mai. Abr. Mar. Fev. Jan. 0 Nov. Min 2 Mês 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Max. Média Dez. Nov. Out. Set. Ago. Jul. Jun. Mai. Abr. Mar. Fev. Min.. Jan. H0 Figueira da Foz (H0) Mês Figura II-6. Informação mensal da altura da onda significativa (H0) e períodos (T0 ) para a bóia ondógrafa da Figueira da Foz (Set.1986-Jul.1993) (retirado de PO-WAVES, 1994). 16 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ ventos com orientação de N e NW associados à circulação atmosférica ou devidos ao diferencial térmico entre o mar e o continente; ondulação de NW originada a latitudes elevadas, no Atlântico Norte, neste caso com período superior. A ondulação de W e SW (temporal de oeste) é menos frequente, mas forma-se predominantemente durante o Inverno devido à aproximação de sistemas frontais de W (Pires, 1985). Na costa W, considera-se temporal quando a altura significativa da onda é superior a 4m (Pires & Pessanha, 1986). Ondas com alturas superiores a 4m e períodos longos (>8s) correspondem a 5.6% do total anual de ocorrências, podendo ser consideradas frequentes (Pires, 1985). Tempestades extremas, com altura significativa acima de 6m e períodos médios excedendo os 15s, foram observadas 3 a 9 vezes por ano, correspondendo a um período de 2 a 13 dias (Vitorino et al., 2000). Segundo Pita & Santos (1989), ocorreram 97 temporais entre 1956 e 1988, o que corresponde a uma média de 3 temporais por ano. As alturas máximas para as ondas anuais, decenárias e centenárias são respectivamente de 1319m, 16-23m e 17-25m (PO-WAVE, 1994). 4.1.1. Acção da onda A principal acção da onda nos sedimentos de fundo é provocar a sua remobilização. Uma vez ultrapassado o limiar de entrada em movimento, as partículas começam a deslocar-se sobre o fundo quando na presença de uma corrente sobrejacente, dando início ao transporte sedimentar e à geração de formas de fundo. A plataforma interna (<30m) é influenciada pela ondulação a maior parte do ano (períodos entre 9-11s), enquanto que a plataforma externa só o é, ocasionalmente, com ondas de grande período (t=15s) (Dias, 1987; Taborda, 1993). A acção da onda no transporte dos sedimentos da plataforma entre o Cabo Mondego e Espinho foi estudada por Taborda (1993,1999), tendo este autor concluído que: • na zona de rebentação, o transporte da areia pela onda é permanente. As condições de agitação moderada (ondas de 2.5 a 3.5m) são as que mais contribuem para o transporte total. Os episódios mais energéticos (onda superior a 4.5m) têm importância reduzida (≈20%); • entre a costa e os 30m, profundidades em que domina a areia fina, a energia é ainda elevada, sendo os depósitos sedimentares remobilizados durante grande parte do ano (40%). O transporte efectua-se provavelmente sob condições de energia moderada a alta; 17 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ • entre os 30 e 80m (depósitos de areia grosseira cascalhenta e cascalho arenoso) os sedimentos são apenas remobilizados em ocasião de temporal. Para a plataforma entre Viana do Castelo e Espinho e tendo em conta o tipo de agitação o referido autor concluiu que: • as ondas mais frequentes (H=2m e T= 10s), remobilizam as areias mais finas até profundidades dos 50-60m ; • as ondas de tempestade mais comuns (H=4m, T=15s), remobilização das fracções mais finas das areias até ao bordo da plataforma e das classes mais grosseiras até aos 60m de profundidade; • as ondas de tempestade excepcional (H=9m, T=17s) são capazes de remobilizar os sedimentos de toda a plataforma, com excepção das fracções mais grosseiras dos depósitos cascalhentos da plataforma média. 4.2. Condições hidrológicas do Atlântico Norte Individualizam-se quatro massas de água oceânica à latitude da Península Ibérica (Tchernia, 1978; Harvey, 1982; Fiúza, 1984 e Pickard & Emery, 1990): • A Água Central Norte Atlântica (ACNA), que ocupa os primeiros 1000m de uma bacia cujo fundo se localiza por volta dos 5000-6000m. Caracteriza-se por valores de salinidade e temperatura elevados. É formada no Atlântico NE por convecção invernal profunda (Harvey, 1982), sendo representada pelo ramo descendente da Corrente do Golfo. A ACNA apresenta baixa concentração de partículas, típica de águas limpas (∼8-15µg/l), embora se observem camadas intermédias de turbidez mais elevada (Hall et al., 2000). • A Água Mediterrânea (AM) caracteriza-se por forte salinidade, temperatura relativamente elevada e baixo conteúdo em oxigénio. Ao longo da margem continental Ibérica ocorre como uma série de camadas de mistura, cuja salinidade mais elevada se encontra entre os 600 e os 1500m, em águas com temperaturas entre 7 e 10ºC. Na margem Ibérica Norte, o sinal de turbidez é baixo, parecendo não se registar os valores observados nas imediações do estreito de Gibraltar (Thorp, 1972). • Água Profunda do Atlântico Norte (APAN), que se desenvolve abaixo dos 1500m, com uma provável componente diluída a níveis intermédios da Água do Mar do Labrador (1800 e os 3000m). Corresponde a uma massa de água bem oxigenada, com temperatura sempre inferior a 4ºC (T=2.5ºC e S=35.03) (Worthington, 1976; Pickard & Emery, 1990). • Água do Fundo Antárctida (AFA), com reduzida salinidade e temperatura (Stow, 1982). 18 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Ao nível da margem continental noroeste Ibérica, área hidrodinâmicamente muito activa, convergem e interactuam principalmente as massas de água ACNA e AM, com características distintas de temperatura, salinidade, oxigénio dissolvido e carga em suspensão. A circulação das massas de água superficiais para o Oceano Atlântico NE encontra-se representada na fig. II-7. Figura II-7. Mapa da circulação superficial das massas de água, para o Oceano Atlântico NE (adaptado de Broerse, 2000). Área de estudo representada pelo rectângulo a negro. Fiúza (1984) considera que a ACNA, no sector em estudo, compreende duas componentes principais, com origens distintas, que se subdividem a latitudes da ordem dos 40ºN; uma de origem subpolar setentrional, formada por convecção invernal profunda a Norte e NW da Península Ibérica; e uma segunda, meridional, de origem subtropical, que diminui a sua influência para Norte, ao longo da Margem Continental Africana e Ibérica. Caracterizam-se por valores de temperatura e salinidade da ordem dos 8 a 18ºC e 32.2 a 36.7, respectivamente, deslocando-se a profundidades médias entre os 100 e os 850m (Saunders, 1982), embora Fiúza (1984) apenas considere a sua influência até profundidades da ordem dos 500m, sob a camada superficial com fortes variações sazonais. A plataforma continental está geralmente ocupada por uma fina camada superficial (≈200m de espessura), sujeita ao ritmo de escoamento 19 fluvial e ao sistema de interacção Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ atmosfera/hidrosfera, variável conforme a estação do ano. É dentro dela que, fundamentalmente, se processam os movimentos verticais de upwelling e downwelling. 4.3.A circulação na plataforma e vertente continental Na plataforma, a circulação induzida pelos ventos é extremamente importante, podendo influenciar toda a coluna de água, como foi demonstrado por vários autores (Fiúza, 1982a,b; Vitorino 1989, 2000; Silva, 1992). 4.3.1. Padrão de circulação de Inverno O padrão de circulação no Inverno é muito menos conhecido que o do Verão. Durante o Inverno e Outono, as águas da plataforma, de modo geral, deslocam-se para norte. À superfície, o fluxo para norte, devido à acção de gradientes de densidade e dos ventos de S-SW, é comprovado pelo deslocamento das plumas dos rios nesse sentido (Roteiro da costa Portuguesa, Drago et al., 1998). Contudo, no litoral devido essencialmente à acção da agitação de W, há um escoamento predominante para sul, junto ao fundo (deriva litoral). Na margem NW Ibérica as observações correntométricas disponíveis concentram-se essencialmente na vertente continental superior, onde se estabelece uma corrente geral para o pólo (Frouin et al., 1990; Haynes & Barton, 1990), atingindo neste período os níveis mais superficiais (Vitorino, 1989). Esta corrente, mais quente (T=18º-19ºC, cerca de 1-3ºC mais elevadas que as águas circundantes) e salina (S=36.0 a 50m e cerca de 0.2 PSU (Practical Salinity Unit) superior às águas oceânicas envolventes), identificada pela primeira vez por Frouin et. al., (1990), flui ao longo do vertente e bordo da plataforma continental W Portuguesa, N e NW de Espanha e SW de França. Este fluxo para Norte incorpora Água Central do Atlântico Sul, modificada devido à interacção com outras massas de água, desde a Contracorrente Norte-Equatorial (Barton, 1995). O sector mais profundo deste fluxo incorpora e interage com a Água Mediterrânea Intermédia, circulante entre os 600 e 1500m de profundidade (Daniault, et al., 1994). Utilizando as trajectórias de bóias derivantes Argos que permitem obter a circulação residual da superfície das águas oceânicas, o projecto MORENA (Multidisciplinary Oceanographic Research of the Eastern North Atlantic) identificou claramente na vertente continental, um fluxo meandriforme para norte, com largura de 40-50km (fig.II-8A e B). Esta contracorrente quente, particularmente bem representada a norte de 40ºN, nos meses de Novembro e Dezembro (1993), apresenta velocidade de deslocação média de 13,5±5,7cm/s e temperaturas 20 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ de 15±0,6ºC, podendo atingir velocidades médias diárias de 33,4cm/s e 40,2 cm/s, na parte norte da Península Ibérica (Martins, 1996). As bóias lançadas mais ao largo deslocaram-se para sul (fig.II-8 A e B), provavelmente associadas ao fluxo equatorial semi-permanente do ramo externo da corrente de Portugal (Martins, 1996). Este comportamento veio confirmar as observações feitas anteriormente por Haynes & Barton (1990), com 4 bóias lançadas a NW da Ibéria, e Frouin et al. (1990). A B Fig.II-8.A -Trajectória de 16 bóias derivantes WOCE/TOGA (com transmissão via satélite), ao largo da costa NW de Portugal. Estas bóias, colocadas pelo projecto MORENA, no período entre Junho de 1993 e Outubro de 1994 (11 foram colocadas entre Novembro e Maio de 1994) mostram a trajectória da contracorrente quente, mais evidente, a norte do paralelo 40ºN. B – Velocidade superficial média das bóias (setas), calculada para uma caixa com área de 2º latitude × 1º longitude. Na área em estudo a velocidade superficial variou entre 2.3 e 33.4 cm/s (retirado de Martins, 1996). No Outono, as águas oceânicas quentes estendem-se para a plataforma, confinando as plumas dos rios à plataforma interna (Haynes & Barton, 1990). No Inverno, em resultado da perda de calor por insolação e forte mistura associada com os temporais, as águas da plataforma tornam-se homogéneas e a termoclina/picnoclina encontra-se 80-100m de profundidade, interceptando a plataforma externa (Fraga, 1981; Silva, 1993; Fiuza et al., 1998). Neste 21 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ período, a única fonte de estratificação é proporcionada pelos rios, sobretudo o rio Douro e Minho (Vitorino, 1989, Silva, 1992). As trocas entre o regime de plataforma e o regime oceânico encontram-se inibidas pela presença de uma zona frontal que coincide com a fronteira interna da corrente de vertente. A frente meandriza ao longo da vertente continental e estende-se até aos 500m de profundidade, separando as águas mais quentes e salinas da corrente de vertente das águas mais frias e menos salinas da plataforma (Hagen et al., 1993; Silva, 1992; Fiúza et al., 1998). A ocorrência de eventos de upwelling no regime de Inverno foi referenciado por alguns autores. Silva (1993) descreve um forte período de upwelling que ocorreu em Dezembro de 1988. As condições anteriores a este evento eram típicas de Inverno, com a plataforma homogeneizada. Ao contrário do que se observa no Verão, a água que aflora durante estes eventos localiza-se na plataforma nos níveis mais superficiais da picnoclina. Estas águas são transportadas para a plataforma interna dentro da camada limite de fundo, por fluxo compensatório dirigido para terra. Desta forma, estas águas têm um papel importante na promoção da re-estratificação da plataforma (Silva, 1993). Vitorino et al. (2001) observou vários períodos de upwelling nos Invernos de 1996 (fig. II-10) e de 1998, que forçaram na plataforma média um forte fluxo equatorial (30 cm/s). Downwelling O regime de Inverno na margem continental NW Portuguesa é caracterizada por ventos variáveis, com períodos frequentes de ventos do quadrante sul (Fiúza et al., 1982) associados a temporais. Sob estas condições ocorrem períodos de downwelling, com a presença na plataforma de um fluxo associado para norte (Vitorino & Coelho 1998; Vitorino et al., 2000). Nessas situações, o empilhamento de água junto à costa (fig.II-9a) origina a formação de um fluxo descendente, com uma corrente junto ao fundo dirigida para o largo (fig.II-9b). Este padrão de circulação favorece a expansão das águas oceânicas quentes sobre a plataforma e o restabelecimento da estratificação térmica (Vitorino & Coelho, 1998). Na plataforma média (86m), medições de correntes durante o Inverno de 1996/97 (fig.II-10), revelam em condições de downwelling (ventos fortes de S-SW) com fluxo para os pólos, velocidades de correntes que frequentemente excedem os 20 cm/s (Vitorino et al., 2001). 22 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ (a) (b) Fig.II-9. Evolução de uma corrente geostrófica na plataforma continental, em resultado de um gradiente de pressão produzido na costa (a) Corte na plataforma continental, que mostra a superfície de inclinação das isobáricas e o declive da superfície da água. (b) Visão tridimensional do downwelling, com as diferentes orientações do stress do vento, corrente de Eckman de superfície, corrente de fundo e corrente geostrófica central (in Allen, 1997). N a) a) Diagrama da velocidade do vento S b) b) Nível do mar em Viana do Castelo c) c) Temperatura downwelling d) upwelling d) Diagrama das correntes de baixa frequência (período acima de 2 dias) verificadas aos 29m, 53m, 76m e 82m de profundidade e) Série temporal da velocidade de corte da onda, estimada a partir de uma bóia ondógrafa e) Figura II-10. Observações realizadas no Inverno (Novembro 96-Janeiro97) (Vitorino et al., 2001). 23 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 4.3.2.Padrão de circulação de verão: Na plataforma continental, no Verão e Primavera foi assinalada à superfície uma corrente geral para sul, mas no bordo da plataforma e em profundidade continua a existir a contracorrente quente para norte. Esta corrente subsuperficial que se desloca sobre a Água do Mediterrâneo tem um papel importante nas áreas de influência do upwelling (referido no ponto seguinte). Verificou-se que funciona como uma corrente de contorno, sendo intensificada no final da estação de afloramento, deslocando-se o seu núcleo para um nível mais superficial (Vitorino, 1989). Upwelling O upwelling é um dos principais processos que determinam as características oceanográficas das águas costeiras em Portugal (Fiúza et al., 1982), sobretudo entre Maio e Outubro, podendo também ocorrer, embora menos intenso, em Dezembro e Janeiro. A sua formação é induzida por ventos locais persistentes de norte e noroeste, trazendo para a superfície águas oriundas dos 120-150m de profundidade (Fiúza, 1982; Fraga, 1989; Vitorino, 1989) correspondentes ao ramo subtropical da Água Central Nordeste Atlântica (Fiúza, 1982) e portanto mais frias e ricas em sais nutritivos. Caracteriza-se por um escoamento equatorial ao longo de toda a coluna de água, observando-se nos primeiros 30m um escoamento para o largo, compensado por um fluxo de sentido contrário (para terra) a níveis inferiores, mais intenso perto do fundo (fig.II-11a e b). Durante a primeira fase da estação de upwelling (Maio-Junho), em resposta a ventos de NNW, forma-se uma banda uniforme de águas frias ao longo da costa que se estende 30-50 km para o largo (Fiúza, 1983). Ao longo desta região, observam-se pequenos filamentos com cerca de 20-30 km de extensão (Haynes et al., 1993). Nesta fase, a subida das isopícnicas encontrase confinada à região da plataforma interna e aos primeiros 20-30m da coluna de água, sendo destruída pelo enfraquecimento ou inversão dos ventos locais (Silva, 1992). Quando as condições de upwelling estão completamente desenvolvidas, as isopícnicas acima da plataforma e vertente continental superior sobem desde os 200m de profundidade até à superfície (Silva, 1992). Embora aos níveis superficiais (20-30m) a inclinação das isopícnicas possa sofrer modificações rápidas em resposta aos ventos, abaixo deste nível permanece inalterada até ao fim da estação de upwelling (Setembro-Outubro). 24 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ (a) (b) Fig.II-11. Upwelling forçado pelo efeito de Ekman, no hemisfério norte (lado leste do oceano), com direcção predominante do vento paralelo à costa. (a) O transporte de Ekman total leva a água para o largo, causando afloramento e um abaixamento da superfície da água, em direcção à costa. (b) A subida de águas frias, mais densas provoca um campo baroclínico, tendo como resultado um escoamento geostrófico para sul, ao nível superficial (para fora da página), um nível onde não há movimento (velocidade geostrófica de zero) e uma contracorrente profunda, para norte (para dentro da página). A corrente superficial resultante continua a favorecer o upwelling (in Allen, 1997). Este processo, associado a uma elevada produtividade biológica, é observado em dias de vento forte até distâncias da ordem de 200km da costa (Fiúza, 1984). Imagens de satélite da Margem Ibérica mostram zonas de água aflorada que se estende para o largo em filamentos, associados com a morfologia da costa (cabos). Estes filamentos aumentam as trocas plataforma-oceano na medida em que prolongam a interface entre diferentes tipos de massas de água (Huthnance, 1991, 1995). O afloramento costeiro estival e os filamentos associados tendem a aparecer todos os anos nos mesmos locais (Haynes et. al., 1993). O filamento mais a norte desenvolve-se na região do cabo da Finisterra, um segundo ocorre próximo de 41.8ºN aparecendo mais 4 a sul, separados por uma distância aproximada de 200 km (Haynes et. al., 1993). Durante o Inverno os filamentos são escassos e pouco significativos. 25 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Na plataforma norte Portuguesa as medições de correntes são escassas. Na plataforma média (105m) ao largo de Aveiro, Hagen et al., (1993) observaram, entre Março e Abril de 1991, um fluxo médio barotrópico para sul, de cerca de 2cm/s. Mais a norte (41º28’N), também na plataforma média (100m), mas em Setembro de 1986, Haynes & Barton (1990) referem um fluxo equatorial médio (≈20 cm/s) aos 30m de profundidade e por baixo um fluxo fraco para o pólo (1 cm/s). Na vertente superior, a 200m de profundidade, foi observado um fluxo médio para o pólo, com correntes máximas de 20 cm/s (Haynes & Barton, 1990). Vitorino (1989) e Silva (1992) exploraram as medições de correntes obtidas por três amarrações de correntómetros ao longo de uma secção (41º 05’N), no período de Maio a Outubro de 1987, observando que: • Durante as condições de afloramento as correntes médias sobre a plataforma são fracas (Tabela II-5). O fluxo residual é essencialmente caracterizado por grande variabilidade diária (5-15 dias), associada a períodos de intensificação ou relaxação dos ventos de N e NW. A componente longilitoral caracteriza-se por valores muito baixos e variáveis com escoamento para sul à superfície, e a transversal por um escoamento dirigido para a costa no nível mais superficial (36 e 42m) e um escoamento muito fraco nos níveis inferiores que poderá traduzir uma importância crescente do atrito de fundo (Tabela II-5). Durante o período de ventos fortes de upwelling foi observada na plataforma média (100m) uma corrente média barotrópica equatorial (~3 cm/s). • Pelo contrário, na vertente superior, a persistência do upwelling, constrói à superfície uma corrente média baroclínica (120-170m de espessura), com fluxo equatorial (3-5 cm/s), estando a contracorrente para norte estabelecida a níveis inferiores (5-8 cm/s). Com a transição para ventos de sul (Outubro), o fluxo equatorial à superfície enfraquece e a corrente para o polo da vertente torna-se mais superficial (~12cm/s a 170m) e ocupa toda a coluna de água, chegando a atingir a plataforma média (~5cm/s) (Vitorino, 1989). • No nível mais superficial (20-30m), o upwelling favorece a expansão até ao bordo da plataforma de águas menos salinas (provenientes dos rios). 26 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Tabela II-5. Valores médios mensais da componentes residual da corrente, medidas durante o verão e outono de 1987 (adaptado de Vitorino, 1999). Valores positivos indicam escoamento para norte e este e negativos escoamento par sul e oeste. Plataforma (39m) A interna Plataforma média (103m) B Vertente superior (302m) C Localização Prof. (m) 41º04.2'N 08º48.4'W 36 41º05.3'N 09º03.5'W 46 73 100 38 119 171 282 41º 05.9'N 09º20.2'W 11/5 15/6 15/6 15/7 0.7 0.51 1.05 0.32 -0.18 0.63 0.62 1.68 -1.70 2.16 0.60 -0.05 -0.68 0.58 2.00 -0.27 E-W u (cm/s) 15/7 15/8 15/8 15/9 0.60 0.34 0.04 1.24 2.46 3.54 -1.29 0.62 -0.11 -0.16 2.05 3.04 4.77 0.83 15/9 14/10 2.54 0.14 -0.63 1.80 4.46 6.13 0.68 11/5 15/6 15/6 15/7 -2.22 -1.91 -3.12 -2.93 -2.48 -3.04 -0.33 1.02 3.82 -0.19 0.83 0.56 -4.67 -1.10 1.85 5.90 N-S v (cm/s) 15/7 15/8 15/8 15/9 0.97 1.58 0.06 -1.02 2.31 4.03 5.71 15/9 14/10 0.39 1.12 -0.25 -1.38 3.30 6.20 8.37 4.3.3. Corrente de Maré A plataforma continental minhota está sujeita a um regime de marés semi-diurno de amplitude meso a macrotidal (3.5 a 4m). O efeito da corrente de maré como agente dinâmico é pouco conhecido, existindo poucas medições e geralmente muito pontuais. O seu efeito é mais evidente junto à desembocadura dos rios, tendo sido registados valores extremos de 67-78 cm/s (Ribeiro et al., 1988). Vitorino & Coelho (1998) descrevem sucintamente as características da maré na plataforma estudada: • No verão (1987), os movimentos devido à maré são responsáveis por parte significativa das variações nas correntes tanto na plataforma como no bordo. A contribuição dominante vem da componente lunar, M2 (12h25m), com uma segunda contribuição da componente solar, S2 (12h). Junto ao bordo da plataforma, as elipses de maré (fig.II-12), estão polarizadas segundo a direcção da topografia local, excepto na proximidade do fundo onde a variabilidade da corrente é bastante isotrópica. Sobre a plataforma, pelo contrário, a maré exibe uma estrutura barotrópica (a densidade da água só depende da profundidade). Na plataforma média (103m), a elipse de maré encontra-se polarizada segundo a direcção da linha de ruptura do bordo e, na plataforma interna (39m), dispõe-se perpendicularmente à isóbata local. Em ambos os casos a maré origina importantes movimentos transversais. Na fig. II-12, é visível uma diminuição da intensidade da corrente de maré do bordo para a plataforma interna (o eixo máximo da elipse passa de mais de 15 cm/s para menos de 9 cm/s). 27 5.01 5.39 1.70 2.22 7.97 10.93 8.34 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Fig.II-12. Elipses de maré obtidas por Vitorino, (1999), durante o inverno (vermelho) e verão (verde). Localização dos correntómetros na Tabela II-5. Cobertura sedimentar adaptada de Rodrigues et al., 1991. • No Inverno, a amarração colocada sobre o depósito silto-argiloso do Douro (80m) apresenta um elipse de maré orientada transversalmente às isóbatas (orientação muito aproximada ao eixo do canhão submarino do Porto), com magnitudes da ordem dos 510cm/s (Vitorino et al., 1999) e com intensificação das correntes perto do fundo. Esta orientação da elipse de maré sugere um importante papel deste canhão nos movimentos transversais das partículas. 4.3.4. Ondas internas Ocorrem na plataforma e vertente continental com um largo espectro de amplitudes e períodos. Os mecanismos de geração das ondas internas não são ainda completamente conhecidos, embora seja amplamente aceite que o seu desenvolvimento pode ocorrer na zona de interface entre duas massas de água de densidade diferente ou na zona de contínua variação vertical de densidades. No modelo de duas camadas, quando uma termoclina sazonal forte separa camadas de águas praticamente homogéneas, as ondas internas podem gerar-se por forçamento da maré na vertical, por cima de topografias acentuadas, que deslocam a termoclina e geram ondas internas com o período da maré. Este processo é conhecido como interacção maré-topografia. As ondas internas com período tidal propagam-se a partir da zona de geração, em ambas as direcções (para fora e dentro da plataforma), ao longo da termoclina (Baines, 1982). 28 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ As ondas internas que resultam da interacção da maré com a topografia podem promover episódios de mistura no interior da coluna de água, com subida de águas frias, provenientes de profundidades abaixo da termoclina. Estas águas, ricas em nutrientes, promovem à superfície um ambiente favorável ao crescimento do fitoplâncton (blooms), como foi descrito, para a plataforma escocesa (Sandstrom & Elliott, 1984), Baia de Monterey, Califórnia (Shea & Broenkom, 1982) e Golfo da Biscaia (New & Pingree, 1990), entre outras áreas. O efeito da topografia nas ondas internas pode ser observado nos canhões submarinos (Shepard, 1976; Hotchkiss & Wunsch, 1982). A presença de um canhão na plataforma é sempre um possível gerador de marés internas através dos fluxos barotrópicos que ocorrem ao longo da plataforma (Hutnance, 1989). As marés internas são geradas na orla do canhão (assim como ao longo da vertente continental) ou, então, sendo provenientes do oceano profundo ou da plataforma, são com frequência aí aprisionadas. No geral, o efeito da maré depende da sua intensidade à superfície e do comprimento e inclinação das paredes do canhão. No interior do canhão a magnitude das ondas internas depende inversamente da sua área transversal (Hotchkiss & Wunsch, 1982). Em período de Verão, no qual ocorre o fenómeno de upwelling, Jeans & Sherwin (submetido) observaram ondas internas na plataforma externa e vertente continental norte portuguesa (frente ao rio Douro), com amplitudes típicas de cerca de 35m e largura de 150m. Estas ondas, associadas com a maré interna (ocorrem em cada ciclo de maré semi-diurno), propagam-se para terra com uma velocidade de fase constante de 0,57m/s (profundidade de 100-160m). Quando à origem destas ondas, as observações de Jeans & Sherwin (submetido) sugerem uma formação local na vertente continental pelo efeito da maré semi-diurna. Contudo, a amplitude destas ondas é demasiado elevada para ser explicada em termos de corrente de maré (movimentos transversais), sendo possível que os aspectos tridimensionais da topografia (canhão do Porto) e o regime tidal também estejam envolvidos (Jeans & Sherwin, submetido). Existem diversos indicadores de que as ondas internas podem induzir transporte sedimentar. Drake & Cacchione (1986) reportam a movimentação e colocação de sedimentos em suspensão, com a diminuição da profundidade (em direcção à costa) possivelmente quando as ondas internas rebentam, de acordo com dados experimentais e cálculos teóricos. A observação de níveis nefelóides a profundidades elevadas (600m) foi também associada com o aumento da actividade das ondas internas (Dickson & McCave, 1986). Na vertente continental do Banco de Porcupine depois da ocorrência de upwelling de águas frias, induzido por ventos de Norte, foi detectado o aumento da actividade das ondas internas, com a 29 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ presença de uma camada túrbida de fundo em associação com temperaturas baixas e incremento da estratificação. Perto da cabeceira do canhão submarino de Hudson, a acumulação da energia das ondas internas produz zonas com sedimentos granulometricamente diferentes, podendo a energia do movimento da água misturada com silte erodir as paredes do canhão (Hotchkiss & Wunsch, 1982). 4.4. Ressuspensão e remobilização de sedimentos finos na plataforma continental a norte de 41ºN O movimento das partículas efectua-se sob a acção conjugada da onda e das correntes. A onda provoca a oscilação momentânea das partículas. A posterior actuação das correntes fracas que se fazem sentir perto do fundo é suficiente para o transporte de sedimentos a curtas distâncias. A massa de material deslocado nestas ocasiões é baixa, mas a repetição destes episódios ao longo dos anos favorece o movimento das partículas. Durante os eventos extremos (temporais) que ocorrem menos de 13 dias num ano (Vitorino et al., 2000) é que se verifica incremento do fluxo geral de sedimentos. No oceano, pensa-se que 90% do transporte sedimentar ocorre durante estes eventos esporádicos. Na plataforma continental portuguesa, os aspectos teóricos da remobilização e ressuspensão foram abordados por Dias (1987) e Taborda (1993, 1999). As observações in situ de correntes são escassas e pontuais sem séries temporais longas, tendo sido apresentadas essencialmente por Vitorino (1989, 1999, 2000) e Silva (1992). Na plataforma Atlântica e em especial a norte de 41ºN, a resuspensão é na sua maior parte provocada pela onda. Com efeito, na zona em que as correntes de maré são mais elevadas, como na desembocadura dos rios, a sua acção sobre os sedimentos de fundo limita-se aos 20m de profundidade. Quando a profundidade aumenta, a acção da corrente de maré complementa a da onda. As velocidades necessárias para remobilizar partículas com diâmetros situados entre o silte grosseiro e a areia média (Tabela II-6) estão compreendidas entre os 17 e 29 cm/s (Dyer, 1986), valores que são compatíveis com as velocidades da corrente total medidas na plataforma norte portuguesa, que variam entre 17.2 e 25.8 cm/s (Silva, 1992), ligeiramente superiores aos das correntes teóricas da maré (14-17 cm/s) (Dias, 1987). Segundo Taborda 30 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ (1993), o movimento da areia deve-se em grande parte à acção remobilizadora da onda, sendo depois transportada pelas correntes de maré. Tabela II-6. Velocidade de correntes teóricas necessárias à remobilização de areia muito fina a média (Dyer, 1986). Diâmetro 63µm (silte grosseiro-areia muito fina) 125µm (areia fina) 250µm (areia fina a média) Veloc. de correntes teóricas necessárias à remobilização 17 cm/s (1m do fundo) 19 cm/s (3m do fundo) 22 cm/s (1m do fundo 25 cm/s (3m do fundo) 26 cm/s (1m do fundo) 29 cm/s (3m do fundo) 4.4.1.Cálculo da velocidade orbital da onda no fundo Conhecendo os parâmetros característicos da onda na zona de estudo, pode calcula-se a velocidade orbital máxima no fundo (U0 ) para diversas profundidades, utilizando a fórmula de Lamb (1945): U 0 = Π H/(T senh 2Π h/L) H: amplitude da onda T: período da onda h: profundidade L: comprimento de onda Conhecendo U0 , pode calcular-se a velocidade de corte U * , para a onda dada por: U* = (8 γ. U02 /ΠT)1/4 γ: viscosidade cinemática da água Na área do depósito silto-argiloso do Douro (86m de profundidade), foram determinadas velocidades orbitais no fundo utilizando dados de uma bóia direccional (período observacional compreendido entre 1 de Julho de 1996 e 30 de Junho de 1999) (Vitorino et al., 2001). Estes autores verificaram que, no Verão, a velocidade orbital só em raras ocasiões excede os 10 cm/s sendo a correspondente velocidade de corte abaixo de 1 cm/s (em Agosto 92 % das observações correspondem a velocidades de corte da onda abaixo de 1 cm/s). A velocidade de corte crítica foi estimada em 0.7 cm/s (Vitorino et al., 2001). Jouanneau (1998), utilizando o ábaco de Castaing (1981), estimou o valor de velocidade de corte crítica de remobilização dos sedimentos deste depósito (maioritariamente siltosos com conteúdo baixo de argila) em cerca de 1 cm/s. Assim, ambas as estimativas apontam para um reduzido efeito da onda nos sedimentos da plataforma média em resultado das condições de baixa energia prevalecentes no Verão. 31 Capítulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Durante o Inverno, que corresponde a um período energético, a velocidade orbital no fundo associada com ondas de NW e SW frequentemente excede os 20 cm/s. A velocidade de corte correspondente é cerca de 1 cm/s, chegando em alguns casos a 2 cm/s. Em temporais (altura significativa da onda superior a 5m e períodos de 10s) a velocidade orbital é superior a 35 cm/s e a velocidade de corte crítica excede os 3.5 cm/s. Como se mostra no capitulo IV, estas condições críticas promovem a resuspensão dos sedimentos finos da plataforma e incrementam o transporte sedimentar (alimentam as camadas nefelóides de fundo), que se dá maioritariamente nestas condições. 32 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 5.Características da área continental adjacente 5.1. Zona costeira A costa a norte de Espinho, com orientação NNW-SSE, é recortada e raramente escarpada contrastando com o interior montanhoso. É formada por alternância de praias arenosas e arribas, onde os estuários apresentam desembocaduras estreitas e pouco profundas, com restingas arenosas enraizadas na margem sul. Os sedimentos das praias do Alto Minho são fundamentalmente formados por areias médias e grosseiras silicoclásticas, ocorrendo com frequência praias de cascalho (Alves, 1996). Na margem sul do Rio Minho, define-se uma zona de acumulação bem definida (Pinhal do Camarido), que se formou devido à refracção da onda em torno da ínsula de Caminha (Carvalho, 1988). Mais a norte, na Galiza, define-se uma “costa de rias”, fortemente sinuosa e profundamente entalhada, onde o mar invadiu as zonas deprimidas e os vales fluviais (Inman & Nordstrom, 1971; Dolan, 1975), penetrando 20 a 35 km para o interior. A região costeira encontra-se delimitada por afloramentos rochosos que constituem o prolongamento para a plataforma de relevos continentais. A linha de costa encontra-se em fase de recuo generalizado. Na zona dunar do pinhal do Camarido registaram-se, nalguns pontos, recuos de 200m entre 1949 e 1974, a que correspondem taxas médias de recuo de 8m/ano (Ferreira et al., 1989). Nas arribas talhadas nas dunas fósseis de Ofir, a erosão foi acentuada pelo rebentamento de caleiras que conduziam as águas pluviais de um hotel e torres de apartamentos, provocando abarracamentos que atingiram as fundações dos mesmos. A construção de estruturas de protecção (enrocamento e conjunto de esporões), para impedir a sua destruição pelo mar induziu a sul um processo de erosão acelerada (Carvalho et al., 1986; Granja, 1990). Em Espinho, os efeitos erosivos do mar e o registo de estragos vêm já desde o século passado. Entre 1885 e 1910 a linha de costa recuou 225m, correspondendo a uma taxa média de recuo de 9m/ano. A sul, entre 1947 e 1958, foram calculadas taxas de recuo de cerca de 8m/ano (Oliveira et al., 1982). 5.2. Bacias hidrográficas O Minho é uma região muito acidentada, de relevos vigorosos (os mais elevados, entre 500 e 700m), sobretudo na região NW, e com uma rede de drenagem de densidade elevada que disseca o relevo com os seus vales encaixados. Os principais rios (Minho, Âncora, Lima, Cávado, 33 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Ave e Douro) instalaram-se em zonas de fraqueza estrutural do soco, com orientações aproximadas ENE-WSW, responsáveis pelo abatimento cada vez mais pronunciado para Norte e pela ocorrência das rias da Galiza. O Douro é o único que corre encaixado em paredes graníticas escarpadas em todo o seu percurso. Do ponto de vista litológico, as rochas que dominam as bacias hidrográficas são de natureza granítica, na maioria hercínicas, e xisto grauváquica do Precâmbrico e Paleozóico (fig.II-13). Estas rochas são, respectivamente, pouco permeáveis e impermeáveis, estando cobertas por fraca cobertura vegetal e apresentando fortes declives. Figura II-13. Geologia das bacias hidrográficas dos rios NW Portugueses e da Galiza Ocidental (adaptado de Julivert et al., 1980, in Cascalho, 2000). A área drenada é extensa (cerca de 130 000 km2 ), ocupando em território português mais de 36 000 km2 . Em regime natural, os meses com pluviosidade mais elevada correspondem aos meses com débitos superiores. O rio mais importante que aflui a esta zona é o Douro, com 927 km de comprimento e com a bacia mais extensa da Península Ibérica (97 682 km2 ). O seu escoamento médio é, geralmente, 34 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ mais abundante de Novembro a Abril, podendo atingir os 17 000 m3 /s no seu troço terminal, diminuindo de Junho a Outubro para caudais, por vezes, abaixo dos 100m3 /s (Loureiro et al., 1986). A segunda bacia mais importante é a do rio Minho, com área de 17 081 km2 e cerca de 300 km de comprimento. O caudal instantâneo mais baixo registado entre 1973/74-1985/86 foi de 4 m3 /s, em Outubro de 1979 e o mais elevado, cerca de 4 900 m3 /s, em Fevereiro do mesmo ano (Ribeiro et al., 1988). As características das bacias hidrográficas dos rios minhotos estão apresentados na tabela II-6. Os rios que desaguam nas rias galegas de Vigo, Pontevedra, Arosa e Muros apresentam todos caudais médios anuais inferiores a 93m3 /s. O somatório dos caudais médios anuais destes rios são inferiores 18 vezes ao caudal médio do Douro e cerca de 8 vezes inferior ao do Minho. ≈ 500 NE-SW ≈ 520 ≈ 650 ≈ 410 NE-SW ENE-WSW NE-SW 927 94 129 46 180 19 300 19 000 1 000 2 438 4 898 - 64 / 8 165 5 / 35 8 / 1 169 3 / 546 39 / 2 810 - 409 506 16 - - 404 2 764 1 531 497 2 922 1 699 16 93 54 - - Barragens/ Capacidade (x106m3) 710 29 54 3.3 64 3.2 329 16 Cheias máximas (m3/s) 22 578 1 020 2 500 103 3 019 100 12 000 439 Escoam. médio anual 97 682 1 390 1 589 242 2 480 77 17 081 333 Área da bacia (km2) Caudal médio anual (m3/s) E-W NE-SW ENE-WSW ENE-WSW ENE-WSW ENE-WSW ENE-WSW ENE-WSW Comprimento (km) Direcção do percurso 1 700 1200 1 538 721 950 750 750 ≈ 500 (x106 m3 /a) Douro Ave Cávado Neiva Lima Âncora Minho Verdugo-Oitaben (Vigo) Lérez (Pontevedra) Umia (Arosa) Ulla (Arosa) Tambre (Muros) Altitude da nascente (m) Rios Rias Tabela II–6. Características das bacias hidrográficas dos rios minhotos (Loureiro et al., 1986; Ribeiro, et al., 1988) e rios galegos (Marqués, 1985). 5.2.1.Cheias As cheias são dos fenómenos mais importantes para o transporte e transferência rápida, de grandes volume de sedimentos continentais para a plataforma, gerando-se frequentemente vastas plumas túrbidas carregadas de material em suspensão que, por vezes, se estendem por vários quilómetros para o largo. Os rios minhotos estão situados numa região montanhosa, com formações rochosas predominantemente ígneas e com linhas de água com secção encaixada. Nos troços de montanha formam-se ondas de cheia com propagação rápida e zonas de inundação estreitas. A 35 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ jusante, estes rios correm em vales quaternários alargados e planos (com excepção do Douro), provocando inundações mais extensas (Rocha, 1990a). As grandes cheias ocorrem geralmente entre Novembro e Março, com especial incidência no mês de Janeiro (Feio et al., 1950). A distribuição das pequenas cheias é diferente: podem ocorrer mais tardiamente, até Abril e Maio, mas com frequência superior nos meses de Janeiro e Fevereiro. O tempo de recorrência é variável, sendo para o rio Douro o intervalo médio entre duas grandes cheias sucessivas de 3 a 4 anos. Contudo, podem decorrer mais de 19 anos sem que ocorram grandes cheias. As pequenas cheias são mais frequentes, em média 3 a 4 por ano para o rio Cávado e 2 a 3 para o Douro (Feio et al., 1950). Em períodos de cheias, o volume de água do rio Douro é habitualmente 770 vezes mais elevado que no regime de Verão, variando de 8 450 m3 /s (1969) a 19 000 m3 /s (1739), com aumento na altura de 17,5m (1936) a 25m (1909), em relação ao nível normal (Feio et al., 1950). As cheias do Douro ocorrem com irregularidade, podendo passar mais de 10 anos sem nenhuma se manifestar. As cheias formam-se e passam rapidamente, apresentando variações de caudal horárias muito grandes relativamente a outros rios cujo caudal de ponta se mantêm por vários dias. São provocadas maioritariamente por precipitações elevadas, mais intensas na costa e nas regiões montanhosas e menos intensas na Meseta. A forma e a litologia da bacia hidrográfica deste rio, e a inclinação do leito e dos seus afluentes, contribuem também para este fenómeno (Silva, 1990). No rio Minho a cheia mais importante ocorreu a 7 de Fevereiro de 1979, com um caudal máximo de 4 898 m3 /s (Rocha, 1990a), de acordo com as observações das estações hidrométricas da rede da DGRN (Direcção Geral de Recursos Naturais). No rio Lima, a cheia mais importante de que há registo ocorreu a 22 de Dezembro de 1909. A cheia de 24 de Fevereiro de 1980, comparativamente inferior, registou um caudal de 2 391 m3 /s (Ponte de Lima), correspondendo a um aumento da altura de 4,08m (Rocha, 1990a). 5.2.2. Influência das barragens nas cheias O controlo das cheias na bacia do rio Minho é praticamente inexistente, visto que a capacidade de armazenamento em Portugal é desprezível e em Espanha corresponde a cerca de 28% do escoamento médio anual (Rocha, 1990a). Contudo, este rio apresenta elevada densidade de aproveitamentos hidroeléctricos concentrados em Espanha (cerca de 1/502 km2 ), superior à do rio Douro (1/1526 km2 ) (Moura, 1990). 36 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ No sistema Cávado-Lima a situação é diferente. Todas as barragens permitem que as descargas sejam geridas pelo funcionamento de comportas. As três grandes barragens existentes no rio Lima armazenam cerca de 515 x106 m3 (Rocha, 1990a), enquanto que os oito aproveitamentos hidroeléctricos do rio Cávado armazenam um volume de água de cerca de 1169 x 106 m3 . No rio Ave a capacidade de armazenamento é muito pequena, correspondendo a cerca de 3% do escoamento médio anual (23,1x106 m3 ) (Rocha, 1990b). No rio Douro as grandes cheias são difíceis de prever e de regularizar. A maioria das barragens são a "fio-de-água", com as albufeiras praticamente sempre cheias, constituindo simples pontos de passagem quando o caudal aumenta. A titulo de exemplo, a albufeira da barragem de Crestuma, com a maior capacidade útil nacional, correspondendo a 19 milhões de m3 , encher-se-ia em apenas 30 minutos, se estivesse vazia no início de uma cheia como a que ocorreu em 1979, com um caudal de ponta de 10 500 m3 /s. Quando o caudal atinge os 12 000 m3 /s, o nível a jusante sobe até à cota de retenção normal da albufeira sendo a sua capacidade de retenção nula, o mesmo acontecendo no Pocinho, Carrapatelo, Régua e Valeira. Embora estas últimas não fiquem submersas, apresentam uma capacidade de retenção baixa, com pouco significado no controlo das cheias (Silva, 1990). Contudo, verifica-se diminuição das pontas máximas de cheias reduzindo, assim, a capacidade de transporte sedimentar efectiva. Nos rios internacionais (Minho, Lima e Douro) as barragens espanholas aprisionam as águas, estando a parte portuguesa dos rios muito dependentes dos caudais libertados por estas. 5.3.Estuários Como já se referiu, os estuários dos rios minhotos são estreitos e pouco profundos, com larguras médias na foz que variam de 2 km (rio Minho) a 100m no rio Ave (Oliveira, 1994). A profundidade média é baixa (1-5m), ocorrendo na zona de influência de marés deposição de areia e formação de numerosos bancos arenosos. 5.3.1.Sedimentos dos estuários dos rios Os sedimentos dos estuários dos rios minhotos são maioritariamente arenosos, com baixo conteúdo em silte e argilas. Apenas o rio Ave apresenta significativa percentagem de sedimentos lodosos (Tabela II-7); no rio Minho, as fracções cascalhenta e silto-argilosa são praticamente vestigiais, predominando os sedimentos arenosos; no rio Douro predominam os sedimentos grosseiros (cascalho arenoso e cascalho) (Oliveira, 1994). Segundo Alves (1996), os sedimentos dos estuários dos rios Minho e Lima correspondem essencialmente a areias 37 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ médias a grosseiras, sendo os materiais transportados pelo rio Lima mais grosseiros que os do rio Minho, correspondendo fundamentalmente a areão e areias grosseiras com raros seixos de pequenas dimensões. Tabela II-7. Conteúdos percentuais médios de cascalho, areia e lodo dos sedimentos de fundo dos estuários dos principais rios minhotos. O símbolo (*) refere-se aos resultados publicados por Mimoso & Ferreira (1995). Os restantes dados respeitam aos sedimentos colhidos na campanha Sediminho II/931 (Agosto de 1993). Rios Douro Ave Cávado Lima Minho Cascalho 39/44* 5 32 13 2 Areia 55/42* 57 54 71 95 Lodo 6/14* 38 14 16 3 Mimoso & Ferreira (1995) descreveu os sedimentos do leito do rio Douro como sendo sedimentos muito heterogéneos, compreendendo todos os tipos texturais desde cascalheiras a argilas. Na desembocadura (perto do cabedelo), onde o nível energético é mais elevado, apresenta areias médias a grosseiras. A análise granulométrica dos sedimentos desde a barragem de Crestuma à foz mostrou que: • a margem norte apresenta geralmente sedimentos com carácter mais fino (areias cascalhentas e siltes argilosos) do que a margem sul (cascalho arenoso). No troço final do rio Douro, a presença de meandros promove a deposição preferencial de siltes e argilas na zona côncava (zona com menor energia). Na área convexa, a que correspondem maiores velocidades da corrente, só existe normalmente cascalho arenoso; • a zona mais enriquecida em sedimentos finos encontra-se a 6 km da foz (Oliveira, 1994), correspondendo à zona de acumulação dos sedimentos em suspensão (ponto nodal) e ao limite superior da intrusão salina. Em relação aos sedimentos em suspensão, os valores mais elevados de concentração à superfície, em situação de Inverno com débito fluvial baixo, foram encontrados nos estuários dos rio Douro e Ave (da ordem dos 5-10 mg/l), sendo no rio Minho e Lima inferiores a 3mg/l e variando no Cávado entre 3 e 5mg/l (Oliveira, 1994). Estes valores podem ser considerados baixos, principalmente no caso do rio Douro. Comparando os rios Douro e Garone (França), ambos com caudais médios semelhantes (620 m3 /s e 710m3 /s, respectivamente), as 1 Campanha integrada no projecto PETDS (Pesquisa e Caracterização de Elementos Traçadores da Dinâmica Sedimentar) para colheita de sedimentos de fundo e em suspensão dos rios e estuários minhotos (JNICT nº PMCT-MAR-706/90). 38 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ concentrações de material em suspensão no estuário do Garone são da ordem dos 150-200mg/l (Castaing, 1981) aproximadamente 10 vezes superiores à s encontradas no Douro. 5.3.2.Sedimentos das rias galegas Em termos gerais, os sedimentos predominantes nas rias são os lodos e as areias lodosas com alto conteúdo em siltes e argilas (Rey Salgado, 1993); os sedimentos grosseiros dominam nas margens costeiras e nos leitos e desembocadura dos rios. A tendência geral para jusante, é de aumento do tamanho do grão, com clara predominância de lodos nas zonas interiores e médias, e de areias e cascalho nas partes médias e externas. Os sedimentos mais grosseiros apresentam conteúdo em carbonatos superior, diminuindo o seu conteúdo em função do tamanho do grão. A ria de Vigo é a que apresenta os sedimentos mais lodosos; a ria de Arosa, mais extensa, apresenta uma maior área coberta com areias e cascalhos, especialmente na parte externa. Em todas as rias a margem meridional é muito mais arenosa que a margem setentrional. Este dado é importante pois evidencia a existência de uma circulação actual de sedimentos no fundo das rias, no sentido dextrógiro (Rey Salgado, 1993). As rias de Muros-Noya e Arosa são as mais abertas ao oceano e as que possuem maior área coberta por cascalhos (Tabela II-8). Tabela II–8.Distribuição superficial das fácies texturais do fundo das rias (%) ( Rey Salgado, 1993). Rias Muros-Noya Arosa Pontevedra Vigo Cascalho 12 9 1 4 Areia 39 19 52 16 Lodo 30 42 27 67 Rocha 19 30 20 11 O conteúdo em matéria orgânica aumenta da entrada até ao limite interno e a sua distribuição é análoga à do tamanho do grão. Rey Salgado (1993) considera que a distribuição espacial das zonas com maior conteúdo em matéria orgânica está relacionada com a dinâmica das rias, de tal forma que a deposição da matéria orgânica tem lugar em zonas de menor energia, ficando limitadas principalmente ao interior e à s margens norte das rias. 39 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ 5.3.3.Correntes de maré A velocidade de propagação da onda de maré é afectada pela morfologia dos estuários. Quanto mais estreito e menos profundo o estuário for, mais a onda de maré dissipa a sua energia ao tocar o fundo. A maré nos rios minhotos tem grande amplitude, de carácter mesotidal (≈4.0, em marés vivas), próxima de transição para macrotidal, situação que já se verifica na costa da Galiza. Pode propagar-se até distâncias consideráveis, 40km no rio Minho e 20 km no rio Lima, devido principalmente ao declive suave do leito actual dos rios. No rio Douro a maré penetra até à barragem de Crestuma-Lever, a cerca de 21.6 km da foz. A maré provoca correntes intensas na foz, intensificadas pelo estreitamento provocado pelos "cabedelos". No rio Douro, a curva de maré é assimétrica, sendo a fase de enchente normalmente mais demorada do que a vazante; as correntes de vazante são mais intensas e frequentes à superfície e a " meia-água", enquanto que as de enchente o são junto ao fundo (Mimoso & Ferreira, 1995; Tabela II-9), o que demonstra que a fase de enchente de maré se inicia nas camadas inferiores, de onde se propaga para montante e para a superfície, enquanto que o escoamento das águas fluviais se faz predominantemente pelas camadas mais superficiais; em períodos de marés-vivas, quando as correntes de maré são mais significativas, toda a massa de água se move para montante ou para jusante. A inversão da maré não ocorre em simultâneo ao longo de toda a coluna de água, sendo frequentes os períodos em que a camada de fundo apresenta valores de enchente e à superfície já se verificam correntes de vazante; esta tendência é mais acentuada em períodos de águas-mortas, onde pode não ocorrer inversão de corrente à superfície (Mimoso & Ferreira, 1995). Tabela II–9. Valores de velocidade média da corrente para o estuário do rio Douro. Observações feitas em Setembro de 1994, com baixo caudal fluvial (Mimoso, & Ferreira, 1995). Prof. Veloc. média (cm/s) Est.1 Est.2 Enchente 0.5 cm sup. 7.0 3.7 meia-água 30.4 24.5 0.5 cm fundo 25.4 10.9 Vazante 0.5 cm sup. 52.0 62.4 meia-água 26.1 45.8 0.5 cm fundo 2.4 14.3 O rio Minho e Cávado apresentam comportamento diferente, visto que a fase de vazante é mais demorada que a de enchente. Este fenómeno é atribuível ao estado de assoreamento das barras destes rios, que impede o normal escoamento das águas na baixa-mar, prolongando as 40 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ fases finais da vazante e não permitindo que atinjam valores tão baixos quanto os verificados nos estuários dos rios Ave e Lima (IH., 1987). Na embocadura do rio Minho, a corrente de maré atinge em período estival velocidades próximas de 200 cm/s em vazante e de 150 cm/s durante a enchente. No rio Lima as velocidades são um pouco inferiores, situando-se nos 150 cm/s em vazante e 100 c m/s em enchente (Alves, 1996). Correntes com estas velocidades poderão transportar sedimentos finos para a plataforma e mesmo impedir a sua deposição no leito do rio (>30 cm/s). É durante os períodos de vazante e, principalmente, em "águas-vivas" que os sedimentos em suspensão são expulsos para o oceano (Castaing, 1981; Vale & Sundby, 1987). Nesses períodos a velocidade da corrente é mais elevada e a remobilização dos sedimentos de fundo mais importante. O estudo do transporte de sedimentos junto ao fundo e perto da foz do rio Douro (Mimoso & Ferreira, 1995) permitiu constatar que mais de 75 % do sedimento capturado em movimento corresponde a areia muito fina. Considerando um tamanho médio do grão de 100µm, a velocidade de corrente necessária para promover a sua remoção de um depósito sedimentar é cerca de 20 e 30 cm/s (McCave, 1984), enquanto que para se manter em suspensão só são necessárias correntes com velocidades superiores a 1cm/s (valor válido para grãos esféricos de quartzo). Contudo, as amostras recolhidas apresentam uma componente importante de micas (>30%) e de minerais pesados (> 11%) que exibem, respectivamente, hábito lamelar (transportadas preferencialmente em suspensão) e densidade superior ao quartzo; nestas circunstâncias, uma pequena percentagem de silte e argila no depósito sedimentar é suficiente para este se tornar coesivo (5-10%) sendo a velocidade necessária para a remobilização das partículas superior (Dyer, 1986). No entanto, os dados de correntes observadas e a análise do tipo de sedimentos de fundo, essencialmente arenosos e com baixo conteúdo em finos (<14%), permitem supor que, durante um ciclo de maré, as velocidades das correntes junto ao fundo são suficientes (>25 cm/s) para impedirem a deposição dos finos no estuário, tornando assim mais fácil, no ciclo seguinte, a remoção da areia fina depositada. Nos sedimentos transportados em suspensão, a estratificação do escoamento tem implicações no volume de sedimentos transportados e no sentido em que se processa. No Douro, as maiores velocidades ocorrem à superfície e indicam fluxo para jusante, embora não haja acréscimo proporcional no volume de sedimentos. Pelo contrário, os maiores níveis de transporte e os valores superiores de concentração estão associados à fase de enchente de maré, mesmo quando as velocidades de correntes são inferiores à superfície (Mimoso & Ferreira, 1995) . 41 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ Mimoso & Ferreira (1995) propuseram um modelo de circulação fechado para o material que se encontra em suspensão no rio Douro, estando o balanço sedimentar dependente do débito fluvial e da amplitude da maré: os sedimentos são transportados à superfície pelas correntes de vazante em direcção ao mar, onde poderão ser parcialmente capturados pelas correntes de enchente, regressarem ao estuário pelos níveis inferiores, depositados no ponto limite da maré (ponto nodal) e serem de novo remobilizados pelas correntes de vazante. Esta forma de circulação actua como armadilha sedimentar capaz de reter, retardar e promover a retenção dos sedimentos em suspensão transportados pelo rio em situações de débito fluvial baixo, ou seja, em períodos de Verão. Em períodos de Inverno, com débito fluvial superior e em períodos de águas vivas, este modelo não terá, concerteza, aplicabilidade. No rio Douro já foram registadas correntes de vazante superiores a 24 km/h, em períodos de cheias (Ribeiro et al., 1988). Actualmente, o material que sai dos rios em suspensão é constituído maioritariamente por areias finas a muito finas, silte e argila (Dias, 1987; Oliveira, 1994). Contudo, é nos períodos de grandes cheias que o transporte é mais significativo, tendo os rios capacidade de destruir parcialmente o "cabedelo" que se desenvolve na sua margem sul, por dinâmica litoral, como foi o caso das cheias do rio Douro do ano de 1996. 5.4.Abastecimento sedimentar à plataforma As barragens portuguesas existentes nos rios minhotos, apesar de parecer não terem grande significado no controlo das cheias, são responsáveis por uma redução drástica no volume de sedimentos que chegam ao litoral, com repercussões importantes na dinâmica costeira . No caso do rio Douro há uma redução de cerca de 86% na carga transportada junto ao fundo, essencialmente constituída por areias. Em regime natural este rio transportava 1.8x106 m3 /ano (2.2x106 ton./ano) de sedimentos arenosos. Estima-se que este valor tenha baixado para 0.25x106 m3 /ano, cerca de 0.3x106 ton./ano (Oliveira et al., 1982), após a construção da barragem de Crestuma-Lever. Bordalo e Sá (in Drago, 1995), com medições feitas no terreno, obteve um valor ainda inferior, 0.18x106 m3 /ano (0.2x106 ton./ano), representando uma redução de 90% em relação ao valor obtido por Oliveira et al., (1982), para o regime natural. É de referir que todos estes rios são sujeitos a dragagens periódicas para acesso aos portos (rios Lima e Douro) e à extracção de areias dos seus leitos e margens. A tí tulo de exemplo, à uma década atrás, no troço inferior do rio Douro (50 km) a extracção de areias e cascalho 42 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ atingia valores da ordem de 1.5x106 m3 /ano e as obras de dragagem da barra do Douro conduziu à extracção de 106 m3 (Oliveira et al., 1982). Dias (1987) foi o primeiro autor português a utilizar o método de Langbein & Schumm (1958) para calcular os presumíveis volumes de materiais transportados, junto ao fundo e em suspensão, por alguns dos rios mais importantes da Península Ibérica. Os resultados obtidos, embora muito sobrevalorizados, permitem ter uma primeira ideia da aptidão relativa destes rios como contribuintes de matéria particulada para a plataforma (Tabela II-10). Magalhães (1999), utilizando o mesmo método, mas diferentes processos de cálculo de alguns dos parâmetros utilizados, obteve estimativas, de modo geral, inferiores às de Dias (1987). Tabela II-10. Presumíveis valores de materiais transportados na totalidade, junto ao fundo e em suspensão, calculados pelo método de Langbein & Schumm (1958), para alguns dos rios mais importantes da Península Ibérica (Dias, 1987; Magalhães, 1999), após a construção das barragens. Dias (1987) Magalhães (1999) Transporte (x103 m3/ano) Sed. Total Fundo Suspensão Sed. Total Fundo Suspensão Douro 8538.5 760.4 7778.1 2248.7 329.2 1919.5 Minho 988.1 122.2 865.9 284.6 30.4 254.2 Lima 63.4 6.5 56.9 119.5 12.3 107.2 Cávado 83.2 8.5 74.7 81.9 8.4 73.5 Ave 89.0 8.6 80.4 140.9 12.6 128.3 Pela simples observação dos valores é fácil constatar a importância do rio Douro como fornecedor de sedimentos para a área estudada, com cerca de 80% da contribuição total, seguido do rio Minho (10%). 6.Síntese: • A localização da plataforma norte portuguesa em relação ao Atlântico norte condiciona as características hidrodinâmicas e a evolução das mesmas ao longo do ano. Esta plataforma encontra-se frequente mente exposta a ondas de grande altura e longos períodos de NW e W. Os temporais (ondulação superior a 6m e períodos superiores a 12s) ocorrem em média cerca de 3-9 vezes por ano, particularmente entre os meses de Dezembro a Abril. • A plataforma estudada corresponde a um ambiente especialmente sensível à direcção do vento: no Verão predominam os ventos de norte, responsáveis pelo upwelling; no Inverno, a ocorrência de ventos de S-SW, induz a ocorrência de fenómenos de downwelling. • Na plataforma interna e média, o mecanismo dominante de ressuspensão de sedimentos do fundo está associado com as ondas superficiais. 43 Capitulo II Enquadramento geral _______________________________________________________________________________________ • A corrente de maré tem capacidade de transporte efectiva, uma vez que a sua velocidade é geralmente superior a 10 cm/s, e promove os movimentos transversais na plataforma. Embora as observações efectuadas na plataforma tenham permitido constatar a existência de correntes moderadas sem capacidade de remobilização de partículas depositadas (efectuado maioritariamente pela onda), é lógico supor que nas imediações da desembocadura dos rios, a profundidades inferiores a 20-30m, estas correntes tenham só por si capacidade de transporte e também de remobilização de partículas finas. • Durante os eventos extremos (temporais) que ocorrem menos de 13 dias num ano (Vitorino et al., 2000) verifica-se incremento do fluxo geral de sedimentos. • A existência de vários rios, a alta pluviosidade da região continental adjacente e o relevo acidentado permitem pressupor uma plataforma continental bem fornecida em partículas terrígenas. Contudo o grau de assoreamento dos rios, as dragagens e a presença de barragens ao longo do seu curso, provocam actualmente uma redução significativa neste abastecimento. As cheias, que constituem os eventos mais importante para o transporte e transferência rápida de grandes volumes de sedimentos continentais para a plataforma continental, encontram-se em parte controladas pelas barragens, com diminuição das suas pontas máximas. • O conhecimento dos caudais médios dos rios da região (Tabela II-6) permite considerar o rio Douro como a maior fonte de sedimentos para a plataforma. • O predomínio de sedimentos arenosos e cascalhentos nos estuários dos rios minhotos, ao contrário do que se passa nas rias Galegas, mostra a existência de um meio extremamente energético, fortemente influenciado pelas marés, que não permite a deposição de sedimentos finos (lodo). • No rio Douro, em período estival e em vazante, foram registados escoamentos com velocidades superiores a 60 cm/s (Mimoso & Ferreira, 1995). Nos rios Lima e Minho as velocidades foram superiores a 150 cm/s (Alves, 1996). • O material que sai actualmente dos rios é maioritariamente formado por areias muito finas, siltes e argilas (Dias, 1987). 44 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ CAPITULO III Métodos 1. Introdução Para o estudo da dispersão das águas estuarinas na plataforma continental e da exportação de partículas finas para o bordo da plataforma, os marcadores usados foram a turbidez a salinidade e a temperatura das águas. Na plataforma e vertente continental norte portuguesa realizaram-se campanhas de mar com recolha de sedimentos em suspensão e de fundo, simultaneamente com recolha de dados hidrológicos, nefelométricos e correntométricos. Este estudo integrado das condições oceanográficas existentes (marés, ondas e correntes gerais provocadas pelo vento) que funcionam como agentes erosivos e transportadores, conjuntamente com a quantificação e qualificação do tipo de material que se encontra em suspensão na coluna de água, é essencial para a compreensão da dispersão da matéria partículada em suspensão (MPS), assim como para a identificação dos locais de deposição e erosão das partículas finas (siltes e argilas). Inicialmente foram realizadas três campanhas hidrológicas, entre os anos 1990 a 1992, essencialmente na plataforma interna e média, limitadas pela isóbata dos 100-110m. Estes cruzeiros, enquadradas pelo projecto luso-francês PLUTUR1 , foram promovidos pelo Instituto Hidrográfico a bordo dos navios hidrográficos NRP "Auriga", NRP " Andrómeda" e NRP "Almeida Carvalho". Desde 1996 até 1999, no âmbito do projecto OMEX II, realizaram-se mais três cruzeiros na mesma área, mas agora cobrindo toda a plataforma continental e bordo, atingindo-se profundidades superiores a 5000m. Estas campanhas, também promovidas pelo Instituto Hidrográfico, realizaram-se a bordo do NRP Almeida Carvalho (Tabela III-1). Foi efectuado um cruzeiro especifico para a colheita de amostras de sedimentos de fundo em Julho de 1998 (GAMINEX), a bordo do navio "Côte de la Manche", promovido pela Universidade de Bordeús I. Neste cruzeiro foram utilizados vários colhedores de sedimentos como box-corers (Reineck), onde foi preservado a interface água-sedimento (1cm) e corer de gravidade. 1 PLUTUR - Plumas Túrbidas, projecto apoiado pelo acordo de cooperação Luso-Francês em Oceanologia entre o Instituto Hidrográfico (IH), a Universidade de Bordeús I (UB) e o Museu Nacional de História Natural (MNHN). 45 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Tabela III- 1. Campanhas oceanográficas e descrição sucinta dos dados colhidos. Campanha Data PLAMIBEL2 I 13 a 19 Setembro 1990 PLAMIBEL II 11 a 20 Março 1991 PLAMIBEL III 14 a 19 Janeiro 1992 CORVET3-96 1 a 22 Novembro 1996 CLIMA-97 6 a 16 de Dezembro 1997 GAMINEX4 8 a 17 de Julho 1998 6 a 28 Maio 1999 OMEX -99 Navio NRP Auriga NRP Andrómeda NRP Almeida Carvalho NRP Almeida Carvalho NRP Almeida Carvalho Côte de la Manche NRP Almeida Carvalho Nº de estações 49 32 53 99 120 Dados colhidos Hidrológicos, nefelometria, sed. em suspensão Hidrológicos, nefelometria, sed. em suspensão Hidrológicos, nefelometria, sed. em suspensão e fundo, correntes Hidrológicos, nefelometria, sed. em suspensão e fundo, correntes Hidrológicos, nefelometria, sed. em suspensão, correntes 81 Sedimentos de fundo 111 Hidrológicos, nefelometria, sed. em suspensão, correntes 2. Trabalhos realizados a bordo Durante as campanhas foram efectuados: Ø perfis verticais com dois sistemas diferentes de CTD: Zullig, utilizado nos três primeiros cruzeiros, e General Oceanics Mk IIIC, usado nos restantes, ambos equipados com sensores de temperatura, de condutividade eléctrica e de pressão (profundidade), para conhecimento conjunto dos parâmetros hidrológicos da coluna de água; acoplados aos CTD foram utilizados os nefelómetros Zullig e Aquatracka III (Chelsea Instruments, Ltd) respectivamente, para estudo da repartição vertical da turbidez. O equipamento CTD Mk IIIC encontra-se equipado com uma "rosette" com 12 garrafas de PVC (fig. III-1), tipo Niskin (1.70 l), que permite m recolher águas à s profundidades pretendidas e um altímetro que nos dá a distância do equipamento ao fundo. Ø colheita e filtração de águas da superfície e do fundo, para obtenção da concentração da MPS, do conteúdo em carbono orgânico particulado (COP), da dimensão das partículas terrígenas em suspensão e dos conteúdos mineralógico (minerais das argilas) e biológico; Ø colheitas de sedimentos de fundo com colhedor Smith McIntyre e colhedor vertical MARK I; Ø obtenção de dados correntométricos na plataforma média (Vitorino et al, 2001). 2 Plataforma do Minho e Beira Litoral Corrente da Vertente 4 Galiza - Minho Exchange cruise 3 46 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ 2.1.Perfis hidrológicos realizados com a sonda Zullig É um aparelho com baixa resolução, específico para zonas estuarinas e costeiras, permitindo apenas identificar massas de água com características nitidamente diferentes, como as massas de água costeira e oceânica (Tabela III-2). Tabela III- 2. Características dos sensores do CTD Zullig. Sensores Gama de trabalho Exactidão Profundidade (m) Temperatura (ºC) 0-300 0-40 Condutividade 1-100 Nefelometria (ftu) 0-10 >10 ±0.05 ±0.5 ±0.1 Por isso, foi usado essencialmente na plataforma interna e média. Para zonas oceânicas, onde as diferenças de temperatura e salinidade são da ordem da milésima, este aparelho não é apropriado. A calibração do sensor externo de nefelometria foi efectuado utilizando uma solução coloidal de formazina (Oliveira, 1994). A curva de calibração é perfeitamente linear para concentrações inferiores a 4.8 ftu. A relação experimental com o peso seco das partículas em suspensão é próximo da equação seguinte (Bapst & Kubler, 1987): conc. (mg/l) = 1.7 conc. (ftu) 2.2.Perfis hidrológicos realizados com o CTD MKIIIc 2.2.1.Sensores As características dos sensores das unidades submersíveis estão resumidas na tabela III-3. Os valores da tabela III-3 indicam que este equipamento é muito mais fiável que o utilizado anteriormente e apto a ser usado tanto em águas costeiras como no oceano profundo. Tabela III- 3. Características dos sensores do CTD General Oceanics Mk IIIC do Instituto Hidrográfico (adapt. do Manual 00201 MARK IIIC/WOCE CTD UWV, 1994). Sensores Gama de trabalho Resolução Exactidão Pressão (dbar) Temperatura (ºC) Condutividade (mS cm-1 ) Nefelómetria (ftu) 0 a 7000 -3 a 32 0 a 70 0.2 a 750 0 a 10 0.0015% 0.0005 0.001 - 0.0014% ±0.002 ±0.002 ±0.2 ±0.01 A figura do aparelho (fig.III-1) mostra a posição dos diferentes sensores e do sensor externo de nefelómetria. 47 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Figura III-1. Fotografia do conjunto CTD+rosette. r = rosette com as 12 garrafas tipo Niskin; c = CTD; n = nefelómetro. Os sensores de condutividade, temperatura e pressão são calibrados anualmente por técnicos especialistas do Instituto Hidrográfico, no centro NATO de LaSpezia (Itália). O sensor externo de nefelometria é calibrado no Instituto Hidrográfico, segundo metodologia descrita no Apêndice A. 2.2.2.Tratamento dos dados de CTD Os dados do CTD são obtidos com o software de aquisição da General Oceanics, sendo possível a sua visualização gráfica ou numérica em tempo real. Estes dados são gravados em ficheiros binários (dados brutos) e posteriormente calibrados para obtenção de grandezas derivadas. O processamento dos dados provenientes de uma estação CTD pode ser sumariado nas fases seguintes, tendo como base recomendações da UNESCO (M. Marreiros, comunicação pessoal): • conversão dos ficheiros binários em ficheiros ASCII (tipo *.dat) com aplicação das constantes de calibração obtidas em laboratório para os diversos sensores (excepto nefelómetro); 48 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ • definição do desvio ou "offset" (valor diferente de zero, registado antes da colocação do equipamento na água) da pressão e eliminação de dados impossíveis; introdução de dados administrativos (por ex. nome do navio, horas, sonda); • cálculo da velocidade de descida em função do canal de pressão; aplicação de um filtro recursivo sobre os canais de temperatura e condutividade para correcção dos tempos de resposta dos sensores em função da velocidade de descida; • correcção do canal de condutividade para o efeito da pressão e temperatura ao longo da coluna de água; aplicação de constantes de calibração in situ; • aplicação das constantes de calibração do nefelómetro, volts em FTU (Apêndice A); • compactação dos dados de decibar a decibar; • calculo de grandezas derivadas, nomeadamente, densidade, frequência de Brunt-Vaisala quadrada (N2 ), temperatura potencial, anomalia do geopotêncial referida à superfície, velocidade do som e profundidade em metros. 2.3.Perfis de Nefelometria (Aquatracka III - Chelsea Instruments, Ltd) Foram utilizadas as medidas de dispersão da luz para localizar os níveis nefelóides na coluna de água. É obvio que, devido à influência de uma série de processos biogeoquímicos de pequena escala, as propriedades ópticas, que dependem da natureza da matéria em suspensão, são menos homogéneas que as características hidrológicas, que resultam de um longo processo de mistura. Contudo, as propriedades ópticas mostram normalmente tendências gerais que podem ser relacionados com os aspectos dinâmicos. A conversão dos dados ópticos para carga em suspensão não é linear, porque a dispersão da luz depende da natureza da matéria em suspensão. Porém, numa área geográfica limitada pode-se assumir que tipos similares de níveis nefelóides contenham o mesmo tipo de material em suspensão. A intensidade de luz dispersa dá-nos assim um índice do conteúdo relativo de partículas num determinado nível. O nefelómetro Aquatracka MK III utiliza um método radiométrico de banda dupla para efectuar as medições. A fonte de luz é uma lâmpada de Xenon com conteúdo elevado de luz ultravioleta (comprimento de onda 440nm) que é aplicada em duas vias (sinais) diferentes: um sinal de referência e um sinal de análise. O sinal de referência fornece a intensidade da fonte de luz (que enfraquece com o uso) e o segundo mede a intensidade da luz emitida pelas 49 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ partículas em análise. Ambos os sinais são aplicados ao circuito radiométrico que efectua a razão entre eles e os escalona logaritmicamente de modo a conseguir-se uma variação dinâmica extensa. O nefelómetro foi calibrado com uma solução standard de formazina (Apêndice A), sendo a turbidez expressa em Formazine turbidity units (FTU). Dada a natureza diversa, forma, tamanho e eficiência de difusão das partículas marinhas em suspensão afectar a intensidade de luz difundida, utilizou-se esta unidade de turbidez relativa (FTU), que embora semiquantitativa fornece uma assinatura reprodutível da variação do conteúdo da MPS (Durrieu de Madron et al., 1990). Tentou-se efectuar a calibração do nefelómetro em mg/l utilizando sedimentos finos da cobertura sedimentar da área em estudo (< 2 µm). Contudo, os resultados não foram utilizados devido à grande dificuldade de se obter uma solução homogénea com as argilas. Assim, efectuou-se, a intercalibração entre a turbidez (FTU) e a concentração da matéria em suspensão obtida com os filtros (pág. 61). 2.4.Colheita e filtração de água A colheita e filtração de água realizadas durante os cruzeiros PLAMIBEL, foram anteriormente descritas por Oliveira (1994). Sucintamente, a colheita de água às diferentes profundidades (até aos 130m) foi efectuada através de uma bomba submersível de sucção ligada por uma mangueira a uma "mesa de filtração". Esta mesa é composta por 3 contadores de água e igual número de válvulas reguladoras da pressão que permitem controlar o caudal de água que passa nos filtros. Duas saídas estão directamente ligadas aos suportes de filtração directa de água à pressão, com diâmetro de 47mm e 142mm, estando a outra livre para controlo da pressão e recolha de água para filtração posterior. Nos 3 cruzeiros realizados posteriormente utilizou-se igualmente um sistema de filtração directo à pressão mas ligado a uma bomba de trasfega, que recolhe a água directamente dos 5m. Neste sistema, estruturalmente semelhante ao usado nos cruzeiro anteriores, todos os elementos metálicos foram eliminados e substituídos por peças de PVC e Teflon, incluindo os contadores (digitais), para impedir a contaminação dos filtros. Os volumes de água recolhidos variaram em função dos filtros usados (Tabela III-4). A níveis intermédios e perto do fundo (aproximadamente 5m do fundo), a colheita de água foi feita usando as 12 garrafas de Niskin (volume de 1.70l) da "rosette" do CTD, sendo posteriormente filtradas a bordo em rampa de filtração a vácuo. Aqui os filtros usados foram só os de 47mm, com filtração de volumes semelhantes aos da superfície. 50 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Tabela III- 4. Tipo de filtros usados e volumes de água filtrados. Filtro Volumes filtrados (l) HA Millipore (47mm, 0.45µm) GFF Whatman (47mm, 0.7µm) SARTORIUS (142mm, 0.45µm) 2-5 8-10 >30 Para o estudo específico do nanoplâncton calcário, as amostras de água de superfície foram colhidas pelo método já descrito anteriormente, utilizando uma bomba de trasfega associada a um sistema de filtração directo à pressão. As restantes amostras (níveis intermédio e de fundo) foram colhidas com garrafas de Niskin associadas à "rosette" do CTD, sendo filtradas a bordo usando o sistema tradicional de rampa de filtração a vácuo. Os filtros utilizados para a realização desta análise foram os filtros HA da Millipore com porosidade 0.45µm e diâmetro 47mm. O volume de água filtrado variou de 1-5 l em função dos níveis amostrados. A lavagem dos filtros para remoção dos sais minerais foi realizada com água da torneira filtrada e não água destilada, subsaturada em carbonato de cálcio, para minimizar a destruição das pequenas placas calcárias. 2.5. Sedimentos de fundo Os sedimentos de fundo foram colhidos durante os cruzeiros CORVET/96 e GAMINEX/98. No primeiro cruzeiro foram utilizados o colhedor Smith McIntyre (SMT) e o colhedor vertical Mark I, constituído por 4 tubos verticais de 12cm. Este último permite obter amostras não perturbadas, mantendo intacta toda a zona superficial do sedimento (primeiros 10-12 cm). Nas amostras colhidas com o SMT, para preservar os primeiros centímetros do sedimento colhido, teve-se o cuidado de se realizar amostragens verticais (6-7cm) no seu interior, utilizando frascos de plástico e tubos de PVC. No cruzeiro GAMINEX foram utilizados vários tipos de colhedores (box-corers e corers de gravidade) mas neste estudo foram utilizadas as amostras colhidas com o Reineck (box-corer). Todas as amostras colhidas, foram seccionadas cm a cm e congeladas. 51 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ 3. Trabalho laboratorial 3.1.Sedimentos em suspensão 3.1.1 Concentração da MPS (mg/l): O método usado para determinação da concentração da MPS (mg/l) foi a filtração de um volume conhecido de água, em filtros pré-pesados, com determinação posterior do peso do material retido no filtro. Os filtros GF/F (Tabela II-4) foram pesados, depois de uma passagem de 1 hora por uma mufla (500ºC) para eliminar todos os restos de carbono orgânico, retirar a água e enrijar as fibras de vidro. Como modo de preservar os filtros a bordo e minimizar os riscos de aparecimento de fungos, estes foram secos a 40ºC numa estufa durante 24h e guardados. Após o cruzeiro, foram novamente secos por 12h (40ºC) e pesados, usando a mesma balança. As concentrações de MPS são dadas pela relação seguinte: [MPS] (mg/l) = (Pf-Pi) / Vf Pi = peso inicial do filtro, Pf = peso após filtração e Vf = volume de água filtrado 3.1.2.Carbono orgânico particulado na coluna de água Esta determinação foi feita nos filtros GF/F (Whatman) na Universidade de Bordéus I (França). Os filtros foram colocados em taças refractárias e impregnados com HCl (2N) para eliminar todos os traços de carbonatos; depois foram secos a 50ºC durante 12h para eliminar o cloro. A seguir foram reduzidos a cinzas num forno de indução de alta temperatura (1200ºC), tendo o CO2 libertado sido analisado por um detector de infravermelhos (LECO CS 125). Os valores encontrados foram, no geral, muito baixos. Assim, teve que se corrigir os valores encontrados com o valor de "branco" considerado. O valor de "branco" corresponde ao carbono orgânico que se encontra no filtro e nos reagentes da análise. Representa normalmente 20 a 30% do valor bruto de carbono. O valor de "branco" considerado foi de 40µgC/l, tendo sido retirado este valor a todos as concentrações de COP determinadas. 3.1.3. Análise dimensional - Microgranulometrias laser Esta análise compreendeu a retirada prévia do material que se encontrava sobre os filtros de 142mm (-5m) e de 47mm (perto do fundo) por via húmido, segundo metodologia descrita por Oliveira (1994), e a eliminação posterior da matéria orgânica com H2 O2 (20V). A fracção 52 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ terrígena assim obtida, após ter sido concentrada num pequeno volume por centrifugação e dispersa em ultra-sons, foi analisada num difractómetro laser (MALVERN 3600E, Mastersizer X) da Universidade de Bordéus I. A análise realizada na célula de leitura de pequeno volume e utilizando a lente de 100mm, permitiu obter as frequências do material com dimensões entre 0.5 e 188µm, ou seja, todo o material que normalmente se encontra em suspensão (areias finas, siltes e argilas). A determinação dos parâmetros granulométricos (média, desvio padrão, assimetria) foi feita através do método dos momentos, utilizando um programa para EXCEL, da Universidade de Bordéus I, gentilmente cedido pelo Doutor O. Weber, o qual permitiu obter também a moda principal e percentis 5, 50 e 95 da amostra. Além da moda principal da distribuição granulométrica definida como o diâmetro mais frequente de uma distribuição (Krumbein & Pettijohn, 1938), existem outros diâmetros, com frequência mais elevada que as das classes adjacentes, constituindo as modas locais ou secundárias. Tais distribuições são denominadas polimodais. O equipamento MALVERN com elevada precisão, e que permite uma análise da distribuição quase contínua, permitiu detectar essa polimodalidade. A moda foi detectada através da inspecção visual, com a identificação dos picos (ou modas) das curvas de distribuição granulométrica efectuadas para os cruzeiros CORVET96 e CLIMA97. 3.1.4. Composição da MPS A observação do material retido nos filtros foi feita utilizando quatro equipamentos diferentes: 1. Lupa binocular, com ampliação máxima de 250x, para um primeiro reconhecimento da composição da matéria retida nos filtros. Pretendeu-se identificar maioritariamente partículas terrígenas e organismos com carapaça ou corpo rígido (que resistiram ao processo de secagem do filtro), com dimensões superiores a 40-50µm. Foi assim possível estimar a proporção relativa entre componente orgânica e inorgânica (Apêndice B). Nesta razão considerou-se essencialmente a cor do filtro (cor castanha representa um filtro rico em material terrígeno; pelo contrário, com cor esbranquiçada ou esverdeado é rico em material biogénico) e a quantidade de material fino depositado. 2. Microscópio petrográfico (ampliação de 1250x), para reconhecimento e contagens de organismos fitoplanctónicos pertencentes ao nanoplâncton calcário - cocolitóforos. A 53 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ estimativa da abundância destes organismos foi usada como traçador de massas de água nas amostras colhidas durante os cruzeiros CORVET 96 e CLIMA97. O número de cocosferas e cocólitos das espécies presentes foi determinado por análise de uma área conhecida do filtro. A montagem de uma porção do filtro (quadrado de cerca de 1 cm2 ) numa lâmina de vidro foi feita utilizando um bálsamo (ENTELAN) que torna o filtro transparente. Verificou-se que era necessário que o filtro ficasse bem impregnado deste líquido para não ocorrer a rejeição do bálsamo pelo filtro, após a montagem. Para isso, é necessário esperar cerca de 30 minutos para total impregnação do filtro, antes de se colocar a lamela e proceder à libertação das bolhas gasosas retidas no líquido, por calor (placa eléctrica). Em cada filtro, a área de observação variou de 1.5 a 4 mm2 , dependendo da abundância de cocolitóforos, mas contaram-se por amostra pelo menos 300 cocólitos com dimensões superiores a 3µm. O número de cocosferas e cocólitos contados foi extrapolado para a amostra total, utilizando a fórmula seguinte: nº ind/litro = N.Af/Ac.V onde: N é o n.º de espécimes; Af é a área total do filtro (mm2); Ac é a área do filtro contada (mm2); V é o volume filtrado (l). Foram considerados indeterminados as cocosfera e cocólitos parcialmente destruídas que não possibilitavam uma identificação precisa. Subsequentemente observaram-se ao microscópio electrónico de varrimento (pelo menos 20 campos a 1500x) algumas amostras seleccionadas para o reconhecimento de espécies raras, aferição da sistemática e registo fotográfico. 3. Microscópio electrónico de varrimento (MEV). As análises ao microscópio electrónico de varrimento foram efectuadas com o JEOL JSM-5200 LV do Departamento de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Pequenos pedaços do filtro foram cortados, antes de qualquer outra análise, para descrever a natureza das partículas e reconhecer a relativa importância do material grosseiro e fino, agregados e material litogénico. Esta análise possibilitou ainda a identificação e contagem dos cocolitóforos nos filtros colhidos durante o cruzeiro CLIMA/97 e a observação e o registo fotográfico de amostras seleccionadas. 54 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Devido à dificuldade de observação das cocosferas utilizando o método anteriormente descrito e à difícil identificação das espécies de menor dimensão, optou-se por realizar as contagens de cocosferas e cocólitos ao microscópio electrónico de varrimento, no segundo lote de amostras (CLIMA 97). Este microscópio, mais versátil em termos de ampliações (50 - 200.000 x), permitiu minimizar os erros das contagens das cocosferas e cocólitos mais diminutos e reconhecer uma maior variedade de espécies de reduzidas dimensões. Uma porção do filtro (1cm2 ) foi montada numa base de cobre, usando fita adesiva dupla de carbono, sendo de seguida coberto por uma fina película de ouro e examinado ao microscópio de varrimento. Por amostra, foi feita a contagem numa área de cerca de 0.5mm2 , realizada directamente sobre 24 fotografias tiradas com uma ampliação de 750x. Em amostras onde a abundância era escassa fez-se a contagem directamente no microscópio electrónico (ampliação 1500x). Para reconhecimento e documentação (fotografias de pormenor) de espécies raras e de pequenas dimensões percorreu-se pelo menos 20 campos com uma ampliação de 1500x. 4. Difractometria de raios X, (DRX) para identificação, caracterização e quantificação dos minerais presentes em suspensão. Preparação dos filtros para a análise mineralógica (DRX) Os filtros não sofreram nenhum tratamento prévio para além da secagem normal à temperatura de 40ºC. Para a análise da composição mineralógica por DRX da amostra não orientada, colocaram-se os filtros directamente no porta-amostras. Efectuaram-se registos difractométricos entre os 2º e os 40º "2θ" (ângulo de difracção), com os quais se obtiveram resultados quali ta tivos e semi-quantitativos. O material que se encontrava sobre o filtro foi posteriormente raspado e suspenso em água destilada para a preparação de "agregados orientados" (onde se privilegia a orientação preferencial dos cristais essencialmente tabulares dos minerais argilosos segundo os planos basais). A análise posterior da mineralogia das argilas é idêntica à descrita seguidamente para os sedimentos de fundo. 3.2. Sedimentos de fundo A análise do primeiro cm foi usado para comparação composicional e granulométrica com os sedimentos em suspensão. Os métodos de análise usados compreenderam essencialmente: 55 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ análise dimensional utilizando a difractometria laser (Malvern 3600E), em amostras previamente desagregadas por ultra-sons; determinação do conteúdo em carbono orgânico, segundo o método de Strickland & Parson (1972) adaptado por Etcheber (1981), medido através do LECO CS-125; e difractometria de raios X (DRX). 3.2.1.Preparação das amostras de sedimento de fundo para a análise mineralógica (DRX) Para a preparação das amostras seguiu-se o procedimento utilizado no Departamento de Geociências, Universidade de Aveiro. Para obter as fracções <63µm e <2 µm procedeu-se ao fraccionamento granulométrico das amostras. A fracção <63µm (fracção fina) foi obtida por peneiração por via húmida (água destilada) da amostra total e depois seca em estufa à temperatura de 40ºC. Seguidamente, procedeu-se à obtenção da fracção <2µm (fracção argilosa) por sedimentação de acordo com a lei de Stokes. Uma parte (2 a 8 gramas) da fracção <63µm foi desagregada por ultra-sons numa suspensão em água destilada. A suspensão foi colocada em provetas de 100 ou 500 ml, consoante a toma (concentração sólidos/água inferior a 3%), e utilizando-se como altura de queda 10 ou 20 cm, respectivamente, para a extracção do separado inferior a 2µm. Nos casos em que a suspensão não estabilizava naturalmente foi usado como desfloculante o hexametafosfato de sódio (0.1N). Com este separado foram preparadas montagens de "agregados orientados", depositando um pouco desta suspensão com uma pipeta sobre uma lâmina de vidro, deixando depois secar à temperatura ambiente. Estas lâ minas foram tratadas com glicerol e submetidas a tratamento térmico de 300ºC e 500ºC. 3.2.2.Composição mineral por D.R.X. Para obtenção dos difractogramas utilizou-se o equipamento existente na Universidade de Aveiro, que consiste num conjunto PHILIPS, formado por gerador PW 1130/90, goniómetro PW 1050/70, controlador do difractómetro PW 1710 e registador PM 8203A, usando radiação KαCu (20mA, 30KV). A velocidade do goniómetro foi de 1º/min e a velocidade do papel de 1cm/min. Para proceder ao estudo da composição da fracção <63µm (amostra não orientada), retirou-se do material seco e desagregado por leve moagem em almofariz de ágata uma porção de cerca de 0.5g. Esta toma é montada com o mínimo de compressão na cavidade do porta amostras 56 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ padrão de alumínio, de base móvel, com o objectivo de não conferir ao material qualquer orientação cristalina preferencial. Nesta fracção efectuaram-se registos difractométricos entre os 2º e os 40º "2θ", para obtenção dos resultados qualitativos e semiquantitativos. Para a análise da variação espacial das presenças relativas dos minerais principais desta fracção (quartzo, feldspato potássico, plagioclase, calcite, dolomite, siderite, gesso, opala e filossilicatos), determinaram-se as áreas das respectivas reflexões mais características, com a adequada correcção dos fundos, considerando-se um fundo de altura média pré-determinada. Estas áreas foram igualmente corrigidas tendo em conta os poderes reflectores dos minerais identificados, para os quais foram considerados os valores apresentados na tabela III-5 (Rocha, 1993 e Rocha, comunicação pessoal). O estudo da composição mineral da fracção <2 µm foi efectuado sobre os agregados orientados. Foram efectuados registos difractométricos entre os 2º e os 15º "2θ", na forma natural, saturados com glicerol e por último submetidos a tratamento térmico a 300ºC e a 500ºC. Na análise semi-quantitativa dos minerais argilosos foram seguidos os critérios recomendados por Schultz (1964), Thorez (1976) e retomados por Rocha (1993) tendo-se procedido à identificação dos minerais principais e sua caracterização cristaloquímica (avaliação da cristalinidade). Tabela III- 5. Poderes reflectores adoptados (Rocha, 1993) Mineral d (Å) Quartzo Filossilicatos Feldspato potássico Plagioclase Calcite Dolomite Gesso Opala Zeólitos Halite Siderite Pirite Caulinite Ilite Esmectite Clorite 3.34 4.45 3.24 3.18 3.03 2.88 7.56 4.0 3.96 2.82 2.79 3.12 7 10 17 (glicerol) 14 (500º) 57 Poder reflector 2 0.2 1 1 1 1 1.5 0.5 0.8 1.5 1 1 1 0.5 4 0.75 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Para a quantificação dos minerais argilosos foram consideradas as áreas das reflexões (001) seguintes (Tabela III-5): - ilite, área do pico de 10Å na amostra natural; - esmectite a área do pico de 17Å na amostra glicolada; - clorite foi calculada a área do pico de 14ºÅ a 500º; - caulinite foi utilizado o pico a 7Å, da amostra natural, onde se retirou graficamente o pico da clorite (002). Tal como para os difractogramas da fracção <63µm, os fundos dos registos foram corrigidos em relação a um fundo de altura pré-determinada e as áreas referidas foram também corrigidas tendo em conta os poderes reflectores dos minerais identificados (Tabela III-5). A determinação da cristalinidade, ou seja, o grau de perfeição estrutural, é usada normalmente para reconhecer o metamorfismo de baixo grau dos xistos e ardósias (Frey, 1987). Contudo, pode ser utilizada para traçar possíveis áreas fontes e as principais linhas de transporte em sedimentos recentes (Petschick et. al., 1996). Neste estudo, foram utilizados os índices de cristalinidade da caulinite e da ilite. Para a avaliação da cristalinidade da caulinite, estimou-se a razão entre a largura a meia altura e a altura do pico (001) no agregado orientado natural; quanto maior o valor do índice, menor será a cristalinidade da caulinite. Para a análise da cristalinidade da ilite, é frequentemente utilizada a forma da sua reflexão basal (001), determinada no agregado orientado natural. Neste trabalho foi usado o índice de Kubler (1964)/Segonzac (1969), ou seja, a largura, medida a meia altura, da reflexão basal a 10 •; quanto maior o valor numérico do índice de Kubler/Segonzac menor será a cristalinidade da ilite. Uma ilite bem cristalizada apresenta a reflexão (001) relativamente estreita e simétrica, enquanto pelo contrário uma ilite desorganizada exibe reflexões irregulares e mais largas. Os valores deste índice podem ser combinados com o método de Esquevin (1969) para a análise da composição Al 2 O3 -FeO+MgO da camada octaédrica da ilite. Este autor, propôs um diagrama que permite a caracterização da ilite em três zonas (fig. III-2), conforme o grau de diagénese. Este tipo de representação dos dados cristaloquímicos é útil, por exemplo, para a análise de uma argila rica em ilite que sofreu uma evolução desde as condições diagenéticas para aquelas existentes na epizona; tanto a cristalinidade como a composição da ilite são tomadas em consideração. 58 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Largura do máximo (001) (Indice de Kubler) .5 Zona de diagénese .4 0.42 .3 Zona de anchimetamorfismo 0.25 .2 .1 Zona de metamorfismo ou epizona 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Biotite Biotite Phen- Moscovite + gite Moscovite Figura III-2.Gráfico de Esquevin (1969). 59 0.7 0.8 I(002)/I(001) Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ 5. Intercalibração entre a turbidez e a concentração de matéria em suspensão À superfície (-5m), a matéria particulada em suspensão foi amostrada utilizando o sistema de filtração directo à pressão. Perto do fundo (a cerca de 5m acima do fundo) e a níveis intermédios, foram utilizadas as garrafas hidrológicas. As concentrações foram obtidas através do peso dos filtros. Esta intercalibração permite interpretar as variações da turbidez ao longo dos perfis verticais obtidos com o nefelómetro Aquatracka III, acoplado com o CTD MARK II. Este nefelómetro, que mede a dispersão da luz ultravioleta (440nm) nas partículas de matéria em suspensão, usa um detector que não sofre interferência da luz solar. Permite obter valores de turbidez que variam entre 0 e 10 f.t.u (que correspondem a 0.980 - 2.8 volts). O seu uso e calibração seguiram as recomendações do fabricante (Apêndice A). Na figura III-3, a turbidez (f.t.u.) está representada em ordenadas e as concentrações (g/m3 ) em abcissas. Estes valores foram medidos para 3 campanhas oceanográficas, utilizando na primeira campanha (CORVET 96) 63 amostras de 45 estações de CTD e na segunda (CLIMA 97) 63 amostras de 47 estações de CTD, colhidas em níveis de alta turbidez (CNF e CNS). Na 3º campanha (OMEX 99) foram também efectuadas colheitas aos 30, 45 e 80m, normalmente em águas límpidas, com baixos valores de turbidez. Foram utilizados 132 amostras de 55 estações de CTD. Para cada campanha foram separadamente analisados os dados obtidos para cada uma das camadas nefelóides, de superfície (CNS) e de fundo (CNF). Em todos os cruzeiros existe uma boa correlação entre os conteúdos de MPS e os valores de turbidez para a CNF, com coeficientes de regressão (R2 ) de 0.90, 0.97 e 0.92, respectivamente. Para a CNS, a correlação é mais baixa (0.6 e 0.5), com excepção para o cruzeiro CORVET (R2 =0.889), que apresenta correlações similares em ambos os níveis. Nos níveis intermédios do cruzeiro OMEX II/99, a correlação entre FTU e g/m3 , é superior (R2 =0.72) comparativamente à encontrada na CNS, mas mais baixa do que para a CNF. Estes resultados podem ser explicado pelo tipo de partículas dominantes em cada um dos níveis (ver análise ao MEV). A CNS é geralmente menos túrbida e rica em partículas orgânicas grosseiras, com conteúdo elevado em água (e portanto com baixa intensidade de dispersão por unidade de peso da MPS), enquanto que a CNF é dominada por partículas finas inorgânicas, com alta intensidade de dispersão (McCave, 1983; Richardson & Gardner, 1985; Hall et al., 2000). Nos níveis intermédios, de águas mais limpas, os agregados de dimensões superiores já se tornam mais raros, aumentando assim a correlação. 60 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ 10.0 CORVET96 (Novembro) 9.0 Filtros -5m Filtros níveis intermédios Filtros fundo 8.0 Turb.(FTU) 7.0 CNF Y = 0.197 * X R2 = 0.898 n=23 6.0 5.0 CNS Y = 0.426 * X R2 = 0.889 n=23 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 0 2 4 6 8 10 Conc. 12 14 16 18 20 (g/m3) 10.0 CLIMA97 (Decembro) 9.0 8.0 7.0 Turb.(FTU) 6.0 CNF Y = 0 .5 70 * X R 2 = 0 .97 3 n= 4 5 5.0 4.0 3.0 CNS Y = 0.273 * X R 2 = 0.50 n= 44 2.0 1.0 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 C onc. (g/m 3) 2.0 Turb.(FTU) OMEXII/99 (Maio) CNF Y = 0.308 * X 2 R = 0.92 n= 44 1.0 CNS Y = 0.097 * X R2 = 0.60 n=44 CN I Y = 0.066 * X R2 = 0.72 n=41 0.0 0 2 4 6 3 Conc. (g/m ) Figura III- 3. Relação entre a turbidez (FTU) e o conteúdo em MPS (g/m3) para os cruzeiros CORVET 96 (Novembro 1996), CLIMA 97 (Dezembro 1997) e OMEX II/99 (Maio 1997). CNS= camada nefelóide de superfície; CNF= camada nefelóide de fundo; n= nº de amostras; R2=correlação; Y= turbidez (FTU); X=Concentração (g/m3). 61 Capitulo III Métodos _______________________________________________________________________________________ Segundo Kate (1996), 98% das partículas que o nefelómetro detecta são inferiores a 2 µm. Hall et al. (1999), comparando perfis verticais obtidos por um nefelómetro e por umtransmissómetro, concluíram que as diferenças entre os dois sinais dão informações sobre a população das partículas. O transmissómetro mostra um excesso de carga de partículas nos primeiros 150m da coluna de água em relação ao nefelómetro, o que poderá estar directamente relacionado com o conteúdo em carbono orgânico. A figura III-3, mostra que o declive das rectas FTU-concentração varia conforme as diferentes épocas do ano. Esta variação mais evidente na CNS (com a redução do ângulo do declive das rectas, do cruzeiro de Novembro ao cruzeiro realizado em Maio), poderá também estar relacionada com o tamanho das partículas e com a produção biológica sazonal. No cruzeiro de Novembro, o ângulo de declive superior está possivelmente relacionado com a abundância de partículas terrígenas e com o facto dos restos biogénicos serem constituídos maioritariamente por pequenos cocolitóforos. Em Dezembro, o conteúdo biogénico aumentou ligeiramente (ver conteúdo em COP), com partículas de maiores dimensões. Em Maio, devido ao aumento da produtividade biológica, as partículas biogénicas de dimensões superiores tornamse abundantes, originando a redução do ângulo de declive da recta. 62 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ CAPITULO IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa É actualmente aceite que a estrutura hidrológica (temperatura e salinidade) das águas da plataforma continental tem um papel fundamental na dispersão e manutenção da matéria particulada em suspensão (MPS), tanto a de origem continental (partículas minerais, contaminantes, nutrientes, matéria orgânica), como a de produção biológica (Drake, 1971; McCave, 1975, 1979; Castaing, 1981; Nittrouer, 1994). Assim, a realização de campanhas conjuntas onde se aliam estas duas componentes, hidrológica e sedimentológica, é essencial para a compreensão desta problemática. Na plataforma portuguesa só muito recentemente se começaram a realizar campanhas oceanográficas em que se associou a componente hidrológica com o estudo da distribuição espaço-temporal da MPS. Os primeiros cruzeiros foram realizados no inicio da década de 90 (PLAMIBEL e PLUTUR) e tiveram como objectivo o estudo das plumas dos rios minhotos (Oliveira et al., 1994, 1995; Oliveira, 1994) e dos rios Tejo e Sado (Garcia, 1997; Jouanneau et al., 1998), compreendendo essencialmente a plataforma interna e média dos sectores em estudo. Actualmente este estudo alargou-se a outros domínios, nomeadamente mais profundos e a massas de água específicas, como a Veia de Água do Mediterrâneo (Freitas et al., 1998). Neste capí tulo apresentam-se os resultados obtidos em seis campanhas oceanográficas (Tabela IV-1). Os resultados obtidos durante as campanhas PLAMIBEL (Oliveira, 1994) são re-interpretados para se obter uma visão mais alargada e plurianual dos processos de dispersão da MPS que ocorrem na plataforma e vertente continental NW Portuguesa. Tabela IV- 1. Campanhas oceanográficas realizadas entre 1990 e 1999, na plataforma NW portuguesa pelo Instituto Hidrográfico. Campanhas Datas PLAMIBEL I PLAMIBEL II PLAMIBEL III CORVET 96 CLIMA 97 OMEX II/99 13-19 Setembro 1990 11-20 Março 1991 14-19 Janeiro 1992 1-22 Novembro 1996 6-16 Dezembro 1997 6-28 Maio 1999 63 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1. Campanhas oceanográficas 1.1.Campanha PLAMIBEL I (Verão, 1990) Neste cruzeiro, que decorreu no período de 13 a 19 de Setembro de 1990, foram ocupadas 49 estações hidrológicas, cobrindo parte da plataforma interna e média da região em estudo (fig. IV-1). 42ºN ho in M S1 Lima S4 Cávado 41º30'N Ave Douro 9ºW 41ºN Figura IV- 1. Mapa das estações hidrológicas ocupadas durante o cruzeiro PLAMIBEL I e localização dos perfis referidos no texto. 1.1.1. Dados hidrológicos No Verão de 1990, os débitos fluviais foram muito baixos, tendo os caudais mínimos anuais (<130 m3 /s para o Douro) sido registados nos meses precedentes ao cruzeiro (Julho e Agosto), (Fig.lV-2). A média mensal para o mês de Setembro do caudal dos rios Minho, Lima, Cávado e Douro foi respectivamente de 34,4 m3 /s, 8,12 m3 /s, 17,71 m3 /s e 151m3 /s. 64 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 500 Caudais médios diários (m3/s) 450 Douro (Est. Crestuma-Lever) Minho (Est. Foz do Mouro) Cavado (Est. Barcelos) Lima (Est. Pt.Lima) 400 350 300 Cruzeiro 250 200 150 100 50 14-09-1990 30-08-1990 15-08-1990 31-07-1990 16-07-1990 01-07-1990 0 Figura IV- 2. Caudais dos principais rios minhotos, para o período que procedeu a campanha PLAMIBEL I e para a semana do cruzeiro (fonte: CPPE e INAG). O cruzeiro foi realizado num período de marés vivas, tendo a amplitude de maré variado entre 1,4m e 2,9m. 1.1.2. Dados climáticos Esta campanha decorreu em condições de bom tempo. Observações efectuadas a bordo permitiram constatar que a ondulação foi de W a SW inferior a 1m nos primeiros 4 dias, passando nos últimos 3 dias para ondas de W com altura ligeiramente superior a 1m. Na primeira parte do cruzeiro (13-16 Setembro), o vento soprou fraco de NNE-NNW, enquanto que na segunda parte predominaram os ventos de Este. 1.1.3.Diagramas TS de superfície Durante o cruzeiro PLAMIBEL I na plataforma continental estavam presentes à superfície duas massas de água (fig. IV-3): I. uma massa de água quente (T>18.5ºC) e menos salina (S<34.7ºC) resultante da mistura das águas dos rios (principalmente do Douro e Lima) com a oceânica ; II. uma massa de água superficial quente (16.5<T<19ºC) e mais salina que a anterior (S>35), que cobria o resto da plataforma. A.4. Diagrama TS de fundo Junto ao fundo, a segunda massa de água superficial só ocorre em 2 estações menos profundas, apresentando a maioria das estações uma nova massa de água tipicamente oceânica 65 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ com salinidades sempre superiores a 35.5 e temperaturas mais baixas, que variam entre 15.0 e 12.9 ºC (fig.IV-3). A 20.0 19.0 I Temperatura (ºC) 18.0 42ºN ll 17.0 16.0 15.0 14.0 41ºN 13.0 32.0 B 33.0 9ºW 34.0 Salinidade 35.0 36.0 20.0 19.0 Temperatura (ºC) 18.0 ll 42ºN 17.0 16.0 15.0 III 14.0 41ºN 9ºW 13.0 32.0 33.0 34.0 Salinidade 35.0 36.0 Figura IV- 3. Diagramas TS de superfície (A) e fundo (B), cruzeiro PLAMIBEL I (Setembro 1990). I,II e III designam as diferentes massas de água descritas no texto. 1.1.5. Gradiente de salinidade de superfície A distribuição horizontal da salinidade (fig.IV-4) mostra um gradiente pouco pronunciado, com valores de salinidade inferiores a 34,7 perto da desembocadura dos rios Minho, Lima e Douro e valores máximos de 35,8, na plataforma média (isóbata dos 100m). 66 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 42ºN Salinidade de superficie inh M 35.8 35.8 35.8 35.8 35.8 34.5 35.9 35.7 35.3 35.5 35.2 34.835.4 35.4 34.8 35.734.634.8 34.7 34.6 35.6 35.7 o Lima 35.7 35.5 35.0 35.8 35.6 Cávado 41º30'N 35.4 35.6 35.6 Ave 35.5 35.7 35.2 35.1 34.6 34.7 35.5 33.8 Douro 41ºN 35.4 35.6 35.7 35.7 35.8 9ºW Figura IV- 4. Distribuição horizontal da salinidade à superfície (Setembro 1990). 1.1.6. Perfis E-W de salinidade Os perfis E-W de salinidade mostram que, durante este cruzeiro, existia uma estratificação salina lenticular, limitada aos primeiros metros da coluna de água (6-7m), em relação com as águas fluviais. Como as estações não foram efectuadas todas no mesmo estado da maré, a que acresce o fraco débito fluvial, nem sempre os valores de salinidade mais baixa (relacionados com o ciclo de maré anterior) se encontram na estação mais perto da costa (Fig.IV-5). Figura IV-5. Salinidade observada na secção 1 (Setembro 1990). 67 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.1.7. Gradiente de temperatura de superfície Em Setembro de 1990, a temperatura das águas superficiais era elevada, com valor médio de 18ºC, variando de 16,9ºC, na plataforma média ao largo do rio Minho a 18,8ºC nas proximidades do rio Douro (fig.IV-6). 42ºN Temperatura de superficie inh M 16.9 17.0 18.3 17.2 17.9 18.8 15.8 17.5 17.9 17.6 17.4 18.917.4 18.4 18.6 17.717.8 17.9 18.1 18.6 17.5 18.0 o Lima 18.0 18.4 18.6 18.1 18.0 Cávado 41º30'N 18.8 18.7 17.7 18.2 Ave 17.7 18.8 18.7 41ºN 18.7 18.6 18.2 18.0 17.4 18.4 Douro 18.3 18.3 18.5 9ºW Figura IV- 6. Distribuição horizontal da temperatura à superfície (Setembro 1990). 1.1.8. Perfis E-W de temperatura A coluna de água apresentava considerável estratificação térmica (4ºC em 50m), encontrandose as isotérmicas praticamente horizontais. As temperaturas variaram entre os 18ºC à superfície e os 13ºC aos 75m de profundidade. 1.1.9. Gradientes de turbidez de superfície e de fundo Os valores de turbidez à superfície e no fundo eram da mesma ordem de grandeza, encontrando-se os valores mais elevados na proximidade dos rios Lima, Cávado, Ave e Douro (fig. IV-7). À superfície, as linhas dos 3 e 2 f.t.u. encontravam-se mais afastadas da costa, indicando nitidamente haver uma dispersão maior das partículas à superfície do que no fundo. 68 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 42ºN 42ºN Turbidez de superficie Turbidez de fundo M in ho M 1.8 1.70.3 3.2 1.4 5.3 3.3 0.02.1 2.8 1.6 0.4 1.8 1.0 1.6 1.2 1.01.0 0.9 0.6 2.9 2.1 0.5 Lima 1.1 0.0 1.5 0.0 0.3 0.0 o 1.9 0.91.0 1.7 0.5 inh 4.1 3.6 1.5 3.2 0.7 Lima 0.9 0.6 1.2 0.9 1.9 0.8 1.8 1.5 2.7 4.1 1.5 3.7 1.8 0.5 1.4 3.0 Cávado 41º30'N Cávado 41º30'N 1.9 2.3 2.9 Ave 1.5 5.9 1.1 1.5 2.8 3.2 41ºN 2.9 1.7 1.4 1.8 1.4 3.2 7.4 3.2 3.5 3.8 Douro 2.9 1.8 Ave 3.8 1.9 8.6 1.5 2.6 3.2 Douro 41ºN 9ºW 1.5 1.3 1.7 0.7 1.6 9ºW Figura IV- 7. Distribuição da turbidez à superfície e junto ao fundo, para o cruzeiro PLAMIBEL I. Na plataforma média ocorrem pontualmente valores superiores a 2 f.t.u. Estes valores, dificilmente explicáveis se considerarmos apenas a localização das estações a que respeitam, poderão ser interpretados tendo em conta a percentagem de carbono orgânico do material colhido (próximo capítulo). As plumas túrbidas dos rios localizavam-se, aproximadamente, em frente à desembocadura destes. 1.1.10. Perfis E-W de Turbidez Na proximidade da costa, a cerca de 600m, a coluna de água encontrava-se muito homogénea, com as isolinhas praticamente verticais. A partir dos 2-4km começava-se a diferenciar uma CNS e uma CNF, separadas por vezes por níveis intermédios com turbidez superior a 2 f.t.u. (Fig. IV-8). Em varias secções os valores de turbidez registados na CNS e na CNF eram mais elevados na plataforma média a externa do que na proximidade dos rios. Segundo Oliveira (1995), estes valores mais elevados encontram-se, provavelmente, relacionados com o enriquecimento em partículas biogénicas da CNS e a resuspensão local de sedimentos finos do fundo que vão fornecer a CNF. 69 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ Figura IV-8. Nefelometria observada na secção 4 (Setembro 1990). 1.1.11.Interpretação das condições hidrológicas e de circulação Este cruzeiro realizou-se no final do verão, com ventos predominantes de Este, não se tendo detectado a ocorrência de upwelling. Foi precedido por uma situação de caudais fluviais baixos, sendo a plataforma continental pouco perturbada por fluxos de origem continental. As águas superficiais da plataforma apresentavam temperaturas elevadas (T>17ºC), com aquecimento solar da camada superficial que afectou os primeiros 10-20m da coluna de água. As águas dos estuários apresentavam temperaturas superiores a 18ºC. Os valores mais baixos de salinidade encontra va-se associados com os rios Douro e Lima. A turbidez era pouco elevada. Contudo, registaram-se alguns valores altos de turbidez na plataforma média, à superfície, relacionados possivelmente com o aumento da componente orgânica da MPS. No fundo, a turbidez era mais elevada perto da desembocadura dos rios. Foi observada uma maior dispersão das partículas à superfície do que no fundo. 70 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa 1.2. Campanha CORVET (Outono, 1996) Neste cruzeiro foram ocupadas 94 estações, distribuídas pela plataforma continental Oeste Portuguesa. Na 1º parte do cruzeiro, que decorreu entre 2 e 9 de Novembro, foi realizado um estudo regional, com três secções longas (fig.IV-9): uma, de direcção N-S ao longo do meridiano 12ºW, com 10 estações; e duas perpendiculares à batimetria, a primeira entre o cabo de S. Vicente e o Banco de Gorringe (19 estações) e a segunda ao longo do meridiano 41º30' (11 estações). Na 2ª parte do cruzeiro (17-22 de Novembro) foi conduzido um estudo local na região a norte do paralelo 41ºN, na qual se ocuparam cerca de 54 estações distribuídas por 7 secções (Fig. V-21). Esta parte do cruzeiro foi conduzida de norte para sul, tendo sido interrompida por um período de temporal de 2 dias (19-20 de Novembro), que alterou as condições oceanográficas prevalecentes. -12 42 -11 -10 -9 -8 42ºN Cruzeiro CORVET96 (2º parte) 3 43 42 41 S1 3 7 3 63 53 4 Póvoa 39 do Varzim Montanha de Vigo S2 Li ma S3 41 S4 S5 2 28 0 Canhão da Nazaré Lisboa 23 21 37 1 16 Douro 9º00' W 41ºN 200 Oceano 38 S7 10 0m 39 25 10km S6 PORTUGAL 40 2 00 m Atlantico 41º30'N 6 4 1 8 14 36 Figura IV-9. Mapa das estações hidrológicas ocupadas durante o cruzeiro CORVET96; 1º parte com 40 estações distribuídas por 3 secções longas e 2º parte com 54 estações localizadas na região em estudo. 71 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa 1.2.1. Dados hidrológicos No inicio do Outono de 1996, os caudais fluviais eram baixos, reflexo de quatro anos de seca e de um Verão quente e seco. Contudo, durante o decorrer do cruzeiro (2ª parte), ocorreram variações significativas do débito fluvial dos rios, devido às condições meteorológicas prevalecentes. Os rios Douro e Minho foram os que apresentaram variações mais significativas, com valores de caudal de cerca de 99 m3 /s e 131m3 /s, no inicio, passando para 756 m3 /s (Est. Crestuma-Lever) e 934 m3 /s (Est. Foz do Mouro), no final do cruzeiro. Durante este período, os rios Lima e Cávado, com maior controlo das barragens, apresentaram poucas variações, mantendo os caudais baixos. Para estes rios, os valores de caudal médio foram de 22m3 /s (Est. Touvedo) e 42 m3 /s (Est. Caniçada), respectivamente (Fig. lV-10). Caudais médios diários (m3/s) 1000 900 Lima(Est. Touvedo) Minho(Est. Foz do Mouro) 800 700 Cavado(Est.Caniçada) Douro(Est.Crestuma) 600 Cruzeiro 500 400 300 200 100 21-11-1996 16-11-1996 11-11-1996 06-11-1996 01-11-1996 0 Figura IV-10. Caudais dos principais rios minhotos, para o período anterior ao cruzeiro e período da campanha CORVET 96 (fonte: CPPE). A segunda parte do cruzeiro foi iniciada em período de marés mortas (3 primeiros dias), tendo sido maioritariamente realizada em marés vivas (9-16 de Novembro), com diferença máxima de altura entre maré cheia e vazia de 2,8m (11 de Novembro, Lua Nova). 1.2.2. Dados climáticos O cruzeiro desenrolou-se com tempo instável, com a passagem de várias depressões a norte da Península Ibérica. Estas depressões, vindas de Oeste, provocaram mau tempo, com ondulação superior a 4m, ventos fortes e precipitações elevadas. Contudo, o anticiclone dos Açores persistiu a latitudes altas até à primeira semana de Novembro, prevalecendo, até essa altura, as condições de upwelling, com ventos de norte. 72 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa O primeiro temporal ocorreu a 11 de Novembro, quando uma baixa pressão passou acima da Península Ibérica e o segundo uma semana depois, a 19 de Novembro, quando um núcleo de baixas pressões se movia através do Golfe da Biscaia. Em ambos se registaram alturas significativas de ondas superiores a 6m e altura da onda máxima acima dos 10m. O período médio foi superior a 14s e 12 s, respectivamente (Vitorino, 1998). O vento era forte de SW (velocidade superior a 10 m/s), promovendo um regime de downwelling na plataforma norte portuguesa. Nos restantes dias do cruzeiro, a altura da onda variou entre 1,5-3m de NNWNW com vento de NW, soprando por vezes forte de SW. 1.2.3. Diagrama TS de superfície Na área em estudo estavam presentes à superfície três massas de água (Fig. IV-11): I. uma massa de água estuarina fria (T<14ºC) e menos salina (S<32), representada apenas por uma estação, feita após o temporal de 19 de Novembro. Localizava-se a norte da desembocadura do rio Douro; II. uma massa de água costeira fria (13,7ºC<T<14,2ºC), mais salgada (34,8<S<35,5), localizada, antes do temporal de 19 de Novembro, na plataforma interna e média. Depois do temporal, limitava-se à plataforma interna. III. uma massa de água com características marinhas (S>35,5) e com temperaturas variáveis (13,7ºC<T<16ºC), que ocupava quase toda a plataforma, após o temporal . 1.2.4. Diagrama TS de fundo No fundo observava-se também três massas de água: IV. uma massa de água costeira que apresenta temperatura baixa (13,5-14ºC) e salinidade inferior a 35,7 V. água central do Atlântico Norte, ramo subtropical (T>13ºC), que cobre o resto da plataforma; VI. massa de água do bordo da plataforma, mais fria, que incorpora Água Central do Atlântico Norte, modificada devido à interacção com outras massas de água. 73 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa 16.0 42º N Temperatura (ºC) 15.5 15.0 III 14.5 14.0 II I 41º N 13.5 13.0 31.0 9º W 32.0 33.0 34.0 Salinidade 35.0 36.0 37.0 16.0 15.5 42º N Temperatura (ºC) 15.0 CW 14.5 IV 14.0 13.5 V 13.0 12.5 12.0 VI 11.5 41º N 9º W 11.0 34.0 34.5 35.0 35.5 Salinidade 36.0 36.5 Figura IV-11. Diagramas TS para as águas superficiais (5m) e perto do fundo, para o cruzeiro CORVET96. Na fig. B, esta representada a linha de TS da água Central do Atlântico Norte (CW). I,II,III, IV, V e VI representam as massas de água referidas no texto. 1.2.5. Gradiente de salinidade de superfície Esta campanha de mar foi interrompida por um temporal (19 de Novembro) que alterou completamente as condições oceanográficas prevalecentes e permitiu realizar a mesma secção em situação contrastada (secção 4 e 5). Assim, o mapa de distribuição da salinidade apresenta uma estrutura salina complexa e uma descontinuidade provocada por este episódio mais energético (fig. IV-12). 74 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa Antes do temporal prevalecia a situação de upwelling, com as plumas dos rios a expandirem-se pela plataforma média. Os valores mais baixos de salinidade estavam relacionados com a desembocadura do rio Minho. De salientar, nas secção 3 e 4, os baixos valores de salinidade (S<35,5) encontrados sobre a plataforma média, os quais poderão ter origem no estuário do rio Douro. Com o temporal, passou-se para uma situação de downwelling, provocada pelos ventos fortes de SW que empurraram a água superficial para a costa. As ondas com alturas médias superiores a 6m promoveram a mistura e homogeneização da coluna de água. As duas secções realizadas apenas permitiram a identificação da pluma do Douro, muito restringida à plataforma interna e a norte da desembocadura deste rio. As águas oceânicas, com valores de salinidade muito homogéneos, ocupavam praticamente toda a plataforma. Salinidade de superfície 36.0 35.7 35.7 35.9 35.8 35.8 35.6 35.3 35.4 34.9 35.6 35.5 35.5 Lim a 35.6 Temporal 11 Nov. 35.5 35.3 35.9 35.7 35.4 35.8 35.835.8 35.5 35.1 35.5 35.7 35.5 35.6 35.7 35.0 4 41º30'N 0 10km 35.9 35.9 35.835.5 35.6 35.7 35.6 35.6 35.635.5 35.7 35.735.6 35.6 31.8 Douro 100m 9º00'W Figura IV-12. Distribuição horizontal da salinidade à superfície. Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. 1.2.6. Perfis E-W de salinidade Antes do temporal, a secção 1 revela a existência de uma pluma superficial dessalinizada do rio Minho, com uma extensão de cerca de 18 km e uma profundidade que varia entre os 7m (junto à costa) e os 36m, ou seja, existia uma estrutura halina típica, com salinidades mais baixas perto da desembocadura do rio, aumentando para o largo (Fig. IV-25). Contudo, tal 75 Cruzeiro CORVET 96 Salinidade Novembro 96 0 0 35.8 35.9 35.8 -200 35.7 -400 -400 35.8 35.9 36.0 -600 Depois do temporal 0 35.9 35.9 Secção 2 S -200 0 Secção 3 S .7 35 Prof.(m) 35.8 0 35.8 35.9 Secção 1 S -200 Antes do temporal 35.8 -200 0 0 35.8 Secção 4 S 35.9 -200 -200 36.3 -400 -400 36.2 35.7 -400 35.9 Secção 6 S 35.9 Secção 5 S Secção 7 S -200 35.8 35.8 -400 -400 -600 -600 35.8 36.1 -600 36.1 35.9 -600 -600 36.0 36.0 35.9 35.8 -600 36.0 36.1 35.9 36.0 35.9 -800 -50 0 -800 -25 -800 36.2 36.2 -800 35.8 -800 36.2 -800 -50 36.2 km km 35.7 76 -50 -25 0 -1000 -50 35.6 km 42º N Cruzeiro CORVET96 36.3 -1200 0 -50 -25 0 km 35.4 36.3 S1 35.0 36.2 -1400 S2 -25 km 35.5 32.0 Lima S3 -50 S4 S5 -25 0 km 41º30'N 0 -25 10km S6 S7 20 0m Douro 1 00 m 9º W 41ºN Figura V-16. Secções E-W de salinidade, realizadas durante o cruzeiro CORVET96 -50 -25 km 0 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa não se verifica nas secções 2, 3 e 4, onde as áreas menos salinas se encontravam na plataforma média, longe da desembocadura dos rios resultantes, provavelmente, de ciclos de marés anteriores e afastadas da costa pelos ventos de N-NW (resultantes do período de upwelling verificado anteriormente). Na secção 3, a área com salinidade inferior a 35,5 encontrava-se a mais de 20km da costa, ocupando os primeiros 13m da coluna de água. Na secção 4, esta massa de água desenvolvia-se entre os 19km e os 30 km da costa, ocupando os primeiros 23m da coluna de água. Depois do temporal, a secção 5 mostra uma maior homogeneização da coluna de água. Junto à costa, detecta-se a presença de uma pequena pluma superficial dessalinizada, provocada pelo aumento do caudal dos rios da região (Cávado e Lima), nitidamente separada da massa de água menos salina da plataforma média, agora menos estratificada. As secções 6 e 7 apresentam baixa estratificação salina, embora na última secção realizada seja possível individualizar a pluma do rio Douro, muito limitada à plataforma interna (5 km da costa) e ocupando os 14m superficiais da coluna de água. 1.2.7. Gradiente de Temperatura Antes do temporal, a distribuição da temperatura à superfície (fig. IV-14) permite assinalar a ocorrência de águas com temperaturas ligeiramente inferiores a 14ºC, na plataforma interna e média. No entanto, as temperaturas na imediação da desembocadura do rio Minho eram superiores (T=14,1ºC), mostrando que as águas dos rios ainda não tinham atingido as temperaturas características do período de Inverno (T<12,5ºC), verificadas no cruzeiro CLIMA97. A imagem de satélite, da semana de 3 a 9 de Novembro mostra que existia junto à costa uma massa de água mais fria, com temperaturas entre 13 e 14ºC, resultante da mistura das águas dos rios da região com a massa de água oceânica, mais quente (T>14ºC), mas também ao fenómeno de upwelling que traz para a superfície águas com esta temperatura (Fiúza, 1982). Após o temporal, as águas oceânicas encontravam-se mais perto da costa, com a isolinha dos 14ºC a deslocar-se cerca de 15 km da posição anterior. Contudo, a imagem de satélite (10-16 Novembro), que resulta da composição da temperatura superficial das águas durante 6 dias, mostra o aumento de importância da massa de água costeira fria durante este período, como resultado do aumento do caudal dos rios. 77 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa A Temperatura superfície (-5m) 15.9 14.314.5 14.4 13.9 14.1 14.9 14.6 14.2 14.0 13.9 13.9 14.1 Lima 14.2 14.0 13.9 15.514.6 13.7 15.2 15.114.9 Temporal 11 Nov. 13.9 13.8 13.7 13.8 14.1 13.8 13.8 13.8 B 41º30'N 0 10km 15.5 15.2 14.514.3 14.2 14.114.0 14.914.3 14.3 14.8 14.714.2 14.2 14.0 Douro 100m 9º00' W B Figura IV-14. Carta de temperatura superficial da campanha CORVET96: A- Temperatura obtida por imagem de satélite do período de 3-9 Novembro de 1996); B- Temperatura obtida por imagem de satélite do período de 10-16 Novembro de 1996 (imagens cedidas gentilmente pelo Remote Sensing Data Analysis Service of the Plymouth Marine Laboratory). Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, separados pela seta a negro. 1.2.8. Perfis E-W de temperatura A coluna de água sobre a plataforma interna e média é muito homogénea do ponto de vista térmico, apresentando valores inferiores a 14ºC. Nas estações mais externas a camada de mistura pode atingir os 40m de profundidade (fig. IV-15). 0 0 20 a 70 68 20 b Secção 4 40 40 Secção 5 60 80 80 Prof. (m) Prof. (m) 60 100 120 140 100 120 140 160 160 180 180 200 200 12 13 14 T (ºC) 15 16 13 14 15 16 T (ºC) Figura IV-15. Perfis verticais de temperatura; a) antes do temporal (secção 4) e b) depois do temporal de 19 de Novembro (secção 5). 78 Cruzeiro CORVET 96 Temperatura Novembro 96 0 0 0 -200 14.0 -200 0 13.0 14.0 Secção 2 T (ºC) Depois do temporal 15.0 14.0 13.0 Secção 3 T (ºC) -200 13.0 -200 Secção 4 T (ºC) -400 12.0 -400 17.0 Secção 5 -200 T (ºC) Secção 6 T (ºC) -200 13.0 13.0 Secção 7 T (ºC) 13.0 -400 -400 -400 12 -400 12.0 14.0 15.0 14.0 -200 12.0 -400 0 0 0 14.0 14.0 Secção 1 13.0 T (ºC) Antes do temporal 12.0 .0 12.0 12.0 16.0 -600 -600 -600 -600 15.0 12.0 -800 -50 -25 0 12.0 14.0 -800 -800 -800 79 km -25 km 11.5 11.5 -1200 S1 -50 12.0 0 -1000 42º N Cruzeiro CORVET96 0 -50 -25 0 -50 km 11.0 11.0 10.0 S2 Lima -1400 S3 S4 S5 -50 41º30'N 0 9.0 -25 0 km 10km S6 S7 2 0 0m Douro 10 0m 9º W -50 12.0 -25 km km -25 -800 -800 13.0 12.0 -50 -600 -600 -600 12.0 12.0 41ºN Figura V-16. Secções E-W de temperatura, realizadas durante o cruzeiro CORVET96 -25 km 0 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa À medida que nos afastamos da costa, as temperaturas aumentam, principalmente depois do temporal, com o empurrar de águas oceânicas mais quentes (T>15ºC) para a vertente continental superior e plataforma externa (fig. IV-16). 1.2.9. Gradiente de densidade A carta de distribuição da densidade de superfície é muito semelhante ao mapa de distribuição da salinidade. Antes do temporal, os valores mínimos de densidade estão ligados à desembocadura do rio Minho, existindo na plataforma média (secção 3 e 4) áreas com densidade inferior a 26,5. Após o temporal estas áreas atenuam-se, individualizando-se as plumas de baixa densidade associadas aos rios Lima, Cávado e Douro (fig. IV-17). Densidade - 5m 26.5 26.7 26.6 26.7 26.7 26.7 26.6 26.4 26.5 26.1 26.6 26.6 26.6 Lima 26.6 26.6 26.4 26.626.6 26.5 26.626.6 26.6 26.6 26.3 26.5 26.8 26.6 26.7 26.8 26.2 41º30'N 0 10km 26.5 26.6 26.626.5 26.6 26.6 26.6 26.6 26.6 26.6 26.6 26.6 26.6 26.6 23.7 Douro 100m 9º00' W Figura IV-17. Carta de densidade superficial da campanha CORVET96 (Novembro de 1996). Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. 1.2.10. Perfis E-W de densidade Estes perfis mostram que a coluna de água se encontrava mais estratificada antes do temporal (secção 1,3 e 4). Após este evento, os primeiros 30 a 35m da coluna de água na plataforma média encontravam-se homogeneizados. Junto à costa, observou-se alguma estratificação relacionada com o abaixamento da salinidade das plumas dos rios (secção 5 e 7), que tendia a desaparecer com o aumento da profundidade (fig. IV-18). 80 Cruzeiro CORVET 96 Densidade Novembro 96 0 0 .0 27 Prof. (m) -200 27 .1 Secção 3 στ -200 27 .2 -600 -600 -600 -25 0 -800 -800 km -50 0 -1000 81 S1 -1200 S2 26.9 -200 27.0 Secção 5 στ 27.0 -200 27.1 -1400 -25 -600 27.5 -600 27.5 -800 -800 -800 -50 -25 km 0 -50 -25 0 km 0 10km S6 S7 2 00 m Douro 1 00 m 41ºN 27.5 27.3 -50 -25 km km 9º W Secção 7 στ -200 -600 41º30'N 0 27.0 Secção 6 στ -400 S4 S5 -50 26.9 -400 26.0 25.5 25.0 27.8 Lima S3 0 26.6 -400 27.2 -600 26.5 26.4 26.3 26.2 26.1 42º N Cruzeiro CORVET96 -200 -400 27.2 27.1 27.0 26.9 26.8 26.7 26.6 27.5 -800 -50 0 26.6 27.1 27.8 27.7 27.6 27.5 27.4 27.3 -400 Secção 4 στ 27.0 27.9 -400 27 .2 0 26.9 27.1 -400 Depois do temporal 27.0 Secção 2 στ -200 0 0 26.7 26.9 26.9 Antes do temporal Figura V-18. Secções E-W de densidade, realizadas durante o cruzeiro CORVET96 -50 -25 km 0 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa 1.2.11. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo Antes do temporal a turbidez era, de modo geral, baixa à superfície, com os valores a diminuírem gradualmente da costa para a plataforma média e externa (fig. IV-19). O valor mais elevado (0,93 FTU) encontrava-se perto da desembocadura do rio Lima. Após o temporal a turbidez aumentou ligeiramente perto da costa para valores de 1,66 FTU, mas com as isolinhas dos 0,5, 0,3 e 0,1 a deslocarem-se para Este. Junto ao fundo, as alterações foram mais significativas. Antes do temporal, o valor mais elevado de turbidez encontrava-se perto da desembocadura do rio Lima (5,98 FTU), com a isolinha dos 1 FTU a aproximadamente 10 km da costa. Após o temporal as isolinhas deslocaram-se para oeste, com a isolinha dos 1 FTU a afastar-se para aproximadamente 20km da costa. O valor mais alto de turbidez (15,2 FTU) verificou-se a norte do rio Douro. Nefelometria (perto do fundo) Nefelometria (- 5m) 0.06 0.05 0.02 0.03 0.26 0.20 0.02 0.02 0.05 0.22 0.21 0.25 0.11 0.17 0.21 0.31 0.15 0.030.03 0.74 0.71 0.96 0.31 0.74 2.63 Lima 0.08 0.19 0.24 0.020.04 0.22 0.040.06 0.04 0.38 0.29 0.06 0.93 0.32 0.21 0.02 0.02 0.07 0.87 1.65 0.35 0.03 0.050.19 0.22 1.42 0.35 0.03 0.28 41º30'N 0 0.22 1.05 0.28 2.24 5.98 1.35 1.83 1.82 2.87 41º30'N 0 10km 0.07 0.04 0.08 0.11 0.11 0.15 1.28 10km 0.02 0.23 0.30 1.51 3.62 1.36 5.20 3.72 1.76 0.030.05 0.04 0.02 0.04 0.21 0.26 1.66 0.030.150.24 0.30 0.87 1.16 0.78 2.55 15.15 Douro Douro 100m 9º00' W 9º00' W 9º00'W Figura IV-19. Carta de turbidez superficial e junto ao fundo da campanha CORVET96 (Novembro, 1996). Na figura observam-se dois domínios, um antes e outro depois do temporal de 19 de Novembro de 1996, assinalados pela seta a negro. 1.2.12. Perfis E-W de turbidez A passagem do temporal de 19 de Novembro encontra-se bem expressa pelo comportamento dos nefelóides e valores de turbidez encontrados (fig. IV-20). Na secção 1, existe um nefelóide de fundo que se estende por toda a plataforma continental e um nefelóide de superfície, menos importante, mas que se estende por aproximadamente 18 km. 82 Cruzeiro CORVET 96 Nefelometria Novembro 96 0 0 0.1 Prof (m) -200 0 6.0 2.6 1.0 0.7 0.3 0.7 Secção 1 N (FTU) -200 -400 0.7 0 -400 -200 10.00 -400 2.9 1.4 Secção 3 ? N (FTU) -200 2.2 Secção 4 N (FTU) 0 0 1.8 0.1 1.0 Secção 2 N (FTU) Depois do temporal -200 5.2 3.7 1.8 1.5 3.6 Secção 5 N (FTU) Secção 6 N (FTU) -200 0.9 -200 0.1 0 Antes do temporal -400 -400 -400 -400 -600 -600 -600 -600 -800 -800 -800 2.6 15.2 1.2 0.8 Secção 7 N (FTU) 5.00 4.00 -600 -600 -600 3.00 2.00 -800 -50 -25 -800 0 -800 1.00 -50 km 0.50 km -50 0 -25 km 0.30 0 -50 -25 0 km 83 0.20 -1200 S1 -50 0.40 -1000 42º N Cruzeiro CORVET96 0.10 S2 0.05 Lima -1400 S3 S4 S5 -50 41º30'N 0 -25 0.01 -25 0 km 10km S6 S7 2 00 m Douro 10 0m 9º W 41ºN Figura V-20. Secções E-W de nefelometria, realizadas durante o cruzeiro CORVET96 -50 -25 km 0 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa Os valores de turbidez são mais elevados na estação mais próxima da costa, diminuindo à medida que a profundidade aumenta. Nas secções 2, 3 e 4 estão também bem visíveis estas duas camadas nefelóides, mas com aumento gradual de importância, tanto em dimensão (a CNS atinge o bordo da plataforma) como em valores de turbidez. A realização da mesma secção ante e depois do temporal (secção 4 e 5) permitiu avaliar o efeito deste nos perfis de nefelometria (Fig. V-21). Antes do temporal eram bem nítidas as duas camadas nefelóides separadas por águas mais límpidas (<0.1 FTU), apresentando a CNF uma espessura média de 30m e ocupando a CNS os primeiros 1017m da coluna de água. Após o temporal a CNS desaparece, dando lugar a uma camada de mistura com espessura máxima de cerca de 40m, sendo a CNF mais espessa (30-50m) e com empolamentos locais sobre a plataforma média que possibilitam a formação de CNI sobre o bordo da plataforma. N e f. (F T U) 0 1 2 3 4 5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 Prof. (m) CNS 10 20 CNF 20 25-43m CNS 0.60 0.00 0.08 0.16 10 40 60 60 CNF 80 >80m 30 50 CNI 80 70 100 90 120 CNF 1 1 0 140 Secção 4(antes do temporal) Secção 5(depois do temporal) 0.40 20 40 100 0.20 0 30 40 0.00 0 0 130 160 180 CNI 150 >120m 170 200 190 210 230 CNF 250 270 290 310 330 350 370 390 410 430 450 Figura IV-21. Perfis verticais de nefelometria realizados antes e depois do temporal. Batimetria dos 25-43m, 80-90m, 120-150m e bordo da plataforma (>160m). Delimitação das CNS, CNF e CNI. 84 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa 1.2.13.Interpretação das condições hidrológicas e de circulação O cruzeiro CORVET 96 correspondeu a um período de transição entre uma situação de Verão, onde prevalece o fenómeno de upwelling, para uma situação de Inverno, onde dominam os temporais. Foi realizado após um mês, durante o qual o anticiclone dos Açores persistiu a latitudes altas, prevalecendo até essa altura os ventos de norte que induzem um regime de upwelling na plataforma continental norte portuguesa. Estas condições são expressas por uma diminuição da temperatura das águas, com a presença na plataforma média de um jacto equatorial. Durante o decorrer do cruzeiro, a passagem de um temporal (19 de Novembro) com ventos fortes de S-SW (velocidade acima de 10 m/s), provocou a alteração desta situação e promoveu um regime de downwelling na plataforma continental norte portuguesa. As situações meteorológicas distintas possibilitaram a realização de uma secção antes e depois do temporal. Antes do temporal, o aspecto mais importante era a presença de uma região de baixa salinidade junto à costa. A coluna de água exibia uma estratificação vertical salina, principalmente perto da costa (rio Minho), confinada aos primeiros 20-30m, e em algumas bolsas isoladas existentes na plataforma média. Esta estratificação foi parcialmente destruída com a passagem do temporal (ondas com altura significativa de 6m), ficando limitada à plataforma interna (rio Douro). Do ponto de vista térmico, a camada de mistura atingia os 40m de profundidade. A velocidade de corte das ondas calculada por Vitorino (2001) era superior a 3.5 cm/s. Em resposta às condições de downwelling, as águas oceânicas de temperatura superior penetram na plataforma, pelos níveis superiores da coluna de água. Perto do fundo, o fluxo era para fora da plataforma, com orientação N-NW (Vitorino, 2001). Os caudais verificados nas semanas anteriores à amostragem e no decorrer do cruzeiro foram relativamente fracos, ocasionado reduzida expulsão de sedimentos estuarinos para a plataforma. Contudo, o nefelóide de superfície e, em particular, o de fundo, eram extremamente importantes, sofrendo uma evolução na sua distribuição e comportamento, no decurso do cruzeiro. O temporal provocou na CNF a ocorrência de máximos localizados sobre o complexo siltoargiloso do Douro na plataforma média a externa, sinal de uma provável resuspensão das partículas sedimentares. Esta resuspensão de material sedimentar é importante para a alimentação de CNI que se formam no bordo da plataforma. 85 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.3. Campanha CLIMA (Inverno, 1997) Esta campanha decorreu entre 6 e 16 de Dezembro, em condições de Inverno típico. Foram ocupadas 120 estações, que atingiram a profundidade máxima de 1500m, distribuídas por 10 secções perpendiculares à costa (Fig. IV-22). O cruzeiro teve início a Sul do rio Douro e za -G ali o h in M terminou frente ao rio Minho. 10 9 Rocha Depósitos finos 8 7 41º30' 6 Canhão do Porto 4 20 00 m 100 0m 3 Douro 5 2 1 10º00' 41º00' 9º30' 9º00' Figura IV-22. Mapa da localização das estações hidrológicas (cruzes), realizadas durante o cruzeiro Clima (6-16 de Dezembro). Delimitação dos depósitos finos segundo Drago (1995). 1.3.1. Dados hidrológicos O débito fluvial na semana anterior ao cruzeiro foi elevado, com valores acima da média (fig.IV-23). Os meses precedentes, Outubro e Novembro, foram particularmente húmidos nesta região. O rio Douro apresentou valores superiores a 900m3 /s (caudal médio anual de 710 m3 /s), sendo a média de 1073,4m3 /s (Est. Crestuma-Lever). 86 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Caudal médio diário (m3/s) 1400 Cruzeiro 1200 1000 800 Lima(Est. Touvedo) 600 Cavado(Est.Caniçada) Douro(Est.Crestuma) 400 200 16-12-97 11-12-97 06-12-97 01-12-97 0 Figura IV-23. Caudais dos principais rios minhotos, para a semana anterior ao cruzeiro e para o período em que decorreu a campanha CLIMA 97 (Fonte CPPE). Os rios Lima e Cávado apresentaram valores médios de caudal da ordem dos 142m3 /s (superior ao caudal médio anual determinado para o período de 1971/72 a 1988/89, de cerca de 51,3 m3 /s) e 64 m3 /s (semelhante ao caudal médio anual determinado para o período de 1978/79 a 1988/89, de cerca de 74 m3 /s), respectivamente. O cruzeiro iniciou-se em período de marés mortas, terminando em regime de marés vivas (Lua Cheia no dia 14 de Dezembro). 1.3.2. Dados climáticos Durante o cruzeiro CLIMA 97 não ocorreram eventos extremos, podendo o período de realização do mesmo ser considerado uma situação de inverno moderado. Pelo contrário, nas semanas que o antecederam ocorreram temporais a que se associaram precipitações elevadas, bem evidenciados pelos caudais observados (fig. IV-23). A ondulação nos primeiros 5 dias do cruzeiro variou entre 2 e 3m, chegando a atingir pontualmente os 4m, com rumo predominante de W. Nos últimos dias, a ondulação foi sempre inferior a 2m, com direcção predominante NW-W (Fig.IV-24). Tal como a ondulação, o vento apresentou-se variável, com rajadas fortes do quadrante Sul (velocidade superior a 20 km/h) nos primeiros dias do cruzeiro, rodando posteriormente para N-NE, e novamente para SE nos últimos dias do cruzeiro (13-14 de Novembro). 87 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Fim Inicio Figura IV-24. Estações hidrográficas do cruzeiro CLIMA (6-14 de Dezembro) e as observações de vento e onda em cada estação (Vitorino, 1998). 1.3.3. Diagramas TS de superfície Durante o cruzeiro foram detectadas as seguintes massas de água (fig.IV-25A): I. uma massa de água pouco salina (S<29,5) e com temperaturas abaixo dos 15ºC na vizinhança da desembocadura do rio Ave; II. uma massa de água costeira temperada (14,8<T<16,1) e com salinidade compreendida entre 33,0 e 35,0, que cobria o resto da plataforma interna e parte da plataforma média, resultando da mistura das águas estuarinas com as oceânicas; III. uma massa de água com características marinhas, mais quente (T>16º) e com salinidades superiores a 35,0. 1.3.4. Diagramas TS de fundo Perto do fundo, e junto à costa era possível identificar uma massa de água com características semelhantes à massa de água III da superfície (15,9ºC<T<17,5ºC; 35<S<36). À medida que a profundidade aumenta detectam-se diferentes tipos de massas de água características do Atlântico Norte (fig.IV-25B) : IV. a água central do Atlântico Norte com origem subtropical, modificada pela mistura com as águas estuarinas locais (12,9<T<16,5ºC; 35,7<S<36), na plataforma média e externa; 88 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ V. contra-corrente da vertente continental que incorpora Água Central do Atlântico Sul, modificada devido à interacção com outras massas de água desde a contra-corrente Norte-equatorial (Barton, 1995). 17.0 9º W 42º N Temperatura (ºC) III A 16.0 II 41º N 15.0 I 14.0 28.0 29.0 30.0 31.0 32.0 33.0 Salinidade 34.0 35.0 36.0 37.0 18.0 17.0 CW III 16.0 B IV Temperatura (ºC) 42ºN 15.0 14.0 13.0 12.0 V 11.0 VI 41ºN 10.0 34.0 35.0 36.0 37.0 Salinidade Fig. IV-25. Diagramas TS para as águas superficiais (5m) e perto do fundo, para o cruzeiro CLIMA 97. Na fig. B, encontra-se representada a linha de TS da água Central do Atlântico Norte (CW). I,II,III,IV,V e VI, designam as diferentes massas de água referidas no texto. VI. Veia de Água do Mediterrâneo, com forte salinidade (S>36,3) e temperatura relativamente elevada (10,5ºC>T<11,5ºC), profundidades entre os 400m-1500m. 89 detectada no canhão do Porto, a Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.3.5. Gradiente de salinidade à superfície Como já foi referido, o cruzeiro teve início quando as condições climáticas eram mais rigorosas (ventos fortes de Sul), melhorando para o seu final (quatro últimas secções). O mapa de distribuição da salinidade à superfície mostra bem esta variação, já que representa não uma imagem instantânea mas sim um somatório das condições hidrológicas que ocorreram durante o período de 6 a 14 de Dezembro (fig. IV-26). Salinidade á superfície (-5m) 35.0 35.8 35.9 35.8 3 5.8 35.6 35.9 35.835.7 35.9 33.6 32.8 35.4 35.835.8 34.5 34.7 35.0 34.9 35.8 34.4 35.5 35.635.7 34.9 34.2 33.0 35.6 35.6 35.9 35.9 35.8 33.9 34.2 34.1 35.8 41º30'N 35.9 35.9 35.9 35.9 35.9 35.7 35.9 35.2 35.7 35.6 36.0 36.036.035.8 35.9 35.8 34.9 35.1 29.5 34.728.4 0 36.0 35.9 35.9 36.036.0 35.9 35.9 36.036.0 36.0 36.036.0 36.0 36.0 36.0 35.7 35.9 35.8 35.6 34.7 35.735.5 35.6 10km 34.9 33.5 35.1 34.8 34.8 33.3 Douro 34.4 9º00' W Figura IV-26. Distribuição da salinidade à superfície (Dezembro 1997). No geral, a salinidade aumentava com o afastamento à costa. Contudo, a massa de água com características estuarinas ocorria apenas na plataforma interna a Sul do rio Cávado, expandindo-se para a plataforma média em frente ao rio Lima. Esta massa de água encontra-se separada da oceânica por uma frente salina muito bem marcada entre a isóbata dos 50 a 120m (35,0-35,7). De salientar que os valores mais baixos de salinidade foram registados, à semelhança do que sucedeu em cruzeiros anteriores, na desembocadura do rio Ave (período de baixa-mar). 90 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.3.6. Perfis E-W de salinidade Durante o cruzeiro verificou-se forte débito fluvial, evidenciado pela presença constante de uma massa de água menos salina superficial (S<35,5), que ocupava toda a coluna de água nas estações mais perto da costa (secções 1, 2, 4 e 5). Contudo, essas águas estuarinas encontravam-se muito restringidas à zona costeira no início do cruzeiro (fig. IV-27). A pluma salina do rio Douro não ultrapassava os 16 km de comprimento, com uma espessura média de cerca de 20m. A partir da secção 7, devido à modificação dos ventos dominantes (fig. IV-27) a massa de água costeira encontrava-se mais expandida sobre a plataforma, cobrindo-a quase na sua totalidade (aproximadamente 30 km de extensão). 1.3.7. Gradientes de temperatura de superfície A estrutura térmica à superfície era complexa, apresentando valor de temperatura médio elevado, cerca de 16,0ºC. Os valores mínimos encontravam-se associados com as desembocaduras dos rios (fig. IV-28). Tal como para a salinidade, definia-se sobre a plataforma média uma frente térmica, limitada pelas isolinhas dos 16,0ºC e 16,5ºC. 1.3.8. Perfis E-W de temperatura Nas desembocaduras dos rios e na plataforma interna, a coluna de água apresentava-se estratificada. Esta estratificação atenuava-se à medida que nos afastávamos da costa (a camada de mistura podia atingir os 70m, ver fig. IV-29), estando a influência das águas estuarinas compreendida entre os 3 e 24 km, da costa. Uma massa de água quente (T>16ºC) oceânica cobria o resto da plataforma e vertente continentais (fig. IV-30). 91 0 0 36.0 36.0 36.0 35.9 -200 35.9 -200 -400 0 -200 -200 -200 -400 -400 -400 0.1 Secção 2 S Secção 3 S -600 -600 -600 Prof. (m) 35.8 -400 Secção 1 S 0 0 36.0 Secção 4 S -600 Secção 5 S -600 36.0 36.1 -800 -800 -1000 -1000 36.1 -800 -800 -800 36.2 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1200 -1400 -1400 -1400 36.2 36.2 -1200 -1200 36.2 36.1 36.0 -1400 -1400 -100 -75 -50 -25 92 0 35.9 -50 0 0 -25 -100 0 -75 0 -50 35.5 -25 0 -50 0 -25 -100 0 0 -75 -50 -25 0 32 36 Cruzeiro CLIMA 97 Salinidade Dezembro 97 35.9 -200 -200 -200 -200 35.8 -200 35.7 Secção 6 S -400 Secção 7 S -400 Secção 8 S -400 Secção 9 S -400 Secção 10 S -400 9º00' W Prof. (m) -600 -600 -600 -600 36.3 -600 35.8 35.9 36.0 S10 36.2 S9 36.1 36.1 -800 -800 -800 -800 42º N Cruzeiro CLIMA 97 35.7 -800 36.1 Lima S8 36.0 S7 35.9 41º30'N -1000 -1000 -1000 -1000 S6 35.8 -1000 S5 35.7 36.2 -1200 -1200 -1200 36.1 0 -25 0 -50 -25 km 0 -100 -1400 -75 -50 km -25 0 36.0 -50 35.0 -1400 35.9 S1 32.0 -25 km Figura V-27. Secções E-W de salinidade, realizadas durante o cruzeiro CLIMA97 0 -50 -25 km 10km 0 1 0 0m -1400 Douro S2 35.4 2 00 m km S3 35.5 36.1 -1400 -50 -1200 -1200 36.0 -1400 S4 35.6 41ºN Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Temperatura de superfície (5m) 15.9 16.4 16.4 16.4 16.5 16.2 16.4 16.516.4 16.5 15.5 15.5 15.8 16.5 15.6 16.6 16.0 16.3 16.5 16.6 15.2 14.9 16.3 16.4 16.5 15.4 15.5 16.516.5 16.7 16.7 16.0 15.2 15.8 15.8 16.7 41º30'N 16.5 16.5 16.7 16.7 16.7 16.4 16.5 16.6 16.216.5 16.5 16.8 16.8 16.816.7 16.8 16.7 16.5 16.6 16.816.8 16.8 16.5 16.716.6 16.8 16.8 16.7 7 16.7 15.9 16.0 16.7 15.6 16.716.5 14.9 16.014.8 0 10km 16.0 15.6 16.2 16.0 15.5 Douro 16.9 16.916.9 16.7 16.9 9º00' 16.5 W 16.0 15.4 Figura IV-28. Distribuição da temperatura à superfície (Dezembro 1997). 0 20 Secção 2 40 Prof. (m) 60 80 100 120 140 160 180 200 12 13 14 15 16 17 18 T (ºC) Figura IV-29. Perfis verticais de temperatura para a secção 2. 93 0 0 0 0 0 17 17 17 16 15.0 16.5 16 14 -200 -200 13 -200 -200 -400 -400 -400 -200 12 -400 Prof. (m) Secção 1 TºC -400 Secção 3 TºC Secção 2 T ºC 11 Secção 4 TºC Secção 5 TºC -600 -600 -600 -600 -600 -800 -800 -800 -800 -800 -1000 -1000 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1200 -1200 -1200 -1400 -1400 11 10 10 -1400 -1400 94 -100 -75 -50 -25 0 0 0 -50 -25 0 -100 0 -75 -50 -25 0 -200 -400 -400 -25 17 -200 13 13 -200 -200 0 -100 12.0 Secção 6 TºC -400 Secção 9 TºC Secção 8 TºC -600 -600 -600 Prof. (m) Secção 7 TºC -400 -400 17.0 0 42º N Cruzeiro CLIMA 97 -600 -600 -800 -800 -25 9º00' W 16.5 16.0 S10 S9 15.0 -800 -50 Cruzeiro CLIMA 97 Temperatura (ºC) Dezembro 97 Secção 10 TºC 12 -75 16.5 16.0 14 -200 -50 0 0 16.5 16 -1400 -800 -800 Lim a S8 14.0 S7 13.0 -1000 -1000 -1000 -1000 -1000 41º30'N S6 S5 12.0 S4 11.5 -1200 -1200 -1200 11 -1200 -1200 11 S3 11.0 Douro S2 km -25 0 -50 -25 km 0 -100 -75 -50 km -25 0 10 -50 10km 10.0 S1 -1400 -25 0 km Figura V-30. Secções E-W de temperatura, realizadas durante o cruzeiro CLIMA97 9.0 -50 -25 km 0 1 0 0m -50 -1400 -1400 -1400 -1400 0 10 2 0 0m 10 41ºN Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.3.9. Gradiente de densidade de superfície A carta de distribuição da densidade da água à superfície (fig. IV-31) mostra que, de um modo geral, existia um gradiente E-W, crescente da desembocadura dos rios (d<21,0) para o largo (d>26,3). Os valores mínimos de densidade encontravam-se associados com a desembocadura do rio Ave. Densidade (5m) 25.8 26.3 26.3 25.5 25.7 26.2 26.3 26.2 26.3 26.2 25.6 25.4 26.126.126.2 25.7 26.3 24.3 26.2 26.2 26.326.3 24.8 26.0 26.3 26.226.1 26.1 25.3 24.3 26.3 25.8 25.3 25.0 25.1 26.2 41º30'N 26.4 26.3 26.3 26.3 26.1 26.4 26.3 26.4 26.4 26.3 26.326.3 26.2 26.3 26.4 26.4 26.4 26.426.4 26.3 26.326.3 26.3 25.9 26.1 26.1 26.3 26.3 26.3 26.2 26.2 25.8 26.1 25.6 26.1 26.1 26.0 26.2 9º00' 26.1 W 26.3 25.7 25.8 21.8 25.5 20.9 25.7 25.6 0 10km 24.7 24.6 Douro 25.6 25.4 Figura IV-31. Distribuição da densidade à superfície (Dezembro de 1997). 1.3.10. Perfis E-W de densidade As secções de densidade revelam uma coluna de água verticalmente homogénea com excepção da área costeira onde a água trazida pelos rios causa estratificação local. A camada de mistura tem cerca de 80-100m, com uma picnoclina que intersecta o fundo na plataforma média a externa (fig. IV-32). Nos perfis realizados mais a norte (secções 7 a 9), as águas estuarinas abrangem uma área maior, resultando numa maior estratificação da coluna de água da plataforma. 95 0 0 26.2 0 0 0 -200 -200 -200 26.2 26.2 26.4 26.8 26.9 -200 -200 27.0 Secção 2 Secção 1 στ -400 st -400 Σεχο 3 st -400 Secção 5 Secção 4 στ -400 στ -400 Prof (m) 27.2 -600 -600 -800 -800 -1000 -1000 -1200 -1200 27.3 -600 -600 -600 -800 -800 -800 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1200 -1400 -1400 -1400 27.4 27.5 27.6 27.7 0.05 27.7 -1400 -1400 27.8 96 -100 -75 -50 -25 -50 0 0 0 -25 0 -100 -75 -50 0 26.2 -25 0 -50 0 -25 0 -100 -75 -50 -25 0 km 0 Cruzeiro CLIMA 97 -200 -200 Σεχο 6 st S .1 Σεχο 8 -400 Σεχο 9 -400 7 . 2 -400 st c st στ e στ -400 -400 ç -600 27.3 27.4 ã 0 o Prof (m) -600 -600 1 -600 -600 -800 -800 -800 -800 -1000 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1200 -1200 -800 27.5 -1000 2 6 .6 27.6 -1200 -50 km -25 0 -1400 -50 -25 km 0 -100 -75 -50 km -25 0 -50 -25 km Figura V-32. Secções E-W de densidade, realizadas durante o cruzeiro CLIMA97 0 -50 -25 km 9º00' W 42º N Cruzeiro CLIMA 97 S10 S9 Λ ιµα S8 S7 41º30'N S6 S5 S4 S3 Douro S2 0 10km S1 0 1 00 m -1400 -1400 -1400 -1400 27.9 27.8 27.7 27.6 27.5 27.4 27.3 27.2 27.1 27.0 26.9 26.8 26.7 26.6 26.5 26.4 26.3 26.2 26.1 26.0 25.5 25.0 24.0 20 0 m 27.7 27.8 Densidade Dezembro 1997 -200 -200 -200 Secção 7 41ºN Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.3.11.Gradiente de turbidez de superfície e de fundo A turbidez à superfície era baixa, variando entre 2,35 e 0,05 FTU, com valor médio de 0,26 FTU. O mapa de distribuição da turbidez à superfície (fig.IV-33) mostra uma diminuição gradual, para o largo. Contudo, na vertente continental, registaram-se pontualmente alguns valores de turbidez mais elevados. Tal como para os parâmetros anteriores, no final do cruzeiro ocorre um afastamento das isolinhas para oeste que acompanha a frente salina e térmica, o que é reflectido no mapa da Fig. IV-33 pelo afastamento das isolinhas dos 0.2-0.1 FTU. Nefelometria de superfície (FTU) 0.17 0.20 0.09 0.05 0.08 0.10 0.12 0.100.08 0.33 0.34 0.36 0.09 0.08 0.07 0.20 0.22 0.26 0.26 0.06 0.34 0.13 0.080.10 0.22 0.37 0.69 0.16 0.08 0.04 0.11 0.15 0.69 0.55 1.12 0.09 41º30'N 0.11 0.14 0.13 0.08 0.07 0.06 0.13 0.190.12 0.09 0.06 0.06 0.160.09 0.06 0.07 0.12 0.13 0.12 0.070.11 0.06 0.120.130.13 0.07 0.09 0.120.04 0.07 0.09 0.08 0.09 0.04 0.29 0.22 0.362.15 0.11 0.23 3 0.100.16 9º00'0.19 W 1.65 0 10km 0.23 2.35 0. 0.22 0.29 1.52 Douro 0.27 0.39 Figura IV-33. Distribuição da turbidez à superfície (Dezembro de 1997). 97 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Nefelometria de fundo (FTU) 4.96 0.84 0.33 0.09 0.16 0.13 0.61 1.13 0.34 0.77 Lima 0.04 0.25 0.41 0.80 0.15 0.27 0.050.11 41º30'N 0 0.83 0.06 0.19 0.37 2.09 1.71 2.75 1.29 10km 0.050.17 0.05 0.250.52 0.24 0.62 0.05 0.02 0.10 0.29 0.02 0.03 0.50 1.14 1.30 0.56 3.39 2.57 1.58 3.06 2.28 0.73 1.79 2.01 1.44 0.44 0.47 7.22 5.28 2.57 4.28 2.29 5.75 Douro 100m 0.02 0.08 0.17 0.50 9º00' W 0.47 2.36 9.06 Figura IV-34. Distribuição da turbidez perto do fundo (Dezembro de 1997). A distribuição da nefelometria junto ao fundo (fig. IV-34) mostra uma diminuição geral da turbidez com a profundidade, variando de 9,06 a 0,02 FTU, com valor médio de 1,4 FTU. Os valores de turbidez mais elevados (3,39 e 4.96 FTU), detectados na plataforma externa (≈100m) têm, provavelmente, relação com a resuspensão de material fino dos depósitos siltoargilosos do Douro e do Minho, respectivamente. 1.3.12. Perfis E-W de turbidez Os perfis E-W (fig. IV-35) confirmam os fortes valores de turbidez ao longo da coluna de água. Verifica-se uma evolução nas CNF e CNS desde a secção 1 (a sul do Douro) até á secção 10 (rio Minho). Assim, na secção 1, sobre a plataforma continental, formou-se uma CNF com cerca de 60 km de largura, bem marcada e mais extensa que a CNS, que se 98 0 0.1 2.4 9.0 0.5 0.05 0 0.05 0.5 0.1 0.5 1.6 -200 2.0 Secção 1 N (FTU) 0.1 0.05 4.3 0.1 -200 Secção 2 N (FTU) -400 0 5.3 2.3 7.2 0.1 0.1 3.0 11.9 -200 -400 0 0.1 5.7 0.1 0 -200 Secção 3 N (FTU) -400 -200 Secção 4 N (FTU) -400 Secção 5 N (FTU) -400 9.00 Prof. (m) -600 1.00 -600 -600 -600 -600 -800 -800 -800 -800 -1000 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1200 -1200 -1400 -1400 -1400 -1400 0.70 0.60 -800 0.50 0.40 0.30 0.20 -1000 0.10 0.05 0.01 0.00 -1400 99 -100 -75 -50 -25 0 0 0 -50 -25 0.1 1.3 1.7 Secção 6 N (FTU) -400 -100 -75 -50 -400 0 -50 0.1 0.1 0.8 -200 Secção 7 N (FTU) -25 0 2.0 2.7 -200 -200 0 0 0.1 -1200 0.1 0.05 Secção 8 N (FTU) -400 0 -100 -75 -50 -25 0 0.1 0.8 0.8 5.0 1.1 -200 -400 -25 0 Cruzeiro CLIMA 97 Nefelometria (FTU) Dezembro 1997 -200 Secção 9 N (FTU) Secção 10 N (FTU) -400 42º N 9º00' W Cruzeiro CLIMA 97 -600 -600 -600 -600 S10 S9 L ima S8 -800 -800 -800 -800 -800 0.05 Prof. (m) -600 S7 41º30'N S6 -1000 -1000 -1000 -1000 -1000 S5 S4 -1200 -1200 -1200 -1200 -1200 S3 Douro S2 0 km -25 0 -50 -25 km 0 -100 -75 -50 km -25 0 -50 -1400 -25 0 km Figura V-35. Secções E-W de nefelometria, realizadas durante o cruzeiro CLIMA97 S1 -50 -25 km 0 100m -50 -1400 2 0 0m -1400 -1400 -1400 10km 41ºN Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ encontrava muito mal definida devido à grande homogeneização da coluna de água. Aos 50 km da costa, desenvolvia-se uma CNS (Turb.>0,1 FTU) separada do bordo da plataforma, que atingia os 70m de profundidade e se desenvolvia até aos 114 km da costa. Na secção 2, a CNF ocupava toda a plataforma continental, com empolamentos locais sobre a plataforma média. A 3km da costa individualizava-se a pluma túrbida superficial do Douro, separada da CNF por águas menos túrbidas. Esta CNS expandia-se até aos 27 km, estando separada por águas mais límpidas da plataforma média, voltando a aparecer no bordo da plataforma (a cerca de 53 km da costa). Na secção 3, ainda se individualizava a pluma túrbida superficial do Douro muito limitada aos primeiros metros da coluna de água e com uma extensão de cerca de 20 km. No bordo da plataforma (47 km da costa), ocorriam novamente valores superiores a 0,1 FTU. A CNF é muito mais importante que a CNS, tanto em extensão como em comprimento, verificando-se novamente empolamentos sobre a plataforma média, com valores de turbidez muito fortes (Turb.=11,9 FTU), relacionados com o depósito silto-argiloso do Douro (fig. IV-36). Junto à costa, na secção 4, a coluna de água encontrava-se muito homogeneizada, com valores de turbidez elevados. Na plataforma média, a CNF apresentava desenvolvimento vertical. A presença de uma massa de água mais límpida grande impedia a sua expansão, ficando novamente limitada ao fundo (últimos metros da coluna de água). No bordo da plataforma e vertente desenvolviam-se CNI (fig. IV-36). Na secção 5, esta massa de água mais límpida também se encontrava sobre a plataforma média, separando as águas costeiras, mais túrbidas, das do largo e impedindo a expansão vertical da CNF. A CNF estendia-se até ao bordo da plataforma dando, aí, origem a uma CNI. Na secção 7, era evidente a presença de duas camadas nefelóides de superfície e fundo na plataforma, separadas por uma massa de água menos túrbida, expandindo-se ambas até ao bordo da plataforma. Na secção 8, a coluna de água encontrava-se novamente mais homogeneizada, com valores altos de turbidez, até ao bordo da plataforma onde se definem CNI. Na secção 9, é ainda possível destinguir a CNF e a de CNS, sendo a CNF a mais importante. Nesta secção é possível constatar que a resuspensão sobre a plataforma média a externa originava empolamentos da CNF, os quais podem ser de tal modo importantes que formam CNI que se expandem e podem atingir a superfície. Esta secção fornece uma possível explicação para os valores de turbidez mais elevados que se registaram após o bordo da plataforma. Na secção 10, o valor mais elevado de turbidez registava-se sobre a 100 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ plataforma média (Turb.=5,0 FTU), em relação com o depósito silto-argiloso da Galiza-Minho. A pluma túrbida do rio Minho detectava-se até aos 25 km da costa. Nef. (FTU) 0 1 Prof. (m) 0 2 3 4 5 CNS 10 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0 0.00 0.20 0.40 0 0.00 0.60 0.08 0 CNS 20 20 20 40 40 60 60 80 80 80 100 100 100 0.16 40 20 CNF 30 40 60 CNI 120 140 120 140 160 CNF 160 S ecçã o 3 S ecçã o 4 180 CNI 180 200 220 240 200 260 280 300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520 540 560 580 600 620 640 Figura IV-36. Perfis verticais de nefelometria para as secções 3 e 4 (canhão do Porto). Delimitação das CNS, CNF e CNI. 1.3.13.Interpretação das condições hidrológicas e de circulação: O cruzeiro CLIMA 97decorreu em condições de Inverno típico, com caudal fluvial elevado (caudal médio do Douro, 1073 m3 /s). Os dois meses que antecederam a sua realização foram particularmente húmidos nesta região, com o resultante acréscimo de MPS expulsa pelos estuários. No início do cruzeiro, a isolinha dos 35,5 (salinidade) encontrava-se perto do litoral, com a massa de água oceânica a ocupar praticamente toda a plataforma, expandindo-se para o 101 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ largo (≈20km) nas secções realizadas mais a norte (rios Lima e Minho). Esta modificação deveu-se essencialmente à alteração da direcção dos ventos dominantes que rodaram de SSW para N-NE. A nefelometria apresentava o mesmo comportamento. Contudo, o valor mais elevado de turbidez (2,35 FTU) foi registado à superfície, na plataforma interna a norte do rio Douro. A coluna de água apresentava uma estrutura térmica vertical homogénea, com excepção da zona costeira, toda ela perturbada pelos fluxos de água estuarina e onde os aportes de água menos salina induziram estratificação vertical. O gradiente termo-halino crescente entre a costa e o largo encontrava-se mais bem marcado em termos de salinidade do que de temperatura, visto que as águas costeiras apresentavam temperaturas ligeiramente inferiores a 15ºC e as águas oceânicas temperaturas superiores a 16ºC. As secções de densidade revelam uma camada de mistura de 80-100m com a picnoclina a intersectar o fundo na plataforma média a externa. Neste período, os caudais elevados dos rios induziram algum transporte de MPS terrígena para a plataforma, o qual foi registado pelo nefelómetro. Contudo, os valores de turbidez nunca foram muito elevados, pelo menos à superfície, decrescendo rapidamente para o largo. Já na proximidade do fundo os valores de turbidez eram francamente mais importantes, com máximos localizados na desembocadura dos rios Douro e Ave e sobre os depósitos siltoargilosos do Douro e do Minho-Galiza. Os valores mais elevados de turbidez sobre os depósitos finos da plataforma assinalam a provável resuspensão de partículas sedimentares. 102 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.4. Campanha PLAMIBEL III (Inverno 1992) No período de 14 a 19 de Janeiro de 1992 foram ocupadas 53 estações hidrológicas, cobrindo a plataforma interna e média da região em estudo (fig. IV.37). 42ºN M ho in Lima Cávado 41º30'N Ave Douro 9ºW 41ºN Figura IV-37. Mapa das estações ocupadas durante o cruzeiro PLAMIBEL III (Janeiro de 1992). 1.4.1.Dados hidrológicos No Inverno de 1992 os débitos fluviais foram baixos, sendo os meses de Dezembro e Janeiro particularmente secos, não se tendo registado nenhuma cheia, ao contrário do que é frequente nesta altura do ano (Fig. IV-38). No mês anterior ao cruzeiro, o caudal médio mensal foi de 253 m3 /s, 39.9 m3 /s, 1.81 m3 /s e 181 m3 /s, respectivamente para os rios Minho (Est. Foz do Mouro), Lima (Est. Rabaçal), Cávado (Est. Alto Cávado) e Douro (Est. Crestuma-Lever). 103 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Caudal médio diário (m3/s) 800 Minho (Foz do Mouro) Douro (Crestuma-Lever) Lima (Rabaçal) Cávado (Alto Cávado) 700 600 500 Cruzeiro 400 300 200 15-01-92 31-12-91 16-12-91 01-12-91 16-11-91 0 01-11-91 100 Figura IV-38. Caudais diários médios dos principais rios minhotos, para o período que procedeu o cruzeiro PLAMIBEL III (Janeiro de 1992) (CPPE). A média mensal para o mês de Janeiro para os mesmos rios foi da mesma ordem de grandeza (173 m3 /s, 25 m3 /s, 2,5 m3 /s e 280 m3 /s, respectivamente). O cruzeiro foi realizado em período de marés vivas (Lua Nova), com amplitude de maré que variou de 1,4m, no início, a 3,0m, no final. 1.4.2. Dados climáticos Esta campanha decorreu com bom tempo e mar calmo. A ondulação apresentava rumos variáveis de WSW a NNW, sendo a altura média da onda sempre inferior a 1m. O vento era fraco e soprava do quadrante NE. 1.4.3. Diagramas TS de superfície No decorrer da campanha PLAMIBEL III, estavam presentes à superfície quatro massas de água (fig. IV-39A): I. uma massa de água estuarina mais fria (T<12.5ºC) e com salinidades baixas (<33.2), que se localizava na desembocadura do rio Douro; II. uma massa de água costeira, com salinidade superior à da anterior (33.5<S<34.8) e temperatura mais variável (11.7ºC<T<13.2ºC). Ocupava grande parte da plataforma interna, com maior expressão na região adjacente à desembocadura do rio Douro, resultando da mistura das águas estuarinas com as águas oceânicas; 104 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ III. uma massa de água com características marinhas (S>35.0) e mais temperada (12.4ºC<T<13.3ºC), que faz a transição entre as águas de características mais costeiras das tipicamente oceânicas; IV. uma massa de água oceânica que cobre o resto da plataforma, com salinidades superiores a 35.5 e temperaturas mais quentes (T>13.5ºC). A 15.5 42ºN 15.0 Temperatura (ºC) 14.5 IV 14.0 13.5 13.0 II 12.5 41ºN III I 12.0 11.5 30.0 31.0 32.0 33.0 Salinidade 34.0 35.0 36.0 15.5 42ºN B 15.0 Temperatura (ºC) 14.5 IV 14.0 13.5 13.0 12.5 III 41ºN 12.0 11.5 30.0 31.0 32.0 33.0 Salinidade 34.0 35.0 36.0 Figura IV-39. Diagrama TS de superfície (A) e de fundo(B), e localização das massas de água durante a campanha PLAMIBEL III (Inverno, 1992). I, II, III e IV massas de água definidas no texto. 105 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.4.4. Diagrama TS de fundo No fundo, observavam-se as massas de água III e IV da superfície, mas em diferentes locais e com diferente expressão na plataforma. A massa de água III detectou-se, pontualmente, a sul das desembocaduras dos rios Douro, Cávado e Minho, enquanto que a massa de água IV cobria a restante plataforma interna e média (fig.IV-39B). 1.4.5. Distribuição de salinidade à superfície O mapa de distribuição de salinidade à superfície (fig. IV-40) mostra a importância do rio Douro para a definição das condições hidrológicas desta região. A pluma do Douro, mesmo num 42ºN Salinidade de superficie inh M 35.0 34.8 34.5 34.3 35.5 33.7 35.034.8 34.8 35.7 35.0 35.1 35.235.234.8 33.9 35.8 35.8 o Lima 35.1 35.2 35.8 34.7 35.7 35.1 Cávado 34.8 41º30'N 35.7 35.8 35.0 35.4 35.9 35.8 34.7 35.3 34.5 34.4 35.7 34.1 Ave 34.2 34.5 34.3 33.9 33.2 33.9 33.8 33.1 32.2 35.0 34.5 33.6 35.7 34.9 35.7 34.6 Douro 33 33.2 41ºN 35.4 9ºW Figura IV-40. Distribuição horizontal da salinidade à superfície (Janeiro, 1992). inverno em que o rio apresentava baixo caudal, apresenta uma extensão de aproximadamente 20 Km. A expressão dos restantes rios na plataforma adjacente era muito menos relevante. Assim, observava-se nesta região a existência de um gradiente E-W crescente de salinidade, desde a zona costeira (S≈32,3) até à plataforma média (S≈35,9). 1.4.6. Perfis E-W de salinidade Estes perfis mostram que as águas superficiais na proximidade dos rios se apresentavam estratificadas e com valores de salinidade inferiores a 34,8 (15-20m de profundidade). A 106 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ pluma dessalinizada do rio Douro, com cerca de 20 km, atingia profundidades superiores a 50m (S<35,5). Com o afastamento à costa, a coluna de água apresentava uma crescente homogeneização. 1.4.7. Distribuição de temperatura à superfície Observava-se um gradiente térmico crescente da costa para o largo (fig.IV-41). As águas dos rios e costeiras apresentavam temperaturas inferiores a 12,5ºC, registando-se os valores mais baixos de temperatura a norte do rio Douro (<12ºC). 42ºN Temperatura de superficie inh M 13.3 12.4 12.4 12.2 13.8 12.3 12.612.4 12.3 14.1 12.7 12.4 12.812.812.6 12.6 14.1 14.2 o Lima 12.8 12.8 14.0 12.9 13.8 13.1 Cávado 12.2 12.3 41º30'N 13.8 13.1 14.3 12.9 13.6 14.6 14.2 12.9 13.1 11.9 Ave 12.1 12.0 12.4 11.9 12.4 11.8 13.9 12.5 13.0 12.0 12.1 12.9 Douro 13.1 14.2 13.1 13.9 9ºW 12.8 12.6 41ºN 13.5 Figura IV-41. Distribuição da temperatura (ºC) à superfície, cruzeiro PLAMIBEL III (14 a 19 Janeiro de 1992). As águas oceânicas caracterizavam-se por temperaturas mais altas, superiores a 13,5ºC. 1.4.8. Perfis E-W de temperatura Na proximidade dos rios, as isotérmicas eram horizontais e com valores inferiores a 12,5ºC aos níveis superficiais, tornando-se progressivamente mais quentes e verticais com o afastamento à costa. Na plataforma média e externa, a camada de mistura podia atingir os 90-100m de profundidade. 107 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.4.9. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo Os valores de turbidez à superfície eram baixos, com valor médio de 1f.t.u. Como seria de esperar, os valores de turbidez mais elevados observavam-se na desembocadura dos rios Douro e Lima (Fig. IV-42). Na desembocadura dos rios Douro e Minho, os valores de turbidez no fundo eram superiores aos da superfície, diminuindo rapidamente para valores semelhantes a estes a profundidades superiores a 20-30m. 42ºN 42ºN Turbidez de superficie Turbidez de fundo in M ho inh M 1.2 1.1 0.7 1.1 0.5 1.1 0.9 1.21.1 0.4 1.3 0.9 Lima 0.7 0.9 1.0 0.3 0.4 0.8 1.4 0.4 1.1 0.5 0.7 1.3 0.9 1.3 Lima 1.1 1.1 0.9 2.7 1.3 0.5 0.8 0.5 0.8 0.4 1.8 0.4 1.5 0.7 1.3 0.7 1.3 0.5 0.8 Ave 1.1 1.8 0.4 0.6 0.6 0.9 0.8 0.6 1.4 0.7 0.5 0.9 0.6 1.4 1.1 2.8 8.9 7.6 Douro 1.4 1.0 1.0 Ave 2.5 1.1 0.9 1.1 1.0 2.5 3.0 2.0 Douro 1.2 0.8 0.9 0.6 1.0 1.9 41ºN Cávado 1.3 41º30'N 1.9 0.9 0.9 0.3 1.3 1.3 1.0 0.3 1.5 0.8 1.20.9 Cávado 0.3 41º30'N 0.3 0.4 0.4 0.1 0.6 1.0 0.4 0.5 4.0 0.9 0.2 0.3 2.9 o 1.5 2.2 41ºN 9ºW A 2.9 9ºW B Figura IV-42. Distribuição de turbidez à superfície (A) e perto do fundo (B), para o cruzeiro PLAMIBEL III. 1.4.10. Perfis E-W de turbidez Estes perfis mostram a existência de uma evidente relação entre as massas de água definidas pela temperatura e salinidade e a distribuição da nefelometria. A massa de água superficial, menos salina (S<34,8) e com temperatura inferior a 13ºC, apresentava valores de turbidez superiores a 1,2 f.t.u, registando-se no fundo intrusão de águas oceânicas. Na plataforma média ocorriam aumentos localizados da turbidez, relacionados com a resuspensão dos sedimentos finos (Oliveira, 1994). 108 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 1.4.11.Interpretação das condições hidrológicas e da circulação Esta campanha correspondeu a uma situação de Inverno completamente diferente da anterior, sem temporais e com caudais fluviais médios inferiores aos característicos de um Inverno chuvoso e com ocorrência de cheias. Contudo, na semana antes do cruzeiro houve um aumento de caudal dos rios Douro (735 m3 /s), Minho (321 m3 /s) e Lima (157 m3 /s), com repercussões importantes na plataforma interna. A não ocorrência de temporais que homogeneizassem a coluna de água possibilitou que a camada superficial de águas estuarinas provenientes do rio Douro (T<12.5ºC e S<33.2) se expandisse pela plataforma (20km), pelo efeito da maré e ventos de N-NE. Existia um gradiente termohalino crescente da costa, onde as águas eram mais frias e menos salinas, para o largo, onde as águas oceânicas eram mais temperadas. A turbidez de superfície era no geral baixa, com os valores mais elevados de turbidez junto à desembocadura do rio Douro. No fundo, os valores de turbidez observados eram superiores, mas diminuíam rapidamente da costa para o largo. 109 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.5. Campanha PLAMIBEL II (Fim do Inverno de 1991) Devido ao mau tempo prevalecente durante o decorrer do cruzeiro (11 a 20 de Março de 1991), foram apenas ocupadas 23 estações das 49 programadas (fig. IV-43). 1.5.1. Dados hidrológicos Nos dois meses anteriores ao cruzeiro, o débito fluvial médio dos rios da região foi bastante variável, certamente muito dependente da água retida ou libertada pelas barragens. No entanto, todos eles apresentaram caudais elevados (Fig.IV-44), com valores acima do caudal médio anual. A média mensal para o mês de Março dos caudais dos rios Minho, Lima, 42ºN h in M o Lima Cávado 41º30'N Ave Douro 41ºN 9ºW Figura IV- 43. Mapa das estações hidrológicas ocupadas durante o cruzeiro PLAMIBEL II. Cávado e Douro, foi respectivamente de 730 m3 /s, 124 m3 /s, 8,43 m3 /s e 1542m3 /s. Os rios Douro e Minho, registaram os maiores caudais. Na semana de 11 a 20 de Março, registaram-se caudais entre 728 e 1135 m3 /s no rio Minho (caudal médio de cerca de 929 m3 /s) e no Douro entre 1228 e 2510m3 /s (caudal médio de 1806m3 /s). 110 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 3500 Cruzeiro 3 /s) Caudal médio diário (m 3000 Minho (Est.Foz do Mouro) 2500 Douro (Est. CrestumaLever) Lima (Est.Rabaçal) 2000 1500 1000 17-03-1991 02-03-1991 15-02-1991 31-01-1991 16-01-1991 0 01-01-1991 500 Figura IV-44. Caudais dos principais rios minhotos, durante o período que procedeu a campanha PLAMIBEL II e durante a mesma (Fonte: INAG e CPPE). A amplitude de maré variou de 1,1m no início do cruzeiro a 3,0m no final. 1.5.2. Dados climáticos O cruzeiro PLAMIBEL II decorreu sob a influência de uma depressão sobre a Península Ibérica, que provocou vento fraco de SW e precipitação que variou entre 21mm/dia e 329mm/dia. O mar estava agitado de NW, com altura de onda de 2-3m. 1.5.3. Diagrama TS de superfície Durante este cruzeiro, à superfície, podem-se considerar cinco massas de água com características distintas (fig. IV-45): I. uma massa de água estuarina dessalinizada (23<S<26) e com temperaturas baixas (13,3ºC<T<14,6ºC), que se localizava a norte do estuário do rio Douro e em frente às desembocaduras dos rios Ave e Minho; II. uma massa de água estuarina, com uma temperatura semelhante à anterior, mas com menor variabilidade (gama de valores mais restrita, 13,7ºC<T<14,3ºC) e com salinidade superior (29<S<32), localizada na plataforma interna, perto da desembocadura de todos os rios; III. uma massa de água estuarina (31,6<S<32,5), mais fria (12,9ºC<T<13,2ºC), que se localizava, pontualmente, na desembocadura do rio Lima. IV. uma massa de água costeira menos fria (13,9<T<15,2), com salinidade compreendida entre 33 e 34, localizada a sul do Douro e a oeste da massa de água II; 111 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ V. uma massa de água com características mais marinhas (S>35) e temperada (13,2ºC<T<13,6ºC), que ocorria na plataforma média. 1.5.4. Diagrama TS de fundo No fundo apenas se detectou uma massa de água, com características marinhas (S>34,8) e temperatura entre 12,7ºC e 13,7ºC. 15.5 A Temperatura (ºC) 15.0 14.5 lV 42ºN 14.0 ll I 13.5 V lll 13.0 12.5 22.0 41ºN 24.0 26.0 28.0 30.0 Salinidade 32.0 34.0 36.0 15.5 B Temperatura (ºC) 15.0 14.5 14.0 13.5 V V 13.0 12.5 22.0 24.0 26.0 28.0 30.0 Salinidade 32.0 34.0 36.0 Figura IV-45.Diagramas TS de superfície (A) e fundo (B), cruzeiro PLAMIBEL II (Março de 1991). I,II,III, IV e V representam as massas de água definidas no texto. 112 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.5.5. Gradiente de salinidade O mapa de salinidade de superfície (Fig. IV-46) mostra a existência de uma frente muito bem marcada na plataforma interna frente ao rio Minho e menos pronunciada frente à desembocadura do Lima e do Cávado. Os valores mais baixos de salinidade (S<24) registados na desembocadura do rio Ave encontram-se provavelmente em relação com o fluxo de água doce deste rio mas, também, com o facto da pluma do rio Douro (o rio com maior caudal da região) estar deslocada para Norte, pelo efeito dos ventos dominantes de SW. O número reduzido de estações realizadas na plataforma adjacente ao rio Douro não permitiu determinar a extensão total da pluma associada a este rio. Contudo, a distribuição da salinidade mostra que as águas estuarinas estavam muito limitadas à plataforma interna, apresentando baixos valores de salinidade. Estes valores de salinidade devem-se ao elevado débito dos rios da região. 42ºN Salinidade de superficie M 35.7 inh o 28.9 35.5 Lima 35.835.032.5 31.6 25.6 35.7 35.4 34.3 31.8 31.3 41º30'N .0 35 3 Cávado 0 4. 24.2 25.5 29 .0 28.9 Ave 23.7 30.5 30.1 33.2 Douro 32.8 33.0 41ºN 9ºW Figura IV-46. Distribuição horizontal da salinidade à superfície (Março 1991). 1.5.6. Perfis E-W de salinidade Os perfis de salinidade apresentavam estratificação, a qual podia atingir os 30m de profundidade nas estações mais próximas da costa. Na plataforma média, a coluna de água encontrava-se homogeneizada e as isolinhas tendiam para a verticalidade. 113 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.5.7. Gradiente de temperatura de superfície 42ºN Temperatura de superficie o i nh M 13 .5 13.5 13.7 13.5 Lima 13.313.213.3 12.9 13.3 13.6 13.6 13.9 13.8 13.9 Cávado 41º30'N 14 .0 14.3 14.1 14.6 14.1 Ave 14.3 14.1 14.4 Douro 14 .5 15 .0 14.7 15.2 Figura IV-47. Distribuição horizontal da temperatura à superfície (Março de 41ºN 9ºW Como a maior parte das estações se limitaram à plataforma interna, pode constatar-se a existência de um forte gradiente marcadamente norte - sul e um, muito fraco, este - oeste. As temperaturas mais baixas (T<13,5ºC) foram registadas frente ao rio Lima e as mais elevadas a sul do Douro (T>15ºC). 1.5.8. Perfis E-W de temperatura Perto da costa e da desembocadura dos rios, a coluna de água encontrava-se estratificada. Os valores de temperatura variaram entre os 14ºC, à superfície, e os 13ºC, aos 70m. 1.5.9. Gradiente de turbidez de superfície e de fundo Na distribuição da turbidez de superfície também se verifica um gradiente E-W, com turbidez superior a 5 f.t.u. perto da desembocadura dos rios Lima e Ave, baixando para 1,0 f.t.u. quando nos aproximamos da isóbata dos 50m. Entre os rios Ave e Douro, os valores encontrados eram sempre superiores a 3,5 f.t.u. 114 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ A B 42ºN 42ºN Turbidez de fundo Turbidez de superficie M h in o M 0.6 1.0 h in o 0.9 1.0 0.6 Lima 0.0 2.4 3.1 Lima 5.4 6.6 4.2 1.6 0.2 16.4 0.6 0.0 2.5 0.1 3.1 0.9 1.6 2.4 4.1 Cávado 41º30'N Cávado 41º30'N 0 .5 1 .0 0 2. 3 .0 Ave 4.9 4. 0 4.5 16.1 5.3 4.8 1.6 3.5 3.5 4.1 10.8 14.8 14.8 Douro 1.6 4.2 1.6 3.5 Douro 2 .0 4 .0 2.0 Ave 4.8 41ºN 41ºN 9ºW 9ºW Figura IV-48. Distribuição de turbidez à superfície (A) e perto do fundo (B), para o cruzeiro PLAMIBELII. No fundo, os valores superiores a 14,8 f.t.u. só se detectaram perto da desembocadura dos rios Lima, Ave e Douro. Estes valores devem-se ao facto de estarmos em domínio de profundidades baixas (20-30m), onde o efeito da ondulação ainda se faz sentir na resuspensão de sedimentos de fundo, e também, muito provavelmente, ao transporte de fundo efectivo de sedimentos, oriundos dos rios. A profundidades superiores (>30m) a turbidez desce para valores entre 4 e 2 f.t.u. (fig.IV-48B). 1.5.10. Perfis E-W de turbidez Estes perfis permitem detectar mais uma vez a relação entre os maiores valores de turbidez e a descarga dos rios. Era visível a diferenciação da CNS e CNF a partir dos 30-40m de profundidade. 115 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.5.11.Interpretação das condições hidrológicas e de circulação No fim de Março de 1991, o débito fluvial dos rios era elevado com um pico máximo no rio Douro (3233 m3/s), na semana antes do cruzeiro. Toda a plataforma interna apresentava valores baixos de salinidade (S<30). A coluna de água encontrava-se homogeneizada, com excepção da zona costeira onde se verifica estratificação salina relacionada com a entrada de águas menos densas na plataforma. Embora os fluxos de origem estuarina tenham expressão em toda a plataforma interna os máximos de turbidez encontravam-se a norte do rio Douro e desembocadura do rio Lima. Os valores de turbidez de fundo eram sempre superiores aos de superfície. 116 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.6. Campanha OMEX II/99 (Maio 99) Nesta última campanha realizada a norte do paralelo 41ºN, a estratégia de amostragem foi semelhante às anteriores. No período de 18 a 28 de Maio ocuparam-se 111 estações de CTD com colheitas de água, distribuídas por 5 secções longas (até à longitude 11ºW), perpendiculares à costa (fig.IV-49). O cruzeiro teve inicio frente ao rio Lima, na região za -G ali Minho setentrional da área em estudo, terminando a Sul do rio Douro. Rocha Depósitos finos 1 17 2 Canhão do Porto 3 20 00 m Douro 41º30' 100 0m 4 5 10º00' 41º00' 9º30' 9º00' Figura IV-49. Mapa da localização das estações hidrográficas (triângulos) realizadas durante o cruzeiro OMEX II/99 (18-28 de Maio). Delimitação dos depósitos finos segundo Drago, 1995. 1.6.1. Dados hidrológicos Os débitos fluviais médios nos 2 meses que precederam o cruzeiro foram baixos, da ordem dos 317 m3 /s para o rio Douro, de 14 m3 /s para o Cávado e de 12 m3 /s para o Lima (Fig. IV-50). Durante o cruzeiro os caudais mantiveram-se dentro da mesma ordem de grandeza, com pequenas flutuações diárias, mas sem a ocorrência de caudais elevados. O cruzeiro iniciou-se em período de marés vivas (3 primeiros dias), com amplitude de maré superior a 2,5m, tendo o resto da missão decorrido em compreendida entre 1,4m e 2,1m. 117 marés mortas com amplitude Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ Lima (Est.Touvedo) Cavado (Est.Caniçada) Douro (Est.Crestuma) 600 500 Cruzeiro 400 300 200 30-05-1999 15-05-1999 30-04-1999 15-04-1999 31-03-1999 0 16-03-1999 100 01-03-1999 Caudal médio diário (m3/s) 700 Figura IV-50. Caudais de alguns rios minhotos, para os dois meses que antecederam e, durante o cruzeiro OMEX II/99 (Fonte: CPPE). 1.6.2. Dados climáticos A missão OMEX II/99, decorreu com tempo variável e ventoso, apresentando, por vezes, o céu encoberto. -11.0 -10.5 -10.0 -9.5 -9.0 -8.5 42ºN OMEXII/99 Vento 20 nós Onda 2m 41º30'N 41ºN Figura IV-51. Mapa com as observações de vento e onda obtidas a bordo durante o decorrer do cruzeiro OMEX II/99. No inicio do cruzeiro (fig.IV-51), os ventos predominantes e a ondulação eram de N-NW, sendo no final do mesmo, oriundos de S-SW. A altura da ondulação foi sempre inferior a 2m ocorrendo, por vezes, períodos de mar chão. As observações são representativas de um período de Primavera, de transição para o regime de upwelling. 118 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 1.6.3. Diagrama TS de superfície Durante a campanha Omex II/99, foi possível distinguir quatro massas de água na zona em estudo (Fig. IV-52A): I. uma massa de água estuarina com temperatura compreendida entre 15,3ºC e 13,6ºC e uma salinidade inferior a 34,5, localizada perto da desembocadura dos rios Cávado e Douro. O valor mais baixo de temperatura está relacionada com o rio Cávado; II. uma massa de água costeira, mal definida, com salinidade inferior a 35,4 e temperatura variável (14,1ºC<T<16ºC); III. uma massa de água com características marinhas (S>35,4) e temperatura compreendia entre 15 e 16 ºC; IV. uma massa de água semelhante à anterior, mas com temperatura mais elevada (T>16,3ºC), que ocorre na região SW da área estudada (fig. IV-52a). 1.6.4 Diagrama TS de fundo Junto do fundo distinguiam-se três massas de água, muito bem definidas (fig.IV-52b): V. uma massa de água que cobre toda a plataforma, correspondendo à Água Central do Atlântico Norte; VI. massa de água do bordo da plataforma, que corresponde à contra-corrente para norte. Incorpora Água Central do Atlântico Sul (Barton, 1995). VII. nível superior da Veia de Água do Mediterrâneo. 119 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 17.0 42º N A IV Temperatura (ºC) 16.0 15.0 III I II 14.0 9º W 41º N 13.0 33.0 34.0 35.0 36.0 Salinidade 18.0 B 17.0 CW 16.0 Temperatura (ºC) 15.0 42ºN 14.0 13.0 V 12.0 Vl 11.0 10.0 VlI 9.0 8.0 41ºN 7.0 34.0 35.0 36.0 37.0 Figura IV-52. Diagrama TS para as águas superficiais (5m) e perto do fundo (max. 1500m), para a campanha OMEX II/99. I a VII representam as massas de água identificadas; a vermelho está definida a linha representativa da Água Central Norte Atlântica (CW- Central Waters). 1.6.5. Gradiente de salinidade à superfície O mapa de distribuição da salinidade mostra um padrão complexo (fig. IV-53), reflexo dos diferentes estados da maré (BM e PM) e ventos predominantes. Os valores mais baixos de salinidade estão associados com o estuário do rio Douro (S=33,35), com uma frente salina muito bem marcada. Nas secções mais a Norte (2 e 3) já não se verifica esta variação brusca, com a isolinha dos 35,4 a passar o bordo da plataforma. Na plataforma média ocorriam pontualmente, valores de salinidade mais baixos, resultantes de ciclos de maré anteriores. 120 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro OMEX II/99 Salinidade (5m) L im a 35.7 35.6335.51 35.62 41º30'N 35.47 35.56 35.43 35.51 35.53 35.59 35.28 35.36 35.55 35.33 35.58 34.44 35.59 0 35.5 35.55 35.5 35.44 35.4535.45 35.44 35.47 35.36 35.31 35.3235.36 35.36 35.41 35.50 35.45 35.4835.51 35.22 10km 35.59 35.67 35.49 35.23 33.35 Douro 1 0 0m 35.6 35.5635.54 35.50 35.46 35.50 35.48 35.06 9º00' W 34.84 Figura IV-53. Distribuição da salinidade para a campanha OMEX II/99 (Maio de 1999). 1.6.6. Perfis E-W de salinidade Os perfis E-W mostram, no geral, estratificação salina bem definida, com uma pluma dessalinizada superficial com espessura (10-20m) e extensão variáveis (fig.IV-54). Na secção 1, frente ao rio Lima, esta pluma começa a definir-se na segunda estação da secção (12 km da costa), estendendo-se por cerca de 8,5 km e apresentando espessura aproximada de 15m. Esta posição da pluma afastada da costa representa provavelmente águas que foram libertadas do estuário do rio Lima num ciclo de maré anterior e afastadas da costa pelos ventos de N-NW. Na secção 2, efectuada em frente ao rio Cávado, encontramos 3 zonas de salinidade inferiores a 35,5, bem definidas, separadas por estações com valores de salinidade superiores. Estas bolsas de salinidade inferior correspondem, possivelmente, a 3 ciclos de maré distintos. A bolsa de águas estuarinas, mais afastada da costa, encontra-se a cerca de 46 km da costa, atingindo os 27m de profundidade. Na secção 3, a área com salinidade inferior começa a definir-se a cerca de 7km da costa, estendendo-se até cerca dos 50 km, podendo atingir os 46m de espessura. A pluma com maior extensão (cerca de 90 km) detectou-se na secção 4, frente ao rio Douro, com uma espessura 121 Prof. (m) 0 0 -200 -200 -400 -400 -600 -600 Cruzeiro OMEX II/99 Salinidade Maio 99 -11.0 -10.5 -10.0 -9.5 -9.0 -8.5 42ºN -800 -800 Secção 1 S S1 S2 -1000 41º30'N -1000 S3 S4 -1200 -1200 41ºN S5 Secção 2 S -1400 -1400 -150 -100 -50 0 -150 -100 -50 0 0 0 0 -200 -200 -200 -400 -400 -600 -600 -600 -800 -800 Secção 5 Secção 4 S S -400 Prof. (m) 36.3 36.2 36.1 -800 36.0 35.9 35.8 -1000 -1000 -1000 Secção 3 S -1200 35.7 35.6 35.5 -1200 -1200 35.4 35.0 -1400 -1400 -1400 -150 -100 -50 0 -150 -100 -50 0 32.0 -150 km km Figura IV-54. Secções E-W de salinidade, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. 122 -100 km -50 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ que varia entre 9m (junto à costa) e 28m (a 50 km da costa). A última secção realizada mostra, à semelhança da anterior, uma pluma superficial lenticular cuja espessura não ultrapassa os 24m e cujo comprimento é de 60 km. 1.6.7. Gradiente de temperatura de superfície Nesta altura do ano, as águas mais frias encontravam-se junto à costa (13,6ºC), devido ao arrefecimento das águas dos rios. A temperatura aumentava gradualmente para o largo, onde se atingia temperaturas de 16,8ºC. A área de águas frias localizava-se entre os rios Cávado e Ave. Cruzeiro OMEXII (Maio 1999) Temperatura a 5m (ºC) Lima 15.0 15.1 15.3 15.4 15.6 15.4 41º30'N 15.2 14.7 15.2 15.6 15.4 15.1 15.0 15.3 14.3 13.6 13.6 0 15.9 15.6 16.4 16.8 16.6 16.6 16.6 15.8 15.6 15.115.0 15.1 15.7 15.7 14.7 14.4 15.6 15.3 14.1 14.2 13.7 15.6 16.0 10km 15.3 Douro 1 00m 16.8 16.7 16.5 16.6 16.3 16.5 16.6 16.1 9º00' W 16.0 Figura IV-55. Mapa de distribuição da temperatura à superfície (-5m), para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 1999). 1.6.8. Perfis E-W de temperatura Ao longo do cruzeiro, a termoclina superficial encontrava-se sempre bem marcada, como mostram as figuras IV-56 e 57, existindo um gradiente térmico situado entre os 20 e 60m, o qual separava as águas superficiais, com temperaturas superiores a 15ºC, das águas do fundo, mais frias (T<13,5ºC). 123 Prof. (m) 0 0 -200 -200 -400 -400 -600 -600 Cruzeiro OMEX II/99 Temperatura (ºC) Maio 99 -11.0 -10.5 -10.0 -9.5 -9.0 -8.5 42ºN Secção 1 T ºC -800 -800 -1000 -1000 -1200 -1200 -1400 -1400 S1 S2 Secção 2 T ªC 41º30'N S3 S4 -150 -100 -50 S5 -150 0 -100 -50 41ºN 0 0 0 0 -200 -200 -200 Secção 5 T ºC Prof. (m) Secção 4 -400 -400 -600 -600 T ºC -400 16.0 -600 15.0 14.0 -800 -800 -800 13.0 -1000 -1000 -1000 12.0 11.5 -1200 -1200 -1200 -1400 -1400 11.0 Secção 3 T ºC -1400 -150 -100 km -50 10.0 0 -150 -100 -50 0 9.0 -150 km Figura IV-56. Secções de temperatura, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. 124 -100 km -50 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 0 0 50 50 100 Secção 1 150 150 200 200 Pr of. (m ) Prof. (m) 100 250 250 300 300 350 350 400 400 450 450 500 500 11 12 13 14 15 16 Secção 4 10 11 12 T (ºC) 13 14 15 16 T (ºC) Figura IV-57. Perfis verticais de temperatura para as secções 1 e 4 (mais a Sul). A inclinação das isotérmicas que se observa nas secções 1, 2 e 3 indica claramente o afloramento de águas marinhas frias (13-14ºC). F.9. Gradiente de densidade de superfície A carta de densidade de superfície mostra uma estrutura complexa, à semelhança do comportamento apresentado pela salinidade. A estrutura clássica, com um gradiente E-W crescente da desembocadura dos rios para o largo, era por vezes interrompida por bolsas com densidade inferior, existentes sobre a plataforma média e externa (fig. IV-58). 1.6.10. Perfis E-W de densidade Os perfis E-W de densidade (fig. IV-59) confirmam a existência de estratificação vertical da coluna de água sobre a totalidade da plataforma e vertente continentais e a presença de pequenas bolsas de água com densidade mais baixa, que se podem estender até 50 km da costa. Confirma-se o fenómeno de upwelling na primeira secção, com o movimento ascensional das isopícnicas na plataforma interna. Na secção 2, na plataforma média, as isopícnicas encontravam-se praticamente verticais nos primeiros 20-30m da coluna de água, intersectando a superfície (frente de upwelling). As duas últimas secções foram cobertas em condições de ventos S-SW, revelando uma rápida erosão das condições de upwelling, com o estabelecimento de uma picnoclina horizontal. 125 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro OMEXII (Maio 1999) Densidade (5m) Lima 26.2 26.2 26.4 41º30'N 26.4 26.3 26.4 26.2 26.3 26.4 26.1 26.2 26.6 25.8 26.7 0 26.2 26.0 26.3 26.2 26.1 25.9 25.9 26.0 26.0 26.226.2 26.2 26.2 26.2 26.3 26.4 26.2 26.3 26.3 26.6 26.8 26.2 25.9 24.6 Douro 26.0 26.0 26.0 26.0 26.0 26.0 25.8 25.6 10 0 m 25 26.0 10km .0 9º00' W O liv eir a, A . 26.5 26.4 26.3 Figura IV-58. Mapa de distribuição da densidade à superfície (5m), para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 1999). 1.6.11.Gradiente de turbidez de superfície e de fundo Durante esta campanha, os valores de turbidez à superfície eram, de modo geral, baixos, com valor médio de 0,16 FTU (min. =0,06 FTU e max. =0,63 FTU). O mapa de distribuição (fig. IV60) permite individualizar a pluma túrbida associada com os rios Douro e Cávado, localizada em frente à sua desembocadura. Observa-se também um núcleo de turbidez superior na plataforma média a externa, provavelmente relacionado com o ciclo de maré anterior, visto que corresponde a um local onde a salinidade é ligeiramente inferior aos verificados nas estações em redor. A sua localização, na plataforma em frente aos estuários, relaciona-o com águas estuarinas com turbidez superior, trazidas à superfície pela baixa-mar. O facto de não terem ocorrido ondas e ventos fortes, que provocariam a mistura e homogeneização da coluna de água, permitiu que esta pequena estrutura superficial se conservasse durante mais tempo. 126 Prof. (m) 0 0 -200 -200 -400 -400 -600 -600 Cruzeiro OMEX II/99 Densidade Maio 99 -11.0 -800 -10.5 -10.0 -9.5 -9.0 -8.5 42ºN -800 Secção 1 στ S1 S2 -1000 -1000 41º30'N S3 S4 -1200 -1200 41ºN S5 Secção 2 στ -1400 -1400 -150 -100 -50 0 -150 -100 -50 0 0 0 0 -200 -200 -200 -400 -400 Secção 5 Prof. (m) Secção 4 στ -600 -600 -600 -800 -800 -800 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1400 -1400 -1200 Secção 3 στ -1400 -150 -100 -50 0 -150 -100 km km -50 στ -400 0 27.9 27.8 27.7 27.6 27.5 27.4 27.3 27.2 27.1 27.0 26.9 26.8 26.7 26.6 26.5 26.4 26.3 26.2 26.1 26.0 -150 -100 km Figura IV-59. Secções E-W de densidade, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. 127 -50 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ A turbidez no fundo era pouco mais elevada do que à superfície, com valor máximo de 0,86 FTU na plataforma interna perto da desembocadura do rio Douro, decrescendo para valores inferiores a 0,1 aos 200m de profundidade (valor médio de 0,22 FTU). Há três máximos a assinalar na plataforma média, um próximo do limite sul do depósito silto-argiloso do MinhoGaliza com 0,72 FTU, outro a 100m de profundidade, frente ao Cávado (0,34) e o último em frente ao rio Ave (0,76). Cruzeiro OMEXII (Maio 1999) Nefelometria superficie (FTU) Lima 0.06 0.07 0.07 0.09 41º30'N 0.06 0.06 0.13 0.08 0.10 0.10 0.14 0.10 0.36 0.14 0.19 0.34 0.12 0 0.06 0.07 0.11 0.08 0.08 0.09 0.19 0.08 0.09 0.130.16 0.16 0.11 0.09 0.16 0.14 0.19 0.21 0.20 0.22 0.27 0.26 0.29 10km 0.63 Douro 10 0 m 0.09 0.080.09 0.07 0.06 0.07 0.07 0.19 9º00' W 0.26 Figura IV-60. Mapa de distribuição da turbidez à superfície (5m), para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 1999). 1.6.12. Perfis E-W de turbidez Os perfis E-W confirmam os baixos valores de turbidez encontrados ao longo da coluna de água. Contudo, observa-se sempre a presença de um nefelóide de fundo, mais importante que o da superfície, que se estende até ao bordo da plataforma. Com turbidez inferior, o nefelóide de superfície atinge o bordo da plataforma nas secção 2, 3 e 4, encontrando-se mais limitado à plataforma interna a média nas secções 1 e 5 (fig. IV-62). Observam-se, por vezes, empolamentos locais no nefelóide de fundo, principalmente na plataforma média (secções 1,3 e 128 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ 4), correspondendo à ressuspensão de sedimentos finos do depósito silto-argiloso do Douro. Os perfis verticais mostram a importância do nefelóide de fundo e a presença de alguns níveis intermédios que se desenvolviam, principalmente, no bordo da plataforma e canhão do Porto (fig.IV-63). Cruzeiro OMEXII (Maio 1999) Nefelometria no fundo (FTU) Lima 0.01 0.01 0.07 0.19 0.25 0.72 0.24 0.03 0.03 41º30'N 0.040.06 0.07 0.26 0.34 0.45 0.27 0 0.06 0.01 0.00 0.01 0.02 0.02 0.030.04 0.09 0.060.18 0.20 0.33 0.43 0.44 0.76 0.55 0.43 0.30 0.69 0.50 0.45 0.37 10km 0.86 Douro 10 0m 0.04 0.04 0.11 0.14 0.23 0.27 0.17 0.13 9º00' W 0.50 Figura IV-61. Mapa de distribuição da turbidez no fundo, para o cruzeiro OMEX II/99 (Maio 99). 1.6.13.Interpretação das condições hidrológicas e de circulação A missão OMEX II/99, descreve uma situação de Primavera, precedida por dois meses com caudais fluviais baixos, com excepção do rio Douro, que apresentou caudais diários muito irregulares, com valores que variaram entre 4 m3 /s e 618 m3 /s (CPPE-Direcção de Produção de Hidráulica). Assim, a zona adjacente ao rio Douro era a mais perturbada pelos fluxos de origem continental (S=33,35). É interessante verificar que a zona adjacente ao rio Cávado (caudal baixo da ordem dos 3-69 m3 /s) também se encontrava perturbada por estes fluxos, com salinidades de superfície da ordem dos 34,44. 129 0 0 0.05 0.1 0.05 0.45 0.72 0.34 -200 -200 -400 -400 -600 -600 -11.0 -10.5 -10.0 -9.5 -9.0 -8.5 42ºN Secção 1 N (FTU) -800 -800 S1 0.01 Prof. (m) Cruzeiro OMEX II/99 Nefelometria (FTU) Maio 1999 -1000 S2 41º30'N S3 -1000 S4 41ºN S5 -1200 -1200 -1400 -1400 -150 -100 -50 Secção 2 N (FTU) -150 0 -100 -50 0 0 0 0 0.1 0.55 0.76 -200 -200 -400 -400 -600 -600 0.27 -200 Secção 4 N (FTU) Secção 5 N (FTU) -400 0. 01 0.70 -600 0.60 0.01 Prof. (m) 0.86 -800 -800 -800 -1000 -1000 -1000 -1200 -1200 -1200 -1400 -1400 -1400 0.50 0.40 0.30 Secção 3 N (FTU) 0.20 0.10 0.05 0.01 -150 -100 km -50 0 -150 -100 km -50 0 0.00 -150 -100 km Figura IV-62. Secções E-W de nefelometria, realizadas durante o cruzeiro OMEX99. 130 -50 0 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ Ne f. (FT U ) 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20 0 0 0 20 20 20 40 40 40 60 60 60 0.08 0.16 CNS Prof. (m) CNS 10 CNF 20 30 80 80 80 100 100 100 40 120 120 CNI 140 CNF 160 Secção 3 Secção 4 140 160 180 180 200 200 220 CNI 240 260 Canhão do Porto CNI 280 300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 Figura IV-63. Perfis de nefelometria das secções 3 e 4. Delimitação das CNS, CNF e CNI. Neste período estabeleceu-se uma termoclina sazonal estacionária, que se desenvolvia entre os 30 e os 50m de profundidade e que cobria a totalidade da plataforma. Sobre a termoclina ocorria advecção para o largo da massa de águas costeiras com salinidades inferiores a 35,5. Esta massa de água extensa (90 km junto ao Douro e 8,5 km junto ao Lima) e lenticular ocupava, em média, os primeiros 20m da coluna de água. A inclinação das isotérmicas observadas nos perfis verticais de temperatura (secções 1,2 e 3) indica claramente o afloramento de águas marinhas frias (13-14ºC). Na semana que precedeu o cruzeiro (2-3 dias) e durante o início do mesmo os ventos predominantes foram de N-NW (favoráveis ao upwelling), fazendo com que as correntes gerais fossem para sul com deslocamento das águas superficiais para oeste. Esta corrente superficial para o largo explica a grande extensão das águas costeiras. 131 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ A primeira secção corresponde à fase inicial do upwelling, observando-se na plataforma interna um movimento ascensional das isopícnicas. Na secção 2, em resposta ao forçamento contínuo do vento, as águas costeiras apresentavam-se num estádio mais evoluido. Na plataforma média, as isopícnicas encontravam-se praticamente verticais nos primeiros 20-30m da coluna de água, intersectando a superfície (frente de upwelling). Estas observações sugerem que a frente de upwelling (e associado fluxo para sul) anteriormente observado na plataforma interna, com a persistência de ventos norte, migra para o largo, confirmado por estudos prévios realizado por Silva (1992) na mesma área. A migração da frente de upwelling para o largo "empurra" ou impele a deslocação da pluma salina e túrbida do rio, no mesmo sentido. Perto da costa, na zona frontal da frente, estabelece-se um regime friccional, que transporta para sul, por advecção, águas estuarinas dos rios localizados mais a norte (Lima e Cávado) (Oliveira et al., 2001). As duas últimas secções foram cobertas já em condições de ventos S-SW, revelando uma rápida erosão das condições de upwelling, com as águas oceânicas mais quentes a penetrarem de novo na plataforma continental. Os valores de nefelometria são, no geral, baixos, verificando-se à superfície alguns locais com valores de turbidez superior. Estes valores de turbidez estão provavelmente relacionados com ciclos de maré anteriores, onde houve expulsão de material fino dos estuários para a plataforma sendo depois transportados para o largo devido ao deslocamento da frente de upwelling. A ondulação fraca permitiu a conservação destas estruturas e a corrente superficial para fora a sua deslocação para perto da isóbata dos 100m. Junto ao fundo, os valores de turbidez eram também baixos, embora a CNF se estendesse até ao bordo da plataforma onde se definia algumas CNI. Na secção 3, que atravessa o eixo do canhão submarino do Porto, identificaram-se dois níveis nefelóides intermédios (190-230m e 240310m de profundidade), que poderão corresponder a descolamentos de material fino das paredes do canhão (Fig. IV-63). 2. Síntese - Evolução sazonal dos parâmetros hidrológicos das águas da plataforma NW portuguesa: temperatura e salinidade O conjunto de campanhas realizadas entre 1990 e 1999 na plataforma NW portuguesa, no âmbito de diversos programas de investigação, permitiu descrever e conhecer alguns aspectos da hidrologia desta região, submetida à influência de diversos rios, com especial destaque para os rios Douro e Minho. 132 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ Estes cruzeiros permitiram o estudo de dois períodos invernais muito diferentes do ponto de vista hidrológico. O primeiro, destes períodos no início do ano de 1992, caracterizou-se por caudais fracos, e o segundo, realizado no final do ano de 1997, apresentou caudais elevados correspondendo a uma situação mais comum nesta época do ano. Permitiram, ainda, o estudo de uma situação de final de Verão (Setembro de 1990), com ventos predominantes de Este, e de três situações intermédias, com especial relevo para o cruzeiro de Novembro de 1996. Este cruzeiro permitiu descrever a evolução de uma situação de Verão típica, onde prevalece o fenómeno de upwelling associado a ventos de Norte, para uma situação de Inverno, onde dominam os temporais. A hidrologia da plataforma minhota conhece, assim, uma variabilidade interanual importante, em relação directa com as condições meteorológicas e, em particular, com o regime de chuvas que afectam as bacias hidrográficas e determinam a importância dos fluxos estuarinos expulsos para a plataforma continental. Por outro lado, existe, também, uma variação sazonal bem marcada, relacionada com o regime de ventos predominantes, que vai condicionar e controlar a dispersão do material em suspensão expulso pelos estuários. 2.1. Situação de Inverno No Inverno estabelece-se, por vezes, uma frente termo-halina norte-sul, paralela à batimetria, que separa as águas costeiras mais frias (<12,5ºC) e menos salinas das águas oceânicas mais quentes (>16ºC). A nível mundial, a presença de frentes invernais termo-halinas foi descrita e caracterizada em diversas áreas como o Golfo da Biscaia (Castaing, 1981; Hermida, 1997), Inglaterra (Simpson, 1981) e as costas Este (Bumpus, 1973; Ingham, 1976) e Oeste dos EUA (Barnes et al., 1972). Estas frentes estabelecem-se devido ao abaixamento da salinidade das águas estuarinas provocado pelo aumento do caudal dos rios, como aconteceu em Dezembro de 1997, e/ou pelo abaixamento de temperatura das águas costeiras, condicionado pela introdução de águas dos rios arrefecidas pelas massas de ar frio continental (caso de Janeiro de 1992). A coluna de água da plataforma caracteriza-se por ausência de estratificação, excepto na zona costeira próximo da desembocadura dos rios. Quando os caudais são fortes a estratificação termo-halina encontra-se bem marcada (caso de Dezembro de 1997), verificando-se o oposto quando os caudais fluviais são fracos (caso de Janeiro de 1992). A ocorrência de temporais com ventos fortes de S-SW (velocidade acima de 10 m/s), promovem um regime de downwelling na plataforma continental norte portuguesa (Vitorino et 133 Capitulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________________ al., 2000, 2001), com circulação geral dirigida para norte. Em resposta às condições de downwelling, as águas oceânicas de temperatura superior penetram na plataforma, pelos níveis superiores da coluna de água. Perto do fundo, o fluxo é para fora da plataforma, com orientação N-NW (Vitorino, 2001). 2.2. Situações intermédias Na Primavera, o aquecimento progressivo das águas costeiras e a redução do caudal dos rios, provoca o desaparecimento progressivo da frente salina, dando lugar à termoclina sazonal horizontal que separa as águas frias do fundo (<14ºC) das águas quentes e menos salinas da superfície. A coluna de água encontra-se estratificada devido ao aquecimento solar das camadas superiores, com uma termoclina estacionária entre os 25 e 50m de profundidade (Maio de 1999). Com ventos fortes de norte, as águas superficiais são advectadas para o largo e as águas oceânicas frias, abaixo da termoclina, afloram junto à costa. Contudo, a termoclina restabelece-se rapidamente (2-3 dias) com o relaxamento do vento. Em Maio de 1999, observou-se uma massa de água com salinidades mais baixas (<35,3) acima da termoclina. Esta massa de água cobria a plataforma continental e dispersava-se no oceano (fig. IV-58). No Outono, a transição de uma situação de Verão para Inverno faz-se progressivamente com a passagem sucessiva de temporais de Oeste, como o que ocorreu em Novembro de 1996. A frente termo-halina encontrava-se mal definida (caudais fracos) e as águas estratificadas. Os temporais promovem a homogeneização da coluna de água, com a destruição da estratificação, passando-se progressivamente para uma situação de Inverno, onde geralmente os caudais dos rios também aumentam. 2.3. Situação estival As águas junto ao litoral galaico-minhoto registam, em Agosto e Setembro, temperaturas médias de 18-19ºC. Contudo, de Junho a Outubro verifica-se um arrefecimento das águas costeiras devido ao afloramento (upwelling) de águas frias (13-14ºC) do fundo, provocado por longos períodos de ventos de norte e noroeste (Fiúza, 1982). Este fenómeno foi observado pontualmente em Maio de 99, mas não em Setembro de 1990. Vitorino (1989, 1999) e Silva (1992) descrevem em pormenor a circulação residual na costa NW de Portugal durante esta estação, sumariamente descrito no capítulo II. 134 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 3. Níveis nefelóides e MPS 3.1.Concentração das águas em MPS 3.1.1.Cruzeiros PLAMIBEL Dado que estes resultados já foram apresentados em Oliveira (1994), apresenta-se apenas uma breve síntese dos mesmos. Em Setembro de 1990 (PLAMIBEL I), os valores mais elevados de concentração (mg/l) á superfície (Min:0,2; Max:3,3; 8=0,9), encontravam-se associados com as desembocaduras dos rios, diminuindo, de forma geral, de Leste para Oeste (fig. IV-64). Em Março 1991 (PLAMIBEL II), as concentrações à superfície foram muito superiores, com valores extremos de 1,1mg/l (na plataforma externa) e de 8,6 mg/l (na desembocadura do rio Lima). O valor médio de concentração foi de 3,4 mg/l (fig. IV-64). Para o último cruzeiro realizado em Janeiro de 1992 (PLAMIBEL III), os valores encontrados foram inferiores aos de Março, mas substancialmente superiores aos verificados durante o Verão (Min:0,5; Max:5,7; Med.=1,9). Devido à importância do rio Douro para a área em estudo, faz-se especial referência à zona da sua desembocadura, de modo a mostrar os comportamentos distintos da sua pluma túrbida superficial. No Verão, os valores de concentração superiores encontram-se a oeste da foz (bolsa de concentração superior na plataforma interna, correspondente a um ciclo de maré anterior); em Março, a pluma encontra-se deslocada para norte devido à dominância de ventos de S e SW; e em Janeiro a pluma superficial parece estar a dirigir-se para sul sob a influência dos ventos de NE, já que os valores de concentração superiores se encontram a sul da desembocadura do Douro. Durante estes cruzeiros foram obtidos alguns valores pontuais de concentração na camada nefelóide de fundo, que mostram valores muito superiores aos encontrados à superfície (Tabela IV-2). Tabela IV-2. Concentração média da MPS (mg/l) na plataforma continental a norte de Espinho (Oliveira, 1995). Desembocadura Plat. interna (<30m) Plat. média (>30m) Setembro 90 1m Fundo Março 91 1m Fundo Janeiro 92 1m Fundo 1.6 0,8 0,8 5,4 3,2 2,3 2,9 2,1 1,5 5,1 1,3 1,7 135 7,0 2,0 6,7 5,3 3,6 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 42ºN 42ºN Set. 90 Concentração de superficie (mg/l) 1.0 nh Mi Mar. 91 Concentração de superficie (mg/l) o 1.6 0.70.8 0.8 1.6 nh Mi 2.1 o 4.85.6 2.0 1.10.8 0.7 3.3 0.6 1.3 0.6 2.7 Lima 1.1 1.5 0.6 0.3 0.8 0.7 Lima 2.1 1.1 2.4 2.8 8.6 3.5 1.9 0.4 1.1 0.9 0.7 1.6 1.3 1.4 1.8 2.8 6.7 Cávado 41º30'N Cávado 41º30'N 0.5 0.4 0.4 Ave 5.8 4.4 0.5 0.4 41ºN 0.5 0.2 0.4 5.8 2.5 0.5 1.7 1.2 0.9 1.0 Douro 0.9 0.5 Ave 4.7 2.4 6.7 2.0 3.3 Douro 2.9 2.2 41ºN 9ºW 9ºW 42ºN Jan. 92 Concentração de superficie (mg/l) nh Mi 2.9 2.2 0.8 4.1 0.8 1.5 1.6 1.11.5 0.6 1.2 1.3 1.7 1.1 0.5 1.5 0.9 0.9 o Lima 2.3 1.3 1.5 0.9 0.8 Cávado 2.3 41º30'N 0.6 0.9 1.6 1.3 0.8 2.2 1.1 1.6 1.0 2.3 2.5 1.0 2.0 2.1 2.4 1.4 0.8 2.2 Ave 2.0 1.7 2.8 5.4 1.8 Douro 2.8 2.3 1.4 2.0 4.9 5.7 41ºN 5.7 9ºW Figura IV-64. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície, para os cruzeiros PLAMIBEL (Setembro 1990, Março 1991 e Janeiro de 1992). 136 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Conclusões: No Verão a concentração à superfície é baixa, com valores na plataforma interna e média geralmente inferiores a 1mg/l, tornando-se ligeiramente superior junto da desembocadura dos rios (Oliveira, 1995). No Inverno, perto dos rios, as concentrações são superiores com valores, por vezes, acima de 5mg/l (rio Douro), mas diminuindo rapidamente para a plataforma interna a média. Os mapas de distribuição da concentração mostram a localização da pluma do Douro, que varia essencialmente com a direcção dos ventos dominantes e com a maré. 3.1.2.Cruzeiro CORVET 96 Os valores de concentração extremos medidos à superfície (-5m) foram, antes do temporal de 19 de Novembro, de 0,1mg/l (na plataforma externa, no extremo NW da área em estudo) e de 1,8mg/l (na plataforma interna, na proximidade do rio Cávado). A concentração média era cerca de 0,6mg/l. Perto do fundo (cerca de 5m do fundo), os valores são mais elevados, principalmente na plataforma interna perto da desembocadura do rio Lima, onde se verificou o valor máximo de 13,8mg/l. A este nível, o valor de concentração médio foi de 2,7mg/l (fig.IV65), com o mínimo localizado no bordo da plataforma (0,3 mg/l). Em ambos os níveis os valores de concentração diminuíam da costa para o largo. Depois do temporal, os valores de concentração aumentaram significativamente, principalmente na plataforma interna e média. À superfície, embora o valor mínimo fosse muito semelhante (0,12 mg/l), o valor máximo aumenta para o dobro, 3,7 mg/l (valor médio de 1,0 mg/l). Perto do fundo, os valores extremos foram de 18,45 mg/l (plataforma interna a norte do rio Douro) e de 0,4 mg/l (bordo da plataforma), com valor de concentração média de 4,8mg/l. Tal como antes do temporal, os valores de concentração máximos localizam-se perto da costa, com diminuição dos valores para o largo. Contudo, com a passagem do temporal, ocorrem sobre a plataforma média valores de concentração mais elevados, provavelmente relacionados com a ressuspensão dos sedimentos finos do fundo. 3.1.3.Cruzeiro CLIMA 97 Nesta campanha, os valores mais elevados da concentração superficial (5m), foram registados na proximidade da costa e em duas áreas localizadas sobre a plataforma externa e bordo da plataforma (fig.IV-66). O valor médio de concentração encontrado foi de 0,95 mg/l sendo o valor máximo de 5,8 mg/l (plataforma externa a sul do rio Douro) e o mínimo de 0,05 mg/l na vertente continental. 137 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) MPS 5m do fundo (mg/l) Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) MPS a -5 m (mg/l) 0.1 0.5 0.4 0.2 1.2 0.3 0.3 0.9 0.5 Lima 0.3 P4 P5 0.5 0.2 1.8 0.9 0.5 P4 P5 3.7 0.1 0.1 2.7 5.7 Lima 0.3 1.7 41º 30' N 0 2.4 1.6 0.3 0.5 13.8 1.0 5.7 0.6 1.2 8.5 10.6 41º 30' N 10 km 0 0.6 0.4 1.4 10 km 0.2 0.3 0.6 1.20.6 0.4 3.2 0.5 1.0 0.8 5.5 3.9 15.9 1.9 3.52.0 18.5 200m 200m Douro 100m 100m 100m Douro 9º00' W 9º 00' W 9º00' W 9º 00' W Figura IV-65. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície e perto do fundo, para o cruzeiro CORVET 96 (Novembro de 1996). Secções P4 e P5 separadas pelo temporal de 19 de Novembro. Nas proximidades do fundo (CNF), as concentrações variaram entre 0,2mg/l (bordo da plataforma) e 15,6mg/l (a sul do rio Douro), com valor médio de 2,3mg/l. Como no cruzeiro CORVET, foram observados os valores mais altos de concentração sobre a plataforma média a externa, correspondendo a ressuspensão de partículas do depósito silto-argiloso do Douro. Contudo, no geral, as concentrações mais fortes encontravam-se na plataforma interna, diminuindo para o largo. 3.1.4.Cruzeiro OMEX II/99 Neste cruzeiro, as concentrações encontradas foram baixas, tanto na CNS como na CNF (fig.IV-67). À superfície, os valores de concentração variaram entre 0,07mg/l (plataforma externa) e 4,4 mg/l (plataforma interna perto do rio Douro), com valor médio de 0,87mg/l. Perto do fundo as concentrações variaram entre 0,2 mg/l (plataforma externa) e 3,7 mg/l (plataforma interna perto do rio Douro), com valor médio de 1,0 mg/l. 138 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Cruzeiro CLIMA (Dezembro 1997) Concentração a 5m do fundo (mg/l) Cruzeiro CLIMA (Dezembro 1997) Concentração a -5m (mg/l) 0.6 0.5 0.5 0.7 1.8 18.5 18.0 0.2 0.3 0.3 0.6 0.1 0.3 0.9 0.8 0.4 17.0 0.6 16.0 1.4 1.9 15.0 14.0 13.0 0.1 0.9 0.6 0.9 1.5 12.0 3.7 11.0 10.0 9.0 0.3 0.4 0.9 0.7 0.7 3.2 1.7 8.0 4.7 7.0 6.0 5.0 0.2 41º30'N 0.2 4.0 0.1 2.4 0.4 0.2 41º30'N 2.7 3.0 5.0 2.0 1.0 0.2 0.1 0.2 0.4 0.3 4.9 0.1 0.3 0.3 0.1 0.3 2.3 0.1 0.7 0.2 2.7 0.6 0.2 0.2 0.5 0 10km 4.8 1.5 2.9 0.8 0.9 0.4 0.2 1.2 1.6 0.3 Douro 0.2 0.9 4.0 1.6 12.8 1.9 5.1 1.8 0.5 1.0 10km 0 4.5 8.3 2.5 Douro 0.4 0.2 5.8 9º00' W 1.2 1.1 0.5 2.3 9º00' W1.4 15.6 Figura IV-66. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície e perto do fundo, para o cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro de 1997). 0.7 0.4 M in ho 1.0 0.5 0.1 0.4 0 Lima 1.0 41º30'N 0.4 Cá va do 0 0.4 0.8 0.4 0.6 1.3 0.7 Av 0.8 4.4 0.6 Douro 0.3 0.4 0.3 Cá va do 0.9 1.0 1.1 1.0 1.3 1.6 1.6Av e 3.7 Douro 100m 100m 0.2 0.6 Lima 10km e 200m 200m 0.5 0.6 0.2 41º30'N 10km 2.2 0.9 0.8 0.4 in ho Cruzeiro OMEXII (Maio 1999) Concentração perto do fundo (mg/l) M Cruzeiro OMEXII (Maio 1999) Concentração a - 5m (mg/l) 9º00' W 1.4 0.6 1.0 0.9 9º00' W 2.8 Figura IV-67. Distribuição da concentração (mg/l) à superfície e perto do fundo, para o cruzeiro OMEXII/99 (Maio de 1999). 139 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ 3.2. Níveis nefelóides e distribuição da MPS -relação com os parâmetros hidrológicos Como já foi referido anteriormente (Capitulo III), existe uma boa correlação entre os conteúdos de MPS e os valores de turbidez para a CNF, a qual diminui para a CNS. Os dados nefelométricos obtidos nos cruzeiros mostraram que a área em estudo é caracterizada por baixos valores de turbidez (<3 FTU), indicando que as concentrações de MPS são normalmente baixas. Contudo, concentrações relativamente superiores foram observadas a profundidades baixas nas imediações da desembocadura do rios e junto ao fundo na plataforma média e vertente superior (fig. IV-68). Prof. (m) 350 180 155 110 Prof. (m) 82 68 55 42 2.0 18 350180 82 68 55 42 18 E 14.0 Dezembro 97 Turbidez (fundo) Novembro 96 Dezembro 97 Maio 99 Maio 99 Nefelometria (FTU) 12.0 Nefelometria (FTU) 110 W Turbidez (-5m) Novembro 96 1.5 155 16.0 E W 1.0 10.0 8.0 6.0 0.5 4.0 2.0 0.0 0.0 -60.0 -50.0 -40.0 -30.0 -20.0 -10.0 0.0 Dist. á costa (km) -60.0 -50.0 -40.0 -30.0 -20.0 -10.0 0.0 Figura IV-68- Comparação entre os valores de turbidez encontrados à superfície e fundo para os vários cruzeiros. O período de transição entre o regime de upwelling e o período de inverno (Novembro de 1996), está bem representado na fig. V-69, pelas secções B e D. Os perfis de nefelometria obtidos antes do temporal, mostram a presença de uma estreita CNS (10-20m) e uma bem definida CNF (20-30m). Os valores de turbidez são baixos na CNS, da ordem dos 0.1-1.8 mg/l e na CNF são superiores, com concentrações que variam entre 0.3 e 13.8 mg/l. Depois do temporal, a CNS desaparece (coluna de água homogénea) e perto do fundo (≈5m do fundo), a turbidez decresce da costa até à isóbata dos 50-55m. A partir da isóbata dos 60m a turbidez aumenta ligeiramente até aos 150m, diminuindo drasticamente a partir deste limite para valores de turbidez baixos e constantes. Uma possível explicação para os altos valores de turbidez verificados na plataforma interna é a resuspensão, pela ondulação, do material fino do fundo. Este material, depositado durante o Verão, é novamente colocado em suspensão pelos primeiros temporais de Outono. O aumento de turbidez a partir dos 60m coincide com a ocorrência do depósito silto-argiloso do Douro, havendo nova introdução de partículas finas na CNF através da resuspensão dos sedimentos de fundo. O temporal favoreceu a resuspensão do material fino do fundo que é incorporado na CNF e transportado para o largo. Esta CNF, que 140 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ Corvet 96 - Período de Outono (baixo caudal) 0 0 Antes temporal Prof.(m) 26.6 26.9 -100 1.8 0.1 στ 27.0 -200 -50 Secção 4 N (FTU) A -25 km B -200 -50 0 -25 km 0 0 0 Depois temporal 26.6 Prof.(m) 1.4 -100 Secção 4 2.9 1.8 -100 -100 26.9 2.2 Secção 5 N (FTU) D Secção 5 στ C -200 -50 -25 km -200 -50 0 -25 km 0 Clima 97 - Período de Inverno (caudal elevado) sem temporal Prof.(m) 0 frente termo-halina 26.2 água oceânica -200 0.05 5.7 0 0.5 1. -100 Secção 2 26.9 0.05 0.1 26.4 -100 0 rio Douro água estuarina Secção 2 N (FTU) στ E 27.0 -50 km -25 F -200 -50 0 km -25 0 OMEX 99 - Período de Primavera Água superfícial quente e menos salina Prof.(m) 0 rio Douro 0 0.2 0.1 0.86 0.05 -100 -100 Secção 4 N (FTU) G -200 -200 -50 Prof.(m) 0 0.55 Secção 4 στ km -25 26.5 -50 0 km -25 0.1 στ -50 0.34 0.05 I -200 km -25 0.45 -100 Secção 2 água fria de fundo 0 0 Frente upwelling -100 H J -200 -50 0 Secção 2 N (FTU) km -25 Figura IV-69. Secções perpendiculares à costa representativas da densidade e nefelometria observadas durante os cruzeiros CORVET96, CLIMA97 e OMEX99. 141 0 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ A Turb. (FTU) 0.2 0.1 0 0.2 0.1 0 0.4 0.2 0 2 1 0 2 1 0 43 21 0 4 32 10 43 21 0 43 21 0 0 100 Corvet96 Secção 6 στ 300 Prof. (m) 200 400 27.2 500 40 30 20 10 0 Dist. à costa (km) B 0.2 0.1 0 0.4 0.2 0.1 0 0 Turb. (FTU) 0.4 0 0.4 0 3 2 1 0 3 2 1 0 6 4 2 0 0 100 στ 300 Prof. (m) 200 Clima 97 Secção 4 400 500 40 0.2 0 30 20 10 0 Dist. à costa (km) Figura IV-70. Relação entre os perfis verticais de nefelometria e isopícnicas verificadas na secção que atravessa o canhão do Porto. A) CORVET96; B) CLIMA97 e C) OMEX99 (página seguinte). Linhas a tracejado indicam as isopícnicas. Notar que nos diferentes perfis de turbidez (FTU), existe um decréscimo da escala de turbidez à medida que se caminha para o largo. 142 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ C Turb. (FTU) 0.2 0.1 00.2 0.1 00.2 0.1 0 0.4 0.2 0 0.4 0 0.8 0.4 0 0.4 0.2 0 0.4 0 0.4 0.2 0 0 26 .20 100 OMEX99 Secção 3 στ 300 Prof. (m) 200 400 500 40 30 20 10 0 Dist. à costa (km) (Ver legenda na página anterior) pode atingir espessuras de 30-50m, foi detectada no bordo da plataforma, estendendo-se pela vertente até profundidades da ordem dos 350-400m. Valores ligeiramente superiores de turbidez foram observados na área da vertente superior (fig. IV-70), indicando a presença de uma camada nefelóide intermédia (CNI) que se destacou do fundo; são geralmente níveis muito ténues. Em Dezembro de 1997, os valores de turbidez observados ao longo da coluna de água variaram entre 0.02 e 9 FTU, que corresponde a uma concentração de partículas de 0.1 a 16mg/l (valor observado na CNF a sul da desembocadura do rio Douro). O valor mais baixo de turbidez foi observado à superfície longe da influência dos rios e a níveis intermédios. Na plataforma média, os valores de turbidez eram cerca de 0.1 FTU da superfície até aos 60-80m de profundidade, apresentando uma coluna de água homogénea devido à mistura de Inverno, provocada pela ondulação (fig. IV-70B). No bordo da plataforma e vertente superior as concentrações de MPS observadas na CNF, com 10-50m de espessura, foram semelhantes às medidas durante Novembro de 1996, após 34 dias do temporal. No entanto, perto da costa, o maior débito fluvial permitiu o estabelecimento de uma frente termo-halina que aparentemente inibia a transferência de partícula para o largo. Esta frente afectava toda a coluna de água (60-70m) ou sobretudo a 143 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ CNS dependendo da proximidade à desembocadura do rio Douro. A partir deste limite a turbidez na CNF aumenta por cima do depósito fino da plataforma média (Fig. IV-69F), mas com mais baixos valores de turbidez e com espessura menor (10-20m) do que em períodos de temporal. Na vertente superior a profundidades de 160-180m, observa-se uma reduzida mas distinta CNI relacionada com o descolamento da CNF(fig. IV-70b). Durante Maio 1999, a distribuição da turbidez evidencia claramente a CNS e CNF bem separadas (Fig. IV-68H), apresentado extensão semelhante mas com valores de turbidez muito inferiores aos observados de Inverno e Outono. A frente termo-halina desapareceu e já não existe bloqueio à transferência de partículas para o largo, principalmente na CNS (3040m) que se estende para oeste, até ao bordo da plataforma. As concentrações de MPS variam entre 0.1 e 4.4mg/l. A CNF está bem definida e apresenta uma espessura de 20-30m. Na CNF a turbidez diminui até à isóbata dos 60m, aumentando também ligeiramente sobre o depósito fino do Douro. A profundidades superiores a 200m a CNF não foi detectada. Quando a frente de upwelling (fig.IV-69I) se estabeleceu na plataforma interna a média, devido aos ventos de N-NW, a água estuarina (e as partículas na CNS) parecem estar aprisionadas junto à costa (fig. IV-69J), mas com a migração para o largo desta frente, a extensão da CNS permanece a mesma. Os aportes de MPS são mais reduzidos, assim como o efeito da onda, mantendo menor quantidade de partículas em suspensão que se depositam mais facilmente na plataforma. Contudo ao longo da vertente superior, distinguem-se três CNI observadas a várias profundidades (120-150m; 190-230; 240-310m), provavelmente associadas com o descolamento de sedimentos finos da parede do Canhão do Porto (fig. IV-70C). No geral, os valores de MPS observados são compatíveis com os descritos para o Golfe de Lion, onde o conteúdo de MPS nas águas superficiais varia entre 0.8 e 3 mg/l (Durrieu de Madron et al., 1990). Perto do fundo, as concentrações observadas em alturas de temporal são também semelhantes às do Golfe de Lion (4mg/l) e do rio Ebro (Palank & Drake, 1990), mas três vezes inferiores às observadas durante a Primavera. No rio Gironda, as concentrações observadas são mais elevadas (>5 mg/l). 3.3. Formação e desenvolvimento dos níveis nefelóides Os dados da fig. IV-70 sugerem que o desenvolvimento das camadas nefelóides está intimamente relacionada com a distribuição da densidade e com a estratificação da coluna de água. As isolinhas de concentração por vezes sobrepõem-se às isopícnicas. Nos três cruzeiros observava-se que a superfície de densidade σt ≈ 26.9 kg m-3 se situava, aproximadamente, na 144 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ base da picnoclina. A evolução desta superfície permite caracterizar as condições hidrográficas e o desenvolvimento dos níveis nefelóides. Durante o cruzeiro CORVET96, o limite superior da CNF, situa-se na picnoclina. A superfície de densidade σt ≈ 26.9 kg m-3 ocupa praticamente toda a plataforma até à plataforma interna (30-50m de profundidade). No cruzeiro CLIMA97, esta superfície desce para o bordo (150160m de profundidade), limitando a formação da CNF e aumentando a camada de mistura superficial. No cruzeiro da Primavera, esta superfície de densidade sobe novamente ocupando toda a plataforma, permitindo o aumento de espessura da CNF. A CNS (maioritariamente constituída por partículas orgânicas) forma-se encontrando-se claramente limitada por isopícnicas. A maior parte das partículas presentes na CNF são inorgânicas (Capitulo V), resultando em grande parte dos processos físicos de ressuspensão. Vitorino et al., (2001), apresentam uma discussão sobre os processos que afectam a margem norte Portuguesa. Na plataforma interna e média o mecanismo de resuspensão dominante é a onda de superfície. Estimativas baseadas na medição da onda na plataforma média (86m) sugerem que de Inverno, a velocidade de corte da onda frequentemente excede os 1 cm/s, assumida como a velocidade de corte critica para ressuspensão dos sedimentos finos da plataforma norte. Durante temporais como o observado em Novembro de 1996, a velocidade de corte da onda era superior a 2,5-3cm/s, formando uma CNF com cerca de 20-30m de espessura. As correntes de baixa frequência (períodos acima de cerca de 2 dias) podem também ressuspender o sedimento de fundo. Foram observadas correntes acima de 25 cm/s (para norte ou para sul) tanto no Inverno (fig. II-10) como na Primavera, promovendo velocidades de corte acima do valor crítico de ressuspensão. As ondas internas causam também ressuspensão, sobretudo na plataforma externa associadas a condições particulares de estratificação. Durante o Inverno, a picnoclina intercepta o fundo a profundidades de cerca de 80-100m, formando uma região frontal (fig. IV70B). As ondas internas e marés geradas no bordo da plataforma, com períodos abaixo de 14h, podem ser transmitidas para terra e intensificadas perto do fundo (Vitorino et al., 2001), promovendo a remobilização do sedimento fino da plataforma. Este mecanismo afecta sobretudo a plataforma externa, mas em temporais extremos a região frontal pode atingir o depósito fino do Douro e promover a sua erosão. 145 Capítulo IV Hidrologia da plataforma e vertente continental NW Portuguesa _______________________________________________________________________________ No Outono -Inverno, a CNF expande-se para a vertente, seguindo as isopícnicas (Fig. IV-70). Ao longo do bordo da plataforma, a CNF destaca-se, formando CNI. A profundidades superiores observam-se CNI mais pequenas. No cruzeiro de Maio de 1999, ao longo da vertente superior foi observada a presença de CNI. A origem e desenvolvimento destas CNI podem dever-se à associação da corrente da vertente com as marés. Nos meses de Verão e Primavera, verificou-se existir intensificação das correntes tidais da plataforma interna para a vertente superior (Vitorino & Coelho, 1998). Na vertente superior, as elipses de maré semi-diurnas (velocidades de correntes da ordem dos 15-20cm/s) estão polarizadas segundo a direcção do bordo da plataforma, promovendo importantes movimentos transversais (Vitorino & Coelho, 1998). No Inverno, a corrente da vertente encontra-se à superfície com velocidades máximas de 20-35cm/s a 50m de profundidade (Frouin, et al., 1990). No Verão-Primavera, o núcleo de velocidade máxima encontra-se aos 100-150m de profundidade podendo exceder a velocidade critica de erosão, de 15-20 cm/s, para a formação de CNI ( Mc Cave, 1984; Gross & William, 1991). O sedimento assim ressuspenso iria ser transportado para norte ou para o largo associado com a maré. Em período de Verão, Hall et al. (2000) também propõem uma intensificação na formação de CNI devido ao upwelling e transporte para o largo e à existência da corrente da vertente para o equador a níveis superficiais. 3.4.Conclusões A distribuição espacial da MPS na plataforma e vertente continental e a sua relação com os parâmetros hidrológicos permitiu evidenciar alguns dos processos envolvidos na transferência das partículas em situações contrastadas (Inverno e Primavera). Os resultados obtidos indicam que: a) Existe um gradiente geral de diminuição das concentrações de Este para Oeste; b) A turbidez é sempre superior perto do fundo (CNF) do que na superfície (CNS); c) A transferência do material fino é essencialmente feito na CNF, favorecido pelas correntes de downwelling, presentes em temporais de S-SW; d) Dependendo da circulação geral e da acção da onda, os valores de turbidez aumentam na plataforma média (depósito silto-argiloso do Douro), perto do canhão submarino do Porto. Os sedimentos finos são remobilizados e transportados para norte para a plataforma Galega ou para NW em direcção ao eixo do canhão do Porto; e) O eixo do canhão submarino do Porto representa certamente uma das áreas preferenciais para introdução da MPS na vertente continental e planície abissal. 146 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ CAPITULO V Matéria particulada em suspensão na coluna de água A colheita de águas a diferentes níveis da coluna de água, preferencialmente na CNS e na CNF, permitiu a realização de estudos qualitativos e quantitativos da MPS para identificação da composição e origem dos níveis nefelóides. 1.Carbono Orgânico Particulado 1.1.Introdução geral ao ciclo do carbono No ciclo de carbono, a matéria orgânica do ambiente marinho tem um papel fundamental nos processos biológicos que ocorrem tanto na coluna de água como nos sedimentos. A fig.V-1 mostra um modelo de fluxos de carbono em diferentes ambientes oceânicos (plataforma, vertente e planície abissal da Galiza), de acordo com Wollast (1999). PLATAFORMA f.ratio=0.5 pp:200 respiração:100 exportação:100 Dep. VERTENTE Z. eufótica 100 exportação 30 respiração:50 Dep. f.ratio=0.33 Z.afótica 200m 20 respiração:20 enterrado:0.2 Sedimentos exportação ? pp:160 respiração:106 exportação:54 Dep. 54 input total:64 respiração:57 Dep. 6 respiração:6 enterrado:0.1 PLANÍCIE ABISSAL Z.eufótica 100m pp:140 respiração:110 exportação:30 Dep. 30 Transp.lateral int. e fundo 200m Sedimentos input total:31 respiração:28 Dep. 3 respiração:3 enterrado:0.1 Figura V-1. Fluxos de carbono (gCm- 2ano-1 ) no reservatório oceânico de acordo com Wollast (1999). pp=produção primária; dep=deposição; f.ratio=exportação/pp. O oceano contém 60 vezes mais carbono que a atmosfera (Westbroek et al., 1993). A quantidade de carbono no oceano é determinada: a) pelo acarreio de material de origem continental; b) por processos físico-químicos de troca com a atmosfera; c) por processos biológicos como a fotossíntese e calcificação; d) e pela sedimentação. A fonte principal de carbonatos no oceano são os foraminíferos, cocolitóforos e, com menor importância, os pterópodes e os dinoflagelados calcários. A produção de cocólitos e carapaças liberta CO2 , enquanto que a fotossíntese remove o CO2 do oceano superficial e atmosfera, ao produzir matéria orgânica. A maior parte do carbono orgânico particulado é respirado e só apenas 0,1% 147 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ da produção de carbono orgânico é preservado nos sedimentos (Westbroeck, et al., 1993; Wollast, 1999). 1.2.COP em ambiente fluvial e marinho O conteúdo de carbono orgânico das partículas fluviais varia com o caudal dos rios. No rio Ródano, os valores de COP variam entre 3 e 6 %, com uma estimativa anual de COP fornecido para o mar de 5,6 a 11,2x104 ton./ano (Cauwet et al., 1990). Meybeck (1982) descreveu a relação entre a matéria particulada total em suspensão e o conteúdo orgânico das partículas nos rios, mostrando que, quanto mais elevada é a turbidez, mais baixo é o conteúdo em carbono. Esta relação foi encontrada em vários rios, como refere Cauwet (1990), tornando-se mais geral. Quando as águas estuarinas entram na plataforma, parte das partículas em suspensão começa a depositar-se, ocorrendo nas águas superficiais um gradiente vertical de turbidez. Embora o esquema de sedimentação seja mais complicado devido aos processos de floculação, idealmente, partículas pesadas e maiores (ex: quartzo) sedimentam primeiro que as partículas menos densas e de menores dimensões, que são transportadas mais para longe da costa (ex. minerais das argilas e matéria orgânica). Na plataforma, a introdução de matéria orgânica autóctone aumenta o conteúdo do COP. A contribuição do plâncton pode variar de 20-50% nas águas oligotrópicas a mais de 70-90% em áreas de alta produtividade, onde a fracção detrí tica é reduzida (Hobson et al., 1973; Cauwet, 1978). Neste estudo, para o conhecimento da fracção orgânica na MPS, avaliou-se o conteúdo em carbono orgânico das partículas colhidas nas águas da plataforma e vertente continentais. Para avaliar os teores de Matéria Orgânica Particulada (MOP) a partir das concentrações de COP, existem na literatura relações empíricas do tipo: MOP = R x COP Para os sedimentos em suspensão no meio estuarino é frequentemente utilizada a relação de Demolon (1944), determinada por agrónomos e pedólogos (Robbe, 1981): R=1,72 se COP<5,8% R=2,0 se COP≥5,8% Etcheber (1986) determinou diversos valores de R em amostras de sedimentos em suspensão no Gironda, conforme a altura do ano e a natureza da MO (R variou entre 1,76 e 1,95). Para isso, determinou a quantidade de MO extraída por oxidação com água oxigenada (H2 O2 ). Para suspensões marinhas, Bunt (1975) propõe um R de 2,2 (valor utilizado neste estudo). 148 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 1.3.Análise do COP Determinou-se o conteúdo de carbono orgânico à superfície (1m), nos cruzeiros PLAMIBEL I (Setembro 1990) e PLAMIBEL II (Março de 1991), enquanto que para os cruzeiros CORVET (Novembro 96), CLIMA (Dezembro 97) e OMEX II as amostras foram preferencialmente colhidas da CNS e CNF. No cruzeiro OMEX II (Maio de 99) efectuaram-se também colheitas a níveis intermédios, de águas menos túrbidas. Com estas amostras, obtiveram-se mapas de distribuição do COP a diferentes níveis (em µg/l e % de COP), de modo a evidenciar as diferenças verificadas entre os diversos cruzeiros no que respeita à contribuição de nutrientes dos rios para a plataforma continental adjacente. A análise da distribuição do COP nas águas superficiais durante o Verão (Set.90) mostra a importância dos rios como contribuintes de nutrientes para a plataforma continental (fig. V2), com destaque para os rios Douro (497µm/l) e Lima (336µm/l). As distribuições da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono (%) são muito semelhantes, com os valores mais elevados na proximidade da desembocadura dos rios. 42ºN 42ºN Set. 90 COP -1m (ug/l) n Mi 153 Set. 90 COP -1m (%) ho i nh M 147 108 157158 211 23 300 96 221 Lima 95 3 10 18 336 135 64 10 11 Lima 23 55 20 19 201 83 9 2815 22 185 124 22 29 200 15 19 37 33 212 Cávado 10 100 237 31 Cávado 41º30'N 205 30 93 20 271 330 41º30'N Ave Ave 35 256 20 28 320 22 39 15 212 27 23 23 33 21 Douro 280 487 352 327 497 Douro 216 41ºN o 132 215 123 160 41ºN 25 26 13 24 25 9ºW 9ºW Figura V-2. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%) para o cruzeiro PLAMIBEL I (Set. 90). 149 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 42ºN 42ºN Mar.91 COP -1m (ug/l) M 476 in Mar.91 COP -1m (%) ho M 521 363 540 31 inh o 11 9 17 500 3 0 236 768 9 317571 719 1978 611 237 Lima 37 250 294 276 28 24 26 21 18 Lima 23 18 2 0 16 100 1 0 273 351 439 610 22 25 16 9 Cávado 41º30'N Cávado 41º30'N 549 Ave 12 403 485 7 11 231 223 717 154 288 4 9 11 8 Douro 329 161 41ºN Ave 9 Douro 11 8 41ºN 9ºW 9ºW Figura V-3. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%) para o cruzeiro PLAMIBEL II (Março 91). Em relação aos cruzeiros de Inverno, a observação das distribuições da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), mostra que: • no cruzeiro de Março de 1991 ocorrem, à superfície, valores elevados de carga orgânica associada com os rios, principalmente na proximidade do rio Lima. Nessa área, as percentagens de COP são superiores a 20%, o que sugere importante contribuição de material orgânico. Já na plataforma interna perto do rio Douro, o conteúdo em COP é mais baixo (inferior a 11%), sugerindo aumento da contribuição em partículas terrígenas (fig. V3). • no cruzeiro de Novembro de 1996, os valores de conteúdo orgânico à superfície são, em geral, baixos (fig.V-4). Contudo, o temporal de 19 de Novembro provocou, na estação mais próxima da costa, um aumento da carga orgânica das águas, que quase triplicou. Pelo contrário, as percentagens de COP mantiveram-se praticamente inalteradas. O conteúdo em carbono (%) apresenta os valores mais elevados na plataforma externa, e evidencia a presença de águas pouco ricas em COP na plataforma interna a média. Estes baixos conteúdos em COP encontram-se, provavelmente, associadas a águas estuarinas, ricas em 150 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) COP fundo (ug/l) Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) COP -5 m (ug/l) 41 76 27 58 51 60 52 8 Lima 45 P4 62 41 45 67 39 42 155 110 232 150 96 41 P5 130 73 36 P4 P5 189 536 115 63 52 339 91 274 71 Lima 413 100 41º 30' N 41º 30' N 0 10 km 0 10 km 50 44 68 42 36 32 44 76 168 31 52 70 64 53 252 117 156 541 664 188131 Douro 20 0 m 2 00 m Douro 9º 00' W 9º 00' W Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) COP fundo (%) Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) COP -5 m (%) 29.2 16.9 5.1 18.1 5.4 5.8 35 17.7 16.4 5.9 1.6 Lima 15.6 P4 12.4 5.6 18.0 18.0 3.8 31.6 30.0 P5 30 P4 P5 20 5.1 8.4 11.7 14.6 4.1 7.4 13.7 12.6 8.2 3.9 9.4 4.3 6.1 Lima 4.0 3.9 41º 30' N 41º 30' N 10 0 10 km 0 10 km 0 7.0 16.2 2.6 20.1 12.9 5.6 2.5 8.5 19.0 5.2 13.4 7.1 7.0 4.6 6.1 5.4 6.5 3.4 3.6 Douro 20 0 m 200m Douro 4.0 9º 00' W 9º 00' W Figura V-4. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), colhidas a -5m e no fundo, para o cruzeiro CORVET (Novembro 96). O perfil 4 e 5 estão separados pelo temporal de 19 de Novembro. 151 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro CLIMA (Dezembro 97) COP -5m (ug/l) 57 Cruzeiro CLIMA (Dezembro 97) COP fundo (ug/l) 137 117 64 39 46 45 76 56 56 46 68 74 500 141 171 150.0 Lima 96 270 77 93 93 105 80 a 134 177Lim 201 132 150 100 251 100.0 40 36 41º30'N 37 33 0 98 41º30'N 151 62 54 180 50.0 104 78 163 87 81 50 259 155119 136 10km 32 33 44 49 36 191 55 40 43 94 94 69 278 87 62 60 Douro 90 105 125 200m 41 200m 51 33 198 144 242 173 507 147 277 0 10km 424 174 Douro 100m 100m 9º00' W92 89 91 Cruzeiro CLIMA (Dezembro 97) COP -5m (%) 14.4 6.2 16.1 13.6 35.0 28.2 10.4 41º30'N 3.5 14.8 13.6 0 30.0 10.0 6.2 15.121.6 14.1 4.8 12.6 25.0 20.0 4.3 11.6 19.6 Lima 8.9 26.6 41º30'N 7.9 6.1 19.5 0.0 6.9 11.5 6.8 7.4 14.8 1021 245 Cruzeiro CLIMA (Dezembro 97) COP fundo (%) 20.5 6.7 9º00' W 78 23.0 7.6 7.9 12.0 5.4 6.2 18.1 20.6 ima 5.1L 8.6 5.5 11.98.1 16.0 10km 7.9 33.3 33.8 23.4 30.0 19.1 24.0 8.1 12.9 13.4 32.5 33.6 7.0 7.8 2.3 Douro 9.9 22.3 12.6 200m 4.8 200m 13.4 12.6 10.6 13.7 5.0 5.1 9.1 8.1 8.3 4.1 0 10km 5.2 5.7 Douro 100m 100m 9º00' W7.9 16.9 19.7 1.3 9º00' W 16.3 5.4 Figura V-5. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), colhidas a -5m e no fundo, para o cruzeiro CLIMA (Dezembro 97). 152 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro OMEX II (Maio 99) COP -5m (ug/l) Cruzeiro OMEX II (Maio 99) COP Fundo (ug/l) 500 86 293 133 Lima 200 48 159 69 Lima 150 87 65 90 100 91 62 33 49 68 41º30'N 41º30'N 50 0 10km 115 65 77 120 76 88 148 91 0 89 163 625 222 71 130 Douro 176 200m 200m 49 10km 515 814 Douro 100m 57 100m 56 9º00' W68 445 108 Cruzeiro OMEX II (Maio 99) COP -5m (%) 174 497 9º00' W90 Cruzeiro OMEX II (Maio 99) COP Fundo (%) 50.0 28.5 40.0 Lima 15.8 16.0 10.1 7.9 Lima 30.0 20.0 43.5 19.2 20.5 8.8 10.0 13.5 6.8 4.3 8.4 41º30'N 41º30'N 0.0 0 10km 37.0 12.8 10.8 24.9 9.2 9.0 13.1 5.6 0 35.5 29.1 29.6 22.1 28.3 Douro 8.4 200m 200m 18.8 13.1 8.2 10km 15.4 Douro 100m 28.6 100m 18.5 9º00' W 21.9 20.8 20.7 15.0 9º00' W 20.8 Figura V-6. Distribuição da carga orgânica (µg/l) e do conteúdo em carbono das amostras (%), colhidas a -5m e no fundo, para o cruzeiro OMEX II (Maio 99). 153 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ elementos terrígenos, provenientes dos rios, com especial destaque para o rio Douro (escoamento superior). Junto ao fundo, o conteúdo de COP era inferior ao da superfície, aumentando para a plataforma externa e bordo nas vizinhanças do canhão submarino do Porto, o que sugere uma rápida transferência de material orgânico dos níveis superficiais da coluna de água para o fundo. • no cruzeiro de Dezembro de 1997 verifica-se, à superfície, a mesma tendência do cruzeiro anterior, com o conteúdo em carbono das águas a aumentar para a plataforma média e externa, decrescendo no bordo e vertente continental. As águas oceânicas mais ricas em carbono ocorrem na plataforma externa entre os rio Ave e Douro (fig.V-5). Na proximidade do fundo, é de salientar os valores de COP observados na vertente continental superior e na proximidade do canhão do Porto, que são superiores aos verificados aos 5m. Estes valores elevados sugerem importante contribuição de carbono da camada fótica superficial, ou então, mais provavelmente, o enriquecimento esporádico da CNF em carbono em consequência da forte remobilização dos sedimentos de fundo da plataforma média a externa, que se verifica durante os temporais de Inverno. • As distribuições do COP referentes ao cruzeiro realizado na Primavera (Maio 99) revelam conteúdos importantes de C orgânico tanto na CNS, como na CNF (fig.V-6). A carga orgânica é elevada na proximidade dos rios Douro (>500µg/l) e Lima (>290µg/l), com tendência para diminuir para o bordo da plataforma, onde o conteúdo em carbono (%) apresenta os valores mais elevados. Neste cruzeiro realizaram-se colheitas ao longo da coluna de água (superfície, meio e fundo), tornando-se assim possível a elaboração de perfis perpendiculares á costa (fig.V-7). Estes perfis mostram que os valores superiores de COP (%) se encontram à superfície, com os valores mais baixos geralmente na plataforma média a externa, na proximidade do fundo. É de realçar que os valores elevados de COP (>20%) encontrados na vertente continental a profundidades superiores a 300m (secção 3 e 4) implicam necessariamente um transporte rápido de matéria orgânica para estas profundidades. Com estes dados construíram-se gráficos que relacionam o conteúdo de carbono orgânico com a matéria total em suspensão (mg/l), para a superfície e fundo (fig.V-8 e fig. V-9). Cada cruzeiro representa uma situação diferente o que induz distribuições distintas, em função da maior ou menor influência da produção oceânica (linhas a tracejado e a cheio). Nas águas superficiais (CNS), o antagonismo entre os rios e a influência marinha é responsável pela variação entre baixos e altos valores de carbono. Nas amostras de fundo é fácil detectar a 154 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ influência de partículas que provêm da coluna de água superior ou aquelas que provêm da resuspensão de sedimentos do fundo (Cauwet, 1990). 29 0 16 15 8 19 Secção 2 COP (%) % 50.0 -20 -10 0 35 29 17 13 30 8 2 12 5 Prof.(m) -30 37 32 9 13 20 13 -600 Secção 3 (Canhão do Porto) COP(%) -400 29 -600 40.0 12 -800 30.0 -1000 20.0 -800 8 25 Secção 4 COP (%) 28 -1000 -40 -30 -20 -10 Dist. á costa (km) 10.0 -400 -1200 -50 -40 -30 -20 -10 0 14 Dist. á costa (km) 0 19 14 29 -40 22 21 35 15 30 0.0 -30 -20 -10 0 Dist á costa (km) Prof.(m) 21 -200 21 Secção 5 COP (%) -400 -60 -50 1 11 6 6 9 -400 Dist. á costa (km) Prof. (m) 0 -200 Secção 1 COP (%) 16 -40 11 9 8 7 -400 -200 21 12 4 -200 11 19 19 19 -200 0 44 10 Prof.(m) Prof.(m) 0 -40 -30 -20 -10 0 Dist. á costa (km) Figura V-7. Secções perpendiculares á costa de COP (%), para o cruzeiro Omex ll/99 (Maio 99). Pela observação da figura V-8 podemos na CNS, definir-se três grandes grupos de amostras em relação ao seu conteúdo em carbono (%): 1º. inclui a maioria das amostras, com valores de concentração inferiores a 1 mg/l e percentagens de COP superiores a 10%; 2º. inclui as amostras de Inverno, com maior influencia dos rios, verificando-se valores de concentrações superiores a 1 mg/l e percentagens de COP inferiores a 10%; 3º. inclui as amostras de Verão e Primavera, com maior influência marinha, observam-se concentrações superiores a 1,5 mg/l e percentagens de COP superiores a 20%. Na CNF (fig. V-9), no Inverno, as amostras com valores de MST superiores a 1,5-2mg/l, mostram valores de conteúdo de COP abaixo de 10%. Contrariamente, durante a Primavera, ocorrem amostras com concentração superior a 2mg/l, com conteúdo de COP superior a 20%. 155 0 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 50 40 1 + PLAMIBEL I (Setembro 90) COP (%) CORVET (Novembro 96) CLIMA (Dezembro 97) 30 OM EX II (M ai o 99) 20 3 10 2 0 0 2 4 6 8 10 12 MST (mg/l) Figura V-8. Variação do COP (%) versus matéria em suspensão total (mg/l), na CNS. A linha a tracejado agrupa amostras onde a influência da produção oceânica é superior (1); a linha a cheio agrupa amostras onde a influência dos rios é superior(2); amostras ricas em COP encontradas só no Verão e Primavera(3). 50 40 COP (%) CORVET (Novembro 96) 30 CLIMA (Dezembro 97) OMEX II (Maio 99) 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 MST (mg/l) Figura V-9. Variação do COP (%) versus matéria em suspensão total (mg/l) na CNF. A linha a cheio delimita as amostras com baixos valores de COP, que provêm da resuspensão do sedimento de fundo e a linha a tracejado as amostras mais ricas em COP onde a influência da produção oceânica é superior (plataforma média a externa). Nestes cruzeiros, as águas superficiais da plataforma a norte de Espinho nunca apresentaram valores de concentração de MPS muito elevados. Contudo, notam-se diferenças entre a situação de Verão e de Inverno. Quando o caudal é baixo e a produção marinha importante (Setembro 90, Maio 99), as amostras apresentam valores de carbono elevados (Fig. V-8); pelo contrário, quando o caudal é elevado, com forte acarreio terrígeno (CORVET 96 e CLIMA 97), os valores de COP observados são influenciados pela proximidade dos rios e são geralmente baixos. 156 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Nas águas da CNF, os valores de carbono são geralmente mais baixos que nas águas superficiais. No s cruzeiros de Novembro de 96, Dezembro de 97 e Maio de 99 os valores de turbidez foram muito variáveis o que está, provavelmente, relacionado com a resuspensão de sedimentos e com a ocorrência de alguns períodos calmos em que a influência das águas superficiais foi mais efectiva (cruzeiro de Maio de 99). Estes resultados sugerem que as águas do fundo podem ser mais ou menos influenciadas pelas águas superficiais e pelos sedimentos, dependendo da dinâmica que varia de cruzeiro para cruzeiro. Nas massas de águas intermédias (cruzeiro de Maio de 99) os valores de concentração são baixos (<1mg/l), com valores de conteúdo em carbono intermédios entre a superfície e o fundo. 1.4.Evolução sazonal da fracção orgânica particulada Para se ter uma noção aproximada da evolução sazonal da componente orgânica das suspensões presentes na plataforma continental NW portuguesa (prof.≈200m), utilizaram-se os valores médios, encontrados à superfície (5m) e perto do fundo, nos 5 cruzeiros realizados (Tabela V1). Tabela V-1. Importância da fracção orgânica nas suspensões, na plataforma continental NW Portuguesa ao longo de 5 períodos diferentes. Em Nov. 96, separou-se os valores encontrados antes e depois do temporal de 19 de Novembro. Período Set.90 (-5m) Mar.91 (-5m) Nov.96 (-5m) (Fd) Dez.97 (-5m) (Fd) Maio 99 (-5m) (Fd) a) MES (mg/l) 0,9 3,4 0,6/1,0 2,7/4,8 1,0 2,3 0,9 1,0 COP µg/l % 205 24,0 469 16,0 59/85 14,0/8,0 170/244 7,0/5,0 77 15,0 195 9,4 170 22,0 190 12,0 MOP% (R=2,2) 52,8 35,2 30,8/17,6 15,4/11,0 33,0 21,0 48,4 26,4 Em Setembro e em Maio, as concentrações de COP são próximas de 200µg/l, representando uma fracção extremamente importante das suspensões (22-24%). A concentração média de partículas em suspensão (CPS) determinada por filtração foi cerca de 0.9 mg/l. Se nós assumirmos que a CPS contém cerca de 24% de COP ou seja 52,8% de matéria orgânica partículada (MOP), então cerca de 47% ou 0.42mg/l de CPS é terrígeno ou material litogénico. b) em Março, verificou-se um aumento significativo dos caudais dos rios da região (rio Douro e Minho), devido à forte pluviosidade observada durante este período, com o 157 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ consequente aumento da carga sólida presente na plataforma . O valor médio de COP era de 500µg/l, representando ainda uma fracção importante das suspensões (16%). c) em Novembro e Dezembro, os débitos fluviais foram muito variáveis. À superfície, os valores de COP foram baixos (<80µg/l), assim como a carga em suspensão total. Contudo, a fracção orgânica das suspensões não ultrapassou o valor médio de 15%. Perto do fundo, a carga em suspensão total é superior devido aos processos de remobilização do material do fundo induzida pela ondulação forte, aumentando assim a carga orgânica (>170µg/l). Pelo contrário, o conteúdo em carbono diminui em relação à fracção mineral (<9%). Realizando os mesmos cálculos anteriores e considerando uma concentração média de partículas em suspensão de 2mg/l que contém cerca de 9 % de COP (cerca de 20% de MOP), então mais de 80% do material em suspensão tem origem terrígena (1.6mg/l). 1.5. Conclusões A análise da distribuição do COP nas águas superficiais durante o Verão (Set.90) e Primavera (Maio 99), mostrou a importância dos rios como contribuintes de nutrientes para a plataforma continental, com destaque para os rios Douro e Lima. Durante o Inverno, os valores encontrados para a carga orgânica são elevados mas com conteúdos de COP (%) baixos, o que sugere que a MPS é formada maioritariamente por partículas terrígenas, fornecidoas directamente pelos rios e pela ressuspensão do sedimento de fundo. Nas águas da CNF, os valores de carbono são geralmente mais baixos que nas águas superficiais. Os valores de COP elevados (>20%) encontrados na proximidade do canhão do Porto, a profundidades superiores a 200-300m, o que sugere ser este um local preferencial para o transporte rápido de matéria orgânica para a vertente continental. Resumo: No inverno, as percentagens inferiores de COP foram observados perto do fundo e na vizinhança dos rios (locais onde a carga em suspensão aumenta), variando entre 3.4 e 8.9%. Com o aumento da profundidade, a redução da resuspensão e o aumento da distância aos rios, as percentagens de COP aumentam, com valores que variam de 4 a 32%, na secção do canhão do Porto. Isto sugere uma suspensão rica em organismos planctónicos, com o decréscimo ou mesmo ausência de elementos terrígenos. Na Primavera, os valores de POC aumentam ligeiramente, com conteúdos médios de 22% na CNS e 12% na CNF. 158 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.Composição das suspensões A composição da MPS reflecte a sua origem. As partículas minerais como o quartzo, o feldspato e os minerais das argilas provêm da erosão continental, enquanto que os compostos orgânicos, o carbonato de cálcio e a opala provêm da produção biológica. O conhecimento da composição do material em suspensão é escasso e, geralmente, essa informação provém da interpretação dos sedimentos de fundo. A composição dos depósitos finos da plataforma continental pode ser tomado como um reflexo da composição do material em suspensão na coluna de água, mas deve-se ter sempre em conta que, durante ou pouco depois da deposição, parte do material pode ser removido por oxidação (matéria orgânica) ou dissolução e as argilas podem sofrer alteração. A composição da MPS foi determinada por observação directa, com lupa binocular, microscópio petrográfico e microscópio electrónico de varrimento, do material biológico e detrítico depositado sobre os filtros. A mineralogia da fracção terrígena foi determinada por DRX. 2.1.Componente biogénica A componente biogénica do material particulado em suspensão compreende os organismos pelágicos pertencentes ao plâncton. O plâncton é formado por animais e vegetais que não possuem movimentos próprios suficientemente fortes para vencer as correntes que porventura se façam sentir na massa de água onde vivem. Por oposição, temos os organismos bentónicos, cuja vida se encontra directamente relacionada com o fundo, quer vivem fixos, quer sejam livres, ocorrendo associados aos níveis nefelóides de fundo. O plâncton pode ser classificado em função das suas dimensões. Embora seja uma classificação artificial, esta é útil para sistematizar e separar as diversas categorias de planctontes encontrados na MPS. Omori & Ikeda (1984) dividiram os planctontes em 7 categorias distintas. Categoria Ultrananoplâncto n≈ Picoplâncton Nanoplâncton Microplâncton Dimensões <2µm 2-20µm 20-200µm Mesopâncton Macroplâncton Micronecton Megaplâncton 200µm-2mm 2-20mm 20-200mm >200mm Principais organismos Bactérias Flagelados (cocolitóforos), pequenas Diatomáceas Fitoplâncton (Dinoflagelados, Diatomáceas), Foraminíferos, Ciliados, nauplii de Copépodes Copépodes, Cladóceros Pterópodes, Copépodes Cefalópodes, Eufauseáceos Cifozoários, Taliáceos 159 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Das 7 categorias de planctontes acima referidas, apenas as 5 primeiras são distinguidas com base em critérios dimensionais. As duas últimas são separadas tendo em consideração os organismos planctónicos que as constituem. Os planctontes capturados com garrafas de Niskin e posterior filtração têm geralmente dimensões inferiores a 200µm. O plâncton com dimensões superiores é normalmente amostrado com o auxílio de redes de plâncton. Seguidamente faz-se uma breve descrição dos grupos mais comuns observados e identificados neste estudo. 2.1.1. Zooplâncton No seio do zooplâncton podem ser reconhecidos organismos pertencentes à grande maioria dos Phyla dos reinos protista e animal, entre eles os foramíniferos, ostracodos, copépodes e radiolários. De entre estes, os foramíniferos são os que apresentam maior importância a nível biológico e geológico, devido a uma distribuição nos oceanos muito diversificada, tanto geograficamente (horizontal) como em profundidade (vertical). Podem entrar na constituição da MPS, quer por viverem na coluna de água (foraminíferos planctónicos), como por ressuspensão do sedimento de fundo (foraminíferos bentónicos). Os foraminíferos planctónicos vivem em águas marinhas com salinidade normal, não ocorrendo em águas doces ou hipersalinas. A sua carapaça composta por CaCO3 permite-lhe flutuar mediante determinadas características como: câmaras esféricas e globosas, pouco calcificadas e com diferentes espessuras dependendo da sua posição vertical na coluna de água; presença de espinhos e poros (e.g., Globigerina bulloides, Globigerinoides ruber) . Os foraminíferos bentónicos são mais diversificados taxonomicamente, vivendo em todas as profundidades, acima ou na interface água-sedimento (podem penetrar no sedimento) e mesmo na zona intertidal (sujeita a inundação e dessecação periódicas). Alguns géneros presentes nos sedimentos da plataforma continental norte são os Textularia, Quinqueloculina, Spiroloculina, Fissurina, etc. Estes grupos de organismos tão diversificados foram identificados quanto ao género e a sua abundância quantificada utilizando os métodos anunciados anteriormente. 160 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.1.2.Fitoplâncton Em domínio marinho costeiro, o fitoplâncton, ou fracção vegetal do plâncton, é sobretudo constituído por diatomáceas e dinoflagelados. Em domínio marinho oceânico é formado principalmente por cocolitóforos. 2.1.2.1. Microplâncton As diatomáceas (Bacillarophyceae) constituem as formas dominantes do fitoplâncton. A sua principal característica é o seu esqueleto externo (frústula), constituído essencialmente por silício e composto por duas valvas que se sobrepõem. As valvas consiste m numa placa achatada e outra convexa, cuja forma é característica para cada espécie (circular, elíptica, triangular, poligonal ou irregular). Estas valvas podem exibir ornamentação mais ou menos desenvolvida. Alguns autores dividiram as diatomáceas em penadas e cêntricas. As diatomáceas penadas têm células mais ou menos alongadas numa direcção, podendo apresentar simetria bilateral na estrutura das valvas. Podem existir assimetrias secundárias por deformação. A maioria das diatomáceas penadas são formas bentónicas, havendo algumas formas tipicamente planctónicas (e.g., Asterionella, Nitzchia, etc.). Nas diatomáceas cêntricas, planctónicas, as valvas possuem simetria radial, por vezes menos aparente (e.g., Coscinodiscus, Skeletonema, etc.) Os dinoflagelados (Dinophyceae) constituem também uma parte importante do fitoplâncton. Possuem dois flagelos quase sempre com disposição ortogonal. Algumas espécies libertam toxinas que podem ser prejudiciais e são responsáveis pelas marés vermelhas. Outro grupo de algas flageladas, por vezes muito abundantes, são os Coccolithophyceae (nanoplâncton calcário). No decorrer deste trabalho mostraram-se extremamente úteis para o reconhecimento de massas de água e dos processos oceanográficos, e por isso são descritos pormenorizadamente . 2.1.2.2. Nanoplâncton calcário No nanoplâncton calcário incluem-se os grupos actuais de organismos eucariontes fitoplanctónicos das ordens Prymnesiales FRITSCH (os cocolitóforos - conforme são mais conhecidos, Winter Dinoflagelados & Siesser, calcários, Jordan 1994), & Thoracosphaerales Kleijne, Braarudosphaera; ceratólitos) . 161 1994) e TANGEN ainda (integrados outros grupos nos (e.g. Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ O nanoplâncton calcário é geralmente abordado numa de duas perspectivas possíveis: 1. Biológica - estudo ecológico de cocosferas enquanto células que vivem no seio da massa de água. 2. Paleontológica - estudo de cocólitos no sedimento enquanto indicadores (proxy) das associações de cocolitóforos que se desenvolveram na coluna de água suprajacente, num passado mais ou menos remoto, os quais podem comportar um sinal biostratigráfico e/ou paleoceanográfico. No presente trabalho constatou-se a presença frequente, na coluna de água, de cocosferas (células vivas) e de cocólitos (seus testemunhos, mais ou menos recentes). Neste sentido, o nanoplâncton calcário é abordado numa perspectiva mista (paleo)biológica já que, enquanto partículas biogénicas, cocosferas e litos comportam significados distintos e complementares (Cachão & Oliveira, 2000). A. Cocolitóforos -Generalidades Os cocolitóforos são algas calcárias unicelulares haptófitas, pertencentes à classe Prymenesiophyceae que segregam micro-placas (1-25 µm) calcíticas, os cocólitos. Na célula viva, estas estruturas são extruidas para fora da membrana celular (heterococólitos) ou formados extracelularmente (holococólitos), cobrindo-a total ou parcialmente, formando a cocosfera. Uma cocosfera, com dimensões compreendidas entre 5-50µm, pode apresentar entre 10 a 100 cocólitos. Em vida, estes organismos fitoplanctónicos, tipicamente oceânicos, são mais abundantes em mares temperados e tropicais. No entanto, algumas espécies estão especializadas para viver tanto em águas subpolares como em águas salobras. Povoam massas de água oligotróficas e ricas em oxigénio, sendo a sua faixa de representação preferencial a zona fótica dos oceanos, apresentando concentrações mais elevadas nos primeiros 50 metros da coluna de água (Baumann & Matthiessen, 1992). A sua distribuição vertical parece ser condicionada pela estratificação da coluna de água. Na Tabela V-2 mostrase a distribuição vertical nos oceanos de algumas das espécies de cocolitóforos mais comuns. A composição biogeográfica e ecológica da nanoflora calcária actual do Atlântico Norte foi dividida em cinco associações distintas (McIntyre & Bé, 1967; Ruddiman & McIntyre, 1976; Okada & McIntyre, 1977, 1979): tropical, subtropical, temperada, subárctica e subantá rtica (fig.V-10). Estas associações caracterizam as diversas massas de água, sendo a temperatura o factor de controlo dominante para a distribuição das espécies. 162 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Tabela V-2. Zonação vertical dos cocolitóforos recentes, na zona fótica do oceano Atlântico (compilado de Houghton, 1991). Espécie Emiliania huxleyi Gephyrocapsa oceanica Discophaera tubifera Rhadosphaera clavigera Umbellosphaera irregularis Calcidiscus leptoporus Umbilicosphaera sibogae Umbellosphaera tenuis Anthosphaera quadricornu Florisphaera profunda Distribuição vertical na zona fótica 0-200m Zona fótica superior (0-50m) Zona fótica intermédia (50-150m) Zona fótica profunda (150-200m) No geral, as associações de baixa latitude apresentam maior diversidade do que as de latitude elevada, no entanto os géneros Emiliania e Gephyrocapsa são normalmente dominantes, com excepção nas áreas tropicais, onde várias outras espécies atingem abundâncias mais elevadas. Espécies subpolar temperada subtrop. tropical Coccolithus pelagicus Calcidiscus leptoporus Emiliania huxleyi Syracosphaera pulchara Umbilicosphaera sibogae Helicosphaera carteri Rabdosphaera clavigera Gephyrocapsa oceanica Gephyrocapsa muellerae Umbellosphaera tenuis Florisphaera profunda Discophaera tubifera abundante frequente rara muito rara Figura V-10. Distribuição biogeográfica de algumas espécies actuais de nanoplâncton calcários (adaptado de Abreu, 1996). Os seus elementos esqueléticos isolados, fósseis, foram descritos primeiramente por Ehrenberg (1836) com o nome de morfólitos ou de cocólitos. O organismo completo, a cocosfera, foi identificado por Huxley e Wallich (1860) nas vasas marinhas modernas. A natureza vegetal destes flagelados calcários foi reconhecida por Weber-Basse (1900), mas foi Lohmann (1902) o primeiro a fornecer descrições exactas de algumas espécies e a mostrar a sua importância na população marinha (Winter & Siesser, 1994). Os cocólitos compostos por cristais de calcite dispostos de forma preferencial dividem-se em dois grupos quanto ao tipo e orientação das placas calcíticas: os heterococólitos e os holococólitos. Nos heterococólitos, os elementos cristalinos apresentam tamanho e forma 163 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ diferentes e a orientação cristalina é alterada em função das necessidades do organismo, o que lhes confere maior resistência à alteração físico-química. Pelo contrário, os holococólitos são constituídos por cristais de calcite idênticos em forma e tamanho (<0.1µm) que são adicionados progressivamente à estrutura (romboedros ou prismas hexagonais) extracelularmente, ao contrário dos heterococólitos. Neste sentido os holococólitos sofrem uma destruição significativa ao longo da migração na coluna de água. A função destes elementos carbonatados não é ainda completamente conhecida, mas pensa-se que esta seja múltipla (Young, 1994): a) protecção celular contra predadores e agressões ambientais; b) flutuabilidade c) regulação como filtro bioquímico de nutrientes e das condições ambientais internas. A sistemática dos cocolitóforos baseada na morfologia dos cocólitos é a seguinte (fig. V-11): 1. Discólitos - forma de disco arredondado ou elíptico, por vezes rendilhado ou com ornamentação diversa; fundo arqueado e perfurado, voltado para dentro e a abertura para o exterior. 2. Caliptrólitos - semelhantes aos anteriores, mas dispostos inversamente em relação à superficie, com o fundo voltado para o exterior. 3. Lopadólitos - forma de barril, ex. Scyphosphaera 4. Placólitos - dois discos perfurados com centro e ligados por uma coluna central, ex.Calcidiscus leptoporus 5. Rabdólitos - placa dominada perpendicularmente por um cilindro, ex. Rhabdosphaera clavigera 6. Ceratólitos - forma de ferradura, ex. Ceratolitus cristatus 7. Escafólitos - placas losângicas, ex. Anoplosolenia brasiliensis 8. Pentalitos - placas pentagonais onde a superfície é dividida por fendas em 5 placas quadrangulares, ex. Braadosphaera bigelowi. 9. Caneólitos - forma de disco ou tigela, área central preenchida laminarmente, ex Syracosphaera pulchara 10. Helicólitos - forma espiral com um bordo marginal sobreposto, ex Helicosphaera carteri 11. Cirtólitos - forma de disco, convexo para fora, com um processo de projecção central, ex. Discophaera tubifera. (Para sistemática dos cocolitóforos vide apêndice C). As cocosferas podem ser constituídas só por um tipo de cocólitos ou apresentar dois ou mais tipos morfológicos, em simultâneo, encaixados entre si ou mesmo parcialmente interpenetrados. As cocosferas que correspondem a formas flageladas (fase do ciclo de vida), apresentam um polo anterior por onde saem os flagelos (boca), circunscrito por um anel hialino cercado por cocólitos munidos de ornamentação diversa (por ex., espículas, bastonetes, expansões foliásseis) e diferentes dos restantes, interpretadas como destinadas a facilitar a flutuação. 164 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Figura V-11. Morfologia dos cocólitos e cocosferas. Em diferentes estádios de desenvolvimento podem também apresentar cocólitos distintos. Um exemplo é o Coccolithus pelagicus, com cocólitos do tipo placólito (dimensão entre 4,5 a 13µm) e que, numa fase do ciclo de vida apresenta holococólitos, correspondendo à morfospécie Crystallithus hyalinus, com dimensão celular da ordem dos 1,5µm. O ciclo reprodutivo dos cocolitóforos não está ainda completamente esclarecido, podendo apresentar vários ciclos de vida diferentes. Sabe-se, porém, que existe reprodução sexuada, sendo o principal modo de reprodução a divisão binária assexuada. Por mitose, cada célula filha fica com metade dos cocólitos (Emiliania huxleyi pode-se dividir 2.5x por dia; Gephyrocapsa oceanica 2x por dia e Calcidiscus leptoporus 1x dia). O estudo de culturas da espécie Emiliania huxleyi em fase de crescimento permitiu constatar que a produção de cocólitos é um processo dependente da luz e que há produção de um cocólito de 2 em 2 horas (Westbroek et al., 1989). Devido à sua extrema abundância, constituem um recurso alimentar para diversos planctontes heterotróficos como tintinídeos (utilizam-nos também para formar e consolidar a sua concha), diatomáceas, copépodes, tunicados e apendiculados. A.1.Interesse e originalidade dos cocolitóforos Os cocolitóforos, em conjunto com os dinoflagelados, predominam nas comunidades planctónicas tropicais, ocorrendo em menor número em águas oceânicas mais frias (subpolares, 165 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ ou zonas de upwelling), onde as diatomáceas são mais abundantes. São particularmente abundantes em águas com baixo conteúdo em nutrientes, incluindo regiões de "convergência oceânica", e em mares marginais com circulação anti-estuarina como a Mar Mediterrâneo (Berger, 1976). Foram descritas mais de 300 espécies de cocolitóforos vivos, encontrando-se no oceano Atlântico a flora mais diversificada. Actualmente, a espécie de cocolitóforos mais abundante é a Emiliania huxleyi, que é, provavelmente o organismo mais produtivo em termos de calcário-segregado (Westbroek et al., 1986). Esta espécie cosmopolita foi referenciada desde águas tropicais a subarticas. Embora tipicamente oceânicos, os cocolitóforos apresentam "blooms" sazonais em águas costeiras. Estudos feitos no fitoplâncton do NW da Europa mostram que os "blooms" só ocorrem no período Primavera/Verão, quando a coluna de água se apresenta estratificada, com uma termoclina bem desenvolvida (Holligan et al., 1983). Recentemente, o desenvolvimento das imagens de satélite permitiu o mapeamento com precisão da extensão e significado quantitativo dos "blooms" de cocolitóforos, geralmente E. huxleyi, dificilmente realizável com métodos tradicionais. Nas imagens de satélite, as áreas com maior densidade de cocolitóforos são facilmente reconhecidas na banda do visível pela sua alta reflectância. Os cocolitóforos têm um papel importante no ciclo biogeoquímico marinho e contribuem decisivamente para o papel desempenhado pelos oceanos no clima global. A segregação das placas calcíticas remove o CO2 (dissolvido no oceano como bicarbonato) das águas superficiais e transfere-o para os sedimentos de fundo através da deposição dos cocólitos. Além disso, a ocorrência de extensos "blooms" ajuda a incrementar o albedo (reduzir o calor), ao reflectir mais de 30% da luz solar incidente. Os cocolitóforos têm um papel único na sedimentação dos mares actuais. Dentro dos grupos biogénicos carbonatados com importância estratigráfica (foraminíferos e pterópodes), verificou-se que os cocolitóforos apresentam uma resistência superior à dissolução (Cachão, 1989; Winter et al., 1994), tanto na coluna de água como no sedimento. As razões apontadas para esta situação, são o reduzido teor em Mg dos restos carbonatados (Bukry, 1973) e a preservação destas estruturas na forma de macro-agregados de partículas (marine-snow), que podem conter mais de 2 000 cocólitos e/ou em pelóides fecais produzidas pelo zooplâncton. Os pelóides fecais predominantes nas águas costeiras formam 60-90% do material das armadilhas de sedimentos (Dunbar & Berger, 1981). Estas partículas, tal como os macroagregados, permitem um transporte vertical rápido até ao fundo, uma vez que um único peleto pode conter 100 000 cocólitos (Honjo, 1977). Além disso, a membrana orgânica que protege o 166 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ peleto permite a preservação dos cocólitos na sua descida por águas subsaturadas. A velocidade de descida média dos pelóides fecais é cerca de 200m/dia, o dobro da relativa aos macro-agregados. Assim, um grande número de cocólitos conseguem chegar ao fundo. Devido a este facto, a partir dos 50m de profundidade estima-se que no Mediterrâneo 90% das vasas são constituídas por cocolitóforos mais ou menos decompostos (Knappertsbusch, 1993). Na plataforma portuguesa, estas partículas são igualmente abundantes (Cachão, 1989). Os dados obtidos no âmbito do presente trabalho revelaram que estas partículas constituem, por vezes, a maioria do material em suspensão nas águas da plataforma continental portuguesa (profundidades inferiores a 80m). Estão sempre presentes no material filtrado, mesmo nas águas costeiras carregadas de partículas terrígenas e ricas em nutrientes, permitindo distinguir associações e abundâncias distintas entre o domínio costeiro e o domínio oceânico profundo. Nas colheitas realizadas perto do fundo as partículas terrígenas são maioritárias, constituindo mais de 95% do total da amostra. Embora os cocolitóforos estejam presentes em percentagem reduzida, são as partículas biogénicas mais abundantes. Por vezes, a presença de espécies fósseis e de espécies diferentes das que se encontram na coluna de água sobrejacente (representando a associação de formas presentes no sedimento que resistiram ao processo natural de dissolução e destruição na coluna de água) pode comprovar processos de ressuspensão das partículas finas do fundo oceânico ou de transporte lateral. Nas águas superficiais, podem ser usados para descrever condições oceanográficas específicas, relacionando a ocorrência de certas espécies de cocolitóforos com massas de água particulares e processos oceanográficos (Cachão et al., 1997, 2000). A deposição de material biogénico no fundo oceânico está directamente relacionado com a produção de superfície (Roche et al., 1975; Geitznauer et al., 1976). Nestas circunstâncias, a compreensão dos processos actuais é essencial para estudos de paleoecologia (paleoclimatologia e paleoceanografia). B. Thoracosphaerales O outro grupo pertencente ao nanoplâncton calcário compreende os dinoflagelados calcários do género Thoracosphaera, com concha esférica. Esta concha é composta por um mosaico de cristais unitários interligados, sólidos ou perfurados axialmente. Cada cristal é formado por prismas poligonais. 167 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Em geral, o ciclo de vida dos dinoflagelados consiste num estádio vegetativo seguido por enquistamento (quisto). Normalmente, durante o estádio vegetativo as células móveis estão cobertas por uma teca celulósica, não fossilizável. São os quistos, com paredes formadas por material orgânico resistente aos ácidos ou mais raramente calcítica que ocorrem no registo fóssil (calcisferas). No entanto, actualmente, o género Thoracosphaera compreende uma única espécie de dinoflagelado, fora do comum, a Thoracosphaera heimii (LOHMANN) KAMPTNER, que apresenta concha calcária durante o estádio vegetativo (Tangen et al., 1982). A T. heimii é uma espécie mais ou menos cosmopolita que se encontra frequentemente no plâncton em oceano aberto, em condições ambientais normais. Nas águas em redor das Ilhas Canárias, a quantidade relativa de conchas de T. heimii atinge o máximo de 12% do fitoplâncton (Kerntopf, B., 1995). Estas conchas são facilmente preservadas no sedimento e fornecem preciosas indicações sobre a paleoprodutividade dos dinoflagelados. 2.2.Componente terrígena A carga inorgânica da MPS compreende essencialmente partículas provenientes da erosão de arribas, minerais transportados pelos rios, e material oriundo da ressuspensão da cobertura sedimentar. As partículas transportadas pelos rios minhotos derivam da mistura de materiais provenientes de solos e perfis de alteração com origem na erosão de rochas graníticas e xisto-grauváquicas. No continente emerso são frequentes os depósitos de caulinos, em zonas de alteração de rochas graníticas (fig.V-12) e normalmente associados com depósitos Plio-Plistocénicos. São uma importante fonte de quartzo, ilite, gibsite e esmectite (Lapa, 1969). Ocorrem também alguns centros de exploração de barros vermelhos (fig.V-12), que apresentam mineralogia variada e complexa (caulinite, ilite, esmectite, interstratificados de ilite- esmectite, cloriteesmectite, podendo incluir ainda hematite, goethite e lepidocrosite), que se desenvolvem sobre o soco antepaleozóico, preenchendo depressões tectónicas ou integrando terraços fluviais (Gomes, 1988). A esmectite ocorre associada, em zonas de falha, a veios pegmatiticos em resultado da alteração do feldspato potássico, ortoclase e microclina. No rio Lima, os minerais das argilas predominantes são a ilite, interestratificados de ilite-vermiculite, gibsite e caulinite (Alves & Alves, 1990). 168 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Figura V-12. Centros produtores de argilas na região NW portuguesa (adaptado de Gomes, 1988). Os primeiros estudos que incidiram especificamente na mineralogia das argilas dos sedimentos de fundo da plataforma continental fora m efectuados por Dias (1987) e Coimbra & Matos (1989). Mais recentemente e no âmbito do estudo do depósito silto-argiloso do Douro, Drago (1995) concluiu que o mineral predominante é a ilite (36-62%), seguido da caulinite (12-22%) e finalmente esmectite (6-24%). Em relação ao material em suspensão foram feitas algumas determinações por Oliveira (1994). Para o presente estudo, utilizou-se a difractometria de raios X (DRX) como método preferencial de análise para identificar a composição da fracção fina (< 63µm) e a mineralogia das argilas (fracção < 2µm) em amostras de sedimentos de fundo e em suspensão, recolhidas tanto nos rios como na plataforma continental. A composição da fracção fina e os minerais das argilas, os quais, devido ao seu pequeno tamanho, são facilmente transportados em suspensão dos estuários para a plataforma, foram usados como traçadores de modo a evidenciar as principais linhas de transporte na plataforma e a sua origem no continente. 2.3.Composição da MPS obtida por observação à lupa Os resultados desta análise realizada para os cruzeiros CORVET96 e CLIMA 97 encontra m-se no quadro resumo do Apêndice B. Neste quadro são apresentados uma lista de organismos fito e zooplanctónicos, assim como uma lista dos elementos minerais identificados, estabelecendose a abundância relativa de cada constituinte. Foi usada a simbologia seguinte: 169 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ _ 1 x a A AA - ausente - um só exemplar observado - presente - pouco abundante - abundante - extremamente abundante Apresenta-se também uma razão qualitativa entre matéria orgânica e inorgânica, feita por observação visual do filtro. 2.3.1. Cruzeiros PLAMIBEL Os principais constituintes orgânicos e minerais recolhidos nos filtros foram descritas por Oliveira (1994). Os organismos planctónicos, restos biogénicos e terrígenos, reconhecíveis com a ampliação de 100x, foram certamente muito limitados. Contudo, verificou-se que no Verão (Setembro 1991) os organismos planctónicos eram mais abundantes, com uma associação mais rica e diversificada que no Inverno. Nos cruzeiros PLAMIBEL os elementos minerais identificados foram: grãos de quartzo, palhetas de mica, minerais opacos, feldspatos, litoclastos e glauconite (moldes de foraminíferos). 2.3.2. Cruzeiro CORVET 96 (2º parte) Neste cruzeiro, as amostras recolhidas a -5m apresentaram-se ricas em fitoplâncton, dominando as diatomáceas cêntricas e algumas espécies de dinoflagelados (Peridinium sp e Ceratium sp.). Ocorrem alguns foraminíferos planctónicos Globigerinoides (Globigerina bulloides d'Orbigny) característicos de águas marinhas com salinidade normal e normalmente abundantes em águas costeiras (salinidade: 34-35.7; temperatura: 9-24ºC). 2.3.4. Cruzeiro CLIMA 97 Realizou-se o mesmo tipo de análise (Apêndice B), com observação à lupa de amostras de superfície (-5m), de fundo e de alguns níveis intermédios (30, 80m). À superfície (-5m), as diatomáceas continuam a ser o grupo de organismos dominantes do fitoplâncton. Contudo, tanto este grupo como os dinoflagelados são menos abundantes, do que no cruzeiro CORVET96, realizado no final da estação de upwelling (Novembro 1996). A G. bulloides é mais importante a níveis intermédios (30 e 80m) do que à superfície. 170 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Nas amostras de fundo ocorrem também as Diatomáceas Penadas, Texturalídeos e Quinqueloculinas, assim como espículas de Acantharios e Radiolários e formas larvares de gastrópodes e lamelibrânquios. Estes organismos bentónicos surgem no seio da MPS sobretudo devido aos movimentos de turbulência induzidos pelas correntes e ondulação. Nos cruzeiros CORVET e CLIMA o quartzo hialino é o mineral mais comum, ocorrendo na forma de grãos rolados (arredondados) a subrolados. Foram identificados também alguns minerais pesados (normalmente de cor preta) e micas (minerais planares). Pequenas partículas de carvão (negras e que se partem facilmente) são normalmente abundantes nos filtros, ocorrendo por vezes pequenas partículas de plástico (verdes, azuis), fragmentos esponjosos de cor branca (pasta de papel) e pêlos (identificados como outros no Apêndice B). Devido às suas diminutas dimensões, os minerais clásticos presentes nos filtros foram seguidamente analisados por DRX. Das 29 amostras analisadas no cruzeiro CORVET 96, 18 são maioritariamente constituídas por restos de organismos planctónicos, sendo os restantes filtros ricos em partículas finas terrígenas (os filtros colhidos perto da costa). O mapa de distribuição da razão matéria orgânica/matéria detritica (fig.V-13) é compatível com as massas de água presentes (ver carta de temperatura superficial), comprovando mais uma vez que as águas oceânicas mais ricas em componente orgânica foram empurradas para perto da costa, depois do temporal de 19 de Novembro. Cruzeiro CLIMA (Dezembro 1997) MO/MI a 5m do fundo Cruzeiro CLIMA (Dezembro 1997) MO/MI a -5m Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) MO/MI (-5 m) Lima Temporal P4 P5 41º 30' N 0 41º30'N 41º30'N 10 km 0 10km 0 20 0m Predominio de part. detriticas Predominio de org. planctónicos 9º 00' W Douro Douro 9º00' W 10km Douro 9º00' W Figura V-13. Mapas da distribuição relativa da componente orgânica em relação à detritica, determinada por observação visual à lupa (amp.250x), para os cruzeiros CORVET96 e CLIMA97. 171 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ No cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro de 1997) foram vistos à lupa 115 filtros, sendo 45 de superfície (-5m), 48 de fundo e os restantes de níveis intermédios (30 e 80m). O mapa de distribuição da razão matéria orgânica/matéria detritica (fig. V-13), mostra que à superfície a carga em suspensão formada maioritariamente por partículas minerais se encontra numa faixa restrita à plataforma interna, sendo a restante MPS maioritariamente biogénica. Pelo contrário, perto do fundo quase toda a carga em suspensão é formada por partículas terrígenas resultantes da ressuspensão e/ou não deposição das partículas finas, durante esta época muito energética. 172 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.4.Composição da MPS obtida ao microscópio petrográfico e MEV Esta análise permitiu essencialmente o estudo do nanoplâncton calcário. Contudo, observou-se ainda a composição geral das partículas e a forma como se distribuem na CNS e CNF. As partículas nos filtros compreendem tanto grãos simples como compostos, formados por componentes orgânicos e minerais. Grãos de silte e argila podem incluir cocólitos isolados, espículas e fragmentos de valvas de diatomáceas, radiolários, silicoflagelados, tintinideos, thoracosphaeras, assim como minerais clásticos (foram identificados por DRX). Nas partículas compostas, Syvitski & Murray (1981) fazem distinção entre agregados, aglomerados e flóculos baseados na composição (os aglomerados contêm componentes orgânicos) e modo de "junção" das partículas a qual é fraca nos aglomerados e forte nos outros. Contudo flóculos e agregados sobrepõem-se na definição destes autores (McCave, 1985). Assim, McCave (1985) propõe a distinção entre diferentes tipos de agregados (senso lato qualquer agregação de partículas), baseado na composição e na estrutura: aberta, fechada ou apertada (esta última, característica das pelóides fecais, inteiras ou fragmentadas), notando que estes normalmente se encontram envolvidos ou contêm uma substância mucosa (muco). O muco observa-se ao microscópio electrónico de duas formas: mancha s transparentes e escuras, através do qual se vêm os poros do filtro, e massa s espessas, que mostra m sinais de secura e escamas incipiente . Nos filtros observados do cruzeiro CLIMA 97, é comum a ocorrência de uma massa espessa e amorfa (2º tipo) à superfície (5m), que cobre a totalidade do filtro (fig.V-14) e onde se individualizam partículas isoladas de cocólitos, diatomáceas e minerais clásticos. Figura V-14. Exemplo dos filtros de superfície, onde um mucos seco cobre a totalidade do filtro (est. 80), assinalado com uma seta branca. 173 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ A níveis intermédios (30,80m), as partículas encontram-se mais dispersas, com áreas onde ocorrem películas finas de muco (fig. V-15 A e B), por vezes associadas com cocólitos e minerais planares (micas). A - muco escuro disperso (est.104/80m) B - muco associado a cocolitóforos (est104/80m) c c c d t a C - agregado apertado, com cocólitos (c) e argilas (a) (est.104/30m) D - agregado apertado, com cocólitos (c), tintínideo (t), diatomáceas (d) e argilas (est.74/80m) m F - partículas dispersas, cocólitos, micas, argilas. (est. 104/428m) E - agregados abertos, com micas (m) e argilas (est.122/917m) Figura V-15. Exemplos de filtros com muco (A e B); agregados apertados (C e D), abertos (E) e partículas dispersas (F). 174 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Foram também observados agregados com estrutura apertada (fig. V-15 C e D) e aberta (fig. V-15E e F). Constatou-se que os agregados abertos são mais comuns a profundidades superiores a 200m. As amostras colhidas perto do fundo, e principalmente na plataforma continental, encontram-se carregadas de minerais clásticos, diminuindo os agregados e a componente orgânica. Alguns exemplos de grãos observados (quartzo, micas e feldspatos) estão representados na fig. V-16. Constatou-se que os minerais de formas planares predominam, em especial na CNS. Figura V-16. A)D) grãos de quartzo arredondados; B)E) mineral arredondado (feldspato?); C)F) minerais planares com clivagem (micas). No apêndice D apresentam-se algumas fotografias tiradas ao MEV, onde se observa exemplos representativos da s partículas dominantes na CNS e CNF associadas com as massa s de água costeira e oceânica. Síntese: A inspecção visual de amostras seleccionadas da CNS e CNF através do MEV revelou que o material pode ocorrer como agregados que usualmente incluem cocólitos. Em Outono 1996 e no Inverno de 1997, observou-se uma contribuição importante de organismos na MPS como os cocolitóforos, menos abundantes foram as diatomáceas, dinoflagelados e silicoflagelados. Os foraminíferos eram raros ou mesmo ausentes. A componente mineral aumenta geralmente na CNF, sendo as partículas da CNS maioritariamente orgânicas. No geral, observa-se um aumento das dimensões das partículas isoladas na CNF. 175 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.4.1.Nanoplâncton calcário O estudo deste grupo de organismos, e em especial os cocolitóforos actuais, tem recebido especial atenção, sobretudo através do projecto MAST "E. huxleyi" e, mais recentemente, através dos trabalhos realizados no âmbito de uma rede TMR1 europeia - CODENET 2 . Contudo, o conhecimento da composição das associações e a distribuição temporal e espacial destes organismos na margem continental portuguesa é ainda escasso e pouco detalhado. Efectivamente tem-se dado maior relevância ao estudo de outros grupos, nomeadamente dinoflagelados e diatomáceas, por razões estratégicas de amostragem ou de interesse económico. O objectivo inicial do presente trabalho contemplava a descrição qualitativa e quantitativa do conteúdo em nanoplâncton calcário presente nos filtros das amostras colhidas. Contudo, dada a importância dos resultados entretanto obtidos, este objectivo rapidamente evoluiu no sentido de relacionar as frequências de certas espécies de cocolitóforos com o comportamento de certas massas de água, bem como de analisar processos de ressuspensão e resedimentação marinha. 2.4.1.1.Campanhas de amostragem As campanhas de colheita de material para estudo dos cocolitóforos foram realizadas nos cruzeiros CORVET/96 e CLIMA/97 (Tabela V-3). No cruzeiro CORVET, as amostras estudadas foram colhidas na 1º fase do cruzeiro (2 a 5 de Novembro) tendo-se amostrado 3 secções que permitiram cobrir a plataforma e vertente continental oeste Portuguesa (fig. IV9). No cruzeiro CLIMA as amostras foram colhidas a Norte do paralelo 41ºN. Esta amostragem, numa área mais restrita, permitiu uma melhor caracterização das associações de cocolitóforos ao longo da coluna de água. Tabela V-3.Informação geral sobre os cruzeiros onde houve colheita de amostra para o estudo do nanoplâncton calcário. 1 2 Campanha CORVET/96 Período 2-5 Novembro CLIMA/97 4-16 Dezembro Coordenadas dos perfis 12ºW (norte-sul) 36ºN (este-oeste 41º30'N (este-oeste) 3 perfis a norte de 41ºN Níveis (m) 5 intermédio fundo 5 30 80 Training and Mobility of Researchers Activity of the European Commission Coccolithophorid Evolutionary Biodiversity and Ecology Network 176 nº de amostras 18 02 18 09 16 11 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ O método usado para identificação e contagem das espécies de cocolitóforos foi diferente para cada campanha, mas em ambos os métodos as cocosferas e os cocólitos presentes em cada amostra foram contados em separado (ver capítulo sobre métodos). A listagem com a sistemática das 49 espécies identificadas pode ser consultado no Apêndice C. 2.4.1.2.Análise dos resultados das campanhas oceanográficas A.CORVET (Outono de 1996) A amostragem foi feita no Outono, no final do decorrer da estação de afloramento (upwelling), havendo ainda vestígios oceanográficos dessas condições. No nível superior (5m), a abundância absoluta média de cocólitoforos era de 18X103 cel/l (Tabela V-4), variando de 84x103 cel/l (est.1) a 0.3x103 cel/l (est. 43). A abundância de cocosferas e cocólitos não varia significativamente nas estações a sul e a norte. No entanto, a diversidade de espécies é superior nas estações mais a sul e tende a diminuir para norte. Se observarmos os perfis perpendiculares à costa, observa-se que a estação mais próximo de terra apresenta, como seria de esperar, valores de abundância superiores e menor diversidade que as estações efectuadas mais ao largo. Foi reconhecida nas amostras a espécie global e oportunistica Emiliania huxleyi (Lohmann; Hay & Mohler, 1967) com valores que variam de 0.09x103 a 8.1x103 cel/l. Na grande maioria das amostras estão também presentes as espécies Gephyrocapsa ericsonii e Gephyrocapsa muellerae com abundâncias superiores nas estações perto da costa (31x103 cel/l). A espécie Helicosphaera carteri, que é comum a várias zonas biogeográficas, apresenta abundância baixa,podendo mesmo ser considerada rara, com valores inferiores a 0.5x103 cel/l. No entanto, espécies relacionadas com massas de água quentes (subtropical e tropical) foram encontradas com abundâncias significativas, como Gephyrocapsa oceanica (32x103 - 0.1x103 ), Rhabdosphaera clavigera var. clavigera (10.8x103 -0.2x103 ), Umbellosphaera tenuis (9.6x103 0.7x103 ), Calcidiscus leptoporus (2.3x103 -0.1x103 ), Discophaera tubifera (<1.1x103 ) e Umbilicosphaera sibogae (<0.1x103 ). Secção 1 (Perfil sul) Esta secção, na extremidade sul de Portugal, estende-se do Cabo de S. Vicente ao Banco de Gorringe. É de salientar a ocorrência do fenómeno de upwelling, que afecta sobretudo a estação 1, com aumento de importância das espécies oportunistas como G. ericsonii, G. muellerae e G. oceanica (fig.V-17C). 177 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ A presença do Banco de Gorringe, uma montanha submarina com profundidade mínima de cerca de 40-50m, tem também influência na distribuição das espécies, porque as condições alteramse e assemelham-se novamente a uma zona costeira, embora estejamos em pleno oceano. Observações feitas neste banco mostrara m uma elevada produção de biomassa (grande diversidade de algas castanha, vermelhas e verdes), alimentada possivelmente por correntes ascendente s que transportam águas de grandes profundidades, ricas em nutrientes, para a superfície. As simulações matemáticas da circulação oceânica local apresentam com consistência correntes circulares à volta dos picos do Gorringe, vortex ciclónicos, de que resultam correntes ascendentes do fundo para a superfície (Santos, 2000). Assim, as espécies oceânicas e de águas mais quentes diminuem novamente de abundância (U. tenuis, Syracosphaera spp., R. clavigera C. pelagicus), aumentando a espécie cosmopolita E. huxleyi. A distribuição das espécies de águas quentes parece estar relacionada com a temperatura . Contudo, o valor mais elevado de abundância de U. tenuis não corresponde à estação que apresenta temperatura mais elevada (est.8), mas sim às adjacentes (est.6 e 14). Tabela V-4. Abundâncias absolutas de cocosferas versus cocólitos, em amostras da superfície (5m) do perfil sul (x103 células/l). Estação Latitude Longitude Prof. (m) Temperatura(ºC) Salinidade Abund. absoluta (x103cel. l-1) Espécies B. bigelowi C.leptoporus D.tubifera G.ericsonii G.muellerae G.oceanica E.huxleyi H.carteri R.clavigera S.spp U. sibogae U.tenuis Indeterminados 1 37º01'.3N 9º03'.2W 96 4 36º57'.1N 9º21'.6W 1530 6 35º53'.2N 9º42'.2W 2050 8 36º48'.2N 10º06'.0W 2720 14 36º33'.8N 11º19'.2W 1327 16 36º30'.9N 11º33'.8W 55 17.28 36.05 19.63 36.38 19.72 36.44 20.87 36.59 20.16 36.46 20.04 36.42 84 esf. 30.8 30.8 7.4 8.1 0.7 1.8 0.7 2.8 9 litos esf litos 1.8 0.8 3.2 34.5 269.2 147.8 377.0 1.4 1.0 19.3 0.2 0.8 1.0 0.4 12.2 16.8 1.2 70.3 0.2 5.8 5.6 4.6 2.4 1.4 55.9 0.2 1.6 18 litos 0.1 0.6 7.2 litos 0.1 7.3 esf 10 litos esf. litos 2.3 15.4 1.1 8.0 64.4 30.7 17.3 53.6 0.2 0.1 7.4 esf. 0.2 0.4 1.1 0.3 0.4 1.2 0.7 1.3 0.6 0.2 0.07 0.7 0.8 13.1 0.3 3.2 11.1 43.5 1.4 2.1 4.8 0.1 1.8 1.0 0.07 0.07 17.0 1.3 9.2 0.3 0.5 54.8 0.1 3.1 0.5 40.1 0.8 4.5 0.7 77.6 1.1 3.4 6.3 esf 7.0 0.2 0.1 1.4 0.9 0.1 4.3 3.7 8 8 Secção 2 (perfil sul-norte) Nesta secção, paralela à costa, as espécies G. muellerae e R. clavigera aumentam a sua importância para norte, ao contrário das espécies U. tenuis e e C. leptoporus (fig.V-17B). A est. 25 apresenta comportamento diferenciado em relação à distribuição das espécies devido à intrusão de águas menos salinas e mais frias de origem subpolar no seio de águas de origem 178 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ A 35000 Perfil Norte U. tenuis 30000 G. muellerae G. oceanica G. ericsonii 20000 R. clavigera C. leptoporus 15000 Syracosphaera sp. H. carteri Cocosferas (cel./ l) 25000 E. huxleyi 10000 5000 0 200 150 B 100 Distancia á costa (km) 50 0 12000 Perfil Sul-Norte 8000 6000 4000 Coccosphere (cells / l) 10000 2000 0 40.0 39.0 38.0 37.0 40000 Latitude (Sul-Norte) C Perfil Sul 20000 Cocosferas (cel. / l) 30000 10000 0 250 200 150 100 Distancia á costa (km) 50 0 Figura V-17. Abundância das diferentes espécies dos cocolitóforos (-5m), nas 3 secções realizadas no cruzeiro Corvet 96:A) perfil norte (Póvoa do Varzim); B) perfil sul-norte e C) perfil sul (Cabo S. Vicente). 179 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ subtropical (mais quentes e salinas). Na Tabela V-5 são apresentadas as abundâncias absolutas de cocosferas e cocólitos identificados. Tabela V-5. Tabela de abundâncias absolutas de cocosferas versus cocólitos, em amostras da superfície (5m) do perfil sul -norte (x103 células/l). Estação 21 23 25 28 38º24'.4N 39º24'.5N Latitude 37º04'.7N 37º45'.0N 11º59'.4W 12º00'.0W Longitude 12º00'.5W 12º00'.0W 5070 5075 4850 4066 Prof.(m) Temperatura(ºC) 19.70 19.45 18.60 19.10 Salinidade 36.29 36.20 35.98 36.08 Abund.absoluta 8 18 6 19 (x103cel. l-1) Espécies esferas litos esferas litos esferas litos esferas litos 0.1 0.1 0.1 B. bigelowi 2.7 15.5 1.3 9.4 0.1 0.7 0.6 5.0 C.leptoporus 0.5 0.05 D.tubifera 0.09 13.2 0.4 6.9 0.2 1.8 0.7 12.2 G.ericsonii 0.09 5.4 0.4 16.9 1.6 7.5 1.9 57.8 G.muellerae 0 1.5 0.1 2.8 0.1 0.2 G.oceanica 0.09 12.0 0.6 22.8 0.4 2.9 0.4 5.4 E.huxleyi 0.4 0.1 0.6 0.5 0.8 0.3 2.8 H.carteri 3.3 8.8 0.2 0.2 10.8 71.5 R.clavigera 1.9 2.4 13.4 0.3 0.2 1.4 9.8 S. spp 3.8 69.4 7.6 94.7 0.9 8.2 2.2 58.8 U.tenuis 0.3 1 0.8 0.5 0.6 Indeterminados Secção 3 (perfil norte) Localizada na plataforma e vertente continentais minhota, estende-se desde a costa, perto da Póvoa do Varzim, até à montanha submarina de Vigo. Esta secção compreende dois sectores bem distintos e separados por uma área em que os cocolitóforos estão ausentes (Tabela V-6). No sector perto da costa predominam as espécies G. oceanica, G. muellerae e G. ercsonii , enquanto que no sector mais externo da plataforma, fora da influência da água menos salina da plataforma, predominam as espécies de águas quentes como U. tenuis, C. leptoporus, mas também a espécie G. muellerae, típica de águas temperadas (fig.V-17A). O primeiro sector caracteriza-se pela influência de águas menos salinas provenientes da descarga dos rios da região, enquanto que no segundo sector coexistem espécies subtropicais e temperadas, o que poderá indicar uma mistura de massa s de água com origens distintas (subpolar e subtropical). A observação dos filtros ao microscópio electrónico de varrimento possibilitou o reconhecimento de outras espécies menos abundantes o u mais diminutas, como Alisphaera spatula, Coronosphaera mediterranea, Polycrater galapagensis, S. molischii e S. pulchara. As amostras colhidas às profundidades de 75 m (Est. 4) e 86m (Est. 41) mostraram a presença de espécies da zona fótica intermédia (Michaelsarsia elegans) e profunda (Algirosphaera 180 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ quadricornu, Alveosphaera bimurata, Cyclolithus anulus, Florisphaera profunda, Syracosphaera lamina e Turrilithus latericioides). A presença de uma comunidade subtropical tão perto da plataforma e a latitudes superiores a 41ºN parece evidenciar que, durante o Inverno, águas provenientes da Frente dos Açores são introduzidas na Contra Corrente de Portugal (corrente para norte que se estabelece na vertente continental). Ao ocorrer por volta dos 75-80m, ao nível da latitude de Portugal, esta comunidade subtropical da zona fótica intermédia e profunda, mostra que os 120-220m superiores, desta massa de água subtropical são introduzidos na Contra Corrente de Portugal (Cachão et al., 2000). Tabela V-6. Tabela de abundâncias absolutas de cocosferas (x103 células l-1 ) e de cocólitos (x103 litos l-1 ), em amostras da superfície (5m) do perfil norte. Estação Latitude Longitude Prof. (m) Temperatura Salinidade Abund.absoluta (x103cel. l-1) Espécies B. bigelowi C.leptoporus D.tubifera G.ericsonii G.muellerae G.oceanica E.huxleyi H.carteri R.clavigera S.spp U.tenuis Indeterminados 34 41º24'.6N 8º49'.2W 38 35 41º24'.7N 8º54'.9W 66 36 41º24'.7N 9º02'.0W 90 37 41º24'.3N 9º14'.3W 800 39 41º24'.5N 9º46'.6W 2618 41 41º24'.6N 10º30'.9W 3585 42 41º24'.5N 10º40'.0W 2410 43 41º24'.6N 10º50'.3W 3061 15.09 35.32 15.33 35.46 15.40 35.48 15.82 35.83 17.71 35.89 17.37 35.88 17.69 35.80 17.71 38.82 63 20 9 0 0 10 24 0.3 esf. litos esf 0.7 3.0 20.9 32.0 2.2 litos esf litos esf 0.2 185.6 459.3 409.3 284.0 13.0 6.9 6.2 5.0 1.2 101.6 110.6 50.1 93.2 20.1 0.2 1.0 0.2 1.2 litos esf litos esf litos 0.1 0.7 0.08 0.8 0.08 1.3 esf litos 0.2 1.1 31.2 173.7 2.1 40.5 0.5 2.5 1.4 0 0.6 0.1 4.3 11.6 0.4 2.1 1.8 9.4 0.2 0.1 0.8 2.2 0.2 9.6 2 4.8 0.3 0.3 esf litos 0.03 0.03 0.03 5.8 192.9 0.3 0.07 Resultados da contagem dos cocólitos isolados Para cada uma das estações de superfície (5m), foram também contados os cocólitos (ou litos para simplificar) isolados e separados das cocosferas. Adicionalmente às contagens de litos feitas em amostras da CNS (5m), foram também realizadas contagens em amostras colhidas na CNF (≈5m acima do fundo) e em algumas estações a níveis intermédios (est. 4 e 41). Os dados são apresentados na tabela V-7. Em principio, sendo os litos libertados pelas cocosferas, a quantidade de litos de uma determinada espécie presentes na mesma estação deveria ser proporcional ao número de cocosferas. A comparação, por espécie, da concentração dos litos dos filtros da superfície com os níveis nefelóides intermédio e de fundo permite distinguir situações diversas. Por exemplo, a 181 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ concentração dos placólitos de C.leptoporus, aumenta significativamente nalguns casos (como nas est.34 a 43) e noutros apenas aumenta ligeiramente (est. 1 e 4). As est. 6, 8, e 16 mostra m um decréscimo nos valores de concentração mais acentuado na estação 14. C. pelagicus E. huxleyi G. ericsonii G. muellerae G. oceanica H. carteri R. clavigera Syracospher a spp. U.tenuis F. profunda U.sibogae est. 1 est. 4 est. 6 est. 8 est. 14 est. 16 est. 34 est. 35 est. 36 est. 37 est. 39 est. 41 est. 42 est. 43 Prof. (m) C.leptoporus Tabela V-7. Comparação dos valores de concentração de litos à superficie (x103 litos l-1 ) com as camadas nefelóides de fundo e intermédia da coluna de água. (*) menos de 100 litos l-1 . 5 95 5 75 5 2002 5 2716 5 1325 5 52 5 28 5 57 5 85 5 680 5 2505 5 86 5 2423 5 2800 1.8 4.6 3.2 4.5 7.2 4.6 7.3 3.8 15.4 3.9 8.0 7.4 0.7 2.6 0.2 5.5 12.9 9.0 4.0 0.9 1.1 8.3 1.1 1.4 1.6 0.3 1.4 0.5 * 3.4 48.8 14.4 34.9 0.9 1.8 1.0 1.1 377 165 70.3 27.1 53.6 21.1 13.1 5.7 4.8 9.0 17.0 18.0 284 321 93.2 331 520 33.2 11.0 2.1 69.1 40.5 1.5 * 0.2 345 208 12.1 21.6 64.4 6.9 1.2 17.6 43.5 1.5 1.0 9.2 186 318 102 175 192 13.6 18.6 4.3 66.7 31.2 2.1 * 1.1 269 115 16.8 23.6 30.7 11.4 0.7 1.8 1.4 1.6 * 1.4 459 238 111 128 * 163 72.1 4.2 11.6 47.1 174 0.8 0.6 148 140 1.2 20.5 17.3 8.0 6.5 2.1 3.3 * 0.6 409 539 50 359 0.8 272 27.9 7.0 0.4 4.8 2.1 3.1 0.6 1.4 9.5 0.2 0.6 0.2 0.2 0.3 0.8 0.1 0.2 0.6 13.0 112 55.0 102 4.2 1.6 1.0 0.5 1.5 0.2 1.1 0.3 5.8 1.1 0.1 3.2 * * 5.0 - 19.0 27.8 5.6 1.7 7.4 0.9 11.1 1.0 9.1 * 0.5 5.6 20.1 47.5 1.0 5.1 2.0 0.4 0.1 1.4 5.8 0.1 - 4.8 4.7 55.9 13.6 54.8 0.5 40.1 1.7 77.6 6.3 25.6 0.2 0.7 8.4 0.8 12.4 193 0.4 48.6 3.6 5.4 150 - 0.6 0.2 0.7 0.8 0.1 - A espécie E. huxleyi, que produz placólitos mais pequenos e menos resistentes que a espécie anterior, também não apresenta tendência definida, isto é, aumenta em algumas estações (est.35, 36, 37,39, 14), decresce noutras (est. 1,4,6,8) ou mantém os valores nas restantes (est.16 e 34). Nas amostras colhidas, a espécie C. pelagicus é rara à superfície, tanto como litos como cocosfera, mas está bem representada na camada nefelóide de fundo. Outras espécies só com placólitos são a U. sibogae, Reticulofenestra sp. e Cyrcargolithus floridanus. As duas últimas espécies correspondem a formas fósseis indicando a existência de ressuspensão e resedimentação. As concentrações de placólitos das espécies Gephyrocapsa mostram um padrão de flutuação inconsistente de aumento e diminuição de estação para estação. Mais fácil de explicar é o aumento da F. profunda com a profundidade devido à sua preferência pela zona fótica profunda (>80m). A espécie U. tenuis apresenta nas estações do perfil sul valores superiores à superfície do que no fundo, só aumentando na estação 16. No perfil Norte está normalmente ausente à superfície, com excepção da estação 42 e, aparece junto ao fundo com valores baixos. 182 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ As estações 37 e 39 não apresentam desenvolvimento de cocolitóforos nem a presença residual de litos aos 5m. Contudo, as amostras do fundo mostram conteúdo significativo de litos cuja associação se assemelha mais às estações perto da costa do que as neríticas, sugerindo a existência de mecanismos de circulação para fora da plataforma aos níveis inferiores da coluna de água. B. CLIMA (Inverno 1997) Pretendeu-se essencialmente caracterizar a associação de cocolitóforos presentes, no período de Inverno. A amostragem foi feita na coluna de água a 5, 30 e 80m de profundidade, em três perfis paralelos à costa, na área compreendida entre os paralelos 41ºN e o 41º30'N (Tabela V8A e 8B). No nível superior (5m) a abundância absoluta média dos cocolitóforos era de 273x103 cel.l -1 , enquanto que aos 30m era de 251x103 cel.l -1 e aos 80m de 134x103 cel.l -1 . A abundância de cocosferas era máxima à superfície (-5m), diminuindo para cerca de metade aos 80m de profundidade. Nos perfis perpendiculares à costa observa-se que as estações mais ao largo (a mais de 45 Km da costa) apresentam valores de abundância superiores (fig. V-18). No 69 74 77 80 82 0 0 -25 -25 -50 -50 -75 -75 -100 -100 Gephyrocapsa oceanica Emiliania huxleyi -90 -80 -50 -20 0 -90 -25 -50 -50 10000 30000 -40 50000 -30 -20 7000 -25 5000 -50 5000 0 0 -60 3000 cel./l -70 1000 70000 0 -80 500 50000 -10 0 30000 -30 7000 10000 -40 5000 3000 5000 -60 1000 500 0 0 -70 -100 -100 -10 0 cel./l 70000 -75 -75 Syracosphaera sp. Gephyrocapsa ericsonii -100 -100 -90 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 30000 -40 50000 -30 -20 7000 -50 -75 10000 -50 5000 -25 -50 -60 3000 -25 5000 -70 1000 0 -80 500 0 0 -100 -100 -90 0 70000 50000 30000 10000 5000 3000 10x10 3 30x103 50x10 3 100x103 300x103 500x103 700x103 cel./l 1000 0 0 -80 -100 -100 70000 -10 0 cel./l -75 Gephyrocapsa muellerae -90 -70 -50 -30 -10 -100 -100 0 -90 -50 30000 -40 50000 -30 7000 10000 -60 5000 5000 -70 3000 0 -80 1000 cel./l Umbilicosphaera sibogae 500 30000 -20 0 10000 -40 3000 5000 -60 1000 500 0 0 -80 70000 -20 -10 0 cel./l Figura V-18. Distribuição da abundância das mais importantes espécies de cocolitóforos, segundo um perfil perpendicular à costa, para o cruzeiro CLIMA 97. Observam-se os máximos de abundância, perto do bordo plataforma. 183 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ entanto, a diversidade mantém-se, sendo mais importante a variação do tipo e número de espécies ao longo da coluna de água. A espécie mais abundante em todos os níveis é a G. ercsonii, com valores que variam de 787X103 cel.l -1 a 0.4x103 cel.l -1 . Tal como no cruzeiro anterior, a espécie oportunistica E. huxleyi (2.4X10-3 - 73X10-3) também está presente, assim como a G. muellerae (1.1x103 Tabela V-8A. Localização, temperatura, salinidade e abundância de cocolitóforos (×103 células l -1 ) em amostras colhidas, a 5 m, 30 m and 80 m, durante o cruzeiro CLIMA 97. Est. Latitude Longitude Prof. (m) Temp.(ºC) 5 30 80 Salinidade 5 30 80 Abund. (×103 cel. l-1 ) 5 30 80 82 41º29'.9N 8º50'.4W 30 80 41º29'.7N 9º02'.9W 94 77 41º30'.0N 9º15'.2W 800 74 41º29'.8N 9º25'.7W 2031 69 41º29'.8N 10º00'.3W 3100 104 40º41'.1N 8º53'.1W 30 102 41º41'.2N 09º05'.2W 104 100 41º41'.3N 09º19'.2W 430 99 41º41'.4N 09º23'.’0W 1075 93 41º41'.2N 09º59'.7W 2886 120 40º51'.0N 08º55'.1W 43 119 41º51'.0N 09º00'.1W 86 117 41º49'.3N 09º10'.1W 120 114 41º48'.5N 09º24'.6W 913 - 16.726 16.801 15.481 16.707 15.345 16.469 16.517 16.366 - 15.179 16.541 - 15.630 17.046 15.211 16.197 16.728 15.550 16.463 16.501 16.245 16.226 16.242 15.295 14.863 16.692 - 15.194 16.296 16.420 16.257 16.744 16.021 16.421 16.418 16.445 - 35.793 35.889 36.024 35.940 36.007 35.879 35.931 35.942 - 34.215 35.629 - 34.427 35.924 36.015 35.639 35.853 36.004 35.798 35.833 35.944 35.867 35.897 35.970 32.813 35.765 - 33.551 35.178 35.998 35.430 35.813 36.003 35.849 35.850 35.950 102 20 - 108 136 30 330 128 967 709 200 393 156 69 8 - 278 103 52 454 256 88 274 398 576 120 84 9 - 148 32 254 89 120 300 180 99 100 102 104 114 117 119 120 * * * 1.7 * * * 1.7 1.7 * * * * * * * 0.6 * * * * 1.7 1.7 3.4 * * * * * * * * * * * * * 1.7 3.4 * * * * 1.7 * * * * 0.4 18.6 8.1 65.0 28.8 42.3 38.9 67.7 32.2 16.2 47.4 27.1 7.2 33.8 2.5 9.3 26.2 25.0 44.7 16.6 37.1 6.8 25.7 2.4 85.9 223.2 123.3 171.9 44.5 72.7 20.3 48.7 0.4 184 * * 4.1 3.2 11.8 * 9.5 3.2 7.9 22.0 2.7 1.8 * * * 5.1 * 1.8 33.8 5.1 * 1.3 2.3 * * * 2.8 1.1 1.4 0.4 * * * 3.2 * * * * * * 0.6 * * * * * * 0.4 7.9 * 1.4 * * * * * * * 0.9 1.8 * * * * 1.7 * * * * * * * * * * * 14.2 * 23 50.9 * 8.5 * * 3.2 1.6 11.8 0.9 25.3 * 3.4 8.5 16.9 1.7 * * * * 5.4 8.5 * * * * 1.8 1.7 * 0.6 * 1.6 * 8.6 0.9 1.4 * 0.4 16.2 * 3.1 24.6 1.7 * * 2.8 * 5.4 * S. molichii 3.2 13.5 2.7 8.2 8.4 1.7 9.0 4.1 0.4 * S. lamina R. clavigera H. carteri G. oceanica G. muellerae G. ericsonii C. pelagicus C. mediterranea C. leptoporus A. unicornis A. ordinata A. brasiliensis 1.6 14.2 10.2 36.6 19.7 11.7 15.2 * 8.1 6.5 1.6 3.4 2.7 18.1 * 13.5 18.6 35.5 5.1 5.4 23.7 6.8 7.2 5.4 * 9.3 8.2 * 1.9 5.2 11.4 1.1 1.4 1.2 U. sibogae 93 * * * * * 6.8 3.3 1.7 1.7 * 307.2 84.6 786.6 543.2 96.9 198 70.4 62.3 74.4 2.4 40.6 1.8 438.6 66.0 196.3 294.5 282.6 208.2 50.5 162.5 49.1 32.5 9.5 S. pulchra 82 1.7 34.8 37.2 73.0 44.3 43.4 60.9 30.7 20.3 35.6 Syracosph. spp. 80 1.7 * * 4.8 Scyphosph. spp. 77 0.4 * * * 1.6 * E. huxleyi 74 30 80 5 30 80 30 80 5 30 80 5 30 30 80 30 80 5 30 80 5 30 80 5 30 5 30 80 30 80 30 80 5 30 D. tubifera 69 Prof. amostragem (m) Est. Tabela V-8B. Abundância absoluta de cocolitóforos (×103 célulasl-1 ) em amostras colhidas às profundidades de 5 m, 30 m e 80 m, durante o cruzeiro CLIMA 97. (*) - litos livres. 1.6 4.8 3.4 28.4 18.0 36.8 25.4 18.0 4.1 8.1 12.6 1.7 2.7 16.2 16.9 11.8 35.5 33.8 3.4 12.6 3.4 13.5 5.4 2.7 1.3 9.3 13.1 28.3 22.3 20.1 12.8 2.2 * 3.6 14.8 1.7 1.7 * * * 1.6 * 1.6 0.8 1.8 * 3.4 3.6 * * * 3.4 3.4 * 3.4 * * 1.4 * 3.3 1.4 * * * 1.7 * 1.4 * 1.4 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 35.5x103 ). As espécies características de massas de águas subtropicais e tropicais também foram encontradas com abundância significativa, como a G. oceanica (0.4X103 - 33.8X103 ), U.sibogae (1.3x103 - 36.8x103 ), Syracosphaera sp. (0.9x103 - 51x103 ), Scyphosphaera (0.4x103 -13.5x103 ), D. tubifera (0.4x103 - 6.8x103 ) e S. pulchra (1.4x103 - 3.6x103 ). Superfície (5m) As águas superficiais costeiras mostram baixos valores de salinidade e temperatura, em resultado directo do fluxo de água doce continental (plumas dos rios). Uma frente salina, bem marcada, entre as águas continentais e oceânicas, localiza-se a cerca de 30 km da costa. De modo geral, todas as espécies mostram valores superiores de abundância à medida que nos afasta va mos para o largo. Constituem excepção a este comportamento a s espécies Syracosphaera sp., cuja abundância se mantém ou sofre um aumento genérico na proximidade da costa (fig. V-32), e G. oceanica, que na est.82 tem abundância superior (22.0x103 cel l-1 ). Os litos mostram a mesma tendência, com excepção das duas espécies referidas anteriormente as quais são, por vezes, mais abundantes na proximidade da costa, mas em locais menos influenciados pelos rios (est.82). A distribuição horizontal aos 5m mostra que a massa de água continental influencia fortemente a distribuição das diferentes espécies (fig.V-33). Além disso, será de colocar a hipótese de outro factor, além da temperatura e salinidade, estar a influenciar a distribuição. sua Margalef (1983) propôs um terceiro factor, a turbulência do meio, que promoveria a mistura das massas de água, factor este cuja importância tem sido igualmente reconhecida por Cachão (1998). Nas condições de Inverno, que prevaleceram durante o cruzeiro, este factor poderá ajudar a explicar a ocorrência de espécies subtropicais e temperadas com máximos em condições hidrológicas semelhantes. A generalidade das espécies apresenta os máximos de abundância nas águas oceânicas (fig.V19). As espécies que apresentam comportamento diverso do geral são a G. oceanica que tem uma distribuição particular, com o máximo de abundância na zona de transição entre as águas continentais e oceânicas e a Syracosphaera sp. que apresenta dois máximos, um perto da costa e outro ao largo, ou seja, em duas massas de água com características bem distintas de temperatura e salinidade. 185 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 42ºN CLIMA 97 Salinidade a -5m 42ºN CLIMA 97 Temperatura a -5m 0 10km 0 41º30'N 9º00' W 9º00' W 41º30'N 42ºN CLIMA97 E. huxleyi (-5m) 10km 9º00' W 42ºN 9º00' W CLIMA 97 G. ericsonii (-5m) x10 3 cel.l -1 x10 3cel.l -1 100m 700 70 500 120 50 300 114 100 30 50 10 100 102 104 30 Lima Lima 5 10 0 0 0 74 80 82 _____isolinhas litos 41º30'N 42ºN CLIMA97 Syracosphaera sp. (-5m) 9º00' W CLIMA 97 G. oceanica (-5m) x10 3 cel.l - 1 10km 100m 41º30'N 0 10km x10 3 cel.l 100m 70 -1 70 50 50 30 30 10 10 Lima Lima 0 5 5 0 0 0 10km _____isolinhas litos 10km _____isolinhas litos 41º30'N 9º00' W 9º00' W CLIMA97 U. sibogae (-5m) x10 3 cel.l -1 70 50 30 10 Lima 5 0 0 10km _____isolinhas litos 41º30'N Figura V-19. Distribuição horizontal (5m), para as várias espécies de cocolitóforos encontrados, assim como para a temperatura e salinidade, do cruzeiro CLIMA 97. As isolinhas de cor azul a rosa representam as abundância dos litos (x103 litos -1 ), geralmente mais abundantes nos locais onde temos os máximos de cocosferas. 186 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Nível intermédio e inferior (30 e 80m) À semelhança do verificado no nível superficial, foi detectado uma tendência geral de aumento dos valores de abundância para o largo (Tabela V-8b). De referir que não se verifica uma separação nítida entre espécies de massas de água subtropicais e temperadas. De facto, estes dois grupos predominantes encontram-se misturados, o que denota uma forte mistura das massas de água na plataforma continental. As espécies de massas de água temperadas (G.ercsonii, G. muellerae, E. huxleyi) mostram uma tendência para diminuir a sua abundância média à medida que descemos na coluna de água, enquanto que a U. sibogae (massas de água subtropical) exibe comportamento oposto. Aos 80m, a U. sibogae apresenta maior abundância nos locais de temperatura superior a 16ºC. Resultados da análise dos litos Além da relação evidente entre máximos de cocosferas e máximos de litos (fig.V-19), pretende-se analisar também a variação da sua concentração ao longo da coluna de água e especialmente na camada nefelóide de fundo. Os dados necessários a tal análise são apresentados na tabela V-9 . 80 82 93 99 100 102 104 114 117 119 120 1.6 1.4 1.6 2.7 8.1 16.6 8.5 16.2 1.7 1.8 14.4 9.5 8.9 3.3 3.4 1.7 1.4 15.8 2.4 9.5 67.7 8.1 32.8 35.1 23.7 27.1 1.4 3.2 7.9 39.7 28.8 28.8 62.6 1.7 6.8 39.7 5.4 15.5 13.1 55.0 8.6 4.37 7.9 0.8 187 9.5 10.2 8.1 4.9 35.1 13.5 9.0 2.7 3.2 12.6 1.8 32.5 32.2 6.8 37.2 10.2 10.2 16.2 10.2 7.2 0.6 3.9 8.3 12.0 0.9 3.4 2.7 1.2 6.3 6.8 5.4 3.3 3.3 1.7 1.4 1.6 1.6 3.4 5.4 11.8 3.4 8.5 10.2 8.5 3.6 2.3 1.6 13.3 5.2 4.4 1.4 2.2 0.4 9.5 8.1 26.2 15.0 15.2 9.0 4.7 50.5 5.1 30.5 42.3 25.4 15.2 7.2 1.8 0.6 8.5 24.6 30.3 0.9 2.8 - 15.8 3.4 13.5 1.6 6.7 10.2 5.4 9.5 8.1 1.6 15.2 6.3 18 6.8 5.1 16.9 16.9 22.0 5.4 16.9 15.2 37.9 20.3 1.9 9.3 26.2 8.3 1.7 6.1 11.4 42.9 1.6 14.2 12.2 6.5 8.4 18.6 19.8 9.5 24.2 10.3 38.9 4.5 10.8 11.8 10.2 20.3 25.4 3.6 13.5 22.0 28.8 5.4 1.3 9.3 14.8 15.0 6.9 4.4 12.8 9.0 4.1 - 72.8 57.5 62.3 27.9 267.4 252.2 236.5 440.0 80.2 110.7 79.5 15.3 391.7 297.8 323.2 648.2 1098. 181.1 281.6 71.1 134.7 196.8 82.6 30.4 604.2 283.9 445.6 199.4 166.8 69.8 155.7 82.6 43.8 U. tenuis U. sibogae S.pulchra Syracosphaer a spp. D.tubifera R. clavigera 57.0 16.9 48.7 8.2 63.5 101.5 39.7 33.8 34.0 25.3 37.2 4.5 164.3 23.7 110.0 162.5 150.6 106.6 30.7 40.6 60.9 93.9 8.1 0.6 35.6 134.6 95.0 39.5 33.2 45.6 56.4 19.0 1.6 Scyphosph. 10.2 12.2 4.9 25.4 34.3 83.9 32.3 68.0 245.4 69.5 21.7 16.9 1.7 52.5 20.3 12.6 257.2 69.4 1.8 90.7 8.2 14.7 11.5 10.0 18.9 31.4 68.4 116.2 54.2 9.6 Pontosphaera 861.4 660.0 736.5 320.0 738.8 1107. 350.2 750.0 594.9 429.3 770.0 256.3 2061. 575.4 1287. 1827. 2335. 1100. 449.5 1072. 981.5 1469. 503.6 73.5 697.0 1399. 1114.7 761.6 612.3 818.0 681.4 173.3 46.2 H. carteri C. leptoporus C. pelagicus 14.2 3.4 21.7 10.2 5.4 6.8 1.3 6.8 2.7 2.4 G. muellerae 77 6.8 6.8 3.3 1.7 3.6 2.7 1.6 3.2 1.8 3.6 5.1 1.7 3.4 5.4 6.8 8.5 5.4 1.4 1.3 0.9 1.4 6.8 0.8 G. oceanica 74 24 80 5 30 80 1440 30 80 5 30 90 5 40 30 80 30 80 5 30 80 5 30 80 5 30 5 30 80 30 80 30 80 5 30 E. huxleyi 69 Prof.(m) Est. Tabela V-9. Comparação dos valores de concentração de litos (x103 litos l-1 ) obtidos nas CNS, CNI e CNF. 4.8 30.5 4.0 14.8 5.0 5.4 0.8 3.6 1.7 3.4 1.7 1.8 3.4 3.4 9.0 1.7 - Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Podem-se distinguir três situações diferentes nos litos que se estão a libertar para a coluna de água: os que geralmente mantêm as suas concentrações ao longo da coluna de água (E. huxleyi), aqueles cuja concentração diminui para o fundo (G. oceanica, Syracosphaera sp) e os que apresentam comportamentos distintos conforme as estações (G.muellerae, S. pulchra). As espécies que ocorrem geralmente representadas por litos e raramente como células vivas (entre outras, C. leptoporus, C.pelagicus, H. carteri, Pontosphaera sp., Scyphosphaera sp., R. clavigera, D. tubifera, e U.tenuis) apresentam também comportamentos distintos. C. pelagicus ocorre apenas nas amostras da plataforma continental, apresentando geralmente concentração superior perto do fundo, com excepção das est. 102 e 104 (frente ao rio Lima). D. tubifera, pelo contrário, apresenta concentrações mais baixas nas estações da plataforma, ou simplesmente desaparece à superfície, só aparecendo perto do fundo (est. 80, 102, 104 e 117) com concentrações baixas (ressuspensão do fundo?). U. tenuis ocorre nas estações mais profundas com concentrações superiores aos níveis intermédios, com excepção da est. 102. H. carteri aparece geralmente com concentração superior na CNF (est. 80, 82, 119). Os placólitos cuja abundância é superior na CNF do que na coluna de água sobrejacente, representam certamente espécies mais resistentes aos processos de dissolução, tanto na coluna de água como no sedimento, indicando a existência de ressuspensão. C. Análise estatística A distribuição do nanoplâncton calcário resulta de uma complexa interacção entre estes organismos e o ambiente que os rodeia, sendo influenciada principalmente pela alteração das massas de água (temperatura e salinidade), nutrientes, turbulência e penetração da luz (turbidez). Na tentativa de identificar possíveis relações estatísticas (correlação, covariância, antivariância) no que concerne à distribuição particular das diversas espécies de nanoplâncton calcário observadas, com alguns dos factores que poderão condicionar a sua presença, foi efectuada um tratamento estatístico multivariado. A análise multivariada é utilizada habitualmente em estudos geológicos e biológicos. Não obstante terem objectivos distintos e os modelos matemáticos em que se baseiam serem diferentes, os métodos empregues em tais estudos pressupõem sempre a redução da totalidade das variáveis em apenas alguns factores. Entre os métodos mais usados estão a análise de componentes principais e a análise factorial. Neste trabalho considerou-se a análise factorial como sendo a mais útil, visto que se pretendia a extracção de um pequeno número de factores e classificar as espécies em grupos naturais. 188 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Foi apenas aplicada ao cruzeiro CORVET devido ao maior número de amostras, tanto por perfil como por nível (5m e fundo). Nas colheitas a 5m, foram usadas as abundâncias absolutas obtidas para cada espécie. A análise foi feita separadamente para as cocosferas e litos, visto que estas pequenas placas calcíticas podem persistir por algum tempo na coluna de água, dando-nos informações complementares. Nas colheitas perto do fundo, foram apenas consideradas as contagens dos litos. Pretendeu-se ver em que medida os diferentes litos estão relacionados entre si, e com os parâmetros de medida da quantidade de matéria particulada em suspensão (turbidez e concentração), assim como com os processos de dispersão, contaminação e ressuspensão. C1.Análise factorial - Cruzeiro CORVET 96 Em 18 amostras recolhidas nos 3 perfis realizados no cruzeiro CORVET 96 foram reconhecidas 19 morfotipos de litos e 16 espécies distintas de cocolitóforos (cocosferas). Uma análise quantitativa das mesmas aos 5m (litos e cocosferas) e perto do fundo (a cerca de 5m do fundo), permitiu a obtenção de três matrizes de contagem, submetidas separadamente a uma análise factorial através do programa "Statistica for Windows". Para os dados das contagens das cocosferas a 5m trabalhou-se com uma matriz conjunta de 12 variáveis (Temperatura, Salinidade, Nefelometria e as 9 espécies mais representativas) por 5.5 5 4.5 4 Valor 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de valores próprios Factores 1 2 3 4 Valores próprios 4.59 2.65 1.24 1.12 Variância explicada (%) 38.25 22.08 10.36 9.34 Valores próprios acumulados 4.59 7.24 8.48 9.60 Variância acumulada (%) 38.25 60.33 70.69 80.03 Figura V-20. Determinação dos factores significativos da análise factorial para as espécies de cocolitóforos (cocosferas) encontradas a -5m e tabela com a variância explicada para um universo de 12 variáveis. 189 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 16 amostras (foram retiradas duas estações do perfil Norte por apresentarem a este nível ausência de cocolitóforos), para o qual foi calculada a respectiva matriz de correlação (Apêndice C). Esta operação permitiu concluir que uma parte significativa da distribuição é explicada através da determinação de quatro factores ou agrupamentos, sendo negligenciavel o contributo dos restantes. Após a extracção dos valores próprios (fig.V-20), foi efectuada uma rotação varimax, de modo a obter uma optimização dos valores utilizados em função do número de factores extraídos (4) ou seja dos principais eixos de distribuição. O 1º factor permite explicar 38% da variabilidade dos dados, relacionando a temperatura e salinidade (massas de água) com uma associação típica de águas quentes (C. leptoporus, U. tenuis e Syracosphaera spp.). Inversamente, a nefelometria influencia negativamente esta distribuição, conjuntamente com espécies de águas temperadas (H. carteri, G. muellerae e G. ericsonii). Rotação: Varimax Extracção: Factores principais (comm.=multipla R-2) 1 GE 0.8 GM EH Reciclagem nutrientes upwelling Factor 2 0.6 SY 0.4 0.2 NEFEL GO SALIN RC 0 Pluma rios TEMP HC UT CL -0.2 -0.4 -0.4 -0.2 Massa de água quente 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 Factor 1 Figura V-21. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o primeiro e segundo factor significativo da análise factorial, feita com as abundâncias absolutas das cocosferas (-5m). Interpretação das associações encontradas (legenda das abreviaturas no apêndice C). O 2º factor (variância explicada de 22%), agrupa as espécies G. muellerae, G. ericsonii e E. huxleyi, espécies características de águas temperadas e comuns neste período nas águas costeiras da plataforma. O 3º factor (10%) mostra o comportamento distinto da espécie H. carteri em relação a todas as outras espécies, não estando directamente relacionadas com estas nem com as outras variáveis. O 4º factor (9%) relaciona a G. oceanica com a nefelometria, visto que esta espécie ocorre geralmente em locais onde a turbidez é elevada (perto da costa), o que permite explicar o seu comportamento distinto em relação às outras espécies típicas de massas de água quentes. 190 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Rotação: Varimax Extracção: Factores principais (comm.=multipla R-2) 0.8 SALIN TEMP 0.4 CL SY RC HC Factor 4 UT EH 0 GE -0.4 < condições óptimas GM -0.8 NEFEL -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 GO 0.2 0.4 Factor 3 Figura V-22. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o terceiro e quarto factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas das cocosferas (-5m). Legenda das abreviaturas no apêndice C. A distribuição das espécies relativamente ao factor 1, mais significativo do que os restantes, permite concluir que este eixo traduz a influências das massas de água sobre as associações microfaunisticas subtropicais e tropicais, estando as restantes relacionadas com outros factores, nomeadamente a turbidez (nefelometria) e as plumas dos rios (Fig.V-21). Individualizam-se as espécies G. muellerae, G. ericsonii e E. huxleyi, que se encontram associadas com águas temperadas e, possivelmente, com a reciclagem de nutrientes trazidos pelo upwelling. O factor 3 parece traduzir peculiaridades na distribuição das espécies de certos cocolitóforos, em particular H. carteri e R.clavigera , não se sabendo o seu significado ao nível do conhecimento actual. Esta distribuição poderá também reflectir uma diminuição das condições óptimas para a ocorrência de determinadas espécies, só restando a H. carteri (fig.V-22). O factor 4 representa igualmente uma oposição entre massas de água oceânicas (temperatura + salinidade) e massas de água costeiras (nefelómetria). Para as contagens efectuadas nos litos (5m), realizou-se o mesmo tipo de análise, utilizando-se agora uma matriz de correlação onde se acrescentou a concentração (mg/l) às anteriores 12 variáveis, pelas mesmas 16 estações (Matriz - Apêndice C). Teve-se o mesmo cuidado de optimizar a contribuição de cada um dos valores dos eixos principais da distribuição estatística, através da indução de uma rotação varimax. 191 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 5.5 5 4.5 4 Valores 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de valores próprios Factores 1 2 3 4 Valores próprios 4.59 2.75 1.78 1.33 Variância explicada (%) 35.32 21.19 13.66 10.22 Valores próprios acumulados 4.59 7.35 9.12 10.45 Variância acumulada %) 35.32 56.51 70.18 80.39 Figura V-23. Determinação dos factores significativos da análise factorial para as espécies de litos encontradas a -5m e tabela com a variância explicada para um universo de 13 variáveis. Tal como na análise anterior, uma parte significativa da distribuição (80%) é explicada através da determinação de 4 factores (fig. V-23). O primeiro factor explica 35 % da variabilidade dos dados e relaciona a temperatura e a salinidade com os litos da espécie C. leptoporus, estando relacionada inversamente com a concentração. Os litos desta espécie estão relacionados com a massa de água onde se encontram, ocorrendo essencialmente em massas de água tipicamente oceânicas, com baixa concentração e longe da influência terrestre (fig. V24). O 2º factor relaciona a nefelometria com os litos das espéciesH. carteri e Syracosphaera sp., e inversamente com a temperatura, salinidade e a espécie G. muellerae. Este factor parece indicar que os litos de H. carteri e Syracosphaera sp. são, possivelmente, introduzidos por ressuspensão na coluna de água, e separa nitidamente os litos que estão numa determinada massa de água dos que estão a ser transportados. 192 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Rotação: Varimax Extracção: Factores principais (comm.=multiple R-2) 1 HC SY NEF 0.8 Maior diferenciação tafonomica 0.6 dispersão contaminação sedimentação GE Factor 2 0.4 EH RC 0.2 CONC GO CL UT 0 Massa de água quente GM TEMP -0.2 SAL -0.4 -0.8 -0.4 0 0.4 0.8 Factor 1 Figura V-24. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o primeiro e segundo factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas dos litos (-5m). Legenda das abreviaturas no apêndice C. O 3º factor, que explica 14 % da variação, indica que os litos das espécies U. tenuis, R. clavigera e G. muellerae, estão inversamente correlacionadas concentração e as espécies G. oceanica e H. carteri, pertencentes ao primeiro grupo com a nefelometria, mostrando que os litos das espécies se encontram em massas de água oceânicas de baixa Rotacão: Varimax Extracção: Factores principais (comm.=multiple R-2) 1 litos produzidos na plataforma GO 0.8 EH GE Dispersão/contaminação (história anterior) 0.6 Factor 4 0.4 GM NEF SY 0.2 CL HC 0 litos produzidos e dispersos no exterior (offshore) SAL CONC TEMP -0.2 UT RC -0.4 -0.6 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 Factor 3 Figura V-25. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o terceiro e quarto factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas dos litos (-5m). Legenda das abreviaturas no apêndice C. concentração, enquanto que as do segundo grupo ocorrem perto da costa em locais com concentrações superiores. Em vida, as espécies destes dois grupos normalmente encontramse em massas de água distintas, como antes referido. Neste sentido, é de admitir ter havido 193 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ mistura de massa s de água com origens diferentes (subtropical e temperada), com consequente dispersão e contaminação das massas de água por estes placólitos, com antecedentes diferentes. O 4º factor relaciona os litos de três espécies distintas (G. ericsonii, G. oceanica e E. huxleyi), associando-os nas mesmas amostras, sendo as duas primeiras espécies consideradas oportunistas e a terceira ubiquista (fig. V-25). Por fim, realizou-se a análise factorial para as colheitas perto do fundo (≈5m do fundo). Tal como nas análises anteriores, as variáveis escolhidas incluem as espécies de litos mais representativos (U. tenuis, C. leptoporus, G.muellerae, G. ericsonii, G. oceanica, E. huxleyi, Syracosphaera sp., H. carteri e C. pelagicus), a nefelometria e a concentração. As variáveis temperatura e salinidade foram retiradas por se ter verificado que estavam relacionadas entre si mas não com os litos considerados. Assim, a matriz de correlação é formada por 11 variáveis por 12 amostras (4 amostras não tiveram colheitas junto ao fundo devido a profundidade do local ser superior a 2000m). 7 6 Valores 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Número de valores próprios Factores 1 2 Valores próprios 6.36 1.07 Variância explicada (%) 57.81 9.76 Valores próprios acumulados 6.36 7.43 Variância acumulada (%) 57.81 67.57 Figura V-26. Determinação dos factores significativos da análise factorial para as espécies de litos encontradas perto do fundo e tabela com a variância explicada para um universo de 11 variáveis. 67 % da variabilidade desta subpopulação é explicada apenas com 2 factores (fig. V-26). A introdução de um 3º factor, apenas explica mais 7% da variabilidade, não existindo correlações significativas. O primeiro factor permite explicar mais de 50% da variabilidade dos dados (57%), um valor muito elevado e significativo, que mostra a estreita relação 194 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ existente entre os litos de algumas espécies mais abundantes (E. huxleyi, G. ericsonii, C. pelagicus, Syracosphaera spp.) com a nefelometria e concentração. Inversamente correlacionadas estão os litos da espécie U. tenuis, que tem pouca representatividade perto do fundo devido à sua rápida dissolução na coluna de água. Rotação:Varimax Extracção:Factores principais (comm.=multipla R-2) 1 GO 0.8 GM HC CON GE 0.6 Factor 2 0.4 litos associados a produção na coluna de água litos associados a ressuspensão CL 0.2 NEF CP EH SY 0 -0.2 UT -0.4 -0.6 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 Factor 1 Figura V-27. Projecção dos pesos estatísticos de cada variável sobre o primeiro e segundo factor significativo da Análise factorial, feita com as abundâncias absolutas dos litos perto do fundo. Legenda das abreviaturas no apêndice C. O 2º factor relaciona com maior significância os litos das espécies G. oceanica, H. carteri e G. muellerae, que são litos bem calcificados e que apresentam uma resistência mais elevada aos processos de dissolução, tanto na coluna de água como no sedimento. Inversamente correlacionados temos os litos de espécies mais frágeis, como U. tenuis. Os litos da espécie C. pelagicus ocorrem essencialmente na CNF, provavelmente devido a processos de ressuspensão do material fino depositado (placólitos resistente aos processos de dissolução sendo geralmente abundante nos sedimentos de fundo da plataforma), o que permite explicar a sua forte correlação com a nefelometria (fig. V-27). 2.4.2.Síntese - Comunidade de cocólitóforos presentes nas águas da plataforma W portuguesa, em regime de Inverno No cruzeiro de Outubro de 1996 foi reconhecida nas amostras a espécie global e oportunista Emiliania huxleyi (Lohmann) Hay & Mohler. As espécies Gephyrocapsa ericsonii e Gephyrocapsa muellerae, que caracterizam a massa de água temperada encontram-se também presentes na grande maioria das amostras. A espécie Helicosphaera carteri, comum a várias zonas 195 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ biogeográficas, apresenta abundância baixa, podendo mesmo ser considerada rara. No entanto, espécies relacionadas com massas de água quente (subtropical e tropical) foram encontradas com abundâncias significativas, como Gephyrocapsa oceanica, Rhabdosphaera clavigera var. clavigera, Umbellosphaera tenuis, Calcidiscus leptoporus, Discophaera tubifera, e Umbilicosphaera sibogae. No perfil norte, perto da costa, predominam as espécies G. oceanica, G. muellerae e G. ercsonii, influenciadas pelas águas dos rios da região, enquanto que no sector mais externo da plataforma predominam as espécies também a espécie G. muellerae, de águas quentes como U. tenuis, C. leptoporus, mas típica de águas temperadas. Ocorreu mistura de espécies subtropicais com temperada, o que poderá indicar uma mistura de massa de água com origens distintas (subpolar e subtropical). A análise factorial permitiu distinguir claramente as espécies de massas de águas quente s e as espécies de águas temperadas e relaciona a G. oceanica com a nefelometria, explicando assim a preferência desta espécie por massas de água costeiras, normalmente com turbidez superior, e o seu comportamento distinto em relação às outras espécies de massas de água quentes. Esta análise permitiu distinguir os litos correlacionados com as massas de água (como a espécie C. pelagicus) dos que estão a ser transportados (processos de dispersão, contaminação e sedimentação). Perto do fundo, existe uma estreita relação entre os litos de algumas espécies mais abundantes (E. huxleyi, G. ericsonii, C. pelagicus, Syracosphaera sp.) com a nefelometria e concentração. Inversamente correlacionadas estão os litos da espécie U. tenuis, que tem pouca representatividade perto do fundo devido à sua rápida dissolução na coluna de água. O C. pelagicus mostra forte correlação com a turbidez (placólitos resistente aos processos de dissolução sendo geralmente abundante nos sedimentos de fundo da plataforma). Ocorre essencialmente na CNF e está provavelmente relacionado com os processos de ressuspensão do material fino depositado. Em Dezembro de 1997, a espécie mais abundante em todos os níveis era a G. ericsonii . Tal como no cruzeiro de Outubro, a espécie oportunistica E. huxleyi também se encontrava presente, assim como a G. muellerae. As espécies de massas de águas subtropicais e tropicais também foram encontradas, embora com diferentes abundâncias e com novas espécies dominantes, como G. oceanica , U.sibogae , Syracosphaera sp. Scyphosphaera, D. tubifera e S. pulchara. 196 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ A abundância de cocosferas é máxima à superfície (5m), diminuindo para cerca de metade aos 80m de profundidade. As estações mais ao largo (a mais de 45 Km da costa) apresentam valores de abundância superiores. No entanto, a diversidade mantém-se, sendo mais importante a variação das espécies ao longo da coluna de água. À superfície (5m), a massa de água continental influencia fortemente a distribuição das varias espécies. A turbulência do meio está a promover a mistura das massas de água. A espécie G. oceanica tem uma distribuição particular, com o máximo de abundância precisamente na zona de transição entre as águas continentais e oceânicas e a Syracosphaera sp. apresenta dois máximos, um perto da costa e outro ao largo, correspondendo a duas massas de água com características bem distintas de temperatura e salinidade (espécies diferentes de Syracosphaera). Todas as outras espécies apresentam os máximos de abundância nas águas oceânicas. Durante o Inverno, Cachão et al., (2000) explicam a presença da comunidade subtropical tão próxima da plataforma W portuguesa e a latitudes acima de 41ºN pela injecção de águas provenientes da frente dos Açores, na contracorrente da vertente continental Ibérica (Fiúza, et al., submitted). Neste período, em condições de downwelling (ventos de S-SW), as águas quentes oceânicas invadem superficialmente a coluna de água da plataforma continental (Vitorino & Coelho, 1999), levando esta comunidade para mais perto da costa. A ocorrência de espécies diferentes em cada um dos cruzeiros foi explicada por Cachão et al., (2000) pela acção conjugada de diversos factores: os regimes oceanográficos prevalecente s antes e durante os cruzeiros (fim da estação de upwelling no CORVET e inverno típico no CLIMA); o historial da comunidade subtropical transportada para Este ao longo da Frente dos Açores; e as condições físicas da plataforma norte portuguesa, onde a coluna de água na zona costeira se apresentava perturbada pelos fluxos de água estuarina induzindo estratificação vertical. 2.4.3.Conclusões Este estudo mostrou claramente que a comunidade de cocolitóforos que se desenvolve na plataforma e vertente continental portuguesa durante o Inverno é rica e compreende tanto espécies de regiões temperadas como de regiões subtropicais. As espécies subtropicais podem ser dominantes ou encontrarem-se misturadas com as temperadas. O regime de Inverno, com ocorrência de downwelling, traduz-se por duas situações particulares (fig. V-28): 197 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 1. Aproximação de espécies subtropicais do offshore ibérico. A associação varia de ano para ano em função de possíveis factores oceanográficos ou biológicos (seeding factor). 2. Aproximação de formas oceânicas (G. muellerae) das zonas mais costeiras, representadas pela espécie G. oceânica. 45º N ACNAP CLIMA/97 T3 2 Formas oceânicas 42 G.muellerae E.huxleyi 40º Canhão Nazaré 28 T2 39 37 35 Formas neriticas C.pelagicus G.oceanica G.ercsonii E.huxleyi H.carteri Peninsula Ibérica Lisboa 25 23 1 Formas subtropicais 35º C.leptoporus Syracosphaera spp. R.clavigera D.tubifera 21 16 8 6 4 1 Banco de Goringe C.S.Vicente Estreito Gibraltar ACNAt Africa Madeira 20º 10º 0º Figura V-28. Formas de cocolitóforos mais comuns durante o Inverno, associados com as principais massas de água do Atlântico NE. ACNAt - Água Central Norte Atlântica de origem subtropical (a vermelho) e ACNAP (a azul) de origem subpolar (definidas por Fiúza, 1984). Localização das estações realizadas durante os cruzeiros CORVET 96 e CLIMA 97. O tamanho diminuto dos litos e a sua natureza carbonatada torna-os particularmente úteis no reconhecimento de processos de ressuspensão dos sedimentos de fundo, principalmente os mais resistentes aos processos de dissolução, como o C. pelagicus. A espécie G. oceanica, parece ter uma preferência por áreas com turbidez superior, mas com salinidade normal, visto ter sido detectada a bordejar a pluma túrbida dos rios. A escolha destas áreas está certamente relacionada com águas mais ricas em nutrientes. 198 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.5.Análise da MPS por DRX - Mineralogia das suspensões Na plataforma continental norte portuguesa a dinâmica sedimentar é complexa devido à diversidade de processos oceanográficos, e ao facto de termos a contribuição directa de cinco rios (Minho, Lima, Cávado, Ave e Douro), os quais transportam água doce, nutrientes e partículas terrígenas directamente para esta área. Embora estes rios atravessem o mesmo tipo de formações geológicas, dominadas essencialmente por rochas graníticas e xistograuváquicas, o presente estudo pretende melhorar o conhecimento da dinâmica das suas plumas túrbidas na plataforma e a contribuição mineralógica de cada rio, usando a composição mineralógica genérica do material em suspensão (siltes e argilas) e em particular os minerais das argilas como traçadores da dinâmica sedimentar. Um dos problemas decorrentes da presença de 5 rios relativamente próximos (a distância entre cada rio é de cerca de 20 Km), com dimensões e comportamentos distintos, é que as plumas dos diferentes rios tendem a juntar-se em condições oceanográficas favoráveis e em alturas de maior caudal, ou seja, no Inverno. Por exemplo, o rio Douro pode apresentar uma pluma para NW com mais de 30 km de extensão, ultrapassando em situações de grandes cheias a zona de Póvoa do Varzim, mascarando a contribuição do rio Ave. Entre o rio Cávado e Lima esta situação também já foi registada (ver Capitulo IV). Em situações de Inverno ocorre normalmente na plataforma interna a média uma massa de água costeira uniforme, túrbida e que apresenta baixa salinidade, onde dificilmente se distingue a contribuição de cada rio. Os minerais das argilas que, devido ao seu pequeno tamanho, são facilmente transportados em suspensão dos estuários para a plataforma, são frequentemente usados como traçadores para evidenciar as principais linhas de transporte na plataforma e a sua origem no continente. Na plataforma continental, determinou-se o conteúdo mineralógico da MPS por DRX em 18 filtros provenientes do cruzeiro CORVET 96, que apresentavam uma quantidade de material suficiente para realizar este tipo de estudo (superior a 2 mg/l). A determinação foi feita por duas vezes, a primeira das quais directamente sobre os filtros HA da Millipore (porosidade 0.45µm), para determinação da fracção fina. Seguidamente, o material retido no filtro foi retirado e colocado sobre uma lamela para determinação da fracção argilosa (agregados orientados). Para o estudo das fontes sedimentares continentais, utilizaram-se amostras de sedimentos em suspensão e de fundo colhidas durante a campanha Sediminho 1 I/93, que decorreu em 1 Promovida pelo Instituto Hidrográfico no âmbito do projecto PETDS. 199 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Fevereiro de 1993 (Dias, 1993). Dessa campanha foram seleccionadas oito amostras do estuário (filtros) que continham quantidade significativa de MPS e 14 amostras de sedimentos de fundo. 2.5.1.Conteúdo mineralógico do material particulado em suspensão na plataforma continental Esta análise, realizada maioritariamente em filtros de superfície (5m) e em três amostras colhidas perto do fundo, permitiu observar que à superfície as suspensões são essencialmente constituídas por filossilicatos, só mostrando maiores percentagens de outros minerais, nomeadamente o quartzo, na proximidade da desembocadura dos rios (Tabela V-10 e fig.V-29). Esta variação de composição, pode ser explicado pelo gradiente vertical de turbidez, ou seja, parte das partículas em suspensão (as mais densas e pesadas como o quartzo) sofre deposição, Tabela V-10. Mineralogia dos sedimentos em suspensão na plataforma norte (%). Figura V-29. Mapa da distribuição percentual do quartzo e de filossilicatos nos sedimentos em suspensão presentes nos rios e plataforma norte. est. (prof.) Qz kflds plag. calc. halite filoss. 34(5m) 34(28m) 0 32 0 16 0 8 0 12 0 0 100 32 35((5m) 0 0 0 0 0 100 35(57m) 36(5m) 22 0 15 0 7 0 11 0 22 0 22 100 36(85m) 48 5 2 4 16 25 45(5m) 47(5m) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 100 100 58(5m) 0 0 0 0 0 100 59(5m) 70(5m) 56 0 0 0 4 0 8 0 0 0 32 100 72(5m) 55 6 4 10 0 25 100 100 100 0 0 0 Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) e Sediminho/93 % qz e filoss. em suspensão (5m) 100 filoss. qz 34 100 100 0 0 42 56 100 0 33 32 73(5m) 75(5m) 56 0 3 0 3 0 10 0 0 0 28 100 86(5m) 0 0 0 0 0 100 87(5m) 89(5m) 0 66 0 0.1 0 0.1 0 0 0 0 0 34 91(5m) 0 0 0 0 0 100 53 56 100 100 25 28 0 0 55 56 25 50 41º30'N 100 100 20 0 0 0 10km 74 100 34 0 66 27 Douro 54 9º00' W passando a formar a CNF, restando à superfície apenas as menos densas (filossilicatos) que são transportadas para longe da costa. O rio Minho é uma excepção, visto que perto da sua desembocadura as suspensões são exclusivamente constituídas por filossilicatos. Os filtros de fundo apresentam percentagem de quartzo, entre 22% e 48% tendo como minerais acessórios os filossilicatos, os feldspatos a calcite e a halite. A halite só ocorre em 200 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ duas amostras de fundo e poderá estar relacionada com a precipitação de cristais de sal no filtro. Torna-se por vezes difícil lavar os filtros que apresentam grande quantidade de material em suspensão (18 mg/l), tendo sido nesses que a análise à lupa permitiu identificar cristais de halite. Em relação aos minerais das argilas (fig.V-30), a ilite (I) é francamente o mineral dominante em suspensão nas águas da plataforma (Tabela V-11), com valor médio de 76% (min.67%, max.83%). A caulinite (K) apresenta concentração média de 19% (max.25%, min.3%), com os valores mais baixos na plataforma junto ao rio Minho (fig. V-30A). A clorite (Chl), pelo contrário, apresenta valores mais altos nessa zona (média 4%; max.16%, min.0%). A esmectite (Sm) é vestigial (valores de 0,1%), com excepção da região entre o Minho e o Lima, onde exibe valores da ordem dos 5-3%. A figura V-39 mostra um difractograma representativo das amostras de MES da plataforma (fracção inferior a 2µm). Tabela V-11. Mineralogia das argilas nos sedimentos em suspensão (100% amostra de argila). est. (prof.) I K Sm Chl 34(5m) 34(28m) 35((5m) 35(57m) 36(5m) 36(85m) 45(5m) 47(5m) 58(5m) 59(5m) 70(5m) 72(5m) 73(5m) 75(5m) 86(5m) 87(5m) 89(5m) 91(5m) 83 73 75 80 75 80 67 83 77 71 77 74 76 75 75 75 75 75 17 21 25 15 25 16 12 3 13 20 18 20 19 25 25 25 17 25 0.1 0.1 0.1 0.1 0.1 0 5 1 3 3 0.1 0 0.1 0.1 0.1 0.1 2 0.1 0.1 6 0 5 0 4 16 13 7 6 5 6 5 0 0 0 6 0 Figura V-30. Difractograma natural representativo dos minerais das argilas (<2µm), colhidos na CNS e CNF (est.34). 201 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) e Sediminho/93 %ilite e caulinite em suspensão (5m) 83 caulinite A) 75 67 19 12 83 ilite Cruzeiro Corvet (Novembro 1996) e Sediminho/93 %clorite e esmectite em suspensão (5m) 5 7 13 16 1 clorite 1 5 esmectite 3 25 B) 77 13 71 20 75 77 25 18 3 7 3 L ima 78 6 3 15 0 5 0 0 74 76 20 19 6 1 5 6 0 43 0 0 57 41º30'N 41º30'N 75 75 83 25 25 17 75 25 75 25 0 0 75 79 19 25 0 0 0 10km 0 0 75 0 0 17 78 0 0 0 0 2 0 0 6 2 6 1 Douro 15 10 0m 9º00' W 10km Douro 9º00' W Figura V-31. Mapa da distribuição das percentagens dos minerais argilosos (matriz de 100%) dos sedimentos em suspensão dos rios e da plataforma continental. A) % ilite e caulinite; B) % clorite e esmectite. Destaca-se a presença de uma massa de água homogénea no que respeita à mineralogia das argilas, devido à grande mistura provocada pela onda, pelas correntes induzidas pelo vento e pela maré e, em menor grau, devido à circulação provocada por diferença de densidades entre as águas estuarinas e as oceânicas. Contudo as concentrações de caulinite baixam significativamente na proximidade do rio Minho, registando-se um aumento da percentagem de clorite e esmectite. Uma possível explicação é o relaxamento das condições oceanográficas prevalecentes (ventos fortes de S-SW e ondulação de W), que possibilitaram que as águas do rio Minho se expandissem na plataforma, permitindo que a "assinatura" particular deste rio tenha ficado registado nas águas superficiais. Embora o número de amostras colhidas na proximidade do fundo seja reduzido, permitiu observar a mesma mineralogia que à superfície. Contudo, a ilite apresenta cristalinidade superior (fig. V-30). 202 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.5.2. Identificação das fontes mineralógicas continentais 2.5.2.1.Conteúdo mineralógico do material particulado em suspensão dos rios Nos rios, a análise feita sobre os filtros com a totalidade da amostra em suspensão (fracção fina <63µm) permitiu ter uma ideia da proporção existente entre os filossilicatos e os outros minerais detriticos presentes (Tabela V-12). Em todos os rios, o mineral em suspensão predominante é o quartzo, com valores superiores a 42%, sendo o rio Ave o que apresenta maior percentagem deste mineral (74%). Os filossilicatos apresentam sempre valores inferiores a 38%, com valor médio de 28%. Como minerais acessórios identificaram-se o feldspato potássico, a plagioclase e a calcite. É de realçar que o rio Cávado apresenta valores superiores de feldspato potássico (19%) em suspensão, enquanto que o Douro e Lima têm maiores percentagens de plagioclase (17, 16% respectivamente). A figura V-32 mostra um difractograma representativo das amostras de MES, colhidas nos rios (fracção inferior a 63µm). Tabela V-12. Minerais detríticos em suspensão dos rios (fracção <63µm). Est. filtros Qz kfds M1(prof) M1(sup) D5(sup) D5(prof) L51(prof) L51(sup) A4(sup) C5(sup) 44 42 54 43 32 53 74 50 4 8 8 9 10 6 0 19 plag. calc. 6 8 7 17 16 8 6 6 8 8 0 6 14 0 0 0 gesso/ filoss. anidrite 0 0 4 4 0 0 0 0 38 34 27 21 28 33 20 25 Os minerais das argilas (<2µm) presentes em suspensão, tal com nos sedimentos de fundo, são a ilite, caulinite, clorite e esmectite (Tabela V-13). Para uma matriz de 100%, a ilite apresenta uma abundância média de 73% (fig. V-33), valor que é superior à média encontrada para os sedimentos do fundo (Cap. VI). 203 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Figura V-32. Difractograma representativo do material <63µm depositado sobre os filtros colhidos nos rios (amostra L51 fundo, rio Lima). A nomenclatura usada representa: Chl= clorite; I+M=ilite+mica; Q=quartzo; Ca=calcite; K=caulinite; Fk=feldspato potássico; Plag.=plagioclase; An=anidrite; Filo.=filossilicatos. No rio Cávado (estação C5), a ilite deixa de ser o mineral predominante, passando-se de valores superiores a 70%, encontrados nos outros rios, para uma concentração de 43%. Neste rio, o mineral predominante é a caulinite (57%), reforçando o interesse deste mineral como traçador, visto que a percentagem média para a totalidade dos rios é de 16,5%. Os valores de concentração de caulinite em suspensão são normalmente inferiores aos dos sedimentos de fundo (32%). A clorite, com valor médio de 5%, tem concentrações muito semelhantes aos sedimentos de fundo. 204 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Minerais detríticos em suspensão nos rios minhotos (<63micra) e minerais das argilas (<2 micra) MINHO (s,f) 38 34 phill N gy 8 8 6 8 4 8 calc plg kflds smchl 0%7% M1(fundo.) kt 19% kt 19% sm chl 1%5% M1(sup.) 44 42 qz 0 20 40 60 80 100 ill 74% ill 75% % LIMA(s,f) 1 2833 phill 5 gy calc 14 plg 8 16 6 10 kflds 32 qz 0 20 sm chl 6% kt 1% 15% 53 40 60 80 sm chl 6% kt 1% 15% L51(fundo) L51(sup.) 100 % ill 78% CAVADO (sup) phill ill 78% 25 gy 5 sm chl 0% 0% calc C5(sup.) 6 plg kflds 19 qz ill 43% 50 0 20 40 60 80 kt 57% 100 % AVE(sup.) phill sm chl kt 0% 2% 19% 20 A4(fsup.) gy calc 6 plg kflds qz ill 79% 74 0 20 40 60 80 100 sm chl 6% kt 1% 15% D5(sup.) % DOURO (s,f) 21 27 phill kt 14% 4 4 6 gy calc 7 17 9 8 plg kflds 43 qz 0 20 40 D5(fundo) ill 78% ill 78% 54 60 sm chl 3% 5% 80 100 % Figura V-33. Localização e mineralogia das amostras de MPS colhidas nos rios minhotos (Fevereiro de 1993). Nos gráficos de barras estão representadas as % dos minerais detriticos (<63 µm) em suspensão (a vermelho as % dos minerais referentes às amostras colhidas perto do fundo e a azul as de superfície). Nos gráficos circulares estão representados as % dos minerais das argilas (cinzento-ilite; azul escurocaulinite; amarelo-esmectite; azul claro-clorite). 205 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Tabela V-13. Mineralogia das argilas do material em suspensão nos rios (100% minerais das argilas); superfície =sup; fundo=fd. Est. filtros illite caulin. M1(fd) 74 19 M1(sup) 75 19 D5(sup) 78 15 D5(fd) 78 14 L51(fd) 78 15 L51(sup) 78 15 A4(sup) 79 19 C5(sup) 43 57 esmect. 0 1 1 3 1 1 0 0 clorite 7 5 6 5 6 6 2 0 2.5.2.2.Conteúdo mineralógico dos sedimentos de fundo dos rios Da campanha Sediminho I/93 seleccionaram-se 14 amostras de sedimentos de fundo (aproximadamente 3 amostras por rio) que continham uma percentagens superior da fracção silto-argilosa (< 63 µm), relativamente ao geral da amostragem, predominantemente arenosa. A composição mineral das fracções finas dos rios minhotos foi estudada em pormenor por Araújo et al., (2000). Dos minerais identificados por estes autores destacam-se o quartzo, os filossilicatos (essencialmente micas), os feldspatos e os carbonatos, que se encontram em todos os rios, embora com percentagens variáveis. Nos sedimentos dos rios Minho e Ave predomina o quartzo e, pelo contrário, os conteúdos em feldspato, filossilicatos e carbonatos são diminutos; no rio Lima predominam os filossilicatos e as plagioclases; o rio Cávado caracteriza-se por sedimentos com baixos valores de filossilicatos e o Douro pela presença de feldspato acima da média do conjunto. A análise dos minerais das argilas realizada nos sedimentos de fundo dos rios (estações na figura VI-8) mostra um cortejo mineralógico monótono formado por ilite, caulinite, clorite e esmectite. Na figura V-34 encontramos exemplos representativos dos difractogramas obtidos nos estuários dos rios Douro e Minho. O mineral das argilas dominante é a ilite, com percentagens sempre superiores a 60 % (média 63%), com excepção de uma estação no rio Cávado, onde se observa valores muito baixos (24%). A caulinite apresenta valores entre 14% (estuário do rio Lima) e 74% (rio Cávado), com valor médio de 32%. A clorite apresenta valores variáveis desde vestigial (0,1%) a 10%, encontrando-se os valores mais elevados nos estuários dos rios Douro, Cávado e Lima. A esmectite apresenta sempre valores muito baixos, da ordem dos 1%, nos estuários, e praticamente desaparece para o interior dos rios, com excepção do rio Minho. É de realçar a predominância de caulinite numa das estações do rio Cávado, tal como foi também verificado 206 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Cu Kα Figura V-34. Difractogramas representativos dos minerais das argilas obtidos nos sedimentos de fundo dos rios Douro (D5) e Minho (M6). na MPS, podendo esta espécie ser utilizada como mineral traçador deste rio para a plataforma (fig.V-35). A dominância da caulinite poderá ser explicada pela presença de depósitos de caulinite a cerca de 10 km da desembocadura (Barqueiros) e pelo elevado estado de assoreamento do rio Cávado. Entre os minerais argilosos a caulinite é o primeiro a sofrer deposição e normalmente em ambientes com elevado acarreio detrítico (altas taxas de deposição) (Chamley, 1989). Araújo et al. (2000), utilizando maior número de amostras de sedimentos provenientes dos rios minhotos concluíram, que os do rio Minho são dos mais ricos em clorite, com ilites de cristalinidade elevada; os dos rios Lima e Ave são mais ricos em ilite, com baixos valores de caulinite; os sedimentos do rio Cávado são, como referenciado neste trabalho, mais ricos em caulinite; e os do Douro apresentam valores elevados de ilite e de caulinite. 207 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Minerais das argilas dos sedimentos de fundo dos rios nortenhos (fracção <2micra) sm 1% kt 28% chl 5% sm 1% chl 10% ill 61% M13 sm 0% kt 27% kt 39% ill 67% M6 chl 2% ill 59% M22 sm kt 0% 14% sm chl 0% 2% chl 8% sm 1% kt 21% L52 kt 27% ill 64% ill 62% L51 ill 70% C5 ill 82% L5 kt 34% chl 9% sm 2% chl 4% sm chl ill 1% 1% 24% kt 35% sm chl 0% 0% C11 kt 74% sm chl 1% 1% kt 33% ill 65% C21 sm chl 1% 1% kt 36% ill 65% A3 ill 62% A4 kt 23% D1 sm 1% kt 28% chl 6% A12 sm 1% ill 70% sm chl 0% 2% ill 70% chl 10% kt 28% D5 ill 61% Figura V-35. Localização das amostras dos sedimentos de fundo colhidos nos rios minhotos (campanha SEDIMINHO I/93). Nos gráficos circulares estão representados as % dos minerais das argilas (cinzento-ilite; azul escuro-caulinite; amarelo-esmectite; azul claro-clorite) obtidas por DRX. 208 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 2.5.3.Conclusões A observação da fracção fina (>63µm) permitiu verificar que o material em suspensão nos rios (superfície e fundo) é maioritariamente formado por quartzo, com valores superiores a 42%, seguido pelos filossilicatos com percentagem média de 28 %. Na fracção argilosa, observa-se um cortejo mineralógico monótona formado por ilite, caulinite, clorite e esmectite, sendo a ilite o mineral dominante. Contudo, no rio Cávado observa-se percentagens superiores de caulinite. Os sedimentos de fundo apresentam a mesma mineralogia, com dominância da caulinite no rio Cávado e da clorite no rio Minho. Na plataforma continental, o conteúdo mineralógico do material em suspensão da fracção fina varia significativamente entre as amostras da superfície (5m) e as colhidas perto do fundo. As amostras de superfície são maioritariamente constituídas por filossilicatos, enquanto perto do fundo o quartzo pode tornar-se o mineral dominante. À superfície, as amostras colhidas na proximidade dos rios contém também percentagens mais elevadas de quartzo, relacionadas com o acarreio directo dos rios. O mineral das argilas dominante, tal como nos rios, é a ilite, com percentagens semelhantes aos 5m e perto do fundo. A composição mineralógica verificada na fracção fina e argilosa, dos rios e da plataforma é muito semelhante, permitindo concluir que a componente detrítica da MPS que se encontra na plataforma é directamente exportada pelos rios, constituindo a principal fonte sedimentar. Como traçadores mineralógicos nas águas da plataforma continental, foram identificados a caulinite para o rio Cávado e a clorite para o rio Minho. O rio Douro apresenta altas taxas de ilite e caulinite que constituem os dois minerais predominantes da MPS das águas da plataforma minhota. 209 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 3.Características granulométricas das suspensões 3.1.Introdução O conhecimento da granulometria das partículas terrígenas em suspensão é um parâmetro essencial em qualquer estudo de dinâmica sedimentar. A dimensão, a forma e a densidade das partículas são os principais factores que determinam a velocidade de queda, a qual por sua vez, constitui um parâmetro básico na distribuição dos sedimentos ao longo da coluna de água. A distribuição das partículas pelas diferentes classes granulométricas é igualmente importante, visto que as partículas maiores (ex. areias) são eficientes para o transporte de massa, enquanto que partículas menores (ex. argilas) são mais importantes biogeoquimicamente (como transportadores de contaminantes). Muitas das determinações das características granulométricas das suspensões presentes em águas da plataforma e do oceano profundo foram realizadas com o Coulter Counter, utilizando águas colhidas com garrafas hidrográficas (Brun- Cottan 1971; Pak et al. 1980; McCave, 1983, Eisma, 1993). Embora muito versátil, este aparelho produz informação que é função da distribuição do volume das partículas, não sendo directamente relacionável com a velocidade de queda (Swift et al., 1972). Foram também utilizados outros equipamentos, como o microscópio (óptico e de varrimento) com a contagem directa de partículas, de modo a produzir espectros numéricos (Harris, 1977; Lambert et al. 1981) e o método tradicional de pipetagem (Lei de Stokes). Recentemente, apareceram as análises sedimentológicas automáticas realizadas a partir da absorção de raios x (Sedigraph) e da difractometria laser (Malvern). O Sedigraph baseia-se na lei de Stokes para medir a velocidade de queda das partículas, deduzindo o seu diâmetro em função da densidade do material, fornecendo assim uma informação directa sobre a "dinâmica" do depósito (Weber et al., 1991). As medidas por difractometria laser também fornecem uma informação da dimensão das partículas, mas em função da difracção da luz (as partículas de determinado tamanho difractam a luz segundo um ângulo que aumenta com a diminuição do tamanho da partícula). Estes dois métodos, baseados em princípios diferentes fornecem diâmetros e o mesmo tipo de parâmetros de distribuição (média, mediana, classes…). Contudo, conduzem a diferenças na percentagem das diversas fracções, particularmente em sedimentos finos com elevada percentagem de argilas, dando resultados similares em sedimentos areno-siltosos (McCave, 1986; Singer et al., 1988). A forma planar das partículas de argila induz considerável diferença entre as granulometrias feitas por pipetagem e a laser. O Malvern utiliza três lentes com comprimento focal de 63, 100 e 300mm. O comprimento da 210 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ focal determina a gama de dimensões que vai ser analisada. Para as lentes de 63, 100 e 300mm os limites são respectivamente: 1.2µm a 118µm, 1.9µm a 188µm e 5.6µm a 564µm. Este instrumento, abaixo do limite analítico, não dá boas indicações sobre a quantidade de material presente. A quantidade indicada entre os 0.5µm (comprimento de onda da luz) e os 2µm é apenas cerca de 16-20 % do material realmente existente na fracção inferior a 2µm (McCave et al., 1986). Weber et al. (1991) concluíram que o Malvern é preferencialmente adaptado ao estudo dos siltes. Embora não ignore as argilas, estas são incluídas na fracção silte fino (<15µm), sendo difícil avaliar directamente as suas percentagens. Comparando com os outros método de análise (Sedigraph e pipetagem) uma estimativa da percentagem de argila pode ser feita pela percentagem da fracção inferior a 6-7µm (Weber et al., 1991). Mais recentemente, Konert & Vandenberghe (1997) estabeleceram que o tamanho 2µm, definido pelo método da pipeta corresponde a 8µm definido pelo Laser Particle Sizer. Estas técnicas dão-nos uma medida da distribuição granulométrica, mas perturbam os frágeis agregados e flóculos que existem em ambiente marinho (Kranck, 1973,1981; Gibbs, 1981, 1982a). O reconhecimento de que a floculação é um processo que agrega as partículas com modificação do seu diâmetro e consequente aumento da velocidade de queda, incentivou as determinações in situ, utilizando tubos ópticos (Zaneveld et al., 1982; Spinrad, et al., 1989). Estes tubos ópticos permitem ter uma imagem de flocos de grandes dimensões (marine snow), agregados orgânicos e inorgânicos que se desagregam ao serem recolhidos e analisados. O sistema digital de vídeo e as imagens fotográficas também nos dão uma visão das formas das partículas e as suas variações temporais. No presente estudo, a análise dimensional das partículas em suspensão foi determinada utilizando a difractometria laser, em amostras previamente desagregadas por ultra-sons, com a focal de 100µm (Capitulo III). Pretenderam-se analisar as variações granulométricas da fracção inorgânica (sem agregados) da MPS que é transportada pelos rios para a plataforma continental a norte de Espinho. Outro objectivo desta análise consistiu na comparação deste espectro de dimensões com os sedimentos superficiais (primeiro cm) dos depósitos siltoargilosos presentes entre os 70 e 100m de profundidade, gama de profundidades preferencial para a deposição da MPS estuarina. Estudos anteriormente realizados nesta área, utilizando o mesmo método, mostraram que as suspensões são essencialmente silto-argilosas (Oliveira el al., 1994; Oliveira, 1995). A fracção superior a 63µm (areia) só muito raramente atinge os 20% do total e a fracção dos siltes 211 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ grosseiros a médios (15 a 63µm) apresenta uma contribuição importante (30-50%), enquanto que o silte fino e a argila (<15µm) atingem valores de 40-80% de Inverno e 30-65% de Verão. 3.2.Analise granulométrica das suspensões de Inverno No cruzeiro de Novembro de 96, as partículas colhidas na CNS (-5m), são essencialmente silto-argilosas (fracção <15µm superior a 60%, com diâmetro médio compreendido entre 6 e 35 µm (Apêndice E). Os siltes são mal calibradas (σ >1) e a assimetria tem tendência para ser positiva (58% dos casos). Apenas 12% das curvas apresentam assimetria negativo e 29% são curvas simétricas. Os gráficos de correlação interparâmetros (Fig.V-36) mostram uma tendência para variações longitudinais e baixa dependência do diâmetro médio. Verifica-se que o diâmetro médio da MPS aumenta sensivelmente de Este para Oeste (fig.V-37), atingindo um máximo na vertente continental. O estudo da variação longitudinal da média mostra que os siltes com diâmetro médio mais reduzido (<10µm) predominam no plataforma interna (30-40m), exibindo curvas de distribuição mal calibradas e com assimetria muito variável. Estes siltes finos representam certamente a MPS que estava ser introduzida pelos rios na plataforma interna. 2.0 0.6 92 86 45 1.5 79 77 8789 47 59r 56 73 58r72 75 70 61 47 72 87 89 73 56 75 86 45 91 0.2 52 Plat. média 58r 61 70 59r 0.4 Plat. externa e vertente continental 50 42 Plat. interna (30-40m) 1.0 43 41 0.0 -0.2 85 92 77 68 Plat. média 50 41 5243 42 79 Plat. externa e vertente continental Plat. interna (30-40m) -0.4 -0.6 0 0.6 10 20 Média 41 61 58r 704359r 50 42 47 87 72 73 89 56 75 0.4 0.2 Ass. 85 68 Ass. Desv. padrão 91 0.0 52 40 0 20 Média 30 40 85 7779 Ass. positiva 68 Aprox. simétricas 45 91 Ass. negativa Figura V-36. Caracterização textural da MPS desagregada (5m), para o cruzeiro CORVET 96 (Novembro de 1996). -0.4 -0.6 1.0 10 92 86 -0.2 30 1.5 Desv. padrão 2.0 Na plataforma média ocorriam sedimentos com diâmetro médio ligeiramente superior (1020µm) e com assimetria positiva. Na plataforma externa e na vertente continental as dimensões do diâmetro médio eram superiores a 20µm e as curvas de distribuição mostram uma forte tendência positiva de assimetria. Os dados da observação à lupa e ao microscópio sugerem uma explicação para as médias serem mais elevadas na plataforma externa e 212 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ vertente. A maioria das partículas que se encontravam em suspensão na plataforma externa e vertente eram de origem orgânica, sendo talvez os restos biogénicos de maiores dimensões que influenciaram os valores de média encontrados. Esta tendência foi observada anteriormente na plataforma continental frente aos rios Gironda (Weber et al., 1991) e Tejo (Jouanneau et al., 1998), resultando igualmente da incorporação crescente da componente biogénica, de maiores dimensões, na composição da MPS. Cruzeiro CORVET(Novembro 96) Diametro Médio MPS -5m 26.2 6.9 7.1 6.2 35.3 6.7 L ima 6.0 13.9 5.8 8.9 23.617.8 30.0 9.2 8.6 20.0 9.1 41º30'N 0 10.0 10km 5.0 1 9 . 8 5.8 6.2 7.2 1 8 .9.3 9 Figura V-37.Mapa de distribuição do diâmetro médio aos 5m para o cruzeiro CORVET 96 (Novembro 96). Douro 100m 9º00' W 9º00'W Granulometria CORVET 96 % 100 Areia Argila Silte 10.0 Freq. relativa 89 45 80 8.0 Amostras Plat. interna 92 50 60 Amostras Plat. média a externa 6.0 40 4.0 20 2.0 0 1000 100 10 1 diâm. (µm) 0.1 Figura V-38. Curvas de frequência relativa e acumulada para amostras colhidas na plataforma interna ( a azul) e média (a preto), aos 5m. 213 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ A figura V-38, ilustra exemplos representativos da distribuição granulométrica de amostras colhidas na plataforma interna e média (5m). No cruzeiro CLIMA97 a percentagem de silte fino e argila (fracção <15µm) é superior a 68 % tanto na CNS como na CNF, sendo a percentagem de silte médio a grosseiro ligeiramente superior na CNF (28%) do que na CNS (22%). A fracção superior a 63µm (areia), apresenta valor médio muito baixo cerca de 8% e 3% respectivamente na CNS e CNF. As suspensões obtidas à superfície (5m) durante o cruzeiro de Dezembro de 1997 são, tal como no cruzeiro anterior, compostas por partículas das dimensões do silte e da argila (fracção <15µm superior a 68%), com diâmetro médio que varia de 5 a 25µm (Apêndice E). No geral, são mal calibradas (σ>1), mas com tendência para os sedimentos em suspensão nas massas de água tipicamente oceânicas apresentarem desvio padrão superior a 2,0. O índice de simetria revela predomínio de assimetria negativa (53%), com cerca de 39% de curvas com assimetria positivas e só 8% aproximadamente simétricas. Os gráficos interparâmetros (fig.V39A) mostram que estes podem estar directamente relacionados com as massas de água 2.5 2.5 21475 23 15 583051 2.0 43 28 115 126 104 93 122 80 91 106 78 89 111 1 113 25 87 53 82 109 54 26 128 108 1.5 49 76 74 45 56 60 Desv. padrão Desv. padrão Águas oceânicas Plat.externa vertente conttinental 2.0 54 47 3 58 113 126 30 56 89 49 18 111 8780 191108 28a 5 5182 107 23 109 21 26 53 25 1.5 Águas estuarinas 1.0 1.0 0 10 20 30 0 10 Média 53 Águas estuarinas 128113 45 26 108 10954 82 111 87 56 25 0.4 Ass. 0.2 60 -0.4 -0.6 30 18 113 89 87 0.0 3 126 -0.2 49 47 58 54 6 5 -0.4 -0.6 0 10 20 30 0 Média 10 Média 0.6 0.6 0.4 0.4 0.2 Ass. positiva 0.0 Aprox. simétricas -0.2 As s. Ass. 20 30 80 0.2 Plat. externa e vertentecontinental 91 89 -0.2 10 09 7 2 8 a 1 53 23 82 19 108 51 1111 5 0.4 74 76 49 30 1 51 28 80 106 126 104 7815 115 47 93 58 Águas oceânicas 43 122 21 5 23 0.0 30 26 25 21 0.6 Ass. 0.6 20 Média 0.2 Ass. positiva 0.0 Aprox. simétricas -0.2 Ass. negativa -0.4 -0.4 -0.6 -0.6 1.0 1.5 2.0 2.5 Ass. negativa 1.0 1.5 Desv. padrão 2.0 2.5 Desv. padrão A B Figura V-39. Caracterização textural da MPS desagregada, para o cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro 1997); A) -5m; B) fundo. 214 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ presentes. Parece haver alguma dependência do diâmetro médio, principalmente para algumas estações da plataforma externa e vertente. Os mapas de distribuição do desvio padrão (σ) e da assimetria mostram que os sedimentos das águas oceânicas são muito pobremente calibrados (σ>2) e com tendência para terem curvas assimétricas negativas (enriquecidas em grosseiros, α<0). Pelo contrário, os sedimentos em suspensão das águas estuarinas são pobremente calibrados (σ<1,5) e com tendência para mostrarem curvas com assimetria positiva (enriquecimento em finos, α>0). Em termos gerais, verifica-se, que as suspensões são pobremente calibradas, ou seja, o MPS não pertence maioritariamente a uma classe dimensional. As águas estuarinas são enriquecidas em partículas finas (α>0), o que poderá traduzir a introdução de materiais deste tipo, provenientes dos rios e as águas oceânicas são predominantemente assimétricas negativas, que poderá ser explicado pela introdução de restos biogénicos de maiores dimensões. Em relação ao cruzeiro anterior, em que predominavam as curvas com assimetria positiva, neste predominam as amostras com curvas assimétricas negativas. Esta observação pode ser explicada pela maior importância da massa de água oceânica, rica em elementos biogénicos grosseiros, que no início do cruzeiro entrava superficialmente na plataforma continental, pelo efeito de ventos de S-SW, (ver distribuição da temperatura e salinidade do Cap. IV). As amostras de fundo (colhidas a cerca de 5m do fundo) apresentam diâmetro médio mais baixo (inferior a 15 µm), sendo mal calibradas e com assimetria variável (fig. V-39B). Contudo, o índice de simetria aponta para um predomínio das curvas com assimetria positiva (68% dos casos), com cerca de 21% de assimetria negativa e 11% de curvas simétricas. A distribuição da média não mostra grandes variações, excepto para as amostras colhidas na plataforma externa e vertente na área envolvente ao canhão submarino do Porto, que apresentam diâmetro médio superior a 15-20µm. O desvio padrão apresenta também pouca variação, encontrando-se as amostras com σ>1,5 na plataforma externa a norte do canhão do Porto. O mapa de distribuição da assimetria (fig.V-40) é o mais interessante, na medida que parece definir, com valores de assimetria positiva, CNF associadas com as desembocaduras dos rios Douro e Lima. Os locais com assimetria negativa correspondem provavelmente a zonas onde não ocorria ressuspensão de sedimentos finos do fundo, predominando ai partículas biogénicas mais grosseiros, provenientes das águas superficiais. 215 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Cruzeiro CLIMA (Dezembro 97) Assimetria MPS -5m -0.3 Cruzeiro CLIMA (Dezembro 97) Assimetria Fundo 0.5 -0.2 -0.6 -0.4 0.6 0.4 0.2 0.2 0.3 0.3 0.4 0.4 -0.3 -0.3 -0.5 -0.1 0.4 Lima 0.4 0.2 0.0 -0.1 0.0 0.3 0.3 Li ma -0.1 -0.2 0.2 41º30'N -0.4 0.0 -0.3 0.6 0 0.3 -0.5 0.2 0.4 0.3 41º30'N -0.4 0.4 -0.3-0.4 -0.6 -0.4 10km 0.4 -0.5 -0.4 -0.1 -0.2 -0.6 -0.3 -0.6 0.6 -0.2 0.4 -0.1 0.3 0.4 0.4 0.2 0.3 Douro 200m 200m -0.4 -0.2 0.3 0.6 0.4 0 0.6 10km 0.6 0.4 Douro 100m 100m -0.6 9º00' W -0.2 0.2 9º00' W-0.2 0.3 Figura V-40. Mapa de distribuição da assimetria, aos -5m e fundo, para o cruzeiro CLIMA 97 (Dezembro 97). 3.2.1.Conclusões: Durante o Inverno, à superfície (5m) os sedimentos em suspensão (SS) mostram características granulométricas diferentes ligadas com o tipo de massa de água: • os SS associados a massas de água estuarinas apresentam diâmetro médio <10µm e assimetria positiva, o que traduz enriquecimento em partículas finas; • os sedimentos associados a massas de água oceânicas exibem diâmetros médios superiores aos anteriores (>15 µm), má calibração (>2) e assimetria negativa em relação com o enriquecimento em partículas grosseiras (restos biogénicos); As amostras de fundo (colhidas a cerca de 5m do fundo), apresentam diâmetro médio inferior a 15 µm, sendo mal calibradas e com assimetria variável. Assim, os sedimentos que se encontram em suspensão na plataforma continental e que são expulsos pelos rios minhotos, principalmente pelo rio Douro, são muito finos (<15µm) e, portanto, do tipo coesivo. 216 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ 3.2.2.Estudo da moda siltosa As distribuições podem ser representadas por vários tipos de parâmetros. Para o seu estudo, os mais úteis são aqueles que permitem examinar as modas e as populações presentes na distribuição granulométrica. A forma básica das distribuições obtidas pelo MALVERN foi geralmente polimodal (fig. V-34). No cruzeiro CORVET96 e CLIMA 97, realizados em período de Inverno, a maioria das amostra apresenta mais de uma moda (>70%), sendo cerca de 45% bimodais, 20% trimodais e 25 % unimodais. Apenas cerca de 15 % são de polimodalidade superior. Em ambos os cruzeiros a bimodalidade é a mais comum, tanto na CNS como na CNF (Fig. V-41). 60 % de amostras 50 Corvet (5m) Clima (5m) 40 Clima (fundo) 30 20 10 0 1 2 3 nº de modas > 4 Figura V-41. Histograma representativo da abundância percentual do número de modas presentes nas suspensões dos cruzeiros CORVET96 e CLIMA97. No mapa da figura V-42 representou-se a distribuição do carácter modal das amostras (n.º de modas da amostra). À superfície, de Inverno, o padrão de distribuição é complexo e aparentemente aleatório, como foi já referido anteriormente por Oliveira (1994). Contudo, no cruzeiro CORVET 96, as suspensões próximas dos rios apresentam tendência para a uni e bimodalidade, enquanto que a amostras da plataforma média a externa apresentam polimodalidade bem marcada. Esta polimodalidade poderá ser explicada pela introdução de organismos planctónicos em número superior. No cruzeiro CLIMA 97, esta tendência não é tão evidente, excepto na proximidade dos rios Minho e Lima, onde as amostras uni e bimodais prevalecem. A sul destes rios, observa-se na plataforma média uma faixa contínua de amostras bimodais que separam amostras de modalidade superior, presentes tanto na plataforma interna como na plataforma externa. 217 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Corvet 96 (5m) CLIMA 97 (5m) CLIMA 97 (fundo) unimodal bimodal trimodal tetramodais ou de modalidade superior Lima P4 P5 41º 30' N 0 41º30'N 41º30'N 10 km 0 200 m 10 0m 10 0m Douro 0 10km Douro 10km Douro 9º00' W 9º 00' W 9º00' W 9º00' W Figura V-42. Distribuição de caracter modal (n.º de amostras) das suspensões colhidas durante os cruzeiros CORVET 96 (Novembro 1996) e CLIMA 97 (Dezembro 1997). Essa faixa com amostras bimodais que se prolonga na plataforma média para N-NW poderá representar a frente térmica e salina, identificada pela hidrologia e que separava a massa de água oceânica da massa de água estuarina (ver fig. IV-26 e IV-28). As suspensões polimodais identificadas na plataforma interna correspondem geralmente a modas finas compreendidas entre 5-10µm, enquanto que as identificadas na plataforma externa são mais grosseiras (>20µm). Estas suspensões, embora ambas polimodais, representam materiais com origem diferentes, sendo as primeiras maioritariamente terrígenas e directamente ligadas com o material exportado pelos rios e as segundas correspondem, possivelmente, a organismos pertencentes ao fito e zooplâncton, como foi constatado pela observação directa dos filtros à lupa e ao microscópio. Perto do fundo, as amostras bimodais prevalecem, representando materiais essencialmente terrígenos. A fig. V-43, observam-se algumas curvas granulométricas representativas das amostras colhidas durante o cruzeiro CLIMA97, na plataforma interna e média (5m e perto do fundo). As curvas encontram-se truncadas na cauda fina dos siltes (argilas), porque não se realizou a granulometria dessa fracção (1.93-0.5µm), a qual corresponde a 1-13%, do total da amostra. 218 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ Granulometria CLIMA97 Areia % Argila Silte 10.0 100 Est.25(20m) 8.0 80 Plat. Interna est.25(5m) 6.0 60 4.0 40 2.0 20 ___ 5m fd 0.0 0 1000 100 10 1 diam. (µm) 0.1 Granulometria CLIMA97 % 100 Areia Argila Silte 10.0 Est.30(96m) 80 Est.30(5m) 8.0 Plat. Média (96m) 60 6.0 40 4.0 20 2.0 0 1000 100 10 1 diam. (µm) Figura V-43. Curvas granulométricas representativas das amostras colhidas durante o cruzeiro CLIMA97, na plataforma interna e média (5m e perto do fundo). 0.1 No cruzeiro CORVET 96, a moda principal das amostras colhidas na CNS (5m) variou entre 4.7 µm e 58 µm. No cruzeiro CLIMA 97, aos 5m encontravam-se compreendidas entre 4.7 e 37.0 µm (predomínio da moda 4.7µm) e perto do fundo entre 5.4µm e 23.8µm. Distribuindo a moda principal por classes (fig.V-44), observa-se para o cruzeiro CLIMA 97 que aos 5m, esta moda centra-se na classe fina dos ]8-4µm], com percentagem superiores a 50%, mas perto do fundo (CLIMA 97) esta classe fina perde importância. Contudo, não deixa de ser dominante, embora se observe uma maior importância das classes ]15-8 µm] e ]30-15µm]. No cruzeiro CORVET 96, as modas são semelhantes embora as modas grosseira, sejam mais importantes que no cruzeiro CLIMA97 (Fig.V-44). Em ambos os cruzeiros se constata predomínio da moda fina centrada nos 4.7-5.4µm, que corresponde a material terrígeno e pequenos cocólitos isolados, como foi constatado pela observação das suspensões ao MEV. 219 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ As amostras colhidas durante o cruzeiro CLIMA 97 apresentam uma moda principal fina, com um pico por volta dos 5 µm (4.7-5.4µm) e duas modas secundárias mais grosseiras por volta dos 10µm (9.8-11.4µm) e 18µm (17.7-20.5µm). Estas três modas ocorreram tanto aos 5m, como perto do fundo (fig. V-20), podendo ocorrer modas superiores a 18µm nas amostras superficiais mais afastadas da costa (composta maioritariamente restos biogénicos). 100.0 100.0 75.0 75.0 50.0 % % CORVET 96 Novembro 96 -5m 50.0 CLIMA 97 Dezembro 97 -5m micra ]8-4] ]15-8] ]30-15] ]125-63] ]8-4] ]15-8] 0.0 ]30-15] 0.0 ]63-30] 25.0 ]125-63] 25.0 ]63-30] fundo micra Figura V-44. Distribuição da moda principal do material em suspensão (-5m e fundo), por classes para os cruzeiros CORVET 96 e CLIMA 97. Neste estudo assumiu-se que a percentagem de argila é representada pela fracção inferior a 8µm devido ao facto de as argilas, nas granulometria realizadas no MALVERN, estarem incluídas na fracção silte fina (<15µm), sendo difícil avaliar directamente os seus teores. Recentemente, McCave et al., (1995) argumentaram que o sedimento abaixo de 10µm (em diâmetro esférico equivalente) deve ser desprezado. Esta fracção comporta-se geralmente de forma coesiva, depositando-se como agregado, não podendo o seu tamanho desagregado (quando é medido) ser relacionado com o ambiente de deposição. Estes autores definiram a média do "sortable silt" (o diâmetro médio da fracção terrígena entre 10-63µm) como aquela fracção do sedimento cujo tamanho varia em resposta aos processos hidrodinâmicos e a partir do qual se podem inferir variações de velocidade na corrente. Estes dados mostram que em suspensão predominam as partículas das dimensões das argilas e do silte fino, permitindo considerar a hipótese de que durante os processos de dispersão e deposição do sedimento e para as mesmas condições hidrodinâmicas a argila e o silte fino mantém-se em suspensão, enquanto que o silte grosseiro sofre deposição. As velocidades da corrente da maré (>10 cm/s) e de baixa frequência (períodos acima de cerca de 2 dias) acima de 25 cm/s, observadas por Vitorino et al (2001) na plataforma média apoiam esta hipótese. Segundo McCave et al., (1995), velocidades de corrente da ordem dos 10-18 cm/s não permitem a deposição do silte fino e da argila nos depósitos sedimentares, depositando-se 220 Capitulo V Matéria particulada em suspensão _______________________________________________________________________________________ apenas o silte grosseiro e a areia fina, que correspondem às partículas dominantes nos depósitos silto-argilosos da plataforma NW (ver Capítulo VI). 3.2.3.Conclusões: No geral, as camadas nefelóide de superfície e fundo são formadas por partículas com as mesmas dimensões, maioritariamente silte fino e argilas. Contudo, observa-se que a moda grosseira é mais importante na CNF, com valores de percentagem superiores. Comparando o nível superficial dos dois cruzeiros, a moda grosseira é, também, mais importante nas amostras do cruzeiro CORVET96. 221 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ CAPITULO VI Interface água/sedimento Como foi referido anteriormente, um dos objectivos do presente trabalho é a comparação das características composicionais e granulométricas da MPS com as dos sedimentos finos que se encontram depositados na plataforma a norte de 41ºN entre as profundidade de 40 e 160m. Para isso utilizou-se o primeiro centímetro superficial das amostras de sedimento colhido durante os cruzeiros CORVET 96 e GAMINEX 98. Observações de campo recentes, bem como a modelação do transporte sedimentar em plataformas continentais a profundidades superiores a cerca de 40m, indicam que apenas os primeiros milímetros superficiais dos sedimentos sofrem ressuspensão durante uma tempestade (Drake & Cacchione, 1989; Lyne et al., 1990; Wiberg et al., 1994). 1. Carbono orgânico particulado O conhecimento do teor de carbono orgânico particulado (COP) dos sedimentos da plataforma continental portuguesa é escasso, reduzindo-se essencialmente à plataforma adjacente ao rios Tejo e Sado. Nesta região, o conteúdo de COP varia de 0,3 a 5,1%, com um valor médio de 1% (Jouanneau et al., 1998). Na plataforma portuguesa a norte de Espinho e na Galiza, os sedimentos foram recentemente estudados no âmbito do projecto OMEX, encontrando-se valores de COP que variam entre 0,1 e 1,8%, com valor médio de 0.7% (1cm). Os valores de COP encontrados na plataforma entre o Douro e o Minho são muito semelhantes aos que ocorrem na plataforma galega (fig.VI-1A), existindo uma nítida dependência entre o padrão de distribuição do COP e a granulometria média do sedimento, com claro decréscimo do conteúdo de COP com o aumento do tamanho médio do grão (fig. VI-1B). Através da relação COP vs profundidade (fig.VI-1C), observa-se que não existe decréscimo do COP com a profundidade, uma vez que se observam valores semelhantes aos 30m e aos 225300m de profundidade. Contudo, existe um aumento importante do conteúdo de COP entre os 75m e os 125m que deverá estar, maioritariamente, relacionado com os sedimentos finos da plataforma. Considerando o valor médio de 0.7%, observa-se uma redução muito significativa entre os valores observados na CNS ( valor médio de 24% no Verão e 14% de Inverno) e CNF (12% na 222 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ Primavera e 9% de Inverno) e o valor de COP nos sedimentos. No sedimento de fundo fica preservado cerca de 0.17% do COP que se encontra na CNS sse considerar o valor médio de 24%. A) 43.0 COP interface água/ sedimento (%) 0.3 0.3 2.0 s uro eM d a Ri 0.4 0.5 0.3 42.6 0.3 a Ri de a os Ar dra teve Pon 0.9 0.2 42.4 0.1 Ri a 1.0 0.4 0.4 0.9 de 1.0 0.5 o e Vig Ria d 1.2 42.2 Plat.Douro-Minho Plat.Galiza 1.5 COP(%) 42.8 B) 0.9 0.0 1.50 0.3 0.6 1.4 0.5 0.51.5 1.8 0.30.5 0.80.7 0.5 0.9 1.10.3 0.4 41.8 o nh Mi 1.00 0.50 1.5 0.5 0.4 1.0 0.4 0.4 0.5 0.8 0.4 41.4 0.25 1.4 1.3 1000 Plat.Douro-Minho Plat.Galiza 1.0 0.2 10 0m -9.00 0.5 0.4 0.0 Douro 30m 0m -9.20 100 0.00 Ave 0.4 0.4 41.0 MÉDIA µ ( m) 0.4 0.4 0.5 20 10 0 0m 1.1 0.9 Cávado 0.4 0.9 1.3 0.80.4 0.4 0.4 1.5 -9.40 10 2.0 Lima 41.6 41.2 1 0.5 1.4 COP(%) 42.0 -8.80 50 -8.60 100 150 PROF.(m) 200 250 300 C) Figura VI-1. - A) Mapa de distribuição do conteúdo em COP da interface água/sedimento; os traços diagonais representam os afloramentos rochosos; B) gráfico que relaciona % COP com o tamanho médio do grão e C) gráfico relação % COP com a profundidade. 2.Granulometria Os dados de granulometria do sedimento desagregado foram obtidos com o Malvern, utilizando as lentes com focal de 300 (487-1,5 µm) e 100 (188-0,5µm). A análise granulométrica foi feita integrando as amostras dos cruzeiros CORVET96 e GAMINEX (fig.VI-2). As 66 amostras de sedimentos analisadas correspondem essencialmente a siltes, siltes arenosos e areias siltosas, com cerca de 22 amostras com diâmetro médio superior a 63µm. O diâmetro médio encontra-se compreendido entre 19,2 e 203µm. São essencialmente amostras siltosas mal e muito mal calibradas (1.08<σ<2.28), que mostram predomínio de curvas com 223 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ assimetria muito positiva (86% das amostras). Apenas 5% são aproximadamente simétricas e 8% têm assimetria muito negativa. 6 4 a Ri 1 M ur os A ro R ia 7 sa 9 42º 30'N 15 12 18 17 10 20 21 26 R ia 23 V ig ra ed o Depósito Galiza 28 a Ri v n te Po 32 42ºN Ri 40 33 36 34 36 34 nh o 33 42 a L im o i R 27 29 25 24 23 22 21 47 Corvet Gaminex 11 Afloramentos rochosos 12 4 53 55 3 Rio Ave 15 13/14 7 6 56 8 9 54 Rio Cá va do 46 44 18 50 42 19 17 Depósito Douro LEGENDA: Sedimentos finos (siltes e argilas) >90% 50-90% 41º 25-50% 5-25% 30'N <5% o Mi 1 44 R io Do u ro 2 41ºN 9º30'W 9ºW 8º30'W Figura VI-2. Localização das amostras de sedimentos de fundo colhidos durante o cruzeiro CORVET 96 (bolas a negro) e GAMINEX (estrelas a negro), sobrepostos ao mapa da distribuição percentual dos sedimentos finos, segundo Dias et al ., (2000). Em relação às amostras colhidas nos depósitos silto-argilosos (delimitados a azul na figura VI2), as do depósito do Douro são na sua maioria siltes arenosos com baixo conteúdo em argila (<12%), sendo as do depósito do Minho-Galiza comparativamente mais grosseiras (> % de areias finas) como se pode observar na distribuição das fracções granulométricas transferidas para um diagrama ternário (Fig. V-3). 224 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ >63um 0 0 10 25 75 50 50 Mi nho Douro 0 10 0 75 25 <15um 63-15um 0 25 50 75 100 Figura V-3. Diagrama ternário com as distribuições das fracções granulométricas para as amostras de fundo colhidas nos cruzeiros CORVET96 e GAMINEX. Delimitação de algumas amostras pertencentes aos depósitos silto- argilosos do Douro e Minho-Galiza. 2.1.Caracterização textural Na análise dos gráficos interparâmetros (fig.VI-4), verifica-se que as amostras têm no geral diâmetro médio inferior a 63µm, excepto as amostras colhidas na plataforma externa e no bordo da plataforma. A assimetria e o desvio padrão revelam alguma dependência com o diâmetro médio, embora não muito significativa. 2.5 3.0 2.5 2.0 1.5 2.0 Ass. Desv.padrão Muito pobre/ seleccionadas 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 -2.0 Pobre/ seleccionadas -2.5 -3.0 1.0 0 50 3.0 2.5 6 Ass. 2.0 1.5 100 Média (micra) 150 200 0 50 100 Média (micra) 150 200 1 41 1.0 0.5 35 10 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 KR28 KR20 -2.0 -2.5 KR32 KS24 -3.0 1.0 1.5 2.0 2.5 Desv.padrão 225 Figura VI-4. Caracterização textural dos sedimentos desagregados do 1cm da amostra total, colhidos na plataforma norte Portuguesa (círculos) e Galega (quadrados). Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ Estes gráficos parecem indicar que os sedimentos da plataforma portuguesa são mais homogéneos que os da plataforma galega, que apresenta algumas amostras com curvas muito pouco calibradas e com assimetria muito negativa (com curvas enriquecidas em grosseiros). A observação dos mapas de distribuição deste três parâmetros mostra uma variação textural acentuadamente este-oeste, mas também sul-norte, embora em menor escala (fig. VI-4). Na plataforma adjacente às rias de Pontevedra e Vigo e a norte do rio Minho, os sedimentos têm diâmetro médio inferior a 30µm, mas apresentam importante enriquecimento em grosseiros, o que não se verifica em nenhuma amostra colhida a Sul. Como estas amostras se encontram na plataforma média, longe da influência dos rios e da erosão do litoral, que pode introduzir partículas grosseiras, e fora da influência remobilizadora da ondulação, que provoca a extracção de sedimentos finos, esta assimetria poderá ser explicada pela integração de partículas biogénicas mais grosseiras (ver fig. VI-1A). 43.0 43.0 43.0 Média (micra) 42.8 69.0 39.8 52.7 52.3 85.3 42.6 M de Ria s uro 26.6 75.8 157.4 sa ro 19.2 23.7 1.6 2.1 2.2 1.8 42.6 ra ve d o nte eP d Ria ig o eV Ria d 19.7 48.0 25.6 60.9 M de Ria 29.4 s uro 42.8 2.0 1.7 2.0 2.1 1.8 2.0 R ia 1.7 1.8 1.8 2.3 42.2 1.8 0.4 1.2 -0.2 0.8 0.8 42.6 2.1 42.4 Assimetria sa ro eA ad i R 1.9 17.1 50.3 42.2 42.8 1.8 eA ad Ri 122.9 42.4 Desvio padrão de te Pon e Ri a d ra ved ad Ri eM s uro eA ad Ri 1.1 0.1 1.2 42.4 1.4 0.5 0.5 -0.4 42.2 dra teve Po n de Ria igo de V -2.9 R ia 0.0 -1.7 0.1 0.8 Vigo a ros 0.8 1.0 125.0 203.1 42.0 45.6 24.8 0.3 2.1 42.0 ho Min 2.0 1.6 2.00 1.5 42.0 -0.4 -2.0 ho Min 63.0 M o inh 0.1 -0.1 41.8 41.8 1.50 41.8 -0.3 30.0 Lima Lima Lima -1.0 41.6 10.0 41.6 1.00 Cáv ado 41.4 41.4 41.4 -8.60 -9.20 -9.00 -8.80 -8.60 -9.40 -9.20 30m 0m m 10 0 41.0 200 0m -9.40 30m 41.0 Douro 100m -8.80 10 0m -9.00 41.2 m 10 0 30m 100m -9.20 Ave Douro 200 m 0m 41.2 -9.40 Cáv ado Ave Douro 200 10 0 41.0 -2.0 Cávado Ave 41.2 41.6 -9.00 -8.80 -8.60 Figura VI-4. Mapas de distribuição dos parâmetros texturais, média, desvio padrão e assimetria, da interface água sedimento. 2.1.1.Moda siltosa O estudo da moda permitiu verificar que as amostras com teores de areia inferiores a 50%, apresentavam a moda principal no domínio dos siltes (61.5-34.1µm). Contudo, observou-se que esta moda siltosa grosseira desaparecia nas amostras com percentagem de areia superior, surgindo uma moda no domínio das areias finas (82.5µm) ou superior. A moda fina dos siltes centra-se nos 27-10µm. 226 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ Analisando a evolução da moda principal ao longo do depósito silto-argiloso do Douro, num perfil E-W (Fig. V-6), verifica-se que a moda principal das amostras se torna gradualmente mais fina, desde os 60m (início do depósito silto-argiloso do Douro) até aos afloramentos rochosos da plataforma média a externa (150m), passando da areia muito fina (82.5µm) a silte grosseiro-médio (34.1µm). A maiores profundidades, o sedimento torna-se muito mal calibrado e heterométrico (est. 7). Esta deficiente calibragem dos sedimentos da plataforma externa e bordo da plataforma pode dever-se sobretudo a níveis energéticos baixos, insuficientes para calibrar a areia, sedimentação activa do tipo misto (terrígena e biogénica) e e/ou proveniências distintas do material sedimentar em deposição (Magalhães, 1993, 1999). areia muito fina silte grosseiro silte médio silte fino silte muito fino e argila 14 a -Gal iz Minho areia fina Rocha Depósitos finos 12 10 Am.10 Canhão do Porto 10 00 m 10 9 8 Douro 41º30' 8 7 Am.9 6 Am.8 9º30' 9º00' 41º00' 4 Am.7 2 0 1000 100 10 diam. (µm) 1 Figura VI-6. Evolução da moda principal ao longo de um perfil E-W (est.7 na plataforma média e est.10 na plataforma externa), que atravessa o depósito silto-argiloso do Douro. A composição maioritariamente siltosa do depósito do Douro e a diminuição da moda principal para o bordo sugerem um meio de deposição sob o efeito de fluxos variáveis mas relativamente fortes. Segundo McCave (1995), a deposição sob o efeito de fluxos fortes (1018 cm/s) origina sedimentos com diminuto teor em argila, ocorrendo aumento da percentagem e do diâmetro da moda do silte. Assim, no bordo Este observa-se um sedimento com baixo teor em argila e elevado conteúdo em areia fina e silte grosseiro, passando a um sedimento mais fino na vizinhança dos afloramentos rochosos da plataforma externa. Estes afloramentos rochosos proporcionam possivelmente um meio menos energético, confirmado também pelas taxas de sedimentação superiores encontradas a este dos afloramentos (0,31-0,58 cm/ano, de acordo com Drago et al., 1999), que permite a deposição de partículas de menores dimensões. 227 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ No depósito do Minho-Galiza, um perfil E-W realizado no seu limite sul permite observar na plataforma média uma moda principal centrada na areia muito fina que passa para a areia fina na plataforma externa (Fig. VI-7). A moda do silte grosseiro a médio é muito menos importantes neste perfil encontrando-se sobretudo sob a isóbata dos 100m (est.37). Contudo, nunca constitui moda principal (percentagem muito inferiores ao depósito do Douro), o que indicia um meio de deposição mais energético. areia muito fina silte grosseiro silte muito fino e argila silte médio silte fino 39 KTB36 18 liz a 40 3736 Ga hoMin areia fina Rocha 16 Depósitos finos 14 KTB37 12 41º30' 10 Douro Canhão do Porto 10 0 0m KTB40 8 6 KTB39 9º30' 9º00' 41º00' 4 2 0 1000 100 10 diam. (µm) 1 Figura VI-7. Evolução da moda principal ao longo de um perfil E-W (est.36 na plataforma média e est.39 na plataforma externa), que atravessa o depósito silto-argiloso do Minho. Estas observações encontram-se de acordo com as realizadas anteriormente por Drago et al (1999) que verificaram que este depósito era mais grosseiro (com maior percentagem de areia) que o do Douro e com taxas de sedimentação inferiores. Segundo Drago et al., (1999), a baixa taxa de sedimentação (0,15-0,17 cm/ano) encontrada neste depósito resulta provavelmente da dispersão do sedimento fino por uma área aberta sem obstáculos, resultando numa maior homogeneidade na distribuição do sedimento. 228 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 2.2.Relação entre a granulometria da MPS e dos depósitos finos da plataforma areia fina areia muito fina silte grosseiro silte médio silte fino A silte muito fino e argila 8 % K23 41º30'N 0 10km 47 K16 49 K43 7 51 53 6 Douro 5 9º00' W 53(5m) 4 51(5m) 3 49(5m) 2 47(5m) 1 0 1000 100 areia fina areia muito fina 10 silte grosseiro silte médio silte fino diam. (µm) 1 B silte muito fino e argila 10 KTB16 9 KTB23 8 53(30m) 7 51(55m) 6 5 49(80m) 4 47(161m) 3 KTB43 2 1 0 1000 100 10 diam. (µm) 1 Figura VI-8- Curvas de distribuição granulométricas representativas das amostras colhidas na CNS (A) e na CNF (B) comparadas com amostras de sedimento da interface (1cm). A localização das estações encontra-se no mapa ao lado; os triângulos representam as estações de MPS e os círculos as amostras de sedimento colhidas no cruzeiro CORVET96. 229 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ As amostras da MPS eram formadas essencialmente por partículas das dimensões das argilas e silte fino (<10µm), correspondendo a mais de 50% do MPS (Fig.VI-8A). Visto que a dimensão 8µm determinada por laser é equivalente a 2µm determinado por pipetagem (Konert & Vandenberghe, 1997) é provável que muito mais de 50% do material seja de facto inferior a 2µm. Durante o Inverno as curvas de distribuição eram polimodais (bi e trimodais) com uma moda fina por volta dos 5µm (4.4-5.4µm), uma moda intermédia por volta dos 10µm (9.8- 11.4µm) e uma moda grosseira aos 18µm (17.7-20.5µm) (Fig. VI-8). Estes três picos observamse tanto à superfície como na proximidade do fundo, embora modas mais grosseiras possam ocorrer na CNS (amostras colhidas mais ao largo), correspondendo a restos biogénicos de dimensões superiores. A granulometria da interface água-sedimento mostrou um sedimento maioritariamente siltoso (fracção inferior a 63µm >50%), com uma moda fina (27-10 µm) que corresponde grosso modo à moda grosseira presente na CNF. Observando o perfil realizado com as amostras da CNF (Fig VI-8B), observa-se um aumento para o largo da importância da população de partículas pertencentes à fracção do silte grosseiro (seta a preto, ≈34µm) o que corresponde à fracção que está a ser introduzida na CNF por resuspensão do sedimento da cobertura sedimentar. As curvas granulométricas apresentam percentagem de argila mais baixa, com aumento da percentagem de areia fina e silte grosseiro; não foi possível identificar na maioria das curvas granulométricas realizadas nos sedimento de fundo a moda fina (4,7-5,4µm) que se encontra em suspensão (são possivelmente partículas que se encontram sempre em suspensão só se depositando como agregados), excepto em algumas amostras mais finas da plataforma média a externa (por ex. amostra ktb23). A deposição da argila e silte fino é suprimida quando se verificam velocidades de correntes compreendidas entre 10-18 cm/s. No cruzeiro CORVET 96, ondas de 6-8m e período 12s induziram velocidades orbitais de 20cm/s a uma profundidade de 80m (Vitorino & Coelho, 1998), suficiente para impedir a deposição destes sedimentos e mesmo para ressuspender os sedimentos anteriormente depositados. Na tabela VI-1, referem-se os teores mínimos, máximos e médios das percentagens das fracções <10µm e >63µm. Constata-se que a percentagem média da fracção inferior a 10 µm nos sedimentos de fundo corresponde a menos de 12% do total, sendo substancialmente inferior à observado nas amostras em suspensão (>50%). 230 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ Tabela VI-1. Teores mínimos, máximos e médios das percentagens das fracções argila e arenosa. Corvet96 (-5m) Clima 97 (-5m) (fundo) Sedimentos (1cm) Areias e siltes (<2mm) Min. Max. Média 0 29 8.5 0 32 7.0 0 11 3.0 13.5 48 30 Argilas (<10µm) Min. Max. Média 9 80 51 29 83 62 36 83 58 6.5 21 12 2.2.1.Conclusões Os sedimentos de fundo apresentam uma moda fina que corresponde grosso modo à moda grosseira dos sedimentos em suspensão; O pico fino (5µm) não foi geralmente identificado na interface água-sedimento correspondendo a partículas que se encontram sempre em suspensão, pelo menos durante o Inverno; A população de partículas pertencente ao silte grosseiro (≈34µm) corresponde à fracção que está a ser introduzida na CNF por ressuspensão do sedimento do depósito silto-argiloso do Douro. 231 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 3. Composição mineralógica dos sedimentos finos da plataforma continental norte Para este estudo, utilizou-se a difractometria de raios X (DRX) como análise preferencial para identificar a composição da fracção fina (< 63µm) e da fracção argilosa (< 2µm) da interface água - sedimento (1cm). Determinou-se o conteúdo mineralógico em 57 amostras colhidas durante os cruzeiros CORVET/96 e GAMINEX, realizados respectivamente em Novembro de 1996 e em Julho de 1998. Analisaram-se preferencialmente as amostras dos depósitos finos da plataforma. Os resultados estão listados na tabela VI-2 e VI-3. Na tabela VI-2 estão representados as percentagens dos principais minerais da fracção fina dos sedimentos da plataforma Norte Portuguesa e Galega. A figura VI-9 representa um difractograma característico da fracção fina. Figura VI-9. Difractograma representativo da fracção fina dos sedimentos da plataforma galega (amostra KRGX20,frente á ria de Pontevedra). A nomenclatura usada representa: Chl= clorite; I+M=ilite+mica; Q=quartzo; Ca=calcite; K=caulinite; Fk=feldspato potássico; Plag.=plagioclase; Dol=dolomite; Filo.=filossilicatos; Si=siderite; Op=opala. 232 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ G a l i z a M i n h o Tabela VI-2. Mineralogia da fracção fina da plataforma minhota e galega (%). Amostras do cruzeiro GAMINEX, representadas por um x. Est. qz mica cl. caul. feldsp. k plag. op. zeólito calcite dolom. sid. magne. pirite 1 2 3 4 6 7 8 9 11 12 13 14 15 17 18 19 21 22 23 24 25 27 29 33 34 36 40 42 44 x33 x34 x36 x42 x44 x46 x47 x50 x53 x54 x55 x56 x1 x4 34 39 41 17 43 36 34 32 20 33 27 35 33 46 32 31 30 30 31 42 45 31 38 34 37,5 36 32 40 50 40 50 51 44 54 55 68 48 55 50 46 42 59 55 19 22 14 7 18 18 16 24 20 18 40 16 8 6 17 15,5 18 10 15 10 9 12 8 19 10 21 10 15 17 22 13 15 19 11 12 3 15 22 3 15 8 8 5 1,5 1,5 1 0 0,5 1 1 1 1 1 1,5 1 0,5 0,5 0,5 0,5 1 1 0,5 0,5 1 0,5 0,5 1 0,5 1 0,5 0,5 0,5 2.5 4.5 2 2 1.5 1.5 0 2 1.5 0 1.5 1 0.5 0.5 4 5 2,5 1,5 2,5 3,5 3,5 5 5 7 5,5 2,5 1,5 1,5 4 4 4 3 2,5 2,5 2,5 4 3 3,5 2 5 3,5 3,5 4 5 2 3 4 2.5 2.5 1 3 3.5 0 2.5 2 2 1.5 17 10 10 7 7,5 13 11 4 5 9 7 17,5 25 20 6,5 23 11 22 26 10 11 23 5 7 7 5 12 14 8 11 5 8 14 5 6 20 10 4 4.5 10 15 14 16 17 12,5 20 17 17,5 18 14 15 14 11 5,5 14,5 20 10 21 15 25 19 11 23 15 12 11 16 5,5 21 8 16 13 7 13 7 7 21 9 3 11 5 5.5 20 28 5 8 1,5 3 1 1 3,5 4 2,5 4 2 3 8,5 2,5 1,5 1 2,5 4 3 1,5 2,5 2,5 1,5 1,5 1 1 0,5 1,5 1,5 2,5 0,5 1 1.5 5 1 1.5 0.5 0.5 1.5 5 0 1 1 0.5 1.5 0,5 0,5 0,1 0 0,5 1 0,5 0,1 1 1 0,5 1 0,5 0,1 2 0,5 0,5 0,5 1 0,5 0,1 0,5 0,5 1 1 0,5 1 0,5 2 0.5 0 0 0 0 0.1 0.1 0.1 0.1 0 0.5 0.5 0 1.5 4 5 9 44 3,5 2,5 13 12 26 13 4 3,5 7 8 10 4,5 4,5 12 7,5 7 11 10 19 13 30 6 17 4,5 3 9 10 6 6.5 2 10 3.5 7.5 3 37 2 1 10 11 1,5 1,5 1 3 2,5 1,5 2,5 1 3 1,5 0,5 3,5 1 1,5 2,5 0,5 1 0,5 1,5 1 1,5 2 6,5 3 4,5 1 10 1,5 0,5 1.5 0.5 2 1.5 1 3 0.5 1 0.5 0 1 0.5 1 0 0 0 0 1 0,5 1 1 1 1,5 1 0 1 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0 0,5 0,5 1 0,5 1,5 1 0,5 1 1 1 0,5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0 0.5 1 0.1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,5 2 1 0,5 0,5 0 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,1 2,5 0,5 0,5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5 1,5 0,5 0,5 1 1 1,5 1,5 0 1 1 3 0,5 0,5 1 0,5 0,5 1 1 2,5 0,5 1 0,5 1 1 0,5 0,5 0 0.5 0.5 0.5 0.1 0 0 0.5 0 0 0.1 0 0 0 x6 x7 51 50 12 14 1 1 3 3 5 6 8 7 1 1 1 0.5 16 16 1 1 0.5 0 0.5 0 0 0.5 x9 74 3 0.1 1 4 6 3 0.1 8 0 x10 59 10 1.5 3.5 4 8 0.1 0 10 1.5 0 0.5 0 0 1 4 x12 x15 x17 x18 x20 x21 x23 70 78 85 74 45 43 57 2.5 4 2 4 14 18 15 0 0.1 0 0 2 2 0.5 0.5 1 0 1.5 5 10 2.5 15 4 12 8 6 4 2 3 5 1 6 12 12 7 0 0 0 1 2 3 1 0 0 0 0.5 0 0 0.5 6 7 0 4 10 8 7.5 0 0 0 1 2.5 0 3 0.5 0 0 0.1 1 0 2 0 0 0 0 0 0 0 2.5 1 0 0 0.5 0 2 x26 x28 57 56 14 13 2 3 3 4 3 8 10 6.5 1 1 0 0.5 6 7 2 0.5 1 0 1 x32 47 30 3.5 5 3.5 10 1.5 0 5 1 0 0.5 0 0 0.5 3 233 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ Na plataforma norte portuguesa o mineral principal é o quartzo, com valor médio de 39% (mínimo:17% e máximo:68%), seguido da mica (média 15%), plagioclase e feldspato potássico (média 14% e 11%, respectivamente). Existem alguns carbonatos, normalmente em pequena quantidade, estando a calcite bem representada, principalmente nas estações da plataforma média a externa (média 10%). Este aumento da percentagem de calcite nos sedimentos poderá ser um reflexo do aumento da produtividade biológica proporcionado pelos afloramentos rochosos, localizados na plataforma média a externa. A plataforma galega, em continuidade natural com a plataforma NW portuguesa, apresenta algumas diferenças ao nível da morfologia, disposição dos afloramentos rochosos e importância do fornecimento detrítico actual. Estas diferenças reflectem-se na distribuição mineralógica. Tal como na plataforma NW portuguesa, o quartzo é o mineral mais abundante, mas aqui apresenta um valor médio muito superior, 60% (máx.:85%; min:43%), verificando-se consequentemente um decréscimo de importância Assim, a mica de todos os outros minerais detriticos. desce para valores médios de 10.5% (max:30%; min:2%) e a plagioclase (max:12%; min:1%) e o feldspato potássico (max:16%; min: 2%) para 7%. A calcite também decresce (média 8%), assim como a dolomite. O fornecimento detrítico efectuado directamente pelos rios, mais reduzido nesta região, não se reflecte no aumento do carbonato nos sedimentos (reflexo do aumento da importância das partículas orgânicas), mas sim num amadurecimento dos sedimentos, que se vão tornando mais ricos em quartzo. É nas rias que se verifica um ligeiro aumento da calcite, reflectindo o aumento da produtividade biológica. A tabela VI-3, contém as percentagens dos principais minerais pertencentes ao grupo das argilas (esmectite+ilite+clorite+caulinite), expressos em termos de uma matriz de 100%. Na plataforma norte portuguesa o mineral dominante é a ilite, com concentrações nos sedimentos que variam de 71 a 84%, e com valor médio de 77%. O correspondente mapa de distribuição (Fig. VI-16), mostra que este mineral está geralmente bem representado nos sedimentos de fundo, apresentando valores mais baixos na plataforma externa e na região central do depósito silto-argiloso do Douro. A fig. VI-10 representa os difractogramas dos minerais argilosos obtidos para as amostras de fundo. 234 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ CuKα Figura VI-10. Difractograma representativo da fracção argilosa das amostras dos sedimentos de fundo (amostra 11). Chl- clorite; I-ilite; K-caulinite; A concentração da caulinite varia entre 13 e 25% com valor médio de 17%, e apresenta distribuição espacial oposta à da ilite. A concentração da clorite varia entre 0 e 7%, com valor médio de 4%. Os valores mais altos encontram-se na plataforma interna, associados possivelmente com a descarga dos rios Minho, Lima e Cávado, e na plataforma externa frente ao rio Ave. A esmectite é o mineral das argilas menos abundante (média de 1.5%), apresentando valores acima da média na plataforma externa (10%). 235 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ G a l i z a M i n h o Tabela VI-3. Mineralogia das argilas nos sedimentos de fundo (100% amostra de argila), da plataforma minhota e galega. Amostras do cruzeiro GAMINEX, representadas por um x. Est. Ilite Caulinite Esmectite Clorite Crist. Ilite (2ºθ) Ilite (002)/(001) Crist. Caulinite 1 2 3 4 6 7 8 9 11 12 13 14 15 17 18 19 21 22 23 24 25 27 29 33 34 36 40 42 44 x33 x34 x36 x42 x44 x46 x47 x50 x53 x54 x55 x56 x1 x4 80 80 82 77 79 76 72 75 72 73 78 72 71 75 78 77 77 79 75 78 76 76 78 79 77 75 72 77 75 82 80 75 78 75 76 75 79 80 80 82 84 80 82 16 16 17 17 16 19 22 18 23 22 19 25 24 17 16 16 15 16 18 15 15 17 15 14 16 19 14 15 19 15 16 19 18 19 17 22 16 15 14 14 13 13 17 0,1 0 1 2 1 1 1 2 0.1 1 0.1 0.1 1 1 2 1 1 2 2 2 5 1 2 2 3 1 10 3 1 0.1 0.1 0 0 0.1 1 2 0.1 0.1 2 1 0.1 0 0 4 4 0 3 4 4 5 5 5 4 3 3 4 7 4 6 7 3 5 5 4 6 5 5 4 5 4 5 5 3 4 6 4 6 6 1 5 5 4 3 3 7 1 0.15 0.16 0.28 0.30 0.18 0.15 0.16 0.15 0.13 0.15 0.15 0.18 0.18 0.15 0.15 0.16 0.20 0.15 0.20 0.15 0.20 0.16 0.15 0.20 0.15 0.15 0.20 0.20 0.20 0.20 0.15 0.15 0.15 0.20 0.15 0.15 0.20 0.15 0.20 0.15 0.20 0.20 0.20 0.51 0.53 0.65 0.55 0.44 0.50 0.57 0.48 0.50 0.58 0.58 0.55 0.44 0.49 0.53 0.47 0.46 0.47 0.43 0.46 0.45 0.42 0.44 0.54 0.46 0.51 0.48 0.38 0.47 0.47 0.48 0.50 0.41 0.47 0.45 0.72 0.44 0.51 0.45 0.50 0.49 0.44 0.73 0.05 0.04 0.27 0.27 0.06 0.04 0.04 0.03 0.04 0.04 0.04 0.05 0.06 0.09 0.05 0.07 0.05 0.12 0.08 0.04 0.05 0.09 0.08 0.05 0.10 0.05 0.13 0.15 0.15 0.05 0.06 0.05 0.07 0.08 0.09 0.30 0.06 0.12 0.18 0.14 0.07 0.08 0.17 x6 80 16 0 4 0.20 0.76 0.05 x7 78 20 0.1 2 0.15 0.57 0.11 x9 x10 72 74 23 24 0 0.1 2 2 0.20 0.15 0.56 0.50 0.17 0.28 x12 x15 x17 x18 x20 x21 x23 79 73 74 84 82 76 78 16 24 23 12 13 18 17 0 0.1 1 0 0 0.1 0.1 5 3 2 4 5 6 5 0.20 0.20 0.20 0.15 0.15 0.20 0.15 0.77 0.50 0.43 0.38 0.52 0.48 0.06 0.08 0.29 0.07 0.04 0.06 0.08 x26 80 14 0 6 0.15 0.57 0.09 x28 x32 75 76 19 20 0.1 0.1 6 4 0.20 0.12 0.50 0.49 0.07 0.04 236 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ A relação Kt/Il (os dois minerais mais abundantes) evidencia duas regiões, separadas por um alinhamento NW-SE. Estas áreas com percentagens superiores de caulinite correspondem aos depósito finos do Douro e do Minho-Galiza, separados por uma área com valores de ilite superior. Na plataforma galega as percentagens médias de ocorrência dos minerais das argilas são idênticas às da região mais a sul. O mineral dominante é a ilite, com valor médio de 78% (Max:84; Min:72%), seguido da caulinite (média 18%) e clorite (média 4%). A esmectite praticamente desaparece (média 0.1%). O mapa de distribuição da ilite (fig.VI-15) mostra dois locais com valores acima de 80%, em frente à ria de Pontevedra e a norte da ria de Muros. Estes locais com elevada percentagem de ilite correspondem a áreas com baixa taxa de sedimentação (zonas onde praticamente não se depositam partículas). A caulinite apresenta os máximos entre as rias de Muros e de Arosa, em sedimentos predominantemente arenosos, ao contrário do que se verifica mais a Sul, em que se encontram relacionados com sedimentos siltosos e argilosos. A clorite apresenta valores acima da média em frente à ria de Vigo o que poderá eventualmente reflectir o transporte de partículas de clorite desta ria para a plataforma. 3.1.Interpretação da mineralogia continental NW Ibérica da fracção fina dos sedimentos da plataforma Como já foi referido, o mineral dominante é o quartzo, com conteúdo médio de 45% (min:17% e max:85%), seguido das micas (média 14%, min:2% e max:40%) e pelos feldspatos calco-sódicos (média 12%, min:2% e max:26%) e potássicos (médias 10%, min:1% e max:28%). Ocorrem ainda alguns carbonatos, sobretudo calcite (média 9%, min:1% e max:44%) e dolomite (média 2%), mas com percentagens baixas. As fig. VI-11e VI-12 expressam a distribuição individual dos minerais detríticos mais importantes da fracção fina, na plataforma continental NW Ibérica. Podemos constatar que o quartzo apresenta valores percentuais mais baixos na plataforma portuguesa, com tendência para aumentar os seus teores a norte do rio Minho. O valor máximo foi observado na plataforma externa, frente à ria de Arosa (85%). A mica mostra os valores máximos relacionados com os depósitos finos da plataforma continental (depósito do Douro e da Galiza), com uma ligeira tendência para diminuir para norte, comportamento bem nítido a norte da ria de Vigo. Os feldspatos mostram a mesma tendência decrescente sul-norte, com os valores máximos na proximidade da desembocadura dos rios. A distribuição da calcite reflecte o aumento das partículas biogénicas em relação com o decréscimo da componente 237 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 51 55 M de Ria 59 s uro 12 5 M de Ria 8 sa Aro de Ria 50 s uro sa Aro de Ria 14 74 3 42.5 70 85 59 45 74 42.5 ra ed tev on eP d Ria o Vig de Ria 78 43 3 2 10 14 4 18 57 56 ra ed tev on eP d Ria o Vig de Ria 4 15 13 57 14 QUARTZO MICA 47 42.0 30 42.0 Ri 32 50405136 34 38 o i nh oM 44 38 31 L Ri o 31 55 68 33 2735 36 33 43 46 39 34 50 Figura VI-11.Mapa da distribuição percentual do quartzo, mica, e feldspatos na fracção fina. 42 50 R io D 7 %% 90 8 8 80 70 60 -8.5 50 40 M de Ria 5 10 11 18 6 17 1516 15 41.0 -9.5 30 20 %% 8 17 R io 5 16 -8.5 M de Ria 14 sa Aro de Ria 5 sa Aro de Ria 4 3 1 8 12 6 42.5 ra ed tev on P de Ria o Vig de Ria 5 12 ra ed tev on P de Ria o Vig de Ria 4 15 12 4 6 8 4 7 7 2 8 10 3 FELDSP. K PLAGIOCLASE 10 42.0 4 42.0 Ri 8 13 7 7 21 616 o i nh oM 7 11 12 3 41.5 5 11 8 5 77 L Ri o 11 9 19 21 25 10 21 1115 16 17 %% L Rio ima 1110 20 6 o nh Mi 14 5 23 ima 20 41.5 Ri o Cávado 11 14 615 18 15 514 18 20 13 17 20 Ri o 12 1523 -9.5 0 s uro 6 6 42.5 41.0 D ou ro -9.0 35 30 25 20 15 10 s uro 7 Rio Ave ouro 41.0 -9.0 15 12 8 18 20 4016 16 18 24 22 18 15 22 19 14 3 41 -9.5 ima Ri o Cávado 32 4831 40 32 5534 17 3 41.5 Rio Cávado 20 L Ri o 9 10 30 54 30 46 o nh Mi 19 8 12 ima 4542 41.5 o Ri 10 13221521 19 10 26 6 22 511 20 7 1023 14 Rio Cávado Rio Ave 9 5 4 411 28 13 5 R io -9.0 35 30 25 20 15 10 7 D ou ro -8.5 5 41.0 -9.5 % % 0 238 25 20 10 25 718 13 8 10 10 17 -9.0 15 Rio Ave 15 8 R io 10 5 D ou ro 0 -8.5 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 16 11 M de Ria 10 s uro 1 2 M de Ria 1 sa Aro de Ria 16 s uro sa Aro de Ria 1 8 3 42.5 dra ve n te Po e d Ria o Vig de Ria 7 6 0 10 10 4 42.5 8 0 0 0 2 1 3 8 7 ra ved n te Po e d Ria o Vig de Ria 0 6 1 1 1 OPALA CALCITE 5 42.0 2 42.0 Ri o 17 10 9 6 6 13 30 o nh Mi 2 2 1 5 2 L Rio ima 1 1 2 11 7 8 10 4 12 25 13 26 44 % Ri o Cávado 9 1 Rio Ave 3 2 3 4 2 5 4 ima 2 23 3 2 4 3 2 3 R io 1 D ou ro -9.0 45 40 35 30 25 20 15 10 5 41.0 -8.5 0 -9.5 % % 6 4 4 1 3 2 0 1 Rio Ave 93 4 53 1 41.0 -9.5 % 31 1 41.5 Rio Cávado 7 44 12 313 37 L Rio 2 3 10 8 5 5 8 o nh Mi 11 7 19 10 41.5 Ri o 1 1 R io -9.0 4 2 D ou ro 0 -8.5 Figura VI-12. Mapa da distribuição percentual da calcite e opala na fracção fina dos sedimentos da plataforma continental NW da Ibéria. terrígena dos sedimentos finos da plataforma média e externa. Esta distribuição está também relacionada com a presença dos afloramentos rochosos carbonatados da plataforma média a externa que servem de barreira física à progressão das partículas terrígenas da CNF, mas também de locais onde a produtividade biológica é superior. Por último, a distribuição da opala (proveniente de partículas biogénicas, por ex. diatomáceas) assemelha-se à distribuição das micas, com os máximos associados com os depósitos finos, principalmente com o depósito do Douro. A variação latitudinal sul-norte do quartzo em relação à mica e feldspatos (fig. VI-13), permite considerar o índice de maturidade mineralógica do sedimento, em termos do seu conteúdo em quartzo (mineral química e fisicamente estável) em relação aos outros dois minerais (quartzo/mica+feldspato). A fig. IV-14 mostra-nos a distribuição deste índice de maturidade. Na região continental adjacente, montanhosa e dominada por formações graníticas e xistograuváquixas, o quartzo encontra-se intimamente associado com os feldspatos e as micas, 239 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ sendo transportados pelos rios para a plataforma. Por exemplo, o rio Douro transporta para a plataforma sedimentos em suspensão em estado imaturo com percentagens importantes de micas (≈20%) e feldspatos (≈14%). O índice de maturidade apresenta valores baixos (<1) na plataforma interna e média, associadas com a desembocadura dos rios, aumentando tanto para norte como para o bordo da plataforma. Os valores mais elevados encontram-se a norte da ria de Pontevedra e nas amostras colhidas no interior das rias de Vigo e Pontevedra. s uro M de a Ri 43.0 Quartzo Mica sa Aro de Ri a 42.5 a e dr ev on t eP d Ria o Vig de R ia 42.0 2 00 LA TITUDE 42.5 Indice de maturidade (qz/mica+ feldsp.) 41.5 42.0 oM Ri o inh 10 0 41.0 0 25 50 75 L Rio 100 ima (% ) Figura VI-13. Variação latitudinal da percentagem de quartzo e micas. 41.5 Rio Cávado Rio Ave R io D ou ro 50 afloramentos rochosos 41.0 -9.5 2.0 -9.0 1.0 0.0 -8.5 -Mat. Figura VI-14. Mapa da distribuição da maturidade do sedimento. O padrão de distribuição expresso pela fig.VI-14 sugere uma rede de transporte sul-norte de sedimentos finos, visto que o índice de maturidade no interior das rias é mais elevado do que na plataforma continental adjacente (a maioria dos minerais ficam aí aprisionados). Este transporte sul-norte encontra-se de acordo com o modelo conceptual proposto recentemente por Drago et al., (1998) e Dias et al., (2001), para explicar o fornecimento actual dos depósitos silto-argiloso do Douro e Minho e a sua localização a N-NW em relação à principal 240 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ fonte de sedimentos (rios Douro e Minho). Estes autores argumentam que os sedimentos finos são transportados para a plataforma principalmente no Inverno, quando os caudais fluviais são elevados e ocorrem cheias. Em condições de downwelling (ventos fortes de SSW), os sedimentos finos fornecidos pelos rios portugueses, sobretudo o Douro e Minho (considerando os seus caudais), são transportados em suspensão na CNF, com uma resultante final de transporte para N-NW (Capitulo IV). Na plataforma média estes sedimentos encontram um ambiente de baixa energia que favorece a sua deposição. Mais tarde, durante temporais violentos, como os verificados em Novembro de 1996, estes depósitos sofrem remobilização e ressuspensão provocada pela acção da onda, o que foi confirmado não só pela observação de corers recolhidos no depósito do Douro que mostravam os primeiros 7-10cm do sedimento homogéneos (Jouanneau et al., 2000), como também pelos altos valores de nefelometria observados sobre o depósito do Douro (capitulo IV). As estimativas baseadas na medição da onda na plataforma média (86m) que assumem o valor de 1 cm/s como a velocidade de corte critica para a ressuspensão dos sedimentos finos são também frequentemente excedidas durante estes períodos (Vitorino, et al., 2000, 2001). O sedimento assim ressuspenso é então transportado na CNF, de acordo com as correntes gerais, segundo um padrão complexo para N-NW e para o largo, podendo atingir o depósito do Minho-Galiza. A interpretação da distribuição da mica e da anfíbola em areias muito finas concorda com este modelo (Cascalho, 2000). O transporte para norte é também confirmado pelo índice de maturidade. O aumento de maturidade para norte evidencia um maior transporte e/ou um tempo de residência superior no domínio da plataforma continental conjuntamente com um decréscimo de fornecimento de minerais finos a norte do rio Minho. Assim podemos dizer que a sul do paralelo 42ºN os sedimentos são mais imaturos e subsequentemente mais próximos da fonte que os sedimentos da plataforma galega. 3.1.1.Conclusões A fracção fina dos sedimentos estudados é formado maioritariamente por quartzo, mica e feldspatos, com alguns carbonatos em proporções menores. A geologia da região continental adjacente é semelhante no Minho e na Galiza, sendo o aumento da maturidade do sedimento na plataforma Galega o reflexo de um maior transporte e/ou um tempo de residência superior no domínio da plataforma continental com um transporte provável para norte durante o Inverno (condições de downwelling). 241 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ Outro aspecto evidente é o decréscimo de fornecimento de minerais finos a norte do rio Minho, expresso pelo conteúdo de feldspato e micas nos sedimentos finos. A sul do paralelo 42ºN os sedimentos são mais imaturos e subsequentemente mais próximos da fonte que os sedimentos da plataforma galega. As percentagens elevadas de calcite na plataforma média estão claramente associadas com os afloramentos rochosos carbonatados; e nas rias galegas reflectem o aumento da produtividade biológica. 3.2.Interpretação dos minerais argilosos dos sedimentos da plataforma continental NW Ibérica Esmectite É geralmente vestigial no domínio da plataforma média a sul do Ave, aumentando na proximidade do Cávado e do Lima (fig. VI-15). O valor máximo (10%) encontra-se na plataforma externa frente ao rio Minho, estando este mineral praticamente ausente na plataforma galega. A esmectite está presente no continente em resultado da alteração do feldspato potássico, ortoclase e microclina dos afloramentos graníticos, embora nos rios a sua percentagem seja muito baixa (1%). O enriquecimento oceânico gradual pode ser explicado pela segregação relacionada com o tamanho do grão (Gibbs, 1977). De facto, entre os minerais argilosos, a esmectite é o que tem dimensões menores, sendo o último a depositar-se em locais de energia hidrodinâmica muito baixa. No ambiente oceânico, este mineral pode estar ligado a ambientes vulcânicos, relacionados com a alteração submarina ou transformação diagenética primária de rochas basálticas e vidro vulcânico (Hodder et al., 1993). Nas proximidades do canhão submarino do Porto foi referenciada a existência provável de uma massa vulcânica máfica (Cascalho & Carvalho, 1993; Rodrigues et al., 1995), que por alteração poderia ser mais uma fonte provável deste mineral. O seu transporte pode ser realizado por correntes sul-norte ao longo da vertente e plataforma externa (poleward current) e correntes E-W na plataforma média e interna. Nos sedimentos do Atlântico, em geral, não se observa neoformação de esmectite (Chamley, 1989). O baixo conteúdo de material esmectitico no Atlântico norte parece indicar que, pelo menos durante o Quatenário, a percentagem de filossilicatos derivados de basaltos oceânicos é relativamente diminuta (Weaver, 1989). Contudo, descobertas recentes indicam que a taxa 242 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ de formação de esmectite através de rochas ferromagnesianas de vulcões submarinos é mais elevada e rápida do que anteriormente considerado para os sedimentos holocénicos. Ilite Os sedimentos da plataforma apresentam alta percentagem de ilite (>70%), facto que reflecte o clima mais moderado das áreas fonte e a abundância regional de rochas plutónicas (graníticas) e metamórficas do Paleozóico (xistos, gneisses, micaxistos e grauvaques). O relevo montanhoso do continente também favorece o fornecimento de grandes quantidade de filossilicatos para o oceano. A abundância da ilite, em particular quando apresenta estrutura bem ordenada, é considerada uma evidência da sua formação num clima temperado, húmido mas não muito quente e pouco favorável ao desenvolvimento da hidrólise, permitindo que a alteração física prevaleça em relação à alteração química (Galán, 1986; Chamley, 1989; Weaver, 1989). A ilite apresenta um comportamento oposto à caulinite (fig. VI-15), devido à baixa percentagem da clorite e esmectite (sistema fechado de duas argilas). As áreas com valores de ilite mais baixos correspondem aquelas onde os valores de caulinite são mais elevados, e que provavelmente recebem materiais drenados directamente pelos rios (Douro, Lima e Minho). Todas as amostras marinhas têm índice de Esquevin (razão 5Å/10Å) superiores a 0.4, correspondendo a ilites ricas em alumínio (tipo moscovitico), reflectindo uma proveniência granítica. As amostras colhidas nos rios apresentam valores entre 0,15 e 0,38, com excepção de duas amostras no rio Minho e uma amostra no Cávado e outra no Douro. Este índice mostra uma tendência de crescimento nítido Este-Oeste, entre as amostras dos rios e as da plataforma externa (fig. VI-16). A razão 5Å/10Å é maior na plataforma galega a profundidades superiores a 100m, excedendo os 0,70. Estas ilites ricas em Al, quimicamente mais estáveis, têm origem em argilas residuais que sobreviveram a processos de alteração em ambiente mais quente e húmido, na região de origem (normalmente encontradas mais a sul, na costa W Africana). As ricas em Mg (+Fe), são pouco comuns em meio marinho, fora de ambientes não glaciares, pois o processo de alteração é tão forte que estas micas são completamente degradadas e sofrem rápida transformação para outros minerais (ilites aluminosas, vermiculite, esmectite, e hidrobiotite). 243 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 82 os ur eM ad i R 80 0 de Ri a 78 0 os ur eM ad i R 0 sa Aro d Ri a 0 72 0 42.5 79 74 84 74 82 42.5 a ed r tev on eP d Ria o Vig de Ria 73 76 a ed r tev on eP d Ria o Vig de Ria 0 0 1 0 0 0 0 78 75 0 0 80 0 ESMECTITE ILITE 76 42.0 0 42.0 oM Ri 72 80 82 7575 7779 o inh 10 0 0 0 1 a Lim Rio 2 0 75 77 -9.5 16 17 73 76 79 75 77 75 7879 77 77 31 2 01 1 20 2 1 D ou ro 41.0 -8.5 70 -9.5 R io os ur 4 1 o -8.5 1 7 d Ri a 2 a ro s eA 2 23 42.5 16 23 12 24 13 42.5 dra eve on t P de Ria o Vig de Ria 24 18 a ed r tev on P de Ria o Vig de Ria 3 5 2 4 2 5 6 17 19 5 6 14 6 Caulinite CLORITE 20 42.0 4 42.0 Ri 14 16151919 14 16 o i nh oM 4 4 3 6 5 L Ri o ima 5 4 22 18 17 17 14 17 o inh 4 5 16 19 15 56 1 41.5 Rio Cávado 16 1616 15 24 22 23 1925 19 18 1522 16 14 16 16 17 a Lim Rio 6 1515 41.5 oM Ri 45 18 15 17 41.0 D our os ur eM d a Ri sa Aro de Ria 20 1 -9.0 5 10 % 0 1 0 0 2 R io eM ad Ri 1 1 75 84 1 3 01 2 Rio Cávado 1 00 1 0 75 13 2 41.5 Rio Cávado -9.0 80 % 5 2 71 73 72 7872 72 76 75 80 79 82 80 80 82 80 o inh a Lim Rio 1 76 78 41.5 oM Ri 32 78 78 76 41.0 a ro s eA 3 67 4 7 Rio Cávado 5 6 5 4 4 5 55 5 13 19 Rio Dou ro 4 4 3 4 4 4 3 33 3 5 0 R io Do u ro 41.0 -9.5 -9.0 % 22 18 14 -9.5 -8.5 10 244 % 5 -9.0 0 -8.5 Figura VI-15. Mapas com a distribuição dos principais minerais das argilas. 80 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ No geral, as amostras estudadas apresentam baixos valores do índice de cristalinidade de Kubler, indicando ilites com estrutura bem ordenada e, como foi referido anteriormente, com baixa degradação química tanto na área fonte como durante os processos de transporte e sedimentação. Contudo, na fig. VI-16 observa-se que os sedimentos dos rios apresentam ilites com cristalinidade mais baixa que as ilites que se encontram nos sedimentos da plataforma. Este facto encontra-se relacionado com a susceptibilidade da ilite, uma vez em meio marinho, de se "reagrupar" por transformação devida à fixação de novos catiões, amplamente disponíveis na água do mar (Millot, 1964). O Fe+ e o Mg+ vão ser substituídos na rede cristalina por K+ e Al + (entre outros), aumentando novamente a cristalinidade da ilite (Nemecz, 1981). Largura do máximo (001) Cristalinidade crescente 5 4 Sed. rios Sed. plataforma Filtros (1m) rios Filtros (5m) plat. Filtros (fundo) plat. Filtros (fundo) rios 0.42 3 Rios 0.25 5m 2 Plat. .1 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Biotite Biotite Phen- Moscovite + gite Moscovite 0.6 0.7 0.8 I(002)/I(001) Figura VI-16. Gráfico de Esquevin (1969) aplicado às amostras colhidas na plataforma NW ibérica. Caulinite A nível mundial, a caulinite domina nos sedimentos oceânicos de latitudes mais baixas (valores superiores a 50%), onde as rochas continentais fonte, localizadas na África ocidental e no Brasil, são afectadas por intensa alteração química. Na região emersa adjacente, ocorrem importantes depósitos de caulinos, nomeadamente em Alvarães (SE de Viana do Castelo), Sra. da Hora (N do Porto), Barqueiros (a ≈10km da desembocadura do rio Cávado), Cunha e Parada (Vila do Conde), Viso de Cima e Custóias (Matosinhos). Estes depósitos, normalmente residuais, ocorrem relacionados com granitos e 245 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ gnaisses do bordo noroeste das formações magmáticas e metamórficas antepaleozóicas, em regiões tectonicamente muito fracturadas e cisalhadas (Gomes, 1988). Actualmente, o jazigo com maiores reservas é o de Alvarães, que resultou da alteração da rocha granítica favorecida pela interface granito-toalha freática. Os depósitos de caulinite reflectem, provavelmente, a existência de uma considerável meteorização química das rochas continentais, consequência de estarmos numa região temperada muito húmida onde se registam pluviosidades elevadas (>1000mm). Estes depósitos são removidos pelas chuvas e levados pelos rios e ribeiros para a plataforma continental adjacente, explicando os altos valores de caulinite encontrados nos estuários dos rios (especialmente no rio Cávado). Os sedimentos de fundo e em suspensão do rio Cávado encontram-se enriquecidos neste mineral argiloso, o que pode reflectir a contribuição directa dos depósitos. Nas rias galegas, a fracção fina dos sedimentos apresenta predomínio de minerais cauliniticos, acompanhados por micas, interestratificados e gibsite (Vasquez e Anta, 1988). Os sedimentos da plataforma apresentam, no geral, baixo conteúdo de caulinite (só 18%). Contudo, este valor atinge, pontualmente os 24% na plataforma galega (plataforma média a norte da ria de Arosa) e na plataforma média portuguesa, relacionados com o depósito siltoargiloso do Douro. O índice da cristalinidade (fig. VI-17) mostra que as caulinites com cristalinidade mais elevada se encontram na plataforma interna e média portuguesa, decrescendo para oeste (plataforma externa) e norte (plataforma Galega). Os locais onde a cristalinidade é mais elevada reflectem provavelmente áreas que estão a ser directamente fornecidas pelos rios (depósito do Douro), não tendo ainda as caulinites sofrido desorganização da sua rede cristalina. De facto, a cristalinidade dos sedimentos dos rios (tabela VI-4) mostra no geral valores semelhantes aos encontrados na plataforma, variando de 0,02 (rio Minho) a 0,23 (no rio Lima). Tabela VI-4. Mineralogia das argilas de algumas amostras colhidas nos rios. Localização das amostras na figura V-44. Amostras dos rios Minho (M6) Minho (M22) Lima (L51) Lima (L52) Cávado (C5) Cávado (C11) Ave (A3) Ave 2 (A4) Douro (D1) Douro (D5) I % 67 59 62 64 70 24 65 62 70 61 K % 27 39 27 34 21 74 33 36 23 28 SM % ∼1 0 2 0 ∼1 ∼1 ∼1 ∼1 ∼1 ∼1 246 CHL % 5 2 9 2 8 ∼1 ∼1 ∼1 6 10 Crist. I (2ºθ) 0.20 0.30 0.25 0.30 0.25 0.25 0.30 0.20 0.20 0.20 I (002)/(001) 0.44 0.57 0.35 0.35 0.38 0.46 0.32 0.27 0.38 0.42 Crist. K 0.02 0.12 0.16 0.23 0.07 0.08 0.18 0.4 0.06 0.1 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ eM ad Ri os ur sa Aro de Ria 42.5 a edr ev on t eP d Ria o Vig de Ria 42.0 o Ri o nh Mi Kaulinite 1/2alt.(mm) Ri o 41.5 a L im Rio Cávado Rio Ave R io D ou ro 41.0 -9.5 -9.0 0.30 0.20 0.10 -Crist. -8.5 0.06 0.02 +Crist. Figura V-17. Mapas de distribuição da cristalinidade da caulinite. O rio Ave é o que apresenta valores mais elevados de índice de cristalinidade (0,2–0,4) ou seja, em que as caulinites se encontram mais degradadas. Este facto pode dever-se ao alto grau de poluição dos sedimentos e águas deste rio (um dos mais poluídos da Europa), que provavelmente se reflecte numa maior destruição da rede cristalina da caulinite. Este mineral é relativamente instável em meio marinho. Contudo, para sofrer alteração ou degradação, são necessários pH muito elevados ou energia elevada. O mapa de distribuição da cristalinidade (fig. VI-17) mostra que a contribuição deste rio é mínima para os sedimentos da plataforma média e interna, estando a sua influência apenas reflectida nas suspensões. É interessante notar que, na plataforma galega, as áreas com concentrações superiores de caulinite correspondem grosso modo a zonas com caulinite com baixa cristalinidade, o que provavelmente reflecte processos de alteração química que se dão devido ao pH e salinidade mais elevados do meio marinho. Nestas condições a caulinite torna-se menos estável, decrescendo a cristalinidade à medida que o tempo de residência em meio marinho aumenta (Caillère et al., 1982; Gomes, 1988), em contraste com a ilite, cuja cristalinidade aumenta. Outra hipótese é corresponderem a caulinites retrabalhadas (sedimentares). 247 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ As duas áreas mais ricas em caulinite (>22%) deverão ter origens contrastadas. A região do depósito Douro aprisiona material fino fresco fornecido directamente pelos rios, enquanto que o máximo localizado na Galiza pode dever-se à retirada selectiva da ilite deixando um resíduo envelhecido ou alterado de caulinite. Clorite A clorite é um constituinte menor dos sedimentos da plataforma minhota e galega, apresentando concentrações que variam de 0,1 a 7 % (fig.VI-12). Os valores mais elevados encontram-se na plataforma interna e média, relacionados com a desembocadura dos rios, sendo este mineral essencialmente detrítico. No geral, a clorite só é dominante nos sedimentos marinhos de latitudes elevadas (Griffin et al., 1968). A clorite é destruída por meteorização química em climas quentes e húmidos (trópicos), não chegando ao oceano em grandes quantidades. Altos teores em clorite reflectem condições de baixa ou nenhuma alteração química, mas também uma área fonte a pouca distância formada por rochas ricas em clorite como rochas metamórficas de baixo grau (xistos verdes e ardósias). Na área continental adjacente, a clorite pode resultar da divisão mecânica de clorite preexistentes em xistos cloríticos presentes nas rochas ígneas ou então dos xistos e micaxistos do Paleozóico, abundantes na bacia do rio Minho e do rio Verdugo-Oitaben (ria de Vigo) (Silva, 1981), sendo contudo removida por meteorização. Razão caulinite/clorite Se o sistema de correntes reflecte o transporte e sedimentação dos minerais das argilas, a razão K/Chl espelha a distribuição das componentes das massas de água continentais e oceânicas. O mapa de distribuição permite destacar a existência de duas faixas, uma das quais na plataforma interna e média onde os valores de clorite aumentam, provocando uma diluição do sinal da caulinite. Pelo contrário na plataforma externa, a caulinite é predominante, o que poderá dever-se ao facto da massa de água continental ter materiais mais ricos em clorite, ao contrário da oceânica, que compreenderia materiais mais ricos em caulinite. 248 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 4.0 17.0 eM ad Ri 1.9 os ur 0.20 0.21 sa Aro de Ria 10.0 M de Ria 0.16 sa Aro de Ria 0.26 11.5 0.32 42.5 a edr ev on t eP d Ria o Vig de Ria 8.0 3.2 11.5 12.0 3.0 2.6 3.0 42.5 0.20 0.31 5.0 42.0 Ri 3.5 4.05.03.23.8 0.24 0.22 0.17 Kaul./Ilite 0.26 42.0 o i nh oM o Ri 0.19 0.25 0.18 0.25 0.20 2.8 4.0 o nh Mi 0.18 0.21 4.5 3.0 2.8 Ri o 0.23 0.190.22 a L im 3.83.0 L Ri o ima 0.20 0.19 2.1 22.0 3.6 2.8 5.33.2 2.4 0.19 0.29 0.25 0.22 0.200.25 41.5 Rio Cávado Rio Cávado 4.0 3.22.73.0 0.23 6.0 4.6 5.5 6.3 8.3 4.4 4.8 3.6 3.0 4.0 4.3 3.8 4.7 3.5 4.0 4.0 5.7 17.0 41.0 0.32 0.14 0.16 0.25 2.3 Kaulinite/Clorite 7A(natural)/14A (500ºC) ra ed tev on eP d Ria o Vig de Ria 0.33 3.4 3.2 41.5 s uro R io 0.21 0.20 0.210.19 0.34 Rio Ave 0.32 0.30 0.24 0.35 0.31 0.25 0.240.19 0.20 0.15 0.25 0.17 0.17 0.20 0.20 0.22 0.21 R io D ou ro D ou ro 41.0 -9.5 20 15 -9.0 10 5 3 0 -8.5 -9.5 0.3 -9.0 0.2 0.1 0.0 -8.5 Figura V-18. Mapas de distribuição da razão caulinite/clorite e caulinite/ilite. Razão caulinite/ilite A razão K/I varia entre 0.15 e 0.3. No depósito silto-argiloso do Douro, esta razão eleva-se a valores próximos de 0.3, possivelmente devido a segregação dimensional/deposição diferencial (Gibbs, 1967, 1977; Tomadin & Borghini, 1987) e também porque a caulinite tem tendência a acumular-se em áreas onde existe um aumento generalizado do fornecimento terrígeno directo (Chamley, 1989). Estes dois minerais detriticos, transportados pelos rios locais, mostram uma ligeira tendência para se depositarem em locais diferenciados, reflectindo possivelmente a circulação geral das partículas e áreas onde principais agentes erosivos (ondas e marés) actuam com mais ou menos energia. A outra área com valores elevados da razão K/I está localizada entre as rias de Muros e Arosa, em sedimentos arenosos. Neste caso, as concentrações relativamente superiores da caulinite (assim como quartzo) estão possivelmente relacionadas com a retirada selectiva da ilite (mais fina). A caulinite apresenta baixa cristalinidade, o que indica degradação superior. 249 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 3.2.1. Visão geral da dinâmica sedimentar obtido com o padrão de distribuição dos minerais das argilas Observou-se que o padrão de distribuição da associação mineral formada pelos 4 minerais das argilas identificados nos sedimentos da plataforma continental NW Ibérica, era relativamente homogéneo, não mostrando grandes descontinuidades. Esta homogeneidade deve-se sobretudo à acção dos processos hidrodinâmicos, controlados principalmente pelas ondas e marés. Quando os sedimentos chegam à plataforma, ficam sujeitos aos processos de remobilização provocados pela onda, que impedem a sua deposição e perturbam os sedimentos anteriormente depositados. Os sedimentos finos permanecem, assim, mais tempo em suspensão (níveis nefelóides identificados anteriormente), acumulando-se só na plataforma média, onde a acção da onda é mais fraca, formando, de acordo com McCave (1972), uma faixa lodosa (mid-shelf mud belt). Na plataforma NW portuguesa, essa faixa identifica-se na plataforma média entre os 60 e 100m numa área tectonicamente deprimida, protegida por afloramentos rochosos (depósito do Douro). Estes relevos funcionam como barreiras eficientes à progressão da CNF para fora da plataforma, funcionando como uma armadilha de sedimentos (o que parece ser confirmado por taxas de sedimentação superiores a Este dos afloramentos rochosos variando entre 0.35 a 0.58 cm/ano) e/ou então proporcionam um ambiente de baixo hidrodinamismo mais favorável à deposição de sedimentos finos (Drago et al, 1999). Tomando em conta a altura média destes afloramentos, cerca de 5-30m e a espessura média da CNF observada durante a Primavera (10-20m) e Inverno (10-50m) é provável que pelo menos durante parte do ano, a CNF seja intersectada pelos afloramentos. Actualmente, os rios transportam material fino com a mesma composição geral encontrada para os sedimentos de fundo. Na área do depósito do Douro, o conteúdo de caulinite aumenta ligeiramente (taxas de sedimentação altas com acarreio directo de sedimentos dos rios) quando comparado com os depósitos arenosos circundantes, mais ricos em ilite (menor taxa de sedimentação). A composição mineralógica do depósito fino do Minho-Galiza é muito semelhante à do Douro, à excepção de um ligeiro aumento da percentagem de clorite, mostrando possivelmente a contribuição local do rio Minho e da ria de Vigo. O facto dos minerais das argilas se tornarem menos cristalinos à medida que a influência dos rios decresce apoia a hipótese do transporte sedimentar para norte, tal como foi verificado para a fracção fina (aumento de maturidade do sedimento para norte). 250 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 3.2.2.Conclusões obtidas com os minerais argilosos A) o padrão de distribuição dos minerais argilosos depende dos rios e dos processos hidrodinâmicos que operam na plataforma (ondas); B) a ilite é o mineral predominante, com percentagens superiores a 70%; seguido pela caulinite, clorite e esmectite; C) o material que sai dos rios apresenta composição similar aos sedimentos da plataforma. Contudo, as áreas com percentagens superiores de ilite (>80%) correspondem, provavelmente, a locais onde o acarreio detrítico de sedimentos finos actuais é baixo, com baixas taxas de sedimentação enquanto que áreas com percentagens superiores de caulinite (>20%) recebem acarreio detrítico directo; D) a clorite, com baixa abundância, parece estar actualmente a ser fornecida pelos rios nortenhos, principalmente pelo rio Minho, encontrando-se preferencialmente a profundidades baixas; E) a esmectite aparece associada aos depósitos arenosos da plataforma portuguesa, ocorrendo nas suspensões do rio Minho, e não se encontra nos sedimentos finos da Galiza. Nos sedimentos da plataforma registaram-se percentagens de esmectite superiores aos dos rios, sugerindo uma provável origem local na plataforma; F) a caulinite tem os máximos associados aos depósitos finos do Douro, onde apresenta cristalinidade elevada, apresentando ainda um segundo máximo, nos depósitos arenosos da plataforma galega (entre a ria de Muros e Arosa), com cristalinidade mais baixa. Este facto permite supor que estes depósitos têm origens distintas ou escalonadas no tempo. De acordo com esta hipótese, o depósito do Douro estaria actualmente a ser abastecido com este mineral, enquanto que o segundo receberia as caulinites indirectamente por processos de resuspensão e transporte para norte ou a ilite (mais fina) é selectivamente retirada ficando um resíduo de caulinite degradada (baixa cristalinidade); G) os sedimentos finos exportados pelos rios portugueses atingem claramente os depósitos finos do Douro e da Galiza; H) Na plataforma a norte de 42º N, a maioria das argilas são aprisionadas nas rias Galegas, embora pareça haver alguma contribuição da ria de Vigo para o depósito siltoargiloso do Minho-Galiza. 251 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ 4. Análise factorial aplicada aos sedimentos finos Foi usado o programa Statistica (v.4.3), para avaliar as complexas inter-relações específicas entre 4 variáveis dos minerais das argilas, 11 variáveis de minerais detriticos, 3 variáveis da textura do sedimento e 2 variáveis da composição do sedimento (tabela VI-6). As primeiros 4 variáveis desta base de dados estão ligadas entre si, assim como as 11 variáveis dos minerais detriticos, cada uma delas somando, respectivamente, 100%. Contudo, se se fizer a análise factorial, isoladamente para cada um destes grupos de variáveis, os factores obtidos seguem a mesma linha de interpretação que a matriz gerada pela totalidade dos dados. Os primeiros 5 factores, baseados nos valores próprios acima de 1.0, explicam 75% da variância total dos dados (tabela VI-6). Tabela VI-6. Variáveis significativas para os primeiros cinco factores, da análise factorial (sem rotação) dos minerais das argilas, minerais detriticos, composição e textura dos sedimentos. Extracção: Componentes principais (sem rotação) Variáveis Factores 1 2 3 Ilite (100%) 0.48 Caulinite (100%) Esmectite -0.79 (100%) Clorite (100%) Quartzo -0.70 0.54 Mica 0.82 Chl 0.56 0.49 Kaul 0.60 0.63 Felds.K -0.50 Plag. 0.56 Calcite -0.50 Dolomite -0.84 Siderite -0.71 Pirite -0.59 Opala 0.71 Areia -0.93 Silte 0.88 Argila 0.89 COP 0.91 CaCO 3 0.48 -0.70 Variância explicada (%) 25.8 19.2 14.3 Valores abaixo de 0.400 foram omitidos. 4 0.68 -0.77 5 - - - - -0.82 -0.41 - 9.0 6.8 O factor 1 representa claramente o comportamento do carbono orgânico, com a forte variância positiva entre o COP e as classes texturais mais finas (silte e argila). A variância negativa entre a areia (e também, embora mais fraca com o feldspato potássico) e o conteúdo 252 Capitulo VI Interface água/sedimento _______________________________________________________________________________ em COP, com valores significativos superiores a 0.9, indicam independência espacial entre estas duas variáveis. Existe correlação positiva fraca entre o COP, os sedimentos peliticos e a clorite e caulinite. O 2º factor é um factor complexo, na medida em que representa o hidrodinamismo e afinidade dimensional, mas também a oposição entre as fácies terrígenas e biogénicas. A variância mais relevante (negativa) é a encontrada entre o quartzo e as micas que, por serem minerais com hábitos e densidades muito diferentes, sofrem deposição em locais diferenciados. A relação positiva entre as micas e a opala não é genética, visto que a mica é detritica e a opala é formada por restos de organismos siliciosos (diatomáceas) que se depositam na plataforma média e externa, nas zonas de sedimentos mais finos. Contudo, estes minerais encontram-se correlacionados, devido, provavelmente, às dimensões e ao hábito das partículas. As micas com hábito lamelar e a opala formada por partículas biogénicas muito diminutas (diatomáceas) depositam-se em áreas calmas pouco energéticas. A relação quartzo CaCO3 , com variância forte, mostra que o carbonato ocorre em zonas onde o quartzo é também importante. De facto, o carbonato aumenta de importância na plataforma externa, onde a sua formação é induzida pelo upwelling, e o quartzo é o mineral detrítico dominante. Já o mesmo não se passa com a caulinite detritica (<63µm), que mostra variância negativa com o quartzo. O factor 3 correlaciona, com variância negativa forte, a esmectite com a dolomite (>0.8) e com variância ligeiramente mais fraca com a siderite. Este factor representa os minerais com maior importância na plataforma externa, fora da influência continental. O 4º factor representa os minerais argilosos mais abundantes na plataforma, a ilite e a caulinite, e relaciona-os inversamente. O 5º factor representa a clorite, destacando o comportamento deste mineral em relação aos outros, e aos parâmetros composicionais e texturais. A sua distribuição está provavelmente relacionada com o transporte detrítico directo dos rios. A análise factorial deu particular atenção a associações que podem passar despercebidas por simples comparação dos mapas de distribuição regional, como por exemplo a associação QzCaCo3 e mica-opala (factor 2) e a associação dolomite-esmectite (factor 3). 253 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ CAPITULO VII Conclusões Gerais 1. Factores que influenciam a distribuição da MPS Diferentes factores geológicos e hidrodinâmicos podem-se conjugar para explicar a remobilização, o transporte e a redistribuição dos sedimentos na plataforma e vertente continentais. O transporte da MPS é influenciado pelas fontes sedimentares (rios, erosão de arribas e cobertura sedimentar), largura da plataforma e batimetria, estratificação das águas (densidade), correntes tidais e subtidais, ondulação predominante (Baker & Hickey, 1986), ventos persistentes e débito fluvial. De entre todos estes factores, o fornecimento terrígeno, a morfologia da plataforma e vertente norte portuguesa, a circulação geral essencialmente promovida pelos ventos dominantes, a ondulação e também, mas em menor grau, a estratificação por densidade foram, no presente estudo, considerados os factores mais importantes pelas seguintes razões: 1) os rios fornecem a maioria da MPS terrígena distribuída para a margem continental W portuguesa, que aumenta com as chuvas de Outono (cap. II); 2) o rio Douro é a maior fonte de MPS, com cerca de 80% da contribuição total terrígena (Dias, 1987; Magalhães, 1999); 3) as forças essenciais para o transporte da MPS ocorrem, em especial, na situação de temporal com alturas de ondas superiores a 6m, na qual normalmente o caudal dos rios é elevado; 4) circulação geral na plataforma e vertente, com situações diferentes e contrastadas no Verão e no Inverno; 5) plataforma estreita, com batimétricas paralelas à costa, onde se individualiza, no bordo da plataforma, o canhão submarino do Porto, que certamente favorece o transporte sedimentar para a vertente e planície abissal. 2. Hidrologia e nefelometria Os dados obtidos nos cruzeiros, mostram que a hidrologia da plataforma continental norte Portuguesa apresenta variações interanuais e sazonais importantes, estando por vezes muito dependente do volume de água doce introduzida pelos rios. Foi, assim, possível estabelecer 4 situações tipo, cada uma característica de uma época específica. 1. Novembro de 1996 situação de Outono, com caudais fracos, não existindo frente termohalina bem definida, embora as águas se encontrassem estratificadas. Período marcado pela ocorrência de um temporal que homogeneizou a coluna de água e que possibilitou o 254 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ empurrar de águas oceânicas temperadas (14-15ºC) para perto da costa, por acção do vento (vento forte de SW-S). Contudo, estas águas apresentavam temperaturas mais baixas do que durante o Inverno, facto possivelmente explicado pelo arrefecimento das águas costeiras, característico do final da época de upwelling (T=13-14ºC). A água estuarina superficial encontrava-se muito limitada à plataforma interna e a frente salina era pouco nítida. A nefelometria mostra uma CNF bem desenvolvida, com valores que decresciam para a superfície. 2. Dezembro de 1997 situação de Inverno, com caudais elevados, caracterizada por uma frente salina que se estendia por toda a plataforma entre os rios Minho e Douro e que pode afectar toda a coluna de água. Esta estrutura situa-se geralmente entre a isóbata dos 50 e 120m e separa as águas costeiras menos salinas das águas oceânicas (S>35.5). Esta frente é mais evidente quando o débito fluvial é superior (caso do inverno de 1997). A temperatura é, no geral, bastante homogénea, com valores elevados (T>16ºC), com um máximo (T>17ºC) localizado a profundidades intermédias (50-100m). Este máximo poderá ter origem num episódio anterior de downwelling associado a ventos de S-SW, com as águas superficiais mais quentes a ficaram aprisionadas na plataforma média. A nefelometria é caracterizada por uma CNS muito limitada à plataforma interna e por uma CNF muito intensa que cobre a totalidade da área estudada. 3. Maio 99 o aquecimento das águas costeiras, com redução do caudal dos rios, faz desaparecer progressivamente a frente salina, aparecendo uma termoclina sazonal que se situa entre os 25-50m de profundidade e separa as águas quentes e menos salinas da superfície das águas frias do fundo (T<14ºC). É impressionante a extensão desta massa de água menos salina que cobre a totalidade da plataforma continental e, mesmo, a vertente continental apresentando uma extensão de cerca de 50km, perto do rio Douro. Estas águas de superfície são advectadas para o largo, em grande parte devido à acção do vento (ventos intensos de N-NW). Abaixo da termoclina, as águas oceânicas aproximam-se da costa, podendo mesmo ser interrompida pelo aflorar de águas frias do fundo, fenómeno característico desta costa durante os meses de Verão. A nefelometria mostra duas camadas nefelóides bem desenvolvidas e separadas por águas mais límpidas, estendendose a CNS até ao bordo da plataforma. A CNF é mais importante do que a CNS e apresenta valores de turbidez mais elevados. 255 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ 4. O início do cruzeiro de Maio de 99 possibilita uma breve visão do que se passa no período de Verão, com o aflorar de águas frias perto da costa (10 km da costa). As águas mais frias do fundo afloram (isotérmicas de 13 e 14ºC), interrompendo a termoclina sazonal, com separação nítida das águas superficiais e estabelecendo-se como uma barreira vertical à progressão das águas mais costeiras. As isolinhas da turbidez tendem para a vertical, destruindo parcialmente a CNS. Contudo, pela acção do vento, as águas túrbidas são advectadas superficialmente para o largo. Desde os primeiros trabalhos sobre a evolução e distribuição da turbidez na coluna de água que se evidenciou o seu decréscimo de forma exponencial desde a costa até zonas mais afastadas da plataforma continental (McCave, 1972; Castaing, 1981, Hermida, 1997). Na plataforma continental norte Portuguesa, este comportamento também se verifica, com valores de turbidez que diminuem rapidamente à medida que nos afastamos da fonte, tornando-se relativamente homogéneos na plataforma externa. Em geral, a CNS encontra-se confinada à plataforma interna, mesmo em períodos de caudal elevado. Durante o período de Primavera-Verão pode estender-se até ao bordo da plataforma, embora com valores de turbidez baixos. A CNF é sempre mais desenvolvida que a CNS, tanto em extensão como em espessura, particularmente sobre o depósito silto -argiloso do Douro e também no depósito do MinhoGaliza. As CNI desenvolvem-se através do descolamento da CNF no bordo da plataforma, encontrando-se também associadas com descolamentos das paredes do Canhão submarino do Porto. Formam-se com especial incidência durante o Inverno e Outono. Na Primavera, o deslocar da contra-corrente quente para níveis inferiores da coluna de água parece favorecer o aparecimento de CNI entre os 200-300m de profundidade. As características das CNS, CNI e CNF encontram-se sumariadas na tabela VII-1. A circulação da maré na plataforma origina correntes residuais importantes para Oeste. No Verão, a maré exibe uma estrutura barotrópica, com a elipse de maré na plataforma interna (39m), perpendicular as isóbatas. Existe uma diminuição da intensidade da corrente de maré do bordo para a plataforma interna. No Inverno, a água doce trazida pelos rios pode originar fortes gradientes de densidade e promover uma circulação de densidade. Esta circulação, associada ao efeito de Coriolis (desvio para a direita), faz com que as águas expulsas pelos rios na plataforma interna se 256 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ desloquem para norte, ocasionando uma faixa de água menos densas que ocupa toda a plataforma interna. A circulação induzida pelo vento orienta-se segundo um eixo norte-sul, para sul no Verão e para norte no Inverno, com poucas ocorrências de vento Leste. Esta circulação reforça a circulação de densidade ou, pelo contrário, opõe-se-lhe. Na desembocadura dos rios, a maré e o débito fluvial controlam a expulsão da MPS para a plataforma continental. Assim, os máximos de expulsão devem ocorrer em situações de cheias associados a períodos de marés vivas. Na plataforma continental, a circulação induzida pelo vento sobrepõe-se à influência da maré e mesmo à circulação induzida por diferenças de densidade, parecendo ser o principal agente dinâmico responsável pela dispersão. Para se estabelecer um esquema de circulação superficial é indispensável que se tenha em conta os dados climáticos nomeadamente, a variação anual da frequência dos ventos e a ocorrência de ciclos de cheias e secas e a hidrologia da coluna de água. O referido esquema permite a elaboração de um modelo conceptual de dispersão das plumas dos rios na plataforma continental que diferencia uma situação de Verão e outra de Inverno (fig. VII-1), que apresentam normalmente características opostas. A situação de Inverno e Outono é caracterizada por: v circulação dirigida para o norte induzida por ventos de S e SW (circulação atmosférica ciclónica). v estabelece-se em períodos de fortes caudais uma frente termo halina que impede a dispersão das massas de água superficial para o largo. A dispersão faz-se essencialmente na CNF, correspondendo a situações de downwelling. Pelo contrário, a situação de Verão e Primavera é caracterizada por: v Uma circulação para sul, induzida por ventos fortes e persistentes de N e NW (circulação atmosférica anticiclónica). v Presença de uma termoclina sazonal que torna a massa de água superficial pouco espessa mas mais móvel, favorecendo a dispersão sob a acção do vento. v Interrupção da termoclina nos locais onde o upwelling costeiro está activo, formando-se uma barreira vertical à dispersão da massa de água costeira. Fora da influência do 257 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ afloramento de águas frias do fundo, continua a haver dispersão para o largo, na camada mais superficial. 42.0 Ri o M in h 42.0 o Ri o M a L im Ri Rio Ave Rio Ave Ri o Ri o Dou ro 41.0 -9.0 -8.5 41.0 -9.0 A 100 m 30m -8.5 3 30m 100 m 200 m 45 km 45 km 17 km 2 CNS 1 17 km 3 Douro 0 50 50 100 100 Dep.lodoso do Douro Termoclina sazonal Deposição Douro Dep.lodoso do Douro 150 200 1 2 CNF CNF 200 Dou ro B 200 m CNI a im 41.5 41.5 150 oL Rio C áv ado Ri o C ávado 0 o Inverno Verão Ri o in h CNI Afloramentos rochosos Frente termo-halina Ressuspensão pela onda Período de downwelling transporte para fora no fundo e para norte ( ) Periodo de upwelling transporte para o largo à superfície e para sul ( ) A B Fig. VII-1. Modelo conceptual de dispersão da MPS na plataforma continental NW portuguesa. Evolução sazonal. A) Verão; B) Inverno. 258 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ Tabela VII-1. Compilação das características da CNS, CNF e CNI. upwelling Características gerais CNS 30-40m (0.1-4.4 mg/l) estratificação da coluna de água composição orgânica/agregados atinge os 50 km COP>20% 20-30m (0.2-3.7mg/l) fornece partículas ao depósito fino do Douro CNF - CNI downwelling CNS CNF Características gerais confinada à plat. interna (0.05-5.8 mg/l) composição inorgânica/agregados coluna de água homogénea (80-100m) COP<10% 20-50m (0.2-16 mg/l) composição terrígena fornece e recebe partículas do depósito fino do Douro (dim.34µm) - CNI Bordo da plat. (3) Plat. média (2) Plat. interna (1) frente de upwelling que migrou da plataforma interna, fluxo para Oeste termoclina horizontal que pode ser interrompida pelo upwelling. Fluxo para sul - correntes gerais, fluxo para este maré desenvolvem-se no bordo por acção conjunta da corrente da vertente e marés, ondas internas. - Bordo da plat. (3) (partículas de dim.>20µm) ondas internas, corrente da vertente seguem as isopícnicas, formamse a partir da CNF - Plat. média (2) Plat. interna (1) (partículas de dim.>10µm) definição de uma frente termo-halina, fluxo para Este débito dos rios (partículas de dim.5µm), fluxo para norte ressuspensão onda (6m); correntes (>25 cm/s), ondas internas, fluxo para oeste - ressuspensão onda, maré - O presente estudo refere-se a situações contrastadas, por períodos curtos de tempo (10-15 dias), não tendo sido contemplada e variabilidade a longo prazo. Contudo, como as estruturas hidrológicas e nefelométricas tendem a ser persistentes, é de esperar que estas situações se repitam sazonalmente. 3. Composição da MPS A inspecção visual de amostras seleccionadas ao microscópio electrónico, colhidas tanto na CNS como na CNF, revelou que o material ocorre em agregados contendo diminutos cocólitos. Durante o Inverno a comunidade de cocolitóforos que se desenvolve na plataforma e vertente continental portuguesa é rica e compreende tanto espécies de regiões temperadas como de regiões subtropicais. As diatomáceas, dinoflagelados 259 e silicoflagelados eram menos Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ abundantes, e os foraminíferos eram raros ou ausentes. A componente biogénica era mais abundante à superfície, aumentando a componente litogénica na CNF. A análise da componente terrígena por DRX mostrou que a CNS é maioritariamente formada por argilas (illite, caulinite, clorite e esmectite). Na CNS, muito perto da desembocadura dos rios e principalmente na CNF ocorrem outros minerais como quartzo, micas, plagioclases e feldspatos-K. Contudo, a MPS da CNS consiste sobretudo em restos biogénicos autóctones, produzidos por produção primária, sendo a componente terrígena dominante, perto dos rios, onde a dimensão das partículas é menor. Os conteúdos de COP determinados nos dois níveis nefelóides concordam com esta distribuição. Na CNF, as amostras com valores superiores de concentração (perto dos rios e sobre o depósito silto-argiloso do Douro), eram formadas na sua maioria por quartzo e filossilicatos; a componente biogénica era insignificante e consistia em restos de cocolitóforos e diatomáceas. A quantidade de cocólitos e diatomáceas presentes nas amostras reflecte a actividade fitoplanctónica, modificada pelo grazing do zooplâncton. Na CNF e CNS, as partículas terrígenas em suspensão provêm directamente dos perfis de alteração dos solos da região montanhosa do Minho (>1000m). Os rios em períodos de cheias transportam quantidades importantes de sedimentos em suspensão com uma composição muito semelhante à encontrada nas suspensões e sedimentos finos da plataforma. Outra importante fonte de partículas para a CNF é a resuspensão que ocorre em resultado do incremento das correntes de fundo. A ressuspensão de sedimentos do fundo pode ser demonstrada pelas modas presentes na CNF, tendo sido identificada uma moda comum por volta dos 17.7-20.5µm e pela presença de cocólitos resistentes aos processos de dissolução, como o C. pelagicus que ficam conservados no sedimento de fundo. Durante os cruzeiros esta espécie não foi identificada na coluna de água, desenvolvendo-se provavelmente em períodos (Verão) anteriores a estes, sofrendo agora ressuspensão e incorporar a CNF. 4. Formação e desenvolvimento das camadas nefelóides As isolinhas de nefelometria correspondem, por vezes, às isopícnicas. No caso do cruzeiro Clima, a CNS que se desenvolve na vertente continental, era claramente limitada inferiormente pela picnoclina, o mesmo se verificando para o cruzeiro OMEX II. A observação dos valores de nefelometria e de densidade ao nível da picnoclina revela um decréscimo dos 260 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ valores da turbidez com o aumento do gradiente vertical de densidade. A semelhança entre a espessura da CNS e a da camada de mistura superficial pode ser interpretada como o resultado da mistura vertical que tem lugar em situações de Inverno moderado e Outono. A espessura da camada de mistura superficial e a CNS é variável e atinge profundidades de 70m-120m. A CNF estende-se por toda a plataforma, devido à dispersão de material terrígeno proveniente dos rios, principalmente do rio Douro e à remobilização local de partículas finas (depósitos silto-argilosos) anteriormente depositadas. Durante o Outono, Inverno e Primavera, a CNF destaca-se para formar uma CNI que foi observada ao longo do bordo da plataforma. CNIs de menor magnitude ocorrem às mais variadas profundidades entre os 200 e os 1500m, em águas mais homogéneas, com especial incidência de Primavera. As CNIs seguem superfícies isopícnicas e dispersam-se através da coluna de água. 5. Sedimentos finos da plataforma média A presença de um depósito fino na plataforma média ao largo do rio Douro foi associado ao acarreio de material oriundo dos rios (nomeadamente o rio Douro), essencialmente em períodos de cheias (Drago, 1998, Araújo, et al., 1994). A composição mineralógica da fracção fina dos rios e da plataforma é muito semelhante, permitindo concluir que a componente detritica da MPS que se encontra na plataforma é directamente exportada pelos rios, constituindo a principal fonte sedimentar. Como traçadores mineralógicos nas águas da plataforma continental, foram identificados a caulinite para o rio Cávado e a clorite para o rio Minho. O rio Douro apresenta altas taxas de ilite e caulinite, que constituem os dois minerais predominantes da MPS das águas da plataforma minhota e dos sedimentos de fundo. Estes depósitos têm normalmente origem na deposição da MPS em áreas protegidas da ondulação, que na plataforma norte Portuguesa se situam por volta dos 65-130m de profundidade. McCave (1972) argumenta que o limite externo de deposição da MPS ocorre onde a concentração decresce relativamente à taxa de frequência de resuspensão pelas ondas e correntes, ou seja em zonas onde a eficácia da onda decresce, não sendo capaz de manter em suspensão o material fino. 261 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ Outra explicação para a presença de altos valores de MPS e de alguns depósitos na plataforma média como a "Grand Vasière" ao largo da Bretanha e o depósito Oeste do Gironda é a concordância entre a localização do depósito e o processo de bloqueio à dispersão da MPS, provocado por zonas frontais que separam massas de água com diferentes temperaturas e salinidade (Castaing, 1981; Hermida, 1997). Este processo de bloqueio pode também ocorrer na plataforma norte portuguesa, principalmente em alturas de cheias, visto que foi detectada uma frente termo-salina em períodos de caudal elevado. A ressuspensão dos sedimentos pelas ondas, particularmente ondas de temporal, constitui uma das características mais comuns das plataformas continentais e é um factor importante na região estudada, tal como nas plataformas do Mar do Norte, Costa Este dos Estados Unidos, Califórnia e Mar de Bering (Meade et al. 1975; Feeley et al., 1979; Drake et al., 1980, Young et al., 1981; Drake & Cacchione, 1986, 1989), para a remobilização e transferência de MPS para profundidades superiores. Contudo, o grau de ressuspensão depende muito do grau de coesão dos sedimentos (Eisma, 1993). Os sedimentos que formam os depósitos finos do Douro e Minho-Galiza são essencialmente siltosos com baixa percentagem de argila (média de 6%), podendo ser considerados sedimentos não coesivos (Jouanneau et al., 2001). Estes sedimentos são colocados em suspensão por ondas de temporal de 6m (altura máxima 10 m) de altura e períodos de 12s (temporal de 19 de Novembro de 1996). Tais ondas induzem, junto ao fundo, velocidades orbitais superiores a 20cm/s, com valor máximo de 40 cm/s (Vitorino & Coelho, 1998). Durante os temporais, as correntes junto ao fundo, predominantemente para NW-W, favorecem a transferencia de MPS na CNF, que pode depositar-se a maiores profundidades (vertente ou rampa continentais) ou ser transportada para norte. Este transporte para norte também foi comprovado pelo aumento para norte da maturidade dos sedimentos finos da plataforma e índice de cristalinidade das argilas. 6. Perspectivas futuras de investigação O estudo da MPS iniciou-se no principio do século XX, sendo raras as publicações existentes antes de 1920. Assim, desenvolveu-se sobretudo após as actividades do homem (canalização e construção de barragens nos rios, planos de irrigação, desflorestação, agricultura, minas, regularização da costa com estruturas de engenharia, construção de estradas e poluição) que já tinham causado grandes alterações regionais no fornecimento, composição, transporte e dispersão do material em suspensão. Contudo, estas alterações e os seus efeitos adversos são 262 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ de interesse cientifico geral e um importante estímulo para a continuação dos estudos da MPS. Estes estudos futuramente deverão compreender a utilização: • de satélites, que permitem visualizar os movimentos horizontais de massas de água superficiais em vastas zonas e determinar a posição relativa das plumas túrbidas dos rios, relacionando-as com os factores hidrodinâmicos; • de técnicas de medição in-situ (na coluna de água) de gradientes de velocidade, turbulência, gradientes de concentração, dimensão das partículas, velocidades de queda das partículas, que estão actualmente disponíveis e são necessárias para validação dos modelos de transporte de MPS; • de modelos numéricos de transporte de MPS, validados por dados de campo, que possibilitam uma previsão das condições dos sistemas (estuário, plataforma) em diversas situações; A utilização integrada destes dados aplicadas à região em estudo vão permitir o conhecimento global do meio natural e os processos que o controlam, oferendo assim uma ferramenta para a gestão integrada e responsável do ambiente de plataforma continental e estuários. O estudo da dispersão das águas estuarinas e da dinâmica da MPS na plataforma associa-se ao estudo da circulação a longo termo das massas de água. Infelizmente, na plataforma portuguesa, e especificamente na plataforma norte não existem séries contínuas longas de medições de correntes nem estações de monitorização multi-parâmetros (temperatura, salinidade, turbidez, correntes, ondas) que iriam certamente melhorar o conhecimento oceanográfico desta região. Outros estudos específicos são: • realizar uma estimativa de balanços sedimentares nos estuários, principalmente durante cheias. Noutras regiões, verificou-se que durante cheias a concentração dos sedimentos pode aumentar 40 a 50 vezes e a descarga dos sedimentos é equivalente a 30 ou 50 anos de fornecimento normal (Eisma, 1993). • Estudar o efeito conjunto dos temporais e das cheias no fluxo geral de sedimentos na plataforma continental. • Implementar o estudo da MPS nos canhões submarinos e ao longo da vertente continental. 263 Capitulo VII Conclusões gerais _______________________________________________________________________________________ • Contemplar este tipo de estudos noutras regiões da plataforma utilizando as técnicas usadas nesta tese e outras mais inovadoras. 264 Bibliografia ___________________________________________________________________________ Referências Bibliográficas Abreu. L. 1995. Biostratigrafia e paleoecologia dos foraminíferos planctónicos quaternários da montanha submarina da Galiza (margem Oeste-Ibérica). Tese de Mestrado, Univ. de Lisboa, 173pp. (não publicada). 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O conhecimento deste factor tem dupla importância, pois determina a intensidade da luz que penetra desde a superfície, ou seja a espessura da camada fotossíntética produtiva, onde se produz a matéria viva graças à fotossíntese, e permite também obter uma aproximação da quantidade de partículas em suspensão. Esta última, com grande importância biológica (alimentação de organismos aquáticos), físico-químico (adsorção de espécies químicas) e bacteriológica (suporte de bactérias). Os métodos mais antigos baseavam-se na observação visual de uma marca ou objecto através de uma certa espessura de água (disco de Secchi). O inconveniente principal deste método in situ é que não fornece uma medida de transparência a um dado nível, mas integra todas as camadas de água atravessadas até ao desaparecimento do disco e depende da acuidade visual do operador. Actualmente, obtém-se medidas de turbidez mais fiáveis e objectivas usando perfiladores verticais que funcionam por transmissão ou por difusão da luz mono ou policromática. 2.Turbidez A turbidez de um fluido resulta da matéria que contém, quer dissolvida quer particulada. A turbidez é uma expressão da propriedade óptica da amostra que provoca a dispersão e absorção da luz em vez da sua transmissão em linha recta através da amostra. Quando, em 1971, foi introduzido o método nefelómetrico (dispersão da luz) para medição da turbidez, passou-se a usar a expressão padrão NTU (Nephelometric Turbidity Unit) em detrimento das unidades antigas JTU (Jackson, Turbidity Unit), ppm turbidity e silica scale. Assim: Jackson Turbidity Units (JTU) = NTU = FTU O nefelómetro mede a luz difundida a 90º (prisma) a partir de uma fonte policromática, que pode ser de vários tipos (lâmpada de mercúrio, laser, tungsténio, silício, xénon) e emitir em diferentes comprimentos de onda (400 a 800nm), tornando-os mais ou menos sensíveis a partículas com diferentes tamanhos. O detector da luz também pode ser diferente: tubo fotomultiplicador, fotodiodo de vácuo, fotodiodo de silica e fotocondutor de sulfito de cádmio. O mais comum é o fotomultiplicador que apresenta o seu pico espectral de i Apêndice A _______________________________________________________________________________________ sensibilidade na região dos ultravioletas e azuis do espectro visível. Geralmente, para um dado detector quando a luz incidente é de pequeno comprimento de onda, o equipamento é mais sensível a pequenas partículas. Contrariamente, quando a fonte luminosa é de grandes comprimentos de onda é mais sensível a partículas relativamente maiores. Diferenças no desenho físico de um nefelómetro provocam diferenças nos valores medidos para turbidez. As medidas de nefelómetria são, tal como as outras medidas físicas, influenciadas tanto pela amostra como pelo instrumento de medida. A interacção entre muitas amostras e parametrizações de diferentes instrumentos pode ser muito complexa (Vanous, 1978). A formazina tem sido adoptada como o padrão de turbidez ideal para calibração deste tipo de instrumentos devido, à sua uniformidade e facilidade de preparação de suspensões diluídas. Esta suspensão é formada por partículas mono-dispersas que apresentam um volume geométrico de diâmetro médio de ≈2.5 µm (Baker et al., 2001). 2.1. Nefelómetro Aquatracka Mark III (Chelsea Instruments, Ltd) O nefelómetro Aquatracka Mark III (Fig.1) tem como fonte luminosa uma lâmpada de xénon. Na janela de transmissão da luz, está equipado com lentes que filtram todos os comprimentos de onda menos os da ordem dos 440nm, com largura de banda de 80nm (1nm=10-9 m). O detector, colocado a 90º, é um fotodiodo sensível aos mesmos comprimentos de onda (Fig.2). Fig. 1. Nefelómetro Aquatracka III. Prisma Photodiodo Este equipamento, que emite e detecta comprimentos de onda do azul escuro do espectro ultravioletas), sensível a visível é partículas (perto dos particularmente Janela de detecção relativamente pequenas (raio menor que 440nm) que Janela de transmissão selectivamente dispersam pequenos Fig.2 - Estrutura óptica (Manual Aquatracka III) ii Apêndice A _______________________________________________________________________________________ comprimentos de onda. É altamente sensível na medição de fraca turbidez com uma precisão de ±0.01 FTU ou 4% do valor. A calibração com formazina é realizada anualmente. 2.1.1. Procedimentos de Calibração A formazina é preparada a partir de duas soluções: Solução A – obtém-se dissolvendo 5.0g de sulfato de hidrazina, (NH)2 H2 SO4 , em 400 ml de água destilada. Solução B – obtém-se dissolvendo 50.0g de hexametileno-tetramina (C6 H12 N4 ), em 400ml de água destilada. Misturam-se as duas soluções A e B num balão de 1 litro e ajusta-se. Esta solução deve permanecer 48 horas em repouso, ganhando uma turbidez branca. O padrão de formazina preparado deste modo tem o valor de 4000 FTU, sendo estável à temperatura ambiente por um ano. a) Suspensões diluídas: Para obter as suspensões intermédias, a suspensão inicial (4000 FTU) é mantida sobre agitação magnética para a recolha das diferentes porções por pipetagem, sendo depois diluídas com água de turbidez nula (bidestilada e filtrada). A tabela I fornece as diluições efectuadas partir da solução a 4000FTU. Tabela I – Preparação das soluções intermédias a partir da solução a 4000FTU FTU 0.25 0.5 1 2 3 4 5 6 8 10 Sol.inic. (ml) /volume de água (ml) 0.125/2000 0.125/1000 0.125/500 0.125/250 0.375/500 0.200/200 0.250/200 0.375/250 0.400/200 0.500/200 Por não haver disponibilidade de pipetas com volumes tão pequenos, preparou-se uma solução intermédia com 500 FTU (25ml da solução inicial em 200 ml de água destilada) e prepararamse igualmente as outras soluções a partir desta (Tabela II). iii Apêndice A _______________________________________________________________________________________ Tabela II – Preparação das soluções intermédias a partir da solução a 500 FTU FTU 0.1 0.25 0.5 1 2 3 4 5 6 8 10 Sol.interm. (ml) /volume de água (ml) 0.4/2000 1.0/2000 1.0/1000 1.0/500 1.0/250 3.0/500 1.6/200 2.0/200 3.0/250 3.2/200 4.0/200 b) Medições Para a obtenção de resultados correctos as amostras devem estar perfeitamente homogéneas antes da medição e sem bolhas de ar. As medições começam pela obtenção do valor em volts da água limpa filtrada (sem turbidez) que corresponderá ao zero FTU. Seguidamente cada amostra de formazina é colocada na célula de calibração do aparelho, registando-se a voltagem correspondente. Estes valores são utilizados posteriormente para a determinação da curva de calibração. Antes de cada medição a célula de calibração, em quartzo, é cuidadosamente limpa com detergente neutro e água destilada para retirar as resíduos de formazina e impurezas. Seguidamente é colocado num recipiente com acetona pura (pro-análise), com baixa percentagem de depósito quando seca, para retirar as gotas de água, restos de gordura e ainda acelerar o processo de secagem. Constatou-se que as medições deste aparelho são afectadas pela luz das lâmpadas fluorescentes. Assim, tem que se ter o cuidado de eliminar este tipo de interferência. c) Curva de calibração O nefelómetro foi exposto a diferentes concentrações de formazina, preparada de acordo com o ponto anterior, em adição à água pura. A equação seguinte foi derivada a partir das leituras para relacionar o output do instrumento, em volts, com a turbidez em FTU (Manual do Mk III Aquatracka): turbidez(FTU) = 0.01140 x 10 iv Output (volts) – 0.114 Apêndice A _______________________________________________________________________________________ Segundo o manual do fabricante, esta equação pode ser usada na gama dos 0-10 FTU com uma incerteza de 0.01 FTU mais 4% do valor medido. Na região dos 10-100 FTU o sinal detectado é reduzido por absorção da luz. O valor zero foi determinado no laboratório usando água purificada por uma coluna iónica (osmose) mas é possível que se encontre água mais pura, no oceano profundo. Nestas condições, o offset da fórmula anterior deve ser substituído pelo antilogaritmo do output do Aquatracka encontrado na água mais pura, multiplicado pelo factor de escala. 10output – 10background Onde: output = output em volts do Aquatracka background = volts do blank (emissão de luz tapada) Na tabela III estão as leituras de calibração do nefelómetro realizadas pelo fabricante e posteriormente no laboratório do Instituto Hidrográfico com o apoio do Eng. Manuel Marreiros. Estes valores de calibração foram aplicados aos diferentes cruzeiros realizados. Tabela III - Leituras de calibração do nefelómetro e os cruzeiros onde foram aplicadas. Cal. Fabricante FTU 0 0.1 0.4 1.0 4.0 10.0 - VOLTS 1 1.274 1.659 1.990 2.556 2.942 - Cal. IH (Corvet97) Mar. 97 FTU VOLTS 0 0.969 0.25 1.478 0.5 1.654 1.0 1.912 2.0 2.19 3.0 2.350 4.0 2.483 5.0 2.556 6.0 2.630 8.0 2.761 10.0 2.852 - Cal. IH (Clima98) Jan.98 FTU VOLTS 0 0.978 0.25 1.431 0.5 1.625 1.0 1.878 2.0 2.146 3.0 2.280 4.0 2.419 5.0 2.504 6.0 2.580 8.0 2.697 10.0 2.794 - Cal.IH (OMEX II) Fev. 99 FTU VOLTS 0 0.9 0.1 1.14 0.25 1.37 0.5 1.594 1 1.838 2 2.106 5 2.476 7.5 2.652 10 2.766 15 2.935 As rectas de calibração utilizadas nos cruzeiros e as respectivas equações que relacionam o output em volts com a turbidez (FTU) estão representadas na figura 3. Estas rectas apresentam um deslocamento para a vertical, que está relacionado com o abaixamento de resolução do aparelho devido, provavelmente, ao enfraquecimento da fonte de luz e ao envelhecimento das lentes. v Apêndice A _______________________________________________________________________________________ 10 Cal. fabricante Equação: Y = 0.0114053 * X Numero de pontos usados= 5 R-2 = 0.999725 output (volts) FTU=0.01140 x 10 8 -0.114 Cal. CORVET96 (1997) Equação: Y = 0.0141623 * X Numero de pontos usados = 10 R-2 = 0.999793 FTU 6 Output (H20p) Output(volts) FTU= 0.01416 x 10 -0.01416 x 10 CLIMA97 Equação: Y = 0.0162503 * X Numero de pontos usados =10 R-2 = 0.999824 4 FTU=0.01625 X 10Output(volts) -0.01625 X 10 Output(H2Op) 2 Cal.OMEX II (1999) Equação: Y = 0.0172188 * X Numero de pontos usados = 9 R-2 = 0.999521 FTU=0.01722 X 10 output(volts) output(H2Op) -0.01722 X 10 0 0 200 400 600 10**Out(volts)-10**Out blank(volts) 800 1000 Fig. 3 - Rectas de calibração e respectivas equações, aplicadas ao nefelómetro Aquatracka Mark III. vi