INTRODUÇÃO À INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
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INTRODUÇÃO À INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
INTRODUÇÃO À INDÚSTRIA DO PETRÓLEO 1- 1 - INTRODUÇÃO À INDÚSTRIA DO PETRÓLEO 2 © PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, bem como a produção de apostilas, sem autorização prévia, por escrito, da Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS. Direitos exclusivos da PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A. ALMEIDA, Jorge Introdução à Indústria do Petróleo / FURG – CTI. Rio Grande, 2006. 76 p.:il. PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A. Av. Almirante Barroso, 81 – 17º andar – Centro CEP: 20030-003 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil 3 INDICE UNIDADE I ............................................................................................................................................. 10 Petróleo .................................................................................................................................................. 10 1.1. Origem do petróleo ..................................................................................................................... 12 1.1.1. Constituintes do petróleo..................................................................................................... 14 1.1.2. Classificação do petróleo .................................................................................................... 15 UNIDADE II ............................................................................................................................................ 17 Produção de petróleo ............................................................................................................................. 17 2.1. Prospecção do petróleo .............................................................................................................. 17 2.2. Perfuração de poços ................................................................................................................... 17 2.2.1. Equipamentos da sonda de perfuração .............................................................................. 18 2.2.1.1. Sistema de sustentação de cargas .............................................................................. 19 2.2.1.2. Sistema de geração de energia ................................................................................... 20 2.2.1.3. Sistema de movimentação de cargas .......................................................................... 20 2.2.1.4. Sistema de rotação ...................................................................................................... 21 2.2.1.5. Sistema de circulação .................................................................................................. 21 2.2.1.6. Sistema de segurança do poço.................................................................................... 22 2.2.1.7. Sistema de monitoração .............................................................................................. 22 2.2.2. Colunas de perfuração ........................................................................................................ 23 2.2.3. Fluidos de perfuração.......................................................................................................... 24 2.2.4. Operações normais de perfuração ...................................................................................... 24 2.2.5. Operações especiais de perfuração.................................................................................... 24 2.3. Completação ............................................................................................................................... 26 2.3.1. Equipamento de cabeça de poço ........................................................................................ 27 2.3.2. Etapas de uma completação ............................................................................................... 27 2.3.2.1. Instalação dos equipamentos de superfície................................................................. 28 2.3.2.2. Condicionamento do poço ........................................................................................... 28 2.3.2.3. Avaliação da qualidade da cimentação........................................................................ 28 2.3.2.4. Canhoneio .................................................................................................................... 29 2.3.2.5. Instalação da coluna de produção ............................................................................... 29 2.3.2.6. Colocação do poço em produção ................................................................................ 30 2.3.3. Principais componentes da coluna de produção................................................................. 30 2.3.4. Equipamentos de superfície ................................................................................................ 31 2.4. Elevação ..................................................................................................................................... 32 2.4.1. Elevação natural – poços surgentes ................................................................................... 32 2.4.2. Gas-lift ................................................................................................................................. 33 2.4.3. Bombeio centrífugo submerso............................................................................................. 34 2.4.4. Bombeio mecânico com hastes........................................................................................... 35 2.4.5. Bombeio por cavidades progressivas ................................................................................. 36 2.5. Segurança no poço ..................................................................................................................... 37 2.6. Processamento primário do petróleo .......................................................................................... 38 UNIDADE III ........................................................................................................................................... 41 Plataformas marítimas - classificação.................................................................................................... 41 3.1. Plataformas fixas......................................................................................................................... 42 3.2. Plataformas auto-eleváveis......................................................................................................... 42 3.3. Plataformas submersíveis........................................................................................................... 43 3.4. Plataformas flutuantes ................................................................................................................ 44 3.4.1. Plataformas semi-submersíveis .......................................................................................... 44 3.4.2. Navio sondas ....................................................................................................................... 45 3.4.3. Plataformas tipo FPSO........................................................................................................ 46 3.5. Plataformas de pernas atirantadas (tension leg) ........................................................................ 47 3.6. Processamento primário do petróleo .......................................................................................... 48 4 UNIDADE IV ........................................................................................................................................... 49 Refino de petróleo .................................................................................................................................. 49 4.1. Refinarias .................................................................................................................................... 49 4.2. Processos de separação ............................................................................................................ 54 4.2.1. Dessalgação ........................................................................................................................ 54 4.2.2. Destilação atmosférica ........................................................................................................ 55 4.2.3. Destilação a vácuo .............................................................................................................. 58 4.3. Processos de conversão............................................................................................................. 59 4.3.1. Craqueamento térmico / visco-redução .............................................................................. 60 4.3.1. Craqueamento catalítico...................................................................................................... 61 4.4. Processos de tratamento ............................................................................................................ 63 4.5. Operações de suporte ................................................................................................................ 63 4.5.1. Tratamento de Efluentes ..................................................................................................... 64 4.5.2. Tratamento de gás e recuperação de enxofre .................................................................... 65 4.5.3. Produção de aditivos ........................................................................................................... 65 4.5.4. Composição......................................................................................................................... 65 4.5.5. Tanques de estocagem ....................................................................................................... 66 4.5.6. Torres de resfriamento ........................................................................................................ 66 UNIDADE V ............................................................................................................................................ 67 Transferência e estocagem.................................................................................................................... 67 5.1. Transporte de petróleo e derivados ............................................................................................ 68 5.1.1. Transporte por oleodutos .................................................................................................... 68 5.1.2. Transporte hidroviário.......................................................................................................... 69 5.1.3. Transporte rodoviário .......................................................................................................... 70 5.1.4. Transporte ferroviário .......................................................................................................... 71 5.2. Armazenamento de petróleo e derivados ................................................................................... 72 5.2.1. Tanques atmosféricos ......................................................................................................... 72 5.2.2. Armazenamento sob pressão.............................................................................................. 73 5.2.3. Bacias de contenção ........................................................................................................... 74 5.2.4. Classificação na área .......................................................................................................... 74 BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................................... 76 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Configuração típica de uma jazida de petróleo ................................................................. 10 Figura 1.2 – Esquema de um poço de extração .................................................................................... 10 Figura 1.3 – (a) Oleoduto, (b) Terminal petrolífero, (c) navio petroleiro ................................................ 11 Figura 1.4 – Esquema da trajetória do petróleo do poço ao produto final ............................................. 11 Figura 1.5 – Armadilhas típicas de um campo de petróleo.................................................................... 13 Figura 2.1 – Esquema de uma sonda rotativa ....................................................................................... 19 Figura 2.2 – Estaleiro ............................................................................................................................. 20 Figura 2.3 – Sistema de movimentação de carga.................................................................................. 21 Figura 2.4 – Equipamentos de rotação. ................................................................................................. 21 Figura 2.5 – Bombas de lama. ............................................................................................................... 22 Figura 2.6 – Esquema de coluna de perfuração .................................................................................... 23 Figura 2.7 – Seqüência de perfuração de um poço ............................................................................... 26 Figura 2.8 – Árvore de natal convencional............................................................................................. 27 Figura 2.9 – Árvore de natal molhada.................................................................................................... 27 Figura 2.10– Condicionamento do poço. ............................................................................................... 28 Figura 2.11 – Canhoneio........................................................................................................................ 29 Figura 2.12 – Coluna convencional de produção equipada com gas-lift ............................................... 31 Figura 2.13 – Elevação natural .............................................................................................................. 33 Figura 2.14 – Sistema de gas-lift............................................................................................................ 34 Figura 2.15 – Tipos de instalação de gas-lift ......................................................................................... 34 Figura 2.16 – Poço produtor por bombeio centrifugo submerso............................................................ 35 Figura 2.17 – Sistema de bombeio mecânico........................................................................................ 36 Figura 2.18 – Sistema de bombeio por cavidades progressivas ........................................................... 37 Figura 2.19 – Equipamento de segurança da cabeça de poço ............................................................. 38 Figura 2.20 – Incêndio em um poço (guerra no Iraque) ........................................................................ 38 Figura 2.21 – Fluxograma do processamento primário de petróleo ...................................................... 39 Figura 2.22 – Esquema de um separador (a) bifásico e (b) trifásico ..................................................... 40 Figura 3.1 – Tipos de plataformas marítimas......................................................................................... 41 Figura 3.2 – Plataforma fixa ................................................................................................................... 42 Figura 3.3 – Plataforma auto-elevável ................................................................................................... 43 Figura 3.4 – Plataforma semi-submersível ............................................................................................ 44 Figura 3.5 – Plataforma semi-submersível ............................................................................................ 45 Figura 3.6 – Navio sonda ....................................................................................................................... 45 Figura 3.7 – Movimentos de uma sonda................................................................................................ 46 Figura 3.8 – Plataforma PFSO (P50 – Petrobras) ................................................................................. 47 Figura 3.9 – Plataforma de pernas atirantadas (Tension leg)................................................................ 47 Figura 4.1 – Etapas do processo de refino ............................................................................................ 51 Figura 4.2 – Refinaria de petróleo.......................................................................................................... 51 Figura 4.3 – Fluxograma típico do refino de petróleo ............................................................................ 52 Figura 4.4 – Fluxograma da destilação atmosférica .............................................................................. 55 Figura 4.5 – Torre de destilação atmosférica......................................................................................... 56 Figura 4.6 – Processo de destilação atmosférica .................................................................................. 57 Figura 4.7 – Torre de destilação a vácuo............................................................................................... 58 Figura 4.8 – Processo de destilação a vácuo ........................................................................................ 59 Figura 4.9 – Processo de visco-redução................................................................................................ 61 Figura 4.10 – Esquema básico do FCC ................................................................................................. 62 Figura 4.11 – Unidade de craqueamento catalítico ............................................................................... 62 Figura 4.12 – Diagrama esquemático do Tratamento Bender............................................................... 63 Figura 4.13 – Tratamento DEA para GLP e Gás Combustível .............................................................. 64 Figura 5.1 – Oleodutos........................................................................................................................... 69 6 Figura 5.2 – Navio petroleiro Jahre Vicking ........................................................................................... 70 Figura 5.3 – Navio petroleiro Irati ........................................................................................................... 70 Figura 5.4 – Distribuição por modal rodoviário ...................................................................................... 71 Figura 5.5 – Vagão ferroviário................................................................................................................ 72 Figura 5.6 – Tanque atmosférico ........................................................................................................... 72 Figura 5.7 – Vaso de pressão esférico .................................................................................................. 73 Figura 5.8 – Base de armazenamento................................................................................................... 75 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 - Frações típicas do petróleo................................................................................................ 14 Tabela 1.2 - Análise elementar do óleo cru típico (% em peso) ............................................................ 15 Tabela 1.3 - Características dos hidrocarbonetos ................................................................................. 15 Tabela 4.1 – Frações ou cortes iniciais.................................................................................................. 53 8 APRESENTAÇÃO Os processos de prospecção, produção e refino de petróleo, bem como o armazenamento e transporte de derivados, de um modo geral, são por deveras variados e complexos, não sendo objeto deste trabalho tratá-los em sua totalidade e profundidade, mas apenas apresentar a finalidade e conceituar alguns dos processos mais importantes, de modo genérico, visando fornecer uma visão geral sobre o processo e os equipamentos envolvidos, de modo a subsidiar as atividades de planejamento de obras na indústria do petróleo. 9 UNIDADE I Petróleo O petróleo é um óleo formado pela decomposição de matérias orgânicas e minerais atacados por bactérias. Recoberta por sedimentos, enterrada no fundo dos mares e lagoas dos terrenos sedimentares, esta matéria, após um longo tempo, se transforma em hidrocarbonetos (compostos de hidrogênio e carbono). Quando a geologia do terreno é favorável, o óleo fica preso entre camadas de rochas impermeáveis, e assim se formam as jazidas de petróleo e gás natural. Nas jazidas a camada de petróleo é coberta por uma camada de gás e flutua sobre outra de água salgada, como ilustra a Figura 1.1. Figura 1.1 – Configuração típica de uma jazida de petróleo A extração se realiza por meio da perfuração de poços, de onde o petróleo jorra por força da pressão dos gases, ou, em certos casos, quando essa pressão não é suficiente, o petróleo tem que ser bombeado. Uma ilustração da extração do petróleo e apresentada na Figura 1.2. Figura 1.2 – Esquema de um poço de extração 10 Uma vez extraído o petróleo cru é transportado para a refinaria, onde sofre transformações que resultam nos seus subprodutos. Para o transporte terrestre são utilizados oleodutos (pipe-lines), que desembocam em um porto especialmente preparado para o transporte e o comércio do petróleo (terminal petrolífero), onde ele é embarcado em um navio-cisterna: o petroleiro ou navio tanque. A Figura 1.3 ilustra estes elementos do transporte de petróleo. Figura 1.3 – (a) Oleoduto, (b) Terminal petrolífero, (c) navio petroleiro O petróleo cru é tratado nas refinarias, onde é separado em diversos e variados produtos de uso corrente, tais como gás liquefeito, gasolina, óleo diesel, querosene, asfalto e na indústria petroquímica são produzidos tecidos sintéticos, colas, solventes, fitas adesivas, materiais plásticos, produtos de vitrificação, tintas, inseticidas, etc. A Figura 1.4 ilustra a trajetória do petróleo desde o poço até o produto final. Figura 1.4 – Esquema da trajetória do petróleo do poço ao produto final 11 A partir de 1976, premido pelos altos preços do petróleo importado, o Brasil, por intermédio da PETROBRAS, decidiu celebrar contratos com empresas estrangeiras, visando impulsionar o seu programa energético, cujo objetivo final era a conquista da auto-suficiência neste campo, recentemente alcançada em 2006. 1.1. Origem do petróleo O petróleo tem origem a partir da decomposição da matéria orgânica resultante de restos de animais e plantas juntamente com rochas sedimentares, que após longo tempo sofrendo ações bacterianas e químicas, ativadas pelo aumento de temperatura e pressão, acabam por se transformar em hidrocarbonetos. A maioria dos compostos identificados no petróleo são de origem orgânica, mas até que a matéria chegue ao estado de petróleo são necessárias condições especiais. O ambiente marinho reúne tais condições. No ambiente marinho é a plataforma continental a região que mais produz matéria orgânica. Os mares rasos também podem receber um grande aporte de matéria orgânica. Embora semelhante ao carvão quanto à composição (hidrocarboneto) o petróleo possui certas características especiais: por ser fluido pode migrar para a além de sua fonte geradora e acumular-se em estruturas sedimentares. O Petróleo ocorre normalmente em rochas sedimentares depositadas sob condições marinhas. Então, além da matéria orgânica, as rochas sedimentares também têm suma importância na geração do petróleo. Estamos falando de um mineral formado principalmente pelo acúmulo de fragmentos de outros minerais e detritos orgânicos, e que, quando se encontra num ambiente de pouca permeabilidade – o que inibe a ação de água circulante e diminui a quantidade de oxigênio existente –, cria as condições necessárias para a formação do petróleo. Tal rocha é por isso chamada Rocha Geradora. Após o processo de formação do petróleo, para que o mesmo se acumule, formando posteriormente um reservatório, é necessário que após a geração ocorra a migração do petróleo, e que no percurso desta migração exista alguma armadilha geológica que permita a acumulação do óleo. Esta migração ainda é um assunto que gera certa polemica entre os geólogos; no entanto, o que se percebe é que o petróleo é expulso da rocha onde foi gerado, talvez pelo microfraturamento já observado nas rochas geradoras ou devido às altas pressões de compactação existentes. Deste modo, o petróleo migra da rocha geradora para outra rocha, porosa e permeável, chamada Rocha Reservatório, e continua seu fluxo no interior da mesma, até ser contido por uma armadilha, isto é, uma estrutura geológica compreendida dentro de uma rocha selante (impermeável), que permita que o petróleo ali se confine. Não havendo a presença de uma rocha selante e de uma armadilha (também chamada trapa e), o petróleo não se acumularia, e continuaria seu fluxo rumo a áreas de menor pressão, culminando 12 em exsudações ou perda por degradação bacteriana e oxidação. A Figura 1.5 ilustra dois tipos de armadilhas típicas para campos de petróleo. No estado líquido, o petróleo é uma substância oleosa, inflamável, menos densa que a água, com cheiro característico, em uma coloração que pode variar do preto ao castanho-claro. Estas duas últimas características variam em função dos diferentes reservatórios em que os óleos são obtidos. Alguns podem ser escuros, densos e viscosos, com pouco gás, enquanto outros podem apresentar tonalidades mais claras, baixa densidade e viscosidade, com quantidade expressiva de gás. Figura 1.5 – Armadilhas típicas de um campo de petróleo Sua composição é, basicamente, uma mistura de compostos químicos orgânicos, os hidrocarbonetos. Quando essa mistura apresentar pequenas moléculas em profusão, o estado físico será gasoso; havendo um maior número de moléculas maiores, o estado físico será líquido, considerando as condições normais de temperatura e pressão. Apesar de a composição do petróleo ser basicamente de hidrocarbonetos, ou seja, hidrogênio e carbono, há outros constituintes em menor percentual, como o nitrogênio, o enxofre, o oxigênio, metais e sais. Tais constituintes são considerados nocivos aos produtos, equipamentos e ao meio ambiente, sendo por isso considerados impurezas, devendo ser removidos em processos de tratamento específicos. 13 1.1.1. Constituintes do petróleo Do latim petra (pedra) e oleum (óleo), o petróleo no estado líquido é uma substância oleosa, inflamável, menos densa que a água, com cheiro característico e cor variando entre o negro e o castanho-claro. O petróleo é constituído, basicamente, por uma mistura de compostos químicos orgânicos (hidrocarbonetos). Quando a mistura contém uma maior porcentagem de moléculas pequenas seu estado físico é gasoso e quando a mistura contém moléculas maiores seu estado físico é líquido, nas condições normais de temperatura e pressão. O petróleo contém centenas de compostos químicos, e separá-los em componentes puros ou misturas de composição conhecida é praticamente impossível. O petróleo é normalmente separado em frações de acordo com a faixa de ebulição dos compostos. A Tabela 1.1 mostra as frações típicas que são obtidas do petróleo. Os óleos obtidos de diferentes reservatórios de petróleo possuem características diferentes. Alguns são pretos, densos, viscosos, liberando pouco ou nenhum gás, enquanto que outros são castanhos ou bastante claros, com baixa viscosidade e densidade, liberando quantidade apreciável de gás. Outros reservatórios, ainda, podem produzir somente gás. Entretanto, todos eles produzem análises elementares semelhantes às dadas na Tabela 1.2. Tabela 1.1 - Frações típicas do petróleo Fração Temperatura de Composição ebulição (°C) Usos Gás residual Gás liquefeito de petróleo - GLP Até 40 aproximada C1 – C 2 C3 – C 4 Gasolina 40 - 175 C5 – C10 combustível de automóveis, solvente. Querosene 175 - 235 C11 – C12 iluminação, combustível de aviões a jato. Gasóleo leve 235 - 305 C13 – C17 Diesel, fornos. Gasóleo pesado 305 - 400 C18 – C25 combustível, matéria-prima p/lubrificantes. Lubrificantes Resíduo 400-510 Acima de 510 C26 – C38 C38+ óleos lubrificantes. asfalto, piche, impermeabilizantes. 14 gás combustível. gás combustível engarrafado, uso doméstico e industrial. Tabela 1.2 - Análise elementar do óleo cru típico (% em peso) Hidrogênio Carbono 11-14% 83-87% Enxofre 0,06-8% Nitrogênio 0,11-1,7% Oxigênio 0,1-2% Metais até 0,3% A alta porcentagem de carbono e hidrogênio existente no petróleo mostra que os seus principais constituintes são os hidrocarbonetos. Os outros constituintes aparecem sob a forma de compostos orgânicos que contêm outros elementos, sendo os mais comuns o nitrogênio, o enxofre e o oxigênio. Metais também podem ocorrer como sais de ácidos orgânicos. A Tabela 1.3 apresenta as principais características das famílias dos hidrocarbonetos normalmente encontrados no petróleo. Tabela 1.3 - Características dos hidrocarbonetos Parafina normal Parafina ramificada Olefina Naftênico Aromático Densidade Gasolina Diesel Lubrificantes baixa ruim bom ótimo baixa boa médio bom baixa boa médio médio média média médio médio alta muito boa ruim ruim Resistência à oxidação boa boa má boa má 1.1.2. Classificação do petróleo A classificação do petróleo, de acordo com seus constituintes, interessa desde os geoquímicos até os refinadores. Os primeiros visam caracterizar o óleo para relacioná-lo à rochamãe e medir o seu grau de degradação. Os refinadores querem saber a quantidade das diversas frações que podem ser obtidas, assim como sua composição e propriedades físicas. Assim, os óleos parafínicos são excelentes para a produção de querosene de aviação (QAV), diesel, lubrificantes e parafinas. Os óleos naftênicos produzem frações significativas de gasolina, nafta petroquímica, QAV e lubrificantes, enquanto que os óleos aromáticos são mais indicados para a produção de gasolina, solventes e asfalto. • Classe parafínica (75% ou mais de parafinas) – Nesta classe estão os óleos leves, fluidos ou de alto ponto de fluidez, com densidade inferior a 0,85, teor de resinas e asfaltenos menor que 10% e viscosidade baixa, exceto nos casos de elevado teor de n-parafinas com alto peso molecular (alto 15 ponto de fluidez). Os aromáticos presentes são de anéis simples ou duplos e o teor de enxofre é baixo. A maior parte dos petróleos produzidos no Nordeste brasileiro é classificada como parafínica. • Classe parafínico-naftênica (50 – 70% parafinas, >20% de naftênicos) – Os óleos desta classe são os que apresentam um teor de resinas e asfaltenos entre 5 e 15 %, baixo teor de enxofre (menos de 1%), teor de naftênicos entre 25 e 40%. A densidade e viscosidade apresentam valores maiores do que os parafínicos, mas ainda são moderados. A maioria dos petróleos produzidos na Bacia de Campos, RJ, é deste tipo. • Classe naftênica (>70% de naftênicos) – Nesta classe enquadra-se um número muito pequeno de óleos. Apresentam baixo teor de enxofre e se originam da alteração bioquímica de óleos parafínicos e parafínico-naftênicos. Alguns óleos da América do Sul, da Rússia e do Mar do Norte pertencem a esta classe. • Classe aromática intermediária (>50% de hidrocarbonetos a aromáticos) – Compreende óleos frequentemente pesados, contendo de 10 a 30% de asfaltenos e resinas e teor de enxofre acima de 1%. O teor de monoaromáticos é baixo e em contrapartida o teor de tiofenos e de dibenzotiofenos é elevado. A densidade usualmente é maior que 0,85. Alguns óleos do Oriente Médio (Arábia Saudita, Catar, Kuwait, Iraque, Síria e Turquia), África Ocidental, Venezuela, Califórnia e Mediterrâneo (Sicília, Espanha e Grécia) são desta classe. • Classe aromático-naftênica (>35% de naftênicos) – Óleos deste grupo sofreram processo inicial de biodegradação, no qual foram removidas as parafinas. Eles são derivados dos óleos parafínicos e parafínico-naftênicos, podendo conter mais de 25% de resinas e asfaltenos, e teor de enxofre entre 0,4 e 1%. Alguns óleos da África Ocidental são deste tipo. • Classe aromático-asfáltica (>35% de asfaltenos e resinas) – Estes óleos são oriundos de um processo de biodegradação avançada em que ocorreria a reunião de monocicloalcenos e oxidação. Podem também nela se enquadrar alguns poucos óleos verdadeiramente aromáticos não degradados da Venezuela e África Ocidental. Entretanto, ela compreende principalmente óleos pesados e viscosos, resultantes da alteração dos óleos aromáticos intermediários. Desta forma, o teor de asfaltenos e resinas é elevado, havendo equilíbrio entre ambos. O teor de enxofre varia de 1 a 9% em casos extremos. Nesta classe encontram-se os óleos do Canadá ocidental, Venezuela e sul da França. 16 UNIDADE II Produção de petróleo 2.1. Prospecção do petróleo Vimos em linhas gerais como ocorre o processo de formação do petróleo. Para encontrá-lo utilizam-se métodos e técnicas específicos que permitem localizar uma área favorável à sua formação. Estas são as chamadas técnicas de prospecção. Antes da perfuração de um poço, que é a etapa que exige maior a maior parte de investimentos no processo prospectivo, geólogos e geofísicos estudam detalhadamente os dados de diversas camadas do subsolo, visando os parâmetros que indicam a condição de acumulação de petróleo e os locais mais prováveis de sua ocorrência, ou seja, não se trabalha com certeza absoluta, mas com parâmetros bastante confiáveis quanto à existência, que posteriormente terá a relação custo/benefício avaliada para exploração. Todo o programa desenvolvido durante a fase de prospecção fornece uma quantidade muito grande de informações técnicas, com um investimento relativamente pequeno quando comparado ao custo de perfuração de um único poço exploratório. 2.2. Perfuração de poços Registros antigos dão conta de que vários povos conheceram o petróleo através do afloramento natural do hidrocarboneto até a superfície, em virtude de altas temperaturas, pressões e formações geológicas. Hoje, para fazê-lo chegar à superfície é necessário perfurar um poço que atinja o reservatório e o faça se elevar até a superfície. A tecnologia envolvendo a perfuração de poços se desenvolveu bastante nos últimos anos, permitindo o alcance de profundidades antes nunca imaginadas, acima de 6.000 m de profundidade. A perfuração de poços tanto pode ser em terra (onshore) quanto no mar (offshore). São muitas as formas de classificação dos poços de petróleo. São ditos verticais, direcionais, horizontais e multilaterais, quando a classificação diz respeito à sua trajetória. A escolha do percurso dependerá de critérios técnicos específicos, sendo certo que todo poço apresenta desvios e variações, normalmente relacionados à velocidade da perfuração. Se a perfuração for excessivamente rápida, o poço tende a ficar mais tortuoso, o que dificulta as operações posteriores que serão feitas em seu interior. 17 Relativamente à finalidade, um poço pode ser estratigráfico, para obter informações sobre a bacia; pioneiro, para verificar uma estrutura mapeada, de extensão ou delimitação e determinar os limites de um campo; de produção, para produzir os hidrocarbonetos; de injeção, para injetar água ou gás no reservatório, além de outros fins menos comuns, como apagar um incêndio em poço em erupção. Os custos com a perfuração de poços são significativos, sendo bem mais elevados em se tratando de poços offshore. A perfuração de poços tem diversas finalidades e pode ocorrer em várias fases da exploração e produção de petróleo. Os poços estratigráficos são utilizados na fase de produção; na avaliação de descobertas têm vez os poços de extensão e de delimitação; os poços de produção e de injeção podem ser perfurados tanto na fase de desenvolvimento como na de produção de um campo. Mesmo com os recursos tecnológicos oriundos dos métodos sísmicos, somente com a perfuração de um poço é que se comprovará ou não a tese de acumulação proposta nas análises geológicas e geofísicas. Tecnicamente, a perfuração consiste no conjunto de várias operações e atividades necessárias para atravessar as formações geológicas que formam a porção superficial da crosta terrestre, com objetivos predeterminados, até atingir-se o objetivo principal, que é a prospecção de hidrocarbonetos. Nas atividades de perfuração de poços de petróleo utilizam-se sondas de perfuração, que consistem em um conjunto de equipamentos bastante complexos, existindo grande variedade de tipos. Tais sondas podem ser terrestres ou marítimas, conforme o local de operação. Uma característica que chama a atenção nas sondas de perfuração é a presença de uma torre (torre de perfuração ou derrick), cuja finalidade é permitir que os tubos de perfuração sejam manuseados em seções de três tubos, o que confere maior agilidade à operação. 2.2.1. Equipamentos da sonda de perfuração Todos os equipamentos de uma sonda rotativa responsáveis por determinada função na perfuração de um poço são agrupadas nos chamados “sistemas” de uma sonda. Os principais sistemas são: • Sustentação de cargas. • Geração e transmissão de energia. • Movimentação de carga. • Rotação. • Circulação. • Segurança do poço. • Monitoração. • Sistema de superfície (coluna de perfuração). 18 2.2.1.1. Sistema de sustentação de cargas O sistema de sustentação de cargas é constituído do mastro ou torre, da subestrutura e da base ou fundação. Em perfurações marítimas pode não existir fundações, no caso de plataformas flutuantes. A Figura 2.1 mostra um esquema de uma sonda rotativa. Figura 2.1 – Esquema de uma sonda rotativa A torre ou mastro é uma estrutura de aço especial, de forma piramidal, de modo a prover um espaçamento vertical livre acima da plataforma de trabalho para permitir a execução das manobras. Uma torre é constituída de um grande número de peças que são montadas uma a uma, enquanto que o mastro é uma estrutura treliçada ou tubular subdividida em três ou quatro seções. Apesar de seu maior custo inicial e menor estabilidade, o mastro tem sido preferido em operações de prospecção pela facilidade economia de tempo nas montagens em perfurações terrestres. A subestrutura é um espaço destinado à instalação dos equipamentos de segurança do poço. Fica localizada abaixo da plataforma de trabalho da sonda, e é construída com vigas de aço especial. O estaleiro é uma estrutura metálica constituída de vigas apoiadas acima do solo por pilaretes. Fica posicionado em frente a sonda e possibilita manter todas as tubulações (comandos, tubos de perfuração, revestimentos, etc.) dispostas paralelamente a uma passarela para facilitar o manuseio. A Figura 2.2 ilustra o estaleiro. 19 Figura 2.2 – Estaleiro 2.2.1.2. Sistema de geração de energia A energia necessária para acionamento dos equipamentos de uma sonda de perfuração é normalmente fornecida por motores diesel. Nas sondas marítimas em que exista produção de gás é comum e econômica a utilização de turbinas a gás para geração de energia para toda a plataforma. Quando disponível, a utilização de energia elétrica de redes públicas pode ser vantajosa, principalmente quando o tempo de permanência da sonda em cada locação for elevado. 2.2.1.3. Sistema de movimentação de cargas O sistema de movimentação de carga permite movimentar as colunas de perfuração, de revestimento e outros equipamentos. Os principais componentes do sistema são: • Guincho. • Bloco de coroamento. • Catarina. • Cabo de perfuração. • Gancho. • Elevador. A Figura 2.3 ilustra o sistema de movimentação de cargas 20 Figura 2.3 – Sistema de movimentação de carga 2.2.1.4. Sistema de rotação O sistema de rotação convencional é constituído de equipamentos que promovem ou permitem a livre rotação da coluna de perfuração. Estes equipamentos são: • Mesa rotativa. • Kelly • Cabeça de circulação ou swivel. Estes equipamentos estão ilustrados na Figura 2.4 Figura 2.4 – Equipamentos de rotação. 2.2.1.5. Sistema de circulação São equipamentos que permitem a circulação e o tratamento do fluido de perfuração. Em uma circulação normal, o fluido de perfuração é bombeado através da coluna de perfuração até a broca, retornando pelo espaço anular até a superfície, trazendo consigo os cascalhos cortados pela broca. Na superfície o fluido permanece dentro de tanques, após receber tratamento adequado. Na Figura 2.5 são mostradas as bombas de lama. 21 Figura 2.5 – Bombas de lama. 2.2.1.6. Sistema de segurança do poço O sistema de segurança é constituído dos Equipamentos de Segurança de Cabeça de Poço (ESCP) e de equipamentos complementares que possibilitam o fechamento e controle do poço. O mais importante deles é o Blowout Preventer (BOP), que é um conjunto de válvulas que permite fechar o poço. Os preventores são acionados sempre que houver ocorrência de um kick, fluxo indesejável do fluido contido numa formação para dentro do poço. Se este fluxo não for controlado eficientemente poderá se transformar num blowout, ou seja, poço fluindo totalmente sem controle, e criar sérias conseqüências, tais como dano aos equipamentos da sonda, acidentes pessoais, perda parcial ou total do reservatório, poluição e dano ao meio ambiente, etc. Os principais elementos do sistema de segurança são: • Cabeça de poço • Preventores. 2.2.1.7. Sistema de monitoração São os equipamentos necessários ao controle da perfuração: manômetros, indicadores de peso sobre a broca, indicador de torque, tacômetro, etc. Eles podem ser classificados em indicadores, que apenas indicam o valor do parâmetro em consideração, e registradores, que traçam curvas dos valores medidos. 22 2.2.2. Colunas de perfuração Para realizar a perfuração se utiliza um conjunto-ferramenta que constitui a coluna de perfuração. Estando a broca instalada na extremidade inferior da coluna, na perfuração é preciso dispor a ferramenta com energia de rotação e peso suficientes para cortar as formações rochosas. Desta forma, a coluna é composta, entre outros acessórios, dos seguintes elementos: • Tubos de comando, também conhecidos em inglês por drill collars, que exercem peso sobre a broca e dão rigidez à coluna. • Tubos pesados, de material duro e resistente à fadiga, que transmitem parte da rigidez dos comandos para os tubos de perfuração. • Tubos de perfuração (drill pipes). A Figura 2.6 mostra um esquema de coluna de perfuração. Figura 2.6 – Esquema de coluna de perfuração Outros acessórios e ferramentas também fazem parte do aparato, permitindo arranjos conforme critérios técnicos específicos, além, é claro, do aparelhamento de suporte, como motores, bombas, mesa rotativa etc. Relativamente às brocas empregadas, existem diversos tipos, variando em termos de aplicação, diâmetro e material, como as de aço-liga e as de diamantes naturais ou artificiais. Normalmente são classificadas em brocas sem partes móveis (não possuem rolamentos e partes móveis) e brocas com partes móveis, que possuem de um a quatro cones formando a estrutura cortante e os rolamentos, desta forma apresentando maior eficiência com relação às primeiras. 23 2.2.3. Fluidos de perfuração Na fase de perfuração de um poço de petróleo, empregam-se fluidos de perfuração também conhecido por lamas de perfuração. São misturas complexas de produtos químicos, líquidos, sólidos e às vezes até gases, cujo objetivo principal é lubrificar a broca e garantir uma perfuração ágil e segura. A lama é injetada por dentro da coluna de perfuração retornando pelo espaço anular existente entre a coluna de perfuração e as paredes do poço ou do revestimento. Basicamente, são estas funções que o fluido deve ter: • Limpar o fundo do poço, removendo e transportando à superfície os cascalhos cortados pela broca. • Lubrificar e refrigerar da coluna de perfuração. • Exercer uma pressão hidrostática de controle à pressão dos fluidos das formações atravessadas, estabilizando as paredes do poço. A escolha do tipo de fluido deve ser criteriosa, pois um fluido de má qualidade ocasionará problemas na perfuração, o que significa aumento nos custos. Características como estabilidade química, fluidez e custo/benefício compatível com a fase operacional também devem ser observadas. 2.2.4. Operações normais de perfuração As operações normais que envolvem a atividade de perfuração são ditas de rotina. A conexão dos tubos de perfuração é um exemplo bem típico de tais operações. Cumpre à equipe da sonda executá-las, acrescentando seções de três tubos à coluna de perfuração, deste modo penetrando aos poucos as formações. Ao se perceber o término da vida útil da broca, necessária se faz sua substituição, operação conhecida como manobra da coluna. Tal operação consiste em se retirar toda a coluna do poço, a fim de que uma broca nova seja instalada. Tanto na descida quanto na retirada da coluna, as seções de tubos, formadas por três unidades, são devidamente posicionadas na torre, na posição vertical, de modo a permitir maior agilidade e racionalidade no manuseio das ferramentas. 2.2.5. Operações especiais de perfuração São operações diferenciadas, indispensáveis em casos específicos. Apresentam-se a seguir alguns exemplos: Perfilagem: Uma vez perfurado o poço, são descidos em seu interior alguns equipamentos especiais cuja finalidade é mensurar algumas propriedades das formações que farão parte da caracterização e avaliação econômica do mesmo. 24 A operação consiste no levantamento de características e propriedades das rochas perfuradas, que são registradas, graficamente, em função da profundidade, mediante o deslocamento de um sensor dentro do poço. As principais características registradas são: resistividade elétrica, radioatividade, potencial eletroquímico, velocidade sísmica etc. Da análise dos perfis, pode se identificar, por exemplo, as formações rochosas atravessadas, calcular suas espessuras e porosidades, e identificar os tipos de fluidos presentes nos poros das rochas. Revestimento de Poço: A principal necessidade de se revestir um poço total ou parcialmente é devida à proteção de suas paredes. Os riscos de desmoronamento são consideráveis, havendo também diversos outros motivos que prescindem do revestimento. Sendo o poço perfurado em fases, vão sendo revestidos com tubos de aço especial, colocados uns por dentro dos outros, formando as colunas de revestimento. No começo da operação, o tubo inicial tem pequena extensão, e diâmetro maior do que os posteriores, formando um ajuste tipo telescópico para formar a coluna de revestimento. À medida que o diâmetro diminui, o revestimento inicial, antes dito de superfície, passa a ser chamado de intermediário e, depois, de revestimento de produção. Além da proteção das paredes, são estas as principais funções da coluna de revestimento: • Não permitir a perda de fluido de perfuração para as formações. • Permitir o retorno do fluido de perfuração à superfície, para o devido tratamento. • Evitar a contaminação da água de possíveis lençóis freáticos. • Dar suporte para os equipamentos de cabeça do poço etc. A Figura 2.7 ilustra a seqüência de perfuração de um poço. Cimentação de Revestimento: Uma vez instalada a coluna de revestimento do poço, o espaço anular entre a coluna e a parede do poço é cimentado (preenchido com uma mistura cimento/água), visando uma melhor fixação da coluna e isolando as zonas porosas e permeáveis atravessadas pelo poço. Esta operação é feita por tubos condutores auxiliares, sendo que no revestimento de superfície toda a extensão é cimentada e, nos demais, normalmente só a parte inferior, ou intervalos predefinidos. Testemunhagem de Poço: A testemunhagem consiste na obtenção de uma amostra da formação rochosa de subsuperfície, o testemunho, cuja finalidade é analisar informações úteis e pertinentes à avaliação do poço, à equipe de engenharia de reservatórios, aos geólogos etc. A operação é realizada com uma broca vazada e dois barriletes, um externo que gira com a coluna, e outro interno, que aloja o testemunho. À medida que a broca avança o cilindro, vai se alojando no interior do barrilete interno durante a perfuração. 25 Figura 2.7 – Seqüência de perfuração de um poço Completação de Poços de Petróleo: Após a perfuração de um poço vem a fase de completação, que consiste numa série de operações que têm por objetivo permitir a produção econômica e segura de hidrocarbonetos, bem como injetar fluidos no reservatório quando necessário. Entre as operações destacam-se a descida do revestimento de produção, com o posterior "canhoneio" (utilização de uma carga explosiva que rompe o revestimento e coloca o reservatório produtor em comunicação com o poço) e a instalação da cabeça de poço. 2.3. Completação Ao terminar a perfuração de um poço, é necessário deixá-lo em condições de operar, de forma segura e econômica, durante toda a sua vida produtiva. Ao conjunto de operações destinadas a equipar o poço para produzir óleo ou gás (ou ainda injetar fluidos) nos reservatórios) denomina-se completação. 26 2.3.1. Equipamento de cabeça de poço Em sua parte superior, o poço recebe um equipamento chamado cabeça de poço, com configurações diferentes, conforme se esteja perfurando ou produzindo através do poço. Tem como função primordial a vedação das colunas de revestimento, bem como servir de ancoragem para as mesmas. Durante a produção, instala-se sobre a cabeça de poço um conjunto de válvulas chamado de árvore de natal, com dispositivos de segurança e controle de produção, além de vários outros itens possíveis. No caso de completação de poços em terra, a árvore de natal fica na superfície. No caso de completação de poço no mar, tais equipamentos são bem mais complexos, podendo estar alocados na superfície (na plataforma) ou na água (submarina); as submarinas podem ser do tipo árvore de natal seca, em cápsula, (protegida da água e da pressão externa) ou molhada (exposta à água). A Figura 2.8 mostra uma árvore de natal convencional (ANC), e a Figura 2.9 apresenta uma árvore de natal molhada (ANM). Figura 2.9 – Árvore de natal molhada Figura 2.8 – Árvore de natal convencional 2.3.2. Etapas de uma completação A completação de um poço envolve um conjunto de operações subseqüentes à perfuração. Uma completação típica de um poço marítimo, com árvore de natal convencional e equipamentos de gas lift, obedece às seguintes fases, em seqüência cronológica. Com pequenas diferenças, estas fases são as mesmas para a completação de um poço terrestre. 27 2.3.2.1. Instalação dos equipamentos de superfície Basicamente são instalados a cabeça de produção e o BOP (ver item 2.1.1.6) para permitir o acesso ao interior do poço, com toda a segurança necessária, para a execução das demais fases. No mar, em águas rasas, pode-se trazer a cabeça do poço até a superfície, prolongando-se os revestimentos que se encontram ancorados nos equipamentos instalados no fundo do mar (tieback). 2.3.2.2. Condicionamento do poço Uma vez instalados os equipamentos de superfície, procede-se à fase de condicionamento do revestimento de produção e à substituição do fluido que se encontra no interior do poço por um fluido de completação. Para o condicionamento, é descida uma coluna com broca e raspador, como mostra a Figura 2.10, de modo a deixar o interior do revestimento de produção (e liner, quando presente) gabaritados e em condições de receber os equipamentos necessários. A broca é utilizada para cortar os tampões de cimento e tampões mecânicos porventura existentes no interior do poço, bem como restos da cimentação. Figura 2.10– Condicionamento do poço. 2.3.2.3. Avaliação da qualidade da cimentação A cimentação tem a função principal de promover a vedação hidráulica entre os diversos intervalos permeáveis, ou inclusive dentro de um mesmo intervalo, impedindo a migração de fluidos por trás do revestimento, bem como proporcionar suporte mecânico para o revestimento. 28 Para avaliar a qualidade da cimentação são utilizados, são utilizados instrumentos de medição baseados em propriedades acústicos, que medem a aderência do cimento ao revestimento e do cimento à formação rochosa. 2.3.2.4. Canhoneio A última coluna de revestimento, a de produção, é canhoneada, isto é, perfurada horizontalmente, por certo tipo de cargas explosivas, bem em frente à formação produtora, de modo a permitir que o petróleo possa atravessar a pasta de cimento existente em volta do revestimento, assim como as suas paredes metálicas, e chegar ao interior do poço, para ser produzido. A Figura 2.11, mostra o resultado de disparos para canhoneio da formação produtora. Na prática, vários disparos podem ser necessários e recomendáveis, com o fim de abranger toda a espessura produtora. Figura 2.11 – Canhoneio 2.3.2.5. Instalação da coluna de produção Por dentro do revestimento de produção se desce a coluna de produção, um tubo de pequeno diâmetro, da ordem de 3 polegadas, por onde se produz o petróleo. A produção pode ser natural ou artificial, isto é, bombeio ou injeção de gás no poço. A coluna de produção é mostrada na Figura 2.12, e é constituída basicamente por tubos metálicos, onde são conectados os demais componentes. É baixada pelo interior do revestimento de produção e tem as seguintes funções: • Conduzir os fluidos produzidos até a superfície, protegendo o revestimento contra fluidos agressivos e pressões elevadas. • Permitir a instalação de equipamentos para elevação artificial. • Possibilitar a circulação de fluidos para o amortecimento do poço, em intervenções futuras. 29 2.3.2.6. Colocação do poço em produção A surgência dos fluidos na superfície pode ser induzida por válvulas de gas-lift, pelo flexitubo, pela substituição do fluido da coluna por outro mais leve ou por pistoneio, que são formas de aliviar a pressão hidrostática do fluido existente na coluna de produção. Um teste inicial de produção é sempre realizado para medir a vazão de produção e avaliar o desempenho do poço, para que se possam realizar os ajustes necessários. 2.3.3. Principais componentes da coluna de produção Os principais equipamentos de uma coluna de produção são: • Tubos de produção – são os componentes básicos da coluna e representam o maior custo dentre os equipamentos de subsuperfície. • Shear-out – é um equipamento instalado na extremidade inferior da coluna de produção que permite o tamponamento temporário desta. • Hidro-trip – também serve para tamponamento temporário da coluna. • Nipples – servem para assentar tampões mecânicos, válvulas de retenção ou registradores de pressão. • Camisa deslizante (sliding sleeve) – consiste em uma camisa interna que pode ser aberta ou fechada, quando necessário, promovendo a comunicação entre a coluna e o espaço anular. • Check valve – é uma válvula que serve para impedir o fluxo no sentido descendente. • Packer de produção – o obturador, ou packer, tem a função básica de promover a vedação do espaço anular entre o revestimento e a coluna de produção. • Unidade selante – equipamento descido na extremidade da coluna que pode ser apoiado ou travado no packer, promovendo a vedação entre a coluna e o packer. • Junta telescópica (TSR) – o TSR (tubing seal receptacle), ou junta telescópica, é usado para absorver a expansão ou contração da coluna de produção, causada pelas variações de temperatura sofridas quando da produção (ou injeção) de fluidos. • Mandril de gas-lift – os mandris de gas-lift são os componentes da coluna de produção que servem para alojar as válvulas que permitiram a circulação do gás do espaço anular para a coluna de produção. • Válvulas de segurança de subsuperfície (DHSV) – é um componente da coluna de produção que fica posicionado normalmente a cerca de 30m abaixo do fundo do mar e tem a função de fechar o poço em casos de emergência. A DHSV contém uma mola que tende a fechá-la, sendo mantida aberta por meio de uma linha de controle, conectada à superfície, permanentemente pressurizada. Ocorrendo despressurização desta linha a válvula fecha. 30 Figura 2.12 – Coluna convencional de produção equipada com gas-lift 2.3.4. Equipamentos de superfície São os equipamentos responsáveis pela ancoragem da coluna de produção, pela vedação entre a coluna e o revestimento de produção e pelo controle do fluxo de fluidos na superfície. Existe m diversos equipamentos padronizados que integram os vários sistemas de cabeça de poço, para completação de poços terrestres e marítimos. Os principais equipamentos de cabeça de poço são: • Cabeça de produção – é um carretel com dois flanges e duas saídas laterais. Quando a cabeça de produção é instalada, o flange inferior fica apoiado na cabeça do revestimento de produção e o flange superior recebe a arvore de natal. Nas linhas laterais são conectadas a linha de injeção de gás (poços equipados com gas-lift) e a linha de matar (kill line), para um eventual amortecimento do poço. 31 • Árvore de natal convencional (ANC) – é o equipamento de superfície constituído por um conjunto de válvulas tipo gaveta (com acionamento hidráulico, pneumático ou manual), com a finalidade de controlar a vazão de óleo do poço. • Árvore de natal molhada (ANM) – é um equipamento instalado no fundo do mar, constituído basicamente por um conjunto de válvulas tipo gaveta, um conjunto de linhas de fluxo e um sistema de controle interligado a um painel localizado na plataforma de produção. 2.4. Elevação A facilidade com que o petróleo alcança a superfície está diretamente relacionada com a pressão existente no reservatório. Quando esta pressão é naturalmente suficiente, os fluidos contidos no reservatório chegam facilmente à superfície, ao que chamamos elevação natural. Os poços que produzem por elevação natural são chamados poços surgentes, sendo certo que tais poços, ao longo de sua vida produtiva, acabam por ter um declínio na pressão preexistente, o que dificulta a produção econômica do reservatório. Quando isto se verifica, seja no início ou ao longo de sua vida produtiva, significa que a pressão do reservatório não é suficiente para o petróleo surgir, sendo necessária a utilização de métodos de elevação artificial para que possa produzir. Tais métodos consistem na utilização de equipamentos que visam aumentar o diferencial de pressão sobre o reservatório, aumentando sua vazão. Os métodos de elevação artificial mais comuns na indústria do petróleo são: • Gas-lift contínuo e intermitente (GLC e GLI). • Bombeio centrífugo submerso (BCS). • Bombeio mecânico com hastes (BM). • Bombeio por cavidades progressivas (BCP). 2.4.1. Elevação natural – poços surgentes Na elevação natural de petróleo, o fluxo de fluidos (óleo, água e gás) desde o reservatório até os equipamentos de produção na superfície (separadores, tratadores e tanques) é devido unicamente à energia do reservatório, que é função da pressão do gás natural no seu interior. Normalmente ocorre no início da vida produtiva das jazidas. Com o passar do tempo e o aumento da produção acumulada, a pressão do reservatório diminui, tornando-se insuficiente para elevar os fluidos até a superfície com uma vazão econômica ou conveniente. A Figura 2.13 ilustra um esquema de elevação natural. 32 Figura 2.13 – Elevação natural Comparando-se com poços que produzem por elevação artificial, os surgentes produzem com menores problemas operacionais devido a simplicidade dos equipamentos de superfície e subsuperfície, com maiores vazões de líquido e, em conseqüência, com menor custo por unidade de voluma produzido. 2.4.2. Gas-lift É um método bastante utilizado por ter um custo relativamente baixo, mesmo em se tratando de poços profundos. Consiste na utilização de gás comprimido para elevar os fluidos até a superfície. A energia gerada pelo gás comprimido tem excelente potencial, permitindo boa condução de fluidos, mesmo com alto teor de areia e sedimentos, propiciando vazões até 1500 m3/d a grandes profundidades (2.400 metros), o que logicamente vai depender da pressão de injeção. Existem dois tipos de gas-lift, o contínuo e o intermitente. O contínuo é semelhante à elevação natural, baseia-se na injeção continua de gás a alta pressão na coluna de produção com o objetivo de gaseificar o fluido desde o ponto de injeção até a superfície. O gas-lift intermitente baseia-se no deslocamento de golfadas de fluidos para a superfície através da injeção de gás a alta pressão na base das golfadas. A Figura 2.14 ilustra esquematicamente poços equipados com gas lift. O sistema é composto por: • Fonte de gás a lata pressão (compressores). • Controlador de injeção de gás na superfície (choke ou motor valve). • Controlador de injeção de gás de subsuperfície (válvulas de gas-lift). • Equipamentos para separação e armazenamento dos fluidos produzidos (separadores, tanques, etc.). 33 Figura 2.14 – Sistema de gas-lift A Figura 2.15 ilustra esquematicamente os tipos de instalação de gas-lift, que pode ser tipo aberta, semi-fechada ou fechada, cuja escolha depende das características do poço. Figura 2.15 – Tipos de instalação de gas-lift 2.4.3. Bombeio centrífugo submerso Neste método utiliza-se uma bomba centrífuga de múltiplos estágios no interior do poço. A energia necessária para o funcionamento da bomba é transmitida para o fundo do poço através de um cabo elétrico. O funcionamento da bomba transmite energia ao fluido sob a forma de pressão, elevando-o para a superfície. Este método vem experimentando bastante incremento em sua aplicação, pela disponibilidade de equipamentos existentes e pela funcionalidade. 34 Cabe ressaltar que a escolha por métodos diversos dependerá de várias características técnicas do poço em questão, em observância ao melhor custo/benefício. A Figura 2.16 ilustra esquematicamente um poço produtor com bombeamento centrífugo submerso. Os principais equipamentos de subsuperfície de um poço equipado para produzir com bombeamento centrífugo submerso (BCS) são: • Bomba – do tipo centrífugo de múltiplos estágios. • Admissão da bomba. • Protetor. • Motor elétrico. • Cabo elétrico. Figura 2.16 – Poço produtor por bombeio centrifugo submerso 2.4.4. Bombeio mecânico com hastes Este método é o mais conhecido e utilizado em todo o mundo, popularmente conhecido como bombeio com "cavalo de pau", ilustrada na Figura 2.17. O princípio de funcionamento é a transformação do movimento rotativo de um motor elétrico ou de combustão, em movimento alternativo, que através das hastes de uma coluna transmite este movimento para o fundo do poço, acionando uma bomba que eleva os fluidos até a superfície. Em poços rasos obtém-se vazões médias de trabalho, mas, à medida que a profundidade aumenta, a vazão diminui, devendo ser analisados critérios de viabilidade na produção. Os principais componentes do bombeio mecânico com hastes são: 35 • Bomba de subsuperfície – do tipo alternativo. • Coluna de hastes. • Unidade de bombeio. • Motor. Figura 2.17 – Sistema de bombeio mecânico 2.4.5. Bombeio por cavidades progressivas O bombeio por cavidades progressivas (BCP) é um método de elevação artificial em que a transferência de energia ao fluido é feita através de uma bomba de cavidades progressivas. É uma bomba de deslocamento positivo que trabalha imersa em poço de petróleo, constituída de rotor e estator. A geometria do conjunto é tal que forma uma série de cavidades herméticas idênticas. O rotor ao girar no interior do estator origina um movimento axial das cavidades, progressivamente, no sentido da sucção para a descarga, realizando a ação de bombeio. O acionamento da bomba pode ser originado da superfície, por meio de uma coluna de hastes e um cabeçote de acionamento, ou diretamente no fundo do poço, por meio de um acionador elétrico ou hidráulico acoplado à bomba. A utilização de bombas de cavidades progressivas para elevação artificial de petróleo no Brasil teve início em 1984, em fase experimental. Devido à simplicidade do método e à eficiência na produção de fluidos viscosos, o número de instalações com este tipo de equipamento tem se difundido rapidamente. A Figura 2.18 ilustra o bombeio por cavidades progressivas. 36 Figura 2.18 – Sistema de bombeio por cavidades progressivas 2.5. Segurança no poço À ocorrência do fluxo indesejável de quaisquer fluidos para fora do poço, determinando a perda de controle em sua operação, dá-se o nome de Blowout. Tal ocorrência pode acarretar sérias conseqüências, como acidentes pessoais, dano ao reservatório e aos equipamentos, agressão ao meio ambiente, etc. Um blowout pode lançar toneladas de petróleo no oceano, além de, quando associados a fogo, lançarem enormes quantidades de poluição na atmosfera em um curto espaço de tempo. O maior blowout de que se tem notícia ocorreu no México, em 1979, derramando mais de 1 milhão de toneladas de óleo cru no mar. No Brasil, um campo de gás batizado Mapele, localizado na Bacia do Recôncavo, a cerca de 20 km de Salvador e a poucos metros do acostamento da estrada Rio-Bahia, tornou-se atração turística em 1962. Na finalização da perfuração do poço, iniciou-se um blowout que se estendeu por um ano e meio, alimentando uma chama que atingiu altura aproximada de 80 metros. A pressão do reservatório superou a pressão da lama de perfuração e venceu os equipamentos de segurança, e não obstante todos os esforços para controlar o fogo (perfuração de poços para injeção de água), a chama só parou de queimar quando o reservatório se exauriu. Devido à probabilidade de eventos dessa natureza, e tendo em vista que o fator segurança é primordial em todos os aspectos, os poços são dotados de equipamentos de segurança que permitem controlá-los e até fechá-los se necessário. Merece destaque o Blowout Preventer (BOP), que é um conjunto de válvulas que possibilita o fechamento do poço. A Figura 2.19 o equipamento de segurança da cabeça de poço, e a Figura 2.20 mostra um poço em chamas durante a guerra no Iraque. 37 Figura 2.19 – Equipamento de segurança da cabeça de poço Figura 2.20 – Incêndio em um poço (guerra no Iraque) 2.6. Processamento primário do petróleo Durante a fase produtiva de um campo de petróleo, além da prospecção de óleo ocorre também a prospecção de água, gás e sedimentos contidos no reservatório. Tendo em vista que o interesse é relativo apenas à produção de hidrocarbonetos (óleo e gás), e que a presença de outras substâncias pode influir negativamente em diversos aspectos, tais como transporte e segurança operacional, faz-se necessário um processamento primário in loco, isto é, na própria unidade de produção, seja ela terrestre ou marítima. Este processamento dependerá de critérios de viabilidade técnico-econômicos, que demandará unidades de processamento mais simples, baseando-se na decantação, utilização de vasos separadores e outros processos físico-químicos, para separação água/óleo/gás, ou mais complexas, que incluem tratamento do óleo, a compressão do gás e o tratamento da água para descarte ou reinjeção no poço para facilitar a surgência do petróleo. Em síntese, o processamento primário se faz necessário, entre outros fatores: • Para promover a retirada de parte das impurezas em suspensão. • Para tratar a água de modo a devolvê-la livre de impurezas (resíduo de óleo, gás carbônico etc.) ao meio ambiente ou utilizá-la para reinjeção. • Para facilitar o transporte para os terminais e refinarias. 38 • Para diminuir problemas de corrosão e incrustação (em função da presença de óxidos, sulfetos de ferro, carbonato de cálcio e outras substâncias na composição da água). • Para aumentar a vida útil de equipamentos e catalisadores em processos de refino. • Para reduzir os gastos com produtos químicos utilizados para inibir processos corrosivos. Apesar de todos os cuidados adotados no processamento primário, nem sempre é possível a separação e remoção completas da água e do gás. No processamento do gás, parte do mesmo pode ser utilizado como combustível na própria unidade, ou para elevação artificial de petróleo. Se a produção for exceder em muito o consumo, poderá ser transferido para refinarias ou direcionado para queimadores, enquanto que a parte liquefeita poderá ser adicionada ao óleo para transferência e posterior aproveitamento nas unidades de processo. Quanto à água, considerada o mais indesejável dos contaminantes, deverá ser totalmente removida quando chegar à refinaria, pelos motivos vistos anteriormente. A transferência se faz por oleodutos ou navios, e sempre haverá alguma água contendo sais nocivos às unidades de processo. O fluxograma do processamento primário do petróleo é mostrado na Figura 2.21. Figura 2.21 – Fluxograma do processamento primário de petróleo Os fluidos passam inicialmente por separadores que podem ser bifásicos ou trifásicos, atuando em série ou em paralelo. No separador bifásico ocorre a separação gás/líquido, enquanto que no separador trifásico ocorre, também, a separação água/óleo. Os separadores são fabricados nas formas vertical e horizontal, e estão ilustrados na Figura 2.22. 39 Figura 2.22 – Esquema de um separador (a) bifásico e (b) trifásico 40 UNIDADE III Plataformas marítimas - classificação Para se explorar petróleo no mar são utilizadas técnicas bem semelhantes às utilizadas em terra. As primeiras sondas para perfuração marítima eram as mesmas sondas terrestres adaptadas a uma estrutura que permitisse perfurar em águas rasas. No entanto, diante da necessidade de se perfurar cada vez mais em águas profundas, novas técnicas foram surgindo, orientadas especificamente para o atendimento dessas necessidades. As instalações de produção, armazenamento e exportação de petróleo, no mar, tornaram-se bastante complexas e variadas, para receber o petróleo produzido dos poços; fazer a separação e o tratamento dos fluidos produzidos; em alguns casos, armazená-los; e finalmente distribuí-los para terra ou para navios armazenadores. Estas instalações, dependendo da profundidade e da distância do litoral, podem enviar o petróleo/gás para a terra, através de dutos, ou então para navios armazenadores. As plataformas podem ser classificadas de várias formas, como, por exemplo, pela finalidade (perfuração de poços, produção de poços, sinalização, armazenamento, alojamento etc.), pela mobilidade (fixas ou móveis), pelo tipo de ancoragem etc. As plataformas têm sua utilização condicionada a alguns aspectos relevantes como a profundidade da lâmina d'água, relevo do solo submarino, a finalidade do poço e a melhor relação custo/benefício. Figura 3.1 – Tipos de plataformas marítimas 41 A Figura 3.1 mostra quatro tipos de plataformas, empregadas para prospecção e produção no mar, da esquerda para a direita identificamos as plataformas: fixa, auto-elevável, semi-submersível e navio plataforma. 3.1. Plataformas fixas As plataformas fixas ilustradas na Figura 3.2, são estruturas apoiadas no fundo do mar por meio de estacas cravadas no solo com o objetivo de permanecerem no local de operação por longo tempo. Foram as primeiras a serem utilizadas, têm sido as preferidas nos campos localizados em lâminas d’água até 300m, e este também é o seu limite de utilização. Devido ao custo elevado, compreendido entre projeto, montagem e instalação, sua aplicação é restrita a campos que já tiveram sua exploração comercial comprovada. Figura 3.2 – Plataforma fixa As plataformas fixas são projetadas para receberem todos os equipamentos de perfuração, estocagem de materiais, alojamento de pessoal, bem como todas as instalações necessárias para a produção dos poços. 3.2. Plataformas auto-eleváveis As plataformas auto-eleváveis (PAs) ilustradas na Figura 3.3, são constituídas, basicamente, de uma balsa equipada com estruturas de apoio, ou pernas, que acionadas mecânica ou hidraulicamente movimentam-se para baixo até atingirem o fundo do mar. Em seguida, inicia-se a elevação da plataforma acima do nível da água, a uma altura segura e fora da ação das ondas. 42 Figura 3.3 – Plataforma auto-elevável São plataformas móveis, sendo transportadas por rebocadores ou com propulsão própria, destinadas à perfuração de poços exploratórios na plataforma continental, em lâminas d'água que variam de 5 a 130 metros. Devido à estabilidade desta unidade, as operações de perfuração são semelhantes às realizadas em terra. Os revestimentos são assentados no fundo do mar e estendidos até a superfície, abaixo da subestrutura. Aí é conectado o equipamento de segurança e controle de poço (ESCP), que é similar ao utilizado em terra. Estatisticamente, este é o tipo de unidade de perfuração marítima que tem sofrido maior número de acidentes. As operações de elevação e abaixamento são críticas e sofrem bastante influência das condições de tempo e mar. Nos deslocamentos apresentam dificuldades quanto ao reboque e, para grandes movimentações, devem ser retiradas seções das pernas para melhorar sua estabilidade. 3.3. Plataformas submersíveis As plataformas submersíveis constam de uma estrutura montada sobre um flutuador, utilizadas basicamente em águas calmas, rios e baías com pequena lâmina d'água. São deslocadas até a locação com auxílio de rebocadores. Ao chegar na locação, são lastreadas até seu casco inferior se apoiar no fundo, em geral macio e pouco acidentado. A sua utilização é limitada devido à sua pequena capacidade de lâmina d'água. Este tipo de plataforma está ilustrado na Figura 3.4. 43 Figura 3.4 – Plataforma semi-submersível 3.4. Plataformas flutuantes Esta classificação diz respeito aos navios sonda, e às plataformas semi-submersíveis. Os navios sonda (FPSO - Floating, Production, Storage and Offloading) vêm apresentando vantagens logísticas nas operações e hoje, ao invés de serem adaptados, são especialmente projetados para operações de perfuração. Possuem um sistema de ancoragem especial, além de um sistema de posicionamento dinâmico que lhe permitem manter a posição e deste modo não danificar equipamentos e prejudicar as operações, em função da ação dos ventos, ondas e correntes marinhas. Já as plataformas semi-submersíveis são estruturas apoiadas por colunas sustentadas por flutuadores submersos, podendo ou não ter propulsão própria, sendo bastante requeridas para perfuração de poços exploratórios. 3.4.1. Plataformas semi-submersíveis As plataformas semi-submersíveis são compostas de uma estrutura de um ou mais conveses, apoiada por colunas em flutuadores submersos. Uma unidade flutuante sofre movimentações devido à ação das ondas, correntes e ventos, com possibilidade de danificar os equipamentos a serem descidos no poço. Por isso, torna-se necessário que ela fique posicionada na superfície do mar, dentro de um círculo com raio de tolerância ditado pelos equipamentos de subsuperfície, operação esta a ser realizada em lamina d`água. Dois tipos de sistema são responsáveis pelo posicionamento da unidade flutuante: o sistema de ancoragem e o sistema de posicionamento dinâmico. O sistema de ancoragem é constituído de 8 a 12 âncoras e cabos e/ou correntes, atuando como molas que produzem esforços capazes de restaurar a posição do flutuante quando é modificada pela ação das ondas, ventos e correntes. 44 No sistema de posicionamento dinâmico, não existe ligação física da plataforma com o fundo do mar, exceto a dos equipamentos de perfuração. Sensores acústicos determinam a deriva, e propulsores no casco acionados por computador restauram a posição da plataforma. As plataformas semi-submersíveis podem ou não ter propulsão própria. De qualquer forma, apresentam grande mobilidade, sendo as preferidas para a perfuração de poços exploratórios. Figura 3.5 – Plataforma semi-submersível 3.4.2. Navio sondas Navio-sonda é um navio projetado para a perfuração de poços submarinos. Sua torre de perfuração localiza-se no centro do navio, onde uma abertura no casco permite a passagem da coluna de perfuração. O sistema de posicionamento do navio-sonda, composto por sensores acústicos, propulsores e computadores, anula os efeitos do vento, ondas e correntes que tendem a deslocar o navio de sua posição. Figura 3.6 – Navio sonda 45 Os movimentos de uma sonda são considerados em um sistema de eixos XYZ e divididas em seis categorias, sendo três de rotação e três de translação, como mostrado na Figura 3.6. Figura 3.7 – Movimentos de uma sonda a) Movimentos na horizontal - Avanço ou Surge, que é a translação na direção X. - Deriva ou Sway, translação na direção Y. - Guinada ou Yaw, rotação em torno do eixo Z. b) Movimentos na vertical - Afundamento ou Heave, translação na direção Z. - Jogo ou Roll, rotação em torno do eixo X. - Arfagem ou Pitch, rotação em torno do eixo Y. 3.4.3. Plataformas tipo FPSO As plataformas do tipo FPSOs (Floating, Production, Storage and Offloading), ilustrada na Figura 3.8, são navios com capacidade para processar e armazenar o petróleo, e prover a transferência do petróleo e/ou gás natural. No convés do navio, é instalada uma planta de processo para separar e tratar os fluidos produzidos pelos poços. Depois de separado da água e do gás, o petróleo é armazenado nos tanques do próprio navio, sendo transferido para um navio aliviador de tempos em tempos. O navio aliviador é um petroleiro que atraca na popa da FPSO para receber petróleo que foi armazenado em seus tanques e transportá-lo para terra. O gás comprimido é enviado para terra através de gasodutos e/ou reinjetado no reservatório. Os maiores FPSOs têm sua capacidade de processo em torno de 200 mil barris de petróleo por dia, com produção associada de gás de aproximadamente 2 milhões de metros cúbicos por dia. 46 Figura 3.8 – Plataforma PFSO (P50 – Petrobras) 3.5. Plataformas de pernas atirantadas (tension leg) As plataformas de Pernas Atirantadas (Tension-Leg Plataform - TLP) são unidades flutuantes utilizadas para a produção de petróleo. Sua estrutura é bastante semelhante à da plataforma semisubmersível, como ilustra a Figura 3.9. Porém, sua ancoragem ao fundo mar é diferente: as TLPs são ancoradas por estruturas tubulares, com os tendões fixos ao fundo do mar por estacas e mantidos esticados pelo excesso de flutuação da plataforma, o que reduz severamente os movimentos da mesma. Desta forma, as operações de perfuração e de completação são iguais às das plataformas fixas. Figura 3.9 – Plataforma de pernas atirantadas (Tension leg) 47 3.6. Processamento primário do petróleo Um reservatório de petróleo não apresenta apenas o óleo bruto, pronto para ser extraído. Normalmente se verifica a presença de muitos sedimentos, partículas inorgânicas, gás (principalmente metano, associado ou não) e sais. Estas substâncias prejudicam o transporte do petróleo até as refinarias, além de serem consideradas nocivas aos equipamentos de processo, de tal sorte que se faz necessário um tratamento "in loco", logo após a extração. Os problemas com transporte via dutos são reduzidos com a retirada de sais, água e sedimentos, que ocasionam corrosão e acumulação de sólidos nas tubulações; o gás também contém substâncias corrosivas, além de ser inflamável e explosivo, devendo ser separado o quanto possível. Assim, nos próprios campos de produção é realizado um tratamento primário que consiste na separação óleo-gás-água, através de decantação e desidratação. A decantação é simples, ocorrendo a separação de fases de acordo com a diferença de densidades. A desidratação consiste na adição de uma substância química desemulsificante que agrega as moléculas de água, desta forma permitindo retirar o máximo da água emulsionada no óleo durante a produção. Somente após este processamento primário o petróleo pode ser enviado à refinaria, dentro das especificações exigidas, isto é, no máximo 1% de água e sedimentos (BSW – basic sediments and water), e mínimo teor de gases e sais. 48 UNIDADE IV Refino de petróleo O petróleo bruto é uma complexa mistura de hidrocarbonetos que apresenta contaminações variadas de enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais. A composição exata dessa mistura varia significativamente em função do seu reservatório de origem. No seu estado bruto, o petróleo tem pouquíssimas aplicações, servindo quase que somente como óleo combustível. Para que o potencial energético do petróleo seja aproveitado ao máximo, ele deve ser submetido a uma série de processos, a fim de se desdobrar nos seus diversos derivados. O refino do petróleo consiste na série de beneficiamentos pelos quais passa o mineral bruto para a obtenção desses derivados, estes sim, produtos de grande interesse comercial. Esses beneficiamentos englobam etapas físicas, e químicas de separação, que originam as grandes frações de destilação. Estas frações são então processadas através de uma outra série de etapas de separação e conversão que fornecem os derivados finais do petróleo. Refinar petróleo é, portanto, separar as frações desejadas, processá-las e lhes dar acabamento, de modo a se obterem produtos vendáveis. Refino de petróleo constitui a separação deste insumo, via processos físico-químicos, em frações de derivados, que são processados em unidades de separação e conversão até os produtos finais. Os produtos finais dividem-se em 3 categorias: • Combustíveis (gasolina, diesel, óleo combustível, GLP, QAV, querosene, coque de petróleo, óleos residuais) - cerca de 90% dos produtos de refino no mundo. • Produtos acabados não combustíveis (solventes, lubrificantes, graxas, asfalto e coque). • Intermediários da indústria química (nafta, etano, propano, butano, etileno, propíleno, butilenos, butadieno, BTX). 4.1. Refinarias Refinarias de petróleo são um complexo sistema de operações múltiplas; as operações que são usadas em uma dada refinaria dependem das propriedades do petróleo que será refinado, assim como dos produtos desejados. Por esta razão, "não existem duas refinarias iguais no mundo". 49 As etapas do processamento de refino de óleo cru são basicamente três: separação, conversão e tratamento. O esquema da Figura 4.1 mostra de forma simplificada as etapas de processo. Em cada etapa existem outras configurações de processo, utilizadas conforme a necessidade, por exemplo, de acordo com o tipo de petróleo, a produção de determinado produto que se visa maximizar etc. As etapas do processo de refino podem ser classificadas em: 1- Processos de separação a. Destilação atmosférica b. Destilação a vácuo c. Estabilização de naftas d. Extração de aromáticos e. Desasfaltação a propano f. Desaromatização a furfural g. Desparafinação a solvente h. Desoleificação a solvente i. Adsorção de N-parafinas 2- Processos de conversão a. Craqueamento térmico b. Craqueamento catalítico c. Visco-redução d. Coqueamento retardado e. Hidrocraqueamento f. Reforma catalítica g. Isomerização catalítica h. Alquilação catalítica i. Polimerização catalítica 3- Processos de tratamento a. Hidrotratamento b. Tratamento cáustico c. Tratamento DEA/MEA d. Tratamento MEROX e. Tratamento BENDER f. Dessalgação eletrostática 50 Figura 4.1 – Etapas do processo de refino Para a realizam destes processos as refinarias utilizam diversos equipamentos, tais como: • Vasos • Torres de destilação • Reatores • Fornos • Trocadores de calor • Bombas • Bombas de vácuo • Caldeiras • Torres de resfriamento Possuem também um complexo sistema de tubulações, instrumentação e controle, além do sistema de geração e distribuição de energia elétrica. Uma refinaria de petróleo é ilustrada na Figura 4.2. Figura 4.2 – Refinaria de petróleo 51 Na Figura 4.3 é apresentado um fluxograma mostrando vários processos existentes em uma refinaria, desde o recebimento do petróleo cru até a obtenção de seus derivados. Figura 4.3 – Fluxograma típico do refino de petróleo A tabela 4.1 mostra, em linhas gerais, os principais produtos das unidades de conversão (unidades downstream). Note-se, porém, que vários produtos podem ser obtidos de diferentes unidades, assim como diferentes unidades podem produzir diferentes produtos (com diferentes qualidades associadas). Isto mostra o grau de complexidade técnica da construção do desenho de uma refinaria. Mostra também que não há como otimizar uma refinaria para um único produto apenas. 52 Tabela 4.1 – Frações ou cortes iniciais Gás combustível (C1 – C2) Combustível de refinaria, matéria-prima para etileno GLP (C3 – C4) Combustível doméstico e industrial, matériaprima para petroquímica, obtenção de gasolina de aviação, veiculo propelente para aerossóis Nafta (20 – 220 °C) Gasolina automotiva e de aviação, matéria-prima para petroquímica (principal), produção de solventes Querosene (150 – 300 °C) Querosene de aviação, querosene industrial, produção de detergentes. Gasóleo atmosférico (70 – 400 °C) Diesel, combustível doméstico e industrial (heating oil) e matéria-prima para petroquímica (gasóleo petroquímico) Gasóleo de vácuo (400 – 750 °C) Carga para craqueamento (gasolina, GLP), produção de lubrificantes (subproduto parafinas), matéria-prima para petroquímica Resíduos de vácuo (acima 570 °C) Óleo combustível, asfalto, lubrificantes de alta viscosidade, coque de petróleo De um modo geral, uma refinaria, ao ser planejada e construída, pode se destinar a dois objetivos básicos: • produção de produtos energéticos (combustíveis e gases em geral); • produção de produtos não-energéticos (parafinas, lubrificantes, etc.) e petroquímicos. O primeiro objetivo constitui a maior parte dos casos, pois a demanda por combustíveis é deveras maior do que a demanda por outros produtos. Nesse caso, a produção destina-se à obtenção de GLP, gasolina, Diesel, querosene e óleo combustível, entre outros. O segundo grupo, não tão expressivo, é constituído de um grupo minoritário, onde o principal objetivo é a maximização da produção de frações básicas lubrificantes, parafinas e matérias-primas para a indústria petroquímica. Estes produtos possuem valores agregados muito superiores ao dos combustíveis, o que confere aos refinadores altas rentabilidades, embora os investimentos envolvidos sejam também muito mais altos do que os necessários para o caso anterior. 53 4.2. Processos de separação Busca-se, nesta seção, apresentar sucintamente algumas unidades de refino, em princípio, na ordem do processamento do petróleo: da entrada do cru na refinaria a saída de produtos finais – salvo para processos concomitantes, complementares ou substitutos, dentro da refinaria. Os Esquemas de Refino variam significativamente de uma refinaria para outra, não apenas pelas razões acima, mas também pelo fato de que mesmo os mercados de uma dada região estão sempre modificando-se com passar do tempo. Além disso, os avanços na tecnologia dos processos propiciam o surgimento de novas técnicas de refino de alta eficiência e rentabilidade, que ocupam o espaço dos processos mais antigos, de menores eficiências e maiores custos operacionais, que assim sendo, entram em obsolescência. Além desses fatores, atualmente também existem as crescentes exigências ambientais por parte dos governos, sob a forma de legislações e regulamentações, e por parte dos próprios mercados, que demandam cada vez mais, produtos oriundos de processos ditos "limpos", e que, desta forma, forçam a indústria do refino de petróleo a implementar melhorias contínuas. Se observados nos contextos de médio e longo prazos, os processos de refino não podem ser considerados estáticos, mas sim dinâmicos na sua constante evolução. 4.2.1. Dessalgação Antes da separação em frações na refinaria, o petróleo cru precisa ser tratado para a remoção de sais corrosivos. Isto é feito através de um processo denominado dessalinização. O processo de dessalinização também remove alguns metais e os sólidos em suspensão que podem: • causar danos às unidades de destilação ou reduzirem a sua eficiência; • provocar corrosão nos equipamentos; • se depositar nas paredes dos trocadores de calor, causando entupimentos e reduzindo a sua eficiência, além de catalisarem a formação de coque nas tubulações; • danificar os catalisadores que serão usados nas posteriores etapas de processamento. A dessalinização compreende a mistura do petróleo cru aquecido com cerca de 3% a 10% de seu volume em água, e esta, então, dissolve os sais indesejáveis. A água então é separada do petróleo em um vaso de separação através da adição de desemulsificadores que ajudam na quebra da estabilidade da emulsão e/ou, mais habitualmente, pela aplicação de um alto potencial elétrico (de 15 kV a 35 kV) através do vaso para coalescer as gotículas de água salgada, que são polares. O processo de dessalinização do óleo cru gera uma lama oleosa, bem como uma corrente de água salgada residual, de alta temperatura, que normalmente é adicionada a outras correntes aquosas residuais, indo então para as estações de tratamento de efluentes das refinarias. A água que é usada 54 na dessalinização é frequentemente a água não tratada ou apenas parcialmente tratada proveniente de outras etapas do refino. 4.2.2. Destilação atmosférica A destilação atmosférica é o primeiro processo de refino em qualquer refinaria. Consiste na separação do petróleo em frações mais leves, de acordo com os diferentes pontos de ebulição de cada fração, como mostrado de forma esquemática na Figura 4.4. Figura 4.4 – Fluxograma da destilação atmosférica Antes de ser encaminhado para a torre de destilação (também conhecida como torre de pratos), o petróleo é aquecido em um alto forno, por onde passa dentro de serpentinas, para posterior admissão na torre, com temperatura em torno de 400°C. Na torre de destilação, mantido o sistema de aquecimento, o petróleo bruto começa a desprender vapores, que se elevam para o alto da mesma. A torre de destilação também é conhecida, no jargão da área, como torre de pratos, porque em seu interior existe uma série de pratos com borbulhadores dispostos horizontalmente em toda a altura, como ilustrado na Figura 4.5. Logicamente, os pratos mais próximos à base da torre são mais quentes, enquanto os do alto são mais frios. À medida que os vapores se elevam, condensam-se nos pratos correspondentes à temperatura de condensação. Deste modo, obtêm-se as frações de derivados, ficando depositados, nas partes mais altas, frações de gás, nafta e gasolina; nas intermediárias, querosene e óleo diesel; e no fundo da torre, as frações de ponto de ebulição mais elevado, como óleo combustível ou cru reduzido. 55 Figura 4.5 – Torre de destilação atmosférica E importante frisar que estas frações obtidas ainda não estão dentro das especificações exigidas. Algumas, dependendo do tipo do petróleo e teor de contaminantes, podem ser consideradas como produto final (naftas, gás combustível, GLP, querosene), mas, a rigor, a maioria das frações tem que passar por outras etapas do processo. A destilação atmosférica visa a um fracionamento do petróleo, obtendo-se faixas de hidrocarbonetos que servirão como carga em outras unidades ou misturadas com produtos resultantes de outros processos. Na Figura 4.6 é mostrado um fluxograma do processo de destilação atmosférica, desde o tanque de armazenamento até ser transformado nas frações desejadas, o petróleo é pré-aquecido em uma série de trocadores de calor, aproveitando o calor das correntes que deixam a torre de destilação, e desta forma, economizando energia para seu aquecimento. Os principais equipamentos da instalação são: • Torre atmosférica • Forno atmosférico • Dessalgadora • Vasos separadores • Trocadores de calor • Bombas Além destes equipamentos a planta inclui uma complexa rede de tubulações, instrumentação e controle. São necessários também as utilidades industriais, tais como, água de resfriamento, vapor 56 d’água, ar comprimido e energia elétrica, bem como o sistema de proteção contra incêndio. O conhecimento do fluxograma do processo é fundamental para o planejamento de um projeto de construção de uma unidade de destilação. Figura 4.6 – Processo de destilação atmosférica 57 4.2.3. Destilação a vácuo O resíduo da destilação atmosférica serve de carga para a unidade de destilação a vácuo, mostrada esquematicamente na Figura 4.7. Semelhante à atmosférica, na destilação a vácuo a torre é submetida a uma pressão negativa, e o objetivo deste processo é produzir, a partir do resíduo, frações de diesel e gasóleo. O gasóleo é uma fração do petróleo destinado à produção de lubrificantes, podendo ser direcionado para processos mais complexos, como o craqueamento catalítico, onde é transformado em óleo diesel, gasolina e GLP. Já o produto residual da destilação a vácuo pode ser utilizado como asfalto ou utilizado para a produção de óleo combustível. Na Figura 4.8 é mostrado um fluxograma do processo de destilação a vácuo, onde são mostrados os equipamentos integrantes da planta. O conhecimento do fluxograma do processo é fundamental para o planejamento de um projeto de construção de uma unidade de destilação. Figura 4.7 – Torre de destilação a vácuo 58 Figura 4.8 – Processo de destilação a vácuo Os outros processos de separação existentes integram esquemas mais complexos de refino, presentes nas etapas de conversão/tratamento de derivados. Embora não sejam objeto de estudo no presente trabalho, cita-se como exemplo a desasfaltação a propano, desaromatização a furfural, extração de aromáticos, desparafinação a solvente, entre outros. 4.3. Processos de conversão Uma série de unidades de processo, ditas de conversão destina-se a transformar frações pesadas de petróleo em produtos mais leves. Todos os processos de conversão têm natureza química, cada um objetivando determinado propósito/adequação. Como exemplo podemos citar: craqueamento (térmico ou catalítico), visco-redução, alquilação, coqueamento, etc. 59 Os processos de conversão normalmente possuem alta rentabilidade, porque transformam produtos de baixo valor comercial, como gasóleos e resíduos de destilação, em outras frações de maiores valores de mercado. O processamento de conversão na refinaria implica na alteração da estrutura molecular dos hidrocarbonetos, seja por quebra em moléculas menores, seja por combinação em moléculas maiores, seja na produção de moléculas de maior qualidade, como por exemplo, para obter gasolina com maior índice de octanas, através de rearranjo molecular. Isto implica no uso de técnicas mais complexas. Existem, basicamente, dois processos de craqueamento de hidrocarbonetos pesados: o processo térmico (termo-craqueamento, visco-redução, coqueamento) e o processo catalítico (FCC, RCC, HCC). Os últimos normalmente fornecem derivados de maior qualidade do que os primeiros. 4.3.1. Craqueamento térmico / visco-redução O craqueamento térmico é mais severo do que a visco-redução, pois utiliza temperaturas mais elevadas. A visco-redução visa à redução da viscosidade de derivados pesados e ao aumento da quantidade de gasóleo destinado à produção de gasolina, particularmente. Ambos os processos empregam, porém, calor e pressão, como agente de quebra de moléculas pesadas em leves. Não empregam, portanto, catalisadores. Ambos foram largamente substituídos pelo craqueamento catalítico. No craqueamento térmico, gasóleo pesado e resíduo de vácuo são aquecidos a 540°C e introduzidos em um reator, mantido a cerca de 140 psig. As reações de craqueamento se interrompem após um tempo de permanência adequado, quando a temperatura é de 500°C (o craqueamento excessivo leva a um óleo combustível instável), sendo os produtos levados a um flash, onde os produtos leves vaporizam e são retirados (separados). O fundo do flash, que contém boa parte da carga, inclui um resíduo pesado que, normalmente, depois de resfriado, é misturado a correntes de óleos residuais. Comumente, o craqueamento térmico tem rendimento de 10 a 15% de conversão de resíduo de vácuo em leves. A única vantagem do processo em relação ao craqueamento catalítico (FCC) refere-se à inexistência do problema de contaminação do catalisador (o que ocorre no FCC). Aqui, a carga pode conter maiores quantidades de contaminantes, metais e compostos sulfurados. A Figura 4.9 mostra um esquema do processo de visco-redução. O craqueamento térmico apresentava algumas desvantagens, entre as quais se destacam: • Altas pressões de operação • Produção de uma grande quantidade de coque e gás combustível • Naftas de qualidade inferior, com altos teores de olefinas Devido a essas desvantagens e ao avanço crescente na demanda por gasolina, processos catalíticos se desenvolveram. 60 Figura 4.9 – Processo de visco-redução 4.3.1. Craqueamento catalítico Inicialmente, os processos de craqueamento eram térmicos, mas com o crescente avanço na área de catálise, passaram a ser catalíticos, primeiro em leito fixo, depois em leito móvel ou fluidizado, sendo esta última forma (craqueamento catalítico fluido - FCC) a mais moderna a ser utilizada pelas refinarias. O craqueamento catalítico usa calor, pressão e um catalisador para efetuar a quebra das moléculas de hidrocarbonetos em moléculas menores e mais leves. O craqueamento catalítico substituiu amplamente o craqueamento térmico, pois é possível, através dele, produzir mais gasolina de alta octanagem, assim como menores quantidades de óleos combustíveis pesados e de gases leves, em condições operacionais consideravelmente brandas. Hoje, o craqueamento catalítico fluido é imprescindível às refinarias modernas, sendo largamente difundido, devido à economia que propicia e à sua flexibilidade operacional. Catalisadores são substâncias que aceleram as reações químicas, promovendo a quebra e o rearranjo das mesmas, de modo a gerar novas frações de produto. As Figuras 4.10 e 4.11 mostram esquemas de unidades de craqueamento catalítico. 61 Figura 4.10 – Esquema básico do FCC Figura 4.11 – Unidade de craqueamento catalítico 62 4.4. Processos de tratamento A finalidade do tratamento é retirar dos derivados obtidos as substâncias consideradas impróprias, como os compostos sulfurados, os nitrogenados e os oxigenados que promovem o aumento no índice de poluição, corrosão etc., ou seja, colocar os produtos dentro dos padrões de qualidade exigidos para sua comercialização. Conseqüentemente, o tratamento também tem por finalidade rentabilizar o máximo possível as frações destiladas. De modo geral, um processo de tratamento busca atingir um ou mais dos seguintes objetivos: • Eliminação de compostos de enxofre • Eliminação de compostos de nitrogênio • Separação e eliminação de materiais asfálticos • Correção do odor do produto • Correção da coloração do produto • Estabilidade do produto A eliminação do enxofre e a melhoria da estabilidade do produto são fatores que normalmente determinam o tipo de tratamento a ser empregado. Removendo-se compostos de enxofre e nitrogênio, obtêm-se melhoras significativas no odor, coloração e estabilidade dos produtos, porque estas são substâncias ativas no processo de degradação dos derivados. Alguns exemplos: tratamento cáustico, merox, bender (Figura 4.12), dea (Figura 4.13), hidrotatamento etc. Figura 4.12 – Diagrama esquemático do Tratamento Bender 4.5. Operações de suporte Muitas das operações importantes de uma refinaria não estão diretamente envolvidas com a produção de derivados, mas desempenham um papel de suporte. Tais operações serão brevemente descritas a seguir. 63 Figura 4.13 – Tratamento DEA para GLP e Gás Combustível 4.5.1. Tratamento de Efluentes Volumes relativamente grandes de água são usados pela indústria de refino de petróleo. Basicamente, quatro tipos de efluentes são produzidos em uma refinaria: águas contaminadas coletadas a céu aberto, águas de refrigeração, águas de processo, e efluentes sanitários. Grande parte da água utilizada no refino de petróleo é usada para resfriamento. A princípio, a água de refrigeração não entra em contato direto com as correntes de óleo, e, portanto, contém menos contaminantes do que a água de processo. A maior parte da água de refrigeração é reciclada indefinidamente, ou então é enviada para uma unidade de tratamento de efluentes, a fim de que se controle a concentração de contaminantes e o teor de sólidos. As torres de refrigeração são equipamentos que resfriam a água usando o próprio ar do ambiente. Após o resfriamento, a água é, usualmente, reciclada de volta para o processo. Em alguns casos, entretanto, a água de refrigeração passa apenas uma vez pela unidade de processo e é, então, descarregada diretamente e sem tratamento, na unidade de tratamento de efluentes. As refinarias de petróleo normalmente utilizam tratamento primário e secundário de seus efluentes. O tratamento primário consiste na separação do óleo, água e sólidos em dois estágios. No primeiro estágio, um separador API ou outro separador água e óleo é utilizado. O segundo estágio utiliza métodos químicos ou físicos para promover a separação dos óleos emulsionados no efluente. Os métodos físicos podem incluir o uso de uma série de tanques de decantação, de grande tempo de retenção, ou mesmo o uso de flotadores a ar induzido. No tratamento secundário, o óleo dissolvido e outros poluentes orgânicos são biologicamente consumidos por microorganismos. O tratamento biológico normalmente requer a adição de oxigênio, que pode ocorrer a partir de diversas técnicas, incluindo o uso de unidades de lodo ativado, filtros e outros. 64 4.5.2. Tratamento de gás e recuperação de enxofre O enxofre é removido de um grande número das correntes gasosas provenientes das unidades de processo das refinarias. Essa remoção é necessária para que a legislação ambiental seja obedecida, no que diz respeito às emissões de SOX. Também é desejável que se recupere o enxofre elementar, que pode ser vendido. As correntes de gás, que são geradas nas unidades de coqueamento, craqueamento catalítico, hidrotratamento e hidroprocessamento, podem conter elevadas concentrações de gás sulfídrico, misturado com gás combustível leve. Os métodos mais comuns de retirada de enxofre elementar de correntes de gás sulfídrico são, usualmente, a combinação de dois processos: o Processo Claus seguido do Processo Beaven ou do Processe SCOT ou ainda do Processo Wellman-Land. 4.5.3. Produção de aditivos Muitos compostos químicos (principalmente éteres e álcoois) são atualmente adicionados aos combustíveis para motores, não só com a finalidade de melhorar a sua performance, mas também com o objetivo de enquadrar os mesmos nas exigências ambientais dos governos. Desde a década de 70, álcoois (principalmente metanol e etanol) e éteres têm sido adicionados à gasolina com o fim de aumentar a octanagem e de reduzir as emissões de monóxido de carbono, o CO. Tais substâncias substituíram os aditivos mais antigos, com base em chumbo, que foram proibidos em muitos países devido a questões ambientais. Os éteres mais comuns usados atualmente como aditivos são o metil-terci-butil éter (MTBE) e o terciamil-metil éter (TAME). Muitas das grandes refinarias produzem os seus próprios suprimentos desses aditivos, através da reação entre o isobutileno e/ou isoamileno com o metanol. As menores refinarias normalmente os compram de empresas de reagentes ou das maiores refinarias. 4.5.4. Composição A etapa de composição é a operação final do refino de petróleo. Essa etapa consiste na mistura dos diversos produtos derivados do petróleo que foram obtidos durante todo o processamento, em várias proporções, a fim de que se alcancem as diversas especificações necessárias, tais como: pressão de vapor, peso específico, conteúdo de enxofre, viscosidade, índice de octanagem, ponto de ebulição inicial, entre outras. A composição pode ser executada de forma contínua ou em bateladas, em tanques apropriados para tal fim. 65 4.5.5. Tanques de estocagem Os tanques de estocagem são utilizados em toda a refinaria, para armazenar o petróleo cru e as correntes de alimentação intermediárias, que esfriam nos mesmos e aguardam o posterior processamento. Os derivados finais são também mantidos em tanques de estocagem, antes de serem retirados da refinaria. 4.5.6. Torres de resfriamento As torres de resfriamento têm como função reduzir a temperatura da água de refrigeração que deixa as diversas unidades de processo. A água aquecida circula por uma torre juntamente com um fluxo predeterminado de ar do ambiente, que é impelido por grandes ventiladores. Uma certa quantidade de água sai do sistema ao evaporar. Deste modo, torna-se necessário repor tais perdas, que são, usualmente, cerca de 5% da taxa de circulação. 66 UNIDADE V Transferência e estocagem Ao lado das atividades de exploração e produção estão, em igualdade de importância, as operações de transferências e estocagem. Afinal, o petróleo resultante da prospecção, seja em terra, seja no mar, precisa ser transportado para as refinarias, onde é processado e transformado em produtos de maior utilidade e valor agregado, como gasolina, nafta, querosene, diesel, etc. As operações de transferência e estocagem iniciam-se após a prospecção, quando se necessita transportar o petróleo, seja por oleodutos ou por navios. Também acontecem entre navios e terminais, terminais e refinarias, terminais e terminais, ou seja, sempre que se deseje movimentar volumes de petróleo ou derivados. Compreendem técnicas próprias e conhecimentos específicos de que dispõe o operador para processar o bombeamento com a devida segurança e monitoração, bem como a estocagem em tanques próprios, de acordo com as características de cada produto. Tais operações, embora aparentem certa simplicidade, requerem treinamento e especialização do operador, por envolverem o manuseio de produtos de elevadíssimo valor comercial, sem contar a agressividade que poderiam causar ao meio-ambiente em casos de acidentes, como tristemente tantos já foram vistos, ocasionando verdadeiros desastres ecológicos. Por tudo isso, o operador de Transferência e Estocagem necessita ter conhecimentos de segurança industrial, tubulações e acessórios, instrumentos de temperatura, pressão, nível e vazão, tipos de bombas e normas de operação, válvulas, tanques, etc., bem como boa formação em matemática, física e química, para compreender os processos e realizar suas atividades com consciência e qualidade. Os Transportes e a Transpetro Impossível falar-se em petróleo e logística sem citar a Petrobras Transporte S/A - Transpetro. Com atuação nas áreas de armazenamento e transporte marítimo e dutoviário é responsável por 54 terminais, além de cerca de 12.000 quilômetros de malha dutoviária, que se encontram geograficamente dispersos pelo país. Toda essa estrutura permite reduzir os custos com fretes no transporte de derivados, além de diminuir o tráfego de caminhões e vagões-tanque, aumentando a segurança nas estradas e, conseqiientemente, oferecendo maior proteção ao meio ambiente. 67 Com o advento da Lei do Petróleo (Lei n2 9478/97) e o novo cenário pós-flexibilização, as atividades da Transpetro revestiram-se de suma importância. Foi criada em 12 de junho de 1998, já com objetivo de se tornar uma empresa logística de expressão internacional; absorveu a gestão operacional da Fronape (Frota Nacional de Petroleiros) em l2 de janeiro de 2000 e a dos dutos e terminais em l2 de maio, arrendando não só as atividades operacionais, mas toda a malha dutoviária, dotando-se de total liberdade para associar-se a outras empresas, majoritária ou minoritariamente, constituir subsidiárias ou participar de empresas coligadas, sempre que achar conveniente para seu desenvolvimento. Sua atuação resume-se fundamentalmente no transporte e armazenamento de graneis, petróleo, derivados e gás, por meio de dutos, terminais, embarcações próprias e de terceiros, bem como a construção e operação de novos dutos, terminais ou embarcações. 5.1. Transporte de petróleo e derivados O petróleo produzido nos poços precisa ser transportada até as refinarias, sendo este transporte feito por oleodutos para poços em terra, e por oleodutos ou navios para poços localizados no mar. Uma vez refinado e obtendo-se os derivados, estes precisam chegar ao mercado consumidor, o que é feito através da distribuição. 5.1.1. Transporte por oleodutos Oleoduto ou, simplesmente duto, é o nome genérico dado às tubulações utilizadas para transportar grandes quantidades de petróleo e derivados. Consiste no meio mais econômico e seguro de movimentação de cargas líquidas derivadas de petróleo, através de um sistema que interliga as fontes produtoras, refinarias, terminais de armazenagem, bases distribuidoras e centros consumidores. Os primeiros oleodutos surgiram nos Estados Unidos, há mais de 100 anos, quase ao mesmo tempo que a indústria do petróleo. A princípio, os oleodutos, ou pipe-lines, eram reservados ao transporte do petróleo cru, desde o poço até a refinaria ou até o porto de embarque. Posteriormente, tal sistema foi aplicado aos produtos refinados (gasolina, óleo combustível). Algumas tubulações são mistas. Neste caso, insere-se no conduto um dispositivo destinado a impedir que os produtos se misturem. Os condutos são constituídos de tubos de aço devidamente soldados e dispostos em montagens na superfície do solo, em trajetos subterrâneos ou, ainda, instalados sob a água no fundo do mar. A Figura 5.1 ilustra um oleoduto. O sistema de condução do petróleo é realizada por meio das estações de bombeamento. 68 Figura 5.1 – Oleodutos Os gasodutos transportam gases sob pressão. Seu princípio é igual ao dos oleodutos, porém a manutenção da pressão interna efetua-se por meio de estações de compressão, instaladas a cada 300 km aproximadamente. A distância entre as estações deve ser bastante regular, porque o gás é mais compressível que o petróleo e sua pressão diminui rapidamente com a distância. A vedação da rede é continuamente vigiada por um controle radiográfico das soldaduras e por inspeções aéreas (como os gasodutos enterrados estão sistematicamente cobertos por vegetação, qualquer alteração nesta revela um escapamento). A análise dos custos de transporte pelo modal dutoviário indica expressiva vantagem econômica, permitindo-se a redução de custos com fretes que influenciam os preços finais dos derivados, diminuição do tráfego de caminhões e vagões-tanque e o aumento da segurança nas estradas e vias urbanas. 5.1.2. Transporte hidroviário Compreende os transportes que utilizam o meio aquático, quer seja marítimo ou fluvial. Diversos são também os tipos de embarcação. O tipo da carga, o percurso, as condições do porto de origem e destino e outros aspectos irão influenciar a escolha do tipo apropriado da embarcação. As Figuras 5.2 e 5.3 mostram navios petroleiros. O transporte de cabotagem é o realizado pelas embarcações ao longo da faixa costeira. Representa o que há de mais importante no que concerne à movimentação de cargas pelo modal hidroviário. É comum para o transporte de petróleo e derivados a utilização de navios de grande capacidade, de 35 mil, 45 mil, 60 mil e 90 mil t. Não obstante a supremacia do modal rodoviário, a navegação de cabotagem ocupa seu lugar de importância, e vem apresentando sinais de avanço, desde o início dos anos 90, época da abertura comercial do país. 69 Figura 5.2 – Navio petroleiro Jahre Vicking Figura 5.3 – Navio petroleiro Irati Como todos os outros modais, vale aqui ressaltar que a vantagem auferida por este meio dependerá do caso concreto, em análise do custo/benefício. Mesmo permitindo movimentar grandes quantidades de derivados em uma única operação, o que faz com que o custo do metro cúbico transportado seja bem inferior ao dos modais rodoviário e ferroviário, os altos custos portuários impedem que o frete seja competitivo para pequenos lotes. Leve-se também em consideração que atualmente o número de navios vem se tornando insuficiente, reduzindo a flexibilidade logística e causando congestionamentos portuários que podem causar sobre-estadias elevadas (até US$ 15 mil por dia). 5.1.3. Transporte rodoviário O transporte de cargas, de um modo geral, no Brasil, é feito preponderantemente pelo meio rodoviário. Em algumas regiões o índice de utilização ultrapassa 90%. Isso se explica porque, desde o início, o país investiu na construção de estradas para interligar as unidades federativas, bem como para escoar a produção agroindustrial. Desta forma, o transporte rodoviário foi privilegiado, enquanto os demais modais foram relegados a segundo plano. A produção de diesel nas refinarias era fundamentalmente para suprir a gigantesca frota de caminhões e ônibus, criando o cenário de dependência a este modal como se observa atualmente. O transporte de derivados de petróleo por este modal é feito em caminhões-tanque. Alguns apresentam apenas um único tanque, outros já apresentam tanques segmentados, possibilitando o transporte de mais de um tipo de produto. As capacidades dos tanques também variam, e são estabelecidas por ocasião da aferição pelo INMETRO. Os derivados oriundos de uma refinaria normalmente são enviados para as distribuidoras através de oleodutos e armazenados em tanques. Posteriormente, a distribuidora atenderá a seus clientes (postos) nas quantidades necessárias através dos caminhões-tanque, como ilustrado na Figura 5.4. 70 Figura 5.4 – Distribuição por modal rodoviário 5.1.4. Transporte ferroviário O transporte de derivados pelo modal ferroviário é bastante empregado em países cuja infraestrutura de transportes privilegia a intermodalidade. O modal ferroviário representa uma alternativa económica para o deslocamento de grandes volumes de álcool e derivados de petróleo, visto que, em média, os vagões possuem capacidade para 60 m3 de produto. No entanto, a velocidade do deslocamento das composições tem de ser levada em consideração na análise custo/benefício. Nos locais onde seja possível a integração com este tipo de modal, a análise do custo/benefício tem se revelado vantajosa, quando bem planejada, exatamente pela possibilidade de se transportar grandes quantidades. Infelizmente no Brasil não se investiu muito na malha ferroviária. Utilizamos preponderantemente o modal rodoviário, congestionando a cada dia mais nossas estradas; tal fato impossibilita o acesso a muitas regiões, sobretudo as mais distantes, pelo meio ferroviário. O resultado do abandono foi praticamente a total deterioração do sistema, o que levou à privatização do setor no final de 1995. Os combustíveis líquidos derivados de petróleo, bem como o álcool, são transportados em vagões-tanque de aço (Figura 5.5), cuja capacidade é, em média, 60 m3. Tais vagões também sofrem aferição pelo órgão metrológico oficial (INMETRO), que estabelece sua arqueação, do mesmo modo que nos tanques verticais de armazenamento de grandes volumes. Assim, também o vagão apresenta sua tabela volumétrica, que estabelece o volume em função da altura. 71 Figura 5.5 – Vagão ferroviário 5.2. Armazenamento de petróleo e derivados Nas bases os derivados são armazenados em tanques apropriados, de acordo com suas características. 5.2.1. Tanques atmosféricos São equipamentos destinados ao armazenamento de combustíveis líquidos e gasosos, sendo construídos em dimensões e formas variadas, dependendo do tipo de produto e da quantidade a ser estocada. Um exemplo é mostrado na Figura 5.6. Figura 5.6 – Tanque atmosférico O material mais empregado na fabricação dos tanques é o aço carbono, sendo raro o emprego de outros materiais, a não ser em tanques de pequeno porte, utilizando-se alumínio ou aço inoxidável. Tendo em vista a corrosão atmosférica, costuma-se revesti-los com películas protetoras, como zarcão, tintas especiais, galvanização com zinco, etc., e internamente com tinta de silicato inorgânico de zinco ou outros materiais específicos. 72 A construção de um tanque de armazenamento representa um elevado investimento de capital, devendo, portanto, seguir rígidos padrões de segurança, afinal armazenam muitas vezes produtos perigosos e/ou com alto valor comercial. Normalmente são construídos no próprio canteiro de obras por profissionais qualificados para a realização dos processos de soldagem, radiografia, montagem etc., sendo submetidos a rigorosos ensaios não destrutivos, tais como ultra-som, partículas magnéticas e gamagrafia, no intuito de assegurar a máxima segurança operacional quando for colocado em uso. 5.2.2. Armazenamento sob pressão Alguns hidrocarbonetos não são líquidos à pressão atmosférica e necessitam ser armazenados a pressões superiores, para continuarem líquidos. Neste caso, os produtos são armazenados em vasos de pressão, que podem ser de 2 tipos: • Cilíndricos: são cilindros com calotas de vários formatos: elipsoidal, hemisférico, cônico, torocônico e torosférico. Normalmente são usados para volumes relativamente pequenos (100 a 200 m3). • Esféricos: são usados para volumes maiores (2.000 a 3.000 m3). A Figura 5.7 apresenta um vaso de pressão esférico. Há também as instalações refrigeradas, onde o próprio produto é usado na refrigeração. Neste caso, a pressão de armazenamento é baixa, com economia no material do reservatório (todavia, o custo operacional é maior). Figura 5.7 – Vaso de pressão esférico Deve-se notar que estes tanques de armazenamento sob pressão não devem ficar completamente cheios com o produto, pois com a expansão causada pelo aumento da temperatura, teremos grande aumento de pressão no vaso, abrindo-se a válvula de segurança ou rompendo-se o vaso, no caso de haver falha na válvula. Relativamente às operações nestes tanques, só diferem dos demais no que tange à pressão, 73 que deve ser controlada com bastante atenção, não devendo nunca alcançar a abertura das válvulas de segurança, devendo ser mantida sempre abaixo desse limite. Quando a pressão do tanque começar a subir muito, o mesmo deverá ser despressurizado (para outro tanque de pressão mais baixa, para a tocha, ou mesmo, em último caso, para a atmosfera) ou resfriado. 5.2.3. Bacias de contenção Os tanques de armazenamento devem estar contidos dentro de uma bacia de contenção que possa conter eventuais derrames em caso de sinistros. A NBR 7505, que regulamenta a armazenagem de produtos, prevê a sua necessidade, bem como estabelece os critérios para sua construção, principalmente no que tange à sua capacidade. Diz a norma que uma bacia de contenção deve conter o volume equivalente ao seu maior tanque, mais 10% do somatório de todos os demais. Ressalte-se que, em atendimento às normas hoje vigentes, deverão as bacias ser impermeabilizadas, de modo a não permitir a contaminação do solo e de possíveis lençóis freáticos existentes na região. 5.2.4. Classificação na área De acordo com as finalidades a que se destinam podem se classificar os tanques de várias formas: • Tanques de armazenamento – onde são estocados os derivados (gasolina, querosene, diesel, GLP, etc.) e produtos de alimentação para unidades de processo, quando for o caso. • Tanques de recebimento – onde os produtos saídos de uma unidade são armazenados, podendo ser enviados para outra unidade ou para armazenamento final, se estiverem dentro das especificações. • Tanques de resíduo – onde os produtos fora de especificação, ou provenientes de operação indevida são armazenados, aguardando reprocessamento. • Tanques de mistura – onde são feitas misturas de produtos ou são adicionados aditivos, para depois serem enviados para armazenamento final, quando dentro das especificações. Relativamente à posição, podem ser verticais (grande porte e capacidade volumétrica) ou horizontais (baixa capacidade volumétrica, armazena normalmente produtos especiais, solventes, etc.). É mais comum a classificação quanto aos tipos de tanque levando-se em consideração o teto. De acordo com o produto será utilizado o tipo de tanque mais adequado, sendo que os de aplicação mais comum são os verticais de teto fixo (cônicos, curvos, esferoidal, etc., com ou sem selo flutuante), 74 e os de teto flutuante. Produtos não voláteis, como diesel, óleo combustível e lubrificantes, são armazenados em tanques de teto fixo, sem necessidade do selo flutuante; já os produtos mais voláteis, tais como gasolina e nafta, reduzem as perdas por evaporação com a utilização do selo flutuante, que consiste num selo muito fino, de material especial (espuma de uretano, neoprene) que não produza faísca por ocasião de atrito, de tal forma que, flutuando sobre o produto, praticamente elimina o contato da superfície líquida com o oxigênio, o que contribui para a segurança do armazenamento. Há também os tanques de teto móvel, muito semelhantes aos de teto flutuante, residindo a diferença numa câmara de vapor, cuja pressão faz com que o teto se desloque no sentido vertical, orientado por guias. Sua utilização é mais freqüente para o armazenamento de gás de rua, propano e amônia. Já para armazenar gás processado, podem ser utilizados tanques com teto móvel, cujo funcionamento estrutural é telescópico; à medida que o produto vai entrando no tanque, o teto vai subindo, e um sistema de encaixe faz as paredes da estrutura acompanharem o movimento. A Figura 5.8 ilustra uma base de armazenamento. Figura 5.8 – Base de armazenamento 75 BIBLIOGRAFIA Cardoso, L. C. S., Logística do Petróleo – Transporte e Armazenamento. Rio de Janeiro – RJ: Editora Interciência: 2004. Cardoso, L. C., Petróleo – Do Poço ao Posto. Rio de Janeiro – RJ: Qualitymark Ed: 2005. Corrêa, O. L. S., Petróleo – Noções sobre Exploração, Perfuração, Produção e Microbiologia. Rio de Janeiro – RJ: Editora Interciência: 2003. Garcia, R., Combustíveis e Combustão Industrial. Rio de Janeiro – RJ: Editora Interciência: 2002. Mariano, J. B., Impactos Ambientais do Refino de Petróleo. Rio de Janeiro – RJ: Editora Interciência: 2005. Thomas, J. E., Fundamentos de Engenharia de Petróleo. Rio de Janeiro – RJ: Editora Interciência: PETROBRAS: 2004. Szklo, A. S., Fundamentos do Refino de Petróleo. Rio de Janeiro – RJ: Editora Interciência: 2005. 76