Pró-Reitoria de Graduação Curso de Letras Trabalho de Conclusão
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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Letras Trabalho de Conclusão de Curso LEIA ESSA CANÇÃO - UMA ANÁLISE DA DUBLAGEM E DA LEGENDAGEM DE CANÇÕES DE FILMES INFANTIS Autor: Gláucia Jeane Gomes Barreto Orientador: Prof. MSc. Virgílio Pereira de Almeida Brasília - DF 2007 GLÁUCIA JEANE GOMES BARRETO LEIA ESSA CANÇÃO - UMA ANÁLISE DA DUBLAGEM E DA LEGENDAGEM DE CANÇÕES DE FILMES INFANTIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Letras da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção de título de licenciado em Letras com Habilitação em Português, Inglês e Respectivas Literaturas Orientador: Virgílio Pereira de Almeida Brasília 2007 BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Prof. MSc. Virgílio Pereira de Almeida ______________________________________________ Profª. MSc. Andréa Márcia Mercadante A. Coutinho ______________________________________________ Profª. MSc. Maria Fernanda Rodrigues Dedico este trabalho às pessoas que buscam compreender um pouco mais sobre o fascinante universo da tradução. Agradeço aos meus familiares, que dedicaram apoio incondicional em toda minha trajetória de vida. Ao meu professor orientador, que caminhou ao meu lado na construção deste trabalho. À todos os professores, amigos e colegas, que contribuíram para o meu crescimento. “A satisfação está no esforço, e não apenas na realização final. Esforço total é vitória total.” (Gandhi) Resumo O presente trabalho faz um estudo comparativo entre a legenda e a dublagem de canções de filmes infantis. Após um breve relato sobre características do ato tradutório ao longo dos anos, o primeiro capítulo resgata a teoria de tradução que, mais do que ditar parâmetros de trabalho, indica meios que auxiliam o tradutor a evitar algumas das ciladas que a tarefa lhe apresenta. Em seqüência apresentamos as características específicas da tradução para a dublagem e para a legendagem, destacando as particularidades das versões para canções em filmes infantis. A escolha deste gênero se deveu ao fato de ser rara a presença de dublagem em canções para filmes do público adulto, quando a legendagem é freqüentemente usada mesmo em filmes dublados. Analisamos várias canções e identificamos dois grandes grupos de filmes: um onde as versões para a dublagem e para a legendagem são idênticas ou bastante semelhantes, e o segundo onde as versões possuem diferenças significativas. De uma maneira geral, em ambos os grupos privilegia-se a correspondência formal das canções, condição imperativa para que o dublador possa cantar a letra seguindo a mesma melodia da canção. A legenda, quando diferente, busca uma aproximação maior ao significado do texto original. O trabalho termina com algumas sugestões para estudos posteriores. Palavras-chave: tradução, legendagem, dublagem. Abstract This paper presents a comparative study of dubbing and subtitles of songs in animated films. After a brief account of attributes of translation throughout the years, the first chapter retrieves translation theory which, more than establishing norms, works as guidelines for the translator to avoid tricks frequently found in his undertaking. Then we present the specificities of translating for dubbing and subtitling, highlighting the particularities of the work of translating songs in animated films. This genre was chosen since it is rare to find dubbed songs in other kinds of movies, at which subtitles are used even if the rest of the film is dubbed. We have analyzed various songs and identified two major grouping of films: one at which the subtitles and the dubbing are identical, or very similar, and another at which the versions differ considerably. In general, in both groups there is a tendency to maintain the formal correspondence of songs, condition which is imperative for the singer to keep the rhythm of the song in the dubbed language. The subtitles, when different, are closer to the meaning expressed by the original text. Our work ends with some suggestions for further study. Keywords: translation, subtitling, dubbing. Sumário Resumo ___________________________________________________________________ 7 Abstract___________________________________________________________________ 8 Introdução ________________________________________________________________ 10 Capítulo 1 - Percalços na tradução _____________________________________________ 13 Capítulo 2 - A legendagem e a dublagem________________________________________ 16 Legenda__________________________________________________________ 16 Dublagem ________________________________________________________ 19 Canção é poesia?___________________________________________________ 21 Capítulo 3 - Traduzindo canções de filmes ______________________________________ 24 Capítulo 4 - Análise das canções ______________________________________________ 27 Dublagem e legenda com textos semelhantes ____________________________ 27 Dublagem e legenda com textos diferentes ______________________________ 31 Conclusão ________________________________________________________________ 34 Referências Bibliográficas ___________________________________________________ 36 Anexos __________________________________________________________________ 38 Introdução Não há como precisar de fato qual foi o primeiro ato tradutório da história do homem. Entretanto, tomando o mito bíblico como base, pode-se considerar que a tradução não poderia ter existido senão depois da queda da Torre de Babel, quando Deus, irado com a ousadia humana, decide “confundir o idioma de toda a terra”, espalhando línguas diferentes, de forma a dividir os homens para que a construção da torre fosse interrompida. Dados mais concretos sobre a tradução surgem com mais freqüência após a primeira tradução da bíblia, por volta de 382 d.C do hebraico para o latim. O Papa São Dâmaso I designou seu secretário, Pe. Jerônimo, que mais tarde tornou-se São Jerônimo, para executar esta tarefa. Para difundir o texto bíblico a um número maior de pessoas, São Jerônimo escolheu o latim vulgar para a versão traduzida da bíblia, e por esta razão, o alto clero romano mostrou-se contrariado, uma vez que tinha interesse de manter o texto bíblico o mais erudito possível, de forma a assegurar a hegemonia do conhecimento da palavra de Deus apenas à igreja, por motivações mais políticas do que religiosas. Além de santo, Jerônimo tornou-se o padroeiro dos tradutores, não apenas pelo seu feito histórico, mas por mostrar-se o primeiro profissional que dedicou atenção especial à tarefa que lhe foi entregue. Magalhães Jr. (2007) comenta que a tradução “lhe consumiu cerca de 20 anos, não só na interpretação do sentido das escrituras, mas também no árduo esforço para dominar o hebraico e o aramaico, a fim de traduzir direto dos originais, sem a ponte do grego.” (p. 168). A preocupação de Jerônimo em privilegiar a tradução direta sobre a indireta, séculos antes da teoria da tradução cunhar tais definições, resultou em uma nova versão da bíblia, que ficou conhecida como Vulgata, que por sua vez possibilitou o crescimento de um novo público leitor, o que conseqüentemente incentivou a tradução de mais textos religiosos. Provavelmente a Vulgata foi o primeiro passo para a popularização da tradução, que só ganharia novamente um impulso de semelhante destaque com a invenção da prensa por Johannes Gutemberg mais de dez séculos mais tarde. Após ficar restrita aos textos religiosos, a tradução ganhou espaço, adquirindo proporções significativas no período Elizabetano (séc. XVI), uma vez que o número de leitores que dominavam outras línguas, que não a materna, era ínfimo. Na Inglaterra dos séc. XVII e XVIII, a tradução era feita de forma a manter ao máximo a fidelidade ao texto, mesmo quando a língua para qual se traduzia não possuísse termos semelhantes ao original. Nestes 11 casos, os tradutores utilizavam alguns artifícios pouco louváveis hoje em dia, como é possível perceber em Gambier (1998, p. 214): Os tradutores podiam expandir o vocabulário da língua-meta, usando palavras emprestadas, ou então identificar na cultura-meta termos equivalentes, de modo a expressar os fenômenos culturais estrangeiros. A preferência pelo segundo método resultou em uma significativa naturalização dos textos-fontes. Paralelamente, na França era permitido fazer alterações nos textos, de forma a tornálos mais suaves, claros, e atraentes aos leitores. No séc. XX Ezra Pound quebrou os padrões de tradução da época, difundindo o “make it new”, que consistia em encarar a tradução como uma ferramenta maleável, que permitia a interação entre obra original e leitor, não da forma rígida de fidelidade, mas sim por meio da criatividade e do desenvolvimento da língua. Ao desavisado, o que advogava Pound pode até parecer uma heresia. Entretanto, até os dias de hoje, a ciência da tradução não dita padrões fixos, uma vez que a própria definição do que é traduzir é polêmica e multifacetada. De acordo com Hargreaves (2002, p.63): As opiniões sobre o que significa tradução são várias, e será necessário definir o que se espera de uma tradução antes de estabelecer se essa é possível ou não. Há quem diga que traduzir significa simplesmente transferir para outra língua os conceitos expressos na língua original, ou língua fonte. O certo é que, graças à globalização e a outros fatores, a tradução continua demonstrando sua importância, crescendo e respondendo às necessidades de cada tipo de objeto de trabalho. Cada vez mais teorias e estudos estão sendo realizados, e, ainda que não consigam atender às expectativas das pessoas envolvidas nessa área, já estão ajudando a derrubar alguns mitos, além de auxiliarem os que se aventuram a traduzir. Além de toda a polêmica que envolveu, e ainda envolve, o resultado de qualquer processo tradutório, existem outros fatores internos, não menos polêmicos, a serem discutidos e estudados. Existem diversas formas de linguagem a serem traduzidas, que vão desde textos (técnicos, poéticos, em prosa, etc.) até as atividades de interpretação simultâneas ou consecutivas (em conferências, palestras, programas televisivos ao vivo). Estas diferentes mídias possuem especificidades únicas, e, como qualquer outro profissional, o tradutor necessita especializar-se. Assim como um médico tem que conhecer o corpo humano de forma geral, mas se especializa de forma profunda em determinada parte do corpo, o tradutor também tem que compreender bem os processos necessários à tradução, além de buscar entender os problemas e as exigências do tipo de tradução com a qual se propõe trabalhar. 12 Dentro das grandes áreas do universo da tradução, a dublagem e a legendagem se destacam por desempenharem o importante papel de possibilitar a circulação mundial da produção cultural, particularmente a cinematográfica e a televisiva. De forma indireta, elas têm o poder de movimentar desde culturas até economias, uma vez que o cinema e a televisão (cada vez mais associada à Internet) constituem partes integrantes e atuantes dentro de todas as sociedades minimamente desenvolvidas hoje em dia. Entretanto, assim como qualquer gênero de tradução, a dublagem e a legendagem carregam em si problemas e dificuldades para o tradutor. Naturalmente, o script do texto a ser traduzido é o ponto de partida tanto para a dublagem quanto para a legenda, mas a dinâmica de cada um dos ofícios toma direções distintas devido a critérios e exigências particulares. A legenda exige espaço na tela e, por várias vezes, não consegue comportar toda a informação expressa no original necessitando de redução em seu conteúdo, além de ter de ser produzida de forma a ocupar o mínimo de tempo necessário a sua leitura. Já a dublagem não disputa espaço com a imagem, mas deve obedecer às características da personagem, incluindo articulações, entonações, além de ter sempre de obedecer, talvez de forma mais rigorosa que a legenda, ao tempo de fala. No universo dos filmes cinematográficos existem diferentes tipos de linguagem: a escrita (placas, sinais, avisos e até o próprio título do filme), as narrações, as conversas dos personagens e as canções. Este trabalho se propõe a analisar a tradução destas últimas, pois a presença de canções em filmes é bastante freqüente, e, talvez pela complexidade de se traduzir letras de músicas, não existe consenso entre os tradutores se as músicas devem ser traduzidas ou não, o que pode ser uma das justificativas da manutenção da língua fonte em trechos onde há canções, mesmo quando o restante do filme é dublado. As exceções a esta norma encontram-se nos desenhos animados para o público infantil, que exigem a tradução de todo e qualquer evento lingüístico, seja ele escrito em placas, falado ou cantado, uma vez que seu principal público alvo são crianças. É fácil notar essa diferença porque nos filmes destinados a um público mais adulto é praticamente inexistente a dublagem das canções, observando-se que as letras só são traduzidas se tratarem de assuntos muito importantes para o contexto dos filmes. 13 Capítulo 1 - Percalços na tradução As línguas de cada cultura, apesar de possuírem características únicas, moldadas dentro das particularidades de cada povo, possuem alguns aspectos que podem ser considerados comuns. Um destes aspectos é o da continuidade, que é o que mantém as propriedades intrínsecas que fazem da língua um instrumento de comunicação que não se deteriora com o tempo. Um outro aspecto seria o da mutabilidade, efeito do próprio tempo e dos próprios usuários, que agem de forma unitária, sobre a língua. Como afirma Saussure (1994, p.89): O tempo, que assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, em aparência contraditório com o primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos lingüísticos e, em certo sentido, pode-se falar, ao mesmo tempo, da imutabilidade e mutabilidade do signo. Dentro desta perspectiva, a tradução, naturalmente, acompanha estes processos, além de possuir os seus próprios mecanismos e critérios, que também têm se alterado desde o início de sua prática. Desta forma, para o tradutor realizar seu trabalho, ele deve conhecer não só as línguas com as quais pretende trabalhar, mas deve buscar conhecer também os problemas, os erros comuns, as contradições e os procedimentos mais adequados existentes dentro da teoria da tradução. Alem destas informações, o tradutor deve também se manter atualizado quanto às transformações das línguas e das culturas com as quais interage, não de forma a conhecer tudo sobre elas, pois isso seria um empreendimento inalcançável, mas sim de manter-se mais próximo do seu objeto de estudo. Em outras palavras, emprestando o conceito apresentado por Saussure, o tradutor deve se familiarizar com o que há de mutabilidade do signo. Ao analisar o ato tradutório de maneira superficial, é comum ter a falsa idéia de que para cada palavra de uma língua devem existir correspondentes em outras línguas, e que, portanto, o ato tradutório resume-se a simplesmente substituir a palavra de uma língua pela sua correspondente em outra língua. Tal pensamento, entretanto, está muito longe da realidade, porque cada palavra só assume sua significação completa quando acompanhada de outros elementos criadores de um contexto. É o contexto que dá sentido semântico a uma palavra, e sem o contexto, as palavras não encerram, em si somente, significação clara. São Jerônimo já dizia, em sua Carta a Pamáquio que o que importa é a transferência de “sentido por sentido, e não de palavra por palavra” (Knight, 2007). Além deste fator, existem outros tantos, motivados, em sua grande maioria, pelas características exclusivas de cada língua, que são construídas, por sua vez, de acordo com os 14 costumes e a história de cada povo. Paulo Rónai define estes aspectos característicos de “armadilhas da tradução” (1981), pois é justamente neste ponto onde surgem as grandes probabilidades de tradutores cometerem enganos. Graças às experiências de vários tradutores, existem hoje algumas regras que norteiam o trabalho do tradutor em relação a alguns problemas. Porém ainda há situações, e, dada as características diversificadas de cada língua, sempre haverá situações, nas quais o tradutor vai se deparar com problemas mais complexos, por vezes insolúveis. Duas destas situações possuem conceitos teóricos já solidificados no campo da tradução. São elas a intraduzibilidade lingüística e a intraduzibilidade não-lingüística. A primeira diz respeito aos termos lexicais existentes apenas em uma só língua, ou seja, não há termo correspondente na língua meta, fazendo com que sua tradução resulte, na melhor das hipóteses, em um conjunto de palavras ou expressões que transmitirão a mensagem de maneira relativamente próxima. Com este processo de adaptação, perde-se parte do conteúdo original, mas não o suficiente para prejudicar o resultado final da tradução. Tais termos podem ser típicos, como a palavra “feijoada”, como também termos comuns, mas curiosamente únicos, como o conhecido termo “saudade”. A intraduzibilidade não-lingüística, por sua vez, refere-se aos termos que possuem equivalentes nas línguas fonte e meta, porém a correspondência destes equivalentes não carrega a mesma relação de significado. Pode-se perceber esta intraduzibilidade quando comparamos os envolvidos em cerimônias de casamento no Brasil com países falantes de língua inglesa. Em um tradicional casamento nos Estados Unidos da América, por exemplo, a entrada da noiva é sempre precedida por um grupo de amigas, as bridesmaids, que possuem vestidos idênticos. Uma destas mulheres, que geralmente se destaca com algum adereço maior em sua vestimenta, é a maid of honor. Esta é a melhor amiga da noiva, e provavelmente acompanhoua desde a escolha do vestido de casamento até a seleção dos salgadinhos a serem oferecidos na recepção. Esta amiga organiza a despedida de solteira e o chá-de-panela, quando houver e também acompanha a noiva durante as vinte-e-quatro horas que antecedem a cerimônia religiosa. Geralmente tanto as bridesmaids quanto a maid of honor recebem, em português, a denominação de “madrinhas”, muito embora as atribuições delas sejam bastante dessemelhantes. O noivo está no altar, sempre acompanhado de seu melhor amigo, que faz o papel do bestman na cerimônia. O bestman acompanha o noivo durante todo o dia do casamento, e é ele o responsável por portar as alianças e as entregar ao sacerdote durante a cerimônia. Em 15 nossa cultura não há figura semelhante, mas o termo bestman é comumente traduzido por “padrinho”. Mais uma vez, há uma discrepância entre as funções desempenhadas pelo padrinho, no Brasil, e pelo bestman, nos EUA. Repare que verter bestman para “padrinho”, não se trata de erro de tradução, mas a imagem criada na mente do leitor da obra traduzida não será semelhante à imagem na mente do leitor da obra original. Além destes dois conceitos já estabelecidos em teoria de tradução, Almeida (2004) acrescenta o conceito de intraduzibilidade circunstancial, que “acontece quando o tradutor sabe qual deveria ser a tradução adequada, mas algo no contexto circunvizinho ao material traduzido impede que ele a utilize.” A intraduzibilidade circunstancial só ocorrerá quando o texto a ser traduzido estiver acompanhado de uma imagem, como histórias em quadrinhos, filmes, desenhos, etc. Tomemos como exemplo a expressão get off my back, que literalmente quer dizer “saia das minhas costas”, mas tem como a tradução mais correta o “saia/largue do meu pé”. Então, se houver a ocorrência de uma imagem associada a “get off my back” em determinado filme, na qual a personagem, ao dizer esta expressão, realiza algum movimento indicando as costas, não ficaria compreensível se o tradutor ignorasse a cena e simplesmente traduzisse como “saia/largue do meu pé”. Neste caso, há que se adaptar, buscando uma outra expressão que cause menos estranheza. Além das situações mencionadas acima, o tradutor pode estar certo de que vai encontrar outras dificuldades mais específicas, que tomam corpo de acordo com as características do original a ser traduzido. 16 Capítulo 2 - A legendagem e a dublagem A legendagem e a dublagem são recursos usados há bastante tempo pelas empresas filmográficas para que suas produções possam ser divulgadas em outros mercados, além do seu país de origem. A construção de ambas as técnicas sofreu transformações ao longo do tempo, de forma a adaptar-se às tecnologias desenvolvidas e a buscar reduzir, ao máximo possível, os inconvenientes inerentes a sua incorporação aos filmes. Ao analisar melhor cada uma das técnicas, pode-se compreender melhor os aspectos positivos e negativos de ambas. Legenda A legenda é o recurso que permite inserir pequenos quadros de texto de forma sincrônica à fala do personagem. A princípio pode parecer um trabalho simples, mas sua execução demonstra que o processo é bastante complexo. Para que possa transmitir de forma eficaz a mensagem original, a legenda deve estar moldada, primeiramente, dentro de alguns padrões, que variam pouco de um programa para outro. Atualmente a criação das legendas é feita através de software próprio para este fim. Estes programas possuem os parâmetros padrões da normatização de legendagem. Existem tradutores que optam por não utilizar estes recursos; entretanto, eles trabalham sempre observando certas limitações e características das legendas. A primeira destas restrições é o limite máximo de duas linhas por vez, sendo que cada linha não pode abarcar mais do que 35 caracteres. Desta forma o tradutor tem que lidar com a freqüente necessidade de condensar a mensagem de forma a fazer com que caiba nesses 35 caracteres, tendo de construir um texto correto e claro. A restrição é tão inelástica que, se o resultado da tradução de uma fala resultar em uma frase de 36 caracteres, mesmo que tenha um significado extremante próximo ao original, o tradutor terá de reconstruir esta frase, de forma a encontrar novamente este significado em um novo texto. Se não conseguir encontrálo, o profissional terá de aceitar a perda de parte da mensagem, devendo optar por excluir a que significará uma perda menor em relação ao todo do conteúdo original. Outra limitação refere-se ao tempo de permanência da legenda na tela, que normalmente varia de um a cinco segundos, e é calculado de acordo com o tamanho da mensagem a ser transmitida e com a sincronia entre texto, imagem e fala. Nesta fase, além das perdas resultantes do limite de caracteres, pode ser necessária a supressão de outras partes da mensagem original. Quando se tem uma personagem que além de falar muito, ainda o faz de 17 forma rápida, vai haver, inevitavelmente, a perda de expressões ou termos. Esta perda deve ser minimizada com a construção de períodos que transmitam a mensagem com suficiente concisão para não ultrapassar nem o limite de caracteres, nem o tempo destinado à exibição da legenda na tela. Além da padronização de legenda que o tradutor deve seguir, há ainda que se observar mais um aspecto que está ligado de forma mais direta ao ato tradutório, e que tem importância tanto na legenda como na dublagem. Referimo-nos à necessidade de adaptação do texto ao público alvo do programa, para melhor direcionar as opções de tradução, quando estas existirem, de forma a adequá-las de acordo com o mais apropriado para cada grupo de espectadores. Apesar de a legendagem primar pela utilização de períodos simples, na ordem direta do discurso, isso não vai significar que as legendas serão compreensíveis a todos, pois há também a variante do grau de complexidade dos significados. Existem termos que possuem correspondentes em várias línguas, com significação semelhante, mas com valores, entretanto, diferentes. A cultura indiana, por exemplo, tem por tradição a adoração de vacas, ratos e serpentes, então se é necessário traduzir para o hindi um trecho onde alguém faz uso de um desses três substantivos para ofender alguém, o tradutor deve buscar outros termos para substituir o utilizado no original. Neste caso, a existência do termo equivalente pode não resultar em uma boa tradução. Há aqui a observação a respeito da necessidade da utilização da norma culta, mesmo que a linguagem predominante seja coloquial. Na fala, é comum a supressão de termos, letras, sílabas e/ou palavras, tanto que é em função destas supressões que as línguas se modificam e se transformam, como aconteceu no português com a expressão “vossa mercê” que se transformou até chegar na palavra “você”, que na fala é dito quase sempre apenas como “cê”. Na tradução para dublagem, estas supressões devem ser mantidas, pois são elas que conferem naturalidade ao discurso oral, porém na legenda o tradutor deve construir o texto ignorando estas características da fala. Se um diálogo entre personagens é iniciado pela gíria whazzup?, agregação da expressão what’s up, o tradutor da legenda é obrigado a utilizar o correspondente da expressão original, e não da variante oral utilizada pelo personagem. Em outras palavras, a legenda deverá exibir algo como ‘E aí?’ ou ‘Qual é a boa?’. Já a dublagem, por sua vez, pode optar por algo mais próximo à oralidade da língua, utilizando expressões como ‘Qualé?’ ou ‘Beleza?’. Há exceções para esta regra, pois existem situações onde certas palavras coloquiais, ou com erros, ou com gírias, fazem parte de características específicas de uma personagem, de tal forma que influencia diretamente o contexto do filme. Nestes casos o 18 tradutor deve assinalar estas características, procurando, ou criando, palavras que tragam uma idéia semelhante a que se quer transmitir no original. A utilização de legendas, apesar de toda a dificuldade mencionada acima, preserva certas propriedades do filme original que são perdidas quando se utiliza a dublagem. Com um filme legendado, o espectador pode apreciar a obra com as vozes e interpretações dos atores originais, que na maioria das ocasiões são mais talentosos do que os dubladores. O espectador pode também perceber outras características das personagens, que podem ser encobertas pela dublagem, como sotaques ou dificuldades na fala. A legenda tem ainda a vantagem de oferecer menos custos às empresas de distribuição, pois requer um número menor de profissionais envolvidos no trabalho. Apesar das vantagens apresentadas, a legendagem também possui alguns aspectos tidos como negativos, o que, conseqüentemente, atrai críticas por parte de alguns espectadores. Não é possível evitar o embate pela atenção existente entre legenda e imagem, isto é, a atenção dos espectadores é dividida entre a leitura das legendas e a visão do filme, de forma que há a exigência de uma atenção maior para quem assiste, e, além disso, a perda de alguns segundos de imagem, para cada leitura. Além de dividir a atenção do espectador a legenda também divide espaço na tela, de forma a gerar inconvenientes, como encobrir uma parte da imagem, impossibilitando ao espectador visualizar algo fundamental para o contexto do filme. A legenda pode também se confundir com a própria imagem, pois apesar de serem apresentadas na cor branca ou amarela, vão existir cenas onde a predominância da cor das imagens é igual às da legenda, ou possui nuances que tornarão a resolução das letras menos visíveis, dificultando, ou até impossibilitando a leitura. Juntamente com estes problemas, há também outro causado pela necessidade de concisão ao produzir as legendas. Ao perceber que a personagem transmitiu uma longa mensagem que foi expressa por poucas palavras na legenda, o espectador pode se sentir “enganado”, vítima da preguiça do tradutor, pois por desconhecer a outra língua e a necessidade de concisão, não sabe o que foi dito de fato e não entende que a mensagem pode ser reduzida o suficiente para adaptar-se a legenda sem perder quantidade significativa de conteúdo. Há ainda um outro tipo de espectador, que é aquele que detém algum conhecimento da língua, e, por conseguinte, é capaz de perceber que a legenda não corresponde exatamente ao que foi dito, mas igualmente por desconhecer as dificuldades, os limites e a realidade da tradução para legendas, passa, então, a condená-las, condenando também o tradutor. 19 Dublagem A dublagem consiste na reconstrução da sonorização da língua de origem para uma outra, devendo manter, da melhor maneira possível, as características apresentadas pelo original. Esta reconstrução exige padrões diferenciados, o que acarreta também problemas diferentes dos apresentados na legendagem. A princípio, o esforço por parte do tradutor é semelhante: ele deve conhecer o material a ser traduzido, bem como o público ao qual se destina, para então se dedicar à tradução propriamente dita. Uma diferença inicial marcante é que a dublagem deve ser feita em linguagem coloquial, em proporção à utilizada no original, de forma a imprimir a mesma naturalidade existente no texto original. Um cuidado maior com as características intrínsecas do contexto, como aspectos lingüísticos (saber reconhecer diferenças entre a fala de uma pessoa que vive no interior, e a fala de alguém que vive nas grandes metrópoles, por exemplo), e saber como adequá-las a situações próximas na outra língua, garante uma maior fidelidade ao texto da dublagem. As técnicas utilizadas na dublagem possuem normas menos fixas que as de legendagem, uma vez que cada produção traz consigo contextos próprios. Este fator, entretanto, não significa que o tradutor é livre para adaptar as mensagens de acordo com sua vontade. As normas de dublagem vão ser estabelecidas, na verdade, dentro de cada situação a ser traduzida, pois se uma personagem fala demais e muito rapidamente, o tradutor deve construir um texto com estas características, aplicando-se a proporção inversa se uma outra personagem fala pouco e pausadamente. Entretanto, tal tarefa não é tão simples, pois uma fala extensa não implica necessariamente que a mensagem a ser transmitida exige, de fato, o mesmo número de palavras para a outra língua. Da mesma forma que uma pequena expressão pode estar carregada de uma grande carga semântica que exige um grande número de palavras em outra língua. Na legendagem este fator não apresenta o mesmo peso que para a dublagem, pois o texto exibido na legenda não necessita de sincronização tão fina com a voz da personagem. A diferença está no fato de que enquanto a legendagem é limitada pelo número de linhas e tempo de exibição do texto, a dublagem é limitada pelo movimento labial da personagem, se esta é visível durante a fala. O trabalho de dublagem é alvo de críticas se não há sincronia entre a fala e o movimento labial. A dublagem apresenta maior vantagem para alguns públicos, como o infantil, pois como dito anteriormente, a legenda exige a leitura rápida, faculdade, possivelmente, ainda não desenvolvida por parte deste público. Mesmo as crianças que já foram alfabetizadas precisam 20 se concentrar de maneira integral à imagem da tela, impossibilitando assim a leitura simultânea da legenda, caso contrário perderiam muito da trama do filme. Além das crianças, a dublagem também democratiza o entretenimento para a população semi- ou não-alfabetizada, razão pela qual vez por outra surgem debates políticos acerca da obrigatoriedade de dublagem de filmes estrangeiros no Brasil. Como acontece com a legendagem, a dublagem também possui algumas desvantagens. Uma destas desvantagens é a necessidade de uma gama maior de profissionais. Além do tradutor, a dublagem exige a contratação de dubladores, que podem ser profissionais especializados ou mesmo atores profissionais, que emprestam suas vozes e talentos para abrilhantar as produções. A técnica também exige equipamentos específicos e o uso de um estúdio de gravação. Tudo isso torna o processo de dublagem mais dispendioso e moroso. Eventualmente, um profissional imprime certas características ao trabalho que casam muito bem com o personagem ou ator que está sendo dublado, o que o credencia a fazer novas dublagens para aquele mesmo ator ou personagem em novas produções. Isto pode se tornar um problema, pois nem sempre o profissional, seja ele dublador ou ator, está disponível para fazer novos trabalhos de dublagem, quando for necessário. Para ilustrar este ponto, analisemos o caso do notável humorista Cláudio Besserman Viana, mais conhecido como Bussunda, que foi o dublador da personagem Shrek em suas duas primeiras aventuras no cinema. Sua voz imprimiu características à personagem, como ocorre em toda dublagem, que não serão facilmente esquecidas. Com a morte do artista em 2006, um novo profissional teve que fazer a dublagem do terceiro filme da série. Como era de se esperar, este novo dublador não conseguiu apagar por completo os traços deixados por Bussunda nas edições anteriores. Parte do público infantil, a quem o filme se dirige, percebeu a diferença do timbre de voz da personagem. Há quem diga que estes detalhes não são realmente relevantes, mas há muito se sabe o quão exigente é o público infantil. Tais desvantagens não dizem respeito ao tradutor diretamente, porém contribuem para uma visão negativa da dublagem em geral, afetando também o próprio tradutor, pois infelizmente a produção de uma excelente tradução não garante que a dublagem em si terá qualidade, pois esta depende também da habilidade de quem dá, de fato, voz ao texto. Não há que se negar, entretanto, o alcance maior do filme dublado, a despeito das desvantagens desta forma de tradução. Percebe-se, então, que os desafios da dublagem e da legendagem devem ser abordados de forma distinta, e o resultado destas duas formas de transposição lingüística será 21 diferenciado e limitado por suas características intrínsecas. A preferência por uma ou outra forma de adaptação é, em grande escala, fruto do gosto pessoal do público. Se não bastassem as dificuldades inerentes do trabalho do tradutor de legenda ou de dublagem, a lide de quem tem que criar legendas ou dublagem para canções é ainda mais quimérica. Canção é poesia? Para prosseguir com a análise da tradução de canções dentro do cinema, é necessária uma observação relativa à estrutura das canções. A importância desta observação reside no fato de que, além de existir uma discussão antiga acerca das diferenças e semelhanças entre a poesia e a canção, não há embasamento teórico significativo para a tradução de canções. Vemo-nos com a possibilidade de nos voltarmos para as teorias existentes acerca da tradução de poesia, que encerra em si aspectos semelhantes à tradução de canções. A canção possui origens anteriores às da poesia, e foi considerada um meio de preparação mental, pois como afirmou Sócrates “para o corpo temos a ginástica e para a alma, a música.” (SOCRATES, Apud Platão, ano 2000 p. 72). A música a que Sócrates referia-se era aquela que deveria possuir em sua letra um discurso capaz de representar a verdade, alem de ter o papel de “representar Deus sempre tal como é, quer seja representado na epopéia, na poesia lírica ou na tragédia.” (SOCRATES, Apud Platão, ano 2000 p. 73). Desta forma as músicas atuavam como “formadoras” na educação dos homens. De acordo com Galindo (2006, p.03): (...)o termo grego “mousiké” englobava uma unidade integrada de melodia e verso e representava o principal canal de formação dos homens, bem como de manifestação de uma cultura predominantemente oral. Era desta forma, pelo discurso oral, em performance, que se concretizava uma voz coletiva. Tal discurso oral manteve-se presente com semelhante força também na Idade Média, período no qual as poesias eram produzidas para serem cantadas. Em canções, portanto, se encontra a origem da poesia, pois a escrita estabeleceu-se gradativamente transformando as canções em textos poéticos escritos, para não mais serem cantados, e sim lidos ou declamados. Apesar destas raízes históricas, pode-se perceber que a pergunta do subtítulo acima tem mais importância em países como o Brasil que no exterior. Em países de tradição cultural milenar, como a França, por exemplo, graças a uma rigorosa tradição normativa, a posição dessas duas artes é bem definida e apenas a poesia escrita é considerada arte literária, sendo 22 vista como mais nobre do que a letra de música. Tal acepção era a vigente em nosso país até o apogeu da música popular brasileira, que trouxe consigo disputas ideológicas acerca do que era arte ou não. Mesmo depois de décadas de discussões, não há um consenso se canção pode ser considerada poesia, mas a comparação entre ambas é pertinente, como podemos observar neste excerto de Ascher (2007): Tais dilemas já deveriam, a essa altura, ser história. São raros os que negariam atualmente o valor das melhores canções produzidas no país e, inclusive entre os críticos e especialistas, poucos relutam em admitir que o texto delas pode ser tão poético (seja na acepção de conscientemente elaborado de acordo com regras exigentes, seja na de portadores de sentidos concentrados) quanto o da melhor poesia escrita. Ainda assim, tão logo a questão do valor desliza rumo à confusão conceitual, perde-se clareza. Quem compare dois textos, um tão bom quanto o outro, sem saber que um provém de um livro e o outro, de uma canção, achará difícil entender ou explicar tanto diferenças importantes entre ambos como o uso corriqueiro em um de recursos que mal se apresentam no outro. Caso, em vez de dois textos individuais, ele justaponha uma quantidade generosa de poemas e letras (cem, digamos, de cada qual), as diferenças acima se tornarão explícitas demais para serem negadas. Neste ponto convém imaginar que seja colocado um tradutor para fazer a observação de dois textos: uma poesia e a letra de uma canção, levando em consideração que ambas exigem, na tradução, não só a transmissão do conteúdo da mensagem, mas também da forma, que é o diferencial dos textos incluídos nestas duas categorias. Parece-nos óbvio que a distinção entre poesia e canção é irrelevante para o tradutor, já que ambas as formas possuem suas especificidades no que diz respeito ao conteúdo, às rimas e à métrica, mas no concernente ao trabalho final da tradução, o resultado é que ambas devem manter, ao máximo possível, a proximidade entre forma e conteúdo como os apresentados no original. Geir Campos (1987, p.48) estabelece a existência de “duas pernas, que se completam” na tradução: a equivalência textual e a correspondência formal. Segundo este autor, O que se quer dizer com “equivalência textual” é que o texto traduzido deve transmitir ao seu leitor uma informação semelhante à que o texto original transmitiu ao seu primeiro leitor em sua língua de origem. A correspondência formal quer dizer que a forma do texto original deve ser seguida pelo tradutor com a máxima fidelidade possível, muito embora em alguns casos essa fidelidade se reduza ao mínimo. (grifo nosso) São com estes dois aspectos que o tradutor de poesias e canções tem de trabalhar, mais que os tradutores de outros textos, como os de textos técnicos, que naturalmente, devem dar prioridade ao conteúdo, já que a forma é irrelevante. Para a poesia e a canção, especialmente a utilizada em filmes e desenhos, a forma costuma ter prioridade sobre o conteúdo. Entretanto não se pode dizer que isso acontece de forma obrigatória ou fixa, porque a realidade de cada 23 canção, de cada imagem, de cada texto, varia enormemente, cabendo ao tradutor lidar com elas da melhor maneira possível, sendo necessário, por vezes, que o profissional tenha inspirações de poeta, além de imaginação e criatividade, para encontrar a solução mais apropriada para a tradução. 24 Capítulo 3 - Traduzindo canções de filmes Cada material a ser traduzido possui especificidades, que podem resultar em problemas para o tradutor. A tradução de canções de filmes não foge a essa regra; pelo contrário, esse tipo de tradução apresenta um grande número de limitações. Traduzir uma canção significa adicionar mais limites a atividade de produzir legendas e principalmente de produzir dublagens, pois associados ao tempo de fala, à imagem, à sincronia, teremos também o ritmo, a rima e a musicalidade inerentes às canções. Estas características também são refletidas na tradução de poemas, como afirma Horta (2004, p.12): “É algo diferente a tradução do poema, em que o som – e, pois, a palavra – costuma desempenhar papel relevantíssimo.” A tradução de canções, então, revela-se como tarefa complexa, por vezes árdua, na qual o tradutor deve possuir uma gama extensa de conhecimento das línguas com as quais trabalha, de forma a conseguir construir variações da mensagem a ser traduzida. Como já destacamos, essa gama de conhecimento é necessária a qualquer tradutor, para a tradução de qualquer conteúdo. Entretanto, para o tradutor de canções, este conhecimento terá outros usos, pois se alguém, ao traduzir um livro, encontra o equivalente para determinado texto e este possui um número maior de sílabas do que o original, não há problemas, pois os limites de tradução não são rígidos quanto a limitações de extensão. Já para a tradução das canções não existe a possibilidade de aceitação de um texto equivalente quanto ao conteúdo e diferente quanto à forma, bem como para a construção de uma forma correspondente com conteúdo muito diverso do original. Portanto, nestes aspectos, o conhecimento que o tradutor tem é que o auxiliará a buscar a solução para as dificuldades da tradução, para encontrar o equilíbrio ideal entre forma e conteúdo. Analisando o trabalho a ser feito na tradução de um texto com ritmo e métrica, chegase então a seguinte conclusão, como afirma Horta (2004, p.13) “(...) [em textos onde] importa antes o clima que a informação, a sugestão que o conceito, e em que a música e a imagem sobrelevam a lógica, é preciso não apenas traduzir (ou verter): é preciso, sobretudo, recriar; ou transcriar (...)”. Deste modo, cabe ao tradutor desempenhar o papel, por vezes, de compositor e poeta, pois, como afirma Rónai (1976, p.28): Mais de uma vez o tradutor tem sido comparado a artistas: ao cantor que canta uma canção escrita por outro, ao músico que num instrumento toca uma música escrita para outro instrumento (...) ou que decifra e “reescreve” toda a partitura, ao maestro que rege 25 composições alheias, ao escultor que tem de executar noutro material qualquer cópia de uma estátua de mármore (...), ao pintor que copia em óleo um pastel, ao ilustrador de um livro, ao ator que encarna os mais diversos papéis (...), ao fotógrafo que de um quadro de museu tira uma foto colorida (...) ou bate uma chapa de uma estátua (...) e, fazendo entrever a dificuldade de sua tarefa, a um artista plástico que tivesse de transmutar uma música em quadro ou em estátua (...). Este papel é prestado, entretanto, quase que de maneira velada, pois a tradução não resultará em uma obra de quem a traduziu, mas sim na versão traduzida de uma composição de outrem. A visão romântica do trabalho do tradutor apresentada acima não é partilhada por todos. Há também a existência de comparações menos favoráveis, como a observação feita pelo irreverente Goethe, e analisado por Rónai, neste mesmo texto (1976, p.29). Diz o professor que o escritor alemão comparava tradutores a “alcoviteiros que nos elogiam uma beldade meio velada como altamente digna de amor e que excitam em nós uma curiosidade irresistível para conhecermos o original.” Este comentário de Goethe pode ser estendido às canções de cinema, quando se observa que algumas das músicas dos desenhos infantis tidos como clássicos são amplamente difundidas no original. Temos como exemplos a Can You Feel The Love Tonight, traduzida para Nesta Noite o Amor Chegou do filme O Rei Leão, ou a A Whole New World, na versão traduzida Um Mundo Ideal presente em Aladdin, entre outras. Tais difusões, feitas em rádios e disponíveis para aquisição nas trilhas sonoras, podem ser interpretadas como estratégia de marketing, pois têm como objetivo impulsionar a divulgação de seu produto, satisfazendo a eventual curiosidade, como define Goethe, que o espectador tenha pelas versões das canções originais, e incutindo as características dos filmes na memória dos espectadores, fazendo com que estes perdurem no tempo. Verter canções de uma língua a outra, depois de se analisar as limitações que a tarefa oferece, adicionadas às dificuldades presentes na dublagem e na legendagem, pode ser considerado um trabalho quase impossível. Entretanto, a realização desta em diversos filmes comprova que esta acepção não é correta. Trata-se de um trabalho necessário, pois não é válida a opção de restringir a divulgação de realizações culturais (filmes, livros, poesias, etc.) pelo mundo apenas porque não estão em língua compreendida por todos. Horta (2004, p.14) assinala este aspecto na seguinte afirmação: (...) a alegada intraduzibilidade do poema não deve ser aceita como absoluta. Não é fácil, mas é possível recriar (...) de modo que, na língua destino, [a obra] soe como original e suscite um conjunto de sensações-emoções-sentimentos-idéias que se assemelhe ao da matriz. 26 Tal afirmativa pode ser comprovada pela existência de traduções de poemas bemsucedidas, bem como a existência de traduções de canções em filmes que mantém as estruturas necessárias à boa interpretação de seus contextos, como veremos nas canções extraídas de animações infantis. 27 Capítulo 4 - Análise das canções Como os desenhos e animações analisadas pertencem ao gênero infantil, é necessário observar primeiramente as características gerais presentes na maior parte das canções. A linguagem presente nestas produções é construída, normalmente, com o objetivo de reter a atenção das crianças, utilizando, entre outros artifícios, um humor simples, baseado, na maioria das vezes, em trocadilhos, chistes e imagens nas quais as personagens sofrem acidentes inusitados, como quando um vilão escorrega e cai ao perseguir o herói. As canções constituem, em si, um recurso a mais para captar a atenção das crianças, além de incorporarem em seus textos os recursos mencionados acima. Dentro deste contexto, cabe ao tradutor buscar os mesmos efeitos ao verter os diálogos e as canções, pois mesmo com todas as diferenças entre as culturas existentes no planeta, as crianças costumam manter a curiosidade e o interesse por canções em qualquer cultura. Com a análise da tradução para dublagem e legenda das canções extraídas de desenhos e animações infantis, é possível perceber tanto as ocorrências destes recursos, bem como os problemas que podem surgir para o tradutor e as soluções encontradas para tais problemas. Após a análise das canções selecionadas para este estudo, identificamos dois grandes grupos relacionados ao texto final das versões para a legendagem e para a dublagem. Em um grupo, estão as canções que possuem o texto da legenda e da dublagem semelhantes, ou bastante próximos, diferindo apenas em pequenos detalhes irrelevantes para o sentido geral do texto. Em um segundo grupo estão as canções cujas versões para legendagem e dublagem se diferem consideravelmente. Dublagem e legenda com textos semelhantes Considerando que é mais comum e natural a ocorrência de textos de dublagem e de legendas, em sentido amplo, diferentes entre si, as análises feitas neste grupo buscaram observar se, ao optar por apresentar os textos semelhantes para a dublagem e legenda, o tradutor conseguiu manter uma equivalência textual satisfatória, ou maior do que uma eventual diferenciação na tradução destes dois tipos de texto. Inicialmente notamos que ao manter um só texto para os dois recursos em questão, o tradutor primou por sustentar as estruturas obrigatórias à tradução para dublagem de canções, ou seja, procurou construir o texto preservando, ao máximo possível, a correspondência formal e, sempre que possível, a equivalência textual. Em um primeiro momento poder-se-ia 28 considerar, então, que o tradutor optou por manter só um texto para as duas formas de tradução porque o resultado da tradução para a dublagem culminou em um trabalho que corresponde de forma satisfatória ao original, de forma que produzir uma nova tradução para legenda, sem necessitar levar em consideração os limites impostos pelas canções, seria uma tarefa desnecessária. Em alguns trechos de algumas canções foi possível, de fato, constatar esta observação, como na canção Belle, do desenho A Bela e a Fera: Look there she goes that girl is strange, no question Dazed and distracted, can't you tell? Never part of any crowd 'Cause her head's up on some cloud No denying she's a funny girl that Belle Temos aqui uma garota estranha Tão distraída lá vai ela... Não se dá com o pessoal Pensa que é especial Chega a ser Muito engraçada a nossa Bela Neste trecho, a correspondência formal entre um texto e outro foi mantida de forma bastante satisfatória, pois, como o tradutor conseguiu manter a mesma proporção do número de silabas existentes na versão original no texto traduzido, obedecendo, inclusive, à tonicidade, a métrica existente na letra foi fielmente observada. Pode-se afirmar o mesmo para as rimas, que foram mantidas nos mesmos versos, como nas palavras: crowd – cloud, que na dublagem mantiveram, respectivamente: pessoal – especial, e também nas palavras tell – Belle que foram substituídas por: ela-bela. Já a equivalência textual sofreu pequenas perdas de conteúdo, mas que absolutamente não prejudicam o entendimento do significado. Embora tenham sido constatadas algumas canções, em outros filmes, que possuem grau de correspondência formal e equivalência textual semelhantes ao do trecho descrito acima, observou-se uma ocorrência muito maior de situações nas quais uma tradução livre das imposições da dublagem, alcançaria uma melhor exposição das mensagens originais, como na seguinte canção Cruella De Vil, do desenho 101 Dalmatas: Cruella De Vil Cruella De Vil If she doesn't scare you No evil thing will To see her is to Take a sudden chill Cruella, Cruella She’s like a spider waiting for the kill Cruella, Cruella Deville Cruella Cruel Cruella Cruel É mais traiçoeira que uma cascavel Em suas veias Só circula fel Cruella, Cruella Em suas veias só circula fel Cruella, Cruella Cruel As características presentes na melodia, na rima e na métrica desta canção fizeram com que sua tradução para dublagem obrigasse o tradutor a construir um texto novo, no qual 29 todas as mensagens, de forma isolada, foram transpostas com significados totalmente diversos, com exceção do nome da personagem. Neste texto de dublagem então, só manteve a equivalência na mensagem principal da canção: a de que Cruella De Vil, como o próprio nome sugere, é uma pessoa má. O que não indica que o tradutor cometeu erros na dublagem, pois as restrições do contexto sintático-semântico desta canção não permitiram que as mensagens originais fossem mantidas. Entretanto, ao se analisar as possibilidades de tradução para legendagem, percebe-se que seria possível construir um texto com mais equivalência textual que a contida no texto da dublagem, pois se forem consideradas apenas as limitações inerentes à legenda, pode-se obter uma tradução para esta canção próxima a esta: Cruella Cruel Se ela não te assusta nada mais o assustará Vê-la é o mesmo que sentir um arrepio repentino. Ela é como uma aranha que espera pela sua presa. Ao optar por um só texto, mais apropriado para dublagem, além de perder informações importantes, o tradutor também perdeu uma associação com as imagens, porque no momento em que o personagem está cantando os versos: “Em suas veias/ Só circula fel” ele desliza os dedos pelas costas de sua esposa, fazendo com que ela se assuste e sinta “um arrepio repentino”, ou seja, há na imagem algo diverso do texto utilizado para legenda, e isso poderia ter sido evitado se a versão para a legenda tivesse obedecido a equivalência textual. No desenho Dumbo temos canções com trechos em situação semelhante a da música Cruella De Vil, como na canção Baby Mine: Baby mine don't you cry Baby mine, dry your eyes Rest your head close to my heart Never to part baby of mine Filho meu meu bebê Filho do coração Fique assim perto de mim para ouvir essa canção Neste excerto também foi necessária a total reconstrução das mensagens, de forma que somente a idéia principal foi mantida: a de que esta é uma canção de ninar. Novamente, não há que se falar em erros de tradução, pois as estruturas originais de melodia e da métrica foram obedecidas, quanto às rimas pode-se avaliar que não foram todas mantidas, porém estas 30 alterações não prejudicaram a naturalidade da versão dublada, ou seja, não interferiram na harmonia da canção. A utilização deste texto para legendagem, entretanto, não explica as perdas textuais, pois uma possível legenda mais próxima da mensagem original deste trecho seria: Meu bebê Não chore Meu bebê Seque suas lágrimas Encoste sua cabeça Perto do meu coração Para sempre Meu bebê Não há referência neste trecho, nem no restante da música, ao verso “para ouvir esta canção”, ou seja, não existe essa mensagem no texto original, tendo ela sido incluída na dublagem para fazer com que esta mantivesse sua correspondência formal. Em uma legenda não existiria a necessidade de adicionar e/ou excluir informações relevantes. Na canção You Can Fly, de Peter Pan, a mensagem principal é que para voar basta apenas pensar em coisas boas, sendo que no texto original são mencionadas vários exemplos de “pensamentos bons”. Repare no seguinte trecho como estas mensagens foram transformadas: When there's a smile in your heart There's no better time to start Think of all the joy you'll find When you leave the world behind! And bid your cares goodbye! You can fly! You can fly! You can fly! Muito você vai gostar Quando se sentir levar Lindos castelos no ar Estrelinhas a brilhar Você vai encontrar Vai voar! Vai voar! Vai voar! Na letra original, há a referência a estrelas, mas são feitas na estrofe anterior a esta, e o contexto é diverso do demonstrado neste trecho da dublagem. Em uma tradução mais próxima da equivalência textual poderia se obter o seguinte texto: Quando há um sorriso em seu coração Não há melhor momento para começar Pense na alegria que encontrará Quando deixar o mundo para trás E disser adeus à suas preocupações Você pode voar! 31 As linhas acima obedecem às restrições da legenda e apresentam maior correspondência ao conteúdo do texto original. Como nas outras canções observadas, a manutenção da forma foi bastante respeitada: tanto métricas, quanto rimas e melodias são preservadas, o que confere às versões dubladas bastante naturalidade e harmonia. A análise destas e de outras canções que não possuem distinção entre o texto da dublagem e da legendagem indicou que são poucos os momentos nos quais a equivalência textual do texto apropriado para dublagem possui capacidade suficiente para transmitir com mais fidelidade a mensagem contida nos textos originais. Desta forma, para a maior parte das canções que apresentaram dublagem e legendas iguais, é possível notar, como foi ilustrado nas canções Cruella De Vill, Baby Mine e You Can Fly, que o texto utilizado atenderá mais às necessidades da dublagem, ou seja, o tradutor opta por traduzir o texto da canção em uma só versão, e esta versão favorece a dublagem, mesmo que um outro texto para legenda fosse mais fiel. As perdas da equivalência textual no texto produzido para dublagem são justificáveis, como afirma Horta (2004, p.20): Entendo (...) que o conteúdo propriamente semântico de um poema, ou de partes dele, é algumas vezes mero suporte para sua função encantatória, isto é sua essência mesma... Em tal hipótese (...) penso que pode (ou deve!) o tradutor sacrificar o sentido aparente ou ostensivo para tentar recriar na língua-meta a música, o clima, a magia do artefato original, que são seu verdadeiro sentido. Quando se observa o texto utilizado na legenda, entretanto, não se pode aplicar as mesmas justificativas, pois na legenda é mais comum a utilização de técnicas de tradução que otimizem o texto, de forma que este traga a mensagem da maneira mais completa e mais simples, com a intenção final de possibilitar ao expectador uma leitura rápida e objetiva. Desta forma, pode-se supor que o tradutor tenha optado por verter a canção original para um só texto em busca de economia de tempo, que é bastante escasso. Uma outra hipótese seria por escolha da própria distribuidora, que ao optar por um só texto economiza, além de tempo, recursos financeiros, pois paga por apenas uma versão e não duas. Dublagem e legenda com textos diferentes Dentro deste grupo observou-se a relação de equivalência textual que dublagem e legendagem mantiveram com as canções originais. Foi predominante a existência de legendas com o texto mais equivalente que a dublagem, ou seja, o tradutor preocupou-se em construir textos distintos que se propunham a manter na dublagem a melodia, a rima e a métrica; e na legendagem o máximo de proximidade às mensagens das canções. O seguinte excerto da canção The Gospel Truth III, do Desenho Hércules ilustra estas conclusões: 32 Original Though Hades horrid plan Was hatched before Herc cut his first tooth The boy grew stronger ev'ry day and That's the gospel truth Legenda Embora o plano hediondo de Hades Tinha sido traçado antes do primeiro dente de Hércules O menino crescia fortemente Dublagem Mas apesar de ser Cruel o plano que Hades bolou O jovem ganha mais vigor Essa é a pura verdade E foi o que passou É interessante perceber que a legenda segue normalmente, ou seja, não é possível perceber as variações entre esta legenda e uma legenda de um diálogo não-musicado. Em um trecho de uma outra canção, a Poor Unfortunate Souls de A Pequena Sereia, pode-se perceber traços semelhantes em ambos os textos traduzidos: Original The men up there don’t like a lot of blabber They think a girl who gossips is a bore Yes, on land it’s much preferred For ladies not to say a word And after all, dear, what is idle prattle for? Legenda Os homens lá em cima Não gostam de muita conversa Acham que garotas tagarelas são chatas Em terra firme eles preferem Dublagem O homem abomina tagarela Garotas que não dizem nada Afinal, minha querida De que serve fofocar? o dia inteiro fofocando o homem se zanga, diz adeus e vai embora Garota caladinha ele adora Se a mulher ficar falando Estas características repetem-se na maior parte das canções, sendo que os textos de dublagem sempre observam e mantêm todas as características que dizem respeito à correspondência formal, e as legendas trazem textos mais ricos em informação. No entanto destacaram-se também algumas situações nas quais a legenda, apesar de ser uma versão diferente da dublagem, não apresenta uma grande equivalência textual. Repare a estrofe inicial da canção Arabian Nights do desenho Aladdin: Original Where it's flat and immense And the heat is intense It's barbaric, but hey, it's home Legenda Vão cortar sua orelha para mostrar para você Como é bárbaro o nosso lar Dublagem É uma imensidão, um calor e exaustão Como é bárbaro o nosso lar Nos dois primeiros versos da legenda o tradutor simplesmente suprimiu as idéias de imensidão e calor intenso, para adicionar ao texto um costume típico do povo retratado no 33 desenho, mas que não estava expresso em nenhum dos versos originais. No último verso, há também um distanciamento do original. O mesmo ocorre no seguinte excerto da canção Part of Your World de A Pequena Sereia: Original I’ve got gadgets and gizmos a-plenty I’ve got oozits and whatzits galore You want thingamabobs? I’ve got twenty But who cares, no big deal, I want more Legenda Temos muitas coisas, muitos bibelôs Tenho trecos e cacarecos a valer Se quer quinquilharias, tenho mais de 20 Mas não interessa, não me serve para nada Eu quero mais Dublagem Essas coisas estranhas, curiosas para mim são bonitas demais olhe essas aqui: preciosas mas pra mim ainda é pouco quero mais Pode-se perceber que aparecem várias palavras de difícil tradução, pois algumas delas constituem intraduzibilidades lingüísticas, e, além disso, há as que estão vinculadas às imagens. No momento em que Ariel, a personagem principal, fala a palavra thingamabobs (esta palavra se refere a objetos para os quais não se lembra ou não se conhece o nome, não possuímos equivalente na língua portuguesa) ela abre uma caixa com vários abridores de garrafas, que o tradutor chama de quinquilharias. Porém o que se destaca aqui é que mesmo depois de conseguir substituir palavras complexas, o tradutor constrói uma colocação incoerente, e até oposta às idéias da canção, no verso “não me serve para nada”, porque na expressão “no big deal” não está contida a informação de que os objetos não têm serventia, e sim de que não importa quantos objetos Ariel tenha ela sempre quer mais. A oposição se caracteriza porque os objetos têm valor sentimental para a personagem, de forma que dizer que não servem para nada é o mesmo que anular esse valor sentimental. Parece-nos correto condenar estes últimos exemplos como erros de tradução. O estudo mostrou que é permissível um afastamento do sentido original na versão da dublagem, quando o tradutor tem o seu trabalho regido por regras de métrica, ritmo e musicalidade. A versão para a legendagem, entretanto, deve sempre seguir o original, sendo restringida apenas pelo limite de caracteres em cada linha de texto exibido. Quando um tradutor deixa de utilizar uma versão com equivalência textual, e que obedece aos limites impostos pela técnica, não nos parece uma escolha justificável. Felizmente, foram poucos os exemplos nos quais encontramos tais situações. 34 Conclusão No campo da tradução específica para o cinema, a dublagem e a legendagem de canções demonstram ser tipos de traduções que oferecem grandes desafios ao tradutor, pois pôde-se perceber pela análise destas canções que, apesar de estarem sujeitas às mesmas limitações inerentes à legenda e a dublagem presentes em situações de fala, há outros aspectos limitadores a serem observados pelo tradutor. Tais aspectos estão diretamente ligados às características intrínsecas que o “gênero” canção traz consigo, sendo os principais a rima, a métrica e a melodia. Quando se traduz uma canção de um desenho ou filme, o desafio lançado ao tradutor não é mais de transmitir a mensagem da maneira mais fiel possível, mas sim de transmitir os efeitos buscados na canção original, e estes efeitos encontram-se não só na letra da canção, mas em sua métrica, em sua melodia. Nas situações em que legenda e dublagem possuíam o mesmo texto foi possível perceber que o texto em questão era sempre o mais apropriado para a dublagem, uma vez que o tradutor optou por sacrificar parte do conteúdo textual e manter de forma bastante fiel à correspondência formal. Para estas situações era possível perceber que o tradutor só alterava a legenda quando surgia algum verso que por alguma razão não se encaixava nos limites obrigatórios dos caracteres. Já para as versões diferentes e específicas para dublagem e legendagem, pôde-se perceber que os textos exclusivos para legenda primavam pela transmissão da mensagem da maneira mais próxima ao original possível, sem levar em consideração rima ou métrica. Nestas legendas, a transcrição foi feita da mesma forma que são feitas as traduções para legendas de diálogos comuns. E, de fato, sem se preocupar com melodia e ritmo, legendas transmitem com maior precisão o conteúdo textual das canções. O texto de dublagem dessas canções, apesar de não possuir tanta equivalência textual quanto a legenda, manteve a correspondência formal bastante próxima à do original. Entre a legenda e a dublagem verificou-se, então, que a primeira , quando diferente, busca manter as características correspondentes à equivalência textual, transmitindo mais conteúdo que forma. Já o texto para dublagem obriga o tradutor a priorizar a correspondência formal em detrimento da equivalência textual, apresentado letras que mantêm mais a estrutura formal que a textual, chegando à situações extremas nas quais toda métrica e rimas são mantidas, mas os significados são consideravelmente alterados, sustentando apenas a mensagem principal da canção. 35 Na dublagem, especificamente, verificou-se que traduzir uma canção para ser cantada, e não apenas lida, é tarefa que exige, além de muito conhecimento, imaginação, criatividade e versatilidade. Aqui, o tradutor, além de ter que possuir inspiração e todos os outros elementos necessários à tradução de canção ou poesia, tem de “re-compor” uma letra que já foi composta por outrem e que será cantada por uma terceira pessoa, que dependendo da sua interpretação pode conferir mais ou menos qualidade à nova versão. De uma maneira geral, podemos dizer que na maioria das canções analisadas não houve erro de tradução. As alterações encontradas nas versões em língua portuguesa foram, geralmente, fruto das limitações impostas pelas características da legenda ou da dublagem. Esta pesquisa indica o nível de maturidade do mercado de tradução de filmes no Brasil, já que em um passado recente a área era vítima freqüente de críticas relacionadas ao trabalho dos profissionais da tradução. Esta pesquisa não se encerra aqui. São várias as possibilidades de continuidade de estudos relacionados ao trabalho aqui iniciado. Uma possibilidade seria a comparação entre a tradução de canções dos filmes atuais, como os aqui comentados, com filmes mais antigos, das décadas de 1940 e 1950. Tal estudo poderia, de certa forma, legitimar a evolução do mercado de tradução de filmes no Brasil. 36 Referências Bibliográficas 101 DÁLMATAS. Produção de Walt Disney. Manaus: 1961. 1 DVD (79 min) NTSC, son. color. A BELA e a Fera. Produção de Walt Disney. Manaus: 1991. 1 DVD (84 min) NTSC, son. color. ALADDIN. 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São Paulo: Cultrix, 1994. 38 Anexos 101 Dálmatas Cruella De Vil Cruella De Vil Cruella De Vil If she doesn't scare you No evil thing will To see her is to Take a sudden chill Cruella, Cruella She’s like a spider waiting for the kill Cruella, Cruella De Vil Cruella Cruel Cruella Cruel É mais traiçoeira que uma cascavel Em suas veias Só circula fel Cruella, Cruella Em suas veias só circula fel Cruella, Cruella Cruel A Bela e A Fera Belle Little town It's a quiet village Ev'ry day Like the one before Little town Full of little people Waking up to say: Bela: Tudo é igual Nesta minha aldeia Sempre está Nesta mesma paz De manhã, Todos se levantam Prontos pra dizer: Bonjour! Bonjour! Bonjour! Bonjour! Bonjour! Bonjour! Bonjour! Bonjour! Bonjour Bonjour! There goes the baker with his tray, like always The same old bread and rolls to sell Ev'ry morning just the same Since the morning that we came To this poor provincial town Vem o padeiro com seu tabuleiro Look there she goes that girl is strange, no question Dazed and distracted, can't you tell? Never part of any crowd 'Cause her head's up on some cloud No denying she's a funny girl that Belle Temos aqui uma garota estranha Tão distraída lá vai ela Não se da com o pessoal Pensa que é muito especial Chega a ser muito engraçada a nossa Bela Bonjour Good day How is your fam'ly? Bonjour Bom dia Como vão todos? Bonjour Good day How is your wife? Bonjour Bom dia Como vai sua esposa? Com pães e bolos pra ofertar Tudo aqui é sempre assim Desde o dia em que eu vim Pra essa aldeia do interior 39 I need six eggs That's too expensive Eu quero seis ovos São muito caros There must be more than this provincial life Bela: Eu quero mais que a vida no interior Look there she goes that girl is so peculiar I wonder if she's feeling well With a dreamy far-off look And her nose stuck in a book What a puzzle to the rest of us is Belle Homem:Esta garota é tão esquisita O que será que há com ela? Sonhadora criatura Tem mania de leitura É um enigma para nós a nossa Bela. Oh, isn't this amazing? It's my fav'rite part because you'll see Here's where she meets Prince Charming But she won't discover that it's him 'til chapter three Oh...Mais que lindo quadro quando os dois se encontram no jardim É o príncipe encantado e ela só descobre quem ele é quase no fim Now it's no wonder that her name means "beauty" Her looks have got no parallel But behind that fair facade I'm afraid she's rather odd Very diff'rent from the rest of us She's nothing like the rest of us Yes, diff'rent from the rest of us is Belle O nome dela quer dizer beleza Não há melhor nome para ela. Mas por trás desta fachada ela é muito fechada Ela é metida a inteligente Não se parece com a gente Se há uma moça diferente é Bela Right from the moment when I met her, saw her I said she's gorgeous and I fell Here in town there's only she Who is beautiful as me So I'm making plans to woo and marry Belle Desde o momento em que eu a vi eu disse Não há ninguém igual a ela Eu vi logo que ela tinha a beleza igual a minha e é por isso que eu quero casar com ela Look there he goes Isn't he dreamy? Monsieur Gaston Oh he's so cute Be still my heart I'm hardly breathing He's such a tall, dark, strong and handsome brute Lá vaiGaston Vive sonhando Monsier Gaston é bonitão Quando ele passa eu fico arfando É forte é bruto é um solteirão! Bonjour Pardon Good day Mais oui! You call this bacon? What lovely grapes! Some cheese Bonjour Bom dia Mas isso é bacon Que belas uvas. Um queijo, 40 Ten yards one pound 'scuse me! I'll get the knife Please let me through! This bread Those fish it's stale! they smell! Madame's mistaken. um quilo Eu pego a faca Quero passar O pão Está velho! Estão enganados! There must be more than this provincial life! Just watch, I'm going to make Belle my wife! A vida aqui nunca vai mudar! Eu quero levar Bela para o altar! Look there she goes a girl who's strange but special A most peculiar mad'moiselle It's a pity and a sin She doesn't quite fit in 'Cause she really is a funny girl A beauty but a funny girl She really is a funny girl That Belle Nós nunca vimos moça tão estranha É especial esta donzela Nem parece que é daqui Pois não se adapta aqui Todo mundo acha que ela É filha de um matusquela Mas todo mundo diz que ela É Bela A Pequena Sereia Part of Your World Original Look at this stuff, isn’t it neat? Wouldn’t you think my collection’s complete? Wouldn’t you think I’m the girl, the girl who has everything? Legenda Olhem para tudo isso, tanta coisa bonita Qualquer um diria que minha coleção está completa Diria que sou a garota, a garota que tem tudo Dublagem Tenho aqui uma porção de coisas lindas nesta coleção Posso dizer que eu sou alguém que tem quase tudo. Look at this trove, treasures untold How many wonders can one cavern hold? Lookin’ around here you’d think, sure, she’s got everything. Olhe para esta fortuna, tesouros nunca vistos Quantas maravilhas em uma só gruta Se olhar ao redor, você vai pensar, é claro que ela tem tudo O meu tesouro é tão precioso Tudo que eu tenho é maravilhoso Por isso eu posso dizer I’ve got gadgets and gizmos a-plenty I’ve got oozits and whatzits galore You want thingamabobs? I’ve got twenty Temos muitas coisas, muitos bibelôs Tenho trecos e cacarecos a valer Se quer quinquilharias, tenho mais de 20 Essas coisas humanas, curiosas para mim são bonitas demais Olhe essas aqui, preciosas Sim! Tenho tudo aqui 41 But who cares, no big deal, I want more. I want to be where the people are I wanna see, wanna see ‘em dancing Walkin’ around on those – what do you call them again? Oh, feet Flippin’ your fins, you don’t get too far Legs are required for jumping, dancing Strolling along down a – what’s that word again? Street. Mas não interessa, não me serve para nada Eu quero mais Eu quero estar onde o povo está Eu quero ver, quero vê-los dançar E passeando com os seus... Como é que eles chamam? Pés Com barbatanas não se vai longe Com pernas poderia pular e dançar E passear lá na... Como é que eles chamam? Rua Onde eles andam, Mas pra mim ainda é pouco quero mais Eu quero estar onde o povo está Eu quero ver um casal dançando e caminhando em seus, como eles chamam? Ah, pés! As barbatanas não ajudam não pernas são feitas pra andar dançar e passear pela, como eles chamam? rua... Up where they walk Up where they run Up where they stay all day in the sun Wandering free Wish I could be Part of that world onde eles correm Passando o dia sob o sol Passeando livres, eu queria ser Ser desse mundo Poder andar, poder correr ver todo dia o sol nascer eu quero ver, eu quero ser Ser desse mundo What would I give if I could live out of these waters What would I pay to spend a day warm on the sand Betcha on land they understand Bet they don’t reprimand their daughters Bright young women, sick of swimmin’ Ready to stand. Daria tudo para viver lá Não queria ser mais deste mar Daria tudo para passar um dia Na areia quente Aposto que em terra firme eles entendem Aposto que não brigam com as filhas E todas as jovens cansadas de nadar E prontas para saber O que eu daria pela magia de ser humana Eu pagaria por um só dia poder viver Com aquela gente ir conviver e ficar fora dessas águas Eu desejo, eu almejo este prazer. And ready to know what the people know Ask ‘em my questions and get some answers What’s a fire and why does it – what’s the word? Burn Eu quero saber o que os humanos sabem Fazer perguntas e receber respostas E que é o fogo? e por que... Qual é a palavra? Queima? Eu quero saber o que sabem lá Fazer perguntas e ouvir respostas O que é o fogo, o que é queimar? Lá eu vou ver When’s it my turn Wouldn’t I love Love to explore Quando será minha vez? Eu adoraria Adoraria explorar o mundo lá Quero saber, quero morar naquele mundo 42 that shore up above Out of the sea Wish I could be Part of that world. em cima Longe do mar Eu gostaria de ser Ser desse mundo cheio de ar Quero viver, não quero ser mais deste mar. Poor Unfortunate Souls Original I admit that in the past I’ve been a nasty They weren’t kidding when they called me, well, a witch But you’ll find that nowadays, I’ve mended all my ways Repented, seen the light and made a switch True? Yes Legenda Confesso que no passado Eu fui malvada Não estavam brincando Quando me chamavam de bruxa Mas vai ver que hoje em dia Eu me corrigi Eu me arrependi Vi a luz e a acendi Verdade? Sim. Dublagem Eu confesso que já fui muito malvada Era pouco me chamarem só de 'bruxa' Mas depois arrependida, fiquei mais comedida e até mais generosa e gorducha Pode crer. Felizmente sei um pouco de magia É um talento Que sempre tive Ultimamente, sem brincadeira, Uso a magia para ajudar Os miseráveis, solitários e deprimidos Que patético. Corações infelizes Sofrendo, passando necessidade Esta aqui queria ser mais magra Este aqui desejava a namorada Se resolvi? Claro que sim! Esses corações infelizes É triste, mas é verdade São atraídos ao meu caldeirão "Um feitiço, Úrsula, por favor" Eu os ajudo Ajudo, sim Felizmente eu conheço uma magia É um talento que eu sempre possuí E hoje é este o meu ofício, que eu uso em benefício do infeliz e o sofredor que vem aqui (patéticos) And I fortunately know a little magic It’s a talent that I always have possessed And dear lady, please don’t laugh, I use it on behalf Of the miserable, the lonely and depressed (pathetic) Poor unfortunate souls In pain, in need This one longing to be thinner That one wants to get the girl And do I help them? Yes, indeed Those poor unfortunate souls So sad, so true They come flocking to my cauldron Crying "spells, Ursula please!" And I help them? Yes, I do Now it’s happened once or twice Mas algumas vezes Alguns não pagaram meu Corações infelizes precisam de mim Uma quer ser mais magrinha O outro quer a namorada Eu resolvo, claro que sim. São corações infelizes em busca de tudo Todos eles chegam implorando "faça-me um feitiço" Que é que eu faço? Eu ajudo. Mas me lembro no começo 43 Someone couldn’t pay the price And I’m afraid I had to rake ‘em across the coals Yes, I’ve had the odd complaint But on the whole I’ve been a saint To those poor unfortunate souls preço Eu infelizmente Tive de castigar os infelizes Sim, recebi algumas reclamações Na maior parte do tempo, fui uma santa Para os corações infelizes Alguns não pagaram o preço e fui forçada a castigar os infelizes Se reclamam não adianta Pois em geral eu sou uma santa. Para os corações infelizes. The men up there don’t like a lot of blabber They think a girl who gossips is a bore Yes, on land it’s much preferred For ladies not to say a word And after all, dear, what is idle prattle for? Os homens lá em cima Não gostam de muita conversa Acham que garotas tagarelas são chatas Em terra firme eles preferem Garotas que não dizem nada Afinal, minha querida De que serve fofocar? O homem abomina tagarela Garota caladinha ele adora Se a mulher ficar falando o dia inteiro fofocando o homem se zanga, diz adeus e vai embora Come on then They’re not all that impressed with conversation True gentlemen avoid it when they can But they dote and swoon and fawn On the lady who’s withdrawn And she who holds her tongue’ll get her man Vamos Eles não se impressionarão Se você quiser falar Cavalheiros evitam conversar Mas eles adoram, admiram Uma moça que é discreta A mulher que segura a língua Segura o homem Não! Não vá querer jogar conversa fora Disso, homens fazem tudo pra evitar Sabe quem é mais querida? É a garota retraída e só as bem quietinhas vão casar. Come on, you poor unfortunate soul Go ahead, make your choice I’m a very busy woman and I haven’t got all day It won’t cost much, just your voice Vamos Pobre coração infeliz Vamos logo, faça sua escolha Sou uma mulher ocupada E não tenho o dia todo Não vai custar muito Apenas sua voz É hora de resolver o negócio entre nós Eu sou muito ocupada e não tenho o dia inteiro O meu preço é sua voz You poor unfortunate soul It’s sad, but true If you want to cross the bridge, my sweet You’ve to pay the toll Take a gulp and take a breath And go ahead and sign the scroll Flotsam, Jetsam, now I’ve Você que é tão infeliz Não vai ser mais! Pobre coração infeliz É triste, mas é verdade Para cruzar a ponte Precisa pagar o pedágio Tome um gole e respire fundo Tome coragem e assine o Se quiser atravessar a ponte existe um pagamento Vamos lá, tome coragem Assine o documento! A sereia 44 got her boys The boss in on a roll This poor unfortunate soul contrato Pedro, Juca Agora, ela é minha, garotos A patroa está contente está no papo! É dia de alegria Ganhei o que eu queria Pobre coração infeliz Beluga, sevruga Come winds of the Caspian sea Larynxes, glossitis Et max laryngitis La voce to me Now, sing... Beluga, sevruga Vamos ventos do Mar Cáspio Laringe Glossite Et max laryngitis La voce to me Beluga, sevruga Eu quero um vento assim Laringo, lalingua E a lara laringe E a voz para mim Agora, cante... Original Oh I come from a land From a faraway place Where the caravan camels roam Where it's flat and immense And the heat is intense It's barbaric, but hey, it's home Legenda Venho de um lugar Onde sempre se vê uma caravana passar Vão cortar sua orelha para mostrar para você Como é bárbaro o nosso lar Dublagem Venho de um lugar Onde sempre se vê uma caravana passar É uma imensidão, um calor e exaustão Como é bárbaro o nosso lar When the wind's from the east And the sun's from the west And the sand in the glass is right Come on down Stop on by Hop a carpet and fly To another Arabian night Sopram os ventos do leste O Sol vem do oeste Seu camelo quer descansar Pode vir e pular, no tapete voar Noite Árabe vai chegar Sopram os ventos do leste O Sol vem do oeste Seu camelo quer descansar Pode vir e pular, no tapete voar Noite Árabe vai chegar Arabian nights Like Arabian days More often than not Are hotter than hot In a lot of good ways A noite da Arábia E o dia também É sempre tão quente Mas faz com que a gente se sinta tão bem A noite da Arábia E o dia também É sempre tão quente que faz com que a gente se sinta tão bem Arabian nights 'Neath Arabian moons A fool off his guard Could fall and fall hard Out there on the dunes Tem um belo luar E orgias de mais Quem se distrair Pode até cair Ficar para trás Tem um belo luar E orgias de mais Quem se distrair Pode até cair Ficar para trás Aladdin Arabian Nights 45 Dumbo Baby Mine Baby mine, don't you cry Baby mine, dry your eyes Rest your head close to my heart Never to part, baby of mine Filho meu,meu bebê Filho do coração, Fique assim perto de mim, Para ouvir essa canção Little one when you play Don't you mind what they say Let those eyes sparkle and shine Never a tear, baby of mine Se você vai dormir Ao seu lado eu estarei Pode sonhar, que toda noite eu velarei From your head to your toes (Baby mine) You're so sweet, goodness knows (baby mine) But you are so precious to me (baby, baby, baby) Cute as can be, Razão do meu viver baby of mine Não irá mais sofrer Você é tudo para mim Não há um bebê tão lindo assim (filho meu) Meu bebê (filho do coração) Hércules The Gospel Truth III Original Young Herc was mortal now Dublagem E assim virou mortal But since he did not drink the last drop He still retained his godlike strength So thank his lucky star Legenda Agora o jovem Hércules era mortal Mas como ele não tomou a última gota Conseguiu manter sua força divina Graças às estrelas da sorte But Zeus and Hera wept Because their son could never come home They'd have to watch their precious baby Grow up from afar Mas Zeus e Hera choraram Porque seu filho jamais voltaria para casa Eles teriam de ver o lindo filhinho Crescer à distância Choraram Hera e Zeus Seu filho pode não voltar mais Tiveram que olhar de longe O bebê crescer Though Hades horrid plan Was hatched before Herc cut his first tooth The boy grew stronger ev'ry day and That's the gospel truth Embora o plano hediondo de Hades Tinha sido traçado antes do primeiro dente de Hércules O menino crescia fortemente Essa é a pura verdade Mas apesar de ser cruel O plano que Hades bolou O jovem ganha mais vigor E foi o que passou Mas não bebeu a gota final Mantendo a força de um deus Que sorte do bebê! 46 Peter Pan You Can Fly Think of a wonderful thought Any merry little thought Think of Christmas, think of snow Think of sleigh bells-Off you go! Like a reindeer in the sky You can fly! You can fly! You can fly! Pense em uma coisa bem boa E num instante você voa Lembre do natal a chegar Pense em nuvens a passar E logo pelo ar Vai voar, vai voar, vai voar Think of the happiest things It's the same as having wings Take the path that moonbeams make If the moon is still awake You'll see him wink his eye You can fly! You can fly! You can fly! Pense uma coisa bem linda Se você não voar ainda Quando a lua despontar Siga um raio de luar E quando ela pairar Vai voar, vai voar, vai voar Up you go with a high and ho to the stars Beyond the blue! There's a Never land waiting for you Where all your happy dreams come true Every dream that you dream will come true When there's a smile in your heart There's no better time to start Think of all the joy you'll find When you leave the world behind! And bid your cares goodbye! You can fly! You can fly! You can fly! Você cai, cai bem longe vai Até onde não se vê A uma terra encantada do além Com tudo de bom e de bem A esperar por você Muito você vai gostar Quando se sentir levar Lindos castelos no ar Estrelinha a brilhar Você vai encontrar Vai voar, vai voar, vai voar