Edema de Reinke Mixedematoso - AG Pacheco Otorrinos Tijuca
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Edema de Reinke Mixedematoso - AG Pacheco Otorrinos Tijuca
1 Edema de Reinke Mixedematoso: Relato de Caso Mixedema Reinke’s Edema: Case Report Gustavo G. Pacheco - Médico Staff do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa, Rubem A. Lamar - Médico Staff do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa, Everton S. Ameno - Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa, Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro. Gustavo Guagliardi Pacheco Avenida das Américas, 700, bloco 01, sala 211, Barra da Tijuca Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22640-100 Tel.: (0xx21) 2494-9170 FAX (0xx21) 2429-0390 2 Edema de Reinke Mixedematoso: Relato de Caso Gustavo Guagliardi Pacheco∗∗, Rubem Amazonas Lamar ∗∗, Everton Ameno∗∗∗ RESUMO OBJETIVO: O objetivo do presente trabalho é relatar um caso raro de Edema de Reinke tratado inadequadamente. MATERIAL E MÉTODO: Relato de caso de Edema de Reinke Mixedematoso diagnosticado através de história clínica, exame clínico-otorrinolaringológico e confirmado através do resultado de dosagens hormonais tireóideas. Foi realizada revisão da literatura e comparação do nosso caso aos já publicados. RESULTADO: No presente caso, uma paciente feminina, branca, de 27 anos, natural e procedente de Nilópolis (RJ), veio, encaminhada de outro serviço, por apresentar quadro disfônico há cerca de 5 anos, não responsivo à 2 tratamentos microcirúrgicos. O exame otorrinolaringológico complementado com videolaringoscopia rígida evidenciou degeneração polipóide de pregas vocais, compatível com Edema de Reinke. História tabágica irrelevante, anamnese e exame clínico geral descartaram a etiologia tabágica do quadro, apontando para o hipotireoidismo como agente causador. CONCLUSÃO: Concluindo, apesar da baixa incidência da etiologia mixedematosa em comparação com a tabágica, não podemos nos abster de sua existência como eventual fator causal de Edema de Reinke. 3 SUMMARY OBJECTIVE: The aim of the present paper is to report a rare case of Reinke’s Edema inadequately treated. MATERIAL AND METHOD: Case report of a Mixedema Reinke’s Edema, diagnosed by clinical story, clinical-otorhynolaryngologic exam and confirmed by the results of thyroid hormone levels. A literature revision and comparison was acomplished from our case to the already published. RESULT: In the present case, a 27 year old white patient, from Nilópolis (RJ), came, guided by an other department, presenting hoarseness in the last 5 years, not responsive to 2 mycrosurgical treatments. The otorhinolaryngologic exam, complemented with a rigid videolaryngoscope, showed a polypoid degeneration of the vocal folds, compatible with Reinke’s Edema. Irrelevant tabagic story, anamnesis and general clinical exam dismissed the tabagic etiology of the case, pointing to the hypothyroidism as the causative agent. CONCLUSION: In conclusion, despite the low incidence of mixedema etiology in comparison with tabagic one, we must not forget they exist as cause factor of Reinke’s Edema eventualy. Unitermos:. Edema de Reinke Mixedematoso, hipotireoidismo Uniterms:. Mixedema Reinke’s Edema, hypothyroidism 4 ∗∗Médico Staff do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa ∗∗∗Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Lagoa Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro INTRODUÇÃO A laringe é considerada um órgão hormônio-dependente, uma vez que sofre grande influência hormonal. A voz humana é sensível às alterações hormonais e as alterações vocais podem constituir o primeiro sintoma destes distúrbios. O Edema de Reinke, também conhecido como degeneração polipóide, cordite polipóide e polipose difusa bilateral, caracteriza-se por acúmulo de líquido e substância gelatinosa na camada superficial da lâmina própria (o espaço de Reinke), gerando aumento de massa e irregularidade do bordo livre das pregas vocais, resultando em uma voz agravada e de baixa intensidade. Esse edema tem como principais fatores etiológicos a fumaça do cigarro, o abuso vocal e outros irritantes industriais aerotransportados, o refluxo gastroesofágico e o hipotireoidismo. A irritação pela sinusite crônica e pela secreção pós-nasal também foi implicada. FISIOPATOLOGIA O espaço de Reinke está sujeito à coleção de líquidos por causa da drenagem linfática pobre, estase venosa e congestão vascular. As alterações polipóides difusas desenvolvem-se na prega vocal membranosa do processo vocal até a comissura anterior, tornam-se progressivamente piores e, por fim, tornam-se permanentes. Quando completamente desenvolvidas, cada prega vocal aparece como uma bolsa distendida, com superfície lisa, 5 translúcida ou opaca; podem existir capilares ou vasos dilatados estirados sobre a superfície, comportando um aspecto angiomatoso. O edema é normalmente bilateral e simétrico, mas quando um lado está mais aumentado que o outro, uma pesquisa para patologia primária deve ser empreendida. Embora a biópsia possa revelar algum grau de displasia, a relação do Edema de Reinke com carcinoma é assunto ainda controverso. O mecanismo das alterações vocais associadas com o hipotireoidismo ainda não está completamente compreendido. Sabe-se que um aumento de mucopolissacarídeos na submucosa das pregas vocais, age como diuréticos osmóticos, retendo líquidos na lâmina própria. Isso resulta em aumento de massa das pregas vocais e diminuição da vibração. RELATO DE CASO A. L. P., 27 anos, branca, natural e procedente de Nilópolis (RJ). Apresentou, há cerca de 5 anos, início de disfonia progressiva associada à fadiga vocal. Nega abuso vocal social ou ocupacional, bem como rinossinusiopatias infecciosas de repetição ou doença do refluxo gastroesofágico. Refere, pela ocasião do início do quadro, tabagismo leve (cerca de 4 cigarros aos fins de semana durante seis anos) do qual veio a se abster 1 ano após o início do quadro, quando procurou assistência médica e lhe fora feito o diagnóstico de Edema de Reinke de origem tabágica, em agosto de 1999. Em maio de 2000, foi submetida à exérese microlaringoscópica da suposta lesão, em serviço de otorrinolaringologia, recebendo alta hospitalar no mesmo dia. Após acompanhamento pós-operatório, referiu melhora apenas parcial do quadro, com recrudescimento dos sintomas nos meses subseqüentes. 6 Em outubro de 2001, retornou ao serviço onde fora diagnosticada e operada com as mesmas queixas disfônicas, o que suscitou nova indicação cirúrgica pelo otorrinolaringologista assistente. Submetida à outra microcirurgia de laringe, com laudo histopatológico revelando “polipose difusa”, novamente não obteve melhora satisfatória. A referida paciente procurou então posto de saúde próximo à sua residência, sendo referenciada pelo clínico que a atendeu, para o nosso hospital em janeiro de 2003. Após coleta de história clínica e exame otorrinolaringológico completo, foi encaminhada para exame videolaringoscópico, no qual constatou-se hiperemia e edema difuso, polipóide e simétrico de pregas vocais afetando a coaptação e a mobilidade das mesmas. Suspeitamos, posteriormente, de doença do refluxo gastroesofágico, descartada após avaliação gastroenterológica e endoscopia digestiva alta. Faixa etária, história tabágica irrelevante e ausência de outros fatores irritantes como rinossinusiopatia crônica ou abuso vocal, nos levaram à solicitação de rotina laboratorial para hormônios tireóideos (T3, T4, TSH). Confirmada a suspeita clínica de hipotireoidismo, através de níveis aumentados de TSH e diminuídos de T3 e T4, encaminhamos prontamente a paciente ao serviço de endocrinologia, mesmo na ausência de outros sinais e sintomas típicos da doença. Instituiu-se terapêutica hormonal sintética à base de levotiroxina, com excelente resposta clínica da paciente já ao final da 3ª semana. Verificou-se melhora progressiva da qualidade vocal, do estado geral e perda ponderal de 3 kg no período. Videolaringoscopia rígida, completados 30 dias de tratamento clínico, revelou diminuição acentuada do edema, tornando-o quase imperceptível. 7 Atualmente, a paciente encontra-se em acompanhamento periódico ambulatorial, em uso regular de levotiroxina 50 mcg/dia, sem sinais aparentes de recidiva do processo e com videolaringoscopia normal. DISCUSSÃO O hipotireoidismo caracteriza-se por secreção insuficiente de tiroxina pela glândula tireóidea. Causa letargia, fraqueza muscular, ganho de peso, pele seca, obstipação intestinal, disfunção neurológica e disfonia. Os sintomas vocais podem estar presentes mesmo com hipotireoidismo leve. Nesses casos, o diagnóstico deve ser considerado mesmo na ausência de clínica exuberante e níveis hormonais levemente tocados. O diagnóstico é de exclusão e deve se basear na história clínica e exame físico e, muitas vezes, a duração do sintoma acaba sendo fator mais importante que a severidade do quadro clínico presente. CONCLUSÃO A voz humana é extremamente sensível à alterações hormonais, que, em sua maioria, mudam o conteúdo líquido da lâmina própria das pregas vocais. Esse líquido acumulado no espaço de Reinke altera o volume e a forma das pregas vocais, o que, por sua vez, causa mudanças vocais caracterizadas por agravamento, diminuição de projeção e perda de extensão vocal. O hipotireoidismo sabidamente causa Edema de Reinke, devendo ser investigados os hormônios tireóideos em qualquer paciente com tal edema. Mesmo quando tal pesquisa recai sobre sutis e não significativas alterações hormonais, devemos considerá-las com cautela. 8 O otorrinolaringologista deve estar alerta para as características clínicas do hipotireoidismo, que pode estar presente quando o Edema de Reinke faz parte do mixedema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BROONITZ, F. S. – Hormones and the human voice. Bull N Y Acad Med. 47 (2): 183-190, 1971. 2. HIRANO, M.; KURITA, S.; NASHASHIMA, T. – The structure of the vocal folds. In: HIRANO M. – Vocal Fold physiology. University of Tokyo Press, 1991. 3. HUNGRIA, H. – Otorrinolaringologia. 7ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, p. 204207, 1995. 4. JACKSON-MENALDI, C. A.; DZUL, A. L.; HOLLAND, R. W. – Allergies and vocal fold edema a preliminary report. J Voice. 13(1): 113-122, 1999. 5. LONGCOPE, C. – Case records of the Massachusetts General Hospital. N Engl J Med. 328: 1770-1776, 1993. 6. RITTER, F. N. – The effect of hypothyroidism on the larynx of the rat. Ann Otol Rhinol Laryngol. 67: 404-416, 1964.
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