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ISSN: 2317-1960 Ano III, Número 20 MAR / ABR 2016 ntu.org.br Crise e ausência de políticas públicas tiram 215 milhões de passageiros do transporte público Efeitos da economia em baixa e falta de recursos para investimentos no setor estão entre os problemas enfrentados por empresas, que chegam a fechar as portas. Propostas para atrair subsídios dão esperança de reação ao setor 22 Entrevista Congresso aprova Artigo Eduardo Vasconcellos: crime de terrorismo Financiamento Perda de passageiros para quem incendiar verde para compromete meios e instalações transporte mobilidade de transporte sustentável 08 28 37 Editorial A realidade de quem opera transporte público no Brasil U m dos maiores embates que as operadoras de transporte público vivenciam anualmente com poder público e passageiros é o reajuste tarifário. Na realidade brasileira, a tarifa paga pelo usuário é a única fonte de receita para arcar com os custos do serviço – salvos raros casos de subsídios. Esse embate, historicamente, tornou o empresário o grande “vilão” do transporte público. Uma imagem distorcida e totalmente equivocada. Afinal, a consequência imediata do aumento da tarifa é a insatisfação de quem usa o transporte e a queda na demanda de passageiros. Qual empresário, que preza pela saúde do seu negócio, quer perder clientes? No último ano, 680 mil passageiros deixaram o transporte público por dia no país. Reflexo do desemprego e da redução do poder econômico da população. Um rombo de R$ 680 milhões na receita do transporte público brasileiro. toda execução do contrato, como garante a Constituição da República no art. 37, XXI. Biênio 2015-2017 Conselho Diretor Membros titulares e suplentes Região Centro-Oeste Edmundo de Carvalho Pinheiro (GO) titular Ricardo Caixeta Ribeiro (MT) suplente Região Nordeste Dimas Humberto Silva Barreira (CE) titular Contudo, a crise econômica nacional e a falta de subsídios para o custeio da operação e de recursos para investimentos em infraestrutura têm gerado uma enorme instabilidade nos negócios. Além da queda da demanda, os empresários enfrentam paralisações de funcionários, demissões, entraves judiciais e, em alguns casos mais graves, estão fechando as portas. Mário Jatahy de Albuquerque Júnior (CE) suplente Luiz Fernando Bandeira de Mello (PE) titular Paulo Fernando Chaves Júnior (PE) suplente Região Sudeste Roberto José Carvalho (MG) titular Rubens Lessa Carvalho (MG) suplente Eurico Divon Galhardi (RJ) titular - presidente do Conselho Diretor Narciso Gonçalves dos Santos (RJ) As soluções para essa crise que afeta empresários, prefeituras e principalmente a população estão nas políticas públicas. Somente no ano passado, o serviço de transporte público tornou-se um direito social na Constituição. Um atraso de décadas que ainda vai levar alguns anos para tornar-se de fato realidade. Afinal, agora o setor luta para ter os mesmos recursos destinados a outros serviços essenciais e que já eram direitos sociais, como saúde e educação. suplente Lélis Marcos Teixeira (RJ) titular Francisco José Gavinho Geraldo (RJ) suplente João Antonio Setti Braga (SP) titular - vice-presidente do Conselho Diretor Mauro Artur Herszkowicz (SP) suplente Júlio Luiz Marques (SP) titular Paulo Eduardo Zampol Pavani (SP) suplente Região Sul Ilso Pedro Menta (RS) titular Enio Roberto Dias dos Reis (RS) Como todo empreendedor, o empresário do transporte público também quer oferecer o melhor para os seus clientes, porém, com equilíbrio econômico-financeiro. Essa equação no contrato administrativo é a relação de equivalência formada pelo conjunto dos encargos impostos pelo poder público e pela remuneração proposta pelo operador. A relação é estabelecida na licitação e deve manter-se equilibrada durante 4 Revista NTU Urbano Em curto prazo, a única alternativa para minimizar essa crise é a priorização do transporte público e qualificação dos sistemas em operação. As cidades devem fazer a sua parte e cobrar dos poderes executivo e legislativo a implantação de políticas nacionais para a mobilidade urbana. Garantir a eficiência do sistema em meio aos gargalos do dia a dia pode manter os custos equilibrados e evitar novos embates na nova revisão tarifária. suplente Conselho Fiscal Membros titulares e suplentes Dante José Gulin (PR) titular Paulo Fernandes Gomes (PA) titular Ana Carolina Dias Medeiros de Souza (MA) titular Fernando Manuel Mendes Nogueira (SP) suplente S U M Á RIO 6 8 12 Expediente OPINIÃO DA NTU MARCOS BICALHO DOS SANTOS Reflexões sobre a tarifa zero ENTREVISTA Otávio Vieira da Cunha Filho EDUARDO ALCÂNTARA DE VASCONCELLOS Confira a entrevista com engenheiro civil, sociólogo e doutor em Ciências Políticas ARTIGO DÉCIO CAETANO Marcos Bicalho dos Santos André Dantas Diretor Técnico 14 Notinhas para você se agendar, se informar e se atualizar 15 Justiça, contratos e tarifas do transporte coletivo por ônibus 16 Cresce número de projetos voltados para a mobilidade urbana 18 Presidente Diretor Administrativo e Institucional Ter qualidade é bom e desejável, mas tem um preço. Quem paga? PARADA OBRIGATÓRIA DIÁLOGO TÉCNICO Diretoria Executiva ANDRÉ DANTAS NTU EM AÇÃO SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A Brasília (DF) CEP 70070-944 Tel.: (61) 2103-9293 BOAS PRÁTICAS Terminais de ônibus de Fortaleza têm quase 90% de aprovação Fax: (61) 2103-9260 E-mail: [email protected] Site: www.ntu.org.br 22 28 32 34 36 37 38 CAPA Crise nacional e ausência de políticas públicas tiram passageiros do transporte público Editora assistente TERRORISMO Crime de terrorismo para quem incendiar meios e instalações de transporte ACONTECE NAS EMPRESAS Visate é considerada uma das melhores empresas para se trabalhar no Rio Grande do Sul Hellen Tôrres (DF 9553 JP) Colaborou nesta edição Evelin Campos Flávio Neponucena Saturnino Junior MOBILIDADE URBANA Cidades do interior de São Paulo trabalham no desenvolvimento de planos de mobilidade Socorro Ramalho Diagramação PELO MUNDO Conheça as novidades e soluções de mobilidade adotadas mundo afora EMBARQUE NESSA IDEIA Editora responsável Bárbara Renault (DF 7048 JP) Luis Antonio Lindau Financiamento verde para transporte sustentável Duo Design Esta revista está disponível no site www.ntu.org.br #NTURECOMENDA Dicas de livros, sites, aplicativos e vídeos sobre o transporte Siga a NTU nas redes sociais www.twitter.com/ntunoticias www.facebook.com/ntubrasil www.flickr.com/ntubrasil www.youtube.com/transporteurbanontu Revista NTU Urbano 5 O p i n i ã o d a NT U Reflexões sobre a tarifa zero Marcos Bicalho dos Santos* D e todas as matérias jornalísticas e artigos técnicos sobre a questão da Tarifa Zero que tive a oportunidade de ler, nenhum abordou uma questão que me intriga realmente: Como será o comportamento da demanda em uma grande cidade de um país ainda em desenvolvimento onde os transportes públicos coletivos passam a ser totalmente de graça? Acredito que podemos nem chegar a tanto, mas, sem dúvida, a demanda por esse serviço público sofrerá transformações muito significativas. O aumento substancial do número de passageiros com certeza será observado, principalmente nos deslocamentos mais curtos (até 1 km) onde hoje a maioria das pessoas opta pelas viagens a pé, muitas vezes em função do preço das passagens. Crescerão as viagens entre os horários de pico nas quais os sistemas de transporte costumam ter alguma oferta ociosa, e as viagens integradas, quando elas propiciarem ganhos de tempo para as pessoas. Deverão crescer significativamente também as viagens destinadas ao lazer, nos períodos noturnos, nos fins de semana e nos feriados, levando ao redimensionamento da oferta de serviço nesses períodos que, normalmente, costumam ser reduzidos. Deve ser considerado ainda o aumento de usuários decorrente da mudança modal: pessoas que hoje utilizam o transporte individual e 6 Revista NTU Urbano que passariam a utilizar o transporte coletivo gratuito. Nessa linha, pode-se imaginar que os serviços de pequenas entregas urbanas, hoje realizados praticamente por motoboys, deverão sofrer alterações com a maior utilização dos transporte público para essas entregas. É claro que o volume do crescimento de demanda dependerá das características de cada cidade, como indicadores sociais, perfil geográfico, clima e tempo, desenho urbano e da rede de transporte, indicadores de segurança pública, etc., mas é certo que esse aumento será observado em todos os locais onde for adotado a Tarifa Zero, o que redundará em aumento da oferta, com a utilização de mais ônibus e mais mão de obra e, portanto, aumento dos custos, que no novo cenário serão assumidos pelos orçamentos públicos. Uma variável que precisa ser analisada se refere ao espraiamento das cidades em função da gratuidade dos transportes públicos. Todas as cidades e regiões metropolitanas que adotaram tarifa única observaram esse fenômeno com o aparecimento de áreas com ocupação rarefeita cada vez mais longe dos centros urbanos, obrigando ao crescimento contínuo das redes de transportes com a adoção de linhas de ônibus cada vez mais longas e menos produtivas. É claro que com a Tarifa Zero esse espraiamento das cidades será observado com muito mais intensidade, pois os cidadãos sempre levam em conta o custo da moradia versus o custo do transporte para decidir onde morar. Com o custo do transporte igual a zero, a tendência é buscar moradias mais longe dos centros urbanos onde, normalmente, elas são mais baratas. Cidades espalhadas terão sempre custos mais altos “per capita” para construir e manter a infraestrutura e serviços públicos. Nossos governantes e representantes da população nas casas legislativas têm a obrigação de avaliar detalhadamente as deseconomias que podem ser causadas pela Tarifa Zero nos transportes públicos antes de se dobrarem diante desse clamor popular, principalmente nos períodos pré-eleitorais. Como nos ensina qualquer compêndio de economia, o preço de um produto ou serviço é um dos fatores mais importantes para racionalizar seu consumo. Será que o Brasil pode se dar ao luxo de desperdiçar com irracionalidades? *Marcos Bicalho dos Santos, Engenheiro Civil e MSc. em Engenharia de Transportes, é diretor da NTU. e n t r e v i s ta Eduardo Alcântara De Vasconcellos* Perda de passageiros compromete mobilidade urbana O uso do automóvel gera consequências negativas se comparado ao transporte público: requer mais espaço viário; acarreta congestionamentos; elevado consumo de energia e maior chance de acidentes, entre outros males, alerta o especialista. 8 Revista NTU Urbano Arquivo NTU e n t r e v i s ta A cidade de Curitiba (PR) é uma das que tiveram maior queda de demanda no último ano. O anúncio de que no ano passado o transporte público coletivo perdeu 900 mil passageiros por dia, em comparação ao ano de 2014, chamou a atenção de estudiosos do assunto. O levantamento da NTU, de março deste ano, registrou a maior queda na demanda de usuários do sistema de transporte coletivo urbano no Brasil nesta década (4,1%). Para o engenheiro civil e sociólogo, com doutorado em Ciências Políticas (USP), Eduardo Alcântara Vasconcellos, o número compromete muito o avanço da mobilidade urbana no País. Para o especialista, que também é assessor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), a preferência pelo transporte individual, especialmente automóvel e motocicleta, não é natural, uma vez que quem usa transporte individual não paga os custos sociais e ambientais que este uso causa. “Quem usa modos individuais tem de pagar o custo real das externalidades negativas por eles geradas, em termos de uso do espaço viário, de poluição e de segurança no trânsito”, afirma. Eduardo Vasconcellos avalia que mesmo diante dos efeitos nocivos do uso do automóvel para o meio ambiente e a sociedade, a preferência do passageiro por esse tipo de transporte leva em conta as condições pessoais e as do serviço, relacionadas à oferta, ao custo e à conveniência. E que para reconquistar a preferência do cidadão pelo ônibus, reforça que é preciso definir restrições apropriadas ao uso dos automóveis como ocorreu, por exemplo, nos países europeus. Confira mais detalhes sobre o assunto nesta entrevista exclusiva que o especialista concedeu à Revista NTU Urbano. Revista NTU Urbano 9 e n t r e v i s ta Por onde começar para inverter a estatística de ocupação do espaço urbano do automóvel 80% das vias são ocupadas por eles, mas carregam apenas 20% dos usuários, enquanto o transporte coletivo, que ocupa 20% do espaço urbano, transporta 70% da população? A reversão deste quadro só ocorrerá se houver a conjunção de duas políticas: melhorar a qualidade do transporte público e cobrar dos usuários de automóvel os custos sociais e ambientais da sua utilização. Trazer o passageiro de volta ao transporte público não é tarefa fácil. De imediato, o que fazer? O passageiro que saiu do transporte público, assim como o que nunca esteve nele, tomou a decisão considerando as suas condições pessoais e as condições do serviço relacionadas à oferta, ao custo e à conveniência. É preciso separar os usuários em dois tipos – quem não tem acesso ao automóvel e quem tem este acesso. As pessoas que não têm acesso ao automóvel usam motocicletas, que em relação ao transporte público têm grandes vantagens comparativas – tempo de percurso e custo de desembolso (combustível) 70% inferiores ao custo de usar o ônibus. Quem tem acesso ao automóvel tem tempo de percurso 50% inferior ao dos ônibus e custo de desembolso (combustível e, em poucos casos, estacionamento) semelhante ao do ônibus. Arquivo NTU “A tarifa precisa deixar de ser o único elemento no financiamento do sistema.” A perda de 900 mil passageiros por dia, no transporte público por ônibus, segundo levantamento da NTU (março/2016), compromete o avanço da mobilidade urbana no Brasil? De que forma? Compromete muito, porque o uso do automóvel tem várias consequências negativas quando comparado ao uso do transporte público. Em primeiro lugar, o uso do automóvel requer muito espaço viário – 40m2 para circular nas cidades a uma velocidade media de 25 km/h - que é incompatível com a capacidade do sistema viário e gera congestionamento; consumo maior de energia por pessoa transportada; emissão de gases de efeito estufa muito maior por pessoa transportada e maior probabilidade de ocorrência de acidentes. No Rio de Janeiro a priorização de vias urbanas para o transporte coletivo é uma das alternativas para atrair passageiros. 10 Revista NTU Urbano e n t r e v i s ta O que deveria mudar para atrair esse passageiro? Usar a motocicleta ou o automóvel é muito mais conveniente do que usar o ônibus. Isto não é “natural”, uma vez que quem usa transporte individual não paga os custos sociais e ambientais que este uso causa. Para que estas pessoas passem a usar o ônibus (ou voltem para eles) a distribuição destes custos precisa mudar: quem usa modos individuais tem de pagar o custo real das externalidades negativas por eles geradas, em termos de uso do espaço viário, de poluição e de segurança no trânsito. Isto significa definir restrições apropriadas ao uso dos automóveis como ocorreu, por exemplo, nos países europeus. Além disto, conforme comentado, o sistema de ônibus deve ser muito bem operado, de forma a garantir velocidade e regularidade. Com relação às tarifas, qual a sua sugestão para inverter a lógica perversa de custear o serviço com a tarifa? A tarifa precisa deixar de ser o único elemento no financiamento do sistema. Parte deste financiamento deve vir das pessoas que usam veículos individuais e das empresas e atividades que se beneficiam da existência do transporte coletivo. De acordo com pesquisas divulgadas na imprensa, as faixas exclusivas de ônibus têm tido boa aceitação no Brasil. Do ponto de vista técnico, o que fazer para aprimorar esse sistema e melhorar a adesão nos estados e municípios? A prioridade aos ônibus é essencial para o sistema, tratando-se de medida correta em relação ao uso do sistema viário público. Já temos no Brasil a qualificação técnica para implantar e operar estas prioridades e o que falta é definir planos e incentivos para que as cidades acima de 100 mil habitantes as implantem e as mantenham adequadamente. O sistema de transporte público do país, hoje, beira o colapso. Como o senhor avalia a atuação do poder público nessa questão, do ponto de vista técnico, de aplicação de leis, fiscalização e solução de problemas? Não acho que o sistema de transporte público beire o colapso no país. Embora haja problemas graves, quando comparado a outros países em desenvolvimento percebe-se que o sistema brasileiro tem uma regulamentação e uma estruturação que permitem que haja ônibus circulando todos os dias, das 5h da manhã até 11h da noite (na maioria dos casos). Os veículos são em geral adequados – considerando as condições econômicas do Brasil como país em desenvolvimento; os trabalhadores têm seus direitos garantidos; é raríssimo ocorrer interrupção do serviço e a segurança no trânsito é alta. Os problemas mais graves são a super ocupação e o desconforto nos veículos nas áreas periféricas das grandes cidades e o custo da tarifa para a parte mais pobre da população, que não tem acesso ao vale-transporte. Sobre a gestão pública, o que poderia ser feito, estruturalmente, para melhorar a eficácia da lei de mobilidade urbana, por exemplo? O que falta é um plano nacional que defina metas e formas de financiamento e que seja acompanhado pelo poder público e pela sociedade. *Eduardo Alcântara de Vasconcellos, engenheiro civil e sociólogo, com doutorado em Ciências Políticas (USP), atualmente exerce o cargo de assessor da ANTP - Associação Nacional de Transportes Públicos e da CAF - Banco de Desarrolo de América Latina. Revista NTU Urbano 11 ARTIGO Décio Caetano* Ter qualidade é bom e desejável, mas tem um preço. Quem paga? U m transporte público coletivo de qualidade e de alto padrão exige um custo maior. Mas como oferecer qualidade no serviço prestado por operadores privados quando o custeio de todo o sistema é arcado unicamente pelos usuários por meio da tarifa? Raras são as exceções em que há subvenção no transporte público no Brasil. As reações negativas aos reajustes tarifas de ônibus realizados neste ano nas principais cidades do país demonstram a necessidade de uma ampla reflexão sobre o custeio desse serviço público tão essencial para nossas cidades. A remuneração das empresas de ônibus se dá por meio da tarifa contratual, que é fixada no contrato de concessão, em que, a priori, resguarda a equação do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Leva-se em consideração as especificações dos serviços, da frota, os custos administrativos e operacionais, os investimentos realizados, além dos impostos e encargos incidentes sobre as receitas. 12 Revista NTU Urbano O equilíbrio econômico-financeiro dos contratos é uma condição necessária à garantia de prestação de um serviço adequado. Tarifas defasadas e sem qualquer subvenção degradam esse serviço, que pode entrar em colapso, por exemplo, com greves de funcionários, sucateamento da frota, inadimplência dos operadores perante os credores e, em casos mais graves, a falência das empresas de ônibus. Fatores externos penalizam ainda mais as empresas e, por consequência, os usuários. A perda de competitividade do transporte público coletivo, frente aos automóveis e motocicletas; a grande quantidade de passageiros não pagantes, cujo o acesso ao passe-livre ou meia-passagem é garantido por lei; falta de priorização dos ônibus no sistema viário: tudo isso penaliza ainda mais as empresas. Ademais, essas mesmas empresas enfrentam uma queda do número de passageiros pagantes, conforme estudo apresentado recentemente pela NTU. O que acaba acarretando uma perda de produti- ARTIGO Em Goiânia, alguns corredores de ônibus estão sendo feitos, outro BRT ligando as regiões Norte e Sul está sendo construído, mesmo que de forma lenta. Esses investimentos públicos na infraestrutura quando finalizados, trarão melhorias, mas muito ainda tem de ser feito. vidade do setor, elevando indesejavelmente as tarifas cobradas. É uma equação simples: quanto menor o número de usuários pagantes (únicos financiadores do sistema), maior o valor da tarifa para cobrir os custos. Precisamos encarar que um transporte público coletivo de alta qualidade é bom, necessário e desejado pelos empresários do setor, mas custa caro, e apenas com os recursos exclusivos advindos das tarifas cobradas dos usuários, não é possível obter essa qualidade. São necessárias outras fontes de custeio, como ocorrem na Europa, Estados Unidos e em alguns países da América do Sul e conforme a ser dito adiante, previsto em lei brasileira. Não é só o usuário do transporte coletivo que é beneficiado quando o serviço funciona bem, quem não utiliza o ônibus também se beneficia. Usuários dos automóveis e motocicletas, pedestres, ciclistas, enfim, a sociedade como um todo sai ganhando, bem como a cidade. As vias descongestionam, o estresse causado pelo trânsito diminui e a qualidade do ar melhora. Com um transporte de qualidade todos são beneficiados, logo, é justo que todos contribuam com os custos do serviço, e não só aqueles que usufruem dele. São recorrentes, por exemplo, os elogios feitos por brasileiros ao transporte público europeu, quando esses utilizam esse meio de transporte, durante suas visitas à Europa. Entretanto, esquecem ou desconhecem que o transporte público coletivo europeu é altamente subsidiado pelos governos, cujo percentual chega até 60% da tarifa paga diretamente pelos usuários. Arquivo NTU A qualidade a ser alcançada no transporte urbano não depende unicamente de investimentos do setor privado. Além da subvenção, o poder público necessita dar condições de fluidez ao trânsito, aumentando a velocidade comercial dos ônibus e melhorando, assim, a produtividade do serviço e possibilitando a realização de mais viagens. Contribuindo dessa forma para que os índices de confiabilidade, continuidade, pontualidade, segurança, conforto e rapidez sejam alcançados e atrativos para a migração do transporte individual para o coletivo. A discussão sobre financiamentos para o setor avança a passos lentos, mas não menos importantes. A Lei nº 12.587/2012, conhecida como Lei de Mobilidade Urbana, prevê a subvenção para financiar o transporte público no Brasil, abrangendo o comprometimento conjunto das três esferas de governo – federal, estadual e municipal –, além de novas fontes de recursos a serem assumidos pela sociedade como um todo. A medida é fundamental para se ter qualidade no transporte público, com reflexos positivos na mobilidade urbana das cidades. Outro avanço foi a aprovação da PEC 90/2011, que tornou o transporte público um direito social. Com a lei, pode-se exigir, por exemplo, a criação de um fundo de transporte para subvencionar parte do serviço. Os debates sobre a destinação de parte dos recursos da CIDE Municipal para custear o serviço para a população de baixa renda tomam forma no Congresso Nacional. As medidas tomadas de 2012 até agora buscam corrigir os erros do passado nesse setor, que sofre com falta de investimentos contínuos há mais de 20 anos. O momento exige uma ampla reflexão e debates sobre como e quem deve financiar o sistema, de acordo com a realidade social, econômica, institucional e política de cada cidade. Sabemos que é imprescindível reduzir a participação dos usuários que pagam as passagens no financiamento integral do transporte. A discussão sobre o tema com toda a sociedade precisa avançar, e rápido, antes que o preço a ser pago por esse silêncio torne-se insustentável. * Décio Caetano Vieira Filho é presidente do SET - Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia. Revista NTU Urbano 13 Pa r a d a o b r i g at ó r i a Plano de Mobilidade Urbana de São Paulo é decretado Foi oficializado, por meio do decreto nº 56.834 de 24 de fevereiro de 2016, o Plano Municipal de Mobilidade Urbana de São Paulo (PlanMob/SP). O PlanMob visa orientar as ações do município no que se refere aos modos, serviços e infraestrutura viária e de transporte, a fim de garantir os deslocamentos de pessoas e cargas para atender às necessidades atuais e futuras da mobilidade em São Paulo até 2030. Para isso, a prefeitura estipula até o ano de 2030, 600 km de faixas exclusivas, com total de 1,5 mil km de ciclovias ou ciclofaixas. O decreto prevê também a expansão do Bus Rapid Transit (BRT) e do número de terminais de ônibus com maior diversificação nos horários de funcionamento. OMS indica o uso do BRT para melhoria do meio ambiente A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em março desde ano que uma em cada quatro mortes no mundo tem relação com a degradação am- O prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd, criou o PlanMob para atender a Lei de Mobilidade Urbana 12.587/2012, na qual orienta os municípios com mais de 20 mil habitantes a terem os seus próprios planos de mobilidade. biental. Isso equivale a 12,6 milhões de mortes por ano. De acordo com a OMS, 16% das doenças no Brasil poderiam ser evitadas com políticas públicas que valorizam o meio ambiente, entre elas, o uso de sistemas BRT. A OMS ressalta a necessidade de ampliar e desenvolver os níveis de investimentos nos transportes públicos brasileiros. Para isso, a organização aconselha o BRT como o melhor custo-benefício para o meio ambiente principalmente se utilizar ônibus elétrico, híbrido ou movido a combustível renovável. O relatório indica como principais causas das doenças decorrentes de agressões ambientes as enchentes, os incêndios, as secas extremas, a proliferação de insetos, a poluição atmosférica por veículos. Para a organização, Curitiba é o modelo de capital a se seguir, pois apresenta melhores condições ambientais nas favelas, reciclagem de resíduos e sistema rápido de ônibus. TST permite acúmulo de funções sem acréscimo salarial Após inúmeras divergências trabalhistas, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) definiu por unanimidade que as funções de motorista e cobrador de ônibus podem ser acumuladas sem acréscimo salarial. De acordo com o entendimento dos magistrados, há permissão legal para o empregador exigir do empregado qualquer atividade compatível com a condição pessoal dele, desde que lícita e dentro da mesma jornada de trabalho. A decisão gera uma jurisprudência sobre o tema e pode influenciar outras ações similares, em andamento, na justiça brasileira. 14 Revista NTU Urbano DI Á LOGO T É C NI C O André Dantas, PhD, Diretor Técnico da NTU Justiça, contratos e tarifas do transporte coletivo por ônibus T oda vez que visito a casa dos meus pais, a conversa passa pelo assunto da mobilidade urbana. Eles sempre têm uma pergunta interessante sobre esse tema. No último final de semana, não foi diferente. Eles queriam saber porque a justiça decretou a redução da tarifa do ônibus em duas capitais brasileiras mesmo com a existência de um contrato de concessão que determina um método de cálculo específico e, consequentemente, produz um valor tarifário reajustado. Foi muito complicado explicar o que está acontecendo. Então, resolvi colocar no papel algumas ideias. Teoricamente, essa situação não deveria ocorrer, pois os contratos de concessão existem para serem cumpridos. O órgão gestor atua no sentido de organizar e administrar os serviços e, por outro lado, a iniciativa privada (operador do serviço) assume o compromisso de atender as especificações do ente público. Na esmagadora maioria dos casos, esse pagamento é viabilizado por meio do recebimento da tarifa paga por cada usuário. Sem exceção, os contratos determinam algum mecanismo de reajuste ou de revisão do valor do pagamento pelos serviços prestados, em função de variações nos custos dos insumos (óleo diesel, mão de obra, veículos, etc.) e/ou das condições operacionais. Especificamente em relação aos reajustes tarifários, o Artigo 9º da Lei 12.587 estabelece, entre outras diretrizes que “... observarão a periodicidade mínima estabelecida pelo poder público delegante no edital e no contrato administrativo...” e “...deverão aferir o equilíbrio econômico e financeiro da concessão...”. Na prática, alguns juízes têm decretado a manutenção do valor da tarifa pública, independentemente das relações contratuais existentes. Foi exatamente isso que aconteceu recentemente em Goiânia-GO e Porto Alegre-RS. Em ambas capitais, os reajustes tarifários foram originalmente apresentados à sociedade de acordo com a legislação local. Todavia, as decisões judiciais definiram que os reajustes tarifários não ocorreriam, principalmente porque eles não estariam de acordo com a realidade econômica atual. No caso de Goiânia-GO, uma das justificativas foi que o acréscimo era maior que a inflação e o reajuste do salário mínimo – decisão revertida posteriormente para cumprimento do contrato de concessão. Em virtude desses acontecimentos, a principal implicação é a insegurança jurídica que afeta os entes públicos e privados, pois ambos atuam sem a garantia de que um terceiro (justiça) respeitará os direitos e deveres determinados em contrato. Em particular para o ente privado, o nível de risco de qualquer investimento é aumentado consideravelmente, pois existe a alta probabilidade de que os pagamentos pelos serviços não sejam honrados e assim o equilíbrio econômico-financeiro não seja alcançado. Outra importante implicação é a constatação de que uma parcela da sociedade compreende incorretamente o problema e a solução, ou seja, alguns acreditam que o simples congelamento da tarifa resolverá a crise da mobilidade que vivemos. Não percebem que essa abordagem levará ao agravamento da crise, que culminará com a queda de qualidade dos serviços prestados e o colapso do sistema. Diante disso tudo, meus pais recorrentemente questionam sobre o que deveria ser feito. Em primeiro lugar, é preciso respeitar as leis e os contratos, mesmo que alguém os perceba como “injustos” ou “inadequados”. Outra ação essencial é buscar os recursos necessários para que ao menos parte dos reajustes tarifários sejam absorvidos por fundos municipais de custeio do transporte público. Finalmente, as intervenções de priorização do transporte público por ônibus não podem ser interrompidas, pois elas contribuem para a racionalização e controle dos custos. Revista NTU Urbano 15 NT U em a ç ã o Cresce número de projetos voltados para a mobilidade urbana Publicação exclusiva mostra acompanhamento feito pela NTU e apresenta projetos voltados para priorização do transporte coletivo urbano, realizados em todo Brasil O número de projetos para melhoria da infraestrutura de mobilidade urbana no Brasil cresceu 160% do ano de 2013 para 2015. Juntas, as propostas de corredores de ônibus, BRT, VLT, aeromóvel, Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS), obras viárias ,entre outras, somam 485 intervenções. No que tange apenas ao transporte coletivo por ônibus, com projetos prioritários de corredores exclusivos, sistemas BRT e faixas exclusivas, o crescimento foi de 140%, chegando a um total de 256 projetos no mesmo período, fechando em 417 o número de propostas que priorizavam o ônibus coletivo urbano. Os dados fazem parte do caderno técnico “Prioridade ao transporte público urbano por ônibus – panorama dos projetos e investimentos”, publicado recentemente pela Associação com dados atualizados. O estudo apresenta projetos de mobilidade urbana previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2) Mobilidade Médias e Grandes Cidades e na Matriz de Responsabilidade – que destinou recursos específicos para a Copa do Mundo de 2014. O material produzido mostra a evolução dos pro- 16 Revista NTU Urbano jetos no período de janeiro de 2013 a março de 2015. Mobilidade em construção O acompanhamento de projetos em mobilidade urbana é atualizado periodicamente pela NTU. O relatório do mês de março de 2016 aponta que os empreendimentos que priorizam o transporte coletivo por ônibus já somam 3.400 mil quilômetros de extensão em vias exclusivas. Ao todo, 79 cidades, em 26 estados, contabilizam, 437 propostas. Desse total, 159 já entraram em operação, 57 estão em obras e 221 ainda em fase de projeto. O estado mais populoso do Brasil, São Paulo, enfrenta graves problemas de mobilidade urbana. No entanto, ele também se destaca por ser o que mais investe em medidas de priorização. Pelo que foi levantado, em todo o Estado de São Paulo, 23 cidades com 84 projetos, estima-se alcançar 1.069,3 quilômetros de faixas prioritárias. E a cidade está perto disso, já que pouco mais de 789 quilômetros estão em funcionamento. Logo em seguida vem o Rio de Janeiro com 36 projetos, em sete cidades, e 653,1 quilômetros. Minas Gerais, que também está no topo dos estados que mais investem em projetos NT U em a ç ã o de transporte coletivo, já soma, em sete cidades, 31 projetos e 292,4 quilômetros a serem implementados. Investimentos Os investimentos feitos nos últimos oito anos marcam a ruptura de décadas sem políticas públicas voltadas para o transporte público urbano. Ao todo, foram liberados R$ 143 bilhões para esses projetos. A estimativa de verba que seria necessária para alguns projetos já orçados é de R$ 15 bilhões. Estudos da NTU, contudo, apontam que esse valor poderia ultrapassar os R$ 30 bilhões, caso sejam incluídos os projetos que ainda não foram apreciados. Em outubro de 2015, o secretario da Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana (Semob) do Ministério das Cidades, Dario Rais Lopes, já previa para 2016 um ano difícil em termos de investimentos. “Se eu tivesse entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão, eu conseguiria tocar tudo [as obras] sem problema nenhum. Mas imagino que terei metade disso, então, vou comprometer o ritmo das obras, mas em nenhum caso haverá paralisação”, revelou em entrevista à Revista NTU Urbano. que saibam identificar os problemas, assim como elaborar o planejamento adequado dessas questões. Essa percepção tornou-se evidente quando, em abril de 2015, apenas 30% das grandes cidades brasileiras possuíam Plano de Mobilidade Urbana. Na época, o Ministério das Cidades apontou à NTU razões variadas para o baixo número de planos. “Pudemos identificar que alguns municípios não conhecem o teor da lei nem as reais sanções para a não-elaboração do Plano de Mobilidade, apesar dos esforços da Semob para divulgação da Lei nº 12.587, seja através de seminários, cursos e publicações sobre o tema”, explicou o órgão em nota oficial. De acordo com o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, as desapropriações também estão entre os empecilhos da continuidade das obras. “Outra dificuldade é que esses recursos disponibilizados pelo crédito a fundo perdido e FGTS são exclusivamente para financiar a obra, só que muitos desses projetos exigem desapropriações e esses recursos têm que sair do Município ou do Estado, que podem ter a capacidade de tomar o recurso para a obra, mas não têm para a desapropriação”, explica. rio”, define. Cunha explica que com a Cide municipal taxando a gasolina, quem subsidiaria o transporte coletivo seria o transporte individual. “Se aumentar mais 10 centavos no preço da gasolina, do diesel e do álcool, se consegue arrecadar em torno de 11 bilhões por ano, o que representa 30% do custo do transporte por ônibus hoje, para se conseguir esse valor, via aumento tarifário, seriam necessários pelo menos R$ 1,05 no preço da tarifa”, detalha. Na explicação do presidente, todo aumento de tarifa e de combustível gera inflação porque eles entram na composição da cesta de cálculo da inflação. "Quando há aumento de 10 centavos no preço dos combustíveis (gasolina e álcool), onera-se apenas o bolso do proprietário do automóvel e permite a redução da tarifa em até 30%. Como a tarifa média hoje é de R$ 3,16, os passageiros terão uma economia de R$ 1,05 por viagem. Ou seja, uma economia significativa nos seus gastos mensais com transporte. Isso é uma grande redistribuição de renda. Cerca de R$ 11 bilhões serão economizados por mês pela população", esclarece. Dificuldades Além dos entraves orçamentários, somam-se as dificuldades para elaboração e execução das propostas e nem sempre projetos iniciais saem do papel no tempo previsto. Além disso, a continuidade e execução dos trabalhos devem ficar comprometidos, em 2016, devido à falta de verba. Alguns dos motivos que potencializam os problemas de mobilidade e transporte nas cidades são a falta de estrutura dos municípios em equipes Fontes de custeio para a mobilidade O que é crédito a fundo perdido? Como proposta para buscar fontes de custeio para o transporte coletivo está em tramitação no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 179/2007, que propõe destinar os recursos da Cide para o custeio da atividade de transporte. De acordo com Otávio Cunha, a intenção é deixar a Cide tal como ela é e criar uma Cide municipal. “Seria outra Cide que tem um viés não inflacioná- Crédito a fundo perdido referese a recursos disponibilizados sem perspectivas de reembolso. Normalmente, os recursos são cedidos pelo Estado e o investimento é voltado para funções sociais, como obras de infraestrutura, saneamento básico e construção de moradias populares. Revista NTU Urbano 17 BOAS PR ÁTI C AS Terminais de ônibus de Fortaleza têm quase 90% de aprovação Etufor Capital cearense adota novo modelo de manutenção de terminais e vem atendendo expectativas dos usuários do transporte coletivo Passageiros aguardam ônibus no Terminal Siqueira, em Fortaleza (CE). U ma pesquisa realizada pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Fortaleza (Sindiônibus), em parceria com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), revela que 88,9% dos usuários do transporte coletivo da capital cearense avaliam que houve melhorias nos terminais de ônibus. O levantamento foi feito nos dias 29 e 30 de dezembro de 2015, por meio de um questionário aplicado a 1.360 usuários que responderam a perguntas sobre os itens limpeza, conservação, sinalização e controle de filas (ver gráfico). 18 Revista NTU Urbano Fortaleza conta com sete terminais, onde são atendidos 1,1 milhão de usuários por dia. Ao todo, 2.106 ônibus embarcam e desembarcam passageiros nesses locais. Recentemente, os sete terminais da cidade passaram por reformas e todos recebem acompanhamento de suas atividades diariamente. O trabalho nos terminais é realizado por uma empresa contratada pela prefeitura da cidade. “É importante mencionar que todas as ações desse novo modelo de gestão ainda são recentes, começaram em novembro e, portanto, ainda há BOAS PR ÁTI C AS nos terminais, todos positivos, apareceram imediatamente, e a população percebeu isso com clareza, aprovando as mudanças”, pontua Barreira. Etufor Visão do usuário Índice de melhoria nos terminais de ônibus de Fortaleza 87,8% 53% 42% 42,5% Segurança 45,8% Conservação, pintura e melhorias nos tetos A previsão é de que em junho de 2016 todos os terminais estejam no mesmo nível de reforma do Termi- Ela ainda destaca que uma medida complementar à manutenção é a presença diária de guardas municipais nos terminais. “Além das ações que fazem parte do novo modelo de gestão, existem, dentro dos terminais, postos onde guardas ficam posicionados para agirem quando necessário o que garante um baixo índice de criminalidade nos terminais e traz mais segurança aos usuários”, finaliza. Iluminação e instalação de novas lâmpadas Na iluminação, houve troca e instalação de lâmpadas. Os terminais também receberam pintura nas paredes e tetos. Foram realizadas outras reformas emergenciais, como implantação de sinalização vertical (faixa de pedestre) e horizontal (placas de sinalização), renovação das grades e filas com faixa direcionadora (a mesma utilizada em fila de bancos) para o embarque de passageiros. Para o presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, a decisão da prefeitura em contratar uma empresa de manutenção mostrou-se imbatível. “A iniciativa privada, com o devido apoio dos órgãos públicos, age com eficácia e muita facilidade em termos de gestão. Desse modo, os efeitos Organização das filas Segundo o levantamento, um dos trabalhos mais elogiados pelos usuários foi a limpeza dos banheiros: esse item teve 87,8% de aprovação. Em seguida, vem a iluminação, com 53%, e a organização das filas, com 45,8%. “Falando de um modo popular, em relação aos banheiros, resolvemos arrancar o mal pela raiz. Pias, torneiras e vasos foram trocados por peças novas, sabonetes líquidos foram disponibilizados e, claro, os banheiros são higienizados diariamente”, detalhou Ferreira. nal Siqueira, que tem as obras mais adiantadas. “Vale ressaltar que, por enquanto, boa parte das reformas está apenas parcialmente concretizada, exceto o Terminal Siqueira, que está praticamente pronto para servir de modelo na renovação dos outros terminais. Em junho, Fortaleza já terá os sete terminais totalmente renovados. Logo em seguida, será feita uma nova pesquisa de satisfação e a expectativa é de que o índice de aprovação seja muito maior”, animase o presidente da Etufor. Limpeza dos banheiros muito que fazer. Mas o projeto surpreende por ter recebido um bom índice de aprovação em pouco tempo de funcionamento”, esclarece o presidente da Etufor, Antonio Ferreira. Passageira do transporte coletivo, a atriz Solange dos Santos Maria Teixeira, que vem presenciando melhorias em alguns terminais da cidade, aprova o trabalho de manutenção e ressalta que a limpeza nos banheiros foi um dos pontos que mais lhe agradaram. “Para quem pega ônibus em terminais, seja em qualquer outra cidade do País, sabe que a higienização em banheiros muitas vezes é precária. A priorização dos banheiros de terminais é uma iniciativa que deveria ser adotada não somente em Fortaleza, mas em todos os terminais das cidades brasileiras”, aponta. Revista NTU Urbano 19 SOLUÇÕES PARA TRANSPORTE DE PASSAGEIROS hardware • software • outsourcing • serviços EQUIPAMENTOS Milhares de passageiros recarregam o seu bilhete de transporte todos os dias nos terminais de pagamento da Perto em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A facilidade de pagar em dinheiro ou cartão levou a solução para metrôs, trens, ônibus e barcas. É simples, rápido e seguro. 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Exp. 2018-05-22 Appraisal #24097 TAS - TERmInAL dE AUTOATEndImEnTO dg-830 (51) 3489-8826 WWW.PERTO.COM.BR C a pa 22 Revista NTU Urbano C a pa Crise nacional e ausência de políticas públicas tiram 215 milhões de passageiros do transporte público Efeitos da economia em baixa e falta de recursos para investimentos no setor estão entre os problemas enfrentados por empresas, que chegam a fechar as portas. Propostas para atrair subsídios dão esperança de reação ao setor N os últimos tempos, o sistema de transporte coletivo urbano tem amargado quedas bruscas na demanda de passageiros em todas as capitais brasileiras. De acordo com dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), entre 2014 e 2015, houve redução de 687 mil usuários por dia, enquanto no período anterior (2013-2014), as empresas em todo o país registraram 300 mil passageiros a menos diariamente. São 215 milhões de passageiros transportados a menos por ano e R$ 680 milhões deixados de arrecadar. Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, a diferença assusta. “O que estamos vivendo é um fenômeno. Em nosso setor, nem sempre que há dificuldade econômica ocorrem perdas. Ao contrário, costumamos ter até ganhos na demanda, já que algumas pessoas, em geral, migram do carro para o ônibus. Mas, dessa vez, o nível de atividade econômica caiu muito, com inflação altíssima e desemprego histórico. Esses fatores, somados aos problemas da mobilidade urbana, explicam essa queda”, destaca. Revista NTU Urbano 23 Arquivo NTU C a pa Curitiba (PR) vive um cenário de dificuldades financeiras em todas as operadoras. Além da crise econômica e política que abateu o país e diminuiu a produtividade, outras questões são apontadas por especialistas e profissionais da área como agravantes. Entre elas, a falta de subsídios para custeio da operação e de recursos para investimentos em infraestrutura, o que tem deixado muitas empresas em dificuldades financeiras, gerando não apenas insatisfação popular, mas também instabilidade nos negócios – com paralisações de funcionários, demissões, entraves judiciais e, em alguns casos mais graves, fechamento de portas. “Faltam políticas públicas que valorizem o transporte público. A única forma de transformar a crise em oportunidade é olhar com mais atenção para o setor e pensar em um fundo nacional. Atualmente, todo o custo da operação é repassado ao preço da tarifa e isso tem provocado 24 Revista NTU Urbano reações da sociedade, com manifestações de movimentos sociais e até ações públicas na Justiça. Acuados com essa lógica, prefeitos não fazem os reajustes necessários e as empresas não conseguem reagir. Temos de sair desse ciclo”, ressalta Cunha. Sistema nacional em colapso As perspectivas nada animadoras da economia – com previsões de reação apenas a partir de 2018 – preocupam empresários em todos os cantos do país. De acordo com levantamento realizado pela NTU por meio de comparativos entre 2014 e 2015, as capitais que tiveram quedas mais expressivas na demanda de passageiros foram, respectivamente, Curitiba (-8%) e Goiânia (-7,9%). Com um total de 32 empresas de transporte na capital e região metropolitana e cerca de 17 mil empre- gos diretos, Curitiba (PR) vive um cenário de dificuldades financeiras em todas as operadoras. A falta de subsídios estaduais e municipais, as gratuidades nas passagens para parcelas da população – como idosos e crianças – e os reajustes tarifários abaixo do necessário são algumas queixas. “Os custos são maiores que a receita, o que causa desequilíbrio nas empresas e, consequentemente, dificuldade em manter linhas e aumentar a qualidade para o cidadão”, explica o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Maurício Gulin. Não bastassem os sacrifícios para manter a operação, as empresas esbarram, ainda, na falta de recursos para investir em projetos considerados fundamentais para a melhoria do transporte público. “Curitiba é modelo no que diz respeito ao sistema de C a pa Mas as reclamações ultrapassam o campo financeiro. A falta de competitividade do transporte público em relação ao particular também figura entre os obstáculos, na avaliação do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia, Décio Caetano: “Até pouco tempo atrás, a economia estava bem ativa. Com as boas condições do crédito, as pessoas estavam deixando o ônibus e migrando para o carro. Com a crise, veio o desemprego e mais pessoas deixaram de usar o transporte público. No entanto, mesmo com o preço alto da gasolina, andar de carro ainda é considerado mais vantajoso, ao menos do ponto de vista financeiro”. Formado por cinco empresas, 6 mil funcionários e 1,5 mil ônibus, o sistema de transporte da capital goiana passou por um reajuste tarifário de 12% - que não resolveu, entretanto, a situação financeira delicada que atinge todas as operadoras. “Não adianta, é preciso investir no sistema de transporte público para atrair mais passageiros. E está claro, pelas manifestações populares de 2013, que a população está no limite quanto ao preço da tarifa. Há um ciclo vicioso que não será resolvido apenas com a passagem”, sustenta Décio. Situação ainda pior enfrenta o Rio de Janeiro. Com um sistema robusto composto atualmente por quatro consórcios, formado por 39 empre- sas, e 110 mil empregos diretos, o estado assistiu o fechamento de cinco empresas e demissão de dois mil profissionais de abril de 2015 para cá. Além dos já citados problemas da crise, que piorou, ainda, as condições de financiamento para novos projetos, o Rio enfrenta problemas gerados por questões que, à primeira vista, representam apenas desenvolvimento. “As obras das Olimpíadas, apesar de serem um legado, provocaram congestionamentos que chegam a 4h30 em alguns trechos. Isso reduz a produtividade e faz com que as pessoas busquem outros meios de transporte, como o carro, o metrô e o trem. Da mesma forma, o modelo de integração, com bilhete único, que passou a durar 3 horas nos municípios e 3h30 no estado, diminuiu a receita das empresas com a venda de menos tíquetes. A integração é boa para a população, mas não pode ser feita às custas das operadoras”, defende o presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), Lélis Teixeira. Como sair da crise Para resolver os gargalos na equação “necessidade de investimentos versus falta de recursos”, duas propostas de emenda à Constituição tramitam na Câmara dos Deputados. Ambas sugerem a criação de fontes para esses recursos por meio da CIDE-Combustíveis (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de gasolina e outros combustíveis), mas com fins diferentes. De autoria do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), a PEC 307/13 propõe a descentralização do imposto. Assim, a destinação seria de 20% da arrecadação da CIDE-Combustíveis para os estados, e 70% para os municípios, para investimentos e subsídios às tarifas do transporte, barateando, assim, as passagens. Segundo justificativa do parlamentar, as políticas públicas para o transporte são inadiáveis, visto que é uma demanda da população e um problema que tomou proporções nacionais. Volvo BRT [Transporte Rápido por Ônibus], por exemplo, mas é preciso investir sempre mais”, afirma Gulin. “Os empresários acabam absorvendo os impactos do custeio e não conseguem implantar melhorias para atrair o passageiro”, acrescenta o vice-presidente da Setransp, Lessandro Zen. Mesmo com investimentos, Goiânia (GO) vivencia redução significativa na demanda de passageiros. Revista NTU Urbano 25 C a pa CONFIRA O PERCENTUAL DE DEMANDA DE PASSAGEIROS EM ALGUMAS CIDADES DO BRASIL. 0,003% Macapá -2,2% Fortaleza -5,2% -7,8% Natal Teresina -5,21% -0,8% Recife Maceió -5,9% Aracaju -4,1% Salvador -7,9% -6,5% Goiânia belo horizonte -0,4% -0,9% Rio de Janeiro (Municipal) São paulo -4,7% Londrina -8,0% Curitiba -4,3% Joinville -6,1% Porto Alegre (RM) 26 Revista NTU Urbano -1,9% Porto Alegre (Municipal) -4,2% Rio de Janeiro (RM) C a pa “O automóvel ocupa, hoje, 75% do espaço viário nos grandes centros urbanos, e transporta apenas 20% da população. Já o ônibus ocupa pouco mais de 9% e carrega 75% das pessoas. A taxação dos veículos particulares por meio da gasolina democratiza, portanto, o uso do espaço público. É o modal individual financiando o público, o que beneficia a todos. Nossa expectativa é de que a proposta seja aprovada. A partir daí, cada município fará uma lei específica regulamentando a matéria”, explica Tatto. Já o texto da PEC 179/07, do deputado federal e atual secretário municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto (PT-SP), sugere mudanças na CIDECombustíveis, obrigando a União a destinar no mínimo 10% dos recursos arrecadados com ao subsídio de programas de transporte coletivo urbano para a população de baixa renda em cidades com mais de 50 mil habitantes. Outra proposta defendida por Tatto é a criação de um novo imposto também para subsidiar o transporte coletivo. A ideia é permitir a criação de uma Cide municipal com repasse para o transporte público de parte da arrecadação do consumo de gasolina pelo transporte individual. Na prática, a cada vez que um motorista de veículo particular abastecer, parte do valor pago pelo combustível seria destinado aos custos de operação dos ônibus nas cidades. De acordo com o secretário, a proposta justifica-se pela possibilidade de uma arrecadação maior para o setor. Argumento comprovado por pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) na capital paulista. Segundo o estudo, ESTUDO DA FGV: Se houver aumento de 10 centavos na tarifa de ônibus, a arrecadação é de R$ 150 milhões por ano. Por outro lado, se houver aumento dos mesmos 10 centavos no valor da gasolina, a quantia recolhida é de R$ 600 milhões por ano, quatro vezes mais. se houver aumento de 10 centavos na tarifa de ônibus, a arrecadação é de R$ 150 milhões por ano. Por outro lado, se houver aumento dos mesmos 10 centavos no valor da gasolina, a quantia recolhida é de R$ 600 milhões por ano, quatro vezes mais. Para ele, a medida, somada ao incentivo a financiamentos e recursos do Programa de Aceleração do Crescimento para projetos de infraestrutura, contribuiria para o tão sonhado transporte de primeiro mundo. E Tatto diz com conhecimento de causa. Com uma das menores quedas na demanda de passageiros do Brasil – cerca de 1% –, São Paulo passa por melhorias em pontos essenciais para uma mobilidade urbana sustentável, como BRT, faixas exclusivas, ciclovias e integração entre os modais de transporte. A capital paulista conta expressivos recursos da prefeitura para a subvenção dos custos. O presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, apoia a proposta e reforça a necessidade de investimentos realizados em cidades como São Paulo. “Ainda não fizemos os investimentos adequados em infraestrutura. Grandes obras estão paralisadas por falta de recursos. Hoje em dia, aumenta-se o preço da passagem apenas para que empresas possam cobrir prejuízos. Precisamos dar uma resposta, melhorando a qualidade do transporte sem que a população e as empresas tenham que sofrer por isso”, finaliza. Revista NTU Urbano 27 T E RRORISm o Crime de terrorismo para quem incendiar meios e instalações de transporte Agência Brasil Nova lei prevê pena mais rígida para quem sabotar o funcionamento ou apoderar-se com violência de meios e instalações de transporte. A decisão poderá minimizar a prática de incêndios cometidos em ônibus coletivos urbanos, estações e terminais O Brasil já atingiu a alarmante marca de 1.577 ônibus coletivos urbanos incendiados de forma criminosa. Os dados são da NTU, que faz o acompanhamento diário des- 28 Revista NTU Urbano ses atos desde 2004. Diante dos números, prejuízos e riscos à vida acumulados, o governo federal sancionou em março a Lei n° 13.260/2016, em que o “uso ou a ameaça de usar explosivos, seu transporte, guarda T E RRORISm o ou porte” e “sabotar o funcionamento ou apoderar-se com violência de meios e instalações de transporte” passa a configurar como crime de terrorismo na Constituição Federal, prevendo pena de reclusão de 12 a 30 anos em regime fechado. O artigo 250 do Código Penal prevê pena de três a seis anos de prisão e multa a quem causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. Quando o incêndio é causado em veículo de transporte coletivo, a pena aumenta em um terço. Segundo Otávio Cunha, presidente executivo da NTU, espera-se com a nova lei, que crimes de incêndios a ônibus não fiquem impunes e que passem a ser melhores investigados e coibidos. “É importante avançarmos em leis que resguarde o direito do usuário de fazer sua viagem com segurança e tranquilidade. Ainda assim, precisamos de atenção por parte dos órgãos de segurança pública para que esses crimes nem cheguem a acontecer”, defende. Terror em números No período de 2004 a 2016, as localidades com o maior número de ocorrências de ônibus incendiados foram São Paulo capital (392 - 24,9%), Rio de Janeiro capital (251 - 15,9%) e Região Metropolitana do Rio de Janeiro (134 - 8,5%). São Paulo é o estado que mais teve incêndio a ônibus nos últimos anos, somando um total de 594 veiculos queimados (37,7%). A região com maior ocorrência de ônibus incendiados é a Sudeste com 1.234 (78,2%). lidade de novo enquadramento, certamente, levará a uma inibição dessa ação criminosa”, afirma o presidente do sindicato, Francisco Christovam. Até o início de abril de 2016, 59 ônibus já foram incendiados no Brasil, sendo que 12 foram na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e 10 na cidade de São Paulo. O estado de São Paulo permanece na dianteira com o maior número de veículos destruídos, 23. O ano de 2015 fechou com 318 incêndios a ônibus. Em 2014, com a alta incidência dos casos, o sindicato desenvolveu a campanha “Ônibus queimado não leva a lugar nenhum”, divulgada entre 24 de abril e 30 de maio daquele ano em toda Região Metropolitana de São Paulo, com o objetivo de promover a conscientização e orientar a população. A campanha foi feita em parceria com o Consórcio Metropolitano de Transportes (CMT) e a Federação das Cooperativas de Transporte do Estado de São Paulo (Fecootransp). Desde o agravamento das ocorrências com ônibus incendiados, principalmente, após as manifestações e protestos que ocorreram na capital paulista, em meados de 2013, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) realiza ações para incentivar a sociedade a denunciar qualquer ato criminoso e de vandalismo contra o transporte público. A entidade também pressionou autoridades ligadas às áreas de segurança pública, estaduais e municipais, solicitando mais empenho no combate a esse tipo de ocorrência e maior rigor na punição aos envolvidos nesses incêndios criminosos. Para o SPUrbanuss, é positiva a atual mudança na legislação com possibilidade de punição mais severa aos incendiários. “Antes da Lei, o ato de incendiar ônibus era enquadrado como dano ao patrimônio ou, quando muito, como periclitação da vida. E a possibi- “O grande desafio foi propagar a reflexão de que a população é a principal prejudicada com a depredação e queima dos ônibus. Mas, ainda, precisamos da ajuda de todos para combater as ações criminosas. As denúncias sempre serão essenciais para minimizar os impactos causados ao transporte público e para que os responsáveis por tais atos sejam devidamente punidos”, afirma Christovam. Histórico Além do número crescente de incêndio a ônibus, o extremismo de alguns casos faz o histórico desse crime ser ainda mais chocante. Em fevereiro de 2014, ataques ordenados por presos, em São Luís (MA), resultaram em quatro ônibus incendiados, cinco Revista NTU Urbano 29 T E RRORISm o Estados brasileiros: Levantamento de ônibus incendiados Data de atualização: 12/04/2016 Nº Estado 2015 2016 Total (2004-2016) Ocorrência Total 2004-2016 (%) 107 23 594 37,7% Rio de Janeiro 36 17 402 25,5% Minas Gerais 40 5 196 12,4% Bahia 16 2 52 3,3% Santa Catarina 10 1 46 2,9% 1 São Paulo 2 3 4 5 6 Espírito Santo 1 1 42 2,7% 7 Pernambuco 3 - 34 2,2% 13 5 32 2,0% 1 - 31 2,0% 8 Ceará 9 Maranhão 10 Goiás 15 - 25 1,6% 11 Rio Grande do Sul 16 - 23 1,5% 12 Pará 17 - 19 1,2% 13 Paraná 5 4 16 1,0% 14 Distrito Federal 6 1 12 0,8% 15 Mato Grosso 4 - 10 0,6% 16 Rio Grande doNorte 6 - 8 0,5% 17 Paraíba 4 - 8 0,5% 18 Alagoas 6 - 6 0,4% 19 Acre 5 - 5 0,3% 20 Tocantins 5 - 5 0,3% 21 Piauí 0 - 5 0,3% 22 Roraima 0 - 3 0,2% 23 Amapá 1 - 1 0,1% 24 Rondônia 1 - 1 0,1% 25 Sergipe Total 0 - 1 0,1% 318 59 1577 100% Fonte: Rede de Contatos Técnicos da NTU e Mídia. regiões brasileiras: Levantamento de ônibus incendiados Quantidade de ônibus incendiados 1400 1234 1200 1000 800 600 400 200 0 34 47 norte centro-oeste Regiões brasileiras 30 Revista NTU Urbano 85 sul 177 nordeste Sudeste Fonte: Rede de contatos técnicos da NTU e Mídia. Marcelo Camargo/Agência Brasil T E RRORISm o Saiba mais sobre a Lei Antiterror Para o enquadramento como terrorismo, a lei define atos terroristas o uso ou a ameaça de usar explosivos, seu transporte, guarda ou porte. Isso se aplica ainda a gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa. Estarão sujeitos a pena de 12 a 30 anos em regime fechado, sem prejuízo das penas relativas a outras infrações decorrentes desse crime as pessoas que cometerem os seguintes atos: pessoas feridas e a morte da menina Ana Clara Santos Sousa, 6 anos, com 95% do corpo queimado. Em abril do mesmo ano, a empresa Urubupungá, de Osasco (SP), teve a garagem invadida durante a madru- “sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento”. gada e criminosos atearam fogo em 35 ônibus. Já o motorista de ônibus John Carlos Soares Brandão, 42 anos, que trabalhava na zona norte de São Paulo, teve 80% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos, chegando a falecer em 22 de outubro de 2014. Em 2015, no Distrito Federal, um motorista de ônibus, 36 anos, também foi vítima de um incêndio a ônibus, tendo parte do corpo queimado. Os casos se repetem por todo o Brasil e a punição dos criminosos ocorre de forma lenta. Revista NTU Urbano 31 A C ONT E C E NAS E M PR E SAS Visate é considerada uma das melhores empresas para se trabalhar no Rio Grande do Sul Arquivo Visate A empresa gaúcha conta com mais de mil funcionários, já recebeu 13 prêmios e foi reconhecida por entidade internacional Great Place to Work premia a empresa Visate. O bter um índice de 82% de satisfação dos colaboradores de uma empresa é uma meta ousada. E foi nesse patamar de aprovação dos funcionários que a Viação Santa Tereza (Visate), do município de Caxias do Sul (RS), obteve o título de uma das melhores empresas para se trabalhar no Estado. O reconhecimento veio do Instituto Great Place to Work (GPTW), entidade dos Estados Unidos que atua em 53 países e que realiza pesquisas periodicamente para identificar as empresas que ofereceram as melhores condições de trabalho. Aproximadamente 64 mil trabalhadores — entre funcionários, gestores e departamento de Recursos Humanos — de 89 empresas gaúchas res- 32 Revista NTU Urbano ponderam a pesquisa de avaliação do GPTW. Das 10 melhores companhias selecionadas na Categoria Grandes Empresas — nacionais ou multinacionais com mais de mil funcionários—, a Visate ocupou a sétima posição. Atualmente, a empresa opera com 343 ônibus que atendem cerca de 144 mil passageiros por dia. Sua rede de atendimento é constituída de 76 linhas e atende entre vários bairros dentro de todo o perímetro urbano de Caxias do Sul. Satisfação dos colaboradores Para obter esse reconhecimento e, principalmente, um ambiente interno saudável, a empresa tem inves- tido em ações diferenciadas. A coordenadora de Recursos Humanos da Visate, Ana Cristina Rech, explica que, embora o setor de transporte coletivo esteja vivenciando uma fase difícil, um dos aspectos que torna a empresa um ótimo lugar para trabalhar é o princípio de respeito entre todos, independentemente do cargo que ocupam. “Considerando as dificuldades que o setor de transporte coletivo vem enfrentando, esse índice é bastante elevado e nos incentiva a estar sempre buscando alternativas que possam promover a relação de confiança entre a empresa e os funcionários”, pontua Ana Cristina. Além disso, a Viação conta com programas de comunicação interna A C ONT E C E NAS E M PR E SAS que são reconhecidos como parte da cultura e benefícios sociais que a empresa oferece, como a cesta básica e o plano de saúde. A saúde do trabalhador é um dos pontos fortes da instituição. Na empresa, os funcionários têm a oportunidade de sair do sedentarismo com uma academia, ginástica laboral e espaço para corridas. Grupos de ciclismos que se exercitam fora da empresa também foram formados. Eles contam ainda com a ajuda de uma enfermeira, um médico do trabalho e um clínico geral. Além das atividades para manutenção da saúde e dos cuidados médi- cos, a Visate é engajada no combate ao fumo e frequentemente realiza campanhas para que seus funcionários parem de fumar, relata o motorista Leonardo Grazzi, que está na empresa há 19 anos. “O resultado disso é que vários colegas meus já largaram o cigarro através dessas campanhas. É por isso que a Visate teve um índice tão alto de aprovação, por se preocupar com os seus funcionários, promovendo atividades físicas, alertando sobre os malefícios do cigarro, e cuidando da nossa saúde mental ao criar um ambiente de trabalho amigável e harmonioso”, completa o motorista. Visate: histórico de premiação e reconhecimento Desde 2004, a Visate tem construído um vasto histórico de premiações. Confira os principais: • Prêmio Qualidade RS (2004) – Nível 1 – Medalha Bronze – Associação Qualidade • Certificado de Responsabilidade Social (2005) - Assembleia Legislativa do Estado do RS • Prêmio Qualidade RS (2007) - Nível 2 - Troféu Prata - Associação Qualidade • Prêmio Qualidade RS (2008) - Nível 3 - Troféu Ouro - Associação Qualidade • Certificação ISO 9001:2008 (2009) • Prêmio Destaques em RH categoria Gestão Estratégica de Pessoas, da ARH Serrana (2012) • Great Place To Work (2015) - 7º lugar entre as Melhores Empresas para se Trabalhar no RS Great Place To Work: Método de avaliação O Instituto GPTW avaliou as empresas com uma pesquisa de satisfação interna, apresentação de relatório com as práticas institucionais da empresa, análise dos resultados e cruzamento de informações obtidas com os colaboradores e com a própria empresa. Foram realizadas várias auditorias para garantir que os dados obtidos eram precisos. A pesquisa aplicada aos colaboradores envolve os seguintes temas: • Re l a c i o n a m e n to l í d e r liderado: responsável pela criação de um ambiente de confiança. • Orgulho (do funcionário pelo seu trabalho). • Camaradagem (existente entre o funcionário e os seus colegas). • Fatores que tornam a empresa um excelente lugar para trabalhar. • Aspectos que precisam ser melhorados na empresa. Revista NTU Urbano 33 M OBILIDAD E U RBANA Cidades do interior de São Paulo trabalham no desenvolvimento de planos de mobilidade urbana CEDOC_RACLegenda: Trânsito em Campinas (SP). Campinas e Sumaré iniciam 2016 com vários projetos para o transporte público Ônibus rodam em Campinas (SP). E m Campinas (SP), uma frota de mil ônibus transporta aproximadamente 650 mil passageiros por dia útil. Frota esta que disputa o espaço viário com mais de 900 mil veículos particulares que circulam pela cidade. A cidade caminha para o colapso na mobilidade urbana e exige a criação de projetos que melhorem os deslocamentos e atraiam mais passageiros para o transporte urbano. Pensando nisso, a prefeitura municipal, juntamente com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campi- 34 Revista NTU Urbano nas (Emdec), está desenvolvendo a revisão de Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Campinas, com planos viários que serão realizados durante os próximos 15 anos. Uma das iniciativas para a mobilidade urbana da cidade é o projeto do BRT campineiro, que receberá o nome de “Rapidão” e será formado pelos corredores a serem implantados nos distritos de Campo Grande e Ouro Verde. O BRT Rapidão beneficiará mais de 300 mil pessoas. O projeto já está na fase de contrata- M OBILIDAD E U RBANA ção das obras e a previsão é que o sistema fique pronto até o final deste ano. Os corredores de Campo Grande e Ouro Verde terão, respectivamente, 14,6 km e 17,9 km de extensão. Outra meta do município é acabar definitivamente com a o pagamento das passagens em dinheiro. De acordo com a Emdec, atualmente, apenas 8% dos passageiros utilizam dinheiro para pagar as passagens. No município, a frota já opera sem cobradores, que foram reaproveitados para outros serviços, como trabalhos em mecânica e administrativo. “A Emdec observou que, com o crescente número de usuários que não pagam a tarifa em dinheiro, que hoje é representado por 92% dos passageiros que utilizam somente o cartão, o número de assaltos diminuiu drasticamente. Por isso, em breve, Campinas terá um sistema de tarifa baseado em 100% no pagamento com o cartão, com a expectativa de zerar os assaltos nos coletivos”, prevê o presidente da Emdec, Carlos José Barreiros. para melhorar as condições gerais de mobilidade urbana da cidade. Está em fase final a elaboração do novo Plano de Mobilidade Urbana de Sumaré com diretrizes para melhorias nos setores de trânsito, transporte e acessibilidade ao que serão implantados ao longo dos próximos 10 anos. Na área do transporte público, serão desenvolvidos projetos de acordo com as necessidades mais urgentes. Em 2014, a prefeitura realizou o estudo “Demanda e Movimentação de Passageiros do Transporte Coletivo de Sumaré” que, por meio de uma análise técnica e detalhada das necessidades dos usuários de ônibus, apontou as ações que podem ser feitas nas linhas municipais. As informações coletadas estão em fase de análise por técnicos da prefeitura para que as melhorias no sistema possam ser implantadas gradativamente a partir do segundo semestre deste ano. A implantação de projetos de mobilidade urbana de Sumaré faz-se necessária à medida que o transporte público é amplamente utilizado: cerca de 215 mil passageiros utilizam o transporte urbano mensalmente nas 16 linhas municipais disponíveis. Segundo a assessoria da prefeitura municipal, os projetos de mobilidade urbana que terão início neste ano visam criar um sistema de transporte público que incentivem os usuários de carros e motos a mudarem seus meios de deslocamentos pelo coletivo. Espera-se que sejam atraídos pelos benefícios que resultarão das obras de ampliação do Corredor Metropolitano Noroeste — único corredor de Sumaré— por meio do Plano Municipal de Mobilidade Urbana, que prevê, por exemplo, a criação de uma extensa rede de ciclovias que ligará praticamente todas as regiões da cidade. Prefeitura Barreiro também revela que Campinas é a primeira cidade brasileira a colocar em operação ônibus 100% elétricos. Os dez veículos elétricos, que começaram a circular na cidade em outubro do ano passado, têm capacidade para transportar 80 passageiros e necessita apenas de uma recarga noturna de bateria para rodar até 300 quilômetros por dia. Sumaré prioriza plano de urgência Historicamente, em Sumaré (SP), a mobilidade urbana era uma das áreas que mais carecia de planejamento e investimento por parte do poder público. Sendo assim, a atual gestão da prefeitura municipal vem atuando Ônibus coletivo de Sumaré Revista NTU Urbano 35 Pe lo mu n d o NORUEGA Oslo banirá carros do centro da cidade até 2019 O governo norueguês pretende até 2019 cortar 50% dos gases poluentes dentro da cidade de Oslo. Para alcançar esse número, a capital adotará o programa de banimento de carros particulares (emissores de gás carbônico), proporcionando assim um ambiente arejado aos pedestres, ciclistas e comércio local. Atualmente Oslo possui 650 mil habitantes e cerca de 90 mil passam todos os dias pelo centro da cidade para trabalhar. A iniciativa ainda prevê 60 km de ciclo-faixas, permitindo a circulação de bicicletas elétricas na região em três anos, além, de investir em novas linhas de ônibus e bonde aos usuários. Segundo os jornais europeus e site CityLab, o grande desafio da cidade é promover o uso contínuo de bicicletas em vista o progresso da mobilidade urbana sustentável. Atualmente, 4% das viagens são feitas por bicicletas e a meta é aumentar PERU esse índice de 10% a 20% nos próximos 15 anos. O investimento da campanha é de US$ 420 milhões. “Em 2030, ainda haverá gente dirigindo carros, mas estes deverão ser emissão zero”, afirma a vice-prefeita de Oslo, Lan Marie Nguyen Berg. Projeto oferece livros pelo celular em ônibus no Peru O coletivo “Chup de Mango” inovou a capital peruana com a criação de um projeto de leitura de livros grátis nos ônibus de Lima, no Peru. Para atrair os passageiros, o grupo seleciona trechos de livros tradicionais e os destaca nos adesivos espalhados nos meios de transporte. O leitor interessado no livro basta fazer a leitura do código QR enquanto se desloca ou anotar o site e acessar em outra oportunidade. A iniciativa surgiu da escassez de bibliotecas na cidade e do pouco costume dos peruanos em lerem livros. Chup de Mango conta com o apoio da ONG “Ayuda en Acción/Voluntariado en acción” e incentiva outras prefeituras a adotarem a mesma iniciativa a fim de promover mais leitura no país. MÉXICO “Bike Humana” é formada por ciclistas Cerca de três mil ciclistas tomaram a praça de Zócalo, na cidade do México, e formaram uma gigante bicicleta humana como forma de protesto contra a intensa poluição atmosférica do planeta. O grupo defende uma cidade sustentável e exige melhorias que contribuam para o transporte limpo na cidade. Essa é a terceira vez que ocorre um evento desse porte na região com tamanha mobilização. O ato coincidiu com o início do plano de medidas que serão adotadas pelas autoridades locais, visando à redução em média de 40% de veículos motorizados na região. 36 Revista NTU Urbano E m b a r q ue n e s s a i d e i a Luis Antonio Lindau, PhD, diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis Financiamento verde para transporte sustentável M ais de 61% das propostas da COP 21, firmadas em Paris, estão focadas na redução das emissões dos transportes 1. Agora, o desafio é encontrar soluções para financiar bons projetos urbanos que melhorem a qualidade de vida e fomentem cidades de baixo carbono. As cidades têm boas ideias para um desenvolvimento com infraestruturas sustentáveis, mas sofrem com a falta de capacidade técnica para elaborar projetos robustos. Bons projetos precisam ser vistos como investimentos e não apenas custos. Geralmente, as inversões financeiras em transportes são tidas apenas como custos, no típico caso da construção de um viaduto. Estes custos só serão percebidos como investimentos, por exemplo, na revitalização de uma avenida que priorize o transporte coletivo e o não-motorizado sobre o automóvel. O mercado está inundado de recursos para bons projetos. Estima-se que há cerca de US$ 100 trilhões disponíveis no sistema financeiro 2. Em Paris, com o “Green Bonds Statement”, 27 investidores decidiram trabalhar no desenvolvimento de um mercado vigoroso para enfrentar as mudanças climáticas. Os fundos de pen- são signatários se comprometeram a destinar de US$ 2 a 3 trilhões para projetos verdes3. Se existe dinheiro no mercado, como ele chegará às cidades? Municípios de vários países já encontraram uma forma de financiar bons projetos pela emissão de títulos verdes, os green bonds, papéis de dívida pública que financiam iniciativas de baixa emissão. Esse mecanismo está sendo usado por cidades de países em desenvolvimento como Johanesburgo e Durban, na África do Sul. No Brasil, o cenário é diferente. Desde 1993, estados e cidades ficaram impedidos de emitir títulos de dívida para financiar investimentos. Em 2011, o Rio de Janeiro solicitou a permissão do Governo Federal para emitir títulos para a infraestrutura das Olimpíadas, mas não conseguiu. São Paulo também reivindicou a volta do lançamento de títulos no mercado em 2013, mas mesmo tendo um bom rating de crédito, teve o pedido negado. As cidades do Brasil estão em desvantagem para captar investimentos. Ainda disputam o mercado global com municípios mais preparados, com estruturas robustas de governança, transparência das contas públicas e que contam com o apoio de governos federais. Em um cenário internacional cada vez mais marcado pela competição global entre cidades, é urgente capacitar tecnicamente as cidades brasileiras e desenvolver mecanismos de acesso ao capital internacional. Referências: (1) Paris Process on Mobility and Intended Nationally-Determined Contributions offers opportunities for ambitious on Transport and Climate Change. Partnership on Sustainable Low Carbon Transport. Novembro, 2015. http://ppmc-cop21.org/wp-content/uploads/2015/08/ Intended-Nationally-DeterminedContributions-Offer-Opportunities-for-Ambitious-Action-on-Transport-and-Climate-Change.pdf (2) http://www.climatebonds.net/files/files/Paris_Investor_Statement_9Dec15.pdf (3) Justine Leigh-Bell, Climate Bonds Iniciative. C40 Financing Sustainable Cities Forum. Abril, 2016. Revista NTU Urbano 37 # n t u r ec o me n d a Apps Sites Moovit para deficientes visuais Mobilidade sonora Projeto Mobilidade Sonora tem conquistado cada vez mais a simpatia de jovens da rede pública de ensino. Criado em 2011, o projeto é uma iniciativa da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), que leva música clássica aos jovens de forma criativa e alegre, identificada com suas realidades através de concertos didáticos. O projeto De olho no avanço tecnológico e visando atender às necessidades dos usuários de forma social também proporciona cultura, arte e cidadania aos jovens, dando-lhes a oportunidade de sonhar com um mundo melhor. Confira: http://www.mobilidadesonora.com.br/ universal, o aplicativo Moovit lança uma nova versão que inclui recursos para o público com deficiências visuais. A versão 4.10 integra as Cidade democrática funcionalidades Voice Over (iOS) e Talk Back Instituto Cidade Democrática é uma ONG, criada em 2008 (Android), tornando o aplicativo acessível com o objetivo de fomentar a participação social e construir aos cegos. Na nova programação, a pessoa soluções coletivas sobre os principais assuntos do cotidiano. A pressiona o dedo na tela do celular e escuta o organização quer construir uma democracia que corresponda comando sobre qual botão ou ícone está sen- aos anseios dos brasileiros com direito a igualdade de oportu- do visualizado, permitindo assim programar nidades, sustentabilidade ambiental e justiça social. O instituto com antecedência suas rotas e viagens. Novos é independente, apartidário e sem fins lucrativos. Confira: recursos de acessibilidade estão em desenvol- http://instituto.cidadedemocratica.org.br/ vimento e em breve serão testados pelo Moovit. Ouvidoria 2.0 em Cauraru (PE) “Ouvidoria 2.0” Publicações é um aplicativo para que a popu- Indo e Vindo lação de Caruaru, no Agreste Indo e Vindo é a revista do rodoviário que atua no co- de Pernambuco, tidiano do transporte público do Rio de Janeiro. Uma expresse opi- iniciativa da Fetranspor (Federação das Empresas nião sobre o serviço de transporte público do de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de município. O serviço pode ser utilizado por Janeiro), que busca informar e integrar os funcio- meio do aplicativo do Gabinete Digital Caru- nários do transporte coletivo sobre a qualidade e a aru, disponível para aparelhos celulares com estrutura da mobilidade urbana na região com temas sistema Android. A proposta do app é abrir atrativos que vão de tecnologia a cultura, além realizar um diálogo direto com a população, visando promoções e concursos para assinantes. Conheça: melhorar o sistema de transporte público. http://www.revistaindoevindo.com.br/ Além do aplicativo, a população pode utilizar também a “Ouvidoria 2.0” por meio do número (81) 98207-5514. 38 Revista NTU Urbano INSCRIÇÕES ANTECIPADAS 1º DE JUNHO A 15 DE AGOSTO DE 2016 www.ntu.org.br LOCAL DO EVENTO HOTEL ROYAL TULIP BRASÍLIA ALVORADA Endereço: SHTN Trecho 1, Conjunto 1B, Bloco C , Brasília - DF, 70800-200 Telefone: +55 (61) 3424-7018 APRESENTAÇÃO Após quase 200 anos de história no Brasil, o transporte público enfim se tornou um direito social na Constituição Federal. Em outubro de 2015, foi aprovada a PEC 90/2011 no Congresso Nacional, garantindo à mobilidade urbana destaque no artigo 6º da Carta Magna ao lado de educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Mas, e agora? Como garantir recursos suficientes para esse serviço tal qual é destinado aos outros direitos sociais? A inclusão na Constituição Federal representa um novo caminho na luta por um transporte mais digno com novas possibilidades de desenvolvimento para o setor. 23 E 24 DE AGOSTO Confira as diárias especiais para os participantes e outras sugestões de hospedagem na página do evento! www.ntu.org.br ROYAL TULIP / BRASÍLIA PROGRAMAÇÃO PRELIMINAR 23/08 (TERÇA-FEIRA) O novo caráter constitucional do transporte público e seus desdobramentos serão o principal tema de debate da 30ª edição do SEMINÁRIO NACIONAL NTU, que será realizado nos dias 23 e 24 de agosto em Brasília. 10:00 Abertura 10:30 Painel “Transporte público como direito social. E agora?” O debate contará com a participação de lideranças do setor de transportes, do Congresso Nacional, do governo federal e da sociedade civil em busca de ações para que o transporte público tenha dotações orçamentárias, como a saúde, a educação e outros direitos sociais garantidos na Constituição Federal. 13:00 Almoço 14:30 Painel “Prioridade ao transporte público: análises e soluções” Apresentação de cases e análises das medidas de prioridade ao transporte público implementadas nas cidades brasileiras nos últimos cinco anos. 16:30 Palestra master Além do direito social, as medidas de prioridade ao transporte público implementadas nos últimos cinco anos no Brasil serão expostas por especialistas e gestores públicos do setor, que farão análise dos benefícios e resultados concretos que beneficiam as cidades e a população. 18:00 Encerramento Além das questões políticas e sociais que envolvem o setor de transporte público, a NTU promove a Oficina de Sistemas Inteligentes de Transportes com o objetivo de discutir importantes questões tecnológicas para a excelência do serviço de ônibus. 09:30 Biometria e controle de fraudes 10:30 Tecnologia para incrementar demanda de passageiros 11:30 Gestão de frota 13:00 Almoço 14:30 às 17:00 Encontros dos Colégios da NTU Executivos e gestores das empresas e entidades de transporte público reúnem-se para promover a troca de experiências e debater soluções nas diversas áreas de atuação do setor. REALIZAÇÃO O RGANIZAÇ ÃO 24/08 (QUARTA-FEIRA) Oficina de Sistemas Inteligentes de Transportes Especialistas, operadores e representantes da indústria vão apresentar e discutir importantes questões tecnológicas para a operação dos sistemas de transportes AP OIO EDITOR IAL AP OIO IN S T I TUCI ONAL SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A www.twitter.com/ntunoticias Brasília (DF) CEP 70070-944 www.facebook.com/ntubrasil Tel.: (61) 2103-9293 / Fax: (61) 2103-9260 E-mail: [email protected] / Site: www.ntu.org.br www.flickr.com/ntubrasil www.youtube.com/transporteurbanontu
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