Como atender as demandas sociais referentes ao transporte
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Como atender as demandas sociais referentes ao transporte
ISSN: 2317-1960 Ano II, Número 10 JUL / AGO 2014 ntu.org.br Como atender as demandas sociais referentes ao transporte público? Pesquisa encomendada pela NTU ouviu de lideranças ligadas ao setor quais as soluções para os anseios da população. Preço, qualidade e transparência são as palavras-chave para atender as exigências da sociedade 14 Transporte individual custa mais e não atende a todos HOMENAGEM: Reconhecimento aos bem feitores do transporte público São Paulo e Rio de Janeiro perderam r$ 98 bi em 2013 devido a congestionamentos 20 28 32 CIT-BRT. O SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO E CONTROLE DO BRT MOVE DE BH E DA REGIÃO METROPOLITANA. Com a experiência acumulada dentro e fora do Brasil, a TACOM oferece um conjunto diferenciado de soluções para gerenciamento de BRTs. O CIT-BRT é o único sistema que integra todas as soluções tecnológicas necessárias para uma operação segura e rentável. Sistema de Rastreamento e Gestão Integrada de CCO via GPS/GPRS. 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Editorial A evolução das demandas R ealizar 40 milhões de viagens por dia requer, antes de tudo, comprometimento. E é com foco nesse compromisso que empresários do transporte urbano buscam cada vez mais melhorias no serviço. A evolução percebe-se ao longo da história quando, em 1908, os primeiros ônibus no Brasil, transportavam um pouco mais que cinco pessoas. Atualmente, a constante inovação e investimento do setor permitem transportar até 270 pessoas em um único ônibus, que conta ainda com conforto de ter ar condicionado e bancos estofados. Claro que essa evolução tem sido gradativa e acontece na medida em que as pessoas, as cidades e o país também evoluem. É natural que, na medida em que uma nação experimenta coisas novas e melhores, a exigência por qualidade nos serviços públicos acompanhe esse cenário cultural. Em pesquisa recente realizada pela NTU sobre as demandas da sociedade em relação ao transporte público, a regularidade do serviço (cumprimento do horário) e o tempo total da viagem foram apontados como os principais atributos para garantir qualidade no serviço de transporte Biênio 2013-2015 Conselho Diretor Membros titulares e suplentes Região Centro-Oeste Edmundo de Carvalho Pinheiro (GO) titular público. A pesquisa ressalta ainda a importância dos investimentos em sistemas de alta capacidade, como BRT e Metrô, faixas exclusivas para ônibus e a participação de todos os segmentos sociais nas decisões sobre o transporte público. No entendimento da NTU, a pesquisa reforça a tese de que para fazer transporte público acessível e de qualidade no Brasil é preciso mais que planejamento de linhas e itinerários. É necessário incentivo, priorização, subsídios e desonerações, participação e comprometimento de governos, empresários e, inclusive, da sociedade. Na intenção de continuar contribuindo para a evolução do transporte público no Brasil, a NTU promove anualmente o Seminário Nacional NTU. Em 2014, a entidade vai aprofundar o debate sobre os anseios da sociedade para o transporte. Além disso, colocará em pauta a qualidade e segurança nos sistemas BRT; a Lei Anticorrupção e Políticas de Compliance; e realizará ainda oficinas sobre os Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS). São temas fundamentais para que o serviço de transporte público se renove e alcance as expectativas dos cidadãos. Ricardo Caixeta Ribeiro (MT) suplente Região Nordeste Dimas Humberto Silva Barreira (CE) titular Mário Jatahy de Albuquerque Júnior (CE) suplente Luiz Fernando Bandeira de Mello (PE) titular Paulo Fernando Chaves Júnior (PE) suplente Região Sudeste Albert Andrade (MG) titular Wilson Reis Couto (MG) suplente Eurico Divon Galhardi (RJ) titular - presidente do Conselho Diretor Narciso Gonçalves dos Santos (RJ) suplente Lélis Marcos Teixeira (RJ) titular Francisco José Gavinho Geraldo (RJ) suplente João Carlos Vieira de Sousa (SP) titular - vice-presidente do Conselho Diretor Júlio Luiz Marques (SP) suplente João Antonio Setti Braga (SP) titular Mauro Artur Herszkowicz (SP) suplente Região Sul Ilso Pedro Menta (RS) titular Enio Roberto Dias dos Reis (RS) suplente Conselho Fiscal Membros titulares e suplentes Paulo Fernandes Gomes (PA) titular Heloísio Lopes (BA) titular Haroldo Isaak (PR) titular Ana Carolina Dias Medeiros de Souza (MA) suplente Jacob Barata Filho (RJ) suplente José Roberto Iasbek Felício (SP) suplente 4 Revista NTU Urbano S U M Á RIO 6 8 Expediente OPINIÃO DA NTU Otávio Cunha Otávio Vieira da Cunha Filho ENTREVISTA Frederico Bussinger 13 14 Presidente Confira entrevista com o consultor do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transportes e Meio Ambiente (Idelt) 12 Diretoria Executiva O desafio de atender as demandas sociais Marcos Bicalho dos Santos Diretor Administrativo e Institucional DIÁLOGO TÉCNICO André Dantas Atendendo as demandas sociais – o exemplo do município do Rio de Janeiro André Dantas Diretor Técnico PARADA OBRIGATÓRIA Notinhas para você se agendar, se informar e se atualizar CAPA Como atender as demandas sociais referentes ao transporte público? SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A 20 22 24 26 27 28 30 32 36 38 Brasília (DF) CEP 70.070-944 PRIORIDADE Tel.: (61) 2103-9293 Transporte individual custa mais e não atende a todos Fax: (61) 2103-9260 E-mail: [email protected] MOBILIDADE NA COPA Site: www.ntu.org.br Transporte público eficiente na Copa do Mundo supera expectativas Editora responsável ACONTECE NAS EMPRESAS Bárbara Renault (DF 7048 JP) Empresários de ônibus e do comércio se unem por soluções para greves em Natal Editora assistente PELO MUNDO Hellen Tôrres (DF 9553 JP) Conheça as novidades e soluções de mobilidade adotadas mundo afora Colaborou nesta edição EMBARQUE NESSA IDEIA Luis Antonio Lindau A mobilidade urbana além da Copa Flávio Neponucena Isabella R. Silva Laisse Nonato HOMENAGEM Reconhecimento aos bem feitores do transporte público Diagramação Duo Design NTU EM AÇÃO NTU investe em campanhas publicitárias nas redes sociais Esta revista está disponível no site www.ntu.org.br PONTO DE ÔNIBUS Adamo Bazani São Paulo e Rio de Janeiro perderam R$ 98 bi em 2013 devido a congestionamentos Artigo Clarisse Linke Padrão de qualidade BRT Siga a NTU nas redes sociais www.twitter.com/ntunoticias #NTURECOMENDA Dicas de livros, sites, aplicados e vídeos sobre transporte www.facebook.com/ntubrasil www.flickr.com/ntubrasil www.youtube.com/transporteurbanontu Revista NTU Urbano 5 O p i n i ã o d a NT U Autor: Otávio Vieira da Cunha Filho (*) O desafio de atender as demandas sociais A cobrança por um transporte público urbano de maior qualidade está no topo da lista de reivindicações da sociedade. Propostas de melhorias para o setor surgem nas agendas de candidatos aos postos de alto comando do país. Entretanto, a despeito das promessas de campanha, a NTU foi ouvir quem é de direito – buscou junto a empresários, gestores públicos, parlamentares, especialistas, conselheiros do Conselho das Cidades, acadêmicos e jornalistas, entender o que, de fato, atende as demandas do cidadão que utiliza o ônibus urbano no deslocamento diário. “Mas já podemos adiantar que na avaliação dos entrevistados, atentos à cena diária do deslocamento urbano, o que o cidadão mais deseja também é almejado pelo setor há mais de 20 anos: a oferta de um serviço eficiente, com preço justo e que leve o passageiro ao destino desejado, no menor tempo possível.” vistados, atentos à cena diária do deslocamento urbano, o que o cidadão mais deseja também é almejado pelo setor há mais de 20 anos: a oferta de um serviço eficiente, com preço justo e que leve o passageiro ao destino desejado, no menor tempo possível. Lembramos que nessas duas décadas, contando desde a promulgação da Constituição de 1988, os estados e municípios ficaram responsáveis pela organização e prestação dos serviços intramunicipais e intermunicipais de caráter urbano, deixando para a União a gestão das ligações interestaduais e a competência de instituir as diretrizes nacionais no campo dos transportes urbanos. Isso levou à extinção de órgãos importantes para o setor, como a Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) e a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (Geipot). Desde então, diante da incapacidade financeira dos municípios, assistimos à ausência de grandes investimentos na infraestrutura urbana. Na falta de uma política pública para o setor, aliada ao incentivo oficial à compra de automóveis, o transporte público coletivo urbano por ônibus perdeu qualidade e aumentou seus custos pela perda de desempenho, na contramão, portanto, dos anseios sociais. Porém, para entender melhor esse contexto, o Seminário da NTU debaterá essas e outras demandas da população baseada numa pesquisa esclarecedora. Isso nos dará oportunidade de discutir a correção de rumos, rever posicionamentos e optar por novas posturas que tragam o bom senso às ações de governo em relação ao transporte público urbano em nosso país. *Otávio Vieira da Cunha Filho é presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Bacharel em Administração e Ciências Contábeis, membro do Conselho Diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos As respostas aos anseios populares, com base em 91 opiniões, serão debatidas durante o Seminário Nacional da NTU, em Brasília. Mas já podemos adiantar que na avaliação dos entre- 6 Revista NTU Urbano (ANTP) e presidente da Seção 1 – Passageiros, da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Todos juntos fazem um trânsito melhor. VOLVO HÍBRIDO. produtividade com menos impacto ambiental. Pratique a matemática Volvo Pense em um veículo com tecnologia inteligente que, em pleno funcionamento, muda sozinho sua fonte de energia. Você deve ter pensado no Volvo Híbrido, que utiliza diesel e eletricidade, o que subtrai 35% do consumo de combustível e 50% da emissão de poluentes, além de ser mais silencioso nas arrancadas. Faça as contas. Um Volvo soma produtividade ao seu negócio. 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E n t r e v i s ta Para ele, a solução está na forma de tratar o problema. “A qualidade de vida e a produtividade estão muito mais associadas à acessibilidade aos locais de trabalho, estudo, compras, e lazer, que à mobilidade. É possível ter índice de mobilidade menor e, ainda assim, ter maior acessibilidade”, defende. Bussinger é um dos participantes do painel “Como atender as demandas sociais” do Seminário Nacional NTU, debate que acontece em 27 de agosto, em Brasília. Em entrevista à NTU URBANO, o especialista ressalta que a mobilidade urbana não é apenas uma questão de transporte público. A análise dessa problemática deve envolver tanto pessoas como cargas e serviços. Ele ainda fala sobre tarifa, projetos e planejamento. O Brasil tem vivenciado uma crise de mobilidade urbana e a cada dia as cidades param ainda mais. Além da qualidade de vida, essa situação impacta diretamente na produtividade e competitividade do país. Quais as soluções em mobilidade poderiam ser implementadas em curto e longo prazos para equacionar esse problema? Não há saída nem simples e nem fácil. Para enfrentar o desafio, entendo que devemos começar a mudar profundamente a forma de tratar o problema. Há uma ideia arraigada mesmo entre planejadores, projetistas e gestores do setor, de que quanto mais mobilidade melhor. Mas nem sempre. A qualidade de vida e a produtividade estão muito mais associadas à acessibilidade aos locais de trabalho, estudo, compras, e lazer do que à mobilidade. É possível ter índice de mobilidade menor e, ainda assim, ter maior acessibilidade. Quando falamos de mobilidade, normalmente temos pessoas em mente. Nos esquecemos que cargas e serviços também precisam se deslocar no tecido urbano. Não há uma mobilidade de pessoas e outra mobilidade de cargas e de serviços. Todos utilizam e disputam praticamente o mesmo espaço, a mesma infraestrutura. A busca por soluções, normalmente, se concentra no aumento da oferta com a participação do transporte coletivo na matriz de transportes para enfrentar os congestionamentos crescentes. Mas, como a história brasileira já demonstrou, todo aumento de oferta implementada isoladamente e “atrás da demanda” tem prazo de validade curto. Assim, seria desejável explorar a gestão da demanda, que consiste em reduzir a necessidade de deslocamento, as distâncias percorridas e os fatores de pico. “Não nos enganemos e nem queiramos enganar os outros! É uma ilusão, um desserviço vender-se ou deixar-se veicular acriticamente a ideia de que é possível melhorar a qualidade do transporte coletivo mantendo as tarifas vigentes. Menos ainda se reduzi-las.” Revista NTU Urbano 9 Shutterstock.com E n t r e v i s ta Para o eficaz enfrentamento da mencionada “crise”, tão ou mais importante que ela, são as mudanças conceituais e de abordagem e a forma de organização da economia e da cidade. Uma das questões que impulsionaram as manifestações em junho de 2013 foi o reajuste tarifário do transporte coletivo por ônibus. Os governos municipais não têm condições de subsidiar as tarifas e, cedendo às pressões populares, desestruturam o orçamento público. Qual a sua avaliação sobre esse cenário? Não nos enganemos e nem queiramos enganar os outros. É uma ilusão, um desserviço vender-se ou deixar-se veicular acriticamente a ideia de que é possível melhorar a qualidade do transporte coletivo mantendo as tarifas vigentes. Menos ainda se reduzi-las. 10 Revista NTU Urbano Outro caminho requer que, além dos usuários, também seus beneficiários participem do “funding” do setor (custeio e investimentos): empregadores, concedentes de gratuidades (idosos, estudantes, etc.) e, principalmente, usuários de transporte individual. Esse é o conceito que fundamenta, por exemplo, o Vale-Transporte e a destinação da CIDE para o transporte coletivo. A solução passa, inexoravelmente, por aumento de tarifas ou aumento de subsídios ao setor. E até mesmo a combinação dos dois. Mas ainda com todas essas contribuições, certamente, a forma de financiamento do setor precisará também ser revista. Seja para seu custeio, seja para os investimentos necessários para se atingir o padrão de qualidade desejado. E, em tempo, o que é tarifa social? Penso não haver clareza sobre o que seja. Muito menos consenso. “A busca por soluções, normalmente, se concentra no aumento da oferta com a participação do transporte coletivo na matriz de transportes para enfrentar os congestionamentos crescentes. Mas como a história brasileira já demonstrou, todo aumento de oferta implementada isoladamente e “atrás da demanda” tem prazo de validade curto. Assim, seria desejável explorar a gestão da demanda, que consiste em reduzir a necessidade de deslocamento, as distâncias percorridas e os fatores de pico.” E n t r e v i s ta Como país sede da Copa do Mundo, o governo federal disponibilizou verba a projetos voltados para mobilidade urbana e transporte público. Alguns saíram da Matriz de Responsabilidade e a grande parte não ficou pronta a tempo do Mundial. Quais as suas expectativas em relação a esses projetos? Podem ser um legado futuro? Certamente as obras ficarão prontas um dia. Mas elas padecem de uma dificuldade que é bem mais ampla no país. Abrange quase todos os setores de infraestrutura e serviços públicos. Os projetos são necessários, mas, sem que se tenham claro quais são suas premissas e objetivos, grandes investimentos podem até resultar na geração de outros problemas. A métrica da ação não pode, portanto, ser apenas volume de investimentos. Associados aos objetivos devem ser estabelecidos indicado- “Enquanto você comprar uma moto com o dinheiro do vale-transporte e pagar a prestação de carro com o valor menor do que a de um salário mínimo, nós teremos pouca chance de solução. Já quando se tributa o combustível, por exemplo, encarece o andar de carro e moto e gera recursos para melhorar a malha viária do município.” res de resultados e, principalmente, serem diligentemente monitorados. O que falta para que as cidades e município planejem adequadamente o transporte público e mobilidade urbana? Essa questão estaria ligada a vontade política e capacitação técnica dos órgãos gestores? No Brasil, “falta de planejamento” é bordão recorrente. Mas que planejamento? Normalmente, o foco é apenas o plano e esse, restrito ao o que ser feito. No entanto, tão importante quanto o plano é seu processo de elaboração. É ele que pode facilitar a geração de compromissos. Também é preciso levar em consideração fontes de recursos e variáveis ambientais. Caso contrário, não se pode considerá-lo um plano. A Lei 12.587/2012, em si, é boa. Mas é insuficiente para mudar a realidade. Aposto muito mais em articulações, participação, projetos e gestão. É preciso também definir uma política clara de financiamento do transporte público. Enquanto você comprar uma moto com o dinheiro do vale-transporte e pagar a prestação de carro com o valor menor do que a de um salário mínimo, nós teremos pouca chance de solução. Já quan- do se tributa o combustível, por exemplo, encarece o andar de carro e moto e gera recursos para melhorar a malha viária do município. PERFIL Frederico Bussinger é engenheiro, economista, pósgraduado em Administração de Empresas e consultor do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transportes e Meio Ambiente (Idelt). Foi secretário de Transportes de São Paulo, presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), diretor do Metrô/SP e presidente do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia). Revista NTU Urbano 11 D i á lo g o t é c n i c o André Dantas, PhD, diretor técnico da NTU Atendendo as demandas sociais – o exemplo do Munícipio do Rio de Janeiro A recente visita à cidade do Rio de Janeiro deixou-me mais otimista em relação ao atendimento das demandas sociais relacionadas ao transporte público. Logo na chegada ao Aeroporto do Galeão, nosso grupo percebeu a facilidade em adquirir o Bilhete Único Carioca e embarcar no veículo articulado do BRT TransCarioca, que faz ligação expressa à Barra da Tijuca. Ao longo do trajeto de 39 km de vias segregadas, fomos percebendo a magnitude dos esforços e recursos empenhados na construção de toda a infraestrutura, que compreende 147 veículos articulados, 47 estações, diversas obras-de -arte para transposição de avenidas, rios e outros obstáculos naturais. A cada quilômetro percorrido, observamos que a execução do projeto não foi tarefa fácil e ficamos cada vez mais impressionados, pois o BRT TransCarioca atende 27 bairros em uma área densamente ocupada em termos populacionais e de atividades socioeconômicas. Chegamos ao Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, depois de 90 minutos de viagem, que anteriormente a implantação do BRT consumia no mínimo 150 minutos. No dia seguinte, realizamos o mesmo percurso no sentido oposto verificamos que o tempo de viagem foi o mesmo (90 minutos), o que indica um altíssimo nível de confiabilidade proporcionado pelo BRT. Essa confiabilidade e a redução do tempo 12 Revista NTU Urbano O sucesso da implantação do BRT TransCarioca, as intervenções recentemente adotadas e o conjunto de projetos para os próximos anos são o resultado da determinação política e técnica visando o atendimento das demandas sociais. Os atores envolvidos têm trabalhado para que essa determinação seja convertida em ações de planejamento, investimento, capacitação, desoneração, custeio das gratuidades e subvenção pública da infraestrutura e dos serviços de transporte público. O exemplo do município do Rio de Janeiro demonstra que é possível superar desafios e quebrar paradigmas em prol do objetivo maior que é ofertar serviços de transporte público de qualidade. O poder público empenhou-se em buscar e/ou criar novas formas de recursos financeiros, assim como estabeleceu parcerias com a iniciativa privada para otimizar a efetividade dos investimentos. Aliás, a parceria com as empresas do transporte público potencializou sinergias diversas, tais como o desenvolvimento de projetos de acordo com a realidade operacional e a concepção e operacionalização de sistemas inteligentes de transportes para o monitoramento e controle dos serviços ofertados. A partir da construção de relações de confiança e parceria, a Prefeitura, a FETRANSPOR/Rio Ônibus e a sociedade civil organizada desenvolveram projetos, viabilizaram recursos, priorizaram a qualidade e a inclusão social e atuaram com transparência no sentido de produzir resultados de curto, médio e longo prazos. Essas ações produziram conquistas históricas, tais como a criação da Bilhete Único Carioca, a construção e operação de 60 km de infraestrutura do BRT TransOeste e a introdução de 11 corredores exclusivos BRS que totalizam 38 km. Até 2016, há ainda a previsão de que os sistemas BRT TransOlímpica e TransBrasil estejam em operação e contribuam para efetivação do sistema multimodo de transportes. A abordagem adotada pelos cariocas poderia ser uma referência para aqueles municípios que enfrentam dificuldades na gestão da mobilidade urbana. Tendo como base a determinação política e técnica observada no Rio de Janeiro, outros municípios poderiam superar essas dificuldades por meio da estruturação e implantação de planos de mobilidade, que devem ser elaborados de acordo com a Lei nº 12.587/2012 (Política Nacional da Mobilidade Urbana). À medida em que mais municípios tenham experiências exitosas como as do Rio de Janeiro, a expectativa é que gradualmente as demandas sociais sejam devidamente atendidas e a questão da mobilidade não seja um entrave no desenvolvimento da sociedade brasileira. de viagem representam indicadores muito importantes da transformação na vida dos usuários, que realizam 320 mil viagens por dia nesse BRT. Pa r a d a O b r i g at ó r i a Aprovado aumento de mistura de biodiesel no óleo diesel O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou no mês de julho a Medida Provisória 647/2014, que aumenta os percentuais de biodiesel ao óleo diesel. O texto aprovado foi proposto pela comissão mista do Congresso e será avaliado pelo Senado na primeira semana Passageiros conectados de setembro. A frota de ônibus da cidade de Santos, município de São Pelo texto, o percentual Paulo, dispõe agora de internet grátis em todos os veículos. obrigatório de mistura É a primeira cidade brasileira que fornece o serviço wireless do biodiesel ao óleo die- (wi-fi) em 100% dos ônibus. A inciativa faz parte das ações de sel - que já subiu para 6% melhoria do transporte público que começaram em janeiro de em 1º de julho - pas- 2013. A inovação e a modernização das frotas fazem parte das sará para 7% a partir principais estratégias do plano de melhoria implantado pela de 1º de novembro deste ano. Até a edição da MP 647, o per- prefeitura. Para ter acesso à rede não precisa de senha, basta centual era de 5%. A MP também traz o aumento da mistura de os usuários conectar a rede piracicabana. etanol à gasolina dos atuais 25% para 27,5%. Inscrições abertas para o Fórum Smart Cities “Como implementar os projetos de saneamento, entre outros. Estudos cidades inteligentes no Brasil” é o de casos brasileiros serão apresen- tema do “Smart Cities Brasil Fórum”, tados e, entre eles, os projetos de que acontecerá no dia 23 de se- mobilidade urbana do Rio de Janei- tembro, em São Paulo e já está com ro, que serão expostos pela Fede- inscrições abertas. O evento conta ração das Empresas de Transportes com a parceria da NTU e está sendo de Passageiros do Estado do Rio de organizado pelo grupo do Valor Janeiro (Fetranspor). Econômico e pela Hiria. O Fórum visa abordar o desenvolvimento urbano Inscrições atual e maneiras inteligentes e criativas de solucionar questões mais Para inscrições, entre em contato urgentes para as cidades. pelo telefone (11) 5093-7847 ou envie um e-mail para [email protected]. Vários temas serão debatidos e Mais informações podem ser conferi- englobam problemas ligados à edu- das no site do evento: cação, saúde, mobilidade urbana e http://smartcitiesforumbrasil.com.br Revista NTU Urbano 13 C APA 14 Revista NTU Urbano C APA Como atender as demandas sociais referentes ao transporte público? Pesquisa encomendada pela NTU ouviu de lideranças ligadas ao setor quais as soluções para os anseios da população. Preço, qualidade e transparência são as palavras-chave para atender as exigências da sociedade O transporte público é responsável pelo deslocamento diário de 46 milhões de brasileiros. Estima-se que 87% dessas viagens são feitas por ônibus. Cada dia é um desafio para gestores públicos e operadores desses sistemas atenderem as exigências da sociedade. As reivindicações populares que mobilizaram o país em junho de 2013, e tinham o transporte e a mobilidade como alvos prioritários dos protestos e vandalismos, motivaram a NTU a ouvir de lideranças ligadas ao setor quais seriam as soluções para atender essas demandas da sociedade. Realizada pela Soma Opinião e Mercado, a pesquisa ouviu 91 formadores de opinião, entre eles gestores públicos, empresários, jornalistas, especialistas, parlamentares, aca- dêmicos e conselheiros do Conselho das Cidades. Deles, foram ouvidos os posicionamentos e propostas sobre os temas que acalentam mais discussões no transporte público. A tarifa, a qualidade e a transparência do serviço foram as palavras-chave que permearam todos os discursos. Os resultados podem suscitar planos e ações daqueles que são responsáveis por estruturar, planejar e operar o sistema de transporte público do país a fim de atender a sociedade da forma que se espera. Na opinião dos entrevistados, as manifestações de junho de 2013 estavam mais atribuídas ao cenário político do que ao descontentamento com o transporte público em si. O fato dele aparecer de forma mais veemente, segundo os entrevistados, deve-se a vários fatores, como Revista NTU Urbano 15 C APA a exposição/influência, impacto maior do segmento na sociedade e na mídia e a relação estreita de estudantes com o setor. Para 81% dos entrevistados, a população está mais preocupada com os reajustes dados ao transporte público do que com as contas de água, luz e tele- fone, por exemplo, porque se trata de um gasto diário. Ou seja, mais perceptível que os gastos mensais de outros serviços, diluídos ao longo do tempo. Razões pelas quais o usuário se preocupa mais com os reajustes dados ao transporte público 0 15 30 45 Por ser um gasto diário O transporte público é mais importante para a população Por ser um serviço para as classes sociais mais baixas Faltam propostas e fiscalização do Governo 60 56,8% 28,4% 4,1% 2,7% É o único reajuste explícito 1,4% Tem maior envolvimento com a classe estudantil 1,4% *A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas. Tarifas A tarifa do transporte público está sempre em pauta. Inclusive, a insatisfação com o preço das passagens foi o que motivou as manifestações populares do ano passado. Foi das ruas que se fortaleceu o coro de diversos segmentos sobre a tarifa zero. Para 40% dos entrevistados, uma tarifa social ou acessível seria aquela que não compromete a renda do trabalhador. Todos os segmentos defendem que deveria haver uma diferenciação no valor da passagem de acordo com as classes sociais e subsidiada em parte pelo poder público. Na opinião de um dos representantes que compôs o grupo dos gestores públicos da pesquisa, “tarifa social é adequar o preço que o transporte precisa ter pra custear 16 Revista NTU Urbano um ótimo serviço, e o governo subsidiar a parte que não cabe no bolso do trabalhador”. “O que se percebe é que a população não quer apenas uma tarifa acessível, mas também qualidade nos serviços oferecidos. No entanto, transporte público de qualidade custa caro. Não é barato”, pondera o presidente da NTU, Otávio Cunha. O presidente da Associação explica que o custo do transporte está diretamente ligado à qualidade desse serviço. Para ele, o Brasil segue na contramão de outros países. “É uma constatação mundial, onde você tem serviços de transporte eficiente os governos ou a sociedade subsidiam o sistema, enquanto no Brasil, apenas a tarifa remunera o custo do serviço. Essa é uma questão de política tarifária que precisa ser mudada urgente no país”, defende. A Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei n°12.587/2012) define as diretrizes da política tarifária, no qual se instituiu a separação da tarifa de remuneração dos operadores do serviço e a tarifa pública, que é paga pelos usuários. A lei também exige mais clareza nas gratuidades, estabelecendo que os municípios terão que divulgar periodicamente os impactos dos benefícios tarifários - que hoje estão em torno de 19% - e a contribuição dos benefícios diretos e indiretos para o custeio da operação dos serviços. Sobre os critérios de concessão das gratuidades, para 40,7% dos entrevistados, o benefício deve ocorrer para o usuário idoso por meio de seleção por classe de renda individual. No caso dos estudantes, 44% acredita que a gratuidade deve ser concedida somente aos estudantes C APA DEFINIÇÃO DE TARIFA SOCIAL JUSTA OU ACESSÍVEL 0 10 20 30 40 Não compromete a renda e não onera o trabalhador 39,6% Cem por cento subsidiada pelo Governo Federal 23,1% Apenas para aqueles que precisam 18,7% Tarifa única para todas as Classes Sociais 8,8% Outros 19,8% *A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas. de escolas da Rede Pública. Em ambos os casos, as gratuidades devem ser subsidiadas pelo poder público e não onerar o valor da tarifa. Subvenção e Desoneração Uma das soluções para o barateamento das passagens do transporte público é a subvenção dos custos do serviço. Para este fim, 92,3% dos entrevistados apoiam a cobrança nos estacionamentos públicos; 85% também concordam com a taxação da gasolina; 65,9% com o pedágio urbano; e 51,6% com o aumento do IPTU dos imóveis mais caros. Em cidades importantes da Europa, o usuário paga menos de 50% do custo da tarifa. De acordo com levantamento da Associação de Autoridades Metropolitanas de Transportes Europeus (EMTA), em Berlin, Alemanha, e em Barcelona, Espanha, o usuário paga 46% do custo da passagem; em Paris, França, 40%; em Turim, Itália, 32% e na cidade de Praga, na República Tcheca, 26%. No Brasil, algumas capitais disponibilizam subsídios a estudantes, idosos e portadores de necessidades especiais. O município de São Paulo, por exemplo, se destaca ao subsi- diar, desde 1992, o sistema de transporte urbano. Atualmente, o valor para manter o sistema é de quase dois bilhões de reais por ano. As desonerações tributárias também são importantes para o equilíbrio econômico-financeiro do serviço oferecido. É apontada como uma solução de suma importância para a redução nas tarifas de transporte. De acordo com os entrevistados, essa é uma relação direta. Apesar de a maioria julgar a extrema importância dessa desoneração, poucos acreditam que está perto de se concretizar. SUBVENÇÃO DO TRANSPORTE COLETIVO COM ORÇAMENTO PÚBLICO 0 25 50 75 100 Cobrar por estacionamento público 92,3% Taxar a gasolina 85% Cobrar pedágio urbano nas áreas centrais das grandes cidades Aumentar IPTU dos imóveis mais caros 65,9% 51,6% *A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas. Revista NTU Urbano 17 C APA Recentemente, o governo federal mudou a sistemática de cobrança dos encargos sociais das operadoras do transporte público urbano, feita agora com base no faturamento e não mais sobre a folha de pagamento. Ainda por decisão tomada no âmbito federal, os transportes públicos estão isentos do pagamento de valores referentes ao Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Além disso, diversos Estados já concederam redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), incidente sobre o óleo diesel, e também alguns municípios reduziram – em alguns casos, a zero – a alíquota do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre o transporte público e/ ou reduziram ou extinguiram a taxa de administração desse serviço. Qualidade no transporte Quanto à qualidade do serviço, os participantes da pesquisa julgam necessário os investimentos públicos em sistemas de alta capacidade, como BRT e Metrô, em faixas exclusivas e tecnologias, como sistemas inteligentes de transporte e bilhetagem eletrônica. Dentre os principais atributos atributos da qualidade, na opinião deles, o usuário julga como os mais importantes: cumprimento dos horários, tempo total de viagem incluindo a espera e segurança dentro e fora dos veículos. Para tentar amenizar os impactos desse tempo de viagem é necessário investir na priorização do transporte coletivo. Com esse intuito a NTU, em novembro de 2013, encaminhou ao Ministério das Cidades uma proposta de qualificação das redes convencionais de ônibus, na qual teve a intenção de incentivar a qualificação e redução dos custos de operação do transporte coletivo por meio da implantação de quatro mil quilômetros de faixas exclusivas em 46 municípios com população superior a 500 mil habitantes, em 12 meses. PRINCIPAIS INVESTIMENTOS PÚBLICOS EM MOBILIDADE URBANA 0 20 40 60 80 Sistemas de alta capacidade como BRT e Metrô 74,7% Faixas exclusivas para ônibus 69,2% Tecnologia como sistemas inteligentes de transporte e bilhetagem eletrônica 68,1% Monitoramento da frota 57,1% Pontos de parada 54,9% *A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas. A entidade lançou também duas p u b l i c a çõ e s d i re c i o n a d a s a o s gestores públicos e empresários sobre como implantar faixas excl u siva s d e ô n ib u s . A p ri m e i ra “Faixas Exclusivas – experiências d e s u ce s s o ” m o s t ra exe m p l o s bem-sucedidos de cidades que investiram na priorização e a outra, “Qualificação e racionalização do transporte público urbano por 18 Revista NTU Urbano ônibus”, explica o passo a passo de implantação das faixas. Ambas estão disponíveis no portal da NTU (www.ntu.org.br). Atualmente, os carros particulares realizam apenas 30% das viagens urbanas, mas ocupam 70% das ruas públicas. Na opinião do Coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para todos (MDT), Nazareno Affonso, é preciso democratizar os espaços viários. “Os carros já se transformaram em vício. Então, para reduzir o número de veículos nas regiões centrais não basta só investir em transporte público de qualidade. É preciso restringir o uso do automóvel, sim”, afirma Nazareno em entrevista para o jornal O Dia. C APA As faixas exclusivas e sistemas BRT atendem as necessidades dos usuários em relação a tempo de viagem, qualidade, agilidade, segurança, entre outras. Além disso, sistemas de transporte melhores organizados proporcionam mais transparência ao serviço prestado já que possuem tecnologia mais avançada e permite que se faça um controle operacional mais preciso e em tempo real da frota. “Transporte Público Urbano: Como atender as demandas sociais?” é o tema do primeiro painel do Seminário Nacional NTU 2014, no dia 27 de agosto de 2014, às 10h30. O debate será mediado pelo jornalista e apresentador Alexandre Garcia e terá a partici- pação do presidente executivo da NTU, Otávio Cunha; do coordenador do MDT, Nazareno Affonso; do especialista em Transporte Frederico Bussinger; do representante da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), Getúlio Vargas. anuncie aqui Entre em contato conosco [email protected] (61) 2103-9293 PRIORIDAD E Transporte individual custa mais e não atende a todos Em contra partida, novos investimentos em transporte público têm incentivado, aos poucos, os brasileiros a deixarem o carro em casa D urante anos o governo brasileiro incentiva a compra e o uso de automóveis individuais e o carro passou a ser um bem de consumo associado ao “status” da pessoa. Tanto, que os transportes motorizados consomem R$ 174 milhões, o equivalente a 85% de todos os custos de mobilidade 20 Revista NTU Urbano urbana e ainda recebe três vezes mais recursos que o transporte coletivo, segundo dados da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) divulgados em julho. No entanto, mesmo custando mais, os transportes individuais não atendem à maioria da população. No PRIORIDAD E relatório da pesquisa do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da ANTP as pessoas percorrem 432 bilhões de quilômetros por ano, sendo que o transporte coletivo é responsável por percorrer 57,2% das distâncias nas viagens habituais, ou seja, a maior parte das distâncias são realizadas pelo transporte coletivo. Já os carros são usados em apenas 31% das distâncias. “No período de 2012, o total das viagens realizadas em transporte coletivo (18,2 bilhões) nas cidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, 70% delas aconteceram em ônibus municipais, 17% em ônibus metropolitanos e 13% em trilhos”, diz a ANTP em nota. Nesses deslocamentos os habitantes das cidades que formam o universo da pesquisa (com mais de 60 mil moradores) gastam, por ano, 22,4 bilhões de horas para deslocar-se. A maior parte do tempo é gasta nos veículos de transporte público (49%), seguido pelas viagens a pé (25%). Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, é preciso investir cada vez mais em melhorias no transporte público para que esse deslocamento seja feito de forma rápida. “Se uma parte da verba gasta com o transporte individual fosse investida em novas faixas exclusivas de ônibus e até mesmo em sistemas de alta capacidade como o BRT, esses deslocamentos seriam em média 30 minutos mais rápidos”, explica. Investimentos atraem brasileiros para o transporte público Os recentes investimentos em mobilidade urbana e transporte público é o motivo pelo qual os cariocas trocaram o carro pelo transporte cole- tivo urbano, colocando o Rio de Janeiro no “ranking” das cidades que os brasileiros mais abandonaram o carro. Segundo pesquisa realizada pela Liberty Seguros com seis cidades-sede da copa, nos últimos cinco anos, 37% dos moradores do Rio optaram em ir ao trabalho de transporte público. Enquanto a média das outras cidades corresponde a 26%. Desde 2012 investimentos em transporte coletivo vem sendo feitos no Rio de Janeiro. O primeiro foi quando a capital inaugurou o BRT Transoeste, que atualmente opera com cerca de 100 ônibus articulados e transporta aproximadamente 120 mil pessoas diariamente. E recentemente entrou em operação o BRT Transcarioca, que liga o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim à Barra da Tijuca e tem a expectativa de transportar 450 mil passageiros por dia com redução de até 60% do tempo de deslocamento no trajeto. O segundo sistema faz integração com o trem, o Metrô, o BRT Transoeste e todas as diversas linhas de ônibus. “Se uma parte da verba gasta com o transporte individual fosse investida em novas faixas exclusivas de ônibus e até mesmo em sistemas de alta capacidade como o BRT, esses deslocamentos seriam em média 30 minutos mais rápidos” A ampliação das faixas exclusivas em São Paulo foi aprovada por 79% dos entrevistados; 64% inclusive já veem melhora no trânsito após o uso delas. “O aumento da velocidade e a redução do tempo de viagem, já constatados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP), são os fatores preponderantes do sucesso das faixas”, enfatiza o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense Pires, em artigo publicado em julho. Dados de uma pesquisa do instituto DATAFOLHA, divulgados em junho, também apontam melhora na avaliação do transporte público em São Paulo. Dos 1.001 entrevistados, 31% avaliaram o transporte público da cidade com bom ou ótimo. No mesmo período do ano de 2013, apenas 15% compartilhavam desse ponto de vista. No Distrito Federal, priorização e melhorias no transporte urbano também vêm sendo feitas. Atualmente, regiões administrativas da capital acumulam um total de 55 km de faixas exclusivas, além de mais 43 km de corredores de ônibus do Expresso DF (sistema BRT recém implantando). A maioria dos paulistanos, 61%, acredita que a expansão do rodízio de veículos para ruas e avenidas possa ser boa para a melhora do tráfego na cidade. A medida reduziria o número de veículos nas ruas e automaticamente mais pessoas optariam pelo transporte público. Moradora do DF a secretária Eunice de Carvalho diz ter carro, mas prefere o transporte público pela agilidade. “Eu pego ônibus todos os dias há quatro anos ”, conta Eunice, que deixa o carro em casa para trabalhar. “É muito mais rápido e barato”, completa. Revista NTU Urbano 21 C o pa d o mu n d o Transporte público eficiente na Copa do Mundo supera expectativas Cidades-sede adotaram ações estratégicas no transporte coletivo urbano e garantiram boa funcionalidade do serviço Fortaleza (CE), por exemplo, conquistou elogios e foi avaliada pelo jornal O Povo (um dos principais da capital) com “ótimo desempenho” no deslocamento dos torcedores dos bolsões de estacionamento até a Arena Castelão. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) contribuiu disponibilizando 350 ônibus, sendo 300 veículos para realizar os trajetos entre o estádio e os bolsões de estacionamento, aeroporto e zona hoteleira, e 50 para atendimento à Fan Fest local. “A cada jogo foram transportados cerca de 45 mil passageiros e também não houve nenhum registro de acidente com os torcedores transportados”, ressalta a assessora de imprensa do sindicato, Juliana de Paula. 22 Revista NTU Urbano Secopa-PE D urante os preparativos para a Copa do Mundo, a mobilidade urbana e o transporte público foram motivos de preocupação para os organizadores do evento. A expectativa, principalmente da imprensa internacional, era de “caos iminente”. No entanto, jornais do País acompanharam e noticiaram, durante o torneio, a preferência da maioria dos torcedores pelo transporte coletivo. Para atender a demanda de passageiros que se deslocaram até os estádios, empresas de ônibus organizaram linhas especiais e promoveram iniciativas exclusivas para a competição. Campanha para a Copa promovida pela SPUrbanuss em parceria com a SPTrans Em Belo Horizonte (MG), uma média de 100 mil pessoas utilizaram o transporte público para ir até o estádio Mineirão, de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo do município. Desse total, 30 mil torcedores aderiram ao BRT/Move que, entre algumas vantagens, foi considerado o meio mais rápido de chegar ao estádio — segundo testes realizados por uma equipe do jornal O Estado de Minas. Uma pulseirinha de uso obrigatório no valor de R$ 5,70, com validade das 8h às 18h, permitiu o trajeto de ida e volta do Mineirão. A diretora de comunicação e marketing do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), Miriam Cançado Andrade, relata que o serviço foi diferenciado e as empresas ofereceram treinamento. “Houve treinamento intensivo para os operadores, além do aumento de frota. Tivemos, inclusive, o Expresso Copa, com o reforço de mais de 400 ônibus convencionais, com serviço exclusivo para os torcedores, e pontos de embarque em pontos estratégicos de Belo Horizonte”, explica. Já a capital federal do país, Brasília, contou com oito linhas especiais para levar os torcedores da área central ao estádio Mané Garrincha. Essas linhas começavam a circular quatro horas antes dos jogos e funcionavam até três horas após a partida. “No geral, a mobilidade em Brasília, durante a Copa, teve boa repercussão. Contribuíram para isso ações provisórias de trânsito, C o pa d o mu n d o “Houve treinamento intensivo para os operadores, além do aumento de frota. Tivemos, inclusive, o Expresso Copa, com o reforço de mais de 400 ônibus convencionais, com serviço exclusivo para os torcedores, e pontos de embarque em pontos estratégicos de Belo Horizonte”, Miriam Cançado, SetraBH. transporte público e, principalmente, reduções de expediente e pontos facultativos”, avalia o arquiteto, Cláudio Oliveira. Para o diretor administrativo e institucional da NTU, Marcos Bicalho, a boa funcionalidade do transporte coletivo nos dias de jogos ocorreu pelo fato do Brasil já ter conhecimento no processo de atender grandes eventos esportivos. “Já houve diversos casos em que o transporte público atendeu demandas muito superiores àquelas que foram verificadas nos jogos da Copa”, relata o diretor. porte) promoveu o curso “Transporte Coletivo na Copa” aos motoristas, que foi dividido em cinco módulos: relacionamento interpessoal; atendimento ao passageiro com necessidade especial; sistema de tráfego e trânsito; marketing no transporte coletivo e direção defensiva. Foram aproximadamente 200 motoristas capacitados pelo programa iniciado no final de março, com 25 alunos por turma, treinados nos turnos matutino e vespertino, totalizando uma duração de 24 horas/aula. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) Observatório da ANTP O programa “Observadores da MobiliComissão Técnica de Sistema Inteligente • Sinalização e comunicação de Transporte (ITS) da Associação Na- sobre mobilidade urbana cional de Transportes Públicos (ANTP) para avaliar os acertos e erros na im- Em Cuiabá (MT), o Sest/Senat (Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Trans- para todos os públicos; • Exploração do marketing e do plantação dos planos de mobilidade merchandising associado ao setor; elaborados pelos comitês responsáveis • Bilhetagem e acesso aos jogos por pela condução do evento. Segundo a Valeska Peres Pinto, até o final do mês de agosto serão apresentados os primeiros Algumas cidades-sede também investiram em capacitação de motoristas e cobradores para o evento. Em Recife (PE), empresas treinaram seus operadores especialmente para trabalharem no sistema BRT — modal ainda recente na capital pernambucana, mas que acabou recebendo grande aprovação dos torcedores. Itens avaliados nas cidades-sede pelo Observatório de Mobilidade da ANTP dade na Copa FIFA 2014” foi criado pela coordenadora nacional do programa, CAPACITAÇÃO procurou facilitar a busca por operadores que tivessem conhecimento de algum idioma estrangeiro, como inglês e espanhol, para empresas associadas a entidade. O sindicato ainda auxiliou na distribuição de panfletos para motoristas e cobradores contendo orientações para facilitar a comunicação entre operadores e torcedores estrangeiros. Em parceria com a São Paulo Transportes (SPTrans) — autarquia municipal gestora do transporte público por ônibus na cidade —, o SPUrbanuss também produziu adesivos para mais de três mil ônibus com mensagens de boas-vindas em português, inglês e espanhol. resultados do trabalho. meio do transporte público; • Gerenciamento do tráfego para os diversos públicos; • Informação sobre serviços regulares e alternativos de transporte; • Divulgação de orientações “Estes resultados serão confrontados com os Planos de Mobilidade elaborados pelos gestores locais. O relatório final será apresentado na 51ª Reunião da Comissão de ITS, prevista para o dia para os torcedores e população nos dias de jogos; • Estrutura e disponibilidade de estacionamentos para veículos privados; • Serviços privados alocados – 5 de novembro, no Rio de Janeiro, inte- fretamento, táxi, carona; grando a programação paralela do 16º • Atuação dos voluntários; Etransport – Congresso sobre Transpor- • Atuação das forças de segurança; te de Passageiros”, explica a coordena- • Coordenação das ações de mobilidade dora do projeto. – Centros de Controle Operacionais. Revista NTU Urbano 23 Ac o n t ece n a s em p r es a s Empresários de ônibus e do comércio se unem por soluções para greves em Natal Jornal de Hoje Aumento tarifário para recompor os custos do serviço é apontado como principal alternativa para evitar problemas com a categoria E m plena Copa do Mundo, a cidade de Natal vivenciou 14 dias de greve marcada por prejuízos a população, empresários e também comerciantes que dependem dos serviços de transporte público para atrair o seus clientes. Cerca de 520 mil pessoas foram atingidas pela paralisação do serviço de transporte. O prejuízo para o comércio de rua chegou a 60% em algumas lojas, segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Natal. 24 Revista NTU Urbano Na busca por soluções e a fim de evitar futuras greves no transporte público, empresários do segmento e do comércio uniram-se para elaborar propostas e apresentá-las à Prefeitura de Natal. O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (Seturn) abriu as planilhas financeiras do setor e sensibilizou o segmento do comércio da necessidade de reajuste tarifário para cobrir os custos do sistema. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) do Rio Grande do Norte, Marcelo Fernandes de Queiroz, relata que a greve gerou graves transtornos para a cidade e que englobou todo o período em que ocorreram os jogos da Copa do Mundo na cidade. Esse fato acabou arruinando os efeitos positivos para o segmento da presença maciça de turistas na capital potiguar. “Houve casos em que lojas de rua chega- Ac o n t ece n a s em p r es a s ram a contabilizar dias inteiros com venda “zero””, relata. Os danos incalculáveis levaram à federação a se envolver de forma mais direta, intermediando conversas entre os operadores do transporte público e a prefeitura de Natal e a Justiça do Trabalho no intuito de abreviar os transtornos. “Foi uma união proficiente e que, sem dúvidas, poderá ser repetida em outros momentos, já que ela se deu com base no interesse comum daqueles que geram emprego e renda para o estado, da população em geral. Além disso, lutamos até mesmo para garantir que uma determinação judicial fosse cumprida”, reforça Marcelo. Na época, havia uma determinação da Justiça do Trabalho de que fosse garantida a circulação de até 90% da frota de ônibus em alguns dias e horários e que não estava sendo cumprida pelos grevistas. Para o presidente da NTU, Otávio C u n h a , o s t ra n sto r n o s d e u m a greve de rodoviários vão além dos financeiros. “O tráfego de veículos de passeio fica mais intenso nos dias de greve, causando, consequentemente, mais acidentes e deixando a ida e volta das pessoas para o trabalho mais estressante por causa dos engarrafamentos e o desgaste em outros meios de transporte que acabam ficando superlotado”, alerta o presidente da Associação. Ele ainda faz uma observação quanto ao iminente risco do transporte pirata, em que muitas pessoas se arriscam, e o fato de que alguns trabalhadores não conseguem cumprir os horários de trabalho. Reajuste tarifário Apesar da união entre os dois segmentos ter facilitado o diálogo com o poder público e a justiça, a greve só foi encerrada após as empresas cederem e atenderem às reivindicações dos motoristas, que cobravam reajuste salarial e aumento no valor do vale-alimentação. Após quase um mês do acordo, a tarifa foi reajustada em R$ 0,15, passando de R$ 2,20 para R$ 2,35. Há três anos o valor não era reajustado e, de acordo com o Seturn, essa última correção é insuficiente para sanar o desequilíbrio econômico e financeiro das empresas. Nos últimos anos, as empresas vêm arcando sozinhas com todos os prejuízos, incluindo os dissídios coletivos. Para o engenheiro civil com especialização em transporte e porta-voz do sindicato na negociação, Nilson Queiroba, seria necessário, para a recomposição dos custos do serviço, que o preço da passagem de ônibus fosse de R$ 2,80. “Com a passagem corrigida para R$ 2,80, seria possível fazer a correção dos custos, recompor as perdas do sistema e reestabelecer o bom funcionamento do serviço”, explica. dente do sindicato, Aldo Gonçalves, as lojas da cidade movimentam cerca de R$ 400 milhões por dia. Por meio de nota, a Fecomércio RJ estimou o impacto da greve de rodoviários sobre o setor. “Considerando os passageiros que utilizam o ônibus como primeira condução para ir de casa ao trabalho, a estimativa é de que 888,5 mil trabalhadores do setor do comércio tenham sido afetados pela greve dos ônibus. O contingente corresponde a 44% dos cerca de 2 milhões de passageiros que sofreram consequências da interrupção da circulação dos coletivos”. Direitos e deveres A Lei 7.782/1989 determina que Art.1 “é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender”. No entanto, em seu Parágrafo Único “a entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) PREJUÍZOS NO RIO DE JANEIRO horas, da paralisação” e ainda em seu Art.13 traz que no caso No Rio de Janeiro, em três dias de greve, ocorrida em maio deste ano, os prejuízos chegaram a R$ 800 milhões, segundo estimativas do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (SindLojas-RJ). Em apenas um dia as perdas de faturamento do comércio da cidade com a paralisação dos rodoviários chegaram a 60%, o equivalente a R$ 250 milhões. Segundo o presi- da greve ser em serviços ou atividades essenciais, como o transporte público, “ficam as entidades sindicais ou os t ra b a l h a d o re s , co n fo r m e o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação”. Revista NTU Urbano 25 Pe lo mu n d o Finlândia Helsinque pretende investir em transporte público e se “livrar” dos carros até 2025 A capital da Finlândia, Helsinque, quer aca- Nessa ferramenta os usuários ainda poderão bar com os carros até 2025, e a solução é o solicitar paradas de ônibus fora dos pontos transporte coletivo com um sistema eficien- para maior comodidade e também pedir e te. Esse processo será feito por meio da inte- pagar por outros tipos de serviços como taxis gração dos modais e o acesso à informação e bicicletas. O objetivo é que esse sistema com sobre trajetos e horários dos ônibus que os tamanha excelência provoque nas pessoas a passageiros poderão acompanhar a mobili- vontade de trocar o transporte individual pelo dade em tempo real. transporte público espontaneamente. ESPANHA Barcelona investe em frota moderna com tecnologia a diesel-elétrico híbrido ESTADOS UNIDOS Um ponto de ônibus diferente Pensando em tornar a espera pelo ônibus mais agradável, a empresa Mmmm Emilio Alarcón localizada em Highlandtown, nos Estados Unidos, teve uma ideia bem diferente. Criar uma parada de ônibus obvia, mas bem atraente. A parada Os primeiros ônibus biarticulados de Barce- diesel-elétrico híbrido o veículo tem 24 me- é chamada de “um ponto de ônibus lona entraram em operação em outubro de tros de extensão e dispõe de sistema de som obvio”, tem 14 metros de altura e 2013 e a Transports Metropolitans de Barce- que avisa aos passageiros a próxima esta- possui três grandes esculturas que lona (TBM) anunciou recentemente que am- ção e ar condicionado. O Van Hool Exquicity formam a palavra “bus”, cada letra pliará a frota com criação de novas linhas. O foi fabricado por um empresa belga em Ko- tem espaço para 2 a 4 pessoas. O modelo dos biarticulados é chamado de Van ningshooikt e utilizado principalmente para “B” pode proteger os passageiros Hool Exquicity, no qual possui tecnologia a as linhas de BRT. da chuva e no “S” eles podem até esperar deitados. 26 Revista NTU Urbano E M BAR Q U E N E S S A ID E IA Luis Antonio Lindau, PhD, presidente da EMBARQ Brasil A mobilidade urbana além da Copa A Copa do Mundo, no até então país do futebol, gerou expectativas e preocupações dentro e fora do Brasil. No total, 3,5 milhões de pessoas foram aos estádios e 5 milhões vibraram por suas seleções nas Fan Fests. Do milhão de estrangeiros que veio para cá, 95% declarou ter o desejo de voltar1 . Estes números parecem ter aliviado parte da desconfiança. Contudo, os gastos bilionários em infraestrutura para os jogos geraram, e continuam gerando, questionamento sobre os reais benefícios que os investimentos trarão aos brasileiros no longo prazo. Pelo prisma da mobilidade urbana, a perspectiva é favorável. Uma pesquisa contratada pelo CNPq junto a universidades federais das cidades-sede está sendo concluída para indicar o verdadeiro legado que a Copa deixou2 . Por ora, sabemos que os aportes financeiros do Governo Federal voltados à mobilidade nas cidades-sede totalizam R$ 8,2 bilhões, sendo R$ 6,3 bilhões já licitados 3. Estes investimentos estão possibilitando o financiamento de requalificações e implantações de sistemas de transporte sustentável que devem beneficiar os brasileiros por muito tempo. Dos 18 projetos previstos na última versão da Matriz de Responsabilidades da Copa voltados à qualificação do transporte por ônibus, 11 saíram do papel a tempo dos jogos nas cidades do Rio, Belo Horizonte, Recife e Curitiba. Até o final do torneio, mais cinco sistemas – entre BRT e faixas prioritárias – entraram em operação, totalizando 130 quilômetros de novos corredores dedicados aos ônibus4. No Rio, os BRT TransOeste e TransCarioca são apenas o início de uma rede que, até os Jogos Olímpicos de 2016, contará com 160 km e transportará mais de 1,5 milhão de passageiros por dia. No TransOeste, que liga os bairros da Barra da Tijuca e de Santa Cruz, o tempo de percurso caiu pela metade, levando o sistema a conquistar 93% de aprovação entre os usuários5. Já o TransCarioca, com pouco mais de um mês e meio de operação, gerou uma valorização de 150% dos empreendimentos e terrenos ao longo de seu percurso6 e se mostrou um importante elo de conexão entre o Aeroporto Galeão e a Zona Oeste do Rio. Na capital mineira, o MOVE já provou ser três vezes mais rápido do que o carro durante os horários de pico. Quando em operação plena, irá transportar 700 mil passageiros por dia. Além disso, o sistema também está melhorando as áreas circundantes de seus corredores e ajudando a revitalizar o centro de Belo Horizonte, devolvendo espaço às pessoas. O MOVE também foi protagonista na Copa ao possibilitar a ligação entre o centro e o Mineirão em aproximadamente 20 minutos – 75% a menos que os 80 minutos despendidos via veículo privado.7 É inegável que os BRT e a priorização do ônibus estão oportunizando um transporte coletivo mais rápido e confiável, o que resulta em mais oportunidades de acesso a trabalho, educação, serviços e lazer. Quanto às obras inacabadas ou àquelas que sequer iniciaram, a perspectiva é de que não parem. O Ministério das Cidades sinalizou que estes projetos, quando readequados, devem ser inseridos em outros programas governamentais, como forma de garantir suas execuções. Dessa forma, habitantes de outras cidades-sede poderão usufruir de um melhor transporte público em um futuro breve. 1 http://www.turismo.gov.br/turismo/ noticias/todas_noticias/20140714_3.html 2 http://www.cnpq.br/web/guest/ noticiasviews/-/journal_content/56_ INSTANCE_a6MO/10157/1302499 3 http://www.portaltransparencia. gov.br/copa2014/empreendimentos/ tema.seam?tema=8 4 http://www.brasil.gov.br/ infraestrutura/2014/07/herancada-copa-contempla-130-km-paramobilidade http://www.brasil.gov.br/ infraestrutura/2014/07/heranca-da-copacontempla-130-km-para-mobilidade 5 http://thecityfixbrasil.com/2013/06/20/ aprovacao-do-brt-transoeste-e-de-93/ 6 http://odia.ig.com.br/noticia/rio-dejaneiro/2014-07-05/brt-renova-bairrose-incrementa-o-comercio.html 7 http://www.em.com.br/app/noticia/ gerais/2014/06/18/interna_gerais,540296/ transporte-publico-e-o-meio-maisrapido-para-chegar-ao-mineirao.shtml Revista NTU Urbano 27 H O M E NAG E M Reconhecimento aos bem feitores do transporte público NTU homenageia e condecora com Medalha do Mérito do Transporte Urbano Brasileiro personalidades do setor L Especial de Incentivos para o Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano de Passageiros (REITUP), o senador Ricardo Ferraço, também será agraciado com a medalha na categoria Especial. utar por um transporte público de melhor qualidade que atenda às necessidades da população é a sina de muitos brasileiros que, há 17 anos, a NTU tem a honra de reconhecer e homenagear com a Medalha do Mérito do Transporte Urbano Brasileiro. Ferraço ingressou na carreira política ainda bastante jovem, aos 19 anos. Foi vice-governador do Espirito Santo em 2007, quando assumiu a Secretaria de Estado dos Transportes e Obras Públicas (Setop). Em 2010, foi eleito senador e na casa legislativa, também foi o relator do projeto de lei que regulamenta a profissão de motorista (PL 319/2009). É presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal. No dia 27 de agosto, nove personalidades receberão a condecoração da NTU nas categorias Empresário, Especial e In Memoriam. Entre eles estão empresários, especialistas e gestores públicos. É o caso do mineiro Heloisio Silveira, que iniciou a trajetória no transporte aos 21 anos com sua primeira linha de ônibus, depois de ter vivido anos de sua infância como vendedor de verduras para ajudar no orçamento familiar. “Fico feliz em afirmar que venci. Hoje sou esposo, pai, avô e empresário”, orgulha-se o empresário, que é diretor-presidente do Grupo Rodap, um dos grupos empresariais mais renomados de Minas Gerais com frota de 700 veículos distribuídos entre seis empresas prestadoras de serviço e que gera em torno de 10 mil empregos na capital mineira e Região Metropolitana. Ao falar da honraria que está prestes a receber, Heloisio demonstra o sentimento de ser reconhecimento após anos de trabalho. “Para mim, é motivo de muita honra e satisfação 28 Revista NTU Urbano ter o meu trabalho reconhecido por uma instituição tão renomada como a NTU”, diz. Ele ainda dedica a medalha a todos os trabalhadores do transporte coletivo urbano. O relator de um dos projetos de lei mais importante para o setor, o PL 310/2009, que institui o Regime Na categoria In Memoriam, a NTU pre sta h ome n age m pó stuma a grandes personalidades do setor. Entre os homenageados, está Wilson Silva Couto. E falar dele é sinônimo de orgulho para o seu filho Wilson Reis, ou Wilsinho como é chamado pelos colegas. “Não é por ser meu pai, mas eu sou realista, ele foi um homem que lutou muito pelo transporte e por sua região, que era muito pobre”, relata. Wilson ainda lembra que alguns trechos da cidade não havia sequer estradas para o ônibus chegar ao destino. “Ele foi lá e construiu”, emociona-se ao lembrar do pai que faleceu neste ano. H O M E NAG E M HOMENAGEADOS Conheça os homenageados da Medalha do Mérito do Transporte Urbano Brasileiro 2014. CATEGORIA EMPRESÁRIO CATEGORIA ESPECIAL CATEGORIA IN MEMORIAM Frederico Lopes Fernandes Junior é sócio e diretor da Auto Viação Dragão do Mar e da Viação Urbana, de Fortaleza (CE). Destacou-se por implantar de maneira pioneira o sistema de gestão de qualidade no ramo de transporte da cidade. Carlos Roberto Osório trabalha a serviço da cidade do Rio de Janeiro. Foi o secretário responsável por criar a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, cargo que ocupou no período de fevereiro de 2010 a outubro de 2012, quando assumiu a pasta de Transportes, onde trabalhou até abril de 2014. Jurandyr Mathias Ricão (1923 – 2012) foi fundador do Grupo Ipiranga em 1951 e da escola para menores carentes dentro da Viação Ipiranga, onde formou profissionais técnicos em atividades ligadas ao transporte. Heloisio Marcos Silveira é diretor-presidente do Grupo Rodap, composto por 6 empresas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). Aos 21 anos adquiriu a sua primeira empresa de ônibus, a Viação Ermelinda. Josué Adolfo da Silva atualmente é sócio da Auto Viação Santa Cruz, em Recife. Iniciou suas atividades empresariais em setembro de 1957 com um veículo, atuando na área de Jaboatão dos Guararapes. Ricardo de Rezende Ferraço é senador da República desde 2010 e presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal e relator dos Projetos de Lei 319/2009, que regulamenta a profissão de motorista, e 310/2009, que institui o REITUP. João Batista Meira Braga é Secretário de Mobilidade e Controle Urbano na Prefeitura da cidade do Recife. Foi secretário Municipal de Infraestrutura, Secretário Estadual de Justiça e Direitos Humanos e Secretário de Defesa Social do Estado de Pernambuco. Hilário Schwambach (1932 – 2013) se dedicou aos processos de manutenção e adequação das estruturas operacionais nos segmentos de transportes urbanos, intermunicipal e interestadual. Foi sócio do Grupo Borborema, onde buscou a reutilização de recursos hídricos e processos de contenção de resíduos sólidos e líquidos. Wilson Silva Couto (1934 – 2014) foi alfaiate, comerciante, caminhoneiro (trabalhou na construção de Brasília), cafeicultor. Em 1972, trocou o transporte de combustível pelo transporte de passageiros urbanos adquirindo a Expresso Monte Castelo e, posteriormente, a Laguna Auto Ônibus. Revista NTU Urbano 29 NT U em a ç ã o NTU investe em campanhas publicitárias nas redes sociais Ações buscam engajamento dos usuários pela melhoria da mobilidade urbana e fortalecimento do setor N a i n te n ç ã o d e co n t r i buir para a melhoria da imagem do transporte público coletivo e com a mobilidade urbana nas cidades, a NTU a cada dia se renova e lança campanhas com temas que envolvem o setor e que buscam sensibilizar o poder público e a sociedade de maneira geral. Nos últimos 12 meses, foram trabalhadas quatro campanhas de marketing e publicidade nas redes sociais com o apoio de entidades filiadas e parceiros. Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, a atuação e o posicionamento do setor nas mídias digitais é fundamental para construir uma nova imagem do transporte coletivo na mente das pessoas e tornar a mobilidade sustentável uma realidade brasileira. “Não basta mudar os ônibus e a estrutura física de todo o sistema. É preciso mudar também a cultura dos cidadãos. O transporte público é o melhor caminho para uma mobilidade sustentável. Temos a missão de levar esse conhecimento às pessoas para que elas possam também apostar nesse estilo de vida”, defende. 30 Revista NTU Urbano #EUFAÇOBEM A busca diária por um transporte de qualidade e eficiente também passa pela boa convivência entre os passageiros. A tolerância, o respeito e a gentileza são fundamentais para que a vida dos usuários do transporte público se torne menos estressante e melhor aproveitada. É necessário que o ser humano também busque essa melhora pessoal cotidianamente e passe a conviver em sociedade com harmonia. Para contribuir com esse crescimento no convívio coletivo, a NTU propôs a campanha digital #EUFAÇOBEM. As peças publicitárias das campanhas podem ser acessadas nos perfis das redes sociais: www.facebook.com.br/ntubrasil www.twitter.com.br/ntunoticias NT U em a ç ã o Algumas peças da campanha já foram publicadas nas redes sociais da entidade (Facebook e Twitter). A previsão é que até o final do mês de agosto ela seja totalmente divulgada, segundo o diretor administrativo e institucional da entidade, Marcos Bicalho. “#EUFAÇOBEM é uma campanha de conscientização. Para que os usuários do transporte coletivo compreendam que gentileza dentro do ônibus é uma questão de cidadania. Não basta apenas as empresas oferecerem treinamentos aos motoristas e cobradores de como se comportar com os passageiros se não existir reciprocidade”, reforça. Faixas exclusivas Oferecer faixas prioritárias ao transporte coletivo não significa apenas democratizar o espaço viário e dar mais rapidez ao ônibus. Significa também proporcionar aos passageiros desse modal a oportunidade de viver mais tempo com a sua família e amigos. Ter mais qualidade de vida. “Esses e outros benefícios podem ser atingidos de maneira simples e rápida, basta a vontade dos órgãos públicos para priorizar o transporte coletivo nas vias urbanas”, enfatiza Marcos Bicalho. Mostrar como é fácil implantar faixas exclusivas e como aproveitar o tempo ganho com elas foi a proposta de duas campanhas da NTU relacionadas ao tema. A primeira, “Campanha Nacional de Qualificação das Redes Convencionais de Transporte Público Urbano”, lançada em novembro de 2013, teve a intenção de incentivar a qualificação e redução dos custos de operação do transporte coletivo por meio da implantação de quatro mil quilômetros de faixas exclusivas em 46 municípios com população superior a 500 mil habitantes, nos próximos 12 meses. Essa campanha teve a parceria das entidades filiadas à NTU e do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), na qual foram divulgadas peças publicitárias (cartazes, folders, busdoor); vídeos institucionais; comercial para rádio (spot); e anúncios na mídia eletrônica, com foco na importância do uso da faixa exclusiva. A segunda campanha, “Faixas Exclusivas = Qualidade de Vida”, foi veiculada, por enquanto, somente nas redes sociais. As peças retratam momentos de lazer e alegria proporcionados pela rapidez da viagem de ônibus quando é realizada nas faixas exclusivas, como chegar mais cedo para ficar com a família ou simplesmente jogar uma pelada com os amigos. #voudeônibusnacopa No intuito de auxiliar a busca por informações sobre como se deslocar de transporte público durante o Mundial e incentivar o uso do ônibus urbano durante os dias de jogos, a entidade apostou na campanha #voudeonibusnacopa. O projeto consistiu em um site especial com o mapa do transporte público das cidades-sede da Copa do Mundo. A página apresentava uma seleção de sites e aplicativos com informações sobre linhas e horários dos ônibus e dicas relacionadas a outros modais, como metrôs, trens e barcas. Peças publicitárias da campanha também foram divulgadas nas redes sociais. Campanhas em números #EUFAÇOBEM #VOUDEÔNIBUSNACOPA FAIXAS EXCLUSIVAS 85.156 266.086 370.064 Alcance* * O número de pessoas que visualizaram a publicação. Revista NTU Urbano 31 P o n t o d e ô n i b us Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN especializado em transportes e blogueiro São Paulo e Rio de Janeiro perderamR$ 98 bi em 2013 devido a congestionamentos J á ouviu a expressão: virou fumaça? Normalmente se refere quando algum esforço, recurso ou trabalho são empregados de maneira intensa e acabam dando em nada. É o que normalmente ocorre com as indústrias, comércios e pessoas por causa dos congestionamentos e da falta de investimentos sérios no transporte público. Estudo divulgado, em julho, pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), ao qual o Grupo Globo de Comunicação teve acesso, mostra que em 2013 os congestionamentos custaram R$ 98 bilhões somente nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Isso equivale a aproximadamente 2% do PIB – Produto Interno Bruto Brasileiro. O contrassenso das políticas que ainda insistem em privilegiar o transporte individual e não promover desenvolvimento para geração de renda e emprego nas periferias é tão grande que só com o que São Paulo e Rio de Janeiro jogaram fora por causa dos congestionamentos em 2013, daria para construir 39 mil e 200 quilômetros de corredores modernos, do tipo BRT, que oferecem acessibilidade e rapidez aos transportes de ônibus; 1.960 quilômetros de metrô pesado subterrâneo e de alta tecnologia; ou 10 mil quilômetros de VLT. O estudo da Firjan somente leva em conta as horas de trabalhos perdidas 32 Revista NTU Urbano e o combustível desperdiçado. Mas diz que o custo do congestionamento é maior já que envolve os gastos na saúde pública – devido ao agravamento de doenças por causa da poluição –; desgastes nos veículos; degradação da estrutura viária; horas extras; queda de produtividade dos trabalhadores que já chegam cansados no serviço; e até mesmo perdas de vendas do comércio – o trânsito e a falta de qualidade dos transportes públicos têm desestimulado as pessoas a passearem e se divertirem e, consequentemente, consumirem. Além disso, há a perda de projeção de crescimento profissional. As pessoas não conseguem tempo para estudar e se qualificar. O estudo conclui que a principal medida para que o dinheiro pare de ser queimado são investimentos em transportes públicos. Investimentos em transportes não podem criar segregação Quando se fala em investir em transporte público, questões de marketing político e até mesmo de beneficiamento de grupos econômicos podem fazer com que as verbas para a mobilidade não sejam aplicadas adequadamente. As cidades como um todo precisam de investimentos e não apenas alguns eixos. O que se vê hoje são projetos novos, que politicamente chamam a atenção, quase que faraônicos e suntu- osos, mas que atendem apenas a demandas localizadas. Um dos principais fatores que devem ser levados em consideração é a demanda e a projeção do crescimento do número de passageiros. Além disso, os investimentos em transportes devem abraçar toda a cidade. Gastar uma grande quantidade de recursos somente em um modal numa determinada área é como se fosse criar uma segregação. Não haverá recursos para as outras regiões que continuarão sem privilégio ao transporte público. Não somente as áreas centrais ou de altíssima demanda merecem transporte de qualidade. Nesse aspecto, os corredores comuns de ônibus e os mais modernos (BRT – Bus Rapid Transit) mostram-se ainda soluções mais adequadas. São mais baratos que outros modais, a implantação é mais fácil e rápida, o que é essencial para uma situação que precisa de medidas urgentes. E o melhor, não se esgotam com o tempo, pois, pelas obras serem simples, há flexibilidade de expansões e alterações em trajetos que os outros modais não têm. Uma rede de transporte que conjugue corredores modernos de ônibus e metrô de alta capacidade para as grandes e médias cidades, sem dúvida, é a solução mais coerente para evitar que se perca dinheiro e qualidade de vida devido ao trânsito e aos congestionamentos. Segurança Sistema de segurança do Consórcio BRT Rio é referência para o transporte público Cidades-sede adotaram ações estratégicas no transporte coletivo urbano e garantiram boa funcionalidade do serviço Inauguração do Centro de Controle Operacional (CCO) dos sistemas BRT Arthur Moura do Rio de Janeiro. N os últimos meses o setor de transporte público foi constantemente pautado pela mídia devido à ação de vândalos que agiram incendiando ou depredando ônibus. A estatística em relação aos ataques é preocupante e demanda mais investimento em segurança nos coletivos. Para se ter uma ideia da proporção tomada pela destruição nos ônibus, somente no mês de maio, a greve dos rodoviários do Rio de Janeiro terminou com cerca de 720 veículos depredados. Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), práticas criminosas já atingem 63 cidades brasileiras no primeiro semestre de 2014. Dados da entidade também revelam que atear fogo nos veículos é um dos atos de violência mais recorrentes. O estado do Rio de Janeiro registrou 97 casos de ônibus incendiados de janeiro a julho deste ano, enquanto o de São Paulo o número de casos sobe para 208 no mesmo período. Com o objetivo de coibir a violência nos coletivos, empresas do setor investem cada vez mais em recursos tecnológicos que compõem modernos sistemas de segurança. No Rio de Janeiro, o chamado “botão de emergência”, implantado nos ônibus que circulam nos corredores Transcarioca e Transoeste, é uma Segurança das iniciativas mais eficientes no combate à violência. Os veículos, que totalizam uma frota de 236 ônibus — dos quais 90 rodam no Transcarioca e 146 no Transoeste —, foram equipados com o botão de emergência já no processo de fabricação, tanto pela Volvo quanto pela Mercedez, as duas empresas responsáveis pela montagem dos ônibus que operam nos dois corredores. O funcionamento do sistema é relativamente simples. Quando houver necessidade, o motorista deve apertar o botão, que fica no painel do condutor do veículo. No Centro de Controle Operacional (CCO) do BRT Rio — localizado no Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca —, o operador do sistema verifica em seu painel informativo que o ícone do ônibus, normalmente de cor verde, tem a cor alterada para vermelho. Ele então reconhece que há uma situação de perigo, aciona a polícia e instrui o motorista a reduzir a velocidade do ônibus. Para reforçar a segurança, o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus) auxilia o Consórcio BRT Rio contratando agentes de segurança para se posicionarem nos corredores e agirem imediatamente quando são solicitados pelo operador do centro de controle. O serviço é realizado através do Programa Estadual de Integração à Segurança (Proeis), que permite aos policiais do estado, em horário de folga, trabalhar para empresas privadas mediante gratificação. Nos ônibus convencionais O gerente do Consórcio BRT Rio, Alexandre Castro, pontua que 100% da frota que circula nos dois corre- dores é equipada com o botão de emergência, fato que ajuda na efetividade do sistema. “No tocante as outras regiões que fogem da competência do Consórcio BRT, ou seja, fora do Transoeste e do Transcarioca, o Rio Ônibus vem trabalhando para expandir o sistema às outras localidades da cidade”, complementa. A expectativa é de que o dispositivo também passe a integrar os ônibus convencionais do Rio, cuja frota é de aproximadamente 8.800 veículos. A novidade foi anunciada no início de junho pelo vice-presidente do Rio Ônibus, Otacílio Monteiro, durante audiência na Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “Nosso objetivo é buscar sempre projetos que possam melhorar a qualidade do transporte público coletivo, que também passa pela segurança do passageiro”, reforça Monteiro. Atualmente, os ônibus convencionais são monitorados através do sistema GPS. Segundo a assessoria do Rio Ônibus, com o anúncio de que o botão de emergência pode compor a frota convencional, o sindicato já recebeu vários pedidos de empresas de ônibus para acelerar o projeto. Depois de vários estudos, o Rio Ônibus acredita que a implantação desse sistema nos ônibus convencionais tem grandes chances de viabilidade para essas empresas. Bilhetagem eletrônica como medida de segurança Somente nos três primeiros meses de 2014, foram registrados cerca de 250 assaltos em ônibus de Aracaju (SE). Em contrapartida, o número de assaltos no interior dos ônibus de Campo Grande (MS) foi zerado. A medida tomada na capital do Mato Grosso do Sul foi acabar com a circulação de dinheiro nos coletivos e aceitar o pagamento da passagem somente através do cartão eletrônico. O sistema foi adotado em agosto de 2011 em grande parte da frota de Campo Grande e, em fevereiro de 2012, passou a ser obrigatório em todos os ônibus da capital. Segundo a Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (Assetur), desde a obrigatoriedade do cartão, não foram registrados mais assaltos no interior dos coletivos. Para Maurício Gazola que trabalha como motorista de ônibus da Jaguar Transportes há doze anos, e vítima de quinze assaltos durante o expediente, a iniciativa contribuiu para a qualidade de vida dos operadores. “Antes do cartão, eu e meus colegas vivíamos com medo porque os assaltos ocorriam a qualquer hora do dia e da noite. Mas depois que o cartão passou a ser obrigatório, a situação mudou”, revela. A cidade de São Paulo utiliza o sistema de bilhetagem eletrônica há dez anos. Quando esse sistema foi lançado, em maio de 2004, as tarifas de utilização do sistema de transporte eram pagas somente com dinheiro e vale-transporte de papel. Segundo os dados fornecidos pela São Paulo Transportes (SPTrans), como reflexo imediato, observou-se uma curva descendente no número de assaltos. Em 2003, foram 11.394 casos registrados. Em 2004, esse número caiu para 6.426. Ainda de acordo com a SPTrans, o Bilhete Único deu tão certo que, atualmente, apenas 8% dos usuários do transporte coletivo da cidade usam dinheiro para pagar a passagem. A rt i g o Clarisse Linke* Padrão de Qualidade BRT O conceito de corredores exclusivos para ônibus nasceu no Brasil, em Curitiba, nos 70. A ideia foi replicada em diferentes cidades brasileiras, e trinta anos depois “exportada” para Bogotá, onde foi aprimorada, se tornando o que hoje entendemos como sistemas de Bus Rapid Transit (BRT). 36 Revista NTU Urbano Até há alguns anos atrás não havia um entendimento sobre o que é um sistema de BRT. A falta de um alinhamento conceitual entre planejadores e engenheiros fez com que, para cada novo corredor de BRT de alta qualidade, dezenas de outros corredores de ônibus fossem abertos e chamados incorretamente de BRT. A rt i g o Por isso, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, da sigla em inglês) criou o Padrão de Qualidade de BRT, que estabelece uma definição comum dos sistemas de operação exclusiva em corredores de ônibus e reconhece os sistemas de BRT de mais alta qualidade já implantados em todo o mundo. O Padrão de Qualidade BRT funciona como uma ferramenta de avaliação dos sistemas de BRT com base nas melhores práticas internacionais. Hoje, ele é peça central de um esforço global feito pelos líderes da área de transportes para estabelecer uma definição comum do BRT e garantir que esses sistemas possam oferecer uma experiência mais uniforme aos seus usuários, além de benefícios econômicos e ambientais. Segundo o Padrão de Qualidade, BRT é um corredor de ônibus de alta capacidade com capacidade equivalente aos sistemas de metrô, proporcionando um serviço rápido, confortável e de alto custo-benefício. São cinco as características essenciais que definem um sistema BRT. O primeiro deles são as faixas exclusivas de ônibus, que tornam viagens mais rápidas e reduzem atrasos devido ao tráfego misto. Outra característica importante é o alinhamento das faixas de ônibus. O corredor no eixo central evita que os ônibus tenham que circular nas faixas próximas às calçadas, onde há muito movimento de carros e caminhões parando. O pagamento da tarifa fora do ônibus feito na própria estação e não no interior dos ônibus elimina os atrasos causados por passageiros espe- rando sua vez para pagar dentro dos ônibus, e é a terceira característica que define um sistema BRT. A quarta é o tratamento das interseções. A proibição de que outros veículos atravessem as faixas de ônibus para virar nas interseções reduz atrasos que isso pode provocar no movimento dos ônibus e facilita sua passagem pelas interseções. Busway de Pittsburgh, o Downtown Express que circula pela via principal (Strip) de Las Vegas, e a Orange Line de Los Angeles. Para ver mais detalhes sobre o Padrão de Qualidade de BRT e exemplos das melhores práticas, acesse brtstandard.org A quinta e última característica que define um sistema BRT são as plataformas de embarque em nível, alinhadas com o piso dos ônibus. Elas garantem um embarque rápido e fácil, com acessibilidade total para passageiros com necessidades especiais. Mais do que um manual, o Padrão de Qualidade também estabelece um ranking, no qual os corredores de BRT são classificados segundo uma série de categorias que refletem o desempenho e a qualidade do serviço, recebendo uma pontuação de 0 a 100. Os corredores de BRT de mais alta pontuação são classificados nos rankings Ouro, Prata, Bronze e Básico. Os elementos que receberam pontos no Padrão de Qualidade de BRT são avaliados em uma grande variedade de contextos, não só pelo ITDP mas também pelos maiores especialistas técnicos em BRT do mundo. A certificação estabelece um padrão reconhecido internacionalmente do que é o BRT e de quais são as melhores práticas nesse tipo de sistema. *Clarisse Linke trabalha em planejamento e implementação de políticas públicas e programas sociais desde 2001, com experiência no Brasil, Moçambique e Namíbia. É mestre em Políticas Sociais, ONGs e Desenvolvimento pela London School of Economics and Political Science e pós- Entre os bons exemplos de BRTs estão o Metrobús da Cidade do México e o My CiTi, da Cidade do Cabo. Nos Estados Unidos, os melhores exemplos são a HealthLine de Cleveland, a Emerald Express Green Line de Eugene, o Martin Luther King Jr. East graduada em Terceiro Setor pelo Instituto de Economia da UFRJ. Atualmente, Clarisse Linke é diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil). Revista NTU Urbano 37 # n t u r ec o me n d a Apps Livros Redes Sociais Cittabus Acessibilidade Guia de Mobilidade Inteligente Os portadores de deficiência visual de São O Guia de Mobilidade Inteligente é um dos pro- Caetano (SP) agora têm um grande parceiro jetos lançados pelo Programa de Mobilidade A Fan Page Oficial do Cartão eletrônico de na hora de pegar seu ônibus. O aplicativo Cit- Volvo e traz em seu conteúdo alguns desafios transporte de São Paulo e Região Metropolita- tabus Acessibilidade informa aos deficientes urbanos atuais. Abordando as vantagens do na tem uma variedade de informações e posts a chegada dos ônibus nos pontos sendo BRT, como a flexibilidade e a facilidade e rapi- de interação com os usuários. Com mais de 68 acionado por comando de voz. A ferramenta dez em sua implantação a publicação ainda ex- mil curtidas na página, os seguidores podem foi idealizada por Luiz Eduardo Porto que plica os conceitos dos sistemas de transportes saber mais como funcionam os cartões do também é deficiente visual, em parceria com a de alta e média capacidade, além de apontar sistema e acompanhar novidades e mudanças Viação Padre Eustáquio (VIPE). O dispositivo soluções que podem ser aplicadas no sistema que ocorrem no dia a dia do transporte público ainda informa quais as paradas mais próximas de transporte. em São Paulo. Fique por dentro e participe no Cartão BOM www.facebook.com/cartaobom. e as linhas que por ali transitam. Para ter acesso ao app basta fazer download, é gratuito e compatível com smartphones e qualquer outra plataforma com acesso à internet. Bilhete único no Ponto Certo Chegou a São Paulo o primeiro aplicativo que possibilita a recarga do bilhete único através do celular. Nessa ferramenta o usuário terá acesso ao saldo de todos os tipos do bilhete único, além de fazer a recarga do vale Transporte coletivo urbano de Manaus: Bondes, ônibus de madeira e metálicos. transporte e compra de créditos de passe RIO ÔNIBUS O Rio Ônibus é o sindicato que representa os quatro consórcios que operam no sistema de comum. O aplicativo pode ser baixado em A obra é de autoria transporte coletivo na cidade do Rio de Ja- celulares que possuem a tecnologia de Comu- da Soraia Pereira neiro. Em sua página na rede social Facebook, nicação por Campo de Proximidade ou NFC Magalhães Mestra com mais de 118 mil curtidas, procuram intera- (Near Field Communication). Basta encostar em Sociedade e ção com o público mostrando ações positivas o cartão no celular, gerar um boleto na loja vir- Cultura. E faz uma do transporte urbano na cidade e também as tual e aguardar um dia útil após o pagamento, reflexão sobre evo- novidades dos sistemas BRT e BRS. Saiba mais para receber os créditos. lução do transporte no www.facebook.com/rioonibus. público de Manaus entre as décadas de 1896 a 1980. O livro foi fruto de quatro anos de mestrado da escritora e seu conteúdo é baseado em serie de documentos oficiais, fotografias, matérias feitas pela imprensa que trazem informações sobre esse período e remonta um pedaço da história sobre o transporte público em Manaus. 38 Revista NTU Urbano
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