a gaivota solitária
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a gaivota solitária
Um olhar sobre o Mundo UM OLHAR SOBRE O MUNDO EXPLORANDO O UNIVERSO ASIÁTICO. O homem mais primitivo, isto é, um mamífero da família Hominidae, parece ter vivido no fim da época Pliocênica (Periódo Terciário da Era Cenozóica). Nessa época que corresponde de 5,2 a 8 milhões de anos, surgem os primeiros ancestrais da espécie humana, como os hominídeos do gênero Australopithecus (há dois milhões de anos). A partir dessa forma primitiva, o homem evoluiu, através da época Plistocênica até atingir a forma atual, conhecida cientifica-mente como Homo sapiens sapiens. Em 1982, K.N.Prasad, cientista indiano registrou a descoberta de uma tosca ferramenta de pedra do tipo machadinha, na formação Nagri, do Mioceno, nos contrafortes do Himalaia no norte da Índia. A ferramenta foi datada em 1,8 a 2,5 milhões de anos. A ocorrência dessa ferramenta de pedra em sedimentos tão antigos indica que hominídeos primitivos como o Ramapithecus fabricavam ferramen-tas que utilizavam para caçar. Fósseis foram encontrados em diversos sítios arqueológicos na África que demonstram a existência de primatas antropóides naquela época.Os estudos científicos parecem indicar que todos esses fósseis pertencem ao mesmo gênero de primatas hominídeos (Australopithecus).Os membros posteriores desses primatas sugerem que eles possuíam a postura ereta e caminhavam com as duas pernas. Provavelmente era um distante ancestral do homem moderno. Estavam restritos à África tropical, onde podiam sobreviver, sem abrigo, vestuário ou fogo. O Homem de Java, assim denominado porque seus restos fósseis foram encontrados na ilha de Java, na Indonésia, é um tipo Monika Gryczynska 1 Um olhar sobre o Mundo primitivo (Pithecanthropus erectus), viveu há cerca de 500 mil anos atrás, era caçador, utilizava o fogo e era capaz de fazer ferramentas simples, de pedra e ossos.No Período Quaternário, em plena época glacial do Paleolítico Inferior, há 460 mil anos viveu nos arredores de Pequim, o “Sinanthropus pekinensis”,chamado de “Homem de Pequim“, o fóssil desse Homo sapiens foi descoberto pelo cientista chinês Weng Chungpei, em 1929. A modificação na inclinação da Terra e da sua rotação, em milhares de anos, alterou o clima dos continentes. A seca que se prolongou por dois mil anos extinguiu as florestas e a vida animal da África. Em virtude dessas mudanças o Homo Sapiens logo começou a se espalhar além do seu lugar de origem, a procura de territórios mais hospitaleiros na Europa e Ásia. Cerca de 400 mil anos atrás grupos de seres humanos se estabeleciam na Ásia, até o Norte da China e se estenderam em direção ao sul, na Ásia Central, Sibéria, Índia e Sudeste Asiático. O Homo Sapiens Neanderthalensis é o mais bem conhecido homem pré-histórico, apareceu na Europa e Ásia há aproxima-damente 250 mil anos.Desde 1848, muitos fósseis foram encontrados em diversas partes da Europa e do Oriente Médio. Vivia em cavernas, onde também sepultava seus mortos. Para caçar empregava armadilhas, armas de pedra e osso, e utilizava o fogo.Durante a Idade do Gelo, grupos de caçadores seguiram para o norte, a fim de explorar a rica vida animal das regiões das estepes da Ásia Central, alcançando a taiga e tundra da Sibéria e o Novo Mundo. O Homem de Cro-Magnon (Homo sapiens) apareceu na Europa, no último Período Glacial, há mais de 40 mil anos.É um ancestral do homem de hoje.Desenvolvido depois da última era glacial da época Plistocênica, o homem atual é o resultado de um processo de evolução realizado durante milhões e milhões de anos. Somente há cerca de um milhão de anos, nesse curso prolongado da evolução, Monika Gryczynska 2 Um olhar sobre o Mundo apareceu o primeiro ancestral no qual se podem identificar caracteres humanos. O Homo sapiens sapiens, o humano moderno apareceu no final do Período Quaternário, inicio do Pleistoceno, surgiu no continente africano entre 1,8-2 milhões de anos atrás.Todos os homens e mulheres pertencem ao gênero Homo, à espécie Homo sapiens e subespécie Homo sapiens sapiens. Eventuais variações genéticas são mínimas e insuficientes para configurar diferenciações raciais. A espécie humana pode ser dividida em raças, distinguidas umas das outras por certas particularidades físicas. As raças são o conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade.Todas as raças atuais descendem de ancestrais comuns. A população humana divide-se em três grupos raciais: o Negróide (raça negra), o Caucasóide (raça branca) e o Mongolóide (raça amarela). Num sentido geral, o continente africano é a região dos Negróides; a Ásia, dos Mongolóides; a Europa dos Caucasóides. O centro-leste da Ásia e particularmente a Região Chinesa é consi-derada o torrão natal da raça Mongolóide. A variedade racial é enorme.Os mongolóides, ou amarelos são os mais numerosos, abran-gendo chineses, japoneses, mongóis, indonésios, siberianos, malaios. Os caucasóides ou brancos ocupam a Europa, a Ásia Menor, parte da Ásia Central, o Irã, o Afeganistão, o norte da Índia,o Turcomenistão. A difícil adaptação ao clima hostil da época, levou a uma evolução que fez com que o Homo sapiens chinês, adquirisse as características que possui hoje: a cor amarela da pele, cabelos pretos, grossos e lisos e olhos oblíquos. Em certa extensão a miscigenação de povos tem ocorrido em todas as partes do mundo. As diferenças biológicas entre as raças atuais são insignificantes Monika Gryczynska 3 Um olhar sobre o Mundo Há a teoria que considera que as características culturais humanas são determinadas por hereditariedade, pressupondo que há algum tipo de correlação entre as características ditas “raciais” e culturais dos indivíduos, grupos sociais, ou populações. Devido ás contínuas migrações e conseqüente miscigenação com outros povos tornam-se difícil definir antropologicamente as diversas raças. REPÚBLICA POPULAR DA MONGÓLIA Após as fortes emoções vividas na longa e proveitosa viagem ao Arquipélago Malaio e países do Sudeste Asiático, os pesquisadores Rodrigo, biólogo, e seu primo Álvaro, jornalista e cientista social, voltaram para a casa dos pais, onde gozaram de um prolongado tempo para descansar e curtir a vida. Apesar das contínuas cobranças e rigorosos conselhos dos pais, nenhum dos dois se adaptou à monotonia da vida no campo. Pois o seu espírito inquieto e aventureiro não lhes permitiu que ficassem parados. Certa noite, Rodrigo sonhou que se encontrava no Deserto de Gobi. Uma tempestade de areia vinha ao seu encontro; logo a primeira nuvem de poeira começou a envolvê-lo. Acordou assustado, e uma forte impressão ficou gravada na sua memória. Quis transmitir esta emoção ao seu primo Álvaro. Resolveu telefonar-lhe: - Alô! Álvaro, meu amigo. O espírito da aventura voltou a tomar conta de mim novamente. Esta noite, em sonho, estive na Mongólia. Isto despertou em mim aquela vontade louca de viajar, de estar de frente com o desconhecido. Vamos embrenhar-nos outra vez neste mundo maravilhoso, cheio de enigmas, de mistérios! Você está a fim de continuarmos na busca do nosso objetivo? - Alô! Rodrigo! O convite é convincente, não tem como não aceitar. Agora, depende da permissão dos nossos pais, se eles autorizarem e liberarem a verba auxiliar, isto é, os cartões de crédito, Monika Gryczynska 4 Um olhar sobre o Mundo voaremos para a Mongólia, para continuar as nossas andanças e pesquisas – respondeu Álvaro, exultante. Os dias foram passando; chegaram os festejos de Natal e Ano Novo, veio a Páscoa e a resposta positiva dos pais para viajarem não vinha. Eles estavam em dúvida. Rodrigo e Álvaro pediam, insistiam, até que os pais Giovani e Conrado decidiram a favor. - Podem viajar, se as pesquisas que vão realizar forem úteis para enriquecer e ampliar os conhecimentos nas suas carreiras profissionais – deliberou Giovani. Rodrigo sendo uma pessoa prevenida, fez os cálculos do disponível para a viagem. Somou os proventos que recebia como pesquisador na área de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná, mais a Bolsa de Estudos com que fora contemplado pelo governo chinês, no intercâmbio científico - cultural, com a finalidade de estudar a biodiversidade da Região Chinesa e principalmente o impacto ambiental causado pela atividade humana, no processo da desertificação progressiva da região, tendo como referência os Pam-pas Gaúchos e o Nordeste brasileiro.Para impedir este fenômeno o governo Chinês, elaborou um plano conhecido pela designação de ”Grande Muralha Verde”, um enorme anel de florestas plantadas, como uma barreira para impedir a expansão da desertificação e tam-bém barrar as tempestades de areia que ocorrem no norte da China. Álvaro contava com a renda dos documentários e reporta-gens enviadas a BBC. Tendo verificado e conferido os saldos de suas contas bancárias, calcularam o valor suficiente para custear a viagem projetada, e principalmente, contando com o apoio financeiro incondicional oferecido pelos pais de ambos,deram continuidade ao plano. Era o início de abril de 2012. Numa tarde amena de outono, os dois pesquisadores brasileiros munidos dos passaportes e demais documentos, de mochilas nas costas,despediram-se dos familiares e amigos, e eufóricos embarcaram Monika Gryczynska 5 Um olhar sobre o Mundo no avião da Tam em Foz do Iguaçu, via São Paulo, Los Angeles, rumo à Beijin (Pequim) na China. Álvaro levava um Tablet presente do pai, e Rodrigo um Smartphone, mesmo com essa nova tecnologia, não deixaram de levar os notebooks,onde gravavam tudo. Naquele dia memorável, Rodrigo aos 29 anos e Álvaro com 30 anos completos, lançavam-se em uma nova e emocionante aventura. A viagem de São Paulo à Beijin levou 28 horas de vôo. O avião pousou no Aeroporto Internacional de Beijin ás 6 horas da manhã; os dois viajantes estavam muito cansados, sonolentos, mas felizes. O maior empecilho para eles era o da língua, pois eles não entendiam o mongol nem o mandarim e dificilmente encontrariam alguém que falasse inglês ou francês, apenas quem dominava as línguas era o pessoal das áreas de turismo, dos departamentos públicos e hotéis. No guichê de informações turísticas do aeroporto consultaram o agente a respeito da viagem para Mongólia. - As vias de comunicação na Mongólia são escassas. As estradas pelo interior do país são em maioria de terra, só algumas são asfaltadas.A capital Ulaan Baator está conectada à Estrada de Ferro Transiberiana por um ramal da Transmongolian Railway que parte de Ulan-Ude na Sibéria, cruzando a Mongólia passa pela região autônoma mongólico-chinesa, segue até Beijin (Pequim).O aeroporto de Ulaan Baator está unido com Beijin e Moscou, por serviço aéreo regular; bem como algumas das mais importantes cidades da Mongólia tem a comunicação aérea entre si pelas linhas domésticas. O transporte tradicional por caravanas de camelos continua através dos caminhos pedregosos do deserto de Gobi, mas aos poucos está sendo substituído por Jeeps e caminhões. - Vocês podem escolher o transporte que preferirem – disse. Mas ainda por sugestão do agente, resolveram viajar de trem. Após um breve descanso num pequeno hotel em Beijin (Pequim) dirigiram-se para a Estação Ferroviária onde, com a ajuda do agente de Monika Gryczynska 6 Um olhar sobre o Mundo turismo, adquiriram as duas passagens de primeira classe, e embarcaram às 18 horas para a capital Ulaan Baator. Escolheram a melhor opção que foi a de viajar de trem, pois assim teriam oportunidade de conhecer, no percurso, o país que iam visitar.O trajeto levou 32 horas, rodando pela Estrada de Ferro Transmongoliana, parando nas pequenas estações onde centenas de pessoas se acotovelavam para conseguir embarcar nas classes populares.O povo levava de tudo, desde mudanças inteiras com galinhas, cachorros,cabras, móveis e panelas. Era uma balburdia só. Após uma noite inteira de trem atravessando o norte da China chegaram à fronteira com a Mongólia, lá o trem ficou parado durante 5 horas para trocar as rodas do trem, pois o padrão chinês é diferente do padrão mongol.Na fronteira foi necessário apresentar documentos.Resolvidos os trâmites burocráticos, enfrentaram mais 12 horas de viagem pelo deserto de Gobi.O trem chegou ao destino, Ulaan Baator, por volta do meio-dia.Os nossos dois aventureiros estavam sonolentos,exaustos mais cheios de expectativa e ansiedade. . Apesar de cansativa, a longa viagem valeu a pena, pois a vista da janela do trem lhes apresentou um mundo de cenários assom-brosos de montanhas e desertos, de costumes exóticos do povo, observado nas paradas das estações da estrada de ferro.O povo da Mongólia é muito pobre. Eram modos de vida e usos que fugiam totalmente dos nossos padrões. Desceram do trem carregando suas bagagens. Passaram pelo Departamento de Imigração para controle de passaportes e vistos de entrada, e liberados seguiram em táxi para o Hotel Genghis Khan Holiday Inn, que já tinha sido reservado pela agência de viagens em Foz do Iguaçu. Feito o chek-in e já instalados em um bom apartamento no hotel, tomaram um banho morno relaxante e pediram o almoço. Alimentados, caíram na cama e dormiram até tarde. No momento Monika Gryczynska 7 Um olhar sobre o Mundo oportuno Álvaro entrou em contato com a agência da BBC, para confirmar o envio das gravações com às reportagens para o jornal. Após o descanso, Rodrigo e Álvaro procuraram a recepção do hotel para se informar da possibilidade de contratar um guia turístico que falasse inglês para acompanhá-los na excursão pelo país. O gerente do hotel, senhor Chin Lin, aconselhou-os para que procurassem na sede da Universidade Nacional da Mongólia, uma pessoa capacitada para essa missão.Ele mandaria um recepcionista acompanhá-los e apresentálos ao diretor da Faculdade de Geografia e História de Ulaan-Baator. O diretor Batbold Elbeghor analisou atentamente o pedido e indicou o professor licenciado Gaudhan Khulan para guia. Ele dispunha de tempo e era conhecedor profundo do país. Por acaso, o professor Gaudhan se encontrava na Secretaria da Faculdade, e não foi difícil acertarem com ele as condições do trabalho, pois ele adorava viajar e ficava feliz em poder transmitir à outros o seu conhecimento. Acompanhados por ele, começaram no outro dia de manhã visitando a capital Ulaan Baator (Herói Vermelho). O professor foi lhes explicando as singularidades da cidade. - Em Ulaan Baator, as tradições ancestrais e o culto budista contrastam com a arquitetura stalinista herdada do período de influência soviética e com os traços de modernidade que hoje invadem esta cidade isolada no coração da Ásia Central. Pode parecer exótico, mas podemos encontrar habitantes locais vestidos com trajes tradicionais nos dias comuns. - Situada a 1.350 metros de altitude Ulaan Baator fica no centro-norte do país. A cidade foi fundada em 1639, às margens do rio Tuul.Com uma população de 1.240,048 (2011) è uma cidade moderna, com hotéis, pousadas com internet, cafés, restaurantes, shopping centers, lan-houses, bares, salões de beleza, comércio movimentado, largas avenidas e grandes praças arborizadas. Caminhando pela calçada Monika Gryczynska 8 Um olhar sobre o Mundo observaram a enorme estátua do herói nacional Genghis Khan situada na Praça Central, e acolá a Estatua Pedestre de Buda. Adiante se vislumbrava o Monastério de Gandantegchinlin e o imponente Palácio de Inverno de Bogd Khan, e mais ao longe se localizava o Memorial Natsagdori, a Academia de Ciência e Biblioteca, o Templo Choyjin Lama, o Wedding Palace, o Banco Central, o Parlamento, a Bolsa de Valores e as embaixadas: Britânica, dos EUA, da Alemanha, da Polônia, da China, da Rússia. Distante 20 quilômetros da cidade se encontra o Aeroporto Internacional Genghis Khan. Visitaram o interessante Museu de História Natural, com valiosa exposição de pedras preciosas e cristais de rocha coloridos, como também fósseis de dinossauros e de outros animais do deserto e das estepes. Próximo à Praça Sukhbaatar localiza-se o Museu Nacional de História da Mongólia o qual visitaram, à tarde. Expõe armas e outros utensílios de guerra da época de Genghis Khan. A visita foi elucidativa a respeito da formação e unificação do país. Por coincidência, naquela noite estava sendo apresentada uma peça importante no Teatro Nacional Acadêmico, baseada na época da ocupação chinesa; as entradas eram gratuitas, e os dois brasileiros aceitaram o convite do guia para assistir ao espetáculo, que foi lhes sendo traduzido ao desenrolar do drama.O clima estava ameno, pois entrava o verão, que vai de maio a setembro, o clima nessa época é muito quente, até abrasador.O inverno começa em setembro e vai até mês de abril, época não propícia para excursões, a temperatura cai muito, faz um frio intenso e tudo se cobre de neve. No outro dia de manhã, sentados à mesa do desjejum, no refeitório do hotel, o professor Gaudhan começou fazer a descrição da Mongólia, delineando o território no mapa estendido diante deles. - A Mongólia ocupa uma superfície de 1.566.500 km², possui 3.133,318 (2011) milhões de habitantes, com uma taxa de crescimento populacional de 1,489 %, ao ano.Composição étnica de origem Monika Gryczynska 9 Um olhar sobre o Mundo khalkha-mongol (90%) e diversas minorias entre cazaques, chineses, usbeques e russos. Nos recentes testes de DNA dos mongóis,os cromossomos Y provam de que 1% da população mas-culina é descendente de Genghis Khan.A língua oficial é khalkha-mongol, mas também se fala o cazaque, o chinês e o russo. A capital do país é a cidade Ulaan Baator (1.240.048) habitantes (2011),outras cidades importantes são: Ulaangom, Khovd, Olgii, Darhan, Erdenet, Baganuur, Bayankhongor, Bulgan, Uliastai, Choybalsan, (44.367), Orkhon, Mörön(114.000), Dalandzadgad, Sainshand, Baruun Urt. - Em 1924,a Mongólia Exterior,se declara independente da China e proclama-se como República Popular da Mongólia, torna-se a segunda nação comunista do mundo. Em 1988, a China e a República da Mongólia, firmaram o primeiro tratado para delimitar sua fronteira comum, que se estende ao longo de 4.655 quilômetros. A Mongólia era um país de economia socialista centralizada até o inicio da década de 1990.A constituição de 1992,aboliu os últimos vestígios do marxismoleninismo ao implantar um regime democrá-tico, parlamentarista,quando então se realizaram as primeiras elei-ções livres, a cada 4 anos.Reformas democráticas foram iniciadas, com a difícil conversão para uma economia de mercado.Em 2009, foi eleito para presidente do país Tsakhiagiyn Elbegdorj e para primeiro-ministro Bathold Sukhbaatar. Com uma altitude média de 1600 m acima do nível do mar, a Mongólia é formada, na maior parte por vastos planaltos elevados, situa-se no Centro-leste da Ásia, num território árido e distante do mar,entre a República Popular da China ao Sul,e a Rússia (Sibéria) ao Norte.No noroeste da Cordilheira Altai, a fronteira da Mongólia com a Rússia e o Cazaquistão, as estepes áridas e cinzentas que cobrem quase todo país se transformam em vastas planícies verdes dominadas pelos nômades cazaques. Acima deles, eleva-se o Maciço Altai, um dos grupos de montanhas mais inacessíveis do mundo, com o elevado e Monika Gryczynska 10 Um olhar sobre o Mundo nevado Pico Belukha de 4506 metros de altitude. Entre as nuvens aparecem os cinco cumes brancos, tendo o ponto culminante no pico Nayramadlim que supera os 4.374 metros. Os cumes foram batizados de Tavan Bogd Uul (Os Cinco Deuses). - As Montanhas Altai, é uma cordilheira da Ásia Central que ocupa territórios da Rússia, Mongólia, Cazaquistão e da China. Nos altiplanos do Altai nascem os grandes rios da Sibéria, o Irtysh, Obi e o Yenissei. A Cordilheira do Altai começa com as elevações em GornoAllaysk, na República Autônoma do Altai (Sibéria) a 52° graus Norte, e entre 84° e 90° graus Leste funde-se com as Monta-nhas Sayan que se estendem no sentido sudeste seguindo a fronteira China-Mongólia, quando tomam o nome de Sayan Oriental, desde esse ponto começam a perder a altitude gradualmente, terminando no Deserto de Gobi. A Cordilheira Altai Mongólica forma a fronteira Noroeste da Mongólia.Pinturas rupestres encontradas em algumas grutas do Altai remontam a três mil anos atrás. Aqui as montanhas se alternam com os vales fluviais e lagos, com estreitas passagens entre os maciços que no passado eram utilizadas pelas caravanas da Grande Rota da Seda. Outras cadeias importantes são o maciço de Khangai que se estende desde a fronteira norte, ocupa o território do centro-oeste e se ramifica alcançando o deserto de Gobi onde se confunde com as montanhas do Gobi-Altai.Na Cordilheira Khangai nascem diversos rios como o Orkhon e o Ider afluentes do Selenga, o Khanuy e è onde também se iniciam os lagos Orog Nuur, Boontsagaan e outros. O Maciço Khentii é uma cadeia de montanhas nas províncias de Töv e Khentii no norte-nordeste da Mongólia. A cadeia estende-se por 1,2 (um milhão e duzentos mil hectares), contorna a área protegida Khan Khentii e inclui a mais sagrada montanha da Mongólia, a Burkhan Khaldun.A montanha Burkhan é considerada sagrada, pois segundo a tradição mongol, Genghis Khan teria nascido à sombra dos seus picos gelados.Esta montanha é rica em vestígios arqueológicos Monika Gryczynska 11 Um olhar sobre o Mundo históricos.São respeitadas como sagradas as montanhas Bogd Khan, Burkhan Khaldun, Otgon Tenger, esta última estende-se por 95.500 hectares.As três montanhas repre-sentam valores sagrados e respeitados desde os tempos remotos. Genghis Khan,no século XIII,considerou serem as mais importantes das 16 montanhas da Mongólia, veneradas e protegidas pela tradição. - O país possui rios perenes e intermitentes, dos quais os mais importantes são: o Selenga, rio que se origina da confluência dos rios Ider e Delgermönön, á noroeste de Uliassutai, deságua no lago Baikal na Sibéria, sua extensão é de 992 km, e sua bacia hidrográfica cobre 447.000 km². Seus afluentes da margem esquerda são os rios Egiin, Dzhida, os da margem direita, o Orkhon, Khanui, Chikoy, Khilok,Uda -.O rio Orkhon nasce na cadeia Suvarga Khairkhan nos Montes Khangai, província de Övörkhanghay, a cerca de 650 km a sudoeste da capital Ulaan Baator, no deserto de Gobi, e flui na dire-ção norte por 1.124 km antes de se juntar ao Selenga. Os principais afluentes do Orkhon são os rios Tuul, Tamir e Kharaa.Sua bacia hidrográfica e de 132.835 km². A cerca de 350 km a sudoeste de Ulaan Baator, na região onde corre o rio Orkhon, encontra-se o vulcão hoje extinto, Bus-Obo com 1.944 m de altitude. É um cone vulcânico de basalto e cinzas.Tem sua origem no final do Pleistoce-no há dois milhões de anos. - O rio Onon, nasce nos contrafortes leste das Montanhas Khentii. Tem 818 km de extensão e bacia hidrográfica de 94.010 km². Por 298 km corre em território mongol. Atravessa a fronteira com a Sibéria, sua confluência com o rio Ingoda forma o rio Shilka. - O rio Kerulen tem sua origem na cadeia Khentii, nos contrafortes sul da montanha Burkhan Khaldun, a uns 180 km a nordeste de Ulaan Baator e com grandes voltas, corre na direção leste atravessando a Província de Khentii, cruza a região oriental da estepe Monika Gryczynska 12 Um olhar sobre o Mundo da Mongólia passando pelas cidades de Ulaan Ereg e Choybalsan (80.150 habitantes em 2008). Entra no seu curso final na China e deságua no lago Hulun Nuur.Tem 1.254 km de extensão e uma bacia hidrográfica de 116.400 km².Em épocas de cheia o lago Hulun transborda e suas águas fluem para o rio Argun. O rio Kerulen que normalmente deságua no lago Hulun se converte então num afluente do Argun e passa a fazer parte de um dos rios mais extensos do mundo, o sistema Kerulen-ArgunAmur que tem a extensão de 5.054 km e deságua no Mar de Okhotsk. - A Mongólia, pode ser dividida em duas regiões. Ao longo da fronteira noroeste se estendem as Montanhas Altai Mongólicas, que se alternam com os vales fluviais e lagos.A maior parte dos 3.000 lagos está reunida na extremidade ocidental encravada entre as montanhas Altai e Khangai na zona dos lagos. Mongólia é um vasto planalto girando entre 900 e 1650 m de altitude, acidentado por desfiladeiros e paredões da Cordilheira Altai, que delimita o país, e que constitui verdadeira barreira ao Nordeste. Entretanto, à Oeste é facilitada a comunicação com paises da região como Cazaquistão, Turcomênistão e a China, em particular, pelas estreitas passagens entre montanhas,pela depressão de Dzungaria e o vale do rio Tarim. - O país tem o clima desértico, continental, árido no Sul e árido frio no Norte. O clima possui acentuada variação térmica anual. A umidade é geralmente muito baixa e o sol é intenso Os invernos são muito frios com temperaturas médias que variam entre -40° e -10° C. A primavera e fria e seca e o verão muito quente, com temperaturas de até 45° C.em julho. No noroeste, nas encostas e níveis mais altos das montanhas, crescem florestas boreais de coníferas, como pinheiros, bétulas, abetos e lariços. - As estepes da Mongólia são juncadas de tamaricáceas, de gramíneas rasteiras, touceiras de grama dura e pequenos arbustos espinhosos de galhos retorcidos, flora típica das estepes e desertos. Monika Gryczynska 13 Um olhar sobre o Mundo Predomina uma vegetação pobre em variedade, são plantas que conseguem se adaptar e sobreviver nos terrenos salinos em torno dos pequenos pântanos.Logo eram raras as vezes em que pessoas coletavam alguma fruta, como bagas e avelã. As pertinentes secas, as mudanças bruscas de temperatura, as violentas tempestades atmos-féricas e a grande salinidade do solo explicam a pobreza vegetal. Nos planaltos mais elevados, a vegetação é escassa, sobrevivem apenas ervas e arbustos resistentes à hostilidade do clima. No inverno, as estepes ficam cobertas de neve, e a água dos rios congela. - A pouca fauna mongólica resume-se em alguns marsu-piais, raposas, martas e a doninha. Ursos pardos, tigres, leopardos da neve e grandes matilhas de lobos, que estendem seu domínio até o vale do rio Amur.A marmota, o esquilo e a lebre montês se sobres-saem entre os roedores. Nas estepes vivem cabras, carneiro argali, antílopes, gazelas, o camelo-bactriano (de duas corcovas), manadas de cavalos, asnos e gado vacum.As pastagens estão sendo degrada-das pelas cabras, criadas pelos nômades como fonte de lã cashmere. - Os répteis e anfíbios são pouco numerosos e algumas espécies como cobras e os escorpiões são muito venenosos. Os abundantes lagartos do deserto rastejam do abrigo da sombra de uma pedra para outra, nesse abrasante e petrificado mundo de rochas e areia. No calor do verão surgem nuvens de moscas sugadoras de sangue, que atormentam os animais e pessoas. As margens dos rios, lagos e pântanos salinos aparecem enxames de insetos, libélulas, moscas, pernilongos e milhares de borboletas coloridas. - A estepe acolhe um número considerável de pássaros adaptados ao clima rigoroso, tais como a coruja da neve, grous, pegas, falcões, cotovia, o pardal, o faisão, o avestruz, abutre monge, o pato cinzento silvestre e águias. Algumas águias e falcões são treinados pelos nômades para caçar com seus olhos aguçados na vastidão dos campos.Voando à frente do vento, no céu pálido e frio de outono, Monika Gryczynska 14 Um olhar sobre o Mundo vêem-se longas filas de gansos selvagens que emigram para climas quentes.O cavalo é um animal precioso e essencial para a vida nas estepes, é usado como meio de locomoção em todas as ocasiões e principalmente na guerra, são resistentes, ágeis e rapi-dos.Encontramse grandes manadas de cavalos selvagens pastando a erva dos campos.O esterco seco dos animais domésticos, como cavalos, vacas, camelos, serve como combustível aos nômades. - A segunda região compreende a metade sul do país. Trata-se de uma estepe semidesértica, com depressões pouco profundas, e a imensidão árida e pedregosa do grande deserto de Gobi, com 1.295.000 km², que se estende por 1610 km de leste a oeste e 965 km de sul a norte, através do sul da Mongólia e norte da China. Toda a região meridional corresponde ao Gobi, enorme superfície arenosa, situada entre 800 a 1.500 m de altitude.A vasta depressão está rodeada pelas Montanhas Altai-Gobi à oeste, e no território norte da China, se estendem as cadeias de Aerhchin Shan-mo, Pei Shan-mo e Yin-Shanmo e a cadeia de montanhas Qilian. - O deserto de Gobi possui um clima extremo, marcado por mudanças rápidas de temperatura, no inverno oscila entre -40° a-20º Celsius e no verão entre 17° a 45° C As chuvas são escassas no oeste do deserto e pouco mais freqüentes no nordeste.É constituído de montanhas rochosas e por grandes extensões de dunas móveis de areia, algumas chegam a 800 m de altura. O vasto planalto apresenta zonas rochosas, enquanto que a porção oeste é completamente coberta por areia., onde não faltam areias movediças e tempestades de areia, comuns na região do Gobi chinês.Ventos intermitentes, de inusitada violência, açoitam todo o espaço do deserto.No verão, ocorrem fortes temporais.No Gobi não crescem árvores ou arbustos, no solo arenoso medram apenas plantas cactáceas, ervas rasteiras e a vegetação halófila (adaptada a terrenos salinos),que ocupa os pequenos pântanos salgados. Monika Gryczynska 15 Um olhar sobre o Mundo - O rio Kerulen é o maior rio permanente de Gobi. Os rios intermitentes da região deságuam em pequenos lagos salgados ou desaparecem na areia.No idioma mongol, “Gobi” significa “lugar sem água”.A água é um recurso limitado e caro, para consegui-la cavam-se poços profundos na areia, em sua volta formam-se os oásis, onde se instalam os ghers.O deserto de Gobi limita-se ao norte e ao sul por regiões de estepes onde pequenas tribos nômades que habitam a região, praticam a criação de rebanhos de bovinos, caprinos, ovinos, cavalos, camelos e yaques que são à base da economia tradicional. O clima árido e a fragilidade do solo são fatores preponderantes para o processo de desertificação em curso. - Os desertos são áreas nas qual a evaporação da água excede a precipitação de chuvas. As plantas dos desertos adaptam-se de vários modos para sobreviver à seca. Depois de uma chuva, um deserto estéril pode florescer repentinamente, cobrindo-se com milhares de variedades de flores multicoloridas, que desaparecem rapidamente após produzirem sementes, hibernam até a primavera e a próxima chuva. Entre elas são encontradas centenas de valiosas plantas medicinais. No noroeste, nas encostas e níveis mais altos das montanhas, crescem florestas boreais de coníferas, como pinheiros, abetos e lariços. - O deserto de Gobi é conhecido no mundo da Paleontologia pela riqueza e qualidade das suas jazidas fósseis, onde foram descritas muitas espécies de dinossauros, lagartos, mamíferos e aves préhistóricas.Foram achados fósseis petrificados expostos na areia,a céu aberto.O deserto de Gobi é considerado um dos maiores sítios arqueológicos do mundo.O sudeste do Gobi e o norte do deserto de Ordos fazem parte da grande bacia arenosa e de argila dura, coalhada de pequenos lagos de sal, que ocupam a grande depressão que, possivelmente, no passado, fazia o leito dum extenso lago salino ou de um vasto mar interior. Monika Gryczynska 16 Um olhar sobre o Mundo Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro decidiram explorar o deserto de Gobi e suas zonas periféricas, seu sonho acalentado durante muito tempo e uma das razões das suas pesquisas.Foram até a estação Rodoviária em Ulaan Baator, felizmente era o dia em que o ônibus iria fazer o trajeto até a cidade de Dalandzadgad,destino pretendido por eles.Embarcaram no veículo lotado, que rodou por uma bem conservada estrada asfaltada.A cidade se situa a 560 km da capital Ulaan Baator. Foram 8 horas de viagem, pelo meio da estepe. Situada na boca do deserto a cidade é chamada de “portal do Gobi”. A antiga cidade de Dalandzadgad, com 18.740 habitantes (2011) é a capital da Província Omnogovi que abriga 61.314 habitantes dispersos por 165.377 km² de deserto.É uma pequena cidade, ventosa e isolada, mas proporciona ao viajante alguns confortos que estão ausentes em outros lugarejos, como água quente, eletricidade e algumas lojas para se abastecerem de alimentos frescos para a viagem.Apesar da região ser pouco habitada, com o povo muito pobre, o governo investiu na cidade em infra-estrutura moderna, com ruas pavimentadas, água, eletricidade, comercio, pequeno aeroporto, hotéis, restaurantes, lan-houses e estruturas destinadas à educação e a tecnologia. Possui torres com sinal para telefones fixos e celulares e conexão para Internet. Os dois brasileiros estavam acompanhados pelo professor Gaudhan Khulan.Logo após a chegada na cidade dirigiram-se ao setor de informações turísticas.Procuravam um guia, homem respon-sável e experiente em viagens pelo deserto.Foi-lhes apresentado Khentai Kuriltuk,que correspondia às exigências.Combinado o valor da remuneração,passaram a tratar da compra da provisão de alimentos e água necessários para vários dias; alugaram 5 cavalos fortes e ágeis, que montaram um tanto ressabiados. Um cavalo levava a carga com provisões e a barraca de lona, própria para camping.Pela manhã, despediram-se dos últimos confortos Monika Gryczynska 17 Um olhar sobre o Mundo da civilização e deixaram Dalandzadgad, acompanhados pelo guia. Lançavam-se numa aventura de prazo indeterminado, à exploração de lugares inóspitos por um dos territórios de menor densidade populacional do mundo 1,7 habitantes por km², que continuam a viver segundo a tradição nômade. O grupo seguiu rumo sul para o interior do deserto de Gobi, que a cada passo tornava-se mais árido, mais pedregoso. Na região encontraram muitos fósseis marinhos, testemunho de épocas remotas em que ali se situava um mar interior.Depararam-se com grupos de camelos e rebanhos de cabras e ovelhas a procura do pasto ralo ou alguma vegetação, espalhados pelo deserto.Cavalgando pela região, encontraram um cenário geológico impressionante,“a Tsagaan Suvarga”. Espalhados pelo território encontram-se centenas de cones vulcânicos com cinzas basálticas de 300 a 1120 m de altura, datados do Pleistoceno Superior e Holoceno. Nos campos vulcânicos Gurvan Sayan Uul (Médio Gobi), cerca de 900 km de Ulaan Baator, a sudoeste do Gobi, na Província de Omnogovi, estão localizados sete picos com crateras vulcânicas, algumas se elevando até 2.768 m acima.As formações rochosas esparsas pelo deserto exibem crateras como bocarras escancaradas de feras raivosas; são resquícios de vulcões extintos há centenas de milhões de anos. Os vulcões possuem significado místico para os mongóis, relacionado ao xamanismo e seus mistérios. O grupo aproximou-se para apreciar melhor o fenômeno. Rodrigo e Álvaro, com grande esforço, devido ao calor intenso, subiram ao topo da mais alta cratera;a vista daquela altura era impressionante, viam-se formações rochosas, dunas e mais dunas de areia. - Oho!Oho! - ouviu-se o som do grito exultante da dupla, tendo o eco repetido centenas de vezes na imensidão do deserto. No horizonte distante observaram um acampamento de nômades. As tendas brancas revestidas de couro de boi, plantadas aqui e Monika Gryczynska 18 Um olhar sobre o Mundo ali na estepe, são elementos indissociáveis da paisagem.Por tradição, a porta da habitação itinerante, que se monta e desmonta em menos de duas horas, abre-se para todos: vizinhos, outros nômades, turistas, viajantes,condutores.Um pequeno fogão portátil, aceso no centro, com a chaminé saindo para fora da tenda, duas ou três camas, um ou outro móvel, estas são as casas da metade da população mongol.Galoparam ao encontro deles. Foram recebidos por um mongol sorridente que, seguindo a tradicional hospitalidade dos nômades os convidou para pernoitar no gher (tenda).Para o jantar foi lhes servida sopa de carne de carneiro com macarrão. Logo de manhã,os quatro cavaleiros agradeceram a cortesia e seguiram adiante, pelo caminho que os conduzia pelo deserto. Quando subiam por um terreno raso, depararam-se com uma cena fantástica a sua frente. Viram um grande lago nevoento, azul e violeta sombrio, num vale fundo, com as margens indistintas juncadas de aglomeração de pedras, cor de púrpura escura.Ali estava ele, flutuante, frio e perdido, com seus contornos nebulosos e pálidos, suas águas tão paradas como a lâmina de um vidro.Havia algo de terrível no aspecto daquela água remota e imóvel, que tinha a aparência de um sonho no crepúsculo ardente. Imóvel mas fluida, parecia quase ao alcance da mão, e logo de novo uma centena de quilômetros distante, aprofundando-se e empalidecendo nos seus tons obscuros de turquesa e ametista. Suas margens confundiam-se e apagavam-se no terreno arenoso e vermelho, sem vegetação. O lago não passava de uma miragem do deserto, uma ilusão de ótica. Mas aparece em cada poente, neste mesmo lugar, frio, imutável, os habitantes o chamaram de “Lago Encantado”,e muitos tem perdido a vida tentando aproxi-mar-se dele.Em pleno dia, com o sol a pino no céu, não há nada ali, a não ser a planície de areia branca juncada de pedras esverdeadas. Monika Gryczynska 19 Um olhar sobre o Mundo Os rapazes caíram num silêncio pesado enquanto contemplavam o lago, cujo aspecto de um sonho fantástico se intensificava a cada momento.Uma sensação confusa de horror se apoderou deles. Rodrigo sentiu uma vontade irresistível de descer até o vale e chegar perto do lago. Ele fixava as formações cônicas de pedra purpúrea espalhadas pelas margens. Supersticioso, como todos os mongóis, o guia Khentai advertiu-o do perigo que corria. - Vamos embora – gritou o guia, - e sem esperar resposta, esporeou o cavalo que galopou veloz pelo caminho.O céu flamejante rapidamente empalideceu e apagou-se, e quase num piscar de olhos a noite desceu sobre o deserto.Eles armaram o acampamento logo que os últimos raios do sol se foram.Para o jantar o guia Khentai preparou um cozido mongol, de carne de carneiro (ou de cavalo), macarrão e verduras.Exaustos e sonolentos deitaram no chão da tenda, forrado com tapete de couro de cavalo. Mas no dia seguinte o lago misterioso foi esquecido, pois o solo do deserto parecia um lençol enrugado de ouro puro ao sol nascente e as colinas irregulares, tremeluziam contra o céu brilhante. O vento incessante, ondulante e forte, soprava formando ondas sobre a areia.O grupo cavalgava pela trilha entre os paredões de penhascos, quando avistaram um oásis, verde, amplo e cheio de arbustos, onde estava situada uma aldeia de muitos ghers. Khentai conduziu-os até a gher do seu amigo Darham, o chefe da aldeia. Caminharam entre uma multidão de mulheres curiosas, crianças seminus, cães ladran-do e gado espantado, mugindo. Na vastidão das estepes e dos desertos a hospitalidade dos mongóis é marcante. Os quatro visitantes foram recebidos com grande cordialidade pelo chefe Darham e pelas pessoas da comu-nidade. Foi lhes oferecida água em bacias de alumínio para lavarem as mãos e os rostos ardentes de poeira do caminho.A esposa do chefe Darham serviu-lhes cúmis, e um cozido tártaro com pedaços de carne de Monika Gryczynska 20 Um olhar sobre o Mundo carneiro e cereais, e de sobremesa tâmaras turcas Durante a refeição o anfitrião ofereceu vinho de leite, artesanal, a mais alta cortesia mongol.A tradição das estepes não lhes permitia recusar essa gentileza .À tarde houve uma grande festa, com jogos, competi-ções de arco e flecha, lutas de bhok,e corridas de camelo e cavalo. Desse evento só os homens participaram. Quando a noite caiu e as fogueiras crepitavam, Darham convidou os visitantes a conhecer a sua família, levou-os até a tenda onde vivia com a esposa e a jovem filha Yessi. Ele chamou pelas mulheres e elas apareceram na porta da tenda, tímidas e descon-fiadas. Vestiam longas túnicas azuis da cor do céu; em volta da cintura de Yessi havia uma serpente retorcida de prata, com olhos de topázio vermelho. Sobre os ombros ela trazia um magnífico manto de pele de marta. Seus cabelos pretos desciam-lhe até a cintura. Ela olhou para as visitas com seus olhos pardos, oblíquos e seu olhar pousou no olhar extasiado de Rodrigo.Um arrepio ardente percor-reu-lhe o corpo, e a chama de fogo consumia-lhe o sangue jovem. Rodrigo sorriu para ela, e nesse sorriso transpareceu todo o ardor da juventude, então teve consciência do próprio desejo.Ele não via nada exceto a beleza dela, seus lábios vermelhos entreabertos, como que pedindo beijo.O encantamento dos dois não passou des-percebido pelo pai Darham. A filha Yessi era sua jóia preciosa. Seria conveniente casa-la com estrangeiro, talvez lucrasse muito na transa-ção. Nesse caso, falou o instinto interesseiro do nômade mongol. Examinou a filha com olhar crítico, avaliando-a, como se ela fosse uma potranca que tencionava vender, e então se voltou para o amigo Khentai, (o guia e interprete mongol), levou-o para o lado e fez a proposta. Daria a filha em casamento ao estrangeiro e como dote queria o notebook do Rodrigo, pois estava encantado com o poder da máquina.Tinha visto o moço utilizar o notebook para gravar a pesquisa feita no local. Sem suspeitar do que se passava na cabeça do inculto Monika Gryczynska 21 Um olhar sobre o Mundo chefe mongol, Rodrigo mostrou ao curioso homem e a seus amigos, o alcance da Internet e as demais propriedades dessa maravilhosa maquina. Khentai, passou a proposta do chefe Darham ao biológo Rodrigo, que surpreso e indignado, respondeu: - Mas que proposta maluca é essa.Eu não tenciono me desfazer do notebook que é minha ferramenta de trabalho e também não posso me casar, pois sou noivo na minha terra.Sinto muito decepcioná-lo chefe Darham, mas eu não posso aceitar a sua proposta. A sua filha merece muito mais, é uma jovem e bela moça, merece um casamento de sua escolha e um noivo que a ame. Depois desse desfecho imprevisto, o chefe Darham tornou-se grosseiro, mostrou má vontade em relação aos visitantes e ao seu amigo Khentai.O grupo resolveu despedir-se e seguir o seu caminho. Como já era noite avançada, aceitaram a oferta de um dos moradores da aldeia.Alugaram dele um gher,que era destinado para turistas. Tinha tapete de couro no chão servindo de cama, a comida estava pronta, era o que precisavam.Assim que o dia clareou foram embora. Com a morosidade de viajar a cavalo e as dificuldades que surgiam a cada passo os pesquisadores brasileiros não desistiam de explorar o Gobi. Os cavalos trotando pelos caminhos pedregosos outras vezes afundando na areia, chegaram às gigantescas dunas de areia de Khongoryn Els, que se estendem por mais de 100 km, com altura de até 800 m, impressionam qualquer pessoa.Uma família de nômades instalada no sopé das dunas recebeu-os alegremente.Havia camelos para quem quisesse conhecer as dunas no dorso dos resistentes criaturas.Mas Rodrigo e o guia Khentai atreveram-se a escalar o topo num quadriciclo Yamaha, emprestado no camping próximo; a vista de cima era espetacular. É um lugar ermo, afastado de qualquer povoação, só apareciam de quando em quando pequenos ghers de pastores nômades, isolados, no meio do nada. Monika Gryczynska 22 Um olhar sobre o Mundo Por sorte, mesmo um tanto distante, encontraram um acampamento turístico, (camping) com vários ghers, com banheiro, um bem-vindo chuveiro e um restaurante; passaram a noite num desses gher-camp.Com o calor de 40° C. ao entardecer era impossível pensar em acampar na tenda de lona que levavam. Assim, já desperto ao raiar do dia, Rodrigo chamou Álvaro para trocar uma idéia. - Que tal se voltássemos à Dalandzadgad, onde poderemos trocar o meio de transporte, no lugar de cavalos vamos alugar uma dessas caminhonetes japonesas 4x4, modelo militar, adequadas para terrenos difíceis, com motorista experiente em viagens pelo deserto?sugeriu Rodrigo. - Ora! Isto seria a melhor solução para as dificuldades que temos, reconheço que viajar a cavalo nestes ermos,enfrentando o ca-lor sufocante o dia todo, está sendo impraticável – observou Álvaro. Resolveram voltar. Chegando à cidade dispensaram o guia Khentai Kuriltuk e seus cavalos, pagaram-lhe o valor combinado. Na cidade foram a procura do veículo e do motorista. No setor de informações do hotel onde se hospedaram, foi lhes indicado o senhor Sanchir Yijn, motorista qualificado e responsável, que possuía uma caminhonete de aluguel, conveniente, e estava disposto acompanhá-los na excursão pelo deserto. Após alguns ajustes da remuneração Sanchir foi contratado. Abasteceram-se dos itens necessários para a longa e difícil viagem, de alimento que acondicionaram num isopor com gelo, noutro colocaram várias garrafas de água, encheram os dois tanques de gasolina e no dia seguinte enfrentaram a estrada poeirenta, esburacada e pedregosa. Mudaram de direção, seguiram para o sudoeste conhecer o Parque Nacional de Gurvansaikhan, que se situava perto da fronteira chinesa, a 340 km da cidade de Dalandzadgad, capital da Província de Omnogovi; é um dos poucos parques importantes no deserto de Gobi, com infra-estrutura adequada com iluminação solar,internet e televisão, Monika Gryczynska 23 Um olhar sobre o Mundo boa habitação e estradas de acesso. Criado em 1993, possui uma superfície de 26.947,37 km².O percurso revela um cenário fantástico, repleto de pequenos roedores, pássaros e aves de rapina que sobrevoam os céus. A vegetação esparsa sustenta os antílopes pretos, os ibex (cabrito montês) manadas de belos carneiros Argali, camelos de duas corcovas, asnos e cavalos selvagens. Também é o território do leopardo das neves. O Parque contém mais de 200 espécies de aves. Os dois brasileiros aproveitaram das comodidades oferecidas no Parque. Hospedaram-se num gher espaçoso, onde pás-saram dois dias descansando. Deliciaram-se com banhos quentes e comida saborosa.Fazia já uma semana que seus corpos não sentiam o prazer do banho. Todas as tardes visitavam um local interessante, como as imensas dunas de areia, os campos salpicados de crateras de vulcões extintos, os cânion de gelo, as vistas deslumbrantes sobre as montanhas povoadas pela floresta de bétulas e pinheiros; sempre na companhia dos guardas do Parque.Fazia muito calor, mais ou menos 40° C. e apesar disso as pessoas aqui vivem com pouquíssima água, praticamente vêem somente areia e pedras, com o clima mais inclemente do planeta, mudando de calor extremo à frio congelante. Tendo explorado parte dos lugares importantes, o grupo seguiu viagem para Bayankhongor, onde no século XX, foram encontrados ovos e muitos fósseis de dinossauros. As areias do deserto contêm ricas jazidas de fósseis, de diversas espécies de dinossauros, lagartos e de mamíferos pré-históricos Talvez por sorte, podiam encontrar algum fóssil enterrado na areia. O deserto de Gobi abrange uma série de picos de montanhas extraordinários, colossais dunas de areia que contrastam com formações rochosas que elevam montes e desenham gargantas abruptas a rasgar a paisagem. A 600 km de Ulaan Baator se estende a cadeia Khangai, onde se situa o pico Ulaan Uuul, com 3449 m de altura, localizado na Província de Bayankhongor. Monika Gryczynska 24 Um olhar sobre o Mundo Os viajantes pernoitaram num gher de nômades do deserto. A família forneceu-lhes comida que consistia de cozido de carne de carneiro; a cama era um tapete de couro de boi, mas faltou a indispensável água para o banho que seria bem-vindo, nesse extremo calor da tarde, fazia 40° C. e isso impedia que entrassem na barraca antes das 8 horas da noite quando começava a refrescar, apesar de só escurecer as 10 da noite.No outro dia viajaram logo de manhã, para aproveitar o clima mais ameno. Após algumas horas a comitiva parou em Yolym Am, cujo nome significa “a boca do abutre”, um incrível e verdejante vale que, no fundo mantém gelo durante o ano todo.Viajando sem pressa, observando as espetaculares paisagens do deserto, anotando tudo nos seus notebooks, eles seguiram para o leste do país, ao encontro do ramal da Estrada de Ferro Transmongoliana em Saynshand. . Saynshand é a capital da Província de Dornogovi, situada no coração do deserto, centro da cultura budista. A cidade de Saynshand abriga 20.515 habitantes (2011),está distante da capital Ulaan Baator 472 km. Dotada de infra-estrutura moderna; possui eletricidade, água, esgoto, ruas pavimentadas, telefone, lan-houses, restaurantes, bares, comércio ativo,escolas e clubes,uma vida social organizada em torno do funcionalismo da Estrada de Ferro. Saynshand é uma das diversas estações da Mongolian Railway, a Estrada de Ferro que sai de Beijing (Pequim) atravessa a região norte chinesa e o deserto de Gobi segue até Ulaan Baator, se conecta à Transiberiana em Ulan Ude, margem direita do lago Baikal, na Sibéria, sudeste da Rússia. Encontra-se,próximo à cidade de Saynshand uma das ruínas históricas importantes, o Monastério Budista Khamarinn.Na época do stalinismo, o exercito soviético saqueava as relíquias sagradas do povo mongol. Antes de o templo ser destruído, os monges budistas esconderam nas areias do deserto de Gobi, as 64 Arcas Sagradas com os tesouros do monastério.Parte desses tesouros já foi desenterrada Monika Gryczynska 25 Um olhar sobre o Mundo pelos monges e está exposta no museu de Saynshand e uma parte está perdida na areia do deserto. A Província de Sükhbaatar, capital Baruun-Urt, localiza-se na parte sul das Grandes Planícies Orientais da Mongólia, a 220 km a leste de Saynshand e estende-se até a fronteira chinesa. O campo vulcânico Dariganga, localizado no sudeste da Mongólia, perto da fronteira da China, pertence à região que inclui a vasta estepe de Dariganga, que é salpicada de crateras de lava vulcânica e cones de cinzas, de mais de 220 vulcões extintos. Vulcões ativos na época do Pleistoceno e Holoceno, por volta de dois milhões de anos atrás. Os cones variam de 25 a 300m de altura. Ergue-se ali o vulcão sagrado Altan Ovoo de 1.354 m de altitude, vulcão extinto. É adorado por povos Dariganga que habitam as regiões da Província de Sukhbaatar e todo território a nordeste da Província de Dornod até à fronteira leste chinesa e as margens do rio Onon. Grande parte da população Dariganga (40.800 em 2010), está localizada na parte sul da Província de Sukhbaatar (antiga Dariganga Khoshun, que tomou o nome da montanha Dari Uul e do lago Ganga), em um planalto vulcânico nas proximidades do deserto de Gobi.Os Dariganga pertencem a um grupo oriental de mongóis, que incluem os khalkha, os buriatas e a maior parte de chineses.Na grande maioria são pastores nômades, mas há uma parte da popu-lação Dariganga que trabalha nas fazendas agrícolas e nas indústrias. Com a facilidade de viajar em veículo 4x4, foi lhes possível ter acesso à áreas mais remotas, onde a magia do lugar selvagem se revela em cada canto.Ao pôr do sol que lançava raios dourados e carmesim sobre os paredões de pedra com profundas cavernas, viram do topo de uma cratera vulcânica uma paisagem exótica,como se tivessem ido à lua.A maior parte do território é elevado de 1.000 a 1200 m acima do nível do mar. Monika Gryczynska 26 Um olhar sobre o Mundo Possui dunas de areia, pequenos lagos, nascentes e córregos.Animais de estepe habitam a área: antilopes, marmotas, lobos, raposas, texugos, gambás, coelhos, porcos-espinho, veados, cabras, ovelhas argali. Sobre o céu azul voam aves como a pomba, águia, abutre, cotovia, andorinha, corvo, papagaio, falcão, gavião coruja, pega, poupa; também vivem perdizes na área, o cisne selvagem habita os lagos de Dariganga. Fósseis de animais pré-históricos e de plantas são encontrados nas areias do deserto. Os pesquisadores Rodrigo e Álvaro junto com o professor e intérprete Gaudhan Khulan decidiram mudar a direção da viagem, seguiram para o norte. Deixaram a Dariganga,o deserto de Gobi e suas areias para conhecer a estepe.Em Saynshand encheram os dois tanques de gasolina e seguiram por uma estrada de terra que os levou pelas montanhas Arts Bogdyn.A medida que deixavam o Gobi, a paisagem torna-se menos austera dando lugar a pequenos arbustos e a pastos verdejantes.Das encostas pedregosas surgem nascentes de água, formam-se riachos e rios.Nas estradas não há setas ou tabuletas com indicação de distâncias ou direções.Viajar pelo interior da Mon-gólia é seguir os rastos dos pneus anteriores e confiar nos conselhos de gente local, se as conseguir encontrar, o que é uma tarefa difícil. Também não e fácil localizar esses caminhos indicados por eles. De Saynshand dirigiram-se para Arvaikheer, onde passaram a noite,desta vez com mais conforto, num hotel local, com banho quente e alimentação adequada, quando puderam recuperar as forças para os dias que se seguem. Arvaikheer é uma cidade pequena do interior, mas tem um mercado bom, onde nossos exploradores puderam se reabastecer de alimentos frescos para o resto da viagem. .Estavam de novo no centro geográfico da Mongólia, a curta distância do verdejante Vale de Orkhon. Deixaram Arvaikheer e seguiram para a região montanhosa de Orkhon, via Bat-Olziy e a sua nascente de água quente. Exaustos, Monika Gryczynska 27 Um olhar sobre o Mundo dormiram em gher dos nômades, ao lado da cascateante queda de água do Orkhon, um lugar espetacular, próprio para entregar-se a devaneios.A mudança do panorama era total. Os verdes tomaram conta da paisagem.As árvores substituíram as dunas de areia, o som da cascata tomou o lugar do uivo continuo do vento do deserto. Passaram aqui dois dias e duas noites apreciando a beleza do lugar, o deslizar manso das águas, as manadas de cavalos e yaques pastando nos campos,os rebanhos de ovelhas e cabras.Nas águas do Orkhon encontram-se peixes, como o lúcio, a carpa,a perca,o bagre e taimen. O Vale do Orkhon, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, é considerado berço da civilização nômade mongol no decorrer de mais de dois mil anos. O Vale possui muitos outros sítios arqueológicos como: Memoriais Turcos do princípio do século VIII, dedicados à Bilge Kagan e seu irmão Kultegin, onde foram encontradas as inscrições de Orkhon e os monumentos dos nômades Göktürk. As ruínas da antiga cidade de Khar Balgas, fundada em 751 a.C.capital do Império dos Turcos Uygures, que cobre 50m² e que contem ruínas do palácio, de lojas, templos, mosteiros, etc. O Eremitério de Tovkhon localizado no topo de uma montanha. As ruínas do palácio mongol do século XIII, na colina Doit, que se presume ter sido residência de Ögedei Khan. Depois de deixarem o Vale de Orkhon a primeira paragem após 373 km rodados (50 km por hora) e dois pneus furados chega-ram em Kharkhorin, cidade que existe hoje junto as ruínas de Karakorum, antiga capital da Império Mongol de Genghis Khan, do século XIII. O grupo ficou alojado em ghers de famílias mongóis,na redondeza de Kharkhorin, com vista esplêndida para o Mosteiro Erdene Zuu Khüd,o primeiro mosteiro budista estabelecido na Mon-gólia; destruído durante os expurgos stalinistas da década de 1930. Foi reconstruído em parte, após o colapso do comunismo em 1990. Monika Gryczynska 28 Um olhar sobre o Mundo Depois da visita ao mosteiro e de uma passagem pelo mercado da cidade, os pesquisadores continuaram a viagem para Tsetserleg, onde chegaram à tarde.Tsetserleg é a capital da Província de Arkhangay, é uma bela cidade, rodeada por montanhas, com ruas arborizadas.Tem um agradável mercado, pequeno, mas bastante sortido, com muito artesanato e verduras frescas. Na praça visitaram um belo templo e o museu da Província de Arkhangay.Esta noite dormiram num hotel que lhes lembrou o conforto do mundo ocidental, banho quente, boa cama e comida a gosto. Deixaram Tsetserleg pela manhã, a estrada de terra seguia por uma região montanhosa.Á esquerda estendia-se a cordilheira Khangay Nuruu,a segunda maior da Mongólia, onde nascem alguns dos seus mais importantes rios. Após muitos quilômetros de solavancos e poeira chegaram finalmente à afamada garganta do rio Chuluut, que foi devidamente apreciada em sua beleza. Seguindo pela estrada estreita entraram na perigosa passagem do desfiladeiro de Chuluut. A área vulcânica de Turyatu-Chulutu está localizada no norte da Mongólia, cerca de 700 km a oeste de Ulaan Baator e a 170 km de Tsetserleg É uma extensa região, caracterizada por várias crateras de vulcões extintos e o Grande Lago Branco. Antes de chegarem ao Lago passaram pelo vulcão Khorgo.Localizado na Província Arkhangai.O Khorgo, agora extinto, entrou em erupção ao longo de quatro períodos,a partir do Mioceno ao Holoceno A última erupção ocorreu em 2.930 a.C. quando a lava vulcânica bloqueou o leito do rio Chulutu, dando origem ao lago Terkhin-Tsagaan Nuur o (Grande Lago Branco) de águas cristalinas. Uma exaustiva caminhada levou os dois exploradores, Rodrigo e Álvaro, ao topo do vulcão que se eleva a 2400m de altura. Chegaram perto da cratera de cerca de 180m de largura 100 m de profundidade que conserva gelo durante o ano todo.A vista que se descortina do alto Monika Gryczynska 29 Um olhar sobre o Mundo sobre o lago, as montanhas e os bosques de coníferas é algo espetacular.O clima e a água cristalina ofereceu a oportunidade para nadarem nas águas tépidas do lago, pescar e passear a cavalo pelas margens, e descontrair com o vento fresco que vem das montanhas que circundam o lago. O lago faz parte do Parque Nacional KhorgoTerkhiin Tsagaan Nuur. Na manhã seguinte partiram para o norte. Os caminhos da fronteira norte da Mongólia seguem todos ao Parque Nacional do Hövsgol Nuur de 2.760 km², de lago alpino e de dezenas de montanhas, sendo a mais alta a Sardyk Burenkhaan Munku de 3.492 m altura, povoadas de densas florestas de pinheiros, lariços e bétulas e prados a perder de vista. O maior e o mais profundo lago glacial de água doce, o Hövsgöl Nuur, conhecido como a Pérola Azul, ocupa uma depressão estrutural na parte mais setentrional da Mongólia, próximo à fronteira da Sibéria (Rússia).Situado a 1.645 m acima do nível do mar, está cercado pelas encostas das Montanhas Sayan Orientais, tem entre 138 e 267 m de profundidade. - A superfície do lago congela completamente durante o inverno. Hövsgöl é um dos mais antigos lagos do mundo com mais de 2 milhões de anos. A área do lago é um Parque Nacional prote-gido criado em 1997, é tradicionalmente considerado sagrado.O Parque é o lar de uma variedade de animais selvagens, como cabras, argali (carneiro selvagem), lobos, cervos, ursos pardos, alces sibe-rianos. Durante o verão aves migratórias visitam os lagos do norte.As águas geladas do lago Hövsgöl são pobres em espécie de peixes, no entanto, encontra-se a perca, o lenok, burbot e o esturjão. Depois de estudarem as peculiaridades do Parque e do Lago Hövsgöl os dois pesquisadores dirigiram-se para a Reserva Khustain Nuruu National Park para ver os cavalos selvagens da Mongólia.A reserva está situada a 160 km a leste da capital Ulaan Baator.Na área de conservação da natureza, a preservação do cavalo selvagem ou Monika Gryczynska 30 Um olhar sobre o Mundo cavalo Przewalski, é o objetivo principal.Considerado extinto em 1969, verificou-se que alguns cavalos selvagens ainda viviam em zoológicos europeus. Os animais foram trazidos de volta à Mongólia e re-introduzidos ao seu ambiente natural, onde se multiplicaram com grande sucesso, hoje existem mais de 200 cavalos selvagens, é uma raça famosa por seu vigor e resistência. Fotografaram alguns espécimes, junto com as crias, pastando no meio do campo. Durante os três meses de peregrinação pela Mongólia, os pesquisadores brasileiros Álvaro e Rodrigo, enfrentaram o intenso calor, insetos, poeira e solavancos; dormindo em ghers, comendo carne de carneiro, cabra ou camelo em todas as refeições, estavam saturados desse tipo de alimento, precisavam de alguma verdura e fruta fresca. A viagem de cerca de 2 mil quilômetros, pelo sul,centro e norte da Mongólia saldou-se em7 pneus furados,uma avaria na em-breagem do veículo e um acidente que resultou num eixo quebrado. Resolveram voltar à Ulaan Baator, procurar um bom hotel para descansar e repor as energias, também para analisar o resultado das pesquisas, inclusive fazer um balanço da situação financeira. Após minuciosa análise do custo-beneficio do empreendimento deci-diram encerrar as viagens pelo país. Acertaram as contas e dispensa-ram Sanchir Yijn com a sua caminhonete. Faltava ainda inteirarem-se da História da Mongólia, matéria que seria explanada pelo professor Gaudhan Khulan, que era mestre emérito no assunto. Dois dias depois, já refeitos, convidaram o professor para a reunião; com essa finalidade foi lhes cedida uma sala privativa. - Bom dia! – cumprimentou o professor ao entrar - si estiverem prontos podemos começar a viajar pela História. - Como vai professor, será um prazer ouvi-lo – responderam Rodrigo e Álvaro, simultaneamente. Já com o gravador ligado. - A Mongólia,é berço de um povo tradicionalmente nômade que em ondas sucessivas, chegou a invadir as regiões civilizadas da Monika Gryczynska 31 Um olhar sobre o Mundo China, Índia, Anatólia (atual Turquia) e da Europa Oriental. Região pouco povoada, tem uma reputação de isolamento. Os seus desertos, o seu clima severo e uma população largamente dispersa de pastores nômades tenderam a mantê-la isolada da vida moderna. A maior parte do território da Mongólia é formada por planaltos e estepes. - Os mongóis antes do século XIII habitavam a região ao sul do rio Kurelen e o Vale do rio Orkhon. Constituem uma das princi-pais etnias do norte e do leste da Ásia, formada por um conjunto de povos que possuem laços culturais e uma língua comum. Física-mente os mongóis diferem de outras raças. São de estatura geral-mente mediana, têm a pele entre amarela e castanho-escura, cabelo preto, liso e grosso, o nariz achatado e curto e olhos pequenos oblí-quos. Eles têm as maçãs do rosto sensivelmente mais salientes que o queixo. Poucos deles têm barba, e quando a possuem é bastante rala. - A vida era dura para os mongóis, habitantes das estepes nevadas, estéreis e poderosas, das terríveis planícies vazias,das montanhas vermelhas e escarpadas, dos desertos secos e arenosos. Ven-tos e poeira, relâmpagos e granizo, trovões e raios, gelo e tempes-tades, eram seus companheiros do dia-a-dia.Não conheciam um lar duradouro, esses nômades, sim, precisavam viajar com as estações, fugindo das tempestades de neve dos mais aterradores invernos, e fugindo no verão, do calor escaldante, da seca e das tempestades de areia do deserto.A fome era o espectro que se sentava com eles em cada refeição, mesmo que aquela fosse abundante. - Basicamente, os nômades viviam da carne de carneiro e de cavalo, do cúmis, que é o leite fermentado de égua, do queijo e de milhete. Algumas tribos cultivavam cereais nos vales de terras mais férteis.A alimentação nas estepes era carnívora, pelo fato de as terras serem estéreis, portanto, escassas em vegetação para o consumo humano.Um cavaleiro mongol colocava uma porção de carne em baixo Monika Gryczynska 32 Um olhar sobre o Mundo da sela de sua montaria e quando tinha fome era só tirar e comer, pois estava salgada com o suor e assada com calor do cavalo. - Mesmo produzindo algum tipo de cultivo agrícola, os mongóis eram em grande maioria nômades. A vida era difícil, primeiro pelo perigo de conflitos e ataques de inimigos. Segundo, o clima que variava sempre, de dia era o sol escaldante e a noite o vento forte de frio cortante. Ocorriam constantes mudanças de lugar devido a ameaças de inimigos ou em busca de pastos para seus reba-nhos.Nessas ocasiões todo o ordu (aldeia) punha-se em movimento. - Deslocavam-se com suas tendas (yurte,gher),feitas em estruturas de forma afunilada, sustentadas por estacas de madeira, as paredes e o teto forrados com couro de boi,de lobo ou de cervo, o chão da yurte era forrado de peles de animais ou de ricos tapetes roubados nas incursões às tribos inimigas.Na entrada da yurte eram colocadas plataformas de madeira e a porta era protegida por abas de couro de boi, bordadas finamente. O teto possuía uma abertura que permitia a entrada de luz e a saída da fumaça do braseiro alimentado por estrume de gado ou de cavalo,que ardia no meio da yurte. - Quando começava o inverno e fazia muito frio, estava na época de deslocar-se a procura de novos pastos. Gado, ovelhas, camelos e cavalos, inquietos, eram ouvidos na sua agitação.Com as primeiras nevascas punham-se a caminho, movendo-se com rapidez, pois a cada hora o clima mudava, o vento ficava mais áspero e cortante.Areia misturada com neve fustigava-lhes o rosto.As mulhe-res e crianças encolhiam-se dentro das suas yurtes (gher) agasa-lhando-se contra o frio.As tendas estavam todas ligadas umas às outras movendose como uma unidade fluida, cada varal preso ao eixo do veículo seguinte. - Eram colméias de feltro negro arredondadas rolando sobre plataformas de madeira, puxadas por bois arquejantes, que roncava, gemia e balançava.Rodavam vagarosamente; estranhos panoramas se Monika Gryczynska 33 Um olhar sobre o Mundo apresentavam diante dos olhos; cadeias de montanhas negras e recortadas com picos afiados como navalhas erguiam-se contra os horizontes das estepes cobertas de neve e de gelo lívido, salpicadas de crateras alcantiladas de vulcões extintos.Desciam por vales amp-los e extensos cortados por cursos de água congelados, juncados de tamaricáceas e capins altos, ásperos, cinzentos, murchos ou secos. - O ordu era a única coisa que se movia no deserto colossal. Assemelhava-se a uma vagarosa fila de formigas, arrastando-se através dos desfiladeiros, das montanhas, lutando para subir os íngremes planaltos, dirigindo-se para o norte, procurando pastos verdes para seus rebanhos.Passavam por florestas cinzentas, cujas árvores desfolhadas e retorcidas,contorciam-se com o vento forte, como que torturadas, e pareciam inclinar-se na direção do ordu como fileiras de monstros ameaçadores. Muitas vezes, à medida que as estações se sucediam, os mongóis nômades, fizeram essa viagem através de montanhas e do deserto, de planaltos e despenhadeiros, leitos de rios secos e planícies pedregosas, fugindo do inverno. - No seu caminho de volta para os pastos de verão eles encontravam a relva exuberante, as árvores e tamaricáceas com folhagens verdes e brilhantes e léguas de deserto cobertas de flores multicoloridas. O inverno de violentos crepúsculos vermelhos, brilhando sobre lagos congelados e tundra branca tinha terminado. Às vezes quilômetros e quilômetros de flores brancas inclinavam-se ao vento suave e fresco, e pétalas azuis, rosas, douradas e escarlates derramavam-se pelos vales, planícies, planaltos, barrancos de rios, como um imenso tapete persa. - Os pássaros cortavam os céus azuis e ardentes e seus cantos melodiosos enchiam o deserto de sons emocionantes. A vegetação, desde as árvores tortas e raquíticas do Gobi à relva espessa e as flores, desabrochavam durante a noite numa orgia de vida, e o ar inteiro se enchia de sons do crescimento febril.Os ventos vinham carregados dos Monika Gryczynska 34 Um olhar sobre o Mundo odores da fecundidade, e quando as chuvas torren-ciais desabavam os aromas tornavam se por vezes sufocantes. - Passado o inverno os pastores e guardadores de gado tangiam de volta seus rebanhos. Nuvens de poeira cinzenta e dourada dançavam em volta deles e a atmosfera do deserto ardente e sufo-cante, estava cheia de seus berros roucos e gritos estridentes dos pas-tores. O gado mugia, andando através dos caminhos tortuosos por entre os vales e montanhas escarpadas.A aldeia de tendas dos mon-góis Yasoun ou Sakhas assentava-se no vale do rio Orkhon, e era na direção desse rio amarelo-pardo que os guardas dos rebanhos conduziam os animais para beberem água.Podia-se contar centenas de cabeças e feixes de chifres, um mar de caudas e de ancas peludas, uma floresta de pernas e cascos que passavam em torvelinho de poeira que tudo envolvia. Dezenas de crianças nuas, de olhinhos oblíquos e cabelo preto brincavam no cascalho cinzento do rio. - Nesse momento, outros pastores se aproximavam conduzindo garanhões selvagens e irrequietos, éguas e suas crias. Seus olhos selvagens brilhavam através da poeira. Seus corpos eram recobertos por um pelo espesso, cinzento, e com as longas caudas espantavam os enxames de insetos que os ferroavam. Os guarda-dores, a cavalo, gritavam, tangendo os animais com varas compridas. Esses domadores eram mais selvagens do que os garanhões, e mais ferozes, seus olhos pardos cintilavam furiosos. Os rostos escuros brilhavam de suor e os lábios estavam rachados pelo calor e poeira.A gritaria era ensurdecedora e o fedor insuportável. - Os caçadores seguiam-nos montados em pequenos e ágeis cavalos árabes carregando os frutos da caça, presos com cordas em frente deles: antílopes e lebres, porcos-espinho, aves e raposas, mar-tas e faisões.Grandes fogueiras escarlates começavam a arder entre as fileiras de yurtes e tochas crepitantes começavam a dançar por entre as fileiras, e o céu tomava rapidamente a cor de púrpura da noite do Monika Gryczynska 35 Um olhar sobre o Mundo deserto. Sob os pés das pessoas, a terra ainda estava quente do calor escaldante do dia. O sol estava se pondo e o céu escurecia. - O poente, para os lados do rio Orkhon de águas amarelocinzentas, demarcados pela vegetação baixa e irregular cinza-esverdeada, constituía um espetáculo uniforme.O horizonte era de um vermelho palpitante marcado por milhares de pequenos penhascos negros aguçados como dentes. Para o leste, o céu sem fim era dum róseo mesclado, resplandecente. A abóbada do céu perdia-se em imenso nevoeiro fulvo, as colinas entalhadas e torreadas, projetando-se íngremes, eram baluartes inexoráveis esculpidos em pedra vulcâ-nica pelos ventos do deserto. - O imenso e desolado silêncio do Gobi parecia ter caído do infinito sobre a terra, e até mesmo o sussurro do rio Orkhon, ama-relocinza perdia-se naquele silêncio.E de novo os ventos carregados de gelo, ululantes, repletos de ecos misteriosos, soprando, chegando dos céus com asas de horror, assaltavam a terra arenosa do Gobi e enchiamna com os sons dos assobios e uivos tremendos,levantando em redemoinhos a areia do deserto.As vezes o terrível silêncio era abalado por trovões e raios,os nômades supersticiosos ficavam aterrorizados,detinham-se e murmuravam preces à “Khokh Tengger, o Senhor do Céu Azul”.O zênite estava semeado pelas cintilações das milhares de estrelas, aterradoras, gélidas, distantes. - De repente, a imensa noite do Gobi era cortada pelos sons angustiosos e doces, selvagens e solitários de uma flauta, que inundavam a alma de uma melancolia dorida. A voz da flauta gemia, soluçava, suave e frágil, mas, no instante como por encanto, seu som tornou-se triunfante, sua nota intensa cortou o céu sem iluminá-lo, invadindo-o completamente.Ampliava-se no caos da eternidade e ardia ali, bela, pungente e provocante. Era a alma do homem, sitiada e alheia, perdida, pequena, brilhante, atacada por todos os ventos do céu e do inferno, buscando plenitude e vida. Sua voz trêmula falava de amor, de Monika Gryczynska 36 Um olhar sobre o Mundo Deus, de dor, mas sempre de esperança e de fé, mesmo em meio a seu desamparo na imensidão do deserto. Na alma dos nômades havia um sentimento irresistível de liberdade, como a ânsia dos pássaros migratórios, que voam pelo instinto alheio a razão. - As antigas lendas dos mongóis falavam, que milhares de anos atrás, um poderoso império se situava ali onde hoje fica o deserto de Gobi, com cidades fulgurantes de vida, comércio e agitação. Ali tinham existido templos e mercados, academias e esco-las, parques com fontes de água e ruas apinhadas de gente, palácios e inumeráveis casas, jardins, lagos, piscinas públicas e terraços. Ali tinham se erguido muralhas e portões de bronze; havia o burburinho das caravanas chegando e outras partindo, entre o resmungo dos camelos, o relinchar dos cavalos e ladridos de cães, os mercadores regateavam nos ricos bazares de centenas de cidades prósperas. - Para onde tinha ido tudo isso? Por que desaparecera? Esse mundo de fartura e riquezas se desfizera em areia. Imperadores tinham cavalgado por ruas agora enterradas na areia, o vento rodopiava a poeira onde outrora exércitos montados em seus ágeis cavalos desfilavam em meio a uma floresta de lanças Agora, o opressor e o oprimido jaziam lado a lado, insignificantes, esquecidos na tumba do nada.Multidões tinham chorado ali,e se alegrado, e delas não restara nenhum vestígio além do vento vergastando feroz e irresistível, varrendo o deserto, com o som de tambores ressoando em surdina e o silêncio da morte, refletidos no céu azul pálido e frio. - Segundo essa antiga tradição o atual deserto de Gobi, já foi uma região fértil, com uma grande planície cultivada e com milhares de habitantes. Até o século VII, as tribos uygures possuíam um extenso Império na Mongólia Central, com a capital Karakota. Esse Império já existia há 18.000 mil anos a.C. se estendia por toda a Ásia, desde o Pacífico, através da China, Mongólia, Ásia Central até o Mar Cáspio. Seu apogeu foi até 15.000 a.C.o declínio aconteceu no fim da Era do Monika Gryczynska 37 Um olhar sobre o Mundo Gelo. Os uygures herdeiros do poder turco do Vale do Orkhon formaram povoados ao redor dos oásis. Outra cidade que foi habitada pelos uygures, Onjin, estava situada nas areias do Deserto de Gobi.A região do Gobi foi se transformando, paulatinamente, de uma região fértil em deserto árido,o que não favorecia a agricultura e a fome assolou o país,levando ao declínio da civilização uygure. - O povo uygur não é de origem mongólica, mas da família caucasiana, aparentados com os turcos-orientais, embora havia séculos habitassem a Mongólia.O uygure é uma língua do ramo turco-oriental. Formavam um Estado muito poderoso e florescente, com uma cultura que lhes vinha da Pérsia, da Índia e da China,.tinham alcançado um alto nível de civilização, conheciam a arquitetura, a medicina, matemática, astrologia, mineração, produção têxtil e agricultura e as praticavam com grande habilidade e conhecimento. - A sua hegemonia desapareceu no século IX (ano 847), sob os ataques dos quirguizes nômades; conservaram, contudo, o seu particularismo, até sob o domínio mongol, russo e chinês. Foram os educadores dos povos turco-mongóis. Os uighures migraram para o oeste, os seus descendentes encontram-se entre os turcomenos, usbeques e na província chinesa de Xinjiang Uygur Zizhiqu. - Os mongóis, não foram os primeiros povos das estepes a fundarem poderosos impérios, antes deles, o mundo já havia conhecido o império dos uygures, dos citas, dos hunos, dos persas, dos turcos seljucidas, dos chineses. Os mongóis já existiam há vários séculos, mas suas origens ainda são desconhecidas. Os relatos mais antigos datam do século VII, especialmente das descrições chinesas; contudo o tronco da família mongólica é bem mais antigo remon-tando há vários milhares de anos atrás, quando migraram do leste, talvez da Região Chinesa, a procura de pastos para seus rebanhos. - Dividiram-se em tribos e clãs que, ora se aliavam e ora guerreavam entre si. Deste tronco familiar, surgiram os povos que Monika Gryczynska 38 Um olhar sobre o Mundo deram origem aos hunos, citas, mongóis, chineses, siberianos e a centenas de povos indígenas das Américas, reafirmando a teoria da migração através do Estreito de Behring. Dai o fato de que todos esses povos possuírem semelhanças físicas.Embora falassem a lín-gua mongol, cultuassem os mesmos deuses, eles se referiam um aos outros pelos nomes dos clãs.Como merkits que eram habitantes das florestas ao sul do Vale de Orkhon, eram hábeis mercadores e artesãos competentes.Outros de turcos-uygures, keraits, yasoun ou sakhas, taijuts, tangutes, tártaros, naimans, e outras denominações. - A primeira menção que se pode identificar com a Mongó-lia nas crônicas chinesas remonta há 2.000 anos a. C. Contudo, os primeiros mongóis de cuja origem se tem certeza são os xiong-nu, do século IV a.C. Os xiong-nu ou talvez fossem os mesmos povos hunos de origem indo-iraniana, os primeiros habitantes do Vale do rio Selenga, que une a Sibéria ao coração da Ásia. Calcula-se que os hunos chegaram á região quatro séculos a.C. Eles criaram um grande Império tribal na Mongólia, quando da unificação da China, sob as dinastias Chin e Han em 221a.C. a 220 d.C. - O Império Huno lutou contra a China durante séculos, se desintegrando no século IV da nossa era, devido às lutas internas. Durante o século V, os hunos de Átila subjugaram quase toda a Europa e atacaram o Império Romano.Foram substituídos por povos turcoorientais,originários das estepes da Ásia Central que se estabe-leceram em toda a região. - Os mongóis conheciam a metalurgia, confeccionavam suas roupas, calçados, acessórios, utensílios, arcos e flechas, laços e outras armas. Sua produção artesanal era na base de madeira, ferro, cascos, chifres, lã, couro e pele de animais. Praticavam o comercio com caravanas da Rota da Seda, como os turcos de Samarcanda e Bukhara e cidades da China, quando não as assaltavam para saquear. Nas comemorações de casamentos, nascimentos ou de vitórias sobre os Monika Gryczynska 39 Um olhar sobre o Mundo inimigos festejavam com música, jogos e corridas, fartavam-se de carne de carneiro ou de cavalo, cozidos em caldeirões, pelas mulhe-res do ordu. Nessas ocasiões embebedavam-se com vinho de arroz. - Os clãs mais poderosos controlavam a atividade da tribo. As famílias de menor destaque pagavam tributos ao clã dominante; se deslocando com suas tendas a procura de novos pastos, acam-pando e guerreando sob as suas ordens. Os animais eram de proprie-dade individual, já sobre a terra existia o direito coletivo da tribo.Os mongóis eram caçadores e criadores de rebanhos de gado e cavalos. Passavam a maior parte da sua vida na sela de seus cavalos das estepes. Aprendiam a cavalgar e usar armas ainda crianças. - Os costumes mongóis praticamente não mudaram desde os tempos remotos, boa parte da sua cultura se conservou ao longo dos séculos até os dias de hoje, como a música e a dança, a vestimenta tradicional, o estilo de vida nômade, o esporte, incluindo as corridas de cavalos e de camelos, lutas de vale-tudo, tiro ao alvo, e a tradi-cional luta de Bokh, praticada há vários séculos, que surpreende-mente não sofreu nenhuma mudança nas regras neste tempo. - Todo homem capaz, em condições de manejar uma arma era guerreiro e caçador. Lutavam sobre um código restrito de disci-plina e lealdade.Quando uma tribo era muito poderosa, organizavam-se em exércitos, muitas vezes de centenas de milhares de homens.Os assaltos,os saques dos acampamentos rivais eram feitos em conjunto, com a captura de gado, cavalos, mulheres e crianças, prisioneiros inimigos e as suas yurtes e todos os demais bens que possuíam,esse era um método de enriquecimento.A história dos mongóis oscila entre estes períodos de concentração ou de dispersão das tribos nômades. - No decorrer do século XI, as tribos turcas a oeste e khitans a leste se confundiam com os mongóis pela similaridade da língua e modo de vida. Os khitans estabeleceram a dinastia chinesa de Liao (907-1125) e passaram a reinar na Manchúria e Norte da China Monika Gryczynska 40 Um olhar sobre o Mundo controlando quase todo o território da Mongólia atual. Os povos nômades da Mongólia formaram um dos maiores impérios a partir de uma série de conquistas militares continuadas por algumas gerações. Entre os séculos XI e XII, um líder tribal chamado Kabul Khan comandava um ordu de 30 mil tendas, ele reuniu as tribos mongóis numa guerra contra a China controlada pela Dinastia Jin, mas foi derrotado, e a unidade mongol foi desfeita. - No sudoeste da Mongólia, à margem das nascentes do rio Orkhon, região que até o começo do século XII, estava sob o domí-nio dos turcos-uigures, Yesukai, filho de Kabul Khan e líder do clã dos mongóis yasoun, da tribo dos Queraitas, raptou Houlun, uma menina pertencente ao clã dos merkits, no dia do seu casamento, e trouxe-a para seu ordu (aldeia de tendas) para que mais tarde se tornasse sua esposa.Ambos os clãs eram inimigos. Houlun teve um filho de Yesukai. A criança nasceu no ano de 1.167, na yurte de seu pai, próximo ao rio Tungel, à sombra das montanhas Burkhan Khaldun O primogênito recebeu o nome de Temudjin. - As antigas lendas xamânicas mongólicas pressagiavam que, Khokh Tengger, Senhor do Eterno Céu Azul, enviaria do céu um lobo cinzento que devoraria o mundo.Para muitos este lobo cinzento fora Temudjin que afirmava ser de ascendência divina.Conta, ainda, a tradição popular que Temudjin, ao nascer trazia preso no pequenino punho um coágulo de sangue, augúrio da sua ferocidade e sede de sangue quando adulto. - Ele teve mais 6 irmãos: o mais velho Bektor, ao qual Temudjin matou ainda criança, num acesso de fúria por julgá-lo um traidor, Belguthei, Khasar, Subodhai, Ogodhei, Jussi e Jamuga, de origem naiman, irmão de sangue, que já adulto foi morto por Temudjin por suspeita de deslealdade para com ele; teve ainda deze-nas de outros meio-irmãos, pois na cultura mongol a poligamia era permitida, um Monika Gryczynska 41 Um olhar sobre o Mundo homem poderia ter tantas esposas quantas conseguisse manter de forma digna. - Temudjin era descendente de Bodeontchar “o Homem de Olhos Pardos”,ancestral do antigo povo da linhagem do lobo cin-zento que, conforme a lenda, concebera os mongóis yasoun (sakhas), uma tribo com tradição de poder; neto de Kabul Khan, maior líder dos mongóis yasoun até então. Quando completou nove anos de idade seu pai Yesukai, decidiu que era hora de arrumar uma esposa para seu filho. Foram até outro clã e lá ele se tornou noivo de Börte, uma menina da tribo Olhod, “os Olhos Pardos”, gente da sua mãe, com qual se casou mais tarde. Enquanto Yesukai voltava para casa, ao anoitecer, ele avistou um acampamento de nômades tártaros, ali ele pediu hospedagem por uma noite, embora fossem inimigos, era costume entre as tribos de não negar hospitalidade a ninguém. Comida e bebida foram servidas á ele em abundância e Yesukai fora envenenado pelos tártaros; dias depois veio a falecer no seu ordu. - Com a morte do pai, Temudjin aos 9 anos de idade,como primogênito,era o sucessor direto e agora líder do clã dos yasoun. Contudo os aliados do seu pai se recusaram a aceitar a liderança de um menino, abandonaram-no nas estepes, junto com a mãe e seus seis irmãos, a pura sorte. Ele fora traído pelos antigos aliados do seu pai. Embora fosse ainda uma criança Temudjin não desistiu, mesmo quando os merkits, inimigos do seu clã, lhe roubaram Börte, a sua meninaesposa, a qual recapturou meses depois, pedindo ajuda a alguns clãs amigos. Atacou e derrotou a tribo inimiga, matando e escravizando os adversários. - Esse ato de bravura angariou-lhe a simpatia dos outros clãs mais poderosos. Desse tempo em diante Temudjin passou a ser identificado como um valente e corajoso guerreiro. Já não era apenas um baghatur das estepes, mas reconhecido chefe duma tribo forte, e como tal começou a usar, preso ao cinturão, um punhal chinês craveMonika Gryczynska 42 Um olhar sobre o Mundo jado de pedras preciosas, roubado por seu pai no assalto à uma caravana de um mandarim chinês. - Temudjin, desde menino foi destemido, de caráter arrogante, ágil e veloz como uma raposa, tinha o olfato de um animal acostumado ao perigo, percebia tudo; seu olhar de águia era rápido e penetrante, o gesto curto e decidido Quando adulto, a combinação violenta de brilho selvagem e sombra no rosto, dava à expressão da face ao mesmo tempo bárbara, feroz e fria. Era dado a paixões e acessos de cólera, mas havia nele algo superior aos outros homens. - Era um homem sombrio, violento e implacável, inflexível e inexorável. E, contudo existia nele o melhor da generosidade e da audácia mongóis, e a sua palavra, uma vez dada a um amigo, nunca seria quebrada. Ele era honesto, com aquela honestidade mongol, simples e primitiva. Muito inteligente e ambicioso, não se limitava a ser apenas líder do clã dos yasoun (sakhas), ambicionava mais, muito mais,ele queria o mundo, então partiu para sua conquista. - Primeiramente convocou Koschu, o xamã da tribo sakha. Sabia que os xamãs e os sacerdotes são elementos indispensáveis e necessários, de outra maneira não haveria baghaturs, poderosos khans ou outros opressores do povo mantendo-o na sujeição.Eles escravizam os homens com palavras, para que eles continuem a obe-decer-lhes e servir-lhes.Ele conhecia bem a utilidade do terror. Por sua ordem o xamã invocava os espíritos e anunciava ao povo que tivera uma visão profética, falava com voz premonitória às multidões de nômades: - “Temudjin nasceu para ser o Senhor do Gobi e aquele que o seguir, seguirá a glória, a vitória e terá muitas riquezas. E aquele que não o seguir, os espíritos do Céu Azul o amaldiçoarão para sempre e terá uma morte horrível, cheia de sofrimento”. - A religião dos mongóis naquele tempo e ainda continua sendo para 32% da população, é o xamanismo. Xamanismo é um termo genérico para se referir a praticas de curandeirismo, feitiçaria, mágicas, Monika Gryczynska 43 Um olhar sobre o Mundo fetichismo, animismo, entre outras crenças místicas. O xamanismo era cultuado e praticado por diversos povos nativos da Ásia, Europa, África, Oceania e das Américas. - O xamã era uma mistura de adivinho,feiticeiro e sacerdote, logo, em algumas culturas ele é visto como o intermediário entre os homens e os deuses, possuindo poderes mágicos e até proféticos, portanto, era respeitado e temido pela maioria da população.Os mongóis acreditavam em vários deuses, mas especialmente vene-ravam e temiam um deus, Khokh Tengger, o Senhor do Céu Azul, deus dos trovões e tempestades. - Por volta do ano 1.180, aproximadamente 850 anos atrás, esse povo de pastores nômades das estepes asiáticas, donos de grandes manadas de cavalos e camelos, uniu-se sob a liderança de Temudjin de 13 anos de idade, um adolescente valente e astucioso. Convocado a comparecer ao Quriltay (junta deliberativa), lá os che-fes mongóis,decidiram conceder a Temudjin o titulo de Genghis Khan (o poderoso governante).Armados com arcos e flechas, montados nos seus cavalos velozes, iniciaram uma campanha de conquistas territoriais, que mudaria a face do mundo conhecido até então.Os guerreiros mongóis se tornaram o exercito mais temido e poderoso em seu tempo, tão implacável na crueldade, que lhe renderam a fama de bárbaros sanguinários. - O jovem Temudjin, nomeado como Genghis Khan, tinha a pele morena e bronzeada da cor das colinas do deserto. Seus olhos verdes e oblíquos coruscavam chispas de fogo, o cabelo vermelhodourado solto ao vento, relampejava contra o sol poente. Naquele dia ele voltava com seus guerreiros para o ordu, montado no seu garanhão branco com uma cimitarra turca atravessada no cinturão. No caminho pela estepe encontraram uma caravana tártara que era uma escolta para mercadores karaits e naimans que se dirigiam de Catai (China) para a Monika Gryczynska 44 Um olhar sobre o Mundo cidade turca de Karait. Muitos mercadores lhe pagavam tributos para proteger-lhes as caravanas, mas esta não contava com esse privilégio. - A caravana era integrada por cavalos e camelos, levava carregamentos de chá, especiarias, pratarias, sedas, tapetes, manuscritos, instrumentos musicais, roupas bordadas, jóias, turquesas, ar-mas incrustadas de pedrarias e outros artigos de luxo.Os guerreiros mongóis atacaram, saquearam e mataram os tártaros e mercadores karaits. Depois do assalto, carregaram sobre os ombros e as costas os seus quinhões levando-o para suas yurtes.A pilhagem tinha sido excelente.Temudjin escolhera uma belíssima jovem karait para ser sua segunda esposa, trazendo-a para seu ordu junto com o resto do saque sobre o lombo de um camelo. As outras jovens e bonitas mulheres levou-as para seu harém.Durante a vida toda ele teve um apetite sexual insaciável.Foi pai de uma multidão de filhos bastardos. - Em curto espaço de tempo, Temudjin tinha atacado, conquistado e absorvido clãs pertencentes aos merkits, aos naimans, aos uygures, aos tungutes, aos karaits, à confederação tártara e as tribos taijuts.Pelo caminho juntavam-se ao estandarte dos “nove rabos de boi”, centenas de outros homens, com suas famílias, clãs errantes que antes eram inimigos e que agora estavam cheios de temor, revê-rência e admiração por esse yasoun, o Temudjin. Os povos nômades o idolatravam. Chamavam-no de “Falcão do Eterno Céu Azul”.Ele anunciava às multidões de nômades, com voz de um predestinado: - “Foi profetizado em meu nascimento que eu seria imperador de todos os povos das estepes e dos desertos. Seria o mais poderoso de todos os homens, “o Imperador do Mundo”.Pois eu farei do Gobi um Império, e então, o resto do mundo que me aguarde”. - Genghis unificou as tribos mongóis, lhes deu leis e um Império, e tornou os simples arqueiros, cavaleiros nômades, numa máquina de guerra que abalou o Mundo Antigo que, aterrorizado via as hordas de cavaleiros bárbaros, que pareciam invencíveis, mar-charem Monika Gryczynska 45 Um olhar sobre o Mundo em sua direção. Em toda a parte desencadeava-se o Apo-calipse sob sua passagem. Em toda parte,as campanhas relâmpagos traziam vitórias aos guerreiros vindos das estepes.Os Impérios mais poderosos e protegidos pelas muralhas, os reinos prósperos, todos os Estados conquistados não escapavam à carnificina, incêndios e des-truição.As mulheres e homens jovens, eram levados como escravos. - Temudjin, o Genghis Khan, carismático e autoconfiante, começou com um exército de 25.000 guerreiros. Antes de Genghis, outros khans tentaram unificar as tribos mongóis mas falharam muitas vezes. No ano de 1206, já aos 49 anos de idade, após 30 anos de ataques a clãs inimigos em guerras de conquista, Genghis, conseguiu unificar todas as tribos mongóis em torno da confederação do Gobi, graças a sua capacidade política e militar.Foi adicionando forças unindo e subjugando tribos nômades, tais como os tártaros que mantinham guerra com as outras tribos. Os homens dos povos dominados eram anexados ao exército, eram divididos em várias divisões, para que não pudessem conspirar contra os líderes. - O soldado mongol não recebia soldo nem outro pagamento além dos saques efetuados nos ataques aos inimigos. A habilidade de mover-se rapidamente e uma reputação de crueldade os precedia. Os mongóis lutavam como arqueiros leves da cavalaria, usando o arco e a flecha compostos; com alto poder de penetração e alcance. Eram excelentes em planejarem emboscadas e ataques surpresa. Temudjin era um homem sábio e feroz. Distribuía os despojos das incursões a tribos inimigas ou das caças, de modo igualitário, com eqüidade. - Na qualidade de líder dos guerreiros mongóis, Temudjin conhecia a paralisante força psicológica do terror e da superstição. Os lideres do exército mongol faziam uso pleno do pavor; massacravam a população de uma cidade inteira, invadida, para com facilidade conquistar a cidade seguinte que, aterrorizada, desistia de lutar.No final Monika Gryczynska 46 Um olhar sobre o Mundo não eram só as hordas que derrotavam o inimigo, era o nome terrível de Temudjin, místico e invencível. - Seu primeiro alvo era os velhos inimigos dos mongóis, os chineses da Dinastia Jin, formada por tunguses vindos da Sibéria. Primeiro atacou a parte norte da China. Nessa época, o Império Chinês estava dividido sob o poder de três grandes dinastias, no norte a Dinastia Jin, a noroeste a Dinastia Tangut, ou Si Hia e ao sul, a Dinastia Song. Em 1215, Pequim, a capital do Império Chinês fora conquistada, pilhada e incendiada. Terminada a guerra da China, Genghis Khan vai se voltar para oeste, em direção da Ásia Central, dominada nessa época pelo Canato Kara Kithai e pelos turcos-uygures. Subjugou os dois Canatos e anexou-os ao Império Mongol. - Depois do massacre de Pequim, muitos habitantes da cidade foram mortos e milhares foram escravizados. Dentre os que foram feitos escravos estava Ye Liu Chutsai, príncipe e general de Catai,um sábio chinês.De imediato, pela sua grande sabedoria Chutsai impressionou Genghis Khan que lhe concedeu a liberdade e deu-lhe o importante lugar de Conselheiro. Chutsai com seus sábios conselhos teve uma participação fundamental no governo de Genghis Khan, foi o responsável por uma mudança radical na política do conquistador: a destruição foi substituída pela utilização. - Ye Liu Chutsai mostrou a Genghis Khan o quanto poderia ser lucrativo apenas conquistar a China, sem destruí-la. O sábio fez o imperador perceber as imensas vantagens que a avançada civilização chinesa poderia oferecer aos incultos mongóis. Foi graças à Chutsai que o objetivo das campanhas de Genghis contra cidades mudou de destruição para conquista.Com os conselhos de Chutsai, de que sempre haveria algo a ser aprendido com os povos conquistados; os melhores guerreiros podiam ser incorporados aos exércitos mongóis. Assim ele procedeu quando da conquista das tribos tártaras. Os guerreiros prisioneiros, suas esposas e filhos, seus cavalos, seus reMonika Gryczynska 47 Um olhar sobre o Mundo banhos e yurtes, incorporou ao seu Império.Os soldados tártaros férozes e selvagens,combatiam com o simples terror de meros animais. Ye Liu Chutsai, o grande sábio chinês, prognosticava que, - “Apesar das guerras e da destruição, o espírito de esperança, paz e amor, não morrerá. Mesmo que advenham a escuridão e a fúria, ele viverá! É da natureza do próprio mundo que embora desabe a tempestade e a floresta seja despedaçada, embora o vulcão derrame sua lava sobre as plantações, embora o inverno queime os pastos,haja uma primavera da terra e da alma e tudo cresça e flores-ça de novo”.- Esta é a lei da Natureza. - A Mongólia é herdeira do Império Mongol, que no ano de 1215, se estendia da China através das estepes da Ásia Central, até as margens do Mar Cáspio,incluída toda a área dos atuais Cazaquistão, Usbequistão,Turcomenistão,Tadjiquistão,Pérsia (Irã), Armênia,Georgia, partes do Afeganistão, do Iraque, da Índia e da Rússia, domina-va parte da Ásia e da Europa, sob o comando de Genghis Khan.Seus descendentes avançaram sobre toda a Rússia européia, parte da Polônia, Bulgária e Hungria, além de fazer dos turcos seljúcidas, dos reinos de Burma, Anan e Champa, seus vassalos. - Antes de sua morte, Genghis Khan dividiu o Império em 4 setores, a serem governados por seus descendentes, mas subor-dinados ao Grande Khan. Djothci, era o 1° filho de Börte, a menina-esposa de Temudjin, que criou Djothci como seu primogênito. Porém, persistia a dúvida sobre a verdadeira paternidade do menino, se o pai era Chilger Boke, da tribo merkit,que havia raptado Börte, logo depois do casamento com Temudjin, e a aprisionado durante alguns meses, ou Temudjin que a resgatou num assalto à aldeia dos merkits.Esta incerteza levou Genghis a nomear o 3° filho, Ogodei Khan,como seu sucessor. - Djothci tinha morrido em batalha, na China em fevereiro de 1227, e seus domínios ficaram para seu filho Batu Khan. O 2º filho de Monika Gryczynska 48 Um olhar sobre o Mundo Genghis, Djaghatai Khan ficou responsável pelo governo da Ásia Central, com o Canato de Kara Khitai e parte do Sultanato de Khwarzm. Ogodei Khan, o 3º filho, ficou com o Canato dos Uygures e o antigo país dos Naimans. Finalmente o caçula, Tolui Khan, ficou responsável pelo restante do Império e administração da casa pátria. - Quando Genghis Khan morreu em 18 de agosto de 1227, aos 60 anos, foi sepultado aos pés da Montanha Burkhan Khaldun, no maciço Khentii. Para sucedê-lo foi eleito pelo Quriltay, em 1229, Ogodei Khan como 2º Imperador Mongol.Em1236,Ogodei Khan, ocupado com a guerra na China,ordenou a Batu Khan, filho de Djothci e ao general chefe dos tártaros Subotai, para que seguissem para Oeste conquistar a Rússia e a Europa. Em 1237, liderando um exercito de 150 mil ferozes cavaleiros das estepes, atacaram, destruíram e saquearam a cidade de Kiew, (Ucrânia) e ocuparam a cidade de Moscou, num assalto relâmpago, em pleno inverno russo. - Entre os anos de 1239 a 1241, os mongóis continuam se deslocando para Oeste e se atiram sobre a Polônia, sua capital Krakowia é incendiada e a população massacrada. O exercito tártaromongol avança para Hungria e chega perto de Viena na Áustria.Os reis europeus temendo que a terrível horda de bárbaros chegasse às suas terras, foram socorrer Viena. Nessa época, os exércitos mongóis de centenas de milhares de guerreiros eram vistos como uma praga que assolava a Europa. - Os selvagens nômades mongóis, montados nos seus pequenos e ágeis cavalos das estepes, rápidos e precisos no manejo do arco e flecha, traziam a morte e destruição por onde passavam. Algo que a Europa já havia vivenciado oito séculos antes com os hunos, povo de origem mongol, os quais liderados pelo seu maior líder, Átila, intitulado “O Flagelo de Deus”, aterrorizou o Império Romano no ano de 434. Para sorte da Europa, Ogodei Khan morreu em campanha em Monika Gryczynska 49 Um olhar sobre o Mundo 1241.Dessa forma Subotai e Batu Khan suspen-deram as operações militares na Europa e retornaram para Mongólia. - Ogodei Khan estava morto, seu irmão Djaghatai havia morrido no mesmo ano e Tolui, o caçula, havia falecido nove anos antes, portanto, os três filhos legítimos de Genghis Khan, candidatos ao trono estavam mortos, os descendentes de Djothci, considerados bastardos não tinham direito, a solução foi eleger um dos seus netos, assim, o herdeiro de Ogodei Khan, seu filho Guyuk, foi eleito o terceiro Imperador Mongol no ano de 1.242, morreu em 1.248. - Em 1251, o Quriltay elegeu Mongka Khan, filho de Tolui, e neto de Genghis Khan, o quarto Imperador Mongol de 1.251 a 1.259. Após a morte do Imperador, Hulagu e Kublai, irmãos de Mongka e também netos de Genghis Khan, voltaram sua atenção para o sudoeste, em direção ao Califado de Bagdá o qual pertencia a poderosa Dinastia dos Abássidas. Em 1259, as tropas de Hulagu Khan sitiaram Bagdá, a cidade foi invadida, saqueada e destruída, 90 mil pessoas foram mortas na batalha que durou três dias.Kublai Khan estava em campanha no sul da China, quando foi convocado pelo Quriltay para retornar á capital mongol Karakorum. Ele fora eleito o 5º Imperador Mongol em 1.260, governou até 1.294. - Em 1279, Kublai Khan, filho de Tolui, conquistou toda a China e fundou a dinastia Yuan que controlava a China e Mongólia sua terra natal. Uma vez estabelecido o Império veio a grande paz. Por um período, os mongóis floresceram na região das estepes e do norte da China. Em 1294, Kublai morreu na China, e o poderio mongol começou a declinar na Ásia e outras regiões de ocupação. Os 4 Canatos tiveram curta existência, a exceção do Canato da Horda Dourada, na Rússia, onde o domínio mongol durou por 250 anos. Em 1368, o trono da China caiu nas mãos da dinastia Ming. A China invadiu a Mongólia incendiou Karakorum antiga capital do Império, e seu território Monika Gryczynska 50 Um olhar sobre o Mundo permaneceu sob autoridade chinesa até a queda do poder imperial da Dinastia Qing. - Entre 1370 e 1404, Timur Leng (Tamerlão), um guerreiro turco-mongol, descendente de Genghis Khan, fundou o segundo Império Mongol, com as conquistas do Turcomenistão, da Pérsia (Irã), da Siria e da Anatólia (Turquia). Em 1398 saqueou Dheli na Índia, matando 100.000 de seus habitantes. Morreu em 1404, na China.O grande império herdado por seus filhos ruiu após sua morte. - Com o fim do Império, no inicio do século XV, os mongóis voltam a se dividir em tribos hostis. Os manchus aprovei-tam-se da disputa tribal e conquistam o território, dividindo-o em duas unidades políticas.A Mongólia caiu sob o domínio manchu, quando os nobres mongóis khalkha prestaram um juramento de aliança com o imperador manchú. Os manchús, um grupo tribal que conquistara a China em 1644, fundou a Dinastia Qing,que perma-neceu no poder até sua queda em 1911. - Em 1691, o território ao sul e leste torna-se a Região Autônoma de Mongólia Interior e faz parte do território chinês. A região norte e oeste são reunidos em 1759, como Mongólia Exterior. Em 1727, a Rússia e a China manchú concluíram o tratado de Khyakta delimitando as fronteiras entre a China e a Mongólia que ainda permanece até hoje. - A Mongólia ainda é um país economicamente pobre, sendo as atividades primarias a base da economia nacional, enfrenta grandes dificuldades econômicas.Cerca de um milhão de mongóis, ou um terço da população vive no campo,seguindo seu modo de vida nômade,1/3 vive na capital Ulaan Baator, e 1/3 vive espalhada pelas pequenas cidades do interior do país. Desde a queda do comunismo, Mongólia fez quase tudo ao seu alcance para se abrir ao mundo. Porém as antigas tradições sobrevivem e a natureza selvagem é ainda quase intacta.Os problemas socioeconômicos se intensificaram após a transição do Monika Gryczynska 51 Um olhar sobre o Mundo comunismo para uma economia de mercado. Mesmo no século XXI, mais da metade da população da Mongólia vive abaixo da linha de pobreza. - O território mongol é rico em recursos minerais. As entranhas das Montanhas Altai, possuem ricas jazidas minerais. Existem grandes depósitos de petróleo, de carvão, ferro, estanho, cobre, ouro e prata. A Mongólia precisa gerar dinheiro, maquinaria e mão-deobra especializada para explorar tais recursos, sobretudo, depois da retirada dos subsídios e dos 50 mil técnicos e assessores governamentais soviéticos. O elemento russo existente, calculado em aproximadamente 560.000 indivíduos, exerce grande influência no país Estradas em construção é um sinal de forte investimento chinês. - Apesar destes sinais de mudança, encontram-se grupos de nômades, nas estepes, que ainda fazem a mudança de acampamento recorrendo a yaques e a carroças feitas de madeira, levando os haveres das famílias que mudam de lugar várias vezes ao ano. Algo a despertar a atenção são as antenas parabólicas e os painéis solares associados aos ghers. Nas estepes, alguns ghers são transformados em pequenos restaurantes ou até albergues para turistas.Cerca de setenta por cento da terra é utilizada para pastagens onde se criam grandes manadas de gado, cavalos, cabras, ovelhas, yaques e camelos.Cultivam-se cereais, em especial o trigo e milhete nas terras agricultáveis do país, que representam menos de um por cento de todo território. - Não há religião oficial A constituição de 1992 garante a liberdade religiosa.As práticas religiosas tradicionais, entre as diver-sas tribos mongóis nômades é o xamanismo ancestral. (32%), que consiste especialmente em crenças supersticiosas, curandeirismo, sonhos, fantasmas, em práticas de feitiçaria e a adoração ao deus Khokh Tenger, o Senhor do Céu Azul. Entretanto, 28 % da população mongol professa o lamaísmo budista, uma pequena parte pratica o islamismo, existe também o agnosticismo e o ateísmo. Monika Gryczynska 52 Um olhar sobre o Mundo - Os muitos descendentes das tribos que outrora habitavam a extensa região mongol, como os uyghures, turcos, mongóis, caza-ques, usbeques, merkits, keraits, quirguizes, buriatas, tunguses, tártaros, tangutes, chineses, russos, atualmente habitam a região da República Popular da Mongólia, a Mongólia Interior, a China, Manchúria, Sibéria e outras regiões da Ásia Central. - A Mongólia possui patrimônios culturais e naturais da humanidade listados pela Unesco, como: o deserto de Gobi, Khuvs-gui, Gorkhi-Terelj, o vulcão Khorgo, Khan Khentii, o Mosteiro de Manzushiri criado em 1750, abrigava mais de 350 monges e 20 templos, inclusive escolas de medicina, astrologia e filosofia, foi destruído em 1930 pelo governo comunista russo, está sendo reconstruído. A capital Ulaan Baator; a paisagem cultural do Vale do Orkhon, que possui dois conjuntos de ruínas antigas ao longo do vale do rio Khar Balgas, a antiga capital do Canato de Uyghur, e a antiga capital do Império Mongol, Karakorum. Complexos petró-glifos das Montanhas Altai, a bacia do lago Salgado e os campos salpicados de cones de cinzas vulcânicas. A sudoeste, perto da fronteira chinesa, a 560 km da capital, se situa o parque nacional Gurvansaikhan National Park, é um dos poucos parques importantes no deserto de Gobi. - Em 1992, foi criado o Parque Nacional de Hövsgól Nuur, sendo o maior parque constituído por florestas na região. O norte é caracterizado por bosques de coníferas e bétulas. Vivem ali carneiros argali, cabras-monteses, ursos pardos, martas zibelinas, alces e mais de 200 espécies de pássaros, Ainda mais extraordinária é a riqueza da fauna.Existe grande quantidade de animais e um mundo impressionante de pássaros e peixes. A Mongólia é um país de extremos, é incrível como as pessoas, as plantas e os animais sobrevivem a temperaturas extremas de verão e do inverno.As alternativas de temperatura e paisagens, durante todo o tempo são enormes. O frio é algo inimaginável, só o suportam as pessoas já ambientadas. Monika Gryczynska 53 Um olhar sobre o Mundo Um fato intrigante e curioso é a construção de cidades fantasma no norte da China, região de Ordos, parte do deserto de Gobi que pertence à China, na fronteira com a República da Mongólia. São vinte cidades projetadas e seis já concluídas: Erenhot, Ordos, Bayannoo-Er, Zengzhou, Dantu e Xinyang. O projeto bilionário é financiado pelo governo chinês. São cidades construídas com uma infra-estrutura planejada, moderna, para acolher 65 milhões de pessoas. Avenidas largas, praças arborizadas, inúmeros prédios de apartamentos destinados certamente para albergar membros do governo e seus familiares e também cidadãos comuns. O curioso e que mesmo depois de concluídas as cidades ainda estão vazias, não há habitantes. As construções localizam-se no interior, longe da costa marítima A cidade de Ordos vai hospedar os partici-pantes da eleição da Miss Universo de 2012. Rodrigo e Álvaro estavam fascinados pela idéia de ir conhecer as cidades fantasma chinesas. Estavam tão próximos... Mas o fator que os impedia de ir, era que não possuíam a licença necessária para visitá-las. *** Apesar dos transtornos o balanço da viagem pela Mongólia foi super-positivo. Então se voltaram para execução do projeto original, viajar para a Misteriosa Sibéria.O último dia em Ulaan Baator, foi para pegar os passaportes com o visto para o Cazaquistão, e outros países da Ásia Central, região que pretendiam conhecer antes de se aventurar pelo místico território da Sibéria. Para isso, acertaram os honorários e despediram-se do professor Gaudhan. Khulan, que os acompanhou e orientou durante toda a excursão pelo país.Encerraram a conta do Hotel, e se dirigiram à Estação Ferroviária da Transmongoliana.Adquiriram duas passagens de primeira classe, com direito á cabine de duas camas e banheiro. O destino seria a cidade de Novosibirsk, no entroncamento da Estrada de Monika Gryczynska 54 Um olhar sobre o Mundo Ferro Transiberiana com a Turksib, caminho de ferro que os levaria às cidades e estepes da Ásia Central. Saíram de Ulaan-Baator de manhã, o trem fez a primeira parada de 20 minutos em Darhan, depois em Suhbaatar, em Naushki a primeira cidade russa, depois Sliudianka e Ulan-Ude, capital da República da Buriátia.Teriam como primeiro destino a cidade de Irkutsk, na Sibéria, para quem visita o famoso lago Baikal o maior lago do mundo.Eram aproximadamente 666 km, ou 32 horas de viagem de trem, das quais 8 horas iam passar na parada das fronteiras, da Mongólia (2 horas) e da Rússia (6 horas), para troca das rodas do trem para continuar a viagem,o padrão dos trilhos da Transiberiana é de bitola larga. No ínterim teriam que resolver os trâmites burocráticos de fronteira. Oficiais russos entram no trem para verificar os documentos, carimbam os passaportes, verificam o visto e os cartões de entrada no país, pedem a declaração da receita federal e dos valores que os viajantes levam consigo. Na China e Mongólia as estações costumam ter pessoal fluente em inglês, mas os funcionários das ferrovias russas, principalmente nas cidades da Sibéria, falam apenas a língua russa.Outra atenção especial teriam que dispensar ao passaporte. É necessário o visto para entrar na Rússia, na Mongólia e na China e não esquecer de registrar o visto junto ao Departamento de Vistos e Registros, que deve ser feito pela agencia de turismo, ao desem-barcar no país. Ainda na Mongólia os dois viajantes não podiam esquecer de comprar o kit de sobrevivência: sopa pronta, miojo, chá, café solúvel, leite em pó, pão e queijo e duas canecas. Podiam preparar a sua refeição com a água quente do samovar que tem em cada vagão. Também não deixaram de comprar duas garrafas de vodka e rolos de papel higiênico. Os trens russos têm vagões restaurantes, com comida Monika Gryczynska 55 Um olhar sobre o Mundo razoável, mas são muito caros, no entanto, os atendentes do vagão são bastante atenciosos. Após as longas horas de viajem exaustiva de trem, os nossos excursionistas chegaram à cidade de Irkutsk às 16 horas. Cansados e sonolentos, foram informar-se sobre um hotel para se hospedar.Foi-lhes indicada a pousada Baikaler, de localização cen-tral, com todas comodidades, rápido e livre acesso à internet e Wi-Fi, e de preço conveniente.Dirigiram-se para lá.De fato era uma boa hospedaria, então fizeram o check-in e receberam as chaves do quarto.Havia duas camas, banheiro privativo e um bom chuveiro,o que era ótimo, pois necessitavam de um bom banho, isto, depois de dois dias de viajem.Passaram a tarde dormindo.Terminado o jantar foram se informar sobre a contratação de um guia, que falasse inglês. Foi lhes apresentado o senhor Sergei Andreievitch Imanoff, pessoa culta e bem informada. Depois de regatear o preço (costume russo), foi contratado para guiá-los na cidade e na visita ao lago Baikal. Não esperou muito para começar a desdobrar-se em elogios à fantástica beleza, amplidão e riqueza dessa Região e do lago Baikal. Logo de manhã saíram para visitar o Irkutsk Regional Art Museum, fundado pelo prefeito da cidade V.P. Sukachyov, esse Museu é considerado o terceiro maior dos Urais ao Oceano Pacífico, em pri-meiro lugar está o famoso Museu Hermitage de São Petersburgo e em segundo lugar a célebre galeria Tretyakov de Moscou. - A cidade de Irkutsk, capital da Província de Irkutsk,possui uma população de 593.604 pessoas.Os primeiros russos chegaram na área em 1580, buscavam coletar impostos do povo local, os Buriatas, por ordem do príncipe de Moscovo Ivan IV,“O Terrível” que conquistou a Sibéria, durante seu reinado (1533-1584).Foi enviado para explorar a região, o ataman (líder) cossaco Yermak Timoveief, que, com seus intrépidos e sanguinários guerreiros das estepes, percorreu o território siberiano e aventurou-se pelos mares glaciais do Monika Gryczynska 56 Um olhar sobre o Mundo Ártico O ataman Yermak acampou na aldeia de Verkhoyansk, atualmente cidade à beira do rio Yana, no extremo nordeste da Sibéria, é um dos pontos mais frios do globo, chega a 60º graus negativos no inverno e 40º graus positivos no verão.Com suas tropas atravessou o Maciço de Verkhoyansk, que se iguala nos extremos de temperatura.O comer-cio lucrativo de peles valiosas, incentivou os russos a ocupar a Sibéria, que é uma vasta região da Ásia Oriental, outrora ocupada por diversas tribos aborígines e povos de origem turca e mongol. - Diversos fortes foram construídos, como Tobolsk em 1587, Eniseisk, Yakutsk. Em Irkutsk a fixação permanente começou com a construção de uma fortaleza em 1636. A cidade tornou-se um entreposto importante no intercâmbio comercial entre a China e a Europa, no rentável negócio de peles valiosas de animais selvagens, seda, chá e pedras preciosas. De inicio servia como moradia de inverno dos cobradores de impostos, mais tarde residência do governador geral da Sibéria Oriental, Fedor Yelezkoi nomeado em 1595, tendo como sucessor Ivan Mosalskoi, designado em 1598. - A legendária cidade de Irkutsk, centro da região do Angara é a capital da Sibéria Oriental, fundada em 1636, na margem elevada do lado direito do rio Angara, na confluência do rio Irkut. Possui um kremlin, belas e grandes casas de madeira ornadas de esculturas barrocas. É uma cidade admirável, meio bizantina meio chinesa, volta a ser européia pelas suas largas avenidas ladeadas de passeios, atravessada por canais de margens arborizadas.Desde o inicio, a cidade era multicultural e multinacional. - Por três séculos e meio Irkutsk viveu uma vida sofrida, passando por muitas dificuldades, parcialmente ignorada pela capi-tal, Moscou. O pior delas foi o incêndio devastador que durou três dias e noites. A cidade construída de madeira era um inferno ardente, foram necessários dez anos para reconstruí-la. Os pioneiros, cossa-cos, missionários, deportados, comerciantes ricos, intelectuais, gran-des Monika Gryczynska 57 Um olhar sobre o Mundo patriotas e filantropos, pessoas de toda Sibéria e da Rússia, cada uma delas adicionou esforços para reconstruir das cinzas a sua cidade, Irkutsk.Eles construíram hospitais, orfanatos, escolas, biblio-tecas e igrejas. Atualmente é uma grande cidade, próspera e moder-na, cheia de jovens e estudantes. - Irkutsk começou destacar-se no século XIX. Milhares de militares e oficiais superiores envolvidos na revolta dezembrista do ano de 1826, contra o czar Nicolau I, foram exilados para a Sibéria Oriental.Irkutsk se converteu no principal centro da vida intelectual e social de artistas russos, oficiais e exilados políticos, a grande parte do patrimônio cultural da cidade vem deles. Arquitetos talentosos construíram muitas casas de madeira, cheias de cores pastel, ador-nadas com decorações talhadas a mão e as belas mansões de ladrilhos.As áreas da cidade onde os edifícios de madeira dominam são igualmente admiráveis.A cidade se orgulha de sua arquitetura, podem-se apreciar os artísticos elementos de madeira trabalhada em rendilhado. - Platibandas barrocas enfeitadas de espirais graciosos, decoradas com buquês esplêndidos. Ramos de tulipas entalhados sobre as portas e janelas, ventiladores e raios de sol adornando platibandas, as cores de íris finos cobrem as paredes das casas, tábuas rendilhadas dispostas ao longo das bordas de telhados. Isso é um pouco do mistério do trabalho dos artífices carpinteiros peritos na arte barroca. Passear pelas ruas antigas de Irkutsk, faz com que as pessoas possam conhecer melhor a cultura dos antigos eslavos.Hoje, a cidade de Irkutsk, é um dos maiores centros econômicos e culturais na parte oriental do país informou, orgulhoso, o guia Sergei. - Visitaram a histórica Catedral da Transfiguração de Cristo, igreja católica romana, construída em estilo gótico, pelos patriotas poloneses deportados para a Sibéria, em razão do envolvimento no Movimento de Libertação da Polônia do jugo russo, em 1830. Entraram na bela Mesquita Tatar de paredes em azulejos decorados em Monika Gryczynska 58 Um olhar sobre o Mundo arabescos, a grande Sinagoga judaica e a imponente Catedral Ortodoxa Russa de São Nicolas, com ícones e altares dourados e zimbórios bojudos como cebolas. O Patriarca Fiodor Rasgildeev, encontrava-se no interior do Templo, veio receber os peregrinos dirigindo-lhes palavras de boas vindas e benção sacerdotal, em russo. - Á noite luzes brilhantes são ligadas nas entradas das salas de cinemas e dos teatros, fato que os incentivou a assistir no Irkutsk Academic Drama Theater a um documentário sobre a Sibéria. No outro iam visitar o Geological Museum Rossyskaya e o Sidorov State Mineralogical Museum at Irkutsk. Existem ainda dúzias de opções, de restaurantes, shoping centers e o passeio ao lago Baikal. - A cidade de Irkutsk, capital da Província de Irkutsk,possui uma população de 575,9 mil pessoas.A Região de Irkutsk, abrange uma área total de 774,8 mil km², que representa 4,6% do território da Rússia, com uma população de 2.505.577 pessoas (2009). A maioria da população da Região de Irkutsk (79%) vive em áreas urbanas Outras maiores cidades da Região de Irkutsk são:Bratsk, Angarsk, Ust-Ilimsk, Usolie-Sibirskoye, Cheremhovo, Shelekhov.A compo-sição étnica da Região de Irkutsk é de russos 89%, de tártaros 4%, buriatas 3%, ucranianos 2%, bielo-russos 1%, chuvaches 1%. - A distância de Moscou para a cidade de Irkutsk é de 5.042 km. Partem rotas diretas conectando a cidade com outras regiões da Rússia até Vladivostok no Mar do Japão, com á Mongólia e à China pela Estrada de Ferro Transiberiana e seus ramais dentro e fora do pais. A economia da cidade assenta na industria da madeira, do alumínio e dos minerais, a produção do chá, na agricultura e no turismo. É uma das maiores e importantes cidades da Sibéria, com várias universidades, igrejas, e museus históricos, alem do lago Baikal, a uma hora de trem de Irkutsk. Possui um clima subártico, caracterizado por grandes variações de temperatura entre as estações do ano.Os invernos Monika Gryczynska 59 Um olhar sobre o Mundo são muito frios - 17° C a - 43° C, o verão é quente e seco de + 17° C a + 40° C - A flora da Região inclui 1733 espécies de plantas, sendo 605 de plantas medicinais e 224 espécies de plantas comestíveis.A fauna é rica e variada, sendo 68 espécies de mamíferos regionalmente raras, como alce, veado, corço, javali, esquilo, raposa, urso, tigre. 322 espécies de aves, 6 espécies de répteis e 5 de anfíbios.Existe uma imensidade de peixes nos rios e lagos.A Região é rica em minerais.Os principais recursos minerais são hidrocar-bonetos, gás, ouro, mica, ferro, carvão e sal. Existem depósitos de manganês, diamantes, estanho, enxofre.Os recursos de carvão estão concentrados na bacia de Irkutsk (96%) e na parte sul da bacia do Tunguska.As principais indústrias da Região de Irkutsk são: cons-trução de maquinas,siderurgia,mineração,industria química, refino de petróleo e industria de madeira. - A Região de Irkutsk possui uma extensa e bem desenvolvida infra-estrutura de transporte. A principal via de transporte é a Ferrovia Transiberiana e seus ramais, inclusive a Transmongoliana. Da cidade de Taishet para leste, estende-se o trecho leste da Ferrovia de BaikalAmur.Na Região de Irkutsk originam-se os maiores rios navegáveis - o Angara, o Lena, o Baixo Tunguska, que facilitam o transporte por água de um grande volume de cargas.O rio Yenissei nasce na Mongólia setentrional, recebe as águas do Tunguska e do Angara que nasce no Lago Baikal, tem um curso de 5200 km e deságua no Oceano Glacial Ártico.Os rios da Sibéria são preciosas vias de comunicação; a pesca fluvial constitui, por outro lado, um importante recurso para o camponês siberiano.O transporte aéreo, incluindo o internacional é realizado pelos aeroportos situados nas cidades de Irkutsk e Bratsk. - O lago Baikal era conhecido como o Mar do Norte na China Antiga. O explorador russo que veio pela primeira vez ao Bai-kal foi Kurbat Ivanov, em 1643.O Lago fica a 7 horas de carro de Irkutsk, Monika Gryczynska 60 Um olhar sobre o Mundo situado a 455,5 m acima do nível do mar, têm cerca de 636 km de comprimento e 79 km de largura e 1.750 m de profundidade máxima, ocupa uma área de 31.722 km², e uma bacia hidrográfica de 560.000 km².é o maior lago de água doce da Ásia é o mais antigo (25 a 30 milhões de anos).Seus afluentes são os rios Selenga, Chikoy, Khilok, Turka, Sarma, Uda, Barguzin, Snezhnaya, o Alto Angara. - Além desses rios, esse imenso reservatório de água doce é alimentado por mais de trezentos trinta e seis rios menores e pela água do degelo das montanhas. Seu escoadouro é o rio Angara Inferior, que depois de passar por Irkutsk vai lançar-se no Yenissei, um pouco acima da cidade de Yenisseik.A cidade que fica mais perto para ver o Lago Baikal é Listvyanka, é mais turística e tem mais infra-estrutura que Olkhon Island. Acompanhados do guia os nossos pesquisadores saíram de Irkutsk cedinho, chegaram em Olkhon á tarde e hospedaram-se num resort.No outro dia bem cedinho embarcaram na Ferrovia Circum Baikal que contorna o Lago, faz paradas de alguns minutos em lugares muito pitorescos. O lago contém 27 ilhas sendo a maior a Ilha Olkhon.O trem que passa no lado leste do lago, fica circundando essa magnífica paisagem por mais ou menos 3 horas, então há tempo suficiente para admirá-lo.A visão que se tem do lago, especialmente com as montanhas cobertas de neve é simplesmente deslumbrante. Passearam o dia inteiro se deslocando em torno do lago admirando a fantástica paisagem. Depois seguiram para a aldeia Listvyanka com uma parada próximo da Rocha Xamã.Visitaram o Museu de Arquitetura de Madeira com exibição de casas históricas e habitações de povos indígenas, em seguida fizeram uma visita ao parque zoológico com animais nativos. Estava ficando tarde e os nossos exploradores sentiam fome, precisavam jantar. Foi-lhes indicado o restaurante Sibirskaya Zaimka onde saborearam pratos tradicionais da cozinha siberiana. Em seguida Monika Gryczynska 61 Um olhar sobre o Mundo visitaram o povoado de Buryat (povo indígena da Sibéria), que fica a 70 km de Irkutsk, na remota planície siberiana. Pernoitaram num autêntico yurt buriata. O programa do dia seguinte incluía o Museu de Folclore com exposição de artesanato e música com danças típicas, o encontro com o Xamã, espécie de sacerdote, médico e feiticeiro que atua como curandeiro e adivinho entre os povos asiáticos. A convite do mesmo, visitaram seu yurt para sabo-rear a comida e o chá. - O lago Baikal é enquadrado por um magnífico circulo de montanhas vulcânicas. Os Montes que o circundam são uma ramificação da cadeia Sayan, parte do vasto sistema da formação da Cordilheira Altai, da Ásia Central. As Montanhas Baikal, na costa norte e a taiga são protegidas como Parque Nacional. O Lago é um habitat rico em biodiversidade, com cerca de 1085 espécies de plantas e 1550 espécies e variedades de animais e 52 espécies de peixes, catalogados.O lago Baikal é um grande Rift (fenda) entre duas falhas geológicas, onde a crosta está se separando dois centímetros por ano.A área da falha é sismicamente ativa, havendo fontes termais e freqüentes terremotos.Pela sua profundidade é possível existirem espécies de peixes abissais. - Em 1862, foi registrado um terremoto que atingiu a desembocadura do rio Selenga, o tremor gerou uma separação de 175 km² de terra da margem e um aumento de 50% de água no lago. A água lançada no interior do Lago Baikal formou uma nova baía. Sismólogos perceberam que o solo submerso do lago mantém um movimento constante de deslizamento, atividade responsável pela abertura de um abismo que, em alguns milhões de anos, aumentaria a fenda que possivelmente irá dividir a Ásia em duas porções e unir o Lago Baikal ao Oceano Ártico. Tendo visitado os lugares importantes da cidade de Irkutsk e principalmente o Lago Baikal, os pesquisadores Rodrigo e Álvaro, decidiram continuar a viagem pela Transiberiana que, partindo de Monika Gryczynska 62 Um olhar sobre o Mundo Irkutsk passa por Novosibirsk e Omsk, adentra o Cazaquistão até o entroncamento da Transiberiana em Petropavlotsk. Desta cidade devem seguir pelo ramal da estrada de ferro para Astana, a nova capital da República do Cazaquistão.A via ferroviária Turquestão-Sibéria, ou “Turksib”, e uma linha férrea ligando a Ásia Central à Sibéria, com um total de 2.375 km. Atravessa hoje quatro países: o Usbequistão,Quirguistão, Turcomenistão e o Cazaquistão à Sibéria. Acertaram a conta do hotel, pagaram o guia Sergei, que agradecido pela recompensa, levou-os até a estação da Transiberiana recomendando-os às provodnitsas, a dupla de funcionárias de bordo que cuida do vagão e controla os bilhetes das passagens. Viajaram em cabines de primeira classe, para duas pessoas, com duas camas e W.C.Os vagões oferecem relativo conforto, o único e considerável desconforto é a falta de uma ducha para tomar banho O percurso de trem de 1.490 km até Novosibirsk levou um dia e meio. - Se precisarem de um guia em Astana, recomendo-lhes o senhor Alexei Vestchikyn, pessoa honesta e bem informada, capaz de orientá-los durante a visita ao país.Vão encontrá-lo no Oásis Inn Hotel, cuja estadia já foi reservada para vocês, pela agencia de turismo de Irkutsk, que também fora encarregada das suas passagens para Astana via Petropavlosk, na junção da Transiberiana – Caza-quistão e ferrovias do sul – informou o guia Sergei A.Imanoff. Os trens da Transiberiana levam a bordo todo tipo de gente, de turistas a contrabandistas, soldados, migrantes e aventureiros, e sempre há a presença garantida dos mochileiros.Passageiros vindos dos subúrbios vizinhos, introduzem-se no trem não se sabe como, amontoando-se nos vagões.Antes enchiam as plataformas entre os carros, alguns andavam para lá e para cá em cima dos trilhos, ao longo do trem, outros permanecem na plataforma diante das portas dos vagões, esperando abrirem-se. Seus hábitos, sua maneira de vestir-se, de falar, eram totalmente diferentes dos nossos. Monika Gryczynska 63 Um olhar sobre o Mundo As razões disso são as grandes distâncias, o tráfego deficiente, as péssimas condições das estradas e o preço alto dos bilhetes aéreos. No inverno quando a temperatura pode chegar a 40º graus abaixo de zero, o ambiente é climatizado e um vagão restaurante oferece vodka e fartos pratos quentes da cozinha russa.Os dois brasileiros já estavam habituados a carregar consigo um dicionário do idioma dos países por onde planejavam viajar, isto ajudava muito,pelo menos na comunicação básica, pois os funcionários das estações russas não falam outras línguas, apenas o idioma natal. O trem parou por 20 minutos em Novosibirsk,já passando da meia-noite.Os dois desceram para comprar alguns alimentos frescos e água na estação.Precisaram andar depressa, pois o maquinista já avisava a partida com um apito estrondoso. O trem continuou passando por Omsk, rumo Petropavlosk, parou na frontei-ra entre os dois países, durante uma hora, para que os passageiros que iam ficar no Cazaquistão apresentassem os documentos e vistos de entrada no país.As pessoas deviam mudar de trem na junção férrea que leva para Astana e ao interior do país. A distância de 2500 km entre Irkutsk e Petropavlosk demorou 48 horas de viagem, isto é, dois dias e duas noites. CAZAQUISTÃO Petropavlosk è uma cidade situada na margem do rio Ishim no norte do Cazaquistão a 135 km da fronteira da Rússia, ao longo do Transiberiano. É a capital da província do Norte do Cazaquistão. População 203.523 (2009).Petropavlosk foi fundada em 1752 como uma fortaleza,com a finalidade de estender a influência russa nos territórios nômades cazaques para o sul.O forte foi batizado com o nome de dois santos cristãos, apóstolos Pedro e Paulo.Recebeu o estatuto de cidade em 1807.Foi um importante centro comercial de seda Monika Gryczynska 64 Um olhar sobre o Mundo chinesa e tapetes de procedência usbeque e turca, até a Revo-lução Russa de 1917. Atualmente possui fábricas de conservas, curtumes, máquinas, comércio de gado e couros. De manhã cedo ao descerem do trem da Transiberiana na estação em Petropavlosk no Cazaquistão, foi difícil para Rodrigo e Álvaro localizar o guichê de informações turísticas, para orientar-se na escolha do trem certo que se dirigisse para Astana.Os bilhetes eles os tinham em mãos, mas não entendiam nada em russo.Depois de perambularem pela estação durante meia hora encontraram o funcionário do guichê, ele falava a língua inglesa e gentilmente encaminhou-os ao comboio que partia para Astana dentro de uma hora; recomendou-os às funcionárias do vagão e acomodou-os na cabine. Nessa altura o dicionário de línguas pouco os ajudou. A viagem levava aproximadamente oito horas, portanto, iam chegar à capital Astana por volta das quatro horas da tarde.O trem entrou na estação da cidade avisando com um silvo agudo. Houve reboliço de gente na plataforma, pessoas que desciam dos vagões e outros que se acotovelavam para entrar, carregando pilhas de bagagens e crianças se lamuriando. Os dois brasileiros desceram do vagão meio zonzos. Conferiram os pertences e se dirigiram ao ponto de táxis.Para facilitar o entendimento Rodrigo mostrou o endereço escrito no papel, Oásis Inn Hotel, reservado com antecedência pela agencia de turismo de Irkutsk.O motorista entendeu e levou-os até hotel. Fizeram o chek-in e receberam as chaves do apartamento. Tomaram um bom banho e caíram na cama exaustos. Dormiram a noite toda, acordaram traspassados de fome.Pediram o desjejum duplo no apartamento, o qual comeram com grande apetite.Depois de saciada a fome, desceram até o saguão do hotel procurar pelo guia Alexei Westchikin, recomendado por Sergei Andreyevich.Imanoff. Lá estava ele esperando sentado à mesinha, lendo o jornal do dia. Monika Gryczynska 65 Um olhar sobre o Mundo - Senhor Alexei Westchikin? - Somos pesquisadores brasileiros, Rodrigo e Álvaro.Seu amigo e colega de Irkutsk, Sergei A.Imanoff o recomendou. Precisamos de um guia que fale inglês e seja motorista, para nós conduzir durante estadia no Cazaquistão e talvez nos países vizinhos, portanto vamos falar em sua dispo-nibilidade e remuneração pelo seu trabalho - explicou Rodrigo. - Eu sou guia turístico, possuo uma camionete Toyota 4x4, a qual dirijo, conheço a fundo o meu país e na ocasião disponho de tempo, será um prazer conduzi-los e orientá-los; quanto ao preço vamos chegar a um acordo, com certeza - respondeu Alexei. Alexei era um homem jovem, de meia estatura, troncudo, de pele morena e olhos castanhos, um fiel representante do tipo russo. Simpático e comunicativo, era bem humorado e gostava do seu trabalho.Falava a língua cazaque, russo, turco, inglês e alemão, entendia também o chinês.Vestia com simplicidade, uma calça jeans, camisa esportiva e jaqueta de couro.Portanto, seria ideal conviver com ele durante as nossas andanças - raciocinou Álvaro. Acertados todos os detalhes, começaram à tarde visitando a cidade de Astana. Alexei os conduzindo e explicando-lhes a história. - Astana está situada no centro-norte do Cazaquistão, construída na margem do Ishim (Esil), rio que nasce nas estepes entre Astana e Karaganda, banha Astana e Petropavlosk antes de atravessar a fronteira e entrar na Federação Russa. Deságua no rio Irtysh, tem 2.450 km de extensão. As suas águas procedem, sobre-tudo da fusão das neves, fica congelado durante seis meses no ano. - Durante muito tempo não passou de um ponto de parada de nômades. A cidade foi fundada como uma fortaleza em 1824 e posto militar russo, por uma unidade de cossacos siberiana de Omsk, tornouse centro administrativo em 1868. Sua importância cresceu no fim do século XIX, quando se tornou um entroncamento de importantes linhas ferroviárias. Encontra-se na junção da Trans-Siberian-Cazaquistão com Monika Gryczynska 66 Um olhar sobre o Mundo as ferrovias do sul.Na cidade foram feitas muitas novas construções e escritórios destinados aos funcionários do governo russo.Fundações para pesquisas e Instituições de ensino superior e profissionalizante. Houve um notável desenvolvimento da cidade.Grande parte da população está empregada pelas ferrovias. Existem bairros tártaros, russos, quirguizes. - Durante o domínio da União Soviética, sob o governo de Josef Stalin (1924-1953), Astana foi transformada num campo de prisioneiros de guerra com trabalhos forçados, para centenas de milhares de internados e suas famílias, um dos mais notórios campos no Arquipélago Gulag. Chamada de Akmolinsk, foi a capital da região até 1961, quando foi rebatizada de Tselinograd. Assim que o Cazaquistão tornou-se independente da União Soviética em 1991, a cidade foi renomeada para Aqmola. Em 1997, depois do terremoto que destruiu a antiga capital Almaty, o governo transferiu a capital do país para Aqmola e a cidade foi rebatizada para Astana. As razões para tornar Astana a capital do país não se limitam aos terremotos em Almaty, mas existe o grande interesse do governo cazaque de poder controlar as zonas do nordeste, onde existe grande influência russa e fala-se russo. - O presidente Nursultan Nazarbayev decidiu construir uma nova capital porque a capital anterior, Almaty, era muito perto da fronteira da China, muito congestionada e propensa a seguidos abalos sísmicos Foi contratado o famoso arquiteto japonês Kischo Kurokava para planejar a nova capital, Astana. O que o presidente queria ele conseguiu, graças às receitas do petróleo do Mar Cáspio. O poço de Kashagan é considerado um dos maiores poços de petróleo do mundo. Como as cidades do Golfo Pérsico, Astana flutua sobre os petrodólares do Cáspio, e assim como as cidades do Golfo e as novas cidades chinesas, Astana inspira a admiração em todos que a visitam. Monika Gryczynska 67 Um olhar sobre o Mundo - O projeto da cidade foi baseado no entrelaçamento com a natureza, com espaços verdes entre os prédios. Já havia quatro shopings-center, construídos dentro de um quilômetro quadrado de área, e no projeto constava mais um, o imenso e extravagante Khan Shatyr, ostentando um globo de ouro na torre de aço branca; seria um complexo comercial e de entretenimento, com lojas e parques temáticos.Astana possui 802.980 habitantes (2010). O atual prefeito da cidade é Imangali Tasmagambetov. - Para os críticos cazaques, o local escolhido para a capital do país é inadequado. É muito isolado, situado no centro de uma região de planícies de estepe do Cazaquistão, no semi-árido, com o clima extremamente rigoroso no inverno e verões quentes. A eleva-ção de Astana está em 347 m acima do nível do mar, é a segunda capital mais fria do mundo com - 40º C. no inverno, a primeira é Ulan Bator na Mongólia, terceira é Ottawa no Canadá.Não conta-bilizando os imensos recursos financeiros gastos na construção dos complexos do governo, oriundos dos petrodólares do Mar Cáspio. Durante os séculos XII-IX a.C. na Era do Bronze, as tribos sakha e uisun os primeiros agricultores e criadores de gado fundaram os assentamentos Terenkary e Butakty no território da cidade de Almaty.Nas escavações arqueológicas dos antigos assentamentos foi encontrada cerâmica, instrumentos e artefatos feitos de osso, pedra e metal Existem inúmeros túmulos funerários nos assentamentos antigos espalhados pela estepe.Chamam atenção os túmulos gigantes dedicados aos líderes Sakha.O achado mais famoso e o Homem de Ouro do túmulo Issyk, o tesouro Zhalaulinsky, o diadema Kargaky, e as peças de arte em bronze. Durante a Idade Média (entre séculos VIII-X) a evolução de Almaty é caracterizada pelo desenvolvimento da cultura, pela mudança de estilo de vida nômade para sedentária, na prática da agricultura e Monika Gryczynska 68 Um olhar sobre o Mundo artesanato, em conseqüência surgiram vilas e cidades no território de Semirechie.Assentamentos situados no Alto Almaty tornaram-se pontos comerciais da Grande Rota da Seda. - A antiga capital Almaty, é a maior cidade do Cazaquistão, com uma população de 1.383.158 em 2010.Fundada por cossacos da região de Omsk como um forte de nome Zailiysky em 1854, aos pés da cadeia montanhosa de Tian Shan, mais tarde renomeada como Verny, depois para Alma-Ata. Os devastadores terremotos de 1.887 e 1911,destruíram quase toda a cidade de Verny, cujas casas eram construídas em tijolos.Em 1918 foi imposto oficialmente o regime soviético no país. Em 1927, foi transferida a capital da República do Cazaquistão Soviético, de Kyzyl-Orda para Alma-Ata. Na década de 30, depois do fim da construção da Ferrovia Turquestão-Sibéria, AlmaAta, como era então conhecida, tornou-se o mais importante ponto intermediário do trajeto da Estrada de Ferro Turksib, inaugurada em maio de 1929. - As atrações turísticas de Almaty são, a Catedral Zenkov, o Memorial à Guerra, Museu Estatal da Arte, a Catedral de São Nicolás, a Mesquita Muçulmana e os bairros antigos.O Cazaquistão possui maravilhas como Lago Bolshoe Amatinkoe, situado a 2.500 metros de altitude.Os Lagos köl-Say estendem-se aos pés das monta-nhas Küngery Altau, a 110 km de Almaty.O rio Charyn escavou uma profunda garganta e formou composições rochosas de inumeráveis formas, cores e de uma espetacular beleza, o Canyon Charin. A paisagem arqueológica de Tamgaly, é um sitio de petróglifos, localizase a 170 km a nordeste de Almaty.A maior parte dos petró-glifos estão no Canyon principal, são da Idade do Bronze (4.000-1.200 a.C.),incluído como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2004.A“Saryarqa”designa a amplidão das estepes e lagos cristalinos do Norte do Cazaquistão inclusive os Planaltos cazaques, foram designados como Patrimônio pela UNESCO em 2008. Monika Gryczynska 69 Um olhar sobre o Mundo - A extensão da “Saryarqa” inclui a Reserva Natural de Naurzum (Kostanay) e a Reserva Natural Korgalzhyn (Aqmola). A reserva contém duas áreas pantanosas que servem de parada para aves migratórias provenientes da África, Europa e Ásia Meridional. Os flamingos cor de rosa são uma grande atração na Reserva Korgalzhyn.A Reserva Natural de Aqsu-Zhabaghly é um parque de 750 km² repleto de bosques e o pico nevado na cordilheira Talssky Altau.A Reserva abriga impressionante flora e fauna (ursos, leo-pardos,aves de rapina) O local também acolhe a fauna de estepe como marmotas,lobos e a saiga (espécie de antílope). As cordilhei-ras do sul com seus cumes perenemente nevados que ultrapassam os 4.000 metros, seus rios rápidos que descem em cascatas e os vales povoados com bosques de coníferas, como lariços, abetos e cedro. ÁSIA CENTRAL OU TURQUESTÃO OCIDENTAL. Desde os tempos pré-históricos, tribos nômades nativas das estepes e das montanhas da Ásia Central habitavam o extenso território que abrangia o Turquestão situado entre a Sibéria e Afeganistão, o Mar Cáspio e o Mar de Aral. Em 1925, por decisão do dirigente russo Josef Stálin, a região que constituía o Turquestão Russo foi repartida entre o Cazaquistão, Qirguistão, Usbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e o Sinquião chinês (Xinjiang). A Ásia Central é uma região que compreende as estepes, montanhas e desertos entre o leste do Mar Cáspio e o centro-oeste da China, entre o norte do Irã e Afeganistão e o sul da Sibéria. As mudanças constantes de clima na região forçaram grandes movimentos migratórios de seus habitantes, o que trouxe tribos indoeuropéias e hunas para oeste, arianas e turcas para o norte, entre outros.A história da Ásia Central tem sido determinada pelo clima e Monika Gryczynska 70 Um olhar sobre o Mundo geografia da região.A aridez da região fez com que a prática da agricultura torne-se deficitária.Portanto, se formaram apenas algumas grandes cidades, resultadas do comércio da Grande Rota da Seda. As Estepes são formações de planície, tipo de paisagem dominada por vegetação baixa, sobretudo herbácea, gramínea e arbustos, sem árvores, constituída por tufos ou moitas de plantas afastadas umas das outras, deixando o solo parcialmente descoberto, esparsa e ressecada. Surge em climas semi-áridos, na faixa de transição entre climas úmidos para os desertos. Estende-se por toda a Eurásia desde o Oriente da Europa, segue cobrindo as planícies do Mar Negro e do Cáspio, difundindo-se por todo o extremo sul da Rússia, pela Ásia Central, pela Sibéria, Mongólia e norte da China. A área foi dominada durante milênios pelos povos nômades das estepes. O estilo de vida nômade era bem adequado para a prática da criação de gado e cavalos, mas também da guerra e os cavaleiros das estepes estavam entre os maiores guerreiros do mundo. Quando centenas de tribos estavam sob o comando de grandes líderes, formaram-se exércitos quase invencíveis, aterrorizando nações, como a invasão da Europa realizada pelos hunos, os ataques de Wu Hu à China, a conquista de grande parte da Eurásia pelos mongóis. A Ásia Central só esteve unificada sob um governo central durante o período de dominação mongol no século XIII. O domínio dos nômades terminou no século XVI, quando surgiram as armas de fogo que permitiram aos povos sedentários controlar as defesas. Desde então, a China, que inventou a pólvora no século IX, desenvolveu uma arma rudimentar aperfeiçoando-a aos poucos, utilizada nas guerras de conquista e defesa dos seus territórios. Em 1867, o czar Alexandre II, do Império Russo, ocupou o Turquestão Ocidental; assim como, outras potências expandiram-se pela região e dominaram a maior parte da Ásia Central. Monika Gryczynska 71 Um olhar sobre o Mundo O Turquestão Russo era um imenso território de 3.076.628 km². Incluído na área de oásis localizada ao sul da estepe cazaque, mas não os protetorados do Emirado de Bukhara e o Canato de Khiva.O Governo Geral do Turquestão Russo foi formado em 1868, com a capital em Tashkent. Cinco anos depois da Revolução Bolchevique de 1917, formase a União das Republicas Socialistas Soviéticas e os países do Turquestão Ocidental passam a fazer parte da União Soviética. Após o colapso da URSS 1991, os cinco países do Turquestão Russo, sucessivamente, declaram a sua Independência da Rússia, retomam seus territórios e organizam seus governos. Atualmente o Cazaquistão possui uma área de 2.729.900 km², o Quirguistão uma área de 199.945 km², o Tajiquistão uma área de 143.100 km², o Turkmenistão uma área de 488.100 km² e o Usbequistão uma área de 447.400 km². A outra região da Ásia Central o atual Xinjiang, pertence à República Popular da China, embora sua população constitua-se majoritariamente de Uygures. República do Cazaquistão Cazaquistão é um país localizado na Ásia Central, é o nono país em área territorial com 2.724.900 km², um dos maiores países do mundo.Cazaquistão obteve a sua independência com a dissolução da União Soviética, em 1991.Possui uma população de 18,7 milhões (2012).Seu território se estende de oeste para leste desde o Mar Cáspio até as montanhas Altai na divisa da Mongólia, e do norte para o sul abrange desde as planícies da Sibéria Ocidental aos oásis e desertos da Ásia Central.Limita-se ao norte e oeste com a Rússia por 6.846 km de fronteira; a leste por 1.533 km com a China, ao sul por 1051 km com o Quirguistão, por 2203 km com o Usbequistão e por 379 km com o Monika Gryczynska 72 Um olhar sobre o Mundo Turcomenistão e a oeste com o mar Cáspio.Entre as principais cidades estão Astana, Almaty, Karagandy, Shymkent, Atyrau e Oskemen. O Mar Cáspio, com a área de cerca de 400.000 km² é um mar fechado, sem efluentes, de água salgada (0,05%). Tendo mais de 1.200 km de comprimento e um máximo de 450 km de largura, sua extensão costeira se estende por 5.894 km (6.500 km com as ilhas), com uma profundidade média de 180 metros, mas que pode atingir até 1.025 metros em alguns pontos. Vários rios deságuam no Cáspio, como Terek, Ural, Emba, Kura, Samur, Atrek, entre os 130 rios principais, mas o mais importante deles é o Volga, rio que nasce nas colinas Valdai a noroeste de Moscou, na Rússia. Tem 3.688 km de comprimento e sua bacia se estende por 1.380.000 km².Tudo que acontece ao longo do vale do Volga, tem amplas repercussões sobre o Mar Cáspio. Durante grande parte do século XX, a soberania sobre o Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética 87% e o Irã 13%, os dois países banhados pelas águas do mar. Com a desintegração da União Soviética em 1991,o Cáspio passou a banhar o litoral de cinco países independentes.Nesse contexto a Rússia foi obrigada a dividir os 87 % do acesso ao litoral do Mar Cáspio com os novos países. Ao Cazaquistão coube 29% ou 2.320 km; a Rússia ficou com 19 %, correspondendo a 695 km; o Azerbaijão com 21%, ou 955 km, o Turcomenistão 18 % ou 1.200 km; Irã 13 % ou 724 km. A região do Cáspio é considerada a terceira zona com maiores reservas em hidrocarbonetos o mundo, depois do Golfo Pérsico e da Sibéria. A paisagem do oeste do Cazaquistão consiste de extensos desertos com alguns lagos salgados no meio. É aqui, no deserto, que se concentram as grandes reservas de gás natural e de petróleo, cujos projetos de extração estão a cargo da companhia americana Chevron. Situada às margens do Cáspio a cidade de Atyrau está sendo ocupada por trabalhadores da Companhia petrolífera. Monika Gryczynska 73 Um olhar sobre o Mundo Há muitos rios e grandes reservatórios no Cazaquistão. No oeste e sudeste é banhado pelo Mar Cáspio numa distância de 2.320 km. O rio Ural e seus afluentes fluem para o Mar Cáspio,a leste do Cáspio surge nas areias o grande Lago ou Mar de Aral, que recebe as águas dos rios Amudarya e Syrdaria.Há cerca de 7.000 lagos, entre eles estão: o Lago Balkhash nas areias do Cazaquistão Central, Lago Zaysan no leste, Lago Alakol no sudeste e Lago Tengiz no sul.Os maiores rios do país são: o Irtysh, Ishim, Ural, Syrdaria, Amudaria, Ili, Charyn, Tobol e Nura.Os principais rios que nascem nas Montanhas Tien Shan são o Syrdarya, o rio Ili e o rio Tarim. O rio Irtysh nasce nas montanhas Altay. A grande parte do território de Cazaquistão resume-se a planaltos. Os planaltos erodidos do leste com colinas rasas, depres-sões e lagos de águas salinas. Há também várias cadeias monta-nhosas, inclusive ao longo das fronteiras leste e sudeste (com a Rús-sia, a China e o Quirguistão) e na Cordilheira Karatau ao sul, inclu-indo vastas áreas baixas como a depressão Kaundy, que chega a 132 m abaixo do nível do mar. O sul e leste tem grandes extensões de montanhas selvagens e intocadas como Tien Shan e Altay, que podem atingir até 7.010 m de altitude no pico Khan Tengri e 7.439 m no pico Pobeda, os pontos mais elevados do país.A Cadeia de Montanhas Altay estende-se por cerca de 2.100 km, ramifica-se nos Montes Sayan Oriental e Tannu-ola, na Republica de Tuva, na fronteira com a Rússia, Cazaquistão, e Mongólia, ponto onde se destaca a máxima elevação de Altay, o Monte Belukha,com 4506 m. A Cordilheira Tien Shan começa na China, no norte da cidade de Kumul (Hami) a leste de Urumqi.As montanhas Tien Shan se estendem por 3.000 km, com 600 km de largura, ficam ao norte e ao oeste do deserto de Taklamakan e diretamente ao norte da bacia do Tarim, na região fronteiriça sul e sudeste do Cazaquistão, Quir-guistão Monika Gryczynska 74 Um olhar sobre o Mundo e a Região Autônoma Uygur de Xinjiang da China Ocidental. As montanhas da formação são Barlyk, Dzhungar Alatau, Zailii Alatau, Talas Alatau e Kengey Alatau. O lado sul, destas montanhas se fundem às Montanhas Pamir no Tadjiquistão e para o norte e leste, ligam-se às Montanhas Altay da Mongólia, e no norte do Paquistão se juntam às montanhas do Hindu Kush. Estendendo-se de norte ao sul a superfície do Cazaquistão é coberta por 26% de deserto, 44% de semideserto e 24% pela estepe que ocupa 804.500 km², embora ao norte atinja 6% na zona da taiga. A área de florestas ocupa 105.000 km².Esquemas de irrigação do governo socialista russo, tornaram produtivas enormes áreas da estepe, entre o Mar de Aral e o lago Balkhach. Grande parte da zona de floresta-estepe é composta por solo negro, fértil, o “Chernoziom”, próprio para agricultura, explorado intensamente pelo governo russo. O deserto do Cazaquistão é uma região árida, com chuvas raras e temperatura alta no verão, tempo severo e intenso frio no inverno. Fortes ventos trazem tempestades de areia. O clima do país é continental, com verões quentes e invernos frios.Espalhados sobre a estepe cazaque encontram-se montes com túmulos de nobres guerreiros, de dimensões impressionantes, entre eles a necrópole Bergazy e Dandybai no Sary-Arca, Tegisken e áreas Priaralie. Eles contêm as armas dos guerreiros mortos, como machados, punhais de bronze, lanças, facas, jóias de bronze e carroças com seus cavalos. A história do Cazaquistão descreve o passado humano na maior superfície da Eurásia.O cinturão de estepes foi o habitat de numerosos grupos humanos que começam com o Pithecanthropus e Sinanthropus, extintos, viveram há 800.000 anos nas Montanhas Karatau, nas áreas do mar Cáspio e lago Balkhash; os Neaderthais entre 140.000 a 40 mil anos a.C., nas encostas da Cordilheira Karatau, próximo ao rio Syrdaria (Yaxartes).As montanhas Karatau estão localizadas no sul do Cazaquistão, ao norte do rio Syrdaria. As Monika Gryczynska 75 Um olhar sobre o Mundo montanhas,contêm sítios arqueológicos da Idade da Pedra, que representam vários estágios de evolução cultural desde o inicio da Idade do Paleolítico (4.500.000) para o Neolítico (8.000-4.000)a.C. A chegada do moderno Homo Sapiens há 60.000-12.000 anos atrás, espalhou-se pela imensidão das estepes do Cazaquistão após o fim do último Período Glacial. O território tem sido habitado desde a Idade da Pedra, 8.000 anos a.C. pelas culturas Atbasar, Kelteminar, Botai, Mokanjar, Ust-Narym e outras culturas arqueo-lógicas. Á cultura Botai (4.000- 3.600 a.C.) é creditada a primeira domesticação do cavalo.As tribos praticavam a pecuária nômade favorecidos pelo clima e pastos abundantes.Nas estepes, vales de rios e montanhas do Cazaquistão foram encontradas cerâmica e ferramentas de pedra polida da época Neolítica. A mudança das condições climáticas forçou o deslocamento maciço de populações para fora do cinturão das estepes.O período de aridez que durou um milênio a partir do 2° milênio a.C.foi a causa do despovoamento da região,sua população se deslocou para o norte para a zona de florestas da Sibéria e norte da China.Com o fim do período árido, 1.200 a.C. no inicio da Idade do Ferro, novas popu-lações, de sakhas-citas que segundo estudos arqueológicos conhe-ciam a escrita, vindas do leste da Mongólia, formaram alianças com as tribos de usuns e alanos que viviam próximos e povoaram as áreas abandonadas.Criaram-se novos agrupamentos a partir do século VII a.C.e no século III a.C. surgiu o Império Huno que abran-geu todo Cazaquistão e absorveu mais 26 povos independentes unin-do as tribos das estepes e os povos das florestas em um único estado. O clima e as extensas estepes são apropriados para o pastoreio de animais. Os cazaques nativos eram um povo nômade,que amava a liberdade das estepes, de origem turca pertenciam a várias tribos, agrupadas em aldeias, viviam em tendas feitas de couro de boi (yurtes) colocadas sobre rodas de madeira e puxadas por bois, o que facilitava o Monika Gryczynska 76 Um olhar sobre o Mundo deslocamento de um lugar para outro, a procura de pastagens verdes para seus rebanhos. - As montanhas do Cazaquistão abrigam pastos verdes de uma profusão admirável, que no verão se cobrem de flores silvestres numa explosão de cores. Nos rios abundam as marmotas, trutas, e lúcios, peixes que servem de alimento para as águias. Existe em abundância a fauna selvagem, como o lobo cinzento, o lince e o javali.Nas montanhas do sul encontram-se alguns exemplares de leopardo das neves. A população concentra-se no norte e no sul, onde ficam as terras mais férteis e as cidades industrializadas. Na agricultura, cultivam-se cereais em grande escala, frutas, batata, legumes e algodão. Produz lã de alta qualidade. Há imensas reservas de petróleo e gás, carvão, minerais, ferro, cobre,níquel, prata e ouro. POVOS ASIÁTICOS DA ANTIGUIDADE - A Cultura Botai, como é conhecido o grupo pré-histórico cazaque, pode estar entre os mais antigos ancestrais dos indo-europeus, etnia cujos dialetos deram origem a quase todas as línguas faladas na Europa, do português ao russo, bem como aos idiomas do Irã e da Índia. Os primeiros indo-europeus eram da cultura Botai, surgiram nas estepes do Cazaquistão. Achados arqueológicos de fósseis de cavalos, nos assentamentos da cultura Botai sugerem a criação e domesticação de eqüinos selvagens, por volta de 3.600 a.C. Os cavalos serviam como montaria, na caçada e na guerra, também como fonte de leite, carne e couro. As escavações arqueológicas indicam que o sul do Cazaquistão foi habitado pelo homem desde o Paleolítico (4.500 a.C.) Tribos de pastores nômades Citas (Sakhas) criavam gado, também se dedicavam à metalurgia do bronze (1500 a.C.), fabricavam punhais, facas, jóias e utensílios domésticos de cerâmica. Até o inicio do Monika Gryczynska 77 Um olhar sobre o Mundo primeiro milênio a.C. a tribo Cita ocupou o território das estepes, a tribo Savromat o norte e oeste, os Kangues a região do Syrdaria e os Usuns (cuja escrita, armas e jóias foram preservados), o sul. Até o século IV d.C., a maioria dos Sakhas e Usuns de língua turca se mudou para oeste e fundaram novos estados, como o Canato Turco Ocidental, cujas tribos se estabeleceram na Rota da Seda. A origem e a localização exata da antiga Citia consta como sendo a região das encostas dos Montes Altai, onde atualmente situa-se a República de Tuva com a capital Kyzyl, no sul da Sibéria, fronteira com a Mongólia. Os povos do tronco Cito-Sármata são herdeiros de uma história de guerras por sobrevivência e criação de múltiplos reinos e impérios de curta duração ao longo de vastas extensões de terras em contínuas alterações de fronteiras. Em 1914, perto da aldeia de Andronovo, no sitio arqueoló-gico situado no vale do Yenissei, rio que nasce nas montanhas Tannu-Ola, na República de Tuva, sul da Sibéria, corre por 4.129 km pela taiga siberiana e deságua no Mar de Kara.Nas baixadas e vales foram descobertos vários cemitérios com esqueletos humanos e cerâmica elaborada com rica decoração. Os arqueólogos deram o nome de Andronovo à cultura da Idade do Bronze do II milênio a.C.. A Cultura Andronovo cobre uma vasta porção da Ásia Ocidental, encontra-se com a Cultura Srubnaya entre os rios Volga e Ural e estende-se para o leste para a Depressão Minusinsk, entre o Alatau Kuznetsk e as montanhas Sayan. Sítios são encontrados ao sul até o sopé das montanhas Dag Kopett, do Pamir e Tien Shan. Além disso, há uma extensa cadeia de Cultura Andronovo na zona de floresta-estepe, na Sibéria. A Cultura Andronovo é de grande importância para a compreensão da história inicial dos povos de língua indo-iraniana. A idéia é que os complexos arqueológicos de Andronovo e Srubnaya tivessem sido povoados por indo-iranianos, que se estabeleceram na região no final do 3º milênio a.C.O sitio arqueológico mais antigo da Monika Gryczynska 78 Um olhar sobre o Mundo cultura Andronovo se encontra a sudeste dos Montes Urais,datando de 2.300 a.C.( Idade do Bronze).Restos arqueológicos de citas incluem elaboradas tumbas contendo ouro, seda, cavalos e sacrifícios humanos. Técnicas de mumificação e terra congelada têm ajudado na relativa preservação de alguns restos. A cultura Andronovo estendeu-se por toda a área do Cazaquistão até a Sibéria durante o 2º milênio a.C.É representada por uma grande variedade de assentamentos e sítios com cemitérios. Os assentamentos Andronovo são geralmente situados nas margens de pequenos rios ou várzeas baixas.Eles podem ser de dois tipos: pequenos,com várias casas de troncos de madeira,ou de grande por-te, com 10 a 100 casas, espaçosas, de até 100 m², semi-subterrâneas aprofundadas no solo, com corredores em forma de saída.A economia da Cultura Andronovo na Europa Oriental foi baseada em pecuária, complementada por alguma agricultura, caça, pesca e coleta.Por este tempo foi avançada em metalurgia e concentrada em centros na Ásia ocidental: nos Urais, Cazaquistão, Sibéria ocidental e no Altai. A produção de metal foi uniforme em toda a região. A Citia foi uma extensa região na Eurásia habitada desde os séculos XVII a.C. até o inicio da Idade Média, por um grupo de povos indo-europeus falantes de línguas iranianas conhecidos como Citas. O território da Citia incluía as planícies da estepe pôntica (Pontus Euxinus) da costa ao norte do Mar Negro, o Cazaquistão, o sul da Rússia e a Ucrânia, a região norte do Cáucaso, incluindo Azerbaijão, Sarmátia, Bielorússia e Polônia até o Mar Báltico (antigo Oceano Sarmático) o baixo Danúbio e o Sakastan, situado no leste do Irã e o Baluchistão, região habitada por Indo-Sakhas (Citas). A mais importante tribo Cita mencionada nas fontes gregas residia nas estepes entre os rios Dnieper e Don.A língua dos Citas e dos Sármatas tinha forte similaridade com dialetos iranianos orien-tais, como o sogdiano, entretanto,ainda que houvesse semelhanças Monika Gryczynska 79 Um olhar sobre o Mundo culturais,eram desde o principio possuidores de idiomas e morais diferentes.Os Sakhas eram citas asiáticos, são referidos pela pri-meira vez nos anais assírios como Ishkuzai por volta de 700 a.C.Os Citas são mencionados na Bíblia no capítulo 38 do livro de Ezequiel Nesta passagem da Bíblia o profeta usa o nome hebraico Magogue. O historiador judeu Flávio Josefo diz que os magoguitas eram chamados de Citas pelos gregos. Os Citas eram pastores nômades eqüestres e invasores. Ao lutar, montavam cavalos velozes e eram ferozes combatentes. Fundaram o primeiro grande império nômade de toda Eurásia Central, e que no seu apogeu habitavam uma área imensa que ia desde as estepes da Ucrânia até o noroeste da China e do Estreito de Bhering na Sibéria Meridional até o Norte da Índia. Dominavam vastas terras, recortadas por possessões de outros povos das estepes, das tundras e taigas, ou atravessadas por povos totalmente nômades. Organizados em confederações de clãs, reuniam grandes exércitos quando necessário. Praticavam a metalurgia e ourivesaria muito avançada, usavam cavalos para combate na guerra, criavam gado, carneiros e camelos. Sob a proteção do ambiente hostil e dinâmico das estepes os povos citas eram considerados como um dos povos mais ferozes em combates. Invadiram a Mesopotâmia no ano 530 a.C. lutaram e venceram Ciro o Grande, Imperador da Pérsia, combateram contra Filipe da Macedônia e contra seu filho Alexandre o Grande, no ano 333 a.C. lutaram e venceram muitas vezes contra os Romanos e os Hunos.Durante a Idade Média, os Citas e os Sármatas se dispersaram pela Europa e miscigenados teriam formado a maioria dos povos do leste europeu. Sepultavam seus reis em grandes túmulos de pedra. Um túmulo cita, foi encontrado na região de Issyk Köl perto da cidade de Almaty. Restos arqueológicos de Citas incluem elaboradas tumbas contendo jóias de ouro, seda, cavalos e sacrifícios humanos. Eles usavam Monika Gryczynska 80 Um olhar sobre o Mundo sofisticadas técnicas de mumificação. Os Citas ainda existentes, já foram na Antiguidade um dos povos mais violentos, mais temidos e que mais terras dominavam. Considerados como sanguinários, possuíam um xamanismo guerreiro assentado sobre as virtudes da guerra, mas também eram artífices, lavradores e comerciantes. Os reis Citas não eram apenas guerreiros, mas também sacerdotes supremos.Os costumes dos Citas foram descritos pelo historiador grego Heródoto de Halicarnasso, em seu livro “História”.A arte Cita era animalista, muitas vezes parecendo reproduzir a idéia de metamorfose, nos detalhes de suas pinturas e ourivesaria elaborada com figuras de peixes e animais, artefatos encontrados em seus túmulos, nos diversos sítios arqueológicos no sopé dos Montes Altai na Mongólia.Também foram encontrados restos de uma civilização cita de 2.500 a.C. na região do Lago Issyk Köl no Quirguistão.O Alatau Kyungey da cordilheira Tien Shan corre paralelo a costa norte do lago Issyk Köl, daqui se vêem seus picos nevados.(Alatau, nome genérico para série de cadeias de montanhas, caracterizado por intercalação de áreas de vegetação, pedras espalhadas e neve). Nos séculos IV-III a.C.os Citas, estabeleceram seu primeiro estado no território do Cazaquistão, com a capital em Zhetusy.Os Citas assim como seus parentes Sármatas englobam nações dife-rentes entre si, os Sármatas possuem muito mais etnias do que os Citas sendo difícil classificá-los,mesmo porque, alguns são miscige-nações.Em seu tempo os Sármatas ocuparam o norte e oeste do Mar Negro, geraram mais Estados, alguns dos quais ainda são Sarmátias, existem como diversas Repúblicas Federadas Russas na região Caucásica. Algumas comunidades Sármatas habitam nas regiões do Vale do Tarim e do Taclamakan na província de Xinjiang na China. Entre os anos 209 a.C.a 216 d.C.as tribos Xiong-nu, ou hunos asiáticos que viviam na Mongólia, emigraram da região de Ordos, no ano 85 a.C.para se estabelecer em Soghdiana e Transoxiana, próximo Monika Gryczynska 81 Um olhar sobre o Mundo ao rio Talas, onde criaram um novo Império.Os Xiong-nu eram um povo antigo, nômade, da Ásia Central, talvez descendente de várias tribos turcas, uma fusão com elementos turcomanos, mongol e tocario iraniano. Na realidade os hunos não eram um povo etnicamente homogêneo, mas provinham de diferentes grupos étnicos das estepes e florestas, de origem turca, yenisseica, tungusa, yacuta, irãnica, mongólica. No inicio da Era Cristã essas tribos organizadas em exércitos, montados em cavalos velozes criados nas estepes, foram se deslocando rumo à oeste invadindo a Europa. Eram hordas de guerreiros hunos, ávaros, visigodos, alanos, vândalos, godos, esla-vos. Por volta do primeiro século d.C.,as incursões ao norte da China, deram inicio a uma série de invasões que, nos quatro séculos seguintes, ameaçaram as civilizações estabelecidas na Europa, norte da China, Pérsia e Índia.Tais invasões foram causadas pelos avanços dos nômades da Ásia Central e resultaram no retrocesso das civili-zações. Os invasores não eram somente povos de origem indoeuropeia, eram povos do nordeste da Ásia, ligados por parentesco e tradições comuns, e tinham se espalhado a partir de uma única região.Tinham tipo físico variado, mas em geral com características mongólicas. A maioria falava idiomas de grupos altaicos do nor-deste da Ásia, como dialetos turcos.Eram povos de pastores nômades.Estabeleceram alianças com diversas tribos de cavalarias móveis que incluíam nômades iranianos e tribos mongólicas das florestas da Sibéria,mongóis,tártaros,turcos,ávaros,visigodos,hunos,alanos,sakha. A maioria das grandes confederações de guerreiros não era inteiramente da mesma etnia, mas uma mistura entre clãs euroasiáticos. Pesquisas modernas mostram que cada uma das grandes confederações dos guerreiros das estepes tais como: sakhas ou citas, xiong-nu, hunos, ávaros, khazares, mongóis, etc. não eram iguais, mas uniões de múltiplas etnias como a dos turcos, tártaros, ienisseianos, Monika Gryczynska 82 Um olhar sobre o Mundo tungusicos, úgricos, irãnicos, eslavos, mongólicos e muitos outros povos. Foram descobertas múmias no vale do Tarim, no deserto de Taklamakan, no Xinjiang (China),que datam de 1800 a.C.a 200 d.C.A característica notável dessas múmias é o seu tipo fí-sico caucasóide,também aparecem muitas outras de tipo mongólico. O berço dos povos turcos da Antiguidade é a taiga siberiana, região junto à fronteira norte da China. Por volta do século XIX a.C., das montanhas da Transbaikalia, do vale do Orkhon e das margens do rio Selenga,os primeiros turcos começaram a se deslocar para o sul. Nas suas lentas migrações trocaram as florestas siberianas pelas estepes da Mongólia.Tornaram-se pastores nômades criavam cavalos, gado, camelos e ovelhas.Esses povos mantiveram sua reli-gião original xamânica, o tengriismo.Com o passar dos séculos dis-seminaram-se pelo mundo, diferenciando-se entre si. São de origem turca povos tão diferentes como os hunos, os ávaros, os seljúcidas, os búlgaros, os húngaros, os finlandeses, os estónios e os azeris. Os cultos tradicionais da Ásia Central, geralmente referidos como xamanismo, sobrevivem em muitos lugares, muitas vezes disfarçados com sincretismo. Na Sibéria, pós-soviética, 300 anos após sua conversão forçada, os iacutos e demais povos siberianos rejeitaram o cristianismo ortodoxo em favor do xamanismo.Muitos voltaram a cultuar Tengri “ Deus do Céu Azul ” dos mongóis e dos povos habitantes das estepes.Veneravam o sol, a lua, o fogo, a água e a terramãe, enfim, cultuavam a natureza e lhe ofereciam sacrifícios. Entre os anos 500 a.C. e 500 d.C.o território do atual Cazaquistão abrigou diversas culturas nômades guerreiras como a dos Citas (Sakhas), sármatas, hunos, alanos, turcos, uygures, entre outras tantas.Os idiomas das primeiras sociedades tribais evoluíram distanciando-se.As línguas turcas constituem uma família lingüística de cerca de trinta línguas, falada através de uma vasta área desde a Europa Oriental e Mediterrâneo à Sibéria e oeste da China.Hoje diferentes Monika Gryczynska 83 Um olhar sobre o Mundo povos falam línguas turcas como os usbeques, os caza-ques,os quirguizes, os turcomenos, os iacutos e os turcos da Turquia. Os Uygures é um povo de origem turco-ariana, com uma cultura que data de 20.000 anos.Diz a lenda que são remanescentes do continente desaparecido de Lemúria. Com um passado brilhante, a história dos Uygures se confunde com a da raça ariana.O primórdio do Império Uygur na Mongólia consta desde ano 742 até sua queda em 848 d.C.Viveram na Mongólia onde floresceu seu Grande Império.Possuíam um elevado grau de civilização e bom tino comercial.Estavam numa posição estratégica da Rota Oriental da Seda. Depois da destruição do Império por um cataclismo climático migraram para várias partes, incluindo a Europa, dando inicio às civilizações eslavas, celtas, irlandesas, bretões e bascos. O povo uygur de hoje é uma mescla de povos turcos da Ásia Central, hunos e outras etnias.Os remanescentes residem numa província autônoma da China,chamada Turquestão Oriental ou Xinjiang, foram anexados pela China na dinastia Manchu, em 1876. Os hunos eram povos bárbaros da Ásia Central, de origem turca (ou proto-turco-mongol), identificados com os Xiong-nu e com os Uygure, povos aparentados, de língua turcomana que habitou a Mongólia. Os hunos eram guerreiros nômades, extremamente violentos e sanguinários, sua fixação na Ásia Central remonta ao século XII a.C. fundaram vários impérios.Os hunos do Extremo Oriente eram descendentes dos Xiong-nu..Os nômades do Grande Império Xiong-nu já eram bem conhecidos no século IV a.C. pelas violentas incursões que faziam ao Norte da China, que para proteger-se contra os invasores construiu a Grande Muralha, em 304 a.C.Emigraram da Mongólia no primeiro século d.C. Acredita-se que os hunos era um povo formado por várias tribos nômades, com uma mescla genética e cultural, foram um grupo etnicamente diversificado. Ocuparam a Mongólia por muitos séculos e Monika Gryczynska 84 Um olhar sobre o Mundo deram origem a duas linhagens de hunos, os hunos brancos e os hunos negros. Nos séculos IV e V.d.C. houve novas invasões dos nômades hunos negros na Europa.Os hunos brancos ocuparam o Império Persa no século V d.C. Movendo-se com suas yurtes (casas sobre rodas de madeira), com as famílias e grandes rebanhos de animais e cavalos domesticados, eles migraram em busca de novos pastos para se estabelecerem.Dirigiram-se em direção sul da Rússia no século IV, e ocuparam a bacia fértil do Baixo Danúbio, se fixaram nas planícies húngaras, no leste europeu. Dessas áreas de pastagens férteis, os hunos controlavam um império que se estendia dos Montes Urais (na Rússia)ao rio Reno (na França) e do Báltico ao Danúbio.Quando chegavam numa região, espalhavam o terror, pois eram extrema-mente violentos e cruéis com os inimigos. O surgimento do Império Huno de Kushan que se estabe-leceu nas terras baixas da Província Turan de Atyrau, nos territórios da antiga Báctria, ao redor do rio Amudarya (antigo Oxus), no final do século I a.C,.No inicio do século IV d.C.,tinham como líder um nobre chamado Kushan Malkar de Khi, época que marca o inicio das grandes migrações utilizando cavalos como cavalgadura e transporte de cargas. Os hunos eram ótimos e velozes cavaleiros, treinados desde a infância a montar em cavalos selvagens domados por eles. Foram os inventores dos estribos de pé em que se apoiavam quando galopando em seus cavalos velozes, atiravam habilmente para todos os lados com seus arcos compostos, recurvados, técnica desconhe-cida no ocidente. Malkar reuniu dez tribos das estepes na Primeira Confede-ração tribal turca.O Império proto-turco do clã Dulo espalhou sua influência até a Europa Central.Invadiram a Europa sob a chefia de Dulo Átila nos anos 370 a 408.Por volta de 452, Átila não chegou a atacar Roma por estar doente e seu exercito extenuado pelas campanhas,ele desistiu e retornou ás estepes asiáticas.O Império desintegrou-se após sua morte Monika Gryczynska 85 Um olhar sobre o Mundo em 453, com nenhum líder forte para mantê-los unidos. Átila, o Huno,era descendente do clã Dulo,dinastia governante dos alanos do Delta do Volga. Os Kushans foram um dos cinco ramos da Confederação Yuezhi (tocarios, indo-europeus), povo nômade que havia migrado da bacia do Tarim obrigados a abandonar suas terras em Gansu, no noroeste da China, estabelecendo-se na antiga Bactria.A ascensão do Império Kushan, da Horda Yuez-hi, parentes dos hunos e dos Xiong-nu que se fixaram no vale do rio (Oxus) Amudarya, região do Mar Cáspio, desde 165 a.C. a 225 d.C. e aos poucos estendem seus domínios até Mathura na Índia no século I d.C.Grandes áreas de Afeganistão e Khotan foram anexadas ao Império Kushan.No inicio do século IV, o ultimo dos reinos Kushan, na Índia, foi conquistado pelos hunos brancos ou eftalitas,outro povo indo-europeu. Os alanos eram povos de diversas origens asiáticas, que falavam uma língua iraniana e compartilhavam da mesma cultura. Era um grupo de pastores e guerreiros nômades iranianos entre os povos Sármatas, se estabeleceram na Sarmácia entre o Mar de Azov e o Cáucaso, no século V d.C. invadiu e dominou a Gália e a Península Ibérica.Os arianos se estabeleceram na Pérsia desde o final do 3º milênio a.C. sua pátria era Ariana atual território do Afeganistão. Seu Império foi destruído pelos hunos asiáticos Os hunos de Átila também devastaram o Império Sassânida do Irã, fundando uma dinastia no norte da Índia, os Xiong-nu. Quatrocentos anos depois do colapso do poder Xiong-nu no norte da Ásia Central, a liderança dos povos turcos passou a ser dos Göktürk, seus descendentes, eles herdaram suas tradições e experiência administrativa. Os sucessores dos Xiong-nu na Ásia Oriental, os Göktürk (turcos azuis) eram povos originários do norte da China, descendentes dos grupos étnicos altaicos.A primeira menção conhecida Monika Gryczynska 86 Um olhar sobre o Mundo do termo turk aplicado a um grupo turco foi em referência aos göktürks no século VI, conforme consta de um registro chinês. A principal onda de migração dos turcos, que estavam entre os mais antigos habitantes do Turquestão, ocorreu na Idade Média, quando eles se espalharam através da maior parte da Ásia, chegando à Europa e ao Oriente Médio. Os turcos azuis governaram desde os anos 552 a 745, um Império que ia da Manchúria, no norte da China, abrangia a Mongólia, as regiões dos Montes Altay e do lago Baykal, estendia-se às estepes áridas a oeste do rio Syrdarya (Yaxartes), até o Mar de Aral e rio Amudarya (Oxus). Os turcos seljúcidas eram aparentados com os hunos e os Xiong-nu.Os hunos eventualmente desapareceram da história após uma leva de novos invasores, como os Ávaros.No final do século VI,o clã Dulo das Dez Tribos se sepa-rou dos Göktürks para se tornar o Império Khazar da Província de Atyrau, nas estepes do Mar Cáspio. As investigações arqueológicas de memoriais turcos lhes permitiram relacionar com os turcos específicos grupos tribais. Escavações nas proximidades da Cordilheira Sayan-Altai mostrou que havia culturas que poderiam estar relacionadas com os Quirguizes, Kypchaks, e Oguzes.A lingua turca era falada por diversos povos cujo centro estava em Altai. As guerras tribais, a luta pelo poder e pastagens das estepes, montanhas e vales do Cazaquistão obrigou algumas tribos turcas a mover-se para o sul e se estabelecer na Ásia Central ( Turghuses, Karluks, Uzbeques, Oguzes e Seljúcidas), no Sul da Ásia e do Cáucaso (Turcomenistão e Seljúcidas) e na Europa (Kangars-pechenegues, Kypchaks,Turcos Oguzes e Karakalpaks). As cidades de Taraz, Otrar, Ispidzhab e Talkhir estavam na Grande Rota da Seda que ligava o Oriente ao Ocidente.Diversas mercadorias eram transportadas em grandes caravanas de camelos: como seda, tecidos, pedras preciosas, Monika Gryczynska 87 Um olhar sobre o Mundo ouro e prata, medicamentos, corantes, cavalos, elefantes, leopardos, avestruzes e escravos para venda. Os Ávaros são considerados um grupo túrquico proto-mongol procedente da Mongólia, aparentado com os hunos. Origi-nalmente eram da Sibéria Ocidental, viviam nas encostas dos Montes Urais.Conservaram-se sempre como pastores e guerreiros nômades, nunca se adaptaram a agricultura.Invadiram e se estabeleceram no sul da Ucrânia as margens do Mar Negro.Por volta do ano 560 os domínios ávaros iam do Volga até a foz do Danúbio. Um outro ramo Ávaro ou hunos brancos eram povos de origem uralo-altaica, pasto-res nômades das estepes da Ásia Central, foram conduzidos para oeste, pelos turcos azuis seus parentes, assolaram a Europa durante três séculos(558 a 823), foram derrotados por Carlos Magno,e a partir de 822 esse povo desapareceu da história, talvez assimilado por outras etnias. Em 766,os Karluqs, Naimans e Tangutes, organizados numa confederação de tribos turcas, estabeleceram um Estado no que é hoje o Cazaquistão Oriental.Nos séculos VIII e IX, porções do sul do Cazaquistão foram conquistados pelos árabes, que introduziram o Islã. Durante os séculos VIII até XI,os turcos Oghuz controlaram o oeste do território e os turcos Kimek e Kipchak ocuparam o leste em 7431220.O grande deserto central do Cazaquistão ainda é chamado de estepe Kipchak.Cidades antigas como Taraz, Hazrat e Turkestan foram fundadas, serviam como importante parada ao longo da Rota da Seda, que ligava o Ocidente ao Oriente. Uma consolidação política do território só foi iniciada com a invasão mongol do inicio do século XIII.Em 1.124-1.218, Genghis Khan conquistou o Canato Kara-Khitan e Cazaquistão caiu sobre o controle da Horda de Ouro do Império Mongol até 1446.O Canato Cazaque foi fundado em 1456, na parte oriental do sul da atual República do Cazaquistão.O Canato nem sempre teve um governo Monika Gryczynska 88 Um olhar sobre o Mundo unificado, afim de ter um khan comum, e em 1867 foi incorporado ao Império russo até 1918, como Turquestão Russo. A colonização do Cazaquistão pela Rússia foi retardada por várias insurreições e guerras das populações autóctones, contra a ocupação russa, no século 19. A construção de fortes e acampa-mentos militares começaram a ter efeito destrutivo sobre a economia cazaque tradicional, limitando o território outrora vasto sobre o qual as tribos nômades podiam pastorear os seus rebanhos.O fim do nomadismo começou em 1890, quando grande quantidade de colonos russos foram assentados nas terras férteis do norte e do leste do Cazaquistão. Entre 1906 e 1912, mais de meio milhão de fazen-das russas foram implantadas. A construção de Estrada de Ferro Trans-Aral, entre Oremburgo e Tashkent facilitou ainda mais a colonização russa. O gover-no de Moscou fez uma enorme pressão sobre o modo de vida tradi-cional cazaque ocupando pastagens e uso de recursos hídricos escassos. A fome e o deslocamento das suas terras, fez muitos cazaques juntar-se à Revolta Geral da Ásia Central, contra o recru-tamento de homens para o exercito imperial russo na Primeira Guerra Mundial. Em 1916, as forças russas reprimiram com violência a resistência à tomada da terra e recrutamento, milhares de cazaques foram mortos e milhares fugiram para a China e Mongólia.Durante a grande fome de 1921, milhões de cazaques morreram de inanição.A repressão soviética da elite tradicional, somada à coletivização forçada das décadas de 1920 e 1930, trouxe fome e instabilidade. Entre 1926 1939 a população do país diminuiu em cerca de 22%, devido à fome, violência e migração em massa. A República Autônoma Socialista Soviética do Quirguistão foi criada em 1920, e foi rebatizada para República Autônoma Socialista Soviética do Cazaquistão em 1925, e Alma-Ata tornou-se sua nova capital. Em 1936, o território foi incluído como república Monika Gryczynska 89 Um olhar sobre o Mundo soviética, ocasião em que experimentou um influxo populacional de milhões de exilados de outras partes da União Soviética, no decorrer das décadas de 1930 e 1940. Muitas das vítimas das deportações foram mandadas para Sibéria ou ao Cazaquistão meramente por sua herança étnica ou seus credos políticos e foram internados nos gigantescos campos de trabalhos forçados. Com o golpe da linha dura de Moscou contra o governo de Michail Gorbatchev, em agosto de 1991, seu governo desmoronou e 11 das 15 repúblicas soviéticas assinaram a Declaração da Dissolu-ção da U.R.S.S. No dia 16 de dezembro de 1991 surgia um novo país.A República do Cazaquistão apareceu no mapa geopolítico do mundo.Desde o fim da União Soviética o país é governado pelo presidente Nursultan Nazarbayev, que se elege sucessivas vezes e promove o crescimento da economia com investimentos externos na extração crescente de petróleo e gás. Ele reestruturou e consolidou muitas operações do governo em 1997, eliminando um terço dos ministérios e agencias da época russa. Lutou duro para garantir á República recém-independente a enorme riqueza mineral e potencial industrial, quando o presidente russo Michail Gorbachev, negociava um acordo com a Chevron, empresa petrolífera americana, para a exploração dos campos de petróleo de Tengiz, no Mar Cáspio. Em 1997, a capital do país foi mudada de Almaty (antiga Alma-Ata) para Astana, (antiga Aqmola). Numa região semidesértica, a 250 km a noroeste de Qyzylorda encontra-se o Cosmódromo Baykonur, de onde a União Soviética lançou os seus vôos tripulados. A cidade de Bayconur possui um status especial por estar sendo arrendada para a Rússia, junto com o Cosmódromo, até o ano de 2050. Em 1947, dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi fundada, próxima à cidade de Semey, a Área de Testes de Semipalatinsk, principal área de testes de bombas Monika Gryczynska 90 Um olhar sobre o Mundo nucleares da União Soviética. O território cazaque converteu-se em campo para provas e armazenamento de armas nucleares soviéticas. A economia do Cazaquistão baseia-se essencialmente nas exportações de petróleo, que representam 56% do valor das exportações. O país dispõe de reservas importantes de urânio, produz 13% da produção total de urânio no mundo.A via ferroviária TransAral atravessa o país passando por cidades como Aral, Qyzyrolda, Turkistan e Shymkent. Também liga o país ao Usbequistão e a Rússia chegando até as cidades de Tashkent e Oremburgo. Da mês-ma forma a via ferroviária Turquestão-Sibéria (Turksib) liga o país ao Usbequistão e a Rússia, mas também ao Quirguistão e as cidades de Tashkent e Novossibirsk. O país possui dois Aeroportos Interna-cionais, ode Astana e de Almaty. Embora o Islamismo tenha sido introduzido no século XV, a religião só foi assimilada tempos depois, ela passou a co-existir com o Tengrismo, 51,6 % dos cazaques são muçulmanos.A crença tradicional cazaque acreditava que diversos espíritos habitavam a terra, o céu, a água e o fogo, assim como as florestas e animais domésticos.Como o gado ocupa espaço central no estilo de vida tradicional, a maioria das suas práticas e costumes nômades estão relacionados a ele. Também estão ligados historicamente à cavalos e equitação. QUIRGUISTÃO. O Quirguistão é uma República da Ásia Central, ex-integrante da antiga União Soviética, é o país mais pobre da região. Tem fronteiras, ao norte com o Cazaquistão, a oeste com o Usbequistão, ao sul com o Tadjiquistão e a sudeste com a China. Tem uma população de 5,4 milhões. Sua capital e Bishkek, maior cidade do país com 865.527 habitantes. Possui uma área de 199.945 km² com mais de 90% Monika Gryczynska 91 Um olhar sobre o Mundo do território ocupado pela cordilheira Tian Shan. O país fica na junção de dois grandes sistemas montanhosos da Ásia Central, o Tien Shan e o Pamir, que compreendem uma série de cadeias de montanhas, que vão do leste para o oeste, sujeitas a graves terremotos.Geleiras e neve perpétuas abrangem mais de 3% do total do território. O vale de Fergana, no sul, é uma grande área fértil onde se concentra a agricultura. O país é banhado pelo rio Naryn e outros afluentes do Syrdaria.O Lago Issyk se situa a 1.600 m acima do nível do mar. Na Idade do Bronze (2° milênio a.C.) o território do Quirguistão era habitado por tribos de pastores e agricultores. Entre os séculos VII e III a.C. foi ocupado pelas tribos sakhas e usunes. Do século I a.C. ao IV d.C.o território do Quirguistão fez parte do Império Kushan.Desde o século X, o território é habitado por povos nômades que emigraram da Mongólia. A região cai sob o controle dos turcos no século XIV e, em 1685, é dominado pelos mongóis.Em 1758, Quirguistão passa a fazer parte do Império Chinês. Em 1864, a região é incorporada ao Império Russo, dentro da região de Semirechensk. Após a Revolução Bolchevique em 1917 o poder soviético se impõe e em 1936 o país se torna uma das Repúblicas Soviéticas. A independência é declarada em 1991, e instala-se uma república parlamentarista. Em 2011, é eleito como presidente Almazbek Atambayev com 63% de votos.A língua oficial è o quirguize, mas também fala-se russo, usbeque, turco.A religião professada é muçulmana sunita 52%, cristã ortodoxa 30%, outras 18%.Grupos étnicos: quirguizes 52%, russos 22%, usbeques 13%, 13 % outros. O clima é subtropical, frio nas montanhas. O ponto mais alto do país e o pico Pobeda com 7439 m, na Cordilheira Tien Shan, fronteira chinesa. As terras baixas do país são pastagens para ovelhas, vacas, cabras, cavalos, yaques e porcos.O solo irrigado é utilizado para plantações de beterraba de açúcar, legumes, arroz, algodão, tabaco, Monika Gryczynska 92 Um olhar sobre o Mundo parreiras, e amoreiras para criação do bicho-da-seda.Algodão, lã e carne são os principais produtos de exportação. REPÚBLICA DO UZBEQUISTÃO Uzbequistão ex-república soviética, país do centro-oeste da Ásia, com uma área de 447,400 km²,e população 28,078 milhões (2012), majoritariamente muçulmana 82%, o Uzbequistão tem grande parte do território ocupado por desertos e estepes secas.Os uzbeques possuem longa tradição sedentária, ligada ao comercio da Rota da Seda.e à agricultura.A irrigação transforma o país em um dos maiores produtores mundiais de algodão e, ao mesmo tempo,provoca uma catástrofe ambiental no Mar de Aral. Vários antigos centros agrícolas importantes se desenvolveram no que é hoje o Uzbequistão, como a Coresmia, no baixo Amudarya, Maveranajar, entre o curso médio do Amudarya e Syrdaria e o vale de Fergana.A população e a língua dos primeiros Estados surgidos no século X a.C. eram indo-europeias. Esses Estados fizeram parte do Império Persa (século VI a.C.) do Império de Alexandre Magno (século IV a.C.) dos reinos greco-bactrianos, de Kushan e do Estado dos hunos brancos eftalitas (século VI d.C.). Desenvolve-se aí uma cultura original, mistura de elementos índia-nos, persas e gregos.O povo usbeque é de origem turca. Os turcos nômades derrotaram os hunos e incorporaram a maior parte da Ásia Central ao seu Império.O Canato Turco do século IX a XIII, formou-se uma civilização muçulmana baseada numa agricultura de irrigação e no artesanato.O conquistador mongol Tamerlão invade o território no século XIV.A grande cidade de Bukhara (centro religioso e de ciência muçulmana) Samarcanda e Monika Gryczynska 93 Um olhar sobre o Mundo Urgenca se tornam prósperos centros de comercio das caravanas que atravessam a Grande Rota da Seda, entre a China e Bizâncio. No século XVIII e XIX, o Canato Turco fica dividido entre os Canatos de Bukhara, Khiva e Kokanda. O Canato de Bukhara protegido pelas montanhas, isolado pelas suas estepes, é um Estado forte e perigoso. Os emires de Khiva e Bukhara só exerciam uma soberania nominal sobre as tribos turcas do deserto de Karakum, que se dedicavam ao comércio de escravos no território do Irã.Os três Canatos, na Ásia Central, entraram em choque com os interesses coloniais da Rússia e da Grã-Bretanha relacionados com o mercado do algodão.A Rússia seria obrigada a opor-lhe forças importantes, e em 1875 domina o país.Em 1867, o czar Alexandre II,cria a Província de Turquistão, com centro em Taskhent, anexada à Rússia. O governo soviético reorganizou as fronteiras da Ásia Central a partir de um critério de limites étnicos. Em 1924, é criada a República Socialista Soviética do Uzbequistão com a divisão do Turquestão Russo,incorporado à União Soviética (URSS). Com a dissolução da URSS, o Soviete Supremo do Uzbequistão proclama a independência em 1991.Nas eleições presidenciais elege-se presidente Islam A.Karimov, reeleito em 2007 ,por mais sete anos. República da Yakútia Os primeiros habitantes do atual Cazaquistão eram o povo Sakha, também chamados de Citas asiáticos, uma tribo nômade que veio das montanhas da Ucrânia no século V a.C. ocupou as estepes do Cazaquistão, desapareceu da região no século II a.C.migrando para a Sibéria Oriental, hoje República de Yakútia (Sakha) perten-cente à Federação Russa, possui uma área de 3.103.200 km², esten-dendo-se Monika Gryczynska 94 Um olhar sobre o Mundo até o Oceano Ártico.A região é escassamente habitada, tal como o resto da Sibéria. Sua capital é Yakutsk. Nos extremos das regiões polares da Yakútia ocorrem às maravilhosas auroras boreais que são fenômenos visuais. O fato ocorre devido ao contato dos ventos solares com o campo magnético do nosso planeta, daí se gera o espetáculo de luzes coloridas e brilhantes pelos céus. Acontecem no período noturno ou no final da tarde do curto verão. Esse fenômeno pode acontecer tanto no pólo norte (aurora boreal) como no pólo sul (aurora austral). A língua yacuta é uma das línguas da família norteturcomana parte dos idiomas altaicos, mas a língua oficial usada é o russo. Na região foi fundado um Parque tipo Pleistoceno que recria a tundra com sua vegetação típica. É o bioma mais frio da terra. Cerca de 40% da Yacútia fica ao norte do Circulo Polar Ártico, banhada pelo Mar de Leptev e pelo Mar Siberiano Oriental, as águas mais geladas dos mares do Hemisfério Norte.As fronteias terrestres são: Chukotka ou terra dos povos chukchis à leste, Magadan e Khabarovsk à sudeste, Amur e Chita ao sul, Irkutsk à sudoeste e Krasnoyarsk à oeste, seguindo o curso do rio Yenissey que deságua no Mar de Kara. Dessa região siberiana de Yacútia que emigrou a maior parte das tribos nômades povoadores das Américas. O Istmo de Behring, entre o Alaska e a Sibéria (Rússia), foi sem dúvida alguma a principal rota de migração dos povos asiáticos, o corredor de entrada, uma vez que tempos houve em que a América estava ligada à Ásia e onde é hoje o Estreito de Behring era um Istmo que podia ser atravessado a pé sobre as geleiras então ali existentes.O contingente racial que emigrou para a América, através de milênios que se sucederam, são elementos raciais mais importantes na forma-ção dos povos indígenas das Américas. Foi o mongol-asiático, o malaio, polinésio e australiano, cada grupo por seus próprios caminhos, por mar ou por terra. Durante Monika Gryczynska 95 Um olhar sobre o Mundo milênios essas tribos invasoras, caçadores nômades, princi-palmente citas-mongois, seguindo a costa siberiana atingiram o Alaska, as planícies do Canadá, e espalharam-se por toda a região americana, seguindo as grandes manadas de búfalos ou outra espécie de caça.E assim, por sucessivos milênios, talvez após a penúltima ou última das muitas Eras Glaciais, cerca de 40-60 mil anos atrás estes povos atingiram a América e aqui se estabeleceram. Esses povos emigrantes, nômades da Ásia, habitavam as estepes e a taiga siberiana, outros vinham das estepes e desertos da China, Mongólia ou Turquestão. Muitos siberianos viviam de criação de renas na Tundra, onde cresce um tipo de vegetação rasteira típica de regiões polares.O solo ártico permanece congelado, coberto de neve por 10 meses no ano; apresenta um aspecto úmido e encharcado, em virtude da evaporação ser muito lenta e da fraca drenagem do solo causada pelo permafrost ,solo impermeável, permanentemente congelado.Perma-frost começa congelar com alguns centímetros de profundidade e se prolonga até 1.000 metros, nas áreas do Ártico, da Antártida, da Sibéria e Alaska.Leva centenas de anos para congelar. Como as temperaturas são muito baixas a matéria orgânica decompõe-se muito lentamente, o crescimento da vegetação é lento. Uma adaptação que as plantas destas regiões desenvolveram é o crescimento em maciços o que as ajuda a evitar o ar frio. Cresce junto ao solo o que as protege dos ventos fortes e as folhas são pequenas para reter a umidade. Apesar das condições inóspitas, existe uma grande varie-dade de plantas que vivem na tundra. A tundra ártica e subártica define a região intermediária, mais ao sul, cobertas com tapetes de relva verde, de liquens e musgos, são pastagens favoritas das renas. Na época do verão, com a duração de cerca de 2 meses, quando o dia dura 24 horas e a temperatura não excede os 6° C-10° C. a camada superficial do solo descongela,a tundra desabrocha, então ocorre uma explosão de vida Monika Gryczynska 96 Um olhar sobre o Mundo vegetal, surgem liquens, musgos, ervas e arbustos baixos, o que permite que os animais herbívoros sobrevivam, como lebres árticas, renas e lêmingues.Estes constituem a cadeia alimentar de outros carnívoros, como os arminhos, raposas árticas, lobos e ursos polares. Existem também algumas aves como a perdiz-das-neves e a coruja-dasneves. A maioria dos animais, sobretudo aves e mamíferos, apenas utilizam a tundra no curto verão, migrando no inverno para lugares mais quentes.Assim que a temperatura começa a baixar, as renas migram em grandes manadas, atravessando rios, charcos e pântanos, estes, criadouros de miríades de insetos e moscas que, em grandes enxames acompanham os animais, importunando-os, sugando-lhes o sangue.Em algumas regiões,como forma de adaptação às baixas temperaturas de inverno, alguns animais migram enquanto outros hibernam, como o urso branco. A Taiga ou floresta boreal de coníferas, localiza-se exclusivamente no Hemisfério Norte, ao sul da tundra. Constitui-se de pinheiro siberiano e de coníferas Larix, de abetos, também aparecem faias pretas e bétulas. A taiga cobre 47% da Yacútia, sendo 90% com lariços. Encontra-se em regiões de clima frio e com pouca umidade. O clima é subártico, com ventos frios e gelados durante o ano todo. As estações do ano são duas, inverno e verão. O inverno é muito frio, longo e seco, a chuva cai em forma de neve, os dias são curtos.O verão é muito curto e úmido e os dias são longos.A temperatura oscila entre 54º e 21º C.O solo é fino, pobre em nutrientes,coberto de folhas e agulhas caídas das árvores tornando-o ácido e impedindo o desenvolvimento de outras plantas.As florestas boreais demoram muito tempo para crescer e há pouca vegetação rasteira.A forma cônica das árvores da taiga contribui para evitar acumulação da neve. A fauna é mais variada e podem encontrar-se alces, renas, coelhos, morcegos, gatos selvagens, linces, tigres siberianos, lobos, Monika Gryczynska 97 Um olhar sobre o Mundo arminhos, raposas, esquilos, ursos, martas e miríades de insetos nos criadouros dos pântanos formados pelo degelo.Há grande variedade de peixes nos rios e aves diversas, algumas de grande porte, como falcões, a águia real e a águia de aza redonda.Tal como na tundra, não aparecem répteis devido ao clima gelado da taiga. Monika Gryczynska 98
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