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Arte de Rua julho de 2013 Arte de rua Janice Jara Conceição Dutra - [email protected] Máster em Arquitetura Instituto de Pós Graduação - IPOG Resumo O tema central deste trabalho foi a investigação das principais manifestações de arte urbana na área central de Pelotas entre julho de 2011 e julho de 2012, a fim de compreender a estrutura necessária para sua realização e finalmente propor um espaço urbano organizado para este fim. Para tanto, foram pesquisados artigos em jornais e sites no período e feito um levantamento fotográfico das ocorrências em julho de 2012. Paralelamente, foram consultadas, como aporte teórico sobre estas manifestações, as obras Pallamin (2000) e Piovesana (2007). Percebeu-se claramente que a divulgação desses trabalhos, sobretudo no “Calçadão” de Pelotas, em conjunto com o comércio ambulante, contribui para a dificuldade no fluxo de pessoas e andamento do comércio, além de descaracterizar a paisagem urbana. Entendeu-se que a característica turística que a cidade reivindica para si teria crescimento com um maior destaque a estes artistas em um local apropriado para apresentarem-se. Finalmente, a autora propõe a destinação de um local mais adequado à manifestação da arte urbana em Pelotas, em um espaço público e com reconhecido valor histórico. Palavras-chave: Arquitetura; Arte urbana; Ocupação de espaços públicos. 1. Introdução Esta pesquisa tem como tema principal a ARTE DE RUA que é conceituada como “praticamente todo tipo de diversão, como contorcionismos, acrobacias, truques com animais, truques com cartas, ventriloquismo, danças, recitais de poesia, apresentações de música, estátuas vivas, entre outros.” (WIKIPEDIA, 2012). É a arte expressada por artistas que, na maioria das vezes, estão no anonimato e que preferencialmente usam as ruas como palco, sem considerar, muitas vezes, se o local onde estão é apropriado para divulgarem seus trabalhos. Em Pelotas, muitos desses artistas são vistos apresentando-se na zona central, na maioria dos casos nos calçadões das ruas Andrade Neves, Quinze de Novembro e Sete de Setembro. São artistas de vários gêneros como grafiteiros, dançarinos, músicos, estátuas vivas, pessoas que mostram suas habilidades de malabarismos com ferramentas variadas. Essas expressões artísticas populares atraem os olhares de curiosos que circulam no calçadão e também de pessoas que realmente apreciam esse trabalho. Mas há também os que criticam tais apresentações porque o centro de Pelotas é um local repleto de comerciantes e estas manifestações acabam escondendo as vitrines e atrapalhando o fluxo de pedestres. Elas somam-se a um conjunto de elementos que poluem urbanisticamente esse local tais como rede elétrica aérea, cabos de telefonia e internet e vendedores ambulantes de diferentes mercadorias. Fizeram parte do trabalho a pesquisa de artigos em jornais e sites sobre manifestações ocorridas no período mencionado e um levantamento fotográfico das ocorrências em julho de 2012, para verificar quais os tipos de manifestações de arte urbana ocorridas e que tipo de suporte urbano ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 necessitavam para acontecer. A parte sobre Arte Urbana foi embasada teoricamente na obra de Pallamin (2000). Paralelamente sentiu-se a necessidade de estudar sobre a infraestrutura urbana necessária e apropriada para tais manifestações, e para isto a obra de Piovesana (2007) foi a base. Depois dessa coletânea de informações e da constatação de que existem convenientes lugares próximos aos calçadões centrais e comerciais sugeriu-se um espaço considerado como o mais apropriado para que esses artistas de rua possam mostrar seus trabalhos sem atrapalhar o fluxo de pedestres no centro comercial. Levou-se em conta que este local deverá ser bem localizado na zona central e preferencialmente que esteja nas imediações dos prédios tombados como patrimônio histórico dessa cidade. O local sugerido foi a Praça Coronel Pedro Osório, partindo de um espaço, embora ainda deficitário para este tipo de manifestação, que foi instalado pela Prefeitura para fins de manifestações artísticas. A proposta inicialmente seria aproveitar uma área já existente na praça com forma semicircular, com revestimento no chão com ladrilho hidráulico, o que caracteriza as calçadas de Pelotas, onde ocorreriam as apresentações artísticas. Neste espaço já existe banco que “convida” alguns jovens para reunirem-se, conversarem e tocarem violão ao ar livre. Como a população pelotense valoriza muito seus prédios históricos, acredita-se que este local tornase interessante, já que o mesmo está voltado para o principal teatro de Pelotas, o Sete de Abril, que tem grande valor histórico para o patrimônio arquitetônico e cultural dessa região. Figura 1 - Praça Coronel Pedro Osório vista para o Teatro Sete de Abril ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Figura 2 - Teatro Sete de Abril vista para a Praça Coronel Pedro Osório 2. Arte Urbana: caracterização e tipos de manifestação Vivemos numa sociedade onde muitas pessoas procuram divulgar, apresentar e vender o seu trabalho de forma autônoma e livre, utilizando o espaço público urbano como o local mais indicado para isso. Desta forma, aqueles que praticam a arte urbana como meio de sobrevivência encontram, naturalmente, seu maior público. Conforme Pallamin (2000), a arte urbana é praticada pela sociedade e desenvolvida na zona urbana, especialmente nas ruas. Os artistas sentem-se no direito de ocupar espaços da cidade sem estarem preocupados se irão atrapalhar o andamento da vida urbana. Esse fato de certa forma afeta o aspecto social, cultural e político da população. Percebem-se diversas formas de manifestações de arte urbana. Para alguns artistas é uma forma de expor seu trabalho utilizando técnicas e materiais para atrair os olhos da população, ganhar dinheiro, levar a arte ao alcance do povo, estimular e incentivar os menos favorecidos. O Grafite parece ser o primeiro tipo de arte urbana que nos vem à mente, talvez porque permaneça nas ruas como um registro. Aos poucos, vai alastrando-se pelas cidades e passando a ser uma forma de interferência na paisagem urbana, constituindo uma cadeia comunicativa entre o grafite, o grafiteiro, o morador da cidade e o entorno. Esta forma de expressão artística está espalhada por vários lugares atraindo muitos olhares. De certa forma abre-se uma discussão quanto à influência que causa ao território urbano e à opinião das pessoas em relação a essa arte (SCOTTO, 2008). Hoje em dia a sociedade aceita esse trabalho como arte porque os profissionais utilizam de formas e cores para pintar e criar personagens, conceitos e figuras em muros, painéis e elementos que acreditam que possam servir como ambientes e plataformas para soltar sua criatividade entre traços e sprays (SCOTTO, 2008). Entretanto, esta atividade expressada em grandes espaços urbanos ainda carrega preconceito porque não há divulgação de como e por quem este trabalho é desenvolvido. Para que os leigos no assunto possam conhecê-lo, seria necessário que houvesse mais divulgação e aproximação com as pessoas. Segundo alguns grafiteiros, o apoio e incentivo à divulgação de seus trabalhos são fundamentais para que sejam valorizados, reconhecidos e vistos não só como pintores, mas como artistas urbanos. Sendo assim, acreditam que um local apropriado atrairia o público que conhece e aprecia essas expressões, ao mesmo tempo os que não conhecem teriam a possibilidade de questionar e ter um contato mais próximo do ambiente desses artistas (SCOTTO, 2008). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Outra manifestação de arte urbana muito comum são as estátuas vivas. Conforme Brito (2012) este fenômeno se expandiu desde os anos 90, invadindo as ruas mais movimentadas do Brasil inteiro. Muitos destes artistas passam dificuldades porque vivem viajando, precisam pagar hospedagens, alimentações e passagens. É desse trabalho que vem o seu sustento, pois as pessoas param, olham o artista e deixam algum dinheiro. As estátuas vivas são performances temáticas em movimentos estáticos, geralmente em pé, com pausas estratégicas e perfeitas. A concentração e a resistência são fundamentais para esses artistas além de terem que construir personagens que devem ter maquiagens e cenários. A preparação de uma apresentação de estátua viva é cara já que as maquiagens devem ser apropriadas para o corpo e os artistas devem usar artifícios para proteger a pele do frio, como base ou creme hidratante corporal. Outra expressão artística são as artes circenses que nos dias atuais estão vivendo um processo de transformação. A lona deixou de ser o único lugar onde o circo se apresenta. Uma nova visão se cria neste momento, o circo está voltado para todas as pessoas - crianças e adultos - e sendo utilizado de maneira educacional, utilizando os movimentos do corpo. Hoje é possível assistir a um espetáculo circense em teatros, parques, praças e lugares públicos. Até então o “fazer circo” estava limitado às pessoas que seguiram seus familiares, que nasceram no circo ou fugiram com ele, dando continuidade aos trabalhos de geração a geração. Com o tempo, a arte circense está atraindo outro público, formado por pessoas que apreciam a dança, o malabarismo, o teatro e a representação, por isso houve a abertura para esse novo tipo de arte, uma arte que junta técnicas do circo, tais como se pendurar em um trapézio, jogar bolinhas, subir em um tecido e saltar, com apresentação em teatros fechados e lugares públicos e abertos (TELLES, 2007). 3. Manifestações de Arte Urbana em Pelotas Entre as manifestações de arte de rua mencionadas pelos autores consultados, destacam-se aqui aquelas que ocorreram em Pelotas no período desta pesquisa, melhor caracterizando-as. O Grafite é uma das manifestações de arte de rua mais comuns nesta cidade. Recentemente o artista plástico Jotapê Pax esteve em Pelotas para ministrar uma oficina de grafite tendo como objetivos o reconhecimento da arte de rua como ferramenta de socialização e entretenimento e a aproximação dos interessados na prática da arte, desenvolvendo um pensamento criativo de forma coletiva. Devido ao reconhecimento de seu trabalho, é possível ver sua arte em ambientações de restaurantes e fachadas comerciais pelo Brasil. Fora do país, apresentou-se em festivais culturais de arte. Segundo ele, a atividade era considerada marginal, mas atualmente é possível vê-la em galerias e museus. (DIÁRIO POPULAR, 2012) Figura 3 - Grafite de Jotapê Pax ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2012) Figura 4 - Grafite de Jotapê Pax Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2012) Figura 5 - Grafite de Jotapê Pax Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2012) Há também outro tipo de arte de rua que atrai os olhares das pessoas que circulam pela cidade. Ao andar pela Rua Andrade Neves, onde se localiza o principal calçadão de Pelotas, depara-se com personagens conhecidos como estátuas vivas. Atualmente encontramos o “homem prateado”, figura ilustre que encanta e alegra as pessoas que por ali passam. Este artista geralmente usa poucas vestimentas, figurinos e maquiagens criados por ele. Em meio ao fluxo de pessoas, vendedores ambulantes, comerciantes de artesanatos de rua, ele se mantém forte e persistente, mesmo sabendo que essa profissão pode ser admirada ou desprezada. Questionado sobre o que pensa sobre o local em que se instala para apresentar-se, revela acreditar que este é um lugar bastante movimentado por pedestres e ali consegue arrecadar dinheiro para sua sobrevivência. Ao mesmo tempo não saberia onde mais se apresentar. Se estas estátuas vivas tivessem seu reconhecimento profissional e o trabalho divulgado, existiria a possibilidade de terem a rua como sua sobrevivência e possivelmente alguns espaços de estabelecimentos fechados onde fariam eventos corporativos e particulares (festas, aniversários...) como vitrine viva, hoje já visto em vários lugares do mundo. (BRITO, 2012) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Figura 6 - Estátua Viva, “homem prateado” Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2012) Figura 7- Estátua Viva, “homem prateado” Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2012) Outros artistas que eventualmente são encontrados pelas principais ruas de Pelotas são integrantes da oficina permanente de técnicas circenses criada nessa cidade, o Tholl, formada por artistas de teatro e dança grupo que se apresentam em teatros fechados e também na rua, caracterizando um circo sem lona e picadeiro. Os principais objetivos do Grupo Tholl são: estimular o crescimento cultural de crianças e adolescentes com sua inserção no mundo das técnicas circenses, desenvolvendo atividades físicas e lúdicas; promover as técnicas circenses, conjuntamente com teatro e dança, em montagens de espetáculos com elevado padrão de excelência; difundir e desenvolver o pleno exercício da educação, proporcionando qualidade de vida à comunidade em que está inserida; exercer parcerias, diálogo local e solidariedade entre diferentes segmentos sociais, que visem interesses comuns com a arte. (www.grupotholl.com) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 O grupo é reconhecido nacionalmente, tanto que o seu trabalho foi apresentado na emissora da Rede Globo nos programas Caldeirão do Huck e TV XUXA, além disso, também se apresenta com frequência em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em cidades que ficam nos arredores de Pelotas e em outros estados do Brasil. Temos este como um “produto” de grande importância para nossa cidade. Este também trabalha com publicidade, divulgando eventos ligados a eles ou empresas terceirizadas. Fazem apresentações artísticas pelos calçadões centrais de Pelotas em datas comemorativas. Quando aparecem, as pessoas direcionam os olhares para as performances e figurinos dos personagens, enquanto que outros cercam esses artistas, tornando o calçadão central um palco, esquecendo que o andamento do comércio fica prejudicado. Figura 8- Arte Circense, grupo Tholl Fonte: (www.grupotholl.com) Figura 9- Arte Circense, grupo Tholl Fonte: (GRUPO THOLL, 2012) Outro grupo de teatro, mais novo, a “Companhia Informal de Artes Cênicas”, parte do princípio que o público não tem mais o costume de sair de casa para ir ao teatro. Sendo assim, resolveu levar seu trabalho ao público. Em meio à multidão que circulava pelo centro comercial, personagens com roupas e maquiagens fora do convencional chamaram a atenção dos pedestres em julho de 2010, porque começaram a interagir com as pessoas que estavam a sua volta, as quais reagiram de várias formas. Enquanto as crianças aceitaram as brincadeiras e mergulharam no mundo da imaginação, outros só olhavam. O grupo visa expandir a cultura e mostrar que é possível fazer arte de rua (DIÁRIO POPULAR, 2010). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Figura 10- Companhia Informal de Artes Cênicas Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2010) Além de manifestações circenses e teatrais, a cidade de Pelotas é rica em grupos e companhias de dança. “O corpo da cidade que dança” foi o tema escolhido por um grupo da “Escola de Dança Estímulo”, em parceria com o curso de Dança - Habilitação em Teatro, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), para não deixar passar em branco o Dia Internacional desta arte. Berê Fuhro Souto, integrante da escola “Estímulo”, destaca que esta experiência é inovadora em Pelotas e escolheram um tema é para chamar a atenção de todos sobre os problemas do cotidiano como a economia, os mendigos que caminham pelas ruas, o lixo espalhado e os sinais de trânsito. “Eles ensaiaram a forma como iriam mostrar o contemporâneo ao público. O diferencial de outras apresentações de rua são os diálogos que em algumas situações são improvisados de acordo com o momento”, destaca Berê. Para ela todas as reações do público são importantes e com isso está sempre em busca de novas apresentações para surpreender o mesmo. Nesta ocasião, dançarinos perguntavam: "você dança?". Alguns pedestres diziam que sim e outros atravessavam a rua rapidamente e criticavam a manifestação artística. Em algumas exceções, ocorria a interação entre público e artista (DIÁRIO POPULAR, 2010). Figura 11- Grupo de Escola de dança Estímulo Fonte: (DIÁRIO POPULAR, 2010) Podemos encontrar um casal de artistas de rua morador da periferia de Pelotas, que enfrenta engarrafamentos no trânsito para chegar ao calçadão, principal palco de suas apresentações. Trabalham de segunda a sábado e se chover não se apresentam, porque o local é descoberto. Estão sempre acompanhados dos bonecos que também formam um casal. Devido à divulgação do trabalho, já estão se apresentando em eventos infantis e comunidades carentes em Pelotas. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 A arte deles é mais uma manifestação entre tantas outras presentes nas ruas centrais. Mais do que isso, foi a alternativa encontrada por pessoas talentosas para vencer o problema do desemprego. Por meio das apresentações de suas habilidades nas ruas, os artistas vivem exclusivamente da renda obtidas com as apresentações. Figura 12- Casal de dançarino com bonecas de pano 4. O calçadão de Pelotas e seus “múltiplos” usos De acordo com Figueira (2009), Pelotas é um município que possui como atividade principal o comércio, que atrai a população das cidades da redondeza. O número de estabelecimentos comerciais e indústrias que prestam serviços são grandes. Além disso, a cidade é polo na produção de doces caseiros e industrializados, sendo sua qualidade e sabor conhecidos pelo país. O calçadão da cidade abrange muitos pontos comerciais e de integração regional. É nele que estão as principais lojas de bazar, confecções, entre outras. Local preferido para moradores locais e das cidades próximas para fazerem compras e passearem, consequentemente possui grande fluxo de pedestres. Devido ao comércio e à integração social existe competitividade no mercado e na diversificação cultural. Neste local é possível encontrar apenas pequenos espaços para descanso, bancos ao redor das árvores e circundando o chafariz. Destaca-se na paisagem urbana do calçadão da Andrade Neves o Chafariz das Três Meninas que veio da França em meados de 1874, na Rua Andrade Neves entre Marechal Floriano e Sete de Setembro. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Figura 13- Chafariz Três Meninas Apesar desta bela construção isolada, no calçadão de Pelotas, o planejamento urbano sofre deficiências porque o crescimento da população ficou desproporcional em relação à infraestrutura do mesmo. As condições ficaram precárias e os problemas começaram a aparecer, tais como: fiações de rede elétrica e TV a cabo, lixo a céu aberto, animais abandonados, mendigos embaixo das marquises, bicicletas escoradas em árvores, ambulantes, artistas de rua, vendedores de artesanatos, carrocinhas que vendem lanches e mesas de restaurantes espalhados pelo calçadão. Assim, manifestações de cidadania, expressões artísticas e de pessoas com diferentes estilos e interesses ocorrem no meio do fluxo de pedestres ou em esquinas, de modo improvisado. Figura 14- Calçadão da Rua Andrade Neves ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Figura 15- Calçadão da Rua Andrade Neves É necessário que haja intervenção de autoridades, políticos, empresários e população, juntamente com profissionais do turismo, arquitetura, urbanismo e geógrafos, para traçarem metas a fim de revitalizar e reativar o potencial turístico desse espaço. Para os turistas, o calçadão é um dos principais atrativos da cidade e para o turismo gerador de empregos se expandir, é necessária maior atenção a esses problemas. Algumas estratégias nesse espaço urbano seriam indispensáveis, como: utilização de rede elétrica, telefonias e TV a cabos subterrâneos, um quiosque de informações turísticas, melhorias no calçamento, espaço destinado aos ambulantes fora do calçadão, painel de informações sobre programações locais de artistas de rua, painéis com informações históricas do chafariz. Estas medidas certamente diminuiriam a atual poluição visual deste espaço. Acredita-se que estas medidas poderiam melhorar as condições de serviços e andamento da zona central de Pelotas, incentivando a população a valorizar o patrimônio histórico, proporcionando bem estar na sua infraestrutura, melhorando a qualidade de vida das pessoas que frequentam esse local. Paralelamente à infraestrutura urbana, seria necessária uma política que protegesse a paisagem para delimitar o que poderia ser ou não ser utilizado, dentro das finalidades a que foram planejados. Neste momento, os profissionais de arquitetura e urbanistas ambientalistas deveriam atuar juntamente com órgãos competentes e Prefeitura, exercendo o planejamento urbano e a fiscalização, de modo a impedir as irregularidades e fazer cumprir as leis. 5. A infraestrutura arquitetônica e urbana necessária aos tipos de manifestação artística urbana em Pelotas Considerando as ideias de Tjibaou (2005), o centro cultural deve ser um lugar destinado aos artistas para divulgarem seus trabalhos e exporem sua arte, diminuindo os problemas causados ao fluxo de pedestres no calçadão, como se ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 escreveu. Para isso seria necessário um espaço público com infraestrutura adequada à arte de rua como de um espaço de arte e de fácil acesso. Como se tratam de manifestações artísticas voltadas à arte de rua, é necessário que o local atraia esses artistas e seu público. Pensando nisso, devem-se utilizar alguns elementos arquitetônicos no estudo da volumetria e nas cores para atrair as pessoas sem esquecer a funcionalidade e a eficiência do mesmo. Além disso, as ambientações devem ser acolhedoras e valorizarem a identidade do conjunto arquitetônico. O local deve estar equipado adequadamente para que os observadores possam se sentar e se proteger das variações climáticas. A infraestrutura necessária para que haja bom funcionamento do espaço de arte deve possuir palco multiuso coberto, arquibancadas que não sejam fixadas no chão para possibilitar o deslocamento caso seja necessário, iluminação natural utilizando de artifícios arquitetônicos para aproveitar ao máximo esse recuso natural e artificial quando necessário, banheiros públicos para homens, mulheres e portadores de deficiência, vestiários para os artistas, bilheteria caso seja cobrado algum ingresso ou contribuição, acessibilidade para cadeirantes com piso tátil e rampas, equipamentos de som, para o conforto térmico evitar grandes superfícies envidraçadas na fachada norte e oeste, em relação ao conforto acústico utilizar material isolante e quanto a segurança prever saída de emergência, sinalização, sistema de alarme e sistema de combate a incêndio no interior. 6. A praça como um espaço de interação e a Praça Coronel Pedro Osório A praça é de domínio público e coletivo para a cidade, segundo Caldeira (2007). Desde a Roma antiga este era o local mais importante da cidade, como também aconteceu no Brasil nas cidades coloniais. Com o tempo, as cidades estão crescendo e as modernidades oferecidas pelas mesmas como cinemas, restaurantes, parques fechados com brinquedos, clubes sociais e shoppings, estão atraindo o público, diminuindo assim a ocupação de espaços abertos e públicos. A praça que foi abordada no urbanismo modernista utiliza os grandes espaços livres ao invés dos locais fechados, mas é criticada pela sua falta de ocupação. No modernismo, a praça tem grande dimensão morfológica, mas se transforma em um espaço vazio, desarticulado do cotidiano urbano, o que a faz deserta e apenas ocupada em situações muito particulares Já a praça contemporânea, a praça de hoje, tem a preocupação de recuperar o sentido de urbanidade, depois das criticas que se fizeram à cidade modernista. (CALDEIRA, 2007) Algumas praças possuem vários nichos com diversos equipamentos como playground, mesas para jogos de dama, bancos, áreas verdes, lagos e áreas livres, lugares atrativos ao público em geral, como a própria Praça Coronel Pedro Osório. Entretanto, apesar deste espaço em Pelotas possuir alguma infraestrutura, falta-lhe outras, que efetivamente atrairiam a ocupação e viabilizariam a ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 permanência por mais tempo e por mais freqüentadores. Não existe, por exemplo, restaurante na mesma. Não existem, também, atrações culturais que atraiam o público para este espaço. Assim, com outras programações existentes na cidade, como a feira de artesanato na Avenida Bento Gonçalves, acaba que não é ocupada por tantas pessoas quanto poderia ser. Apesar disso, a praça se transforma completamente durante uma feira anual de livros. Quando esta acontece, atrações gastronômicas são instaladas, um palco onde vários grupos artísticos se apresentam se faz presente, além dos estandes de livrarias que são a atração principal. A praça ganha, então, a “vida” e a ocupação que não possui durante o resto do ano. A praça Coronel Pedro Osório tem sua origem no estilo modernista de praça século XX, se adequando ao estilo contemporâneo proposto pelos urbanistas. Neste, as praças querem resgatar os moldes dos espaços das praças da antiguidade romana, recuperando o verdadeiro significado do urbanismo. Como projeto de modernização destinado ao embelezamento da cidade ordenada, higiênica e segura das propostas burguesas, a praça é um local público para o exercício da função de lazer e incentivo da vida comunitária. Espaço voltado ao atendimento dos cidadãos, habitantes da urbe, que em suas horas vagas podem desfrutar, na companhia de seus familiares ou amigos, de um espaço comum, bem arborizado, livre do movimento contínuo dos carros e com infraestrutura suficiente para atrair a população para um exercício de sociabilidade, símbolo da coesão social e fruto da prosperidade. (PIOVESANA, 2007) Levando em conta isso se acredita que é possível recuperar o interesse pela utilização da praça como lazer oferecendo programações artísticas com atores locais, através da arte urbana, pois além de incentivar os mesmos seria mais uma alternativa de cultura para a população. 7. Proposta de um espaço da Praça Coronel Pedro Osório A Praça Coronel Pedro Osório, revitalizada em 1997, é repleta de “nichos” como playground, mesas para jogos de damas, bancos, banheiros públicos, monumentos históricos de artistas dessa região, arborizada, em ótima localização e situada na zona central da cidade onde é possível enxergar os calçadões da rua Andrade Neves e da rua Quinze de Novembro. No seu entorno existem muitos prédios considerados patrimônio histórico tais como: a Prefeitura do Município de Pelotas, o Grande Hotel, o Teatro Sete de Abril e casarões históricos. De frente para o Teatro Sete de Abril, existe um espaço ao modelo de um anfiteatro, ao ar livre, onde um piso semicircular é cercado de um banco. Pode-se inferir que a intenção da Prefeitura, ao construí-lo, foi de propiciar um local para encontros e apresentações de todo tipo. Depois de estudos, de pesquisas e de perceber a necessidade de contribuir para melhorar o fluxo dos pedestres e diminuir a poluição urbana dos calçadões centrais de Pelotas, pensou-se em deslocar os artistas de rua justamente para este espaço público já existente, porém pouco utilizado para apresentações artísticas, divulgações de trabalhos e exposição de arte. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Esta proposta vai ao encontro das concepções da praça contemporânea, como espaço de lazer, cultura e convívio social. O fato de este espaço ser aberto ao público permitiria atividades esportivas em geral e de lazer, além de eventos culturais tais como: apresentação de música, realização de espetáculos de teatro, de dança, palestras e exposições artísticas. Com a revitalização deste espaço pode-se pensar que a praça também poderia atrair e despertar o interesse para feiras e eventos porque a mesma possui espaço amplo. “Um espaço aberto para o encontro e o convívio, onde se pode ficar à vontade, vadiar, ler, descansar, namorar, assistir à espetáculos artísticos e esportivos, participar de manifestações públicas...” ( PIOVESANA, 2007) Os profissionais que fazem manifestação artística nos calçadões da cidade não seriam prejudicados quanto ao fluxo de pessoas, pois o anfiteatro da praça se encontra muito próximo a estes calçadões e é ponto de passagem para os pedestres que circulam na área central. Este local precisaria, entretanto, sofrer algumas alterações porque não possui infraestrutura para suprir as expectativas dessa proposta. Imaginou-se um espaço coberto, com arquibancadas, fácil acesso para cadeirantes, sinalização de entrada e saída do centro cultural, iluminação artificial, palco central, aberturas nas laterais e painéis de informações sobre programações de artistas locais de rua, projetada para ser um espaço multiuso e proporcionar a realização de atividades variadas. Dentro das alterações propostas, deverá possuir cobertura metálica com policarbonato transparente no formato arredondado tirando partido a forma geométrica do mesmo. As arquibancadas serão de estrutura de metal, os assentos de madeira, para proporcionar conforto térmico e não deverá ser fixada ao chão. Durante o dia será priorizada a iluminação natural e à noite, artificial. O palco será locado no centro desse “nicho” onde se está desenvolvendo a proposta, cuja pavimentação é com ladrilho hidráulico, dando referência as primeiras pavimentações da cidade. Como a praça possui banheiros públicos, não se sente a necessidade de projetar outros e, num contexto geral, possui boa iluminação artificial com postes de luz já existentes no local. Para convidar a população aos eventos, seria interessante a colocação de painéis luminosos distribuídos pelo calçadão, na frente do local e próximo ao chafariz locado no seu eixo central. Os materiais e infraestrutura sugeridos pretendem que a intervenção construtiva arquitetônica transmita a sensação de transparência e leveza, não causando impacto e sim preservando a visualização do traçado urbanístico dessa área. 8. Conclusão Percebe-se, ao concluir a pesquisa, que o município de Pelotas possui a necessidade de proporcionar à comunidade e aos artistas de rua um espaço para cultura digno e com infraestrutura adequada para a realização e a valorização das atividades artísticas que vêm se desenvolvendo e se instalando em lugares inapropriados, dificultando o andamento dos locais de grande fluxo de pedestres da zona central, já que a cidade dispõe de lugares públicos com a possibilidade de ser adequado para receber tais atividades. A Arte de Rua passaria a possibilitar a convivência e a troca de informações entre as pessoas, agregando um crescimento cultural coletivo, essencial para a formação de uma sociedade mais crítica e participativa. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Arte de Rua julho de 2013 Referências PALLAMIN, Vera M. Arte Urbana; São Paulo: Região Central (1945 - 1998): obras de caráter temporário e permanente. 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