Caderno 1 - Associação Saúde da Família
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Caderno 1 - Associação Saúde da Família
1º CADERN O ACOLHI O A O I O P M EN EA D TO UXOS SOB L F E S A TIN O R , S E Õ Ç ADE A D T I N L I E I B R O RA E N L VU / O C RIS O D A Ó TIC A Prefeitura do Município de São Paulo Marta Suplicy Prefeita do Município de São Paulo Gonzalo Vecina Neto Secretário Municipal da Saúde Fábio Mesquita Coordenador de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada Márcia Marinho Tubone Gerente do Projeto Prioritário Acolhimento Organização Angela Aparecida Capozzolo Eunice E. Kishinami Oliveira Pedro Gilka Eva Rodrigues dos Santos Márcia Marinho Tubone Nelson Figueira Júnior 3 Para a melhoria da qualidade da assistência à saúde no município devemos criar novos instrumentos e tecnologias que apóiem o processo de organização dos serviços voltados para necessidade da população e não exclusivamente para a oferta. Pensar a necessidade é lembrar os princípios do SUS, é pensar a Integralidade de modo a conhecer a realidade, identificando prioridades e tendo como base o perfil epidemiológico do território e a otimização dos recursos existentes nos e entre os serviços. É a busca da Universalidade se traduzindo na organização dos serviços de modo que se garanta o acesso não só para aqueles que procuram, mas também para aqueles que mais precisam. Para isso é preciso utilizar como ferramentas de trabalho a Equidade e o Acolhimento. O Acolhimento não como um ato individual mas coletivo, uma estratégia que visa a ampliação do acesso com abordagem de risco e vulnerabilidade, um diálogo construído dentro do serviço com os profissionais de saúde e com a comunidade fortalecendo o Conselho Gestor, Este “1º Caderno de apoio ao Acolhimento : Orientações, Rotinas e Fluxos sob a ótica de risco e vulnerabilidade” foi elaborado para apoiar os profissionais de saúde no atendimento a demanda espontânea nos serviços. É apenas o primeiro e esperamos que a partir dele, num processo intenso de discussão, possamos aprimorar o seu conteúdo contribuindo cada vez mais para a atuação cotidiana dos profissionais de saúde. Gonzalo Vecina Neto Secretário Municipal da Saúde de São Paulo 5 1º CADERNO DE APOIO AO ACOLHIMENTO - ORIENTAÇÕES, ROTINAS E FLUXOS SOB A ÓTICA DO RISCO / VULNERABILIDADE Coordenação: 6 Márcia Marinho Tubone Equipe: Angela Aparecida Capozzolo Gilka Eva Rodríguez dos Santos Nelson Figueira Júnior Apresentação No processo de implementação do Sistema Único de Saúde deparamo-nos com os desafios de construção de um modelo de atenção que consiga responder às necessidades de saúde da população, garantindo o acesso universal aos serviços e a oferta de uma atenção integral de boa qualidade e resolutividade. Nesse sentido, torna-se de fundamental importância a reformulação das práticas de saúde e dos processos de trabalho que historicamente constituíram-se em um modelo hegemônico dissonantes aos princípios de Universalidade, Integralidade e Equidade do SUS. Na Atenção Básica, constata-se processos de trabalho centrados na oferta de consultas médicas, com a subutilização da capacidade de assistência dos demais profissionais que resultam em dificuldades de parte significativa da população em ser atendida nas suas intercorrências e problemas de saúde. As regras para a oferta de atenção, encontram-se, em geral, distanciadas da necessidade do usuário, que tem o acesso ao atendimento determinado pela ordem de chegada, sem uma priorização por risco/ vulnerabilidade. O Acolhimento surge como uma estratégia para promover mudanças na organização do processo de trabalho visando ampliar o acesso à assistência integral. Propõe uma recepção técnica com escuta qualificada por profissionais da equipe de saúde, para atender a demanda espontânea que chega aos serviços, com o objetivo de identificar risco/vulnerabilidade no adoecer e, dessa forma, orientar, priorizar e decidir sobre os encaminhamentos necessários para a resolução do problema do usuário. Visa potencializar o conhecimento técnico e agregar resolutividade na intervenção dos diversos profissionais de saúde, promovendo o vínculo e a responsabilização clínica e sanitária com os usuários. A elaboração deste caderno foi um grande desafio. A articulação dos diferentes saberes das áreas temáticas de SMS, através do Acolhimento, projeto prioritário da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, proporcionou mais um instrumento para contribuir na melhoria da qualidade da atenção à saúde. Fundamenta-se na necessidade de fornecer subsídios e apoiar as decisões e ações dos profissionais que realizam o Acolhimento na rede de serviços. Contém sugestões de fluxogramas assistenciais, rotinas e orientações para as queixas e problemas mais freqüentes que surgem no atendimento à demanda espontânea nas unidades de saúde, de acordo com os ciclos de vida e temas transversais. O caderno busca destacar as dimensões biológicas, subjetivas e sociais no processo saúde-doença, que devem ser consideradas na identificação de risco e vulnerabilidade para a priorização da atenção bem como ações e orientações de prevenção e diagnóstico precoce que devem ser oportunizadas pelos profissionais de saúde no momento do Acolhimento. Trata-se de um material que deve ser utilizado com criatividade, em conjunto com os diversos materiais já publicados pelo Ministério da Saúde, Secretaria Estadual e Municipal de Saúde, que orientam e normatizam a atenção aos diferentes ciclos de vida e a vigilância à saúde. O Acolhimento é fazer e para fazer tem que saber. Os profissionais de saúde são os principais protagonistas das ações do acolhimento porque são eles quem recebem o usuário, tem domínio sobre a produção do cuidado e tomam as decisões. Qualificar a escuta e a capacidade resolutiva destes profissionais na atenção ao usuário é um processo constante e permanente de apropriação e troca de saberes. É imprescindível a existência de espaços nos serviços de saúde para a discussão coletiva de casos, do processo de trabalho e na adequação das normas, protocolos e orientações à realidade local, para o desenvolvimento de seus próprios fluxogramas e normas de atendimento. Pretende-se que o material apresentado na edição deste primeiro caderno sirva de referencial para que as equipes de saúde, de acordo com os recursos e a realidade local, possam romper com um modelo baseado na oferta e formulem propostas que transformem o cotidiano na construção de um modelo que tenha como eixo o usuário e suas necessidades. Equipe do Projeto Prioritário Acolhimento Secretaria Municipal de Saúde São Paulo – 2004 7 FLUXOGRAMA DE ACOLHIMENTO Usuário procura a Unidade Expediente / balcão verifica demanda do usuário O usuário tem consulta ou grupo agendado Não tem consulta agendada e quer /necessita atendimento Separa o prontuário e encaminha usuário para o atendimento Acolhimento Recepção técnica com escuta qualificada Procura atendimento específico: sala de vacina, curativo, inalação, farmácia, coleta de exames Encaminha usuário para o setor desejado Profissional de Saúde em atendimento individual: Escuta a demanda do usuário; Analisa sua necessidade de atenção; Identifica risco/ vulnerabilidade (biológico, subjetivo e social); Prioriza as ações/atividades • Orienta e resolve situações previstas no Caderno de Apoio ao Acolhimento e demais protocolos; • Oportuniza ações de prevenção e diagnóstico precoce; • Informa sobre atividades desenvolvidas na unidade; • Constrói vinculo; • Agiliza encaminhamentos Retaguarda imediata para casos agudos • Consultas: médica, enfermagem, odontológica, social, psicológica e outras. • Procedimentos: aferição de pressão, curativos, inalação, imunização, medicação, sutura. Área de abrangência Sim Consultas de rotina: médico; enfermagem; dentista e outros. Grupos educativos Visitas domiciliares Vigilância 8 Matrícula Agendamento Não Orientação Encaminhamento seguro com responsabilização ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DA CRIANÇA Elaboração: Ana Cecília Silveira Lins Sucupira Ana Maria Bara Bresolin Eunice E. Kishinami Oliveira Pedro Patrícia Pereira de Salve Sandra Maria Callioli Zuccolotto Colaboração: Henriqueta Aparecida Norcia Nilza Maria Piassi Bertelli Márcia Freitas Maria Elisabete J.Raposo Righi Tânia Jogbi Naira Regina dos Reis Fazenda Maria Laura Deorsola 11 SITUAÇÕES DE RISCO O ciclo da criança compreende um período da vida do ser humano onde incidem diferentes riscos de adoecer e morrer, conforme o momento do processo de crescimento e desenvolvimento e a inserção social da criança. De um modo geral, a vulnerabilidade da criança aos agravos de saúde é maior nos dois primeiros anos de vida, especialmente no primeiro ano, em função da imaturidade de alguns sistemas e órgãos (sistema imunológico, neurológico, motor e outros), que vão passar por intenso processo de crescimento. Além disso, quanto menor a idade da criança, maior a dependência do adulto para os cuidados básicos com a saúde, a alimentação, a higiene, a estimulação e a proteção contra acidentes, entre outros. Planejar o atendimento sob o enfoque de risco significa um olhar diferenciado para a criança que está exposta a determinadas condições, sejam biológicas, ambientais ou sociais – as chamadas situações de risco – que a predispõem a uma maior probabilidade de apresentar problemas de saúde ou mesmo de morrer. Isso significa a necessidade de reconhecer as situações de risco e de priorizar o atendimento a essas crianças, nos serviços de saúde. Priorização da atenção à criança de risco A equidade pressupõe atendimento diferenciado de acordo com as necessidades de cada criança. Dessa forma, devem ser priorizados grupos de crianças que apresentem condições ou que estejam em situações consideradas de maior risco. Considera-se aqui que todas as crianças vivenciam situações de risco que variam de acordo com o seu 12 grau de vulnerabilidade. Assim, propõe-se até os 2 anos de idade a denominação de criança de baixo risco, em vez do termo “criança normal” e criança de alto risco, para aquela que apresenta maior vulnerabilidade diante das situações e dos fatores de risco, como, por exemplo, as que nascem com menos de 2.500 g. RISCOS AO NASCIMENTO 1. Critérios obrigatórios (presença de qualquer um dos seguintes critérios): • Peso ao nascer menor que 2.500g • Morte de irmão menor de 5 anos • Internação após a alta materna Obs: Os recém-nascidos que apresentam deficiências estabelecidas desde o nascimento, doenças genéticas, neurológicas, malformações múltiplas também são consideradas crianças com problemas e que necessitam de cuidados diferenciados. 2. Critérios associados (presença de dois ou mais dos seguintes critérios): • Mãe adolescente abaixo de 16 anos • Mãe analfabeta • Mãe sem suporte familiar • Mãe proveniente de área social de risco* • Chefe da família sem fonte de renda • História de migração da família há menos de 2 anos • Mãe com história de problemas psiquiátricos (depressão, psicose) • Mãe portadora de deficiência que impossi bilite o cuidado da criança • Mãe dependente de álcool e/ou drogas • Criança manifestamente indesejada Em todo atendimento à criança, seja programático ou eventual, é fundamental observar e avaliar: 1- O aspecto geral da criança e seu estado nutricional; 2- A presença de sinais que sejam indícios de violência contra a criança, como hematomas, equimoses ou queimaduras e outros. Reportar ao fluxo de casos com suspeita de violência; 3- As relações que estabelece com o responsável/ cuidador (vínculo familiar) e com o profissional; 4- As condições da alimentação (disponibilidade de alimentos/aceitação); 5- A situação da imunização: atualizar esquema de vacinação; 6- A freqüência à creche /escola . Socialização e atividades de lazer; 7- O seguimento em serviços de saúde. * Área social de risco- definição de micro-área homogênea, segundo critério de risco, no processo de territorialização na subprefeirura. Na medida em que a criança cresce diminui a vulnerabilidade biológica e, na idade escolar, dos 3 aos 10 anos, espera-se uma “calmaria biológica”. Entretanto, em determinadas condições de vida, essa tendência evolutiva de redução na incidência de agravos se modifica. Isso implica na necessidade de uma mudança de olhar na UBS para as situações de risco adquirido, que podem estar presentes em qualquer idade. RISCOS ADQUIRIDOS Presença de um dos seguintes critérios, em qualquer idade: • Desnutrição – abaixo do percentil 3 do NCHS* para peso e altura • Maus tratos • Após a segunda internação • Desemprego familiar e/ou perda absoluta de fonte de renda • Criança manifestamente indesejada • Criança com 3 ou mais atendimentos e observação em pronto-socorro em um período de 3 meses * National Center of Health Statistics, curva padrão adotada pela OMS COMPROMISSOS DA UBS : “O que não pode deixar de ser feito” • • • • • • • PROMOÇÃO/ PREVENÇÃO DE SAÚDE • Identificação e priorização do atendimento ao RN de alto risco; Incentivo ao aleitamento materno; Verificação dos resultados do teste de triagem neonatal; Aplicação e orientação sobre as vacinas do esquema básico; Atendimento seqüencial do processo de crescimento, segundo cronograma proposto no Caderno Temático da Criança; Orientações para uma alimentação saudável; Acompanhamento do desenvolvimento da criança, com ênfase na observação das relações familiares e estímulo a um ambiente que propicie interações afetivas. Atendimento aos agravos à saúde. 13 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO PARA PUERICULTURA (MENOR DE 2 ANOS DE IDADE) Identificar risco:* ao nascimento ou adquirido Bebê de baixo risco Bebê de alto risco Identificar queixas Não Identificar queixas Não Sim Sim Seguir fluxo da queixa específica Orientar vacinação Aleitamento materno Verificar ganho de peso Cuidados gerais Consulta de Enfermagem1 Agendar consulta de rotina de criança baixo risco* Agendar consulta de rotina de criança de alto risco* * 1 14 Consulta médica Ver critérios de risco Ver protocolo de Enfermagem: Atenção à Saúde da Criança FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS AGUDOS CRIANÇA MENOR DE 2 MESES DE IDADE Queixa de coriza e/ou tosse e/ou obstrução nasal e/ou ronqueira e/ou canseira no peito Apresenta qualquer sinal geral de perigo? Não Sinal geral de perigo • Não consegue beber líquidos ou mamar no peito ? • Vomita tudo que ingere ? • Teve convulsões nas últimas 72 h ? • Está sonolenta ou com dificuldade para despertar ? Sim Apresenta FR ou tiragem subcostal Febre ou hipotermia (T menor ou igual a 35,5 °C Não Consulta de Enfermagem Sim Consulta médica 15 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS AGUDOS CRIANÇA MAIOR DE 2 MESES DE IDADE Queixa de coriza e/ou tosse e/ ou obstrução nasal e/ou dor de garganta e/ou ronqueira e/ou canseira no peito Apresenta qualquer sinal geral de perigo? Não Sinais gerais de perigo • Não consegue beber líquidos ou mamar no peito ? • Vomita tudo que ingere ? • Teve convulsões nas últimas 72 h? • Está sonolenta ou com dificuldade para despertar ? Sim Apresenta FR ou tiragem subcostal ? Não Sim Tem febre? Consulta médica Não Tem dor ou secreção no ouvido ? ou tosse há mais de 15 dias ? Não Sim Sim Febre menos ou igual a 5 dias Tem dor ou secreção no ouvido ? ou tosse mais de 15 dias ? Não Atendimento de enfermagem1 16 Febre mais de 5 dias Consulta médica Sim 1 Consulta de Enfermagem2 Aux. Enf. ou enfermeira (o) - Orientações Gerais 2 Protocolo de Enfermagem atenção à Saúde da Criança FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PROBLEMAS CHIADO NO PEITO Respiração curta e/ou falta de ar e/ou chiado no peito Criança menor de 2 meses ou 1º episódio em qualquer idade Sinal geral de perigo • Não consegue beber líquidos ou mamar no peito ? • Vomita tudo que ingere ? • Teve convulsões nas últimas 72 horas ? • Está sonolenta ou com dificuldade para despertar ? Não Sim Apresenta sinal de perigo ? Não Sim Consulta médica Tem febre? Não FR ou com tiragem subcostal Consulta de Enfermagem Sim FR normal e sem tiragem Consulta médica Consulta de Enfermagem Não melhorou: FR ou mantém tiragem Inalação com beta2 conforme receita anterior Melhorado: FR normal e sem tiragem Domicílio 17 ASPECTOS IMPORTANTES NO ATENDIMENTO À CRIANÇA COM QUEIXAS RESPIRATÓRIAS AGUDAS 1. Identificar a idade (menor ou maior de 2 meses) e seguir o fluxo indicado. 2. Identificar se a criança apresenta algum sinal geral de perigo e seguir o fluxo indicado. 3. Se não houver sinal geral de perigo, perguntar: Há quantos dias tem as queixas? Tem febre ? Há quantos dias? Medida ou não ? Quando não tem febre, a criança brinca e aceita a alimentação ? Tem dor de ouvido ? Tem cansaço ou dificuldade para respirar? Tem chiado no peito ? 4. Como avaliar o estado geral / atividade da criança: • Está ativa, brincando – sem gravidade • Fica quietinha, caída, apenas durante a febre – pode não ter gravidade • Fica prostrada, gemente, sem querer brincar mesmo sem febre – sinais de gravidade 5. PRESENÇA DE FEBRE (definida como T maior ou igual a 37,5 º C) • Se sim, há quantos dias: < 5 dias, criança em bom estado geral, com tendência à melhora possivelmente sem gravidade • Se febre há 5 dias ou mais, criança deve ser vista pelo médico ORIENTAÇÕES • Tranqüilizar a mãe / família; orientar banho morno; aumentar a oferta de líquidos e utilizar vestimentas leves. • O uso de antitérmicos pode ser recomendado quando a temperatura for maior de 37,8º C Paracetamol: 1 gota / Kg de peso / dose até 4 x /dia (intervalo mínimo de 4 horas entre as doses) Dipirona: meia gota / Kg de peso / dose até 4 x / dia, intervalo de 6 horas (dose máxima por dia: 60 gotas até 6 anos, 120 gotas de 6 a 12 anos e 160 gotas para maiores de 12 anos) • Procurar a Unidade caso apareça qualquer sinal de alerta. 6. DOR DE OUVIDO Deve ser atendida pelo médico 7. VÔMITOS Se sim, quantas vezes? • Mais de 3 vezes em 2 horas – atendimento com enfermeira ou médico • Após a alimentação ou acesso de tosse – sem gravidade • Vômito em jato – deve ser atendida pelo médico 8. CHIADO NO PEITO • Se for o primeiro episódio de chiado no peito – deve ser atendida pelo médico • Se houver episódios repetidos de chiado no peito (sibilância), deve ser avaliada em consulta de enfermagem 17a 9. DIFICULDADE PARA – CANSAÇO NO PEITO RESPIRAR e verificar a presença de tiragem sub-costal • Se FR e / ou tiragem subcostal deve ser atendida pela enfermeira ou médico • Contar a freqüência respiratória em 1 minuto Faixa etária “Respiração rápida” ou freqüência respiratória aumentada menores de 2 meses de 2 a 11 meses de 1 a menos de 5 anos de 5 anos ou mais 60 ou mais respirações por minuto 50 ou mais respirações por minuto 40 ou mais respirações por minuto 30 ou mais respirações por minuto 10. TOSSE 12. SINAIS GERAIS DE PERIGO • < 15 dias – Consulta de Enfermagem • > 15 dias – Consulta médica • Piora do Estado Geral (letargia ou prostração) • Aparecimento ou piora da febre • Não consegue ingerir líquidos ou alimentos • Presença de dificuldade para respirar 11. ORIENTAÇÕES GERAIS PARA QUEIXAS RESPIRATÓRIAS AGUDAS • Decúbito elevado • Dieta fracionada • Aumentar a oferta de água, suco de frutas ou chás para fluidificar a secreção e facilitar sua remoção • Lavagem nasal com soro fisiológico • Nebulização / Inalação NÃO DAR XAROPE OU ANTIBIÓTICO ORIENTAR SINAIS DE PERIGO E O RETORNO, CASO NÃO MELHORE APÓS 3 DIAS 17b * Para as crianças com Sinais de Perigo, o profissional (médico ou enfermeiro) deverá providenciar as condições para que a criança seja atendida imediatamente no hospital . Estabelecer contato telefônico com o profissional da referência e enviar a Ficha de Referência explicitando o motivo do encaminhamento. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DA DIARRÉIA N°de evacuações, Duração dos episódios Aspecto das fezes Verificar se tem diarréia Não Sim Atendimento de enfermagem A criança está com diarréia há mais de 14 dias? Não Sim Tem sangue nas fezes ? Menor de 2 meses de idade Maior ou igual a 2 meses Não Sim Consulta médica Verificar estado de hidratação Consulta de Enfermagem Sem desidratação Desidratação grave Desidratação Atendimento de enfermagem1 Consulta médica Plano A Consulta de Enfermagem Plano B 18 Consulta médica CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO PANO A:TRATAR A DIARRÉIA EM CASA SEM DESIDRATAÇÃO Criança ativa, Aceitando líquidos Turgor de pele normal 1.Dar líquidos adicionais à vontade: • Amamentar com maior freqüência • Dar soro de reidratação oral • Dar água, chás, caldos, água de arroz, • Quantidade de líquidos adicionais: Até 1 ano: 50 a 100 ml após cada evacuação diarréica 1 ano ou mais: 100 a 200 ml após cada evacuação diarréica 2.Continuar a alimentar com a dieta habitual 3.Retornar se apresentar sinais de perigo. SINAIS DE PERIGO • Piorar o Estado Geral • Não conseguir beber líquidos • Ficar sem urinar por mais de 6-8 horas • Se a diarréia persistir por mais de 5 dias • Aparecer sangue nas fezes PLANO B:TRO NA UNIDADE 1. Quantidade de soro oral nas primeiras 4 horas DESIDRATAÇÃO DOIS OU MAIS DESSES SINAIS Criança irritada, inquieta Olhos fundos Bebe avidamente com sede Turgor de pele semipastoso (Sinal da prega: a pele volta lentamente ao estado anterior) Peso Soro <6 200-400 6 - < 10 400-700 10 - < 12 700-900 12-19 900-1400 Demonstrar para a mãe como dar o soro Oferecer o soro em pequenos goles com colher Se vômitos, aguardar 10 min e continuar mais lentamente 2. Continuar a amamentar no peito 3. Reavaliar o estado de hidratação após 4 horas 4. Selecionar o plano adequado para continuar o tratamento DESIDRATAÇÃO GRAVE – DOIS OU MAIS DESSES SINAIS Criança letárgica ou inconsciente Olhos fundos Não aceita líquidos ou aceita muito mal Turgor de pelo pastoso – Sinal da prega: a pele volta muito lentamente ao estado anterior CONSULTA MÉDICA IMEDIATA 19 ASPECTOS IMPORTANTES NA AVALIAÇÃO DA CRIANÇA COM DIARRÉIA 1. Criança abaixo de dois meses deve sempre ser avaliada pelo médico. 2. Quando não houver tempo suficiente para acompanhar a TRO na unidade, pode-se iniciar a TRO e terminar a hidratação em casa, exceto nos seguintes casos: Fatores de risco individual - Criança menor de 2 meses - Crianças menores de 1 ano com baixo peso ao nascer - Crianças com desnutrição moderada ou grave Fatores de risco situacional - Dificuldade de acesso ao hospital - Mãe ou responsável pela criança com dificuldade de compreensão - Criança proveniente de microárea social de risco Nesses casos, encaminhar para hidratação no hospital. 3. Orientações para retornar à unidade de saúde, se ocorrerem sinais de perigo SINAIS DE PERIGO • Piorar o Estado Geral • Não conseguir beber líquidos • Ficar sem urinar por mais de 6-8 horas • Se a diarréia persistir por mais de 5 dias • Aparecer sangue nas fezes 20 4. Indicações para encaminhamento para hospital ENCAMINHAR PARA O HOSPITAL QUANDO: • A criança não ganhar ou perder peso, após as primeiras 2 horas de TRO • Houver alterações do estado de consciência (comatosa, letárgica) • Vômitos persistentes (no mínimo 4 vezes em 1 hora) • Íleo paralítico (distensão abdominal) 5. Não se recomenda o uso de antiemético, porque a criança fica sonolenta, o que dificulta a aceitação do soro oral. 6. Não se deve utilizar antidiarréicos e antibióticos para diarréia. 7. Orientações para os casos de diarréia - Incentivar o aleitamento materno - Orientar alimentos de fácil digestão, pastosos ou líquidos - Orientar higiene pessoal e dos alimentos - Orientar utilizar água filtrada - Orientar o destino adequado dos dejetos - Orientar o uso da TRO no início dos sintomas diarréicos Esclarecer sobre a evolução da diarréia que pode demorar até 14 dias. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE CONJUNTIVITE Queixa de secreção ocular Secreção clara Consulta de Enfermagem Secreção purulenta Consulta médica Orientações Gerais • Limpeza freqüente das secreções com água limpa e fria. • Fazer compressas com água limpa e fria, várias vezes ao dia • Lavar bem as mãos antes e após qualquer manipulação dos olhos • Não utilizar água boricada ou outros produtos nos olhos • Usar toalha separada 21 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE FALTA DE APETITE Apresenta falta de apetite há menos de 1 semana Não Sim Bom estado geral Sim Consulta de Enfermagem Não Apresenta outras queixas associadas? Orientações gerais Febre e/ou Perda de peso e/ou Queda no estado geral Consulta médica Agendamento de consulta médica Sim Não Seguir fluxo das queixas específicas Orientações Gerais: • Verificar quem assume os cuidados e a alimentação da criança • Tentar identificar eventos que possam diminuir a aceitação alimentar • Verificar se a dieta é adequada para a idade • Verificar se a criança substitui a refeição de sal por leite • Verificar se a criança ingere guloseimas, salgadinhos, refrigerantes nos intervalos das refeições • Verificar se a criança freqüenta a creche. Pedir relatório da aceitação alimentar. 22 Consulta médica FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR ABDOMINAL DOR ABDOMINAL É o primeiro episódio ? Não Sim Interfere nas atividades (falta à escola, deixa de brincar, fica pálida) Não Início há menos de 7 dias e febre, ou Vômitos, queda no Estado geral Sim Não Sim Atendimento de enfermagem Consulta de Enfermagem Consulta médica Agendar consulta médica Orientações para a dor abdominal: • Observar evolução da dor: nº de episódios, desencadeantes, tendência evolutiva e dinâmica emocional / relações na família e na escola • Tranqüilizar e apoiar a família • Orientar massagem local • Verificar hábito alimentar e hábito intestinal • Evitar uso de medicamentos 23 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE CEFALÉIA CEFALÉIA É o primeiro episódio ? Não Interfere nas atividades (falta à escola, deixa de brincar, fica pálida) Não Início há menos de 3 dias e febre, ou Vômitos, Queda no Estado geral Não Sim Atendimento de enfermagem Sim Consulta de Enfermagem Sim Consulta médica Agendar consulta médica Orientações para a cefaléia: • Observar evolução da dor: nº de episódios, desencadeantes, tendência evolutiva e dinâmica emocional / relações na família e na escola. • Tranqüilizar e apoiar a família • Colocar a criança de repouso, em local tranqüilo, sem muita luminosidade. • Utilizar analgésicos só se a dor for intensa. 24 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR EM MEMBROS DOR EM MEMBROS É o primeiro episódio ? Não Início há menos de 7 dias e febre, ou dificuldade para andar, Queda no Estado geral Interfere nas atividades (falta à escola, deixa de brincar, fica pálida) Não Atendimento de enfermagem Sim Sim Não Sim Consulta de Enfermagem Consulta médica Agendar consulta médica Orientações gerais para dor em membros: • Observar evolução da dor: nº de episódios, desencadeantes, tendência evolutiva e dinâmica emocional / relações na família e na escola • Tranqüilizar e apoiar a família • Orientar massagem local • Evitar uso de medicamentos 25 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE QUEIXA DE FALTA DE GANHO DE PESO FALTA DE GANHO DE PESO Verificar duração da queixa Mais de um mês Menos de um mês Estado geral bom Sem outras queixas Queixas associadas Não Sim Orientações gerais Orientação alimentar Consulta de Enfermagem Bom Estado geral Seguir fluxo específico Queda no Estado geral Agendar consulta de enfermagem (rotina) Orientações Gerais: • Verificar quem assume os cuidados e a alimentação da criança • Tentar identificar eventos que possam diminuir a aceitação alimentar • Verificar se a dieta é adequada para a idade • Verificar se a criança substitui a refeição de sal por leite • Verificar se a criança ingere guloseimas, salgadinhos, refrigerantes em excesso • Verificar se a criança freqüenta a creche. Pedir relatório da aceitação alimentar. 26 Consulta médica FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE VÔMITOS VÔMITOS Vomita tudo o que ingere ? Sim Não Tem tosse ou diarréia ou chiado no peito ou febre ? Não Consulta de Enfermagem Consulta médica Sim Seguir fluxo das queixas específicas 27 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE REGURGITAÇÕES Eliminação de alimentos sem náuseas ou esforço abdominal (Crianças menores de 12 meses) REGURGITAÇÕES Verificar ganho de peso Bom ganho de peso Sem ganho de peso Consulta de Enfermagem Orientações Gerais Orientações alimentares Orientações posturais Identificar outras queixas Agendar consulta rotina Não Sim Orientações Consulta médica Agendar consulta de enfermagem 28 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE FEBRE REFERIDA MENOR DE 3 ANOS FEBRE Verificar idade Menor de 2 meses Maior de 2 meses Consulta médica Apresenta qualquer sinal geral de perigo? Ou T de 39º C ou mais Se todas as respostas forem negativas Se uma das respostas for positiva Consulta médica Tem outra queixa ? Não Consulta médica Apresenta sinal geral de perigo • Não consegue mamar nem ingerir líquidos? • Vomita tudo que ingere? • Apresentou convulsões nas últimas 72 h? • Está sonolenta e com dificuldade para despertar? Sim Seguir rotina de fluxo da queixa referida 29 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE FEBRE REFERIDA MAIOR DE 3 ANOS FEBRE Apresenta qualquer sinal geral de perigo Se todas as respostas forem negativas Apresenta sinal geral de perigo - Não consegue mamar nem ingerir líquidos ? - Vomita tudo que ingere ? - Apresentou convulsões nas últimas 72 h ? - Está sonolenta e com dificuldade para despertar ? Se qualquer resposta for positiva Tem outra queixa ? Consulta médica Não Sim Bom estado geral e febre menos de 5 dias Estado Geral comprometido ou febre mais de 5 dias Consulta de Enfermagem Consulta médica Identificado foco infeccioso? Não Cuidados de Enfermagem Retorno em 24 horas 30 Sim Consulta médica Seguir rotina de fluxo da queixa referida Orientações gerais para febre A temperatura corporal normal situa-se na faixa de 36 a 37 ºC Febre: - É definida como temperatura do corpo acima da média normal, associada ou não a tremores, calafrios, rubor de pele, aumento da freqüência respiratória e cardíaca. Adotamos, aqui, a T axilar maior ou igual a 37,5ºC. Hipotermia: - É definida como temperatura corporal abaixo de 35,5º C, pele fria, palidez, calafrios, perfusão capilar diminuída, taquicardia, leito ungueal cianótico. Calafrios: - Sensação de frio, contrações musculares quando a temperatura corporal cai abaixo do normal ou na fase de calafrios da febre. Orientações • Tranqüilizar a mãe / família • Banho morno. • Aumentar a oferta de líquidos. • Utilizar vestimentas leves. • O uso de antitérmicos pode ser recomendado quando a temperatura for maior de 37,8º C Paracetamol: 1 gota / Kg de peso / dose até 4 x /dia (intervalo mínimo de 4 horas entre as doses) Dipirona: meia gota / Kg de peso / dose até 4 x / dia, intervalo de 6 horas (dose máxima por dia: 60 gotas até 6 anos, 120 gotas de 6 a 12 anos e 160 gotas para maiores de 12 anos) • Procurar a Unidade caso apareça qualquer sinal de alerta. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRISI, S. & ESCOBAR, AM. – Prática Pediátrica. Rio de Janeiro, Atheneu, 2001. MINISTÉRIO DA SAÙDE- Fundamentos técnico-científicos e orientações práticas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento. Brasília, 2002. MINISTÉRIO DA SAÙDE- Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança. Brasília, 2004. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE & ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA de saúde – Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), 1999. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Caderno Temático da Criança, São Paulo, 2003. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Atenção à Saúde da Criança. Protocolo de Enfermagem (edição revisada). São Paulo, 2003. SUCUPIRA, ACSL et al- Pediatria em Consultório. São Paulo, Sarvier, 2000. 32 ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DO ADOLESCENTE Ana Paula Marques Paula Silveira Regina Guise Silvana Cappellini 35 ATENDIMENTO NO ACOLHIMENTO DE ADOLESCENTES NAS UNIDADES MUNICIPAIS DE SAÚDE 36 A atenção à saúde do adolescente e do jovem tem sido um importante desafio para a organização dos serviços de saúde e para a sociedade. Nas últimas décadas , a necessidade do estabelecimento de políticas para a adolescência tem –se destacado , considerando o grande continente populacional que estes grupos representam e também a importância do desenvolvimento integral de suas potencialidades O Plano de Ação da Conferência Mundial de População e Desenvolvimento , realizada no Cairo, em1994,introduziu o conceito de direitos sexuais e reprodutivos e destacou os adolescentes como indivíduos a serem priorizados pelas Políticas Públicas de Saúde. A IV Conferência Internacional sobre a Mulher , realizada em Beijing, em 1995 reiterou esta definição e trouxe recomendações importantes em relação à Violência Sexual. Alguns importantes marcos internacionais e nacionais podem ser ressaltados como a Comemoração do Ano Internacional da Juventude em 1985, A Formação do Comitê de Adolescência pela Sociedade Brasileira de Pediatria em 1978, a criação da Associação Brasileira de Adolescência (ASBRA) em 1989,o Projeto Acolher da Associação Brasileira de Enfermagem, em 1999 e 2000 e o Projeto AdoleSer com Saúde , em 2001, da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. Entendo esta importância é que a Secretaria Municipal de Saúde, através da Área temática de Saúde do Adolescente e do Jovem da Coordenadoria de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada, vem ressaltar se compromisso e atenção com esta faixa etária, traduzindo-se tal preocupação em ações continuadas e integradas.Ações estas que tem como principal porta de acesso a Unidade Básica de Saúde. Este fluxo reflete tal postura e com responsabilidade vem alertando os profissionais sobre os principais riscos e agravos a saúde do adolescente e do jovem, reafirmando importantes parcerias institucionais e tendo cuidado com a abordagem de questões mais polêmicas. Também mostra uma continuidade integrada entre os diversos programas já desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Saúde. Este fluxo para acolhimento do adolescente e do jovem na Unidade Básica de Saúde, tem dentre seus objetivos o de implementar os princípios do SUS como o de Humanização do Atendimento, universalidade do acesso com equidade. Vale ainda ressaltar que a demanda trazida pelo Adolescente é quase sempre reticente e, muitas vezes, camuflada na forma de “uma dor aqui ou ali sem maior importância” até que o adolescente sinta - se seguro para expressar o real motivo que o leva a pedir ajuda.Nesse sentido é importante Criar um ambiente preservado e que assegure o sigilo l, visto que os relatos de experiência de alguns profissionais e de prevenção de doenças. Estas ações podem se dar nas unidades de saúde ou em articulações com outros setores, principalmente a escola, local privilegiado de inserção dessa população. Estas intervenções devem combinar aspectos inovadores e estimuladores com a criação de espaços de inclusão – tais como grupos de atendimento -, favorecendo processos de identificação e sensibilização para suas demandas. Ressalta-se ainda, a questão do início da atividade sexual nesta fase da vida. O profissional de saúde tem um papel importante como facilitador de espaços de educação sexual e prevenção das DST/AIDS, além da orientação sobre a gravidez e o aborto. Também é papel da equipe de saúde a orientação sobre métodos contraceptivos e a disponibilização destes métodos, alertando sempre os adolescentes de referem – se aos “sumiços” desses pacientes após um primeiro contato . Esse sigilo deve ser mantido mesmo perante seus familiares, desde que não se incorra em riscos à vida dos adolescentes. Pais ou responsáveis só poderão ser informados sobre o conteúdo das consultas com o expresso consentimento dos adolescentes. A ausência de pais ou responsáveis não deve impedir o atendimento médico aos adolescentes – embora o envolvimento da família deva ser estimulado pelos profissionais de saúde -, seja nas consultas iniciais ou nas de retorno, sendo que em todas as situações em que se caracterizar a necessidade da quebra do sigilo , os adolescentes devem ser informados, tanto das condutas quanto de suas justificativas. Este primeiro contato, então, deverá exigir do profissional uma escuta sensível para reconhecer o que está por trás do verbalizado nos primeiros minutos. Em se conquistando a confiança inicial (ela passará por algumas fases e vários encontros posteriores bem sucedidos para que se estabeleça de fato), cabe pensar quem é este sujeito que pede cuidado. Lembrando ainda que o adolescente, embora chegue pouco aos serviços de saúde porque adoece pouco, requer atenção através de ações de promoção à saúde ambos os sexos da necessidade da dupla proteção e do uso responsável destes recursos (por exemplo, o uso criterioso da pílula do dia seguinte). Cabe,ainda, apontar que a Sociedade de Pediatria de São Paulo recomenda como campo de atuação do pediatra a faixa compreendida entre 0 e 20 anos incompletos - referendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. Outro aspecto a ser ressaltado nesta introdução, diz respeito à importância das ações e estratégias multiprofissionais. As ações articuladas e desenvolvidas pela equipe resultam em intervenções mais eficazes. Finalmente, as vulnerabilidades para as quais os profissionais de saúde devem estar atentos quando atendem adolescentes e que podem estar presentes entre as queixas subliminares, numa abordagem inicial, são: • dificuldades nas relações familiares (separações, falta de diálogo, conflitos entre pais e filhos, alcoolismo de um ou ambos os pais, incesto/abuso, transtorno mental, etc.); • relação com a escola (evasão escolar, repetência, dificuldade de criação de vínculos, atos de violência, agressividade, etc.); 37 • uso de álcool e drogas lícitas e/ou ilícitas; • início da vida sexual (verificar os cuidados com o próprio corpo e com o do outro, uso de proteção/preservativo); • DST/AIDS; • gravidez (especialmente antes dos 16 anos, probabilidade de abuso sexual); • aborto e suas conseqüências (físicas e psicológicas); • exclusão social (atingindo especialmente as populações periféricas e levando a inserção no tráfico de drogas, com risco, entre outros, de morte precoce por homicídio); • tentativas/risco de suicídio; • acidentes de trânsito e outras situações de violência (como agentes e vítimas); • violência doméstica e sexual (ver texto e fluxo em violência, neste manual). Apresentamos a seguir as queixas mais freqüentes – procura por atendimento (queixa imprecisa), atraso menstrual, corrimento vaginal, desconforto respiratório, dor ao urinar, dor de cabeça, dor em membros, dor no baixo ventre, relato de crise convulsiva, vômitos - e as respectivas sugestões de fluxos. Foram excluídas as queixas relacionadas à violência doméstica e sexual, abordadas pelo PP Resgate Cidadão com maior detalhamento, neste manual. Esperamos que este fluxo possa de fato se transformar como elemento importante de um trabalho mais resolutivo acolhedor. 38 FLUXOGRAMA DE ATRASO MENSTRUAL ATRASO MENSTRUAL* Recepção Técnica Atraso menstrual há mais de 15 dias Consulta de Enfermagem Verificar Vida Sexual Ativa Não Menarca há menos de dois anos Identificar vulnerabilidades Agendar consulta de acompanhamento Sim Pregnosticon Orientações em saúde sexual e reprodutiva negativo positivo Solicitar exames de rotina do pré-natal Agendar Consulta de pré-natal * Verificar detalhamento do fluxo no Protocolo de Enfermagem da Saúde da Mulher – SMS - 2004 39 FLUXOGRAMA DE CORRIMENTO VAGINAL CORRIMENTO VAGINAL ESTADO GERAL COMPROMETIDO* FEBRE DOR NO BAIXO VENTRE Não Sim Prurido Vaginal Consulta Médica Não Orientações gerais de higiene do períneo e de saúde sexual e reprodutiva Sim Consulta de Enfermagem e orientação em sexualidade (DST/AIDS, gravidez) Seguir fluxograma de tratamento sindrômico 40 FLUXOGRAMA DE VÔMITO VÔMITOS RECEPÇÃO TÉCNICA INÍCIO AGUDO < 3 DIAS NÃO SIM CONSULTA MÉDICA ESTADO GERAL COMPROMETIDO SINAIS DE DESIDRATAÇÃO E/OU FEBRE NÃO AGENDAR CONSULTA MÉDICA SIM CONSULTA DE ENFERMAGEM 41 FLUXOGRAMA DE DOR DE CABEÇA RECEPÇÃO TÉCNICA PRIMEIRO EPISÓDIO NÃO SIM COMPROMETIMENTO DO ESTADO GERAL FEBRE VÔMITO SIM NÃO INTERFERE NAS ATIVIDADES 3 OU MAIS EPISÓDIOS EM 3 MESES NÃO ORIENTAÇÃO TERAPIA CORPORAL ATIVIDADE FÍSICA 42 CONSULTA MÉDICA CONSULTA MÉDICA SIM AGENDAR CONSULTA MÉDICA ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DO ADULTO Elaboração Marco Antônio Mora Renato Moraes Alves Fabbre 45 HIPERTENSÃO ARTERIAL – PRESSÃO ALTA (PA) 46 A hipertensão arterial é uma doença comum entre os adultos, sendo um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, como infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico, entre outras. Estudos mostram que entre 22,3% a 43,9% da população tem hipertensão arterial. Porém é com freqüência pouco diagnosticada e inadequadamente controlada. Recomenda-se que todo adulto seja submetido a pelo menos uma medida anual de pressão arterial, visto que muitos pacientes, ainda sem o diagnóstico realizado, são assintomáticos. Uma vez diagnosticada a hipertensão arterial, o paciente deverá ser acompanhado por equipe multiprofissional, e a periodicidade do seguimento deve ser feita de forma individualizada. •dieta •exercício físico •evitar álcool e fumo Orientações Gerais •dor de cabeça •tontura •vômitos •dor no peito •falta de ar •alteração visual •formigamento Orientações gerais Em uso de medicação Agendar consulta médica Orientações gerais Agendar consulta médica Consulta de enfermagem Sim Consulta médica PA Diastólica maior 110mmhg Presença de sinais de alerta Não PA Diastólica entre 90mmhg110mmhg Abandono de medicação Atendimento de enfermagem PA Diastolica menor 90mmhg Com diagnóstico de HA em uso de medicação ou que abandonaram a medicação VERIFICAR PA Consulta médica Sim Agendar consulta médica Consulta de enfermagem Não PA Diastólica Não Presença de sinais de alerta Sim Consulta médica Orientações gerais Atendimento de enfermagem PA< 140X90mmhg Sem Diagnóstico de HA FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE PRESSÃO ALTA (PA) Sinais de Alerta 47 DIABETES MELLITUS 48 O diabetes mellitus acomete 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos, chegando atingir 20% da população acima de 70 anos. Estima-se que na cidade de São Paulo 9,7% da população seja portadora de diabetes mellitus. Aproximadamente 50% da população acometida desconhece sua presença, e quase ¼ da população diabética não faz tratamento. É um importante problema de saúde pública não só pela sua freqüência, mas também por suas complicações crônicas que comprometem a qualidade de vida, bem como diminui a sobrevida. É a 6ª principal causa básica de morte no Brasil, principal causa de cegueira adquirida e de amputação de membros inferiores, e responsável por 30% dos pacientes que internam na UTI por dor precordial e 26% dos pacientes com insuficiência renal em programa de diálise. O rastreamento do diabetes mellitus deve ser seletivo, devendo-se inicialmente realizar a glicemia capilar em todos indivíduos com idade 40 anos a cada 3 a 5 anos, ou com idade inferior a 40 anos, pelo menos uma vez ao ano, na presença de 3 ou mais dos seguintes fatores de risco: obesidade, hipertensão arterial, sedentarismo, doença cardíaca, diabetes na gravidez, abortos repetidos, mãe de recém-nascido com mais de 4 kg, e história familiar de diabetes mellitus. Nos casos sem diagnóstico prévio, na presença de glicemia capilar de jejum 110mg/dl, bem como < 110mg/dl, mas com 3 ou mais fatores de risco, deve-se encaminhar o paciente para consulta médica. As demais orientações seguem o fluxograma de atendimento de diabetes mellitus. •Obesidade •Hipertensão arterial •Sedentarismo •Doença cardíaca •Diabetes na gravidez •Mãe de recémnascido >4Kg •História familiar de diabetes Fatores de Risco: •Tremores •Fraqueza •Sudorese fria •Palpitações •Tontura •Visão dupla •Palidez Hipoglicemia Hiperglicemia •Muita sede •Muita fome •Urinar muitas vezes •Distúrbio visual •Dor de estômago Sinais de Alerta: Sim Domicílio Não Consulta de enfermagem Diagnóstico anterior de diabetes Agendar consulta médica 111-180 Consulta médica >180 Glicemia capilar 60-110 Agendar consulta médica Consulta médica <60 Jejum Com ou sem diagnóstico anterior de diabetes Sim Sim Não Domicílio Consulta médica >200 Agendar consulta médica Consulta de enfermagem Diagnóstico anterior de diabetes Sem jejum 140-200 Não Sim Agendar consulta médica 60-140 Agendar consulta médica Consulta médica <60 Não Diagnóstico anterior de diabetes mais fatores de risco Sinais e sintomas de Hiper ou Hipoglicemia FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DIABETES 49 DOR DE CABEÇA – (CEFALÉIA) 50 A dor de cabeça é um dos sintomas mais comuns da espécie humana. Praticamente todas as pessoas, em algum momento da vida já sofreram ou sofrerão de dor de cabeça. Apesar de freqüente, ela é mal diagnosticada e tratada. Na maioria das vezes é de intensidade leve, de curta duração, porém em alguns casos pode ser incapacitante, prejudicando as atividades da vida diária e a qualidade de vida. Qualquer uma das estruturas da cabeça pode sofrer processos dolorosos, incluindo músculos, vasos, nervos, ossos, dentes, olhos e seios da face. Dentre estes, os mais comuns são os músculos e vasos. Existem registrados mais de 150 tipos diferentes de dor de cabeça, cada um com seu quadro clínico peculiar e seu tratamento diferenciado. Elas podem ser classificadas como: 1) primárias, ou seja, onde não há um distúrbio anatômico (cefaléias funcionais), que são as mais comuns, como a enxaqueca, cefaléia tensional, entre outras; 2) secundárias, que abrangem uma grande variedade de dores causadas pelos mais diversos motivos: traumatismos cranianos, tumores, doenças inflamatórias, infecções, dor de dente, entre outras. A avaliação inicial deve ser feita priorizando os sinais de alerta como a medida da pressão arterial e temperatura, bem como a investigação do comprometimento das atividades diárias, para a condução correta do caso. 51 •Permanecer em local sem ruído e com pouca luminosidade •Verificar alimentação e hidratação •Acuidade visual •Uso habitual de analgésico Orientações Gerais: consulta médica Agendar Orientações gerais Atendimento de enfermagem Sem vômito Sem náuseas Sem febre PA normal BEG Agendar consulta Consulta de enfermagem Atividades diárias comprometidas •PA normal Sem febre Diagnostico prévio de enxaqueca Medir PA e Temperatur a CEFALÉIA DOR DE CABEÇA Consulta médica ou febre Atividades diárias comprometidas e PA Distólica FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR DE CABEÇA DOR DE ESTÔMAGO – (DOR NO ABDOME) 52 O abdome é a região do corpo limitada superiormente pelo tórax (região dos pulmões e coração) e inferiormente pela pelve. O estômago é uma das estruturas contidas no abdome e é uma causa freqüente de dor entre os adultos. Porém outros órgãos também estão dentro do abdome, e podem ser causa de dor. São eles: intestino, fígado, pâncreas, vesícula biliar, baço, rins, músculos e ligamentos. Além disso, órgãos que não estão no abdome podem simular dor de estômago, como por exemplo angina e infarto agudo do miocárdio, ou pneumonia. A dor sentida no abdome é variável dependendo do órgão acometido, devendo-se observar se há presença de sinais de alerta que possam justificar atendimento imediato. Sinais de Alerta • história de sangramento digestivo • vômitos ou febre • sudorese fria • palidez • dor no peito com irradiação para o braço esquerdo e para as costas Agendar consulta médica Agendar consulta médica Consulta médica Sinais de alerta presentes Consulta de enfermagem Atendimento de enfermagem Sinais de alerta ausentes •Com dor no momento ou início há mais de 3 dias •Sem febre •Sem dor no momento •BEG DOR DE ESTÔMAGO Consulta médica •Inicio há menos de 3 dias • queda do estado geral •Sinais de alerta presentes FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR DE ESTÔMAGO 53 LOMBALGIA 54 Lombalgia é toda condição de dor localizada na região inferior das costas. Quando esta se irradia para um ou ambos membros inferiores é chamada de lombociatalgia, e quando tem início na raiz da coxa, ultrapassando o (s) joelho (s), denominase ciatalgia ou ciática. É uma queixa freqüente entre os adultos, podendo ser incapacitante em algumas situações. Várias causas podem levar à lombalgia, desde causas mais simples, como postura errada, até mais graves como infiltração de algumas formas de câncer na coluna. Causas infecciosas, como, por exemplo, infecção renal, e que comprimem a raiz nervosa, como hérnia de disco e artrose, também merecem destaque. Para o tratamento correto da lombalgia deve-se conhecer a causa básica, merecendo uma avaliação rápida nas condições de início recente acompanhadas de sinais de alerta, como febre, sintomas urinários, limitação para marcha, formigamento, diminuição de temperatura ou alteração da cor em membro inferior afetado. Agendar consulta médica •Dor crônica •Sem limitação de movimentos •Sem sinais de alerta Agendar consulta médica breve Atendimento de enfermagem •Sintomatologia constante e progressiva •Perda de peso •Dor noturna considerável Agendar consulta médica breve Consulta médica Dor de forte intensidade com: •Limitação para marcha e/ou formigamento para membro inferior •Alteração de cor ou baixa temperatura de membro inferior DOR LOMBAR Consulta médica Dor de forte intensidade com: •Febre •Dor para urinar •Retenção de urina •Náuseas e vômitos FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE LOMBAGIA Sinais de Alerta • Perda de peso • Dor noturna considerável • Formigamento, alteração de cor ou temperatura de membro inferior • Febre • Dor para urinar ou retenção de urina • Náuseas e vômito 55 TOSSE 56 A tosse é um reflexo do aparelho respiratório, habitualmente conseqüência de um processo irritativo. Existem basicamente dois tipos de tosse, a seca, onde não há presença de muco, e a produtiva, onde a secreção se movimenta e é eliminada. Muitos fatores podem causar a tosse: infecção, alergias, asma, fumaça de cigarro, corpo estranho na garganta, refluxo ácido do estômago, alguns medicamentos, câncer de pulmão, entre outros. Portanto a tosse pode ser sinal de alerta de muitas doenças. Sendo assim, pode-se dizer que a tosse em si não é problemática, mas é importante conhecer e tratar a sua causa básica. No nosso meio deve-se estar alerta especialmente quanto a possibilidade da tuberculose pulmonar, causa freqüente e transmissível. FLUXOGRAMA DE TOSSE Tosse ká mais de 3 semanas Não Sim Medir temperatura Tosse com secreção Não Com febre Consulta médica Sim Sem febre Atendimento de enfermagem Orientações Gerais Atendimento de enfermagem •Coleta de exame de escarro •Orientação como colher 2º exame em casa ao acordar * Orientações Gerais Agendar consulta de enfermagem na semana Domicilio Agendar consulta médica Agendar consulta médica * Manual de Tuberculose do Ministério da Saúde 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Nefrologia. 2. Consenso Brasileiro de Diabetes. Recomendações de Normas e Condutas para o Diagnóstico e Tratamento do Diabetes Mellitus. Sociedade Brasileira de Diabetes, 2000. 3. Dor de Cabeça. Edgard Raffaelli Jr & Orlando J. Martins; 4ª Edição, Editora Lemos, São Paulo, 2001. 4. Clínica Médica . Charles D. Forbes & Willian F. Jackson; 1ª Edição brasileira, Editora Manoele, São Paulo, 1997. 5. I Consenso Brasileiro sobre lombalgias e lombociatalgias. Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2001. 6. Goldberg T.H. & Chavin S.C. Preventive medicine screening in older adults. J. Am. Geriatr. Soc., 1999; 47 (1): 122-123. 7.Tratado de Geriatria e Gerontologia. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; 1ª Edição, Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro, 2002. 8. Manual de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, Ministério da Saúde, 2002. 58 ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DA MULHER Elaboração : Jael Barbosa de Albuquerque Carlos Eduardo Vega Elisabete Aparecida Pinto Júlio Mayer de Castro Filho Luis Carlos Pazero Rute Barreto Ramos Rute Loreto S.Oliveira Patrícia Pereira de Salve Colaboração: Naira Regina dos Reis Fazenda Patrícia Luna 61 RISCOS / VULNERABILIDADES - SAÚDE DA MULHER 62 O grande desafio que o Serviço Público enfrenta é atender a toda mulher que procura a Rede Básica de Saúde no contexto da integralidade. Isso significa responder de forma individualizada às necessidades da usuária, considerando as relações de gênero, familiar e social em que vive, compreendendo suas especificidades promovendo assim a saúde e qualidade de vida. A equipe do Acolhimento tem um papel fundamental nesse processo já que é responsável pela primeira abordagem desta mulher. Nesse contato inicial com o serviço de saúde, se estabelece um vínculo importante pela escuta que, se adequada, possibilita o levantamento ampliado e real de suas queixas, nem sempre claramente verbalizadas; isto é, o profissional de saúde deve tentar apreender, desde o primeiro contato com a usuária, a possível interferência das questões psico-afetivos ou do meio em que vive sobre os sinais e sintomas representados no corpo. Dessa forma poderá se ter claro, também, quais os fatores de risco , vulnerabilidades e possíveis agravos à saúde a que está exposta ( biológicos, étnico–raciais, sociais e de gênero), de forma a agilizar o fluxo e ampliar a resolutividade do seu atendimento. É fundamental , para isso, integrar a ações desde o acolhimento , com todos os profissionais e serviços pertinentes. È necessário ainda, ampliar as ações de Saúde Reprodutiva e Sexual, além do atendimento imediato das demandas de anticoncepção. As unidades básicas de saúde são a porta de entrada das ações de planejamento familiar, promovendo o atendimento individual e em grupo, realizado por equipe multidisciplinar, objetivando informar as características dos métodos, suas vantagens e desvantagens e dessa forma criar um espaço de escolha livre e informada; incorporando, ainda, as questões relacionadas às Infecções Sexualmente Transmissíveis/ AIDs com ênfase na utilização da dupla proteção (evitar a gestação não programada e DST/AIDS). das queixas e promovendo também a reinserção social da mulher idosa. No Acolhimento é possível, portanto, detectar situações de violência doméstica e/ou sexual, sendo a Unidade de Saúde o espaço de apoio às mulheres que vivenciam essa situação. Assim, a saúde da mulher envolve desde o acolhimento, o cuidado com todos os aspectos que dizem respeito à sua vida; aumenta-se a participação das usuárias na atenção à saúde, possibilitando ainda que julgue as situações que a ela se apresentam. Considerando-se a feminização do envelhecimento populacional legitima-se a atenção básica como campo de abordagem da mulher no processo de envelhecimento, especialmente durante o climatério/menopausa. È de responsabilidade da unidade de saúde desenvolver um trabalho multidisciplinar , incorporando ao atendimento médico individual ações em grupo que colaborem para o entendimento dessa fase de vida, para a resolução Área Temática de Saúde da Mulher tem então, desenvolvido ações nos vários ciclos de vida das mulheres e recomenda que, em todo atendimento à mulher , deverá ser oportunizado: a coleta do Papanicolaou e prevenção do câncer de mama, a inclusão da discussão da saúde sexual e reprodutiva, o levantamento de situações de exclusão e de violência sexual e doméstica tendo em mente as seguintes vulnerabilidades: 63 Considerando como objetivo humanizar o atendimento prestado às mulheres no ciclo gravídicopuerperal e visando a redução da mortalidade e da 64 morbidade materna e do recém-nascido, é necessário na prática a identificação dos fatores de risco na gestantes: FLUXOGRAMA PARA ATENDIMENTO DE ATRASO MENSTRUAL ATRASO MENSTRUAL Atraso menstrual com exposição à risco de gestação* Realizar teste Pregnosticon negativo positivo Solicitar exames de rotina do pré-natal Abordar o significado da gravidez Repetir teste após 7 dias com primeira urina negativo Se persistir amenorréia, solicitar beta HCG Agendar Consulta de Enfermagem negativo Desejo de contracepção * Se adolescente Desejo de engravidar observa o Fluxo da Atenção à Saúde do Adolescente não sim Grupo de Planejamento Familiar Orientar prevenção de DST/AIDS Agendar consulta médica 65 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE SANGRAMENTO VAGINAL SANGRAMENTO VAGINAL Apresenta qualquer sinal de alerta ? • Gestante • Atraso menstrual com duração maior que sete dias • Dor no baixo ventre • Febre (temp. > 37,8º C) • Tontura • Desmaios • Intensidade do sangramento (coágulos, troca maior de 5 absorventes por dia) Não Agendar Consulta médica (dentro de 7 dias) 66 Sim Consulta médica FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR AO URINAR DOR AO URINAR Apresenta qualquer sinal de alerta ? SINAIS DE ALERTA • Gestante ou • Febre (T maior de 37,8ºC), • Náuseas / vômitos, • Ardor intenso toda vez que urina, • Dor lombar intensa • Situações de violência* Não Consulta de Enfermagem Sim Consulta médica *Em situação de violência referir-se ao fluxo de atendimento de casos de violência–rede ambulatorial 67 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE CORRIMENTO VAGINAL CORRIMENTO VAGINAL Apresenta qualquer sinal de alerta ? SINAIS DE ALERTA • Ardor intenso toda vez que urina ou • Dor no baixo ventre, • Febre • Situações de violência* Não Tem prurido Vaginal? Não Sim Consulta médica Sim * Em situações de violência referir-se ao fluxo de atendimento de casos de violência – rede ambulatorial. ** Ver Protocolo de Enfermagem – Atenção à Saúde da Mulher Orientações gerais de higiene do períneo Investigar Seguir Fluxograma Realização do Exame de Papanicolaou 68 Consulta de Enfermagem Seguir Fluxograma de Tratamento sindrômico Corrimento vaginal** FLUXOGRAMA DE DOR / CAROÇO NA MAMA DOR / CAROÇO NA MAMA Apresenta qualquer sinal de alerta ? SINAIS DE ALERTA • Tem caroço na mama ou • Vermelhidão e/ou calor na mama, • Mudança no aspecto da pele da mama, • Sai líquido do mamilo • Climatério ou pós-menopausa • Situações de violência* Não Consulta de Enfermagem Sim Consulta médica imediata *Em situação de violência referir-se ao fluxo de atendimento de casos de violência–rede ambulatorial. 69 FLUXOGRAMA PARA REALIZAÇÃO DO EXAME DE PAPANICOLAU EXAME DE PAPANICOLAU Busca ativa em todos os setores da UBS, na comunidade, grupos e visitas domiciliares. Avaliar os exames de citologia oncótica anteriores Realizou o exame, mas não tem o resultado Nunca fez o exame Realizar o exame o mais breve possível Tem um resultado normal há mais de um ano Orientar retorno anual e Papanicolau a cada 3 anos Orientar sobre prevenção de DST/AIDS Diagnóstico Prevenção de câncer de mama, contracepção 70 Tem 2 ou mais resultados consecutivos sendo as citologias normais FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE DOR NO BAIXO VENTRE DOR NO BAIXO VENTRE Apresenta qualquer sinal de alerta ? SINAIS DE ALERTA • 1º episódio OU atraso menstrual, • febre (Tmaior de 37,8ºC), • desmaio, • dor ao urinar, • náuseas,vômitos, • corrimento vaginal • Situações de violência* Não Agendar consulta médica Sim Consulta médica *Em situação de violência referir-se ao fluxo de atendimento de casos de violência–rede ambulatorial 71 ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DO IDOSO Helaine Vescio Marília Anselmo Viana da Silva Berzins Rosana Diaz Burguez Sérgio Márcio Pacheco Paschoal 75 ACOLHIMENTO E ENVELHECIMENTO Tudo aquilo que fizermos com cuidado significa uma força contra a entropia, contra o desgaste, pois prolongamos a vida e melhoramos as relações com a realidade. Leonardo Boff Este documento pretende oferecer aos profissionais da rede de saúde da Secretaria Municipal de Saúde um instrumento básico e inicial que favoreça a reflexão do processo de envelhecimento. A intenção não é esgotar o assunto. Não está contemplado no documento o fluxo de encaminhamento para a Recepção Técnica. Faremos isso posteriormente, contemplando principalmente, as cinco patologias mais prevalentes nos idosos: Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Doenças Cardiovasculares, Osteoarticulares e Depressão. O presente texto inicialmente considera o processo do envelhecimento populacional como uma grande conquista da humanidade; em seguida, apresenta o conceito do cuidado segundo Leonardo Boff , apresenta alguns dos principais mitos do envelhecimento presentes na sociedade e por fim apresenta o capítulo do Estatuto do Idoso que define os direitos na área da saúde. O envelhecimento populacional – aumento da proporção de idosos na população - é uma realidade na nossa sociedade. Viver mais e conseqüentemente prolongar a vida foi uma das maiores conquistas que a humanidade alcançou no século passado. Grandes esforços da ciência foram empreendidos para que a espécie humana pudesse superar as baixas expectativas de vida predominantes nos séculos anteriores. Mas, não 76 basta apenas viver mais. Hoje, o grande desafio da gerontologia é investir em esforços que possam dar mais qualidade de vida aos idosos. O envelhecimento populacional é um fenômeno que diz respeito a todos, não ficando circunscrito apenas aos cidadãos maiores de 60 anos. Os profissionais de saúde têm uma grande importância uma vez que são os implementadores e executores das políticas públicas de saúde para atendimento deste segmento etário. Ao pensar em saúde e em acolhimento não podemos excluir o conceito de cuidado. Segundo Leonardo Boff, o cuidado significa uma relação amorosa para com a realidade, importa um investimento de zelo, desvelo, solicitude, atenção e proteção para com aquilo que tem valor e interesse para nós. De tudo o que amamos, também cuidamos e vice-versa. Pelo fato de sentirmo-nos envolvidos e comprometidos com o que cuidamos, cuidado comporta também preocupação e inquietação. O cuidado e a cura devem andar de mãos dadas, pois representam dois momentos simultâneos de um mesmo processo. Quem é o idoso? Segundo a ONU, nos países em desenvolvimento, idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. A Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso assim também definem cronologicamente a pessoa idosa. Nos países desenvolvidos o recorte etário é 65 anos. A população idosa do município de São Paulo, segundo os dados coletados no Censo IBGE 2000 era de 972.199 pessoas, representando 9,32% da população total. Na distribuição por sexo, 40,5% são homens e 59,5% são mulheres distribuídos nas 31 subprefeituras da cidade. Na subprefeitura de Pinheiros, 19% da população é idosa enquanto na Cidade Tiradentes, apenas 3% da população tem mais de 60 anos. A – MITOS DO ENVELHECIMENTO Vamos a seguir, indicar questões a seres desmistificadas – “Mitos do Envelhecimento” – os quais julgamos ser necessário abordar com o propósito para uma melhor assistência ao idoso: 1. Velhice NÃO é doença Infelizmente um grande número de pessoas chega no envelhecimento em más condições de saúde e com perdas funcionais consideráveis. Mas esta constatação não nos permite afirmar que velhice seja sinônimo de doença. A qualidade de vida de uma pessoa na velhice depende tanto das condições socioeconômicas e culturais que ela encontrou ao longo de sua vida quanto na adoção de hábitos saudáveis. Envelhecemos conforme vivemos. Envelhecer é um processo do sujeito que vive o seu próprio tempo de forma particular e peculiar. O grande desafio das políticas públicas de saúde dos idosos é manter ao máximo a capacidade funcional através da adoção de programas de promoção e proteção da saúde e prevenção das doenças, evitando a fase de dependência. É cada vez mais freqüente encontrarmos idosos com idade avançada sem incapacidades. As pesquisas indicam que 82% dos idosos estão bem de saúde, mantendo sua independência e autonomia. 2. Idoso NÃO volta a ser criança Há um entendimento popular que “velho é uma criança grande” ou que “velho volta a ser criança.” Isso é falso e encobre o estereótipo da fragilidade da velhice e que pretende segregar a uma condição de inferioridade. É muito comum vermos profissionais tratando os idosos como se fossem crianças, chamando-os por nomes diminutivos (vózinha, queridinha, bonitinha, lindinha, etc) e dirigem-se a eles falando com infantilidade e muitas vezes além das palavras, agem tentando erguê-los como se fossem deficientes físicos e necessitassem de ajuda, mesmo que não precisem. Não devemos tratar os idosos como tratamos as crianças. Devemos tratá-los como sujeitos que têm suas particularidades e que continuam a necessitar da atenção individual que esta fase da vida necessita. 3. Os idosos NÃO são todos iguais. O envelhecimento de um individuo é e sempre será diferente do envelhecimento do outro. Cada sujeito tem a sua própria velhice e, conseqüentemente, as velhices são incontáveis. As mudanças biológicas ocorrem em todos os seres humanos, porém, as mudanças não se processam de forma igual. Cada um de nós possui o seu ritmo próprio de mudança. Nem todos os idosos são surdos, cegos, ranzinzas, implicantes, sábios, amáveis, ou quaisquer outros adjetivos e designações que pretendemos dar. Assim como as crianças, adolescentes, jovens e adultos têm suas particularidades, os idosos também as têm. Não podemos compreender o indivíduo pela generalização, pois sabemos que cada um de nós envelhece a seu próprio tempo e de modo particular e singular. 4. A velhice é a melhor idade? Há uma forte tendência nos trabalhos com idosos denominar esta fase da vida como sendo “a melhor 77 idade”. Há muitos idosos que podem chegar nesta fase da vida e avaliarem que de fato ela é a melhor idade de suas vidas. Isso é um critério de análise individual. Não podemos concordar que isso seja uma generalização para todos os idosos. Devemos ter o cuidado de não esconder atrás da designação “melhor idade” um eufemismo que encubra as desigualdades presentes na sociedade e que afaste dos idosos a reflexão do lugar que o velho tem na vida social. Ao mesmo tempo, dizer que é no envelhecimento que se alcança a melhor idade é desconsiderar o princípio de uma sociedade para todas as idades, é desconsiderar que os jovens, as crianças e adultos, talvez também considerem que estejam na melhor idade. Portanto, melhor idade é aquela em que a pessoa está feliz consigo mesma, independente da sua idade cronológica. 5. Os idosos NÃO são um peso para a sociedade Pensar que os idosos são um peso para a sociedade é um equívoco muito grande. Faz parte do senso comum retratar os idosos como um fardo econômico para o sistema social, principalmente responsabilizando-os pela crise da Previdência e do sistema de saúde. Neste discurso torna-se presente um falso discurso de que o envelhecimento é um problema social. Camarano, pesquisadora do IPEA, aponta que no Brasil houve um aumento do número de famílias que estão sendo sustentadas por idosos. E vai mais além: a qualidade de vida dessas famílias em comparação com aquelas que não são sustentadas por idosos é bem melhor. Devido à miséria e à crise de trabalho, é cada vez mais freqüente encontrarmos duas ou três gerações vivendo com idosos e muitas vezes, a aposentadoria ou pensão são a única fonte de renda estável dessas famílias. 6. Velhice NÃO é sinônimo da perda da autonomia. A grande maioria dos idosos é absolutamente capaz de decidir sobre seus interesses e desejos. Manter a autonomia enquanto se envelhece é a chave de vida para todas as pessoas e das políticas públicas que contemplam o segmento idoso. A presença ou não de uma ou mais doenças crônicas não deve significar que o idoso perdeu a capacidade de gerir sua própria vida. Incentivar e promover a preservação e o respeito pela autonomia deve ser prática freqüente nas ações de atendimento a população idosa ao mesmo tempo que se deve investir para manter a independência por um maior tempo possível. 7. “Isso” NÃO é normal da idade. Muitos idosos, famílias e até mesmo alguns profissionais manifestam na vida diária a crença que as doenças que acometem os idosos são “normais da idade” e, portanto não há nada que possa ser feito e resta tratar os idosos com certa displicência e descrença na capacidade de recuperar a saúde. Essas crenças exercem uma influência muito intensa e negativa nos sujeitos, podendo ocorrer por parte das pessoas a desconsideração pelas queixas que são encaminhadas aos serviços de saúde. Pensar que incontinência urinária, perda de memória, alteração da sexualidade, tristeza, apatia, perdas sensoriais, hipertensão arterial, osteoporose, tremores, perda de equilíbrio são normais nos idosos, e não escutar a queixa e investigar as manifestações das queixas dos idosos pelo fato de achar que isso é normal da idade, pode ser um equívoco com sérias conseqüências. 78 8. O idoso NÃO é excluído de ter uma boa qualidade de vida O envelhecimento é uma experiência heterogênea. Cada indivíduo pauta sua vida de acordo com padrões, normas, expectativas, desejos, valores, experiências e princípios diferentes dos outros. A qualidade de vida em idosos e sua avaliação sofrem os efeitos de numerosos fatores, entre eles os preconceitos dos profissionais e dos próprios idosos em relação à velhice. O dono da vida, no caso, o idoso, deve ter participação ativa na avaliação do que é melhor e mais significativo para ele, pois o padrão de qualidade de cada vida é um fenômeno altamente pessoal. Sabemos que o consenso sobre qualidade de vida envolve as dimensões física, social, psicológica e espiritual. Esta é uma questão não apenas ética, mas metodológica. Outros imperativos éticos devem ser atendidos pelo profissional que cuida de idosos, entre eles o do direito à autonomia e à dignidade. 9. A dieta do idoso NÃO deve ser restrita A nutrição é um dos aspectos de grande importância na manutenção e recuperação da saúde em todas as fases da vida. Exerce um papel fundamental na prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis, cuja prevalência tem aumentado entre os idosos. Uma avaliação geriátrica abrangente deve abordar aspectos clínicos, estado funcional e variáveis psicológicas e sociais. Dentre os aspectos clínicos, um dos mais importantes é o estado nutricional. No processo de envelhecimento normal ocorrem alterações fisiológicas e biológicas que afetam a alimentação e nutrição do idoso. Cabe lembrar, no entanto, que uma intervenção nutricional junto ao paciente idoso é de grande ajuda não só para retardar como para evitar o aparecimento de determinadas doenças ou até mesmo diminuir a gravidade das mesmas. Existem técnicas para a avaliação do estado nutricional ou mesmo do risco nutricional e que podem ser aplicadas a nível ambulatorial, contribuindo para melhorar o estado nutricional do paciente idoso, evitando que entre num quadro de desnutrição com sérias conseqüências para a sua saúde. 10. Outros mitos Há ainda muitos mitos que se manifestam freqüentemente nas condutas de profissionais que trabalham com idosos e que desejamos citá-los: • • Idoso não pode realizar atividade física Ele ou ela é muito velho para ser submetido a isto (procedimentos, hospitalização, cirurgias) • UTI não é local de velho. B - ESTATUTO DO IDOSO (E. I ). O Estatuto do Idoso é uma grande conquista dos idosos e tem como objetivo principal a regulamentação dos direitos dos cidadãos com mais de 60 anos. Para que ele possa valer e ser cumprido, o poder público, a sociedade e os idosos, principais protagonistas do Estatuto, zelem pela observância dos direitos conquistados no instrumento legal. Apresentamos a seguir alguns pontos importantes que julgamos ser do conhecimento e interesse dos profissionais da saúde. São eles: • Até a aprovação pelo Congresso Nacional, 79 • • • • • • • • • • 80 o Estatuto do Idoso percorreu um longo caminho de 20 anos de discussões. Iniciou em 1983 e se consolidou até meados da década de 90. 1997: aprovado o Projeto de Lei 3.561/97 de autoria do Deputado Paulo Paim. O Estatuto do Idoso foi aprovado por unanimidade pelo plenário da Câmara dos Deputados na noite de 21 de Agosto de 2003. No dia 1º de Outubro de 2003 - Dia Internacional do Idoso - foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Passou a vigorar em 1º de janeiro de 2004. O estatuto é Lei Federal nº 10.741/2003 de 1º de outubro de 2003. É dever da família, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, o efetivo direito à vida, à saúde, a alimentação, ao transporte, à moradia, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária; Para garantir o cumprimento do que estabelece, o EI transforma em crime, com penas que vão até 12 anos de prisão para maus-tratos a pessoas idosas. Proíbe a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados por idade; Garante aos idosos descontos em atividades culturais e de lazer; Assegura aos idosos com mais de 65 anos que vivem em famílias carentes o beneficio de um salário mínimo; • • Garante prioridade do idoso na compra de unidades em programas habitacionais públicos. O Art. 3º, no parágrafo único garante ao idoso prioridade no: I -atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. Transcrevemos o capítulo do Estatuto do Idoso que diz respeito a SAÚDE: CAPÍTULO IV Do Direito à Saúde Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. § 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de: I – cadastramento da população idosa em base territorial; II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios; III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social; IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural; V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas decorrentes do agravo da saúde. § 2 Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como o próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. § 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. § 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento especializado, nos termos da lei. Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico. Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por escrito. Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável. Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita: I – pelo curador, quando o idoso for interditado; II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil; III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público. 80a Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda. Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos: I – autoridade policial; II – Ministério Público; III – Conselho Municipal do Idoso; IV – Conselho Estadual do Idoso; V – Conselho Nacional do Idoso. Uma reflexão sobre qualidade de vida e envelhecimento A natureza abstrata da expressão “Qualidade de Vida” explica porque uma boa qualidade tem significados diferentes pessoas, em lugares e ocasiões diferentes. É por isso que há inúmeras conceituações de qualidade de vida; talvez 80b cada indivíduo tenha o seu próprio conceito. Assim, qualidade de vida é um conceito que está submetido a múltiplos pontos de vista e que tem variado de época para época, de país para país, de cultura para cultura, de classe social para classe social e até mesmo de individuo para individuo. Mais que isso, varia para um mesmo indivíduo, conforme o decorrer do tempo e como função de estados emocionais e de ocorrência de eventos cotidianos, sócio-históricos e ecológicos. Embora não haja definição consensual de qualidade de vida, há concordância considerável entre os pesquisadores acerca de algumas características do construto. Três características principais são compartilhadas por diversas correntes de opinião: subjetividade, multidimensionalidade e bipolaridade. Não é subjetividade total, pois há condições externas às pessoas, presentes no meio e nas condições de vida e trabalho que influenciam e avaliação que fazem de sua qualidade de vida. Quanto à multidimensionalidade é consenso entre os pesquisadores de que a qualidade de vida inclui pelo menos três dimensões: a física, a psicológica e a social. A dimensão espiritual também pode ser acrescentada. ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE OCULAR Ligia Santos Abreu Caligaris Erica Viggiani Bicudo Denize Calvo Costa Roseana Nazaré Queiroz da Costa 83 CONJUNTIVITES INTRODUÇÃO 84 Conjuntivite é a inflamação da camada superficial do olho chamada conjuntiva podendo ser infecciosa ou não. A infecciosa é causada por vírus ou bactérias. A não infecciosa pode ser de causa química, alérgica ou primaveril e não são transmissíveis. A importância da conjuntivite infecciosa está na sua rápida propagação, geralmente transformandose em epidemia. Os agentes etiológicos virais mais comuns são os adenovirus e os enterovirus. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa principalmente por objetos contaminados (equipamentos oftálmicos, toalhas, travesseiros, lenços, lápis, copos, etc), quando não são observados cuidados de higiene pessoal. Dissemina-se rapidamente em ambiente fechado como escola, creche, escritório. A infecção confere imunidade tipo-específica. Não existem vacinas contra essa infecção. Os principais sintomas são: hiperemia ocular (olhos avermelhados), lacrimejamento, sensação de areia nos olhos, inchaço palpebral, secreção ocular que é mais exacerbada no caso de ser bacteriana. São autolimitadas e com duração de aproximadamente 15 dias até a evolução para a cura. É importante dizer que não há alteração da acuidade visual. Medidas preventivas: Sugere-se o afastamento de pessoas com conjuntivite viral aguda dos ambientes coletivos por pelo menos 3 dias. Recomenda-se cuidados de higiene pessoal, como lavar com freqüência as mãos e o rosto com água e sabão; evitar coçar os olhos. TRATAMENTO O tratamento é simples e consiste em limpeza frequente com água limpa e fria e evitar coçar os olhos. Deve-se usar toalhas e travesseiros individuais assim como lenços de papel. É necessário também evitar o uso de objetos (lápis, copos) de pessoas com conjuntivite e evitar freqüentar piscinas. Deve-se trocar fronhas e toalhas com freqüência. No caso das conjuntivites alérgica e primaveril, os cuidados são os mesmos que nas alergias em geral, ou seja, evitar poeira, contato com pólen, e com outros alergenos. O encaminhamento deve ser feito para o pediatra, clínico ou generalista quando a secreção é amarelada. Na conjuntivite a acuidade visual não se altera. 85 MEDIDA DA ACUIDADE VISUAL TESTE DE ACUIDADE VISUAL COM A TABELA DE SNELLEN Detecta problemas em todas as faixas etárias. É um importante instrumento de saúde pública. 86 • • • • • • • • • Material utilizado: escala optométrica de Snellen lápis preto ou ponteiro cartão oclusor cadeira (opcional) fita métrica ou barbante fita adesiva impresso para anotação dos resultados giz local bem iluminado (a luz deve vir por trás ou dos lados da pessoa que vai ser submetida ao teste) • não impermeabilizar com contact a tabela • local calmo A tabela deve ser colocada em uma parede a uma distância de 5m ou 6 m (observar a instrução na tabela) da pessoa a ser testada. As linhas que correspondem a 0.8 a 1,0 devem ficar na altura dos olhos da pessoa a ser examinada. O examinador deve explicar como será realizado o teste. As crianças pequenas devem ser preparadas antes da realização do teste e podem ser preparadas em atividade comuns. O examinador deve ter certeza que a pessoa a ser examinada entendeu o que será pedido a ele. As pessoas que usam óculos, devem ser testadas com eles. Os optotipos devem ser apontados com lápis preto. Ensinar a ocluir o olho, sem apertá-lo. Fazer sempre primeiro a medida da acuidade Visual (AV) do olho direito (OD) e depois a do olho esquerdo (OE). A acuidade visual a ser registrada será aquela em que a pessoa consiga enxergar até 2/3 da linha de optotipo. Exemplo: Numa linha de 6 optotipos, a pessoa deverá enxergar 4. Se a pessoa não conseguir identificar o maior optotipo, aproxima-la da tabela e anotar a distância que ela enxergar o maior optotipo. Anotar 4metros, por exemplo. Se a um metro de distância, ela ainda não enxergar o optotipo, veja se ela consegue contar os dedos do observador e a que distância. Anotar CD a 3 metros. Se a pessoa não detectar movimento de mão, anotar se ela tem percepção luminosa ou não, e anotar: PL (percepção luminosa) NPL (não percebe luz) Critérios de encaminhamento para refração após teste de acuidade visual com a tabela de Snellen: a- crianças < 5 anos • Ter visão igual ou inferior a 0,4,em ambos os olhos, com ou sem sinais ou sintomas • Ter diferença de visão entre os dois olhos de duas linhas ou mais b- crianças maiores de 5 anos de idade • Ter visão igual ou inferior a 0,7,em um ou ambos os olhos, com ou sem sinais ou sintomas • Ter diferença de visão entre os dois olhos de duas linhas ou mais OBS: Se a pessoa examinada tiver qualquer sinal (olho vermelho, estrabismo, crostas nos cílios, etc...) ou sintoma (dor de cabeça ao esforço visual, etc...) ela deve ser encaminhada ao oftalmologista. 87 FLUXO DE ENCAMINHAMENTO DE TRIAGEM PARA CIRURGIA DE CATARATA NO INCAT E HC 88 As pessoas com 50 anos ou mais que estiverem dentro dos critérios de encaminhamento descritos abaixo, poderão procurar o Instituto da Catarata (INCAT) ou o Hospital das Clínicas (HC), para passarem por uma consulta de triagem e, caso seja confirmado o diagnóstico, serem submetidas a cirurgia. 1- Para agendar a consulta de triagem, a pessoa deverá comparecer ao: Ao INCAT (Instituto da catarata): Rua Botucatu, 989 – Estação Santa Cruz do metrô, com a carteira de identidade, Ou Hospital das Clínicas: Rua Dr Enéas de Carvalho Aguiar, 155 6 º andar – bloco 8 de 2ª a 6ª feira das 7 às 9 horas. 2 - Critérios de encaminhamento: A. Ter 50 anos ou mais B. Ter visão 0,3 no pior olho – Teste de Acuidade Visual com a Tabela de Snellen com a melhor correção e com estenopeico. Este teste será realizado por pessoa treinada nas unidades de saúde. C. Ter Ficha de Encaminhamento preenchida. Os pacientes deverão procurar o INCAT ou HC com o impresso FICHA DE ENCAMINHAMENTO PARA CIRURGIA DE CATARATA preenchida. Após a triagem, os pacientes com diminuição da acuidade visual que não seja por catarata, serão encaminhados para o ambulatório adequado, mas, terão que agendar consulta por conta própria. 2- Na consulta de triagem, se for confirmado o diagnóstico de catarata, será marcado o caso novo 3- No dia do caso novo, será marcada uma consulta para avaliação pré--anestésica (APA). Neste dia os pacientes deverão trazer os seguintes exames: • Hemograma completo com contagem de plaquetas • Glicemia de jejum • Eletrocardiograma • Creatinina • Sódio/Potássio 4- Após a consulta de avaliação pré-anestésica, estando o paciente apto, ele marcará a cirurgia 5- Se a cirurgia ocorrer sem intercorrência, o paciente deverá retornar mais 3 vezes ao INCAT ou HC, de onde sairá com a receita dos óculos prescrita. 6- Caso haja alguma intercorrência, o paciente fará quantos retornos forem necessários, até receber alta. FICHA DE ENCAMINHAMENTO PARA TRIAGEM DE CATARATA Sub-Prefeitura: _________________________ DADOS DE IDENTIFICAÇÃO NOME:_________________________________________________________________ IDADE:___________ SEXO:___________ TELEFONE:: _______________________ END: R._________________________________________________Nº__________ BAIRRO___________________________________________CEP_________________ ENCAMINHADO PELA UBS/ USF/ DS ______________________________________ EXAMINADOR:_____________________________Data:______/______/____ DADOS Queixa: Baixa de Acuidade Visual Olho Direito ( ) Olho Esquerdo ( ) Ambos os Olhos ( ) Acuidade Visual: Longe OD: ___________ sem correção / com correção / com estenopeico OE: ___________ Antecedentes Pessoais: Glaucoma ( ) Diabetes ( ) Hipertensão Arterial Sistêmica ( ) Outros ( ):____________________ ______________ Para uso do INCAT / HC EXAME: Catarata: incipiente ( DATA: ______/______/______ ) nuclear ( ) scp ( ) total ( ) outro:_____________ CONDUTA: Encaminhado para ________________________________ INCAT – Rua Botucatu, 989 – Estação Santa Cruz do metrô HC – Rua Dr Enéas de Carvalho Aguiar, 155, 6º andar bloco 8 de 2ª a 6ª feira das 7 às 9 horas 89 ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DO TRABALHADOR Jefferson Benedito Pires de Freitas Marise Emy Kassawara Sonia Maria Alvim Ribeiro César Augusto Frederico Niglio 93 ACOLHIMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR 94 As ações de Saúde do Trabalhador contemplam desde atividades de assistência nos mais diferentes níveis (médico, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, assistência social, grupos terapêuticos de saúde mental, LER/DORT), além de ações de vigilância epidemiológica e vigilância nos ambientes de trabalho. A execução destas ações é atribuição do SUS, prescritas na Constituição Federal de 1988 e regulamentada pela Lei Orgânica de Saúde (LOS) através do artigo 6º. No município de São Paulo, além dos cinco Centros de Referência em Saúde do Trabalhador que tem todas as atribuições descritas acima como princípios, existem também inúmeras Unidades Básicas de Saúde, ProntoAtendimentos, Pronto-Socorros e Hospitais, além do Programa de Saúde da Família que no dia a dia das suas atividades, tem como clientela trabalhadores formais e informais, aposentados, além de um crescente número de desempregados, muitos deles acometidos por problemas de saúde relacionados com suas antigas funções desenvolvidas. Muitas doenças profissionais e do trabalho apresentam um tempo de latência de muitos anos, podendo muitas delas a depender da sua manifestação como p. ex., doenças osteomusculares, doenças respiratórias, doenças mentais e mesmo doenças neoplasicas não terem o nexo feito com o trabalho desenvolvido pelo paciente. Diversas patologias atendidas nestes serviços podem ter relação direta com a atividade profissional desenvolvida pelo paciente e muitas vezes além do tratamento clínico, outras ações devem ser desenvolvidas, como p. ex., notificação do caso através da Comunicação de Acidentes do Trabalho (CAT), instrumento utilizado para notificação tanto de acidentes quanto de doenças profissionais e do trabalho; afastamento do trabalho, encaminhamento para Perícia Médica do INSS, comunicação para as equipes de UVIS e CRSTs para ações de vigilância no ambiente de trabalho. Poderíamos então iniciar este protocolo de acolhimento relacionado à saúde do trabalhador com as seguintes questões: 1. Como em uma Unidade Básica de Saúde poderemos ao abordar um usuário tentarmos saber se a queixa que o traz à Unidade pode estar relacionado com sua atividade profissional atual ou antiga? Em primeiro lugar perguntando se sua queixa relaciona-se com o trabalho. Inúmeras atividades profissionais muitas vezes executadas sem nenhuma preocupação com medidas de proteção coletiva e mesmo individual podem acarretar riscos a saúde dos trabalhadores. Outras estão relacionadas diretamente com a organização do trabalho em que o individuo está inserido, levando além de comprometimento orgânico como as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) antes denominadas Lesões por Esforços Repetitivos (LER) levar a comprometimento da saúde mental. Em ambas situações isto se traduz por uma organização do trabalho que incentiva o individualismo, a competitividade e a busca de produtividade as custas de um menor número de postos de trabalho e do fantasma do desemprego. 2. Que doenças comumente atendidas nas Unidades de saúde poderiam ter relação com o trabalho? Hoje as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) anteriormente denominadas de Lesões por Esforços Repetitivos (LER) são a principal causa de atendimento nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador. São um termo abrangente que se refere aos distúrbios ou doenças do sistema músculo-esquelético, principalmente de pescoço e membros superiores, relacionados, comprovadamente ou não, ao trabalho. As queixas incluem dor, formigamento, dormência, choque, peso e fadiga precoce. As entidades ortopédicas apresentam-se como: tendinite, tenossinovite, sinovite, peritendinite, em particular de ombros, cotovelos, punhos e mãos; epicondilite, tenossinovite estenosante (DeQuervain), dedo em gatilho, cisto, síndrome do túnel do carpo, síndrome do túnel ulnar (nível de cotovelo), síndrome do pronador redondo, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome cervical ou radiculopatia cervical, neurite digital, entre outras. Podemos ter ainda quadros em que as repercussões são mais extensas ou generalizadas como p.ex, síndrome miofascial, mialgia, síndrome da tensão do pescoço, distrofia simpático-reflexa / síndrome complexa de dor regional. Os principais fatores de risco para as LER/DORT são determinados pela organização do trabalho que impõe trabalhos repetitivos sem pausas, tarefas monótonas, produtividade entre outros. As principais categorias profissionais envolvidas incluem bancários, caixas, digitadores, trabalhadores das mais diferentes linhas de montagem, embaladores, diaristas, etc. Um outro grupo de doenças também bastante freqüentes são as doenças respiratórias ocupacionais e entre elas ocupa lugar de destaque em nosso meio a Asma Ocupacional. Asma ocupacional (AO) é a obstrução reversível das vias aéreas causada pela exposição, no ambiente de trabalho, a poeiras, gases, vapores ou fumos. Ela é hoje a doença ocupacional pulmonar de maior prevalência em países desenvolvidos. É uma doença que torna o trabalhador permanentemente inapto para qualquer atividade que envolva exposição, em qualquer concentração ao agente que a desencadeou, pois a continuidade da exposição envolve risco de vida. Ela exige a readaptação profissional ou recolocação do trabalhador. Como exemplo poderíamos citar trabalhadores 95 de diversos ramos de atividades e ocupações como p. ex. indústria química, plástica, farmacêutica, fundições, cerâmica, pedreira, serralheria, marcenaria, indústria alimentícia, indútria têxtil, confecções, calçados, laboratórios, trabalhadores de limpeza, soldadores, pintores e diversos outros. Outro grupo importante de doenças respiratórias ocupacionais são as Pneumoconioses que constituem um grupo de doenças pulmonares decorrentes da inalação de poeiras que ocorrem no ambiente de trabalho levando a uma reação tecidual que leva a fibrose pulmonar. O desenvolvimento da pneumoconiose se dá através da inalação de aerodispersóides (poeira) fibrogênicos respiráveis, ou seja, frações de partículas menores que 10 um. As principais pneumoconioses em nosso meio são a silicose, a asbestose e a pneumoconiose por poeira mista. Saliente-se ainda que a inalação de fibras de asbesto/amianto pode levar ainda a doenças pleurais (placas pleurais, derrame pleural, atelectasia redonda), neoplasias malignas pulmonares e mesotelioma maligno de pleura. A silicose é a pneumoconiose causada pela inalação de poeira que contém concentrações elevadas de quartzo ou sílica cristalina (SiO2). É a pneumoconiose mais prevalente no país e tem como uma das principais complicações a tuberculose (silicotuberculose). Pode-se apresentar como crônica (exposições superiores a 10, 15 anos), acelerada (exposição de 5 a 10 anos) e aguda (exposições de até 6 meses). É uma doença progressiva e irreversível, independente do afastamento do trabalhador da exposição. As principais categorias profissionais acometidas são aquelas oriundas da mineração, metalurgia, fundições, cerâmicas, indústria de vidro, marmorarias (beneficiamento do granito e ardósia), jateadores de areia, fabricação de materiais abrasivos. A história clínico ocupacional e a radiografia de tórax conforme os critérios da Organização Internacional do Trabalho (OIT) são os principais instrumentos de diagnóstico desta pneumoconiose. Caracteri- 96 za-se radiológicamente por apresentar opacidades regulares, do tipo micronodular que inicialmente acomete os terços superiores de ambos os hemitoraces e posteriormente através da coalescência destes nódulos, torna-se difuso, podendo inclusive levar a formação de grandes opacidades. A asbestose é a fibrose do parênquima pulmonar de caráter progressivo e irreversível, em decorrência da inalação de fibras de asbesto. Seu diagnóstico assim como a silicose se fundamenta na história clínica e ocupacional e na radiologia de tórax, conforme a técnica preconizada pela Classificação Internacional de Radiografias em Pneumoconiose da OIT/1980. O desenvolvimento da doença geralmente tem um período de latência de 15 a 25 anos, embora, dependendo da intensidade da exposição, esse período possa ser menor. O início dos sintomas se desenvolve de maneira insidiosa, com manifestações de dispnéia e tosse. No exame físico podem-se encontrar estertores crepitantes de base, baqueteamento digital com cianose de extremidades e constatar-se evolução para cor pulmonale nos estágios finais. O afastamento do trabalhador nos estágios iniciais do quadro, pode fazer com que a progressão da doença seja menos significativa. As principais categorias profissionais com risco de desenvolverem asbestose são os trabalhadores da indústria do cimento amianto (caixas d’ água, telhas), indústria de auto-peças (lonas, pastilhas, freios), isolantes térmicos (juntas e gaxetas), têxtil (EPIs, isolantes térmicos) e uma infinidade de outras atividades em que se utiliza as fibras de asbesto como mistura em outros produtos para dar uma melhor resistência ao calor. Pneumoconioses por poeira mista são causadas pela inalação de poeiras minerais com porcentagem de sílica livre cristalina abaixo de 7,5% ou com alterações anatomopatológicas características, tais como lesões em cabeça de medusa e fibrose intersticial. Como exemplos: antracosilicose em mineiros de carvão expostos a altos teores de SiO2, silicoside- rose em fundidores de ferro, pneumoconiose pelo caulim e a talcose. Uma outra doença importante é aquela ocasionada pela exposição ao ruído que atinge um grande número de trabalhadores nos mais diversos ramos de atividades e ocupações existentes (metalurgia, têxtil, mineração, química, plástica, transporte, construção civil, etc). A perda da audição provocada pelo ruído ou perda auditiva induzida por ruído (PAIR) relacionada ao trabalho é uma diminuição gradual da acuidade auditiva decorrente da exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora. Ela tem como características principais a irreversibilidade e a progressão gradual com o tempo de exposição ao ruído. Inicialmente temos o acometimento dos limiares auditivos em uma ou mais freqüências da faixa de 3.000 a 6.000 Hz. As freqüências mais altas e mais baixas poderão levar mais tempo para ser afetadas. Dermatose ocupacional é toda alteração da pele, de mucosas e anexos direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por tudo aquilo que seja utilizado na atividade profissional ou exista no ambiente de trabalho. Inúmeras substâncias estão relacionadas com o desenvolvimento das dermatoses ocupacionais, sejam irritativas ou alérgicas, sendo os agentes químicos, o grupo mais importante dos agentes produtores de dermatoses. As dermatites de contato por irritação são causadas por substâncias químicas sobre a pele promovento a remoção do seu manto lipídico, fazendo com que a pele perca sua proteção mais eficiente (camada córnea) ficando susceptível ao aparecimento de sangramentos, dor e incapacidade para utilização do membro afetado. Os principais agentes responsáveis são: ácidos, álcalis (cimento, endurecedores de resinas) fluídos de corte, sabões redutores, solventes, plantas (casca de cítricos, tulipa, aspargos), substâncias animais (contato com pâncreas, conteúdo intestinal, fezes, urina), cloro, bromo, iodo, mercúrio, resina epóxi, agentes tópicos (permanganato de potássio), agentes físicos (frio, calor, umidade, eletricidade, radiações ionizantes e não ionizantes, fricção, pressão, traumas). As dermatites ou eczema de contato alérgica são produzidas geralmente por substâncias químicas em baixas concentrações. A alergia por contato com agentes químicos pode ocorrer desde 5 dias após a exposição ao agente, ou até após vários anos de contato com a substência. Elas só podem ser curadas quando identificada a substância alergênica através da feitura dos testes epicutâneos e evitado novos contatos desta substância com o tegumento. Entre os principais agentes causadores das dermatites alérgica poderíamos citar o cimento, a borracha e seus componentes, níquel, madeira ( caju, cedro, cerejeira, ipê-preto, imbúia, jacarandá, maçaranduba, peroba, pinho), resinas epóxi. O que vem a ser Acidente do Trabalho, Doença Profissional e Doença do Trabalho? Acidente do Trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, com o segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado especial no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho. O conceito de acidente de trabalho está associado aos benefícios pecuniários que podem ser obtidos por trabalhadores registrados em empresas formalmente constituídas, isto é, aquelas que contribuem para custeio do Programa de Seguro de Acidentes de Trabalho vigentes no país. Assim, tem direito aos Benefícios da Previdência Social associados às conseqüências dos Acidentes do Trabalho, todos os trabalhadores que tem vínculo empregatício comprovado por uma 97 Carteira Profissional assinada. Da mesma forma, não tem direito aos benefícios referentes ao Seguro de Acidente do Trabalho trabalhadores sem qualquer vínculo empregatício, como por exemplo vendedores ambulantes, marreteiros, e trabalhadores autônomos. Conceituações e exemplos de Acidentes de Trabalho típico, de Acidentes de trajeto, de doenças profissionais e de doenças do trabalho. • Dilaceração na nádega esquerda após mordida de cachorro na rua, quando após sair do portão de sua casa foi agredido pelo cachorro do vizinho. • Contusão da perna direita quando subia no ônibus. • Fratura do pé esquerdo em conseqüência de queda no interior do ônibus após freada brusca. • Fratura de fêmur pós atropelamento por motocicleta quando atravessava a rua ao chegar ao local de trabalho. Acidente de Trabalho Típico É aquele que ocorre no local de trabalho, que determina lesão associada às atividades de trabalho desenvolvidas. São exemplos de Acidentes de Trabalho Típicos os seguintes: • Marceneiro que sofre amputação traumática de um dedo da mão Direita quando serrava uma tábua. • Funileiro que sofreu contusão do pé direito por ter queda de ferramenta pesada sobre o pé. • Servente de pedreiro que sofreu fraturas múltiplas após queda de andaime • Fratura do maxilar direito após ser agredido no local de trabalho por colega seu por disputa relacionada ao trabalho. • Motorista de ônibus intermunicipal que sofre fratura de crânio, em conseqüência de acidente de trânsito, ocorrido durante o transporte de passageiros de Santos para São Paulo. Acidentes de Trajeto São os que ocorrem após a saída de casa para o trabalho, ou no retorno do trabalho para casa. São exemplos de Acidentes de Trajeto os seguintes: 98 Doenças Profissionais São doenças causadas por agentes químicos (por exemplo gases, vapores ou poeiras), físicos (por exemplo ruído calor, e radiações), ou biológicos (por exemplo virus da hepatite ou leptospira ictero hemorrágica) • • • • • São exemplos de casos de doenças profissionais: Intoxicação pelo chumbo que atingiu montador de bateria automotiva que trabalhava nesta atividade há mais de seis meses. Perda auditiva Induzida pelo ruído em trabalhador metalúrgico que trabalhava na caldeiraria durante mais de 10 anos. Pneumoconiose – doença pulmonar causada pela inalação de poeira – que afetou mineiro diagnosticada quinze anos após o trabalho em minas de carvão. Anemia aplástica causada pela exposição ocupacional a benzeno em trabalhador de indústria de plásticos que usava o benzeno em operação de colagem de plásticos. Hepatite em funcionário de laboratório de hematologia, ou leptospirose em trabalhador da SABESP que desentope esgôtos. Doenças do Trabalho São as doenças causadas pela forma de organização do trabalho ou pelas condições em que ele é realizado. Esta condição exige a perícia médica ocupacional para estabelecimento do nexo. São exemplos de casos de doenças do trabalho: • As LER/DORT – (Lesões por esforços repetitivos – Doenças ósteo-musculares relacionadas ao trabalho) que afetam os trabalhadores que utilizam terminal de computador, ou os que trabalham em linhas de montagem industrial. Benefícios do Acidentado do Trabalho. Os principais benefícios dos acidentados do trabalho são valores em dinheiro que lhe são pagos pela Previdência Social. São eles de quatro tipos: • Auxílio Doença – Trata-se do auxílio em dinheiro dado pelo INSS ao acidentado do trabalho, após o 15º dia de afastamento do trabalho ocorrido em conseqüência do acidente que o vitimou, até que o trabalhador tenha condições de retornar a atividade produtiva. • Aposentadoria por invalidez – Trata-se de benefício pecuniário, vitalício e mensal, pago ao trabalhador que não tenha mais condições de retornar ao trabalho por ter a lesão determinado uma incapacidade permanente para qualquer tipo de atividade de trabalho. • Auxilio Acidente – Benefício pecuniário devido ao trabalhador, cuja incapacidade para o trabalho foi permanente, todavia parcial, o que lhe confere no entanto condições físicas para retornar a atividade que exercia anteriormente ao acidente embora a faça com maior dificuldade. • Pensão – É o benefício em dinheiro que cabe aos dependentes – esposa e/ou filhos em caso de morte do acidentado. Outro benefício importante são as atividades destinadas à Reabilitação Profissional dos Trabalhadores que apresentam seqüelas físicas graves, tais como amputação de braço, cegueira, amputação de membro inferior ou outros tipos de lesões que o incapacitam permanentemente para exercer as atividades de trabalho que exercia anteriormente a ocorrência que o acidentou. Quais orientações do ponto de vista de direitos devemos fornecer ao usuário suspeito de ser portador de uma doença profissional ou relacionada ao trabalho Em primeiro lugar se o trabalhador é portador de uma doença profissional, doença relacionada ao trabalho ou vitima de um acidente do trabalho típico ou de trajeto devemos saber se ele é um trabalhador formal ou não. Trabalhador formal é aquele que trabalha com Carteira Profissional assinada e portanto com direito aos benefícios da Previdência Social. Portanto, se ele é um trabalhador formal deve ser orientado a solicitar à empresa o fornecimento da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) em 6 vias para dar entrada junto ao INSS. Esta CAT deve além de ter o preenchimento da parte administrativa, também deve ter o preechimento do Laudo do Exame Médico (LEM) que deve ser feito pelo médico assistente. A depender do período de afastamento (> 15 dias) deve também ser encaminhado com relatório médico para Perícia Médica do INSS, visto que períodos superiores a 15 dias são pagos pelo INSS e também geram estabilidade por 12 meses após alta. E se o trabalhador tinha carteira assinada mas está desempregado? Em primeiro lugar devemos saber se sua doença ou acidente está ou não relacionado ao trabalho. Doenças profissionais, do trabalho e acidentes do trabalho geralmente não tem carência e podemos 99 solicitar a abertura da CAT. Entretanto, se não há relação com o trabalho, o INSS exige que o segurado seja contribuinte e a depender do número de meses que esteja sem contribuir (12 a 24 meses a depender do tempo total de contribuição), ou seja, se o usuário sofre um acidente domiciliar e está desempregado há mais de 12 meses e seu último emprego contribuiu apenas por 5 anos, não tem direito ao INSS, a não ser que volte a contribuir como autônomo por 4 meses, quando volta a adquirir a qualidade de segurado. O mesmo se aplica para trabalhadores autônomos que não fazem nenhuma contribuição para a Previdência Social. Estes trabalhadores não fazem jus aos benefícios da Previdência Social e mesmo que venham a adoecer só terão direito se contribuírem pelo menos por 4 meses com a Previdência Social. Portanto, é importante orientar trabalhadores autônomos, como p. ex. ambulantes, pedreiros, serventes a passarem a contribuir com pelo menos com a alíquota sobre 1 salário com a Previdência Social para terem direitos a benefícios como auxilio doença e mesmo aposentadoria. 100 FLUXOGRAMA DE ASMA OCUPACIONAL E ASMA BRONQUICA AGRAVADA POR CONDIÇÕES DE TRABALHO ( ABACT) Suspeita de asma (dispnéia, chiado e tosse) Diagnóstico de Asma Brônquica Confirmado Existe a suspeita de Asma Ocupacional ou ABACT ( melhora nos finais de semana, férias, piora com reexposição ) Não Tratamento conforme consenso brasileiro de Asma ( anexo) Sim Afastamento da exposição e encaminhamento para pneumologista ocupacional dos CRST’s da área de abrangência Principais ramos de atividade/ocupação de risco para Asma Ocupacional / ABACT - trabalhadores de indústria - plástica - química - metalúrgica - borrachas - farmacêutica - têxtil - confecções - alimentícia - tratadores de animais - soldadores - pintores - auxiliar de enfermagem - auxiliar de limpeza 101 FLUXOGRAMA DE DERMATOSE OCUPACIONAL Paciente com quadro de dermatose História ocupacional compatível com dermatose ocupacional por dermatite de contato alérgica ou irritativa Não Tratamento ou encaminhamento para dermatologista Sim Solicitação de CAT a empresa Se suspeita de dermatite de contato alérgica solicitar PATCH - TEST Principais ramos de atividade/ ocupação para dermatose ocupacional : - indústria da borracha - construção civil - galvânica - cilindristas - pedreiros - exposição a solventes - cromeadores - niqueladores - pintores 102 Encaminhar paciente com CAT e PATCH - TEST ( se realizado) para CRST da área de abrangência FLUXOGRAMA DE LER / DORT Queixas de dor e/ou formigamento em MMSS; Cervicalgias Histórico Clínico Ocupacional compativel com o trabalho ( executa movimentos repetitivos e/ou uso de força manual) > grau I ou grau I com afastamento > 15 dias Grau I Encaminhar uma cópia para CRST ou UVIS Solicitação de CAT a empresa para notificação Solicitação de CAT a empresa Necessita afastamento Afastamento do trabalho Não Sim < 15 dias > 15 dias < 15 dias Alta : 1- orientação e avaliação de mudança de função 2- tratamento medicamentoso S.N. 3- retorno se recidiva Principais ocupações de risco para LER/DORT: - telemarketing - caixas de supermercados - montadores - embaladores - rebitadores - secretárias - escriturários - digitadores Alta : 1- retorno a função com orientação de pausas ou readaptação 2- tratamento medicamentoso e/ou fisioterapia 3- retorno se recidiva Encaminhamento com relatório para perícia do INSS CRST Tratamento medicamentoso e/ou alternativo ( psicoterapia, terapia ocupacional, medicina tradicional chinesa ) Definições Grau I Grau II Grau III Grau IV Página 2 103 CONDUTA PARA LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) Queixas Exames Membros superiores FASE 0 Sensação de desconforto ou sensação de peso que aparece nos picos da produção piora aos finais de jornada e melhora com repouso Normal FASE 1 Sensação constante de desconforto ou sensação de peso nos membros superiores relacionados com os movimentos repetitivos com mais de um mês de duração Dor à palpação Dor à movimentação ativa FASE 2 Dor constante nos membros superiores com pequenos períodos de remissão que agrava com a realização de esforços repetitivos Inchaço Não melhora do quadro clínico com tratamento medicamentoso/fisioterápico. Interferência nas atividades do trabalho e fora do trabalho FASE 3 Acorda a noite com dor, deixa objetos cairem das mãos Dificuldade para realizar tarefa fora do trabalho, higiene pessoal, lida doméstica FASE 4 Dificuldade para realizar movimentos finos Exacerbação da dor e edema Impossibilidade de realizar tarefas domésticas e de trabalho Dificuldade de dormir devido à dor Dor a palpação, à movimentação passiva e ativa Aumento de volume Ausência de sinais sugestivos de compressão de nervos Presença de sinais sugestivos de compressão de nervos Edema importante Limitação dos movimentos Força muscular diminuida Atrofia e/ou deformidades FONTE: AMBULATÓRIO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFMG 104 FLUXOGRAMA DE PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO Paciente portador de deficiência auditiva Paciente tem exposição atual ou anterior a ruído no ambiente de trabalho Não Encaminhar para otorrinolaringologista Principais ramos de atividade/ocupação de risco para perda auditiva induzida pelo ruído : - metalurgica - plástica - marmoraria, - mineração urbana (pedreiras) - têxtil - transportes Sim Solicitação de audiometria Encaminhar com audiometria para CRST da área de abrangência 105 FLUXOGRAMA DE ACIDENTE DE TRABALHO Vítima de acidente de trabalho típico / trajeto SIVAT* Encaminhar cópia para CRST’s ou UVIS Solicitar CAT para a empresa Necessita afastamento? Não > de 15 dias < de 15 dias Alta Encaminhar com relatório para perícia do INSS Encaminhar para tratamento especializado ACIDENTE DE TRABALHO é o que ocorre pelo exercício de trabalho a serviço da empresa, com o segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado especial no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou pertubação funcional que cause a morte, a perda ou redução temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho ACIDENTE DE TRABALHO TÍPICO é aquele que ocorre no local de trabalho ( ou a serviço em atividades externas ), que determina lesão associada às atividades de trabalho desenvolvidas ACIDENTE DE TRAJETO são os que ocorrem após a saída de casa para o trabalho, ou no retorno do trabalho para casa CAT - COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO * Nos casos de Acidente de Trabalho também preencher a ficha de Sistema de Vigilância de Acidente de Trabalho (SIVAT). Portaria Municipal (nº 1470/02 de 30/04/02) 106 FLUXOGRAMA DE PNEUMOCONIOSE Paciente com queixas respiratórias e história de exposição a poeira como sílica e/ou asbesto Solicitação de raio X de tórax conforme padrão OIT ( organização internacional do trabalho ) Encaminhar com raio X de tórax para pneumologista ocupacional do CRST da área de abrangência Sílica: trabalhadores de mineração, pedreira, cerâmica, fundição, marmoraria, polidores, jateadores de areia amianto, auto peças ( freios, pastilhas ) juntas, gaxetas, isolantes térmicos 107 BIBLIOGRAFIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. A Secção III – Capítulo 30 apresenta as estatísticas sobre Acidentes de Trabalho no site http: //www.mpas.gov.br/12_01_03.htm 108 2. A Secção IV – Capitulo 32 – apresenta os dados disponíveis sobre Contribuintes Empregados pelo RGPS http://www.mpas.gov.br/12_01_04.htm 3. Algranti, E., Grecco, L. Doenças Pulmonares Ocupacionais. Serviço Social da Indústria, Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 1997. 4. Ali S.A. - Dermatoses Ocupacionais – Ministério do Trabalho – FUNDACENTRO: FUNDUNESP, 1994 5. Anuário Estatístico da Previdência Social – 2000. http://www.mpas.gov.br/12_01_20_01.htm 6. Doenças Relacionadas ao Trabalho – Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde/ Ministério da Saúde do Brasil, Representação no Brasil da OPAS/OMS; organizado por Elizabeth Costa Dias; colaboradores Idelberto Muniz Almeida et al. – Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001. 7. Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 4º ed., Geneve, International Labour Office, 1998. 4V. 8. Manuais de Legislação Atlas. Segurança e Medicina do Trabalho. 44º ed., São Paulo, Atlas S.A., 1999. 644 p. 9. Manual de instruções para preenchimento da Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT. elaborado por equipe do Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS, Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, http://www.mpas.gov.br/12_ 04.htm 10. MENDES, R.(org.) Patologia do Trabalho – Atualizada e Ampliada. 2ºed., São Paulo: Editora Atheneu, 2003. Volumes 1 e 2 - 1923 p. ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE BUCAL Elaboração: Edna Cézar Balbino Fernanda Lúcia de Campos Luís Cláudio Sartori Colaboração: Adrianne Stein Ana Regina Fernandes B. Cozzolino Andréia dos Santos Ribeiro Dalila Ap. Nogueira Deise Alves de Amorim Edna Alves Silva Eleodora F. Felice Flavio Luis Osório Julie Silvia Martins Márcia Aoki Marazzi Márcia C. Alejandro Arbex Maria Luisa de Gouveia Ramalho Maria Stela Miadaira Maria Teresa Sauranyi de Andrade Maricene C.M. Ferreira Mario Maccarone Filho Mario Nakanishi Regina A MarquesRegina Helena Pinheiro Sanches Ricardo Juniti Akitiv Rosimara MB Andrade Rubens Nunes Junior Sergio Luis S. Morais Silvio Carlos Coelho de Abreu 111 ACOLHIMENTO EM SAÚDE BUCAL 112 O “acolhimento” é considerado como um processo, especificamente de relações humanas; um processo, pois deve ser realizado por todos os trabalhadores de saúde e em todos os setores do atendimento. Não se limita ao ato de receber, mas em uma seqüência de atos e modos que compõe o processo de trabalho em saúde. Na análise do “acolhimento” é necessário ir além dos fenômenos lingüísticos, ou seja, do discurso verbal, pois nem sempre o que ocorre como um ato de linguagem, faz-se presente em intencionalidade, indo além da mensagem emitida. Acolher não significa a resolução completa dos problemas referidos pelo usuário, mas a atenção dispensada na relação, envolvendo a escuta, a valorização de suas queixas, e também o que se comunica sem o recurso das palavras, e através disso reconhecer as necessidades individuais ou coletivas, transformando-as em objeto das ações de saúde. Refere-se também que no “acolhimento” se explica de certa forma como se efetiva a implantação do SUS, e como os indivíduos se posicionam frente ao lema “Saúde como direito de todos e de cidadania”. Sendo assim o “acolhimento” pode se apresentar de formas diversificadas segundo as práticas de cada modelo assistencial, e segundo os diferentes espaços intercessores do processo de trabalho em saúde, bem como o seu conjunto. O usuário do serviço de saúde busca obter no “acolhimento”, uma relação de compromisso por parte do trabalhador de saúde, e a priorização problema/necessidade que o leva ao Sistema de Saúde, esperando a atenção, a escuta e o respeito, por parte dos trabalhadores. O acolhimento do cidadão no contexto da saúde bucal, mais que resposta a uma determinada situação de urgência caracterizada por dor espontânea, pulsátil intensa, inchaço na face, abscesso / fístula, hemorragia, trauma/ queda/ fratura, deverá ser porta de entrada que permita adesão desse usuário a programações integrais construídas sobre o eixo da promoção e recuperação da saúde. Quando se refere à promoção e recuperação da saúde, o cenário privilegiado é a atenção básica, que por um lado inclui cuidados relacionados à grupos prioritários em nível social e epidemiológico e, por outro, os serviços de especialistas socialmente mais necessários.(PINTO 2000). No entendimento da área temática, o conceito de atenção básica em saúde bucal deve ser encarado de forma ampla, com foco na prevenção, participação comunitária, enfoque multi-setorial e na oferta equânime dos serviços que não se limitam apenas às práticas curativas indispensáveis. Para o planejamento da atenção básica em saúde bucal dos usuários, incluindo acolhimento e organização equânime da demanda, optou-se pela realização de rastreamentos, empregados para identificar as condições de saúde bucal e subsidiar o planejamento das ações coletivas e das ações de assistência individual. A Organização Mundial da Saúde (1994), definiu como reconhecimento sistemático (rastreamento), os métodos preditivos de busca ativa para detectar riscos médicos/sanitários não manifestos ou enfermidades assintomáticas, para a implementação de oportuna intervenção. Rastreamento, triagem ou scrreening, para PEREIRA (2001), “é a procura por indivíduos suspeitos de estarem enfermos ou em risco de adoecer, no seio da população aparentemente sadia. Trata-se de uma estratégia que facilita a tarefa de proporcionar maior cobertura populacional de serviços de saúde, de modo a proteger maior número de pessoas, com menor esforço”. Para STARFIELD (2002), “o reconhecimento de um problema (ou de necessidade) é o passo que precede o processo de planejamento e diagnóstico. Se os problemas ou necessidades de saúde não forem reconhecidos, não haverá qualquer processo diagnóstico ou, então, será um processo inadequado. Os usuários podem não se queixar de problemas por não estarem cientes deles, ou podem se queixar de uma coisa que mascara outra. O papel do profissional de saúde é a determinação precisa das necessidades de saúde de um paciente ou de uma população”. Nesse protocolo de acolhimento, a técnica de rastreamento proposta para identificação de agravos em saúde bucal, combina critérios e procedimentos considerados relevantes para cárie dentária, condições do periodonto e tecidos moles bucais. Os critérios foram estabelecidos desde o início da década de noventa com a participação de equipes de saúde bucal, assessoradas por especialistas em cariologia, periodontia e semiologia. A técnica compreende a observação da cavidade bucal, feita com iluminação natural com auxílio de espátula de madeira. Os critérios de rastreamento das condições relacionadas com a doença cárie,doença periodontal e condição dos tecidos moles bucais são: 113 Critérios de rastreamento para cárie dentária com enfoque no grau de ataque/severidade das lesões. ESCORES A B C D E F CONDIÇÃO Ausência de lesão de cárie, ausência de manchas brancas ativas, sem presença de placa bacteriana dental envelhecida Ausência de sinais de cárie “em atividade”, apresentando sinais de doença pregressa, ou seja, cavidades adequadamente restauradas e/ou perdas dentárias adequadamente substituídas Ausência de lesão de cárie ativa, com presença de cárie crônica e/ou perdas dentárias não substituídas Presença de sinais de doença cárie – mancha branca ativa e presença de placa dental bacteriana envelhecida. Presença de sinais de cárie ativa, caracterizada pela observação de lesão aguda. Presença de dor referida e/ou abscesso Fonte: PSF Santa Marcelina, São Paulo, 1999. Critérios de rastreamento para doença periodontal com enfoque no grau de ataque/severidade das lesões. ESCORES 0 1 2 6 8 X B CONDIÇÃO Estruturas periodontais sadias Presença de gengivite Presença de cálculo supragengival Presença de bolsa, sem mobilidade e migração dentária Mobilidade e perda da função dentária Ausência de dente Seqüelas de doença periodontal anterior (retração gengival) Fonte: PSF Santa Marcelina, São Paulo, 1999. Critérios de rastreamento para lesões bucais com enfoque nas situações que sugerem risco para o câncer. PSF Santa Marcelina, São Paulo, 1999. ESCORES 0 1 2 Fonte: PSF Santa Marcelina, São Paulo,1999. 114 CONDIÇÃO Tecidos moles aparentemente sadios Alterações em tecidos moles, sem sugestão de malignidade Alterações em tecidos moles, com sugestão de malignidade Acolhimento, rastreamento e organização da demanda considerando o agravo cárie dentária: Serão encaminhados para grupos com enfoque na promoção e recuperação da saúde e para a clínica os usuários classificados com escore F, E, D, C, B, A, nesse ordenamento: do maior para o menor risco. Acolhimento, rastreamento e organização da demanda considerando o agravo doença periodontal: Serão encaminhados para grupos com enfoque na promoção e recuperação da saúde e para a clínica os usuários classificados com escore 8, 6, 2, 1, 0, nesse FLUXOS ordenamento: do maior para o menor risco. Acolhimento, rastreamento e organização da demanda considerando o agravo lesões em tecidos moles: Serão encaminhados para grupos com enfoque na promoção e recuperação da saúde e para a clínica os usuários classificados cm escore 2, 1, 0, nesse ordenamento: do maior para o menor risco. Importante: Todos os escores, e para todas as condições, serão checados em clínica independentemente da condição de risco que originou o acolhimento e encaminhamento. Por exemplo: um usuário pode ter sido encaminhado para a clínica a partir de em escore “E” para o agravo cárie dentária. Na clínica serão sempre checados os escores que classificam as condições do periodonto e dos tecidos moles. 115 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE QUEIXAS ODONTOLÓGICAS QUEIXAS ODONTOLÓGICAS IDENTIFICAR SE EXISTE URGÊNCIA NÃO SIM • dor espontânea, pulsátil e intensa • inchaço na face • abscesso/ fístula • hemorragia • trauma/ queda/ fratura • preenchimento da ficha de anamnese de urgência • assinatura do paciente ou responsável • problemas com os dentes em geral • dor provocada por quente, frio e doce • dente de leite não cai • dente permanente nascendo fora do lugar Orientar que a queixa não se caracteriza como urgência e que pode ser agendado para grupo de triagem para a solução do problema Aferição da PA dos adultos CONSULTA ODONTOLÓGICA NO DIA Observar aspectos da face que, excluindo escoriações típicas de quedas, sugiram sinais de violência física. Se confirmado, observar fluxo especifico para situações de violência. Observar alterações dos tecidos moles que sugiram infecção por HIV e encaminhar para o fluxo especifico. AGENDAMENTO PARA GRUPO DE TRIAGEM DE RISCO 116 ORIENTAÇÕES GERAIS PRESENÇA DE ABSCESSO / INCHAÇO NA FACE E/OU FÍSTULA INTRA/ EXTRA ORAL (PRESENÇA DE BOLSA NO PÉ DO DENTE) Orientar bochechos com água morna Não fazer compressa quente Evitar aquecimento local Evitar exposição ao sol Encaminhar para o dentista realizar drenagem (procedimento) CORTE DE LÁBIO / LÍNGUA / MUCOSA ORAL Limpar o local com soro fisiológico 0,9 % Compressão do local com gaze Aplicar compressa de gelo Preencher ficha de anamnese / urgência Para adultos, verificação da PA Encaminhar para avaliação / sutura. DESLOCAMENTO DE DENTES POR TRAUMA (deslocamento lateral, para dentro do alvéolo ou para fora do alvéolo) 1) Deslocamento lateral: Com uma gaze fazer realinhamento imediatamente para evitar a formação de coágulo. 2) Deslocamento para fora do alvéolo: Fazer realinhamento imediatamente. 3) Deslocamento para dentro do alvéolo: Não deve ser feito nenhum procedimento no sentido de posicionar o elemento. Aplicar compressa de gelo se tiver edema Encaminhar imediatamente para o Cirurgião Dentista realizar procedimento de avaliação e/ou contenção. 117 ORIENTAÇÕES GERAIS FRATURA DE DENTES POR TRAUMA Colocar o fragmento do dente em soro fisiológico. Se houve trauma de mucosa, fazer imediatamente compressa com gelo. Encaminhar para o Cirurgião Dentista realizar procedimento PERDA DO DENTE DECÍDUO ( DENTE DE LEITE ) POR TRAUMA AVULSÃO NUNCA REIMPLANTAR DENTE DECÍDUO Limpar a região afetada com soro fisiológico 0,9%. Orientar a morder um rolete de gaze. Aplicar compressa com gelo se tiver edema (inchaço) Encaminhar para o Cirurgião Dentista. PERDA DO DENTE PERMANENTE POR TRAUMA (AVULSÃO) Se o dente foi recuperado, lavar com soro fisiológico 0,9% sem fazer nenhuma fricção. Reimplantar imediatamente no alvéolo observando face correta. Na impossibilidade de reimplante, o dente deve ser mantido debaixo da língua do paciente / responsável, em soro fisiológico a 0,9% ou no leite até o momento do reimplante. Aplicar compressa com gelo se tiver edema (inchaço ) Encaminhar para o Cirurgião Dentista realizar contenção ( procedimento ). Se o dente não foi recuperado, oriente que a recuperação imediata é muito importante pois o elemento pode ser reimplantado. E também oriente como deve ser conservado até o momento do reimplante. 118 FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO A HEMORRAGIA HEMORRAGIA NA UBS Fazer compressão com gaze/ compressa com gelo Necessidade de pronto atendimento Hemorragia pós-cirúrgica Hemorragia traumática Ausência do dentista Cirurgião dentista Pequeno sangramento Grande sangramento Ausência do dentista Ausência do dentista Enfermeiro médico Cirurgião dentista Compressão compressa com gelo Sutura Cirurgião dentista Médico Se necessário Enfermeiro médico MEDICAÇÃO INJETÁVEL Vitamina K Buco maxilo facial Compressão com gaze 119 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 120 1. Buischi, Y. P. Promoção de Saúde Bucal na Clínica Odontológica. São Paulo. Artes Médicas, 2000. 2. Kramer, P. F.; Feldens, C. A.; Romano, A. R. Promoção de Saúde Bucal em Odontopediatria. São Paulo. Artes Médicas, 2000. 3. Projeto Qualis- Santa Marcelina- Modelo de Atenção, 1998. 4. Sartori, L. C. Saúde bucal da família. São Paulo, mimeo, 2001. 5. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A Organização das Ações de Saúde Bucal na Atenção Básica. São Paulo. fev. 2001. 6. Secretaria Municipal da Saúde. Prefeitura do Município de São Paulo. COGest. A Reorganização da Saúde Bucal na Atenção Básica no Município de São Paulo. São Paulo. mar. 2003. ÁREA TEMÁTICA - PROJETO RESGATE CIDADÃO Elaboração: Equipe Técnica do Projeto Cleide de Paula – COGest – Assessoria Técnica Jonas Melman – COGest – Assessoria Técnica Maria Lucia Aparecida Scalco – COGest – Assessoria Técnica Maiangela Aoki – COGest – Gerente do Projeto Resgate Cidadão 123 CASOS SUSPEITOS DE VIOLÊNCIA – SINAIS E SINTOMAS 124 A violência gera nas pessoas sofrimento físico, psíquico, social e/ou econômico. Entendemos a violência como uma questão de saúde pública, uma violação dos direitos da pessoa e um evento social e historicamente construído. Ela pode ser intencional, como a violência doméstica, sexual, institucional, suicídio, na relação de trabalho (assédio moral ou sexual) e homicídio, ou não intencional como o acidente de trabalho e de trânsito. Na rede ambulatorial observa-se que a violência, principalmente a doméstica e sexual, aparece de forma silenciosa e “invisível”, ela pode ser identificada através do relato espontâneo, sinais e/ou sintomas. As pessoas em situação de violência nem sempre associam o seu sofrimento como conseqüência da violência. Outras sentem vergonha ou medo de expor o problema. É importante criar condições que facilitem este relato e seu acolhimento. Quando se identifica uma suspeita de violência, pode-se perguntar diretamente ou indiretamente, dependendo da disponibilidade da pessoa em querer discutir o problema. É importante efetuar a notificação dos casos suspeitos ou confirmados de violência (vide fluxo de atendimento), normatizada pela Portaria no 2639/03 – SMS-G. Uma notificação em saúde não constitui uma denúncia policial, tem a finalidade de produzir informações epidemiológicas que irão subsidiar estratégias de intervenção assistencial, de promoção, de prevenção e de vigilância. No caso de crianças e adolescentes o Estatuto da Criança e do Adolescente/ ECA (art. 13 e 245) determina a notificação ao Conselho Tutelar. Neste caso, o Conselho Tutelar tem a obrigação de manter a confidencialidade. É recomendável conversar com a família sobre este procedimento, e esclarecer que ela tem a finalidade de desencadear uma ação de proteção à criança e ao adolescente e de apoio à família. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DE CASOS SUSPEITOS DE VIOLÊNCIA REDE AMBULATORIAL Acolhimento Suspeita não confirmada, ver outros fluxos assistenciais Criança e Adolescente: • Promotoria de Justiça Regional /MP • Conselho Tutelar • UVIS • Arquivo no prontuário Recebe, Escuta, Analisa e Avalia Suspeita confirmada ou ainda em investigação Adulto: • UVIS • Arquivo no prontuário Violência Sexual 1. Primeiras 72 horas: Profilaxia de DST, HIV/AIDS, Hepatite e Anticoncepção de Emergência 2. Gravidez decorrente do estupro – aborto legal Serviço de Emergência Atendimento no dia pela equipe de referência/ profissional Orienta e decide a conduta do caso Na própria Unidade - Agendamento - retorno - Atendimento Interdisciplinar • Ambulatorial • Acompanhamento Domiciliar (ACS/ profissional de saúde) - Rede de Vigilância - Rede de Apoio Notificação Unidade de Saúde Referência – US/Eq. Ref - Atendimento Interdisciplinar • Ambulatorial • Acompanhamento Domiciliar (ACS/ profissional de saúde) - Rede de Vigilância Idoso: • Grande Conselho do Idoso • Ministério Público, quando couber • UVIS • Arquivo no prontuário Rede de Apoio - Assistência Social - Educação - Jurídica - Delegacia de Polícia/ Delegacia da Mulher - Conselho Tutelar/Vara da Infância e - Juventude/ Ministério Público ONGs etc. - Rede de Apoio 125 TIPOS DE AGRESSÃO 126 Física: ocorre quando uma pessoa, que está em relação de poder com outra, causa ou tenta causar dano não acidental, por meio do uso da força física ou de algum tipo de arma que pode provocar ou não lesões externas, internas ou ambas. O castigo repetido, não severo, também se considera violência física. A tentativa de suicídio caracteriza-se com ato violento praticado pela própria pessoa. Sexual: É toda a ação na qual uma pessoa em relação de poder e por meio de força física, coerção ou intimidação psicológica, obriga uma outra ao ato sexual contra sua vontade, ou que a exponha em interações sexuais que propiciem sua vitimização, da qual o agressor tenta obter gratificação. Psicológica: É toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à auto-estima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa (insultos constantes, humilhação, desvalorização, chantagem, isolamento de amigos e familiares, manipulação afetiva, ameaças, privação arbitrária de liberdade etc). Negligência/abandono: Abandono – ausência ou deserção, por parte do responsável, dos cuidados necessários às pessoas que estão sob sua custódia física ou cuidado. Negligência – ato de omissão do responsável por criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência em prover as necessidades básicas e condições adequadas de vida. Auto-negligência – conduta de pessoa que ameaça sua própria saúde ou segurança, com a recusa ou o fracasso de prover a si mesmo cuidados adequados As crianças, os adolescentes, as mulheres, os idosos e as pessoas com deficiência ou com transtorno mental constituem os grupos mais vulneráveis à violência, principalmente a doméstica e sexual. A seguir sinais e sintomas (1) que podem estar relacionados à violência destes grupos: SINAIS E SINTOMAS Crianças e adolescentes Observar se as lesões existentes são incompatíveis com a história relatada ( atribui-se a um fato acidental ou a uma atitude da própria pessoa agredida que não condiz com a gravidade do caso), ou com o estágio de desenvolvimento da criança (atribui-se a pessoa o ato praticado porém ele não é compatível com a idade e o desenvolvimento motor da criança). Obervar, também, relatos discordantes entre os responsáveis ou entre o responsável e a pessoa supostamente agredida. Avaliar a repetição dos “acidentes”. Suspeitar a ocorrência de violência sempre que encontrar um ou mais dos seguintes achados durante o exame físico: Transtornos na pele e mucosa • Contusões e abrasões, principalmente na face, lábios, nádegas, braços e dorso • Lesões que reproduzam a forma do ob jeto agressor (fivelas, cintos, dedos, mordedura) • Equimoses e hematomas principalmente no tronco, dorso e nádegas, podendo indicar datas diferentes de agressão • Alopécia resultante de arrancamento repetido dos cabelos • Queimaduras com marcas do objeto (cigarro, por exemplo) • Lesões endobucais ocasionadas por laceração do freio da língua por tentativa de introdução forçada de alimentos 127 Transtornos músculo-esqueléticos • Fraturas múltiplas • Fraturas de costelas em menores de dois anos • Fraturas de crânio ou traumatismo craniano por choque direto ou sacudidas vigorosas (síndrome do bebê sacudido), concomitantes com edema cerebral, hematoma subdural e hemorragia retiniana, podendo manifestar-se por convulsões, vômitos, cianose, apnéia e alterações de deficit motor • Hematoma subperiosteal de diferentes estágios (síndrome da criança espancada) Transtornos genito-urinários Lesões na área genital e períneo: observar presença de dor, sangramento, infecções, corrimento, hematomas, cicatrizes, irritações, erosões, assaduras, fissuras anais, hemorróidas, pregas anais rotas ou afrouxamento do esfincter anal, diminuição do tecido ou ausência himenal, enurese, encoprese, infecções urinárias de repetições sem etiologia definida Transtornos psicológicos • Aversão ao contato físico, apatia ou avidez afetiva • Retardo psicomotor sem etiologia definida, com melhora quando a criança se separa da família (hospitalização) • Transtorno do sono ou da alimentação • Episódio de medo e pânico • Isolamento e depressão • Conduta agressiva e irritabilidade • Interesse precoce em brincadeiras sexuais ou conduta sedutora • Choro fácil sem motivo aparente • Comportamento regressivo, autodestrutivo ou submisso • Desenho ou brincadeiras que sugerem violência 128 • • • • • • Baixo nível de desempenho escolar Fugas, mentiras, furto Tentativa de suicídio Fadiga Baixo auto-estima Aversão a qualquer atividade de conotação sexual Outros • Retardo pondero-estatural por aporte calórico inadequado • Intoxicações por medicamentos especialmente anti-histamínicos ou sedativos • Sindrome de Münchausen por procuração (doenças simuladas ou provocadas falsamente pelos pais ou responsáveis) Negligência • • • • • Aspectos de má higiene Roupas não adequadas ao clima local Desnutrição Tratamentos médicos inadequados Distúrbios de crescimento e desenvolvimento sem causa orgânica • Lares sem medida de higiene e de segurança • Falta de supervisão da criança, provocando lesões e acidentes de repetição Freqüência irregular à escola No caso de crianças e adolescentes quando ocorrer a suspeita de maus tratos evitar (1): 1. Perguntar diretamente se um dos pais foi responsável pelo ocorrido; 2. Insistir em confrontar dados contraditórios ou aferir registros; 3. Confrontar os pais com descrições trazidas pela criança ou pelo adolescente, especialmente nos casos de abuso, pois trai a confiança do(a) usuário(a); 4. Demonstrar sentimentos em relação à situação – como desaprovação, raiva, indignação; 5. Assumir postura de policial ou detetive. Mulheres Mulheres em situação de violência são usuárias assíduas dos serviços de saúde. Em geral, são tidas como “poliqueixosas”, por suas queixas vagas e crônicas, com resultados normais em investigações e exames realizados. Atenção aos seguintes sinais e sintomas: • Lesões físicas agudas (inflamações, contusões, hematomas em várias partes do corpo) • Fraturas dos ossos da face, costelas, mãos, braços e pernas • Lesões das mucosas oral, anal e vaginal (inflamação, irritação, arranhões e edema, perfuração ou ruptura) • Dor no baixo ventre ou infecções • Infecção urinária de repetição (sem causa secundária encontrada) • Transtornos digestivos – falta de apetite, náuseas, vômitos, cólicas, dores de estômago • Perda de peso • Dores de cabeça • Dores musculares generalizadas • Sintomas psicossomáticos: insônia, pesadelos, falta de concentração e irritabilidade • Alterações psicológicas: estado de choque, crise de pânico, ansiedade, medo e confusão, fobias, insônia, pesadelos, auto-reprovação, sentimentos de inferioridade, fracasso, insegurança ou culpa, baixa auto-estima, comportamento autodestrutivo – como uso de álcool e drogas, depressão, tentativas de suicídio. Manifestações sociais: isolamento por medo que outros descubram o acontecido, medo de que se repita, mudanças freqüentes de emprego ou moradia No caso de mulheres quando há suspeita de violência (3): 1. Perguntar indiretamente: • Está tudo bem em sua casa, com seu companheiro? • Você está com problemas no relacionamento familiar? • Você se sente humilhada ou agredida? • Você acha que os problemas em casa estão afetando sua saúde? • Você e sua família brigam muito? 2. Perguntar diretamente: • Já vi problemas como o seu em pessoas que são fisicamente agredidas. Isto aconteceu com você? • Alguém lhe bate? Você já foi forçada a Ter relações com alguém? Idoso Os idosos tornam-se mais vulneráveis a violência intradomiciliar na medida em que necessitam de maiores cuidados físicos ou apresentam dependência física ou mental. Quanto maior a dependência, maior o grau de vulnerabilidade. O convívio familiar tenso e cuidadores despreparados agravam esta situação. Observar os sinais e sintomas a seguir: Abuso físico • Contusões, queimaduras ou ferimentos inexplicáveis, de vários formatos, de diferentes estágios e de formatos bem definidos, como marcas de corda, ataduras ou contenção nos punhos e tornozelos 129 • Alopecia traumática ou edema do couro cabeludo Abuso psicológico • Comportamentos bizarros: chupar dedo, embalar-se • Transtornos neuróticos • Transtornos de conduta Abuso Sexual • Lesão, prurido, sangramento, dor anal ou genital • Doenças sexualmente transmissíveis • Corrimento, manchas ou sangramento nas roupas íntimas Negligência • Desidratação ou desnutrição • Higiene precária 130 • Vestuário inapropriado ao clima/ambiente • Escaras, assaduras ou escoriações • Impactação fecal Abuso Financeiro Necessidades e direitos não atendidos (compra de medicamentos, alimentação especial, contratação de ajudantes, livre utilização dos proventos) em conseqüência do uso de recursos financeiros (aposentadoria, pensão, herança) pela família Pessoa com deficiência Os sinais e sintomas sugestivos de violência descritos nos diversos ciclos de vida acontecem também na pessoa com deficiência. O que pode ocorrer é o risco de ignorá-los e serem considerados como resultados da deficiência. Um outro fator que pode ser um agravante é a dificuldade de comunicação da pessoa devido a sua deficiência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Violência Intrafamiliar – Orientações para a Prática em serviço – Caderno de Atenção Básica – nº 8 – SPS/MS – 2002 2- Guia de Atuação Frente a Maus – Tratos na Infância e na Adolescência – Orientações para pediatras e demais profissionais que trabalham com crianças e adolescentes – SBP, CLAVES, ENSP, FIOCRUZ, MJ – 2a edição – 2001 3- O que devem saber os profissionais de saúde para promover os direitos e a saúde das mulheres em situação de violência doméstica – Departamento de Medicina Preventiva/FMUSP, Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde - 2003 131 SAÚDE A PESSOA COM DEFICIÊNCIA Elaboração : Lucila Faleiros Neves Sandra Maria Vieira V. Tristão de Almeida Siomara Rolla Chen Heloisa B. Ventura Di Nubila Maria Gorete Bavoso Lorena Martinez Barrales Colaboração: Márcia Kretzer Fernanda Rocco Eliana Cristina Moreira Gilcinéia Eleutério Débora D. Gonçalves Nascimento Andréa Wander Bonamigo 135 INTRODUÇÃO A Política Municipal de Atenção à Pessoa com Deficiência considera deficiência como: • Diferença humana, que por suas singularidades, requer atenção a especificidades quanto à forma de comunicação e de mobilidade, de ritmos e estilos de aprendizagem, bem como das maneiras diversas de construir o conhecimento e os relacionamentos sociais; • Fenômeno relacional social e historicamente construído, apresentando uma perspectiva diferente da concepção tradicional de deficiência, centrada no aspecto de falha na fisiologia humana. “As deficiências podem ser parte ou expressão de uma condição de saúde, mas não indicam necessariamente a presença de uma doença ou que o indivíduo deva ser considerado doente” (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF –OMS/OPAS - EDUSP, 2003). Podem ser congênitas ou adquiridas, temporárias ou permanentes e de diferentes tipos: física, sensorial (auditiva e visual), mental ou múltiplas. Podem ser, portanto, adquiridas, por qualquer um de nós, durante nossas vidas, requerendo ações de prevenção, além do tratamento, reabilitação e fornecimento de órteses e próteses necessárias para a equiparação de oportunidades e inclusão social. A questão da deficiência não é responsabilidade apenas dos profissionais de reabilitação. A Organização Mundial de Saúde refere que a manutenção exclusiva das ações de reabilitação em serviços especializados (mesmo que descentralizados) ou em instituições, além de insuficientes para atender as necessidades da população, não envolve a comunidade onde as pessoas com deficiência vivem, o que é fundamental para que esta reconheça que estas pessoas tem os mesmos direitos que os outros seres humanos. O texto que segue abaixo visa oferecer subsídios 136 aos profissionais, que atuam em todos os equipamentos de saúde para acolhimento e conduta frente às pessoas com deficiência e suas famílias. NOMENCLATURA Os termos utilizados trazem valores e conceitos vigentes na sociedade numa determinada época, e são substituídos na medida em que estes mudam. O termo “pessoa portadora de deficiência”, por exemplo, tem sido evitado, por entender-se que a deficiência é condição da pessoa, que não pode deixar de portá-la. Atualmente, utiliza-se o termo “Pessoas com Deficiência”, que enfatiza a condição humana do sujeito, que pode requerer, em determinados momentos, ações e cuidados específicos. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO COM DEFICIÊNCIA Todo o planejamento das ações de saúde em relação às pessoas com deficiência deve estar apoiado em informações locais, não somente em relação ao número, mas principalmente quem são estas pessoas, como adquiriram suas deficiências, como viviam e como vivem agora, quais suas necessidades, que expectativas têm, quais recursos são necessários para melhorar sua qualidade de vida. Para isso é importante realizar a Identificação e Caracterização da população com deficiência no território, que possibilitará não só o planejamento e direcionamento de ações, mas também a aproximação com a comunidade. Para tanto, sugerimos: 1. Identificar e avaliar situações/locais de risco para o desenvolvimento de algum tipo de deficiência (condições de trabalho, violência, acidentes de trânsito, doenças crônicas - hipertensão, diabetes, etc). 2. Identificar a presença de pessoas com deficiência na comunidade e descrever / caracterizar os diferentes tipos de deficiência presentes (física, mental, auditiva, visual, múltipla). 3. Conhecer as condições de vida das pessoas com deficiência (estrutura familiar, atividades da vida diária, moradia, benefícios sociais, bens de consumo, transporte, escolaridade, idade, estado de saúde geral, ocupação, equipamentos ou adaptações – cadeira de rodas, bengala, lentes, entre outras). 4. Identificar a autonomia da pessoa com deficiência na realização de atividades gerais (se necessita de auxílio, acompanhante, se é totalmente dependente, em que condições). 5. Identificar as formas de participação das pessoas com deficiência na comunidade (possui inserção em grupos, interage socialmente em casa, na comunidade, em outros contextos). 6. Avaliar a presença de movimentos organizados de pessoas com deficiência e lideranças comunitárias, por meio da história de organização social, suas reivindicações, propostas, atividades que desempenham 7. Registrar, analisar os dados da realidade local, planejar e executar ações de maneira integrada pelas equipes de saúde, sob a ótica da interdisciplinaridade e intersetorialidade. ACOLHENDO A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE A pessoa com deficiência, como qualquer ser humano, tem suas características individuais, potencialidades e necessidades. O que acontece, muitas vezes, é que ao se deparar com uma pessoa com deficiência nos serviços de saúde, os profissionais pressupõem, imbuídos de valores pré-estabelecidos, que ela precisa ser encaminhada para um “lugar especializado, onde saibam lidar com sua deficiência”. Deixa-se de olhar para a pessoa e foca-se na deficiência. Esquece-se que suas necessidades básicas são comuns, tais como vacinação, consultas, pré-natal, planejamento familiar, puericultura e saúde bucal. É dever dos profissionais da atenção básica criar condições para o acesso de pessoas com deficiência dentro das estruturas comuns de saúde, para que tenham oportunidades igualitárias e eqüitativas de participação em todos os atendimentos e atividades. Quando a pessoa com deficiência chega na unidade de saúde ou é visitada pela equipe de saúde, devem ser levantadas suas necessidades. Caso a demanda refira-se à reabilitação, deve-se investigar se a pessoa é ou já foi acompanhada por algum serviço de reabilitação, por quanto tempo, se recebeu alta ou interrompeu o tratamento e quais as suas necessidades específicas atuais. Se for preciso, realizar contato com a equipe que atendeu a pessoa/família para troca de informações. Deve-se ter em mente que encaminhamentos para centros especializados podem ser importantes em determinados momentos, dependendo do grau de comprometimento e das necessidades da pessoa. Porém, nem sempre são os mais indicados, uma vez que muitas ações podem ser realizadas com qualidade em unidades próximas ou no domicílio. Se a unidade tiver profissionais com experiência e formação em reabilitação, estas ações poderão ser executadas com maior resolubilidade. Cabe ressaltar que geralmente a expectativa da família, da pessoa e dos profissionais de saúde quanto à reabilitação é a cura, recuperação total no quadro motor, cognitivo ou sensorial, o que muitas vezes não é possível. 137 A reabilitação é um processo de desenvolvimento de capacidades, habilidades, recursos pessoais e comunitários que facilitam a independência e participação social. Deve ter duração limitada e objetivos definidos. Nosso papel é oferecer informação, valorizar os ganhos reais que permitam maior independência nas atividades do dia-a-dia e contribuir para o enfrentamento da nova condição e inclusão social. A precocidade das ações de reabilitação, como por exemplo a intervenção imediata após sofrimento de trauma ou lesão, possibilita melhores respostas em termos de aquisição de habilidades e prevenção de danos secundários, sejam estes de ordem física, econômica ou psicossocial. ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA Lidar com a questão da deficiência, geralmente implica em uma série de mudanças, sentimentos, adaptações, que podem gerar maior ou menor sofrimento para as pessoas envolvidas. É importante, portanto, que as famílias sejam apoiadas e fortalecidas neste processo, bem como orientadas para o manejo das situações advindas da condição de deficiência de algum de seus membros. A aproximação de pares pode ser uma estratégia facilitadora para o enfrentamento e superação de muitas questões. O profissional de saúde tem o dever de acolher, dar suporte às famílias no momento do diagnóstico e estimular o vínculo, cuidado e potencial da criança e família, por mais grave que seja a condição da pessoa. A inclusão deve começar na própria família e a equipe deve observar e estimular a participação das pessoas com deficiência nas diferentes atividades. Da mesma forma, deve valorizar os conhecimen- 138 tos da família, adquiridos pela convivência diária, pelas orientações recebidas de outros profissionais, permitindo sua participação e comunicação nas relações de saúde, exercendo seu papel de protagonista social. A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA: SINAIS DE ALERTA E CUIDADOS Crianças com deficiência, como todas as outras, têm as mesmas necessidades essenciais para se desenvolverem e também aprendem explorando o mundo, brincando, imitando, repetindo e se relacionando. As crianças com e sem deficiência se beneficiam com a convivência, pois têm oportunidade de aprender a respeitar o ritmo diferente do amigo, de desenvolver sentimentos de cooperação e de cuidado, que são fundamentais para a construção de uma sociedade que realmente valorize a diversidade humana, e que abra espaço para todos os indivíduos. Quanto mais cedo uma família tem informações sobre as dificuldades e necessidades das crianças, maior a possibilidade de descobrir alternativas e obter respostas mais favoráveis para sua participação. O mais importante é ser paciente com as dificuldades, não tentar comparar as aquisições de uma criança com a outra, compreendendo que cada uma tem um jeito e ritmo próprio. A família deve sempre incentivar a criança para que tenha maior independência nas atividades como vestir, tomar banho, comer, brincar , mesmo que elas demorem mais que o esperado para realizar ou o façam de maneira muito diferente da usual. Isto certamente ajudará muito na sua auto-estima e socialização. Da mesma forma, é essencial que ela dê oportunidades para que a criança participe e conviva em todos os momentos da família, na vizinhança, na escola e comunidade. A criança com deficiência tem direito à educação (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Lei nº 9394/96) Um acompanhamento cuidadoso do desenvolvimento infantil possibilita a detecção de sinais de alerta, alterações e intervenção precoce. Com relação à linguagem, observar a comunicação entre a criança e a família: como é a conversa com o bebê/criança durante a alimentação e brincadeiras, se o bebê emite sons, se estes apresentam entonações diferentes. Perto de 2 anos a criança compreende perguntas simples, já emite algumas frases e apresenta tentativas de manter diálogo com o interlocutor, mesmo que seu vocabulário não seja extenso . É importante que a família converse com a criança, valorize sua vocalização, dando sentido ao que produz. Não corrigir e demonstrar grande ansiedade em relação à sua fala; brincar de cantar, produzir sons e entonações diferentes durante brincadeiras; falar sempre corretamente. Oferecer à criança objetos e brinquedos que incentivem a exploração do ambiente, a curiosidade, a independência para que ela possa assumir atitudes e se expressar. Na deficiência física os sinais de alerta mais comuns são encontrados em crianças que se apresentam muito molinhas (flácidas) ou com movimentos muito rígidos ou muito incoordenados, deformidades ou malformações com dificuldade de buscar e segurar objetos, ou se movimentar para rolar, arrastar, sentar, ficar em pé, andar, às vezes com alterações também para sugar ou comer. Para estas crianças, aprender depende muito das oportunidades de serem bem posicionadas com almofadas, rolinhos, cadeiras adaptadas, para facilitar sua movimentação, bem como ter o contato facilitado com o ambiente e alcance de objetos, que devem ser colocados próximos e às vezes até na própria mão. Ajudá-las para que consigam novos movimentos e posições evitará muitas deformidades e lhes dará mais confiança para arriscar novas experiências. Na deficiência auditiva os sinais mais comuns são: criança não acorda, nem se mexe em respostas a fala ou barulho, não tem reações a barulhos do ambiente como porta batendo, voz da mãe, brinquedos como chocalho, instrumentos musicais; não atender quando se fala com ela ou só fazê-lo quando está olhando para a pessoa. A criança fala pouco ou não fala. É importante o encaminhamento para diagnóstico, indicação de aparelho auditivo e terapia fonoaudiológica. Para auxiliar na comunicação, é importante o contato visual: falar de frente, de forma mais pausada, articulada e com expressão, mas sem exageros. O uso de gestos também pode auxiliar muito a comunicação. Não deixe de conversar e cantar com ela. Na deficiência visual, as crianças demonstram grande dificuldade em fixar os olhos nos objetos ou pessoas, podem parecer desinteressadas pelos brinquedos e ambiente ou trazem muito perto dos olhos os objetos que desejam ver. Têm dificuldade em iniciar sua mobilidade: rolar, engatinhar ou andar. Podem, ainda, apresentar comportamentos estereotipados como apertar ou esfregar os olhos, franzir a testa ou fixar o olhar em pontos luminosos. Para que elas possam fixar o olhar e explorar um brinquedo ou a face do cuidador, é necessário aproximá-los bem perto do seu rosto, na posição que ela mostrar melhor resposta. Objetos grandes e de cores fortes, de alto contraste (preto e branco, por ex.) são mais fáceis de serem percebidos. Quando a criança é cega, necessita fazer o uso das mãos para conhecer melhor as coisas e é muito importante que sempre lhe contem o que está acontecendo no 139 ambiente ou lhe antecipem o que vai acontecer. Os móveis e objetos dentro de casa devem permanecer o máximo possível nos mesmos lugares para que a criança possa se deslocar ou procurá-los com maior sucesso. Na deficiência mental os sinais de alerta mais comumente observados são: pouco interesse em explorar ou explorações muito repetitivas; atraso nas aquisições motoras e de linguagem; dificuldade em memorizar e em realizar uma tarefa até o fim; dificuldade na retenção do aprendido e no uso em diferentes situações. Comportamentos estereotipados e repetitivos, às vezes de auto-estimulação como balançar a cabeça, bater os objetos, chupar ou morder mão e dedos podem aparecer, e estão freqüentemente relacionados com distúrbios de saúde mental. É importante oferecer objetos diferentes, ajudar a explorar suas características e para que servem, nomear todos os objetos, demonstrar como funcionam, ajudar a se interessar pelo ambiente, dividir as tarefas em etapas simples e, sobretudo, ser bastante tolerante com os erros, a lentidão, a demora e a repetição no processo de aprendizado. A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: ORIENTAÇÕES E CUIDADOS Considerar sempre as potencialidades dos indivíduos, buscando, sempre que necessário, alternativas de comunicação para promover acesso às informações, a convivência e a participação no processo de tratamento. • Contribuir para que a pessoa descubra seu potencial e o que é capaz de fazer. Muitas vezes ela desconhece suas capacidades, porque nunca foi estimulada a realizar as atividades, mesmo que de forma incompleta. 140 • Os profissionais devem perguntar suas dúvidas diretamente à pessoa com deficiência, sempre que possível. • Estimular a participação nas atividades familiares. Investigar sua rotina: se permanece no quarto, na cama, quando poderia estar numa cadeira na sala, por onde todos os membros da família circulam e onde são tomadas decisões; se sai com a família e freqüenta atividades na comunidade. • Toda pessoa com deficiência tem direito a órteses, próteses ou outras tecnologias, dependendo de suas necessidades. • Deficiências motoras, visuais, auditivas ou na comunicação não implicam em deficiência mental. • As pessoas com deficiência podem manter relacionamentos sexuais e constituir famílias. DEFICIÊNCIA AUDITIVA E DE LINGUAGEM Nos últimos anos tem se observado cada vez mais a importância da comunicação para a vida independente. As alterações de fala e escrita, como trocas ou omissões de letras, as gagueiras, as alterações de voz, os atrasos de desenvolvimento de linguagem, as afasias podem, dependendo do comprometimento, trazer maior ou menor prejuízo à comunicação. Quando a pessoa chega à unidade de saúde é importante observar o meio de comunicação efetivo que usa. No caso de uma grande alteração de fala (como por exemplo uma pessoa com gagueira, com muitas repetições e bloqueios, com paralisia cerebral e dificuldade de comunicação ou uma pessoa surda) os profissionais de saúde devem estar disponíveis para a comunicação. Se necessário, oferecer recursos diferentes para que a pessoa possa se expressar. Por exemplo, podemos citar o uso da escrita, mímicas, perguntas direcionadas, que possam ter sim e não como resposta, repetição das últimas palavras/idéias, o uso de equipamentos de comunicação alternativa. É importante que o profissional tenha paciência e demonstre isso à pessoa. Não tente adivinhar o que ela quer dizer e não a deixe sem respostas. Dirija-se a ela, procure olhar no rosto. Se não entender o que foi falado, solicitar que a pessoa repita, escreva ou utilize gestos. Preste mais atenção no conteúdo da fala do que em sua forma e, principalmente não discrimine alguém por sua maneira de falar. Lembre-se o mais importante são os sentimentos e as idéias que a pessoa quer transmitir. Na condição de deficiência auditiva, é importante o posicionamento de frente para a pessoa para facilitação da leitura labial. Se necessário, mudar ritmo e volume de fala, utilizar a escrita, sinais ou pedir auxílio de um intérprete que pode ser uma pessoa da família, amigo ou da comunidade. DEFICIÊNCIA VISUAL Ao se dirigir a uma pessoa com deficiência visual, identifique-se e faça-o perceber que está falando com ele; comunique também seu afastamento; Perguntar diretamente à pessoa o que sente, qual a queixa que a trouxe a unidade de saúde. Para tanto, não precisamos falar alto, nem vagarosamente, em linguagem mais simples. A deficiência visual não é sinal de déficit auditivo ou deficiência mental; É fundamental que os procedimentos sejam antecipados com explicação verbal, apresentação dos instrumentos, procedimentos, equipamentos e materiais que serão utilizados, se possível com a permissão para serem tocados e conhecidos; • Solicitar autorização para o toque evitando sustos e constrangimentos; • Quando for guia-lo, espere que a pessoa segure no seu braço para que os movimentos de seu corpo sejam acompanhados; • Quando a pessoa for deitar-se na maca ou sentar-se para o exame basta que coloquemos sua mão no encosto da cadeira ou da maca para que realize as mudanças posturais necessárias; • Caso a pessoa utiliza uma bengala como guia para locomoção independente não devemos afastá-la da pessoa. É um objeto de uso pessoal, que serve de referência na realização das atividades cotidianas; • Lembre-se que os cães-guia têm responsabilidade de guiar o dono que não enxerga, por isso o cachorro nunca deve ser distraído do seu dever de guia; DEFICIÊNCIA MENTAL Deficiência mental e Doença Mental são condições distintas, e freqüentemente as pessoas têm dificuldade em diferenciá-las. Vale esclarecer que a doença mental pode ocorrer com pessoas com os graus mais variados de inteligência. A doença mental não é uma condição inerente às pessoas com deficiência mental. Procure descobrir as potencialidades da pessoa, de sua família e comunidade; não subestime sua capacidade. Deixe que faça ou tente fazer tudo que puder. Ajude apenas quando for realmente necessário. DEFICIÊNCIA FÍSICA A maior dificuldade das pessoas com deficiência física geralmente está associada à dificuldade de locomoção e acesso aos diferentes serviços. Muitos encontram-se acamados ou limitados em sua mobilidade, impedidos de usufruir dos serviços comuns. 141 Esta dificuldade está relacionada tanto a acessibilidade externa (barreiras arquitetônicas e de transportes), quanto à acessibilidade interna dos serviços, muitas vezes pela presença de escadas e falta de equipamentos (balança adaptada, por exemplo, para que mulheres com deficiência possam ser pesadas durante a gestação). Deixe que a pessoa fale a melhor forma de ser ajudada para locomoção ou transferência da cadeira na hora de um procedimento. • Devido ao padrão flexor, pode haver dificuldade em realizar higiene na axila, no cotovelo e em especial na palma da mão. Lesões de pele podem tornar-se comuns. Uma orientação simples é colocar rolinhos de tecido nas regiões que permanecem em flexão, de forma que o tecido absorva o suor. • Solicitar a utilização do hemicorpo afetado como auxiliar nas atividades cotidianas. A mão parética, por exemplo, pode ser utilizada como apoio na realização de atividades bimanuais. Seguem abaixo, considerações sobre Acidente Vascular Encefálico e Paralisia Cerebral, por serem ocorrências comuns no cotidiano das equipes de saúde. • Alterações de sensibilidade, de cognição, de fala e linguagem podem também estar presentes. É importante que a família e profissionais tenham conhecimento da condição real da pessoa, para que as condutas sejam adequadas. Por ex.: o fato da pessoa estar mais emotiva diante da condição, ou ter dificuldades para se expressar e/ou entender, não justifica que seja tratada de maneira infantilizada. É importante utilizar qualquer forma de comunicação como a mímica, a fala, a escrita, os gestos e o desenho quando interagir com a pessoa que sofreu um AVC. • Pessoas com grande limitação na movimentação e/ou restritas ao leito devem ser orientadas a realizarem mudanças posturais freqüentes. Deve ser estimulado o uso de roupas sem acessórios que provoquem pontos de pressão, o uso de colchão “casca de ovo”, a troca de fralda, a arrumação da cama de forma que não fiquem “rugas” nos lençóis, a higiene adequada e manutenção em posição adequada utilizando rolos, travesseiros ou outros assessórios. • A posição escolhida para a alimentação também deve ser investigada. Muitas vezes a pessoa é alimentada deitada, sem elevação. Isto pode levar a aspiração do alimento e conseqüentes quadros repetitivos de pneumonia aspirativa. ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (mais conhecido como AVC) • Orientar a pessoa a cuidar de sua postura no decorrer do dia. Atitudes viciosas podem levar a desenvolvimento de deformidades. Ex.: Permanecer com tronco constantemente inclinado para um lado, pode levar a escoliose. • Evitar deixar o membro superior afetado sem suporte de peso, orientando mantê-lo elevado e apoiado sobre a mesa ou travesseiros. • Favorecer atenção para o lado do hemicorpo afetado, orientando que familiares se posicionem ou coloquem objetos preferencialmente deste lado. • Deve-se respeitar o limite de dor durante a manipulação. • A “bolinha” não deve ser usada por todos os pacientes, especialmente no início da recuperação, pois já existe uma tendência para flexão de punho e dedos e poderemos intensificar o padrão flexor. 142 O fonoaudiólogo, o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional poderão auxiliar na orientação do posicionamento e alimentação. PARALISIA CEREBRAL O termo “Paralisia Cerebral”, embora impróprio, foi consagrado pelo uso. Muitos médicos utilizam o termo “Encefalopatia Infantil Crônica Não Evolutiva” (EICNE), embora este termo possa incluir outras condições não motoras. Paralisia Cerebral refere-se a lesões nos primeiros anos de vida, que interferem no desenvolvimento infantil, caracterizada por alterações do movimento e da postura. Podem estar associadas outras manifestações, como: epilepsia, alterações oculares (estrabismos, erros de refração..) alterações auditivas, alterações no desenvolvimento mental, retardo de crescimento e alterações da sensibilidade. Infelizmente, ainda é comum a idéia de que a pessoa com Paralisia Cerebral também é deficiente mental. Outra idéia comum é da progressão do quadro, o que não é real. Podem surgir encurtamentos e deformidades, decorrentes da limitação na mobilidade, posturas e movimentação em padrões repetitivos, o que não significa que houve um aumento na área da lesão cerebral. • O posicionamento pode significar melhoria na qualidade de vida da pessoa; deve proporcionar conforto, segurança e funcionalidade, de forma que a pessoa possa manter contato e ter acesso ao mundo a sua volta. Devemos estar atentos para perceber os pontos de pressão que machuquem ou causem desconforto. • A espasticidade (tônus muscular aumentado) ou a movimentação involuntária podem aumentar frente a situação de estresse ou ainda, pode ser uma forma de expressão. A pessoa pode utilizá-la para manifestar que gosta/não gosta de algo ou para demonstrar alegria. • A pessoa com PC e as famílias, a partir de suas experiências e conhecimento, podem ajudar os profissionais sobre como proceder em determinadas situações. TECNOLOGIA ASSISTIVA / AJUDAS TÉCNICAS Refere-se ao conjunto de objetos, equipamentos, sistemas de produtos, adquirido comercialmente ou desenvolvido artesanalmente, utilizado para aumentar, manter, ou melhorar as habilidades de pessoas com limitações funcionais. Devem ser funcionais, sem provocar dor, lesões ou desconforto. Entre os recursos da tecnologia assistiva, podemos destacar as Órteses, aparelhos que acrescidos a qualquer segmento do corpo melhoram o posicionamento e/ou a função (Ex.: Bengalas, muletas, “goteiras”) e as Próteses, equipamentos que substituem algum segmento do corpo visando principalmente o ganho de função (Ex.: Aparelhos auditivos; próteses de membros). A prescrição, confecção e treinamento são realizadas em serviços de referência. Devem ser reavaliados periodicamente, visto que podem ocorrer mudanças na estrutura corporal do indivíduo (por exemplo crescimento ou mudança significativa de peso) e desgaste natural no material. Na atenção básica, podem ser identificadas alterações como lesões de pele, flacidez, perda de força muscular, que indicam a necessidade de encaminhamento. DIREITOS REIVINDICADOS PELAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA • Adequação das unidades de saúde para o acesso 143 físico e maior utilização da comunicação visual. • Adequação de mobiliário e equipamentos nas unidades de saúde (ex: mesa de exame ginecológico e balança eletrônica com plataforma e rampas para pesagem com cadeiras de rodas); • Profissionais capacitados em LIBRAS (Língua de Sinais Brasileira) para acesso dos surdos a diversos serviços como: psicologia, educação em saúde, planejamento familiar e orientação sexual, prevenção de DST/AIDS; • Acesso ao planejamento familiar e exame de Papanicolaou. “Qualquer tipo de discriminação ou de maus-tratos contra pessoas com deficiências é crime previsto na Lei 7.853, de 24.10.85, com pena de um a quatro anos de reclusão e multa. No caso da constatação da violência, as denúncias podem ser dirigidas para o Conselho Tutelar ou Ministério Público”. 144 I - TRANSPORTES: • SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES 1. SPTRANS Rua Cachoeira, 1140 – Pari Tel.: 6096-3299 2. ATENDE O Serviço de Atendimento especial ATENDE faz parte do Sistema Interligado. Ele funciona como um serviço gratuito de transporte porta –a- porta para proporcionar a locomoção às pessoas com mobilidade reduzida, que não podem utilizar o transporte comum ou os coletivos adaptados. Tel.: 0800-155 234 E-mail: [email protected] INFORMAÇÕES ÚTEIS • SECRETARIA DE TRANSPORTES METROPOLITANOS (STM - ESTADUAL) 1. METRÔ: Estação Tatuapé do Metrô Tel.: 1520 Central de Informações: 3286-0111 Ouvidoria: 3371-7275 e 3371-7274 E-mail: [email protected] 2. EMTU: Av. Engenheiro Armando Pereira, nº 2654, Jabaquara Tel. Informações: 5021-3838 3. CPTM: Av. Auro Soares de Moura Andrade, nº 664 – Estação Barra Funda do Metrô Tel. Informações: 0800-55-01-21 • TRANSPORTE INTERESTADUAL - FEDERAL 145 III – CONSELHOS: 1. PASSE LIVRE Para pessoas com deficiência física, auditiva ou visual, comprovadamente carentes. Informações: tel. 0800-61 0300 E-mail: [email protected] ou site www.transporte.gov.br O Governo Federal institui o Passe Livre para pessoas com deficiência física, mental, auditiva ou visual comprovadamente carentes. Estas pessoas, com renda familiar mensal per capita de até um salário mínimo poderão, com o Passe Livre, viajar de um Estado para outro de ônibus, trem ou barco, sem precisar pagar a passagem. A concessão deverá ser solicitada, via carta, ao Ministério dos Transportes – Caixa Postal 9800 – CEP 70001-970 – Brasília / DF – que enviará Kit do passe Livre a ser preenchido pelo requerente, anexando Laudo Médico expedido pela Equipe Multiprofissional do SUS, além de cópias de Documentos de Identificação Pessoal. O Ministério dos Transportes após recebimento e validação dos documentos emite e envia ao requerente a Carteira de Concessão do Passe Livre, via Correio. II – JUDICIÀRIO: 1.MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO R. Riachuelo, 115 –1ºAndar – Centro – Tel. 31199053 E-mail: [email protected]/ site: www.mp.sp.gov.br Grupo de Atuação Especial de Proteção às Pessoas Portadoras de Deficiência Pró - PPD - Tel: 2334611 146 1.CONSELHO MUNICIPAL DA PESSOA DEFICIENTE ( CMPD ) Rua Líbero Badaró, 119 – Centro – CEP: 01009000 – São Paulo / SP Tel: 3113-9671 / 3113-9673 E-mail: [email protected] 2.CONSELHO ESTADUAL PARA ASSUNTO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA (CEAPPD) Rua Antônio de Godói, 122 – 5º Andar – Santa Efigênea – São Paulo / SP Tel: 3337-7862 / Fax: 3331-2276 E-mail:[email protected] 3. CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE (CMS) Rua Gal. Jardim, 36 – 2º Andar - V. Buarque Tel:3218-4195 / 3218-4193 E-mail:[email protected] 4. CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE Av. Dr Enéas de Carvalho Aguiar, 188 – 6º Andar – Sala 603 – São Paulo / SP E-mail: [email protected] IV - ACESSIBILIDADE 1. CPA – COMISSÃO PERMANENTE DE ACESSIBILIDAD – SEHAB / PMSP Rua São Bento, 405, 19º Andar – Centro – São Paulo – CEP: 01008-906 Tel: 3242-9620 E-mail: cpa@prefeitura,sp.gov.br V – SERVIÇOS: INSTITUIÇÕES QUE ATENDEM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 1. FUNDAÇÃO DORINA NOWIL PARA CEGOS R. Diogo de Faria, 558, CEP: 04037-001 – São Paulo / SP Tel: 5087-0999 / 5087-0977 E-mail: [email protected] 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA AO DEFICIENTE VISUAL “LARAMARA” Rua Conselheiro Brotero, 338- Barra Funda Tel.: 3826-3744 / 3660- 6455 E-mail: [email protected] 3. SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 112 – Santa Cecília Tel.: 3224-0122 ou 222-3062 - SETOR DE VISÃO SUBNORMAL 2. SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 112 – Santa Cecília Tel.: 3224-0122 ou 222-3062 - SETOR DE VISÃO SUBNORMAL 3. HOSPITAL UNIFESP DA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Rua Botucatu, 820- Vila Mariana Tel.: 5085- 2016 4. HOSPITAS DAS CLÍNICAS DA USP- AMB. DE OTORRINOLARINGOLOGIA Av. Dr. Enéas de Carvalho, 255 – Pinheiros Tel.: 3069-6385 ALGUMAS REFERÊNCIAS DE MOVIMENTOS DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INSTITUIÇÕES QUE ATENDEM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA 1. CENTRO DE VIDA INDEPENDENTE ARACI NALLIN (CVI) Av. Prof. Luciano Gualberto – Trav. J, nº 374, sala 10 – Cidade Universitária Tel: 5082-3586 E-mail: [email protected] Serviços: Troca de Pares; palestras sobre Vida independente; acesso a acervo bibliográfico informatizado e mantém uma base de dados cadastrais para consultas e encaminhamentos a instituições públicas e privadas) 1. DERDIC – DIVISÃO DE EDUCAÇÃO E REABILITAÇÃO DOS DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO – PUC/SP Rua Dra. Neide Apparecida Sollito, 435- Vila Clementino Tel.: 5549-9488/ 5570-7502 E-mail: [email protected]. 2. FRATERNIDADE DE DOENTES E DEFICIENTES (FCD) Tel.: 6675-0816/ 6101-0568/ 6685-4335 Serviços: Troca de pares, despertar nas pessoas a descoberta de seus potenciais, capacidades, dons; promover a integração das pessoas em suas famílias e comunidade 4. HOSPITAL UNIFESP DA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Rua Botucatu, 820- Vila Mariana Tel.: 5085- 2016 147 VI – ESPORTE VIII - CULTURA 1. COMITÊ PARAOLÌMPICO R. Joaquim Távora, 49 – Icaraí / RJ Tel: (21) 711- 3777 Site: www.brasilparaolimpico.com.br Participação nas Paraolímpicas e outras competições: inscrições em Associações que façam parte deste Comitê – São Paulo: ABDC (11) 6966-8536. Modalidades: Futebol, Atletismo, Basquete, Ciclismo, Esgrima, Halterofilismo, Judô, Natação, Tênis de Mesa e Tênis de quadra. 1. BIBLIOTECA BRAILLE DO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso Tel.: 3277-3611 Ramal 246 2. CENTRO SOCIAL DESPORTIVO DE DEFICIENTES VISUAIS Rua Abílio Soares, 1300 – Ibirapuera Tel.: 5055- 3996 E-mail: [email protected] VII – TRABALHO 1. PADEF – PROGRAMA DE APOIO À PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA Casa do Trabalhador “Mario Covas” R. Helvetia, 55 – Campos Elíseos Tel: 3361-7011 / 3361-9499 / 3361- 8666 E-mail: [email protected] 2. INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES E PROGRAMA DE COOPERAÇÃO UNIVERSIDADE – ATIVIDADES ESPECIAIS DA USP Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 403 – Trav. 4 – Bloco 28 Cidade Universitária Tel.: 3091-5828 148 SITES COM INFORMAÇÕES SOBRE DEFICIÊNCIA : www.entreamigos.com.br (rede de informações) www.saci.org.br (rede de informações) www.cedipod.org.br (Centro de Documentação e Informação do Portador de Deficiência) www.revistareabilitação.com.br (revista e atualidades) www.sentidos.com.br (revista e informações) www.deficienteeficiente.com.br (Rede de Informações) www.geocities.com/defis_2000 (Rede de Sites sobre Deficiência) www.click.com.br (Tecnologia Assistiva) www.disabilityworld.org (Tecnologia Assistiva) www.dpi.org (Disabled People International) www.rehab-international.org (Rehabilitation International) www.defnet.org.br (Centro deInformática e Informações sobre Paralisias Cerebrais) www.who.int/icidh/ (International Classification of Functioning, Disability and Health –ICIDH-2) www.inclusao.com.br (Inclusão) www.mj.gov.br (Ministério da Justiça – CORDE –Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência) FLUXOGRAMA DE ACOLHIMENTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E SUA FAMÍLIA NAS UBS PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA AB ESCUTA DA DEMANDA vacinação, pré-natal, papanicolaou, consulta de saúde, ações educat. Isenção Tarifária Atendimento em REABILITAÇÃO SERVIÇO DISPONÍVEL NA UNIDADE DE ATENÇÃO BÁSICA? SIM Identificação das condições de vida e saúde e atendimento na unidade Serviço especializado de reabilitação –caráter intensivo,com duração limitada e objetivos definidos ou para outros serviços NÃO Identificação na unidade das condições de vida e saúde; encaminhamento para os serviços solicitados, com acompanhamento Sinal Geral de perigo: deficiência instalada recentemente, não acompanhamento em outros serviços, usuário dependente sem cuidadores, cárcere ou abandono domiciliar, acamado/ restrito ao lar, riscos biológicos e sociais agravantes. 149 ÁREA TEMÁTICA - ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Elaboração Dirce Cruz Marques Sandra Aparecida Jeremias Fabiola Sulpino Vieira Sueli Ilkiu CIM – Centro de Informações sobre Medicamentos Vilberto Crispiniano de Oliveira CFT – Comissão Farmacoterapêutica Chizuru Minami Yokaichiya 153 INSTRUÇÕES COM RELAÇÃO AO ATENDIMENTO/ ORIENTAÇÃO DE RECEITAS 154 1 - Com a publicação da Portaria nº 2.693/03, que normatiza a Prescrição e Dispensação, todas as receitas, independentemente da procedência (serviço de origem), para atendimento devem: • Estar escritas em letra legível. • Conter o nome completo do paciente. • Conter a denominação comum brasileira (denominação genérica/ princípio ativo) dos medicamentos prescritos. • Conter o nome do prescritor (médico/ dentista/ enfermeiro), assinatura e registro no conselho profissional. • Estar datada. • Ser apresentada em duas vias. 2 – Os medicamentos disponíveis/ padronizados nas unidades constam da Remume-SP (Relação Municipal de Medicamentos Essenciais), que deve estar disponível para consulta. A 2ª edição da RemumeSão Paulo – 2004 saiu em 28/04/03. 3 – Após a verificação das condições acima para atendimento, seguir o fluxograma, sendo que: • Receita da própria unidade/interna com irregularidade que impeçam o atendimento – procurar o prescritor para as devidas correções e, após isto, encaminhar para a farmácia. • Receita externa de outra unidade pública ou receita externa ao serviço público (convênios/ consultórios e clínicas particulares) – Fluxograma para Acolhimento. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO RECEITAS EXTERNAS À UNIDADE DE SAÚDE Paciente chega a UBS com receita externa a unidade Acolhimento recebe o usuário Verificar se o medic. esta na REMUME Não Sim Informar por escrito o endereço eletrônico da REMUME www.prefeitura.sp.gov.br/ assitencia_farmaceutica para conhecimento do prescritor. Para o usuário informar que a Central 156 pode informar os medicamentos padronizados Atende a portaria da prescrição e dispensação Portaria 2.693/03 Não Preencher o formulário de encaminhamento de receita e encaminhar o paciente para o serviço de origem para as devidas adequações. Sim Encaminhar a farmácia da unidade. 155 FORMULÁRIO DE ENCAMINHAMENTO DE RECEITA UNIDADE COMUNICADO AO PRESCRITOR Senhor prescritor: De acordo com a Portaria SMS.G Nº 2.693/03 esta receita está irregular. Pedimos a gentileza de fazer a (s) correção (ões) assinalada (s): DADOS SOBRE DADOS SOBRE OS A PRESCRIÇÃO MEDICAMENTOS DATA NOME DO MEDICAMENTO ASSINATURA APRESENTAÇÃO RASURADA FORMA FARMACÊUTICA ILEGÍVEL CONCENTRAÇÃO Nº CRM NOME DO MÉDICO QUANTIDADE DADOS SOBRE O TRATAMENTO MEDICAMENTO QUANTIDADE DE CONTROLADO TRATAMENTO RECEITA EM 1 VIA MODO DE USAR APENAS DADOS SOBRE O PACIENTE DURAÇÃO DO TRATAMENTO FALTA O NOME DOSAGEM OU CONCENTRAÇÃO 156 Data, nome e Data, nome e assinatura do assinatura do gerente dispensador da unidade ÁREA TEMÁTICA DST/AIDS Maria Cristina Abbate Deborah Bitencourt Haydée Marina do Valle Prereira Orival Silva Silveira Silvana Hengles 158a PROTOCOLO HIV/ AIDS PARA UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE / ÁREA TEMÁTICA DST/AIDS No início da epidemia, na década de 1980, a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida, atingia apenas homens que faziam sexo com homens (HSH), indivíduos que receberam transfusão de hemoderivados e a usuários de drogas endovenosas. Na década de 1990, a doença se expandiu atingindo as mulheres, constituindo a transmissão heterossexual a principal via de contaminação para o HIV. Segundo dados da Coordenação Nacional de DST/ Aids, a epidemia mudou e hoje tem como características: interiorização, feminização e pauperização. Interiorização : a Aids no Brasil passou de restrita a metrópoles a regional e nacional, atingindo 63% dos 5.507 munícipios do país. Feminização: a categoria heterossexual é a que tem apresentado a maior tendência de crescimento, sendo que a razão de sexo em indivíduos com mais de 13 anos passou de 25 homens para 1 mulher, em 1985, para 2:1, em 2000, fato este que tem contribuído para aumento da transmissão vertical. Pauperização: A epidemia de AIDS no Brasil iniciou-se nos estratros sociais de maior instrução, com progressiva disseminação para os estratos sociais de menor escolaridade, fato este constatado por meio da notificação compulsória. Diante de todas estas evidências e contrário ao estigma do início da epidemia de que a aquisição do HIV estava associado a grupos de risco, nós consideramos negligência a omissão em qualquer unidade de saúde do oferecimento da sorologia para HIV. Alertamos para conduta a ser adotada pelos médicos pediatras das unidades de saúde que são procurados em consulta por menores de idade desacompanhados de seus responsáveis, conforme parecer do CRM (Conselho Regional de Medicina): se o menor reunir a capacidade que se faz para entender e conduzir-se na forma prescrita pelo médico para solução de seu estado clínico é dispensável que seja acompanhado por seus pais ou responsáveis legais. Lembrando que o profissional de saúde tem o dever de guardar segredo profissional referente ao paciente . 159 FLUXOGRAMA HIV UBS Acolhimento É processo de escuta ativa individualizado e centrado no cliente. Pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre o profissional e paciente, visando o resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação.Portanto, além do acolher, o profissional deverá permitir que o paciente fique a vontade e que entenda a sua vulnerabilidade, podendo assim criar estratégias que promovam a sua saúde. Oferecer aconselhamento dialogado pré–teste O aconselhamento pode ser realizado tanto em grupo como individualmente. Aconselhamento pré –teste- é oferecido ao paciente antes de realizar o teste. Durante este aconselhamento , o profissional de saúde prepara o paciente para a realização do teste, analisando em conjunto: O que é um teste de infecção pelo HIV? Quais os motivos que levam o paciente a pensar em realizar o teste. Os possíveis resultados deste teste, as implicações de ficar conhecendo o seu estado sorológico e o modo de como poderá lidar com a nova informação. A necessidade de adotar comportamentos que protejam a sua saúde e previnam a propagação desta infecção. 160 FLUXOGRAMA (CONT.) Coleta do teste de HIV Este exame será solicitado pelo médico e/ou enfermeira da unidade. Este teste apresenta as seguintes características: Anonimato: o paciente poderá realizar o teste em anônimo ou , caso queira , identificar-se. Confidencialidade:Todos profissionais que trabalham na Unidade, além do sigilo profissional a que estão naturalmente vinculados, recebem formação específica no sentido de reforçar este princípio. Privacidade: Tanto os aconselhamentos como a entrega dos resultados são realizados em espaço próprio, onde é garantida a privacidade dos pacientes. Voluntário: Todo processo de atendimento, o paciente tem total liberdade para recusar os aconselhamentos, a coleta da sangue, fornecer qualquer tipo de informação. Gratuito: A realização do exame e os aconselhamentos não implicam em nenhuma despesa. Aconselhamento pós –teste Deve ser oferecido por ocasião da entrega dos resultados do teste. O principal objetivo deste aconselhamento é ajudar o paciente a compreeender os resultados do teste realizado e a iniciarem o processo de adaptação a sua situação sorológica face ao HIV, quer o resultado seja positivo ou não. Aconselhamento pós-teste diante do resultado negativo: • Informar que um resultado negativo significa que a pessoa não está infectada ou foi infectada tão recentemente que não produziu anticorpos necessários para a detecção pelo teste utilizado; 161 FLUXOGRAMA HIV • Avaliar a possibilidade do paciente estar em janela imunológica e, se necessário, realizar um novo teste em 3 meses; • Lembrar que o resultado negativo não significa imunidade; • Reforçar as práticas seguras : camisinha , uso de seringa descartável para usuário de drogas. Aconselhamento pós-teste indeterminado: • Explicar que um resultado indeterminado pode significar : um falso positivo devido a razões biológicas ou um verdadeiro positivo de uma infecção recente cujos anticorpos não estão plenamente desenvolvidos. • Orientar a realização de nova coleta para refazer o teste, dentro de 3 meses após a última exposição. Aconselhamento pós-teste positivo: O resultado será dado preferencialmente pelo médico e/ou enfermeira que solicitou o exame. Caso o paciente seja positivo será oferecido ao paciente encaminhamento para unidade especilizada em DST/AIDS. 162 FLUXOGRAMA DE SOROLOGIA PARA HIV Oferecimento da sorologia para HIV para usuário com vida sexual ativa , usuário de drogas ou que receberam sangue antes de 1986. Não aceito Orientação a respeito DST/ AIDS Aceito Aconselhamento pré-teste + Coleta Prevenção Entrega resultado com aconselhamento pós-teste Se positivo Se negativo Orientar Prevenção Encaminhar para Unidade Especializada 163 ABORDAGEM SINDRÔMICA EM DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS 164 O Município de São Paulo adotou a Abordagem Sindrômica para Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) em 2.001, em consonância com o Programa Nacional de DST/AIDS, baseada em trabalhos e experiências que obtiveram resultados melhores que aqueles que utilizaram abordagem clínica ou etiológica, como a intervenção realizada por Grosskurt e colaboradores na Tanzânia, que acumula nos resultados, não só a redução das DST, como também a estimativa da redução da transmissão do HIV em 42%(1). A Abordagem Sindrômica apresenta maior sensibilidade e resolutividade, independente de recursos laboratoriais disponíveis, baseando-se na queixa e exame físico, tendo sido validado no território nacional por Moherdaui et al através de um estudo multicêntrico em 1998 (2). Por ser um protocolo de âmbito nacional, pode ser realizado por Enfermeira em local que não tenha médico, desde a admissão do paciente até a prescrição (Lei do Exercício Profissional nº 7.498/86 de 25/06/86, regulamentada pelo Decreto nº 94.406, de 08/06/87 (3). Destaque deve ser dado ao aconselhamento e tratamento dos parceiros contido no quatro fluxogramas, procedimentos muitas vezes negligenciado pelo profissional que atende ao portador de DST, que quando incorporado na rotina eleva não apenas o nível da assistência, como também da prevenção às DST. FLUXOGRAMA DE CORRIMENTO URETRAL PACIENTE COM QUEIXA DE CORRIMENTO URETRAL ANAMNESE E EXAME FÍSICO TRATAR CLAMÍDEA E GONORRÉIA ACONSELHAR, OFERECER ANTI-HIV E VDRL, ENFATIZAR A ADESÃO AO TRATAMENTO. OFERECER MEDICAMENTOS PARA PARCERIA SEXUAL, CONVOCAR PARCEIROS E AGENDAR RETORNO E NOTIFICAR * * SINAN 165 FLUXOGRAMA DE ÚLCERAS GENITAIS PACIENTE COM QUEIXA DE ÚLCERA GENITAL ANAMNESE E EXAME FÍSICO HISTÓRIA OU EVIDÊNCIAS DE LESÕES VESICULOSAS SIM NÃO Tratar sífilis e cancro mole Tratar Herpes genital Aconselhar, oferecer antiHIV e VDRL, enfatizar adesão ao tratamento, notificar, convocar parceiros e agendar retorno. 166 LESÕES COM MAIS DE 4 SEMANAS NÃO SIM Tratar sífilis e cancro mole. Fazer biópsia. Iniciar tratamento para Do-novanose. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Parker R., Galvão J., Pimenta M.C., Jr Veriano T.Aprimorando o debate: respostas sociais frente á AIDS: anais do seminário conquistas e desafios na assistência ao HIV/Aids. Rio de Janeiro: ABIA, 2002. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis.Brasília, Ministério da Saúde, 1999, 3ª edição . Portal DST/AIDS: www.prefeitura.sp.gov.br/dstaids Grosskurth, H et al. Impact of improved treatment of Sexually Transmitted Diseases on HIV Infection in Rural Tanzania: Randomised Controlled Trial. Lancet. 346(8974:530-534,1995. Moherdaui, F et al. Validation of national algorithms for the diagnosis of STD in Brazil: Results from a multicentre study. Sexually Transmitted Infections (former Genitourinaty Medicinte, 1998; 74 (supl 1): S38-S43. Brasil, Ministério da Saúde, Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. 3ª ed, Brasília, 1999. 167 CR Centro de Referência, SAE –Serviço de Atendimento Especializado, AE- Ambulatório de Especialidades. CR DST/AIDS Nossa Senhora do Ó.Av Itaberaba , n °1377 –Freguesia do Ó. UNIDADES ESPECIALIZADAS EM DST/AIDS CR DST/AIDS Penha R. Praça Nossa Senhora da Penha n° 55-Penha. 168 CR DST/AIDS Santo AmaroAv.General Roberto Alves de Carvalho Filho, n° 569 –Santo Amaro. SAE DST/AIDS Campos Elíseos Rua Albuquerque Lins , n°40- Santa Cecília. SAE DST/AIDS Butantã Av.Corifeu de Azevedo Marques, n° 3596- Butantã. SAE DST/AIDS José F.de AraújoR.Vicente da Costa , n° 289- Ipiranga . SAE DST/AIDS Hebert de Souza Av. Arquiteto Vila Nova Artigas, n°515, cj Teotônio Vilela -Sapopemba. SAE DST/AIDS Cidade Líder II R. Médio Iguaçu,n° 86- Itaquera. SAE DST/AIDS Fídelis Ribeiro R. Peixoto, n° 100São Miguel Paulista. SAE DST/AIDS Santana R. Dr Luiz Lustosa da Silva, n °339 –Mandaqui. SAE DST/AIDS Cidade Dutra R.Cristina de Vasconcelos Cecatto, n °109 - Cidade Dutra. SAE DST/AIDS Jardim Mitsutani R.Frei Xisto Teuber n° 50 -Campo Limpo. AE Dr Alexandre Kalil YazbecK Av.Ceci, n° 2235Planalto Paulista . AE Vila Prudente Praça Centenário de Vila Prudente, n°108 – Vila Prudente.