15 Maio | Ter. | 21h30 - FATAL 2007

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15 Maio | Ter. | 21h30 - FATAL 2007
Teatro · PEÇAS NA POLITÉCNICA
15
| TERÇA · 21h30
TEATRO DA POLITÉCNICA
A Missão
A peça utiliza motivos de um conto de Anne Seghers (A luz sobre a forca).
Trata-se da tentativa falhada de três emissários governamentais do tempo
da Revolução Francesa para organizarem uma revolta de escravos na Jamaica.
(...) A peça inicia-se com a entrega de uma carta, que um dos três emissários
escrevera no leito de morte ao responsável pela realização da missão. Este encontra-se
em Paris. A carta reporta a impossibilidade do cumprimento da missão.
O autor | Heiner
Müller (Eppendorf, Saxónia, 1929 – Berlim, 1995)
Filho de um funcionário social-democrata, preso por funcionários do regime nacional-socialista, Heiner Müller cedo sente o que significa não ter pão e o que quer dizer exilar-se na sua
própria terra. A escrever regularmente para teatro, a partir da década de 1950, Heiner Müller
recebe, em 1959, com a sua mulher, a poetisa Inge Müller, o Prémio Heinrich Mann da Academia das Artes, pelas peças Der Lohndrücker (O fura-tabelas) e Die Korrektur (A correcção),
embora a representação desta última peça tivesse sido proibída por não salientar convenientemente os objectivos do realismo socialista. Essa posição oficial será reforçada com a expulsão
do autor, em 1961, da Associação de Escritores da RDA. Após a reunificação da Alemanha, o
autor regressa ainda à encenação e dirige os destinos do Berliner Ensemble. Em 1995, Heiner
Müller trabalha, na Califórnia, na peça Germania 3. Gespenster am toten Mann (Germânia 3.
Fantasma sobre o homem morto). Morre antes de conseguir levar a peça ao palco.
O grupo |
GTL (Lisboa, 1964)
O Grupo de Teatro de Letras da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa surgiu com
a peça Assembleia ou Partida, de Correia Garção, sob orientação de Claude-Henri Frèches.
Apresentando peças que primavam pelo seu espírito académico, subversivo e experimentalista,
opondo-se ao regime salazarista, pelo GTL passaram ícones do teatro português, tais como:
Lindley Cintra, Luís Miguel Cintra, Jorge Silva Melo, entre outros. No início dos anos 80, o GTL
trabalha com os encenadores Paulo Matos, Eugénia Vasques e João Grosso. Após um interregno, o grupo renasce com Ávila Costa, em 1989, ganhando um carácter de formação pessoal
e de escola de teatro. Ressurge o espírito contestatário no grupo que participa, regularmente,
em festivais de teatro universitário, nacionais e ibéricos. No FATAL, onde está presente desde
a primeira edição, foi-lhe atribuída uma Menção Honrosa com a peça Jacques, o Fatalista, pelo
trabalho do colectivo de actores, apresentado em 2006.
O encenador |
Tertúlia
A seguir ao espectáculo, no bar
do teatro. O público à conversa
com actores encenadores
e convidados especiais.
CONVIDADOS ESPECIAIS
Helena Serôdio
Maria João Brilhante
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Ávila Costa (Ilha do Pico, 1952)
É raro, no meio teatral português, nunca dele se ter ouvido falar. Estreou-se como actor no
Teatro Experimental de Cascais, em 1978. Dedicando-se à encenação e à formação, leccionou
no extinto IFICT e no Chapitô, e tem dado formação ao grupo In Impetus. Em 1981, concluída
a sua Formação de Actor pelo Conservatório Nacional de Lisboa, trabalha em companhias
como o Teatro da Cornucópia, a Companhia Nacional de Teatro Popular e o Teatro Maizum,
sendo dirigido por Luís Miguel Cintra, Carlos Avillez e Rogério de Carvalho, respectivamente.
Em 1983 integra, como actor, o Grupo de Teatro de Letras, tornando-se orientador do grupo
com qual encenou, desde 1989, obras de autores como Miguel Barbosa, Jorge Lima Alves,
Shakespeare, Tadeusz Rósewicz e José Rodrigues Miguéis, entre outros, marcando a história
do GTL. Na televisão, participou em Retalhos da vida de um médico (RTP) e Xailes Negros (RTP
Açores). Em 1986, recebeu o Troféu Nova Gente para o melhor actor de televisão.
FICHA TÉCNICA Tradução Anabela Mendes | Assistência de Encenação Miguel Fonseca, Ricardo Silva | Dramaturgia Anabela Mendes, Ávila Costa, Rui Teigão,
Ricardo Silva, Miguel Fonseca, GTL | Interpretação Ana Gil, Joana Guerra, João Vicente, Susana Gaspar, Nuno Matos, Soraia Granja, Laura Tomás, Reinaldo
Almeida, Flávio Nunes, Miguel Silveira | Desenho de Luz Ávila Costa | Banda Sonora João Santos | Designer João Vicente | Figurinos e Imagem Eduardo Guerra,
Luísa Seixas | Operador de Luz Pedro Marques | Operador de Som João Santos | Técnicos de Luz Pedro Sousa, Paulo Oliveira | Produção GTL
GTL | UNIVERSIDADE DE LISBOA • FACULDADE DE LETRAS
Heiner Müller
Processo Criativo
F
DESENHO
oi-me atribuída a missão de escrever qualquer coisa que, no
meu entender, seria uma análise dramatúrgica de A Missão.
Desviando-me da análise dramatúrgica, vou falar apenas da
importância de A Missão para mim e da minha própria interpretação da peça. Se alguém, que nunca tivesse lido a peça
ou visto o espectáculo, me perguntasse o que é A Missão, responder-lhe-ia, com a confiança de alguém que domina um
assunto melhor que o outro, que A Missão é a reflexão mais
profunda que eu conheço sobre a humanidade. Se A Missão
fosse escrita por Shakespeare, diria que a sua temática era a
traição. Se fosse escrita por Brecht, diria que é uma reflexão
política. Mas A Missão foi escrita por Müller. É tudo isso e
mais. É uma alegoria feita a partir da Revolução Francesa
(o primeiro parágrafo do nosso tempo), onde se vomita sobre
todas as suas consequências e, inevitavelmente, sobre toda
a História contemporânea. Neste espectáculo de figuras arquétipas, antigos regimes revoltam-se contra o seu abandono,
como mulheres trocadas por outras; facções dos novos regimes
decapitam-se mutuamente; as utopias enterram-se à nascença por contradizerem os seus próprios alicerces; e nós, homens
e mulheres do nosso tempo, depois de todas as ideologias esgotadas, sem qualquer missão, não nos resta outra hipótese a
não ser esperarmos pela grande revolução, o grande tremor de
terra que, como na Revolução Francesa, nos fará reformular
uma nova época. No meio de todos estes cenários, três figuras
são constantemente colocadas à prova, três figuras que representam três pólos sociais, os três de sempre, que, mais do que
isso, são os três gritos da Revolução (liberdade, igualdade e
fraternidade). Apesar de tudo, apesar do asco da contemporaneidade, “até à vitória do deserto, qualquer ruína é um espaço
Miguel Silveira
de construção”. Será?
São precisas muitas coisas para transformar o mundo: a raiva
e a teimosia. O saber e a revolta. A iniciativa rápida, a longa
reflexão. A cabeça fria e a persistência infinita. A compreensão do caso particular e a compreensão do todo: só as lições da
realidade nos podem ensinar como transformá-la.
Ávila Costa
Pistas: a teoria só serve para testar a prática. A teoria que não
testa a prática é pura manipulação da ideologia dominante. A
teoria só serve para adquirir poder. A teoria é o fundamento
da prática. O que é o saber? Para que serve? Coisas que sirvam
para iluminar o corpo, o instinto, a inspiração.
Em cada pessoa está o revolucionário e o traidor. Toda a peça
está contida no coro inicial. Ideia revolucionária. No aquecimento utilizar as ideias de revolucionário e também de traidor. Todos os personagens têm tudo dentro deles. Trabalhar
com camadas de material. Trabalhar a dialéctica logo no
aquecimento... Lutar por uma causa, mas ter sempre a hipótese de trair, de confrontar. Luta de classes, ideia de motim, de
conflito interno, de encurralamento, ideologias...Não abrir a
boca apenas para dizer texto.
GTL
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