EscolaTerraNova_Unidade_Maio_2014_pt (1

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EscolaTerraNova_Unidade_Maio_2014_pt (1
Escola Terra Nova
Unidade de Estudo, Maio 2014:
Sexualidade Livre e Parceria
Caros amigos e estudantes por uma Terra Nova,
Enviamos-vos saudações cordiais de solidariedade para o 1º de Maio, do centro de pesquisa de paz
Tamera, no sul de Portugal. Saudamos especialmente todos os que tomam as ruas pela justiça social e
pela paz no Dia do Trabalhador. Frente à colonização capitalista que abrange a totalidade deste planeta, o
antigo apelo por um socialismo humano é hoje talvez mais urgente do que nunca.
A 25 de Abril, Portugal celebrou o 40º aniversário da Revolução dos Cravos, na qual o país se libertou,
com a ajuda das forças armadas, de uma ditadura autoritária de quase 50 anos e tentou estabelecer uma
sociedade socialista livre. A tentativa acabou por falhar, mas o sonho não morreu. Este poderia hoje
erguer-se a um outro nível e enfrentar a globalização do capitalismo com uma alternativa real; em Portugal
e em todo o mundo. Gostaríamos de mencionar um artigo recente de Leila Dregger, intitulado “Quarenta
Anos Depois da Revolução dos Cravos: Portugal como Modelo para um Novo Socialismo?” (http://
terranovavoice.tamera.org/2014/04/quarenta-anos-apos-a-revolucao-dos-cravos/1776)
Em Tamera, estamos a trabalhar na imagem de um novo socialismo, tentando, tanto quanto possível,
manifestá-lo num modelo. Para além do conhecimento ecológico e tecnológico para a implementação
de estruturas de vida descentralizadas, parte desta imagem inclui conhecimento para a construção de
novas comunidades humanas e, como a comunista russa Alexandra Kollontai já sabia há 100 anos atrás,
uma abordagem fundamentalmente nova ao tema da sexualidade, amor e parceria. Neste mês de Maio,
queremos convidar-vos a estudar o tema central “Sexualidade Livre e Parceria”. Como texto de estudo,
enviamos um artigo recentemente publicado pelo co-fundador de Tamera, Dieter Duhm. Ele investiga
os pensamentos e os “insights” fundamentais da pesquisa que está a ser realizada há cerca de quatro
décadas, sobre novos modelos para o amor e a sexualidade.
Dentro de poucos dias, a Escola Global do Amor começará em Tamera. Sob a orientação de Sabine
Lichtenfels e Benjamin von Mendelssohn, irão juntar-se em Tamera diversos parceiros de cooperação,
consultores e professores de vários países. Estes vão dedicar-se ao estudo desta questão, procurando
aprofundamento através do seu intercâmbio, e partilhando novos espaços vivenciais para a sexualidade,
o amor e a parceria. Desta forma, será estabelecido e fortalecido um círculo de pessoas composto por
elementos que assumem grande responsabilidade no mundo. Estes serão levados a conhecer e transmitir
uma perspectiva de cura para o futuro.
A questão de como superar esta crise global de proporções apocalípticas encontra-se intimamente
relacionada com a possibilidade de vermos uma forma de alcançar felicidade, confiança, solidariedade e
amor entre pessoas. Quanto mais profundamente investigamos esta questão, mais nos aproximamos de
um tema irresoluto. Este é o tema da sexualidade reprimida e do amor não ousado. Esta é a área na qual,
durante o patriarcado, a realização não foi permitida. O mundo inteiro sofre de uma mágoa, actualmente.
O “tema número um” tem de ser reconhecido como um tema político público e abordado como tal. É
uma loucura que uma área tão central das nossas vidas, que decide mais do que qualquer outra entre
a felicidade ou o sofrimento, a esperança ou o desespero, seja tratada como uma questão privada entre
dois parceiros amorosos. Este não é um problema privado. A maior área de crise dos nossos tempos
encontra-se na relação entre parceiros amorosos. Os vários relacionamentos amorosos e casamentos
falhados, o sofrimento e a raiva desenfreada que daí resultam – não há casos isolados; está é a situação
interna de uma sociedade que já não tem qualquer perspectiva para o amor e o Eros. Os nossos problemas
amorosos são o resultado de 5000 anos de história patriarcal. A guerra histórica entre os géneros deixou
um profundo trauma de medo e violência em toda a humanidade, que nos conduz a todos (mais ou
menos) subconscientemente. Não existem respostas rápidas para estes problemas. A cura do amor é uma
questão de toda uma reformulação social. É por isso que sexualidade-amor-parceria são temas centrais
nos estudos da Escola Terra Nova. Temos a tarefa de permear com consciência uma área habitualmente
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comandada apenas por emoções. Para isso, precisamos de estudar os antecedentes históricos e globais,
a partir dos quais estas questões se desenvolveram. Precisamos de reconhecer os padrões sociais que
seguimos subconscientemente, e somos chamados a conhecer a possibilidade de uma nova forma de
vida, visionando-a por meio dos nossos sonhos mais profundos.
A Escola Global do Amor irá trabalhar nas seguintes questões, as quais poderão também inspirar-vos
para o trabalho que estão a fazer nos vossos grupos de estudo. Como podemos contribuir para criar um
sistema de amor sem decepção? Como podemos contribuir para a criação de um ambiente de verdade no
amor e para uma nova orientação do Eros? Quais são os nossos princípios mentais e espirituais? Como
podemos apoiar-nos mutuamente nestes tempos de turbulência e despertar? Que novas éticas poderiam
emergir sustentavelmente, a partir de uma nova rede de amor?
Precisamos de uma resposta que conduza à verdadeira não-violência no coração humano. (Excerto do
convite para a Escola Global do Amor).
Por favor, enviem-nos as questões que surgirem nos vossos grupos de estudo. Teremos muito prazer em
responder. Se recebermos muitas perguntas, é possível que organizemos um colóquio online. Para os
que estão interessados num estudo mais aprofundado, recomendamos o livro “Eros Unredeemed” [Eros
Cativo] de Dieter Duhm e o capítulo “The Holy War Against Woman” [A Guerra Santa contra as Mulheres]
do seu livro “The Sacred Matrix” [A Matriz Sagrada], que descreve o contexto histórico do tema do amor.
Por fim, gostaríamos ainda de recomendar a visualização de um pequeno novo vídeo produzido por Naila
von Mendelssohn intitulado “Words of the Goddess”, com frases do livro “Sources of Love and Peace”
[Fontes de Amor e Paz] de Sabine Lichtenfels, e fotografias maravilhosas das mulheres de Tamera: http://
www.youtube.com/watch?v=OneGNnmLEGc. Esperamos que gostem!
Estamos curiosos pelos vossos comentários e pensamentos.
Em nome do amor por tudo o que vive.
Por um futuro sem guerra!
Saudações,
Martin Winiecki, Monika Berghoff, Nora Czajkowski, Rui Braga, Jana Elger
Instituto de Trabajo por la Paz Global • Tamera
Monte do Cerro • P 7630-392 Reliquias • Portugal
Tlf. +351 283 635 484 • [email protected]
www.tamera.org
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Sexualidade Livre e Parceria
por Dieter Duhm, Fevereiro de 2014
Traduzido do Alemão para Inglês por Dara Silverman e Martin Winiecki; Traduzido do Inglês
para Português por Maria Velez
O drama do mundo é o drama do amor. A Humanidade sofre de uma mágoa no amor. Isto
aplica-se a todas as relações amorosas, independentemente de estas serem hetero ou
homossexuais. No nosso projecto, concentrámos o nosso trabalho na relação entre homem
e mulher. Contudo, acredito que a maioria dos insights oferecidos neste artigo se aplicam
a todas as formas de relacionamento.
As duas metades do ser humano, homem e mulher, procuraram-se mutuamente durante
gerações e nunca se encontraram. Quando fundámos o projecto de Tamera, quase todas as
relações amorosas dos meus antigos amigos tinham sido desfeitas. Foi sobretudo devido a
questões relacionadas com sexo e amor que tantos grupos políticos e alternativos falharam.
Não podemos gerar paz no mundo enquanto este assunto permanecer irresoluto. Trata-se,
acima de tudo, de perceber autenticamente como o desejo sexual indómito dos seres humanos
pode ser compatível com o desejo pelo grande e único amor. Será que existe uma solução para
esta aparente contradição entre sexualidade livre e casamento?
Escrevo na qualidade de porta-voz do projecto de Tamera. O trabalho no tema sexo-amorparceria encontra-se no centro deste projecto. Desde o início, foi nossa intenção criar um
ambiente social no qual pudesse surgir uma solução para esta questão. O princípio de uma
sexualidade livre faz parte da fundação ética e social de Tamera. É por esta razão que muitas
pessoas vêm a Tamera; estas querem abandonar as velhas amarras, e compensar aquilo que
até então lhes tinha faltado. Por outro lado, outras não vêm a Tamera particularmente por esta
razão. Estas receiam perder o seu parceiro, caso se abram à experiência da sexualidade livre. Na
realidade, algumas perderam os seus parceiros, e por vezes regressaram para os mesmos de
uma nova forma. É bastante evidente que enfrentamos aqui um tema chave das nossas vidas.
Introduzir a sexualidade livre não se trata de uma opção ideológica preliminar pela monogamia
ou pela poligamia, trata-se antes de possibilitar uma nova experiência.
Para começar, quero clarificar o que se pretende dizer com sexualidade livre. Trata-se de verdade
e confiança na relação entre os géneros; acima de tudo, trata-se de verdade no domínio do nosso
desejo sexual. Não se trata de promiscuidade aleatória ou de relacionamentos incertos. O ponto
central é que uma pessoa que tenha ousado uma “escapadela” não minta ao seu parceiro! Este
é um imperativo ético. Não podemos concretizar sexualidade livre se foi necessário mentir a
alguém. Existem directrizes éticas que não o permitem. A cultura da sexualidade livre encontrase firmemente vinculada a estas directrizes. Conhecemos a agonia na alma de um parceiro
que precisa de esconder o seu relacionamento sexual com outro amante. É cruel para todos
os envolvidos; e é cruel para as crianças. Esta miséria tem frequentemente consequências
fatais. Aqui não estamos a lidar com um conflito privado, mas antes com uma questão social.
Quantas tragédias são causadas por um moralismo sexual hipócrita! Morrem mais pessoas
devido ao fracasso do amor do que por qualquer outra razão. Precisamos de integrar aqui
um novo conceito de cura no desenvolvimento cultural da sociedade humana. Este foi, e é, o
pensamento que trouxemos ao mundo há alguns anos sob o título “Sexpeace” (Paz Sexual).
Paz Sexual – paz entre os sexos!
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Sexualidade livre não é uma ordem, mas uma oferta. As pessoas podem experienciar sexualidade
livre e depois decidir se querem viver em monogamia, poligamia... ou qualquer outra “gamia”.
O ponto fulcral é que essa experiência aconteça num meio social e ético de confiança. Por
esse motivo, não se precipitem para esta experiência com a mente desligada; pelo contrário
– envolvam a mente e actuem posteriormente. Foi neste sentido que humoristicamente
apelidámos o nosso projecto de “Academia Monástica para a Sexualidade Livre”. Com a palavra
«monástica», referimo-nos ao espírito sagrado da verdade e não a uma devoção cinzenta.
A sexualidade livre está vinculada a três princípios, sem os quais esta nunca pode funcionar:
contacto, confiança e solidariedade. Para que homem e mulher possam ser novamente
verdadeiros no seu desejo mútuo, e já não precisem de se enganar secretamente, estes
precisam de contacto, confiança e solidariedade. E isto é muito. Contacto significa vermos a
alma do outro, e não apenas o seu corpo. Confiança significa que já não precisamos de mentir
uns aos outros, nem mesmo secretamente. Solidariedade significa que homem e mulher se
relacionam numa amizade e cooperação sinceras, sem condenação nem ironia. Estes requisitos,
na maioria dos casos, não podem ser encontrados na sociedade existente. Por este motivo, não
temos outra escolha senão desenvolver novos sistemas nos quais se torne possível orientar
novamente as nossas vidas em torno de valores humanos básicos. Precisamos de um sistema
de coexistência no qual os seres humanos possam confiar novamente uns nos outros. Um
sistema onde a mentira e a traição deixem de conter uma vantagem evolucionária. Um sistema
onde o relacionamento sexual entre duas pessoas já não provoque qualquer medo ou ódio num
terceiro. Estes foram alguns dos pensamentos nucleares que nos motivaram à fundação deste
projecto. Em combinação com os pensamentos ecológicos, eles formam o núcleo da nossa
formação interna, e da formação externa através da Escola Terra Nova.
Regressemos ao problema. Como é que resolvemos a aparente contradição entre o amor livre
e o amor de um casal, entre a sexualidade livre e a parceria? De facto existe um verdadeiro
problema porque nós, seres humanos, não queremos apenas a sexualidade livre, mas
frequentemente queremos também uma parceria estável e duradoura - «até que a morte
nos separe». Subitamente enfrentamos um conflito aparentemente irresolúvel – o conflito
entre uma nova imagem de sexualidade livre e o antigo arquétipo do casamento. A imagem
arquetípica do casamento, da relação eterna entre um homem e uma mulher, encontra-se
profundamente ancorada na alma humana. Todos nós o sabemos, e dentro de todos nós existe
um desejo nesta direcção. Todos os desejos aguardam pela sua concretização. O desejo não
existiria sequer se não existisse também uma concretização, porque os nossos desejos não são
arbitrários. Uma comunidade falhará certamente se se apoiar completamente na sexualidade
livre enquanto ignora este desejo profundo. Aqui podemos aplicar a teoria da dialéctica de
Hegel: tese – antítese – síntese. O casamento é a tese; a sexualidade livre é a antítese; e a
síntese consiste num novo sistema no qual a tese e a antítese são dissolvidas ou unidas num
nível mais elevado. Desde há algumas décadas, temos trabalhado para encontrar esta síntese.
Muitas pessoas que atravessaram altos e baixos neste projecto, e que se mantiveram nele,
sentem agora o «terceiro caminho» e a possibilidade real de ganhar um sem perder o outro.
Estas compreenderam gradualmente a afirmação que tem sido essencial para este projecto
desde a sua fundação, e que escrevemos repetidamente em todas as nossas publicações:
Sexualidade livre e parceria não se excluem uma à outra, mas complementam-se. Quem
vive numa relação sólida não precisa de temer perder o seu parceiro devido a outros contactos
sexuais; e quem vive em sexualidade livre não precisa de temer não beneficiar da felicidade de
um relacionamento estável. Todos estes conflitos existem exclusivamente na nossa cabeça,
não na lógica da situação em si. Isto porque as duas coisas, casamento e sexualidade livre,
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se completam uma à outra, elas pertencem juntas, e em conjunto elas formam a essência de
uma nova cultura erótica. Ainda assim estas podem apenas ser compatíveis sob determinadas
pré-condições sociais e éticas. A aparente contradição entre a sexualidade livre e a sexualidade
entre um casal pode apenas ser resolvida num nível de ordem mais elevado.
Que nível de ordem mais elevado é este? Para o colocar numa única frase: é o nível da confiança.
Enquanto houver desconfiança entre os géneros, a contradição não pode ser solucionada. Assim
que a verdadeira confiança emerge, a contradição já está resolvida, pois torna-se evidente por
si só que ambos os parceiros sentem repetidamente desejo sexual por outras pessoas, e tornase também auto-evidente que a relação amorosa genuína não se desintegra por causa disso.
Eu desejo que todos os casais que vêm desde longe até Tamera possam encontrar esta autoevidência. O ciúme não pertence ao amor. Precisamos de algum tempo para nos libertarmos do
velho condicionamento, e ainda assim, este processo aconteceu de forma surpreendentemente
rápida para a maioria dos colaboradores de Tamera. Se os dois géneros puderem confessar
totalmente e livremente as suas alegrias na poligamia, estes poderão então estabelecer a sua
parceria de forma igualmente livre, pois extinguiram a sua desconfiança secreta. Se estes
deixarem de reagir com ciúme às escapadelas ocasionais do seu parceiro, o amor sexual entre
eles começará a crescer de uma nova maneira. Quando um deles entra em conflito, nós só lhe
podemos dizer: segue o amor!
Com o princípio da sexualidade livre, surgiu um novo ambiente entre as mulheres. Como estas
podiam revelar os seus segredos abertamente, formou-se uma nova solidariedade feminina.
Uma mulher apaixona-se pelo namorado da sua amiga. A namorada reconhece-o e oferece
o seu próprio quarto à amiga para que os dois possam passar a noite juntos. Histórias como
esta e outras semelhantes não são contos de fadas em Tamera; sob condições de verdade
e solidariedade, duas mulheres podem amar o mesmo homem sem que tal seja razão para
hostilidade. O novo campo entre as mulheres libera até certo ponto a mulher da sua fixação
pelo homem, e através disso oferece a possibilidade de esta se ligar novamente à sua fonte
feminina.
O amor emerge quando dois parceiros começam a ver-se um ao outro interiormente. Não
é muito frequente que um homem e uma mulher se «vejam» um ao outro, dado que o seu
encontro se encontra moldado desde o início pela convenção e pela projecção. O homem reage
sobretudo aos sinais sexuais da mulher, sem ver quem esta mulher realmente é, nem o que ela
precisa. Ao encontrar a mulher «certa», o homem reage frequentemente com uma mistificação
subconsciente. Este deixa de ter controlo sobre a sua paixão quando se encontra perto dela.
Ela é tudo para ele. Ela é a amada, a mãe, a prostituta, e a santa, todas numa só. Existe uma
adoração quase inacreditável pela mulher no tesouro subconsciente da alma do homem,
uma adoração que não é compatível com o «vulgar» desejo sexual. A santa e a prostituta ao
mesmo tempo – como é que o homem poderia ser capaz de lidar com isto? Durante a Era
patriarcal o homem resolveu este problema rebaixando e humilhando a mulher na vida real, e
elevando-a à altura da Santa Virgem na vida eclesiástica. As catedrais góticas eram apelidadas
de «Notre Dame» (Nossa Senhora). Por um lado estes rezavam «Avé Maria»; por outro lado,
queimavam as mulheres vivas. O trauma foi profundamente inscrito nas almas. Até hoje, as
leis das projecções psicológicas subconscientes que tiveram origem numa longa e vil história,
reinam tanto no homem como na mulher. A sociedade humana foi incapaz de resolver o tema
dos géneros de forma humana.
A sociedade é produto dos seres humanos, não dos deuses. As leis em vigor foram feitas
por seres humanos e consequentemente podem também ser corrigidas por seres humanos.
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Uma destas leis é, por exemplo, a lei que prescreve a monogamia, que significa que um par
casado tem o dever de renunciar a outros contactos sexuais. Através deste voto produziuse uma quantidade infinita de sofrimento, uma vez que esta proibição é na sua maioria uma
contradição à natureza humana. Ambos os géneros têm, tendencialmente, uma inclinação para
a poligamia. Assim que estes começam a ter de esconder isto um do outro, iniciam-se as
mentiras, a desconfiança e a lenta transformação do amor em ódio. Vemos frequentemente
o mesmo padrão quando pares de amantes ou pares casados vêm até nós. Inicialmente o
homem começa por dar o passo de abandonar os limites do casamento. Após algum tempo a
mulher segue este passo, e começa a desfrutar da sua liberdade sexual. O homem, inicialmente
corajoso, frequentemente reage a isto com um ciumento medo de perda, que só relutantemente
admite. Após algum tempo os dois chegam a acordo com a situação. Neste ponto eles enfrentam
a possibilidade de permanecer juntos num nível completamente novo.
Assim que as proibições sexuais são levantadas, a mulher reage inicialmente com timidez, e
depois com uma crescente alegria e desinibição. Muitas mulheres adoram sexo. E elas adoram
sexo muito mais do que o permitido pelas elevadas regras da dignidade humana. Este é um
facto que precisamos de aceitar. Aliás, por que é que este facto não deveria ser aceite? A
sexualidade é uma função natural do organismo humano e gera um dos maiores prazeres que
nos são concedidos nesta vida terrena. A sexualidade por vezes assalta-nos com um poder
de tal forma irresistível que seria quase uma insanidade retaliar numa base moralista. Nós
perdemos esta batalha desde o início, pois o «sexus» é um superpoder. Ao invés de lutar contra
este poder, deveríamos aceitá-lo com gratidão. Só então seremos capazes de nos libertar da
sua tirania. E é disto que se trata numa sociedade humanizada – humanizar os seus poderes
sexuais explosivos através da aceitação e integração dos mesmos na nossa vida cultural.
Enquanto uma parte essencial da nossa pulsão sexual precisar de ser reprimida, existirão
subsequentes excessos sádicos, pornografia infantil, doenças psicossomáticas, violência, e
guerra. No mundo patriarcal a violência contra as mulheres pertence à vida quotidiana. Desde
há muito que uma guerra secreta entre os géneros tem rugido nos bastidores da sociedade
moderna. Esta guerra encontra-se sempre relacionada com uma sexualidade frustrada. Ambos
os géneros sofrem de uma fome sexual que não conseguem admitir um perante o outro. Ao
enfrentar os dramas do ciúme na actualidade, ao enfrentar as terríveis consequências para as
crianças, e ao enfrentar a verdade ética, elevamos a sexualidade livre ao ponto de esta se tornar
a fundação para uma nova cultura.
O que acontecerá então ao casamento, à parceria, e a esta forma de amor mais profunda que nos
leva a jurar fidelidade eterna um ao outro? Esta é uma questão misteriosa, porque na realidade
esta forma profunda de amor e de fidelidade eterna entre duas pessoas existe. Mas o que é que
nos levou a relacionar esta fidelidade com a proibição de «relacionamentos extraconjugais»?
Que tipo de amor é este que precisa de ser protegido através de tais proibições? É claro que
o relacionamento de casal entre um homem e uma mulher está sujeito a uma maior tensão
quando ambos os parceiros estão autorizados a desgarrar-se. Mas por outro lado, ambos são
profundamente aliviados de um imenso fardo interior, caso já não precisem de esconder seja o
que for um do outro. Adicionalmente, este é sobretudo um enriquecimento para ambos, porque
estes encontram um novo desejo um pelo outro, na medida em que eles já não se tomam um
ao outro por garantidos. Nada é mais danoso para um relacionamento amoroso vívido do que
a rotina sexual diária. A variedade, a surpresa, a descoberta e a conquista pertencem à vida
erótica. «Apenas poderás ser fiel quando também te for permitido amar outros.» É assim que
está escrito nos nossos livros.
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Existe também certamente uma forma autêntica de casamento monogâmico. O sacramento
do casamento contém uma essência profunda. Se dois amantes chegam a um ponto no seu
amor em que decidem, em profundo acordo, reservar exclusivamente a sua sexualidade um
para o outro, então estes devem fazê-lo. Não existe uma lei neste assunto. Existe apenas a
verdade interior. Na nossa comunidade, recomendamos repetidamente que os casais formados
recentemente se mantenham monógamos por um tempo, de modo a não perderem o seu amor
recente nas tentações da sexualidade livre. Nós não trabalhamos contra, mas antes a favor da
parceria, sempre que esta surja autenticamente. No entanto, não acreditamos que a felicidade
da vida humana dependa maioritariamente de uma parceria que nos realize.
A partir de que ponto é o ser humano realmente capaz de viver em parceria? Não é bom se ele
ou ela reuniram suficientes experiências sexuais antes de dizerem o «Sim»? Na maioria dos
casos é a totalidade das primeiras agitações sexuais que impelem dois jovens seres humanos
a fazerem votos de eterna fidelidade um ao outro, no impulso da felicidade recém-descoberta.
Normalmente este é o início do fim, porque não é a sexualidade, mas antes a coesão das almas,
que constitui a base para uma relação duradoura. Precisamos de criar condições de vida nas
quais as pessoas sejam capazes de fazer esta distinção. Estas são as condições de vida da
confiança. Na sexualidade livre, assim como no amor entre um casal, precisamos de absoluta
confiança. Precisamos de comunidades que restituam a confiança que a humanidade perdeu.
Onde existir confiança, não existe mentira nem maldade. Uma nova cultura erótica pode então
surgir tal como está definida na entelequia do ser humano – uma ligação maravilhosa entre a
sexualidade livre e a parceria. Se tivermos sucesso em estabelecer a paz no amor, a paz surgirá
então em todo o mundo; e então toda a evolução, com todas as suas crianças e animais, dará
com entusiasmo um novo passo.
Uma nota histórica para concluir. O drama dos géneros permeia a totalidade da nossa
civilização. O mundo masculino precisou de humilhar a mulher de forma a conseguir lidar com
o seu esplendor sexual. O género feminino precisou de suportar atrocidades indescritíveis. Há
trezentos anos atrás, as mulheres ainda eram queimadas vivas por serem atraentes e por serem
consequentemente demonizadas pelo sentimento de impotência do homem. Apesar de tudo
isto, o género feminino não perdeu o seu amor pelos homens. Na qualidade de homem, posso
apenas sentir-me grato por esta fidelidade feminina. Estamos a trabalhar num projecto no qual
ambos os géneros possam definitivamente libertar-se a si mesmos dos horrores do passado.
Em nome das nossas crianças.
Em nome de todas as criaturas.
Obrigado e Ámen.
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Dr. Dieter Duhm – Uma Breve Biografia:
Nasceu em 1942 na Alemanha. Autor, psicanalista e fundador do
“Plano dos Biótopos de Cura”, um plano global para a paz. Em
1967 envolve-se com a esquerda Marxista e torna-se numa das
personagens liderantes do movimento estudantil. Dieter Duhm faz
uma ligação entre as ideias por trás da revolução política e as ideias
relacionadas com a liberação do indivíduo, ficando conhecido pelo
seu livro: “Angst im Kapitalismus” (Medo no Capitalismo), 1972. Em
1978 estabelece o projecto ”Bauhütte” e lidera uma experiência social
de três anos com 40 participantes. O tema da experiência é “Criando
uma comunidade nos dias de hoje” e engloba todas as questões de origem, significado e meta
da existência humana no planeta Terra. A moldura de uma nova possibilidade de existência
cresce com os conceitos de ‘amor livre’, ‘ecologia espiritual’ e ‘tecnologia de ressonância’. Em
1995, juntamente com a teóloga Sabine Lichtenfels e outros, funda “Tamera”, um centro de
pesquisa de paz em Portugal que conta actualmente com mais de 160 colaboradores. Dieter
Duhm dedicou a sua vida à criação de um fórum eficaz para uma iniciativa de paz global, à
altura das forças destrutivas da globalização capitalista.
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Literatura basica
Além dos textos que vamos enviar todos os meses, recomendamos os seguintes livros, aos
que se quiserem aprofundar mais nos estudos:
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Martin Winiecki (Ed.): Construindo Fundações para uma Nova Civilização**
Dieter Duhm: Rumo a Uma Nova Cultura*
Dieter Duhm: The Sacred Matrix (em inglês, alemão e espanhol)**
Dieter Duhm: Eros Unredeemed (em inglês e alemão)**
Dieter Duhm: The Decision, Part 1 and Part 2 (em inglês e alemão) (disponíveis através de
Tamera)**
Sabine Lichtenfels: Sources of Love and Peace (em inglês e alemão)**
Sabine Lichtenfels: Grace – Pilgrimage for a Future without War (em inglês e alemão)**
Peregrina da Paz: Passos em Direção à Paz Interior***
Jacques Lusseyran: Memórias de Vida e Luz
Michael Talbot: O Universo Holográfico
Sepp Holzer: Desert or Paradise (em inglês e alemão)
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* este livro pode ser obtido gratuitamente em www.towards-a-new-culture.org
** Alunos da Escola Terra Nova podem obter esses livros conosco com um desconto de 33%,
mais o custo do envio! Por favor aproveitem essa oportunidade!
*** disponível gratuitamente em: http://www.peacepilgrim.org/
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