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Transcrição

A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja
Fabio Giambiagi
edição
“Aposentadoria
justa às
contribuições
feitas”
Junho/Julho
92
Flávio Caetano
Secretário de
Reforma do Judiciário
“A aprovação
da Lei da
Mediação e
Arbitragem
amplia o acesso à
Justiça no Brasil”
Otávio Damaso
Novo diretor de
Regulação do BC
10º SIAC anuncia palestrantes: Delfim Netto, Joaquim Barbosa e William Rhodes
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5 Editorial
10 Entrevista do mês
Flávio Caetano,
secretário de Reforma do Judiciário, fala
dos benefícios da Lei da Mediação
15 Executivo
Otávio Damaso: diretor de Regulação do BC
Fabio Giambiagi
22 Fraude em debate
26 Banking CRM
10
15
30 ACREFI no CIAB Febraban
34 Educação Financeira
40 Debate ACREFI
42 Painel Cetip
46 Supermáquinas
Roll-Royce Gost Series II
50 Ático de Souza
O reverenciado maître do Parigi
19
Fotos: Divulgação
33 10o SIAC
58 Operação Sorriso
61 Informe Fractal
34
Foto: Mário Bock
19 Previdência
54 O renovado Museu
Artigos
Lasar Segall 21 Aquiles Leonardo Diniz
25 Claudio Felisoni
de Angelo
Erratas
29 Rodrigo Romero
Logotipo correto do Bank
of America Merrill Lynch
36 Denise Campos
do Brasil (ed.91/pág.29)
de Toledo
37 Sergio Odilon
66 Nicola Tingas
O cargo de Rodrigo Botas é
desenvolvedor de negócios da
Cassiopae (ed.91/pág.38)
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50
junho/julho 2015 financeiro
Foto: Paulo Giandalia
52 A sedução dos charutos
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editorial
Pacto
da Alvorada
Foto: Mário Bock
A
em voga na época, saiu-se de uma
situação pela qual passa
ditadura “direitista” para uma monaro Brasil aponta, cada vez
quia parlamentarista com um partido
mais, para a necessidade
“de esquerda” como majoritário. E o
de se promover um pacto social.
processo foi mantido, em obediência
Pela situação a que chegamos, e
ao que se definiu no Pacto de Moncloa.
que parece se agravar a cada dia,
Evidente que o Pacto de Moncloa
o País vive um momento em que é
não foi um “passe de mágica” que
necessário unir forças para enfrentrouxe crescimento à Espanha, mas
tar um quadro de dificuldades econão há quem conteste seu papel funnômicas e políticas, que precisam
damental no desenvolvimento do país.
ser superadas para o bem da nação.
Vivemos no século 21, com uma
Será necessário muito desrealidade bem diferente da espanhoprendimento e espírito público
la e transpor esse exemplo para o
para que se chegue a esse pacto.
Brasil sem as necessárias adaptaMas parece não haver outra alterções seria um desatino. No entanto, é
nativa. Paliativos, nesse momento,
certo que muitos pontos de Moncloa
não serão suficientes para colocar
podem inspirar o nosso “PACTO DA
o Brasil numa rota sustentável
de crescimento, já que é preciÉrico Sodré Quirino Ferreira: ALVORADA”, de que os brasileiros
tanto necessitam no momento.
so encontrar respostas efetivas e
presidente da ACREFI
Para começar, há imperiosa
ousadas para os obstáculos que
necessidade de disposição de sennos impedem de crescer.
tar-se à mesa com os espíritos desarmados, colocanPara os céticos em relação a essa proposta, vale
do os interesses do País acima de tudo. Será difícil
lembrar o caso da Espanha. Em 1975, faleceu o ditador
conseguir atingir essa meta no Brasil? Precisaremos
Francisco Franco, que, por décadas mandou e deschegar a uma ruptura social para que os nossos lídemandou no país. Juan Carlos foi coroado rei e indicou
res (políticos, sociais, empresariais, trabalhistas, etc.)
Adolfo Suárez como primeiro-ministro, com uma misse disponham a pensar no País em primeiro lugar?
são especial: fazer a transição da ditadura para um
Para que o pacto seja bem-sucedido, o Brasil
regime de monarquia parlamentar.
precisa contar com a adesão e a maturidade de
Diante desse enorme desafio, Suárez decidiu ousar.
todos os representantes da sociedade, com dispoConvocou todos os partidos com representação parlasição para o diálogo e flexibilidade para abrir mão
mentar para negociar um pacto que teve como missão
de dogmas, de “direitos adquiridos”, em favor do
preparar a votação da nova Constituição. Depois de
bem-estar das próximas gerações. Fácil certamente
muito debate, chegou-se a um acordo, que ficou conhenão é. Entretanto, é preciso ter em mente que, sem
cido como Pacto de Moncloa, que recebeu essa denomipacto, a opção é ter um país perdido em seu emanação por ter sido assinado no Palácio de Moncloa, em
ranhado de problemas e sem perspectivas para o
Madri. Mas a Espanha foi mais longe: ampliou o pacto
futuro. É importante, enfim, esquecer o espírito de
que, além de envolver partidos políticos, abrangeu tam“Fla-Flu”, o “PT versus PSDB”, o “nós contra eles”, os
bém as lideranças econômicas e sociais e tomou medi“ricos versus pobres”.
das corajosas como limitação dos aumentos salariais
Como nos mostrou a Espanha, muito mais impore restrição às greves. Resultado: a Espanha passou a
tante do que tudo isso é pensar o futuro do país e as
viver um longo período de prosperidade econômica e
alternativas que nos permitam ter “O Brasil que nós
social como consequência deste pacto.
Sonhamos” (tema do nosso próximo SIAC, a ser realizaNo caso espanhol, as primeiras eleições depois
do em novembro), ou seja, o Brasil que teremos orgulho
do franquismo elegeram o Partido Socialista Operário
de deixar como herança para as próximas gerações. f
Espanhol (PSOE) – ou seja, para usar uma terminologia
junho/julho 2015 financeiro
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Redação
Editores
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Editor assistente
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Fotografia
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Arte
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8 financeiro junho/julho 2015
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junho/julho 2015 financeiro
9
entrevistadomês
Fotos: Divulgação
“Espera-se
que o uso da
mediação
amplie a
participação
do cidadão”
10 financeiro junho/julho 2015
A
recente aprovação do Marco
Legal de Mediação representa uma segunda etapa da
Reforma do Judiciário e proporcionará
mais acesso à Justiça, maior capacidade de resolução de conflitos e, potencialmente, redução no número de processos nos tribunais. A seguir, leia a
entrevista do secretário de Reforma
do Judiciário, Flávio Crocce Caetano, a
respeito dos benefícios conquistados,
que facilitarão a vida de milhões de
brasileiros.
Revista Financeiro – Qual é o significado da
aprovação da Lei de Mediação dentro do projeto da
Reforma do Judiciário?
Flávio Caetano – Desde a década de 1990, o Estado
Brasileiro tem vivenciado uma crise em seu sistema
judicial. Não obstante os esforços de modernização
do Poder Judiciário, o aumento contínuo no número
de processos vem provocando um ciclo vicioso: demora na prestação jurisdicional, que gera aumento
dos custos judiciais e advocatícios e resulta na desconfiança da população na efetividade do sistema de
justiça. Paradoxalmente, embora indicadores, como o
índice de Confiança da Justiça Brasileira – ICJ Brasil,
registrem que mais de 80% da população considera
o Judiciário moroso e de difícil acesso, a maioria da
população brasileira afirma que recorreria ao Judiciário em caso de conflitos. O resultado do que se pode
chamar de “cultura do litígio” é a existência, segundo
dados de 2014, de 92 milhões de processos tramitando nas varas e nos tribunais do País. A aprovação da
lei de mediação marca uma segunda etapa da Reforma do Judiciário, iniciada com a aprovação da Emenda Constitucional 45, em 2004. Na primeira fase, a
reforma teve como objetivo racionalizar a gestão de
processos no Poder Judiciário e ampliar o acesso à
justiça, com o fortalecimento das Defensorias Públicas e a criação do Conselho Nacional de Justiça.
Nesta segunda etapa, a aprovação da lei de mediação
marca o início de um processo importantíssimo para
a ampliação do acesso à Justiça no Brasil, com a institucionalização dos meios alternativos de resolução
de conflitos. Como ocorreu em outros países, espera-se que o uso da mediação amplie a participação do
cidadão, que terá mais espaço para encontrar, por si
mesmo, soluções para os seus conflitos, com a consequente diminuição da carga de processos que chega aos juízes e o aumento na velocidade de resposta
do Judiciário às demandas dos usuários.
RF – Qual é o impacto da nova lei na resolução
dos conflitos?
Caetano – Espera-se que a população passe a
conhecer e a utilizar, cada vez mais, os métodos
consensuais de resolução de conflitos, como a mediação. Isso certamente colaborará com a redução
do número de processos judiciais, diminuindo os
custos do sistema de Justiça e aumentando a sua
eficiência. Ainda, o consenso é incentivado por
meio desses procedimentos, o que fomenta uma
cultura de paz, que ensina aos que se utilizam
dessas técnicas o valor do diálogo, permitindo o
restabelecimento de relações sociais abaladas e o
amadurecimento dos cidadãos no sentido de prestigiarem a composição em detrimento do conflito.
A grande vantagem da mediação é a de permitir
a resolução do conflito pelas partes, sem depender da decisão de uma terceira pessoa. Com isso,
constrói-se uma cultura em que as pessoas aprendem estratégias para resolver seus problemas e
recorrem menos ao Judiciário. O que se quer é
uma mudança cultural no Brasil, tanto em relação aos cidadãos que, hoje, recorrem ao Judiciário
por falta de alternativas, quanto da formação dos
operadores do direito, ainda muito voltada para o
método adverso, para o “ganha e perde”. Nesse
sentido, é preciso que a mudança comece já nas
faculdades, com a inclusão dos métodos alternativos de resolução de conflitos no currículo dos
cursos de direito.
RF – Qual é o tempo necessário para que a nova
lei comece a gerar resultados?
Caetano – A lei entra em vigor em dezembro de
2015, porém, a recente sanção do novo Código de
Processo Civil também trouxe grande incentivo à
conciliação e à mediação. Trata-se de uma significativa mudança de paradigma na forma de lidar
com os conflitos do dia a dia, porque estimula que a
autocomposição seja a opção preferencial de resolução de disputas, tanto em âmbito judicial, quanto
em âmbito extrajudicial. O Governo Federal, por meio
da SRJ (Secretaria de Reforma do Judiciário), tem
intensificado a formulação e a execução de políticas
públicas que incentivam o uso de meios alternativos
de resolução de litígios para que a mediação se torne
uma prática difundida e para que o impacto positivo
da lei seja notado em breve. Por envolverem procedimentos mais céleres, flexíveis e informais, os métodos autocompositivos, como a mediação, resultam
em maior satisfação do cidadão, porque lhe permite
participar ativamente na solução de seus problemas.
Na SRJ, esse movimento é claramente notado nos
junho/julho 2015 financeiro
11
entrevistadomês
cursos oferecidos pela Escola
Nacional de Mediação e Conciliação (ENAM) que, a cada
edição, atraem um número
maior de interessados. Ainda,
colaboramos com a mudança
nos currículos das faculdades
de direito, para que passem
a incluir o ensino e a prática
da mediação como obrigatórios nos cursos de bacharelado em ciência jurídicas,
além de estarmos investindo
no aumento do número de
mediadores
extrajudiciais
capacitados. Essas ações são
fundamentais para alcançarmos os resultados esperados:
mudança cultural, com escritórios de advocacia, órgãos
governamentais, empresas,
enfim, entidades públicas e
privadas, etc., investindo em
métodos alternativos e em
práticas colaborativas como
forma de se lidar com os conflitos e as disputas.
RF – Quem são e qual é o perfil dos profissionais
que atuarão como mediadores?
Caetano – Pela lei, a formação do mediador, que
deverá atuar com isenção, discrição e boa-fé, as regras diferem de acordo com a modalidade de mediação: para atuar na mediação extrajudicial, o mediador deverá ser pessoa capaz, ter a confiança das
partes, e ser capacitada para fazer a mediação; na
mediação judicial, o mediador deve ser pessoa capaz, com graduação em curso de ensino superior de
instituição reconhecida pelo Ministério da Educação
e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores reconhecida pela
Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados – ENFAM – ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça, em conjunto com o Ministério da Justiça. O treinamento básico, hoje, envolve 40
horas de curso teórico e um estágio supervisionado.
Há tribunais pensando em criar carreira de mediador e, em outros, já há um número considerável de
mediadores voluntários, pessoas que fazem o curso
e atuam porque gostam do tema. Na mediação privada, qualquer pessoa que se considerar capacitada
pode atuar como mediador e a tendência é que surjam mais cursos privados de capacitação.
12 financeiro junho/julho 2015
RF – Quantos mediadores serão contratados?
Caetano – A legislação prevê, em suas disposições
finais, que a Escola Nacional de Mediação e Conciliação – ENAM – no âmbito do Ministério da Justiça,
poderá criar um banco de dados sobre boas práticas
em mediação, bem como manter relação de mediadores e de instituições de mediação. A contratação
dos mediadores judiciais será regulada pelos tribunais por meio de cadastro. Os mediadores podem
ser voluntários dos tribunais, como já ocorre hoje, ou
fazer parte do corpo de servidores do tribunal. Não
há uma previsão de quantos mediadores judiciais serão necessários, mas, a título de mera comparação,
temos atualmente 17 mil juízes no País. Parece-nos
que esse número pode ser utilizado como referência
para futuro cálculo de mediadores necessários.
RF – O processo de contratação será por meio de
concurso público?
Caetano – Em âmbito judicial, ficará a cargo dos
tribunais a definição de contratação de mediadores.
O texto prevê que os tribunais criarão centros judiciários de solução de conflitos e que a eles serão
encaminhados todos os processos judiciais que se
enquadrem nas hipóteses passíveis de serem mediadas, além de estabelecer que o procedimento
de mediação deverá ser concluído em até sessenta dias, podendo ser prorrogado apenas de comum
acordo entre as partes. Assim, caberá aos próprios
tribunais a decisão sobre criar cargos efetivos para
serem preenchidos por mediadores ou se organizarem a partir de seu cadastro, contando com mediadores voluntários ou recrutados de outras formas
que não o concurso público. Na esfera extrajudicial,
a tendência é a criação de núcleos especializados
no âmbito dos escritórios de advocacia e empresas, como já ocorre em outros países, bem como o
surgimento de mais instituições especializadas em
oferecer o serviço de mediação, como, por exemplo,
as serventias extrajudiciais.
RF – Como será o treinamento desses profissionais?
Caetano – Pela lei, os mediadores judiciais deverão ter nível superior completo e passar por cursos
de capacitação, cujo conteúdo será definido pelo
CNJ em conjunto com o MJ. O treinamento básico,
hoje, em regra, possui 40 horas de curso teórico e
um estágio que envolve a realização de cerca de 15
mediações supervisionadas. Para a mediação extrajudicial, a lei estipula que o mediador deve ser
devidamente capacitado sem se aprofundar, contudo, em maiores detalhes. Essa omissão foi proposital, porque não se queria engessar a mediação
extrajudicial, que pode ser aplicada na solução de
conflitos que vão desde os mais simples, como pequenas questões interindividuais e problemas de
vizinhança, etc., até complexas disputas empresariais. Naturalmente, a preparação de um mediador
varia de acordo com o grau de dificuldade que os
problemas que serão por ele abordados aumentam.
A ENAM se orienta pelos padrões internacionais do
que se considera bons cursos de mediação mundo
afora e possui cursos de variados níveis e graus de
dificuldade, preservando, todos eles, elevados níveis de qualidade.
RF – Qual é o percentual de processos que podem ser solucionados por meio da mediação?
Caetano – A maioria dos processos pode ser
levada para mediação, sendo poucos os casos – geralmente os que envolvem temas muito
sensíveis, como violência doméstica ou direitos
indisponíveis – considerados não viáveis para a
tentativa de resolução consensual. A mediação de
conflitos envolvendo órgãos públicos, por exemplo, é uma inovação no uso da mediação no Brasil,
fundamentada no diagnóstico de que o Estado é,
hoje, o maior litigante do País: somente as execuções fiscais representam 40% do volume de
processos em trâmite no Judiciário, segundo o
já citado levantamento do Conselho Nacional de
Justiça. Assim, é indispensável que o Poder Público invista na solução não judicial de conflitos
em que é parte e reduza sua parcela de responsabilidade nas altas taxas de congestionamento
do Judiciário. Nesse sentido a lei prevê que a Administração Pública, em todas as suas instâncias,
poderá criar câmaras de prevenção e resolução
administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde houver, com competência para dirimir conflitos entre
entes da própria Administração e entre o Poder
Público e o particular, sempre que possível. Outra
grande novidade referente à mediação na Administração Pública é a possibilidade de a Advocacia Pública poder instaurar, de ofício ou mediante
provocação, procedimento de mediação coletiva
de conflitos relacionados à prestação de serviços
públicos, o que possibilitará uma rápida, eficaz e
satisfatória solução desse tipo de impasse.
RF – Qual é o impulso que a nova lei deve gerar no
congestionamento dos processos no Judiciário?
Caetano – O fato de haver uma lei serve como
estímulo para que as pessoas busquem capacitar-se em mediação, gerando um impacto positivo no
aumento de acordos extrajudiciais. O que deve ser
destacado, por exemplo, é que o Poder Público é res-
ponsável por aproximadamente 50%
de todos os processos judiciais. Entre
outras inovações, a Lei de Mediação
regulamenta a mediação no âmbito de
conflitos envolvendo o Poder Público
e a prestação de serviços públicos.
Isso aproxima a Administração dos
administrados, pois possibilita o estabelecimento de canais de diálogo
e comunicação entre estes e aquela,
otimiza os recursos públicos, minimiza os custos com processos judiciais,
previne o agravamento dos conflitos
e controvérsias, além de aumentar a
satisfação dos cidadãos, que poderão
participar, de forma dialógica, da resolução de conflitos que porventura
tenham com a Administração Pública
e com a prestação de serviços públicos. Assim que a mediação se tornar
uma prática mais comum e conhecida,
o número de processos que chegam
ao juiz deve diminuir gradativamente.
Onde já é usada há mais tempo, a mediação costuma ter resultados positivos em mais de metade dos casos, o
que, é claro, reduz consideravelmente
a taxa de congestionamento de processos judiciais.
“A preparação
de um
mediador varia
de acordo
com o grau de
dificuldade que
os problemas
que serão por
ele abordados
aumentam”
RF – A implantação da nova lei será simultânea
em todos os Estados?
Caetano – A lei é nacional e entra em vigor, simultaneamente, para todos os Estados federados, em
dezembro de 2015. O novo CPC, por sua vez, terá
vigência a partir março de 2016. Deverão ser criados Centros de Mediação de Conflitos em todas as
comarcas do Poder Judiciário do Brasil e será incentivada a implantação de Centrais de Mediação
nas esferas do Poder Público. Para que a lei tenha
integral eficácia, o Ministério da Justiça já criou, entre 2012 e 2014, três iniciativas para a Mediação:
a) Instituiu a Escola Nacional de Mediação e Conciliação – ENAM –, que já capacitou 10 mil pessoas;
b) Criou em conjunto com AGU, MPREV, CNMP, CNMP,
OAB, FEBRABAN, ACREFI, CNF, ABRAREC, a Estratégia Nacional de Não Judicialização – ENAJUD.
c) Fomentou a implantação de 95 Núcleos de Justiça Comunitária e duas Casas de Direitos, equipamentos públicos e equipes financiadas pelo MJ
para promover a mediação de conflitos nas comunidades mais vulneráveis do País.
Essas iniciativas serão intensificadas para que a
lei tenha integral eficácia. f
junho/julho 2015 financeiro 13
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Regulação do BC. Funcionário de carreira do Banco Central, o executivo, de 43 anos, acumula grande
experiência no governo em assuntos relacionados à
macroeconomia. Nos últimos anos, tornou-se um auxiliar muito próximo de Tombini. Entre 2009 e 2010,
trabalhou como seu consultor na diretoria de normas
e, quando Tombini assumiu a presidência do BC, virou o seu chefe de gabinete. Antes disso, Damaso fez
carreira própria como técnico, servindo os governos
de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva. Sua experiência em temas financeiros inclui a
presidência do Conselho de Administração da Caixa
Econômica Federal. Ele também é autor de trabalhos
acadêmicos sobre microeconomia em parceria com
Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda. Leia a seguir alguns dos
posicionamentos do novo titular da diretoria de Regulação do BC.
Revista Financeiro – Qual a importância do segmento como agente do mercado de crédito brasileiro?
Otávio Ribeiro Damaso – As Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento (SCFI), comumente designadas de “financeiras”, constituem segmento
importante para o atendimento das demandas por
crédito, especialmente por crédito direto ao consumidor. Ao longo de décadas, essas instituições vêm
desenvolvendo técnicas e procedimentos específicos
de financiamento do consumo, inclusive no tocante a
avaliação e mitigação de riscos. E nos últimos anos
foram importantes promotoras do desenvolvimento
do mercado de crédito.
RF – Como avalia atualmente a participação dessas
instituições no mercado financeiro?
Damaso – É do interesse da sociedade a existência
de instituições de tamanho e especialização diversifi-
Otávio Ribeiro
cados, que atendam a nichos específicos, inclusive com
Damaso:
diretor de
o desenvolvimento de tecnologias adaptadas e proporRegulação
do BC
cionais ao tipo do negócio. Essa diversificação contribui
para aumentar a competição e a eficiência do mercado
financeiro. A participação das financeiras nesse contexto, entre outros segmentos
especializados, é aspecto importante sob a ótica das políticas públicas.
RF – Quais são as perspectivas para o mercado de crédito?
Damaso – Nos últimos anos, o Brasil apresentou um expressivo processo de
inclusão financeira e o segmento de crédito desempenhou papel importante
nesse processo. Para os próximos anos, a expectativa é de continuidade, porém
em ritmo mais compatível com o atual estágio de desenvolvimento do segmento e com alguma diferenciação em relação à sua composição. Do ponto de vista
do regulador, o importante é que o mercado continue se desenvolvendo com
equilíbrio, transparência e sustentabilidade.
RF – O senhor mencionou o segmento de micro, pequenas e médias empresas
como importante nicho de atuação para as SCFI. Como o avalia o acesso dessas
empresas no SFN?
Damaso – As micro, pequenas e médias empresas compõem importante
segmento econômico e o seu fortalecimento é fundamental para o desenvolvimento do nosso país. No entanto, identifico que há oportunidades para desenvolvermos o acesso desse segmento ao mercado de crédito. Essas empresas
apresentam carências e peculiaridades que demandam tecnologias e avaliações diferenciadas, o que abre espaço também para a atuação de instituições
especializadas. Esse, inclusive, é um tema prioritário da nossa agenda. Precisamos entender melhor e enfrentar os entraves ao desenvolvimento do mercado de crédito voltado a esse segmento.
RF – Como melhorar esse cenário para as micro e pequenas empresas?
Damaso – Aprofundar e qualificar melhor o diagnóstico sobre o mercado de
crédito para o segmento das micro, pequenas e médias empresas são o primeiro passo para enfrentar eventuais entraves ao seu desenvolvimento. Por
isso, esse é um tema prioritário da nossa agenda de trabalho ora em curso. Já
identificamos alguns pontos. Por exemplo, sob a ótica operacional, um ponto
relevante é a necessidade de se assegurar melhores condições e alternativas
de garantias e um caminho a explorar diz respeito aos seus recebíveis. Outro
aspecto importante é a questão da assimetria informacional, falha de mercado
que é tanto maior quanto menor o porte da empresa. Precisamos desenvolver
mecanismos que permitam o acesso, pelas instituições financeiras, a informações adequadas segundo o porte dessas empresas, a fim de subsidiar uma
melhor tomada de decisão na concessão de crédito. f
junho/julho 2015 financeiro 15
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previdência
“O sistema
previdenciário deve permitir
às pessoas terem uma aposentadoria justa
à luz das contribuições feitas”
Revista Financeiro – A questão previdenciária doria para quem se apoé tema de debate em vários países. Em que pontos
a situação brasileira nessa área é pior do que a de
outras nações, digamos, “equivalentes”, como os
países da América Latina, a Turquia, a Grécia, em
relação aos países da Europa Ocidental?
Fabio Giambiagi – A nossa situação é pior, no
sentido de que gastamos mais do que países em situação similar, por três razões. A primeira é a existência de benefícios desacompanhados de exigências
de contribuição prévia relevante, caso específico dos
benefícios rurais. A segunda razão é a generosidade
específica das pensões, um ponto fora da curva nas
comparações internacionais. E a terceira é a precocidade das aposentadorias femininas, hoje em média
de 52 anos nos casos por tempo de contribuição, uma
idade muito inferior à do resto do mundo.
RF – Em sua avaliação, que medidas precisariam
ser tomadas de imediato para ao menos aliviar a situação do défice previdenciário brasileiro?
Fabio Giambiagi:
senta por idade, para 66
economista
e 61 anos, em curto prado BNDES e
zo para homens e muespecialista em
lheres, respectivamente,
contas públicas
e 67 anos e 62 anos daqui a alguns anos, em intervalo a
ser politicamente negociado. Terceiro, regras muito mais rígidas
para quem ingressar no mercado
de trabalho daqui para a frente,
com 40 anos de exigência contributiva. Quarto, regra de transição
para aqueles que já se encontram
no mercado de trabalho. Quinto,
redução das futuras pensões para
60% do benefício original + 20 %
por filho menor até o limite de dois
filhos. Há outros pontos, mas são
esses os mais importantes.
RF – O senhor considera que o Brasil não apenas
não ataca os problemas que deveria atacar, como
Giambiagi – “De imediato” não adianta especu- cria obstáculos onde eles não existem. De que malar nada, porque sou bastante cético em relação às
chances de haver uma reforma profunda no meio
dessa desarticulação política toda. Posso falar do
que eu defendo, seja agora ou no futuro. Primeiro, a
idade mínima para quem se aposenta por tempo de
contribuição, de 60 anos para os homens e 55 para as
mulheres. Segundo, aumento da idade de aposenta-
neira essa avaliação impacta na previdência?
Giambiagi – Nós deveríamos pensar em como
estaremos daqui a 30 anos e em função disso nos
prepararmos adequadamente. Não apenas não fazemos isso, como adicionalmente o Congresso recorrentemente quer aprovar alguma benesse com
junho/julho 2015 financeiro 19
Foto: Divulgação
Atenta aos temas relevantes à sociedade, a Revista Financeiro conversou
com Fabio Giambiagi, economista do BNDES (Banco Nacional do
Desenvolvimento Social) e especialista em contas públicas, sobre os
problemas que envolvem o sistema previdenciário nacional
previdência
base nos benefícios políticos de curto prazo de alguma medida.
É uma completa miopia em relação aos efeitos dessas medidas
sobre as gerações futuras.
RF – Quando se fala de previdência, está se falando de pessoas (principalmente de idosos). Sob essa ótica, o senhor não
considera justo que se melhorem as condições dos aposentados e os recursos que eles devem receber depois de contribuírem por décadas?
RF – O senhor escreveu que a oposição adota postura “suicida” em relação à questão previdenciária, tendo em vista que ela
poderá ganhar a eleição de 2018 e terá uma “bomba” em mãos
com a piora do problema. Em sua opinião, qual deveria ser a
postura da oposição neste momento?
Giambiagi – Eu entendo a lógica da oposição fazer oposição e
não ajudar o Governo a aprovar medidas de ajuste causadas por
uma situação que o Governo criou. Isso faz parte da luta política
legítima, mas uma coisa é a oposição não dar quorum ou não
Giambiagi – Eu considero que um sistema previdenciário deve votar a favor do ajuste e outra muito diferente é aprovar uma
permitir às pessoas terem uma aposentadoria que seja justa à luz medida populista liquidando com um instrumento que ela criou
das contribuições feitas. Ora, estamos falando de aposentadorias quando era Governo. Isso é incompreensível e demonstra uma
concedidas aos 50 ou 52 anos. Por qualquer ótica com que se olhe, postura que ninguém entende. O eleitorado precisa ter uma siessa é uma idade muito precoce. Não podemos raciocinar apenas nalização dos partidos para ter como se posicionar. Ora, se um
com base no tempo de contribuição e sim tampartido defende uma coisa um dia e o oposto
bém com base na expectativa de vida. Não é a
no dia seguinte, isso passa ao eleitor a ideia de
mesma coisa começar a contribuir aos 15 anos
que todos os partidos são iguais, o que é péssie se aposentar aos 50 que começar aos 25 anos
“A despesa com mo para a democracia.
e se aposentar aos 60. Se a pessoa viver 85 anos,
aposentadorias RF – Na sua avaliação, o Brasil está perdendo
no primeiro caso ela contribuirá 35 anos e terá
federais é de
uma aposentadoria por outros 35 e no segundo
uma oportunidade no período que se costuma
por apenas 25. O fator previdenciário justamenchamar de “bônus demográfico”? Por quê? Há
9,2% do PIB e
te calibra a aposentadoria considerando por um
com servidores alternativas para reverter esse processo?
lado as contribuições, mas por outro também a
ativos
expectativa de sobrevida. É um mecanismo inteGiambiagi – Já perdeu. A despesa do INSS,
ligente, que deveria ser preservado.
especificamente, era de 2,5 % do PIB em 1988
de 2,2% do PIB.
RF – A questão previdenciária tem impacto di-
reto no défice público. No entanto, não existem
fatores que impactam ainda mais esse défice?
Por exemplo, por que o governo não fala em cortar custos de pessoal, por exemplo? Em sua opinião, esses fatores não são mais
perniciosos e têm maior impacto que a previdência?
Giambiagi – A despesa com aposentadorias federais é de
9,2% do PIB e com servidores ativos de 2,2% do PIB. Os números
falam por si. Quem diz que o gasto com pessoal pesa mais do
que as aposentadorias está mentindo.
RF – O senhor considera que a previdência complementar (aberta e fechada) tem condições de ao menos minimizar o problema
da previdência pública no Brasil? Em que aspectos? O que poderia ser feito nesse sentido?
Giambiagi – Ela está se desenvolvendo gradualmente no Brasil, o que é muito positivo e pode mitigar alguns de nossos problemas no campo previdenciário, sim. O que cabe fazer é zelar
bem pela fiscalização rigorosa para que não voltem a acontecer
casos como o do Fundo Aerus.
20 financeiro junho/julho 2015
e será de 7,4 % do PIB este ano, praticamente
triplicando o seu peso exatamente numa etapa
da evolução demográfica da sociedade em que
o processo de envelhecimento mal tinha se iniciado. É daqui para a frente que ele se tornará mais acentuado.
Os números
falam por si”
RF – De maneira geral, o senhor tem um tom pessimista em
relação ao futuro do Brasil. Não há maneiras de tentar melhorar esse futuro? Quais seriam essas opções? Ou a piora
é irreversível?
Giambiagi – Mais do que pessimista, meu sentimento é de certa indignação com a miopia, o descaso e a irresponsabilidade.
Pode haver também misturado um sentimento de urgência que
decorre da idade. Quando se atravessou o Cabo da Boa Esperança dos 50, adquire-se a noção de que o tempo começa a ser escasso. Aos 30 anos dá para pensar “bom, na base de mudanças
graduais daqui a 30 anos estaremos melhor”. Quando se está
perto dos 55, conclui-se que talvez 30 anos seja muito tempo
para esperar e a irritação com os problemas do país se torna
maior. Não acho que a piora seja irreversível, mas pessoalmente
me causa uma frustração testemunhar como o debate acerca de
questões importantes é tão raso no Brasil. f
artigo
Aquiles Leonardo Diniz
O maior problema do Brasil
é a gestão pública
Artigo enviado em 19/6/2015
O
maior problema do Brasil, sem dúvida, é a
má gestão pública. Há décadas os governos
transformaram o país em um grande laboratório de experiências mal-sucedidas e de administração irresponsável. E esse quadro trágico vem
se agravando com o passar dos anos, prova disso é
a sequência de equívocos cometidos nas empresas
públicas, como a Petrobras e a Eletrobrás, mas que
se estende por todos os setores sem distinção, desde
educação, saúde, transportes, segurança e serviços.
É um desastre após o outro.
Podemos afirmar que a corrupção é quase um
detalhe ao avaliarmos a má gestão que dominou a
Petrobras. Os desvios são altos, mas o endividamento da empresa se deve principalmente ao congelamento de preços dos combustíveis e dos investimentos para exploração e desenvolvimento dos campos
do pré-sal. O cenário só mudará com uma gestão
profissional e a diversificação do parque petrolífero
brasileiro.
O Brasil poderia muito bem baixar agora o valor
da gasolina, como ocorre nos Estados Unidos, mas
os erros constantes na política econômica impedem
tal manobra. Os preços dos combustíveis no território norte-americano acompanham perfeitamente a
oscilação do mercado internacional. Se o barril valoriza, o valor da gasolina sobe automaticamente, e
o oposto também ocorre de acordo com a demanda.
Como as regras econômicas impediram que a
Petrobras aumentasse seus preços, quando este subiu no exterior a empresa passou três anos importando combustível no atacado por um preço acima
do praticado no País, causando prejuízo estimado em
R$ 81 bilhões. Em total contrassenso, o governo agora autoriza ajustes, elevando o preço dos combustíveis. E mais uma vez o povo brasileiro é quem vai
pagar a conta, em total desrespeito ao bem-estar e à
melhoria social para as famílias brasileiras.
A alta da energia é um dos principais fatores
para a alta da inflação, que superou os 8% em março
no acumulado em doze meses. O factoide anunciado
em período pré-eleitoral de redução de 18% na conta de luz, por pouco não quebrou o sistema elétrico.
Acabou revertendo-se um ano depois em aumento
de mais de 60% nas contas de energia, sendo que
somente em março o aumento médio foi de 22,08%, fazendo com que a
inflação disparasse. O consumidor, em dois meses, já pagou ao governo
R$ 1,2 bilhão, após a adoção das bandeiras tarifárias, sendo que a previsão é de arrecadação de R$ 17 bilhões até o final do ano
O governo continua batendo na tecla de que a falta de chuva é o
motivo da crise energética atual, sem assumir, mais uma vez, que essa
situação é fruto de outra experiência desastrosa tomada no passado.
No final de 2012, o governo editou a MP 579, que descapitalizou as empresas do setor elétrico e reduziu o preço da energia. Na época, o nível
dos reservatórios já era baixo e a medida reduziu o preço de um bem já
escasso. Ou seja, a falta de chuva só agravou o quadro já muito preocupante. O prejuízo provocado pela MP 579 chega a R$ 10 bilhões ao ano.
O desequilíbrio fiscal em que o Brasil se encontra atualmente é fruto
de más escolhas dos governantes. Nos últimos anos, o país foi laboratório de ações irresponsáveis e falta de planejamento. Será muito difícil
reverter decisões erroneamente tomadas
nos anos anteriores, como as postergações
de reajustes. Os relatórios do Tribunal de
Contas da União (TCU) mostram que bancos
públicos financiaram o Tesouro Nacional
com créditos que passam dos R$ 40 bilhões,
desrespeitando a Lei de Responsabilidade
Fiscal e escondendo o péssimo desempenho das contas públicas nos últimos anos.
Uma situação que demonstra claramente
que o maior problema, além da má gestão, é
a falta de transparência.
O País atravessa um péssimo momenAquiles Leonardo Diniz
to, com uma sucessão de notícias ruins. Um
é
diretor
executivo do Banco
relatório conjunto do FMI e do Banco MunIntermedium
e vice-presidente
dial aponta que o Brasil está puxando para
da ACREFI
baixo o crescimento da América do Sul.
Com inflação alta, o brasileiro acaba comprando menos e o orçamento da família vai ficando cada vez mais curto. Outro erro crasso foi segurar o dólar artificialmente, provocando o
alijamento das indústrias nacionais no mercado mundial. Nos últimos
seis meses o ritmo das demissões aumentou significativamente, com
o corte de vagas em todos os setores.
Não há razões para alegria no momento e a insegurança em relação
ao mercado só aumenta. Diante de tantas notícias apavorantes, deveria
ser colocado em pauta algum tipo de punição para a má administração
pública, já que a pergunta que fica é: até quando o povo brasileiro vai
pagar a conta pelos erros cometidos por governantes despreparados?
Como solução, devemos rezar, para que Deus seja verdadeiramente brasileiro! f
junho/julho 2015 financeiro 21
segurança
Força-tarefa
Seminário organizado pela ACREFI
reúne autoridades, executivos do
mercado financeiro e acadêmicos
para discutirem as normas, os
procedimentos legais e as ferramentas
digitais que permitem minimizar a
lavagem de dinheiro e combater os
processos fraudatórios
D
esde o ano passado, quando a
Operação Lava Jato foi deflagrada, o tema da lavagem de dinheiro nunca esteve tão em alta. Com o assunto no olho do furacão, a ACREFI, atenta às
preocupações e ao rigor que o setor de
crédito dedica a essa questão, promoveu
no dia 23 de abril, no Renaissance Hotel,
em São Paulo, o evento Fraude em Debate, que reuniu mais de 150 especialistas,
acadêmicos, empresários e dirigentes do
mercado financeiro. Foi uma manhã inteira dedicada apenas à reflexão sobre um
assunto que tem dominado o noticiário
22 financeiro junho/julho 2015
nos últimos meses.
Na abertura do evento, Antonio Augusto
de Almeida Leite (Pancho), superintendente da ACREFI, mediou uma descontraída
discussão a respeito do tema entre Marcos Vanderlei Ferreira, diretor de Crédito e
Cobrança do Itaú Unibanco, e Eduardo Prado, diretor de Crédito e Cobrança do Banco PAN. Mesmo com as prisões de vários
envolvidos na Operação Lava Jato e com
diversas medidas judiciais em andamento,
Vanderlei Ferreira, em uma das suas intervenções, sentenciou: “O fraudador hoje no
Brasil não tem medo de fraudar”. Já Edu-
Fotos: Mário Bock
contra a fraude
Marcos Vanderlei Ferreira, diretor de
Crédito e Cobrança do Itaú; Eduardo Prado,
diretor de Crédito e Cobrança do Banco
PAN; e Pancho, superintendente da ACREFI
ardo Prado, afirmou que “para evitar o mal,
é preciso conhecer ainda mais os clientes,
os fraudadores e suas práticas”. “Para isso,
a informação continua a ser a nossa principal matéria-prima”, afirmou Prado.
Do ponto de vista acadêmico, Claude Machline, Djair Picchiai e Fernando
Serson, professores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e
sócios da consultoria QUES – Qualidade
e Excelência em Serviços, apresentaram
os resultados preliminares do estudo Prevenção à Fraude Uso de Cartão de Crédito
Fotos: Mário Bock
Érico Ferreira, presidente da
ACREFI, agradece a presença
dos convidados do seminário
no Varejo Presencial. Entre as conclusões
que já podem ser depreendidas da pesquisa, destaca-se que a fraude com cartão
de crédito no varejo pode comprometer
até 3% do total do faturamento. Em outras
palavras, isso pode significar uma perda
de até 30% do lucro líquido. O valor não
incluiu outros transtornos, como gastos
envolvendo a contratação de advogados
para reaverem o capital perdido. Os acadêmicos estimam que essas perdas possam representar até oito vezes o total do
prejuízo em todo processo.
Para buscar uma solução que minimize radicalmente o problema, os professores da FGV-EAESP sugeriram a adoção
no varejo de biometria facial — tecnologia
que certifica em menos de um segundo
a identidade do cliente pela face — em
substituição da simples checagem de
dados do formulário de cadastramento,
preenchido pelo pretendente a um cartão,
com consulta a outros bancos de dados,
de CPF e RG. “Esse procedimento padrão
adotado em geral no varejo consome mão
de obra e é caro”, garantiu Claude Machli-
Claude Machline, Djair Picchiai e Fernando
Serson, professores da FGV-EAESP e
sócios da consultoria QUES
junho/julho 2015 financeiro 23
segurança
ne. Os processos de prevenção, porém,
ainda enfrentam alguma resistência no
Brasil, pois muitos profissionais, equivocadamente, consideram os custos de implementação do sistema mais altos do que
aqueles gastos posteriormente com as
fraudes. “Fraudadores procuram as empresas menos protegidas”, explicou Picchiai. “A prevenção à fraude é como uma
vacina. Se não vacinar, vira epidemia”, preveniu o acadêmico da FGV.
Após o coffee break, o seminário sobre
fraude da ACREFI recebeu Geraldo Magela,
secretário-executivo do Banco Central, – alguns dias antes de se aposentar do cargo.
Ele falou sobre a missão do Banco Central,
que por meio do Sistema de Pagamentos
Brasileiro movimenta mensalmente R$ 27
trilhões, em 3,3 milhões de transações por
mês. Magela reforçou também que o Comitê Estratégico de Gestão da Prevenção à
Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento
do Terrorismo, no âmbito da Secretaria-Executiva do Banco Central, conta com importante participação das áreas de normas,
fiscalização e da Procuradoria-Geral da República. Ele recordou que no meio de uma
série de normas, em conjunto com outros
órgãos, o BC é capaz de fiscalizar e aperfeiçoar a prevenção à lavagem de dinheiro
Ricardo Liáo:
secretário-executivo
do COAF
24 financeiro junho/julho 2015
Geraldo Magela:
ex-secretário-executivo
do Banco Central
e processos fraudatórios no País. O secretário-executivo do BC mostrou ainda os
procedimentos que ajudam na prevenção
da fraude, como a manutenção de cadastros e dos registros atualizados de todas
as operações, comunicação automática de
operações atípicas, aviso prévio do cliente
à instituição quando de remessas a título de
doação e saques em espécie maior que R$
100 mil, entre outros cuidados.
Após a explanação de Magela, foi a vez
de Ricardo Liáo, secretário-executivo do
COAF (Centro de Controle de Atividades
Financeiras), mostrar como o órgão atua
na prevenção e no combate à lavagem de
dinheiro. Ele revelou a tipificação dos crimes de lavagem de dinheiro, os controles
para prevenção dos delitos e a estrutura
do COAF. “Isso permite interagir com os
demais órgãos reguladores, no âmbito de
suas competências, com vistas à harmonização de procedimentos”, explicou Liáo.
Ele disse também que órgão trabalha de
maneira cooperativa e apresentou o modelo de supervisão do COAF, que é baseado
em cinco princípios: conheça seu supervisionado; abordagem baseada em risco;
uso massivo de tecnologia; medidas pedagógicas escalonáveis; e otimização dos
ritos processuais. Segundo Liáo, o COAF é
independente e não se confunde com nenhum órgão investigativo, como a polícia.
Antes que o evento fosse encerrado,
Érico Sodré Quirino Ferreira, presidente da
ACREFI, agradeceu a presença de todos e
falou que as normas e os procedimentos
legais são fundamentais para fiscalizar e
aprimorar ainda mais a prevenção à lavagem de dinheiro e ao combate dos processos fraudatórios que existem no País. f
artigo
Claudio Felisoni de Angelo
Voltar a crescer
Artigo enviado em 9/6/2015
E
m 1989 ruiu o muro de Berlim. A barreira
construída em 1961 para separar a cidade
em duas partes, Oriental e Ocidental, manteve-se por décadas como um dos símbolos mais
contundentes da situação convencionalmente denominada Guerra Fria.
É esse o cenário do filme “Adeus, Lenin”. Uma
senhora entusiasta do regime comunista entra
em coma pouco antes de as paredes da muralha
divisora dos dois mundos começarem a ser destruídas. Esse estado de inconsciência perdura
por alguns meses. Finalmente a pobre senhora,
em meados de 1990, recobra seus sentidos. Seu
filho, entretanto, preocupado pela sua saúde, teme
que ela descubra a vitória do capitalismo sobre o
socialismo. Para evitar o choque, o zeloso homem
oculta a realidade da velha senhora.
Esse filme talvez pudesse ser ambientado
considerando os elementos da política econômica,
isto é, antes e depois das eleições presidenciais de
2014. Há, entretanto, uma diferença marcante. No
filme, o filho se valeu de vários estratagemas efetivos para despistar a atenção da mãe. Agora não
há como esconder. Como se ensina em economia:
os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas. Ou seja, toda escolha implica em um custo.
Uma das mais importantes funções da teoria
macroeconômica estabelece o seguinte: a demanda
agregada é a soma do consumo, do investimento, dos
gastos do governo, menos os tributos, e das exportações líquidas, isto é, deduzidas as importações.
Pois bem, Keynes, economista inglês, em seu
famoso Teoria Geral, ofereceu uma explicação para
combater os dois principais problemas econômicos
de uma sociedade, ou seja, a inflação e o desemprego. Para Keynes, havia duas combinações possíveis: desemprego alto e inflação baixa ou então
desemprego baixo e inflação alta. Keynes considerava que o desemprego era resultante de uma frágil demanda agregada. Para aumentar o produto e,
portanto, o emprego era necessário ativar a demanda agregada. Como isso podia ser feito? (a) aumentando o consumo; (b) estimulando investimentos,
(c) aumentando os gastos sobre o total de impostos
arrecadados e; (d) facilitando as importações. Para
combater a inflação, a proposta
era obviamente inverter a direção
dos movimentos.
Embora Keynes tentasse dar
uma explicação geral, a sua condição como observador era evidentemente específica, definida
pelos elementos da crise de 29.
Por essa razão, em seu modelo,
não se concebe a ideia de inflação
com desemprego, fato esse que
Claudio Felisoni de Angelo
se viu pela primeira vez no início
é presidente do IBEVAR
da década de 70.
(Instituto Brasileiro de
É esse quadro agora novaExecutivos de Varejo & Mercado
mente que se desenha na econode Consumo)
mia brasileira. O desarranjo das
contas públicas, a interferência
contínua do governo no vetor de preços, a ausência de políticas industriais, a perda de capacidade competitiva da economia brasileira frente aos
demais países e também, é claro, o exagerado
estímulo ao consumo, criaram as condições que
hoje urgem serem alteradas.
Em matemática se diz que uma condição pode
ser necessária, porém não suficiente. Não poderia
haver expressão melhor para designar a presente situação. Não há dúvida de que as medidas de
contenção são absolutamente essenciais, particularmente no que diz respeito ao défice público.
Tudo isso, contudo, não é condição suficiente.
Crescimento? Uma loja desarrumada e com as finanças descontroladas tem pouca chance de se
dar bem. E se arrumar a casa e organizar as finanças? Aumentam suas chances; apenas isso. O
sucesso dependerá do que os concorrentes farão
e da credibilidade dos donos da loja.
Keynes cunhou a expressão “espírito animal”
com o propósito de revelar a importância do pioneirismo na criação de riqueza. O empreendedor segue
adiante: investe. Cria renda, que gera poupança, que
financia novos ciclos de investimentos. Crescimento
depende de credibilidade. Mais cedo ou mais tarde a
realidade se impõe. No final do filme “Adeus, Lenin”
fica a impressão de que a mãe sabia dos esforços
do filho para esconder a verdade. f
junho/julho 2015 financeiro 25
Fotos: Mário Bock
marketing
Oportunidades
em tempo de crise
Em evento
promovido pela
ACREFI e pela Serasa
Experian, em São
Paulo, executivos
de marketing e de
gestão discutem os
benefícios gerados
pelos programas de
CRM e a valorização
do relacionamento
diferenciado das
empresas com o
consumidor
26 financeiro junho/julho 2015
E
nxergar o presente sem tirar os olhos do futuro. Com o propósito de estimular o setor a
ampliar seu olhar empreendedor, a ACREFI
e a Serasa Experian reuniram um time de especialistas no dia 28 de maio, no Hotel Renaissance,
em São Paulo, para discutir o tema “Banking CRM
(Customer Relationship Management) – Diferencial
ou Essencial”, que contou com o patrocínio da Oiti.
Convidado a fazer a abertura do evento, Marcelo Seraphim, diretor comercial da Serasa Experian,
agradeceu a presença de todos e destacou a importância do evento para entender as transformações
por que o País está passando. “Discutir novos ângulos e estratégias é uma maneira de ajudar o setor a
sofrer menos com a crise ou até a sair fortalecido
dela”, afirmou Seraphim.
Uma entusiasta das ações de relacionamento
com os clientes, Beatriz Galloni, vice-presidente de
marketing da MasterCard para a América Latina e o
Caribe, falou sobre a experiência vencedora e premiada do programa Surpreenda, da MastarCard.
Com uma mecânica bastante simples, basta ao cliente fazer um cadastro no site do programa e passa a
acumular pontos a cada transação realizada nos cartões de débito, crédito e pré-pagos da bandeira. Os
pontos acumulados são trocados depois por benefícios ofertados no site do programa. “Buscamos na
inovação e desenvolvimento tecnológico de produtos
e serviços relevantes à fidelização dos clientes B2C e
B2B. O programa é um sucesso pela sua simplicidade, facilidade e relevância, com ofertas e promoções
atraentes aos clientes”, contou Beatriz.
Implantado já há seis anos, o Surpreenda surgiu, primeiramente, de uma promoção realizada
em parceria com a TAM Viagens. Hoje, o programa
já conta com mais de 60 parceiros e dezenas de
ofertas, que agradam clientes de diversos perfis.
“A proposta foi tornar tangível o relacionamento e
estabelecer um canal direto entre a empresa e o
consumidor. O retorno foi tão positivo que o programa foi adotado no Chile, na Argentina e no Peru. E
agora a expansão está prevista para outros países.
“A crise existe, mas temos que encontrar soluções
para mudar essa realidade. Nós apostamos na
criatividade. Tenho certeza que este será o ano do
Surpreenda. Iremos desenvolver várias ações para
expandi-lo ainda mais”, garantiu Beatriz.
Acreditar no amanhã
A segunda palestra da manhã de trabalho proposta pela ACREFI contou com a apresentação de
Marcelo Seraphim:
diretor comercial da Serasa Experian
José Renato Borges, sócio-presidente da Credz, administradora de cartões de crédito que atua há dois
anos no mercado, em parceria com redes varejistas
em diversos segmentos. Ele mencionou a prática
bem-sucedida das ações de CRM desenvolvidas para
um cliente do segmento de vestuário que teve retorno de 200% no setor de comunicação e redução de
18% nas ligações à central de atendimento. “Hoje é
vital o uso do CRM para competir com a concorrência, adequar os serviços para atrair mais clientes.
É preciso ter coragem para entender que investir
junho/julho 2015 financeiro 27
marketing
no sistema de relacionamento é
aumentar a geração de valor a cada
interação. Além de desenvolver a cultura e a marca
para que sejam autênticas e entender o cliente como
indivíduo”, enfatizou Borges.
Para entender e interagir cada vez mais com seu
público-alvo, de acordo com Borges, a Credz investe
em várias ações de CRM, como: o e-mail marketing
de ativação; SMS, que informa a melhor data para
compra, mala-direta com promoções exclusivas,
fatura personalizada com oferta, entre outros atrativos. Mais um benefício apresentado foi o aplicativo
PiggyPeg, um software com o qual o cliente recebe sugestões de pontos de interesse próximos, por
meio de um mapa interativo. Ao visitar esses lugares, ele é recompensado com depósitos bancários,
sem precisar consumir nada no estabelecimento.
“Vivemos um momento de crise. Porém, temos que
acreditar que vai melhorar. Acreditar no País e investir em mobilidade para desenvolver a
cultura e a marca para que sejam autênticas e que satisfaçam os diferentes perfis
dos clientes”, afirmou Borges.
Após o coffee break, Kevin Poe, vice-presidente da Consultoria Global – Experian
Decision Analytics, abordou a importância
da criação de valor nas experiências de consumo. Segundo o executivo, nos períodos de
dificuldades econômicas, tudo desacelera e
José Renato Borges:
os consumidores tendem a diminuir os mosócio-presidente da Credz
vimentos. Esse é o momento para enfrentar
os desafios e criar soluções para engajar o cliente
com serviços diferenciados. “A chave é conhecer
seus clientes e criar envolvimento com eles. Não faz
sentido tratar todos da mesma maneira, porque mais
de 70% desejam experiências personalizadas. Outra
dica é mensurar o valor dos investimentos, elaborar
um mapa de estratégias”, relata o especialista.
O executivo da Experian Decision Analytics
apontou também os desafios enfrentados pelas
empresas que querem implantar a gestão de relacionamento com os clientes. “Dentro das limitações
é uma tarefa difícil, mas as técnicas de otimização
são ferramentas poderosas, que podem ajudar. Comece com os dados gerais do cliente – mas isso não
basta; use o TI como facilitador para testar, aprender e implantar e procure desenvolver o customer
engagement por meio de monitoramento, de aprimoramento e tomada de decisões de forma adequada”, recomendou Poe.
Como case de sucesso, Poe contou a história de
um fornecedor de bens de consumo voltado à terceira idade, que descobriu a interação do seu call
center como ferramenta para agradar e fidelizar os
28 financeiro junho/julho 2015
Beatriz Galloni: vice-presidente de
marketing da MasterCard para a
América Latina e o Caribe
clientes. Com a mudança do processo, aumentou nos
três primeiros meses em 10% o índice de satisfação
do público. O especialista finalizou sua apresentação
com uma frase de Gary Hamel, um dos pensadores
de negócios mais influentes do mundo, autor dos livros “O Futuro da Administração” e “Liderando a Revolução”: “A maioria de nós entende que a inovação
é de extrema importância. É a única garantia da lealdade de longo prazo ao cliente. É a única estratégia
para superar uma economia enfraquecida”.
Após a rodada de debate entre os palestrantes,
Marcelo Seraphim encerrou o evento, reforçando que
o tema é de extrema importância para a construção
de um novo modelo de gestão de negócios. “Com o
CRM é possível atender melhor às necessidades dos
clientes, além de criar um serviço personalizado”,
finalizou o diretor comercial da Serasa Experian. f
Kevin Poe: vice-presidente da
Consultoria Global – Experian
Decision Analytics
artigo
Rodrigo Romero
Revisão do quadro econômico frente às
últimas decisões do Banco Central do Brasil
Artigo enviado em 11/6/2015
A
terceira RCE G100 Reunião de Consenso Econômico teve como objetivos proceder à revisão do
quadro econômico do País, em face das medidas
de ajustes propostas pelo governo central e da fragmentação política. O G100 Brasil, composto por 100 membros
(acionistas e presidentes) efetivos e nomeados, mais 15
membros (economistas-chefes) de reconhecidas organizações financeiras, considera que o ajuste fiscal é entendido como inevitável, embora pairem dúvidas sobre sua
profundidade e extensão.
Em princípio, parece que será bem menor do que
o proposto pela área econômica, mesmo considerando
que o pedido das autoridades governamentais tenha
sido mais alto que o necessário, prevendo que, em alguma medida, o Congresso iria cortá-lo. Portanto, o cenário de contração da economia é certo, restando identificar o momento em que a credibilidade do governo
seja recuperada, e os investimentos retomados, voltando a crescer o PIB.
O tratamento inicial passou por medidas emergenciais para conter a inflação e evitar que o País perdesse
o grau de investimento. Foram medidas contracionistas,
pontuais, de curto prazo, tais como a contenção inicial de
gastos, aumentos de taxas de juros, extinção de subsídios
e aumento de arrecadação, tudo agravado pela depreciação da moeda nacional. O crédito tornou-se mais escasso, acompanhado por inadimplência preocupante que
inspirou seletividade e outros cuidados na concessão dos
empréstimos. A Operação Lava Jato conduziu a economia
para um estado de paralisação geral.
A proposta atual é boa e parece encampada pela presidente. Seus efeitos podem produzir um crescimento no
próximo ano, tendo em conta a baixa base dos números
deste ano. O consumo pode se recuperar mais lentamente em função do alto crescimento da inflação, o menor
aumento da renda e o aumento do desemprego. Para este
ano, pode-se esperar por momento bastante difícil.
Embora não haja gerenciamento microeconômico, alguns fatos sinalizam para um quadro mais positivo em relação à competitividade nacional: a depreciação cambial,
a redução do seguro desemprego e a discussão sobre um
outsourcing mais amplo. De modo geral, os indicadores
econômicos começam a melhorar na margem, apontando que o “carro está na direção correta” e deslocando as
preocupações para a “velocidade que esse carro possa
ganhar” nos próximos períodos.
A análise das chamadas variáveis
financeiras, expectacionais, reais e de
decisões sugerem um quadro mais otimista. Do ponto de vista das variáveis
financeiras, os desempenhos apresentados são superiores aos de passado
recente: câmbio, Ibovespa e títulos da dívida externa apresentam-se claramente
melhores. As variáveis expectacionais,
embora possam oscilar a cada fato ou
Rodrigo Romero:
notícia, também aparecem com alguma
fundador
e presidente
recuperação. As variáveis reais, corresdo G100
pondentes aos indicadores que aferem
a economia, apontam para melhoras
recentes dos fundamentos econômicos. Portanto, espera-se que as variáveis de decisões possam começar
a aparecer no segundo semestre, com a retomada das
concessões e dos investimentos em infraestrutura.
A melhor coordenação política pode produzir uma
saída dessa situação de colapso. O terreno está sendo
preparado. O setor exportador melhora seu desempenho graças ao câmbio. Por outro lado, o investidor externo reconhece no Brasil uma economia grande, estável e
uma das opções de maior segurança para seus recursos
financeiros. O desempenho recente do setor de serviços
também induz à ideia de melhoria do nível de atividade.
Nesse sentido, o otimismo do investidor externo parece
maior que o otimismo do investidor local.
Por conclusão, acredita-se que a visão dos economistas parece mais otimista que a visão dos empresários.
Talvez isso decorra do fato de os empresários tenderem
a enfatizar o quadro atual e os economistas estejam
trabalhando com perspectivas de prazo um pouco mais
longo. Não há ainda uma visão tão clara da intensidade e
do tempo que o ajuste possa tomar. A redução de despesas anunciada até agora não é suficiente para cumprir a
meta fiscal do ano. Os maiores impactos previstos para
a economia brasileira estão relacionados aos juros e ao
câmbio. A normalização dos juros norte-americanos, esperada para um prazo já não tão distante, é um fator de
pressão para a taxa de câmbio. A ele se juntam os problemas crônicos de competitividade nacional. Os juros,
obedientes à atual política monetária, devem prosseguir
em níveis elevados durante todo o ano. f
junho/julho 2015 financeiro 29
tecnologia
Trilha
Fotos: Mário Bock
do conhecimento
Na 25a edição do CIAB Febraban, a ACREFI
conduz apresentações que trataram dos
procedimentos do COAF no combate
à lavagem de dinheiro, dos avanços
conquistados com a atuação da Secretaria
de Reforma do Judiciário, dos benefícios do
Big Data e, ainda, o perfil do cliente bancário
em período de crise
C
omo não poderia deixar de ser, a ACREFI também
marcou presença no CIAB Febraban, o maior evento
de tecnologia para o mercado financeiro da América Latina, que aconteceu entre os dias 16 e 18 de julho, em
São Paulo. No último dia do encontro, Antonio Augusto de
Almeida Leite (Pancho), diretor superintendente da ACREFI,
conduziu no auditório Alfredo Volpi, do Transamérica ExpoCenter, a trilha técnica “Bancos internacionais, de Investimento, Comerciais e Financeiras”, que concentrou no
espaço palestras de Antônio Carlos Ferreira de Souza, diretor de Análise e Fiscalização do COAF (Conselho de Con-
30 financeiro junho/julho 2015
Antônio Carlos Ferreira de Souza: diretor
de Análise e Fiscalização do COAF
Fotos: Mário Bock
trole de Atividades Financeiras); Flávio
Crocce Caetano, secretário de Reforma
do Judiciário; Laércio de Oliveira Pinto,
CEO da Data4Credit, e Celso Grisi , professor da FEA/USP e diretor-presidente
do Instituto Fractal.
No início dos trabalhos, Antônio Carlos Ferreira de Souza, do COAF, fez uma
explanação sobre o histórico e a estrutura do órgão responsável pela identificação de transações financeiras ilícitas que
Flávio Caetano:
secretário da Reforma do Judiciário
contribuem na prevenção e no combate
à lavagem de dinheiro. “O COAF não tem
poder de polícia, a nossa obrigação é analisar as informações, produzir Relatórios
de Inteligência Financeira (RIF) e repassá-los para as autoridades”, frisou Souza.
O executivo do COAF explicou que o
sistema do órgão recebe cinco mil ocorrências diárias sobre transações financeiras de R$ 100 mil ou mais, enviadas,
obrigatoriamente, por bancos – responsável, por enquanto, 58,9% das notificações –, empresas de cartões de crédito,
factorings, seguradoras, entre outros. “É
uma operação que sai da mesa do gerente do banco e segue diretamente para o
sistema do COAF, explicou Souza. “Ter
uma transação comunicada ao COAF não
significa, porém, uma suspeição ilícita. É
apenas uma notificação a que qualquer
pessoa está sujeita.”
Antes que uma simples comunicação
enviada ao órgão seja incluída em um RIF,
os dados são avaliados exaustivamente
por analistas treinados, que contam com
o apoio de avançada tecnologia. Feita a
análise, as informações são classificadas
por grau de risco, depois cruzadas com
a base de dados da Receita Federal e de
outros cadastros. Por ano, o COAF produz cerca de três mil RIFs, que servem
de fonte para as investigações das autoridades. “O COAF trouxe luz às grandes
transações financeiras, ajudando a coibir
a lavagem de dinheiro. Antes o Estado
era praticamente cego. Hoje o Brasil é referência internacional quando se trata de
rastreamento de recursos financeiros”,
completou Souza.
Na segunda palestra, a ACREFI recebeu Flávio Caetano, secretário da Reforma do Judiciário, que compartilhou com
a plateia do Auditório Alfredo Volpe, do
CIAB Febraban, boa parte do conteúdo da
entrevista exclusiva que concedeu à Financeiro (ler a partir da página 10), em
junho/julho 2015 financeiro 31
tecnologia
mais eficiente da tecnologia que Data é o tratamento das informações não
envolve os processos eletrônicos estruturadas pelo Analytics. “Estima-se,
e que os juízes deixarão de se atualmente, que 85% do conteúdo gerado
preocupar com atos administrati- pelas empresas não é estruturado. São
vos com a criação, em estudo, dos e-mails, pesquisas, reclamações, relatos
cargos de gestor de política judi- de casos, imagens de sistema de seguciária e de administrador judicial. rança, entre outros registros, que podem
O terceiro convidado da potencializar o seu negócio”, lembrou LaACREFI na trilha do CIAB Febra- ércio Oliveira.
Fechando a jornada da ACREFI no
ban foi Laércio de Oliveira Pinto,
CEO da Data4Credit, que mos- CIAB Febraban, Celso Grisi, professor da
trou os benefícios do Big Data FEA/USP e diretor-presidente do Instituto
Auditório Alfredo Volpi, no Ciab Febraban:
e do Analytics em transformar Fractal, falou sobre a desintermediação
debate on-line com a plateia
enorme quantidade de dados bancária no mercado de crédito (tema
que reforçou seu ponto de vista sobre o estruturados e não estruturados em in- que o acadêmico analisa em sua coluna
desafogamento do Poder Judiciário com sights que podem transformar o
a aprovação da Lei da Mediação e Arbi- negócio. “São informações que,
tragem, além facilitar o acesso à Justiça nas empresas financeiras, ajuno Brasil. “A mediação será importantís- dam no aumento da recuperasima para reduzir os 70% de congestio- ção de pagamentos em atraso,
namento em processos que aguardam na redução da inadimplência, na
prospecção de clientes, entre oujulgamento”, garantiu Caetano.
Embora o Poder Judiciário nacional tras facilidades”, aponta Oliveira.
tenha servidores bem-formados e inde- “Nos call centers é possível, por
pendência efetiva entre os três poderes, exemplo, transformar voz em
o secretário de Reforma do Judiciário texto, valorizando e monetizanLaércio de Oliveira Pinto:
contou que um relatório global do Banco do os ativos digitais”, acrescenCEO da Data4Credit
Mundial apontou falhas graves no siste- tou o CEO da Data4Credit.
A tecnologia Hadoop tem
ma brasileiro, como lentidão dos processos, dificuldade na execução das sen- sido uma importante aliada para o ar- Informe Fractal da Financeiro, pág.61),
tenças, falta de meios, etc. No entanto, o mazenamento e processamento, com mostrando que o posicionamento do conarcabouço jurídico brasileiro conta com baixo custo, de volumes expressivos de sumidor com a instituição bancária muda
uma boa Constituição, possui instrumen- informação. Isso, segundo Oliveira, torna de acordo com o cenário econômico. “Em
tos legais que são referência no exterior, muito mais barato reunir em cloud com- momento de crise, o cliente não deseja
como o Código de Defesa do Consumidor, puting essa imensidão de dados proces- ações de relacionamento com os bancos.
a Estatuto da Criança e do Adolescente, a sados. Outra característica positiva do Big Ele quer recursos para manter equilibrado o fluxo de caixa, deixando em
Lei Maria da Penha, etc. Segundo Caetasegundo plano o valor da taxa de
no, o problema é de gestão, porque temos
juros”, comentou Grisi. “Os clienmais de dois milhões de pessoas que estes buscam, nesse momento de
tão de alguma forma ligadas ao Sistema
aperto geral, instituições finande Justiça, com 17 mil juízes, 6,5 mil deceiras que sejam mais ágeis, mefensores públicos, 850 mil advogados,
nos exigentes, mais flexíveis e
500 mil servidores da Justiça e mais de
que tolerem eventuais atrasos”,
um milhão de estudantes de Direito.
ensinou o diretor-presidente do
De acordo com o secretário de ReforInstituto Fractal, antes que Panma do Judiciário, as dificuldades da Justicho agradecesse a presença de
ça devem ser minimizadas com a nova Lei
todos que acompanharam a trida Mediação, com a possibilidade de meCelso Grisi: professor da FEA/USP e diretorlha da ACREFI na 25ª edição do
lhor acesso e menor lentidão dos procespresidente do Instituto Fractal
CIAB Febraban. f
sos. Além disso, Caetano aposta no uso
32 financeiro junho/julho 2015
Preparem-se
para o 10º SIAC
O evento deste ano, que acontecerá no
dia 11 de novembro, em São Paulo,
já tem as presenças confirmadas de
Delfim Netto, Joaquim Barbosa e
do economista norte-americano Bill Rhodes
O
s empresários e os executivos do setor financeiro já têm um encontro marcado dia
11 de novembro, no Teatro Cetip, em São
Paulo. É que nessa data acontecerá o 10º SIAC (Seminário Internacional ACREFI), o maior evento do setor
de crédito no País, que este ano debaterá o tema “O
Brasil que Nós Sonhamos”. O encontro reunirá importantes personalidades das áreas econômica e jurídica, que discutirão os caminhos que possam levar
ao reequilíbrio da produção e das finanças.
Além das palestras e do debate, o 10º SIAC
apresentará uma nova rodada da pesquisa ACREFI/
TNS sobre a percepção dos principais executivos do
setor financeiro a respeito dos rumos da economia
nacional. Entre os convidados já confirmados estão
o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto; o
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e o economista William (Bill) Rhodes,
coordenador do comitê de bancos credores que renegociou a dívida externa brasileira na década de
1980 e autor do livro Banqueiro do Mundo. Depois
das palestras, os especialistas participarão de um
debate coordenado por Nicola Tingas, economista-chefe da ACREFI.
A qualidade dos palestrantes é uma das características da tradição do SIAC, que tem se mostrado
um dos mais importantes foros de ideias e de debates a respeito do cenário político-econômico nacional
e internacional. A partir da avaliação feita entre os
participantes que marcaram presença nas edições
anteriores do seminário, as reflexões apresentadas
durante o evento servem de balizamento para as decisões que serão concluídas em 2016. O evento será
apresentado pela jornalista Christiane Pelajo. f
Delfim Netto:
Economista, professor e
ex-ministro da Fazenda, Agricultura
e Planejamento
Joaquim Barbosa:
Ex-procurador da República e
ex-ministro do STF, presidente da
corte entre 2012 e 2014
William Rhodes:
CEO da William Rhodes Global
Advisors e professor da Brown
University
junho/julho 2015 financeiro 33
educaçãofinanceira
Foto: Mário Bock
Mais
responsabilidade
e menos gastança
À
s 11 horas da manhã do último
domingo de maio, mais de 100
pessoas lotavam o auditório 3 da
Expo CIEE 2015, no Pavilhão da Bienal do
Parque Ibirapuera, em São Paulo. Além de
outros 235 internautas que acompanhavam on-line o evento por webnair, a plateia estava atenta à palestra da jornalista
Denise Campos de Toledo sobre educação
financeira. A iniciativa, patrocinada pela
Cassiopae, faz parte do Projeto Finanças
na Balança da ACREFI. Por ser um público
formado basicamente por jovens, a especialista preparou sua apresentação a partir
do tema: “Como lidar com a atual conjuntura econômica, seu impacto nas finanças
pessoais e até em programas como o FIES
(Fundo de Financiamento Estudantil)”.
Para contextualizar os estudantes, a
jornalista iniciou a palestra lembrando que
durante muito tempo o crescimento do Brasil foi fundamentado no estímulo ao con-
34 financeiro junho/julho 2015
Projeto Finanças
na Balança, da
ACREFI, marca
presença da
Expo CIEE 2015
e reúne mais de
100 estudantes,
além de outros
235 participantes
via internet,
em palestra da
jornalista Denise
Campos de Toledo
sumo. “O governo acreditou que a fórmula
mágica para o crescimento contínuo da economia brasileira seria estimular o consumo,
que os investimentos, dessa forma, viriam
naturalmente. Não foi o que ocorreu. Uma
sucessão de erros aconteceu. A inflação foi
às alturas e os juros estão elevadíssimos.
Nesse ambiente de recessão da economia,
precisamos ter muita responsabilidade e
mais cuidado ao lidar com as nossas finanças pessoais”, ressaltou Denise.
A especialista lembrou também do corte de R$ 9,42 bilhões que o Governo Federal
fez no orçamento do Ministério da Educação. “Além do problema no FIES, que levou
as pessoas a recorrer à Justiça por dificuldades operacionais e por atrasos nos contratos, esse ajuste agravou ainda mais a situação de outros programas educacionais,
como o Pronatec e o Prouni. No caso do corte da verba do FIES, muitos estudantes foram obrigados a sair atrás de alternativas,
como as linhas de crédito negociadas com
os bancos por meio das universidades, o
crédito consignado ou de recursos do sistema bancário convencional. Só que é preciso tomar cuidado, pois os juros são bem
mais elevados e os prazos de pagamentos
mais curtos”, advertiu a jornalista. Antes de
abrir para as perguntas dos jovens, Denise
disse que, “se tudo der certo, no próximo
ano, as coisas começam a se encaixar na
economia. No entanto, é preciso não descuidar do seu planejamento financeiro”.
De olho vivo também nos acordos internacionais que envolvem o País, José Luis
de Souza Nascimento, de 35 anos, questionou sobre as chances de sair do papel
o contrato entre a China e o Brasil para a
implantação do projeto ferroviário transcontinental, que deve percorrer o Brasil de
leste a oeste, atravessando a Cordilheira
dos Andes até chegar aos portos peruanos.
Na visão da jornalista, a China tem mais
interesse do que o Brasil em buscar estabilidade no fornecimento dos itens mais
demandados pelo seu país, em especial, a
soja, o minério, o açúcar e os derivados de
milho, produtos que o Brasil tem em abundância. “O desafio são os problemas do
ponto de vista técnico e de logística. Para
o Brasil, o acordo é positivo. Embora haja
necessidade de cuidado porque a China
coloca seu interesse de uma forma muito
incisiva. O Brasil, por sua vez, não tem mais
dinheiro”, explicou ela.
Já o estudante de contabilidade João
Gallo, de 19 anos, perguntou a respeito do
tempo que será necessário para voltarmos
a ter uma economia estável. Segundo Denise, uma das apostas para 2016 é que a
inflação caia. “Isso dará uma folga no orçamento das famílias e nos custos das empresas. Esse diferencial permitirá ao Banco
Central reduzir os juros, o governo tende a
ter uma situação financeira mais equilibra-
da, além de diminuir o passivo das contas
contraídas no ano passado. Por outro lado,
há uma aposta grande nos projetos de infraestrutura, nos acordos comerciais e na
revisão da carga tributária dos Estados. O
desemprego, porém, pode afetar muito a
capacidade de recuperação da economia
no ano que vem. Mesmo assim, espero um
crescimento de 1% do PIB (Produto Interno Bruto), saindo do patamar negativo, e a
tentativa do governo em derrubar a inflação anual para 4%. Isso tudo, no entanto,
depende de todo o esforço que o governo
está fazendo hoje”, ponderou Denise.
Pela internet, o estudante Carlos Alberto Machado quis saber se esse fraco desempenho da economia não afeta na busca
pelo primeiro emprego. Segundo a jornalista, sim, dificulta muito aqueles que procuram uma oportunidade de trabalho, pois o
atual momento é bem pior do que no início
do ano passado, quando estávamos numa
condição de quase pleno emprego. “Saímos
de uma taxa de 4% de desemprego para 7%
e que já atinge todos os setores da economia. Do final do ano para cá, a demanda por
emprego cresceu e os cortes começaram a
aparecer de uma forma muito expressiva.
As empresas não estão conseguindo segurar nem os funcionários mais qualificados.
Os jovens mais preparados podem ter melhor oportunidade no mercado de trabalho,
mas deverão se conformar com uma remuneração menor”, analisou a palestrante.
Antes de encerrar, Denise disse, ao
abordar a onda de denúncia de corrupção,
que a transparência é a melhor forma de
evitar uma estrutura corrupta no Estado
brasileiro. Afirmou também que o governo
deve encolher, ficando apenas com as áreas
prioritárias, cuidando das suas obrigações
básicas, prestando melhores serviços em
saúde e educação. “Ao tentar dominar tudo,
abre-se margem para a ineficiência, para a
gastança exagerada e para o uso político.
Se o Estado for menor, a possibilidade de
roubalheira será também menor”, finalizou
Denise Campos de Toledo, convidando a todos para que estejam atentos às próximas
edições do Finanças na Balança, consultando o site da ACREFI (www.acrefi.org.br). f
junho/julho 2015 financeiro 35
artigo
Denise Campos de Toledo
H
á uma angústia meio geral
entre os brasileiros quanto
à situação atual da economia. É uma enxurrada de dados ruins,
que não têm mais aquela conotação de
pessimismo, de que o governo sempre
reclamava. Agora, até o próprio governo admite recessão neste ano, com inflação acima de 8%, superando muito
o teto da meta, e ainda anuncia mais e
mais cortes de gastos, que, na prática,
Denise Campos de Toledo:
são cortes de investimentos, com reflejornalista, comentarista de
xos sobre o desempenho da economia
economia da Rádio Jovem
Pan e do Jornal da Gazeta
de um modo geral. Fora isso, pra tentar
e editora do site www.
garantir o ajuste fiscal, medidas foram
economiaemfoco.com.br
tomadas também no sentido de ampliar
a arrecadação, via aumento de impostos, sem esquecer dos juros em alta para fazer com
que a inflação caminhe para o centro da meta (4,5%),
até o final do ano que vem.
Toda essa estratégia pode até começar a colocar a
economia nos eixos, no que se refere às finanças públicas e à inflação. Só que os desdobramentos comprometem a perspectiva de retomada de atividade. Mais
que isso, podem fazer com que o processo recessivo
se intensifique ou dure mais, com reflexos também
em 2016. Nesse caso, o desempenho da economia no
próximo ano também pode ficar comprometido, pela
herança que vai ficar deste ano.
É a dúvida que está no ar...
No curto prazo, não há dúvidas. A recessão está aí,
com retração de atividade dos vários setores, queda
da demanda doméstica, menos investimentos, demissões, processo que pode levar a uma retração maior
do que se previa. Nada contra o ajuste fiscal ou o controle da inflação. Ao contrário. São, de fato, pontos fundamentais para viabilizar a retomada do crescimento
econômico, com uma base mais sustentável. O problema é a fórmula adotada. Com exceção de uma ou
de outra medida, como as alterações de benefícios da
Previdência, que davam margem para fraudes, o ajuste
fiscal não está vindo de uma revisão maior da estrutura de gastos do governo, mas do aumento de carga
tributária e do corte de investimentos, com um custo
pesado para a economia e a população. Ganhos sociais
36 financeiro junho/julho 2015
estão sendo comprometidos, o desemprego sobe e a
renda cai.
Os juros reforçam essa situação, tentando atacar
o consumo, que já não é o grande responsável pela inflação, como até algum tempo atrás. O tarifaço, os aumentos de preços de alimentos, a inércia inflacionária,
o repasse da elevação de custos têm tido peso muito
maior. Mas o Banco Central que, no passado, endossou
o esforço do governo no sentido de estimular o crescimento via consumo, derrubando demais os juros quando a inflação já estava pressionada, hoje tenta reverter
as expectativas com uma política monetária austera demais, diante do quadro recessivo.
Pelo andamento da economia, seria hora de cortar
e não de elevar os juros, mas chegamos à pior das
combinações: recessão com inflação nas alturas E
medidas, em princípio, contraditórias vão sendo adotadas para corrigir, simultaneamente, os sérios desvios de rota da economia.
Repito: os objetivos estão corretos. O problema
é a forma, a intensidade da medicação, cujos efeitos
colaterais podem deixar o doente debilitado por um
tempo maior do que se previa. Deixaram a doença
avançar demais, sem impor uma dieta mais restritiva. Os problemas se agravaram e, agora, o tratamento, além de não ser o ideal, pode fazer o doente
piorar antes de melhorar.
Algum oxigênio extra pode vir da aceleração de
investimentos em infraestrutura, através do novo programa de concessões. Dependendo das condições de
cada projeto, pode haver uma boa atratividade para a
iniciativa privada e para o capital externo. Outra brecha de retomada da atividade viria de uma melhoria da
competitividade da produção brasileira, dando condições para uma expansão das vendas externas de manufaturados. Mas, nos dois casos, é ver para crer. O histórico de encaminhamento dos projetos que dependem
do governo não é muito animador e a competitividade,
na prática, tem sido até comprometida pelas medidas
relacionadas à correção de rota da economia. Medidas
que reforçaram o chamado “custo Brasil”.
Mas, pelo menos, parou a insistência na manutenção
dos equívocos que jogaram a economia na atual situação. É aguardar a reação ao tratamento e esperar que
2016 também não seja um ano perdido. f
Artigo enviado em 17/6/2015
Até onde a situação
vai piorar, antes de melhorar
artigo
A importância da
regulação e supervisão
comportamental ou de conduta
para o Sistema Financeiro Nacional
Artigo enviado em 12/6/2015
A
regulação e supervisão comportamental ou de
conduta trata da relação entre as instituições
financeiras e seus clientes nos mais diversos
níveis de atuação: atendimento, acesso, oferecimento de
produtos e serviços, transparência, operações de crédito, contratos, tarifas, canal de comunicação, propaganda,
suitability, enfim, em todos os aspectos que, de alguma
forma, estejam relacionados ao que popularmente se conhece como boas práticas bancárias e financeiras.
Esse ramo da regulação e da supervisão tem sido objeto de amplo e intenso debate nos mais variados fóruns
e organismos internacionais que discutem temas de interesse dos sistemas financeiros e dos consumidores. O
debate intensificou-se após a crise de 2007/2009, a qual
evidenciou a importância da proteção do cliente de produtos financeiros para a estabilidade financeira. Nesse
sentido, a crise também revelou que a ausência de uma
regulação forte, que atue em prol dos consumidores, poderia colocar em risco todos os benefícios decorrentes
do processo de inclusão financeira.
Autoridades reguladoras da União Europeia, do Reino
Unido, dos Estados Unidos, apoiadas por ações do Grupo
dos 20 (G20), do Financial Stability Board (FSB), do Banco Mundial (World Bank) e da Organization for Economic
Co-operation Development (OCDE), entre outros, têm
dedicado amplo espaço em suas agendas e despendido
esforços significativos para que esse conjunto de regras
estimule o equilíbrio entre a estratégia de negócios das
instituições financeiras e os interesses dos clientes.
No caso dos Estados Unidos, além de terem sido instituídos requerimentos legais específicos por meio da lei
conhecida como Dodd-Frank Act, foi criada uma agência
para tratar exclusivamente de assuntos consumeristas,
o que inclui as instituições financeiras.
A recomendação básica, comum a todos, é a de que
essa relação se dê com base em princípios éticos e
em valores e compromissos claros e definidos. Para
Sergio Odilon dos Anjos
permitir ganhos de eficiência, muitos
reguladores passaram também a disSergio Odilon dos Anjos:
por de novos instrumentos legais coconsultor e sócio titular da
ercitivos, mais ágeis e adequados à reConsultoria Comportamental
alidade da economia e dos mercados.
– Treinamento em Produtos
As ações legais e regulatórias de
e Serviços dos Mercados
proteção aos consumidores de serviços
Financeiros e de Capitais
financeiros contam, ainda, com o apoio
de iniciativas voluntárias, algumas funcionando como
uma espécie de autorregulação ou supervisão auxiliar
dos legisladores e reguladores. Por exemplo, em 2013
foi criada, a partir de um grupo informal composto por
autoridades de supervisão, a International Financial Consumer Protection Organization (FinConet).
Presente a importância dos sistemas financeiros
para o desenvolvimento econômico e social, o compromisso declarado do organismo é o de reforçar, por
meio da troca de experiências de supervisão entre os
reguladores, a proteção aos consumidores de produtos financeiros, aumentar a confiança entre as partes
e reduzir o risco sistêmico.
Em termos conceituais, a regulamentação comportamental ou de conduta representa uma vigorosa ferramenta de mitigação de riscos, permitindo, se bem compreendida e adotada pela instituição financeira, que uma
atuação preventiva, prudencial, focada na identificação
da origem dos problemas que cercam a relação entre
as partes, resulte em redução de custos e evidentes ganhos de imagem. Visto sob outro ângulo, a não adoção
de políticas que busquem a melhoria dessa relação trará
prováveis prejuízos reputacionais e financeiros aos intermediadores financeiros.
O Banco Mundial, em sua publicação “Good Practices
for Financial Consumer Protection”, antes de relacionar
as 39 ações que considera como boas práticas, resume
em poucas palavras sua visão sobre assunto (em tradução livre): “Um funcionamento adequado das regras de
junho/julho 2015 financeiro 37
proteção ao consumidor fornece efetivas salvaguardas
para o cliente de produtos financeiros, ao mesmo tempo em que dá poderes a esse mesmo consumidor para o
exercício de seus direitos e para o cumprimento legal de
suas obrigações”. Vale ressaltar, a definição evidencia a
importância de cada um nesse processo, com ênfase nos
direitos e obrigações de ambas as partes.
É muito importante, portanto, que as instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN) entendam corretamente todo esse movimento e o que ele
significa para que possam se beneficiar, em conjunto
com seus clientes, de todo o processo. Nesse sentido, no caso brasileiro,
muito já foi feito pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo Banco
Central do Brasil.
Denominado pelo regulador
como “Medidas de Correção de Assimetrias de Informação, Estímulo à
Concorrência e Aumento da Transparência”, ao longo dos últimos
anos foram baixadas normas que
têm exatamente o propósito de criar
condições adequadas à escolha, por
parte do cliente, da instituição financeira com a qual pretenda se relacionar. Ao permitir a comparação
de preços dos produtos e serviços
financeiros, a regulação estimula a criação de um ambiente verdadeiramente comercial, visando beneficiar
não apenas as partes diretamente envolvidas, mas a
sociedade e a economia como um todo.
Integram essa regulamentação as normas sobre
transparência contratual, portabilidade das informações cadastrais, portabilidade do salário, portabilidade do crédito, contas de depósitos, rede bancária,
correspondentes no País, tarifas bancárias, tarifas de
cartões de crédito, custo efetivo total (CET), valor efetivo total (VET), certificação, ouvidoria, suitability, apenas para citar as mais conhecidas.
Na construção desse modelo, além dos estudos técnicos relacionados à estabilidade financeira que precedem a edição de normas por parte do CMN e do Banco
Central, foi muito importante e decisiva a participação
de entidades que atuam na defesa do consumidor, em
especial do Ministério Público Federal (MPF), por meio
da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão – Consumidor e
Ordem Econômica (3ª CCR) e da Secretaria Nacional do
Consumidor (Senacon), além da Comissão de Defesa do
Consumidor da Câmara dos Deputados. Essa parceria
não se limitou ao processo de elaboração das minutas,
mas resultou também no posterior estabelecimento de
convênios de cooperação e de troca de informações entre os mencionados órgãos e o Banco Central, de forma
a manter perene e efetiva essa relação.
Entretanto, não obstante esse arcabouço regulatório
e de supervisão seja citado e considerado, inclusive internacionalmente, como referência, o modelo brasileiro
necessita de aperfeiçoamentos.
Isso pode dar-se não apenas por
meio de outras medidas normativas
– ou mesmo legais –, mas, também,
através da adoção de medidas voluntárias de transparência, de autorregulação, de capacitação, de educação
financeira, de certificação dos empregados das instituições financeiras, de
aperfeiçoamento da governança das
instituições, do engajamento das associações de classe, enfim, de tudo
que diga respeito à possibilidade de
melhoria da relação dos clientes e as
instituições financeiras.
Esse cenário torna-se ainda mais
premente e desafiador se forem levadas em consideração a dinâmica
e a interconexão dos mercados financeiros com outros
mercados, em especial o de capitais e de seguros, com
a frequente introdução de novos produtos e serviços, de
opções na concessão e na forma de distribuição do crédito, das regras de tributação e de incidência de compulsórios, além do oferecimento de diversos canais de venda.
Exemplos claros estão no dia a dia das pessoas: internet banking, transações via celular, operações praticadas
por meio de correspondentes no País, crédito consignado,
crédito imobiliário, crédito direto ao consumidor, consórcio, moedas virtuais, arranjos de pagamentos, instituições
de pagamento – o que inclui o imenso mercado de cartões
de débito e de crédito –, entre outros, sem mencionar demais produtos também comercializados na rede bancária,
como seguros e títulos de capitalização.
Sob o aspecto institucional, reconhecendo a relevância do tema, o Banco Central deu um passo decisivo ao
aperfeiçoar sua estrutura organizacional. Para tanto, foi
criada a Diretoria de Relacionamento Institucional e Cidadania (Direc), cujo nome por si só define a importância
“À comparação
de preços
dos produtos
e serviços
financeiros,
a regulação
estimula a criação
de um ambiente
verdadeiramente
comercial”
38 financeiro junho/julho 2015
artigo
Sergio Odilon dos Anjos
e alcance da área, e uma unidade específica na Diretoria
de Fiscalização (Difis), denominada Departamento de Supervisão de Conduta (Decon), para verificar a aderência
das instituições financeiras às regras e aos princípios estabelecidos. Essa alteração em seu organograma trouxe
expressivo reforço às ações regulatórias, sob a responsabilidade da Diretoria de Regulação (Dinor).
Portanto, a atuação do Banco Central se dá de forma coordenada, tratando no mesmo processo os aspectos regulatórios, preventivos, de acompanhamento
das reclamações, de educação financeira e de fiscalização, o que inclui, caso necessário, a instituição de
processos sancionatórios.
Ainda assim, sob o aspecto formal, revela-se necessário que esse conjunto de ações seja
completado com a edição de regras
que estabeleçam um compromisso
expresso da instituição financeira
com todo o processo que envolva o
cliente. Experiência bem-sucedida
nesse sentido foi feita por meio da
norma que trata da obrigatoriedade
de as instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central, quaisquer
que sejam, instituírem uma política
de responsabilidade socioambiental.
Algo do gênero poderia ser feito no que diz respeito à regulação e supervisão comportamental, ou seja,
a norma atribuiria responsabilidade à própria instituição (e a seus dirigentes) para que ela estabeleça,
com base em recomendações mínimas do regulador,
as regras e as condições que regerão essa relação. Na
condição de formuladora da própria política, caberia à
instituição, em primeiro lugar, cumprir o que ela mesmo estabeleceu. Também aqui se aplicaria o conceito
de relevância e proporcionalidade, por meio do qual
cada instituição avalia seus riscos conforme a natureza e a complexidade de suas operações e serviços.
O regulador funciona como indutor de boas práticas e
fiscalizador dos compromissos assumidos.
De toda forma, baixada ou não a regulamentação
complementar, é imprescindível o engajamento de todas
as instituições financeiras nesse processo, que se deve
dar da forma mais rápida e efetiva possível.
A rigor, algumas instituições já adotam práticas
que levam em consideração esse novo cenário, incluindo em suas políticas internas recomendações
que buscam melhorar a relação com o consumidor dos
produtos e serviços financeiros oferecidos. Algumas
associações de classe também têm realizado esforços
para que haja um maior envolvimento de seus associados, criando códigos de conduta ou promovendo
ações de autorregulação. Tudo isso é importante, mas
não se tem revelado suficiente.
A realização de operações que resultem em demandas judiciais, ações do Ministério Público, solicitações
recorrentes do Procon, aumento do número de reclamações e denúncias, entre outros, tendem a afetar fortemente a imagem geral das instituições financeiras.
Nunca é demais lembrar que a imagem é o bem mais
caro às instituições. Como o risco de imagem no sistema
financeiro se dissemina com maior velocidade do que em
outros segmentos, provavelmente
por conta da natureza da atividade e
pelo expressivo número de sociedades que o integra, o assunto deve ser
encarado de forma ampla.
Exemplos de ações que buscam
melhorar a parceria entre a instituição e seus clientes podem estar
entre aqueles relacionados à melhoria do processo de transparência como um todo, por meio de contratos mais claros, da evidenciação
dos direitos e obrigações, do aperfeiçoamento dos canais e da forma de venda dos serviços e produtos, da
clareza dos extratos, do aperfeiçoamento do sistema
de atendimento ao consumidor e de ouvidoria, do oferecimento de alternativas de resolução de pendências,
da instituição de compromissos públicos sobre a política adotada, entre outros.
Portanto, as instituições têm motivos e incentivos
suficientes para adequar seus modelos de negócio à
realidade aqui destacada o mais rapidamente possível, de preferência adotando posições coordenadas e
combinadas entre si. Isso criaria condições para deixar mais transparentes os direitos e obrigações das
partes envolvidas, além de reforçar e evidenciar o papel da intermediação financeira como elemento vital
no desenvolvimento econômico e social.
Para produzir resultados mais rápidos e efetivos,
essa ação deve ser realizada em conjunto com os reguladores, com os entes de defesa do consumidor e com
os próprios clientes, nesse caso mediante pesquisas de
opinião, avaliação de sugestões e a realização de treinamentos envolvendo as partes interessadas. f
“O regulador
funciona como
indutor de
boas práticas e
fiscalizador dos
compromissos
assumidos”
junho/julho 2015 financeiro 39
pautadodia
Ciclo de Debates
Credibilidade
para resgatar
investimentos
O Brasil precisa recuperar sua credibilidade para
trazer de volta os investimentos, principalmente
em infraestrutura, que deverão ser os principais
impulsionadores da retomada econômica. A tese foi
defendida pelos economistas Sérgio Vale e Tereza
Fernandez, sócios da consultoria MB Associados.
Eles participaram da segunda edição do
Ciclo de Debates ACREFI, dia 4 de maio, no qual se
discutiu a conjuntura e as perspectivas da economia
brasileira. Acompanhe os principais temas
debatidos pelos economistas
40 financeiro junho/julho 2015
LUZ NO FIM DO TÚNEL
Tereza Fernandez – O segundo
a “bala de prata”: a volta da CPMF.
trimestre começou com certo alívio,
em especial do mercado financeiro,
que é binário: ou compra ou vende,
e decidiu comprar. Mas, é cedo para
dizer que as coisas se acomodaram
na nossa economia.
Sérgio Vale – Pode-se dizer que
o cenário melhorou, ainda mais
porque estava muito ruim. Ninguém
poderia imaginar que o novo governo Dilma começaria com tantas
notícias negativas. Mas a presidente “terceirizou”: a parte econômica
ficou com Joaquim Levy e a política
com Michel Temer. Mas não se pode
considerar que passamos a ter um
equilíbrio estável. Ao contrário, a
situação é frágil porque nem Levy
nem Temer têm a caneta, ou seja,
não têm a palavra final.
OS RISCOS
Tereza Fernandez – A situa-
BUSCA DE SAÍDAS
Tereza Fernandez – A presidente Dilma vai tentar manter um
equilíbrio aparente na economia.
A aposta é que a economia ainda
não piorou o suficiente para sensibilizar a população em geral. Mas,
quando a população perceber o que
está acontecendo, a situação pode
se agravar. A população pode ter a
percepção de que estão tirando dela
e que não devolverão.
Sérgio Vale – Quando Joaquim
Levy foi escolhido, a presidente
só pensava em uma coisa: evitar
a perda do grau de investimento. Conseguiu, por enquanto, esse
objetivo. Mas, é possível que o governo não consiga cumprir a meta
de ter superávit de 1,2% do PIB. Aí,
terá duas opções: reconhecer que
não teve sucesso e negociar com
as agências de classificação de
risco; ou usar o que se considera
ção de Joaquim Levy é delicada.
Pode ser que o Brasil não consiga
cumprir o objetivo de superávit
de 1,2%. Mesmo que ressuscite a
CPMF, aumentando a arrecadação,
cria-se uma dificuldade: como a
bancarização cresceu nos últimos
anos, a chamada nova classe C tem
mais consciência do que essa medida representa e vai perceber que
pagará a conta.
Sérgio Vale – O País sofre com
tantos anos de desajustes, que começaram em 2006, no segundo
mandato de Lula. O ajuste não se
fará em apenas um ano, não é possível, o que aumentará o desgaste de
Dilma e de Lula, natural candidato a
voltar ao Planalto na próxima eleição. O risco político é grande, podem
voltar manifestações de porte como
aconteceu em março. O governo já
começou com sérias dificuldades e é
difícil retomar o caminho.
INFRAESTRUTURA,
A BOLA DA VEZ
Tereza Fernandez – O Brasil
continua a ser atraente para investidores, inclusive os estrangeiros.
Estamos nos tornando realmente
o celeiro do mundo. E existe a percepção de que o País vai melhorar
a longo prazo – o problema é qual
o tamanho desse longo prazo. A infraestrutura é o único setor que vai
puxar investimentos. Deve-se lembrar, no entanto, que as grandes
construtoras estão sendo acusadas na Operação Lava Jato e todas
elas participam de aeroportos, por
exemplo.
Sérgio Vale – Dos grandes paí-
ses, o que mais pode atrair investimentos em infraestrutura é o
Brasil. Se tiver o arcabouço necessário, o investimento vai deslanchar nessa área. Mas o problema
é que o Brasil, depois de Fernando
Henrique e do primeiro mandato de
Lula, parece ter voltado ao passado, o que provoca receio no investidor externo.
A VOLTA AO PASSADO
Tereza Fernandez – Retrocedemos em relação à produtividade.
Basta ver as nossas cadeias produtivas em comparação com as de
outros países. Há exceções, como o
setor de papel e celulose, mas no
geral estamos em desvantagem.
Na indústria automobilística, por
exemplo, ficamos ultrapassados.
As empresas em geral começaram
o ano sem saber se teriam água,
luz e crédito. Também ganhou força outra vez a visão estatizante,
como se viu na adoção do modelo
de partilha para o petróleo. A Petrobras teve que segurar sozinha
todo o investimento.
Sérgio Vale – A abertura da economia começou no governo Collor e
seguiu com o Plano Real. Mas nos
últimos oito anos o Brasil deixou
a produtividade de lado e passou
a olhar apenas para a demanda.
O crescimento veio pelo consumo,
mas não se sustenta. É preciso mudar, mas tem que ser com uma política de Estado, não de um ministro.
CARROS E IMÓVEIS
Tereza Fernandez – O mercado automobilístico, no segmento de veículos comerciais leves,
cresceu em média 10% ao ano de
2003 a 2012. Nenhum setor cresce nesse nível por muito tempo. E
junho/julho 2015 financeiro 41
pautadodia
Ciclo de Debates
todos estão preocupados com o que aconteceu com o crédito
a veículos, em que a
inadimplência cresceu
bastante nos anos de
mercado aquecido, em
que muitos compraram
carros zero-quilômetro
e tiveram dificuldades
para pagar. Quanto ao
mercado externo, nossos carros em geral
não têm qualidade para
Sérgio Vale:
competir. Quando vou
sócio da consultoria MB
a reuniões com exeAssociados
cutivos de empresas
pergunto: “quem tem carro brasileiro?”. Pouquíssimos levantam
a mão. Atualmente, o México está
à nossa frente no setor automobilístico. O mercado de seminovos
está mais atrativo, inclusive para
o crédito.
Sérgio Vale – No setor imobiliário, tivemos um “boom” que durou
anos. Mas a retração começou em
2014. Não houve bolha, o mercado
se retraiu até porque teve um período relativamente longo de alta.
Os bancos não veem problemas
no atual período de retração dos
imóveis. A tendência é que a queda
aconteça principalmente no segmento de imóveis comerciais, com
preços e lançamentos em queda.
“O que falta
é credibilidade.
Essa deve ser
a prioridade
do ministro
da Fazenda”
POLÍTICA X ECONOMIA
Tereza Fernandez – Quando
Dilma ganhou em 2010 o cenário
era tranquilo. Na próxima eleição
um eventual candidato de esquerda será visto com restrições. Será
difícil resgatar a credibilidade antes disso, não vai depender apenas
do ministro da Fazenda e do Banco
42 financeiro junho/julho 2015
Tereza Fernandez:
sócia da consultoria MB
Associados
Central. Para isso, vamos precisar
de um estadista.
Sérgio Vale – Não existe vácuo
na política. Dilma abdicou do comando da política e Eduardo Cunha
e Renan Calheiros ocuparam o espaço. Joaquim Levy passou a ter o
comando da economia. Mas não se
pode esquecer que o Legislativo e
um ministério não têm todo o poder
do Executivo. Muitas coisas dependem da caneta do presidente.
“SE EU FOSSE MINISTRO...”
Tereza Fernandez – A prioridade do ministro da Fazenda tem que
ser a infraestrutura. A maior parte do modelo para esse setor está
delineado, mapeado. O que falta é
credibilidade. Essa deve ser a prioridade do ministro, seja quem estiver no cargo. É preciso ter postura
e mostrar que é digno de credibilidade, ou seja, mostrar o que vai fazer e convencer de que não haverá
mudanças no meio do caminho.
Sérgio Vale – Em primeiro lugar,
o ministro precisa mostrar transparência, que é essencial para arrumar a casa. Em segundo, deve
estimular a produtividade. E precisa
também aproveitar
as
oportunidades
que existem no setor
de infraestrutura. Ter
um plano para concessões, por exemplo, que seja claro
em pontos como a
taxa de retorno. Não
se pode esquecer da
grande importância
da credibilidade. O
País precisa de um
fiel garantidor. f
painelcetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Financiamentos de veículos
somam 2,2 milhões no ano
Do total financiado nos primeiros cinco
meses de 2015, 1,02 milhão foram unidades
novas e 1,248 milhão de usadas
N
os primeiros cinco meses do ano, o Brasil financiou 2,268 milhões de veículos,
entre automóveis de passeio, comerciais leves, motos e pesados. O resultado mostra
uma queda de 11,9%, em relação ao mesmo período do ano passado. Do total financiado no ano,
1,02 milhão foram unidades novas e 1,248 milhão
de usadas.
O levantamento é da Unidade de Financiamentos da Cetip, que opera o Sistema Nacional de
Gravames (SNG), base integrada de informações,
que reúne o cadastro das restrições financeiras
de veículos dados como garantia em operações de
crédito em todo o Brasil. O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja suscetível
a fraudes sistêmicas.
“As incertezas em relação à economia brasileira e a contínua queda do índice de confiança do
44 financeiro junho/julho 2015
consumidor podem justificar o recuo no volume de
veículos financiados no País”, afirma Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da Unidade de Financiamentos da Cetip.
Na contramão da queda dos financiamentos, os
automóveis leves de quatro a oito anos de uso apresentaram uma alta de 1,2% em relação ao mesmo
período do ano passado e somaram 632 mil unidades financiadas de janeiro a maio de 2015.
O mesmo movimento foi observado nos financiamentos de motos. Enquanto as unidades novas
apresentaram queda de 11% de janeiro a maio de
2015, na comparação com o mesmo período do
ano passado, as vendas financiadas de motos com
quatro a oito anos de uso cresceram 13,1%. “Com
o desaquecimento da economia, os consumidores
estão optando por veículos mais baratos e, assim,
os usados ficam mais atrativos”, explica Lavorato. f
junho/julho 2015 financeiro 45
supermáquinas
Fotos: Divulgação
Perfeição
Equipado com motor V12 biturbo 6.6 litros, de 570 cavalos
de potência, Rolls-Royce Ghost Series II chega ao mercado
brasileiro por R$ 2,9 milhões. A importadora oficial da marca
espera vender por aqui até 15 unidades por ano
M
esmo em período de contenção de gastos é praticamente impossível ficar indiferente a um Rolls-Royce. A mais
recente tentação da marca britânica é o Ghost Series II,
que chega ao mercado brasileiro por R$ 2,9 milhões, valor que pode
variar em tempos de câmbio instável. Equipado com motor V12 biturbo 6.6 litros, de 570 cavalos de potência, o carro atinge os 100
km/h em 4,9 segundos, com velocidade máxima limitada eletronicamente em 250 km/h. Se você ficou interessado, saiba
que essa joia sobre rodas será
46 financeiro junho/julho 2015
vendida aqui apenas sob encomenda, com espera de pelos menos
seis meses. Nada disso, porém, preocupa os representantes da Via
Italia, importadora oficial da marca, que preveem comercializar por ano, no Brasil, até 15 unidades do modelo.
britânica
Com comprimento de 5,40 metros, o Ghost Series recebeu poucas alterações em relação à versão apresentada há seis anos: a
grade dianteira está um pouco menor, o para-choque dianteiro tem
novo desenho, os faróis são de LED, o vinco do capô passou por
leve modificação e a linha lateral do carro foi redesenhada. Também foram acrescidos cromados nas entradas de ar dianteiras.
Das pistas da F1, o lançamento da Rolls-Royce traz um sistema que permite detectar as condições do asfalto
e executar programação de ajuste automático nas trocas de marchas. No interior, o carro foi equipado com tela
julho/julho 2015 financeiro 47
supermáquinas
Motor
Estrutura
V12 biturbo de 6.6 litros, 48 válvulas
Injeção direta de combustível
Capacidade cúbica: 6.592cc
Potência máxima: 570 cv (420kW) a 5.250 rpm
Torque máximo: 780 Nm a 1.500 rpm
Portas: 4
Lugares: 5
Comprimento: 5,39 m
Largura: 1,94 m
Altura: 1,55 m
Distância entre-eixos: 3,29 m
Capacidade do porta-malas: 4,9 litros
Capacidade do tanque de combustível:
82,5 litros
Peso: 2.360 kg
Transmissão
Automática de 8 velocidades
Desempenho
Velocidade máxima: 250 km/h (limitada)
Aceleração de 0 a 100 km/h: 4,9s
Aceleração de 0 a 1000 metros: 23,1s
48 financeiro junho/julho 2015
sensível ao toque, conexão wi-fi e recepção de imagens em HD. Os bancos
foram redesenhados e os traseiros
permitem inclinação, aquecimento,
resfriamento e massageadores. Seu
sistema de som apresenta ainda 18
alto-falantes, que distribuem e equilibram o áudio de maneira harmoniosa. Não faltam tentações em mais um
modelo da marca que encanta reis,
rainhas, chefes de Estado e – por que
não? – meros plebeus. f
personagem
O grande anfitrião
Aos 88 anos, Ático Alves de Souza, maître do
restaurante Parigi, em São Paulo, há 60 anos encanta
chefes de Estado e clientes anônimos com o sabor do
bollito, prato camponês clássico do Norte da Itália
Por Gustavo Girotto e Paulo Giandalia (foto)
N
ão importa o cargo, sua audiência na mídia
ou o tamanho da sua conta bancária, Ático
Alves de Souza, maître especial do Restaurante Parigi, em São Paulo, não se altera diante da
fama dos clientes cinco estrelas. Aos 88 anos, ele é
reverenciado por exercer a sua função sempre com
a mesma simplicidade, elegância e competência. São
chefes de Estado, grandes empresários, diretores de
cinema, tenores, escritores ou até mesmo frequentadores anônimos. Sua cordialidade e discrição não
se abalam. Talvez seja por isso que se tornou uma
referência entre os apreciadores da boa mesa.
“O primeiro Presidente da República que eu servi
foi Getúlio Dornelles Vargas, líder civil da Revolução
de 1930, que pôs fim à República Velha”, faz questão de enfatizar Ático. “Depois disso, vieram mais de
nove ou dez presidentes. Não posso esquecer também do Rei Juan Carlos I, da Espanha, e sua esposa,
a Rainha Sofia, e do casal real da Suécia, Rei Gustavo
e a Rainha Sílvia (brasileira), Nelson Mandela, Pablo
Neruda, Gore Vidal, José Carreras, Luciano Pavarotti.
A lista é grande; lamento não me lembrar de todos”,
desculpa-se com sua natural amabilidade.
Às quartas-feiras e aos domingos, Ático reina
absoluto no Parigi, à frente do carrinho do bollito, prato camponês clássico do Norte da Itália, que
simploriamente pode ser descrito como um mix de
carnes cozidas. Com enorme destreza, corta músculos, paletas de vitela, língua, charques, frangos
e os embutidos cotechino e zampone. Em seguida,
coloca pirão, repolhos, batatas-doces, mandioquinhas, cenouras e cebolas. Com o prato finalizado,
chama o cliente pelo nome e sugere à um assistente que leve os acompanhamentos especiais:
50 financeiro junho/julho 2015
molho de raiz forte, mostarda di cremona e salsa
verde. “Faço o que gosto há 60 anos. Sinto prazer
em servir o bollito aos clientes” orgulha-se o famoso maître.
“Esse prato veio do Restaurante Ca’d’Oro, que
ficava na Rua Barão de Itapetininga, no Centro de
São Paulo, antes de migrar, em 1956, para o Hotel Ca’d’Oro, na Rua Basílio da Gama, e depois, em
1965, para a Rua Augusta, com a inauguração do
Grand Hotel Ca’d’Oro, já na sua versão cinco estrelas, recorda-se ele. “Nada disso mudou com o
tempo. O bollito continua sendo servido da mesma
forma. É simples como eu, um retirante que veio
tentar a vida na cidade grande”, diverte-se Ático.
O homem de baixa estatura, baiano de Monte Santo, que hoje se tornou uma referência como
anfitrião, teve uma infância sofrida. “Perdi meu pai
com seis anos, mas fui criado pela minha mamãe
como um príncipe pobre em uma família de 12 irmãos. Ela foi para a roça para nos manter. Tudo o
que aprendi devo a ela e ao Fabrizio Guzzoni, fundador do Ca’d’Oro, e aos clientes que atendi e continuo
atendendo”, destacou Ático, relembrando que chegou a São Paulo, em novembro de 1949, carregando
na bagagem somente 45 dias de escolaridade na
Bahia. “O segredo do sucesso, em qualquer ramo
da vida, é fazer aquilo de que se gosta. Isso nos
mantém ativos”, diz. Questionado sobre quando vai
se aposentar, o maître é enfático: “Faz 33 anos que
tenho uma casa em Biritiba Mirim, interior de São
Paulo, e um dia eu disse à minha esposa: amanhã
vamos nos mudar; mas isso nunca aconteceu. Pretendo continuar firme por aqui, só não vale contar
isso para ela (risos)”, finalizou. f
Ático de Souza:
maître do
restaurante Parigi
julho/julho 2015 financeiro 51
Foto: shutterstock
estilo
El
compañero
Sozinho ou na companhia de amigos,
o charuto atrai apreciadores que tentam decifrar sua
complexa combinação de sabores
Por Gustavo Girotto
C
Foto: Divulgação
onhecido no passado como um leNa prática, segundo o especialista, o
gítimo el compañero de executivos,
charuto, por ser um tipo de tubo, o corte
escritores e intelectuais, o charucorreto pode favorecer ou dificultar o fluto cada vez mais ganha popularidade nos
xo do sabor. “Um corte reto deixa o charuto
momentos de descontração de alguns
aberto para que o fumo possa fluir de forbrasileiros. Se existe uma concordância
ma suave e natural. O corte em cunha ou
entre os apreciadores é que uma degusem “v” só abre uma parte, fazendo com que
tação perfeita depende de tempo e um
o fumo passe por uma área menor, obriambiente adequado para fumá-lo, sozinho
gando um esforço maior para a sucção. Ouou na companhia de amigos que também
tro tipo é um furo circular e que pode ter
apreciem esse requintado hábito.
dois tipos de tamanho. Este tipo de corte
É preciso ter em mente que cada
pode tornar o que seria normalmente mais
Cesar Adames: consultor
charuto é um objeto único: artesanal,
suave em um charuto mais encorpado. Dena área de tabaco
elaborado manualmente, com personapois do corte, o charuto está pronto para
lidade própria e uma história para contar, uma vez que ser degustado, portanto basta acender. Nessa hora vem
não existem dois iguais em uma mesma caixa. Segundo a grande dúvida – qual é a melhor forma? A resposta é
Cesar Adames, consultor na área de tabaco, professor da entender a função de cada dispositivo e saber de suas
disciplina de Charutos & Bebidas no Senac e na IBA (In- vantagens e desvantagens. “O acendimento com folha
ternational Bartender Association), o primeiro passo para de cedro é um dos mais tradicionais e faz parte do riiniciantes é procurar uma boa tabacaria e aceitar as su- tual que vemos em filmes e restaurantes que prestam
gestões do vendedor: “À medida que cresce o interesse e o serviço de charutos. A desvantagem é que temos um
a familiarização com o universo dos charutos, os acessó- trabalho duplo, uma vez que, para queimar a lâmina,
rios se tornam peças fundamentais para uma melhor de- vamos utilizar fósforos ou isqueiros. O fósforo de palito
gustação. Quando compramos um charuto, normalmente longo também funciona bem, pois com apenas um deele vem com a parte que iremos colocar na boca fechada, les é possível acender. Uma dica importante é deixar a
permitindo que possamos escolher qual o tipo de corte cabeça colorida que contém enxofre queimar primeiro.
que iremos usar”, explica Adames.
Dessa forma o odor não irá passar para o charuto”, re-
52 financeiro junho/julho 2015
CUBA
comenda o professor do Senac.
Outra regra importante, enfatizada pelo especialista, é a forma como eles devem ser armazenados. “É fundamental que estejam conservados a
uma temperatura entre 16ºC e 18ºC com umidade
entre 65% a 70%. Ambientes secos desidratam o
tabaco e os deixam quebradiços, causando o rompimento da capa quando se está fumando. Excesso de umidade faz com que o charuto se apague
constantemente, dificultando o prazer de fumar. A
melhor forma de evitar esse problema é investir na
compra de um bom umidor, caixa própria para acomodar os charutos, com capacidade para 50, 100
ou 200 charutos”, garante Adames.
Sempre quando se pensa na palavra ‘charuto’,
imediatamente a lembrança nos remete à imagem
do primeiro-ministro britânico Winston Churchill,
que fumava de 8 a 10 Romeo y Julieta por dia e
aos revolucionários Fidel Castro, apreciador do
Cohiba (Lancero e Corona), e o argentino Ernesto
Che Guevara, que conheceu o hábito do fumo com
os cubanos. Há quem diga que, quando um cubano
dá sua última baforada, ele solta a nostálgica frase:
“que tienes una muerte digna”, em homenagem ao
apagar do seu charuto.
Durante mais de um século, Cuba produziu os
mais finos e cobiçados charutos do mundo, os intitulados de “habanos”, mas desde que Washington
impôs o embargo comercial à ilha, esses ‘puros’,
como são chamados, tornaram-se um artefato
raro para os norte-americanos. Mas a realidade
atual é outra e, a anunciada aproximação histórica
entre os dois grandes adversários da Guerra Fria,
o presidente Barack Obama e o ditador Raúl Castro, com o anúncio da normalização das relações
diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, rompidas desde 1961, promete devolver a intensidade
do prazer dos charutos, que agora devem reabitar
novamente a terra do ‘Tio Sam’. “A primeira fábrica cubana de charutos foi inaugurada em 1810. No
fim do século XIX, a ilha possuía 1.320 produtores
com marcas próprias. Não demorou para que o
ofício de tabaqueiro chegasse a países vizinhos,
como Costa Rica, Jamaica, República Dominicana,
México e até o Brasil. Não existem melhores marcas, mas alguns são mais conhecidas. O importante é ir explorando até achar o mais agradável ao
seu paladar”, finaliza Adames. f
MONTECRISTO
Graças ao aroma, sabor e força inigualáveis, com o passar do
tempo e quase sem querer, a marca chegou a superar a fama
da novela de Alexandre Dumas, O Conde de Montecristo.
ROMEO Y JULIETA
Caracteriza-se por oferecer um amplo leque de possibilidades, com bitolas que vão de forças medianas a fortes, com
boa combustão e fogo.
PARTAGAS
Todas as bitolas da marca são reconhecidas por seu aroma
e sabor intenso. São charutos cobertos por uma capa geralmente de cor clara.
COHIBA
É um dos habanos mais caros do mercado e considerado
por plantadores como o mais seleto. É um ícone no segmento de charutos.
HOYO DE MONTERREY
Charutos esponjosos, bons de fogo e com uma magnífica
combustão, de aroma e sabor ao ponto.
REPÚBLICA DOMINICANA
DAVIDOFF
A marca está associada a estilo, qualidade e bom gosto.
Isso devido ao sucesso de seu criador, Zino Davidoff, ucraniano de família ligada ao tabaco.
AVO
Suaves, os charutos Avo fazem sucesso no mercado norte-americano desde o seu surgimento. Seu criador, Avo Uvezian, era também um exímio pianista.
BRASIL
DONA FLOR
É fruto de uma rigorosa seleção de fumos procedentes do
Recôncavo Baiano, resultando um produto de excepcional
qualidade.
ALONSO MENENDEZ
A intenção era produzir charutos com a mesma qualidade
dos feitos em Cuba. São fumos também cultivados no Recôncavo Baiano.
junho/julho 2015 financeiro 53
cultura
Repaginada modernista
Após quase dois anos fechado
para reforma, o Museu Lasar Segall
reabre com novas exposições e a
exibição do rico acervo do artista
lituano, naturalizado brasileiro,
que foi um dos protagonistas do
modernismo no Brasil
Figura de Homem
com Violino, c. 1909,
óleo sobre papelão,
71 x 51 cm
Asilo de Velhos,
1912,
pastel sobre papel,
39 x 45 cm
54 financeiro junho/julho 2015
Leitura,
c. 1913,
óleo sobre papelão,
66 x 56 cm
E
Por Andressa Besseler
ntre modernos edifícios comercias e pequenas casas que se misturam no bairro da
Vila Mariana, em São Paulo, um tesouro que
busca mais espaço e evidência no circuito cultural
paulistano: o Museu Lasar Segall. Depois de um
ano e sete meses fechado para reforma na infraestrutura, a instituição programou sua reabertura
para o próximo mês de agosto, quando serão lembrados os 58 anos da morte do artista e os 48 anos
da fundação do museu.
Aldeia Russa,
1912,
óleo sobre tela,
62,5 x 80,5 cm
Fotos: Divulgação Museu Lasar Segall-IBRAM-MinC
Lasar Segall e
Lucy Citti Ferreira,
em seu ateliê
(1940)
Esta foi a primeira grande reforma do imóvel da
Rua Afonso Celso, que foi residência do casal Jenny
e Lasar Segall a partir de 1932, quando retornaram
de Paris, depois do nascimento do segundo filho,
Oscar. O valor total da obra foi de R$ 2,5 milhões,
custo bancado pelo Fundo Nacional de Cultura e
pelos patrocinadores Petrobras, Banco Itaú, Klabin
e Lumini. A revitalização do espaço garantiu uma
nova rede elétrica em todas as áreas do museu, climatização das salas expositivas, recuperação das
coberturas, atualização do sistema de iluminação e
implantação de um sistema de segurança mais eficiente. Além disso, o projeto incorporou uma área
dedicada aos deficientes visuais. Tudo isso para
se adequar à função que sempre teve. “A reforma
permitiu que o museu se tornasse mais atrativo a
todos os públicos, mais seguro e com climatização
adequada para o acervo”, afirma Selene Cunha, assessora de comunicação do museu.
Estilo pluralista
Além da antiga residência do casal Segall, o
museu ocupa também o ateliê do artista, ambos
Aldeia Russa,
1913,
litografia sobre papel,
37,5 x 30,5 cm
Paisagem Geométrica,
1924, aquarela e tinta
preta a pena sobre
papel, 30,7 x 22 cm
Menino com Lagartixas,
1924,
óleo sobre tela,
98 x 61 cm
junho/julho 2015 financeiro 55
cultura
Programação
Para a reabertura do museu, programada para o
dia 8 de agosto, estão previstas as exposições “Mário de Andrade e seus dois pintores: Lasar Segall e
Portinari” e “Cárceres a duas vozes: Piranesi e Ana
Maria Tavares”. A primeira mostra enfoca a obra dos
pintores Segall e Portinari sob o olhar crítico do escritor Mário de Andrade e de sua relação de amizade
com os dois artistas. A exposição “Cárceres a duas
vozes” é composta de 16 gravuras, do ilustre gravurista e arquiteto italiano Giovanni Battista Piranesi
(1720–1778), e obras da artista contemporânea Ana
Maria Tavares, inspiradas em criações de Piranesi. f
Fotos: Divulgação Museu Lasar Segall-IBRAM-MinC
projetados por seu concunhado, o arquiteto modernista russo Gregori Warchavchik. Seu acervo atrai os visitantes
com 3.119 trabalhos originais dele, doados por seus filhos Maurício Segall e Oscar Klabin
Segall. Em 2013, a coleção foi enriquecida com mais
110 obras oferecidas pelo neto Mário Lasar Segall.
Ao circular entre suas pinturas, gravuras, desenho e esculturas, o público percebe como o movimento era tudo na vida de Segall. Como vivia em
constante metamorfose criativa, experimentando
várias formas de expressão, o artista também surpreende o visitante com os móveis que criou para a
sua própria casa.
Fiel ao desejo do casal de fundar no local a Escola de Arte Lasar Segall, o museu oferece uma área
para que as pessoas coloquem a mão na massa. O
espaço conta ainda com um centro de atividades culturais, cursos de gravura, fotografia e literatura, projeção de filmes, além uma biblioteca especializada
em arte e dramaturgia.
Quase cinquentinha
A recente reforma faz parte do projeto da comemoração dos 50 anos de fundação do museu,
que acontecerá em 2017. O Museu Lasar Segall foi
idealizado pela viúva, Jenny Klabin Segall, com a intenção de preservar seu valioso legado artístico. Em
1985, o museu foi incorporado à Fundação Nacional
Pró-Memória, integrando hoje o Instituto Brasileiro
de Museus – IBRAM, do Ministério da Cultura, como
unidade especial.
Retrato de Lucy I,
1935, óleo com
areia sobre tela,
36 x 28 cm
Duas Amigas,
1936,
mármore cinza,
51,5 x 36,5 x 22 cm
56 financeiro junho/julho 2015
Gado ao Luar II,
c. 1954,
guache sobre papel,
34 x 45 cm
Museu Lasar Segall - www.mls.gov.br
Rua Berta, 111, Tel.: (11) 2159.0400
Floresta,
1957,
aquarela e guache
sobre papel, 22,4 x 46 cm
responsabilidadesocial
Quanto vale um sorriso?
Há 18 anos no Brasil, a ONG Operação Sorriso
conta com a colaboração de 350 voluntários
que transformaram mais de cinco mil vidas nos
quatro cantos do País
A
Por Andressa Besseler
os 11 meses de idade, Anne Clarisse ensaia, ao lado da
mãe Jaqueline Rodrigues. Dá os primeiros passos nas
areias da Praia de Iracema, em Fortaleza. Esse momento natural de alegria se imaginaria pouco provável quando a menina nasceu e os pais descobriram que ela era portadora de lábio
leporino, uma abertura no lábio ou no palato provocado pelo desenvolvimento incompleto da cavidade bucal durante a gestação.
Passado o susto inicial, Jaqueline recebeu orientação dos médicos e descobriu que os médicos da ONG Operação Sorriso Brasil
permitiriam que a pequena Anne Clarisse tivesse uma vida absolutamente normal. Bastava aguardar o momento certo do seu desenvolvimento para que a cirurgia fosse realizada. Passados dois
anos, a menina foi operada e resta aos pais, agora, a responsabilidade de não descuidar das sessões de fonoaudiologia. “Minha
maior preocupação era a fala. Por sorte recebemos a orientação
Fotos: Divulgação
Mais de 6,2 mil
cirurgias reparadoras
em 11 Estados
brasileiros
58 financeiro abril/maIo 2015
correta e o tratamento começou na idade certa” diz Jaqueline.
Esse é um dos milhares de casos que exemplificam a atuação da ONG Operação Sorriso Brasil, uma organização que
oferece cirurgias gratuitas para reparar lábio leporino e fenda
palatina, com foco nas crianças. Criada em 1982 nos Estados
Unidos e desde 1997 no Brasil, a entidade já realizou mais de
87.500 exames e avaliações, que resultaram em mais de 6,2
mil cirurgias reparadoras em 11 Estados brasileiros. “Quanto mais cedo a criança for operada, mais fácil será para ela
crescer sem sequelas nem acanhamento diante das pessoas.
Embora a fenda seja corrigida normalmente a partir dos seis
meses de idade, os mutirões da Operação Sorriso chegam a
realizar procedimentos antes do prazo”, conta Luciana Garcia,
coordenadora dos programas humanitários da ONG.
Se não for cuidada, a deformidade nos lábios pode mexer na
arcada dentária e no formato do nariz. A fissura no palato pode
provocar voz anasalada, a entrada de alimentos na cavidade
nasal e até mesmo nos ouvidos. Sem contar que muitos recém-nascidos morrem por não conseguir sugar o leite materno.
Iniciativa que transforma
Mais de 350
profissionais, entre
cirurgiões, enfermeiros,
anestesistas e
voluntários
Fotos: Paulo Fabre
A cada 650 bebês nascidos no Brasil, um traz a má formação
congênita chamada popularmente de lábio leporino. Em alguns
casos, trata-se apenas de uma fenda no lábio superior. Em outros, de duas fissuras. E há ainda as crianças que, além dessas
deformações, têm o céu da boca (palato) aberto. No mundo, segundo a Operação Sorriso, a cada três minutos um bebê nasce
com essa má formação.
Para transformar essa realidade e reconstruir o sorriso das
crianças, a ONG realiza por ano mais de 4 mil exames multidisciplinares especializados, nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste
do País, além de 291 procedimentos cirúrgicos e oito programas
pós-operatórios, tudo gratuitamente, devolvendo anualmente a
dignidade, a funcionalidade e a autoestima para 212 crianças”,
explica a coordenadora.
Para isso, trabalham, de forma voluntária, mais de 350
profissionais, entre cirurgiões plásticos, enfermeiros, anestesistas, psicólogos, ortodontistas, fonoaudiólogos, pediatras,
geneticistas e voluntários não especializados. O programa é
desenvolvido de forma criteriosa, com avaliações, cirurgias
e acompanhamento pós-operatório buscando oferecer um
tratamento integral que permita a reinserção social da criança. “Os locais onde as missões acontecem são definidos de
acordo com a demanda de pacientes, o apoio do hospital, do
governo e da sociedade em geral. Cada missão movimenta
aproximadamente 60 voluntários e resulta, na média, em 70
crianças operadas. O procedimento é rápido, demora em torno
de 45 minutos e, na manhã seguinte, o paciente pode retornar
para casa”, diz Luciana Garcia.
Neste ano, a Operação Sorriso Brasil prevê realizar pelo
menos quatro missões: Santarém (PA), em agosto; Fortaleza
(CE), em setembro; Natal (RN), em outubro/novembro; e Porto
Velho (RO), em dezembro. As doações podem ser feitas por
meio do site www.operacaosorriso.org.br. f
junho/julho 2015 financeiro 59
bancodedados
Informe
Fractal
A
brimos nossa edição com a coluna Leading
Indicators. Nela divulgamos alguns indicadores sobre comportamento dos preços
das commodities, do valor da moeda norte-americana em relação a uma cesta de moedas e da
contração do mercado de trabalho no País. Mesmo
numa conjuntura internacional desfavorável, algumas coisas podem ser vistas de maneira positiva
para a nossa economia.
Em seguida, mostramos os primeiros números
sobre a desintermediação bancária no mercado de
crédito. Trata-se de pesquisa realizada no primeiro
semestre de 2015, com o mercado de pessoas física cujas rendas individuais estão compreendidas
no intervalo entre R$ 1.200,00 e R$ 5.000,00 mensais. Os números apontam para o crescimento das
instituições financeiras não bancárias no mercado
de crédito. Nesse mundo, prevalece o dilema entre
assumir maiores níveis de riscos ou aceitar as perdas de participação de mercado e dos ganhos das
economias de escala derivados da maior quantidade de operações. Os maiores bancos, nesse particular, privilegiaram, desde 2014, a saúde financeira
de suas operações, reduzindo suas provisões e ampliando expressivamente seus lucros.
Não se pode dizer que erraram. Suas vantagens competitivas em relação aos demais players
permitem reversões dessa tendência no médio
prazo. Os lucros decorrentes das economias de
escala e de escopo estão garantidos e devem se
acentuar nos próximos períodos à medida que a
concentração nessa indústria venha a prosperar.
A venda dos ativos do HSBC no Brasil já provoca
controvérsias. O Bacen, sempre mais receptivo aos
movimentos de concentração, não se deve constituir em obstáculo ao pleito dos bancos privados de
maior porte. No caso do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o mais provável será
que as novas gerações de conselheiros possam se
opor, com o destemor próprio aos que labutam
pelo liberalismo moderno
Celso Grisi:
e se imaginam defensodiretor-presidente da
res da permanência de
Fractal – Forma, Acaso
condições concorrenciais
e Dimensão
mais adequadas e livres
dos excessos oligopolistas. Afinal, boa parte deles
ostenta ideais antitruste e, por isso, defendem as
intervenções nos mercados, levadas a cabo pelo
CADE. Os registros dão conta do crescimento das
reprovações dos atos de concentração empresarial e do número de aprovações submetidas a
restrições. Cresceu também o número de investigações e acusações sobre cartéis e outras infrações contra a ordem econômica. Sabe-se lá que
resultado se pode esperar dos embates políticos e
econômicos sobre esse tema.
Por fim, a divisão de Analytics da Fractal organizou os dados histórico dos últimos 11 anos
(2004 a 2014) do Painel da Indústria Financeira
– PIF®, envolvendo pessoas jurídicas com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 1 bilhão.
O objetivo é o de entender as razões de uso de
instituições financeiras, face às variações de três
elementos: PIB, Selic e IPCA.
Nossas hipóteses se confirmaram. À medida
que o cenário econômico se transforma, as empresas apresentam necessidades diferenciadas e exigem que as relações com suas instituições financeiras sejam também transformadas. Portanto, os
posicionamentos das instituições e de suas ofertas
de produtos e serviços precisam estar abrigados
por conceitos mais amplos, com maior nível de abstração, para dar guarida a ideias que, embora opostas, possam ser harmonizadas em um único significado. Marcas e submarcas deverão, portanto, se
multiplicar. Não apenas por segmentos, mas pelos
motivos e pelas necessidades que os impulsionam
em diversos cenários econômicos ao longo do tempo. É grande o desafio de marketing e sua prática
precisa ser repensada a cada momento.
Autores da Fractal
Celso Grisi:
Professor titular da
FEA-USP e diretorpresidente da Fractal
Celso Miori:
Consultor de
empresarial, doutor
pela FEA-USP e
professor dos cursos de
MBA da FIA
Rodrigo Neman:
Advisor da prática de
Business Analytics da
Fractal e professor
de Gestão Analítica
de Desempenho em
programas de MBA
junho/julho 2015 financeiro 61
bancodedados
LEADING INDICATORS
VIX (Market Volatility Index da Chicago Board Options Exchange)
Análise: Celso Miori
Economia mundial
Na edição anterior, destacamos o declínio acentuado do Bloomberg Commodity Index, índice que
sintetiza a evolução dos preços das commodities
agrícolas e minerais, das quais a balança comercial
brasileira é fortemente dependente.
Conforme mostra o gráfico abaixo, esse declínio
(observado desde 2011) ficou contido nos últimos
meses. Desde fevereiro de 2015, apresenta-se em
relativa estabilidade, amenizando os efeitos perversos do momento anterior sobre a economia nacional.
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00
2006
2007
Bloomberg Commodity Index BCOM:IOM
Por outro lado, a evolução do Dollar Index Spot, apresentada
no gráfico abaixo, mostra também uma atenuação na forte valorização do dólar no mercado internacional, frente a uma cesta
de moedas. Isso também representa um fato alentador para a
economia brasileira já que, sem deixar de favorecer as exportações em geral, ajuda a conter as pressões inflacionárias decorrentes da desvalorização do real frente ao dólar.
U.S. Dollar Index (DXY) NYE: DXY
62 financeiro junho/julho 2015
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
0.00
Também o VIX (Market Volatility Index da Chicago
Board Options Exchange), índice que captura sentimentos de riscos relevantes, em âmbito mundial,
não tem registrado variação significativa desde fevereiro deste ano, configurando uma situação momentânea de certa tranquilidade, dentro de um quadro
internacional intrinsecamente desfavorável e potencialmente propenso a crises.
Empregados com remuneração
até cinco salários mínimos
Os gráficos seguintes mostram a evolução, em
três regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Curitiba
e Recife), do número de empregados com remuneração até cinco salários mínimos, em uma série longa
(2001-2013), segundo a PNAD (IBGE).
É perceptível, pelo menos em duas dessas regiões, o declínio, já em 2013, do número desses assalariados. Somente em Recife isso não se observou
naquele ano. Entre outras razões, investimentos
relevantes (Suape e Petrobras) ainda garantiam um
quadro mais favorável à essa região.
Até 5 SM Empregados com 10 ou mais anos de idade
Belo Horizonte - MG
Até 5 SM Empregados com 10 ou mais anos de idade
Curitiba - PR
Suas experiências com essas instituições não bancárias*
foram mais ou menos positivas do que as que o(a) sr.(a.)
teve com os bancos que lhe negaram crédito?
varejo - relatório geral - 2015 1º trimestre
Menos positiva
13,7 %
Mais positiva
86,3 %
Base de Respondentes
100,0 %
Experiências podem se transformar em atitudes e, mais tarde, em
comportamentos efetivos. Isso exigiria, entretanto, a permanência dessa
avaliação no tempo, bem como solicitaria esforços organizados para a
sua consolidação.
(*) Instituições não bancárias = cooperativas de crédito, factorings,
Agora, os tempos são outros. O longo ciclo de queda do desemprego parece ter chegado ao fim. São numerosas e importantes
as causas desse movimento, sendo a maioria delas de natureza
estrutural.
Até 5 SM Empregados com 10 ou mais anos de idade
Recife - PE
empresas de leasing, cartões de loja e carnês, financeiras...
Para os próximos 12 meses, o sr.(a.) pretende aumentar ou
diminuir o uso dessas instituições não bancárias*?
Diminuir
15,3 %
Aumentar
84,7 %
Base de Respondentes
100,0 %
As intenções, nos percentuais manifestados pelos entrevistados, são
compatíveis com as avaliações das experiências manifestadas, reforçando a ideia de um processo de desintermediação já em curso, para o crédito às pessoas físicas.
(*) Instituições = cooperativas de crédito, factorings, empresas de
leasing, cartões de loja e carnês, financeiras...
A seguir, relacionamos as principais causas, evidenciando ao
leitor as dificuldades a serem superadas para a reversão do quadro
atual de baixo crescimento:
• Fim do bônus demográfico;
• Produtividade do trabalho deficiente;
• Aumento dos salários reais;
• Endividamento das famílias;
• Baixo volume e baixa qualidade dos investimentos em
infraestrutura;
• Marco regulatório desfavorável;
• Alto custo do capital;
• Deterioração fiscal;
• Expectativa de crescimento global mais lento;
• Piora dos termos de troca;
• Aumento da competição entre países emergentes;
• Ameaça do protecionismo;
• Mudanças do clima;
• Má gestão histórica de recursos hídricos e reservas ambientais.
Razões para aumentar do uso
dessas instituições não bancárias
R01.
R02.
R03.
R04.
R05.
São mais ágeis e desburocratizadas
São menos exigentes para conceder crédito
São mais flexíveis em relação às garantias pedidas
Concedem maiores limites de crédito
São mais flexíveis nos prazos concedidos
para pagamento
R06. São mais tolerantes com eventuais atrasos
55,1 %
46,9 %
43,4 %
36,7 %
27,0 %
1,0 %
Os diferenciais competitivos não envolvem considerações sobre o
custo dos empréstimos. Basicamente centram-se em questões funcionais
do processo de concessão.
Os atributos referentes à velocidade e à simplificação do processo de
concessão e liberação do crédito já são tradicionais nessas instituições. O
gigantismo do setor bancário subtrai a possibilidade de imprimir maior
velocidade aos seus processos internos.
junho/julho 2015 financeiro 63
bancodedados
As razões de uso do sistema financeiro, segundo as empresas:
variações em função dos indicadores PIB, Selic e IPCA
N
o dia 3/6/2015 o Copom do Banco Central decidiu elevar
pela décima quinta vez, desde janeiro de 2013, os juros
básicos da economia (Selic). O País não se deparava com
taxa de juros de 13,75% ao ano há mais de 6 anos. Apesar da relação de causalidade entre a Selic e a inflação, vale apontar o desempenho do IPCA e do PIB para melhor caracterizar as decisões
de uso de instituições financeiras pelas empresas com operação
no Brasil. A variação do PIB deflacionado, nos últimos 11 anos,
apresenta uma tendência negativa. Em outras palavras, ao ajustar
uma simples reta ao longo dos anos observa-se comportamento
decrescente, com taxa de variação linear negativa. Já o IPCA apresenta a taxa de variação linear positiva. Embora não seja o objetivo
desse estudo explicar a volatilidade desses indicadores, a tendência histórica aponta a existência de fatores idiossincráticos que
comprometem o controle dos fundamentos macroeconômicos nos
últimos anos. O gráfico 1 apresenta a evolução desses indicadores.
Gráfico 1: evolução
do IPCA (acumulado
no ano), da Selic (taxa
anual apurada em
julho) e do PIB (em
valores de 2014).
Ao lançar mão da Selic como principal instrumento macroeconômico para o controle do binômio consumo x inflação, o governo
dificulta o acesso ao crédito e desestimula o investimento dos setores produtivos com os naturais reflexos no crescimento da economia e na criação de postos de trabalho.
Independentemente da discussão da eficácia de médio e longo-prazo do controle inflacionário via Selic e do quanto o governo consiga produzir medidas corretivas para reencontrar-se com sólidos
fundamentos econômicos no País, as empresas continuarão recorrendo ao setor financeiro para o atendimento de suas necessidades cíclicas de crédito e de investimentos. Neste contexto, o que
leva as empresas a utilizarem com maior ou menor intensidade
as instituições financeiras, consideradas a tendência e a volatilidade dos ativos indicadores na última década? Qual a influência,
nas decisões de escolha das instituições financeiras, da taxa de
juros, da variação anual do PIB e da inflação nesta relação?
Para responder essa questão, a divisão de Analytics da Fractal
64 financeiro junho/julho 2015
Análise Rodrigo Neman
organizou os dados histórico dos últimos 11 anos (2004 a 2014) do
Painel da Indústria Financeira – PIF® a realizada com executivos de
empresas com faturamento entre R$30MM e R$1Bi/ano selecionadas aleatoriamente nos 250 municípios com os maiores PIBs do
País. Foram entrevistadas em média 2.500 empresas a cada ano
no período considerado. A pesquisa acessa o uso e a concentração
de produtos e serviços financeiros de cada empresa em cada instituição financeira. Adicionalmente, levanta as razões de uso das
instituições e dos seus respectivos produtos.
Tabela 1 - Razão de Uso
Escore
Fornece produtos/serviços sob medida para a empresa
66,5
Facilidade de acesso do internet banking
62,8
Constitui-se em fonte confiável de crédito sempre que a empresa
necessita 50,7
Apresenta forte agilidade operacional em sua estrutura
administrativa 49,8
Fornece melhores serviços de administração financeira (cash
management/administração de fluxo de caixa)
48,5
Dispõe de uma rede de agências que cobre praticamente todas as
praças financeiras onde minha empresa opera
45,4
Atende através de profissionais com adequada qualificação 42,9
Mantém um relacionamento estreito, de parceria real e duradoura
com a empresa
41,6
Possui um completo portfólio de produtos e serviços que possibilita
à minha empresa o uso do banco de diversas formas
37,7
*Valor médio dos últimos 3 anos (2012 – 2014) do escore ponderado
pelo número de clientes de cada instituição financeira.
Ao ponderar o escore de cada uma das razões de uso pelo número de clientes de cada instituição observa-se na tabela 1 que, para
os últimos três anos, as principais razões de uso estão fortemente
relacionadas às caracteristicas do portfólio de produtos/serviços, à
facilidade e conveniência de uso e ao nível do relacionamento.
Ao analisar a dinâmica de correlações entre as razões de uso,
ponderadas pelo número de clientes de cada instituição financeira,
vis-à-vis a evolução dos últimos 11 anos da inflação, do PIB e da
Selic, observa-se que:
1) No caso do PIB, conforme pode ser observado na tabela 2, as
correlações positivas estão pautadas em aspectos transacionais
como a qualidade dos produtos, a eficiência operacional e a relevância da instituição como fonte de crédito confiável. Estes aspectos
apresentam a maior variação positiva em momentos de aumento da
atividade econômica. As correlações negativas, por outro lado, estão
pautadas em taxas, tarifas, volumes das linhas de crédito e relacionamento; aspectos de maior relevância em momentos de retração
da atividade econômica.
2) No caso da Selic, as correlações positivas estão pautadas
principalmente na adequação dos volumes das linhas de crédito
Tabela 2* - Razão de Uso
Correlação
Fornece produtos/serviços sob medida para a empresa 0,88
Fornece melhores serviços de administração financeira
(cash management/administração de fluxo de caixa)
0,87
Constitui-se em fonte confiável de crédito sempre que
a empresa necessita0,79
Apresenta forte agilidade operacional em sua estrutura
administrativa0,70
Proporciona rentabilidade mais competitiva para suas
aplicações/investimentos-0,81
Mantém um relacionamento estreito, de parceria real e
duradoura com a empresa
-0,85
Cobra tarifas justas para a execução dos serviços
-0,85
Oferece linhas de crédito nos volumes de recursos
adequados às necessidades de minha empresa
-0,85
Possui taxas de financiamento em operações nacionais
mais competitivas-0,85
Trata a empresa como cliente exclusivo
-0,95
e na qualificação do relacionamento. Em outras palavras, quando
a taxa de juros básica da economia cresce, os limites de crédito e
o atendimento diferenciado constituem importantes estratégias
de diferenciação competitiva. As correlações negativas, por outro lado, estão pautadas no desenho dos produtos e serviços, ou
seja, quando a Selic alcança níveis mais baixos, a diferenciação
do portfólio é uma estratégia importante. A tabela 3 apresenta as
correlações e anticorrelações mais fortes com a Selic. 3)
Tabela 3* - Razão de Uso
Correlação
Oferece linhas de crédito nos volumes de recursos
adequados às necessidades de minha empresa
0,82
Dispõe de uma rede de agências que cobre praticamente
todas as praças financeiras onde minha empresa opera
0,77
Atende através de profissionais com adequada qualificação 0,75
Fornece melhores serviços de administração financeira
(cash management/administração de fluxo de caixa)
-0,77
Fornece produtos/serviços sob medida para a empresa
-0,89
3) No caso da inflação, medida pelo IPCA, não foram encontradas correlações positivas fortes com as razões de uso. As correlações negativas mais relevantes, presentes na tabela 4, mostram
que em períodos de menor inflação o relacionamento das instituições financeiras com as empresas assume papel central.
Especificamente em relação ao crédito, notou-se que as razões
de uso diretamente relacionada a crédito são muito influenciadas
pela atividade econômica. A análise de regressão destas razões
contra os indicadores macroeconômicos fornece duas informações
de interesse: a variação das razões explicadas pelos indicadores (R-quadrado) e a variação percentual nas razões de uso provocada
pela variação de percentual nos indicadores (elasticidade). Na tabela 5, em que estão presentes os resultados das regressões, pode
ser observado que a variação do IPCA não altera de forma estatisti-
Tabela4* - Razão de Uso
Correlação
Apresenta atendimento personalizado
-0,70
O gerente de conta possui um profundo conhecimento das
necessidades e estratégias da empresa
-0,75
Apresenta um excelente relacionamento / atendimento através de
seus gerentes de contas
-0,79
camente significativa as razões de uso relacionadas ao crédito.
Por outro lado, a variação do PIB é significativa para todas as
razões de uso e possui elasticidade negativa com as taxas de financiamento. Em outras palavras, a variação histórica do PIB explica
71% da variação da razão de uso (R-quadrado) relacionada às taxas de financiamento competitivas e cada 1% de aumento no PIB
leva a uma redução de 1,2% (elasticidade negativa) na relevância
das taxas competitivas. A adequação dos limites de crédito, por sua
vez, apresenta elasticidade positiva sendo que o aumento de 1% do
PIB leva ao aumento de 0,32% na relevância desta razão de uso.
É interessante observar que a despeito da relevância da agilidade
operacional do processo de concessão, os limites e as taxas desempenham papéis centrais no relacionamento com o cliente. Em geral,
em cenários com a atividade econômica em expansão, a relevância
do crédito como instrumento de fidelização e relacionamento com
empresas ocorre através de ofertas bem desenhadas, com taxas
atrativas e via instituições que transmitem certeza como fonte financiadora com seus clientes.
Tabela 5 - Razão de Uso
Elasticidade R2
“Oferecem linhas de crédito nos PIB
0,32
0,70
volumes de recursos adequados IPCA
NS
às necessidades de minha empresa” Selic
-0,76
0,72
“Apresentam um processo de PIB
0,62
0,33
concessão de crédito rápido IPCA
NS
e desburocratizado”
Selic
NS
“Possuem taxas de financiamento
PIB
-1,20
0,71
em operações nacionais mais IPCA
NS
competitivas”Selic
0,44
0,53
Constituem-se em fonte confiável PIB
0,88
0,60
de crédito sempre que a empresa IPCA
NS
necessita
Selic
NS
As análises realizadas apenas com as variáveis diretamente ligadas a crédito reafirmam as conclusões anteriores. Mostram que
as estratégias competitivas e de relacionamento com os clientes
devem ser dinamicamente desenhadas e executadas de acordo
com a leitura dos indicadores macroeconômicos e as apostas de
curto e médio prazo na evolução dos mesmos. Cenários recessivos demandam um posicionamento com foco em taxas reduzidas,
maiores retornos sobre investimentos e fortalecimento do relacionamento com clientes. Cenários de expansão econômica demandam estratégias com maior ênfase na experiência do cliente e na
percepção de qualidade dos produtos e processos operacionais. f
* Principais correlações e anticorrelações entre as razões de uso de instituições financeiras e o PIB considerando os últimos 11 anos (2004-2014).
junho/julho 2015 financeiro 65
artigo
palavrafinal
Por Nicola Tingas:
economista-chefe
da ACREFI
Em busca do crescimento
econômico perdido
A
queda do PIB é expressiva e a recuperação
do crescimento econômico será lenta e frágil. Atualmente está prevista contração de até
2% para o PIB em 2015, seguida de frágil crescimento,
de zero a 0,5%, em 2016. Para atenuar esse quadro de
estagnação, é fundamental a execução bem-sucedida
de uma “agenda positiva” que resgate a confiança dos
empresários e das famílias, recupere os investimentos
em infraestrutura e inovação tecnológica, reduza custos
estruturais, aumente produtividade e competitividade
da indústria e de outros setores de exportação. Assim,
haverá “força de tração” de motores capazes de impulsionar o resgate do crescimento econômico perdido.
O governo fez anúncios da “agenda positiva” com políticas de incentivo econômico: Plano de Safra 2015/16;
Programa de Investimento em Logística (PIL), com previsão de investimentos R$ 198,4 bi; sendo R$ 69,2 bi em
2015-2018 e R$ 129 bi a partir de 2019, divididos da seguinte forma: rodovias (R$ 66 bi), ferrovias (R$ 86 bi), portos (R$ 37 bi) e aeroportos (R$ 8,5 bi); por fim, é esperado
o anúncio do Plano Nacional de Exportação.
Contudo, no primeiro semestre de 2015, o governo
não conseguiu apresentar em detalhe e nem colocar em
pleno andamento a agenda necessária para atrair investimento, estimular exportações e reverter a profunda
queda de confiança dos agentes econômicos. Foi um período comprometido com longas negociações e discussões para aprovação no Congresso do chamado “ajuste
fiscal” de resgate das finanças públicas, como também
marcado pela perda de credibilidade decorrente da corrupção na Petrobras e “Operação Lava Jato”.
A conjuntura econômica manteve-se em deterioraPIB e componentes selecionados, em %
Taxa acum quatro trimestes
(em relação mesmo período anterior)
ção forte. A inflação alcançou patamar elevadíssimo, de
8,5%, em 12 meses no acumulado até o mês de maio (vide
gráfico), forçando o Banco Central a elevar mais ainda a
taxa básica de juros buscando ancorar as expectativas
dos agentes econômicos. Atualmente o mercado projeta
na “Pesquisa Focus” do BACEN uma inflação de 8,8% para
2015, patamar muito elevado, que “desperta” antigos, mas
ainda presentes, mecanismos de inércia inflacionária e
pressão por correções automáticas de preços e salários,
que acentuam o desequilíbrio macroeconômico.
A combinação de política fiscal e monetária contracionistas, associadas à alta da inflação, juros, câmbio,
desemprego fortemente crescente e queda expressiva
da confiança resultaram em um processo de brusca contração e estagnação da economia, com queda contínua
do investimento e consumo, como indica o PIB do 1º trimestre (vide gráfico). Vários indicadores antecedentes, de
importantes setores da economia, ratificam que no 2º trimestre e talvez também no 2º semestre de 2015 a economia manterá um ciclo de ajuste econômico descendente e
fortemente recessivo; a menos que, nos próximos meses,
haja gradativo e consistente resgate da confiança e atos
pró-cíclicos que atenuem essa queda.
Na prática, está em curso a reversão da “política de matriz econômica” que fracassou e deteriorou os fundamentos macroeconômicos. Ao mesmo tempo, a crise política
tem acompanhado a forte deterioração econômica, criando
retardo e dificuldade na execução de uma agenda assertiva que possa alcançar a recuperação do crescimento econômico. Se o governo for bem-sucedido no gerenciamento
e execução das medidas propostas de política econômica,
com consistência macro e micro, haverá importante recuperação dos fundamentos econômicos e volta da credibilidade para, gradativamente, ampliar o PIB potencial e voltar
a ter crescimento de 2% a 3 % ou até mais em 2017-18. f
Artigo enviado em 17/6/2015
Inflação - IPCA acumulado últimos 12 meses, em %
66 financeiro junho/julho 2015
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O JOÃO FINANCIAR.
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João ficou surpreso quando teve crédito concedido rapidamente
para a compra do seu carro. Agora, ele pode fazer suas entregas
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não sabem é que a Cetip trabalha em parceria com as instituições
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