Caros Colegas – 7ª Semana da Comunicação
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Caros Colegas – 7ª Semana da Comunicação
caros cole as ANO I - Nº 01 OUTUBRO/2009 Publicação do 7º Período do curso de Comunicação Social – Jornalismo das Faculdades Integradas do Norte de Minas Almir Sales Alexandre Campello Hugo Teixeira Alécio Cunha Esdras Paiva Maurício Lara Quinta-feira 01 de outubro Sábado 03 de outubro 19h às 20h 16h às 17h Palestra Marketing Político Palestra O Mercado de Jornalismo em face da nova realidade profissional Quinta-feira 01 de outubro 20h às 21h Sábado 03 de outubro Palestra A evolução das assessorias de comunicação Palestra Jornalismo Cultural 14h às 15 Sexta-feira 02 de outubro 20h às 21h Palestra A cobertura jornalística do “mundo do poder” Sábado 03 de outubro 9h às 10h Palestra Jornalismo investigativo Elpídio Rocha Elpidio Rodrigues da Rocha Neto é coordenador do curso de Comunicação Social – Jornalismo Ao longo dos 11 anos de existência, o curso de Jornalismo foi se estruturando cada vez mais com as particularidades da região do Norte de Minas e as transformações tecnológicas e profissionais do próprio fazer jornalístico. Um pouco de história e jornalismo A Faculdade de Comunicação Social – Em 2004, as instalações do curso foram Jornalismo, em Montes Claros, foi idealiza- transferidas para o Campus São Luiz. Em da com o firme propósito de atender à cres- outubro de 2008, O CRECIH e demais uni- cente demanda regional nesta área de atu- dades do grupo SOEBRAS transformam-se, ação implementando objetivos de discus- num processo de evolução acadêmica, nas são crítica sobre a mídia e democratização Faculdades Integradas do Norte de Minas – da informação e do conhecimento. FUNORTE. Entre 2001 e 2008, graduaram- Essas idéias nortearam a criação da Associação Educacional do Noroeste, Norte e se 282 novos profissionais de Jornalismo num total de 10 turmas já formadas. Nordeste de Minas – ASSENE, instituição Ao longo dos 11 anos de existência, o cur- que manteria o Centro Regional de Estudos so de Jornalismo foi se estruturando cada em Ciências Humanas – CRECIH, estabeleci- vez mais com as particularidades da região mento de ensino superior responsável pelo do Norte de Minas e as transformações tec- Curso de Comunicação Social – Habilitação nológicas e profissionais do próprio fazer em Jornalismo. jornalístico. Produtos comunicacionais co- Em 1997, o trabalho teve êxito com a mo o Jornal Laboratório Vide Verso, a Rádio publicação do Ato Autorizativo (Portaria Corredor, o Laboratório de Imprensa, o Radi- Nº 2240) do Ministério da Educação e do ojornal Quinta Freqüência, o Jornal Mural, Desporto, divulgado no Diário Oficial de os Telejornais CRECIH Agora e Campus Notí- 23 de dezembro de 1997. Em janeiro de cia, o X da Questão e a Semana da Comuni- 1998, aconteceu o primeiro processo sele- cação comprovam esse processo de cresci- tivo e as atividades letivas iniciaram-se mento constante. O compromisso com o em 10 de fevereiro – na sede provisória novo e a vontade de evoluir sempre apro- onde, atualmente, funciona o Centro de fundam-se, agora, com o lançamento da Estudos Indyu. Revista Caros Colegas. Em 03 de julho de 2000, foi inaugurado Frente aos desafios e as possibilidades o Campus JK da FUNORTE/ASSENE. As ati- que surgem, o curso de Jornalismo man- vidades letivas do segundo semestre já se tém o esforço de agregar valores cultura- iniciaram nas novas instalações, com três is, intelectuais, éticos e profissionais à for- turmas num total de 134 acadêmicos. Em mação de jornalistas capazes de lidar com 2001, foi realizado o quarto Processo Sele- as exigências teóricas, tecnológicas e prá- tivo e, nesse mesmo ano, graduou-se a pri- ticas da profissão. E o caminho continua meira turma de jornalistas formados. sempre em frente. caros co e as OUTUBRO - 2009 03 EDITORIAL EXPEDIENTE caros co e as A REVISTA CAROS COLEGAS é uma produção dos acadêmicos do 7º Período do curso de Comunicação Social – Jornalismo das Faculdades Integradas do Norte de Minas (Funorte), com distribuição gratuita. DIRETORA GERAL DA FUNORTE Profa. Tânia Raquel Queiroz Muniz DIRETORA ADMINISTRATIVA DA UNIDADE SÃO LUIZ Airam da Paz Fonseca Mota COORDENADOR DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO Elpidio Rodrigues da Rocha Neto PRODUÇÃO E REDAÇÃO DE MATÉRIAS Adailza Antunes Rodrigues Rocha Adriana Lima Gomes André Carvalho Andrey Meoli Anny Muriel Martins Gonçalves Aparecida Soares Santana Ribeiro Caroline Laize Ferreira de Oliveira Edvaldo Trindade Souza Felicidade Tupinambá Girleno Alencar Soares Hilton de Souza Nunes Jean Paulo Mendes Braga Joana Cristina Barbosa José Adriano Alves Costa José Eduardo Miranda Goes Késsia Thaís Marinho Bastos Luíz Ribeiro dos Santos Mara Yanmar Narciso da Cruz Marina Pereira Paulo Alfredo Neves Ferreira Rosângela Alves Mendes Pereira Vanelle Meneses Oliveira COORDENAÇÃO EDITORIAL E REVISÃO Rosângela Alves Mendes Pereira SUPERVISÃO EDITORIAL E REVISÃO Ângela Márcia da Silva Braga Reg. Profissional: 11212 JP/MG Tiago Nunes Severino Reg. Profissional: 13082 JP/MG Mara Narciso Esperar não é saber A revista CAROS COLEGAS surgiu de uma necessidade sentida por todos os estudantes do curso de jornalismo de ter um espaço onde pudesse publicar seus trabalhos acadêmicos. Nada mais gratificante e estimulante que ter o nome exibido em uma publicação, e poder dizer: este trabalho é meu. Por isso, a criação da revista CAROS COLEGAS. Um espaço exclusivo para os acadêmicos, onde eles podem mostrar para eles mesmos e para o mercado de trabalho o seu talento e seu aprendizado. No momento em que se discute a não obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão, os estudantes de jornalismo resolveram não esperar a hora e criaram a revista CAROS COLEGAS – uma forma de defender a futura profissão e exibir, fora da academia, a sua criação. Se a maioria ainda não tem a experiência de muitos que estão na luta, por outro lado tem a formação teórica, a garra e a vontade de fazer um jornalismo ético e verdadeiro, que mostre os alicerces de cada um. A pretensão não é concorrer com os veículos já existentes, e sim, mostrar que querem muito, e que estão se preparando para em um futuro breve assumir a responsabilidade que a profissão exige. A revista CAROS COLEGAS é, portanto, uma forma encontrada pelos estudantes de jornalismo de unir o útil ao agradável. Além da oportunidade de publicar os trabalhos produzidos PROGRAMAÇÃO VISUAL E DIAGRAMAÇÃO Cleber Caldeira em sala de aula, os futuros jornalistas encontraram uma forma de dizer e mostrar ao mercado de trabalho a sua capacidade. A TIRAGEM 1.000 exemplares reclamação de que não tem espaço para publicar os trabalhos Faculdades Integradas do Norte de Minas – Funorte Curso de Comunicação Social – Jornalismo Rua Lírio Brant 787 – Melo – Montes Claros – MG Outubro/2009 acabou. CAROS COLEGAS abriu esse espaço. Mãos à obra! 04 OUTUBRO - 2009 caros co e as ÍNDICE PROGRAMAÇÃO DA 7ª SEMANA DA COMUNICAÇÃO DO NORTE DE MINAS De 01 a 05 de outubro de 2009 Promoção: 7º Período de Jornalismo da FUNORTE Local: Montes Claros shopping Center A Casa da Imprensa do Norte de Minas 06 Adailza Antunes 08 Adriana Lima 09 Cida Santana 10 André Carvalho 12 Andrey Meoli 13 Anny Muriel 14 José Eduardo 15 Edvaldo Souza Paulo Alfredo 16 Vanelle Oliveira 18 Marina Pereira 20 Késsia Marinho 21 Mara Narciso 22 Luiz Ribeiro 23 Hilton Nunes Jarbas Oliveira 24 Girleno Alencar 26 Caroline Laíze 27 Rosângela Alves 28 José Adriano 30 Joana Cristina 31 Dia 01 de outubro de 2009 – Quinta feira – Praça de Eventos De 18h às 19h - Credenciamento e entrega do Kit aos participantes De 19h às 20h - Palestra: Marketing Político Palestrante: Almir Sales (Agência Casablanca) 20h às 21h - Palestra: “A Evolução da Assessoria de Comunicação” Palestrante: Hugo Teixeira (Superintendente de Comunicação do Governo de Minas) De 21h às 21h30 – Debate Encerramento e comunicações da organização do evento Dia 02 de outubro – Sexta feira – Moviecom- Praça de Eventos 19h às 20h - Mesa redonda 20h à 21h - Palestra: “A cobertura do mundo do poder” Palestrante: Esdras Paiva – (Editor de Jornalismo da TV Globo em Brasília) 21h s 21h30 – Debate 22h - Encerramento e comunicações da organização do evento Dia 03 de outubro – Sábado – Moviecom – Praça de Eventos De 09h às 10h - Palestra “Jornalismo Cultural” Palestante: Alécio Cunha – (Repórter Jornal Hoje em Dia) De 10h às 10h30 – Debates De 10h30 às 12h – Inauguração da Mostra de comunicação – Praça de Eventos - Lançamento da Revista Caros Colegas – Lançamento do Projeto da Casa da Imprensa e abertura do Livro de Ouro 12h às 14h – Intervalo para almoço 14h às 15h – Palestra “Jornalismo Investigativo” Palestrante: Maurício Lara (Jornal Estado de Minas) De 15h às 15h30 – Debates De 15h30 às 16h – Coffe Break na Praça de Eventos 16h às 17h – Palestra: Mercado em face da nova realidade Palestrante: Alexandre Campello (Fenaj) De 17h às 17h30 – Debate De 17h30 às 18h – Emissão da carta de Montes Claros contendo reivindicações e sugestões que serão, além de divulgada, encaminhada para as autoridades pertinentes De 18h às 19h30h – Cinema Comentado – Caro Francis De 19h30 às 20h – Debates 20h - Encerramento e comunicações da organização do evento Dia 04 de outubro – Domingo- Praça de Eventos De 09 às 12h – Curso: Falar em Público - gratuito – vagas limitadas De 13 às 17h – 8º Arroz com Pequi da Felicidade (à parte) – Chácara Bugarin Dia 05 de outubro – Segunda-feira – Solenidade de Encerramento Encerramento da 7ª SEMANA DA COMUNICAÇÃO DO NORTE DE MINAS pelo Exmo. Sr. Ministro de Estado da Comunicação Hélio Costa e da 1ª Mostra de Jornalismo - Orquestra sinfônica de Montes Claros - Pronunciamento da comissão de organização da 7ª SEMANA DA COMUNICAÇÃO DO NORTE DE MINAS – Leitura da Carta de Montes claros - Execução do clássico – Peixe Vivo - Pronunciamento do Exmo. Sr. Ministro das Comunicações - Encerramento, visitação da 1ª Mostra de Comunicação e café com letras na Praça de Eventos Felicidade Tupinambá 32 caros co e as OUTUBRO - 2009 05 A Casa da Imprensa do Norte de Minas De Casa dos Jornalistas de Montes Claros para Casa da Imprensa 200 lugares, biblioteca, telecentro, salas de reunião, recepção, estú- do Norte de Minas. Mais inclusiva. Uma casa para todos os trabalha- dio de rádio e TV. O projeto está prestes a ser liberado pela prefeitu- dores da imprensa: editores, repórteres fotográficos, repórteres ra e já passou pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura cinematográficos, assessores de imprensa, publicitários, diagrama- de Minas Gerais (Crea-MG). dores, webdesigners de jornais eletrônicos, apresentadores de tele- Nos próximos dias, os serviços de limpeza do lote, para início pro- jornais, repórteres de radiojornalismo, repórteres de telejornais, priamente dito da obra, serão concluídos. Uma assembléia dos pro- pauteiros, produtores de telejornais e colunistas sociais. fissionais da imprensa será no local para o lançamento da pedra Uma diretoria, em março de 2007, tomou posse com o objetivo fundamental e início efetivo da obra. de, a partir dos escombros de uma construção iniciada há vinte Durante a 7ª Semana da Comunicação, no período de 1º a cinco anos, em área nobre do Bairro Ibituruna, regularizar e construir de outubro de 2009, o projeto da Casa da Imprensa do Norte de uma nova casa. O projeto foi concebido e doado pela arquiteta e Minas estará em exposição e um livro de ouro será aberto, dando urbanista Viviane Marques. “Considerei a imagem da instituição e o assim início à grande campanha de doações e ajudas com a qual, que ela representa para a sociedade e elaborei o projeto buscando os trabalhadores da imprensa, esperam construir sua casa. Vale res- elementos da arquitetura contemporânea. Ele é composto por es- saltar que será a primeira vez na história da imprensa que ela terá trutura de vidro, símbolo de um espaço de transparência e sem fron- um endereço fixo: Rua Walter Barreto, 98, Ibituruna, Montes Claros teiras, como deve ser a imprensa”, explica. (MG). Marca a composição, ainda, a relação entre quatro estruturas paralelas unidas, ora pela água, ora pelas passarelas de circulação. O projeto prevê espaços livres para exposição, auditório para 06 OUTUBRO - 2009 caros co e as Para melhor relacionamento, a instituição mantém o endereço www.casadaimprensa.com.br, que entre outras informações, disponibiliza um cadastro para todos os profissionais da imprensa. BUFFET E RESTAURANTE Fones: 3212-3232 / 9115-2401 Avenida Nice, nº41, loja 01 Bairro Ibituruna caros co e as OUTUBRO - 2009 07 CRÔNICA Adailza Antunes Doutor, eu vou tomar remédio para vaca? - Ele tá achando que eu sou uma vaca? chegando lá, o farmacêutico pegou a receita, Foi com essa pergunta e indignação que olhou para ela, tornou a olhar a receita e disse: dona Luzia saiu da farmácia com a receita na mão e foi tirar satisfação com o médico. Dona Luzia tinha acabado de sair do posto médico da pequena cidade do interior com uma receita para comprar remédio para controlar a pressão. Não estava se sentindo bem *Adailza Antunes Rodrigues Rocha Ama a vida e sua família. Gosta de ler, viajar, trabalhar e pretende publicar um livro sobre “causos” que vem anotando. E-mail: [email protected] e os filhos pediram para ela procurar o médi- sando o quê, que eu sou bicho? Arrancou a receita da mão do farmacêutico e saiu em disparada para o posto médico. Quando chegou, ela nem esperou a aten- na propriedade até a cidade. São mais de dez em punho para tirar satisfação com o médi- quilômetros, mas ela estava acostumada co. Mas a senhora se cala ao perceber que o com as longas caminhadas e o vai-e-vém com médico estava brigando com a recepcionis- o serviço na lavoura. ta, pois a sua lista de compras de remédios, consultório. Apesar de não ter o costume de ir ao médico dona Luzia se assustou quando viu aquele ração e outras coisas para sua fazenda tinham sumido. A única coisa que dona Luzia pôde deduzir foi que além de tudo, o médico estava totalmente “gagá”. E falou baixinho para si: “estamos muito bem nas mãos desse maluco”. idoso que estava com seus mais de 80 anos, Na sequência, dona Luzia sai do consultó- óculos na ponta do nariz, fazendo algumas rio e, na recepção, conta para os outros paci- anotações e falando enrolado – o doutor era entes o que lhe aconteceu. E eles concordam boliviano. Ele perguntou o que ela tinha. que é um problema sério a falta de profissio- Com voz mansa e um pouco insegura, a mulher respondeu: nal competente nas cidades do interior. Acreditam que para lá só vão os profissionais que - Bem, se eu soubesse não precisava vir “sobram” nas cidades maiores, ou porque aqui doutor. Eu quero saber por que estou eles não têm espaço nessas cidades ou por- sentindo dor de cabeça e fico tonta. que o trabalho é leve, pois só trabalham uma O médico não entendeu se ela fora mal vez por semana, atendendo uma dúzia de educada ou se comportava daquele jeito. pessoas. Passa a receita. Encaminham aque- Porém, preferiu não responder e, com dificul- les casos um pouquinho mais complicados dade para andar, se aproximou da paciente e para as cidades com mais recursos. E pronto. colocou o aparelho para medir a pressão. Aus- O povo é só um detalhe. Se não está bom aqui cultou, tomou o pulso, e em seguida, disse que vá procurar médico em outro lugar. É o que ela devia tomar remédio para controlar a descaso, a falta de responsabilidade com a pressão, pois a mesma estava alta. Fez algu- população, principalmente a mais carente. mas anotações e pediu que fosse a farmácia o Esta é a conclusão que eles chegam. mais rápido, comprasse o remédio e começasse a tomar naquela hora. A mulher tomou o rumo da farmácia. Mas, caros co e as - O quê? Mas aquele velho doido tá pen- dente. Abriu a porta e entrou com a receita nha debaixo do braço, dona Luzia entrou no OUTUBRO - 2009 são remédios para secar leite de vaca. co. Com muita relutância, ela acatou o pedido Com seu vestido de chita, sandálias “tyot- 08 camentos para animais. Para dizer a verdade dos filhos e fez o percurso, a pé, da sua peque- yo”, lenço alaranjado na cabeça e uma sacoli- Acreditam que para lá só vão os profissionais que “sobram” nas cidades maiores, ou porque eles não têm espaço nessas cidades ou porque o trabalho é leve - Dona Luzia, isso aqui é uma lista de medi- Dona Luzia até sugere que deveriam expulsar o médico de lá, mas os outros não concordam. Pois: ruim com ele, pior sem ele. MATÉRIA ADAILZA ROCHA Adriana Lima *Adriana Lima é de Montes Claros e cursa o 7º período de jornalismo da Funorte ingressou no curso com grande empenho e acredita que foi de fundamental importância para adquirir novos conhecimentos. É uma jovem persistente que vive em busca da realização de seus sonhos. Atua na área comercial a mais de sete anos. Tem como principal objetivo trabalhar com assessoria de comunicação. E-mail: [email protected] Bairro de classe média apresenta alto índice de violência O Bairro São José é um dos bairros com maior índice de violência e criminalidade de Mon- tas para fazer a segurança da comunidade. No Bairro São José, um dos mais centrais da tes Claros. Para acabar com esta situação, os cidade, 70% dos comerciantes trabalham tran- moradores reivindicam a construção de um cados com grades nas portas, para fazer a pró- posto policial. pria segurança e a dos clientes, principalmente O morador Gilberto Bernardino tem o pro- os salões de beleza e lojas, que são os pontos jeto que já foi aprovado pela Prefeitura e pela que mais atraem a atenção dos ladrões. A co- Secretaria Estadual de Planejamento. Segun- merciante Liliane Lessa, há 12 anos tem loja no do ele, o projeto conta com o apoio dos habi- bairro, e de cinco anos para cá, trabalha tranca- tantes do bairro, da Igreja Católica, dos comer- da. Liliane colocou proteção em sua loja, e re- ciantes e do presidente da Câmara Municipal clama que está atrás das grades, enquanto os de Montes Claros, vereador Athos Mameluque, ladrões estão soltos. que confirma o total apoio da Prefeitura para o início das obras. Recentemente começou a ser feita ronda policial no bairro, o que tem contribuído para O município já fez a doação do lote para a a diminuição de ações criminosas. O morador construção do posto policial, que fica localizado Eduardo Lautony, afirmou que, “depois que na rua Germano Gonçalves, esquina com a rua os policiais passaram a fazer rondas nas ruas, João Caldeira Brant, em frente à quadra do bair- deu uma amenizada na criminalidade, mas ro. Neste local deverá ser feita a abertura de uma tem muito para melhorar”, e finaliza, “com o rua. O pelotão vai ter aproximadamente 30 poli- projeto pronto, agora é hora da prefeitura ciais, com três viaturas, três motos, e seis bicicle- mostrar serviço”. “A experiência sempre fala mais forte” Vendemos: arreios, ferragens, adubos, sementes, herbicidas, inseticidas e produtos veterinários em geral. Tel.: (38) 3831-2020 Alberto Soares “Trabalhar é preciso, ganhar dinheiro é sorte” Obrigado Senhor, por tudo. Praça São Joaquim, 231 - Centro - Porteirinha - MG caros co e as OUTUBRO - 2009 09 MATÉRIA Cida Santana Cida Santana é graduada em Administração de Empresas pela Unimontes e pós-graduada pela Fundação João Pinheiro, cursa o 7º período de jornalismo. Na TV Geraes, exerceu as funções de produção e apuração, além de comentarista esportivo dentro do Jornal Geraes. Trabalhou como estagiária no Portal In360, da Inter TV Grandeminas , afiliada da Rede Globo. Escreve a coluna de esportes “Toque Sutil” no jornal Gazeta Norte Mineira e faz trabalhos de free lancer para Copasa, AABB, entre outras instituições. E-mail: [email protected] Atualmente, o município tem 362 mil habitantes e, segundo dados da Secretaria Municipal de Planejamento, somente 2% dessa população residem no Centro. 10 OUTUBRO - 2009 caros co e as Casas sendo derrubadas no centro da cidade Progresso x conservação do patrimônio histórico As grandes cidades passam por um processo des. Segundo ele, devido à grande valoriza- de esvaziamento populacional de suas áreas ção dos imóveis da área central, os proprietá- centrais. E essa tendência é verificada em Mon- rios são seduzidos pelas imobiliárias e comer- tes Claros. Como consequência do progresso - a ciantes a vendê-los. “Com o dinheiro da ven- especulação imobiliária e do interesse financei- da de um terreno no centro é possível adqui- ro -, o patrimônio histórico é esquecido, com rir excelentes lotes nos bairros nobres da cida- antigas residências localizadas no Centro da de”, observa o arquiteto. cidade sendo demolidas para dar lugar a mo- Porém, ele não acha que o Centro será to- dernos edifícios, lojas, consultórios ou estacio- talmente abandonado. “As pessoas simples- namentos. Em algumas ruas quase não existem mente estão trocando as antigas casas por mais moradores e permanecem apenas aqueles apartamentos. É a chamada verticalização. A que “resistem ao progresso”. tendência dessas casas que ainda resistem no Atualmente, o município tem 362 mil habitantes e, segundo dados da Secretaria Muni- centro é acabarem dentro de pouco tempo”, explica Rocha. cipal de Planejamento, somente 2% dessa O empresário Denílson Arruda, diretor de população residem no Centro. Nos fins de uma construtora que comprou e demoliu uma semana e feriados, as ruas da região ficam velha casa na rua Doutor Veloso, para erguer totalmente desertas - a não ser perto de algu- um prédio no terreno – acredita que o fim das ma farmácia ou sorveteria -. antigas residência no centro se deve ao pro- Para o arquiteto Gil Rocha, representante gresso. Ele afirma que, na maioria das vezes, os regional do Instituto dos Arquitetos do Brasil próprios donos das antigas casas preferem ven- (IAB), a mudança ocorrida em Montes Claros dê-las, ao invés de reformá-las. Para o empresá- acompanha uma tendência das grandes cida- rio, isso é benéfico para cidade, pois os imóveis FOTOS: CIDA SANTANA “DAQUI NÃO SAIO POR PREÇO NENHUM” Por outro lado, existem aquelas pessoas que não abrem mão de morar no centro por nada deste mundo. É o caso da aposentada Florinda Peres, de 84 anos, que, há mais de 40 anos, reside em uma casa localizada na rua Camilo Prates. Ela disse que não sente nem um pouco incomodada pelo barulho e pelo “corre-corre” do local. Afirma que sempre aparece gente interessada em comprar o imóvel. Mas, que nenhuma proposta lhe atrai. “Eu não vendo a casa por preço nenhum. Enquanto tiver vida, vou ficar aqui”, garante Florinda, com expressão de felicidade. Quem também não sai do centro “por dinheiro nenhum” é o empresário Luiz de Paula Ferreira, de 94 anos, dono de uma espaçosa casa na rua Doutor Santos, uma das áreas mais valorizadas do centro comercial. A construção é a única residência que resta na rua, no trecho que compreende a Praça Doutor Carlos e a praça Coronel Ribeiro. Luiz de Paula, que é um dos fundadores e sócio de uma Fábrica de mal-conservados dão lugar a prédios modernos. No entanto, ele Tecidos na cidade, assegura que não tem nenhuma vontade de se salienta que tudo precisa ser feito dentro de critérios que não isolar em condomínios ou residências em bairros afastados. “Eu gos- venham infringir o patrimônio histórico. to mesmo é do contato com o povo. Gosto muito de encontrar diaria- Uma das antigas moradoras que saíram do Centro e viu sua casa demolida é a escritora Yvonne Silveira, de 94 anos. Depois de morar por mais de 40 anos em um sobrado na rua Padre Augusto, ela vendeu o imóvel para o dono de uma farmácia e mente as pessoas aqui na rua. Enquanto eu tiver vida, é aqui que vou morar”, diz. Ele confirma que já recebeu várias ofertas para a venda do imóvel. “Mas, hoje, as pessoas nem me procuram mais, pois sabem que eu não vendo a casa”, diz. Outro que resiste em deixar o Centro é o comerciante aposentado um hotel, situada ao lado da moradia. Dona Yvonne conta que Rui Pinto, de 77 anos. Ele conta que, por diversas vezes, foi procurado gostava muito do local, mas não resistiu ao clima abafado e por pessoas interessadas em comprar sua casa, na rua João Pinheiro. poluído e ao constante assédio de empresários que insistiam em ter seu imóvel. “Eu costumava dizer que nem se ganhasse “Mas, sempre vou resistir. Aqui, estou perto de tudo. Tem farmácia, tem hospital, tem padaria. Além do mais, moro aqui há 70 anos”, afirma o aposentado. “Daqui, só saio para o cemitério”, garante. outra casa eu venderia a minha residência do centro. Mas o problema de saúde do meu marido se agravou, e os médicos nos aconselharam a mudar para um local com ar mais puro”, explica a escritora. Foi então que, dona Yvonne decidiu vender a casa onde praticamente construiu sua vida, e mudou-se para a Vila Brasília, região de Montes Claros. Assim que foi concluído o negócio, a construção foi derrubada. Hoje, o sobrado deu lugar a parte do hotel onde fica a portaria do estabelecimento. Nada mais ali lembra o antigo sobrado. Também há quem preferiu alugar o imóvel onde morou por muitos anos na área central e se transferiu para um bairro. É o caso da aposentada Lauri Rego Cunha. Ela conta que depois de viver mais de três décadas no centro, alugou sua casa na rua Doutor Veloso – onde, hoje, funciona uma loja de roupas de grife – porque queria um local tranqüilo. Trocou a agitação do centro pela calmaria do bairro São Luiz. A aposentada confirma que, além da tranqüilidade, a questão financeira também influenciou em sua decisão, pois o aluguel é muito rentável. caros co e as OUTUBRO - 2009 11 MATÉRIA Andrey Meoli Andrey Meoli é estudante de Jornalismo, Músico e Web-designer. Email: [email protected] RUIDO JACK é formado por: Mariana Morena (voz), Cesar Negão (voz e baixo), Alexandre Fudaum (guitarra e voz), Tim Narigudo (guitarra) e Rafael Dines (bateria) Música independente Destaque da nova cena independente, Montes Claros está se tornando referencia entre bandas e produções. Nessa seção, irei apresentar alguns dos novos talentos do Norte de Minas. Vale apena conferir: SOPRONES RUÍDO JACK SOPRONES apresenta em suas composições A banda Ruído Jack incentivou a nova safra toda a indignação política e social sofrida pelo do rock autoral em Montes Claros ao lançar em povo brasileiro. A competência e 2007 o seu homônimo CD-demo. Nesse CD está profissionalismo da banda Montes Clarense foi à música Rockatopear que foi responsável pela reconhecida no Festival Palco do Rock 2009 ascensão do grupo, e graças à mescla de sons (Salvador/BA), um dos maiores festivais regionais com Rock'n Roll deu ao som do grupo independentes do Brasil, onde a banda foi o carinhoso apelido de “Pequi Rock”. A banda eleita pelo público como a Banda Revelação do acaba de lançar em seu site (myspace) a música PDR2009. O SOPRONES está no estúdio Narear que traz toda a melodia e a criatividade preparando o novo CD, e disponibilizou em seu do quinteto norte mineiro. myspace a música Medo de Viver, que irá fazer www.myspace.com/ruidojack Link: parte desse novo trabalho. Confiram toda a força som dos SOPRONES. Link: www.myspace.com/soprones SOPRONES é formado por: Clayton Souza (voz), Ricardo Carburas (baixo e voz), Andrey Meoli (guitarra), Danilo Baliza (bateria) caros co e as OUTUBRO - 2009 13 MATÉRIA Anny Muriel Acadêmica de jornalismo atuou durante seis anos no teatro, participou de peças como Precisa-se de um caixão, O defunto premiado, e O rapto das cebolinhas, além de ter emprestado sua voz para propagandas veiculadas nas principais rádios da cidade. Aldo Pereira já escreveu três peças teatrais: A mala mágica; A rifa da égua morta (onde bateu recorde de público na oitava mostra de teatro deste ano com 1200 pessoas que assistiram ao espetáculo) além da inédita Parou na Pista, prevista para estrear no mês de novembro. Arte teatral Grupo Oficinato Fundado em 1999, pelo diretor e também realização profissional, e isso é muito gratifi- ator Aldo Pereira, o grupo Oficinato tem co- cante para mim, contudo é lamentável que mo objetivo apresentar ao público os talentos muitos não valorizam ou percebem grandes revelados no curso de iniciação teatral. talentos que temos especificamente aqui em Alguns já se destacam fora de Montes Claros, Montes Claros” afirma o diretor. como é o caso da atriz Luna Vidal, contratada Com a criatividade e dedicação do ator dire- há algum tempo pela Rede Globo, e que des- tor, dramaturgo e também produtor, Aldo Pere- cobriu aqui sua vocação para atuar.“Inclusive ira já escreveu três peças teatrais: A mala mági- muitos dos meus ex-alunos cursam artes cêni- ca; A rifa da égua morta (onde bateu recorde de cas ou moram em outros estados em busca da público na oitava mostra de teatro deste ano com 1200 pessoas que assistiram ao espetácu- A ARTE DE IMITAR “A maior dificuldade do grupo é a falta de lo IV antes de Cristo. Toda reflexão que te- políticas de incentivo e apoio à arte e cultura em nha o drama como objeto precisa se apoiar Montes Claros. Haja vista que a cidade não con- numa traíde: quem vê, o que se vê e o imaginado. O teatro é um fenômeno que existe teatro, inclusive esta é, entre outras, a maior nos tempos individuais e coletivos que se reivindicação dos grupos teatrais de Montes formam neste espaço. Teatro é o conjunto Claros”, lamenta Aldo Pereira. As aulas do grupo teatral são ministradas em res e técnicos que tem como objetivo apre- academias da cidade, onde os participantes sentar uma situação e despertar sentimen- aprendem sobre expressão facial, corporal e tos na audiência. O antigo teatro de Delfos, oratória, sob a coordenação de Aldo Pereira. A (Grécia), a consolidação do teatro enquanto espetáculo na Grécia Antiga deu-se em função das manifestações em homenagem ao deus do vinho, Dionísio. A cada nova safra, era realizada uma festa em agradecimento OUTUBRO - 2009 ta com um espaço destinado exclusivamente ao nos espaços do presente e do imaginário, e vidades, com auxílio de dramaturgos, direto- 14 estrear no mês de novembro. O teatro surgiu na Grécia antiga no sécu- de atores que interpreta uma história ou ati- caros co e as lo) além da inédita Parou na Pista, prevista para ao deus, através de procissões. Divirta-se! Vá ao teatro. próxima temporada de apresentações do grupo acontece de 12 a 15 de novembro na sala Geraldo Freire na Câmara Municipal. MATÉRIA José Eduardo * José Eduardo Miranda Góes é acadêmico do 7º período de Jornalismo FUNORTE e 2º ano de violão clássico pelo Conservatório Estadual Lorenzo Fernandes. E-mail: [email protected]; Música: linguagem sem fronteiras Existem várias formas de comunicação, função. Porém, o “musiquês” assim, popular- seja por meio de gestos, da fala, da escrita, ou mente, conhecido no meio artístico brasilei- dos sons que combinados se transformam ro, é um idioma global, ou seja, tem a mesma em música. Essa é uma fórmula, um conceito notação musical (dó, ré, mi, fá, sol, lá e si) tan- antigo sobre sua origem: junção de sons e to para um músico brasileiro, quanto para um silêncio. A música é uma arte de comunicação músico italiano, o pentagrama, onde fica loca- que existe desde a pré-história, mas se conso- lizado as notas, é o mesmo. lidou na Grécia antiga com os movimentos artísticos. A palavra vem daí, musa. Isso permite com que os músicos interajam melhor com outras culturas, ritmos e dan- Hoje, ela é uma das linguagens mais demo- ças de lugares diversos. Se você pegar uma crática que existem. Enquanto, os alfabetos pianista de Luanda, capital de Angola, e pedir tradicionais - português, inglês, espanhol, para ela tocar uma sonata de Beethoven ou maltês e milhares de outros espalhados pelo de Villa-Lobos e depois repetir a mesma sona- mundo - representam a identidade de um ta com uma outra de Jacarta, na Indonésia, a país, a música também desempenha essa melodia não terá diferença. O conhecimento da partitura, da linguagem das notas é a mesma e os sentimentos, muitas vezes, são parecidos. Apenas a distância entre os dois países, a cultura e a tra- “O ouvido dos homens não ouve a música da tua existência; para eles levas uma vida muda, seus tímpanos não distinguem nenhuma das sutilezas da tua melodia, toda resolução quanto a preceder ou seguir. É verdade que não chegas conduzindo um som de banda militar pela estrada principal, mas nem por isso eles têm o direito de dizer que em tua vida não existe música. Aqueles que têm ouvidos para ouvir, que ouçam”. dição é que são diferentes. Mas a música consegue unir as duas pianistas em um único instrumento. Outro exemplo é uma orquestra sinfônica formada por solistas e instrumentistas de várias nacionalidades étnicas e lingüísticas que nunca tiveram contato antes, mas que durante um concerto, uma apresentação, todos experimentaram e expressaram por meio da música, o mesmo idioma, “musiquês”. Estes dois exemplos mostram que a música tem o poder de linguagem que aproxima pessoas e tradições. Não importa se um violonista ou uma violonista mora no Paquistão, na Austrália ou em Carajá, qualquer partitura é o suficiente para trazê-los perto um do outro. Friedrich Nietzsche caros co e as OUTUBRO - 2009 15 MATÉRIA Edvaldo Souza Fazer Jornalismo é como reconhecer o que estava obscuro, dar olhos a quem não os possui e dar a voz para aqueles que não são ouvidos. Edvaldo Trindade Souza é montesclarense e estudante de Jornalismo E-mail: [email protected] Paulo Alfredo Mercado Central: “Os principais meios de transporte eram os tar, e sem dizer na desconfiguração visual que cavalos, carros de bois e tropas de burros, que isso ocasionou, além do aumento de preço dos conduziam mercadorias como, farinha de man- produtos”. dioca, rapadura, queijo, requeijão e até carne bovina e de porco, para serem vendidas ou bridização: “É que fomos vítimas do egoísmo trocadas num comércio mútuo e diversificado. imposto pelos grandes empresários. Principal- E todo o trajeto era feito nas madrugadas, por mente dos proprietários de empresas de trans- estradas estreitas e poeirentas, muitas delas, porte, que conseguiram, em maio de 1996, abertas pelos bandeirantes.” desativar a linha do trem baiano, o meio de Assim relata Daniel Gonçalves Costa, 71 transporte mais utilizado pelos pequenos agri- anos, nascido em Coração de Jesus e residente cultores e artesãos da região, e sem dúvida era em Montes Claros há 34 anos. Segundo ele, o mais barato”. desde quando “se entende por gente”, acom- Começou na comunicação como locutor, trabalha com design gráfico e é estudante de jornalismo. E-mail: [email protected] OUTUBRO - 2009 caros co e as É o que também afirma José Gonçalves Pe- panhava o seu pai nas longas e cansativas via- reira, montes-clarense de 75 anos, e proprietá- gens em tropas de burro, que saiam de Cora- rio de uma pequena fazenda - herdada de seus ção de Jesus, carregadas de produtos para se- pais, a 15 km de Montes Claros. Segundo ele, rem permutados ou vendidos no primeiro mer- desde criança, acompanha e participa do co- cado municipal de Montes Claros - conhecido mércio no mercado municipal , como cliente e na época como “casarão”. fornecedor. Em sua propriedade, eram produ- De tropeiro, seu Daniel passou a comercian- 16 Daniel explica indignado a causa dessa hi- zidos, farinha de mandioca, rapadura, queijo e te. E, há 20 anos, ele é dono de uma banca no requeijão, que eram vendidos para comercian- atual mercado municipal de Montes Claros, tes do mercado. Para José Gonçalves, que atu- onde vende produtos industrializados como almente é apenas cliente do mercado, esse arroz, macarrão, açúcar, fósforo e café empa- contraste comercial entre os barraqueiros do cotado á vácuo, tendo até, a farinha de mandi- mercado é resultado do fim do “trem baiano”. oca. “Esse contraste comercial atingiu pratica- Ele diz que, por morar próximo da cidade, usa- mente todos os comerciantes do mercado – va muito pouco o trem, somente quando tinha tivemos que alternar, procurar outras merca- excesso de mercadoria, mas exprime a sua in- dorias para substituir as que começaram a fal- dignação perante o fato: “Não pensaram nos LUIZ C. SILVA berço comercial de Montes Claros pequenos agricultores que residem longe de dá mais lucros. Essa mudança não será aceita certeza é o governo federal. “O Governo vendeu Montes Claros, pois, o trem dava mais lucros aos pela administração. A justificativa é que existe o que é do povo para dar ao setor privado. E comerciantes”. Para a comerciante Maria Alves faria, 61 uma quantidade pré-determinada no regula- que, infelizmente esses grandes empresários só mento municipal, que organiza e dita quanto e querem números, e não olham para o social”. anos, e que há 25 anos é proprietária de uma que tipo de comércio pode funcionar dentro do banca no mercado central de Montes Claros, a mercado central. No entanto, Eva Coutinho, 72 anos, diz que, há mais de 32 anos freqüenta o mercado, fiel- hibridização que ocorre no comércio do merca- Para Alkimin, o fim do “trem baiano” não mente aos sábados, porque faz questão de ad- do é resultado da desvalorização dos produtos influenciou no abastecimento de mercadorias quirir produtos diretamente dos produtores, agrícolas. “Tendo como exemplo os artesanatos no mercado – “pode ter contribuído para o au- “Ali é o único local onde você ainda encontra os que vendo aqui, que são feitos de madeira, cou- mento de preços, pois passaram a ser transpor- alimentos genuinamente caipiras, sem agrotó- ro curtido, cabaças e tapeçarias produzidas arte- tadas em caminhões” alega. Ainda segundo xicos, onde se compra direto das mãos do pro- sanalmente, com folhas de tabúa. A população Alkimim, o principal fornecedor do mercado dutor. E tem também, as apresentações de ar- não valoriza, querem pagar mixaria. É por isso municipal de Montes Claros, é a cidade de Mon- tistas da região, que dão um show gratuito nos que muitos artesãos ficam desestimulados e te Azul, que fornece principalmente produtos finais de semana, deixando ainda mais gostoso não produzem mais. E aí, quem vende tem que de época, como, umbu, pinha, andu, e hortifru- comprar aqui no mercado. Faço questão de alternar, procurar outras mercadorias para ven- tigranjeiros no geral. Entretanto, o gerente ad- comprar a banana caipira, o doce de marmelo, a der”, desabafa a comerciante. ministrativo do mercado municipal de Montes farinha de mandioca proveniente do Morro Mas, para o gerente administrativo do mer- Claros relata que o principal culpado desse con- Alto. Para mim, acaba servindo de relax” – expli- cado central de Montes Claros, Paulo Alkimin, o traste que ocorre no mercado municipal, com ca a dona de casa. contraste realmente gera uma desconfiguração Entre tantas histórias, o mercado municipal visual no mercado, mas não sai das normas impostas pelo regimento da administração. Se- de Montes Claros, atualmente localizado na rua HISTÓRICO gundo ele, o comerciante que trabalha no local possui livre arbítrio para vender o que quiser, a única imposição da administração é a de não aceitar a mudança de ramo, como por exemplo deixar de vender produtos alimentícios e abrir um bar dentro do mercado, alegando que este Marechal Deodoro, teve seu primeiro endereço no largo de cima, hoje, praça Dr.Carlos Versiani, O antigo Mercado Municipal de Montes Claros foi inaugurado em 3 de setembro de1899. Era uma construção imponente, com uma torre bem alta, onde o relógio, doado por Carlota Versiani, badalava as horas. Na época, a cidade de Montes Claros tinha pouco mais de 2000 habitantes. e depois, transferido para a rua Coronel Joaquim Costa. Com isso, já ultrapassou um século de existência, mas continua exalando aromas, sabores e cultura, independente das mudanças e dos contrastes provocados pelo tempo. caros co e as OUTUBRO - 2009 17 MATÉRIA Vanelle Oliveira Educação sem fronteiras A tecnologia atual proporciona ao ho- do sistema tradicional. Outros porque são mem acesso a coisas que há alguns anos autônomos no acesso a informação e con- eram impossíveis de se imaginar. Hoje, é seguem estudar sozinhos.” possível se comunicar com as pessoas em tempo real, de qualquer lugar, algo impossível antes do surgimento do computador. NOVOS HORIZONTES A necessidade de ter um diploma de ensi- Trabalhou por cinco anos no site UnaíNet, e atualmente, estuda jornalismo, faz reportagens especiais para a Revista Tempo e trabalha na assessoria de comunicação do deputado Ruy Muniz E-mail: [email protected] sencial em que o aluno comparece todos os nistração de empresas, o jovem empresário dias à faculdade, tem cada vez mais, dado enxergou no curso a oportunidade de se espaço ao semipresencial em que as aulas qualificar e profissionalizar na própria em- são dadas uma vez ao mês, nos finais de se- presa.“Hoje em dia todo mundo tem que ter mana ou em um encontro semanal. curso superior. No meu caso, juntei a neces- Novos caminhos vão se abrindo numa no superior e a dificuldade de tempo dispo- velocidade muito rápida, e quem não acom- nível levou o empresário Sebastião Júnior a panha essa evolução, fica para trás. Com a procurar por um curso de educação à dis- educação não foi diferente. O ensino pre- tância. Formado no curso técnico em admi- A educação à distância representa uma A educação à distância representa uma forma de ensino democrática, em relação ao tempo e espaço, destinada a grupos de alunos que não têm disponibilidade para o sistema formal. Esse novo modelo de ensino vem conquistando cada vez mais adeptos devido à flexibilidade de horários, comodidade e valores acessíveis. 18 OUTUBRO - 2009 caros co e as sidade que eu tinha de ser formado com o forma de ensino democrática, em relação ao trabalho na minha empresa. O curso, por ser tempo e espaço, destinada a grupos de alu- barato e rápido, me atraiu porque eu não nos que não têm disponibilidade para o sis- tenho muito tempo livre. Sou casado, tenho tema formal. Esse novo modelo de ensino dois filhos e ainda trabalho viajando”, conta. vem conquistando cada vez mais adeptos Conciliar vida profissional e estudo po- devido à flexibilidade de horários, comodi- de ser um problema para quem já está no dade e valores acessíveis. Esses e outros mo- mercado de trabalho. “No dia que tinha tivos levaram a estudante do curso técnico aula era puxado. Eu trabalhava o dia todo e superior em Gestão de Recursos Humanos, ia direto pra faculdade. Só consegui me Anna Carla Capella a optar pelo curso a dis- dedicar aos estudos porque era uma vez na tância. “Posso estudar mesmo estando de- semana. Algumas vezes eu tinha que me sempregada. Os preços das mensalidades virar e arrumar tempo pra estudar, nem são bem mais em conta e o curso não deixa a que fosse de madrugada. No fim, valeu a desejar em nada”, afirma. pena. Mas a pessoa tem que ter força de Segundo Pedro Almeida, diretor de vontade, pois é o aluno que faz o curso, em uma instituição de ensino à distância, um qualquer faculdade seja ela presencial ou dos motivos que levam, cada vez mais pes- não”, explica Sebastião. soas a buscarem pela EAD – Educação a As aulas são gravadas em estúdio ou distância – é a exigência do mercado de transmitidas via satélite. Os alunos são am- trabalho por profissionais que tenham parados por professores que tiram as prin- curso superior. “Como muitos não conse- cipais dúvidas. Em algumas faculdades as guiram fazer uma faculdade no tempo aulas são ao vivo e completamente intera- normal, precisam acelerar sua formação. tivas. O aluno pode enviar perguntas ao Muitos também escolhem pela burocracia professor por e-mail, e esse responde em tempo real. Após a explicação, os alunos todo o conteúdo das aulas com a matéria, deseja se qualificar, encontra na internet a resolvem exercícios e encaminham para a exercícios, as leituras obrigatórias e com- oportunidade de fazer especializações, par- coordenação do curso. Com as provas, que plementares para quem deseja aprofundar ticipar de congressos e assistir palestras vir- são obrigatoriamente presenciais, tem-se a mais no assunto”, completa. tuais de qualquer lugar que estiver. “O mun- chance de saber se ele realmente aprendeu o que foi passado. A aceitação dos cursos à distância ainda é do virtual está crescendo demais. Há 20 anos prejudicada pelo preconceito. Em geral, as eu não imaginaria isso nunca. Assim que ter- Pedro Almeida acredita que a educação à turmas começam cheias porque muitas pes- minar meu curso, pretendo continuar fazen- distância é o modelo educacional do futuro. soas têm a noção de que a EAD é algo fácil, do pós-graduação e mestrado à distância, “As profissões se atualizam com muita rapi- que o aluno vai lá uma vez e não precisa fazer porque vale a pena”, conta Anna Carla. dez, daí a necessidade de estudar sempre mais nada. “Quem está de fora tem uma Segundo o MEC, nos últimos anos, a para acompanhar o processo evolutivo”, diz. idéia equivocada dos cursos semipresencia- educação à distância no ensino superior e Para ele, é necessário que o sistema de ensi- is. Eu, por exemplo, já passei por algumas na pós-graduação, cresceu 571% entre no básico forme pessoas independentes na universidades, e confesso que a EAD é bem 2003 e 2006. No Brasil existem 5.636 po- leitura e interpretação. “A Internet é uma puxada. Só depende de mim, se eu não me los de apoio presencial vinculados a 145 biblioteca virtual. Portanto, teremos que dedicar, não vou adiante. É tudo muito rápi- instituições credenciadas para exercer a educação à distância. estudar sempre. Depois de adquirir compe- do. Mesmo sendo pela Internet, todos os tências para o estudo autônomo, o sistema trabalhos têm data e horário para serem en- Em 2007, a quantidade de alunos matricu- EAD é solução”, explica. tregues. Se eu perco o prazo, perco a nota”, lados nesses cursos aumentou 356% em três afirma a estudante Anna Carla Capella. anos. Ainda de acordo com o MEC, 73% des- EDUCAÇÃO DE QUALIDADE Hoje, além das aulas, quem realmente O empresário do setor educacional Kiko Ao contrário do que muitos pensam a educação à distância não é tão fácil quanto parece. Por ficar muito tempo sozinho, o curso exige muito mais esforço do aluno. Tem que ter iniciativa, disciplina e determinação para seguir em frente, afirma Ana Paula Silva, professora do curso de Ciências ses alunos estão em escolas particulares. RECONHECIMENTO O ensino superior a distância teve um abertura maior em 1996, a partir da Lei de Diretrizes e Bases que reconhece a educação a distância como algo positivo para a formação de profissionais. Canela, dá dicas para o aluno não se enganar e fugir das instituições irregulares. “Precaver é o melhor remédio. Observe a estrutura local, a satisfação dos acadêmicos, o atendimento, se os profissionais que ali formaram receberam diploma, reconheci- Contábeis. “A proposta do curso é que o No site do MEC é possível encontrar a rela- do pelo MEC. Em caso de duvida, é funda- aluno estude sozinho, por isso no início do ção das instituições de ensino superior a dis- mental também ligar para o MEC ou pesqui- semestre o aluno recebe um material com tância reconhecidas em todos os estados. sar no site sobre a Instituição”. http://portal.mec.gov.br A Associação Brasileira de Educação a Distância - http://www.abed.org.br/ caros co e as OUTUBRO - 2009 19 CRÔNICA Marina Pereira A primeira e a última entrevista Aguardava a chegada da minha primeira pauta pelo e-mail. Não imaginava o que iria es- bem recebida pela sua filha Ducarmo, que logo crever. Poderia ser sobre cultura, comporta- chamou o Nivaldo Maciel para a sala, onde fo- mento, denúncia, enfim assuntos interessantes mos apresentados. Ele usava uma camisa listra- não faltariam. Até que em uma determinada da e um chapéu na cabeça. manhã vejo na caixa de entrada uma mensagem do ilustre editor. O assunto denominado como pauta tinha *Mineira de Salinas, dedica-se a arte poética desde os 12 anos, participa nesse ano pela terceira vez do 23º Salão Nacional de Poesias Psiu Poético, onde expõe ao público alguns de seus textos. Já publicou matéria no Jornal Gazeta Norte Mineira, Jornal O Norte de Minas, Jornal laboratório Vide Verso e em Caderno Especial do Jornal de Notícias. Estagiária na Assessoria de Comunicação e Marketing da Codevasf, é repórter da Revista Tempo e do Programa Conversa Fiada no Canal 20. E-mail: [email protected] fala daquele seresteiro que ainda carregava na alma a paixão pela música, tanto que relembrou todas as recomendações. A proposta era atraen- com entusiasmo uma das mais importantes te: Centenário de Hermes de Paula - médico, apresentações da seresta, ocorrida em Brasília historiador, folclorista, mas antes de tudo um quando o grupo conseguiu junto ao Presidente apaixonado pelas suas raízes e sua história. Costa e Silva a pavimentação da estrada entre No primeiro momento tive um pouco de rece- Nivaldo Macielcantou emocionado, com a le veículo de comunicação, e também a primeira viola na mão, como na época da seresta, “Ao vez que me via escrevendo sobre o centenário senhor Presidente Costa e Silva, ao cantarmos de uma pessoa tão querida e importante para na alvorada de Curvelo a Montes Claros, nós Montes Claros. pedimos toda estrada asfaltada”. Abracei como nunca a idéia de fazer uma boa Ouvi atentamente o cantar daquele homem, reportagem. Pesquisei em sites, livros, conver- e olhando-o com certa admiração comecei a sei com pessoas que o conheceram, e logo fiquei aplaudi-lo; me encantei com seu encanto. Em sabendo muito sobre o Dr. Hermes, para em seguida disse a ele da minha paixão pela literatura e poesia, sendo que finalizamos a nossa entrevista conversando sobre a arte de rimar. Virginia de Paula, que me falou de algumas das Acredito que eu fui uma das últimas jornalis- particularidades do pai, como a de promover tas a entrevistá-lo. Sinto me feliz e orgulhosa festas alegres e descontraídas para os amigos. pela oportunidade de conhecer o entusiasmo e Virginia me levou até a sala e a biblioteca da anti- alegria desse seresteiro tão amado e querido, ga casa de Hermes de Paula, localizada na área que seduziu durante muito tempo as pessoas da central da cidade, onde encontrei os quadros cidade, e também os visitantes ilustres que por prediletos de Dr. Hermes, e alguns documentos aqui passaram, mais recentemente o Presidente antigos, como jornais, livros, placas, troféus, Luiz Inácio da Silva. Infelizmente o Maciel foi viver junto ao Pai do céu, e essa foi a primeira e Depois de conversar com Virginia resolvi pro- última vez que nos encontramos. Nivaldo Maciel curar o seresteiro Nivaldo Maciel, que era um será sempre lembrado pelo que representa para dos grandes amigos do Dr. Hermes. No catálogo a cultura montes-clarense. de endereços, encontrei o telefone da casa dele, liguei e conversei com uma de suas filhas, para quem expliquei a situação e expressei o meu anseio em conhecer o Nivaldo e um pouco de sua história, na época da seresta. Nos entendemos e marcamos a entrevista. Treze horas e trinta minutos. Esse foi o horário agendado. Era um feriado dia primeiro de maio de 2009. Sai de casa meia hora antes. Andava pela rua naquele dia nublado, com um pouco de ansiedade, queria conhecer logo o Nivaldo. OUTUBRO - 2009 Curvelo e Montes Claros. io, pois era a minha primeira matéria para aque- medalhas, tudo muito bem guardado. 20 alegria e encanto presentes no semblante e na prazo de entrega para cinco dias. Mais do que Inicialmente, entrevistei a sua filha caçula caros co e as Sentei-me ao lado dele no sofá e começamos a nossa conversa, fiquei deslumbrada com a depressa abri o documento e li atentamente seguida ir em busca das minhas fontes oficiais. No primeiro momento tive um pouco de receio, pois era a minha primeira matéria para aquele veículo de comunicação, e também a primeira vez que me via escrevendo sobre o centenário de uma pessoa tão querida e importante para Montes Claros. Ao chegar no endereço previsto fui muito ADEUS AO SERESTEIRO O Seresteiro Nivaldo Maciel, morreu no dia 14/08/2009, numa quinta-feira, aos 89 anos. Casado com Sofia, durante 70 anos, Nivaldo teve 11 filhos, 29 netos e três bisnetos. A partida desse seresteiro representa uma grande perda para a cultura do nosso Como não sou de Montes Claros e moro aqui há povo, pois durante muito tempo Nivaldo menos de três anos, nunca tive oportunidade de Maciel, com sabedoria e encanto, valorizou a vê-lo em outras ocasiões. seresta em Montes Claros, sem deixar morrer uma das mais ricas tradições. MATÉRIA Késsia Marinho O professor de Libras Charley Soares Comunicação ao alcance de todos Fez estágio na Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Montes Claros, trabalha na organização de eventos da Associação dos Municípios da Área Mineira da SUDENE (AMAMS). Estuda jornalismo, se dedica e é autorizada pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais a atuar como intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). E-mail: [email protected] A língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é usada para a comunicação dos surdos, e o seu reco- cia para a difusão na área educacional e os pro- nhecimento pela sociedade influencia no de- fessores devem está sempre atualizados, pois a senvolvimento e na aceitação da cultura surda. Libras é a segunda língua oficial do Brasil.”É No dia 24 de abril de 2002 foi criado um decreto preciso respeitar o direito do surdo, meus alu- que regulamenta a lei n°10.436, determinan- nos aceitaram bem a disciplina, eles têm o dese- do a Libras como disciplina curricular, obriga- jo de aprender cada vez mais, afirma o profes- tória em todos os cursos de licenciatura e fono- sor de Libras”. audiologia. As normas ainda não são cumpri- A disciplina possui aulas sobre a história dos das em todo o país, mas em Montes Claros algu- surdos e relação teórica e prática. O professor mas faculdades já deram a iniciativa com a im- Charley Soares acredita que, de acordo com o plantação da disciplina na grade curricular. Os surdos acreditam que a obrigatoriedade da disciplina é importante, pois irá auxiliar os ouvintes no aprendizado de libras, e assim me- A expectativa dos surdos é que seja implantada a língua em todos os ambientes escolares, para que a inclusão exista de verdade e assim, a comunicação poderá ser alcançada por todos. inclusão da disciplina é de extrema importân- decreto, serão necessários pelo menos uns dez anos até que se inclua a Libras em todas as faculdades do país. A expectativa dos surdos é que seja implanta- lhorar a possibilidade de uma comunicação. da a língua em todos os ambientes escolares, Além da inclusão da língua nas salas de aula, o para que a inclusão exista de verdade e assim, a ideal é que os docentes da disciplina sejam pes- comunicação poderá ser alcançada por todos. O soas com surdez, já que elas possuem total do- reconhecimento de Libras e do profissionalismo mínio. “O interessante é dar preferência para os é o sonho de todas as pessoas com surdez. professores surdos, pois são conhecedores de “Eu sei, algumas pessoas ainda não aceitam libras”, diz o professor surdo, formado em Peda- surdos como profissionais, mas irei lutar sem- gogia, Charley Soares. pre pelo nosso direito” diz Charley Soares. A comunidade surda busca maior valoriza- A luta do povo surdo não é recente, vem de ção pela categoria profissional, pois necessi- muitas gerações, e a inclusão da disciplina de tam de respeito e só assim os cargos destina- Libras nas faculdades, foi com certeza, uma dos a ela não serão ocupados por ouvintes. A vitória merecida. Tecidos & Malharia Crediario super fácil. caros co e as OUTUBRO - 2009 21 CRÔNICA Mara Narciso Incursões Gastronômicas Melhor do que viajar, melhor do que ir a festas, ou ainda mais interessante do que inaugurado o Miako, rede de restaurante de comer é contar como tudo aconteceu. Mile- comida japonesa, na Avenida Mestra Fininha. na, minha mãe, gostava de explicar em deta- E na sexta-feira, depois da faculdade, fomos lhes como era uma comida diferente que para lá Marina, Felicidade, eu e Elpídio, acadê- tinha experimentado. Nunca deixava de co- micos e professor de Jornalismo. Meu filho, mer o que quer que fosse. A curiosidade gas- Fernando, logo se juntou a nós. tronômica da minha mãe não chegava a ser Mara Narciso é médica, cronista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade” E-mail: [email protected] Os ocidentais misturam sem temor as comidas orientais e não raro restaurantes unem num mesmo cardápio comidas da China e do Japão. No Brasil os pratos chineses mais populares são o arroz chop suey, carne de vaca com broto de feijão ou de bambu, frango xadrez, rolinho primavera, e banana caramelada. perigosa, ou fosse algo a servir de tema para itou qualquer alimento estranho, e experimentou tudo que bem preparado fosse, não grama “No Limite”. As esquisitices das igua- me furtei a provar o salmão cru. A bandeja era rias que comeu não chegavam perto do olho uma festa de delicadeza, de arte suave e con- de cabra, ou de vermes vivos, longos e crus vidativa. Para bem o saborear é preciso um comidos numa chupada como se fossem ritual, mas eu cometi o sacrilégio de dispen- uma sopa de macarrão, daquelas que são sar o hashi e pedi um talher. Temerosa de co- degustadas com avidez no refúgio do lar, mo o meu estômago se comportaria, cortei mas foram estranhos algumas vezes. Já a vi com cautela um pedacinho do sashimi e o comendo ostra crua, polvo, jibóia, gia, tatu provei, levando à boca na pontinha do garfo. peba, rodízio e buchada de bode e até “totó” A aparência é agradável, a cor lembra uma de goiaba - a larva de mosca. flor e a textura macia é tenra ao toque dos Para quem acha que comer jiló é uma ex- dentes. Atentei para o sabor leve de uma fru- centricidade, deve experimentar a comida ta que comemos há tempos e não lembramos oriental. Circulou pela internet nos tempos das bem como é o paladar. A raiz forte, e o molho Olimpíadas de Pequim um mostruário do que shoyu, são os complementos necessários se podia apreciar na, para nós sempre extrava- para bem saborear o salmão, que tem a leve- gante, culinária chinesa. Para alimentar o 1,3 za de uma pétala de alguma flor exótica. O bilhão de chineses não há preconceito em se sushi é uma festa de formas e recheios, com comer carne de cachorro ou de cavalo ou de se um leve aroma de frutos do mar, e as suas co- colocar tudo que se move ou se moveu um dia res delicadas entre pedacinhos de frutas, legu- num espeto ou numa gordura quente. Cozi- mes, mariscos ou peixes, já dizem muito da nhar ou não tudo e qualquer coisa é rotina pa- propalada paciência japonesa. Mais tarde, ra os cozinheiros chineses. meu filho arriscou-se no sakê, servido em do- Os ocidentais misturam sem temor as comidas orientais e não raro restaurantes unem caros co e as se generosa no massu, o copo quadrado. À meia noite fui pega de surpresa, pois num mesmo cardápio comidas da China e do meus amigos, sabedores que o dia do meu Japão. No Brasil os pratos chineses mais popu- aniversário principiava, me cantaram o “para- lares são o arroz chop suey, carne de vaca com béns pra você”. Nessa noite agradável, em broto de feijão ou de bambu, frango xadrez, boa companhia e fazendo leves experimenta- rolinho primavera, e banana caramelada. ções gastronômicas, indago: se comemos Entre a comida japonesa os pratos mais co- vegetais crus, qual o problema de comermos nhecidos são o sushi que é o arroz cozido pren- animais crus, desde que fatiados em finas sado a mão ou a máquina, e o sashimi que é películas? Então, sem preconceito, convido qualquer alimento de origem animal sem aos ainda relutantes montes-clarenses a que cozimento. O chinês e japonês comem com experimentem sem medo novas fronteiras Na época em que comer comida japonesa OUTUBRO - 2009 Lembrando da minha mãe, que jamais reje- um programa no canal Discovery, ou no pro- hashi, e não com “pauzinhos”. 22 opções da comida oriental. Recentemente foi gastronômicas. Não me senti desbravando um deserto, e nem indo aonde ninguém foi, em Minas era uma raridade, estive em uns pou- mas por que nos privar de uma experiência cos restaurantes japoneses em Belo Horizonte, gustativa, principalmente na companhia de mas não me arrisquei. Em Montes Claros, de pessoas tão delicadas quanto o sashimi? O forma tímida, vemos chegar com os forasteiros arrependimento será não arriscar. MATÉRIA Luiz Ribeiro Corpos à Venda (...) As zonas boêmias pareciam demarcadas geo- O “roteiro do pecado” atingia a rua Coronel graficamente. Havia uma diferenciação em rela- Joaquim Costa, a antiga rua Lafayete, no trecho ção às prostitutas. Sempre que saíam às ruas que partia da Praça de Esportes até a rua Dom eram facilmente identificadas como “batalha- Pedro II e a Praça da Catedral. doras da noite”. O reconhecimento se dava pe- Num terreno junto à Catedral ficava o antigo cemitério da cidade. Mas, a igreja e o cemitério Luiz Ribeiro dos Santos, 40 anos, desde os 18 exerce a profissão de jornalista, sua grande paixão. Formado em Administração pela Unimontes, pósgraduado em Comunicação, Estratégias e Linguagens pela Unimontes, e em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro. Já recebeu ao todo, 24 prêmios de jornalismo, individualmente ou em equipe, sendo dois prêmios ESSO. Começou a trabalhar em 1989 no "Jornal de Notícias", passou pelo "Jornal Hoje em Dia" e desde 1994, é repórter e Coordenador da Sucursal Norte do Jornal Estado de Minas. Mesmo residindo em Montes Claros, participa de todas as editorias do Jornal. É o jornalista responsável por acompanhar a cobertura sobre a saúde do vice presidente José Alencar. Autor do livro “Corpos à Venda – Um Relato Sobre a Prostituição Infanto Juvenil e Suas Causas”. Atualmente está terminando seu segundo livro, que relata a questão do carvão em todo Brasil, e é acadêmico do curso de Jornalismo na Funorte. E-mail: [email protected] las roupas extravagantes e pelo peso na maquiagem. da cidade não era empecilho para que ali perto As mulheres das zonas eram totalmente mar- funcionassem várias “casas”. Explicando me- ginalizadas da vida social e comunitária. Viviam lhor: de fato, o pecado morava ao lado (e em isoladas pelas barreiras de um apartheid social. frente também). Na década de 50, a menos de Passavam a ser tratadas como se não fossem 200 metros abaixo da Catedral – então, recém- humanas, embora exercessem o papel de satis- construída, a rua Padre Augusto se transforma- fazer os desejos carnais do próprio se humano. ra em outro ponto da Eram impedidas de freqüentar missas e cul- noite. Nela, mais preci- tos religiosos. Dentro dos cinemas, ficavam samente onde hoje es- em partes separadas, pois não tão localizados o escri- podiam se misturar com os casa- tório de atendimento da is de namorados e com as “mo- Cemig e um hotel, se ças de família”. Também não encontravam a “Casa de tinham acesso a bares, restau- Roxa” e a “Casa de Leobi- rantes, festas e quaisquer ou- na”, muito visitadas. O tros acontecimentos ligados às trecho do meretrício na famílias. A presença delas seria Padre Augusto compre- uma afronta à moral e aos endia os quarteirões bons costumes. situados entre a rua Coronel Joaquim Costa e a Hoje, a realidade é outra. (...)... Praça Bom Jesus (rua Belo Horizonte). Naquele tempo, a prostituição possuía ca- Trecho extraído do livro Corpos à Venda: Um relato sobre a prostituição infanto-juvenil e suas causas / Luiz Ribeiro. Montes Claros: Ed. UNIMONTES, 2001 p.132-133. racterísticas peculiares. ESCOLA AUTO I I Fone: (38) 3222-8686 / 99058686 Rua Padre Augusto, 505 - Centro - Montes Claros - MG (Próximo à Cemig) caros co e as OUTUBRO - 2009 23 MATÉRIA Hilton Nunes O coordenador dos serviços de transplante renal da Santa Casa de Montes Claros, doutor Geraldo Sergio Gonçalves Meira Hilton Nunes é funcionário público estadual, músico e acadêmico de comunicação social E-mail: [email protected] Jarbas Oliveira Na fila por um transplante Desde 2005 já se realiza transplante de órgãos demais, alguns foram enviados para outras cida- em Montes Claros. Até o final do mês de abril, 258 des, outros foram destinados a estudos científicos pessoas com deficiências de córneas e de rins em laboratórios acadêmicos ou desprezados por aguardavam na fila do Banco de Órgãos à espera de falta de utilização. doadores compatíveis. Setenta e um deles necessitam de córneas e 187 de rins. Dos 17 transplantes realizados neste ano, 12 foram de rins e cinco de córneas. Ainda não se faz Apesar do aprimoramento dos profissionais e transplantes de outros órgãos em Montes Claros, da evolução da tecnologia, o quadro de transplan- conforme dados colhidos na Central de Notifica- tes realizados ainda é acanhado, uma vez que, dos ção, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional 47 órgãos doados em 2008, apenas 17 foram apro- Norte/Nordeste, que funciona na Santa Casa de veitados para transplantes em Montes Claros. Os Montes Claros. Veja evolução nos quadros: Órgãos doados em Montes Claros Contador e escritor E-mail: [email protected] Ano Córneas Rim Fígados 2005 2006 2007 2008 56 34 64 32 12 22 22 12 03 07 04 03 Pâncreas 05 02 - Fonte: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional Norte/Nordeste. Ano 2005 2006 2007 2008 Órgãos transplantados em Montes Claros Córneas Rim Fígados Pâncreas 22 18 29 13 09 33 12 05 - Fonte: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional Norte/Nordeste. Lista de espera de órgãos em Montes Claros 24 OUTUBRO - 2009 caros co e as Ano Córneas Rim 2005 2006 2007 2008 63 55 77 71 187 196 201 187 Fígados - Pâncreas - Fonte: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional Norte/Nordeste. A equipe de profissionais transplanta- um dos que estão na fila de espera de um dores de órgãos na cidade é constituída por doador compatível. Enquanto aguarda, ele 12 médicos, dos quais, 11 compõem a equi- viaja três vezes por semana a Montes Claros pe de transplante renal, com especializa- para fazer hemodiálise. Sebastião mora com ção em nefrologia, urologia e angiologia, e uma sobrinha e uma irmã e disse que elas se apenas um é especializado em transplante dispuseram a lhe doar um rim, mas os exa- de córneas. O coordenador dos serviços de mes realizados determinaram incompatibi- transplante renal da Santa Casa de Montes lidade. “Infelizmente, nada posso fazer, a Claros, doutor Geraldo Sergio Gonçalves não ser aguardar que me apareça um doa- Meira, 47 anos, e nefrologista há 24 anos, dor. Sei que é difícil, pois além dos doadores disse que a instituição legal da Central de serem muito poucos, ainda precisa ser com- Notificação, Captação e Distribuição de patível, mas eu não perco as esperanças”, Órgãos (CNCDO) trouxe uma maior tran- comenta. qüilidade para os profissionais que muitas Roldane Gomes Chaves 26 anos, mora- vezes eram questionados quanto ao desti- dora do bairro JK em Montes Claros, sofre no dos órgãos doados e a escolha do paci- com problemas renais desde os oito anos. ente a ser transplantado. Aos dez anos passou por um transplante de Geraldo Sérgio explicou que, atualmen- rins, mas, há algum tempo, os problemas te, o CNCDO, depois de verificar a compati- retornaram fazendo-a voltar para a fila de bilidade do possível doador em estado de espera de um novo doador. morte encefálica, comunica à sua família e transplantado, seguindo, evidentemente, a lista única de espera. A Lei de Transplante: No Brasil, o transplante de órgãos obedece às determinações da Lei nº 9394/1997, Na “Fila de Espera”, do Banco de Órgãos “Na verdade, eu apenas realizei um desejo que Flávio já havia me manifestado numa ocasião em que ele retornou de uma aula de anatomia na Universidade Federal de Uberaba, onde cursava enfermagem. Sei que isto não o traz de volta, mas me conforta saber que a vida de alguém está sendo prolongada”. Com estas palavras a bióloga Fernanda Aquino Oliveira Madureira, 30 anos, justifica os motivos que a levaram a doar os órgãos do esposo, Flávio André Madureira, 32 anos, envolvido em acidente de automóvel, na quarta feira de cinzas de 2008, e morto encefálico nove dias depois, no Centro de Tratamento Intensivo – CTI da Santa Casa de Montes Claros. somente após a autorização formal desta, é que a CNCDO determina quem vai ser o O PROCESSO DE DOAÇÃO também conhecida como Lei dos Transplan- da Central Regional Norte/Nordeste, os sen- tes, regulamentada pelo Decreto nº timentos de angústia e de esperança dos 2268/1997, que estabeleceu o Sistema Naci- pacientes que aguardam chegar a sua vez, Fernanda salientou que a sua decisão foi após tomar conhecimento da morte encefálica do marido, diagnosticado pelo médico neurologista. Ela revelou que falta melhor comunicação entre os agentes de transplantes e o responsável pelo doador, pois somente horas depois da morte en- onal de Transplantes (SNT), os Órgãos Esta- cefálica do esposo, uma assistente social a abor- são retratados pelos relatos de Antonio, duais e as Centrais de Notificação, Captação dou sobre a possibilidade de ela autorizar a doa- Sebastião e Roldane: e Distribuição de Órgãos (CNCDOs). ção dos órgãos. Disse ainda que essa demora cau- A legislação conceitua dois tipos de trans- sa transtornos. “Enquanto a família do transplantado sofre a A espera: plante: o doador vivo que se refere ao cidadão juridicamente capaz e que possa doar angústia da espera e da compatibilidade com o Antonio Gonçalves Fernandes,72 anos, órgãos ou tecidos sem causar-lhe conse- doador, a família deste sofre a sua ausência. É nes- residente em Montes Claros, contou que, há qüências futuras; e o doador cadáver que se momento único, em que precisa se decidir pela seis meses, faz três seções de hemodiálise tenha sofrido trauma craniano, derrame cere- doação ou não, que a família enlutada necessita de por semana, e, ainda, não recebeu informa- bral ou outra causa que evoluiu para a “Morte apoio psicológico que possa ajudá-la a reorganizar ções sobre a necessidade de transplante. Encefálica”, assim entendida, como morte as suas idéias. Na prática isto não acontece, e, às Por essa razão, não procurou parentes para irreversível do cérebro e a iminente e inevitá- vezes, quando se decide pela doação, a família chega a esperar até dois dias para receber o corpo uma possível doação. Disse, também, que vel cessação da função de todos os outros nem sabe como se inscrever na lista de espe- órgãos. Nesta situação, o paciente ainda tem para ser velado, devido aos procedimentos médi- ra do Banco de órgãos. o coração batendo, está respirando artificial- cos necessários ao transplante”. Sebastião Pereira de Nascimento, 43 mente com o auxílio de aparelhos e ainda anos, morador da cidade de Pirapora, situa- mantém a pressão e circulação sanguínea da a de 170 quilômetros de Montes Claros, é mediante utilização de medicamentos. Transplantados: José Olinto Ruas de Oliveira, 35 anos, corretor de seguros, mora no Bairro dos Funcionários, em Montes Claros. Ele disse que passou por uma cirurgia de transplante e recebeu um rim e, hoje, sua “A vida é boa de qualquer maneira e cada momento deve ser vivido intensamente. Se há chance de dar vida ou aumentar o tempo de alguém, porque não fazê-lo? Será que um órgão tem mais valor sendo comido pela terra? Ou tem valor dentro de um corpo vivo, dando-lhe a oportunidade de viver mais e melhor? Cada transplante realizado é o tempo de alguém aumentado e um sonho realizado”, diz a garota. vida voltou ao normal, nem parece que há um ano estava fazendo seções de hemodiálise e à espera de doador. Sorrindo, ele completa: “trabalho, pratico esportes, jogo peteca, ando de bicicleta e não bebo mais, a vida é muito boa!” Obs.: As informações prestadas nessa matéria fazem parte de uma pesquisa feita em maio de 2008. caros co e as OUTUBRO - 2009 25 ARTIGO Girleno Alencar O diploma como filtro para o jornalista moderno Começou a trabalhar no Diário de Montes Claros, em 5 de setembro de 1977, como revisor. Em 14 de julho de 1979 começou a trabalhar como jornalista, inicialmente policial, depois esportivo e por fim, geral, no Jornal de Montes Claros. Criou 15 jornais em cidades do Norte de Minas. Desde 1º de outubro de 1991 passou a atuar como jornalista do Jornal Hoje em Dia, na Sucursal de Montes Claros, onde está atualmente. Foi assessor de comunicação da Prefeitura de Janaúba de 1993 a 1995 e da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene de 1993 a 2008. É graduado em História, pela Unimontes e agora acadêmico de Comunicação Social da Funorte. Depois de minha resistência, e até mesmo superando os preconceitos dos colegas práticos, tomei a decisão junto com Luiz Ribeiro de fazermos o curso. A minha primeira experiência como passado de 32 anos nas redações. Me omito, jornalista começou ainda no Colégio o que é raro, na polêmica sobre a Tiradentes, onde estudei o ginasial e necessidade do diploma. É claro que, com científico, e participava do mural do colégio. ele, sei que fica mais fácil trabalhar, sem Recordo, até hoje, da notícia que escrevi correr o risco de qualquer mudança. Não sobre a morte do Papa João Paulo I, cercada posso negar que me surpreendi com a de mistérios e dúvidas. Depois, em 1977, fui decisão judicial, pois tudo indicava que a trabalhar no Diário de Montes Claros, pelas exigência seria obrigatória. Analisar a causa mãos de Reginauro Silva, sempre amigo da da decisão dos ministros do STF é uma família, e onde atuava como revisor. Aprendi tarefa árdua, pois, o ditado popular já muita coisa com Décio Gonçalves, com aponta que somente se sabe o que passa na ênfase sobre como escrever a palavra cabeça de um juiz se abri-la. No caso “frustração”. Saí de lá para atuar na área de específico de Montes Claros, entendo que a construção civil, e depois, no dia 14 de julho faculdade poderia servir de filtro para de 1979, entrar no O Jornal de Montes Claros, definir quais são os profissionais que quando fiz minha primeira matéria sobre o deveriam atuar nas redações. A crise vivida vandalismo no Cemitério do Bonfim. pela imprensa montes-clarense exige que Portanto, são 32 anos de atuação na se busque novas alternativas, e a academia imprensa, e com tanto tempo, retorno à serviria para fazer este papel de separar o bancada de uma faculdade para buscar a joio do trigo e profissionalizar a graduação superior em Comunicação Social. comunicação social. Desde quando surgiu o curso de A despeito da polêmica que cerca a Comunicação Social em Montes Claros, instituição, acredito que ela poderia exercer sempre vivia a dúvida de retornar aos este papel. Foi pensando nisto que me senti bancos da faculdade para adquirir o di- estimulado a buscar o conhecimento ploma, fortalecendo o aprendizado prático. teórico que adquiri na prática. Uma das Depois de minha resistência, e até mesmo barreiras que precisamos vencer é a superando os preconceitos dos colegas dificuldade de colocar os formados no práticos, tomei a decisão junto com Luiz mercado de trabalho, que remunera mal e Ribeiro de fazermos o curso. Trabalhar em está prejudicado pela excessiva jornal da capital sem a graduação acaba interferência dos políticos. Infelizmente o causando impactos e certa discriminação, índice de inserção dos formados é baixo. até mesmo por conta própria. O risco de Mas quem é bom, tem seu espaço perder a profissão, sendo proibido de garantido. Os Wesleys, as Lucilenes, as exercê-la, caso o Supremo Tribunal Federal Gisseles, as Leonídias e tantos outros são derrubasse a liminar concedida pela Justiça exemplos de que a faculdade forma bons Federal, me deixou em pânico, e diante da profissionais, que chegam ao setor sem os pressão do Sindicato dos Jornalistas, vícios das paixões e compromissados tomamos a iniciativa de fazer o curso. No apenas com o profissionalismo. Sei que nos sétimo período, a surpresa com o fim da grandes órgãos de imprensa, somente exigência do diploma. trabalhará o profissional com curso supe- Não posso usar da prerrogativa que estou prestes a adquirir para criticar o meu 26 OUTUBRO - 2009 caros co e as rior. Acredito que logo, em Montes Claros, o mesmo acontecerá... CRÔNICA Caroline Laíze Escolhi ser Jornalista Eu poderia ter escolhido ser médica, advo- não pode ser omitida. O querer, a busca pela gada, empresária, ou alguma coisa do tipo. transparência dos fatos, o desejo de levar a Mas não! Escolhi ser Jornalista - uma profis- público as “ações” políticas, de mostrar que são infelizmente tão desvalorizada nos dias o que diferencia as classes sociais é apenas atuais. Se as pessoas soubessem o quão emo- uma questão de “olhar”, são características cionante é dar voz àqueles que não tem, cer- que dificilmente outro profissional poderia tamente iriam mudar o conceito de que jor- carregar consigo. nalismo é para qualquer um. Mineira de Lassance, fez matérias para o Jornal Hoje em Dia, O Norte, Gazeta Norte Mineira e Jornal de Notícias. Estagiou na Secretaria Municipal de Educação de Montes Claros. É assessora de Comunicação do Sindicato dos Produtores Rurais de Montes Claros e faz estágio no Banco do Nordeste, onde edita e escreve matérias para o jornal eletrônico institucional Super em Ação. Será que todos têm noção da importância Dizer que, “jornalista nasce”, “não forma”, dessa profissão? Somos nós, os jornalistas, pode até ter uma porcentagem de verdade, os responsáveis por fazer a notícia chegar à mas, desenvolver a escrita – escrita adequa- sociedade. Como você soube do 11 de se- da - e questionar o que realmente é preciso, tembro? E da bomba de Hiroshima? Da mor- são coisas que aprendemos no período da te do Papa? Do desastre da princesa Diana? academia. Da copa do Mundo? Com certeza foi pelos Leis? Muitos desconhecem que existem meios de comunicação. para quase tudo, e que o jornalista deve sa- Rotina? Não é para o jornalismo. Diaria- ber, pois trabalha, além de tudo, diretamen- mente nos deparamos com uma coisa nova, te com o sentimento das pessoas. um novo desafio a ser vencido, uma nova Temos o poder de melhorar ou piorar o mundo. Depende de cada um saber o que dizer, pois a verdade muitas vezes dói, mas cara que também precisa ser mostrada, se é que vocês me entendem. Serei sim, uma “profissional formada” da Comunicação, e que, com orgulho, parafraseia o jornalista Cláudio Abramo - "O jornalismo é, antes de tudo e, sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter". Para mim, a imprensa é, talvez, a única arma que impõe respeito contra as ilegalidades. A imprensa, tão temida por corruptos, é a grande arma dos corajosos, que lutam incansavelmente para que a verdade seja dita. Serei sim jornalista! Apaixonada pela profissão e, com formação! caros co e as OUTUBRO - 2009 27 PERFIL Rosângela Alves Investigar um fato, encontrar e apresentar o próximo, buscar e oferecer conhecimento, contar uma história, criar redes... Isso me encanta na comunicação! E-mail: [email protected] Meu lazer é meu trabalho! Ele toca pop rock, black music, dancy. Ele desde muito cedo, ainda criança, era ouvin- ouve pop rock, MPB e entre os seus preferi- te de rádio, hábito pouco comum entre os dos, está Osvaldo Montenegro (intuição). adolescentes da época, e sonhava em fazer Estão também Zé Ramalho, Pearl Jam, Pink locução desde a infância. Floyd e The Fault. Dezoito anos após a primeira locução de Começou como locutor de fim de semana, mas bastou dois finais de semanas pa- rádio, Jean Paulo Mendes Braga, 34 anos, ra conquistar seu quadro permanente. num papo entrevista muito descontraído, Todos os dias, das 20h às 22h, fazia locu- conta sua história. Como tudo começou, e o ção de um programa “normal”, e nas duas que almeja. horas seguintes, atendia a pedidos de ou- É casado com Claudia, uma bela morena vintes, tocando as músicas que pediam. de olhos verdes, que conquistou de vez o Depois de três anos como locutor na cida- homem que faz declarações, oferece músi- de natal, o próprio chefe - na época, Mar- cas e sabe o que fazer para cativar o público cos Osvan, o indicou para um teste na rá- que tem. dio 95,1 - atual Transamérica, em Montes Claros. Contratado! A descoberta Não foi quem lhe ensinou o beabá que Canto uma canção bonita, Falando da vida, em 'Ré maior'. Canto uma canção daquela De filosofia, Do mundo bem melhor. (...) E hoje quem não cantaria Grita a poesia E bate o pé no chão! Intuição: Oswaldo Montenegro Composição: Ulysses Guimarães impulsionou a história que encanta a muitos. Foi quem percebeu o talento precoce do jovem ainda adolescente num trabalho apresentado em sala de aula. Segundo Jean Paulo, a professora Orleide Matos descobriu nele o talento para locutor, quando numa apresentação em sala de aula, fez imitação do apresentador Sílvio Santos, fazendo o show de calouros. Não deu outra. Amiga do dono de uma rádio em Brasília de Minas, onde morava na época, a professora agendou um teste de locução - ele foi, e passou. O locutor alçou novos vôos. E desde então, é o Jean “Loucutor” que todos gostam de ouvir. Ele fala sorrindo, literalmente “sorri com a voz”, e talvez isso tenha feito a diferença. Depois de algum tempo nas rádios, começou a receber convites para fazer cerimonial, comerciais, apresentação de shows – ofícios que se conciliam perfeitamente. E agregou mais qualidade à profissão. Parece cansativo, mas para ele, não é. Como locutor, trabalha quatro horas por dia, de segunda a sábado. Jean apresentou shows que fizeram história: Rappa, Mamonas Assassinas, entre outros. Mas ainda preserva, apesar de não parecer, um pouco da timidez do início da 28 OUTUBRO - 2009 caros co e as Parece fácil? profissão. Jamais se aproxima do artista se Não foi. Jean era tímido, tremia por qual- não for necessário. “Faço o que tenho que quer coisa, mas tinha um ponto a seu favor; fazer - apresento o show e fico no meu can- Jean Paulo fez locução AM, e é pra lá que quer voltar um dia. “O público é muito carinhoso”, diz o locutor, como se remetesse a alguma lembrança to”, enfatiza o locutor. “Adoro o que faço, sinto falta”. Casos hilários Mas a paixão também trouxe desavença. “Já levei ca- CENTRO no, já fui contratado para apresentar show de banda naci- D. PEDRO II, 214 TELEFAX: onal, o contratante não pagou o show e saí escoltado 38 3690-8080 pela polícia. O show não aconteceu, fiquei no prejuízo. Agora, só apresento eventos mediante pagamento à vista”. Segundo ele, não trabalha mais com desconhecidos, AEROPORTO MONTES CLAROS “as agências já conhecem meu trabalho e indicam, e TELEFAX: 38 3690-8090 quando não posso, indico alguém que seja responsável”. Jean é um “cara” simpático, educado e combina com a IBITURUNA CENTER SHOPPING voz que tem. Talvez isso tenha atraído muitas fãs. Recebe presen- TELEFAX: tes, bolos de aniversário e já recebeu até aquelas cartas 38 3690-8085 de muitos metros, tipo as recebidas por artista global. Teve também história como “amor e ódio”. Antes de GUAICUÍ SANTO AGOSTINHO se casar, namorou uma fã que não aceitou o término do romance e apareceu na rádio armada para matá-lo. Sal- TELEFAX: vou-se dessa. Felizmente! 38 3690-3615 Jean Paulo fez locução AM, e é pra lá que quer voltar um dia. “O público é muito carinhoso”, diz o locutor, como se remetesse a alguma lembrança. Quando parou de fazer locução AM, foi porque precisou escolher, e na época, não era viável. Futuramente quer conciliar os dois estilos - apresentar FM e AM. “Se Deus quiser”, diz ele cheio de esperanças. O garoto apresentado ao microfone e aos estúdios de rádio, ainda adolescente, tem pés no chão, sabe o que quer e o que pode, e por isso, é o que é. “Meu lazer é meu trabalho, é esse o trabalho que eu sei fazer, e é bom dema- www.guaicuiturismo.com.br / [email protected] is!” Os ouvintes agradecem. caros co e as OUTUBRO - 2009 29 MATÉRIA José Adriano O homem que brilha Sob a sombra de uma árvore, e locomo- pintor. Ele acrescenta: “na época, meus fi- vendo apenas com uma perna, Antônio lhos eram todos pequenos e eu precisava de Rodrigues Neto, 73 anos, mais conhecido uma fonte de renda para sustentá-los, e o como Antônio Prefeito, apelido que her- engraxate foi a forma que encontrei para dou devido à semelhança com um ex- sobreviver”. prefeito da cidade de Janaúba, passa os dias lustrando sapatos. *Funcionário público municipal em Janaúba - MG, o acadêmico José Adriano viaja diariamente para Montes Claros, onde cursa o 7º período de Jornalismo na Funorte. E-mail: [email protected] Já se passaram três décadas, e Antônio não pensa em deixar a profissão. Segundo Seu “local” de trabalho é uma praça no ele, enquanto tiver saúde vai continuar bri- centro de Janaúba, onde engraxa sapatos há lhando sapatos, e ainda brinca. “Minha mãe 32 anos. Um homem simples, de sorriso cati- está com cem anos, eu também posso che- vante, parece não se importar com as dificul- gar à mesma idade dela”. dades que o acompanham. Rodrigues Durante esse tempo o engraxate conse- conta que era pintor, mas guiu uma clientela fiel. Sapatos de pessoas quando tinha 42 anos, sofreu um acidente ilustres já passaram pelas mãos de Antônio, de carro e na ocasião perdeu uma das per- como os dos ex-prefeitos de Janaúba: Adeli- nas. Para se locomover, precisa de muletas, o no Dias, Edilson Brandão Guimarães, Joa- que impossibilitou continuar na profissão de quim Maurício, e até os sapatos do ministro das comunicações Hélio Costa. Rodrigues tem amigos e clientes que nunca deixaram de ir à praça para engraxar os sapatos, como é o caso do Sr. Valdivino Silva Santos. O engraxate trabalha de segunda a sábado das oito da manhã às 18horas, e aos domingos somente na parte da manhã. Os preços pela prestação de serviços variam; o sapato custa R$2,50 e as botinas R$5,00. De acordo com Antônio, os números de pares engraxados variam entre dez e quinze por dia. Ressalta ainda, que a crise não chegou até ele, no entanto, há um receio que possa atingi-lo, pois tem percebido que o movimento no comércio tem diminuído bastante. Independente da crise, todos os dias Antônio prefeito está pronto para fazer brilhar os sapatos de alguém. 30 OUTUBRO - 2009 caros co e as MATÉRIA Joana Cristina A fé que uma comunidade abraça O momento da Eucaristia é, para os católi- sentiu que aquilo era demais para ela. Agora, ela cos, o ápice da santa missa. A presença real do se vê aproximar o tempo de entregar o ministé- Cristo se encontra na Eucaristia vivida e refleti- rio. “Sinto-me angustiada, vazia, mas devemos da a partir do mundo dos pobres e excluídos. proporcionar esta alegria a outras pessoas para Feliz daquele que foi escolhido do meio do que elas tenham a experiência que tive”, diz. povo para ministrar o santo corpo de Cristo. Acadêmica do 7 Período de Jornalismo, Joana Cristina é da cidade mineira de Itacambira, estudou teologia e é ministra extraordinária da Sagrada Comunhão. E-mail: [email protected] MARA NARCISO gar o ministério e aguardar outro ministério ro Lopes, da comunidade de Lourdes, Montes que o padre da paróquia Nossa Senhora da Claros, ministra extraordinária da Sagrada Co- Consolação, monsenhor Geraldo Marcos To- munhão, conta como se sentiu ao receber o lentino, deverá indicar. Socorro estudou qua- convite. “ Há quase quatro anos, recebi uma tro anos de Teologia para Leigos, curso minis- visita de uma senhora ministra em meu local trado pela Arquidiocese de Montes Claros e de trabalho, ela trazia nas mãos um envelope três anos em Iniciação Teológica pela Puc/Rio. contendo um convite para fazer o curso de Dedica uma grande parte do tempo em fun- ministra da Comunhão Eucarística. Olhei para ção da Igreja. Coordenadora da Liturgia, mem- ela sem acreditar e com muita emoção a abra- bro do ministério de música e dá aulas em um cei, ”emocionada conta Socorro. mini-curso de Teologia para agentes de pas- Conforme a Igreja, toral da própria paróquia. Ministros Extraordiná- De acordo com a Igreja, todos que se senti- rios da Sagrada Comu- rem chamados podem exercer a função. Po- nhão, é um grupo de rem terá que seguir alguns critérios conforme pessoas, que apresen- resolução do Sínodo Diocesano como partici- tadas pela comunida- pação de curso de formação específico com de e aprovada pelo base bíblico litúrgico e dos documentos da pároco, recebe um Confederação Nacional dos Bispos Brasil. É mandato do bispo essencial que o ministro da comunhão tenha diocesano para exer- uma espiritualidade forte e profunda com a cer o ministério por leitura diária da Sagrada Escritura e cultive um tempo determina- uma união espiritual com Maria Santíssima. do, podendo ser reno- Na comunidade Nossa Senhora de Lour- vado conforme crité- des, o ministro extraordinário da Sagrada rio do pároco. Igreja Nossa Senhora de Lourdes, bairro de Lourdes Ainda este ano, Socorro Lopes deve entre- A técnica em enfermagem, Maria do Socor- Comunhão deve participar das formações da Após o Concílio do própria comunidade e da paróquia que são Vaticano II (1962-65), ministradas uma vez no mês e da Adoração o Papa Paulo VI autorizou a instituição desses do Santíssimo uma vez por semana, em reu- ministros, fiéis leigos cuja missão é facilitar aos nião com todos os ministérios da comunida- celebrantes a distribuição da Sagrada Comu- de. A espiritualidade do ministro é baseada nhão em igrejas, capelas, hospitais, aos doentes na Eucaristia. “Uma fé que busca a benção em nas casas e outros lugares na ausência do pa- qualquer coisa e em tudo dá graças antes mes- dre. Também zelam pelos vasos sagrados, alfai- mo de ver ou saber qual é a benção. Esse é o as e tudo o que se refere à Sagrada Eucaristia. ideal que o ministro da Eucaristia se esforça Socorro conta que no momento do convite por alcançar”, relata Socorro. caros co e as OUTUBRO - 2009 31 MATÉRIA Felicidade Tupinambá ARIGATÔ! Funcionaria pública, administradora, advogada e acadêmica do curso de jornalismo, atuou nos jornais Diário de Montes Claros, Jornal de Noticias, Estado de Minas e portal Grandeminas.com. Atualmente atua na assessoria de comunicação e Marketing na Codevasf, escreve para a Revista Tempo, in360.globo.com, assina o site www.felicidadetupinamba.com.br e apresenta o programa Conversa Fiada no Canal 20, além de promover eventos reconhecidos nacionalmente. E-mail: [email protected] A saga dos japoneses no Brasil e em Montes Claros “Eles estão chegando”. A chamada, veiculada em outubro de 2007 na mídia de Montes Claros, era apenas o anúncio da revendedora de carros Honda, inaugurada naquele ano na cidade. De fato, os japoneses chegaram ao Brasil em 1908 e, a Montes Claros precisamente em 1957.Quatro famílias foram precursoras desta epopéia entre nós. Falar um pouco dos Takaki, Shibuya Shoichi, Fujii, Shibuya Yassuo e Hayakawa, é o que se encarrega a reportagem que se segue, neste ano em que se comemora em todo o país o centenário da imigração japonesa. Falar particularmente dos Takaki, é uma explicita homenagem ao Júlio e Dona Mercedes, pioneiros e também personagens da mi- Lauro Takaki e sua esposa Olga Guimaraes Takaki nha infância, na Fazenda do Melo, para onde Como pioneiros, a família Takaki teve papel primordial no acolhimento a outros japoneses que aqui aportaram. Ajudaram a fundar a Associação Nipo Brasileira, que congrega hoje todos japoneses, não só de Montes Claros, do norte de Minas e preserva seus costumes e cultura. vieram de Pindamonhangaba-SP, à convite do Waldomiro Marcondes, proprietário da Fazenda do Melo, hoje bairro Ibituruna, e onde foram recebidos pelo meu avô, Antonio de Nico. 32 OUTUBRO - 2009 em 1957, com menos de 18 anos de idade, a Júlio foi quem, em infância remota, aplicou em pedido de seu pai Yosshiro Takaki, naturaliza- mim, sob protestos, a primeira injeção e Dona do Júlio Takaki. Lauro veio dar início à uma Mercedes me serviu pela primeira vez, doce de plantação de legumes e verduras; preparar feijão, que comemos entre risos e espanto própri- terreno e fazer diques, numa chácara localiza- os dos atos inaugurais. Coisas da infância que a da na Fazenda Melo, hoje, bairro Ibituruna. Tal gente não esquece jamais. Foi bom revê-los ago- chácara pertencia ao fazendeiro paulista de ra, ainda que em fatos e fotos narrados na mono- Pindamanhangaba, São Paulo, Waldemiro grafia a que me recorri, de Olga Guimarães Takaki, Marcondes e onde, desde os tempos do Dr. casada com Lauro o primogênito da família. To- Santos, antigo dono destas terras era o fiel mei ainda de assalto, a crônica de José Gonçalves zelador, Antonio de Nico. Ulhôa, amigo fraterno da família, e um parente caros co e as A primeira família que chegou a Montes Claros foi a Takaki. Lauro Takaki aqui chegou ilustre, casado com a prima Cecy Tupinambá. Em sua companhia veio o Shoichi Shibuya que já trabalhava com a família Takaki em São FAMILIA SHIBUYA- I Shochi Shibuya nasceu em 07 de março de1929, em Shinto-Tsukawa- Hokkaido e desembarcou no Brasil em maio de 1956, em Pindamanhongaba-SP. Chega a Montes Claros em 1957, para atuar em horticultura. Vindo também a exercer a profissão de veterinário na década de 80. Em 1962, retorna ao Japão para se casar com Michiko Shibuya, natural de Iwamisaka- Sri, Horkkaido. Em Montes Claros eles tiveram quatro filhos: Shojii, Mitti, Miriam e Michel Shogo. Recentemente recebeu homenagem da câmara municipal de Montes Claros. FAMILIA SHIBUYA- II Yassuo Shibuya nasceu em 25 de abril de 1957 em Shintotsukawa-Hokaido. Ele chegou ao Brasil em setembro de 1968 e veio diretamente para Mon- Lauro Takaki e suas filhas Patricia e Débora. Os Takaki foram os primeiros a chegar em Montes Claros tes Claros, onde já morava um tio paterno. Aqui, depois de atuar na agricultura passou para o comercio, casou-se com uma montesclarense, Raquel de Paulo. A volta de Lauro à Pindamanhagaba para respectivamente. Júlio desembarcou no Brasil e servir o exércíto apressou a vinda de seu pai Júlio foi morar inicialmente em Cafelândia, São Paulo, Magalhães e juntos tiveram tem cinco filhas. Takaki, que resolvido trouxe toda a família. Dona como muitos japoneses que aqui chegaram. FAMILIA FUJII Mercedes (Kioe Takaki), e os filhos Jorge, Fausto, Depois, foi para Pindamanhangaba onde culti- Fujii Shibuya nasceu em Yamaguchi-Ken no Cássio, Sátio, Nelson, Nanae e Yae. vou café e bicho-da-seda. Em seguida passou a dia a 12 de junho de 1934, formou-se em técnico As técnicas de cultivar tomates e de construir trabalhar em plantações de arroz para fabrica- agrícola, casou com Hifumi, sua conterrânea, e diques para irrigação deram aos Takaki e à Shoi- ção de sakê chegando a chefe da Estação Experi- juntos chegaram ao Brasil em 1959. Primeiro pas- chi Shibuya lugar de destaque na produção de mental de Arroz. Em Montes Claros, além do saram pelas cidades paulista de Mogi das Cruzes, hortigranjeiros no comercio local. Suas bancas de cultivo de hortaliças e verduras, tornou-se mais Franca, e na década de 1960 vieram para Montes verduras no mercado municipal, ainda são dispu- tarde funcionário da empresa de circuitos inte- Claros, especificamente, para a Fazenda Boquei- tadas até os dias de hoje. Portanto, foi a família grados Fujinor, na função de tradutor, pois fala- rão, a caminho de Januária, onde cultivam bana- Takaki que aqui estabeleceu primeiro, com todos va bem japonês, português e inglês. na, poça e hortaliças. os seus membros e com ânimo de ficar. Como pioneiros, a família Takaki teve papel Yosshiro Takaki nascido em Hiroshima a primordial no acolhimento a outros japoneses 09/7/1911, casado com Kiyoe Takaki nascida em que aqui aportaram. Ajudaram a fundar a Associ- 18/10/1920, natural de Wakayma, naturaliza- ação Nipo Brasileira, que congrega hoje todos ram-se brasileiros, tão logo desembarcaram no japoneses, não só de Montes Claros, do norte de Brasil, recebendo o nome de Júlio e Mercedes, Minas e preserva seus costumes e cultura. FAMILIA HAYAKAWA A 5ª família japonesa a vir para Montes Claros foi a Hayakawa. Saíram do Japão em 1958 e passaram a residir em Montes claros desde 1976. Yukinobu Hayakawa nasceu em 1948 em Toyo- caros co e as OUTUBRO - 2009 33 kawa. Tinha pai empresário no Japão. Lá eles fecharam a fábrica da família e vieram para o Brasil. Inicialmente Yassuo Shibuya trabalhou como engenheiro eletrônico de automação na empresa eletrônica Fujinor. Aqui conheceu e casou-se com Julieta Yae, filha de Júlio Takaki e de Dona Mercedes. Cem anos já se passarem de uma história brilhante e que proporcionou ganhos em vários setores da economia brasileira, especialmente, na agricultura. E parece que os próximos anos , com a eminência de uma escassez da produção Yassuo Shibuya, sua esposa Raquel e filhas de alimentos no mundo, o Brasil se apresenta, mais uma vez, o destino certo como campo de cha na Amazônia, plantações de pimenta no novas possibilidades, e os japoneses como a mão Pará, entre outras. de obra imprescindível para podermos contar mais cem anos de história. Que venham mais japoneses! A primeira geração nascida no Brasil viveu de A segunda geração de japoneses no Brasil viu, definitivamente, sepultada a esperança de retornar ao Japão. A eclosão da II Guerra Mundial aba- forma semelhante ao país de origem. Ainda domi- lava a terra natal. Era mais seguro permanecer no nados pelo desejo de regresso ao Japão, educa- Brasil. Muitos imigrantes começam a chegar nes- vam os filhos dentro da cultura japonesa. As co- te período, atraídos pelos parentes que já tinham A LEI DE IMIGRAÇÃO E O INÍCIO DA munidades fundavam suas escolas. A predomi- imigrado. E desde 1930, o Brasil já abrigava a mai- IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL nância do meio rural facilitou o isolamento. E é or população de japoneses fora do Japão.Os imi- Desde o final do século XIX, a Europa vivia uma explicável porque até hoje muitos brasileiros de grantes se convenceram, então, da necessidade crise demográfica, grande crescimento populaci- origem japonesa possuem dificuldade em falar o de preparar os filhos, para ascender na sociedade onal, a economia não conseguia gerar os empre- português. Ao contrário do planejado, no entan- brasileira. E para isso, mudaram de cenário - fo- gos necessários para toda a população, sem con- to, apenas 10% dos japoneses que imigraram ram do campo para a cidade. É no ambiente urba- tar que o fim do feudalismo incentivou a mecani- antes da II Guerra mundial voltaram para a terra no que começou a história da terceira geração. zação da agricultura. As oportunidades de em- natal. O restante ficou para sempre no Brasil. pregos ficaram escassas e uma massa de trabalhadores rurais miseráveis foi se formando. Enquanto isso, no Brasil faltava mão-de-obra na zona rural. Em 1902, o governo da Itália proibiu a imigração subsidiada de italianos para São Paulo, até então a maior corrente migratória. As fazendas de café, principal produto de exportação do Brasil, passaram a ressentir a diminuição drástica dos italianos. O governo brasileiro, então, precisou encontrar nova fonte de mão de obra. Em 1907, foi publicada a Lei de Imigração e Colonização, permitindo a imigração entre Brasil e Japão. OS SONHOS E A DIFICULDADE DE ADAPTAÇÃO De 1908 a 1940, aproximadamente 160 mil japoneses vieram morar em terras brasileiras. A maioria dos imigrantes preferiu o estado de São Paulo, onde predominavam os cafezais e onde já estavam formados bairros e até mesmo colônias com um grande número de japoneses. Porém, algumas famílias espalharam-se para outros cantos do Brasil como, por exemplo, agricultura no norte do Paraná, produção de borra- 34 OUTUBRO - 2009 caros co e as Quando o Brasil declarou guerra ao Japão, a comunidade japonesa foi diretamente atingida. O REVERSO DO CAMINHO O governo de Getúlio Vargas rompeu relações Na década de 1980 , alta inflação, a crescente diplomáticas com o Japão, proibiu o uso da lín- dívida externa e a instabilidade política levaram gua japonesa, fechou escolas, e considerou todas muitos brasileiros (principalmente os mais jovens) as manifestações culturais nipônicas como atitu- a procurar melhores alternativas de vida em ou- des criminosas. Até mesmo o hasteamento de tros países e, no caso dos descendentes de japone- vontade de trabalhar, sua arte, costumes, bandeira. Em meio à situação, surgiu o Shindo ses, o Japão. Fizeram o caminho de volta e com os língua, crenças e conhecimentos. Por Renmei, uma organização extremista japonesa mesmos sonhos dos seus avós. Estes indivíduos outro lado a sociedade brasileira tinha são aqueles denominados de dekassessis. Hoje em como característica a miscigenação. No criada no Brasil. A maioria dos 200 mil imigrantes não aceitou a derrota em 1945, e assim a colônia se dividiu em O INTERCÂMBIO CULTURAL Os japoneses trouxeram junto com a dia vivem legalmente no Japão muitos brasileiros, caso nipônico levou algum tempo para a maioria dos quais são dekasseguis, brasileiros de acontecer. No ambiente rural, a proximidade entre os membros da comunidade, e a força das relações familiares fizeram com que as tradições japonesas permanecessem vivas, ao contrário do que ocorre na cidade, onde em geral as relações são mais impessoais. Como hoje em dia, a maioria das gerações mais novas, vivem na região urbana, a tendência é que assimilem mais os costumes brasileiros do que os japoneses. Alguns hábitos, no entanto, resistiram e os culinários estão entre os mais renitentes. E assim, alguns ícones da culinária e do esporte se encontram bem difundidos em nosso dia- a-dia. É o caso de pratos como o sushi, sashimi, da introdução de frutas como o caqui doce, a mixirica poça e o moran- Míriam e sua mãe Michiko Shibuya Yugi Yamada, presidente da Associação Nipônica do Norte de Minas go. Praticas como a rotação de cultura, hidroponia e de esportes como , Kendô, Aikidô, judô, Karatê, sumô , e até a dissemina- “derrotistas” (makegumi), menos de 20% da po- origem japonesa, mestiços e seus cônjugues, que pulação, e os “vitoristas” (kachigumi). Essa orga- vão ao Japão para trabalhar, a maioria como ope- nização pretendia propagar no Brasil a idéia de rários na indústria. A comunidade brasileira no casamento de japoneses fora da colônia que o Japão não tinha perdido a guerra, pois seria Japão é o segundo maior fora do Brasil. De acordo japonesa, que não era aceito pela maioria ção de religiões como o budismo. Outro exemplo desta influência é o uma invenção dos Estados Unidos para enfraque- com o Banco Central, no terceiro trimestre de dos imigrantes. Como a maioria pretendia cer o país asiático.Os imigrantes japoneses eram 2007, pessoas físicas enviaram do Japão para o voltar para o Japão, se se casassem com fiéis ao Imperador do Japão, Hiroito, e grande Brasil US$ 159,4 milhões de dólares (aproximada- um não-japonês (gaikokujin), teria que parte tornou-se membro da organização. Com a mente R$ 279,9 milhões de reais ). permanecer no Brasil. Mas foi a questão derrota na segunda guerra o Japão perdeu o do- étnica-cultural a que mais dificultou a mínio sobre Taiwan, Coréia e Manchúria. miscigenação com uma cultura tão fecha- Mais de seis milhoes de japoneses tiveram que retornar ao arquipélago, agravando o cenário de miséria e destruição. A política migratória foi mais uma vez incentivada. E em abril de 1952 o Brasil volta a receber nipônicos desta vez para PESAR "A vida acontece enquanto fazemos planos...” Quando escrevi esta matéria, sublinharmente queria prestar uma da como a japonesa. O isolamento étnico acabou por se deteriorar a partir da década de 1970. Os imigrantes de primeira geração raramente se casavam com um não-japonês, po- atender às industrias paulistas que necessitavam homenagem ao seu Júlio e Dona Mer- de mão-de-obra. Após a segunda guerra, mais de cês ainda viva. . Eles faziam parte de 53,5 mil japoneses chegaram ao Brasil. parte de minha historia de vida no Me- os japonses das ultimas gerações já ti- Atualmente, o Brasil é o país com a maior quan- lo. Que pena que a vida acontece en- nham, em sua maioria, um não japonês na tidade de japoneses fora do Japão. Plenamente quanto fazemos planos. Dona Mercês árvore genealógica. integrados à cultura brasileira, este povo tem foi ao encontro de seu Júlio. Que este contribuído com o crescimento econômico e texto seja agora uma forma de oração e desenvolvimento cultural de nosso país. o meu preito de gratidão pelo muito que aqui fizeram. rém, a partir da segunda geração a restrição foi eliminada. Principalmente porque caros co e as OUTUBRO - 2009 35