revista n.º 15 · publicação periódica · março 2013

Transcrição

revista n.º 15 · publicação periódica · março 2013
REVISTA N.º 15 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2013
O DESEMBAR UE
índice
ficha técnica
Editorial
A Sede está sempre à disposição dos Associados
3
Cooperação
Visita do Comandante do Corpo de Fuzileiros de Portugal
aos Fuzileiros de Angola
4
Notícias
O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça
na Associação de Fuzileiros
Fuzileiros visitam o Comando Territorial da GNR
de Santarém
Em memória de Jaime Neves
5
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Cultura e Memória
Salpicos de Vida – SPM 0468 N.º 8 – Fuzileiros na piscina…
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Opinião
Aproveitar Recursos
O Direito de Dizer – O Advogado, o Dever de servir a Justiça e o seu Direito/Dever de Protestar
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Convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4 – Guiné 1965/67
XXXI Encontro de Marinheiros da Beira Alta
Companhia de Fuzileiros N.º 3 – Guiné 1963/65
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1967/69
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 8 – Guiné 1969/71
“Escola” de 98
Companhia de Fuzileiros N.º 2 – Angola 1966/69 e Angola 1970/72
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Directores Adjuntos
Cardoso Moniz e Marques Pinto
presta homenagem ao seu antigo Presidente, Dr. Ilídio das Neves Luís 24
Homenagem a Rebordão de Brito
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Colaborações
Delegações da AFZ
LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,
Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,
Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro
Gonçalves
Museu do Fuzileiro
A Associação Nacional de Fuzileiros Entrevista
Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias
27
Divisões
Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas
34
Crónicas
Breves estórias da Guiné
Crónicas de Outros Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa
Orlando de Sousa Cristina
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Um herói a quem os Fuzileiros muito ficaram a dever em Moçambique
39
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Cartas ao Director
A história de um Fuzileiro e da sua namorada Fernanda
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Almoço de Natal
O Almoço/Convívio de Natal – 16 de Dezembro de 2012
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Delegações
Delegação do Algarve
Delegação de Juromenha/Elvas
Delegação de Vila Nova de Gaia
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48
Timor-Leste: entre as lembranças do passado e a realidade presente
Obituário
Diversos
Coordenação gráfica
e paginação electrónica
Manuel Lema Santos
[email protected]
Impressão e acabamento
Gazela - Artes Gráficas, Lda.
Rua Sebastião e SIlva, n.º 79 - Massamá
2745-838 Queluz
Tel.: 214 389 750 • Fax: 214 371 931
www.gazela.pt
Tiragem
2.000 exemplares
49
Reportagem
Edição e Redacção
Direcção da Associação de Fuzileiros
Director
Lhano Preto
Homenagens
Propriedade
Associação de Fuzileiros
Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.
2830-356 Barreiro
Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461
email: [email protected]
www.associacaofuzileiros.pt
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Corpo de Fuzileiros
Publicação Periódica da
Associação de Fuzileiros
Revista n.º 15 • Março 2013
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55
Exceptuando-se os artigos assinalados e da
responsabilidade dos respectivos autores,
a redacção desta revista não está adaptada
às regras de novo acordo ortográfico
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editorial
Francisco Lhano Preto
N
os últimos tempos a Sede da Associação de
Fuzileiros, por uma razão ou por outra, não foi
chamariz suficiente para que, sempre, os seus
sócios e mesmo as Unidades e ex-Unidades de Fuzileiros
fizessem os seus encontros de confraternização e diversão
neste lugar tão agradável, acolhedor e tão nosso.
A Sede está sempre
à disposição
dos Associados
Foi sempre uma das situações que me preocupou, já que
muitos destes convívios eram realizados quase sempre no
município do Barreiro, devido à nossa ligação à Escola-mãe, e talvez só metade eram concretizados no local,
para nós tão místico “A nossa Sede”.
Até porque para além de ser nossa, possui todos os ingredientes que um Fuzileiro possa sonhar; um rio Coina
com muito lodo e uma praia em frente, onde quase por
certo desembarcou durante o dia e muitas vezes à noite.
Mais, quem não quer relembrar um pôr-do-sol africano
ou um reembarque em Pinheiro da Cruz, na explanada da
Associação, no fim do dia?
Por tal, decidiu a Direcção tentar alterar a situação,
mudando até a gerência do restaurante, dando assim
mais um passo para que se possa iniciar uma nova era de
convívios dos Fuzileiros. A sala também foi restaurada e
terá dentro em breve um alto-relevo dedicado ao Fuzileiro.
Esta nova fase já foi iniciada, tendo tido como teste, um
jantar no dia dos namorados, porque “Fuzileiro que não
está enamorado, não é certamente um bom Fuzileiro”.
Para quem não esteve presente, adianto que neste serão
houve muito convívio, muita animação e não faltou a bela
música ao vivo. Este primeiro evento foi muito agradável e
penso que toda a nossa gente saiu satisfeita.”
Está de parabéns o senhor Cabrita e a esposa (Dona
Alzira), tendo todos nós muito a esperar.
Porque o número de telefone do Snack-Bar foi alterado,
deixo o novo contacto para marcação de algum evento:
210 853 030.
Termino concluindo “caro sócio a sede é tua, usa-a nos
teus eventos para teu proveito, dos teus familiares e
dos amigos”.
“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre
Lhano Preto
Presidente da Direcção
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cooperação
Visita do Comandante do
Corpo de Fuzileiros de Portugal
aos Fuzileiros de Angola
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico
N
o âmbito do programa da 1.ª Reunião
Formal entre os Estados-maiores das
Marinhas de Angola e de Portugal,
realizada em Angola de 17 a 23 de Novembro de 2012, e em que o Comandante
do Corpo de Fuzileiros, Contra-almirante
Cortes Picciochi, foi nomeado como chefe
da delegação da Marinha Portuguesa, foi
incluída uma deslocação ao Ambriz, onde
se encontram instaladas a Brigada de Fuzileiros Navais (BFN) e a Escola de Fuzileiros Navais de Angola (EFN).
A deslocação da delegação da Marinha
portuguesa, que incluiu dois oficiais superiores da Divisão de Relações Externas
do EMA, foi acompanhada pelo Diretor
Técnico do Projeto 8 (Marinha) da CTM
em Angola, CMG Xavier da Cunha, e por
uma importante comitiva da Marinha de
Guerra Angolana, que integrou o Vice-almirante Jorge Correia da Silva, Chefe da
Direção de Preparação Combativa e Ensino, o Contra-almirante Ferreira de Jesus,
Chefe Adjunto da Direção de Operações, e
o Contra-almirante João Cambole, Chefe
Adjunto da Direção de Pessoal e Quadros.
Após uma viagem por estrada, que requereu cerca de quatro horas para se percorrer os cerca de 170 quilómetros de distância, e que inclui um exigente troço de
picada em terra batida, a comitiva chegou
às instalações da BFN, cerca das 10h30m,
onde foi recebida pelo Contra-almirante
Bamba Castro, ilustre comandante daquela unidade de fuzileiros, e pelo assessor
técnico permanente, CMG FZ Ova Correia.
Depois das honras militares garbosamente
prestadas por um pelotão da Polícia Naval,
4
no exterior da unidade, deu-se início ao
programa da visita com um briefing sobre
a organização, missão e dispositivo das
unidades operacionais que constituem a
estrutura operacional da BFN, seguida de
uma breve visita às instalações, tendo sido
no final oferecido um serviço de refrigerantes e café.
De seguida, a comitiva e acompanhantes militares dirigiram-se para a praia da
Kinfuca, situada a 14 kms a sul da vila do
Ambriz, onde o Contra-almirante Cortes
Picciochi assistiu a um “static display” dos
equipamentos de C2 e do armamento orgânico das unidades de fuzileiros, e ainda
a uma demonstração de capacidades anfíbias em que elementos do destacamento
de ações especiais realizaram uma incursão em terra a partir do mar, enquadrado
num ambiente de combate à pirataria.
Apesar de algum atraso, a segunda parte do programa da visita à EFN teve início com uma guarda de honra à entrada
daquela unidade, localizada na zona litoral norte da vila, e após os cumprimentos
protocolares foi realizada uma apresentação pelo Comandante da EFN, CMG FZ
Vaz Gonçalves, onde foram salientados os
aspetos organizativos e funcionais daquela unidade de ensino militar, e enaltecida
a importância das sucessivas equipas de
assessores fuzileiros portugueses, desde
o ano da criação da primeira Escola de Fuzileiros em 1994, na ilha de S. João da Cazanga, a sul de Luanda. Posteriormente,
as entidades visitantes percorreram o espaço interior da unidade, onde assistiram
a demonstrações das atividades práticas
de instrução militar básica dos cursos de
cadetes, sargentos e praças que ali decorrem atualmente, assim como foram conhecidas algumas instalações essenciais
ao apoio sanitário da guarnição, e outras
recentemente inauguradas de apoio à formação.
O almoço servido na messe de oficiais, de
ementa recheada com pratos e acepipes
típicos constituiu um momento de franco
convívio, onde se reviveram histórias da
formação de alguns dos oficiais presentes
nos cursos em Vale de Zebro, e de outros
fuzileiros portugueses enquanto assessores em Angola, ressaltando sempre um
forte espirito de trabalho e de partilha de
conhecimentos e experiências, de respeito mútuo, e de amizade sempre renovada
entre os elementos dos fuzileiros de Angola e de Portugal.
Em ambas as visitas, foram efetuadas
trocas de presentes institucionais e foi
assinado o livro de honra destas duas
unidades de fuzileiros angolanos, onde
o Contra-almirante Cortes Picciochi
deixou missivas de reconhecimento pelo
excelente acolhimento, profissionalismo
na ação e relevância das nobres missões
atribuídas à Escola de Fuzileiros Navais
e da Brigada de Fuzileiros Navais, quer
na formação de novos marinheiros e
fuzileiros, quer na defesa dos interesses
nacionais e da soberania nacional, nos
diversos pontos do território onde se
encontram posicionadas as forças e
unidades de fuzileiros de Angola.
Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre!
Ova Correia
CMG FZE/ATP
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notícias
O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça
na Associação de Fuzileiros
A
convite da Direcção Nacional, o
Chefe do Estado-Maior da Armada,
Almirante Saldanha Lopes, almoçou no Snack-Bar da Associação de Fuzileiros, no passado dia 25 de Fevereiro.
Participaram também no que foi qualificado como um “almoço de amizade”, o
Comandante do Corpo de Fuzileiros, Contra-Almirante Cortes Picciochi, o Chefe
de Gabinete do CEMA, Contra-Almirante
Seabra de Melo, e o Capitão-Tenente
Afonso e o 1.º Tenente Silva Ângelo, oficiais que integram o Gabinete do CEMA.
Fizeram as honras da casa, o Contra-Almirante Leiria Pinto, Presidente da
Assembleia-Geral da AFZ, o Comandante
Lhano Preto, o Comandante Cardoso Moniz e o Doutor Marques Pinto, Presidente
e Vice-Presidentes da Direcção, respectivamente.
No final do almoço, o CEMA percorreu
o Salão Polivalente da AFZ e esteve
na esplanada do nosso Snack-Bar
contemplando a vista sobre o rio Tejo e
observou, particularmente, os “Moinhos
de Maré” que dali se vislumbram em
pequenas ilhotas.
Durante o almoço, que também foi de
Um mundo de soluções para o seu lar...
trabalho, trataram-se vários temas relacionados com a AFZ e com a sua importância para a Marinha, no quadro da sua
influência e unidade nacional e, também,
na colaboração que poderemos prestar,
na semana da Marinha e Dia da Marinha,
cujas comemorações decorrerão na semana de 20 de Maio próximo, no Barreiro.
“O Desembarque” cumprimenta o CEMA
e, particularmente, o Almirante Saldanha
Lopes, a quem convidou para ser um
Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt
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próximo entrevistado da nossa Revista.
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notícias
Fuzileiros visitam
o Comando Territorial
da GNR de Santarém
O
s movimentos de Fuzileiros para
Santarém estão normalmente associados a missões de apoio às populações ciclicamente atingidas pelas cheias
do Rio Tejo que, de tempos a tempos,
galgando as margens, transforma estradas em perigosos canais e a Lezíria num
grande lago onde os botes de borracha ou
as lanchas de pequeno calado se tornam
imprescindíveis.
Neste 7 de Dezembro de 2012 a missão
foi de cariz diferente e obedeceu a um plano traçado pelo Comandante do Comando
Territorial de Santarém, o senhor Coronel
Corte-Real Figueiredo que com muita honra, como fez questão de referir, continua
ligado aos Fuzileiros pela mística da boina
FZ que em determinada e talvez determinante fase da sua vida, envergou.
Estavam assim reunidas as condições
para que o convite que dirigiu a vários oficiais fuzileiros que com ele mais de perto
privaram, fosse aceite por quase todos e
se transformasse num dia de confraternização entre fuzileiros e militares da GNR
sob seu comando.
Muitos outros oficiais desse Corpo Militar
que, tal como o Coronel Figueiredo, passaram pelos Fuzileiros e agora ocupam funções de destaque na GNR, também aceitaram o convite e estiveram presentes.
6
Talvez aqui se deva referir que este transvaze de oficiais fuzileiros para a GNR, segundo julgamos, teve a sua maior expressão na década de oitenta mas continuou
deste então e continua, sendo uma excelente forma de adaptação e rentabilização
de recursos humanos qualificados com
vantagens para ambas as organizações.
Mas voltando ao evento versado nesta
pequena nota, salienta-se ainda que a
“delegação” dos Fuzileiros que se deslocou a Santarém que, como se disse, era
constituída por oficiais Fuzileiros que estiveram mais directamente relacionados
com o nosso anfitrião, foi encabeçada pelo
senhor Contra-Almirante Cortes Picciochi,
actual comandante do CCF, o que muito
nos honrou.
O dia correu depressa preenchido com um
excelente “briefing” sobre a actividade
da GNR no Distrito de Santarém, um jogo
de futebol disputado a muito bom ritmo e
com excelentes exibições dos suspeitos
do costume e um almoço de nota dez onde
os produtos regionais pontuaram alto e
estiveram ao nível do acontecimento.
Ao nível do acontecimento esteve também
a fidalguia e o ambiente camarada e amigo com que o Coronel Figueiredo e os seus
oficiais nos receberam.
Estamos-lhe gratos por nos ter proporcionado estes momentos tal como ele
se manifestou grato pela compreensão e
apoio que lhe foram dados aquando da
sua difícil decisão de sair dos Fuzileiros e
abraçar um outro Corpo de Tropas que tão
bem o recebeu e enquadrou. Nessa altura
o oficial em questão desempenhava precisamente as funções de Oficial Imediato da
CF 22 companhia da qual o signatário era
então o comandante.
Quanto ao resultado do futebol… não me
lembro bem mas julgo que foi um empate.
Benjamim Correia
Sóc. Orig. n.º 1351
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notícias
Em memória de
Jaime Neves
A
Direcção da Associação Nacional de Fuzileiros, reunida em 5 de Fevereiro de
2013, na sua Sede Social, no Barreiro, em sessão n.º 187/03/13 deliberou por
unanimidade:
“Prestar sentida e patriótica homenagem ao Major-General, Jaime Neves que se considera
herói da verdadeira democracia e acompanhar a Sua Família e a Associação de Comandos
no pesar que todos os Portugueses sentem pelo seu recente desaparecimento”.
A Direcção decidiu, após um minuto de silêncio, transcrever em Acta o seguinte texto:
General Jaime Neves (1936-2013)
1 de Fevereiro de 2013
Gritou-se “Mama Sume” no Parlamento
O voto de pesar votado pela morte
do major-general Jaime Neves no
Parlamento resultou num episódio
ruidoso nas galerias.
O plenário foi surpreendido com o
grito “Mama Sume!” que deixou a
mesa da Assembleia da República
(AR) sem reacção.
Depois de os partidos do PS, PSD
e CDS terem aprovado o voto de
pesar, apesar dos votos contra do
PCP, BE e Verdes, um grupo na assistência – alguns deles com boinas militares – levantou-se para
verbalizar o grito dos comandos,
unidade que Jaime Neves chefiava
durante o período da revolução e
consequente “Verão Quente”.
A expressão foi adoptada pela
unidade militar a partir do grito
de uma tribo Banto do Sul do
continente africano na cerimónia
que precedia a caça ao leão.
Traduzida significa “Aqui estamos
prontos para o sacrifício”.
aos agentes da autoridade que
evacuasse as galerias. Quem
assiste às sessões do plenário não
pode manifestar-se enquanto os
trabalhos decorrem. E Assunção
Esteves já deu no passado ordens
para evacuar a assistência depois
de algumas manifestações.
De qualquer maneira, os cidadãos
em causa abandonaram as galerias
logo após o incidente.
Ao contrário de outros momentos,
a presidente da AR não solicitou
A Associação Nacional de Fuzileiros junta-se à Associação de Comandos e ao seu grito “Mama Sume” e, do Barreiro e de Portugal,
responde com o grito dos fuzileiros:
“Fuzos: prontos. do mar: p’ra terra. desembarcar: ao assalto. desembarcar: ao assalto”
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cultura e memória
Salpicos de Vida
SPM 0468
N.º 8
Fuzileiros na piscina…
N
a operação “Altair”, em 26 Outubro
de 1966, o DFE 4 desembarcou
”a nadar” na Pta Canabém, no rio
Cacine, com apoio de fogo de duas LFG’s,
a Hidra e a Lira. Como todos os locais na
zona sul da Guiné esta era uma área de
real perigo, onde corríamos o risco de
sermos atacados no momento crítico do
desembarque, que ia acontecer de dia.
O baú das memórias, às vezes já difícil de
abrir, recorda-nos os momentos difíceis
que o nosso grupo, tão jovem, viveu com
muita intensidade e generosidade em
terras de África.
Eram 7h00 quando a LDM 307 nos
tentou desembarcar na Pta Canabém. Por
infortúnio do destino, surgiu de repente o
chamado “imprevisto nunca previsto”: a
LDM encalhou em fundo baixo, a cerca de
100 m de uma margem cheia de tarrafo,
ficando ao alcance das armas do IN.
Nesse momento crítico havia que tomar
uma decisão urgente, e executá-la muito
rapidamente: ou desembarcar ou abortar a
operação. A escolha feita pelo Comandante
foi fácil. A LDM estava mesmo encalhada
e não mexia.
Assim, era urgente aliviar a carga para
que ela ganhasse flutuabilidade e pudesse
navegar. De facto naquela posição, a lancha seria um alvo muito fácil, e diria até
que estávamos a oferecer a “lotaria” ao
IN, pois podíamos ser atacados sem termos a possibilidade de responder. O nosso Comandante não teve portanto outra
alternativa que não fosse gritar a ordem
“todos para a água”, para desembarcar
rapidamente a nado, acontecesse o que
acontecesse.
8
Felizmente, beneficiávamos da ajuda das
peças de 40 mm das LFG’s Hidra e Lira,
que se reposicionaram e nos deram a
protecção possível nestes momentos de
aflição.
As fotografias juntas evidenciam bem as
dificuldades por que passámos e recordo
que nas nossas mentes todos os pensamentos negativos nos surgiram. Saberíamos todos nadar o suficiente para chegar
a terra com todo o pesado equipamento?
Conseguiríamos evitar molhar as armas e
as munições? Iriam funcionar os RPG’s e
os rockets? Conseguiríamos manter a disciplina, a nadar em fila indiana? Haveria
algum erro dos artilheiros das LFG’s que
nos acertariam com alguns tiros? Estaria o
IN à nossa espera no tarrafo ainda connosco dentro de água? etc…
Resumindo, a nossa moral naqueles momentos não era propriamente das mais
elevadas, pois na verdade, quer quiséssemos quer não, estávamos a fazer um
desembarque dando todas as vantagens
ao IN. Recordo que esta operação se efectuava de dia e o factor surpresa há muito
que desaparecera.
A 1.ª secção avançou com muita determinação, “não propriamente num crawl
perfeito”, mas tentando que as coisas
importantes não se molhassem. Refiro-me ao material vital para andar no mato,
armas, munições, cartas e equipamentos
de comunicações.
Lá fomos vencendo todas as dificuldades
com um esforço titânico tanto no plano
físico como emocional. Recordo-me que
após nadarmos aquele primeiro troço visível até a uma curva, fomos então surpreendidos com um grande percurso de
água que nos separava ainda do início do
tarrafo e das primeiras árvores que nos
proporcionariam abrigo.
Quando atingimos o meio do tarrafo, com
a vontade imensa que desaparecesse o
cansaço acumulado no desembarque,
sentimos com intensidade, o enorme desconforto de ainda não termos ninguém na
orla das primeiras árvores, o que simplesmente significava estarmos ainda à mercê
do IN.
Finalmente a 1.ª secção “agarrou” a orla
da mata, e a tranquilidade começou a
confortar os nossos espíritos. Os restantes homens do DFE 4 já poderiam desembarcar com alguma tranquilidade pois o
nosso pessoal já lhes podia dar protecção
na situação imprevisível que o destino nos
criou.
Assim, esta operação ficou conhecida
para a história pela situação inesperada e
imprevisível, do desembarque de um DFE
nadando num dos sítios de maiores riscos
operacionais da antiga Guiné.
Por incrível que pareça, as fotos que
acompanham este SPM deram volta aos
três TO’s, Guiné, Angola e Moçambique,
e apareceram em revistas de outros ramos das Forças Armadas, ligadas a outras
unidades que não o nosso DFE 4. Não ficámos zangados que outros se tivessem
apropriado das nossas imagens, mas é
tempo de repormos a verdade dos factos e
dar o seu a seu dono, principalmente por
se tratar de momentos tão intensamente
vividos na nossa juventude, e permanecendo bem vivos na nossa memória.
Nunca é demais recordar a inscrição que
depois de tantos anos, deixámos gravada
na placa do DFE 4 na Escola de Fuzileiros:
“Pelo que somos e pelo que fomos”.
CMG Francisco Rosado
Sócio Originário N.º 1900
É nesse momento que nos assalta a velha
pergunta “mas isto está a acontecer-me
mesmo a mim ou é tudo um sonho do qual
ainda não acordei?”. Infelizmente, tudo era
mesmo real e nós tínhamos mesmo que resolver aquela “papeleta”, fosse de que maneira fosse, e a única solução era ganhar a
orla da mata tão cedo quanto possível.
Neste ultimo canal, as LFG’s já não nos
viam e estávamos portanto totalmente entregues a nós próprios.
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opinião
Aproveitar Recursos
António Ribeiro Ramos
A
ausência da guerra, sabemo-lo bem, não é só por si
suficiente para que uma nação possa viver em Paz. Se
prevalecer a insegurança resultante da sua fragilidade
tanto externa como interna, esta pode levar, e inevitávelmente
leva, à perda da estabilidade necessária ao desenvolvimento
de capacidades de valoração justa, de organização eficiente,
de coesão nacional e de vontade generalizada, fácilmente se
instalam formas subtis de violência, tanto no plano material como
no plano moral, perdendo-se irremediávelmente os benefícios
da Paz.
Fragilizar primeiro é aliás, desde sempre e por razões óbvias,
uma preocupação essencial para qualquer potencial opositor. Em
“A Arte da Guerra”, o mais antigo tratado militar que se conhece,
escrito há mais de dois mil anos, falando de estratégia ofensiva, já
Sun Tzu afirmava; “os habilidosos na arte de guerrear dominam o
exército inimigo sem lhe dar batalha. Conquistam-lhe as cidades
sem ter que as assaltar, derrubam-lhe o Estado sem operações
prolongadas”.
Por outro lado, a fragilidade diminui quando a segurança aumenta.
Etimológicamente, a palavra segurança resulta da junção de duas
outras palavras. “Se”, que significa “sem”. E “cura” que significa
“cuidado”. Portanto “sem cuidado”, ou seja, “sem ansiedade”
ou ainda, “sem medo” (Prof. Carvalho Rodrigues – Seminário
no Instituto de Altos Estudos Militares em Dez. 1999). Mas, sem
medo de quê? Eu diria que, sem medo de enfrentar dificuldades,
tanto na estabilidade como na mudança. Não pela via irracional
da desvalorização das suas potenciais consequências, mas
pela certeza de se poder contar com as capacidades e meios
suficientes para que, quando aquelas não possam ser evitadas,
sejam enfrentadas com elevada coesão, agilidade, e com
garantidas probabilidades de êxito.
Mas a segurança é também complexa e multifacetada, porque
se alarga a todos os sectores da actividade social, e precisa de
recursos para se manter, que são sempre limitados. Daí que,
algumas ajudas viáveis e reconhecidamente úteis, possam ter
aproveitamento na prática.
Particularizando, e até porque muitos elementos militares, militarizados e civis que hoje zelam pela nossa segurança interna,
ganharam e ostentaram anteriormente a bóina azul ferrete de
Fuzileiro, e levando em conta que não é possível aumentar ilimitadamente o numero destes profissionais, vejamos dois exemplos
curiosos de aproveitamento de recursos.
Tanto nas minhas numerosas estadias nos portos, como na navegação em águas americanas, em face da necessidade que tinha
de conhecer em pormenor a legislação aplicável naquele país,
consultei vezes sem conta o CFR (Code of Federal Regulations),
publicação que se compõe de vários volumes, que regulamenta
de forma exaustiva tudo o que diz respeito aos navios e à navegação nos Estados Unidos, e que pode óbviamente também, ser
consultado via Internet. Por vezes, alargava a minha leitura para
além daquilo que procurava e, em 33 CFR, Chapter I, Subchapter
A, Part 5, encontrei desde sempre uma curiosa organização de
voluntários dentro da USCG (United States Coast Guard), designada por “Auxiliary”. Não obstante a sua poderosa Guarda Costeira,
os Estados Unidos contam com 361 portos comerciais (revista
“Proceedings”, U.S. Naval Institute, Abril 2007), com 200 milhas
de Zona Económica Exclusiva tanto no Atlântico como no Pacífico,
e ainda com uma enorme área oceânica de responsabilidade SAR
(Search and Rescue – Busca e Salvamento) que, curiosamente no
Atlântico e para Leste, confina com a que está atribuída a Portugal
e que é igualmente vastíssima.
Fundado em 23 de Junho de 1939, o United States Coast Guard
Auxiliary, conta actualmente com 32000 voluntários que sob a
divisa “Always Ready” (“Sempre Prontos”) efectuam: Patrulhas,
tanto de “safety” (segurança de navegação), como de “security”
(contra actividades ilícitas e terrorismo); Missões de busca e salvamento (SAR); Assistência a feridos ou em acidentes marítimos;
Patrulhas e combate à poluição marítima; Promoção da eficiência
da condução e assistência à segurança das embarcações de recreio; Exames para as diversas cartas da navegação de recreio, e
ainda apoio às missões da Guarda Costeira, nas funções que lhes
forem superiormente atribuídas.
O “Auxiliary”, encontra-se distribuído por áreas, distritos e regiões, e frequentemente utilizou, e utiliza, embarcações, meios
aéreos e estações de rádio, que são propriedade dos seu próprios
elementos. Daí que as condições de admissão envolvem; ser óbviamente de nacionalidade norte americana, ter idade superior a
17 anos, ser proprietário de não menos de 25% de uma embarcação, de uma aeronave ou de uma estação de rádio, ou, possuir
treino anterior adequado e reconhecido. No entanto, os elementos
do “Auxiliary” não podem ser simultâneamente membros de outra instituição de natureza militar. Em caso de necessidade, podem ser ainda integrados na Coast Guard Reserve, na perspectiva
do reforço das capacidades operacionais da USCG.
O uso do uniforme da USCG é autorizado, com as características
e nas condições superiormente determinadas.
De um outro modo e de forma mais discreta, também no Reino
Unido, é possível estabelecer uma relação, de maior proximidade
e de colaboração com a Polícia local, por meio da constituição de
“Neighbourhood Watch” ou de “Home Watch Groups”, equipas
de vigilância a partir das próprias residências, que promovem,
segundo a orientação da Polícia, o controle regular das suas áreas
vizinhas. Estes cidadãos britânicos voluntários não usam uniforme, mas participam ainda assim em acções préveamente definidas e promovidas sob a tutela das autoridades policiais.
Os membros do “Auxiliary” ou até mesmo destas equipas de
colaboração com a Polícia, podem a seu tempo beneficiar de algum prestígio, e até de formas de reconhecimento social como a
facilitação da procura e da obtenção de emprego na sociedade
civil, por exemplo. Mas não se lhes atribui qualquer privilégio em
relação ao normal funcionamento das próprias instituições que
apoiam e que valorizam. Trata-se apenas, o que não é pouco, de
aproveitar recursos patrióticos e motivações vocacionais específicas. E de simplesmente os colocar com dignidade ao serviço da
nação.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
António Ribeiro Ramos
Sócio Aderente n.º 1053
9
opiniao
O Direito de Dizer
O Advogado, o Dever de servir a Justiça
e o seu Direito/Dever de Protestar
Carla Marques Pinto
(Advogada)
N
o final do artigo anterior, publicado na “O Desembarque”
N.º 14, de Novembro de 2012, escrevemos: “Para a próxima cá estaremos, se os homens e a Providência deixarem com um tema particularmente interessante, qual seja «O
Advogado, o Dever de Servir a Justiça e o seu Direito/Dever de
Protestar»”.
De facto, mesmo a feroz e alucinante velocidade da vida de
hoje, que cada vez mais tritura e condiciona, aliada ao início
do ano judicial, não foram suficientes para desajudar a minha
Providência. E os homens deixaram…
Mas vamos ao tema que nos parece particularmente interessante
e actual, nesta fase em que o Advogado e a Justiça parecem ser
os bodes expiatórios da incapacidade de o poder político mudar,
mas de mudar bem.
Parece óbvio que, no rol dos muitos e diversificados deveres – e,
porventura, dos poucos direitos – e das muitíssimas e “apertadas” incompatibilidades que o actual Estatuto da Ordem impõe ao
Advogado estará implícito o dever de servir a Justiça, embora a
afirmação não tenha ficado expressamente declarada.
Porém, e porque só assim entendemos a nossa profissão e missão, perante a Comunidade e o Estado de Direito, não resistimos
à tentação de citar, na integra, o n.º 1 do artigo 76.º do anterior
estatuto da OA pelo que tem de força histórica e intrínseca:
«O advogado deve, no exercício da profissão e fora dela,
considerar-se um servidor da justiça e do direito e, como tal,
mostrar-se digno da honra e das responsabilidades que lhe
são inerentes».
O Código de Deontologia dos Advogados da União Europeia, no
seu ponto 1.1., já anteriormente referenciado, na “Advocacia
como Profissão de Interesse Público”, pretende, em nossa opinião, transmitir a mesma ideia, porventura ampliando-a sem contudo conseguir uma fórmula mais forte, clara e incisiva.
Mas, o Dr. António Arnaut, no seu “Estatuto anotado” (Fora do Texto
– Coimbra – 1992) ao desenhar de forma relevante “a função ético-social da advocacia” afirma que do Advogado se exige “um comportamento moral e irrepreensível tanto no exercício da profissão
como fora dela” chegando mesmo a adiantar que “o advogado
serve a justiça e o direito mais do que a lei, ao contrário do juiz
que lhe deve estrita obediência”.
De facto, enquanto o actual Estatuto reclama a independência
do Advogado afirmando que, “no exercício da profissão, mantém
sempre em quaisquer circunstâncias a sua independência,
devendo agir livre de qualquer pressão, especialmente a que
resulte dos seus próprios interesses ou de influências exteriores,
abstendo-se de negligenciar a deontologia profissional no intuito
de agradar ao seu cliente, aos colegas, ao tribunal ou a terceiros”
(art.º 84) – e isto é, sem dúvida, servir a justiça – o texto do anterior,
de forma clara, impunha-lhe “recusar o patrocínio a questões que
considere injustas” (art.º 78, alínea c-).
A justiça é, por isso mesmo, um dos seus valores e – seguramente o determinante – que para o Advogado, o direito deverá
prosseguir.
10
Como refere Guedes da Costa, “não foi certamente por acaso que
a lei passou a referir-se ao Advogado como servidor da justiça
e do direito, quando anteriormente apenas falava de servidor do
direito” (570.º do E.J.).
Temos assim o Advogado como servidor da lei e do direito
mas, acima de todos os valores, da justiça sendo que, o dever
de obediência à lei, de não advogar contra lei expressa, de não
litigar de má-fé, de não promover diligências reconhecidamente
dilatórias ou prejudiciais à descoberta da verdade – não são mais
do que obrigações tacitamente subordinadas ao primordial dever
de servir a justiça, dando corpo à nobre e inalienável missão de
intervir na defesa dos direitos liberdades e garantias e na busca
da salvaguarda dos direitos humanos.
O Advogado ganhou ao longo dos anos e dos séculos, por mérito
próprio, o estatuto de meio indispensável para se atingir o objectivo de uma sociedade democrática e justa.
A abolição da escravatura e da pena de morte e a igualdade de
todos os cidadãos perante a lei (nas Ordenações distinguiam-se
nobres e plebeus para aplicação de determinadas penas) “nasceram da oposição de muitos advogados ao direito positivo e à
justiça legal em determinado momento histórico” (Guedes da Costa
– obr. cit.).
Ao dever de servir a justiça – e por isso mesmo – soma-se o
direito/dever, do Advogado, protestar.
Para além do direito de protesto mesmo em audiência de
julgamento (art.º 75.º do EOA) é seu dever para com a Comunidade
“defender os direitos, liberdades e garantias” e “pugnar pela boa
aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo
aperfeiçoamento da cultura e instituições jurídicas” (art.º 85.º).
Mas visando uma abordagem, por via mais pragmática, de
protestar, de lutar contra as violações de direitos humanos e de
salvaguardar as liberdades e as garantias dos cidadãos, vejamos
o que nos dizia o anterior estatuto da OA (art.º 78, alínea e-) cujo estilo
frontal nos toca particularmente:
«É dever do Advogado para com a comunidade:
e)- Protestar contra as violações dos direitos humanos e
combater as arbitrariedades de que tiver conhecimento no
exercício da profissão».
Sabido como é que esses direitos e garantias que estão hoje consagrados na Constituição e nas leis, ao nível da execução da justiça, são muitas vezes desrespeitados, não apenas pelos órgãos
de polícia criminal que, sob a pressão da opinião pública e da hierarquia e fruto as mais das vezes das suas juventudes se revelam
impantes de mostrar serviço e arrecadar troféus mas, algumas
vezes, pelas próprias Magistraturas. Uns e outras cometem o erro
de se avaliarem pela quantidade de acusações formuladas e de
processos despachados e julgados e não pela sua qualidade!
É claro que a postura dos Advogados ao longo dos anos e, sobretudo, no regime anterior de ditadura, foi seguramente determinante para que algumas situações mudassem.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
opinião
Outrossim, a organização da actual advocacia em muitos dos países evoluídos do Planeta e, nomeadamente, ao nível da Europa –
utilizando o modelo da advocacia colegiada, em contraposição
com a advocacia livre (EUA, Suíça, Finlândia e Noruega) e com a
advocacia de Estado (que vigorou nas republicas socialistas da
ex-União Soviética) em que o princípio da independência não foi
sacrificado e com o interesse público se estabeleceu um rigoroso
equilíbrio – foi factor determinante para se abolir o anátema dos
estados centralistas e todos poderosos, se arrogarem o exclusivo
da administração da justiça sendo também óbvio que a consolidação legal na prática da independência da profissão contribuíram
para se reafirmarem as garantias individuais.
Porém, em nossa opinião tudo isto ainda é pouco. E também não
basta que se afirme o direito/dever do Advogado protestar e defender os direitos, liberdades e garantias, apenas no âmbito da
profissão.
Acreditamos que ser advogado constitui um estado de alma inteiro não se sabendo onde se encontra a sua ética pessoal com a
fronteira da deontologia profissional.
E tudo isto para dizer que os quadros normativos e jurídicos podem assegurar, na teoria, a possibilidade de protesto mas, se eles
próprios, os advogados, ou a sua Ordem, não dispuserem dos
meios práticos para ultrapassar resistências, autismos e mentalidades, restam-se como vozes pregando no deserto dos ouvidos
moucos do sistema e dos Políticos.
– Não intervimos para além do burocratizado mecanismo judicial?
– Não protestamos?
– Não exigimos que – se a lei é demasiado perfeita para os juízes
que temos, no fundo, para o Povo que somos – se mude e se
adapte às mentalidades, ao contrário de se conceber uma lei
para o século XXII que não somos capazes de bem aplicar no
século XXI?
– Como poderemos continuar a conviver com esta realidade de
cidadãos presumíveis inocentes serem “linchados” e destruídos
em praça pública em acesas fogueiras mediáticas, por via de
um estafado segredo de justiça que todos os dias é violado,
desde logo, pelas investigações, em descaradas cumplicidades
com agentes da comunicação social?
– E será legítimo pedir ao Advogado que tem o seu cliente preso, muito mais para ser investigado do que por o ter sido já,
que sem “armas” para esgrimir, se mantenha disciplinada e
humildemente amordaçado por o recomendarem as melhores
normas deontológicas?
– E será possível ficarmos indiferentes ao nosso elevadíssimo
rácio de prisão incluindo a preventiva (cerca de 130 presos
por 1000.000 habitantes), dos maiores da Europa Comunitária
(que mantém, há muitos anos, médias estabilizadas de 80) em
contraposição com as mais baixas taxas de criminalidade e,
sobretudo, de criminalidade violenta?
Ficam uns poucos – os Homens e as Mulheres de boa vontade –
que vão fazendo ouvir-se pelos lugares que ocupam na estrutura
da Ordem ou pelos seus próprios prestígios pessoais.
– E no que respeita às prisões?
Mas não chegam.
– Quando poderemos furar a cortina e alcançar aqueles que, já
condenados e sob tutelado Estado (que ao contrário do que
desejaríamos tem tido alguma dificuldade em demonstrar que
é uma pessoa de bem) se encontram numa posição altamente
fragilizada e muitas vezes impossibilitados de flexibilizarem as
suas penas porque esperam por cúmulos jurídicos que nunca
mais chegam?
Quedam-se, a esmagadora maioria, pelo silêncio quase mórbido
e as mais das vezes revoltante, dos seus anonimatos.
E são estes que são esmagados pelas tradicionais e algo
frequentes prepotências dos tribunais e pela embriaguez dos
poderes constituídos, muito ao jeito corporativista porque são,
de facto estes, os anónimos, os que se confrontam, no seu diaa-dia, com as defesas dos direitos e das liberdades dos mais
“pequenos”, isto é, dos menos poderosos, não estando eles
próprios, ainda, em condições de idade, de prestígio, de saber e
de poder, para lançarem – sem grave prejuízo – os seus gritos de
“protesto” e de “combate”.
Parece-nos pacífico que a intervenção ao nível dos Direitos
Humanos não se pode reduzir ao cidadão que, quando da
detenção, foi eventualmente agredido pela polícia. Porventura
começará aqui alguma parte da acção. Mas a missão terá de ser,
seguramente, mais ampla.
Porque a angústia e o desafio serão comuns, os mais jovens que
por vocação abraçaram a Advocacia poderão questionar-se,
assim:
– Como poderemos continuar a permitir que cidadãos sejam
detidos com tamanha leveza permanecendo em prisão
preventiva ao abrigo de uma lei que, mais por interpretação
cómoda e abusiva do que por ela própria, pode consentir que
lhes não seja comunicado o onde, o como, o quem e o porquê,
sem a mínima possibilidade de exercerem o contraditório e
de o tempo e os prazos de prisão preventiva se prolongarem
para além do que, Francisco Salgado Zenha, antes do 25 de
Abril criticava por o prazo de seis meses ser demasiadamente
alargado e a que chamava “o regime prisional de detenção
policial”!?
– Ficamos pelo recurso?
– Quando é que lá chegamos?
– Poderemos nós, Advogados, continuar a conviver com o
colossal atropelo dos direitos dos arguidos, em processo penal
e com a ditadura do direito penitenciário e da execução das
penas, onde se mudam leis e “as moscas” continuam?
– E a efectiva reparação das vítimas?
– E as vítimas das vítimas?
Perguntas incómodas que revelarão verdades incómodas e que,
os mais jovens poderão questionar-se!
Mas ainda com algum alento, o que vale por dizer com alguma
ponta de esperança apetece-nos, também, perguntar:
– Contra quê ou contra quem devemos “protestar” e “combater”
como na tradição portuguesa, e não apenas na nossa, tantos
Advogados o fizeram ao longo dos anos, designadamente, nos
mais difíceis da 1.ª República e do Estado Novo?
– Contra a lei que o Prof. Doutor Jorge Figueiredo Dias afirma ser
uma das mais evoluídas da Europa?
– Contra o poder Politico/Administrativo que, em todas as
democracias ocidentais é cada vez mais fraco e conformado
com os despotismos dos Poderes Judicial (e Económico) e
que, em Portugal, se vem revelando receoso de estabelecer
o “equilíbrio equilibrado” (perdoe-se-nos o pleonasmo) de
poderes, indispensável ao verdadeiro Estado de Direito?
– Ou contra a independência “de facto” que não “de jure” do
Ministério Público?
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
11
opiniao
– Ou contra as independências, inamovibilidades e irresponsabilidades das Magistraturas Judiciais, sem dúvida, indispensáveis
aos desempenhos livres da função mas, não valores absolutos e
inquestionáveis, ainda mais quando são conhecidos erros grosseiros ou corrosivos comprometimentos políticos ou corporativos que induzem ao dramático erro em cadeia?
– Contra as cumplicidades das Magistraturas, munidas de
estruturas sindicais que se alternam nos respectivos Conselhos
Superiores, ou as partilhas dos mesmos espaços funcionais?
– Ou contra os corporativismos por dentro dos quais a Revolução
não passou?
– E poderemos nós, Advogados “da regra” que não “da excepção”
intervir sozinhos?
– E será minimamente eficaz qualquer eventual intervenção?
Seguramente não nos parece.
Parece-nos, isso sim, possível intervir como Classe forte, combativa, credível e prestigiada.
Parece-nos possível através da estrutura da Ordem dos Advogados
(que cada vez mais gostaríamos de ver mais consistente, coesa e
solidária) e especificamente por via da sua Comissão de Direitos
Humanos, em acções dirigidas com espírito equivalente ao dos
verdadeiros grupos de pressão (preferimos a expressão francesa
por mais genuína) rigorosamente coordenadas e sujeitas a um
planeamento e a uma programação institucionalmente definidos
e apoiados.
De facto, só nos parece possível empenhar os advogados na luta
dos direitos, liberdades e garantias, enquanto integrantes de um
corpo profissionalizado e historicamente responsável quando
cada um, no seu “terreno”, tiver força e apoio, necessariamente
advindos de estruturas descentralizadas, ao nível distrital e
concelhio, que permitam aproximarmo-nos das realidades e
especificidades locais.
Como agora se usa dizer: funcionando em rede.
Teríamos, assim, o Advogado mais próximo do cidadão e,
consequentemente, uma Ordem ainda mais credibilizada e
reconhecida.
E para a próxima, caros consócios fuzileiros, famílias, não fuzileiros mas Amigos desta grande “família”, enfim, a todo o universo
da AFZ incomodar-vos-ei e terminarei esta temática genérica sobre deontologia, propondo-vos como tema específico, «A Advocacia e o Direito dos Cidadãos ao Acesso à Justiça».
Até lá, fiquem bem e … “Fuzileiros para sempre”.
Carla Marques Pinto
Sócia Descendente n.º 1870
Email: [email protected]
INFORMAÇÕES
A Direcção Nacional informa que já foram assinados os seguintes
protocolos que proporcionam várias vantagens e benefícios aos
nossos Associados:
– Universidade Lusófona;
– Instituto Superior de Segurança da Universidade Lusófona;
– Revista de Marinha.
Continuamos em negociações com quatro Companhias de Seguros,
embora nos pareça que estas apenas estão interessadas se a AFZ
lhes garantir um número mínimo de sócios tomadores de seguros,
a que a Associação, como é óbvio, não poderá obrigar-se.
Estamos também a negociar um Protocolo com empresa de
turismo.
– Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA);
– Motricidade Humana - Associação de Formação Desportiva;
Os Protocolos estão publicados no site da AFZ e foram remetidos
para todos os sócios de que conhecemos o respectivo endereço
electrónico.
– KANGAROO - Gimnoparque;
– Casa de Repouso “Quinta da Relva”;
Aconselhamos os nossos Sócios a consultarem o site, na Internet
– www.associacaofuzileiros.pt – ou a informarem-se através de
email: [email protected], do tel.: 212 060 079 ou do telem.:
927 979 461.
– Casa de Repouso “Villa Pinhal Novo”;
– Casa de Repouso “S. João de Deus”;
– ARISTON Termo Grupo;
– ANASP - Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada;
– Manuel J. Monteiro & Cª., Lda. - Equipamentos Electródomésticos;
Aconselhamos também os nossos associados a remeterem-nos os
seus endereços de correio electrónico para facilitar as comunicações que esta direcção pretende estabelecer em tempo real.
Snack-Bar/Salão polivalente e de refeições
Informamos os nossos Associados que o encerramento do Snack-Bar da AFZ nos dias 4 e 5 de Fevereiro p.p. ficou a dever-se
às obras de conservação e manutenção que decorrem na nossa
Sede Social.
A sua actividade normal reiniciou-se no dia 6 de Fevereiro,
abrindo com novo concessionário, novas ementas e novos
preços, esperando-se uma maior dinâmica para que possamos
servir melhor os Sócios.
organizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem
sempre a AFZ e/ou o respectivo concessionário do Snack-Bar,
porque encontrarão, por certo, condições de relação qualidade/
/preço muito favoráveis, para além de um ambiente agradável e
muito propício à realização de eventos desta natureza, em que
as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade,
as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem revelar em
toda a sua plenitude.
Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.
Daqui os exortamos a que frequentem a nossa/Vossa Sede e o
Bar e o Salão polivalente e de refeições e a que os Camaradas
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A Direcção Nacional da AFZ
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4
Guiné 1965/67
6 de Outubro de 2012
D
ecorreu no passado dia 6 de Outubro de 2012, na cidade
de Peniche, um convívio de partilha de emoções, de exFuzileiros que integraram o Destacamento de Fuzileiros
Especiais n.º 4 (DFE 4) para comemorarem o seu 47.º Aniversário
da partida para a Guiné, em 11 de Outubro de 1965, a bordo do
N.R.P. Vouga, onde experimentaram as agruras da guerra durante
aproximadamente dois anos, regressando o DFE 4 a Portugal
sem baixas, o que é de realçar, apesar dos 20% de feridos em
combate.
Dr. Álvaro Cunhal e de mais nove prisioneiros. Histórias que, para
aqueles que não sabiam, nem conheciam por dentro aquela fortaleza, os admirou e até mesmo angustiou.
Para esse convívio, foi programada uma visita guiada à fortaleza
e Museu Municipal. Aí tomaram conhecimento dos muitos episódios ali passados e de como eram tratados os presos políticos
pela PIDE, durante o governo de Salazar, realçando-se a fuga do
Viajando pela marginal Norte da Cidade, dirigimo-nos para Sul,
até à Consolação, Freguesia da Atouguia da Baleia, “acampando”
no Restaurante Maresol para aí degustar uma deliciosa caldeirada
de peixe à moda de Peniche.
No final da visita, rumamos pela marginal Sul da cidade, junto à
costa, até ao Cabo Carvoeiro, de onde pudemos ver, à distância de
6 milhas marítimas da costa, o Arquipélago das Ilhas Berlengas,
(Berlenga Grande, Farilhões, à excepção das Estelas que não
eram visíveis pelo facto de permanecer sobre elas nevoeiro).
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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convívios
A determinada altura, o ex-Comandante do DFE 4, usando
da palavra, realçou o espírito de camaradagem, respeito pela
hierarquia, espírito de coragem e de grande solidariedade, entre
os Homens do DFE 4, passados que são 47 anos.
A seguir, o promotor deste evento recordou os Fuzileiros que já
partiram, e ao anunciar o nome de cada um, de viva voz, os outros
respondiam,”SEMPRE PRESENTE”.
Seguiu-se o toque do Hino da Associação de Fuzileiros, que todos
emocionalmente cantaram, não escondendo algumas lágrimas
que corriam pelo rosto de muitos dos presentes.
E o autor destas linhas, como promotor do evento tem de recordar,
com emoção, as palavras do Autor do Hino: “Só tem Pátria quem
sabe lutar, só tem Pátria quem sabe morrer”.
Para acalmar as emoções, o Comandante do Destacamento,
Comt Santos Paiva foi convidado a partir o Bolo de Aniversário
que ele próprio ofereceu como, aliás, tem vindo a ser seu hábito,
em todos os convívios do DFE 4.
E no brinde que fez, o Comt do Destacamento prometeu que ,no
aniversário dos 50 anos, haverá uma grande festa. Esperamos lá
chegar se Deus quiser.
O convívio continuou com música ao vivo, até “ao desembarque”
do último elemento
Lopes Henriques
Sócio Originário n.º 938
Nota da Redacção: Ao camarada Comt Lopes Henriques agradecemos as suas iniciativas e
formulamos votos de que, este ano, comemoremos, todos, com saúde,
o 48.º Almoço/Convívio do DFE4-Guiné-65/67, na Sede da AFZ, para
cujo evento daremos todo o apoio.
R
ealizou-se em Tondela, no passado
dia 8 de Dezembro de 2012 mais um
convívio de Marinheiros e ex-Marinheiros da Beira Alta, onde estiveram representadas as Associações de Tondela,
Arganil, Carregal do Sal, Nelas, Viseu,
Aveiro etc.
XXXI Encontro de Marinheiros da
Beira Alta
8 de Dezembro de 2012
Do programa constou a visita, liderada
pelo Camarada Carlos Borges, ao Museu
de Tondela com salas recheadas de loiças
de barro preto, artefactos de agricultura,
rochas graníticas de outros tempos e
representações históricas dos usos e
costumes das populações.
Seguiu-se um cortejo automóvel, via
Ferreira do Dão, aonde se prosseguiu o
“ataque ao inimigo”, sendo que, já com a
barriga a dar horas, lá conseguimos atingir
o objectivo: o almoço convívio.
Depois do repasto cada um regressou à
sua “Base” com a habitual determinação
e com os objectivos delineados cumpridos
e, o que foi mais importante, sem baixas
no asfalto.
Para o próximo ano, haverá novamente outras “acções” semelhantes a desenvolver. Neste evento, tivemos a colaboração do nosso
Sócio e Membro Suplente da Direcção da Associação de Fuzileiros.
José de Oliveira Pinto
Sócio nº 1049
14
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Companhia de Fuzileiros N.º 3
Guiné 1963/65
27 de Outubro de 2012
A
conteceu no dia 27 de Outubro
último, o 4.º Almoço/Convívio da
Companhia de Fuzileiros N.º 3 que
serviu na Guiné nos anos 1963/1965.
O Convívio decorreu com muita alegria e
camaradagem.
Para o ano vamos comemorar os 50 anos
da nossa partida para a Guiné.
Fernando Maudslay
Sóc. Orig. n.º 1772
Nota da Redacção: Formulamos votos de saúde para todos
e de que, para o ano, se comemorem
os vossos 50 anos de operacionais, no
Snack-Bar da Sede Nacional da nossa
Associação de Fuzileiros, no Barreiro.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
15
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12
Guiné 1967/69
Também uma história de querer e de solidariedade
3 de Novembro de 2012
C
omemorou-se, no passado dia 3 de Novembro, na Quinta da
Alegria, o 45.º aniversário do DFE N.º 12 – Guiné 1967/69 e
o seu 35.º Almoço/Convívio.
Estiveram presentes cerca de 70 pessoas entre fuzileiros e famílias.
Os nossos Oficiais eram:
Comandante – Fernando A. Pedrosa; Imediato – Serradas Duarte;
3.º Oficial – Rebordão de Brito; 4.º Oficial – Benjamim Lopes
Abreu.
O Convívio, como sempre, foi muito agradável mas, este ano, tivemos a presença de um Camarada a respeito do qual vale a pena
contar uma pequena história e por isso é dela que vou falar.
O Frederico Boia, para nós conhecido desde sempre pelo “Bebé”
saiu da Marinha depois de termos terminado a comissão na Guiné
e emigrou para a Inglaterra mas manteve-se sempre em contacto
com o que se passava com os Fuzileiros e, em especial, com o
nosso DFE 12, embora estivéssemos cerca de 10 anos um pouco
desligados porque ainda havia a guerra e, naturalmente, as pessoas estavam, ainda, sem paradeiro certo.
Porém, em 1977, houve alguém que se lembrou de começar a
procurar onde paravam os elementos de DFE 12 e, a partir dessa
iniciativa, foi possível realizar este ano o 35.º Almoço/Convívio
sem interrupções!
O nosso “Bebé” – que tem uma Alma do “fuzileiro uma vez,
fuzileiro para sempre” – vinha todos os anos de Inglaterra para
confraternizar com os seus camaradas!
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Frederico Boia “Bebé”
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Até que, em 2004, depois de ter vindo ao almoço que, por minha
iniciativa, organizamos, há mais de 20 anos, no 1.º Sábado de Novembro, recebi a triste notícia de que o nosso Camarada “Bebé”
tinha sofrido um AVC.
Em Setembro deste ano, foi obrigado a regressar a Portugal para
viver num Lar de idosos na sua Terra Natal, Trancoso; com sérios
problemas de locomoção é obrigado a deslocar-se numa cadeira
de rodas.
Mas temos que louvar e honrar o Espírito de Fuzileiro, a força de
vontade e a solidariedade que o “Bebé” ainda conserva!
Este ano, decidiu conversar com a Direcção do Lar, agora a sua
casa, que decidiu trazê-lo ao nosso convívio, dando-nos uma
enorme satisfação.
O “Bebé” comprovou ser também um gigante, dando uma grande
lição a alguns Camaradas que, por vezes, se “esquivam” a marcar
presença, sem motivo aparente.
Um grande abraço de apoio e de solidariedade de todos nós para
o “Bebé”.
Força! Vai em frente.
Manuel Ramos (Porto)
Sócio Originário n.º 90
Nota da Redacção: A Direcção Nacional da Associação de Fuzileiros envia um grande
abraço de solidariedade ao Camarada Federico José de Almeida Boia
– Sócio Originário n.º 643 – (com quem entraremos em contacto)
disponibilizando-se para eventual apoio necessário) e releva, louvando,
a atitude do Lar Santa Catarina, sito na Av.ª da Ribeirinha – Reboleiro
– 6420-592 Trancoso, (Tel: 271 829 800), com cuja instituição
desejaríamos subscrever um Protocolo de Colaboração.
Ao camarada Manuel Ramos agradecemos as suas iniciativas e
formulamos votos de que, para o próximo ano, comemoremos, todos,
com saúde, o 36.º Almoço/Convívio, na Sede da AFZ, para cujo evento
daremos todo o apoio.
A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS
Prezados Camaradas:
Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa
participação.
Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que
nos propusemos é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação
se vai juntando.
Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais
evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.
Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da
Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.
Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento.
Para obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.
Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?
Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro
à Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.
Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não
pagam.
Cordiais e amigas saudações associativas.
A Direcção
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convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 8
Guiné 1969/71
4 de Dezembro de 2012
O
8.º Destacamento de Fuzileiros Especiais – Guiné 1969/1971 levou a
efeito mais um momento de confraternização com um almoço/convívio nas
instalações da Associação de Fuzileiros,
no dia 4 de Dezembro de 2012, evento
este onde as saudades foram bem patentes nos abraços sentidos a toda esta “ família” que foi e será sempre o DFE 8.
Constituição do DFE 8 e embarque
O 8.º DFE comandado pelo saudoso Comandante, 1TEN João Eduardo da Costa
Xavier e pelo Imediato 2TEN Fernando
Sanches Oliveira, e por 2STEN RN Carlos
Manuel Pacheco Teixeira da Silva e António José Jorge Barreira – e composto
por 5 Sargentos e 1 Sargento H, 2 Cabos,
22 Marinheiros, 22 Primeiros Grumetes
e 24 Segundos Grumetes – embarcou a
14 de Abril de 1969, no NRP S. Gabriel
e chegou à Provincia da Guiné em 19 de
Abril de 1969, dando inicio à sua actividade operacional (P.T.O.) em 2 de Maio
de 1969, sob a coordenação táctica do
DFE13 e sob o Comando Operacional da
TG 27.3, Comandada pelo CTEN Guilherme Almôr de Alpoim Galvão.
Estiveram presentes 23 ex-militares,
16 familiares e convidados, embora o
mesmo tivesse tido lugar num dia de
semana por imperativos pessoais da
sempre carismática figura do Comandante
Teixeira da Silva, a viver na Região
Autónoma dos Açores que nos honrou com
a sua presença.
Por esta razão, não foi possível a presença
de mais elementos, o que lamentamos.
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convívios
Prémios, Louvores e Recompensas
Foram atribuídas as seguintes condecorações: 1 Medalha de
Valor Militar/cobre; 1 Medalha da Cruz de Guerra de 1.ª classe; 1
Medalha de Cruz de Guerra de 2.ª classe; 2 Medalhas de Cruz de
Guerra de 3.ª classe; 1 Medalha de Cruz de Guerra de 4.ª classe;
1 Medalha de Serviços Distintos Prata; 4 Medalhas de Serviços
Distintos Cobre; 1 Medalha de Mérito Militar de 3.ª classe; 16
Medalhas de Mérito Militar de 4.ª classe; 23 louvores individuais;
2 Premios Governador da Guiné; 5 Prémios Movimento Nacional
Feminino; 2 Menções de Apreço; 4 louvores colectivos conferidos
pelas seguintes Entidades: GEN Comandante Chefe das Forças
Armadas da Guiné (2) COR de Artilharia Freitas do Amaral, CTEN
FZE Gilherme Almôr de Alpoim Galvão.
Algumas curiosidades que fazem parte do historial
do 8º DFE
1 – 1.º Contacto com o IN, em 7 de Maio de 1969: baixas ao IN
e capturada a 1.ª arma;
O historial que aqui se procurou fazer, modo abreviado, do nosso
DFE 8 faz justiça a um punhado de HOMENS que souberam estar
sempre com orgulho e prontos nas mais diferentes e exigentes
missões a que foram chamados, defendendo, com muita honra a
Pátria, a Marinha e elevando bem alto os FUZILEIROS.
2 – Em 2 de Maio de 1970, o 8.º DFE, destacou para a Vila
do Cacheu, com um registo de 35 acções e operações
em terra, 5.700 horas em emboscadas e 119 horas em
patrulhas de botes.
3. – Na Vila do Cacheu, sob o Comando Operacional do
CAOP1, totalizou 11 acções e operações e 109 horas em
emboscadas em botes;
4 – Em 6 de Julho de 1970, o 8.º DFE destacou para a cidade de
Teixeira Pinto, ficando sob o Comando Operacional CAOP1,
onde realizou, até 7 de Outubro de 1969, 10 operações e
acções, 72 horas em emboscadas em botes e cerca de 156
horas de patrulhas
5 – Em 7 de Outubro de 1969, o 8.º DFE destacou para Buba,
com uma breve passagem por Bissau e até 26 de Novembro
realizou 6 reconhecimentos, 480 horas em patrulhas e 427
horas em emboscadas em botes;
6 – Em 26 de Novembro de 1970 destacámos para a cidade
de Teixeira Pinto, onde permanecemos até 6 de Janeiro
de 1971, tendo efectuado 5 acções e operações em terra,
12 horas em emboscadas e patrulhas em botes e cerca de
282 horas em protecção aos trabalhos da estrada Teixeira
Pinto-Cacheu;
Que o País reconheça todo o empenho, sofrimento, que os
HOMENS não sejam esquecidos e que a Pátria nos abençoe.
Afinal, somos os seus filhos.
Para terminar é justo referenciar e dar o merecido valor à
“comissão”, que sempre soube, com elevado empenho, organizar
os Almoços/Convívios da “família” do 8.º DFE.
Para todos os que a integraram o nosso muito obrigado.
7 – O DFE 8 sofreu as seguintes baixas em combate: 5 mortos,
6 feridos graves, 20 feridos ligeiros;
Comt J. S. Batista
Sócio Originário n.º 2138
8 – Muitas baixas infligidas ao IN, nem sempre identificadas;
9 – Armamento, munições e equipamento apreendido ao IN:
3 espingardas MOSIN NAGANT; 1 espingarda MAUSER; 1
carabina SIMONOV; 1 P/M PPSM; 1 M/L MG-34; 1 KALASHNIKOV; 1 P/M M-25; 2 granadas de Morteiro 60; 2 granadas
RPG-2; 5 Gr/m Defensivas; 5 Gr/m Ofensivas; 2 Gr/m Defensivas montadas em armadilhas; 48 Detonadores; 3 disparadores mecânicos; 300 cartuchos impulsores de morteiro 82;
1.700 munições de armas ligeiras; 1 Base de Metralhadora
pesada; etc., etc.
10 – Foram efectuadas 22 detenções em zona de operações e
destruídas: 49 canoas, 35 casas de mato, duas pontes de
madeira e outros, etc., etc.
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convívios
“Escola” de 98
2 de Fevereiro de 2013
A
fraternidade que se adquire nos Fuzileiros exige que,
pelo meno, um convívio anual se não dispense. É pois
nessa senda, que os Filhos da Escola de 98, mais uma
vez estiveram reunidos para darem satisfação, ao espirito de
camaradagem que, dia após dia, se foi conquistando, enquanto
se dispuseram enfrentar as muitas dificuldades de que se reveste
o Curso de Fuzileiro, para obtenção da boina azul ferrete.
Estiveram presentes, mais de 50 elementos. E foi assim que uma
vez mais, iniciámos o dia que iremos lembrar até ao próximo ano.
Responderam à chamada camaradas do activo, reserva e, ainda,
dois fuzileiros que muito estimamos que nos honraram com a sua
presença, e que são a prova mais que provada, de terem sido
como todos os presentes, infectados por uma invisível bactéria,
que contagia a maioria dos que passam pelas agruras, que resultam das muitas dificuldades que a todos impõe, uma universidade, que se chama Escola de Fuzileiros.
se tratasse e sem quaisquer mordomias. Sugerimos que falasse
com o Parreira, por quem também referenciamos muita estima.
Foi assim que, em “família, estivemos mais uma vez juntos cultivando os nossos valores, enraizando o nosso espírito de corpo
e sustentando a nossa camaradagem, que é para cada um de
nós importante que envelheça connosco, a exemplo dos nossos
amigos Mário Manso e Parreira, cuja amizade já tem décadas.
Honrámos os camaradas mortos, com um minuto de silêncio, antes de iniciarmos a refeição.
Rever os camaradas desta família, que um dia, por vontade
própria decidimos abraçar, é como satisfazer uma necessidade
intrínseca ao bem-estar emocional do ser humano.
E porque assim é, sentida e vivida, é digno de resisto a eufórica
alegria que em pequenos grupos se fez sentir. Em quase todos os
eles emergiam as conversas que retractavam momentos vividos,
cuja intensidade, nos marcou para todo o sempre.
Por iniciativa de alguns elementos, resolvemos pedir ao camarada Mário Manso que aceitasse ser o patrono da “nossa Escola”. O ilustre camarada, logo nos disse que aceitaria participar
no convívio, apenas como se de um elemento da “Escola de 98”
20
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convívios
E chegada a hora de partir o bolo e por razões de ordem vária,
quase metade dos camaradas já se tinham despedido, mas a sua
falta, não se fez sentir no grito que todos os presentes deram,
como sinal do nosso orgulho de fuzileiro.
Sendo um dos organizadores, coube-me impor a disciplina que
o momento seguinte exigia. O silêncio impôs-se de imediato, o
que nem sempre é fácil! Nunca tantos me tiveram tanto respeito.
Sentindo-me senhor da situação, solicitei aos nossos mais veteranos que nos premiassem com algumas palavras. E foi num
silêncio absoluto que os camaradas Mário Manso e José Parreira
preencheram os minutos que se seguiram, em que a atenção dispensada aprovava o interesse de todos, no que pelos dois camaradas foi dito.
A fechar este momento muito especial, que nos transportou a
uma época, em que alguns de nós, ainda saltávamos entre pernas, o amigo Parreira ofereceu-nos como sobremesa especial:
um poema, “Os medronhos na serra da Arrábida”.
Mais um a vez, uma prática já conhecida não faltou e todos os
ainda não sócios da Associação de Fuzileiros, foram convidados,
pelo nosso Mário Manso, a inscreverem-se, dispondo-se desde
logo para assinar as propostas, como sócio proponente. Só
unidos, jovens e veteranos faremos jus ao porquê, de porque
somos diferentes!
«Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre».
Fernando Jorge Monteiro
1.º MAR FZ
Sóc. proposto da AFZ
Nota da Redacção: Com os nossos parabéns aos “Escolas 98” desejamos muita saúde para todos e propomos que, para o ano, organizem o vosso “almoço/convívio” na sede da AFZ, a
vossa “Casa”, onde encontrarão com certeza, espaço, ambiente amigo e qualidade/preço adequados, às descargas das vossas saudades e nostalgias.
Companhias de Fuzileiros N.º 2
Angola 1966/69 - 3 de Novembro de 2012
Angola 1970/72 - 17 de Novembro de 2012
No passado dia 3 Novembro, reuniu em
almoço/convívio no Restaurante da nossa
Associação, a CF N.º 2 - guarnição de Angola em 1966/69 e, no dia 17 Novembro,
reuniu a CF N.º 2 - guarnição de Angola em
1970/72.
Em cada um deles, estiveram presentes
cerca de 40 pessoas, camaradas d’Armas
e familiares.
Solicita-se aos Camaradas que não têm
sido contactados porque não sabemos o
seu paradeiro que contactem o Sequeira
(1622/65) através da Associação.
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corpo de fuzileiros
Museu do Fuzileiro
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico
O
Museu do Fuzileiro está situado na
Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro, Barreiro. A ideia da obra foi-se
colocando no início da década de oitenta,
quando após o fecho do ciclo ultramarino,
uma quantidade significativa de peças-memória foi oferecida à Escola de Fuzileiros, por personalidades militares e civis,
sobretudo antigos e atuais fuzileiros e para
a preservação e apreciação das quais não
havia espaço adequado.
Após um notável e raro trabalho de restauro
no piso térreo do edifício em que se
encontra localizado, pondo «a descoberto
os apontamentos [de alguns] dos antigos
Fornos do Biscoito e as respectivas saídas
de ar», por dedicação e conhecimento de
alguns fuzileiros foi em 1984 inaugurada a
“Sala-museu” do Fuzileiro.
22
O seu interior dá-nos uma imagem singular
da sólida traça pombalina, onde domina o
tijolo a cutelo e os tetos se organizam em
abóbadas de “barrete” e de “berço”. Nele
se encontra exposto algum do acervo que
ilustra o historial dos fuzileiros.
No atual itinerário do museu expõem-se ainda alguns dos bens museológicos
alusivos ao fabrico do biscoito, “ração” de
400 gramas diários a que na época dos
Descobrimentos cada tripulante tinha direito assim como os que garantiam serviço nas “Fortalezas do Reino”.
Os fornos reais do Vale de Zebro, só entre
1505 e 1507, fabricariam 300 toneladas
de biscoito por ano, tendo sido o motor
da “história das navegações». Neste contexto encontra-se também aqui a muito
apreciada “Sala do Biscoito” patrocinada
pela Câmara Municipal do Barreiro, com
objetos cerâmicos encontrados no campo
arqueológico da Mata Nacional da Machada, datados dos séculos XV e XVI.
Como valor simbólico e afetivo, o Museu
dos Fuzileiros é local de visita obrigatória
dos fuzileiros, extensiva às suas famílias e
amigos, que frequentemente se reencontram nesta Escola, em datas comemorativas, para recordarem momentos transatos
e manterem vivas as referências.
As visitas constantes, quase diárias, são
vastíssimas, como se pode constatar pelos números dos gráficos em anexo onde
realça que a maioria provém de escolas e
de outras instituições da área educativa,
sobretudo do Concelho do Barreiro e da
Área Metropolitana de Lisboa. Têm também passagem obrigatória pelo Museu do
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corpo de fuzileiros
Fuzileiro os formandos de todos os cursos
que anualmente passam pela Escola de
Fuzileiros, incluindo centenas de “civis”,
pertencentes a instituições com as quais
a Marinha tem protocolos de formação,
merecendo uma particular referência os
alunos do ISCTE/INDEG e os quadros superiores do BPI.
O Museu do Fuzileiro está incluído nas
visitas guiadas no âmbito do programa
dos Itinerários Culturais da Comissão
Cultural da Marinha, inseridos no Plano de
Ação Cultural da Margem Sul.
– Telefs: 210 927 288 / 910 410 298;
– Email: [email protected];
– Fax: 211 938 542
O Museu pode ainda ser visitado
virtualmente nos sítios:
Aguçamos assim o interesse daqueles
que porventura ainda desconhecem este
Museu e uma vez que “olhos que não vêm
coração que não sente”, venham senti-lo
numa próxima visita.
Têm ainda passado por esta tão nobre
referência do Fuzileiro uma multiplicidade
de investigadores, professores e estudiosos
de diversas áreas do conhecimento.
http://fuzileiros.marinha.pt/PT/Sala%20
Museu%20do%20Fuzileiro/Pages/
Sala%20Museu%20do%20Fuzileiro.aspx
e,
Lembramos que o Museu do Fuzileiro
pode ser visitado diariamente, por qualquer pessoa, durante a hora de expediente, individual ou coletivamente. Poderão
também fazê-lo aos fins-de-semana e
feriados, desde que previamente calendarizado na Seção de Protocolo da Escola de
Fuzileiros, através dos seguintes contatos:
Todas estas razões levaram a equacionar
uma beneficiação e remodelação dos
espaços e do património do museu, cuja
primeira fase terminou em 29 de julho
de 2005. Uma nova fase de ampliação,
abrindo mais uma ala ao Museu, foi
iniciada em julho de 2006.
http://www.marinha.pt/conteudos_
externos/visitas_virtuais/museufuzileiros/
entrada/e/index.html
Colaboração da Escola de Fuzileiros
Vale de Zebro
VISITAS EM 2012*
Visitantes: 3225
100 Visitas
20
15
14
13
14
500
13
300
5
2
3
428 442
400
9
10
5
600
18
5
3
N.º Visitas
1
200
500
525
399
318
215
140
100 88 70
3
0
0
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Período das Visitas
Visitantes
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N
D
Visitas/Entidades = 100
24
50
50
Dias Úteis
Fins-de-semana/Feriados
*
41
G.Escolares
35
G.Escolares
G.Escolares
Visitas externas. Não se incluem os cursos internos da Escola de Fuzileiros
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23
homenagens
A Associação Nacional de Fuzileiros
presta homenagem ao seu antigo Presidente,
Dr. Ilídio das Neves Luís
P
restando homenagem ao Sócio, ao Homem e ao Dirigente
damos à estampa alguns dos textos que tivemos oportunidade
de elaborar e/ou registar, após o desaparecimento do nosso
Sócio e antigo Dirigente:
COMUNICADO FÚNEBRE
Falecimento do Antigo Presidente da Direcção Nacional da
Associação de Fuzileiros, Sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio das
Neves Luís
A Associação de Fuzileiros cumpre o doloroso dever de
comunicar o falecimento do seu antigo Vice-Presidente e
Presidente da Direcção Nacional, sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio
das Neves Luís, ocorrido ontem, dia 19 do corrente mês de
Novembro, informando que o nosso Camarada ficará em
camara ardente, a partir das 17h00 horas de hoje, dia 20, na
Igreja de N.ª Srª. da Assunção (Av.ª D. João I – junto ao antigo
Tribunal) em Almada.
Muitos sócios fuzileiros e não fuzileiros, militares, ex-militares e
civis também estiveram presentes.
O cortejo fúnebre partirá, amanhã, dia 21, pelas 9h30 horas
para o Cemitério da sua terra natal – Ansião – Pombal –
Coimbra.
Um dos Vice-Presidentes, após autorização da Família, depositou
a coroa de flores, colocou o Guião da AFZ, em local adequado e
depositou uma Boina Azul Ferrete, com âncora, sobre a urna, ainda aberta. Pediu-se ao 2.º Vogal da Direcção Nacional, elemento
que sempre foi mantendo muito próximo contacto com o nosso
Ilustre Camarada Ilídio e com a sua Família, que estabelecesse as
comunicações e tomasse as iniciativas que considerasse convenientes, em nome da Direcção Nacional da AFZ.
A AFZ far-se-á representar por significativa delegação.
A Direcção da AFZ apresenta à Família enlutada, do nosso
Ilustre Camarada, os mais sentidos pêsames.
Barreiro, 20 de Novembro de 2012.
A Missa de Corpo Presente foi rezada pelo Capelão do Corpo de
Fuzileiros, Capitão-Tenente Licínio Silva.
O ACOMPANHAMENTO
O Sr. Dr. Ilídio Neves Luís, por quem nos reclinamos em derradeira
homenagem, era figura altamente considerada e exerceu as
funções de Vice-Presidente e de Presidente da AFZ, com grande
dignidade e competência, dando o melhor de si próprio à sua
Associação e tendo sido também o fundador da nossa revista
“O Desembarque”, então denominada boletim.
A Direcção Nacional da AFZ teve conhecimento do seu falecimento
na noite de 19 de Novembro p.p. e, logo na manhã do dia
seguinte, ainda mal se sabiam dos pormenores das cerimónias
fúnebres, publicou no seu site um comunicado e remeteu-o, via
correio electrónico, a todos sócios que dispõem deste meio de
comunicação;
Imediatamente foram dadas instruções ao Secretariado Nacional
para encomendar uma coroa de flores com a dignidade merecida
e o próprio Presidente da Direcção pediu que se constituísse uma
delegação para estar presente na Capela, no decurso do velório,
local onde se deveria colocar o Guião da AFZ e, a mesma ou outra
delegação deveria acompanhar o cortejo fúnebre, se tal fosse da
vontade da Família enlutada.
Imediatamente a seguir à chegada da urna à Igreja, em Almada,
apresentaram-se a acompanhar a Família vários elementos
dos Órgãos Sociais, designadamente: da Direcção Nacional: os
dois Vice-Presidentes, o 2.º Vogal Efectivo, o 4.º Vogal Efectivo
e o 1.º Vogal Suplente; da Assembleia-Geral: o 1.º Secretário
da Mesa; do Conselho Fiscal: o Presidente e o Vice-Presidente.
24
Dado que o cortejo fúnebre seguia, no dia seguinte, para Ansião
– Pombal, a AFZ enviou a sua viatura de nove lugares com elementos dos seus Órgãos Sociais (2.º Vogal da Direcção, 4.º Vogal
e 6.º Vogal, 1.º Vogal Supl. – gente prestigiada na AFZ) na qual
também viajaram o Presidente da Delegação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas e mais dois elementos desta Delegação e ainda o
Capelão do Corpo de Fuzileiros.
Deslocados do Norte para Ansião estiveram, também presentes,
na última cerimónia fúnebre, o Presidente da Direcção da Delegação de Fuzileiros de Vila Nova de Gaia e ainda outro camarada
daquela direcção.
Infelizmente, por impossibilidade absoluta, que foram explicadas,
à Família por um dos Vice-Presidentes, nem o Presidente da Direcção nem os dois Vice-Presidentes puderam deslocar-se a Ansião, acompanhando o cortejo que integrou, aliás, várias viaturas.
A Memória do nosso Ilustre Camarada Ilídio Neves Luís foi tratada, pelos Dirigente Nacionais e Regionais, sublinhe-se, com a
máxima dignidade e, sobretudo, com elevado espírito ético, e de
solidariedade, camaradagem e amizade, mas também de humildade e do necessário recato, sendo que a sua imagem figurará
nos escaparates de quem serviu com excepcional dedicação e
alta competência a Associação de Fuzileiros.
Quando o corpo desceu à terra, com autorização da Família, ouviu-se o “Grito do Fuzileiro”.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
homenagens
VOTO DE PESAR
A AFZ recebeu, da Assembleia Municipal de Almada, um Voto
de Pesar aprovado por unanimidade, pelo falecimento do nosso
antigo Presidente da Direcção, Dr. Ilídio Neves Luís.
Pela iniciativa da AMA nos congratulamos, já que o Dr. Ilídio
constituiu, para a nossa Instituição, motivo de particular orgulho,
representando o que de melhor teve a AFZ, sendo que a sua
memória continuará sempre viva e a sua obra preservada com
a maior dignidade, a mesma com que o acompanhámos e à sua
Família, em momentos que apenas considerámos um “até já,
Caro Ilídio”.
É pois com particular interesse que publicamos, na íntegra, o Voto
de Pesar da Assembleia Municipal de Almada, Concelho em que o
nosso malogrado Amigo residia há muitos anos.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
25
homenagens
Homenagem a Rebordão de Brito
Manuel dos Reis Florindo
(1.º S H FZE)
Sócio nº. 2074
T
inha terminado o meu curso de
Enfermagem Geral no HM (Hospital da
Marinha) havia meses. Era espectável
que em qualquer momento seria colocado
em uma qualquer unidade naval. Mas,
contra todas as minhas espectativa, e
recebi guia de marcha para a Escola de
Fuzileiros para frequentar o curso de
Fuzileiros Especiais.
Terminado este e com aproveitamento fui
convidado a integrar o DFE 12 que mais
tarde seguiria para a Guiné-Bissau em
missão de soberania. Essa mítica unidade
de elite que naquelas paragens tão bem
soube honrar as características genuínas
e guerrilheiras dos Fuzileiros Especiais,
integrava um Homem com o qual já antes
iniciara uma relação de amizade, alicerçada em muitas horas de convívio durante e
após o curso de fuzileiros e até, em algumas delas, em minha casa. Esta amizade,
este relacionamento, pautou-se sempre
por uma inegável reciprocidade de respeito e senso comuns, norteando-se por uma
comunhão de ideais convergentes que
cimentaram um entendimento amistoso,
onde imperava a consideração e respeito mútuo que haviam de se perpetuar ao
longo do tempo que juntos tivemos (tive)
a felicidade de partilhar antes, durante e
depois da nossa missão daquela unidade
militar na Guiné. Já no INAB passávamos
longas horas em amena cavaqueira onde
se ventilavam os assuntos mais variados,
não só relacionados com o DFE12 mas
também com os que se relacionavam com
aspectos disciplinares do pessoal da forma
como os militares se alimentavam, com o
que faziam nas horas de ócio, com o seu
estado sanitário, matéria para a qual eu
tinha particular responsabilidade. Eram
normais as conversas sobre a guerrilha na
qual estávamos envolvidos, o porquê da
nossa presença naquele território ultramarino, do êxito ou fracasso do nosso esforço
bélico, da política local e nacional, etc. etc.
Este Homem, que sempre confiou nos
meus conhecimentos técnicos como
Enfermeiro ao serviço do DFE12 (Obrigado
Comandante Rebordão de Brito) senhor de
um espírito fortemente solidário, abnegado,
criterioso, de profunda sensibilidade
humana, foi sempre visto pela comunidade
militar do DFE12 e não só, como um
ídolo, um mentor, um estratega, com uma
visão subtil e discernida no T.O. (teatro
26
operacional) interagindo de uma forma
peculiar com a “maralha” que sempre,
mas sempre, o acompanhava sem hesitar
na preparação e execução dos “golpes de
mão”, quaisquer que fossem os obectivos
traçados e os riscos previsíveis daí
resultantes.
Terminada a comissão de serviço o DFE12
regresso a Lisboa mas, logo aseguir, por
opção pessoal regresso à Guiné na Companhia N.º 11 de Fuzileiros. Dois anos depois passo a integrar o serviço de saúde do
CDMG. Meses mais tarde, por exigências
estratégicas do CDMG sou enviado para
Bolama. Tive aí a sorte de encontrar novamente o Comt Rebordão de Brito. Foi mais
uma oportunidade para podermos dissecar
temas já nossos conhecidos, acrescidos
agora de situações militares e pessoais diferentes que culminaria com a entrega do
espólio das existências de material bélico,
infraestruturas e material de saúde aos
militares do PAIGC. Mais uma vez constato que aquele Homem mantinha integro
o carácter que conheci nos primeiros dias
do curso de fuzileiros mantendo incólume
a sua personalidade e atitude cívica, nunca ostentando os “galões” para a resolução de quaisquer problemas disciplinares
inerentes à sua condição de Comandante
mas, nunca se inibindo de imprimir no seu
discurso, a sua posição de oficial competente e responsável pela defesa e condução dos militares ali instalados. Aquando
do regresso definitivo à Metrópole os nossos contactos pessoais diminuíram drasticamente. De quando em quando, num encontro casual ou nos tradicionais almoços
anuais do DFE12 era pretexto para longos
minutos de conversa, rememorando-se
episódios e factos vividos e sofridos, naquela terra distante onde tantos homens
derramaram sangue suor e lágrimas e outros, infelizmente, perderam a vida.
Um dia... Inesperadamente ou talvez não,
soube que o Comandante dera entrada no
HM por patologia clínica desfavorável complicando-se o seu estado de saúde. Com
prognóstico bastante reservado fiquei com
a nítida sensação de que a evolução da sua
doença iria progressiva e vertiginosamente diminuir a sua presença entre nós. Fui
visitá-lo várias vezes ao HM e sempre que
o abraçava para me despedir tinha a noção de que não era viável voltar a fazê-lo
muitas mais vezes. Apesar de todo o seu
optimismo contagiante, era evidente que a
oportunidade de disfrutar da sua companhia estava cada vez mais comprometida.
O fatídico desenlace era, infelizmente, previsível. Volvidos anos após a sua morte,
não quero deixar de prestar publicamente
a minha sincera homenagem de gratidão e
respeito para com este Homem que moldou subtilmente o meu ego, impregnando-o de uma maior clarividência nas formas
e conteúdos de como se deve estar e viver
na vida.
A forma como fui recebido e tratado no
seio dos fuzileiros Especiais do DFE12 com
especial relevância para o Comandante
Rebordão de Brito, foi e será sempre um
traço indelével na minha conduta como
homem, militar e, com muito orgulho,
como FUZILEIRO.
Obrigado comandante por ter permitido
partilhar consigo tantos momentos de sã
camaradagem militar, pessoal e familiar.
Paz à sua alma...
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
entrevista
Almirante Nuno Gonçalo
Vieira Matias
NOTA: Entrevista conduzida pelos Vice-Presidentes da AFZ Cardoso Moniz e Marques Pinto
e conversão para texto escrito de Maria Cecília e Marques Pinto
O
Almirante Nuno Vieira Matias é o Socio Originário, n.º 1590, da Associação Nacional de Fuzileiros, tendo sido distinguido pela respectiva Assembleia-Geral, com a
designação honorífica de Sócio Honorário. Atingiu o posto de Almirante, o mais alto
da carreira da Marinha de Guerra Portuguesa e, simultaneamente, o cargo máximo da
Marinha, de Chefe do Estado-Maior da Armada, funções que exerceu entre 1997 e 2002.
O Almirante Vieira Matias concluiu a sua licenciatura na Escola Naval em 1961, tendo-se
oferecido como voluntário para embarcar na então Fragata “Vasco da Gama” para uma
comissão de serviço em Angola (1961/1963).
Especializou-se em artilharia e em fuzileiro, tendo combatido na Guiné, como Comandante
do Destacamento N.º 13 de Fuzileiros Especiais (1968/1970).
Desempenhou sucessivamente as seguintes funções: Professor da Escola Naval em acuO Almirante Vieira Matias enquanto CEMA
mulação com Director do Laboratório de Explosivos, comandante da Força de Fuzileiros
do Continente (1976/1978), Capitão dos Portos de Portimão e de Lagos, Comandante do N.R.P. “João Belo”, Chefe de Divisão do
Estado-Maior da Armada e Professor do Instituto Superior Naval de Guerra.
Além da sua formação em Escolas Nacionais frequentou, em países NATO, uma dezena de cursos de que se destaca o “Naval Command
College” nos EUA (1988/89).
Nos postos de Almirante desempenhou ainda os seguintes cargos: Subchefe do Estado-Maior da Armada, Superintendente dos Serviços
de Material, Comandante Naval em acumulação com o cargo NATO “Comander-in-Chief Iberian Atlantic Área” (1995-1997).
Depois de desligado do serviço (2002) foi membro da Comissão Estratégica dos Oceanos e do “European Security Research Advisory
Board” da Comissão Europeia e é: Presidente da Academia de Marinha, Vice-Presidente da Direcção da Sociedade de Geografia de
Lisboa, Membro efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, membro de Mérito da Academia Portuguesa da História e do Conselho de
Honra do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Presidente do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes
e Membro do Conselho Nacional de Educação, em representação da ACL e Professor Convidado do Instituto de Estudos Políticos da
Universidade Católica Portuguesa.
É, ainda, autor de diversos trabalhos e artigos sobre estratégia marítima, segurança nacional e economia do mar.
Foi agraciado com 16 condecorações nacionais (incluindo a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e a Grã-Cruz de Aviz) e com 10 condecorações estrangeiras (Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França e Itália).
De personalidade serena, de extrema simplicidade, mas de arguta inteligência, homem de cultura que conjuga um pragmatismo
executivo notável com um inato perfil de liderança, o Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias é do melhor que já teve e têm, a Marinha
de Guerra, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal.
Tê-lo como consócio, entrevistado da revista “O Desembarque” e como camarada de armas é subida honra para a Instituição que ora
servimos e para quem teve a dita de o entrevistar.
Marques Pinto (MP): O que levou o Sr. Almirante a optar pela Marinha de Guerra? Foi por tradição familiar? Por vocação? Faça-nos, por
favor, um pouco da sua história de vida, até ingressar na Escola Naval.
Almirante Vieira Matias (VM): É como muito gosto que falo para a revista da Associação de Fuzileiros – a nossa Associação – e começo
por dizer que conheci o Mar, que vi o Mar pela primeira vez com os meus 3 anos, na Nazaré. E não gostei, provavelmente porque a areia
me entrava pelas sandálias… Mais tarde, o meu Pai que era funcionário público foi colocado em Portimão. Eu tinha 11 anos e então o
Mar foi para mim uma revelação extraordinária. O porto de Portimão tinha um enorme movimento de embarcações e tudo aquilo foi um
verdadeiro paraíso que se me abriu. Aprendi a nadar nesse Verão e, em Outubro, estava inscrito na Vela da Mocidade Portuguesa, onde
comecei a aprender a “arte de velejar”. Gostei imenso da Vela. Gostava sobretudo daquelas saídas de Portimão. Ir para o Mar, passar
pelo meio das pedras do molhe, limpar a embarcação era para mim de um supremo bem-estar e, adolescente que era, constituiria
também um desafio. É curioso que não gostava das regatas: a competição e até uma certa confusão retiravam à vela – pensava eu – a
serenidade do Mar… Mas, a certa altura disseram-me que iria disputar-se um Campeonato Nacional, em Lisboa, cidade capital que eu
não conhecia e que, quem ganhasse as regatas, em Portimão, seria selecionado para ir a Lisboa. Percebi, então, que era altura de me
aplicar. Fiz as regatas e vim a Lisboa. Foi quando o “bicho” do Mar tomou conta de mim. Conhecer as embarcações e tentar perceber
o que seria a vida do mar despertou-me especial encanto. A somar às minhas motivações, o facto de o meu Pai ter sido uma pessoa
extremamente culta, gostando muito de ler a História. Nos fins-de-semana – não havia televisão nessa época em casa – liam-se os
cronistas e, por vezes, o Pai punha-me a ouvi-lo ler o Zurara ou as viagens de Fernão de Magalhães, de Stefan Zweig. Enfim, tudo isso
“ia entrando em mim” como uma ideia de hipótese de grande satisfação de vida. E foi assim que – embora tendo outras opções pelas
notas que tinha no Liceu e tendo pensado mesmo em medicina e engenharia – decidi concorrer à Escola do Exército, para fazer os
preparatórios, e poder ingressar na Escola Naval.
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entrevista
Cardoso Moniz (CM): Então, és natural de Leiria?
VM: Não, de Porto de Mós… Sou da terra de um Almirante da
lenda da Praia do Sítio, D. Fuas Roupinho.
Mas, continuando: fiz o primeiro ano dos preparatórios na Escola
do Exército, concorri (com imensos concorrentes) à Escola Naval,
mas fui apurado porque só tinha 19 anos, era dos mais novos, e
as notas também eram boas.
CM: Eu estava a tentar perceber como é que tu foste da Nazaré
para Portimão sem passar por Lisboa.
VM: Como já disse, o meu Pai era funcionário público e naquele
tempo os funcionários do Estado tinham mobilidade, por várias
razões e quase sempre quando eram promovidos. De facto, não
passei por Lisboa. Só vim a Lisboa, pela primeira vez, às regatas
da Mocidade Portuguesa.
CM: Então, ficaste apurado…
Em operação na Guiné, Rio Cacheu - Concolim - 16/08/1968
VM: Exactamente. Fiquei apurado. Vim às regatas e depois entrei para a Escola Naval (1958).
Como já tenho, algumas vezes, referido a Marinha já nessa altura estaria a prever ou tinha mesmo previsto que poderia haver problemas
nos nossos territórios ultramarinos, porque as independências dos territórios africanos (ingleses, belgas, franceses) estavam a ocorrer
a um ritmo impressionante, em zonas de fronteira com os territórios portugueses. Isto para dizer que entrei para a Escola Naval com o
1.º Curso da Reserva Naval, que integrava uma reforma da Marinha que considero brilhante e que previa aumentar os efectivos, com
gente especializada com formação superior, ao nível de oficiais, recrutados do serviço militar obrigatório. É também deste ano (1958)
a proposta do Estado-Maior da Armada para que fossem formados fuzileiros, uma espécie de organização de comandos, semelhante
aos “marines” da Royal Navy, mandando especializar como monitores/formadores em Inglaterra, os primeiros 4 elementos que, depois
viriam a ser instrutores dos cursos de fuzileiros: um Oficial (Pascoal Rodrigues) e quatro praças, das quais ainda vive o célebre (ora
sargento reformado) Santos Silva o “Piçarra”. Resumindo: foi esta perspectiva, esta previsão de grande alcance que considero brilhante
na Marinha dessa época. A tudo isto juntou-se a aquisição de navios para a tradicional Marinha (missões em África, da NATO e de
soberania, no nosso território, aqui, na Europa)…
MP: E portanto é assim, Sr. Almirante, que depois de promovido a Guarda-Marinha o seu percurso decorre nos navios, até que foi
chamado a frequentar o Curso de Fuzileiros.
VM: Exactamente. Quando começa o terrorismo, em Março de 1961, em Angola (sim, porque aquilo foi um verdadeiro terrorismo,
uma selvajaria) eu estava quase no fim do curso da Escola Naval. Então a Marinha antecipou-nos o final do curso e mandou-nos, imediatamente em viagem de instrução de guardas-marinhas, na então Fragata “Pêro Escobar” (navio que ficou conhecido como “Gina
Lollobrigida” pela beleza das suas linhas). Chegados a Angola, o navio foi integrado no dispositivo naval de contra penetração, de apoio
às operações em terra e de apoio logístico. Acabado o tempo de instrução, fomos mandados regressar a Lisboa de avião. Logo que me
apresentei na Direcção do Serviço de Pessoal ofereci-me como voluntário para qualquer comissão de serviço em Angola.
MP: Como Fuzileiro?
VM: Não, ainda como Oficial da Classe de Marinha. Tinha ficado tão impressionado com o que se tinha passado em Angola, que me
ofereci imediatamente para voltar. Quinze dias depois, estava a sair a barra como Oficial de Navegação da Fragata “Vasco da Gama”
que, entretanto, tinha chegado de Inglaterra. Desempenhei as funções de Oficial de Navegação e Chefe do Serviço de Informações
de Combate. Cheguei novamente a Angola, em Dezembro de 1961. Dois dias antes de chegar a Luanda, a 18 de Dezembro, ocorreu
a invasão da Índia, o que nos marcou profundamente, para toda a vida. Cumpri, pois, a comissão em Angola de dois anos, (1961/63)
tendo desembarcado por 3 vezes, para patrulha do rio Chiloango, em Cabinda, por períodos de dez dias, onde pela primeira vez tive
oportunidade de comandar Fuzileiros, embarcado nas lanchas “Lué Grande e “Lué Pequeno” e também em botes. A primeira vez
que desembarquei, foi só com pessoal do navio, da segunda e da
terceira já levei uma secção de Fuzileiros. Foi, por assim dizer,
o meu primeiro contacto com os fuzileiros, fuzileiros que tinham
sido formados há pouco tempo, que eram constantemente solicitados e que estavam em fase de adaptação àquele conjunto
diversificado de missões, com exigências muito grandes, talvez
excessivas, pelas condições adversas onde tinham de actuar.
No âmbito da estratégia da Marinha, ao nível da contenção, e da
contra penetração, nos rios e no mar, os fuzileiros eram também
necessários para operações em terra. A minha percepção foi que
talvez tivessem nessa altura (embora como oficial muito jovem)
exigências excessivas. Mas, mesmo assim, os fuzileiros cumpriram e desempenharam muito bem as suas missões.
Vestido de mandinga - Bissau
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Terminada a comissão de serviço, não tive direito a férias. Cheguei no navio a Lisboa, e dois ou três dias depois fui mandado
frequentar o curso de especialização em artilharia que já estava a
decorrer. Para me casar tive que aproveitar, no período de Natal,
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entrevista
o intervalo entre duas divisões de serviço diário no Grupo N.º 2 de Escolas da Armada. Terminado o curso fui servir na Direcção dos
Serviços de Material de Guerra e Tiro Naval, onde fiquei quase três anos, tendo sido, a partir de certa altura, inscrito numa lista de
indisponíveis para ir para África, face à importância que era dada à Secção que eu chefiava, de munições de artilharia e de armamento
portátil. Só que, a determinada altura, havia necessidade de oficiais de Marinha para o curso de fuzileiros especiais e… deixei de ser
indispensável.
CM: Mobilizaram-te …
VM: Exactamente. Em 1967, fui tirar o curso de Fuzileiro Especial, com as dificuldades próprias de quem estava há três anos em
lugar de secretária. Tive, porém, a noção de que tinha de me empenhar ao máximo, já que o que estaria em causa era a segurança
dos homens que eu fosse comandar e a minha própria segurança. No fim do curso fui
escolhido para ir comandar o Destacamento N.º 13 de Fuzileiros Especiais, para a Guiné.
E lá estivemos durante dois anos (Abril de 1968/ Fevereiro de 1970).
MP: Diga-nos alguma coisa sobre o comando do seu DFE. E conte-nos o que foi a sua
Comissão de Serviço na Guiné. Como viu a guerra do Ultramar ao tempo e como a vê
hoje, à distância de mais de trinta anos?
VM: Sim, senhor. Eu tenho uma visão, que venho comunicando em várias conferências,
em estudos superiores militares, em actividade civil, etc.
Começando pelo aspecto mais geral: a África Portuguesa era muito cobiçada e aquilo
a que chamam os “ventos da história”, não eram ventos da história. Eram “ventos da
cobiça”. África era cobiçada pelas grandes potências: Estados Unidos de um lado, União
Soviética do outro, para falar só de duas. Em Angola, por exemplo, a guerrilha começou
sob influência dos Estados Unidos. A sua Igreja Baptista tinha particular influência na
UPA, (União dos Povos de Angola) o movimento que lançou o terror em Angola, a partir
de 1961. Alguns dos nossos territórios ultramarinos eram muito ricos, pelo que não
ficaram imunes ao movimento de cobiça dos países que tinham sido colonizadores
ou ditos “colonizadores” e também de outros que o não tinham sido, mas com claras
apetências para essa área do Mundo. O que se gerou foi um movimento no sentido
de dar a independência ou promover a independência desses territórios, atribuindo-se
aos povos locais a responsabilidade de se governarem, mas continuando, os países
promotores a ter a possibilidade da exploração das suas matérias-primas. Houve um
grande cinismo da comunidade internacional. Pretendeu-se obter o melhor de dois
Guiné, no Rio Buba - Dezembro de 1969
mundos, isto é, apoiavam, promoviam as independências, mas continuavam a obter as
mais valias da economia… e, depois “eles” que se governassem . Não tinham responsabilidades de governação, de apoiar o povo, mas
iam tirar partido das mais valias desses territórios. Foi um pouco o que aconteceu. E eu já o disse a oficiais superiores africanos que,
numa conferência, levantaram o dedo e referiram: - “O Sr. Almirante está cheio de razão”.
MP: Passemos ao seu percurso no seu Destacamento de Fuzileiros, na Guiné. E depois? Como foi a sua vida? Um homem que, inicialmente não tinha como projecto ir para os fuzileiros e que se vê de repente, a comandar 75 homens, numas condições como eram as
da Guiné… Como encarou tudo isso?
VM: A questão é importante. Vi “tudo isso” como vi tudo na minha carreira. Era uma imposição de serviço. Eu estava na Marinha
para servir e portanto teria que servir o melhor que pudesse e soubesse. E por isso, da mesma forma como assumi outras funções
empenhei-me, também, no comando da actividade do meu Destacamento até ao limite das minhas capacidades, apesar das difíceis
condições operacionais, logísticas e humanas em que nos encontramos a maior parte do tempo. Claramente, o Comando da Defesa
Marítima da Guiné não estava preparado para apoiar os DFE’s fora da base, em Bissau, e nem sempre fez o esforço necessário para se
adaptar. Havia até quem pensasse que para os Fuzileiros qualquer coisa servia!!! Mas assumi a missão com toda a energia, procurando
mesmo suprir lacunas, lançando mão da enorme capacidade de adaptação e da sagacidade do nosso pessoal. Se não nos apoiavam
com “intelligence” nós tratávamos disso na zona, se não nos mandavam alimentação, nós caçávamos ou pescávamos à granada, etc .
Na verdade a comissão de serviço na Guiné teve duas fases: numa primeira, muito curta, tínhamos base em Bissau, com instalações
muito bem estruturadas e organizadas, na sequência do emprego operacional dos Fuzileiros que estava a ser feito, desde há anos.
CM: Ainda lá estava o Ferrer?
VM: Já não estava. Teria saído havia relativamente pouco tempo.
Portanto, como estava a dizer, nessa primeira fase saíamos nas lanchas – e também aconteceu algumas vezes, sairmos de helicóptero,
em operações helitransportadas – mas, sobretudo, saíamos nas lanchas para vários locais. Também fazíamos operações de vigilância
e contra penetração, destacando Secções ou partes dos Grupos de Combate do Destacamento para os rios, como Mansoa, Cacheu,
Grande de Buba, etc
Apenas como exemplo, refiro que, nas vésperas do Natal de 1968, tivemos de ocupar uma ilha, durante dois dias, de onde os morteiros
82, russos, podiam atingir o aeroporto de Bissau como, aliás, tinha acontecido no Natal de 1967.
Com a chegada do General Spínola, desenha-se uma segunda fase fruto de ele ter tido, na minha perspectiva, uma boa visão estratégica do conflito. É que a guerrilha não se alimenta exclusivamente da população, contrariamente ao pensamento de Mao-tse-tung que
pretendia ensinar que “a população está para o guerrilheiro como a água está para o peixe”. Isso é parcialmente verdade. A água dá
oxigénio ao peixe. A população dá comida aos guerrilheiros mas não lhe dá munições nem armamento.
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entrevista
Percebeu-se então – com base nas nossas informações – onde se situavam os corredores de infiltração: um no Norte, a partir do
Senegal, sobretudo pela península de Sambuiá, e outro no Sul. O Comando-Chefe atribuiu à Marinha uma zona de operações em
permanência no Norte, no rio Cacheu. Aqui, a nossa Marinha desenhou uma excelente operação que foi a “Via Láctea” que demorou
meses, com pessoal no terreno, e no rio, 24 horas sobre 24 horas, com lanchas dos vários tipos e com fuzileiros emboscados em botes
e com pontuadas nas margens. Ora, durante esse tempo, a penetração de armamento foi reduzida de tal maneira que a flagelação dos
quartéis, do lado Sul do Cacheu, que era da ordem das 60 a 70 vezes por mês, passou para 3, 4, ou pouco mais, exactamente porque
a guerrilha não tinha munições nem renovação de armamento.
Só que, como não havia meios para permanecer naqueles locais, tendo a base em Bissau, mandaram-nos instalar em Ganturé. Ficámos
em péssimas condições. Os primeiros DFE’s a iniciar tal prática foram o 12 (Cte Pedrosa) e o 13 (o meu) aproveitando 3 barracões em
ruínas que tinham servido para armazenar mancarra (amendoim), junto ao rio e aos campos de arroz, as bolanhas. Nem sequer levámos
mosquiteiros…! É interessante relembrar a imagem de um camarada nosso da Marinha que escreveu – referindo-se ao tempo em que
tinha permanecido num sítio semelhante – que “os mosquitos eram tantos que deitava-se a mão ao ar, espremia-se e escorria sangue”.
CM: Uma pergunta que vem na sequência da minha experiência em Angola. Junto à fronteira nos locais de penetração, seria possível
fazer patrulhamento com viaturas de tracção às quatro rodas, a corta mato?
VM: Não. O terreno da Guiné é extremamente ensopado, cortado por inúmeras linhas de
água. E os rios que correm no sentido Norte/Sul têm nas margens, quantidades brutais
de “mangal” selvagem, aquele mangal densíssimo, só penetrável por forças anfíbias
muito bem preparadas, no fundo, pelos Fuzileiros. Quando acaba o “mangal” não começa
abruptamente a mata, isto é, há a “bolanha” de permeio até à mata encharcada. Trata-se
de terrenos quase impossíveis de serem trilhados por quaisquer viaturas. A maior eficácia
era conseguida pela patrulha dos rios com lanchas e botes dos Fuzileiros e pela acção
destes também em terra, com aconteceu na longa operação “Via Láctea”.
A propósito: em consequência dos resultados que se obtiveram, entretanto, o General
Spínola mandou 3 ou 4 companhias do exército entrarem na península de Sambuiá
limitada a Sul pelo Cacheu, e no sentido Norte/Sul pelos rios Talicó e Sambuiá. A coisa
não correu bem. Uma companhia teve uns mortos, outras não conseguiram entrar nos
rios e, então, o General Spínola deu ordens (de uma quinta-feira para segunda-feira)
que avançassem os fuzileiros. Foi o DFE 12, do Pedrosa e fui eu (DFE 13). Levámos
cada um só meio Destacamento, ficando os outros meios em “stand-by”, nos rios para
desembarcarem, em manobra, onde fosse necessário. Fomos, penetrámos e tivemos
sucesso. Eu trouxe cerca de 20 prisioneiros e algumas armas.
Apenas depois de capturados esses prisioneiros, se veio a saber da existência de
arrecadações, depósitos de armamento que os guerrilheiros traziam em colunas do
Senegal e que, naquela altura, deveriam estar a chegar ao Cacheu.
Com Oficiais e cadetes na EFZ
Presumo que os guerrilheiros e as suas chefias pensassem que nós não teríamos a
persistência suficiente para continuar no terreno em condições extremamente hostis.
De facto, lanchas e fuzileiros permanecemos nos locais de emboscada e de patrulha 24 horas por dia fazendo abortar as tentativas de
“cambança” do IN, ou interceptando mesmo as travessias do Cacheu.
Depois, acabei por fazer uma operação helitransportada sobre a Península do Sambuiá, próximo do Senegal com apenas 30 homens.
Foi a operação “Grande Colheita”. Apanhámos cerca de 200 armas entre ligeiras e pesadas e 150.000 munições. Para recuperar o
armamento, conduzindo-o para Bigene, foram empregues cinco helicópteros que andaram uma tarde inteira a carregar e descarregar
armamento.
Foi uma operação para que me ofereci directamente ao General Spínola, quando ele foi a Bigene indagar como tinha corrido uma
operação do Comando Operacional 3 nessa zona, mas sem grandes resultados. Pretendia mandar lá Paraquedistas, mas eu apesar de
ter chegado do mato horas antes fiz prssão para ir lá com os meus Fuzileiros. Aceitou, mas que fosse só uma vaga de helicópteros com
30 homens! Preparei o meu grupo para essa emergência e determinei que se levasse o máximo de munições, que ninguém levasse
água (eram só uma horas. Eu próprio levava uma ou duas granadas de bazooka. Fizemos essa apreensão, e cheguei ao fim do dia para
reembarcar e dizem-me: “Não, fica para o dia seguinte.” Fiquei no mato para o dia seguinte, próximo do Senegal, com cerca de 30
homens, onde eles tinham umas centenas largas de guerrilheiros. E o General Spínola (pelo piloto do helicóptero da última vaga que
levou o material) manda-me dizer para ficar ali, no sítio onde eu estava e que, num raio de 3 quilómetros iria mandar fazer fogo de
artilharia batendo o terreno desde o ponto onde eu estava, de noite. E eu disse ao piloto: “Diga ao Sr. General que eu não quero fogo
de artilharia (eu sabia como era… sou artilheiro) e que não vou ficar aqui “. Assinalei na carta do piloto o local (eu já tinha identificado
aquilo, segundo a boa táctica de fuzileiro). Então, eu que tinha estado ali um dia inteiro …toda a “gente” (os guerrilheiros) sabia… Era
óbvio que caíam em cima de nós – ainda por cima, numa zona junto ao rio, com terreno aberto de lado –aquilo seria um morticínio
completo, era um massacre, se ficasse lá. De facto, tive a coragem de dizer: “Diga ao Sr. General que eu não fico aqui”. E disse ao
piloto onde iria ficar.
CM: E nessa noite bombardearam-te ou não?
VM: Fizeram fogo de morteiros e Foram lá. E eu fiquei na mata, num sítio que tinha identificado, segundo a boa táctica que aprendemos
na Escola de Fuzileiros, à noite e tudo caladinho. E fiz outra coisa: mandei retirar as pilhas todas aos rádios, para o pessoal não ter a
tentação de comunicar. Do outro lado da fronteira havia cubanos e guerrilheiros que nos poderiam detectar. No dia seguinte continuei,
por ali acima, numa operação típica dos fuzileiros.
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O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
entrevista
MP: À distância de mais de 30 anos como vê a situação de Portugal e esta guerra que nós fizemos?
VM: Foi uma guerra que demonstrou aquilo que de melhor os
portugueses têm que é capacidade enorme de sacrifício, uma
capacidade de ultrapassar dificuldades inopinadas e por vezes
muito grandes. Foi aquilo que o português sempre demonstrou
ao longo da história. Demonstrou também outra coisa: a capacidade de nos relacionarmos com povos distantes e diferentes e a
nossa capacidade de aceitar a diferença e isso às vezes é muito
esquecido.
MP: Nessa medida, terá valido a pena…
Imposição de distintivo pelo Comt Bacharel na EFZ
VM: Valeu a pena com certeza. Demonstrámos que não eram os
outros a determinar aquilo que devíamos fazer. Tínhamos independência no País e tínhamos independência nas nossas linhas
de acção e na nossa vontade. Tivemos sempre essa determinação ao longo da história. Foi uma lição a tirar para o presente.
MP: Depois da Guiné…
VM: Depois da Guiné, cheguei a Portugal e também não tive direito a licença. (risos e umas gargalhadas)
Mandaram-me imediatamente para a Escola Naval, para professor de artilharia onde até já tinha pontos para ver. Enfim… E aí fiquei,
durante cinco anos e tal, a leccionar a disciplina de artilharia acumulando com o cargo de Director do Laboratório de Explosivos. Entretanto dá-se o “25 de Abril”, há o período do “PREC” e depois do “25 de Novembro” sou chamado ao CEMA para ir comandar a Força
de Fuzileiros do Continente. Disse ao CEMA: “Mas eu sou Capitão-Tenente e o comando da “Força” é de Capitão de Mar-e-Guerra.
E o que eu gostava era de ir embarcar”. E o CEMA disse-me: “pois é mas, depois, no fim, talvez lhe arranje uma Fragata”. E estive
dois anos como comandante da FFC, entretanto promovido a Capitão-de-Fragata. Tive oportunidade de trabalhar com o Comandante do
Corpo de Fuzileiros e com os outros Oficiais naquilo que estávamos a perceber tinha de ser a nova a reorientação da actividade dos fuzileiros e uma nova orgânica, de batalhões, companhias, unidades de apoio de desembarque etc., uma nova estrutura visando as missões
que fossem necessárias para os fuzileiros. Começámos inclusivamente a fazer exercícios, primeiro ao nível de companhia, e depois, ao
nível de batalhão. Foi mais simples do que eu pensava, face ao período de agitação política que íamos vivendo. Conseguimos, de certa
forma, estabilização e eliminar a política da área militar dos fuzileiros. Planeámos um grande exercício que foi o “Albatroz”, realizado
em Sagres. Houve uma grande adesão da Força Aérea Portuguesa e do Comando Naval. Fez-se uma verdadeira operação anfíbia, onde
esteve o então Presidente da República, General Ramalho Eanes, a assistir aos desembarques. Estivemos lá durante quinze dias, nos
exercícios preparatórios. O Comando Naval aplicou as regras das operações anfíbias da NATO. Tentámos, pois, uma reorientação dos
fuzileiros, em termos operacionais e mesmo de mentalidades e começámos, também, a pedir a reformulação de equipamento. Fiz dois
anos de comissão na “Força” e depois “disse que era altura dos Oficiais da Classe de Fuzileiros” assumirem. E fui substituído pelo
Oliveira Monteiro. (Não me deram o comando de nenhuma fragata, “porque ainda era muito novo”, mas não o tinha sido para ocupar
um cargo de capitão-de mar-e-guerra sendo capitão-tenente!)
MP: - E dali até ao seu cargo de Chefe do Estado-Maior?
VM: Tive a oportunidade de continuar a acompanhar a evolução dos fuzileiros e tanto quanto possível de a motivar, como foi o caso de
quando fui Subchefe do Estado-Maior da Armada, Comandante Naval ou Subintendente dos Serviços do Material. A compreensão que
tinha dos fuzileiros ajudou-me a incentivar o seu reequipamento, a evolução do treino e a frequência de alguns cursos no estrangeiro
com outras forças congéneres.
Como Chefe do Estado-Maior tive duas preocupações enormes: o reequipamento dos fuzileiros com a Lei de Programação Militar e a
sua inserção em forças expedicionárias no estrangeiro. Que me lembre, tivemos, simultaneamente, fuzileiros nos Balcãs, em Timor
(tive a oportunidade de os visitar) e até em Moçambique, em apoio humanitário às cheias, e fuzileiros integrados numa força que teve
um papel notável na Guiné, no conflito entre Nino Vieira e Assumane Mané, em 1998.
A propósito deste conflito ocorre-me dizer que mandei, então, preparar uma força da Armada para sair. Assumi porque o poder político, da altura, não estava sensibilizado para essas “danças” (risos) mas eu, pelas informações que ia tendo, achei que devia preparar
uma força com o navio o “Bérrio”, uma Fragata da classse “Vasco da Gama”, duas Corvetas, helicópteros e uma força de fuzileiros
e mandei-a sair para o mar. Quando fui questionado sobre porque tinha mandado sair a força, respondi que tinha decidido mandá-la
para exercícios, decisão que era da competência do CEMA. “Se decidirem que ela deve ir para a Guiné, ela já lá estará perto” (risos).
Mas tive de apanhar o Primeiro-Ministro Guterres numa cerimónia, nos Jerónimos, e disse-lhe que aquilo podia ser um morticínio de
portugueses a viverem, na Guiné, assim como de muitos estrangeiros, se não procedêssemos à sua exfiltração.
MP: Os Fuzileiros também andaram pela ponte de Entre-os-Rios e ouviu-se falar num sonar “de varrimento” lateral que teria sido
mandado vir do estrangeiro…
VM: Nós tomámos essa iniciativa. Mas já agora, aqui vai essa história da tragédia da ponte de Entre-os-Rios:
Eu estava no Porto, numa reunião dos Chefes Militares portugueses com os Chefes espanhóis, e lembra-me de ter visto o rio Douro
com uma corrente brutal. Ao fim da tarde, vim de avião para Lisboa e às três da manhã sou acordado porque tinha havido um desastre enorme em Entre-os-Rios. Mandei aprontar imediatamente fuzileiros com botes para seguirem lá para cima e mandei accionar
vários meios, designadamente, do Instituto Hidrográfico e mergulhadores, mesmo antes de haver orientação politica. Estivemos lá
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entrevista
muito tempo, como é conhecido, e a certa altura depois do Instituto Hidrográfico analisar a situação, verificou-se que ao fundo do rio,
faltavam 15 metros, isto é, tinham sido levados 15 metros de areia, que descalçaram os pilares da ponte… Concluímos então que
era necessário ter um sonar lateral, para encontrar os automóveis e o autocarro que tinham caído ao rio, porque a água era impenetrável, barrenta, cheia de detritos e com uma corrente da ordem dos 10 quilómetros hora, o que inviabilizava o mergulho autónomo.
A solução era “arranjar” um sonar lateral para fazer essa pesquisa. Soube que havia um na Escócia e conseguimos que, de um dia
para o outro, ele chegasse a Portugal, alugado. Depois, a Marinha até teve de pagar o IVA do seu orçamento… (risos). Os fuzileiros
fizeram um trabalho notável, de resto reconhecido pela própria população e até houve um grupo de Senhoras que se organizou para
lhes arranjar refeições quentes. Não parava de chover e os fuzileiros, com a sua experiência, lá conseguiram não parar com as buscas.
Houve bombeiros que tentaram ajudar porque a “Protecção Civil” também queria aparecer na televisão e, a certa altura, houve até
um incidente infeliz, que não teve consequências, com um bote dos Bombeiros que se virou e os fuzileiros ainda tiveram que andar a
“pescar” Bombeiros lá pelo meio.
Houve uma fase de pressão da Comunicação Social, mas nós conseguimos controlar a situação. Tive até um telefonema do Embaixador
americano que me perguntava como é que nós conseguíamos coordenar tão bem aquelas operações e relação com a comunicação
social. Eu tinha um Oficial para cada televisão que falava directamente comigo e o então Comandante (hoje Almirante) Ezequiel falava,
também directamente comigo para não haver equívocos. Até que um dia, de manhã, já tínhamos levantado oito ou nove automóveis,
faltava o autocarro, sou confrontado com o “Diário de Notícias” com um título, perfeitamente caricato, a toda a largura da capa:
“Marinha só tem andado a gastar tempo e dinheiro”. Um Senhor professor “não sei quantos” do Instituto Superior Técnico dizia
que, pelas contas que fez, o autocarro estava a meia dúzia de quilómetros do local. Eu não pude dizer nada porque não tínhamos
encontrado o autocarro mas, pela nossa análise, com referência aos pontos onde os automóveis tinham estado, tudo apontava para
que o autocarro estivesse próximo. Não se via nada lá debaixo,
era preciso fundear poitas com umas toneladas de cimento para
os mergulhadores estarem agarrados, para não serem levados
pela corrente e só tacteando é que se conseguia detectar alguma
coisa. Um dia depois, encontrámos o autocarro, a cerca de 40
metros dos pontos onde tínhamos estado a pesquisar. Então,
nessa altura, telefonei para o Sr. Director do “Diário de Notícias”,
o Sr. Dr Bettencourt Resende (já falecido - tenho a melhor das
memórias dele) que conhecia muito bem e disse-lhe: “Então qual
vai ser a capa amanhã? Porventura que o Sr. professor “tal” é
uma besta”. E dizia-me ele: “Oh, Sr. Almirante não pode ser…”
(risos). O Dr. Resende arranjou-me depois uma entrevista, na
televisão, de 25 minutos.
MP: Tudo isto me faz presumir que na sua brilhante carreira terá
sido determinante a passagem pelos fuzileiros.
VM: Eu acho que foi uma experiência única, uma experiência
notável e usava-a, muitas vezes, para dizer que toda a Marinha
Com Brazão e Metello de Nápoles na EFZ
precisava de ter uma “coisa” que os fuzileiros tinham: o brio e a
vontade de bem cumprir, um brio inabalável. Faltava-lhes, nessa altura, a componente tecnológica. Procurei sempre fazer sentir à outra
parte da Marinha esse brio, essa vontade de bem cumprir e a determinação dos fuzileiros. O que lhes faltava era, de facto, o equipamento adequado para que eles sejam bem empregues nas forças expedicionárias. E, hoje, é com muita pena que vejo que raras vezes
os fuzileiros são empregues no exterior.
MP: Bom. Sabemos que “isto de ser reformado dá muito trabalho”. Já ouvi alguém dizer isto …(risos). Quer dizer-nos que trabalho é
esse, Sr. Almirante?
VM: Como sabe sou aqui Presidente da Academia de Marinha, o que me dá algum trabalho; sou Membro da Academia das Ciências,
sou membro da Academia Portuguesa da História, da Sociedade de Geografia, sou Professor Convidado da Universidade Católica, sou
Presidente do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes, sou Membro do Conselho Nacional da Educação etc. Mas, eu dei-lhe o meu
currículo e está lá tudo. Para além das solicitações que tenho para conferências e palestras, em vários locais do País e no Estrangeiro.
Neste momento tenho previsto uma ida ao Brasil para o Congresso dos Mares da Lusofonia, em Maio, e outra a Moçambique, em Junho,
para dar umas aulas na Universidade de Moçambique – donde se pode concluir que não há falta de trabalho.
Mas devo dizer que quase toda esta actividade é “pro-bono”.
MP: A nossa revista “O Desembarque” tem sofrido algumas alterações, particularmente nos últimos dois ou três números, pensamos
nós que para melhor. Permita-nos, Sr. Almirante, o seu olhar crítico.
VM: Oiça, Marques Pinto. É difícil ter um olhar crítico quando vejo qualquer coisa que é construída e feita com tão boa intenção e que
é chegar aos fuzileiros dispersos por esse mundo. E eles merecem que cheguemos até eles. Eu reúno todos os anos com parte dos
homens do meu Destacamento e estamos agora a planear nova reunião. É que uma das coisas que os fuzileiros sentem – sobretudo
aqueles que estiveram em África – é, muitas vezes, a incompreensão da Sociedade pelos sacrifícios que eles fizeram. Eu quando
chamei traidor a um senhor político da nossa praça, estava a pensar no enorme esforço que aqueles rapazes, marinheiros e grumetes,
fizeram vivendo em condições extremas que, se calhar, só os portugueses eram capazes de suportar, sem quase nenhuma compensação, para depois serem incompreendidos e mal tratados. Isto dói no coração.
E, por isso, é muito bom, tudo o que seja feito pela Liga dos Combatentes, pela Associação de Fuzileiros e pelo seu “O Desembarque”
no sentido de chegar ao coração dos combatentes para lhes dizer: – Vocês cumpriram e cumprem as obrigações perante a Pátria –
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entrevista
como poucos seriam ou são capazes de fazer. Estamos unidos, estamos convosco. Tudo
o que digam a essa gente é muito positivo. É que eles dão e deram tudo, alguns até a
própria vida e os fuzileiros foram, talvez, daqueles que mais sacrifícios fizeram. Temos
que homenagear os que morreram em combate, como, por exemplo faz um grupo a que
pertenço, da sociedade civil, todos os anos, no Dia de Portugal, 10 de Junho, junto ao
Monumento ao Combatente, em Belém. E comigo, no meu Destacamento, foram quatro,
os que caíram no Campo da Honra… (fez-se um silêncio). E, portanto, chegar aos que
vivem lembrando os que partiram e que também pensam na preservação dos valores de
cidadania, como é apanágio dos fuzileiro, penso que é uma obra extraordinária. Se puder
ser melhor, com certeza. Porém, o que está feito já é muito bom.
MP: O Sr. Almirante é Sócio Originário da AFZ e também seu Sócio Honorário, tendo sido
um dos Mandatários da Lista candidata, em 2011, aos Órgãos Sociais da AFZ, cujos
titulares terminam o seu mandato em Dezembro de 2013. Diga-nos, por favor, como
vê a nossa/Sua Associação, a sua gestão e que palavras lhe ocorre dirigir aos Sócios,
nossos camaradas.
VM: Eu acho, como aliás já disse há pouco, que a obra que têm desenvolvido é notável
e estou muito feliz por fazer parte de uma Associação que tem pessoas tão generosas
como aquelas que estão à frente da nossa Associação. Estou certo que esse exemplo
frutificará e que mais pessoas serão motivadas a contribuir para as finalidades da
Associação. O agradecimento será, certamente de natureza moral feito à distância, por
aqueles que recebem a Revista, ou que têm contacto com a Associação de Fuzileiros.
XXXXXXXXXXX
Devo dizer que, ainda hoje, me reúno, com os marinheiros que foram do meu Destacamento, umas vezes em grupos grandes, outras
apenas com os da zona onde vivemos, mas sempre pensamos também nos outros e, porventura, em algum com um certo tipo de dificuldades, sem nunca esquecer os que partiram, em combate, ou depois dele, mas quantas vezes em consequência dele.
Portanto, este sentido de solidariedade é muito português, é muito marinheiro e, agora, diria que é muito fuzileiro.
CM e MP: Muito obrigado Sr. Almirante.
Resumo da Actividade Operacional do DFE 13
Guiné (21/Abr/68 a 25/Jan/1970)
Operações:
Emboscada Patrulhas
Reconhecimentos armados Golpes de Mão Total 11
6
12
6
35
Resultados positivos:
Inimigos mortos Prisioneiros 40
43
Total83
Acampamentos destruídos Embarcações apreendidas/destruídas Munições:
Vários calibres
109.390
Granadas de mão 5
Granadas de Morteiro 82 mm
113
Granadas de Canhão s/r
394
Granadas de LGF
240
Minas
38
Total1.102.062
Outro Material:
Explosivos plásticos
TNT Total
Disparadores
380
Armadilhas
2
Aparelhos de pontaria de morteiro 60 mm 3
Canos de Metralhadoras 21
Pratos de Morteiros 60 mm 1
Carregadores de diversas espingardas
146
Total553
Tempos de patrulha e emboscadas
(em LDM e botes)
4.257 h
Contactos de fogo com o inimigo
32
282
25
Armamento Apreendido:
Canhão s/r 82 mm Morteiro 82 mm Lança-Granadas Foguete Metralhadoras pesadas Metralhadoras ligeiras Espingardas autom., não-automáticas e nativas
Pistolas-metralhadoras Espingarda caçadeira Total 1
1
7
2
20
9
91
1
216
30 kg
41 kg
71 kg
Resultados negativos:
Homens evacuados para Portugal
Feridos em combate
Mortos em combate
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divisões
Divisão do Mar
e das Actividades Lúdicas e Desportivas
Caminhada dos Castelos 2012
A
Secção de Pedestrianismo levou a cabo no passado dia 5 de Outubro a 1.ª “Caminhada dos Castelos” destinada a sócios, familiares e amigos. Tratou-se de um
percurso com características muito específicas, que teve como ponto de partida
o Castelo de Palmela e como ponto de chegada o Castelo de Sesimbra.
A actividade foi efectuada em dois dias, teve uma distância de 34 km, que foram percorridos em duas fases: 16 km no primeiro dia e 18 km no segundo dia!
O percurso foi sempre muito animado e relembraram-se as marchas feitas por todos
nós, Fuzileiros, na EFZ.
Tivemos como ponto de paragem e pernoita o Parque de Campismo dos Picheleiros no
sopé da Serra da Arrábida.
A noite foi memorável, aquecida ao lume de uma fogueira e guarnecida de uma saudável “ração de combate”.
Já a noite ia longa, quando os participantes recolheram às tendas para o descanso
necessário, para se encarar a jornada final.
Por trilhos e vales, sempre acompanhados da beleza natural da nossa Serra concluiu-se mais uma actividade em plena Natureza.
Apesar do reduzido número de participantes, ficou-nos a esperança de que em 2013
os mesmos estarão presentes para guiarem novos aventureiros.
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divisões
Campeonato Regional Sul Pistola Livre a 50 m
N
esta modalidade, com um nível
competitivo muito elevado, face à
distância, conquistou o 1.º lugar
o nosso atleta Rui Rodrigues, em HS 2,
com 484 pontos.
Os nossos parabéns, acima de tudo por
ter sido o Atleta que mais representou a
Associação de Fuzileiros, durante 2012,
com um total de 20 competições realizadas!
Saudações e parabéns ao Rui Rodrigues.
Taça ARTS
em Carabina de Cano Articulado
Esta prova, realizada a 20 de
Outubro, a Associação de Fuzileiros obteve 2.º lugar em
equipas, sendo o prémio recebido pelo Chefe de Divisão, Espada Pereira, na cerimónia de
entrega de prémios organizada
pela ARTS, cerimónia que teve
lugar na ARDBA, no Montijo.
O empenho e dedicação de todos os atletas que integraram as
equipas, foi fundamental para a obtenção deste galardão que é
de todos nós mas, acima de tudo, dos atletas que tornaram este
objectivo possível.
D
isputada em quatro provas, realizadas durante o ano de
2012, a Taça Associação Regional de Tiro do Sul (ARTS)
decorreu em vários locais da zona sul do País, tendo sido a
última prova realizada em Évora!
Foram os seguintes os nossos atletas: Manuel Luís, Miguel Luís,
Jorge Nunes e Luís Piedade.
Parabéns a todos.
Troféu Federação Portuguesa de Tiro
com Pistola de Recreio a 25 m
D
urante o ano de 2012 realizaram-se cinco provas para o Troféu “Federação Portuguesa de Tiro” – Pistola de Recreio a 25m. Contando para a classificação final
as três melhores provas das cinco realizadas, a Associação de Fuzileiros obteve,
no passado dia 09 de Dezembro, o 3.º lugar em Equipas, sendo o prémio recebido pelo
Chefe de Divisão, Espada Pereira.
O empenho de todos os atletas que constituíram as equipas foi fundamental para a
obtenção deste galardão que, como sempre é de todos nós mas, principalmente, dos
atletas que deram o seu melhor para que a AFZ visse, mais uma vez o seu nome subir
ao pódio. Citam-se os nossos atletas, como é de toda a justiça: João Pereira, João Luz,
António Ramos, Miguel Correia, Paulo Samuel, Comt Semedo de Matos e Henrique Matos.
2013 será de progresso.
Textos do espaço “Divisões” da autoria de Espada Pereira – Chefe da Divisão das Actividades Lúdicas e Desportivas
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crónicas
Breves estórias da Guiné
Manuel Ramos
Destacamento para reabastecimento de munições e comida…
Entretanto, depois de todo um dia cheio de atividades (de que hoje
tenho saudades!) lá conseguimos chegar ao tão desejado ponto
de reembarque.
Este foi mais um dia menos bom mas, no essencial igual a tantos
outros menos bons valendo-nos, sempre, o apoio da nossa “família” de Fuzileiros.
As patrulhas que fazíamos, no Rio Cacheu eram quase sempre
em zonas perigosas:
Era frequente que, de vez em quando e quando mais era necessário, fazermos Patrulhas em botes de Borracha.
Torrão (1964), Porto (1965) e Sedas (1964) - Esquadra “BRAVO”
A
minha esquadra, em meados de 1968, fez uma pequena
paragem para assentar ideias, pois estávamos numa zona
no norte da Guiné, onde dominava o famoso Grupo do Nino
Vieira, que mais tarde viria a ser o Presidente da Guiné Bissau.
Nesta zona fazíamos quase sempre os desembarques entre as 2 e
as 4 horas da manhã. O tarrafo era muito denso e nós deveríamos
chegar à orla da mata antes do dia nascer.
Esta zona Chamava-se Tancroal perto de Canjája, onde o Grupo
do Nino mais actuava.
Nesse dia o inimigo não nos deu descanso. Foi um dia muito “preenchido” em relação às outras operações já que - apesar de se
caracterizarem quase sempre por contactos e emboscadas – esta
teve de tudo. Além de contactos consecutivos de fogo tivemos
que ser reabastecidos por duas vezes de munições, coisa que era
impensável numa operação normal. Mas felizmente saímo-nos
bem, apesar de um camarada ferido por duas vezes(!), “o Amália” (era a sua alcunha) que, mesmo ferido não quis ser evacuado,
pois atendendo à situação de grande pressão ele preferiu estar
com o Destacamento (Grande Fuzileiro!). Felizmente os ferimentos foram ligeiros.
Teremos que agradecer os bons serviços da Força Aérea pela
prontidão das respostas aos pedidos de intervenção do nosso
Patrulhas no rio Cacheu
36
E na zona mais perigosa por onde os Botes e Lanchas (LDM)
quase sempre eram atacados, o IN até tinha a ousadia de atacar
os navios-patrulha (“Sagitário, “Lira”, “Hidra” ou “Cassiopeia”)
protegido por abrigos subterrâneos nessa tal “Clareira” do Rio
Cacheu e na zona do Tancroal, a caminho de Binta/Farim.
Conforme estas fotos documentam tivemos que utilizar táticas
com grande imaginação. Antes de chegar à “maldita Clareira”,
onde era suposto o In estar quase sempre à nossa espera, os dois
ou três botes das patrulhas, encostavam-se à margem opostas
e começavam a fazer fogo, de cobertura, com a nossa “amiga e
famosa” MG42; varrendo a margem toda, permitindo-nos assim
passar, os restantes botes, sem problemas.
Nós, DFE 12, felizmente, não tivemos graves problemas.
Fomos vivendo com “este problema”…
Porém, mais tarde, na minha segunda comissão, que fiz também
na Guiné, no DFE 13 - 1971/1972, houve, que me lembre, botes
de Camaradas nossos que foram atacados, houvendo duas baixas
mortais.
Era assim a Guiné-Bissau dos nossos tempos. Desejaria que hoje,
por lá, não fosse tão mau. Contudo, não me parece…
Manuel Ramos (“O Porto”)
MAR. FZE. n.º 1205/65
Sóc. Orig. n.º 90
Em primeiro plano, Torrão e Porto a caminho do reembarque (rio Cacheu)
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crónicas
Crónicas de Outros Tempos
Marques Pinto
Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa
Evacuação de uma Família Extensa e
Multirracial
É
esta a quarta crónica que dou à estampa na revista “O Desembarque”. E por isso, para que se não perca o fio da narrativa, aconselho a consulta das edições números 12, 13 e
14. Tratando-se de episódios de uma longa história, só assim se
poderá acompanhar o drama que centenas de milhares de portugueses e angolanos ou de angolanos portugueses viveram, na
nossa descolonização “exemplar”.
Iniciadas estas “Crónicas de Outros Tempos” na edição n.º 12 da
nossa revista (de páginas 17 a 20) aí escrevi para os sócios, familiares
e amigos da Associação de Fuzileiros e para todos quantos nos
queiram ler, as “Primeiras Palavras”; procurei fazer o respectivo
“Enquadramento” e explicar, para os muitos que a não conheceram, o que foi a Ponte Aérea de Nova Lisboa (Huambo) /Lisboa,
nessa “Cidade Acampamento” do Planalto Central de Angola que,
de Junho a Outubro de 1975, se viu cercada de guerra e para
onde convergiram, fugindo aos tiros, muitas dezenas de milhares
de pessoas, transformando a segunda maior cidade daquele território então português, num verdadeiro caos.
Tentei também transmitir aos nossos leitores o que foi uma Ponte
Aérea (segundo já se disse, a maior ponte aérea civil do Mundo)
com origem numa cidade que já não tinha aviões comerciais, está
a cerca de 300 quilómetros do mar, e que duplicou a sua população, sendo que os últimos a chegar tiveram de ser alojados
nas instalações da Feira de Nova Lisboa e, designadamente, em
pavilhões de gado.
Tentei também explicar quais são os problemas de uma ponte
aérea e, particularmente desta, sobretudo, o seu principal drama: “Quem vai primeiro? As mulheres que, eventualmente com
as crianças, estão mais fragilizadas? Os velhos e os doentes? Os
jovens com mais esperança de vida? E os homens ficam para o
fim? E as famílias? Separam-se? E se não há aviões para todos?
E os política e militarmente ameaçados de morte (pelos Movimentos de Libertação que controlavam pelas armas o terreno)
mesmo sendo pretos angolanos, deixam-se morrer, já que não há
poder que os proteja? E as famílias extensas, multirraciais e multinacionais? Separam-se? Ficam os pretos e os de pele escura
e vão, apenas, os brancos? Quem são os nacionais portugueses
que têm o direito a ser repatriados? Só os brancos? Ou também
os pretos e mestiços que nasceram sob a Bandeira das Quinas?
Então, como será? Vão todos os que quiserem ir? E Portugal suporta? E quem define tudo isto, quando o poder está na rua ou
para lá caminha?”
Mas que não há ninguém em Portugal que tenha vivido esta experiência, é verdade. E que isso me serviu na vida e nos meus
sucessos profissionais, também é.
Mas então, vamos à história:
À porta das instalações da Comissão Executiva de Repatriamento
(CER) da Comissão Nacional de Apoio aos Desalojados (CNAD),
instalações cedidas pelo Exército Português do que fora o seu
Distrito de Recrutamento e Mobilização de Nova Lisboa – estas
siglas destas comissões só tinham expressão real em algumas
cabecinhas de Luanda, porque na prática, o que realmente contava eram as pessoas que voluntariamente se entregaram à organização desta Ponte Aérea – o Coordenador da CER – este escriba
que procura adaptar o que tem escrito às crónicas da revista “O
Desembarque” – é confrontado com o seguinte quadro:
Um grupo de desalojados, chamados a embarcar nessa noite (os
aviões aterravam sempre à noite, com ocultação de luzes) constituído por cerca de 15 pessoas, discutia com elementos da minha
Comissão de voluntários.
Discussão acesa, quase crispada.
Ao passar, pergunto o que se passa. E um dos meus colaboradores diz-me:
– Estamos na presença, doutor, de um problema grave e de difícil
solução: esta família tal como se apresenta, não pode embarcar.
Quem o dizia era um dos Coordenadores Adjunto a quem o problema já tinha chegado.
Tratava-se de uma família extensa, constituída por um conjunto
de pessoas tal que, alguns dos seus membros, não teriam direito
a “retornar” a Portugal por serem negros e sem qualquer ligação
a Portugal.
Eram estas as “regras” mais ou menos instituídas por Luanda – na
circunstância ninguém sabia, concretamente, quem as instituía e
com que critérios, para não se falar já de legitimidade – para
evitar que, no calor dos recontros armados, entre os movimentos
ditos de libertação de Angola (MPLA, FNLA e UNITA) os naturais
Pois é: tem de ser alguém e é seguramente quem está no terreno
e não ao longe, nos gabinetes ainda com ar condicionado.
E quando há dúvidas como no caso desta crónica? Quem decide
em última análise?
De facto, o Coordenador, este pobre homem – como dizia um Tio
meu – nascido em Várzea de Cavalos, num lugar de uma Freguesia de nome Lobão da Beira, do Concelho de Tondela, distrito de
Viseu, que foi escolhido por um Alto-Comissário que nem sequer
o conhecia e, quiçá, o não conheceu e, ironia do destino, por exclusão de partes. Calhou. Foi a dita ou a desdita do fado.
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Foto actual de José Luís Pinto (retornado então evacuado pela ponte aérea) e filho
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crónicas
não brancos viessem em massa para Portugal, ocupando lugares
nos aviões cujo número e respectivos voos, também ninguém
sabia se seriam suficientes para quantos, portugueses e naturais
de Angola, de matizes mais ou menos claros, pretendiam fugir da
quase total balcanização daquele território de África que ainda
era nosso.
Desde logo vislumbro o cenário:
Uma Senhora negra, com bem mais de 80 anos, de idade indefinida, seguramente muito velha, alta, magríssima, quase pele
e osso, carapinha branca de neve. Vestia os seus “quimonos”
(panos escuros e compridos) traçados, no seu corpo esguio e encarquilhado, quase até aos pés.
A Senhora, com aspecto de meio tribalizada, meio aculturada estava sentada, quase de cócoras, num pequeno degrau de pedra
que dava acesso a uma das portas, com uma mão segurando os
panos entre as pernas, em jeito púdico e a outra, sustentando a
sua cabeça já cansada. O olhar longínquo e indefinido visava o
chão.
De vez em quando, levantava os seus olhos velhos e vagos varrendo, com súbita e inesperada expressão, o seu grupo, a família que lhe restava, e os outros, os intrusos que discutiam o seu
destino.
Observo o grupo familiar de que a velha Senhora era, nitidamente, a Matriarca: Pretos, casados ou juntos com mestiças claras;
brancos, casados ou juntos com mulatas quase negras; mulatos,
com brancas loiras; brancos com cabritas; jovens de 14/15 anos,
rapazes e raparigas, claros e escuros, crianças louras, quase
arianas e outras escuras de 7/8 anos. Um espanto!
Aqui tinhamos verdadeiramente representado um protótipo de
família multirracial que vinha fugida de Malange e que havia integrado a “Última Coluna de Desalojados” (vidé “O Desembarque” n.º 13 –
página 17) com quatro gerações nascidas em Angola que de Portugal
conheciam um nome:”o Puto”!
O problema que aqui se gerava era o de saber quem autorizava a
evacuação para Portugal daquele “conjunto” à revelia dos “cânones” e das “regras” que aliás, como já disse, ninguém sabia de
onde dimanavam, já que o Poder já estava, nitidamente, na rua.
É que, a lógica era “simples”: Em princípio, quem devia fugir e
utilizar os aviões da Ponte Aérea eram os brancos, aqueles que
tinham ido de Portugal para Angola e agora retornavam. Era a
lógica do “retorno” de um “ilustre” Governo de Portugal que, em
Decreto-Lei, de Março de 1975, criara o IARN (Instituto de Apoio
ao Retorno de Nacionais).
E desta família Angolana – (de pretos, cafuzos, mulatos, cabritos,
mestiços de todas as tonalidades e até crianças completamente
brancas e loirinhas, todos fugidos a tiro da total balcanização do
Centro/Norte e aqui chegados na esperança de que um avião os
levasse para “o Puto”, onde não ouvissem mais as gargalhadas
sarcásticas das armas automáticas e o ribombar dos morteiros e
dos canhões sem recuo – que fazer?
A “minha” velha negra com os seus olhos húmidos porque não
tinha mais lágrimas para verter, percebendo, enfim, a dúvida
balbuciou palavras quase ininteligíveis, híbridas de português e
quimbundo, com um misto de pânico e de dignidade:
– Olha lá… A velha não fica. A velha não presta. A velha vai fazer “uafa” (morrer).Mas ainda não. Velha só fazer “uafa” quando
“N’Zambi” mandar. Primeiro, “N’Zambi” mandou para eu tratar
dos meus neto. Velha não é vossa. É dos neto. Não pode deixar
morrer aqui.
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Encostadita à velha negra, uma criança de cerca de 7 anos (branca, loira, de olhos azuis) chorava soluçando e dizia:
– Se a Avó (seria tetravó?) fica, eu também fico.
A posição do grupo, daquele grupo, de coloração de pele tão heterogénea, era a mesma.
Um homem mestiço de idade madura, dos seus 40 anos, vislumbrando que eu seria “O Chefe”, transmitia-me a posição de todos:
– Ou vamos todos ou deixem-nos morrer aqui. Ficámos sem nada.
Tudo o que nos resta é esta parte da família. Os outros morreram
em Malange com a guerra que veio ter connosco e com a qual
nada tínhamos. A nossa Avó é tudo o que nos resta para unir a
família. É a nossa velha sábia que, com o poder do seu “N’Zambi”
nos há-de guiar e abençoar a todos.
Havia que decidir e, como noutras circunstâncias ainda mais difíceis e muito complexas, a decisão era minha:
– Embarcam, todos. No mesmo avião. Hoje. Aqui, a mais de
350 quilómetros de Malange, e depois de terem perdido tudo,
família e haveres, não ficam.
Estou-me borrifando para as normas.
Em Portugal que se arranjem. Não andam, há 500 anos, a dizer-lhes que Angola é Portugal?
E lá embarcou aquela família extensa, exemplo de Portugal no
Mundo, que as “regras” não permitiam salvar.
Marques Pinto
Sóc. Orig. n.º 221
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
Orlando de Sousa Cristina
Um herói a quem os Fuzileiros muito
ficaram a dever em Moçambique
José Cardoso Moniz
CHEGADA A MOÇAMBIQUE
Estávamos em 1967, primeiros dias de
Novembro. O imponente paquete “Príncipe
Perfeito” atracou no cais comercial de
Lourenço Marques. Eram cerca das 8h00
dum sábado.
O DFE 4, sob meu comando, fez nele a
viagem para realizar naquela Província de
Moçambique uma Comissão de Serviço.
Logo que atracado, a minha preocupação
foi para a eventualidade de haver alguém
do Comando Naval para nos transmitir
as instruções necessárias. A “guia de
marcha” especificava que a partir daquele
momento, ficaria na dependência do
Comando Naval.
O tempo foi passando, até que, pela
10h00, estabelecidas as ligações telefónicas, decidi telefonar para o Oficial de Serviço ao C.N.M., para perguntar se deveria
apresentar-me, se mandavam buscar-me,
ou se… outra coisa qualquer.
Estava de serviço o Tenente Canto Moniz,
filho do Eng.º responsável pela construção
da ponte sobre o Tejo! Aquela obra,
grandiosa para época, em que não houve
derrapagens orçamentais, nem temporais,
nem… corrupções. Ao tempo tais desvios
seriam inadmissíveis!
O Tenente Canto Moniz, que eu não
conhecia, ficou muito admirado por não
saber que havia uma unidade de fuzileiros
a chegar a Lourenço Marques. Feitas as
apresentações através da rede, preveniume que só na 2.ª feira daria conhecimento
ao Comando da minha chegada! Tinha
instruções para não perturbar ninguém
durante o fim-de-semana. Ainda tentei
argumentar, mas não me valeu de nada.
A minha dúvida era pertinente. Estava
previsto que o navio largaria 2.ª feira com
destino à Beira! Desembarcar ou seguir
viagem até à Beira? As dúvidas eram
preocupantes. Para mim!
Decidi dar licença ao pessoal até domingo
à noite. Às 21h00 de domingo queria toda
a gente a bordo. Toda esta “lenga-lenga”
é para dizer que na 2.ª feira de manhã
fui recebido pelo CMG Braga da Silva,
2.º Comte do C.N.M. um homem que me
impressionou pela frontalidade, aprumo,
deferência e educação. Na exposição que
fez acerca da guerra que travávamos em
Moçambique, deu especial ênfase às minas e ao Sr. Orlando Cristina, de quem eu
nunca ouvira falar.
Sem me querer assustar muito, foi-me
dizendo que o Niassa era conhecido pelo
“estado de minas gerais”. Quanto ao Sr.
Orlando Cristina, era uma espécie de “Anjo
da Guarda” cujos ensinamentos deveríamos receber e cumprir porque o dito Sr.
conhecia o terreno a passo e as gentes,
(os seus habitantes). Conhecia guerrilheiros e não guerrilheiros. Falava as línguas
todas do Niassa, Cabo Delgado e Tete.
DA TEORIA À PRÁTICA
Efectivamente desembarcamos na Beira. O navio regressou a Lisboa trazendo o DFE 5 que o DFE 4 rendeu. Fomos
transportados num “North Atlas” (barriga
de ginguba) da Beira até… Metangula.
A aterragem foi uma temeridade. O avião
ia demasiadamente carregado para uma
pista de 700 m. Por pouco não fomos
amarar nas águas do Lago!
refeição ligeira por dia. Um cantil com
1 litro de água dava-lhe para três dias.
Falava muito pouco, fumava muitíssimo.
Conhecia o mato como as suas mãos. Sabia onde havia poças de água. Por vezes
as poças tinham secado. Sempre bem
disposto, sem grandes manifestações.
Preparou-nos e mentalizou-nos para fazermos a guerra com o mínimo de tiros.
Deslocava-se no mato como os felídeos,
sem deixar sinais. O capim continuava
direito depois dele passar. Sabia ler os sinais deixados no terreno com minúcia e
exactidão. Era frequente dizer-nos: “passaram aqui dois indivíduos há menos de
uma hora. Um vai armado e o outro não”.
Deslocava-se com a cabeça bem levantada. Os olhos e os ouvidos eram as suas
sentinelas permanentes.
À nossa espera estavam o Imediato e o
Quartel Mestre do DFE 4 que foram de
avião para receber os materiais que herdámos do DFE 5. Fomos recebidos pelo 2.º
Comandante da Base Naval e o Chefe do
Estado-Maior, respectivamente Comtes.
Conceição e Silva e Manuel da Silva (Manecas), aviador.
Instalámo-nos. Posteriormente conhecemos o Sr. Orlando Cristina que nos fez
uma exposição muito ligeira do que era
a guerra, chamando a atenção para as
minas. O princípio era o seguinte: onde
houvesse indícios de passagem de pessoas, havia minas. Portanto só podíamos
deslocarmo-nos a corta mato. Mostrou
encarar a guerra de guerrilha com “desportivismo”, avisando que devíamos evitar
usar as armas. Os prisioneiros faziam-se,
agarrando-os. Era preferível poupar um
criminoso do que matar um inocente. E no
mato havia muita gente que se opunha à
guerra mas era obrigada a apoiar os guerrilheiros.
Com ele fizemos 4 operações. Duas de formação/preparação e mais duas para além
das fronteiras, para capturar elementos da
Frelimo que ele sabia onde estavam.
Homem com cerca de 1,70 m, menos de
60 kg, extremamente frugal, fazia uma
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Orlando Cristina em 1970
QUEM ERA ORLANDO CRISTINA
Nasceu em Lagos, Algarve, em finais
de Setembro de 1928. Como era balança, nasceu depois de 23. Os pais viviam
separados. Ele ficou com a mãe e o pai
estabeleceu-se em Vila Cabral, no Niassa,
com um negócio que tinha por objectivo
satisfazer as necessidades primárias das
populações.
Sempre muito independente mas trabalhador, fez a primária e o liceu sem dificuldades de maior. A circunstância de a mãe
lhe ter dado um padrasto, não lhe causou
grande transtorno.
Acabando o liceu em 1946, fez o exame
de admissão a direito em Lisboa, sendo
admitido. Foi um estudante “suficiente”.
39
crónicas
DESERÇÃO DE ORLANDO CRISTINA
Jorge Jardim era um “gentleman”. Um diplomata de refinadíssimo trato. Mantinha
as melhores relações com os presidentes
Hasting Banda (Malawi), Keneth Kaunda
(Zâmbia), Július Nierére (Tanzânia) e Ian
Smith (Rodésia). Foi administrador-delegado da Lusalite, posição que manteve até
Dezembro de 1973. Mais tarde, passou a
representar outros interesses, nomeadamente o grande magnata dos petróleos,
Boullosa.
Dispunha duma refinaria, a Sonarepe, e
uma distribuidora, a Sonap Moçambique
que fornecia produtos para todos os países limítrofes. Era seu Director Comercial
o Sr. António Rocheta.
Orlando Cristina com a Renamo, na Gorongosa
Estudava o necessário para passar… e foi
passando.
Em 1949/50 deixou-se envolver na campanha eleitoral de Norton de Matos,
apoiando-o em manifestações de rua e
em distribuição de panfletos. Consequentemente, a polícia política andava com ele
debaixo de olho.
Para evitar que fosse preso a mãe fê-lo
ir viver com o pai. No Niassa, com 21/22
anos, empenhou-se nos negócios do pai,
abatendo caça grossa que, partida em peças e seca, era transportada e vendida em
Quelimane. O Orlando encarregava-se do
transporte. Não tinha falta de dinheiro. Em
pouco tempo transformou-se num exímio
caçador de elefantes, búfalos, rinoceronte, hipopótamos, etc. Vários historiadores
descreveram as suas façanhas, sobretudo
a provocação que causava nos elefantes,
para os obrigar a separarem-se e matar
com um único tiro aquele que lhe parecia
ter maiores presas.
De todas as actividades desenvolvidas
pelo Orlando Cristina, nenhuma lhe dava
tanto prazer como o convívio com os habitantes, usando de fraternidade, dando
presentes e lembranças que sabia os seduziam.
Rapidamente aprendeu as línguas de cada
povo. Ajaua, Nianja, Maconde, Swali, Macua, etc., dizia que eram todas iguais. Falava com todos e cumprimentava, segundo a tradição, com as duas mãos juntas, à
boa maneira dos povos do Lago.
Os sobas e parentes adoravam-no. Sobretudo as filhas!... As “bajudas”, como se
diria na Guiné! Perdiam-se de amores pelo
caçador de elefantes e… de paixões.
AO SERVIÇO DO EXÉRCITO
O cumprimento do serviço militar obrigatório foi um imperativo a que não se furtou.
40
Cumpriu cerca de três anos e meio, três
dos quais como alferes. Acabado o tempo obrigatório, foi aliciado para continuar,
com o posto de tenente. O Exército quis
aproveitar os seus dotes linguísticos e de
relações públicas para dinamizar um serviço de informações militares que se tornava imprescindível.
Era manifesta a agitação popular decorrente dos graves incidentes ocorridos no
planalto dos macondas, onde o governador, Comandante Teixeira da Silva, correu
o risco de ser linchado. O que foi evitado
com a intervenção do responsável Tito Lívio Xavier, comandante dos Voluntários de
Defesa Civil.
Ao saber da presença de Eduardo Mondlane na Tanzânia, logo Jorge Jardim arquitectou um esquema para infiltrar alguém
na organização e acompanhar a evolução
dos progressos que se adivinhava vir a ter.
A pessoa seleccionada foi Orlando Cristina
que estava ao serviço do Exército.
Depois de aturadas negociações secretas
com as altas esferas do Exército, foi proposto ao Orlando Cristina a sua deserção,
passando a ter a categoria de Inspector
– Vendedor da Sonap, com vencimentos
líquidados mensalmente pelo director comercial. Ficou com o número 209.
O Exército cedo se apercebera que haveria
um aproveitamento do descontentamento
popular. Por outro lado, como toda a gente
sabia, na cidade da Beira havia um núcleo
de democratas que pretendia libertar-se
da dependência de Lisboa.
Durante largos anos não chegaram a
acordo quanto ao que pretendiam. Havia
a facção do Jorge Jardim, que pretendia
a independência mantendo as estruturas
raciais e económicas equilibradas. Os da
linha dura, apoiados pela URSS, queriam
a independência plena, sem brancos. Uma
terceira facção, pretendia uma ligação
à Rodésia de Ian Smith e à África do Sul
onde vigorava o “apartheid”.
Eduardo Mondlane mantinha-se informado de todos estes movimentos pelo que
decidiu radicar-se em Dar-es-Salaam, capital da Tanzânia, em finais da década de
50, princípios da de 60. A partir de então
começou a mobilizar os seus seguidores,
com o objectivo de exigir a independência
de Moçambique.
António Rocheta, chefe do Cristina na Sonap Moçambique
Assim se consumou a deserção de Orlando
Cristina, criando-se o boato da sua simpatia pelo Partido Comunista Português.
Esquema semelhante foi usado com frequência. O exemplo mais conhecido é a
saída do 2.º Tenente Manuel Agrellos, Comandante da lancha “Mercúrio”, e seus
companheiros no Lago Niassa, passando a
comandar a lancha “John Chilombwe” (ex-“Castor”), ao serviço do Malawi. Mesmo
em operações de duração muito limitada,
4/5 dias, que se desenrolaram para lá das
fronteiras, era usado este estratagema.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
As informações provenientes de Orlando
Cristina eram assustadoras ou mesmo
aterradoras. Eduardo Mondlane deixou
de ter controle na organização que veio a
chamar-se Frelimo, quando os estalinistas
Samora Machel e Marcelino dos Santos
assumiram a chefia, contra tudo e contra
todos. As cabeças de Mondlane e Uria Simango iriam rolar, porque eram pessoas
moderadas, civilizadas. Como é sabido,
Eduardo Mondlane era casado com uma
norte-americana e Uria Timóteo Simango, pastor evangélico, era casado com
uma senhora muito respeitada de nome
Celina. Esta situação de serem os presidente e vice-presidente da Frelimo, era
inaceitável na URSS!! Consequentemente
exigiram aos seus peões que os depusessem e se livrassem deles. O Eduardo
foi morto, porque os enfrentou. O Uria foi
poupado para não haver conflitos com os
seus seguidores religiosos. Logo a seguir
ao 25 de Abril foi assassinado, bem como
a Joana Simeão, o Gwambe e o Gwengere. O Lázaro Kawandame, regressado do
Egipto, onde estava refugiado, para organizar um partido concorrente às eleições,
também foi assassinado. O seu regresso
tinha sido autorizado! Já depois de 1980
foi assassinada a pobre Celina!... Como
bem disse o Marcelino dos Santos, era
necessário livrarem-se das oposições ao
programa da Ferlimo.
No meio da confusão o Orlando Cristina
conseguiu pôr-se a salvo.
REGRESSO DE ORLANDO CRISTINA
Continuemos a história deste homem
impar, ao nível dos nossos heróis Alpoim
Calvão, Rebordão de Brito, Teixeira, Jaime
Neves e tantos outros.
Como entretanto as chefias militares em
Moçambique haviam mudado, o Orlando foi preso e acusado de deserção. As
chefias desconheciam as negociações
que levaram a esta decisão patriótica. Foi
precisa a intervenção de Jorge Jardim e
da Direcção Geral de Segurança para se
Eng.º Jorge Jardim, patrão do Orlando
esclarecer a situação. Daí dizer-se que
pertenceu à PIDE, o que não tem o mínimo
fundamento.
Entre 1965 e 1974 Orlando Cristina às
ordens do Eng.º Jorge Jardim, deu instrução às Forças Armadas Portuguesas e
aos grupos especiais constituídos por ex-prisioneiros e voluntários. Foi neste período que os Destacamentos de Fuzileiros
Especiais puderam usufruir e aproveitar os
seus ensinamentos para melhor desempenharem as suas funções.
PÓS 25 DE ABRIL
Após o 25 de Abril, o nosso homem, conhecendo bem as populações do norte de
Moçambique e sabendo da simpatia que
gerava entre todos, convenceu-se que
bastaria a sua palavra para recuperar a
confiança das populações, convencendo-as a voltar as costas à Frelimo.
Com um grupo de pequenos fazendeiros
atravessou a fronteira para a Rodésia.
Fundaram uma emissora que dia e noite, transmitia músicas que sabiam ser do
agrado das populações, a par de as instigar a revoltarem-se contra os déspotas
da Frelimo. Essa emissora era ouvida em
todo o Moçambique e chamava-se “Moçambique Livre”.
Entretanto, a triunfante Frelimo, a quem
foi entregue o poder pelos democratas de
Lisboa, criou um campo de concentração
ou reeducação na Gorongosa, em Cudzo
ou Secudzo. Para este campo eram remetidos todos aqueles que não davam garantias de fidelidade.
É do conhecimento geral que a Gorongosa
é uma região de leões, leopardos e hienas. Teoricamente os animais selvagens
seriam impeditivos de que os prisioneiros fugissem. Contudo aconteceu que um
belo dia um jovem de nome Matsangaíce,
acompanhado de um número pouco numeroso, fugiu da Gorongosa e atravessou
a fronteira da Rodésia. Foi dialogar com
o Orlando Cristina e convencê-lo que a
palavra tinha algum efeito mas era fundamental iniciarem a luta armada. Relutantemente, Orlando Cristina acabou por
aceitar as teses de Matsangaíce.
Este regressou a Moçambique e remetido
para o Cudzo donde havia fugido. Começou então a mobilizar prisioneiros para pegarem em armas. Assim nasceu a Renamo. Primeiro a Rodésia e posteriormente
a África do Sul começaram a apoiar estes
revoltosos. Cristina que ficara impressionado com o carácter deste bravo, decidiu
alterar o nome da emissora, chamando-lhe agora “Resistência Nacional Moçambicana”.
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Inge Preis, sua protectora em Maputo
Matsangaíce era muito inexperiente. Com
os homens que dispunha tentou fazer um
“golpe de mão” aos guardas do campo do
Cudzo. Saiu-se mal e foi novamente preso.
Fugiu mais uma vez e voltou à Rodésia.
Agora regressou com homens batidos,
experientes na “Arte da Guerra”. Desta
vez o “golpe de mão” foi um sucesso. Libertados e armados os prisioneiros com
espingardas na posse dos guardas, começaram a luta armada. Foi nomeado Secretário-Geral da Renamo o Orlando Cristina.
Sendo branco manter-se-ia à frente dos
militares até encontrarem africanos que
o substituíssem. Como é evidente não se
sentia muito seguro. Exigiu uma Assembleia Popular de que resultou continuar
Secretário-Geral da Renamo e eleito Presidente o Afonso DhlaKama, decorrente da
morte em combate de Matsangaíce.
Os sul-africanos pretendiam que o Presidente fosse Domingos Arouca. Um intelectual com imenso prestígio dentro e fora de
Moçambique, culturalmente muito superior aos demais.
Prevaleceu o sentido de que Domingos
Arouca nunca dera a cara. Que não seria
justo afastar DhlaKama para entregar a
presidência ao Domingos Arouca.
Calcula-se que a luta entre a Renamo e
a Frelimo tenha causado 1.000.000 (um
milhão) de vítimas!
Coisa pouca para os democratas portugueses ao serviço da URSS.
Durante o conflito o Orlando Cristina deslocou-se a Lourenço Marques diversas
vezes. Ficava aboletado em casa de uma
senhora alemã, a Inge Preis. Deslocava-se
nas viaturas da Frelimo a troco dumas cervejas ou maços de tabaco. Andava sempre
“municiado”.
A Inge Preis, realizadora de audiovisuais,
ficou até bastante depois da independência. Por curiosidade junta-se uma foto
dela, tirada há três anos em Cascais.
41
crónicas
Era com as roupas do marido, 1,90 m, que
o Cristina viajara para a Europa ou para as
USA em representação da Renamo.
ERRO FATAL
No decorrer da luta armada desertou da
Frelimo para a Renamo o piloto-aviador,
Adriano Bomba. Esta deserção foi preparada por seu irmão Boaventura Bomba
ligado aos Serviços Secretos da África do
Sul.
Dhlakama desconfiava da àfrica do Sul,
sobretudo da pressão que exercia para
que os Bomba tivessem mais notoriedade dentro da Renamo. Os dirigentes sul-africanos pretendiam que ambos fossem
nomeados “comissários políticos” e integrados nos quadros da Renamo.
O Afonso Dhlakama condescendeu por
pressão de Orlando Cristina. Segundo o
Historiador João Cabrita, foi o seu Erro
Fatal.
Boaventura Bomba assassinou o Orlando Cristina, na casa deste, arredores de
Pretónia, em 17 de Abril de 1983. Ainda
correram boatos que o Orlando fora abatido pela companheira também pertencente
aos Serviços Secretos da Africa do Sul.
Os mesmos Serviços Secretos julgaram o
Boaventura Bomba e os quatro cúmplices
condenaram-nos à morte. Foram executados no Sudoeste africano e lançados ao
mar a partir dum helicóptero.
deixa dúvidas. O Orlando foi abatido pelo
Boaventura Bomba.
O seu irmão morreu numa emboscada
dentro de Moçambique.
Há uma outra versão: Maquiavélica! Sem
dúvida o Orlando foi assassinado por Boaventura Bomba mas… a mando das autoridades sul-africanas. Porquê? Porque
alcançada a paz no Acordo de Roma, terminavam as hostilidades e a necessidade
dos serviços do Orlando.
Seja como for, paz à sua alma. É um homem inesquecível.
José Cardoso Moniz
Ao tempo era adido militar na África do Sul
o Coronel Fernando Ramos. Viveu de perto
toda esta tragédia e o seu testemunho não
Sóc. Orig. n.º 36
Cofundador da AFZ
cartas ao director
A história de um Fuzileiro e da
sua namorada Fernanda
(1961 e 1965)
Augusto Beja
Exm.º Senhor Director, permita-me que, de França, lhes conte:
T
udo começou no princípio do ano
de 1961, quando rebentou a guerra
nas nossas colónias. Eu, Augusto
Beja, com 20 anos, e a minha namorada
Fernanda com 17 anos tivémos de nos
separar, em boa parte, devido à Guerra do
Ultramar.
A Fernanda, em Fevereiro de 1961, partiu
para Orléans-França, onde era esperada
por seu pai, emigrante instalado nesta
cidade e eu, como não quis arriscar, fiquei.
Na verdade, logo compreendi que só tinha
duas soluções: apresentar-me ao serviço
militar conforme a convocação que me
tinha sido enviada, ou então fugir do meu
país como muitos fizeram. Foi bastante
difícil a escolha mas, finalmente, acabei
por me apresentar no quartel em Vila
Franca de Xira para cumprir o meu serviço
militar, em Março de 1961.
Acontece que, com a decisão que tomei
de servir o meu país, a situação ficou a
partir daí um pouco complicada, para mim
e para a Fernanda já que, em Junho de
1963 tive que embarcar para Angola, o
que nos veio provocar uma terrível separação de 4 anos.
42
Posso afirmar que foi preciso muita vontade mas, finalmente, quando acabei o meu
serviço militar, em Maio de 1965 fiquei
de braços abertos à espera do Domingo
(8 de Agosto de 1965) data por nós marcada para aquele tão desejado dia, o dia
do nosso casamento. Foi o dia mais feliz
da minha vida mas, infelizmente, 15 dias
depois de casados tivemos mais uma vez
de nos separar.
Acontece que me recusaram o passaporte
turístico devido à minha situação de
reservista e, assim me impediram de
acompanhar minha esposa até Orléans.
Foi uma injustiça muita dura de aceitar,
a tal ponto que, mais tarde tentei chegar
Orléans clandestinamente mas, “o salto”
correu muito mal. Fui apanhado pela
polícia espanhola dentro do comboio na
fronteira de Irum.
problemas, isto por duas razões: em primeiro lugar, por provar que estava a chegar de Angola e com um total de quatro
anos de presença na Armada mas, sobretudo, por ter provado que minha esposa
tinha a sua residência em Orléans. Assim,
facilmente me abriram as portas da prisão.
Lá saí da prisão de Vilar Formoso mas, por
eu não aceitar esta situação, 15 dias depois fiz nova tentativa de sair de Portugal
e desta vez tudo correu bem. Lá cheguei
a Orléans, no dia 1 de Novembro de 1966,
com toda a família de braços no ar, à minha espera, para me abraçar.
Acredito que, no fundo, fomos recompensados porque, já lá vão 47 anos de felicidade com a Fernanda, junto dos nossos
filhos e de quatro maravilhosos netos.
Valeu a pena…
Foram um calvário aqueles 44 dias que
passei de prisão em prisão repartidos
entre Irum, Vitória, Burgos, Valladolide e
Salamanca, até chegar à nossa fronteira
de Vilar Formoso.
Termino dizendo que, para além de todo o
mal que nos fizeram, da distância que nos
separa do nosso país temos, e com muita
emoção, Portugal no Coração.
Foi muito complicado mas enfim, no interrogatório na nossa fronteira, não tive
Augusto Beja
Sócio n.º 1687
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
almoço de natal
O Almoço/Convívio de Natal
16 de Dezembro de 2012
T
eve lugar, no passado dia 16 de Dezembro, o habitual evento
de Natal da Associação Nacional de Fuzileiros que este
ano, pela segunda vez, juntou num Almoço/Convívio, cerca
de trezentos e quarenta sócios, familiares e amigos da grande
“Família dos Fuzileiros”, novamente na Quinta da Alegria, em
Penalva, cujas instalações já foram pequenas para acolher tanta
gente, de tal ordem que as mesas tiveram de se “apertar”.
A afluência foi tal que chegámos a recear que o grande salão da
“Quinta da Alegria” não fosse suficientemente grande para alojar,
com alguma comodidade, tanta “alegria” de todos quantos quiseram estar presentes nesta particular e emotiva manifestação de
camaradagem e solidariedade. Apesar da crise que Portugal vive,
os nossos sócios compareceram em massa e inundaram de emoções, de amizade e de solidariedade o espaço e o tempo do nosso
Convívio de Natal, transformando alguma menor comodidade, no
calor humano que os Fuzileiros tão bem transmitir.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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almoço de natal
Para o ano que aí vem – se a Providência permitir – a Direcção
e o “Grupo de Acção” designado para organizar o evento têm de
ponderar o que terá sido uma deficiência de perspectiva, acautelando instalações que possam conter, eventualmente, mais de
meio milhar de pessoas.
Na mesa de convidados estiveram cerca de vinte entidades incluindo, nomeadamente, o representante do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro e o Presidente da Junta de Freguesia,
antigos e actuais Comandantes, do Corpo, da Escola e da Base
de Fuzileiros, antigos e actuais presidentes e vice-presidentes da
Assembleia-Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal da Associação, Membros do seu Conselho de Veteranos, Esposas e outras
personalidades de relevo para a instituição.
A mesa das Delegações esteve muito bem representada, com a
nossa gente do Algarve, de Gaia, e de Juromenha/Elvas. Ao longo
do vasto Salão, todos conviveram, mataram saudades e espalharam nostalgias, brincaram e até dançaram ao som do magnífico
agrupamento musical do sócio aderente n.º 2193, José António
Paula Cabrita (que teve a amabilidade de o oferecer gratuitamente). Todos, os mais velhos, os menos novos, os jovens e os mais
jovens, onde não faltaram as senhoras e também as crianças, deram ao ambiente um especial colorido e muita dignidade.
Também houve “discursos”: os dos Vice-Presidentes, com palavras de boas vindas, o do Comandante do Corpo de Fuzileiros, convidado a falar e o do Presidente que, na circunstância, formularam
para todos votos de Boas Festas. Agradeceu-se a toda a equipa
que organizou a festa, e aos Directores da Associação, aos titulares dos órgãos sociais e dirigentes das Delegações que, com o seu
voluntarismo e, de facto, voluntariamente, se deram à instituição e
se disponibilizaram, ao longo de todo o ano, para trabalhar em prol
da AFZ e, designadamente, na organização dos principais eventos.
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almoço de natal
“De facto, só equipas de particular valia, exclusivamente constituídas por voluntários conseguiriam desdobrar-se, e guindar tão
alto o nome e a imagem da Associação, conferindo nível, cortesia
e o nosso característico calor humano, a todas as iniciativas” que
se realizaram e se ofereceram aos sócios.
Citam-se palavras já escritas em idênticas circunstâncias:
«Imediatamente a seguir e sem legendas, para não distinguir
ninguém já que todos merecem ser distinguidos – pela coragem, pela solidariedade, pelo espírito de camaradagem e de
entreajuda e pelos valores que são o apanágio e a mística dos
fuzileiros – ficam alguns registos fotográficos, para a posteridade e que são as imagens que, mais do que muitas palavras,
conferem real conteúdo e importância ao nosso “Almoço de
Natal de 2012”».
Marques Pinto
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delegações
Delegação do Algarve
Apoio à intempérie de Silves
NOTA: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
da Proteção Civil que nos ajudaram a
organizar, de acordo com as prioridades,
tendo sido de imediato iniciados os
trabalhos de apoio as populações.
A
região do Algarve foi assolada por uma intempérie no dia 16 de Novembro que
incidiu particularmente nos concelhos de Lagoa e Silves onde danificou imensas
infraestruturas públicas e privadas tendo resultado 13 pessoas feridas, 12 desalojadas e cerca de 4.500 pessoas sem energia elétrica.
Não podendo alear-se deste grave problema, a nossa Delegação mobilizou os associados
que, prontamente e demonstrando mais uma vez o grande espírito do Fuzileiro souberam
responder e dizer: “Pronto”.
Pela manhã do dia 18 de Novembro, a vasta equipa da Delegação estava no terreno,
tendo sido recebida pelo Presidente da Câmara Municipal de Silves e pelos responsáveis
Viam-se uma centena de habitações
danificadas e imensas viaturas destruídas.
Esta ação, que pretendemos louvar nas
pessoas dos “nossos” Associados, foi reconhecida publicamente como sendo de
grande utilidade, numa hora difícil para
as populações que mais uma vez viu nos
Fuzileiros Homens de grande caráter, personalidade e, sobretudo, de elevado humanismo e espírito de servir.
Apoio Banco Alimentar Contra a Fome
À
semelhança de anos anteriores,
a Delegação foi convidada a
participar na recolha de alimentos,
em parceria com o Banco Alimentar
Contra a Fome.
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Assim sendo, no dia 3 de Dezembro,
teve lugar em toda a região algarvia
a ação humanitária e nela estivemos
presentes, particularmente nos locais
de concentração dos bens recebidos,
em Faro e Portimão, com duas equipas
de camaradas, dando assim o nosso
contributo para ajudar a atenuar aquilo
que, por incrível que pareça, já constituiu
um grave problema nacional: a fome.
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delegações
Almoço de Natal
8 de Dezembro
O
Almoço/Convívio de Natal, que teve lugar no passado dia
8 de Dezembro no restaurante da “Fatacil”, em Lagoa,
reuniu um apreciável número de associados, familiares
e amigos, tendo decorrido em ambiente de fraterna amizade e
camaradagem.
A festa natalícia foi animada pelo acordéon do “nosso” associado
Paulo Domingues. Como não poderia deixar de ser, a criançada
presente foi visitada pelo Pai Natal que lhes trouxe animação e
brinquedos.
Apoio ao lançamento do livro
“O Fuzileiro Especial”
A
solicitação do autor, o associado
José Maria Rodrigues Ferreira, foi
dado apoio ao lançamento do seu
livro intitulado “O Fuzileiro Especial”,
da editora “Arandis”.
O acto teve lugar no dia 15 de Dezembro,
na sede (provisória) da Delegação tendo
estado presentes para além do autor
e do editor, um assinalável número de
associados.
Como convidados de honra estiveram na
sala as Direções da Delegação da AFZ e do
Clube Escolamizade, bem como o senhor
Dr. José Carlos Rolo, ilustre Presidente da
Câmara Municipal da Albufeira. Este, na
sua breve intervenção proferiu palavras
elogiosas aos Fuzileiros, realçando quanto
de importante são para a sociedade civil
“os testemunhos do que foi a guerra
colonial em África”.
Este breve resumo para as páginas da nossa revista “ O Desembarque” irá servir, por certo, para expressar a vitalidade da Delegação da Associação
Nacional de Fuzileiros do Algarve que continua com espírito associativo e dentro do que estatutariamente está previsto, ficando-nos a certeza do
dever cumprido. António Medeiros - Presidente da DFZA - Sóc. Orig. n.º 1235
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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delegações
Delegação de
Juromenha/Elvas
M
ais do que relatar as iniciativas e as acções já realizadas,
optámos por anunciar duas que se projectarão em 2013
e que coroam o alto nível dos dirigentes desta nossa Delegação, cujo Presidente da Direcção, o nosso Sócio Originário
n.º 958, Licínio de Jesus Algarvio Morgado, para nós, o Licínio,
simboliza o que de melhor temos e a forma como se coordena
uma equipa de sucesso e que represente a unidade da grande
“Família” dos Fuzileiros.
Aniversário da Delegação
N
o próximo dia 1 de Junho de 2013 comemorar-se-á o Aniversário desta sempre
activa Delegação que não pára com as suas iniciativas, ambição medida e espírito
de bem-fazer e de fazer bem.
A solicitação da Direcção da Delegação – e com a colaboração da Direcção Nacional –
conseguiu-se que a Banda da Armada feche as comemorações actuando pelas 22h00
horas, na Praça da República de Elvas, ou caso o tempo o não permita, no Coliseu da
cidade.
O encontro está marcado, porém, para as 10h00 horas junto à sede da Delegação, em
Juromenha, onde com a habitual galhardia das nossas gentes de Juromenha/Elvas se
receberão os fuzileiros, as famílias, os amigos e os respectivos convidados de honra.
Depois de algumas actividades que, oportunamente se divulgarão, terá lugar o Almoço/Convívio. O ponto alto será sem dúvida o concerto da nossa Banda da Armada que, sempre muito solicitada, teve de ser programada com meses de antecedência, ao que o Almirante
Chefe do Estado-Maior da Armada concedeu a indispensável autorização.
Os símbolos da Armada e dos Fuzileiros
em Elvas
N
uma parceria de três Entidades, Município de Elvas, Delegação da Associação de
Fuzileiros de Juromenha/Elvas e Associação Nacional de Fuzileiros, e por inteira
iniciativa dos dirigentes da Delegação, a Armada Portuguesa e os seus Fuzileiros
– à semelhança do
que acontece na
cidade do Barreiro,
com o Monumento
do Fuzileiro implantado pela AFZ,
em colaboração
com o respectivo Município – terão, também, os seus símbolos implantados,
numa das mais significativas centralidades da cidade de Elvas,
considerado sítio urbano privilegiado, uma rotunda virada para
o Coliseu de Elvas.
O projecto, que foi ideia do Comt. Magarreiro, um “filho da terra”, envolve a Associação Nacional de Fuzileiros e também o
nosso Sócio Aderente n.º 1669, Sr. João Armando Rondão Almeida que é o ilustre Presidente da Câmara Municipal de Elvas.
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delegações
Delegação de Vila Nova de Gaia
2.º Aniversário e Almoço de Natal de 2012
Não faltaram a boa disposição e os discursos, dos quais se destaca apenas – porque o dia é dos nossos homens de Gaia –
o do Presidente da respectiva Delegação.
A festa teve honras de cobertura jornalística, por uma jovem do «Jornal Audiência»
de Vila Nova de Gaia, que entrevistou diversas personalidades presentes.
C
omo foi profusamente anunciado
realizaram-se as cerimónias de comemoração do 2.º Aniversário e,
simultaneamente, o Almoço de Natal de
2102 da Nossa Delegação de Vila Nova de
Gaia, no p. p. dia 1 de Dezembro.
Após o «Toque de Alvorada» para concentração junto da sede da Delegação, por ora
e provisoriamente, localizada em Canelas
rumou-se ao Regimento de Artilharia n.º 5
(Serra do Pilar), onde foi possível apreciar
uma excelente vista do miradouro sobre
a cidade do Porto, Gaia e o Rio Douro e
visitou-se o Museu do Quartel, enquadrado
pelas diversas peças de artilharia de campanha que ladeiam a parada. Finda a visita,
procedeu-se à tradicional «foto de família».
Seguidamente acertou-se o azimute para
o Restaurante Salgueirinhos, em Grijó –
Gaia, onde se efectuou o «desembarque»
para convívio, iniciando-se o mesmo com
um «reconhecimento» aos aperitivos, ao
ar livre, seguido de um agradável almoço
pautado por valores de camaradagem e
amizade.
Após o Presidente da Delegação de Gaia,
FZ Henrique Mendes, saudar os convidados com as boas-vindas, fez-se um minuto
de silêncio em memória dos camaradas já
falecidos, com o consecutivo mítico «grito
de guerra dos Fuzileiros» encetado pelo
Sarg. FZE Manuel Parreira e correspondido
pelos Fuzileiros presentes. Depois cantou-se o Hino da Associação Nacional de Fuzileiros, findo o qual se iniciou o “rancho”.
Marcaram presença as seguintes:
O Vereador do Pelouro da Cultura da
CMVNG, Eng.º Rui Cardoso; o Comandante do Corpo de Fuzileiros, CAMT, Cortes
Picciochi; o Comandante Martins dos Santos, Comt da ZMN, dos Portos de Douro
e Leixões e da Polícia Marítima; o nosso
Associado, Procurador do MP, Dr. Rodrigues Morais; o Presidente da Direcção Nacional da AFZ, Comt Lhano Preto e outros
Membros dos Órgãos Sociais da Associação (Mário Gonçalves, Egas Soares, Jaime
Azevedo, Lopes Leal, Francisco Fazeres);
o Comt Manuel Mateus, antigo Presidente da AFZ e membro do seu Conselho de
Veteranos; Edmundo Coutinho, Presidente
da Associação Recreativa-Cultural de Canelas; a Ana, funcionária do Secretariado
Nacional da AFZ e Sócia Aderente a que
se juntaram cerca de 120 pessoas entre
sócios, fuzileiros, famílias e amigos.
Posteriormente ao almoço, café e respectivos digestivos, cantou-se e brindou-se
com alegria os parabéns à DFZ’s GAIA,
provou-se o bolo de aniversário procedeu-se à distribuição de lembranças aos
convidados. O convívio prolongou-se pela
tarde, recordando-se com nostalgia e saudade tempos que o tempo não consegue
apagar.
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delegações
Presentes, também, os Presidentes das
Delegações do Algarve, FZ António Medeiros e de Juromenha/Elvas, FZ Licínio Morgado, que num admirável gesto de solidariedade e de unidade, tiveram de percorrer
muitos quilómetros para se juntarem aos
Camaradas do Norte.
É de toda a justiça louvar a dinâmica da
“Força-tarefa” convocada pela DFZ’s
GAIA, que imbuída de “espírito de corpo”
organizou o evento, sob comando do seu
Presidente – FZ Henrique Mendes, pelo
que se pode dizer: “Missão cumprida”.
Tratou-se de cerimónia cheia de profundo
significado, onde mais uma vez a Amizade, a Camaradagem, a Solidariedade e,
sobretudo, o Espírito de Unidade estiveram presentes.
Rodrigues Morais
(com a colaboração de Marques Pinto)
Os nossos “fotógrafos de serviço” (SAJ FZ Rogério Pinho Silva e FZE Mário Manso) disponibilizaram os seus registos fotográficos por e-mail e nas redes sociais.
Discurso do Presidente da
Delegação de Vila Nova de Gaia
Minhas Senhoras e meus Senhores
É com enorme orgulho que vos recebemos nesta celebração do
nosso 2.º Aniversário que, simultaneamente festejamos com o
nosso Encontro de Natal/2012.
Em primeiro lugar queremos agradecer ao Sr. Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros (CMG FZE) Lhano Preto e a toda
a Direcção da AFZ, pelo voto de confiança depositado em nós.
Da nossa parte, sempre estaremos disponíveis podendo a nossa
Associação contar com uma pronta resposta de espírito e corpo,
quando e onde for necessário;
A nossa gratidão dirige-se também ao Sr. CALM Cortes Picciochi,
comandante do Corpo de Fuzileiros, pela forma interessada como
acompanha os eventos dos Fuzileiros e pela sua total coordenação com a Associação Nacional de Fuzileiros. Sentimo-nos muito
lisonjeados, com a sua presença;
Ao Sr. Edmundo Coutinho, presidente da Associação Recreativa
de Canelas, não podemos deixar, também, de agradecer a sua
presença que muito nos orgulha;
Agradecemos ainda a presença do Sr. CMG Victor Manuel Martins
Santos, comandante do Comando Zona Marítima do Norte e da
Policia Marítima e cumpre dizer-lhe que nos orgulha muito tê-lo
como nosso ilustre convidado. Os Fuzileiros de Gaia agradecem-lhe e dir-lhe-ão, sempre, presente.
Ao Sr. Vereador da Câmara municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.
Rui Cardoso, muito obrigado pela sua presença que particularmente nos honra. Queremos afirmar-lhe que a cidade de V.N.
Gaia poderá contar com os Fuzileiros e com a nossa total lealdade
e empenho quando e onde for necessária a nossa participação.
Quereremos também agradecer aos Presidentes das Delegações
da Associação Nacional de Fuzileiros aqui presentes; ao Licínio
Morgado da Delegação de Jerumenha/Elvas e ao António Medeiros da Delegação do Algarve queremos afirmar que é para nós
um enorme orgulho, poder contar mais uma vez, com a vossa
companhia neste dia tão especial para nós.
Os nossos agradecimentos, ainda, ao Sr. Comt Manuel Mateus,
antigo Presidente da AFZ e Membro do seu Conselho de Veteranos cumprindo-nos dizer-lhe que ficámos muito gratos pela sua
presença neste nosso evento.
A Delegação de Fuzileiros de Gaia continua dando passos que se
querem seguros e respeitadores da máxima que nos acompanha
e sempre nos acompanhará: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para
sempre. Porque é dever de todos os que ostentam e sentem orgulho na nossa Boina azul ferrete ter comportamentos que a honrem, sem exibicionismos baratos que possam futilizar os nossos
princípios.
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Valeu a pena testemunharmos
o
esforço feito pela
Associação Nacional Fuzileiros, ao
ter incluído as Delegações com os
respectivos Guiões,
nas
cerimónias
militares na Escola
de Fuzileiros, no
Dia do Fuzileiro e
na inauguração do Monumento ao Fuzileiro, no Barreiro/2012. Foi
honra enorme depositada, no fundo na nossa alma de Fuzileiro.
Jamais esqueceremos tamanha consideração que estamos certos
não terá sido em vão.
No Dia do Fuzileiro/2012, a nossa Delegação mobilizou umas largas dezenas de participantes para a nossa “Casa Mãe”, sem que
houvesse qualquer problema que ensombrasse a nossa participação. Mais uma vez houve uma partilha positiva e uma convivência
civilizada, atitude que deve presidir sempre quem tem o dever de
honrar a Boina Azul Ferrete.
Este ano estivemos presentes no Aniversário da Delegação do
Algarve e também no Aniversário e inauguração da sede da Delegação de Juromenha/Elvas, decerto, um dia muito especial para
Vós e para quem vos acompanhou. Obrigado pelo vosso carinho,
solidariedade e amizade.
Estivemos, ainda, presentes no Aniversário da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, em Braga.
Antes de terminar quero manifestar a todos os membros da nossa
direção e sócios afectos á Delegação de Fuzileiros de Gaia, às
suas famílias e aos nossos amigos, a nossa gratidão pela vossa
presença. Sem vós a Delegação não conseguiria o êxito conquistado.
Desejo a todos um feliz e Santo Natal e um próspero ano cheio de
saúde, paz e amizade.
Termino prestando uma breve homenagem aos ex-combatentes,
pela força, coragem e lealdade com que combateram e honraram
o nome de Portugal. Façamos todos, um minuto de silêncio em
sua memória, e em especial, pela do Camarada Dr. Ilídio Neves
Luís, ex-Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros que nos
deixou recentemente. Depois desse minuto de silêncio convido o
nosso camarada exCombatente Manuel Parreira para dar o Grito
do Fuzileiro.
Henrique Mendes
Sóc. Orig. n.º 1089
Pres. da Delegação de Vila Nova de Gaia
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
reportagem
Timor-Leste:
entre as lembranças do passado e a realidade presente
Reportagem de uma romagem tardia
Em plena montanha, com habitantes de uma aldeia
Q
uando um antigo fuzileiro, como eu,
visita um país estrangeiro e, em plena zona tropical no interior do seu
território, onde a vegetação e o tempo facilmente apagam os vestígios edificados,
se não forem usados, com poucas placas
toponímicas a indicar os caminhos e os
próprios nomes das localidades, o facto de
aparecer, de repente, uma tabuleta destacada com a indicação “fuzileiros”, não
muito deteriorada, levou a que a viagem
fosse, de imediato, interrompida para verificar o que, para mim, me pareceu insólito.
Este pequeno introito numa reportagem de
uma viagem que um grupo de 15 portugueses, homens e mulheres, no qual eu me
incluía, que decidiu fazer, durante 15 dias,
uma incursão por todo o território de Timor-Leste, para percorrer os 13 distritos do
país, incluindo o enclave de Oecussi-Ambeno (encravado em território indonésio).
A viagem igualmente passou pela ilha de
Ataúro – a 25 quilómetros de Dili, a capital,
e o paradisíaco ilhéu de Jaco, situado em
frente da ponta leste do país, muito perto
da povoação de Tatuala.
Este grupo de portugueses foi o primeiro,
desde a independência efectiva timorense
da ocupação indonésia, iniciada em 1999
e formalizada em 2002, a percorrer,
demorada e profundamente, todas as
regiões do país, numa peregrinação de
mais de dois mil quilómetros, que incluiu
caminhadas de vários dias e escaladas às
principais áreas montanhosas de Timor
Lorosae, o Tata-Mai-Lau, o cume do Monte
Ramelau, e ao Matebian, a montanha, na
tradição animista, dos espíritos e dos
antepassados.
Placa do fuzileiros portugueses
E, tenho de o confessar, a idade já pesa
nos nossos corpos.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
Voltemos, pois, ao início da escrita.
Ou seja, a placa em pedra, pintada de
branco, já com alguns caracteres a desaparecer, mas onde se conseguia distinguir
o distintivo actual dos fuzileiros portugueses.
Por perto, não havia pessoas, embora não
muito longe se avistasse um edifício, que
até parecia militar, mas não encontramos
ninguém. Como tínhamos de seguir viagem, não conseguimos saber a origem.
Mais tarde, em Díli, disseram-nos que
os fuzileiros portugueses tinham estado
naquela região, mas pouco mais informações obtivemos.
Até porque, ao longo da viagem, nunca
chegamos a contactar forças da Marinha,
embora soubéssemos que tinham ao seu
serviço dois navios tipo lanchas de fiscalização, que os civis que nos transportaram,
em embarcações com motores fora de
borda, entre Dili e Ataúro, apelidassem as
mesmas, que estavam fundeadas ao largo
da baía da capital, como “fragatas”. E um
pequeno destacamento de fuzileiros. Não
mais de 35 homens.
51
reportagem
pela Alemanha a Timor. Estranhamente, o
capitão era indonésio e verificamos que,
por artes manhosas de cumplicidade das
autoridades timorenses, deixavam-no
seguir até à Indonésia…).
Foi uma viagem do “outro mundo”.
Quando nos aprontávamos para embarcar,
com bilhetes antecipadamente comprados, assistimos a imagens de fazer arrepiar o mais sensato.
No Pico após longa caminhada
Já em Portugal, através do almirante Cortes Picciochi, comandante do Corpo de Fuzileiros, fui informado que, em 1998, dois
fuzileiros participaram na forças de interposição da ONU, a INTERFET, e entre 2000
e 2004, ao serviço da ONU (via UNTAET
e UNMISET), uma companhia de fuzileiros
esteve em Missão em Timor-Leste.
Em 2010, instrutores fuzileiros portugueses deram o primeiro curso para os seus
homólogos timorenses, a que se seguiu o
segundo curso em 2011. Apenas com três
instrutores fuzileiros portugueses.
A nossa longa e interessante aventura em
território de Timor-Leste iniciou-se por
dois locais ligados, profundamente, à antiga presença colonial portuguesa.
AVENTURA E TURISMO
Os caminhos que serpenteiam por todo o
Timor são difíceis, muito danificados, mas
a hospitalidade foi enorme e a gastronomia, que desconhecíamos totalmente,
encheu-nos as medidas.
Claro que esta viagem foi de aventura, no
verdadeiro sentido da palavra. Não existe,
felizmente, para o tipo de pessoas como
eu, turismo de massas. Andei um pouco
pelo mundo e gosto de ver ainda as belezas naturais, e elas estão, naquele país,
para os ocidentais, quase por descobrir.
Depois de chegarmos a Dili, zarpamos,
logo no dia seguinte para a ilha de Ataúro,
hoje um local de passeio e de lazer
tropical, de uma beleza rara, ainda pouco
conhecido para as viagens turísticas. Deu
para tempo de relaxe na praia, uma ida
de triciclo, para quem o quis, até à vila de
Maumeta, andou-se de beiros, as canoas
locais nas praias de águas quentes de
Bikeli.
(Ora, Ataúro, como recordação histórica,
significou, na prática, a última base
52
portuguesa naquele território quando, em
Agosto de 1975, o então governador Mário
Lemos Pires – que era tenente-coronel
– decidiu abandonar Dili e instalar-se
naquela ilha.
Com escassas forças militares sob a sua
supervisão, depois da divisão provocada
na estrutura policial e militar sob administração lusa com um golpe de Estado provocado pelo partido UDT (União Democrática Timorense), que arregimentou o sector
policial, incluindo o seu comandante, o falecido tenente-coronel Maggiolo Gouveia,
tendo os militares, de maioria timorenses,
onde pontificava o alferes Rogério Lobato,
futuro Ministro num governo de Mari Alkatiri, que se juntaram à FRETILIN (Frente
Revolucionária de Timor-Leste), eclodiu
uma guerra civil. Lemos Pires ainda tentou um acordo entre os dois partidos. A
FRETILIN pediu-lhe que ele regressasse
a Dili, com vista a prosseguir o processo
de descolonização. O governador respondeu que esperava ordens de Lisboa. Os
acontecimentos precipitaram-se, quando
se constatou que a Indonésia já ocupara,
violentamente, o enclave de Oecussi. Dias
depois, seguiu-se uma invasão, em força,
por terra, mar e ar, curiosamente com alguns navios de origem soviética).
No interior do poço do ferry, apinhavam-se – é o termo, parecia um colmeia em
movimento – veículos, animais, das mais
variegadas espécies, com centenas e centenas de humanos (homens, mulheres e
crianças de todas as idades), autenticamente encaixotados, com um calor tropical asfixiante.
No regresso, a repetição do *filme*. Se
houver (ou houvesse) o mais pequeno
percalço, certamente haverá centenas de
mortos.
Num espaço tão curto de quilometragem,
a viagem foi longa. Toda a noite a navegar.
Chegamos às cinco da manhã.
Depois da chegada a Pante Macassar, o
grupo fez uma longa caminhada até Lifau – foram mais de 10 quilómetros sob
um sol tropical abrasador, que, com memórias de 40 anos atrás, me senti nas
movimentações da Guiné-Bissau. E, mais
desgastante, o regresso. Custoso, mas estimulante.
Hoje, em Ataúro, com um “resort” a funcionar, já começa a ser percorrido por turistas, poucos ainda, naturalmente muitos
australianos.
No dia seguinte, regressámos a Díli com
rumo já programado para o enclave de
Oecussi-Ambeno.
O cruzeiro em Lifau
Havia duas maneiras de lá chegar, por
terra, atravessando território indonésio,
com a necessidade de vistos e entraves
burocráticos. Perdiam-se dias.
Em Lifau, que foi a primeira capital da ilha
de Dili (na altura toda a ilha estava sob a
jurisdição portuguesa).
A decisão foi ir num ferry-boat, de nome
“Nakroma”, que faz uma viagem semanal
de ida e volta até ao enclave. (Foi oferecido
Ali foi inaugurado, a 14 de Agosto de 1974,
um cruzeiro que assinala, precisamente, o
local onde desembarcaram os primeiros
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
reportagem
marinheiros portugueses (possivelmente,
os então infantes da Marinha) no ano de
1512.
Pois, foi mesmo junto a este cruzeiro que o
nosso grupo almoçou um lauto repasto do
melhor da gastronomia local. Inimaginável
numa área tão inacessível. Mas, a hospitalidade fura todas as expectativas.
A primeira fonte documental europeia conhecida que refere a existência da ilha é
uma carta de 6 de Janeiro de 1514, escrita por Rui de Brito Patalim, capitão de
Malaca para Afonso de Albuquerque, governador das Índias, que a envia para o
rei D. Manuel I referindo que Timor – uma
ilha além de Java – tinha muito sândalo,
mel e cera. Em 1556, um grupo de frades dominicanos estabeleceu o primeiro
povoado em Lifau, que só, em 1702, se
torna capital da colónia quando ali chega
o primeiro governador nomeado pelo rei
português, estatuto que permaneceu até
1767. Depois foi decidido sedear a capital
em Dili, perante as investidas holandesas,
que se apropriaram de parte das colónias
da Insulíndia portuguesa. Em 1859, pelo
Tratado de Lisboa, Portugal e a Holanda
fizeram a divisão da ilha: Timor Ocidental
para os holandeses, com capital em Kupang e a restante, com sede em Díli, incluindo Oecussi, como enclave encravado.
ATÉ QUE O CORPO AGUENTASSE
Dormimos, nessa noite em Díli, aonde só
regressaríamos duas semanas depois,
empreendendo deste modo uma autêntica
caravana de exploração, de contactos com
as populações mais remotas, que sempre
nos acolheram, peregrinando pelos mais
recônditos, belos, mas também, por vezes,
inóspitos, locais de todos os distritos e
sucos timorenses.
Partimos, numa primeira fase do percurso
numa carrinha *folclórica*, que lá chamam de bistoka, e rumamos, de imediato,
para Liquiçá, parando em Tsi-Tolu, junto a
uma estátua gigante lembrando o falecido
Papa Católico João Paulo II, depois em Aipelo, nas ruínas de uma antiga prisão do
tempo colonial português.
Depois de visitar Liquiçá, enfrentamos
velhas estradas, praticamente desfeitas,
ainda construídas pelas administração lusitana e chegamos ao antigo forte holandês de Maubara.
A viagem, deslumbrante, que seguiu a
costa norte, com praias magníficas. Passamos pelas ruinas, muito destruídas, da
fortificação portuguesa de Batugadé, junto
à fronteira da parte indonésia da ilha.
Desviamos para sul, fez-se uma breve
paragem em Balibó. (Estivemos na casa
onde foram capturados cinco jornalistas
australianos em 1975, sumariamente fuzilados pelos indonésios, que começavam a
invadir Timor). Ao fim do dia, entramos em
Maliana e fomos pernoitar em Bobonaro.
Seguiu a “epopeia” da exploração. Toda a
movimentação para a escalada do Monte
Ramelau, até o cume conhecido por Tata-Mai-Lau.
Já tínhamos abandonado a bistoka e agora o apoio logístico eram de jipes 4x4.
Grande parte do percurso seria feito a pé,
para, de noite, empreender a escalada
ao monte Ramelau. Partiu-se, com guias
– os mata-dalan – do suco de Soiselu,
dormiram-se, algumas horas, numa Pousada recuperada, em que foi em tempos
o posto administrativo das autoridades
em Hato-Builico. O grupo saiu cerca das
três horas da manhã para uma escalada
de várias horas até ao nascer do sol no
cume: maravilhara-se com o *loron sa’e*,
justamente o nascer do sol)
Eu tive de ficar para trás, pois estava a
ressentir-me, numa subida íngreme pedregosa, de uma operação recente.
Regressou-se a meio da manhã. Alongamo-nos depois para uma caminhada tropical de oito horas até Atbase.
(Um registo que se tem de fazer em termos
curtos: Pudemos nesta caminhada de dois
dias saborear e apreciar tudo o que é
belo no meio das dificuldades – degustar
os produtos da terra, ver as crianças a
percorrer quilómetros, todas vestidas a
rigor, para ir para a escola – sim, vimos
escolas em tudo o que era povoado –,
levando a água para beber, passar por
zonas de águas quentes e águas frias
– tudo numa zona tropical – andar por
escarpas nuas, bordejar ou entrar nas
imensas plantações de café, um calor
asfixiante, um suor transbordante. Olhar
em frente e ver a imensidão de montanhas
num pequeno país).
Descrição da caminhada e escalada ao Monte Ramelau
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
53
reportagem
refúgio seguro da
guerrilha.
Despedida de Timor-Leste, com o nosso guia e a administrativa do grupo
Um dos troços mais longos, que fizémos,
percorremo-lo de jipe, por estradas que já
foram – e aqui tenho de referenciá-lo: os
novos governantes timorenses não apostaram, nestes 10 anos de independência,
minimamente nas infra-estruturas básicas, além, do positivo, do já citado parque
escolar, e tiveram dinheiro do petróleo
para isso.
Também do que pude apreciar, já existe,
como em Portugal, claro que nas dimensões de cada país, uma profunda clivagem entre governantes e governados –
serpenteando pela ventosa e fria rodovia
pedregosa que atravessa a Flecha, com
íngremes desfiladeiros e profundos vales,
contornando o Monte Kablake.
Passeamos por paisagens de beleza estonteante, alongamos mais caminhos,
não sei o que representou em quilometragem, mas foi muito, para que alguns dos
nossos guias nos quiseram mostrar onde
nasceram ou onde viviam os seus familiares mais chegados. Até que chegamos
a Same, capital do distrito de Manufhai,
terrra do liurai D. Boaventura, que chefiou,
em 1912, uma revolta contra a ocupação
portuguesa.
DAS PRAIAS, O PARAÍSO DE JACO
E MATEBIAN
A bússola dava indicação de que os
próximos três dias seriam de explorar a
costa sul, com praias estonteantes, até à
ponta mais a leste de Timor. Saiu-se de
Same, passou-se por Betano, atravessouse Natarbona, um das mais importantes
regiões agrícolas do país.
Fizemos uma visita à aldeia de Krarás, que
foi dizimada pelos indonésios nos anos
80. Almoçamos em Viqueque. Depois,
partimos para Loi-Huno, onde pisamos os
trilhos que a resistência utilizou durante
quase três décadas, indo em caminhada e
escalada até às suas profundas e inexploradas (turisticamente) grutas, que foram
54
Dormimos na aldeia de Loi-Huno
e marchamos, logo
na manhã seguinte
até Iliomar, onde
verificamos que
existe gás natural
no próprio território timorense,
precisamente, em
Aliambata. Ali tão
perto estavam belas praias de uma
água tão morna,
que nos levou a
grandes mergulhos.
A etapa seguinte era Lospalos, onde pernoitamos. Uma curiosidade: comemos
num restaurante de um português chamado Roberto Carlos.
(Um pequeno aparte: ficámos alojados
durante a viagem em dois colégios de
salesianos que cederam as instalações
para servir comida e dormida. Um em em
Fuiloro, o outro em Quelicai).
Depois de uma visita por Lospalos, partimos para Tutuala, onde, ao longo do trajecto, se podem ver ainda casas típicas da
região, que foram o símbolo ancestral de
residência de Timor: Descemos seguidamente para a praia de Walu.
E num “beiro” a motor, zarpamos para a
ilha de Jaco: praia de areia branca, corais
extraordinários, peixes de múltiplas cores e
um opíparo almoço com um “monstruoso”
imperador”, ali mesmo pescado.
Ao fim da tarde, regresso a Walu, onde
pernoitamos, num “resort” já com qualidades turísticas.
Subimos, novamente, para Tutuala com
a indicação de que o percurso só pararia
em Com, mas esta andança, partida
de Meahara até Malahara, foi feita, em
grande parte do caminho, a pé, muitas
horas de rápido andamento, ladeando a
extensa lagoa de Ira-Lalaro, meandrando
entre centenas de búfalos, que olhavam
desconfiados para os estranhos. Também,
porque queríamos ver crocodilos, num dos
rios que parte da lagoa, mas nada.
(Em todo o tempo de Timor, apenas colocamos o olho único crocodilo, o símbolo mítico do território, e este “internado”
num tanque há varias dezenas de anos).
A caminho de Com, fizemos paragem em
vários cemitérios onde a religião católica
se mistura com tradições animistas ancestrais. Atingimos a aldeia piscatória de
Pitilete. Com os jipes novamente em andamento, chegamos a Com, onde dormimos.
No dia seguinte, íamos começar a dirigir-nos para o Monte Matebian. Saímos de
Com e tivemos a oportunidade de visitar
as ruínas de velhas fortificações militares
portugueses, que se destacam sobra as
casas de Lautém e Laga. Mudámos depois
o rumo para sul até Quelicai, onde pernoitamos.
Na manhã seguinte, muito cedo, iniciouse a subida ao Monte Matebian. Fizemo-lo
dividido em dois grupos, os mais rápidos
e de perna rígida, saíram mais cedo e
deambularam pelas zonas mais difíceis
e escarpadas. O outro trilhou zonas
menos alcantiladas, com passagem por
Laumana. Ambos desceram para Baguia,
no outro lado da montanha, com cerca de
12 horas de caminhada.
Extenuados, fomos dormir à Pousada de
Baucau. De manhã o grupo dividiu-se
pelos interesses que surgiam: passeio
pela parte histórica da vila, descida até à
praia ou visitar Venilale.
Depois foi o regresso a Dili, passando por
Manatuto, terra do artesanato de barro e
chegada à capital para preparar as malas
para o regresso e sermos presenteados,
de surpresa, com um lauto jantar de iguarias timorenses, com danças tradicionais.
Um registo final: ao longo das nossas
andanças e dos contactos que tivemos,
ficámos a saber que muitos dos actuais e antigos dirigentes de Timor Leste e
responsáveis das suas Forças Armadas
fizeram o serviço militar em unidades do
Exército português.
É o caso do actual major-general Lere
Anan Timur, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, que foi cabo;
Rogério Lobato, que foi Ministro da Defesa
na I República e Ministro da Administração Interna na II República, foi alferes em
1974/75 e, Abílio Araújo, que exerceu o
cargo de Presidente da Fretilin, e de Presidente da República nessa efémera República, foi furriel miliciano nos finais dos
anos 60, tendo trabalhado com os então
alferes milicianos Ângelo Correia, que foi
ministro da Administração Interna de Cavaco Silva e Fernandes Tomás, historiador
de renome sobre o Extremo-Oriente, sobrinho-neto do almirante Américo Tomás,
último Chefe de Estado do Antigo Regime.
Serafim Lobato
Sóc. Orig. n.º 1792
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
obituário
A Associação Nacional de Fuzileiros e a nossa Revista
“O Desembarque” apresentam sentidas condolências às
Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias
que correspondem às que encontrámos, com menor ou
razoável qualidade, nos nossos ficheiros.
Aqui se presta homenagem
aos que nos deixaram
Estes nossos Camaradas e amigos conservar-se-ão sempre entre nós neste Planeta e quando nos encontrarmos
noutros Mundos.
Dr. Ilídio das Neves Luís
Sócio n.º 155
Manuel Ramos Farias
Sócio n.º 1101
José Manuel Pedro Ferreira
Sócio n.º 1808
Ataíde Alves Candeias
Sócio n.º 440
Luís Filipe Palma Botelho
Sócio n.º 1106
Manuel da Silva Marques
ex-Sócio n.º 698
diversos
Donativos
Nome do sócio
Eng. Castro Figueiredo
Novos Sócios
N.º Donativo
-
Placa da AFZ
Nome do sócio
Novos Sócios
N.º
Nome do sócio
N.º
Armenio da Silva Coelho
2174
António Silveira Proença
2191
-
5,00 €
Diamantino F. M. da Costa Mendes
2175
Jorge José Valada Piriquito
2192
1308
20,00 €
Jaime Alexandre Santos
2176
José António Paula Cabrita
2193
Anónimo
-
20,00 €
José Alberto Soares da Silva
2177
Carlos Pedro Duarte Gameiro
2194
Manuel Correia
478
40,00 €
Fernando Manuel Correia Gomes
2178
Manuel J. Monteiro, Lda. (Sócio Coletivo n.º 2)
2195
Cte. Mendes Fernandes
-
80,00 €
Ilídio Jorge Franco dos Santos
2179
Rafael Antonio Nunes Alexandre
2196
N.º
Assin.
Rui Miguel F. da Silva Santos
2180
Rui Miguel Gomes Ramires
2197
Gil Neves
1384
10,00 €
João Filipe Neto Mimoso
2181
Rafael Alves Ramires
2198
Diamantino Rodrigues
1887
10,00 €
José Manuel Sousa Pirota
2182
António Janeiro Ramires dos Santos
2199
Vitor Rosa Porto
1706
10,00 €
Ariston Thermo Portugal (Sócio Coletivo n.º 1)
2183
Samuel Mendes Pacheco
2200
Martinho dos Santos Alves
1837
10,00 €
Elisabete Catarina Teixeira Fernandes
2184
Dinora da Silva Capatão Talhadas
2201
Carlos Eduardo Mesquita Antunes
2185
José Faustino
2202
Victor Manuel de Melo Botto
2186
Iracema Ferreira Fernandes Faustino
2203
Mario Duarte dos Santos P. Andrade
2187
Mariana Sofia Jeronimo Leitão
2204
António Raul Dias Rolo
2188
José Manuel silva de Sousa
2205
Manuel Lema Pires dos Santos
2189
Vasco Miguel Duarte Gomes
2206
José de Sousa Gil
2190
Francisco Jordão
João Pedro Marques da Luz
Nome do sócio
Pedido/Recomendação da Direcção
A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (e-mail) o favor de os remeterem
ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a
natureza de constantes e permanentes. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias
de que poderão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados.
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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REVISTA N.º 15 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2013
O DESEMBAR UE

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