revista n.º 15 · publicação periódica · março 2013
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revista n.º 15 · publicação periódica · março 2013
REVISTA N.º 15 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2013 O DESEMBAR UE índice ficha técnica Editorial A Sede está sempre à disposição dos Associados 3 Cooperação Visita do Comandante do Corpo de Fuzileiros de Portugal aos Fuzileiros de Angola 4 Notícias O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça na Associação de Fuzileiros Fuzileiros visitam o Comando Territorial da GNR de Santarém Em memória de Jaime Neves 5 6 7 Cultura e Memória Salpicos de Vida – SPM 0468 N.º 8 – Fuzileiros na piscina… 8 Opinião Aproveitar Recursos O Direito de Dizer – O Advogado, o Dever de servir a Justiça e o seu Direito/Dever de Protestar 9 10 Convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4 – Guiné 1965/67 XXXI Encontro de Marinheiros da Beira Alta Companhia de Fuzileiros N.º 3 – Guiné 1963/65 Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1967/69 Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 8 – Guiné 1969/71 “Escola” de 98 Companhia de Fuzileiros N.º 2 – Angola 1966/69 e Angola 1970/72 13 14 15 16 18 20 22 Directores Adjuntos Cardoso Moniz e Marques Pinto presta homenagem ao seu antigo Presidente, Dr. Ilídio das Neves Luís 24 Homenagem a Rebordão de Brito 26 Colaborações Delegações da AFZ LP, MP, CM, Ribeiro Ramos, Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ, Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro Gonçalves Museu do Fuzileiro A Associação Nacional de Fuzileiros Entrevista Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias 27 Divisões Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas 34 Crónicas Breves estórias da Guiné Crónicas de Outros Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa Orlando de Sousa Cristina 36 Um herói a quem os Fuzileiros muito ficaram a dever em Moçambique 39 37 Cartas ao Director A história de um Fuzileiro e da sua namorada Fernanda 42 Almoço de Natal O Almoço/Convívio de Natal – 16 de Dezembro de 2012 43 Delegações Delegação do Algarve Delegação de Juromenha/Elvas Delegação de Vila Nova de Gaia 46 48 Timor-Leste: entre as lembranças do passado e a realidade presente Obituário Diversos Coordenação gráfica e paginação electrónica Manuel Lema Santos [email protected] Impressão e acabamento Gazela - Artes Gráficas, Lda. Rua Sebastião e SIlva, n.º 79 - Massamá 2745-838 Queluz Tel.: 214 389 750 • Fax: 214 371 931 www.gazela.pt Tiragem 2.000 exemplares 49 Reportagem Edição e Redacção Direcção da Associação de Fuzileiros Director Lhano Preto Homenagens Propriedade Associação de Fuzileiros Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq. 2830-356 Barreiro Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461 email: [email protected] www.associacaofuzileiros.pt 21 Corpo de Fuzileiros Publicação Periódica da Associação de Fuzileiros Revista n.º 15 • Março 2013 51 55 55 Exceptuando-se os artigos assinalados e da responsabilidade dos respectivos autores, a redacção desta revista não está adaptada às regras de novo acordo ortográfico O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt editorial Francisco Lhano Preto N os últimos tempos a Sede da Associação de Fuzileiros, por uma razão ou por outra, não foi chamariz suficiente para que, sempre, os seus sócios e mesmo as Unidades e ex-Unidades de Fuzileiros fizessem os seus encontros de confraternização e diversão neste lugar tão agradável, acolhedor e tão nosso. A Sede está sempre à disposição dos Associados Foi sempre uma das situações que me preocupou, já que muitos destes convívios eram realizados quase sempre no município do Barreiro, devido à nossa ligação à Escola-mãe, e talvez só metade eram concretizados no local, para nós tão místico “A nossa Sede”. Até porque para além de ser nossa, possui todos os ingredientes que um Fuzileiro possa sonhar; um rio Coina com muito lodo e uma praia em frente, onde quase por certo desembarcou durante o dia e muitas vezes à noite. Mais, quem não quer relembrar um pôr-do-sol africano ou um reembarque em Pinheiro da Cruz, na explanada da Associação, no fim do dia? Por tal, decidiu a Direcção tentar alterar a situação, mudando até a gerência do restaurante, dando assim mais um passo para que se possa iniciar uma nova era de convívios dos Fuzileiros. A sala também foi restaurada e terá dentro em breve um alto-relevo dedicado ao Fuzileiro. Esta nova fase já foi iniciada, tendo tido como teste, um jantar no dia dos namorados, porque “Fuzileiro que não está enamorado, não é certamente um bom Fuzileiro”. Para quem não esteve presente, adianto que neste serão houve muito convívio, muita animação e não faltou a bela música ao vivo. Este primeiro evento foi muito agradável e penso que toda a nossa gente saiu satisfeita.” Está de parabéns o senhor Cabrita e a esposa (Dona Alzira), tendo todos nós muito a esperar. Porque o número de telefone do Snack-Bar foi alterado, deixo o novo contacto para marcação de algum evento: 210 853 030. Termino concluindo “caro sócio a sede é tua, usa-a nos teus eventos para teu proveito, dos teus familiares e dos amigos”. “Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre Lhano Preto Presidente da Direcção O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 3 cooperação Visita do Comandante do Corpo de Fuzileiros de Portugal aos Fuzileiros de Angola NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico N o âmbito do programa da 1.ª Reunião Formal entre os Estados-maiores das Marinhas de Angola e de Portugal, realizada em Angola de 17 a 23 de Novembro de 2012, e em que o Comandante do Corpo de Fuzileiros, Contra-almirante Cortes Picciochi, foi nomeado como chefe da delegação da Marinha Portuguesa, foi incluída uma deslocação ao Ambriz, onde se encontram instaladas a Brigada de Fuzileiros Navais (BFN) e a Escola de Fuzileiros Navais de Angola (EFN). A deslocação da delegação da Marinha portuguesa, que incluiu dois oficiais superiores da Divisão de Relações Externas do EMA, foi acompanhada pelo Diretor Técnico do Projeto 8 (Marinha) da CTM em Angola, CMG Xavier da Cunha, e por uma importante comitiva da Marinha de Guerra Angolana, que integrou o Vice-almirante Jorge Correia da Silva, Chefe da Direção de Preparação Combativa e Ensino, o Contra-almirante Ferreira de Jesus, Chefe Adjunto da Direção de Operações, e o Contra-almirante João Cambole, Chefe Adjunto da Direção de Pessoal e Quadros. Após uma viagem por estrada, que requereu cerca de quatro horas para se percorrer os cerca de 170 quilómetros de distância, e que inclui um exigente troço de picada em terra batida, a comitiva chegou às instalações da BFN, cerca das 10h30m, onde foi recebida pelo Contra-almirante Bamba Castro, ilustre comandante daquela unidade de fuzileiros, e pelo assessor técnico permanente, CMG FZ Ova Correia. Depois das honras militares garbosamente prestadas por um pelotão da Polícia Naval, 4 no exterior da unidade, deu-se início ao programa da visita com um briefing sobre a organização, missão e dispositivo das unidades operacionais que constituem a estrutura operacional da BFN, seguida de uma breve visita às instalações, tendo sido no final oferecido um serviço de refrigerantes e café. De seguida, a comitiva e acompanhantes militares dirigiram-se para a praia da Kinfuca, situada a 14 kms a sul da vila do Ambriz, onde o Contra-almirante Cortes Picciochi assistiu a um “static display” dos equipamentos de C2 e do armamento orgânico das unidades de fuzileiros, e ainda a uma demonstração de capacidades anfíbias em que elementos do destacamento de ações especiais realizaram uma incursão em terra a partir do mar, enquadrado num ambiente de combate à pirataria. Apesar de algum atraso, a segunda parte do programa da visita à EFN teve início com uma guarda de honra à entrada daquela unidade, localizada na zona litoral norte da vila, e após os cumprimentos protocolares foi realizada uma apresentação pelo Comandante da EFN, CMG FZ Vaz Gonçalves, onde foram salientados os aspetos organizativos e funcionais daquela unidade de ensino militar, e enaltecida a importância das sucessivas equipas de assessores fuzileiros portugueses, desde o ano da criação da primeira Escola de Fuzileiros em 1994, na ilha de S. João da Cazanga, a sul de Luanda. Posteriormente, as entidades visitantes percorreram o espaço interior da unidade, onde assistiram a demonstrações das atividades práticas de instrução militar básica dos cursos de cadetes, sargentos e praças que ali decorrem atualmente, assim como foram conhecidas algumas instalações essenciais ao apoio sanitário da guarnição, e outras recentemente inauguradas de apoio à formação. O almoço servido na messe de oficiais, de ementa recheada com pratos e acepipes típicos constituiu um momento de franco convívio, onde se reviveram histórias da formação de alguns dos oficiais presentes nos cursos em Vale de Zebro, e de outros fuzileiros portugueses enquanto assessores em Angola, ressaltando sempre um forte espirito de trabalho e de partilha de conhecimentos e experiências, de respeito mútuo, e de amizade sempre renovada entre os elementos dos fuzileiros de Angola e de Portugal. Em ambas as visitas, foram efetuadas trocas de presentes institucionais e foi assinado o livro de honra destas duas unidades de fuzileiros angolanos, onde o Contra-almirante Cortes Picciochi deixou missivas de reconhecimento pelo excelente acolhimento, profissionalismo na ação e relevância das nobres missões atribuídas à Escola de Fuzileiros Navais e da Brigada de Fuzileiros Navais, quer na formação de novos marinheiros e fuzileiros, quer na defesa dos interesses nacionais e da soberania nacional, nos diversos pontos do território onde se encontram posicionadas as forças e unidades de fuzileiros de Angola. Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre! Ova Correia CMG FZE/ATP O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt notícias O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça na Associação de Fuzileiros A convite da Direcção Nacional, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes, almoçou no Snack-Bar da Associação de Fuzileiros, no passado dia 25 de Fevereiro. Participaram também no que foi qualificado como um “almoço de amizade”, o Comandante do Corpo de Fuzileiros, Contra-Almirante Cortes Picciochi, o Chefe de Gabinete do CEMA, Contra-Almirante Seabra de Melo, e o Capitão-Tenente Afonso e o 1.º Tenente Silva Ângelo, oficiais que integram o Gabinete do CEMA. Fizeram as honras da casa, o Contra-Almirante Leiria Pinto, Presidente da Assembleia-Geral da AFZ, o Comandante Lhano Preto, o Comandante Cardoso Moniz e o Doutor Marques Pinto, Presidente e Vice-Presidentes da Direcção, respectivamente. No final do almoço, o CEMA percorreu o Salão Polivalente da AFZ e esteve na esplanada do nosso Snack-Bar contemplando a vista sobre o rio Tejo e observou, particularmente, os “Moinhos de Maré” que dali se vislumbram em pequenas ilhotas. Durante o almoço, que também foi de Um mundo de soluções para o seu lar... trabalho, trataram-se vários temas relacionados com a AFZ e com a sua importância para a Marinha, no quadro da sua influência e unidade nacional e, também, na colaboração que poderemos prestar, na semana da Marinha e Dia da Marinha, cujas comemorações decorrerão na semana de 20 de Maio próximo, no Barreiro. “O Desembarque” cumprimenta o CEMA e, particularmente, o Almirante Saldanha Lopes, a quem convidou para ser um Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt próximo entrevistado da nossa Revista. 5 notícias Fuzileiros visitam o Comando Territorial da GNR de Santarém O s movimentos de Fuzileiros para Santarém estão normalmente associados a missões de apoio às populações ciclicamente atingidas pelas cheias do Rio Tejo que, de tempos a tempos, galgando as margens, transforma estradas em perigosos canais e a Lezíria num grande lago onde os botes de borracha ou as lanchas de pequeno calado se tornam imprescindíveis. Neste 7 de Dezembro de 2012 a missão foi de cariz diferente e obedeceu a um plano traçado pelo Comandante do Comando Territorial de Santarém, o senhor Coronel Corte-Real Figueiredo que com muita honra, como fez questão de referir, continua ligado aos Fuzileiros pela mística da boina FZ que em determinada e talvez determinante fase da sua vida, envergou. Estavam assim reunidas as condições para que o convite que dirigiu a vários oficiais fuzileiros que com ele mais de perto privaram, fosse aceite por quase todos e se transformasse num dia de confraternização entre fuzileiros e militares da GNR sob seu comando. Muitos outros oficiais desse Corpo Militar que, tal como o Coronel Figueiredo, passaram pelos Fuzileiros e agora ocupam funções de destaque na GNR, também aceitaram o convite e estiveram presentes. 6 Talvez aqui se deva referir que este transvaze de oficiais fuzileiros para a GNR, segundo julgamos, teve a sua maior expressão na década de oitenta mas continuou deste então e continua, sendo uma excelente forma de adaptação e rentabilização de recursos humanos qualificados com vantagens para ambas as organizações. Mas voltando ao evento versado nesta pequena nota, salienta-se ainda que a “delegação” dos Fuzileiros que se deslocou a Santarém que, como se disse, era constituída por oficiais Fuzileiros que estiveram mais directamente relacionados com o nosso anfitrião, foi encabeçada pelo senhor Contra-Almirante Cortes Picciochi, actual comandante do CCF, o que muito nos honrou. O dia correu depressa preenchido com um excelente “briefing” sobre a actividade da GNR no Distrito de Santarém, um jogo de futebol disputado a muito bom ritmo e com excelentes exibições dos suspeitos do costume e um almoço de nota dez onde os produtos regionais pontuaram alto e estiveram ao nível do acontecimento. Ao nível do acontecimento esteve também a fidalguia e o ambiente camarada e amigo com que o Coronel Figueiredo e os seus oficiais nos receberam. Estamos-lhe gratos por nos ter proporcionado estes momentos tal como ele se manifestou grato pela compreensão e apoio que lhe foram dados aquando da sua difícil decisão de sair dos Fuzileiros e abraçar um outro Corpo de Tropas que tão bem o recebeu e enquadrou. Nessa altura o oficial em questão desempenhava precisamente as funções de Oficial Imediato da CF 22 companhia da qual o signatário era então o comandante. Quanto ao resultado do futebol… não me lembro bem mas julgo que foi um empate. Benjamim Correia Sóc. Orig. n.º 1351 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt notícias Em memória de Jaime Neves A Direcção da Associação Nacional de Fuzileiros, reunida em 5 de Fevereiro de 2013, na sua Sede Social, no Barreiro, em sessão n.º 187/03/13 deliberou por unanimidade: “Prestar sentida e patriótica homenagem ao Major-General, Jaime Neves que se considera herói da verdadeira democracia e acompanhar a Sua Família e a Associação de Comandos no pesar que todos os Portugueses sentem pelo seu recente desaparecimento”. A Direcção decidiu, após um minuto de silêncio, transcrever em Acta o seguinte texto: General Jaime Neves (1936-2013) 1 de Fevereiro de 2013 Gritou-se “Mama Sume” no Parlamento O voto de pesar votado pela morte do major-general Jaime Neves no Parlamento resultou num episódio ruidoso nas galerias. O plenário foi surpreendido com o grito “Mama Sume!” que deixou a mesa da Assembleia da República (AR) sem reacção. Depois de os partidos do PS, PSD e CDS terem aprovado o voto de pesar, apesar dos votos contra do PCP, BE e Verdes, um grupo na assistência – alguns deles com boinas militares – levantou-se para verbalizar o grito dos comandos, unidade que Jaime Neves chefiava durante o período da revolução e consequente “Verão Quente”. A expressão foi adoptada pela unidade militar a partir do grito de uma tribo Banto do Sul do continente africano na cerimónia que precedia a caça ao leão. Traduzida significa “Aqui estamos prontos para o sacrifício”. aos agentes da autoridade que evacuasse as galerias. Quem assiste às sessões do plenário não pode manifestar-se enquanto os trabalhos decorrem. E Assunção Esteves já deu no passado ordens para evacuar a assistência depois de algumas manifestações. De qualquer maneira, os cidadãos em causa abandonaram as galerias logo após o incidente. Ao contrário de outros momentos, a presidente da AR não solicitou A Associação Nacional de Fuzileiros junta-se à Associação de Comandos e ao seu grito “Mama Sume” e, do Barreiro e de Portugal, responde com o grito dos fuzileiros: “Fuzos: prontos. do mar: p’ra terra. desembarcar: ao assalto. desembarcar: ao assalto” O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 7 cultura e memória Salpicos de Vida SPM 0468 N.º 8 Fuzileiros na piscina… N a operação “Altair”, em 26 Outubro de 1966, o DFE 4 desembarcou ”a nadar” na Pta Canabém, no rio Cacine, com apoio de fogo de duas LFG’s, a Hidra e a Lira. Como todos os locais na zona sul da Guiné esta era uma área de real perigo, onde corríamos o risco de sermos atacados no momento crítico do desembarque, que ia acontecer de dia. O baú das memórias, às vezes já difícil de abrir, recorda-nos os momentos difíceis que o nosso grupo, tão jovem, viveu com muita intensidade e generosidade em terras de África. Eram 7h00 quando a LDM 307 nos tentou desembarcar na Pta Canabém. Por infortúnio do destino, surgiu de repente o chamado “imprevisto nunca previsto”: a LDM encalhou em fundo baixo, a cerca de 100 m de uma margem cheia de tarrafo, ficando ao alcance das armas do IN. Nesse momento crítico havia que tomar uma decisão urgente, e executá-la muito rapidamente: ou desembarcar ou abortar a operação. A escolha feita pelo Comandante foi fácil. A LDM estava mesmo encalhada e não mexia. Assim, era urgente aliviar a carga para que ela ganhasse flutuabilidade e pudesse navegar. De facto naquela posição, a lancha seria um alvo muito fácil, e diria até que estávamos a oferecer a “lotaria” ao IN, pois podíamos ser atacados sem termos a possibilidade de responder. O nosso Comandante não teve portanto outra alternativa que não fosse gritar a ordem “todos para a água”, para desembarcar rapidamente a nado, acontecesse o que acontecesse. 8 Felizmente, beneficiávamos da ajuda das peças de 40 mm das LFG’s Hidra e Lira, que se reposicionaram e nos deram a protecção possível nestes momentos de aflição. As fotografias juntas evidenciam bem as dificuldades por que passámos e recordo que nas nossas mentes todos os pensamentos negativos nos surgiram. Saberíamos todos nadar o suficiente para chegar a terra com todo o pesado equipamento? Conseguiríamos evitar molhar as armas e as munições? Iriam funcionar os RPG’s e os rockets? Conseguiríamos manter a disciplina, a nadar em fila indiana? Haveria algum erro dos artilheiros das LFG’s que nos acertariam com alguns tiros? Estaria o IN à nossa espera no tarrafo ainda connosco dentro de água? etc… Resumindo, a nossa moral naqueles momentos não era propriamente das mais elevadas, pois na verdade, quer quiséssemos quer não, estávamos a fazer um desembarque dando todas as vantagens ao IN. Recordo que esta operação se efectuava de dia e o factor surpresa há muito que desaparecera. A 1.ª secção avançou com muita determinação, “não propriamente num crawl perfeito”, mas tentando que as coisas importantes não se molhassem. Refiro-me ao material vital para andar no mato, armas, munições, cartas e equipamentos de comunicações. Lá fomos vencendo todas as dificuldades com um esforço titânico tanto no plano físico como emocional. Recordo-me que após nadarmos aquele primeiro troço visível até a uma curva, fomos então surpreendidos com um grande percurso de água que nos separava ainda do início do tarrafo e das primeiras árvores que nos proporcionariam abrigo. Quando atingimos o meio do tarrafo, com a vontade imensa que desaparecesse o cansaço acumulado no desembarque, sentimos com intensidade, o enorme desconforto de ainda não termos ninguém na orla das primeiras árvores, o que simplesmente significava estarmos ainda à mercê do IN. Finalmente a 1.ª secção “agarrou” a orla da mata, e a tranquilidade começou a confortar os nossos espíritos. Os restantes homens do DFE 4 já poderiam desembarcar com alguma tranquilidade pois o nosso pessoal já lhes podia dar protecção na situação imprevisível que o destino nos criou. Assim, esta operação ficou conhecida para a história pela situação inesperada e imprevisível, do desembarque de um DFE nadando num dos sítios de maiores riscos operacionais da antiga Guiné. Por incrível que pareça, as fotos que acompanham este SPM deram volta aos três TO’s, Guiné, Angola e Moçambique, e apareceram em revistas de outros ramos das Forças Armadas, ligadas a outras unidades que não o nosso DFE 4. Não ficámos zangados que outros se tivessem apropriado das nossas imagens, mas é tempo de repormos a verdade dos factos e dar o seu a seu dono, principalmente por se tratar de momentos tão intensamente vividos na nossa juventude, e permanecendo bem vivos na nossa memória. Nunca é demais recordar a inscrição que depois de tantos anos, deixámos gravada na placa do DFE 4 na Escola de Fuzileiros: “Pelo que somos e pelo que fomos”. CMG Francisco Rosado Sócio Originário N.º 1900 É nesse momento que nos assalta a velha pergunta “mas isto está a acontecer-me mesmo a mim ou é tudo um sonho do qual ainda não acordei?”. Infelizmente, tudo era mesmo real e nós tínhamos mesmo que resolver aquela “papeleta”, fosse de que maneira fosse, e a única solução era ganhar a orla da mata tão cedo quanto possível. Neste ultimo canal, as LFG’s já não nos viam e estávamos portanto totalmente entregues a nós próprios. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt opinião Aproveitar Recursos António Ribeiro Ramos A ausência da guerra, sabemo-lo bem, não é só por si suficiente para que uma nação possa viver em Paz. Se prevalecer a insegurança resultante da sua fragilidade tanto externa como interna, esta pode levar, e inevitávelmente leva, à perda da estabilidade necessária ao desenvolvimento de capacidades de valoração justa, de organização eficiente, de coesão nacional e de vontade generalizada, fácilmente se instalam formas subtis de violência, tanto no plano material como no plano moral, perdendo-se irremediávelmente os benefícios da Paz. Fragilizar primeiro é aliás, desde sempre e por razões óbvias, uma preocupação essencial para qualquer potencial opositor. Em “A Arte da Guerra”, o mais antigo tratado militar que se conhece, escrito há mais de dois mil anos, falando de estratégia ofensiva, já Sun Tzu afirmava; “os habilidosos na arte de guerrear dominam o exército inimigo sem lhe dar batalha. Conquistam-lhe as cidades sem ter que as assaltar, derrubam-lhe o Estado sem operações prolongadas”. Por outro lado, a fragilidade diminui quando a segurança aumenta. Etimológicamente, a palavra segurança resulta da junção de duas outras palavras. “Se”, que significa “sem”. E “cura” que significa “cuidado”. Portanto “sem cuidado”, ou seja, “sem ansiedade” ou ainda, “sem medo” (Prof. Carvalho Rodrigues – Seminário no Instituto de Altos Estudos Militares em Dez. 1999). Mas, sem medo de quê? Eu diria que, sem medo de enfrentar dificuldades, tanto na estabilidade como na mudança. Não pela via irracional da desvalorização das suas potenciais consequências, mas pela certeza de se poder contar com as capacidades e meios suficientes para que, quando aquelas não possam ser evitadas, sejam enfrentadas com elevada coesão, agilidade, e com garantidas probabilidades de êxito. Mas a segurança é também complexa e multifacetada, porque se alarga a todos os sectores da actividade social, e precisa de recursos para se manter, que são sempre limitados. Daí que, algumas ajudas viáveis e reconhecidamente úteis, possam ter aproveitamento na prática. Particularizando, e até porque muitos elementos militares, militarizados e civis que hoje zelam pela nossa segurança interna, ganharam e ostentaram anteriormente a bóina azul ferrete de Fuzileiro, e levando em conta que não é possível aumentar ilimitadamente o numero destes profissionais, vejamos dois exemplos curiosos de aproveitamento de recursos. Tanto nas minhas numerosas estadias nos portos, como na navegação em águas americanas, em face da necessidade que tinha de conhecer em pormenor a legislação aplicável naquele país, consultei vezes sem conta o CFR (Code of Federal Regulations), publicação que se compõe de vários volumes, que regulamenta de forma exaustiva tudo o que diz respeito aos navios e à navegação nos Estados Unidos, e que pode óbviamente também, ser consultado via Internet. Por vezes, alargava a minha leitura para além daquilo que procurava e, em 33 CFR, Chapter I, Subchapter A, Part 5, encontrei desde sempre uma curiosa organização de voluntários dentro da USCG (United States Coast Guard), designada por “Auxiliary”. Não obstante a sua poderosa Guarda Costeira, os Estados Unidos contam com 361 portos comerciais (revista “Proceedings”, U.S. Naval Institute, Abril 2007), com 200 milhas de Zona Económica Exclusiva tanto no Atlântico como no Pacífico, e ainda com uma enorme área oceânica de responsabilidade SAR (Search and Rescue – Busca e Salvamento) que, curiosamente no Atlântico e para Leste, confina com a que está atribuída a Portugal e que é igualmente vastíssima. Fundado em 23 de Junho de 1939, o United States Coast Guard Auxiliary, conta actualmente com 32000 voluntários que sob a divisa “Always Ready” (“Sempre Prontos”) efectuam: Patrulhas, tanto de “safety” (segurança de navegação), como de “security” (contra actividades ilícitas e terrorismo); Missões de busca e salvamento (SAR); Assistência a feridos ou em acidentes marítimos; Patrulhas e combate à poluição marítima; Promoção da eficiência da condução e assistência à segurança das embarcações de recreio; Exames para as diversas cartas da navegação de recreio, e ainda apoio às missões da Guarda Costeira, nas funções que lhes forem superiormente atribuídas. O “Auxiliary”, encontra-se distribuído por áreas, distritos e regiões, e frequentemente utilizou, e utiliza, embarcações, meios aéreos e estações de rádio, que são propriedade dos seu próprios elementos. Daí que as condições de admissão envolvem; ser óbviamente de nacionalidade norte americana, ter idade superior a 17 anos, ser proprietário de não menos de 25% de uma embarcação, de uma aeronave ou de uma estação de rádio, ou, possuir treino anterior adequado e reconhecido. No entanto, os elementos do “Auxiliary” não podem ser simultâneamente membros de outra instituição de natureza militar. Em caso de necessidade, podem ser ainda integrados na Coast Guard Reserve, na perspectiva do reforço das capacidades operacionais da USCG. O uso do uniforme da USCG é autorizado, com as características e nas condições superiormente determinadas. De um outro modo e de forma mais discreta, também no Reino Unido, é possível estabelecer uma relação, de maior proximidade e de colaboração com a Polícia local, por meio da constituição de “Neighbourhood Watch” ou de “Home Watch Groups”, equipas de vigilância a partir das próprias residências, que promovem, segundo a orientação da Polícia, o controle regular das suas áreas vizinhas. Estes cidadãos britânicos voluntários não usam uniforme, mas participam ainda assim em acções préveamente definidas e promovidas sob a tutela das autoridades policiais. Os membros do “Auxiliary” ou até mesmo destas equipas de colaboração com a Polícia, podem a seu tempo beneficiar de algum prestígio, e até de formas de reconhecimento social como a facilitação da procura e da obtenção de emprego na sociedade civil, por exemplo. Mas não se lhes atribui qualquer privilégio em relação ao normal funcionamento das próprias instituições que apoiam e que valorizam. Trata-se apenas, o que não é pouco, de aproveitar recursos patrióticos e motivações vocacionais específicas. E de simplesmente os colocar com dignidade ao serviço da nação. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt António Ribeiro Ramos Sócio Aderente n.º 1053 9 opiniao O Direito de Dizer O Advogado, o Dever de servir a Justiça e o seu Direito/Dever de Protestar Carla Marques Pinto (Advogada) N o final do artigo anterior, publicado na “O Desembarque” N.º 14, de Novembro de 2012, escrevemos: “Para a próxima cá estaremos, se os homens e a Providência deixarem com um tema particularmente interessante, qual seja «O Advogado, o Dever de Servir a Justiça e o seu Direito/Dever de Protestar»”. De facto, mesmo a feroz e alucinante velocidade da vida de hoje, que cada vez mais tritura e condiciona, aliada ao início do ano judicial, não foram suficientes para desajudar a minha Providência. E os homens deixaram… Mas vamos ao tema que nos parece particularmente interessante e actual, nesta fase em que o Advogado e a Justiça parecem ser os bodes expiatórios da incapacidade de o poder político mudar, mas de mudar bem. Parece óbvio que, no rol dos muitos e diversificados deveres – e, porventura, dos poucos direitos – e das muitíssimas e “apertadas” incompatibilidades que o actual Estatuto da Ordem impõe ao Advogado estará implícito o dever de servir a Justiça, embora a afirmação não tenha ficado expressamente declarada. Porém, e porque só assim entendemos a nossa profissão e missão, perante a Comunidade e o Estado de Direito, não resistimos à tentação de citar, na integra, o n.º 1 do artigo 76.º do anterior estatuto da OA pelo que tem de força histórica e intrínseca: «O advogado deve, no exercício da profissão e fora dela, considerar-se um servidor da justiça e do direito e, como tal, mostrar-se digno da honra e das responsabilidades que lhe são inerentes». O Código de Deontologia dos Advogados da União Europeia, no seu ponto 1.1., já anteriormente referenciado, na “Advocacia como Profissão de Interesse Público”, pretende, em nossa opinião, transmitir a mesma ideia, porventura ampliando-a sem contudo conseguir uma fórmula mais forte, clara e incisiva. Mas, o Dr. António Arnaut, no seu “Estatuto anotado” (Fora do Texto – Coimbra – 1992) ao desenhar de forma relevante “a função ético-social da advocacia” afirma que do Advogado se exige “um comportamento moral e irrepreensível tanto no exercício da profissão como fora dela” chegando mesmo a adiantar que “o advogado serve a justiça e o direito mais do que a lei, ao contrário do juiz que lhe deve estrita obediência”. De facto, enquanto o actual Estatuto reclama a independência do Advogado afirmando que, “no exercício da profissão, mantém sempre em quaisquer circunstâncias a sua independência, devendo agir livre de qualquer pressão, especialmente a que resulte dos seus próprios interesses ou de influências exteriores, abstendo-se de negligenciar a deontologia profissional no intuito de agradar ao seu cliente, aos colegas, ao tribunal ou a terceiros” (art.º 84) – e isto é, sem dúvida, servir a justiça – o texto do anterior, de forma clara, impunha-lhe “recusar o patrocínio a questões que considere injustas” (art.º 78, alínea c-). A justiça é, por isso mesmo, um dos seus valores e – seguramente o determinante – que para o Advogado, o direito deverá prosseguir. 10 Como refere Guedes da Costa, “não foi certamente por acaso que a lei passou a referir-se ao Advogado como servidor da justiça e do direito, quando anteriormente apenas falava de servidor do direito” (570.º do E.J.). Temos assim o Advogado como servidor da lei e do direito mas, acima de todos os valores, da justiça sendo que, o dever de obediência à lei, de não advogar contra lei expressa, de não litigar de má-fé, de não promover diligências reconhecidamente dilatórias ou prejudiciais à descoberta da verdade – não são mais do que obrigações tacitamente subordinadas ao primordial dever de servir a justiça, dando corpo à nobre e inalienável missão de intervir na defesa dos direitos liberdades e garantias e na busca da salvaguarda dos direitos humanos. O Advogado ganhou ao longo dos anos e dos séculos, por mérito próprio, o estatuto de meio indispensável para se atingir o objectivo de uma sociedade democrática e justa. A abolição da escravatura e da pena de morte e a igualdade de todos os cidadãos perante a lei (nas Ordenações distinguiam-se nobres e plebeus para aplicação de determinadas penas) “nasceram da oposição de muitos advogados ao direito positivo e à justiça legal em determinado momento histórico” (Guedes da Costa – obr. cit.). Ao dever de servir a justiça – e por isso mesmo – soma-se o direito/dever, do Advogado, protestar. Para além do direito de protesto mesmo em audiência de julgamento (art.º 75.º do EOA) é seu dever para com a Comunidade “defender os direitos, liberdades e garantias” e “pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e instituições jurídicas” (art.º 85.º). Mas visando uma abordagem, por via mais pragmática, de protestar, de lutar contra as violações de direitos humanos e de salvaguardar as liberdades e as garantias dos cidadãos, vejamos o que nos dizia o anterior estatuto da OA (art.º 78, alínea e-) cujo estilo frontal nos toca particularmente: «É dever do Advogado para com a comunidade: e)- Protestar contra as violações dos direitos humanos e combater as arbitrariedades de que tiver conhecimento no exercício da profissão». Sabido como é que esses direitos e garantias que estão hoje consagrados na Constituição e nas leis, ao nível da execução da justiça, são muitas vezes desrespeitados, não apenas pelos órgãos de polícia criminal que, sob a pressão da opinião pública e da hierarquia e fruto as mais das vezes das suas juventudes se revelam impantes de mostrar serviço e arrecadar troféus mas, algumas vezes, pelas próprias Magistraturas. Uns e outras cometem o erro de se avaliarem pela quantidade de acusações formuladas e de processos despachados e julgados e não pela sua qualidade! É claro que a postura dos Advogados ao longo dos anos e, sobretudo, no regime anterior de ditadura, foi seguramente determinante para que algumas situações mudassem. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt opinião Outrossim, a organização da actual advocacia em muitos dos países evoluídos do Planeta e, nomeadamente, ao nível da Europa – utilizando o modelo da advocacia colegiada, em contraposição com a advocacia livre (EUA, Suíça, Finlândia e Noruega) e com a advocacia de Estado (que vigorou nas republicas socialistas da ex-União Soviética) em que o princípio da independência não foi sacrificado e com o interesse público se estabeleceu um rigoroso equilíbrio – foi factor determinante para se abolir o anátema dos estados centralistas e todos poderosos, se arrogarem o exclusivo da administração da justiça sendo também óbvio que a consolidação legal na prática da independência da profissão contribuíram para se reafirmarem as garantias individuais. Porém, em nossa opinião tudo isto ainda é pouco. E também não basta que se afirme o direito/dever do Advogado protestar e defender os direitos, liberdades e garantias, apenas no âmbito da profissão. Acreditamos que ser advogado constitui um estado de alma inteiro não se sabendo onde se encontra a sua ética pessoal com a fronteira da deontologia profissional. E tudo isto para dizer que os quadros normativos e jurídicos podem assegurar, na teoria, a possibilidade de protesto mas, se eles próprios, os advogados, ou a sua Ordem, não dispuserem dos meios práticos para ultrapassar resistências, autismos e mentalidades, restam-se como vozes pregando no deserto dos ouvidos moucos do sistema e dos Políticos. – Não intervimos para além do burocratizado mecanismo judicial? – Não protestamos? – Não exigimos que – se a lei é demasiado perfeita para os juízes que temos, no fundo, para o Povo que somos – se mude e se adapte às mentalidades, ao contrário de se conceber uma lei para o século XXII que não somos capazes de bem aplicar no século XXI? – Como poderemos continuar a conviver com esta realidade de cidadãos presumíveis inocentes serem “linchados” e destruídos em praça pública em acesas fogueiras mediáticas, por via de um estafado segredo de justiça que todos os dias é violado, desde logo, pelas investigações, em descaradas cumplicidades com agentes da comunicação social? – E será legítimo pedir ao Advogado que tem o seu cliente preso, muito mais para ser investigado do que por o ter sido já, que sem “armas” para esgrimir, se mantenha disciplinada e humildemente amordaçado por o recomendarem as melhores normas deontológicas? – E será possível ficarmos indiferentes ao nosso elevadíssimo rácio de prisão incluindo a preventiva (cerca de 130 presos por 1000.000 habitantes), dos maiores da Europa Comunitária (que mantém, há muitos anos, médias estabilizadas de 80) em contraposição com as mais baixas taxas de criminalidade e, sobretudo, de criminalidade violenta? Ficam uns poucos – os Homens e as Mulheres de boa vontade – que vão fazendo ouvir-se pelos lugares que ocupam na estrutura da Ordem ou pelos seus próprios prestígios pessoais. – E no que respeita às prisões? Mas não chegam. – Quando poderemos furar a cortina e alcançar aqueles que, já condenados e sob tutelado Estado (que ao contrário do que desejaríamos tem tido alguma dificuldade em demonstrar que é uma pessoa de bem) se encontram numa posição altamente fragilizada e muitas vezes impossibilitados de flexibilizarem as suas penas porque esperam por cúmulos jurídicos que nunca mais chegam? Quedam-se, a esmagadora maioria, pelo silêncio quase mórbido e as mais das vezes revoltante, dos seus anonimatos. E são estes que são esmagados pelas tradicionais e algo frequentes prepotências dos tribunais e pela embriaguez dos poderes constituídos, muito ao jeito corporativista porque são, de facto estes, os anónimos, os que se confrontam, no seu diaa-dia, com as defesas dos direitos e das liberdades dos mais “pequenos”, isto é, dos menos poderosos, não estando eles próprios, ainda, em condições de idade, de prestígio, de saber e de poder, para lançarem – sem grave prejuízo – os seus gritos de “protesto” e de “combate”. Parece-nos pacífico que a intervenção ao nível dos Direitos Humanos não se pode reduzir ao cidadão que, quando da detenção, foi eventualmente agredido pela polícia. Porventura começará aqui alguma parte da acção. Mas a missão terá de ser, seguramente, mais ampla. Porque a angústia e o desafio serão comuns, os mais jovens que por vocação abraçaram a Advocacia poderão questionar-se, assim: – Como poderemos continuar a permitir que cidadãos sejam detidos com tamanha leveza permanecendo em prisão preventiva ao abrigo de uma lei que, mais por interpretação cómoda e abusiva do que por ela própria, pode consentir que lhes não seja comunicado o onde, o como, o quem e o porquê, sem a mínima possibilidade de exercerem o contraditório e de o tempo e os prazos de prisão preventiva se prolongarem para além do que, Francisco Salgado Zenha, antes do 25 de Abril criticava por o prazo de seis meses ser demasiadamente alargado e a que chamava “o regime prisional de detenção policial”!? – Ficamos pelo recurso? – Quando é que lá chegamos? – Poderemos nós, Advogados, continuar a conviver com o colossal atropelo dos direitos dos arguidos, em processo penal e com a ditadura do direito penitenciário e da execução das penas, onde se mudam leis e “as moscas” continuam? – E a efectiva reparação das vítimas? – E as vítimas das vítimas? Perguntas incómodas que revelarão verdades incómodas e que, os mais jovens poderão questionar-se! Mas ainda com algum alento, o que vale por dizer com alguma ponta de esperança apetece-nos, também, perguntar: – Contra quê ou contra quem devemos “protestar” e “combater” como na tradição portuguesa, e não apenas na nossa, tantos Advogados o fizeram ao longo dos anos, designadamente, nos mais difíceis da 1.ª República e do Estado Novo? – Contra a lei que o Prof. Doutor Jorge Figueiredo Dias afirma ser uma das mais evoluídas da Europa? – Contra o poder Politico/Administrativo que, em todas as democracias ocidentais é cada vez mais fraco e conformado com os despotismos dos Poderes Judicial (e Económico) e que, em Portugal, se vem revelando receoso de estabelecer o “equilíbrio equilibrado” (perdoe-se-nos o pleonasmo) de poderes, indispensável ao verdadeiro Estado de Direito? – Ou contra a independência “de facto” que não “de jure” do Ministério Público? O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 11 opiniao – Ou contra as independências, inamovibilidades e irresponsabilidades das Magistraturas Judiciais, sem dúvida, indispensáveis aos desempenhos livres da função mas, não valores absolutos e inquestionáveis, ainda mais quando são conhecidos erros grosseiros ou corrosivos comprometimentos políticos ou corporativos que induzem ao dramático erro em cadeia? – Contra as cumplicidades das Magistraturas, munidas de estruturas sindicais que se alternam nos respectivos Conselhos Superiores, ou as partilhas dos mesmos espaços funcionais? – Ou contra os corporativismos por dentro dos quais a Revolução não passou? – E poderemos nós, Advogados “da regra” que não “da excepção” intervir sozinhos? – E será minimamente eficaz qualquer eventual intervenção? Seguramente não nos parece. Parece-nos, isso sim, possível intervir como Classe forte, combativa, credível e prestigiada. Parece-nos possível através da estrutura da Ordem dos Advogados (que cada vez mais gostaríamos de ver mais consistente, coesa e solidária) e especificamente por via da sua Comissão de Direitos Humanos, em acções dirigidas com espírito equivalente ao dos verdadeiros grupos de pressão (preferimos a expressão francesa por mais genuína) rigorosamente coordenadas e sujeitas a um planeamento e a uma programação institucionalmente definidos e apoiados. De facto, só nos parece possível empenhar os advogados na luta dos direitos, liberdades e garantias, enquanto integrantes de um corpo profissionalizado e historicamente responsável quando cada um, no seu “terreno”, tiver força e apoio, necessariamente advindos de estruturas descentralizadas, ao nível distrital e concelhio, que permitam aproximarmo-nos das realidades e especificidades locais. Como agora se usa dizer: funcionando em rede. Teríamos, assim, o Advogado mais próximo do cidadão e, consequentemente, uma Ordem ainda mais credibilizada e reconhecida. E para a próxima, caros consócios fuzileiros, famílias, não fuzileiros mas Amigos desta grande “família”, enfim, a todo o universo da AFZ incomodar-vos-ei e terminarei esta temática genérica sobre deontologia, propondo-vos como tema específico, «A Advocacia e o Direito dos Cidadãos ao Acesso à Justiça». Até lá, fiquem bem e … “Fuzileiros para sempre”. Carla Marques Pinto Sócia Descendente n.º 1870 Email: [email protected] INFORMAÇÕES A Direcção Nacional informa que já foram assinados os seguintes protocolos que proporcionam várias vantagens e benefícios aos nossos Associados: – Universidade Lusófona; – Instituto Superior de Segurança da Universidade Lusófona; – Revista de Marinha. Continuamos em negociações com quatro Companhias de Seguros, embora nos pareça que estas apenas estão interessadas se a AFZ lhes garantir um número mínimo de sócios tomadores de seguros, a que a Associação, como é óbvio, não poderá obrigar-se. Estamos também a negociar um Protocolo com empresa de turismo. – Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA); – Motricidade Humana - Associação de Formação Desportiva; Os Protocolos estão publicados no site da AFZ e foram remetidos para todos os sócios de que conhecemos o respectivo endereço electrónico. – KANGAROO - Gimnoparque; – Casa de Repouso “Quinta da Relva”; Aconselhamos os nossos Sócios a consultarem o site, na Internet – www.associacaofuzileiros.pt – ou a informarem-se através de email: [email protected], do tel.: 212 060 079 ou do telem.: 927 979 461. – Casa de Repouso “Villa Pinhal Novo”; – Casa de Repouso “S. João de Deus”; – ARISTON Termo Grupo; – ANASP - Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada; – Manuel J. Monteiro & Cª., Lda. - Equipamentos Electródomésticos; Aconselhamos também os nossos associados a remeterem-nos os seus endereços de correio electrónico para facilitar as comunicações que esta direcção pretende estabelecer em tempo real. Snack-Bar/Salão polivalente e de refeições Informamos os nossos Associados que o encerramento do Snack-Bar da AFZ nos dias 4 e 5 de Fevereiro p.p. ficou a dever-se às obras de conservação e manutenção que decorrem na nossa Sede Social. A sua actividade normal reiniciou-se no dia 6 de Fevereiro, abrindo com novo concessionário, novas ementas e novos preços, esperando-se uma maior dinâmica para que possamos servir melhor os Sócios. organizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem sempre a AFZ e/ou o respectivo concessionário do Snack-Bar, porque encontrarão, por certo, condições de relação qualidade/ /preço muito favoráveis, para além de um ambiente agradável e muito propício à realização de eventos desta natureza, em que as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade, as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem revelar em toda a sua plenitude. Saudações a todos os Sócios e suas Famílias. Daqui os exortamos a que frequentem a nossa/Vossa Sede e o Bar e o Salão polivalente e de refeições e a que os Camaradas 12 A Direcção Nacional da AFZ O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4 Guiné 1965/67 6 de Outubro de 2012 D ecorreu no passado dia 6 de Outubro de 2012, na cidade de Peniche, um convívio de partilha de emoções, de exFuzileiros que integraram o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 4 (DFE 4) para comemorarem o seu 47.º Aniversário da partida para a Guiné, em 11 de Outubro de 1965, a bordo do N.R.P. Vouga, onde experimentaram as agruras da guerra durante aproximadamente dois anos, regressando o DFE 4 a Portugal sem baixas, o que é de realçar, apesar dos 20% de feridos em combate. Dr. Álvaro Cunhal e de mais nove prisioneiros. Histórias que, para aqueles que não sabiam, nem conheciam por dentro aquela fortaleza, os admirou e até mesmo angustiou. Para esse convívio, foi programada uma visita guiada à fortaleza e Museu Municipal. Aí tomaram conhecimento dos muitos episódios ali passados e de como eram tratados os presos políticos pela PIDE, durante o governo de Salazar, realçando-se a fuga do Viajando pela marginal Norte da Cidade, dirigimo-nos para Sul, até à Consolação, Freguesia da Atouguia da Baleia, “acampando” no Restaurante Maresol para aí degustar uma deliciosa caldeirada de peixe à moda de Peniche. No final da visita, rumamos pela marginal Sul da cidade, junto à costa, até ao Cabo Carvoeiro, de onde pudemos ver, à distância de 6 milhas marítimas da costa, o Arquipélago das Ilhas Berlengas, (Berlenga Grande, Farilhões, à excepção das Estelas que não eram visíveis pelo facto de permanecer sobre elas nevoeiro). O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 13 convívios A determinada altura, o ex-Comandante do DFE 4, usando da palavra, realçou o espírito de camaradagem, respeito pela hierarquia, espírito de coragem e de grande solidariedade, entre os Homens do DFE 4, passados que são 47 anos. A seguir, o promotor deste evento recordou os Fuzileiros que já partiram, e ao anunciar o nome de cada um, de viva voz, os outros respondiam,”SEMPRE PRESENTE”. Seguiu-se o toque do Hino da Associação de Fuzileiros, que todos emocionalmente cantaram, não escondendo algumas lágrimas que corriam pelo rosto de muitos dos presentes. E o autor destas linhas, como promotor do evento tem de recordar, com emoção, as palavras do Autor do Hino: “Só tem Pátria quem sabe lutar, só tem Pátria quem sabe morrer”. Para acalmar as emoções, o Comandante do Destacamento, Comt Santos Paiva foi convidado a partir o Bolo de Aniversário que ele próprio ofereceu como, aliás, tem vindo a ser seu hábito, em todos os convívios do DFE 4. E no brinde que fez, o Comt do Destacamento prometeu que ,no aniversário dos 50 anos, haverá uma grande festa. Esperamos lá chegar se Deus quiser. O convívio continuou com música ao vivo, até “ao desembarque” do último elemento Lopes Henriques Sócio Originário n.º 938 Nota da Redacção: Ao camarada Comt Lopes Henriques agradecemos as suas iniciativas e formulamos votos de que, este ano, comemoremos, todos, com saúde, o 48.º Almoço/Convívio do DFE4-Guiné-65/67, na Sede da AFZ, para cujo evento daremos todo o apoio. R ealizou-se em Tondela, no passado dia 8 de Dezembro de 2012 mais um convívio de Marinheiros e ex-Marinheiros da Beira Alta, onde estiveram representadas as Associações de Tondela, Arganil, Carregal do Sal, Nelas, Viseu, Aveiro etc. XXXI Encontro de Marinheiros da Beira Alta 8 de Dezembro de 2012 Do programa constou a visita, liderada pelo Camarada Carlos Borges, ao Museu de Tondela com salas recheadas de loiças de barro preto, artefactos de agricultura, rochas graníticas de outros tempos e representações históricas dos usos e costumes das populações. Seguiu-se um cortejo automóvel, via Ferreira do Dão, aonde se prosseguiu o “ataque ao inimigo”, sendo que, já com a barriga a dar horas, lá conseguimos atingir o objectivo: o almoço convívio. Depois do repasto cada um regressou à sua “Base” com a habitual determinação e com os objectivos delineados cumpridos e, o que foi mais importante, sem baixas no asfalto. Para o próximo ano, haverá novamente outras “acções” semelhantes a desenvolver. Neste evento, tivemos a colaboração do nosso Sócio e Membro Suplente da Direcção da Associação de Fuzileiros. José de Oliveira Pinto Sócio nº 1049 14 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt convívios Companhia de Fuzileiros N.º 3 Guiné 1963/65 27 de Outubro de 2012 A conteceu no dia 27 de Outubro último, o 4.º Almoço/Convívio da Companhia de Fuzileiros N.º 3 que serviu na Guiné nos anos 1963/1965. O Convívio decorreu com muita alegria e camaradagem. Para o ano vamos comemorar os 50 anos da nossa partida para a Guiné. Fernando Maudslay Sóc. Orig. n.º 1772 Nota da Redacção: Formulamos votos de saúde para todos e de que, para o ano, se comemorem os vossos 50 anos de operacionais, no Snack-Bar da Sede Nacional da nossa Associação de Fuzileiros, no Barreiro. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 15 convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 Guiné 1967/69 Também uma história de querer e de solidariedade 3 de Novembro de 2012 C omemorou-se, no passado dia 3 de Novembro, na Quinta da Alegria, o 45.º aniversário do DFE N.º 12 – Guiné 1967/69 e o seu 35.º Almoço/Convívio. Estiveram presentes cerca de 70 pessoas entre fuzileiros e famílias. Os nossos Oficiais eram: Comandante – Fernando A. Pedrosa; Imediato – Serradas Duarte; 3.º Oficial – Rebordão de Brito; 4.º Oficial – Benjamim Lopes Abreu. O Convívio, como sempre, foi muito agradável mas, este ano, tivemos a presença de um Camarada a respeito do qual vale a pena contar uma pequena história e por isso é dela que vou falar. O Frederico Boia, para nós conhecido desde sempre pelo “Bebé” saiu da Marinha depois de termos terminado a comissão na Guiné e emigrou para a Inglaterra mas manteve-se sempre em contacto com o que se passava com os Fuzileiros e, em especial, com o nosso DFE 12, embora estivéssemos cerca de 10 anos um pouco desligados porque ainda havia a guerra e, naturalmente, as pessoas estavam, ainda, sem paradeiro certo. Porém, em 1977, houve alguém que se lembrou de começar a procurar onde paravam os elementos de DFE 12 e, a partir dessa iniciativa, foi possível realizar este ano o 35.º Almoço/Convívio sem interrupções! O nosso “Bebé” – que tem uma Alma do “fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre” – vinha todos os anos de Inglaterra para confraternizar com os seus camaradas! 16 Frederico Boia “Bebé” O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt convívios Até que, em 2004, depois de ter vindo ao almoço que, por minha iniciativa, organizamos, há mais de 20 anos, no 1.º Sábado de Novembro, recebi a triste notícia de que o nosso Camarada “Bebé” tinha sofrido um AVC. Em Setembro deste ano, foi obrigado a regressar a Portugal para viver num Lar de idosos na sua Terra Natal, Trancoso; com sérios problemas de locomoção é obrigado a deslocar-se numa cadeira de rodas. Mas temos que louvar e honrar o Espírito de Fuzileiro, a força de vontade e a solidariedade que o “Bebé” ainda conserva! Este ano, decidiu conversar com a Direcção do Lar, agora a sua casa, que decidiu trazê-lo ao nosso convívio, dando-nos uma enorme satisfação. O “Bebé” comprovou ser também um gigante, dando uma grande lição a alguns Camaradas que, por vezes, se “esquivam” a marcar presença, sem motivo aparente. Um grande abraço de apoio e de solidariedade de todos nós para o “Bebé”. Força! Vai em frente. Manuel Ramos (Porto) Sócio Originário n.º 90 Nota da Redacção: A Direcção Nacional da Associação de Fuzileiros envia um grande abraço de solidariedade ao Camarada Federico José de Almeida Boia – Sócio Originário n.º 643 – (com quem entraremos em contacto) disponibilizando-se para eventual apoio necessário) e releva, louvando, a atitude do Lar Santa Catarina, sito na Av.ª da Ribeirinha – Reboleiro – 6420-592 Trancoso, (Tel: 271 829 800), com cuja instituição desejaríamos subscrever um Protocolo de Colaboração. Ao camarada Manuel Ramos agradecemos as suas iniciativas e formulamos votos de que, para o próximo ano, comemoremos, todos, com saúde, o 36.º Almoço/Convívio, na Sede da AFZ, para cujo evento daremos todo o apoio. A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS Prezados Camaradas: Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação. Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos propusemos é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação se vai juntando. Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema. Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas. Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses. Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês? Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano. Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam. Cordiais e amigas saudações associativas. A Direcção O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 17 convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 8 Guiné 1969/71 4 de Dezembro de 2012 O 8.º Destacamento de Fuzileiros Especiais – Guiné 1969/1971 levou a efeito mais um momento de confraternização com um almoço/convívio nas instalações da Associação de Fuzileiros, no dia 4 de Dezembro de 2012, evento este onde as saudades foram bem patentes nos abraços sentidos a toda esta “ família” que foi e será sempre o DFE 8. Constituição do DFE 8 e embarque O 8.º DFE comandado pelo saudoso Comandante, 1TEN João Eduardo da Costa Xavier e pelo Imediato 2TEN Fernando Sanches Oliveira, e por 2STEN RN Carlos Manuel Pacheco Teixeira da Silva e António José Jorge Barreira – e composto por 5 Sargentos e 1 Sargento H, 2 Cabos, 22 Marinheiros, 22 Primeiros Grumetes e 24 Segundos Grumetes – embarcou a 14 de Abril de 1969, no NRP S. Gabriel e chegou à Provincia da Guiné em 19 de Abril de 1969, dando inicio à sua actividade operacional (P.T.O.) em 2 de Maio de 1969, sob a coordenação táctica do DFE13 e sob o Comando Operacional da TG 27.3, Comandada pelo CTEN Guilherme Almôr de Alpoim Galvão. Estiveram presentes 23 ex-militares, 16 familiares e convidados, embora o mesmo tivesse tido lugar num dia de semana por imperativos pessoais da sempre carismática figura do Comandante Teixeira da Silva, a viver na Região Autónoma dos Açores que nos honrou com a sua presença. Por esta razão, não foi possível a presença de mais elementos, o que lamentamos. 18 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt convívios Prémios, Louvores e Recompensas Foram atribuídas as seguintes condecorações: 1 Medalha de Valor Militar/cobre; 1 Medalha da Cruz de Guerra de 1.ª classe; 1 Medalha de Cruz de Guerra de 2.ª classe; 2 Medalhas de Cruz de Guerra de 3.ª classe; 1 Medalha de Cruz de Guerra de 4.ª classe; 1 Medalha de Serviços Distintos Prata; 4 Medalhas de Serviços Distintos Cobre; 1 Medalha de Mérito Militar de 3.ª classe; 16 Medalhas de Mérito Militar de 4.ª classe; 23 louvores individuais; 2 Premios Governador da Guiné; 5 Prémios Movimento Nacional Feminino; 2 Menções de Apreço; 4 louvores colectivos conferidos pelas seguintes Entidades: GEN Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné (2) COR de Artilharia Freitas do Amaral, CTEN FZE Gilherme Almôr de Alpoim Galvão. Algumas curiosidades que fazem parte do historial do 8º DFE 1 – 1.º Contacto com o IN, em 7 de Maio de 1969: baixas ao IN e capturada a 1.ª arma; O historial que aqui se procurou fazer, modo abreviado, do nosso DFE 8 faz justiça a um punhado de HOMENS que souberam estar sempre com orgulho e prontos nas mais diferentes e exigentes missões a que foram chamados, defendendo, com muita honra a Pátria, a Marinha e elevando bem alto os FUZILEIROS. 2 – Em 2 de Maio de 1970, o 8.º DFE, destacou para a Vila do Cacheu, com um registo de 35 acções e operações em terra, 5.700 horas em emboscadas e 119 horas em patrulhas de botes. 3. – Na Vila do Cacheu, sob o Comando Operacional do CAOP1, totalizou 11 acções e operações e 109 horas em emboscadas em botes; 4 – Em 6 de Julho de 1970, o 8.º DFE destacou para a cidade de Teixeira Pinto, ficando sob o Comando Operacional CAOP1, onde realizou, até 7 de Outubro de 1969, 10 operações e acções, 72 horas em emboscadas em botes e cerca de 156 horas de patrulhas 5 – Em 7 de Outubro de 1969, o 8.º DFE destacou para Buba, com uma breve passagem por Bissau e até 26 de Novembro realizou 6 reconhecimentos, 480 horas em patrulhas e 427 horas em emboscadas em botes; 6 – Em 26 de Novembro de 1970 destacámos para a cidade de Teixeira Pinto, onde permanecemos até 6 de Janeiro de 1971, tendo efectuado 5 acções e operações em terra, 12 horas em emboscadas e patrulhas em botes e cerca de 282 horas em protecção aos trabalhos da estrada Teixeira Pinto-Cacheu; Que o País reconheça todo o empenho, sofrimento, que os HOMENS não sejam esquecidos e que a Pátria nos abençoe. Afinal, somos os seus filhos. Para terminar é justo referenciar e dar o merecido valor à “comissão”, que sempre soube, com elevado empenho, organizar os Almoços/Convívios da “família” do 8.º DFE. Para todos os que a integraram o nosso muito obrigado. 7 – O DFE 8 sofreu as seguintes baixas em combate: 5 mortos, 6 feridos graves, 20 feridos ligeiros; Comt J. S. Batista Sócio Originário n.º 2138 8 – Muitas baixas infligidas ao IN, nem sempre identificadas; 9 – Armamento, munições e equipamento apreendido ao IN: 3 espingardas MOSIN NAGANT; 1 espingarda MAUSER; 1 carabina SIMONOV; 1 P/M PPSM; 1 M/L MG-34; 1 KALASHNIKOV; 1 P/M M-25; 2 granadas de Morteiro 60; 2 granadas RPG-2; 5 Gr/m Defensivas; 5 Gr/m Ofensivas; 2 Gr/m Defensivas montadas em armadilhas; 48 Detonadores; 3 disparadores mecânicos; 300 cartuchos impulsores de morteiro 82; 1.700 munições de armas ligeiras; 1 Base de Metralhadora pesada; etc., etc. 10 – Foram efectuadas 22 detenções em zona de operações e destruídas: 49 canoas, 35 casas de mato, duas pontes de madeira e outros, etc., etc. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 19 convívios “Escola” de 98 2 de Fevereiro de 2013 A fraternidade que se adquire nos Fuzileiros exige que, pelo meno, um convívio anual se não dispense. É pois nessa senda, que os Filhos da Escola de 98, mais uma vez estiveram reunidos para darem satisfação, ao espirito de camaradagem que, dia após dia, se foi conquistando, enquanto se dispuseram enfrentar as muitas dificuldades de que se reveste o Curso de Fuzileiro, para obtenção da boina azul ferrete. Estiveram presentes, mais de 50 elementos. E foi assim que uma vez mais, iniciámos o dia que iremos lembrar até ao próximo ano. Responderam à chamada camaradas do activo, reserva e, ainda, dois fuzileiros que muito estimamos que nos honraram com a sua presença, e que são a prova mais que provada, de terem sido como todos os presentes, infectados por uma invisível bactéria, que contagia a maioria dos que passam pelas agruras, que resultam das muitas dificuldades que a todos impõe, uma universidade, que se chama Escola de Fuzileiros. se tratasse e sem quaisquer mordomias. Sugerimos que falasse com o Parreira, por quem também referenciamos muita estima. Foi assim que, em “família, estivemos mais uma vez juntos cultivando os nossos valores, enraizando o nosso espírito de corpo e sustentando a nossa camaradagem, que é para cada um de nós importante que envelheça connosco, a exemplo dos nossos amigos Mário Manso e Parreira, cuja amizade já tem décadas. Honrámos os camaradas mortos, com um minuto de silêncio, antes de iniciarmos a refeição. Rever os camaradas desta família, que um dia, por vontade própria decidimos abraçar, é como satisfazer uma necessidade intrínseca ao bem-estar emocional do ser humano. E porque assim é, sentida e vivida, é digno de resisto a eufórica alegria que em pequenos grupos se fez sentir. Em quase todos os eles emergiam as conversas que retractavam momentos vividos, cuja intensidade, nos marcou para todo o sempre. Por iniciativa de alguns elementos, resolvemos pedir ao camarada Mário Manso que aceitasse ser o patrono da “nossa Escola”. O ilustre camarada, logo nos disse que aceitaria participar no convívio, apenas como se de um elemento da “Escola de 98” 20 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt convívios E chegada a hora de partir o bolo e por razões de ordem vária, quase metade dos camaradas já se tinham despedido, mas a sua falta, não se fez sentir no grito que todos os presentes deram, como sinal do nosso orgulho de fuzileiro. Sendo um dos organizadores, coube-me impor a disciplina que o momento seguinte exigia. O silêncio impôs-se de imediato, o que nem sempre é fácil! Nunca tantos me tiveram tanto respeito. Sentindo-me senhor da situação, solicitei aos nossos mais veteranos que nos premiassem com algumas palavras. E foi num silêncio absoluto que os camaradas Mário Manso e José Parreira preencheram os minutos que se seguiram, em que a atenção dispensada aprovava o interesse de todos, no que pelos dois camaradas foi dito. A fechar este momento muito especial, que nos transportou a uma época, em que alguns de nós, ainda saltávamos entre pernas, o amigo Parreira ofereceu-nos como sobremesa especial: um poema, “Os medronhos na serra da Arrábida”. Mais um a vez, uma prática já conhecida não faltou e todos os ainda não sócios da Associação de Fuzileiros, foram convidados, pelo nosso Mário Manso, a inscreverem-se, dispondo-se desde logo para assinar as propostas, como sócio proponente. Só unidos, jovens e veteranos faremos jus ao porquê, de porque somos diferentes! «Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre». Fernando Jorge Monteiro 1.º MAR FZ Sóc. proposto da AFZ Nota da Redacção: Com os nossos parabéns aos “Escolas 98” desejamos muita saúde para todos e propomos que, para o ano, organizem o vosso “almoço/convívio” na sede da AFZ, a vossa “Casa”, onde encontrarão com certeza, espaço, ambiente amigo e qualidade/preço adequados, às descargas das vossas saudades e nostalgias. Companhias de Fuzileiros N.º 2 Angola 1966/69 - 3 de Novembro de 2012 Angola 1970/72 - 17 de Novembro de 2012 No passado dia 3 Novembro, reuniu em almoço/convívio no Restaurante da nossa Associação, a CF N.º 2 - guarnição de Angola em 1966/69 e, no dia 17 Novembro, reuniu a CF N.º 2 - guarnição de Angola em 1970/72. Em cada um deles, estiveram presentes cerca de 40 pessoas, camaradas d’Armas e familiares. Solicita-se aos Camaradas que não têm sido contactados porque não sabemos o seu paradeiro que contactem o Sequeira (1622/65) através da Associação. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 21 corpo de fuzileiros Museu do Fuzileiro NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico O Museu do Fuzileiro está situado na Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro, Barreiro. A ideia da obra foi-se colocando no início da década de oitenta, quando após o fecho do ciclo ultramarino, uma quantidade significativa de peças-memória foi oferecida à Escola de Fuzileiros, por personalidades militares e civis, sobretudo antigos e atuais fuzileiros e para a preservação e apreciação das quais não havia espaço adequado. Após um notável e raro trabalho de restauro no piso térreo do edifício em que se encontra localizado, pondo «a descoberto os apontamentos [de alguns] dos antigos Fornos do Biscoito e as respectivas saídas de ar», por dedicação e conhecimento de alguns fuzileiros foi em 1984 inaugurada a “Sala-museu” do Fuzileiro. 22 O seu interior dá-nos uma imagem singular da sólida traça pombalina, onde domina o tijolo a cutelo e os tetos se organizam em abóbadas de “barrete” e de “berço”. Nele se encontra exposto algum do acervo que ilustra o historial dos fuzileiros. No atual itinerário do museu expõem-se ainda alguns dos bens museológicos alusivos ao fabrico do biscoito, “ração” de 400 gramas diários a que na época dos Descobrimentos cada tripulante tinha direito assim como os que garantiam serviço nas “Fortalezas do Reino”. Os fornos reais do Vale de Zebro, só entre 1505 e 1507, fabricariam 300 toneladas de biscoito por ano, tendo sido o motor da “história das navegações». Neste contexto encontra-se também aqui a muito apreciada “Sala do Biscoito” patrocinada pela Câmara Municipal do Barreiro, com objetos cerâmicos encontrados no campo arqueológico da Mata Nacional da Machada, datados dos séculos XV e XVI. Como valor simbólico e afetivo, o Museu dos Fuzileiros é local de visita obrigatória dos fuzileiros, extensiva às suas famílias e amigos, que frequentemente se reencontram nesta Escola, em datas comemorativas, para recordarem momentos transatos e manterem vivas as referências. As visitas constantes, quase diárias, são vastíssimas, como se pode constatar pelos números dos gráficos em anexo onde realça que a maioria provém de escolas e de outras instituições da área educativa, sobretudo do Concelho do Barreiro e da Área Metropolitana de Lisboa. Têm também passagem obrigatória pelo Museu do O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt corpo de fuzileiros Fuzileiro os formandos de todos os cursos que anualmente passam pela Escola de Fuzileiros, incluindo centenas de “civis”, pertencentes a instituições com as quais a Marinha tem protocolos de formação, merecendo uma particular referência os alunos do ISCTE/INDEG e os quadros superiores do BPI. O Museu do Fuzileiro está incluído nas visitas guiadas no âmbito do programa dos Itinerários Culturais da Comissão Cultural da Marinha, inseridos no Plano de Ação Cultural da Margem Sul. – Telefs: 210 927 288 / 910 410 298; – Email: [email protected]; – Fax: 211 938 542 O Museu pode ainda ser visitado virtualmente nos sítios: Aguçamos assim o interesse daqueles que porventura ainda desconhecem este Museu e uma vez que “olhos que não vêm coração que não sente”, venham senti-lo numa próxima visita. Têm ainda passado por esta tão nobre referência do Fuzileiro uma multiplicidade de investigadores, professores e estudiosos de diversas áreas do conhecimento. http://fuzileiros.marinha.pt/PT/Sala%20 Museu%20do%20Fuzileiro/Pages/ Sala%20Museu%20do%20Fuzileiro.aspx e, Lembramos que o Museu do Fuzileiro pode ser visitado diariamente, por qualquer pessoa, durante a hora de expediente, individual ou coletivamente. Poderão também fazê-lo aos fins-de-semana e feriados, desde que previamente calendarizado na Seção de Protocolo da Escola de Fuzileiros, através dos seguintes contatos: Todas estas razões levaram a equacionar uma beneficiação e remodelação dos espaços e do património do museu, cuja primeira fase terminou em 29 de julho de 2005. Uma nova fase de ampliação, abrindo mais uma ala ao Museu, foi iniciada em julho de 2006. http://www.marinha.pt/conteudos_ externos/visitas_virtuais/museufuzileiros/ entrada/e/index.html Colaboração da Escola de Fuzileiros Vale de Zebro VISITAS EM 2012* Visitantes: 3225 100 Visitas 20 15 14 13 14 500 13 300 5 2 3 428 442 400 9 10 5 600 18 5 3 N.º Visitas 1 200 500 525 399 318 215 140 100 88 70 3 0 0 ro iro rço bril aio ho lho sto bro bro bro bro e a A M Jun Ju go em utu em em er M A et z Ja ev O ov F S N De i ne Período das Visitas Visitantes 97 l o o iro iro rço bri aio nho lho sto bro bro br br A M Ju ne ere Ma Ju Ago tem utu em em z Ja ev O ov e F Se N D Visitas/Entidades = 100 24 50 50 Dias Úteis Fins-de-semana/Feriados * 41 G.Escolares 35 G.Escolares G.Escolares Visitas externas. Não se incluem os cursos internos da Escola de Fuzileiros O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 23 homenagens A Associação Nacional de Fuzileiros presta homenagem ao seu antigo Presidente, Dr. Ilídio das Neves Luís P restando homenagem ao Sócio, ao Homem e ao Dirigente damos à estampa alguns dos textos que tivemos oportunidade de elaborar e/ou registar, após o desaparecimento do nosso Sócio e antigo Dirigente: COMUNICADO FÚNEBRE Falecimento do Antigo Presidente da Direcção Nacional da Associação de Fuzileiros, Sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio das Neves Luís A Associação de Fuzileiros cumpre o doloroso dever de comunicar o falecimento do seu antigo Vice-Presidente e Presidente da Direcção Nacional, sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio das Neves Luís, ocorrido ontem, dia 19 do corrente mês de Novembro, informando que o nosso Camarada ficará em camara ardente, a partir das 17h00 horas de hoje, dia 20, na Igreja de N.ª Srª. da Assunção (Av.ª D. João I – junto ao antigo Tribunal) em Almada. Muitos sócios fuzileiros e não fuzileiros, militares, ex-militares e civis também estiveram presentes. O cortejo fúnebre partirá, amanhã, dia 21, pelas 9h30 horas para o Cemitério da sua terra natal – Ansião – Pombal – Coimbra. Um dos Vice-Presidentes, após autorização da Família, depositou a coroa de flores, colocou o Guião da AFZ, em local adequado e depositou uma Boina Azul Ferrete, com âncora, sobre a urna, ainda aberta. Pediu-se ao 2.º Vogal da Direcção Nacional, elemento que sempre foi mantendo muito próximo contacto com o nosso Ilustre Camarada Ilídio e com a sua Família, que estabelecesse as comunicações e tomasse as iniciativas que considerasse convenientes, em nome da Direcção Nacional da AFZ. A AFZ far-se-á representar por significativa delegação. A Direcção da AFZ apresenta à Família enlutada, do nosso Ilustre Camarada, os mais sentidos pêsames. Barreiro, 20 de Novembro de 2012. A Missa de Corpo Presente foi rezada pelo Capelão do Corpo de Fuzileiros, Capitão-Tenente Licínio Silva. O ACOMPANHAMENTO O Sr. Dr. Ilídio Neves Luís, por quem nos reclinamos em derradeira homenagem, era figura altamente considerada e exerceu as funções de Vice-Presidente e de Presidente da AFZ, com grande dignidade e competência, dando o melhor de si próprio à sua Associação e tendo sido também o fundador da nossa revista “O Desembarque”, então denominada boletim. A Direcção Nacional da AFZ teve conhecimento do seu falecimento na noite de 19 de Novembro p.p. e, logo na manhã do dia seguinte, ainda mal se sabiam dos pormenores das cerimónias fúnebres, publicou no seu site um comunicado e remeteu-o, via correio electrónico, a todos sócios que dispõem deste meio de comunicação; Imediatamente foram dadas instruções ao Secretariado Nacional para encomendar uma coroa de flores com a dignidade merecida e o próprio Presidente da Direcção pediu que se constituísse uma delegação para estar presente na Capela, no decurso do velório, local onde se deveria colocar o Guião da AFZ e, a mesma ou outra delegação deveria acompanhar o cortejo fúnebre, se tal fosse da vontade da Família enlutada. Imediatamente a seguir à chegada da urna à Igreja, em Almada, apresentaram-se a acompanhar a Família vários elementos dos Órgãos Sociais, designadamente: da Direcção Nacional: os dois Vice-Presidentes, o 2.º Vogal Efectivo, o 4.º Vogal Efectivo e o 1.º Vogal Suplente; da Assembleia-Geral: o 1.º Secretário da Mesa; do Conselho Fiscal: o Presidente e o Vice-Presidente. 24 Dado que o cortejo fúnebre seguia, no dia seguinte, para Ansião – Pombal, a AFZ enviou a sua viatura de nove lugares com elementos dos seus Órgãos Sociais (2.º Vogal da Direcção, 4.º Vogal e 6.º Vogal, 1.º Vogal Supl. – gente prestigiada na AFZ) na qual também viajaram o Presidente da Delegação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas e mais dois elementos desta Delegação e ainda o Capelão do Corpo de Fuzileiros. Deslocados do Norte para Ansião estiveram, também presentes, na última cerimónia fúnebre, o Presidente da Direcção da Delegação de Fuzileiros de Vila Nova de Gaia e ainda outro camarada daquela direcção. Infelizmente, por impossibilidade absoluta, que foram explicadas, à Família por um dos Vice-Presidentes, nem o Presidente da Direcção nem os dois Vice-Presidentes puderam deslocar-se a Ansião, acompanhando o cortejo que integrou, aliás, várias viaturas. A Memória do nosso Ilustre Camarada Ilídio Neves Luís foi tratada, pelos Dirigente Nacionais e Regionais, sublinhe-se, com a máxima dignidade e, sobretudo, com elevado espírito ético, e de solidariedade, camaradagem e amizade, mas também de humildade e do necessário recato, sendo que a sua imagem figurará nos escaparates de quem serviu com excepcional dedicação e alta competência a Associação de Fuzileiros. Quando o corpo desceu à terra, com autorização da Família, ouviu-se o “Grito do Fuzileiro”. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt homenagens VOTO DE PESAR A AFZ recebeu, da Assembleia Municipal de Almada, um Voto de Pesar aprovado por unanimidade, pelo falecimento do nosso antigo Presidente da Direcção, Dr. Ilídio Neves Luís. Pela iniciativa da AMA nos congratulamos, já que o Dr. Ilídio constituiu, para a nossa Instituição, motivo de particular orgulho, representando o que de melhor teve a AFZ, sendo que a sua memória continuará sempre viva e a sua obra preservada com a maior dignidade, a mesma com que o acompanhámos e à sua Família, em momentos que apenas considerámos um “até já, Caro Ilídio”. É pois com particular interesse que publicamos, na íntegra, o Voto de Pesar da Assembleia Municipal de Almada, Concelho em que o nosso malogrado Amigo residia há muitos anos. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 25 homenagens Homenagem a Rebordão de Brito Manuel dos Reis Florindo (1.º S H FZE) Sócio nº. 2074 T inha terminado o meu curso de Enfermagem Geral no HM (Hospital da Marinha) havia meses. Era espectável que em qualquer momento seria colocado em uma qualquer unidade naval. Mas, contra todas as minhas espectativa, e recebi guia de marcha para a Escola de Fuzileiros para frequentar o curso de Fuzileiros Especiais. Terminado este e com aproveitamento fui convidado a integrar o DFE 12 que mais tarde seguiria para a Guiné-Bissau em missão de soberania. Essa mítica unidade de elite que naquelas paragens tão bem soube honrar as características genuínas e guerrilheiras dos Fuzileiros Especiais, integrava um Homem com o qual já antes iniciara uma relação de amizade, alicerçada em muitas horas de convívio durante e após o curso de fuzileiros e até, em algumas delas, em minha casa. Esta amizade, este relacionamento, pautou-se sempre por uma inegável reciprocidade de respeito e senso comuns, norteando-se por uma comunhão de ideais convergentes que cimentaram um entendimento amistoso, onde imperava a consideração e respeito mútuo que haviam de se perpetuar ao longo do tempo que juntos tivemos (tive) a felicidade de partilhar antes, durante e depois da nossa missão daquela unidade militar na Guiné. Já no INAB passávamos longas horas em amena cavaqueira onde se ventilavam os assuntos mais variados, não só relacionados com o DFE12 mas também com os que se relacionavam com aspectos disciplinares do pessoal da forma como os militares se alimentavam, com o que faziam nas horas de ócio, com o seu estado sanitário, matéria para a qual eu tinha particular responsabilidade. Eram normais as conversas sobre a guerrilha na qual estávamos envolvidos, o porquê da nossa presença naquele território ultramarino, do êxito ou fracasso do nosso esforço bélico, da política local e nacional, etc. etc. Este Homem, que sempre confiou nos meus conhecimentos técnicos como Enfermeiro ao serviço do DFE12 (Obrigado Comandante Rebordão de Brito) senhor de um espírito fortemente solidário, abnegado, criterioso, de profunda sensibilidade humana, foi sempre visto pela comunidade militar do DFE12 e não só, como um ídolo, um mentor, um estratega, com uma visão subtil e discernida no T.O. (teatro 26 operacional) interagindo de uma forma peculiar com a “maralha” que sempre, mas sempre, o acompanhava sem hesitar na preparação e execução dos “golpes de mão”, quaisquer que fossem os obectivos traçados e os riscos previsíveis daí resultantes. Terminada a comissão de serviço o DFE12 regresso a Lisboa mas, logo aseguir, por opção pessoal regresso à Guiné na Companhia N.º 11 de Fuzileiros. Dois anos depois passo a integrar o serviço de saúde do CDMG. Meses mais tarde, por exigências estratégicas do CDMG sou enviado para Bolama. Tive aí a sorte de encontrar novamente o Comt Rebordão de Brito. Foi mais uma oportunidade para podermos dissecar temas já nossos conhecidos, acrescidos agora de situações militares e pessoais diferentes que culminaria com a entrega do espólio das existências de material bélico, infraestruturas e material de saúde aos militares do PAIGC. Mais uma vez constato que aquele Homem mantinha integro o carácter que conheci nos primeiros dias do curso de fuzileiros mantendo incólume a sua personalidade e atitude cívica, nunca ostentando os “galões” para a resolução de quaisquer problemas disciplinares inerentes à sua condição de Comandante mas, nunca se inibindo de imprimir no seu discurso, a sua posição de oficial competente e responsável pela defesa e condução dos militares ali instalados. Aquando do regresso definitivo à Metrópole os nossos contactos pessoais diminuíram drasticamente. De quando em quando, num encontro casual ou nos tradicionais almoços anuais do DFE12 era pretexto para longos minutos de conversa, rememorando-se episódios e factos vividos e sofridos, naquela terra distante onde tantos homens derramaram sangue suor e lágrimas e outros, infelizmente, perderam a vida. Um dia... Inesperadamente ou talvez não, soube que o Comandante dera entrada no HM por patologia clínica desfavorável complicando-se o seu estado de saúde. Com prognóstico bastante reservado fiquei com a nítida sensação de que a evolução da sua doença iria progressiva e vertiginosamente diminuir a sua presença entre nós. Fui visitá-lo várias vezes ao HM e sempre que o abraçava para me despedir tinha a noção de que não era viável voltar a fazê-lo muitas mais vezes. Apesar de todo o seu optimismo contagiante, era evidente que a oportunidade de disfrutar da sua companhia estava cada vez mais comprometida. O fatídico desenlace era, infelizmente, previsível. Volvidos anos após a sua morte, não quero deixar de prestar publicamente a minha sincera homenagem de gratidão e respeito para com este Homem que moldou subtilmente o meu ego, impregnando-o de uma maior clarividência nas formas e conteúdos de como se deve estar e viver na vida. A forma como fui recebido e tratado no seio dos fuzileiros Especiais do DFE12 com especial relevância para o Comandante Rebordão de Brito, foi e será sempre um traço indelével na minha conduta como homem, militar e, com muito orgulho, como FUZILEIRO. Obrigado comandante por ter permitido partilhar consigo tantos momentos de sã camaradagem militar, pessoal e familiar. Paz à sua alma... O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt entrevista Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias NOTA: Entrevista conduzida pelos Vice-Presidentes da AFZ Cardoso Moniz e Marques Pinto e conversão para texto escrito de Maria Cecília e Marques Pinto O Almirante Nuno Vieira Matias é o Socio Originário, n.º 1590, da Associação Nacional de Fuzileiros, tendo sido distinguido pela respectiva Assembleia-Geral, com a designação honorífica de Sócio Honorário. Atingiu o posto de Almirante, o mais alto da carreira da Marinha de Guerra Portuguesa e, simultaneamente, o cargo máximo da Marinha, de Chefe do Estado-Maior da Armada, funções que exerceu entre 1997 e 2002. O Almirante Vieira Matias concluiu a sua licenciatura na Escola Naval em 1961, tendo-se oferecido como voluntário para embarcar na então Fragata “Vasco da Gama” para uma comissão de serviço em Angola (1961/1963). Especializou-se em artilharia e em fuzileiro, tendo combatido na Guiné, como Comandante do Destacamento N.º 13 de Fuzileiros Especiais (1968/1970). Desempenhou sucessivamente as seguintes funções: Professor da Escola Naval em acuO Almirante Vieira Matias enquanto CEMA mulação com Director do Laboratório de Explosivos, comandante da Força de Fuzileiros do Continente (1976/1978), Capitão dos Portos de Portimão e de Lagos, Comandante do N.R.P. “João Belo”, Chefe de Divisão do Estado-Maior da Armada e Professor do Instituto Superior Naval de Guerra. Além da sua formação em Escolas Nacionais frequentou, em países NATO, uma dezena de cursos de que se destaca o “Naval Command College” nos EUA (1988/89). Nos postos de Almirante desempenhou ainda os seguintes cargos: Subchefe do Estado-Maior da Armada, Superintendente dos Serviços de Material, Comandante Naval em acumulação com o cargo NATO “Comander-in-Chief Iberian Atlantic Área” (1995-1997). Depois de desligado do serviço (2002) foi membro da Comissão Estratégica dos Oceanos e do “European Security Research Advisory Board” da Comissão Europeia e é: Presidente da Academia de Marinha, Vice-Presidente da Direcção da Sociedade de Geografia de Lisboa, Membro efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, membro de Mérito da Academia Portuguesa da História e do Conselho de Honra do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Presidente do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes e Membro do Conselho Nacional de Educação, em representação da ACL e Professor Convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. É, ainda, autor de diversos trabalhos e artigos sobre estratégia marítima, segurança nacional e economia do mar. Foi agraciado com 16 condecorações nacionais (incluindo a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e a Grã-Cruz de Aviz) e com 10 condecorações estrangeiras (Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França e Itália). De personalidade serena, de extrema simplicidade, mas de arguta inteligência, homem de cultura que conjuga um pragmatismo executivo notável com um inato perfil de liderança, o Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias é do melhor que já teve e têm, a Marinha de Guerra, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal. Tê-lo como consócio, entrevistado da revista “O Desembarque” e como camarada de armas é subida honra para a Instituição que ora servimos e para quem teve a dita de o entrevistar. Marques Pinto (MP): O que levou o Sr. Almirante a optar pela Marinha de Guerra? Foi por tradição familiar? Por vocação? Faça-nos, por favor, um pouco da sua história de vida, até ingressar na Escola Naval. Almirante Vieira Matias (VM): É como muito gosto que falo para a revista da Associação de Fuzileiros – a nossa Associação – e começo por dizer que conheci o Mar, que vi o Mar pela primeira vez com os meus 3 anos, na Nazaré. E não gostei, provavelmente porque a areia me entrava pelas sandálias… Mais tarde, o meu Pai que era funcionário público foi colocado em Portimão. Eu tinha 11 anos e então o Mar foi para mim uma revelação extraordinária. O porto de Portimão tinha um enorme movimento de embarcações e tudo aquilo foi um verdadeiro paraíso que se me abriu. Aprendi a nadar nesse Verão e, em Outubro, estava inscrito na Vela da Mocidade Portuguesa, onde comecei a aprender a “arte de velejar”. Gostei imenso da Vela. Gostava sobretudo daquelas saídas de Portimão. Ir para o Mar, passar pelo meio das pedras do molhe, limpar a embarcação era para mim de um supremo bem-estar e, adolescente que era, constituiria também um desafio. É curioso que não gostava das regatas: a competição e até uma certa confusão retiravam à vela – pensava eu – a serenidade do Mar… Mas, a certa altura disseram-me que iria disputar-se um Campeonato Nacional, em Lisboa, cidade capital que eu não conhecia e que, quem ganhasse as regatas, em Portimão, seria selecionado para ir a Lisboa. Percebi, então, que era altura de me aplicar. Fiz as regatas e vim a Lisboa. Foi quando o “bicho” do Mar tomou conta de mim. Conhecer as embarcações e tentar perceber o que seria a vida do mar despertou-me especial encanto. A somar às minhas motivações, o facto de o meu Pai ter sido uma pessoa extremamente culta, gostando muito de ler a História. Nos fins-de-semana – não havia televisão nessa época em casa – liam-se os cronistas e, por vezes, o Pai punha-me a ouvi-lo ler o Zurara ou as viagens de Fernão de Magalhães, de Stefan Zweig. Enfim, tudo isso “ia entrando em mim” como uma ideia de hipótese de grande satisfação de vida. E foi assim que – embora tendo outras opções pelas notas que tinha no Liceu e tendo pensado mesmo em medicina e engenharia – decidi concorrer à Escola do Exército, para fazer os preparatórios, e poder ingressar na Escola Naval. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 27 entrevista Cardoso Moniz (CM): Então, és natural de Leiria? VM: Não, de Porto de Mós… Sou da terra de um Almirante da lenda da Praia do Sítio, D. Fuas Roupinho. Mas, continuando: fiz o primeiro ano dos preparatórios na Escola do Exército, concorri (com imensos concorrentes) à Escola Naval, mas fui apurado porque só tinha 19 anos, era dos mais novos, e as notas também eram boas. CM: Eu estava a tentar perceber como é que tu foste da Nazaré para Portimão sem passar por Lisboa. VM: Como já disse, o meu Pai era funcionário público e naquele tempo os funcionários do Estado tinham mobilidade, por várias razões e quase sempre quando eram promovidos. De facto, não passei por Lisboa. Só vim a Lisboa, pela primeira vez, às regatas da Mocidade Portuguesa. CM: Então, ficaste apurado… Em operação na Guiné, Rio Cacheu - Concolim - 16/08/1968 VM: Exactamente. Fiquei apurado. Vim às regatas e depois entrei para a Escola Naval (1958). Como já tenho, algumas vezes, referido a Marinha já nessa altura estaria a prever ou tinha mesmo previsto que poderia haver problemas nos nossos territórios ultramarinos, porque as independências dos territórios africanos (ingleses, belgas, franceses) estavam a ocorrer a um ritmo impressionante, em zonas de fronteira com os territórios portugueses. Isto para dizer que entrei para a Escola Naval com o 1.º Curso da Reserva Naval, que integrava uma reforma da Marinha que considero brilhante e que previa aumentar os efectivos, com gente especializada com formação superior, ao nível de oficiais, recrutados do serviço militar obrigatório. É também deste ano (1958) a proposta do Estado-Maior da Armada para que fossem formados fuzileiros, uma espécie de organização de comandos, semelhante aos “marines” da Royal Navy, mandando especializar como monitores/formadores em Inglaterra, os primeiros 4 elementos que, depois viriam a ser instrutores dos cursos de fuzileiros: um Oficial (Pascoal Rodrigues) e quatro praças, das quais ainda vive o célebre (ora sargento reformado) Santos Silva o “Piçarra”. Resumindo: foi esta perspectiva, esta previsão de grande alcance que considero brilhante na Marinha dessa época. A tudo isto juntou-se a aquisição de navios para a tradicional Marinha (missões em África, da NATO e de soberania, no nosso território, aqui, na Europa)… MP: E portanto é assim, Sr. Almirante, que depois de promovido a Guarda-Marinha o seu percurso decorre nos navios, até que foi chamado a frequentar o Curso de Fuzileiros. VM: Exactamente. Quando começa o terrorismo, em Março de 1961, em Angola (sim, porque aquilo foi um verdadeiro terrorismo, uma selvajaria) eu estava quase no fim do curso da Escola Naval. Então a Marinha antecipou-nos o final do curso e mandou-nos, imediatamente em viagem de instrução de guardas-marinhas, na então Fragata “Pêro Escobar” (navio que ficou conhecido como “Gina Lollobrigida” pela beleza das suas linhas). Chegados a Angola, o navio foi integrado no dispositivo naval de contra penetração, de apoio às operações em terra e de apoio logístico. Acabado o tempo de instrução, fomos mandados regressar a Lisboa de avião. Logo que me apresentei na Direcção do Serviço de Pessoal ofereci-me como voluntário para qualquer comissão de serviço em Angola. MP: Como Fuzileiro? VM: Não, ainda como Oficial da Classe de Marinha. Tinha ficado tão impressionado com o que se tinha passado em Angola, que me ofereci imediatamente para voltar. Quinze dias depois, estava a sair a barra como Oficial de Navegação da Fragata “Vasco da Gama” que, entretanto, tinha chegado de Inglaterra. Desempenhei as funções de Oficial de Navegação e Chefe do Serviço de Informações de Combate. Cheguei novamente a Angola, em Dezembro de 1961. Dois dias antes de chegar a Luanda, a 18 de Dezembro, ocorreu a invasão da Índia, o que nos marcou profundamente, para toda a vida. Cumpri, pois, a comissão em Angola de dois anos, (1961/63) tendo desembarcado por 3 vezes, para patrulha do rio Chiloango, em Cabinda, por períodos de dez dias, onde pela primeira vez tive oportunidade de comandar Fuzileiros, embarcado nas lanchas “Lué Grande e “Lué Pequeno” e também em botes. A primeira vez que desembarquei, foi só com pessoal do navio, da segunda e da terceira já levei uma secção de Fuzileiros. Foi, por assim dizer, o meu primeiro contacto com os fuzileiros, fuzileiros que tinham sido formados há pouco tempo, que eram constantemente solicitados e que estavam em fase de adaptação àquele conjunto diversificado de missões, com exigências muito grandes, talvez excessivas, pelas condições adversas onde tinham de actuar. No âmbito da estratégia da Marinha, ao nível da contenção, e da contra penetração, nos rios e no mar, os fuzileiros eram também necessários para operações em terra. A minha percepção foi que talvez tivessem nessa altura (embora como oficial muito jovem) exigências excessivas. Mas, mesmo assim, os fuzileiros cumpriram e desempenharam muito bem as suas missões. Vestido de mandinga - Bissau 28 Terminada a comissão de serviço, não tive direito a férias. Cheguei no navio a Lisboa, e dois ou três dias depois fui mandado frequentar o curso de especialização em artilharia que já estava a decorrer. Para me casar tive que aproveitar, no período de Natal, O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt entrevista o intervalo entre duas divisões de serviço diário no Grupo N.º 2 de Escolas da Armada. Terminado o curso fui servir na Direcção dos Serviços de Material de Guerra e Tiro Naval, onde fiquei quase três anos, tendo sido, a partir de certa altura, inscrito numa lista de indisponíveis para ir para África, face à importância que era dada à Secção que eu chefiava, de munições de artilharia e de armamento portátil. Só que, a determinada altura, havia necessidade de oficiais de Marinha para o curso de fuzileiros especiais e… deixei de ser indispensável. CM: Mobilizaram-te … VM: Exactamente. Em 1967, fui tirar o curso de Fuzileiro Especial, com as dificuldades próprias de quem estava há três anos em lugar de secretária. Tive, porém, a noção de que tinha de me empenhar ao máximo, já que o que estaria em causa era a segurança dos homens que eu fosse comandar e a minha própria segurança. No fim do curso fui escolhido para ir comandar o Destacamento N.º 13 de Fuzileiros Especiais, para a Guiné. E lá estivemos durante dois anos (Abril de 1968/ Fevereiro de 1970). MP: Diga-nos alguma coisa sobre o comando do seu DFE. E conte-nos o que foi a sua Comissão de Serviço na Guiné. Como viu a guerra do Ultramar ao tempo e como a vê hoje, à distância de mais de trinta anos? VM: Sim, senhor. Eu tenho uma visão, que venho comunicando em várias conferências, em estudos superiores militares, em actividade civil, etc. Começando pelo aspecto mais geral: a África Portuguesa era muito cobiçada e aquilo a que chamam os “ventos da história”, não eram ventos da história. Eram “ventos da cobiça”. África era cobiçada pelas grandes potências: Estados Unidos de um lado, União Soviética do outro, para falar só de duas. Em Angola, por exemplo, a guerrilha começou sob influência dos Estados Unidos. A sua Igreja Baptista tinha particular influência na UPA, (União dos Povos de Angola) o movimento que lançou o terror em Angola, a partir de 1961. Alguns dos nossos territórios ultramarinos eram muito ricos, pelo que não ficaram imunes ao movimento de cobiça dos países que tinham sido colonizadores ou ditos “colonizadores” e também de outros que o não tinham sido, mas com claras apetências para essa área do Mundo. O que se gerou foi um movimento no sentido de dar a independência ou promover a independência desses territórios, atribuindo-se aos povos locais a responsabilidade de se governarem, mas continuando, os países promotores a ter a possibilidade da exploração das suas matérias-primas. Houve um grande cinismo da comunidade internacional. Pretendeu-se obter o melhor de dois Guiné, no Rio Buba - Dezembro de 1969 mundos, isto é, apoiavam, promoviam as independências, mas continuavam a obter as mais valias da economia… e, depois “eles” que se governassem . Não tinham responsabilidades de governação, de apoiar o povo, mas iam tirar partido das mais valias desses territórios. Foi um pouco o que aconteceu. E eu já o disse a oficiais superiores africanos que, numa conferência, levantaram o dedo e referiram: - “O Sr. Almirante está cheio de razão”. MP: Passemos ao seu percurso no seu Destacamento de Fuzileiros, na Guiné. E depois? Como foi a sua vida? Um homem que, inicialmente não tinha como projecto ir para os fuzileiros e que se vê de repente, a comandar 75 homens, numas condições como eram as da Guiné… Como encarou tudo isso? VM: A questão é importante. Vi “tudo isso” como vi tudo na minha carreira. Era uma imposição de serviço. Eu estava na Marinha para servir e portanto teria que servir o melhor que pudesse e soubesse. E por isso, da mesma forma como assumi outras funções empenhei-me, também, no comando da actividade do meu Destacamento até ao limite das minhas capacidades, apesar das difíceis condições operacionais, logísticas e humanas em que nos encontramos a maior parte do tempo. Claramente, o Comando da Defesa Marítima da Guiné não estava preparado para apoiar os DFE’s fora da base, em Bissau, e nem sempre fez o esforço necessário para se adaptar. Havia até quem pensasse que para os Fuzileiros qualquer coisa servia!!! Mas assumi a missão com toda a energia, procurando mesmo suprir lacunas, lançando mão da enorme capacidade de adaptação e da sagacidade do nosso pessoal. Se não nos apoiavam com “intelligence” nós tratávamos disso na zona, se não nos mandavam alimentação, nós caçávamos ou pescávamos à granada, etc . Na verdade a comissão de serviço na Guiné teve duas fases: numa primeira, muito curta, tínhamos base em Bissau, com instalações muito bem estruturadas e organizadas, na sequência do emprego operacional dos Fuzileiros que estava a ser feito, desde há anos. CM: Ainda lá estava o Ferrer? VM: Já não estava. Teria saído havia relativamente pouco tempo. Portanto, como estava a dizer, nessa primeira fase saíamos nas lanchas – e também aconteceu algumas vezes, sairmos de helicóptero, em operações helitransportadas – mas, sobretudo, saíamos nas lanchas para vários locais. Também fazíamos operações de vigilância e contra penetração, destacando Secções ou partes dos Grupos de Combate do Destacamento para os rios, como Mansoa, Cacheu, Grande de Buba, etc Apenas como exemplo, refiro que, nas vésperas do Natal de 1968, tivemos de ocupar uma ilha, durante dois dias, de onde os morteiros 82, russos, podiam atingir o aeroporto de Bissau como, aliás, tinha acontecido no Natal de 1967. Com a chegada do General Spínola, desenha-se uma segunda fase fruto de ele ter tido, na minha perspectiva, uma boa visão estratégica do conflito. É que a guerrilha não se alimenta exclusivamente da população, contrariamente ao pensamento de Mao-tse-tung que pretendia ensinar que “a população está para o guerrilheiro como a água está para o peixe”. Isso é parcialmente verdade. A água dá oxigénio ao peixe. A população dá comida aos guerrilheiros mas não lhe dá munições nem armamento. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 29 entrevista Percebeu-se então – com base nas nossas informações – onde se situavam os corredores de infiltração: um no Norte, a partir do Senegal, sobretudo pela península de Sambuiá, e outro no Sul. O Comando-Chefe atribuiu à Marinha uma zona de operações em permanência no Norte, no rio Cacheu. Aqui, a nossa Marinha desenhou uma excelente operação que foi a “Via Láctea” que demorou meses, com pessoal no terreno, e no rio, 24 horas sobre 24 horas, com lanchas dos vários tipos e com fuzileiros emboscados em botes e com pontuadas nas margens. Ora, durante esse tempo, a penetração de armamento foi reduzida de tal maneira que a flagelação dos quartéis, do lado Sul do Cacheu, que era da ordem das 60 a 70 vezes por mês, passou para 3, 4, ou pouco mais, exactamente porque a guerrilha não tinha munições nem renovação de armamento. Só que, como não havia meios para permanecer naqueles locais, tendo a base em Bissau, mandaram-nos instalar em Ganturé. Ficámos em péssimas condições. Os primeiros DFE’s a iniciar tal prática foram o 12 (Cte Pedrosa) e o 13 (o meu) aproveitando 3 barracões em ruínas que tinham servido para armazenar mancarra (amendoim), junto ao rio e aos campos de arroz, as bolanhas. Nem sequer levámos mosquiteiros…! É interessante relembrar a imagem de um camarada nosso da Marinha que escreveu – referindo-se ao tempo em que tinha permanecido num sítio semelhante – que “os mosquitos eram tantos que deitava-se a mão ao ar, espremia-se e escorria sangue”. CM: Uma pergunta que vem na sequência da minha experiência em Angola. Junto à fronteira nos locais de penetração, seria possível fazer patrulhamento com viaturas de tracção às quatro rodas, a corta mato? VM: Não. O terreno da Guiné é extremamente ensopado, cortado por inúmeras linhas de água. E os rios que correm no sentido Norte/Sul têm nas margens, quantidades brutais de “mangal” selvagem, aquele mangal densíssimo, só penetrável por forças anfíbias muito bem preparadas, no fundo, pelos Fuzileiros. Quando acaba o “mangal” não começa abruptamente a mata, isto é, há a “bolanha” de permeio até à mata encharcada. Trata-se de terrenos quase impossíveis de serem trilhados por quaisquer viaturas. A maior eficácia era conseguida pela patrulha dos rios com lanchas e botes dos Fuzileiros e pela acção destes também em terra, com aconteceu na longa operação “Via Láctea”. A propósito: em consequência dos resultados que se obtiveram, entretanto, o General Spínola mandou 3 ou 4 companhias do exército entrarem na península de Sambuiá limitada a Sul pelo Cacheu, e no sentido Norte/Sul pelos rios Talicó e Sambuiá. A coisa não correu bem. Uma companhia teve uns mortos, outras não conseguiram entrar nos rios e, então, o General Spínola deu ordens (de uma quinta-feira para segunda-feira) que avançassem os fuzileiros. Foi o DFE 12, do Pedrosa e fui eu (DFE 13). Levámos cada um só meio Destacamento, ficando os outros meios em “stand-by”, nos rios para desembarcarem, em manobra, onde fosse necessário. Fomos, penetrámos e tivemos sucesso. Eu trouxe cerca de 20 prisioneiros e algumas armas. Apenas depois de capturados esses prisioneiros, se veio a saber da existência de arrecadações, depósitos de armamento que os guerrilheiros traziam em colunas do Senegal e que, naquela altura, deveriam estar a chegar ao Cacheu. Com Oficiais e cadetes na EFZ Presumo que os guerrilheiros e as suas chefias pensassem que nós não teríamos a persistência suficiente para continuar no terreno em condições extremamente hostis. De facto, lanchas e fuzileiros permanecemos nos locais de emboscada e de patrulha 24 horas por dia fazendo abortar as tentativas de “cambança” do IN, ou interceptando mesmo as travessias do Cacheu. Depois, acabei por fazer uma operação helitransportada sobre a Península do Sambuiá, próximo do Senegal com apenas 30 homens. Foi a operação “Grande Colheita”. Apanhámos cerca de 200 armas entre ligeiras e pesadas e 150.000 munições. Para recuperar o armamento, conduzindo-o para Bigene, foram empregues cinco helicópteros que andaram uma tarde inteira a carregar e descarregar armamento. Foi uma operação para que me ofereci directamente ao General Spínola, quando ele foi a Bigene indagar como tinha corrido uma operação do Comando Operacional 3 nessa zona, mas sem grandes resultados. Pretendia mandar lá Paraquedistas, mas eu apesar de ter chegado do mato horas antes fiz prssão para ir lá com os meus Fuzileiros. Aceitou, mas que fosse só uma vaga de helicópteros com 30 homens! Preparei o meu grupo para essa emergência e determinei que se levasse o máximo de munições, que ninguém levasse água (eram só uma horas. Eu próprio levava uma ou duas granadas de bazooka. Fizemos essa apreensão, e cheguei ao fim do dia para reembarcar e dizem-me: “Não, fica para o dia seguinte.” Fiquei no mato para o dia seguinte, próximo do Senegal, com cerca de 30 homens, onde eles tinham umas centenas largas de guerrilheiros. E o General Spínola (pelo piloto do helicóptero da última vaga que levou o material) manda-me dizer para ficar ali, no sítio onde eu estava e que, num raio de 3 quilómetros iria mandar fazer fogo de artilharia batendo o terreno desde o ponto onde eu estava, de noite. E eu disse ao piloto: “Diga ao Sr. General que eu não quero fogo de artilharia (eu sabia como era… sou artilheiro) e que não vou ficar aqui “. Assinalei na carta do piloto o local (eu já tinha identificado aquilo, segundo a boa táctica de fuzileiro). Então, eu que tinha estado ali um dia inteiro …toda a “gente” (os guerrilheiros) sabia… Era óbvio que caíam em cima de nós – ainda por cima, numa zona junto ao rio, com terreno aberto de lado –aquilo seria um morticínio completo, era um massacre, se ficasse lá. De facto, tive a coragem de dizer: “Diga ao Sr. General que eu não fico aqui”. E disse ao piloto onde iria ficar. CM: E nessa noite bombardearam-te ou não? VM: Fizeram fogo de morteiros e Foram lá. E eu fiquei na mata, num sítio que tinha identificado, segundo a boa táctica que aprendemos na Escola de Fuzileiros, à noite e tudo caladinho. E fiz outra coisa: mandei retirar as pilhas todas aos rádios, para o pessoal não ter a tentação de comunicar. Do outro lado da fronteira havia cubanos e guerrilheiros que nos poderiam detectar. No dia seguinte continuei, por ali acima, numa operação típica dos fuzileiros. 30 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt entrevista MP: À distância de mais de 30 anos como vê a situação de Portugal e esta guerra que nós fizemos? VM: Foi uma guerra que demonstrou aquilo que de melhor os portugueses têm que é capacidade enorme de sacrifício, uma capacidade de ultrapassar dificuldades inopinadas e por vezes muito grandes. Foi aquilo que o português sempre demonstrou ao longo da história. Demonstrou também outra coisa: a capacidade de nos relacionarmos com povos distantes e diferentes e a nossa capacidade de aceitar a diferença e isso às vezes é muito esquecido. MP: Nessa medida, terá valido a pena… Imposição de distintivo pelo Comt Bacharel na EFZ VM: Valeu a pena com certeza. Demonstrámos que não eram os outros a determinar aquilo que devíamos fazer. Tínhamos independência no País e tínhamos independência nas nossas linhas de acção e na nossa vontade. Tivemos sempre essa determinação ao longo da história. Foi uma lição a tirar para o presente. MP: Depois da Guiné… VM: Depois da Guiné, cheguei a Portugal e também não tive direito a licença. (risos e umas gargalhadas) Mandaram-me imediatamente para a Escola Naval, para professor de artilharia onde até já tinha pontos para ver. Enfim… E aí fiquei, durante cinco anos e tal, a leccionar a disciplina de artilharia acumulando com o cargo de Director do Laboratório de Explosivos. Entretanto dá-se o “25 de Abril”, há o período do “PREC” e depois do “25 de Novembro” sou chamado ao CEMA para ir comandar a Força de Fuzileiros do Continente. Disse ao CEMA: “Mas eu sou Capitão-Tenente e o comando da “Força” é de Capitão de Mar-e-Guerra. E o que eu gostava era de ir embarcar”. E o CEMA disse-me: “pois é mas, depois, no fim, talvez lhe arranje uma Fragata”. E estive dois anos como comandante da FFC, entretanto promovido a Capitão-de-Fragata. Tive oportunidade de trabalhar com o Comandante do Corpo de Fuzileiros e com os outros Oficiais naquilo que estávamos a perceber tinha de ser a nova a reorientação da actividade dos fuzileiros e uma nova orgânica, de batalhões, companhias, unidades de apoio de desembarque etc., uma nova estrutura visando as missões que fossem necessárias para os fuzileiros. Começámos inclusivamente a fazer exercícios, primeiro ao nível de companhia, e depois, ao nível de batalhão. Foi mais simples do que eu pensava, face ao período de agitação política que íamos vivendo. Conseguimos, de certa forma, estabilização e eliminar a política da área militar dos fuzileiros. Planeámos um grande exercício que foi o “Albatroz”, realizado em Sagres. Houve uma grande adesão da Força Aérea Portuguesa e do Comando Naval. Fez-se uma verdadeira operação anfíbia, onde esteve o então Presidente da República, General Ramalho Eanes, a assistir aos desembarques. Estivemos lá durante quinze dias, nos exercícios preparatórios. O Comando Naval aplicou as regras das operações anfíbias da NATO. Tentámos, pois, uma reorientação dos fuzileiros, em termos operacionais e mesmo de mentalidades e começámos, também, a pedir a reformulação de equipamento. Fiz dois anos de comissão na “Força” e depois “disse que era altura dos Oficiais da Classe de Fuzileiros” assumirem. E fui substituído pelo Oliveira Monteiro. (Não me deram o comando de nenhuma fragata, “porque ainda era muito novo”, mas não o tinha sido para ocupar um cargo de capitão-de mar-e-guerra sendo capitão-tenente!) MP: - E dali até ao seu cargo de Chefe do Estado-Maior? VM: Tive a oportunidade de continuar a acompanhar a evolução dos fuzileiros e tanto quanto possível de a motivar, como foi o caso de quando fui Subchefe do Estado-Maior da Armada, Comandante Naval ou Subintendente dos Serviços do Material. A compreensão que tinha dos fuzileiros ajudou-me a incentivar o seu reequipamento, a evolução do treino e a frequência de alguns cursos no estrangeiro com outras forças congéneres. Como Chefe do Estado-Maior tive duas preocupações enormes: o reequipamento dos fuzileiros com a Lei de Programação Militar e a sua inserção em forças expedicionárias no estrangeiro. Que me lembre, tivemos, simultaneamente, fuzileiros nos Balcãs, em Timor (tive a oportunidade de os visitar) e até em Moçambique, em apoio humanitário às cheias, e fuzileiros integrados numa força que teve um papel notável na Guiné, no conflito entre Nino Vieira e Assumane Mané, em 1998. A propósito deste conflito ocorre-me dizer que mandei, então, preparar uma força da Armada para sair. Assumi porque o poder político, da altura, não estava sensibilizado para essas “danças” (risos) mas eu, pelas informações que ia tendo, achei que devia preparar uma força com o navio o “Bérrio”, uma Fragata da classse “Vasco da Gama”, duas Corvetas, helicópteros e uma força de fuzileiros e mandei-a sair para o mar. Quando fui questionado sobre porque tinha mandado sair a força, respondi que tinha decidido mandá-la para exercícios, decisão que era da competência do CEMA. “Se decidirem que ela deve ir para a Guiné, ela já lá estará perto” (risos). Mas tive de apanhar o Primeiro-Ministro Guterres numa cerimónia, nos Jerónimos, e disse-lhe que aquilo podia ser um morticínio de portugueses a viverem, na Guiné, assim como de muitos estrangeiros, se não procedêssemos à sua exfiltração. MP: Os Fuzileiros também andaram pela ponte de Entre-os-Rios e ouviu-se falar num sonar “de varrimento” lateral que teria sido mandado vir do estrangeiro… VM: Nós tomámos essa iniciativa. Mas já agora, aqui vai essa história da tragédia da ponte de Entre-os-Rios: Eu estava no Porto, numa reunião dos Chefes Militares portugueses com os Chefes espanhóis, e lembra-me de ter visto o rio Douro com uma corrente brutal. Ao fim da tarde, vim de avião para Lisboa e às três da manhã sou acordado porque tinha havido um desastre enorme em Entre-os-Rios. Mandei aprontar imediatamente fuzileiros com botes para seguirem lá para cima e mandei accionar vários meios, designadamente, do Instituto Hidrográfico e mergulhadores, mesmo antes de haver orientação politica. Estivemos lá O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 31 entrevista muito tempo, como é conhecido, e a certa altura depois do Instituto Hidrográfico analisar a situação, verificou-se que ao fundo do rio, faltavam 15 metros, isto é, tinham sido levados 15 metros de areia, que descalçaram os pilares da ponte… Concluímos então que era necessário ter um sonar lateral, para encontrar os automóveis e o autocarro que tinham caído ao rio, porque a água era impenetrável, barrenta, cheia de detritos e com uma corrente da ordem dos 10 quilómetros hora, o que inviabilizava o mergulho autónomo. A solução era “arranjar” um sonar lateral para fazer essa pesquisa. Soube que havia um na Escócia e conseguimos que, de um dia para o outro, ele chegasse a Portugal, alugado. Depois, a Marinha até teve de pagar o IVA do seu orçamento… (risos). Os fuzileiros fizeram um trabalho notável, de resto reconhecido pela própria população e até houve um grupo de Senhoras que se organizou para lhes arranjar refeições quentes. Não parava de chover e os fuzileiros, com a sua experiência, lá conseguiram não parar com as buscas. Houve bombeiros que tentaram ajudar porque a “Protecção Civil” também queria aparecer na televisão e, a certa altura, houve até um incidente infeliz, que não teve consequências, com um bote dos Bombeiros que se virou e os fuzileiros ainda tiveram que andar a “pescar” Bombeiros lá pelo meio. Houve uma fase de pressão da Comunicação Social, mas nós conseguimos controlar a situação. Tive até um telefonema do Embaixador americano que me perguntava como é que nós conseguíamos coordenar tão bem aquelas operações e relação com a comunicação social. Eu tinha um Oficial para cada televisão que falava directamente comigo e o então Comandante (hoje Almirante) Ezequiel falava, também directamente comigo para não haver equívocos. Até que um dia, de manhã, já tínhamos levantado oito ou nove automóveis, faltava o autocarro, sou confrontado com o “Diário de Notícias” com um título, perfeitamente caricato, a toda a largura da capa: “Marinha só tem andado a gastar tempo e dinheiro”. Um Senhor professor “não sei quantos” do Instituto Superior Técnico dizia que, pelas contas que fez, o autocarro estava a meia dúzia de quilómetros do local. Eu não pude dizer nada porque não tínhamos encontrado o autocarro mas, pela nossa análise, com referência aos pontos onde os automóveis tinham estado, tudo apontava para que o autocarro estivesse próximo. Não se via nada lá debaixo, era preciso fundear poitas com umas toneladas de cimento para os mergulhadores estarem agarrados, para não serem levados pela corrente e só tacteando é que se conseguia detectar alguma coisa. Um dia depois, encontrámos o autocarro, a cerca de 40 metros dos pontos onde tínhamos estado a pesquisar. Então, nessa altura, telefonei para o Sr. Director do “Diário de Notícias”, o Sr. Dr Bettencourt Resende (já falecido - tenho a melhor das memórias dele) que conhecia muito bem e disse-lhe: “Então qual vai ser a capa amanhã? Porventura que o Sr. professor “tal” é uma besta”. E dizia-me ele: “Oh, Sr. Almirante não pode ser…” (risos). O Dr. Resende arranjou-me depois uma entrevista, na televisão, de 25 minutos. MP: Tudo isto me faz presumir que na sua brilhante carreira terá sido determinante a passagem pelos fuzileiros. VM: Eu acho que foi uma experiência única, uma experiência notável e usava-a, muitas vezes, para dizer que toda a Marinha Com Brazão e Metello de Nápoles na EFZ precisava de ter uma “coisa” que os fuzileiros tinham: o brio e a vontade de bem cumprir, um brio inabalável. Faltava-lhes, nessa altura, a componente tecnológica. Procurei sempre fazer sentir à outra parte da Marinha esse brio, essa vontade de bem cumprir e a determinação dos fuzileiros. O que lhes faltava era, de facto, o equipamento adequado para que eles sejam bem empregues nas forças expedicionárias. E, hoje, é com muita pena que vejo que raras vezes os fuzileiros são empregues no exterior. MP: Bom. Sabemos que “isto de ser reformado dá muito trabalho”. Já ouvi alguém dizer isto …(risos). Quer dizer-nos que trabalho é esse, Sr. Almirante? VM: Como sabe sou aqui Presidente da Academia de Marinha, o que me dá algum trabalho; sou Membro da Academia das Ciências, sou membro da Academia Portuguesa da História, da Sociedade de Geografia, sou Professor Convidado da Universidade Católica, sou Presidente do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes, sou Membro do Conselho Nacional da Educação etc. Mas, eu dei-lhe o meu currículo e está lá tudo. Para além das solicitações que tenho para conferências e palestras, em vários locais do País e no Estrangeiro. Neste momento tenho previsto uma ida ao Brasil para o Congresso dos Mares da Lusofonia, em Maio, e outra a Moçambique, em Junho, para dar umas aulas na Universidade de Moçambique – donde se pode concluir que não há falta de trabalho. Mas devo dizer que quase toda esta actividade é “pro-bono”. MP: A nossa revista “O Desembarque” tem sofrido algumas alterações, particularmente nos últimos dois ou três números, pensamos nós que para melhor. Permita-nos, Sr. Almirante, o seu olhar crítico. VM: Oiça, Marques Pinto. É difícil ter um olhar crítico quando vejo qualquer coisa que é construída e feita com tão boa intenção e que é chegar aos fuzileiros dispersos por esse mundo. E eles merecem que cheguemos até eles. Eu reúno todos os anos com parte dos homens do meu Destacamento e estamos agora a planear nova reunião. É que uma das coisas que os fuzileiros sentem – sobretudo aqueles que estiveram em África – é, muitas vezes, a incompreensão da Sociedade pelos sacrifícios que eles fizeram. Eu quando chamei traidor a um senhor político da nossa praça, estava a pensar no enorme esforço que aqueles rapazes, marinheiros e grumetes, fizeram vivendo em condições extremas que, se calhar, só os portugueses eram capazes de suportar, sem quase nenhuma compensação, para depois serem incompreendidos e mal tratados. Isto dói no coração. E, por isso, é muito bom, tudo o que seja feito pela Liga dos Combatentes, pela Associação de Fuzileiros e pelo seu “O Desembarque” no sentido de chegar ao coração dos combatentes para lhes dizer: – Vocês cumpriram e cumprem as obrigações perante a Pátria – 32 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt entrevista como poucos seriam ou são capazes de fazer. Estamos unidos, estamos convosco. Tudo o que digam a essa gente é muito positivo. É que eles dão e deram tudo, alguns até a própria vida e os fuzileiros foram, talvez, daqueles que mais sacrifícios fizeram. Temos que homenagear os que morreram em combate, como, por exemplo faz um grupo a que pertenço, da sociedade civil, todos os anos, no Dia de Portugal, 10 de Junho, junto ao Monumento ao Combatente, em Belém. E comigo, no meu Destacamento, foram quatro, os que caíram no Campo da Honra… (fez-se um silêncio). E, portanto, chegar aos que vivem lembrando os que partiram e que também pensam na preservação dos valores de cidadania, como é apanágio dos fuzileiro, penso que é uma obra extraordinária. Se puder ser melhor, com certeza. Porém, o que está feito já é muito bom. MP: O Sr. Almirante é Sócio Originário da AFZ e também seu Sócio Honorário, tendo sido um dos Mandatários da Lista candidata, em 2011, aos Órgãos Sociais da AFZ, cujos titulares terminam o seu mandato em Dezembro de 2013. Diga-nos, por favor, como vê a nossa/Sua Associação, a sua gestão e que palavras lhe ocorre dirigir aos Sócios, nossos camaradas. VM: Eu acho, como aliás já disse há pouco, que a obra que têm desenvolvido é notável e estou muito feliz por fazer parte de uma Associação que tem pessoas tão generosas como aquelas que estão à frente da nossa Associação. Estou certo que esse exemplo frutificará e que mais pessoas serão motivadas a contribuir para as finalidades da Associação. O agradecimento será, certamente de natureza moral feito à distância, por aqueles que recebem a Revista, ou que têm contacto com a Associação de Fuzileiros. XXXXXXXXXXX Devo dizer que, ainda hoje, me reúno, com os marinheiros que foram do meu Destacamento, umas vezes em grupos grandes, outras apenas com os da zona onde vivemos, mas sempre pensamos também nos outros e, porventura, em algum com um certo tipo de dificuldades, sem nunca esquecer os que partiram, em combate, ou depois dele, mas quantas vezes em consequência dele. Portanto, este sentido de solidariedade é muito português, é muito marinheiro e, agora, diria que é muito fuzileiro. CM e MP: Muito obrigado Sr. Almirante. Resumo da Actividade Operacional do DFE 13 Guiné (21/Abr/68 a 25/Jan/1970) Operações: Emboscada Patrulhas Reconhecimentos armados Golpes de Mão Total 11 6 12 6 35 Resultados positivos: Inimigos mortos Prisioneiros 40 43 Total83 Acampamentos destruídos Embarcações apreendidas/destruídas Munições: Vários calibres 109.390 Granadas de mão 5 Granadas de Morteiro 82 mm 113 Granadas de Canhão s/r 394 Granadas de LGF 240 Minas 38 Total1.102.062 Outro Material: Explosivos plásticos TNT Total Disparadores 380 Armadilhas 2 Aparelhos de pontaria de morteiro 60 mm 3 Canos de Metralhadoras 21 Pratos de Morteiros 60 mm 1 Carregadores de diversas espingardas 146 Total553 Tempos de patrulha e emboscadas (em LDM e botes) 4.257 h Contactos de fogo com o inimigo 32 282 25 Armamento Apreendido: Canhão s/r 82 mm Morteiro 82 mm Lança-Granadas Foguete Metralhadoras pesadas Metralhadoras ligeiras Espingardas autom., não-automáticas e nativas Pistolas-metralhadoras Espingarda caçadeira Total 1 1 7 2 20 9 91 1 216 30 kg 41 kg 71 kg Resultados negativos: Homens evacuados para Portugal Feridos em combate Mortos em combate O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 3 12 4 33 divisões Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas Caminhada dos Castelos 2012 A Secção de Pedestrianismo levou a cabo no passado dia 5 de Outubro a 1.ª “Caminhada dos Castelos” destinada a sócios, familiares e amigos. Tratou-se de um percurso com características muito específicas, que teve como ponto de partida o Castelo de Palmela e como ponto de chegada o Castelo de Sesimbra. A actividade foi efectuada em dois dias, teve uma distância de 34 km, que foram percorridos em duas fases: 16 km no primeiro dia e 18 km no segundo dia! O percurso foi sempre muito animado e relembraram-se as marchas feitas por todos nós, Fuzileiros, na EFZ. Tivemos como ponto de paragem e pernoita o Parque de Campismo dos Picheleiros no sopé da Serra da Arrábida. A noite foi memorável, aquecida ao lume de uma fogueira e guarnecida de uma saudável “ração de combate”. Já a noite ia longa, quando os participantes recolheram às tendas para o descanso necessário, para se encarar a jornada final. Por trilhos e vales, sempre acompanhados da beleza natural da nossa Serra concluiu-se mais uma actividade em plena Natureza. Apesar do reduzido número de participantes, ficou-nos a esperança de que em 2013 os mesmos estarão presentes para guiarem novos aventureiros. 34 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt divisões Campeonato Regional Sul Pistola Livre a 50 m N esta modalidade, com um nível competitivo muito elevado, face à distância, conquistou o 1.º lugar o nosso atleta Rui Rodrigues, em HS 2, com 484 pontos. Os nossos parabéns, acima de tudo por ter sido o Atleta que mais representou a Associação de Fuzileiros, durante 2012, com um total de 20 competições realizadas! Saudações e parabéns ao Rui Rodrigues. Taça ARTS em Carabina de Cano Articulado Esta prova, realizada a 20 de Outubro, a Associação de Fuzileiros obteve 2.º lugar em equipas, sendo o prémio recebido pelo Chefe de Divisão, Espada Pereira, na cerimónia de entrega de prémios organizada pela ARTS, cerimónia que teve lugar na ARDBA, no Montijo. O empenho e dedicação de todos os atletas que integraram as equipas, foi fundamental para a obtenção deste galardão que é de todos nós mas, acima de tudo, dos atletas que tornaram este objectivo possível. D isputada em quatro provas, realizadas durante o ano de 2012, a Taça Associação Regional de Tiro do Sul (ARTS) decorreu em vários locais da zona sul do País, tendo sido a última prova realizada em Évora! Foram os seguintes os nossos atletas: Manuel Luís, Miguel Luís, Jorge Nunes e Luís Piedade. Parabéns a todos. Troféu Federação Portuguesa de Tiro com Pistola de Recreio a 25 m D urante o ano de 2012 realizaram-se cinco provas para o Troféu “Federação Portuguesa de Tiro” – Pistola de Recreio a 25m. Contando para a classificação final as três melhores provas das cinco realizadas, a Associação de Fuzileiros obteve, no passado dia 09 de Dezembro, o 3.º lugar em Equipas, sendo o prémio recebido pelo Chefe de Divisão, Espada Pereira. O empenho de todos os atletas que constituíram as equipas foi fundamental para a obtenção deste galardão que, como sempre é de todos nós mas, principalmente, dos atletas que deram o seu melhor para que a AFZ visse, mais uma vez o seu nome subir ao pódio. Citam-se os nossos atletas, como é de toda a justiça: João Pereira, João Luz, António Ramos, Miguel Correia, Paulo Samuel, Comt Semedo de Matos e Henrique Matos. 2013 será de progresso. Textos do espaço “Divisões” da autoria de Espada Pereira – Chefe da Divisão das Actividades Lúdicas e Desportivas O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 35 crónicas Breves estórias da Guiné Manuel Ramos Destacamento para reabastecimento de munições e comida… Entretanto, depois de todo um dia cheio de atividades (de que hoje tenho saudades!) lá conseguimos chegar ao tão desejado ponto de reembarque. Este foi mais um dia menos bom mas, no essencial igual a tantos outros menos bons valendo-nos, sempre, o apoio da nossa “família” de Fuzileiros. As patrulhas que fazíamos, no Rio Cacheu eram quase sempre em zonas perigosas: Era frequente que, de vez em quando e quando mais era necessário, fazermos Patrulhas em botes de Borracha. Torrão (1964), Porto (1965) e Sedas (1964) - Esquadra “BRAVO” A minha esquadra, em meados de 1968, fez uma pequena paragem para assentar ideias, pois estávamos numa zona no norte da Guiné, onde dominava o famoso Grupo do Nino Vieira, que mais tarde viria a ser o Presidente da Guiné Bissau. Nesta zona fazíamos quase sempre os desembarques entre as 2 e as 4 horas da manhã. O tarrafo era muito denso e nós deveríamos chegar à orla da mata antes do dia nascer. Esta zona Chamava-se Tancroal perto de Canjája, onde o Grupo do Nino mais actuava. Nesse dia o inimigo não nos deu descanso. Foi um dia muito “preenchido” em relação às outras operações já que - apesar de se caracterizarem quase sempre por contactos e emboscadas – esta teve de tudo. Além de contactos consecutivos de fogo tivemos que ser reabastecidos por duas vezes de munições, coisa que era impensável numa operação normal. Mas felizmente saímo-nos bem, apesar de um camarada ferido por duas vezes(!), “o Amália” (era a sua alcunha) que, mesmo ferido não quis ser evacuado, pois atendendo à situação de grande pressão ele preferiu estar com o Destacamento (Grande Fuzileiro!). Felizmente os ferimentos foram ligeiros. Teremos que agradecer os bons serviços da Força Aérea pela prontidão das respostas aos pedidos de intervenção do nosso Patrulhas no rio Cacheu 36 E na zona mais perigosa por onde os Botes e Lanchas (LDM) quase sempre eram atacados, o IN até tinha a ousadia de atacar os navios-patrulha (“Sagitário, “Lira”, “Hidra” ou “Cassiopeia”) protegido por abrigos subterrâneos nessa tal “Clareira” do Rio Cacheu e na zona do Tancroal, a caminho de Binta/Farim. Conforme estas fotos documentam tivemos que utilizar táticas com grande imaginação. Antes de chegar à “maldita Clareira”, onde era suposto o In estar quase sempre à nossa espera, os dois ou três botes das patrulhas, encostavam-se à margem opostas e começavam a fazer fogo, de cobertura, com a nossa “amiga e famosa” MG42; varrendo a margem toda, permitindo-nos assim passar, os restantes botes, sem problemas. Nós, DFE 12, felizmente, não tivemos graves problemas. Fomos vivendo com “este problema”… Porém, mais tarde, na minha segunda comissão, que fiz também na Guiné, no DFE 13 - 1971/1972, houve, que me lembre, botes de Camaradas nossos que foram atacados, houvendo duas baixas mortais. Era assim a Guiné-Bissau dos nossos tempos. Desejaria que hoje, por lá, não fosse tão mau. Contudo, não me parece… Manuel Ramos (“O Porto”) MAR. FZE. n.º 1205/65 Sóc. Orig. n.º 90 Em primeiro plano, Torrão e Porto a caminho do reembarque (rio Cacheu) O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt crónicas Crónicas de Outros Tempos Marques Pinto Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa Evacuação de uma Família Extensa e Multirracial É esta a quarta crónica que dou à estampa na revista “O Desembarque”. E por isso, para que se não perca o fio da narrativa, aconselho a consulta das edições números 12, 13 e 14. Tratando-se de episódios de uma longa história, só assim se poderá acompanhar o drama que centenas de milhares de portugueses e angolanos ou de angolanos portugueses viveram, na nossa descolonização “exemplar”. Iniciadas estas “Crónicas de Outros Tempos” na edição n.º 12 da nossa revista (de páginas 17 a 20) aí escrevi para os sócios, familiares e amigos da Associação de Fuzileiros e para todos quantos nos queiram ler, as “Primeiras Palavras”; procurei fazer o respectivo “Enquadramento” e explicar, para os muitos que a não conheceram, o que foi a Ponte Aérea de Nova Lisboa (Huambo) /Lisboa, nessa “Cidade Acampamento” do Planalto Central de Angola que, de Junho a Outubro de 1975, se viu cercada de guerra e para onde convergiram, fugindo aos tiros, muitas dezenas de milhares de pessoas, transformando a segunda maior cidade daquele território então português, num verdadeiro caos. Tentei também transmitir aos nossos leitores o que foi uma Ponte Aérea (segundo já se disse, a maior ponte aérea civil do Mundo) com origem numa cidade que já não tinha aviões comerciais, está a cerca de 300 quilómetros do mar, e que duplicou a sua população, sendo que os últimos a chegar tiveram de ser alojados nas instalações da Feira de Nova Lisboa e, designadamente, em pavilhões de gado. Tentei também explicar quais são os problemas de uma ponte aérea e, particularmente desta, sobretudo, o seu principal drama: “Quem vai primeiro? As mulheres que, eventualmente com as crianças, estão mais fragilizadas? Os velhos e os doentes? Os jovens com mais esperança de vida? E os homens ficam para o fim? E as famílias? Separam-se? E se não há aviões para todos? E os política e militarmente ameaçados de morte (pelos Movimentos de Libertação que controlavam pelas armas o terreno) mesmo sendo pretos angolanos, deixam-se morrer, já que não há poder que os proteja? E as famílias extensas, multirraciais e multinacionais? Separam-se? Ficam os pretos e os de pele escura e vão, apenas, os brancos? Quem são os nacionais portugueses que têm o direito a ser repatriados? Só os brancos? Ou também os pretos e mestiços que nasceram sob a Bandeira das Quinas? Então, como será? Vão todos os que quiserem ir? E Portugal suporta? E quem define tudo isto, quando o poder está na rua ou para lá caminha?” Mas que não há ninguém em Portugal que tenha vivido esta experiência, é verdade. E que isso me serviu na vida e nos meus sucessos profissionais, também é. Mas então, vamos à história: À porta das instalações da Comissão Executiva de Repatriamento (CER) da Comissão Nacional de Apoio aos Desalojados (CNAD), instalações cedidas pelo Exército Português do que fora o seu Distrito de Recrutamento e Mobilização de Nova Lisboa – estas siglas destas comissões só tinham expressão real em algumas cabecinhas de Luanda, porque na prática, o que realmente contava eram as pessoas que voluntariamente se entregaram à organização desta Ponte Aérea – o Coordenador da CER – este escriba que procura adaptar o que tem escrito às crónicas da revista “O Desembarque” – é confrontado com o seguinte quadro: Um grupo de desalojados, chamados a embarcar nessa noite (os aviões aterravam sempre à noite, com ocultação de luzes) constituído por cerca de 15 pessoas, discutia com elementos da minha Comissão de voluntários. Discussão acesa, quase crispada. Ao passar, pergunto o que se passa. E um dos meus colaboradores diz-me: – Estamos na presença, doutor, de um problema grave e de difícil solução: esta família tal como se apresenta, não pode embarcar. Quem o dizia era um dos Coordenadores Adjunto a quem o problema já tinha chegado. Tratava-se de uma família extensa, constituída por um conjunto de pessoas tal que, alguns dos seus membros, não teriam direito a “retornar” a Portugal por serem negros e sem qualquer ligação a Portugal. Eram estas as “regras” mais ou menos instituídas por Luanda – na circunstância ninguém sabia, concretamente, quem as instituía e com que critérios, para não se falar já de legitimidade – para evitar que, no calor dos recontros armados, entre os movimentos ditos de libertação de Angola (MPLA, FNLA e UNITA) os naturais Pois é: tem de ser alguém e é seguramente quem está no terreno e não ao longe, nos gabinetes ainda com ar condicionado. E quando há dúvidas como no caso desta crónica? Quem decide em última análise? De facto, o Coordenador, este pobre homem – como dizia um Tio meu – nascido em Várzea de Cavalos, num lugar de uma Freguesia de nome Lobão da Beira, do Concelho de Tondela, distrito de Viseu, que foi escolhido por um Alto-Comissário que nem sequer o conhecia e, quiçá, o não conheceu e, ironia do destino, por exclusão de partes. Calhou. Foi a dita ou a desdita do fado. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt Foto actual de José Luís Pinto (retornado então evacuado pela ponte aérea) e filho 37 crónicas não brancos viessem em massa para Portugal, ocupando lugares nos aviões cujo número e respectivos voos, também ninguém sabia se seriam suficientes para quantos, portugueses e naturais de Angola, de matizes mais ou menos claros, pretendiam fugir da quase total balcanização daquele território de África que ainda era nosso. Desde logo vislumbro o cenário: Uma Senhora negra, com bem mais de 80 anos, de idade indefinida, seguramente muito velha, alta, magríssima, quase pele e osso, carapinha branca de neve. Vestia os seus “quimonos” (panos escuros e compridos) traçados, no seu corpo esguio e encarquilhado, quase até aos pés. A Senhora, com aspecto de meio tribalizada, meio aculturada estava sentada, quase de cócoras, num pequeno degrau de pedra que dava acesso a uma das portas, com uma mão segurando os panos entre as pernas, em jeito púdico e a outra, sustentando a sua cabeça já cansada. O olhar longínquo e indefinido visava o chão. De vez em quando, levantava os seus olhos velhos e vagos varrendo, com súbita e inesperada expressão, o seu grupo, a família que lhe restava, e os outros, os intrusos que discutiam o seu destino. Observo o grupo familiar de que a velha Senhora era, nitidamente, a Matriarca: Pretos, casados ou juntos com mestiças claras; brancos, casados ou juntos com mulatas quase negras; mulatos, com brancas loiras; brancos com cabritas; jovens de 14/15 anos, rapazes e raparigas, claros e escuros, crianças louras, quase arianas e outras escuras de 7/8 anos. Um espanto! Aqui tinhamos verdadeiramente representado um protótipo de família multirracial que vinha fugida de Malange e que havia integrado a “Última Coluna de Desalojados” (vidé “O Desembarque” n.º 13 – página 17) com quatro gerações nascidas em Angola que de Portugal conheciam um nome:”o Puto”! O problema que aqui se gerava era o de saber quem autorizava a evacuação para Portugal daquele “conjunto” à revelia dos “cânones” e das “regras” que aliás, como já disse, ninguém sabia de onde dimanavam, já que o Poder já estava, nitidamente, na rua. É que, a lógica era “simples”: Em princípio, quem devia fugir e utilizar os aviões da Ponte Aérea eram os brancos, aqueles que tinham ido de Portugal para Angola e agora retornavam. Era a lógica do “retorno” de um “ilustre” Governo de Portugal que, em Decreto-Lei, de Março de 1975, criara o IARN (Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais). E desta família Angolana – (de pretos, cafuzos, mulatos, cabritos, mestiços de todas as tonalidades e até crianças completamente brancas e loirinhas, todos fugidos a tiro da total balcanização do Centro/Norte e aqui chegados na esperança de que um avião os levasse para “o Puto”, onde não ouvissem mais as gargalhadas sarcásticas das armas automáticas e o ribombar dos morteiros e dos canhões sem recuo – que fazer? A “minha” velha negra com os seus olhos húmidos porque não tinha mais lágrimas para verter, percebendo, enfim, a dúvida balbuciou palavras quase ininteligíveis, híbridas de português e quimbundo, com um misto de pânico e de dignidade: – Olha lá… A velha não fica. A velha não presta. A velha vai fazer “uafa” (morrer).Mas ainda não. Velha só fazer “uafa” quando “N’Zambi” mandar. Primeiro, “N’Zambi” mandou para eu tratar dos meus neto. Velha não é vossa. É dos neto. Não pode deixar morrer aqui. 38 Encostadita à velha negra, uma criança de cerca de 7 anos (branca, loira, de olhos azuis) chorava soluçando e dizia: – Se a Avó (seria tetravó?) fica, eu também fico. A posição do grupo, daquele grupo, de coloração de pele tão heterogénea, era a mesma. Um homem mestiço de idade madura, dos seus 40 anos, vislumbrando que eu seria “O Chefe”, transmitia-me a posição de todos: – Ou vamos todos ou deixem-nos morrer aqui. Ficámos sem nada. Tudo o que nos resta é esta parte da família. Os outros morreram em Malange com a guerra que veio ter connosco e com a qual nada tínhamos. A nossa Avó é tudo o que nos resta para unir a família. É a nossa velha sábia que, com o poder do seu “N’Zambi” nos há-de guiar e abençoar a todos. Havia que decidir e, como noutras circunstâncias ainda mais difíceis e muito complexas, a decisão era minha: – Embarcam, todos. No mesmo avião. Hoje. Aqui, a mais de 350 quilómetros de Malange, e depois de terem perdido tudo, família e haveres, não ficam. Estou-me borrifando para as normas. Em Portugal que se arranjem. Não andam, há 500 anos, a dizer-lhes que Angola é Portugal? E lá embarcou aquela família extensa, exemplo de Portugal no Mundo, que as “regras” não permitiam salvar. Marques Pinto Sóc. Orig. n.º 221 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt crónicas Orlando de Sousa Cristina Um herói a quem os Fuzileiros muito ficaram a dever em Moçambique José Cardoso Moniz CHEGADA A MOÇAMBIQUE Estávamos em 1967, primeiros dias de Novembro. O imponente paquete “Príncipe Perfeito” atracou no cais comercial de Lourenço Marques. Eram cerca das 8h00 dum sábado. O DFE 4, sob meu comando, fez nele a viagem para realizar naquela Província de Moçambique uma Comissão de Serviço. Logo que atracado, a minha preocupação foi para a eventualidade de haver alguém do Comando Naval para nos transmitir as instruções necessárias. A “guia de marcha” especificava que a partir daquele momento, ficaria na dependência do Comando Naval. O tempo foi passando, até que, pela 10h00, estabelecidas as ligações telefónicas, decidi telefonar para o Oficial de Serviço ao C.N.M., para perguntar se deveria apresentar-me, se mandavam buscar-me, ou se… outra coisa qualquer. Estava de serviço o Tenente Canto Moniz, filho do Eng.º responsável pela construção da ponte sobre o Tejo! Aquela obra, grandiosa para época, em que não houve derrapagens orçamentais, nem temporais, nem… corrupções. Ao tempo tais desvios seriam inadmissíveis! O Tenente Canto Moniz, que eu não conhecia, ficou muito admirado por não saber que havia uma unidade de fuzileiros a chegar a Lourenço Marques. Feitas as apresentações através da rede, preveniume que só na 2.ª feira daria conhecimento ao Comando da minha chegada! Tinha instruções para não perturbar ninguém durante o fim-de-semana. Ainda tentei argumentar, mas não me valeu de nada. A minha dúvida era pertinente. Estava previsto que o navio largaria 2.ª feira com destino à Beira! Desembarcar ou seguir viagem até à Beira? As dúvidas eram preocupantes. Para mim! Decidi dar licença ao pessoal até domingo à noite. Às 21h00 de domingo queria toda a gente a bordo. Toda esta “lenga-lenga” é para dizer que na 2.ª feira de manhã fui recebido pelo CMG Braga da Silva, 2.º Comte do C.N.M. um homem que me impressionou pela frontalidade, aprumo, deferência e educação. Na exposição que fez acerca da guerra que travávamos em Moçambique, deu especial ênfase às minas e ao Sr. Orlando Cristina, de quem eu nunca ouvira falar. Sem me querer assustar muito, foi-me dizendo que o Niassa era conhecido pelo “estado de minas gerais”. Quanto ao Sr. Orlando Cristina, era uma espécie de “Anjo da Guarda” cujos ensinamentos deveríamos receber e cumprir porque o dito Sr. conhecia o terreno a passo e as gentes, (os seus habitantes). Conhecia guerrilheiros e não guerrilheiros. Falava as línguas todas do Niassa, Cabo Delgado e Tete. DA TEORIA À PRÁTICA Efectivamente desembarcamos na Beira. O navio regressou a Lisboa trazendo o DFE 5 que o DFE 4 rendeu. Fomos transportados num “North Atlas” (barriga de ginguba) da Beira até… Metangula. A aterragem foi uma temeridade. O avião ia demasiadamente carregado para uma pista de 700 m. Por pouco não fomos amarar nas águas do Lago! refeição ligeira por dia. Um cantil com 1 litro de água dava-lhe para três dias. Falava muito pouco, fumava muitíssimo. Conhecia o mato como as suas mãos. Sabia onde havia poças de água. Por vezes as poças tinham secado. Sempre bem disposto, sem grandes manifestações. Preparou-nos e mentalizou-nos para fazermos a guerra com o mínimo de tiros. Deslocava-se no mato como os felídeos, sem deixar sinais. O capim continuava direito depois dele passar. Sabia ler os sinais deixados no terreno com minúcia e exactidão. Era frequente dizer-nos: “passaram aqui dois indivíduos há menos de uma hora. Um vai armado e o outro não”. Deslocava-se com a cabeça bem levantada. Os olhos e os ouvidos eram as suas sentinelas permanentes. À nossa espera estavam o Imediato e o Quartel Mestre do DFE 4 que foram de avião para receber os materiais que herdámos do DFE 5. Fomos recebidos pelo 2.º Comandante da Base Naval e o Chefe do Estado-Maior, respectivamente Comtes. Conceição e Silva e Manuel da Silva (Manecas), aviador. Instalámo-nos. Posteriormente conhecemos o Sr. Orlando Cristina que nos fez uma exposição muito ligeira do que era a guerra, chamando a atenção para as minas. O princípio era o seguinte: onde houvesse indícios de passagem de pessoas, havia minas. Portanto só podíamos deslocarmo-nos a corta mato. Mostrou encarar a guerra de guerrilha com “desportivismo”, avisando que devíamos evitar usar as armas. Os prisioneiros faziam-se, agarrando-os. Era preferível poupar um criminoso do que matar um inocente. E no mato havia muita gente que se opunha à guerra mas era obrigada a apoiar os guerrilheiros. Com ele fizemos 4 operações. Duas de formação/preparação e mais duas para além das fronteiras, para capturar elementos da Frelimo que ele sabia onde estavam. Homem com cerca de 1,70 m, menos de 60 kg, extremamente frugal, fazia uma O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt Orlando Cristina em 1970 QUEM ERA ORLANDO CRISTINA Nasceu em Lagos, Algarve, em finais de Setembro de 1928. Como era balança, nasceu depois de 23. Os pais viviam separados. Ele ficou com a mãe e o pai estabeleceu-se em Vila Cabral, no Niassa, com um negócio que tinha por objectivo satisfazer as necessidades primárias das populações. Sempre muito independente mas trabalhador, fez a primária e o liceu sem dificuldades de maior. A circunstância de a mãe lhe ter dado um padrasto, não lhe causou grande transtorno. Acabando o liceu em 1946, fez o exame de admissão a direito em Lisboa, sendo admitido. Foi um estudante “suficiente”. 39 crónicas DESERÇÃO DE ORLANDO CRISTINA Jorge Jardim era um “gentleman”. Um diplomata de refinadíssimo trato. Mantinha as melhores relações com os presidentes Hasting Banda (Malawi), Keneth Kaunda (Zâmbia), Július Nierére (Tanzânia) e Ian Smith (Rodésia). Foi administrador-delegado da Lusalite, posição que manteve até Dezembro de 1973. Mais tarde, passou a representar outros interesses, nomeadamente o grande magnata dos petróleos, Boullosa. Dispunha duma refinaria, a Sonarepe, e uma distribuidora, a Sonap Moçambique que fornecia produtos para todos os países limítrofes. Era seu Director Comercial o Sr. António Rocheta. Orlando Cristina com a Renamo, na Gorongosa Estudava o necessário para passar… e foi passando. Em 1949/50 deixou-se envolver na campanha eleitoral de Norton de Matos, apoiando-o em manifestações de rua e em distribuição de panfletos. Consequentemente, a polícia política andava com ele debaixo de olho. Para evitar que fosse preso a mãe fê-lo ir viver com o pai. No Niassa, com 21/22 anos, empenhou-se nos negócios do pai, abatendo caça grossa que, partida em peças e seca, era transportada e vendida em Quelimane. O Orlando encarregava-se do transporte. Não tinha falta de dinheiro. Em pouco tempo transformou-se num exímio caçador de elefantes, búfalos, rinoceronte, hipopótamos, etc. Vários historiadores descreveram as suas façanhas, sobretudo a provocação que causava nos elefantes, para os obrigar a separarem-se e matar com um único tiro aquele que lhe parecia ter maiores presas. De todas as actividades desenvolvidas pelo Orlando Cristina, nenhuma lhe dava tanto prazer como o convívio com os habitantes, usando de fraternidade, dando presentes e lembranças que sabia os seduziam. Rapidamente aprendeu as línguas de cada povo. Ajaua, Nianja, Maconde, Swali, Macua, etc., dizia que eram todas iguais. Falava com todos e cumprimentava, segundo a tradição, com as duas mãos juntas, à boa maneira dos povos do Lago. Os sobas e parentes adoravam-no. Sobretudo as filhas!... As “bajudas”, como se diria na Guiné! Perdiam-se de amores pelo caçador de elefantes e… de paixões. AO SERVIÇO DO EXÉRCITO O cumprimento do serviço militar obrigatório foi um imperativo a que não se furtou. 40 Cumpriu cerca de três anos e meio, três dos quais como alferes. Acabado o tempo obrigatório, foi aliciado para continuar, com o posto de tenente. O Exército quis aproveitar os seus dotes linguísticos e de relações públicas para dinamizar um serviço de informações militares que se tornava imprescindível. Era manifesta a agitação popular decorrente dos graves incidentes ocorridos no planalto dos macondas, onde o governador, Comandante Teixeira da Silva, correu o risco de ser linchado. O que foi evitado com a intervenção do responsável Tito Lívio Xavier, comandante dos Voluntários de Defesa Civil. Ao saber da presença de Eduardo Mondlane na Tanzânia, logo Jorge Jardim arquitectou um esquema para infiltrar alguém na organização e acompanhar a evolução dos progressos que se adivinhava vir a ter. A pessoa seleccionada foi Orlando Cristina que estava ao serviço do Exército. Depois de aturadas negociações secretas com as altas esferas do Exército, foi proposto ao Orlando Cristina a sua deserção, passando a ter a categoria de Inspector – Vendedor da Sonap, com vencimentos líquidados mensalmente pelo director comercial. Ficou com o número 209. O Exército cedo se apercebera que haveria um aproveitamento do descontentamento popular. Por outro lado, como toda a gente sabia, na cidade da Beira havia um núcleo de democratas que pretendia libertar-se da dependência de Lisboa. Durante largos anos não chegaram a acordo quanto ao que pretendiam. Havia a facção do Jorge Jardim, que pretendia a independência mantendo as estruturas raciais e económicas equilibradas. Os da linha dura, apoiados pela URSS, queriam a independência plena, sem brancos. Uma terceira facção, pretendia uma ligação à Rodésia de Ian Smith e à África do Sul onde vigorava o “apartheid”. Eduardo Mondlane mantinha-se informado de todos estes movimentos pelo que decidiu radicar-se em Dar-es-Salaam, capital da Tanzânia, em finais da década de 50, princípios da de 60. A partir de então começou a mobilizar os seus seguidores, com o objectivo de exigir a independência de Moçambique. António Rocheta, chefe do Cristina na Sonap Moçambique Assim se consumou a deserção de Orlando Cristina, criando-se o boato da sua simpatia pelo Partido Comunista Português. Esquema semelhante foi usado com frequência. O exemplo mais conhecido é a saída do 2.º Tenente Manuel Agrellos, Comandante da lancha “Mercúrio”, e seus companheiros no Lago Niassa, passando a comandar a lancha “John Chilombwe” (ex-“Castor”), ao serviço do Malawi. Mesmo em operações de duração muito limitada, 4/5 dias, que se desenrolaram para lá das fronteiras, era usado este estratagema. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt crónicas As informações provenientes de Orlando Cristina eram assustadoras ou mesmo aterradoras. Eduardo Mondlane deixou de ter controle na organização que veio a chamar-se Frelimo, quando os estalinistas Samora Machel e Marcelino dos Santos assumiram a chefia, contra tudo e contra todos. As cabeças de Mondlane e Uria Simango iriam rolar, porque eram pessoas moderadas, civilizadas. Como é sabido, Eduardo Mondlane era casado com uma norte-americana e Uria Timóteo Simango, pastor evangélico, era casado com uma senhora muito respeitada de nome Celina. Esta situação de serem os presidente e vice-presidente da Frelimo, era inaceitável na URSS!! Consequentemente exigiram aos seus peões que os depusessem e se livrassem deles. O Eduardo foi morto, porque os enfrentou. O Uria foi poupado para não haver conflitos com os seus seguidores religiosos. Logo a seguir ao 25 de Abril foi assassinado, bem como a Joana Simeão, o Gwambe e o Gwengere. O Lázaro Kawandame, regressado do Egipto, onde estava refugiado, para organizar um partido concorrente às eleições, também foi assassinado. O seu regresso tinha sido autorizado! Já depois de 1980 foi assassinada a pobre Celina!... Como bem disse o Marcelino dos Santos, era necessário livrarem-se das oposições ao programa da Ferlimo. No meio da confusão o Orlando Cristina conseguiu pôr-se a salvo. REGRESSO DE ORLANDO CRISTINA Continuemos a história deste homem impar, ao nível dos nossos heróis Alpoim Calvão, Rebordão de Brito, Teixeira, Jaime Neves e tantos outros. Como entretanto as chefias militares em Moçambique haviam mudado, o Orlando foi preso e acusado de deserção. As chefias desconheciam as negociações que levaram a esta decisão patriótica. Foi precisa a intervenção de Jorge Jardim e da Direcção Geral de Segurança para se Eng.º Jorge Jardim, patrão do Orlando esclarecer a situação. Daí dizer-se que pertenceu à PIDE, o que não tem o mínimo fundamento. Entre 1965 e 1974 Orlando Cristina às ordens do Eng.º Jorge Jardim, deu instrução às Forças Armadas Portuguesas e aos grupos especiais constituídos por ex-prisioneiros e voluntários. Foi neste período que os Destacamentos de Fuzileiros Especiais puderam usufruir e aproveitar os seus ensinamentos para melhor desempenharem as suas funções. PÓS 25 DE ABRIL Após o 25 de Abril, o nosso homem, conhecendo bem as populações do norte de Moçambique e sabendo da simpatia que gerava entre todos, convenceu-se que bastaria a sua palavra para recuperar a confiança das populações, convencendo-as a voltar as costas à Frelimo. Com um grupo de pequenos fazendeiros atravessou a fronteira para a Rodésia. Fundaram uma emissora que dia e noite, transmitia músicas que sabiam ser do agrado das populações, a par de as instigar a revoltarem-se contra os déspotas da Frelimo. Essa emissora era ouvida em todo o Moçambique e chamava-se “Moçambique Livre”. Entretanto, a triunfante Frelimo, a quem foi entregue o poder pelos democratas de Lisboa, criou um campo de concentração ou reeducação na Gorongosa, em Cudzo ou Secudzo. Para este campo eram remetidos todos aqueles que não davam garantias de fidelidade. É do conhecimento geral que a Gorongosa é uma região de leões, leopardos e hienas. Teoricamente os animais selvagens seriam impeditivos de que os prisioneiros fugissem. Contudo aconteceu que um belo dia um jovem de nome Matsangaíce, acompanhado de um número pouco numeroso, fugiu da Gorongosa e atravessou a fronteira da Rodésia. Foi dialogar com o Orlando Cristina e convencê-lo que a palavra tinha algum efeito mas era fundamental iniciarem a luta armada. Relutantemente, Orlando Cristina acabou por aceitar as teses de Matsangaíce. Este regressou a Moçambique e remetido para o Cudzo donde havia fugido. Começou então a mobilizar prisioneiros para pegarem em armas. Assim nasceu a Renamo. Primeiro a Rodésia e posteriormente a África do Sul começaram a apoiar estes revoltosos. Cristina que ficara impressionado com o carácter deste bravo, decidiu alterar o nome da emissora, chamando-lhe agora “Resistência Nacional Moçambicana”. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt Inge Preis, sua protectora em Maputo Matsangaíce era muito inexperiente. Com os homens que dispunha tentou fazer um “golpe de mão” aos guardas do campo do Cudzo. Saiu-se mal e foi novamente preso. Fugiu mais uma vez e voltou à Rodésia. Agora regressou com homens batidos, experientes na “Arte da Guerra”. Desta vez o “golpe de mão” foi um sucesso. Libertados e armados os prisioneiros com espingardas na posse dos guardas, começaram a luta armada. Foi nomeado Secretário-Geral da Renamo o Orlando Cristina. Sendo branco manter-se-ia à frente dos militares até encontrarem africanos que o substituíssem. Como é evidente não se sentia muito seguro. Exigiu uma Assembleia Popular de que resultou continuar Secretário-Geral da Renamo e eleito Presidente o Afonso DhlaKama, decorrente da morte em combate de Matsangaíce. Os sul-africanos pretendiam que o Presidente fosse Domingos Arouca. Um intelectual com imenso prestígio dentro e fora de Moçambique, culturalmente muito superior aos demais. Prevaleceu o sentido de que Domingos Arouca nunca dera a cara. Que não seria justo afastar DhlaKama para entregar a presidência ao Domingos Arouca. Calcula-se que a luta entre a Renamo e a Frelimo tenha causado 1.000.000 (um milhão) de vítimas! Coisa pouca para os democratas portugueses ao serviço da URSS. Durante o conflito o Orlando Cristina deslocou-se a Lourenço Marques diversas vezes. Ficava aboletado em casa de uma senhora alemã, a Inge Preis. Deslocava-se nas viaturas da Frelimo a troco dumas cervejas ou maços de tabaco. Andava sempre “municiado”. A Inge Preis, realizadora de audiovisuais, ficou até bastante depois da independência. Por curiosidade junta-se uma foto dela, tirada há três anos em Cascais. 41 crónicas Era com as roupas do marido, 1,90 m, que o Cristina viajara para a Europa ou para as USA em representação da Renamo. ERRO FATAL No decorrer da luta armada desertou da Frelimo para a Renamo o piloto-aviador, Adriano Bomba. Esta deserção foi preparada por seu irmão Boaventura Bomba ligado aos Serviços Secretos da África do Sul. Dhlakama desconfiava da àfrica do Sul, sobretudo da pressão que exercia para que os Bomba tivessem mais notoriedade dentro da Renamo. Os dirigentes sul-africanos pretendiam que ambos fossem nomeados “comissários políticos” e integrados nos quadros da Renamo. O Afonso Dhlakama condescendeu por pressão de Orlando Cristina. Segundo o Historiador João Cabrita, foi o seu Erro Fatal. Boaventura Bomba assassinou o Orlando Cristina, na casa deste, arredores de Pretónia, em 17 de Abril de 1983. Ainda correram boatos que o Orlando fora abatido pela companheira também pertencente aos Serviços Secretos da Africa do Sul. Os mesmos Serviços Secretos julgaram o Boaventura Bomba e os quatro cúmplices condenaram-nos à morte. Foram executados no Sudoeste africano e lançados ao mar a partir dum helicóptero. deixa dúvidas. O Orlando foi abatido pelo Boaventura Bomba. O seu irmão morreu numa emboscada dentro de Moçambique. Há uma outra versão: Maquiavélica! Sem dúvida o Orlando foi assassinado por Boaventura Bomba mas… a mando das autoridades sul-africanas. Porquê? Porque alcançada a paz no Acordo de Roma, terminavam as hostilidades e a necessidade dos serviços do Orlando. Seja como for, paz à sua alma. É um homem inesquecível. José Cardoso Moniz Ao tempo era adido militar na África do Sul o Coronel Fernando Ramos. Viveu de perto toda esta tragédia e o seu testemunho não Sóc. Orig. n.º 36 Cofundador da AFZ cartas ao director A história de um Fuzileiro e da sua namorada Fernanda (1961 e 1965) Augusto Beja Exm.º Senhor Director, permita-me que, de França, lhes conte: T udo começou no princípio do ano de 1961, quando rebentou a guerra nas nossas colónias. Eu, Augusto Beja, com 20 anos, e a minha namorada Fernanda com 17 anos tivémos de nos separar, em boa parte, devido à Guerra do Ultramar. A Fernanda, em Fevereiro de 1961, partiu para Orléans-França, onde era esperada por seu pai, emigrante instalado nesta cidade e eu, como não quis arriscar, fiquei. Na verdade, logo compreendi que só tinha duas soluções: apresentar-me ao serviço militar conforme a convocação que me tinha sido enviada, ou então fugir do meu país como muitos fizeram. Foi bastante difícil a escolha mas, finalmente, acabei por me apresentar no quartel em Vila Franca de Xira para cumprir o meu serviço militar, em Março de 1961. Acontece que, com a decisão que tomei de servir o meu país, a situação ficou a partir daí um pouco complicada, para mim e para a Fernanda já que, em Junho de 1963 tive que embarcar para Angola, o que nos veio provocar uma terrível separação de 4 anos. 42 Posso afirmar que foi preciso muita vontade mas, finalmente, quando acabei o meu serviço militar, em Maio de 1965 fiquei de braços abertos à espera do Domingo (8 de Agosto de 1965) data por nós marcada para aquele tão desejado dia, o dia do nosso casamento. Foi o dia mais feliz da minha vida mas, infelizmente, 15 dias depois de casados tivemos mais uma vez de nos separar. Acontece que me recusaram o passaporte turístico devido à minha situação de reservista e, assim me impediram de acompanhar minha esposa até Orléans. Foi uma injustiça muita dura de aceitar, a tal ponto que, mais tarde tentei chegar Orléans clandestinamente mas, “o salto” correu muito mal. Fui apanhado pela polícia espanhola dentro do comboio na fronteira de Irum. problemas, isto por duas razões: em primeiro lugar, por provar que estava a chegar de Angola e com um total de quatro anos de presença na Armada mas, sobretudo, por ter provado que minha esposa tinha a sua residência em Orléans. Assim, facilmente me abriram as portas da prisão. Lá saí da prisão de Vilar Formoso mas, por eu não aceitar esta situação, 15 dias depois fiz nova tentativa de sair de Portugal e desta vez tudo correu bem. Lá cheguei a Orléans, no dia 1 de Novembro de 1966, com toda a família de braços no ar, à minha espera, para me abraçar. Acredito que, no fundo, fomos recompensados porque, já lá vão 47 anos de felicidade com a Fernanda, junto dos nossos filhos e de quatro maravilhosos netos. Valeu a pena… Foram um calvário aqueles 44 dias que passei de prisão em prisão repartidos entre Irum, Vitória, Burgos, Valladolide e Salamanca, até chegar à nossa fronteira de Vilar Formoso. Termino dizendo que, para além de todo o mal que nos fizeram, da distância que nos separa do nosso país temos, e com muita emoção, Portugal no Coração. Foi muito complicado mas enfim, no interrogatório na nossa fronteira, não tive Augusto Beja Sócio n.º 1687 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt almoço de natal O Almoço/Convívio de Natal 16 de Dezembro de 2012 T eve lugar, no passado dia 16 de Dezembro, o habitual evento de Natal da Associação Nacional de Fuzileiros que este ano, pela segunda vez, juntou num Almoço/Convívio, cerca de trezentos e quarenta sócios, familiares e amigos da grande “Família dos Fuzileiros”, novamente na Quinta da Alegria, em Penalva, cujas instalações já foram pequenas para acolher tanta gente, de tal ordem que as mesas tiveram de se “apertar”. A afluência foi tal que chegámos a recear que o grande salão da “Quinta da Alegria” não fosse suficientemente grande para alojar, com alguma comodidade, tanta “alegria” de todos quantos quiseram estar presentes nesta particular e emotiva manifestação de camaradagem e solidariedade. Apesar da crise que Portugal vive, os nossos sócios compareceram em massa e inundaram de emoções, de amizade e de solidariedade o espaço e o tempo do nosso Convívio de Natal, transformando alguma menor comodidade, no calor humano que os Fuzileiros tão bem transmitir. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 43 almoço de natal Para o ano que aí vem – se a Providência permitir – a Direcção e o “Grupo de Acção” designado para organizar o evento têm de ponderar o que terá sido uma deficiência de perspectiva, acautelando instalações que possam conter, eventualmente, mais de meio milhar de pessoas. Na mesa de convidados estiveram cerca de vinte entidades incluindo, nomeadamente, o representante do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro e o Presidente da Junta de Freguesia, antigos e actuais Comandantes, do Corpo, da Escola e da Base de Fuzileiros, antigos e actuais presidentes e vice-presidentes da Assembleia-Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal da Associação, Membros do seu Conselho de Veteranos, Esposas e outras personalidades de relevo para a instituição. A mesa das Delegações esteve muito bem representada, com a nossa gente do Algarve, de Gaia, e de Juromenha/Elvas. Ao longo do vasto Salão, todos conviveram, mataram saudades e espalharam nostalgias, brincaram e até dançaram ao som do magnífico agrupamento musical do sócio aderente n.º 2193, José António Paula Cabrita (que teve a amabilidade de o oferecer gratuitamente). Todos, os mais velhos, os menos novos, os jovens e os mais jovens, onde não faltaram as senhoras e também as crianças, deram ao ambiente um especial colorido e muita dignidade. Também houve “discursos”: os dos Vice-Presidentes, com palavras de boas vindas, o do Comandante do Corpo de Fuzileiros, convidado a falar e o do Presidente que, na circunstância, formularam para todos votos de Boas Festas. Agradeceu-se a toda a equipa que organizou a festa, e aos Directores da Associação, aos titulares dos órgãos sociais e dirigentes das Delegações que, com o seu voluntarismo e, de facto, voluntariamente, se deram à instituição e se disponibilizaram, ao longo de todo o ano, para trabalhar em prol da AFZ e, designadamente, na organização dos principais eventos. 44 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt almoço de natal “De facto, só equipas de particular valia, exclusivamente constituídas por voluntários conseguiriam desdobrar-se, e guindar tão alto o nome e a imagem da Associação, conferindo nível, cortesia e o nosso característico calor humano, a todas as iniciativas” que se realizaram e se ofereceram aos sócios. Citam-se palavras já escritas em idênticas circunstâncias: «Imediatamente a seguir e sem legendas, para não distinguir ninguém já que todos merecem ser distinguidos – pela coragem, pela solidariedade, pelo espírito de camaradagem e de entreajuda e pelos valores que são o apanágio e a mística dos fuzileiros – ficam alguns registos fotográficos, para a posteridade e que são as imagens que, mais do que muitas palavras, conferem real conteúdo e importância ao nosso “Almoço de Natal de 2012”». Marques Pinto O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 45 delegações Delegação do Algarve Apoio à intempérie de Silves NOTA: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico da Proteção Civil que nos ajudaram a organizar, de acordo com as prioridades, tendo sido de imediato iniciados os trabalhos de apoio as populações. A região do Algarve foi assolada por uma intempérie no dia 16 de Novembro que incidiu particularmente nos concelhos de Lagoa e Silves onde danificou imensas infraestruturas públicas e privadas tendo resultado 13 pessoas feridas, 12 desalojadas e cerca de 4.500 pessoas sem energia elétrica. Não podendo alear-se deste grave problema, a nossa Delegação mobilizou os associados que, prontamente e demonstrando mais uma vez o grande espírito do Fuzileiro souberam responder e dizer: “Pronto”. Pela manhã do dia 18 de Novembro, a vasta equipa da Delegação estava no terreno, tendo sido recebida pelo Presidente da Câmara Municipal de Silves e pelos responsáveis Viam-se uma centena de habitações danificadas e imensas viaturas destruídas. Esta ação, que pretendemos louvar nas pessoas dos “nossos” Associados, foi reconhecida publicamente como sendo de grande utilidade, numa hora difícil para as populações que mais uma vez viu nos Fuzileiros Homens de grande caráter, personalidade e, sobretudo, de elevado humanismo e espírito de servir. Apoio Banco Alimentar Contra a Fome À semelhança de anos anteriores, a Delegação foi convidada a participar na recolha de alimentos, em parceria com o Banco Alimentar Contra a Fome. 46 Assim sendo, no dia 3 de Dezembro, teve lugar em toda a região algarvia a ação humanitária e nela estivemos presentes, particularmente nos locais de concentração dos bens recebidos, em Faro e Portimão, com duas equipas de camaradas, dando assim o nosso contributo para ajudar a atenuar aquilo que, por incrível que pareça, já constituiu um grave problema nacional: a fome. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt delegações Almoço de Natal 8 de Dezembro O Almoço/Convívio de Natal, que teve lugar no passado dia 8 de Dezembro no restaurante da “Fatacil”, em Lagoa, reuniu um apreciável número de associados, familiares e amigos, tendo decorrido em ambiente de fraterna amizade e camaradagem. A festa natalícia foi animada pelo acordéon do “nosso” associado Paulo Domingues. Como não poderia deixar de ser, a criançada presente foi visitada pelo Pai Natal que lhes trouxe animação e brinquedos. Apoio ao lançamento do livro “O Fuzileiro Especial” A solicitação do autor, o associado José Maria Rodrigues Ferreira, foi dado apoio ao lançamento do seu livro intitulado “O Fuzileiro Especial”, da editora “Arandis”. O acto teve lugar no dia 15 de Dezembro, na sede (provisória) da Delegação tendo estado presentes para além do autor e do editor, um assinalável número de associados. Como convidados de honra estiveram na sala as Direções da Delegação da AFZ e do Clube Escolamizade, bem como o senhor Dr. José Carlos Rolo, ilustre Presidente da Câmara Municipal da Albufeira. Este, na sua breve intervenção proferiu palavras elogiosas aos Fuzileiros, realçando quanto de importante são para a sociedade civil “os testemunhos do que foi a guerra colonial em África”. Este breve resumo para as páginas da nossa revista “ O Desembarque” irá servir, por certo, para expressar a vitalidade da Delegação da Associação Nacional de Fuzileiros do Algarve que continua com espírito associativo e dentro do que estatutariamente está previsto, ficando-nos a certeza do dever cumprido. António Medeiros - Presidente da DFZA - Sóc. Orig. n.º 1235 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 47 delegações Delegação de Juromenha/Elvas M ais do que relatar as iniciativas e as acções já realizadas, optámos por anunciar duas que se projectarão em 2013 e que coroam o alto nível dos dirigentes desta nossa Delegação, cujo Presidente da Direcção, o nosso Sócio Originário n.º 958, Licínio de Jesus Algarvio Morgado, para nós, o Licínio, simboliza o que de melhor temos e a forma como se coordena uma equipa de sucesso e que represente a unidade da grande “Família” dos Fuzileiros. Aniversário da Delegação N o próximo dia 1 de Junho de 2013 comemorar-se-á o Aniversário desta sempre activa Delegação que não pára com as suas iniciativas, ambição medida e espírito de bem-fazer e de fazer bem. A solicitação da Direcção da Delegação – e com a colaboração da Direcção Nacional – conseguiu-se que a Banda da Armada feche as comemorações actuando pelas 22h00 horas, na Praça da República de Elvas, ou caso o tempo o não permita, no Coliseu da cidade. O encontro está marcado, porém, para as 10h00 horas junto à sede da Delegação, em Juromenha, onde com a habitual galhardia das nossas gentes de Juromenha/Elvas se receberão os fuzileiros, as famílias, os amigos e os respectivos convidados de honra. Depois de algumas actividades que, oportunamente se divulgarão, terá lugar o Almoço/Convívio. O ponto alto será sem dúvida o concerto da nossa Banda da Armada que, sempre muito solicitada, teve de ser programada com meses de antecedência, ao que o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada concedeu a indispensável autorização. Os símbolos da Armada e dos Fuzileiros em Elvas N uma parceria de três Entidades, Município de Elvas, Delegação da Associação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas e Associação Nacional de Fuzileiros, e por inteira iniciativa dos dirigentes da Delegação, a Armada Portuguesa e os seus Fuzileiros – à semelhança do que acontece na cidade do Barreiro, com o Monumento do Fuzileiro implantado pela AFZ, em colaboração com o respectivo Município – terão, também, os seus símbolos implantados, numa das mais significativas centralidades da cidade de Elvas, considerado sítio urbano privilegiado, uma rotunda virada para o Coliseu de Elvas. O projecto, que foi ideia do Comt. Magarreiro, um “filho da terra”, envolve a Associação Nacional de Fuzileiros e também o nosso Sócio Aderente n.º 1669, Sr. João Armando Rondão Almeida que é o ilustre Presidente da Câmara Municipal de Elvas. 48 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt delegações Delegação de Vila Nova de Gaia 2.º Aniversário e Almoço de Natal de 2012 Não faltaram a boa disposição e os discursos, dos quais se destaca apenas – porque o dia é dos nossos homens de Gaia – o do Presidente da respectiva Delegação. A festa teve honras de cobertura jornalística, por uma jovem do «Jornal Audiência» de Vila Nova de Gaia, que entrevistou diversas personalidades presentes. C omo foi profusamente anunciado realizaram-se as cerimónias de comemoração do 2.º Aniversário e, simultaneamente, o Almoço de Natal de 2102 da Nossa Delegação de Vila Nova de Gaia, no p. p. dia 1 de Dezembro. Após o «Toque de Alvorada» para concentração junto da sede da Delegação, por ora e provisoriamente, localizada em Canelas rumou-se ao Regimento de Artilharia n.º 5 (Serra do Pilar), onde foi possível apreciar uma excelente vista do miradouro sobre a cidade do Porto, Gaia e o Rio Douro e visitou-se o Museu do Quartel, enquadrado pelas diversas peças de artilharia de campanha que ladeiam a parada. Finda a visita, procedeu-se à tradicional «foto de família». Seguidamente acertou-se o azimute para o Restaurante Salgueirinhos, em Grijó – Gaia, onde se efectuou o «desembarque» para convívio, iniciando-se o mesmo com um «reconhecimento» aos aperitivos, ao ar livre, seguido de um agradável almoço pautado por valores de camaradagem e amizade. Após o Presidente da Delegação de Gaia, FZ Henrique Mendes, saudar os convidados com as boas-vindas, fez-se um minuto de silêncio em memória dos camaradas já falecidos, com o consecutivo mítico «grito de guerra dos Fuzileiros» encetado pelo Sarg. FZE Manuel Parreira e correspondido pelos Fuzileiros presentes. Depois cantou-se o Hino da Associação Nacional de Fuzileiros, findo o qual se iniciou o “rancho”. Marcaram presença as seguintes: O Vereador do Pelouro da Cultura da CMVNG, Eng.º Rui Cardoso; o Comandante do Corpo de Fuzileiros, CAMT, Cortes Picciochi; o Comandante Martins dos Santos, Comt da ZMN, dos Portos de Douro e Leixões e da Polícia Marítima; o nosso Associado, Procurador do MP, Dr. Rodrigues Morais; o Presidente da Direcção Nacional da AFZ, Comt Lhano Preto e outros Membros dos Órgãos Sociais da Associação (Mário Gonçalves, Egas Soares, Jaime Azevedo, Lopes Leal, Francisco Fazeres); o Comt Manuel Mateus, antigo Presidente da AFZ e membro do seu Conselho de Veteranos; Edmundo Coutinho, Presidente da Associação Recreativa-Cultural de Canelas; a Ana, funcionária do Secretariado Nacional da AFZ e Sócia Aderente a que se juntaram cerca de 120 pessoas entre sócios, fuzileiros, famílias e amigos. Posteriormente ao almoço, café e respectivos digestivos, cantou-se e brindou-se com alegria os parabéns à DFZ’s GAIA, provou-se o bolo de aniversário procedeu-se à distribuição de lembranças aos convidados. O convívio prolongou-se pela tarde, recordando-se com nostalgia e saudade tempos que o tempo não consegue apagar. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 49 delegações Presentes, também, os Presidentes das Delegações do Algarve, FZ António Medeiros e de Juromenha/Elvas, FZ Licínio Morgado, que num admirável gesto de solidariedade e de unidade, tiveram de percorrer muitos quilómetros para se juntarem aos Camaradas do Norte. É de toda a justiça louvar a dinâmica da “Força-tarefa” convocada pela DFZ’s GAIA, que imbuída de “espírito de corpo” organizou o evento, sob comando do seu Presidente – FZ Henrique Mendes, pelo que se pode dizer: “Missão cumprida”. Tratou-se de cerimónia cheia de profundo significado, onde mais uma vez a Amizade, a Camaradagem, a Solidariedade e, sobretudo, o Espírito de Unidade estiveram presentes. Rodrigues Morais (com a colaboração de Marques Pinto) Os nossos “fotógrafos de serviço” (SAJ FZ Rogério Pinho Silva e FZE Mário Manso) disponibilizaram os seus registos fotográficos por e-mail e nas redes sociais. Discurso do Presidente da Delegação de Vila Nova de Gaia Minhas Senhoras e meus Senhores É com enorme orgulho que vos recebemos nesta celebração do nosso 2.º Aniversário que, simultaneamente festejamos com o nosso Encontro de Natal/2012. Em primeiro lugar queremos agradecer ao Sr. Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros (CMG FZE) Lhano Preto e a toda a Direcção da AFZ, pelo voto de confiança depositado em nós. Da nossa parte, sempre estaremos disponíveis podendo a nossa Associação contar com uma pronta resposta de espírito e corpo, quando e onde for necessário; A nossa gratidão dirige-se também ao Sr. CALM Cortes Picciochi, comandante do Corpo de Fuzileiros, pela forma interessada como acompanha os eventos dos Fuzileiros e pela sua total coordenação com a Associação Nacional de Fuzileiros. Sentimo-nos muito lisonjeados, com a sua presença; Ao Sr. Edmundo Coutinho, presidente da Associação Recreativa de Canelas, não podemos deixar, também, de agradecer a sua presença que muito nos orgulha; Agradecemos ainda a presença do Sr. CMG Victor Manuel Martins Santos, comandante do Comando Zona Marítima do Norte e da Policia Marítima e cumpre dizer-lhe que nos orgulha muito tê-lo como nosso ilustre convidado. Os Fuzileiros de Gaia agradecem-lhe e dir-lhe-ão, sempre, presente. Ao Sr. Vereador da Câmara municipal de Vila Nova de Gaia, Eng. Rui Cardoso, muito obrigado pela sua presença que particularmente nos honra. Queremos afirmar-lhe que a cidade de V.N. Gaia poderá contar com os Fuzileiros e com a nossa total lealdade e empenho quando e onde for necessária a nossa participação. Quereremos também agradecer aos Presidentes das Delegações da Associação Nacional de Fuzileiros aqui presentes; ao Licínio Morgado da Delegação de Jerumenha/Elvas e ao António Medeiros da Delegação do Algarve queremos afirmar que é para nós um enorme orgulho, poder contar mais uma vez, com a vossa companhia neste dia tão especial para nós. Os nossos agradecimentos, ainda, ao Sr. Comt Manuel Mateus, antigo Presidente da AFZ e Membro do seu Conselho de Veteranos cumprindo-nos dizer-lhe que ficámos muito gratos pela sua presença neste nosso evento. A Delegação de Fuzileiros de Gaia continua dando passos que se querem seguros e respeitadores da máxima que nos acompanha e sempre nos acompanhará: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre. Porque é dever de todos os que ostentam e sentem orgulho na nossa Boina azul ferrete ter comportamentos que a honrem, sem exibicionismos baratos que possam futilizar os nossos princípios. 50 Valeu a pena testemunharmos o esforço feito pela Associação Nacional Fuzileiros, ao ter incluído as Delegações com os respectivos Guiões, nas cerimónias militares na Escola de Fuzileiros, no Dia do Fuzileiro e na inauguração do Monumento ao Fuzileiro, no Barreiro/2012. Foi honra enorme depositada, no fundo na nossa alma de Fuzileiro. Jamais esqueceremos tamanha consideração que estamos certos não terá sido em vão. No Dia do Fuzileiro/2012, a nossa Delegação mobilizou umas largas dezenas de participantes para a nossa “Casa Mãe”, sem que houvesse qualquer problema que ensombrasse a nossa participação. Mais uma vez houve uma partilha positiva e uma convivência civilizada, atitude que deve presidir sempre quem tem o dever de honrar a Boina Azul Ferrete. Este ano estivemos presentes no Aniversário da Delegação do Algarve e também no Aniversário e inauguração da sede da Delegação de Juromenha/Elvas, decerto, um dia muito especial para Vós e para quem vos acompanhou. Obrigado pelo vosso carinho, solidariedade e amizade. Estivemos, ainda, presentes no Aniversário da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, em Braga. Antes de terminar quero manifestar a todos os membros da nossa direção e sócios afectos á Delegação de Fuzileiros de Gaia, às suas famílias e aos nossos amigos, a nossa gratidão pela vossa presença. Sem vós a Delegação não conseguiria o êxito conquistado. Desejo a todos um feliz e Santo Natal e um próspero ano cheio de saúde, paz e amizade. Termino prestando uma breve homenagem aos ex-combatentes, pela força, coragem e lealdade com que combateram e honraram o nome de Portugal. Façamos todos, um minuto de silêncio em sua memória, e em especial, pela do Camarada Dr. Ilídio Neves Luís, ex-Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros que nos deixou recentemente. Depois desse minuto de silêncio convido o nosso camarada exCombatente Manuel Parreira para dar o Grito do Fuzileiro. Henrique Mendes Sóc. Orig. n.º 1089 Pres. da Delegação de Vila Nova de Gaia O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt reportagem Timor-Leste: entre as lembranças do passado e a realidade presente Reportagem de uma romagem tardia Em plena montanha, com habitantes de uma aldeia Q uando um antigo fuzileiro, como eu, visita um país estrangeiro e, em plena zona tropical no interior do seu território, onde a vegetação e o tempo facilmente apagam os vestígios edificados, se não forem usados, com poucas placas toponímicas a indicar os caminhos e os próprios nomes das localidades, o facto de aparecer, de repente, uma tabuleta destacada com a indicação “fuzileiros”, não muito deteriorada, levou a que a viagem fosse, de imediato, interrompida para verificar o que, para mim, me pareceu insólito. Este pequeno introito numa reportagem de uma viagem que um grupo de 15 portugueses, homens e mulheres, no qual eu me incluía, que decidiu fazer, durante 15 dias, uma incursão por todo o território de Timor-Leste, para percorrer os 13 distritos do país, incluindo o enclave de Oecussi-Ambeno (encravado em território indonésio). A viagem igualmente passou pela ilha de Ataúro – a 25 quilómetros de Dili, a capital, e o paradisíaco ilhéu de Jaco, situado em frente da ponta leste do país, muito perto da povoação de Tatuala. Este grupo de portugueses foi o primeiro, desde a independência efectiva timorense da ocupação indonésia, iniciada em 1999 e formalizada em 2002, a percorrer, demorada e profundamente, todas as regiões do país, numa peregrinação de mais de dois mil quilómetros, que incluiu caminhadas de vários dias e escaladas às principais áreas montanhosas de Timor Lorosae, o Tata-Mai-Lau, o cume do Monte Ramelau, e ao Matebian, a montanha, na tradição animista, dos espíritos e dos antepassados. Placa do fuzileiros portugueses E, tenho de o confessar, a idade já pesa nos nossos corpos. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt Voltemos, pois, ao início da escrita. Ou seja, a placa em pedra, pintada de branco, já com alguns caracteres a desaparecer, mas onde se conseguia distinguir o distintivo actual dos fuzileiros portugueses. Por perto, não havia pessoas, embora não muito longe se avistasse um edifício, que até parecia militar, mas não encontramos ninguém. Como tínhamos de seguir viagem, não conseguimos saber a origem. Mais tarde, em Díli, disseram-nos que os fuzileiros portugueses tinham estado naquela região, mas pouco mais informações obtivemos. Até porque, ao longo da viagem, nunca chegamos a contactar forças da Marinha, embora soubéssemos que tinham ao seu serviço dois navios tipo lanchas de fiscalização, que os civis que nos transportaram, em embarcações com motores fora de borda, entre Dili e Ataúro, apelidassem as mesmas, que estavam fundeadas ao largo da baía da capital, como “fragatas”. E um pequeno destacamento de fuzileiros. Não mais de 35 homens. 51 reportagem pela Alemanha a Timor. Estranhamente, o capitão era indonésio e verificamos que, por artes manhosas de cumplicidade das autoridades timorenses, deixavam-no seguir até à Indonésia…). Foi uma viagem do “outro mundo”. Quando nos aprontávamos para embarcar, com bilhetes antecipadamente comprados, assistimos a imagens de fazer arrepiar o mais sensato. No Pico após longa caminhada Já em Portugal, através do almirante Cortes Picciochi, comandante do Corpo de Fuzileiros, fui informado que, em 1998, dois fuzileiros participaram na forças de interposição da ONU, a INTERFET, e entre 2000 e 2004, ao serviço da ONU (via UNTAET e UNMISET), uma companhia de fuzileiros esteve em Missão em Timor-Leste. Em 2010, instrutores fuzileiros portugueses deram o primeiro curso para os seus homólogos timorenses, a que se seguiu o segundo curso em 2011. Apenas com três instrutores fuzileiros portugueses. A nossa longa e interessante aventura em território de Timor-Leste iniciou-se por dois locais ligados, profundamente, à antiga presença colonial portuguesa. AVENTURA E TURISMO Os caminhos que serpenteiam por todo o Timor são difíceis, muito danificados, mas a hospitalidade foi enorme e a gastronomia, que desconhecíamos totalmente, encheu-nos as medidas. Claro que esta viagem foi de aventura, no verdadeiro sentido da palavra. Não existe, felizmente, para o tipo de pessoas como eu, turismo de massas. Andei um pouco pelo mundo e gosto de ver ainda as belezas naturais, e elas estão, naquele país, para os ocidentais, quase por descobrir. Depois de chegarmos a Dili, zarpamos, logo no dia seguinte para a ilha de Ataúro, hoje um local de passeio e de lazer tropical, de uma beleza rara, ainda pouco conhecido para as viagens turísticas. Deu para tempo de relaxe na praia, uma ida de triciclo, para quem o quis, até à vila de Maumeta, andou-se de beiros, as canoas locais nas praias de águas quentes de Bikeli. (Ora, Ataúro, como recordação histórica, significou, na prática, a última base 52 portuguesa naquele território quando, em Agosto de 1975, o então governador Mário Lemos Pires – que era tenente-coronel – decidiu abandonar Dili e instalar-se naquela ilha. Com escassas forças militares sob a sua supervisão, depois da divisão provocada na estrutura policial e militar sob administração lusa com um golpe de Estado provocado pelo partido UDT (União Democrática Timorense), que arregimentou o sector policial, incluindo o seu comandante, o falecido tenente-coronel Maggiolo Gouveia, tendo os militares, de maioria timorenses, onde pontificava o alferes Rogério Lobato, futuro Ministro num governo de Mari Alkatiri, que se juntaram à FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste), eclodiu uma guerra civil. Lemos Pires ainda tentou um acordo entre os dois partidos. A FRETILIN pediu-lhe que ele regressasse a Dili, com vista a prosseguir o processo de descolonização. O governador respondeu que esperava ordens de Lisboa. Os acontecimentos precipitaram-se, quando se constatou que a Indonésia já ocupara, violentamente, o enclave de Oecussi. Dias depois, seguiu-se uma invasão, em força, por terra, mar e ar, curiosamente com alguns navios de origem soviética). No interior do poço do ferry, apinhavam-se – é o termo, parecia um colmeia em movimento – veículos, animais, das mais variegadas espécies, com centenas e centenas de humanos (homens, mulheres e crianças de todas as idades), autenticamente encaixotados, com um calor tropical asfixiante. No regresso, a repetição do *filme*. Se houver (ou houvesse) o mais pequeno percalço, certamente haverá centenas de mortos. Num espaço tão curto de quilometragem, a viagem foi longa. Toda a noite a navegar. Chegamos às cinco da manhã. Depois da chegada a Pante Macassar, o grupo fez uma longa caminhada até Lifau – foram mais de 10 quilómetros sob um sol tropical abrasador, que, com memórias de 40 anos atrás, me senti nas movimentações da Guiné-Bissau. E, mais desgastante, o regresso. Custoso, mas estimulante. Hoje, em Ataúro, com um “resort” a funcionar, já começa a ser percorrido por turistas, poucos ainda, naturalmente muitos australianos. No dia seguinte, regressámos a Díli com rumo já programado para o enclave de Oecussi-Ambeno. O cruzeiro em Lifau Havia duas maneiras de lá chegar, por terra, atravessando território indonésio, com a necessidade de vistos e entraves burocráticos. Perdiam-se dias. Em Lifau, que foi a primeira capital da ilha de Dili (na altura toda a ilha estava sob a jurisdição portuguesa). A decisão foi ir num ferry-boat, de nome “Nakroma”, que faz uma viagem semanal de ida e volta até ao enclave. (Foi oferecido Ali foi inaugurado, a 14 de Agosto de 1974, um cruzeiro que assinala, precisamente, o local onde desembarcaram os primeiros O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt reportagem marinheiros portugueses (possivelmente, os então infantes da Marinha) no ano de 1512. Pois, foi mesmo junto a este cruzeiro que o nosso grupo almoçou um lauto repasto do melhor da gastronomia local. Inimaginável numa área tão inacessível. Mas, a hospitalidade fura todas as expectativas. A primeira fonte documental europeia conhecida que refere a existência da ilha é uma carta de 6 de Janeiro de 1514, escrita por Rui de Brito Patalim, capitão de Malaca para Afonso de Albuquerque, governador das Índias, que a envia para o rei D. Manuel I referindo que Timor – uma ilha além de Java – tinha muito sândalo, mel e cera. Em 1556, um grupo de frades dominicanos estabeleceu o primeiro povoado em Lifau, que só, em 1702, se torna capital da colónia quando ali chega o primeiro governador nomeado pelo rei português, estatuto que permaneceu até 1767. Depois foi decidido sedear a capital em Dili, perante as investidas holandesas, que se apropriaram de parte das colónias da Insulíndia portuguesa. Em 1859, pelo Tratado de Lisboa, Portugal e a Holanda fizeram a divisão da ilha: Timor Ocidental para os holandeses, com capital em Kupang e a restante, com sede em Díli, incluindo Oecussi, como enclave encravado. ATÉ QUE O CORPO AGUENTASSE Dormimos, nessa noite em Díli, aonde só regressaríamos duas semanas depois, empreendendo deste modo uma autêntica caravana de exploração, de contactos com as populações mais remotas, que sempre nos acolheram, peregrinando pelos mais recônditos, belos, mas também, por vezes, inóspitos, locais de todos os distritos e sucos timorenses. Partimos, numa primeira fase do percurso numa carrinha *folclórica*, que lá chamam de bistoka, e rumamos, de imediato, para Liquiçá, parando em Tsi-Tolu, junto a uma estátua gigante lembrando o falecido Papa Católico João Paulo II, depois em Aipelo, nas ruínas de uma antiga prisão do tempo colonial português. Depois de visitar Liquiçá, enfrentamos velhas estradas, praticamente desfeitas, ainda construídas pelas administração lusitana e chegamos ao antigo forte holandês de Maubara. A viagem, deslumbrante, que seguiu a costa norte, com praias magníficas. Passamos pelas ruinas, muito destruídas, da fortificação portuguesa de Batugadé, junto à fronteira da parte indonésia da ilha. Desviamos para sul, fez-se uma breve paragem em Balibó. (Estivemos na casa onde foram capturados cinco jornalistas australianos em 1975, sumariamente fuzilados pelos indonésios, que começavam a invadir Timor). Ao fim do dia, entramos em Maliana e fomos pernoitar em Bobonaro. Seguiu a “epopeia” da exploração. Toda a movimentação para a escalada do Monte Ramelau, até o cume conhecido por Tata-Mai-Lau. Já tínhamos abandonado a bistoka e agora o apoio logístico eram de jipes 4x4. Grande parte do percurso seria feito a pé, para, de noite, empreender a escalada ao monte Ramelau. Partiu-se, com guias – os mata-dalan – do suco de Soiselu, dormiram-se, algumas horas, numa Pousada recuperada, em que foi em tempos o posto administrativo das autoridades em Hato-Builico. O grupo saiu cerca das três horas da manhã para uma escalada de várias horas até ao nascer do sol no cume: maravilhara-se com o *loron sa’e*, justamente o nascer do sol) Eu tive de ficar para trás, pois estava a ressentir-me, numa subida íngreme pedregosa, de uma operação recente. Regressou-se a meio da manhã. Alongamo-nos depois para uma caminhada tropical de oito horas até Atbase. (Um registo que se tem de fazer em termos curtos: Pudemos nesta caminhada de dois dias saborear e apreciar tudo o que é belo no meio das dificuldades – degustar os produtos da terra, ver as crianças a percorrer quilómetros, todas vestidas a rigor, para ir para a escola – sim, vimos escolas em tudo o que era povoado –, levando a água para beber, passar por zonas de águas quentes e águas frias – tudo numa zona tropical – andar por escarpas nuas, bordejar ou entrar nas imensas plantações de café, um calor asfixiante, um suor transbordante. Olhar em frente e ver a imensidão de montanhas num pequeno país). Descrição da caminhada e escalada ao Monte Ramelau O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 53 reportagem refúgio seguro da guerrilha. Despedida de Timor-Leste, com o nosso guia e a administrativa do grupo Um dos troços mais longos, que fizémos, percorremo-lo de jipe, por estradas que já foram – e aqui tenho de referenciá-lo: os novos governantes timorenses não apostaram, nestes 10 anos de independência, minimamente nas infra-estruturas básicas, além, do positivo, do já citado parque escolar, e tiveram dinheiro do petróleo para isso. Também do que pude apreciar, já existe, como em Portugal, claro que nas dimensões de cada país, uma profunda clivagem entre governantes e governados – serpenteando pela ventosa e fria rodovia pedregosa que atravessa a Flecha, com íngremes desfiladeiros e profundos vales, contornando o Monte Kablake. Passeamos por paisagens de beleza estonteante, alongamos mais caminhos, não sei o que representou em quilometragem, mas foi muito, para que alguns dos nossos guias nos quiseram mostrar onde nasceram ou onde viviam os seus familiares mais chegados. Até que chegamos a Same, capital do distrito de Manufhai, terrra do liurai D. Boaventura, que chefiou, em 1912, uma revolta contra a ocupação portuguesa. DAS PRAIAS, O PARAÍSO DE JACO E MATEBIAN A bússola dava indicação de que os próximos três dias seriam de explorar a costa sul, com praias estonteantes, até à ponta mais a leste de Timor. Saiu-se de Same, passou-se por Betano, atravessouse Natarbona, um das mais importantes regiões agrícolas do país. Fizemos uma visita à aldeia de Krarás, que foi dizimada pelos indonésios nos anos 80. Almoçamos em Viqueque. Depois, partimos para Loi-Huno, onde pisamos os trilhos que a resistência utilizou durante quase três décadas, indo em caminhada e escalada até às suas profundas e inexploradas (turisticamente) grutas, que foram 54 Dormimos na aldeia de Loi-Huno e marchamos, logo na manhã seguinte até Iliomar, onde verificamos que existe gás natural no próprio território timorense, precisamente, em Aliambata. Ali tão perto estavam belas praias de uma água tão morna, que nos levou a grandes mergulhos. A etapa seguinte era Lospalos, onde pernoitamos. Uma curiosidade: comemos num restaurante de um português chamado Roberto Carlos. (Um pequeno aparte: ficámos alojados durante a viagem em dois colégios de salesianos que cederam as instalações para servir comida e dormida. Um em em Fuiloro, o outro em Quelicai). Depois de uma visita por Lospalos, partimos para Tutuala, onde, ao longo do trajecto, se podem ver ainda casas típicas da região, que foram o símbolo ancestral de residência de Timor: Descemos seguidamente para a praia de Walu. E num “beiro” a motor, zarpamos para a ilha de Jaco: praia de areia branca, corais extraordinários, peixes de múltiplas cores e um opíparo almoço com um “monstruoso” imperador”, ali mesmo pescado. Ao fim da tarde, regresso a Walu, onde pernoitamos, num “resort” já com qualidades turísticas. Subimos, novamente, para Tutuala com a indicação de que o percurso só pararia em Com, mas esta andança, partida de Meahara até Malahara, foi feita, em grande parte do caminho, a pé, muitas horas de rápido andamento, ladeando a extensa lagoa de Ira-Lalaro, meandrando entre centenas de búfalos, que olhavam desconfiados para os estranhos. Também, porque queríamos ver crocodilos, num dos rios que parte da lagoa, mas nada. (Em todo o tempo de Timor, apenas colocamos o olho único crocodilo, o símbolo mítico do território, e este “internado” num tanque há varias dezenas de anos). A caminho de Com, fizemos paragem em vários cemitérios onde a religião católica se mistura com tradições animistas ancestrais. Atingimos a aldeia piscatória de Pitilete. Com os jipes novamente em andamento, chegamos a Com, onde dormimos. No dia seguinte, íamos começar a dirigir-nos para o Monte Matebian. Saímos de Com e tivemos a oportunidade de visitar as ruínas de velhas fortificações militares portugueses, que se destacam sobra as casas de Lautém e Laga. Mudámos depois o rumo para sul até Quelicai, onde pernoitamos. Na manhã seguinte, muito cedo, iniciouse a subida ao Monte Matebian. Fizemo-lo dividido em dois grupos, os mais rápidos e de perna rígida, saíram mais cedo e deambularam pelas zonas mais difíceis e escarpadas. O outro trilhou zonas menos alcantiladas, com passagem por Laumana. Ambos desceram para Baguia, no outro lado da montanha, com cerca de 12 horas de caminhada. Extenuados, fomos dormir à Pousada de Baucau. De manhã o grupo dividiu-se pelos interesses que surgiam: passeio pela parte histórica da vila, descida até à praia ou visitar Venilale. Depois foi o regresso a Dili, passando por Manatuto, terra do artesanato de barro e chegada à capital para preparar as malas para o regresso e sermos presenteados, de surpresa, com um lauto jantar de iguarias timorenses, com danças tradicionais. Um registo final: ao longo das nossas andanças e dos contactos que tivemos, ficámos a saber que muitos dos actuais e antigos dirigentes de Timor Leste e responsáveis das suas Forças Armadas fizeram o serviço militar em unidades do Exército português. É o caso do actual major-general Lere Anan Timur, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, que foi cabo; Rogério Lobato, que foi Ministro da Defesa na I República e Ministro da Administração Interna na II República, foi alferes em 1974/75 e, Abílio Araújo, que exerceu o cargo de Presidente da Fretilin, e de Presidente da República nessa efémera República, foi furriel miliciano nos finais dos anos 60, tendo trabalhado com os então alferes milicianos Ângelo Correia, que foi ministro da Administração Interna de Cavaco Silva e Fernandes Tomás, historiador de renome sobre o Extremo-Oriente, sobrinho-neto do almirante Américo Tomás, último Chefe de Estado do Antigo Regime. Serafim Lobato Sóc. Orig. n.º 1792 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt obituário A Associação Nacional de Fuzileiros e a nossa Revista “O Desembarque” apresentam sentidas condolências às Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias que correspondem às que encontrámos, com menor ou razoável qualidade, nos nossos ficheiros. Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram Estes nossos Camaradas e amigos conservar-se-ão sempre entre nós neste Planeta e quando nos encontrarmos noutros Mundos. Dr. Ilídio das Neves Luís Sócio n.º 155 Manuel Ramos Farias Sócio n.º 1101 José Manuel Pedro Ferreira Sócio n.º 1808 Ataíde Alves Candeias Sócio n.º 440 Luís Filipe Palma Botelho Sócio n.º 1106 Manuel da Silva Marques ex-Sócio n.º 698 diversos Donativos Nome do sócio Eng. Castro Figueiredo Novos Sócios N.º Donativo - Placa da AFZ Nome do sócio Novos Sócios N.º Nome do sócio N.º Armenio da Silva Coelho 2174 António Silveira Proença 2191 - 5,00 € Diamantino F. M. da Costa Mendes 2175 Jorge José Valada Piriquito 2192 1308 20,00 € Jaime Alexandre Santos 2176 José António Paula Cabrita 2193 Anónimo - 20,00 € José Alberto Soares da Silva 2177 Carlos Pedro Duarte Gameiro 2194 Manuel Correia 478 40,00 € Fernando Manuel Correia Gomes 2178 Manuel J. Monteiro, Lda. (Sócio Coletivo n.º 2) 2195 Cte. Mendes Fernandes - 80,00 € Ilídio Jorge Franco dos Santos 2179 Rafael Antonio Nunes Alexandre 2196 N.º Assin. Rui Miguel F. da Silva Santos 2180 Rui Miguel Gomes Ramires 2197 Gil Neves 1384 10,00 € João Filipe Neto Mimoso 2181 Rafael Alves Ramires 2198 Diamantino Rodrigues 1887 10,00 € José Manuel Sousa Pirota 2182 António Janeiro Ramires dos Santos 2199 Vitor Rosa Porto 1706 10,00 € Ariston Thermo Portugal (Sócio Coletivo n.º 1) 2183 Samuel Mendes Pacheco 2200 Martinho dos Santos Alves 1837 10,00 € Elisabete Catarina Teixeira Fernandes 2184 Dinora da Silva Capatão Talhadas 2201 Carlos Eduardo Mesquita Antunes 2185 José Faustino 2202 Victor Manuel de Melo Botto 2186 Iracema Ferreira Fernandes Faustino 2203 Mario Duarte dos Santos P. Andrade 2187 Mariana Sofia Jeronimo Leitão 2204 António Raul Dias Rolo 2188 José Manuel silva de Sousa 2205 Manuel Lema Pires dos Santos 2189 Vasco Miguel Duarte Gomes 2206 José de Sousa Gil 2190 Francisco Jordão João Pedro Marques da Luz Nome do sócio Pedido/Recomendação da Direcção A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (e-mail) o favor de os remeterem ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a natureza de constantes e permanentes. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados. O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt 55 REVISTA N.º 15 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2013 O DESEMBAR UE
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