estimando o diâmetro das galáxias
Transcrição
estimando o diâmetro das galáxias
Cœlum Australe Jornal Pessoal de Astronomia, Física e Matemática - Produzido por Irineu Gomes Varella Criado em 1995 – Retomado em Junho de 2012 – Ano IV – Nº 028 - Janeiro de 2013 ESTIMANDO O DIÂMETRO DAS GALÁXIAS Prof. Irineu Gomes Varella, BSc.,Lic.,Esp. © 1997 - Direitos autorais reservados - Proibida a reprodução. Uma maneira de estimar o diâmetro das galáxias muito distantes, para as quais os indicadores usuais para as suas distâncias não são aplicáveis, é através de sua velocidade de recessão e de seu diâmetro aparente angular (α). Consideremos uma galáxia com diâmetro linear D situada à distância r de nossa galáxia (fig.1). De nosso ponto de observação podemos determinar por instrumentos, ou efetuando medidas sobre uma placa fotográfica, o valor do ângulo α, denominado diâmetro aparente da galáxia. Fig. 1 – Diâmetro real (D) e diâmetro aparente (α) de uma galáxia. Cœlum Australe – Ano IV – Nº 28 – Janeiro de 2013 – Irineu Gomes Varella 2 A partir dos elementos geométricos exibidos na figura 1 obtemos: αrd = D / r onde D e r estão expressos nas mesmas unidades. O ângulo α é, no entanto, usualmente obtido em minutos de arco e não em radianos. Como as medidas de um ângulo em radianos (αrd) e em minutos de arco (α') estão relacionadas por αrd = α' / 3438' , segue-se que: α' / 3438' = D / r ⇒ D = α' r / 3438' A distância de uma galáxia pode ser obtida por vários processos, chamados indicadores de distâncias: observando estrelas variáveis do tipo cefeida, pela observação de estrelas novas e supernovas, e etc. Porém, para muitas galáxias não é possível a observação de estrelas individualmente e os processos antes referidos não podem ser aplicados. Nesses casos, a distância r pode ser obtida pela aplicação da Lei de Hubble-Humason ( V = Ho.r ), a partir do conhecimento de sua velocidade de recessão (V), isto é, da sua velocidade de aproximação ou de afastamento em relação ao nosso sistema de referência. A velocidade de recessão, por sua vez, é determinada a partir do desvio para o vermelho (redshift) ou para o azul (blueshift) observado no espectro da galáxia em estudo. O desvio espectral observado ( z = ∆λ / λ ) relaciona-se com a velocidade de recessão por: z = ∆λ λ0 = 1+V c (1 − V 2 c2 ) 1/ 2 −1 da qual obtemos : V z 2 + 2z = 2 c z + 2z + 2 Nas expressões anteriores, válidas para grandes valores da velocidade de recessão quando comparadas à velocidade da luz (efeito Doppler relativístico), os símbolos têm os significados que seguem: ∆λ = λ - λo = diferença entre o comprimento de onda de uma raia observada no espectro da galáxia ( λ ) e o comprimento de onda da mesma raia obtido em laboratório ( λo ); λo = comprimento de onda obtido em laboratório ( sistema em repouso ), de uma raia de um certo elemento químico; V = velocidade de recessão da galáxia, isto é, a velocidade com que se aproxima ou se afasta de nosso sistema de referência; c = velocidade da luz no vácuo. Seu valor, em unidades do SI, é 299.792,458 km/s ou, aproximadamente, c = 300.000 km/s. Quando as velocidades de recessão são pequenas comparadas à velocidade da luz ( V << c ), podemos utilizar a expressão clássica para o efeito Doppler: z= ∆λ λ0 tendo os termos o mesmo significado que antes. = V c Cœlum Australe – Ano IV – Nº 28 – Janeiro de 2013 – Irineu Gomes Varella 3 A partir da Lei de Hubble-Humason, podemos calcular o valor da distância de uma galáxia, admitindo-se determinada a sua velocidade de recessão a partir de alguma das expressões anteriores: r = V / Ho onde V é a velocidade de recessão em km/s, Ho a constante de Hubble, cujo valor está, atualmente, ao redor de 72 km/s/Mpc e r é a distância da galáxia em Mpc (1 Mpc = 1 Megaparsec = 106 parsecs). Substituindo-se r na expressão do diâmetro da galáxia, teremos: D= α' 3438 × V H0 ( D em Mpc ) Para obtermos o diâmetro de uma galáxia em anos-luz basta considerar que 1 Mpc = 3,26 x 10 a.l. e, assim, 6 D= 3,26 × 10 6 α ' V × 3438 H0 ou D = 948 × α' V H0 e teremos, pela última expressão, D em anos-luz. EXEMPLO: A galáxia espiral NGC 6872, localizada na constelação de Pavo (Pavão) no hemisfério celeste sul, é a maior galáxia espiral conhecida (fig.2). Ela tem um diâmetro angular de 8' e sua velocidade de recessão é de 4,56 x 103 km/s. Uma estimativa para o seu diâmetro, em anos-luz, pode ser obtida por: D = 948 × 8 × 4,56 × 10 3 ≅ 480.000 a.l. 72 O valor estimado está razoavelmente próximo do valor atualmente admitido de 522.000 anos-luz para o seu diâmetro, de modo que a relação anterior pode ser utilizada para uma aproximação inicial ao valor real, não permitindo, porém, determinar diâmetros galáticos com precisão. A maior galáxia conhecida é a galáxia elíptica IC 1101 (fig.3) com diâmetro de cerca de 6 milhões de anos-luz. Essa galáxia está situada no denso aglomerado de galáxias localizado na constelação de Virgo denominado Abell 2029. Sua distância é de 326 Mpc (1.062.760.000 de anos-luz) Esse gigantesco sistema contendo, provavelmente, ao redor de 100 trilhões de estrelas, supera o diâmetro de nossa própria galáxia em quase 60 vêzes. Sua extensão é cerca de 2,5 vêzes maior que a distância que nos separa da galáxia de Andrômeda, uma das "grandes" galáxias situadas nas proximidades da nossa. A descoberta dessa galáxia foi anunciada em julho de 1990 pelos astrônomos Juan M.Uson do National Radio Astronomy Observatory (NRAO), Stephen P. Boughn do Haverford College e Jeffrey R. Kuhn da Michigan State University. Um relato sobre a descoberta foi publicado na revista Sky & Telescope, vol.81, nº 2, de fevereiro de 1991, p.127. Cœlum Australe – Ano IV – Nº 28 – Janeiro de 2013 – Irineu Gomes Varella 4 Fig.2 – A galáxia NGC 6872 e a galáxia IC 4970 com a qual interage. NGC 6872 é maior galáxia espiral conhecida, com diâmetro de cerca de 522.000 anos-luz. Créditos da imagem: NASA's Goddard Space Flight Center/ESO/JPLCaltech/DSS. Fig. 3 – A galáxia IC 1101 é a maior galáxia conhecida, com diâmetro de 6 milhões de anos-luz. É uma galáxia elíptica pertencente ao aglomerado de galáxias Abel 2029 situado na constelação de Virgo, distante 326 Mpc (pouco mais de 1 bilhão de anos-luz). Créditos da imagem: X-ray: NASA/CXC/UCI/A. Lewis et al.; Optical: Pal.Obs. DSS. Cœlum Australe – Ano IV – Nº 28 – Janeiro de 2013 – Irineu Gomes Varella 5 BIBLIOGRAFIA 1. SKY & TELESCOPE. Cambridge (MA): Sky Publishing, v.81, nº 2, p.127, feb., 1991.(News Notes). 2. VARELLA, I.G. O diâmetro das galáxias. São Paulo: Escola Municipal de Astrofísica de São Paulo, 1989. 3. ____________. O diâmetro das galáxias. Boletim do CARJ, Rio de Janeiro, v.15, nº4, p.62, out., nov., dez.,1990. 4. ____________. A maior galáxia conhecida. Boletim do CARJ, Rio de Janeiro, v.16, p.5, jan., fev., mar., 1991. 5. ____________. O Efeito Doppler-Fizeau. 2ª edição revista e aumentada. São Paulo: 1997. IRINEU GOMES VARELLA - Astrônomo nascido em São Paulo em 07 de setembro de 1952. É formado em Física e em Matemática pela Universidade de São Paulo e com Pós-Graduação em Astronomia pela Universidade de São Paulo e pela Universidade Cruzeiro do Sul. Iniciou sua carreira no Planetário e Escola Municipal de Astrofísica de São Paulo em 1968, tendo sido Diretor Geral da Instituição de 1980 a 2002. Ministrou mais de uma centena de cursos e dezenas de palestras de Astronomia. Colaborou durante vários anos na edição do Anuário Astronômico do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. Escreveu dezenas de textos de divulgação e ensino de Astronomia publicados pelo Planetário de São Paulo e em jornais, revistas e outros periódicos de vários lugares do Brasil. Atualmente é professor da Escola Municipal de Astrofísica de São Paulo e ministra a disciplina "Sistema Solar" no curso de Pós-Graduação em Astronomia da Universidade Cruzeiro do Sul.
Documentos relacionados
Galáxia - Cruz Azul
permitindo a ele estimar a distância para a nebulosa: elas estavam distantes demais para ser parte da Via Láctea.40 Em 1936, Hubble criou um sistema de classificação para galáxias que é usado até h...
Leia mais