Arte Gótica
Transcrição
Arte Gótica A arte para o altíssimo O estilo Gótico desenvolveu-se na Europa, principalmente na França, durante a Baixa Idade Média e é identificado como a Arte das Catedrais. A partir do século XII a França conheceu transformações importantes, caracterizadas pelo desenvolvimento comercial e urbano e pela centralização política, elementos que marcam o início da crise do sistema feudal. No entanto, o movimento a arraigada cultura religiosa e o movimento cruzadista preservavam o papel da Igreja na sociedade. Enquanto a Arte Românica tem um caráter religioso tomando os mosteiros como referência, a Arte Gótica reflete o desenvolvimento das cidades. Porém deve-se entender o desenvolvimento da época ainda preso à religiosidade, que nesse período se transforma com a escolástica, contribuindo para o desenvolvimento racional das ciências, tendo Deus como elemento supremo. Dessa maneira percebe uma renovação das formas, caracterizada pela verticalidade e por maior exatidão em seus traços, porém com o objetivo de expressar a harmonia divina. O termo Gótico foi utilizado pelos italianos renascentistas, que consideravam a Idade Média como a idade das trevas, época de bárbaros, e como para eles os godos eram o povo bárbaro mais conhecido, utilizaram a expressão gótica para designar o que até então chamava-se "Arte Francesa ". Arquitetura Gótica A Catedral de Chartres é a alma visível da Idade Média. Construída para abrigar o véu da Virgem, doado à cidade pelo neto de Carlos Magno – Carlos, o Calvo – em 876, é uma obra de arte multimídia. Os vitrais, a mais intacta coleção de janelas medievais do mundo, ocupam uma área total de 8.800 metros. Ilustrando passagens da Bíblia, as vidas dos santos e até mesmo o artesanato tradicional da França, os vitrais são gigantescos manuscritos iluminados. (STRIKCLAND, 1999:29) 1 Catedral de Chartres, França Planta da Catedral gótica de Chartres, França (com descrição elementos arquitetônicos- desenho ou site) Vitral Catedral de Chartres “O auge do desenvolvimento artístico da Idade Média, rivalizando com as maravilhas da Grécia e da Roma da antiguidade, foi a catedral gótica. De fato, essas “Bíblia de pedra” superaram até mesmo a arquitetura clássica em termo de ousadia tecnológica. Entre 1200 e 1500, os construtores medievais ergueram essas estruturas eleboradíssimas, com interiores atingindo uma altura sem precedentes no mundo da arquitetura. O que tornou possível a catedral gótica foram dois desenvolvimentos da engenharia: abóbada com traves e suportes externos chamados arcobotante, e contraforte. A aplicação desses pontos de apoio nos locais necessários permitiu trocar as paredes grossas com janelas estreitas por paredes estreitas com janelas enormes com vitrais inundando de luz o interior. (...) Além da qualidade de treliça das paredes das catedrais (um efeito de “renda petrificada” como as descreveu o escritor William Faulkner), a verticalidade caracteriza a arquitetura gótica. Os construtores usavam o arco pontudo que aumenta tanto a ilusão como a realidade de altura.Os arquitetos competiam entre si para realizar as mais altas naves (em Amiens, a nave atinge a altura de 47 metros) Quando a ambição ultrapassava a tecnologia e a nave despencava, o que não era difícil de acontecer, os fervorosos fieis a reconstruíam. (...) Edificações tão complexas levavam literalmente séculos para serem construídas, a Catedral de Colônia levou seis séculos, o que explica por que algumas parecem uma miscelânea de estilos sucessivos.” (STRICKLAND, 1999, 28) A partir do texto de STRICKLAND, é possível perceber como certas mudanças no campo arquitetônico influenciaram a passagem do estilo românico para o gótico. É importante lembrar, porém, que essas transformações não foram bruscas e repentinas, ocorreram gradativamente no decorrer do tempo e do espaço, manifestando-se não somente na construção de “novas” igrejas mas, também, na concepção de um tipo de pintura que buscava (principalmente no período tardio) resgatar uma forma de retratação mais dinâmica e expressiva. Após a descoberta dos textos de Aristóteles, o corpo deixou de ser desprezado e passou a ser 2 percebido como o templo da alma. Essa importante mudança influenciou a maneira de representá-lo; os artistas começaram, então, a retratar a figura humana com mais naturalidade, cuidando de detalhes anatômicos e psicológicos que começavam a mostravam uma maneira diferente de enxergar o ser e seu contexto. Românico Gótico Ênfase Horizontal Vertical Elevação Altura modesta Altíssima Planta Múltiplas unidades Espaço unificado, inteiro Traço principal Arco redondo Arco pontudo Sistema de suporte Pilastras, paredes Contraforte externo Engenharia Abóbadas Abóbadas em cilindro e de aresta com arestas e traves Escuro, solene Leve, Ambiente claro Exterior Simples, severo Ricamente decorado com esculturas Esquema p. 27 Strikcland Os novos horizontes da pintura A pintura teve um papel importante na arte gótica, pois pretendeu transmitir não apenas as cenas tradicionais que marcam a religião, mas a leveza e a pureza da religiosidade, com o nítido objetivo de emocionar o expectador. Caracterizada pelo naturalismo e pelo simbolismo, utilizou-se principalmente de cores claras. “Em estreito contato com a iconografia cristã, a linguagem das cores era completamente definida: o azul, por exemplo, era a cor da Virgem Maria, e o marrom, a de São João Batista. A manifestação da ideia de um espaço sagrado e atemporal, alheio à vida mundana, foi conseguida com a substituição da luz por fundos dourados. Essas técnicas e conceitos foram aplicados tanto na pintura mural quanto no retábulo e na iluminação de livros". 3 Os Pintores Góticos CIMABUE Num momento em que a arte italiana estava ancorada no estilo bizantino, Cimabue conseguiu renová-la e impulsioná-la para a modernidade, como iniciador da escola florentina do século XIV. Cimabue introduziu a ideia de tratar imagens e obras como indivíduos. Seu grande rival era Duccio, em Siena. Muitas de suas obras estão no interior da Basílica de São Francisco de Assis e na Galleria degli Uffizi, na Itália e no Louvre, em Paris. Julgando por suas encomendas, Cimabue parece ter sido um artista muito reconhecido em seu tempo. Cimabue, Nossa Senhora em Magestade (1285) têmpera DUCCIO Foi provavelmente o mais influente artista de Siena do seu tempo, a figura mais importante da chamada Escola Sienesa. Considerase que Duccio teve grande influência na formação do estilo chamado Gótico Internacional e que influenciou Simone Martini e os Duccio di Boninsegna - Madonna & Child Enthroned with Angels & Saints. Museo dell'Opera del Duomo, Siena irmãos Ambrogio e Pietro Lorenzetti, entre outros. Seu grande rival na época foi Giotto, mestre da Escola Florentina. Contrastando com a pintura gótica do Norte, com Duccio a luta para criar um espaço pictórico parece ter sido ganha. Ele dominara suficientemente os artifícios do iluminismo helenístico-romano para saber como criar o espaço de profundidade pelo acréscimo de varias características arquitetônicas que conduzem o espectador, fazendo-o subir, a partir do primeiro plano, pelo caminho que leva a porta da cidade. Sejam quais forem os erros de perspectiva de Duccio, sua arquitetura demonstra uma habilidade de conter e definir o espaço de uma forma inteligível maior do que tudo que já fora anteriormente produzido pela arte medieval, superior também à maioria dos cenários clássicos e seus derivados bizantinos. (Janson, 1996, p. 150) 4 GIOTTO Devido ao alto grau de inovação de seu trabalho (ele é considerado o introdutor da perspectiva na pintura da época), Giotto é considerado por Bocaccio o precursor da pintura renascentista. Ele é considerado o elo entre o renascimento e a pintura medieval e a bizantina. A característica principal do seu trabalho é a identificação da figura dos santos como seres humanos de aparência comum. Esses santos com ar humanizado eram os Giotto di Bondone, Nossa Senhora com Menino Jesus (1266) mais importantes das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais se firmando até o Renascimento. SIMONE MARTINI Foi um dos mais originais e influentes artistas da escola de Siena, sua cidade natal. Baseando-se nas técnicas de representação tridimensional do espaço, desenvolvidas pelo mestre sienês Duccio di Buoninsegna, Simone adicionou uma refinada linha contornando as figuras, trazendo graça e serenidade à expressão. Pintou vários afrescos, introduzindo a técnica dessa pintura na escola de Siena. Simone Martini não se preocupa muito com a clareza espacial, mas revela-se um observador extraordinário; a grande diversidade de trajes e tipos físicos e a riqueza das situações humanas criam uma atmosfera de realidade concreta que o torna tão diferente do lirismo de Duccio quanto à grandiosidade de Giotto. (Janson, 1996, p. 153). Simone Martini; Caminho para o calvário. C 1340. Têmpera sobre painel, museu do Louvre, Paris. Segundo Janson (1996: 131): “A pintura Gótica chegou ao e apogeu criativo entre 1300 e 1350 na Itália central. Por volta de 1400 tornou-se a arte mais importante ao norte dos Alpes. 5 Assim, ao examinarmos a época gótica como um todo, deparamo-nos com uma mudança gradual de ênfase, da arquitetura para a pintura ou, talvez, do caráter arquitetônico para o pictórico.” Os artistas góticos, embora ainda sofrendo a influência de um tipo de representação inspirada nos cânones bizantinos, pareciam querer desafiar a bidimensionalidade da tela, propondo uma busca espacial tridimensional que abria novas possibilidades representativas. A retratação do castelo ou da cidade, como pano de fundo das cenas religiosas, mostrava o interesse em instaurar um diálogo entre o espaço vivencial conhecido e, portanto, identificável, e o espaço do imaginário coletivo, permeando a cena de uma realidade quase tangível, porque reconhecível. Os efeitos de um bom governo sobre a cidade. Afresco de Ambrogio Lorenzetti, 1337-40. O espaço explorado na tela pelos artistas góticos estimulava o olhar do espectador, capturando sua atenção e exercitando uma função pedagógica (de ensinar) típicas das obras deste período. As histórias bíblicas eram transformadas pelos hábeis pintores em recortes que capturavam uma ação ainda iconograficamente presa ao passado, mas lançada, por meio dos traços cada vez menos rígidos e esquemáticos, para um futuro imagético mais dinâmico. A representação da cidade como ponto de partida para uma reflexão sobre um espaço de múltipla utilização coletiva impulsionou um olhar mais “mundano” a respeito de uma realidade que trazia lentas, mas profundas, mudanças. O olhar unidirecional do frontalismo bizantino se movimentou em outras direções começando a mostrar maneiras diferentes de percepção e apreensão do mundo. As atividades, os episódios e as histórias retratadas, denunciavam a necessidade de mostrar atos e atitudes humanas inseridas num contexto social que adquiria uma importância cada vez maior. O papel do indivíduo e sua “autonomia” foram traduzidos nos corpos e nos rostos, que representados em pose que desafiavam as convenções das épocas anteriores, 6 mostravam possibilidades inusitadas. Um bom exemplo pode ser a figura retratada de costas para o espectador, pintada por Giotto. Inicia assim, o lento caminho rumo à flexibilização representativa do indivíduo e de seu mundo. Nesse contexto, a retratação da profundidade, esse incrível recurso que possibilitou a penetração simbólica da tela e do espaço, parece ter estimulado a busca por um tipo de pintura e escultura que, mesmo ainda ancorada aos cânones antigos, impulsionou um percurso artístico inovador que encontrará no Renascimento seu Giotto - A Lamentação de Cristo)1304-06. Fresco, 200 x 185 cm, Cappella Scrovegni (Arena Chapel), Padua momento de expressão mais intensa e profunda. A escultura nas catedrais “A simetria e a clareza substituíram o movimento frenético e as multidões: as figuras não são mais emaranhadas entre si, mas eretas e independentes, de modo que se visualiza muito melhor o conjunto a grande distância. Em vez de serem tratadas essencialmente como relevos esculpidos, são verdadeiras estátuas, cada qual com seu próprio eixo; pelo menos em teoria poderiam ser destacadas das colunas que lhes servem de suporte. Aparentemente esse primeiro passo (desde o fim da Antiguidade Clássica), no sentido de fazer ressurgir a escultura monumental independente, só poderia ser dado através do ‘empréstimo’ da forma cilíndrica das colunas onde estão colocadas as figuras. Esse método faz com que “A visitação” Estátuas de jamba da fachada oeste da catedral de Reims (1225-90) pareçam presas a numa certa atmosfera de imobilidade, e, no entanto, as suas cabeças já possuem uma suavidade humana que evidencia a busca por um maior realismo.” (Janson, 1996: 141) 7 “Escultura elaborada a partir de figuras rígidas, desproporcionalmente longas para o desenvolvimento de um estilo mais natural. A Visitação representa tanto Maria como sua parenta Elizabeth apoiadas e, uma das pernas, com a parte superior do corpo ligeiramente voltada uma para a outra. Elizabeth, mais velha, tem a face enrugada, revelando profundo caráter, e o drapeado é trabalhado com mais imaginação” (Strickland, 1999:29) 8
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