Estilo Gótico - Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de

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Estilo Gótico - Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de
Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes
História e Cultura das Artes
Ano Lectivo 2007/08
Módulo IV
---------------------------------------------------------------------------------------------------------A cultura da Catedral: o Gótico
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- A eclosão gótica
- A arquitectura gótica;
- A escultura e a pintura góticas;
- O Gótico Final e o limiar do Renascimento;
- A Arte Gótica em Portugal.
Estilo Gótico
Gárgula (neogótica) da Catedral de Notre-Dame em Paris.
O gótico designa uma fase da história da arte ocidental, identificável por características
muito próprias de contexto social, político e religioso em conjugação com valores
estéticos e filosóficos e que surge como resposta à austeridade do estilo românico.
Este movimento cultural e artístico desenvolve-se durante a Idade Média, no contexto
do Renascimento do Século XII e estende-se ao momento do advento do Renascimento
Italiano em Florença, quando a inspiração clássica quebra a linguagem artística até
então difundida.
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Os primeiros passos são dados a meados do século XII em França no campo da
arquitectura (mais especificamente na construção de catedrais) e, acabando por abranger
outras disciplinas estéticas, estende-se pela Europa até ao início do século XVI, já não
apresentando então uma uniformidade geográfica.
A arquitectura, em comunhão com a religião, vai formar o eixo de maior relevo deste
movimento e vai cunhar profundamente todo o desenvolvimento estético.
O termo
Quando a nova estética se expande além das fronteiras francesas, a sua origem
vai ser a base para a sua designação, art français, francigenum opus (trabalho francês)
ou opus modernum (trabalho moderno). Mas vai ser só quando o Renascimento toma o
lugar da linguagem anterior que os novos valores vão entrar em conflito com os ideais
góticos e o termo actual nasce. Na Itália do século XVI, e sob a fascinação pela glória e
cânones da antiguidade clássica, o termo gótico vai ser referido pela primeira vez por
Giorgio Vasari, considerado o fundador da história da arte. Aos olhos deste autor e dos
seus contemporâneos, a arte da Idade Média, especialmente no campo da arquitectura, é
o oposto da perfeição, é o obscuro e o negativo, relacionando-a neste ponto com os
Godos, povo que semeou a destruição na Roma antiga em 410. Vasari cria assim o
termo gótico com fortes conotações pejorativas, designando um estilo somente digno de
bárbaros e vândalos, mas que nada tem a ver com os antigos povos germânicos
(visigodos e ostrogodos).
Somente alguns séculos mais tarde, durante o Romantismo nas primeiras décadas do
século XIX, vai ser valorizada a filosofia estética do gótico. A arte volta-se novamente
para o passado, mas agora para o período misterioso e desconhecido da Idade Média.
Goethe, também fascinado pela imponência das grandes catedrais góticas na Alemanha,
vai acabar por ajudar ao impulso desta redescoberta da originalidade do período gótico,
exprimindo as emoções que lhe são despertas ao admirar os gigantes edifícios de pedra.
Neste momento nasce o Neo-gótico que define e expande o gosto pela utilização de
elementos decorativos góticos e que reconhece pela primeira vez as diferenças artísticas
que separam o estilo românico do gótico.
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Contexto e primeiros passos
Os séculos XI e XII são séculos de mudanças sociais, políticas e económicas que em
muito vão fazer despoletar as necessidades de uma expressão artística mais adequada às
novas premissas sociais.
O comércio está em expansão e a Flandres, como centro das grandes transacções
comerciais, leva ao desenvolvimento das comunicações e rotas entre os diversos povos
e reduz as distâncias entre si, facilitando não só o comércio de bens físicos, como
também a troca de ideais estéticos entre os países. A economia prospera e nasce um
novo mundo cosmopolita que se alimenta do turbilhão das cidades em crescimento e
participa de um movimento intelectual em ascensão.
Paralelamente assiste-se ao crescimento do poder político representado pelo
monarca e à solidificação do Estado unificado, poderosa entidade que vai aspirar a algo
que lhe devolva a dignidade e a glória de outros tempos e que ajude a nação a apoiar a
imagem do soberano.
A igreja, por seu lado, vai compreender que os fiéis se concentram nas cidades e
vai deixar de estar tão ligada à comunidade monástica, virando-se agora para o projecto
do que será o local por excelência do culto religioso, a catedral. Ao contrário da
construção humilde e empírica do românico, a construção religiosa gótica abre portas a
um espaço público de ensinamento da história bíblica, de grandiosidade, símbolo da
glória de Deus e da igreja, símbolo do poder económico da burguesia, do estado e de
todos os que financiaram a elevação do emblema citadino.
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A Filosofia da Luz e a Abadia de Saint-Denis
O colorido e a exaltação da luz na rosácea de Sainte-Chapelle, Paris.
O nascimento do estilo, mais que o seu desaparecimento, pode ser definido
cronologicamente com clareza, nomeadamente no momento da reconstrução da Abadia
real de Saint-Denis sob orientação do abade Suger entre 1137 e 1144. Esta abadia
beneditina situada nas proximidades de Paris, em França, vai ser o veículo utilizado à
comunicação dos novos valores simbólicos: por um lado a dignificação da monarquia,
por outro a glorificação da religião. Este empreendimento tem por objectivo apresentar
o maior centro patriótico e espiritual de toda a França, ofuscando todas as outras igrejas
de peregrinação, trazendo para si mais crentes e restabelecer a confiança entre a igreja e
o seu rebanho.
Para materializar esta ideia várias fontes e influências terrenas vão ter de ser, no
entanto, bem contabilizadas e fundidas. A cabeceira (zona este da igreja) vai ser
emprestada das já existentes igrejas de peregrinação, com abside, deambulatório e
capelas radiantes, assim como a utilização do arco quebrado de influência normanda. A
técnica construtiva dá também neste momento um avanço significativo contribuindo
com a abóbada de nervuras (sobre cruzaria de ogivas) e que vai permitir uma maior
dinâmica e flexibilidade de construção. O impulso destas abóbadas vai ser recebido por
contrafortes no exterior do edifício, libertando o espaço interior e dotando-o de uma
leveza extraordinária.
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Mas mais que uma junção de elementos, o estilo gótico é afirmação de uma nova
filosofia. A estrutura apresenta algo novo, uma harmonia e proporção inovadoras
resultado de relações matemáticas, de ordens claras impregnadas de simbolismo. Suger,
que é fortemente influenciado pela teologia de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, aspira
uma representação material da Jerusalém Celeste. A luz é a comunicação do divino, o
sobrenatural, é o veículo real para a comunhão com o sagrado, através dela o homem
comum pode admirar a glória de Deus e melhor aperceber-se da sua mortalidade e
inferioridade. Fisicamente a luz vai ter um papel de importância crucial no interior da
catedral, vai-se difundir através dos grandes vitrais numa áurea de misticismo e a sua
carga simbólica vai ser reforçada pela acentuação do verticalismo. As paredes, agora
libertas da sua função de apoio, expandem em altura e permitem a metamorfose do
interior num espaço gracioso e etéreo.
O espaço é acessível ao homem comum, atrai-o de uma maneira palpável, que
ele é capaz de assimilar e compreender, o templo torna-se o ponto de contacto com o
divino, um livro de pedra iconográfico que ilustra e ensina os valores religiosos e que
vai, a partir deste momento, continuar o aperfeiçoamento da mesma.
Expansão, ramificação e uniformização
O núcleo central do estilo resume-se inicialmente à zona da Île-de-France, que
abarca a zona de Paris e arredores, mas estende-se eventualmente a todo o território
francês e transborda mesmo para lá das fronteiras ramificando-se pela Europa ocidental,
principalmente a norte dos Alpes. A expansão do movimento alastra com o tempo para
Inglaterra, Alemanha, Itália, Polónia e até à Península Ibérica, embora aqui com menos
impacto.
Seguindo as rotas comerciais o estilo é exportado e vai permanecer por algum
tempo como uma estética de carácter estrangeiro e adaptado. Já no decorrer do século
XIII impõem-se as influências regionais e o estilo assume, dentro de um mesmo eixo
condutor, diversas facetas demarcadas pelas diferentes culturas e tradições europeias.
Mas a corrente artística não vai permanecer imutável e, do mesmo modo que se
ramifica, vai acabar por se influenciar mutuamente e formar um conjunto uniforme e
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homogéneo por volta de 1400, denominado Gótico internacional. A meados do
século XV a área de domínio gótica começa a reduzir e está praticamente extinta um
século depois quando o Proto-Renascimento lança as primeiras ideias.
Em geral verifica-se que, em termos de permanência temporal, o movimento
artístico difere profundamente de local para local, podendo-se, no entanto, definir
aproximadamente as diferentes fases que o compõem.
Vista da Catedral de Colónia em Colónia, Alemanha.
•
Gótico primitivo, ou Proto-gótico
Assumem-se as ideias base e dão-se os primeiros passos com a reconstrução da
Abadia de Saint-Denis.
•
Gótico pleno, ou Gótico clássico
Aperfeiçoam-se as inovadoras técnicas de construção e entra-se na fase do domínio
construtivo arquitectónico com o tempo das grandes catedrais.
•
Gótico tardio
A expressão artística torna-se menos ambiciosa, fruto da crise económica e da Peste
negra do século XIV a par com uma religião mais terrena e mundana praticada pelas
ordens mendicantes.
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•
Variantes decorativas
o Gótico lanceolado: De 1200 a 1300.
o
Gótico radiante, irradiante ou rayonnant (século XIV de 1300 a 1400,
uso de linhas radiais na traceria)
o
Gótico perpendicular (Inglaterra, século XIV, uso de linhas
perpendiculares)
o
Gótico flamejante ou flamboyant (França, século XV de 1400 a 1500).
Momento definido pela exuberância da decoração escultórica nos
edifícios arquitectónicos. A própria designação do momento (flamejante,
que deriva de chama) traduz a essência do novo gosto por uma
ornamentação fluida e ondulante que cobre toda a superfície
arquitectónica como uma teia. Neste momento não existem, no entanto,
evoluções estruturais.
Expressões
Arquitectura
Interior da Catedral de Colónia em Colónia, Alemanha.
Características gerais
•
Verticalismo dos edifícios substitui o horizontalismo do Românico;
•
Paredes mais leves e finas;
•
Contrafortes em menor número;
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•
Janelas predominantes;
•
Torres ornadas por rosáceas;
•
Utilização do arco de volta quebrada;
•
Consolidação dos arcos feita por abóbadas de arcos cruzados ou de ogivas;
•
Nas torres (principalmente nas torres sineiras) os telhados são em forma de
pirâmide.
•
A catedral
A arquitectura gótica não é um momento de ruptura drástica com os ideais
anteriores, mas antes uma assimilação de alguns elementos independentes de diferentes
fontes, metamorfoseada com o novo conceito de interpretação da arte religiosa. Os
primeiros indícios surgem na Normandia do século XI com a era de construção
monástica incentivada pela Ordem de Cluny. Mas já neste momento se aglomeram
diversas influências posteriores que vão ser cruciais à tipologia da catedral gótica: as
arquivoltas e a abóbada de arestas de origem lombarda e franca; a planta basilical
modificada composta por três naves, transepto e três absides de influência carolíngia.
Facto decisivo para a originalidade construtiva é o avanço técnico nas mãos das
corporações de construtores, grupos formados pelos antigos mestres anónimos ao
serviço das construções monásticas, que se movem livremente de obra para obra e
impulsionam a técnica do arcobotante, elemento que vai suportar a impulsão da abóbada
no exterior da catedral e vai libertar as paredes do esforço, tornando-as mais esbeltas e
transmitindo uma ilusão de leveza no interior pela acentuação de verticalidade. Várias
componentes adicionais, como as duas torres ocidentais, o sistema interior de divisão
vertical em três áreas (arcada, trifório e clerestório – zona dos grandes vitrais), as
colunas esguias, os arcos quebrados, a profusão de pináculos e diversos elementos
decorativos vão formar uma tipologia maleável de grandes dimensões, que não obedece
a um padrão pré-definido de número de partes e que varia de caso a caso (ver a título de
exemplo a Catedral de Notre-Dame em Paris). A decoração interna e externa dos
edifícios é bastante complexa e também um dos factores mais importantes. A
geometrização vai dominar e consequentemente encontra-se uma multiplicidade de
elementos compostos por círculos e arcos nos lavores de pedra (traceria) em remates de
vitrais, arcos e gabletes. Estes ornamentos estão principalmente ligados à estilização de
flora, identificando-se também referências ao universo humano e animal.
Elementos arquitectónicos
•
Interior:
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Arcada, Abóbada de nervuras, Arco quebrado, Clerestório, Coluna, Rosácea,
Trifório, Vitral
•
Exterior:
Arcobotante, Arquivolta, Cogulho, Contraforte, Gablete, Gárgula, Florão,
Jamba, Pináculo, Portal, Tímpano, Torre, Traceria
Áreas da catedral
•
Abside, Capelas radiantes ou absides secundárias, Coro, Cruzeiro,
Deambulatório ou charola, Nave, Narthex, Transepto
•
Arquitectura secular
O estilo gótico é, para a sociedade da época, extremamente contagiante e
persuasivo, ultrapassando por isso as barreiras da arquitectura religiosa e transpondo-se
para outras tipologias. Ao invés do românico estas características construtivas
encontram-se, embora em menores dimensões e exuberância, em moradias da
burguesia, câmaras municipais, hospitais e outras construções citadinas (reduzidas, no
entanto, a elementos de índole decorativa).
Escultura Gótica
Esculturas do portal da Catedral de Magdeburgo, As Três Virgens.
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Já na Abadia de Saint-Denis se observa uma maior importância dada à escultura
que no românico, sendo que se vai afirmar pela primeira vez como elemento
independente à arquitectura e com objectivos próprios na Catedral de Chartres. De
qualquer modo a escultura estará ainda estritamente ligada à catedral mas, em oposição
ao “amontoado” do românico, demonstra agora consciência do seu próprio espaço e
ocupa-o de modo ordenado e claro.
Cracóvia
Especialmente no portal de entrada para o templo se encontram as maiores
produções escultóricas que proliferam nas ombreiras (jamba), arquivoltas e tímpanos.
As estátuas nas ombreiras libertam-se progressivamente das colunas e da sua forma
irreal e alongada ganhando volume e vida. A humanização das posturas e gestos é
reforçada pela utilização de um eixo próprio para a figura, eixo este que se vai
ondulando com o tempo e emprega à figura uma acentuada formação em S. Toda uma
nova naturalidade vai determinar a composição e envolvência física: os pés passam a
estar numa plataforma horizontal e não mais num plano inclinado; as roupagens e todo
o volume corporal cedem à gravidade; aumenta a atenção ao pormenor transportado do
quotidiano; e acima de tudo domina uma atitude elegante, uma expressão realista,
serena e profundamente terna que estabelece comunicação pelo olhar, pelo sorriso e
pelo gesto. Nos meados do século XIII esta estética elegante difunde-se, mas no início
do século XIV a busca de efeitos de luz/sombra através do contraste entre volumes
cunha as figuras de uma maior abstracção.
Pintura
A pintura gótica, uma das expressões da arte gótica, não assume um papel de
destaque logo desde o início do desenvolvimento do estilo. Apareceu apenas em 1200
ou quase 50 anos depois do início da arquitectura e escultura góticas. Só mais tarde,
entre 1300 e 1350, a pintura tem o seu apogeu como expressão independente da
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arquitectura. A transição do Românico para Gótico é bastante imprecisa e não uma
quebra definida, mas pode-se perceber o início de um estilo mais sombrio e emotivo que
o do período anterior. Esta transição ocorre primeiro em Inglaterra e França, cerca de
1200, na Alemanha, cerca de 1220 e na Itália, cerca de 1300 e 1400.
•
Vitral
De início a pintura surge como elemento de auxílio à estruturação da catedral numa
das expressões de maior peso simbólico, o vitral. Este método, de unir pedaços de vidro
colorido através de chumbo, foi o que melhor se adaptou à necessidade narrativa do
interior da catedral gótica. Desenvolvendo-se bruscamente com as inovações técnicas de
distribuição de peso das abóbadas, que permitiam a criação de grandes lances de entrada
de luz, esta evolução desafia os mestres-vidreiros obrigando-os a um projecto
metodicamente planeado, distanciando-se progressivamente da influência românica e
assumindo um estilo pictórico próprio a partir de 1200 e com apogeu até 1250. No
entanto a formulação pictórica vai permanecer associada à escultura no sentido em que
as figuras são como estátuas projectadas numa superfície plana. O vitral assume um
forte carácter abstracto sem efeito tridimensional, profundamente geométrico onde os
únicos pormenores permitidos são as delineações a negro dos olhos, cabelos e pregas
das roupas.
Iluminura da Bíblia Morgan, c. 1240, Expulsão dos Israelitas de Ai.
•
Iluminura
Após o apogeu do vitral a iluminura de manuscritos volta a assumir o papel
principal na representação pictórica que vinha já desde o românico, mas no seu
repertório formal passam-se a encontrar referências à arquitectura que até aqui eram
muito limitadas. Por um lado as figuras estão integradas num ambiente arquitectónico
de fundo onde são evidentes os traços do gótico, por outro lado as figuras exibem um
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tratamento volumétrico com as mesmas expressões graciosas e posições sinuosas da
decoração escultórica da catedral. Mas mesmo neste enquadramento arquitectónico a
profundidade e a perspectiva são ainda muito básicos, em grande parte pela contribuição
dos contornos a negro das figuras que fazem lembrar as uniões num vitral e que as
remetem para um plano bidimensional. Esta adopção dos elementos do gótico dever-seà em grande parte à transposição da produção da iluminura dos mosteiros para as
oficinas dos centros urbanos onde o gótico habita. Na última metade do século XIV, a
influência dos mestres italianos no norte europeu é forte e a iluminura ganha uma
estrutura espacial mais harmoniosa.
Drôleries
Estas drôleries designam um tipo próprio de manuscrito ilustrado típico do
gótico setentrional e que acaba por se alastrar a outras regiões. Nesta tipologia as
composições adquirem uma liberdade quase ilimitada reunindo o humor grotesco com o
fantástico e cenas do quotidiano analisadas ao mais ínfimo detalhe.
Fresco de Giotto, A Lamentação, c. 1305, Itália.
•
Mestres italianos
A Itália representa uma região com características muito próprias do estilo gótico. A
influência bizantina, também denominada por maniera greca, de pintura afresco e sobre
madeira, vai estar enraizada até aos finais do século XIII quando a pintura gótica se
começa a desenvolver. Neste momento a pintura apresenta uma escala monumental e
majestosa, uma forte dramatização dos personagens inseridos em planos de pouca
profundidade e perspectiva distorcida. Os temas religiosos dominam e os tons dourados
e vermelhos vão ajudar à associação de importância e santidade das personagens
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bíblicas.
Neste campo Giotto é o expoente da audácia e originalidade estabelecendo pela primeira
vez uma relação física entre a pintura e o espectador.
Gótico português
Arquitectura
Em Portugal, o estilo gótico aparece no último quartel do século XII, com as
obras do Mosteiro de Alcobaça (começado em 1178 e habitado a partir de 1222). O
Mosteiro, fundado pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, para a Ordem
Cisterciense, é a primeira obra totalmente gótica de Portugal. Entretanto, a dissolução
do estilo românico pelo gótico ocorreu lentamente, havendo muitas igrejas portuguesas
de estilo de transição românico-gótico datando do século XIII e até do século XIV.
Mosteiro da Batalha (séc. XIV-XV).
Um marco na arquitectura gótica portuguesa é o Mosteiro da Batalha, construído
a mando do rei D. João I para comemorar a vitória na Batalha de Aljubarrota contra os
castelhanos. A obra do mosteiro, começada em 1388 e que seguiu até o século XVI,
introduziu o gótico internacional flamejante em Portugal, distanciando-se da estética
mendicante. Esse mosteiro influenciaria muitas obras de Portugal do século XV, como a
Igreja da Graça de Santarém, a capela do Castelo de Leiria, a Sé da Guarda, o Convento
da Nossa Senhora da Conceição de Beja, entre outros.
A dissolução do gótico pelo estilo renascentista ocorreu lentamente, sendo o
estilo intermediário chamado manuelino devido a que coincidiu com o reinado do rei D.
Manuel I (1495-1521). O manuelino mistura formas arquitectónicas do gótico final com
a decoração gótica e renascentista, criando um estilo tipicamente português. A partir do
Mosteiro de Jesus de Setúbal, considerado a primeira obra manuelina, o estilo se
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espalha por Portugal e atinge o ápice com a Torre de Belém e o Mosteiro dos
Jerónimos, ambos em Belém (Lisboa), a Igreja do Convento de Cristo de Tomar, as
Capelas Imperfeitas e Claustro Real do Mosteiro da Batalha, além de muitos outros
monumentos.
Além da arquitectura religiosa, muitos castelos foram construídos e/ou
reformados em estilo gótico em Portugal, como os Castelos de Leiria, Estremoz, Beja,
Bragança e Santa Maria da Feira.
Outras artes
Na escultura destacam-se os túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro, no
Mosteiro de Alcobaça (séc. XIV), os túmulos reais do Mosteiro da Batalha (séc. XV),
os túmulos da Sé de Lisboa, e das Sés de Braga e Évora (sécs. XIV-XV) e muitos
outros. Na pintura destaca-se Nuno Gonçalves e os Painéis de São Vicente (cerca de
1470), atribuídos a ele e hoje no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa.
O gótico e os descobrimentos
Sé do Funchal (séc.XV-XVI)
Durante o século XV e início do século XVI, os estilos gótico e manuelino
foram levados pelos portugueses a seus domínios d'além mar, particularmente as ilhas
atlânticas dos Açores e Madeira. Por exemplo, a Sé do Funchal (capital da Ilha da
Madeira), construída entre 1493 e 1514, é uma típica igreja gótica-manuelina. No
Brasil, por outro lado, não há construções góticas ou manuelinas, devido a que a
colonização do território começou a partir de 1530, quando o estilo renascentista já era
o estilo usado em Portugal.
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Neo-gótico
Vista da Abadia de Westminster em Inglaterra. As torres são neo-góticas (séc. XVIII).
Dentro do espírito revivalista do Romantismo surge o gosto pela recriação de
elementos da arte medieval, especialmente do gótico. Particularmente em Inglaterra esta
nova corrente tem grande adesão, iniciando já em finais do século XVII com a aplicação
de ornamentação ao estilo gótico em algumas construções novas. A partir de meados do
século seguinte, e já não se assumindo somente como uma alternativa ao Rococó, este
gosto é encarado com mais seriedade ficando também conhecido como Victorian
gothic (gótico victoriano).
Mas também a França assume uma posição representativa no Neo-gótico,
liderada pela figura de Viollet-le-Duc e pelo seu trabalho na área do restauro em
diversas catedrais francesas góticas. Não só assumiu um papel pedagógico no
ensinamento das técnicas de aplicação deste gosto em construções modernas, como
também compilou na Encyclopédie médiévale as diversas variantes formais do estilo,
desde a arquitectura à indumentária da época.
Com mais ou menos intensidade o fascínio por esta época passada manteve-se até aos
nossos dias um pouco por todo o mundo ocidental entrando pelo século XX adentro nas
diversas vertentes artísticas ecléticas.
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Neo-gótico no Brasil
Conjunto arquitectónico Nossa Senhora da Piedade, em Ilhéus, Bahia. (séc. XX).
Catedral da Sé de São Paulo (séc. XX).
Edificações góticas autênticas não existem no Brasil, mas o revivalismo neogótico popularizou-se a partir do reinado de D. Pedro II. Uma das igrejas neo-góticas
brasileiras mais antigas é a Catedral de Petrópolis, começada em 1884 mas só concluída
em 1925, que abriga os túmulos do Imperador e sua família. Outro exemplo precoce é a
Igreja do Santuário do Caraça, em Minas Gerais, reconstruída em estilo neo-gótico
entre 1860 e 1885. No Rio de Janeiro, o pitoresco Palácio da Ilha Fiscal foi construído
entre 1881 e 1889 sobre uma ilha na Baía da Guanabara.
A Catedral da Sé de São Paulo (1913-1954), a Catedral de Santos (1909-1967) e
a Catedral de Belo Horizonte (começada em 1913) são exemplos de edifícios neogóticos tardios. O neo-manuelino (variante portuguesa do neo-gótico) está representado
no Brasil em edifícios como o Real Gabinete Português de Leitura (1880-1887), no Rio
de Janeiro, e o Centro Português de Santos (1898-1901).
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Bibliografia
•
DROSTE-HENNINGS, Julia, DROSTE, Thorsten, Paris-Eine Stadt und ihr
Mythos, DuMont Buchverlag, Köln, 2000, ISBN 3-7701-3421-4
•
JANSON, H. W., História da Arte, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
1992, ISBN 972-31-0498-9
•
JAXTHEIMER, Bodo W., Die Baukunst-Stillkunde Gotik, Bechtermünz Verlag,
1982, ISBN 3-927117-439
•
FERRATER MORA. Diccionario de Filosofia. México: Editorial Atlante, 1944.
•
PANOFSKY, Erwin. O Abade Suger de S. Denis. In, Significado nas Arte
Visuais. São Paulo: Perspectiva, 2002.
•
TONAZZI, Pascal. Florilège de Notre-Dame de Paris (anthologie). Editions
Arléa, Paris, 2007, ISBN 2869597959
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