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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos Tese INFLUÊNCIA DA LINHAÇA E SUAS FRAÇÕES NOS NÍVEIS DE COLESTEROL E NA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE EM RATOS HIPERCOLESTEROLÊMICOS LÚCIA ROTA BORGES Pelotas, 2013 ii LÚCIA ROTA BORGES INFLUÊNCIA DA LINHAÇA E SUAS FRAÇÕES NOS NÍVEIS DE COLESTEROL E NA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE EM RATOS HIPERCOLESTEROLÊMICOS Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Orientador: Prof. Dr. Álvaro Renato G. Dias Co-Orientadora: Profa. Dra. Elizabete Helbig Pelotas, 2013 Dados de catalogação na fonte: (Marlene Cravo Castillo – CRB-10/744) B732i Borges, Lucia Rota Influência da linhaça e suas frações nos níveis de colesterol e na atividade antioxidante em ratos hipercolesterolêmicos / Lucia Rota Borges; orientador Álvaro Renato Guerra Dias; co-orientador Elizabete Helbig Pelotas, 2013.-132f.: il. - Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2013. 1.Linhaça 2.Estresse oxidativo 3.Dislipidemia 4.Ratos Wistar I. Dias, Álvaro Renato Guerra (orientador) II.Título. CDD 664.7 iii BANCA EXAMINADORA: _____________________________________________________ Prof. Dr. Álvaro Renato Guerra Dias (DCTA/UFPEL) Orientador _____________________________________________________ Profa. Dra. Elizabete Helbig (PPGNA/UFPEL) Co-orientadora _____________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Duzzo Gamaro (CCQFA/UFPEL) _____________________________________________________ Profa. Dra. Leonor Almeida de Souza Soares (PPGECA/FURG) _____________________________________________________ Profa. Dra. Renata Torres Abib (PPGNA/UFPEL) iv Dedico este trabalho aos meus pais, meus maiores exemplos. v AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me dado à vida e nunca me faltar nas horas de angústia. Aos meus pais, Marco Antônio e Cecília, pelo apoio, incentivo, dedicação, exemplo e oportunidades de estudo. Ao meu esposo Ângelo, pelo apoio e compreensão de tantas ausências. Te amo! Aos meus irmãos, Amélia e Eduardo, por todo o carinho, proteção, incentivo e, por terem me dado os bens mais preciosos da minha vida, meus afilhados: João Francisco, Helena e Ana Júlia, assim como à minha prima Cláudia, por ter colocado a Ana Clara em minha vida. Aos meus queridos cunhados, Richar e Josi, pelo carinho e por confiarem a mim o amor dos seus filhos. Ao orientador deste estudo, Professor Álvaro Renato, pela oportunidade de trabalho. A minha co-orientadora, Professora Elizabete Helbig, pela orientação desta tese e esclarecimento das dúvidas que surgiram no decorrer deste trabalho. Aos Professores do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial (PPGCTA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pelo conhecimento transmitido. Aos membros da banca de qualificação e tese, Professoras Giovana Gamaro, Leonor Almeida de Souza Soares e Renata Torres Abib, pelas contribuições que muito enriqueceram este trabalho. Um, agradecimento, muito especial as minhas grandes amigas Flávia Fernandes Paiva, Vânia Zanella Pinto, Fernanda Moura e Bruna Klein, por estes anos de agradável convivência e companheirismo – nunca esquecerei de vocês! Aos colegas do Laboratório de Grãos, Bruna Arns, Joana Maria de Souza, Franciene Villanova, Juliane Mascarenhas, Josiane Bartz, Franciela Spier, Alexandra Morás, Ricardo Paraginski, Ricardo Pohndorf, Nathan Vanier, Maurício de Oliveira, Rafael Schiavon, Daniel Rutz, Gilberto Fagundes, Diego Zeni, Cristiano Ferreira e Marcos Pereira, pela receptividade, companheirismo e auxílio nos momentos de necessidade. vi As minhas colegas Angelita Leitão, Francine Bueno, Cleonice Gonçalves da Rosa, Magna Lameiro, Vanessa Pestana, Andressa Jacques, por todo apoio recebido. A minha grande amiga e incentivadora Fabiana Lemos Goularte Dutra – valeu Fabi, muito obrigada por tudo! Ao meu colega da Faculdade de Nutrição Professor Carlos Castilhos Barros, pelo auxílio na tradução. Ao Prof. José Cláudio Fonseca Moreira e ao doutorando Guilherme Antônio de Behr do Laboratório do Centro de Estudos em Estresse Oxidativo do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela atenção e colaboração na realização das análises bioquímicas. Aos médicos veterinários Priscila Moura de Leon e Rafael Aldrighi Tavares e as Professoras Rosane da Silva Rodrigues e Mirian Galvão Machado pelo auxilio na eutanásia dos animais. A Professora Francieli Stefanello, pelo empréstimo da guilhotina. Aos funcionários do Biotério Central da Universidade Federal de Pelotas pelo apoio a este trabalho. Aos alunos da Faculdade de Nutrição, que foram fundamentais para o desenvolvimento do ensaio biológico. A Faculdade de Nutrição, por oportunizar a realização deste estudo. E por fim a todos os que, direta ou indiretamente, contribuíram para o término desta tese. Muito Obrigada! vii O destino das nações depende daquilo e de como as pessoas se alimentam (Brillat-Savarin, 1825) viii RESUMO BORGES, Lúcia Rota. Influência da linhaça e suas frações nos níveis de colesterol e na atividade antioxidante em ratos hipercolesterolêmicos. 2013. 132f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. A alimentação adequada aliada à prática regular de atividade física é fator benéfico para a manutenção da saúde. Determinadas enfermidades que afetam o homem moderno decorrem de hábitos alimentares pouco saudáveis, como o consumo de alimentos altamente refinados e de elevada densidade calórica, aliados ao sedentarismo. A dieta, além de prover os nutrientes necessários aos requerimentos metabólicos do organismo, fornece compostos nutrientes, capazes de modular as funções orgânicas, favorecendo a prevenção e/ou o tratamento de doenças. A linhaça vem sendo considerada um alimento com nutrientes importantes para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e para um melhor funcionamento do organismo. Baseado nesse contexto propôs-se a avaliação do efeito da linhaça e seus subprodutos em ratos alimentados com dietas normolipídicas e hiperlipídicas e evidenciar se existe uma ação sinérgica entre os constituintes deste grão. No primeiro artigo, o objetivo foi avaliar o efeito do grão e do farelo desengordurado de linhaça no perfil lipídico e na lipoperoxidação hepática em ratos; os resultados obtidos indicam que a inclusão de grão e farelo na dieta dos animais promoveu redução nos níveis de colesterol total, tanto no grupo normolipídico, quanto no hiperlipídico e proporcionou melhoras significativas nos níveis da lipoproteína HDL-c. Quanto à lipoperoxidação hepática, observou-se o efeito benéfico tanto do grão, quanto do farelo entre os animais. No segundo artigo o objetivo foi avaliar o efeito apenas do óleo de linhaça nos animais alimentados com dietas com diferentes concentrações lipídicas; os resultados demonstraram o efeito benéfico do óleo de linhaça no colesterol e nos níveis de triacilgliceróis mesmo numa situação de dieta hiperlipídica. Por outro lado, a inclusão de óleo de linhaça promoveu redução nos níveis de HDL-c. Contudo, pode-se constatar que os efeitos da linhaça e de seus subprodutos foram diferentes dependendo do conteúdo lipídico da dieta ingerida e do percentual de produto adicionado, evidenciando que o tipo de dieta consumida é um fator de grande influência para o desenvolvimento de patologias, como as dislipidemias. Palavras-chave: Linhaça. Dislipidemia. Estresse oxidativo. Ratos Wistar ix ABSTRACT BORGES, Lúcia Rota. Influence of linseed and its fractions in the cholesterol levels and antioxidant activity in hypercholesterolemic rats. 2013. 132f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. The proper nutrition combined with regular physical activity is beneficial factor for the maintenance of health. Certain diseases that affect modern man comes from unhealthy eating habits such as the consumption of highly refined foods with high calorie density, coupled with a sedentary lifestyle. The diet, besides provide nutrients necessary for the metabolic requirements of the organism, provides nutrients compounds capable of modulating physiological functions, favoring the prevention and/or treatment of diseases. Flaxseed has been considered a food with nutrients important for the prevention of chronic diseases and to improve the functioning of the organism. Based on this framework was proposed to evaluate the effect of flaxseed and its subproducts in rats fed with normal fat diet and high fat diet and show whether there is a synergistic action between the constituents of this grain. In the first article we evaluated the effect of grain and bran defatted flaxseed on lipid profile and hepatic lipid peroxidation in rats. The results indicate that the inclusion of grain and bran in diet caused a reduction in total cholesterol in both groups, normal fat diet as well as in high fat diet, and provided significant improvements in the levels of HDL-c. Concerning the hepatic lipid peroxidation, was observed beneficial effect of both grain and bran between the animals. In the second article we evaluated the effect of flaxseed oil only in animals fed diets with different lipid concentrations, the results demonstrated the beneficial effect of flaxseed oil on cholesterol and triglyceride levels even in a situation of high fat diet. Moreover, the addition of linseed oil promoted reduction in HDL-c. However, it can be seen that the effects of flaxseed and its by products were different depending on dietary fat intake and the percentage of product added, indicating that the type of diet consumed is a factor of great influence to the development of pathologies as dyslipidemia. Key Words: Flaxseed. Dyslipidemia. Oxidative stress. Wistar rats x LISTA DE FIGURAS REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Figura 4.1 Planta do linho..............................................................................22 Figura 4.2 Linhaça dourada (a) e linhaça marrom (b)...................................22 Figura 4.3 Estrutura dos ácidos graxos das famílias ω-3, ω-6 e ω-9............27 Figura 4.4 Vias de síntese dos ácidos graxos das famílias ω-3 e ω-6..........29 Figura 4.5 Metabolismo das lignanas da linhaça...........................................36 ARTIGO 1 Influência do grão e do farelo desengordurado de linhaça no perfil lipídico e dano oxidativo hepático em ratos Wistar Figura 1 Evolução ponderal de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas (a) e hiperlipídicas (b)....................74 Figura 2 Lipoperoxidação hepática dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas...........................................75 Figura 3 Lipoperoxidação hepática dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas hiperlipídicas.............................................76 Figura 4 Níveis de CAT no fígado dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas (a) e hiperlípidicas (b)............77 ARTIGO 2 Efeito biológico do óleo de linhaça em ratos wistar submetidos à dieta normolipídica e hiperlipídica Figura 1 Atividade enzimática da CAT no sangue das ratas Wistar.........110 Figura 2 Atividade enzimática da SOD no sangue das ratas Wistar........111 xi LISTA DE TABELAS ARTIGO 1 Influência do grão e do farelo desengordurado de linhaça no perfil lipídico e dano oxidativo hepático em ratos Wistar Tabela 1 Formulação das dietas experimentais..........................................69 Tabela 2 Ganho de peso total (GPT), consumo diário (CD) e quociente de eficiência alimentar (QEA) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas................................................70 Tabela 3 Ganho de peso total (GPT), consumo diário (CD) e quociente de eficiência alimentar (QEA) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas hiperlipídicas..................................................71 Tabela 4 Dosagens sorológicas (mg.dL-1) de colesterol total, HDL-c, LDL-c, VLDL-c e TAG das ratas fêmeas Wistar/UFPel alimentadas durante 54 dias com as dietas normolipídicas..............................72 Tabela 5 Dosagens sorológicas (mg.dL-1) de colesterol total, HDL-c, LDL-c, VLDL-c e TAG das ratas fêmeas Wistar/UFPel alimentadas durante 54 dias com as dietas hiperlipídicas................................73 ARTIGO 2 Efeito biológico do óleo de linhaça em ratos wistar submetidos à dieta normolipídica e hiperlipídica Tabela 1 Formulação das dietas experimentais em g.kg -1 de dieta..........105 Tabela 2 Composição de ácidos graxos do óleo de linhaça.....................106 Tabela 3 Gordura peritoneal (GP), consumo total de dieta (CTD) e quociente de eficiência alimentar (QEA) de ratas fêmeas Wistar/UFPEL alimentadas durante o período experimental......107 Tabela 4 Lipídeos fecais (%), Massa hepática (%) e Lipídeos hepáticos (%) de ratas fêmeas Wistar/UFPEL alimentadas durante o período experimental...............................................................................108 Tabela 5 Dosagens sorológicas (mg.dL-1) de CT, HDL-c, LDL-c, VLDL-c, TAG e CT/HDL de ratas fêmeas Wistar/UFPEL alimentadas durante o período experimental..................................................109 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA ÁCIDO ARAQUIDÔNICO AHA AMERICAN HEART ASSOCIATION AIN AMERICAN INSTITUTE OF NUTRITION ALA ÁCIDO ALFA-LINOLÊNICO AL ÁCIDO LINOLEICO ANOVA ANÁLISE DE VARIÂNCIA CAT CATALASE CD CONSUMO DIÁRIO CEEA COMITÊ DE ÉTICA EM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL cm CENTÍMETROS COBEA COLÉGIO BRASILEIRO DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL COX CICLOOXIGENASE CT COLESTEROL TOTAL CTD CONSUMO TOTAL DIÁRIO DCNT DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS DHA ÁCIDO GRAXO DOCOSAHEXAENÓICO DNA ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO END ENTERODIOL ENL ENTEROLACTONA EPA ÁCIDO GRAXO EICOSAPENTAENÓICO ERO ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO FAEM FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL g GRAMAS GPT GANHO DE PESO TOTAL GPx GLUTATIONA PEROXIDASE GR GLUTATIONA REDUTASE GSH GLUTATIONA GSSG GLUTATIONA OXIDADA H HIPERLIPÍDICA HDL-c LIPOPROTEÍNA DE ALTA DENSIDADE HMGA ÁCIDO HIDROXIMETILGLUTÁRICO xiii LCAT LECITINA COLESTEROL ACILTRANSFERASE LDL-c LIPOPROTEÍNA DE BAIXA DENSIDADE LOX LIPOXIGENASE LT LEUCOTRIENO LTB4 LEUCOTRIENO B4 LTB5 LEUCOTRIENO B5 MDA MALONDIALDEÍDO mg MILIGRAMAS OMS ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE PI PESO INICIAL PF PESO FINAL PG PROSTAGLANDINA PGE2 PROSTAGLANDINA E2 PGE3 PROSTAGLANDINA E3 QEA QUOCIENTE DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR RL RADICAL LIVRE SDG SECOISOLARICIRESINOL DIGLUCOSÍDEO SOD SUPERÓXIDO DISMUTASE TAG TRIACILGLICERÓIS TBA ÁCIDO TIOBARBITÚRICO TBARS ESPÉCIES REATIVAS AO ÁCIDO TIOBARBITÚRICO TCA ÁCIDO TRICLOROACÉTICO TXA TROMBOXANO TXA2 TROMBOXANO A2 TXA3 TROMBOXANO A3 UFPEL UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS VLDL-c LIPOPROTEÍNA DE MUITO BAIXA DENSIDADE WHO WORLD HEALTH ORGANIZATION xiv SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................................. viii ABSTRACT............................................................................................................................ ix LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. x LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................. xii 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16 2 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 19 3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 19 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................. 20 4.1 Linhaça (Linum usitatissimum L.) ................................................................................. 20 4.1.1 Principais compostos bioativos presentes na linhaça ............................................. 25 4.1.2 Ácido α-linolênico (ALA)............................................................................................. 25 4.1.3. Fibras alimentares ..................................................................................................... 32 4.1.4. Lignanas ..................................................................................................................... 34 4.2 Dislipidemias .................................................................................................................. 36 4.3 Estresse oxidativo .......................................................................................................... 38 4.3.1 Defesas antioxidantes ................................................................................................ 39 5 ARTIGO 1: Influência do grão e do farelo desengordurado de linhaça no perfil lipídico e dano oxidativo hepático em ratos Wistar ........................................................................ 43 RESUMO .............................................................................................................................. 44 ABSTRACT........................................................................................................................... 45 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 46 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 49 RESULTADOS ..................................................................................................................... 52 DISCUSSÃO......................................................................................................................... 54 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 62 xv 6 ARTIGO 2: Efeito biológico do óleo de linhaça em ratos Wistar submetidos à dieta normolipídica e hiperlipídica ................................................................................................ 77 RESUMO .............................................................................................................................. 78 ABSTRACT........................................................................................................................... 79 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 80 MÉTODOS ............................................................................................................................ 82 RESULTADOS ..................................................................................................................... 86 DISCUSSÃO......................................................................................................................... 89 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 96 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 97 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 111 8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 112 9 APÊNDICES .................................................................................................................... 127 10 ANEXOS ........................................................................................................................ 132 16 1 INTRODUÇÃO O crescimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) é considerado um dos maiores problemas de saúde pública, sendo responsável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), por aproximadamente 60% do total de mortes no mundo e 46% da carga global de doenças (SCHMIDT; DUNCAN, 2011; WHO, 2011; MUNIZ et al., 2012; SANTOS et al., 2013). No Brasil, as DCNT são consideradas o problema de maior magnitude, representando cerca de 70% das causas de mortes, atingindo de maneira significativa as camadas mais pobres da população e grupos considerados mais vulneráveis, como a população de baixa escolaridade e renda (BRASIL, 2011). Em 2007, a taxa de mortalidade por DCNT no país foi de 540 óbitos por 100 mil habitantes (SCHMIDT et al., 2011). E, segundo o Estudo de Carga Global de Doenças, 58% dos anos de vida serão perdidos precocemente em função da ocorrência de DCNT (BRASIL, 2012). Diante da alta incidência de DCNT e da grande preocupação que envolve este tema, em 2011 foi lançado o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT no Brasil 2011-2022. Este plano tem por finalidade preparar o país para o enfrentamento, nos próximos dez anos, das DCNT, dentre elas as doenças circulatórias, cânceres, respiratórias crônicas e diabetes, promovendo o desenvolvimento e a implantação de políticas públicas efetivas e integradas, para a prevenção e o controle destas patologias e seus fatores de risco (BRASIL, 2011). Atualmente, as modificações dos hábitos alimentares convergem para um padrão dietético rico em gorduras (particularmente as de origem animal), colesterol, açúcar e alimentos refinados, e reduzido em carboidratos complexos e fibras. Aliada a estas modificações alimentares, a falta de tempo para as refeições, o tabagismo, o abuso excessivo de álcool e o declínio progressivo da atividade física, influenciaram de maneira significativa para o aumento das DCNT (KAC et al., 2007; CAPILHEIRA et al., 2008; BRASIL, 2011, 2012; GIMENO et al., 2011; MUNIZ et al., 2012). Além disso, outros fatores de risco podem ser citados como responsáveis pela ocorrência de DCNT, como os níveis séricos de LDL-colesterol e triacilgliceróis, bem como a redução dos 17 níveis de HDL-colesterol (MOREIRA et al., 2006; MOLENA-FERNANDES et al., 2010). Os danos para a saúde que podem decorrer do consumo insuficiente ou excessivo de determinados alimentos são há muito tempo conhecidos e diversos estudos tem evidenciado a relação entre o risco de DCNT e as características qualitativas da dieta na definição do estado de saúde (ALFAIA et al., 2009; VELMURUGAN et al., 2010; WHO, 2011; LORGERIL; SALEN, 2012). A dieta, além de prover os nutrientes necessários aos requerimentos metabólicos do organismo, fornece compostos capazes de modular funções orgânicas, favorecendo a prevenção e/ou o tratamento de doenças (RUDKOWSKA; JONES, 2007; KOMATSU; BURITI; SAAD, 2008; VINHOLES; ASSUNÇÃO; NEUTZLING, 2009; MARQUES et al., 2011). As diretrizes alimentares evidenciam a necessidade de implantação de estratégias efetivas para a redução da morbimortalidade relacionada à alimentação inadequada, recomendando a inclusão de fibras, grãos, vegetais, frutas, entre outros na alimentação dos indivíduos, e a redução de alimentos ricos em gorduras, sódio, açúcares, alimentos com alto conteúdo calórico e ultraprocessados, como doces e refrigerantes (BRASIL, 2006, 2012; FERREIRA; MAGALHÃES, 2007; WHO, 2011). Baseado neste contexto, a linhaça é um alimento que tem atraído a atenção de pesquisadores, em razão de suas propriedades nutricionais, sendo considerado um alimento com atributos funcionais, além do baixo custo, o que a tornaria uma opção viável de consumo às populações de baixa renda (ALMEIDA et al., 2009; PAN et al., 2009; COUTO; WICHMANN, 2011; MARQUES et al., 2011; SIMBALISTA et al., 2012; KASOTE, 2013). Esta oleaginosa, pertencente à família das Lináceas, é rica em ácidos graxos poli-insaturados, principalmente ácido α-linolênico (ALA) da série ω-3, aminoácidos, lignanas, fibras, ácidos fenólicos, vitaminas e minerais, o que confere a esta planta características benéficas e relevantes à saúde, principalmente devido ao seu efeito hipocolesterolêmico e nos níveis séricos de triacilgliceróis (BASSETT; RODRIGUEZ-LEYVA; PIERCE, 2009; RODRIGUEZLEYVA et al., 2010). Além disso, em função da sua composição nutricional, 18 apresenta ação antioxidante e efeito quelante sobre metais catalisadores da peroxidação lipídica (HUBER; RODRIGUES-AMAYA, 2008; KASOTE, 2013). Em razão da alta incidência e prevalência de DCNT e sua associação com uma alimentação inadequada, há a necessidade de pesquisas com a finalidade de explorar o potencial da linhaça como um alimento com propriedades funcionais, com atuação na prevenção da hipercolesterolemia e aumento da atividade antioxidante e assim contribuir para a saúde da população em geral. 19 2 OBJETIVO GERAL Avaliar a influência da linhaça (Linum usitatissimum L.) nos níveis de colesterol e na atividade antioxidante em ratos hipercolesterolêmicos. 3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliar o efeito de dietas normolipídicas e hiperlipídicas adicionadas ou não de grão, farelo desengordurado e óleo de linhaça, no ganho de peso, ingestão diária e acúmulo de gordura peritoneal em ratos; Avaliar a composição proximal do grão e do farelo desengordurado de linhaça; Analisar o perfil de ácidos graxos do óleo de linhaça; Determinar o perfil sérico lipídico de ratos tratados com dietas normolipídicas e hiperlipídicas contendo grão, farelo desengordurado e óleo de linhaça; Avaliar o efeito de dietas normolipídicas e hiperlipídicas adicionadas ou não de grão, farelo desengordurado e óleo de linhaça na excreção fecal de lipídeos em ratos; Avaliar o efeito de dietas normolipídicas e hiperlipídicas adicionadas ou não de grão, farelo desengordurado e óleo de linhaça nos lipídeos hepáticos de ratos; Avaliar a atividade antioxidante do grão, farelo desengordurado e óleo de linhaça em dietas normolipídicas e hiperlipídicas na proteção contra a lipoperoxidação, na modulação da peroxidação lipídica e na atividade de enzimas antioxidantes. 20 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 Linhaça (Linum usitatissimum L.) A linhaça ou linho é uma cultura antiga com mais de 200 espécies reconhecidas. Planta herbácea, pertencente à família Linaceae, tem origem na Ásia. Seu nome botânico, Linum usitatissimum L., significa “a maior parte comestível” (CARTER, 1993; SAMMOUR, 1999; OOMAH; DER; GODFREY, 2006). É uma planta de importante cultivo em países como Canadá considerado o maior produtor mundial - seguido pelos Estados Unidos, Índia, China, Ucrânia, Rússia, Bélgica, França e Alemanha. Na América do Sul, em termos de produção destaca-se a Argentina. No Brasil, tem seu maior cultivo no Rio Grande do Sul, principalmente no noroeste gaúcho (TRUCOM, 2006; NOVELLO; POLLONIO, 2011; FLAX COUNCIL OF CANADÁ, 2012). A planta da linhaça é aproveitada pela indústria em quase toda a sua totalidade. Seu caule é utilizado pela indústria têxtil na fabricação de linho e o grão é utilizado para obtenção de óleo, usado na fabricação de tintas, resinas e vernizes (BOMBO, 2006; JACINTO, 2007; NOVELLO; POLLONIO, 2011). Após a extração do óleo, realizada geralmente a frio, tem-se como subproduto o farelo de linhaça desengordurado, com elevado conteúdo de fibras e proteínas destinado à produção de ração animal (PITA et al., 2006). A planta do linho (Figura 4.1) apresenta uma altura entre 30 a 130 cm, com talos eretos, folhas estreitas, lineares ou lanceoladas, flores de coloração azul e cápsula globosa (cachopas), localizadas nas extremidades dos ramos das quais saem os grãos. Estes, pequenos e pontiagudos, finos e ovalados, apresentam em média 5 mm de comprimento, 2,5 mm de largura e 1,5 mm de espessura (EPAMINONDAS, 2009; NOVELLO; POLLONIO, 2011). 21 Figura 4.1. Planta do linho Fonte: TRUCOM, 2006. A cor do grão varia do marrom avermelhado ao dourado (Figura 4.2), sendo determinada pela quantidade de pigmentos que, gradativamente, escurecem o grão. A coloração, também pode ser alterada, por práticas de reprodução da planta, além das condições de armazenamento (MORRIS, 2007; FLAX COUNCIL OF CANADÁ, 2012). A B Figura 4.2. A – Linhaça dourada / B- Linhaça marrom Fonte: TRUCOM, 2006. 22 No Brasil, a cultura da linhaça marrom é a mais praticada em função da adaptação da planta ao clima quente e úmido, ao solo e às técnicas de manuseio. A variedade dourada é cultivada em regiões frias como o Canadá e o norte dos Estados Unidos (TRUCOM, 2006). Apesar de alguns questionamentos indicarem que a cor do grão pode estar relacionada com a sua composição química, ambas as variedades apresentam as mesmas propriedades nutricionais, com mínimas diferenças e, que de modo geral, podem ser resultantes das condições de cultivo (COSKUNER; KARABABA, 2007; EPAMINONDAS, 2009; MOLENA- FERNANDES et al., 2010). A linhaça dourada, por exemplo, apresenta quantidade de lignanas um pouco acima da linhaça marrom, no entanto, em relação ao conteúdo de ácido α-linolênico, há uma discreta vantagem para a marrom (GOMES et al., 2012). O cultivo da linhaça marrom é efetuado com o uso de agrotóxicos, o que não ocorre com a variedade dourada (LIMA, 2008). Não exige grandes tratos culturais, sendo seu cultivo realizado, muitas vezes, no processo de rotação de culturas, com a finalidade de recuperar terras cansadas e evitar o desgaste e a erosão do solo, aproveitando assim a adubação residual do milho e da soja (CAMPOS, 2007; SOARES, et al., 2009). O plantio é feito em linhas e ocorre, geralmente, durante o outono, nos meses de abril a junho, dando-se a colheita entre a primavera e o verão (novembro a dezembro) (TRUCOM, 2006). Na alimentação humana, os grãos de linhaça podem ser consumidos inteiros ou na forma de farinha, sendo acrescentados diretamente a outros alimentos. A principal aplicação é em produtos forneados, para aumentar a quantidade e qualidade de fibras e proteínas, como em pães, biscoitos e bolos (GALVÃO et al., 2008; POHJANHEIMO et al., 2006; MACIEL; PONTES; RODRIGUES, 2008). Alguns estudos também têm avaliado a adição de linhaça em carnes e produtos cárneos, com a finalidade de avaliar os efeitos sobre a composição de ácidos graxos destes produtos e sua aceitação sensorial (GUILLEVIC; KOUBA; MOUROT, 2009; ANJUM et al., 2013). A goma ou mucilagem é outro derivado da linhaça. É uma substância viscosa, facilmente extraída do grão e que apresenta boa capacidade de retenção hídrica, sendo utilizada como substituta da goma arábica. Tem 23 elevado valor tecnológico na indústria alimentícia e cosmética, especialmente pelo seu excelente potencial como hidrocolóide, destacando-se a sua capacidade de inchamento e alta viscosidade em solução aquosa (CHEN; XU; WANG, 2006). Além dos benefícios tecnológicos que esta porção de fibra possui, ela também pode atuar reduzindo a absorção pós-prandial de glicose. Este processo de redução da absorção se dá em função do aumento da viscosidade do conteúdo do intestino delgado e do retardo na absorção de carboidratos (MORRIS, 2007). Com relação à composição química, a linhaça é uma oleaginosa rica em lipídeos, fibras e proteínas (MORRIS, 2007; NOVELLO; POLLONIO, 2011). Sua composição média é de 41% de lipídeos, 20% de proteínas, 28% de fibra total, 7,7% de umidade, 3,5% de cinzas e 1% a 2% de açúcares simples, além de ser uma fonte importante de compostos fenólicos e vitaminas A, D, E e K (ZHENG et al., 2005; MORRIS, 2007; NOVELLO; POLLONIO, 2011; KASOTE, 2013). Os valores de composição nutricional podem variar dependendo da variedade do grão, localização, cultivar, condições ambientais, forma de processamento e, até mesmo, em função dos métodos utilizados na análise (TREVINO et. al., 2000, COSKUNER; KARABABA, 2007; MORRIS, 2007; NOVELLO; POLLONIO, 2011). Com relação à sua composição lipídica, 75% encontra-se no embrião e 30% no endosperma e na casca do grão (MORRIS, 2007). A linhaça apresenta baixo percentual de ácidos graxos saturados, em torno de 9%. Por outro lado, quanto ao perfil de ácidos graxos poli-insaturados, este grão possui um percentual satisfatório, sendo 57% composto pelos ácidos graxos poliinsaturados α-linolênico, 16%, pelo ácido linoleico e 18%, pelos ácidos graxos monoinsaturados ω-9 (ácido oleico). Em função da significativa presença de ALA no grão, a linhaça é considerada a maior fonte vegetal deste ácido graxo essencial (COSKUNER; KARABABA, 2007; MORRIS, 2007; NOVELLO; POLLONIO, 2011; KATARE et al., 2012). Quanto ao conteúdo proteico, é uma ótima fonte de proteína vegetal, com seu valor nutritivo comparável à soja (OOMAH; DER; GODFREY, 2006; MORRIS, 2007). As principais proteínas encontradas neste grão são a 24 albumina, responsável por 20% a 40% da proteína total e a globulina (73,4%) (MORRIS, 2007; NOVELLO; POLLONIO, 2011). Quanto ao perfil de aminoácidos, o grão apresenta teor elevado de arginina, ácido aspártico e ácido glutâmico (AUBRECHT et al., 1998; KATARE et al., 2012). Apesar de apresentar aproximadamente 30% de carboidratos totais, a linhaça não é considerada um alimento glicêmico, pois possuí baixo teor de açúcares simples e amido (1% a 2%). A maioria dos carboidratos presentes no grão pertencem ao grupo das fibras dietéticas, representando cerca de 28% do total de carboidratos. A proporção entre fibra solúvel (mucilagem) e insolúvel (celulose e lignina) varia entre 20:80 e 40:60 (MORRIS, 2007; FIGUEROLA; MUÑOZ; ESTÉVEZ, 2008; NOVELLO; POLLONIO, 2011; KATARE et al., 2012). O grão apresenta ainda outros constituintes, como os compostos fenólicos, destacando-se os ácidos fenólicos (aproximadamente 1%), os flavonóides (35 a 70 mg/100 g) e as lignanas. A linhaça é considerada a maior fonte vegetal de lignanas, principalmente o diglicosídeo secoisolariciresinol (SDG) (FIGUEROLA; MUÑOZ; ESTÉVEZ, 2008; NOVELLO; POLLONIO, 2011; KATARE et al., 2012; KASOTE, 2013). Quanto aos minerais, há em sua composição predominância de cálcio, magnésio, fósforo e potássio. Em relação ao conteúdo de vitaminas, contém vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis, com destaque para a vitamina E, sendo o isômero Ɣ-tocoferol o maior representante, que atua como um antioxidante biológico, protegendo proteínas celulares e evita a peroxidação lipídica, além de auxiliar na excreção de sódio pela urina, auxiliando na redução dos níveis de pressão arterial (MORRIS, 2007). Segundo Oomah, Der e Godfrey (2006) o conteúdo de Ɣ-tocoferol presente na linhaça relaciona-se com o alto conteúdo de ácido α-linolênico e pode variar de 8,5 a 39,5 mg/100 g de grão (MORRIS, 2007; KATARE et al., 2012). A linhaça apresenta ainda fatores antinutricionais, como o ácido fítico, oxalato, glicosídios cianogênicos e a linatina (ligante da vitamina B 6). Estes são fatores antinutricionais que podem prejudicar a digestibilidade do grão, entretanto, só trariam riscos ao consumo humano com a ingestão em altas 25 doses de linhaça crua (acima de 60 g/dia) (PRASAD, 2005; COUTO; WICHMANN, 2011). 4.1.1 Principais compostos bioativos presentes na linhaça A cultura da linhaça é de interesse tanto da comunidade cientifica quanto da população em geral, em função das suas características nutricionais e fisiológicas relevantes à saúde (MATIAS, 2007; KATARE et al., 2012; KASOTE, 2013). Além de suas qualidades têxteis, a linhaça tem sido amplamente estudada e considerada um alimento com alegação de propriedade funcional e de saúde1, conferido pela presença de ácido graxo α-linolênico e fibras alimentares (BRASIL, 1999; OOMAH; DER; GODFREY, 2006; COSKUNER; KARABABA, 2007; PINHEIRO et al., 2007; KASOTE, 2013). É um alimento de alta densidade energética, classificada como uma oleaginosa em função de seu conteúdo lipídico (LEI et al., 2003). Seu desempenho funcional está na redução dos níveis de colesterol (VIJAIMOHAN et al., 2006; PAN et al., 2009; PRIM et al., 2012) e glicemia (PRASAD, 2005), diminuição da resposta inflamatória, efeito cardioprotetor e capacidade de renovação celular (TRUCOM, 2006). Os principais produtos de linhaça disponíveis para o consumidor são os grãos inteiros, grãos integrais triturados (farinha de linhaça), farelo de linhaça desengordurado e óleo de linhaça. Importante notar que o óleo de linhaça não contém fibras alimentares, e seu farelo não se constitui como fonte de ALA, portanto, os benefícios do seu consumo dependem do tipo de produto e da forma como o grão é consumido (BASSETT; RODRIGUEZ-LEYVA; PIERCE, 2009). 4.1.2 Ácido α-linolênico (ALA) Os ácidos graxos são ácidos monocarboxílicos com cadeias hidrocarbonadas, que constituem uma das unidades fundamentais dos lipídeos (SPOSITO, 2007; SANTOS et al., 2013). Podem ser classificados quanto ao comprimento da cadeia de carbono, configuração das duplas ligações, grau de Segundo a ANVISA, Resolução n°18, de 30 de abril de 1999: “O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde pode, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica”. Assim sendo, estes alimentos têm ganhado destaque devido os aspectos positivos que promovem à saúde. 1 26 saturação e posição do ácido graxo na molécula de glicerol (SANTOS et al., 2013). A presença ou não de ligações duplas na cadeia carbonada determina o grau de saturação dos ácidos graxos e estes podem ser saturados (ausência de duplas ligações entre seus átomos de carbono) ou insaturados (presença de uma ou mais duplas ligações). Os ácidos graxos insaturados são classificados em duas categorias principais: poli-insaturados e monoinsaturados (SANTOS et al., 2013). Os ácidos graxos poli-insaturados são representados pelo ácido linoleico (18:2n-6, AL) e α-linolênico (18:3n-3, ALA), que apresentam as insaturações separadas por um carbono metileno, com a primeira insaturação no sexto e terceiro carbono, respectivamente, enumerado a partir do grupo metil terminal, identificado pela letra ω, e os ácidos graxos monoinsaturados representados pelo ácido oleico (18:1n-9). Esses ácidos graxos são classificados em série ω3, ω-6 e ω-9 (Figura 4.3) (SPOSITO, 2007; SANTOS et al., 2013). Figura 4.3. Estrutura dos ácidos graxos das famílias ω-3, ω-6 e ω-9. Fonte: GARÓFOLO; PETRILLI, 2006. Os estudos acerca dos ácidos graxos poli-insaturados tiveram início com esquimós após a verificação de menor ocorrência de doenças cardiovasculares 27 nestas populações2. Observou-se que apesar destes indivíduos consumirem dieta rica em gorduras, eles apresentavam incidências menores de deposição de gordura arterial em relação aos povos ocidentais, o que pode ser explicado pelo alto consumo de ácidos graxos poli-insaturados (ISO et al., 2006; LOTTENBERG, 2009; YANG et al., 2012). Os ácidos graxos da série ω-3, α-linolênico de origem vegetal e eicosapentaenoico e docosahexaenoico, de origem marinha, têm sido foco de estudos, por estarem relacionados a uma série de benefícios para a saúde, como, por exemplo, a melhora da acuidade visual e prevenção de doenças cardiovasculares, atuando na colesterolemia (LOTTENBERG, 2009, SANTOS et al., 2013). Além disso, são necessários para manter sob condições normais, as membranas celulares, as funções cerebrais e a transmissão de impulsos nervosos. Esses ácidos graxos também participam da transferência do oxigênio atmosférico para o plasma sanguíneo, da síntese da hemoglobina e da divisão celular (CHRISTIE, 2011). Em relação à prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, sabe-se que estes ácidos graxos promovem redução dos triacilgliceróis plasmáticos pela diminuição da síntese hepática da lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL-c), podendo ainda exercer outros efeitos cardiovasculares, como redução da viscosidade sanguínea, maior relaxamento endotelial, além de efeitos antiarrítmicos (SPOSITO, 2007; LOTTENBERG, 2009; SANTOS et al., 2013). Estes ácidos graxos ainda apresentam compostos anti-inflamatórios aliviando sintomas da artrite e de outras doenças autoimunes. Além disso, possuem importantes nutrientes como os compostos fenólicos, conhecidos por exercerem atividade antioxidante (SANTOS et al., 2013). Os ácidos graxos α-linolênico e linoleico são considerados essenciais, por não serem sintetizados pelo organismo, em razão das células dos mamíferos não apresentarem a capacidade de inserir uma dupla ligação (dessaturar) antes do carbono 9 da cadeia de ácidos graxos, devido a ausência 2 Esquimós são povos indígenas que habitam tradicionalmente as regiões em torno do Círculo Polar Ártico, no extremo norte da Terra, como o leste da Sibéria, o norte do Alasca e do Canadá e a Groenlândia. Vivem da pesca e da caça, retirando a gordura de baleias, focas e ursos para usar como alimento e combustível para seus trenós. (Wikipédia – http://pt. Wikipédia.org). 28 da enzima ∆ 12 dessaturase, devendo, portanto, serem obtidos pelos alimentos (LOTTENBERG, 2009; CHRISTIE, 2011). Por meio de reações de dessaturação e elongação (Figura 4.4), ambos utilizam as mesmas enzimas dessaturases (∆ 6 e ∆ 5) e uma alongase para sintetizar seus derivados com 20 átomos de carbonos. As alongases atuam acrescentando dois átomos de carbono no início da cadeia, e as dessaturases oxidam dois carbonos da cadeia, originando uma dupla ligação com a configuração cis (GARÓFOLO; PRETILLI, 2006). O ácido α-linolênico origina o ácido eicosapentaenoico (EPA, 20:5 n-3), relacionado principalmente com efeitos cardioprotetores e o ácido docosahexaenoico (DHA, 22:6 n-3), com importante função na formação, desenvolvimento e funcionamento do cérebro e da retina, sendo predominante na maioria das membranas celulares desses órgãos (GARÓFOLO; PRETILLI, 2006). Figura 4.4. Vias de síntese dos ácidos graxos das famílias ω-6 e ω-3. Fonte: GARÓFOLO; PETRILLI, 2006. 29 Tanto o EPA, quanto o DHA são precursores de eicosanoides antiinflamatórios como prostaglandina E3 (PGE3), leucotrieno B5 (LTB5) e tromboxano A3 (TXA3), com ações anti-inflamatórias, promovendo a diminuição da agregação plaquetária, da vasoconstrição e trombose (GARÓFOLO; PETRILLI, 2006; LOTTENBERG, 2009). O ácido graxo linoleico origina o ácido araquidônico (AA, 20:4 n-6), que é precursor de eicosanoides pró-inflamatórios, como prostaglandinas E2 (PGE2), tromboxano A2 (TXA2) e leucotrieno B4 (LTB4) com efeitos opostos ao EPA e DHA (GARÓFOLO; PETRILLI, 2006; LOTTENBERG, 2009). Os eicosanoides são metabólitos dos ácidos graxos essenciais e modulam a resposta inflamatória do organismo, participando de processos fisiológicos e patológicos, sendo potentes reguladores da função celular. Existem três famílias de eicosanoides: os prostanóides, leucotrienos e lipoxinas. Os prostanóides são obtidos pela enzima cicloxigenase (COX), que converte esses ácidos graxos em endoperóxidos cíclicos, originando as prostaglandinas (PG) e tromboxanos (TXA). Os leucotrienos (LT) são obtidos pela ação da enzima lipoxigenase (LOX), que também está relacionada com a produção das lipoxinas (ANDRADE; CARMO, 2006; LOTTENBERG, 2009; PERINI et al., 2010; LORGERIL; SALEN, 2012). A maior afinidade do ácido araquidônico pela COX tem como consequência a obtenção de prostaglandinas e tromboxanos da série 2 que participam de vários processos inflamatórios no organismo. Por outro lado, os ácidos graxos da série ω-3 apresentam propriedades anti-inflamatórias. Em razão destas diferenças fisiológicas, a produção excessiva de prostanóides da série 2 estaria relacionada com a ocorrência de desordens imunológicas, doenças cardiovasculares e inflamatórias, sendo de fundamental importância o aumento da ingestão de ácidos graxos ω-3 com a finalidade de aumentar prostanóides da série 3 com características anti-inflamatórias relacionados à diminuição de fatores aterogênicos (ANDRADE; CARMO, 2006; LOTTENBERG, 2009; PERINI et al., 2010; LORGERIL; SALEN, 2012). Em função dos ácidos graxos ω-3 e ω-6 utilizarem as mesmas enzimas envolvidas nas reações para derivação dos outros compostos, ocorre uma competição metabólica entre estes dois grupos, o que faz com que um excesso de ácido linoleico impeça a transformação do α-linolênico em seus derivados 30 EPA e DHA o que também ocorre com um menor consumo do ácido linoleico, havendo uma redução na formação do ácido araquidônico (ANDRADE; CARMO, 2006; LOTTENBERG, 2009; PERINI et al., 2010; LORGERIL; SALEN, 2012). Embora a maior afinidade das dessaturases pelos ácidos graxos da série ω-3, a conversão do ácido α-linolênico em ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa é fortemente influenciada pelos níveis de ácido linoleico na dieta. Portanto, é necessário um equilíbrio entre o aporte dos dois ácidos graxos através da alimentação e uma razão adequada de ω-6/ω-3, resultando em várias recomendações desta relação de ácidos graxos (ANDRADE; CARMO, 2006; LOTTENBERG, 2009; PERINI et al., 2010; LORGERIL; SALEN, 2012). Como consequência das mudanças no padrão dietético, a relação entre estes dois ácidos graxos sofreu diversas alterações. Na era paleolítica, essa relação contemplava, aproximadamente, 1:1-1:2, devido ao maior consumo de vegetais e de pescados ricos em ácidos graxos α-linolênico, enquanto que o padrão atual apresenta uma relação entre 10:1-20:1, devido principalmente à maior ingestão de óleos refinados com alto teor de AL e menor ingestão de frutas e verduras, resultando em dietas inadequadas e com menor teor de ácidos graxos da série ω-3 (SANTOS et al., 2013). Embora alguns autores considerem satisfatória a relação ω-6/ω-3 de 5:1-10:1 a proposta mais recente, com base em experimentação animal, é 1:1, porém nunca inferior a isto, por inibir a transformação do ácido linoleico em ácido araquidônico (SANTOS et al., 2013). Entretanto, os estudos ainda são contraditórios quanto à recomendação ideal desta relação. Evidências sugerem que o aumento da ingestão de ácidos graxos da série ω-3 apresenta efeito cardioprotetor, no entanto, não há dados convincentes de que a redução da ingestão de ω-6, por si só, faça o mesmo, portanto, segundo Santos et al. (2013), até que surjam novas informações científicas em relação a esta questão, as recomendações dietéticas devem ser baseadas no consumo total de cada ácido graxo poli-insaturado e não somente na relação ω-6/ω-3 (SANTOS et al., 2013). A linhaça é considerada a maior fonte vegetal de ácido graxo αlinolênico e, por esta razão, como já referido, o consumo deste grão tem sido 31 relacionado com benefícios para a saúde cardiovascular (BASSETT et al., 2009; GOMES et al., 2012). Além disso, seu consumo parece exercer um efeito positivo na redução da síntese dos eicosanoides pró-inflamatórios e aumentar a produção de prostanóides não inflamatórios (GARÓFOLO; PETRILLI, 2006; GOMES et al., 2012). Cintra et al., (2006) avaliando o perfil lipídico de ratos alimentados com dieta padrão, dieta hiperlipídica, dieta adicionada com fontes de ácidos graxos poli-insaturados (linhaça e truta) e dieta rica em ácidos graxos saturados (pele de galinha) encontraram elevado nível de colesterol sérico nos animais que foram alimentados com dieta padrão. Os níveis de colesterol nos ratos alimentados com linhaça foram menores do que nos ratos alimentados com as outras dietas. A presença do ácido α-linolênico no grão pode ter atuado aumentando secreção de colesterol na bile, conduzindo à depleção do pool intra-hepático de colesterol, consequentemente aumentando a síntese e o turnover de colesterol (CINTRA et al., 2006). Por outro lado, Prasad (2009), avaliando o efeito de dietas contendo linhaça triturada, farelo desengordurado de linhaça, óleo de linhaça e complexo isolado de lignanas (diglicosídeo secoisolariciresinol) no perfil lipídico de coelhos, atribuiu o efeito hipocolesterolêmico da linhaça a presença das fibras alimentares e lignanas e não ao ALA. O mesmo foi observado por Pan et al. (2009) que evidenciaram uma ação pouco expressiva do óleo de linhaça na colesterolemia de indivíduos adultos. Entretanto, estes mesmos autores evidenciaram o efeito hipotrigliceridêmico do óleo de linhaça, inferindo que tal efeito deveu-se ao ALA presente no óleo, tendo em vista que esse ácido graxo pode inibir a síntese hepática de triacilgliceróis. Situação semelhante foi encontrada por Murase et al. (2005) e Marques et al. (2011). Segundo estes autores, o caráter hipotrigliceridêmico desta oleaginosa restringe-se ao conteúdo de ALA, não sofrendo nenhuma influência das fibras alimentares, lignanas ou qualquer outro composto. 32 4.1.3. Fibras alimentares O termo fibra alimentar engloba uma ampla gama de substâncias, sendo a maior parte de polissacarídeos não amiláceos definidos pelo seu resíduo de açúcares e pelas ligações químicas entre essas moléculas (EPAMINONDAS, 2009). Do ponto de vista da nutrição humana, o termo fibra alimentar tem sido redefinido como polissacarídeos de plantas não sujeitos à hidrólise das enzimas do trato digestivo humano (MORRIS, 2007). As fibras são constituídas de celulose, hemicelulose, pectinas, gomas, mucilagens e ligninas. Estas substâncias estão associadas a outros compostos situados em uma matriz celular, que formam as frações indigeríveis e apresentam funções fisiológicas, metabólicas e nutricionais distintas (EPAMINONDAS, 2009). Exercem importantes funções na saúde, pois estão associadas com a diminuição nos níveis de colesterol e glicose sanguínea, além de estarem envolvidas na redução do risco de câncer de cólon. Além disso, atuam aumentando a sensação de saciedade, reduzindo picos hiperglicêmicos, o que contribui para o controle do peso (EPAMINONDAS, 2009). As fibras podem ser classificadas de acordo com a sua solubilidade. As fibras solúveis (mucilagens, gomas e pectinas) atuam captando água e formando géis, aumentando a viscosidade do conteúdo gástrico, contribuindo com o retardo do esvaziamento gastrointestinal e assim diminuindo a absorção de carboidratos no intestino delgado, atuando no controle da glicemia e das dislipidemias por reduzir a absorção intestinal de colesterol (SPOSITO, 2007). Além disso, sofrem fermentação no cólon, produzindo substâncias específicas denominadas ácidos graxos de cadeia curta (acetato, butirato e propionato), que são elementos promotores da motilidade do conteúdo fecal e da regularização do trânsito intestinal. Estes ácidos graxos também estão associados à prevenção de doenças colônicas, pois servem de fonte energética para a mucosa intestinal e como agentes protetores de doenças, como diarréia e inflamações intestinais (CHEREM; BRAMOSRKI, 2008). Entre os mecanismos que podem explicar a ação da fibra solúvel na glicemia e no perfil lipídico, está o aumento da resposta da colecistoquinina durante as refeições, provocando retardo no esvaziamento gástrico que, 33 associado à viscosidade que as fibras conferem ao bolo alimentar, reduz a superfície de contato com a mucosa intestinal, levando a menor absorção de nutrientes e ao aumento da sensibilidade à insulina, promovendo maior saciedade e menor ingestão calórica (CHEREM; BRAMOSRKI, 2008). Além disso, a fibra solúvel liga-se aos ácidos biliares e ao colesterol durante a formação de micelas, resultando em menor conteúdo de colesterol nos hepatócitos, gerando uma regulação positiva nos receptores de LDLcolesterol aumentando sua excreção. Ocorre ainda a inibição da síntese hepática de ácidos graxos pelos produtos de fermentação (SPOSITO, 2007; CHEREM; BRAMOSRKI, 2008; EPAMINONDAS, 2009). A fração insolúvel (celulose e lignina) não é fermentada pelas bactérias do cólon e sua ação fundamental é intestinal, devido à grande capacidade de retenção hídrica, que, ao absorver a água disponível, aumentam o volume fecal, promovendo distensão do cólon facilitando a eliminação do bolo fecal. Além disso, reduzem o tempo de trânsito colônico. As fibras insolúveis, podem ainda aumentar a excreção fecal de ácidos biliares e, indiretamente, influenciar no metabolismo de colesterol no fígado (CHEREM; BRAMOSRKI, 2008). A reduzida ingestão de fibra alimentar vem sendo associada ao aumento de inúmeras DCNT, enquanto o seu alto consumo à prevenção de diversas patologias (SCHMIDT; DUNCAN, 2011). Os efeitos proporcionados pelas fibras se devem a sua composição e às propriedades físicas e químicas dos polissacarídeos presentes, bem como, dos compostos associados a esta fração (CHEREM; BRAMOSRKI, 2008). A linhaça é uma importante fonte de fibras alimentares, representando aproximadamente 28% do peso total, sendo cerca de 17% a 22% de fibras insolúveis e 6% a 11% de fibras solúveis (FIGUEROLA, MUÑOZ e ESTÉVEZ, 2008). Estudos evidenciam que a fibra insolúvel presente na linhaça promove melhoras no trânsito intestinal, prevenindo a constipação, principalmente em função do aumento do bolo fecal e da redução do tempo de trânsito intestinal. Por outro lado, a fração solúvel auxilia na manutenção dos níveis de glicemia e reduzem significativamente os níveis séricos de colesterol total e LDLcolesterol. Já os níveis de HDL-colesterol aumentam ligeiramente ou permanecem constantes. Este efeito está relacionado à fibra alimentar 34 presente na linhaça e não ao óleo de linhaça (MORRIS, 2007; PRASAD, 2009; KATARE et al., 2012; KRISTENSEN et al., 2012). 4.1.4. Lignanas A lignina é uma fibra insolúvel altamente ramificada, sendo quimicamente um composto fenólico tridimensional, associado aos carboidratos das paredes celulares das plantas. Está envolvida na formação da parede vascular dos vegetais, atuando no organismo como fitoestrógeno (EPAMINONDAS, 2009; PETERSON et al., 2010). Os fitoestrógenos são moléculas polifenóis não esteróides derivadas de plantas que possuem estrutura molecular similar ao estrógeno. Desempenham uma fraca ação desse hormônio, além de uma ação antiestrogênica, antioxidante e anti-inflamatória (CASSANI, 2009; GOMES et al., 2012). Atuam tanto como agonistas, quanto como antagonistas parciais do estrógeno, competindo por sítios dos receptores estrogênicos, diminuindo o estímulo e a resposta do organismo a esses hormônios e protegendo contra a ação do estrógeno circulante no organismo. O efeito estrogênico pode ser protetor em relação a doenças relacionadas a hormônios, como no câncer de mama e também em relação a doenças cardiovasculares (MORRIS, 2007; EPAMINONDAS, 2009). A lignana é o produto de transformação da lignina em compostos fenólicos e contém 2,3-dibenzilbutano em sua estrutura, estando presente na linhaça sob a forma de precursores de lignanas, como o seicoisolariciresinol diglicosídeo (SDG), matairesinol, pinoresinol e lariciresinol (CORDEIRO; FERNANDES; BARSOSA, 2009; ADOLPHE et al., 2010; PETERSON et al., 2010; KASOTE, 2013). Estes compostos são convertidos por ação bacteriana no trato gastrointestinal a enterolactona e enterodiol (Figura 4.5). Após o consumo, a microflora intestinal, por meio de reações enzimáticas, converte as lignanas da linhaça em lignanas mamárias ou enterolignanas, sendo então absorvidas, e sob ação das enzimas hepáticas, são novamente metabolizadas, exercendo ações similares ao estrogênio sintético, além de apresentarem ainda atividade antioxidante (CORDEIRO; FERNANDES; BARBOSA, 2009; EPAMINONDAS, 35 2009; CASSANI, 2009; MONEGO, 2009; ADOLPHE et al., 2010; PETERSON et al., 2010; KASOTE, 2013). Por serem semelhantes ao estrogênio, exercem atividades sobre o seu nível, tendo efeito protetor contra o câncer, bloqueando enzimas envolvidas no metabolismo hormonal, podendo interferir no crescimento e metástase de células tumorais (MARQUES, 2008; CASSANI, 2009; CORDEIRO; FERNANDES; BARBOSA, 2009; MONEGO, 2009; ADOLPHE et al., 2010). Figura 4.5. Metabolismo das lignanas da linhaça. Fonte: MORRIS, 2007 Os grãos de linhaça são considerados as maiores fontes vegetais dos precursores de lignanas, com quantidades que variam entre 1 mg/g de grão a cerca de 26 mg/g de grão, principalmente a SDG (CORDEIRO; FERNANDES; BARBOSA, 2009; ADOLPHE et al., 2010; PETERSON et al., 2010). O complexo lignana do grão de linhaça é constituído por SDG (34% a 38%), ácido diglucosídeo cinâmico (15% a 21%), e de ácido 3-hidróxi-metilglutaril (HMGA) (9,6% a 11%). A SDG é um antioxidante e o ácido cinâmico e HMGA apresentam atividade hipolipidêmica (PRASAD, 2005; CASSANI, 2009; PAN et al., 2009; ADOLPHE et al., 2010). Os benefícios para o organismo das lignanas da linhaça residem na sua capacidade antioxidante, atuando como sequestradores de radicais hidroxilas e supressão das condições oxidantes de espécies reativas de oxigênio (ERO), com efeitos protetores ao DNA das células, especialmente às células epiteliais do cólon, expostas a estes compostos durante o metabolismo das bactérias intestinais que os transformam em lignanas de mamíferos (FIGUEROLA, 36 MUÑOZ e ESTÉVEZ, 2008; ADOLPHE et al., 2010; PETERSON et al., 2010; KASOTE, 2013). No que concerne ao efeito hipocolesterolêmico, elas podem agir modulando a atividade de enzimas envolvidas no metabolismo do colesterol. Este efeito ocorre, especialmente, devido ao componente SDG, que atuaria na expressão da enzima colesterol-7-α-hidroxilase responsável por regular a síntese de sais biliares. O aumento da atividade desta enzima estaria relacionado com a maior excreção de colesterol hepático pelas vias biliares, o que representa o mecanismo principal do catabolismo do colesterol. Os metabólitos das lignanas ligam-se aos ácidos biliares e ao colesterol, retardando ou diminuindo sua absorção (MELO et al., 2008; CORNISH et al., 2009; PETERSON et al., 2010; COUTO; WICHMANN, 2011; SANTOS et al., 2013). 4.2 Dislipidemias As doenças cardiovasculares são consideradas atualmente a principal causa de morte em todo o mundo. No Brasil, representam quase um terço dos óbitos totais, atingindo a população adulta em plena fase produtiva (SCHMIDT et al., 2011; WHO, 2011). Entre as enfermidades cardiovasculares, cita-se a aterosclerose, que é considerada uma doença inflamatória crônica de origem multifatorial, e ocorre em resposta à agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre (SPOSITO, 2007; SANTOS et al., 2013). Dentre os principais fatores de risco cardiovasculares destacam-se as dislipidemias que são alterações metabólicas decorrentes de distúrbios em qualquer fase do metabolismo lipídico, e ocasionam repercussão nos níveis séricos das lipoproteínas, levando a obstrução do fluxo de sangue nos vasos sanguíneos em virtude da formação de placas gordurosas que, à medida que aumentam de tamanho, reduzem o fluxo até a completa obstrução (SPOSITO, 2007; SANTOS et al., 2013). O colesterol é um esterol lipídeo de alto peso molecular, encontrado em todos os tecidos animais, sendo sua maior parte derivada ou sintetizada a partir 37 de outras substâncias como, carboidratos, proteínas e gorduras. Esse composto insolúvel em água necessita ser transportado no sangue por meio de lipoproteínas plasmáticas do tecido de origem para os tecidos nos quais ele será armazenado (SPOSITO, 2007; SANTOS et al., 2013). Além disso, é considerado ponto de partida de muitas vias metabólicas, que incluem a síntese de vitamina D, síntese de hormônios esteroides e o metabolismo de ácidos biliares, e, como constituinte das membranas celulares. Atuando ainda, na fluidez destas e na ativação de enzimas aí situadas (SPOSITO, 2007; SANTOS et al., 2013). A homeostase deste composto no organismo é regulada pela interação entre a absorção, excreção e síntese, e quando há um desequilíbrio como, por exemplo, pela ingestão excessiva de alimentos ricos em gorduras e em colesterol, ocorrem diferentes respostas às mudanças nesses parâmetros, sendo refletidas nos níveis séricos de colesterol (SPOSITO, 2007; LOTTENBERG, 2009; SANTOS et al., 2013). A problemática da hiperlipidemia reside na comprovada relação que essa alteração metabólica mantém com o aparecimento da doença arterial coronariana. Os fatores que influenciam o aumento desses níveis são as proporções relativas de partículas de HDL-colesterol, e principalmente de LDLcolesterol, presentes no organismo. Essas partículas são de grande interesse de saúde pública, pois o HDL-colesterol é responsável pelo transporte do colesterol em excesso na corrente sanguínea para o fígado onde é catalisado. Já a partícula de LDL-colesterol transporta o colesterol do fígado para a corrente sanguínea, favorecendo seu acúmulo nos órgãos, o que pode estar relacionado ao aumento do risco cardiovascular (DINIZ; ANDRADE; BANDEIRA, 2008; ABADI; BUDEL, 2012). Diversos estudos têm evidenciado os efeitos da linhaça na colesterolemia, principalmente em função da presença de três componentes fundamentais: ácido α-linolênico, fibra solúvel e lignanas (PRASAD, 2005; CINTRA et al., 2006; VIJAIMOHAN et al., 2006; PAN et al., 2009; RODRIGUEZ-LEYVA et al., 2010; PRIM et al., 2012; SIMBALISTA et al., 2012). Patade et al. (2008) acrescentaram 30 g de farinha de linhaça na alimentação de mulheres hipercolesterolêmicas pós-menopausa, durante um período de três meses, e evidenciaram alterações no perfil lipídico com 38 redução dos níveis séricos de colesterol e LDL-colesterol. Efeito semelhante encontrou Makni et al. (2008) ao adicionar linhaça e semente de abóbora nas dietas hipercolesterolêmicas (1% de colesterol) de ratos Wistar. Após 30 dias de tratamento, os autores observaram que os animais apresentaram redução nos níveis de LDL-colesterol, além de aumento de 30% do HDL-colesterol. Os principais mecanismos propostos para a ação antiaterogênica da linhaça são o efeito antioxidante das lignanas (PRASAD, 2009; KRISTENSEN et al., 2012; KASOTE, 2013) e o efeito anti-inflamatório do ácido graxo αlinolênico (BASSETT et al., 2009; GILLINGHAM et al., 2011). Segundo Bloendon (2008) este grão e seu óleo são considerados, de acordo com a American Heart Association alimentos potencialmente úteis para prevenção de doenças cardiovasculares por meio de vários mecanismos, incluindo a redução do colesterol sanguíneo, além de atuarem na diminuição da agregação plaquetária e marcadores inflamatórios, controle da glicemia e ação antioxidante. 4.3 Estresse oxidativo O estresse oxidativo é definido como um desequilíbrio no balanço de agentes pró-oxidantes e antioxidantes com a capacidade de exercer efeitos deletérios ao metabolismo celular. As consequências deste desequilíbrio podem variar de acordo com o tipo celular e com sua intensidade, conduzindo a oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio homeostático, cuja manifestação é o dano oxidativo potencial contra células e tecidos (HALLIWELL, 2007, 2011). O termo radical livre refere-se a átomo ou molécula que contém número ímpar de elétrons em sua última camada eletrônica, conferindo-lhe alta reatividade. Os radicais livres podem ser formados pela perda ou pelo ganho de um elétron de um não radical. Além disso, em decorrência da redução univalente do oxigênio molecular (O2), são formados também intermediários reativos, como radicais superóxidos (O 2.-) e hidroxila (OH.) (BARREIROS; DAVID, 2006; HALLIWELL, 2007, 2011; BARBOSA et al., 2010). O termo espécies reativas de oxigênio (ERO) é utilizado para incluir, não só radicais livres, como também alguns não radicais derivados do oxigênio, 39 como o peróxido de hidrogênio (H 2O2), o ácido hipocloroso (HOCl) e o ozônio (O3). O H2O2, apesar de não ser um radical livre, por não ter um elétron desemparelhado na sua última camada, é uma espécie com alto potencial reativo (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 2007; BARBOSA et al., 2010). As ERO são moléculas instáveis que possuem a capacidade de efetuar troca de elétrons por meio de reações de óxido-redução gerando a formação de radicais livres (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 2007; HALLIWELL, 2011). São considerados produtos normais do metabolismo celular e podem apresentar benefícios ou papeis danosos à manutenção do organismo (VALKO et al., 2007). Além disso, participam dos processos de fagocitose, fenômeno em que essas espécies são produzidas com a finalidade de eliminar agentes agressores, sinalização celular e síntese de algumas proteínas (TREVISAN, 2008; VASCONCELOS et al., 2010). No entanto, a cronicidade deste processo pode provocar reações em cadeia, causando danos oxidativos aos lipídios, resultando em peroxidação lipídica, oxidação de proteínas e ácidos nucléicos e alterações de enzimas antioxidantes, com implicações na etiologia de inúmeras patologias, dentre elas, as DCNT, como aterosclerose, diabetes, obesidade, transtornos neurodegenerativos e câncer (VASCONCELOS et al., 2010). Cerca de 2% a 5% do oxigênio metabolizado nas mitocôndrias são desviados para outra via metabólica, e reduzidos de forma univalente, originando radicais livres (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 2007; BARBOSA et al., 2010). 4.3.1 Defesas antioxidantes Em função da produção contínua de ERO durante os processos metabólicos, os sistemas biológicos desenvolveram defesas antioxidantes enzimáticas e não enzimáticas que tem a função de inibir e/ou reduzir os danos causados pela ação deletéria dessas ERO. Estas ações podem ocorrer por meio de diferentes mecanismos: impedindo a formação de ERO, impedindo a ação desses ou ainda, favorecendo o reparo e a reconstituição das estruturas biológicas lesadas (BARBOSA et al., 2010). No entanto, para impedir os danos celulares decorrentes do estresse oxidativo, o aporte exógeno de substâncias 40 com potencial antioxidante é de fundamental interesse (CATANIA; BARROS; FERREIRA, 2009). Segundo Halliwell (2011), antioxidantes podem ser definidos como qualquer substância que, presente em menores concentrações que as do substrato oxidável, são capazes de retardar ou inibir a oxidação deste de maneira eficiente. Estas substâncias podem atuar diretamente, neutralizando a ação dos radicais livres e espécies não radicais, ou indiretamente, participando dos sistemas enzimáticos com tal capacidade. As defesas enzimáticas englobam as enzimas catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD) e glutationa peroxidase (GPx). Enquanto que nas não enzimáticas pode-se encontrar a glutationa (GSH) e os compostos antioxidantes de origem dietética, como as vitaminas (ácido ascórbico, tocoferol e β-caroteno), minerais (zinco, cobre, selênio e magnésio) e compostos fenólicos. Estas defesas tem a função de manter um nível basal de espécies reativas, de forma que não sejam tóxicas para as células, mas ao mesmo tempo não eliminem totalmente a sinalização produzida por essas espécies (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 2007). O sistema de defesa enzimático é a primeira linha de defesa antioxidante e tem a função de bloquear a iniciação da oxidação. No segundo grupo estão as moléculas que interagem com as espécies radicalares e são consumidas durante a reação. Neste grupo incluem-se os antioxidantes naturais, como os compostos fenólicos (HALLIWELL, 2011; KASOTE, 2013). A enzima SOD pertence ao grupo de metaloenzimas, abundante em células aeróbias e sua ação é dependente da participação de cofatores enzimáticos. A SOD é encontrada em três formas, com diferentes grupos prostéticos em sua composição: a forma SOD cobre-zinco, presente principalmente no citoplasma, a SOD manganês, localizada na mitocôndria e a SOD ferro em plantas e bactérias (HALLIWELL, 2007). É uma das mais importantes enzimas antioxidantes, constituindo a primeira linha de defesa enzimática contra a produção intracelular de radicais livres, sendo responsável por catalisar a dismutação do radical superóxido a H2O2, já que este radical é um forte iniciador de reações em cadeia. O H2O2 sendo menos reativo pode ser degradado por outras enzimas, como a CAT e a GPx (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 2007; HALLIWELL, 2007, 2011; TREVISAN, 2008). 41 A CAT é uma hemeproteína e atua impedindo o acúmulo de peróxido de hidrogênio, promovendo a sua catálise até água e oxigênio molecular, evitando desta forma a produção do radical hidroxil (OH•) contra o qual não há sistema enzimático de defesa (BARBOSA et al., 2010). O radical hidroxil é considerado o de maior potencial reativo, sendo o mais propício na produção de danos oxidativos, além de ser o iniciador do processo de peroxidação lipídica (RINDLER et al., 2013). A GPx é uma selenoenzima, pois utiliza o selênio como cofator, e sua ação depende da manutenção do ciclo redox da glutationa, por meio do controle da relação entre glutationa reduzida (GSH) e glutationa oxidada (GSSG). Assim como a CAT, é capaz de impedir o acúmulo de H2O2 e de hidropeptídeos orgânicos por meio da utilização da glutationa reduzida (GSH), um tripeptídeo composto de ácido α-glutâmico, cisteína e glicina. A GSH atua como um co-substrato, doando dois hidrogênios dos seus grupamentos sulfidrilas para os peróxidos, transformando-os em álcool e água. A glutationa oxidada (GSSG) formada é regenerada para GSH, sendo a enzima glutationa redutase (GR) responsável por esta redução (ALMONDES et al., 2010; BARBOSA et al., 2010). A atividade antioxidante da linhaça decorre da presença conjunta dos seus principais componentes (ácido α-linolênico, fibras e lignanas), tendo a lignana um efeito especial, sendo eficaz contra danos antioxidantes ao DNA das células e inibindo a peroxidação lipídica (KATARE et al., 2012; KASOTE, 2013). A ação antioxidante das lignanas inibe a peroxidação dos ácidos graxos poli-insaturados, o que acarreta a diminuição da oxidação de LDL-colesterol. Além disso, níveis plasmáticos de SDG têm sido associados com ação hipocolesterolêmica e redução do estresse oxidativo (PRASAD, 2005). As propriedades do SDG e seus derivados (enterodiol e enterolactona) podem estar relacionados à capacidade destas enterolignanas em capturar radicais livres e prevenir a peroxidação lipídica do fígado, além disso, podem apresentar efeitos indiretos no sistema antioxidante endógeno, poupando enzimas como a glutationa (HAQUE et al., 2009; PETIT, 2009). 42 Já o ácido graxo α-linolênico, pode atuar como antioxidante, uma vez que, influencia no metabolismo oxidativo do ácido araquidônico, prevenindo desordens inflamatórias e evitando a formação de ERO (GOMES et al., 2012). Por outro lado, autores relatam que o consumo elevado de óleo de linhaça rico em ácido α-linolênico poderia atuar reduzindo os níveis da vitamina E, alterando o metabolismo de prostaglandinas, formando peróxidos lipídicos (SALES, 2009). No entanto, em análises in vivo, foi verificado que o SDG presente no grão de linhaça pode proteger contra a peroxidação dos ácidos graxos poli-insaturados, o que foi comprovado pelo fato do ácido tiobarbitúrico (TBARS) urinário de indivíduos que consumiram diariamente 50 g de linhaça em muffins não ter sofrido alterações (YUAN; RICKARD; THOMPSON, 1999; PRASAD, 2005). Em outro estudo, Prasad (2008), sugeriu que a redução do estresse oxidativo ocorreu em consequência da redução da colesterolemia, observando que esta redução ocorreu quando a dieta hipercolesterolêmica foi substituída por uma dieta normolipídica, independentemente da adição de lignanas. 43 5 ARTIGO 1: Influência do grão e do farelo desengordurado de linhaça no perfil lipídico e dano oxidativo hepático em ratos Wistar Influence of the grain and defatted flaxseed bran on lipid profile and hepatic oxidative damage in Wistar rats Lúcia Rota BORGES1; Elizabete HELBIG2; Álvaro Renato Guerra DIAS3 1 Doutoranda – Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial – FAEM/UFPEL; 2 Doutora – Mestrado em Nutrição e Alimentos – Faculdade de Nutrição/UFPEL; 3 Doutor – Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial – FAEM/UFPEL. Rua: Gomes Carneiro no1 – CEP: 96010-610 – Pelotas/RS – Faculdade de Nutrição – Campus Anglo – [email protected] Financiamento: FAPERGS ARD PROCESSO (no. 10/0489-0). O manuscrito encontra-se nas normas do periódico Nutrition (ISSN 0899-9007), revista escolhida pelos autores para submissão, após apreciação da banca avaliadora. 44 RESUMO Objetivo: avaliar o efeito do grão e do farelo desengordurado de linhaça no perfil lipídico e no estresse oxidativo hepático em ratos. Métodos: 60 ratas, adultas (70 dias), alocadas em dois grupos normolipídico e hiperlipídico e subdivididas em quatro grupos cada, conforme a proporção de grão (NL7,5%, NL15%, HL7,5% e HL15%) e farelo de linhaça (NF7,5%, NF15%, HF7,5% e HF15%), foram avaliadas quanto ao ganho de peso total (GPT), consumo diário (CD), quociente de eficiência alimentar (QEA), perfil lipídico, lipoperoxidação hepática e atividade hepática da enzima catalase (CAT). Resultados: a inclusão do grão e do farelo nas duas concentrações (7,5% e 15%) promoveu redução nos níveis de colesterol total, tanto no grupo normolipídico, quanto no hiperlipídico. Além disso, proporcionou melhoras significativas nos níveis da lipoproteína HDL-c, principalmente no grupo normolipídico. A adição de linhaça, em ambos os grupos (normolipídico e hiperlipídico), evidenciou o efeito hipotrigliceridêmico desta oleaginosa. Quanto à lipoperoxidação hepática, observa-se que as dietas contendo grão e farelo foram eficientes, quando comparadas com os grupos controles, com exceção apenas para a dieta HF7,5%. Não houve diferença entre os grupos para GPT, CD e QEA. Conclusão: A inclusão de grão e farelo desengordurado de linhaça resultou em alterações positivas no perfil lipídico e no estresse oxidativo hepático dos animais. Os efeitos foram diferentes dependendo do conteúdo lipídico da dieta e do percentual adicionado de grão e farelo de linhaça. Ainda permanece obscuro se o efeito hipolipidêmico desta oleaginosa deve-se a um único componente ou as interações entre os seus constituintes. Palavras-chaves: linhaça; farelo de linhaça; dislipidemia; estresse oxidativo; ratos. 45 ABSTRACT Objective: evaluate the effects of flaxseed and defatted flaxseed bran on lipid profile and lipid peroxidation in liver of rats. Methods: sixty adult (70 days) rats, divided in two groups: normal fat diet and high fat diet. Each group was divided into four groups concerning the proportion of flaxseed (NL7, 5% NL15%, HL7, and HL15% 5%) and defatted flaxseed bran (NF7, 5%, NF15% HF7, 5% and HF15%) The animals were evaluated for total weight gain (TWG), daily feed intake (CD), feed efficiency ratio (SFA), lipid profile, hepatic lipid peroxidation and hepatic activity of the enzyme catalase (CAT). Results: The addition of grain and bran at two concentrations (7.5% and 15%) caused a reduction in total cholesterol levels in both normal fat diet group and in high fat diet. Furthermore, it provided significant improvements in the levels of HDL-c mainly in the normal fat diet group. The addition of linseed, in both groups (high and normal fat diet) evidenced the effect of lowering the triglycerides of this oilseed. Concerning hepatic lipid peroxidation, it is observed that diets containing grain and bran were efficient when compared with the control groups, except for diet HF7.5%. There was no difference between groups for TWG, CD and SFA. Conclusion: The inclusion of flaxseed grain or defatted flaxseed bran resulted in positive changes in lipid profile and oxidative stress in the liver of the animals. The effects were different depending on dietary fat and the percentage of added flaxseed grain and bran. It remains unclear whether the hypolipidemic effect of this oilseed is due to a single component or the interactions among its constituents. Key words: grain flaxseed, defatted flaxseed meal, dyslipidemia, oxidative stress, rats. 46 INTRODUÇÃO As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são consideradas atualmente um dos maiores problemas de saúde pública, sendo responsáveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), por aproximadamente 60% do total de mortes no mundo [1,2]. As modificações no padrão alimentar decorrentes do consumo de dietas com alta densidade energética, ricas em gorduras de origem animal contendo baixos teores de fibras, associadas à maior prevalência do sedentarismo, tabagismo e abuso excessivo de álcool influenciaram de maneira significativa para o aumento das DCNT [2-4]. Dentre os principais fatores de risco modificáveis relacionados com a ocorrência destas doenças, encontram-se as dislipidemias, que se caracterizam por alterações nos lipídeos plasmáticos que podem estar relacionadas ao desenvolvimento de aterosclerose [5,6]. A aterosclerose é uma doença inflamatória de origem multifatorial, que leva a alteração de artérias de médio e grande calibre onde há o espessamento da camada íntima com perda da elasticidade e posterior calcificação. A formação da placa aterosclerótica ocorre em decorrência da agressão do endotélio vascular devido a vários fatores, entre eles, a elevação de lipoproteínas aterogênicas, como por exemplo, a deposição das partículas de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) [5,6]. As placas ateroscleróticas podem evoluir para lesões mais avançadas, que ao se romperem desencadeiam a formação de trombos, podendo levar ao infarto agudo do miocárdio ou até mesmo a morte [5,6]. Estudos evidenciam que a ocorrência de várias doenças, entre elas, as DCNT, são consequência do consumo de determinados alimentos e a sua ingestão poderia prevenir ou tratar muitas patologias [4-8]. Estudo transversal de base populacional, realizado em 2010 com adultos da zona urbana de Pelotas/RS, identificou que o consumo habitual e excessivo de gorduras de origem animal foi considerado o principal comportamento de risco para o desenvolvimento de dislipidemias e como um fator de predisposição para a ocorrência de doenças cardiovasculares [2]. A alimentação rica em gorduras é comprovadamente um dos fatores indutores do ganho de peso e poderia estar relacionada com o aparecimento 47 de comorbidades, como as dislipidemias, além de influenciar a peroxidação lipídica, uma vez que, são observadas correlações positivas entre marcadores de peroxidação lipídica e os níveis de colesterol e triacilgliceróis no organismo [2,6,9,10]. No entanto, alguns estudos ainda são contraditórios em relação à composição lipídica da dieta e o seu papel no desenvolvimento das dislipidemias [5-8]. Pesquisas tem demonstrado o efeito benéfico do consumo regular de linhaça na prevenção e tratamento de doenças [11-14]. Esta oleaginosa, pertencente à família das Lináceas, é rica em ácidos graxos poli-insaturados, principalmente α-linolênico, aminoácidos, lignanas (diglicosídeo secoisolariciresinol), fibras, ácidos fenólicos, vitaminas e minerais, o que confere a esta planta características benéficas e relevantes à saúde, principalmente devido ao seu efeito hipocolesterolêmico e nos níveis séricos de triacilgliceróis [7,11-20]. O grão de linhaça, por meio de processamentos tecnológicos, pode originar óleo e farelo. O farelo tem sido utilizado na formulação de ração animal, enquanto que o óleo é empregado na fabricação de tintas e vernizes. Além disso, têm sido desenvolvidos processos que possibilitem a inclusão do óleo de linhaça em rações, para que produtos como a carne, ovos e leite, utilizados na alimentação humana, sejam enriquecidos com ácidos graxos da série ω-3, visto que, dados da literatura demonstram que o óleo deste grão tem sido relacionado com a baixa incidência de eventos cardiovasculares e redução do estresse oxidativo [10-20]. Em função da sua composição nutricional, a linhaça possui ação antioxidante e quelante sobre metais catalisadores da peroxidação lipídica, sendo importante para a redução dos efeitos causados pelo estresse oxidativo [12,16,21,22]. Sabe-se que a ocorrência do estresse oxidativo decorre em função do aumento da produção de substâncias pró-oxidantes e redução dos níveis de defesas antioxidantes. Tal processo conduz à oxidação de biomoléculas com perda de suas funções biológicas, cuja principal manifestação é o dano oxidativo contra células e tecidos, e o efeito contínuo deste processo implica na ocorrência de diversas enfermidades crônicas não transmissíveis, entre elas as patologias cardiovasculares [21-24]. 48 Em razão da alta prevalência de doenças cardiovasculares e sua associação com uma dieta rica em gorduras, há a necessidade de pesquisas com a finalidade de explorar o potencial da linhaça, com atuação na prevenção da hipercolesterolemia e aumento da atividade antioxidante e desta maneira, contribuir para a saúde da população em geral. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do grão de linhaça e do farelo desengordurado no perfil lipídico e no dano oxidativo hepático em ratos Wistar. 49 MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizadas 60 ratas cepa Wistar/UFPEL, adultas (70 dias), com peso inicial variando entre 190 a 280 g, e peso médio de 229,34 g, provenientes do Biotério Central da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Os animais foram acomodados individualmente em gaiolas metabólicas, sob condições controladas de temperatura e umidade relativa, respectivamente (23 1ºC e 50 - 60%), fotoperíodo de 12 horas, com dieta e água ad libitum. O ensaio biológico ocorreu no Laboratório de Nutrição Experimental da Faculdade de Nutrição (UFPEL), com duração de 54 dias, incluindo quatro dias de adaptação às dietas e ao ambiente de experimentação. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal (processo 23110. 000472/2010-09 CEEA 0472). As dietas foram elaboradas segundo as recomendações do American Institute of Nutrition (AIN-93M) [25]. Os animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos: normolipídico (AIN-93M) e hiperlipídico (H), com modificação no teor de lipídeos de 4% para 25% e adição de colesterol (1%) e ácido cólico (0,1%). Posteriormente foram subdivididos conforme a proporção de grão e farelo de linhaça recebido. Os tratamentos eram compostos de dieta normolipídica acrescida de grão de linhaça triturado nas concentrações 7,5% e 15% (NL7,5% e NL15%) e farelo nas concentrações 7,5% e 15% (NF7,5% e NF15%), e de dieta hiperlipídica acrescida de grão de linhaça nas concentrações 7,5% e 15% (HL7,5% e HL15%) e farelo nas concentrações 7,5% e 15% (HF7,5% e HF15%) conforme formulação apresentada na Tabela 1. O grão e o farelo de linhaça foram fornecidos pela indústria Pazze, de Panambi (RS). As análises de umidade (105ºC), cinzas (mufla 550°C/6h) e proteína (Nx6,25) do grão e do farelo foram realizadas segundo os procedimentos recomendados pela Association of Official Analytical Chemistry (AOCS) [26]. Os teores de lipídios foram determinados pelo método descrito por Bligh e Dyer [27]. Os teores de fibra alimentar foram determinados conforme o método enzímico-gravimétrico n°991.43 [28]. O conteúdo de carboidratos foi obtido pela diferença entre 100% e a soma dos demais macronutrientes [26]. Todas as análises foram realizadas em triplicata. 50 As dietas foram produzidas com substituição parcial dos ingredientes caseína e celulose microcristalina por grão cru ou farelo desengordurado, equilibrando os macronutrientes e o valor energético em todos os tratamentos. O conteúdo energético foi ajustado pela variação da quantidade de amido de milho. As dietas foram preparadas semanalmente, embaladas em pacotes de 1 Kg e armazenadas a temperatura de 4ºC, com a finalidade de preservar a qualidade das mesmas, minimizando a oxidação lipídica dos ácidos graxos poli-insaturados. Os grãos foram triturados e peneirados em peneira de 40 mesh, instantes antes da elaboração das dietas. O farelo de linhaça foi desengordurado com hexano na proporção 1:4 (m/v), homogeneizado e mantido em repouso por 24 horas a temperatura ambiente. Após esse período, o solvente foi filtrado em manta de algodão e novo volume de hexano igual ao inicial foi adicionado. Esse procedimento foi repetido sete vezes consecutivas. Para evaporação do excesso de solvente o farelo permaneceu em capela sob exaustão durante uma noite, posteriormente foi acondicionado em estufa com circulação de ar a 40ºC, durante seis horas para total evaporação do solvente. Ao final do experimento, os animais foram submetidos a jejum de 12 horas, para posterior eutanásia, por decapitação. O sangue retirado do tronco foi coletado em tubos de ensaio e centrifugado por 15 minutos a 3500 g para obtenção do soro. Os animais foram laparatomizados para a coleta do fígado, sendo este lavado com solução fisiológica gelada de NaCl 0,9%, enxutos em papel filtro. Todo o material foi armazenado a - 80ºC para posterior realização das análises do perfil lipídico, lipoperoxidação hepática e dosagem hepática da enzima catalase (CAT). O controle de peso foi executado no 1º (início), 20º (tratamento), 30º (tratamento) e 50º dias (fim). O ganho de peso total (GPT) foi avaliado por meio da diferença entre o peso final (50º dias) e o peso inicial (1º dia). O consumo diário (CD) foi determinado por meio do somatório da diferença entre a dieta fornecida e a consumida diariamente. O quociente de eficiência alimentar (QEA) foi calculado pela razão entre o ganho de peso e a quantidade total de dieta ingerida durante o experimento [29]. 51 Os níveis de colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e trigliacilgliceróis (TAG) foram determinados por sistema enzimático Labtest Diagnóstica® com posterior leitura em espectrofotômetro a 510 nm. O VLDL-c foi calculado pela fórmula VLDL = Triacilglicerol/5 e o LDL pela diferença entre colesterol total e (HDL+VLDL) [30]. A formação de malondialdeído (MDA), um índice de peroxidação lipídica, foi medido no fígado dos animais (lóbulo direito) por meio da quantificação das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), conforme Esterbauer e Cheeseman [31]. A amostra foi incubada com 600 μL de TCA 10%, após centrifugada (10.000×g; 10 min), onde removeu-se 500 μL do sobrenadante que foi misturado com 500 μL de ácido tiobarbitúrico 0,67% (TBA). Após, a amostra foi aquecida em banho de água fervente por 15 minutos. TBARS foram determinadas por absorbância a 532 nm. Os resultados foram expressos como nmol de malondialdeído (MDA) por mg -1 de proteína. A atividade da CAT foi realizada no fígado dos animais por meio da quantificação da velocidade de decomposição do peróxido de hidrogênio (H2O2) pela enzima, mediante o decréscimo da densidade ótica a 230 nm. O consumo de H2O2 pode ser utilizado como medida da atividade da CAT, uma vez que a taxa de decomposição do H2O2 é diretamente proporcional à atividade da enzima. A quantificação da CAT foi expressa em unidades de CAT por mg-1 de proteína [32]. A quantificação de proteínas totais foi determinada pelo método Lowry et al [33] utilizando albumina de soro bovino como padrão. Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão (DP) e analisados pelo programa Statistica versão 7.0. A comparação entre os grupos foi realizada por meio de análise de variância ANOVA de uma via, seguida por post hoc de Tukey, quando necessário. Foi considerado como nível de significância estatística P<0,05. A comparação com o grupo controle foi efetuada por post hoc de Dunnett (5%). 52 RESULTADOS A Figura 1 apresenta a evolução ponderal dos animais durante o período experimental. Pode-se observar que em todos os tratamentos, os animais apresentaram ganho de peso, no entanto, ao final do experimento, os valores não diferiram estatisticamente. As Tabelas 2 e 3 apresentam o GPT, CD e QEA dos animais. Não houve diferença entre os grupos em relação a estas variáveis. Quanto ao perfil lipídico, observa-se que em relação ao CT, a inclusão de grão e farelo desengordurado de linhaça promoveu redução nos níveis de CT tanto no grupo normolipídico (Tabela 4), quanto no hiperlipídico (Tabela 5), com exceção apenas para os grupos NF15% e HF7,5%. Para o grupo normolipídico, os menores valores foram para os ratos alimentados com NL7,5%, apresentando uma redução de 32,52% nos níveis de CT quando comparados ao grupo controle normolipídico (AIN-93M), seguido pelo grupo NF7,5% (29,17%). Para o grupo hiperlipídico, o menor valor de CT também foi para os animais alimentados com a dieta HL7,5%, com redução de 26,54%, seguido pelo grupo HF15% (24,18%). Quanto a fração HDL-c, os maiores valores dessa lipoproteína foram para os grupos NL15%, NF15%, HL15% e HF15%, porém no grupo hiperlipídico, o aumento da fração HDL-c não foi significativo, quando comparado com os animais que receberam dieta hiperlipídica sem suplementação. Em relação ao LDL-c, para os ratos alimentados com as dietas normolipídicas, houve redução dos níveis para os grupos NL7,5% e NF7,5%, com reduções séricas de 66,43% e 48,03%, respectivamente. No grupo hiperlipídico, resultados satisfatórios foram encontrados nos grupos HF15%, HL7,5% e HL15%, com percentuais de redução dos níveis de LDL-c, respectivamente de 29,34%, 28,05% e 18,31%. Os valores de VLDL-c também diferiram entre si. Para o grupo normolipídico, os menores valores foram para os tratamentos NL15% e NF7,5%. No grupo hiperlipídico, as dietas HL7,5%, HL15% e HF7,5% foram as mais eficientes para a redução dos níveis de VLDL-c. 53 Na análise dos níveis de TAG para o grupo normolipídico, os ratos que receberam dieta NL15% e NF7,5% foram os que apresentaram os menores valores de TAG (38,43 ± 2,30 mg.dL -1 e 39,80 ± 1,34 mg.dL-1, respectivamente). Para aqueles que receberam dietas hiperlipídicas, os menores resultados foram para os tratamentos HL7,5% (26,59 ± 1,42 mg.dL -1) e HL15% (28,12 ± 0,43 mg.dL-1). As Figuras 2 e 3 apresentam a avaliação da lipoperoxidação hepática em todos os tratamentos. Entre os animais que receberam dietas normolipídicas, os menores valores foram encontrados nos ratos alimentados com as dietas NL7,5% e NL15%, o mesmo ocorreu no grupo hiperlipídico. Observa-se que a adição de grão e farelo desengordurado de linhaça tanto nos tratamentos do grupo normolipídico, quanto nos do hiperlipídico foi eficiente para reduzir os níveis de MDA dos animais quando comparados com os grupos controles, com exceção apenas para o tratamento HF7,5%. Em relação a atividade da CAT (Figura 4), observa-se que tanto no grupo normolipídico, quanto no hiperlipídico, ocorreu um aumento nos níveis da enzima em todos os tratamentos, quando comparados com os grupos controles (P<0,05), sendo que em ambos os grupos (normolipídico e hiperlipídico), os animais alimentados com dieta acrescida de farelo na concentração 15%, foram os que apresentaram os maiores valores (66,63 ± 2,45 unidades de CAT por mg-1 de proteína e 55,33 ± 4,11 unidades de CAT por mg -1 de proteína). 54 DISCUSSÃO O presente estudo procurou avaliar o mecanismo antioxidante e hipocolesterolêmico do grão e do farelo desengordurado de linhaça em dietas com diferentes teores lipídicos e evidenciar se existe uma ação sinérgica entre os constituintes deste grão nos parâmetros avaliados. Apesar dos efeitos fisiológicos da linhaça e de seus derivados já descritos na literatura [13,14,17,22], diferenças estatísticas em relação ao GPT não foram observadas neste estudo, tanto nos grupos normolipídicos, quanto nos hiperlipídicos O fato de não ter ocorrido redução significativa no GPT pode ter sido em função do baixo percentual de matéria prima adicionada nas dietas, visto que, os estudos que avaliaram o uso de linhaça nos parâmetros biológicos de animais, utilizaram percentuais de produto em torno de 20% a 25% [15,34,35]. Outra razão poderia ser decorrente da idade dos animais utilizados neste experimento, uma vez que são observadas maiores diferenças em relação ao ganho de peso em animais em crescimento, diferente dos utilizados neste estudo [7]. Além disso, entre os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas, o efeito do maior conteúdo lipídico da dieta poderia ter influenciado na maior saciedade [13]. Marques et al [7] ao avaliarem o ganho de peso de ratos da linhagem Wistar alimentados com linhaça crua e assada, além de óleo de linhaça também não encontraram diferenças significativas entre os tratamentos. Segundo os autores, os parâmetros ponderais podem ter influências variadas e fatores como, idade, composição da dieta, condições ambientais e a espécie dos animais podem apresentar resultados variados. Enquanto que, Molena-Fernandes et al [36] encontraram uma importante ação preventiva no desenvolvimento da obesidade para ratos alimentados com dietas suplementadas com farinha de linhaça. Segundo os autores, no grupo controle, o peso médio dos animais foi superior a 40% quando comparado aos grupos suplementados com farinha de linhaça. Pacheco et al [34] avaliando ratas que receberam dietas suplementadas com 20% de semente de linhaça, encontraram uma redução significativa do peso corporal, quando comparado com o grupo sem suplementação. O mesmo 55 ocorreu no estudo de Freedland et al [37], que relataram que o consumo de linhaça apresentou efeitos favoráveis sobre o peso e a distribuição de gordura corporal em modelos experimentais. Em relação ao perfil lipídico, a suplementação da dieta com linhaça e farelo desengordurado no grupo normolipídico produziu redução significativa nos níveis de CT, principalmente para os tratamentos NL7,5% e NF7,5%. Por outro lado, o maior percentual de substituição destes produtos apesar de resultar em menores níveis de CT, não apresentou diferenças significativas em relação ao grupo controle normolipídico (AIN-93M). Entre os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas, reduções importantes nos níveis de CT foram observadas nos grupos HL7,5%, HL15% e HF15%. Segundo Morise et al [38], o elevado teor de ácido α-linolênico (ALA) presente no grão poderia induzir a maior secreção de colesterol biliar, relacionando-se com reduções importantes nas concentrações de colesterol sérico. O principal mecanismo envolvido nestas reduções seria que o ALA é responsável por inibir a enzima 3-hidróxi-3metil-glutaril coenzima A redutase (HMG-CoA redutase) que atua na síntese do colesterol. Além disso, a presença de fibras, tanto no grão, quanto no farelo também são responsáveis pelas propriedades hipocolesterolêmicas desta oleaginosa [15,22]. Já a suplementação das dietas com grão e farelo em ambas as concentrações aumentou os níveis de HDL colesterol entre os animais que receberam as dietas normolipídicas. Comparando-se o efeito tanto do grão, quanto do farelo nas dietas, observa-se aumento no percentual da fração HDLc em relação ao CT nas dietas NL7,5%, NL15%, NF7,5%, NF15%, com valores respectivos de 50,51%, 39,96%, 44,13% e 37,95%, enquanto que para o grupo controle houve redução, representando 30,79%. Tal efeito poderá ter ocorrido em função da fibra alimentar presente nestes alimentos ou de algum outro composto que poderia ter atuado, como por exemplo, as lignanas [15]. Segundo Cornish et al [39] as lignanas presentes na linhaça poderiam modular a atividade de enzimas envolvidas no metabolismo do colesterol, como a colesterol-7-α-hidroxilase. Este efeito ocorre, especialmente, devido ao componente Secoisolariciresinol diglicosídio (SDG), que poderia atuar na expressão da atividade da enzima colesterol-7-α-hidroxilase responsável por regular a síntese de sais biliares e o aumento da sua atividade estaria 56 relacionada com a maior excreção de colesterol hepático pelas vias biliares, o que representa o mecanismo principal do catabolismo do colesterol [6,39]. Entre os ratos alimentados com as dietas hiperlipídicas, os valores de HDL-c foram maiores nos grupos HL15% e HF15%, porém sem diferir estatisticamente do tratamento controle hiperlipídico. Pan et al [14] em uma meta-análise que avaliou o efeito da linhaça e seus derivados no perfil lipídico, não encontraram correlações significativas entre a suplementação de linhaça ou seus derivados sobre os níveis de HDL-c. Cintra et al [10] avaliando após 28 dias o perfil lipídico de 60 ratos machos adultos da linhagem Wistar, alimentados com dietas hipercolesterolêmicas acrescidas de diferentes fontes de ácidos graxos, encontraram reduções nos níveis de HDL-c, principalmente para os animais que receberam linhaça como fonte de ácidos graxos poli-insaturados. Segundo estes autores, apesar do efeito hipolipidêmico destes ácidos graxos, os mesmos podem acarretar reduções significativas nos níveis de HDL-c, principalmente em função da inibição da síntese da apolipoproteina A1 (Apo A.1), que é responsável por ativar a enzima lecitina-colesterol aciltranfersase (LCAT) presente na HDL-c e que participa do transporte de colesterol dos tecidos extra-hepáticos para o fígado, definido como transporte reverso do colesterol [40]. No presente estudo, reduções importantes foram encontradas em relação aos níveis de LDL-c, tanto nos grupos normolipídicos, quanto nos hiperlipídicos, porém no grupo normolipídico, o maior percentual de grão e farelo adicionados, não resultou em menor concentração de LDL-c. Além disso, em uma situação de dieta hiperlipídica, a redução nos níveis de LDL-c não foi tão eficiente com a suplementação de grão e farelo, visto os menores percentuais de redução nos níveis de LDL-c observados em comparação com os percentuais do grupo normolipídico. Ao avaliar os níveis de VLDL-c, a adição de linhaça e farelo promoveu efeitos positivos nos grupos normolipídicos e hiperlipídicos. A adição de linhaça na concentração 15% no grupo normolipídico e em ambas as concentrações no hiperlipídico evidenciou o efeito hipotrigliceridêmico desta oleaginosa. No entanto, entre os animais que foram alimentados com farelo desengordurado, os valores também foram menores 57 quando comparados ao grupo controle, com exceção apenas para aqueles alimentados com dieta HF15%. Estes achados diferem do estudo de Murase et al [41], os quais inferiram que o efeito hipotrigliceridêmico da linhaça ocorreu em função apenas da presença do ácido α-linolênico e que este poderia atuar inibindo a síntese hepática de triglicerídeos, sem sofrer qualquer influência dos outros compostos presentes. Por outro lado, em uma dieta hiperlipídica, a suplementação de farelo desengordurado não foi suficiente para reduzir ou reduziu muito pouco os níveis de TAG. Nesta situação, a presença do ácido α-linolênico no grão poderia por si só ter influenciado nos níveis de TAG, evidenciado pelos menores valores nos animais alimentados com grão de linhaça nas duas concentrações. A análise da lipoperoxidação hepática foi determinada pela formação de MDA, produto secundário da oxidação dos ácidos graxos poli-insaturados, por meio do teste TBARS. O acúmulo de subprodutos, tais como o MDA é considerado um marcador do processo de oxidação do organismo e a redução da peroxidação lipídica representa um mecanismo de proteção contra injúrias por estresse oxidativo [23,24]. Apesar dos ácidos graxos poli-insaturados apresentarem alta susceptibilidade à oxidação in vitro em função do maior número de insaturações, não está estabelecido que isso também possa ocorrer in vivo, não havendo um consenso se o maior aporte dietético de ácidos graxos poliinsaturados da série ω-3 aumentaria o estresse oxidativo no organismo [16, 42]. Portanto, a partir dos resultados obtidos neste estudo, pode-se constatar o efeito benéfico da linhaça em relação aos níveis de TBARS, principalmente para os animais alimentados com o grão inteiro, comprovando o potencial antioxidante do produto em sistemas in vivo. Em relação à atividade da CAT, a inclusão de grão e farelo de linhaça nos dois tipos de dietas (normolipídico e hiperlipídico) proporcionou um aumento na expressão da enzima, protegendo o fígado dos animais contra o estresse oxidativo, possivelmente pela ação antioxidante dos constituintes presentes tanto no grão, quanto no farelo de linhaça. 58 No presente estudo, os níveis de CAT foram maiores em todos os tratamentos, quando comparados com os grupos controles (normolipídico e hiperlipídico), entretanto, em uma situação de dieta hiperlipídica, somente as dietas HL15% e HF15% diferiram estatisticamente do grupo controle hiperlipídico. Já no grupo normolipídico, todos os tratamentos adicionados de grão ou farelo de linhaça aumentaram significativamente os níveis de CAT, quando comparados com o grupo controle normolipídico (AIN-93M). Os dados demonstram que os constituintes presentes na linhaça, como as lignanas, tocoferóis e ácidos graxos poli-insaturados poderiam ter influenciado sinergicamente, potencializando sua ação antioxidante, evidenciado pela menor peroxidação lipídica e maior expressão da atividade da CAT no fígado dos animais. O mecanismo pelo qual a linhaça poderia influenciar no estresse oxidativo e na prevenção das dislipidemias não está totalmente claro, visto que os estudos demonstram que os efeitos hipocolesterolêmicos e antioxidantes desta oleaginosa podem ser atribuídos a mais de um componente [20]. Estudos relatam que as lignanas presentes, tanto no grão, quanto no farelo, apresentam efeito positivo no perfil lipídico, modulando a ação de enzimas envolvidas no metabolismo do colesterol, com redução do estresse oxidativo e da agregação plaquetária [20,43-45]. Além disso, estes compostos podem inibir a oxidação da LDL-c e formação de compostos oxidativos [44]. Estudos in vivo demonstram a atividade sequestradora das lignanas contra espécies reativas de oxigênio (ERO), assim como efeitos potencializadores da detoxificação hepática [44]. Os autores relatam que, a atividade antioxidante deste composto atua não apenas inativando as ERO, como também com efeitos indiretos no sistema antioxidante endógeno, poupando enzimas antioxidantes como a glutationa [44,45]. Prasad [46] em um estudo que objetivou avaliar a regressão da aterosclerose em coelhos hipercolesterolêmicos que receberam dietas suplementadas com o complexo isolado de lignana SDG, encontrou redução significativa das lesões ateroscleróticas destes animais. Além disso, o autor também avaliou o efeito da SDG no perfil lipídico e redução do estresse oxidativo e evidenciou que a redução do estresse oxidativo ocorreu concomitantemente com a redução dos níveis de colesterol. O que evidencia 59 que o consumo da linhaça integral parece exercer um efeito benéfico em relação ao consumo do óleo de linhaça [44,46]. Por outro lado, o ácido α-linolênico, abundante no óleo de linhaça pode ser considerado um coadjuvante na defesa antioxidante do organismo por reduzir o metabolismo oxidativo do ácido araquidônico, por meio da via das ciclooxigenases [47]. Evidenciando que dietas ricas em ácido linolênico podem prevenir desordens inflamatórias, por possibilitarem a introdução dos ácidos graxos eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenóico (DHA) nos fosfolipídios das membranas, inibindo o metabolismo do ácido araquidônico, o que ocasiona uma resposta inflamatória menos exacerbada, visto que estes ácidos graxos são precursores de substâncias eicosanoides relacionadas à diminuição do processo inflamatório, por reduzirem a formação de leucotrienos e prostaglandinas da série ímpar, considerados mediadores inflamatórios menos ativos, além de ERO [47]. Além disso, os tocoferóis presentes no grão de linhaça, também apresentam atividade antioxidante, especialmente o Ɣ-tocoferol, considerado o isômero predominante, e o seu conteúdo está relacionado ao alto conteúdo de ácido α-linolênico [22]. A ação antioxidante dos tocoferóis estaria relacionada com a inibição da peroxidação lipídica, pois estes compostos são capazes de sequestrar radicais livres, prevenindo a formação de hidroperóxidos. O Ɣtocoferol atua retardando a oxidação, pois reage com os radicais livres formados nas etapas iniciais da oxidação para formar produtos intermediários estáveis [22]. Observa-se que a dieta hiperlipídica foi capaz de causar danos oxidativos no fígado dos animais, demonstrado pelo aumento da peroxidação lipídica, o que foi comprovado e relatado por outros autores, que relacionaram o aumento da ingestão de colesterol com processos de peroxidação lipídica e elevação dos níveis de MDA, sugerindo que a hipercolesterolemia associa-se diretamente com a formação de radicais livres e estes compostos poderiam promover injúria celular e, consequentemente, disfunção endotelial, o que pode ser considerado o estágio primordial para o início da aterosclerose [46]. Portanto, a redução da colesterolemia, poderia consequentemente reduzir o estresse oxidativo [45-47]. 60 É importante ressaltar que a defesa antioxidante in vivo depende de mecanismos endógenos e da sua atuação sinérgica com antioxidantes exógenos, além disso, os valores de TBARS podem apresentar variabilidade entre os animais, e, fatores como a idade dos modelos biológicos podem interferir nos mecanismos de respostas adaptativas frente aos compostos antioxidantes da dieta [48]. Entre as limitações deste estudo pode-se destacar a idade dos animais utilizados, o que pode ter influenciado na ausência de diferença estatística em relação ao GPT dos animais. Além disso, o período de realização do ensaio biológico pode ter sido pequeno para que efeitos mais contundentes da ingestão do grão e do farelo de linhaça possam ser comprovados. 61 CONCLUSÃO A análise dos resultados apresentados evidenciou que mesmo não ocorrendo diferenças entre o ganho de peso e consumo diário entre os tratamentos, a suplementação das dietas com grão e farelo de linhaça resultou em melhoras significativas no perfil lipídico, na lipoperoxidação hepática e na expressão da enzima CAT no fígado dos animais, demonstrando a atividade biológica desta oleaginosa. Além disso, pode-se observar que os efeitos da linhaça foram diferentes dependendo do conteúdo lipídico da dieta ingerida e do percentual de produto adicionado. Evidenciando também que o tipo de dieta consumida é um fator de grande influência para o desenvolvimento de patologias, como as dislipidemias. Ainda permanece obscuro se o efeito hipolipidêmico desta oleaginosa se deve a um único componente ou as interações entre os seus constituintes, evidenciando a necessidade de mais estudos para elucidar estas questões. No entanto, independentemente da ação dos constituintes da linhaça, é fundamental a priorização de hábitos alimentares saudáveis, prática de atividade física e mudança comportamental entre os indivíduos. AGRADECIMENTOS À empresa Indústria de Óleos Vegetais Pazze Ltda pela doação do grão e do farelo de linhaça. À FAPERGS pelo apoio financeiro (ARD processo n°. 10/0489 – 0). Ao Professor José Cláudio Fonseca Moreira e ao doutorando Guilherme Antônio Behr do Laboratório do Centro de Estudos em Estresse Oxidativo do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela realização das análises de estresse oxidativo. 62 REFERÊNCIAS 1. World Health Organization. Cardiovascular diseases. Fact sheet n o317. 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Lipoperoxidação hepática dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas hiperlipídicas. Figura 4. Níveis de CAT no fígado dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas (a) e hiperlípidicas (b). 68 Tabela 1. Formulação das dietas experimentais. Ingredientes (g) Sacarose Amido de milho Caseína Amido dextrinizado Óleo de soja Fibra Mix mineral Mix vitamínico L-cistina Bitartarato de colina Tetrabutilhidroquinona Grão de linhaça* Farelo de linhaça** Total AIN93M NL7,5% 100,000 100,000 453,472 438,602 152,220 137,200 155,000 155,000 40,000 13,316 50,000 31,580 35,000 35,000 10,000 10,000 1,800 1,800 2,500 2,500 0,008 0,008 75,000 1000,000 1000,000 Dietas (g) NL15% NF7,5% NF15% 100,000 100,000 100,000 397,062 431,162 405,812 122,100 126,330 100,450 155,000 155,000 155,000 13,370 39,710 39,430 13,160 23,490 0,000 35,000 35,000 35,000 10,000 10,000 10,000 1,800 1,800 1,800 2,500 2,500 2,500 0,008 0,008 0,008 150,000 75,000 150,000 1000,000 1000,000 1000,000 Ingredientes (g) Sacarose Amido de milho Caseína Amido dextrinizado Óleo de soja Fibra Mix mineral Mix vitamínico L-cistina Bitartarato de colina Tetrabutilhidroquinona Banha suína Colesterol Ácido cólico Grão de linhaça* Farelo de linhaça** Total H HL7,5% 100,000 100,000 232,472 217,592 152,220 137,200 155,000 155,000 0,000 0,000 50,000 31,580 35,000 35,000 10,000 10,000 1,800 1,800 2,500 2,500 0,008 0,008 250,000 223,320 10,000 10,000 1,000 1,000 75,000 1000,000 1000,000 HL15% HF7,5% HF15% 100,000 100,000 100,000 202,802 210,162 184,812 122,100 126,330 100,450 155,000 155,000 155,000 0,000 0,000 0,000 13,160 23,490 0,000 35,000 35,000 35,000 10,000 10,000 10,000 1,800 1,800 1,800 2,500 2,500 2,500 0,008 0,008 0,008 196,630 249,710 249,430 10,000 10,000 10,000 1,000 1,000 1,000 150,000 75,000 150,000 1000,000 1000,000 1000,000 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%.*Proteína: 15,82g; Lipídeos: 35,58g; Fibra: 24,56g; Cinzas: 3,34g; Umidade: 7,47; Carboidratos: 13,2g (g/100g).** Proteína: 27,2g; Lipídeos: 0,38g; Fibra: 35,35g; Cinzas: 6,36g; Umidade: 7,93; Carboidratos: 22,78g (g/100g). 69 Tabela 2. Ganho de peso total (GPT), consumo diário (CD) e quociente de eficiência alimentar (QEA) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas. Dietas GPT (g) CD (g) QEA AIN-93M 35,15±7,62 14,34±0,52 0,05±0,01 NL7,5% 42,45±15,68 14,43±1,03 0,06±0,02 NL15% 40,39±10,95 14,47±1,09 0,06±0,02 NF7,5% 40,55±10,67 14,70±0,84 0,05±0,01 NF15% 30,85±13,98 13,90±0,79 0,04±0,02 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%. Média ± DP, n=6. ANOVA. (P>0,05). 70 Tabela 3. Ganho de peso total (GPT), consumo diário (CD) e quociente de eficiência alimentar (QEA) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas hiperlipídicas. Dietas GPT (g) CD (g) QEA H 51,50±14,12 11,76±1,08 0,09±0,02 HL7,5% 54,33±17,40 12,05±1,34 0,09±0,02 HL15% 48,98±14,71 12,10±1,19 0,08±0,02 HF7,5% 57,59±21,08 12,13±0,62 0,09±0,03 HF15% 46,65±12,03 11,97±0,60 0,08±0,02 H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%. Média ± DP, n=6. ANOVA. (P>0,05). 71 Tabela 4. Dosagens sorológicas (mg.dL-1) de colesterol total, HDL-c, LDL-c, VLDL-c e TAG das ratas fêmeas Wistar/UFPel alimentadas durante 54 dias com as dietas normolipídicas. Dietas CT HDL-c LDL-c VLDL-c TAG (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) AIN-93M 66,60±2,50a 20,51±0,98c 35,39±3,34a 10,69±0,60a 53,49±3,03a NL7,5% 44,94±3,14b 22,70±0,71b 11,88±4,04b 10,36±0,98a 51,83±4,90a NL15% 63,40±3,38a 25,37±0,30a 30,33±3,84a 7,68±0,46b 38,43±2,30b NF7,5% 47,17±5,05b 20,82±1,00b,c 18,39±5,43b 7,96±0,27b 39,80±1,34b NF15% 67,35±1,99a 25,56±0,30a 31,73±2,06a 10,04±0,24a 50,24±1,23a AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%. Média ± DP, n=6. ANOVA. Valores na mesma coluna com diferentes letras sobrescritas diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey. (P<0,05). 72 Tabela 5. Dosagens sorológicas (mg.dL-1) de colesterol total, HDL-c, LDL-c, VLDL-c e TAG das ratas fêmeas Wistar/UFPel alimentadas durante 54 dias com as dietas hiperlipídicas. Dietas CT HDL-c LDL-c VLDL-c TAG (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) H 103,32±2,05a 9,23±0,24a 87,30±1,89a 6,79±0,14b 33,95±0,71b HL7,5% 75,89±2,20c 7,77±0,20c 62,81±2,16c 5,32±0,28d 26,59±1,42d HL15% 86,45±2,16b 9,51±0,20a 71,31±2,11b 5,62±0,09d 28,12±0,43d HF7,5% 105,48±5,11a 8,33±0,62b,c 90,86±4,43a 6,29±0,16c 31,46±0,78c HF15% 78,33±3,68b,c 9,00±0,23a,b 61,68±3,83c 7,65±0,10a 38,27±0,51a H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%. Média ± DP, n=6. ANOVA. Valores na mesma coluna com diferentes letras sobrescritas diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey. (P<0,05). 73 Figura 1. Evolução ponderal de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas (a) e hiperlipídicas (b). AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%. H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%. Média ± DP, n=6. ANOVA. 74 Figura 2. Lipoperoxidação hepática dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas. Resultados expressos em média ± DP, n=6. ANOVA. Significativo pelo Teste de Dunnett em função do controle (5%). AIN93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%. 75 Figura 3. Lipoperoxidação hepática dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas hiperlípidicas. Resultados expressos em média ± DP, n=6. ANOVA. Significativo pelo Teste de Dunnett em função do controle (5%). H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%. 76 Figura 4. Níveis de CAT no fígado dos ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas normolipídicas (a) e hiperlípidicas (b). Resultados expressos em média ± DP, n=6. ANOVA. Significativo pelo Teste de Dunnett em função do controle (5%). AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%. H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%. 77 6 ARTIGO 2: Efeito biológico do óleo de linhaça em ratos Wistar submetidos à dietas normolipídicas e hiperlipídicas Biological effects of flaxseed oil in rats Wistar submitted to normal-fat and high-fat diet Lúcia Rota BORGES1; Elizabete HELBIG2; Álvaro Renato Guerra DIAS3 1 Doutoranda – Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial – FAEM/UFPEL; 2 Doutora – Mestrado em Nutrição e Alimentos – Faculdade de Nutrição/UFPEL; 3 Doutor – Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial – FAEM/UFPEL. Rua: Gomes Carneiro no1 – CEP: 96010-610 – Pelotas/RS – Faculdade de Nutrição – Campus Anglo – [email protected] Financiamento: FAPERGS ARD PROCESSO (no. 10/0489-0). O manuscrito encontra-se nas normas do periódico British Journal of Nutrition (ISSN 0007-1145), revista escolhida pelos autores para submissão, após apreciação da banca avaliadora. 78 RESUMO O óleo de linhaça é rico em ácidos poli-insaturados, principalmente, o ácido αlinolênico (ALA) e seu consumo associa-se com efeitos cardioprotetores e redução do estresse oxidativo. O objetivo do estudo foi avaliar seu efeito em ratos, submetidos a dietas normolipídicas e hiperlipídicas. Utilizaram-se 36 ratas, adultas (70 dias), alimentadas com dieta normolipídica (AIN-93M); hiperlipídica (H); normolipídica + óleo 4% (NO4%); normolipídica + óleo 8% (NO8%); hiperlipídica + óleo 4% (HO4%); hiperlipídica + óleo 8% (HO8%). Avaliaram-se o ganho de peso, consumo de dieta, perfil lipídico, gordura peritoneal, lipídeos fecais e hepáticos e dosagem de enzimas catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD). Foi verificado o efeito benéfico do óleo no colesterol e nos níveis de triacilgliceróis mesmo numa situação de dieta hiperlipídica. Observou-se aumento da atividade da CAT nos grupos NO4% e NO8% quando comparados com o grupo AIN-93M. Por outro lado, nas dietas hiperlipídicas, a inclusão de óleo de linhaça não se mostrou eficiente no controle do estresse oxidativo. Quanto ao acúmulo de gordura hepática, a dieta HO8% promoveu menor acúmulo de gordura, com uma redução de 24,97% quando comparado com o grupo HO4%. Ainda são conflitantes os mecanismos pelos quais os lipídeos do óleo de linhaça reduzem o colesterol, havendo a necessidade de mais estudos para sua elucidação. No entanto, independentemente disto, é fundamental a priorização de hábitos alimentares saudáveis, visto que o tipo de dieta consumida é um fator de grande influência para o desenvolvimento de patologias, como as dislipidemias. Palavras-chaves: óleo de linhaça: ácido α-linolênico: dislipidemia: estresse oxidativo: ratos. 79 ABSTRACT Flaxseed oil is rich in polyunsaturated acids, especially α-linolenic acid (ALA) and its consumption is associated with cardioprotective effects and reduced oxidative stress. The objective was to evaluate its effect in rats fed with normalfat and high-fat diet. We used 36 adult rats (70 days), normal-fat diet (AIN-93M); high-fat diet (H); normal-fat diet + 4% oil (% NO4); normal-fat diet oil + 8% (NO8%); high-fat diet + oil 4% (HO4%); high-fat diet oil + 8% (HO8%). We evaluated weight gain, food intake, lipid profile, peritoneal fat deposition, fecal and hepatic lipids contents and enzyme measurements of catalase (CAT) and superoxide dismutase (SOD). It was found the beneficial effect of oil on cholesterol and triglyceride levels even in a situation of high-fat diet. There was an increase in CAT activity in the groups NO4% and NO8% when compared with the group AIN-93M. Moreover, the inclusion of linseed oil was not effective in controlling oxidative stress in the high-fat diet groups. Concerning hepatic fat deposit, HO8% diet promoted a decrease of 24.97% in hepatic fat accumulation when compared with the group HO4%. The mechanisms by which flaxseed lipids reduce cholesterol are still unclear and need further studies to be elucidated. These results show that flaxseed oil can be used to prevent diseases such as dyslipidemia. Key words: flaxseed oil: α-linolenic acid: dyslipidemia: oxidative stress: rats. 80 INTRODUÇÃO O comportamento alimentar possui papel fundamental no desenvolvimento de certas patologias. A dieta, além de prover os nutrientes necessários aos requerimentos metabólicos, fornece compostos que modulam funções orgânicas, favorecendo a prevenção e o tratamento de doenças. Entre os macronutrientes, os lipídeos exercem forte influência no desenvolvimento de doenças crônicas, entre elas as patologias cardiovasculares (1-3) . As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo e constituem uma das principais causas de permanência hospitalar prolongada (4,5) . No Brasil, são responsáveis por cerca de 300 mil óbitos por ano, e mesmo quando não letais, levam o indivíduo à incapacidade parcial ou total, além de proporcionar graves repercussões não somente no indivíduo acometido, como também à família e a toda sociedade (6-8) . Entre os principais fatores de risco para estas doenças, encontram-se as dislipidemias (9-11) . As dislipidemias são alterações nos níveis das lipoproteínas, e podem levar à obstrução do fluxo sanguíneo devido à formação de placas gordurosas. As alterações lipídicas mais frequentes são: hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, redução das concentrações da lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e aumento das concentrações da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), as quais podem ocorrer de forma isolada ou combinada (9) . Ademais, estudos sugerem que além das anormalidades lipídicas, o estresse oxidativo desempenha um papel importante na etiologia das doenças cardiovasculares (5,6,12). Atualmente é dada maior ênfase ao papel da dieta na saúde, sendo os lipídeos objetos de maior interesse, principalmente os ácidos graxos poliinsaturados da série ω-3, como o α-linolênico de origem vegetal e eicosapentaenoico e docosaexaenoico, de origem marinha (10,11) . Estes ácidos graxos têm sido foco de estudos, por serem ácidos essenciais e relacionados a benefícios para a saúde, como a melhor acuidade visual, o desenvolvimento e crescimento normal do organismo, a prevenção de doenças cardiovasculares, por meio da atuação na colesterolemia e por estarem associados ao tratamento de diversas patologias (1,10-14). 81 De acordo com evidências do Comitê de Nutrição da American Heart Association, existe uma forte associação entre o consumo de ácidos graxos poli-insaturados e a redução do risco de doença cardiovascular, reforçando a necessidade de estimular o consumo destes ácidos graxos pela população (10,15) . Os estudos acerca dos ácidos graxos poli-insaturados iniciaram a partir da verificação de menor ocorrência de doenças cardiovasculares em esquimós, pois se observou que apesar destes indivíduos consumirem dieta rica em gorduras, eles apresentavam menor incidência de deposição de gordura arterial em relação aos povos ocidentais, o que pode ser explicado pelo alto consumo de peixes, ricos em ácidos graxos poli-insaturados da série ω-3 (10,12,16) . O óleo de linhaça é rico em ácidos graxos poli-insaturados, principalmente, o ácido α-linolênico (ALA), com percentuais que variam entre 40% a 60% (17,18) . Em função de o ALA ser o seu principal componente, faz com que a linhaça seja considerada a maior fonte vegetal deste ácido graxo 21) (18- . Além disso, evidências demonstram que o seu consumo está relacionado ao aumento da resposta imunológica estresse oxidativo Quanto (5) (22) , redução da gordura corporal e do . aos benefícios no risco cardiovascular, a ação hipocolesterolêmica se dá, por meio da modulação de vias que poderiam influenciar na colesterolemia, com redução dos triacilgliceróis plasmáticos pela diminuição da síntese hepática de VLDL-c, podendo ainda exercer outros efeitos cardiovasculares, como redução da viscosidade sanguínea, maior relaxamento endotelial, além de efeitos antiarrítmicos (9,23-27) . Ademais, o consumo de óleo de linhaça torna-se uma opção viável às populações de baixa renda, em função do baixo custo, quando comparados com as fontes marinhas de ácidos graxos ω-3 (21,26,28). Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito biológico do óleo de linhaça em ratos Wistar, submetidos à dieta normolipídica e hiperlipídica. 82 MÉTODOS Foram utilizadas 36 ratas fêmeas, cepa Wistar/UFPEL, adultas (70 dias), com peso médio inicial de 234,41 ± 3,07 g, provenientes do Biotério Central da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), acomodadas individualmente em gaiolas metabólicas com administração de dieta e água ad libitum. O ensaio biológico ocorreu no Laboratório de Nutrição Experimental da Faculdade de Nutrição da UFPEL. A temperatura do laboratório foi mantida a 23ºC1ºC e umidade relativa de 50%-60%, com alternância automática de ciclos claro-escuro em períodos de 12 horas. Semanalmente foram alteradas as disposições das gaiolas a fim de proporcionar aos animais uma melhor distribuição de luz e ruídos presentes no ambiente e, consequentemente, diminuir fatores ambientais causadores de estresse. O ensaio teve duração de 54 dias, incluindo quatro dias de adaptação ao ambiente de experimentação. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da UFPEL (processo 23110. 000472/2010-09 CEEA 0472). Foram tomadas todas as medidas necessárias para o bem-estar dos animais, conforme recomendação do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), descritas no manual sobre cuidado e usos de animais de laboratório (29). As dietas (Tabela 1) foram elaboradas segundo as recomendações do American Institute of Nutrition (AIN-93M) (30) . Os animais foram alocados aleatoriamente em seis grupos de seis, conforme o tipo de dieta oferecida: Grupo controle (AIN-93M); Grupo Normolipídico + Óleo de linhaça 4% (NO4%); Grupo Normolipídico + Óleo de linhaça 8% (NO8%); Grupo Hiperlipídico (H), com modificação no teor de lipídeos de 4% para 25% e adição de colesterol (1%) e ácido cólico (0,1%); Grupo Hiperlipídico + Óleo de linhaça 4% (HO4%); Grupo Hiperlipídico + Óleo de linhaça 8% (HO8%). As dietas foram produzidas com substituição parcial do ingrediente óleo de soja por óleo de linhaça, equilibrando os macronutrientes e o valor energético em todos os tratamentos. O perfil de ácidos graxos do óleo de linhaça foi determinado por cromatografia gasosa, a partir do extrato etéreo das amostras, na forma de 83 ésteres de ácidos graxos, previamente preparados através da técnica de derivatização descrita por Zambiazi et al.(31). A identificação dos ácidos graxos foi realizada por meio da comparação do tempo de retenção dos ácidos graxos das amostras com os padrões conhecidos (Sigma Chemicals Co. - St. Louis, EUA). O teor de cada ácido graxo foi calculado de acordo com a área de cada um dos picos obtidos nos cromatogramas, multiplicadas por 100 e dividido pela área total de ácidos graxos da amostra, sendo os resultados expressos em porcentagem relativa. As análises foram realizadas em cromatógrafo gasoso - CG (Perkin Elmer Clarus500), provido com detector FID, com coluna capilar (Phenomenex) fase líquida constituída de 5% de fenil, 95% de dimetilpolisiloxano, de dimensões 15 m x 0,32 mm x 0,1 μm, e injetor automático com capacidade de 5 μL. Os dados foram processados com auxílio do software Clarus 500. Utilizou-se gradiente de temperatura, de acordo com Pestana et al.(32). A temperatura inicial da coluna foi de 90°C, mantida por 1 min; após, passou para 160°C com incremento linear de 12°C min -1, mantida por 3,5 min; seguindo a 190°C com incremento linear de 1,2°C min -1, mantida por 0 min; e finalmente a 230°C com incremento linear de 15°C min -1, mantida por 15 min. O injetor e o detector foram mantidos na temperatura de 230°C e 240°C, respectivamente. Utilizou-se o nitrogênio como gás de arraste a 1,5 mL.m-1. Ao final do experimento, os animais foram submetidos a jejum de 12 horas, para posterior eutanásia, por decapitação. O sangue retirado do tronco foi coletado em tubos de ensaio e centrifugado por 15 minutos a 3500 g para obtenção do soro. Os animais foram laparatomizados para a coleta do fígado e gordura peritoneal. O fígado foi lavado com solução fisiológica gelada de NaCl 0,9% e enxuto em papel filtro. O órgão foi pesado em balança de precisão. Todo o material foi armazenado a - 80ºC para posterior realização das análises. As variáveis avaliadas foram peso inicial (PI), peso final (PF), ganho de peso total (GPT), consumo total de dieta (CTD), quociente de eficiência alimentar (QEA), perfil lipídico, acúmulo de gordura peritoneal, lipídeos fecais e hepáticos e dosagem no sangue de enzimas antioxidantes catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD). 84 O controle de peso foi executado no 1º (PI), 20º, 30º e 50º dias (PF). O GPT foi avaliado por meio da diferença entre o PF e o PI. O CTD foi determinado por meio do somatório da diferença entre a dieta total fornecida e a dieta total consumida. O QEA foi calculado pela razão entre o ganho de peso e a quantidade total de dieta ingerida durante o experimento (33) . As fezes foram recolhidas em um período de 10 dias consecutivos, pesadas e armazenadas a - 80ºC para quantificação dos lipídeos totais. Os níveis de colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e trigliacilgliceróis (TAG) foram determinados por sistema enzimático Labtest Diagnóstica® com posterior leitura em espectrofotômetro a 510 nm. O VLDL-c foi calculado pela fórmula VLDL = Triacilglicerol/5 e o LDL pela diferença entre colesterol total e (HDL+VLDL) (34) . Também foi calculada a razão CT/HDL-c, que é considerado um indicador de risco cardiovascular (35) . Todos os resultados foram expressos em mg.dL-1. A gordura peritoneal foi retirada dos animais, pesada e os resultados foram expressos em gramas de gordura peritoneal por 100 g de peso corporal (36) . Para determinação dos lipídeos totais das fezes, as mesmas foram maceradas, homogeneizadas e desumidificadas em estufa a 50ºC por 4 horas. A análise foi realizada em triplicata pelo método de Bligh e Dyer (37) , que utiliza clorofórmio e metanol como solventes para extração da gordura. Para a análise dos lipídeos hepáticos as amostras dos fígados dos animais (lóbulo esquerdo) foram maceradas, utilizando-se uma alíquota de fígado (0,5 g) de cada animal do grupo, seguindo o mesmo protocolo dos lipídeos fecais (37). A atividade das enzimas antioxidantes foi realizada no sangue dos animais. A atividade enzimática foi normatizada pela quantidade de proteína total. A quantificação de proteínas totais foi determinada pelo método Lowry et al.(38) utilizando albumina de soro bovino como padrão. A atividade da SOD foi avaliada por meio da inibição da autoxidação da adrenalina pela SOD a 480 nm. Os resultados foram expressos em unidades de SOD por mg-1 de proteína (39) . A avaliação da CAT baseia-se na quantificação da velocidade de decomposição do peróxido de hidrogênio (H2O2) pela enzima, mediante o decréscimo da densidade ótica a 230 nm. A 85 quantificação da CAT foi expressa em unidades de CAT por mg -1 de proteína (40) . Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão (DP) e analisados pelo programa Statistica versão 7.0. A comparação entre os grupos foi realizada por meio de análise de variância ANOVA de uma via, seguida por post hoc de Tukey, quando necessário. Foi considerado como nível de significância estatística P<0,05. 86 RESULTADOS A Tabela 2 apresenta o perfil de ácidos graxos do óleo de linhaça utilizado nas formulações das dietas. O ácido α-linolênico foi o principal ácido graxo identificado, representando cerca de 55,76% da matéria graxa. Observase que o ácido oleico é o segundo constituinte majoritário do perfil de ácidos graxos, contendo 17,98%, seguido pelo ácido linoleico (13,99%). Além disso, apenas 11,24% dos ácidos graxos totais do óleo de linhaça são saturados. O PI dos animais em todos os tratamentos foi semelhante, com uma média de 234,41 ± 3,07 g. Ao final do ensaio biológico, os animais alimentados com as dietas normolipídicas apresentaram GPT em torno de 35,49 ±0,46 g, para aqueles que receberam dietas hiperlipídicas a média de GPT foi de 47,67 ± 4,16 g. Entre os animais que receberam dietas normolipídicas, acrescidas ou não de óleo de linhaça, a média de PF foi de 269,42 ± 4,65 g, para aqueles alimentados com as dietas hiperlipídicas, este valor foi de 282,56 ± 5,36 g, assim como na análise do PI, os valores de PF dos ratos avaliados também não diferiram significativamente. Em relação ao acúmulo de gordura peritoneal, não foi verificada diferença estatística entre os grupos experimentais, por outro lado, quanto ao CTD, os resultados demonstram diferenças entre os tratamentos, o mesmo foi observado para o QEA (Tabela 3). Os dados de ingestão alimentar entre os grupos ao final do ensaio demonstram que os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas acrescidas ou não de óleo de linhaça em ambas as concentrações apresentaram menor ingestão alimentar e maior QEA, diferindo significativamente quando comparados aos grupos com dieta normolipídica. A excreção fecal diária não diferiu entre os grupos, e a média de excreção em todos os tratamentos foi de 1,06 ± 0,05 g. Quanto ao teor de lipídeos fecais (Tabela 4), verificam-se diferenças significativas entre os grupos. Os ratos alimentados com a dieta NO8% apresentaram excreção lipídica fecal significativamente maior do que aqueles que receberam a dieta AIN-93M. Entre os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas não houve diferença estatística. 87 Em relação à massa hepática (Tabela 4), os dados foram diferentes entre os grupos normolipídicos e hiperlipídicos. Os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas, apresentaram valores de massa hepática superiores aos animais que receberam as dietas normolipídicas, porém dentro de cada grupo com o mesmo teor lipídico não houve diferenças. Quanto ao acúmulo de gordura no fígado, verifica-se que a inclusão de óleo de linhaça na dieta dos animais não foi eficiente para impedir o acúmulo de gordura hepática. Entretanto, nos animais alimentados com as dietas hiperlipídicas, a maior concentração de óleo de linhaça (HO8%) promoveu redução (13,33%) na quantidade de lipídeos hepáticos quando comparado aos animais alimentados com dieta HO4%. Na análise do perfil lipídico (Tabela 5), os dados demonstram resultados expressivos com a inclusão de óleo de linhaça na dieta dos animais. Neste estudo, as concentrações séricas de CT apresentaram diferenças significativas entre si e pode-se observar que tanto nas dietas normolipídicas, quanto nas hiperlipídicas, os níveis de CT foram menores, conforme aumentaram os percentuais de substituição de óleo de linhaça. Ao comparar os níveis de CT do grupo AIN-93M com o grupo HO8%, o efeito benéfico do óleo foi verificado, evidenciando que mesmo numa situação de dieta hiperlipídica, o óleo de linhaça foi capaz de reduzir os níveis de CT em 14,93% (66,60 mg.dL-1 vs. 56,65 mg.dL-1). Ao relacionar o grupo AIN-93M com os animais alimentados com dieta NO8%, esta redução foi de 52,89% (66,60 mg.dL-1 vs. 31,37 mg.dL-1). Por outro lado, a inclusão de óleo de linhaça não foi capaz de impedir a redução dos níveis de HDL-c, além disso, conforme aumentaram os percentuais de óleo de linhaça, os níveis desta lipoproteína diminuíram. Em relação ao LDL-c, os resultados foram semelhantes aos dados de CT, evidenciando também o efeito benéfico do óleo de linhaça na redução dos níveis de LDL-c, principalmente nos grupos NO8% (73,89%) e NO4% (59,98%). Comportamento semelhante foi observado nos níveis de VLDL-c e TAG, com exceção apenas para os animais alimentados com as dietas NO4% e HO4%. A razão CT/HDL foi menor entre os animais alimentados com as dietas normolipídicas, quando comparados com os grupos hiperlipídicos. Além disso, 88 entre os animais que receberam dietas hiperlipídicas adicionadas de óleo de linhaça, o maior percentual de óleo, resultou em uma menor razão CT/HDL. As Figuras 1 e 2 apresentam os valores médios das determinações das atividades enzimáticas da CAT e da SOD no sangue dos animais. Foi observado, neste estudo, um aumento significativo da atividade da CAT no sangue dos animais alimentados com as dietas normolipidicas acrescidas de óleo de linhaça quando comparado com o grupo controle. Por outro lado, entre os animais que receberam dietas hiperlipídicas, a inclusão de óleo de linhaça em ambas as concentrações não se mostrou eficiente no controle do estresse oxidativo ocasionado pelo consumo de dietas hipercolesterolêmicas (Figura 1). Em relação à atividade da enzima SOD (Figura 2), verifica-se o aumento da atividade desta enzima, porém sem diferença estatística entre os tratamentos, com exceção apenas para os grupos NO8% e H. 89 DISCUSSÃO Este estudo procurou avaliar o efeito biológico do óleo de linhaça em ratos Wistar submetidos à dietas normolipídicas e hiperlipídicas. Quanto ao perfil de ácidos graxos do óleo pode-se observar a quantidade elevada de ALA presente (55,76%), o que já foi demonstrado por Rosa et al.(13). Os resultados encontrados para o óleo de linhaça, utilizado neste trabalho, assemelham-se aos relatados por Cintra et al.(1), os quais detectaram a concentração de ALA em torno de 58,47% e uma concentração de ácido linoleico de 12,71%. Em outro estudo, Xu et al.(5) encontraram uma quantidade de ALA inferior aos achados do presente estudo, com percentuais de 52,90%. A linhaça apresenta um perfil único de ácidos graxos, sendo reduzida em saturados, com níveis modestos de ácidos monoinsaturados (aproximadamente 18%) e um perfil importante de ácidos graxos poliinsaturados (17,18) . A presença do ácido graxo essencial α-linolênico nos grãos de linhaça faz com que este alimento seja considerado uma das mais ricas fontes vegetais deste nutriente, além disso, desempenha um papel importante na redução do risco de doenças cardiovasculares, diminuindo os níveis de colesterol sanguíneo (1,17,21,26,27). A partir dos resultados apresentados neste estudo, verifica-se que não houve diferença estatística entre os pesos inicias e finais dos animais avaliados. A dieta hipercolesterolêmica resultou em um balanço energético positivo, promovendo ganho de peso nos animais, no entanto, este ganho não foi significativo entre os tratamentos em estudo. Da mesma forma, Marques et al.(41) também não encontraram diferenças quanto ao ganho de peso de ratos alimentados com dietas contendo óleo de linhaça quando comparados com o grupo controle. Em relação à ingestão alimentar, os dados evidenciam diferenças significativas entre os grupos, com redução do consumo total de dieta para os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas acrescidas ou não de óleo de linhaça quando comparados com os alimentados pelas dietas normolipídicas. Apesar da alta palatabilidade de dietas hiperlipídicas ser um dos fatores desencadeadores da hiperfagia em ratos, isto não ocorreu neste trabalho (42-44) . 90 Além disso, segundo Bressan et al.(45) o menor consumo pode ter ocorrido em função de que alimentos e refeições ricas em gordura diminuem o tempo de esvaziamento gástrico provocando uma sensação de plenitude pós-prandial. Por outro lado, as dietas hipercolesterolêmicas apesar de apresentarem menor consumo total, apresentaram tendência ao maior ganho de peso e maior QEA em relação às dietas normolipídicas, isto pode ser justificado pelo fato do ganho de peso corporal estar relacionado aos altos níveis de gordura da dieta, comprovando a associação entre o consumo de dietas hiperlipídicas e o acúmulo de gordura visceral, com repercussões negativas na saúde dos indivíduos (1) . Entretanto, pesquisas realizadas com ratos, observaram que mesmo o emprego de uma dieta altamente energética não garante que todos os animais se tornem obesos, pois muitos deles ganham peso como os animais controles, que são alimentados com dieta padrão. A possível explicação está na evidência de que existem animais propensos e animais resistentes à obesidade, assim como ocorre entre os seres humanos (43-46) . Pellizzon et al.(47) obtiveram resultados semelhantes quanto à ingestão alimentar, o grupo que recebeu dieta hiperlipídica obteve maior ganho de peso e, em contrapartida, o grupo que recebeu dieta padrão teve o maior consumo alimentar. A adição de óleo de linhaça tanto nas dietas normolipídicas, quanto nas hiperlipídicas não foi suficiente para impedir um menor acúmulo de tecido adiposo nestes animais. Estes achados diferem dos resultados encontrados por Lima (48) o qual observou um menor ganho de peso corpóreo entre os animais que receberam dietas acrescidas de linhaça quando comparados ao grupo que não sofreu intervenção experimental. Por outro lado, no presente estudo, a inclusão de óleo de linhaça poderia ter exercido efeito benéfico em relação à quantidade de gordura peritoneal acumulada, uma vez que não houve diferença significativa entre o grupo controle e os grupos hiperlipídicos acrescidos de óleo de linhaça, o que corrobora com Molena-Fernandes et al.(49), que justificam que a adição de linhaça numa dieta hiperlipídica, pode impedir o depósito de gordura corporal. A excreção lipídica fecal diária diferiu significativamente entre os grupos normolipídicos e hiperlipídicos. Verificou-se uma maior excreção fecal de lipídeos entre os animais alimentados com as dietas hiperlipídicas, diferindo 91 das dietas normolipídicas. No entanto, dentro dos grupos com o mesmo percentual lipídico este aumento não foi significativo, com exceção apenas para as dietas NO8% e AIN-93M. Marques et al.(41) também não encontraram diferenças significativas na excreção fecal de lipídeos ao investigar ratos alimentados com óleo de linhaça. Segundo os autores, a quantidade de excreção de gordura fecal foi significativamente superior para os grupos alimentados com dieta contendo linhaça crua e assada em relação ao grupo óleo de linhaça, evidenciando o efeito muito maior da fibra presente no grão de linhaça, do que o ácido graxo αlinolênico (47,50). Em relação ao acúmulo de gordura hepática, pode-se observar que a adição de 1% de colesterol e 0,1% de ácido cólico promoveu alterações significativas nos lipídeos hepáticos dos animais evidenciados por um aumento superior a 400% no teor de lipídeos do grupo H, quando comparado com o grupo AIN-93M. A utilização de óleo de linhaça não apresentou um papel protetor em relação ao acúmulo de gordura no fígado, contribuindo para o desenvolvimento da esteatose hepática entre os animais. Entretanto, a maior substituição de óleo promoveu menor acúmulo de gordura no fígado dos animais, principalmente entre os ratos que receberam a dieta HO8%, com uma redução de 13,33% quando comparados com os animais alimentados com dieta HO4%. Apesar de evidências científicas sugerirem que o ALA poderia atuar reduzindo o acúmulo lipídico no fígado, por meio do estímulo da β-oxidação e assim inibir a síntese de ácidos graxos e TAG, este efeito não ocorreu neste estudo, ocorrendo inclusive um aumento do depósito de lipídeos no fígado destes animais, principalmente entre aqueles alimentados com as dietas hiperlipídicas (41,51). Diferente dos achados deste estudo, Vijaimohan et al.(23) encontraram uma importante ação preventiva no acúmulo de gordura hepática de ratos alimentados com óleo de linhaça (1 g/Kg peso) por um período de 60 dias. Quanto ao perfil lipídico, observa-se que a dieta enriquecida com colesterol e ácido cólico resultou em aumento significativo nos níveis de CT (55,13%) e LDL-c (146,67%), com redução importante do HDL-c (54,99%), no entanto, a suplementação da dieta com óleo de linhaça evidenciou seu efeito 92 hipocolesterolêmico, tanto em uma dieta normolipídica (NO4% e NO8%), quanto em uma hiperlipídica (HO4% e HO8%). Entre os animais alimentados com as dietas normolipídicas, a dieta NO8% foi a mais eficiente na redução do CT, o mesmo foi observado nos animais que receberam as dietas hiperlipídicas. Segundo alguns autores, a presença do ácido α-linolênico no óleo de linhaça poderia aumentar a secreção de colesterol na bile, levando a diminuição do pool intra-hepático de colesterol, por meio da inibição de enzimas chaves na síntese de colesterol, como a 3hidróxi-3-metil-glutaril coenzima A redutase (HMG-CoA) (52). Diferente dos resultados encontrados neste estudo, Prasad (53) atribuiu o efeito hipocolesterolêmico da linhaça a presença das fibras alimentares e lignanas e não ao ALA. O mesmo foi observado por Pan et al.(25) por meio de meta análise onde evidenciaram um efeito pouco expressivo do óleo de linhaça na colesterolemia de indivíduos. Quanto aos valores de HDL-c, a inclusão de óleo de linhaça nas duas concentrações (4% e 8%), tanto nas dietas normolipídicas, quanto nas hiperlipídicas não foi eficiente para aumentar os níveis desta lipoproteína, ocorrendo inclusive reduções. Resultados semelhantes foram encontrados por Vijaimohan et al.(23), que avaliaram os efeitos benéficos do óleo de linhaça sob o ganho de peso e o metabolismo lipídico de ratos alimentados com dietas ricas em gorduras. Segundo os autores, a suplementação de óleo de linhaça nas dietas hiperlipídicas foi eficiente para reduzir o ganho de peso e o aumento do CT, entretanto, também causou redução nos níveis séricos de HDL-c. Evidências científicas revelam que ácidos graxos poli-insaturados, mesmo apresentando mecanismos redutores do CT, podem induzir a redução do HDLc (5,49). Alguns autores sugerem a ocorrência de modificações nos receptores de lipoproteínas e inibição de enzimas envolvidas com o metabolismo da HDL-c, principalmente quando ocorre um consumo destes ácidos graxos em quantidade superior a 35% do valor calórico total, no entanto, os mecanismos responsáveis por esta redução não estão bem esclarecidos (1,27,41,54,55) . Ainda, de acordo com Machado et al.(55), a redução de colesterol entre os grupos que consumiram dieta rica em ácidos graxos poli-insaturados ocorreu em todas as frações de colesterol, e desta maneira, a quantidade de 93 colesterol HDL-c não está diminuída quando comparado com o consumo de dietas ricas em ácidos graxos saturados. Reduções importantes foram encontradas em relação aos níveis de LDLc, tanto nos grupos normolipídicos, quanto nos hiperlipídicos. Em ambos os grupos, os resultados mais satisfatórios foram para os animais que receberam dietas com 8% de óleo de linhaça. A partir destes achados pode-se inferir que como o óleo de linhaça apresenta em sua constituição basicamente lipídeos, o efeito nas concentrações de LDL-c ocorreu em função do conteúdo de ácido αlinolênico presente, sem sofrer qualquer influência de outros compostos que também constituem o grão. Estes resultados contrariam alguns autores que afirmam que o óleo de linhaça por si só, não parece ter quaisquer efeitos benéficos sobre os níveis de LDL-c, mas sim a ação sinérgica de todos os constituintes desta oleaginosa (1,25,53) . Os valores de VLDL-c e TAG foram diferentes entre os grupos normais e hiperlipídicos. Pode-se observar que os animais tratados com as dietas de menor teor lipídico, apresentaram os maiores valores de VLDL-c e TAG, situação semelhante foi encontrada por Cintra et al.(1) que avaliaram o perfil lipídico de 60 ratos alimentados com dietas hiperlipídicas acrescidas de diferentes fontes de ácidos graxos. Segundo os autores, a explicação para os maiores teores encontrados entre os grupos normolipídicos deve-se a maior quantidade de carboidratos da dieta normal, como consequência do seu baixo teor de gordura. A presença do óleo de linhaça na dieta dos animais evidenciou seu efeito hipotrigliceridêmico tanto no grupo normolipídico, quanto no hiperlipídico, corroborando com os achados de Murase et al.(51), os quais inferiram que o efeito hipotrigliceridêmico da linhaça se deu em função da presença do ALA e que este poderia atuar inibindo a síntese hepática de TAG. Cintra et al.(1) também encontraram menores valores de TAG entre os animais que receberam linhaça como fonte de ácidos graxos poli-insaturados, quando comparados com animais alimentados com pele de galinha (rica em ácidos graxos saturados), indicando o efeitos destes ácidos graxos na redução de TAG. A razão CT/HDL-c é considerada um importante indicador de risco de doenças cardiovasculares e a redução de 0,01 nesta razão reduz o risco de 94 infarto do miocárdio por aproximadamente 0,5% (56) . A partir dos resultados do presente estudo, observa-se que entre os animais alimentados com dietas normocolesterolêmicas não houve diferença entre os grupos, no entanto, a inclusão de óleo de linhaça reduziu a razão CT/HDL, esta redução foi maior conforme aumentaram os percentuais de óleo de linhaça adicionado. Nos grupos hiperlipídicos, a diferença ocorreu entre os animais que receberam óleo de linhaça, sendo o menor valor para aqueles que consumiram a dieta HO8%, no entanto, ao fazer a comparação entre o grupo hiperlipídico sem suplementação com o grupo HO8% essa diferença não ocorreu. A ausência de diferença estatística pode ser explicada pelo efeito insatisfatório do ALA nos níveis de HDL-c encontrados entre estes animais. Segundo Couto e Wichmann (54) , há uma diversidade enorme de resultados entre os estudos quanto aos efeitos da linhaça e seus derivados sobre o perfil lipídico, e isto possivelmente pode ocorrer em função de diferentes desenhos experimentais e doses utilizadas. Em relação à avaliação das enzimas antioxidantes, os dados demonstram que o nível de estresse oxidativo, causado pela indução à dieta hipercolesterolêmica, não foi suficiente para influenciar na atividade das enzimas antioxidantes no sangue dos animais, visto a ausência de significância estatística entre os grupos AIN-93M e H. O estresse oxidativo é caracterizado pelo aumento da produção de substâncias oxidantes e/ou uma diminuição dos níveis de defesa antioxidante do organismo. Este é um processo que vem sendo relacionado à patogênese de algumas condições que afetam não só o sistema nervoso central como vários órgãos periféricos (5,57) . A produção excessiva de espécies reativas de oxigênio pode atacar biomoléculas bem como lipoproteínas de baixa densidade, e assim iniciar o processo aterogênico (5,57) . Portanto, evidências científicas sugerem que o estresse oxidativo é um fator decisivo para a ocorrência de aterosclerose e outras doenças cardiovasculares (5,58) . A partir dos resultados apresentados, verificou-se o efeito do óleo de linhaça no aumento da atividade da CAT no sangue dos animais, principalmente entre as dietas normolipídicas, observou-se uma tendência ao aumento da atividade da enzima, conforme aumentaram os percentuais de óleo 95 de linhaça adicionados. Por outro lado, na dieta hiperlipídica não foi observado o mesmo comportamento, ocorrendo inclusive uma redução da sua atividade. Quanto à atividade da SOD, observa-se um aumento da sua atividade em todos os tratamentos, porém este aumento não foi significativo, além disso, ao fazer uma comparação entre a dieta controle (AIN-93M) com a hiperlipídica (H), verifica-se que a dieta com maior teor de lipídeos, embora não significativo, produziu tendência de redução de 21,77% na atividade desta enzima. Em função do alto conteúdo de ácidos graxos poli-insaturados da linhaça, alguns pesquisadores relatam que o óleo de linhaça por si só não tem atividade antioxidante, podendo inclusive promover a peroxidação lipídica em função da sua suscetibilidade à oxidação (5,59) . O efeito antioxidante da linhaça seria em função da presença das lignanas vegetais, contidas nos grãos e ausentes no óleo de linhaça. Segundo Prasad (60) , as lignanas apresentam atividade depuradora contra espécies reativas de oxigênio, influenciando o estado oxidativo de órgãos específicos como fígado, lipoproteínas plasmáticas e glândulas mamárias, inibindo inclusive a oxidação de LDL-c e formação de compostos oxidativos. Neste sentido, o consumo de linhaça integral pode ser mais benéfico em relação ao consumo do seu óleo. 96 CONCLUSÃO Os resultados apresentados neste estudo demonstram que o consumo de óleo de linhaça pelos ratos apresentou efeito biológico, principalmente em função da redução dos níveis de CT, TAG e LDL-c, no entanto os níveis de HDL-c foram pouco afetados, apresentando inclusive reduções. Em relação à atividade das enzimas antioxidantes, os resultados foram mais eficientes em uma situação de dieta normolipídica. Sabe-se que a quantidade, a natureza dos alimentos e os tipos de preparações ingeridas diariamente influenciam a concentração do colesterol plasmático e, os níveis elevados de colesterol no sangue estão relacionados com a incidência de doenças cardiovasculares. Além disso, uma dieta hiperlipídica pode desenvolver um aumento de peso considerável mesmo com uma menor ingestão. Portanto, apesar dos efeitos benéficos do óleo de linhaça evidenciados na literatura, alguns trabalhos mostram dados contraditórios, tanto em pesquisas realizadas com animais, como em estudos feitos com seres humanos. Além disso, a quantidade ideal de consumo e os efeitos em longo prazo não estão totalmente elucidados, bem como os benefícios dos compostos bioativos presentes tanto no óleo, quanto no grão inteiro. Em razão destas questões, mais estudos são necessários com a finalidade de avaliar o efeito sinérgico ou isolado dos constituintes do grão de linhaça. AGRADECIMENTOS À empresa Indústria de Óleos Vegetais Pazze Ltda pela doação do grão e do farelo de linhaça. À FAPERGS pelo apoio financeiro (ARD processo n°. 10/0489 – 0). Ao Professor José Cláudio Fonseca Moreira e ao doutorando Guilherme Antônio Behr do Laboratório do Centro de Estudos em Estresse Oxidativo do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela realização das análises de estresse oxidativo. 97 REFERÊNCIAS 1. Cintra DEC, Costa AGV, Peluzio MCG, et al. (2006) Lipid profile of rats fed high-fat diets based on flaxseed, peanut, trout or chicken skin. Nutrition 22, 197-205. 2. Alfaia CPM, Alves SP, Martins SIV, et al. (2009) Effect of the feeding system on intramuscular fatty acids and conjugated linoleic acid isomers of beef cattle, with emphasis on their nutritional value and discriminatory ability. Food Chem 114, 939-946. 3. World Health Organization. Health topics: Chronic diseases (2013). Geneva. Disponível em: http://www.who.int/topics/chronic_diseases/en/. 4. 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Atividade enzimática da CAT no sangue das ratas Wistar. Figura 2. Atividade enzimática da SOD no sangue das ratas Wistar. 104 Tabela 1. Formulação das dietas experimentais em g.kg-1 de dieta. Ingredientes (g) Sacarose Amido de milho Caseína Amido dextrinizado Óleo de soja Fibra Mix mineral Mix vitamínico L-cistina Bitartarato de colina Tetra-butilhidroquinona Banha suína Colesterol Ácido cólico Óleo de linhaça Total AIN-93M 100,000 453,472 152,220 155,000 40,000 50,000 35,000 10,000 1,800 2,500 0,008 ----1000,000 NO4% 100,000 453,472 152,220 155,000 0,000 50,000 35,000 10,000 1,800 2,500 0,008 ---40,000 1000,000 Dietas (g) NO8% H HO4% 100,000 100,000 100,000 413,472 232,472 232,472 152,220 152,220 152,220 155,000 155,000 155,000 0,000 0,000 0,000 50,000 50,000 50,000 35,000 35,000 35,000 10,000 10,000 10,000 1,800 1,800 1,800 2,500 2,500 2,500 0,008 0,008 0,008 -250,000 210,000 -10,000 10,000 -1,000 1,000 80,000 -40,000 1000,000 1000,000 1000,000 HO8% 100,000 232,472 152,220 155,000 0,000 50,000 35,000 10,000 1,800 2,500 0,008 170,000 10,000 1,000 80,000 1000,000 AIN93-M: dieta normolipídica; H: dieta hiperlipídica; NO4%: grupo normolipídico 4% óleo; NO8%: grupo normolipídico 8% óleo; HO4%: grupo hiperlipídico 4% óleo; HO8%: grupo hiperlipídico 8% óleo. 105 Tabela 2. Composição de ácidos graxos do óleo de linhaça. Ácidos Graxos* % Ácido Mirístico (C14:0) 0,06 Ácido Palmítico (C16:0) 6,37 Ácido Palmitoléico (C16:1) 0,07 Ácido Esteárico (C18:0) 4,43 Ácido Oleico (C18:1) 17,98 Ácido Linoleico (C18:2 – ω6) 13,99 Ácido Linolênico (C18:3 - ω3) 55,76 Ácido Docosahexaenóico (C22:6) 0,38 Ácido Lignocérico (C24:0) 0,38 Ácido Lignoceroléico (C24:1) 0,95 Ácidos Graxos Saturados 11,24 Ácidos Graxos Insaturados 89,13 Total ômega-6 13,99 Total ômega-3 55,76 Razão ômega-6/ômega-3 0,25 *AG na forma de ésteres metílicos. Valores expressos em g/100 g. 106 Tabela 3. Gordura peritoneal, consumo total de dieta e quociente de eficiência alimentar de ratas fêmeas Wistar/UFPEL alimentadas após 50 dias de administração das dietas experimentais. Parâmetros Dietas GP (%)* CTD (g)** QEA*** AIN-93M 3,86±0,93 717,01±26,24a 0,05±0,01b,c NO4% 3,17±1,35 732,33±11,17a 0,05±0,02b,c NO8% 4,28±1,28 709,33±70,27a 0,05±0,02b,c H 3,60±0,47 588,09±53,84b 0,09±0,02a HO4% 3,00±1,69 590,64±29,09b 0,07±0,02a,c HO8% 3,74±0,90 589,42±32,02b 0,08±0,03a,b AIN93-M: dieta normolipídica; H: dieta hiperlipídica; NO4%: grupo normolipídico 4% óleo; NO8%: grupo normolipídico 8% óleo; HO4%: grupo hiperlipídico 4% óleo; HO8%: grupo hiperlipídico 8% óleo. Média ± DP, n=06. ANOVA. Valores na mesma coluna com diferentes letras sobrescritas diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey. (P<0,05).*GP: gordura peritoneal - dados expressos em g de gordura peritoneal/100g de peso corporal; **CTD: consumo total de dieta; ***QEA: quociente de eficiência alimentar. 107 Tabela 4. Lipídeos fecais, Massa hepática (%) e Lipídeos hepáticos (%) de ratas fêmeas Wistar/UFPEL alimentadas após 50 dias de administração das dietas experimentais. Parâmetros Dietas AIN-93M Lipídeos fecais (%) 1,45±0,07c Massa hepática (%)* 2,78±0,08b Lipídeos hepáticos (%) 5,33±0,13d NO4% 1,80±0,09b,c 2,80±0,07b 5,79±0,12d NO8% 2,11±0,08b 2,78±0,20b 5,50±0,18d H 7,19±0,11a 5,81±0,35a 26,85±0,68c HO4% 7,22±0,28a 5,78±0,57a 37,56±1,22a HO8% 7,60±0,44a 6,06±0,40a 32,55±1,75b AIN93-M: dieta normolipídica; H: dieta hiperlipídica; NO4%: grupo normolipídico 4% óleo; NO8%: grupo normolipídico 8% óleo; HO4%: grupo hiperlipídico 4% óleo; HO8%: grupo hiperlipídico 8% óleo. Média ± DP, n=06. ANOVA. Valores na mesma coluna com diferentes letras sobrescritas diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey. (P<0,05).*Dados expressos em g de órgão/100g de peso corporal. 108 Tabela 5. Perfil lipídico das ratas fêmeas Wistar/UFPEL alimentadas após 50 dias de administração das dietas experimentais. AIN-93M CT (mg.dL-1) 66,60±2,50c HDL-c LDL-c VLDL-c TAG (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) (mg.dL-1) 20,51±0,97a 35,39±3,34d 10,69±0,60a 53,49±3,03a 3,25±0,19c NO4% 43,44±2,98e 17,90±0,44b 14,16±3,25e 11,37±0,24a 56,86±1,21a 2,42±0,20c NO8% 31,37±0,90f 13,22±0,23c 9,24±0,48e 8,90±0,37b 44,50±1,87b 2,37±0,06c H 103,32±2,05a 9,23±0,24d 87,30±1,89a 6,79±0,14c 33,95±0,71c 11,19±0,33a,b HO4% 84,72±2,30b 6,49±0,84e 71,02±2,12b 7,21±0,21c 36,05±1,00c 13,18±1,61a HO8% 56,65±2,27d 5,33±0,24e 45,99±2,49c 5,32±0,21d 26,64±1,08d 10,65±0,90b Dietas CT/HDL AIN93-M: dieta normolipídica; H: dieta hiperlipídica; NO4%: grupo normolipídico 4% óleo; NO8%: grupo normolipídico 8% óleo; HO4%: grupo hiperlipídico 4% óleo; HO8%: grupo hiperlipídico 8% óleo. Média ± DP, n=06. ANOVA. Valores na mesma coluna com diferentes letras sobrescritas diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey. (P<0,05). 109 Figura 1. Atividade enzimática da CAT no sangue das ratas Wistar. Resultados expressos em média ± DP, n=6. ANOVA. Significativo pelo Teste de Tukey (P<0,05). AIN93-M: dieta normolipídica; H: dieta hiperlipídica; NO4%: grupo normolipídico 4% óleo; NO8%: grupo normolipídico 8% óleo; HO4%: grupo hiperlipídico 4% óleo; HO8%: grupo hiperlipídico 8% óleo. 110 Figura 2. Atividade enzimática da SOD no sangue das ratas Wistar. Resultados expressos em média ± DP, n=6. ANOVA. Significativo pelo Teste de Tukey (P<0,05). AIN93-M: dieta normolipídica; H: dieta hiperlipídica; NO4%: grupo normolipídico 4% óleo; NO8%: grupo normolipídico 8% óleo; HO4%: grupo hiperlipídico 4% óleo; HO8%: grupo hiperlipídico 8% óleo. 111 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos resultados apresentados evidenciou comportamentos diferentes em relação aos efeitos da linhaça e seus derivados nos parâmetros avaliados, sendo possível identificar que o tipo de dieta consumida (normolipídica ou hiperlipídica), influenciou nos resultados, o que demonstra que não basta consumir produtos com propriedades benéficas, se existe uma alimentação desequilibrada. Os dados demonstraram que mesmo não ocorrendo diferenças significativas entre algumas variáveis, a suplementação das dietas com linhaça e seus derivados, resultou em melhoras significativas no perfil lipídico, na lipoperoxidação hepática e na expressão de enzimas antioxidantes. A inclusão do grão e do farelo desengordurado induziu resultados satisfatórios nas avaliações dos diferentes parâmetros estudados, principalmente em relação aos níveis da lipoproteína HDL-c, entretanto, em uma situação de dieta hiperlipídica não apresentou o mesmo comportamento. O óleo de linhaça, por sua vez, apresentou efeito hipotrigliceridêmico nas duas situações de dietas (normolipídicas e hiperlipídicas), entretanto, promoveu redução nos níveis de HDL-c. Quanto ao estresse oxidativo, a inclusão de grão e farelo de linhaça apresentou efeito protetor nas dietas com diferentes concentrações lipídicas, por outro lado, o óleo de linhaça, foi eficiente apenas em situação de dieta normolipídica. Ainda existem muitos resultados contraditórios em relação aos efeitos da linhaça e seus subprodutos, no entanto, pode-se inferir que o grão inteiro, em função de sua composição nutricional, já descrita na literatura, poderá ter um somatório de efeitos benéficos devido às várias ações destes compostos, o que parece demonstrar o efeito positivo em alguns parâmetros quando se compara com estudo isolado de um único composto, portanto, parece que o consumo de linhaça integral pode ser mais vantajoso em relação ao consumo de óleo. 112 8 REFERÊNCIAS ABADI, L.B.; BUDEL, J. M. Aspectos clínicos laboratoriais das dislipidemias. Cadernos da Escola de Saúde, n. 5, p.182-195, 2012. ADOLPHE, J.L.; WHITING, S.J.; JUURLINK, B.H.J.; THORPE, L.U.; ALCORN, J. Health effects with consumption of the flax lignan secoisolariciresinol diglucoside. British Journal of Nutrition, n. 103, p. 929-938, 2010. 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NORMOLIPÍDICAS Dietas CÓRTEX SOD* -1 (unidades de SOD.mg proteína) AIN-93M NL7,5% NL15% NF7,5% NF15% NO4% NO8% 46,848±20,867 38,809±16,753 41,168±9,676 49,634±11,799 41,612±25,442 36,379±16,225 44,240± 22,079 AIN-93M NL7,5% NL15% NF7,5% NF15% NO4% NO8% 69,203±23,873 54,261±17,697 54,017±19,401 56,515±8,584 76,629±23,520 63,503±20,564 61,774±14,810 H HL7,5% HL15% HF7,5% HF15% HO4% HO8% H HL7,5% HL15% HF7,5% HF15% HO4% HO8% 44,280±14,169 46,200±14,400 33,304±15,187 44,856±12,248 46,079±19,737 45,583±17,968 42,987±13,816 61,193±17,953 34,892±11,675 51,746±27,271 50,777±26,082 52,286±25,026 51,414±28,949 41,534±11,150 CAT** GST*** (unidades de -1 CAT.mg proteína) (unidades de GST.mg proteína) 0,397±0,224 0,309±0,222 0,563±0,331 0,480±0,175 0,431±0,215 0,408±0,249 0,422±0,211 FÍGADO 33,186±4,3470 50,999±1,038 50,760±4,167 47,596±2,263 66,633±2,450 42,583±3,875 46,914±6,958 HIPERLIPÍDICAS CÓRTEX 0,496±0,294 0,243±0,087 0,329±0,309 0,471±0,315 0,503±0,265 0,417±0,200 0,342±0,124 FÍGADO 37,234±2,138 41,974±2,677 45,079±2,284 39,877±0,732 55,335±4,112 25,779±1,196 39,763±3,021 -1 22,443±16,075 20,252±8,487 19,320±11,872 27,848±11,881 23,124±12,870 19,059±12,931 24,206±12,218 133,900±33,577 98,412±19,355 126,506±37,009 106,524±15,016 152,254±52,474 142,592±28,031 132,530±25,245 25,856±15,523 20,598±8,061 16,913±10,390 22,980±14,323 23,725±9,212 23,021±10,829 23,400±10,123 87,262±22,610 85,239±12,528 93,019±21,942 70,444±11,452 97,467±30,001 71,227±24,663 73,382±26,126 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%. H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6.*SOD: superóxido dismutase – Misra e Fridovich (1972); **CAT: catalase – Aebi e Lester (1984); ***GST: glutationa S-trasnferase - Habig et al. (1974). 128 Tabela 2. Lipoperoxidação* (nmol MDA.mg-1proteína) em sangue, plasma, fígado e córtex dos animais alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Sangue Plasma Fígado Córtex AIN-93M 0,046±0,008 0,009±0,00 0,164±0,010 0,273±0,099 NL7,5% 0,039±0,008 0,020±0,01 0,112±0,018 0,430±0,228 NL15% 0,043±0,009 0,028±0,02 0,126±0,017 0,301±0,083 NF7,5% 0,066±0,016 0,010±0,00 0,132±0,011 0,350±0,123 NF15% 0,108±0,031 0,026±0,03 0,145±0,019 0,287±0,120 NO4% 0,037±0,010 0,019±0,01 0,129±0,020 0,310±0,126 NO8% 0,048±0,007 0,012±0,01 0,117±0,015 0,396±0,120 HIPERLIPÍDICAS H 0,043±0,007 0,014±0,00 0,248±0,044 0,345±0,245 HL7,5% 0,033±0,003 0,017±0,01 0,149±0,028 0,306±0,041 HL15% 0,047±0,008 0,014±0,01 0,169±0,047 0,306±0,168 HF7,5% 0,033±0,006 0,034±0,03 0,256±0,030 0,400±0,216 HF15% 0,037±0,003 0,015±0,01 0,180±0,050 0,295±0,132 HO4% 0,042±0,004 0,040±0,04 0,174±0,040 0,358±0,095 HO8% 0,081±0,017 0,031±0,04 0,190±0,023 0,365±0,138 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%. H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6.*Esterbauer e Cheeseman (1990). Tabela 3. Conteúdo de sulfidrilas totais (SH*) córtex, fígado e plasma de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Córtex Fígado Plasma -1 -1 -1 (μmol SH.mg proteína) (μmol SH.mg proteína) (μmol SH.mg proteína) AIN-93M NL7,5% NL15% NF7,5% NF15% NO4% NO8% 14,089±3,592 13,109±4,862 13,162±2,233 16,271±4,806 15,140±4,076 15,264±1,119 17,304±4,181 3,403±0,644 3,256±0,413 3,369±0,453 3,221±0,747 4,090±1,060 3,831±0,334 3,401±1,025 H HL7,5% HL15% HF7,5% HF15% HO4% HO8% 14,363±1,890 14,478±3,235 14,566±2,876 15,264±3,894 14,160±3,114 14,160±4,885 16,739±3,051 27,913±8,123 23,002±5,757 19,857±13,910 19,928±5,758 23,020±7,322 26,950±16,412 21,721±10,410 HIPERLIPÍDICAS 41,402±13,911 51,286±11,559 56,621±17,487 39,291±20,105 50,253±10,505 40,174±18,670 43,937±20,828 2,142±1,016 1,786±0,770 2,252±0,304 2,181±0,461 1,992±0,619 2,947±1,429 2,051±0,581 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6.*SH: Ellman (1959) e Wendel (1981). 129 Tabela 4. Potencial antioxidante total não enzimático (TRAP*) em córtex, fígado e plasma de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Córtex Fígado Plasma (%) (%) (%) AIN-93M NL7,5% NL15% NF7,5% NF15% NO4% NO8% 41,276±30,688 43,991±24,193 43,096±28,901 28,204±20,085 41,563±26,494 49,273±27,214 36,431±25,956 47,365±12,905 46,689±1,472 48,138±7,793 45,890±9,205 45,166±5,047 46,712±5,778 45,457±5,553 H HL7,5% HL15% HF7,5% HF15% HO4% HO8% 39,419±24,244 42,718±18,281 56,939±20,955 40,420±28,610 36,912±23,513 37,709±23,858 34,203±23,550 41,882±16,936 43,350±9,238 47,982±14,544 54,120±11,912 42,165±16,299 33,100±25,465 40,258±16,216 HIPERLIPÍDICAS 55,402±12,932 53,925±13,689 55,117±8,334 59,702±9,688 61,495±8,885 59,222±13,153 56,177±12,775 43,200±9,350 45,288±6,498 45,539±7,691 41,962±10,652 43,905±5,249 40,947±9,246 37,431±12,734 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6.*Lissi et al. (1992) e Dresch et al. (2009). Tabela 5. Lipídeos fecais (%) e hepáticos (%) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Lipídeos fecais Lipídeos hepáticos AIN-93M 1,45±0,07 5,33±0,13 NL7,5% 7,45±0,50 5,02±0,15 NL15% 14,21±0,20 5,09±0,01 NF7,5% 2,55±0,09 5,39±0,37 NF15% 3,58±0,11 5,41±0,05 NO4% 1,80±0,09 5,79±0,12 NO8% 2,11±0,08 5,50±0,18 HIPERLIPÍDICAS H 7,19±0,11 26,85±0,68 HL7,5% 16,05±0,98 26,84±0,42 HL15% 19,30±2,15 24,14±0,74 HF7,5% 8,01±0,10 28,15±0,99 HF15% 10,23±1,09 31,86±1,20 HO4% 7,22±0,28 37,56±1,22 HO8% 7,60±0,44 32,55±1,75 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6. 130 Tabela 6. Peso das fezes e peso do fígado de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Peso fezes (g)* Peso fígado (g) AIN-93M 15,06±1,29 7,35±0,48 NL7,5% 15,36±1,55 7,36±0,72 NL15% 16,30±1,77 7,63±1,16 NF7,5% 15,04±1,63 7,16±0,33 NF15% 15,55±1,59 7,52±0,57 NO4% 13,97±1,52 7,67±0,26 NO8% 12,42±0,96 7,52±0,87 HIPERLIPÍDICAS H 12,39±0,90 16,77±1,81 HL7,5% 13,36±1,71 17,46±2,57 HL15% 15,39±1,71 15,36±1,90 HF7,5% 14,40±1,66 15,51±2,12 HF15% 15,70±2,19 13,65±1,02 HO4% 12,19±1,25 16,10±2,19 HO8% 12,57±0,82 17,02±1,43 *2ª coleta 10 dias. AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6. Tabela 7. Circunferência abdominal (cm) e gordura peritoneal (g) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Circunferência Gordura peritoneal (g) abdominal (cm) AIN-93M 12,95±1,65 10,26±2,57 NL7,5% 13,33±0,88 8,30±2,97 NL15% 13,37±0,43 8,49±2,72 NF7,5% 13,68±1,26 9,78±3,83 NF15% 14,30±0,72 9,78±2,86 NO4% 13,97±0,55 8,82±4,12 NO8% 14,58±0,57 11,68±3,82 HIPERLIPÍDICAS H 13,97±1,14 10,41±1,73 HL7,5% 14,20±0,89 10,22±3,52 HL15% 14,08±0,65 11,27±4,57 HF7,5% 14,60±1,29 8,47±3,82 HF15% 14,33±1,42 10,48±5,09 HO4% 14,03±0,77 8,47±5,23 HO8% 14,38±0,69 10,57±2,88 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6. 131 Tabela 8. Glicemia (mg/dL) e ácido úrico (mg/dL) de ratos Wistar alimentados durante 54 dias com as dietas experimentais. Universidade Federal de Pelotas (RS), 2013. NORMOLIPÍDICAS Dietas Glicemia Ácido úrico AIN-93M 85,50±10,29 4,23±0,52 NL7,5% 98,83±27,53 3,98±0,38 NL15% 89,17±8,91 4,04±0,25 NF7,5% 89,50±8,17 3,98±0,07 NF15% 86,33±10,82 3,82±0,17 NO4% 92,00±16,41 3,97±0,28 NO8% 81,33±12,36 4,08±0,47 HIPERLIPÍDICAS H 92,50±14,39 4,48±0,30 HL7,5% 91,17±13,01 4,39±0,28 HL15% 92,33±8,89 4,41±0,43 HF7,5% 93,50±8,22 4,50±0,32 HF15% 87,17±5,27 4,40±0,26 HO4% 92,00±10,20 4,34±0,51 HO8% 82,00±9,10 4,07±0,29 AIN-93M: Dieta Normolipídica; NL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; NL15%: Grupo 15% Linhaça; NF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; NF15%: Grupo Farelo 15%; NO4%: Grupo Óleo 4%; NO8%: Grupo Óleo 8%; H: Dieta Hiperlipídica; HL7,5%: Grupo 7,5% Linhaça; HL15%: Grupo 15% Linhaça; HF7,5%: Grupo Farelo 7,5%; HF15%: Grupo Farelo 15%; HO4%: Grupo Óleo 4%; HO8%: Grupo Óleo 8%. Média ± DP, n=6. 132 10 ANEXOS ANEXO 01 Aprovação da Comissão de Ética em Experimentação Animal (CEEA – UFPEL), em reunião realizada no dia 22 de março de 2010.