Estudo reológico de misturas de PPO/PS com Vectra B950
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Estudo reológico de misturas de PPO/PS com Vectra B950
Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 ESTUDO REOLÓGICO DE MISTURAS DE PPO/PS COM VECTRA B950 S. Filipe (1, 2) *, J. M. Maia (1), M. T. Cidade(2), M. Ueki (3), J. S. Cintra Filho (3) (1) Departamento de Engenharia de Polímeros, Universidade do Minho, Guimarães, Portugal. Fax: +351-253510249; Tel.:+351-25310245 (2) Departamento de Ciência dos Materiais e CENIMAT, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Quinta da Torre, Portugal. Fax:+351-212954464; Tel.: +351212948584 (3) Departamento de Engenharia de Materiais, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. Fax: +55-16-2615404; Tel.: +55-16-2608245 e-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] * - Corresponding author Palavras chave: Reologia, Misturas termoplástico/Polímero Líquido-Cristalino Nomenclatura: η – Viscosidade de corte * η – Viscosidade complexa ω – Frequência Resumo: A produção de termoplásticos de engenharia com propriedades mecânicas melhoradas é usualmente atingida pela adição de fibras de vidro. Este procedimento leva ao aumento da viscosidade, o que origina problemas ao nível do processamento, tais como degradação térmica e aumento de energia consumida, entre outros. Sabe-se que a adição de pequenas quantidades de PLC à matriz de TP origina um decréscimo da viscosidade, relativamente à do termoplástico puro. Além disso, a inserção de polímeros líquido-cristalinos na matriz termoplástica conduz a uma melhoria das propriedades mecânicas. A redução da viscosidade nestas misturas é promovida pela formação de estruturas fibrilares de PLC orientadas segundo a direcção do fluxo, pelo que a reforço mecânico ocorre preferencialmente nesta direcção. No entanto, dada a habitual imiscibilidade entre os componentes da mistura, verifica-se que existe incompatibilidade entre fases, ocorrendo fenómenos de remoção dos fibrilos de LCP. A adesão entre o PLC e o TP pode ser melhorada com a adição de compatibilizantes, sendo a morfologia final da misturas marcadamente dependente das condições de processamento (temperatura, velocidade do parafuso) e também da razão de viscosidades dos componentes puros. A formação de estruturas fibrilares de PLC ao longo da matriz termoplástica é mais notória para misturas onde a viscosidade do PLC é menor do que a viscosidade do TP. Neste trabalho estudaram-se reológicamente misturas de PPO/PS com Vectra B950, com o intuito de avaliar a influência da temperatura de processamento no desempenho das misturas A adição de PLC ao PPO/PS leva ao decréscimo da viscosidade, embora isso só se verifique para temperaturas superiores a 290ºC (acima da temperatura de transição do PLC). 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos têm vindo a desenvolver-se técnicas para a síntese de resinas de elevado desempenho, i.e., com rigidez e resistência acrescidas. O reforço mecânico dos termoplásticos pode ser conseguido através da adição de aditivos rígidos in-situ, tais como fibras de vidro, mas este procedimento leva ao aumento brusco da viscosidade, com os consequentes 27 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 problemas ao nível do processamento. Deste modo, as misturas de termoplásticos com polímeros líquido-cristalinos têm vindo a ser estudadas como uma possível alternativa/complemento àquelas. A adição de pequenas quantidades de PLCs aos termoplásticos pode facilitar o processamento e melhorar as propriedades mecânicas destas misturas, relativamente aos polímeros convencionais. Para além disso, a criação de uma microestrutura pode aumentar quer a estabilidade térmica quer a estabilidade dimensional. Também se sabe que o LCP actua como um agente nucleante do termoplástico, favorecendo o processo de cristalização [1]. Uma vez que os polímeros líquido-cristalinos são imiscíveis com os termoplásticos, as misturas resultantes são bifásicas. A fase de PLC existe sob a forma de pequenos agregados esféricos ou estruturas fibrilares dispersas na matriz isótropa de termoplástico. O PLC tem tendência a orientar-se preferencialmente na direcção do escoamento, pelo que a morfologia resultante é essencialmente do tipo skin-core. Na zona superficial (skin) o PLC existe sob a forma de fibrilos enquanto que na região central (core) existe sob a forma de estruturas globulares. A formação de fibrilos de PLC pode ser explicada tendo em conta que este polímero tem tendência a orientar-se segundo a direcção de escoamento. A criação deste tipo de estrutura depende das condições de extrusão (temperatura, velocidade do parafuso) e também das propriedades reológicas dos materiais usados (adesão interfacial, razão de viscosidades). A interacção entre as fases e o modo de dispersão são também factores a considerar. A orientação do PLC é retida após o processamento, resultando numa melhoria de algumas propriedades mecânicas, tais como o módulo elástico e a resistência à tracção. Isto apenas é possível devido ao facto dos PLCs serem fases intrinsecamente orientadas que podem ainda sofrer uma maior orientação em escoamento e que, além disso, têm a particularidade de relaxar muito lentamente devido à rotação dos agregados moleculares [2]. O comportamento reológico dos polímeros líquido-cristalinos é bastante distinto do previsto para os polímeros flexíveis. As curvas de fluxo podem mostrar três regiões distintas, tal como proposto por Onogi e Asada (1980) [3]. A baixas taxas de corte (região I na terminologia de Onogi e Asada), a estrutura do PLC pode ser descrita como um conjunto de domínios empilhados e o comportamento reofluidificante observado pode ser atribuído à possível orientação molecular dentro de cada domínio. Para taxas de corte intermédias (região II), os PLCs apresentam um patamar, no qual é observado um comportamento quasiNewtoniano. Nesta região o PLC pode ser representado por um polidomínio disperso, no qual se verifica a orientação completa das moléculas dentro de cada um dos domínios que restam (nesta região o número de domínios discretos é menor devido à coalescência dos domínios vizinhos). Para taxas de corte mais elevadas (região III), os restantes domínios discretos desaparecem e a estrutura do PLC pode ser descrita como um monodomínio (fase contínua), onde a orientação molecular é tanto maior quanto maior a taxa de corte a que o material está sujeito. Para estas taxas de corte desenvolve-se pois, uma segunda região reofluidificante. Este comportamento foi experimentalmente verificado para o Vectra B950 [4] e para o Vectra A900 [5]. A morfologia final apresentada nas misturas de termoplásticos com polímeros líquidocristalinos depende das propriedades reológicas dos componentes puros. Para misturas onde o PLC apresente uma viscosidade maior do que a do termoplástico, obtém-se uma morfologia na qual o PLC existe essencialmente sob a forma de agregados esféricos ou gotas e a caracterização reológica revela que se obtém um mínimo de viscosidade para as misturas com baixas percentagens em PLC (usualmente, 10% P/P) [6]. Quando a viscosidade da fase dispersa (PLC) é menor do que a do termoplástico, a fase de LCP tem tendência a formar estruturas fibrilares que se distribuem ao longo da matriz de termoplástico. Neste caso, a viscosidade das misturas encontra-se entre a viscosidade dos componentes puros [7]. 28 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 Gi Dae Choi et al. [7] estudaram o efeito da composição da matriz nas propriedades reológicas, mecânicas e morfológicas das misturas de PPO/PS com Vectra B950. Neste estudo foram realizados ensaios dinâmicos ( η * vs ω ) a 300ºC para todas as misturas, tendo-se concluido que a razão de viscosidades entre o LCP e o TP variava com a composição da mistura de PPO/PS, originando diferenças consideráveis ao nível reológico, morfológico e mecânico. Por outro lado, Marcelo Ueki et al [8] estudaram a influência do conteúdo em PLC (Vectra B950) nas propriedades mecânicas (módulo de flexão) de misturas de PPO/PS, utilizando, para o efeito, placas obtidas por moldação por injecção. Neste trabalho, os autores concluiram que a adição de PLC (Vectra B950) ao termoplástico (PPO/PS) leva ao aumento do módulo de flexão, embora este efeito só seja observado na direcção do fluxo. No presente trabalho efectuou-se o estudo reológico, em regime dinâmico, de misturas de PPO/PS com Vectra B950, de modo a estabelecer a influência da temperatura nas propriedades reológicas dos materiais. Os ensaios reológicos permitiram estabelecer a gama de temperaturas na qual é adequado processar estas misturas, considerando os benefícios da adição de PLCs aos termoplásticos. 2 EXPERIMENTAL 2.1 Materiais Os materiais usados para a fase contínua foram o PPO e o PS (Polystyrol 145D) (gentilmente cedidos pela General Electric e BASF, respectivamente). O PLC usado para a preparação das misturas foi o Vectra B950 da Hoechst Celanese. 2.2 2.2.1 Preparação das misturas Preparação das misturas de PPO/PS Os componentes puros foram previamente secos num forno a 80ºC, 12 h antes de serem processadas as misturas. A mistura de PPO/PS foi feita na proporção 1:1 (P/P). O equipamento usado para a preparação das misturas foi uma extrusora duplo-fuso corotativa APV Baker MP 19TC e o alimentador utilizado foi um Brabender DSR-28. Após extrusão o extrudido foi imediatamente arrefecido em banho de água e granulado, utilizando para o efeito um granulador DDD-1 mini-pelletizer. 2.2.2 Preparação das misturas PPO/PS com Vectra B950 O PPO/PS e o Vectra B950 foram previamente secos num forno durante 12h a 80ºC e a 120ºC, respectivamente. A preparação das misturas com 10% P/P, 25% P/P e 40% P/P foi levada a cabo numa extrusora duplo-fuso co-rotativaetrante ZSK 30 Werner&Pfleiderer. O extrudido foi imediatamente arrefecido num banho de água e posteriormente peletizado usando um granulador Conair Jetro 304. A velocidade do parafuso usada para a preparação das misturas foi de 150 rpm. 29 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 2.3 Caracterização reológica As medições reológicas em regime estacionário e em fluxo das misturas e dos componentes puros foram levadas a cabo num reómetro rotacional Reologica StressTech HR. A região de viscoelasticidade linear foi obtida previamente medindo a dependência de G’ e de G’’ relativamente à tensão. Os ensaios em regime oscilatório foram efectuados numa gama de frequências entre 0,01 e 316 Hz para uma deformação de 10% e um gap de 1 mm. Estes ensaios foram realizados para os componentes puros e para as respectivas misturas a 280ºC, 290ºC, 300ºC e 310ºC. 3 3.1 RESULTADOS Propriedades reológicas Os ensaios reológicos efectuados entre 280ºC e 310ºC revelaram que a mistura de PPO/PS mostra um comportamento Newtoniano para frequências baixas e intermédias, seguido por um decréscimo contínuo da viscosidade para frequências mais elevadas, o que é aliás o comportamento esperado para um termoplástico. A curva de fluxo apresentada pelo PLC, a 280ºC e a 290ºC, revela um comportamento reofluidificante em toda a gama de frequências em estudo, como pode ser observado nas figura1(a) e 1(b), respectivamente. No entanto, para temperaturas mais elevadas pode observar-se uma curva com duas regiões - uma zona reofluidificante para baixas taxas de corte, seguida de um patamar quasi-newtoniano para taxas de corte mais elevadas (região I e II, na terminologia de Onogi e Asada). Este comportamento pode ser verificado através da figura 1(c). Para temperaturas inferiores a 290ºC a viscosidade do PLC é sempre maior do que a da matriz termoplástica. Nesta gama de temperaturas verifica-se que a adição de PLC leva ao aumento da viscosidade. A transição para o estado nemático ainda não ocorreu e a estrutura rígida que caracteriza as moléculas de PLC ainda se mantém inalterada nas misturas. Parece claro que estas misturas não podem ser processadas a temperaturas inferiores à temperatura de transição nemática (284ºC), uma vez que a redução da viscosidade pretendida (promovida pela adição de PLC ao termoplástico) não pode ser obtida. A 290ºC, e embora a viscosidade do PLC seja superior à do termoplástico, verifica-se que se obtém um mínimo de viscosidade para a mistura com 10% em PLC, relativamente às restantes misturas e componentes puros. Este facto pode, em princípio, ser atribuído à incompatibilidade entre as fases e à formação de estruturas fibrilares de PLC, que são responsáveis pela lubrificação da matriz termoplástica. A razão de viscosidades entre o PLC e o termoplástico tem também um papel importante na morfologia final, tal como referido anteriormente. Para temperaturas superiores e próximas da temperatura de transição do PLC (290ºC, por exemplo) é mais fácil deformar os agregados esféricos de PLC para misturas que tenham baixo conteúdo em PLC. Assim, a formação de estruturas fibrilares é mais facilmente atingida para as misturas com 10% P/P em PLC e o efeito de lubrificação só é observado para estas misturas. Estas observações foram igualmente verificadas noutros trabalhos [9]. Para temperaturas superiores a 290ºC, a viscosidade do PLC (Vectra B950) é menor do que a viscosidade da matriz (PPO/PS). A esta temperatura o comportamento reológico das misturas é invertido, i.e., a adição de PLC leva a um ligeiro decréscimo da viscosidade. Para temperaturas superiores a 290ºC a viscosidade das misturas situa-se entre a viscosidade dos componentes puros, seguindo o comportamento previsto. A 290ºC obtém-se um mínimo na viscosidade para a mistura com 10% em PLC, no entanto, a 300ºC e a 310ºC, este mínimo é obtido para as misturas com 25% em PLC (excepto para as taxas de corte mais baixas, para as quais é ainda a mistura com 10% de PLC que 30 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 apresenta a menor viscosidade) e 40% em PLC; respectivamente. Isto significa que um aumento de temperatura corresponde a um aumento da percentagem de PLC que conduz a uma maior diminuição da viscosidade, relativamente à da matriz. 1.00E+06 106 PPO/PS η* [Pa.s] 10% PLC 25% PLC 1.00E+04 104 40% PLC PLC 102 1.00E+02 1.00E-01 10-1 1.00E+00 100 1.00E+01 101 1.00E+02 102 1.00E+03 103 ω [rad.s-1] Figura 1 (a)- Viscosidade complexa versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 280ºC 1.00E+06 106 η* [Pa.s] (b) PPO/PS 10% PLC 25% PLC 1.00E+04 104 40% PLC PLC 102 1.00E+02 1.00E-01 10-1 1.00E+00 100 1.00E+01 101 1.00E+02 102 1.00E+03 103 ω [rad.s-1] Figura 1 (b)- Viscosidade complexa versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 290ºC 31 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 4 10 1.00E+04 PPO/PS η* [Pa.s] 10% PLC 25% PLC (c) 40% PLC PLC 102 1.00E+02 10-1 100 101 102 103 1.00E1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 01 0 1 2 3 ω [rad.s-1] Figura 1 (c)- Viscosidade complexa versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 300ºC 104 1.00E+04 η* [Pa.s] PPO/PS 10% PLC 25% PLC 102 1.00E+02 40% PLC (d) PLC 100 1.00E+00 10 0 101 102 103 10-1 1.00E1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 01 0 1 2 3 ω [rad.s-1] Figura 1 (d)- Viscosidade complexa versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 310ºC. 32 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 Este comportamento reológico foi, no essencial, confirmado através da avaliação do módulo dinâmico e do módulo dissipativo em função da frequência, apresentados na figura 2 e figura 3, respectivamente. É ainda importante referir que o módulo de rigidez do PLC é independente da frequência para temperaturas iguais ou inferiores a 290ºC, o que indica uma estrutura tipicamente elástica, em concordância com os resultados previstos anteriormente. 6 10 1.00E+06 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 4 G' [Pa] 10 1.00E+04 2 10 1.00E+02 (a) 100 1.00E+00 100 101 102 103 10-1 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rad.s-1] Figura 2 (a)- Módulo elástico versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 280ºC. 106 1.00E+06 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC G' [Pa] 104 1.00E+04 2 10 1.00E+02 (b) 0 10 1.00E+00 10-1 101 102 103 100 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rad.s-1] Figura 2 (b)- Módulo elástico versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 290ºC. 33 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 1E+06 106 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 4 G' [Pa] 10 1E+04 2 10 1E+02 (c) 0 10 1E+00 10-1 1E-01 100 1E+00 101 1E+01 102 1E+02 103 1E+03 ω [rad.s-1] Figura 2 (c)- Módulo elástico versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 300ºC. 106 1.00E+06 4 G' [Pa] 10 1.00E+04 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 102 1.00E+02 (d) 100 1.00E+00 100 101 102 103 10-1 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rads-1] Figura 2 (d)- Módulo elástico versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 310ºC. 34 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 106 1.00E+06 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 4 G'' [Pa] 10 1.00E+04 2 10 1.00E+02 (a) 100 1.00E+00 10-1 100 101 102 103 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω -1 [rad.s ] Figura 3 (a)- Módulo dissipativo versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 280ºC. 106 1.00E+06 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 4 G'' [Pa] 10 1.00E+04 2 10 1.00E+02 (b) 100 1.00E+00 103 10-1 100 101 102 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rad.s-1] Figura 3 (b)- Módulo dissipativo versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 290ºC. 35 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 106 1.00E+06 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC G'' [Pa] 1.00E+04 104 102 1.00E+02 (c) 100 1.00E+00 -1 10 100 101 102 103 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rad.s-1] Figura 3 (c)- Módulo dissipativo versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 300ºC. 6 10 1.00E+06 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 4 G'' [Pa] 10 1.00E+04 2 10 1.00E+02 (d) 0 10 1.00E+00 10-1 100 101 102 103 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rad.s-1] Figura 3 (d)- Módulo dissipativo versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 310ºC. O estudo da dependência da tangente de δ relativamente à frequência revelou que, para temperaturas inferiores ou iguais a 290ºC, um aumento da percentagem em PLC leva ao decréscimo da tg δ. Este comportamento só é válido, no entanto, para baixas frequências, tal 36 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 como pode ser observado nas figuras 4(a) e 4(b), que correspondem aos ensaios efectuados a 280ºC e 290ºC, respectivamente. Nesta gama de temperatura o PLC existe essencialmente como uma estrutura rígida constituída por um polidomínio co-contínuo; deste modo, a resposta elástica (G’) é comparativamente maior do que a resposta viscosa (G’’), especialmente a baixas frequências. Contrariamente, para as misturas com baixo conteúdo em PLC e para o PPO/PS puro pode observar-se que, para baixas frequências, o módulo elástico (G’) é menor do que o módulo de dissipação (G’’). Isto significa que, para temperaturas inferiores ou iguais a 290ºC e para baixas frequências, o PLC e as misturas com maior conteúdo em PLC apresentam um comportamento elástico mais pronunciado do que o manifestado pelas restantes misturas. Tal como previsto, para frequências mais elevadas todas as misturas apresentam um comportamento elástico, o que se deve à falta de tempo necessária ao rearranjo molecular. A 300ºC observa-se um comportamento diferente, em particular para as misturas com 40% em PLC e para o PLC puro, tal como pode ser observado na figura 4(c). A baixas frequências as medidas reológicas revelaram o mesmo comportamento observado para temperaturas inferiores a 290ºC. No entanto, para frequências mais elevadas os maiores valores de tg δ foram obtidos para o PLC e para a mistura com 40% em PLC (comparativamente aos observados para as restantes misturas e para o PPO/PS puro). Este fenómeno pode ser explicado pelo facto de, a baixas frequências, a resposta elástica do PLC ser significativamente maior do que a resposta viscosa. Por outro lado, para frequências elevadas o comportamento inverte-se e o módulo elástico (G’) passa a ser inferior ao módulo dissipativo(G’’). Isto indica que o PLC tem uma estrutura típica de um líquido a altas frequências. Este fenómeno, inesperado para polímeros flexíveis, é facilmente explicado para os PLCs e para as misturas com elevado conteúdo em PLC, sabendo que, devido à completa orientação molecular, o tempo necessário ao rearranjo molecular não é, neste caso, um parâmetro dominante. A intersecção observada nas figuras 4(c) e 4(d) pode ser explicada, tendo em conta que o PLC é mais sensível a variações de temperatura do que o termoplástico. 101 1.00E+01 tgδ (a) 100 1.00E+00 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC -1 10 1.00E-01 10-1 100 101 102 103 1.00E-01 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 0 1 2 3 ω -1 [rad.s ] Figura 4 (a)- Tg δ versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 280ºC. 37 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 tg δ 101 1.00E+01 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 0 10 1.00E+00 (b) -1 10 1.00E-01 10-1 100 101 102 103 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 ω [rad.s-1] Figura 4 (b)- Tg δ versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 290ºC. tg δ 101 1.00E+01 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 100 1.00E+00 (c) 10-1 1.00E-01 1.00E-01 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 10-1 100 101 102 103 0 1 2 3 ω [rad.s-1] Figura 4 (c)- Tg δ versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 300ºC. 38 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 tgδ 101 1.00E+01 PPO/PS 10% PLC 25% PLC 40% PLC PLC 1.00E+00 100 (d) 1.00E-01 10-1 10-1 100 101 102 103 1.00E-01 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 1.00E+0 0 1 2 3 ω -1 [rad.s ] Figura 4 (d)- Tg δ versus frequência para as misturas de PPO/PS com PLC e componentes puros a 310ºC. 4 CONCLUSÕES É do conhecimento geral que a adição de fibras de vidro ou de outros materiais de natureza rígida aos termoplásticos, tem consequências indesejáveis ao nível do processamento. A adição de polímeros líquido-cristalinos a termoplásticos tem sido largamente estudada, com o objectivo de encontrar uma alternativa viável para o reforço mecânico de plásticos de engenharia. Normalmente, a adição de pequenas percentagens de PLCs aos termoplásticos leva, por um lado, a uma diminuição considerável da viscosidade (melhor processabilidade) e por outro, à melhoria das propriedades mecânicas da mistura, relativamente ao termoplástico puro [9]. Estes efeitos são essencialmente devidos à formação de estruturas fibrilares de PLC, devidamente orientadas segundo a direcção do fluxo e distribuídas na matriz termoplástica; os fibrilos de PLC são responsáveis pelo reforço in-situ da matriz e pelo efeito de lubrificação que levam, respectivamente, ao reforço mecânico e à diminuição da viscosidade [9]. É importante salientar que as características morfológicas, reológicas e mecânicas destas misturas são altamente dependentes das propriedades individuais de cada material, da relação entre essas propriedades e das condições de processamento da mistura [10]. Este trabalho teve por objectivo avaliar a influência da temperatura nas propriedades reológicas de um polímero líquido-cristalino (Vectra B950), de um termoplástico (PPO/PS) e de misturas destes com 10% P/P, 25% P/P e 40% P/P em PLC. As medidas reológicas revelaram que existe uma gama de temperaturas na qual as misturas devem ser processadas, de modo a atingir melhorias ao nível da processabilidade e das propriedades mecânicas. Esta temperatura deverá ser suficientemente alta para garantir que a adição de PLC leve ao decréscimo da viscosidade (relativamente ao termoplástico) sem, no entanto, levar à degradação térmica do material. Os ensaios reológicos permitiram constatar que, para temperaturas inferiores a 290ºC, a viscosidade do PLC é maior do que a viscosidade do termoplástico. Deste modo, a adição de PLC não traz vantagens ao nível da processabilidade, uma vez que a sua adição não conduz à diminuição da viscosidade. No entanto, para os 39 Filipe et al., e-rheo.pt, 1 (2001) 27-40 ensaios efectuados a 290ºC, obteve-se um mínimo de viscosidade para a mistura com 10% P/P em PLC, não obstante, a viscosidade do PLC ser superior à do termoplástico. Verificou-se ainda que para temperaturas superiores a 290ºC a viscosidade do PLC passa a ser menor do que a viscosidade do termoplástico, sendo importante salientar que a percentagem de PLC que conduz ao mínimo de viscosidade é tanto maior quanto mais elevada é a temperatura. Deste modo, pode concluir-se que o processamento de misturas de Vectra B950 com PPO/PS deve ser feito a uma temperatura igual ou superior a 290ºC. As propriedades reológicas destas misturas estão profundamente relacionadas com as propriedades mecânicas e morfológicas. As medidas morfológicas revelam que, neste tipo de misturas, se forma uma estrutura do tipo skin-core, na qual o PLC existe sob duas formas: estruturas fibrilares (skin) e estruturas globulares (core) [8]. Esta morfologia explica a melhoria de algumas propriedades mecânicas, nomeadamente, do módulo elástico, do módulo de flexão e da resistência à tracção [7, 8]. Ensaios mecânicos efectuados nestas misturas (PPO/PS com Vectra B950) revelaram que o módulo de flexão aumenta com o aumento de PLC, embora isso só ocorra na direcção do fluxo [8]. 5 REFERÊNCIAS [1]-G. Gabellini, R. E. S. Bretas, “Poly(p-phenylene sulfide)/liquid crystalline polymer blends. II. Crystallization kinetics.” Journal of Applied Polymer Science, Vol.61, 1803-1812 (1996). [2]-R. Viswanathan, A. I. Isayev, “Blends of a PPO-PS alloy with a liquid crystalline polymer”, Journal of Applied Polymer Science, Vol.55, 1117-1129 (1995). [3]- S. Onogi and T.Asada, in Rheology, G. Astarita, G. Marrucci, and L. Nicolais, Eds., Plenum Press, New York, 1980. [4]-F. Beekmans, A. D. Gotsis and B. Norder, “ Transient and steady-state rheological behaviour of the thermotropic liquid crystalline polymer Vectra B950”, Journal of Rheology, Vol.40, 947-966 (1996). [5]- H. C. Langelaan and A. D. Gotsis, “The relaxation of shear and normal stresses of nematic liquid crystalline polymers in squeezing and shear flows”, Journal of Rheology, Vol.40, 107-129 (1996). [6]- Gi Dae Choi, Seung Hyung Kim, and Won Ho Jo, “Interrelationships between rheological, morphological and mechanical properties of polystyrene/liquid crystalline polymer blends”, Polymer Journal, Vol. 28, No. 6, 527-534 (1996). [7]-Gi Dae Choi, Won Ho Jo, and Hong Gyung Kim, “ The effect of the viscosity ratio of dispersed phase to matrix on the rheological, morphological and mechanical properties of polymer blends containing a LCP”, Journal of Applied Polymer Science, Vol.59, 443-452 (1996). [8]-Marcelo M.Ueki and Joaquim S. C. Filho, “Influence of TLCP Vectra B950 in the flexural mechanical properties of injection molded plates of PPO/PS blends, proceedings of the 6th Brazilian Polymer Congress/IX International Macromolecular Colloquium (2001). [9]-Gi Dae Choi, Seung Hyung Kim, Won Ho J and Moo San Rhim, “ The morphology and mechanical properties of phenoxy/liquid crystalline polymer blends and the effect of transesterification”, Journal of Applied Polymer Science, Vol.55, 561-569 (1995). [10]-Markku T. Heino, Pirjo T. Hietaoja, Tom P. Vainio and Jukka V. Seppällä, “ Effect of viscosity ratio and processing conditions on the morphology of blends of liquid crystalline polymer and polypropylene”, Journal of Applied Polymer Science, Vol.1, 259-270 (1994). 40