Relatório Final - Instituto Verus
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Relatório Final - Instituto Verus
Número 2 | As torcidas organizadas e a legislação brasileira Rua 1.145, 56 Setor Marista Goiânia GO Fone: 62 3541.6556 www.institutoverus.com.br 0 Estudos de Opinião Número 2 As torcidas organizadas e a legislação brasileira Instituto Verus Assessoria & Pesquisa Goiânia, agosto de 2008. Nº Reg. ABEP 047/99 ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa www.abep.org - [email protected] R. Urussui, 92, cj 55 - Itaim Bibi - 04542-050 São Paulo - SP 1 Apresentação 2 Número 2 | As torcidas organizadas e a legislação brasileira Objetivo d Este é o segundo número de uma série de estudos de opinião que o Instituto Verus pretende realizar em Goiânia, com o objetivo de oferecer à sociedade uma contribuição na discussão de temas relevantes para a cidade. A escolha do tema procurará sempre acompanhar os assuntos com maior apelo popular do momento. Universo Toda população adulta (18 anos ou mais) residente na área urbana de Goiânia. Metodologia O estudo foi do tipo quantitativo, utilizando a técnica amostragem por quotas proporcionais com aplicação de entrevistas pessoais e domiciliares, através de questionário estruturado com pergunta fechada e resposta única. O plano amostral foi elaborado com base na proporcionalidade existente no universo das variáveis sexo, faixa etária e bairro de residência*. A escolha dos entrevistados foi aleatória dentro das respectivas quotas proporcionais. Amostra: Foram realizadas 600 entrevistas, junto ao universo pesquisado, o que determinou uma margem de erro máxima de +/- 4.1% nos casos limite em que as variáveis atingirem freqüências de 50%. A margem de erro tende a se estreitar à medida que os resultados apresentem freqüências maiores ou menores. * A população dos bairros foi estabelecida com base em estimativas do IBGE/SEPLAM Goiânia. 3 Trabalhos de Campo Os trabalhos de campo foram realizados por uma equipe especialmente treinada para o presente estudo. A equipe foi composta por 11 coletores de dados, 2 fiscais de campo e 1 supervisor. A coordenação geral foi realizada por profissional com vasta experiência em estudos congêneres, mantendo o Instituto Verus, durante todo período de execução do trabalho, sistema de “Plantão de Atendimento" e "Suporte ao Campo”, para a solução de imprevistos e confirmação da identidade dos coletores de dados e da pesquisa. 20% de todo material retornado do campo foi objeto de fiscalização e checagem junto ao próprio entrevistado, quando todos os dados e respostas foram conferidos. Este trabalho foi realizado por fiscais de campo paralelamente ao andamento dos trabalhos de campo. Período d A coleta de dados foi realizada em Goiânia durante o mês de julho de 2008. Pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? 4 Resultados 5 Pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? GERAL Não deve permitir 74,5% Sim, deve permnitir 23,8% Não sabe dizer 1,7% 6 Pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? SEXO 76,4 72,5 Não deve permitir Sim, deve permnitir 26,5 Não sabe dizer 21,4 2,2 1,0 Homens Mulheres Opinião sobre a tolerância da legislação brasileira com as torcidas organizadas: Total Homens Mulheres % % % Não deve permitir 74,5 72,5 76,4 Sim, deve permitir 23,8 26,5 21,4 Não sabe dizer / não opinou 1,7 1,0 2,2 7 Pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? FAIXA ETÁRIA 78,9 74,1 77,7 66,7 Não deve permitir Sim, deve permnitir 31,9 24,7 1,4 18 a 24 anos 20,0 Não sabe dizer 19,0 3,3 1,1 1,3 25 a 34 anos 35 a 49 anos 50 anos ou mais Opinião sobre a tolerância da legislação brasileira com as torcidas organizadas: Total 18 a 24 25 a 34 35 a 49 50 ou + % % % % % Não deve permitir 74,5 66,7 74,1 78,9 77,7 Sim, deve permitir 23,8 31,9 24,7 20,0 19,0 Não sabe dizer / não opinou 1,7 1,4 1,3 1,1 3,3 8 Pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? INSTRUÇÃO 77,7 74,5 63,8 Não deve permitir 36,2 Sim, deve permnitir Não sabe dizer 23,5 21,1 1,8 1º grau 2,0 2º grau Superior Opinião sobre a tolerância da legislação brasileira com as torcidas organizadas: Total 1º grau 2º grau superior % % % % Não deve permitir 74,5 77,7 74,5 63,8 Sim, deve permitir 23,8 21,1 23,5 36,2 Não sabe dizer / não opinou 1,7 1,8 2,0 - 9 Pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? CLASSE ECONÔMICA* 78,3 74,9 66,7 64,1 Não deve permitir Sim, deve permnitir 31,3 2,8 A Não sabe dizer 23,0 21,7 4,7 2,1 B C D Opinião sobre a tolerância da legislação brasileira com as torcidas organizadas: Total A B C D % % % % % Não deve permitir 74,5 66,7 78,3 74,9 64,1 Sim, deve permitir 23,8 30,6 21,7 23,0 31,3 Não sabe dizer / não opinou 1,7 2,8 - 2,1 4,7 *Novo Critério de Brasil de classificação sócio-econômica 30,6 10 Comentários 11 Número 2 | As torcidas organizadas e a legislação brasileira As torcidas organizadas no Brasil, tiveram início em 1942, por ocasião de uma partida de futebol entre Fluminense e Flamengo, foi a chamada Charanga do Flamengo, e tratava-se de um grupo de músicos que formaram uma banda para tocar durante as partidas de futebol. Somente em 1938 é que surgiu a primeira torcida organizada nos moldes de hoje, que foi a torcida uniformizada do São Paulo (TUSP). De lá para cá muita coisa mudou. O que se vê hoje, são torcidas organizadas, reconhecidas muitas das vezes como um bando de vândalos, que têm como escudo os uniformes dos seus times favoritos. No entanto, a que se compreender o fenômeno das torcidas organizadas dentro de uma perspectiva social, política, econômica e cultural. O modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, permitiu um desenvolvimento do espaço urbano demarcado pelas diferenças sociais, prevalecendo o interesse do capital. No entanto, pode-se verificar que as torcidas organizadas têm em suas composições pessoas de diferentes classes sociais. Então o que se pergunta é: Por que as torcidas organizadas praticam atos de violência? Pode-se dizer que são vários os fatores a considerar para que possamos, ao menos nos inteirar um pouco dessa problemática. Não temos a pretensão de apresentar uma verdade absoluta, más apenas apresentar algumas justificativas que devem ser consideradas para que possamos ter uma melhor compreensão dos motivos que levam os torcedores a praticarem atos de violência. Segundo Carlos Alberto Máximo Pimenta, o argumento mais recorrente utilizado por representantes de "torcidas" é que atos de violência podem ser gerados em face de inúmeros fatores intimamente ligados às teias de relações desenvolvidas no evento esportivo, abrangendo desde a estrutura dos estádios até a ação da polícia. Paulo Serdan sintetizou a justificativa: "(...) um detalhe do juiz, um detalhe do bandeirinha, um detalhe do policiamento. É uma série de detalhezinhos que vai insulflar a 'torcida' e vai criar um clima de guerra. Você chega num estádio e não tem água para beber, não tem banheiro para ir (...), um guarda que é um pouco violento (...), um bandeirinha que vira para trás e tira um barato com a cara da 'torcida' ou o próprio diretor de clube que o seu time faz gol, ele vira para a 'torcida' e tira um barato, então é uma série de detalhes que faz você sair do sério 12 (...)". O "torcedor", no modelo "organizado", não é mais um mero espectador do "jogo". No grupo ele é parte do espetáculo, ele é o espetáculo. No grupo ele expressa sua masculinidade, seus sentimentos de solidariedade, de companheirismo e de pertencimento em um grupo que o acolhe. Paulo Serdan entende que o fascínio se dá, pois "(...) essa juventude de hoje em dia não tem alguma coisa para se espelhar e se inspirar. (...) eles não têm no que se apoiar. (...) Qual o único segmento hoje em dia que expõe as suas vontades e os seus desejos, mesmo que seja em relação ao futebol? É a 'torcida organizada'". A pergunta é: o que fazer para conter a violência das torcidas organizadas no Brasil? Há quem defenda a criação de lei que proíba a formação de torcidas organizadas e ponha fim nas que existem. O que caracteriza uma atitude Inconstitucional, pois a Constituição Brasileira garante a todos brasileiros o direito de associar –se, (art. 5). Más estabelece também, que “o Estado garantirá a todos, o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”, (art. 215) importando a preservação do patrimônio cultural. A conhecida Lei Pelé, Lei 9.615 de 1998 em seu art. 4º, § 2º, discorre que o esporte integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerado de elevado interesse social. Enfim, trazemos aqui uma série de observações que, sem nenhuma pretensão de julgar ou apontar soluções, más apenas estimular a discussão sobre um assunto que a todo o momento é manchete de jornais. Por isso fomos às ruas para saber o que o goianiense pensa sobre a criação de uma lei que proíba a formação de torcidas organizadas, e fizemos a seguinte pergunta: O (a) Sr. (a) acha que a lei brasileira dever permitir a existência das torcidas organizadas de times de futebol? O resultado da pesquisa, nos permite dizer que a população goianiense tem a expectativa de ver o fim das torcidas organizadas, e vê na sua proibição o fim da violência nos estádios de futebol. Assim, aos olhos da população, toda essa violência, é gerada única e exclusivamente pelas torcidas organizadas. Exterminar com elas, significa acabar e resolver todo o problema de violência existente hoje. Sem dúvida, acredita-se que o pivô da violência nos estádios de futebol é mesmo as torcidas organizadas. E o desejo de colocar um fim nesse tipo de organização social pode ser verificado em sua maioria em todas as faixas etárias pesquisadas, com ressalva apenas para a população com faixa etária de 18 a 24 anos em relação às demais. O que nos permite dizer que a 13 população mais jovem está alguma forma ligada às torcidas organizadas, uma vez que essas, são formadas principalmente por jovens, isto é, há uma identificação, um sentimento de pertencer, de fazer parte, mesmo não estando diretamente envolvida com as torcidas organizadas. Outro fato que nos chama a atenção, é a opinião da população que possui uma formação superior. Essa parcela da população demonstra uma aprovação maior pela continuidade das torcidas organizadas, (36,2%) se comprada com a população que tem apenas o 1º e 2º grau, (21,1% e 23,5%), respectivamente. O que nos faz pensar que essa parcela da população, com grau de instrução superior, é um público, que por via de regra tem diferentes oportunidades e hábitos de lazer, que não incluem a ida com freqüência em estádios de futebol. Ao que parece, o estádio de futebol é um universo visto a distancia, um universo ao qual não fazem parte. No entanto, é essa parcela da população, que a princípio, tem a capacidade de contribuir intelectualmente na busca para uma solução dos problemas decorrentes da violência provocada pelas torcidas organizadas. E ao observarmos o perfil sócio econômico da população pesquisada, observa-se, que há uma relação entre as classes A e D, pois ambas, apresentam opiniões parecidas. Mundos diferentes, hábitos diferentes, condições de vidas diferentes, no entanto opiniões parecidas. O que aproxima essa população? Uma das hipóteses, talvez seja, o não comparecimento aos estádios, de um lado, pela falta de condições financeiras, de outro por ter diversas outras opções de lazer e condições financeiras para tal. Enfim, ao ficar demonstrado a opinião da população de Goiânia em por fim às torcidas organizadas, pode-se concluir que, mesmo subjetivamente, há o desejo de por um fim nas torcidas organizadas do Goiás e do Vila Nova, uma vez que essas polarizam os problemas de violência nos estádios de futebol em Goiânia. A pergunta é: é isso mesmo que a população deseja? Ana Isabel Lopes Mendonça Socióloga Diretora do Instituto Verus Coordenadora do projeto Estudos de Opinião PIMENTA, C.A.M. "Torcidas Organizadas de Futebol: violência e auto- afirmação, aspectos da construção das novas relações sociais”. Taubaté, Vogal, 1997. 14 Rua 1.145, 56 Setor Marista Goiânia GO Fone: 62 3541.6556 www.institutoverus.com.br 15