Uso de Probióticos na recuperação da flora intestinal
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE NUTRIÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA NUTRICIONAL Uso de Probióticos na recuperação da flora intestinal Anna Carolina Accioly Lins Santos Rio de Janeiro 2010 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE NUTRIÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA NUTRICIONAL Uso de Probióticos na recuperação da flora intestinal, durante a antibioticoterapia Monografia apresentada ao Curso de PósGraduação Lato Sensu do Instituto de Nutrição como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Terapia Nutricional. Aluna: Anna Carolina Accioly Lins Santos Orientadora: Henyse Gomes Valente Rio de janeiro 2010 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A S237 Santos, Anna Carolina Accioly Lins. Uso de probióticos na recuperação da flora intestinal, durante antibioticoterapia / Anna Carolina Accioly Lins Santos - 2010. 30 f. Orientadora : Henyse Gomes Valente. Monografia apresentada como conclusão do curso de Especialização em Terapia Nutricional. 1. Probióticos. 2. Nutrição humana. 3. Antibióticos. 4. Bacterioses. I. Valente, Henyse Gomes. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição. II. Título. CDU 613.292 Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta monografia. ___________________________________________ Assinatura _______________ Data Aluno: Anna Carolina Accioly Lins Santos Título do trabalho: Uso de Probióticos na recuperação da flora intestinal. Sub-título do trabalho: Uso de Probióticos na recuperação da flora intestinal, durante antibioticoterapia Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Terapia Nutricional. AVALIAÇÃO 1. APRESENTAÇÃO (2 pontos) Nota: _____________ 2. OBJETIVIDADE (2 pontos) Nota: _____________ 3. CONTEÚDO (3 pontos) Nota: _____________ 4. SUFICIÊNCIA (3 pontos) Nota: _____________ NOTA FINAL: _____________ Observações: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ AVALIADO POR: (Nome completo, por extenso) _____________________________________ (assinatura) Rio de Janeiro, ______ de ________________ de ________ Dedicatória: Dedico esse trabalho à minha família, em especial, meu pai Mauricio, minha mãe Sylvia e meus irmãos Marcello e Felippe, que me acompanham por todos esses anos, nos bons e maus momentos. Aos meus amigos do Colégio Teresiano que continuam a fazer parte da minha vida. Ao meu namorado Daniel, pelos momentos incríveis por que passamos, e por ser muito mais do que eu poderia imaginar. Obrigado por me surpreender a cada dia com todo seu amor, carinho e paciência. Agradecimentos: As grandes amigas que construi nesses anos de faculdade e pós graduação e que espero levar para toda vida: Bruna Oliveira, Daiana Serpa e Celina Palhares. A toda equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional do Hospital Samaritano, que me deu apoio durante essa etapa de estudos. “Se você desistir diante das adversidades durante a juventude, ou, pelo contrário, conseguir transformar as dificuldades em nutrientes para o seu progresso, determinará se será vitorioso, ou não, no futuro. Aqueles que são prósperos em qualquer campo de atuação, de alguma forma utilizarão os obstáculos encontrados em sua juventude como vantagens para o desenvolvimento." Daisaku Ikeda RESUMO A flora intestinal humana tem papel importante na saúde. Em alguns momentos este equilíbrio não é alcançado e por esta razão a suplementação da dieta com probióticos se faz necessária, para assegurar uma microbiota favorável, como por exemplo, em terapia antimicrobiana no tratamento de infecções bacterianas. Entende-se como probióticos, microorganismos vivos, que administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. O presente estudo descreve alguns conceitos e os benefícios que estas substâncias conferem à saúde humana, em especial na recuperação da flora intestinal, além de estudar a utilização de próbioticos, durante a antibioticoterapia. Palavras-chaves: Probióticos. Flora Intestinal. Antimicrobianos. ABSTRACT The human intestinal flora performs an important role in human health. In some instances this balance is not reached, then it is necessary to supplement the diet with probiotics to assure a favorable microbiotic, as for example, in the antimicrobiotics therapy in the bacterial infection treatment. The probiotics is known as living microorganisms that, when prescribed in adequate quantities, provide great benefits to the dweller’s health. The present study describes some concepts and the benefits that those substances provide to the human health, particularly in the intestinal flora recovery, besides studying the use of probiotics during the antibiotic therapy. Key Words: Probiotics, Intestinal Flora, Antimicrobial LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: Distribuição de bactérias anaeróbias ao longo do trato gastrointestinal..............15 FIGURA 2: Distribuição Bacteriana ao longo do Trato Gastrointestinal................................18 FIGURA 3: Benefícios do consumo de probióticos a saúde humana......................................25 FIGURA 4: Função Imunomoduladora dos probióticos..........................................................26 TABELA 1: Principais Probióticos comercializados...............................................................22 TABELA 2 : Bactérias Probióticas..........................................................................................23 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 11 2. OBJETIVOS.................................................................................................................... 12 2.1 Objetivo Geral................................................................................................................... 12 2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................................12 3. JUSTIFICATIVA 13 4. METODOLOGIA............................................................................................................14 5. REVISÂO TEÓRICA......................................................................................................15 5.1 Microbiota Intestinal..........................................................................................................15 5.1.1 Desenvolvimento da Microbiota Intestinal......................................................................15 5.1.2 Ações da Microbiota Intestinal........................................................................................16 5.1.3 Diferenciação da Microbiota Intestinal de acordo com a área do Trato Gastrintestinal...... ...................................................................................................................................................16 5.1.4 Disbiose Intestinal............................................................................................................18 5.2. PROBIÓTICOS.................................................................................................................19 5.2.1 Conceito...........................................................................................................................19 5.2.2 Sua História......................................................................................................................20 5.2.3 Classificação e Tipos.......................................................................................................20 5.2.4 Funções............................................................................................................................23 5.2.5 Indicações........................................................................................................................26 5.2.6 Efeitos Colaterais/Contra Indicações..............................................................................29 5.2.7 Estudos Relacionados ao uso do probiótico em pacientes com uso de antibióticos............ ...................................................................................................................................................30 6. CONCLUSÃO.....................................................................................................................33 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................34 12 1. INTRODUÇÃO Os probióticos são alimentos suplementados com microorganismos vivos e que, consumidos regularmente em quantidades suficientes, devem produzir efeitos benéficos à saúde e ao bem estar; além dos efeitos nutricionais habituais que beneficiam o hospedeiro por meio da melhoria no equilíbrio da microbiota intestinal (Fuller, 1989; Gibson; Roberfroid, 1995; Henker et al., 2007). A microbiota intestinal exerce influência considerável sobre série de reações bioquímicas do hospedeiro. Em equilíbrio, impede que microorganismos potencialmente patogênicos nela presentes exerçam seus efeitos maléficos. Por outro lado, o desequilíbrio dessa microbiota pode resultar na proliferação de patógenos, com conseqüente infecção bacteriana podendo levar a diarréia, inflamação da mucosa, desordem de permeabilidade e ativação de carcinógenos no conteúdo intestinal. (Ziemer, Gibson, 1998). A influência benéfica dos probióticos sobre a microbiota intestinal humana se deve ao aumento da resistência contra patógenos, estimulando a multiplicação de bactérias benéficas ao hospedeiro, reforçando os mecanismos naturais de defesa (Puupponen-Pimiä et al., 2002). Os probióticos mais utilizados são estirpes de bactérias produtoras de ácido láctico como Lactobacillus e Bifidobacterium fazendo parte dos chamados Alimentos Funcionais em leites fermentados e em alguns iogurtes. Elas aumentam de maneira significativa o valor nutritivo e terapêutico dos alimentos, pelo aumento dos níveis de vitaminas do complexo B e aminoácidos, absorção de cálcio, ferro e magnésio (Rolfe, 2000; Coudray et al., 2005; Snelling, 2005). Como os antibióticos agem na flora intestinal eliminando seletivamente as bactérias, favorecendo o crescimento de fungos, produzindo toxinas que irritam diretamente a barreira intestinal, aumentando a permeabilidade e absorvendo as toxinas pela corrente sanguínea, foram desenvolvidas estratégias alimentares, objetivando a manutenção e o estímulo das bactérias normais, ali presentes, sendo assim indicados os probióticos no tratamento da diarréia durante a antibioticoterapia (Gibson, Fuller, 2000). 13 2. OBJETIVOS 2.1 Geral Estudar a influência dos probióticos sobre a microbiota intestinal humana, através de revisão bibliográfica. 2.2 Específicos Identificar os principais probióticos utilizados na prática clínica. Identificar as recomendações de probióticos para restauração da microbiota intestinal, durante a antibioticoterapia. 14 3. JUSTIFICATIVA Com o aumento na expectativa de vida da população, aliado ao crescimento exponencial dos custos médico-hospitalares, a sociedade necessita vencer novos desafios, através do desenvolvimento de novos conhecimentos científicos e de novas tecnologias que resultem em modificações importantes no estilo de vida das pessoas. O número de casos de diarréia, causada pelo uso de antibióticos em unidades hospitalares, é grande, prejudicando o estado nutricional e aumentando a morbidade dos envolvidos. Diante da importância da saúde da nossa população, é importante estudarmos as possíveis terapêuticas para minimizar os efeitos deletérios da antibioticoterapia durante a internação hospitalar, melhorando o estado nutricional e por consegüinte a recuperação dos pacientes envolvidos. 15 4. METODOLOGIA A metodologia aplicada para a elaboração da revisão bibliográfica foi à análise de artigos científicos originais, livros e publicações recentes. Para isso foram realizadas consultas a bancos de dados do SCIELO, PUBMED, MEDLINE, JPEN e revistas especializadas no assunto, referente aos últimos 5 anos. A pesquisa foi realizada nos idiomas português, espanhol e inglês, utilizando as seguintes palavras-chaves: probiotics, diahrrea, infection, nutrition, risk factors, treatment. 16 5. REVISÃO TEÓRICA 5.1 MICROBIOTA INTESTINAL 5.1.1 Desenvolvimento da microbiota Intestinal O trato gastrintestinal do feto é estéril, mas após o nascimento as superfícies e mucosas são colonizadas rapidamente por microorganismos. A duração desse processo varia de 6 a 12 meses, até que uma microbiota semelhante à de um adulto se instale (Borba LM. 2003; Nicoli JR, 2000). O parto tem uma influência grande neste processo uma vez que a microbiota intestinal materna é transmitida ao recém nascido durante o parto normal, o que não ocorre nos partos cesáreos, reduzindo assim, neste grupo o estabelecimento das bactérias anaeróbias (Adlerberth I, 1998). Outros fatores que podem ser citados são o colostro e o leite humano, que têm uma carga microbiana secundária variável, originada do mamilo, ductos lactíferos, pele circundante e mãos (Carvalho G, 2002) Durante o estabelecimento da microbiota intestinal, o teor elevado de oxigênio no intestino do recém-nascido favorece primeiramente o crescimento de bactérias aeróbias ou anaeróbias facultativas, como Enterobactérias, Enterococos e Stafilococos. Com o consumo do oxigênio por estes grupos, o ambiente torna-se altamente reduzido e, portanto, adequado ao crescimento de bactérias anaeróbias obrigatórias, ocasionando a proliferação de Bacteróides, Bifidobactérias e Clostridium (Adlerberth I, 1998) A localização de predominância da flora também varia. A Escherichia coli, por exemplo, predomina no íleo distal e no cólon predominam a flora anaeróbia, com espécies do gênero Bacteróides sendo encontradas com mais frequência (Borba LM, 2003). FIGURA 1 - Distribuição de bactérias anaeróbias ao longo do trato gastrointestinal Fonte: Adaptado de AFMCP, 2007 17 5.1.2 Ações da microbiota Intestinal A microbiota intestinal saudável é definida como aquela que conserva e promove o bem estar e a ausência de doenças, especialmente do trato gastrintestinal. Ela forma uma barreira contra os microorganismos invasores, potencializando os mecanismos de defesa do hospedeiro contra os patógenos, melhorando a imunidade intestinal pela aderência à mucosa e estimulando as respostas imunes locais. Além disso, ela também compete por combustíveis intraluminais, prevenindo o estabelecimento das bactérias patogênicas. Quando benéfica ajuda a digerir os alimentos e a fermentar carboidratos que permaneçam mal absorvidos ou resistentes à digestão, além de ajudar a converter as fibras da dieta e a produzir ácidos graxos de cadeia curta (AGCC - butirato, propionato, acetato e lactato) e proteínas, que são parcialmente absorvidos e utilizados pelo hospedeiro. O ácido butírico ou butirato é o alimento preferido dos colonócitos, sendo produzido pela fermentação das bactérias intestinais sobre a fibra da dieta, particularmente a fibra solúvel (Coppini LZ, 2001). Atualmente se reconhece que os AGCC exercem papel fundamental na fisiologia normal do cólon, no qual constituem a principal fonte de energia para os enterócitos e colonócitos, estimulam a proliferação celular do epitélio, o fluxo sanguíneo visceral e intensificam a absorção de sódio e água, ajudando a reduzir a carga osmótica de carboidrato acumulado (Mathai K, 2002). Existem ainda outras funções metabólicas e nutricionais, incluindo a hidrólise de ésteres de colesterol, de andrógenos, estrógenos e de sais biliares e a utilização dos carboidratos, proteínas e lipídeos (Beyer PL, 2002), além de haver a formação de vários nutrientes, quando da síntese bacteriana, que são disponíveis para a absorção, contribuindo assim para o suprimento de vitaminas como a vitamina K, B12, tiamina e riboflavina (Klein S, 2003). 5.1.3 Diferenciação da Microbiota Intestinal, de acordo com a região do Trato Gastrintestinal Em diferentes regiões do trato gastrintestinal estão presentes grupos específicos de microorganismos, que são capazes de produzir uma grande variedade de compostos, com variados efeitos na fisiologia. Esses compostos podem influenciar a nutrição, a fisiologia, a eficácia de drogas, a carcinogênese e o processo de envelhecimento, assim como a resistência do hospedeiro à infecção (Teshima E, 2003). 18 A colonização do trato gastrintestinal compreende uma população bacteriana estável. As bactérias nativas não se proliferam aleatoriamente no trato gastrintestinal, sendo que determinadas espécies são encontradas em concentrações e regiões específicas (Borba LM, 2003). A regulação ocorre, portanto, pelo próprio meio, devido à presença dos diversos grupos que se estabelecem à medida que as condições apresentam-se favoráveis em relação às interações microbianas e substâncias inerentes ao seu metabolismo, aos fatores fisiológicos do hospedeiro, como estado clínico; idade; o transito e o pH intestinal; suscetibilidade a infecções; estado imunológico e nutrientes provenientes da dieta alimentar. (Carvalho G, 2004; Castilho AC, 2006) A cavidade oral contém uma mistura de microorganismos, em especial bactérias anaeróbicas, encontradas na concentração de 106 - 109UFC/ml, em especial: Bifidobactéria, Propionibactéria, Bacterióides, Fusobactéria, Leptotrichia, Peptostreptococci, Estreptocci, Veillonella e Treponema. Normalmente há pouca ação bacteriana no estômago, pois o ácido clorídrico atua como um agente germicida. As condições marcadas pela secreção diminuída de ácido clorídrico podem diminuir a resistência à ação bacteriana, ocasionalmente levando à inflamação da mucosa gástrica ou um risco maior de super crescimento no intestino delgado, que em geral é relativamente estéril (Mcfarland LV, 2000). A microbiota do intestino delgado consiste em 103 - 104 UFC / ml do íleo proximal, com predominância de bactérias gram-positivas aeróbicas, e 1011 - 1012UFC/ml do íleo distal, com concentração de bactérias gram-negativas anaeróbicas. O curto espaço de trânsito através do intestino delgado não permite maior crescimento bacteriano. O trato gastrintestinal humano contém aproximadamente 1014 bactérias, representando mais de 500 espécies diferentes. No cólon, no qual o tempo de trânsito é mais prolongado, ocorre, o estabelecimento de uma microbiota bastante rica (Mcfarland LV, 2000). No intestino grosso, como um todo, há três níveis distintos que podem ser observados, sendo uma microbiota predominante, um grupo de subdominante e um grupo residual. A microbiota dominante (109 - 1011 UFC/ml de conteúdo) é constituída por bactérias anaeróbias estritas como Peptostreptococcus, Bifidobacterium. Bacteróides, Eubacterium, Fusobacterium, 19 Na microbiota subdominante (107 - 108 UFC/ml de conteúdo), predominam as bactérias anaeróbia facultativa, dentre elas Escherichia coli, Enterococcus faecalis e algumas vezes Lactobacillos. Na microbiota residual (< 107 UFC/ml de conteúdo), há uma grande variedade de microorganismos procarióticos: Enterobacteriaceae, Pseudomonas, Veillonella, além de eucarióticos: leveduras e protozoários (Nicoli, 2003). FIGURA 2 - Distribuição Bacteriana ao longo do Trato Gastrointestinal Fonte: Clinical Nutrition: A Functional Approach. IFM, 2004 5.1.4 Disbiose Intestinal Disbiose, um distúrbio cada vez mais considerado no diagnóstico de várias doenças, é caracterizado por disfunção colônica, ocasionada pela alteração da microbiota intestinal, na qual ocorre predomínio das bactérias patogênicas sobre as bactérias benéficas. As principais causas desta alteração são o uso indiscriminado de antibióticos, que matam tanto as bactérias úteis como as nocivas; além de favorecem o crescimento de fungos, produzirem toxinas que irritam diretamente a barreira intestinal, aumentarem a permeabilidade intestinal, absorvendo as toxinas pela corrente sanguínea. Os antiinflamatórios hormonais e não-hormonais também alteram a flora intestinal, bem como o abuso de laxantes; o consumo excessivo de alimentos processados em detrimento de alimentos crus; a excessiva 20 exposição a toxinas ambientais; as doenças consumptivas, como câncer e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS); as disfunções hepatopancreáticas; o estresse e a diverticulose (Silva LFG, 2006). Existem outros fatores que levam ao estado de disbiose, como a idade, o tempo de trânsito e pH intestinal, a disponibilidade de material fermentável e o estado imunológico do hospedeiro (Carvalho G, 2006). Uma das principais funções da mucosa intestinal é sua atividade de barreira, que impede as moléculas ou microorganismos antigênicos ou patógenos de entrarem na circulação sistêmica. Quando a mucosa é rompida, a permeabilidade intestinal pode ocorrer e as bactérias do intestino, alimento não digerido ou toxinas podem se translocar através desta barreira (Bloch AS, 2002). A translocação bacteriana é a passagem potencial de bactérias do lúmen intestinal ou de endotoxinas através da mucosa epitelial do trato gastrintestinal para o sangue ou sistema linfático, iniciando uma resposta inflamatória sistêmica. A exata etiologia da alteração da permeabilidade intestinal não é clara, porém, a ingestão dietética e o desequilíbrio bacteriano no intestino foram sugeridos como fatores (Mathai K, 2002). 5.2 PROBIÓTICOS 5.2.1. CONCEITO Lilly & Stillwel (1965) usaram o termo probiótico para denominar substâncias secretadas por um protozoário que estimula o crescimento de outros, e Parker (1974), para denominar suplementos alimentares destinados a animais, incluindo microorganismos e substâncias que afetam o equilíbrio da microbiota intestinal. Fuller (1989) considerou que os probióticos são suplementos alimentares que contêm bactérias vivas que produzem efeitos benéficos no hospedeiro, favorecendo o equilíbrio de sua microbiota intestinal, enquanto Havenaar & Huis In’t Veld (1992) consideraram que são culturas únicas ou mistas de microorganismos que, administrados a animais ou humanos, produzem efeitos benéficos no hospedeiro por incremento das propriedades da microbiota nativa. Esses autores restringiram o uso desse termo a produtos que contenham microorganismos viáveis que promovem a saúde de humanos ou animais, e que exercem seus efeitos no aparelho digestivo, no trato respiratório superior ou no trato urogenital (Havenaar et al., 1992). Schrezenmeir & De Vrese (2001) propuseram que o termo probiótico deveria ser usado para designar preparações ou produtos que contêm microorganismos viáveis definidos e 21 em quantidade adequada, que alteram a microbiota própria das mucosas por implantação ou colonização de um sistema do hospedeiro, e que produzem efeitos benéficos em sua saúde. Atualmente, nas várias definições disponíveis, nota-se uma maior preocupação em se enfatizar a atividade profilática ou mesmo terapêutica desses microorganismos (Fioramonti et al., 2003). Assim, probióticos podem ser definidos como sendo microorganismos vivos que, se administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro (Sanders, 2003). Eles compreendem apenas um pequeno percentual da nossa microbiota, entre 1% a 13%. 5.2.2. SUA HISTÓRIA Embora o termo e a definição precisa de probiótico tenham sido desenvolvidos a partir de 1990, o interesse por microorganismos potencialmente benéficos para a saúde vem de longo tempo. Estudos do final do século XIX, nos primórdios da Microbiologia, já detectavam diferenças entre a microbiota intestinal de pessoas doentes e a de pessoas saudáveis, despertando para a importância da mesma na manutenção do estado de saúde. A observação original do papel positivo desempenhado por algumas bactérias foi atribuída à Eli Metchnikoff. O russo ganhou o Prêmio Nobel por seu trabalho no Instituto Pasteur no início do século passado. Segundo o pesquisador, “a dependência dos microorganismos intestinais, tornava possível tomar medidas para alterar a flora intestinal e para substituir os micróbios nocivos por micróbios úteis" (Metchnikoff, 1907). O francês e pediatra Tissier Henry observou que as fezes das crianças com diarréia tinham um pequeno número de bactérias com uma morfologia distinta como Y (Tissier, 1906). Ele sugeriu a possibilidade de ingestão destas bactérias em pacientes com diarréia para facilitar a restauração da flora intestinal saudável. Os trabalhos de Metchnikoff e Tissier foram os primeiros a apresentarem propostas ao uso de bactérias probióticas na ciência. 5.2.3. CLASSIFICAÇÃO E TIPOS Os probióticos mais utilizados são estirpes de bactérias produtoras de ácido láctico como Lactobacillus, que são bactérias anaeróbias facultativas e gram positivas e normalmente são predominante no intestino delgado, e Bifidobacterium, bactérias aeróbicas estritas ou anaeróbicas, gram positivas e presentes no cólon. 22 Dentre as bactérias pertencentes ao gênero Bifidobacterium, destacam-se B. bifidum, B. breve, B. infantis, B. lactis, B. animalis, B. longum e B. thermophilum. Dentre as bactérias láticas pertencentes ao gênero Lactobacillus, destacam-se Lb. acidophilus, Lb. helveticus, Lb. casei - subsp. paracasei e subsp. tolerans, Lb. paracasei, Lb. fermentum, Lb. reuteri, Lb. johnsonii, Lb. plantarum, Lb. rhamnosus e Lb. salivarius (Collins, Thornton, Sullivan, 1998; Lee et al.,1999; Sanders, Klaenhammer, 2001). Cerca de 56 espécies do gênero Lactobacillus foram descritas até hoje. Essas bactérias estão distribuídas por vários nichos ecológicos, sendo encontradas por todo o trato gastrointestinal e geniturinário, constituindo uma importante parte da microbiota de homens e animais. A sua distribuição, porém, é afetada por diversos fatores ambientais como: pH, disponibilidade de oxigênio, nível de substrato especifico, presença de secreções e interações bacterianas, tendo propriedades potencialmente probióticas, favorecendo beneficamente o organismo humano. Por isto, L. acidophilus e L. casei têm sido amplamente utilizados pelos laticínios para produção de leites fermentados e outros derivados lácteos (Sozzi,1980; Pedrosa, 1995; Mustapha, 1997; Guerin-Dananet, 1998; Gomes, 1999). A viabilidade de L. acidophilus pode ser melhorada nos produtos pela seleção adequada de cepas resistentes a acidez estomacal e a bile, utilização de recipientes impermeáveis ao oxigênio, fermentação em duas etapas, adaptação ao estresse, incorporação de peptídeos e aminoácidos (Gomes, 1999). Entretanto, deve ser salientado que o efeito de uma bactéria é específico para cada cepa, não podendo ser extrapolado, inclusive para outras cepas da mesma espécie (Guarner, 2003). As bactérias S. thermophilus, pertecentes ao gênero Streptococos são bactérias anaeróbicas facultativas, que podem ter efeitos benéficos a saúde, sendo uma das duas espécies mais comumente utilizadas na produção de iogurtes assim como o L.bulgaricus. Os Enterococos são encontrados em uma vasta gama de produtos probióticos. Neste grupo o E. faecium tem sido estudada por apresentar efeitos benéficos à saúde gastrintestinal, a despeito de o gênero Enterococos ser um reconhecido causador de infecções no ser humano. Recentemente, um grupo de pesquisadores iniciou estudos para a utilização de uma linhagem de Escherichia coli com características probióticas (Kruis, 2004; Schultzet, 2004; Ukena, 2007; Henker, 2007; Schlee, 2007). O fungo Saccharomyces boulardii é outro probiótico utilizado com freqüência (Qamaret, 2001; Geyik, 2006; Canani, 2007). 23 Em geral, pode-se considerar efeito probiótico a utilização de um bilhão de unidades formadoras de colônias (UFC), variando a dose conforme o tipo de bactéria, a qualidade da preparação e o objetivo (Jelen, Lutz, 1998). Os principais probióticos utilizados comercialmente estão representados na tabela 1: TABELA 1 - Principais probióticos comercializados 24 TABELA 2 - Bactérias probióticas Fonte: SENOK, A.C. et al., Probiotics: facts and myths. Clin Microbiol Infect ; 11: 958–966, 2005. 5.2.4. FUNÇÕES Os probióticos normalmente têm pouco tempo de vida e ação e, por isso mesmo, devem ser mantidos bem refrigerados. Ao serem ingeridos através dos alimentos, vão para o intestino e ali se somam à microbiota já existente, sem se fixarem, equilibrando-a e, com isso, auxiliam o trabalho de absorção dos nutrientes. Suas principais funções são: Nutricional: Síntese de vitaminas do complexo B (B1, B2, B3, B5, B6, ácido fólico, B12) e vitamina K participando de forma importante para o pool desta vitamina no organismo; Digestória: Síntese de enzimas digestivas, sobretudo da enzima lactase, mas também de proteases e peptidases. Regula o trânsito intestinal e a absorção dos nutrientes; Cardiovascular: Tem um papel na normalização do colesterol e triglicerídeos plasmáticos; Metabólica: As bactérias probióticas produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs, como o butirato), que são substrato metabólico para os colonócitos, promovendo, em condições ideais, 40-50% da energia requerida. Além disso, produzem enzimas citocromo P450-like, que estimulam a expressão gênica do citocromo no fígado favorecendo a destoxificação hepática; evitam a ressíntese de hormônios já degradados e convertem muitos flavonóides às suas formas ativas. Algumas cepas produzem substâncias que, após absorvidas, parecem ter 25 efeito inibitório sobre a HMG-CoA redutase, provocando a redução da produção do colesterol. Auxiliam, ainda, na metabolização de medicamentos, hormônios, carcinógenos, metais tóxicos e outros xenobióticos; Imunomoduladora: Essas bactérias são essências para o desenvolvimento e a maturação do sistema imune entérico e sistêmico (GALT e MALT), visto que estimulam a expansão clonal de linfócitos e previnem sua apoptose. Produzem substâncias antimicrobianas que agem sobre uma vasta gama de microorganismos patogênicos, por tornarem o ambiente desfavorável ao seu crescimento e desenvolvimento. Previnem a adesão de patógenos através da competição por sítios receptores. Contribuem para a promoção da tolerância oral, mecanismo pelo qual nosso organismo passa a não reagir a determinados antígenos. Atuam na manutenção da barreira mucosa intestinal, assim como na produção de anticorpos (IgA intestinal e sérica), na atividade de fagócitos e na dos linfócitos matadores naturais (NK-kB). Reduzem a produção intestinal de citocinas pró-inflamatórias (TNF-a, Interferon- , IL-8) e aumentam a produção intestinal de citocinas anti-inflamatórias (IL-10 e TGF-ß), (Paschoal V. et al., 2010). Vide figura 4. 26 FIGURA 3 - Benefícios do consumo de probióticos a saúde humana Supressão de Patógenos Endógenos Ex: Antibiótico associado à diarréia Controle da síndrome do intestino irritável Controle de doenças intestinais inflamatórias Melhora dos sintomas de alergia alimentar em crianças Resposta imunológica equilibrada Resistência a Colonização Normalização da composição da microbiota intestinal Supressão de patógenos exógenos ex: Diarréia do viajante Imunidade Inata reforçada Imunomodulação Probióticos Diminuição do colesterol sérico Desconjugação e secreção de sais biliares Efeitos metabólicos Fornecimento de SCFA e vitaminas (ex: Folato) ao epitélio do colón Hidrólise da Lactose Baixo nível de reações toxigênicas e mutagênicas no intestino Redução dos fatores de risco para o câncer de colón Melhora da intolerância a Lactose Fonte: Nutr Clin Pract. 2009; 24:10-14 Fatores que influem sobre a composição da microbiota intestinal única que cada um alberga incluem; idade, tempo de trânsito intestinal, pH intestinal, disponibilidade de material fermentável, interação entre componentes da microbiota, suscetibilidade a infecções, estado imunológico, requerimentos nutricionais, uso de antibióticos e imunossupressores. É importante destacar que, destes dez fatores citados, pelo menos seis têm associação direta com a nutrição realizada pelo indivíduo. 27 FIGURA 4 - Função Imunomoduladora dos probióticos Resistência a colonização Manter a função da barreira (Exclusão Competitiva) (Reduz a permeabilidade macromolecular e a translocação bacteriana e mantém as junções firmes) Efeitos Metabólicos: Bacteriócitos Diminuição do pH Quantidade de sensibilidade Modulação do sinal de transdução Melhora da Flora Microbiana Imunomodulação adaptativa/Inata Aumento da produção de Mucina Aumento das citocinas Fonte: Nutr Clin Pract. 2009; 24:10-14 5.2.5. INDICAÇÕES a) Intolerância à lactose e a outros dissacarídeos – provavelmente é uma das utilizações mais antigas dos probióticos, pois desde há muito se sabe que o iogurte é muito melhor tolerado que o leite pelos indivíduos intolerantes à lactose. Esta melhor tolerância tem sido atribuída à redução do conteúdo em lactose no iogurte devido à fermentação pelas bactérias produtoras 28 de ácido láctico, à atividade da ß-galactosidase das próprias bactérias que produzem o iogurte e, também, à menor velocidade de esvaziamento gástrico deste em relação ao leite. A administração de um probiótico como Sacharomyces boulardii melhora a sintomatologia em indivíduos com déficit em sacarase-isomaltase (Kolars, 1984; Marteau, 2001; Callanan, 2005; Janeret, 2005; Ward, 2006). b) Diarréia – O maior número de estudos com probióticos tem incidido quer na prevenção quer no tratamento da diarréia aguda infecciosa. Em ensaios preventivos, verificou-se uma diminuição significativa da incidência da diarréia nas crianças que ingeriram probióticos em comparação com os controles (Isolauri, 2003; Canani, 2007; Rolfe, 2000; Gorbach, 2000; Shamir, 2005). Em ensaios terapêuticos, o conjunto dos resultados aponta para diferenças significativas a favor dos grupos com probióticos no que diz respeito à intensidade e duração da diarréia, ao número de dias de internação e dos dias em que os vírus são eliminados no caso da diarréia e por rotavírus. Tendo em conta que a diarréia é uma causa importante de mortalidade nos países em desenvolvimento, sobretudo em crianças e adultos com má nutrição, os probióticos, pela sua eficácia preventiva e terapêutica, são úteis em Saúde Pública (Rolfe, 2000; Juntunen, 2001). Várias estirpes têm comprovado a eficácia dos probióticos na prevenção e tratamento da diarréia associada aos antibióticos. Os mais utilizados têm sido Bifidobacterium, Saccharomyces boulardi e Lactobacillus. O consumo de leite fermentado com Lactobacillus casei defensis DN-114 001 reduziu significativamente a incidência de diarréia associada ao uso de antibióticos e a incidência de diarréia infecciosa por Clostridium difficile (Hickson, 2007). A Diarréia do viajante é a doença mais comum durante a visita às regiões tropicais e sub-tropicais. O efeito dos probióticos para prevenir esta diarréia não está suficientemente demonstrado e alguns trabalhos são contraditórios. No entanto, alguns ensaios clínicos demonstram um declínio de incidência da diarréia de acordo com as regiões visitadas e as doses utilizadas (Szajewska; Mrukawicz, 2005). c) Doença inflamatória crônica do intestino e outras situações gastroenterológicas – Parece bastante promissor o uso de probióticos, especialmente de Saccharomyces boulardii e do Lactobacillus casei na doença de Crohn, na colite ulcerosa e na inflamação crônica da bolsa 29 ileal. Existem resultados animadores com a utilização de probióticos na síndrome do intestino curto e na alergia alimentar, provavelmente pela diminuição da permeabilidade intestinal e pelas suas propriedades antiinflamatórias. d) Síndrome do Intestino Irritável: Algumas cepas ou combinações de cepas probióticas têm sido associadas a alívio de sintomas relacionados à Síndrome do Intestino Irritável (SII). As possíveis ações para estes benefícios podem ser: Correção da microbiota intestinal com conseqüente melhora de motilidade, sensibilidade e produção de gases no intestino e/ou ativação imunológica de baixo grau, com normalização do perfil de citocina pró - inflamatória do tipo Th1. Um estudo com o uso de um leite fermentado contendo Bifidobacterium animalis DN-173 010 indicou melhoras no desconforto e inchaço, e na freqüência de evacuações, em indivíduos com SII. (Guyonnet, 2007). e) Constipação intestinal: Talvez o benefício dos probióticos mais estudado seja sobre a constipação intestinal e, por isso, este é o benefício mais comprovado e com maior número de estudos comprovativos. Os mecanismos de ação que diminuíriam o tempo de trânsito intestinal, propostos são principalmente: aumento do peso e volume das fezes, aumento da concentração de ácidos graxos de cadeia curta na luz intestinal, redução do pH, produção de gases, estímulo à produção de colecistocinina, redução do limiar de resposta à estímulo químico da musculatura lisa do ceco e metabolização bacteriana dos ácidos biliares liberados (Amores et al., 2004; Rodrigues, 2008). Estudos apontam melhorias na dor e na flatulência, além de alívio na constipação com a administração de Bifidobacterium animalis. Um estudo revela que a administração de B. animalis DN-173 010 reduziu, em até 40%, o tempo de trânsito colônico em humanos (Rodrigues, 2008). f) Dislipidemias – Uma das propriedades das bifidobactérias é a sua influência no metabolismo lipídico. Vários estudos clínicos apresentam como resultado de utilização dos probióticos, diminuições significativas dos níveis de colesterol total pela diminuição do colesterol LDL, enquanto os níveis de colesterol HDL aumentam ligeiramente. O efeito hipocolesterolemiante das bifidobactérias resulta da diminuição da absorção e do transporte do colesterol alimentar para o fígado via quilomicrons e, por outro lado, pela desconjunção dos sais biliares com menor absorção do colesterol pelo intestino. A niacina formada pelas bifidobactérias diminui o fluxo de ácidos graxos livres que, ao diminuir a biossíntese da 30 lipoproteína VLDL, contribui para a redução dos níveis plasmáticos dos triglicérideos (Pereira; Mccartney; Gibson, 2003; Chiu et al., 2005; Liong; Shang, 2005; Zhao; Yahg, 2005). g) Sistema Imunológico: Estudos sugerem que os probióticos podem estimular tanto a resposta imune não-específica como a específica, por ativação de macrófagos, aumento dos níveis de citocinas, aumento da atividade das células Natural Killer e/ou dos níveis de imunoglobulinas; sem o desencadeamento de uma resposta inflamatória prejudicial (Saad, 2006). h) Alergia: A microbiota intestinal modula a resposta imunológica por afetar, nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento do tecido linfático associado ao intestino (GALT). Por este motivo, o uso de agentes microbianos apropriados, em idades precoce, pode reduzir o risco de atopia. Há algumas evidências de redução de manifestações alérgicas específicas com o uso de bactérias ácido-lácticas (Rodrigues, 2007). i) Infecção por Helicobacter pylori: Estudos in vitro e in vivo relatam que a associação de bactérias ácido-lácticas com antibióticos para o tratamento de Helicobacter pylori exerce um efeito antagonista a este patógeno, embora a erradicação da bactéria não tenha sido obtida. j) Infecções virais: O efeito benéfico dos probióticos em infecções virais está ligado ao estímulo ao sistema imunológico do hospedeiro e com a exclusão competitiva. Estudos em humanos apontam que bactérias ácido-lácticas podem estimular a produção de gama-IFN pelos linfócitos sanguíneos periféricos, aumentar o IgA sérico e estimular a capacidade fagocítica de leucócitos. Sugere-se que o consumo regular de probióticos pode ter efeito benéfico na redução de infecções do trato respiratório em longo prazo (Rodrigues, 2007). 5.2.6. EFEITOS COLATERAIS/CONTRA INDICAÇÕES Alguns indivíduos podem vivenciar pouco dos efeitos colaterais relacionados à ingestão dos probióticos. Devido à morte dos patógenos no ambiente intestinal, visto que estes liberam produtos celulares tóxicos, reação chamada de “die-off reaction”. Nesses casos, deve-se persistir no uso dos probióticos para que haja melhora dos sintomas. Percebe-se um aumento discreto na produção de gases, desconforto abdominal e até mesmo diarréia, que se 31 resolve com o tempo. Alguns estudos mostram certas exceções de reações adversas severas com o uso de probióticos, como no caso de pacientes internados em unidades de terapia intensiva e/ou com o estado imunológico extremamente debilitado e alta permeabilidade intestinal, ocorrendo a translocação bacteriana e bacteremia. Os autores Besselink MG, et al., estudaram os efeitos da profilaxia com probióticos em pacientes com pancreatite aguda grave. Os métodos utilizados neste estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo em 298 pacientes, com previsões de pancreatite aguda (APACHE > 8, Imrie score > 3 ou PCR > 150 mg / L) foram distribuídos aleatoriamente dentro de 72h de início dos sintomas para receber uma preparação de multiespécies de probióticos (n = 153) ou placebo (n = 145), administrada via enteral duas vezes por dia durante 28 dias. O primeiro ponto foi o composto de complicações infecciosas, ou seja, necrose pancreática infectada, bacteremia, pneumonia, urosepsis, ou ascite infectada, durante a internação de 90 dias de acompanhamento. A análise foi por intenção de tratar. Um indivíduo em cada grupo foi excluído das análises devido a diagnósticos incorretos de pancreatite, portanto, 152 indivíduos do grupo de probióticos e 144 no grupo placebo foram analisados. Os grupos foram praticamente os mesmos na linha de base em termos de características do paciente e da gravidade da doença. As complicações infecciosas ocorreram em 46 (30%) pacientes no grupo de probióticos e 41 (28%) daqueles no grupo placebo (risco relativo 1,06, IC 95% 0,75-1,51). 24 (16%) pacientes no grupo de probióticos morreram, comparado com nove (6%) no grupo placebo (risco relativo 2,53, IC 95% 1,22-5,25). Nove pacientes do grupo de probióticos desenvolveram isquemia no intestino (oito com desfecho fatal), em comparação com nenhum no grupo placebo (p = 0,004). Resultando nos pacientes com pancreatite aguda grave prevista, a profilaxia com probióticos com esta combinação de cepas probióticas não reduz o risco de complicações infecciosas e sendo associado com um risco aumentado de mortalidade. A profilaxia com probióticos não deve ser administrado nesta categoria de pacientes. 5.2.7. ESTUDOS RELACIONADOS AO USO DO PROBIÓTICO EM PACIENTES COM USO DE ANTIBIÓTICOS Alberda C, et al., realizaram um estudo sobre os efeitos dos probióticos em pacientes críticos, que relacionou 28 deles em terapia intensiva, sendo três grupos: controle, bactérias não viáveis e bactérias viáveis 9x1011 (Lactobacilos casei, plantarum, acidophilus e bulgaricus, Bifidobactérias longum, breve e infants, e Streptococos thermophilus). O 32 tratamento ocorreu durante sete dias e os resultados obtidos foram: nenhum paciente obteve sepse por lactobacilos, aumento de IgG e IgA secretora e redução na diarréia (23% placebo, 14% bactérias). Rohde LC, et al., estudaram o uso de probióticos na prevenção e no tratamento da diarréia associada ao uso de antibiótico. A pesquisa mostrou que 90% das infecções causadas por Clostridium difficile são causadas pelo uso de antibióticos (principalmente fluoroquinolonas (norfloxacino, ciprofloxacino, levofloxacino...), clindamicina e cefalosporinas). O Tratamento para Clostridium difficile iniciou-se com metronidazol 500mg 3x/dia durante 10 dias, pelo fato de não ter ocorrido uma melhora, o fármaco foi substituído por vancomicina 125mg 4x/dia durante 10 dias via oral ou via enteral. Por infusão venosa a Vancomicina não alcançaria o cólon. Segundo os autores são considerados probióticos as bactérias que: 1. São resistentes à digestão gástrica, biliar e pancreática; 2. Estão em número suficientes para levar a alterações; 3. Viáveis após a cultura, manipulação e armazenamento; 4. Habilidade em trazer benefícios funcionais ao hospedeiro; 5. Capacidade de induzir resposta na microflora intestinal; 6. Grande resistência aos antibióticos; 7. Quando não tem colonização permanente na mucosa colônica; sendo dois mais eficientes como o Saccharomyces boulardii e Lactobacilus GG. - Saccharomyces boulardii: - Fungo não existente na microbiota normal do intestino. - Estudos demonstram redução na incidência de diarréia associada a antibiótico, mas não em pacientes críticos. - Quando associado à vancomicina, reduz recorrência de diarréia associada à Clostridium Difficile. Possui uma forte evidência. - É eliminado de 2 a 5 dias após o término do uso. - Lactobacilus GG: - Forte evidência em redução de diarréia associada a antibiótico em crianças, mas não em adultos. - Combinações de cepas reduzem em quase 52% a diarréia associada a antibiótico. 33 - Não é recomendado em pacientes críticos (devido à redução do fluxo esplânico, hipóxia e possível translocação) e imunodeprimidos. Sherman PM, et al., investigaram os mecanismos de ação dos probióticos e constataram a produção de bacteriocinas que matam bactérias patogênicas, a ligação à sítios de toxinas e patógenos, a produção de mucina (L. plantarum) que funciona como barreira física, a prevenção da translocação de NFkB do citosol para o núcleo por bloqueio da fosforilação, a produção de AGCC e peróxido de H, reduzindo pH do lúmen e o crescimento de patógenos, o aumento da secreção de IgA secretora e a competição por nutrientes contra patógenos. Koretz RL, et al., fizeram uma revisão de dez artigos randomizados, controlados e duplo cegos. Concluíram que não há alteração na mortalidade e no tempo de internação dos pacientes, mas que ocorreu uma redução de infecção quando houve o uso de probióticos combinados (ex: Pediococcus, Leuconostocos, L. paracasei, L. plantarum) e se atentaram para cuidados com pacientes críticos devido à isquemia intestinal e possível translocação bacteriana. Imhoff A, et al., mostraram através de seu estudo, que a via de contaminação do Clostridium difficile é oro-fecal. A diarréia causada por Clostridium difficile é perdedora de proteína. Ocorre a produção de toxina A e B que se ligam a receptores na membrana celular, rompendo a parede celular e alterando suas funções. Os sintomas são: colite, diarréia aquosa, febre, dor e distensão abdominal, náusea, desidratação. O aumento de leucócitos e da Proteína C reativa foi observado. A bactéria S. Boulardii possui forte evidência em evitar recorrência de Diarréia associada ao Clostridium difficile. O Lactobacilus casei, bulgaricus e Streptococos thermophilus 108 reduzem a Diarréia associada a antibióticos e diarréia associada ao Clostridium difficile em idosos hospitalizados. Uma série de casos (sem estudos randomizados) relata redução na recorrência diarréia associada ao Clostridium difficile com o uso de L. rhamnosus e plantarum 109 2 vezes ao dia durante 15 dias. O Tratamento para evitar recorrência pode durar meses com o uso de probióticos e deve continuar de 15 a 21 dias após o término de antibióticos. Probióticos não devem ser usados em pacientes com doença ou prótese de válvula cardíaca, doença reumática cardíaca e próximo a acessos venosos profundos (há aerolização e possível contaminação do acesso). 34 Probióticos feitos diretamente via jejunal tem maior número de bactérias viáveis e questiona-se se há riscos. Bacteremia por lactobacilos e fungemia por S. Boularddi ocorre em raros casos em pacientes imunodeprimidos. Não há relato de bacteremia por Bifidobactérias. Probióticos (L. rhamnosus, casei e Bifidobacterium breve) que produzem L lactato reduzem a acidose láctica em pacientes com síndrome do intestino curto e os probióticos que produzem ácido lático devem ser evitados. Bacillus são contra indicados, pois são resistentes às defesas do organismo e difíceis de erradicar, podendo levar à translocação bacteriana. 6. CONCLUSÃO A microbiota intestinal é uma mistura complexa de células que contribuem para a execução de inúmeras funções essenciais e por isso, cada vez mais se levam em consideração os papéis destes microorganismos na promoção da saúde ou doença. A estabilidade da microbiota intestinal normal é fundamental para o bom funcionamento do sistema imunológico e para diversas funções metabólicas do organismo, porém diversos fatores podem alterar a composição da microbiota intestinal, entre eles, alguns hábitos de vida, como alimentação e estresse, além do uso de medicamentos. A incorporação de alimentos probióticos na alimentação humana visa estimular o crescimento de determinados microorganismos benéficos para o hospedeiro. Nos últimos anos houve um aumento do interesse pelos benefícios terapêuticos dos probióticos e cada vez mais estudos têm sido realizados. Cada cepa de bactéria probiótica pode ter efeito específico e diferente sobre o hospedeiro. Estudos devem ser conduzidos com cepas e matrizes alimentares específicas, de modo a identificar benefícios distintos à saúde humana. Estudos mostraram que o uso de probióticos para reduzir a diarréia associada à antibióticos em pacientes não imunodeprimidos e não críticos com hipoperfusão (instáveis hemodinamicamente), têm demonstrados resultados positivos. Uma série de casos (sem estudos randomizados) relata redução na recorrência diarréia. Porém apenas um estudo demonstra que o uso de Saccharomyces boulardii junto com vancomicina pode evitar recorrência de infecção por Clostridium difficile. 35 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Alberda C. et al., Effects of probiotics therapy in critically ill patientes: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Am J Clin Nutr, 2007, 85:816-23. 2. Adlerberth I. Estabelecimento da microflora intestinal normal do recém nascido. In: Probióticos, outros fatores nutricionais e a microflora intestinal. Vevey. 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