O Centro de Estudos do Complexo Hospitalar Edmundo
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O Centro de Estudos do Complexo Hospitalar Edmundo
O Centro de Estudos do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos (CHEV), promoveu em 27/10/2015 palestra sobre a era simbiótica, com enfoque às polêmicas envolvendo as medicações contendo probióticos isolados e associados à prebióticos (FOS), que caracterizam os simbióticos dos biológicos ativos e a indicação das fórmulas especiais com proteínas do leite de vaca adaptadas- intactas, parcialmente e extensamente hidrolisadas e com aminoácidos não conjugados- contendo lactose integral, parcial e ausente, e os demais nutrientes básicos da alimentação associados à oligossacarídeos prebióticos isolados (GOS/FOS) e à lipídeos (ácidos graxos saturados: ácido beta-2 palmítico e insaturados: DHA e ARA). Fórmulas do leite de vaca em pó modificado com aditivos nutricionais que objetivam mimetizar a composição do leite materno e assegurar seus benefícios. A adequação das proteínas do leite de vaca, para proporcionar um bom desenvolvimento pondo-estatural e neurológico, considerando-se lactentes sem problemas e com distúrbios gastrointestinais funcionais e nas manifestações da alergia às proteínas do leite de vaca e da intolerância à lactose, em que pesa, também, o teor do dissacarídeo: integral (100%), parcial ou ausente. No particular aos prebióticos, o desenvolvimento e a manutenção de uma microbiota intestinal à semelhança da proporcionada com o leite materno. Tudo em função da saúde intestinal, de se preservar uma flora intestinal saudável. O tema contou com a fala do Prof. Dr. Jayme Murahovisch, pioneiro em proferir palestras a respeito da epigenética, em nosso meio, e quem já havia profetizado essa ascensão dos biológicos ativos, até como resposta a estagnação na inovação dos antimicrobianos. O organizador do evento foi o Dr. Rubens Tadeu Bonomo, chefe do Departamento de Pediatria do CHEV, que discorreu sobre as polêmicas e perspectivas dos anos vindouros aos 2015. Segue, em atenção aos protocolos da Residência Médica, abstract da abordagem do tema. SUA MAJESTADE: A MICROBIOTA A “Microbiota” ou flora intestinal representa a população das bactérias colonizadoras do intestino, que responde por cerca de 70% da cota dos anticorpos orgânicos e regulam disfunções do trato digestivo como a cólica, flatulência, distensão abdominal e a constipação intestinal. O intestino do feto é estéril. Os recém-nascidos de parto normal tem sua colonização inicial às custas das bactérias da flora vaginal e fecal da mãe e os nascidos de cesariana por meio das bactérias do ambiente. Disso, mais uma das vantagens do parto fisiológico. Após o nascimento, a formação da microbiota intestinal vai depender da alimentação. O incremento e a seletividade dos microrganismos vivos que vão integrar a microbiota ocorrem no decorrer dos três primeiros anos de vida, particularmente nos primeiros dois anos (nos lactentes)- na chamada primeira infância- embora o desenvolvimento da microbiota já esteja praticamente definido nos primeiros seis meses de vida. Daí a importância da amamentação materna exclusiva nos primeiros seis meses de vida e a necessidade de se priorizar as fórmulas lácteas especiais, nesse particular, acrescidas de prebióticos, de preferência, associados a lipídeos, como complemento ou suplemento do leite materno, nesse período em que a microbiota se encontra em plena fase de desenvolvimento e da introdução de outros alimentos somente após os seis meses, sob a supervisão médica para adequar as necessidades nutricionais de acordo com a faixa etária. “Probiótico” é um termo empregado para representar medicamentos constituídos por algumas das principais bactérias que compõem a flora intestinal, ou seja, a microbiota. Esses medicamentos são referenciados como biológicos ativos (BA), cuja indicação é incrementar a população destas bactérias colonizadoras da microbiota e estabelecer um sinergismo com os demais microrganismos vivos que a integram. Anos 2015, os BA emergem como medicação adjuvante importante para preservar a integridade da flora intestinal, frente a determinas situações que cursam com potencial em causar danos à sua composição, como medicação adjuvante preventiva ao se administrar antibióticos de amplo espectro ou após diarreias e até mesmo durante a gravidez, considerando-se os fatores de risco para a sua desestabilização tais como a má alimentação, a fadiga e o estresse, além das mudanças do organismo inerentes ao período. A maioria dos BA utiliza como probiótico bactérias do gênero Lactobacillus com espécies variáveis, que vão determinar a valência do produto. Existem BA monovalentes e polivalentes. Não faz jus à referência probiótica não se aplicar aos leites, pois todo leite fermentado os contém e são seus precursores, haja vista que existem há muito tempo, mas sem a notoriedade que vem fazendo dos anos atuais o marco da era simbiótica. Apesar da estranheza que pode causar, as bactérias são consumidas in vivo e in vitro há muito tempo. No início, entregues de porta em porta- aos bilhões- diretamente da fábrica ao consumidor sem intermediários. Trata-se do Yakult, Lactobacillus bifidus (L. casei Shirota)- lactobacilos probióticos restauradores da flora intestinal- da microbiota- ingeridos in natura não como hábito alimentar, mas porque os flaconetes “geladinhos” agradavam ao paladar da maioria das crianças e já se considerava a necessidade de se resguardar a integridade da flora intestinal principalmente ao se administrar antibióticos de amplo espectro e após doenças diarreicas. O problema para se preservar a eficácia destes produtos, é a dependência da rede de frio, nem sempre a contento, envolvendo a produção, distribuição e a manutenção da refrigeração adequada de alguns supermercados, até chegar ao consumidor. Preocupação que já não ocorre com relação aos probióticos dos BA, tampouco com os prebióticos das fórmulas lácteas. Prebióticos representam carboidratos (açúcares) especiais não absorvíveis, mais especificamente oligossacarídeos, presentes no leite materno, responsáveis pela formação da microbiota intestinal. Algumas fórmulas lácteas especiais destinadas aos lactentes, como complemento ou suplemento do leite materno, utilizam uma mistura de Galacto-Oligossacarídeos (GOS) e FrutoOligossacarídeos (FOS) na concentração de 0,8g/100 ml, que, por ser próxima à do leite materno, é considerada como a ideal e objetiva o desenvolvimento de uma microbiota à sua semelhança, o que infere, apesar do mecanismo de ação não estar estabelecido, fazer às vezes dos probióticos dos biológicos ativos. Os GOS são originados pela hidrólise da lactose e os FOS derivados de carboidratos simples (frutose) presentes nas frutas e em muitos vegetais. Além de relacionados com o desenvolvimento da flora intestinal, por funcionarem como fibras alimentares, combatem a cólica, flatulência, distensão abdominal e a constipação intestinal. Os biológicos ativos monovalentes, disponibilizados até 2015, não contém prebióticos na composição, ao contrário da maioria absoluta dos polivalentes que associa FOS (FrutoOligossacarídeos prebióticos) e daí a chancela de simbióticos. Lipídeos Quanto às gorduras- “lipídeos”- do leite materno, 98% se encontram na forma de triacilgliceróis e os outros cerca de 2% divididos em colesterol e, principalmente, fosfolípides. Como 90% dos triacilgliceróis são constituídos por ácidos graxos, eles representam 88% dos lipídeos totais. A maioria dos ácidos graxos é de cadeia longa- 50% saturados e 50% insaturados. Entre os saturados, destaca-se o ácido beta-palmítico da posição beta, o qual representa 25% de todos os ácidos graxos do leite materno e, entre os insaturados, predominam os ácidos decosahexaenoico (DHA) e araquidônico (ARA). *Os lipídeos são representados pelos ácidos graxos, entre os quais, dá-se destaque ao ácido palmítico da posição beta. Cria estranheza, frente à sua relevância, o porquê de só ser utilizado no Aptamil Proexpert Active da Danone, enquanto que o DHA e o ARA estão presentes em praticamente todas as formulações. Os lipídeos, em que se subentendem os ácidos graxos, representam a principal fonte de energia. Respondem por aproximadamente 50% do aporte calórico e são essenciais para o desenvolvimento pôndero-estatural, particularmente o ácido beta-2 palmítico, e para o desenvolvimento cerebral e visual, particularmente o DHA e o ARA, e daí serem considerados neuronutrientes e apesar do mecanismo de interação com os oligossacarídeos prebióticos estar na esfera investigativa, seu efeito bifidogênico contribui para a formação de uma microbiota com predominância de bifidobactérias. Algumas fórmulas associam lipídeos aos prebióticos, os quais independentemente da natureza ser 100% de origem vegetal ou à base de ácido graxo beta-2 palmítico, tem a finalidade de estimular os prebióticos a desenvolverem uma microbiota à semelhança da proporcionada com o leite materno, ou seja, a produzirem probióticos. *Os lipídeos, das fórmulas lácteas especiais, funcionam como uma espécie de “red bull” para os prebióticos GOS e FOS, assim como os prebióticos FOS dos biológicos ativos (simbióticos) com relação aos probióticos. Apesar de ser desconhecido o mecanismo de interação lipídica e prebiótica na síntese de probióticos, os problemas relacionados com distúrbios gastrointestinais funcionais, particularmente com relação às cólicas e à constipação intestinal, não motivam as consultas ao pediatra da forma corriqueira, que ocorre particularmente nos primeiros três meses de vida, quando se empregam outras fórmulas. Evidências clínicas que inferem a existência de uma microbiota próxima à da desenvolvida com o leite humano. As fórmulas adaptadas do leite de vaca visam mimetizar as propriedades do leite materno de forma a proporcionar os mesmos benefícios, não somente em termos de uma microbiota saudável, em que pesa a adição de prebióticos isolados e associados a lipídeos, mas como um todo e daí o incremento de outros nutrientes e a referência de alimentos funcionais. Com relação às proteínas: Apesar do leite de vaca integral ser carente em nucleotídeos, glicoproteínas e poliaminas, elementos importantes na síntese protéica, a quantidade de proteínas é cerca de três vezes superior comparada ao leite humano- a quantidade de caseína é 10 vezes maior- portanto, a relação de aminoácidos resultantes da digestão é diferente: o leite materno é rico em taurina (praticamente ausente no leite de vaca), enquanto o leite de vaca apresenta relação metionina/ cistina e quantidades de tirosina maiores. Para evitar que a deficiência de taurina e o excesso de metionina, por exemplo, causem prejuízo ao desenvolvimento pondo-estatural e neurológico, as fórmulas infantis foram adequadas de maneira a proporcionar todos os aminoácidos essenciais em uma quantidade reduzida de proteínas. Se, por um lado, a ingestão de baixo teor de proteína parece ser adequada para o crescimento infantil, por outro lado, uma ingestão proteica elevada (cerca de 20% do valor calórico elevado) é prejudicial. A alta ingestão proteica parece estar relacionada com uma maior secreção de insulina, o que pode determinar um crescimento exacerbado e índice de massa corpórea elevada na infância. Trocando por miúdo: está associada ao ganho excessivo de peso na infância e maior predisposição à obesidade quando adulto. Foram disponibilizadas, procurando-se espelhar na excelência da qualidade do leite materno, fórmulas com proteínas intactas- para lactentes sem problemas- e fórmulas infantis com proteínas parcialmente e extensamente hidrolisadas e com aminoácidos livres- associadas com lactose integral, parcial e ausente- para lactentes com problemas digestivos adaptativos e nos casos suspeitos de alergia às proteínas do leite de vaca e/ou de intolerância à lactose. 2015- As fórmulas infantis de partida (até 6 meses de idade) e seguimento (de 6 meses até um ano e de um ano até os três anos)- fórmula infantil standard (padrão ou de rotina)- para lactentes sem problemas- com proteínas intactas, lactose integral (100%) e os nutrientes básicos da alimentação associados aos prebióticos, são os Aptamil Premium 1,2 e 3 (Danone) e o Nan Confor 1,2 e 3 (Nestlé), com as respectivas concentrações de 0,8g/100ml (mais próxima do leite materno) e de 0,4g/100ml de GOS/FOS. *Fórmulas da mesma categoria sem prebióticos: Nan Pro 1 e 2, Enfamil Premium 1 e 2, Similac 1 e 2 (Nestlé- MeadJohnson e Abbott). As fórmulas especiais para lactentes com problemas são compostas com proteínas do soro do leite de vaca parcialmente hidrolisadas, algumas contêm prebióticos na concentração de 0,8 g/100 ml de GOS/FOS e apenas uma delas associa o ácido beta-2 palmítico. E o teor da lactose varia de integral, parcial até ausente. Uma composição direcionada aos lactentes com problemas de cólicas, flatulência, distensão abdominal e constipação intestinal. Sintomas que sinalizam para uma disfunção do aparelho digestivo, que pode ser de origem funcional e transitória, assim como uma das manifestações da alergia às proteínas do leite de vaca e/ou da intolerância à lactose, embora a regra em ambos os casos seja a diarreia e não a constipação intestinal. Fórmulas lácteas especiais com proteínas parcialmente hidrolisadas e lactose integral associada a oligossacarídeos prebióticos- sem lipídeos- indicadas nos casos suspeitos de APLV (alergia às proteínas do leite de vaca): Aptamil Proexpert HA. * Fórmulas da mesma categoria sem prebióticos: Nan HA e Nan Supreme (Nestlé)- contam com os mesmos nutrientes e, praticamente, nas mesmas concentrações. O leite Nan HA, da Nestlé, conta com a mesma otimização das proteínas do leite de vaca, que contribui para reduzir os riscos de obesidade no futuro, com lactose integral, acrescidos de ácidos graxos poli-insaturado de cadeia longa: DHA (ácido docosahexaenoico) e ARA (ácido araquidônico)- importantes para o desenvolvimento cerebral e visual, bem como para estimular a resposta imunológica. Nutrientes cujo efeito bifidogênico contribui para a formação de uma microbiota, com predominância de bifidobactérias, à semelhança da proporcionada com o leite materno. Ressalva seja feita: os ácidos graxos insaturados estão presentes em todas as formulações, em concentrações diferentes, porém, próximas. Fórmulas parcialmente hidrolisadas- com lactose parcial- adicionadas de oligossacarídeos prebióticos associados a lipídeos, direcionadas para lactentes com problemas digestivos: Aptamil Proexpert Active (única formulação que associa o ácido beta-2 palmítico como lipídeo). Na realidade, a concentração reduzida de lactose, confere um efeito menos fermentescível e a associação do ácido palmítico na posição beta, promove um sinergismo junto aos prebióticos no desenvolvimento da microbiota intestinal, de forma que, ainda que se relevem os protocolos, a indicação dessa formulação sobrepuja a da anterior- do Aptamil Proexpert HA- inclusive em se tratando da APLV. O Aptamil Proexpert Active, comparando-se ao HA, tem dois adicionais: lactose parcial que o torna menos fermentescível e o ácido beta-2 palmítico, substrato que acelera o desenvolvimento da microbiota o que, indiretamente, contribui para a produção de probióticos e, portanto, infere propriedades simbióticas às formulações lácteas nos moldes dos biológicos ativos, adjuvantes na restauração e manutenção de uma microbiota saudável. *Fórmulas da mesma categoria sem prebióticos: Enfamil Gentlease que emprega lipídeos 100% de origem vegetal (MeadJohnson) e o Similac Sensitive (Abbott) que, até 2015, é outro representante da categoria, que monopoliza a adição de luteína nas composições, nutriente encontrado no leite materno, em alimentos (couve, espinafre, milho, ovo) e frutas como kiwi e que beneficia o desenvolvimento visual e cognitivo dos lactentes. Há questionamentos com relação a estas indicações serem protocolares ou, realmente, uma questão de marketing direcionado na disputa de uma fatia do mercado consumidor. A polêmica gira, principalmente, em torno das manifestações clínicas da APLV, mais especificamente nos casos em que os exames não são comprobatórios da suspeita diagnóstica e que correspondem aos resultados falso-negativos. Em se tratando de disfunções gastrointestinais, salvo os casos gritantes, não há como distinguir se os sintomas como as cólicas e os da distensão abdominal ou da constipação intestinal, são decorrentes de um problema adaptativo fisiológico atribuído à imaturidade da microbiota ou da APLV. São sintomas em comum, embora a regra na APLV seja a diarreia e não a constipação, particularmente quando se associa à intolerância à lactose. Nesses casos, questiona-se não ser preferível uma fórmula láctea com proteínas parcialmente hidrolisada com lactose parcial e acrescida de oligossacarídeos associados a lipídeos ao invés de indicar uma fórmula com proteínas parcialmente hidrolisadas com lactose integral e sem lipídeos associados aos prebióticos. Sem dúvidas, devem-se considerar protocolos, sobretudo a fonte, mas impõem-se restrições aos estabelecidos com critérios pouco convincentes. A abordagem da APLV é complexa pela pluralidade de fatores implicados. Frequentemente, há manifestações cutâneas, gastrointestinais e respiratórias isoladas, mas com tendência a se sucederem- reações em cadeia- ou associadas, que caracterizam os quadros típicos da Síndrome do Lactente Sibilante ou do “Bebê Chiador”. Nesses casos, o tratamento não é meramente dietético, portanto, mesmo com a fórmula láctea adequada, a melhora clínica pode não corresponder às expectativas e para minimizar os riscos de uma avaliação subestimada, deve-se priorizar as fórmulas intensamente hidrolisadas e de preferência sem lactose e até de aminoácidos não conjugados, inclusive quando não ocorrer manifestações gastrointestinais, pois nada pode assegurar que se instale no evolver do quadro. *Fórmulas de proteína do soro do leite de vaca extensamente hidrolisadas: -com lactose: Aptamil Proexpert Pepti (Danone)- única da categoria com prebiótico. Fórmula da mesma categoria sem prebiótico: Althéra (Nestlé). -sem lactose- “fórmulas não suplementadas de prebióticos”: Pregomin Pepti (Danone), Alfaré (Nestlé). Nutramigen Premium/ Pregestimil Premium- fórmulas extensamente hidrolisada da caseína (MeadJohnson)- o Pregestimil conta com a adição de TCM- justificativa do maior custo. *Fórmula com aminoácidos livres (não conjugados): Neocate (Danone), Alfamino (Nestlé) e Puramino (MeadJohnson). Final de 2015, lançado o Neocate LCP (primeiro ano de vida) e o Advance contendo mais gordura (segundo ano de vida). Um adendo curioso: No que concerne aos nutrientes das fórmulas infantis, do leite de vaca em pó, disponíveis no mercado, existem composições que contém os mesmos elementos em concentrações próximas à do ideal, comparadas à do leite materno, assim como de naturezas distintas, que cada fabricante multinacional de laticínios- Abbott, Danone, MeadJohnson e Nestlé- procura destacar, com um marketing que em alguns aspectos não deixa de ser indutivo e confuso, objetivando a prioridade na indicação de seu produto, porém, nada com muita sustentação, uma vez que as diferenças das concentrações não são nada relevantes e os elementos, embora distintos, têm a mesma função. Obviamente que é difícil contestar a impressão de que quanto maior for a somatória de aditivos concentrados maiores, também, os benefícios. Com relação aos “nucleotídeos”: são substâncias obtidas pela hidrólise parcial de um ácido nucleico (ribonucleico e desoxirribonucleico) que melhoram a absorção de ferro e regeneram as células intestinais danificadas e estimulam a síntese das células imunológicas ativas, no modus operandi dos oligossacarídeos prebióticos. A respeito da “luteína”, que é monopolizada pela Abbott nas formulações Similac: é um carotenóide- hidrocarboneto sem oxigênio que confere aos alimentos coloração (pigmentação) amarela, laranja e vermelha. Em geral, quanto mais intensa a tonalidade maior a quantidade de carotenóide. Os carotenóides por serem solúveis em gordura, recebem a designação genérica de lipocromos, entre os quais se destacam os carotenos e a luteína. No organismo os carotenos, sob a ação da enzima carotenase, transformam-se em vitamina A. Daí, serem considerados precursores dessa vitamina e referenciados como provitamina A. A luteína do leite materno e das fórmulas adicionadas deste elemento, da mesma forma que os ácidos graxos (LcPUFAs), são importantes para o desenvolvimento cognitivo e visual, principalmente na fase de maior aceleramento que corresponde, respectivamente, aos primeiros 6 e 12 meses de vida. Como o ARA e o DHA estão presentes em todas as fórmulas, nesse aspecto e dependendo da categoria, mesmo que se considere concentrações diferentes, as fórmulas da Abbott/ Similac saem na frente. De modo que existem diferenças na composição das fórmulas de leite de vaca em pó de saída, de transição e de seguimento, destinadas aos lactentes, como complemento ou suplemento do leite materno. Mudanças, já especificadas, nas fórmulas standard (padrão ou de rotina) para lactentes sem problemas e nas fórmulas especiais para lactentes com problemas. CONJECTURANDO SOBRE O QUE PODE OU PODERIA FAZER A DIFERENÇA: *Todas as fórmulas vêm adicionadas de vitamina D, cálcio e ferro, lipídeos e ácidos graxos insaturados (DHA e ARA), nucleotídeos (ausente em todas as fórmulas com proteínas extensamente hidrolisadas e, entre as fórmulas com proteínas parcialmente hidrolisadas, no Enfamil Gentlease), ômega 3 e 6 (ausente nas fórmulas de proteínas extensamente hidrolisadas). *Única fórmula com ácido graxo saturado (ácido beta-2 palmítico): Aptamil Proexpert Active. *Com oligossacarídeos prebióticos (GOS/FOS) na concentração de 0,4g/100 ml no Nan Confor e na concentração ideal de 0,8g/100 ml nos da linha Aptamil Premium, Proexpert HA e Active, e Pepti (único dos com proteína extensamente hidrolisada). *Com luteína: todos da linha Similac (Abbott). Na realidade, algumas proposituras são conjecturais, uma vez que não há meios de se avaliar e comparar os efeitos no desenvolvimento neuropsicomotor, visual, cognitivo e social, entre os lactentes que receberam estas fórmulas e, muito menos, estabelecer uma relação, em idade mais avançada, com os que receberam outro tipo de alimentação, inclusive com os que foram amamentados com leite materno. Cabem as ponderações das vovós: de que nos velhos tempos não tinha nada disso e a maioria das crianças era saudável. E como justificar a intelectualidade de Pasteur, Sabin, Einstein e de outros gênios de outrora, que não contaram com estes benefícios. Leite materno? Epigenética? É um cenário que endossa certo ceticismo, uma vez que não há como comprovar se estes efeitos, realmente, acenam para o adeus aos burros, todavia, não podemos ficar alheios às inovações. Portanto, uma vez resguardada as diferenças com relação às proteínas, se intactas ou hidrolisadas, ao teor da lactose integral (100%), parcial ou ausente e se suplementadas de prebióticos, o que pode pesar para a aquisição de uma fórmula é o paladar, ou seja, a maior aceitação e o bolso dos pais. E o que pode justificar o fato de algumas crianças se beneficiarem com uma determinada fórmula enquanto que outras, com os mesmos problemas, não, é o seu DNA (genoma/ exoma). Fato é que há muito tempo, adotam-se medidas para se preservar a saúde intestinal. Daí a importância da amamentação materna e das fórmulas lácteas especiais com prebióticos e lipídeos, nos primeiros seis meses de vida, quando a microbiota se encontra em plena fase de desenvolvimento, e dos biológicos ativos contendo probióticos isolados e associados a lipídeos, chancelados como simbióticos, que emergem como adjuvantes importantes para preservar a saúde intestinal- uma microbiota saudável- frente a determinadas situações que cursam com potencial para desestabilizá-la. Apologia aos Biológicos ativos (BA): Valendo se repetitivo: -A maioria dos BA utiliza como probiótico bactérias do gênero Lactobacillus com espécies variáveis, que vão determinar a valência do produto. Existem BA monovalentes e polivalentes. -Os biológicos ativos monovalentes não contém prebióticos na composição, ao contrário da maioria absoluta dos polivalentes que associam FOS (Fruto-Oligossacarídeos prebióticos) e daí a referência de simbióticos. Os simbióticos têm a vantagem da associação de probióticos com prebióticos, mas- ao contrário de algumas fórmulas lácteas especiais- não contam com lipídeos associados aos prebióticos e tampouco ajustam proteínas a outros complementos vitamínicos, de minerais, carboidratos (lactose) e neuronutrientes (DHA e ARA ou nucleotídeos) essenciais na primeira infância, particularmente nos primeiros seis meses de vida. Como exemplo de “biológicos ativos monovalentes”, temos os tradicionais Floratil, da Merck, que utiliza como probiótico o fungo Saccharomyces boulardii e a Leiba, da União Química, com o Lactobacillus acidophilus. E como emergente de 2015: o ColiKids (em gotas) e o ProVance (comprimidos mastigáveis com sabor)- ambos do Aché, que monopoliza o Lactobacillus reuteri, uma das espécies mais estudadas. Segue exemplos de “biológicos ativos polivalentes”- probióticos e simbióticos: “Probiótico”: *Lacto-pró (comercializado pela Invicta): contém a associação de Bifidobacterium lactis com Lactobacillus (acidophilus, paracasei, rhamnosus). Concentração: 4 bilhões de UFC por sachê de 1g. Apresentação: caixas com 10 e 30 sachês. “Posologia”: Crianças até dois anos: meio a um sachê diário ou a critério médico. Crianças a partir dos dois anos e adultos: 1 a 2 sachês diários ou a critério médico. *Despejar o conteúdo do(s) sachê(s) em aproximadamente 100 ml de água- em temperatura ambiente (15 a 30 graus)- e, após deixar o conteúdo assentar ao fundo do copo, misturar até ser completamente dissolvido. “Simbióticos”: * Simbioforma (comercializado pela Farmoquímica): contém, na apresentação de sachês, a associação de FOS com Lactobacillus das espécies acidophilus, casei, longum e rhamnosus. *Simbiotil- comercializado pela GSK (GlaxoSmithKline)- contém na apresentação de sachês, a associação de FOS com Lactobacillus paracasei e Bifidobacterium lactis. *SIM (comercializado pela Vitafor) contém, nas apresentações de sachês e cápsulas, a associação de FOS com Lactobacillus acidophilus e Bifidobacterium lactis. -comercializados nas apresentações de sachês pela Invictus: * LactoB: contém a associação de Bifidobacterium lactis e Lactobacillus paracasei- 2 bilhões de UFC com 0,9g de FOS. * Lactofiber: contém a associação de Bifidobacterium lactis e Lactobacillus acidophilus- 2 bilhões de UFC com 3,2g de FOS. * Lactofos: contém a associação de Bifidobacterium lactis e Lactobacillus (acidophilus, paracasei e rhamnosus)- 4 bilhões de UFC com 5,5g de FOS. Recomendação de uso: 2 sachês/ dia ou a critério médico. E não indo na contramão da aritmética tem-se a impressão dos biológicos ativos polivalentes mais concentrados, particularmente os simbióticos, serem os mais eficazes. No entanto, pesa também para essa avaliação a cepa especificidade e não há sustentação científica em se considerar o Lactobacillus acidophilus como a espécie de maior potencial imunológico, o L. paracasei como o que melhor interage (estabelece simbiose) com os demais microrganismos vivos constituintes da microbiota intestinal, em especial com as bifidobactérias, tampouco eleger o L. rhamnossus e a Bifidobacterium lactis como as bactérias de maior potencial de adesão na mucosa intestinal e de multiplicação mais rápida. O problema é que os probióticos não gozam da mesma fundamentação dos antibióticos, que especificam o princípio ativo e o espectro de ação, a posologia mínima e máxima e a duração dos tratamentos de acordo com o sítio da infecção, assim como as reações adversas e apresentações. Apenas com relação à concentração dos probióticos, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determina uma concentração mínima de 100 milhões de Unidades Formadoras de Colônias por espécie. Graças à característica dos probióticos de serem constituídos por bactérias comensais do intestino e de não serem absorvidos, eles estão isentos de efeitos sistêmicos e, consequentemente, podem ser administrados em qualquer idade, até mesmo durante a gravidez e na lactação. Daí, muito provavelmente, a justificativa de não se fixar a concentração máxima e a duração do tratamento ficar a critério médico. Na realidade, muitas das proposituras com relação aos probióticos e simbióticos são conjecturais. Os probióticos e os prebióticos, uma vez administrados, para exercerem sua ação, impõe-se que cheguem íntegros ao intestino, que tenham capacidade de adesão na mucosa intestinal e multiplicação rápida, e que estabeleçam simbiose (sinergismo) com as demais bactérias que integram a microbiota. Para tal, devem ser resistentes à acidez gástrica, aos sais biliares e a maioria dos quimioterápicos. Portanto, com exceção do probiótico que contém na composição o fungo Saccharomyces boulardii- levedo extraído de frutas silvestres tropicais, como o coco e a banana, que crescem sem cultivo, e está explícito ser desaconselhável o emprego de fungicidas ou de fungistáticos como os derivados do cetoconazol, imidazol e afins, parece que os demais probióticos e simbióticos, o que deixa entrever a microbiota, estão imunes aos antimicrobianos. Ora! Assim sendo, cai por terra a concepção milenar dos antibióticos causarem danos à flora intestinal. Valendo, mais uma vez, se repetitivo, os probióticos existem há muito tempo, mas não da forma tão propalada dos anos atuais, que vem fazendo de 2015 o marco da era simbiótica, em que se tem plena convicção da relevância destas bactérias contidas em medicações (probióticos e simbióticos dos biológicos ativos) e, indiretamente, nos alimentos funcionais contendo prebióticos associados a lipídeos, como complemento ou suplemento do leite materno, particularmente nos primeiros seis meses de vida, quando a microbiota se encontra em plena fase de desenvolvimento. A polêmica se concentra em prescrever o biológico ativo mais apropriado, ou seja, estabelecer critérios para a indicação de um biológico ativo monovalente e de um polivalente, e as circunstâncias em que se deve priorizar probióticos ao invés de simbióticos e vice-versa. Dos biológicos ativos monovalentes, qual o mais indicado? Ainda que se considere o comodismo posológico entre os sachês, flaconetes, as cinco gotas e os comprimidos mastigáveis, devemos enterrar os tradicionais e canonizar os emergentes? Com relação aos biológicos ativos polivalentes mais concentrados associados a oligossacarídeos prebióticos serem mais eficazes, comparados aos que não os contém, não desdenhando a aritmética, pode ficar a impressão, no entanto, essa avaliação fica comprometida devido à diversidade das formulações que associam cepas de especificidades e concentrações diferentes. Da mesma forma que em se considerando a especificidade, não há como aplaudir o biológico ativo polivalente em detrimento ao monovalente. De maneira que as prescrições dos biológicos ativos: probióticos monovalentes e polivalentes, assim como o dos simbióticos, bem como a determinação da duração dos tratamentos, ficam paradoxalmente, fugindo aos protocolos e em respeito às regras, a critério médico, ou seja, sob a tutela do empirismo. Todavia, é importante que não protagonizem receituários médicos, que sejam prescritos de maneira seletiva- mais criteriosa- para evitar poluição medicamentosa e, também, em atenção ao custo ainda fora dos padrões, principalmente, por se se tratar de medicação adjuvante e não isentar a necessidade de mudanças de hábitos alimentares e no estilo de vida, nem sempre fáceis de levar a termo numa sociedade competitiva e moderna, em que pesam os fast foods e o estresse do dia-a-dia. Panorama que faz da epigenética a justificativa de alguns pacientes se beneficiarem com um determinado BA enquanto que outros, com os mesmos problemas, não. Quanto às condutas: as crianças tendem, desde tenra idade, a assimilar os comportamentos e hábitos alimentares das pessoas de seu convívio. Incumbência que pode ser partilhada e não delegada aos educadores e, muito menos, que se crie um clima de disputa pelo prestígio, em ser coroado (a) como senhor (a) da verdade, com quem quer que seja. Fica o alerta: é mais fácil ou menos difícil prevenir problemas na infância do que corrigi-los quando adultos- é mais fácil construir uma criança do que concertar um adulto.
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