Apresentação - Associação Betel de Evangelismo e Missões
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Apresentação - Associação Betel de Evangelismo e Missões
1 Revista Betel Apresentação E u, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. I Coríntios 2:1-2. O Evangelho de Deus é uma Pessoa. Não é um ensino, não é uma doutrina, não é uma técnica, não é uma fórmula. É uma Pessoa, o Filho de Deus, Jesus Cristo. Foi esta a decisão que o apóstolo Paulo tomou, de pregar unicamente a Jesus Cristo, e este crucificado. O único Evangelho, verdadeiramente Boa-Nova, é o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo para a cura de todas as nações. Assim sendo, somos gratos a Deus por mais esta edição, e desejamos que na Sua infinita misericórdia e graça nos propicie todos os recursos para que Cristo seja tudo em todos. Que todos os leitores façam suas colheitas no maravilhoso campo das insondáveis riquezas de Cristo! Amém. Os Editores 2 Revista Betel “Cristo é tudo em todos” • Ano 8 • Nº 3 • Outono 2013 Sumário Apresentação, 1 Estudo Bíblico A Base do Perdão Divino, 3 Abel Emerich O Pecado Antes do Pecado, 7 Glenio Fonseca Paranaguá O Ministério da Palavra de Deus, 12 Humberto X. Rodrigues O Que é Novo Nascimento?, 17 Sinval T. da Silva Riqueza da Graça Negando-se e Seguindo a Cristo, 21 D. M. Loyd Jones O Folheto Retorna, 25 De Vern Fronk Legado Os Mártires e a Teologia da Prosperidade, 28 John Foxe A Morte é o Portão da Vida, 33 I. Lilias Trotter Dedicação a Deus, 36 Evan H. Hopkins Uma Linha Escura na Face de Deus, 39 William MacCallun Clow Associação Betel, 47 Revista Betel Estudo Bíblico A Base do Perdão Divino 3 Abel Emerich Mas longe esteja de mim gloriarme, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14 D e certa feita alguém afirmou não acreditar que Deus (Elohim), sendo essencialmente amoroso, seria capaz de deixar o ser humano descambar para o inferno à agonizar na eternidade, por conta de haver vivido breves anos, aqui terra, não importando que tipo de vida tivesse levado. Com efeito, ainda que dita afirmação seja, aparentemente sábia, cremos que poderia alcançar algum êxito, se considerada apenas sob a luz da lógica humana, não, porém, na ótica divina; lembrando que a Bíblia informa não apenas que Deus é amoroso, mas que Deus é amor (I João 4:8b). De Deus (Elohim), a Santa Palavra também dá conta de que se trata de um ser essencialmente santo e dotado de três atributos exclusivos, quais sejam: onisciência, onipresença e onipotência. Esse prefixo “oni” expressa a idéia de plenitude, ou ainda nos leva ao juízo de dimensão inimaginável à 4 Estudo Bíblico mente humana. Segundo os estudiosos de nossa língua portuguesa, dita alocução se trata de um morfema, ou seja, uma das partes componentes da palavra e seria gramaticalmente um advérbio de intensidade, expressando, tudo ou todo; logo, nesse caso, o morfema “oni”, justaposto a cada um dos atributos divinos, nos dá, desde logo, uma visão de como é Deus, a saber: a única pessoa que sabe e conhece todas as coisas, por conta da sua onisciência; está presente em todos os lugares, haja vista, a sua onipresença; e ainda, possuidora de toda autoridade e poder, nos céus, na terra e embaixo da terra, posto a sua onipotência, não olvidando ser Ele (Elohim) o criador dos céus e da terra. Gênesis 1:1. O Salmista, escrevendo o salmo de número 139, expressa, de maneira poética, esses preciosos atributos divinos, veja: Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe, penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda. Tu me cercas por trás e por diante e sobre mim pões a mão. Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; é sobremodo elevado, não posso atingir. Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde Revista Betel fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas e a luz são a mesma coisa. Salmos 139: 1-12. Ficamos pasmos, no entanto, ao pensar, como esse Deus tão grandioso e todo poderoso, e que pode todas as coisas, não pode encontrar uma forma diferente para salvar o homem do seu pecado, senão que, desde a antiguidade, prometeu que seu filho, seu filho unigênito, viria ao mundo para, após se identificar conosco na carne, trilhar, como ovelha muda, as sendas do Calvário, onde, por fim, morreu agonizando, pendurado nos engastes daquela maldita cruz. Isso foi manifestação de poder ou paranóia em uma loucura? O apóstolo dos gentios (apóstolo Paulo), escrevendo a sua primeira carta à igreja de Corinto, dá o diagnóstico da questão suscitada: Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos Revista Betel Estudo Bíblico instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. I Coríntios 1:1825. Por conseguinte temos a resposta: loucura sim, mas para os que se perdem; mas, para nós, manifestação do poder e da sabedoria de Deus. É que Deus nunca tratou o pecado com suavidade, posto que para Deus, pecado, sempre foi doença que acomete o coração; daí a solução divina: Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Ezequiel 36:26. Salomão, escrevendo seus provérbios assim dilucida a questão: Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem às fontes da vida. Provérbios 4:23. 5 É que a comunhão do homem com o Deus, deve se dar no espírito, cuja sede é o coração. Note: Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus. Romanos 2:29. Jesus lembra dessa realidade, e deu o seguinte esclarecimento, que fora registrado por João, em seu Evangelho: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. JOÃO 04:24. Volvendo-nos para o Calvário, vemos em Cristo Jesus, o mais brutalizado dos crucificados, porque Ele tomou sobre si todas as mazelas humanas, advindas da natureza do pecado, e para isso nos recebeu em seu corpo santo, onde o nosso pecado recebeu a justa retribuição, a saber, a morte: Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:4,5. 6 Estudo Bíblico No mais das vezes, nosso entendimento sobre o perdão, não alcança o que está dito nas santas escrituras, em que tomamos o amor de Deus, como a base de seu perdão. Não, ainda que o amor seja a motivação de tudo, a Bíblia deixa claro que o amor, foi a mola propulsora que fez com que Deus enviasse seu filho ao mundo: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16. No entanto, a base do perdão divino sempre foi a cruz. É que em Deus, não há perdão sem justiça e por amar-nos de tal maneira, Deus fez Justiça em seu Filho, imolando-O naquela cruz, onde Cristo Jesus agonizou e por fim morreu, pondo um fim em nossa natureza do pecado. Isto, porque quando Ele morreu, Revista Betel nós estávamos nEle. João 12:32. Aí está a nossa justificação: porquanto quem morreu está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Romanos 6:7-10. Amados, seja a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso mote diário; aliás, o mesmo baluarte onde vicejava a alegria do querido apóstolo Paulo: Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:7. A santidade pareceu-me ter uma natureza cheia de doçura, ser agradável, serena e tranquila. Ela aparentava trazer uma inexprimível pureza, claridade, mansidão e arrebatamento à alma; tornando-a como um campo ou jardim de Deus, com toda sorte de flores fragrantes, agradáveis à vista, deleitosas; gozando da calma doce e dos raios vivificantes e suaves do sol. A alma de um verdadeiro cristão parecia comparável a uma delicada e branca flor, como aqueles que brotam na primavera, simples e humildes, presas ao solo, abrindo-se para receber os raios amenos da glória do sol; rejubilando-se serena e cheia de amor entre as duas flores ao seu redor, todas de igual modo se entreabrindo para beber da luz do sol. -- Jonathan Edwards “Cristo precisa ser exaltado e elevado bem alto em nossos corações, para que a nossa carne ingovernável e seus caprichosos anseios sejam sujeitados.” -- Robert Chapman Revista Betel Estudo Bíblico O Pecado Antes do Pecado 7 Glenio Fonseca Paranaguá Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Ezequiel 28:15. T udo o que Deus criou era perfeito. Elohim é o nome do Criador que jamais será uma criatura. Este nome é o plural da Divindade. A Bíblia aponta para um Deus triúno ou o ser coletivo do Divino. Deus é único, mas não é solitário, além de ser eternamente solidário. A Trindade é o plural das vontades e o testemunho de uma unidade governamental. Há um só Deus manifesto em três pessoas vivendo um só propósito. O Deus trino, se bem que triúno, nunca foi criado. Se ele fosse criado não seria Criador e sim criatura. A causa que tem causa nunca será uma causa não causada. Ora, se não houver a causa que cause tudo sem que tenha uma causa que lhe tenha causado, então não haverá o Criador, pois tudo será criatura, já que toda causa tem a sua causa. Elohim é a causa sem causa e o Criador de tudo. Sendo ele perfeito como Criador só poderia criar uma criatura perfeita, como criatura. Mas a criatura perfeita, dotada de vontade própria, po- 8 Estudo Bíblico deria querer ser como o Criador. Ela nunca poderá ser o Criador, pois ela é de fato uma criatura, embora possa desejar ser como o Criador. O Criador será sempre o Criador, uma vez que, por necessidade ontológica, isto é, do ser enquanto ser, neste caso, o ser Criador não poderá ter causa, e ainda, por imperativo lógico, é uma causa sem causa causando todas as causas, pois se tivesse alguma causa seria uma criatura causada e não o Criador causador. Por outro lado, a criatura sempre será criatura, já que é uma causa causada e não a causa causadora. Contudo, a criatura em sua presunção conta com a chance de se apresentar na pretensão de equivalência ao Criador. Mesmo sendo uma criatura, ela tem a faculdade de ambicionar ser como o Criador. Antes da concepção do átomo houve a criação sem retoque do mundo imaterial. A realidade espiritual precede a realidade física. Os seres angélicos foram criados primeiro do que a matéria. Deus evidenciou uma ordem de tronos antes de criar a ordem dos elétrons, prótons e nêutrons. A existência incorpórea vem antes da mecânica quântica. Na hierarquia da organização espiritual foi criado um Querubim guardião dos arranjos celestiais, um ente luminoso cheio de sabedoria e Revista Betel formosura. Entretanto, este ser denominado de Lúcifer, movido por sua ambição pessoal e não satisfeito em ser criatura, tenta escalar o trono do Criador e assentar-se como Deus. Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Isaías 14:13-14. Sua ideia é subir, ascender, exaltar-se. Este personagem angélico lindo e pleno de predicados foi criado perfeito como criatura, mas ele não era o Criador. Como já vimos e por exigência ôntica, isto é, do ser em si mesmo, só o Criador não tem causa. Mas Lúcifer não aceita a sua condição de criatura e quer ser o Criador. Além do que este assunto é também difícil de entender. Como um ser perfeito, vivendo num ambiente perfeito em companhia de seres perfeitos poderia ficar insatisfeito em ser o que era? Parece que o problema encontra-se na vontade. Ele ficou inconformado por ser uma criatura e quis ser o Criador. Ele foi criado como um Querubim de alto nível, mas quer ser o Criador Supremo e a causa de todas as causas. Uma criatura perfeita querendo ser a perfeição do Criador triúno faz aparecer em si mesma a iniquida- Revista Betel Estudo Bíblico de, ou seja, o inconformismo de ser o que é querendo ser o que nunca será de fato, a ponto de se insurgir e comandar uma rebelião que arrastou um terço dos anjos. A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais ele lançou para a terra; e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse. Apocalipse 12:4. Antes de haver o ato de rebeldia, Lúcifer fez nascer e cultivou uma atitude arrogante de insatisfação ingênita, isto é, gerada por ele próprio e em si mesmo, que desencadeou a obstinação hostil de uma criatura inconformada e incontida. Esta pose atrevida pode ser designada como o princípio da iniquidade e a madre enrustida do pecado. Antes do seu ato de oposição houve um anseio de auto-coroação e independência do Criador. A Bíblia é categórica quando afirma que o pecado surgiu em razão de uma tentação e que esta nasce dos desejos incontroláveis do ser tentado: Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez con- 9 sumado, gera a morte. Tiago 1:13-15. Ora, se Deus não pode tentar a ninguém e por isso não poderá ser um tentador, e se não havia ninguém para tentar naquela ocasião, logo a tentação deste Querubim foi auto-induzida pela sua condição de criatura volitiva que desejava ser o Criador. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Ezequiel 28:16. Não aceitando ser quem era como criatura, Lúcifer se propõe a ser quem por essência nunca poderá ser. Essa sua inclinação soberba o transformou em Satanás, a raiz da tentação e o tentador por natureza. A iniquidade financiou a corretagem do negócio e a selvageria interna desencadeou a transgressão. O pecado é um ato de atrevimento pirracento proveniente de uma atitude de inconformidade arrogante. A inveja da criatura que deseja ser o Criador acabou por convertê-la num ser maligno e astuto. Lúcifer era muito inteligente, mas pouco sábio. A inveja é a negação da providência divina e a afirmação da calamidade. A. W. Tozer dizia: “na Bíblia, há referências aos ardis e à astúcia de Satanás. Mas, quando ele arriscou-se a destronar o Todo-Poderoso, tornou- 10 Estudo Bíblico -se culpado de um ato de juízo tão terrível quanto imbecil”. A loucura pela grandeza e a inveja por não ser o único são as causas da queda luciferiana. Só Deus é o único, mas a sua singularidade não é uma só pessoa. A grandeza e beleza da Trindade é a sua unidade na pluralidade. Ter uma única vontade numa coletividade é muito maior do que ser singular sob o perfil da individualidade. A essência do pecado é a exaltação do invejoso. Assim, nos termos de Deus, o desejo de ser independente de Deus é a matéria prima do pecado. Aquele que ambiciona o trono da Divindade cai do mais alto pedestal que alguém poderia subir. A inveja do invejoso é o veneno que o intoxica lentamente até à sua ruína. A altura, a grandeza e a glória são as plataformas mais perigosas para o desfile de uma criatura ambiciosa. Nenhum dos seres criados conseguiu passar por estas vias sem o risco do orgulho particular e o tombo vertiginoso do pecado. Por que olhais com inveja, ó montes elevados, o monte que Deus escolheu para sua habitação? O SENHOR habitará nele para sempre. Salmos 68:16. A inveja do anjo iluminado causou um desarranjo na ordem angelical e uma hecatombe cósmica. O plano da vida invisível agora estava poluído pelos desejos arrogantes de Revista Betel comparação, competição, complicação, condenação e conspiração. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor. Pela multidão das tuas iniquidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários. Ezequiel 28:17a, 18a. A atitude de insatisfação promoveu o ato de inobediência que vazou numa anarquia egoísta e universalmente interesseira. A oposição torna-se um fato na criatura volitiva. Se não sou o Criador, agora eu tenho o direito de não me conformar em não sê-lo, pois há um selo de rebelião instaurada no Cosmo. O Criador não criou a rebelião do pecado, mas criou um ser que não sendo o Criador quis ser igual a ele sem poder ser, já que era uma criatura. E querendo ser o Criador sem poder ser a causa não causada, acabou sendo a causa maligna de todas as causas que causam o mal no seio das outras criaturas que podem querer ser algo que não são. Foi assim que o pecado entrou na raça humana. Deus criou Adão como homem e lhe deu uma vontade capaz de decidir. Uma criatura só será livre e responsável se puder deliberar aceitando sua condição de criatura, ou não se conformando com esta categoria. Toda decisão exige alternativa. Se não houver opção não haverá liber- Revista Betel Estudo Bíblico dade e se não houver deliberação não existirá inocente nem culpado. Se não tenho escolha não tenho livre-arbítrio. Se me falta a capacidade de arbítrio, falta-me a competência para escolher e se estiver ausente a possibilidade de optar, então não serei livre nem responsável. O Criador deu a Adão a condição de ser homem e a liberdade de aceitar esta característica humana ou não se afeiçoar à sua humanidade. Com estas qualidades, o Criador apresentou o cardápio para estabelecer a preferência. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.. Gênesis 2:16-17 Diante da alternativa a decisão pode ser tomada. A diferença entre o pecado de Lúcifer e o pecado de Adão é que o primeiro foi sem tentação externa, mas inerente ao próprio ser inconformado com o que era, enquanto o segundo foi consumado pela tentação do tentador que despertou no gênero humano o desejo de ser como Deus. Assim o pecado de Lúcifer é uma aversão ínsita e endógena, isto é, incitada e gerada pelo ser da própria criatura, mas o de Adão foi por sedução exterior. Todavia os resultados são sempre 11 os mesmos, morte ou separação de Deus. O diferencial neste caso é que para a raça humana há recurso através da encarnação do Verbo divino. O Deus-Homem pode desfazer na cruz o que Satanás incorporado na serpente fez no Jardim. O pecado no plano espiritual não tem acordo. O inferno foi preparado para o Diabo e os seus anjos. O pecado no terreno da carne tem o seu Cordeiro expiatório. No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! João 1:29. O pecado antes do pecado é a inveja, o orgulho e a arrogância de ser o que não é, e, ao mesmo tempo, agir por conta própria como se fosse Deus. O pecado depois do pecado é a tentação teomaníaca que nos leva a presunção da independência de Deus, tentando-nos como se fôssemos deuses. O pecado anterior não tem Salvador nem salvação. O pecado posterior tem a manifestação do Deus que se fez Homem para libertar o homem que aposta ser como deus, assumindo o controle de sua existência. Graças ao Pai pela encarnação do Filho e pela revelação do Espírito Santo na vida dos seus filhos, que foram salvos da condenação do pecado, estão sendo salvos do poder do pecado e serão salvos da presença do pecado. Aleluia. 12 Estudo Bíblico O Ministério da Palavra de Deus Revista Betel Humberto X. Rodrigues Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 2 Coríntios 4:2. D eus, em sua infinita bondade, nos concedeu vida por meio da nossa morte e ressurreição no corpo do nosso Senhor Jesus Cristo, fato este confirmado a nós pela palavra viva. É a ação da graça e da misericórdia de Deus a favor do indigno e que nada merece. Ele bondosamente nos deu vida, Ele nos perdoou por meio da morte de Seu Filho e nos concedeu Sua própria vida. Nascemos na família de Deus, temos Sua vida em nós e somos Seus filhos. Todos esses fatos são evidências de um milagre operado em nós pelo “dedo de Deus” - o novo nascimento. Antes de sermos regenerados, estávamos mortos em nossas transgressões, mas agora, estamos vivos para Deus. Antes éramos inimigos de Deus, agora amigos. Antes estávamos condenados, agora absolvidos. Antes estávamos sob o peso da culpa, agora com a uma consciência limpa. Antes não tínhamos vida, agora Cristo é a nossa vida. Antes separados, agora temos um relacionamento com Deus. Revista Betel Estudo Bíblico Mas, infelizmente muitos dos filhos de Deus pensam que a experiência do novo nascimento é o fim em si mesmo. Por isso, muitos podem estar perguntando: - E, agora? Se já recebi a nova vida, o que mais devo esperar, além de morrer e ir para o céu? O apóstolo Pedro responde: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. I Pedro 1:3. Conforme o que acabamos de ler, a regeneração tem uma finalidade: “nos gerar para uma viva esperança”. Isto significa que temos um alvo; que fomos regenerados com um propósito definido por Deus. Este propósito é nos fazer semelhantes ao Seu Filho. Quando somos salvos, o Espírito Santo, por meio da palavra de Deus, revela ao nosso espírito outrora morto, o que Cristo fez. A partir deste momento o Espírito Santo vem habitar em nosso espírito, com o propósito de revelar progressivamente em nós, a pessoa de Cristo, num processo continuamente renovador: Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. 2 Coríntios 3:18 13 Porém, quando olhamos para o cenário atual, notamos que muitos filhos de Deus parecem desconhecer o propósito para o qual foram chamados. Isto porque, dias e anos passam e eles continuam os mesmos. Por que isto acontece? A palavra de Deus nos garante que aqueles cujos espíritos foram vivificados são predestinados “para serem conformes à imagem de seu filho”: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Romanos 8:29 - indicando um movimento renovador assim que a vida lhes é concedida. Assim, pensamos ser legítimo perguntar: O estado em que esses filhos de Deus se encontram não seria um fato que aponta para a crise da igreja? Devemos admitir a nossa crise e, a “crise da Igreja é a crise da palavra de Deus”. O mundo está pressionando a Igreja a fazer concessões, a se render aos seus “valores”. Ironicamente, este é o “papel” do mundo. Mas, quando olhamos para a Igreja vemos divisões, ensinos errôneos e uma enorme confusão na qual, o legalismo e o humanismo vivem de mãos dadas a certos comportamentos inadequados. O que fazer diante desta situação de distorção e anormalidade? Esta 14 Estudo Bíblico pergunta nos leva inevitavelmente a outro questionamento. O que é evangelho? Qual é a boa-nova? Qual a natureza do evangelho? A natureza do evangelho é trazer à luz a vida e a incorruptibilidade - o que Cristo realizou quando esteve aqui entre os homens. E, o que Cristo fez lá na cruz do calvário foi destruir o poder da morte e trazer à luz a vida e a imortalidade. E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho. 2 Timóteo 1:10. Quando as coisas começam a ficar difíceis, quando a Igreja está fora de ordem, o que é preciso fazer? Como resistir às correntezas internas e externas? Sem nenhuma dúvida precisamos retornar à Fonte. Precisamos retornar ao fundamento. O apóstolo Paulo orientou o seu filho na fé, Timóteo, dizendo: E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. 2 Timóteo 2:15. A solução está no retorna à Palavra de Deus. Toda esterilidade, pobreza e corrupção que encontramos nas igrejas se devem ao elemento humano, mais precisamente às lideranças. Os Líderes são “inadequados” porque são pessoas que não foram quebradas pela cruz. Líderes que se Revista Betel levantam e falam de acordo com a sua própria mente. O que dizem é de nenhum valor. Que Deus possa encontrar aqueles que são quebrantados e humilhados pela operação da cruz para que a Sua Palavra flua por meio deles. Deus está continuamente buscando aqueles a quem Ele possa usar e revelar o Seu propósito. E, o seu propósito é manifestar a glória de Seu Filho, mostrar a suprema riqueza da Sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. A superficialidade e a pobreza são marcantes no ministério dos dias atuais. A causa está no fato de muitos terem deixado de lado a cruz. Eles deram um jeito de escapar da cruz ou até falam da cruz com um sotaque humano. Uma espécie de fuga da cruz, uma fuga do Calvário. “Se você puder ajudar outros com a sua compaixão ou compreensão, é um traidor de Jesus Cristo. Você tem que se manter num relacionamento correto com Deus e dar-se aos outros à maneira de Deus, não à maneira humana, que ignora Deus. A ênfase hoje em dia é religiosidade benévola.” Oswald Chambers. A cruz é o fundamento do ministério. Deus trata com o homem estando ele “em Cristo”, mas este mesmo homem precisa ser trabalhado, lavrado interiormente pelo Espírito Revista Betel Estudo Bíblico Santo, pelo princípio contínuo da cruz. A vida que flui pelo contínuo morrer: Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos. 2 Coríntios 4:10. Todo aquele que experimentou a morte e a ressurreição em Cristo, passa a ser uma testemunha viva neste mundo. Conhecer a Cristo é a chave do ministério. Se, somos chamados para proclamar a Palavra de Deus, precisamos da revelação da Pessoa de Cristo. Tal revelação incendiará o nosso coração por Ele e, conseqüentemente, pelas almas perdidas. Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, Revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue. Gálatas 1:15-16. Fomos chamados para pregar o Evangelho a boa nova de salvação - e não para argumentar sobre o Evangelho. A mensagem deve girar em torno da Pessoa de Cristo, a Palavra Encarnada, o Logos que Se fez Carne. Um dia a Palavra se tornou carne, e quando isso aconteceu, Cristo se manifestou entre o Povo. Pouco importa a nossa experiência em falar do Senhor. Somos apenas uma voz. Ainda que essa voz possa ser suave ou eloqüente, ela se tornará viva so- 15 mente quando receber conteúdo. Se o Logos não estiver nessa voz, ela ficará vazia, como o metal que soa ou como o sino que retine. Sim! Todos os que foram salvos são verdadeiras testemunhas, vos sois as minhas testemunhas, disse Jesus, mas nem todos foram chamados para ir. E, aqueles que foram chamados para uma missão específica precisam saber que antes do Ide, tem o Vinde. E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores; E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens... Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu e João, seu irmão, que estava no barco em companhia de seu pai consertando as redes; e chamou-os. ... Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Mateus 4:18-21; 28:19-20. Aqueles que foram chamados para Ir precisam saber que não é só pregar e ensinar sobre Cristo, mas que tenham a revelação do próprio Cristo. A vocação pode ser resumida nestas palavras: Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a 16 Estudo Bíblico excelência do poder seja de Deus e não de nós. 2 Coríntios 4:7. Podemos interpretar este texto desta maneira: Somos frágeis vasos de barro, e se há alguma realização, se há alguma persistência, se há alguma eficiência, deve ser creditada ao poder, à excedente grandeza do poder, que é de Deus e não de nós mesmos. Isto é Cristo em Seu vaso de barro, no poder da vida ressurreta. Nas Escrituras vemos a supremacia do Senhor, Aquele que está Revista Betel assentado sobre o trono. Em outras palavras, é a soberania absoluta de Jesus Cristo como Cabeça da Sua Igreja. Deus O ressuscitou dentre os mortos e fê-Lo “sentar à Sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio para ser o Cabeça sobre todas as coisas”. Somos participantes de um reino que não pode ser abalado por nada neste mundo. “As portas do inferno não prevalecerão contra ele”. Um fato impressionante sobre Austin-Sparks Hosea Hu, um irmão americano, é biógrafo de T. Austin-Sparks. Ele esteve no Brasil certa vez e deu uma conferência sobre a vida de TAS, como era carinhosamente chamado por seus amigos. Eu ouvi parte de uma das mensagens. Desta, um fato me impressionou demais. Eu o reproduzo de memória aqui. O cerne da história é exatamente o que escrevo, e deixo de fora minúcias das quais não recordo a fim de não cometer enganos. Nos Estados Unidos, determinado pastor, insatisfeito com sua vida espiritual, ouviu uma conferência com TAS. Sua primeira pergunta foi: “Que tradução da Bíblia ele usa, já que na minha eu nunca vi essas coisas que ele menciona?” O que aquele homem ouviu revolucionou sua vida. Ele, então, passou também a ensinar o que recebera. Ele era pastor de uma congregação de classe alta. Seus ouvintes começaram a ficar descontentes com sua palavra, pois não era mais do tipo “palavra edificante”. Então, por meio de uma conspiração contra ele, foi demitido, acusado de insanidade mental. Desempregado, ele começou a passar necessidades. Algum tempo depois, conseguiu um emprego de vendedor, mas pouco conseguia ganhar com seu trabalho. Mas permanecia fiel ao que ganhara do Senhor. Por causa de sua fraqueza, teve um sério problema em um dos pulmões, que tinha de ser extirpado. Foi internado, e o médico era um de seus antigos pastoreados. A cirurgia foi realizada, mas, não se sabe porque razão, o pulmão são é que foi extirpado. Assim, tendo um único pulmão, e este comprometido pela doença, este irmão morreu cerca de dois meses depois. O que havia no ensino de TAS que mudara tanto esse homem, a ponto de morrer por fidelidade ao que vira? TAS sempre enfatizou ao máximo a centralidade de Cristo e da cruz na experiência cristã. Tudo o mais se deriva disso. Tudo o que TAS ensinava era para levar seus ouvintes e leitores de volta para o próprio Cristo e para Sua cruz. Nada mais importa. Revista Betel Estudo Bíblico O Que é Novo Nascimento? 17 Sinval T. da Silva O que é nascido da carne, é carne; o que é nascido do espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. João 3:6-7. N ovo nascimento é a doutrina central das Escrituras, a qual o Senhor Jesus deu a devida prioridade. Significa criar de novo, nova criação, nascer do alto, nascer do Espírito. É um acontecimento admirável, surpreendente, maravilhoso, que só Deus pode fazer na vida do pecador. O Novo Nascimento é um milagre realizado em nós, no sentido de mudar a nossa natureza interior, pelo qual o Espírito Santo transmite a vida de Cristo à alma, produzindo os frutos pacíficos da justiça. Elimina o amor e o domínio do pecado e desperta em nosso íntimo um intenso desejo pela santificação. Novo nascimento é um milagre realizado por Deus, no sentido de mudar a natureza interior do ser humano. Milagre é um acontecimento espantoso que não pode ser explicado pelas leis da natureza. Assim como uma cobra não se transforma 18 Estudo Bíblico em vara, um lobo em ovelha, nem um tigre em elefante, a não ser por meio de uma ocorrência miraculosa realizada por Deus, também o homem não nasce de novo, a não ser por um acontecimento sobrenatural realizado pelo poder Deus. A regeneração é uma ocorrência de natureza milagrosa, em que a vida de Cristo é introduzida na alma do pecador, pela ação do Espírito Santo, produzindo nele os frutos da justiça e da santidade. Novo nascimento é estar em Cristo – II Coríntios 5:17. A Escritura diz que Cristo nos deu vida, estando nós mortos em delitos e pecados. Efésios 2:1. A vida de Cristo no ser humano é o maior milagre que se pode ver. Maior, porque dura para sempre. A cura duma enfermidade grave em alguém, de forma milagrosa, só dura enquanto a pessoa vive uma vez morta, o milagre desaparece. Mas, isso jamais pode acontecer com o milagre da regeneração; pois, quem nasce de novo viverá eternamente. Jesus disse: Eu lhes dou a vida eterna, jamais perecerão eternamente... João 10:28. O missionário perguntou ao rapaz se ele era cristão. O moço respondeu: “Estou tentando ser.” O missionário balançou a cabeça em sinal de compaixão, e disse: “Pobre rapaz, por mais que alguém tente nunca será transformado em um cristão”. So- Revista Betel mente a ação poderosa e soberana da graça, pode fazer do pecador um filho de Deus e co-herdeiro com Cristo – Romanos 8:17. Somente Deus pode regenerar o pecador – João 1:13. Novo nascimento segundo afirmou Paulo, é o despir-se do velho homem e o revestir-se do novo, que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou – Colossenses 3:9-10. Novo nascimento é mudança de filiação. O pecador passa da condição de filho da ira – Efésios 2:3, para a condição de filho de Deus – Gálatas 4:6. O vínculo de filiação na família humana, só pode ser por meio do nascimento natural. E o vínculo de filiação na família de Deus, ocorre por meio do nascimento do Espírito: Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber: os que crêem no seu nome. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. João 1:12-13. Assim dizia Stephen Charnock: “A adoção dá-nos o privilégio de filhos, a regeneração a natureza de filhos.” Agora, preste atenção! Não existe salvação sem conversão – Mateus 18:3. Não existe conversão sem novo nascimento – João 3:3. Não existe novo nascimento sem morte de cruz – Romanos 6:3. Não brin- Revista Betel Estudo Bíblico que com este assunto. Peça a Deus o seu novo nascimento agora mesmo. Amanhã pode ser tarde demais. O Senhor Deus adverte a todos, no sentido de darem a devida importância à mensagem do novo nascimento segundo as Escrituras. Assim dizia John Trapp: “Esta verdade precisa ser proclamada, não importa como seja recebida”. O Que Não é Novo Nascimento? Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? João 3:4. Novo nascimento não é a repetição do nascimento natural, conforme pensou Nicodemos. Novo nascimento não é formalismo religioso, nem vida religiosa exemplar, como muitos afirmam. Existem bons religiosos que ainda não foram libertos da sua velha natureza, e precisam nascer de novo: Eles vêm a ti como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põe por obra; pois, com a boca confessam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro. Ezequiel 33:31. Novo nascimento não é rito batismal. A água do batismo não regenera o pecador. O novo homem segundo Deus, procedente da verdade, referido em Efésios 4:24, é aquele que está em Cristo, conforme diz a Escritura: 19 Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Romanos 6:3. Este é o batismo que nos dá o revestimento de Cristo: Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Gálatas 3:27. Novo nascimento não é mudança de denominação. Não é sair de uma igreja ir para outra, como é costume de alguns. Assim como ir à garagem não faz da pessoa um automóvel, ir à igreja não faz do pecador um regenerado: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade. Mateus 7:21-23. Novo nascimento não é educação religiosa, não é curso teológico, nem pós-graduação em teologia. Por detrás de muitos púlpitos existem teólogos que precisam ser regenerados. Assim diziam os antigos puritanos: “Qual púlpito, tais bancos; qual pastor, qual rebanho.” Novo nascimento não é escapar com vida de um acidente trágico, como o povo costuma dizer. O moto- 20 Estudo Bíblico rista perdeu o controle do automóvel em alta velocidade ao passar por um viaduto. O carro desgovernado saiu da pista, voou por cima das árvores e caiu no gramado do outro lado da rua. O motorista não sofreu um só aranhão. O repórter comentando o acidente disse: “Aquele rapaz nasceu de novo!” O nascer de novo segundo o repórter, foi o fato do motorista ter escapado com vida daquele acidente de grandes proporções. A criança caiu do nono andar do edifício onde mora. Ela subiu na janela para ver a mãe que havia descido, quando despencou de uma altura de trinta metros, caindo sobre um monte de ramos que tinham sido cortados do jardim, quebrando apenas um braço. A mãe da criança comentando o acidente, disse: “Meu filho nasceu duas vezes.” Ela referia o nascimento natural do filho e o fato dele ter escapado com vida daquele acidente. Novo nascimento não é reencarnação. Quem afirma que João Batista foi a reencarnação de Elias, está en- Revista Betel ganado, porque Elias nunca desencarnou; ele foi levado vivo para o céu num carro de fogo: Indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. II Reis 2:11. Novo nascimento não é conduta religiosa exemplar. Por mais dotado e refinado que seja o religioso, existe no seu interior uma natureza ímpia que precisa ser tratada em Cristo, na cruz. Além do mais, o homem sem a experiência real de regeneração é completamente cego às verdades espirituais do Evangelho. Todos aqueles que são dotados de boas atitudes e bons costumes, também precisam ser regenerados: Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. João 3:7. Novo nascimento não é filosofia de vida. Não é um código moral. Os códigos morais são importantes, mas não conferem vida a ninguém. Desde Hamurabe até os legisladores contemporâneos, as leis têm falhado. Os homens fazem as leis, mas não conseguem cumpri-las. “Muitos pastores me criticam por ter tomado o Evangelho tão a sério. Mas será que realmente pensam que no Dia do Julgamento, Cristo vai castigar-me, dizendo,” Leonard, você me levou muito a sério’?” -- Leonard Havenhill Revista Betel Riqueza da Graça Negando-se e Seguindo a Cristo 21 D. M. Loyd Jones Ouviste que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Mateus 5:38 O uviste o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; E, ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá quem te pedir, e não te desvies daquele que qui- ser que lhe emprestes. Mateus 5:3842. Ninguém pode por em prática o que o nosso Senhor aqui ilustrou, a menos que já tenha rompido definitivamente consigo mesmo, no tocante ao direito que tem sobre sua própria pessoa, no tocante ao direito de determinar o que fará, e, sobretudo, no tocante ao dever que tem de romper com aquilo que comumente chamamos de “direitos pessoais”. Em 22 Riqueza outras palavras, sob hipótese nenhuma devemos fixar a atenção sobre nós mesmos. Conforme já averiguamos, a maior dificuldade nesta vida é, em última análise, esse constante interesse quanto ao próprio “eu”. E o que o nosso Senhor está inculcando aqui é que nossa tendência deve ser inteiramente eliminada em nós. Precisamos desvencilhar-nos desse pendor de estarmos sempre atentos a qualquer ataque ou insulto, ou seja, estarmos sempre numa atitude defensiva. Era isso que o nosso Senhor tinha em mente. Todas as propensões desta ordem precisam desaparecer; e isso, como é natural, significa que temos de deixar de lado a sensibilidade quanto ao próprio “eu”, essa condição inteira segunda a qual o nosso próprio “eu” está à flor da pele, postado em um tão precário equilíbrio que a mais leve perturbação é capaz de desequilibrá-lo. Sim, é necessário que a nossa atitude cesse inteiramente. A condição acerca da qual nosso Senhor falava aqui reveste-se de natureza tal que torna o crente em alguém que simplesmente não pode ser atingido. Talvez essa seja a maneira mais radical que exista para expressar essa declaração de Jesus. Vemos o que Paulo disse sobre si mesmo, em 1 Coríntios 4:3, onde escreveu: Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por da Graça Revista Betel tribunal humano; nem eu tão pouco julgo a mim mesmo. Paulo entregara toda a questão do seu julgamento aos cuidados de Deus, e, dessa maneira, entrara em estado e condição em que não podia ser atingido. Esse é o ideal que deveríamos ter por alvo – essa indiferença para com o próprio “eu” e seus interesses. Certa declaração feita pelo famoso George Muller, a respeito de si mesmo, parece ilustrar mui claramente esse ponto. Ele escreveu: “Houve um dia em que morri, morri totalmente, morri para George Muller e suas opiniões, preferências e gostos e vontade; morri para o mundo, sua aprovação e censura; morri para a aprovação ou condenação da parte dos meus próprios irmãos e amigos. E, desde então, tenho-me esforçado tão somente para ser aprovado diante de Deus.” Essa é uma assertiva sobre a qual deveríamos ponderar profundamente. Não posso imaginar sumário mais perfeito e adequado do ensaio do Senhor Jesus, neste parágrafo, do que essas palavras de George Muller. Muller foi capacitado a morrer para o mundo, para sua aprovação ou censura, foi capacitado a morrer até mesmo para a aprovação ou censura de seus amigos e mais íntimos companheiros. E também deveríamos observar a ordem de prioridades que Muller Revista Betel Riqueza usou em sua declaração. Em primeiro lugar, ele falou sobre a aprovação ou censura do mundo; em seguida, sobre a aprovação ou censura de seus íntimos amigos. Não obstante, ele declarou haver obtido sucesso em ambos esses aspectos, e o segredo disso, no dizer do Muller, era que ele havia morrido para si mesmo, para o próprio George Muller. Não há que duvidar que em suas palavras encontramos uma bem definida sequencia de valores. O aspecto mais remoto é o mundo; e então figuram os seus amigos e colegas. Contudo, a questão mais dificultosa de todas é o homem morrer para si mesmo, para sua própria aprovação ou censura de si mesmo. Certos grandes artistas encaram com desdém as opiniões do mundo. Por acaso o mundo não aprova a obra deles? “Pois tanto pior para o mundo”, dizem os grandes artistas. “Os homens são tão ignorantes que nada entendem”. Podemos tornar-nos imunes as opiniões das massas populares e das turbamultas, imunes às opiniões do mundo. Entretanto, ainda precisamos levar em conta a aprovação ou a censura daqueles que estão mais próximos de nós, os quais nos são queridos, daqueles que estão intimamente conosco. A opinião desse último é mais altamente valorizada por nós, pelo que também mostramo-nos mais sensíveis da Graça 23 para com essa opinião. No entanto, o cristão deve atingir aquele estágio segundo o qual consegue ultrapassar até mesmo essa barreira, segundo o qual percebe que não se pode deixar controlar por essas questões. Finalmente, o cristão poderá chegar ao último e final estágio, o qual concerne àquilo que um homem pensa sobre si mesmo – sua própria avaliação, sua própria aprovação ou julgamento de si mesmo. Pode-se notar, em muitas biografias, que muitos homens conseguiram libertar-se dessa sensibilidade para com o mundo e para com os seus entes queridos, embora tivesses descoberto que isso envolva uma tremenda batalha, um conflito quase impossível de ser sustentado, em que o indivíduo esforça-se por preocupar-se consigo mesmo e com o juízo que ele faz de si. Mas, enquanto estivermos preocupados com este último estágio, na realidade não estaremos livres do perigo de sermos influenciados por aqueles outros dois aspectos anteriores, que são bem mais fáceis. Por conseguinte, a chave para o completo êxito, de conformidade com George Muller, é que precisamos morrer para nós mesmos. George Muller havia morrido para si mesmo, para as suas opiniões, para as suas preferências, para seus gostos e aversões, para sua própria vontade, enfim. A sua preocupa- 24 Riqueza ção exclusiva, o seu grande ideal, era ser aprovado por Deus. Ora, esse é justamente o ensino de nosso Senhor nesta passagem, onde Ele mostra que o cristão deve atingir um estado e uma condição tais que também possa falar a exemplo do que fez George Muller. O ponto que se segue, como é óbvio, é que somente quem é regenerado pode agir desta maneira. É em relação a isso que encontramos o aspecto doutrinário deste parágrafo. Ninguém pode alcançar esse nível espiritual, a não ser que seja um crente. Temos aí a própria antítese, o oposto do que sucede no caso do homem natural. É difícil imaginar-se qualquer coisa mais afastada daquilo que o mundo geralmente descreve como um cavalheiro. Em consonância com o mundo, um cavalheiro é alguém que se empenha pela sua honra e pelo seu bom nome, chegando a entrar em luta pelos mesmos. Embora um cavalheiro não mais costume desafiar para um duelo àquele que o insultou, no momento em que é insultado, visto estar proibido de tal reação pela lei. Isso é o que ele faria, se pudesse. Essa é a ideia do mundo sobre um cavalheiro e sobre sua honra pessoal; e, nessa atitude, sempre está em foco a autodefesa. Isso aplica-se não somente ao individuo propria- da Graça Revista Betel mente dito, mas também à pátria e a tudo quanto pertence a esse individuo. É indubitável que não incorremos um erro ao dizer que o mundo despreza o homem que não defende esses valores, pois o mundo admira o tipo agressivo de pessoa, aquela pessoa que se impõe aos outros e que está sempre pronta para defender a si mesma e àquilo que denomina de sua honra. Portanto, afirmamos claramente, sem pedir desculpas a quem quer que seja, que ninguém pode colocar esse ensinamento de Jesus em prática se não for um crente autêntico. Um homem precisar ser nascido de novo e ser uma nova criatura, antes que possa viver como tal. ...logo já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:20. Essa é a doutrina do renascimento espiritual. Em outras palavras, é como se o Senhor houvesse afirmado: “Vocês precisam viver dessa maneira, mas não poderão fazê-lo enquanto não tiverem recebido o Espírito Santo e enquanto não houver em vocês uma nova vida. Vocês precisam tornar-se pessoas completamente diferentes; vocês precisam ser totalmente transformados; vocês precisam tornar-se um novo ser”. Extraído do livro Estudos no Sermão do Monte, D. M. Lloyd-Jones, Ed. Fiel. Revista Betel Riqueza da Graça O Folheto Retorna 25 De Vern Fronk Os que com lágrimas semeiam com júbilo seifarão. Salmos 126:5 M uitos dos ricos aristocratas da classe dominante na Inglaterra do século XIX ficaram conhecidos por sua vida de prazeres fúteis. Nessa época alguns cristãos com o encargo de intercessão decidiram esforçar-se em alcançar essa classe considerada superior. É pouco provável que tais pessoas aceitassem um convite para participar de uma reunião evangelística juntamente com membros de classes inferiores. Assim sendo, os intercessores acharam uma solução – enviar folhetos evangelísticos pelo correio. Em uma manhã, assentado à elegante escrivaninha de sua elegante propriedade, um distinto cavalheiro começou a abrir sua correspondência. Dentre as muitas cartas encontrou um envelope branco apenas com o endereço do destinatário. George rasgou o envelope com curiosidade e tirou dali um pequeno folheto. Lendo as primeiras linhas do folheto de forma superficial, identifi- 26 Riqueza cou-o imediatamente como de “teor religioso persuasivo”. “ Que ousadia enviar-lhe tal coisa! Sugerir que ele não iria para o céu? Será que sabiam com quem estavam falando? Ele estava muito bem, obrigado!” De repente, a careta de George transformou-se em um sorriso malicioso. Ele e seu amigo Edward tinham o costume de pregar peças um no outro. Essa ideia era perfeita. Pegou outro envelope, escreveu com letras bem simples o endereço do amigo. “Sim!” divertia-se ele, esse trote pegaria o Edward. Prosseguiu com o plano, enviando o folheto. Alguns dias depois, em outra propriedade a apenas algumas milhas de distancia, Edward abriu o envelope e só leu as primeiras linhas. Sua reação foi exatamente a antecipada pelo amigo. Estava para jogar o folheto no fogo quando num ímpeto recuou. Esse era o momento marcado por Deus. Já que alguém teve o trabalho de enviar o folheto, o mínimo que poderia fazer era lê-lo. Assim, enquanto lia, uma luz parecia resplandecer expondo sua própria pecaminosidade e, ao mesmo tempo, o grande amor de Deus ao enviar Seu Filho para morrer em seu lugar. Ele não ouvia sobre isso desde menino. (Os que plantaram o folheto estavam regando-o). Antes do pôr do sol, naquele mes- da Graça Revista Betel mo dia, Edward assumiu um relacionamento pessoal com o Senhor e confiou nele como Salvador. Seu impulso imediato foi compartilhar a novidade. Para tanto, pegou outro envelope e endereçou-o ao velho amigo George. Ele orou pedindo a Deus que abençoasse o folheto novamente. Imagine o espanto de George! Que coisa irritante. Achou que Edward queimaria o folheto, no entanto, lá estava ele novamente. Fitando a pequena mensagem por um momento, lentamente começou a lê-la. Naquele mesmo dia, ele também se convenceu da necessidade do Salvador e confiou na obra consumada de Cristo. Algum tempo depois ao se encontrarem, os dois juntaram as peças da história do folheto que foi o instrumento usado para que ambos fossem salvos. Não apenas deram boas risadas pela obra providencial de Deus, como também iniciaram um trabalho para levar a outros as Boas Novas. De onde vem o sucesso deste folheto? Podemos aqui observar o encargo e a intercessão de alguns cristãos ao enviar folhetos. Eles não estavam apenas jogando a semente (folhetos), mas também regando com diligencia (orando) para que essas sementes pudessem cair em solo fértil. Revista Betel Riqueza Há atualmente uma grande ênfase no exterior em semear e esperar para a colheita. Sempre me regozijo por isto! Desejaria, contudo, que houvesse o mesmo encargo no ato de regar a semente plantada. Deus de fato prometeu: Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando, enquanto semeia, voltará com júbilo trazendo os seus feixes. Salmos 126:5,6 “Senhor meu, ouço-te perguntar qual foi a última vez que chorei por alguma semente que plantei. Reco- da Graça 27 nheço que regar é muito mais meramente do que o ato de orar! Dizes: Espera em mim com lágrimas até que eu realize o desejo pelo qual tu tens orado. Sim, Senhor, não posso produzir lágrimas, mas posso pedir que tu me concedas a tua própria paixão pelas almas perdidas. Ajuda-me a lembrar de alguém que precise deste livro – alguém a quem possa enviá-lo e regar sua vida com muita oração”. Extraído do livro: A Janela Mais Ampla de Deus, Ed. Tesouro Aberto. Seca-se a erva, e murcha a flor, porque o Espírito do Senhor sopra sobre ela; certamente o povo é erva. Isaías 40:7 O que!? O Espírito, um destruidor!? Eu pensei que ele fosse a fonte da vida. Eu teria esperado que fosse escrito: “seca-se a erva, porque o Espírito do Senhor NÃO soprou sobre ela”. Aqui, pela primeira vez, é dito que o sopro do Espírito dá, não a vida, mas a morte. Sim, mas não é a morte o prelúdio da vida? O que semeias não nasce se primeiro não morrer. 1 Coríntios 15:36. Eu costumava achar estranho que entre os deuses dos hindus houvesse um, adorado como “o Destruidor”; não é o Espírito aqui adorado como o destruidor – o que seca a erva? E não é certo que a erva se secará? Não é a erva o próprio símbolo do desbotamento, o próprio princípio da morte? Dizer que a erva secará não é equivalente a dizer que a morte morrerá? O florescer da carne está matando a palavra do Senhor dentro em mim; para que essa palavra permaneça para sempre, o florescer da carne deve murchar. Qual poder o fará murchar? Qual, senão o Espírito divino? Poderá o sopro que deu vida às águas, fazer outra coisa senão destruir o adversário da sua própria dádiva? Não soprará ele sobre a carne que impede a vida imortal? Não soprará ele sobre a erva que enterra a palavra do Senhor? Ó Tu, Destruidor divino, Tu crucificador do pecado, Tu, abolidor da morte, nós te adoramos. Espírito do Calvário, Espírito do Cristo redimido, sopre sobre o nosso desbotamento para que ele morra. Seque tudo em meu coração que secaria a Tua palavra. Seque o seu orgulho, o seu egoísmo, sua vaidade. Seque a sua malícia, seu ódio, sua inveja, sua crueldade. Seque sua preferência pelo visível e temporal, seu estimar da escória acima do outro. Seque as suas esperanças de ser feliz através do amor próprio, sua expectativa de evitar a miséria através de esquecimento dos outros. Seque a botelha que impede a visão mais ampla, que me impossibilita de ver as desgraças de Nínive. Quando Tu soprares sobre a erva, a mortalidade será tragada pela vida. Quando a flor da carne murchar, a Tua palavra permanecerá para sempre. -- George Matheson, extraído da revista A maturidade. 28 Legado Revista Betel Os Mártires e a Teologia da Prosperidade John Foxe Vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunhobque sustentavam. Apocalipse 6:9 O impiedoso Galério com o seu grande prefeito Asclepíades invadiu a cidade de Antioquia no intuito de, pela força das armas, fazer todos os cristãos renunciar radicalmente à sua pura religião. Naquele dia os cristãos encontravam-se reunidos, e um certo Romano foi correndo anunciar-lhes que os lobos estavam por perto querendo devorar o rebanho cristão. — Mas não tenham medo — disse ele — nem deixem que esse iminente perigo os perturbe, meus irmãos. — Aconteceu então que, pela grande graça de Deus atuando em Romano, velhos e matronas, pais e mães, mancebos e donzelas, mostraram todos a mesma vontade e decisão, estando mais do que dispostos a derramar o próprio sangue em defesa da fé que Revista Betel Legado professavam. Chegou ao prefeito a notícia de que um pelotão de soldados armados não conseguiu arrancar o báculo da fé das mãos da congregação de cristãos, e tudo porque Romano os instigou com tal veemência que eles não hesitaram em oferecer a própria garganta, desejando morrer gloriosamente pelo nome de Cristo. — Encontrem o rebelde — disse o prefeito — tragam-no à minha presença para que ele responda por toda a seita. — Ele foi apreendido e, amarrado como uma ovelha conduzida ao matadouro, foi apresentado ao imperador, que, fixando-o com semblante irado, disse: — Como! És tu o autor da revolta? És tu a causa de tantos perderem a própria vida? Juro pelos deuses que tu hás de pagar caro por isso. Primeiro, na tua carne sofrerás as dores para as quais animaste o coração dos teus colegas. Respondeu Romano: — A tua sentença, ó prefeito, eu a recebo com alegria. Não me recuso a ser sacrificado pelos meus irmãos, por mais cruéis que sejam os meios que tu possas inventar. No que se refere ao fato de que os teus soldados foram repelidos pela congregação cristã, isso apenas aconteceu porque era inadmissível que idólatras e adoradores de demônios entrassem na casa de Deus e poluíssem o lugar da verdadeira oração. 29 Então Asclepíades, absolutamente furioso com essa intrépida resposta, ordenou que Albano fosse amarrado com os braços preso ao corpo e depois eviscerado. Os próprios carrascos, que tinham um coração mais piedoso que o do prefeito, intercederam: — Não pode ser, senhor. Este homem é de uma família nobre. É ilegal submeter um nobre a morte tão ignóbil. — Respondeu o prefeito: — Que seja então flagelado com açoites com pontas de chumbo. — Em vez de lágrimas, suspiros e gemidos, ouviu-se a voz de Albano cantando salmos durante todo o tempo da flagelação, pedindo aos algozes que não o poupassem pela sua nobreza. — Não é o sangue dos meus progenitores — dizia ele — mas sim a profissão de fé cristã que me faz nobre. — As salutares palavras do mártir eram como óleo para o fogo da fúria do prefeito. Quanto mais o mártir falava, mais enlouquecido ele ficava, a ponto de ordenar que as ilhargas do mártir fossem perfuradas a faca até aparecer o branco dos ossos. Quando Romano pela segunda vez pregou o Deus vivente, o Senhor Jesus Cristo, Seu Filho bem-amado, e a vida eterna por meio da fé no Seu sangue, Asclepíades ordenou aos carrascos que lhe esmurrassem a boca até que seus dentes fossem arranca- 30 Legado dos e sua pronúncia acabasse também afetada. A ordem foi cumprida: ele foi esmurrado, suas sobrancelhas foram rasgadas a unha e suas faces perfuradas a faca; a pele da barba foi pouco a pouco arrancada; finalmente, seu belo rosto estava todo deformado. Disse o dócil mártir: — Eu lhe agradeço, ó prefeito, por ter aberto em mim muitas bocas, com as quais posso pregar a Cristo, meu Senhor e Salvador. Veja cada ferida que eu tenho é uma boca louvando e cantando a Deus. O prefeito, assombrado com essa singular constância, ordenou que suspendessem as torturas. Ameaçou o nobre mártir com o fogo cruel, insultou-o e blasfemou a Deus dizendo: — O teu Cristo crucificado não é mais que um Deus de ontem. Os deuses dos gentios são de extrema antigüidade. Nesse ponto Romano, aproveitando a ocasião, fez um longo discurso sobre a eternidade de Cristo, sua natureza humana, e sobre a sua morte e expiação pela humanidade. Em seguida, disse ele: — Dê-me, ó prefeito, uma criança de apenas sete anos, idade isenta de malícia de outros vícios com os quais a idade mais madura geralmente está infectada, e o senhor ouvirá o que ela tem a dizer. — Seu pedido foi aceito. Dentre a multidão chamou-se um Revista Betel menininho que foi colocado diante do mártir. — Dize-me, filhinho — disse ele — se tu achas que há razão para que adoremos a um só Cristo, e em Cristo a um só Pai, ou então para que adoremos a muitos deuses. Ao que o menininho respondeu: — Certamente Aquele que os homens afirmam ser Deus (seja o que for), deve ser um só; e o que lhe é próprio é único. Porque Cristo é único, Cristo é necessariamente o verdadeiro Deus, pois nós crianças não podemos acreditar que existam muitos deuses. A essa altura o prefeito, tomado de puro espanto, disse: — Tu, jovem vilão e traidor, onde e de quem aprendeste essa lição? — De minha mãe — disse a criança. — Com seu leite suguei a lição de que devo crer em Cristo. Chamou-se a mãe, e ela de bom grado se apresentou. O prefeito ordenou que a criança fosse pendurada e açoitada. Os condoídos espectadores desse ato impiedoso não conseguiam controlar as lágrimas. Apenas a mãe, exultante e feliz, a tudo assistia com as faces secas. Na verdade, ela repreendeu o seu doce filhinho por implorar um gole de água fria. Disse-lhe para ter sede da taça da qual outrora beberam os infantes de Belém, deixando de lado o leite e as papinhas de suas mães. Ela o encorajou a lembrar- Revista Betel Legado -se do pequeno Isaque que, vendo a espada com a qual seria abatido e o altar sobre o qual seria queimado em sacrifício, de boa mente apresentou o tenro pescoço ao golpe da espada do seu pai. Enquanto era dado esse conselho, o sanguinário algoz arrancou o couro do alto da cabeça do menino, com cabelo e tudo. Gritou então a mãe: — Aguenta, filhinho! Logo tu verás Aquele que te enfeitará a cabeça nua com uma coroa de glória eterna. — A mãe consola, a criança sente-se consolada; a mãe anima, o menininho sente-se animado e recebe os açoites com um sorriso no rosto. O prefeito, percebendo que a criança era invencível e sentindo-se derrotado, mandou o abençoado menininho para a fétida masmorra e deu ordens para que as torturas de Romano, principal autor destas maldades, fossem repetidas e intensificadas. Assim, Romano foi trazido outra vez para novos açoites, devendo os castigos ser renovados e aplicados sobre as suas velhas feridas. O tirano já não aguentava mais; era necessário apressar a sentença de morte. — É penoso para ti — disse ele — continuar vivo por tanto tempo? Não tenhas dúvida de que uma flamejante fogueira será em breve preparada. Nela tu e aquele menino, 31 teu companheiro de rebelião, sereis consumidos e transformados em cinza. — Romano e o menininho foram conduzidos para a execução. Ao chegarem ao local escolhido, os carrascos arrancaram o filho da sua mãe, que o tomara nos braços. A mãe, limitando-se a beijá-lo entregou a criancinha. — Adeus! — disse ela — Adeus, meu doce filhinho. Quando tiveres entrado no reino de Cristo, lá no teu abençoado estado lembra-te da tua mãe. — E enquanto o carrasco aplicava a espada ao pescoço da criancinha, ela cantou assim: “Todo louvor do coração e da voz Nós te rendemos Senhor. Neste dia em que a morte deste santo Recebes com muito amor.” Tendo sido cortada a cabeça do inocente, a mãe a envolveu em seu vestido e a segurou no colo. Do lado oposto, uma grande fogueira foi acesa na qual Romano foi atirado. No mesmo instante desabou uma grande tempestade. Finalmente o prefeito, sentindo-se confuso diante da força e coragem do mártir, deu ordens rigorosas para que ele fosse reconduzido à prisão, onde deveria ser estrangulado. Depois de ler uma história como esta, de mártires que desprezaram sua própria vida por amor a Cristo, de uma mãe alegre ao ver 32 Legado seu filho ser honrado com as marcas de Cristo, você ainda consegue pregar o evangelho que você prega? Você ainda consegue pregar um evangelho de paz, felicidade e sucesso terrenos? Você consegue afirmar que eles não tiveram fé o suficiente para decretar dias melhores? Você consegue viver esse mes- Revista Betel mo cristianismo que você diz viver? A porta é estreita; O caminho, apertado; O chão, coberto de sangue; Tire seus calçados; o lugar que você pisa é santo. Extraído de: O Livro dos Mártires Por amor de ti somos entregues à morte continuamente. Salmos 44:22 Davi não chegou ao trono até que, nas cavernas dos filisteus, onde ele foi perseguido como um cão pelo enfurecido Saul, ele não tivesse morrido inumeráveis mortes. Os Salmos, tão adaptados à aflição humana, não poderiam ter existido senão pela crucificação interior do coração do doce cantor de Israel, proporcionadas pelas enraivecidas perseguições de Saul. Jeremias morreu milhares de mortes enquanto chorava sobre o povo escolhido. Jonas é lançado ao mar e tragado por “um grande peixe” – ainda assim não foi trazido para fora completamente depurado de seu Eu. Em época alguma o povo de Deus chegou ao ápice da realização espiritual, à glória da inquebrantável comunhão com o Altíssimo, sem ter a “vida do eu”, “a vida da carne”, trazida ao pó da morte. -- F. J. Huegel “Por todo o caminho meu Salvador me conduz; Que tenho eu para pedir, além disso? Posso duvidas de sua misericórdia, Que, através da vida, tem sido meu guia? Paz celestial, o mais divino conforto, Aqui, pela fé, Nele habitar! Pois sei que tudo que me suceder, Jesus faz bem todas as coisas.” -- Fanny Crosby “Cristo precisa ser exaltado e elevado bem alto em nossos corações, para que a nossa carne ingovernável e seus caprichosos anseios sejam sujeitados.” -- Robert Chapman Revista Betel Legado A Morte é o Portão da Vida 33 I. Lilias Trotter Insensatos! Oque semeia não nasce, se primeiro não morrer. 1 Coríntios 15:36 H ouve uma profunda percepção nestas antigas palavras. Porque o pensamento natural do homem a respeito da morte é o de um triste fim, em degeneração e decomposição. E ele está correto, do seu ponto de vista, pois a morte, como punição do pecado, é um fim. Porém, é bastante diferente o pensamento de Deus na redenção do mundo. Ele toma a própria morte, que entrou com a maldição, e a torna em caminho de glória. A morte se torna um começo, em vez de um fim, pois ela se torna o meio de liberação de uma nova vida. Assim sendo, a esperança que reside nessas lições de morte e vida em forma de parábolas, tem significado somente para aqueles que se voltam em direção a Ele, para a redenção. Para aqueles que não se voltaram, a morte permanece inevitável, irrevogável, em toda a sua terrível sentença. Para estes não há nenhum raio de luz que venha através dela. “A morte de cruz – a hora triun- 34 Legado fante da morte – este foi o ponto onde o portão de Deus se abriu. É a este portão que nos achegamos vez após vez, à medida que a nossa vida se desenrola e é através dele que passamos, ainda aqui na terra, para a nossa jubilosa ressurreição, para uma vida cada vez mais abundante, pois a cada momento o morrer é ainda mais profundo. A vida cristã é um processo de livramento de um mundo para outro e a “morte”, como em verdade tem sido dito, é o único caminho para fora de qualquer mundo em que estejamos”. “A morte é o portão da vida”. É assim que ela é vista por nós? Temos nós aprendido a descer uma vez e outra ao amontoado das suas sombras, em tranquilidade e confiança, sabendo que há sempre “uma melhor ressurreição” além? É nos estágios do crescimento de uma planta, no seu desabrochar, florescer, e na produção de sementes, que essa lição veio a mim; a lição da morte em seu poder libertador. Ela veio não como meras imagens extravagantes, mas como uma das muitas vozes com as quais Deus fala, trazendo força e alegria do seu Santo lugar. Não podemos traçar o sinal da Cruz na primeira insinuação da nova aurora da primavera? Em muitos ca- Revista Betel sos, como no caso da castanheira, antes que uma única velha folha perca o brilho, os brotos do ano seguinte podem ser vistos, no cume dos ramos e dos galhos, formados à sua própria semelhança; em outros, os brotos das folhas parecem levar as suas marcas ao se romperem através da haste vermelho cor de sangue. De volta aos primeiros estágios da planta, o toque carmesim deve ser encontrado nas folhas com sementes, nos novos brotos e até mesmo nos brotos escondidos. Olhe para o fruto do carvalho, por exemplo, quando ele quebra a sua concha e veja como o broto da árvore leva sua marca de nascença: é o vermelho cor de sangue, através do qual o aspecto do raio solar surge, saindo das trevas, e o sol nasce saindo da noite. As próprias estrelas, a ciência nos diz, reluzem com esta mesma cor ao nascerem, no universo, das antigas estrelas que morrem (Prof. Huggins). Que seja também verdadeiro no mundo da graça, assim como é na natureza, que cada alma que entra na verdadeira vida, leve no seu princípio este selo carmesim; deve haver o “aspergir do Sangue de Jesus Cristo” individual. Que cada alma saia através do Portão da Cruz. E aqui está o indispensável. A morte é o único caminho para fora do mundo de condenação em que Revista Betel Legado residimos. Encerrados neste mundo, é vã qualquer batalha para sair dele por esforço próprio; nada pode revogar o decreto: a alma que pecar, esta morrerá. Ezequiel 18:4 A única escolha que resta é esta: ou será a nossa própria morte sob a antiga liderança de Adão, segundo todo o significado que Deus dá a essa palavra, ou será a morte de outro em nosso lugar, sob a liderança de Cristo. É quando chegamos ao desespero, quando nos sentimos 35 imobilizados esperando a nossa ruína, que a glória e a beleza do caminho de escape divino, amanhecem sobre nós, e nos submetemos a Ele neste caminho. Toda a resistência se quebra, à medida que a fé se firma no fato: Ele me amou e se entregou por mim. Recebemos a expiação tão duramente ganha, e saímos para dentro da vida, não somente perdoados, mas purificados e justificados. Extraído da revista À maturidade. “Deus é amor, e aquele que tem aprendido a viver no Espírito de amor, tem aprendido a viver e habitar em Deus”. -- Andrew Murray “Você não pode glorificar a Deus de uma forma melhor, do que tendo uma vida calma e alegre. Se você está em dificuldades, não deixe ninguém ver que o problema toca seu espírito; ou melhor, não deixe que ele aflija seu espírito. Descanse em Deus e mantenha-se em louvor a Ele”. -- C. Spurgeon “A alma tem de chegar ao ponto de descobrir que não existe nada em que ela possa se apoiar, a não ser a profunda bondade de Deus”. -- J.N. Darby “Só de pensar em Ti, Jesus, De doçura enche o meu coração; Mas bem mais doce será ver a Tua face E em Tua presença descansar!” -- Bernard of Clairvaux 36 Legado Dedicação a Deus Revista Betel Evan H. Hopkins Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrificio vivo, santo e agradável a Deus. Romanos 12:1 E ntendemos que o crente que aspira por santidade, tenha sido levado diante de Deus nesta integridade de coração; que ele esteja pronto, mediante qualquer custo, a renunciar tudo o que minimamente impede a comunhão de sua alma com Deus. Este estado de mente é essencial para a verdadeira consagração. É vão requerer a plenitude do Seu amor e do Seu Espírito enquanto eu estiver abrigando desejos ilícitos ou iniquidade em meu coração. Se eu no co- ração contemplar a vaidade, o Senhor não me teria ouvido (Sl 66:18). Não haverá verdadeira Dedicação a Deus enquanto estiver faltando sinceridade no coração; sem ela, o crente não estará preparado para considerar o tema da Dedicação a Deus. Na Dedicação temos o ato de apresentar o sacrifício, e o altar onde o sacrifício é oferecido. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto Revista Betel Legado racional (Rm 12:1). Nesta palavra “apresentar” traduzida como “oferecer” em Rm 6: 13-16-19 nós temos o pleno significado de Dedicação. Assim como a palavra “renúncia” expressa a ideia central de separação do pecado, assim também nos “oferecer” a Deus é a soma e substância do tema que estamos agora considerando. Deste modo, a palavra traduzida como “apresentar” foi usada para descrever o ato de por o animal do altar em brasas. Ela expressa o significado de completa resignação à vontade de Deus. Uma resignação que não hesita e que não retrocede mediante o sofrimento, e que tampouco é perpassada por aflição autoimposta. A vontade própria é submetida à Vontade de Deus. Mas, quais são as características deste sacrifício dedicado a Deus? Ele tem que ser um sacrifício Vivo. Apresentar um animal morto como oferta era uma abominação ao Senhor – segundo a lei levítica. Deste modo, agora, na Consagração, a oferta que Deus requer não é uma alma “morta em seus delitos e pecados”, mas uma alma revificada pelo Santo Espírito, e que se tornou co-participante da Vida de Deus através de Cristo - “um sacrifício vivo”. Isto nós temos que assumir plenamente. Estamos nos dirigindo àqueles que encontraram Vida em Cristo, que creram 37 Nele para a justificação, àqueles que viram a Sua suficiência. Relembramos que o animal apresentado em sacrifício não devia ser apenas vivo. A lei requeria que ele não tivesse qualquer defeito. Se ele fosse defeituoso, doente ou débil, não podia ser apresentado ao Senhor. Ele deveria estar vivo e saudável. O que isto nos ensina? Seguramente isto aponta para o que é essencial para a verdadeira consagração. Vida não é tudo o que Deus requer. Todo crente é uma alma vivificada – ele tem Vida em Cristo. Mas, todo crente é uma alma saudável? A Vida de Cristo está sendo manifestada nele? Existe muito cristão enfermo, cujo vigor espiritual foi destruído como resultado da sua conformidade com o mundo; carentes daquela integridade de coração, a qual, renuncia o pecado em todas as suas formas. No momento em que descartamos aquelas coisas que ofendem o Espírito, a Nova Vida, manifestando todo seu vigor, começa a preencher a alma com saudável alegria, e então, nos tornamos prontos para agradavelmente obedecer a exortação do Apóstolo. O crente agora está pronto – apresentado. Em Cristo e por Cristo, ele está judicialmente completo diante de Deus. Mas, o Apóstolo está exortando o crente a fazer em sua vida aqui na terra, o que Cristo está 38 Legado fazendo, agora, por ele no céu. Tem que ser um ato pessoal e voluntário; uma completa rendição de si mesmo a Deus - em espírito, alma e corpo. Mas como pode ser ele um sacrifício, santo e aceitável a Deus? Ele não tem santidade em si mesmo! Ainda que ele sinceramente renuncie todo pecado, mesmo assim ele está cheio de imperfeições – cheio de pecado. Isto nos leva a considerar o Altar no qual o crente é oferecido. Quando pensamos de Cristo como um sacrifício, então, o altar é um tipo de Cruz na qual ele sofreu. Mas, quando pensamos do crente como uma oferta, o altar é Cristo. Cristo, como oferta pelo pecado é o nosso Substituto. Lá Ele está sozinho. Mas, como oferta queimada, os Seus membros são feitos semelhantes a Ele - são feitos participantes Com Ele. Então, sobre Cristo como altar, a alma do crente é apresentada e, o altar é que santifica a oferta (Mt 23:19). E o altar será santíssimo; tudo o que o tocar será santo (Ex 29:37). É verdade que sob a lei, toda coisa assim consagrada será santíssima ao Senhor (Lv 27:28). Assim, o crente que apresenta a si mesmo como sacrifício vivo a Deus é Santo e Aceitável Nele, em razão dos méritos infinitos e das gloriosas perfeições do Divino Altar no Revista Betel qual ele é oferecido. E o que é verdade quanto ao corpo como um todo, tem que ser verdade também em relação a cada membro deste corpo. O crente oferece todos os seus membros a Deus como instrumentos de justiça. Não somente a si mesmo, mas cada um dos seus membros. Oferecei-vos a Deus ... e seus membros, a Deus, como instrumentos de justiça (Rm 6:13). Todo instrumento, plenamente separado do pecado, é agora dedicados a Deus. Os olhos, os ouvidos, a boca, as mãos, os pés, são todos postos no altar de Deus. Cristo nos comprou e nos redimiu, por isso, não somos mais de nós mesmos, mas Dele. Ele agora mora Em nós pelo Seu Espírito. Renda-se a Ele. Permita que Ele, não somente esteja em você, mas viva em você. Permita que Ele olhe com os olhos Dele, fale com Seus lábios, trabalhe com Suas mãos e ande com Seus pés. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo? (1Co 6:19).A necessidade desta renúncia de coração de todo pecado conhecido, e a total rendição ou dedicação a Deus, estão entre os principais obstáculos à vida de santidade em muitos daqueles que acreditamos estarem preparados para serem discípulos de Cristo. Revista Betel Legado Uma Linha Escura na Face de Deus 39 William MacCallun Clow Que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até à terceira e quarta geração. Êxodos 34:7 C ompaixão é a mais alta qualidade moral que se conhece. A história das injustiças sofridas pelas pessoas indefesas levam os homens à mais elevada indignação moral. Rumores da existência de fome em qualquer lugar longínquo, levando-nos a pensar em rostos de homens e mulheres esqueléticos e famintos e no pranto de crianças desnutridas evocam a nossa benevolência. A miséria do pobre nas ruas de nossas grandes cidades, com a sua limitada expectativa de vida, desperta a ternura no coração e a sensibilidade para a questão social. O animal mudo, sobrecarregado com um peso excessivo, sofrendo com os açoites do chicote, dissuade o mais ocupado dos homens, constrangendo-o a reparar o erro. O cristianismo tem em si um aspecto favorito de Cristo. Isto é, a compaixão de Jesus. (Mateus 14:14). Esta piedade move-se como uma onda em todos os nossos pensamentos. Ela influencia os homens e mulheres na escolha de suas pro- 40 Legado fissões. A cura do enfermo é o mais reconhecido e o mais honrado de todos os serviços. Compaixão é a emoção dominante na literatura e na arte. Os livros idílicos que levam homens e mulheres às lágrimas são vendidos aos milhares. A pintura que apela à nossa ternura é visitada por multidões. Em parte alguma a influência desta prevalente têmpera é mais evidente, nos seus mais amplos efeitos, do que na Teologia. “Ela tem modificado os nossos conceitos sobre Deus.” Os Homens, tal como Moisés, quando ouvem o nome do Senhor ser proclamado: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade a transgressão e o pecado, escutam a mensagem com corações ansiosos e com brilho nos olhos. Mas, quando a voz continua, e diz: ainda que não inocenta o culpado e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, eles ficam assustados. Eles não olham firmemente para este lado obsuro na face de Deus. Eles fixam seus olhares para baixo, para a sua negligência dos dias passados, em que, na estreiteza dos seus corações perceberam o caráter de Deus como se fosse algo errôneo e imperfeito. Eles agora se desviam do Deus de poder infinito e de pureza infinita, para declarar Revista Betel que Deus é somente piedade infinita. Esta linha escura não pode ser deixada de fora. É falso à razão e à revelação, e é degradante ao caráter de Deus apagar esta linha. Olhemos para este fato nesta manhã. Primeiramente, podemos estar certos de que é uma linha na face de Deus. Em segundo lugar, entrando em seus significados e, em terceiro, aprender porque tantas mentes recusam ver a sua verdade e se alegrarem com sua beleza. I Então, para começar, considere a prova desta linha escura; que não inocenta o culpado. Note-se, em princípio, como é claro o testemunho da Escritura. No primeiro relato bíblico no qual Deus tratou com o homem; a história do Jardim, que prenuncia todo o Seu amor e Graça, nós a vemos na face de Deus. Adão e Eva são postos para fora do Éden e o anjo com a espada flamejante guarda todas as vias que dão acesso à árvore da vida. É a primeira declaração de que Deus não irá, de modo algum, inocentar o culpado. E novamente, quando o dilúvio deixou a terra desolada, vemos a primeira visitação de vingança à desesperada, impenitente e deliberada corrupção. A história nos é contada com uma notável sere- Revista Betel Legado nidade. A cena que nos leva a refletir sobre aquela irresistível e acelerada avalanche arrebatando suas vítimas é descrita em simples e poucas linhas. É a ação de Deus que, por nenhum meio, inocenta o culpado. Ou quando nos posicionamos onde Abraão estava, no alto do monte olhando as cidades na planície, e ouvindo o clamor delas e os seus pleitos a Deus, vemos como ele subavaliou o fato de que a face de Deus podia ser tão determinada contra aqueles que praticam o mal. Mas, a fumaça que vai subindo de Sodoma e Gomorra, obscurecendo o azul da manhã, essa fumaça proclama esta linha escura a Abraão. Tomem-se os registros de julgamentos ao longo dos séculos: A destruição dos corruptos cananitas, os julgamentos severos dos juízes semibárbaros, a escravidão e o exílio do incrédulo Israel, sem falar das penalidades de Deus aplicadas a Esaú e Saul e Davi - todas enfatizando esta verdade inexorável; Aquela profecia pronunciada por Jesus nos últimos dias do Seu ministério, anunciando a desgraça que cairia sobre a Cidade Santa que Ele amava, e sobre o Templo que era a casa do Seu Pai; Cristo na Cruz do Calvário foi o testemunho mais evidente da inescapável verdade de que, Deus por meio algum inocenta o culpado, e visita a 41 iniquidade dos pais sobre os filhos. As páginas da história registram indelevelmente uma verdade sobre a qual todos os historiadores seculares estão certos: de que o castigo do julgamento não perdoa e não esquece nada. Quando eles visitam as ruínas dos Reinos do oriente que pereceram; quando contam a história do declínio e queda dos orgulhosos impérios do ocidente - o esplendor da Grécia, os restos da grande Roma, os espólios da gloriosa França, eles enfatizam a verdade de que não há alívio para os que erram. Nas esferas menores da vida esta verdade é também tanto evidente como também apavorante. O médico que leva você às partes internas de um hospital pode permanecer em silêncio, mas ele conhece as causas vergonhosas de muitas das doenças que ele não tem poder para curar. O magistrado pode dizer a você do juízo que ele faz das fontes de miséria e sofrimentos que são lançadas diante dele como destroços em uma praia. Um professor pode falar com discernimento sobre a natureza do ultraje, da violação da lei e da certeza da penalidade. O romancista e o moderno estudante que examinam os desígnios de Deus e os caminhos dos homens são mais enfáticos do que um professor cristão quanto à terrível certeza da vingança. Eles estão de tal maneira, dominados 42 Legado por essa verdade natural, que ficam cegos para outras que são leis de Deus. Mas, passemos a uma situação mais particular. O que significa aquela aguda e profunda dor que causa humilhante impotência, que desafia a mente e que provoca náuseas em uma alma no caminho da santidade? Pode ser impossível traçar um caminho às origens de toda impotência e dor, mas, falando de modo mais claro, todo sofrimento é fruto de algum pecado. A angústia, tal como um anjo vingador, espreita a transgressão com a sua sombra. O inocente neste mundo, pelo fato da raça humana ser uma unidade divina, frequentemente sofre com a culpa. Muitas vezes um duro golpe recai sobre aqueles que não são responsáveis pelo erro. Violações da lei podem ser punidas até mesmo por um erro. Os homens sobre os quais a Torre de Siloé desabou não eram mais pecadores do que os outros homens, mas o homem que construiu a Torre com argamassa inconsistente era o culpado. O homem que havia nascido cego, não cometeu pecado, nem tampouco seus pais, mas em algum lugar, no curso dos acontecimentos, uma lei foi quebrada. A criança que é introduzida na vida em um corpo disforme, com restrições mentais, obscurecida em espírito, não cometeu nenhum pecado, mas a sua debilidade e sofrimen- Revista Betel to são provas terríveis de que Deus não inocenta o culpado, e que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos. Marcante no ensino de Jesus; Eu não preciso incomodá-lo com referências ao ensino de Cristo aplicável a esta vida. É difícil encontrar uma parábola sem esta ênfase. Quando Ele disse ao homem paralítico, não peques mais, para que não te suceda coisa pior, ele expressou a verdade em uma frase inesquecível. Mas, os mais convincentes e definitivos dizeres de Jesus são aqueles que afirmam que esta linha escura na face de Deus continua nos dias vindouros. Ele expressa grave advertência a respeito das trevas exteriores, do fogo eterno, da porta fechada, do choro, do pranto e do ranger de dentes. Você sabe como os homens se afastam destas afirmações decisivas; tiram conclusões precárias de suas palavras e constroem esperanças tratando as Palavras de Cristo de modo reticente. A mente oriental procura no Nirvana o refugio do medo intolerável em uma sucessão interminável de vidas infelizes. Os pensadores ocidentais têm procurado escapar da poderosa mensagem de Cristo formulando suposições inacreditáveis. Eles inventaram a doutrina do purgatório; uma crença segundo a qual, as chamas da dor e da triste- Legado Revista Betel za podem aperfeiçoar os homens; fato este que a disciplina e a Graça de Deus falharam em fazê-lo aqui e agora. Eles dizem que nas parábolas de Cristo sobre julgamento, o fogo inextinguível, o verme que nunca morre, as trevas exteriores e o ranger de dentes são somente figuras; que são rudes representações usadas para indicar verdades espirituais por meio de imagens terrenas. Mas, esse tipo de raciocínio é inútil. Elas são figuras, mas elas revelam significados. Essas palavras declaram que a pena espiritual é mais angustiante do que qualquer dor material que possamos conceber. Quanto mais transcendente for o poder de nossa imaginação, mais severa poderá ser a mensagem ao nosso coração. Qualquer um que for honesto com o ensino de Jesus verá que Ele estava afirmando que Deus não pode, por nenhum meio, inocentar o culpado. Não podemos ter qualquer esperança de que Deus será condescendente com o pecado. II Considere, em segundo lugar, os significados desta linha escura na face de Deus. Você já deve ter visto algum rosto humano no qual, à primeira vista, havia traços severos e desagradáveis. Porém, na medida em que você tomou conhecimento dos 43 significados que estavam por trás daquelas linhas, elas deram àquele rosto uma força, uma distinção e charme. Essa linha escura faz com que Deus seja maravilhosamente belo. O seu primeiro significado é: Sua justiça inflexível. Ela declara que Deus não trata o erro com capricho ou variações, não fazendo concessões nem mesmo ao que lhe é mais caro. Ela declara que Deus é inabalavelmente justo e imparcialmente justo para com os homens. O desejo por justiça é a mais profunda raiz do coração. Você tem conhecimento do estado das pessoas que vivem governadas por tiranias? Qual é a primeira necessidade daqueles que vivem submetidos a esse tipo de governo opressivo? O fraco é oprimido, o trabalhador defraudado, a viúva é despojada, a ovelha do homem pobre lhe é confiscada para fartar a mesa festiva do homem rico. A violência e a extorsão ocupam as posições mais elevadas. O assassino escapa ao julgamento. Os ricos corrompem a justiça. Em todos os lugares podem ser vistas faces passivas e desesperadas de homens que perderam o coração e a esperança. O que eles querem? Eles clamam por um juiz que julgue com retidão; um juiz que não se deixa influenciar e que nenhum suborno possa seduzi-lo; um juiz que seja 44 Legado inflexivelmente justo. Você pode ouvir o eco do clamor do oprimido manifestado pelo Salmista: alegrem-se os céus, e a terra exulte; ruja o mar e a sua plenitude. Folgue o campo e tudo o que nele há; regozijem-se todas as árvores do bosque, na presença do Senhor, porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade. Salmos 96:11-13. A verdadeira esperança da presença Daquele que é inflexivelmente Justo faz a natureza muda vocalizar a sua alegria. Porquanto, as criaturas selvagens e mesmo a natureza muda sofre, sob a injustiça tanto quanto o homem. Agora podemos olhar para aquela linha escura e ver a sua beleza. Podemos ver que Justiça é o mais nobre dos atributos em Deus; muito mais do que uma generosidade. Podemos ver que, mesmo a misericórdia não é para ser exercida em prejuízo da justiça. Porém, estejamos quietos, tranquilos e reverentes porque Deus é sobremaneira mais justo, e age segundo a sua perfeita justiça, e não como o nosso coração indulgente ao pecado poderia fazê-lo em sua débil imparcialidade: Inocentar o culpado. O seu segundo significado é: Sua ira contra o pecado. As linhas de ira, assim como as linhas de tristeza, não se apresentam em curvas risonhas. Revista Betel A linha mais escura em um rosto humano é aquela que vem carregada de cólera, aflição e tristeza. Não é diferente com a face de Deus. Em muitos rostos humanos podemos ver marcas do amor ultrajado; são marcas de ira inflamada e severa, por isso, não podemos nos surpreender com essa linha escura na face graciosa de Deus. Você é um pai cujo filho caiu no vício do alcoolismo? Você é uma mãe que descobriu que a filha está praticando secretamente e voluntariamente alguma transgressão? Talvez fosse mais satisfatório ver seus filhos ainda em tenra idade numa sepultura e sofrer solidão ao longo da vida, do que ver a santidade deles ultrajada pelos seus pecados. Quanto mais agradáveis são aquelas faces que experimentaram tristezas diante de sepulturas, do que aquelas que tomaram conhecimento da vergonha que provoca a flama da ira! Sir Walter Scott representou essa verdade em seu romance O coração de mid-Lothian. Ele descreve as características graves e solenes de David Deans, como as de homens que falam muito com Deus. Quando tomou conhecimento dos fatos referentes à sua filha, as linhas severas do seu rosto evidenciaram muita angústia. Ele manifesta esperanças de que ela seja inocente do crime de que é acu- Revista Betel Legado sada, mas quando as evidências aparecem de modo convincente, linhas severas de ira santa são vistas na sua face robusta. Homens que olhavam para ele, ainda que com olhos desatentos, podiam entender o quanto a ira pode ser sombria quando manifestada com tristeza e aflição. Para a sua outra filha que temia falar com ele em sua exasperada indignação, ele diz: “Ela nos deixou porque não era uma de nós; deixe que ela tome o seu rumo. O Senhor se revela no Seu próprio tempo. Ela é uma criança e pode não suportar a solidão. Mas, nunca mais pronuncie o seu nome entre nós”. Nenhuma ira humana contra o pecado, seja qual for a nobreza do coração que a sente, pode se assemelhar à ira de Deus. Mas, ira divina, no seu ponto mais elevado, se assim podemos dizer, não pode por qualquer meio inocentar o culpado. O terceiro significado é: Seu desejo apaixonado por santidade. Aqui temos o significado mais profundo. Onde existe somente justiça e ira, não há lugar para misericórdia e cura, mas onde habita o apaixonado desejo por santidade, há esperança até mesmo para o pior dos homens. O anjo com a espada flamejante não é somente um anjo de vingança. Ele é o anjo que sustenta as almas errantes e tentadas nos altos e austeros caminhos, dos quais seus pés podem 45 se desviar. As águas do dilúvio não somente pune o culpado. Elas purificam a terra para o povo de Deus. Os Cananitas foram expulsos, não somente por um ato de vingança às suas sujas obscenidades. Deus queria um santuário ao Seu serviço. Esta linha na face de Deus é mais escura quando ela vê o pecado dos que são Seus, em razão da sua paixão por santidade. A expectativa exasperante diante da possibilidade de Seus filhos caírem no pecado faz com que apareça esse traço escuro na face de Deus. III Agora, vamos aprender porque muitos se recusam a ver a verdade e a beleza dessa linha escura. A razão é que uma das verdades predominantes do caráter de Deus é negligenciada – O que causa inquietação mais profunda em Deus não é o sofrimento, mas sim, o pecado. Sob o poder da dominante emoção da compaixão, nós fixamos nossos olhos no sofrimento de tal modo que, escapar e impedir o sofrimento torna-se o principal objetivo a ser realizado nesta vida à favor do homem. Mas Deus não trata sofrimento dessa maneira. Ele não aflige voluntariamente e de bom grado. Mas, se Deus desconsiderasse o sofrimento, como os homens pen- 46 Legado sam que Ele o faz, este mundo, com os seus incessantes gemidos de dor e sofrimento, seria incompreensível. Quanto ao nosso pecado, Deus faz muito mais do que apenas sentar ao nosso lado e lamentar. Ele permite que o sofrimento continue, pois ele faz com que a dor, a angústia e as lágrimas sejam seus Ministros. Mas, o pecado é um peso progressivo em Seu coração, e o Seu rosto torna-se cada vez mais escuro. Por isso, Ele exerce toda sabedoria e todo amor para remover a maldição do pecado e destruir o seu poder. Se os homens seguissem os caminhos do Senhor em vez de estarem ocupados com os pecados do mundo, os sofrimentos deste mundo diminuiriam dramaticamente. Existe um lugar, e apenas um lugar, onde há libertação de todas essas coisas. Esse lugar chama-se Calvário. Lá Deus viu o Seu filho enfermar até a morte, mas não viu Nele nenhuma palavra, nenhum gesto que denotasse ira. Em lugar nenhum, a não ser na Cruz, pode ser visto de modo mais significativo e expressivo o fato de que Deus, por nenhum meio, ino- Revista Betel centa o culpado. Em nenhum outro lugar, a não ser no Calvário, pode ser constatado de modo mais absoluto o fato de que Deus visita a iniquidade dos pais nos filhos, porquanto na Cruz Ele lançou os pecados dos homens sobre o Filho do Homem. Na Cruz nós vemos aquela linha escura na face de Deus e entendemos a Sua justiça, a Sua aflitiva ira e o seu anseio apaixonado por santidade. Vemos o que o profeta, em uma visão verdadeira, admiravelmente descreveu: Na verdade, ele carregou nossas doenças, e nossas dores, ele sofreu;contudo, nós o consideramos culpado, castigado e afligido por Deus. Mas ele foi ferido por nossas transgressões; esmagado por nossos pecados; a disciplina que nos corrige recaiu sobre ele, e por suas feridas somos sarados. Isaías 53: 4-5. Se não houvesse a linha escura na face de Deus, não teria existido nenhuma Cruz. O que Jesus viu quando estava morrendo foi essa linha em uma face amorosa, escurecida pela ira ao pecado do homem. Glasgow-Escócia (1908)- Traduzido por Dorival Zemunner. “Como Deus se alegra com a alma que, rodeada de sofrimento e miséria, realiza na terra aquilo que os anjos fazem no céu; a saber, ama, adora e louva a Deus!” -- G. Tersteegen 47 Revista Betel Associação Betel A Associação Betel é uma entidade juridicamente organizada, sem quaisquer vínculos denominacionais ou fins lucrativos, mantida por recursos advindos de colaboração espontânea de pessoas que apóiam seus objetivos, cujo fim é viabilizar a pregação do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Os objetivos da Associação Betel: a) Apoiar missionários e pregadores (uma vez confirmados em seus compromissos com a verdade do Novo Nascimento pela nossa morte e ressurreição com Cristo) para a pregação do Evangelho de Cristo; b) Produzir e adquirir literatura e material evangelístico para uso dos missionários e dos grupos por eles atendidos, como: folhetos, livretos, estudos dirigidos, livros evangelísticos, Bíblias, fitas de áudio e afins; c) Assistência Social, sempre vinculada ao Evangelismo, pois “a fé sem obras é morta em si mesma”. A Associação Betel é mantida por colaborações espontâneas de pessoas físicas ou jurídicas, que apóiam seus objetivos. São basicamente pessoas regeneradas, contribuintes muitas vezes anônimos, mas que se fazem participantes da pregação, para que também outras pessoas, até mesmo por eles desconhecidas, possam gozar da mesma graça e esperança. São aqueles que compreendem com amor e dedicação as Palavras do Senhor Jesus Cristo: “Indo por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura”. 48 Revista Betel CNPJ 72219207/0001-62 Produção: Associação Betel Diagramação e fotos dos artigos André Henrique Santos Impressão Idealiza Gráfica REVISTA BETEL é uma publicação trimestral que visa a edificação dos cristãos. Contém artigos e estudos bíblicos centrados na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Esta publicação é sustentada por doações voluntárias de irmãos em Cristo e distribuída aos leitores gratuitamente. 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