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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Anais do IX Congresso
Brasileiro de Cirurgia e
Anestesiologia Veterinária
Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Jornal Brasileiro de Ciência Animal - JBCA
Búzios-RJ, 28-31 de outubro de 2010
Jornal
Brasileiro
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Ciência
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SEÇÃO 3 - ARTIGOS
COMPLETOS
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SUMÁRIO
1. AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA CONCENTRAR
PLAQUETA EM CÃES ......................................................................................................8
2. AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA CONCENTRAR
PLAQUETAS NO GATO .. ............................................................................................. 12
3. INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA LAPAROSCÓPICA POR DOIS DIFERENTES
ACESSOS EM OVINOS ............................................................................................ 16
4. EFEITOS SISTÊMICOS E ANALGÉSICOS DAS INJEÇÕES EPIDURAIS DE
METADONA OU CETAMINA EM EQUINOS ............................................................ 20
5. EFEITOS BENÉFICOS DA SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA 7,5% SOBRE A
RESPOSTA INFLAMATÓRIA E A DISFUNÇÃO ORGÂNICA NO TRATAMENTO
INICIAL DA OBSTRUÇÃO INTESTINAL E ISQUEMIA EXPERIMENTAL ................ 24
6. HÉNIAS UMBILICAIS EM BEZERRAS NELORE PROVENIENTES DE FIV: RELATO
DE 31 CASOS ........................................................................................................... 28
7. CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E FENOTÍPICA DE CÉLULAS-TRONCO
MESENQUIMAIS DE EQUINOS ............................................................................... 31
8. EFEITOS DA DETOMIDINA E XILAZINA INTRAVENOSA EM BOVINOS................ 34
9. DIFERENCIAÇÃO CONDROGÊNICA DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS DE
EQUINOS ...................................................................................................................37
10. AVALIAÇÃO
DE
SOBREVIDA,
ALTERAÇÕES
GENITOURINÁRIAS,
COMPORTAMENTAIS E DE PESO CORPÓREO NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO
EM CADELAS E GATAS SUBMETIDAS À OVARIOSALPINGO-HISTERECTOMIA
SOB DIFERENTES MÉTODOS DE LIGADURA DO PEDÍCULO OVARIANO ..........40
11. DESCOMPRESSÃO
DO
NÚCLEO
DA
CABEÇA
FEMORAL
EM
CÃES
PORTADORES DE NECROSE ASSÉPTICA: DOIS CASOS ................................... 44
12. ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE LESÕES ÓSSEAS CRIADAS NA PORÇÃO
PROXIMAL DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDOS À IRRADIAÇÃO COM LASER
TERAPÊUTICO DE BAIXA INTENSIDADE (INGAALP: 670NM/30MW) NAS FASES
AGUDAS E CRÔNICAS .............................................................................................49
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13. ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDAS
À OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E IRRADIADAS COM LASERTERAPIA
(INGAALP: 670NM/30MW) NA FASE AGUDA E CRÔNICA DA LESÃO ................. 53
14. ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDA À
OSTEOTOMIA
POR
ESCAREAÇÃO
E
TRATADA
COM
DECANOATO
DE
NANDROLONA ..........................................................................................................57
15. COMPARAÇÃO ENTRE OVARIECTOMIA POR LAPAROTOMIA, VIDEOASSISTIDA
E TOTAL VIDEOLAPAROSCÓPICA EM OVELHAS DA RAÇA SANTA INÊS ......... 54
16. MODELO DE TRAUMA MEDULAR CONTUSIVO EXPERIMENTAL PARA RATOS
PROMOVE LIBERAÇÃO AGUDA DE GLUTAMATO* .............................................. 57
17. INFLUÊNCIA
DE
DIFERENTES
NÍVEIS
DE
PEEP
NOS
PARÂMETROS
CARDIOPULMONARES DE SUÍNOS SUBMETIDOS À PRESSÃO DE INSUFLAÇÃO
INTRATORÁCICA ..................................................................................................... 61
18. EMPREGO DE DUAS NOVAS TÉCNICAS DE REDUÇÃO DE PROLAPSO VAGINAL
EM VACAS................................................................................................................. 65
19. PENECTOMIA COMO TRATAMENTO DE PROLAPSO PENIANO EM JABUTI DE
PATAS VERMELHAS (GEOCHELONE CARBONARIA) ATENDIDO NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DA ULBRA: RELATO DE CASO ...................................................... 72
20. USO DE ÂNCORA NA REDUÇÃO ABERTA DA LUXAÇÃO COXOFEMORAL.
RELATO DE CASO ……………………………………………………………………….. 77
21. OSTEOSSÍNTESE DE CABEÇA UMERAL EM PRIMATA ALOUATTA FUSCA
CLAMITANS: RELATO DE CASO ............................................................................ 80
22. TÉCNICA CIRÚRGICA PARA IMPLANTAÇÃO DE CÂNULA EM FORMA DE T NO
ÍLEO TERMINAL DE SUÍNOS ................................................................................. 84
23. INTERVENÇÃO CIRÚRGICA EM CÃO (CANIS FAMILIARIS) COM HIPOSPADIA
PERIANAL – RELATO DE CASO ............................................................................. 87
24. CRIPTORQUIDECTOMIA EM EQUINOS A CAMPO: ANESTESIA, PROCEDIMENTO
CIRÚRGICO E IMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS (2000 A 2010) ..................... 90
25. OVARIOSALPINGO-HISTERECTOMIA
POR
NOTES
TRANSVAGINAL
EM
CADELAS .................................................................................................................. 94
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26. AVALIAÇÃO HISTOMORFOMÉTRICA E DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE
MENISCOS FRESCOS E PRESERVADOS EM GLICERINA 98%.
ESTUDO
EXPERIMENTAL EM COELHOS ……………………………………………………….. 98
27. PADRÃO ULTRASSONOGRÁFICO DO PARÊNQUIMA, MEDIASTINO E TÚNICAS
TESTICULARES EM BOVINOS JOVENS DA RAÇA NELORE ............................. 103
28. INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DENTÁRIO NAS CARACTERÍSTICAS DO LÍQUIDO
SINOVIAL
DA
ARTICULAÇÃO
TEMPOROMANDIBULAR
EM
EQUINOS
.................................................................................................................................. 107
29. TRATAMENTO DA PITIOSE EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE
PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA COM ANFOTERICINA B ...................... 110
30. ANESTESIA DE RATAS SUBMETIDAS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO OVARIANO
PELO USO DO TRIBROMOETANOL OU ASSOCIAÇÃO DE XILAZINA/CETAMINA
.................................................................................................................................. 115
31. PLATAFORMA DE FORÇA NO PADRÃO ORTOSTÁTICO EM CÃES .................. 119
32. AVALIAÇÃO CLÍNICA E BIOMECÂNICA PÓS-OPERATÓRIA DA ARTICULAÇÃO
COXOFEMORAL EM CÃES .................................................................................... 122
33. CASUÍSTICA DAS LESÕES TRÁUMATO-ORTOPÉDICAS NO PERÍODO DE
FEVEREIRO DE 2007 A JUNHO DE 2010 NO SETOR DE CIRURGIA ORTOPÉDICA
DE
PEQUENOS
ANIMAIS
DO
HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
DE
MEDICINA
VETERINÁRIA PROFESSOR FIRMINO MÁRSICO FILHO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSE (HUVET-UFF) ................................................................ 125
34. CORREÇÃO CIRÚRGICA DE FENDA PALATINA SECUNDÁRIA EM UM EQUINO
COM USO DE MEMBRANA BIOLÓGICA ............................................................... 130
35. AVALIAÇÃO MACRO E MICROSCÓPICA DE NERVOS ULNARES DE EQUINOS
APÓS
NEUROTOMIA
E
DEPOSIÇÃO
DE
FRAÇÃO
DE
CÉLULAS
MONONUCLEARES DA MEDULA ÓSSEA ............................................................ 135
36. MASTECTOMIA RADICAL A CAMPO EM VACA – RELATO DE CASO ............... 139
37. AVALIAÇÃO CIRÚRGICA E LABORATORIAL DA UTILIZAÇÃO DE PERICÁRDIO
HOMÓLOGO EM LESÕES POR ABRASÃO EM SEROSA DE CÓLON MAIOR
(FLEXURA PÉLVICA) DE EQUINOS ...................................................................... 145
38. OVARIO-HISTERECTOMIA PELO FLANCO DIREITO EM GATA – RELATO DE
CASO E DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA ................................................ 148
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39. CIRURGIAS
ONCOLÓGICAS
REALIZADAS
EM
PEQUENOS
ANIMAIS
NO
HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFMG ENTRE 2007 E 2009 ................................. 153
40. TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA CORREÇÃO DE INSTABILIDADE VERTEBRAL
CERVICAL EM UM POTRO .................................................................................... 159
41. BLOQUEIO DO NERVO ALVEOLAR MANDIBULAR INFERIOR UTILIZANDO
LIDOCAÍNA A 2%, EM GATOS ................................................................................162
42. LAVAGEM PERITONEAL EM UMA ÉGUA COM PERITONITE SECUNDÁRIA A
RUPTURA UTERINA – RELATO DE CASO ............................................................167
43. CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS COM PLASMA RICO EM PLAQUETAS NA
REPARAÇÃO DE DEFEITOS CRÍTICOS EM CALVÁRIA DE CAMUNDONGOS .. 171
44. INFARTO ÓSSEO ASSOCIADO À OSTEOSSARCOMA: RELATO DE CASO ...... 175
45. ULTRASSOM TERAPÊUTICO E LASER DE BAIXA POTÊNCIA NO TRATAMENTO
DE ABSCESSOS EM EQUINOS ............................................................................. 179
46. AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E SEGURANÇA DO MELOXICAM COMPRIMIDO EM
GATOS .................................................................................................................... 183
47. BUSCA ATIVA COMO MÉTODO DE DETECÇÃO DE INFECÇÃO DO SÍTIO
CIRÚRGICO NA CLÍNICA DE CÃES E GATOS DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA ................................................................ 185
48. RECUPERAÇÃO
FUNCIONAL
EM
CÃES
COM
DOENÇA
DO
DISCO
INTERVERTEBRAL SEM PERCEPÇÃO À DOR PROFUNDA SUBMETIDOS AO
TRATAMENTO CIRÚRGICO: 11 CASOS (2006-2009) .......................................... 189
49. USO DO SULFATO DE ATROPINA NA RESSUSCITAÇÃO DE NEONATOS
CANINOS SUBMETIDOS À CIRURGIA CESARIANA – AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE
APGAR NEONATAL ................................................................................................ 193
50. EFEITO TERAPÊUTICO DE DOIS PROTOCOLOS SOBRE AS LESÕES REMOTAS
DERIVADAS DA SÍNDROME ISQUEMIA E REPERFUSÃO INTESTINAL EM
COELHOS .. .............................................................................................................198
51. AUTOMUTILAÇÃO POR SÍNDROME DA CAUDA EQUINA EM UM CÃO: RELATO
DE CASO ……………………………………………………………………………….... 201
52. AVULSÃO DO TENDÃO CALCANEAR COMUM EM CÃO – RELATODE CASO .. 204
53. ANESTESIA
NO
PACIENTE
COM
TRAUMATISMO
CRANIOENCEFÁLICO
SUBMETIDO À CRANIOTOMIA: RELATO DE CASO ............................................ 208
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54. FOSFATASE ALCALINA SÉRICA X EXAMES RADIOGRÁFICOS EM LESÕES
OSTEOCONDRAIS DE COELHOS TRATADAS COM CÉLULAS MONONUCLEARES
E PROTEÍNA MORFOGENÉTICA ÓSSEA .......................... 210
55. MIOTOMIA CRICOFARÍNGEA PARA CORREÇÃO DE DISFUNÇÃO ESOFÁGICA
EM CÃO: RELATO DE CASO ................................................................................. 214
56. NEFRECTOMIA
VIDEOLAPAROSCÓPICA
PARA
TRATAMENTO
DE
DIOCTOFIMOSE EM CÃO – RELATO DE CASO .................................................. 217
57. REPARAÇÃO DE LESÕES INTERDIGITAIS EXPERIMENTAIS EM BOVINOS
EMPREGANDO EXTRATO DE BARBATIMÃO A 5% ............................................ 220
58. ESTUDO
RETROSPECTIVO
DE
689
CASOS
DE
DOENÇAS
OCULARES
ATENDIDAS NO MUNICÍPIO DE UBERABA-MG .................................................. 224
59. PREVALÊNCIA DAS NEOPLASIAS CANINAS, DIAGNOSTICADAS POR EXAME
HISTOPATOLÓGICO, NA REGIÃO DE UBERABA ............................................... 227
60. OSTEOSSARCOMA EXTRAESQUELÉTICO CANINO – RELATO DE CASO ...... 233
61. PROTEÍNA C REATIVA COMO FATOR DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO EM
CADELAS COM E SEM PIOMETRA SUBMETIDAS À OVÁRIOSSALPINGOHISTERECTOMIA ................................................................................................... 237
62. ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE ABDOMEN AGUDO EQUINO NO
HOSPITAL VETERINÁRIO DE GRANDES ANIMAIS - UNB/SEAPA, NO PERÍODO
DE 2001 A 2009 ...................................................................................................... 241
63. RUPTURA
DO
LIGAMENTO
CRUZADO
CRANIAL
EM
CÃES:
ESTUDO
RETROSPECTIVO (2000 - 2010) ........................................................................... 245
64. EMPREGO DO EXTRATO DA CASCA DO BARBATIMÃO NA CICATRIZAÇÃO DE
LESÕES DE DERMATITE DIGITAL EM FÊMEAS BOVINAS DE APTIDÃO LEITEIRA
.................................................................................................................................. 249
65. EDEMA PULMONAR DE REEXPANSÃO (EPR) APÓS CORREÇÃO CIRÚRGICA DE
HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA PERITÔNEO PERICÁRDICA EM CÃO: RELATO DE
CASO ....................................................................................................................... 253
66. OSTEOSSÍNTESE DE FRATURA METAFISÁRIA DISTAL EM BUGIO (ALOUATTA
CARAYA) – RELATO DE CASO ............................................................................. 254
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AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA
CONCENTRAR PLAQUETAS EM CÃES
HEMATOLOGICAL
EVALUATION
OF
TUBE
METHOD
FOR
CONCENTRATING
DOG
PLATELETS
SILVA,
R.
F.1,
2;
CARMONA,
J.
U.2;
PAES
LEME,
F.
O1;
REZENDE,
C.
M.
F.1
Palavras-chave: plaquetas, cães, hematológico
Key words: platelet, dogs, hematological
Introdução
Um dos campos da medicina, entre outras áreas na cirurgia veterinária, que
mais expectativas tem levantado nos últimos anos é a terapia regenerativa,
principalmente o uso de células-tronco derivadas de tecido gorduroso e a utilização de
concentrados autólogos de plaquetas (APCs). Este último se apresenta como uma
possibilidade economicamente viável e que oferece resultados promissores como
fonte de diversos fatores de crescimento que modulam a inflamação e a cicatrização
tissular. Os APCs são formados por plaquetas, leucócitos, plasma e fatores de
crescimento obtidos do sangue total pela separação celular diferencial das distintas
fases, o que permite obter aquela de maior interesse1. No cão descrevem-se dois
métodos para obtenção do APC: o método do tubo3, 5 e o método semi-automático do
dispositivo SmartPReP 2 system8. O método do tubo é de fácil realização, e são
descritos vários protocolos para obter APCs, em sua grande maioria mediante
centrifugações duplas e utilizando citrato de sódio como anticoagulante.
Metodologia
Para o presente trabalho foram utilizados 12 cães adultos da raça Fila
Brasileiro, seis machos e seis fêmeas. O sangue foi obtido mediante venopunção
cefálica com scalpe para vácuo 21 G e coletado em tubos vacutainer de uso
comercial de 10 mL com solução de ácido cítrico – citrato de sódio – dextrose (ACD)
em relação 1,5:8,5 com o sangue. O sangue foi submetido a uma única centrifugação
a 191 g por 6 minutos. Retiraram-se com micropipeta de volume fixo de 1000 µL os
primeiros 100 µL de sangue e os primeiros 900 µL de plasma, abaixo e acima da
interface sangue - plasma, respectivamente. A contagem celular dos APCs foi feita
por impedância volumétrica num analisador hematológico automático. Para cada
amostra foram feitas três contagens, tomando-se como valor amostral a média, a qual
foi comparada com o hemograma de sangue total de cada animal. Os valores
hematológicos foram comparados mediante o teste t pareado, apresentando-se como
média e erro padrão da média. Realizou-se o coeficiente de correlação de Pearson
1
Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos 6627, Caixa Postal 567, CEP
30123-970. Belo Horizonte, MG.
2
Grupo de Investigación Terapia Regenerativa, Departamento de Salud Animal, Universidad de Caldas, Calle 65 No
26-10, Manizales, Caldas, Colombia. [email protected]
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para determinar o grau de associação entre o numero de plaquetas no APC (PLTAPC) e os números de leucócitos (WBC), linfócitos (LYM), monócitos e alguns
eosinofilos (MID), neutrófilos – eosinofilos - basófilos (GRA), hemácias (RBC) em
sangue total, também entre estas células sangüíneas no sangue total e no APC.
Resultados
Os valores do sangue total e do APC demonstraram diferenças altamente
significativas (p<0,01) nas contagens celulares absolutas de WBC, MID, GRA, RBC e
PLT, mas não nos LYM (tabela 1). Também não houve diferenças entre o sexo e a
idade dos animais e as contagens celulares na hematologia. Encontrou-se correlação
fortemente negativa (ρ = -0,702) significativa (p = 0,11) entre o numero de linfócitos e
de plaquetas presentes no APC (tabela 2) e não houve correlação com RBC.
Tabela 1. Resultados gerais das contagens hematológicas / µL em sangue total e nos
concentrados autólogos de plaquetas de cães da raça Fila Brasileiro (apresentam-se
os dados como média - erro padrão da média)
Variável
Sangue total
Concentrado Autólogo
de Plaquetas
PLT (fragmentos x 103 / 345.3 (44.93) a
515.9 (60.74) b
µL)
PCV %
44,2 (1,96) a
3,97 (1,14) b
WBC (células x 103 / µL)
16.6 (2.08) a
6.9 (0.48) b
LYM (células x 103 / µL)
5.05 (1.45) a
3.07 (0.27) a
LYM%
26,6 (4,01) a
46,6 (5,76) b
MID (células x 103 / µL)
0.79 (0.22) a
0.275 (0.04) b
MID%
4,2 (0,58) a
3,9 (0,50) a
GRA (células x 103 / µL)
10.7 (0.93) a
3.6 (0.54) b
GRA%
69,3 (4,19) a
49,2 (5,53) b
PLT, plaquetas; PCV, hematócrito; WBC, leucócitos; LYM, linfócitos; MID,
macrófagos e alguns eosinófilos; GRA, neutrófilos eosinófilos basófilos. Médias
seguidas de letras distintas diferem significativamente pelo teste de t (p<0,01)
Tabela 2. Coeficientes de correlação de Pearson (ρ) entre a contagem de plaquetas
nos APCs e as outras contagens hematológicas / µL em sangue de cães da raça Fila
Brasileiro
Variável
ρ
P
PLT
0,946**
0,000
MID
0,819**
0,001
GRA
0,797**
0,002
LYM-APC
- 0,702* 0,011
WBC
0,602*
0,038
LYM-APC, número de linfócitos no concentrado autólogo de plaquetas. *
Correlação significativa ao nível 0,05. ** Correlação significativa ao nível 0,01
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Discussão
O principal objetivo desta pesquisa foi desenvolver um protocolo de
centrifugação simples em tubo para obter APCs de cães. Por exemplo, Jensen y col
(2004) descreveram uma metodologia utilizando tubos com EDTA e, mediante
centrifugação única, obtinham um incremento de plaquetas e leucócitos de 670%
(1.884.000 PLT/µL) e 720% (64.200 WBC/µL), respectivamente. A nossa metodologia
permite concentrar uma quantidade menor de plaquetas, mas a concentração de
leucócitos é 58% inferior. Além disso, o uso de APCs com EDTA poderia provocar
lesões estruturais, bioquímicas e funcionais às plaquetas10. Existem outros reportes
que descrevem o uso do citrato de sódio como anticoagulante2, 3, 4, 11 para concentrar
plaquetas em cão, mediante dois episódios de centrifugação, cujo produto final dê
oscilo entre 400.000 a 1.300.000 PLT/µL. Nestas pesquisas, as plaquetas foram
contadas manualmente (microscopia óptica) e sem apresentar nenhuma outra
informação hematológica das características do APC. O método do nosso estúdio
com uma única centrifugação concentra valores dentro do rango descrito para com
duas centrifugações. Lei y col (2009) concluíram que a qualidade do APC está
estreitamente relacionada com o anticoagulante empregado e, que nesse contexto, o
uso de ACD é superior ao uso de citrato de sódio ou heparina. O anterior representa
uma vantagem para o método descrito neste trabalho. A quantidade de plaquetas que
se concentram com o método avaliado poderia ser suficiente para produzir efeito
biológico (clínic
o)9. É necessário lembrar que o mais importante de um método para concentrar
plaquetas não é concentrar altos números delas, mais sim obter plaquetas vivas e
inativas7.
Conclusão
Com base nestes resultados, conclui-se que a metodologia empregada permite
concentrar plaquetas de cão em níveis suprafisiológicos que poderiam ser aceitáveis
para uso terapêutico na cirurgia veterinária. Ainda a metodologia utilizada não
mostrou redução na quantidade absoluta de linfócitos associados com a concentração
de plaquetas quando comparada com as contagens no sangue total.
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Universidade Federal de Minas Gerais. Protocolo n° 125/2009.
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AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA
CONCENTRAR PLAQUETAS NO GATO
HEMATOLOGICAL
EVALUATION
OF
TUBE
METHOD
FOR
CONCENTRATING
CAT
PLATELETS
SILVA,
R.
F.3,
4,
CARMONA,
J.
U.2;
MANTOVANI,
P.
F.1;
PAES
LEME,
F.
O1;
REZENDE,
C.
M.
F.1
Palavras-chave: plaquetas, gatos, hematológico
Key words: platelet, cats, hematological.
Introdução
O gato, a cada dia, ganha um espaço muito importante dentro da prática de
clinica cirúrgica na medicina veterinária. Justamente na área de cirurgia veterinária,
um dos campos que mais expectativas têm levantado nos últimos anos é a terapia
regenerativa, principalmente o uso de células-tronco derivadas de tecido gorduroso e
a utilização de concentrados autólogos de plaquetas (APCs), apresentando-se este
último como uma possibilidade economicamente viável e que oferece resultados
promissores como fonte de diversos fatores de crescimento que modulariam a
inflamação e a cicatrização tissular. Na medicina veterinária, os APCs têm sido
utilizados em cirurgia alveolomaxilar8, 9, 14, cirurgia ortopédica6, associação com
enxertos e implantes3, 15, cicatrização de feridas7, transportador de fármacos,
tratamento de úlceras gástricas – úlceras cutâneas crônicas – úlceras corneais e
regeneração de nervos periféricos1, mas até o dia de hoje não existem relatos sobre o
seu potencial uso na clínica cirúrgica do gato. Os APCs são formados por plaquetas,
leucócitos, plasma e fatores de crescimento e obtidos do sangue total pela separação
celular diferencial das distintas fases, o que permite obter aquela de maior interesse2 .
No gato existem pouquíssimos relatos sobre a metodologia a utilizar para obter APCs.
Metodologia
Para obtenção do APC foi feita venopunção jugular com scalpe para vácuo 21
G, em 12 gatos adultos sem raça definida, seis machos e seis fêmeas. O sangue foi
coletado em tubos vacutainer de 10 mL de uso comercial, com solução de ácido
cítrico – citrato de sódio – dextrose (ACD), em relação 1,5:8,5 com o sangue. O
sangue foi submetido a uma única centrifugação a 85 g por 6 minutos. Retiraram-se
com micropipeta de volume fixo de 1000 µL, os primeiros 100 µL de sangue e os
3
Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos 6627, Caixa Postal 567, CEP
30123-970. Belo Horizonte, MG.
4
Grupo de Investigación Terapia Regenerativa, Departamento de Salud Animal, Universidad de Caldas, Calle 65 No
26-10, Manizales, Caldas, Colombia. [email protected]
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primeiros 900 µL de plasma, abaixo e acima da interface sangue - plasma,
respectivamente. A contagem celular do APC foi feita por impedância volumétrica num
analisador hematológico automático. Para cada amostra foram feitas três contagens,
tomando-se como valor amostral a média, a qual foi comparada com o hemograma de
sangue total de cada animal. Os valores hematológicos foram comparados mediante o
teste t pareado, apresentando-se como média e erro padrão da média. Realizou-se o
coeficiente de correlação de Pearson para determinar o grau de associação entre o
numero de plaquetas no APC (PLT-APC) e o numero de leucócitos (WBC), linfócitos
(LYM), monócitos e alguns eosinófilos (MID), neutrófilos – eosinófilos – basófilos
(GRA), hemácias (RBC) em sangue total, também entre estas células sangüíneas no
sangue total e nos APCs.
Resultados
Não se encontraram diferenças entre o sexo e a idade dos animais para os
valores hematológicos avaliados. Os valores do sangue inteiro e do APC
demonstraram diferenças significativas (p<0.01) nas contagens celulares absolutas de
WBC, MID, GRA, RBC e PLT, mas não nos LYM (tabela1). As correlações
encontradas se apresentam na tabela 2.
Tabela 1. Resultados gerais das contagens hematológicas / µL em sangue total e nos
concentrados autólogos de plaquetas de gatos (apresentam-se os dados como média
- erro padrão da média)
Variável
Sangue total
Concentrado Autólogo
de Plaquetas
PLT (fragmentos x 103 / 412.33 (49.59) a
1021.50 (111.55) b
µL)
PCV %
33,86 (1,39) a
2,11 (0,36) b
WBC (células x 103 / µL)
10.18 (0.84) a
6.59 (0.78) b
LYM (células x 103 / µL)
2.95 (0.37) a
3.71 (0.57) a
LYM%
29,73 (3,22) a
55,80 (4,53) b
MID (células x 103 / µL)
0.63 (0.07) a
0.26 (0.03) b
MID%
6,15 (0,44) a
4,35 (0,52) b
GRA (células x 103 / µL)
6.62 (0.67) a
2.64 (0.41) b
GRA%
64,13 (3,08) a
39,98 (4,19) b
PLT, plaquetas; PCV, hematócrito; WBC, leucócitos; LYM, linfócitos; MID, macrófagos
e alguns eosinófilos; GRA, neutrófilos eosinófilos basófilos. Médias seguidas de letras
distintas diferem significativamente pelo teste de t (p<0,01)
Tabela 2. Coeficientes de correlação de Pearson (ρ) entre a contagem de plaquetas
nos APCs e as outras contagens hematológicas / µL em sangue de gatos
Variável
ρ
P
PLT
0,734**
0,007
GRA
0,007
0,731**
* Correlação significativa ao nível 0,05. ** Correlação significativa ao nível 0,01
Discussão
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Mesmo que os autores não tenham encontrado pesquisas sobre obtenção de
APCs o PRP com finalidades terapêuticas no gato, existem reportes sobre métodos
manuais para concentrar plaquetas felinas e avaliar in vitro o efeito de substâncias
agregantes e antiagregantes. Nestes estudos se empregou citrato de sódio 3,8%
como anticoagulante e incluíram-se diferentes protocolos de centrifugação que
oscilaram entre 150 e 200 g e entre 10 e 20 min4,5, 10, 11,12, 13, 15. Nessas pesquisas, não
se apresentaram dados sobre o número de plaquetas concentradas nem outra
informação hematológica das características dos concentrados de plaquetas. Por este
motivo, os autores consideram que a presente pesquisa representa um aporte ao
campo da hematologia felina com utilidade clínica no campo da medicina
regenerativa. Tem-se encontrado que a qualidade de um APC pode estar
estreitamente relacionada com o anticoagulante empregado na sua elaboração (Lei y
col 2009). Por exemplo, os concentrados de plaquetas elaborados com ACD são de
superior qualidade em relação aos concentrados de plaquetas obtidos com citrato de
sódio ou heparina. Esta situação aporta uma vantagem do método descrito neste
trabalho.
Conclusão
Com base nos resultados, conclui-se que a metodologia empregada permite
concentrar plaquetas de gato em níveis suprafisiológicos que poderiam ser aceitáveis
para uso terapêutico na cirurgia veterinária, muito embora a metodologia utilizada não
tenha diminuído a quantidade absoluta de linfócitos nos APCs e comparada com as
contagens no sangue total.
Referências
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preparation rich in growth factors (PRGF) in different medical fields. Biomaterials.
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prostaglandin endoperoxide analogues. Br J Pharmac 78: 287-292.
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study. J. Equine Vet. Sci. 27: 167-170
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plasma gel promotes differentiation and regeneration during equine wound healing.
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Nogueira Filho G, Nociti JRFH, Sallum EA. 2007. Platelet-rich plasma does not
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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dogs. Int. J. Oral Macillofac. Surg. 36: 132-136.
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bioactive glass foams associated with platelet-rich plasma in bone defects. J Tissue
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Aggregation by the Complement-Derived Peptides C3a and C5a. NaunynSchmiedeberg's Arch Pharmacol 295: 71-76.
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treated With Bio-oss: a pilot study in the dog tibia. Oral Surg Oral Med Oral Pathol
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Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal – CETEA –
Universidade Federal de Minas Gerais. Protocolo n° 125/2009.
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INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA LAPAROSCÓPICA POR DOIS
DIFERENTES ACESSOS EM OVINOS
INTRAUTERINE INSEMINATION BY TWO DIFFERENT LAPAROSCOPIC ACCESS
IN SHEEPS
FERANTI,
J.P.S.5;
BRUN,
M.V.6;
ZANELLA,
E.7;
MESSINA,
S.A. 8;
GUIZZO
JÚNIOR,
N.4;
SANTOS,
F.R.9;
BRAMBATTI,
G.5;
Palavras-chave: videolaparoscopia, ruminante, útero.
Key words: videolaparoscopy, ruminant, uterus.
Introdução
Uma das maneiras de se intensificar o melhoramento genético é o uso de biotécnicas
da reprodução. Dentre elas, a inseminação artificial se destaca por proporcionar maior
amplitude de resultados, já que poucos reprodutores selecionados produzem sêmen
suficiente para a grande quantidade de fêmeas que reproduzem anualmente. Verificase que os resultados obtidos a partir da deposição de sêmen congelado na vagina são
pobres quando comparados à aplicação diretamente na luz uterina de ovinos 1. Apesar
de bem definidas as vantagens da inseminação laparoscópica em ovinos quando
comparada à via transvaginal, com ou sem dilatação cervical com o uso de fármacos2,
ainda justifica-se a busca por um procedimento minimamente invasivo que possa
ocasionar menor desconforto trans e pós-operatório e com adequados resultados em
relação aos índices de prenhez. Nesse panorama, o presente trabalho objetiva relatar
os resultados obtidos a partir da inseminação laparoscópica intrauterina com o uso de
agulha espinhal em ovinos por dois diferentes acessos.
Metodologia
Foram realizadas quatro etapas de inseminações (E1), (E2), (E3) e (E4), todas em
datas distintas. Utilizou-se em todas as etapas um total de 80 ovinos fêmeas, da raça
Sulfock, com peso médio estimado de 80 kg, submetidas a diferentes protocolos de
sincronização de cio. O total de animais foi separado em dois grupos: (G1) e (G2). No
(G1) 44 ovinos foram colocados em mesa metálica confeccionada para procedimentos
de inseminação em ovinos, a qual permite a manutenção do animal em decúbito
5
Acadêmico
do
curso
de
Medicina
Veterinária
da
Universidade
de
Passo
Fundo
–
UPF,
bolsista
de
iniciação
científica
Pibic/CNPq.
Passo
Fundo,
RS.
[email protected]
6
Professor
da
UPF;
professor
do
Mestrado
em
Medicina
de
Pequenos
Animais
da
Universidade
de
Franca
(Unifran)
–
São
Paulo
–
SP.
7
Professor
da
UPF.
8
Médico
veterinário
do
Hospital
Veterinário
da
UPF.
9
Acadêmico
do
curso
de
Medicina
Veterinária
da
UPF.
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dorsal, com ou sem cefalodeclive (posição de Trendelemburg). Já no
G2, os 36 animais foram colocados em um brete de contenção metálica,
confeccionado especialmente para esse estudo, o qual permitia a contenção do
animal em posicionamento quadrupedal. No G1, introduziu-se agulha de Veress na
linha média ventral por uma incisão promovida na metade da distância entre o púbis e
a cicatriz umbilical, a partir da qual a cavidade foi insuflada com CO2, até se obter a
pressão de 12mmHg. Após a introdução do primeiro portal (5 mm) no mesmo local,
posicionou-se o paciente em Trendelemburg e realizou-se a introdução do segundo
portal sob visualização direta. Um dos cornos uterinos foi apreendido com pinça de
Kelly e tracionado ventralmente, permitindo a escolha do local de introdução do
sêmen. Para tanto, empregou-se agulha espinhal descartável, introduzida através da
pele e parede muscular até alcançar a luz uterina. Aplicou-se, com seringa
hipodérmica de 1ml, aproximadamente 0,25ml de sêmen por corno uterino. Em todos
os casos foi utilizado sêmen de único doador, congelado na forma de pellet, com a
concentração espermática viável estimada em 50x106/0,5ml. No G2, após a assepsia
cirúrgica e colocação de campos plásticos, introduziu-se a agulha de Veress na
parede abdominal lateral direita por uma incisão promovida na metade da distância
entre a linha dorsal e a linha mamária e entre o ponto médio desde a última costela e
a protuberância ilíaca. A partir desse acesso, a cavidade foi insuflada com CO2 até se
obter a pressão de 12mmHg. Após a introdução do primeiro portal (5mm) no mesmo
local, realizou-se o posicionamento do segundo portal sob visibilização direta. Um dos
cornos uterinos foi apreendido com pinça de Kelly e tracionado lateralmente,
permitindo a escolha do local de introdução do sêmen. Empregou-se agulha espinhal
descartável aplicada através da pele e parede muscular até alcançar a luz uterina.
Aplicou-se, com seringa hipodérmica de 1 ml, aproximadamente 0,5 ml de sêmen no
corno uterino direito sob visibilização direta. Na E1 realizou-se avaliação
ultrassonográfica aos 55 dias de pós-operatório, na E2 realizaram-se aos 57 dias, na
E3 e E4 não foram realizadas as avaliações ultrassonográficas, sendo considerados
apenas os resultados trans e pós-operatórias imediatos.
Resultados e Discussão
Na primeira etapa (E1), os procedimentos foram realizados em 13,76+7,88min.,
ocorrendo complicações em três ovinos quanto à obtenção do pneumoperitônio,
sendo necessária mais de uma punção com a agulha de Veress para obter a
insuflação adequada. Dos 21 animais inseminados, 19 foram utilizados para
considerar a taxa de prenhez e dois foram descartados, pois possuíam alterações no
tamanho uterino observadas durante o procedimento. Um ovino veio a óbito no local
dos procedimentos por causa desconhecida vários dias após a inseminação, não
podendo se correlacionar o óbito ao procedimento pela ausência de necropsia. Cinco
(26,3%) demonstraram gestação na avaliação ultrassonográfica, sendo que 40 %
destes possuíam gestação gemelar, com dois embriões. Considerando-se as
gestações gemelares, obteve-se a relação entre o número de animais inseminados e
o número de fetos produzidos de 36,8%. Na segunda etapa (E2), foram comparados
dois acessos diferentes, sendo que no G1 a inseminação foi realizada da mesma
forma previamente descrita, e no G2 os animais foram submetidos a posicionamento
quadrupedal e acesso pelo flanco, utilizando também dois portais e a agulha espinhal.
Dos 21 ovinos que tiveram o cio sincronizado, 18 foram utilizados para considerar a
taxa de prenhez. Um ovino do G2 foi descartado, pois possuía alterações no tamanho
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uterino vistas durante o procedimento. Um ovino veio a óbito durante o
procedimento cirúrgico por regurgitação (G1), e outro ovino regurgitou durante o
procedimento (G1), sendo necessário interromper o mesmo antes da inseminação. No
G2, nas inseminações com acesso pelo flanco, foram utilizados oito animais, sendo
que quatro não apresentavam gestação (50%), três apresentavam gestação de um
feto (37,5%) e um animal apresentava gestação gemelar (12,5%). No G1, no qual as
inseminações foram realizadas com ovinos em posição dorsal, utilizando-se 10
animais, sete não apresentaram gestação (70%), três apresentaram gestação com um
feto (30%) e nenhuma gestação gemelar foi diagnosticada nos ovinos deste grupo. Os
diagnósticos gestacionais foram realizados 57 dias após as inseminações através do
exame ultrassonográfico. Na terceira etapa (E3), onde se utilizou técnica semelhante
a E2(G2), os procedimentos foram realizados em 17,63+7,03min., ocorrendo
complicações em seis animais. Em três ovinos foi necessária mais de uma punção
com a agulha de Veress para obtenção do pneumoperitônio desejado (12mmHg). Em
um animal não foi possível a realização do procedimento laparoscópico devido ao
descolamento do peritônio do músculo transverso, impossibilitando assim a
visualização do útero e ovários, bem como de seus ligamentos e vasos. Em um
animal de um grupo de quatro nos quais se testava um novo acesso de introdução da
agulha de Veress para obtenção do pneumoperitônio, através do posicionamento da
mesma pelo 12º espaço intercostal, foi observada a transfixação da Veress através do
fígado, ocasionando pequena hemorragia imensurável. Em outro, houve a punção do
diafragma com a agulha, ocasionando pneumotórax, o qual foi adequadamente
manejado por drenagem torácica com escalpe. Na quarta etapa (E4), também foram
comparados os dois acessos, sendo no G1(n=44) realizada a inseminação pelo
acesso dorsal, e G2(n=36), tendo posicionamento quadrupedal e acesso realizado
pelo flanco. Os procedimentos foram realizados em 22,72+12,54min., ocorrendo
complicação apenas em um animal, na qual houve o descolamento do peritônio
durante a insuflação, sendo necessária a tração do útero até o espaço pré-peritoneal
para então ser realizada a deposição do sêmen da luz do órgão. Todos os protocolos
de tranquilização e analgesia se mostraram adequados para a realização dos
procedimentos e estiveram associados a pouco desconforto dos pacientes. Além da
necessidade de manutenção do bem-estar dos animais, buscam-se nas diferentes
técnicas melhores resultados apropriados no que se refere aos índices de prenhez a
partir do uso de analgesia preemptiva descrita, uma vez que é comprovado que o
estímulo doloroso e o stress causam aumento de cortisol plasmático que pode
interferir diretamente nos índices reprodutivos3. Quanto aos índices de manutenção
de prenhez, considera-se aqueles obtidos na E1 e E2(G2) ainda muito baixos, mas
como foram utilizados animais que haviam sido descartados da reprodução por não
gestarem após monta natural e como foi utilizado sêmen congelado, já se esperavam
pobres resultados quanto a esse aspecto.
Conclusão
A partir dos resultados obtidos, conclui-se que ambas as técnicas de inseminação
intrauterina laparoscópica em ovinos são viáveis. Considera-se que a inseminação
com o animal em posicionamento quadrupedal é tecnicamente mais difícil se
comparada ao acesso laparoscópico em decúbito dorsal, porém com o aprimoramento
da técnica e, na dependência dos resultados no que se refere aos índices de prenhez,
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poderá ser considerada como um procedimento alternativo para a
inseminação de ovelhas, já que potencialmente poderá ser menos estressante para
os animais.
Referências
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EFEITOS SISTÊMICOS E ANALGÉSICOS DAS INJEÇÕES EPIDURAIS DE
METADONA OU CETAMINA EM EQUINOS
SYSTEMIC
AND
ANALGESIC
EFFECTS
OF
EPIDURAL
INJECTIONS
OF
METHADONE
OR
KETAMINE
IN
HORSES
LEITE,C.R.10;
GODOY,
R.F.11;
DUMONT,
C.B.S.2;
MORAES,
J.M.312;
XIMENES,
F.H.B2;
VILLA
FILHO
P.C.2;
ALMEIDA,
R.M.2
Palavras-chave: dor, analgesia, epidural
Key words: pain, analgesia, epidural
Introdução
Um dos grandes problemas na clínica de equinos é o manejo das dores
refratárias às terapias convencionais com anti-inflamatórios não esteroidais (SYSEL et
al., 1996). Além disso, sabe-se que há certo receio quanto ao uso de opioides nesta
espécie, em decorrência dos possíveis efeitos colaterais, como excitação e
deambulação compulsiva (BENNETT; STEFFEY, 2002). A administração de
analgésicos por via epidural tem-se mostrado eficaz, promovendo boa analgesia com
mínimos efeitos indesejáveis, além de permitir a utilização de doses bem inferiores às
necessárias por outras vias (VALADÃO et al., 2002). Diversos fármacos com
propriedades analgésicas já foram testados por esta via, dentre eles a cetamina, um
antagonista dos receptores NMDA que possui grande envolvimento no
desenvolvimento da hiperalgesia (DUQUE, 2001; OLESKOVICZ, 2001). A metadona é
um opioide sintético que, além de possuir ação nos receptores µ, também atua como
antagonista dos receptores NMDA (WAGNER, 2009). O presente estudo teve como
objetivo avaliar e comparar a eficácia analgésica e os efeitos sistêmicos da metadona
e da cetamina quando administradas por via epidural em equinos, após incisão de
pele.
Metodologia
Foram utilizados 15 animais sadios, dez fêmeas e cinco machos, sem raça
definida, com idades variando de quatro a dez anos e massa corpórea média de 287 ±
37 kg. No dia precedente ao início do experimento, foi realizada tricotomia de uma
área de 10x5 cm na região do 1º espaço intercoccígeo e de 20x30 cm na região
caudal de ambas as coxas dos animais. No dia do experimento, na área previamente
tricotomizada de ambas as coxas, delimitou-se uma linha de 10 cm de comprimento
contornada por retângulos concêntricos distantes 1, 3 e 5 cm da mesma, com tinta
branca lavável. Ato contínuo, realizou-se exame clínico basal, denominado T-60, pela
aferição da frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (f), pressão arterial
10
Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ;
11
Universidade de Brasília, Brasília, DF;
12
Universidade Federal de Goiás, GO. Endereço para correspondência: Rua Vicente de Sousa, n°11, apto 203 –
Botafogo – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22251-070, [email protected].
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
sistólica (PAS) e temperatura retal (TR), além da avaliação do limiar
nociceptivo mecânico com filamentos de von Frey. Os filamentos foram aplicados
sobre a pele nas linhas retangulares a 1, 3 e 5 cm de distância da linha central prédelimitada, em quatro pontos (dorsal, ventral, lateral e medial), em ambas as coxas. O
teste foi iniciado pelo filamento mais fino, que exerce pressão de 2,0g de força, sendo
que este era pressionado perpendicularmente contra a pele do animal até que se
dobrasse. Este procedimento era realizado até que o animal apresentasse reação
aversiva ao estímulo mecânico ou até que se utilizasse o filamento mais calibroso,
cuja pressão é equivalente a 300g de força. Após determinação dos valores basais (T60), um bloqueio infiltrativo em cordão com 6,0 mL de lidocaína a 2% sem
vasoconstritor foi conduzido na linha pré-delimitada da coxa direita, na qual,
aguardado o período de dez minutos, foi realizada incisão de 10 cm de comprimento
que abrangeu pele e tecido subcutâneo. Cinquenta minutos depois, todos os
parâmetros foram novamente aferidos seguindo a mesma metodologia empregada no
exame basal, sendo registrado o T0. Em seguida, após infiltração de 1,0 mL de
lidocaína a 2% sem vasoconstritor na região do 1º espaço intercoccígeo, os equinos
receberam injeções epidurais de metadona (0,1 mg.kg-1; Grupo M; n=5), cetamina (1,0
mg.kg-1; Grupo C; n=5) ou solução de NaCl 0,9% (salina; Grupo S; n=5), sendo o
volume total (VT) da injeção, nos três grupos, calculado segundo a fórmula: VT = 3,4
mL + (peso em kg x 0,013) e completado com solução fisiológica 0,9% (SEGURA et
al.,1998). Todas as variáveis foram avaliadas a cada 15 minutos na primeira hora
após a injeção epidural, a cada 30 minutos nas próximas três horas, a cada duas
horas nas oito horas subsequentes e depois às 18 e 24 horas, sendo que o teste com
os filamentos de von Frey foi executado nos lados incisionado (direito) e não
incisionado (esquerdo). Os dados foram submetidos à análise de variância para
medidas repetidas, seguido do teste de Tukey (P≤0,05).
Resultados e discussão
Os três grupos apresentaram, em todas as distâncias, diminuições
significativas nos valores de limiar nociceptivo entre o T-60 e o T0 no lado incisionado,
confirmando a validade do modelo álgico adotado. A partir de T0, tanto a metadona
quanto a cetamina promoveram aumento do limiar nociceptivo, porém a metadona
apresentou período de latência mais curto que a cetamina (15 minutos versus 45
minutos) e efeito analgésico mais prolongado, com 195 minutos de duração, contra
135 minutos da cetamina. Além disso, a metadona proporcionou efeito analgésico
clínico superior ao da cetamina, promovendo limiares mecânicos mais altos em 85,5%
dos tempos de avaliação, ao passo que a cetamina foi superior e equivalente à
metadona em apenas 10,5% e 4% dos tempos de avaliação, respectivamente. Não
houve alterações na FC, f, ou PAS em nenhum dos grupos. Os valores de TR foram
maiores em relação ao T0 dos 210 aos 720 minutos nos três grupos, sem diferenças
entre estes. Os animais que receberam cetamina apresentaram alto índice de ataxia
(80%). Quando injetados por via intravenosa ou intramuscular, os opioides geralmente
deprimem os parâmetros cardiorrespiratórios. Em contrapartida, os agentes
dissociativos aplicados por estas vias tendem a aumentar a FC e PAS. Ao
administrarmos estes fármacos pela via epidural, entretanto, os efeitos adversos são
mínimos, pois dependem da absorção sistêmica para ocorrerem. Além disso, as
doses utilizadas são inferiores, o que contribui com a redução do índice de alterações,
já que a maioria delas são dose-dependentes (LEIBESTEDER et al., 2006). Em
relação ao aumento da TR, se for considerado que este parâmetro seguiu o mesmo
padrão de alteração nos três grupos e que as aferições foram iniciadas pela manhã e
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continuaram no decorrer do dia, sugere-se que este acontecimento
ocorreu em razão da temperatura ambiente mais elevada nas observações a partir de
210 minutos. Resultado similar foi obtido no trabalho realizado por Oleskovicz em
2001 com injeção epidural de cetamina em equinos. O fato de a metadona ter
promovido analgesia superior e mais duradoura à da cetamina provavelmente deve-se
à sua multiplicidade de mecanismos de ação, pois, além de ser agonista dos
receptores opioidérgicos µ, é antagonista dos receptores NMDA e ainda atua inibindo
a recaptação de noradrenalina e serotonina na fenda sináptica, prolongando seus
efeitos e estimulando, deste modo, as vias modulatórias descendentes (MONTEIRO
et al., 2008). A ataxia observada no grupo que recebeu cetamina pode ser explicada
pela ação do tipo anestésico local de seu isômero S(+), resultante do antagonismo
NMDA, que ocasiona a redução do influxo de sódio, diminuindo a despolarização dos
neurônios e promovendo, desta forma, o bloqueio motor (DUQUE, 2001).
Conclusões
Nas condições experimentais adotadas, concluiu-se que a metadona e a
cetamina, nas doses utilizadas pela via epidural, não provocaram efeitos sistêmicos
adversos e promoveram efeito analgésico em equinos, sendo indicadas no tratamento
da dor nesta espécie.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso Animal da Universidade de
Brasília, sob protocolo de número 100236/2009.
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EFEITOS BENÉFICOS DA SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA
7,5% SOBRE A RESPOSTA INFLAMATÓRIA E A DISFUNÇÃO ORGÂNICA
NO TRATAMENTO INICIAL DA OBSTRUÇÃO INTESTINAL E ISQUEMIA
EXPERIMENTAL
BENEFICIAL
EFFECTS
OF
7.5%
HYPERTONIC
SALINE
SOLUTION
ON
THE
INFLAMMATORY
RESPONSE
AND
ORGAN
DYSFUNCTION
IN
THE
INITIAL
TREATMENT
OF
EXPERIMENTAL
INTESTINAL
OBSTRUCTION
AND
ISCHEMIA
ZANONI,
F.L.13;
MORENO,
A.C.R.14;
BENABOU,
S.1;
CRUZ,
J.W.M.C.1;
MARTINS,
J.O.15;
ROCHA
E
SILVA,
M.1;
SANNOMIYA,
P1.
Palavras-chave: Obstrução intestinal; Solução salina hipertônica; Interações
leucócito-endotélio.
Key-words: Intestinal obstruction; Hypertonic saline solution; Leukocyte-endothelial
interactions.
INTRODUÇÃO
A sepse, o choque séptico e a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas são
condições de alta morbidade e mortalidade, associadas a uma grande variedade de
condições clínico-cirúrgicas graves, como o politraumatismo, as grandes
queimaduras e os procedimentos cirúrgicos extensos (1). As infecções ocorrem,
usualmente, a partir dos pulmões, do trato geniturinário e gastrintestinal (2). Os
principais patógenos associados à sepse de origem gastrintestinal são as bactérias
gram-negativas, sendo a Escherichia coli o agente infeccioso mais freqüente (3).
Estudos demonstram que a solução salina
hipertônica melhora a hemodinâmica (4,5), a microcirculação (6) e modula o sistema
imune (7,8), atenuando a resposta inflamatória associada ao choque e trauma (9). Neste
estudo avaliou-se o efeito da solução salina hipertônica (NaCl, 7,5%) seguido de
enterectomia no tratamento da obstrução intestinal e isquemia.
MÉTODOS
Ratos Wistar machos (250 – 300 g) anestesiados (pentobarbital sódico, 50
mg/kg, i.p.) foram submetidos à obstrução intestinal e isquemia, conforme descrito
anteriormente (10) (OI, ligadura ao nível do íleo terminal seguida de ligadura de ramos
da artéria mesentérica correspondentes à irrigação de 7 – 10 cm do íleo). Duas horas
após, os animais foram randomizados em: OI sem tratamento (OI); OI tratado com
Ringer lactato (RL, 4 mL/kg, i.v.); e OI tratado com solução salina hipertônica (SH
7,5%, 4 mL/kg, i.v.). Vinte e quatro horas após os procedimentos cirúrgicos iniciais, os
13
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;
14
Departamento de Análises Clínicas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo;
15
Departamento de Imunologia, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo. e-mail: [email protected]
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ratos obstruídos (OI, RL e SH) foram submetidos à enterectomia.
Ratos controles falso-operados (FO) foram submetidos somente à lapatotomia. Os
seguintes parâmetros foram analisados: 1) cultura bacteriana (E. coli) em amostras
de linfonodos mesentéricos, fígado, baço e sangue; 2) análise das interações
leucócito-endotélio na microcirculação mesentérica por técnica de microscopia
intravital; 3) expressão de moléculas de adesão endoteliais (P-selectina e ICAM-1)
por imuno-histoquímica; 4) quantificação das citocinas e quimiocinas CINC-1 e CINC2 no soro por enzimaimunoensaio; 5) histologia intestinal; 6) bioquímica sérica; 7)
gasometria, hematócrito, lactato, glicose e leucograma; 8) insulina e corticosterona e;
9) sobrevida.
RESULTADOS
O tratamento com SH reduziu a bacteremia, a incidência de animais com
amostras positivas para E. coli (57%) e a quantidade de colônias bacterianas
(p<0,05) comparado ao tratamento com RL ou aos animais não tratados (OI). As
interações leucócito-endotélio (Tabela) e a expressão das moléculas de adesão, Pselectina e ICAM-1, reduziram-se após tratamento com SH seguido de enterectomia
a valores observados no grupo controle FO (p>0,05). Ambos os tratamentos, SH e
RL, associados à enterectomia normalizaram as concentrações séricas de CINC-1 e
CINC-2 (p>0,05). Alterações de PaCO2, pH, lactato e glicemia normalizaram-se após
o tratamento dos animais com SH ou RL seguido de enterectomia. A hipoinsulinemia
registrada nos ratos OI foi prevenida pelo tratamento dos animais com SH ou RL. As
concentrações séricas de corticosterona normalizaram-se após tratamento dos
animais com SH associado à enterectomia. A magnitude da lesão intestinal,
evidenciada por dano da membrana basal, edema, congestão e presença de células
inflamatórias foi menor no grupo tratado com SH comparado ao tratamento com RL,
ambos associados à enterectomia. As concentrações de uréia, creatinina e a
atividade das enzimas hepáticas normalizaram-se após tratamento com SH e
enterectomia. Houve um aumento significativo da sobrevida dos animais (86%, 15
dias) e no ganho de peso corpóreo (p>0,05 vs FO) no grupo tratado com SH seguido
de enterectomia.
CONCLUSÕES
A estabilização de ratos submetidos à OI com SH associada à enterectomia
resultou em aumento significativo da sobrevida dos animais. A SH reduziu a resposta
inflamatória local (interações leucócito-endotélio e expressão de moléculas de adesão
na microcirculação mesentérica e lesão intestinal) e sistêmica (concentrações séricas
de CINC-1 e CINC-2, disfunção renal e hepática). A SH pode representar uma nova
estratégia no tratamento inicial da obstrução intestinal estrangulada.
Tabela. Interações leucócito-endotélio na microcirculação mesentérica
FO
OI
RL
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SH
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Enterectomia
Leucócitos
Rollers (10 min)
128 ± 5
182 ± 3ª
193 ± 9ª
88 ± 7b
Leucócitos Aderidos
(100 µm de extensão
venular)
3±0
11 ± 1ª
10 ± 1ª
5±1
Leucócitos
Migrados (5.000 µm2)
1 ± 0,2
10 ± 0,7ª
8 ± 0,3ª
3 ± 0,2
Velocidade de
rolamento do
leucócito (µm/s)
19 ± 2
13 ± 0b
16 ± 1
21 ± 1
Número de
leucócitos no
sangue periférico
(mm3)
13.664 ±
601
15.800 ±
845
15.493 ± 641
14.079 ± 453
Razão
neutrófilo/linfócito
0,3 ± 0,01
0,7 ± 0,13
1,4 ± 0,4b
0,8 ± 0,24
As análises foram realizadas 48 horas após o início dos procedimentos. Os valores
representam a média ± epm de cinco animais/grupo na análise da microcirculação e
de sete animais/grupo na análise do leucograma. ap<0,001, bp<0,01 por comparação
ao grupo FO.
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translocation of indigenous bacteria in a rat model of strangulated small bowel
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Protocolo de pesquisa nº 169/05, aprovado pela CAPPesq–HC–FMUSP
Apoio financeiro: Fapesp (04/15964-6) e Pronex (66.11251998-2)
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HÉNIAS UMBILICAIS EM BEZERRAS NELORE PROVENIENTES DE FIV:
RELATO DE 31 CASOS
UMBILICAL
HERNIAS
IN
NELORE
CALVES
PROCEEDING
OF
IVF:
REPORT
OF
31
CASES
RIBEIRO,
G.16;
PEREIRA,
W.A.B.17;
NUNES,
T.C.18;
PATELLI,
T.H.C.19;
SOUZA,
F.A.A.20;
MONTELLO
NETO,
J.S.5
Palavras-chave: hérnia umbilical, bezerros, FIV.
Keywords: umbilical hernia, calves, IVF.
Introdução
Hérnia umbilical é a insinuação através do anel umbilical não involuído de
órgãos e estruturas da cavidade abdominal envolvidos pelo peritônio1. As hérnias
umbilicais podem ocorrer em todos os animais domésticos, especialmente suínos,
bovinos e equinos, podendo ser passíveis ou não de redução. Uma hérnia é redutível
se o conteúdo herniário puder retornar ao abdômen; as hérnias não redutíveis o são
devido à existência de aderências entre o conteúdo herniário e o saco herniário
interno ou pelo encarceramento das vísceras pelo anel herniário 2. O diagnóstico é
simples e basicamente clínico, fundamentado no exame semiológico local, com o
bovino em posição quadrupedal1. No entanto, o exame ultrassonográfico permite a
avaliação das estruturas umbilicais, extra e intra-abdominais, caracterizando
exatamente a extensão do problema e o possível envolvimento de outras estruturas
como o fígado e a bexiga urinária, reduzindo os riscos durante a cirurgia e
precipitando a eutanásia nos casos com prognóstico ruim, a fim de evitar custos para
o proprietário3. Um tratamento conservativo para hérnias umbilicais redutíveis em
animais de seis a 12 semanas de idade pode ser realizado através da aplicação de
uma bandagem elástica ao redor do abdômen, que deve ser mantida durante três a
quatro semanas, enquanto o anel umbilical se reduza espontaneamente 4. Caso não
venha a ocorrer espontânea recuperação da hérnia umbilical ou nos casos de hérnia
encarcerada, fica indicada a correção cirúrgica2. O sucesso do tratamento depende
dos cuidados pós-operatórios, diâmetro do anel herniário, tamanho e peso dos
animais, presença de inflamação no local e da resistência dos tecidos localizados nas
bordas do anel herniário5,6. O objetivo desse trabalho é relatar a ocorrência frequente
de hérnias umbilicais em bezerras da raça nelore provenientes de fertilização in vitro
(FIV), caracterizando o tipo de hérnia encontrado e o tratamento que tem sido
utilizado. Foram atendidas, no período de um ano, 17 bezerras no Hospital Veterinário
de Uberaba/MG e 14 em propriedades particulares para tratamento cirúrgico de hérnia
umbilical. Todos os animais eram da raça nelore, provenientes de fertilização in vitro
16
Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). Endereço: Rua
Sales Júnior, 507, São Paulo/SP, CEP 05083-070. E-mail: [email protected]
17
Professor de clínica médica de grandes animais da Universidade de Uberaba/MG.
18
Anestesista do Hospital Veterinário de Uberaba/MG.
19
Professora de clínica médica de grandes animais da Uenp, Bandeirantes/PR.
20
Médico veterinário autônomo.
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(FIV). Após jejum hídrico e alimentar de 24 horas, as bezerras foram
tranquilizadas com 0,2mg/Kg de xilazina a 2% via intramuscular e posicionadas em
decúbito dorsal. A região ao redor do umbigo foi anestesiada com cloridrato de
lidocaína a 2% e o campo operatório foi preparado para uma cirurgia asséptica. Uma
incisão de pele de aproximadamente 10 cm foi realizada sobre a linha média do
abdômen e o tecido subcutâneo ao redor do saco herniário foi divulsionado até o anel
umbilical. Em apenas dois animais (6,5%) o anel estava aberto o suficiente para
permitir a redução do conteúdo herniado sem a abertura do saco herniário (hérnias
redutíveis). Em todos os outros animais, foi necessária a abertura do saco herniário,
que foi precedida por uma pequena incisão na linha média, caudal ao anel, para que o
interior do saco pudesse ser inspecionado antes da abertura, garantindo a integridade
do conteúdo. Em oito animais (25,8%), o conteúdo herniado era o omento e no
restante dos animais (67,7%) o saco herniário continha uma bolsa repleta de urina,
que se comunicava através do úraco com a bexiga urinária. Em alguns casos, artérias
e veias umbilicais também estavam presentes. Após a ligadura, estas estruturas
foram seccionadas e o saco herniário foi removido próximo ao anel. A cavidade
abdominal foi suturada com fio inabsorvível (nylon de pesca 0,60) e pontos de
sobreposição (imbricação lateral ou sutura de Mayo). A incisão de pele foi suturada
com pontos simples separados e fio inabsorvível e, em seguida, o espaço morto foi
abolido com sutura cutânea horizontal de colchoeiro interrompida. As bezerras
receberam no pós-operatório 20.000UI/Kg de penicilina e 2,2mg/kg de flunixim
meglunime, intramuscular durante sete dias. O curativo da ferida cirúrgica foi realizado
através da limpeza dos pontos com gaze embebida em povidine tópico, seguida da
aplicação de spray cicatrizante durante dez dias, quando os pontos de pele foram
retirados. Embora muitas hérnias umbilicais possam ser secundárias a infecções no
umbigo, é sabido que existe um fator hereditário relacionado às hérnias congênitas.
No entanto, muitos proprietários estão dispostos a tolerar a ocorrência das hérnias
umbilicais em função do melhoramento genético que visa ao aumento da lactação ou
da velocidade de crescimento dos animais (o mesmo pode ser dito em relação à
ocorrência de cistos ovarianos, problemas conformacionais, partos distócicos etc.).
Além disso, já foi observado que bezerras clonadas apresentam maior probabilidade
de apresentar hérnias e infecções umbilicais que poderiam estar relacionadas com
uma diferença no colágeno da parede ventral do abdômen desses animais7. A
correlação de hérnias umbilicais com a fertilização in vitro ainda não foi relatada,
sendo necessários estudos para elucidar melhor a influência das biotecnologias da
reprodução no desenvolvimento dos animais. Enquanto isso, muitas cirurgias
corretivas estão sendo realizadas. A técnica cirúrgica descrita neste trabalho
apresenta algumas modificações em relação às técnicas já descritas. Uma incisão
elíptica ao redor do saco herniário externo é o tipo de incisão cutânea freqüentemente
recomendada nos livros2,8, porém não foi a adotada, uma vez que esse tipo de incisão
comprometeria demasiadamente a estética umbilical dos animais zebuínos, que
possuem umbigo longo e pendular. Ao contrário, uma incisão cutânea retilínea sobre
a linha média foi capaz de manter a conformação natural dos animais. A amputação
do saco herniário interno está indicada nos casos de hérnia encarcerada. Havendo a
expectativa de que o saco herniário interno não possa ser seccionado sem que ocorra
lesão do conteúdo herniário, o abdômen deve ser aberto ao longo da linha alba em
posição imediatamente cranial ao anel herniário2. Ao contrário do que relata a
literatura, em todas as cirurgias citadas neste trabalho, nas quais a abertura da
cavidade abdominal foi necessária, a incisão foi realizada imediatamente caudal ao
anel herniário, com o intuito de facilitar a identificação e ligadura do úraco o mais
próximo possível da bexiga. Esse procedimento foi muito útil para o objetivo proposto
e não trouxe complicações. A ressecção da parte mais cranial da bexiga urinária junto
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com o úraco é sempre indicada9, no entanto, não foi realizada em
nenhuma das cirurgias porque exigiria que incisão fosse ampliada. A herniorrafia
utilizando a sutura de sobreposição de Mayo8 com fio inabsorvível sintético (nylon de
pesca 0,60) foi totalmente satisfatória, uma vez que não foi relatada a ocorrência de
recidiva em nenhum dos animais operados. Segundo a literatura2,8, o tecido
subcutâneo deve ser suturado em padrão contínuo, porém verificou-se na primeira
cirurgia que essa sutura comprometia a estética do umbigo pendular dos animais
zebuínos, deixando-o com aparência enrugada e retraído próximo ao ventre. Na
segunda cirurgia, não foi realizada a abolição do espaço morto, o que resultou em
grande acúmulo de seroma pós-operatório, que foi drenado através de uma punção
com agulha. A partir da terceira cirurgia, optou-se então por uma sutura percutânea
com pontos separados. Esse tipo de sutura permitiu uma boa abolição do espaço
morto, impedindo a formação de seroma, e apresentou um ótimo efeito plástico.
Enfim, conclui-se que a técnica cirúrgica consagrada para a redução de hérnia
umbilical em grandes animais, muito bem aplicada para equinos e bovinos europeus,
não está adequada para a correção desse problema nos bovinos zebuínos, de forma
que as modificações sugeridas neste trabalho podem ser adotadas com segurança.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E FENOTÍPICA DE CÉLULASTRONCO MESENQUIMAIS DE EQUINOS
MORPHOLOGICAL
AND
PHENOTYPICAL
CHARACTERIZATION
OF
EQUINE
MESENCHYMAL
STEM
CELLS
RIBEIRO,
G.21;
MASSOCO,
C.
O.22,
LACERDA
NETO,
J.
C.23.
Palavras-chave: caracterização, células-tronco, equinos.
Key words: characterization, equine, stem cells.
INTRODUÇÃO
Atualmente, têm-se trabalhado na busca da caracterização morfofuncional das
células-tronco na espécie humana, com o intuito de otimizar sua aplicação no
tratamento de doenças. No entanto, em medicina veterinária o conhecimento sobre
estas células ainda é bastante limitado e elas estão sendo utilizadas com a hipótese
de que suas características essenciais, como tempo de multiplicação e potencial de
diferenciação, sejam as mesmas para todas as espécies1. Porém, segundo Fraser et
al.2, pode-se dizer que células-tronco provenientes do tecido adiposo e da medula
óssea de um mesmo indivíduo são similares, mas não são idênticas, pois se
observam algumas diferenças no modelo geral de diferenciação. As células-tronco
têm sido largamente utilizadas por médicos veterinários na clínica de equinos,
fazendo parte do tratamento de lesões do sistema locomotor como tendinites e
desmites. Entretanto, ainda são desconhecidos fundamentos básicos referentes à
caracterização dessas células, sejam de origem medular ou adiposa, e há poucas
publicações a respeito de quais são os marcadores de membrana que identificam as
células-tronco mesenquimais na espécie equina. Alguns autores têm relatado a
necessidade de número determinado de células-tronco para promover o reparo de um
tecido musculoesquelético lesado. Muschler e Midura3 estimaram que 70 milhões de
células progenitoras fossem necessárias para produzir um centímetro cúbico de osso.
Em outros estudos, avaliando-se o reparo de tendões e ligamentos, o número de
células-tronco utilizadas mostrou-se também bastante elevado4,5. O primeiro passo na
produção de um número de células-tronco mesenquimais suficiente para o tratamento
de um tecido lesado passa, primeiramente, pelo conhecimento das características de
crescimento destas células em cultura6. Assim, diante da ausência de trabalhos que
indiquem a caracterização do tipo celular conhecido e utilizado como célula-tronco
mesenquimal equina, o objetivo do presente trabalho foi estudar as características
morfológicas e imunofenotípicas de células mononucleares coletadas da medula
óssea e do tecido adiposo de equinos e mantidas em diferentes meios de cultivo.
Cinco cavalos adultos foram submetidos à coleta de medula óssea do esterno e, em
seguida, de tecido adiposo da região glútea próxima à inserção da cauda. As
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Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU, São Paulo/SP. Endereço: Rua Sales Júnior, 507, São
Paulo/SP, CEP 05083-070, [email protected]
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Sócia-proprietária do Laboratório de Patologia Clínica da Hípica Paulista, São Paulo/SP.
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Professor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da Unesp, Jaboticabal/SP.
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amostras foram processadas para o isolamento de células
mononucleares e cultivadas em meio DMEM suplementado com 10% de soro fetal
bovino (SFB) ou em meio AIM-V. As culturas foram observadas uma vez por semana
em microscópio de luz invertida, com o intuito de se realizar análise qualitativa que
consistiu na descrição tanto da morfologia das células como do aspecto geral do
cultivo celular. As unidades formadoras de colônia (CFU) foram contadas nos dias
cinco, 15 e 25. A primeira análise imunofenotípica foi realizada no terceiro dia de
cultivo primário, antes do descarte das células sobrenadantes, ou seja, ainda com as
células totais, e repetida nos 18º e 37º dias de cultivo. Os marcadores de superfície
testados foram CD11c, CD14, CD4, CD8, CD3, CD45, CD34 e STRO-1. Observou-se,
tanto nas amostras obtidas a partir da medula óssea quanto do tecido adiposo, uma
população celular de aspecto fusiforme aderida ao fundo da garrafa de cultivo. Estas
células eram morfologicamente semelhantes às células-tronco mesenquimais
apresentadas em outros estudos com humanos e animais, descritas como células de
aspecto estrelado ou células semelhantes a fibroblasto7. As amostras provenientes do
tecido adiposo apresentaram maior celularidade em meio DMEM suplementado com
SFB nas primeiras duas semanas. A partir deste momento não se verificou mais
diferença em relação às amostras mantidas em meio AIM-V sem SFB. Em relação à
expansão celular, observou-se no decorrer do cultivo que as amostras de célulastronco mesenquimais obtidas do tecido adiposo (CTM-AD) sempre atingiram a
confluência de 90% antes das amostras de células-tronco mesenquimais obtidas da
medula óssea (CTM-MO), de modo que as replicações celulares de CTM-AD
ocorreram a intervalos médios de três dias, enquanto que de CTM-MO ocorreram a
cada cinco dias aproximadamente. Estas observações corroboram os achados de
Colleoni et al. 8 indicando que, em equinos, as células provenientes do tecido adiposo
apresentam maior capacidade de proliferação em cultura que as células obtidas da
medula óssea. Além disto, foi possível observar que as células do tecido adiposo
mantiveram populações celulares mais homogêneas enquanto as células da medula
óssea apresentaram cultivo heterogêneo por mais tempo. Em relação à contagem de
CFU, não foram observadas diferenças entre as amostras de mesma natureza
cultivadas em meios diferentes. Entretanto, verificou-se diferença significativa entre as
amostras de CTM-AD e de CTM-MO, de forma que as amostras oriundas da medula
óssea apresentaram maior número de CFU do que as amostras de tecido adiposo nos
três momentos avaliados, sugerindo capacidade superior de formação de colônias.
Vidal et al.1 também observaram que populações obtidas de tecido adiposo não
formam tantas colônias como as células da medula óssea e distribuem-se de maneira
mais uniforme e mais aderida à placa de cultivo, como foi observado neste trabalho.
Entre os oito marcadores utilizados neste trabalho, os mais encontrados no primeiro
momento da avaliação imunofenotípica, tanto nas amostras de CTM-MO como nas
amostras de CTM-AD, foram CD34 e CD45. Os marcadores CD3 e STRO-1
apresentaram a terceira maior porcentagem nas amostras de CTM-MO e de CTM-AD,
respectivamente. CD14 e CD11c foram identificados em porcentagens de ocorrência
menores para ambos os grupos, e os marcadores CD4 e CD8 apareceram em
porcentagem mínima nas amostras de CTM-MO e não foram identificados nas
amostras de CTM-AD. Aos 18 dias de sub-cultivo, os resultados indicaram maior
porcentagem de células positivas para o marcador STRO-1, tanto nas amostras de
CTM-MO quanto nas amostras de CTM-AD, que apresentaram valores ainda maiores.
As células marcadas com CD34 e CD45 diminuíram significativamente, enquanto
houve aumento de CD14. Os marcadores CD3 e CD4 foram encontrados em
quantidades semelhantes nas amostras de CTM-MO e estavam ausentes nas
amostras de CTM-AD. Não foram encontradas células positivas para CD8 e CD11c
em nenhuma das amostras avaliadas. Na última avaliação, as células positivas para
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os marcadores CD3, CD4, CD8 e CD11c não estavam mais presentes
em nenhuma das amostras. Observou-se diminuição expressiva das células CD34+ e
CD45+, com valores significativamente menores nas amostras de CTM-AD. O
segundo marcador mais encontrado foi CD14, em quantidade superior nas amostras
de CTM-MO, e a maioria das células analisadas neste momento da cultura eram
positivas para STRO-1 em ambos os grupos, sendo que uma porcentagem superior
foi encontrada nas amostras de CTM-AD. A observação dos resultados obtidos nas
três avaliações indica que o perfil fenotípico da população de células obtidas a partir
da medula óssea e tecido adiposo de equinos sofre modificações no decorrer do
tempo de cultivo celular.
Trabalho aprovado pelo CEBEA (Comissão de Ética e Bem-Estar Animal,
UNESP/Jaboticabal). Protocolo nº 013041-5.
REFERÊNCIAS
1. VIDAL, M. A.; KILROY, G. E.; LOPEZ, M. J.; JOHNSON, J. R.; MOORE, R. M.;
GIMBLE, J. M. Veterinary Surgery, v.36, p.613-22, 2007.
2. FRASER, J. K.; ZHU, M.; WULUR, I.; ALFONSO, Z. Methods in Molecular
Biology, v.449, p.59-67, 2008.
3. MUSCHLER, G. F.; MIDURA, R. J. Clinical Orthopaedics and Related
Research, v.395, p.66-80, 2002.
4. SMITH, R. K. W.; KORDA, M.; BLUNN, G. W.; GOODSHIP, A. E. Equine
Veterinary Journal, v.35, n.1, p.99-102, 2003.
5. SMITH, R. K.; WEBBON, P. M. British Journal of Sports Medicine, v.39, p.5824, 2005.
6. VIDAL, M. A.; KILROY, G. E.; JOHNSON, J. R.; LOPEZ, M. J.; MOORE, R. M.;
GIMBLE, J. M. Veterinay Surgery, v.35, p.601-10, 2006.
7. ZUK, P. A.; ZHU, M.; MIZUNO, H.; HUANG, J.; FUTRELL, J. W.; KATZ, A. J.;
BENHAIM, P.; LORENZ, H. P.; HEDRICK, M. H. Tissue Engineering, v.7, n.2,
p.211-28, 2001.
8. COLLEONI, S.; BOTTANI, E.; TESSARO, I.; MARI, G.; MERLO, B.;
ROMAGNOLI, N.; SPADARI, A.; GALLI, C.; LAZZARI, G. Veterinary Research
Communications, v.33, n.8, p.811-821, 2009.
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EFEITOS DA DETOMIDINA E XILAZINA INTRAVENOSA EM BOVINOS
EFFECTS
OF
INTRAVENOUS
DETOMIDINE
AND
XILAZINE
IN
BOVINE
RIBEIRO,
G.24;
DÓRIA,
R.G.S.25;
NUNES,
T.C.26;
GOMES,
A.L.3;
PEREIRA,
W.A.B.3;
QUEIROZ,
F.F.3;
VASCONCELOS,
A.
B3.
Palavras-Chave: bovinos, detomidina, xilazina.
Keywords: bovine, detomidine, xylazine.
Introdução
A xilazina foi o primeiro agonista α2 a ser utilizado clinicamente na medicina
veterinária e consagra-se como o composto mais usado para imobilizar ruminantes,
exercendo efeito sedativo, analgésico e relaxante muscular. Os efeitos da xilazina
resultam da ativação de adrenorreceptores α2 pré-sinápticos localizados no sistema
nervoso central (SNC), o que reduz as transmissões interneuronais de norepinefrina.
A xilazina também atua nestes mesmos receptores, localizados em tecidos periféricos
como o trato gastrintestinal, útero, rins, aparelho cardiovascular, respiratório, fígado e
pâncreas, promovendo efeitos adversos como bradicardia, bradipneia, timpanismo
ruminal, poliúria, salivação e hiperglicemia1. Os ruminantes são extremamente
sensíveis à xilazina, sendo esta dez a 20 vezes mais potente em ruminantes que em
outras espécies2. A detomidina é um agonista α2 que apresenta maior especificidade
aos receptores adrenérgicos, associada a uma sedação e analgesia mais intensa e
prolongada, se comparada diretamente com a xilazina. Estudos têm demonstrado
que, assim como com a xilazina, a profundidade e a duração da sedação e analgesia
promovidas pela detomidina são dose dependentes3. Em doses clínicas, a potência
de um fármaco agonista α2 está relacionada à seletividade ao receptor adrenérgico,
sendo que quanto mais potente um fármaco for, menor a dose e volume necessários
para alcançar níveis similares de sedação4. A detomidina esteve indisponível durante
muitos anos no mercado brasileiro e foi reintroduzida apenas no ano de 2008 por um
laboratório de produtos veterinários, com sua apresentação farmacêutica
recomendada para uso exclusivo em equinos. O objetivo deste trabalho foi avaliar
comparativamente os efeitos comportamentais, motores, cardiovasculares,
respiratórios, digestórios e variações de temperatura induzidas pela administração
intravenosa de xilazina ou detomidina em bovinos. Foram utilizados dez bovinos, sem
raça definida, com aproximadamente um ano de idade, considerados hígidos, após
exames clínicos e laboratoriais, com peso corpóreo médio de 200 ± 50kg, distribuídos
em dois grupos experimentais: grupo xilazina (GX), representado pelos dez animais
que receberam administração intravenosa de xilazina1 ; e grupo detomidina (GD),
24
Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). Endereço: Rua
Sales Júnior, 507, São Paulo/SP, CEP 05083-070. E-mail: [email protected]
25
Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da UNIC, Cuiabá/MT.
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Hospital Veterinário de Uberaba/MG.
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correspondendo aos dez animais que receberam administração
intravenosa de detomidina2. Os mesmos animais participaram dos dois grupos
experimentais, respeitando-se um intervalo de pelo menos um mês entre cada
procedimento. Os animais foram submetidos a jejum alimentar de 24 horas antes do
início do experimento. Após 15 minutos destinados à adaptação dos animais em
tronco de contenção, os parâmetros basais (T0) foram aferidos. A frequência cardíaca
(FC; bpm) e os movimentos ruminais (MR; mpm) foram avaliados com auxílio de
estetoscópio e a frequência respiratória (ƒ; mrpm) pela observação da movimentação
do gradil-costal. Utilizou-se um cateter, introduzido na artéria auricular, que fora
previamente canulada, para mensurar a pressão arterial média (PAM; mmHg), obtida
pela leitura direta em manômetro. A temperatura retal (T; oC) foi avaliada com
termômetro clínico convencional. As respostas comportamentais foram avaliadas
observando-se a presença ou ausência de ataxia ou decúbito; ptose palpebral; estado
de alerta ou sedação, caracterizado pela ausência de reação à movimentação manual
na frente dos animais e ao bater de palmas e, também, pela redução da altura da
cabeça em relação ao solo (H), mensurada com auxílio de régua fixada à parede do
tronco, observando-se a distância do chão ao lábio inferior dos animais. Avaliou-se
também a presença de salivação e micção. Colheu-se sangue venoso, da veia
jugular, para que fosse dosada a concentração sanguínea de glicose (valor basal e 60
minutos após a administração dos fármacos). Subsequentemente, o GX recebeu, via
intravenosa, 0,1mg.kg-1 de xilazina e o GD recebeu, via intravenosa, 10µg.kg-1 de
detomidina. Os parâmetros mencionados foram reavaliados aos cinco (T5), dez (T10),
20 (T20), 30 T(30), 40 T(40), 50 T(50) e 60 T(60) minutos após a administração dos
fármacos. O estudo foi conduzido de maneira cega, ou seja, um pesquisador não
envolvido com a colheita dos dados foi o responsável pelo abastecimento das
seringas com xilazina ou detomidina, de forma que os avaliadores não obtivessem
conhecimento de qual fármaco estava sendo administrado. Os dados, obtidos na fase
experimental, foram submetidos à análise de variância para repetições múltiplas (RM
ANOVA), para os dados paramétricos (FC, FR, PAM, T, MR, H, glicose sanguínea),
seguido pelo teste de Student-Newman-Keuls. Entre os grupos, nos diferentes
intervalos, foi realizado pelo teste-t de Student. Os dados não paramétricos
(ataxia/decúbito, ptose palpebral, estado de alerta/sedação) foram analisados pelo
teste de Mann-Whitney. As diferenças foram consideradas estatisticamente
significativas quando p≤0,05. Em relação à avaliação cardiorrespiratória dos bovinos
após a administração intravenosa de xilazina e detomidina, houve redução da
frequência cardíaca, durante os 60 minutos de avaliação nos dois grupos
experimentais e redução da frequência respiratória, durante 60 minutos no grupo
xilazina e 40 minutos no grupo detomidina. A pressão arterial média, durante os 60
minutos da avaliação experimental, apresentou-se reduzida no grupo xilazina. No
grupo detomidina, apresentou uma elevação aos cinco minutos após a administração
do fármaco, tendo permanecido dentro dos valores considerados fisiológicos nos
demais tempos experimentais. A redução da motilidade ruminal foi fato observado nos
dois grupos experimentais, sendo mais prolongada no grupo em que se administrou
xilazina. Neste estudo pôde ser observado que os dois agonistas α2, via intravenosa,
promovem sedação em bovinos, a qual permanece por um período de até 60 minutos
e é caracterizada por ausência de resposta a estímulos manuais e bater de palmas,
redução da altura da cabeça em relação ao solo e ptose palpebral. Também se
observou que ambos os fármacos promovem ataxia em bovinos, sendo que apenas a
xilazina induziu decúbito em 100% dos animais. A hipersiália apresentada por bovinos
após a administração de agonistas α2, referida por alguns autores tratar-se apenas de
uma diminuição do reflexo de deglutição, com acumulação de saliva na cavidade
bucal5,6, foi evidenciada neste estudo em todos os animais, após a administração da
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xilazina e da detomidina, sendo mais prolongada após a administração
da primeira (60 minutos). O efeito diurético dos agonistas α2, que ocorre,
provavelmente, devido à diminuição da produção de vasopressina5,6, embora tenha
sido observado nos dois grupos, foi mais evidente no grupo detomidina, o qual
também apresentou maior elevação da glicemia após 60 minutos da administração do
fármaco. Enfim, observou-se que a xilazina, via intravenosa, em bovinos, promove
uma sedação mais intensa e prolongada que a detomidina, e ao mesmo tempo induz
a uma maior quantidade de efeitos indesejáveis como salivação, decúbito, redução
das frequências cardíaca e respiratória, pressão arterial média, motilidade ruminal e
temperatura, sendo estas alterações, da mesma forma, mais prolongadas. Estes
resultados se contrapõem à literatura, que salienta o fato de que, embora a
detomidina seja um fármaco mais seletivo aos receptores adrenérgicos do tipo α2 do
que a xilazina, as diferenças farmacodinâmicas, em doses equipotentes, são mínimas,
exceto pela duração da ação dos fármacos7. Sugere-se, então, o desenvolvimento de
estudo que busque a dose equipotente entre a xilazina e a detomidina para bovinos.
Supõe-se, com este estudo, que exista uma diferença entre espécies em relação aos
efeitos da xilazina e detomidina, uma vez que a detomidina, via intravenosa, na dose
de 10 µg.kg-1 promove sedação sem causar decúbito, apresentando efeitos adversos
menos intensos e por um período de tempo mais curto que a xilazina, o que a torna
um fármaco conveniente para a realização de procedimentos cirúrgicos com o animal
sedado e em estação.
REFERÊNCIAS
1. THURMON, J.C.; TRANQUILLI, W.J.; BENSON, G.J. IN: ____. Lumb & Jones’
Veterinary Anesthesia. Baltimore:Williams & Wilkins. 3a ed. p. 183-209, 1996.
2. KÄSTNER, S.B.R. Veterinary Anaesthesia and Analgesia, v.33, p. 79-96, 2006.
3. KAMERLING, S.G.; CRAVENS, W.M.T.; BAGWELL, C.A. European Journal of
Pharmacology, v.151, p.1-8, 1988.
4. SCHEININ, H.; VIRTANEN, A.; MACDONALD, E.; LAMMINTAUSTA, A.;
SCHENIN, M. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological
Psychiatry, v.13, p.635-651, 1989.
5. PLUMB, D.C. Veterinary Drug Handbook. 2.ed. Ames: Iowa State University
Press, 1995.
6. THURMON, J.C.; SARR, R.; DENHART, J.W. Compendium of Continuing
Education (Food Animal), v.1, p.11-20, 1999.
7. RIVIERE, J.E.; PAPICH, M.G. In: ____. Veterinary Pharmacology and
Therapeutics. 9 ed. New York: John Wiley & Sons, p. 348-349, 2009.
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DIFERENCIAÇÃO CONDROGÊNICA DE CÉLULAS-TRONCO
MESENQUIMAIS DE EQUINOS
CHONDROGENIC
DIFFERENTIATION
OF
EQUINE
MESENCHYMAL
STEM
CELLS
RIBEIRO,
G.27;
MASSOCO,
C.
O.28,
LACERDA
NETO,
J.
C.29
Palavras-chave: células-tronco mesenquimais, equinos, TGF-beta.
Keywords: mesenchymal stem cells, equine, TGF-beta.
Introdução
O reparo de lesões em tecido cartilaginoso permanece ainda como um desafio
clínico expressivo. A lesão da cartilagem articular apresenta limitado potencial de
reparo e grandes defeitos não cicatrizam espontaneamente. Quando a lesão se
estende ao osso subcondral, o processo de reparo é esporádico, sendo a cartilagem
articular original substituída por fibrocartilagem e tecido cicatricial, os quais são
estruturalmente inferiores à arquitetura hialina da cartilagem articular normal1. Os
tratamentos convencionais para os defeitos cartilaginosos incluem técnicas de
estimulação da medula, como a perfuração subcondral, e artroplastias. Infelizmente
essas opções, bem como as estratégias desenvolvidas recentemente usando
enxertos osteocondral, pericondral e periosteal não resultam em completa
regeneração da arquitetura hialina original e a articulação é incapaz de suportar o
peso e atividade física por períodos prolongados1. Entre as estratégias terapêuticas
desenvolvidas pela engenharia de tecidos, a implantação de condrócitos representa
uma alternativa promissora diante das técnicas tradicionais. Contudo, o uso de
condrócitos alógenos carrega o risco inerente da reação autoimune. O uso de
condrócitos autógenos elimina este risco, mas é limitado pela falta de locais
adequados do doador e a necessidade de grandes amostras de cartilagem doada. Em
virtude destas dificuldades, outras fontes precursoras de condrócitos têm sido
estudadas e a utilização de células-tronco mesenquimais parece ter aplicabilidade
óbvia, visto que são células progenitoras pluripotentes capazes de se diferenciar em
muitos tipos celulares, incluindo condrócitos2. Os fatores que induzem o
desenvolvimento das células-tronco mesenquimais de equinos em condrócitos ainda
não são bem conhecidos. Em estudos com células-tronco mesenquimais realizados
em indivíduos da espécie humana, a diferenciação condrogênica foi estimulada por
meio do tratamento das células com fator de crescimento transformante β1 (TGFβ1)1,3,4. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito condrogênico do TGF-β1 sobre
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Paulo/SP, CEP 05083-070, [email protected]
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células-tronco mesenquimais de equinos obtidas a partir da medula
óssea e tecido adiposo e mantidas em dois diferentes meios de cultivo. Cinco cavalos
adultos foram submetidos à coleta de medula óssea do esterno e, em seguida, de
tecido adiposo da região glútea próxima a inserção da cauda. As amostras foram
processadas para o isolamento de células mononucleares, utilizando-se gradiente de
densidade Ficoll. Após 72 horas de cultivo primário e remoção das células não
aderentes, as amostras foram cultivadas em dois tipos de meios de cultivo diferentes:
meio DMEM acrescido de 10% de soro fetal bovino (SFB) ou meio AIM-V sem SFB.
Os meios de cultivo foram trocados a cada três dias e, no vigésimo quinto dia, foi
adicionado 10ng/ml de TGF-β1 aos meios DMEM e AIM-V, mantendo um grupo
controle sem TGF-β1 para cada meio. Depois de seis dias, avaliou-se os efeitos do
TGF-β1 sobre as culturas. A contagem de unidades formadoras de colônia (CFU) foi
realizada antes e após a introdução do TGF-β1. Para detectar o número de células
em apoptose ou necrose, foi utilizada a técnica de citometria de fluxo proposta por
LORA et al.5, e os marcadores utilizados foram a anexina V marcada com
isotiocianato de fluoresceína – FITC, para identificação das células em apoptose, e o
iodeto de propídeo, para identificação das células em necrose. As avaliações foram
realizadas no vigésimo quinto dia de cultivo, antes da adição do TGF-β1, e seis dias
após. A diferenciação condrogênica foi avaliada por meio de análise citoquímica a fim
de identificar a presença de proteoglicanas sulfatadas, tipicamente encontradas na
matriz cartilaginosa e que podem ser visualizadas com o uso da coloração Alcian Blue
em pH ácido6. Os resultados foram analisados por meio do teste Tukey-Kramer de
comparações múltiplas7. Para a realização dos testes foi utilizado o programa
GraphPad Prism 3.0. O limite de significância adotado foi de 5% (p≤0,05). Os
resultados obtidos mostraram que a suplementação do meio de cultivo com TGF-β1
aumentou significativamente o número de colônias formadas em culturas de célulastronco mesenquimais de equinos provenientes tanto da medula óssea quanto do
tecido adiposo. A diferenciação condrogênica é caracterizada pela formação de
nódulos celulares entremeados a uma matriz extracelular constituída de colágeno tipo
II e proteoglicanas sulfatadas. Estas proteoglicanas sulfatadas podem ser
especificamente detectadas pela coloração Alcian Blue1. Neste trabalho, uma
coloração azulada ao redor das células foi verificada tanto nas culturas de célulastronco mesenquimais obtidas da medula óssea quanto nas culturas de células-tronco
mesenquimais provenientes do tecido adiposo, seis dias após o início do cultivo com
TGF-β1, confirmando a presença de proteoglicanas sulfatadas e a atuação deste fator
na indução condrogênica, uma vez que as amostras controle não foram coradas. O
potencial condrogênico do TGF-β1 sobre culturas de células-tronco mesenquimais de
equinos também foi observado em estudos2,8 utilizando células obtidas da medula
óssea, mas ainda não havia sido utilizado em cultura de células obtidas de tecido
adiposo de equinos. Observou-se ainda que o meio de cultivo pode exercer influência
sobre a porcentagem de ocorrência de necrose ou apoptose celular e que a presença
do TGF-β1 é capaz de alterar a prevalência do tipo de morte celular, exercendo efeito
indutor de apoptose em culturas de células-tronco mesenquimais de equinos. Esta
atividade indutora de apoptose do TFG-β1 sobre diversos tipos celulares também foi
relatada por outros pesquisadores9,10 e poderia ser interpretada como benéfica
quando o destino das células em cultivo é a aplicação clínica, pois sabe-se que
durante o processo de necrose ocorrem danos às células vizinhas e reação
inflamatória local, enquanto na apoptose os corpos apoptóticos são rapidamente
fagocitados e removidos sem causar processo inflamatório11.
Trabalho aprovado pelo Cebea (Comissão de Ética e Bem-Estar Animal,
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REFERÊNCIAS
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AVALIAÇÃO DE SOBREVIDA, ALTERAÇÕES GENITOURINÁRIAS,
COMPORTAMENTAIS E DE PESO CORPÓREO NO PÓS-OPERATÓRIO
TARDIO EM CADELAS E GATAS SUBMETIDAS À OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIA SOB DIFERENTES MÉTODOS DE LIGADURA DO
PEDÍCULO OVARIANO
EVALUATION OF SURVIVAL, GENITOURINARY, BEHAVIORAL AND
WEIGHT CHANGES AFTER LATE SURGICAL PROCEDURE IN DOGS AND
CATS SUBMITTED TO OVARIOSALPINGOHISTERECTOMY TROUGH
DIFFERENT METHODS OF OVARIAN PEDICLE LIGATURE
PARDINI, L.M.C.30, LIMA, A.F.M.31, LUNA, S.P.L.32
Palavras-chave: Cadelas. Gatas. Ovariosalpingohisterectomia.
Key-words: Bitches. Cats. Ovariosalpingohisterectomy.
INTRODUÇÃO
A falta de conscientização sobre a posse responsável de animais como cães
e gatos e a carência de programas governamentais e sociais destinados ao
controle do número de animais leva à reprodução excessiva, gerando um grande
número de animais não domiciliados ou errantes.
Para a diminuição da população animal, é fundamental o controle
reprodutivo, principalmente por meio da esterilização cirúrgica, cuja técnica é a
ovário-histerectomia nas fêmeas. Quando realizada em animais saudáveis, é
considerada um procedimento seguro e de rotina, com baixa incidência de
morbidade e mortalidade1 , além de reduzir a susceptibilidade a enfermidades
como neoplasias mamárias e doenças reprodutivas2. Entretanto, pode estar
associada a diversas complicações, decorrentes da intervenção anestésica e
cirúrgica ou dos efeitos sistêmicos da privação do estrógeno, já que os hormônios
gonadais influenciam a reprodução e o desenvolvimento esquelético, físico e
comportamental de animais imaturos3.
A obesidade é tida como um dos principais pontos negativos da esterilização
cirúrgica4. Estudos sugerem que há um pequeno ganho de peso em fêmeas
castradas5, entretanto isto pode ser controlado por exercícios e dieta6.
30
Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da FMVZ – Unesp, Botucatu.
31
Doutorando do Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da FMVZ – Unesp, Botucatu.
32
Professor titular do Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da FMVZ – Unesp, Botucatu.
Correspondência
para/
Correspondence
to:
Luciana
Moura
Campos
Pardini.
Rua
Joaquim
do
Amaral
Gurgel,
331.
Vila
Assumpção.
CEP:
18606‐020.
Botucatu
‐
SP,
Brasil.
E‐mail:
[email protected]
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O aumento da ocorrência de incontinência urinária em cadelas é
um forte argumento contra a castração e tem sido associada à gonadectomia em
cadelas7.
A dermatite perivulvar é frequentemente associada à esterilização cirúrgica em
cadelas, particularmente quando realizada antes da puberdade, dado ao
desenvolvimento insatisfatório da vulva. Entretanto, não existem estudos
comparativos da incidência em cadelas inteiras e castradas8.
OBJETIVOS
Objetivou-se neste estudo monitorar o período pós-operatório tardio de
fêmeas das espécies felina e canina castradas em projeto de extensão
universitária, com o intuito de avaliar os benefícios e a incidência de efeitos
adversos.
METODOLOGIA
Foram utilizadas 178 fêmeas, 135 caninas e 43 felinas, provenientes da
campanha de castração realizada pela FMVZ-Unesp-Botucatu em parceria com a
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, a Prefeitura Municipal de Botucatu
e de outros municípios do Estado e a Associação Protetora dos Animais de
Botucatu nos anos de 2006 e 2007. As informações foram obtidas através de
telefonemas aos proprietários que foram questionados se o animal encontrava-se
vivo ou morto (causa da morte e quanto tempo após a cirurgia ela ocorreu), se
ocorreram alterações físicas (ganho de peso, aparecimento de incontinência
urinária e dermatite perivulvar) e alterações comportamentais negativas (apatia,
agressividade, agitação excessiva) ou positivas (tranquilidade, docilidade,
diminuição do comportamento de perambulação).
Os animais foram divididos em grupos de acordo com a espécie e a técnica
cirúrgica:
55 fêmeas caninas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica
conservativa, utilizando-se lacre plástico (3), fio de náilon (27) ou de seda (25).
80 fêmeas caninas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica
minimamente invasiva, utilizando-se lacre plástico (59), fio de náilon (14) ou de
seda (7).
Oito fêmeas felinas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica
conservativa, utilizando-se fio de náilon (6) ou de seda (2).
- 35 fêmeas felinas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica
minimamente invasiva, utilizando-se lacre plástico (4), fio de náilon (30) ou
de seda (1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados demonstraram que, entre as 55 cadelas submetidas à ováriohisterectomia conservativa, houve seis (10,9%) mortes, bem como entre as 80
fêmeas submetidas à ovário-histerectomia minimamente invasiva, houve também 6
(7,5%) mortes. Ainda entre as cadelas, 87 (64,44%) apresentaram ganho de peso
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após a cirurgia, apenas uma (0,74%) apresentou incontinência
urinária e quatro (2,96%) apresentaram dermatite perivulvar. Alterações de
comportamento positivas foram relatadas em 38 (28,15%) cadelas e alterações de
comportamento negativas em seis (4,44%). Portanto, 91 (67,40%) fêmeas não
apresentaram alterações de comportamento.
Já entre as gatas, das oito fêmeas submetidas à ovário-histerectomia
conservativa, 100% permaneceram vivas, enquanto entre as 35 fêmeas submetidas
à ovário-histerectomia minimamente invasiva, houve seis (17,14%) mortes.
Ganho de peso foi relatado em 25 (58,14%) gatas, incontinência urinária em
uma (2,32%) gata e dermatite perivulvar em duas (4,65%) gatas. Alterações de
comportamento positivas ocorreram em 20 (46,51%) fêmeas, alterações de
comportamento negativas em nenhuma fêmea (0%) e 23 (53,49%) fêmeas não
apresentaram alterações de comportamento.
O presente estudo avaliou a incidência da obesidade pós-castração de forma
bastante subjetiva, sem a pesagem dos animais. As informações sobre alterações
decorriam de uma avaliação visual realizada pelo proprietário. Constatou-se que
64,44% (87/135) das cadelas e 58,14% (25/4) das gatas engordaram.
Frequentemente a obesidade é tida como decorrência de um aumento do
apetite e do sedentarismo em animais castrados9. A diminuição nos níveis de
hormônios sexuais após a gonadectomia poderia explicar o ganho de peso, que
posteriormente poderá se transformar em obesidade, pois, apesar de não serem
reguladores primários do metabolismo, os hormônios gonadais influenciam o peso
corpóreo, atuando diretamente nos centros cerebrais que controlam a saciedade, ou
indiretamente, alterando o metabolismo celular4.
Devido a tais alterações no metabolismo, cães esterilizados são mais
predispostos a apresentar sobrepeso ou obesidade que cães intactos. Estudos
indicam que o risco de surgimento da obesidade em fêmeas esterilizadas é duas
vezes maior que em fêmeas intactas10. Fêmeas esterilizadas são seis vezes mais
propensas a serem obesas e 1.2 vezes mais propensas a apresentar sobrepeso
quando comparadas a fêmeas intactas11.
A obesidade e o sobrepeso estão associados a uma série de problemas de
saúde em cães e gatos. Animais com excesso de peso são mais predispostos a
desenvolverem
hiperadrenocorticismo,
ruptura
do
ligamento
cruzado,
hipotireoidismo, doença do trato urinário inferior, diabete mellitus, pancreatite e
neoplasias12.
De forma geral, 50 a 70% dos cães adultos diminuem em 50 a 90%
comportamentos negativos como monta e perambulação e 25% diminuem a
agressividade contra animais e pessoas após a castração13. Neste estudo, 28,15%
das cadelas e 46,51% das gatas apresentaram alterações de comportamento para
melhor, demonstrando que, entre as cadelas, a porcentagem manteve-se
semelhante à do estudo citado, enquanto que, em relação às gatas, a porcentagem
foi maior. Embora a esterilização retire as gônadas dos animais, ainda há a
presença de hormônios esteroides circulantes. Estes são provenientes da adrenal, e
talvez por isso alguns efeitos dos hormônios sexuais ainda se expressem14.
A incontinência urinária, originada pela falta de estrógeno no organismo da
fêmea, ocorre com maior frequência em cadelas castradas com peso superior a 20
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kg, sendo mais prevalente em algumas raças, principalmente Boxer e
Mastife15. A incontinência urinária ocorre em 12,5% das cadelas com peso corporal
elevado (>20 kg) e em 5% das cadelas de baixo peso (< 20 kg)16. No presente
estudo verificou-se uma incidência muito menor, apenas uma cadela (0,74%)
apresentou o problema. Entre as gatas avaliadas, também confirmou-se um único
caso (2,32%). No entanto, tal achado depende do tempo de acompanhamento da
fêmea no pós-operatório e pode se manifestar cerca de dois a três anos após a
cirurgia.
A incontinência urinária é de etiologia multifatorial e pode estar associada a
outros fatores ligados ao sexo, como a posição da bexiga (intrapélvica ou intraabdominal), o diâmetro e o comprimento da uretra e também a raça. O estrógeno
aumenta a afinidade dos receptores adrenérgicos no esfíncter uretral a
neurostransmissores simpatomiméticos, alterando o tônus do esfíncter, portanto a
administração de dietilbestrol nas fêmeas pode corrigir problemas de incontinência
urinária decorrente do hipoestrogenismo4.
Em fêmeas, as dermatites perivulvares e as vaginites são frequentemente
associadas à esterilização cirúrgica, particularmente quando realizada antes da
puberdade, dado ao desenvolvimento insatisfatório da vulva, no entanto não existem
estudos comparativos da incidência em fêmeas inteiras e castradas8. O recesso
vulvar e excesso de pele podem promover o acúmulo de urina e secreções vaginais,
favorecendo o crescimento bacteriano e a inflamação local, o que pode resultar não
apenas em dermatite perivulvar mas também em vaginite ascendente4.
Na espécie felina o efeito da castração sobre a incidência de dermatite
perivulvar foi clinicamente insignificante17, corroborando com os achados deste
estudo, já que apenas duas (4,65%) gatas apresentaram o problema.
CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou que a taxa de mortalidade dos animais
submetidos à ovário-histerectomia tanto pela técnica conservativa quanto pela
técnica minimamente invasiva não apresenta importância significativa, já que
nenhuma morte esteve diretamente relacionada ao procedimento cirúrgico. Concluise também que o ganho de peso ocorreu na maioria dos animais, podendo ser
controlado com dietas e exercícios físicos, enquanto a dermatite perivulvar e a
incontinência urinária não apresentaram índices relevantes. A maioria dos animais
demonstrou alterações de comportamento para melhor ou manteve a mesma índole
de antes do procedimento cirúrgico. Portanto, a esterilização cirúrgica é um método
de grande importância no controle da superpopulação de cães e gatos e seus
efeitos adversos são pequenos quando comparados à grandeza de seus benefícios.
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DESCOMPRESSÃO DO NÚCLEO DA CABEÇA FEMORAL EM CÃES
PORTADORES DE NECROSE ASSÉPTICA: DOIS CASOS
FEMORAL HEAD CORE DECOMPRESSION IN DOGS WITH AVASCULAR
NECROSIS OF THE FEMORAL HEAD: 2 CASES
LINS, B.T.33,34; PRADA, F.S.1; GUARNIERO, F. 1; SELMI, A.L.2; SANTOS,
S.S.2
Palavras-chave: Necrose asséptica da cabeça do fêmur, Descompressão do núcleo
da cabeça do fêmur, Cão.
Key-words: Femoral
decompression, Dog.
head
asseptic
necrosis,
dogs,
Femoral
head
core
INTRODUÇÃO
A necrose asséptica da cabeça do fêmur foi descrita em humanos de forma
isolada por Legg, Calve e Perthes no ano de 1910 (GUARNIERO et al., 2005). A
doença também ocorre em cães, com maior incidência nas raças miniaturas como
Pinscher, Poodle, Yorkshire. Acredita-se que alterações na vascularização da epífise
proximal do fêmur resultem em aumento da atividade osteoclástica e consequente
reabsorção óssea. O suprimento sanguíneo da epífise proximal do fêmur é realizado
pelas artérias circunflexas lateral e medial e ramos da artéria femoral. Em cães de
pequeno porte, esse suprimento sanguíneo parece ser mais vulnerável ao aumento
da pressão intra-articular e intraóssea, fato que pode resultar em interrupção do fluxo
sanguíneo para a epífise proximal do fêmur. O diagnóstico é confirmado com base
nas alterações radiográficas, que podem variar de pequenas áreas líticas na epífise
proximal do fêmur até o completo remodelamento e fratura dessa região
(GUARNIERO et al., 2005). O tratamento preconizado até o momento para cães
portadores de necrose asséptica é a ressecção da cabeça e colo femorais. O
procedimento de descompressão do núcleo da cabeça femoral tem sido empregado
com índices de sucesso satisfatórios em crianças portadoras de necrose asséptica
(DEFINO et al., 1991). O procedimento consiste na perfuração de orifício na região do
colo e cabeça femorais, de forma a se promover redução da pressão intraóssea, com
conseqüente alívio da dor e revascularização da região (PENEDO et al., 1993;
RANCANTI et al, 1998; MONT et al., 2004). O presente estudo tem por objetivo
descrever o emprego da técnica de descompressão do núcleo da cabeça femoral em
cães e seus resultados preliminares.
33
Instituto de Ortopedia e Traumatologia – Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo.
34
Universidade Anhembi Morumbi: Rua Conselheiro Lafaiete, n.64, Brás. SP. [email protected]
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MATERIAIS E MÉTODOS
Dois cães da raça Yorkshire Terrier, ambos machos, com aproximadamente
oito meses de idade e histórico de claudicação leve de membro pélvico há
aproximadamente 15 dias. Ao exame clínico, foi verificada intensa dor à abdução e
extensão do quadril em ambos os pacientes. À avaliação radiográfica, foram
visibilizadas pequenas áreas líticas com aproximadamente 5 mm de diâmetro em
região de epífise proximal do fêmur. Aos demais exames pré-operatórios, não foi
observada nenhuma alteração digna de nota. Após consentimento dos proprietários,
os pacientes foram submetidos à descompressão do núcleo da cabeça femoral. Para
a intervenção cirúrgica, a indução anestésica foi realizada com propofol (4mg.kg -1),
após a medicação pré-anestésica com maleato de acepromazina (0,05mg/kg-1)
associado a cloridrato de morfina (0,3mg.kg-1) e manutenção anestésica realizada por
sevoflurano. Logo após a indução anestésica, os animais receberam uma dose de
cefalotina sódica de 30 mg kg-1 por via intravenosa. Os cães foram posicionados em
decúbito lateral e, após preparo do campo cirúrgico, foi procedida a abordagem
craniolateral ao fêmur proximal de acordo com a técnica descrita por PIERMATTEI &
JOHNSON (2004). A cortical lateral do fêmur foi exposta após a tenotomia parcial do
músculo vasto lateral em seu ponto de origem, próximo ao trocanter maior. Um túnel
ósseo foi perfurado, com broca de 1.5mm acoplada à perfuratriz elétrica, do colo
femoral em direção à cabeça femoral. Para tal procedimento, realizou-se a
mensuração radiográfica prévia da distância do trocanter maior até a superfície
articular da cabeça femoral, de forma a se evitar a penetração articular e lesão
iatrogênica da cartilagem articular. Os fragmentos ósseos presentes na broca foram
coletados para avaliação histopatológica. Em seguida foi procedida a sutura de
aproximação do músculo vastolateral com pontos simples interrompidos,
empregando-se náilon 2-0, seguida de síntese da fascia lata e tecido subcutâneo com
padrão contínuo simples e poliglecaprone 25 3-0 e pele em padrão interrompido
simples com náilon 3-0. No período pós-cirúrgico, foi prescrito meloxican (0,1mg.kg1
/sid) por via oral durante três dias e preconizada a troca de curativos a cada 12
horas.
RESULTADOS
Os procedimentos anestésico e cirúrgico ocorrem sem complicações nos dois
pacientes. O tempo cirúrgico para realização da descompressão do núcleo da cabeça
femoral foi de aproximadamente 20 minutos em ambos os casos. À avaliação
radiográfica pós-cirúrgica, constatou-se uma perfeita orientação do túnel ósseo, sem
penetração articular nos dois animais. Durante a avaliação, no período de 24 horas
após a intervenção cirúrgica, ambos os pacientes apresentaram deambulação normal,
porém com discreto desconforto à palpação do quadril. Aos 30 dias, não foi observado
nenhum sinal de desconforto ou redução da amplitude de movimento do quadril em
ambos os pacientes. As avaliações radiográficas após 60 dias do procedimento
cirúrgico não evidenciaram quaisquer alterações de remodelação e/ou reabsorção na
região de epífise proximal do fêmur. A avaliação histopatológica demonstrou a
presença de material amorfo e baixa celularidade, representada por um pequeno
número de osteoclastos.
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DISCUSSÃO
A descompressão do núcleo da cabeça femoral tem sido empregada com
sucesso em crianças portadoras de necrose asséptica da cabeça do fêmur (DEFINO
et al., 1991). Os autores não têm conhecimento de relatos anteriores do emprego da
técnica em cães. O alívio da sintomatologia no período de 24 horas imediatamente
após o procedimento cirúrgico nos pacientes relatados, de forma similar ao descrito
em humanos, pode estar relacionado à redução da pressão intraóssea (PENEDO et
al., 1993; RANCANTI et al, 1998; MONT et al., 2004). Os resultados obtidos durante o
seguimento de 60 dias parecem demonstrar o efeito benéfico do procedimento
cirúrgico de descompressão do núcleo da cabeça femoral na redução da reabsorção e
remodelamento da cabeça femoral. O procedimento cirúrgico é tecnicamente simples,
de baixo custo e não necessita de instrumental ou implantes específicos (PENEDO et
al., 1993). Entretanto, alguns pontos necessitam ser observados. Deve-se preconizar
uma abordagem mínima à região proximal do fêmur, a fim de se promover menor
comprometimento da vascularização dessa região. A orientação do sentido de
perfuração constitui o ponto mais crítico da técnica, principalmente em virtude do
pequeno porte dos pacientes acometidos. Para se evitar lesão iatrogênica à
articulação do quadril, foi realizada uma criteriosa observação radiográfica do fêmur
proximal, com mensuração prévia do ângulo de inclinação do colo femoral e do
comprimento do túnel ósseo até o osso subcondral da cabeça femoral como
parâmetros de orientação durante o ato cirúrgico. O auxílio de fluoroscopia, como
realizado em ortopedia humana, pode viabilizar a realização do procedimento de
forma minimamente invasiva (PENEDO et al., 1993). Entretanto, este é um recurso
que não é disponibilizado na prática dos autores. Sendo assim, a orientação por um
guia de perfuração fixado ao fêmur proximal pode ser de grande valor para o correto
posicionamento durante a perfuração óssea.
O procedimento de descompressão do núcleo da cabeça femoral é uma
técnica de tempo cirúrgico diminuto e que não exclui a possibilidade de futura
ressecção da cabeça e colo femoral ou substituiçào total da articulação. O caráter
minimamente invasivo do procedimento favorece a rápida recuperação do paciente e
minimiza o risco de infecção pós-opertória. Diferentemente do procedimento realizado
em crianças, a utilização de enxerto ósseo vascularizado parece ser um ponto
complexo em virtude do tamanho do túnel ósseo e necessidade de técnicas de
microcirurgia para anastomose vascular, e por isso não foi empregada. Uma
alternativa possível seria o preenchimento do túnel ósseo por enxerto ósseo
esponjoso autógeno. Os resultados preliminares associados a um bom prognóstico e
a ausência de progressão da doença refletem a possibilidade de emprego do método
em uma população de cães portadores de necrose asséptica sem alterações
radiográficas avançadas, como alternativa ao procedimento de ressecção da cabeça e
colo femorais, entretanto, os resultados a longo prazo ainda precisam ser
estabelecidos.
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técnica de descompressão. Revista Brasileira de Ortopedia. v.26, p.395-402,
1991.
3. PENEDO, J.L., et al. Necrose avascular da cabeça femoral: tratamento pela
técnicade descompressão cirúrgica. Revista Brasileira de Ortopedia, v.28, n.6,
p.338-343, 1993.
4. RANCANTI, M.A., et al. Dissociação clínico- radiológica após a "core
descompression" no tratamento da osteonecrose da cabeça femoral. Revista
Brasileira de Ortopedia, v.33, p.793- 798, 1998.
5. MONT, M.A., et al. Core Decompression of the Femoral Head for Osteonecrosis
Using Percutaneous Multiple Small-Diameter Drilling. Clinical Orthopedics,
v.429, p.131-138, 2004.
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Brasileiro
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Ciência
Animal
–
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v.3,
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suplemento,
2010.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE LESÕES ÓSSEAS CRIADAS NA
PORÇÃO PROXIMAL DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDOS À IRRADIAÇÃO
COM LASER TERAPÊUTICO DE BAIXA INTENSIDADE (InGaAlP:
670nm/30mW) NAS FASES AGUDAS E CRÔNICAS
HISTOPATHOLOGIC ANALYSIS OF BONE LESIONS CREATED PROXIMAL
PORTION OF TIBIA RATS SUBMITTED TO IRRADIATION WITH LOWINTENSITY LASER THERAPY (InGaAlP: 670nm/30mW) IN ACUTE AND
CHRONIC PHASES
MOTA, F.C.D35, BELETTI, M.E36, OKUBO, R37, BELO, M.A.A1, EURIDES, D2,
FATORETTO, L.A1
Palavras-chave: histopatológia, laserterapia de baixa intensidade, osteotomia
Key Words: histopathology, low-intensity lasertherapy, osteotomy
Introdução
A não consolidação óssea é um dos principais problemas encontrados na
ortopedia, sendo a condição inicial para o desenvolvimento da pseudartrose, e esta
por sua vez1, ainda é responsável por alto número de complicações, pois nem sempre
se observa a sua cura, mesmo após a aplicação de recentes técnicas cirúrgicas2. O
laser de baixa intensidade vem sendo utilizado nos últimos anos como um
coadjuvante na osteogênese por atuar na melhoria das propriedades mecânicas do
calo ósseo, pois aumenta o número de osteoblastos e fibroblastos no calo da fratura3,
estimulando desta forma a síntese da matriz óssea4. Apesar dos vários estudos, os
efeitos do comprimento de onda, tipo de feixe, nível e intensidade de energia e regime
de exposição do laser terapêutico continuam não explicados. Alem disso, não existem
determinações especificas de dosimetria e mecanismo de ação para os diferentes
tipos celulares5.
Objetivo
O presente estudo teve por objetivo avaliar os resultados histopatológicos da
radiação do laser de baixa intensidade na fase aguda e crônica da reparação de
falhas ósseas criadas na extremidade proximal da tíbia de ratos Wistar.
35
Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Av. Hilário da Silva Passos 950, Parque Universitário.
Descalvado, SP. 13690-000, Brasil. [email protected]
36
Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
37
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo USP).
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Metodologia
Foram utilizados 63 animais, machos, com peso médio de 300 g e idade entre
12 e 15 semanas. Os animais foram anestesiados com a associação de cloridado de
quetamina 10% (0,2 ml/kg) e cloridado de xilazina 2% (0,07 ml/kg), aplicados por via
intramuscular. Em seguida, com o auxilio de uma broca acoplada a uma minirretífica
de baixa rotação, sob irrigação constante de solução fisiológica, foi criada uma falha
óssea de 2 mm de diâmetro com profundidade total, aproximadamente 8 mm distal à
articulação do joelho do membro direito. Após a cirurgia, os animais foram divididos
em três grupos, com 21 animais cada sendo:
- O grupo I: Grupo controle, submetidos à osteotomia, receberam o protocolo de
aplicação com o equipamento desligado. Este grupo foi subdividido em três subgrupos
de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório.
- O grupo II: Grupo agudo, submetidos à osteotomia, receberam o protocolo de
aplicação do laser de baixa intensidade, 24 horas após a lesão. Este grupo foi
subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28
dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias receberam
um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove sessões; e
os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.
- O grupo III: Grupo crônico, submetidos à osteotomia, receberam o protocolo de
aplicação do laser de baixa intensidade, no quinto dia após a lesão. Este grupo foi
subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28
dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias receberam
um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove sessões; e
os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.
O aparelho foi programado com laser de Índio Gálio Alumínio Fósforo (InGaAlP), com
comprimento de onda de 670nm e potência de 30 mW (continuo), com aplicação em
varredura, abrangendo toda a área da lesão a uma dose de 90 J/cm 2 por um período
de quatro minutos e 33 segundos. Os animais de ambos os grupos foram submetidos
à eutanásia no final dos respectivos dias de observação, com sobredose de tiopental
sódico por via intraperitoneal. As tíbias foram dissecadas e desarticuladas
proximalmente à articulação do joelho e distalmente à articulação társica. Em seguida,
peças sofreram descalcificação por passagem de corrente elétrica em ácido
tricloroacético 8%, e foram processadas conforme técnica de rotina. Os cortes
histológicos foram corados pela hematoxilina e eosina, tricrômico de Malori e
coloração de Shorr modificada.
Resultados
O grupo controle apresentou as seguintes características histopatológicas: aos
nove dias, o centro da lesão estava preenchido por fragmentos ósseos e coágulo
sanguineo em fase de reabsorção. Perifericamente, notava-se tecido conjuntivo
bastante celular, com presença de fibroblastos, macrófagos, osteoclastos e
ostoblastos. Aos 17 dias, apresentava de forma geral intensa invasão de tecido
conjuntivo denso no interior da lesão, com pouca formação de tecido ósseo. E os
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
analisados aos 28 dias apresentavam a lesão totalmente preenchida
por tecido ósseo, com característica de ossificação endocondral, sendo que em
alguns animais podiam se notar pequenas áreas de tecido conjuntivo denso. Grupo II
(submetido à terapia laser 24 horas apos a lesão): aos nove dias, o centro da lesão
estava preenchido por fragmentos ósseos e coágulos em fase de reabsorção, de
forma semelhante ao grupo controle também analisado aos nove dias, no entanto em
fase mais avançada. O centro da lesão e a periferia apresentavam intensas áreas de
ossificação, sendo basicamente do tipo endocondral. Aos 17 dias notava-se a lesão
totalmente preenchida por osso endocondral. Todos os animais analisados no período
de 28 dias apresentavam a lesão totalmente preenchida por osso, não sendo possível
nesta fase identificar qual o tipo. Grupo III (submetido à terapia laser no quinto dia
apos a lesão): aos nove dias, apresentavam resultados bastantes semelhantes aos do
grupo controle, também observados por este período, com inicio do processo de
ossificação intramenbranosa e pequenas áreas de ossificação endocondral. Aos 17
dias, notavam-se no local da lesão áreas de ossificação endocondral e tecido
conjuntivo denso, sendo este em maior quantidade. Aos 28 dias os resultados eram
semelhantes aos do grupo II, com a lesão totalmente preenchida por osso.
Discussão
Nesta pesquisa a maior formação óssea observada histologicamente ocorreu
nos grupos II e III analisados aos 17 dias de pós-operatório. A este resultado
atribuímos a ação da terapia laser de baixa intensidade, que atua aumentando a
atividade de reabsorção e formação óssea em fraturas6, por estimular a formação de
osteoides e o aumento do número de osteoblastos e sua ativação na síntese da
matriz óssea4, aumentando desta forma incorporação de cálcio intracelular5. Já a
diferença entre os grupos II e III, ocorreu provavelmente pelo fato do laser atuar
estimulando a proliferação e ou a diferenciação de células mesenquimais
osteoprogenitoras ainda imaturas, não tendo efeito em áreas onde predominam
células maduras já diferenciadas3.
Conclusão
O laser de baixa intensidade auxilia no processo de consolidação óssea,
sendo seus efeitos mais predominantes quando ele é aplicado na fase aguda das
lesões.
Referências
1. Brighton, CT. (1984). The semi-invasive method of treating nonunion with
direct current. The Orthopedic Clinics of North America, 15: 33-45.
2. Nolte, PA. et al., (2001) Low-intensity pulsed ultrasound in the treatment of
nonunions. The Journal of Trauma, 51: 693-701.
3. Galvão, APL. (2006). Comparative study of low-level laser therapy and lowintensity pulsed ultrasound affect bone repair in rats. Photomedicine and laser
surgery, 24: 735-740.
4. Freitas, IG; Baranauskas, V; Cruz-Höfling, MA. (2000). Laser effects on
osteogenesis. Applied surface science, 548-554.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
5. Coombe, AR. et al. (2001). The effects of low level laser
irradiation on osteoblastic cells. Clinical Orthopaedics and Related Research,
4: 3-14.
6. Nicolau, RA., et al. (2003). Effect of low-power GaAlAs laser (660nm) on bone
structure and cell activity: an experimental animal study. Lasers in Medical
Science, 18: 89-94.
Trabalho aprovado pelo CEP/Unicastelo (Comitê de Ética em Pesquisa – Unicastelo)
de acordo com o protocolo: 2466-2686/09
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS
SUBMETIDAS À OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E IRRADIADAS COM
LASERTERAPIA (INGAALP: 670NM/30MW) NA FASE AGUDA E CRÔNICA
DA LESÃO
ANALYSIS
OF
MECHANICAL
PROPERTIES
OF
TIBIA
RATS
SUBMITTED
TO
CIRCULAR
OSTEOTOMY
AND
IRRADIATED
WITH
LASERTHERAPY
(INGAALP:
670NM/30MW)
IN
ACUTE
AND
CHRONIC
INJURY
MOTA,
F.C.D38,
BELETTI,
M.E39,
OKUBO,
R40,
BELO,
M.A.A1,
EURIDES,
D2,
FATORETTO,
L.A1
Palavras-chave: propriedade mecânica, laser de baixa intensidade, osteotomia
Key Words: mechanical property, low-intensity laser, osteotomy
Introdução
O laser de baixa intensidade vem sendo utilizado nos últimos anos como um
coadjuvante na osteogênese1, pois atua na melhoria das propriedades mecânicas do
calo ósseo, aumentando o número de osteoblastos e fibroblastos no calo da fratura e
estimulando, desta forma, a síntese da matriz óssea2. Apesar dos vários estudos, os
efeitos do comprimento de onda, tipo de feixe, nível e intensidade de energia e regime
de exposição do laser terapêutico continuam não explicados3. Alem disso, não
existem determinações especificas de dosimetria e mecanismo de ação para os
diferentes tipos celulares4. As propriedades mecânicas são atributos que caracterizam
o material analisado. A rigidez é definida como força necessária para obter uma
deformação elástica (maior a dureza do material). Fase elástica é aquela em que o
material deformará somente enquanto a carga estiver sendo aplicada, retornando ao
seu tamanho e dimensões originais quando a carga for removida. Tensão máxima é o
valor máximo da força, dividida pela área de secção transversa do objeto5.
Objetivo
38
Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Av. Hilário da Silva Passos 950, Parque Universitário.
Descalvado, SP. 13690-000, Brasil. [email protected]
39
Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
40
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo USP).
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O presente estudo teve por objetivo avaliar as propriedades
biomecânicas da tíbia de ratos submetidas à osteotomia por escareação e tratadas
com o laser de Índio Gálio Alumínio Fósforo (InGaAlP) nas fases agudas e crônicas
da lesão.
Metodologia
Foram utilizados 63 animais, machos, com peso médio de 300 g e idade entre
12 e 15 semanas. Os animais foram anestesiados com a associação de cloridado de
quetamina 10% (0,2 ml/kg) e cloridado de xilazina 2% (0,07 ml/kg), aplicados por via
intramuscular. Em seguida, com o auxilio de uma broca acoplada a uma minirretífica
de baixa rotação, sob irrigação constante de solução fisiológica, foi criada uma falha
óssea de 2 mm de diâmetro com profundidade total, aproximadamente 8 mm distal à
articulação do joelho do membro esquerdo. Após a cirurgia, os animais foram
divididos em três grupos, com 21 animais cada um, sendo:
- O grupo I: Grupo controle. Submetidos à osteotomia, os animais receberam o
protocolo de aplicação com o equipamento desligado. Este grupo foi subdividido em
três subgrupos de sete animais cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pósoperatório.
- O grupo II: Grupo agudo. Animais submetidos à osteotomia, que receberam o
protocolo de aplicação do laser de baixa intensidade, 24 horas após a lesão. Este
grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos
nove, 17 e 28 dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias
receberam um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove
sessões; e os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.
- O grupo III: Grupo crônico. Submetidos à osteotomia, os animais receberam o
protocolo de aplicação do laser de baixa intensidade, no quinto dia após a lesão. Este
grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos
nove, 17 e 28 dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias
receberam um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove
sessões; e os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.
O aparelho foi programado com laser de Índio Gálio Alumínio Fósforo (InGaAlP), com
comprimento de onda de 670nm e potência de 30 mW (continuo), com aplicação em
varredura, abrangendo toda a área da lesão a uma dose de 90 J/cm 2 por um período
de quatro minutos e 33 segundos. Os animais de ambos os grupos foram submetidos
à eutanásia no final dos respectivos dias de observação, com sobredose de tiopental
sódico por via intraperitoneal. As tíbias foram dissecadas e desarticuladas na altura do
joelho e do tarso. Após limpas, foram embebidas em solução fisiológica 0,9% e
congeladas. Anteriormente aos ensaios mecânicos, as peças eram colocadas na
geladeira para descongelar. Os ensaios mecânicos foram realizados em uma Máquina
Universal de Ensaios (MUE) (EMIC®, modelo DL10000). As tíbias foram submetidas
ao ensaio mecânico de flexão em três pontos. A carga foi aplicada transversalmente à
tíbia em sua face posterior, através de um pino superior sobre um acessório de latão
com espaçamento de 10 mm entre os apoios. Esta distância foi determinada para
melhor acoplamento da tíbia em relação ao acessório e para que a força de aplicação
recaísse sobre o local de fratura. Os ensaios foram realizados utilizando uma célula
de carga de 50 kgf. A velocidade utilizada para a aplicação de carga foi de 1 mm/min,
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com pré carga de 5 N e tempo de acomodação de 30 segundos para
todos os ensaios. Os valores registrados pela MUE foram transcritos para o programa
Tesq versão 1.0, no qual foram calculadas as propriedades mecânicas de tensão
máxima e a rigidez. Todos os dados quantitativos obtidos foram submetidos à análise
de variância (ANOVA) e teste Tukey com o nível de significância de 5% (p<0,05).
Toda a análise estatística foi realizada pelo programa GraphPad Prism® versão 5.0.
Resultados
Em relação à tensão máxima e à rigidez (tabela), nenhuma comparação
demonstrou diferença estatística significativa.
Discussão
Apesar de não haver diferença estatística, o grupo II (agudo) apresentou
maiores valores de tensão máxima em relação aos demais grupos nos períodos de
nove e 17 dias. Visto que os ossos com maior composição de tecido fibrocartilaginoso
e menos ossificados tendem a ser mais fracos6, atribuímos estes resultados a uma
fase mais avançada do processo de consolidação, observada no grupo agudo durante
a análise destes períodos e promovida pela ação do laser de baixa intensidade que
estimula a proliferação e ou a diferenciação de células mesenquimais
osteoprogenitoras ainda imaturas, levando a uma ossificação endocondral mais
prematura3.
Conclusão
Nesta pesquisa não foi observado diferença estatística entre os grupos
analisados, no entanto podemos constatar que o laser de baixa intensidade tende a
aumentar as propriedades mecânicas, principalmente quando aplicado na fase aguda
das lesões.
Referências
1. Garavello-Freitas, I. et al. (2003). Low-power laser irradiation improves
histomorphometrical parameters and bone matrix organization during tibia
wound healing in rats. Journal of Photochemistry and Photobiology,.70: 81-89.
2. Silva Junior et al. (2002). Computerized morphometric assesment of the effect
of low-level laser therapy on bone repair: an experimental animal study.
Journal of Clinical Laser Medicine & Surgery, 20: 83-87.
3. Marino, JAM. (2003). Efeito do laser de baixa potência no sobre o processo de
reparação óssea em tíbia de rato. Dissertação (mestrado) – Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos, 107p.
4. Coombe, AR. et al., (2001). The effects of low level laser irradiation on
osteoblastic cells. Clinical Orthopaedics and Related Research, 4: 3-14.
5. Souza, SA. (1974). Ensaio mecânico de materiais metálicos. Edgard Blücher:
13-58.
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6. Lurger, EJ., et al. (1998). Effect of low-Power Laser Irradiation
on the Mechanical Properties of Bone Fracture Healing in Rats. Journal of
clinical laser medicine & surgery, 22: 97-102.
Trabalho aprovado pelo CEP/Unicastelo (Comitê de Ética em Pesquisa – Unicastelo)
de acordo com o protocolo: 2466-2686/09.
Tabela: Tabela de valores (média ± desvio padrão) das diferentes análises
biomecânicas segundo os grupos experimentais e os períodos de tempo analisados.
Grupos
Tensão máxima (N/m2)
Rigidez (N/mm)
I
3419331 ± 129517
284,80 ± 63,78
II
3817048 ± 165110
286,05 ± 9,42
III
3496061 ± 235463
282,09 ± 24,59
I
3889131 ± 177548
300,29 ± 52,47
II
4133334 ± 190551
324,85 ± 12,40
III
3610022 ± 566372
295,75 ± 9,56
I
4893996 ± 604780
365,19 ± 33,14
28 dias II
4995820 ± 557305
372,87 ± 14,51
III
5105094 ± 161281
379,67 ± 57,63
9 dias
17 dia
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ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS
SUBMETIDA À OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E TRATADA COM
DECANOATO DE NANDROLONA
ANALYSIS OF MECHANICAL PROPERTIES OF TIBIA RATS SUBMITTED TO
CIRCULAR OSTEOTOMY AND TREATED WITH NANDROLONE DECANOATE
MOTA,
F.C.D41,
REBELLATO,
K.R1,
PRADO,
E.J.R1,
MORAES,
A.C1,
OKUBO,
R42,
BELO,
M.A.A1,
EURIDES,
D43.
Palavras Chaves: propriedade mecânica, decanoato de nandrolona, reparo ósseo.
Key Words: mechanical property, nandrolone decanoate, bone repair.
Introdução
A reparação óssea é um processo de cicatrização especializado que envolve a
regeneração do osso1. No entanto, o processo de reparação óssea pode ser
interrompido em virtude do fracasso de uma de suas fases, o que resulta em distúrbio
de consolidação2. Estudos têm demonstrado que os andrógenos esteroides podem
estimular diretamente a proliferação e diferenciação das células ósseas 3. Dentre as
drogas formadoras de massa óssea, podemos citar o decanoato de nandrolona, um
esteroide anabólico com poucos efeitos androgênicos, apresentando um perfil de
efeito colateral aceitável4. Este esteroide parece agir estimulando as células ósseas
através do aumento e diferenciação dos fatores de crescimento (FGF, IGF-1, TGF-β)
nas células osteoblásticas5. As propriedades mecânicas são atributos que
caracterizam o material analisado. A rigidez é definida como força necessária para
obter uma deformação elástica (maior a dureza do material). Fase elástica é aquela
em que material deformará somente enquanto a carga estiver sendo aplicada,
retornando ao seu tamanho e dimensões originais quando a carga for removida
Tensão máxima é o valor máximo da força dividida pela área de secção transversa do
objeto6.
41
Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Av. Hilário da Silva Passos 950, Parque Universitário.
Descalvado, SP. 13690-000, Brasil. [email protected]
42
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Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo USP).
Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
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Objetivo
O presente estudo teve por objetivo avaliar as propriedades biomecânicas da
tíbia de ratos submetidas à osteotomia por escareação e tratadas com o esteroide
androgênico decanoato de nandrolona.
Metodologia
Foram utilizados 56 ratos albinus, de linhagem Wistar, machos, com peso
médio de 400 g e idade entre 12 e 15 semanas. Os animais foram anestesiados com
a associação de cloridado de quetamina 10% (0,2 ml/kg) e cloridado de xilazina 2%
(0,07 ml/kg), aplicados por via intramuscular. Em seguida, com o auxilio de uma broca
acoplada a uma minirretífica de baixa rotação, sob irrigação constante de solução
fisiológica, foi criada uma falha óssea de 2 mm de diâmetro com profundidade total,
aproximadamente 8 mm distal à articulação do joelho do membro esquerdo. Após a
cirurgia os animais foram divididos em 2 grupos de 28 animais cada um.
- Grupo I: grupo controle. Submetidos à osteotomia, os animais receberam a
aplicação de 0,04 mL de óleo mineral (Nujol®), que corresponde ao mesmo volume
do esteroide aplicado no grupo tratado. Os animais deste grupo foram divididos em
dois subgrupos e analisados aos dez e 20 dias pós-cirúrgico. Os animais analisados
aos dez dias receberam duas aplicações do óleo mineral, sendo a primeira aplicação
realizada no segundo dia pós-lesão e repetida no sexto dia. Os analisados aos 20
dias receberam quatro aplicações, sendo a primeira aplicação realizada no segundo
dia pós-lesão e repetida no sexto, décimo e 14° dia.
- Grupo II: grupo tratado. Os animais foram submetidos à osteotomia, recebendo a
aplicação de 5 mg/kg do esteroide decanoato de nandrolona (Deca durabolin®), que
corresponde a um volume total de 0,04 mL por rato. Os animais deste grupo foram
divididos em dois subgrupos e analisados aos dez e 20 dias pós-cirúrgico. Os animais
analisados aos dez dias receberam duas aplicações do hormônio, sendo a primeira
aplicação realizada no segundo dia pós-lesão e repetida no sexto dia. Os analisados
aos 20 dias receberam quatro aplicações, sendo a primeira aplicação realizada no
segundo dia pós-lesão e repetida no sexto, décimo e 14° dia.
Os animais de ambos os grupos foram submetidos à eutanásia no final dos
respectivos dias de observação, com sobredose de tiopental sódico por via
intraperitoneal. As tíbias foram dissecadas e desarticuladas proximalmente à
articulação do joelho e distalmente à articulação társica. Após limpas, foram
embebidas em solução fisiológica 0,9% e congeladas. Anteriormente aos ensaios
mecânicos, as peças eram colocadas na geladeira para descongelar. Em seguida,
eram obtidas as medidas do comprimento e peso ósseo do perímetro da área de
fratura das tíbias. Os ensaios mecânicos foram realizados em uma Máquina Universal
de Ensaios (MUE) (EMIC®, modelo DL10000). As tíbias foram submetidas ao ensaio
mecânico de flexão em três pontos. A carga foi aplicada transversalmente à tíbia em
sua face posterior, através de um pino superior sobre um acessório de latão com
espaçamento de 10 mm entre os apoios. Esta distância foi determinada para melhor
acoplamento da tíbia em relação ao acessório e para que a força de aplicação
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
recaísse sobre o local de fratura. Os ensaios foram realizados
utilizando uma célula de carga de 50 kgf. A velocidade utilizada para a aplicação de
carga foi de 1 mm/min, com pré-carga de 5 N e tempo de acomodação de 30
segundos para todos os ensaios. Os valores registrados pela MUE foram transcritos
para o programa Tesq versão 1.0, onde foram calculadas as propriedades mecânicas
de tensão máxima e a rigidez. Todos os dados quantitativos obtidos foram submetidos
à análise de variância (ANOVA) e ao teste de Tukey com o nível de significância de
5% (p<0,05). Toda a análise estatística foi realizada pelo programa GraphPad Prism®
versão 5.0.
Resultados
Os valores de tensão máxima apresentaram diferenças estatísticas
significativas (p<0,05) entre os grupos controle e tratado analisados aos 20 dias de
pós-operatório. Já na propriedade mecânica de rigidez não foram encontradas
diferenças estatesticas entre os grupos experimentais (tabela).
Discussão
A análise da propriedade mecânica tensão máxima, executada neste trabalho,
mostrou diferença estatística do grupo tratado quando comparado ao grupo controle
analisado ao 20° dia de pós-operatório, o que pode ser explicado pela maior fixação
de cálcio promovida pela aplicação do decanoato de nandrolona, fortalecendo o tecido
ósseo5.
Conclusão
Os resultados deste estudo indicam que o tratamento com o andrógeno
esteroide decanoato de nandrolona na dose de 5mg/kg promove o aumento da
propriedade mecânica tensão máxima, o que sugere uma maior fixação de cálcio ao
tecido ósseo.
Referências
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healing implications in foot and ankle surgery. The Journal of Food e Ankle
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deve ser o mesmo que o da pós-menopausa? Revista Brasileira de
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Pós Menopausa. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, 43:
428-432.
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6. Souza, SA. (1974). Ensaio mecânico de materiais metálicos. Edgard Blücher:
13-58.
Trabalho aprovado pelo CEP/UNICASTELO (Comite de etica em pesquisa –
UNICASTELO) de acordo com o protocolo: 2497-2717/09.
Tabela: Tabela de valores (média ± desvio padrão) das diferentes análises
biomecânicas segundo os grupos experimentais e os períodos de tempo analisado
Grupos
Tensão Máxima (N/m²)
Subgrupo
I
1,79x10
10
± 2,55x10
9
428,07 ± 84,90
10 dias
II
2,07x10
10
± 7,02x10
9
433,08 ± 83,36
Subgrupo
I
2,95x10
10
± 7,3x10
20 dias
II
4,12x10
10
± 1,07x10
9
565,67 ± 126,67
9
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Rigidez (N/mm)
575,06 ± 97,56
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COMPARAÇÃO ENTRE OVARIECTOMIA POR LAPAROTOMIA,
VIDEOASSISTIDA E TOTAL VIDEOLAPAROSCÓPICA EM OVELHAS DA
RAÇA SANTA INÊS
COMPARISON
BETWEEN
OVARIECTOMY
LAPAROTOMY,
VIDEOASSISTED
AND
TOTALLY
VIDEOLAPAROSCOPY
IN
SANTA
INES
EWES
TEIXEIRA,
P.P.M.1;
PADILHA,
L.C.1;
MOTHEO,
T.F.1;
SILVA,
M.A.M.1;
FLÔRES,
F.N.1,
LOPES,
M.C.S.1;
VICENTE,
W.R.R.441
Palavras-chave: Ovelhas, ovariectomia, videoassistida, total videolarosópica.
Introdução
A videolaparoscopia é um procedimento minimamente invasivo, havendo
vários estudos do seu emprego em pequenos ruminantes (BOURÉ, 2005). Assim, o
seu uso em ovariectomias tem grande importância na tentativa de causar o mínimo de
estresse ao animal, não interferindo na produção (LUNA, 2008; FITZPATRICK, et al.,
2006). O objetivo deste trabalho foi comparar a ovariectomia convencional com
procedimentos por vídeolaparoscopia em ovelhas da raça Santa Inês adultas,
avaliando o trans e pós-cirurgico entre as técnicas.
Utilizaram-se 18 ovelhas adultas da raça Santa Inês, divididas em grupos submetidos
à ovariectomia por laparotomia (OL, n=6), à ovariectomia videoassistida (OVA, n=6) e
à ovariectomia total videolaparoscópica (OTV, n=6). Após um jejum de 36 horas, os
animais passaram pelo processo anestésico através da administração de 0,5 mg/kg
de diazepam (IM) e 2 mg/kg de tramadol (IM) como medicação pré-anestésica (MPA)
e, posteriormente, indução com proporfol (IV) na dose de 6 mg/kg, mantendo com
infusão continua de proporfol na dose de 0,5 mg/kg/min. (IV) mais bôlus e infusão de
cloridrato de lidocaína 1 mg/kg (IV) e 1mg/kg/min. IV. As ovelhas foram posicionadas
em decúbito dorsal, posteriormente em trendelenburg para o GVA e o GTV. Foi
executado o preparo asséptico e realizado o bloqueio local por infusão de lidocaína na
linha de incisão e botões anestésicos da entrada dos portais laparoscópicos.
A OL foi executada com uma incisão inguinal na linha média de 10 cm na pele
e muscular, para a localização do útero e, em seguida, exteriorização de um ovário.
Devido à dificuldade na localização do trato genital interno, em alguns casos foi
necessária a palpação vaginal por um auxiliar, assim encontrando o corpo do útero
entre as outras vísceras. Uma vez exposto o ovário, foi feita a ligadura dos pedículos
44
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Universidade Estadual Paulista (FCAV/Unesp – Campus
Jaboticabal). End: Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n., FCAV, Unesp, Jaboticabal. Setor de Obstetrícia.
CEP: 14.884-900. Jaboticabal – SP. e-mail: [email protected]
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ovarianos por transfixação e exéreses acima do ponto, sendo o mesmo
procedimento realizado para o outro ovário. Foi fechada a muscular com pontos
simples contínuo, intercalado com simples separado, em seguida realizando a síntese
da pele por pontos simples separados.
A OVA foi executada por três portais laparoscópicos, dois com cerca de 10 cm
cranial ao úbere e 5 cm lateral a linha média, um à direita e outro à esquerda, e o
terceiro na linha média 30 cm cranial ao úbere. Fez-se um incisão para facilitar a
introdução do primeiro trocáter de 5mm, com válvulas para insuflação para o
estabelecimento do pneumoperitônio com CO2, utilizando pressão intrabdominal (PIA)
variando de 5 a 8 mmHg, e velocidade de insuflação de 5 L/min. Foi feita a introdução
do segundo trocater de 10 mm e terceiro trocáteres de 5 mm. Após a colocação dos
trocáteres, o endoscópio foi transferido para o terceiro trocáter para melhor visibilizar
o local de trabalho. Uma vez obtida a visão interna da cavidade, fez-se introdução
pelo primeiro e segundo trocáteres da passagem de pinças atraumáticas modelo
Babcock, sendo que o útero, tubas e bursas ováricas foram manipulados, permitindo a
apreensão dos ovários, exteriorizando-os pelo portal de 10 mm e fazendo a ligadura e
exérese semelhante à OL. Foi realizada uma pressão manual no abdome dos animais
para a retirada do excesso de CO2 restante da insuflação da cavidade e em seguida
foi executada apenas a dermorrafia com um a dois pontos “U” separados para cada
local da entrada dos trocáteres.
A OTV foi realizada por dois portais laparoscópicos, um 10 cm ao úbere, 5 cm
à direita da linha média e outro 20 cm ao cranial ao úbere na linha média, sendo este
para um laparoscópio com canal de trabalho. Assim, tendo um portal a menos que a
OVA. Também se fizeram incisões para os portais e assim introduzindo o primeiro
trocáter de 5 mm com válvulas para insuflação para o estabelecimento do
pneumoperitônio semelhante a da OVA. Após a outra incisão de pele foi colocado um
segundo trocater de 10 mm, através do qual se introduziu o laparoscópio como canal
de trabalho. Obtendo-se a visão da cavidade, pelos dois canais foram introduzidas
duas pinças atraumáticas modelo Babcock, também para manipulação e apreensão
dos órgãos reprodutivos e visualização do ovário. Com a pinça do primeiro canal de
trabalho, se apreendeu e posicionou o primeiro ovário, visualização do pedículo
ovariano e pelo segundo canal se introduziu uma pinça coaguladora bipolar (Lina
PowerBlade – WEM Ribeirão Preto-SP) fazendo exérese intrabdominal e retirada do
ovário pelo portal laparoscópico de 10 mm. O mesmo procedimento foi feito para o
segundo ovário, sendo o auxílio para a retirada do CO2 e a dermorrafia semelhante à
OVA.
Após todos os procedimentos cirúrgicos, os animais receberam oxitetraciclina
LA na dose de 20mg/kg de peso vivo. No transcirúrgico foi cronometrado o tempo de
cirurgia para cada técnica, bem como possíveis transtornos que dificultem o
procedimento. A fim de averiguar o estresse pós-cirúrgico dos animais, foi
estabelecida uma escala para verificar comportamento sugestivo de desconforto
doloroso, fazendo um escore dos seguintes itens: curvatura do dorso, deslocamento
com dificuldade e diminuição no apetite. Foi atribuída uma pontuação de 0-3 para
cada quesito, somando um total de 9. Havendo sido efetuado também o
acompanhamento semanal do peso.
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Os dados foram expressos em médias + desvio padrão e
submetidos à análise de variância (ANOVA), comparados pelo teste de Tukey
(P<0,05).
Como o tamanho do trato genital da ovelha apresenta desproporção ao
tamanho das vísceras gastrointestinais, existe uma grande dificuldade de se localizar
os ovários dentro da cavidade. Isto resultou no tempo de cirurgia de 75,83±29,5 min.
para a OL, 40±13,04 min. para a OVA e 27,5±2,887 para a OTV, havendo diferença
estatística entre a OL e as técnicas de vídeolaparoscopia, contudo não ocorrendo
diferença entre OVA e OTV (p<0,05 para OVA vs OL, p<0,01, para OL vs OTV e
p>0,05 para OVA vs OTV). Resultado semelhante ocorreu nas pontuações da escala
de dor, que foram de 6,3±1,2 (OL), 0,3±0,5 (OVA) e 0,3±0,5 (OTV), p<0,05 para OVA
vs OL, p<0,01 para OL vs OTV e p>0,05 para OVA vs OTV. O peso não variou
significativamente durante o período de avaliação (30 dias) para nenhuma das
técnicas (p>0,05).
Ambas as técnicas videolaparoscópicas foram menos invasivas, pois se
executaram incisões menores que na OL, sendo que o uso de um laparoscópio com
canal de trabalho, utilizado na OTV, subtraiu um portal. Esse benefício foi observado
também em comparação de cistotomias convencionais e laparoscópicas em carneiros
e ovariectomias em vacas (FRANZ et al., 2009). Ainda que o protocolo anestésico
promova analgesia, as técnicas videolaparoscópicas apresentam menos desconforto
doloroso em relação à OL. Embora o estresse doloroso não cause alteração no peso,
os animais submetidos à OVA e OTV apresentaram melhor pós-cirurgico que os
submetidos à OL.
A OVA e a OTV apresentaram grande vantagem em relação OL por ser um
processo minimamente invasivo, proporcionando mínimo desconforto e ótima
recuperação das ovelhas, sendo recomendado, pois causa mínimo estresse e
decréscimo na produção animal.
Referências
1. BOURÉ L (2005). General Principles of Laparoscopy. Vet Clin Food Anim 21,
227–249.
2. Fitzpatrick J., Scott M., NolanA. 2006. Assessment of pain and welfare in
sheep. Small Rumin.Res. 62:55–61
3. FRANZ S et al. (2009). Laparoscopic-assisted cystotomy: an experimental
study in male sheep. Vet. Med., 54, (8): 367–373.
4. LUNA SPL (2008). Dor, senciência e bem-estar em animais. Ciênc. vet. tróp.
(11)1:17-21.
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MODELO DE TRAUMA MEDULAR CONTUSIVO EXPERIMENTAL PARA
RATOS PROMOVE LIBERAÇÃO AGUDA DE GLUTAMATO*
A
MODEL
OF
CONTUSIVE
SPINAL
CORD
INJURY
FOR
RATS
PROMOTE
ACUTE
RELEASE
OF
GLUTAMATE
FUKUSHIMA,
F.B.451;
LAVOR,
M.S.L.1;
CALDEIRA,
F.M.C.1;
ROSADO,
I.R.1;
SILVA,
J.F.1;
ASSUMPÇÃO,
A.L.F.V.1;
MELO,
E.G.1
Palavras-chave: trauma medular, excitotoxicidade, glutamato
Key words: spinal injury, excitotoxicity, glutamate
Introdução
O trauma medular espinhal (TME) agudo é um evento catastrófico que
acomete tanto humanos quanto animais e pode resultar em sequelas permanentes no
indivíduo1. Na medicina veterinária, em especial, além do sofrimento, as lesões
espinhais muitas vezes acarretam a eutanásia do animal2. Neste contexto, modelos
experimentais com metodologias variadas foram desenvolvidos para compreender os
mecanismos envolvidos na injúria à medula e, assim, possibilitar o desenvolvimento
de protocolos terapêuticos. O primeiro modelo de TME contusivo foi descrito por Allen
em 1911 e consistia em um peso em queda livre sobre a medula espinhal. Este
modelo apresentou modificações ao longo dos anos, a fim de se desenvolver técnica
reprodutível, simples e de baixo custo1,3,4. Diversos estudos e observações clínicas de
injúria medular aguda demonstraram a ocorrência de um processo denominado lesão
primária, geralmente de natureza irreversível, decorrente da transferência de energia
cinética do trauma para a medula espinhal. Em seguida, são observados eventos
secundários, que também contribuem para as consequências do traumatismo e
abrangem uma seqüência de reações bioquímicas e celulares. Dentre os mecanismos
de lesão secundária que se estabelecem minutos ou horas após uma lesão
traumática, destaca-se o aumento da concentração de aminoácidos excitatórios no
ambiente extracelular, em especial o glutamato5. A estimulação excessiva de
receptores pelo glutamato, principalmente N-metil-D-aspartato (NMDA), inicia eventos
celulares que induzem a morte neuronal próxima à área de lesão. A ativação
glutamatérgica de receptores específicos aumenta o influxo neuronal de cálcio, que
exerce papel crucial na regulação intracelular de sódio e potássio, na ativação de
diversas enzimas fundamentais ao metabolismo e na sobrevivência neuronal, bem
como na liberação de neurotransmissores na fenda sináptica6. Deste modo, o objetivo
deste trabalho foi validar um modelo experimental de trauma medular espinhal
45
*
Escola de Veterinária - Universidade Federal de Minas Gerais. Projeto Financiado pelo CNPq . e-mail:
[email protected]
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contusivo em ratos, desenvolvido pela Escola de Veterinária da UFMG,
através da dosagem de glutamato no líquido cefalorraquidiano e de avaliação clínica
da capacidade motora em campo aberto.
Metodologia
Foram utilizados 21 ratos machos adultos, pesando em média 350g. Os
animais receberam ração comercial para roedores (Nuvilab® CR-1, Nuvital Nutrientes
S/A) e água ad libitum, sendo submetidos a ciclos de claro-escuro de 12 horas. Os
animais foram distribuídos em três grupos: controle (n=5), laminectomia (n=8) e
trauma (n=8). No grupo controle (CT), os animais foram anestesiados com isoflurano
em máscara e, após atingirem plano anestésico cirúrgico, foi realizada a punção no
espaço atlantooccipital para colheita de 80 µl de líquor, seguida de eutanásia por
sobredose de tiopental sódico (Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.). Nos
grupos laminectomia (LM) e trauma (TR), os animais foram anestesiados de igual
forma e posicionados em decúbito esternal no aparato para trauma medular com
aquecimento, de modo a manter constante a temperatura corporal. Seguiu-se incisão
de pele e de tecido subcutâneo na linha média dorsal e incisão e afastamento
lateral das inserções dos músculos epiaxiais. Foram realizadas a ostectomia do
processo espinhal de T12 e a retirada da lâmina dorsal (laminectomia) da respectiva
vértebra. No grupo LM foi realizado apenas este procedimento e no grupo TR, após a
abertura da lâmina dorsal e visualização da medula espinhal, o aparato foi ajustado de
modo a permitir o posicionamento da haste metálica no centro na laminectomia. A
haste graduada em intervalos de 5 mm foi confeccionada de aço inoxidável, com peso
de 10g, extremidade de 2,3 mm de diâmetro e bordas arredondadas. O trauma
mecânico foi provocado sobre a dura-máter pela queda livre da haste metálica a uma
altura de 150mm. Após a contusão, realizou-se a aproximação dos músculos
seccionados, redução de espaço morto e sutura de pele. Ao término do procedimento
cirúrgico, os animais foram mantidos em plataforma de aquecimento até completa
recuperação anestésica. Após 50 minutos do trauma medular, três animais dos
grupos LM e TR foram novamente anestesiados com isoflurano para colheita de líquor
e eutanásia, como descrito para o grupo CT. As amostras de líquor foram
imediatamente processadas para dosagem enzimática dos níveis de glutamato. A
técnica consistiu na avaliação da fluorescência emitida devido à produção de NADPH
na presença de glutamato desidrogenase e NADP+7. A emissão da fluorescência foi
medida em um espectrofluorímetro (Shimadzu RF-5301 PC) com excitação ajustada
no comprimento de onda de 360 nm e emissão em 450 nm.
Adicionalmente, cinco animais dos grupos LM e TR foram utilizados para
classificação do TME através da avaliação da capacidade motora em campo aberto8.
Os animais foram filmados durante três minutos e os vídeos foram apresentados a
dois observadores, sem conhecimento do grupo a que pertenciam, caracterizando
estudo duplo-cego. Estes animais receberam 5mg/kg de cloridrato de tramadol a cada
oito horas (Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda), por via oral, para
controle da dor pós-operatória.
Para análise estatística, os dados referentes aos níveis de glutamato foram
convertidos em logaritmo e submetidos à análise de variância, sendo as médias
comparadas pelo teste de Student-Newman-Keuls (SNK). Os escores da capacidade
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motora foram analisados pelo teste de Mann-Whitney, sendo adotado
como nível de significância 5%.
Resultados
O aparato descrito no presente estudo permitiu a realização de trauma
medular contusivo experimental reprodutível em ratos, de grau moderado a grave. Tal
fato foi confirmado pela alteração significativa do escore BBB de deambulação em
campo aberto 24 horas após o trauma. No grupo LM, a mediana do escore BBB foi 21
e, no TR 1. Adicionalmente, observou-se aumento significativo na concentração de
glutamato no líquor dos animais do grupo CT (3,8±1,5 pmol/g de proteína), em relação
ao LM (56,6±18,4 pmol/g de proteína) e ao TR (159,4±55,0), bem como entre LM e
TR (Fig.1) (p<0,01).
Discussão
A avaliação da capacidade locomotora pela escala BBB mostrou déficit
neurológico de moderado a grave (escore 1) apenas no grupo TR, caracterizado por
paraparesia dos membros posteriores, com movimentação discreta de uma ou duas
articulações8. Com relação à dosagem de glutamato, houve neste grupo aumento
agudo significativo, que levou ao quadro de excitotoxicidade, caracterizado na
literatura por aumento do influxo de cálcio e morte celular6, o que pode justificar tal
exame clínico. Por outro lado, a elevação deste neurotransmissor no grupo
laminectomia provavelmente ocorreu devido ao estímulo doloroso provocado pela
própria intervenção cirúrgica, sem contudo evidenciar redução da capacidade motora
(escore 21). Este resultado era esperado, já que a laminectomia foi realizada de forma
cautelosa, de modo a não causar lesão iatrogênica.
Conclusões
O aparato desenvolvido pela Escola de Veterinária da UFMG é capaz de
realizar trauma medular contusivo experimental moderado a grave, com liberação
aguda de glutamato.
Figura 1: Concentração de glutamato no líquor de ratos nos grupos controle,
laminectomia e trauma (p<0,01).
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Protocolo do Cetea: 164/2008.
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INFLUÊNCIA DE DIFERENTES NÍVEIS DE PEEP NOS PARÂMETROS
CARDIOPULMONARES DE SUÍNOS SUBMETIDOS À PRESSÃO DE
INSUFLAÇÃO INTRATORÁCICA
INFLUENCE
OF
PEEP
ON
CARDIOPULMONARY
PARAMETERS
IN
PIGS
UNDERGOING
VIDEO‐
ASSISTED
THORACOSCOPY
WITH
DIFFERENT
INTRATHORACIC
INSUFFLATION
PRESSURES
CAVALCANTI,
R.L.46;
SERPA,
P.B.47;
QUEIROGA;
L.B.1;
CROSIGNANI.
N.1;
GEHLEN;
K.1;
ESTRELLA,
J.P.1
&
NATALINI;
C.C.48
Palavras-chave: PEEP, parâmetros de oxigenação, pressão de insuflação torácica.
Keywords: PEEP, oxygenation parameters, intrathoracic insufflation pressure.
Introdução
A adequada visualização e manipulação cirúrgica em videotoracoscopia
requerem o colapso total ou parcial do pulmão ipsilateral, geralmente obtido pela
intubação pulmonar seletiva (IPS)1. No entanto, IPS é uma técnica de custo elevado e
de execução laboriosa, principalmente em espécies de menor porte por suas
características anatômicas2. Uma alternativa à IPS é a ventilação pulmonar não
seletiva (VPNS), associada à insuflação torácica (IT) com dióxido de carbono (CO 2)
no hemitórax do pulmão ipsilateral, o que acarreta alterações cardiopulmonares
significativas1,3. Neste caso, a PEEP frequentemente melhora a oxigenação arterial1.
A PEEP pode, entretanto, acarretar prejuízos à hemodinâmica, com reflexos na
oxigenação arterial, de acordo com as pressões empregadas4. Baseando-se na
hipótese que tanto a pressão de IT (PIT) quanto a PEEP podem interferir na
oxigenação arterial, este estudo objetivou averiguar os impactos da associação de
diferentes valores de PIT (0 e 5 mm Hg) e de diferentes valores de PEEP (5 e 10 cm
H2O) em seis suínos (18,5 ± 1,38 Kg), machos e fêmeas, submetidos à toracoscopia
do hemitórax direito com ventilação pulmonar convencional e anestesia geral
inalatória com isoflurano (1,3 - 1,5 V%). Materiais e métodos: cateterização da artéria
pulmonar através de um cateter de Swan-Ganz e um monitor multiparamétrico foram
46
Programa de Pós-graduação em Fisiologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);
47
Faculdade de Veterinária (Favet), UFRGS;
48
Departamento de Farmacologia - Instituto Ciências Básicas da Saúde (ICBS), UFRGS e Centro de Pesquisas do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Endereço para correspondência: [email protected]
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
utilizados para monitorar os parâmetros hemodinâmicos durante o
experimento, além da cateterização da artéria metatársica dorsal para colheita de
sangue arterial. Os dados basais (controle) foram obtidos sob VM, sem uso de PIT
com CO2 e PEEP. Cada animal foi anestesiado uma única vez, recebendo quatro
tratamentos e servindo como seu próprio controle. A indução anestésica foi realizada
com bolus de propofol, pela via intravenosa (5 mg/kg). Ato contínuo, os animais foram
posicionados em decúbito dorsal, conectados ao circuito anestésico reinalatório e
instrumentados para registro dos parâmetros das variáveis estudadas. Após a
estabilização do plano anestésico, administrou-se pancurônio (0,1 mg/kg, IV) com
início imediato da ventilação controlada à pressão com uma FiO 2 de 1, objetivando-se
a manutenção do valor de ETCO2 entre 35 e 45 mm Hg. Os parâmetros estudados
incluíram pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (P aO2), conteúdo arterial de
oxigênio (CaO2)49, diferença alvéoloarterial de oxigênio (AaDO2), saturação arterial
(SatO2), frequência cardíaca (FC), índices cardíaco (IC)50 e sistólico (IS)51, pressão
arterial sistólica (PAS), média (PAM) e diastólica (PAD) e transporte de oxigênio
(DO2)52. Os tratamentos foram divididos em cinco momentos (M), com modificação
dos níveis da PIT e da PEEP, sendo cada momento separado por um período de
tempo necessário para estabilização dos parâmetros fisiológicos: M0 (controle); M1
(PEEP 5 e IT 0); M2 (PEEP 10 e IT 0), M3 (PEEP 5 e IT 5) e M4 (PEEP 10 e IT 5).
Equalização da pressão intrapleural com a pressão atmosférica (M1), assim como
insuflação intratorácica, foram obtidas pela inserção de um trocarter valvulado de 12
mm no terço médio do oitavo espaço intercostal do hemitórax direito. Os resultados
foram submetidos à análise de variância para medidas repetidas a fim de avaliar os
efeitos do tratamento nas variáveis estudadas (p < 0,05). Resultados e discussão: O
uso de PIT de 5 mm Hg associada à PEEP de 5 cm H2O (M3) produziu redução
significativa da PaO2, do CaO2, além de aumento na AaDO2; a SatO2, no entanto, não
se modificou. As variáveis hemodinâmicas, IC, IS, FC, PAS, PAD, PAM, bem como a
DO2 não apresentaram diferença significativa em nenhum momento no decorrer dos
tratamentos propostos. Os resultados demonstram que a PEEP de 10 cm H2O
manteve valores superiores de oxigenação arterial em relação à PEEP de 5 cm H 2O
quando PIT de 5 mm Hg foi empregada, sugerindo possível mecanismo de reabertura
de alvéolos atelectásicos e manutenção do arcabouço alveolar pela PEEP em M45.
No presente estudo, obstante o fornecimento de oxigênio a 100%, foi possível
perceber que, apesar da queda acentuada e progressiva dos valores da P aO2, os
valores do CaO2 declinaram em proporção menor, visto que a SatO2 também reduziu
de forma moderada, com as médias sempre acima do valor de 92%. Além disso, a
fórmula do CaO2 prevê que seu maior participante constitui-se no oxigênio
transportado ligado à hemoglobina (Hb), visto que a quantidade de oxigênio
transportado aos tecidos em estado dissolvido normalmente é pequena6.
Corroborando com Barton et al. (1996), que estudaram a patofisiologia do
pneumotórax de tensão em suínos, houve redução significativa da P aO2 em M3, que,
segundo este mesmo autor, pode ser explicada pelo aumento da fração do shunt
49
Conteúdo arterial de oxigênio (mL/dL) = (1,39 x concentração da hemoglobina (g/dL) x saturação de
oxihemoglobina no sangue arterial, (%)) + (pressão parcial de oxigênio no sangue arterial x 0,003)
50
Índice cardíaco (L/min x m2) = débito cardíaco/área de superfície corpórea
51
Índice sistólico (L/min x m2) = índice cardíaco/frequência cardíaca
52
Disponibilidade de O2 (mL/min) = conteúdo arterial de oxigênio x débito cardíaco x 10
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intrapulmonar, resultando em perfusão sem ventilação7. O shunt, neste
caso, pode ser consequência da compressão pulmonar e diminuição da área
disponível para trocas gasosas pelo aumento da PIT, gerando áreas de atelectasia6.
Adicionalmente, no presente estudo, os efeitos da PEEP – principalmente quando da
utilização de 10 cm H2O - resultaram em, ao menos, manutenção da oxigenação
arterial, com os valores médios da PaO2 permanecendo sempre acima de 60 mm Hg,
bem como a SatO2 acima de 90%, valores superiores aos limites críticos para a
ocorrência de hipoxemia arterial. Com a observação dos resultados dos parâmetros
de oxigenação, pôde-se depreender que houve queda significativa do C aO2 quando
PIT de 5 mm Hg foi empregada associada à PEEP de 5 cm H 2O, e não de 10 cm H2O.
Essa queda deveu-se, em maior parte, à redução da PaO2 neste tratamento o que,
consequentemente, elevou a AaDO2, indicando incapacidade pulmonar de promover a
adequada oxigenação do sangue arterial8. Mesmo em vista da queda do CaO2, esta
redução não produziu valores de SatO2 média inferior a 90% pelas características da
curva de dissociação da hemoglobina6. A IT com CO2 aumenta o colapso pulmonar no
hemitórax ipsilateral; entretanto, pelo fato de a caixa torácica ser fechada, a IT
aumenta a PIT, resultando em deterioração hemodinâmica pela redução do RV e do
DC9. Da mesma forma, a utilização de PEEP pode trazer efeitos adversos para a
hemodinâmica mediante o aumento da PIT, impedindo o RV e, consequentemente,
causando diminuição do enchimento ventricular direito4,10. Entretanto, no presente
estudo, o aumento da PIT, acarretado tanto pela PEEP quanto pela IT com CO 2, , não
culminou em impacto relevante na hemodinâmica. Em vista da manutenção dos
parâmetros hemodinâmicos no presente estudo, bem como do C aO2, o total de
oxigênio transportado que, por sua vez, é dependente do DC e do C aO2 não se alterou
de forma significativa com os tratamentos propostos.
Conclusões
A utilização de PEEP de 5 cm H2O associada à PIT de 5 mm Hg direita com
CO2 resulta em significativo comprometimento dos parâmetros de oxigenação, em
suíno submetido à toracoscopia sob ventilação não-seletiva e FiO2 = 1 sem, no
entanto, acarretar hipoxemia arterial. Por outro lado, a utilização de PEEP de 10 cm
H2O associada à PIT direita com CO2 de 5 mm Hg produz melhora na oxigenação
arterial, em relação ao uso de PEEP de 5 cm H2O. A associação de PEEP de 5 e 10
cm H2O às PIT direitas de 5 e 10 mm Hg de CO2 não afeta de forma significativa a
homeostase hemodinâmica e o DO2, em suíno submetido à toracoscopia sob
ventilação não seletiva.
Comissão de ética: estudo aprovado pelos comitês técnico e de ética do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA - UFRGS) sob o protocolo nº 07.288.
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EMPREGO DE DUAS NOVAS TÉCNICAS DE REDUÇÃO DE PROLAPSO
VAGINAL EM VACAS
EMPLOYMENT
OF
TWO
NEW
TECHNIQUES
FOR
REDUCTION
OF
VAGINAL
PROLAPSE
IN
COWS
EMPLEO
DOS
NUEVAS
TÉCNICAS
PARA
LA
REDUCCIÓN
DEL
PROLAPSO
VAGINAL
EN
VACAS
HELLÚ,
J.
A.
DE
A.53;
TONIOLLO,
G.
H.54
RESUMO
Entre as principais afecções da vagina dos animais domésticos destaca-se a inversão
e prolapso vaginal, caracterizado pela saída da parede do órgão através da vulva,
podendo ser em maior ou menor grau. Os tratamentos instituídos para correção dessa
patologia dependem da gravidade de cada caso. Algumas técnicas convencionais
como Caslick, Buhner, Flessa ou Mondino-Merck têm sido amplamente utilizadas,
sem que apresentem êxito na correção definitiva do problema. Tendo ciência da
casuística da patologia nos bovinos, entende-se a necessidade da proposição de
novos tratamentos na correção definitiva da patologia. Com este trabalho objetiva-se,
portanto, propor duas novas técnicas cirúrgicas na correção do prolapso vaginal,
denominadas vaginectomia parcial e vaginopexia dorsal em vacas zebuínas. O estudo
foi conduzido a campo, em diversas propriedades, dependendo da casualidade, em
vacas zebuínas, em idade reprodutivae que apresentam a patologia. Até o presente
momento, foram realizadas 321 cirurgias pela técnica de vaginectomia parcial com
90% de cura e 214 cirurgias pela técnica da vaginopexia dorsal, onde 98,6%
obtiveram a cura de forma satisfatória. Os resultados ainda são parciais, mas tudo
indica que há uma grande chance de sucesso dessas técnicas no tratamento do
prolapso vaginal nos bovinos.
Palavras-chave: cirurgia; prolapso vaginal; vaginectomia; vaginopexia.
ABSTRACT
Among the main diseases of domestic animals include vagina, vaginal prolapse and
inversion, which is appointed by the exit wall of the body through the vulva that can be
greater or lesser degree. Treatments instituted for correction of this pathology depend
53
Doutorando Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Jaboticabal
Travessa José Coelho de Freitas, 1679 – Centro – Patrocínio Paulista-SP - [email protected]
54
Orientador: professor doutor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, junto ao
Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal
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on the severity of each case and some conventional techniques such as
Caslick, Buhner, Flessa or Mondino-Merck have been widely used, without presenting
successful definitive correction of the problem. Taking science series of pathology in
cattle, it is understood the necessity of the proposition of new treatments in the
permanent correction of pathology. This work aims, therefore, propose two new
surgical techniques for correction of vaginal prolapse, called partial vaginectomy and
dorsal vaginopexy and Zebu Breed cattle. The study was conducted in the field on
various properties, depending on chance, in Zebu Breed cows in reproductive age
presenting pathology. To date 321 surgeries were performed by the technique of
partial vaginectomy with 90% cure and 214 surgeries by the technique of dorsal
vaginopexy, where 98.6% were healing satisfactorily. The results are still partial, but
everything indicates that there is a greater chance for success of these techniques in
the treatment of vaginal prolapse in cattle.
Key-words: surgery, vaginal prolapse; vaginectomy; vaginopexy.
INTRODUÇÃO
Nos ruminantes, é na vagina que o sêmen é depositado, sendo que a maior
parte do plasma seminal é expelida ou absorvida. O canal do parto, local onde há a
passagem do feto e seus invólucros, também tem a função de excretar as secreções
cervicais, endometriais e tubáricas2.
Entre as principais afecções da vagina dos animais destaca-se a inversão e
prolapso vaginal1,3,4,5, sendo descrita como uma patologia dos ruminantes associada
ao terço final da gestação e ao puerpério, quando pode estar associada ao prolapso
uterino1,4. O canino é a única espécie que apresenta a patologia sem que a causa
esteja relacionada à gestação, mas sim em resposta do tecido vaginal ao aumento da
concentração de estrógenos durante o proestro e estro4.
O prolapso vaginal é designado pela saída da parede do órgão através da
vulva, podendo ser em maior ou menor grau, dependendo do caso. Sua etiologia está
relacionada com o aumento do estrógeno circulante nas últimas semanas da
gestação, o que induz ao relaxamento dos ligamentos pélvicos e perineais, associado
ao aumento uterino gravídico, levando ao prolapso. Há que se considerar também que
outras condições predispõem à patologia. A genética, presença de múltiplos fetos,
traumas prévios na região perineal, idade avançada, piso do estábulo excessivamente
inclinado, cistos ovarianos, alimentação rica em estrógenos e obesidade contribuem
para o aparecimento do problema1,6,7.
Uma nova modalidade de patologia na obstetrícia é descrita por Prestes, et. al.
(2008): o prolapso vaginal que não está associado à gestação nos bovinos, incluindo
animais nos quais foram observados casos extremos de prolapso total da vagina com
exteriorização da cérvix, contrariando todas as definições para esta patologia, até
então, somente observada em animais prenhes. O prolapso em não gestantes pode
ter origem multifatorial, algumas vezes não sendo possível ser estabelecida a causa.
Geralmente ela está ligada a uma vaginite, que pode ser causada tanto por lesões
vaginais devido ao acesso ovariano via transvaginal em técnicas de aspirações
foliculares, quanto, nos animais elite, como consequência do regime alimentar e do
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sedentarismo, quando os animais acumulam gordura em excesso,
provocando aumento de pressão intrapélvica e períneo, principalmente quando estão
em decúbito. Essa exteriorização da mucosa vaginal quando em contato com fezes ou
com a cama dos animais pode levar a uma inflamação local, que vai levar ao aumento
do peristaltismo na tentativa de expulsar os corpos estranhos, levando à
exteriorização de segmentos ainda maiores da mucosa vaginal.
O tratamento instituído para correção dessa patologia depende da gravidade
de cada caso. Algumas técnicas convencionais como as de Caslick, Buhner, Flessa
ou Mondino-Merck têm sido amplamente utilizadas para o tratamento, sem que
apresente pleno êxito na correção definitiva do problema, já que as recidivas
geralmente acontecem6,7.
Considerando-se estas afirmativas e tendo ciência da casuística da patologia
nos bovinos, entende-se a necessidade da proposição de novos tratamentos na
correção definitiva da patologia.
Com este trabalho objetiva-se, portanto, propor duas novas técnicas
cirúrgicas na correção do prolapso vaginal, denominadas vaginectomia parcial e
vaginopexia dorsal em vacas zebuínas.
METODOLOGIA
O estudo será conduzido a campo, em diversas propriedades, dependendo da
casualidade, em zebuínas com idade reprodutiva. Os animais que apresentarem a
patologia serão selecionados, permanecendo sempre em suas propriedades,
recebendo a alimentação que está adaptada e água ad libidum.
O diagnóstico do prolapso vaginal será realizado por meio da anamnese e dos
sintomas. O estágio que se encontra o prolapso deverá ser estabelecido, podendo
assim, ser eleita a técnica cirúrgica adequada para o tratamento (Tabela 1 e Figura 1).
Tabela 1 – Definição da técnica cirúrgica.
Estágio do prolapso
Técnica cirúrgica
1° estágio ou Grau 1
(Fig. 1)
Vaginectomia parcial
2° estágio ou Grau 2
(Fig. 2)
3° estágio ou Grau 3
(Fig. 3)
Vaginopexia dorsal
Previamente ao procedimento cirúrgico, os animais serão submetidos a jejum
alimentar e hídrico por um período de 12 horas. Deverá ser realizada a tricotomia e
assepsia na região sacrococcígea, movimentando a cauda para cima e para baixo
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para identificação do local e então, colocada uma agulha em ângulo de
45 graus com a coluna vertebral. Após inserção da agulha, deverá ser depositado 0,1
mL de anestésico no canhão da agulha e, quando alcançar o espaço epidural, haverá
sucção do líquido. Não haverá resistência para injeção do anestésico se a agulha
estiver bem posicionada. Administrar entre a primeira e segunda vértebra coccígea 1
mL para cada 100 kg de peso corporal do anestésico Bloc55 (equivalente a 0,2 mg/kg
lidocaína e 0,004 mg/kg de xilazina), mantendo o animal em posição quadrupedal.
Na técnica cirúrgica vaginopexia dorsal, sobre o músculo glúteo médio e o
músculo gluteobíceps (locais das incisões), serão realizados três botões anestésicos
com 10 mL de Bloc, sendo aplicados 5 mL superficialmente e 5 mL profundamente na
musculatura, com auxílio de seringa e agulha 40 x 1,2 estéreis.
Vaginectomia parcial
A técnica da vaginectomia parcial será destinada ao tratamento do prolapso
vaginal de primeiro estágio, onde é realizada a exérese do tecido flácido da mucosa
vaginal e dos tecidos adiposos perivaginais que estão parcialmente prolapsados.
Após a devida contenção do animal e a realização do protocolo anestésico,
será feita a antissepsia de toda a região perineal e vaginal com degermantes e
antissépticos (PVPI). Com auxílio de pinças de Kocher, será exteriorizado o tecido
vaginal acometido e realizada novamente a antissepsia da mucosa com
iodopolividona. Com uma pinça de conchectomia, será fixado o tecido a ser retirado,
próximo à mucosa vaginal íntegra. Na sequência, será utilizada uma linha de sutura
de hemostasia com o fio absorvível Vicryl nº 256 no tecido íntegro que se localiza atrás
da pinça. Assim, com auxílio de um bisturi elétrico57 será retirado todo o tecido
acometido e realizada a aproximação da parede vaginal incisada com uma sutura
simples contínua, utilizando Catgute cromado nº 4.
Finalmente, as pinças serão removidas, reposicionando a vagina e verificando
se há algum sangramento e se o meato urinário não foi obstruído.
Vaginopexia dorsal
A vaginopexia dorsal destina-se ao tratamento do prolapso de segundo e
terceiro estágio, no qual toda a vagina, cérvix e até mesmo o útero podem estar
prolapsados. A técnica visa a fixar a parede vaginal nos ligamentos sacrotuberais,
evitando assim que o prolapso ocorra.
Com os animais em posição quadrupedal, devidamente contidos, será
realizada a anestesia epidural, antissepsia do períneo, vagina e de toda região caudal
e tuberosidade sacral com degermante. Se o tecido vaginal estiver prolapsado, será
preciso reposicioná-lo. Serão necessárias três incisões para a fixação da vagina. Para
55
Bloc
–
Produtos
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56
Polycryl.
57
Medcir
–
BM560.
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isso, deve-se realizar a tricotomia da região sobre os músculos glúteos,
estendendo-se paralelamente às vértebras sacrais e caudais, desde a tuberosidade
sacral até a tuberosidade isquiática, medindo aproximadamente 4 cm de largura. A
seguir serão realizados três botões anestésicos na região tricotomizada, aplicando 5
mL superficialmente e 5 mL profundamente. Com o bisturi serão feitas três incisões na
pele no sentido craniocaudal, de aproximadamente 3 cm cada uma, com 5 cm de
espaçamento entre elas.
Em seguida, será inserido um espéculo vaginal tubular no reto do animal,
prendendo-a ao ânus com fio de nylon nº 258, em sutura de bolsa de fumo. Essa
medida facilitará a localização e deslocamento do reto no momento da sutura vaginal,
evitando a sua transfixação. Ato contínuo, será colocada a mão pela vagina do
animal, desviando-a do reto e posicionando sua parede dorsal próxima ao ligamento
sacrotuberal. Deve-se então introduzir uma abraçadeira de nylon59 presa a uma
agulha do tipo Gerlach longa no local da primeira incisão, orientando-a pela
musculatura e pelo ligamento sacrotuberal até alcançar a luz vaginal, onde é
desconectada. Ainda pela mesma incisão, introduz-se do mesmo modo a agulha até
alcançar a luz vaginal, conectando e levando a abraçadeira novamente à incisão
superior, onde serão unidas as duas extremidades, lacrando-a e retirando a ponta
excedente.
A incisão será aproximada com a utilização de ponto simples separado com fio
inabsorvivel nylon nº 2, deixando a abraçadeira sob a pele. Repete-se a mesma
operação nos outros dois pontos incisados, obtendo assim, uma adequada fixação da
vagina, diminuindo a chance de recidivas.
As abraçadeiras poderão causar rejeições em alguns animais, facilitando a
ocorrência de abscessos que podem fistular no dorso ou na vagina do animal; neste
caso as mesmas serão removidas. As abraçadeiras permanecerão por um período de
60 a 90 dias, para que haja fibrose local, fixando a vagina ao ligamento sacrotuberal.
Nos casos em que não se observa rejeição, não será necessário retirá-las.
Pós-operatório
No período pós-operatório será administrado 1 mL para cada 40 kg de peso
vivo de Diclotril60 pela via intramuscular a cada 24 horas durante sete dias, o que
corresponde a 2,5 mg de Cloridrato de Enrofloxacina e 0,75 mg de Diclofenaco de
Sódio.
Além disso, os animais ficarão alojados em piquetes, isolados de outros
animais, por sete dias, sendo administrado um cicatrizante repelente nas feridas
cirúrgicas.
Na técnica da vaginopexia dorsal, os pontos são retirados dez dias após o
58
Polysuture.
59
Foxlux
–
380
x
5
mm.
60
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procedimento cirúrgico.
RESULTADOS PARCIAIS
Até o presente momento foram desempenhadas 535 cirurgias para redução do
prolapso vaginal em bovinos, sendo que 321 delas foram realizadas pela técnica de
vaginectomia parcial (60%) e 214 pela técnica da vaginopexia dorsal (40%), não
ocorrendo nenhuma complicação durante os períodos trans e pós-operatório.
A técnica “vaginectomia parcial” mostrou-se eficiente em 90% dos casos,
permitindo a cura de forma satisfatória.
Nos animais que apresentavam prolapso vaginal de 2º e 3º estágio e foram
tratados pela técnica cirúrgica “vaginopexia dorsal”, em 98,6% dos casos a correção
da afecção foi plenamente satisfatória.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados ainda são parciais, mas tudo indica que há uma grande chance
de sucesso dessas técnicas no tratamento do prolapso vaginal nos bovinos. A técnica
em questão é o tema de doutorado do Prof. Mestre José Abdo de Andrade Hellú.
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Figura 1 – A: Prolapso de Grau 1, B: Prolapso de Grau 2, C: Prolapso de Grau 3.
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PENECTOMIA COMO TRATAMENTO DE PROLAPSO PENIANO EM
JABUTI DE PATAS VERMELHAS (GEOCHELONE CARBONARIA)
ATENDIDO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA ULBRA: RELATO DE CASO
PENECTOMY
AS
TREATMENT
OF
PENIS
PROLAPSE
IN
RED
FOOTED
TORTOISE
(
GEOCHELONE
CARBONARIA)
AT
ULBRA
VETERINARY
HOSPITAL:
CASE
REPORT
INGRID
HÖRLLE
SCHEIN¹,
TATIANA
REGINA
LICHMANN¹,
SABRINA
CASTILLO
TABAJARA¹,
JAIRO
RAMOS
DE
JESUS²,
KARINE
GEHLEN
BAJA3
RESUMO
O Geochelone carbonaria, mais conhecido como Jabuti de patas vermelhas, é
um quelônio de hábitos terrestres encontrado em zonas tropicais da América do Sul.
Dentre as patologias de grande frequência e importância nesta espécie está o
prolapso peniano, que acomete os quelônios quando mantidos em cativeiro. Muitas
vezes, os animais são atendidos tardiamente, com exposição dos tecidos
prolapsados, já comprometidos. Nestes casos, opta-se pela amputação do pênis. Este
trabalho descreve o caso de um Jabuti de patas vermelhas com prolapso peniano
atendido no Hospital Veterinário da Ulbra, Canoas. Como o tecido apresentava-se
desvitalizado e frio, indicando isquemia, optou-se pela penectomia. Foi realizada
anestesia geral deste paciente com o uso de butorfanol e quetamina pela via
intramuscular e manutenção com uso de isoflurano para realizaçaõ da penectomia. O
tratamento cirúrgico promoveu a resolução do prolapso peniano. O paciente
apresentou uma recuperação pós- operatória rápida, com retorno às atividades
normais.
Descritores: Jabuti, quelônio, penectomia, prolapso, pênis.
Introdução
A criação de quelônios como animais de estimação está trazendo-os cada vez
mais para a clínica veterinária².
A espécie Geochelone carbonaria, cujo nome vulgar é “jabuti de patas
vermelhas”, pertence à classe Reptilia, subclasse Anapsida (animais com o teto do
crânio sólido, sem aberturas atrás do olho). Esta família é representada por doze
gêneros e cerca de quarenta espécies, todas terrestres 6.
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Os jabutis de patas vermelhas são quelônios de hábitos
terrestres6, esta espécie é protegida por lei, sendo amplamente criada em cativeiro, e,
representa uma grande proporção dos pacientes atendidos na clínica de animais
silvestres 7.
O estudo destes répteis vem ganhando cada vez mais importância, tanto por questões
conservacionistas quanto pelo aumento do interesse por sua utilização como animais
de companhia7.
No Brasil, o Jabuti de patas vermelhas é, provavelmente, o quelônio que mais
tem sido mantido em cativeiro como animal de estimação devido a fatores culturais e
amplo comércio ilegal8. Uma das mais freqüentes causas de doenças ou processos
patológicos entre estes animais são as péssimas condições de manejo a que na
maioria das vezes são submetidos9. Enfermidades associadas ao sistema reprodutor,
como distocia, prolapso peniano, prolapso da cloaca, cólon, bexiga e oviduto, são um
dos principais problemas que acometem esses animais quando mantidos em
cativeiro1,7 .
O pênis é um órgão copulatório bem desenvolvido, de tecido fibroso, largo e
único; consiste da glande e de dois corpos cavernosos que formam uma calha por
onde passa o sêmen. A musculatura retratora mantém o órgão copulador posicionado
no assoalho ventromedial do proctodeo3,5,10.
O tecido peniano é altamente vascularizado e quando invertido, sai do
proctodeu e é introduzido na cloaca da fêmea, tornando-se ingurgitado. O ducto
deferente segue ao lado do ureter até a cloaca e passa pelo sulco ventral. O músculo
retrator peniano traz o pênis de volta para a cloaca5,10.
Os quelônios tem sistema circulatório porta-renal³. As artérias ilíacas internas,
em cada antímero, bifurcam-se enviando um ramo para os genitais, outro para a
cloaca e um para a bexiga urinária em ambos os sexos6 .
Na cópula, o órgão é exteriorizado por pressão sanguínea. A exposição
prolongada do pênis com consequente lesão por abrasão e traumatismo é um
problema comum em jabutis. O pênis dos quelônios difere dos mamíferos por não
possuir uretra, sendo, portanto um órgão com função unicamente copuladora³.
O prolapso de pênis é relativamente freqüente nos jabutis5. Quando não há
retração, ocorrem traumatismos, lesões e edemas que podem evoluir para isquemia,
necrose e toxemia4.
As causas para esta condição são múltiplas, tais como trauma, inflamação,
infecção, hiperparatireoidismo secundário nutricional, déficit neurológico ou traumático
envolvendo o músculo retrator peniano ou esfíncter cloacal, parasitas intestinais,
cálculo vesical ou cloacal e separação forçada durante a cópula5.
Nos estágios iniciais de prolapso peniano é possível a redução do edema e a
reposição para dentro da cloaca4 ,5.
A apresentação clínica mais comum é de um estágio mais avançado, pois os
animais são trazidos tardiamente. Nestes casos, o pênis prolapsado apresenta
acentuado edema, com possíveis áreas de necrose e infecções bacterianas, tornando
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a redução do prolapso impossibilitada e contraindicada. Sendo indicado
o tratamento cirúrgico de amputação peniana, pois a necrose do pênis causa toxemia,
septicemia e morte4,5,³.
O procedimento é realizado, em geral, com o animal sedado e com anestesia
epidural. Após assepsia, o pênis é exposto e os corpos cavernosos são ligados
individualmente com ligaduras em massa com fio absorvível durável. Os pontos e
amputação são realizados cranialmente ao tecido sem vitalidade, que deve ser todo
removido. São feitas suturas na extremidade do coto antes de posicioná-lo no interior
da cloaca³.
No pós operatório, recomenda-se tratamento antibiótico amplo espectro via
parenteral, fluido e soluções antissépticas ou cremes cicatrizantes no local da incisão,
antiinflamatório, analgésico e a manutenção do paciente em ambiente que forneça
conforto térmico³.
O objetivo deste trabalho é descrever um caso de prolapso peniano em Jabuti
de patas vermelhas (Geochenole carbonaria) atendido no HV-Ulbra, tratado
cirurgicamente através da amputação peniana.
Relato de caso
Foi atendido no HV-ULBRA, um quelônio, espécie Geochelone carbonaria,
cujo nome vulgar é “jabuti de patas vermelhas”, macho, 6 anos, 1,6 Kg de peso,
oriundo do Zoológico de Canoas-RS. Durante anamnese o proprietário relatou que o
animal apresentava prolapso peniano já há alguns dias, não sabendo se havia
histórico de parasitismo, cópula com fêmea ou algum tipo de trauma.
O exame clínico evidenciou prolapso peniano, este apresentava-se
eritematoso, de aspecto friável, sem secreção purulenta, apresentando grave edema,
mucosa fria, com escoriações e provável comprometimento vascular.
Foi realizada coleta de amostra sanguínea. O exame demonstrou valores fisiológicos
normais para a espécie, porém apresentou raros heterófilos tóxicos, rubrícitos
policromatofílicos e linfócitos ativos.
O quelônio foi internado recebendo: enrofloxacina na dose de 5mg/kg pela via
intramuscular à cada 12 horas e cetoprofeno na dose de 2mg/kg pela via
intramuscular à cada 24 horas. Foi realizado lavagem abundante com solução
fisiológica, sendo feita compressa com gelos em cubos e colocada em sua superfície
açúcar, com o intuito de diminuir o edema da área prolapsada, para posterior
amputação peniana.
O animal foi encaminhado para o bloco cirúrgico. Recebendo como medicação
pré-anestésica butorfanol na dose de 0,2 mg/kg/IM e quetamina na dose de 30mg/Kg,
ambos sendo aplicados na região muscular do membro anterior direito. A indução foi
realizada com o agente volátil isoflurano. O animal foi intubado e o plano anestésico
foi mantido com isoflurano.
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O paciente foi posicionado na mesa cirúrgica em decúbito dorsal, a
protrusão foi elevada pelo auxiliar do cirurgião com tração manual, e, foi realizado
duas ligaduras, transfixando o pênis, nos dois corpos cavernosos, com fio categute 0.
O tecido prolapsado foi pinçado com clamp intestinal de Doyen caudalmente as
ligaduras e, a amputação foi realizada com transecção da massa com auxílio de um
bisturi. O tecido em excesso foi removido com auxílio de uma tesoura de mayo, e, a
mucosa foi suturada com mesmo fio em uma sutura contínua simples. O coto foi
inspecionado quanto à sangramentos, e o restante do pênis foi reposicionado em seu
local de origem.
O procedimento cirúrgico teve duração de 10 minutos. Aproximadamente 3
minutos após o término do procedimento, o paciente já apresentava-se com reflexo de
deglutição, e aos 4 minutos, o paciente apresentava-se com reflexo positivo ao
pinçamento cutâneo. Após 10 minutos, o paciente apresenta-se com reflexo de
retirada do pescoço.
No pós-operatório imediato foram aplicados enrofloxacina e cetoprofeno. O
paciente foi liberado do bloco após 20 minutos do término do procedimento. Foi
encaminhado ao setor de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) préviamente
aquecido, para que conseguisse recuperar-se completamente da anestesia. Após sua
recuperação anestésica, o animal teve alta e retornou ao zoológico da cidade, sendo
indicado manter o tratamento com enrofloxacina e cetoprofeno.
Discussão
Em quelônios, é necessária a diferenciação de prolapso peniano de prolapso
de cloaca, bexiga e intestino5. O exame clínico e resultado de exames laboratoriais
convergiram para o diagnóstico de prolapso peniano. Conforme a grande maioria dos
autores este tipo de patologia é muito comum nesta espécie3,4,5.
O prolapso peniano é um dos principais problemas que acometem esses
animais quando mantidos em cativeiro1,7. Uma das condições para que isso ocorra é o
péssimo manejo ambiental e alimentar a que são submetidos1,5,7,9. Neste caso, o
animal era mantido em cativeiro no zoológico da cidade.
Neste relato de caso, após o prolapso peniano, não houve retração peniana, e,
segundo a literatura, nestes casos podem ocorrer traumatismos, lesões e edemas que
podem evoluir para isquemia, necrose e toxemia4.
As causas para esta condição são múltiplas, como trauma, inflamação,
infecção hiperparatireoidismo secundário nutricional, déficit neurológico ou traumático
envolvendo o músculo retrator peniano ou esfíncter cloacal, parasitas intestinais,
cálculo vesical ou cloacal e separação forçada durante a cópula5. Não foi descoberta
a causa deste prolapso no caso em questão.
A limpeza do pênis prolapsado e a redução do edema com compressas frias
parecem resolver o problema em grande parte dos casos quando associados com
sutura da cloaca5. Neste relato, o uso de compressas frias foi realizado para minimizar
a inflamação pós cirúrgica, pela redução prévia do edema, pois a amputação era
necessária pela isquemia peniana. De acordo com a literatura consultada, em
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estágios mais avançados, como na maioria dos casos, quando os
animais são trazidos tardiamente com exposição dos tecidos que se apresentam
edemaciados5, com áreas de necrose, infecções bacterianas e exsudato inflamatório,
torna-se impossível a redução do prolapso do pênis4.
O procedimento é realizado, em geral, com o animal sedado e com anestesia
epidural. È realizada assepsia, o pênis é exposto e os corpos cavernosos são ligados
individualmente com ligaduras em massa com fio absorvível durável³. Neste caso, não
foi realizada anestesia epidural, porém o paciente mostrou-se em um bom plano
anestésico para a cirurgia e teve uma recuperação rápida pós cirúrgica.
No pós operatório recomenda-se tratamento antibiótico amplo espectro via
parenteral, fluido e soluções antissépticas ou cremes cicatrizantes no local da incisão,
antiinflamatório, analgésico e a manutenção do paciente em ambiente que forneça
conforto térmico³. Foi utilizado antibioticoterapia e antiinflamatório parenteral, contudo
não foi utilizado agentes tópicos, diferente do sugerido.
Conclusão
Casos de prolapso peniano em jabutis de patas vermelhas são comuns na
rotina clínica de animais silvestres. É necessário um diagnóstico preciso para que seja
possível identificar e remover a causa deste prolapso, determinando o estágio e a
severidade da doença. Apesar da terapia clínica ser recomendada, somente a
amputação de fato gerará a cura do paciente quando houver comprometimento
tecidual irreversível.
Neste caso o procedimento cirúrgico promoveu a resolução da doença e uma
melhora rápida do paciente, que voltou a se alimentar normalmente. Frente à
gravidade do quadro com o qual o animal se apresentou, a evolução foi considerada
muito favorável.
Acreditamos que realizando o estudo desses animais, elucidando caso clínico e
cirúrgico de prolapso peniano, facilitará o entendimento da fisiologia reprodutiva
destas espécies, possibilitando uma atuação mais efetiva e precisa do clínico e
cirurgião
veterinário.
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USO DE ÂNCORA NA REDUÇÃO ABERTA DA LUXAÇÃO
COXOFEMORAL. RELATO DE CASO
Use
of
anchor
in
open
reduction
of
coxofemoral
luxation
in
dogs.
A
case
repor
MEIRELLES
V.M.61;
SPOSITO
G.C.62;
PADILHA
FILHO
J.G.
63
Palavras-chave: âncora, luxação coxofemoral, cães.
Key Words: anchor, coxofemoral luxation, dogs.
Introdução
A luxação coxofemoral (LCF), também denominada como luxação de quadril, é
uma lesão traumática comum, representando cerca de 50% a 90% de todas as
luxações articulares1,2,3,4 sofrida por cães, geralmente resultante de traumatismos
externos na pelve5. A luxação craniodorsal é o deslocamento traumático mais comum
em pequenos animais6.7. Ao exame físico, o animal poderá apresentar dor à palpação,
deformidade, crepitação e movimentação anormal ou limitada do membro pélvico
acometido8, 3. Para o diagnóstico, são sugeridas as projeções ventrodorsal e
laterolateral a fim de definir o tipo de luxação9. O diagnóstico diferencial inclui
subluxação aguda da articulação CF secundária a displasia CF (DCF), fratura da fise
da cabeça femoral, fraturas de colo femoral e acetábulo 4. O tratamento da luxação
coxofemoral objetiva a estabilização da articulação para que ocorra reparação do
tecido mole e recuperação funcional do membro8. Muitos métodos foram descritos
para o tratamento da LCF. Eles dividem-se em redução fechada9, para recolocar a
cabeça do fêmur dentro do acetábulo ou redução aberta, a qual é realizada por meio
de cirurgia10,4. Dentre as técnicas cirúrgicas pode-se destacar a capsulorrafia,
transposição trocantérica, cápsula prostética ancorada, suturas íliofemorais, pino
transacetabular, pino moldado em cavilha, como formas de salvamento da articulação.
Como opção para salvar a deambulação, pode-se optar pela ressecção da cabeça e
colo de fêmoral2,8, 3. Este trabalho objetiva reportar um caso onde foi realizada técnica
intra-articular para a redução da LCF com o uso de uma âncora. Esta técnica consiste
em uma substituição do ligamento redondo da cabeça do fêmur por uma prótese, para
manter a redução da articulação até o tecido periarticular fibroso estar maduro o
61
Pós-graduanda (doutorado) Cirurgia Veterinária/FCAV/Unesp-Jaboticabal
62
Médico veterinário anestesista/HV-Unip-SJC
63
Prof. Ass. Dr. CCPA /FCAV/Unesp-Jaboticabal. E-mail: [email protected]
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suficiente para manter a redução da articulação. A âncora é afixada ao
acetábulo por meio de uma chave especial.
Um cão macho, SRD, sete anos de idade, pesando 21 kg foi atendido com
histórico de trauma por atropelamento. Após os primeiros socorros, foi diagnosticada
através de radiografia simples LCF craniodorsal direita. Após a avaliação clínica e
exames laboratoriais, o animal foi então submetido à cirurgia. Para realização desta
técnica, foi realizada a abordagem craniolateral à articulação CF com tenotomia
parcial dos músculos glúteos médio e profundo. Após a exposição da articulação, a
cabeça do fêmur foi rotacionada lateralmente para que a fóvea pudesse ser
visualizada e um túnel foi perfurado através da mesma e abaixo do colo femoral até
sair ventralmente ao terceiro trocânter. O túnel foi feito com uma broca de 3,2 mm.
Após a perfuração do fêmur, o acetábulo foi identificado e limpo e a perfuratriz foi
então introduzida para criar um orifício na borda proximal da fossa acetabular, com o
diâmetro de 3,2mm para a introdução da âncora de 4 mm. Esta âncora foi produzida
em aço inoxidável, tendo sido desenvolvida uma chave especial longa e canulada
para a sua introdução. O fio de poliéster trançado n° 5 foi acoplado à âncora e à
chave especial. A âncora foi introduzida no orifício realizado na borda acetabular com
a chave especial. As extremidades do fio foram transpassadas pelo orifício perfurado
no fêmur e, por meio de tração destas, a luxação foi reduzida. Para a realização do
nó, foi utilizado um botão de aço inoxidável com um orifício para cada extremidade do
fio. Capsulorrafia foi realizada com suturas simples interrompidas. A musculatura foi
aproximada, e a sutura do tecido subcutâneo e pele foram realizadas de modo
padrão. O animal iniciou o apoio do membro operado após 48 horas da cirurgia, e
após dez dias já caminhava normalmente sem sinais de claudicação.
Esta técnica pode ser considerada um meio de reparo fisiológico, não
requerendo imobilização pós-operatória da articulação, da mesma forma como o pino
moldado em cavilha11,12,8,13. Também possui as mesmas indicações e pode ser
realizada em qualquer caso de LCF traumática, principalmente para aqueles animais
que possuam injúrias ortopédicas múltiplas ou com luxações crônicas, já que
proporciona uma imediata recuperação e uso precoce do membro acometido. Mas
não seria indicada quando houver DCF, como citam alguns autores em relação ao
pino moldado em cavilha12,8,14.
A técnica é de fácil execução, não exigindo secção de nenhum músculo glúteo
por não necessitar de uma ampla exposição do acetábulo, já que a âncora é
introduzida por meio de uma chave especial própria para ela. Estudos com um maior
número de cães, incluindo pequeno, médio e grande porte devem ser realizados para
uma comparação efetiva com as outras técnicas já existentes.
REFERENCES
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estados ortopédicos do membro posterior. In: Manual de Ortopedia e
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OSTEOSSÍNTESE DE CABEÇA UMERAL EM PRIMATA ALOUATTA
FUSCA CLAMITANS: RELATO DE CASO
HUMERAL
HEAD
OSTEOSYNTESE
IN
PRIMATE
ALOUATTA
FUSCA
CLAMITANS:
CASE
REPORT
OSTEOSÍNTESIS
DE
LA
CABEZA
HUMERAL
EN
PRIMATA
ALOUATTA
FUSCA
CLAMITANS:
REPORTE
DE
CASO
CARNEIRO,
L.
Z.64;
MISTIERI,
M.
L.
A.65;
FLÔRES,
F.
N.
66;
COSTA
A.67
Resumo
Um primata de vida livre pertencente à subespécie Alouatta fusca clamitans foi
apresentado ao Hospital de Clínicas Veterinárias com fratura de cabeça umeral. O
animal foi submetido à estabilização cirúrgica da fratura por meio de dois pinos de
Steinmann cruzados. No entanto, a escassa literatura sobre a espécie levou à
necessidade de adaptações de técnicas e doses utilizadas para a espécie canina,
tanto para o acesso cirúrgico como para os procedimentos anestésicos e prescrições
pré e pós-operatórias. Este trabalho objetiva descrever as técnicas e protocolos
medicamentosos aplicados ao primata, com intuito de divulgá-los. O animal voltou à
vida em grupo em cativeiro, após cicatrização óssea e evolução clínica satisfatórias.
Palavras-chave: fratura umeral, animal selvagem
Abstract
A wild primate, belonging to Alouatta fusca clamitans subspecies, was presented to
Veterinary Policlinic showing a humeral head fracture. The animal was submitted to
surgery and the fracture stabilized using two crossed Steinmann pin, of 1,5 mm of
diameter each. The surgical and anesthesiological procedures, preoperative and
postoperative prescriptions were performed according to the literature for dogs, once
no literature concerning similar techniques and dosages for this subspecies were
found. This report intends to publish the chosen techniques and protocols. The
primate was able to return to life group in captivity, after a satisfactory bone healing
and good clinical evolution.
Key-words: humeral fracture, wild animal
64
Médico veterinário autônomo; e-mail: [email protected]; rua 3050, 216, Bal. Camboriú/SC, CEP: 88330308,
tel.: (47)33614886 cel.: (49)99989139. Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Santa Catarina,
Lages.
65
Professora adjunta Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana, RS
66
Doutoranda FCAV Unesp- Jaboticabal, SP
67
Médico veterinário autônomo, SC
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Introdução
O bugio-ruivo é uma espécie de primata arborícola, não saltadora, cuja
subespécie Alouatta fusca clamitans é encontrada desde o sul do Espírito Santo até o
Rio Grande do Sul1,2. Por viverem em grupos, primatas estão constantemente sujeitos
a traumatismos decorrentes de brigas, os quais podem ocasionar lesões mais graves,
tais como fraturas 3,4,5. No entanto, fraturas de ossos longos são consideradas raras e
geralmente fatais 6.
Embora o tratamento cirúrgico possa ser a única chance de sobrevida para
primatas portadores de fraturas, procedimentos invasivos em animais silvestres são,
em geral, desafiadores devido à escassez de trabalhos disponíveis na literatura.
Assim, é importante que todos os dados referentes às prescrições terapêuticas,
anestesiológicas e demais procedimentos sejam publicados e sirvam de referência
para futuros pacientes 7.
O presente trabalho relata o sucesso da osteossíntese de cabeça umeral em
um exemplar de bugio-ruivo, bem como seu manejo pós-cirúrgico e anestesiológico.
Relato de caso
Encontrado à beira de uma rodovia, um primata adulto de vida livre da
subespécie Alouatta fusca clamitans (bugio-ruivo) foi encaminhado ao Hospital
Veterinário para avaliação, com suspeita clínica de atropelamento.
Ao exame físico, o animal apresentou discreta apatia e desidratação,
pequenas lacerações de tecidos moles na cavidade oral e impotência funcional do
membro anterior esquerdo, bem como crepitação óssea na região proximal do úmero.
Ao exame radiográfico mediolateral simples, observou-se fratura transversa completa
da cabeça umeral esquerda. O animal recebeu fluidoterapia por via subcutânea
(25ml/Kg) durante dois dias e analgesia (cloridrato de tramadol 4 mg/kg TID e
meloxicam 0,1 mg/kg SID) durante cinco dias, associado a repouso absoluto e
manutenção do animal em gaiola. Efetuou-se limpeza diária dos ferimentos da
cavidade oral com solução fisiológica e alimentação na forma pastosa, adequada a
espécie.
Com a melhora clínica do animal, foi realizado o procedimento cirúrgico para
correção da fratura, após dez dias da chegada do animal. Após sedação com
midazolam (0,5mg/kg) e cetamina (8mg/kg) via intramuscular, foi instituída
cateterização venosa e, por meio de indução com máscara de isoflurano, procedeu-se
a intubação endotraquel com sonda tipo murphy nº 5,0. A manutenção anestésica foi
realizada com isoflurano 1,5 CAM. Frequência cardíaca e respiratória,
eletrocardiografia e pressão arterial invasiva foram monitorados e permaneceram
estáveis durante todo o procedimento.
Após ampla tricotomia e antissepsia da região, procedeu-se o acesso cirúrgico
à articulação do ombro, que foi obtido por acesso craniolateral, prolongado
distalmente, à semelhança do efetuado para a espécie canina8. Procedeu-se a
redução dos fragmentos (Figura 1A) e sua estabilização com a inserção de dois pinos
de Steinmann cruzados, de 1,5 mm de diâmetro, como ilustra Figura 1B. A síntese foi
efetuada em quatro planos: sutura simples separada da cápsula articular com
poliglactina 910, calibre 4-0; sutura simples contínua da fáscia muscular e tecido
subcutâneo, com mesmo fio; e sutura intradérmica cotínua com mononylon 3-0. Ao
exame radiográfico notou-se bom alinhamento ósseo.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Foi administrado ao animal cefalexina 30 mg/kg BID durante
sete dias, meloxicam 0,1 mg/kg SID durante cinco dias, cloridrato de tramadol 3 mg/kg
TID durante três dias, além de limpeza diária da ferida cirúrgica com solução
fisiológica. O primata foi mantido em repouso absoluto em gaiola por 30 dias. Então,
procedeu-se o exame radiográfico, sob anestesia geral (tiletamina-zolazepam 5mg/kg
via IM), em duas projeções. Foi observada adequada redução dos fragmentos e não
foi mais visibilizada a linha de fratura, caracterizando-se união óssea após 40 dias da
cirurgia (Figura 1B). Após 45 dias da cirurgia, o primata conseguiu se manter
suspenso pelo membro operado e começou a ser reintroduzido à vida em grupo em
cativeiro.
Após sete meses do procedimento cirúrgico, notou-se restrição de amplitude
na extensão do cotovelo esquerdo em cerca de 30° em relação ao membro não
operado e a extensão cranial do membro relevou diminuição em cerca de 50° da
amplitude do movimento. Não foi observada atrofia da musculatura da região.
Radiograficamente, nenhuma alteração em relação à avaliação executada 30 dias
após a cirurgia foi observada.
Figura 1A: Fotografia da redução trans-cirúrgica dos fragmentos ósseos de primata
portador de fratura de cabeça umeral esquerda. Notar a linha de fratura (setas).
Figura 2A: Imagem radiográfica em projeção craniocaudal da articulação do ombro
esquerdo de primata, 30 dias após o procedimento cirúrgico para correção de fratura
umeral. Notar que a linha de fratura (setas tracejadas) não é mais vizibilizada, os
81
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
implantes permanecem bem colocados. Também é possível observar
calcificação do músculo bíceps braquial (seta contínua).
Discussão
Para a realização dos procedimentos anestésicos e cirúrgicos descritos no
presente relato, foi necessária a adaptação de técnicas e doses aplicadas a pacientes
caninos, pois não foram encontradas dosagens ou relatos de acesso cirúrgico ou
estabilização óssea em indivíduos da espécie Alouatta fusca clamitans. Nenhuma
complicação foi observada e o protocolo de analgesia foi eficaz para a manutenção do
bem-estar do animal.
Sabe-se que fraturas de cabeça umeral podem cursar com necrose asséptica
da cabeça umeral devido à interrupção da vascularização desta estrutura10,11. Esta foi
uma preocupação da equipe envolvida no procedimento, pois foi necessária a espera
de dez dias para melhora clínica do paciente e realização do procedimento. Este
longo período poderia ter inviabilizado a revascularização do fragmento, o que
impossibilitaria a união óssea e a reabilitação do animal. Contudo, a união óssea foi
observada já aos 30 dias de pós-cirúrgico, e a reavaliação clínica e radiográfica após
sete meses da cirurgia não indicou nenhuma suspeita de tal complicação.
Com relação ao acesso cirúrgico, verificou-se que, embora os primatas sejam
providos de clavícula, tal particularidade não interferiu no acesso cirúrgico e adequada
exposição da linha de fratura. Quanto ao método de estabilização empregado, a
principal complicação dos pinos de Steinmann para estabilização é a migração dos
implantes12. Outros métodos são considerados mais estáveis, tais como placas e
parafusos13,14, fixadores externos15 e hastes diafisárias16, porém, mediante o pequeno
tamanho do fragmento ósseo estabilizado, tais métodos não foram factíveis. Os
exames radiográficos realizados após o primeiro e o sétimo meses da intervenção
cirúrgica não demonstraram nenhum sinal de migração dos implantes. Este fato,
associado à cicatrização precoce da fratura, permite ressaltar que o método escolhido
foi eficiente.
O estabelecimento de um programa de reabilitação foi inviabilizado devido ao
estresse causado pela manipulação ao primata. As discretas limitações de amplitude
de movimento não impediram, no entanto, satisfatória locomoção e convívio em grupo
do primata em cativeiro, especialmente pelo fato da espécie não ser saltadora.
Conclusão
O método de estabilização e o manejo pós-cirúrgico empregados foram
eficientes para a obtenção da consolidação óssea, tornando possível a reintrodução
do primata à vida em grupo em cativeiro.
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83
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
TÉCNICA CIRÚRGICA PARA IMPLANTAÇÃO DE CÂNULA EM FORMA DE
T NO ÍLEO TERMINAL DE SUÍNOS
SURGICAL
TECHNIQUE
FOR
IMPLANTATION
OF
T‐SHAPED
CANNULA
IN
THE
TERMINAL
ILEUM
OF
PIGS
MAYER,
D.M.68;
FONSECA,
B.P.A.69;
CARVALHO,
T.A.70;
BORGES,
A.P.B.2;
MENESES,
R.M.71;
FAVARATO,
L.S.C.2;
FERREIRA,
C.L.72
Palavras-chave: técnica cirúrgica, ileostomia, fistulação, nutrição.
Key-words: surgical technique, ileostomy, fistula, nutrition
Introdução
Os recentes avanços da seleção genética na suinocultura têm propiciado a
obtenção de animais com maior capacidade para ganho de peso e com menor
consumo1, fazendo com que os médicos veterinários e zootecnistas procurem utilizar
uma técnica para determinar a digestibilidade. Com suínos, o método mais utilizado
para determinar a digestibilidade dos alimentos é o da coleta de digesta do íleo
terminal pela cânula T simples. Esta técnica tem apresentado vantagens, como por
exemplo, simplicidade da cirurgia, menor período de recuperação pós-cirúrgico e
menor alteração da fisiologia digestiva, quando comparada às outras técnicas de
avaliação nutricional2. Apesar da canulação ileal em suínos estar se tornando uma
prática bastante utilizada, há poucos relatos sobre a técnica de colocação e suas
possíveis complicações. O uso de valores de digestibilidade ileal na formulação de
dietas aumenta o número de alimentos que podem ser utilizados na formulação, sem
prejuízos na qualidade nutricional da dieta, possibilitando a utilização de subprodutos
oriundos da indústria de alimentos humanos, reduzindo o custo da produção de
suínos3. O objetivo deste trabalho foi descrever a técnica para implantação da cânula
em forma de T no íleo terminal de suínos, as complicações e as alterações que
possam vir a surgir no pós-operatório. Para realização deste experimento foram
utilizados 13 suínos machos castrados, predominância da genética PIC Agroceres,
com média de 2,6 meses de idade e média de peso de 22 kg ± 3kg, oriundos do Setor
68
Médica Veterinária, especializanda em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais, Departamento de Veterinária (DVT),
Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Viçosa-MG, [email protected];
69
Médica veterinária, professora adjunta, DVT, UFV – Viçosa-MG;
70
Médico veterinário, doutorando em Nutrição de Monogástricos, Departamento de Zootecnia (DZO), UFV – Viçosa-
MG;
71
Médico veterinário, especializando em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais, DVT, UFV – Viçosa-MG.
72
Estudante de graduação em Medicina Veterinária, UFV- Viçosa-MG
84
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
de Suinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade
Federal de Viçosa (UFV), MG. O experimento foi realizado no Centro Cirúrgico de
Grandes Animais, do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de
Viçosa. No pré-operatório, os animais foram submetidos a jejum alimentar de 15 horas
e jejum hídrico de seis horas. Utilizou-se como antibiótico a enrofloxacina na dose de
5mg/kg, via intramuscular, sendo aplicada em cada animal cerca de meia hora antes
de entrar no centro cirúrgico. O tratamento teve continuidade por sete dias após o
implante da cânula, reduzindo a dose para 2,5mg/kg após o terceiro dia de pósoperatório. A cânula foi confeccionada de Technyl (marca registrada da Rhodia),
reforçada com fibras minerais e/ou sintéticas, onde visa diminuir o peso específico e
principalmente aumentar a resistência mecânica. Foi realizada sua esterilização com
imersão em solução de formaldeído 40% por 30 minutos, sendo lavada com solução
fisiológica estéril antes do uso. Os animais receberam acepromazina na dose de 0,1
mg.kg-1, e diazepam na dose de 0,5 mg.kg-1, por via intramuscular, como medicação
pré-anestésica (MPA). Previamente à indução anestésica foi realizada a cateterização
da veia marginal da orelha e administração de solução de NaCl a 0,9% na velocidade
de 6 mL.kg-1.h-1. A indução da anestesia foi realizada com a administração de
tiopental, na dose de 12,5 mg.kg-1, por via intravenosa. Os animais foram então
posicionados em decúbito lateral esquerdo. Em seguida, foi posicionada uma máscara
com tamanho apropriado ao porte do animal e fornecido oxigênio (FiO 2 100%) com
fluxo inicial de 15 mL.kg-1.min-1. A manutenção da anestesia foi realizada com
isofluorano, diluído em 100% de oxigênio, por meio de vaporizador calibrado. A
concentração do isofluorano fornecida foi ajustada de forma a manter estável o plano
anestésico, iniciando-se em 2,5%. Ato contínuo, foi realizada anestesia local infiltrativa
com 5 mL de lidocaína 2% no local da incisão cirúrgica. Foi feita uma incisão de pele
no flanco direito de aproximadamente 10 cm de comprimento. Os músculos oblíquo
externo, oblíquo interno e transverso do abdome foram incisados na sequência.
Realizou-se a identificação e secção do peritônio. Após a abertura completada, o ceco
foi localizado e exteriorizado pela incisão abdominal e, em seguida, identificou-se a
prega ileocecal, visando à localização e exteriorização da porção terminal do íleo.
Uma sutura em “bolsa de fumo” foi realizada, com fio de nylon n°2,0 para delimitar o
local da colocação da cânula. Uma incisão de aproximadamente 5 cm foi realizada no
centro da “bolsa”, envolvendo todas as camadas do intestino.Por meio desta incisão,
a base da cânula foi inserida. Depois foram tracionados os cabos do fio da sutura em
“bolsa de fumo” e os nós completados. Foram ainda utilizados quatro pontos
invaginantes de reforço ao redor da cânula para evitar qualquer tipo de vazamento de
conteúdo ileal e causar peritonite. Efetuou-se outra incisão na parede abdominal a
aproximadamente 10 cm caudodorsal à primeira incisão abdominal, imediatamente
cranial à tuberosidade coxal e, com o auxilio de uma pinça de Allis, o cilindro da
cânula foi tracionado pela incisão, posicionando a base junto à parede abdominal. A
arruela retentora foi rosqueada de modo a não forçar a pele, ajustada conforme a
evolução do edema pós-operatório em cada animal. Foi realizada uma sutura em
padrão Sultan para as camadas da parede abdominal, com fio de nylon n°2,0 seguido
de uma sutura em Wolf para pele, com o mesmo tipo de fio de sutura. Após a cirurgia,
os animais foram mantidos em baias individuais de alvenaria, medindo 1,95x1,05,
dotadas de bebedouro tipo chupeta, comedouros semiautomáticos e com lâmpada de
100W ligadas 24 horas por dia, uma para cada animal. No pós-operatório, foi
administrado flunixin meglumine - 2mg/kg, por via intramuscular, a cada 24 horas por
cinco dias. Os pontos foram retirados em oito dias e a limpeza com solução de Dakin
era realizada todos os dias pela manhã. Foi medida a temperatura retal dos animais
todos os dias até a retirada dos pontos, e depois duas vezes por semana. A tampa
era aberta a cada dois dias. Inicialmente, foi fornecida pequena quantidade de ração,
85
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
sendo aumentada gradativamente até o estabelecimento do consumo
normal. A indução e manutenção da anestesia foi considerada satisfatória para a
execução cirúrgica. Edema pós-operatório ocorreu em 84,6% dos animais nos
primeiros dois dias, desaparecendo gradativamente ao longo dos dias seguintes, sem
comprometer a cicatrização. A ferida cutânea cicatrizou por primeira intenção em
todos os animais. A inflamação ao redor da cânula ocorreu em todos os animais
devido à secreção nos primeiros dias e ao fato de alguns deles deitarem sobre ela, o
que promovia irritação da pele, sendo 15,4% considerado inflamação severa. Foi
utilizado ungüento® ao redor da cânula e a inflamação reduziu em 84,6% dos animais.
O extravasamento de conteúdo ileal foi observado em seis animais, dos quais dois
foram encaminhados para eutanásia devido à não recuperação, mesmo sendo
tratados com ceftiofur (5mg/kg). Os outros quatro animais melhoraram e foram
utilizados em experimentos seguintes. Diarréia foi observada em 77% dos animais,
principalmente a partir do quinto dia do pós-operatório, justificada pela manipulação
excessiva dos animais, visto que são animais que se estressam facilmente. A
temperatura dos animais apresentou variação entre 37,5°C e 39,5°C, porém a faixa
de normalidade para a espécie é de 39°C ± 0,5°C 4 . A temperatura de um animal que
tinha diarréia manteve-se dentro da normalidade. Outro animal alimentava-se muito
pouco, e a temperatura estava dentro da normalidade. Outro, ainda, apresentou
extravasamento de conteúdo ileal ao redor da cânula, causando grande inflamação na
pele, e mesmo assim a temperatura dele manteve-se entre 37°C e 38°C, concluindo
que a temperatura não serviu de parâmetro para relatar peritonite neste experimento.
O maior problema relacionado ao uso das cânulas T simples é o entupimento que
ocorre logo no primeiro dia pós-cirúrgico5, sendo que esse problema não ocorreu, pois
elas foram abertas e limpas no primeiro dia e depois a cada dois dias até o final do
experimento. A cirurgia é considerada simples e pouco invasiva, quando comparada
aos demais métodos cirúrgicos para a determinação da digestibilidade ileal de
nutrientes, permitindo a realização dos ensaios de digestibilidade após recuperação
cirúrgica de 14 dias 6. A cirurgia para implantação da cânula T simples em suínos é
de fácil realização. As complicações que foram observadas enfatizam a necessidade
de maiores cuidados nos primeiros 15 dias de pós-operatório. A limpeza ao redor da
cânula deve ser feita diariamente, reduzindo a inflamação e evitando dermatites.
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86
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
INTERVENÇÃO CIRÚRGICA EM CÃO (CANIS FAMILIARIS) COM
HIPOSPADIA PERIANAL – RELATO DE CASO
SURGICAL
INTERVENTION
IN
DOG
(CANIS
FAMILIARIS)
WITH
PERIANAL
HYPOSPADIAS
–
CASE
REPORT
HORTA,
R.S.731;
RODRIGUES,
A.A.M.1;
PEREIRA,
L.C.1;
COSTA,
M.P.1;
LAVALLE,
G.E1;
CARNEIRO,
R.A1.
Palavras-chaves: hipospadia, anormalidades congênitas.
Key-words: hypospadias, congenital abnormalities.
Introdução
Hipospadia é uma alteração do desenvolvimento embrionário na qual a uretra
se abre ventralmente e em posição proximal ao orifício normal1. É uma patologia rara,
mais frequentemente relatada em machos e geralmente acompanhada de outras
anomalias congênitas como criptorquidismo2. As hipospadias podem ser classificadas
anatomicamente em glandular, peniana, escrotal, perianal ou anal, conforme a
localização da abertura uretral1. O diagnóstico é feito no exame físico e os sinais
clínicos incluem, além das anormalidades anatômicas visíveis, incontinência urinária,
hematúria e disúria4. A correção cirúrgica depende da localização e severidade das
lesões, sendo desnecessária em alterações discretas5. A castração é sempre
recomendada devido à possibilidade de envolvimento genético6. Nos casos mais
severos, recomenda-se o fechamento do orifício prepucial e a excisão dos genitais
externos com anomalias4. Foi atendido no Hospital Veterinário da UFMG um cão
(Canis familiaris) macho, da raça Pastor alemão, com cinco meses de idade, pesando
14,3kg, que apresentava uma anomalia congênita com má-formação dos órgãos
genitais. Ao exame físico foi observada uma exposição da mucosa genital com atrofia
peniana, não união do escroto e do prepúcio e abertura do óstio uretral ventralmente
ao ânus (Fig. 1), caracterizando uma hipospadia perianal acompanhada de falha no
desenvolvimento da uretra peniana, pênis, prepúcio e escroto. Devido à severidade do
quadro e exagerada exposição de mucosa, foi recomendada a castração do animal e
amputação peniana. O exame de risco cirúrgico, feito dez dias antes da cirurgia,
incluiu hemograma, dosagem de uréia e creatinina sérica e testes de hemostasia
(tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada). Apesar de ter sido
observada uma baixa contagem de plaquetas (140 x 103 céls/µL), não foram
observadas alterações nas provas de hemostasia. O animal foi internado para a
cirurgia, permanecendo oito horas em jejum alimentar e seis horas em jejum hídrico. A
73
Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. – [email protected]
87
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
medicação pré-anestésica foi realizada com acepromazina e
meperidina por via intramuscular. O paciente foi medicado com cefalotina por via
endovenosa e foi realizada uma tricotomia ampla da cartilagem xifóide ao púbis e da
região lombossacral para realização de anestesia epidural no espaço intervertebral
entre a 7ª vértebra lombar e a 1ª vértebra sacral, utilizando morfina e lidocaína sem
vasoconstritor, mediante indução do animal com propofol (5mg/kg). Após a
antissepsia do campo e colocação dos panos cirúrgicos estéreis, foi realizada a
orquiectomia bilateral, sendo necessárias duas incisões longitudinais parapenianas
pré-escrotais, uma vez que não ocorreu a união do escroto no desenvolvimento
embrionário. Cada testículo foi pressionado para avançar na área pré-escrotal, sendo
exteriorizado após incisão da fáscia espemática e túnica vaginal parietal. Com o
auxílio de uma pinça hemostática fixada no epidídimo, foi possível separar com os
dedos o ligamento da cauda do epidídimo na túnica vaginal, expondo os testículos,
epidídimos e respectivos cordões espermáticos. Cada cordão espermático foi ligado
com uma “ligadura em figura de 8” utilizando fios de poliglecaprone-25, corado em
violeta, calibre 1-0. Em seguida foi realizada a transecção acima das ligaduras e
remoção dos testículos. A redução do espaço morto foi feita com sutura simples
contínua, utilizando o mesmo tipo de fio usado na ligadura dos vasos. A pele foi
suturada com padrão simples separado, utilizando-se fios de nylon calibre 3-0. Para
amputação do pênis, foi feita uma incisão elíptica ao redor do prepúcio e do pênis,
preservando pele para o fechamento da ferida. O pênis foi então dissecado no sentido
craniocaudal, a partir da parede corporal, e amputado de maneira cuneiforme após a
ligadura dos vasos prepuciais e penianos dorsais (caudais ao local de amputação
desejado), também com fios de poliglecaprone-25. A redução do espaço morto foi
feita em duas camadas com suturas interrompidas simples, seguida de uma sutura
simples contínua utilizando o mesmo tipo de fio da hemostasia. A sutura de pele foi
feita com fio de nylon calibre 3-0 seguindo o padrão de “Wolff”. No pós-cirúrgico o
animal foi medicado com tramadol a cada 12 horas e prednisona a cada 24 horas por
cinco dias no período da manhã. O paciente recebeu alta hospitalar no dia seguinte à
cirurgia e continuou sendo medicado com cefalotina a cada 12 horas até completar
dez dias. Para evitar autotraumatismo, foi colocado um colar elizabetano. O animal
teve um pós-operatório tranquilo e se recuperou bem da cirurgia. A hipospadia,
apesar de não representar risco à vida do animal, pode trazer desconforto e prejudicar
o bem-estar do paciente7. Como no caso descrito, a hipospadia em machos é
frequentemente acompanhada de outras anomalias, como desenvolvimento anormal
da uretra peniana, pênis, prepúcio e/ou escroto, sendo recomendada a intervenção
cirúrgica para reduzir a exposição da mucosa8. Geralmente, o animal se recupera
rápido da cirurgia. Hemorragia a partir do tecido cavernoso, vazamento urinário,
infecção, seroma e deiscência são complicações pós-operatórias potenciais. Essas
situações podem ser evitadas a partir do emprego de uma técnica cirúrgica asséptica
com adequada redução do espaço morto, manutenção do animal quieto e calmo
durante o período pós-operatório inicial, utilização de colar elizabetano, aplicação de
analgesia e antibioticoterapia preventiva4. A cirurgia melhora a qualidade de vida do
paciente e o salva na condição de animal de estimação, pois melhora a cosmese e
minimiza a ocorrência de complicações como a dermatite induzida por urina,
traumatismos e formações neoplásicas4.
88
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Figuras 1 e 2: Animal em decúbito dorsal antes e depois da cirurgia. A abertura do
óstio uretral (sonda) ventralmente ao ânus caracteriza a hipospadia perianal
acompanhada de atrofia peniana, não união do escroto e do prepúcio com grande
exposição de mucosa.
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89
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
CRIPTORQUIDECTOMIA EM EQUINOS A CAMPO: ANESTESIA,
PROCEDIMENTO CIRÚRGICO E IMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS
(2000 A 2010)
HORSES
CRYPTORCHIDECTOMY
IN
THE
FIELD:
ANESTHESIA,
SURGICAL
PROCEDURE
AND
POST‐OPERATIVE
IMPLICATIONS
(2000
A
2010)
CAMPOS,
S.B.S.74,
FREITAS,
S.L.R.75
,
SILVA,
J.A.
2,
CAETANO,
L.B.
2,
HELOU,
J.B.
2,
MORENO,
J.C.D.76
E
SILVA,
L.A.F.77.
Palavras-Chave: Anestesia intravenosa total, criptorquidismo, orquiectomia.
Key words: Cryptorchism, orchiectomy, total intravenous anesthesia.
INTRODUÇÃO
O criptorquidismo é um achado freqüente em equinos. Geralmente só um dos
testículos é afetado, podendo ficar retido na região inguinal ou abdominal (CATTELAN
et al. 2004; HAFEZ & HAFEZ, 2004). O diagnostico requer exame clínico específico.
O tratamento é cirúrgico, exigindo anestesia geral e, no pós-operatório, é possível
ocorrerem complicações como peritonite e tétano (SILVA et al., 2008; SILVA et al.,
2009). A anestesia pode ser realizada com éter gliceril guaiacol (EGG) associado a
xilazina e cetamina (VIEIRA et al., 2006).
Embora a orquiectomia de cavalos criptorquidas seja preferencialmente
realizada em centros cirúrgicos sob condições adequadas para se proceder ao pré,
trans e pós-operatório, em muitas situações o baixo valor comercial dos animais, as
limitações financeiras dos proprietários e a dificuldade para transportar os animais até
os grandes centros veterinários obrigam os cirurgiões a realizar os procedimentos
cirúrgicos nas fazendas de origem, locais cujas condições podem não ser favoráveis
ao sucesso das intervenções. Essa realidade exige protocolos anestésicos menos
onerosos, seguros e de fácil aplicação, rapidez na execução dos procedimentos
cirúrgicos e a adoção de medidas pós-operatórias que promovam o mínimo de
complicações.
74
Médica veterinária. Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais HV/ EV/ UFG. Mestranda em Ciência
Animal UFG. Bolsista CAPES. Avenida Genésio de Lima Brito, Qd. 139, Lote 1, casa 2, Jardim Balneário Meia Ponte,
CEP 74530-210, Goiânia, GO, Brasil. E-mail: [email protected] (autor correspondente).
75
Graduandos em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás.
76
Médico veterinário. Doutor, professor de Anestesiologia do Curso de Medicina Veterinária e da Pós-graduação em
Ciência Animal, Universidade Federal de Goiás.
77
Médico veterinário. Doutor, professor de Clínica Cirúrgica Animal do Curso de Medicina Veterinária e da e da Pós-
graduação em Ciencia Animal, Universidade Federal de Goiás (Orientador).
90
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Esse estudo teve a finalidade diagnosticar, avaliar um
protocolo anestésico, tratar cirurgicamente e analisar o pós-operatório de equinos
criptorquidas em ambiente fora do centro cirúrgico.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado utilizando casuística atendida em aulas práticas de
Clínica Cirúrgica Animal e durante a execução de projetos de extensão da
Universidade Federal de Goiás (UFG) entre os anos de 2000 e 2010. Na pesquisa
atendeu-se 30 equinos criptorquidas, inguinais ou abdominais, de diferentes raças,
idades e peso corporal os quais foram tratados cirurgicamente sob anestesia
intravenosa total em ambientes fora de Centros Cirúrgicos (Figura 1). Para proceder
às intervenções cirúrgicas, escolhia-se um local aparentemente com menor chance de
ocorrer contaminação, dando preferência a áreas cobertas por gramas, na sombra de
árvores e locais com menor acúmulo de dejetos, nesse caso respeitando sempre o
desnível do terreno.
O pré-operatório constou de jejum alimentar de 18 horas e hídrico de 12
horas, aplicação de 5.000 UI de soro antitetânico (Vencosat®, Vencofarma, Londrina,
PR), anestesia geral, contenção em decúbito lateral, lavagem da região inguinal,
escroto, pênis e prepúcio com água e sabão e higienização do campo operatório
empregando iodopolvidona tópico (Riodeine®, Indústria Farmacêutica Rioqímica Ltda.,
São José do Rio Preto, SP). No protocolo anestésico utilizou-se 0,8mg/kg de xilazina
(Sedomin®, Konig, Santana de Parnaíba, SP) por via intravenosa (EV) como
medicação pré-anestésica (MPA) e indução com 0,05mg/kg de diazepam (Compaz®,
Cristália, Itapira, SP), associado a 2,2 mg/kg de cetamina (Ketamina Agener®, Agener
União, Embu-Guaçu, SP), administrados por via endovenosa (EV) lenta. A
manutenção foi realizada por infusão contínua de 50mg/kg/h de EGG a 5%
(Henrifarma®, São Paulo, SP) associado a 2,0mg/ml de cetamina e 0,5 mg/ml de
xilazina (Sedomin®, Konig, Santana de Parnaíba, SP), diluídos em solução glicosada
a 5% (HalexIstar Indústria Farmacêutica S.A, Goiânia, GO) e infundidos na velocidade
de 2 ml/Kg/h. Na linha de incisão infiltrou-se 10mL de cloridrato de lidocaína com
Epinefrina (Anestésico L Pearson®, Eurofarma, Campo Belo, SP).
Quando se tratava de criptorquidismo inguinal, o acesso ao testículo retido
era feito por meio de incisão cirúrgica praticada no escroto, para não atingir grandes
vasos sanguíneos presentes na região. O acesso ao testículo retido no abdome era
conseguido mediante laparotomia paramediana paraprepucial. No pós-operatório
imediato, aplicou-se 2 mg/kg de Cloridrato de Tramadol (Tramal®, Pfizer, Guarulhos,
SP), por via intramuscular, 1,1 mg/Kg de Flunixin meglumine (Banamine®, ScheringPlough, Cotia, SP), por via endovenosa, a cada 24 horas, por três dias consecutivos,
30.000 UI/kg de benzilpenicilina benzatina, benzilpenicilina potássica e estreptomicina
(Megacilin®, Agener União, Embu-Guaçu, SP), por via intramuscular, a cada 48 horas
até completar quatro aplicações, higienização diária da ferida cirúrgica com
iodopovidona e aplicação de repelente tópico (Spray Bactrovet Prata®, Konig, Santana
de Parnaíba, SP).
Avaliou-se o tempo de recuperação, possíveis intercorrências e estimou-se
os custos de cada procedimento, levando-se em consideração apenas o material de
consumo, incluindo antisséptico, seringas, anestésicos, material de sutura e
antibióticos. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e
comparação simples entre as ocorrências.
91
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
RESULTADOS
O protocolo anestésico permitiu a realização dos procedimentos cirúrgicos
sem que ocorresse manifestação clínica de dor pelos animais. A deambulação
aconteceu em todos os equinos entre dez e 25 minutos após o término do
procedimento cirúrgico, situação que pode ter contribuído para minimizar
complicações pós-operatórias. Portanto, pelos resultados favoráveis, acredita-se que
esse protocolo possa se constituir em alternativa viável para se usar a campo na
realização de orquiectomias em equinos, especialmente de criptorquidas.
A escolha de áreas cobertas por gramas, sombra de árvores e locais com
menor acúmulo de dejetos para realizar as intervenções cirúrgicas também foi
importante, pois, em tese, reduziu a contaminação e consequentemente diminuiu o
numero de intercorrências. De igual forma, o tempo máximo de 60 minutos para se
realizar a intervenção cirúrgica, o emprego do soro antitetânico, antibioticoterapia e a
higienização diária das feridas cutâneas também foram medidas importantes para o
sucesso do procedimento. O cloridrato de tramadol aparentemente aliviou o
desconforto decorrente da dor pós-operatória, portanto diminuindo o tempo de
convalescência.
Do total de 30 animais atendidos, em 17 (5,7%) o criptorquidismo era
abdominal. Destes, em dois animais (12%) ocorreu deiscência de ferida cutânea,
aumentando o tempo de recuperação, sendo que em um (6%), não se respeitou o
intervalo de 60 dias para utilizar o animal na lida da propriedade e no outro (6%)
ocorreu falha na condução do pós-operatório.
O custo estimado de cada procedimento foi de 300 reais. Desta forma,
associando esse achado às vantagens do procedimento anestésico e ao pequeno
número de intercorrências, acredita-se na possibilidade de se realizar a castração de
equinos criptorquidas a campo, podendo operar animais de diferentes valores
zootécnicos.
CONCLUSÃO
O tratamento cirúrgico de criptorquidismo inguinal e abdominal em equinos
em ambiente fora do centro cirúrgico é perfeitamente exequível, mas o sucesso do
procedimento depende da conclusão diagnóstica, de um protocolo anestésico seguro
e viável economicamente, de um conhecimento sólido de anatomia e da condução
adequada do pós-operatório.
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abdominal
ou
inguinal
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eqüinos.
Disponível
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http://www.abraveq.com.br/artigos_ixconferencia2008/Aquivo93.pdf.
Acesso
em: 1 julho 2010.
92
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
4. SILVA L A F et al. (2009). Estudo retrospectivo de fimose
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encurtamento de pênis (1982-2007). Ciência Rural, 40 (1).
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Agrárias, 17 (1): 112-123.
93
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
OVARIOSALPINGO-HISTERECTOMIA POR NOTES TRANSVAGINAL EM
CADELAS
NOTES
TRANSVAGINAL
OVARIOSALPINGOHISTERECTOMY
IN
DOGS
LUZ,
M.J78.;
SANTOS,
C.L.79;
FERREIRA,
G.S.1;
RAMOS,
R.M.1;
VALE,
D.F.1;
BUSTAMANTE,
S.R.B.80;
OLIVEIRA,
A.L.A.81
Palavras-chave: ovariosalpingo-histerectomia, laparoscopia, Notes.
Key Words: ovariosalpingo-histerectomy, laparoscopy, Notes.
Introdução
A videocirurgia representa uma modalidade ainda recente na cirurgia
veterinária, sendo sua utilização ainda não disponível para uma grande parcela dos
pacientes operados atualmente, apesar dos possíveis benefícios oriundos da sua
utilização. Uma sequência lógica para a laparoscopia seria eliminar totalmente as
incisões abdominais, utilizando para isto orifícios naturais, como boca, ânus ou
vagina, através da técnica de Notes (Natural Orificie Transluminal Endoscopic
Surgery), sendo descrita como a cirurgia sem incisões1. Este estudo teve o objetivo de
avaliar a viabilidade da realização da ovário-histerectomia (OSH) através da técnica
de Notes híbrida transvaginal e compará-la com a cirurgia laparoscópica com dois
portais.
Materiais e Métodos
Foram utilizadas 16 cadelas subdivididas aleatoriamente em dois grupos
experimentais, cada um com oito animais. Grupo 1: Notes, Grupo 2: OSHL. Todos os
procedimentos foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade sobre protocolo
de número 26. No Grupo Notes, foi realizada a técnica de ovariosalpingohisterectomia por H-Notes transvaginal. O primeiro portal de 11 mm foi introduzido na
cicatriz umbilical através da técnica de Hasson. A cavidade abdominal foi insuflada
com dióxido de carbono (CO2) até uma pressão de 12mmHg. O laparoscópio de 10
78
Doutorando (a) em Ciência Animal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darçy Ribeiro – UENF
-
[email protected]
79
Doutoranda Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
80
Mestrando em Ciências Veterinárias Universidad de Santo Tomás, Santiago, Chile
81
Professor adjunto Uenf
94
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
mm e 30º foi introduzido e as estruturas abdominais visualizadas. O
segundo portal, com trocarter de 11 mm, foi introduzido através do fundo da vagina,
ventral à entrada da cérvix. Todo material de trabalho foi introduzido através deste
portal. A cadela foi posicionada 45º para direita para visualização e ligadura dos vasos
do ovário esquerdo. Após visualização do rim esquerdo, o ligamento suspensor do
ovário foi visualizado e rompido por tração e o ovário suspenso e fixo na parede
abdominal através de uma punção externa com agulha curva. O pedículo ovariano foi
cauterizado com bisturi elétrico bipolar e o fio externo que segurava o ovário na
parede abdominal foi solto e o ovário livre. O mesmo procedimento foi realizado no
ovário direito. O ovário direito foi apreendido e tracionado em direção à vagina e
retirado pela abertura promovida, junto com os cornos uterinos direito, corno uterino e
ovário esquerdo. O corpo uterino foi também tracionado para o meio externo e feita a
ligadura circular com fio nilon 2-0. O útero foi recolocado em sua posição anatômica
após a ligadura. A parede muscular e a pele foram suturadas em duas camadas. No
Grupo OSHL, foi realizada ovariosalpingo-histerectomia videolaparoscópica com dois
portais. A técnica cirúrgica foi semelhante aos dos animais do grupo Notes, porém o
segundo portal, com trocarter de 11 mm, foi inserido na linha média no terço mais
caudal do abdômen, ventral ao corpo uterino, sob visualização direta através da
óptica. Foram avaliados os seguintes itens: complicações, tempo cirúrgico e dor pósoperatória, através do uso da Escala de dor da Universidade de Melbourne nos
tempos zero, duas, seis e 24 horas de pós-operatório, denominados respectivamente
de T1, T2, T3 e T4. Para analisar o tempo cirúrgico e a pontuação de cada animal da
tabela de Melbourne foi realizada análise e comparação das médias através do teste
de Tukey, com 5% de confiabilidade. Para complicações ocorridas e considerações
técnicas, foi utilizada a estatística descritiva.
Resultados
O acesso cirúrgico transvaginal utilizado no grupo Notes foi de fácil realização
e possibilitou boa visualização e manipulação dos órgãos abdominais. Os objetos de
análise, como complicações, tempo cirúrgico e avaliação da dor, são detalhados a
seguir. Duas cadelas do Grupo Notes apresentaram discreto corrimento vaginal
sanguinolento. O tempo cirúrgico do grupo Notes variou entre 45 a 85 minutos (média
de 58,25 minutos), sendo estatisticamente semelhante ao grupo OSHL (média de
70,15, variando de 45 a 102 minutos), segundo o teste de Tukey, para p< 0,05. O
escore de dor pós-operatória variou de 2,2 a 2,6 para o grupo Notes e de 3,8 a 6,5 no
grupo OSHL. Houve diferença estatística no escore de dor em relação aos dois
grupos avaliados. O Grupo Notes apresentou pontuação significativamente inferior ao
Grupo OSHL segundo o teste de Tukey para p<0,05 na Escala de Melbourne.
Discussão
Em um estudo onde se realizou Notes transgástrica, foi encontrado tempo
cirúrgico médio de 154 minutos2. Porém, segundo os autores, para a realização da
gastrotomia era necessária a realização prévia de uma gastropexia. Além disso, em
algumas cadelas o endoscópio saia do estômago entre o omento, causando a
insuflação deste e aumentando o tempo cirúrgico de 30 a 45 minutos. O acesso
transvaginal para Notes híbrida se mostrou de fácil realização. Todo o procedimento
foi realizado sem nenhuma dificuldade maior causada pelo acesso escolhido. Nosso
95
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
tempo cirúrgico pode então ser considerado pequeno quando
comparado com a técnica de Notes transgástrica, utilizada para cirurgia do trato
reprodutor feminino, devido à fácil inserção dos trocarteres, fácil acesso aos ovários e
ao útero. Para o grupo OSHL, o tempo cirúrgico médio foi de 70 minutos, variando de
45 a 102 minutos. Foi encontrado tempo cirúrgico médio de 61 minutos em ováriohisterectomia, utilizando a técnica laparoscópica com quatro portais, o que facilita
apreensão e cauterização dos pedículos ovarianos3. Em estudo semelhante,
utilizando quatro portais para realização de ovário-histerectomia laparoscópica,
encontraram tempo cirúrgico médio de 120 minutos. Eles atribuíram o longo tempo
cirúrgico ao fato de todas as cirurgias terem sido realizadas por estudantes4. Já em
outro estudo foi obtido tempo cirúrgico médio de 20 minutos para ovário-histerectomia
vídeoassistida com dois portais5. Entretanto, eles utilizaram uma mesa especial que
posiciona o animal em decúbito dorsal e é capaz de rotacionar o paciente para o lado
direito e esquerdo. Esta técnica reduz significativamente o tempo necessário para
posicionar o animal em decúbito lateral para apreensão dos ovários na parede
abdominal. O grupo Notes apresentou significativamente menor escore de dor em
relação aos grupos OSHL. Esse fato possivelmente está relacionado ao acesso e ao
menor número de incisões abdominais, visto que em ambos os grupos Notes e OSHL
foram utilizados os mesmos materiais cirúrgicos, mesmos métodos de coagulação do
complexo arteriovenoso e mesmas pressões de pneumoperitôneo. Poucos são os
estudos que relacionam a dor em cadelas ovário-histerectomizadas por Notes, de
maneira que o presente trabalho pode ter importante contribuição. Em OSH em
cadelas por via transgástrica, em 2009, foram obtidos índices na escala de Melbourne
semelhantes ao que obtivemos por via transvaginal2. Ë importante ressaltar que esses
índices encontrados são inferiores a três, sendo considerados pela UMPS como
animais “sem dor” 6. Em 2009, foi realizada nefrectomia em uma mulher através da
Notes transvaginal. Dois dias após o procedimento, utilizando uma Escala visual de
dor, o escore de dor foi 1 de um total de 107. São necessários muitos estudos com
Notes para se estabelecer as vias de acesso e as técnicas a serem utilizadas. Porém,
ainda notamos a necessidade do desenvolver novos instrumentos para serem usados
na Notes e facilitar o acesso pelas vias naturais como boca, ânus e vagina. Isso
ocorrerá através da realização de mais pesquisas para que haja cada vez mais
investimentos tecnológicos.
Conclusão
A técnica de Notes híbrida para ovário-histerectomia laparoscópica se mostrou
viável em cães, apresentando vantagens como menor dor pós-operatória em relação
à técnica laparoscópica e tempo cirúrgico semelhante em relação à OSHL.
Referências
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McGee, M.F. et al. (2006) A Primer on Natural Orifice Transluminal endoscopic
Surgery: Building a New Paradigm. Surgical Innovation 13(2): 86-93.
2- Freeman, L.J. et al. (2009) Oophorectomy by natural orifice transluminal
endoscopic surgery: feasibility study in dogs. Gastrointestinal Endoscopy 69(7):
1321-1332.
96
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
45-
67-
3- Malm, C.; et al. (2004) Ovário-histerectomia: estudo experimental
comparativo entre as abordagens laparoscópica e aberta na espécie canina. Intraoperatória - I. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 56(4): 457466.
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Ovariohysterectomy and Ovariohysterectomy in dogs. Veterinary Surgery 33:-6269.
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of open ovariohysterectomy versus a simple method of laparoscopic-assisted
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Experience. Urology, 74 (1): 5-8.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
AVALIAÇÃO HISTOMORFOMÉTRICA E DE PROPRIEDADES MECÂNICAS
DE MENISCOS FRESCOS E PRESERVADOS EM GLICERINA 98%.
ESTUDO EXPERIMENTAL EM COELHOS
EVALUATION
HISTOMORPHOMETRIC
AND
MECHANICAL
PROPERTIES
OF
MENISCUS
FRESH
AND
PRESERVED
IN
GLYCERIN
98%.
EXPERIMENTAL
STUDY
IN
RABBITS
VILELA,
L.M.82;
DEL
CARLO,
R.J.83*;
SILVA,
J.C.P. 84;
RODRIGUES,
M.C.D.85;
REIS,
A.M.S.4;
MACHADO,
D.P.D.5;
ANDRADE,
E.C.6
Resumo
Objetivando-se avaliar os efeitos da preservação em glicerina 98% sobre as fibras
colágenas, celularidade e resistência meniscal, foram utilizados 72 meniscos,
distribuídos em três grupos de igual número, sendo: MF - meniscos frescos; MG meniscos preservados em glicerina 98% e MR - meniscos preservados em glicerina
98% seguidos de reidratação. Os meniscos frescos apresentaram maior concentração
de colágeno tipo I e menor concentração de colágeno tipo III. Aqueles do grupo MG
apresentaram uma redução de tamanho. A população celular dos meniscos foi
semelhante nos três grupos (P<0,05). Observaram-se sinais de lise celular nos
meniscos dos grupos MG e MR, entretanto houve preservação da matriz
fibrocartilaginosa, mantendo assim a arquitetura tecidual. Os meniscos apresentaram
resistência semelhante, com menor capacidade de deformação elástica e maior
rigidez nos do grupo MG (p<0,05). Assim, meniscos preservados em glicerina,
seguidos de reidratação, podem ser uma opção para transplantes com matriz
colágena desvitalizada.
Palavras-chave:
mecânicas.
meniscos,
aloenxertos,
cartilagem
articular,
propriedades
82
Aluna de Doutorado em Cirurgia de Pequenos Animais da Universidade Federal de Viçosa (UFV);
2
Professor titular do Departamento de Veterinária (DVT) da UFV *E-mail: [email protected];
3
Professor titular do Departamento de Veterinária (DVT) da UFV;
4
Médico veterinário autônomo;
5
Residente de pequenos animais da UFV;
6
Aluna de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
98
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Summary
Aiming to evaluate the effects of preservation in glycerin 98% on the collagen fibers,
and cellular resistance meniscal, 72 menisci were used, divided into three equal
groups, namely: MF - fresh menisci; MG - menisci preserved in 98% glycerin and MR menisci preserved in 98% glycerol followed by rehydration. The fresh menisci showed
higher concentration of collagen type I and lower concentration of collagen type III.
Those of MG group showed a reduction in size. The cell population of the menisci was
similar among groups (P <0.05). Observed signs of cell lysis in the menisci of the
groups MG and MR, however, there was preservation of fibrocartilaginous matrix, thus
maintaining tissue architecture. The menisci showed resistance similar, less capability
of elastic deformation and greater rigidity in the MG group (p <0.05). Thus, menisci
preserved in glycerin, followed by rehydration may be an option for transplant with
devitalized collagen matrix.
Key words: meniscus, allograft, cartilage, mechanical properties.
Introdução
A lesão do menisco medial geralmente está associada à instabilidade articular
causada pela ruptura do ligamento cruzado cranial1. A meniscectomia total e a
substituição dos meniscos por aloenxertos são procedimentos frequentemente
realizados quando outras opções para reparo ou reconstrução do menisco não podem
ser utilizadas2,3, com o objetivo de evitar as alterações degenerativas nas cartilagens
articulares4. A substituição por aloenxerto, no caso a fibrocartilagem de menisco,
apresenta como vantagem a possibilidade de utilizar em sua morfologia um tecido
semelhante ao tecido que está sendo substituído3.
As técnicas de preservação influenciam na celularidade dos tecidos biológicos.
Alguns autores preconizam que a viabilidade celular é um fator de melhor integração,
enquanto outros dão preferência ao transplante de uma matriz de colágeno
desvitalizada3. O meio mais utilizado para preservação de próteses biológicas é a
glicerina 98%, que atua como eficaz protetor da integridade celular5. O enxerto
preservado em glicerina deve ser imerso em NaCl 0,9% acrescida de antibiótico para
garantir reidratação e prevenir contaminações6,7.
Os objetivos desse estudo foram identificar os tipos celulares, analisar a
distribuição e a integridade das células; quantificar os tipos de colágeno e avaliar a
disposição de suas fibras; e avaliar a resistência de meniscos frescos, preservados
em glicerina 98% por 30 dias e preservados em glicerina 98% por 30 dias, seguido de
reidratação em NaCl 0,9% por 12 horas.
Material e Métodos
Foram utilizados 72 meniscos mediais de 36 coelhos albinos da raça Nova
Zelândia, com idade entre três e quatro meses, oriundos de abatedouro comercial. A
retirada dos meniscos foi realizada sem rigores de assepsia. Os meniscos foram
mensurados em seu eixo maior, acondicionados em frascos individuais, mantidos em
99
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
temperatura ambiente e distribuídos aleatoriamente em três grupos,
sendo: MF, meniscos frescos (grupo controle); MG e MR, meniscos na proporção
glicerina 98%/menisco de 20:1 por 30 dias, sendo MR posteriormente reidratados em
NaCl 0,9% durante 12 horas.
Para avaliação da estrutura e celularidade, foram utilizados sete meniscos de
cada grupo. Após processamento histológico, o material foi corado com hematoxilinaeosina. A análise histométrica foi realizada pela contagem de 500 pontos aleatórios
sobre cada região do menisco (corpo e cornos), registrando-se os pontos coincidentes
sobre condrócitos e fibroblastos/fibrócitos, a distribuição, viabilidade celular e a
integridade da matriz extracelular fibrocartilaginosa (arquitetura tecidual).
Para avaliação das fibras colágenas, também foram utilizados sete meniscos
de cada grupo. O material foi processado e corado pelo método de picrosirius red. A
partir de cada lâmina, foram registradas 15 imagens de diferentes campos, cinco de
cada parte do menisco (corpo e cornos). As fibras colágenas Tipos I e III foram
identificadas, quantificadas e classificadas (ordenadas ou não), utilizando-se o
sistema de análise de imagens (Image Pro-Plus®4.5) com uma grade com 100
interseções sobre a imagem.
Para avaliação das propriedades mecânicas, dez meniscos de cada grupo
foram submetidos à compressão em equipamento de aplicação de força com
capacidade da célula de carga de 1000N a uma velocidade de 25mm/minuto até a
ruptura total de cada amostra. Avaliou-se: força ao limite de elasticidade; deformação
ao limite de elasticidade; tensão ao limite de elasticidade; tensão ao ponto de ruptura;
módulo de elasticidade ou módulo de Young.
Para a análise estatística, as variáveis quantitativas foram submetidas aos
testes de Normalidade (Lilliefors) e Homocedasticidade (Cochran) e, posteriormente, à
análise de variância. Em caso de significância, foi realizado o teste de Duncan ou de
Tuckey, conforme a instabilidade da variável. Metodologia aprovada pela Comissão
de Ética (parecer no. 89/2007).
Resultados e Discussão
A distribuição celular apresentou-se de forma semelhante nos três grupos
estudados, sendo os condrócitos as células predominantes, com maior presença nos
cornos, os quais se encontravam circundados por abundante substância intersticial.
Já os fibrócitos encontravam-se, principalmente na metade externa do menisco,
envolvidos por matriz conjuntiva, à semelhança do observado em meniscos frescos de
cães8.
A população celular (condrócitos e fibrócitos/fibroblastos) nos grupos MG e
MR foi estatisticamente semelhante à densidade celular do grupo MF. À microscopia,
todos os fragmentos de meniscos dos grupos MG e MR apresentaram sinais de
gradativa desorganização celular (lise), caracterizada por maior condensação da
cromatina nuclear e por crescente retração e perda da afinidade tintorial das fibras
conjuntivas.
A glicerina 98% não foi capaz de manter a integridade celular e impedir a
desorganização progressiva dos constituintes celulares, não mantendo as células
viáveis. Isto difere do observado em meniscos de coelhos congelados em diferentes
100
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
temperaturas por 30 dias, que apresentaram um percentual de
viabilidade celular de 30%3.
Apesar de se preconizar o transplante de meniscos com células viáveis2, a
glicerina 98% passa a ser uma opção de meio de preservação para os autores que
recomendam o transplante de menisco com uma matriz colágena desvitalizada4,9.
Nos três grupos avaliados, as fibras colágenas apresentaram uma disposição
circunferencial, entrelaçadas por fibras orientadas radialmente 10. Essa organização
contribui para a manutenção de propriedades mecânicas, como força tênsil e rigidez11.
Nos grupos tratados, MG e MR, observou-se retração das fibras colágenas, com
maior intensidade no grupo MG. Esta retração pode influenciar a capacidade do
menisco em realizar suas funções mecânicas, que dependem de sua estrutura
anatômica e composição bioquímica11.
O grupo MF apresentou percentual médio de colágeno Tipo I
significativamente menor (p<0,05) que os grupos tratados - MG e MR. Resultados
semelhantes aos encontrados na literatura12. Já o percentual de colágeno Tipo III no
grupo MF foi significativamente maior do que nos grupos tratados (p<0,05). A maior
concentração de fibras colágenas Tipo I e menor concentração de fibras colágenas
Tipo III nos grupos tratados pode ser justificada pela retração das fibras de colágeno,
conforme descrito por outros autores13. A reidratação realizada nos meniscos do
grupo MR não foi suficiente para reverter totalmente a retração das fibras colágenas,
mantendo a maior evidência das fibras tipo I nesse grupo que no grupo MF.
Após a preservação em glicerina 98%, os meniscos apresentaram-se
transparentes, rígidos e diminuíram de tamanho devido à perda de água. Os meniscos
em glicerina apresentaram redução (p<0,05) no tamanho em relação aos do grupo
MF. A glicerina desidrata o tecido, sem alterar a concentração iônica das células,
atuando como eficaz protetor da integridade estrutural do tecido5. Seis meniscos do
grupo MR retornaram ao seu tamanho inicial, não havendo diferença significativa
(p<0,05) quando comparados aos meniscos frescos.
A força ao limite de elasticidade foi semelhante (p<0,05) nos três grupos,
assim o método de preservação não influenciou esta propriedade biomecânica. Os
meniscos do grupo MG apresentaram menor capacidade (P<0,05) de deformação
elástica em relação aos grupos MF e MR, que foram semelhantes. Isto comprova que
a glicerina, ao desidratar o tecido, torna-o mais rígido e com menor capacidade de
retornar à sua estrutura original, diminuindo a capacidade de deformação reversível
quando submetido a uma força. Estes dados conferem importância à reidratação, por
12 horas, para recuperação da função fisiológica.
A tensão ao limite de elasticidade nos três grupos experimentais foi
semelhante, não havendo diferença significativa entre eles. O grupo MG apresentou
capacidade de suportar maior tensão no momento da ruptura que os meniscos dos
grupos MF e MR, provavelmente em razão da desidratação e consequente alteração
de forma e diminuição de tamanho dos meniscos, tornando-os estruturas menos
elásticas, mais densas e rígidas.
Os meniscos do grupo MG apresentaram, significativamente (P<0,05), maior
índice de rigidez do que os meniscos dos grupos MF e MR. Isto ocorreu,
provavelmente, pela desidratação promovida pela glicerina, diminuindo a elasticidade
dos meniscos.
101
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Conclusões
Conclui-se que meniscos preservados em glicerina 98% por 30 dias e
reidratados em NaCl 0,9% por 12 horas mantêm a sua arquitetura tecidual, tamanho,
percentagem e organização do seu colágeno. Também não sofrem alterações
significativas no seu limite elástico, mantendo-se semelhantes aos meniscos frescos,
podendo ser uma opção para transplantes de meniscos com matriz colágena
desvitalizada.
Referências
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102
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
PADRÃO ULTRASSONOGRÁFICO DO PARÊNQUIMA, MEDIASTINO E
TÚNICAS TESTICULARES EM BOVINOS JOVENS DA RAÇA NELORE
ULTRASONOGRAPHIC
PATTERN
OF
TESTICULAR
PARENCHYMA,
MEDIASTINUM,
AND
TUNICS
IN
YOUNG
NELORE
BULLS
CARDILLI,
D.J.*86;
TONIOLLO,
G.H.87,
PASTORE,
A.S.88;
CANOLA,
J.C.89;
MERCADANTE,
M.A.Z.90;
OLIVEIRA,
J.A.91;
COUTINHO,
A.J.3
Palavras chaves: Touros Nelore, aparelho reprodutor, ecografia
Key-words: Nelore Bulls, reproductive tract, ecography
Introdução
O exame ultrassonográfico dos testículos é um método não invasivo e
rápido. Sendo assim, é uma valiosa ferramenta para o complemento da avaliação
andrológica e pode ser a técnica de maior importância em casos de desordens
subclínicas1.
Segundo a literatura, o padrão ultrassonográfico do parênquima testicular é
homogêneo e de ecogenicidade moderada1,2, a qual aumenta com o decorrer da
idade do animal3, portanto, o parênquima testicular de animais pré-púberes é
hipoecoico em relação ao de animais púberes. Desordens como tumores e
processos inflamatórios são tipicamente hipoecoicos em contraste com a
ecogenicidade moderada de testículos maturos4,5. Sendo assim, a identificação de
tais desordens em animais pré-púberes é mais difícil devido à baixa ecogenicidade
testicular nesta fase. Tais afirmações demonstram ainda mais a importância de se
descrever a ecogenicidade e o padrão ultrassonográfico normal do parênquima
testicular de bovinos jovens.
O objetivo deste estudo foi o de contribuir com a avaliação andrológica,
determinando-se e ilustrando-se a ecogenicidade do parênquima testicular e o
86
Doutorando do Programa de pós-graduação em Medicina Veterinária, FCAV/Unesp;
87
Docente Depto. Reprodução Animal, FCAV/Unesp;
88
Médico Veterinário Autônomo;
89
Docente do Depto. de Clínica e Cirurgia Veterinária da FCAV/Unesp;
90
Pesquisador da Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho-SP;
91
Docente do Depto. de Ciências Exatas, FCAV/Unesp. *autor para correspondência: [email protected]
103
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
padrão ultrassonográfico normal do parênquima, mediastino e túnicas
testiculares em bovinos jovens da raça Nelore.
Materiais e métodos
Foram realizados exames clínicos e ultrassonográficos em testículos de 111
bovinos da raça Nelore que faziam parte de um mesmo rebanho localizado na
cidade de Sertãozinho-SP (latitude -21 º 08' 16" e longitude 47º 59' 25"). Os
animais foram mantidos durante todo o período de realização da pesquisa com
uma dieta de 14% de proteína bruta e 63 % de energia. A avaliação teve início com
os animais apresentando nove meses de idade e repetidas quando estes
atingiram, respectivamente, 13 e 15 meses de idade.
Os exames ultrassonográficos foram realizados com um aparelho de
ultrassom modelo Pie Medical Scanner 200C, utilizando-se transdutor linear 8 MHz.
Foram realizadas varreduras eletrônicas em planos transversais e longitudinais dos
testículos direito e esquerdo. As imagens selecionadas foram transferidas
diretamente ao computador por meio do software Echo Image Viewer, versão 1.0,
Pie Medical Equipament B.V., copyright Pie Medical (EIV).
Com o auxílio do software EIV, foram selecionadas duas regiões de
interesse (RI) em cada plano de varredura dos testículos direito e esquerdo. Cada
RI foi delimitada por um quadrado de 6,3 mm de lados, localizadas lateral e
medialmente ao mediastino testicular em plano transversal e no pólo ventral e
dorsal do testículo, excluindo-se o mediastino testicular em plano longitudinal. A
ecogenicidade testicular para cada RI foi determinada automaticamente pelo
software EIV, utilizando-se uma escala que variou do 0% (anecoico) a 100%
(hiperecoico), sendo que os dados foram analisados pelo teste de tukey (p<0,05).
A espessura do mediastino testicular, direito e esquerdo, também foi avaliada aos
nove, 13 e 15 meses de idade, sempre no plano longitudinal de varredura, e os
dados foram analisados pelo teste de tukey (p<0,05). As túnicas testiculares foram
observadas nas imagens ultrassonográficas em plano transversal e longitudinal, e
o padrão de normalidade foi descrito.
Resultados
O parênquima testicular, nos três momentos da avaliação ultrassonográfica,
mostrou-se homogêneo e com baixa ecogenicidade. Os valores médios das
ecogenicidades testiculares aos nove, 13 e 15 meses foram, respectivamente,
19,03%, 33,52% e 39,36%. Todos estes valores são estatisticamente diferentes
entre si (p<0,05). Assim, a ecogenicidade do parênquima testicular aumentou em
proporção direta com a idade dos animais.
O mediastino testicular, em plano longitudinal, apresentou-se como uma
linha hiperecoica no centro do parênquima testicular, com a espessura variando de
1,3 mm a 5 mm. Em plano transversal, foi visualizado como um ponto hiperecoico
no centro do parênquima testicular. Sua identificação tornou-se mais evidente com
o avançar da idade, por se tornar a cada momento mais ecogênico. A espessura
média do mediastino testicular aumentou com o decorrer da idade dos animais.
As túnicas testiculares apresentaram-se ao ultrassom como uma linha
hiperecoica que circundou todo o parênquima testicular em plano transversal. As
104
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
túnicas vaginais somente foram diferenciadas quando havia fluido entre
elas, ou seja, a imagem caracterizou-se por uma linha anecoica entre duas linhas
hipercoicas, correspondendo, respectivamente, à túnica vaginal visceral e à túnica
vaginal parietal. Ttal presença de líquido foi considerada fisiológica e não um
processo patológico.
Discussão
Os resultados deste estudo reforçam as afirmativas de que bovinos prépúberes, mesmo sendo de raças diferentes da Nelore, apresentam baixa
ecogenicidade testicular quando comparados com animais da mesma espécie, mas
sexualmente maturos1,2.
Na medicina humana, alguns autores informaram sobre a importância
clínica do conhecimento das diferenças entre as ecogenicidades do parênquima
testicular de crianças e adultos, uma vez que tumores e processos inflamatórios
caracterizam-se por serem hipoecoicos em relação ao parênquima testicular, e são
dificilmente visualizados em contraste com a baixa ecogenicidade de testículos de
crianças6. Na medicina veterinária, um trabalho relatou algumas alterações no
padrão ultrassonográfico do parênquima testicular de bovinos pré-púberes da raça
Nelore7. Estes relatos reforçam a importância do conhecimento sobre a
ecogenicidade e o padrão ultrassonográfico normal do parênquima testicular em
relação à idade dos animais, principalmente em animais jovens, os quais são o
foco deste estudo.
Os túbulos seminíferos formam no mediastino uma rede, a rede do testículo
(rete testis). Com o aumento da idade do animal, ocorrem importantes e
consideráveis mudanças anatômicas nos túbulos seminíferos, os quais se tornam
mais longos e “retorcidos”, aumentam em diâmetro e formam um lúmen8, o que
pode explicar o aumento da espessura do mediastino testicular.
Estudos informaram que a presença de líquido entre as túnicas vaginais
parietal e visceral pode ser normal, porém mais de 2 mm de espessura entre as
túnicas pode indicar processo patológico1. Em alguns animais da raça Nelore foi
encontrado líquido entre as túnicas, porém esta presença de líquido foi
considerada fisiológica, já que os testículos apresentavam-se aparentemente
normais à palpação e ao ultrassom.
Conclusões
O conhecimento do padrão ultrassonográfico normal do parênquima
testicular de bovinos jovens da raça Nelore permite a detecção precoce de
alterações testiculares e o descarte precoce destes animais para a reprodução.
Desta forma, o presente trabalho apresenta uma grande contribuição para a
avaliação andrológica de touros.
Referências
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106
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DENTÁRIO NAS CARACTERÍSTICAS DO
LÍQUIDO SINOVIAL DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM
EQUINOS
INFLUENCE
OF
DENTAL
TREATMENT
ON
PHYSICAL,
BIOCHEMICAL
AND
CYTOLOGICAL
CHARACTERISTICS
OF
THE
EQUINE
TEMPOROMANDIBULAR
JOINT
SYNOVIAL
FLUID
ZAMBRANO,
R.S.921;
LIMA,
E.M.M.1;
FONSECA,
F.A.1;
MORAES,
J.M.1;
ALVES,
G.E.S.2;
GODOY,
R.F.1
Palavras chave: cavalo, dentária, odontologia
Key words: dental, dentistry, horse
Introdução
A alteração da correspondência entre os ângulos dentários e articulares pode,
a médio ou longo prazo, colaborar para a ocorrência de artropatias nas articulações
temporomandibulares. A análise do LS é realizada para identificar alterações
citológicas e químicas de afecções inflamatórias supurativas e não supurativas,
hemorragias, neoplasia ou doenças infecciosas (KIEHL, 1997). O LS reflete
alterações no tecido sinovial e no metabolismo intra-articular ocasionadas pela
doença (VAN PELT, 1962). Nos equinos, as alterações da ATM podem estar
associadas diretamente aos problemas dentários. Porém existem poucos estudos
científicos a respeito da ATM em equinos, sendo que a maioria das informações vem
de comparações com estudos desta estrutura em humanos (MOLL; MAY, 2002). O
objetivo deste estudo foi avaliar as características físicoquímicas e citológicas do LS
da ATM em equinos com alterações dentárias, bem como o efeito do tratamento
dentário sobre estas características.
Metodologia
Este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética no Uso Animal da
Universidade de Brasília (CEUA-UnB), sob processo UnBDOC n˚ 29237/2009 por
estar de acordo com os princípios éticos do Colégio Brasileiro de Experimentação
Animal (Cobea). Foram utilizados 24 equinos da raça Brasileiro de Hipismo, de ambos
92
Hospital Escola de Grandes Animais/ Universidade de Brasília (UnB). Galpão 04, Granja do Torto, CEP 70636-200,
Brasília-DF. 2.Universidade Federal de Minas Gerais. Autor para correspondência: [email protected]
107
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
os sexos, sendo 18 portadores de alterações dentárias e seis animais
com ausência dessas alterações, os quais foram utilizados como controle (GC). Os
animais portadores de alterações dentárias foram divididos em três grupos
experimentais, com seis animais cada um (GI- de 60 a 84 meses, GII- de 85 a 120
meses e GIII- de 121 a 156 meses). O GC foi constituído por animais sem alterações
dentárias, de modo que dois animais tivessem entre 60 e 84 meses, dois de 85 a 120
meses e outros dois apresentassem entre 121 e 156 meses. Para a triagem de
animais portadores de alterações dentárias, os animais foram submetidos a exame
odontológico. As coletas de LS da ATM foram realizadas nas articulações de ambos
os antímeros de cada animal de acordo com Schumacher (2006). As amostras de LS
foram imediatamente divididas em dois tubos, sendo um sem anticoagulante para
dosagem de proteína total pelo método de biureto e outro tubo com anticoagulante
EDTA (ácido etilediaminotetracético, sal dissódico) a 10% para as demais variáveis.
Os animais foram pesados em balança digital própria para equinos. Nos animais do
GC, foram realizadas pesagem e coleta do LS apenas uma vez, sendo classificado
como o tempo inicial (T0), pois esses foram os animais sem alterações dentárias. Nos
animais do GI, GII e GIII, foi realizada pesagem e coleta de LS antes do tratamento
dentário (T0) e 60 dias (T60) após a correção das alterações, segundo técnica de
Easley (2005). Foram avaliadas as características físicoquímicas (aspecto, volume,
coloração, turbidez, viscosidade e proteína total - PT) e celulares do LS, sendo o
aspecto, o volume e a viscosidade verificados no momento da coleta de cada
amostra, como recomenda Piermattei (1997). A determinação da viscosidade foi
realizada no momento da transferência do LS da seringa de coleta para os tubos de
ensaio. Dessa forma, estimava-se o comprimento, em centímetros, do filamento
formado pela gota após se desprender da agulha. Considerou-se a viscosidade
diminuída quando o comprimento do filamento foi inferior a 5 cm, sendo atribuídos
escores numéricos de 1 para viscosidade diminuída e 2 para viscosidade normal, para
posterior análise estatística. O pH e a concentração de glicose foram mensurados por
meio de fita Combur-test. A densidade e proteína total foram mensuradas com
refratômetro. As contagens globais de hemácias e de células nucleadas foram
realizadas com hematocitômetro de Neubauer. As contagens diferenciais de células
nucleadas foram realizadas em lâminas de vidro coradas pela técnica de Panótico,
sendo classificadas como linfócitos, grandes células mononucleares, neutrófilos
segmentados e eosinófilos. As variáveis paramétricas foram comparadas entre os
tempos T0 e T60 de cada grupo. Utilizou-se o teste t de Student ao nível de
significância p<0,05.
Resultados e discussão
De acordo com os dados analisados, obtiveram-se poucos resultados
estatísticos com significância, entre as características do LS antes e depois do
tratamento dentário. Acredita-se que as alterações odontológicas encontradas nesse
experimento não foram suficientes para influenciar as características físicoquimicas e
citológicas do LS das articulações estudadas. As alterações encontradas nos animais
dos grupos I, II e III foram ganchos, PEED, degraus e uma mordedura cruzada com
angulação bem leve . Embora não tenha sido estatisticamente significativo, pôde-se
notar clinicamente o ganho de peso, em conseqüência de uma melhor mastigação e
uma digestão mais efetiva. Outro fator que também deve ser considerado é o tempo
de 60 dias entre a primeira e a segunda coleta, que pode ter sido insuficiente para
gerar alterações significantes nas características do LS. Carmalt (2005) afirma que
essas mudanças não são significativas em um tempo curto quando se trata de ganho
108
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
de peso, escore corporal, digestibilidade ou tamanho da partícula fecal,
mas é importante ressaltar que o seu experimento foi feito apenas em éguas prenhas,
o que remete a necessidades nutricionais muito diferentes de animais não prenhes.
Os dados do presente estudo confirmam o encontrado nestes dois últimos trabalhos,
pois houve ganho de peso em 75% dos animais, embora não tenha sido provado
estatisticamente. Com relação às variáveis do LS, não houve diferença significativa
em nenhum parâmetro analisado (viscosidade, hemácias, células nucleadas,
linfócitos, macrófagos e neutrófilos segmentados) e estes se encontraram dentro da
normalidade. O que se nota nos três grupos é uma correlação inversamente
proporcional da densidade e proteína total comparando com o volume, sendo que à
medida que o animal envelhece, o volume de LS diminui e se torna mais denso e com
uma concentração maior de proteína (tabela 1), assim como observado por Viitanen et
al. (2001). É importante que se lembre que animais mais velhos tendem naturalmente
a modificações na estrutura das articulações e degeneração articular que poderiam
também trazer modificações nos parâmetros como a proteína.
Conclusões
Alterações dentárias leves, como as encontradas neste estudo, não causam
alterações físicoquímicas e citológicas no líquido sinovial.Os achados positivos como
ganho de peso comprovam que a manutenção odontológica é questão de saúde no
plantel. Com o envelhecimento do animal, há diminuição de volume de LS na ATM e
aumento da densidade e proteína total no LS. A avaliação de citocinas talvez nos
propicie os resultados necessários para comprovar a necessidade da manutenção
odontológica nos equinos e sua relação com a prevenção de problemas na articulação
temporomandibular de equinos.
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109
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
8. VIITANEN, M. BIRD, J. MAKELA, O. SCHRAMME, M.; SMITH,
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Research in Veterinary Science, v.71, n.3, p. 201-206, 2001.
Tabela 5. Apresentação dos dados de densidade, proteína total e volume de LS da
articulação temporomandibular dos grupos I, II e III, evidenciando a correlação
negativa entre os dois primeiros parâmetros e o terceiro. Brasília, DF, 2009.
Densidade
T0
Grupo I
Grupo II
Grupo
III
Proteína total
T60
1018,5
± 2,54(12)
1019,3
±
2,77
(12)
1020,16
±
2,76
(12)
T0
Volume
T60
T0
T60
3,75
± 2,54
4,41
±0,55 (12)
0,833
± 0,71(12)
0,85
± 0,14(12)
1020,75
±
2,49(12)
4,15
4,47
0,71
0,68
± 0,82(12)
±0,54 (12)
± 0,17(12)
± 0,15(12)
1026,2
1021,66
5,46
4,26
0,51
0,4
± 4,76(10)
± 0,98(5)
± 1,11(10)
± 0,54(5)
± 0,15(10)
±0,13 (5)
110
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
TRATAMENTO DA PITIOSE EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE
PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA COM ANFOTERICINA B
TREATMENT
OF
PYTHIOSIS
IN
EQUINE
LIMBS
USING
INTRAVENOUS
REGIONAL
PERFUSION
OF
AMPHOTERICIN
B
DÓRIA,
R.G.S.93;
FREITAS,
S.H.1;
MENDONÇA,
F.S.1;
ARRUDA,
L.P.1;
BOABAID,
F.M.94;
VALADÃO,
C.A.A95
PALAVRAS-CHAVE: anfotericina B, perfusão regional intravenosa, pitiose
KEY WORDS: amphotericin B, intravenous regional perfusion, pythiosis
INTRODUÇÃO
A pitiose é uma doença cutânea, gastrintestinal ou multissistêmica,
granulomatosa, que atinge homens e animais, causada pelo oomiceto Pythium
insidiosum. Este organismo filamentoso encontra-se em ambientes aquáticos,
especialmente em regiões pantanosas, com temperaturas superiores a 25º C, como o
Pantanal Mato-Grossense. Em equinos, a enfermidade caracteriza-se pela formação
de granulomas eosinofílicos, com a presença de massas necróticas denominadas
“kunkers”. A pitiose causa prejuízos significativos na criação de equinos no Brasil, seja
pela morte dos animais, pela perda de função ou pelos gastos com tratamentos.
Vários métodos terapêuticos têm sido utilizados, principalmente em equinos, incluindo
tratamento medicamentoso (antimicóticos), cirúrgico e imunoterápico, sendo que há
dificuldade no tratamento devido às características deste oomiceto, que não
apresenta esteróis de membrana, sendo, portanto, resistente à maioria dos
antimicóticos1,2. Nos últimos anos, vêm sendo desenvolvidas novas técnicas de
administração local e regional de antibióticos, como a Perfusão Regional Intavenosa
(PRI). Esta permite alcançar altas concentrações de antibiótico no local da infecção,
enquanto são mantidas as concentrações sistêmicas abaixo do grau de toxicidade do
fármaco. Permitem ainda o emprego de fármacos cuja administração sistêmica, em
cavalos, resultaria economicamente proibitiva3. Dessa forma, com a finalidade de
oferecer aos médicos veterinários conhecimentos complementares que permitam uma
alternativa aos tratamentos atuais para pitiose nos membros de equinos, objetivou-se
com este estudo avaliar a técnica de PRI do membro com anfotericina B, um
antimicótico4, para o tratamento de infecções por pitiose.
93
Universidade de Cuiabá, Cuiabá, Mato Grosso. Avenida Antártica, 788. Ribeirão da Ponte. 78040-500. e-mail:
[email protected].
94
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil
95
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, Brazil
110
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 16 equinos da raça pantaneira, que apresentavam pitiose em
membro torácico ou pélvico, distalmente às articulações do cotovelo ou do joelho. Um
grupo foi constituído por 12 equinos, tratados pela PRI com anfotericina B (Ganf), e
outro grupo por quatro animais controles (Gc), em que se realizou PRI com Ringer
lactato. Os animais foram selecionados na região do Pantanal Mato-Grossense,
permaneceram alojados em piquetes livres de áreas alagadiças, mantidos em regime
de alimentação à base de capim, suplementação mineral e água ad libitum. Após
jejum alimentar (12h) e avaliação clínica, foi realizada anestesia geral intravenosa,
mediante tranquilização com acepromazina 1% (0,1 mg/kg, IV), éter-gliceril-guaiacol
(100 mg/kg, IV) e indução/manutenção anestésica com cetamina 10% (2 mg/kg, IV),
associada na mesma seringa, com midazolam (0,1 mg/kg, IV). Os animais foram
posicionados em decúbito lateral e procedeu-se à antissepsia com povidona-iodo e
álcool 70%. Na sequência, foi realizada hemostasia preventiva, por meio de
garroteamento do membro, com torniquete de borracha, na região proximal à ferida
(em relação ao tronco) e excisão cirúrgica do tecido de granulação exuberante e dos
“kunkers”, evitando exposição óssea ou penetração articular. Fragmentos 1cm 3 foram
colhidos e enviados para avaliação histopatológica e imuno-histoquímica. Na
sequência, o torniquete foi lentamente afrouxado para que se realizasse a hemostasia
por termocauterização. Após cinco minutos, destinados à reperfusão sanguínea do
membro, o garrote de borracha foi reposicionado, padronizando-se duas voltas (360º)
em torno do membro, de maneira tensa. Uma veia superficial engurgitada, localizada
proximal à ferida e distal ao torniquete, foi canulada, com cateter intravenoso (20G).
Após implantação do cateter, administrou-se, no Ganf, 60 mL da solução de
anfotericina Bi (0,83 mg/mL), composta por 50 mg de anfotericina B (10 mL de
diluente), diluída em 50 mL de solução de Ringer lactato e no Gc, 60 mL de solução
de Ringer lactato. O volume total foi administrado manualmente, padronizando-se o
tempo de infusão em cinco minutos, com auxílio de seringa de 60 mL e extensor de
cateter (escalpe 21). O tempo total de garroteamento do membro foi de 45 minutos.
No Ganf, nos casos em que “kunkers” foram observados nos dias subsequentes ao
procedimento experimental, considerou-se necessária a realização, com intervalo de
14 dias, de uma reaplicação de anfotericina B pela técnica de PRI. As feridas foram
fotografadas e avaliadas, considerando-se a macroscopia da lesão (tabela 1), antes
do início do procedimento experimental (D0) e após sete (D7), 14 (D14), 21 (D21), 28
(D28), 35 (D35) e 60 (D60) dias. As feridas foram consideradas pequenas quando sua
área atingia até 25 cm2 e grandes quando sua área ultrapassava 25 cm2.
RESULTADOS
O diagnóstico pelas técnicas histoquímicas de HE e GMS dos 16 animais
utilizados no experimento foi de pitiose cutânea, confirmado pela imunomarcação
positiva (LSAB) para Pythium insidiosum. No Gamf, oito equinos (66%) possuíam
feridas grandes e quatro (34%) apresentavam feridas pequenas; no Gc, todos os
equinos (100%) apresentavam feridas grandes. No D0, constatou-se em todos os
animais feridas tipo 1 com sinais de prurido na região afetada, caracterizado por
automutilação. Foi verificado que as quatro feridas pequenas (33%) e as três feridas
grandes (25%) regrediram após serem submetidas à PRI única de anfotericina B,
evoluindo para feridas tipo 2 no D7, feridas tipo 3 no D14 e D21, feridas tipo 4 no D28
111
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
e feridas tipo 5 no D35. Cinco feridas grandes (42%) exigiram duas PRI
de anfotericina B. Nestes casos, no D7 as feridas foram classificadas como tipo 2,
sendo que em alguns pontos ainda eram evidenciados “kunkers”. Entretanto, nesse
momento não era possível repetir a PRI, pois havia edema da primeira aplicação, o
que dificultava a localização da veia a ser canulada; no D14 a reaplicação de
anfotericina B era passível de ser realizada. Aos sete e 14 dias após a
readministração de anfotericina B pela PRI (D21 e D28). eram evidenciadas feridas
tipo 3 e, com 21 dias da segunda administração (D35), as feridas foram classificadas
como tipo 4. No D60, as feridas foram classificadas como tipo 5. Sendo assim, sete
animais (58% dos equinos) apresentaram cura da pitiose em seus membros após
administração única de anfotericina B por meio da técnica de PRI, sendo que três
animais apresentavam feridas grandes (37,5% dos equinos com feridas grandes) e
quatro feridas pequenas (100% dos equinos com feridas pequenas). Cinco animais
necessitaram de uma readministração de anfotericina B mediante utilização da técnica
de PRI (42% dos equinos), sendo que todos apresentavam feridas grandes (62,5%
dos equinos com feridas grandes). Todos os equinos do Gc (100%) apresentaram
recrudescência da afecção, já observada no D7, caracterizada por feridas tipo R.
DISCUSSÃO
Com este estudo fica demonstrado que, independentemente das dimensões e
ou estágio de evolução das feridas, a PRI com anfotericina B leva à regressão
completa, sem recidivas, da pitiose em membros de equinos, mesmo não sendo
possível a exérese total do tecido afetado. Evidenciou-se também que apenas a
remoção cirúrgica e a termocauterização não são satisfatórias para a cura da pitiose,
ficando patente nos animais não tratados com anfotericina B (Gc) recorrência dos
granulomas, com secreção serossanguinolenta e “kunkers”, sete dias após o
procedimento cirúrgico. Por outro lado, equinos tratados com anfotericina B, mesmo
não sendo possível a completa remoção do tecido comprometido pelo “pseudo-fungo”,
observou-se a cicatrização, sem recidivas, em 100% das feridas. Atualmente, a PRI é
considerada um dos avanços mais importantes no manejo das infecções ortopédicas
dos cavalos, pois, a administração de antibioticoterapia regional elimina de maneira
eficaz infecções ósseas, intra-articulares, peri-articulares e dos tecidos perfundidos
pelo fármaco5,6. Sabe-se que o tratamento das infecções causadas pelo Pythium
insidiosum é complicado devido às características singulares desse agente
infeccioso7. No entanto, a anfotericina B mostrou-se eficaz em 100% dos casos
tratados por meio de PRI. Possivelmente, uma das explicações para a eficácia
elevada desse antibiótico, aplicado por essa técnica, poderia ser a concentração
tecidual elevada de anfotercina B atingida após a administração regional, que
permanece por tempo prolongado3,5,6, favorecendo o contato da anfotericina B com os
constituintes de membrana celular do Pythium insidiosum, dificultando a multiplicação
ou mesmo inibindo processos metabólicos vitais para o patógeno e ampliando a
eficácia terapêutica da anfotericina B. Embora a dose de anfotericina B administrada
(50mg) tenha sido empírica, o volume perfundido de 60 mL e a duração da aplicação
de 5 minutos (taxa de 12 mL/min) foram determinados com base em estudos sobre
PRI em membros de equinos com antibióticos, com o intuito de não exceder a
pressão no torniquete e perder o fármaco para a circulação sistêmica3,5,6,8,9. Da
mesma maneira, a manutenção do torniquete por 45 minutos demonstrou efeitos
positivos do ponto de vista farmacológico, por aumentar a retenção tecidual do
fármaco administrado3,5,6,8,9.
112
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a administração de
anfotericina B por PRI nos membros de equinos, em uma ou duas aplicações,
associada à remoção cirúrgica e termocauterização, promove a remissão da infecção
por Pythium insidiosum, constituindo-se uma alternativa terapêutica, viável e eficaz,
para o tratamento de pitiose em membros de equinos, promovendo cicatrização
completa das feridas.
Tabela 1. Classificação das lesões segundo avaliação macroscópica.
Tipo 1
Tecido
de
granulação
exuberante, com ulcerações
cutâneas extensas e exsudato
serossanguinolento viscoso. Ao
corte, tecido esbranquiçado,
com fístulas que se comunicam
com cavidades, as quais
contém
concreções
brancoamareladas,
de
consistência firme, com aspecto
de coral (“kunkers”).
Tipo 2
Tecido
de
granulação
róseoamarelado, com tecido
necrótico
e
ausência
de
secreção
serossanguinolenta
ou “kunkers”.
Tipo 3
Linha de epitelização nas
margens da lesão; tecido de
granulação
rosado,
plano,
ausência de secreções ou
“kunkers”.
Tipo 4
Epitelização parcial da lesão;
tecido de granulação rosado,
plano,
com
ausência
de
secreções ou “kunkers”.
Tipo 5
Ferida cicatrizada. Epitelização
completa, com pelos na região
da lesão.
Tipo R
Ferida recidivante. Tecido de
granulação
exuberante
vermelho escuro ou preto,
secreção serossanguinolenta e
“kunkers”.
O protocolo de tratamento foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa e bem-estar
animal da Universidade de Cuiabá - UNIC, protocolo no 0307-177.
113
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
REFERÊNCIAS
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114
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
ANESTESIA DE RATAS SUBMETIDAS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO
OVARIANO PELO USO DO TRIBROMOETANOL OU ASSOCIAÇÃO DE
XILAZINA/CETAMINA
ANAESTHESIA
IN
RATS
SUBMITTED
TO
OVARIAN
AUTOLOGOUS
TRANSPLANTATION
BY
USE
OF
TRIBROMOETHANOL
OR
COMBINATION
OF
XYLAZINE/KETAMINE
MACEDO,
M.
F.96;
BEZERRA,
M.
B.97;
BARROS,
F.F.P.C.98;
MATOS,
M.C.3;
MOREIRA,
M.A.P.2,
VICENTE,
W.
R.
R.3.
Palavras-chave: tribromoetanol, xilazina, cetamina.
Key Words: tribromoethanol, xylazine, ketamine.
Introdução
A manipulação de modelos experimentais em laboratório ou biotério muitas
vezes envolve procedimentos que necessitam de sedação ou mesmo anestesia para
que sejam executados com a devida segurança e bem-estar dos animais (PAIVA et
al., 2005). Corriqueiramente, são empregados protocolos anestésicos que associam
um agente sedativo agonista de receptores α2-adrenérgicos, a xilazina, e outro
dissociativo, como a cetamina (MACEDO et al., 2008; YANG et al., 1999; ERHARDT
et al., 1984). Neste tipo de anestesia, os efeitos indesejáveis da cetamina (ausência
de relaxamento muscular, tempo de recuperação prolongado e salivação excessiva)
são minimizados quando esta substância é associada a anticolinérgicos como a
atropina (XU et al., 2007), promovendo um maior relaxamento muscular e melhores
parâmetros clínicos, além de características anestésicas e analgésicas desejáveis.
Nos últimos anos, um hipnótico comercializado no exterior sob o nome de Avertin®
(HART et al., 2001; HUTCHISON et al., 2008) passou a ser utilizado em
procedimentos cirúrgicos e de rotina também em nossos laboratórios. Seu princípio
ativo é o 2,2,2-tribromoetanol (TBE), adquirido sob a forma de cristais e que pode ser
diluído em álcool amil-terciário ou solução fisiológica 0,9% estéril antes da
administração. Sendo assim, delineou-se a presente investigação com o objetivo
principal de comparar a eficácia desses agentes na anestesia de ratas submetidas ao
96
Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV-Unesp, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n,
Jaboticabal-SP, [email protected];
97
Departamento de Ciências Animais, Ufersa, BR 110, Km 47, Costa e Silva, Mossoró-RN;
98
Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal, FCAV-Unesp, Jaboticabal-SP.
115
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
transplante autólogo ovariano, buscando ainda estabelecer um
protocolo anestésico alternativo e talvez mais eficiente que aqueles já utilizados para
os mesmos procedimentos.
Metodologia
Foram utilizadas cem ratas Wistar ao longo das avaliações. Dessas, 55 foram
submetidas à anestesia dissociativa composta por cloridrato de xilazina99 (10 mg/kg
de peso corpóreo) e cloridrato de cetamina100 (70 mg/kg de peso corpóreo),
misturados na mesma seringa e administrados por via intramuscular (IM) na face
interna do membro pélvico. Outras 45 fêmeas receberam TBE101 2,5% (0,025g/ml),
diluído em solução fisiológica, administrado via intraperitoneal (IP) na dose de 250mg
de TBE/kg. Ambas as dosagens foram ajustadas individualmente, quando necessário,
durante o procedimento cirúrgico para manutenção do plano anestésico desejado
(estabilidade das frequências cardíaca e respiratória, bem como ausência de resposta
ao estímulo doloroso, permitindo a realização da técnica cirúrgica). Nos períodos pré,
trans e pós-cirúrgicos, os seguintes aspectos foram observados: período de latência
anestésica, período de ação, analgesia no transcirúrgico, possíveis complicações e
tempo para recuperação anestésica. Os dados obtidos a partir da avaliação de
parâmetros qualitativos (grau de analgesia e complicações no transcirúrgico) foram
expressos descritivamente. Os demais resultados foram analisados pela média
(+desvio-padrão), comparados entre si por ANOVA e teste de Tukey (p<0,05).
Resultados
Não houve diferença entre os tempos médios de latência que foram de 1,5 +
0,6 minutos para o TBE (após administração IP) e de 3,3 + 2,0 minutos com a
associação xilazina/cetamina (após administração IM). Observou-se que a intensidade
e duração dos efeitos anestésicos foi dose-dependente para ambos os protocolos,
sendo a duração do plano anestésico de até 30 minutos para o TBE e 60 minutos pela
anestesia dissociativa, tempos considerados adequados à realização dos
procedimentos cirúrgicos, que duraram 23,5 + 7,0 minutos. A analgesia obtida com a
administração do TBE foi considerada adequada na totalidade dos procedimentos
(45/45), permitindo a realização dos mesmos com tranquilidade e segurança
necessários, oferecendo ainda a analgesia visceral requerida. Em contrapartida, a
associação de xilazina e cetamina promoveu uma analgesia considerada adequada
em 65,4% (36/55) dos animais, permitindo a execução dos procedimentos cirúrgicos.
Em 34,6% (19/55) observaram-se taquipneia e resposta ao estímulo doloroso no
transcirúrgico, considerando-se nestas situações o grau de analgesia obtido como
ruim ou regular. Mesmo observando-se um grau de analgesia adequado na maioria
dos transplantes, a associação xilazina/cetamina demonstrou que pode existir a
necessidade de um ajuste na dose de 3 mg/kg de cloridrato de xilazina associados a
21 mg/kg de cloridrato de cetamina no transcirúrgico para manutenção da anestesia e
99
Dorcipec,
Vallée,
Montes
Claros
‐
MG.
100
Dopalen,
Vetbrands,
Jacareí
‐
SP.
101
2,
2,
2‐tribromoethanol,
Sigma–Aldrich,
St
Louis,
MO.
116
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
analgesia, restringindo a técnica cirúrgica proposta à execução de
repiques anestésicos. A recuperação anestésica ocorreu após 32 e 65 minutos na
maioria dos animais anestesiados pelo TBE e xilazina/cetamina, respectivamente.
Este tempo de recuperação, assim como a intensidade e duração da anestesia, foram
diretamente influenciados pela quantidade de anestésicos utilizados nas doses de
indução-manutenção associada à eventual sobredose necessária no transcirúrgico.
Discussão
Tradicionalmente, o tribromoetanol é um agente anestésico bastante utilizado
para manipulação de animais em laboratório e para pesquisas que envolvam animais
experimentais. Foram relatados (ZELLER et al., 1998) efeitos adversos potenciais do
tribromoetanol (aderências fibrosas, indução de necrose e alterações inflamatórias na
parede e superfície dos órgãos abdominais, além da alta taxa de mortalidade) após
uma segunda administração, muito embora a causa e real incidência desses efeitos
permaneçam desconhecidas. Outros estudos compararam o tempo de indução e
duração dos efeitos anestésicos do tribromoetanol e outros protocolos anestésicos
(GARDNER et al., 1995). Porém, são pouco descritos na literatura relatos destes
mesmos parâmetros, comparando-se os efeitos do TBE e da associação
xilazina/cetamina (THOMPSON et al., 2002). Tomando por base nosso objetivo,
analisamos conjunta e comparativamente nossos resultados e foi possível observar
que o tribromoetanol, nas condições preconizadas e testadas neste experimento,
resultou em parâmetros cirúrgicos e anestésicos avaliados melhores que aqueles
demonstrados após administração de xilazina e cetamina associadas, sem que
fossem registrados quaisquer efeitos adversos. Dessa forma, o TBE pode ser
considerado como uma alternativa adequada para este tipo de procedimento cirúrgico
em que são necessárias a manutenção da imobilidade do animal, uma adequada
analgesia visceral, além da segurança para a correta e precisa manipulação dos
órgãos e tecidos reprodutivos; tendo ainda, uma menor ocorrência de complicações
transcirúrgicas e duração dos efeitos anestésicos.
Conclusão
Concluiu-se, portanto, que o tribromoetanol atendeu integralmente aos critérios
requeridos pelas técnicas empregadas no transplante ovariano e configurou-se como
agente anestésico viável, válido e mais eficiente para execução deste tipo de cirurgia
do que quando utiliza-se a associação xilazina/cetamina. Porém, são necessários
mais estudos para estabelecer o TBE como uma alternativa de eleição a outros
protocolos de anestesia dissociativa.
Aprovado pela Cebea-FCAV/Unesp, sob o protocolo n° 016320-07.
REFERÊNCIAS
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laboratório. Salvador-BA: Fundação Oswaldo Cruz, 28 p.
2. Macedo MF. et al. (2008). Viabilidade da anestesia dissociativa para realização
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Recife-PE. Ciência
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lymphoid tissue in ICR mice. Comp. Med., 52: 63–67.
118
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
PLATAFORMA DE FORÇA NO PADRÃO ORTOSTÁTICO EM
CÃES
FORCE
PLATELET
IN
ORTOSTATIC
PATTERN
IN
DOGS
BARBOSA,
A.
L.
T.1,
SCHOSSLER,
J.
E.
W.1021,
BOLLI,
C.
M.1,
LEMOS,
L.
F.
C.1,
MEDEIROS,
C.1
Palavras-chave: placa de força; estática; transferência de peso.
Key-words: force plate, static, weight transfer.
Introdução
A plataforma de força tem sido usada como avaliação objetiva e não invasiva
da marcha normal e anormal em humanos e animais. Ortopedistas humanos têm
usado a plataforma, há duas décadas, na mensuração de forças externas antes e
depois do tratamento dos pacientes. Já existem vários estudos usando a plataforma
de força em animais para avaliação da marcha em especialidades da medicina
veterinária, como neurologia e ortopedia. Já se avaliou a função do membro antes e
depois da artroplastia total do cotovelo acometido por osteoartrite severa e natural, na
cirurgia de descompressão em cães com estenose lombossacra degenerativa, em
afecções no ligamento cruzado cranial, e na displasia coxofemoral.
A medicina humana, além da avaliação em marcha na plataforma de força,
atualmente realiza estudos estabilométricos para avaliar a postura e equilíbrio,
utilizando a plataforma em padrão ortostático para esta finalidade. Porém, ao contrário
da medicina humana, na veterinária o uso da plataforma se restringe à coleta de
dados em marcha para análise locomotora. Desta forma, ainda não existem trabalhos
utilizando a plataforma em coleta estática, ou seja, em um padrão ortostático para o
enfoque na avaliação do apoio e distribuição do peso nos membros, permitindo a
visualização de possível transferência.
Os objetivos deste trabalho foram: padronizar o uso da plataforma de força em
coleta estática, ou seja, em padrão ortostático, para o enfoque na avaliação do apoio
e distribuição do peso nos membros, permitindo a visualização de possível
transferência; e testar o seu uso neste padrão como parâmetro objetivo de avaliação
em pacientes ortopédicos com afecções articulares.
A metodologia foi dividida em duas etapas: Padronização e Teste da Plataforma de
Força. Foi formado um Grupo Controle, constituído de seis animais adultos,
saudáveis, de porte semelhante, sem histórico de problemas ortopédicos ou
demais patologias que pudessem comprometer o estudo. Este grupo teve o
objetivo de fornecer os parâmetros normais, encontrados em animais saudáveis,
nas avaliações plataforma de força para permitir a padronização.
102
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Endereço autor principal: R. Coronel Niederauer, 795, apt 302,
Centro, Santa Maria, RS, CEP 97015121, e-mail: [email protected]
119
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Para o teste da plataforma em padrão ortostático, foi
estabelecido um grupo tratado, constituído de 16 pacientes ortopédicos da rotina
hospitalar, anteriormente submetidos à cirurgia na articulação coxofemoral:
colocefalectomia e inserção de pino transacetabular após doenças em que estes
métodos poderiam ser curativos. Ambos os grupos foram avaliados por avaliação
clínica, avaliação do apoio na plataforma de força em padrão ortostático e exame
radiográfico. No grupo tratado, a avaliação clínica se constituiu de anamnese e
avaliação dos graus de claudicação. No grupo controle, a avaliação clínica foi
constituída de anamnese e exame físico, somente para certificar a normalidade clínica
e deambulatória destes animais.
Para avaliação do apoio, foi realizada a coleta de dados de cada animal sobre
uma plataforma de força na posição ortostática (em estação), em nove
posicionamentos diferentes: quatro patas, Lado Direito - D, Lado Esquerdo - E,
Dianteiras - F, Traseiras - T, Dianteira Direita – DD, Dianteira Esquerda – DE, Traseira
Direita – TD, Traseira Esquerda – TE. Em cada posicionamento, o animal deveria
estar completamente parado durante cinco segundos para coleta dos dados. Foram
realizadas três repetições em cada posicionamento, com intervalo de 30 segundos
entre elas, onde o animal descia da plataforma e esta era zerada.
Os dados foram coletados através de uma plataforma de força OR6-6 AMTI
(Advanced Mechanical Technologies, Incorporation, USA), nivelada ao piso, medindo
464x508x82,5 mm, equipada com placa analógica digital ADI 32, amplificador Mas-6 e
software específico, localizada no Laboratório de Pesquisa e Ensino do Movimento
Humano – Núcleo de Biomecânica do Centro de Educação Física e Desportos da
Universidade Federal de Santa Maria, e operada por um profissional da área. Foi
realizada estatística descritiva, teste de Kolmogorov-Smirnov, t-student, Spearman
Rank Order Correlation, com nível de significância 5% (p < 0,05). Para realização
destes testes foi utilizado o programa estatístico Sigmastat®.
Após verificar a normalidade dos dados da porcentagem média de peso em
cada um dos posicionamentos dos animais controle, foi delimitada a média e desvio
padrão por análise descritiva. A soma da média e o desvio padrão forneceram o
Limite Superior, e a subtração, o Limite Inferior. Observou-se diferença significativa
(p<0,05) pelo teste t-student entre o apoio dos membros torácicos e os pélvicos,
sendo em torno de 63,56% do peso apoiado nos membros torácicos e 36,44% do
apoio nos pélvicos. Este fato é condizente com a anatomia destes animais, já que a
cabeça e tórax são as regiões mais pesadas, sendo seu apoio localizado
principalmente sobre os membros torácicos.
Os dados de porcentagem de peso em cada um dos posicionamentos de cada
animal do grupo tratado foram comparados ao grupo controle em uma avaliação
individual, enquadrando os dados dentro dos limites superior e inferior estabelecidos.
Os pacientes que possuíam valores superiores ao limite superior num determinado
posicionamento foram considerados com aumento de peso sobre o membro ou
membros em questão. Os pacientes que possuíam valores inferiores ao limite inferior
num determinado posicionamento foram considerados com redução de peso sobre o
membro ou membros em questão.
Em todos os animais avaliados onde ocorreu transferência foi possível
determinar o percentual de transferência, de onde foi retirado o peso e para onde foi
transferido, somente utilizando a avaliação dos posicionamentos em separado de
cada membro. As avaliações nos demais posicionamentos foram utilizadas somente
120
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
para conferência. Portanto, em estudos futuros que utilizem a
plataforma no padrão ortostático, recomenda-se o uso dos posicionamentos em
separado de cada membro, associado ao posicionamento com as quatro patas sobre
a plataforma, como metodologia, não sendo necessários os outros quatro
posicionamentos, tornando mais rápidas as avaliações sobre a plataforma de força.
Foi classificada como transferência direta aquela em que o animal reduzia o
peso no membro afetado ou em ambos os membros pélvicos; e indireta quando o
animal reduzia o peso nos demais membros. Os animais que apresentaram
transferência de peso foram divididos por membro afetado para classificar qual o
destino da transferência. Comprovou-se a transferência em ambos os grupos, sendo,
no grupo com o membro direito afetado, o peso retirado do membro pélvico direito e
distribuído nas dianteiras, e no grupo com o membro esquerdo afetado, o peso
retirado do membro pélvico esquerdo e transferido para o lado contralateral.
Através do grupo controle foi possível padronizar o uso da plataforma de força
em padrão ortostático para cães, caracterizar a distribuição do peso corporal/apoio
sobre os membros em animais normais e desenvolver uma metodologia adequada
para esse tipo de coleta de dados sobre a plataforma de força em animais. A
plataforma de força em padrão ortostático, através da determinação da distribuição do
apoio e transferência de peso, mostrou ser um método objetivo eficiente, algumas
vezes mais sensível que os demais parâmetros de avaliação em pacientes
ortopédicos com afecções articulares.
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Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 12(3): 135-138.
121
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
AVALIAÇÃO CLÍNICA E BIOMECÂNICA PÓS-OPERATÓRIA
DA ARTICULAÇÃO COXOFEMORAL EM CÃES
CLINICAL
EVALUATION
AND
BIOMECANIC
HIP
JOINT
POSTOPERATIVE
IN
DOGS
BARBOSA,
A.
L.
T.1,
SCHOSSLER,
J.
E.
W.1,
BOLLI,
C.
M.1,
LEMOS,
L.
F.
C.1,
MEDEIROS,
C.103
Palavras-chave: recuperação, plataforma de força, ortopedia.
Key-words: recovery, force plate, orthopedic.
Introdução
A articulação coxofemoral em cães e gatos é a articulação mais
frequentemente lesionada. O traumatismo externo é o responsável pela maioria das
lesões, ocasionando luxações coxofemorais, fraturas acetabulares e fraturas de
cabeça e colo femoral. As doenças degenerativas também representam uma parcela
significativa das lesões que acometem a articulação coxofemoral, sendo a displasia
coxofemoral e a necrose asséptica da cabeça femoral seus principais representantes.
Muitos trabalhos envolvendo avaliação da articulação coxofemoral em curto
prazo têm sido realizados, como a redução e estabilização da luxação coxofemoral
pela transposição do ligamento sacrotuberal, substituição do ligamento redondo por
“flap” de fáscia lata autógena e reconstituição da cápsula articular usando pericárdio
bovino, trazendo inovações nas técnicas cirúrgicas como uso de membranas
biológicas. Porém, são poucos os estudos de análise em longo prazo para
estabelecimento de um prognóstico com tempo alvo mais amplo.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a recuperação em longo prazo dos
pacientes com afecções coxofemorais de resolução cirúrgica através da associação
dos parâmetros de avaliação clínica (graus de claudicação, mensuração do perímetro
da coxa, exame radiográfico) e biomecânica através do uso da plataforma de força
por coleta estática.
Foi realizado um estudo retrospectivo de dez anos (1998/2007) no arquivo do
Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
dos animais submetidos à cirurgia da articulação coxofemoral, com diagnóstico de
luxação coxofemoral traumática, fratura de cabeça e colo femoral, ou necrose
asséptica da cabeça do fêmur. Através das informações obtidas, realizou-se contato
com os proprietários, sendo estabelecido um grupo de 21 animais, a ser avaliado e
delimitado seu estado de recuperação.
103
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Endereço autor principal: R. Coronel Niederauer, 795, apt 302,
Centro, Santa Maria, RS, CEP 97015121, e-mail: [email protected]
122
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
A delimitação do estado de recuperação foi realizada através de
avaliação clínica e biomecânica. A avaliação clínica constava de anamnese, graus de
claudicação, perimetria da coxa e exame radiográfico. O enfoque da anamnese era:
data da cirurgia, membro afetado, doença, cirurgia específica, recuperação do
paciente segundo o proprietário.
Para avaliação biomecânica ou do apoio, foi realizada a coleta de dados de
cada animal sobre uma plataforma de força na posição ortostática (em estação) em
nove posicionamentos diferentes: quatro patas, lado direito - D, lado esquerdo - E,
dianteiras - F, traseiras - T, dianteira direita – DD, dianteira esquerda – DE, traseira
direita – TD, traseira esquerda – TE em uma plataforma de força OR6-6 AMTI
(Advanced Mechanical Technologies, Incorporation, USA), conforme metodologia
descrita por Barbosa et al. (2008). Os dados de porcentagem de peso em cada um
dos oito posicionamentos de cada animal, em uma avaliação individual, foram
enquadrados dentro dos limites superior e inferior estabelecidos anteriormente.
Para associar todas as avaliações já descritas e avaliar adequadamente a
recuperação dos animais, foi estabelecido o parâmetro Recuperação. Este parâmetro
agrupou as variáveis TF – Transferência de peso, A – Atrofia e GC – Grau de
Claudicação da seguinte maneira: 0 – Recuperação Excelente – Todas as variáveis
sem alteração (TF=0, A=0, GC=5); 1 – Ótima – uma variável alterada; 2- Muito Boa –
duas variáveis alteradas; 3 – Razoável – Todas as variáveis alteradas, sendo T=1; 4 –
Ruim – Todas as variáveis alteradas, sendo T>1.
Com relação à doença, 22,2% dos animais apresentaram fratura de cabeça e
colo femoral, 27,8% necrose asséptica da cabeça do fêmur e 50% (nove cães)
luxação coxofemoral traumática. A luxação coxofemoral é a mais comum em cães e
gatos, sendo a origem traumática de maior frequência. Portanto, é compreensível sua
grande participação neste estudo, totalizando 50% dos pacientes avaliados.
Quanto à cirurgia, 77,8% foram submetidos à colocefalectomia e 22,2% à
inserção de pino transacetabular. A artroplastia total da articulação coxofemoral é
atualmente utilizada em cães com displasia coxofemoral, luxação crônica após falha
dos demais procedimentos indicados, fraturas de cabeça e colo femorais, necrose
asséptica da cabeça e colo femorais, com resultado satisfatório de 92 a 98. Porém,
para a realidade brasileira, o uso desta técnica ainda é insipiente, devido ao seu alto
custo. Desta forma, na falha de outros métodos de estabilização da luxação
coxofemoral, em casos de fratura ou necrose asséptica da cabeça e colo femorais, é
freqüente o uso da excisão artroplástica. Isto explica o percentual tão alto desta
cirurgia, quase 80%, neste estudo.
A amostra apresentou-se bastante heterogênea, com relação ao tempo após a
cirurgia, pois compreendia animais desde 50 dias até sete anos de pós-cirúrgico,
sendo subdivida em três grupos: T1 – menor que dois meses, T2 – de dois meses a
dois anos, e T3 – maior que dois anos. 11,1% dos pacientes se enquadraram no
grupo 1, 44,4% no grupo 2 e 44,4% no grupo 3. Na classificação dos Graus de
Claudicação, 16,7% dos pacientes apresentaram grau III, 22,2% grau IV e 61,1% grau
V. O tempo mínimo de 50 dias decorridos da cirurgia se deveu ao fato de se saber
que a osteoartrose ou mudanças na articulação podem ser visualizadas
radiograficamente poucas semanas após a cirurgia.
O parâmetro atrofia foi dividido em: A0 – Ausência de atrofia; A1 – Atrofia
presente em apenas um dos parâmetros; A2- Atrofia presente em ambos os
123
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
parâmetros. Um total de 22,2% dos animais não apresentou atrofia,
33,3% apresentaram somente em um dos parâmetros, sendo este o P2, e 44,4%
apresentaram atrofia em ambos os perímetros.
Os animais que apresentaram transferência de peso foram divididos por
membro afetado, com o objetivo de classificar qual o destino da transferência.
Comprovou-se a transferência em ambos os grupos, sendo, no grupo com o membro
direito afetado, o peso retirado do membro pélvico direito e distribuído nas dianteiras,
e, no grupo com o membro esquerdo afetado, o peso retirado do membro pélvico
esquerdo e transferido para o lado contralateral.
No parâmetro recuperação, 16,7% foram classificadas como 0, 16,7% como 1,
33,3% como 2, 16,7% como 3 e 16,7% como 4. Portanto, têm-se 66,7% dos animais
avaliados com recuperação entre excelente a muito boa e 33,3% entre razoável a
ruim. Dos animais com conceito ruim, dois possuíam menos de dois meses de póscirúrgico e um possuía cinco meses de pós-cirúrgico, portanto ainda estavam em
período de recuperação cirúrgica. Dos animais classificados no conceito razoável, um
apresentou complicações pós-cirúrgicas demonstradas no exame radiográfico
(presença de esquírula) e necessitando de uma nova cirurgia. Os outros dois eram
animais de grande porte com sobrepeso. Este atraso na recuperação parece estar
associado ao excesso de peso sobre a articulação onde foi realizada
colocefalectomia. Em pessoas, a obesidade é um fator de risco, pois está associada
ao desenvolvimento da osteoartrite.
A avaliação da recuperação dos pacientes através da associação dos
parâmetros clínico, radiográfico e biomecânico no padrão ortostático em longo prazo
mostrou-se completa e eficiente. A recuperação dos animais foi muito boa,
demonstrando que a maioria (70%) está com a função do membro afetado
restabelecida, com algumas variações individuais, tendo sua recuperação sido
classificada entre excelente e muito boa. Os animais que apresentaram classificação
de recuperação de razoável a ruim não possuíam tempo suficiente para recuperação,
apresentaram complicações ou tiveram sua recuperação atrasada devido à
obesidade.
Referências
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traposition of the ligamentum sacrotuberale in dogs: na in vivo study.
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biológica e pino transarticular na redução de luxação coxofemoral bilateral em
cães. Acta Scientiae Veterinariae, 34(2): 187-192.
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cápsula articular utilizando pericárdio bovino na luxação coxofemoral
experimental em cães. Veterinária e Zootecnia, 13: 73-83.
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Pequenos Animais. 2ed. São Paulo: Roca, 1095-1101.
124
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
CASUÍSTICA DAS LESÕES TRÁUMATO-ORTOPÉDICAS NO PERÍODO DE
FEVEREIRO DE 2007 A JUNHO DE 2010 NO SETOR DE CIRURGIA
ORTOPÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
DE MEDICINA VETERINÁRIA PROFESSOR FIRMINO MÁRSICO FILHO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (HUVET-UFF)
NUMBER
OF
CASES
OF
ORTHOPEDIC
INJURIES
DURING
FEBRUARY
2007
THE
JUNE
2010
IN
THE
SECTOR
OF
SMALL
ANIMAL
SURGERY
ORTHOPEDIC
OF
THE
HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
DE
MEDICINA
VETERINÁRIA
PROFESSOR
FIRMINO
MÁRSICO
FILHO
IN
UNIVERSIDADE
FEDERAL
FLUMINENSE
(HUVET‐UFF)
FARIA,
G.
A.104;
CARDOSO
JR,
R.
B.105;
ROMÃO,
M.
A.
P.106;
ABBY,
J.107;
CASTRO,
D.
S.108
Palavras-chave: alterações articulares, fraturas, ortopedia.
Key words: joint changes, fractures, orthopedics.
INTRODUÇÃO
A ortopedia é a especialidade responsável pelo diagnóstico e tratamento das
lesões traumato-ortopédicas na clínica médica. Dentre os atendimentos realizados na
clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, os pacientes que apresentam
alterações ortopédicas compõem um percentual significativo. As queixas mais comuns
estão associadas a doenças articulares e a lesões causadas por acidentes,
identificando-se assim frequentemente o trauma. As lesões traumáticas acometem
exclusivamente o sistema musculoesquelético e raramente determinam risco à vida
do paciente, a não ser que estejam associadas com hemorragias intensas. Porém,
104
MV. Mestranda do Curso de Pós Graduação em Clínica e Reprodução Animal da Universidade Federal Fluminense
(UFF), Av. Almirante Ary Parreiras, 503, Vital Brazil, Niterói / RJ; e-mail: [email protected], Tel: (21)
83566752;
105
MV. MSc. Doutorando do Curso de Pós Graduação em Clínica e Reprodução Animal da UFF;
106
Professor Associado / Radiologia Veterinária – Departamento de Clínica de Pequenos Animais / Faculdade de
Veterinária / UFF;
107
MV. Voluntária no setor de Clínica e Cirurgia Ortopédica do Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor
Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET- UFF);
108
MV. MSc. Voluntário no setor de Anestesiologia HUVET- UFF
125
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
tais lesões podem acarretar perdas funcionais importantes,
comprometendo a qualidade de vida do paciente. O presente estudo tem o objetivo de
descrever a casuística das intervenções cirúrgicas das lesões traumato-ortopédicas
ocorridas no Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico
Filho (Huvet-UFF) durante o período de fevereiro de 2007 a julho de 2010, sendo este
atendimento feito uma vez por semana, assim como relatar a espécie, raça, sexo e
idade mais acometida.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo retrospectivo do número dos procedimentos cirúrgicos
ortopédicos relatados em fichas específicas do setor de ortopedia do Hospital
Veterinário Firmino Márcico Filho (Huvet-UFF) durante o período de fevereiro de 2007
a julho de 2010. Variáveis como espécie, raça, sexo e idade foram quantificadas. Para
melhor organização dos dados, os traumas foram divididos em três grupos: fraturas,
lesões articulares e demais alterações. As fraturas e lesões articulares ainda foram
subdivididas pelo esqueleto axial e esqueleto apendicular em membros anteriores e
posteriores. Os resultados foram obtidos através da análise da frequência dos
procedimentos cirúrgicos, sendo expressos em porcentagem.
RESULTADOS
No presente estudo foram analisados 259 procedimentos cirúrgicos
ortopédicos, representando um percentual de 20,19% de todos os procedimentos
cirúrgicos realizados no Huvet-UFF durante o período de fevereiro de 2007 a junho de
2010, sendo que o setor de ortopedia realiza as suas cirurgias somente uma vez por
semana. As percentagens referentes às espécies atendidas ficaram assim
representadas: 94,20% (244) caninos, 5,40% (14) felinos e 0,40% (1) primatas. Em
relação ao sexo dos pacientes, 50,96% (132) eram fêmeas e 49,04% (127), machos.
A idade dos animais recebidos apresentava os seguintes valores: pacientes com
menos de um ano de idade, 27,03% (70); entre um e cinco anos, 44,01% (114); entre
seis e dez anos, 22,78% (59); e acima de dez anos, 6,18% (16). Com relação às
raças, um grande grupo foi constituído para facilitar a análise sendo estas descritas a
seguir: Beagle 0,38% (1), Bichon Frisé 1,16% (3), Boxer 0,77% (2), Bulldog Francês
1,16% (3), Bull Terrier 0,77% (2), Chihuahua 1,16% (3), Chow Chow 1,54% (4),
Cocker Spaniel 2,32% (6), Dachshund 1,54% (4), Fila Brasileiro 0,38% (1), Fox
Paulistinha 1,54% (4), Galgo Italiano 0,77% (2), Labrador 4,25% (11), Lulu da
Pomerânea 0,38% (1), Maltês 1,93% (5), Pastor Alemão 0,77% (2), Pinscher 5,40%
(14), Pit Bull 3,47% (9), Pointer 0,38% (1), Poodle 24,71% (64), Pug 0,38% (1),
Rottweiler 2,32% (6), São Bernardo 0,38% (1), Saimiri 0,38% (1), Schnauzer 0,38%
(1), Shih Tzu 1,16% (3), SRD 33,20% (86) e Yorkshire 6,95% (18). As análises
referentes às lesões foram divididas em três grandes grupos, nos quais se observou:
1) grupo das fraturas, esqueleto apendicular, membros anteriores, 15,83% (41),
membros posteriores 22,01% (57), esqueleto axial 6,95% (18); 2) grupo das lesões
articulares, esqueleto apendicular, membros anteriores 2,32% (6), membros
posteriores 50,19% (130), esqueleto axial 1,16% (3); 3) grupo das demais alterações
ortopédicas, 14,28% (37). As lesões ortopédicas observadas no grupo das fraturas
foram: fraturas de rádio e ulna 9,24% (27), côndilo e epicôndilo umeral 1,02% (3),
úmero 2,73% (8), escápula 0,34 (1), metacarpos 0,68 (2), metatarsos 1,03% (3),
fêmur 9,93% (29), tíbia e fíbula 3,77% (11), avulsão da crista tibial 0,68% (2),
expostas tíbia e fíbula 1,71% (5), tipo Salter Harris 2,40% (7), pelve 3,77% (11),
126
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
mandíbula 1,03% (3), e vértebras 1,36% (4). Já as alterações
observadas no grupo das lesões articulares eram: luxação dos carpos 0,34% (1),
luxação escápula umeral 1,03% (3), osteocondrose 0,68% (2), luxação sacroilíaca
1,03% (3), luxação patelar 18,83% (55), ruptura do ligamento cruzado cranial 15,75%
(46), displasia coxofemoral 2,73% (8), luxação tibiotársica 0,34% (1), luxação
coxofemoral 5,82% (17), lesão no menisco 0,34% (1), luxação tarsometatársica 0,34%
(1) e ruptura do ligamento colateral lateral 0,34% (1). Dentro do grupo das demais
alterações ortopédicas podem-se observar as seguintes entidades: fratura 1,37% (4);
reajuste 0,68% (2); e retirada 3,78% (11) das próteses ortopédicas, não união; 0,34%
(1) e união retardada 1,37% (4) de fraturas, necrose asséptica da cabeça femoral
1,71% (5), avulsão de plexo braquial 0,68% (2), encurtamento do tendão calcâneo
0,34% (1), trepanação 0,34% (1), biópsia óssea 0,68% (2) e doença do disco
intervertebral 1,36% (4).
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos neste estudo foram substancialmente importantes para
estabelecer um levantamento estatístico dos casos cirúrgicos ortopédicos do HuvetUFF, fornecendo assim à equipe do setor conhecimento sobre o público alcançado
pelos serviços prestados. A maior percentagem em relação às espécies atendidas
ficou com os caninos, o que demonstra uma maior preferência dos proprietários de
pequenos animais da localidade pelos cães, ou até mesmo essa espécie ser mais
propensa às lesões traumo-ortopédicas. Pouca diferença foi observada em relação à
variante sexo, porém as fêmeas apresentaram um percentual maior que os machos.
Em relação à idade, os animais na faixa etária de um a cinco anos foram possuidores
dos maiores valores. Em explicação a essa ocorrência pode-se propor que animais
nessa faixa etária estariam em idade sexual ativa e estariam mais propensos a brigas,
quedas, fugas e a sofrerem lesões. A maior incidência dos pacientes SRD e Poodle
também demonstram a preferência dos proprietários da localidade. Quanto às lesões
traumato-ortopédicas a maior incidência das alterações articulares e fraturas nos
membros posteriores está em concordância com a literatura pesquisada. Dentre as
lesões articulares, as duas doenças de maior incidência foram à ruptura do ligamento
cruzado cranial e as luxações patelares. A insuficiência do ligamento cruzado cranial
pode apresentar causas degenerativas ou traumáticas1. A ruptura parcial do ligamento
cruzado resulta em claudicação, com instabilidade mínima detectável ao joelho, já a
ruptura total promove uma instabilidade completa com o movimento cranial da tíbia
em relação ao fêmur e concomitante não apoio do membro acometido1, 2. As luxações
patelares possuem suas origens em causas congênitas ou traumáticas. As luxações
de origem congênita acometem em sua maioria cães de pequeno porte, porém
também podem acometer cães maiores 1,3. Em relação às fraturas, um achado no
levantamento entra em desacordo com a literatura no que diz respeito à maior
incidência de fraturas em membros posteriores serem observadas na tíbia e fíbula.
Segundo a análise realizada, foi observado uma maior incidência de fraturas no fêmur
seguidas pelas fraturas da tíbia e fíbula. Fraturas femorais são geralmente causadas
por traumas intensos 4,5, sendo os acidentes automobilísticos a causa mais comum
2,3,5
. As fraturas da tíbia são principalmente resultado de trauma no qual o osso é
submetido a diversas forças mecânicas e pode fraturar-se em diversos tipos de linha
de fratura 3. A escassez de tecido mole aumenta a possibilidade de fraturas expostas
2,5,6
. Dentre as fraturas dos membros torácicos, os ossos mais acometidos são o rádio
e a ulna, estando esse dado em acordo com a literatura. As fraturas radioulnares são
geralmente secundárias a traumas, principalmente aos de alta tensão. Contudo este
127
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
tipo de fratura em cães de raça toy resultam frequentemente de saltos
ou quedas 3,5,6. As fraturas de rádio-ulna são consideradas o terceiro tipo de fratura
mais comum nos cães 7. Da incidência das fraturas no esqueleto axial, a fratura de
pelve foi a que apresentou maior ocorrência no levantamento. Embora os ossos da
pelve sejam bem protegidos pelos músculos, as fraturas nesta área são comuns 6. Em
alguns relatos, este tipo de lesão responde por 20% a 25% das fraturas observadas
em pequenos animais 8. Dos resultados obtidos do grupo das outras alterações
ortopédicas, a retirada de prótese ortopédica ficou em maior percentual, seguida de
necrose asséptica da cabeça femoral. A necrose asséptica da cabeça femoral é uma
doença ortopédica de acometimento comum em animais jovens de raças caninas de
pequeno porte, também denominada de doença de Legg-Perthes 1. Essa doença
resulta no colapso da epífise femoral em virtude de uma interrupção no fluxo
sanguíneo 3. Em algumas raças, a doença tem sido apresentada como tendo base
hereditária, com um gene recessivo autossômico 9.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir com o presente estudo que o levantamento estatístico dos
casos cirúrgicos ortopédicos atendidos pelo setor de ortopedia do Huvet-UFF durante
o período de fevereiro de 2007 a junho de 2010 se fez muito válido. Pois foi através
deste que os profissionais atuantes neste setor puderam tomar conhecimento da
frequência das doenças ortopédicas ali atendidas. Do mesmo modo pôde-se constatar
que a influência social do meio, no caso os proprietários, também interfere na
casuística dos atendimentos em relação às variáveis espécies, raça e alterações
ortopédicas.
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128
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
CORREÇÃO CIRÚRGICA DE FENDA PALATINA SECUNDÁRIA EM UM
EQUINO COM USO DE MEMBRANA BIOLÓGICA
SURGICAL CORRECTION OF SECONDARY CLEFT PALATE IN A HORSE USING
BIOLOGICAL MEMBRANE
ELTON
BRITO
EVERTON109;
LUIZ
CARLOS
RÊGO
OLIVEIRA110;
JOSÉ
RIBAMAR
DA
SILVA
JÚNIOR²;
LUANA
TEREZA
RAPOSO
DE
CARVALHO111;
UIARA
HANNA
ARAÚJO
BARRETO¹;
MAYRA
PACHECO
DE
SOUZA1;
ANTÔNIO
SOARES
DO
NASCIMENTO
JÚNIOR¹
Resumo
Neste trabalho, foi discorrida a correção cirúrgica de fenda palatina secundária em um
equino com o uso do centro tendíneo do diafragma bovino, como membrana biológica.
A fenda palatina localizava-se na linha média, comprometendo o palato duro e o
palato mole. A técnica utilizada mostrou-se eficiente, embora não tenha sido
acompanhada de toda a evolução da reestruturação do palato do paciente.
Palavras-chave: Fenda palatina; membrana biológica; correção cirúrgica
Abstract
In this study, we discoursed surgical correction of secondary cleft palate in a horse,
using the central tendon of the diaphragm veal, as biological membrane. The cleft
palate was located in the midline, involving the hard palate and soft palate. The
technique was efficient, although not all followed the progress of restructuring of the
palate of the patient.
key words: Cleft palate; biological membrane; cleft palate
109
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia. e-mail:
[email protected]
110
Professor Doutor, do Curso de Medicina Veterinária, do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Estadual do
Maranhão.
111
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão.
130
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Introdução
O palato é uma estrutura localizada na porção dorsal da cavidade oral,
responsável pela separação da cavidade nasal e orofaríngea, sendo constituída pelo
palato primário, palato secundário e palato mole1. De acordo com as estruturas
anatômicas envolvidas, a fenda pode ser classificada em primária se ocorrer no lábio
e alvéolo; primária e secundária se envolve o lábio e o palato secundário; secundária
quando ocorre somente no palato secundário, podendo ou não existir envolvimento do
palato mole2. A fenda do tipo primária é facilmente diagnosticada, porque o animal
nasce com uma fissura anormal no lábio superior, conhecida como lábio leporino. As
secundárias, apesar de mais comuns, muitas vezes passam despercebidas por
ocasião do nascimento e só são diagnosticadas quando o animal começa a
apresentar alguns sinais clínicos da afecção, como escoamento de leite pelas narinas,
tosse, engasgos ou espirros durante a alimentação, além das infecções do trato
respiratório3. O diagnóstico da afecção é realizado mediante a inspeção direta da
cavidade oral, durante o exame físico2. As principais causas para seu
desenvolvimento são os fatores traumáticos, hereditários, nutricionais, mecânicos (no
útero), hormonais ou tóxicos1, 3, sendo a causa hereditária a mais comum1.
Segundo Silva (2006)2 , os defeitos no palato secundário, independentemente
de serem consequências de traumas, infecções crônicas, neoplasias ou alterações
congênitas, só podem ser corrigidos cirurgicamente. Animais acometidos por defeito
de palato secundário que não são tratados cirurgicamente geralmente são
eutanasiados ou morrem. A correção cirúrgica da fenda palatina secundária tem como
finalidade reconstruir a anatomia funcional, separando a cavidade oral da cavidade
nasal, fazendo com que o animal se alimente normalmente, sem que haja passagem
de alimentos e/ou líquidos entre as cavidades, diminuindo assim os riscos de
pneumonia por aspiração e aumentando a sobrevida do animal4. A dimensão da lesão
e a facilidade de acesso à região afetada é que vão determinar qual técnica cirúrgica
é a mais recomendada para cada caso, pois a fenda pode variar de uma pequena
abertura no palato mole até uma fissura completa desde o palato mole até a papila
incisiva2. Várias técnicas são descritas para o reparo de fendas de palato duro,
incluindo uma sutura simples, uma sutura com incisão relaxante, técnica de “flap”
mucoperiosteal, técnicas de “flaps” bipediculares deslizantes e “flaps” sobrepostos 5,
além da utilização de membranas biológicas.
As membranas biológicas podem ser obtidas a partir de diferentes espécies
animais e são utilizadas como material de implante para reparação de órgãos e
tecidos. O emprego destas deve-se à facilidade em sua obtenção, baixos custos,
preparo simples, esterilização viável, facilidade na estocagem e pouca ou nenhuma
reação tecidual6, 7, 8. Na dependência do local onde são empregadas, as membranas
biológicas apresentam características especificas de regeneração ou reparação
tecidual, servido de arcabouço para o desenvolvimento de um novo tecido,
restabelecendo a estrutura do órgão afetado ou reforçando mecanicamente a região
através da deposição de tecido conjuntivo9. Atualmente, uma grande diversidade de
materiais pode ser utilizada para esta finalidade, sejam eles sintéticos ou biológicos.
Quanto aos substitutos biológicos, de procedência animal, muita importância se tem
dado ao centro tendíneo do diafragma bovino, um biomaterial de fácil acesso,
complacente e resistente. Além disso, por ser de natureza orgânica, geralmente
apresenta baixa antigenicidade10.
131
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
O estudo tem como objetivo descrever a redução de uma fenda
palatina secundária de origem genética em um equino, utilizando centro tendíneo do
diafragma bovino, conservado em glicerina a 98%.
Relato de caso
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Maranhão
(Uema) um equino, sem raça definida, de aproximadamente 18 meses, pesando 128
kg, apresentando fenda palatina secundária. A mesma se localizava na linha média,
atingindo o palato duro e parte do palato mole, com tamanho aproximado de 15 cm
(Figura 1).
Figura 1: Fenda palatina secundária em um eqüino
Os sinais clínicos apresentados pelo animal nos primeiros dias de vida foram
fluxo de leite através das narinas e, após desmame, secreção esverdeada pelas
narinas e emagrecimento acentuado.
Foi feito o exame clínico da cavidade oral do animal e diagnosticada a
presença de fenda palatina secundária. Após os exames, o animal passou por dieta
hídrica e sólida de seis e 12 horas respectivamente. Logo após, o paciente foi
encaminhado ao centro cirúrgico do Hospital Veterinário Francisco Edilberto Uchôa
Lopes, da Uema, para realização da cirurgia. No protocolo anestésico foi utilizada a
associação de xilazina (1 mg/ kg peso vivo, IV) e ketamina (10 mg/ kg peso vivo, IV)
para indução. A intubação endotraqueal foi feita diretamente na traquéia, através de
traqueostomia, sendo desfeita após a cirurgia, e para a manutenção do plano
anestésico cirúrgico utilizou-se halotano (5% na indução e 2,5% na manutenção).
Antes do ato cirúrgico, limpou-se cavidade oral com solução fisiológica para a
remoção de sujidades presentes na cavidade. Após a limpeza, fez-se a antissepsia
com solução de iodopovidine. Para a redução da fenda palatina foi utilizada
membrana biológica oriunda do centro tendíneo do diafragma bovino, conservado em
glicerina 98% e reidratada com solução fisiológica a 0,9 % momentos antes de sua
aplicação. Foi realizada curetagem dos bordos da fenda palatina para possibilitar o
contato direto do organismo animal à membrana biológica, com sutura de padrão
interrompido simples, com nylon de pesca nº 0,60 (Figura 2).
132
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Figura 2: Correção de fenda palatina com uso de membrana biológica
No pós-operatório foram prescritos Agrovet plus (1 ml/ 10 kg/IM) e flunixin
meglumine (1 ml/ 10 Kg/IV) para controle da infecção, inflamação e dor. O regime
alimentar do animal continuaria a ser o mesmo adotado no hospital veterinário,
composto de ração peletizada umedecida, 200 gramas a cada três horas, até que
fosse possível a retirada dos pontos, o que seria feito 14 dias depois da cirurgia.
Discussão
O animal foi submetido ao pós-operatório no Hospital Veterinário, tendo
recebido como alimentação ração peletizada umedecida, como descrito por SILVA
(2006)2 e DUTRA (2008)5, em porções de 200 gramas a cada três horas, soro
glicofisiológico (10% do peso corporal do animal, com aplicação distribuída nas 24
horas, durante três dias), não sendo observado desconforto ao ingerir a alimentação e
nem a saída de conteúdo oral pelas narinas do animal. Depreende-se que a
colocação da membrana biológica atingiu a meta preconizada, que seria a separação
da cavidade nasal e orofaríngea, descritas por ROBERTSON (1996)¹ e CORRÊA
(2008)4. Após o sétimo dia, o animal foi liberado para continuar o tratamento no
domicílio do proprietário, que por sua vez não mais retornou para dar notícias de
como o animal estava se comportando em relação ao resultado final da cirurgia.
Conclusão
A reparação da fenda palatina secundária se faz necessária, haja vista que
esta patologia pode levar a complicações respiratórias futuras, como pneumonia e
posterior morte. O emprego da membrana biológica para restabelecer o defeito
palatino se mostrou eficiente, embora não tenha sido acompanhada toda a evolução
da reestruturação do palato do paciente após a saída do mesmo do Hospital
Veterinário, devido o proprietário não ter voltado a ter contato com o cirurgião
responsável pelo caso.
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134
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
AVALIAÇÃO MACRO E MICROSCÓPICA DE NERVOS ULNARES DE
EQUINOS APÓS NEUROTOMIA E DEPOSIÇÃO DE FRAÇÃO DE CÉLULAS
MONONUCLEARES DA MEDULA ÓSSEA
MACROSCOPIC AND MICROSCOPIC EVALUATION OF ULNAR NERVE IN
HORSES AFTER NEUROTOMY AND DEPOSITION BONE MARROW
MONONUCLEAR CELLS
MORAES,
J.M112¹.;
FARIA,
A.M.¹;
DE
MOURA,
V.
M.
B.
D.¹;
BRITO,
L.
A.
B.¹.
TOGNOLI,
G.K.1133;
ROSA,
M.C.2;
GODOY,
R.F114.²
Palavras-chave: terapia celular, células tronco, nervos periféricos.
Key words: cellular therapy, peripheric nerves, stem cells.
Introdução
Lesões nos nervos periféricos são de ocorrência frequente e representam um
dos grandes problemas econômicos e sociais na área da saúde, sendo que em
veterinária é também um entrave ao bem estar animal.1 As bainhas ou tubos de
silicone são os biomateriais de eleição na restauração nervosa experimental, atuando
como invólucro, permitindo a formação espontânea de uma matriz de fibrina e
favorecendo o crescimento de axônios, capilares e células não neurais2. As célulastronco adultas (CTA) são fontes alternativas de células para a regeneração do tecido
nervoso por possuírem propriedades pluri e multipotentes de diferenciação. A medula
óssea (MO) representa o melhor local para obtenção destas células, em decorrência
da facilidade de colheita, por permitir o transplante autólogo, e também por não
apresentar barreiras éticas.3,4 Dentre as CTA da MO incluem-se as células-tronco
hematopoéticas (CTH) e células-tronco mesenquimais (CTM), porém, ainda não está
claro qual destas apresenta maior plasticidade.5 Por essa razão, autores propuseram
que a utilização de um conjunto de células que possam dar suporte à proliferação e à
manutenção das CTA, como a fração de células mononucleares (FCM) da MO, seja
melhor que o uso de um único tipo celular. O objetivo deste estudo foi avaliar a
regeneração nervosa periférica de equinos com a utilização de tubos de silicone e
FCM.
Metodologia
O experimento foi realizado no Hospital Escola de Grandes Animais da
FAV/UnB e no Setor de Patologia Animal da EV/UFG. Foram utilizados dez equinos
adultos, nove fêmeas e um macho, sem raça definida e clinicamente sadios. Foram
realizadas duas técnicas de regeneração nervosa: (A) técnica de utilização de tubos
112
Setor de Patologia, Escola de Veterinária - EV/UFG, Goiânia-GO;
113
Unidesc-Brasília-DF. E-mail: [email protected]
114
Hospital Escola de Grandes Animais, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - FAV/UnB, Brasília-DF.
135
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
de silicone; e (B) técnica de utilização de tubos de silicone e deposição
imediata de fração de células mononucleares (FCM). Os animais foram divididos em
grupos de acordo com a técnica utilizada (A ou B) e o período de biópsia dos nervos
ulnares, de 13 e 26 semanas do procedimento cirúrgico, a saber: Grupo I (GI): cinco
animais foram submetidos à técnica A no nervo ulnar do membro direito e biopsia com
13 semanas; e Grupo II (GII): os mesmos cinco animais foram submetidos à técnica A
no nervo ulnar do membro esquerdo, com biopsia às 26 semanas. Grupo III (GIII):
cinco animais foram submetidos à técnica B no nervo ulnar do membro direito com
biopsia às 13 semanas; e Grupo IV (GIV): os mesmos cinco animais foram
submetidos à técnica B no nervo ulnar do membro esquerdo, com biopsia às 26
semanas. Foram coletadas de MO referente ao osso esterno dos cinco equinos
pertencentes aos GIII e GIV. Os animais foram sedados com detomidina
(40mcg/Kg/IV) e realizada anestesia local com 10 mL de lidocaína na altura da quinta
esternebra, com posterior introdução da agulha modelo Jamshidi, de calibre oito e 12
cm de comprimento. Aspirava-se aproximadamente 20 mL de conteúdo da MO com
auxílio de uma seringa de 60 mL contendo 0,25mL de heparina a 5000 UI/mL e 9 mL
de soro fisiológico, sendo o total de 30 mL obtido na seringa. As amostras eram
identificadas, acondicionadas em gelo e encaminhadas ao laboratório para isolamento
da FCM conforme preconizado pela literatura.5 A MO coletada era transferida para um
tubo falcon contendo a mesma quantidade de Ficoll Hypaque e centrifugado a 500 g
por 30’. A FCM era, então, retirada e lavada em PBS e novamente centrifugada 500 g
por 10’. O pellet obtido era resuspendido em PBS para se obter 200µl de solução para
ser injetado. Após a diluição, fazia-se a contagem e viabilidade celular e posterior
incubação com 2 µL de nanocristal (QD- Qtracker®655 Cell Labeling Kit, Invitrogen) a
37ºC por 45 minutos. Realizava-se neuropraxia nos dois nervos ulnares e, em
seguida, os coto proximais (CP) e distais (CD) eram aposicionados dentro de um tubo
de silicone de 2 cm de comprimento e 2 mm de diâmetro interno, com 5 mm de gap
entre os cotos. A FCM obtida era colocada neste espaço de 0,5cm, sendo um
implante autólogo. Após três e seis meses, foram realizadas as biopsias de 4 cm dos
nervos direito e esquerdo, respectivamente, de cada animal e, imediatamente, faziase um imprint em lâminas histológicas dos nervos e dos cotos proximais e distais. Os
fragmentos foram fixados por 48 horas em formol 10% tamponado e mantidos em
álcool 70%, até o procedimento histológico e coloração pela técnica de hematoxilina e
eosina (HE). Foram feitos cortes longitudinais nos CP e cortes transversais nos CD.
Macroscopicamente, avaliaram-se as amostras quanto à ocorrência de regeneração
completa entre os cotos, presença de tecido conjuntivo fibroso (TCF) e aderências
entre as estruturas do feixe vásculonervoso. Microscopicamente, observaram-se a
presença ou a ausência de proliferação axonal, tecido conjuntivo, infiltrado
inflamatório, formação ou degeneração da bainha de mielina e ocorrência de
degeneração walleriana. Foram estabelecidos escores referentes à sua presença,
ausência e quantidades, sendo ausente (-), discreto (+), moderado, (++) e acentuado
(+++).
Resultados e discussão
Macroscopicamente, foi observada regeneração nervosa com completa
formação do cabo de regeneração em todas as amostras visualizando-se TCF ao
redor do tubo de silicone e aderência no feixe vasculonervoso de forma acentuada
(+++). Quanto à microscopia de fluorescência, foi observada marcação verde
fluorescente de cor e quantidades intensas nos três meses de biopsia e com cor e
quantidades moderadas a discretas nos seis meses de biopsia em todas as porções
136
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
nervosas avaliadas (GIII e GIV). Na histologia, não foi visualizada
proliferação axonal do CP até o CD, pois apresentou processos degenerativos nos
cotos em 100% das amostras analisadas. Houve apenas proliferação acentuada (+++)
de tecido conjuntivo na região entre ambos locais. No entanto, houve quantidade
acentuada (+++) de células de formato fibroblástico e meia lua no tecido conjuntivo
entre os cotos. A degeneração walleriana (DW) e o infiltrado inflamatório foram
observados em todas as amostras, porém de forma mais acentuada nos grupos de
biopsia de três meses (GI e GIII) e em maior proporção no GI. Além da união entre o
CP e CD, não foi observada formação de neuroma em nenhuma das amostras
avaliadas, o que pode ser atribuído à técnica cirúrgica realizada.2 Com relação à
reorganização de fascículos nervosos, foi verificado início de reorganização em todos
os grupos, porém de maneira mais eficaz nos grupos com FCM, assim como com
tempo de seis meses de biopsia. Isso indica o restabelecimento da organização do
tecido conjuntivo que reveste o tecido nervoso, mesmo não visualizando axônios no
cabo de regeneração, já que o tempo da regeneração do neurônio com proliferação
axonal em nervo periférico varia de 250 a 300 e 456 a 486 dias para recuperação
morfológica e funcional, respectivamente.6
Conclusão
A marcação com QD, por endocitose celular, foi bem sucedida, demonstrando
presença de células no tecido nervoso por até seis meses após o implante de FCM,
sugerindo diferenciação celular em componentes do tecido nervoso. Tanto as técnicas
cirúrgicas utilizadas como os tempos de três e seis meses estipulados para biopsias
foram eficazes para a formação do cabo de regeneração em todas as amostras,
propiciando início de reorganização do tecido nervoso periférico com ausência de
neuromas. A utilização de FCM se mostrou extremamente satisfatória, visto que os
grupos experimentais obtiveram melhores resultados em relação aos grupos controle,
quanto à menor DW e melhor reorganização dos fascículos nervosos. Como a
regeneração nervosa periférica é lenta, não foi possível visualizar axônios íntegros
nos cabos de regeneração.
Protocolo do Comitê de ética no uso animal: UnBDOC nº 29213/2009
Referências
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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Janeiro: Elsevier, 1476p.
138
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
MASTECTOMIA RADICAL A CAMPO EM VACA – RELATO DE CASO
RADICAL
MASTECTOMY
IN
THE
COW
FIELD
–
CASE
REPORT
MASTECTOMÍA
RADICAL
EN
EL
CAMPO
DE
VACA
–
REPORTE
DE
UM
CASO
FLÁVIO
AUGUSTO
SOARES
GRAÇA115,
RITA
DE
CASSIA
GOMES
PEREIRA116,
MICHEL
JOSÉ
SALES
ABDALLA
HELAYEL117,
SAULO
ANDRADE
CALDAS118,
KAROLINA
TEIXEIRA
ABANCA119,
MÁRCIA
FARIAS
ROLIM120
Resumo
Relata-se um caso de mastite clinica crônica por Arcanobacterium sp. em uma
vaca mestiça nulípara, de 12 anos de idade, com 480 kg, que servia de manequim
para o curso de inseminação artificial da UFRRJ. Os principais sinais clínicos
observados foram edema na região do úbere e exsudato purulento contínuo. Durante
o curso clínico de seis meses e a implantação de protocolos antimicrobianos,
observaram-se endurecimento da mama, formação de fistulas, pirexia, depressão e
emagrecimento. O animal foi submetido ao tratamento cirúrgico para mastectomia
total, com o objetivo de recuperação progressiva dos déficits clínicos. Foi realizada
sedação com cloridrato de xilazina 2% seguido de bloqueio anestesico epidural com
cloridrato de lidocaína 2% e anestesia regional dos ramos torácicos laterais direito e
esquerdo. A técnica cirúrgica adotada foi a ressecção da glândula mamária total e a
pele. A hemostasia foi realizada através da ligadura das artérias e veias mamárias
craniais e caudais. A mais frequente intercorrência transoperatória neste tipo de
procedimento é a hemorragia. A escolha da conduta terapêutica cirúrgica resultou na
melhora das condições clinicas e no aumento da sobrevida.
Palavras chave: mastectomia, radical, vaca, mastite, Arcanobacterium sp
Abstract
We report a case of chronic clinical mastitis involve Arcanobacterium sp. in a
cow crossbred nulliparous, 12-year-old, 480 kg, which served as a dummy for the
course in artificial insemination of University Federal Rural of the Rio de Janeiro. The
115
Doutorado [email protected] – 21 94778576 - Departamento de Clínica e Cirurgia da Universidade Castelo
Branco, UCB, RJ.
116
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ – Mestrando.
117
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ – Mestrado.
118
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ-Mestrado
119
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ – Acadêmica de Medicina Veterinária da UFRRJ.
120
Universidade do Norte Fluminense, UENF – Mestrado
139
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
main clinical signs were observed in the region of udder edema and
purulent continuous secretion. During the clinical course of six months and the
implementation of protocols antimicrobials observed hardness of the breast, the fistula
formation, pyrexia, depression and weight loss. The animal was submitted to surgery
for total mastectomy, with the goal of gradual recovery of clinical deficits. Was sedated
with xylazine 2% followed by epidural anesthesia with lidocaine 2% and regional
anesthesia for thoracic branches right and left lateral. The surgical technique used was
the total resection of the mammary gland and skin. Hemostasis was performed by
ligation of the mammary arteries and veins cranial and caudal. The most frequent
intraoperative complications in this type of procedure is bleeding. Choice of surgical
therapeutic approach resulted in improved clinical conditions and increased survival.
Key words: mastectomy, radical, cow, mastitis, Arcanobacterium sp.
Resumen
Presentamos el caso de mastitis clínica crónica Arcanobacterium sp. en una vaca
mestiza nulíparas, 12-años de edad, 480 kg, que sirvió como un maniquí para el curso
de inseminación artificial de UFRRJ. Los principales signos clínicos se observaron en
la región de edema de ubre y purulenta continua. Durante el curso clínico de seis
meses y la aplicación de antimicrobianos protocolos observó el endurecimiento de la
mama, la formación de fístulas, fiebre, depresión y pérdida de peso. El animal fue
sometido a cirugía para la mastectomía total, con el objetivo de la recuperación
gradual del déficit clínicos. Fue sedada con xilazina 2%, seguido por la anestesia
epidural con lidocaína al 2% y la anestesia regional para la derecha ramas torácicas y
lateral izquierda. La técnica quirúrgica empleada fue la resección total del tumor de la
glándula mamaria y la piel. La hemostasia se realizó mediante la ligadura de las
arterias y venas mamarias craneal y caudal. Las complicaciones intraoperatorias más
frecuentes en este tipo de procedimiento es la hemorragia. Elección del enfoque
terapéutico quirúrgico permitido mejorar las condiciones clínicas y aumento de la
supervivencia.
Descriptores: mastectomía, radical, vaca, mastitis, Arcanobacterium sp.
Introdução
A mastite é definida como uma inflamação da glândula mamária, geralmente
causada por infecção de origem bacteriana, e com menor frequência fúngica e vírica1,
2, 3
. A mastite pode ser dividida quanto a sua forma de manifestação em subclínica,
responsável por aproximadamente 95% dos casos, e clínica, a qual se manifesta em
torno de 5%5. Mais de 80 diferentes espécies de micro-organismos foram identificadas
como agentes causadores de mastite bovina4. O Arcanobacterium pyogenes é
considerado um importante causador de mastite clínica em novilhas e vacas
nulíparas, a qual pode se manifestar por letargia, edema, dor no quarto afetado,
formação de abscessos com fistulações, secreção purulenta e densa com odor
desagradável e focos de necrose6. Dada a grande disseminação dessas bactérias no
ambiente, todas as categorias animais estão sob risco: vacas em lactação, vacas
secas e novilhas7. Na ausência de tratamento adequado ou de resposta a terapia
antimicrobiana, uma das opções terapêuticas capaz de prorrogar a vida do animal é a
mastectomia radical8.
140
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
O tratamento cirúrgico de mastite e outras desordens de
glândulas mamárias em ruminantes9,10 é considerado um procedimento de potencial
perda sanguínea10. A mastectomia geralmente é indicada para mastite crônica ou
aguda do tipo gangrenosa9,10.
Vinte ruminantes, sendo 17 cabras e três vacas que apresentavam
comprometimento do úbere com poucas complicações clinicas, foram submetidos à
mastectomia radical com resultados favoráveis. 11
Relato do caso
O presente relato descreve um caso crônico de mastite clínica em uma vaca
mestiça nulípara, de 12 anos de idade, pesando 480 kg, que servia de manequim para
o curso de inseminação artificial da UFRRJ. Quanto ao histórico clínico, a fêmea
apresentava edema na região do úbere e secreção purulenta contínua drenada
através da ordenha. Nos últimos seis meses antes do procedimento cirúrgico, instituise várias tentativas de tratamento antibacteriano sistêmico, via intramuscular, à base
de oxitetraciclina 20mg/kg/3dias, penicilina 24.000 UI/kg/10dias, gentamicina
20mg/kg/3dias, florfenicol 20mg/kg/2dias e enrofloxacina 5mg/kg/3dias. Após dois
meses do início do tratamento, houve a redução do tamanho e da quantidade de
secreção proveniente das glândulas mamárias, mas formou-se uma fístula no úbere,
na região caudomedial aos tetos posteriores que drenava continuamente material
purulento com presença de sangue e odor pútrido forte. Após seis meses de
tratamento, evidenciou-se um úbere endurecido, irregular e a permanência da fístula
com a mesma secreção e odor de antes. Clinicamente a fêmea apresentou
emaciação, pesando 350 Kg, febre recorrente, mucosas hipocoradas, anorexia,
depressão devido à infecção persistente. Desta forma, optou-se pela mastectomia
radical com o objetivo de propiciar bem estar e melhoria do escore corporal do animal
para um futuro descarte.
Antes do procedimento cirúrgico, foi instituído jejum total de seis horas. Foi
administrado 0,15mg/kg de cloridrato de xilazina a 2% via intramuscular. O animal foi
colocado em decúbito laterodorsal com os membros contidos em extensão.
Após a tricotomia e antissepsia da região sacrococcígea e mamária com
povidine tópico a 10%, realizou-se a anestesia epidural alta com 10mL de cloridrato
de lidocaína a 2% com agulha de calibre 40 x 12 mm e anestesia dos ramos torácicos
laterais direito e esquerdo12.
A técnica cirúrgica consistiu de uma incisão elíptica ao redor da glândula
mamária afetada. O tecido subcutâneo foi divulsionado com tesoura de mayo ponta
romba e bisturi. A dissecção plana foi iniciada entre a região lateral esquerda da
glândula mamária e a pele, continuando cranialmente e caudalmente (Figura 1). A
dissecção cranial foi realizada inicialmente para facilitar a separação do úbere da
parede abdominal e a visualização do campo cirúrgico, assim como descrito na
literatura11. A hemostasia das artérias e veias mamárias craniais e caudais foi
realizada através da ligadura com fio categute cromado número dois (Figura 2).
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Figura 1. Incisão craniocaudal da região esquerda da glândula mamária e dissecção
do tecido glandular mamário amplamente vascularizado.
Reduziu-se o espaço livre com sutura intradérmica contínua, utilizando fio
mononylon número 2.0. A dermorrafia foi realizada com mononylon n° 2.0 com sutura
em pontos em Sultan. Nas duas extremidades da ferida cirúrgica, foram deixadas
duas áreas sem sutura de 3,0 cm como dreno. Foi feito curativo com povidine tópico a
10% e unguento à base de óxido de zinco, caulim e xilol. O animal ficou em estação
por duas horas e 20 minutos após a cirurgia.
No pós-operatório foi utilizada antibioticoterapia à base de penicilina,
associada com estreptomicina 24.000 UI/kg por via intra muscular durante dez dias
consecutivos, além de analgésico e anti-inflamatório flunixin meglumine 2,0mg/kg por
via intravenosa uma vez ao dia por três dias consecutivos.
Figura 2. Peça cirúrgica constituída de glândula mamária, tetas e pele retirados em
bloco durante mastectomia radical em fêmea bovina.
Resultados e discussão
Durante o ato cirúrgico, foi constatada a presença de dois abscessos um que
havia fistulado e outro que estava encapsulado. Foi coletado material assepticamente
através de aspirado do abscesso e enviado para o Laboratório de Bacteriologia do
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Departamento de Microbiologia e Imunologia Veterinária da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro com diagnóstico de Arcanobacterium
sp.
Ocorreu extravasamento de pequena quantidade de conteúdo purulento e
utilizou-se soro fisiológico 0,9% em temperatura ambiente no leito cirúrgico, com o
cuidado de remover todo conteúdo da área cirúrgica.
Durante dez dias após a cirurgia, a região apresentava-se edemaciada, com
acúmulo de líquido no tecido subcutâneo. Os espaços deixados como drenos
fecharam depois de 72 horas. Os drenos foram reabertos para diminuir o volume de
exsudato ainda acumulado durante a cicatrização. Os drenos deveriam ser retirados
em até 72 horas devido ao risco de infecção ascendente, entretanto o acúmulo de
secreção incomodava significativamente o animal durante o processo de cicatrização
e consistia em meio propício ao crescimento de microorganismos.
A técnica cirúrgica utilizada mostrou-se eficiente de acordo com a literatura.
Casos semelhantes citados na literatura também ocorreram em fêmeas
nulíparas11,6 .
Durante o pós-operatório o animal foi acompanhado clinicamente e não foi
observada a necessidade de transfusão sanguínea. Outros autores relataram que a
perda de sangue durante a mastectomia radical em caprinos foi mínima, já em
bovinos era significativa11. Os pontos foram removidos com 20 dias após o
procedimento cirúrgico (Fig.3).
A mastectomia radical pode ser uma conduta cirúrgica com o objetivo de
proporcionar bem estar ao animal e prolongar a vida útil do mesmo e até coletas de
embriões no caso de animais de valor zootécnico elevado.
Figura 3. Ferida cirúrgica com trinta dias após a mastectomia. Observa-se
cicatrização completa.
Conclusões
O animal apresentou resposta favorável à conduta cirúrgica realizada e cura
clínica com a mastectomia radical e antibioticoterapia sistêmica adotada. Não houve
a necessidade de realizar a transfusão de sangue. A retirada do úbere não inviabilizou
a utilização do animal para aulas práticas de exame ginecológico.
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12. El-maghraby H.M. (2001). Comparison of two surgical techniques for
mastectomy of goats. Small Ruminant Research, 40:215–221.
13. Cable C.S, Peery K, Fubini S.L. (2004). Radical Mastectomy in 20 Ruminants.
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14. Massone F. (1994). Anestesiologia veterinária: farmacologia e técnicas. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan. 252p.
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AVALIAÇÃO CIRÚRGICA E LABORATORIAL DA UTILIZAÇÃO DE
PERICÁRDIO HOMÓLOGO EM LESÕES POR ABRASÃO EM SEROSA DE
CÓLON MAIOR (FLEXURA PÉLVICA) DE EQUINOS
SURGICAL
AND
LABORATORIAL
EVALUATION
OF
THE
USE
OF
HOMOLOGOUS
PERICARDIUM
IN
ABRASION
LESIONS
ON
LARGE
COLON
SEROSAL
SURFACE
IN
EQUINES
LEIRIA,
P.A.T.121,
SAEMI,
A.122,
LANDMAN,
M.L.123;
PACHECO,
M.3;
ZOPPA,
A.
L.V.
124
Palavras-chave: abrasão de serosa, equino, pericárdio homólogo.
Key-words: serosal abrasion, equine, homologous pericardium.
Introdução
As aderências intra-abdominais são complicações relativamente comuns das
cirurgias abdominais dos equinos após uma intervenção cirúrgica, podendo resultar
em processos obstrutivos, dor abdominal recorrente e vôlvulos1. Os avanços técnicos
e farmacológicos são direcionados a minimizar o trauma e a inflamação peritoneal,
aumentar o processo de fibrinólise, promover movimentação intestinal e separar
tecidos potencialmente adesiogênicos durante a fase inicial de cicatrização pósoperatória1. A metodologia de indução de aderência experimental tem demonstrado
resultados discrepantes entre os diferentes grupos de pesquisadores, acreditando-se
ser resultado de diferentes métodos de indução, bem como diferentes critérios para a
interpretação dos resultados2. Até o momento, não foi definido nenhum modelo
experimental completamente efetivo2. O modelo clássico de indução de aderências
em animais de laboratório baseia-se na indução das aderências através da
exteriorização do ceco e conseqüente realização de abrasão de sua superfície serosa
e peritônio adjacente utilizando-se gaze seca, porém ensaios onde se combinam
lesão e isquemia aparentemente são mais efetivos2. Nos eqüinos, a maior parte dos
estudos realizados nesta área tem o intestino delgado como segmento intestinal
preferencial3. A metodologia empregada combina anestesia geral, lesão por abrasão,
isquemia, ressecções e sacrifício dos animais para a conclusão do estudo,
apresentando resultados variáveis. No presente trabalho foram utilizados 10 equinos,
machos, SRD, entre quatro a 15 anos e peso entre 300 e 400kg, provenientes do
Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP. Foram incluídos no experimento os animais
que não apresentaram alterações no exame físico e laboratorial prévios. Os animais
foram mantidos estabulados, recebendo ração comercial três vezes por dia. Todos os
animais foram vermifugados 15 dias antes do início do experimento. A membrana
121
122
Mestrando do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP,
Docente do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP. Av. Prof. Orlando Marques de Paiva, 87 – Butantã – SP/SP
– CEP: 05508-270 e-mail: [email protected];
123
124
Aluna de graduação da FMVZ-USP.
Mestranda do Departamento de Patologia da FMVZ-USP.
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biológica utilizada (pericárdio equino) era proveniente do Hovet da
FMVZ-USP. Após a sua coleta (pericárdio) foi lavada com água corrente,
posteriormente com solução fisiológica e acondicionada em frasco de vidro estéril
contendo glicerina 98% por um período mínimo de 30 dias anterior a sua utilização.
No período pré-cirúrgico, foi realizada antibioticoprofilaxia utilizando-se Enrofloxaxina
(5 mg/kg, IV), e anti-inflamatório não esteroidal (Flunixin-meglumine - 1.1 mg/kg, IV),
além de jejum alimentar de 36 horas. Após a contenção em tronco, a veia jugular
esquerda e a região da fossa paralombar esquerda foram tricotomizadas e
submetidas à antissepsia com clorexidine degermante e alcoólico. O protocolo
anestésico realizado consistiu de sedação com associação de xilazina 10% (0,7
mg/kg) e tartarato de butorfanol (0,04 mg/kg). Juntamente à sedação, realizou-se
bloqueio nervoso regional (nervo torácico lateral esquerdo) com cloridrato de lidocaína
2% sob forma de infusão subcutânea e anestesia local na região da incisão. A
laparotomia foi realizada no flanco esquerdo baixo com os animais em posição
quadrupedal. Iniciou-se com incisão de pele (10 cm), tecido subcutâneo e fáscia do
músculo oblíquo abdominal externo, subseqüente divulsão romba dos músculos
obliquo abdominal interno e transverso abdominal (técnica de grade) e rompimento
digital do peritônio, identificação e exteriorização da flexura pélvica. No ponto médio
de sua exteriorização, foi induzida lesão por abrasão em superfície serosa, com
dimensão de 7x7 cm, utilizando-se gaze seca estéril, gaze embebida em álcool e
superfície de trabalho de uma pinça Kelly, os três materiais friccionados por 100 vezes
em única direção. Na porção central da lesão, foi realizada sutura de um ponto
simples com fio inabsorvível nylon no 00 para referendar a lesão. Após a indução das
lesões, nos animais do grupo 1 (cinco animais), a área lesionada foi recoberta com
membrana biológica de dimensão 7x7 cm, previamente hidratada e lavada com
solução fisiológica, utilizando-se suturas em pontos simples com fio absorvível do tipo
Poliglactina no 00. Nos animais do grupo 2 (cinco animais), o segmento intestinal
exteriorizado após a criação das lesões foi lavado com solução fisiológica e
reposicionado na cavidade abdominal. Em ambos os grupos as suturas dos planos
musculares foram realizadas com sutura contínua, utilizando-se fio absorvível
Poliglactina 910 no2. O tecido subcutâneo foi suturado em padrão contínuo utilizandose fio absorvível Poliglactina 910 no 00 e a pele foi suturada de maneira contínua
utilizando-se nylon n0 0. Todos os animais foram avaliados fisicamente através de
inspeção e exame físico duas vezes ao dia durante todo o período de avaliação, bem
como coleta de material para hemograma, dosagem de fibrinogênio e citologia do
liquido abdominal uma vez por semana, durante quatro semanas. Decorridos 30 dias
após o procedimento cirúrgico, todos os animais foram submetidos à nova
laparotomia, utilizando-se mesmo acesso anterior, com o objetivo de avaliar a
membrana biológica, presença de aderências e a realização de biópsia intestinal do
local da lesão. A coleta do material para a realização dos exames laboratoriais
(sangue, soro e líquido abdominal) foi realizada nos seguintes momentos: M 0- período
pré-operatório imediato, M1- sete dias pós-operatório, M2- 14 dias pós-operatório, M321 dias pós-operatório, M4- 28 dias pós-operatório. A laparotomia realizada em
estação, em posição mais ventral e seguindo a técnica de grade, possibilitou menor
trauma cirúrgico em virtude de esta região apresentar apenas a fáscia do músculo
oblíquo abdominal externo, evitando incisão de fibras musculares; realização de
divulsão dos planos musculares subsequentes nos sentido de suas fibras. Por outro
lado, esta abordagem ofereceu ao cirurgião menor campo operatório, por vezes
determinando dificuldade de exteriorização do segmento intestinal. Durante o período
pós-operatório, a evolução clínica dos animais foi satisfatória, o que demonstrou
vantagem quando comparada a citação da literatura3, pois naqueles estudos os
animais avaliados apresentaram grande potencial para complicações cirúrgicas e
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foram sacrificados para possibilitar a coleta eficiente dos dados3. A
ferida cirúrgica apresentou leve edema e discreta sensibilidade dolorosa resolvendose dentro de sete dias. A retirada dos pontos foi realizada após 14 dias com
cicatrização completa da ferida cirúrgica. Durante a reavaliação cirúrgica (30 dias
após), utilizando-se o mesmo acesso anterior, verificou-se presença de tecido
cicatricial fibroso que determinou pequena dificuldade para o acesso da cavidade
abdominal. Não foram observadas aderências intra-abdominais em ambos os grupos.
Sugere-se que características multifatoriais como tamanho e local da lesão,
mobilidade intracavitário do segmento intestinal escolhido e integridade do peritônio
estejam diretamente relacionadas à não ocorrência destas aderências. As lesões
previamente realizadas foram de fácil identificação em virtude da sutura realizada em
seu ponto médio. O aspecto macroscópico das lesões no grupo experimental
caracterizou-se por extensa área de hiperemia com cobertura de tecido seroso; e nos
animais do grupo controle, verificou-se pequeno tecido cicatricial recobrindo o material
de sutura. A realização das biopsias intestinais foi realizada com facilidade bem como
sua sutura. A avaliação histológica demonstrou em ambos os grupos intensa
infiltração eosinofílica, presença de colágeno em fase de maturação além de
evidências de intensa neovascularização.
A partir da análise dos valores
laboratoriais, observaram-se diferenças estatísticas significativas nos valores
sanguíneos de bilirrubinas, hematócrito, monócito, uréia; e no líquido peritoneal estas
diferenças foram manifestadas em proteína, densidade e número de leucócitos
segmentados. Conclui-se que o protocolo proposto de indução de aderências em
flexura pélvica, nestas circunstâncias, foi insuficiente, necessitando da somatória de
outros fatores coadjuvantes, tais como maior extensão e número de pontos da lesão.
Não foi possível avaliar a efetividade da membrana biológica na minimização das
aderências intra-abdominais. O implante determinou maior reação inflamatória intraabdominal quando comparado ao grupo controle, porém sem determinar alterações
hematológicas e clínicas.
Referências
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after small intestinal surgery in the horse. Veterinary Surgery, 18: 409-414.
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abdominal adhesions. Journal of surgical research, 146: 241-245.
3) HAY, P.W. et al. (2001). One percent sodium carboxymetilcellulose prevent
experimentally induced abdominal adhesions in horses. Veterinary Surgery, 30:
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OVARIO-HISTERECTOMIA PELO FLANCO DIREITO EM GATA – RELATO
DE CASO E DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA
OVARIOHYSTERECTOMY
BY
THE
RIGHT
FLANK
IN
FELINE
–
CASE
REPORT
AND
DESCRIPTION
OF
SURGICAL
TECHNIQUE
OVARIOHISTERECTOMÍA
POR
EL
FLANCO
DERECHO
EN
GATA
–
INFORME
DEL
CASO
Y
DESCRIPCÍON
DE
LA
TÉCNICA
QUIRÚRGICA
TATIANA JOSEFA SCHNEIDER125; THAÍS
LARISSA
LOURENÇO
CASTANHEIRA¹;
DIEGO
ROSCAMP
DE
OLIVEIRA¹;
DANIELLA
MATOS
DA
SILVA126;
SIMONE
DOMIT
GUÉRIOS127.
RESUMO
A ovário-histerectomia (OH) de gatas e cadelas através de abordagem lateral pelo
flanco é uma alternativa ao acesso tradicional pela linha alba. O objetivo deste artigo é
relatar o acesso cirúrgico pelo flanco para realização de OH eletiva em gata e
descrever a técnica cirúrgica utilizada, contribuindo assim para popularização deste
procedimento. Relata-se o caso de uma gata de dois anos de idade que foi
encaminhada para OH eletiva. O acesso cirúrgico à cavidade abdominal foi realizado
através de incisão pelo flanco direito. Nos pedículos ovarianos realizou-se ligadura em
“figura de 8” sem fio de sutura, confeccionando-se o nó com o próprio pedículo e
auxílio de pinça hemostática Halsted. Não foram verificadas intercorrências cirúrgicas
durante o procedimento. Conclui-se que o acesso cirúrgico pelo flanco direito é
minimamente invasivo e pode ser utilizado para realização de OH eletiva em gatas.
Palavras-chave: esterilização, abordagem lateral, castração
ABSTRACT
Lateral flank approach is an alternative to the conventional ventral midline approach
for ovariohysterectomy (OH) in dogs and cats. The aim of this article is to report flank
spay in female cat, to describe the surgical technique, and to contribute with technique
popularization. A 2-year-old female cat was presented for elective OH. An incision was
made in the right lateral body wall. Ovaries vessels were tied with a figure-eight knot,
the vessels were tied on itself with the aid of Halsted hemostat. No surgical
125
Médico(a) veterinário(a), residente da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba.
126
Acadêmica do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
127
Professora doutora do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Contato: (41)3350-5731, [email protected]. Departamento de Medicina Veterinária. Universidade Federal do
Paraná, Curitiba.
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complications were observed during the procedure. In conclusion, right
flank spaying is minimally invading and it can be commonly used in cats.
Key-words: sterilization, lateral approach, spaying
INTRODUÇÃO
A ovário-histerectomia (OH) de gatas e cadelas através de abordagem lateral
pelo flanco é uma alternativa ao acesso tradicional pela linha média ventral1,2 . O
emprego da técnica pelo flanco não é habitual em pequenos animais 1,2, contudo é
cada vez mais aceito, com interesse particular de médicos veterinários responsáveis
por animais selvagens e programas de esterilização em abrigos de animais³. A
realização de OH através da técnica cirúrgica pelo flanco é indicada em casos de
desenvolvimento excessivo das glândulas mamárias devido à lactação ou hiperplasia
glandular1,2,3. Nestes casos, a abordagem lateral evita complicações associadas ao
acesso ventral como excesso de hemorragia de pele e tecido subcutâneo, inflamação
e/ou infecção da ferida cirúrgica e drenagem de secreção mamária devido à incisão
da glândula1,2. As vantagens da OH pelo flanco incluem a possibilidade de observação
da ferida cirúrgica à distância, sem necessidade de contenção do animal, e a redução
no risco de evisceração em casos de deiscência de sutura³. Na síntese pelo flanco há
sobreposição dos músculos oblíquo abdominal externo e interno, que auxiliam na
manutenção da integridade da parede abdominal, evitando assim complicações póscirúrgicas¹. A realização do acesso lateral para OH é contraindicada em casos de
distensão uterina, devido à gestação ou piometra3,5. Em animais obesos, o excesso
de tecido adiposo periovariano dificulta a localização e exteriorização dos ovários
quando a abordagem pelo flanco é realizada1,2. A principal desvantagem da técnica é
a exposição limitada da cavidade abdominal se surgirem complicações
transcirúrgicas³.
O objetivo deste artigo é relatar a abordagem lateral pelo flanco para a
realização de OH eletiva em gata, descrever a técnica cirúrgica utilizada e contribuir
para divulgação desta.
RELATO DO CASO E DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA
Uma gata de dois anos de idade, sem raça definida, com peso de 3,7kg, foi
trazida ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná-Curitiba (HVUFPR) para realização de OH eletiva, por decisão do proprietário. No exame físico
nenhuma alteração foi verificada. Como exames pré-operatórios, realizou-se
hemograma, dosagem de proteínas plasmáticas totais e contagem de plaquetas, com
resultados dentro dos parâmetros normais para a espécie.
A paciente recebeu como medicação pré-anestésica midazolan (0,3mg/kg, IM)
associada à petidina (3mg/kg, IM) e cetamina (3mg/kg, IM). A indução anestésica foi
realizada com propofol (4mg/kg, IV) e a manutenção com isofluorano em oxigênio
100% em circuito anestésico aberto. Como terapia anti-inflamatória e antibiótica
profilática, utilizou-se cetoprofeno (1mg/kg SC) e cefalotina (25mg/kg SC),
respectivamente.
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O animal foi posicionado em decúbito lateral esquerdo, com
extensão e imobilização dos membros pélvicos na mesa cirúrgica e extensão dos
membros torácicos. A preparação cirúrgica incluiu tricotomia e antissepsia com álcool
70% e PVPI da região paralombar direita, do último arco costal até a tuberosidade
ilíaca e ventral aos processos transversos das vértebras lombares (Figura 1). Como
referência para o acesso cirúrgico, realizou-se palpação do rim direito, iniciando a
incisão cutânea ventral ao polo caudal do rim. Prosseguiu-se a incisão ligeiramente
oblíqua e com extensão aproximada de 3cm (Figura 2). Realizou-se incisão e
dissecção romba do tecido subcutâneo para permitir visualização do músculo oblíquo
externo do abdome. Os músculos oblíquo externo e interno do abdome foram
divulsionados permitindo a visualização do peritônio, no qual realizou-se incisão para
obter acesso à cavidade abdominal. Com o auxílio de pinça Allis, afastou-se a parede
abdominal para permitir a visualização e exteriorização do ovário e corno uterino
direito (Figura 3). Rompeu-se digitalmente o ligamento suspensório do ovário e
realizou-se ligadura em “figura de 8” no pedículo ovariano. Procedeu-se à ligadura
com o próprio pedículo ovariano e auxílio de pinça hemostática Halsted (Figura 4 e
5). O corno uterino direito foi gentilmente tracionado para permitir palpação da
bifurcação uterina e localização do corno uterino e ovário contralateral. Realizou-se
ligadura e secção do pedículo ovariano esquerdo de forma semelhante à realizada no
pedículo direito. Na sequência, os cornos uterinos foram tracionados para exposição
do corpo uterino (Figura 6). Após dissecção romba do ligamento largo do útero, foi
realizada dupla ligadura circunferencial das artérias e veias uterinas e do corpo do
útero com fio ácido poliglicólico 3-0 e posterior secção. O omento foi deslocado até o
coto uterino, recobrindo-o. A síntese da parede abdominal ocorreu em único plano,
envolvendo a fáscia externa do músculo oblíquo abdominal externo com padrão de
sutura Sultan e fio ácido poliglicólico 3-0. O subcutâneo foi aproximado com sutura
contínua simples, fio absorvível sintético, ácido poliglicólico 3-0, e a pele foi
aproximada com fio mononáilon 3-0 e sutura padrão Sultan (Figura 7). Após dez dias
da realização do procedimento cirúrgico, a paciente retornou ao HV-UFPR para
retirada da sutura e recebeu alta cirúrgica.
DISCUSSÃO
A realização de OH por abordagem lateral pode ser realizada através de
acesso pelo flanco direito ou esquerdo5. No presente relato, fez-se opção pelo flanco
direito com o objetivo de facilitar o acesso ao ovário direito, visto que sua posição
anatômica é mais cranial que o contralateral.
A divulsão romba do tecido subcutâneo e das fibras dos músculos oblíquo
abdominal externo e interno, seguida de incisão no peritônio para acesso à cavidade
abdominal, demonstrou-se adequada para realização do procedimento cirúrgico1,2,5.
Uma vez acessada a cavidade abdominal, o afastamento da musculatura com pinça
de Allis se mostrou alternativa eficaz ao uso do afastador de Farabeuf, que é
rotineiramente empregado nas laparotomias1,2,5. Não foi verificada presença de
hemorragias ou complicações durante a síntese muscular.
As estruturas anatômicas para a realização da OH são facilmente localizadas
pelo acesso abdominal lateral, o que demanda menor tempo cirúrgico para realização
do procedimento quando comparado com o acesso mediano ventral1,2,4. O presente
relato corrobora com as referências supracitadas no que se refere à fácil localização
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dos ovários, cornos e corpo uterino após acesso à cavidade abdominal.
A abordagem lateral pelo flanco também facilitou a realização de ligadura em “figura
de 8” sem uso de fio de sutura nos pedículos ovarianos. A ligadura em “figura de 8”
com o próprio pedículo contribuiu para a redução do tempo cirúrgico e material de
sutura. No entanto, esta ligadura deve ser utilizada com cautela, pois pode ser de
difícil realização quando a exposição do pedículo é limitada, e não é recomendada em
pedículos de grande calibre.
Os cuidados pós-operatórios à OH com abordagem lateral são os mesmos que
os adotados na abordagem ventral, apesar da minimização dos riscos de evisceração.
É importante ressaltar o conhecimento da técnica e seleção dos casos de forma
apropriada para evitar possíveis complicações 1,2. A técnica de OH pelo flanco em
gatas tem sido rotineiramente realizada no HV-UFPR em Curitiba e tem-se
demonstrado de rápida realização e com resultados pós-operatórios satisfatórios.
CONCLUSÃO
O acesso cirúrgico pelo flanco direito pode ser utilizado para realização de OH
eletiva em gatas, sendo minimante invasivo e de fácil execução.
REFERÊNCIAS
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ovariohysterectomy in small animals. Compendium on Continuing Education.
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Electrónica
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Veterinaria
REDVET,
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Disponível
em
<
http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n060606.html >. Acesso em: 23 maio
2010.
Figura 1. Preparação cirúrgica do animal. O posicionamento da paciente em
decúbito lateral esquerdo e as áreas de tricotomia e anti-sepsia na região
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paralombar direita (do último arco costal até a tuberosidade ilíaca
e ventral aos processos transversos das vértebras lombares).
Figura 2. Incisão cutânea ligeiramente oblíqua (seta) ventral ao pólo caudal do
rim.
Figura 3. Exteriorização do corno uterino (CD), pedículo ovariano (PO) e ovário
direito (OD).
Figura 4. Fixação da pinça hemostática para reparo (PR) e pinça hemostática
(PL) para realização de ligadura do pedículo ovariano.
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Figura 5. Ligadura em “figura de 8” no pedículo ovariano. Visualiza-se a ligadura
(seta) com o próprio pedículo, sem uso de fio de sutura.
Figura 6. Exposição do corno uterino direito (CD), corno uterino esquerdo (CE) e
corpo uterino (CP).
Figura 7. Aparência da ferida cirúrgica após dermorrafia.
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CIRURGIAS ONCOLÓGICAS REALIZADAS EM PEQUENOS ANIMAIS NO
HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFMG ENTRE 2007 E 2009
ONCOLOGICAL
SURGERIES
PERFORMED
IN
SMALL
ANIMALS
IN
THE
VETERINARIAN
HOSPITAL
OF
UFMG
BETWEEN
2007
AND
2009
HORTA,
R.S.128,
LAVALLE,
G.E.129,
RODRIGUES,
A.A.M.2,
PEREIRA,
L.C.2,
COSTA,
M.P.1
Resumo
A cirurgia é um dos métodos mais efetivos no tratamento da maioria dos tumores
sólidos em cães e gatos, podendo, em muitos casos, oferecer possibilidade de cura.
O objetivo desse trabalho é ressaltar a importância da intervenção cirúrgica no
paciente com câncer e definir os objetivos do cirurgião durante o procedimento. Foram
registrados todos os procedimentos clínicocirúrgicos realizados em cães e gatos no
setor de Oncologia do Hospital Veterinário da UFMG nos anos de 2007 a 2009. As
cirurgias foram dividas conforme o tipo, e a finalidade de cada procedimento foi
definida conforme a função do cirurgião no tratamento do animal. Foi observado um
crescimento anual médio de 28,4 % no total de procedimentos clínicocirúrgicos
realizados pelo serviço de Oncologia no período estudado, sendo notado um
crescimento anual de 22% no número de cirurgias. O cirurgião é essencial no
tratamento tumoral moderno e sua função principal é o diagnóstico definitivo do
processo neoplásico permitindo a construção do prognóstico e o planejamento
terapêutico adequado com possibilidade de cura em processos de baixa malignidade
e potencial metastático.
Palavras-chave: neoplasia, serviço de oncologia.
Summary
Surgery is one of the most effective methods in the treatment of most solid tumors in
dogs and cats, besides that, it can, in many cases, offer the possibility of cure. The
objective of this paper is to highlight the importance of surgical intervention for patients
with cancer and define the goals of the surgeon during the procedure. We registered
all clinical and surgical procedures performed in dogs and cats in the Oncology section
of the Veterinary Hospital of UFMG from 2007 to 2009. The surgeries were divided
according to type and the purpose of each procedure was defined as the function of
the surgeon in the treatment of the animal. We observed an average annual growth of
28.4% in total medical and surgical procedures performed by the Oncology service
128
Aluno de graduação em Medicina Veterinária na Escola de Veterinária da UFMG – [email protected]
129
Médico veterinário do Hospital Veterinário da UFMG.
153
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
during the studied period, and noted a 22% annual growth in the
number of surgeries. The surgeon is essential in modern tumor treatment and its main
function is the definitive diagnosis of neoplasms allowing the construction of prognosis
and appropriate treatment planning, with possibilities of cure in cases of low
malignancy and metastatic potential.
Key-words: neoplasm, oncology service.
Introdução
A cirurgia é a modalidade de tratamento mais antiga capaz de alterar de modo
significativo a evolução de uma neoplasia1. A intervenção cirúrgica no paciente
oncológico é um dos métodos mais efetivos no tratamento da maioria dos tumores
sólidos em cães e gatos, podendo, em muitos casos, oferecer possibilidade de cura 2.
A cirurgia oncológica deve seguir os princípios da cirurgia geral, mas com
particularidades de acordo com o comportamento tumoral, devendo-se, sempre que
possível, optar por uma excisão cirúrgica agressiva com dissecção dentro de planos
teciduais macroscopicamente normais3. O cirurgião deve buscar margens de
segurança amplas, de no mínimo 1-3 cm em todas as direções, inclusive na
profundidade, principalmente quando se trata de tumores de mastócitos, onde a
recidiva é freqüente4.
Toda amostra tecidual removida, incluindo os linfonodos regionais, deve ser
acondicionada em formol 10% e enviada para análise histopatológica, a fim de definir
o tipo e graduação histológica do tumor5.
O objetivo desse trabalho é relatar a rotina no setor de Oncologia do Hospital
Veterinário da UFMG no período de 2007 a 2009 ressaltando a importância da
intervenção cirúrgica no paciente com câncer e os objetivos do cirurgião durante o
procedimento.
Material e métodos
Foram registrados todos os procedimentos clínico-cirúrgicos realizados em
cães e gatos no setor de Oncologia do Hospital Veterinário da UFMG nos anos de
2007 a 2009, que incluíram: atendimentos clínicos e retornos, sessões de
quimioterapia e cirurgias oncológicas.
As cirurgias foram dividas conforme o tipo em exérese de tumor mamário por
mastectomia radical, mastectomia em bloco, mastectomia simples ou lumpectomia,
exérese de tumor externo (pequeno, médio e grande), exérese de tumor oral, exérese
de tumor perianal, amputação de membros e cauda, esplenectomia, laparotomia e
toracotomia exploratória.
A finalidade de cada procedimento foi definida conforme a função do cirurgião
no tratamento: diagnóstico, extirpação tumoral, citorredução, ressecção de
metástases ou paliativa.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Resultados
O Setor de Oncologia corresponde à área de maior crescimento no Hospital
Veterinário da UFMG nos últimos anos, tanto em espaço físico como em número de
atendimentos clínico-cirúrgicos. Entre 2007 e 2009, foram realizados 2815
procedimentos, dentre cirurgias, sessões de quimioterapia, atendimentos clínicos e
retornos. Por razões óbvias, os atendimentos clínicos e retornos corresponderam à
maioria das atividades (60%). As cirurgias representaram 16% do total de serviços
prestados, sendo executado um total de 535 procedimentos cirúrgico-oncológicos.
Foi observado um crescimento anual médio de 28,4 % no total de
procedimentos clínico-cirúrgicos realizados pelo setor de Oncologia no período
estudado. Esse crescimento é observado principalmente nas sessões de
quimioterapia (56,3 %). O número de cirurgias teve um aumento relativamente menor,
de 22 % ao ano (Gráfico 1).
Foi possível discriminar 12 procedimentos cirúrgicos de maior expressividade
(Gráfico 2) sendo incluídos na categoria outros, cirurgias como biópsias incisionais,
ablação do conduto auditivo, orquiectomia, ovariossalpingo-histerectomia,
nefrectomia, maxilectomia, mandibulectomia, hepatectomia e lobectomia parciais.
A extirpação da massa tumoral foi a considerada a finalidade primária da
maioria dos procedimentos cirúrgicos, correspondendo a 77 % do total de cirurgias
realizadas, destacando-se a exérese de tumores mamários, externos e perianais. A
remoção de tumores mamários foi responsável por 41 % do total de cirurgias
oncológicas, sendo mais freqüente as abordagens mais agressivas como a
mastectomia radical (16 %).
A exérese de tumores da cavidade oral pode ser considerada uma cirurgia
citorredutora, pois nesses casos, é improvável a remoção completa do tumor. No
entanto, as lesões que apresentaram metástases ou diagnóstico histológico
compatível com a associação de quimioterapia, como por exemplo, melanoma, foram
tratadas de acordo com a rotina e protocolos preconizados pelo serviço de oncologia
do Hospital Veterinário da UFMG.
A cirurgia paliativa incluiu as esplenectomias e amputações, pois, nesses
casos, o objetivo principal foi a melhoria da qualidade de vida do animal, reduzindo o
risco de hemorragia e controlando a dor, respectivamente.
O objetivo geral de cirurgias exploratórias, como laparotomias e toracotomias,
foi de diagnóstico da doença, correspondendo há apenas cerca 3 % do total de
intervenções cirúrgicas. No entanto, toda ressecção tumoral resultou em diagnóstico
histológico da lesão, mesmo que não fosse o objetivo inicial do cirurgião, uma vez que
todo tecido com alterações de cor, consistência ou tamanho foi submetido ao exame
histopatológico.
Discussão
A Oncologia representa uma especialidade de grande destaque em Medicina
Veterinária e o aumento da expectativa de vida dos animais de companhia está
diretamente relacionado ao aumento da incidência de neoplasias5. Um estudo
baseando-se no diagnóstico da causa morte em 2000 casos apontou o câncer como a
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maior causa de morte em animais de companhia, sendo que, 45% dos
cães com mais de 10 anos de idade morreram de câncer6.
Apesar dos avanços referentes à qumioterapia, radioterapia e outros tipos de
tratamentos adjuvantes no combate ao câncer, a cirurgia continua sendo o principal
procedimento no controle da doença local para grande parte dos tumores sólidos3.
A cirurgia citorredutora é raramente recomendada em oncologia, uma vez que,
a maior parte das neoplasias malignas extirpadas parcialmente manifesta recidiva
dentro de poucos meses. Na impossibilidade de se remover toda a massa, como nas
neoplasias da cavidade oral, pode-se optar pela citorredução acompanhada como
parte de uma abordagem multimodal envolvendo radioterapia ou quimioterapia
adjuvante3.
As neoplasias mamárias representam o principal processo tumoral em cadelas
e o terceiro mais prevalente em gatas1. Em geral, os tumores de mama são facilmente
extirpados cirurgicamente, representando a extirpação tumoral mais frequente e
também mais eficaz7.
A cirurgia paliativa é uma opção terapêutica vantajosa quando as chances de
cura da doença são remotas com a simples remoção da neoplasia3. No caso dos
linfomas e hemangiossarcomas esplênicos ou osteossarcomas, a remoção,
respectivamente, do baço ou do membro afetado pode melhorar a qualidade de vida
do paciente e aumentar a sobrevida, mas sem oferecer possibilidade de cura, uma
vez que tratam-se de doenças altamente metastáticas do tecido linfático,
hematopoético ou ósseo, respectivamente5.
As cirurgias eletivas de ováriossalpingo-histerectomia e orquiectomia, apesar
de terem sido realizadas, em sua maioria, pelo setor de cirurgia geral, podem ser
consideradas profiláticas em oncologia. A castração pode previnir a formação de
neoplasias-hormônio-dependentes como os tumores de mama nas fêmeas8 e os
adenocarcarcinomas perianais em machos9. A remoção de testículos criptorquídicos e
lesões pré-malignas como as dermatites crônicas também previnem a progressão
tumoral10. Ao contrário da medicina humana, pouco se sabe sobre a influência
genética na patogenia de tumores de animais, limitando a indicação profilática de
cirurgias oncológicas em medicina veterinária3.
Conclusão
O cirurgião é uma peça fundamental no tratamento tumoral moderno e sua
função principal é o diagnóstico definitivo do processo neoplásico permitindo a
construção do prognóstico e o planejamento terapêutico adequado, com possibilidade
de cura em processos de baixa malignidade e potencial metastático. O cirurgião
também deve contribuir para a melhoria da qualidade de vida do paciente e aumento
da sobrevida em procedimentos que objetivam o controle da dor, alívio da distensão
abdominal e prevenção de hemorragias.
Observa-se que a cirurgia é opção terapêutica, isolada ou como terapia
adjuvante, em grande quantidade dos casos. O cirurgião interessado em oncologia
deve conhecer o comportamento biológico de uma ampla variedade de neoplasias e
estar apto a interagir com oncologistas clínicos e patologistas.
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Serviços
prestados
no
setor
de
Oncologia
do
HV‐UFMG
no
período
de
2007
a
2009
2007
1600
1461
1400
2008
1200
2009
1000
536
600
400
Total
819
800
555
535
422
370
193
200
204
139
193 203
0
Atendimentos
clínicos
e
retornos
Sessões
de
quimioterapia
Cirurgias
oncológicas
Discriminação
dos
procedimentos
cirúrgicos
realizados
no
HV‐UFMG
entre
2007
a
2009
Mastectomia
radical
0%
3%
Mastectomia
em
bloco
16%
17%
Lumpectomia/mastectomia
simples
1%
Exérese
de
tumor
externo
grande
2%
11%
1%
Exérese
de
tumor
externo
médio
Exérese
de
tumor
externo
pequeno
Exérese
de
neoplasia
perianal
3%
Exérese
de
tumor
de
cavidade
oral
10%
14%
17%
5%
Amputação
membros/cauda
Esplenectomia
Laparotomia
exploratória
Toracotomia
exploratória
Outros
Gráficos 1 e 2: Serviços prestados no setor de Oncologia do HV-UFMG; e
discriminação dos procedimentos cirúrgicos realizados entre 2007 e 2009.
Referências
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4. Rogers SK (1996). Mast cell tumors. Veterinary Clinics of North American:
Small Animal Practice, 6 (1): 87-101.
5. Witthrow JS et al. (2001). Small Animal Oncology. 3. ed. Philadelfia: Saunders,
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breeds. American Journal of Veterinary Research, 43: 2057-2059.
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Roca, 1390p.
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8. Schneider R et al. (1969). Factors influencing canine mammary
cancer development and postsurgical survival. Journal of the National Cancer
Institute, 43: 1249.
9. Hayes MH, Wilson PG (1997). Hormone-dependents neoplasms of the canine
perianal gland. Cancer Research, 37: 2068.
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TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA CORREÇÃO DE
INSTABILIDADE VERTEBRAL CERVICAL EM UM POTRO
SURGICAL
TREATMENT
FOR
CERVICAL
INSTABILITY
IN
A
FOAL
BEZERRA,
K.
B.130;
FONSECA
JÚNIOR,
H.131;
IUTAKA,
A.
S.132;
AMBRÓSIO,
A.
M.133;
BELLI,
C.
B.4;
ZOPPA,
A.
L.
V.4
Palavras-chave: cavalo, malformação vertebral cervical, tratamento cirúrgico
Key-words: horse, cervical vertebral malformation, surgical treatment
Introdução
A malformação vertebral cervical (MVC) é causa comum de compressão da
medula espinhal cervical em equinos. Ocorre em cavalos de todo o mundo, afetando
qualquer idade e raça, sendo os machos os mais acometidos. Os animais apresentam
ataxia propioceptiva e fraqueza, mais acentuada nos membros posteriores, e os sinais
clínicos coletivamente se referem à Síndrome de Wobbler. Tomando por base as
anormalidades associadas à compressão da medula espinhal cervical, sugere-se a
divisão da MVC em dois tipos patofisiológicos. O Tipo I MVC tende a ocorrer em
animais jovens de até dois anos. As alterações patológicas observadas nesse tipo de
malformação são estenose do canal vertebral, malformação vertebral com
deformidade angular à flexão ou extensão, extensão caudal do aspecto dorsal do arco
vertebral, osteocondrose dos processos articulares e alargamento da região de
crescimento fiseal vertebral em direção ao canal medular. Casos do Tipo II MVC
tendem a ser pacientes mais velhos e apresentam de moderado a marcante
alargamento dos processos articulares vertebrais cervicais causado por osteoartrite,
sem nenhuma evidência de defeitos ortopédicos de desenvolvimento como no Tipo I
MVC. A razão para essa divisão é que as evidências sugerem que o trauma e a
osteoartrite sejam os maiores fatores causadores no Tipo II MVC, enquanto a doença
ortopédica do desenvolvimento e seus fatores genéticos sejam os processos
patofisiológicos predominantes nos casos do Tipo I MVC. Com a instalação da
osteoartrite, pode haver uma proliferação de tecidos moles articulares ou
periarticulares com projeção e impacto sobre a medula espinhal. Isso inclui a
formação de cistos epidurais e periarticulares. Tais cistos podem resultar em
aparecimento súbito de sinais sem relato de injúria externa. Isso pode acontecer pelo
simples preenchimento desses cistos com sangue (MAYHEW, 2009). No Brasil, os
métodos de diagnóstico por imagem incluem a radiografia e a mielografia cervical, que
constituem ferramentas valiosas para o diagnóstico definitivo. O exame radiológico
130
Médico veterinário residente do Hovet – FMVZ/USP. Av. Orlando Marques de Paiva, 87, Butantã – SP/SP – CEP:
05508-270 - email: [email protected]
131
Médico veterinário autônomo
132
Médico do grupo de coluna do DOT-HCFMUSP e do Instituto Vita
133
Professor doutor – FMVZ/USP
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simples é utilizado para identificar algum grau de estreitamento do
canal medular (MAYHEW, 2009). A mielografia confirma ou não a compressão da
medula nos locais suspeitos (REED et al., 1981) e também permite a detecção de
lesões discretas (PAPAGEORGES et al., 1987). O tratamento cirúrgico da
compressão medular cervical associada à MVC tem sido desenvolvido na América do
Norte e Europa, porém nenhum relato brasileiro descreve tal conduta. Foi atendido no
Hovet um potro macho de 18 m, BH, com sinais de ataxia e fraqueza nos quatro
membros, sendo mais acentuada nos posteriores. Após avaliação clínica, foi sugerida
uma compressão do canal medular na região cervical. Com o estudo radiográfico
cervical, foi identificada osteoartrite da articulação entre as facetas articulares de C 4C5 e um desnivelamento entre essas vértebras. À mielografia, observou-se diminuição
da coluna de contraste ventral para um tamanho menor que dois milímetros, além de
constatação da relação sagital intervertebral menor que 50%, achados indicativos da
presença de uma compressão do canal medular. Tendo em vista que a estabilização
entre as vértebras é capaz de proporcionar remodelamento da articulação entre as
facetas articulares e consequentemente do canal medular, foi proposta a correção
cirúrgica para descompressão, estabilização e posterior fusão das vértebras C 4 e C5.
Após jejum alimentar de 12 horas, o animal recebeu amicacina (15 mg/kg, IV) e
fenilbutazona (4,4 mg/kg, IV) previamente à cirurgia. O pescoço e o peito foram
preparados como de rotina. Após sedação e posterior indução anestésica, o animal foi
posicionado primeiramente em decúbito lateral e mantido em anestesia inalatória com
isofluorano vaparizado em O2 100% e posteriormente posicionado em decúbito dorsal,
com os membros anteriores levemente tracionados para trás e o pescoço em
extensão máxima permitida pelo posicionamento do apoio de cabeça da mesa
cirúrgica. Foram realizadas projeções radiográficas com marcadores transcutâneos
para identificar a localização do sítio operatório. O pescoço foi então preparado
rotineiramente para procedimento cirúrgico asséptico. A incisão de pele foi feita na
linha média ventral do pescoço para posterior divulsão dos músculos subcutâneos e
esternotireoideos longitudinalmente. Após exposição da traqueia, foi procedida
dissecção cuidadosa para separar a carótida, nervo laringeorecorrente e tronco
vagosimpático até a exposição do músculo longus colli, que recobre ventralmente a
coluna cervical. A artéria carótida e os nervos adjacentes foram protegidos com
compressas cirúrgicas úmidas durante todo o procedimento. Após identificação do
processo espinhal ventral da vértebra cranial à articulação afetada (C4), uma Rugina
Farabeuf Reta foi utilizada para separação dos tecidos musculares e exposição dos
corpos vertebrais. Com utilização de uma broca cirúrgica e uma pinça Stille Luer
Goiva, o processo espinhoso foi ressecado para iniciar-se a descompressão. A
extremidade caudal do corpo vertebral de C4, o disco intervertebral e a extremidade
cranial do corpo vertebral de C5 foram removidos com o instrumental cirúrgico,
descomprimindo o canal medular. Para estabilização entre as vértebras, duas placas
bloqueadas de seis furos foram posicionadas e três parafusos bloqueados e um
cortical foram fixados aos corpos vertebrais de C5 e C6. O músculo longus colli e os
músculos esternotireoideos foram suturados com fio de poliglactina 910 (vicryl 0) em
padrão simples contínuo. O tecido subcutâneo foi aproximado com vicryl 2-0 e a pele
foi suturada em padrão simples interrompido, utilizando-se fio de nylon 0. No pósoperatório imediato, o potro apresentou incapacidade de manter-se em estação e,
após cinco dias, auxiliado por um mecanismo de sustentação, conseguiu manter-se
em estação pela primeira vez. Tal comportamento pode estar relacionado ao edema
do sistema nervoso central desencadeado pela manipulação cirúrgica intensa. A
antibioticoterapia foi iniciada com amicacina (15 mg/kg, SID) durante sete dias,
seguida de sulfatrimetoprim (15 mg/kg, BID) por mais 17 dias. O tratamento antiinflamatório iniciou-se com fenilbutazona (4,4 mg/kg, SID) durante oito dias, sendo
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continuado com meloxican (0,6 mg/kg, SID) por mais 15 dias. Além
disso, foi administrado dimetilsulfóxido (1 g/kg, BID) por três dias, tramadol (2 mg/kg,
TID) por três dias, omeprazol (4 mg/kg, SID) por 17 dias e manitol (1,125 mg/kg) em
dose única. A presença de seroma predispôs à deiscência da sutura. No sétimo dia
após a cirurgia, os pontos de pele, subcutâneo e musculatura se romperam,
necessitando que a ferida fosse tratada por segunda intenção. No 15º dia do pósoperatório, o potro encontrava-se em decúbito lateral, apresentando incapacidade de
levantar-se sem auxílio. A ataxia passou a aumentar e a cada dia tornava-se mais
difícil sua permanência em posição quadrupedal. No 22º dia o animal apresentava
tetraparesia intensa, complicações das escaras de decúbito e dificuldade respiratória
com prejuízo da oxigenação dos tecidos, chegando ao óbito. O exame radiográfico
pos mortem mostrou afastamento da placa bloqueada em relação ao corpo vertebral
de C5, além de estenose intensa do canal medular comprovada com a injeção de
contraste no espaço subaracnóideo e adelgaçamento extremo da coluna de contraste
ao nível de C4-C5. À necropsia identificou-se presença de fístula no músculo longus
colli que comunicava o local de fixação dos implantes metálicos com o meio externo.
O líquido sinovial da articulação entre os processos articulares de C4-C5 apresentavase hemorrágico e um fragmento ósseo foi destacado, porém nenhum agente
bacteriano foi isolado. Relatos norteamericanos citam a difundida utilização de
implantes metálicos em forma de cesta fenestrada para a estabilização e fusão de
dois corpos vertebrais adjacentes. A estabilização ventral de casos que apresentam
osteoartrite dos processos articulares entre duas vértebras, em longo prazo,
proporciona um remodelamento dessa articulação e aumenta o espaço antes
diminuído do canal medular. A suspeita clínica de compressão ventral e sua influência
na apresentação clínica desse animal fizeram com que fosse procedida a ressecção
óssea e utilização de placas bloqueadas para proporcionar perfeita estabilidade entre
as duas vértebras.
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BLOQUEIO DO NERVO ALVEOLAR MANDIBULAR INFERIOR UTILIZANDO
LIDOCAÍNA A 2%, EM GATOS
LOWER
ALVEOLAR
JAW
NERVE
BLOCKADE
USING
LIDOCAINE
2%
IN
CATS
NEVES,
C.D.134;
BERBARI
NETO;
F.135;
SILVA,
E.C.136;
POMPERMAYER,
L.G.4;
BORGES,
A.B.P.137;
LIMA,
C.P.138;
LIMA,
F.B.5
RESUMO
Objetivou-se com este experimento avaliar a ação da lidocaína a 2,0% no bloqueio do
nervo alveolar mandibular inferior de gatos. Foram utilizados seis animais adultos,
com dois anos de idade, 3,0 ± 1,03 Kg, sem raça definida, machos ou fêmeas, do
mesmo plantel. Como medicação pré-anestésica, receberam xilazina associada a
cetamina (XC) e, 20 minutos depois, isofluorano como agente de manutenção
anestésica. Imediatamente após, 0,5 ml de lidocaína a 2,0% foi administrado com
uma agulha 25x07 em forma reta, inserida nos ângulos direito e esquerdo da
mandíbula, aproximadamente 1,0cm rostral ao processo angular e 0,5cm dorsal à
superfície medial do ramo da mandíbula, a fim de depositá-lo próximo ao nervo
alveolar mandibular, na reentrância do forame mandibular. Decorridos 20 minutos do
bloqueio anestésico e início da anestesia inalatória, foram extraídos os primeiros prémolares inferiores, em ambas hemimandíbulas. A frequência cardíaca e respiratória,
pressão arterial sistólica, saturação da oxiemoglobina, temperatura e reflexos
protetores foram mensurados antes da administração da associação (XC), no
momento da indução e bloqueio, no momento da extração dentária e em intervalos de
20 minutos até o final da cirurgia. O consumo de agente inalatório foi maior no grupo
tratado que no controle. A frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, frequência
respiratória e saturação da oxihemoglobina apresentaram-se dentro dos parâmetros
fisiológicos para a espécie no grupo tratado No entanto, no grupo controle os animais
apresentaram valores mais elevados. Conclui-se que a lidocaína a 2,0%,
dessensibilizou a inervação das hemiarcadas inferiores, como previsto, sem causar
efeitos colaterais, minimizando o desconforto durante o procedimento de extração
dentária em felinos.
134
MSc. docente do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo-Facastelo. Rua: Nicanor Marques S/N,
Vila Barbosa, CEP: 29360-000-Castelo, E.S.(28)3542-2253/(28)8112-2225. E-mail:[email protected]
135
DSc. docente do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo-Facastelo
136
Médica veterinária autônoma
137
DSc. docente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa
138
Graduandos do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo-Facastelo
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Palavras-chave: felino, anestésico local, bloqueio infiltrativo.
ABSTRACT
The aim of this research was to evaluate the effect of 2.0% lidocaine in blocking the
jaw inferior alveolar nerve of cats. Six adult animals was used, with 2 years of age, 3.0
± 1.03 kg, male or female, the same squad. As premedication received xylazine
combined with ketamine (XC) and 20 minutes after isoflurane as an agent of general
anesthesia. Immediately after, 0.5 ml of 2.0% lidocaine was administered with a
needle 25x07, inserted in the angles right and left jaw, approximately 1.0 cm rostral to
the angular process and 0.5 cm dorsal to the medial surface the mandible in order to
deposit it near the jaw alveolar nerve, in the recess of the jaw foramen. After 20
minutes of anesthesia and initiation of inhalation anesthesia were taken from the first
pre-molars, in both mandible. Heart rate and respiratory rate, systolic blood pressure,
hemoglobin saturation, temperature, protective reflexes were measured before
administration of the association (XC), at the time of induction and block at the time of
tooth extraction and 20 minute intervals until the end of surgery. The consumption of
isoflurane was higher in the treated group than in control. Heart rate, systolic blood
pressure, respiratory rate, oxyhemoglobin saturation, were within the physiological
parameters for the species in the treated group, however in the control group animals
showed higher values. We conclude that lidocaine 2.0%, desensitizes the nerve fibers
of lower hemimandible, as planned, without causing side effects, minimizing discomfort
during the procedure for tooth extraction in cats.
Key-words: cat, local anesthetic, blockade infiltrating.
INTRODUÇÃO
O controle da dor é essencial para o sucesso do tratamento odontológico em
cães e gatos. Para tal, encontra-se disponível um vasto arsenal de fármacos capazes
de atingir satisfatório alívio da dor causada pela intervenção odontológica 1. Anestesia
local é o estado de insensibilidade localizada sem alteração do nível de consciência,
produzida por substâncias específicas que, colocadas em contato com o tecido
nervoso, promovem o bloqueio reversível da condução do impulso nervoso1. Diversos
aspectos tornam a anestesia local particularmente útil na clínica veterinária: custo
reduzido; o anestesista muitas vezes pode ser o próprio cirurgião; permite que
operações prolongadas sejam efetuadas com o animal em pé ,evitando os
inconvenientes de uma contenção forçada ou de um decúbito prolongado; seu uso é
crescente como componente das anestesias multimodais, entre outros2. A lidocaína é
o anestésico local mais utilizado em medicina veterinária por seu fácil acesso, custo
econômico, causar poucos efeitos colaterais, ter período de latência curto e período
hábil intermediário de até quatro horas, além de ser utilizada em várias espécies 1. O
uso de anestésicos locais antes da produção do trauma cirúrgico minimiza a reação
inflamatória tecidual por inibição dose-dependente do crescimento bacteriano e reduz
a sensibilidade central à dor, proporcionando ao paciente maior conforto no
transoperatório e no pós-operatório3. Procedimentos odontológicos, como
restaurações dentais e exodontia, em animais de pequeno porte tornaram-se rotina na
clínica-cirúrgica de pequenos animais. Esses tratamentos requerem anestesia geral e
analgesia durante todo o procedimento. Os analgésicos comumente usados para
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estes procedimentos incluem opioides, agonista α-2 adrenérgicos e
anti-inflamatórios não-esteroidais, que são administrados por vias parenterais. Estes
fármacos podem causar efeitos indesejáveis, principalmente em felinos, pois estes
apresentam deficiência da glicuroniltransferase, enzima hepática que participa das
reações de fase dois (conjugação), da biotransformação das drogas. Deste modo, a
anestesia regional é uma alternativa ao uso isolado de fármacos sistêmicos para
controle da dor durante e após procedimentos odontológicos em felinos, uma vez que
estes causam efeitos adversos mínimos4. O presente experimento teve por objetivo
avaliar a utilização da lidocaína como anestésico local, em bloqueio do nervo alveolar
mandibular inferior em gatos, visando a verificar as possíveis alterações sobre a
dinâmica respiratória e circulatória e os efeitos benéficos para a realização da técnica
cirúrgica de exérese dentária pré-molar em gatos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram selecionados oito gatos classificados como ASA I, segundo critérios da
Sociedade Americana de Anestesiologia. Apresentaram peso médio de 3,0 kg, idade
de 2 anos e ambos os sexos. Foram separados aleatoriamente em dois grupos de
quatro animais. Os animais do grupo 1 (G1), receberam como medicação préanestésica (MPA) xilazina a 2% na dose de 1mg.Kg-1 associada a cetamina a 5% na
dose de 10mg/Kg-1 pela via intramuscular (M0). Decorridos 20 minutos (M1), os
animais receberam instilação de lidocaína a 2,0% na faringe permitindo a intubação
orotraqueal. Em seguida, foi introduzida anestesia inalatória com isofluorano, por meio
de vaporizador calibrado em circuito semi-aberto de Baraka. Um volume de 0,5 ml de
lidocaína a 2,0% foi administrado com uma agulha 25x5/8 em forma reta, inserida no
ângulo da mandíbula direita e esquerda, aproximadamente 1,0cm rostral ao processo
angular e 0,5cm dorsal à superfície medial do ramo da mandíbula, a fim de depositá-la
próximo ao nervo alveolar mandibular, na iminência do forame mandibular. Após 20
minutos (M2) iniciou-se a extração dentária do 1º pré-molar inferior, em ambas
hemimandíbulas. Outras duas mensurações ocorreram a cada 20 minutos. O grupo 2
(G2), recebeu o mesmo tratamento do G1, contudo foi administrada 0,5ml de solução
de NaCl 0,9% como placebo ao invés de lidocaína 2,0%. Foram avaliadas
temperatura corporal mensurada em graus Celsius (ºC) por meio de termômetro
digital em contato direto com a mucosa retal, concentração do anestésico inalatório
através da porcentagem administrada no momento da avaliação, frequência
respiratória avaliada pela contagem dos movimentos do gradil costal, durante um
minuto, saturação da oxihemoglobina avaliada em porcentagem, através de oximetria
de pulso, pressão arterial sistólica avaliada pelo método não invasivo, através de
coluna de mercúrio acoplada a um manguito pneumático colocado no terço médio do
úmero, e um dopller vascular ultra-sônico, sobre a artéria braquial, frequência
cardíaca avaliada pelo oxímetro de pulso, posicionado na comissura labial e
analgesia avaliada inicialmente pelo pinçamento de prega mucosa, e posteriormente
pelo estímulo cirúrgico e classificado como suficiente ou insuficiente para a realização
da cirurgia de acordo com as alterações da frequência cardíaca, respiratória e da
pressão arterial sistólica. Após a cirurgia foi administrado meloxicam 0,2% na dose de
0,1mg/Kg-1, pela via subcutânea, e enrofloxacina 2,5% na dose de 10mg/Kg-1, pela via
intramuscular, em todos os animais. Realizou-se a avaliação estatística descritiva
após o término da coleta dos dados. Utilizou-se média, além da relação percentual
entre os momentos em cada grupo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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A temperatura corporal dos animais declinou durante todo o
período anestésico, assumindo valores aquém dos considerados pertinentes a
espécie felina, entre 38,1 e 39,0ºC, visto que, estavam sob efeito de anestésicos
gerais5. A hipotermia é considerada uma das complicações mais freqüentes no
período pós e transoperatório, com repercussões deletérias ao organismo, como
aumento no tempo de recuperação. A introdução do agente inalatório ocorreu a partir
do M1 em ambos os grupos, e foi iniciada a verificação da porcentagem de oferta do
anestésico a partir do M2, onde já havia estabilidade anestésica do paciente. No
grupo controle (G2) não houve modificação na oferta de anestésico entre o M2 e o
M3, permanecendo a concentração de isofluorano em 2,0%, contudo houve redução
de 75,0% no consumo entre o M3 e o M4, chegando a 0,5%. No G1, a concentração
de anestésico ofertada inicialmente foi de 0,5%, havendo aumento do consumo de
anestésico inalatório entre M2 e M3 de 20%, e entre M3 e M4 de 166%,
demonstrando que após, aproximadamente 40 minutos do início do bloqueio, ocorreu
declínio dos níveis teciduais do anestésico local, como descrito pela literatura 1 e a dor
promovida pela exérese dentária estava sendo percebida pelo paciente, havendo
necessidade de aumento na oferta do agente anestésico para promover analgesia
suficiente. Todavia os valores absolutos deste grupo foram aquém dos apresentados
pelo grupo controle (G2), permanecendo sempre abaixo de 2,0%. Há reflexo da
freqüência respiratória adequada dos animais durante todo o período anestésico, os
valores da saturação de oxihemoglobina permaneceram dentro dos parâmetros de
referência para a espécie estudada, entre 90% e 100%, segundo6. Após a indução
anestésica os animais foram mantidos em circuito semi-aberto de Baraka, com
reinalação parcial de gases e fluxo de oxigênio a 100%, o que provocou aumento na
SpO2, até o final das mensurações. A pressão arterial sistólica assumiu valores
maiores no G2 do que no G1 quando comparados. No G1 houve declínio na variável
de 41,4% no período entre M1 e M2, devido ao isofluorano que apresentou efeito
depressor sobre a pressão arterial7 e ao bloqueio infiltrativo regional que
dessensibilizou a área a qual haveria exérese dentária, evitando a dor. Posteriormente
ao M3 houve aumento da pressão, permanecendo em ascensão até o final do período
anestésico, onde o efeito do anestésico local já iniciava declínio na periferia nervosa.
A freqüência cardíaca (FC) apresentou redução acentuada entre M0 e M1, em ambos
os grupos, pois os animais haviam recebido xilazina e cetamina associados, os quais
produzem redução na freqüência cardíaca, mesmo sendo a cetamina um estimulante
da FC, contudo o G1 apresentou discreto aumento dos valores em M2 (2,7%),
enquanto o G2 apresentou redução (-2,2%). A analgesia foi considerada como
suficiente em todos os procedimentos de exérese dentária em ambos os grupos. O
bloqueio do nervo alveolar mandibular proporcionou anestesia da região dos dentes
molares, pré-molares, caninos, incisivos, pele e mucosa da bochecha e lábio inferior
da face direita e esquerda da mandíbula, por dessensibilização. Acredita-se que isto
ocorra em função da sua divisão após penetrar no canal mandibular fornecendo
ramos para os dentes molares, caninos e incisivos, assim como pela emersão do
nervo mentoniano, através do forame mentoniano, o qual inerva a região
mentoniana8,9,10 e pelo fato do nervo alveolar mandibular também ser sensorial10.
CONCLUSÃO
A utilização da lidocaína como anestésico local, em bloqueio do nervo alveolar
mandibular inferior em gatos, demonstrou ser eficiente, reduzindo o consumo de
isofluorano, mantendo estável a pressão arterial sistólica, bem como, as freqüências
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cardíaca e respiratória, apresentando efeitos benéficos para a
realização da técnica cirúrgica de exérese dentária molar em gatos.
Experimento aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de Viçosa,
protocolo 09/2008.
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LAVAGEM PERITONEAL EM UMA ÉGUA COM PERITONITE SECUNDÁRIA
A RUPTURA UTERINA – RELATO DE CASO
PERITONEAL
LAVAGE
IN
A
MARE
WITH
PERITONITIS
AFTER
A
UTERINE
RUPTURE
–
A
CASE
REPORT
LAVADO
PERITONEAL
EN
UN
EQUINO
CON
PERITONITIS
PROVOCADA
POR
RUPTURA
UTERINA
–
UN
ESTUDIO
DE
CASO
LASKOSKI,
LUCIANE
MARIA139,
DÓRIA,
RENATA
GEBARA
SAMPAIO140,
FREITAS,
SILVIO
HENRIQUE
DE²,
ARRUDA,
LAURA
PEIXOTO
DE141,
SANTOS,
MARCELO
DINIZ142,
CAMARGO,
LAZARO
MANOEL²
RESUMO
A peritonite acomete frequentemente equinos após afecções gastrointestinais,
sendo a principal complicação observada após cirurgias abdominais. Não raramente
leva os animais a óbito e pode resultar ainda em importantes aderências abdominais.
Este relato descreve um caso de peritonite em uma égua após ruptura uterina,
recebendo como tratamento antibióticos sistêmicos e locais (peritônio e útero),
fluidoterapia intravenosa e lavagens peritoniais sucessivas. Após a realização de
cinco lavagens peritonais, houve restabelecimento dos parâmetros físicos normais do
equino. Conclui-se que a lavagem peritonial apresentou resultado eficaz para a
melhora clínica do paciente, sem a qual o desfecho provavelmente seria fatal.
Palavras-chaves: equinos, peritonite, lavagem peritonial
ABSTRACT
Frequently horses are acomited by peritonitis after episodes of acute abdomen
and this is the principal consequence observed after abdominal surgeries. Death is not
rare and abdominal adhesions is an important complication. This case reports a
peritonitis case in a mare after utherine rupture, receiving systemic and local
(peritoneus and uthero) antimicrobial treatment, intravenous fluidoterapy and
139
MSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária –
Cuiabá, MT
140
DSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária –
Cuiabá, MT. Endereço: Avenida Antártica, n. 788, casa 26. Ribeirão da Ponte – Cuiabá, MT. CEP. 78040-500. Email:
[email protected]
141
MSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Patologia Veterinária –
Cuiabá, MT
142
DSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Reprodução Veterinária –
Cuiabá, MT
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
successive peritoneal lavages. After five peritoneal lavages, there were
restablishment of the normal physical parameters of the horse. It was concluded that
the peritoneal lavage presented positive results to the clinical recover of the pacient,
supposing that without this treatment the final result of this case reported would be
probably fatal.
Keywords: horse, peritonitis, peritoneal lavage.
INTRODUÇÃO
A peritonite é uma grave complicação de afecções gastrointestinais, ocorrendo
por desordens entéricas ou de forma iatrogênica, frequentemente como complicação
pós-cirúrgica¹. No entanto, qualquer condição que permita a entrada de agentes
irritantes ou infecciosos para o meio abdominal pode predispor ao desenvolvimento da
enfermidade. O estímulo para a peritonite desencadeia uma série de alterações, como
liberação de histamina e outras substâncias vasoativas, resultando em vasodilatação
e liberação de líquido rico em proteínas e leucócitos para a cavidade abdominal².
Assim, o fluido peritonial, numa condição de inflamação, pode alterar sua quantidade,
coloração e características gerais³.
Considera-se que os equinos são mais susceptíveis ao desenvolvimento de
peritonite grave que as outras espécies, provavelmente por possuírem um omento
menor que os demais, o qual possui papel importante na contenção da infecção 4.
Como grande parte dos casos de peritonite em equinos é infecciosa, os isolamentos
bacterianos são frequentemente realizados. E entre os diversos microorganismos que
podem ser isolados, destaque especial se dá ao encontro da bactéria Escherichia coli,
por ser um habitante frequentemente encontrado no trato gastrointestinal, constituindo
assim ligação da infecção com este sistema5. Este relato tem o objetivo de descrever
um caso de peritonite em equino, secundária à ruptura uterina, que teve como
tratamento coadjuvante lavagens abdominais sucessivas, as quais contribuíram para
o retorno do quadro clínico do paciente ao normal.
RELATO DE CASO
Uma égua Paint-horse de três anos de idade foi encaminhada ao Hospital
Veterinário da Universidade de Cuiabá ( Unic) com histórico de apatia intensa e
anorexia, observadas um dia após cobertura natural assistida. O animal foi
encaminhado a exame clínico, sendo observados fisicamente sinais de sepse grave,
como mucosas ocular e oral congestas, frequência cardíaca e respiratória elevadas,
temperatura retal de 40⁰C, motilidade intestinal ausente, turgor de pele acima de dois
segundos e tempo de preenchimento capilar de três segundos. Nos exames
laboratoriais, destacaram-se intensa leucopenia, hiperfibrinogenemia e aumento da
fosfatase alcalina. Foram realizados procedimentos para identificar o local da
infecção, sendo eles avaliação do aparelho respiratório, aparelho urinário, com coleta
de urina, e também do aparelho reprodutivo. Este último apresentava cérvix dilatada
e, por meio do especulo, notou-se uma região com aparência de ruptura. Foi feita
palpação transvaginal, uma vez que a cérvix encontrava-se aberta, identificando o
rompimento da parede uterina, sendo possível, inclusive, palpar alças intestinais por
meio dessa fissura da parede uterina. Na sequência, realizou-se paracentese, sendo
obtido líquido peritoneal extremamente alterado, de coloração esbranquiçada e com
contagem celular acima de 40000 leucócitos/mm³, sendo necessário, para a
contagem celular, diluir o material enviado. O material foi enviado para cultura, sendo
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
isolado Streptococcus equi, subespécie zooepidemicus. O tratamento
antimicrobiano foi realizado com enrofloxacina intravenosa por sete dias e também
administração de gentamicina, intrauterina, por três dias consecutivos. Foi feita
fluidoterapia para restaurar a hidratação do equino por aproximadamente cinco dias,
ou quando havia necessidade, demonstrada pelo exame físico. Optou-se também por
lavagem abdominal, utilizando uma sonda retal humana, introduzida no abdomen por
meio de uma incisão na linha alba, quatro dedos após a cartilagem xifóide, utilizandose uma sonda estéril para cada dia. O orifício era então suturado e reaberto no dia
seguinte para nova lavagem peritonial. Foram utilizados aproximadamente oito litros
de solução de ringer-lactato, contendo gentamicina e dimetilsulfóxido, quantidade
máxima suportada pelo animal em questão ao dia. Após quatro dias do início do
tratamento, houve melhora do quadro clinico, com redução da temperatura retal aos
valores normais, retorno das mucosas à coloração rósea, bem como do tempo de
preenchimento capilar a dois segundos, manutenção do turgor de pele normal sem a
hidratação e retorno da ingestão normal de alimentos. Foi feita uma última lavagem
peritoneal, constatando-se líquido peritoneal menos alterado. A administração de
enrofloxacina foi mantida por mais três dias. Optou-se por não interferir cirurgicamente
com a recuperação da ruptura uterina, apenas administrando-se gentamicina para
controle infeccioso local. A égua recebeu alta clínica, recomendando-se repouso
reprodutivo em torno de 12meses, sendo para esta função o prognóstico considerado
como reservado.
DISCUSSÃO
Dentre os diversos sinais clínicos demonstrados por um animal acometido por
infecção abdominal, estão anorexia, hipertermia, perda de peso, ausência de
motilidade, constipação ou diarréia, tempo de preenchimento capilar aumentado,
desidratação, aumento das frequencias cardíaca e respiratória, mucosas
avermelhadas e dor abdominal, caracterizada como constrações abdominais,
relutância em se movimentar e sensibilidade à pressão abdominal externa 5,4,2, sinais
esses que foram compatíveis com o quadro do animal deste relato. A infecção do
peritônio foi associada à ruptura uterina após a constatação da mesma por palpação
transvaginal e também pela cultura do material, indicando a presença de
Streptococcus equi subs, zooepidemicus, sendo a bactéria mais prevalente em
infecções uterinas, por isso normalmente seu achado está relacionado a este
aparelho6,7.
A lavagem peritonial tem sido vista com receio por muitos clínicos e cirurgiões,
pois acredita-se que a técnica possa difundir mais efetivamente infecções localizadas
e assim agravar o quadro clínico do animal. Hague et al.8 demonstraram que a
utilização de lavagens abdominais em equinos em posição quadrupedal fori efetiva
para prevenir a aderência em animais submetidos a lesões da serosa jejunal, quando
comparados a outros equinos que também foram submetidos a estas lesões, sem
receber tratamento. O benefício da lavagem peritonial é de possibilitar a remoção de
fibrina, toxinas e mediadores inflamatórios9. Fang et al.10 demonstraram que a
lavagem peritonial pode ser realizada com solução salina, e que a mesma infundida
em temperatura de 4°C apresenta melhor prevenção de aderência do que aquela
administrada à temperatura ambiente. Ainda demonstraram que vários mediadores
inflamatórios, como o TNF-α, podem ser reduzidos com sua utilização em temperatura
reduzida. No presente realto, foi utilizada solução de ringer-lactato associado à
gentamicina e dimetilsulfóxido para reduzir a infecção microbiana e também a
formação de aderências. No entanto, a pesquisa de Sortini et al.¹¹ realizada em ratos
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demonstrou que a infusão somente de solução fisiológica, quando
comparada à infusão de soluções antimicrobianas e antissépticas, apresenta melhor
efeito na prevenção de aderências e não apresenta complicações como as demais, as
quais podem levar o paciente a óbito, provavelmente por lesão química do peritônio.
Não foi possível determinar a causa da ruptura uterina, pois dificilmente a cobertura
natural poderia causar tal alteração em condições normais, como foi relatado à
anamnese.
CONCLUSÃO
O tratamento realizado à base de sucessivas lavagens peritoneais mostrou-se
efetivo em reverter o quadro clínico do animal, o qual provavelmente seria fatal sem a
sua utilização.
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survival rats in rats: na experimental study. Journal of Investigative Surgery, 19(5):
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170
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS COM PLASMA RICO EM
PLAQUETAS NA REPARAÇÃO DE DEFEITOS CRÍTICOS EM CALVÁRIA
DE CAMUNDONGOS
EFFECTS
OF
MESENCHYMAL
STEM
CELLS
WITH
PLATELETS
RICH
PLASMA
IN
THE
REPAIR
OF
CRITICAL
DEFECTS
IN
MICE
CALVARIAL
MONTEIRO,
B.S.1431*;
DEL
CARLO,
R.J.1442;
ARGÔLO‐NETO,
N.M.1453;
CARVALHO,
P.H.1464;
BONFÁ,
L.P.4;
NARDI,
N.B.1475;
MOREIRA,
H.N.1486
Palavras-chave: terapia celular, gel de plaquetas autólogo, reparação óssea.
Keywords: cell therapy, platelets gel, bone repair.
Introdução
Novas terapias visando à reparação tecidual em regiões que apresentam difícil
cicatrização, como os ossos do crânio e da mandíbula, têm utilizado a terapia celular
com células osteogênicas associadas a fatores de crescimento osteoindutores e
veículos biocompatíveis (Pieri et al., 2009). A plasticidade das células-tronco
mesenquimais (CTM), sua habilidade de expansão in vitro e efeitos
imunomodulatórios (Muraki et al., 2006), aliados às propriedades do Plasma Rico em
Plaquetas (PRP), um biomaterial acelerador da formação óssea que contém proteínas
sanguíneas e grande número de plaquetas liberadoras de diferentes tipos e
quantidades de fatores de crescimento (FC) com características osteoindutoras que,
em conjunto, influenciam positivamente a quimiotaxia, diferenciação, proliferação e
ativação de diversos tipos celulares (Kasten et al, 2008a), tornam essa associação um
alvo de estudos. No presente estudo, foram avaliados os efeitos da associação das
CTM oriundas da medula óssea de oito camundongos C57BL/6 gfp+ e expandidas em
culturas com PRP provenientes de outros oito camundongos na reparação de defeitos
críticos confeccionados em calvária de 24 camundongos C57BL/6 jovens.
143
DS, Bolsita de Pós-doutorado CNPq, Profa. titular, Departamento de Veterinária (DVT), Centro Universitário Vila
Velha (UVV), CEP 29101-777, Vila Velha, ES, Brasil. *Autor para correspondência: betâ[email protected].
144
DS, Prof. Titular, Pesquisador CNPq. DVT, UFV.
145
DS, Prof., DVT, Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc).
146
Estudante de Mestrado, DVT, UFV.
147
DS, Profa. Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Pesquisadora do CNPq.
148
Estudante de Mestrado, Departamento de Biologia Molecular, UFV.
171
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Metodologia
Os animais foram submetidos a um defeito de 6,0mm de diâmetro no osso
parietal, sem lesionar as meninges. O grupo controle (GC) não recebeu tratamento e
o grupo CTM/PRP (GMP) teve a falha óssea preenchida com o pellet contendo 1,0 x
107células/mL e 50,0µL de plasma em gel contendo 1,0 x 109 plaquetas. Três animais
de cada grupo foram aleatoriamente escolhidos e submetidos à eutanásia nos dias
dez, 30, 60 e 90 de pós-operatório para obtenção de amostras ósseas, envolvendo a
região do defeito e a porção adjacente do osso receptor. O fragmento foi identificado,
medido e fotografado para mensurar a área do defeito e estabelecer o percentual de
reparação óssea. Na histologia foi avaliada a presença e características do tecido de
preenchimento. Os resultados obtidos foram submetidos ao testes de Kolmogorov–
Smirnov para verificação da distribuição de normalidade da variável percentual de
reparação óssea. Foi estabelecida a média do percentual de reparação óssea em
cada período avaliado e foi realizada a análise das amostras independentes mediante
a aplicação do Teste t de Student com nível de rejeição da hipótese de nulidade de
5% (p≤0,05). O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Experimentação Animal
(Ceea) da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e aprovado em março/2007, sob
parecer número 46/2007.
Resultados
Na avaliação macroscópica, foi observada ausência de fechamento total dos
defeitos em ambos os grupos e ainda que o osso formado apresentava espessura
inferior ao osso receptor. Por meio da análise da variável percentual de reparação
óssea, verificou-se diferença (p = 0) entre os dois grupos experimentais em todos os
períodos de avaliação e que os animais do GMP apresentaram os melhores valores
de reparação. Os valores desse percentual no GMP, aos dez dias, só foram
observados no GC próximo ao período de 60 dias. Ainda no GMP, o percentual de
reparação ocorrido do dia inicial da lesão até os dez primeiros dias foi o maior
encontrado (57%) e foi diminuindo ao longo dos dias (dia 11 ao 30, 6%; dia 31 ao 60,
6%; dia 61 ao 90, 0,3%). No GC o maior percentual foi verificado entre os dias 11 e 30
(30%) e o valor observado aos 90 dias foi semelhante ao exibido aos 30 dias no grupo
tratado. Na avaliação histológica, foi observada angiogênese e maior formação óssea
no GMP, sobretudo aos dez dias. Independentemente do período em análise, foram
observados osteoblastos cuboides enfileirando-se nas margens da nova formação
tecidual e aumento da matriz óssea. No GMP, verificou-se maior quantidade de
osteoblastos e organização do tecido osteoide quando comparado ao GC.
Discussão
Considerando-se que os processos de cicatrização do organismo são
complexos e que necessitam de interações entre o local lesado e as células
reparadoras, objetivou-se que as CTM transplantadas incrementassem o processo de
reparação óssea por liberarem diferentes tipos de FC solúveis incluindo G-CSF (fator
estimulador de colônias de granulócitos), GM-CSF (fator estimulador de colônias de
macrófagos e granulócitos), M-CSF (fator estimulador de colônias de macrófagos),
TGF-ß e diversas interleucinas, como o descrito por Bobis et al.(2006). Esses FC são
172
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
capazes de ativar diferentes tipos celulares, incluindo células
envolvidas no processo de inflamação, promovendo a diferenciação das células
osteoprogenitoras, e induzir a ativação de células ósseas jovens, acarretando em
formação óssea mais precoce e em maior quantidade, verificada no grupo tratado.
Ademais, de acordo com dados apresentados por Ball et al.(2007), as CTM
expressam elevados níveis de receptores para PDGF e VEGF, o que pode explicar,
entre outros fatores, a exuberante angiogênese encontrada no GMP. Verificou-se que
as CTM/PRP utilizadas como tratamento dos defeitos na porção parietal do crânio dos
camundongos determinaram maior formação óssea em relação ao grupo controle,
com tendência à reparação total. Contudo, ao final do período de avaliação aos 90
dias, os defeitos não estavam totalmente preenchidos. Tal característica evidencia a
criação de um defeito critico na calvária do camundongo (6,0 mm), concordando com
dados disponíveis na literatura que consideram críticos os defeitos com diâmetro
superior a 2,7mm (Seo et al.,2008). Consequentemente, por mais que o tratamento
com as células indiferenciadas e plasma em gel tenha incrementado o processo de
reparação, ele não foi suficiente para prover a cura total no período avaliado. O
estudo estatístico confirmou que o tratamento com a associação CTM/PRP
incrementou a reparação óssea, que acarretou maior quantidade de novo tecido
ósseo, sobretudo nos dez primeiros dias. Ademais, permitiu verificar que a maior taxa
de reparação óssea exibida no grupo controle aos 90 dias foi semelhante à taxa do
grupo tratado aos 30 dias. Por esses dados, pode-se inferir que a liberação dos
fatores de crescimento, providenciada pelas CTM e pelo PRP, determinou maior
ativação de receptores nas células osteoprogenitoras, maior recrutamento celular e
ativação de células osteocomprometidas, com consequente maior formação de tecido
ósseo. Em relação à formação óssea, os tipos celulares presentes em ambos os
grupos foram os mesmos. A diferença entre os grupos foi a quantidade de células de
deposição óssea, maior no GMP. Corroborando as afirmações de Kasten et al.
(2008b), a adição dos fatores de crescimento do plasma resultou em efeito positivo
para a maior ativação e proliferação das CTM.
Conclusão
Constatou-se que a associação das CTM derivadas da medula óssea de
camundongos C57BL/6 gfp+ com gel de PRP aplicadas em defeitos ósseos críticos
confeccionadas em calvária de camundongos C57BL/6 jovens contribuiu
positivamente para o processo de reparação óssea.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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174
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
INFARTO ÓSSEO ASSOCIADO À OSTEOSSARCOMA: RELATO DE CASO
I
B
O
N
F
A
R
C
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M
N
Y
:
C
A
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R
E
P
O
A
O
R
T
MORATO, G.O149.; HELOU, J.B.150; LIMA, T.B. 1; CIPÓLLI, V.M.M. 1; CANOLA, J.C. 1;
Palavras-Chave: cão, infarto ósseo, osteossarcoma
Key-Words: dog, bone infarction, osteossarcoma
INTRODUÇÃO
O ostessarcoma (OSA) é um tumor maligno de células ósseas primitivas que
histologicamente é caracterizado por células mesenquimais anaplásicas1,
representando aproximadamente 90% dos tumores ósseos2. A ocorrência de sarcoma
intraósseo associado com infarto ósseo é uma condição rara, pouco relatada na
literatura3. Pode existir uma relação de causa e efeito entre estas afecções4. A
ocorrência de 13 cães apresentando sarcoma ósseo primário associado a infarto
ósseo intramedular multifocal foi descrito na literatura5. Radiograficamente, os infartos
ósseos caracterizam-se por apresentar área irregular e radiopacidade nas cavidades
medulares6. O infarto ósseo pode manifestar-se clinicamente com dor, edema e
eritema locais ou pode ser silencioso, sendo o achado de imagem acidental. Nos
casos sintomáticos, febre e leucocitose também podem estar presentes, dificultando o
diagnóstico diferencial com processos infecciosos7. Não há sintomatologia clínica
específica, que pode ser atribuída diretamente ao infarto ósseo5. Ainda que o infarto
epifisário possa ocorrer em qualquer osso, tem predileção pelo úmero e fêmur
proximais7. Sobre o assunto, é descrita na literatura a ocorrência de infarto ósseo
femoral após artroplastia de quadril (THA) e subseqüente desenvolvimento de
osteossarcoma no local de infarto8. Os métodos de diagnóstico por imagem e
avaliação histopatológica são imprescindíveis no diagnóstico. Neste contexto, a
radiografia simples pode mostrar aspectos característicos da doença e contribui para
149
Departamento de Cirurgia, Escola de Veterinária, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (UNESP). E-
mail: [email protected]
150
Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG)
175
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
a detecção de infartos ósseos em fases mais avançadas7. Apesar dos
avanços obtidos na utilização de métodos auxiliares de diagnóstico, os recentes
estudos científicos indicam que a grande maioria dos trabalhos se restringe à
medicina humana. Assim sendo, o objetivo do presente relato é descrever um caso de
osteossarcoma (OSA) associado a infarto ósseo no membro pélvico em cão.
METODOLOGIA
Foi atendido no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, no setor de Cirurgia de
Pequenos Animais, um animal da espécie canina, macho, 11 anos de idade, da raça
Poodle, peso corporal de 8 Kg, com histórico de claudicação do membro pélvico
esquerdo com evolução de três meses. Observou-se um aumento de volume na altura
da articulação tibiotársica esquerda de aproximadamente 10 centímetros de diâmetro,
de consistência firme, não ulcerado. Exames como hemograma e bioquímica sérica
não apresentaram qualquer alteração relevante. Na sequência, o animal foi
encaminhado para o exame radiográfico, observando-se intensa reação periosteal
liticaproliferativa envolvendo o tarso do animal. No mesmo membro, notou-se área
irregular de osteopenia, com radiopacidade trabecular medular acometendo toda a
tíbia e porção distal do fêmur, sendo nítida a delimitação entre área afetada e
saudável. Avaliação citopatológica (CAAF) a partir do aspirado do aumento de volume
do membro pélvico revelou celularidade neoplásica maligna compatível com
osteossarcoma. Optou-se por tratamento cirúrgico com amputação do membro
associado à quimioterapia. Para tanto procedeu-se desarticulação coxofemural do
membro, o qual foi enviado para análise histopatológica. Foram obtidos cortes tanto
da região do tarso como de tíbia e fêmur. As medicações administradas no pósoperatório foram cefalexina (30 mg/kg/BID,sete dias), meloxicam (0,1 mg/kg/ SID,
quatro dias) e cloridrato de ranitidina (2 mg/kg/SID, sete dias) e cloridrato de tramadol
(4mg/Kg, TID,seis dias). Recomendou-se a remoção dos pontos de pele no décimo
dia após o procedimento cirúrgico.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Através de avaliação histopatológica pôde-se confirmar presença de
osteossarcoma na região de tarso. A imagem radiográfica obtida foi compatível com o
laudo histopatológico, visto que sugeriu reação tipicamente neoplásica com intensa
reação óssea liticaproliferativa, atingindo sobretudo o calcâneo do membro pélvico
esquerdo, corroborando com os achados anteriormente descritos9. O tratamento foi
realizado seguindo as recomendações descritas na literatura9, sendo realizada
amputação do membro afetado, associada à quimioterapia. Umas das principais
preocupações quanto à sobrevida de animais com membros amputados diz respeito
ao estresse pós-cirúrgico. O animal em questão foi monitorado durante o pósoperatório, o qual não demonstrou estresse ou dor, adaptando-se bem à nova
condição. A amputação controla o tumor primário e promove alívio da dor10, com
pouca ou nenhuma redução na mobilidade e qualidade de vida, o que justifica os
achados encontrados no presente estudo. A análise histopatológica das amostras
obtidas de tíbia e fêmur apresentaram necrose óssea sugestiva de infarto. Em estudo
realizado5, o infarto pode estar relacionado com a deposição de osteoide mal
organizado proliferativo na superfície do osso endosteal. Segundo este autor, este tipo
de osteoide é geralmente produzido em reação à hipóxia. Assim, a radiopacidade
176
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
trabecular observada nos achados radiográficos corresponde às lesões
proliferativas vistas na cavidade medular, corroborando como os achados descritos 5.
Porém, não se sabe se o infarto é um resultado direto da oclusão vascular ou resulta,
em parte, da pressão de necrose, devido à proliferação de osteoide nos espaços
confinados da cavidade medular. Segundo alguns autores5, o problema subjacente
parece ser a fibrose e oclusão das artérias nutrientes. Esse mesmo pesquisador
acrescentou que morfologicamente esta doença vascular é diferente de lesões
vasculares observadas em associação com trombose, hipertensão, aterosclerose e
amiloidose. Entretanto, nenhumas destas afecções estavam presentes no caso
apresentado. Em casos sintomáticos de infarto ósseo, febre e leucocitose podem
estar presentes7, os quais não foram encontrados no presente relato. Entretanto,
sabe-se que não há alterações clínicas que podem ser atribuídas diretamente ao
infarto ósseo5. Em estudo retrospectivo6, o autor relatou maior prevalência de infarto
ósseo associado ao osteossarcoma nos ossos do membro pélvico. Apesar de a
etiologia do infarto ósseo do presente caso não ter sido esclarecida, sabe-se que, em
humanos, são lesões incomuns e ocorrem em indivíduos que sofreram trauma,
embolia por gordura, anemia falciforme e, uso prolongado de corticoide 5. Sobre o
assunto, os pesquisadores8 afirmaram que o infarto ósseo pode ser um fator
predisponente para o desenvolvimento de osteossarcoma no fêmur de cães, após o
procedimento com THAS. Na literatura consultada, não foram encontrados trabalhos
científicos que elucidasse sobre a etiologia de osteossarcoma associado a infarto
ósseo em caninos. Finalmente o comprometimento ósseo deve-se principalmente ao
efeito local direto do próprio tumor, causando agregação plaquetária e liberação de
tromboxano A22,4. Sabe-se que agregação plaquetária promove a implantação de
agregados celulares tumorais, podendo auxiliar na formação de uma ponte entre as
células tumorais e a superfície vascular11. Contudo, no caso apresentado, não havia
elementos suficientes para afirmar se houve uma relação direta de causa e efeito
entre infarto e posterior desenvolvimento de sarcoma ósseo e qual destas
possibilidades foram responsáveis pela claudicação e dor que o animal apresentava.
REFERÊNCIA
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10. Ogilvie GK. Bone tumors. In: Rosenthal RC (2001). Veterinary
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contin.CRMV.SP. São Paulo, 5: 233-242.
178
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
ULTRASSOM TERAPÊUTICO E LASER DE BAIXA POTÊNCIA NO
TRATAMENTO DE ABSCESSOS EM EQUINOS
THERAPEUTIC
ULTRASOUND
AND
LOW
LEVEL
LASER
IN
TREATMENT
OF
EQUINE
ABSCESS
MORAES,
J.M.1511;
HUAIXAN,
L.N.1;
VILLA
FILHO,
P.C.1;
PALERMO,
J.G.C.1;
XIMENES,
F.H.B.1;
TEIXEIRA
NETO,
A.R.1;
GODOY,
R.F.1
Palavras-chave: regeneração tecidual, lesões cutâneas, fisioterapia.
Key words: tissue regeneration, cutaneous lesions, physiotherapy.
Introdução
O ultrassom terapêutico (UST) e o laser de baixa potência (LBP) são formas
não invasivas de tratamento, que estimulam o desenvolvimento de fibroblastos e a
produção de colágeno, obtendo uma diminuição no tempo de cicatrização e aumento
na força de tensão da ferida (1,2,3). O UST pode ser definido como uma onda ou
pressão sonora propagativa com a capacidade de transferir energia mecânica para os
tecidos. O efeito mecânico é causado pelas vibrações sônicas que causam atrito nos
complexos celulares, produzindo micromassagem. O resultado é a excitação celular e
aumento da permeabilidade das membranas tissulares, melhorando o metabolismo e
a atividade celular (1,²,4,5). O LBP é uma radiação eletromagnética, não ionizante,
monocromática, coerente e colimada, com ação principalmente nas organelas
celulares, em especial nas mitocôndrias, lisossomos e membrana, gerando aumento
de ATP e modificando o transporte iônico. Desta forma, o LBP acelera, em curto
prazo, a síntese de ATP e, em longo prazo, a transcrição e replicação do DNA. Por
estimular a angiogênese, o metabolismo e a multiplicação celular, o LBP apresenta
potencial para acelerar o reparo tecidual e a multiplicação de vários tipos celulares
(3,4,5,6)
. O tratamento de feridas nos equinos é sempre dificultoso, podendo formar
tecido de granulação exuberante, o que dificulta a epitelização, requerendo uma
avaliação cuidadosa, além de tratamentos diferenciados (1). Desta forma, este estudo
teve como objetivo descrever o uso do UST e LBP como auxiliar na cicatrização de
ferida séptica de equinos.
151
Hospital Escola de Grandes Animais, Universidade de Brasília – HVET/UnB, Brasília-DF. E-mail:
[email protected]
179
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Metodologia
Dois equinos, machos, adultos, da raça Mangalarga Machador, foram
atendidos no HVET/UnB com histórico de abscessos na região glútea (Animal A) e
cervical (Animal B). Foi realizado o debridamento cirúrgico, com retirada de exsudato
purulento e tecido necrótico, resultando em feridas profundas de 139,2cm² e 12,5cm²
de área, respectivamente. As feridas apresentavam exsudato purulento, hemorragia,
bordas eritematosas e edemaciadas e formação moderada de tecido de granulação.
O tratamento medicamentoso constituiu-se de fenilbutazona (4,4mg/kg, IV, SID) por
três dias. Realizava-se limpeza duas vezes ao dia com líquido de Dakin, aplicação de
metronidazol líquido (5,0 mg/mL) e açúcar no interior da ferida e utilização repelente
ao redor. Concomitantemente, foram instituídos o LBP por aplicação em varredura e
nas bordas das feridas, e o UST em modo pulsado, pelo método direto, na presença
de gel, sobre a pele tricotomizada ao redor das lesões. No animal A, foram realizadas
28 sessões em 69 dias, sendo no início feitas diariamente, passando para dias
alternados a partir da 18ª sessão. Inicialmente, foram 12 sessões com o UST em
frequência de 1MHz, intensidade de 0,7W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 20%
por 14 minutos e LBP com varredura de 60 a 100J total na ferida e 7J/cm² nas bordas.
Com o preenchimento da ferida pelo tecido de granulação e início da epitelização,
suspendeu-se o LBP e modificou-se o UST para frequência de 3MHz, intensidade de
0,5W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 50% por 14 minutos, com intuito de
melhorar o processo de epitelização. No animal B foram realizadas 20 sessões,
diariamente. Primeiramente, cinco sessões com o UST em frequência de 1MHz,
intensidade de 0,7W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 10% por 12 minutos e
LBP com varredura de 80J total na ferida. Igualmente ao animal A, suspendeu-se o
LBP e modificou-se o UST para frequência de 3MHz, intensidade de 0,5W/cm² e
frequência de pulso de 100Hz a 20% por 12 minutos, com utilização de pomada de
mucopolisacaridase misturada ao gel, com intuito de realizar fonoforese para
fluidificação da fibrose exuberante existente ao redor da ferida. Em ambos os animais,
conforme ocorria a retração centrípeta das feridas, diminuía-se o tempo de aplicação
do UST. Fixava-se uma escala padrão de 2cm ao lado das feridas e essas eram
fotografadas com câmera digital de alta resolução com intuito de acompanhar a
regressão centrípeta dos bordos das feridas. As imagens foram analisadas no
programa de imagens Image J, obtendo-se as áreas, em centímetros quadrados, das
lesões.
Resultados
Já na primeira semana de tratamento, observou-se grande melhora clínica das
feridas, apresentando bordas menos eritematosas, diminuição do edema, da
exsudação e da profundidade das feridas. Após 15 sessões do animal A, a ferida teve
uma redução de 76,4% do tamanho inicial, ficando com 32,8cm², e após 11 sessões
do animal B houve redução de 68% da ferida, ficando com 4cm², sendo que nessa
etapa ambas se apresentavam superficiais e com epitelização avançada. A utilização
da pomada de mucopolisacaridase juntamente com o UST promoveu grande redução
da fibrose ao redor da ferida, aprimorando a epitelização e o aspecto cicatricial final.
Ao término da terapia, as feridas mediam 11,4cm² e 2,5cm², ou seja, reduziram 91,9%
e 80% de seus tamanhos iniciais, respectivamente. Foram finalizadas as aplicações
180
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
de UST mesmo sem a completa retração das feridas, pois essas se
encontravam em estágio final d
e cicatrização, com boa epitelização e retração de bordas e ausência de tecido
de granulação exuberante.
Discussão
Com o uso do UST e LBP, ocorreu uma rápida modulação da resposta
inflamatória, promovendo uma excelente retração das bordas e epitelização tecidual.
Segundo autores, estas são características da etapa de resolução da fase inflamatória
ou exudativa e início da fase proliferativa, sendo que o UST e o LBP não exercem
efeito anti-inflamatório, e sim aceleram o processo inflamatório e a proliferação celular
durante a cicatrização (4,5). Isso de deve à uma maior estimulação da proliferação
fibroblástica e transformação dos fibroblastos em miofibroblastos, com consequente
formação de colágeno, proporcionando contração do tecido de granulação e uma
maior força de tensão para a ferida cicatrizada. Dessa forma, a ação angiogênica
associada ao incremento da atividade fibroblástica e de macrófagos parece ser o
efeito mais consistente dos LBP e UST para o processo de cicatrização (4,5,6). A
utilização do UST como artifício de fonoforese é método altamente eficaz e seguro de
transporte transdérmico de drogas (4), como comprovado neste estudo, observando-se
maior desagregação do tecido fibroso, formando um tecido cicatricial mais organizado.
As alterações resultantes da ação do LBP e UST nos processos de regeneração
tecidual ainda estão em fase incipiente. Portanto, os mecanismos de ação, bem como
a dosagem ótima de terapia, ainda não estão completamente esclarecidos,
necessitando de maiores comprovações científicas na área (4,6). As lesões em equinos
geralmente são de difícil tratamento, aumentando o tempo de cicatrização e fazendo
com que estas não evolucionem com perfeita reepitelização (1,2,3), inversamente ao
observado neste estudo, no qual, com a utilização prematura do UST e LBP, houve
rápida e excelente constituição tecidual.
Conclusão
Os bons resultados encontrados neste trabalho comprovam a eficácia
terapêutica do UST e LBP para feridas sépticas de equinos.
Referências
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cicatrização de feridas sépticas eqüinas. In: XI Conferência Anual da Abraveq,
São Paulo. Anais..., 29: 261-262.
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of the world equine veterinary association, Guarujá. Anais….,
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
4. Prentice W.E. (2004). Modalidades terapêuticas para
fisioterapeutas. Porto Alegre: Artmed Editora, 472p.
5. Levine D et al. (2008). Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos
animais. São Paulo: Roca, 2008, p.95-117.
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resposta inflamatória pela terapia a laser de baixa intensidade no processo de
reparo tecidual. Anais Brasileiro de Dermatologia, 81: 150-156.
182
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E SEGURANÇA DO MELOXICAM
COMPRIMIDO EM GATOS
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155
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156
153
.
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154
Palavras‐chave:
anti‐inflamatório,
analgésico,
antipirético.
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INTRODUÇÃO
Os anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) estão entre os mais utilizados de
todos os agentes terapêuticos por apresentarem efeitos antipirético, analgésico e antiinflamatório. Atualmente, há mais de 50 diferentes Aines no mercado e ainda um fluxo
contínuo de novas preparações. O grande número de novas substâncias significa que
nenhuma dessas, até o momento, tem sido ideal no controle ou modificação dos
sinais da inflamação, sem que haja efeitos deletérios no indivíduo1. A principal ação
152
Professor Assistente II da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. [email protected]
153
Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
154
Analista de Pesquisa e Desenvolvimento Ceva Santé Animale
155
Professora Auxiliar da Faculdade Evangélica do Paraná
156
Acadêmica de Medicina Veterinária da PUCPR
183
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
dos Aines faz-se através da inibição das cicloxigenases e
lipoxigenases. As lipoxigenases têm a função de catalisar a reação que transforma o
ácido aracdônico em leucotrienos. Os leucotrienos são mediadores da inflamação e
potentes broncoconstritores. As cicloxigenases convertem o ácido aracdônico em
ecosanoides (tromboxano, prostaciclina e prostaglandinas PGE2, PGF2 e PGD2).
Estas reações são acompanhadas pela geração de radicais livres tóxicos que são
responsáveis, em parte, pela lesão tecidual que acompanha a inflamação 2. A eficácia
dos Aines decorre da inibição, específica ou não, da atividade das enzimas
cicloxigenases; fato este que resulta no bloqueio da gênese de prostaglandinas e
tromboxanos3. Os mediadores pró-inflamatórios resultantes da ação da cicloxigenase1 (COX-1), que é a enzima constitutiva, estão representados pelas prostaglandinas
relacionadas com os efeitos fisiológicos nos sistemas renal, gastrintestinal e
cardiovascular2. Por outro lado, a cicloxigenase-2 (COX-2), enzima induzida, leva à
formação de prostaglandinas presentes no processo inflamatório4. Dessa forma, os
Aines que bloqueiam inespecificamente as cicloxigenases predispõem o surgimento
de efeitos colaterais, especialmente relacionados com o trato gastrintestinal3. O
meloxicam é um derivado oxicano que desenvolve uma atividade inibitória seletiva
sobre a COX-2 na cascata biossintética das prostaglandinas. Em cães e em seres
humanos, apresenta excelente tolerância, boa absorção digestiva e ótima
biodisponibilidade; assim como longa meia vida de eliminação, o que permite sua
administração em dose única diária1. Contudo, são necessários estudos em gatos a
fim de determinar as particularidades farmacocinéticas e deletérias nesta espécie
animal. Dessa forma, esta pesquisa teve como objetivo comprovar a segurança e
eficácia do meloxican em gatos.
METODOLOGIA
Foram selecionados 19 gatos hígidos, com idade superior a seis meses, sendo
15 fêmeas e quatro machos, provenientes dos atendimentos da Unidade Hospitalar
para Animais de Companhia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Após aprovação do Comitê de Ética, todos os animais foram submetidos às cirurgias
de castração e receberam meloxicam na dose de 0,1mg/kg, por via oral a cada 24
horas, por um período de quatro dias consecutivos. A avaliação da eficácia, visando à
confirmação da dose eficaz, foi baseada no Guideline for the conduct of efficacy
studies for non-steroidal anti-inflammatory drugs do Emea (The European Agency for
the Evaluation of Medicinal Products)5. Neste ensaio não foram utilizados animais
como controle não tratado por razão de questões éticas de bem estar animal (não
manter animais com dor sem tratamento), sendo assim o controle foi definido como o
estado dos animais no dia 0. A avaliação da segurança foi baseada no Guideline for
evaluation of the safety of veterinary medicinal products for the target animals do
Emea5. Portanto, avaliamos antes e após a administração do meloxicam, seguindo o
modelo experimental de TOBIAS7. Os animais foram mantidos em local segregado
(gaiolas) para facilitar a observação de reações adversas tais como vômito, diarreia,
letargia ou apatia. Todos os animais foram vermifugados uma semana antes do
tratamento para evitar que reações decorrentes de verminose, tais como diarreia e
vômito, fossem confundidas com efeitos adversos ao tratamento. Após
ovariosalpingo-histerectomia ou orquiectomia, os animais foram avaliados duas vezes
ao dia durante o ensaio; caso algum animal apresentasse alterações clínicas, este
seria acompanhado até a normalização do quadro clínico. Foram colhidas amostras
de sangue de todos os animais nos dias 0 (zero) e cinco do ensaio, tendo sido
realizados os seguintes exames laboratoriais: hemograma, contagem de plaquetas e
184
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
proteína plasmática; função renal (ureia e creatinina); e função hepática
(colesterol total, transaminase pirúvica, albumina e fosfatase alcalina). Caso algum
animal apresentasse alteração(ões) laboratorial(is), o(s) exame(s) seria(m) repetido(s)
no dia dez e a cada cinco dias até a normalização ou identificação da(s) causa(s)
da(s) alteração(ões), se constatada(s) que foi(foram) alheia(s) ao tratamento. Para a
análise estatística dos parâmetros laboratoriais, foi utilizado o teste de t com amostra
pareada. O nível de significância adotado foi 5% (α=0,05). Os cálculos foram
realizados utilizando o Software estatístico GraphPad Prism version 3.00 for Windows.
RESULTADOS
Em relação aos sinais clínicos, com exceção de um animal, que apresentou
efeitos colaterais ao medicamento (apatia, hiporexia, vômito e diarreia), todos os
outros não apresentaram qualquer tipo de efeito colateral ao meloxicam. Todos os
animais, com exceção de um, apresentaram uma boa analgesia provocada pelo
meloxicam, pois seguiram alertas, com temperatura corporal dentro dos limites
normais e não perderam o apetite. Outro efeito observado diz respeito à ação antiinflamatória do medicamento, pois, dos 19 animais submetidos ao procedimento
cirúrgico, nenhum apresentou edema e todos tiveram uma boa cicatrização.
DISCUSSÃO
Os principais sinais físicos observados em gatos intoxicados com os Aines são
a emêse e a anorexia3. Outras alterações como a letargia, diarreia, poliúria, polidipsia,
hematúria, melena e hematoquesia também são observados com frequência. O
meloxicam é um Aine com seletividade maior sobre a COX-2 do que a COX-1 e tem
se mostrado mais seguro em relação aos efeitos adversos quando comparado aos
anti-inflamatórios mais antigos, sem ação seletiva sobre a COX-2 1. Os antiinflamatórios não esteroidais devem ser utilizados com precaução em gatos devido à
sua fraca capacidade hepática de glucuronidação, que é o principal mecanismo de
metabolização e excreção para esta categoria de fármaco3.
CONCLUSÃO
O uso de meloxicam na dose de 0,1 mg/kg de peso, a cada 24 horas, durante
até quatro dias em gatos castrados foi eficaz para controle da dor e teve ação
antipirética e anti-inflamatória. Gerou poucos efeitos deletérios aos sistemas
gastrintestinais e nenhum efeito aos sistemas hepático e renal, pois não houve
diferença significativa (p>0,05) em nenhum dos parâmetros laboratoriais analisados.
Apresentou ótimo efeito local ao conter e evitar a formação de edema.
REFERÊNCIAS
1. ALENCAR, M. M. A.; PINTO, M. T.; OLIVEIRA, D. M.; PESSOA, A. W. P.;
CÂNDIDO, I. A.; VIRGÍNIO, C. G.; COELHO, H. S. M.; ROCHA, M. F. G.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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Margem de segurança do meloxicam em cães: efeitos deletérios
nas células sanguíneas e trato gastrintestinal. Ciência Rural, v. 33, n.3, p. 525532, 2003.
BOOTHE, D.M. Anti-inflammatory drugs. In: BOOTHE, D.M. Small animal
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16, p.281-311.
BRIDEAU, C.; STADEN, C. V.; CHAN, C. C. In vitro effects of cyclooxygenase
inhibitors in whole blood of horses, dogs, and cats. American Journal of
Veterinary Research, p. 281-311, 2001.
OLIVEIRA, A. L. A.; SIQUEIRA, C. F. A.; ESPINOLA, A. G.; MATTOS JR., D.,
G.; SANAVRIA, A. Avaliação clínica dos efeitos do cetoprofeno em
atendimentos emergenciais de cães e relato de dois casos em gatos. Jornal
Brasileiro de Ciência Animal, v. 4, n.2, p. 219-227, 2009.
Guideline for the conduct of efficacy studies for non-steroidal anti-inflammatory
drugs. EMEA (The European Agency for the Evaluation of Medicinal Products).
Guideline for evaluation of the safety of veterinary medicinal products for the
target animals. EMEA. (The European Agency for the Evaluation of Medicinal
Products).
TOBIAS, K. M., HARVEY, R.C., BYARLAY, J.M. A comparison of four methods
of Analgesia in cats following ovariohysterectomy. Vet. Anaest. Analg., 33,
390–398,
2006.
186
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
BUSCA ATIVA COMO MÉTODO DE DETECÇÃO DE INFECÇÃO DO SÍTIO
CIRÚRGICO NA CLÍNICA DE CÃES E GATOS DO HOSPITAL
VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
ACTIVE
SEARCH
AS
A
DETECTION
METHOD
OF
SURGICAL
SITE
INFECTION
IN
THE
CLINIC
FOR
DOGS
AND
CATS
VETERINARY
HOSPITAL,
FEDERAL
UNIVERSITY
OF
VIÇOSA
DORNAS,
R.F.157,
BRAGA,
D.P.1,
BREZINSKI,
D.G.1,
CORSINI,
C.M.M.1,
OCHOA,
C.C.R.1,
SEPÚLVEDA,
R.V.1,
BORGES,
A.P.B.1
Palavras chave: busca ativa, infecção, sítio cirúrgico.
Key words: active search, infection, surgical site.
INTRODUÇÃO
A Anvisa indica a busca ativa como método de identificação de pacientes
acometidos por infecção hospitalar, independentemente da notificação ou não de sua
ocorrência e como método de coleta de dados para a vigilância epidemiológica. Na
busca ativa, devem ser verificados como parâmetros para identificar a possível
ocorrência de infecção os sinais clínicos clássicos de infecção (febre, depressão,
inapetência, disfunção orgânica ou de membro), os resultados de exames
laboratoriais e de imagem, o aumento da temperatura sistêmica e, na ferida cirúrgica,
deve ser observada a presença de vermelhidão, edema, calor, dor ou secreção
purulenta. (Roush,1999; Harari,2004; Dunning,2007).O objetivo deste estudo foi
verificar o método de busca ativa como identificador de incidência de infecção do sítio
cirúrgico na Clinica Cirúrgica de Cães e Gatos do Hospital Veterinário da Universidade
Federal de Viçosa.
MATERIAL E MÉTODOS
A população para o estudo foi constituída dos pacientes submetidos a
tratamento cirúrgico na Clínica Cirúrgica de Cães e Gatos do Hospital Veterinário da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), no período de 11 de maio a 11 de novembro
de 2007. Os pacientes analisados, em sua maioria, receberam alta no mesmo dia do
procedimento, com seus proprietários orientados ou para internação em clínica
particular ou retorno no dia seguinte para manutenção dos cuidados gerais. A busca
ativa foi realizada diretamente no setor de clínica cirúrgica, sendo realizada a análise
do prontuário clínico para verificação ou não de consulta de retorno pós-alta. Nos
casos em que a consulta pós-alta foi realizada, foram pesquisadas no prontuário do
157
Universidade Federal de Viçosa – MG. [email protected], Rua Francisco Machado 197/401 Viçosa-MG
3657000.
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
185
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
paciente evidências clínicas de infecção hospitalar. Os dados clínicos
descritivos da cicatrização das feridas cirúrgicas ou de possíveis sinais e sintomas de
infecção são falha na cicatrização, deiscência da sutura cirúrgica, presença de
secreção e introdução de um novo antibiótico (busca ativa intra-hospitalar). A busca
ativa por contato pessoal foi realizada dentro da clínica cirúrgica de cães e gatos
diretamente com os veterinários responsáveis. O contato telefônico foi tentado a partir
do 30o dia após a cirurgia, seguindo formulário apropriado, onde foram feitas algumas
perguntas relacionadas ao pós-operatório, como: recuperação do paciente,
cicatrização da ferida cirúrgica, sinais de infecção, interferência do animal e utilização
de outras medicações além do prescrito anteriormente. Como evidências de possível
infecção, para o diagnostico definitivo de ISC foram considerados: sinais clínicos de
infecção (hiperemia, edema e calor local), eliminação de secreção purulenta na ferida
cirúrgica, eliminação de secreção purulenta em drenos cirúrgicos, dor evidente,
abertura espontânea da ferida cirúrgica, falhas não explicadas no processo de
cicatrização, prescrição de novo antimicrobiano sem justificativa que descarte
infecção da ferida cirúrgica ou infecção hospitalar, depressão acentuada/apatia,
inapetência, disfunção orgânica ou de membro, resultados de exames laboratoriais e
de imagem com indício de infecção e o aumento da temperatura sistêmica (mais de
24 horas após a cirurgia). Os casos que não apresentaram nenhuma evidência de
ISC ou anormalidades durante o processo de busca ativa foram imediatamente
encerrados e considerados como não portadores de infecção do sítio cirúrgico. O
registro de interferência do animal na ferida cirúrgica não foi considerado como uma
evidência, devido à ausência de bibliografia que pudesse dar suporte a esta
afirmação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de 11 de maio a 11 de novembro de 2007, a clínica cirúrgica de
cães e gatos do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa registrou 365
pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos. Entretanto, para essa pesquisa, 58
pacientes foram excluídos por terem vindo a óbito durante a cirurgia ou por
apresentarem inconsistências nos dados. Dessa maneira, a amostra pesquisada foi
de 307 pacientes. A finalização do processo de busca ativa nos 307 casos
pesquisados se deu em 162 pacientes por meio de registro de dados nos prontuários
clínicos e ficha de retorno (pacientes que realizara a consulta de retorno), sendo que
25 casos foram finalizados por contato pessoal com informações dos veterinários
responsáveis e por contato direto com proprietários. A busca ativa telefônica permitiu
finalizar 81 casos e 39 foram fechados sem êxito na busca ativa. A busca ativa pela
consulta de retorno foi feita com base na leitura e análise do prontuário clínico
posterior à cirurgia e consulta de retorno. Um componente importante da busca ativa
é a vigilância pós-alta, principalmente nos casos de procedimentos ambulatoriais com
a avaliação da incisão cirúrgica no ambulatório de retorno (Gutiérez et al., 2004). O
método empregado na busca ativa citado por Oliveira e Ciosak (2004), por meio de
realização de visitas periódicas ao paciente internado com a avaliação da incisão
cirúrgica, não foi realizado nesse estudo, uma vez que não existe a rotina de
internação no Hospital. Nos 307 casos estudados, foi verificada a marcação de
consulta de retorno ambulatorial em 267 casos (86,9%), sendo que apenas 156
pacientes (58,4 %) compareceram a essas consultas. O não comparecimento de 111
pacientes (41,6%) pode ter sido ocasionado por alguns animais terem sido
encaminhados diretamente de clínicas particulares apenas para a realização do
procedimento cirúrgico, tendo provavelmente realizado a consulta de retorno e
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
186
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
acompanhamento nessas clínicas ou pelo fato de que muitos animais
atendidos são de outros municípios. O processo de busca ativa telefônica foi
planejado para ser realizado assim que se completassem 30 dias de cirurgia,
entretanto em alguns casos isso não foi possível devido à não localização dos
prontuários clínicos onde constavam os dados para o contato e para a verificação do
comparecimento ou não na consulta de retorno. A busca ativa nos prontuários foi
capaz de detectar 30 casos de ISC (88,23 % do total), a busca ativa telefônica revelou
quatro casos (11,76 % do total) e por contato pessoal não foi detectado caso de ISC.
Dos 30 casos de ISC detectados pela busca ativa nos prontuários, notou-se falta do
registro deles no respectivo prontuário, como um diagnostico fechado realizado pelo
veterinário responsável, apesar do provável conhecimento dos mesmos, uma vez que
foram diagnosticados facilmente pelas informações registradas e verificadas nos
prontuários clínicos. Esse procedimento adotado no Hospital Veterinário da
Universidade Federal de Viçosa não corrobora com a citação de Roush (1999) que
salienta a comunicação imediata das infecções hospitalares como parte do processo
de vigilância. A evidência mais comumente encontrada foi o registro da utilização de
um novo antibiótico, diferente do profilático prescrito anteriormente, no pré ou pósoperatório. Outras evidências como deiscência espontânea da ferida (abertura),
abertura da ferida cirúrgica, falha na cicatrização, eliminação de secreção purulenta,
sinais de infecção local e complicações gerais no estado do paciente também foram
importantes no diagnostico dos casos de ISC.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos e nas condições da presente pesquisa,
conclui-se que não há padronização no registro dos prontuários no Hospital
Veterinário da Universidade Federal de Viçosa e que a falta da rotina de internação
prejudica o monitoramento da ferida cirúrgica, dificultando a identificação de infecções
oriundas da interferência do animal ou de falhas no manejo da ferida no pós
operatório.
O projeto para a realização deste estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do
Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV) conforme
parecer no 68/2007.
REFERÊNCIAS
1. Roush J. K. Controle de infecção. In: Harari, J. (1999). Cirurgias de Pequenos
Animais. Porto Alegre: Ed. Artmed, 43-53.
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pequenos animais. Porto Alegre: Ed. Artmed, 25-32.
3. Dunning, D. Infecção da ferida cirúrgica e uso de antimicrobianos. In: Slatter,
D. (2007). Manual de cirurgias de pequenos animais. Vol. 1, 3. ed. São Paulo:
Ed. Manole, 113-122.
4. Gutiérez M. et al. (2004). Infecção no sítio cirúrgico: vigilância pós-alta
precoce de pacientes submetidas à cirurgia oncológica de mama. Revista
Brasileira de Cancerologia, 50: 17-25.
5. Oliveira, A. C., Ciosak, S. I. (2004). Infecção do sítio Cirúrgico no Segmento
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
187
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Pós Alta: impacto na Incidência e Avaliação dos Métodos
Utilizados. Revista da Escola de Enfermagem- USP, 38: 379-85.
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
188
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
RECUPERAÇÃO FUNCIONAL EM CÃES COM DOENÇA DO DISCO
INTERVERTEBRAL SEM PERCEPÇÃO À DOR PROFUNDA SUBMETIDOS
AO TRATAMENTO CIRÚRGICO: 11 CASOS (2006-2009)
FUNCTIONAL
RECOVERY
IN
DOGS
WITH
INTERVERTEBRAL
DISC
DISEASE
WITHOUT
DEEP
PAIN
PERCEPTION
SUBMITTED
SURGICAL
TREATMENT:
11
CASES
(2006‐2009)
SANTOS,
R.P.158;
MAZZANTI,
A.159;
BECKMANN,
D.V.1;
BERTE,
L.1;
POLIDORO,
D.160;
BAUMHARDT,
R.3;
SANTOS,
T.P3
Palavras-chave: paraplegia, recuperação funcional, neurologia, cão.
Keywords: paraplegy, functional recovery, dog
Introdução
As discopatias constituem a causa mais comum de disfunção neurológica em
cães, ocasionadas pela extrusão ou protusão de material do disco intervertebral para
dentro do canal vertebral, comprimindo a medula espinhal. Os sinais clínicos podem
ser hiperagudos, agudos ou crônicos, variando desde hiperestesia espinhal até
paraplegia e perda da percepção da dor profunda. O diagnóstico da doença do disco
intervertebral (DDIV) é estabelecido através de sinais clínicos, história clínica, exame
físico e neurológico, da realização de exames de imagem e da visualização do
conteúdo compressivo dentro do canal vertebral. O tratamento clínico para cães com
DDIV é recomendado aos pacientes somente com hiperestesia ou com deficiências
neurológicas discretas. Por outro lado, o tratamento cirúrgico é indicado para
pacientes com recidiva ou progressão dos sinais, paraparesia não ambulatória,
paraplegia com preservação da dor profunda ou sua ausência por menos de 48h.
Vários trabalhos internacionais mostram a eficiência do tratamento cirúrgico,
principalmente em cães paraplégicos com DDIV. No Brasil poucos estudos foram
realizados incluindo todos os graus de lesão medular, sem analisar de forma isolada
os pacientes paraplégicos sem percepção à dor profunda. Diante disso, o objetivo do
presente trabalho foi avaliar a recuperação funcional de cães atendidos no Hospital
Veterinário Universitário (HVU) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) entre
os anos de 2006 e 2009, com diagnóstico de DDIV toracolombar e sem percepção à
dor profunda submetidos ao tratamento cirúrgico, correlacionando a recuperação
funcional com a perda da percepção à dor profunda. Foram revisados os registros
neurológicos de cães com DDIV sem percepção à dor profunda atendidos entre os
anos de 2006 e 2009 no HVU-UFSM. Foram incluídos somente cães com DDIV entre
T3-L3, que apresentavam paraplegia sem percepção à dor profunda e que foram
submetidos ao tratamento cirúrgico. A perda da percepção à dor profunda foi
158
Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV), Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), Av. Roraima 1000, Santa Maria, RS 97105-900, Brasil. *Autor para correspondência:
[email protected]
159
Departamento de Clínica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário Universitário, UFSM, Santa Maria, RS.
160
Curso de Medicina Veterinária, Centro de Ciências Rurais, UFSM, Santa Maria, RS.
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
189
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
determinada a partir do momento em que os pacientes cessaram os
movimentos voluntários (paraplegia) até o atendimento neurológico realizado por um
médico veterinário do serviço de neurologia do HVU. A ausência da percepção de dor
profunda foi classificada em < 24 horas, entre 24 e 48 horas e > 48 horas. Outros
critérios de inclusão foram: exame clínico e neurológico, exame radiográfico simples e
contrastado (mielografia), diagnóstico de DDIV toracolombar e novo contato telefônico
com os proprietários. A presença da dor profunda é mensurada pela compressão dos
dígitos (periósteo) e da cauda com o auxílio de uma pinça hemostática. A dor
profunda foi considerada ausente quando os animais não reagiram ao estímulo
doloroso com vocalização, olhar para o local ou inquietude. A mielografia foi realizada
através da injeção de contraste na cisterna lombar para confirmar o local e a suspeita
clínica de compressão na medula espinhal. Todos os pacientes foram submetidos à
técnica de hemilaminectomia dorsolateral associada à fenestração do disco
intervertebral para descompressão da medula espinhal. A durotomia foi realizada
quando necessária pelo cirurgião promover a visualização do parênquima medular.
Os proprietários dos cães foram contatados através de telefonemas para a obtenção
das seguintes informações: recuperação funcional após o tratamento cirúrgico,
presença de disfunção urinária e/ou fecal e ocorrência de recidivas. Os animais que
obtiveram a recuperação funcional retornaram ao HVU-UFSM para a realização de
um novo exame neurológico. O período de recuperação pós-operatória foi definido em
< 15 dias, entre 15 e 30 dias e maior de 30 dias. A recuperação funcional foi
classificada como satisfatória para cães que recuperaram a habilidade de caminhar
sem quedas e insatisfatória para aqueles que não recuperaram a habilidade de
caminhar. A relação entre a perda da percepção da dor profunda e a recuperação
funcional e entre a perda da percepção de dor profunda e o período de recuperação
dos cães foi submetida à análise estatística através do teste qui-quadrado, com nível
de significância igual a 5%. As raças acometidas foram: Teckel (82% [9/11]), Cocker
(9% [2/11]) e cães sem raça definida (9% [2/11]). A idade média verificada foi de 5,5
anos (entre três e sete anos), e a maior parte dos cães tinha entre três e seis anos de
idade. Quanto ao sexo, 45% [5/11] eram machos e 55% [6/11] eram fêmeas. Todos os
cães apresentaram localização da lesão na medula espinhal na região toracolombar
entre T11-L3. Como conduta no HVU, não é realizada cirurgia descompressiva da
medula espinhal após a perda de percepção à dor profunda acima de 48 horas. Entre
os registros médicos revisados 11 estavam de acordo com os critérios de inclusão.
Foi possível determinar o lado da compressão medular durante a mielografia em 82%
(9/11) dos pacientes. Nos outros dois cães não foi possível identificar o lado de
compressão medular em função do edema presente, e o acesso cirúrgico foi definido
com base nos achados do exame neurológico. De acordo com estudos publicados, os
sinais neurológicos de 65% dos casos agudos e 89% dos casos crônicos ocorrem
ipsilateralmente ao local de compressão medular. A recuperação funcional satisfatória
ocorreu em 64% [7/11] dos cães. Um paciente apresentava ausência da dor profunda
por mais de 48 horas e, apesar do indicativo de prognóstico desfavorável, o cão
obteve recuperação funcional satisfatória após a realização do procedimento cirúrgico.
Apesar disto, acredita-se ser necessária a realização de mais estudos com um grande
número de pacientes com DDIV sem percepção da dor profunda acima de 48 horas e
submetidos ao tratamento cirúrgico para determinar a possibilidade de recuperação
funcional satisfatória nestes pacientes. O período de recuperação satisfatória foi em
média de 25 dias (entre cinco e 30 dias). Dois cães apresentavam recuperação
funcional insatisfatória com 180 e 210 dias de acompanhamento após a realização do
procedimento cirúrgico. O período de recuperação dos cães em relação ao tempo de
perda da percepção à dor profunda não foi estatisticamente significante. O retorno da
percepção da dor profunda ocorreu em todos os cães com recuperação funcional
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satisfatória. Neste estudo o pior prognóstico foi estabelecido para os
pacientes sem percepção da dor profunda inferior a 24 horas, já que nenhum deles
recuperou sua função neurológica. Em cães com início rápido dos sinais clínicos, a
extrusão repentina do núcleo pulposo causa concussão e promove compressão da
medula espinhal, porém a descompressão cirúrgica não tem efeito nas lesões
causadas pela concussão da medula espinhal. Além disso, a força da extrusão é
suficiente para desencadear eventos bioquímicos e vasculares levando a alterações
autodestrutivas com potencial para desenvolver a mielomalácia. Estatisticamente a
recuperação funcional foi influenciada significativamente pela perda da dor profunda
dos cães com DDIV submetidos ao tratamento cirúrgico e pode-se sugerir que cães
com evolução em menos de 24 horas apresentam pior prognóstico. Em dois cães,
com evolução menor de 24 horas e com suspeita de mielomalácia focal, foi realizada
a durotomia durante o procedimento cirúrgico. A visualização da medula espinhal
nestes dois cães reforçou a suspeita da mielomalácia focal e nenhum deles obteve
recuperação funcional durante o tempo de acompanhamento (30 e 210 dias). Dois
cães com recuperação funcional satisfatória desenvolveram incontinência urinária
(28% [2/7]), mas isso não foi considerado problema pelos proprietários. Até o
momento da realização deste trabalho, nenhum dos pacientes com recuperação
funcional havia apresentado recidivas. Apenas 5% dos cães submetidos à técnica de
hemilaminectomia associada à fenestração de disco apresentam recidivas. De acordo
com os resultados obtidos neste estudo, o tratamento cirúrgico foi efetivo para
pacientes com diagnóstico de DDIV toracolombar sem percepção à dor profunda,
principalmente nos cães com duração dos sinais clínicos acima de 24 horas,
estabelecendo prognóstico desfavorável para aqueles com evolução anterior a este
período.
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USO DO SULFATO DE ATROPINA NA RESSUSCITAÇÃO DE NEONATOS
CANINOS SUBMETIDOS À CIRURGIA CESARIANA – AVALIAÇÃO DO
ÍNDICE DE APGAR NEONATAL
GIMENES,
A.L.L161;
ROCHA,
A.A.162;
ANTUNES,
F.163;
RAMOS,
R.M.2;AGUIAR,
D.C.B.1;
MACEIRA,T.R.S.3
Resumo
A neonatologia tem despertado o interesse de diversos médicos veterinários,
principalmente daqueles que trabalham em gatis ou canis. O acompanhamento da
gestante e um cuidado pré-natal adequado estão intimamente relacionados ao
nascimento de filhotes sadios e à redução da mortalidade neonatal. A avaliação
neonatal logo após o início da vida extrauterina é imprescindível para o sucesso em
um procedimento de ressuscitação de um filhote oriundo da cirurgia cesareana. Na
tentativa de minimizar a depressão neonatal e reduzir a morbidade e mortalidade
nesta classe de pacientes, drogas estimuladoras das funções respiratória e cardíaca
podem ser utilizadas. O sulfato de atropina é um fármaco anticolinérgico com a
capacidade de aumentar a frequência e o débito cardíaco, provocar broncodilatação e
aumento da frequência respiratória. O objetivo deste estudo foi avaliar a melhoria dos
índices de APGAR para neonatos caninos submetidos ao procedimento de cesareana
e tratados com sulfato de atropina intraperitoneal em diferentes momentos após a vida
extrauterina. Foram utilizadas 64 neonatos divididos em dois grupos, um deles tratado
com sulfato de atropina intraperitoneal e o outro grupo controle, sem uso de fármacos
estimulantes. O índice de APGAR dos filhotes foi avaliado através da frequência
cardíaca, estímulo respiratório, movimentação muscular, estímulo doloroso e
coloração de mucosa. As avaliações foram feitas em três momentos: dois, cinco e dez
minutos após o uso do fármaco no grupo tratado. A análise dos dados mostrou que,
na avaliação aos dois minutos não houve variação entre os dois grupos quanto a
melhora nos resultados. Porém aos cinco minutos, foi possível verificar que todos os
parâmetros avaliados, exceto estímulo doloroso, mostravam-se melhores no grupo
tratado com sulfato de atropina. Aos dez minutos após o uso do fármaco, todas as
avaliações foram mais satisfatórias em neonatos tratados em relação ao grupo
controle. Os resultados apresentados indicam que o sulfato de atropina agiliza a
recuperação do neonato na vida extrauterina.
Palavras-Chave: Neonatos caninos, APGAR, sulfato de atropina.
161
Aluno de graduação Medina Veterinária – Universidade Estadual do Norte Fluminense.
162
Aluno de pós-graduação Ciência Animal – Universidade Estadual do Norte Fluminense.
163
Professor Associado (curso de Medicina Veterinária) – Universidade Estadual do Norte Fluminense. Av. Alberto
Lamego, 2000 – Hosp. Veterinário, Campos – RJ. Email de contato: [email protected]
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Abstract
Neonatology has been claiming the interest of several veterinarian practitioners,
specially those who work in kennels. The follow-up of the pregnant female and
adequate prenatal care are closely related to the birth of healthy puppies and
consequent reduction of newborn mortality. Neonatal assessment after the beginning
of extrauterine life is essential for success in a puppy resuscitation procedure. In an
attempt to minimize depression and reduce neonatal morbidity and mortality,
stimulants drugs of respiratory and cardiac functions can be used. Atropine sulphate is
an anticholinergic drug with the ability to increase the cardiac frequency and debit
doing bronchodilation and increased respiratory frequency. The aim of this study was
to evaluate the improvement of the APGAR score for newborns puppies undergoing
cesarean procedure and treated with intraperitoneal atropine sulphate at different
moments after extra uterine life. Sixty four neonates were divided in two groups. The
first one was treated with intraperitoneal atropine sulphate, the other control group,
without use stimulant drugs. The APGAR score of neonates was assessed by cardiac
and respiratory frequency, muscular moviment, painful stimulation and mucous colour.
The evaluations were done in three moments: two, five and ten minutes after using the
drug in the treated group. Data analysis showed that the assessment at two minutes
didn't present any change between the two groups. But at five minutes it was possible
to verify that all parameters, except painful stimulus, improved to be better in the group
treated with atropine sulphate. At ten minutes, all assessments were more satisfactory
in newborns treated when compared to control group. These results presented indicate
that atropine sulphate accelerates the recovery of neonate in extrauterine life.
Key-words: Canine neonates, APGAR, atropine sulphate
Introdução
Na atualidade, a neonatologia tem despertado o interesse de veterinários,
principalmente dos que trabalham em procedimentos cirúrgicos que incluam os
pacientes neonatos e pediátricos. A equipe de cirurgia e de anestesiologistas deve
compreender as alterações fisiológicas da gestação, a farmacologia das drogas
administradas no período perinatal e seus efeitos diretos e indiretos sobre o feto e o
recém-nascido (SANTOS et al, 2009).
A avaliação neonatal logo após o início da vida extrauterina é imprescindível
para o sucesso em um procedimento de ressuscitação do filhote. O índice de
vitalidade utilizado para avaliar a condição do neonato segue uma adaptação feita
para o índice APGAR comumente utilizado em humanos (VERONESI et al, 2009).
Este índice permite verificar a frequência cardíaca e respiratória, a movimentação
muscular, a coloração da mucosa e a responsividade a estímulos dolorosos. Em cada
um dos parâmetros analisados utiliza-se um escore de pontuação entre 0 (zero) e 2,
de acordo com a eficiência da característica. Após todas as avaliações, a pontuação
total é somada e definido o APGAR final do neonato naquele momento. O APGAR
utilizado para neonatos caninos pode ser verificado na tabela 1.
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Tabela 1. Índice de APGAR modificado para aplicação em neonatos caninos e felinos
(adaptado de VERONESSI et al, 2009).
Score
Parâmetro
0
Frequência Cardíaca
Ausente
bat/min
Esforço Respiratório
Ausente
Regular
Lento e irregular
Ausente
Hipotonia
Estímulo Doloroso
Ausente
Mov. e Vocal
Movimentação
Coloração de Mucosa
Azulada
Rosa intenso
Rasada pálida
Movimentação
Muscular
1
2
< 200 bat/min
> 200
Ativo
Na tentativa de minimizar a depressão neonatal e reduzir a morbidade e
mortalidade nesta classe de pacientes, drogas estimuladoras das funções respiratória
e cardíaca podem ser utilizadas. O sulfato de atropina é um fármaco anticolinérgico ou
parassimpatolítico. Ele tem a capacidade de aumentar a frequência e o débito
cardíaco, mas há poucos efeitos diretos sobre a pressão sanguínea. Por este motivo,
seu uso tem aplicação em casos de bradicardia grave (OLIVA, 2002). Sobre o sistema
respiratório, provoca broncodilatação, aumentando o espaço morto fisiológico, e
produz também diminuição das secreções do organismo, incluindo as brônquicas. A
freqüência respiratória tende a aumentar e redução de incidência de laringoespasmo
tem sido relatada com a administração da droga (PADDLEFORD, 2001). O tratamento
da bradicardia pode ser realizado com atropina (0,03 mg/kg), elevando a frequência
cardíaca (LEAL, 2005). Pela dificuldade de acesso vascular à via intraperitoneal, pode
ser utilizada como acesso rápido ao neonato.
Este estudo objetiva avaliar a melhoria dos índices de APGAR para neonatos
caninos submetidos ao procedimento de cesariana e tratados com sulfato de atropina
intraperitoneal em diferentes momentos após a vida extrauterina.
Material e Métodos
Foram utilizadas 12 fêmeas caninas, bulldog inglês (n=3), bulldog francês
(n=7) e pug (n=2). Destas, originaram-se 64 neonatos. Foram utilizadas somente
fêmeas encaminhadas para cirurgia cesariana eletiva por solicitação do proprietário e
onde a avaliação ultrassonográfica prévia não indicava sofrimento fetal. A avaliação
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feita utilizou resultados de batimento cardíaco de pelo menos três fetos em que estes
indicassem índices acima de 200 batimentos por minuto.
Todas as cadelas foram anestesiadas segundo o seguinte protocolo: indução
da anestesia com propofol (5mg/kg) e manutenção anestésica inalatória com
isofluorano. A equipe cirúrgica e de assistentes para ressuscitação foi a mesma em
todos os procedimentos, e o período máximo admitido entre o inicio da indução e a
retirada do primeiro filhote foi de sete minutos, enquanto o limite máximo até a retirada
do último filhote foi de 15 minutos. Neonatos nascidos após este intervalo não tiveram
os dados utilizados no experimento. Após a eliminação das bolsas e anexos fetais, a
face e as vias respiratórias foram limpas e desobstruídas. Os neonatos foram
divididos em dois grupos de tratamento: neonatos nos quais não foi utilizado nenhum
fármaco estimulante cardiorrespiratório, somente as manobras comumente realizadas
para ressuscitação (GC - grupo controle) e neonatos que receberam 0,003 mg/100 gr
de peso vivo, de sulfato de atropina por via intraperitoneal (GT – grupo tratado). Os
filhotes foram avaliados em três diferentes momentos para cada um dos quesitos
citados na tabela 1. Todas as avaliações foram realizadas em três diferentes
momentos: após dois minutos de retirada do útero (M1), após cinco minutos de
retirada do útero (M2) e após dez minutos de retirada do útero (M3).
A análise estatística verificou todos os parâmetros quanto ao uso ou não da
atropina intraperitoneal na resposta neonatal, e os dados foram verificados pela
análise de variância (ANOVA), seguidos de teste qui-quadrado. O grau de
significância estabelecido foi de 5% (p<0,05), sendo todos os testes realizados pelo
SAS (1996).
Resultados
Na análise dos dados aos dois minutos após uso do fármaco, o APGAR total e
os parâmetros individuais não apresentaram diferença entre os grupos tratado e
controle. A frequência cardíaca apresentou-se abaixo de 100 bat/min e o estímulo
respiratório doloroso, enquanto a movimentação voluntária foi nula nos dois grupos.
Em relação aos resultados obtidos aos cinco minutos após o uso do fármaco no grupo
tratado, tanto a análise do APGAR total quanto os resultados individuais
apresentaram índices de melhora nos neonatos que receberam a droga. No último
momento de análise, após dez minutos de aplicação do fármaco estimulante, foi
possível verificar que estatisticamente todos os parâmetros analisados mostravam-se
superiores nos neonatos tratados com atropina em comparação ao grupo controle,
que teria recebido somente os estímulos mecânicos de ressuscitação. O APGAR total
dos neonatos tratados apresentava índice máximo de pontuação (10 pontos),
enquanto os filhotes que compuseram o grupo controle apresentavam índices de
APGAR total entre 5 e 6 (valor médio nas 34 observações de 5,5).
Discussão
Como foi descrito por OLIVA (2002), situações de bradicardia moderada a
grave possuem indicação de uso desta droga, porém sem efeitos significativos sobre
a pressão arterial do paciente. Este relato concorda com os resultados verificados no
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estudo, no qual após a ação da droga sistêmica foi verificada melhora da condição
cardíaca do neonato. Foi possível verificar também que, de acordo com melhoria
cardíaca, a função respiratória também foi estabilizada, apresentando índices de
movimentos respiratórios cada vez mais ativos e frequentes. A elevação do débito
cardíaco bem como da frequência respiratória está diretamente relacionada à
capacidade de irrigação e ao suprimento sanguíneo e de oxigênio em áreas centrais
do organismo. A vascularização correta desses órgãos vitais pode estar diretamente
relacionada ao índice de sobrevida do paciente pediátrico. O estado de consciência
do filhote pode ser avaliado de acordo com a resposta que o neonato faz aos
estímulos ambientais. Foi possível verificar que os animais com recuperação mais
rápida apresentaram também maior vitalidade de movimentação voluntária, tentando
se deslocar dentro das cubas em que foram mantidos até o fim do procedimento
cirúrgico da mãe. Além da movimentação voluntária, verificou-se a resposta
satisfatória na tentativa de fuga e vocalização quando submetidos a estímulos
dolorosos, o que confirma ainda mais o grau de consciência e recuperação do
neonato. Tem sido relatado que a bradicardia neonatal em resposta aos fármacos
anestésicos usados na mãe é frequentemente causada por depressão miocárdica
direta, secundária a hipóxia do músculo cardíaco, e não por mediação vagal. Por este
motivo seria contra indicado o uso de fármacos que induzissem a taquicardia por ação
anticolinérgica, devido ao risco de exercer efeitos adversos, exacerbando a hipóxia
miocárdica (DAVIDSON, 2003). Nos resultados obtidos neste estudo não foi verificado
piora da condição neonatal em pacientes tratados com o sulfato de atropina, porém
mais estudos são recomendados buscando esclarecer tais posicionamentos.
Os resultados apresentados comprovam que o uso do sulfato de atropina por
via intraperitoneal é indicado em situações de ressuscitação neonatal em cães
oriundos de cirurgias cesarianas e onde a depressão do filhote após a retirada do
útero seja significante.
Referencias Bibliográficas
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survival prognosis. Theriogenology , vol. 72, 2009, 401–407.
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EFEITO TERAPÊUTICO DE DOIS PROTOCOLOS SOBRE AS LESÕES
REMOTAS DERIVADAS DA SÍNDROME ISQUEMIA E REPERFUSÃO
INTESTINAL EM COELHOS
THE
TERAPEUTIC
EFFECT
OF
TWO
PROTOCOLS
ON
REMOTE
LESIONS
DERIVED
FROM
INTESTINAL
ISCHEMIA
AND
REPERFUSION
SYNDROME
IN
RABBITS
ARANZALES,
J.R.M.1641;
RIVAS,
P.C.L.1652;
ALVES,
G.E.S1663.
Palavras-chave: GIP, Ozônio, Isquemia e reperfusão
Key words: GIP, Ozone, Ischemia and reperfusion
Introdução
As lesões focais, adjacentes e distantes geradas da síndrome Isquemia e
Reperfusão (I/R) têm relevância em muitas situações clinicas e cirúrgicas da rotina. A
complexidade da I/R exige alternativas terapêuticas multimodais encaminhadas a
prevenir ou diminuir as cascatas de eventos vasculares, celulares, bioquímicos,
moleculares e enzimáticos envolvidos1. A tentativa de manter o metabolismo
energético no tecido isquêmico e prevenir na reperfusão a formação de radicais livres
de oxigênio (RLO), inibir a ativação de fosfolipasa A2 e prevenção da acumulação de
polimorfo nucleado neutrófilos (PMNNs), tem sido alvo terapêutico em órgãos
específicos submetidos a I/R 2,3,4. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do
tratamento à base de Glicose, Insulina e Potássio (GIP) e Ozônio na diminuição das
lesões achadas em miocárdio, pulmão, fígado e rins derivadas de um modelo de I/R
intestinal em coelhos.
Metodologia
Trinta coelhos da raça Nova Zelandês com 3kg de peso aproximadamente,
foram submetidos à anestesia geral e preparados para laparotomia mediana para
induzir I/R no jejuno mediante obstrução arteriovenosa e mural nos extremos do
segmento. Os vasos mesentéricos foram dissecados e ligados com drenos de
penrose no 3; os segmentos escolhidos foram avaliados em períodos de duas e 12
horas de isquemia e reperfusão, respectivamente, contados logo após a retirada das
ligaduras. O total de animais foi dividido em três grupos: Grupo 1: tratados com GIP
(mistura de 30ml de glicose 5%, 10UI de insulina e 3.6ml de potássio), administrado
pela via intravenosa; Grupo 2: tratados com ozônio (50µ/kg diluído em 30ml de
164
Doutorando EV/UFMG - Bolsista Capes/PEC-PG, docente EMV/Universidade de Antioquia - Medellín - Colômbia
(email: [email protected]);
165
Docente Universidade da Salle, Bogotá - Colômbia;
166
Docente EV/UFMG.
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solução salina) administrado pela via intravenosa e Grupo 0: Grupo instrumentado
mas não tratado. Os tratamentos foram administrados ao final do período de
isquemia. Eutanásia foi praticada após 12 horas de reperfusão para recolher amostras
de miocárdio, pulmão, fígado e rins a fim de avaliar o efeito nas lesões achadas em
cada grupo experimental. As amostras foram processadas segundo técnicas
rotineiras, coradas pela H&E e examinadas em microscópio de luz. Os resultados
foram analisados mediante estatística descritiva das lesões em os órgãos de cada
grupo e através chi-quadrado (X2) na dispersão de frequência de cada grau de lesão
de cada grupo em cada órgão estudado. Diferencia significativa (P<0,05) foi
considerada para cada grupo de tratamento.
Resultados
A avaliação histológica e a análise estatística das amostras apresentaram os
seguintes dados: Miocárdio: diferencia significativa entre os grupos de tratamentos
para os achados de congestão (P= 0,026), edema (P= 0) e degeneração de fibras
miocárdicas (P= 0,047), sendo mais graves no grupo controle, leves no grupo tratados
com ozônio e com relevante diminuição no grupo tratado com GIP. Pulmão, Fígado e
Rins: Não foi evidenciado diferencia significativa na diminuição dos graus de lesão
entre os grupos de tratamentos.
Discussão
Os efeitos destas duas alternativas terapêuticas sobre as lesões da I/R nos
segmentos do jejuno deste modelo já foram descritos em outro trabalho5. Os órgãos
de estudo em todos os grupos experimentais apresentaram alterações
histopatológicas de diferente intensidade, indicando o estabelecimento da síndrome e
suas consequências, embora isto não fosse correlacionado e quantificado com
marcadores de lesão celular, mas o grupo controle mostrou relevantes alterações
comparadas com os grupos tratados. O grupo tratado com a solução GIP mostrou
melhores resultados, principalmente no miocárdio, confirmando os dados de trabalhos
feitos neste órgão, uma vez que ela recupera a contração das fibras cardíacas,
aumenta as fontes energéticas e a glicose anaeróbica das células miocárdicas
submetidas à isquemia, fatos que argumentam a propriedade cardioprotetora de
GIP6,7. O grupo do Ozônio, apesar de não mostrar significância estadística, efeitos
conservadores podem estar associados à modulação de enzimas antioxidantes ou às
propriedades químicas do ozônio que interferem com as etapas bioquímicas da
reperfusão8. Estatisticamente a intensidade das lesões em órgãos como pulmão,
fígado e rins não diminuíram significativamente entre os tratamentos, mas o análise
dos dados mostrou uma tendência de graus de lesão mais intensos nos animais do
grupo controle; indicando o deterioro progressivo da função destes órgãos como se
descreve tanto em modelos experimentais, como em casos clínicos9. Finalmente, os
diferentes graus de resposta nos tecidos avaliados mostram a natureza complexa da
síndrome I/R.
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Conclusão
A solução a base de GIP só mostrou melhoria significativa estadisticamente
nas lesões do coração, porém nos outros órgãos evidenciou tendência de menores
lesões junto com o grupo tratado com ozônio. Trabalhos mais acurados e apoiados
em marcadores bioquímicos e parâmetros de laboratório devem ser desenvolvidos
para determinar os efeitos pouco evidentes em órgãos alvo da I/R.
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7. Martin A, Luquette M, Besner G (2005). Timing, route, and dose of
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protection against intestinal ischemia-reperfusion injury. Journal of Pediatric
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Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
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suplemento,
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
AUTOMUTILAÇÃO POR SÍNDROME DA CAUDA EQUINA EM UM CÃO:
RELATO DE CASO
SELF‐MUTILATION
DUE
TO
CAUDA
EQUINA
SYNDROME
IN
DOG:
REPORT
CASE
SOUZA,
L.A167,
DIAS,
T.A1.,
OLIVEIRA,
B.J.N
A¹.,
SILVA,
L.A.F¹.,
EURIDES,
D168.
ALVES,
L.B2.,
COSTA,
F.R.M2.
Palavras chave: Descompressão, doenças da coluna vertebral, laminectomia dorsal
Keywords: Decompression, spinal diseases, dorsal laminectomy
Introdução
A automutilação é considerada um distúrbio comportamental caracterizado por
lambedura, mastigação e arranhadura. A lambedura excessiva faz com que o animal
sinta-se melhor por meio do efeito analgésico causado pela liberação de endorfinas
com diminuição da percepção da dor. Dentre as causas, têm-se as dermatopatias
psicogênicas, neuropatias1, epilepsias sensoriais, mielopatias e ganglioneuropatias,
assim como a síndrome da cauda equina2. Sabe-se que essa síndrome envolve
distúrbios congênitos ou adquiridos, ocorrendo de forma isolada ou associada.
Geralmente são responsáveis pelo estreitamento do canal vertebral lombossacro,
resultando em compressão das raízes nervosas da cauda equina3. Dentre os
distúrbios congênitos relacionados, estão às anomalias vertebrais e ou das raízes
nervosas, ao contrário dos adquiridos, que se apresentam por estenoses do canal
vertebral com origem traumática, degenerativa e/ou pós-cirúrgica, assim como pela
instabilidade vertebral, luxações, subluxações, discopatias e neoplasias4. Os
principais sintomas de compressão da cauda equina referem-se à irritação de fibras
sensoriais provenientes dos nervos pudendo, ciático e caudais5. Dor à palpação da
articulação lombossacra, paraparesias, atrofia muscular dos membros pélvicos,
claudicação, paresia da cauda, perda de propriocepção e alterações viscerais como
incontinências urinária e/ou fecal podem ser encontrados6. O diagnóstico da síndrome
baseia-se nos sinais clínicos característicos, nos exames radiográficos simples e
contrastados e nos achados da laminectomia exploratória. O tratamento preconizado
é a laminectomia dorsal lombossacra, acompanhada, quando necessário, de
facetectomia, foraminotomia, fenestração dorsal de discos intervertebrais e/ou
estabilização vertebral4. O presente trabalho teve como objetivo relatar um quadro de
167
Universidade Federal de Goiás. Escola de Veterinária (UFG/EV). [email protected]
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Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária (UFU/Famev). Escola de Veterinária,
Campus Samambaia. Caixa postal 131 - CEP: 74001-970. Goiânia - GO
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
síndrome da cauda equina caracterizada por automutilação em um cão da raça Pastor
Belga.
Metodologia
Foi atendido um cão macho da raça Pastor Belga de sete anos de idade e
27kg de peso corporal, que apresentava claudicação exacerbada dos membros
pélvicos acompanhada por dor durante a palpação da região lombosacra. O animal
apresentava-se com um quadro de cifose além de áreas caracterizadas por constante
lambedura e automutilação. O breve histórico relatado pelo proprietário teve ênfase na
descrição de perseguição da cauda com mutilação, dificuldade em se levantar, subir
degraus, saltar e andar “cambaleante”. Ao exame clínico, foi constatado prurido
intenso, automutilação e feridas ulceradas nas regiões expostas a intensa lambedura,
além da disfunção urinária e fecal caracterizadas por gotejamento de urina e
relaxamento do esfíncter anal. No exame neurológico notaram-se déficits
proprioceptivos conscientes, fraqueza e paresia dos membros pélvicos. Por meio da
dorsoflexão da cauda e palpação da região lombosacra, o animal respondeu com
reflexos de dor em virtude do aumento de sensibilidade da região devido à
compressão de nervos. Foram solicitados exames radiológicos complementados por
mielografia e exames laboratoriais. Por meio de radiografias simples, foram
constatadas sacralização da L7, osteofitose e estenose do canal vertebral em sacral 3
(S3) - Co1 e Co1-Co2. Na epidurografia, o contraste ultrapassou com dificuldade o local
de estenose. Como tratamento, optou-se pela laminectomia dorsal descompressiva do
canal vertebral lombossacro, a qual foi estendida até as vértebras coccígeas e
foraminotomia. O protocolo anestésico utilizado consistiu-se em pré-medicação com
acepromazina (0,05mg/kg) associada com cloridrato de tramadol (2,0mg/Kg), seguida
de indução por propofol (8,0mg/Kg) e manutenção por anestesia volátil composta por
isoflurano. Com o animal em decúbito esternal, após ampla tricotomia e antissepsia,
efetuou-se uma abordagem dorsal à coluna vertebral incisando pele, tecido
subcutâneo e divulsão da musculatura até que os processos vertebrais fossem
localizados e isolados. Na sequência, mediante o uso de uma pinça goiva, foi possível
a remoção dos processos vertebrais da região lombosacra assim como o desgaste
ósseo por meio de uma perfuratriz elétrica facilitando o acesso ao canal medular.
Optou-se pela técnica de fenestração dorsal dos discos intervertebrais a fim de
realizar a descompressão em L5-L6 e L6-L7. O procedimento foi realizado com auxilio
de uma lâmina de bisturi número 11 e pinças odontológicas pediátricas. No pósoperatório foram recomendadas sessões de acupuntura, restrição à atividade física e
retorno semanal para avaliação neurológica.
Resultados
Durante o procedimento cirúrgico, lesões estenosantes encontradas mediante
às laminectomias confirmaram o diagnóstico de compressão de raízes da cauda
eqüina. A gravidade das lesões causadas pela automutilação encontradas na cauda
tornou necessário a realização de caudectomia. A laminectomia dorsal lombossacra
descompressiva associada à fenestração dos discos vertebrais e foraminotomia
permitiu debelar os distúrbios sensoriais causadores de automutilação. Além disso, o
quadro de paresia e ataxia dos membros pélvicos e as disfunções urinária e fecal
haviam melhorado de forma satisfatória até sexta semana de acompanhamento.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Discussão
A suspeita de que a compressão de raízes nervosas da cauda equina estava
associada à automutilação foi baseada nos sintomas de dor à palpação na região
lombossacra, assim como parestesias na cauda, genitália e membros pélvicos já
tinham sido descritos como característicos de síndrome da cauda equina por outros
autores5,6. O diagnóstico foi concluído conforme os resultados encontrados nos
exames radiográficos simples e contrastados, nos quais encontrou-se os sinais típicos
desta doença, como estenoses do canal vertebral, osteofitoses e sacralização da L7.
A difusão interrompida do contraste na epidurografia também foi conclusiva para o
diagnóstico. A síndrome de automutilação em cães e gatos, conforme citada, é
erroneamente tratada como dermatopatia, esquecendo-se de que compressões e
irritações das raízes dos nervos ciáticos, pudendos e caudais podem levar à
automutilação dos membros pélvicos, genitália, ânus e períneo ou cauda,
respectivamente7.
Conclusões
Portanto, cabe ressaltar que parestesias e automutilações podem
corresponder a compressões das raízes nervosas correspondentes à cauda equina,
junto às outras patologias. O resultado apresentado pelo relato indica que a
laminectomia dorsal lombossacra associada à fenestração dos discos vertebrais e
foraminotomia cessou o quadro de automutilação e perseguição da cauda que
acometia um cão da raça Pastor Belga.
Referências
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(1992). Tratado de medicina interna veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Manole,
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animal neurology. 2.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, cap.20, 469-477.
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Tratado de medicina interna veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Manole, cap. 62,
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animal surgery. 2.ed. Philadelphia: Saunders, cap.77, 1094-1105.
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Mosby, 476 p.
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3.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 629-635.
AVULSÃO DO TENDÃO CALCANEAR COMUM EM CÃO – RELATO
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DE CASO
AVULSION
OF
CALCANEUS
TENDON
IN
DOG
–
CASE
REPORT
SOUZA,
L.A169.,
DIAS,
T.A1.,
OLIVEIRA,
B.J.N
A¹.,
SILVA,
L.A.F¹.,
EURIDES,
D170.,
MANTOVANI,
M.M2,
COSTA,
F.R.M2
Palavras-chave: Polipropileno, Bunnell, cão
Keywords: Polypropilene, Bunnell, dog
Introdução
O aparelho locomotor é um complexo sistema incluindo músculos, tendões,
segmentos ósseos e articulações, que são controlados pelo sistema nervoso central e
responsáveis pela locomoção1. A força aplicada sobre os músculos é transferida para
os ossos por intermédio dos tendões, promovendo a movimentação do esqueleto 2.
Sabe-se que, na rotina clínica cirúrgica veterinária, lesões tendíneas são frequentes,
podendo ocorrer secção parcial ou total do tendão causadas por objetos
perfurocortantes e responsáveis por rupturas envolvendo o tendão calcâneo comum e
os flexores digitais3. Quando há perda expressiva do tecido tendíneo, torna-se
necessária a enxertia de tecido mole ou o uso de próteses que fornecem suporte e
orientação para migração de células e formação das fibras tendíneas4. Terapias
convencionais nem sempre apresentam resultados satisfatórios, por essa razão a
medicina regenerativa desponta como uma possibilidade terapêutica no tratamento de
várias doenças degenerativas, para as quais ainda não há tratamento específico ou
efetivo5. Tendo em vista a importância e as limitações relacionadas ao diagnóstico e o
tratamento das principais enfermidades relacionadas ao aparelho locomotor optou-se
por relatar um caso de avulsão do tendão calcâneo comum em um cão utilizado para
pastoreio.
Metodologia
Foi atendido um cão macho da raça Border Collie, quatro anos de idade,
pesando 18 Kg. O proprietário relatou que o animal era utilizado para o pastoreio e,
após um dia de trabalho, apresentou dificuldade em caminhar e arrastava o membro
pélvico esquerdo. No dia seguinte, foi atendido em uma clínica veterinária e, durante o
exame físico do membro, o médico veterinário constatou que os sinais indicavam
trauma gerado durante as atividades. Assim, foi prescrito o tratamento com
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compressas de gelo, repouso e medicação anti-inflamatória composta por
cetoprofeno. No décimo dia durante o retorno, o animal apresentava uma breve
melhora com leve apoio do membro no solo, porém a sintomatologia ainda estava
presente. Em uma nova tentativa, foi repetida a primeira prescrição com adição de
fisioterapia. No décimo quinto dia, sem obter um resultado satisfatório o proprietário
foi orientado a procurar o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás.
Durante o exame físico, o animal esboçava dificuldade na locomoção, marcada pela
intensa claudicação do membro pélvico esquerdo. O membro apresentava-se
“achinelado”, com posição mais plantígrada que o normal, sendo que durante a
hiperflexão do tarso notou-se flacidez do tendão calcanear, além de o animal
preservar a articulação tibiotársica hiperflexionada. Durante a palpação do tendão
calcâneo comum, foi observado um ponto de ruptura na sua inserção com o tarso,
permitindo reposicionamento sem tensão. Além disso, notou-se a presença de
fibroplasia com consistência firme. O animal estava em bom estado geral, porém com
leve atrofia da musculatura do quadríceps femoral esquerdo. O diagnóstico de
avulsão do tendão calcâneo comum foi confirmado pelos achados do exame físico e
radiográfico. Assim, o tratamento preconizado constituiu-se na reconstituição cirúrgica
do mecanismo de Aquiles. Sob efeito anestésico e em decúbito lateral direito, incisouse a pele na região caudolateral distal da tíbia a fim de localizar o tendão calcâneo e a
tuberosidade calcânea. Uma área de intensa cicatrização marcada por frouxidão
tendínea foi observada, porém não foram verificados fragmentos ósseos avulsionados
e tampouco foi possível diferenciar os três tendões que compõem o mecanismo de
Aquiles devido ao processo de fibrose. Na sequência, foi realizado o debridamento da
extremidade distal do tendão removendo toda fibroplasia presente no coto tendíneo.
Em seguida, com uma perfuratriz elétrica, realizou-se um orifício pelo qual foi
ancorado o fio de polipropileno na tuberosidade calcânea. Posteriormente o fio foi
passado no tendão em um padrão tipo Bunnell modificado, para depois finalizar
tenorrafia. Após a sutura tendínea, não foi possível uma completa união do tendão e
osso devido ao debridamento de uma grande área tomada pela fibroplasia e
consequentemente o encurtamento das fibras tendíneas. Diante desse quadro, optouse utilizar enxerto alógeno de fáscia lata preservada em glicerina 98%, na qual foi
introduzida pelo mesmo orifício feito na tuberosidade calcânea de modo que a mesma
fosse dividida ao meio e fixada por pontos simples isolados com fio náilon n° 2-0
substituindo o segmento tendíneo perdido. O tendão foi recoberto por tecido
subcutâneo, além de sutura intradérmica realizada na pele. O membro foi imobilizado
com gesso sintético por 30 dias, impedindo ampla movimentação da articulação
tibiotársica. Prescreveu-se cetoprofeno e cefalexina no pós-operatório, assim como
higienização da ferida cirúrgica diariamente pela abertura deixada na imobilização.
Também foram recomendadas breves caminhadas, restrição de espaço livre do
animal e retorno para avaliações com 15, 30, 45, 60 e 90 dias de pós-operatório.
Resultados e Discussão
A técnica de tenorrafia empregada, assim como a forma de fixação dos fios de
suturas, também são utilizadas por diversos autores 6,7 , os quais concordam que, na
avulsão do tendão calcâneo comum, a sutura deve ser ancorada na tuberosidade
calcânea e no mínimo dois pontos de sutura devem ser inseridos no tendão. As
suturas de Bunnell foram eficazes, pois permitiram uma coaptação adequada das
extremidades tendíneas de forma segura e não interferiram na vascularização no local
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
da sutura. Em relação ao fio, utilizou-se o náilon e o de polipropileno, que foram
inertes, resistentes, de fácil passagem através dos tecidos e não absorvíveis6.
Durante os retornos do animal, notou-se que o processo cicatricial foi marcado por
uma intensa formação de fibrose no local da avulsão, identificada pela palpação de
um nódulo firme e fixo de aproximadamente 3 cm. Após a retirada do gesso sintético
aos 30 dias de pós-operatório, durante o exame físico do membro, realizou-se a
hiperflexão do tarso não observando a flacidez do tendão calcanear constatada
anteriormente no exame pré-cirúrgico, porém ainda preservava a articulação
tibiotársica levemente hiperflexionada. Aos 45 dias o animal apresentava
deambulação quase que normal, porém ainda evitava movimentos amplos e não
distribuía o peso de forma igual sobre os membros pélvicos, sobrecarregando o
membro contralateral da avulsão. Durante a avaliação aos 60 dias, uma grande
melhora na deambulação foi constatada e, aos 90 dias, com recuperação total, o
animal foi liberado para suas atividades normais que envolviam a sua utilização no
pastoreio.
Traumatismos contusos diretos, comumente associados a quedas, são
causas frequentes de avulsão do tendão calcâneo comum 7 como a descrita.
Conclusões
Considerando os resultados obtidos, é possível afirmar que o uso de fio
polipropileno em suturas do tipo Bunnell modificado, associado ao enxerto alógeno de
fáscia lata ancorados na tuberosidade calcânea, foi eficaz na redução de uma avulsão
do mecanismo de Aquiles, pois promoveu a cicatrização do tendão e o retorno do
animal a suas atividades de pastoreio.
Referências
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Saunders, p.77-94.
2. Smith RKW, Webbon PM (1996). The physiology of normal tendon and
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4. Valdés-Vásquez MA et al. (1996).Evaluation of an autologous tendon graft
repair method for gap healing of the deep digital flexor tendon in horses.
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biology and potential use in therapy. Basic Clinical Pharmacology Toxicology,
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pequenos animais. 2.ed. São Paulo: Manole, v.2, cap.146, 2351-2378.
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tendíneas. In: Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Roca, cap.31, 11041111.
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ANESTESIA NO PACIENTE COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO
SUBMETIDO À CRANIOTOMIA: RELATO DE CASO
ANESTHESIA
IN
PATIENTS
WITH
HEAD
INJURY
UNDERGOING
CRANIOTOMY:
CASE
REPORT
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
FONSECA,
A.
M.171;
GOMES,
F.
A.
S172;
COELHO,
C.
M.
M.173;
MARTINS,
S.
B.1;
SANTOS,
K.
S.1;
ANDRASCHKO,
M.
M1.
DUQUE,
J.
C.
M.174
Palavras-chave: infusão contínua, pressão intracraniana, propofol
Key words: intravenous infusion, intracranial pressure, propofol
Introdução
O traumatismo cranioencefálico (TCE) constitui afecção de difícil tratamento e
elevada taxa de mortalidade. Os fatores complicadores, associados à sua magnitude
e aos insultos secundários, induzem mudanças fisiológicas como hipoventilação,
hipóxia, taquicardia, arritmias e hipertensão intracraniana1,2,3. O conhecimento da
fisiopatologia deste insulto torna-se essencial na abordagem da técnica cirúrgica e da
escolha do protocolo anestésico, a fim de que os efeitos dos fármacos anestésicos no
sistema nervoso central (SNC) não causem maior detrimento à homeostase do
paciente, como alteração na atividade elétrica neuronal, no fluxo sanguíneo cerebral
(FSC), na produção de líquido cerebrorraquidiano e na pressão intracraniana (PIC) 2. A
craniotomia para fins de diminuição da PIC é manobra de emergência e por vezes
eficaz para impedir a progressão das lesões ao tecido nervoso3. Cabe ao anestesista
a escolha do protocolo mais adequado ao paciente neurologicamente
descompensado que, na maioria das vezes, também apresenta alterações
cardiorrespiratórias significativas. Este trabalho descreve o procedimento anestésico
aplicado em uma fêmea canina atendida no Serviço de Emergência do Hospital
Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (HV/EV/UFG),
diagnosticada com TCE. A cadela, sem raça definida, com oito anos de idade e cinco
quilogramas de peso, apresentava histórico de ter sido atacada por outro canino,
sendo mordida na cabeça. Ainda, segundo o proprietário, o animal apresentou
vômitos, convulsões e tosse após o ocorrido. Durante o exame clínico, foram
observadas lesões lacerativas com secreção purulenta na região frontal do crânio,
prostação, anisocoria com miose puntiforme do olho esquerdo, reflexo pupilar
diminuído bilateralmente, depressão mental, taquicardia (142 bpm) e edema pulmonar
agudo.
Metodologia
Perante o quadro clínico, o animal foi posicionado cefaloaclive de 30°,
submetido a oxigenioterapia via sonda nasal, fluidoterapia com solução fisiológica
NaCl 0,9% (10ml/kg/hora,IV) e administrado manitol (250mg/kg,IV), amoxicilina mais
171
Pós-graduanda latu sensu. Escola de Veterinária. Universidade Federal de Goiás (UFG). Rua T-62, n 1104,
Residencial Gaibu, apt.502, Setor Bueno. e-mail: angela_moni @hotmail.com
172
Professor Mestre Substituto de Clínica Médica Veterinária da UFG
173
Doutoranda em Cirurgia Veterinária -FCAV- Unesp Jaboticabal
174
Professor Doutor Adjunto de Anestesiologia Veterinária da UFG
Jornal
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
clavulanato de potássio (20mg/kg,IM) e succinato de metilprednisolona (30mg/kg,IV).
Foram realizados exames hematológicos, os quais demonstraram trombocitose (1506
giga/L), leucopenia absoluta (5800/mm3) por eosinopenia (58/mm3) e linfopenia
(290/mm3). A bioquímica sérica apresentou aumento da proteína total e da atividade
enzimática da alanina aminotransferase, com valores de 9,8g/dl e 68 UI/L,
respectivamente. No exame radiográfico laterolateral e ventrodorsal da cabeça,
visibilizou-se perda da continuidade óssea de aproximadamente um centímetro de
diâmetro na região mediana do osso frontal, com presença de esquírolas ósseas no
interior do seio frontal, diagnosticando-se, radiograficamente, fratura cominuta de osso
frontal. Considerando a anamnese, os exames clínicos, laboratoriais e de diagnóstico
por imagem, diagnosticou-se TCE, sendo preconizada intervenção cirúrgica
emergencial de craniotomia rostrotentorial lateral direita. Para realização do
procedimento, a fluidoterapia foi mantida e o animal imediatamente induzido com
propofol (3mg/kg), midazolan (0,1mg/kg) e fentanil (2µg/kg), concomitantemente por
via intravenosa, e manutenção anestésica com infusão contínua de propofol
(0,4mg/kg/min,IV) e fentanil (5µg/kg/h, IV), por bomba de infusão. O período
transanestésico apresentou duração de duas horas, sendo o animal, nos 15 primeiros
minutos, submetido à ventilação espontânea e, no tempo restante, à ventilação
manual pelo sistema de Baraka. O animal manteve-se estável durante o período trans
e pós-anestésico imediato, com frequência cardíaca média de 148 bpm e saturação
de oxigênio de 98%, voltando a respirar espontaneamente dez minutos após
encerrada a administração de anestésicos.
Resultados e Discussão
O animal provavelmente já apresentava injúria cerebral secundária ao ser
recebido no HV, visto que a convulsão constitui um dos sinais clínicos mais comuns
do processo e pode ocorrer minutos ou horas após o trauma, perpetuando e
agravando o quadro4. Apesar da tomografia computadorizada e ressonância
magnética serem ferramentas mais precisas para o diagnóstico4, na ausência destes
recursos o exame radiográfico foi fundamental para o diagnóstico e indicação
cirúrgica. O posicionamento do animal com cabeça elevada visou a facilitar a
drenagem venosa e auxiliar na diminuição da PIC4. O uso de manitol baseou-se no
fato de este constituir eficiente diurético de ação no SNC e incrementar o FSC, e do
succinato de metilprednisolona, por este diminuir a injúria de reperfusão sanguínea
nas regiões afetadas. No entanto, o uso deste último mostra-se controverso pela
possibilidade de desfavorecer a recuperação do paciente3,4. O protocolo anestésico
objetivou minimizar a possibilidade de agravamento do estado clínico e neurológico
por aumento da PIC e isquemia cerebral. A ausência de medicação pré-anestésica,
sequer opióides ou derivados, baseou-se no fato de que mesmo com efeitos mínimos
no FSC e PIC, poderia ocorrer um aumento indireto na PIC devido à hipercapnia,
decorrente da hipoventilação induzida pelos mesmos2,3,8,9. Além disso, refutou-se
qualquer possibilidade de alteração cardiovascular, por mínima que fosse. O uso do
propofol na indução anestésica deu-se em razão de sua rápida indução sem
excitação. Sua associação com o benzodiazepínico visou a uma anestesia
balanceada, desejando evitar depressão cardiovascular e respiratória8. A manutenção
com infusão de propofol e fentanil objetivou minimizar o requerimento de anestésicos
durante o período transoperatório e propiciar melhor analgesia2,6,7. Pacientes
submetidos a neurocirurgias anestesiados com propofol apresentam menor FSC,
Jornal
Brasileiro
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Ciência
Animal
–
JBCA,
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suplemento,
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
diminuição do metabolismo, do consumo de oxigênio cerebral e da PIC, visto que
anestésicos voláteis agem como vasodilatadores cerebrais3,5, 6,9. Vale ressaltar ainda
que o propofol proporciona manutenção da autorregulação e maior perfusão cerebral,
além de não associar-se com mudanças hemodinâmicas cerebrais significativas5,6,9. O
uso do fentanil, tanto na indução quanto na manutenção, também se baseou em seus
efeitos mínimos sobre o FSC e na PIC, além de incremento da analgesia7. O período
trans e pós-anestésico imediato pôde ser considerado como de sucesso, visto que
clinicamente atingiu os objetivos de manter a estabilidade cardiorrespiratória e
hemodinâmica para realização do procedimento em sua totalidade e com
tranquilidade, além de recuperação pós-anestésica de qualidade e rápida. O controle
anestésico do paciente, tão prezado no presente relato, justifica-se pelo fato de que
em pacientes com alterações neurológicas deve-se evitar hipóxia, hipercapnia,
instabilidade respiratória e cardiovascular a fim de preservar a função neural e
minimizar a isquemia no SNC2,7.
Conclusão
Diante do relatado, conclui-se que o protocolo anestésico mostrou-se eficiente
para anestesia em paciente com trauma cranioencefálico, podendo constituir sugestão
favorável de anestesia para animais com tal alteração, mesmo em pacientes com
restrita monitoração anestésica, como descrito no presente relato.
Referências
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solution avoids intraneural calcium influx after traumatic brain injury associated
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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sobre variáveis intracranianas em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina
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FOSFATASE ALCALINA SÉRICA X EXAMES RADIOGRÁFICOS EM
LESÕES OSTEOCONDRAIS DE COELHOS TRATADAS COM CÉLULAS
MONONUCLEARES E PROTEÍNA MORFOGENÉTICA ÓSSEA
Jornal
Brasileiro
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Ciência
Animal
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suplemento,
2010.
211
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
SERUM ALKALINE PHOSPHATASE X RADIOGRAPHIC EXAMINATION IN
OSTEOCHONDRAL LESIONS IN RABBITS TREATED WITH MONONUCLEAR
CELLS AND BONE MORPHOGENETIC PROTEIN
SOUZA,
L.A175.,
OLIVEIRA,
B.J.N.A1.,
EURIDES,
D176.,
DIAS,
T.A1.,
ALVES,
L.B2.;
SILVA,
L.A.F1.,
ARRUDA,
A.F.D.P2
Palavras-chave: Células-tronco, consolidação de fraturas, marcador ósseo
Keywords: Stem cells, fracture healing, bone marker
Introdução
O uso de métodos laboratoriais que permitam a avaliação do metabolismo
ósseo de uma maneira confiável, rápida e prática tem sido um dos objetivos
almejados pelos pesquisadores que atuam nessa área, pois o tecido ósseo apresenta
uma série de características peculiares, referentes ao processo de regeneração
óssea. Nesse caso, técnicas e materiais para auxiliar no reparo de grandes defeitos e
métodos para acompanhar o processo cicatricial da lesão tornam-se necessários1. A
taxa de formação e degradação óssea pode ser estimada por meio de marcadores
bioquímicos específicos como as fosfatases alcalinas, que indicam a atividade de
osteoblastos no organismo2. No entanto, o aumento da atividade sérica ocorre em
condições de colestase, indução por drogas, animais em crescimento e em fêmeas
gestantes, tornando necessário o uso de outros exames, como o radiográfico, para
acompanhar a reparação óssea3. Este trabalho teve como objetivo avaliar a atividade
sérica da fosfatase alcalina em coelhos e compará-la aos exames radiográficos após
o reparo de lesões osteocondrais com aplicação intra-articular de células
mononucleares autológas da medula óssea e proteína morfogenética óssea.
Metodologia
Foram colhidas 24 articulações femorotibiopatelares de coelhos em matadouro
para obtenção dos enxertos. Após exposição da articulação, removeu-se uma área de
0,4cm largura x 1,0cm de comprimento sobre o sulco troclear femoral por meio de um
disco diamantado acoplado á uma perfuratriz e armazenada em glicerina a 98%. Os
procedimentos foram realizados em 24 coelhos adultos, machos da raça Nova
Zelândia, distribuídos em grupo controle (GC), o tratado com células mononucleares
da medula óssea (GCM) e o grupo que recebeu a associação de células
175
Universidade Federal de Goiás. Escola de Veterinária (UFG/EV). [email protected]
176
Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária (UFU/Famev).
Escola de Veterinária, Campus Samambaia. Caixa postal 131 - CEP: 74001-970. Goiânia–GO.
210
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
mononucleares autólogas e proteína morfogenética óssea (GCM+BMP). Sob efeito
anestésico, a colheita da medula óssea (2,0 mL) foi realizada com uma agulha
metálica de Rosenthal inserida no tubérculo umeral empregando uma seringa
contendo 0,1 mL heparina (5000U/mL). As amostras foram acondicionadas em tubos
Falcon 15 mL e diluídas (volume/volume, 1:1) em solução salina tamponada (PBS). Posteriormente, foram
depositadas sobre 2 mL do gradiente de densidade Ficoll-Paque® e centrifugadas a
495 x g por 30 minutos a 15ºC. Em seguida, a fração mononuclear foi colhida e mais
três lavagens a 385 x g por 10 minutos a 4ºC foram realizadas, duas com 10 mL de
solução salina tamponada (PBS) e uma com meio de cultivo modificado de Dulbecco
(DMEM) suplementado com soro fetal bovino a 10%. Com o animal em decúbito
dorsal foi realizada uma incisão na região parapatelar lateral do membro pélvico
esquerdo com incisão da cápsula articular. Com a patela deslocada medialmente
mensurou-se sobre o sulco troclear femoral uma área de 0,4 cm de largura x 1,0 cm
de comprimento e removida por um disco diamantado acoplado a uma perfuratriz
elétrica, preservando as trócleas medial e lateral. O local foi preenchido com enxerto
alógeno conservado em glicerina a 98% e, com a patela reposicionada, procedeu-se à
sutura capsular, redução do espaço subcutâneo e a dermorrafia. As unidades
experimentais do grupo GCM receberam a administração intra-articular de 0,5 mL
com 2x106 células mononucleares e o GCM+BMP o mesmo número de células, porém
associadas com 1 µg de rhBMP-2. Para o acompanhamento da fosfatase alcalina,
foram colhidos por venipunção da jugular externa 2 mL de sangue no dia zero (dia do
procedimento), 3o, 15o, 30o e 45o dia de PO. Em tubos sem anticoagulante as
amostras foram mantidas até a completa coagulação e centrifugadas a 720 g por dez
minutos para obtenção do soro e determinação da concentração sérica da fosfatase
alcalina pelo método Cinético Optimizado – IFCC em analisador automático utilizando
kit comercial. Além disso, foram feitos exames radiográficos no 30° e 45° dia de PO a
fim de permitir o estudo comparativo entre as imagens obtidas e os perfis séricos da
enzima. Utilizaram-se blocos casualizados, análise de variância em esquema fatorial e
teste de Tukey (p=0,05).
Resultados
Os resultados demonstraram variações substanciais nos níveis séricos desta
enzima que variaram de 10,9 a 524 U/L. Aspectos radiográficos da articulação
femorotibiopatelar aos 30 dias de PO dos animais do GC apresentaram reação óssea
exacerbada, rarefação do osso subcondral, perda da linha de cartilagem e presença
de osteófitos nas bordas trocleares. No mesmo período no GCM e no GCM+BMP foi
possível observar aspecto articular normal, porém no GCM o enxerto ainda não
estava totalmente osteointegrado. Aos 45 dias de PO persistia a rarefação óssea dos
côndilos femurais com espaçamento entre as trabéculas ósseas no GC e uma
pequena depressão no local onde realizou o enxerto osteocondral nos animais do
GCM. Já no GCM +BMP observou-se o aspecto normal da articulação, com o enxerto
integrado no leito receptor e ausência de osteoartrose.
Discussão
211
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Valores normais da fosfatase alcalina sérica em coelhos variam entre 70 de
145 U/L4 , o que condiz com a média geral dos grupos de 88,34 U/L. Porém a
discrepância nos valores pode ser explicada pela constante modificação do tecido em
diferentes fases da formação do calo ósseo e possivelmente pela influência da
fosfatase hepática e intestinal. Sabe-se que o calo ósseo encontra-se formado ao
final da segunda ou terceira semana e a partir deste período ocorre diminuição da
atividade osteoblástica2. Assim, quando se compararam as médias dos grupos em
relação aos períodos avaliados não foi possível confirmar esse dado, pois os valores
séricos da enzima não apresentaram diferenças estatísticas. A média do dia zero
(pré-operatório) foi estatisticamente superior devido à atividade hepatobiliar
apresentada após a utilização de drogas indutoras que apresentam biotransformação
hepática5. O perfil destas enzimas varia durante o reparo ósseo e em função do tipo
de material implantado. Neste caso o material utilizado foram as proteínas
morfogenéticas ósseas que estimulam a formação óssea e ativam as células-tronco a
se diferenciarem6. No entanto esperava-se que a proteína em associação com as
células mononucleares estimulasse maior liberação de fosfatase, o que não foi
constatado. Nos cinco momentos pré-estabelecidos, os valores séricos da enzima
foram maiores nos animais do grupo GCM, seguidos pelo GC e GCM+BMP. Contudo,
os achados radiográficos dos grupos tratados não condizem com os resultados
séricos da enzima, pois os grupos experimentais apresentaram padrão trabecular
ósseo próximo à normalidade e integração do enxerto no sulco troclear femural.
Entretanto, apesar do valor numérico da média do grupo GCM ter sido superior, a
análise estatística não acusou diferença significativa, devido à grande variação dos
resultados e o alto coeficiente de variação o que dificultou a detecção de diferenças
significativas entre as médias.
Conclusões
A variação nos níveis séricos da fosfatase alcalina de coelhos após o reparo
de lesões osteocondrais com aplicação intra-articular de células mononucleares
autólogas e proteína morfogenética óssea não permite recomendar o método para
determinação da atividade osteoblástica. No entanto as imagens radiográficas,
quando equiparadas com o perfil da ezima fosfatase alcalina, demonstraram ser
achados mais fidedignos.
Ceua-UFU: 041/08 parecer N0 046/08.
Referências
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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MIOTOMIA CRICOFARÍNGEA PARA CORREÇÃO DE DISFUNÇÃO
ESOFÁGICA EM CÃO: RELATO DE CASO
CRICOPHARYNGEAL
MYOTOMY
FOR
CORRECTION
OF
ESOPHAGEAL
DYSFUNCTION
IN
DOG:
CASE
REPORT
213
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
SANTOS,
K.
S177.;
GOMES,
F.
A.
S178.;
FONSECA,
A.
M1.;
MARTINS,
S.
B1.;
ANDRASCHKO,
M.
M1.;
SILVA,
M.
S.
B179.;
CAMPOS,
P.
I.
V.
R.180
Palavras-chave: deglutição, esfíncter esofágico, músculo cricofaríngeo.
Key words: swallow, esophageal sphincter, cricopharyngeus muscle.
Introdução
A disfunção cricofaríngea é um distúrbio de motilidade em que o esfíncter
esofágico superior (EES) não se relaxa durante a deglutição, impedindo a entrada de
alimentos no esôfago1. Tal distúrbio pode ocorrer em virtude de uma lesão no nervo
central ou periférico, uma doença muscular, causa iatrogênica ou idiopatia 2. Disfagia,
regurgitação, aspiração, tosse e refluxo nasal podem ocorrer durante a alimentação,
como resultado de o alimento ser retido na faringe no ato da deglutição1, 3,4. Esses
sinais clínicos são semelhantes a outros da orofaringe ou do esôfago. O diagnóstico
diferencial deve incluir assincronia do músculo cricofaríngeo, fenda palatina, disfagia
faríngea, hipoplasia congênita do palato mole, anomalia vascular, corpo estranho
esofágico, divertículo esofágico, neoplasias e megaesôfago1. A determinação do
diagnóstico definitivo requer anamnese detalhada e exame físico completo, bem como
uma avaliação cuidadosa da função de deglutição. Geralmente os animais
conseguem apreender uma porção de alimento normalmente, mas são incapazes de
engolir. A regurgitação ocorre imediatamente após a tentativa de engolir. Os líquidos
são engolidos por vezes melhor que os sólidos, mas podem estar associados com
refluxo nasal. Os proprietários podem descrever falta de ganho de peso, apesar de
apetite voraz1. Radiografias da região faríngea e tórax são geralmente normais, mas
podem revelar sinais de pneumonia aspirativa provocada pela disfagia crônica. O
contraste fluoroscópico é essencial para avaliar as fases de deglutição e observar a
evolução do alimento do esôfago para o estômago1, 7. O sulfato de bário é o contraste
mais comumente utilizado para avaliar as funções de deglutição. Nos casos em que
se suspeita de aspiração, é aconselhado utilizar um meio de contraste à base de iodo
não iônico e solúvel em água, evitando desta forma possíveis complicações com o
bário inalado1, 4,7. Os achados do exame endoscópico da faringe e do esfíncter
esofágico superior são normais, e não há nenhuma obstrução evidente durante a
passagem do tubo de endoscópio até o estômago em cães com disfunção
cricofaríngea. O diagnóstico presuntivo de disfunção cricofaríngea pode ser feito se
um cão for capaz de formar um bolo e movê-lo para a faringe caudal de maneira
normal, mas for incapaz de passar para o esôfago, porque os músculos cricofaríngeos
177
Médica veterinária, residente do Hospital Veterinário, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG).
Rua 15 Qd. 29 Lt.25 Conjunto Riviera. [email protected]
178
Mestre professor, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás
179
Doutor professor, Instituto de Ciências Biológicas, UFG.
180
Acadêmica em Medicina Veterinária, Faculdades Objetivo, Goiânia, GO.
214
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
não dilatam durante a deglutição1. O diagnóstico de disfunção cricofaríngea é
confirmado pela resposta ao tratamento, tal como a miotomia do cricofaríngeo1, 7. A
terapêutica pela intervenção cirúrgica de miotomia do cricofaríngeo almeja contribuir
para a melhora da dinâmica da deglutição, permeando a obstrução causada pela não
abertura da transição faringoesofágica por acesso externo ou endoscópico2.A
miotomia do cricofaríngeo é um procedimento cirúrgico que consiste em cortar as
fibras do músculo cricofaríngeo ou esfíncter esofágico superior, com a intenção de
liberar ou melhorar a passagem do bolo alimentar pela transição faringoesofágica
(TFE)2.Outro procedimento vem sendo discutido por ser menos invasivo: a aplicação
de toxina botulínica no EES, buscando ter o mesmo efeito da miotomia do
cricofaríngeo, ou seja, favorecer a passagem do bolo pela transição
faringoesofágica2,5,6.
Relato de caso
Foi atendida no Hospital Veterinário das Faculdades Objetivo uma cadela da
raça Pastor Alemão pesando 25 kg, com histórico de disfagia e regurgitação que
iniciou-se após o animal ser submetido a uma ovário-histerectomia com intubação
orotraqueal. Ao exame físico os sinais vitais eram normais, com reflexo de tosse
positivo. O animal conseguia apreender os alimentos normalmente, porém não
conseguia realizar deglutição e regurgitava. Não foi constatada nenhuma alteração
neurológica. A radiografia de tórax revelou padrão pulmonar leve de pneumonia
intertiscial. Pelo exame radiográfico contrastado com uso de bário visibilizou-se uma
pequena área de represamento de contraste na região da laringe, sendo que o
contraste passava livremente após alcançar o esôfago. Diante do histórico e dos
exames realizados, determinou-se como diagnóstico presuntivo disfunção
cricofaríngea, sendo o animal encaminhado para a cirurgia de miotomia cricofaríngea.
O procedimento cirúrgico foi realizado com uma abordagem ventral a laringe e ao
esôfago proximal. A incisão foi realizada cranial AA laringe até a região cervical
média. Para a exposição da laringe, os músculos esternoioideos foram separados a
fim de que a laringe fosse exposta. A laringe e o esôfago proximal foram identificados
e isolados lateralmente à traqueia, juntamente com o nervo laríngeo recorrente para
evitar lesões. Uma sonda orogástrica foi colocada para facilitar a identificação do
esôfago. A traqueia foi então rotacionada em 180º graus para a exposição do músculo
cricofaríngeo. Posteriormente o músculo cricofaríngeo foi excisionado. A laringe e o
esôfago foram reposicionados. Os músculos esternoioideos e o tecido subcutâneo
foram suturados com material absorvível sintético em padrão continuo simples
seguido de dermorrafia com fio de nylon 2-0.
Resultados e discussões
Dois dias após a cirurgia o animal foi alimentado com pequenas porções de
ração pastosa e não apresentou nenhum sinal de regurgitação ou tosse. Com 15 dias
a paciente passou a se alimentar normalmente com ração seca, mostrando-se
totalmente recuperada. De acordo com alguns autores2 , a disfunção cricofaríngea
pode ocorrer em decorrência de alguma lesão na inervação ou na musculatura da
região faríngea. No caso supracitado, o animal passou a desenvolver os sinais
215
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
clínicos logo após ter sido submetido a um procedimento anestésico, que talvez possa
ter sido causado por trauma durante a intubação. A presença de contraste corado na
região da laringe no exame radiográfico torna evidente a causa de pneumonia por
aspiração observada na radiografia de tórax, estando de acordo com os autores1, 2,7
que relatam que a pneumonia aspirativa pode ser um dos sinais clínicos mais
comumente encontrados na disfunção cricofaríngea. Durante o procedimento
cirúrgico, foram tomados os cuidados para garantir que todas as fibras musculares
fossem seccionadas e o esôfago foi cuidadosamente inspecionado para a evidência
de perfuração conforme descrito na literatura1.
Conclusão
Conclui-se a partir da experiência deste caso que apesar de o histórico, sinais
clínicos e exames radiográficos serem fundamentais para a elaboração do diagnóstico
presuntivo de disfunção cricofaríngea, o diagnóstico definitivo deu-se com o retorno
do animal às suas funções normais após a cirurgia. Logo, o tratamento cirúrgico
constitui alternativa para o diagnóstico definitivo desta patologia.
Referências
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NEFRECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA PARA TRATAMENTO DE
DIOCTOFIMOSE EM CÃO – RELATO DE CASO
216
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
LAPAROSCOPIC
NEPHRECTOMY
FOR
TREATMENT
OF
DIOCTOPHYMOSIS
IN
A
DOG
–
CASE
REPORT
DAL‐BÓ,
Í.S.1811;
BRUN,
M.V.B.1;
CHAGAS,
J.A.B.1;
SANTOS,
F.R.1;
FERRANTI,
J.P.S.1;
BORDIN,
P.M.1;
COLOMÉ,
L.M.1
Palavras-chave: cirurgia renal, verme gigante renal, rim
Key words: kidney surgery, gigant kidney worm, kidney
Introdução
O parasitismo por Dioctophyma renale, também conhecido como verme
gigante renal, tem sido descrito em várias espécies domésticas, silvestres e também
no homem. No Brasil, já foi descrito em cães nas regiões sul, sudeste e norte 1. O ciclo
evolutivo desse nematódeo envolve um anelídeo oligoqueta (Lumbriculus variegatus)
como seu único hospedeiro intermediário, o qual deve ingerir seus ovos contendo
larvas. O hospedeiro definitivo infecta-se ingerindo os anelídeos ou hospedeiros
paratêmicos infectados (peixes e rãs)2. Em geral, ocorre a colonização de apenas um
dos rins do hospedeiro definitivo, sendo a ocorrência mais comum no rim direito, pela
sua proximidade com o duodeno. O crescimento do parasito determina destruição
progressiva do parênquima renal, muitas vezes preservando a cápsula renal, a qual
abriga o verme e exsudato hemorrágico3. O presente trabalho relata a remoção de
Dioctophyma renale por meio de nefrectomia videolaparoscópica em um cão.
Relato de caso
Foi recebido no Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo (HV –
UPF), um canino, SRD, macho, de um ano e seis meses de idade e 6,2kg. O histórico
clínico apontou hiporexia e hematúria com dois meses de evolução, sendo tratada
sem êxito com penicilina. Ao exame físico, apresentou mucosas pálidas, estado
nutricional regular e abdominoalgia à palpação em região mesogástrica. Realizou-se
avaliação hematológica e bioquímica (ALT, FA, albumina, uréia e creatinina), além de
urinálise, ultrassonografia, radiografias abdominais simples e urografia excretora. As
alterações encontradas foram: leve eosinofilia e dosagem de creatinina sérica de
1,6mg/dL. A urinálise teve como resultado urina de coloração amareloescuro, aspecto
turvo, densidade baixa (1012), proteinúria (3+), presença de sangue oculto (3+), pH
6,5, aumento de celularidade (células escamosas, transicionais e caudatas),
leucosúria (5 a 20 leucócitos/campo de 400x), hematúria (20 a 100 eritrócitos/campo
de 400x) e presença de ovos de Dioctophyma renale (1 a 2 por campo). À
ultrassonografia, constatou-se renomegalia direita, contorno renal irregular, cápsula
renal delgada e pelve renal contendo estruturas semelhantes a anéis com paredes
hiperecogênicas e hipoecogenicidade interna ao corte transversal. Longitudinalmente,
as mesmas assemelhavam-se a fitas hiperecogênicas que se movimentavam. As
demais estruturas observadas ao exame ultrassonográfico não apresentaram
181
Universidade de Passo Fundo (UPF), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV), curso de Medicina
Veterinária, Campus I, Passo Fundo – RS. [email protected]
217
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
alterações. Para urografia excretora utilizou-se contraste iodado não iônico. Com essa
avaliação foi possível observar ausência de filtração renal no lado direito. O paciente
foi encaminhado ao bloco cirúrgico, onde foi pré-medicado com maleato de
acepromazina (0,03mg.kg-1) e morfina (0,4mg.kg-1) por via IM. A indução foi realizada
com diazepam (0,5mg.kg-1) e propofol (3mg.kg-1) via IV e a manutenção anestésica foi
obtida com isofluorano vaporizado em oxigênio a 100% em sistema aberto (ventilação
assistida), associado à infusão contínua de fentanil (20mcg.kg-1.min-1). Foi realizada
anestesia epidural com lidocaína (5mg.kg-1) e morfina (0,1mg.kg-1). O animal foi
posicionado em decúbito lateral esquerdo e a cavidade abdominal foi acessada a
partir da introdução do primeiro trocarte (10mm) pelo método aberto, objetivando a
passagem da óptica na parede abdominal direita. Instituiu-se insuflação da cavidade
peritoneal com CO2 medicinal até alcançar a pressão de 12mmHg. O segundo e o
terceiro trocartes (10 e 5mm) foram introduzidos pelo método fechado sob
visibilização direta, formando uma triangulação. Realizou-se inspeção da cavidade
peritoneal e identificação do rim acometido pelo parasitismo. O rim direito foi
apreendido com uma pinça de Reddick-Olsen e os vasos renais foram dissecados
utilizando-se pinça de Kelly e tesoura de Metzenbaum. Anteriormente à secção da
artéria e veia renais, procedeu-se à aplicação de três clipes de titânio em cada uma
dessas estruturas. O ureter foi isolado e ligado com dois clipes próximo à vesícula
urinária. O rim foi então dissecado da fáscia renal e peritônio com a utilização de
tesoura e coagulação monopolar. Posteriormente, o órgão foi colocado em saco
cirúrgico para remoção de tecidos e retirado da cavidade abdominal através do
acesso do segundo portal (ampliado em 2cm). Ao exame renal fora do campo
operatório, observou-se a presença de um nematódeo (aproximadamente 50cm de
comprimento), exsudato hemorrágico e destruição parcial do órgão. O
pneumoperitônio foi desfeito e a celiorrafia foi realizada com poliglactina 910 2-0 em
padrão Sultan. A redução do tecido subcutâneo foi feita com o mesmo fio em padrão
simples contínuo. A síntese de pele foi realizada com náilon monofilamentar 4-0 em
padrão simples contínuo. Como medicações pós-operatórias, foram utilizados
cloridrato de tramadol (2mg.kg-1, TID, 3 dias), enrofloxacina (5mg.kg-1, BID, 10 dias),
ampicilina (30mg.kg-1, QID, 10 dias) e meloxicam (0,1mg.kg-1, SID, 3 dias). O paciente
recebeu alta hospitalar três dias após o procedimento cirúrgico e retornou ao hospital
veterinário com dez dias de evolução pós-operatória para remoção da sutura de pele.
Discussão
Geralmente o parasitismo por Dioctophyma renale é um achado incidental. A
maioria dos cães acometidos pela dioctofimose em apenas um dos rins permanece
assintomático, devido ao desenvolvimento de hipertrofia compensatória do rim
contralateral1. O paciente do presente relato, entretanto, apresentava hematúria, algia
abdominal e perda de peso progressiva, mesmo tendo apenas o rim direito
parasitado. Nesse caso, o diagnóstico foi realizado primeiramente a partir da urinálise,
mas os autores optaram pela realização de ultrassonografia abdominal e urografia
excretora para se certificar da localização exata do nematódeo e da integridade da
função renal contralateral. A exata localização do parasito determina a escolha da
localização dos portais para videolaparoscopia, já que sua posição varia em função do
órgão a ser manipulado. As maiores dificuldades encontradas durante o procedimento
cirúrgico de devem à renomegalia, a qual dificultou a manipulação do órgão com o
218
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
instrumental laparoscópico. Esse fato, contudo, não impossibilitou a realização do
procedimento.
Referências bibliográficas
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Ciência Rural, 29(3): 517-522.
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Dioctophyma renale – relato de caso. Arq. ciên. vet. zool. 5(1): 145-152.
REPARAÇÃO DE LESÕES INTERDIGITAIS EXPERIMENTAIS EM BOVINOS
EMPREGANDO EXTRATO DE BARBATIMÃO A 5%
219
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
REPAIR
OF
EXPERIMENTAL
INTERDIGITAL
LESIONS
IN
BOVINES
USING
EXTRACT
OF
STRYPHNODENDRON
BARBATIMAN
MARTIUS
5
%
SILVA,
J.A182.,
MOURA,M.I183.,HELOU,
J.B1.,
DAMBROS,C.E.1.,
FREITAS,
S.L.R1.
ABREU,M.P1.,
SILVA,
L.A.F184
Palavra chave: bovino, cicatrização, fitoterapia.
Keywords: bovine, healing, phytoterapy
INTRODUÇÃO
Os bovinos hígidos apresentam a pele digital constituída pela derme envolvida
por um denso arranjo celular, o estrato basal da epiderme1. A epiderme é formada
essencialmente de um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, apresentando
várias camadas, a camada basal ou germinativa possuidora de intensa atividade
mitótica, resultando em uma constante renovação1. O reparo tecidual constitui um
conjunto dinâmico de alterações teciduais importantes na manutenção da integridade
do organismo, envolvendo inflamação, quimiotaxia, proliferação celular, diferenciação
e remodelação, angiogênese, maturação e reepitelização2, 3. A fitoterapia tem
ganhado destaque na busca do controle de várias enfermidades que acometem os
animais de produção, como a infestação por endo e ectoparasitas8. Já o extrato da
casca do barbatimão é um fitoterápico com características cicatrizantes6,8. As
propriedades farmacológicas mais conhecidas deste composto polifenólico são
adstringente das mucosas e adjuvantes do processo cicatricial, anti-inflamatório de
uso tópico, ação antidiarreica e antifúngica4,5,6. O objetivo desse estudo foi avaliar
histologicamente a reparação tecidual de lesões interdigitais experimentalmente
induzidas em bovinos, após tratar as feridas com extrato da casca do barbatimão
(Stryphnodendron adstringens (Martius) Coville).
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido entre os meses de agosto de 2009 e junho de 2010
na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, após apreciação do
projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG, protocolado sob o
número 149/08. Foram utilizados 24 bovinos mestiços (Zebu X Europeu) machos, com
12 meses de idade e média de 250 Kg de peso vivo, oriundos de diferentes
182
183
184
Alunos de Medicina Veterinária- Bolsista do CNPqAluna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal- Bolsista CNPq- EV/UFG.
Professor de Cirurgia Animal EV/UFG
Campus II. Escola de Veterinária. Departamento de Patologia Clínica Cirurgica. CEP. 74001-970 Goiânia – Go. E-mail:
[email protected].
220
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
propriedades rurais. Os 24 animais totalizaram 96 unidades experimentais, que
correspondem ao número de membros pélvicos e torácicos. Dividiram-se as unidades
experimentais em grupos de acordo com o tipo de tratamento das lesões – solução
de barbatimão e água, ambas em pedilúvio e de acordo com os dias das biópsias
(Grupos GI e GII). Em GI as feridas foram tratadas com solução de barbatimão a 5% e
em GII com água. Para melhor aproveitamento dos animais e aumento do número de
unidades experimentais, cada animal fez parte dos dois grupos, sendo que os
membros do lado direito foram tratados com solução de barbatimão (Grupo GI) e
membros do lado esquerdo tratados com água (Grupo II). Em cada membro, no
espaço interdigital induziu-se uma ferida, até a derme, com punch de um centímetro
de diâmetro. Para tanto, previamente os animais foram submetidios a jejum total de
12 horas e, em seguida, sedados com 0,1mg a 0,2mg/Kg de cloridrato de xilazina, via
intravenosa e anestesia local de Bier7 no membro a ser operado. Após a confecção
das feridas, separou-se aleatoriamente os 24 bovinos em quatro subgrupos de seis
animais. Todos os subgrupos receberam tratamento das feridas diariamente, com
passagem em pedilúvio de canaleta, sendo de um lado solução de barbatimão a 5% e
outro lado apenas água. Os bovinos permaneciam por 45 segundos com os dígitos
emergidos nas soluções. A divisão em subgrupos fundamentou-se nos dias de
colheita de material para exame histológico, que ocorreu no terceiro, sétimo, 14º e 21º
apos a indução das feridas, correspondendo aos momentos M0, M1 ,M2 e M3,
repectivamente. Os fragmentos colhidos eram fixados em formol tamponado a 10%
por 24 horas, processados e incluídos em parafina. Os parâmetros analisados na
coloração HE foram
tecido de granulação, proliferação fibroblástica,
neovascularização e reepitelização, classificados de acordo a intensidade em
ausente, discreto, moderado e acentuado11.
Os achados foram analisados
descritivamente.
RESULTADOS
Na análise comparativa entre o tratamento com barbatimão e água, a variável
infiltrado polimorfonuclear esteve presente em ambos os grupos nos primeiros dias de
tratamento, porém diminuindo gradativamente nos animais tratados com barbatimão.
Já a variável infiltrado mononuclear não esteve presente em nenhum momento de
avaliação dos animais pertencentes ao GI, enquanto que, nos animais do GII, este
achado iniciou-se a partir do sétimo dia de avaliação, ausentando-se aos 21 dias. Foi
observada menor proliferação fibroblástica nas feridas dos animais que compuseram
o GII em comparação àquelas do GI nos dias três e sete. Já no 21º dia de terapia os
animais do GI apresentaram menor proliferação do que os bovinos do grupo que teve
as feridas higienizadas com água (GII). O tecido de granulação esteve presente nas
duas primeiras avaliações (3º e 7º dia) para ambos os grupos, mas do 14º para o 21º
dia de avaliação houve diminuição progressiva desse achado até sua ausência total
para o GI, no último dia de avaliação. A colagenização decorrente da síntese
fibroblástica foi constatada no GI já no primeiro dia de avaliação, enquanto que em GII
este processo ocorreu a partir do sétimo dia. No 14º dia de avaliação, em GI obteve
escore acentuado para colagenização em uma unidade experimental, já em GII
permaneceu com colagenização discreta e moderada. A reepitelização foi
caracterizada por migração epitelial das bordas íntegras circunvizinhas em direção ao
centro da lesão. Na visualização do tecido histológico em lâmina observou-se
diferença de intensidade nos dias sete, 14º e 21º quando se comparou a variável
221
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
reepitelização entre os grupos.
DISCUSSÃO
A seleção do coadjuvante do processo cicatricial Stryphnodendron dstringens
(Martius) Coville, empregado neste estudo, fundamentou-se nas peculiaridades
inerentes aos seus constituintes4,5,6,8.
Ao realizar o exame histopatológico da pele colhida por meio das biopsias, verificouse que os resultados obtidos nos dias três e sete foram condizentes como os achados
descritos para a fase inflamatória do processo cicatricial6. Nesse caso, houve uma
predominância de polimorfonucleares na fase inicial da cicatrização com sua posterior
diminuição. Portanto, quando se comparou GI com GII, verificou-se que no primeiro
ocorreu diminuição e desaparecimento mais precocemente do que no grupo GII.
Assim, acredita-se que essa diminuição dos polimorfonucleares no grupo tratado com
extrato da casca do barbatimão pode ser justificada pela eficácia do barbatimão como
um ótimo agente adstringente das mucosas e adjuvantes do processo cicatricial5,6,8. A
retração centrípeta da lesão iniciou-se no sétimo dia em GI, enquanto que em GII,
apenas a partir do 14º dia. Essa retração foi caracterizada histopatologicamente pelo
ínicio da reepitelização cutânea, com o processo passando para a fase proliferativa da
cicatrização. Esses achados também coincidem com aumento de tecido de
granulação, proliferação fibroblástica, neovascularização e colagenização,
corroborando com os achados anteriormente descritos6. A reepitelização parcial foi
caracterizada pela migração do epitélio das bordas íntegras das feridas em direção ao
centro da lesão de acordo com resultado relatado6. Essa reepitelização foi classificada
como ausente, parcial e total. O grupo GI apresentou antecipadamente processos de
reepitelização parcial, chegando ao 21º dia com todas as feridas cicatrizadas. Já em
GII, ao final do período de avaliação verificou-se apenas uma ferida totalmente
cicatrizada. Esse achado comprova a propriedade do barbatimão com sua ação
farmacológica, ou seja, cicatrizante de feridas e úlceras pela riqueza de taninos,
corroborando com os achados relatados4,5,6,8.
CONCLUSÃO
Concluiu-se que o uso do Stryphnodendron adstringens (Martius) Coville em
pedilúvio para tratamento de lesões interdigitais apresentou características de
remodelação cicatricial superiores às do grupo tratado com água.
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leiteiras. Ciência Animal Brasileira, 7: 423-431.
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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Goiás, Goiânia, 88p.
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Janeiro: Guanabara Koogan, 188p.
8. Silva LAF et al. (2010). Manual do Barbatimão. Goiânia: Ed. Kelps., 94p.
ESTUDO RETROSPECTIVO DE 689 CASOS DE DOENÇAS OCULARES
ATENDIDAS NO MUNICÍPIO DE UBERABA-MG
223
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
A
RETROSPECTIVE
STUDY
OF
689
CASES
OF
EYE
DISEASE
CARE
IN
THE
CITY
OF
UBERABA,
MG
SAMPAIO,
R.L.185;
LACERDA,
M.S.
1;
REZENDE,
R.S.1;
REIS,
F.M.M.186;
PORT,
A.C.M187.;
CRUZ,
R.L188.
RESUMO
O presente estudo teve o objetivo de verificar a prevalência das doenças oculares,
determinando a espécie mais susceptível e a idade, sexo e raça mais predisponentes.
Utilizou-se, para tanto, o registro dos atendimentos do serviço de oftalmologia
veterinária do Hospital Veterinário de Uberaba, no período de junho de 2004 a
dezembro de 2006, quando 689 exames foram realizados. As doenças foram
avaliadas em relação à espécie, raça e idade. Verificou-se que a doença mais
prevalente foi a ceratite ulcerativa, com 134 animais, representando 19,44% dos
diagnósticos, seguida da catarata, com 97 casos (14,07%), e da ceratoconjuntivite
seca, com 67 casos (9,72%). O cão foi a espécie mais prevalente, com 628 caos
(91,14%). As fêmeas representaram 54% dos casos.
PALAVRAS CHAVE: oftalmologia veterinária, doenças oculares, epidemiologia
ABSTRACT
The present study had the objective to verify the ocular disorders prevalence,
determining the more susceptible species, the racial, sexual and age predispositions. It
was used, as research instrument, the data bank of Uberaba Veterinary Hospital,
between the months of June of 2004 and December of 2006, while 689 exams were
accomplished. The diseases were evaluated about the specie and sexual, race and
age distribution. It was verified that the more prevalent disease was the ulcerative
keratitis, with 134 animals, representing 19,44% of the exams, followed by the
cataract, with 97 cases (14,07%) and the keratoconjuntivitis sicca with 67 (9,72%). The
dog was the more prevalent specie, with 628 cases (91,14%). The females
represented 54% of the exams.
KEY WORDS: veterinary ophthalmology, ocular disorders, epidemiology
185
Professor. Curso de Medicina Veterinária. Universidade de Uberaba–UNIUBE. Uberaba/ MG.
186
Médico veterinário autônomo.
187
Médica veterinária residente de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais. Universidade de Uberaba–UNIUBE.
Uberaba/ MG. E-mail: [email protected]
188
Médico veterinário residente de Anestesiologia. Universidade de Uberaba–UNIUBE. Uberaba/MG.
224
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
INTRODUÇÃO
A oftalmologia tem se destacado como importante especialidade da Medicina
Veterinária. As recentes pesquisas, o desenvolvimento de instrumentos para o
diagnóstico e o tratamento dos problemas oculares na veterinária têm estimulado
profissionais a se especializarem nesta área, contribuindo para a reabilitação visual
dos animais portadores das doenças do bulbo ocular e de seus anexos. O presente
estudo tem como objetivo verificar a prevalência das doenças oculares que acometem
os animais, determinando as espécies mais susceptíveis, as predisposições raciais,
sexuais e a idade onde as mesmas se manifestam de forma mais prevalecente.
Assim, pretende-se contribuir para a melhor compreensão destas doenças, permitindo
estabelecer métodos de controle e orientação sobre a prevenção, diagnóstico e
tratamento das mesmas.
O olho é indiscutivelmente o mais precioso e habilidoso órgão dos sentidos
presente nos vertebrados. Além de ser estruturalmente complexo, o mecanismo da
visão exige a participação conjunta de mecanismos físicos, químicos e biológicos
para a realização de uma perfeita função visual. Desta forma, os raios luminosos
incidentes na superfície ocular atravessam as lentes oculares pelo mecanismo de
refração e são transformados em estímulos nervosos pela retina, sendo
posteriormente codificados pelo sistema nervoso central e finalmente transformados
em imagem. A sua homeostasia e, consequentemente, o seu perfeito funcionamento,
levam à formação de imagem compatível com cada espécie, que em condições
extremas pode definir a sobrevivência ou não dos indivíduos, bem como a sua
qualidade de vida (Blogg, 1980; Slatter, 1990; Gelatt, 1999).
O bulbo ocular pode ser considerado a unidade funcional do órgão da visão,
que quando perfeitamente conectado ao sistema nervoso central culmina na formação
da imagem. Além do bulbo, o olho é constituído por estruturas oculares anexas que
desempenham diferentes e importantes funções relacionadas à defesa e adaptação
da visão em condições adversas (Helper, 1989; Dyce et al., 1990).
Tanto o bulbo ocular quanto algumas de suas estruturas anexas estão
contidos em uma cavidade cônica óssea denominada órbita. Esta é formada
basicamente pelos ossos frontal, lacrimal, esfenóide, zigomático, palatino e maxilar,
podendo existir algumas diferenças entre as espécies. A junção destes ossos forma
uma fossa que separa o olho da cavidade craniana, circundando-o e protegendo-o de
agentes externos, além de prover inúmeras rotas através de forames por onde
passam os vasos sanguíneos e nervos envolvidos com a atividade visual. As
particularidades existentes no aparelho visual das diversas espécies de vertebrados
muitas vezes determinam o hábito destes animais, como por exemplo a melhor
adaptação à visão noturna ou diurna (Chandler & Gillette, 1983; Schoenau & Pippi,
1993; Anderson, 1994).
O estudo do bulbo ocular e de suas estruturas anexas não só é importante
para a compreensão dos mecanismos fisiológicos e patológicos inerentes a este
privilegiado e importante órgão dos sentidos como também para o entendimento do
comportamento e da ecologia de diversas espécies animais.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia utilizou como instrumento a base de dados do sistema de
informatização do Hospital Veterinário de Uberaba, Minas Gerais. Realizou-se a
225
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
pesquisa junto ao banco de dados eletrônico, através do diagnóstico das doenças,
obtendo-se as fichas com todos os dados dos animais, entre os meses de junho de
2004 e dezembro de 2006, quando foram realizados 689 atendimentos, os quais
foram analisados com relação ao diagnóstico da doença. As doenças foram então
separadas e avaliadas quanto às espécies acometidas e a distribuição sexual, por
raça e idade. Os dados foram submetidos à análise e apresentação na forma de
percentagem, comparando cada item avaliado com o número total de atendimentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise das informações fornecidas pelo banco de dados permitiu verificar
que a doença mais prevalente foi a ceratite ulcerativa, a qual foi diagnosticada em
134 animais, representando 19,44% de todos os atendimentos, seguida da
catarata, com um total de 97 casos (14,07%) e da ceratoconjuntivite seca com 67
animais (9,72%). Destacaram-se ainda o entrópio e o glaucoma, com 58
diagnósticos cada (8,41%), e as uveítes, com 53 animais acometidos (7,69%). A
córnea foi a estrutura ocular mais afetada pelas doenças pesquisadas. Além da
ceratite ulcerativa, a mesma apresentou dois casos de atrofia corneana, 27 casos
de ceratite não ulcerativa, 24 casos de edema e 42 perfurações, totalizando 229
diagnósticos (33,23%). Os cães se destacaram como a espécie mais atendida,
com 628 casos (91,14%), seguida dos bovinos com 32 e dos gatos com 22,
representando, respectivamente, 4,69 e 3,19% do total de atendimentos. As
fêmeas representaram 54% dos atendimentos e os machos 46%.
Como demonstrado, a superfície ocular foi a região mais acometida, visto que
a mesma encontra-se na interface entre o bulbo ocular e o ambiente externo,
estando portanto mais vulnerável à ação de inúmeros agentes traumáticos, o que
corrobora o grande número de atendimentos relacionados à lesão da córnea (Lemp
et al., 1970; Dice, 1980; Helper, 1989; Cordeiro & Krolow, 1999) .
A catarata se destacou como a segunda patologia mais prevalente e, de
acordo com análise do prontuário dos pacientes, observou-se que a doença possui
predisposição racial, visto que os Poodles representaram 27,5% dos atendimentos
de catarata, seguidos dos cães mestiços, com 26,43% e dos animais da raça
Coocker Spaniel, com 14,94 %. A idade também se mostrou fator de
predisposição, visto que 50,56% dos animais acometidos estavam situados no
intervalo entre 9 e 14 anos, como demonstrado por outros autores (Slatter, 1990;
Schoenau & Pippi, 1993).
O glaucoma e a uveíte também apresentaram número expressivo de casos,
estando ambos muitas vezes relacionados, visto que aproximadamente 35% dos
casos de glaucomas foram classificados como secundários à manifestação de
uveítes anteriores, como descrito por Gelatt, (1999).
CONCLUSÃO
Com base nas informações obtidas mediante a análise epidemiológica dos
dados, conclui-se que a oftalmologia veterinária é uma especialidade bastante
representativa na clínica médica e cirúrgica, o que pode ser demonstrado pelo
grande número de atendimentos. As doenças da superfície ocular são mais
prevalentes, visto que as mesmas encontram-se mais expostas, o que justifica a
226
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
grande casuística dos traumatismos atendidos na rotina da clínica oftalmológica
veterinária.
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Philadelphia:
WB
Saunders,
1990,
p.
257
–
303.
227
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
PREVALÊNCIA DAS NEOPLASIAS CANINAS, DIAGNOSTICADAS POR
EXAME HISTOPATOLÓGICO, NA REGIÃO DE UBERABA
PREVALENCE
OF
CANINE
NEOPLASIA,
DIAGNOSED
BY
HISTOPATHOLOGY
EXAM,
IN
THE
REGION
OF
UBERABA
SAMPAIO,
R.L.189;
COELHO;
H.E.1;
LACERDA,
M.S.
1;
REZENDE,
R.S1.;
FARIA,
J.L.M1;
PORT,
A.C.M190
RESUMO
As neoplasias são agregados celulares que se diferenciam dos tipos celulares
originais, possuindo autonomia sobre o seu crescimento. Cada neoplasia apresenta
um comportamento diferente. Sabe-se hoje que um mesmo tipo de tumor pode se
manifestar de forma distinta em diferentes animais da mesma espécie. Estudos
retrospectivos têm revelado um aumento na prevalência das neoplasias nos animais
de companhia, o que, em parte, pode ser explicado pela maior longevidade observada
nos últimos anos. Com o objetivo de contribuir para o melhor entendimento do
comportamento das neoplasias na medicina veterinária, empreendeu-se este estudo,
o qual consistiu no levantamento dos arquivos de exames histopatológicos do setor de
Patologia Animal, do Hospital Veterinário de Uberaba, no período compreendido entre
11/02/2000 e 16/12/2005, durante o qual foram emitidos 581 resultados positivos para
neoplasias em cães. Observou-se, através da análise dos dados, que o tecido mais
predisposto foi o mamário, seguido do tecido cutâneo. O tumor misto mamário foi o
tipo mais diagnosticado, seguido do adenocarcinoma e do adenoma, respectivamente.
As fêmeas, portanto, foram mais acometidas, respondendo por 68,53 dos casos,
contra 31,47% dos machos. Os cães sem raça definida foram os mais afetados,
representando 51,50%, enquanto o Poodle foi a raça pura mais citada, com 9,91%
dos casos. Conclui-se, com isto, que a oncologia veterinária merece destaque entre
as atuais especialidades da área, visto que as neoplasias representam uma
importante parcela dos problemas diagnosticados na clínica médica e cirúrgica dos
cães.
PALAVRAS CHAVE: cães; neoplasia; histopatologia.
ABSTRACT
Neoplasias are “cell crowds” which differ from the original kinds because they have
autonomy over their growth. Each neoplasia has a different behavior and, it is now
known, that the same kind of tumor can differently be manifested in different animals
from the same species. Retrospective studies have revealed an increase in the
189
Professor do Curso de Medicina Veterinária, Uniube, Uberaba-MG.
190
Médica Veterinária Residente, Universidade de Uberaba, Uniube, Uberaba-MG. E-mail: [email protected]
227
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
prevalence of neoplasia in pets, which, in parts, can be explained by the greater
longevity observed in the past few years. This study has been carried out aiming to
achieve a broader understanding over neoplasia behavior in Veterinary Medicine. It
consisted in a thorough research on histopathology exam files from the Animal
Pathology Section, in Uberaba Veterinary Hospital, performed from 11/02/2000 to
16/12/2005. During this period, 581 results of such exams, pointed positive for canine
neoplasia, and they showed through data analysis, that the mammary tissue presents
a higher predisposition, followed by the skin tissue. The mammary mixed tumor was
the most diagnosed kind, followed by “adenocarcinoma” and “adenoma”, respectively.
Female dogs therefore, have been more affected, rating 68,53% of the cases, while
affected male dogs represent 31,47% of the cases studied. Dogs with undefined
breeds have been the most affected, amounting 51,50%, whereas Poodles have been
the most quoted pure breed, responding for 9,91% of the cases. In conclusion,
veterinary oncology deserves to be highlighted, once neoplasias represent an
important share of the problems diagnosed in dog medical clinics and surgery.
KEY WORDS: dog, neoplasia, histopathology.
INTRODUÇÃO
As neoplasias são agregados celulares que se diferenciam dos tipos celulares
originais, possuindo autonomia sobre o seu crescimento, o qual não mais depende de
estímulos fisiológicos do organismo para a sua proliferação e diferenciação
(CHRISTOPHER et al., 1994; HARTWELL & KASTAN, 1994; BARINAGA, 1998).
A variedade de tumores apresentada durante estudos retrospectivos de laudos
de biópsia e resultado de citologias revela que a gênese dos tumores dos animais
domésticos é bastante complexa, possuindo relações com estímulos intrínsecos e
extrínsecos (FORREST et al., 1997; ROGERS, 1997; CORRÊA et al., 2006).
Em estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos de cães, BARROS et al.,
2006, revelaram que 81% dos animais apresentavam apenas um nódulo na pele,
enquanto que em 19% havia mais de um nódulo cutâneo. O estudo histopatológico
revelou, ainda, que, em 93,1% dos casos estava presente apenas um tipo de tumor;
em 5,8%, 2 tipos distintos de neoplasias; em 1,0%, foram diagnosticados 3 tipos
tumorais distintos e, em 0,1%, 4 tipos tumorais não relacionados. Baseando-se nos
achados deste estudo, os autores concluíram que o tecido cutâneo é um local com
bastante predisposição para o aparecimento de tumores e que a região da cabeça é o
sítio onde houve maior prevalência. Neste estudo, os tumores de origem mesenquimal
superaram os de origem epitelial, os quais, por sua vez, superaram os de origem
melanocítica.
DE NARDI et al., 2002, demonstraram, em estudo retrospectivo de 333
neoplasias, que as fêmeas são mais acometidas pela doença, representando 69,6%
de todos os casos. A alta prevalência de tumores nas fêmeas em relação aos machos
foi correlacionada com o elevado número de neoplasias mamárias, as quais
representaram 45,64% do total de casos analisados. O mastocitoma foi o segundo
tipo de tumor mais freqüente, com 11,7% dos casos, sendo que destes, 46,15% foram
diagnosticados em cães da raça Boxer.
228
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
BANDARRA et al., 1999, estudaram as características anatomoclínicas dos
linfomas em cães da região de Botucatu, no estado de São Paulo, através da análise
de material colhido de 34 cães portadores de linfoma maligno, dos quais 9 eram da
raça Pastor-Alemão, 9 sem raça definida, 5 da raça Boxer, 3 da raça Dobermann e
outros 8 cães, cada um de uma raça. De todos os animais avaliados, 68% eram
machos. A idade variou de 1 a 13 anos, com média de 6,2 anos. No momento do
diagnóstico, 32 animais apresentavam-se nos estádios clínicos III, IV ou V. Apenas
dois foram enquadrados no estádio II. A forma anatômica mais freqüente foi a
multicêntrica, diagnosticada em 31 animais. A forma tímica foi diagnosticada em dois
animais, enquanto que a digestiva foi descrita em apenas um animal. Os resultados
permitiram concluir que os linfomas são neoplasias mais encontradas em raças de
cães de grande porte, machos, com idade acima de seis anos. A forma anatômica
multicêntrica ocorreu na maioria dos linfomas e o diagnóstico tardio da doença
dificultou o tratamento, resultando em estimativa de sobrevida de dois a seis meses
para os animais não tratados.
Na comparação entre espécies, os tumores testiculares apresentam-se mais
freqüentemente nos cães, sendo raros em outros animais. Os tipos mais freqüentes
podem ser divididos em 2 grupos: tumores de células germinativas, onde se incluem
os seminomas, carcinomas embrionários e teratomas e tumores das células
espermáticas, representados pelos tumores das células de Sertoli e tumores das
células de Leydig (GETZY et al, 1997; ROGERS, 1997; RIBEIRO et al., 2000).
Com relação aos tumores dos tecidos duros, o tipo mais comum é o
osteossarcoma, o qual normalmente surge do periósteo dos ossos longos e responde
por 80% dos tumores diagnosticados nos ossos e cartilagens. Segundo levantamento
realizado por ANDERSON, 1996, os sarcomas ósseos representam entre 2 e 7% de
todos as neoplasias diagnosticadas nos cães; porém, o prognóstico normalmente é
desfavorável, pelo alto índice de metástase presente no momento do diagnóstico do
tumor primário. A etiologia destes tumores ainda não é bem conhecida, mas a
incidência é significativamente maior em animais de raças gigantes e o local mais
freqüente de aparecimento são as extremidades de ossos longos, sendo que o terço
distal do rádio encontra-se afetado em 23% dos casos e o terço proximal do úmero
em 18,5%.
Tendo em vista a crescente prevalência de neoplasias nos cães, realizou-se
este estudo retrospectivo, com os seguintes objetivos: a) Estabelecer o número total
de neoplasias diagnosticadas através de exame histopatológico pelo setor de
Patologia Animal, do Hospital Veterinário de Uberaba, no período de 11/02/2000 a
16/12/2005; b) Relacionar os resultados obtidos através da análise histopatológica
com o sexo, idade e localização topográfica no animal; c) Promover um melhor
entendimento sobre o comportamento das neoplasias, estimulando o estudo da
oncologia veterinária, com o objetivo de diminuir o impacto dos tumores sobre a
qualidade de vida dos animais.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a consolidação desta proposta de trabalho, foram revistos todos os
diagnósticos de biópsia de cães, realizados pelo setor de Patologia Animal, do
Hospital Veterinário de Uberaba, num período de 5 anos. Para tanto, pesquisou-se os
229
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
dados dos animais e os respectivos laudos das análises histopatológicas registradas
nos arquivos do setor.
Todos os registros de biópsia de cães foram transportados para uma tabela,
aonde foram organizadas as seguintes informações: raça, sexo, idade, região
topográfica de colheita do material e diagnóstico histopatológico.
Após a organização das informações obtidas, realizou-se o cruzamento dos
dados, com o objetivo de se conhecer o perfil dos animais que apresentam neoplasia,
associando os resultados dos exames histopatológicos com a predisposição racial,
sexual, topográfica e a faixa etária mais acometida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo retrospectivo dos resultados das biópsias de cães revelou que, no
período pesquisado, foram recebidas 581 amostras, provenientes de 563 cães com
diagnóstico de neoplasia.
Observou-se durante o período pesquisado o registro de 44 tipos neoplásicos
distintos. Os principais tumores diagnosticados foram aqueles provenientes de
nódulos presentes nos tecidos mamário e cutâneo. O tumor misto mamário foi o tipo
mais freqüentemente diagnosticado, representando 16,70% do total, com um número
absoluto de 97 registros, seguido do adenocarcinoma, com 62 registros (10,67%) e do
adenoma, com 46 registros (7,92%). De acordo com os registros pesquisados, 52%
dos adenomas estavam localizados no tecido mamário; 29,16% no tecido cutâneo;
16,6% na glândula perineal e, em 2,08%, o material foi colhido de uma cadela sem
raça definida, de 14 anos de idade, a qual apresentou adenoma distribuído pelo
fígado, baço e rins. Com relação aos adenocarcinomas, a mama foi o tecido com
maior prevalência, respondendo por 69,8%. Os adenocarcinomas da glândula perineal
e do tecido cutâneo foram responsáveis, cada um, por 11,11% de diagnósticos,
seguidos do ovário e intestino, com 3,17%, e da próstata, com 1,58%.
Ao comparar os resultados desta pesquisa com aqueles encontrados por DE
NARDI et al., 2002, observou-se que os adenomas e adenocarcinomas são os tipos
mais freqüentes, respondendo, respectivamente por 19,81% e 12,01% dos casos.
Ainda na classificação destes autores, os tumores mistos mamários foram divididos
em 2 grupos, representados pelos carcinossarcoma ou tumores mistos malignos da
mama, responsáveis por 11,41% dos diagnósticos e pelos fibroadenomas ou tumores
mistos benignos da mama, com 2,4%. Somados, os tumores mistos representam
13,81%.
A interpretação das informações desta pesquisa é semelhante à realizada por
BARROS et al., 2006, os quais revelaram que os adenomas e os adenocarcinomas
eram os tipos mais diagnosticados, representando 11,58%; e que o mastocitoma foi
responsável pela maior prevalência das neoplasias cutâneas, com 20,9%.
Porém, na pesquisa de que se trata este artigo, quando foram analisadas as biópsias
de todos os tecidos, o mastocitoma representou 7,2% de todos os resultados de
biópsias, resultado semelhante ao comentado por GRIER et al., 1995.
230
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Observou-se que a população de cães mestiços, também conhecidos como
sem raça definida, foi mais frequentemente acometida pelo câncer, com 51,69% dos
casos, o que se explica pela maior freqüência destes animais durante o atendimento
de rotina no Hospital Veterinário de Uberaba. Das raças puras, o Poodle foi o mais
citado, com 9,95 %, seguido do Pastor Alemão, com 4,62 %.
As fêmeas foram mais acometidas, fato este já previsto durante a análise dos
tecidos e tipos de tumores mais freqüentes, quando observou-se que o tecido
mamário foi o sítio mais citado e que o tumor misto mamário o mais freqüentemente
diagnosticado. Assim, as fêmeas responderam por 68,53% dos casos, enquanto que
os machos, responderam por 31,47%.
Com relação à idade dos animais no momento do diagnóstico, observou-se,
que a distribuição se dá na forma de uma pirâmide, onde os extremos, representados
pelos animais mais jovens e por aqueles mais velhos, apresentam uma menor
proporção de casos. Verificou-se um crescimento progressivo no número de
diagnósticos a partir do 5º ano, com algumas pequenas variações aos 7 e 9 anos, e
que o pico de manifestação se dá aos 10 anos de idade, como descrito por outros
autores.
CONCLUSÃO
O presente estudo epidemiológico revelou que o tumor mamário é o principal
tipo diagnosticado na espécie canina e, desta forma, torna a fêmea o sexo mais
predisposto ao aparecimento de neoplasias. Os tumores cutâneos são o segundo tipo
mais comum e a idade mais prevalente se concentra aos 10 anos de vida.
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Diagnóstico e Ocpciones de Tratamiento. Waltham Focus. v. 6, n. 3, p. 21-30,
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231
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
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Education of Small Animal Practice, v. 9, n. 9, p.1036-45, 1997.
232
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
OSTEOSSARCOMA EXTRAESQUELÉTICO CANINO – RELATO DE CASO
CANINE
EXTRASKELETAL
OSTEOSARCOMA
–
A
CASE
REPORT
TORRES,
L.S191;
BAIOTTO,
G.C.192,
BARROS,
S.V.S.G.
2,
SANTOS,
M.G.D.P.193
RESUMO
O osteossarcoma é a neoplasia óssea mais comum dentre os pequenos animais e é
extremamente agressiva. Pode-se desenvolver tanto no sistema esquelético quanto
em sítios extraesqueléticos. Osteossarcomas extraesqueléticos são raros, mas já
foram descritos no tecido mamário, tecido subcutâneo, baço, intestino, fígado, rins,
testículos, vagina, olho, glândula adrenal, salivar e meninges. O prognóstico
associado ao osteossarcoma é reservado devido ao seu comportamento
extremamente maligno e o tratamento indicado é o cirúrgico com amplas margens e
tratamento adjuvante com radioterapia ou quimioterapia. O objetivo deste trabalho é
relatar um caso de osteossarcoma extraesquelético em tecido mamário canino.
Palavras chave: osteossarcoma, canino, extraesquelético.
ABSTRACT
Osteosarcoma is the most common bone neoplasia in small animals and it´s extremely
agressive. It´s encountered on the skeletal system or in extraskeletal sites.
Extraskeletal osteosarcomas are rare, however, they have been discribed on the
mammary gland, subcutaneous tissue, spleen, bowel, liver, kidneys, testis, vagina,
eye, adrenal gland, salivary gland, and meninges. The prognostic associated is poor
due to its extremely malignant behavior. The treatment of choice is surgery with wide
margins and adjuvant treatment with radiotherapy or chemotherapy. The purpose of
this study is report a case of extraskeletal osteosarcoma in the canine mammary
gland.
Key words: canine, extraskeletal, chondrosarcoma.
191
Médica veterinária, residente Clínica Cirúrgica e Anestesiologia Veterinária, UVV. Endereço para contato: Rua
Curupaiti, 465, Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP, 14051-100. [email protected], (16) 8192-5760.
192
Médico(a) veterinário, mestre, professor(a) Patologia Cirúrgica, UVV.
193
Aluna graduação, UVV.
233
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Introdução
O osteossarcoma é uma neoplasia maligna mesenquimal, na qual as células do
tumor produzem matriz osteoide e são extremamente agressivas (1). O
osteossarcoma é a neoplasia óssea mais comum dentre os pequenos animais,
chegando a 85% de todas as neoplasias malignas originadas no esqueleto
apendicular (2). O osteossarcoma pode se desenvolver primariamente, tanto no
sistema esquelético quanto em sítios extraesqueléticos.
Osteossarcomas
extraesqueléticos são raros, mas já foram descritos no tecido mamário, tecido
subcutâneo, baço, intestino, fígado, rins, testículos, vagina, olho, glândula adrenal,
salivar e meninges (3, 4, 5, 6, 7, 8, 9).
Os osteossarcomas de tecidos moles ocorrem em cães idosos, mas sem
predileção sexual, sendo que beagles e rottweilers têm maior predisposição. Os
osteossarcomas de glândulas mamárias ocorrem em fêmeas idosas, sem raça
definida, pastores alemães e poodles. O tempo de vida médio para cães com
osteossarcoma mamário é de 90 dias, e a causa principal do óbito são as metástases
pulmonares (62.5% dos casos) (6). Em cães, os tumores mistos malignos comumente
podem produzir osteoide e condroide, no entanto estes diferem dos osteossarcomas e
condrossarcomas estraesqueléticos porque possuem origem histológica bimodal (4).
O prognóstico associado ao osteossarcoma é reservado, devido ao seu
comportamento extremamente maligno (5). A expectativa de vida após o diagnóstico é
de três meses a um ano, sendo que menos de 20% dos cães estão vivos após dois
anos mesmo quando tratados, já que quase 90% dos animais sofrem metástase
pulmonar (10). O tratamento de escolha é exérese cirúrgica, buscando amplas
margens e posteriormente tratamento adjuvante com radioterapia, quando disponível,
ou quimioterapia, comumente usando carboplatina, cisplatina ou doxorrubicina (2, 10).
Os pacientes que foram tratados com quimioterapia têm 3,6 menos chances de vir a
óbito devido a complicações tumorais do que os que não tiveram tratamento (5).
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de osteossarcoma extraesquelético
em tecido mamário canino.
Metodologia
Foi atendida no Hospital Veterinário “Professor Ricardo Alexandre Hippler” do
Centro Universitário Vila Velha (UVV) uma cadela sem raça definida, com 14 anos de
idade e histórico de emagrecimento progressivo e prostração. Ao exame físico
evidenciaram-se três nódulos em cadeia mamária direita medindo 2x2cm, 5x3cm e
20x12cm. Este último encontrava-se ulcerado, quente, aderido e de consistência
firme. Segundo o proprietário, os nódulos apareceram há mais de cinco anos e
tiveram crescimento lento, com crescimento mais rápido nos últimos seis meses.
Resultados
A paciente possuía sopro cardíaco sistólico grau III e não apresentou alterações
ao hemograma e exames de bioquímica sérica. O exame radiográfico mostrou
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
234
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
ausência de alterações cardíacas ou sinais compatíveis com metástases, não sendo
possível descartar a presença de micrometástases (<0,5cm). Após avaliação
eletrocardiográfica (sem alterações) e avaliação do risco cirúrgico, a paciente foi
encaminhada para mastectomia radical unilateral direita e ovário-histerectomia. O
tratamento pós-operatório foi realizado com enrofloxacina 5mg/kg, a cada 12 horas
por sete dias, cloridrato de tramadol 4mg/kg a cada 12 horas por quatro dias e
dipirona sódica 25mg/kg a cada oito horas por quatro dias, juntamente com limpeza
da ferida cutânea. Houve cicatrização sem complicações e os pontos foram removidos
com dez dias.
O exame histopatológico revelou um osteossarcoma mamário em um dos nódulos
com proliferação tumoral desorganizada contituída por duas populações celulares
distintas. A primeira constituída por células semelhantes a osteoblastos, com
citoplasma eosinofílico com bordos angulares, núcleos hipercromáticos, afilados,
excêntricos. A segunda constituída por células com citoplasma escasso, núcleos
grandes arredondados e nucléolos evidentes. Foram encontradas com frequência
células gigantes com múltiplos e grande quantidade de material eosinofílico (osteóide)
sem organização trabecular.
Os outros nódulos consistiam em tumores mistos malignos possuindo hiperplasia
lobular, massa tumoral constituída por grupamentos de células epitelioides
organizadas eventualmente em túbulos, exibindo alto pleiomorfismo e focos de
diferenciação cartilaginosa.
Foi indicada quimioterapia adjuvante, no entanto o proprietário recusou. Nos
meses subseqüentes, a paciente apresentou piora clínica, com prostração, hiporexia,
emagrecimento e veio a óbito quatro meses após o procedimento cirúrgico.
Discussão
O osteossarcoma é uma neoplasia maligna altamente invasiva e geralmente sua
localização extraesquelética diminui a espectativa de vida do paciente (6), sendo
recomendado o tratamento quimioterápico adjuvante (5), que não foi realizado neste
caso pela recusa do proprietário.
O osteossarcoma é uma neoplasia altamente metastática, afetando pulmões,
ossos distantes e linfonodos regionais (10). E esta neoplasia relatada teve
características de malignidade, como infiltração de tecidos adjacentes, ulceração e,
apesar de não visíveis aos exames radiográficos pré-cirúrgicos, não é possível excluir
micrometástases. A paciente deste relato piorou seu estado geral e pode ter sido
acometida por estas metástases distantes, mas infelizmente não foi feito
acompanhamento radiográfico antes do óbito.
Conclusão
O osteossarcoma é uma neoplasia agressiva que deve ser tratada com cirurgia
abrangendo margens amplas e tratamento adjuvante, sendo a radioterapia a melhor
escolha e quimioterapia a segunda melhor escolha, esta não sendo totalmente eficaz.
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
235
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
O estadiamento é importante para estabelecer um prognóstico e possibilidades de
tratamento de acordo com a invasão tumoral.
O prognóstico para este tipo de neoplasia é reservado, mesmo com tratamento
cirúrgico e quimioterapia adjuvante, portanto em animais em que não é feito o
tratamento adequado em tempo hábil não é possível prever o tempo de sobrevida.
Neste caso a remoção cirúrgica não foi suficiente como tratamento e o animal veio a
óbito. O tratamento cirúrgico realizado foi de caráter paliativo para alívio dos sintomas
e melhora da qualidade de vida da paciente.
Referências
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domestic animals, 4.ed. Ames: Iowa State, 245-317.
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Withrow & MacEwen´s Small Animal Clinical Oncology. 4rd ed. Saunders
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a Clinicopathologic Study of 14 Cases. Vet Pathol, 27: 46 – 55.
5. Kuntz et al (1998). Extraskeletal Osteosarcomas in Dogs: 14 Cases. J Am
Anim Hosp Assoc. 34: 26-30.
6. Langenbach et al.(1998). Extraskeletal osteosarcomas in dogs: a retrospective
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7. Thomsen, B, Myers, R (1999). Extraskeletal Osteosarcoma of the Mandibular
Salivary Gland in a Dog. Vet Pathol. 36: 71-73.
8. Thamm, D et al. (2000). Primary osteosarcoma of the synovium in a dog. J Am
Anim Hosp Assoc. 36: 326-331.
9. Ringenberg, M, Neitzel, L, Zachary, J (2000) Meningeal osteosarcoma in a
dog, Vet Pathol 37: 653-655.
10. Selvarajah, G, Kirpensteijn, J. (2010). Prognostic and predictive biomarkers of
canine osteosarcoma. The Veterinary Journal 185: 28–35.
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
236
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
PROTEÍNA C REATIVA COMO FATOR DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO
EM CADELAS COM E SEM PIOMETRA SUBMETIDAS À
OVÁRIOSSALPINGO-HISTERECTOMIA
C‐REACTIVE
PROTEIN
AS
DIAGNOSTIC
AND
PROGNOSTIC
FACTOR
IN
BITCHES
WITH
PYOMETRA
AND
WITHOUT
UNDERGOING
OVARIOHYSTERECTOMY
CAMPOS,
W.N.S194;
RUIZ,
T195;
DAHROUG,
M.A.A196;
JORGE,
MENDONÇA,
A.J197;
SOUZA,
R.L4.
A.A1;
FIGUEIREDO,
L.Z.P1
Palavras-chave: Piometra, Cadelas, Proteína C reativa.
Key-words: Pyometra, Bitches, C-reactive protein.
Introdução
A piometra em cadelas é uma patologia rotineira que ocorre geralmente na
fase luteínica do ciclo estral, podendo levar a complicações sistêmicas3. O organismo
animal, diante de infecções microbianas, lesões teciduais, reações imunológicas e
processos inflamatórios, com o objetivo de eliminar o agente infeccioso e/ou auxiliar
no reparo tecidual, desenvolve um conjunto de alterações denominado “Resposta de
Fase Aguda”. Esta resposta induz a reações locais e sistêmicas, envolvendo
mudanças nas funções metabólicas, endócrinas, imunológicas e alterações nos níveis
de algumas proteínas plasmáticas produzidas no fígado que têm sua síntese
diminuída ou aumentada durante a resposta inflamatória2. A proteína C reativa (PCR)
é uma ferramenta útil na avaliação de algumas doenças agudas, tais como artrite
reumatoide, pancreatite aguda e pneumonias6, podendo ser utilizada como exame
complementar no diagnóstico, por ser um indicador altamente sensível e apresentar
um aumento na concentração plasmática em processos inflamatórios e destruição
tissular9. Objetivou-se com este trabalho avaliar os níveis séricos da proteína C
reativa, bem como comparar sua concentração nos momentos pré e pós-cirúrgico,
além de monitorar e comparar a evolução e a resposta terapêutica em cadelas com e
sem piometra submetidas à ovariossalpingo-histerectomia (OSH).
Metodologia
Foram utilizadas 37 cadelas atendidas no Hospital Veterinário da
Universidade Federal de Mato Grosso (Hovet-UFMT), distribuídas em dois grupos:
grupo 1, animais com piometra (n=24), e grupo 2, animais sem piometra (n= 13).
194
Mestrado, Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Medicina Veterinária
(FAMEV), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Email: [email protected].
195
Residente de Clínica cirúrgica, UFMT.
196
Programa de pesquisa clínica em doenças infecciosas, doutoranda, IPEC-FIOCRUZ.
197
Professor adjunto, Departamento de Clínica Médica Veterinária, FAMEV-UFMT.
Jornal
Brasileiro
de
Ciência
Animal
–
JBCA,
v.3,
n.6,
suplemento,
2010.
237
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Todos os animais foram submetidos previamente a consulta, exame clínico detalhado,
exames bioquímicos para avaliação renal e hepática e posteriormente foram
submetidos ao procedimento cirúrgico de OSH, sendo que amostras de sangue foram
obtidas nos três seguintes períodos: antes da cirurgia (PI), 24 horas após (PII) e sete
dias após a intervenção cirúrgica (PIII). No grupo 2, foram descartados do estudo os
animais que apresentassem quaisquer alterações nos exames. A dosagem da PCR
foi feita pela técnica da aglutinação em látex com o uso de “kit comercial” PCRTest doles®. Para realização da técnica, os soros foram diluídos seriadamente, até que a
aglutinação não fosse mais evidenciada visualmente, comparando-se com o controle
positivo. O resultado em mg/L foi obtido multiplicando-se por seis o fator da última
diluição cuja aglutinação ocorreu, conforme instruções do fabricante. Os resultados
dos exames foram avaliados e as cadelas que se apresentaram azotêmicas (aumento
de ureia e creatinina séricas), hipovolêmicas e com indício de sepse foram
submetidas à terapia corretiva prévia de quatro a seis horas antes do procedimento
cirúrgico e mantidas por sete dias após a cirurgia. As variáveis foram avaliadas pela
Anova (Análise de variância) não paramétrica, seguida do teste de Wilcoxon para
comparação entre os diferentes tempos e grupos. As diferenças foram consideradas
significativas quando P<0,05. Os dados foram analisados por meio do programa
computacional Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG).
Resultados
Observou-se no grupo 1 que houve diferença significativa da PCR entre o PI e
o PIII e entre o PII e PIII. No grupo 2, os valores mostraram aumento da média entre o
PI e PII, embora não significativa. Entretanto, no PIII, houve queda significativa nos
valores da PCR em comparação a PII. A concentração da PCR nos animais com
piometra em comparação aos do grupo controle foi estatisticamente significativa
(p≤0,05) em todos os períodos analisados. Importante destacar neste estudo que
100% dos animais com piometra apresentaram aumento da concentração sérica da
PCR no PI, com média de 128,5 mg/dL, aproximadamente 20vezes o seu valor basal.
Já no grupo 2, a média foi de apenas 4,15 no mesmo período especificado. Sendo
que em PII, a média do grupo 1 foi de 146,5. Entretanto no PIII, houve expressiva
queda com média de 37,76. Houve diferença significativa (p<0,05) nos três períodos
de evolução clínica da doença. Fato não ocorrido nos animais do grupo 2 (p>0,05).
Verificou-se, que os valores médios da PCR foram maiores para o grupo de animais
com piometra em relação aos que não apresentavam tal condição clínica.
Discussão
Com base no estudo realizado, um aspecto importante a ser considerado é a
resposta inflamatória, que está presente em infecções graves e processos
inflamatórios que produzem ou liberam mediadores da inflamação podendo causar
alterações sistêmicas4. O tratamento de escolha para piometra é a OSH, sendo que a
terapia corretiva para deficiência de fluidos, acidose, sepse e melhora da função renal
deve ser iniciada antes da cirurgia8. A PCR reflete ativação do sistema imunológico e
pode ser usada para avaliar a saúde de animais1. Eckersall et al2 , em 1991, relataram
em seus estudos que valores séricos da PCR em cães, baixos ou indetectáveis, são
indicativos de ausência de processos patológicos. Esta observação corrobora com a
verificada nos animais do grupo controle. A concentração sérica desta proteína nas
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cadelas com piometra foi quase 20 vezes maior quando comparada aos animais do
grupo controle, entendendo-se que esta patologia define um quadro clínico grave e
digno de atenção. Neste estudo houve aumento da concentração da PCR nas 24
horas após a cirurgia em animais de ambos os grupos, embora não tenha diferido
significativamente. De acordo com Santos et al7, 2003, na recuperação cirúrgica a
PCR aumenta nas primeiras quatro a seis horas, revelando picos séricos por volta das
48 a 72 horas do pós-operatório e, em cirurgias que cursam com evolução favorável,
os níveis de PCR normalizam-se por volta do sétimo dia após o procedimento
cirúrgico, o que corrobora com este estudo. Na vigência de complicações, os valores
da PCR permanecem elevados. Poucos trabalhos relatam a associação da PCR com
a piometra em cadelas1, e nenhum trabalho foi feito evidenciando a concentração
deste marcador inflamatório antes e após o procedimento cirúrgico de OSH nas
diferentes fases de evolução, como foi feito neste estudo. A análise laboratorial desse
marcador, juntamente com os dados clínicos e exames complementares, permite
avaliar a atividade de algumas doenças e monitorar a resposta terapêutica, bem como
sugerir presença de infecção5.
Conclusão
Análises da PCR podem ser recomendadas como exame coadjuvante para o
diagnóstico de cadelas com piometra, julgando-se pela facilidade e praticidade da
realização do teste. Uma vez estabelecido o diagnóstico, determinações diárias de
PCR podem ser valiosas para monitorar a evolução da doença.
Referências Bibliográficas
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haptoglobin produced in response to ovariohysterectomy in healthy bitches and
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prostaglandin F2 metabolite levels. Acta Veterinary Scandinave. 47(1), p.55-68
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no diagnóstico e no prognóstico intra-hospitalar em pacientes com dor torácica
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Bases da Evidência Científica. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. 80(4): 452456.
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Paulo: Manole, p. 1489-1493.
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and
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Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da UFMT sob o
protocolo nº 23108.019619 09-8.
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ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE ABDOMEN AGUDO EQUINO
NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE GRANDES ANIMAIS - UNB/SEAPA, NO
PERÍODO DE 2001 A 2009
RETROSPECTIVE
STUDY
OF
EQUINE
ACUTE
ABDOMEN
CASES
AT
VETERINARY
HOSPITAL
UNB/SEAPA
FROM
2001
TO
2009
SOUSA,K.
E.198
1;
RAJÃO,
M.
D.1;
FONSECA,
F.A.1;
VARANDA,
L.F.O.1;
XIMENES,
F.H.B.1;
TEIXEIRA
NETO,
A.R.1;
GODOY,
R.
F.
1
Palavras-chave: Cavalo, Cólica, Laparotomia
Key words: Colic, Horse, Laparotomy
Introdução
Estudos de incidência de síndrome cólica e sua distribuição em relação às
variáveis relativas ao equino e ao manejo constituem ferramenta de fundamental
importância para o planejamento da saúde equina, uma vez que podem promover o
melhor entendimento da etiologia, a adoção de intervenções mais adequadas e
prevenção de novos casos. No entanto, no Brasil pouco se sabe sobre a síndrome
cólica em nível populacional. Vários fatores têm sido apontados como fatores de risco
para a cólica e, dentre eles, estão: quantidade e qualidade dos alimentos, idade e
histórico de cólicas anteriores e de cirurgias abdominais. O objetivo deste trabalho foi
realizar um estudo retrospectivo dos casos de abdômen agudo equino do Hospital
Veterinário de Grandes Animais da UnB/Seapa (Hvet-UnB), bem como avaliar
possíveis fatores de risco associados à ocorrência de síndrome cólica, além de
estabelecer a ocorrência dessa síndrome nos equinos atendidos no Hvet-UnB, no
período de 2001 a 2009.
Metodologia
Foram analisados 190 prontuários clínicos de equinos atendidos no Hvet/UnB
que apresentaram síndrome cólica, no período de 2001 a 2009. Os parâmetros
analisados foram: sexo dos animais acometidos, idade, raça, casos recidivantes póscirurgia, estações do ano (estação seca e estação chuvosa), etiologia das cólicas, tipo
de tratamento (clínico ou cirúrgico), desfecho dos casos e complicações pósoperatórias. Para análise de dados, foram calculadas as frequências absolutas e
relativas das variáveis qualitativas e quantitativas.
198
Hospital Escola de Grandes Animais/ Universidade de Brasília (UnB). Galpão 04, Granja do Torto, CEP 70636-200,
Brasília-DF. Autor para correspondência: [email protected]
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Resultados e Discussão
Neste período foram atendidos 1189 equinos. Deste total, 190 animais
apresentaram síndrome cólica, representando uma prevalência de 15,98%. Essa
percentagem foi superior à encontrada por White (1995), que foi da ordem de 10%.
Foi constatado que do total de equinos machos (n= 690), 16,38% (n=133)
apresentaram síndrome cólica, enquanto que do total de fêmeas atendidas (n=499)
15,43% apresentaram a síndrome, não havendo diferença significativa entre a
ocorrência de cólica observada em diferentes sexos, o que corrobora com estudos da
literatura. Em relação à idade dos animais estudados, a faixa etária com maior
número de casos de síndrome cólica foi a de seis a dez anos, com 31,05% (n=59). Os
animais com menos de dois anos representaram a menor parcela dos casos, 10,53%
(n=20). Em 59 fichas clínicas analisadas (31,05%) não havia informações acerca da
idade dos animais. A idade dos equinos também foi identificada como um fator de
risco para ocorrência de síndrome cólica, de acordo com outros autores
(LARANJEIRA et al., 2009; MEYER, 1995; PAGLIOSA et al., 2006). Dos 190 animais
atendidos com síndrome cólica, 34,21% (n=65) eram mestiços, representando a
maioria dos animais, seguidos das raças Mangalarga Marchador com 16,32% (n=31),
Quarto de Milha 13,16% (n=25), Brasileiro de Hipismo 7,89% (n=15), Puro Sangue
Inglês (PSI) 5,78% (n=11), Campolina 5,78% (n=11), Pônei 4,74% (n=9), Crioulo
4,21% (n=8), Puro Sangue Árabe (PSA) 3,16% (n=6), Mangalarga Paulista e
Appaloosa com 1,05% (n=2) cada um e Anglo Árabe, Sela Francesa, Lusitano,
Painthorse e Piquira com 0,53% (n=1) cada. No entanto não é correto afirmar que os
equinos mestiços têm uma maior predisposição a desenvolverem um quadro de
abdômen agudo, visto que no período estudado 50,13% (n=596) dos animais
atendidos na totalidade dos casos eram mestiços. Dentre os 190 animais estudados,
quatro tiveram recidiva após laparotomia, sendo que o tempo para ocorrência das
recidivas variou de dois a quatro meses após a laparotomia. O resultado encontrado
foi um pouco inferior ao que se pode encontrar na literatura, na qual é dito que um
cavalo com histórico de cólica cirúrgica tem um risco cerca de cinco vezes maior de
desenvolver um novo episódio de cólica, quando comparado a cavalos sem histórico
de cirurgia abdominal. Essa divergência de resultados pode ser atribuída ao fato de
que nem todos os animais atendidos com o diagnóstico de cólica retornaram ao HvetUnB quando diante de um novo episódio de cólica, podendo ter ocorrido o
atendimento na propriedade por um veterinário particular ou mesmo o óbito do animal
antes mesmo de um atendimento. Em relação às estações de seca e de chuva, a
estação de seca contou com 51,20% (n=106) do total de casos (n=207) e a estação
chuvosa com 48,80% (n=101). Considerando que a estação de seca no centro-oeste
compreende o período de maio até outubro e o período chuvoso, de novembro a abril.
Ainda há muitas controversas na literatura em relação a este dado, mas o que já se
sabe é que a estação da seca afeta a qualidade do volumoso e tem sido associada
com o aumento de cólica por compactação. Neste estudo, 60% (n=30) dos casos de
compactação de colón maior foram evidenciados na estação seca. Dentre os casos
de cólica diagnosticados, as afecções de cólon maior foram as mais expressivas, com
35,45% (n=78), seguidas das afecções gástricas com 21,36% (n=47), de um total de
220 afecções diagnosticadas. Além dos casos recidivantes (n=17), nove animais
tiveram dois tipos de afecção e dois animais tiveram três tipos concomitantemente. A
percentagem de 5% dos casos de cólica (n=11) não teve diagnóstico específico.
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Segundo alguns autores, geralmente os casos de cólica intestinal são menos
frequentes e relacionados com a necessidade de cirurgia, principalmente as
obstruções. Essas observações são contrárias às obtidas neste estudo, no qual
53,18% (n=117) foram afecções intestinais, sendo a compactação de cólon maior a
mais frequente (35,45%, n=78). As afecções intestinais podem muitas vezes levar a
complicações e são de difícil resolução na propriedade, necessitando de uma
estrutura mais elaborada como a de um hospital. Esses fatores podem ter contribuído
para que esse tipo de afecção fosse mais frequente no Hvet-UnB. Os achados do
presente trabalho coincidem com os dados de Abutarbush et al. (2005), que
observaram maior frequência de cólica de origem intestinal, sendo a compactação de
cólon maior a afecção mais comum. Do total de casos de síndrome cólica (ntotal=207),
65,70% (n=136) foram submetidos a tratamento clínico e 33,82% (n=70) a tratamento
cirúrgico. Na maioria dos casos atendidos no Hvet-UnB houve demora na busca pelo
atendimento e grande parte dos animais apresentava sinais clínicos de cólica há pelo
menos cinco dias. Esse tempo entre o inicio dos sinais e a busca pelo atendimento
pode ter favorecido o agravamento de alguns casos, tornando-os de resolução
cirúrgica. Dos casos submetidos a tratamento clínico, a grande maioria, 77,94%
(n=106), obteve alta, 16,18% (n=22) foram a óbito e 4,41% (n=6) foram eutanasiados.
A letalidade total (óbitos e eutanásias) observada nos casos de tratamento clínico foi
de 20,59%. Em casos em que houve a necessidade de intervenção cirúrgica, 35,71%
(n=25) obtiveram alta, 37,15% (n=26) foram a óbito e 25,71% (n=18) foram
eutanasiados, devido principalmente a complicações cirúrgicas ou pós-cirúrgicas. A
demora na busca pelo atendimento veterinário pode ser um agravante nos casos
cirúrgicos, podendo ser responsável pelo grande número de óbitos e eutanásias em
relação ao número de altas. A letalidade observada (óbitos e eutanásias)
considerando os dois tipos de tratamento, clínico e cirúrgico, (n=207), foi de 34,78%.
Altos percentuais de letalidade podem ser resultantes do fato de que os casos levados
a um hospital escola normalmente já estão em estágios avançados, e as possíveis
lesões no trato gastrointestinal já estão mais graves, o que pode favorecer a
ocorrência de complicações durante e após o episódio de cólica. Dentre as
complicações, as mais comumente observadas foram rupturas dos segmentos
afetados (cólon maior, cólon menor, ceco, íleo e reto.
Conclusão
A síndrome cólica tem caráter multifatorial, sendo afetada tanto por fatores
intrínsecos quanto extrínsecos. A compreensão da epidemiologia desta enfermidade é
de grande relevância para o manejo do equino acometido por cólica, e os estudos a
respeito dos fatores de risco associados à sua ocorrência devem ser continuados, a
fim de proporcionar a possibilidade de intervenções mais eficazes.
Referências Bibliográficas
1. WHITE, N. A. (1995) Epidemiology of Equine Colic. In: Ciclo Internacional de
Cólica Eqüina, 2, UNESP-Jaboticabal, 1-9.
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militar: análise multivariável de fatores de risco. Ciência Rural, v.39: 1795 –
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2002). Canadian Veterinary Journal, 46: 800–805.
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RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL EM CÃES: ESTUDO
RETROSPECTIVO (2000 - 2010)
CRANIAL
CRUCIATE
LIGAMENT
RUPTURE
IN
DOGS:
RETROSPECTIVE
STUDY
(2000
–
2010)
SILVA,
F.
S.
B.199*;
RAISER,
A.
G200;
FESTUGATTO,
R.
2;
VASCONCELLOS,
J.S.P.
2;
LIBARDONI,
R.N.
2
;
LEME
JÚNIOR,
P.T.O.
2;
DE
GASPARI,
R.
2
Palavras-chave: joelho, cão, articulação, ruptura do ligamento cruzado cranial.
Keywords: knee, dog, joint, cranial cruciate ligament rupture.
INTRODUÇÃO
As técnicas extracapsulares têm sido amplamente utilizadas para a reparação
da ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) no cão, e a sutura fabelotibial tem se
tornado uma das mais populares. Entretanto na literatura os dados a respeito das
características da população portadora desta afecção são divergentes e podem variar
de acordo com a população estudada. Em cães, a instabilidade do joelho decorrente
da ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) é uma das mais frequentes causas
de claudicação em membros pélvicos e dor na articulação1. A instabilidade articular
também pode resultar em um processo degenerativo e este pode ocorrer de forma
progressiva e precoce2. A ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) tem sido
identificada em todas as raças, idades e portes, entretanto sua ocorrência é descrita
com maior frequência em cães jovens de raças de grande porte. A ocorrência da
RLCC em cães pode-se apresentar sob duas formas: a primeira relacionada a uma
alteração degenerativa do ligamento que ocorre de forma crônica, observada mais
comumente em animais de pequeno e médio porte; a outra relacionada à ocorrência
de um trauma agudo, geralmente associado à prática de exercícios ou de atividades
mais intensas, que é observada em cães de grande porte. A ruptura ou laceração
parcial é descrita como uma terceira forma de apresentação desta afecção3. A
apresentação clínica da ruptura de LCC em cães varia conforme a etiologia do
trauma. O diagnóstico da RLCC é realizado por meio de anamnese detalhada,
avaliação criteriosa da marcha e exame físico do membro suspeito pelo teste de
gaveta cranial. Este pode revelar o deslocamento craniocaudal da tíbia em relação ao
fêmur. O teste de compressão tibial também pode ser realizado para o diagnóstico
desta instabilidade articular. O diagnóstico da RLCC é confirmado se os resultados
destes testes forem positivos4. Métodos complementares de diagnóstico também
podem ser realizados, como o exame radiográfico da articulação, a ressonância
199
Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900,
Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]. *Autora para correspondência.
200
Departamento de Clínica de Pequenos Animais (DCPA), Centro de Ciências Rurais (CCR), UFSM, Santa Maria,
RS, Brasil.
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magnética, a ultrassonografia, a análise do líquido sinovial e a artroscopia. A correção
cirúrgica é recomendada para todos os casos de RLCC em cães, pois acelera a taxa
de recuperação e potencializa o retorno a função. Existem mais de 100 técnicas
descritas para a estabilização da articular do joelho que são divididas em duas
grandes categorias: as extracapsulares e intracapsulares5. A técnica mais comumente
utilizada é a sutura fabelotibial. Esta técnica extracapsular tem sido descrita para a
correção de ruptura de LCC em cães de todos os portes como um procedimento de
fácil execução e que apresenta alto grau de satisfação dos proprietários3. O presente
estudo tem como objetivo caracterizar a população de cães portadores de RLCC
submetidos à correção cirúrgica pela técnica de sutura fabelotibial e descrever os
resultados obtidos na evolução pós-operatória.
METODOLOGIA
Foram analisados os registros médicos de 21 cães com suspeita de RLCC
atendidos no Hospital Veterinário Universitário (HVU) da UFSM no período entre
janeiro de 2000 e abril de 2010. Estes animais apresentavam diagnóstico clínico de
ruptura de ligamento cruzado cranial (RLCC) constatado pelo teste de gaveta cranial
positivo, e que foram submetidos à correção cirúrgica do LCC pela técnica de sutura
fabelotibial. Os dados obtidos de cada animal incluíram raça, idade, sexo, peso
corporal e etiologia da RLCC. Os cães foram agrupados segundo o peso corporal
entre 5,0 – 15kg; 15,1 – 35kg; 35,1 – 45kg e acima de 45kg. A etiologia foi classificada
em traumática, quando da presença de trauma significativo (atropelamentos e
quedas), e espontânea, quando ocorresse durante atividades corriqueiras do animal
(caminhar, levantar). Foi avaliado também o intervalo entre o aparecimento dos sinais
clínicos da RLCC e a correção cirúrgica (TSC). Todos os prontuários médicos foram
pesquisados em relação à ocorrência de recidivas de RLCC no membro operado e/ou
ocorrência de ruptura no ligamento contralateral posterior. Foi pesquisado também o
histórico de ocorrência de patologias ortopédicas prévias, que pudessem interferir no
quadro clínico dos animais. Na segunda etapa do estudo, os proprietários dos cães
foram entrevistados por meio de telefonemas, aos quais foi solicitado que
classificassem o resultado final do tratamento como satisfatório, parcialmente
satisfatório e insatisfatório, segundo a função do membro durante a locomoção
(ausência de claudicação, claudicação esporádica e claudicação constante,
respectivamente). A terceira etapa desta pesquisa foi constituída da análise dos
dados obtidos a partir dos prontuários médicos e das entrevistas com os proprietários.
Os resultados obtidos nesta análise foram confrontados com os dados existentes na
literatura.
RESULTADOS
Após análise dos prontuários médicos dos 21 animais que foram considerados
aptos a participar deste estudo, observou-se a ocorrência de dez raças diferentes na
população estudada. Os cães da raça Poodle representaram 23,8% dos animais
estudados, os sem raça definida apresentaram o mesmo percentual de ocorrência. A
raça Pit Bull ocorreu em 9,52% dos animais, assim como nas raças Rottweiler e
Cocker, onde este percentual também foi observado. Os animais da raça Bulldogue
Inglês representaram 4,76% da população estudada, assim como os da raça São
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Bernardo. Os animais das raças Cimarron, Chow-chow e Sharpei apresentaram
apenas um animal cada um (4,76%). A maior prevalência foi de cães com peso
corporal entre 15,1 e 35,1kg (44%) e entre 5,0 e 15kg (39%). Os cães com peso
corporal acima de 45 kg apresentaram baixa ocorrência (5%) neste trabalho, assim
como os cães entre 35,1 – 45 kg (12%). Na presente pesquisa, observou-se que as
fêmeas (n=9; 42,85%) foram menos acometidas que os machos (n=12; 57,14%), e
que 66,6% dos animais apresentaram RLCC de forma espontânea e 33,33% de
origem traumática. Pode-se observar que a média de idade dos animais que
apresentaram histórico de trauma foi de 4,2 anos, enquanto a idade média dos
animais que apresentaram ruptura espontânea do LCC, foi de 5,3 anos. A idade
média dos 21 cães avaliados (independente da etiologia) foi de 5,7 anos. O intervalo
de tempo decorrido entre o aparecimento dos sinais clínicos e a correção cirúrgica da
RLCC variou entre três e 90 dias, sendo que a média de tempo observada entre todos
os animais foi de 19,5 dias. Quando se correlacionou o tempo de duração dos sinais
clínicos ate a realização das intervenções cirúrgicas com o grau de recuperação dos
animais, observou-se que o tempo médio no grupo com recuperação satisfatória foi de
18,3 dias e nos animais com recuperação considerada insatisfatória foi de 15 dias. Os
resultados referentes à taxa de recidivas revelaram que apenas um animal necessitou
ser submetido à nova estabilização cirúrgica articular, decorrente de um trauma no
sétimo dia de pós-operatório. Ao se pesquisar o histórico de ocorrência de patologias
ortopédicas prévias, constatou-se que um animal fora submetido à colocefalectomia
no membro ipsilateral e outro apresentava displasia coxofemoral bilateral. A
classificação do resultado final do tratamento revelou que o mesmo foi considerado
satisfatório em aproximadamente 81% dos pacientes. Em 14,28% dos pacientes a
recuperação foi considerada parcialmente satisfatória, e em menos de 5% a
recuperação foi relatada como insatisfatória após a correção cirúrgica da RLCC.
DISCUSSÃO
Corroborando com os achados deste estudo5 , a raça Poodle estava entre as
raças mais acometidas pela RLCC. Citou-se2 que a RLCC ocorre com maior
frequência em cães de grande porte, dado que não foi observado, pois os cães com
peso corporal acima de 45 kg apresentaram baixa ocorrência (5%) neste trabalho. Já1
relatou que as fêmeas são mais acometidas pela RLCC em relação aos machos,
entretanto na presente pesquisa observou-se que as fêmeas (n=9; 42,85%) foram
menos acometidas que os machos (n=12; 57,14%). A idade média dos cães com
RLCC espontânea foi superior à idade média dos cães com RLCC traumática,
achados que se assemelham ao relatado por5 , que descreveram que as lesões de
caráter traumático acometem cães em torno dos quatro anos. Já2 citou em seu estudo
que a ruptura de LCC ocorre mais comumente em cães de meia idade, fato que pode
ser observado neste estudo, onde a idade média dos 21 cães avaliados
(independente da etiologia) foi de 5,7 anos. Acredita-se que o tempo médio para a
correção cirúrgica não interferiu no resultado do tratamento, pois, como afirmaram 4 , a
progressão da doença degenerativa articular ocorre independentemente do
tratamento realizado. Nos animais que apresentavam patologias ortopédicas
preexistentes, acredita-se que as mesmas não interferiram em sua recuperação, que
foi considerada satisfatória. Nenhum dos fatores descritos por1 contribuíram para a
degeneração do LCC, estando relacionados às enfermidades coexistentes nos
animais acima citados. Acredita-se que a técnica avaliada nesta pesquisa foi eficiente,
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tomando por base os resultados satisfatórios (81%) e o baixo grau de recidivas (5%),
concordando com dado da literatura que citaram3 a técnica de sutura fabelotibial como
um procedimento que obtém resultados bastante satisfatórios.
CONCLUSÃO
Com a realização do presente estudo, pode-se concluir que, na população de
cães estudada, a RLCC ocorre com maior frequência em machos das raças Poodle e
sem raça definida, com idade média de 5,7 anos, com peso corporal entre 15 kg e 25
kg, e que em um número significativo de cães a ruptura não está relacionada com
traumatismo. Pode-se concluir também que a técnica de sutura fabelotibial mostra-se
efetiva para corrigir a ruptura do ligamento cruzado cranial de cães.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BARAÚNA JÚNIOR, D. et al. Técnica de interligação extracapsular fêmorofabelo-tibial na ruptura do ligamento cruzado cranial em cães: achados clínicos
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EMPREGO DO EXTRATO DA CASCA DO BARBATIMÃO NA
CICATRIZAÇÃO DE LESÕES DE DERMATITE DIGITAL EM FÊMEAS
BOVINAS DE APTIDÃO LEITEIRA
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G
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I
R
Y
FREITAS,
S.
L.
R.201;
MOURA,
M.
I.202;
CAMPOS,
S.
B.
S.203;
SILVA,
J.
A.1;
ABREU,
M.
P.1;
DAMBROS,
C.
E.1;
SILVA,
L.
A.
F.3
PALAVRAS-CHAVE: Bovino, dermatite digital, barbatimão
KEY WORDS: Bovine, digital dermatitis, barbatiman
INTRODUÇÃO
As doenças digitais comprometem o bem-estar dos animais e correm
especialmente em rebanhos de aptidão leiteira manejados intensivamente, mais têm
sido diagnosticadas com frequência em bovinos manejados extensivamente.
Estas enfermidades desencadeiam perdas na produção de carne e leite, além
dos altos custos dos tratamentos. O tratamento de tais enfermidades é demorado e
dispendioso, enquanto os produtos comerciais empregados, além de onerosos,
geralmente deixam resíduos que podem acarretar danos à saúde dos animais e do
homem, situação que vem motivando o emprego de produtos naturais para auxiliar à
cicatrização. Dentre os produtos pesquisados, encontra-se o extrato da casca do
barbatimão,
que apresenta ação cicatrizante, adstringente, antidiabética, antiinflamatória, anti-hemorrágica e antisséptica. No tratamento de enfermidades digitais
dos bovinos1, obteve-se resultados satisfatórios empregando esse extrato. Embora
tenham sido encontrado poucos trabalhos científicos na literatura escrita
comprovando a ação do extrato do barbatimão como auxiliar da cicatrização(2; 1; 3) ,
201
Acadêmico (a) de Medicina Veterinária, Escola de veterinária/UFG – Bolsista em iniciação científica – CNPq
(Orientador) Campus II, Setor Samambaia, Goiânia – GO. CEP: 74001970
[email protected]
202
Doutoranda em Ciência Animal do Programa de Pós-graduação da Escola de Veterinária/UFG
203
Mestranda em Ciência Animal do Programa de Pós-graduação da Escola de Veterinária/UFG
Ciência Animal do Programa de Pós-graduação da Escola de Veterinária/UFG
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4
Mestranda em
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acredita-se que o tratamento cirúrgico associado à aplicação tópica desse fitoterápico
e ao toalete dos estojos córneos possam ser eficazes no tratamento de lesões digitais
dos bovinos. Sendo assim, objetivou-se neste estudo avaliar a ação tópica do extrato
da casca do barbatimão nas formas de solução e unguento, associada ao tratamento
cirúrgico e ao toalete dos estojos córneos digitais, saudáveis e doentes, na
recuperação de lesões de dermatite digital em fêmeas bovinas de aptidão leiteira.
METODOLOGIA
Foram empregadas nesse estudo 30 fêmeas bovinas de aptidão leiteira, em
lactação ou sem bezerro ao pé, com dermatite digital, peso e idade variados. Os
animais foram distribuídos em três grupos contendo dez bovinos cada um, (GI, GII e
GIII), constituídos a partir do protocolo terapêutico adotado no pós-operatório. Nos
bovinos distribuídos no grupo GI, pincelou-se na ferida cirúrgica extrato da casca de
barbatimão (Extrato glicólico de barbatimão, Farmogral, Brasília-DF) e nos animais
pertencentes ao grupo GII aplicou-se unguento (Unguento com extrato de barbatimão,
Farmogral, Brasília-DF), ambos preparados a 20%. O grupo GIII não recebeu
tratamento medicamentoso, mas as feridas cirúrgicas foram higienizadas em pedilúvio
contendo água. O pós-operatório era realizado todos os dias. Em todos os bovinos
realizou-se o toalete dos cascos saudáveis e doentes. Após remover as bandagens
protetoras das feridas, no sétimo dia do pós-operatório os bovinos foram examinados,
semanalmente, denominados momentos de avaliação (M1, M2, M3), totalizando três
avaliações. Considerou-se como recuperado o animal que, ao término das avaliações,
ou seja, 28 dias após realizar as intervenções cirúrgicas, não apresentava
claudicação, recrudescimento do processo inflamatório, necrose e o processo de
cicatrização tinha ocorrido em sua plenitude. Os dados não paramétricos como
presença dos sinais e recuperação das lesões empregando extrato de barbatimão a
20% (grupo GI), unguento de barbatimão 20% (grupo GII) e grupo controle (grupo
GIII) foram analisados descritivamente4.
RESULTADOS
Avaliando os diferentes tratamentos das feridas cirúrgicas aos sete dias após a
retirada da bandagem (momento M1), um total de cinco animais foram recuperados. O
extrato da casca do barbatimão (GI) recuperou três (60%) animais enquanto com o
unguento (GII) a cura ocorreu em dois (40%) bovinos. Empregando apenas a água
em pedilúvio (GIII), nenhum dos animais foi considerado com cura completa. Ainda
considerando o momento M1, 25 animais não obtiveram sua recuperação, sendo que
deste total, sete (28%) faziam parte do grupo GI, oito (32%) do grupo GII e dez (40%)
do grupo controle GIII. Em M2, 14 dias após a remoção da bandagem, a aplicação do
extrato da casca do barbatimão resultou na cura de sete (53,8%) animais, seguida de
quatro (30,8%) animais recuperados após receber unguento como conduta pósoperatória. No grupo controle (GIII), dois (15,4%) animais tiveram a recuperação
completa. No último momento de avaliação, ou seja, em M3 totalizaram 21 animais
recuperados, sendo que nove (42,9%) pertenciam ao grupo GI, sete (33,3%) ao grupo
GII e cinco (23,8%) ao grupo GIII ou grupo controle. Apenas nove animais no total não
obtiveram sua recuperação, sendo que o grupo que mais apresentou animais não
recuperados foi o controle (grupo GIII), totalizando cinco (55,5%) bovinos. O grupo GI
teve apenas um (11,1%) animal não recuperado e no grupo GII três (33,3%) bovinos
não se recuperaram. O grupo que recebeu o extrato da casca de barbatimão como
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tratamento pós-operatório obteve recuperação de seis (46,1%) animais a mais do que
o grupo que recebeu ungüento, e estes 12 (71,4%) animais, quando comparados ao
grupo controle, mostraram resultados satisfatórios do extrato de barbatimão como
auxiliar da cicatrização de lesões de dermatite digital.
DISCUSSÃO
A evolução clínica satisfatória da cicatrização das lesões que receberam o
extrato de barbatimão na forma de extrato ou unguento foi atribuída, em parte, à ação
adstringente do tanino existente no extrato. Os taninos são responsáveis pela
precipitação das proteínas do tecido lesado, formando um revestimento protetor que
favorece a sua regeneração e ação antisséptica2. O barbatimão apresenta como
constituintes químicos alcaloides, flavonoides, terpenos, estilbenos, esteroides,
inibidores de proteases como a tripsina e taninos, sendo que a atividade
farmacológica do barbatimão como cicatrizante se deve a esta riqueza destes
compostos(5;6). Ficou evidenciado que apenas a água em pedilúvio não foi suficiente
para recuperar as lesões nos bovinos do grupo GIII. O resultado satisfatório com o
uso do extrato ou unguento de barbatimão reforça a necessidade de se utilizar sobre
as lesões digitais decorrentes do tratamento cirúrgico da dermatite digital produtos
com ação terapêutica. Embora o casqueamento preventivo seja o principal
procedimento de manejo para ajustar as dimensões do estojo córneo digital e
controlar doenças das unhas7 , é preciso associar ao procedimento o tratamento local
das feridas. A utilização do extrato (GI) ou unguento de barbatimão (GII) antecipou a
recuperação, possivelmente pela distribuição adequada do fitoterápico, resultando em
maior contato do extrato da casca do barbatimão ou do unguento com a ferida
cirúrgica, bem como devido as propriedades microbicidas e protetoras da ferida 8.
CONCLUSÃO
O uso tópico do extrato da casca do barbatimão nas formas de solução e
unguento, associado ao tratamento cirúrgico e ao toalete dos estojos córneos digitais,
saudáveis e doentes, auxiliou na recuperação de lesões de dermatite digital em
fêmeas bovinas de aptidão leiteira, sendo que a forma de solução antecipou a
recuperação.
REFERÊNCIAS
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fitoterápicos como opção na bovinocultura leiteira: avaliação dos aspectos
sanitários e de produção. 2002. 119f. Dissertação (Mestrado em
Agroecossistemas) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de
Santa Catarina, FLORIANÓPOLIS.
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barbatimão em cicatrização de feridas em éguas em comparação com outros
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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
EDEMA PULMONAR DE REEXPANSÃO (EPR) APÓS CORREÇÃO
CIRÚRGICA DE HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA PERITÔNEO PERICÁRDICA
EM CÃO: RELATO DE CASO
REEXPANSION
PULMONARY
EDEMA
(RPE)
AFTER
SURGICAL
CORRECTION
OF
CONGENITAL
DIAPHRAGMATIC
HERNIA
PERICARDIAL
PERITONEUM
DOG:
CASE
REPORT
HELOU, J.B204., OLIVEIRA, A.L.A205., SILVA, L.A.F1., RIBEIRO, S.N2., LUZ, M.J2.,
CAMPOS, S.B.C1., ABREU, M.P1
Palavra chave: cirurgia, má formação congênita, diafragma.
Keyword: surgery, diaphragm, congenital malformation.
INTRODUÇÃO
Em felinos os defeitos diafragmáticos são comuns e apresentam maior
ocorrência após traumatismo ou defeitos congênitos1. Dentre as afecções congênitas
estão incluídas as hérnias diafragmáticas, peritoneopericárdicas, hiatais e
pleuroperitoneais1,. Os sinais clínicos podem tornar-se aparentes em qualquer idade,
mas comumente relacionam-se com alteração gastrintestinal e respiratória1,2,3. O
diagnóstico é fundamentado nos sinais radiográficos, achados ultrassonográficos e
cirúrgicos1,2,3. A correção deverá ocorrer logo após o diagnóstico, no intuito de evitar
complicações graves como descompensação aguda e possível desenvolvimento de
edema pulmonar de reexpansão no pós-operatório1. Embora o assunto já tenha sido
discutido por vários pesquisadores1,2,3, alguns questionamentos ainda não foram
totalmente esclarecidos. Outros aspectos como a variação entre protocolos cirúrgicos
e complicações pós-operatórias também merecem ser analisados, em especial o
edema pulmonar de reexpansão (EPR). Portanto, o objetivo do presente estudo é
relatar os método de diagnóstico e o tratamento empregado na correção de um caso
de hérnia peritoneopericárdica em um felino associado com edema pulmonar por
reexpansão (EPR) no pós-operatório.
METODOLOGIA
Foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Estadual do Norte
Fluminense, no setor de Cirurgia de Pequenos Animais, um animal da espécie felina,
fêmea, castrada, dez meses de idade, da raça Persa, peso corporal de 2 kg e com
histórico de dispneia, cianose e quadro de depressão há aproximadamente dez dias.
Ao exame clínico, foram observadas mucosas cianóticas, taquipneia e dispneia,
204
Departamento de Cirurgia Animal, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG) Estrada Goiânia
Nova Veneza Km 0, Campus II, Setor Samambaia, Caixa Postal 131, CEP 74.001-970 Goiânia, GO, Brasil. E-mai:
[email protected]
205
Departamento de Cirurgia, Escola de Veterinária, Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro”.
250
Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
hipofenose das bulhas cardíacas, diminuição dos sons pulmonares,
som maciço à percussão no nível mediotorácico do lado esquerdo e sem evidência
clínica de trauma. Exames como hemograma e bioquímica sérica não apresentaram
qualquer alteração relevante. Na sequência, o animal foi encaminhado para exame
radiográfico, observando-se aumento de radiopacidade curvilínea distinta entre a
silhueta cardíaca e o diafragma, aumento de tamanho do contorno cardíaco e
indefinição da cúpula diafragmática. Após avaliação do quadro clínico, auscultação e
fundamentação nos sinais radiográficos, confirmou-se o diagnóstico de hérnia
diafragmática periotenopericárdica. A técnica cirúrgica empregada na correção seguiu
as recomendações1 realizando-se a laparotomia mediana pré-retro-umbilical. Ao
acessar a cavidade abdominal foi encontrado rotura do diafragma com herniação do
lobo esquerdo do fígado para o interior do saco pericárdico. O fígado mostrava-se
íntegro e foi reconduzido à cavidade abdominal. Os órgãos foram reposicionados
anatomicamente e, o pericárdio e diafragma, suturados individualmente com fio de
náilon nº 2.0, em padrão de sutura ponto simples separado. Após a aproximação do
tecido subcutâneo e a redução do espaço morto com fio de náilon 3.0 em padrão de
sutura Cushing, a dermorrafia foi realizada com ponto simples interrompido também
empregando fio de náilon 3-0. A pressão negativa intratorácica foi restabelecida com
um dispositivo intravenoso do tipo “butterfly” conectado a uma torneira de três vias e
uma seringa de 20 ml. No pós-operatório imediato o animal demonstrou desconforto e
na auscultação presença de estertores crepitantes difusos. Na radiografia revelou
expansão parcial do pulmão, com opacidade predominando no lobo caudal direito,
compatível com edema pulmonar de reexpansão (EPR). O protocolo adotado foi à
administração de manitol a 20%, por via endovenosa e oxigênio nasal suplementar. O
quadro clínico manteve-se estável e o animal evoluiu favoravelmente após o
tratamento.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Na imagem radiográfica, a visualização da silhueta diafragmática íntegra
apenas na porção dorsal do tórax e a indefinição na porção caudal do contorno
cardíaco foram sinais sugestivos de HDPP. Estudos sobre ocorrência de HDDP em
cães2, relataram dados radiográficos semelhante aos do presente relato. A técnica
cirúrgica utilizada mostrou-se factível, rápida e eficaz, uma vez que o animal
apresentou boa recuperação cirúrgica, após a resolução do EPR, sendo avaliado
através de exame radiográfico do tórax1. Deve considerar como ponto favorável a
recuperação do animal, o fato de apenas o lobo esquerdo do fígado fazer parte do
conteúdo herniário e não apresentar sinais de desvitalização, favorecendo o
prognóstico do paciente. Durante a reconstituição do diafragma e do saco pericárdico
não houve necessidade de proceder à ressecção da porção distendida do mesmo,
conforme relataram2. O sucesso da intervenção pode ser imputado também ao fio
empregado, pois o náilon é um material de alta resistência tênsil e baixa reatividade
tecidual, corroborando com os achados descritos1. As manifestações clínicas do
edema pulmonar de reexpansão (EPR) surgiram imediatamente após o procedimento
operatório, resultando grave insuficiência respiratória, tosse persistente, cianose,
taquipnéia e presença de estertores pulmonares na auscultação. Ressalte-se que o
exame radiográfico apresentou padrão pulmonar alveolar com opacidade
predominando no lobo caudal direito, optando-se pela aplicação de manitol e oxigênio
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nasal suplementar. Alguns estudos preconizaram a realização do
diagnóstico diferencial entre edema pulmonar cardiogênico, pneumonia, pneumonia
de aspiração e estase no pulmão4. O diagnóstico do edema pulmonar de reexpansão
é baseado no histórico, no quadro clínico e no exame radiográfico, fazendo parte do
tratamento do EPR, oxigênio suplementar, suporte ventilatório, restrição hídrica,
diuréticos e agentes inotrópicos4. Provavelmente, a recuperação do animal, esteve
associada à capacidade do manitol de inativar as espécies reativas tóxicas do
oxigênio, sobretudo o radical hidroxila, além de inibir a síntese de tromboxana B 2,
importantes mediadores na lesão inflamatória produzida pela reperfusão, conforme
mencionado5. Durante a reoxigenação de pulmões cronicamente colabados libera
radicais superóxido, que não podem ser removidos de forma eficaz, resultando em
aumento da permeabilidade pulmonar e edema pulmonar1. Sabe-se, que o edema
pulmonar por reexpansão (EPR), pode ocasionar grave hipoxemia, com danos nos
pulmões e pode resultar na síndrome da angustia respiratória (SARA) e falência de
múltiplos órgãos1. No presente caso, após iniciar a administração do diurético houve
remissão dos sinais clínicos e a recuperação completa do animal ocorreu em dez
dias. Embora no presente caso, a etiopatogenia da síndrome de edema pulmonar por
reexpansão não tenha ficado esclarecida, alguns pesquisadores1,4,5, afirmaram que o
problema pode ocorrer em alguns animais após grande pressão promovida no
momento da recuperação da anestesia, ocasião que os pulmões colabados por longo
período, durante a cirurgia são expandidos à sua capacidade normal. A técnica do
cateter tipo “butterfly” acoplado a torneira de três vias utilizada para o
restabelecimento da pressão negativa intratorácica não foi satisfatória para prevenção
do EPR. Autores, que utilizaram esta mesma técnica não relataram complicações
relacionadas6. Cabe ressaltar que o edema de reexpansão pode ocorrer, apesar dos
cuidados e da aplicação de técnicas corretas, entretanto, com causa multifatorial.
CONCLUSÃO
O diagnóstico clínico e radiográfico de hérnia peritoneopericárdica em um felino
possibilitou a adoção imediata do tratamento, sendo a recuperação satisfatória,
apesar de apresentar edema pulmonar por reexpansão (EPR) como complicação pósoperatória.
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OSTEOSSÍNTESE DE FRATURA METAFISÁRIA DISTAL EM BUGIO
(ALOUATTA CARAYA) – RELATO DE CASO
OSTEOSYNTHESIS
OF
DISTAL
METAPHYSARY
FRACTURE
IN
HOWLER
MONKEY
(ALOUATTA
CARAYA)
–
CASE
REPORT
ROCHA,
A.G.206,
OLIVEIRA,
J.P.2072,
KAWANAMI,
A.E.2,
MEDEIROS,
R.M.1,
GERING,
A.P.1,
CANDIOTO,
C.G.2
&
WERTHER,
K.2
Palavras-chave: fratura femoral, pino intramedular, bugio.
Key words: femoral fracture, intramedulary pin, howler monkey.
Introdução
O bugio, gênero Alouatta, apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo
desde o México até o sul da América do Sul, no Uruguai e Argentina. São primatas
robustos, com peso corporal médio entre cinco e 12 kg. Todas as espécies
apresentam dimorfismo sexual, sendo os machos adultos maiores que as fêmeas, e o
dicromatismo sexual está presente apenas em algumas espécies. A característica
morfológica mais marcante do gênero é a presença do osso hioide bastante
desenvolvido, o qual age como ressonador para o ronco ou rugido.1 Sua dieta é
considerada folívorafrugívora, ou seja, composta de grande quantidade de folhas, mas
também frutos.2 Segundo a Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira
Ameaçadas de Extinção (Ministério do Meio Ambiente - maio 2003) apenas duas
espécies estão classificadas como criticamente em perigo: Alouatta guariba guariba e
A. belzebuth.
As fraturas de fêmur representam 45% de todas as fraturas de ossos longos
do corpo.3 São descritas várias técnicas para reparar fraturas distais de fêmur, entre
elas a inserção de um pino intramedular 4, pinos intramedulares múltiplos, parafusos
“lag” 5 , pinos cruzados 6,7, além de métodos fechados como tala de Thomas
modificada e bandagem simples 8.
O fêmur tem a maior incidência de não união e osteomielite de todas as
fraturas, sendo a redução aberta e fixação interna as mais indicadas nas fraturas
femorais 9, 10. A imobilização óssea com pino intramedular é comumente utilizada na
cirurgia ortopédica veterinária 11 por seu baixo custo, facilidade de aplicação e pela
vantagem biomecânica de resistir a cargas de encurtamento em qualquer direção.12
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Departamento de Clínica e Cirurgia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual
Paulista, Campus de Jaboticabal (FCAV – UNESP – Jaboticabal). Email: [email protected]. Endereço: Via de
acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, FCAV, Unesp, Jaboticabal. CEP: 14.884-900. Jaboticabal – SP.
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Porém, são pouco resistentes a cargas axiais ou de rotação.13 De modo
ideal, o diâmetro do pino deve se aproximar 75% a 80% do diâmetro da cavidade
medular 11. Em geral, quanto maior o pino intramedular melhor a estabilidade da
fratura e resistência do implante.
O objetivo deste trabalho é relatar o procedimento de redução de fratura
metafisária distal femoral com pino intramedular realizado em um exemplar de bugio
(Alouatta caraya) recebido no Ambulatório de Animais Silvestres do Hospital
Veterinário “Governador Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias (FCAV), Unesp – Campus de Jaboticabal.
Material e Métodos
Foi encaminhado ao Ambulatório de Animais Silvestres do Hospital Veterinário
“Governador Laudo Natel”, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp –
Campus de Jaboticabal, um exemplar de bugio jovem.
O animal proveniente de vida livre foi avistado caindo de uma árvore. Ao dar
entrada no Ambulatório, foi realizado exame físico e notou-se à palpação presença de
crepitação em membro pélvico esquerdo. O animal foi então encaminhado à
Radiologia do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, onde, após exame
radiológico, diagnosticou-se fratura metafisária completa transversa no terço distal do
fêmur esquerdo.
Optou-se então por imobilização cirúrgica. O animal foi anestesiado com
cetamina (0,2 mg/kg) e midazolam (0,5 mg/kg). A indução foi realizada com etomidato
(1 mg/kg), o animal foi intubado e mantido em plano 2 do estadio III de Guedel com
isofluorano. Foi então realizada a osteossíntese mediante inserção normógrada de um
pino intramedular de Steinmann de 4mm de diâmetro com dois pinos
interfragmentares adjuntos de 1,5 mm cada. No pós-operatório, o animal recebeu
tramadol (4mg/kg, BID, durante cinco dias) e associação de sulfametoxazol e
trimetoprim, suspensão oral (2 mL, SID, durante dez dias). Foi realizado exame
radiológico 25 dias após a cirurgia para acompanhar a evolução da consolidação
óssea e no mesmo dia o animal recebeu alta médica. Os pinos não foram retirados,
pois se optou pelo sepultamento dos mesmos.
Resultados e Discussão
É frequente o recebimento de animais traumatizados no Ambulatório de
Animais Silvestres do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, sendo
necessária muitas vezes intervenção cirúrgica. A técnica de redução de fratura com
uso de pinos intramedulares objetiva uma estabilização que permita o rápido apoio
normal do membro afetado, principalmente em animais que apresentam maior risco
de anquilose articular, desmineralização e instalação de doenças.14
A capacidade do pino em restringir a mobilidade dos fragmentos fraturados
está relacionada ao seu contato com o córtex ósseo circunjacente.15 Esta capacidade
pode ser aumentada com a introdução de mais de um pino.12 O canal medular teve
ultrapassado o preenchimento de mais de 70%, conforme descrito por Piermattei &
Flo11, com o objetivo de aumentar o contato do pino com o endósteo.16 Após a
osteossíntese, o animal permaneceu com curativo e já fazia uso do membro desde a
primeira semana após realização da cirurgia.
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Após confirmação do fechamento da linha de fratura mediante
exame radiológico, o paciente recebeu alta e foi encaminhado Ibama para ser
destinado.
Conclui-se que a utilização de pinos intramedulares múltiplos é indicada para
osteossíntese em caso de fratura metafisária distal em bugio jovem (Alouatta caraya),
sendo obtido com sucesso o breve retorno funcional do membro fraturado neste caso.
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