Análise do ciclo de vida

Análise do ciclo de vida
Por Jill Kolling
Você provavelmente não participaria de uma maratona sem que treinasse para ela
antes, correto? É seguro dizer, então, que você tentaria correr algumas vezes antes
de embarcar em uma corrida completa de 42km?
Completar uma análise do ciclo de vida total (ACV) é mais ou menos como correr
uma maratona. É um processo demorado e que consome muitos recursos, de forma
que é melhor que se esteja munido de um forte embasamento quanto trabalho,
antes de começar.
A gestão do ciclo de vida ainda é algo estranho para a maioria das pessoas, e para
tornar as coisas ainda mais complicadas, a indústria está em constante evolução.
Embora as análises do clico de vida total (ACV) estejam se tornando mais comuns,
muitas empresas – sobretudo pequenas e médias indústrias – ainda estão
imobilizadas quanto a como e por onde começar.
Na economia atual, também pode ser difícil fazer um business case para um ACV
abrangente, considerando o significativo investimento de tempo e dinheiro que o
processo requer.
Oportunidades de impacto
Uma estratégia para superar os obstáculos iniciais é empregar uma abordagem
incremental e gradual do trabalho de ciclo de vida. Estabelecer um componente
menor do ciclo de vida do produto pode ajudar a empresa a prever o nível de
esforço exigido para uma ACV completa e ainda pode gerar um valor real ao
negócio, desde que os objetivos e limites da avaliação estejam claramente
articulados desde o início do projeto.
Os objetivos de uma ACV serão diferentes para cada empresa, desta forma, comece
fazendo algumas perguntas estratégicas: você está simplesmente procurando
aumentar o conhecimento interno sobre o impacto ambiental de seus produtos? Ou
os clientes estão pedindo informações específicas? Faça um balanço dos
stakeholders que se preocupam com os resultados da ACV. Existe alguma fase
particular do ciclo de vida ou mesmo alguma área de impacto ambiental que seja a
principal preocupação?
Utilizar-se de uma abordagem gradual pode ajudar as empresas a avaliar a
importância relativa de um indicador ambiental visto isoladamente ou de um
estágio do ciclo de vida em particular, e pode, também, lançar luz às lacunas nos
dados atuais para processos específicos.
As ACVs podem ser dimensionadas de maneiras diferentes. Por exemplo, sua
empresa pode estar sendo pressionada a fornecer informações sobre uma categoria
ambiental – tais como o consumo hídrico ou emissões de dióxido de carbono. Para
responder, sua equipe pode realizar uma ACV orientada, que analise o ciclo de vida
completo do produto – da matéria-prima ao final da vida – mas se concentrando
em apenas uma área de impacto ambiental.
Ou, nos casos em que a fase do ciclo de vida com o maior impacto ambiental global
é bastante óbvio, pode fazer mais sentido olhar para uma gama completa de
impactos ambientais, mas limitando a análise a uma única fase do ciclo de vida.
Soluções para um compromisso inteligente com fornecedores
Existem também alguns fatores práticos de “gestão de projetos” a serem
considerados. É provável que uma análise do ciclo de vida, especificamente, exija
uma estreita coordenação com os seus fornecedores. E a menos que você seja um
cliente-chave de determinado fornecedor, eles podem não estar motivados a
dedicar tempo e recursos à sua ACV. Se possível, escolha um fornecedor com quem
já tenha feito parceria no passado.
Além disso, o processo será mais rápido se a ACV se mostrar benéfica para ambas
as empresas, então faça sua lição de casa e certifique-se de que compreende os
principais objetivos de negócios bem como a vantagem competitiva de seus
fornecedores. Como eles fazem dinheiro? Quais são os seus maiores custos em
fazer negócios com seus clientes, e como esses custos poderiam ser afetados pela
ACV? Se possível, a análise do ciclo de vida deve avançar seus negócios também.
Abordagem inter-funcional
Em muitas empresas, o relacionamento com fornecedores pode ser limitado aos
trabalhadores envolvidos com a compra ou a cadeia de abastecimento, enquanto os
funcionários de vendas, marketing, desenvolvimento de produtos ou SAP (Saúde,
Ambiente e Proteção & Saúde) tendem a ter pouco ou nenhum envolvimento com
aqueles.
A exposição interfuncional pode ser uma ação poderosa. Envolver uma equipe
multidisciplinar em uma ACV alvo pode abrir oportunidades para novas parcerias e
produtos e mesmo melhorias no processo.
Quando fui engenheiro de produção, convidei alguns engenheiros sr de
desenvolvimento de produto para trabalhar na linha de montagem de um produto
que tinham originalmente projetado. Embora tenham passado apenas um par de
horas de trabalho na fábrica, imediatamente começaram a entender o impacto que
as suas decisões de design tinham no processo de fabricação, incluindo a facilidade
e rapidez de montagem ou mesmo a probabilidade de erro.
Trabalhar ao lado do pessoal experiente da linha de produção acabou expondo-os a
novas ideias para reduzir o desperdício através de pequenas mudanças no design
do produto ou pela substituição do uso de peças novas por produtos armazenados.
Um dos engenheiros afirmou que as duas horas que passou trabalhando na linha de
produção foi a maior e mais esclarecedora experiência em todos os seus 25 anos de
carreira.
A exposição interfuncional fará da análise do ciclo de vida um processo mais
gratificante para todos os envolvidos. Empresas familiarizadas com “Lean” ou
mapeamento do fluxo de valor podem até mesmo utilizar esses princípios para
identificar maneiras de economizar dinheiro e melhorar a eficiência. As
oportunidades para inovação e melhorias são infinitas.
Ao se concentrar na geração de novas soluções, a ACV trará valor real ao negócio,
mesmo em suas fases iniciais. Este sucesso no curto prazo irá ajudar a impulsionar
a sua equipe a mergulhar de cabeça em todo o processo de uma ACV e, mais
importante, garantirá um retorno positivo do seu investimento em ciclo de vida.
Jill Kolling é o fundador e presidente da Paydirt, LLC, uma consultoria de
sustentabilidade que assessora organizações de todos os tamanhos com maneiras
para alinhar gestão ambiental e empresarial com objetivos de negócios.