Silicones: Síntese, Propriedades e Usos - CEFET
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Silicones: Síntese, Propriedades e Usos - CEFET
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS CAMPUS TIMÓTEO Disciplina: Processos Industriais Módulo: Polímeros Silicones: Síntese, Propriedades e Usos Prof. Armin Isenmann Resumo Este artigo deve proporcionar uma vista geral e resumida, mas cientificamente fundamentada, sobre as maneiras de preparação dos silicones, suas principais propriedades explicadas a nível molecular, e como essas propriedades os tornam materiais úteis em muitas aplicações diferentes. Introdução Pela analogia com as cetonas, o nome de “silicone” foi criado em 1901 por Kipping, para descrever novos compostos da fórmula bruta R2SiO. Estes foram rapidamente identificados como polímeros, cuja fórmula correspondente pode ser indicada como R Si O R n O nome silicone foi adotado pela indústria e, geralmente, refere-se a polímeros lineares, onde R = Me, o polidimetilsiloxano (PDMS): .... Me Me Me Si O Si O Si O Me Me Me .... ou Me Si O Me n Os grupos metilas da cadeia podem ser substituídos por vários outros grupos (por exemplo, fenil, vinil ou trifluorpropil). A presença simultânea de grupos "orgânicos" ligados a uma coluna “inorgânica” proporciona aos silicones uma combinação única de propriedades e permite a sua utilização em campos tão diferentes como aeroespacial (desempenho sob baixas e altas temperaturas), eletrônica (isolamento elétrico), saúde (excelente biocompatibilidade), mecânica (lubrificação) ou como material de construção (resistência ao intemperismo). Histórico dos silicones O desenvolvimento da química dos silicones inclui vários marcos históricos e nomes famosos 2, 3. 1 O elemento silício foi descoberto por Berzelius em 1824 ao reduzir silicofluoreto de potássio usando potássio metálico: 4 K + K2SiF6 Si + 6 KF Ao converter o silício com cloro resultou um composto volátil, um líquido incolor que fumega ao ar, mais tarde identificado como tetraclorossilano, SiCl4: Si + 2 Cl2 SiCl4 O próximo passo foi feito por Friedel e Crafts em 1863, com a síntese do primeiro composto orgânico do silício, o tetraetilsilano: 2 Zn(C2H5)2 + SiCl4 Si(C2H5)4 + 2 ZnCl2 Em 1871, Ladenburg observou que, na presença de um ácido diluído, dietildietoxissilano, (C2H5)2Si(OC2H5)2, resultou um óleo que “se decompõe somente a temperaturas muito elevadas”. Mas finalmente foi Kipping quem podemos chamar de pai dos silicones e da química organo-silício, porque foi ele que preparou, entre outras coisas, vários silanos por meio de reações do tipo Grignard, e a hidrólise de clorossilanos levou a “moléculas grandes”. A natureza polimérica dos silicones foi confirmada pelos trabalhos de Stock. Na década de 1940, os silicones tornaram-se materiais comerciais, após Hyde da Dow Corning demonstrou a estabilidade térmica e alta resistência elétrica de resinas de silicone, e Rochow da General Electric encontrou um método direto para preparar silicones a partir de Si metálico e cloreto de metila. Os primeiros elastômeros de silicone foram desenvolvidos na busca de melhores materiais isolantes para motores elétricos e geradores. 1 Fibras de vidro impregnadas de resina eram os materiais mais avançados naquela época. O vidro era muito resistente ao calor, mas as resinas fenólicas não aguentaram as temperaturas mais altas, geradas pelos novos motores elétricos mais compactos e de altas rotações. Então os químicos da Corning Glass e da General Electric pesquisaram em materiais resistentes ao calor para utilização como aglutinantes resinosos. Em virtude destes estudos sintetizaram as primeiras resinas de silicone, mostraram seu bom funiconamento e indicaram rotas para produzi-las comercialmente. Corning Glass em uma joint venture com a Dow Chemical, criaram a Dow Corning em 1943 para produzir esta nova classe de materiais. As propriedades únicas dos silicones foram estudadas mais detalhadamente e o seu potencial para o uso mais amplo foi reconhecido. A General Electric abriu sua própria fábrica para produzir silicones em 1947 (agora Momentive Performance Materials). A Wacker Chemie no sul da Alemanha iniciou a produção de silicones também em 1947, e a empresa japonesa ShinEtsu Chemical começou a produção em massa de silicones em 1953. As empresas mencionadas são ainda hoje os principais playeres neste setor industrial. Nomenclatura Os silicones mais comuns são os polidimetilsiloxanos terminados com grupos trimetilsililoxi, com a seguinte estrutura: 2 Me Me Me Me Si O Si O Si Me Me Me n Me ou Me 3SiO (SiMe2O)n SiMe3 , onde n = 0, 1, 2, ... Estes são polímeros lineares e líquidos, mesmo aqueles com grandes valores de n. A principal unidade da cadeia, (SiMe2O), é muitas vezes abreviada pela letra D de “Difuncional”. Ela, quando ligada através de dois átomos de oxigênio forma o elo para o polímero linear. De um modo semelhante se explicam as siglas M, T e Q que corresponde às seguintes unidades: 11 Me Me Si O Me Me O Si O Me O O Si O Me O O Si O O M D T Q Me 3SiO1/2 Me 2SiO2/2 MeSiO3/2 SiO4/2 O polímero acima pode então ser descrito como MDnM. Isto permite simplificar a descrição de várias estruturas como (Me3SiO)4Si ou tetraquis (trimetilsilil) silano, o qual se torna M4Q. Letras sobrescritas são por vezes usadas para indicar substituintes diferentes do grupo metila no silício (por exemplo, DH para a unidade HMeSiO2/2 ; ou DV para a unidade H2C=CH-Si(Me)O2/2). Nota: Expressões semelhantes e muito confundidas são silício (Si, um elemento semimetálico), sílica (SiO2, um composto inorgânico) e silicone (um composto polimérico, contendo grupos orgânicos). 12 Espécies monoméricas são denominadas por substituição baseado em SiH4 (= silano; um composto volátil e pirofórico); Então Me2SiCl2 é nomeado de dimetildiclorossilano. Síntese: da areia aos silicones Os silicones tecnicamente mais importantes são polímeros que podem ser obtidos em três etapas: 1. Síntese dos clorossilanos. 2. Hidrólise dos clorossilanos para silanóis. 3. Polimerização / policondensação dos silanóis. Síntese dos clorossilanos Hoje, os silicones são obtidos comercialmente aprox. 850.000 t/ano), a partir de clorossilanos; o acesso mais econômico aos clorossilanos é o processo direto de Rochow 3 , usando o metal de silício obtido a partir da redução de areia à alta temperatura: SiO2 + 2 C 3 Si + 2 CO. O segundo reagente é o clorometano, obtido por substituição nucleofílica de ácido clorídrico em metanol: Catalisador CH3OH + HCl CH3Cl + H2O A síntese de Rochow que leva aos clorossilanos ocorre num leito fluidizado de pó de silício metálico, tratado com um fluxo de clorometano, geralmente a temperaturas de 250 a 350 C e pressões de 1 a 5 atm. Uma mistura de diferentes clorossilanos é obtida contendo principalmente o dimetildiclorossilano Me2SiCl2, que representa o monômero mais importante para as etapas subsequentes: 11 Rendimento (% em peso) Teb (° C) Cat. x Si + y CH3Cl Me2SiCl2 [1] > 50 70,0 MeSiCl3 10 - 30 66,4 Me3SiCl < 10 57,9 MeHSiCl2 <5 41,0 outros silanos 5 A reação é exotérmica e tem um rendimento de 85 a 90%. O mecanismo da reação que aproveita da presença de um catalisador à base de cobre, não é completamente compreendido. Fenômenos de quimissorção em sítios ativos parecem ser mais plausíveis do que um mecanismo radicalar, como foi originalmente proposto. Os isômeros clorossilanos são separados por destilação. Como os pontos de ebulição são próximos uns aos outros, a fábrica de silicone requer de longas colunas de retificação. O dimetildiclorossilano [1], o qual é separado, se torna o monômero para os silicones poliméricos por meio de hidrólise de polidimetilsiloxanos (ver mais adiante). Reações de redistribuição entre os isômeros podem ser utilizadas para converter os outros silanos em dimetildiclorossilanos e assim aumentar a eficiência da produção. 4 Etilclorossilanos e fenilclorossilanos podem ser obtidos por meio de reações semelhantes ao processo direto descrito acima. Além desta rota, os clorossilanos fora do padrão podem também ser obtidos através de um reagente de Grignard 11, mostrado a seguir para o fenilclorossilano: MeSiCl3 + C6H5MgBr Me(C6H5)SiCl2 + MgClBr Outros clorossilanos especiais são preparados a partir de um silano já existente. Por exemplo, o metil-vinil-diclorossilano é obtido pela adição de acetileno em metildiclorossilano, utilizando um complexo de platina como catalisador: 4 MeHSiCl2 + HC CH ou breve: 4 DH + HC CH [Pt] HC CH2 MeSiCl2 [Pt] DV Também é possível substituir os cloros por outros grupos; o exemplo a seguir mostra a alcoólise: Si Cl + R OH Si O R + HCl Desta forma, vários silanos com diferentes funcionalidades podem ser preparados (além dos grupos alcoxi e vinila, também é possível introduzir grupos aminas). Estes permitem reações de acoplamento a terem lugar entre as superfícies inorgânicas e os polímeros, na fabricação de materiais compósitos. 5 Hidrólise dos clorossilanos. Polidimetilsiloxanos são obtidos pela hidrólise do dimetildiclorossilano, na presença de excesso de água, de acordo com: 11 x Me2SiCl 2 [1] + 2x H 2O - 2x HCl x "Me2Si(OH) 2" [2] - x H 2O HO Me Si O H Me x x = 20 a 50 em silicones lineares [3] x = 3, 4, 5,... em silicones cíclicos [4] Esta reação heterogênea e exotérmica formalmente fornece um di-silanol "Me2Si(OH)2" [2], que se condensa prontamente. Essa condensação, que ainda é promovida pela presença de HCl, pode acontecer inter ou intramolecular, levando assim a uma mistura de silicones lineares [3] ou cíclicos [4], respectivamente. Esta mistura separa-se da fase ácida aquosa, e a proporção entre os oligômeros formados depende das condições aplicadas durante a hidrólise (concentrações, condições de pH, temperatura, solventes). Estes oligômeros são neutralizados, lavados com água e secados. O HCl é reciclado e usado para reagir com metanol resultando em clorometano (processo direto, descrito acima). Polimerização e policondensação. Os oligômeros lineares [3] e cíclicos [4] obtidos por hidrólise do dimetildiclorossilano têm cadeias ainda muito curtas, para a maioria das aplicações. Eles devem ser condensados (no caso dos lineares) ou polimerizados (no caso dos cíclicos), para obter macromoléculas de comprimentos satisfatórios. 6 Os cíclicos da fórmula (R2SiO)m podem ser abertos e polimerizados para formar longas cadeias lineares, sendo essa reação catalisada por uma grande variedade de ácidos e bases 4. A reação entra em equilíbrio e proporciona uma mistura de oligômeros cíclicos, além de polímeros de uma larga distribuição de massas. A proporção dos cíclicos depende dos substituintes ao longo da cadeia, da temperatura e da presença de um solvente. O comprimento das cadeias poliméricas depende da presença de substâncias capazes de formar as extremidades da cadeia. Por exemplo, na polimerização de 5 (Me2SiO)4 com KOH, o comprimento médio das cadeias dos polímeros depende da concentração do KOH: x (Me2SiO)4 + KOH [4] (Me2SiO)y + KO(Me2SiO)zH Um polímero com grupos terminais -OH é relativamente estável. HO(Me2SiO)zH pode ser isolado após a neutralização. Para este fim os cíclicos são retirados da mistura, sob vácuo e à temperatura elevada. Não se volatilizam os silicones poliméricos (cuja distribuição de comprimentos das cadeias continua sendo larga). A reação também pode ser efetuada na presença de Me3Si-O-SiMe3, que atua como um bloqueador no final da cadeia, de acordo com: Me Si O- K+ Me curto: + Me Si O SiMe3 Me Me3Si O SiMe3 D- K+ + M-M D-M + Me3Si O- K+ + M- K+ O subproduto desta etapa, Me3SiOK, pode em seguida atacar outra cadeia para delimitar a massa molar média do polímero linear formado. Quanto maior a concentração de M2, mais curtas as cadeias poliméricas. A copolimerização de (Me2SiO)4 na presença de (Me3Si-O-SiMe3) e Me4NOH como catalisador, exibe uma mudança em viscosidade surpreendente ao longo do tempo de reação 6. Logo no início da reação se observa um pico acentuado em viscosidade. Como o catalisador básico é fonte do potente nucleófilo OH-, o silício nos compostos cíclicos, que tem dois átomos de oxigênio ao seu redor, torna-se mais susceptível ao ataque pelo OH- do que o silício formador do grupo final, Me3 Si-O-, já que este último somente tem um átomo de oxigênio como vizinho. Os silicones cíclicos são então consumidos e transformados em polímeros de cadeias lineares e bastante compridas. Estes polímeros se evidenciam por viscosidades elevadas. Somente aos poucos essas cadeias abertas são delimitadas em tamanho, por meio dos agrupamentos terminais, Me3Si-O-, cuja reação com os polímeros é lenta, porém irreversível. Resumindo podemos formular o acontecimento como se segue: Cat. Me3Si O SiMe3 + x (Me2SiO)4 Me Me3SiO Si O SiMe3 Me 4x A relação entre as unidades de D e M determina a massa molar média do polímero formado. A remoção do catalisador (ou neutralização) é sempre uma etapa-chave na preparação dos silicones. A maioria dos catalisadores utilizados também pode catalisar a despolimerização (isto é, o ataque ao longo da cadeia), particularmente na presença de vestígios de água a temperaturas elevadas: 6 Me Si O n Me Cat. + H2O Me Si O H Me x + Me HO Si O Me y Para aproveitar o máximo da estabilidade térmica extraordinária dos silicones, é essencial remover resíduos de catalisador. Foram desenvolvidos catalisadores termicamente frágeis, que se decompõem ou são volatilizados acima da temperatura ótima de polimerização. Estes podem ser eliminados por um breve sobreaquecimento, sendo assim uma alternativa à neutralização ou à remoção do catalisador por filtração. 6 O trimero cíclico, (Me2SiO)3, caracteriza-se por uma tensão interna de pequenos anéis e pode ser polimerizado, sem correr o risco de inverter o sentido da reação (despolimerização; ciclização). Através deste composto cíclico se consegue polímeros com estreita distribuição das massas, bem como polímeros que carregam ainda um terminal reativo (“polimerização viva”). E a partir de uma mistura de diferentes silicones cíclicos "tensos" se consegue copolímeros em bloco ou sequenciais. 6 Silicones lineares podem ser condensados, uma reação catalisada por uma grande variedade de ácidos ou bases: 4, 6 Me Me O Si O H + HO Si O Me Me Me Me O Si O Si O Me Me + H2O A condensação intermolecular entre grupos Si-OH terminais pode levar a cadeias compridas. A distribuição dos comprimentos obedece às leis da estatística, quer dizer, é naturalmente larga. Resultam cadeias mais longas quando se trabalha sob vácuo e / ou temperaturas elevadas, sempre eliminando a água que é co-produto destas condensações. A natureza dos catalisadores desta condensação deve ser escolhida de acordo com os silicones: Ácidos são os catalisadores mais eficientes quando os organossilanóis carregam grupos doadores de elétrons, Bases são a melhor escolha na presença de grupos retiradores de elétrons. Alguns catalisadores podem induzir uma redistribuição, atacando a cadeia polimérica e transformando-a em cíclicos. Isto pode se tornar importante quando se condensa uma mistura de oligômeros lineares, tais como dimetil e metilfenil-polissiloxanos. Um polímero sequencial será obtido na ausência de redistribuição, enquanto um copolímero randômico resultará caso o catalisador for capaz de abrir a cadeia principal. Além dos polímeros acima referidos (todos com grupos laterais metilas), polímeros reativos também podem ser preparados. O método mais aplicado é a reequilibração de oligômeros ou polímeros já existentes: 7 H Me3Si O SiMe3 + x (Me2SiO)4 + Me 3SiO Si O SiMe3 Me y Cat. Cíclicos + Me H Me3SiO Si O Si O SiMe3 Me z Me w [5] O exemplo acima leva ao poli-dimetil-co-metilhidrogenossiloxano, na nomenclatura introduzida na p. 2: MDzDHwM. Este copolímero pode ser adicionalmente funcionalizado usando uma reação de adição 1: H2C CHR + Me Me3SiO Si O Me z Pt Me Me3SiO Si O Me z H Si O SiMe3 Me w R CH2 CH2 Si O SiMe3 Me w onde R pode ser alquil, poliglicol,... Os polímeros apresentados acima são todos lineares (fora dos cíclicos). Todos estes foram feitos por unidades difuncionais, D. Por outro lado, obtêm-se polímeros ramificados ou até resinas se tiver certa quantidade de T ou Q presente na mistura reacional. Essas unidades são embutidas durante a hidrólise o que causa uma proliferação da cadeia, não em dois, mas em três ou quatro direções. Isto pode ser visualizado no exemplo da hidrólise do metiltriclorossilano, na presença de trimetilclorossilano, que leva a: x Me 3SiCl + y MeSiCl3 - H 2O - HCl Me z Me Si O Me Me Me Me Si O Si O OH Si O Me Si Me Me A condensação de três silanóis na unidade MeSiCl3 já leva a uma estrutura tridimensional ou resina. A massa molar desse polímero, que pode ser representado também por (Me3SiO1/2)x(MeSiO3/2)y ou ainda MxTy, pode ser levado ao infinito. A massa molar média depende, além do grau de condensação, da quantidade de unidades M que vêm do trimetilclorossilano, pois é ele que delimita o crescimento de um braço da molécula de resina. 1 As reações feitas num polímero, sem adicionar ou remover monômeros, se chamam “reações polímeroanálogas”. Exemplos que todos conhecem são os derivados da celulose usados na tecelagem. 8 A maioria destas resinas é preparada na presença de um solvente e levada a um grau de condensação que ainda deixa o material solúvel. Essa resina solúvel contém muitos grupos hidroxilas (reativas) que podem, posteriormente, ser utilizados para reticular a resina e formar uma rede contínua, daí um polímero insolúvel e infusível largamente conhecido como “verniz”. Elastômeros de silicone Polímeros de silicone são facilmente transformados em uma rede tridimensional, levando a uma resina ou um elastômero, através de reações de reticulação. Em geral, conforme visto logo acima, há formação de ligações químicas entre as cadeias adjacentes. Para a maioria das aplicações técnicas, no entanto, se mostrou mais viável reticular por umas das seguintes reações: 1, 8 Polimerização vinílica de pré-polímerosque contêm a unidade D V (iniciação por radicais), Hidrólise de acetatos e condensação dos silanóis, Hidrólise de oximas ou alcoxissilanos, Adição catalítica de grupos vinilas em pré-polímeros silanos que contêm unidades Si-H. Reticulação por meio de radicais. Uma reticulação eficiente com radicais requer a presença de grupos vinilas ligadas às cadeias poliméricas dos silicones lineares. Foi proposto o seguinte mecanismo para a reticulação radicalar, dando início por um peróxido orgânico (no esquema representado por R ) e envolvendo os grupos metilas dos silicones “comuns”: 4 R R H2C CH Si CH2 Si + H2C CH Si + CH3 Si + H2C CH Si H2C H2C CH + Si Si CH3 Si Ataque do radical livre no grupo vinila R H2C CH Si R H2C CH2 Si + CH2 Si H2C H2C CH Si Si H2C H2C CH2 + Si Si Transf erência da reatividade ao grupo metila Reticulação entre as cadeias CH2 Si Propagação da reatividade radicalar Esta reação é utilizada para borrachas de silicone de elevada consistência (HCR), tais como os usados na extrusão ou moldagem por injeção 1 e que são reticulados posteriormente a temperaturas elevadas. Um processamento alternativo (mais recente) para os silicones reativos é a moldagem por injeção reativa (RIM). O peróxido é adicionado antes da utilização. Durante a cura, algumas precauções são necessárias para 9 evitar a formação de vazios pelos resíduos voláteis do peróxido. Um processamento com etapa de pós-cura pode ser uma alternativa para remover esses subprodutos voláteis. A permanência destes no elastômero pode ter efeito de catalisador de despolimerização às altas temperaturas. Reticulação por condensação. Este método é usado em borrachas usadas como selantes; são muito vendidos nos depósitos de materiais de construção e usados tanto por profissionais como nãoversados. Estes produtos estão prontos para uso e não necessitam de mistura prévia. A reticulação é iniciada quando o produto é extraído do cartucho e entra em contato com a umidade do ambiente. Essas formulações contêm um polímero reativo em forma de um polidimetilsiloxano com grupos hidroxilas terminais, e um grande excesso de metiltriacetoxissilano. A liberação de ácido acético na reação abaixo explica o cheiro forte e também a corrosividade desta borracha, durante sua aplicação, frente aos metais: Me HO Si H x Me Me + Si(OAc)3 - 2 AcOH excesso Me AcO Si O OAc Me Me Si O Si OAc Me x OAc [6] Como um grande excesso de silano é usado, a probabilidade de duas cadeias diferentes reagirem com a mesma molécula de silano está remota e praticamente todas as cadeias saem com duas funções terminais do tipo –OAc (breve: T Ac3 ). O produto resultante é ainda líquido e pode ser armazenado em cartuchos lacrados. Mas após a abertura e o contato com a umidade do ar, os grupos acetoxilas são hidrolisados para dar silanóis, que são prontamente sujeitos ao aumento do peso molecular por condensação: Me AcO Si O OAc Me Me Si O Si OAc Me x OAc + H2O - AcOH [6] [6] + [7] Me HO Si O OAc Me Me Si O Si OH Me x OAc [7] - AcOH Me Me Me Si O Si O Si O Me x OAc OAc Me Si O Me x A condensação liga então duas cadeias, enquanto a reação procede-se nos demais grupos acetoxis não convertidos. Geralmente se aplica um catalisador organometálico de estanho. Esta reação de reticulação / prolongação das cadeias requer que umidade se difunde no interior do produto, sendo que a cura da borracha prossegue da superfície para o interior. Estes selantes são tipicamente feitos por um só componente, muitas vezes chamados de RTV (= vulcanização à temperatura ambiente), embora que requerem de umidade como “segundo componente”. Devido à liberação de ácido acético podem ocorrer problemas de corrosão nos substratos selados, não só em metais, mas também em concreto. No último a liberação de AcOH pode gerar sais solúveis na superfície do concreto – o que pode levar à perda de adesão do silicone, já na primeira chuva. Para vencer esse desafio, têm sido desenvolvidos sistemas alternativos aos 10 acetoxissilanos descritos acima. Estes incluem selantes mono-componentes que liberam subprodutos menos corrosivos ou até não corrosivos; por exemplo: Oximas do tipo RSi(O-N=CR'2)3 , conhecidas como oximossilanos; daí a molécula expulsa é uma oxima; ou Alcoxissilanos, ~Si(OR ')3 ; daí a molécula expulsa é um álcool. A cura por condensação é também utilizada em silicones de dois componentes, quer dizer, a reticulação se inicia somente ao misturar os dois componentes; estes podem ser, por exemplo, um polímero terminado em hidroxilas e um alcoxissilano, mostrado a seguir com o tetra-n-propoxissilano: 4 Me Si OH Me [Catal.] + Si(O-nPr)4 - 4 nPr-OH SiMe2 O Si O Si O SiMe2 Me2 O SiMe2 Neste sistema não é necessária umidade atmosférica; geralmente um sal de organoestanho é usado como catalisador, mas este também pode afetar a estabilidade do elastômero resultante, a altas temperaturas. O álcool é lançado como um subproduto da cura, levando a uma ligeira retração das cadeias. Isso impede a fabricação de objetos muito precisos, pois devia contar-se com 0,5 a 1% de retração linear no objeto final. Reticulação por adição. O problema do encolhimento mencionado acima pode ser completamente evitado quando se usa uma reação de adição para alcançar a reticulação das cadeias do silicone. Nesta, a reticulação é obtida utilizando polímeros com terminais em forma de grupos vinilas que reagem com grupos Si-H presentes em oligômeros funcionais, tais como descritos anteriormente [5]. Alguns polímeros podem ser ligados a esse oligômero funcional [5], como se segue: 4 Me O Si C CH2 H Me [Cat.] + H Si Me H H 2 2 O Si C C Si Me [5] A adição ocorre principalmente no carbono terminal e é catalisada por complexos dos metais Pt ou Rh, de preferência compostos organometálicos para aumentar a sua compatibilidade. Foi proposto um mecanismo em basicamente quatro etapas: 1. Formação do complexo entre o grupo vinila e o metal do catalisador; 2. Adição oxidativa do Si-H no Pt; 3. Transferência de H à dupla ligação e 4. Eliminação redutiva do produto 11 Si HC CH2 Si CH2 CH2 Pt Si Pt Si - Pt Si CH2 CH2 Si H [8] Neste esquema, para simplificar, os demais ligantes no Pt e outros substituintes no Si foram omitidos. Essa reação, cujo mecanismo mostra grande parentesco com a polimerização de olefinas no catalisador de Ziegler, não produz subprodutos. Portanto, peças moldadas feitas com um produto que utiliza este mecanismo de cura são muito precisas (não encolhem). No entanto, o manuseamento destes produtos de dois componentes (isto é, do polímero e do catalisador de Pt num componente, Si-H oligômero no outro) requer algumas precauções. O Pt complexado se une facilmente com doadores de elétrons, substâncias tais como aminas ou organossulfurados. Como os complexos do tipo ácido-base de Lewis são extraordinariamente estáveis, esses compostos sequestram o metal e assim inativam o catalisador (inibição). A invenção mais recente é uma borracha de auto-cura cuja base é silicone. 46, 47 O material contém microcápsulas com material reativo. Quando o objeto desta borracha sofrer uma rachadura ou um corte as microcápsulas se rompem no local do ferimento e liberam seu conteúdo. Isso inicia a reticulação que, afinal, recupera quase toda a resistência mecânica do objeto, aumentando assim seu tempo de uso permanente. Propriedades físico-químicas dos silicones A posição do silício, logo abaixo do carbono na tabela periódica, levou a uma crença na existência de compostos análogos onde o silício substituiria carbono. No entanto, a maioria destes compostos análogos não existe, outros têm comportamentos químicos muito diferentes. As poucas semelhanças entre a ligação Si-X em silicones e ligações CX são referidas na tabela a seguir: 11, 4 Elemento (X) Si C H O Comprimento da ligação [Å] Si-X C-X 2,34 1,88 1,88 1,54 1,47 1,07 1,63 1,42 Caráter iônico [%] Si-X C-X 0 12 12 0 2 4 50 22 Entre um determinado elemento e Si, os comprimentos de ligação são mais longos do que para C com este elemento. E os ângulos entre os elementos da cadeia são maiores (compare (C-C-C) no polietileno de 112 °, com (O-Si-O) no polidimetilsiloxano de 130 °). Como o Si é menos eletronegativo (1,8) do que o C (2,5 no caso do carbono sp³), a ligação Si-O fica muito polarizada, altamente iônica e com uma grande energia de ligação que conta com 452 kJ/mol (em comparação: H (C-C) = 345 kJ/mol; H (C-O) = 358 kJ/mol). A ligação Si-C, tem uma energia de ligação de aproximadamente 310 kJ/mol (= 76 kcal/mol), um pouco menos do que uma ligação C-C, enquanto as ligações Si-H e Si-Si são bastante fracas, com 314 e 193 kJ/mol, respectivamente. Estes valores explicam, em 12 parte, a estabilidade dos silicones: a ligação Si-O é altamente resistente frente à cisão homolítica. Por outro lado, são fáceis de cisão heterolítica, como demonstrado pelas reações de reequilibração ocorrendo durante polimerizações catalisadas por ácidos ou bases (ver acima). Átomos de Si não formam duplas ou triplas ligações estáveis com outros elementos. Isto quer dizer que não é comum sua hibridação sp² ou sp, como se conhece do carbono. Mas a proximidade dos orbitais d permite ao Si segurar seus vizinhos por d p retro-coordenação. Devido a esta retro-coordenação, os trialquilsilanóis são mais ácidos do que os alcoóis correspondentes (a argumentação com a retro-coordenação é ainda desafiada 13). Outra diferença entre os homólogos pode ser visto no difenilsilanodiol (tetravalente), (C6H5)2Si(OH)2, que é estável, enquanto que o equivalente do carbono, o diol geminal, irá desidratar formando quase completamente a benzofenona. A ligação Si-H é fracamente polarizada, mas aqui na direção de um hidreto, e é mais reativa do que a ligação C-H. Em geral, há poucas semelhanças entre um polímero de silicone e um polímero de hidrocarboneto. Silicones exibem a combinação incomum de uma cadeia inorgânica semelhante aos silicatos, com quais se associam alta energia superfícial, mas com grupos metilas laterais que são - típico para orgânicos - associados a uma baixa energia de superfície. 8 As ligações Si-O são fortemente polarizadas e sem proteção isso deve levar a fortes interações intermoleculares. 4 No entanto, os grupos metilas, apenas fracamente interagindo uns com outros, protegem a cadeia principal. Isto é facilitado pela alta flexibilidade da cadeia de siloxano: barreiras de rotação na coluna são baixas e a cadeia de siloxano pode adotar muitas conformações. A energia de rotação em torno da unidade CH2-CH2, ligação típica no polietileno é de 13,8 kJ/mol, mas custa apenas 3,3 kJ/mol para girar uma unidade Me2Si-O no siloxano, isso corresponde a uma rotação quase livre. A cadeia de siloxano adota assim facilmente uma configuração preferencial onde a coluna Si-O-Si-O expõe o número máximo de grupos metilas para fora, enquanto que nos polímeros hidrocarbonetos a relativa rigidez da coluna nem sempre permite esse posicionamento ideal dos grupos orgânicos e hidrofóbicos. Interações entre as cadeias do silicone são baixas, e a distância entre as cadeias adjacentes fica maior do que nos hidrocarbonetos. Resumindo podemos afirmar que apesar de a coluna dos silicones ser muito polar, seu caráter hidrofóbico é comparável ao das parafinas, famosas para sua baixa tensão de superfície e baixa tendência de molhagem, que leva a uma aderência especialmente baixa. 13 A facilidade com que os silicones adotam suas conformações é confirmada por estudos de adsorção em monocamadas em cima de água. Duas estruturas têm sido propostas, uma aberta, onde as ligações Si-O-Si se orientam em direção à fase aquosa, e uma mais compacta, onde a cadeia adota uma estrutura helicoidal. O ponto importante é a baixa diferença de energia entre estas duas estruturas, o que demonstra mais uma vez a alta flexibilidade da cadeia dos siloxanos. 6 A extraordinária atividade superficial dos silicones se evidencia em muitas circunstâncias: 13 Polidimetilsiloxano tem uma baixa tensão superficial (apenas 20,4 mN/m; compare a tabela abaixo) e é capaz de molhar a maioria das superfícies. Com os grupos metilas mostrando para fora, a película de silicone é bastante hidrofóbica e proporciona uma superfície com boas propriedades de libertação, em particular, se a película for curada após a aplicação. A tensão de superfície de 13 silicone também fica na gama mais promissora, considerada para elastômeros biocompatíveis (20 a 30 mN/m). Os silicones têm uma tensão superficial crítica de umectação (≈ 24 mN/m), que é maior do que a sua própria tensão de superfície. Este significa que os silicones têm facilidade para contatos entre pares; eles mostram menos a tendência de espalhar-se numa superfície estranha, mas têm excelentes condições para formar filmes fechados e de boa cobertura da superfície. Copolímeros orgânicos de silicone podem ser preparados com propriedades tensoativas, com o silicone como a parte hidrofóbica (por exemplo, em copolímeros de glicol e silicone). Tensões superficiais de alguns líquidos, a 20 °C. Líquido Tensão superficial em mN/m n-pentano 16,00 n-hexano 18,40 Polidimetilsiloxano 20,4 Etanol 22,55 Metanol 22,60 Acetona 23,30 Benzeno 28,90 Etilenoglicol 48,4 Glicerol 63,4 Água a 20 °C (a 80 °C) Mercúrio 72,75 (62,6) 476,0 Os contatos tão fracos que os silicones estabelecem, não só frente outros materiais, mas também entre as moléculas umas com as outras, ainda têm as seguintes consequências tecnológicas: 13 As temperaturas de transição vítrea em borrachas de silicone são muito baixas (por exemplo, 146 K para um polidimetilsiloxano, em comparação a 200 K para o poliisobutileno, o hidrocarboneto análogo). Assim se explica a preferência para vedações de silicone em máquinas criogênicas, que operam a baixas temperaturas onde uma borracha a base de carbono se torna rígida e quebradiça. A presença de um volume livre elevado em comparação com os hidrocarbonetos explica a elevada solubilidade e difusividade de gases em silicones. Os silicones têm uma elevada permeabilidade ao oxigênio, nitrogênio e vapor de água, mesmo se neste caso, a água líquida não é capaz de molhar a superfície do silicone. Como esperado, a compressibilidade do silicone é também elevada. Em silicones, a energia de ativação para o movimento viscoso (= deslizamento entre as cadeias) é muito baixa; além disso, a viscosidade dos silicones é menos 14 dependente da temperatura do que a dos correspondentes polímeros hidrocarbonetos. Observou-se nos silicones poliméricos embaraçamentos entre os novelos à temperatura mais elevada - o que atenua mais ainda a queda em viscosidade. 4 A presença de outros grupos do que metilas ao longo da cadeia do silicone, leva a uma redução em estabilidade térmica do polímero, mas com esta substituição, algumas das propriedades acima mencionadas podem ser modificadas: Uma pequena porcentagem de grupos fenilas na cadeia perturba o suficiente para afetar a cristalização e permite que o polímero permaneça flexível a temperaturas muito baixas. Os grupos fenilas também aumentam o índice de refração n, o que permite assemelhar esse valor ao do vidro óptico (n > 1,5) e leva a juntas e coberturas praticamente invisíveis. 48 Grupos trifluoropropilas ao longo da cadeia alteram o parâmetro de 3 ½ solubilidade do polímero, de 7,5 a 9,5 (cal/cm ) , conforme a teoria de Flory. Estes copolímeros são utilizados para preparar elastômeros com pouco inchaço quando entrarem em contato íntimo com alcanos (gasolina) ou solventes aromáticos. Análise dos silicones Dentre os vários métodos analíticos utilizados para silicones, 14 apenas alguns poucos são apresentados aqui. Sua composição pode ser facilmente identificada através de cromatografia. Isso compreende a quantificação dos oligômeros (= cadeias muito curtas) presentes em polímeros de silicone. Como mencionado acima (ver p. 5), as reações de polimerização levam à formação de duas distribuições de massas molares: os cíclicos em torno de um grau de polimerização y e as cadeias abertas em torno de outro grau de polimerização z: Cat. Me3Si O SiMe3 + x (Me2SiO)4 (Me2SiO)y + Me Me3SiO Si O SiMe3 Me z Diversas técnicas podem ser usadas para analisar os polímeros, para identificar e quantificar a massa molar das menores espécies presentes: cromatografia gasosa (GC), cromatografia de permeação em gel (GPC; é a técnica mais usada dentro da cromatografia de exclusão dimensional, SEC) ou a cromatografia de fluido supercrítico (SFC): 15 Figura 1 Comparação entre diferentes técnicas cromatográficas com um polidimetilsiloxano terminado por unidades trimetilsililoxi antes da extração. 11 Pico 1 a 12 = siloxanos cíclicos (com y = 4 a 15) e 13 = pico(s) dos polímeros. A composição química pode ser analisada por RMN do 29Si (I = 1/2), graças à alta abundância relativa (4,7%). Neste método espectroscópico, a interpretação é facilitada pelos grandes deslocamentos químicos, o que permite identificar e estudar a distribuição de vários grupos dentro de um copolímero (Figura 2). Calorimetria de varredura digital (DSC) pode ser utilizada para estudar a reação de adição (p. 11) formando elastômeros: Me O Si C CH2 H Me [Cat.] + H Si Me H H 2 2 O Si C C Si Me [5] O caráter destas reações é exotérmico ( H = -120 a -170 kJ/mol). Isto permite caracterizar a reticulação e otimizar a formulação do elastômero, com base nas temperaturas correspondentes para o início da cura ou a taxa máxima da cura (Figura 3). Figura 2. Espectro r.m.n.-29Si de um silicone adesivo sensível à pressão (PSA). 16 Figura 3. Calorimetria exploratória diferencial (DSC) da reação entre os polímeros com grupos Si-vinila e outros com grupos Si-H, na presença de um catalisador de Pt. Toxicologia Os silicones mais utilizados são os polidimetilsiloxanos, Me3SiO(SiMe2O)zSiMe3, com viscosidades entre 10 a 100.000 mPa.s. 2 Estes não revelaram toxicidade durante a administração por vias de exposição típicas. 9 Devido à elevada massa molar não são absorvidos no trato gastrintestinal, mas são excretados sem modificação. Eles também não são absorvidos através da pele. 16 Os estudos in vitro não indicaram efeitos mutagênicos. 16 Doses orais ou cutâneas repetidas não tiveram efeitos quando testados em diferentes espécies. 16 A inalação de aerossóis de materiais oleosos, incluindo os silicones, pode provocar perturbações físicas do revestimento nas regiões alveolares dos pulmões. 17 Siloxanos de massas molares mais baixas, quer cíclicos ou lineares, são frequentemente utilizados em cosméticos (desodorantes; xampus, cremes de pele), devido à sua volatilidade e à sensação de pele seca. O material linear de massa molar mais baixo é o hexametildissiloxano, Me3SiOSiMe3 (HMDS), que tem uma viscosidade de apenas 0,48 mPa.s. HMDS geralmente tem mostrado poucos efeitos toxicológicos, apesar de dados recentes têm indicado uma incidência ligeiramente antecipada, de tumores testiculares de ratos machos que foram expostos a elevados níveis através de inalação; a relevância deste efeito para seres humanos ainda é incerta. Outras moléculas lineares de três, quatro, ou cinco unidades de siloxano não apresentam efeitos tóxicos, embora os dados de exposição ao longo prazo sejam limitados. 18 Os materiais são muito pouco absorvidos através das rotas típicas de exposição. Em analogia aos polímeros de elevada massa molar, os silicones lineares de baixa massa não são mutagênicos, irritantes ou de toxidez aguda. 9 Siloxanos cíclicos, (SiMe2O)n , são largamente utilizados em produtos cosméticos da pele, em particular, os com quatro (n = 4) e cinco (n = 5) unidades siloxanos. Nenhum destes materiais exibiu toxicidade, exceto para o cíclico de quatro membros (n = 4), que tem mostrado redução no número de filhotes, acoplado a uma redução de locais de implantação no útero em ratas expostas. Porém, não se espera que ocorra em seres humanos. 19, 20 Também vale reiterar que estes efeitos não foram medidos em outros siloxanos cíclicos, com cinco (n = 5) ou mais membros. 21 Epidemiologia Com o fim da controvérsia jurídica acerca de implantes mamários preenchidos com gel de silicone, estes dispositivos médicos permanecem disponíveis nos EUA somente sob alguma restrição. Fora dos EUA e o Canadá, onde têm sido usados desde o início da década de 1960, o acesso a esses materiais é irrestrito. A controvérsia na década de 1990, inicialmente envolvendo câncer de mama, em seguida, evoluiu para doença autoimune do tecido conjuntivo, e continuou a evoluir para complicações cirúrgicas, como ruptura, infecção ou contração capsular. Estudos epidemiológicos revelaram consistentemente que não houve associação entre implantes mamários e câncer de mama. 22 - 28 De fato, alguns estudos sugerem até que as mulheres com os implantes 2 Para sua referência: água a 20 °C tem 1,002 mPa.s; azeite conta com 84 mPa.s; já a glicerina tem em torno de 1000 mPa.s a 20 °C e mel em torno de 10.000 mPa.s. 17 podem ter menor risco de câncer de mama. 26, 27 Relatórios de câncer em outros locais do que de mama são inconsistentes ou atribuídos a fatores de estilo de vida. 29 A pesquisa sobre a doença do tecido conjuntivo ou reações auto-imunes também tem sido notavelmente uniforme e conclui-se que não há associação causal entre implantes mamários e doenças do tecido conjuntivo. 30 - 35 Impacto sobre o Meio Ambiente Um grande número de estudos tem sido realizado para avaliar o destino e os efeitos de silicones sobre o ambiente ao longo do seu ciclo de vida. 16 A produção de polidimetilsiloxanos é rigorosamente controlada e as emissões para o meio ambiente a partir desta etapa são muito pequenas. Subsequentemente, o destino ambiental de silicones depende principalmente da forma física do material e o método de disposição. Polidimetilsiloxanos são usados como ingredientes em inúmeros bens de consumo (por exemplo, em cosméticos ou produtos selantes domésticos), mas também em muitos processos industriais (por exemplo, agentes de desmoldagem, lubrificantes, líquidos hidráulicos). Silicones “sólidos” (por exemplo, elastômeros de silicone, vedantes, mangueiras) entram no ambiente como resíduo doméstico ou municipal, daí devem ser depositados em aterros ou incinerados. No último caso, eles são convertidos (no sentido reverso da sua síntese) a ingredientes inorgânicos: sílica amorfa, dióxido de carbono e vapor de água. Silicones “líquidos” usados em produtos destinados a serem enxaguados, como xampus, condicionadores de cabelo ou anti-espumantes em detergentes, tornam-se parte de águas residuais municipais. O mesmo vale para silicones usados em produtos farmacêuticos, por exemplo, em anti-flatulentes. 7 Como a maioria dos silicones é praticamente insolúvel na água; em combinação com seu alto potencial de ligação para a matéria orgânica, eles são efetivamente removidos das águas residuais municipais e levados ao lodo, durante o tratamento das águas servidas. 10 Amplos estudos mostram que mais de 95% dos silicones são removidos dos efluentes deste modo, e que a concentração de silicones levados pelos efluentes está na beira do nível mínimo de detecção (5 µg/l). 36, 37 O destino posterior de silicones depende do tratamento do lodo. Se for incinerado, os silicones se degradam como mencionado acima. A outra saída principal para lodos é utilizá-los como condicionador ou emenda do solo. Em estudos de campo em pequena escala, a aplicação de lodo carregado com polidimetilsiloxanos na capa do solo, não causou efeitos adversos no que diz respeito ao crescimento da cultura ou de organismos do solo. 38 Observou-se pouca ou nenhuma captação por parte das plantas, o que é consistente com estudos em animais que também mostraram que as altas massas molares dos polidimetilsiloxanos impedem de passar através de membranas biológicas de plantas ou animais. Extensos estudos foram feitos, desde testes de laboratório de pequena escala 39, 40 até estudos de campo 38, 41, para mostrar que polidimetilsiloxanos contidos no lodo de esgotos se degradam como resultado do contato com minerais de argila. A argila age então como catalisador e promove a despolimerização da coluna do polissiloxano. 39 O produto de degradação principal, independente da massa molar do polidimetilsiloxano, é o dimetilsilanodiol, Me2Si(OH)2. 40 Dependendo do tipo de solo, este é submetido a uma degradação adicional, quer no solo através de biodegradação 42 ou evapora para a atmosfera 43 onde se degrada por via da reação oxidativa com radicais 18 hidroxilas. 44 Em ambos os caminhos o silicone se desfaz em seus componentes inorgânicos, sílica amorfa, dióxido de carbono e água. Silicones de baixa massa molar (por exemplo, os siloxanos lineares ou cíclicos utilizados em produtos cosméticos) exibem um diferente perfil ambiental. Como consequência da sua elevada volatilidade, eles prontamente se volatilizam à atmosfera, onde se degradam como resultado da reação com radicais hidroxilas, na presença da luz solar. Com base na sua estrutura química não se espera uma contribuição à destruição da camada de ozônio, nem efeito imediato ao aquecimento global. 45 Além disso, estudos têm demonstrado que estas reações não influenciam na formação de ozônio em baixas camadas da atmosfera. Consequentemente, os siloxanos voláteis foram desmembrados do grupo problema dos compostos orgânicos voláteis (VOC), regulamentados por parte da EPA (Environmental Protection Agency) nos EUA. Todavia, vale salientar que a biodegradação dos silicones poliméricos é bastante difícil. Como consequência disto e do fato de que eles têm o potencial de bioacumulação em sistemas fechados, a Comissão Oslo-Paris (OSPAR), que está preocupada com a descarga de substâncias artificiais ao ambiente marinho, atribuiu ao hexametildissiloxano (HMDS) um potencial "prioritário de substâncias perigosas". A Associação da Indústria de Silicone Européia (CES) desencadeou, portanto, a realização de uma avaliação de risco pelo HMDS usando os modelos da União Européia (EUSES). Por enquanto, nem a modelagem nem os dados do monitoramento ambiental indicam qualquer efeito significativo para o ambiente marinho, e a indústria européia de silicone está confiante em um resultado favorável ao HMDS. Desempenho e Aplicações dos Silicones Resistência ao envelhecimento térmico. Silicones são utilizados em diversas aplicações que exigem alta resistência à temperatura. 4, 6 A termoanálise dos polidimetilsiloxanos revela, na ausência de impurezas, uma degradação notável somente acima de 400 C. No entanto, o termo "estabilidade térmica" deve ser usado com cautela, pois seu significado depende largamente das condições de uso, além de considerar propriedades distintas, tais como despolimerização, oxidação ou resistência à ignição. As aplicações típicas que requerem uma elevada estabilidade térmica são: Fluidos em bombas de difusão, Fluidos de transferência em trocadores de calor, Elastômeros para juntas de fornos ou Isolamento de cabos elétricos. Em caso de incêndio, o elastômero de silicone usado em isolamento de fios elétricos se decompõe, principalmente para dar sílica (isolante), em vez de carbono (= condutor elétrico). Esse último pode ser o produto da combustão incompleta a partir de um elastômero de hidrocarboneto. Note-se que os materiais convencionais de isolamento, tais como PVC, poliéster ou poliamida, liberam além do carbono condutor, gases com impacto ao ambiente (HCl, dioxinas, ácido cianídrico, entre outros). 19 Envelhecimento químico e resistência à intempérie. Os silicones podem ser degradados, particularmente a temperaturas elevadas, para substâncias que são capazes de agir como catalisadores de despolimerização. 4 No entanto, a natureza hidrofóbica dos silicones delimita contato íntimo com soluções aquosas, e essa repelência permite a sua utilização na presença de diversos compostos químicos agressivos contidos no ambiente aquoso. O inchaço de elastômeros em solventes comuns pode ser reprimido pelo uso de copolímeros (ver acima). Os silicones são utilizados na indústria da construção para acabamentos que proporcionam uma película protetora. Seu sucesso está acoplado à sua excelente resistência ao intemperismo: baixa reatividade dos grupos funcionais frente ao ar poluído ou água, a natureza hidrofóbica e a transparência frente à luz UV explicam o desempenho extraordinário dos silicones. Ainda outras propriedades tornam os silicones adequados como selantes da construção civil. Sua pigmentação é fácil já que são transparentes também nos comprimentos de onda da luz visível. As baixas interações entre as cadeias dos polissiloxanos (somente interações Van der Waals) explicam os baixos módulos destes elastômeros, o que reduz as tensões permanentes em juntas e aumenta a longevidade. Propriedades de aderência A “folha contact” para etiquetas auto-adesivas é hoje quase exclusivamente fabricado com revestimento de silicones aplicado em cima de papel. 13 Os silicones são aplicados em forma líquida, seguida pela cura que geralmente ocorre através de uma reação de adição (ver p. 11), para dar o papel revestido por uma película fechada. Nesta camada podem encostar etiquetas equipadas com qualquer cola, sem ficar aderidas permanentemente. A tensão de superfície adesiva (30 a 40 mN/m, no máximo) não proporciona contatos adesivos suficientes ao silicone – o que reduz a área de contato real e o trabalho de aderência e, ao final, permite a fácil remoção da etiqueta do papel revestido. Da mesma maneira pode ser usado um elastômero de silicone, para preparar um molde de um objeto original, por exemplo, uma escultura de bronze, que é coberta pelo elastômero de duas partes (ver acima). A baixa tensão de superfície do silicone permite a molhagem perfeita da superfície original e dá, após a cura, uma negativa com detalhes minúsculos. Gesso ou uma resina de cura térmica podem ser lançados neste molde para levar a uma réplica de alta qualidade. A baixa adesão do silicone permite uma fácil desmoldagem desta cópia. A aplicação mais recentes destes moldes é na cozinha, onde uma massa de bolo sai do molde de silicone igualmente fácil. Biocompatibilidade A inocuidade dos silicones explica as inúmeras aplicações onde o contato prolongado com o corpo humano está envolvido: em tecidos, em cosméticos, em contato com os alimentos e em aplicações médicas. Elastômeros de silicone são usados em muitos dispositivos médicos, regulados pela Norma de Dispositivos Médicos Européia como Classe II ou III, tais como tubos para circulação extracorpórea usados durante uma cirurgia cardíaca, drenagem hidrocefálica (hydrocephalic shunt) ou a fiação do marcapasso. A sua excelente biocompatibilidade se deve, em partes, à baixa reatividade 20 química sendo a característica geral dos silicones, mas também à sua baixa energia de superfície e sua hidrofobicidade. 13 Conclusões Polidimetissiloxanos são formados a partir de recursos que são largamente disponíveis: areia e metanol, enquanto o segundo pode ser produzido a partir da destilação de madeira. 13 Vulgarmente conhecidos como “silicones”, estes materiais são apreciados em muitas aplicações devido à sua estabilidade, baixa tensão superficial e a falta de toxicidade. Substituição do grupo metila ou introdução de unidades de siloxanos tri ou tetra-funcionais, leva a uma resina ramificada, dura e resistente. Alternativamente, os pré-polímeros podem ser frouxamente reticulados, à temperatura ambiente ou elevada, fornecendo elastômeros sem perder as propriedades acima mencionadas. Esses fatores explicam o sucesso comercial destes materiais universais e devem garantir aos silicones um futuro brilhante. Referências Monografias e artigos em enciclopedias: 1) Artigos da Wikipedia (inglês): Silicone oil, Silicone grease, Silicone rubber, Medical grade silicone, RTV silicone, Silicone Resin. 2) F.W.G. Fearon, High performance polymers (Editores R. Seymour e G. Kirsenbaum) Elsevier 1986. 3) E.G. Rochow, Silicon and silicones, Springer-Verlag 1987. 4) F.O. Stark et al., Silicones, Comprehensive Organometallic Chemistry, vol. 2, p. 305, Pergamon Press 1982. 5) E.P. Plueddeman, Silane coupling agents, Plenum Press NY 1982. 6) W. Noll, Chemistry and technology of silicones, Academic Press 1968. Artigos em revistas / disponíveis na internet: 7) A. Colas, “Silicones in Pharmaceutical Applications”, disponível em http://www.dowcorning.com/content/publishedlit/01-3077.pdf (acesso em 10/2014) 8) A. 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