Contador - Prof. Luís Urbano Afonso
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Contador - Prof. Luís Urbano Afonso
O mobiliário luso-asiático. 1. Mobiliário “rasteiro” e curvo (Ásia) vs. mobiliário “alto” e linear (Europa). 2. Os europeus e as novas tipologias de mobiliário de produção asiática: cofres e baús de tampa poligonal; cadeiras de “patins”; escritórios; contadores. 3. Tipologias orientais desconhecidas na Europa: biombos; estantes de Corão / estantes de missal; tamboretes; ventós (Ásia Oriental). 4. Incorporação na Europa: regresso de comerciantes, soldados, administradores trazendo na bagagem o melhor mobiliário lusoasiático. Na Ásia não havia interesse neste mobiliário híbrido. 5. Mobiliário luso-asiático é apenas para exportação ou consumo local por europeus (ou euro-descendentes). O mobiliário luso-asiático. 1. Especificidades técnicas. • Materiais: madeiras exóticas (angelim, teca, sissó, ébano); bambu; tartaruga; marfim; cobre dourado; latão; ferro; prata. • Técnicas: inexistência de pregos e colas; assemblagem (tb com espigões de madeira); palhinha. • Acabamentos: embutidos (marfim, madrepérola), massas (betume negro); talha hiper-lavrada. • Lacagem: diferentes tipos de laca (seiva purificada); proteção contra xilófagos; pintada, gravada, esculpida, embutida. • peças desdobráveis e desmontáveis (pernas e tampos rebatíveis ou articuláveis); • o móvel-raiz (ou troncos retorcidos), desde o período Song. TIPOLOGIAS DE MOBILIÁRIO • Leitos - c.2 m comp. por 1,5m larg. e alt., com espaldar em baixo relevo. Produção indiana. Era uma tipologia desconhecida no Oriente. • Arcas - variam entre os 50 e os 100 cm, têm tampa plana, 1 fechadura central, 2 dobradiças e 2 argolas de levantar (uma em cada lado). Podem ter 2 ou 4 gavetas na base. • Baús - móveis de corpo retangular, superiores a 40 cm e com tampa abaulada, para pousar no chão ou em cima de uma estrutura, com pegas laterais. • Cofres - móveis com tampa de levantar abaulada, inferiores a 40 cm. • Caixas – móveis com tampa plana, inferiores a 50cm. • Contadores - móveis paralelepipédicos, de várias gavetas (entre 6 e 20), para pousar em cima de outras superfícies ou suportes. Não têm tampo frontal de abater, mas podem ter portas laterais. Derivam de modelos italianos e alemães. • Escritórios - móveis de várias gavetas, para pousar em cima de uma superfície ou suportes, com um tampo frontal de abater. • Ventós - móveis de gavetas, pequenos mais profundos que largos, com uma porta lateral numa das faces mais curtas. CENTROS DE PRODUÇÃO Noroeste da Índia: • • Guzarate (interior) (sultanato independente até 1576, a partir daí integrado no império Mogol) – tartaruga, embutidos em madrepérola, massas betuminosas (sobretudo em Ahmedabad, capital deste estado). Superfícies não-relevadas. Guzarate (porto de Surate [e Damão e Diu]) – leitos, cadeiras, escabelos, tamboretes (pintura e lacagem). Baixos-relevos. Centro e sul da Índia (costa ocidental): • • • Chaúl (e Baçaim, Taná e Bombaim) – leitos, cofres, escritórios, etc. Baixos-relevos. Goa - móveis sacros (arcazes), etc. Superfícies não-relevadas. Cochim – arcas, oratórios, bandejas. Lisos ou com baixos-relevos não lacados. Outros núcleos: • • • • • Ceilão – mobiliário em marfim (caixas, escritórios, contadores), tartaruga, arcas em madeira decoradas em baixíssimo-relevo, incrustações em pedras preciosas. Coromandel / Golfo de Bengala – pequenos móveis em talha baixa lacada, não lacados. Birmânia/Sião - pequenos móveis em talha baixa lacada, lacados. China/Cantão - móveis lacados, cadeiras desmontáveis, mesas rasteiras, caixas-escritório, etc. Interiores lacados a vermelho ou negro com desenhos dourados. Japão – biombos, móveis lacados. Enviados europeus trazem oferendas a Shah Jahan (Agra, Julho de 1633). Padshahnama, c.1650, fol. 116b, 101,5x81,5cm. Royal Colletions, Windsor Castle. Tamborete. Iluminura mogol, sécs. XVI-XVII. Tamborete. Índia/Quénia ou Moçambique (?). sécs. XVI-XVII. Conquista de Hoogly. Padshahnama, c.1650, 101,5x81,5cm. Royal Colletions, Windsor Castle. NOROESTE DA ÍNDIA: GUZARATE Cofre em madeira, e pele. Pen. Ibérica, séc. XV. 35x59x39cm. CML, leilão 68 lote 224 (2004). Estimativas: 5.000 / 7.500. Martelo : 12.500€ Cofre. Guzarate, 1550-1600. Tartaruga e prata. 13x28x14cm. V&A (M.10&A-1945). Montagens em prata, provavelmente realizadas em Goa. Cofre. Guzarate, 1550-1600. Tartaruga e prata. 11,5x18,5x9,5cm. Colecções Alfredo Guimarães e Arthur de Sandão. CML, leilão 130, lote 509, 27 de Setembro de 2011. Estimativas: 40.000 / 60.000. Martelo : 56.000€. Cofre. Guzarate, 1550-1600. Tartaruga e prata CML, leilão 80, lote 83, 6 de Novembro de 2006. Estimativas: 25.000 / 37.500. Martelo: 125.000€. Cofre. Guzarate, 1550-1600. 15,5x23,5x11,5cm. Madrepérola e prata dourada. Colecções Alfredo Guimarães e Arthur de Sandão. CML, leilão 130, lote 504, 27 de Setembro de 2011. Estimativas: 60.000 / 90.000. Martelo : 165.000€. Cofre. Guzarate, c.1500. Madeira e madrepérola, 29x40x26cm. Montagens de ourivesaria: Paris, 1532-33 (Pierre Mangot). Louvre (OA11936). Cofre-relicário. Guzarate, c.1550-1600. Madeira (teca?), madrepérola, metal dourado, vidros coloridos. 12,8 x 16,5 x 13,1cm. Museu de Arte Sacra de Monsaraz. Caixa, Mogol, c.1600, India, Guzarate. Madeira de teca, com embutidos de ébano, marfim e trabalho de laca. 8.3x34x14.5cm. MET (2000.301). Peça destinada ao mercado europeu, representando europeus (portugueses) a caçar. Escritório, Mogol, c.1600-25, India, Guzarate. Madeira de teca, com embutidos de ébano, marfim e ferragens. 16,5x27,5x20cm. V&A (885-1905). Peça inclui cenas de caça. COSTA OCIDENTAL DA ÍNDIA: CENTRO E MALABAR Leito. Chaúl (?). Séc. XVI. Teca e laca. 164x222x154cm. Coleção particular. Espaldar de Leito. Chaúl ? FERRÃO, Bernardo (1990). Mobiliário Português: dos Primórdios ao Maneirismo, p. 43. Nas costas do espaldar, lisas, encontram-se as armas da família portuguesa Sousas de Arronches Arca de Cochim. Finais séc. XVI? (in FELGUEIRAS, José Jordão (1994), “Arcas Indo-Portuguesas de Cochim”, Oceanos, Setembro/Dezembro) Contador, Índia, Goa (?), c.1650-1700. V&A (782&A-1865). Contador, Índia, Goa (?), c.1650-1700. V&A (781&A-1865). Teca, cedro, pau-rosa, marfim, ferragens. Contador, Índia, Goa (?), séc. XVII. CML, leilão 90, lote 140 (2007). 146,5x108x57 cm. Teca, sissó, ébano, marfim. Motivo de círculos secantes. Estimativas: 50.000 / 75.000. Martelo: 50.000€. Contador, Índia, Goa (?), séc. XVII. CML, leilão 83, lote 89 (2006). 128,5x101x56cm. Teca, ébano, marfim. Estimativas: 40.000 / 60.000. Martelo: 40.000€. Contador, Índia, Goa (?), séc. XVII. CML, leilão 71, lote 39 (2005). 137,5x96,5x52cm. Teca, ébano, marfim. Estimativas: 40.000 / 60.000. Martelo: 40.000€. Contador, Índia, Goa (?), séc. XVII. CML, leilão 95, lote 98 (2008). 125x99x47,5 cm. Teca, ébano, marfim. Estimativas: 40.000 / 60.000. Martelo: 50.000€. Contador, Índia, Goa (?), séc. XVII., 133,0 x 96,0 x 55,0 cm. Antiguidades S. Roque. Teca, ébano, marfim, latão. Contador, Índia, Goa (?), séc. XVII., 119 x 87 x 48 cm. PCV, lote 54, leilão 231 (Abril 2010). Teca, ébano, marfim, latão. Mesa, Índia, séc. XVII. CML, leilão 125, lote 413 (2011). 77x102x59cm. Teca, ébano, marfim. Estimativas: 15.000 / 22.500. Martelo: 46.000€. Mesa, Índia, séc. XVII. CML, leilão 116, lote 343 (2010). 74x75,5x50cm. Teca, ébano, marfim. Estimativas: 18.000 / 27.000. Martelo: 32.000€. Ventó (Goa?). CML, leilão 125, lote 410 (2011). 25x31x25cm. Teca, ébano, marfim. Estimativas: 5.000 / 7.500. Martelo: 29.000€ PARAMENTEIRO DO CONVENTO DE SANTO AGOSTINHO, GOA. Teca com embutidos em ébano e pregaria. séc. XVII. 392x119x129 cm. Arcaz indo-português, executado pelos carpinteiros reinóis Diogo Moniz e Manuel Rodrigues (16201635), responsáveis pela marcenaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça, no Convento de Santo Agostinho (Lisboa). Duas portas, à esquerda e à direita, decoradas com "Águias Bicéfalas" (insígnia da Ordem de Santo Agostinho). Na sacristia deste Convento existia um par de paramenteiros, encontrando-se o que resta do outro na Igreja de Santana em Talaulim, Goa. A construção deste cenóbio, o maior de Goa, foi iniciada em 1587 e concluída em 1602. Com a expulsão das ordens religiosas de Goa, em 1833, o convento foi abandonado, tendo a cúpula ruído mais tarde em 1842 e o fronstispício em 1931. Hoje subsiste apenas parte de uma torre e o pavimento coberto de lajes sepulcrais. Púlpito, indo-português. Goa. Finais séc. XVII/inícios séc. XVIII, Museu Medeiros e Almeida. Púlpito incompleto (limitado ao balcão ou varanda), faltando o espaldar (com porta por onde o pregador acedia ao púlpito) e o baldaquino. Peça elaborada em madeira local (teca), entalhada e policromada. Policromia original (vermelhos, verdes e amarelos provenientes de pigmentos orgânicos vegetais). Corpo poligonal, composto por cinco espelhos, divididos por seis conjuntos de colunas salomónicas. Decoração fitomórfica, entalhada em baixo relevo, composta por entrelaçados de folhas de acanto e flores de lótus estilizadas, organizando-se simetricamente. Peça adquirida no 6º Salão de Antiguidades de Lisboa (Abril de 1972), ao antiquário António Costa (Rua do Alecrim, 76). Pode ter pertencido a uma das muitas igrejas da cidade de Goa (Velha Goa), abandonada em meados do século XIX. É muito semelhante a um púlpito existente na Igreja do Espírito Santo em Margão (supra). O púlpito é uma peça de mobiliário litúrgico essencial para a prática do sermão. Normalmente situase a meio da nave das igrejas. A existência de um baldaquino, ou guarda-voz (em concha), ajudava a projetar voz do pregador. Na região de Goa subsistem ainda muitos púlpitos indo-portugueses. Apesar de o recurso a artistas hindus ser interdito, a prática terá sido diferente dando origem a obras híbridas como esta. Talhe um pouco rústico, mas mais elaborado nas divindades indianas: todos os rostos são diferentes com os elementos do rosto bem definidos. Figuras vestem um saiote de folhagem, brincos e pulseiras, bem como colares em triângulo (de folhagens) e coroas de lótus. A base, em forma de saco, repete o esquema decorativo, exceto na separação dos espelhos, onde em vez de colunas temos seis figuras híbridas de divindades indianas (meio mulher, meio peixe/cobra), como cariátides. Estas figuras representam uma fusão entre a representação indiana das naginas, criaturas híbridas mulher-cobra, e a representação europeia das sereias, com leituras eventualmente idênticas (criaturas sedutoras perigosas, “domesticadas” aqui como cariátides). Trata-se de uma peça não erudita, sem motivos iconográficos cristãos e sem a cobertura a ouro, muito provavelmente realizada por artista hindu • Os motivos vegetalistas representados no púlpito são o acanto e a flor de lótus, misturando assim dois elementos vegetalistas típicos da arte ocidental e da arte asiática: – o acanto, de origem mediterrânica, representado na arte ocidental desde a Antiguidade – a flor de lótus, planta aquática de origem asiática venerada pelos povos asiáticos. Na Índia constitui um atributo do deus Vishnu e de Buda. Como a flor cresce em águas lamacentas, florindo à superfície, é utilizada na arte hindu como símbolo de purificação, compaixão e conhecimento. • • Quanto às naginas são divindades secundárias aquáticas (naga - masc.; nagina - fem.), associadas a Vishnu que, inclusivamente, dorme sobre um naga. Estas divindades podem ser representadas como cobras capelo ou então como criaturas híbridas (metade superior do corpo é humana, com joias e elementos vegetalistas evocadores da água - seu habitat natural – e a metade inferior assume a forma da cauda de uma serpente). Muitas vezes são representados aos pares, com as caudas entrelaçadas. Os nagas costumam ser representados à entrada dos templos hindus e budistas, como entidades protetoras. Na arte indo-portuguesa a nagina foi mais utilizada do que o naga. Porém, nestes casos ela é transformada ganhando braços e uma cauda de peixe, como nas sereias ocidentais. As naginas surgem em múltiplas tipologias de obras indo-portuguesas: no mobiliário, na talha, nos têxteis e na ourivesaria. ORATÓRIO EM FORMA DE TEMPLETE. PCV, leilão 243, lote 215 (7/07/2010). 125,5x67,5x42cm, sissó. Índia. Estimativas: 1.500 / 2.500. Martelo: 2.400€ CEILÃO Cofre, Ceilão (Kotte), c.1542-44. Marfim, ouro, rubis, safiras. 30x16x18 cm. Munique, na Schatzkammer da Münchner Residenz. Na zona frontal (extremos) representa-se o rei D. João III a receber e a coroar D. João Dahrmapala, neto do rei Bhuvanekabahu. E herdeiro da coroa de Kotte. Em 1542-43 uma embaixada de Ceilão (embaixador Sri Radaraksa Pandita) fez coroar uma efígie de Dahrmapala em Lisboa numa cerimónia aparatosa. O cofre pode ter vindo no conjunto de oferendas enviadas para Lisboa, ou pode ter sido produzido posteriormente. Supostamente, veio uma coroa cingalesa para essa coroação e uma efígie do mesmo. Outras fontes referem duas imagens em marfim do rei e do seu neto. Cofre “Robinson”, Ceilão (Kotte), c.1557. Marfim, prata dourada, filigrana, safiras. 22,8x13,7x12,7 cm. Londres, Victoria & Albert (IS.41-1980). Este cofre pode assinalar a conversão de Dharmapala (rei desde 1551) ao cristianismo em 1557, sendo enviada essa notícia numa carta para Lisboa, por frades franciscanos, tendo este cofre como presente diplomático. Cofre, Ceilão (Kotte), c.1540-50 Marfim, prata dourada, madeira. 16,3x9,6x11 cm. Viena, Kunsthistorisches Museum Wien, Kunstkammer (KK_4745). Escritório, Ceilão (Kotte), c.1600 (?). Marfim, chifre, prata, ouro, madeira. 26,1x19x19,3 cm. Viena, Kunsthistorisches Museum Wien, Kunstkammer (KK_4744). Contador, Ceilão. séc.XVI-XVII. Teca, marfim. CML, leilão 130, lote 5047 27 de Setembro de 2011. Estimativas: 14.000 / 21.000. Martelo: 62.000€ Contador de duas portas (Ceilão?, Guzarate?). CML, leilão 120, lote 405 (2010). 25x30x23cm. Teca, ébano, marfim, tartaruga e ferragens em prata. Estimativas: 12.500 / 18.750. Martelo: 36.000€ Ventó Ébano, Ceilão, 1650-1680. 19,6 x 26,7 x 24 cm. Este tipo de móvel foi criado no Japão para o mercado europeu (contador com uma só porta). Esta decoração apresenta motivos florais. PEGU (BIRMÂNIA), SIÃO (TAILÂNDIA) ou CANTÃO (GUANDONG) Móveis em talha baixa com lacagem (interior e exterior) e pintura dourada no interior Anteriormente apontava-se como local de produção Cochim (Malabar) ou o Golfo de Bengala. Os documentos analisados por Hugo Crespo sugerem uma origem no Pegu (Martabão, Dagon, Cosmim), no Sião e no Guandong. Lacas Totalmente desconhecidas na Europa até aos “Descobrimentos” A verdadeira laca tem origem na seiva das árvores da família Rhus, especialmente Rhus vernicifera, comuns na China, Coreia e Japão. Na Tailândia (Sião) e na Birmânia (Pegu) a árvore donde é extraída a laca é a Gluta usitata. No Vietname é a Rhus succedanea e no Cambodja é a Gluta laccifera. Análises feitas a algumas destas caixas permitem tirar duas conclusões: 1. a laca vegetal tem origem no Pegu/Sião (Gluta usitata); 2. a técnica usada na aplicação da laca no interior das caixas assemelha-se a uma técnica muito difundida na arte da laca da antiga Birmânia, a shwe zaw onhecida na Tailândia por lai rot nam. 3. a técnica de talha baixa, porém, é mais comum na Índia. Porém, na Índia não há árvores deste tipo, pelo que a resina para a laca era obtida através de um inseto Coccus lacca, imitando o efeito da laca vegetal. Dados inéditos revelados por Hugo Crespo • “espritoryo de mao pequeno da Chyna dourado com sua fechadura e chave e chapas e argollas de prata” (inventário post-mortem de Maria Pais, 15/6/1594, ligada ao comércio Ormuz-Goa-China, com residência em Goa) • Documento de partilhas de Simão de Melo Magalhães, capitão de Malaca entre 1545-48, datado de 1570, refere vários móveis chineses lacados de ouro e preto. • Documento sobre bens embarcados na nau Garça, em 1559, em Goa, refere que no camarote de um viajante anónimo, de regresso a Lisboa, havia “um espritorio da China” com oito leques e “huma cayxinha da China”. Caixa-escritório Birmânia/Guandong?, sécs. XVI/XVII, madeira entalhada (teca?, angelim?), pintada e lacada. CML, Leilão nº 1, lote 212, 5 de Fevereiro de 1996, avaliada entre 3.000 e 3.500 contos. Vendida pelo preço base. Caixa em talha baixa. sécs. XVI/XVII. Birmânia/Guandong? Revestimento integral a laca negra com restos de dourado, interior lacado a negro com dourados representando o "Triunfo do Amor“. Ferragens e aplicações em ferro. 12 x 26,5 x 21 cm. Lote 94, leilão 95 (31/03/2008). Est. 40.00060.000€ (retirado). Caixa em talha baixa. sécs. XVI/XVII. Birmânia/Guandong? Revestimento integral a laca negra com restos de dourado, interior lacado a negro com dourados representando o "Triunfo do Amor“. Ferragens e aplicações em ferro. 12 x 26,5 x 21 cm. Lote 94, leilão 95 (31/03/2008). Est. 40.000-60.000€ (retirado). Petrarca. Trionfi, sonetti e canzoni. Veneza: Piero de Piasi, 1490 Arca Lacada de Grandes Dimensões. Birmânia/Guandong? Teca lacada a negro e ouro, sécs. XVI/XVII. Dim.: 39 x 87 x 50 cm. São Roque Antiguidades (Abril de 2013) Arca Lacada de Grandes Dimensões. Teca lacada a negro e ouro (interior lacado a vermelho com pintura a ouro). Birmânia/Guandong?, séc. XVI / XVII. Dim.: 39,0 x 87,0 x 50,0 cm. São Roque Antiguidades (Abril de 2013) Caixa-escritório. Teca lacada a negro e ouro (interior lacado a vermelho com pintura a ouro). Birmânia/Guandong?, séc. XVI / XVII. Dim.: 17 x44,5 x 34 cm. Inscrição relevada na filactera, de inspiração camoniana, que diz: DAVA.LHO. VEMTO. NO. CHAPEIRÃO. Q(EU)R LHE DÊ Q(UE)R NÃO. São Roque Antiguidades. • DAVA.LHO. VEMTO. NO. CHAPEIRÃO. Q(EU)R LHE DÊ Q(UE)R NÃO . Trata-se de um adágio referido por Luís Vaz de Camões (c. 1524-1580), na chamada Carta de Ceuta, datada de 1549-50. • O adágio de mote rústico teria sido recolhido pelo poeta a partir de um refrão popular: “E o meu Senhor diz assi: Dava lhe o vento no chapeirão, Quer lhe dê, quer não. Bem o póde revolver, Que o vento não traz mais fruito; E mais vento he sentir muito O que, emfim, fim hade ter. O melhor, he melhor ser, Que o vento no chapeirão, Quer lhe dê, quer não”. Carta de Ceuta I (…) Que graça será esperardes de mim propósitos, em cousa que os não tem para comigo? Pois, ainda que queira, não posso o que quero; que um sentido remontado, de não pôr pé em ramo verde, tudo lhe sucede assim; e «cada um acode ao que lhe mais dói»; e mais eu, que o que mais me entristece é contentamento ter, pois fujo dele, que minh'alma o aborrece, porque lhe lembra que é virtude de viver sem ele. Porque já sabeis que mágoa é: «vê-lo hás e não o paparás». Por fugir destes inconvenientes, Toda a cousa descontente contentar-me só convinha, de meu gosto; que, o mal de que sou doente, sua mais certa mesinha é desgosto. Já ouviríeis dizer: «Mouro, o que não podes haver, dá-o pela tua alma». O mal sem remédio, o mais certo que tem, é fazer da necessidade virtude; quanto mais, se tudo tão pouco dura como o passado prazer. Porque, enfim, allegados son iguales los que viven por sus manos, etc. A este propósito, pouco mais ou menos, se fizeram umas voltas a um mote de enche-mão, que diz por sua arte, zombando mais, que não de siso (que toda a galantaria é tirá-la donde se não espera), o qual crede que tem mais que roer do que um praguento. Portanto recuerde el alma adormida, e mande escumar o entendimento, que, doutra maneira, de fuera dormiredes, pastorcico. E o meu senhor diz assim: Dava-lhe o vento no chapeirão, quer lhe dê, quer não. Bem o pode revolver, que o vento não traz mais fruto; e mais vento é sentir muito o que, enfim, fim há-de ter. O melhor, é melhor ser, que o vento no chapeirão, quer lhe dê, quer não. (…) • No capítulo 22 da Crónica da Companhia de Jesus (1645), intitulada Da obediencia, & humildade do Padre Gonçalo de Medeiros, & da sua bemaventurada morte. • Refere-se aí a simplicidade do Padre Medeiros (falecido em 1552) que apesar de ter acabado de chegar a Coimbra é logo enviado a Lisboa, “a desandar quase 34 legoas (…) repetindo nesse passo ao porteiro, as palavras sabidas de uma cantiga rústica, Davalhe o vento no chapeiram, quer lhe dê quer nam &, com esta rusticidade afectada, o cortesam religioso, com o tosco de hum mote inculto, & vulgar, disfarsou o mais polido, & refinado, de huma primorosa, & rara obediência”. • Frei António do Rosário, 1701, franciscano missionário no Brasil, destaca, a dado passo da Decima Practica, o seguinte: • “Como havemos de cantar em terra estranha ? (…) hum motte bem alegre, & descançado, a buscar sua sorte nas Sortes de S. Antonio Davalhe o vento no chapeirão, quer dê, quer não. Os ventos podem ser bons, e máus, favoraveis, e contrarios. E alegar-se hum homem com todos os ventos, accomodarse tanto com a bonança, como com a tempestade, ter a mesma alegria na adversidade que na felicidade, Laetatuis sum in omnibus (…) Como havemos de cantar em terra estranha ? Se toda a terra he para nós estranha, & só o Ceo he a nossa patria: como havemos de cantar em terra estranha ?”. Triunfos de Petrarca? Personificação de planetas? Metamorfoses de Ovídio? Caixa. Finais séc. XVI? Catálogo das Pinturas antigas e contemporâneas, Faianças, Porcelanas, Cristais, Relógios, Pratas, Jóias, Objectos de Arte, Tecidos e Mobiliário, 1946, Leiria & Nascimento, lote 476, p. 53. Caixa. Finais séc. XVI? (in Bernardo Ferrão, Mobiliário Português, 1990: 161) Caixa. Cochim? Finais séc. XVI? (in FELGUEIRAS, J. J. (1994), “Arcas Indo-Portuguesas de Cochim”, Oceanos, Setembro/Dezembro) Caixa com imagem da Temperança. Cochim? Finais séc. XVI? (in Bernardo Ferrão, Mobiliário Português, 1990: 159-160) Caixa. Finais séc. XVI? Trabalhos de Adão? Árvore da Vida? FERRÃO, Bernardo (1990). Mobiliário Português: dos Primórdios ao Maneirismo. Caixa-escritório. Finais séc. XVI? (in O Mundo da Laca: 2000 anos de História. 2001. Fundação Calouste Gulbenkian). Birmânia/Guandong? Caixa-escritório. Finais séc. XVI? (in O Mundo da Laca: 2000 anos de História. 2001. Fundação Calouste Gulbenkian). Birmânia/Guandong? CADEIRAS Cadeira de “patins”. Particular. Europa. séc. XVI. Col. Cadeira de “patins”. Goa, sécs. XVI/XVII. Sissó com entalhamentos, assento e espaldar com palhinha. 106x56x65cm. CML, leilão 118, lote 330f, 1 de Junho de 2010. Estimativas: 6.000 / 9.000. Martelo: 0€. Shah Jahan recebe o filho Dara Shukoh, c.1650. 37.2x25.4cm. Los Angeles County Museum of Art Cadeira de “patins”. Índia. sécs. XVI/XVII. Col. Particular. Cadeira de “patins”. Índia/África (Quénia?). sécs. XVI/XVII. Col. Particular. Cadeira de “patins”. Goa, sécs. XVI/XVII. Sissó com entalhamentos, assento e espaldar com palhinha. 59x62x110cm. Antiguidades S. Roque. Cadeira de “patins”. Europa. séc. XVI. Col. Particular. Cadeira. Índia (Coromandel), c.1650. Ébano e palhinha. V&A (IS.6-2000) Cadeira. Golfo de Bengala?, séc. XVI. Esculpida, lacada e dourada (e palhinha). 65 cm alt. Museu d’Història de la Ciutat de Barcelona / Museu Monestir de Pedralbes. Detalhe de Anunciação (volante esquerdo de um altar-relicário). Federico Zuccaro. 1586. Óleo sobre madeira, Escorial.