Iara Atié Malan - ICES
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Iara Atié Malan - ICES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA Programa de Pós-Graduação em Cardiologia CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, ELETROFISIOLÓGICAS E ABLAÇÃO POR RADIOFREQÜÊNCIA DE PACIENTES BRASILEIROS PORTADORES DE SÍNDROME DE WOLFFPARKINSON-WHITE E/OU VIAS ACESSÓRIAS OCULTAS IARA ATIÉ MALAN Rio de Janeiro – 2008 – CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, ELETROFISIOLÓGICAS E ABLAÇÃO POR RADIOFREQÜÊNCIA DE PACIENTES BRASILEIROS PORTADORES DE SÍNDROME DE WOLFF-PARKINSON-WHITE E/OU VIAS ACESSÓRIAS OCULTAS Iara Atié Malan Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Medicina (Cardiologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia. Orientador: Prof. Dr. Jacob Atié Rio de Janeiro - 2008 - Malan, Iara Atié Características clínicas, eletrofisiológicas e ablação por radiofreqüência de pacientes brasileiros portadores de síndrome de Wolff-Parkinson-White e/ou vias acessórias ocultas / Iara Atié Malan. – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2008. xiii, 85 f. : il. ; 31 cm. Orientador: Jacob Atié Dissertação (Mestrado) – UFRJ/FM, Programa de Pós-Graduação em Cardiologia, 2008. Referências bibliográficas: f. 65-82 1. Síndrome de Wolff-Parkinson-White. 2. Ablação por cateter. 3. Técnicas eletrofisiológicas cardíacas. 4. Morte súbita cardíaca. 5. Humanos. 6. Cardiologia – Tese. I. Atié, Jacob. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Cardiologia, III. Título. Características clínicas, eletrofisiológicas e ablação por radiofreqüência de pacientes brasileiros portadores de síndrome de Wolff-Parkinson-White e/ou vias acessórias ocultas Iara Atié Malan Orientador: Prof. Dr. Jacob Atié Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Medicina (Cardiologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia. Em _____/_____/_______ Aprovada por: ___________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Salles Xavier (Presidente) ___________________________________________ Prof. Dr. Washington Andrade Maciel ___________________________________________ Prof. Dr. Ayrton Klier Peres Rio de Janeiro - 2008 iii À pequena Fernanda, minha filha, minha vida, meu maior tesouro. A Diogo, meu amor, meu pilar, meu maior incentivador. iv AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Jacob Atié, meu querido tio e orientador, exemplo de pessoa e mestre, pelo apoio irrestrito que sempre me dispensou, e pelo entusiasmo e dedicação à medicina e à formação de seus aprendizes. A ele o meu mais profundo respeito, admiração e agradecimento. Ao Prof. Dr. Sérgio Salles Xavier, pelas valorosas sugestões que se constituíram na idéia embrionária desse trabalho. Ao Prof. Dr. Aristarco Gonçalves de Siqueira Filho, Coordenador da Pós-Graduação da Disciplina de Cardiologia, pela oportunidade e confiança. Ao Prof. Dr. Washington Maciel, pelo incentivo quando imaginava ser impossível, pelo estímulo constante e sábios conselhos sempre. Ao Dr. Eduardo Andréa, Dr. Nilson Araújo, Dr. Hecio Carvalho, Dr. Luís Belo, Dr. Leonardo Siqueira, Dr. Cláudio Munhoz, Dr. Rodrigo Cosenza, Dra. Fabiana Mitidieri, Dra. Lara Fonseca e Dra. Cristiane Bortoluzzo, pela calorosa acolhida no grupo e pelos inúmeros e preciosos ensinamentos. Às anestesistas Dra. Márcia Bevilaqua, Dra. Elisabeth Penna Firme, Dra. Simone Leite e Dra. Márcia Cunha, pela paciência e gentileza. À Dra. Karla Ataide, por toda generosidade, solicitude e delicadeza. À Dra. Flávia de Deus e Dra. Aurora Issa, pelo companheirismo de quem atravessava semelhante fase. Às secretárias Cláudia, Lissandra, Ana Cláudia e Aluísia, sempre muito gentis, pela voluntariosa ajuda em todos os momentos que se fazia necessário. Aos meus pais, Frida e Ricardo, pela dedicação, orientação e compreensão. A eles o meu carinho e respeito a cada dia maiores. À minha irmã Julia, por unir o vínculo fraterno à mais preciosa amizade. Ao Michel e Vera, que compartilharam comigo as conquistas e desafios, no âmbito pessoal e profissional, agradeço muito o apoio e incentivo. Ao Diogo, pela gentileza e paciência na revisão dos originais desta dissertação e por todo amor e carinho nesses 10 anos. v SUMÁRIO Pág. Lista de siglas e abreviaturas viii Lista de tabelas ix Lista de figuras x Lista de anexo xi Resumo xii Abstract xiii 1. Introdução 2 2. Revisão bibliográfica 5 2.1. Definição 5 2.2. Histórico 6 2.3. Epidemiologia 7 2.4. Localização das vias anômalas 7 2.5. Propriedades eletrofisiológicas 11 2.6. Cardiopatias associadas 11 2.7. Arritmias 12 2.7.1. Taquicardia reentrante átrio-ventricular ortodrômica 12 2.7.2. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica 14 2.7.3. Fibrilação atrial 16 2.7.4. Fibrilação ventricular 18 2.8. Diagnóstico 18 2.8.1. Padrão eletrocardiográfico 18 2.8.2. Manifestações clínicas 30 2.9. Estratificação de risco 30 2.10. Tratamento 30 2.11. Peculiaridades das vias anômalas 31 2.12. Localização da via anômala por métodos não-invasivos 33 2.13. Algoritmos eletrocardiográficos 33 3. Objetivos 35 4. Pacientes e métodos 37 4.1. Disposição geral 37 4.2. Pacientes 37 4.2.1. Critérios de inclusão 37 vi 4.2.2. Critério de exclusão 37 4.3. O estudo eletrofisiológico 37 4.4. A ablação por radiofreqüência 38 4.5. Regiões dos anéis átrio-ventriculares 40 4.6. Desenho do estudo 41 5. Resultados 43 5.1. Casuística 43 5.2. Quantidade de vias acessórias 44 5.3. Localização das vias acessórias 45 5.4. Associação com outras arritmias 46 5.5. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica 47 5.6. Sucesso da ablação por radiofreqüência 48 5.7. Complicações da ablação por radiofreqüência 50 6. Discussão 53 6.1. Quantidade de vias acessórias 53 6.2. Localização das vias acessórias 54 6.3. Arritmias associadas 55 6.4. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica 57 6.5. Sucesso da ablação por radiofreqüência 58 6.6. Complicações da ablação por radiofreqüência 58 7. Conclusões 61 8. Limitações e recomendações 63 Referências bibliográficas 65 Anexo 84 vii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AL - anterolateral AS - anteroseptal A-V - átrio-ventricular BAVT - bloqueio átrio-ventricular total col. - colaboradores ECG - eletrocardiograma ESC - European Society of Cardiology LD - lateral direita LE - lateral esquerda MS - medioseptal NASPE - North American Society of Pacing and Electrophysiology PD - posterior direita PE - posterior esquerda PSD - posteroseptal direita PSE - posteroseptal esquerda WPW - Wolff-Parkinson-White viii LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1. Índice de sucesso global dos pacientes submetidos à ablação por radiofreqüência. 48 Tabela 2. Índice de sucesso global da ablação por radiofreqüência em relação às vias acessórias. 49 Tabela 3. Sucesso e insucesso da ablação por radiofreqüência de acordo com a localização das vias acessórias átrio-ventriculares. 50 ix LISTA DE FIGURAS Pág. Figura 1. A participação da via anômala na pré-excitação ventricular 5 Figura 2. A anatomia do sulco átrio-ventricular 8 Figura 3. As regiões dos anéis átrio-ventriculares e as nomenclaturas 10 Figura 4. Taquicardia reentrante átrio-ventricular ortodrômica 13 Figura 5. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica 15 Figura 6. Fibrilação atrial em paciente portador de síndrome de WPW 17 Figura 7. Fibrilação atrial em paciente portador de múltiplas vias anômalas 18 Figura 8. ECG de portador de WPW por via anômala anteroseptal 20 Figura 9. ECG de portador de WPW por via medioseptal 21 Figura 10. ECG de portador de WPW por via posteroseptal direita 22 Figura 11. ECG de portador de WPW por via posteroseptal esquerda 23 Figura 12. ECG de portador de WPW por via posterior direita 24 Figura 13. ECG de portador de WPW por via lateral direita 25 Figura 14. ECG de portador de WPW por via anterior direita 26 Figura 15. ECG de portador de WPW por via posterior esquerda 27 Figura 16. ECG de portador de WPW por via lateral esquerda 28 Figura 17. ECG de portador de WPW por via anterior esquerda 29 Figura 18. As regiões dos anéis átrio-ventriculares padronizadas 40 Figura 19. Distribuição etária dos pacientes na ocasião da ablação 43 Figura 20. Quantidade de vias acessórias por paciente 44 Figura 21. Número de pacientes com múltiplas vias acessórias em relação ao total de pacientes divididos pela idade (menor e maior de 18 anos) 45 Figura 22. Distribuição das vias anômalas nas regiões dos anéis átrio-ventriculares Arritmias associadas à taquicardia por reentrada átrio-ventricular Figura 23. Figura 24. Figura 25. 46 47 Prevalência de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica nos pacientes com uma ou múltiplas vias acessórias 48 Complicações da ablação por radiofreqüência 51 x LISTA DE ANEXO Pág. Anexo. Consentimento livre e esclarecido xi 84 RESUMO MALAN, Iara Atié. Características clínicas, eletrofisiológicas e ablação por radiofreqüência de pacientes brasileiros portadores de síndrome de WolffParkinson-White e/ou vias acessórias ocultas. Orientador: Jacob Atié. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Medicina, 2008. 85 p. Dissertação. (Mestrado em Medicina) O presente estudo foi proposto para analisar as características clínicas, eletrofisiológicas e a ablação por radiofreqüência de pacientes brasileiros portadores de vias acessórias átrioventriculares. O objetivo é descrever o número e a localização das vias acessórias em pacientes brasileiros submetidos à ablação por radiofreqüência e a associação com outras arritmias, delinear o sucesso, geral e por localização, e as complicações da ablação por radiofreqüência, além de correlacionar a apresentação clínica de taquicardia reentrante átrioventricular antidrômica com a presença de uma ou múltiplas vias acessórias. Foram analisados retrospectivamente 1465 pacientes consecutivos portadores de vias acessórias que foram submetidos a estudo eletrofisiológico e ablação por radiofreqüência. Os pacientes foram avaliados de acordo com o sexo, a idade na época da ablação, o número de vias acessórias por paciente, a localização das vias acessórias, a associação com outras arritmias, o sucesso, geral e por localização, e as complicações da ablação por radiofreqüência, além da correlação da apresentação clínica de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica com a presença de uma ou múltiplas vias acessórias. Foram evidenciadas 1540 vias acessórias, 66 pacientes (4,5%) demonstravam múltiplas vias acessórias, 36,6% das vias acessórias estavam localizadas na região lateral esquerda, 9,7% na região posterior esquerda, 26,4% na região posteroseptal, 10,2% na região medioseptal, 5,1% na região anteroseptal, 10,6% na região lateral direita e 1,4% na região posterior direita. Foi identificada associação com outras arritmias em 9,9% dos pacientes, a Taquicardia por Reentrada Nodal foi evidenciada em 2% dos pacientes, o Flutter Atrial ocorreu em 0,9% dos pacientes, a Fibrilação Atrial foi observada em 6,2% dos pacientes e 0,8% dos pacientes apresentaram documentação de Fibrilação Ventricular. A presença de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica foi mais freqüente em portadores de múltiplas vias acessórias (18,2%). O sucesso da ablação por radiofreqüência foi de 90,6% dos pacientes e de 90,8% das vias acessórias, com um procedimento. O sucesso específico foi de 94,3% na região lateral esquerda, 92% na região posterior esquerda, 88,2% na região posteroseptal, 93,6% na região medioseptal, 76,9% na região anteroseptal, 89% na região lateral direita e 86,4% na região posterior direita. As complicações incidiram em 0,89% dos pacientes e foram tratadas sem resultar em óbitos. Pode-se concluir que as vias acessórias laterais esquerdas foram as mais prevalentes, a Fibrilação Atrial foi a arritmia associada mais freqüente e 12 pacientes apresentaram Fibrilação Ventricular, a presença de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica se correlacionou com a presença de múltiplas vias acessórias e o sucesso da ablação por radiofreqüência foi de 90,6% com 0,89% de complicações. xii ABSTRACT MALAN, Iara Atié. Clinical and electrophysiological characteristics and radiofrequency ablation in Brazilian patients with Wolff-Parkinson-White syndrome and/or concealed accessory pathways. Faculty advisor: Jacob Atié. Rio de Janeiro: UFRJ/School of Medicine, 2008. 85 pp. Dissertation (Masters in Medicine) This study reports the clinical and electrophysiological characteristics and use of radiofrequency ablation in Brazilian patients with accessory atrioventricular pathways. The aim is to describe the number and location of the accessory pathways in Brazilian patients who underwent radiofrequency ablation and the association with other arrhythmias, the success (both general and according to location) and complications of this treatment, and to correlate the clinical presentation of antidromic atrioventricular reentry tachycardia with the presence of one or multiple accessory pathways. There were analyzed retrospectively 1465 consecutive patients with accessory pathways who underwent electrophysiological study and radiofrequency ablation. The patients were evaluated according to sex, age at the time of the ablation, number of accessory pathways per patient, location of accessory pathways, association with other arrhythmias, general success and success by location, and complications of radiofrequency ablation, as well as the correlation of the clinical presentation of antidromic atrioventricular reentry tachycardia with the presence of one or multiple accessory pathways. The patients had a total of 1540 accessory pathways, and 66 of them (4.5%) had multiple accessory pathways. The location of these pathways was 36.6% in the left lateral region, 9.7% in the left posterior region, 26.4% in the posteroseptal region, 10.2% in the medioseptal region, 5.1% in the anteroseptal region, 10.6% in the right lateral region and 1.4% in the right posterior region. There was an association with other arrhythmias in 9.9% of the patients, while 2% suffered from atrioventricular nodal reentry tachycardia, atrial flutter occurred in 0.9%, atrial fibrillation in 6.2% and ventricular fibrillation in 0.8% of the patients. The presence of antidromic atrioventricular reentry tachycardia was more frequent in patients with multiple accessory pathways (18.2%). Radiofrequency ablation was successful in 90.6% of the patients and 90.8% of the accessory pathways, with a single procedure. The specific success rate was 94.3% in the left lateral region, 92% in the left posterior region, 88.2% in the posteroseptal region, 93.6% in the medioseptal region, 76.9% in the anteroseptal region, 89% in the right lateral region and 86.4% in the right posterior region. Complications occurred in only 0.89% of the patients and were treated without resulting in any deaths. It can be concluded that the left lateral accessory pathways were most prevalent, atrial fibrillation was the most associated arrhythmia, while 12 patients presented ventricular fibrillation, and the presence of antidromic atrioventricular reentry tachycardia was correlated with the presence of multiple accessory pathways and radiofrequency ablation was successful in 90.6% of the patients with 0.89% of complications. xiii 1 Introdução 2 1. Introdução Em 1930, Wolff, Parkinson e White descreveram uma síndrome clínicoeletrocardiográfica em um grupo de 11 pacientes jovens e sadios, com eletrocardiograma (ECG) durante ritmo sinusal com intervalo PR curto e complexos QRS com morfologia de bloqueio de ramo, associado a crises de taquicardia paroxística e palpitações,1 que acabou recebendo o nome de síndrome de WolffParkinson-White (WPW). A síndrome de WPW é a apresentação mais freqüente de pré-excitação ventricular. 2,3 A pré-excitação ventricular ocorre quando uma parte ou todo o ventrículo é ativado precocemente pelo átrio,3-5 através de um feixe anômalo que comunica o átrio ao ventrículo.3,5 As vias acessórias podem conduzir o estímulo elétrico anterogradamente (do átrio para o ventrículo) e retrogradamente (do ventrículo para o átrio). Geralmente, as vias acessórias têm condução anterógrada e retrógrada. No entanto, algumas vias acessórias podem conduzir apenas anterogradamente ou retrogradamente; neste caso, elas são chamadas de vias anômalas ocultas, e o ECG é normal.3 Os pacientes portadores da síndrome de WPW podem apresentar diferentes taquiarritmias, como as taquicardias reentrantes átrio-ventriculares ortodrômica e antidrômica, a fibrilação atrial e a fibrilação ventricular, ocasionando morte súbita.3,6-12 As vias anômalas podem estar localizadas em qualquer região dos anéis átrioventriculares (A-V).13 Atualmente, a ablação por radiofreqüência é o tratamento de escolha em pacientes com vias acessórias,7,14-20 devido ao alto índice de cura dos pacientes com arritmias através desse método e do pequeno número de complicações. A presente dissertação se propõe a descrever o comportamento das vias acessórias AV em 1465 pacientes brasileiros portadores de síndrome de WPW e/ou vias acessórias ocultas, submetidos a estudo eletrofisiológico e ablação por radiofreqüência. Foi avaliada a distribuição entre os sexos, a idade da ablação, a localização das vias acessórias, a presença de múltiplas vias e sua correlação com 3 taquicardia antidrômica, a associação com outras arritmias, os resultados e complicações do procedimento. 4 Revisão Bibliográfica 5 2. Revisão bibliográfica 2.1. Definição A síndrome de WPW é a forma mais comum de pré-excitação ventricular,2 que é quando parte ou todo o ventrículo é ativado mais precocemente pelo átrio, do que se o impulso fosse até o ventrículo pelo sistema de condução normal A-V.4,5 Para isso, é imperativa a presença de vias acessórias que comunicam o átrio ao ventrículo.2,5,13 A figura 1 representa a participação da via anômala na pré-excitação ventricular. Para o diagnóstico de síndrome de WPW, o paciente deve apresentar intervalo PR curto, onda delta no início do QRS, além de taquicardia paroxística.3,6,21 A B Figura 1 - A participação da via anômala na pré-excitação ventricular No topo, esquematizado o registro do ECG e dos potenciais intracavitários (HRA: átrio direito, HIS: feixe de His e CS: seio coronário). Abaixo, fatores determinantes do grau de pré-excitação ventricular, representado pelos tempos de condução intra-atrial, nodal A-V, sistema His-Purkinje e via anômala. À esquerda, ECG exibindo evidente pré-excitação ventricular, pois o tempo de condução do estímulo elétrico atingir os ventrículos a partir do nodo sinusal, pelo sistema de condução normal é de 160ms (35+80+45ms), enquanto pela via anômala é de 95ms (65+30ms). À direita, ECG exibindo pré-excitação ventricular inaparente, pois os tempos de condução pelo sistema de condução normal (30+60+35) e pela via anômala são semelhantes (90+35ms): 125ms. (Reproduzido sob permissão de WELLENS, H.J.J.22) 6 2.2. Histórico Em 1876, Paladino descreveu fibras musculares conectando átrio e ventrículo.23 Em 1893, Kent relatou conexões átrio-ventriculares musculares, entretanto as descreveu como parte do sistema de condução normal do coração.24 Em 1909, 1913, 1915, 1921, 1929 e 1929, Hoffmann,25 Cohn e Fraser,25 Wilson,26 Weed,27 Bach,28 e Hamburger29 descreveram, respectivamente, pacientes portadores de ECG com complexos QRS largos, que foram considerados formas atípicas de bloqueio de ramo. Contudo, estes foram os primeiros relatos eletrocardiográficos da síndrome de pré-excitação ventricular. Em agosto de 1930, Wolff, Parkinson e White descreveram 11 pacientes jovens com alterações no ECG basal (intervalo PR curto e complexos QRS largos intermitentes), associadas à palpitação paroxística.1 Todavia, na época, essas alterações eletrocardiográficas não foram correlacionadas à condução elétrica pelas vias acessórias. Em 1932 e 1934, Holzmann e Scherf30 e Wolferth e Wood,31 respectivamente, propuseram que a via anômala poderia participar de um circuito junto com o sistema normal de condução para explicar a presença das alterações eletrocardiográficas e taquiarritmias. O termo genérico “pré-excitação ventricular” foi proposto por Ohnell em 1944.32 Posteriormente, foi identificado espessamento no início dos complexos ventriculares, denominado por Segers de onda delta.33 Em 1945, Rosenbaum dividiu a síndrome de WPW em dois tipos (A e B) considerando no ECG as derivações V1, V2 e VE (derivação esofágica).34 Em 1956, Guiraud inferiu que os tipos A e B corresponderiam às vias póstero-basais esquerdas e às vias laterais direitas, respectivamente.35 Em 1999, a North American Society of Pacing and Electrophysiology (NASPE) e a European Society of Cardiology (ESC) propuseram uma classificação das regiões de localização das vias anômalas, baseada na analogia do coração em posição anatômica,17 que é a divisão utilizada atualmente. Até a década de 60, o tratamento de pacientes com síndrome de WPW era clínico,36-38 com drogas antiarrítmicas, e seus usuários eram submetidos a efeitos colaterais e pró-arrítmicos importantes.36-38 Em 1968, Sealy e col. realizaram a primeira intervenção cirúrgica com sucesso em um portador de via anômala.39 Na 7 década de 70, a terapêutica não farmacológica através de cirurgia era o tratamento proposto para os pacientes com vias acessórias.40,41 A identificação da localização da via anômala era fundamental, e era feita pelo mapeamento epicárdico42 e/ou endocárdico,43 em estudo eletrofisiológico per-operatório. Àquela época já se sabia que a localização da via anômala influenciava o QRS.44 Todavia, foi a necessidade da identificação do local das vias acessórias antes do ato cirúrgico, que induziu a elaboração de algoritmos eletrocardiográficos com esta finalidade.45-59 Os primeiros algoritmos descritos não abordavam a região septal, devido ao alto risco de bloqueio átrio-ventricular total (BAVT),60 e separavam o anel átrio-ventricular em quatro ou cinco regiões,61 pois a lesão cirúrgica no sulco átrioventricular era maior que dois centímetros.2 No início década de 80, a ablação de arritmias por cateteres começou a ser utilizada com alta energia para produzir lesões.62-66 No final dessa mesma década, a ablação por radiofreqüência passou a ser empregada.14-16,67 A lesão resultante da ablação por radiofreqüência é de cerca de 5 a 6 mm,68 então a localização mais precisa da via anômala se fez necessária. Para tanto, foram elaborados diversos algoritmos eletrocardiográficos, que dividiam os anéis A-V em mais regiões.54-57,59 Devido à sua elevada taxa de sucesso e baixa morbi-mortalidade, a ablação por radiofreqüência é hoje o tratamento de escolha em pacientes com síndrome de WPW.3,7,18,19,69 2.3. Epidemiologia A prevalência da síndrome de WPW é de cerca de 0,1 a 3,1 por 1000 nascidos vivos,70-74 mas pode estar subestimada, devido ao fato de as alterações eletrocardiográficas poderem se apresentar de forma intermitente em alguns casos.73,75,76 Ela é mais freqüente no sexo masculino (2:1)74 e alguns autores relatam herança familial.32,77-80 2.4. Localização das vias anômalas As vias anômalas podem estar em qualquer profundidade (figura 2), desde subepicárdicas até subendocárdicas, no sulco A-V,81 que é o lugar entre o anel fibroso e as reflexões epicárdicas das paredes atriais e ventriculares,82 ou localizadas dentro do 8 próprio septo atrial.83 As inserções atrial e ventricular podem se dar na mesma região ou em regiões distintas, devido ao fato das vias acessórias poderem ter trajeto oblíquo.82 Reflexão epicárdica parede atrial seio coronário Gordura no sulco A-V artéria coronária anel mitral Vias anômalas Epicárdio parede ventricular reflexão epicárdica Figura 2 - A anatomia do sulco átrio-ventricular Desenho esquemático de um corte do coração ao nível do anel mitral, mostrando a anatomia do sulco A-V. Note a relação das vias anômalas com as demais estruturas e o seu curso em diferentes graus de profundidade (esquema modificado de Cox JL81). 9 As vias acessórias podem estar localizadas em qualquer região dos anéis AV.13,84-92 A maioria das vias está localizada no anel mitral,13,84-92 cerca de 46 a 69% estão na região lateral esquerda, 11 a 30% estão na região posteroseptal, 6,2 a 29,1% estão na região livre direita, 2% a 9% estão na região anteroseptal e 1 a 9% estão na região medioseptal.84-92 Cerca de 3,1 a 15% dos pacientes apresentam evidências de múltiplas vias acessórias. 84-86,88-90,93-101 O consenso para classificação das regiões de localização das vias anômalas, baseado na analogia do coração em posição anatômica17 desenvolvido pelo NASPE e pelo ESC, dividia os anéis A-V em quatorze regiões (entre parênteses está a nomenclatura mais usual): superoparaseptal (anteroseptal), septal (medioseptal), inferoparaseptal direita (posteroseptal direita), inferoparaseptal esquerda (posteroseptal esquerda), inferior direita (posterior direita), anteroinferior (posterolateral direita), anterior (lateral direita), superoanterior (anterolateral direita), superior direita (anterior direita), inferior esquerda (posterior esquerda), inferoposterior (posterolateral esquerda), posterior (lateral esquerda), superoposterior (anterolateral esquerda) e superior esquerda (anterior esquerda). A figura 3 exemplifica as regiões dos anéis átrio-ventriculares e suas nomenclaturas. 10 Artéria Pulmonar Aorta 15 Feixe de His 1 14 2 anel mitral 9 anel tricúspíde o 8 13 12 7 11 10 3 4 6 5 seio coronário Figura 3 – As regiões dos anéis átrio-ventriculares e as nomenclaturas Região 1 2 3 4 5 6 7 Nomenclatura NASPE/ESC (e a corrente) superoparaseptal (anteroseptal) septal (medioseptal) inferoparaseptal direita (posteroseptal direita) inferoparaseptal esquerda (posteroseptal esquerda) inferior direita (posterior direita) anteroinferior (posterolateral direita) anterior (lateral direita) Região 8 9 10 11 12 13 14 e 15 Nomenclatura NASPE/ESC (e a corrente) superoanterior (anterolateral direita) superior direita (anterior direita) inferior esquerda (posterior esquerda) inferoposterior (posterolateral esquerda) posterior (lateral esquerda) superoposterior (anterolateral esquerda) superior esquerda (anterior esquerda) (esquema modificado de Gallagher2) 11 2.5. Propriedades eletrofisiológicas A presença de arritmias em pacientes com síndrome de WPW está diretamente ligada às propriedades eletrofisiológicas das vias anômalas, em relação às propriedades do coração. 102 A pluralidade das vias acessórias tem condução bidirecional, isto é, conduz nos sentidos anterógrado e retrógrado;102 tem velocidade de condução rápida e se comporta de forma não decremental,102 embora um número pequeno de vias apresente algum grau de condução decremental.103 O período refratário da via anômala é um importante marcador de risco, pois quanto menor ele for, maior será a freqüência ventricular durante taquiarritmias atriais.3,104 Assim sendo, um período refratário menor ou igual a 270 ms é considerado de alto risco de morte súbita, devido a uma possível degeneração dessas taquiarritmias para fibrilação ventricular.3,104 O período refratário pode sofrer influência de drogas,105,106 do sistema nervoso autônomo, simpático 107 e parassimpático;108 e também parece estar relacionado à localização da via anômala e à faixa etária do indivíduo.109 Em 12 a 80% dos pacientes, com o envelhecimento pode haver perda da capacidade de condução eletrocardiográfico de WPW. anterógrada, levando ao término do padrão 110 2.6. Cardiopatias associadas Embora a síndrome de WPW possa incidir em indivíduos com cardiopatias, a maior parte dos casos é encontrada em pessoas com coração estruturalmente normal.3,74,102 A doença de Ebstein é a mais freqüente cardiopatia associada,2,43,111-113 todavia também é descrita relação com divertículos de seio coronário,114-117 de átrio direito118 e de ventrículo direito,119 comunicação interatrial,120 síndrome de QT longo congênito,121 além de prolapso de valva mitral, miocardiopatia hipertrófica, e, raramente, outras cardiopatias congênitas.43,74,112 12 2.7. Arritmias Na síndrome de WPW podem estar presentes algumas taquiarritmias, que são as taquicardias reentrantes átrio-ventriculares ortodrômica e antidrômica, a fibrilação atrial e a fibrilação ventricular.7-12,82,110,122 2.7.1. Taquicardia reentrante átrio-ventricular ortodrômica Ocorre em cerca de 70 a 90% dos pacientes sintomáticos.123 Nesse tipo de arritmia, o impulso elétrico é conduzido anterogradamente do átrio ao ventrículo, através do sistema de condução normal, e retorna ao átrio, através da condução retrógrada da via anômala.82,102,124 Extra-sístoles atriais ou ventriculares são o gatilho que inicia a taquicardia, que acontece da seguinte forma: com a presença de um batimento precoce, devido à diferença de refratariedade, ocorre um bloqueio unidirecional, o impulso elétrico encontra a via anômala refratária anterogradamente e é conduzido através do nó A-V ao ventrículo. Nesse interregno, a via anômala não mais se encontra refratária, o impulso elétrico a utiliza para subir para o átrio e esse processo se repete, perpetuando, assim, a taquicardia. 82,124 O padrão eletrocardiográfico freqüentemente exibe QRS estreito, entretanto, caso ocorra um bloqueio de ramo, o QRS pode estar alargado, além de uma onda P retrógrada após cada QRS (com distância R-P’ de cerca de 140 ms).82 A figura 4 demonstra essa taquicardia. Geralmente não há instabilidade hemodinâmica.125 13 A B C Figura 4 – Taquicardia reentrante átrio-ventricular ortodrômica A- Taquicardia ortodrômica utilizando uma via acessória. Note o QRS estreito e a onda P’ no segmento ST (setas) B- Ritmo sinusal – pré-excitação ventricular: observe o PR curto e a onda delta C- Esquema representativo do circuito da taquicardia ortodrômica. O estímulo é conduzido pelo nó A-V ao ventrículo e retorna ao átrio pela via acessória. 14 2.7.2. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica Ocorre em cerca de 5 a 15% dos pacientes sintomáticos 2,126,127 e 33 a 48% dos que manifestam este tipo de arritmia apresentam múltiplas vias anômalas.126-128 Neste modelo, o impulso elétrico é conduzido anterogradamente do átrio ao ventrículo através da via anômala e retorna ao átrio, através da condução retrógrada do sistema de condução normal ou de uma outra via anômala, na eventualidade de múltiplas vias. 82,102,124 O padrão eletrocardiográfico exibe uma taquicardia regular com QRS largo devido a pré-excitação,82 como pode ser observado na figura 5. Este tipo de arritmia é mais associado a sintomas, como pré-síncope, síncope e morte súbita.126,129 A sintomatologia pode ser explicada devido ao fato de a ativação ventricular ser muscular, o QRS é alargado e funciona hemodinamicamente como taquicardia ventricular. 15 A B C Figura 5 – Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica A. Taquicardia antidrômica. Note o QRS alargado, toda ativação ventricular ocorre pela via acessória e o padrão eletrocardiográfico lembra o de uma taquicardia ventricular B. Ritmo sinusal – pré-excitação ventricular: observe o PR curto e a onda delta C. Esquema representativo do circuito da taquicardia. O estímulo é conduzido pela via acessória ao ventrículo e retorna ao átrio pelo nó A-V 16 2.7.3. Fibrilação atrial Ocorre em cerca de 10 a 38% dos pacientes sintomáticos.86,96,97,123,130-133 A associação de fibrilação atrial com síndrome de WPW é evidente, entretanto a explicação para este fato não está inteiramente delineada.102,134-136 O átrio é estruturalmente normal130,131,137 e, com a eliminação da via anômala, comumente o mesmo acontece com esta arritmia.131,137 A fibrilação atrial acompanhando uma via anômala com baixo período refratário anterógrado (menor ou igual a 270 ms) pode degenerar para fibrilação ventricular.104,138-141 O padrão eletrocardiográfico de fibrilação atrial com síndrome de WPW ostenta uma taquicardia irregular com complexos QRS que apresentam diversos graus de préexcitação. 45,142-146 As figuras 6 e 7 representam exemplos dessa arritmia. 17 A B C Figura 6 – Fibrilação atrial em paciente portador de síndrome de WPW A. Fibrilação atrial. Note o QRS alargado, com pré-excitação variável em diferentes batimentos, a irregularidade dos intervalos “R-R” e ausência de atividade atrial identificável B. Ritmo sinusal – pré-excitação ventricular: observe o PR curto e a onda delta C. Esquema representativo do circuito de taquicardia. O estímulo é conduzido ao ventrículo pela via acessória e pelo nó A-V 18 Figura 7 – Fibrilação atrial em paciente portador de múltiplas vias anômalas Cinco derivações eletrocardiográficas simultâneas mostrando dois padrões distintos de pré-excitação ventricular durante fibrilação atrial. Observam-se também complexos de fusão resultante da condução anterógrada por ambas as vias anômalas. Ocorre reversão espontânea a ritmo sinusal (Reproduzido sob permissão de Atié, J.147) 2.7.4. Fibrilação ventricular Ocorre em cerca de 1 a 2% dos pacientes, chegando a 11% naqueles com múltiplas vias acessórias. 8,10 A fibrilação ventricular é a mais séria arritmia nos pacientes com síndrome de WPW 7-11,122 e pode se apresentar como a primeira manifestação da doença.122,148-152 2.8. Diagnóstico Para o diagnóstico de síndrome de WPW, o paciente deve apresentar padrão eletrocardiográfico de WPW acompanhado de taquicardia paroxística.6,82,110 2.8.1. Padrão eletrocardiográfico O padrão eletrocardiográfico da síndrome de WPW se traduz em intervalo PR curto e onda delta no início do QRS.33 As figuras 8 a 17 representam eletrocardiogramas de pacientes portadores da síndrome de WPW com vias acessórias localizadas em diferentes regiões do anéis A-V. O intervalo PR curto, com duração menor que 120 ms, acontece devido ao fato do impulso elétrico se propagar do átrio ao ventrículo inicialmente através da via 19 acessória e não do sistema de condução normal, resultando na onda delta, que é uma onda de inscrição lenta, devido a ativação ventricular ocorrer célula a célula.33 Portanto, se faz evidente que, dependendo do tempo que o impulso elétrico leve para chegar do nó sinusal até o nó A-V e até a via anômala, assim como o tempo que decorre para o impulso passar pelo nó A-V, pelo sistema His-Purkinje e pela via anômala até alcançar o ventrículo, pode resultar em diferentes graus de pré-excitação, ou, ainda, em uma pré-excitação inaparente,3 que tem relação com a freqüência sinusal.82 A compressão do seio carotídeo e a adenosina, por sua ação de bloqueio do nó A-V, podem levar à exacerbação ou ao aparecimento da pré-excitação.153 O ECG pode alternar entre padrão eletrocardiográfico de WPW e um padrão absolutamente normal. Isso se dá pela possibilidade de a via anômala conduzir em caráter intermitente, denotando um longo período refratário.3,82 A inserção ventricular da via anômala é o que influencia a morfologia da onda delta e do QRS.44,102,110 A identificação de diferentes modelos de pré-excitação ventricular,147,154,155 ou de “qrS” ou “qRS” na derivação V1 em ritmo sinusal, pode sugerir múltiplas vias anômalas.147 20 Figura 8 – ECG de portador de WPW por via anômala anteroseptal Registro eletrocardiográfico de 12 canais simultâneos A localização anteroseptal da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta positiva em D2, D3 e aVF e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 21 Figura 9 – ECG de portador de WPW por via medioseptal Registro eletrocardiográfico de 12 canais simultâneos A localização medioseptal da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta discordante em D2, D3 e aVF, além de transição precoce do QRS de negativo em V1 para positivo em V2 e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 22 Figura 10 – ECG de portador de WPW por via posteroseptal direita Registro eletrocardiográfico de 3 canais simultâneos A localização posteroseptal direita da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta negativa em V1 e aVF, além de transição precoce do QRS de negativo em V1 para positivo em V2 e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 23 Figura 11 – ECG de portador de WPW por via posteroseptal esquerda Registro eletrocardiográfico de 12 canais simultâneos A localização posteroseptal esquerda da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta positiva em V1 e negativa em D3 e aVF e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 24 Figura 12 – ECG de portador de WPW por via posterior direita Registro eletrocardiográfico de 12 canais simultâneos. A localização posterior direita da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta negativa em D3, aVF e V1 e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 25 Figura 13 – ECG de portador de WPW por via lateral direita Registro eletrocardiográfico de 3 canais simultâneos. A localização lateral direita da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta discordante em D2, D3 e aVF e pela ausência de transição precoce do QRS e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização. 26 Figura 14 – ECG de portador de WPW por via anterior direita Registro eletrocardiográfico de 3 canais simultâneos A localização anterior direita da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta positiva em D2, D3 e aVF e pela ausência de transição precoce do QRS e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 27 Figura 15 – ECG de portador de WPW por via posterior esquerda Registro eletrocardiográfico de 3 canais simultâneos. A localização posterior esquerda da via acessória foi sugerida pela presença de V1 positivo e onda delta positivas em D1 e aVL e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização. 28 Figura 16 – ECG de portador de WPW por via lateral esquerda Registro eletrocardiográfico de 12 canais simultâneos A localização lateral esquerda da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta negativa em D1 e aVL e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 29 Figura 17 – ECG de portador de WPW por via anterior esquerda Registro eletrocardiográfico de 3 canais simultâneos A localização anterior esquerda da via acessória foi sugerida pela presença de onda delta positiva em V1, D3 e aVF e confirmada pela ablação por radiofreqüência com sucesso nessa localização 30 2.8.2. Manifestações clínicas Cerca de 20 a 50% dos pacientes com padrão eletrocardiográfico de WPW referem sintomas na época do diagnóstico,74,125 que podem ser, além de palpitação, síncope, tonteira, desconforto torácico, dispnéia ou morte súbita.9,74,82,125,126,156 2.9. Estratificação de risco Os pacientes com padrão eletrocardiográfico de WPW devem ser estratificados levando em consideração a presença de lesão cardíaca estrutural,125 de manifestações clínicas6,102,125 e de acordo com as propriedades eletrofisiológicas das vias anômalas. A observação de cardiopatia estrutural125 ou de sintomas, sobretudo a morte súbita abortada, 6,102,125 apóia a conclusão de que esses pacientes são de alto risco. A identificação de taquicardia antidrômica,126 de múltiplas vias anômalas,10,157 de período refratário anterógrado menor ou igual a 270 ms, de fibrilação atrial com intervalo R-R menor que 250 ms,122 ou período refratário ventricular menor ou igual a 220 ms corrobora, ainda, para um maior risco.7,12 Não se pode ignorar a relevância social de pacientes, que embora não apresentem alto risco, como nos modelos supracitados, se encontram em situações de risco pessoal ou coletivo, devido às suas profissões.110,158 2.10. Tratamento O tratamento atual de pacientes portadores de vias anômalas é através de ablação por radiofreqüência,18,158 entretanto, em algumas situações, o tratamento pode ser farmacológico ou cirúrgico. Hodiernamente, o tratamento farmacológico se restringe às situações nas quais há recusa do paciente sintomático em se submeter à ablação por radiofreqüência, ou no caso de insucesso. Os medicamentos não aumentam o período refratário das vias acessórias quando ele é menor ou igual a 270 ms, por conseguinte não previnem a morte súbita.6,110 As drogas antiarrítmicas dos grupos IA, IC e III159-162 são a escolha. As drogas dos grupos II163 e IV164 e os digitálicos165 podem elevar a freqüência ventricular durante arritmias atriais, pelo fato de piorarem a condução pelo nó A-V, majorando a 31 passagem do impulso elétrico pela via anômala, e não devem ser receitados isoladamente. O tratamento cirúrgico é aconselhado para pacientes que possuem via anômala com período refratário menor ou igual a 270 ms, nos quais a ablação por radiofreqüência não obteve êxito, ou em pacientes que apresentam sintomas relevantes que não responderam ao tratamento medicamentoso e à ablação. A cirurgia exibe índice de sucesso de cerca de 92 a 100% e mortalidade inferior a 1%,40,41 todavia tem alta morbidade. Atualmente, a ablação por radiofreqüência é o tratamento de escolha.16,18,110,158,166-168 Ela demonstra taxa de sucesso maior que 90%, com mortalidade menor que 0,08% e morbidade de 1 a 2%,14-16,84,169-176 variando conforme a localização da via acessória177 e a experiência do eletrofisiologista.84,166,172,178 A localização da via anômala sugere o anel A-V que deve ser explorado, aconselhando a melhor técnica a ser utilizada na ablação por radiofreqüência.179-181 Para o anel tricúspide, é realizado um acesso venoso femoral, e o cateter alcança este anel anterogradamente. No entanto, para o anel mitral, são delineadas duas técnicas com resultados semelhantes:179-182 a anterógrada,14,84,171 na qual o cateter, via veia femoral, chega ao átrio esquerdo através do septo interatrial, quer seja por forame oval patente ou por punção transeptal, e a técnica retrógrada,15,181 na qual é realizada uma punção da artéria femoral e de forma transaórtica o cateter chega ao ventrículo esquerdo. As complicações do estudo eletrofisiológico e da ablação por radiofreqüência podem ser: perfuração com tamponamento cardíaco, bloqueio átrio-ventricular total, derrame pericárdico, pericardite, lesão valvar, embolia, trombose venosa e/ou arterial, hematoma femoral e/ou retro-peritoneal, infecção, pseudo-aneurisma ou fístula artériovenosa femoral.178 2.11. Peculiaridades das vias anômalas As vias acessórias possuem características particulares, que variam de acordo com a sua localização e pautam diferentes técnicas, índices de sucesso, complicações e recidiva. O conhecimento dessas particularidades é de fundamental importância tanto 32 antes (na avaliação do paciente e na indicação do tratamento) quanto durante a ablação por radiofreqüência. As vias acessórias medioseptais e posteroseptais causam ativação mecânica septal excêntrica e podem levar à dissincronia e a disfunção ventricular esquerda. A ablação por radiofreqüência com sucesso resulta na normalização da duração do QRS, ressincronização mecânica e melhora da função ventricular esquerda. Mesmo na ausência de arritmias, a ablação por radiofreqüência dessas vias acessórias deve ser considerada em pacientes com significativa disfunção ventricular esquerda.183 Nas vias anômalas anteroseptal e medioseptal, a presença de taquicardia antidrômica deve sempre remeter à hipótese de múltiplas vias126,176 e vale ressaltar uma associação maior com a fibrilação atrial.156 A ablação por radiofreqüência proporciona um sucesso de 80 a 100%, recorrência em torno de 15% e risco de BAVT de 1a 2%.14,15,84,85,169,172-175,184-187 As vias anômalas posteroseptais direita e esquerda podem estar relacionadas a anomalias do seio coronário185 e à doença de Ebstein,188 sendo as mais comuns em pacientes com morte súbita abortada.148 A ablação por radiofreqüência exibe um sucesso de 66 a 98%, recorrência de 12 a 15%14,15,84,85,124,169,172,173,175,186 e risco menor de BAVT.188 As vias anômalas posterior, posterolateral, anterior, anterolateral e lateral esquerdas geralmente são de fácil mapeamento,168 o que se traduz num sucesso em média de 98%, variando de 89 a 100%, com recorrência de 2 a 8%,14,15,84,169,172,173,175,186 com poucas aplicações de radiofreqüência e menos tempo de radiação.168,176 As vias anômalas posterior, posterolateral, anterior, anterolateral e lateral direitas comumente têm seu mapeamento mais difícil, sendo, às vezes, necessária a utilização de bainhas longas, de cateteres com curvas grandes189,190 ou, ainda, de cateteres na artéria coronária direita, para identificação do seu trajeto,173 culminando com muitas aplicações de radiofreqüência, mais radiação e procedimentos mais demorados.176,177 Essas vias têm pouca associação com taquicardia ortodrômica,156 há descrição de condução anterógrada decremental103,156 e podem estar relacionadas à anomalia de Ebstein.177 A ablação por radiofreqüência tem sucesso em média de 88%, variando de 67 a 100%, com recorrência de 9 a 21%.14,15,84,169,172,173,175,186 33 2.12. Localização da via anômala por métodos não-invasivos Para a localização das vias acessórias, o ECG é o meio mais usado,2,45-59 devido à facilidade de realização e a importantes informações que ele fornece, dentre elas o próprio diagnóstico da síndrome de WPW. Contudo, há outros métodos não-invasivos, como o Ecocardiograma,191 o Vetorcardiograma,45,192-195 o Magnetocardiograma,195 o Ventriculograma radioisotópico195 e o Mapeamento dos potenciais de superfície corpórea,195 que são menos utilizados com esse objetivo. 2.13. Algoritmos eletrocardiográficos Existem vários algoritmos propostos que objetivam a localização eletrocardiográfica da via acessória,2,45-59,68,196-204 os quais diferem muito entre si, quanto ao grau de complexidade, aos limites e ao número das regiões (variando de 4 a 10), às suas nomenclaturas, com critérios eletrocardiográficos e graus de pré-excitação muito variados, bem como técnicas e padrões-ouro diferentes. Seus autores relatam acerto de 86% a 93%, todavia estudos subseqüentes alcançaram índices significativamente menores.205-211 Moraes e col. realizaram um estudo comparativo de diversos algoritmos eletrocardiográficos e observaram uma acurácia geral baixa.210-212 Devido a isso, está em andamento um estudo nosso, no qual 300 eletrocardiogramas de pacientes portadores de síndrome de WPW estão sendo analisados por 3 observadores, com objetivo de validar um novo algoritmo eletrocardiográfico para localização das vias acessórias que apresente resultados mais animadores. Esses 300 pacientes são uma amostra, de um total de 1465 pacientes brasileiros portadores de vias acessórias que foram submetidos à ablação por radiofreqüência e estão sendo analisados no presente estudo. 34 Objetivos 35 3. Objetivos Objetivo primário 1. Descrever o número e a localização das vias acessórias A-V em 1465 pacientes brasileiros consecutivos submetidos à ablação por radiofreqüência e a associação com outras arritmias. Objetivos secundários 1. Delinear o sucesso, geral e por localização, e as complicações da ablação por radiofreqüência. 2. Correlacionar a apresentação clínica de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica com a presença de uma ou múltiplas vias acessórias. 36 Pacientes e Métodos 37 4. Pacientes e Métodos 4.1. Disposição geral O estudo foi retrospectivo, com 1465 pacientes consecutivos portadores de vias acessórias A-V (síndrome de WPW e/ou via acessória oculta) que foram submetidos a estudo eletrofisiológico e ablação por radiofreqüência entre 1992 e 2007, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e na Clínica São Vicente. Um consentimento informado oral e escrito foi obtido de todos os pacientes. A presente pesquisa está de acordo com os termos da Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ, n o 050/07 em 12 de abril de 2007. 4.2. Pacientes 4.2.1. Critérios de inclusão · Pacientes submetidos a estudo eletrofisiológico e ablação por radiofreqüência de vias anômalas A-V; · Todas as idades. 4.2.2. Critério de exclusão · Não aceitação do termo de consentimento. 4.3. O estudo eletrofisiológico Os pacientes foram submetidos ao estudo eletrofisiológico antes do mapeamento e da ablação por radiofreqüência das vias anômalas. A rotina demandava suspensão da medicação antiarrítmica e dieta zero de oito a doze horas antes do estudo, que foi feito sob sedação com Propofol, Alfentanil e/ou Midazolan, com supervisão de anestesiologista. Foram realizadas punções em veia femoral direita e/ou esquerda e introduzidos cateteres multipolares (Webster, Biotronik, Medtronic, Daig, EPT ou Bard), para registro e estimulação, posicionados, com subsídio de fluoroscopia, em átrio direito, 38 feixe de His, ventrículo direito e seio coronário. Na dependência da possível localização da via acessória, definia-se o número de cateteres e o posicionamento deles. Os sistemas de registro e estimulação cardíaca utilizados foram: PC-EMS/v.3, PC-EMS/v.4 ou CardioTek EPTRACER, todos de 32 canais simultâneos, que registravam derivações do ECG de superfície e eletrogramas intracardíacos. A velocidade utilizada foi de 100 ou 200mm/s. Foi realizada estimulação programada atrial e ventricular com registro através dos cateteres. O protocolo de estimulação consistia na realização de extra-estímulos atriais e ventriculares, com intervalos de acoplamento progressivamente menores (10mseg) após ciclos de 8 batimentos de 600, 500 e 430 ms, seguidos de 1, 2 e até 3 extra-estímulos, com objetivo de induzir Taquicardia Reentrante A-V, até que os períodos refratários efetivos do átrio, do nodo A-V e do ventrículo fossem alcançados. Após a indução de Taquicardia Reentrante A-V, 1, 2 e 3 extra-estímulos atriais eram introduzidos durante a taquicardia, assim como 1, 2 e 3 extra-estímulos ventriculares, para análise da modificação das taquiarritmias e da ativação atrial retrógrada. Os períodos refratários anterógrado e retrógrado da via acessória eram definidos como o maior intervalo de acoplamento no qual um bloqueio anterógrado e retrógrado na via anômala era observado, através de estimulação atrial e ventricular, respectivamente. Na identificação de ritmo de Fibrilação Atrial, eram determinados a morfologia do QRS com pré-excitação, a freqüência ventricular média e o menor intervalo R-R. Quando a taquicardia não era induzida, Isoproterenol venoso (1 a 4μg/min) ou Atropina (0,02 a 0,04mg/kg) eram utilizados para facilitar a indução das arritmias. O objetivo do estudo eletrofisiológico era definir o mecanismo da taquicardia, os períodos refratários do átrio, nodo A-V, via acessória e ventrículo, demonstrar a presença e participação das vias acessórias A-V nas arritmias, localizar as vias acessórias e identificar, se houver, outras arritmias associadas. 4.4. A ablação por radiofreqüência Posteriormente ao estudo eletrofisiológico e à localização preliminar, era realizado um mapeamento mais preciso na região sugerida com cateter de ablação, que 39 é dotado de curva defectível, com eletrodo distal de 4mm (Webster, Biotronik, Medtronic, Daig, EPT, Mansfield ou Elecath) ou 8mm (Webster, Medtronic ou EPT) ou, mais recentemente, um cateter irrigado (Webster) para, então, ser realizada a ablação por radiofreqüência. Para as vias acessórias localizadas à direita, o cateter de ablação alcançava o anel tricúspide anterogradamente, ou seja, o cateter chegava ao átrio direito através da veia femoral. Para as vias localizadas à esquerda, o anel mitral era atingido de duas maneiras: a anterógrada, na qual o cateter, via veia femoral, chegava ao átrio esquerdo através de forame oval patente ou por punção transeptal e a técnica retrógrada, na qual, de forma transaórtica, o cateter chegava ao ventrículo esquerdo por punção da artéria femoral. As vias acessórias A-V que apresentavam a capacidade de condução anterógrada foram mapeadas primariamente durante ritmo sinusal ou estimulação atrial. Por outro lado, as vias acessórias A-V ocultas foram mapeadas preferencialmente durante estimulação ventricular ou taquicardia ortodrômica, a preferência sempre era pelo mapeamento durante estimulação ventricular, pois quando a ablação é realizada durante a taquicardia, imediatamente após a lesão da via acessória, a taquicardia termina, podendo deslocar o cateter. A ablação por cateter foi realizada utilizando a energia de radiofreqüência unipolar, que era aplicada entre o eletrodo distal do cateter e um eletrodo cutâneo posicionado na região posterior do tórax. As aplicações eram inicialmente de 5 a 10 segundos, caso houvesse eliminação da via acessória concluía-se 60 segundos de aplicação, com temperatura entre 50 e 60ºC. Nos primeiros 100 pacientes, se utilizou cateteres sem controle de temperatura (Mansfield ou Elecath); a potência era definida em 10 a 15W e aumentada progressivamente, até alcançar uma baixa da impedância de 10Ω, e mantinha-se a aplicação por 60 segundos. Os geradores de radiofreqüência utilizados foram: EPT, Atakr I ou II (Medtronic), Stockert Ep Shuttle (Biosense Webster) e Radionics-3C, 3D, 3E ou 4F. Em pacientes com vias acessórias esquerdas, um bolus de 100U/kg de heparina venosa era administrado logo após a punção transeptal, ou após ultrapassar o forame oval patente, ou após a punção da artéria femoral, dependendo da técnica utilizada. 40 Após 20 min da aplicação de radiofreqüência que resultou no término da via acessória, o protocolo de estimulação elétrica era repetido, além da infusão de Adenosina ao se tratar de via anômala com condução anterógrada, objetivando ratificar o sucesso da ablação, que, se confirmado, resultava no fim do procedimento. O local da aplicação de radiofreqüência que eliminou a via acessória foi definido, com auxílio de fluoroscopia, de comum acordo pelos eletrofisiologistas presentes durante o procedimento. Devido ao risco de complicações tromboembólicas, todos os pacientes submetidos à ablação eram orientados a fazer uso de Ácido Acetilsalicílico por 15 dias após o procedimento. 4.5. Regiões dos anéis átrio-ventriculares As regiões dos anéis A-V foram padronizadas neste estudo e divididas em regiões: lateral esquerda (LE), posterior esquerda (PE), posteroseptal (PS) [esquerda (PSE) e direita (PSD)], posterior direita (PD), medioseptal (MS), anteroseptal (AS) e lateral direita (LD), que estão representadas na figura 18. AS Anel Mitral MS LD Anel Tricúspide LE PSE PSD PE PD Figura 18 – As regiões dos anéis átrio-ventriculares padronizadas Esquema representativo das regiões dos anéis átrio-ventriculares padronizadas para o presente estudo. LE: lateral esquerda, PE: posterior esquerda, PSE: posteroseptal esquerda, PSD: posteroseptal direita, PD: posterior direita, MS: medioseptal, AS: anteroseptal, LD: lateral direita 41 4.6. Desenho do estudo Foram analisados 1465 pacientes consecutivos portadores da síndrome de WPW ou taquicardia paroxística supraventricular envolvendo vias acessórias A-V ocultas, que foram submetidos a estudo eletrofisiológico e ablação por radiofreqüência entre 1992 e 2007. Os 1465 pacientes foram avaliados de acordo com o sexo, a idade que apresentavam na época da ablação, o número de vias acessórias por paciente, a localização das vias acessórias A-V, a associação com outras arritmias, o sucesso geral e por localização das vias acessórias da ablação por radiofreqüência, as complicações do procedimento e a correlação da apresentação clínica de taquicardia reentrante átrioventricular antidrômica com a presença de uma ou múltiplas vias acessórias. 42 Resultados 43 5. Resultados 5.1. Casuística Um total de 1465 pacientes preencheu os critérios de inclusão, dos quais 778 pacientes eram do sexo masculino (53,1%). A idade dos pacientes na época do procedimento variou de 3 a 89 anos, sendo que 317 apresentavam idade menor ou igual a 18 anos (21,7%), 88 eram maiores de 60 anos (6%) e a faixa etária que representou mais pacientes no momento da ablação foi a compreendida entre 19 e 29 anos (22,7%). A distribuição etária dos pacientes está representada na figura 19. 333 350 328 300 NÚMERO DE PACIENTES 257 241 250 200 158 150 100 63 60 50 23 2 0 3a 10 9 8 11 a1 19 a2 9 9 9 9 9 9 a3 a6 a8 a4 a5 a7 30 40 50 60 70 80 IDADE DOS PACIENTES Figura 19 - Distribuição etária dos pacientes na ocasião da ablação A figura representa o número de pacientes (no eixo y) distribuídos pela idade (no eixo x), demonstrando que 60 pacientes (4,1%) estão na faixa etária de 3 a 10 anos, 257 (17,6%) de 11 a 18 anos, 333 (22,7%) de 19 a 29 anos, 328 (22,4%) de 30 a 39 anos, 241 (16,4%) de 40 a 49 anos, 158 (10,8%) de 50 a 59 anos, 63 (4,3%) de 60 a 69 anos, 23 (1,6%) de 70 a 79 anos e 2 (0,1%) de 80 a 89 anos. 44 5.2. Quantidade de vias acessórias Nos 1465 pacientes estudados, foram evidenciadas 1540 vias acessórias A-V, 1399 pacientes possuíam uma única via acessória (95,5%) e 66 pacientes apresentavam múltiplas vias acessórias (4,5%), sendo que 59 pacientes (4,0%) demonstravam 2 vias acessórias, 5 pacientes (0,35%) tinham 3 vias acessórias e 2 pacientes (0,15%) foram diagnosticados como portadores de 4 vias acessórias, como está esquematizado na figura 20. ) ,5% (95 399 1 via 1 2 vias 3 vias 4 vias ) 5% 0,1 2 ( ) % ,35 0 5 ( %) (4,0 59 Figura 20 – Quantidade de vias acessórias por paciente A figura exibe o percentual de vias acessórias por paciente, representando que 1399 pacientes (95,5%) possuíam 1 via acessória, 59 (4,0%) tinham 2 vias acessórias, 5 (0,35%) apresentavam 3 vias acessórias e 2 (0,15%) mostravam 4 vias acessórias. Dos 66 pacientes com múltiplas vias acessórias, 22 pacientes tinham idade menor ou igual a 18 anos, identificando 6,9% desse pacientes (22/317), enquanto que 44 pacientes eram maiores de 18 anos no momento da ablação, correspondendo a 3,8% desse pacientes (44/1148), como está exposto na figura 21. 45 1148 1200 NÚMERO DE PACIENTES . 1000 317 800 MVA Total 600 400 Total 200 0 22 44 6,9% < 18 anos 3,8% MVA > 18 anos IDADE DOS PACIENTES Figura 21 – Número de pacientes com múltiplas vias acessórias em relação ao total de pacientes divididos pela idade (menor e maior de 18 anos) MVA: múltiplas vias acessórias, Total: número total de pacientes em cada faixa etária (menor e maior de 18 anos) 5.3. Localização das vias acessórias As 1540 vias acessórias foram localizadas nas regiões dos anéis A-V supracitadas padronizadas neste estudo e resultou na observação de que 563 vias acessórias estavam localizadas na região lateral esquerda (36,6%), 150 estavam localizadas na região posterior esquerda (9,7%), 406 estavam na região posteroseptal (26,4%), 157 estavam na região medioseptal (10,2%), 78 estavam na região anteroseptal (5,1%), 164 estavam na região lateral direita (10,6%) e 22 estavam na região posterior direita (1,4%). A distribuição das vias anômalas nas regiões estabelecidas está representada na figura 22. 46 150 vias 9.7% 563 vias 36.6% 406 vias 26.4% 22 vias 1.4% LE 164 vias 10.6% PE PS 78 vias 5.1% MS AS 157 vias 10.2% LD PD Figura 22 - Distribuição das vias anômalas nas regiões dos anéis átrio-ventriculares LE: lateral esquerda, PE: posterior esquerda, PS: posteroseptal, MS: medioseptal, AS: anteroseptal, LD: lateral direita, PD: posterior direita. 5.4. Associação com outras arritmias Foi evidenciada associação com outras arritmias em 146 pacientes (9,9%), como está representado na figura 23. A Taquicardia por Reentrada Nodal ocorreu em 30 pacientes (2,0%), sendo 18 pacientes (60%) do sexo feminino. O Flutter Atrial foi evidenciado em 13 pacientes (0,9%), com 7 pacientes masculinos (54%). A Fibrilação Atrial foi documentada em 91 pacientes (6,2%), dos quais 52 pacientes (57%) eram do sexo masculino. Doze pacientes (0,8%) apresentaram morte súbita abortada com ritmo de Fibrilação Ventricular, que foi documentado previamente ao estudo eletrofisiológico e à ablação, sendo que 2 d esses pacientes ficaram com seqüelas neurológicas. No estudo eletrofisiológico, foi induzida Fibrilação Atrial em todos os pacientes, os períodos refratários anterógrados das vias anômalas eram menores ou iguais a 270 ms, durante a Fibrilação Atrial podiam ser evidenciados intervalos R-R menores que 250 ms, e os 47 períodos refratários ventriculares eram menores que 220 ms em todos os pacientes. Em 4 pacientes foram evidenciadas múltiplas vias acessórias e 2 pacientes apresentaram taquicardia antidrômica. 6.2% 91 90.1% 1319 146 9.9% 12 0.8% 30 13 2.0% 0.9% sem outras arritmias TRN Fl. A FA FV Figura 23 – Arritmias associadas à taquicardia por reentrada átrio-ventricular A figura representa as outras arritmias associadas, que são a taquicardia por reentrada nodal (TRN), o Flutter Atrial (Fl. A), a Fibrilação Atrial (FA) e a Fibrilação Ventricular (FV). 5.5. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica A taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica foi evidenciada em 21 pacientes (1,4%). Nos pacientes em que se identificou esta arritmia, 9 deles apresentavam um única via acessória, resultando em 0,6% dos pacientes com uma via acessória. Contudo, ao se observar os pacientes com múltiplas vias acessórias, foi encontrada essa arritmia em 12 pacientes, correspondendo a 18,2% dos pacientes com múltiplas vias acessórias (figura 24). 48 100% 9 (0,6%) 12 (18,2%) 90% 80% Com Taquicardia Antidrômica 70% percentual 60% 50% Sem Taquicardia Antidrômica 1390 54 40% 30% 20% 10% 0% 1 via MVA Quantidade de vias acessórias Figura 24 – Prevalência de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica nos pacientes com uma ou múltiplas vias acessórias 1 via: uma via acessória, MVA: múltiplas vias acessórias 5.6. Sucesso da ablação por radiofreqüência Dos 1465 pacientes que foram submetidos à ablação por radiofreqüência, 1328 obtiveram êxito com um procedimento, resultando num sucesso global de 90,6%. Em 137 pacientes não foi alcançado sucesso na ablação (9,4%), como está ilustrado na tabela 1. Tabela 1 – Índice de sucesso global dos pacientes submetidos à ablação por radiofreqüência SUCESSO INSUCESSO TOTAL PACIENTES 1328 137 1465 PERCENTUAL 90,6% 9,4% 100% 49 De 1540 vias acessórias identificadas, obteve-se sucesso geral com um procedimento de ablação em 1399 vias acessórias (90,8%) e insucesso em 141 vias (9,2%), o que está representado na figura 2. Tabela 2 – Índice de sucesso global da ablação por radiofreqüência em relação às vias acessórias VIAS ACESSÓRIAS PERCENTUAL SUCESSO INSUCESSO TOTAL 1399 141 1540 90,8% 9,2% 100% O sucesso específico da ablação por radiofreqüência variou de acordo com a localização das vias acessórias. As vias acessórias localizadas na região lateral esquerda exibiram 94,3% (531/563) de sucesso, as vias localizadas na região posterior esquerda corresponderam a 92% (138/150), as vias na região posteroseptal a 88,2% (358/406), as vias na região medioseptal a 93,6% (147/157), as vias na região anteroseptal a 76,9% (60/78), as vias na região lateral direita a 89% (146/164) e as vias na região posterior direita obtiveram 86,4% (19/22), o que pode ser visualizado na tabela 3. Em 37 pacientes, de um total de 1328 pacientes submetidos à ablação por radiofreqüência com sucesso, foi evidenciada recidiva (2,8%), que foi considerada quando ocorria retorno da pré-excitação ao ECG ou o paciente apresentava sintomas sugestivos de taquicardia. O acompanhamento foi de cerca de um ano. 50 Tabela 3 – Sucesso e insucesso da ablação por radiofreqüência de acordo com a localização das vias acessórias átrio-ventriculares VIAS ACESSÓRIAS LOCALIZAÇÃO SUCESSO INSUCESSO TOTAL LE 531 32 563 PE 138 12 150 PS 358 48 406 MS 147 10 157 AS 60 18 78 LD 146 18 164 PD 19 3 22 Total 1399 141 1540 LE: lateral esquerda, PE: posterior esquerda, PS: posteroseptal, MS: medioseptal, AS: anteroseptal, LD: lateral direita, PD: posterior direita 5.7. Complicações da ablação por radiofreqüência Complicações ocorreram em 13 pacientes (0,89%), como pode ser visualizado na figura 25. BAVT incidiu em 4 pacientes (0,27%); tamponamento cardíaco (que foi drenado) aconteceu em 2 pacientes (0,13%); lesão terciária de cordoalha tendínea da valva mitral, que evoluiu com insuficiência mitral leve que se manteve igual em 6 anos de acompanhamento ocorreu em 1 paciente (0,07%); além disso, houve 1 paciente (0,07%) que apresentou dissociação eletro-mecânica, que não reverteu com as manobras habituais de reanimação, sendo realizada punção pericárdica que não evidenciou tamponamento, foi feita toracotomia na sala de exames visando à massagem cardíaca interna e ao ser aberto o pericárdio, houve mínima drenagem de sangue e reversão do quadro com sucesso e sem seqüelas. Complicações na região femoral aconteceram em 5 pacientes (0,33%). Trombose venosa profunda femoral ocorreu em 2 pacientes (0,13%), um dos quais apresentou também embolia pulmonar 51 (0,07%); trombose arterial femoral aconteceu em 2 pacientes (0,13%): um deles recebeu tratamento cirúrgico (trombose aguda) e o outro recebeu tratamento clínico com recanalização (trombose tardia); fístula artério-venosa femoral incidiu em 1 paciente (0,07%) com resolução cirúrgica. Todas as complicações foram tratadas e resultaram num epílogo não fatal. 4 (0.27%) 2 (0.13%) 1452 (99.11%) 1 (0.07%) 13 (0.89%) 1 (0.07%) 2 (0.13%) 1 (0.07%) 2 (0.13%) 1 (0.07%) Sem complicações IM TEP BAVT Dissociação eletro-mecânica Trombose Arterial Tamponamento TVP FAV Figura 25 – Complicações da ablação por radiofreqüência BAVT: bloqueio átrio-ventricular total, IM: insuficiência mitral, TVP: trombose venosa profunda, TEP: tromboembolia pulmonar, FAV: fístula artério-venosa. 52 Discussão 53 6. Discussão Embora diversos estudos tenham sido publicados ressaltando dados clínicos e eletrofisiológicos de pacientes portadores de vias acessórias, a sua maioria é proveniente de ensaios estrangeiros. Assim sendo, o presente estudo se propôs a analisar as características clínicas e eletrofisiológicas de 1465 pacientes brasileiros portadores de síndrome de WPW e vias acessórias ocultas, ressaltando suas idiossincrasias. 6.1. Quantidade de vias acessórias Em relação ao número de vias acessórias por paciente, nos 1465 pacientes estudados foram encontradas 1540 vias acessórias A-V. Uma única via acessória foi identificada em 1399 pacientes (95,5%) e múltiplas vias acessórias foram localizadas em 66 pacientes (4,5%). Em um estudo mexicano, Iturralde e col. analisaram 1010 pacientes portadores de vias acessórias A-V e documentaram a presença de múltiplas vias acessórias em 31 pacientes (3,1%);96 na Índia, Purushotham e col. estudaram 434 pacientes com vias acessórias A-V, dos quais 18 (4,1%) tinham múltiplas vias acessórias;99 em um ensaio israelense, Belhassen e col. analisaram 508 pacientes com vias acessórias A-V e observaram que 23 pacientes (4,5%) apresentavam múltiplas vias acessórias;88 na Holanda, Atié e col. estudaram 345 pacientes com vias acessórias e identificaram 18 pacientes (5,2%) com múltiplas vias acessórias;95 na Alemanha, Schluter e col. avaliaram 1076 pacientes com vias acessórias A-V, dos quais 58 (5,4%) eram portadores de múltiplas vias acessórias;98 em um estudo de Michigan, Calkins e col. observaram 250 pacientes com vias acessórias A-V e constataram em 15 (6%) múltiplas vias;84 em Taiwan, Chen e col. observaram que em 931 pacientes com vias acessórias, 75 (8,1%) tinham múltiplas vias;176 no Canadá, Thakur e col. estudaram 200 pacientes com vias acessórias A-V, dos quais 20 (10%) tinham múltiplas vias;85 no Japão, Iesaka e col. notaram que em 250 pacientes portadores de síndrome de WPW, 29 (11,6%) tinham múltiplas vias acessórias.97 Ao comparar a percentagem de pacientes portadores de múltiplas vias acessórias obtido no presente estudo com 54 resultados encontrados em estudos de diversas nacionalidades, pode se observar que o resultado encontrado neste estudo se assemelha ao previamente descrito. Dos 66 pacientes portadores de múltiplas vias acessórias, no ato da ablação 22 pacientes eram menores de 18 anos, revelando 6,9% de um total de 317 crianças enquanto que 44 pacientes eram maiores de 18 anos, traduzindo 3,8% de um total de 1148 pacientes adultos, o que revela uma prevalência relativa maior de múltiplas vias acessórias em pacientes que foram submetidos à ablação com idade menor ou igual a 18 anos. Resultado semelhante foi evidenciado em um estudo de Taiwan, no qual Lee e col. estudaram 142 crianças e 1219 adultos e observaram 5% de crianças com múltiplas vias acessórias em relação a 1% de adultos.213 Em um estudo americano, Weng e col. analisaram 317 crianças e demonstraram que 28 (9%) tinham múltiplas vias acessórias.100 Tal diferença suscita questionamento, remetendo à hipótese de que portadores de múltiplas vias acessórias podem exibir uma sintomatologia mais exacerbada, o que culminaria na ablação mais precoce desses pacientes. 6.2. Localização das vias acessórias A localização das vias acessórias nas regiões dos anéis A-V que se evidenciou nesse estudo foi a seguinte: 563 vias acessórias estavam localizadas na região lateral esquerda (36,6%); 150 estavam na região posterior esquerda (9,7%); 406 estavam na região posteroseptal (26,4%); 157 estavam na região medioseptal (10,2%); 78 estavam na região anteroseptal (5,1%); 164 estavam na região lateral direita (10,6%) e 22 estavam na região posterior direita (1,4%). A maioria dos estudos que aborda a localização das vias acessórias engloba as regiões posteriores esquerda e direita com as regiões laterais esquerda e direita, respectivamente. Se tal exemplo for seguido neste trabalho, a região lateral esquerda passaria a exibir um total de 46,3% vias acessórias e a região lateral direita apresentaria 12%. Ao se confrontar o resultado observado no presente estudo com trabalhos provenientes de várias nacionalidades (Estados Unidos da América,14,84 Canadá,85 Bélgica,90 Alemanha, 91 Japão,92 Coréia,86 Israel88 e Singapura89), se torna límpido que há concordância no percentual de vias acessórias dispostas nas diferentes localizações, à exceção da região medioseptal, que representa 10,2% das vias acessórias, resultado um pouco superior ao relatado nos trabalhos 55 supracitados, que é de 1 a 9%. A região lateral esquerda exibe 46,3% das vias acessórias, estando dentro do descrito, que varia de 46 a 69%; a região posteroseptal representa 26,4%, ficando compreendida entre o relatado de 11 e 30%; a região anteroseptal tem 5,1% e o referido são 2 a 9%; a região lateral direita possui 12%, ficando entre 6,2 e 29,1%. A diferença encontrada na região medioseptal pode se dever ao fato que neste estudo foram analisados 1540 vias acessórias, enquanto que os estudos identificados na literatura descrevem de 100 a 534 vias acessórias. 6.3. Arritmias associadas Foi evidenciada associação com outras arritmias em 146 pacientes (9,9%), a Taquicardia por Reentrada Nodal ocorreu em 30 pacientes (2,0%), o Flutter Atrial foi evidenciado em 13 pacientes (0,9%), a Fibrilação Atrial foi documentada em 91 pacientes (6,2%) e a Fibrilação Ventricular em 12 pacientes (0,8%). Em relação à Taquicardia por Reentrada Nodal em pacientes portadores de vias acessórias, em três estudos, um indiano, um americano e um coreano, Purushotham e col. identificaram essa arritmia em 3,2% dos pacientes (14/434),99 Weng e col. observaram em 0,94% dos pacientes (3/317)100 e Jang e col. em 0,75% dos pacientes (3/400),86 respectivamente. Resultado similar foi identificado no presente estudo, que observou essa arritmia em 2,0% dos pacientes (30/1465). Ao se tratar de Fibrilação e Flutter Atrial em portadores de vias acessórias, em um trabalho americano, Calkins e col. induziram Fibrilação Atrial em 26 (10%) de 250 pacientes;84 em um ensaio mexicano, Iturralde e col. identificaram 111 pacientes (11%) que apresentaram Fibrilação Atrial num total de 1010 pacientes;96 em um estudo francês, Brembilla-Perrot e col. selecionaram 459 pacientes e constataram que a Fibrilação Atrial incidiu em 93 (20%);133 em um estudo japonês com 80 pacientes, Yamabe e col. identificaram 21 pacientes (26%) com documentação clínica de Fibrilação Atrial com rápida resposta ventricular;132 em outro estudo japonês, Iesaka e col. observaram que em 250 pacientes, 70 (28%) tinham documentação clínica de Fibrilação Atrial e em 44 (17%) essa arritmia foi induzida durante estudo eletrofisiológico;97 em um trabalho de Taiwan, Chen e col. observaram que Fibrilação e Flutter Atrial ocorreu em 250 (27%) dos 931 pacientes176 e em um ensaio coreano, Jang e col. documentaram clinicamente 56 Fibrilação Atrial em 115 (29%) e foi induzida essa arritmia no estudo eletrofisiológico em 107 pacientes (27%) de 368 pacientes.86 Ao confrontarmos esses resultados com o encontrado no p resente estudo, podemos observar uma incidência menor de Fibrilação e Flutter Atrial neste estudo do que a encontrada em outros trabalhos. Essa diferença pode ser devido à dificuldade de acesso ao atendimento médico no nosso País, podendo subestimar a documentação clínica dessas arritmias, e também ao fato de o nosso protocolo de estudo eletrofisiológico não visar especificamente à indução de Fibrilação ou Flutter Atrial nos pacientes portadores de vias acessórias, como ocorre em alguns laboratórios. A Fibrilação Ventricular é uma manifestação conhecida, embora rara, da síndrome de WPW e, segundo Zipes e Wellens, pode ser a primeira manifestação da doença em até 10% dos pacientes.122 Pappone e col. publicaram, neste ano de 2008, um artigo discutindo a indicação de ablação por radiofreqüência em pacientes assintomáticos portadores de síndrome de WPW, considerando que a morte súbita pode ser a primeira apresentação da doença, e defendendo que “se tornou inaceitável que ao menos um indivíduo assintomático com WPW morra ou experimente eventos arrítmicos que ameacem a vida” e sugerindo que as recomendações para assintomáticos com essa síndrome, que atualmente são conservadoras, sejam revistas, atualizadas e modificadas. 214 Na Holanda, Montoya e col. reportaram 23 pacientes com síndrome de WPW que apresentaram Fibrilação Ventricular, nos quais essa arritmia foi a primeira manifestação em 6 pacientes; esses dados são provenientes de um estudo retrospectivo multicêntrico em 7 centros europeus;157 em um outro trabalho holandês, Timmermans e col. analisaram 690 pacientes com síndrome de WPW e documentaram que 15 pacientes (2,2%) apresentaram morte súbita abortada devido a Fibrilação Ventricular, que ocorreu fora do ambiente hospitalar, e, em 8 desses pacientes (1,2% do total), essa arritmia foi a primeira manifestação da doença148 e em um terceiro estudo holandês, Atié e col. analisaram 345 pacientes com síndrome de WPW e observaram que 9 pacientes (2,6%) apresentaram Fibrilação Ventricular.95 Ante o exposto, podemos observar uma diferença do resultado encontrado no presente estudo, que observou que 12 pacientes (0,8%) apresentaram morte súbita abortada devido a Fibrilação Ventricular que aconteceu fora do hospital, em relação ao estudo de Timmermans148 e de Atié,95 isso 57 pode ter ocorrido devido à precariedade do sistema de saúde brasileiro, possivelmente minorando os casos de morte súbita que poderiam ser abortados, além do fato de que no presente estudo foram analisados conjuntamente pacientes com síndrome de WPW e pacientes com vias acessórias ocultas, estas últimas, por definição, não têm capacidade de condução anterógrada e, portanto, não têm possibilidade de degeneração de Fibrilação Atrial para Fibrilação Ventricular por condução rápida anterógrada pela via acessória, resultando em um percentual menor de pacientes com Fibrilação Ventricular, do que se somente tivessem sido considerados os pacient es com síndrome de WPW, como ocorreu nos outros estudos acima mencionados. 6.4. Taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica A taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica foi evidenciada neste estudo em 1,4% dos pacientes (21/1465). Alguns estudos avaliaram a presença dessa arritmia em portadores de vias acessórias, Calkins e col.84 observaram essa arritmia em 0,8% dos pacientes (2/250); Iturralde e col.96 em 3,2% (32/1010); Chen e col.176 em 3,9% (36/931); Jang e col.86 em 5,7% (23/400) e na Holanda, Atié e col.126 em 10,4% (36/345). Ao se analisar a presença de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica nos pacientes com múltiplas vias acessórias, em relação aos portadores de uma via acessória, o resultado encontrado no presente estudo foi de 18,2% e 0,6%, respectivamente. Chen e col.176 observaram a presença dessa arritmia em 13% dos portadores de múltiplas vias acessórias e em 3% dos portadores de uma via acessória; Iturralde e col.96 documentaram 39% versus 2%; Jang e col.86 notaram 45,8% versus 6,1% e Atié e col.126 identificaram que 33% dos pacientes que apresentaram essa arritmia tinham múltiplas vias acessórias. Ao se observar o resultado obtido no nosso estudo, pode-se notar que existe uma concordância com o previamente descrito na literatura, no sentido de que a taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica ocorre mais freqüentemente em pacientes com múltiplas vias acessórias que em pacientes com uma via acessória. 58 6.5. Sucesso da ablação por radiofreqüência O sucesso global da ablação por radiofreqüência das vias acessórias obtido neste estudo foi de 90,8%, resultado este que está compreendido nos resultados de diversos estudos que relatam o sucesso em diferentes séries de pacientes portadores de vias acessórias, que referem resultados que variam de 99 a 83%. De fato, Iesaka e col. encontraram 99% de sucesso em 125 pacientes;92 Chen e col. 98,1% em 931 pacientes;176 Jackman e col. 98% em 166 pacientes;14 Purushotham e col. 97% em 425 pacientes;99 Belhassen e col. 93,1% em 508 pacientes;88 Chabrak e col. 91,6% em 173 pacientes;215 Fenelon e col. 88,8% em 179 pacientes;90 Calkins e col. 87% em 250 pacientes84 e Thakur e col. 83% em 200 pacientes.85 No presente estudo, o sucesso é o resultado de um único procedimento e, em alguns dos estudos previamente mencionados, somente é informado o resultado final, às vezes obtido com mais de um procedimento de ablação. O sucesso específico da ablação foi variável, dependendo da localização das vias acessórias. Para as vias acessórias localizadas nas regiões lateral esquerda, lateral direita e posteroseptal, a ablação exibiu um sucesso de 94,3%, 89% e 88,2%, respectivamente, ficando, portanto, compreendida na faixa de sucesso para cada região ao se comparar com 2 estudos, um americano de Calkins e col.84 e um canadense de Thakur e col.,85 que relatam sucesso de 89 a 94,4%, 78 a 97,8% e 66 a 93,1%, respectivamente. Por outro lado, para as vias acessórias localizadas nas regiões medioseptal e anteroseptal, a ablação representou um sucesso de 93,6% e 76,9%, respectivamente. Entretanto, ao se comparar esses resultados obtidos com os dos estudos supracitados, pode-se observar que os dados encontrados divergem do previamente descrito, que sugere 100% de sucesso na região medioseptal e 80 a 100% de sucesso na região anteroseptal. Tais diferenças parecem poder ser atribuídas à grande discrepância do número de pacientes do presente estudo, 1465 pacientes, em relação aos estudos citados, com 250 e 200 pacientes, respectivamente. 6.6. Complicações da ablação por radiofreqüência Treze pacientes, de um total de 1465, apresentaram complicações decorrentes do estudo eletrofisiológico e da ablação por radiofreqüência traduzindo em 0,89% dos 59 pacientes. Ao se comparar esse resultado obtido com o descrito previamente de 1,5%, 1,8%, 2,3%, 2,79%, 3,5%, 3,5% e 4% por Chen e col.,176 Jackman e col.,14 Chabrak e col.,215 Fenelon e col.,90 Thakur e col.,85 Belhassen e col.88 e Calkins e col.,84 respectivamente, podemos observar que o número de complicações no presente estudo foi inferior ao anteriormente relatado. BAVT incidiu em 0,27% dos pacientes neste trabalho e Jackman e col.,14 Calkins e col.84 e Fenelon e col.,90 identificaram essa complicação em 0,6%, 1,2% e 1,67%, respectivamente; tamponamento cardíaco ocorreu em 0,13% dos pacientes neste estudo, enquanto que Jackman e col.14 e Purushotham e col.,99 evidenciaram essa complicação em 0,6% e 0,69%, respectivamente; dissociação eletro-mecânica ocorreu em 0,07% dos pacientes e insuficiência mitral aconteceu em 0,07% dos pacientes, outros estudos, utilizando a radiofreqüência para ablação de vias acessórias, não reportaram essas complicações,14,84,85,90 que são extremamente incomuns e complicações na região femoral aconteceram em 0,33% dos pacientes, enquanto que Thakur e col.85 e Calkins e col.84 observaram essas complicações em 0,5% e 0,8%, respectivamente. A mortalidade relatada desse procedimento é de até 0,08%,16,84,166,169-178 contudo, no presente estudo as complicações foram tratadas, e a taxa de mortalidade foi nula. Um resultado menor de complicações ocorridas no presente estudo, em relação aos estudos supracitados, talvez possa ser explicado devido à diferença no que tange o número de pacientes estudados, que nesse estudo foi de 1465 pacientes, enquanto que nos outros estudos foi de 166 a 931. 60 Conclusões 61 7. Conclusões As seguintes conclusões podem ser obtidas ao se analisar os resultados do presente estudo: 1. Foram evidenciadas 1540 vias acessórias em 1465 pacientes estudados, dentre os quais 66 pacientes (4,5%) demonstraram múltiplas vias acessórias. 2. A localização das vias acessórias foi: lateral esquerda: 563 (36,6%), posterior esquerda: 150 (9,7%), posteroseptal: 406 (26,4%), medioseptal: 157 (10,2%), anteroseptal: 78 (5,1%), lateral direita: 164 (10,6%) e posterior direita: 22 (1,4%). 3. A associação com outras arritmias ocorreu em 146 pacientes (9,9%), sendo que 12 pacientes (0,8%) apresentaram documentação de Fibrilação Ventricular. 4. O sucesso da ablação por radiofreqüência foi de 90,8% (1399/1540) das vias acessórias e variou na dependência da localização das vias anômalas, de 94,3% na região lateral esquerda a 76,9% na região anteroseptal. 5. As complicações incidiram em 13 pacientes (0,89%) e foram tratadas sem resultar em nenhum óbito. 6. A presença de taquicardia reentrante átrio-ventricular antidrômica foi mais freqüente em pacientes portadores de múltiplas vias acessórias (18,2%) do que em portadores de uma via acessória (0,6%). 62 Limitações e Recomendações 63 8. Limitações e recomendações As seguintes limitações podem ser apontadas no presente estudo: § Nas vias acessórias em que não se obteve sucesso, é licito o questionamento no sentido de que embora eletrofisiologicamente o local pareça adequado, há possibilidade de não ser, e a via acessória seria erroneamente classificada. § Todas as avaliações foram realizadas na totalidade dos pacientes, não diferenciando os portadores de síndrome de WPW dos portadores de via anômala oculta. 64 Referências Bibliográficas 65 Referências bibliográficas 1. Wolff P, Parkinson J, White PD. Bundle branch block with short P-R interval in healthy young people prone to paroxysmal tachycardia. Am Heart J 1930;5:685-90. 2. Gallagher JJ, Pritchett ELC, Sealy WC, Kasell J, Wallace AG. The pre-excitation syndromes. Proc Cardiovasc Dis 1978;20:285-326. 3. Josephson ME. Clinical Cardiac Electrophysiology. 3rd ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2002. 4. Bandiera G, Antognetti PF. 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O emprego do Estudo Eletrofisiológico possibilitou que o tratamento das arritmias cardíacas deixasse de ser empírico, tornando-o mais adequado e racional. Pelo fato de definir precisamente o tipo e o mecanismo de uma arritmia, ele possibilita a utilização de técnicas específicas para a sua cura. Em pacientes com taquiarritmias supraventriculares, o processo é curativo em torno de 95% dos casos, oferecendo ao paciente uma mudança radical de sua qualidade de vida. Por outro lado, em pacientes com arritmias ventriculares malignas, como a taquicardia ventricular sustentada, o Estudo Eletrofisiológico oferece definição diagnóstica e orientação terapêutica adequada para utilização de medicamentos antiarrítmicos, implante de Desfibrilador ou mesmo a Ablação por Radiofreqüência. A racionalização terapêutica, nesses casos, possibilita a redução significativa das internações hospitalares e aumenta importantemente a quantidade e qualidade de vida. A Ablação por cateter, utilizando a Radiofreqüência, foi introduzida no Brasil no início de 1992. Desde então, vários centros médicos nacionais têm obtido os mesmos elevados índices de eficácia registrados nos grandes serviços do exterior. Esse método terapêutico substituiu procedimentos cirúrgicos anteriormente empregados para tratamento de arritmias, mantendo o alto índice de sucesso, com menor morbidade e retorno do paciente às suas atividades habituais 48h após o procedimento, na maioria dos casos. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO O exame é realizado em sala especial de Eletrofisiologia ou Hemodinâmica, por uma equipe composta de médicos, enfermeiros e técnicos especializados. É necessário jejum de pelo menos 8h. O paciente é sedado com acompanhamento de médico anestesiologista e, em casos especiais, é realizada anestesia geral. Após a sedação é realizada anestesia local, em região inguinal, e punção venosa (femoral direita e/ou esquerda). Em casos específicos, é feita punção de artéria femoral. São então posicionados cateteres nas cavidades cardíacas direitas e/ou esquerdas, através de visualização fluoroscópica (Raios X), para mapeamento e estimulação cardíaca programada. A estimulação cardíaca programada, parte do Estudo Eletrofisiológico, visa a reproduzir as arritmias clínicas que o paciente apresenta, assim como as arritmias que o paciente eventualmente poderá apresentar. Após a localização da área arritmogênica, pelo mapeamento durante o Estudo Eletrofisiológico, é realizada a Ablação por Radiofreqüência dessa área. Esse procedimento consiste em cauterizar a área, através de um cateter especial, posicionado da mesma forma já descrita. O tratamento da arritmia pode necessitar de uma ou múltiplas aplicações de 85 Radiofreqüência. O tempo médio do procedimento é de 2 horas, podendo variar de 1 a 4 horas. Excepcionalmente, é necessário tempo superior a 4 horas. Os resultados apresentados na experiência mundial, em concordância com a experiência da equipe médica que atua neste Hospital, mostram que os procedimentos são seguros e de baixíssimo risco. As complicações que podem ocorrer são: dor e hematoma no local da punção, complicações venosas e arteriais, bloqueio átrio-ventricular com necessidade e implante de Marcapasso Definitivo, lesão cardíaca com tamponamento, eventual cirurgia cardíaca de urgência, endocardite e complicações decorrentes da técnica anestésica. Há casos de morte decorrentes desse procedimento, descritos na literatura, porém sua incidência é extremamente rara. Alguns procedimentos necessitam de aplicações de radiofreqüência no átrio esquerdo. Nesses casos, é necessária uma punção da parede que separa os dois átrios (punção transeptal) e intensa anticoagulação durante o procedimento. Os casos que necessitam dessa abordagem têm maior chance de apresentar tamponamento cardíaco (derrame ao redor do coração), necessitando de drenagem e, mais raramente, correção cirúrgica. Outra complicação possível é a embolia para o cérebro, que pode acarretar quadros neurológicos graves. Existem alguns casos raros descritos, após a ablação de fibrilação atrial, de uma fístula átrio-esofágica, que vem a ser uma complicação grave de perfuração entre o esôfago e o coração. Todavia, o índice de complicações, de uma forma geral, está entre 0.5 e 1% dos casos. O percentual de sucesso imediato varia entre 70 a 99%, dependendo da arritmia encontrada e da presença de doença cardíaca estrutural. Existe a possibilidade de recorrência em até 5% dos casos. O tempo médio de internação hospitalar é de 24h, porém, em raros casos, há necessidade de permanência maior. Em virtude do uso de Raios X, o procedimento não pode ser realizado em gestantes. A equipe médica é composta pelo Dr. Jacob Atié, Dr. Eduardo Andréa, Dr. Washington Maciel, Dr. Nilson Araújo, Dr. Hecio Carvalho, Dr. Luis Gustavo Belo, Dr. Leonardo Siqueira, Dr. Cláudio Munhoz, Dr. Rodrigo Cosenza, Dra. Fabiana Mitidieri, Dra. Iara Atié, Dra. Márcia Bevilaqua, Dra. Márcia Cunha, Dra. Elizabeth Penna Firme e Dra. Simone Leite. Declaro que li e entendi as informações de como se realiza o procedimento, suas vantagens e complicações. Tive a oportunidade de fazer perguntas e esclarecer todas as dúvidas, portanto, autorizo a realização do procedimento proposto (estudo eletrofisiológico e ablação por radiofreqüência). Rio de Janeiro, ___ de _____________ de 2008. _____________________________________ Assinatura Nome do paciente: ______________________________________________________ Nome do responsável: ___________________________________________________ Médico responsável: ____________________________________________________
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