Capítulo 15
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Capítulo 15
Capítulo 15 O acordo com os investidores: valoração, estrutura e negociação 1 2 Estudo de Caso Lightwave Technology, Inc.1 Perguntas de preparação 1. Como preparação de uma IPO, os cofundadores deveriam ter mais uma rodada de financiamento ponte? Por quê? 2. Como você estruturaria e analisaria esta rodada, e por quê? 3. O que Kinson e Weiss deveriam fazer para que sua empresa crescesse? 4. Como a empresa deveria avaliar e decidir sobre a busca de uma IPO desta vez? Como foi o planejamento e a administração desse processo? O sucesso dos diodos emissores de luz (LEDs) está em sua longevidade (os LEDs duram dez vezes mais que as lâmpadas incandescentes), eficiência de energia, durabilidade, baixos custos de manutenção e tamanho compacto. A substituição das lâmpadas convencionais pelas de LED, só nos Estados Unidos, trará benefícios energéticos de até $ 100 bilhões no ano de 2025, economizando 120 gigawatts por ano. LightEmitting Diodes 2002; cúpula estratégica para iluminação de LEDs No verão de 2003, os empreendedores experientes George Kinson e Dr. Schyler Weiss estavam avaliando mais uma vez se buscavam uma oferta pública inicial (IPO) para sua jovem e dinâmica empresa de iluminação, a Lightwave Technology. A primeira vez eles que consideraram tal saída foi em 2001, exatamente antes do estouro da bolha da internet. Nos meses posteriores à dramática reviravolta no mercado de capitais, os sócios foram forçados a implementar um plano de reestruturação para reorga- nizar suas operações. Além de uma amortização dolorosa, a retração econômica subsequente contrariou os esforços da empresa em tomar vantagem de sua posição de liderança neste mercado em desenvolvimento. Apesar disso, sua recuperação foi bem-sucedida — em grande parte devido às capacidades únicas e exclusivas da Lightwave. Em apenas alguns anos, a empresa voltou a tomar o rumo certo. Devido ao fato de o mercado de IPO em 2003 ainda estar muito tranquilo e ninguém arriscar supor quando ele se recuperaria, Kinson teve que imaginar se seria melhor continuar como uma empresa privada até que tivesse atingido números melhores, bem como dominância em um número de segmentos chave do mercado de iluminação. Por outro lado, uma IPO bem-sucedida forneceria capital e notoriedade no setor que poderia ter um impacto significativo na sua capacidade de fazê-lo. Produtos tradicionais de iluminação A lâmpada foi uma das mais importantes invenções do final do século XIX. Ela revolucionou a maneira com que as pessoas viviam, trabalhavam e realizavam seus negócios. Várias melhorias para a invenção original de Thomas Edison, incluindo os filamentos dúcteis de tungstênio e tubos fluorescentes, tinham modificado o setor de iluminação, mas o padrão de lâmpadas de rosca ainda era o foco. O mercado de iluminação foi dividido em dois segmentos: lâmpadas (os bulbos e tubos) e as instalações (os plásticos, metais e as armações de vidro para a lâmpada). Em 2001, o setor de iluminação Este estudo de caso é parte integrante do livro Criação de novos negócios, de DORNELAS, J. C. A; TIMMONS, J.; SPINELLI, S. Está autorizada a sua utilização e distribuição desde que citada a fonte: <www.elsevier.com.br/josedornelas>. 1 Capítulo 15 O acordo com os investidores: valoração, estrutura e negociação representou um mercado de $ 79 bilhões: $ 17 bilhões em lâmpadas e $ 62 bilhões em instalações.2 Mais de 1/3 deste mercado envolvia iluminação interna, com lâmpadas, e a iluminação externa era o segundo maior segmento. Em 2001, os Estados Unidos representaram 26% do mercado mundial. O setor de iluminação foi dominado por um pequeno grupo de multinacionais já estabelecidas. Os principais participantes da iluminação comercial eram a General Electric Lighting, a Philips Lighting e OSRAM Sylvania Inc., que juntas controlavam 90% ou mais do mercado de lâmpadas dos Estados Unidos e forneciam 60% das lâmpadas do mercado mundial.3 Cada um dos grandes produtores tinha uma ampla gama de produtos de uso residencial e comercial e estava envolvido no setor de pesquisa e desenvolvimento dos novos produtos, modificando a tradicional tecnologia de iluminação já existente. Iluminação de estado sólido Os diodos de emissão de luz (LEDs) — pequenos semicondutores encerrados em material epóxi que emi- 3 tem luz quando carregados eletricamente — estão no mercado desde a década de 1960. Pela variação de estrutura do semicondutor, ou banda proibida, o nível de energia do LED mudou para produzir uma luz colorida, normalmente vermelha ou verde (veja a Figura 1). As primeiras aplicações práticas de iluminação desses LEDs eram relógios digitais e indicadores de aparelhos como vídeocassetes, microondas e aparelhos de som. Como uma iluminação de estado sólido (SSL), os LEDs demonstraram eficiências teóricas quânticas (isto é, volume de luz gerada por unidade de entrada elétrica) de 60% a 70%. O legado das lâmpadas incandescentes e fluorescentes tinha estancado entre 5% e 20%, respectivamente.4 O saldo da eletricidade usado pelas lâmpadas típicas era convertido em calor, que limitava sua vida útil pela degradação dos elementos ativos da fonte de luz. As eficiências da energia SSL eram especialmente agudas no que diz respeito à iluminação colorida. Ao contrário dos acessórios tradicionais em que a luz passa por um filtro colorido, a SSL gerava cores diretamente da emissão em si. Os filtros coloridos poderiam sobrecarregar o resultado luminoso das lâmpadas padrão em no máximo 70% ou 80%. FIGURA 1 – Como um LED emite luz colorida LUZ COLORIDA ETAPA 3: À medida que a carga continua, a luz é emitida. A cor da luz é produto do comprimento de onda da luz, que é determinado pelo gap de energia. ETAPA 2: Os elétrons fluem para uma “região p” do semicondutor e se combinam com cargas positivas. SEMICONDUTOR 1 2 p 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 n 2 2 1 FONTE DE ENERGIA ELÉTRICA 2 ETAPA 1: Uma fonte de energia elétrica conectada a um semicondutor (LED) libera elétrons que fluem através do semicondutor. Freedonia Group, Inc. (<www.freedoniagroup.com>). P. Thurk, “Solid State Lighting: The Case for Reinventing the Light Bulb”, no cumprimento dos requisitos do Programa Kauffman Fellows, jul. 2002, p. 7. 4 P. Thurk, “Solid State Lighting: The Case for Reinventing the Light Bulb,” artigo em cumprimento dos requisitos do Programa Kauffman Fellows, jul. 2002, pp. 4-5. 2 3 4 Criação de Novos Negócios A radiação ultravioleta (UV) das luzes comuns poderia danificar ou descolorir muitos produtos e materiais e mostraram causar doenças dermatológicas e oftalmológicas em humanos. Os LEDs usados para iluminação emitiram todas as luzes na parte visível do espectro de cor e por isso praticamente não produziram radiação UV. Em vez de queimar, como as lâmpadas incandescentes, a SSL se esvai com o tempo. Esse atributo — juntamente com vida útil mais longa, formatos flexíveis, baixa emissão de UV e intenso contraste de cor — começou a estimular o design criativo em uma série de empresas varejistas, arquitetônicas e industriais. Por exemplo, o pouco aquecimento, menor tempo para ligar e os pequenos tamanhos da SSL atraíram fabricantes de automóveis, que utilizavam a tecnologia para freios, faróis e luzes do console. Ideias disruptivas George Kinson e Dr. Schyler Weiss se conheceram enquanto frequentavam a Universidade Carnegie Mellon, no começo da década de 1990. Kinson — franco e confiante — era um engenheiro pesquisador no Centro de Robótica de Campo da universidade e cursava Administração Industrial. Como aluno da faculdade, em 1993, ele conseguiu duas graduações em engenharia elétrica e da computação e em belas artes. Weiss era a metade mais reservada da dupla. Ele tirou o diploma de graduação, de mestrado e Ph.D em engenharia elétrica e da computação, na Carnegie Mellon. Sua tese de Ph.D envolvia circuitos elétricos digitais de baixo consumo de energia. No começo da década de 1990, Weiss e Kinson fizeram muitas experiências com LEDs como uma forma de passatempo — foi o suficiente para concluir que essa tecnologia era o futuro da iluminação. Especificamente, eles anteciparam o advento de um LED azul — cor que eles sabiam que seria digitalmente “misturada” com os matizes de vermelho e verde existentes para criar um espectro completo de cores. Em 1994, a dupla divergiu. Kinson havia ajudado a fundar o que se tornaria um bem-sucedido portal de títulos on-line e Weiss aberto a Weiz Solutions, desenvolvedor de um pacote de software de aquisição de dados de espectrometria. Apesar de suas buscas distintas, quando um grupo japonês anunciou, em 1996, que havia criado o cobiçado LED azul, Kinson se lembrou que ele e o amigo estavam mais do que prontos para o próximo passo: Sempre imaginamos que o desenvolvimento de um diodo emissor de luz azul modificaria a maneira com que as pessoas usavam os LEDs. Então aconteceu que aquele diodo criado tinha um LED azul muito brilhante e isto trouxe uma grande mudança muito rapidamente. Percebemos que esta nova tecnologia de alta intensidade era perfeita para iluminação e tínhamos feito pesquisas suficientes sobre este setor chato, antigo e complacente para saber o quão morosa seria a reação para qualquer tipo de tecnologia perturbadora.5 Eles ofereciam uma mercadoria — latão, vidro e gás — e não uma tecnologia. Embora percebêssemos que tínhamos uma grande oportunidade, queríamos nos mexer rapidamente. Os engenheiros começaram a trabalhar imediatamente para desenvolver uma paleta digital para “misturar” as primárias. No processo, eles se tornaram pioneiros em um novo setor industrial: tecnologias de iluminação semicondutoras inteligentes. Na primavera de 1997, Kinson largou seu emprego na empresa de informações on-line e, com a ajuda de Weiss, começou a desenvolver o modelo de negócio, criando um plano de negócios e aperfeiçoando seu protótipo inicial para o que seria seu novo empreendimento. Lightwave Technology, Inc. Durante o verão de 1997, Kinson usou as economias e cartões de crédito para financiar o desenvolvimento inicial da empresa. Depois acumular $ 44.000 em dívidas no cartão de crédito e ver suas economias se reduzirem a $ 16, ele constituiu a Lightwave no verão de 1997 e deu entrada no processo de patente de seu misturador de cores. Ao unir os LEDs vermelho, verde e azul a um microprocessador que controlava a combinação e a intensidade dessas cores, a luz poderia, com um dispositivo muito pequeno, expandir largamente as capacidades de produção de cor da iluminação convencional. Na verdade, cada fio de LEDs ligado a um microprocessador poderia gerar até 24 bits de cor (16,7 milhões de cores) e inúmeros efeitos dramáticos, como desbota- Tecnologia disruptiva foi uma ideia desenvolvida por Clayton Christensen da Faculdade de Administração de Harvard. Nesse livro, The Innovator’s dilema, Christensen definiu a tecnologia disruptiva como uma inovação que interrompeu as trajetórias do desempenho e resultou no fracasso das empresas líderes do setor. 5 Capítulo 15 O acordo com os investidores: valoração, estrutura e negociação mento e efeito estroboscópico. Eles usaram o primeiro protótipo bem-sucedido para garantir mais financiamento e construir outros protótipos adicionais. Acreditando que sua empresa cresceria em torno das demandas e da imaginação de uma variedade de clientes em setores que variavam da arquitetura ao entretenimento, eles decidiram dar um passo ousado para demonstrar suas novas capacidades em um dos principais fóruns de iluminação do mundo. Afirmação A Exposição Internacional de Iluminação, em Las Vegas, era onde muitas empresas de iluminação estreavam seus novos produtos. A pequena equipe da Lightwave abriu um estande e imediatamente se tornou o assunto da feira — tanto por seus produtos inovadores e coloridos quanto por suas personalidades joviais e presunçosas. Kinson disse que a feira era uma afirmação de que eles tinham descoberto um meio de reinventar o mercado de iluminação: Schyler e eu, acompanhados de quatro alunos do MIT Sloan School, fomos para esta feira de negócios com duas mochilas cheias de protótipos. Pela primeira vez iríamos mostrá-los em público e aí ganharíamos o Prêmio de Iluminação Arquitetônica do ano — premiação máxima do setor. Essa é uma excelente confirmação de um setor em que a tecnologia de iluminação por semicondutores inteligentes era uma oportunidade significativa. Como os empreendedores suspeitavam, as novas capacidades de iluminação da Lightwave tinham apelo imediato — especialmente no mercado do varejo. O resultado e a adaptabilidade de coloração tinham extensas aplicações, já que o minúsculo sistema microprocessador Lightwave poderia substituir as configurações da iluminação existente, que muitas vezes precisava de inúmeros bulbos de filtro colorido, bem como grandes controles mecânicos. Além da variedade expandida da cor e da estética, a tecnologia da Lightwave tinha benefícios funcionais sobre a tecnologia de iluminação convencional. Menos dispersão de calor e ausência de emissões UV geradas pelos 5 LEDs significavam que a SSL poderia ser usada em muitas aplicações onde as luzes convencionais não seriam empregadas, como vitrines e próximas a roupas e artesanato. Como os produtos Lightwave poderiam ser criados para complementar as tecnologias existentes, eles seriam usados junto com os produtos de iluminação convencional. A equipe também visualizou benefícios significativos do ponto de vista econômico e ambiental a partir da expansão das tecnologias de LED. Enquanto os produtos de iluminação colorida convencionais tinham uma vida útil média de centenas ou milhares de horas, a vida da fonte dos LEDs era estimada em aproximadamente 100.000 horas (o equivalente a 24 horas por dia por mais de 11 anos). A SSL tinha potencial para produzir economia significativa de energia, uma vez que a iluminação é um grande consumidor de energia (aproximadamente 20% do orçamento de $ 1 trilhão gasto anualmente em eletricidade6). Acreditava-se que para a iluminação branca tradicional de residências, hospitais, empresas e afins, os ganhos de se trocar para SSL levaria a uma economia global anual de mais de $ 100 bilhões nos gastos com energia, e à redução nas emissões de carbono de 200 milhões de toneladas. Além disso, os ganhos aliviariam a necessidade de um orçamento de $ 50 bilhões na construção de uma nova usina elétrica.7 A eficiência da tecnologia também estava atraindo vários usuários institucionais. A Califórnia, por exemplo, já havia começado a oferecer subsídios de até 50% do preço de compra para os municípios que convertessem os sinais de trânsito para alternativas SSL. O estado também estava oferecendo pacotes de subsídios que chegariam a totalizar até 100% do preço de compra para empresas que trocassem o letreiro de neon por SSL. Embora o segmento SSL fosse uma pequena parte do mercado total de iluminação, todo o segmento de LED teve um aumento de 11% se comparado aos sete anos anteriores para quase $ 2,3 bilhões em 1999. Iluminação de letreiros — que inclui a hospedagem de aplicações tais como vitrines externas coloridas, sinais de rodovias e de trânsito — contribuíram para um aumento no setor de LED de 23%, ou aproximadamente $ 530 milhões. Mais especificamente, o mercado de iluminação de vitrines externas de LED colorido cresceu quase 78% ao ano em 1995, para quase $ 150 milhões em 1999. Bergh, Craford, Duggal, e Haitz, “The Promisse and Challenge of Solid-State Lighting,” Physics Today, dez. 2001, pp. 42-47. Tsao, Nelson, Haitz, Kish (Hewlett-Packard), “The Case for a National Research Program on Semiconductor Lightin,” apresentado no fórum de 1999 da Optoelectronics Industry Development Association em Washington DC, 6 out. 1999. 6 7 6 Criação de Novos Negócios GRÁFICO 2 – Lei de Haitz: aumento da saída de luz do LED/redução do custo 100,000 20 × aumento/década 1,000 100 10 +35% CAGR 10 × diminuição/década -20% CAGR 1 Custo/lúmen ($/lúmen) Saída de luz / pacote (lúmens) 10,000 0.1 0.01 0.001 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Fluxo vermelho Vermelho $/lúmen Branco $/ lúmen Exposição (fluxo vermelho) 2000 2005 2010 2015 2020 Fluxo branco (projetado) Exposição (vermelho $/lúmen) Fonte: Roland Haitz & Lumileds. Aplicativos de vitrine em equipamentos de comunicação eram o segundo maior setor, com 22% do mercado, seguidos de perto pelas telas de computador e equipamentos de escritório com 21%. O restante do mercado estava dividido entre os aplicativos do consumidor com 15%, visores automotivos e iluminação com 11%, e instrumentação industrial com 8%.8 Deste total, LEDs de alto brilho — cruciais para o setor iluminação — tinham um tamanho de mercado de $ 680 milhões em 1999 (um crescimento de quase 500% de 1995, quando este era de $ 120 milhões). O referido número foi projetado para continuar a crescer até quase $ 1,75 bilhão em 2004.9 Apesar de todas as provas e progressos em pesquisa e desenvolvimento que estavam sendo feitos na virada do século, especialistas do setor de iluminação demoraram muito a abraçar o uso dos LEDs com fins profissionais. Kinson explicou que enquanto ainda havia dificuldades para superar, ele tinha certeza de que avanços na tecnologia SSL forçariam as empresas de iluminação a redefinir a forma com a qual faziam negócios: 8 9 Tal como outras tecnologias perturbadoras, os LEDs estão alcançando o mercado de surpresa e por isso são frequentemente desacreditados devido às métricas tradicionais que se aplicam ao velho mercado, no nosso caso, intensidade de iluminação e preço. Mas o que é fascinante é que enquanto a tradicional tecnologia “latão, gás e vidro” não apresenta crescimento intenso, a Lei de Haitz (veja o Gráfico 2) demonstra que os LEDs aumentam absurdamente em intensidade e longevidade enquanto os custos de produção se reduzem rapidamente. Obviamente, o preço baixo e o brilho ainda não se fazem presentes para o mercado de luz branca, mas isso ainda virá. Portanto, todos que trabalham com iluminação, ou que a usam em suas empresas, precisam observar o que está acontecendo. Se não fizerem a mudança, serão passados para trás. Pioneirismo Após o sucesso na convenção de iluminação, Kinson encerrou um financiamento em torno de $ 842.347 de Strategies Unlimited, Previsão e revisão de mercado de LED, fev. 2000. Ibid. Capítulo 15 O acordo com os investidores: valoração, estrutura e negociação investidores anjos. Porém, não foi uma tarefa fácil. Para encerrar a rodada, Kinson falou com mais de 150 futuros investidores e ligou 35 vezes para o diretor de um fabricante de itens de iluminação líder de mercado antes de obter uma resposta. Kinson observou que “é preciso ter persistência e não aceitar um ‘não’ como resposta; continue a sorrir e a telefonar. Levantar recursos é uma arte”. Os sócios alugaram um espaço em frente ao apartamento de Kinson. Tendo a autossuficiência como norteador de seus passos, Kinson construiu o primeiro servidor da empresa em um computador usando a plataforma Linux. O servidor de e-mail, o site, o domínio e a rede do escritório eram todos rodados em um computador de mesa com conexão discada. Em janeiro de 1998, eles contrataram o primeiro funcionário, Daniel Murdock, como vice-presidente de finanças. Como pioneiros na tecnologia SSL de total espectro têm intenção de obter considerável liderança nos participantes estabelecidos no setor, a Lightwave patenteou de maneira agressiva sua tecnologia e aplicações. Os sócios acreditavam que sua revolucionária tecnologia e forte carteira de propriedade intelectual tinham um mercado amplo e oportunidades de licenciamento em grande número de mercados (veja o Quadro 3). Kinson comentou este aspecto de sua missão: Uma de nossas estratégias primárias era dar entrada em toda propriedade intelectual que pudéssemos, porque percebemos que este seria um imenso mercado no futuro. Nós planejamos ter uma reserva de patentes para proteger nossos interesses no mercado e algumas delas serão aplicáveis no desenvolvimento do segmento de luz branca. O cabedal de propriedade intelectual será provavelmente a característica mais forte de nossa empresa. A Lightwave mandou seu primeiro pedido em setembro de 1998. A empresa teve uma grande onda de 7 crescimento nos dois anos seguintes, e se mudou para um escritório maior no centro de Boston, aumentando o número de funcionários para mais de 75. Eles continuaram a desenvolver novos produtos e aplicações para diversos mercados a um ritmo frenético. Em maio de 2000, a empresa abriu um escritório de vendas europeu em Londres, Inglaterra e em dezembro do mesmo ano estabeleceu uma joint venture com um distribuidor japonês em Tóquio. Os parceiros do canal de vendas do empreendimento incluem distribuidores dos produtos de iluminação e representantes dos fabricantes, bem como os fabricantes dos equipamentos originais (OEMs). Os esforços de marketing envolveram atualizações dos analistas do setor, conferências da área, feiras comerciais, promoções na internet, artigos, mala direta eletrônica, propaganda impressa e reuniões. O departamento de marketing também forneceu uma série de solicitações dos clientes, precificação e análise de posicionamento para oferta de novos produtos e dos já existentes. Além disso, eles produziram extenso material para distribuição para potenciais clientes, incluindo materiais de apresentação, perfis de clientes, catálogos dos produtos, cronogramas, guia do usuário, relatórios técnicos resumidos (white papers) e comunicados à imprensa. Determinada a se manter flexível e enxuta, a empresa terceirizava toda sua produção e não tinha planos para desenvolver uma capacidade de produção no futuro. A equipe criou contratos de fornecimento com inúmeros fabricantes de LED, o que lhe permitiu adquirir LEDs a um preço acessível e pequenos prazos de execução. Os produtos finais e os sistemas de controle foram produzidos por empresas nos Estados Unidos e na China, sendo que esta fornecia maior quantidade de itens a um preço mais baixo. Kinson nunca parou de levantar capital de investimento para financiar esses esforços e no começo de 2001 a Lightwave tinha garantido mais de $ 31 milhões em quatro rodadas de financiamento de negócios.10 QUADRO 3 – Mercados alvo (retirado do Memorando de Venda da Lightwave) Os mercados para os nossos sistemas de iluminação incluem os mercados tradicionais para iluminação com troca de cor tais como cinemas e outros locais de entretenimento. No entanto, existem muitas aplicações para esta tecnologia nos inúmeros mercados adicionais. Nossos sistemas de iluminação foram instalados em milhares de locais para usuários finais no mundo todo, em aplicações tais como as seguintes: Arquitetura comercial e cívica Nossos sistemas de iluminação são usados para diferenciar e acentuar os elementos arquitetônicos em uma ampla variedade de escritórios corporativos, espaços públicos, pontes, monumentos, fontes, instalações do governo, igrejas, escolas, universidades e hospitais. Série A — $ 842.347 por 1.020.285 ações; série B — $ 4.354.994 por 3.956.208 ações; série C — $ 13.020.880 por 3.355.897 ações; e série D — $ 12.944.178 por 2.725.377 ações. 10 8 Criação de Novos Negócios Hospitalidade Hotéis, cassinos, navios de cruzeiro, restaurantes, bares e boates adicionam elementos de entretenimento para suas propriedades para atrair e reter clientes. A iluminação dinâmica é uma ferramenta eficaz porque muitos dos negócios deste setor ganham a vida à noite. Merchandising e varejo Os varejistas que disputam a atenção do cliente agregam o entretenimento como experiência de compras pelo uso da iluminação dinâmica em todo o design da loja, em programas de propaganda visual e nas vitrines. Entretenimento, eventos e produção teatral Teatros, salas de concerto, parques de diversão, ambientes temáticos e produtores performances ao vivo e eventos, fazem uso maciço de iluminação teatral dramática e adoram a dinâmica aprimorada que a iluminação agrega ao desenho do set, iluminação de palco e vitrines temáticas. Produção de TV Programas de televisão em estúdio, programas de jogos e de entrevistas usam iluminação dinâmica para dar mais empolgação, glamour e identidade ao palco e iluminação de preenchimento. Sinalização eletrônica e identidade corporativa Designers e fabricantes de sinalização e pontos de compra usam iluminação dinâmica em projetos com vitrines com iluminação superior e traseira, sinais de vidro, sinais interiores ou exteriores e letreiros. Arquitetura residencial Iluminação especial e direcional são usadas em projetos residenciais para aplicações tais como abóbadas, gabinetes, sob balcões, cenários e home theaters. Exposições, vitrines e museus Iluminação dinâmica é usada em estandes de feiras comerciais e em vitrines de museus para destacar determinadas áreas ou dar impacto e entretenimento ao que é mostrado. Seu sucesso não tinha passado despercebido no setor. Os principais personagens do setor de iluminação tinham claramente começado a reavaliar as possibilidades da tecnologia de LED. Desde 1999, vários empreendimentos foram criados entre grandes empresas tradicionais de iluminação e jovens empresas de tecnologia avançada de LED. A Philips Lighting se uniu com a Agilent Technologies para formar uma empresa de iluminação sólida chamada LumiLeds. De maneira análoga, a GE Lighting criou a GELcore com a empresa de semicondutores EMCORE e a OSRAM estava trabalhando com LEDs em uma subsidiária da Siemens na Alemanha. Além disso, os pesquisadores da Agilent e da Sandia National Laboratories em Albuquerque, Novo México, faziam pressão no governo federal para a obtenção de $ 500 milhões em um programa nacional de pesquisas de 10 anos sobre iluminação de semicondutores. Kinson e sua equipe sentiram que dentro dessas táticas competitivas dos participantes multinacionais, uma IPO seria sua melhor estratégia. Eles pensaram e perceberam que abrir o capital melhoraria sua exposição internacional e traria uma significativa base de capital para apoiar a rápida adoção de seus produtos em uma ampla gama de setores industriais. Certos de que era o momento mais propício, eles planejaram a oferta pública para o verão de 2001. Recuo Mesmo antes dos ataques terroristas de setembro de 2001, já era dolorosamente evidente que os mercados de capitais estavam se abrandando. O grande boom da Internet tinha terminado e a Lightwave, como muitas outras empresas, teve que adiar indefinidamente suas aspirações para uma IPO. Nos meses seguintes ao 11 de setembro, a empresa lutava contra as drásticas quedas nos pedidos e uma falta de interesse — por conta da recessão — dos clientes em potencial na busca por projetos novos e criativos. A empresa foi forçada a demitir 11 funcionários e a abandonar uma grande parte de arrendamento operacional não cancelável em suas novas instalações em Boston. Capítulo 15 O acordo com os investidores: valoração, estrutura e negociação Apesar do débito de reestruturação de aproximadamente $ 3,9 milhões naquele ano e das esperanças frustradas para a oferta pública, a Lightwave continuou a fazer progressos em seus principais mercados de arquitetura e entretenimento. No verão de 2003, a empresa já tinha se estabilizado e parecia que a Lightwave conseguiria o ponto de equilíbrio do fluxo de caixa no ano vindouro (veja as Tabelas 4 a 6). TABELA 4 – Demonstração de resultados Projeções internas da empresa 2000 2001 2002 2003 2004 47.040.012 Receitas Sistemas de iluminação 15.080.547 18.037.552 26.197.034 34.435.012 OEM e licenciamento 1.485.653 2.128.806 2.651.466 5.714.988 5.714.988 Receitas totais 16.566.200 20.166.358 28.848.500 40.150.000 52.755.000 Sistemas de iluminação 10.556.540 11.224.786 13.285.688 16.777.212 23.012.000 OEM e licenciamento 1.013.804 1.448.029 1.489.807 3.072.788 3.138.000 Custos totais de receita 11.570.344 12.672.815 14.775.495 19.850.000 26.150.000 4.995.856 7.493.543 14.073.005 20.300.000 26.605.000 Vendas e marketing 9.345.322 7.847.764 7.615.145 8.515.000 11.191.000 Pesquisa e desenvolvimento 2.810.842 2.826.032 2.465.599 3.510.000 3.510.000 Administrativo e geral 3.706.739 4.494.364 4.607.946 6.750.000 6.750.000 Reestruturação 3.887.865 Custos de receita Lucro bruto Despesas operacionais Despesas operacionais totais Rendimento Operacional (perda) Juros de rendimento (despesa), líquido Patrimônio nos ganhos da joint venture (Japão) Lucro líquido (perda) 161.413 19.750.768 15.168.160 14.850.103 18.775.000 21.451.000 (14.754.912) (7.674.617) (777.098) 1.525.000 5.154.000 48.283 124.922 46.782 518.000 680.000 24.415 85.232 3.350 300.000 395.000 (14.682.214) (7.464.463) (726.966) 2.343.000 6.229.000 TABELA 5 – Demonstrativo de fluxo de caixa 2000 2001 2002 (14.682.214) (7.464.463) (726.966) Depreciação e amortização 863.874 828.083 873.138 Remuneração baseada no estoque 150.000 Fluxo de caixa das atividades operacionais Perda líquida Ajustes para conciliar a perda líquida para caixa das atividades operacionais: Cancelamento das melhorias de arrendamento relativas à reestruturação Patrimônio nos ganhos da joint venture (Japão) 76.449 592.200 (24.415) (85.232) (3.350) 329.027 443.049 (899.192) Mudanças nos ativos circulantes e responsabilidades Contas a receber Estoque (1.588.379) 2.834.707 (1.502.304) Despesas pré-pagas e outros ativos circulantes (44.526) (62.983) (113.144) Fundos cativos 480.848 (612.017) 676.436 Contas a pagar (675.949) (475.901) (41.502) Gastos acumulados 1.158.172 (757.473) 465.226 86.728 91.582 180.832 Receita diferida 9 10 Criação de Novos Negócios Reestruturação acumulada Fluxo de caixa das atividades operacionais 1.956.152 (111.145) (385.491) (11.398.482) (5.371.793) (1.399.868) Fluxo de caixa das atividades de investimento Investimento em joint venture (Japão) (165.260) Aquisição de propriedades e equipamentos (1.085.427) (467.181) (519.197) Fluxo de caixa das atividades de investimento (1.250.687) (467.181) (519.197) (359.958) (1.669.999) (100.000) 13.055 Fluxo de caixa das atividades de financiamento Pagamentos de acordo com notas promissórias a pagar dos equipamentos e linha de crédito Empréstimos sobre linha de crédito Receita do exercício das opções de estoque 1.650.000 11.345 20.940 17.095.382 6.883.266 18.396.769 5.234.207 (86.945) 5.747.600 (604.767) (2.002.291) Caixa e equivalente: começo do ano 2.545.908 8.293.508 7.688.741 Caixa e equivalente: fim do ano 8.293.508 7.688.741 5.686.450 Receitas da emissão resgatáveis preferivelmente conversíveis; livre de custos de emissão Fluxo de caixa das atividades de financiamento Efeito das mudanças na taxa de câmbio no capital Aumento (diminuição) no caixa e equivalentes 3.719 TABELA 6 – Balanços patrimoniais Ativo 2001 2002 5.686.450 Ativo corrente Caixa e equivalente 7.688.741 Fundos cativos 1.055.748 479.312 Contas a receber 3.450.919 4.284.529 (469.000) (270.000) Provisão para devedores duvidosos Contas a receber das partes relacionadas 163.217 29.799 3.522.002 5.024.306 315.304 428.448 15.726.931 15.662.844 1.334.784 1.503.046 Móveis e utensílios 640.105 624.899 Ferramentas 541.899 873.961 Melhorias na propriedade arrendada 996.882 996.882 (2.094.333) (2.933.392) 1.419.337 1.065.396 285.082 288.432 Estoque Despesas pré-pagas e outros ativos circulantes Ativo corrente total Propriedades e equipamentos: em custos Computadores Menos: depreciação e acúmulo amortizado Propriedades e equipamentos: líquido Investimento em joint venture Caixa restrito: porção de longo prazo 1.200.000 1.100.000 Ativo total 18.631.350 18.116.672 Passivo e patrimônio do acionistas (deficiência) Passivo corrente Porção atual da promissória dos equipamentos Contas a pagar 100.000 1.546.392 Contas a pagar à parte relacionada 1.483.324 21.566 Gastos acumulados 911.956 811.970 Remuneração acumulada 760.567 1.471.202 Reestruturação acumulada 434.135 425.692 Capítulo 15 O acordo com os investidores: valoração, estrutura e negociação Garantia acumulada 549.014 403.591 Receita diferida 205.831 386.663 4.507.895 5.004.008 Passivo corrente total: Reestruturação acumulada 1.410.872 1.033.824 Ação preferencial conversível resgatável 41.115.602 41.115.602 2.781 2.804 Capital integralizado adicional 214.869 304.350 Outra receita abrangente acumulada 10.177 13.896 Déficit acumulado (28.630.846) (29.357.812) Patrimônio total dos acionistas (deficiência) (28.403.019) (29.036.762) 18.631.350 18.116.672 11 Patrimônio dos acionistas (deficiência) Ação comum $ 0,001 por valor; autorizado 34.000.000 ações; emitidas e pendentes 2.781.419 e 2.804.325 ações em 2001 e 2002, respectivamente (12.130.979 ações pro forma) Passivo e patrimônio dos acionistas Tempo crucial Com a recessão aparentemente perdendo o ritmo, a atmosfera na Lightwave Technology estava impregnada de possibilidades. Como pioneiros de uma tecnologia evidentemente disruptiva, Kinson, Weiss e sua equipe estavam em posição de influenciar o curso de todo o setor de iluminação no próximo século. A questão era como posicionar melhor a sua empresa para o próximo empurrão. Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg sob supervisão do Professor Jeffry A. Timmons. © Copyright Jeffry A. Timmons, 2005. Todos os direitos reservados.