Relatório da SMU - Sec.Urbanismo - Câmara
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Relatório da SMU - Sec.Urbanismo - Câmara
Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.1 FICHA TÉCNICA Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro César Maia Secretaria Municipal de Urbanismo Augusto Ivan Pinheiro de Freitas Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Alice Amaral dos Reis Gerência de Macroplanejamento Cláudia Muricy Luis Fernando Valverde Salandía Carlos Alberto Krykhtine Maria Paula Albernaz Wanderson Correa André Pelech Pedro Rodrigo Rolim Mônica Bahia Schlee Maria Elizabeth Castro Colaboração Especial Assessoria da Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Marlene Ettrich Núcleo de Informações Urbanísticas Eugênia Vitória Camera Loureiro Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa, Desenvolvimento e Revitalização do Patrimônio e da Memoria Histórico Cultural da Cidade do Rio de Janeiro André Luis Meuser Zambelli Colaboração Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos - IPP Secretaria Municipal do Habitat - SMH Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMAC Secretaria Municipal de Transportes - SMTR Rio Águas / Secretaria Municipal de Obras - SMO p. 2 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano APRESENTAÇÃO A Lei Complementar nº. 16, de 04/06/ 1992, instituiu o Plano Diretor Decenal da Cidade como instrumento básico da política urbana do Município do Rio de Janeiro, estabelecendo normas e procedimentos para a realização desta política, fixando diretrizes, prevendo instrumentos e definindo políticas setoriais, a fim de alcançar o pleno atendimento das funções sociais da Cidade. Na revisão do Plano Diretor Decenal de 1992 buscou-se não romper com pressupostos, princípios e diretrizes que continuam válidos. Ao contrário, a proposta foi de reforçar o conteúdo, com foco na complementação do que havia sido previsto para uma fase posterior, em atualizar o que já havia sofrido alteração no periodo de 15 anos que separam as duas iniciativas, e em cumprir as exigências do Estatuto da Cidade. Apesar de prevista a sua revisão em um prazo de dez anos, conforme suas determinações, o Plano Diretor Decenal de 1992 não sofreu a citada revisão neste período. Em julho de 2001, foi aprovada a Lei Federal nº. 10.257, denominada Estatuto da Cidade, que entrou em vigor no mês de outubro do mesmo ano. Com o fim de regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, lançou as bases gerais para orientar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. No Capítulo III do Estatuto da Cidade, o artigo 40 obriga a revisão do Plano Diretor a cada dez anos. Em atendimento à Lei Federal, o Executivo Municipal do Rio de Janeiro encaminhou à Câmara o Projeto de Lei Complementar nº. 25/2001, que revê o Plano Diretor Decenal adaptando-o às novas determinações do Estatuto da Cidade. Este documento sofreu alterações, até que em outubro de 2006 foi encaminhada uma versão final do Projeto de Lei sob a forma de Substitutivo nº. 3. O presente relatório técnico apresenta os estudos elaborados à época da revisão do Plano Diretor e suas conclusões, assim como as novas propostas resultantes deste processo. O seu conteúdo foi atualizado em 2008 de forma a contribuir para a discussão do Projeto de Lei de revisão do Plano Diretor em tramitação na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A proposta de revisão do Plano Diretor elaborada em 2006 tem como referência o conteúdo do Plano Diretor de 1992 em vigor. Os planos diretores produzidos no Brasil pós Constituição de 1988 sinalizaram para a incorporação de instrumentos de planejamento municipal - tributários e financeiros - jurídicos e políticos1, cuja efetiva aplicação, no entanto, esbarrou na ausência de um marco legal de âmbito federal que os regulamentasse. Com a existência do Estatuto da Cidade, torna-se possível definir as bases para aplicação dos instrumentos de política urbana. Para tanto, o relatório, após um prefácio que localiza o Plano Diretor na história da gestão urbana da Cidade, se divide em três partes: a primeira relata o processo de revisão do Plano em vigor desde as primeiras iniciativas de avaliação do mesmo; a segunda parte traz uma leitura técnica da Cidade do Rio de Janeiro, a partir da qual foi possível elaborar propostas de revisão do Plano de 1992; e a terceira parte descreve o documento proposto e encaminhado à Câmara Municipal sob a forma de Projeto de Lei nº. 25/ substitutivo nº. 3. Os Planos preconizados pela Constituição de 1988, buscaram construir cidades mais igualitárias no acesso aos direitos do cidadão, e integrar a política urbana às demais políticas setoriais. Este foi o caso do Rio de Janeiro, cujo Plano Diretor de 1992 serviu de modelo para diversas cidades. Porém na maior parte das vezes os planos tiveram dificuldades de institucionalizar a articulação intersetorial e garantir um sistema permanente e contínuo de planejamento. Na revisão do Plano Diretor efetuada em 2006, a tentativa é justamente de preencher as lacunas deixadas pelo documento legal de 1992. 1 Categorização consagrada no art. 4º da Lei Federal 10.257/ 2001 – Estatuto da Cidade, que já vinha sendo usada pelos planos diretores elaborados depois de 1988. Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.3 SUMÁRIO PREFÁCIO OS PLANOS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO PARTE I ANTECEDENTES, FUNDAMENTOS E ELABORAÇÃO 1. INICIATIVAS PARA REVISÃO DO PLANO DIRETOR 2. AVALIAÇÃO DO PLANO DIRETOR DE 1992 3. PREMISSAS PARA REVISÃO DO PLANO DIRETOR 4. PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA REVISÃO DO PLANO DIRETOR PARTE II RECONHECIMENTO DA CIDADE 1. CRESCIMENTO URBANO 1.1 Breve histórico 1.2 Dinâmica demográfica 1.3 Dinâmica econômica 1.4 Dinâmica imobiliária 2. CONDIÇÕES AMBIENTAIS 2.1 Meio ambiente 2.2 Saneamento ambiental 3. SITUAÇÃO HABITACIONAL 3.1 Favelas 3.2 Loteamentos irregulares 3.3 Déficit habitacional 4. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL 4.1 Histórico 4.2 Acervo Cultural por Área de Planejamento p. 4 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano 5. TRANSPORTE 5.1 Quadro geral 5.2 Sistema viário 5.3 Sistema sobre trilhos 5.4 Sistema hidroviário PARTE III PLANO DIRETOR EM 2006: PROPOSTA DE POLÍTICA URBANA 1. PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA POLÍTICA URBANA 2. ORDENAÇÃO DO TERRITÓRIO 2.1 Uso e ocupação do solo 2.2 Macrozoneamento 2.3 Ordenação para o planejamento 3. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA 3.1 Instrumentos gerais de regulação urbanística 3.2 Instrumentos de planejamento urbano 3.3 Instrumentos de gestão do uso e ocupação do solo 3.4 Instrumentos de gestão ambiental e cultural 3.5 Instrumentos financeiros, orçamentários e tributários 3.6 Instrumentos de gestão da política urbana 4. POLÍTICAS PÚBLICAS SETORIAIS 5. ÍNDICES DE APROVEITAMENTO DO TERRENO ABREVIATURAS BIBLIOGRAFIA Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.5 PREFÁCIO OS PLANOS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Na visão de alguns críticos, faltou ao Rio de Janeiro um efetivo planejamento de seu território. A cidade teria crescido de modo espontâneo, sem lógica ou ordem estruturadora, e daí viriam os problemas e dificuldades freqüentemente apontados, em comparação a outras cidades, em diferentes contextos geográficos e administrativos. Entretanto, estudos recentes comprovam exatamente o contrário, quando demonstram a existência de um longo processo de pensamento sobre a organização do espaço da cidade. Conforme pesquisas realizadas pelo geógrafo Maurício de Almeida Abreu, desde a ocupação do Morro do Descanso (futuro Morro do Castelo) em 1567, a metrópole portuguesa possuía um conjunto de normas – mínimo, mas efetivo –, para a cidade real que se formava. Nos dois séculos seguintes, o crescimento e a ocupação do Rio de Janeiro foram limitados por condicionantes físicos e por reduzidas funções de caráter administrativo. O território urbano era definido por um perímetro delimitado por quatro morros, cujo processo de crescimento gradativo se expandiu da orla principal (local do porto e da futura Praça XV), partindo da Rua Direita, na direção do interior. As ruas abertas assumiam funções de conexão entre pontos focais do aglomerado e obedeciam normas de alinhamento e largura, para atender às exigências do transporte e circulação vigentes. No final do século XVIII, a configuração urbana já apontava o que viria a ser no futuro. O centro, acanhado e confinado, ganhava novas características nas suas vertentes sul – local de lazer e passeio da população nos jardins do Passeio Público, resultado do aterro da Lagoa do Boqueirão –, e norte, em que as atividades de trabalho, as trocas comerciais com o interior da Baía da Guanabara e a comercialização de escravos ocorriam. A chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil e a fixação de sua residência na Quinta da Boa Vista promoverá uma ocupação nobre da região, com o desenvolvimento do futuro bairro de São Cristóvão. Outra Quinta, a do Caju – o primeiro balneário carioca –, assim como a Fazenda Real, nas distantes terras de Santa Cruz, também tiveram origem nesse contexto. Data dos tempos de D. João a iniciativa de aterramento de terrenos alagados do Mangal de São Diogo, e, por meio da isenção da décima urbana, surge a Cidade Nova, a meio caminho entre a residência real e o núcleo urbano. O novo status vivenciado pelo Rio de Janeiro como sede da metrópole portuguesa contabilizou assim não apenas melhoramentos como novos edifícios, atividades administrativas e culturais, como também o crescimento do território e o surgimento de novos redutos residenciais para melhor atender às exigências de conforto e adaptação dos estrangeiros ao rigor de um clima tropical. É com a vinda da Missão Francesa que se inicia uma nova época. Ao risco dos projetistas, o espaço passa a ser objeto de alterações, ainda que na sua maioria tenham permanecido no papel. Este foi o caso das grandes avenidas propostas por Grandjean de Montigny, que rasgariam o centro velho para ampliar perspectivas e embelezar a cidade. A independência do país promoveu o crescimento da capital e trouxe consigo novos desafios. Em 1843, foi apresentado à Câmara Municipal um dossiê contendo propostas de Henrique Rohan de Beaurepaire, o então diretor de Obras Públicas, destinadas à remodelação da cidade, sugerindo obras que priorizavam a salubridade pública, o aformoseamento da cidade e a comodidade de seus habitantes. Vale registrar que, na ocasião, era recomendada a demolição de cerca de 40% das edificações existentes, para que a reconstrução obedecesse a critérios como largura dos logradouros (8 braças, 17,60m), extensão de quarteirões (30 braças, 66,00m) e testada de lotes (6 braças, 13,20m). Ao tratar de outras questões como o levantamento do patrimônio municipal, na forma de uma carta cadastral, os investimentos que deveriam ser efetuados no interior do município, sobretudo em estradas, pontes e caminhos que facilitassem o escoamento da produção agrícola e a urgente ampliação dos impostos a serem aplicados na melhoria da urbanização da cidade, Beaurepaire formatou um plano de intenções destinado a alterar a cidade existente, modelando-a segundo melhores condições de higiene, aeração, circulação e padrão construtivo de suas edificações. Ainda que o documento tenha sido publicado e a cidade, dele tenha tomado ciência, a abrangência e a envergadura das obras recomendadas frente aos recursos necessários e a outras prioridades acabaram por fazer cair no esquecimento tal iniciativa. Nos anos de 1875 e 1876, por indicação do Ministério do Império, outro diagnóstico acompanhado de recomendações foi realizado para a capital. Os relatórios – preparados por uma comissão formada por engenheiros a serviço do governo, e chefiada por Francisco Pereira Passos – priorizaram inicialmente o crescimento e expansão da Cidade na direção norte, estabelecendo o modelo considerado adequado e que em muito replicava o bairro de Vila Isabel, iniciativa recente elaborada pelo traço de Bittencourt da Silva. Numa segunda fase era a cidade velha, o trecho mais antigo e comprometido com o passado urbano a ser atacado, aberto, rasgado e alterado para promover a melhor circulação dos fluxos de pessoas, veículos e da brisa marítima facilitando a higienização e salubridade da capital. Em nome destes objetivos, os morros da vertente sul da Cidade, alguns símbolos da arquitetura colonial e muitos dos p. 6 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano densos quarteirões do centro urbano foram condenados ao arrasamento. A preocupação com a questão sanitária, com as epidemias que se agravavam em função da dinâmica econômica da cidade-porto e das condições insatisfatórias de moradia da população, ocupou o centro dos debates sobre o espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro até o inicio do século XX. Apenas no ano de 1902, durante a gestão de Rodrigues Alves, grandes obras, consolidadas num plano de governo, foram executadas no Rio de Janeiro por uma equipe de engenheiros e médicos sanitaristas. Se não era possível fazer tudo quanto desejado, foi realizada, a título de demonstração, a intervenção no trecho mais simbólico da Cidade, que teve caráter educativo para a população. Tais obras estabeleceram uma oportunidade única que atribuiu forma ao pensamento amadurecido e enriquecido por críticas e distintos pontos de vista ao longo de muitos anos. As reformas urbanísticas empreendidas na capital, que incluíram a realização de desmontes, demolições, aterros, abertura de ruas, a introdução de novos padrões construtivos, aliados aos novos hábitos de lazer, moradia e consumo, alteraram de modo drástico a vida urbana. Era outro o Rio de Janeiro no início do século XX, ou pelo menos era isto que o esforço empreendido pretendia ressaltar. Ainda assim, nos anos vinte, outro plano é considerado necessário. Era a cidade das alturas que começava a se impor, fruto das tecnologias construtivas e dos edifícios; as novas “casas de apartamentos”. A contratação de um arquiteto francês e de um conjunto de profissionais, especialistas em distintas áreas do conhecimento, resultou na elaboração de um plano de extensão, remodelação e embelezamento para o Rio. Nele estavam indicadas distintas recomendações que contemplavam o zoneamento, determinando usos adequados por áreas da cidade, intervenções e projetos grandiosos, assim como normas legais para campos distintos da vida urbana. Muito explorado em suas indicações arquitetônicas, o plano, que ficou conhecido pelo nome de seu principal formulador, Alfred Agache, oferece inovações surpreendentes para o seu tempo, antecipando preocupações atuais com o saneamento urbano, o uso inteligente dos recursos hídricos, o controle das enchentes, bem como a realização obrigatória de planos para cidades com mais de 10.000 habitantes. Sua aplicação, determinada para longo prazo, foi inviabilizada pelos novos rumos tomados pelo país, mas tornou-se fonte de pesquisa e inspirou ações da administração pública por longos anos. A mudança do panorama urbano, a emergência da questão da moradia, a modernização dos transportes, a especial condição do Rio como cidade-estado após a mudança da capital em 1960 motivaram a contratação de outro estrangeiro, Constantinos Doxiades, detentor do maior escritório de planejamento urbano do mundo à sua época, para realizar mais um plano para a cidade. Os resultados, ainda hoje apontados como um dos melhores levantamentos quantitativos produzidos sobre nossa cidade, registram um método de pensar intervenções compatibilizando escalas do espaço físico com a vida comunitária e deixam duas propostas mais detalhadas, uma delas inspiradora da renovação urbana implantada na Cidade Nova. Pouco tempo depois, por força de outra alteração administrativa promovida na Cidade, é realizado o Plano Urbanístico da Cidade do Rio de Janeiro, o PUB- Rio, esforço de técnicos brasileiros no reconhecimento das situações do urbano a serem enfrentadas pela reinserção do Município, agora capital, no Estado do qual havia sido recortado no passado. Nas contribuições do Plano encontram-se as estratégicas divisões do território como áreas de planejamento sobre as quais acumulam-se levantamentos, diagnósticos e diretrizes de desenvolvimento que estabeleceram um modo duradouro de pensar e agir sobre o espaço físico carioca. Desde os anos setenta, o documento síntese e seu raciocínio acompanham as iniciativas de planejamento e produção de planos, programas e projetos sobre e para o Rio. Foi assim no plano diretor de 1992 e no que agora se apresenta como sua revisão. O Plano Diretor Decenal aprovado em 1992 foi construído no âmbito da discussão da Reforma Urbana, que fora destaque nos debates da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica Municipal. Seguindo os preceitos do movimento nacional, o Plano de 1992 pretendia não se limitar a soluções técnicas e propostas físico-territoriais, procurando uma atuação mais abrangente na gestão da Cidade e uma distribuição mais equilibrada dos benefícios da urbanização. Para tanto, o Plano avança nas políticas setoriais e introduz alguns instrumentos legais de implementação da política urbana que propõe. Na longa história carioca torna-se impossível afirmar que não houve dedicação e trabalho de técnicos, profissionais interessados na construção de uma cidade mais humana, bela e organizada. Entretanto, neste esforço acumulado, é preciso diferenciar o planejamento, enquanto um processo contínuo, do plano, instrumento que cristaliza num determinado tempo as decisões e as formas idealizadas para sua concretização. Esta parece ser a questão de fundo a enfrentar e a assumir como objeto de discussão. E neste sentido, ganha maior importância todo o esforço dos responsáveis pela realização da presente tarefa, que com um corte no tempo, produz um plano que avalia, revisa e atualiza um processo de pensar, vale dizer, planejar a cidade do Rio de Janeiro. Centro de Arquitetura e Urbanismo Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.7 PARTE I ANTECEDENTES, FUNDAMENTOS E ELABORAÇÃO A revisão da Lei Complementar nº. 16, de 04/06/1992, que institui o Plano Diretor Decenal da Cidade, é a base da proposta de revisão apresentada em 2006. A discussão da revisão do Plano incluiu atividades executadas por técnicos municipais e ações institucionais da Prefeitura. Na avaliação dos dispositivos da lei do Plano Diretor vigente verificaram-se princípios e eixos de atuação que deveriam permanecer e necessidades de ajustes e de acréscimos à Lei. O processo de revisão exigiu encaminhamentos voltados para a articulação intersetorial e a participação social, que tiveram a coordenação da Secretaria Municipal de Urbanismo. 1. INICIATIVAS PARA REVISÃO DO PLANO DIRETOR A proposta de revisão do Plano Diretor Decenal (Lei Complementar nº. 16/92) foi iniciada no final do ano 2000, pela Gerência de Projetos Estratégicos da então Coordenadoria Técnica de Urbanismo da Secretaria Municipal de Urbanismo, conforme consta no documento “Novas Contribuições para o Processo de Avaliação do PDD”, trabalho realizado em 2003. As primeiras atividades corresponderam a discussões e oficinas internas realizadas no âmbito daquela Coordenadoria, cujos resultados foram incorporados no documento intitulado “Indicações Preliminares para a Revisão do Plano Diretor”, elaborado em 2001. Neste documento constam não só os resultados das oficinas, mas também subsídios específicos produzidos por técnicos lotados nas demais gerências da Coordenadoria. Uma pesquisa sobre estruturas formais de vários planos diretores então em vigor ou em andamento (Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo), e do Plano Estratégico do Rio de Janeiro foi produzida pela mesma Coordenadoria Técnica de Urbanismo, especificamente pela Gerência de Normas Urbanas, sendo consolidada em documento intitulado “Planos Diretores – Lógicas Estruturais”2. Em julho de 2001, foi criada pelo Decreto nº. 19.677 de 22/3/2001, uma Comissão de Coordenação do Plano Diretor - C-Plan, constituída por representantes da Procuradoria Geral do Município (órgão que teve a função gestora dos trabalhos), e por representantes do Gabinete do Prefeito, da Controladoria Geral do Município e das Secretarias Municipais de Urbanismo, de Governo, de Fazenda, de Administração e de Habitação. Em setembro de 2001 a Secretaria Municipal de Urbanismo preparou e encaminhou sugestões para alterações pontuais nessa proposta de ajuste publicada. A Secretaria Municipal de Urbanismo, após a realização de uma oficina no dia 25/05/2001, havia concluído a necessidade de um prazo até o final de dezembro de 2001, para apresentar as propostas na sua área de competência, dando seqüência nos trabalhos realizados no final de 2000 e início de 2001. Os resultados acresceram os estudos já efetuados. p. 8 2 Os trabalhos “Indicações Preliminares para a Revisão do Plano Diretor” e “Planos Diretores – Lógicas Estruturais” são citados em “Novas Contribuições para o Processo de Avaliação do PDD”, de 2003. A C-Plan consolidou propostas de ajustes do atual Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro, encaminhadas pelas Secretarias Municipais de Esportes e Lazer, de Meio Ambiente, de Transportes, de Habitação, de Projetos Especiais, das Culturas, de Fazenda, de Desenvolvimento Social, de Obras, de Governo, de Educação, de Turismo, de Administração; as fundações RioÁguas, Rio Esportes, Planetário, e Lar e Escola Francisco de Paula; a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB); o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP); a Rio-Urbe e a Rio-Filmes. A proposta de ajuste realizada pela C-Plan foi publicada no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro de 11/09/2001, como suplemento ao Decreto nº. 20.499 de 06/09/2001, publicado no Diário Oficial de 10/09/2001. PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano O produto da primeira oficina realizada por iniciativa da Secretaria Municipal de Urbanismo em 2002 está documentado numa memória preliminar do evento, que informa terem sido os participantes, basicamente, representantes das organizações que compunham o plenário do Pró-COMPUR3 e profissionais de órgãos da administração municipal que tiveram atuação destacada na elaboração e implementação do Plano Diretor Decenal de 1992. Os dois documentos anteriormente, produzidos, durante a gestão da Coordenadoria Técnica de Urbanismo - “Indicações Preliminares para a Revisão do Plano Diretor” e “Planos Diretores – Lógicas Estruturais” – e as demais propostas feitas, foram entendidas não só como parte integrante do processo de revisão do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro, mas, principalmente, como base e ponto de partida para o trabalho realizado em 2003. Neste trabalho foram ainda considerados os produtos e sugestões obtidas em discussões realizadas em reuniões no Pró-COMPUR e na oficina da Fundação Planetário. Em 19/12/2002, por iniciativa da Secretaria Municipal de Urbanismo, foi realizada na Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, a primeira de uma série de oficinas sobre a revisão do Plano Diretor Decenal. Em maio de 2003 a Secretaria Municipal de Urbanismo, após uma reestruturação interna, retoma a revisão do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro, a partir de um pequeno Grupo de Trabalho no Gabinete do Secretário. A primeira etapa dos trabalhos deste Grupo no Gabinete do Secretário consistiu em uma avaliação em detalhe, dos títulos, seções e artigos do Plano Diretor em vigor, seja em relação ao assunto específico abordado seja quanto a sua inserção no contexto da política urbana contemplada no Plano. Em uma segunda etapa, foi solicitado ao Grupo o desenvolvimento de uma proposta preliminar de revisão do Plano Diretor, em forma de minuta de projeto de lei, como ponto de partida para o início das discussões para a sua revisão. Este pequeno Grupo de Trabalho concluiu seus estudos, no final de 2003, com a elaboração de uma programação indicando os procedimentos necessários para a discussão e consolidação das propostas indicadas na minuta de Projeto de Lei. No final de 2004, ainda no âmbito do Gabinete do Secretário, foram retomadas as discussões com coordenadores e representantes dos setores internos da Secretaria Municipal de Urbanismo para tratar do encaminhamento mais adequado a ser dado a esta matéria. Foram formados grupos para o estudo e a elaboração de propostas referentes aos temas: instrumentos, princípios norteadores, estrutura do plano e participação popular, além da avaliação do Plano Diretor de 1992. Os trabalhos destes grupos geraram algumas propostas sobre temas relevantes a serem contemplados em uma nova versão da lei do Plano e uma estrutura preliminar para sua reformulação. Também se concluiu ao longo dessas discussões pela manutenção ao máximo possível do conteúdo da Lei em vigor, com os acréscimos e as alterações necessárias para atender ao disposto no Estatuto da Cidade e as críticas que esta Lei vem recebendo. Em 2005 foi instituído um Grupo de Trabalho através do Decreto nº. 25.247/2005, com o objetivo de acompanhar e coordenar, no âmbito do Executivo Municipal, o processo de revisão e alteração do Plano Diretor da Cidade. Coordenado pela Secretaria Municipal de Urbanismo, foi estabelecido um prazo de 180 dias para seu funcionamento. Este foi o grupo que elaborou a proposta de revisão do Plano Diretor Decenal encaminhada à Câmara Municipal, denominada Substitutivo n° 3. Em paralelo, também em 2005, foi instituída na Câmara de Vereadores a Comissão Especial de Revisão do Plano Diretor, que promoveu o Seminário “Plano Diretor - o desafio da nova ordem jurídico-urbanística”, entre 15 de abril e 20 de maio, a fim de aprofundar e democratizar a discussão relativa ao Plano, além de recolher informações e elementos para subsidiar os trabalhos dos parlamentares em relação a sua revisão. 3 Comissão instituída para discutir a criação do Conselho Municipal de Política Urbana. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.9 2. AVALIAÇÃO DO PLANO DIRETOR DE 1992 O Plano Diretor Decenal de 1992 foi inovador por ter sido um dos primeiros a incorporar várias das propostas do Movimento Nacional pela Reforma Urbana. Avançou nos princípios relativos à função social da propriedade e da cidade, ao reconhecimento do direito à moradia, à regularização de favelas e à aplicação de instrumentos jurídicos como o IPTU progressivo no tempo e solo criado (outorga onerosa do direito de construir). Também foi pioneiro ao estabelecer instrumentos de controle do impacto ambiental, participação popular na gestão da cidade e criação de conselhos municipais. Como discutido em um dos estudos realizados na Secretaria Municipal de Urbanismo em 2001, “foram sem dúvida avanços, mas avanços incompletos, que poderão ganhar novo fôlego e factibilidade a partir da entrada em vigor dos novos institutos jurídicos instituídos pelo Estatuto da Cidade e de uma revisão do conteúdo do Plano Diretor, no qual estão inseridos” 4. O trabalho desenvolvido na Secretaria Municipal de Urbanismo em 2003, que buscou aprofundar a avaliação do conteúdo da Lei do Plano Diretor Decenal em vigor com base nos estudos e propostas realizadas até então, apontou os seguintes itens a considerar na sua revisão: O primeiro item diz respeito à hierarquia normativa vinculada ao Plano Diretor. Quando da aprovação do Plano Diretor Decenal de 1992, a Constituição de 1988 era o único instrumento legal no âmbito do governo federal a nortear a elaboração do Plano, indicando a sua prevalência em relação a outros instrumentos de regulação urbanística do uso e ocupação do solo. Com a aprovação do Estatuto da Cidade, lei federal nº. 10.257 de 10/07/2001, os planos diretores passam a sujeitar-se às suas previsões, apontando a necessidade de adequação e revisão do Plano Diretor em vigor. O segundo refere-se ao macrozoneamento entendido como instrumento básico para o ordenamento do uso do solo. No Plano Diretor de 1992, o território municipal é dividido em áreas comprometidas com a ocupação urbana ou com sua expansão, em áreas de restrição à ocupação por razões de proteção ambiental ou de destinação agrícola, e em áreas totalmente impróprias à ocupação. Esta compartimentação voltada basicamente para a proteção do meio ambiente mostrou-se insuficiente para orientar os vetores de crescimento da cidade e definir as principais diretrizes para a ocupação ou reconversão do território municipal de forma sustentável. A utilização adequada do solo para garantir a qualidade de vida da população com a dinamização da economia da cidade pressupõe a compatibilização da proteção do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e social. O terceiro item é relativo a uma concepção ainda idealizada da Cidade pelo Plano Diretor de 1992. Cabe ao novo Plano Diretor, além de estabelecer as normas para a condução do seu desenvolvimento sustentável, definir as prioridades de ação do Executivo a partir de uma visão estratégica. Ou seja, o Plano Diretor deve ser ao mesmo tempo normativo e estratégico, incorporando a dimensão política e a existência de conflitos de interesse. O quarto diz respeito ao tratamento das políticas setoriais de modo desarticulado da política urbana no Plano Diretor de 1992. A revisão do Plano Diretor deve propor-se à integração dessas políticas, com definição dos objetivos e das diretrizes comuns. p. 10 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano 4 “Indicações Preliminares para a Revisão do Plano Diretor”, SMU/ CTU / 2001 Região Metropolitana do Rio de Janeiro Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados Estatísticos do Rio de Janeiro. O quinto refere-se à amplitude territorial das políticas e diretrizes do Plano Diretor de 1992, que ficam restritas aos limites da Cidade, sem comunicação com as políticas e diretrizes dos municípios vizinhos. Apenas algumas raras referências são feitas à Região Metropolitana ao longo de todo o Plano. O sexto é relativo à amplitude temporal do Plano Diretor de 1992, que definiu prazos difíceis de serem atendidos para a adoção de iniciativas e medidas nele estabelecidas, sendo que muitos não foram cumpridos. O sétimo refere-se à falta de clareza e às vezes conflitos na profusão de objetivos, diretrizes e metas para política urbana no Plano Diretor de 1992. Carece a definição do que se entende por cidade regular e ambiente urbano qualificado. Neste sentido, instrumentos instituídos no Plano para o controle da ocupação na cidade, que em grande parte se traduzem em ações factíveis ao longo dos anos, necessitam de iniciativas mais abrangentes que busquem reduzir desigualdades sociais e acompanhem com maior eficácia o processo de expansão urbana espontânea, evitando a irregularidade fundiária, urbanística e edilícia. O oitavo item é o Sistema Municipal de Planejamento, que é previsto, porém não instituído no Plano Diretor de 1992, apresentando uma concepção indefinida e incompleta. Não há esclarecimentos sobre sua missão nem acerca dos instrumentos com os quais pode contar. O nono refere-se aos instrumentos da política urbana. De acordo com o disposto no Estatuto da Cidade, na Constituição do Estado do Rio de Janeiro e na Lei Orgânica Municipal, acresce-se a relação dos instrumentos a serem tratados no Plano Diretor em relação ao Plano de 1992, além de alguns deles necessitarem de revisão e aperfeiçoamento. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.11 Como décimo item cabe mencionar a falta de vinculação no Plano Diretor de 1992 entre as matérias relativas à ordenação do território e a matéria relativa ao uso e à ocupação do solo. São propostas diferentes divisões do território municipal, sem referência clara às formas de atuação. Considera-se a diferenciação entre os recortes urbanísticos, político-administrativos ou ambientais. As diretrizes de uso e ocupação do solo são previstas por Área de Planejamento, sem consideração à Cidade como um todo. O décimo primeiro item refere-se aos aspectos essenciais de uso e ocupação do solo, abordados no Título IV da lei do Plano Diretor de 1992. Neste Título da lei a estrutura urbana básica é entendida como o conjunto das áreas residenciais e industriais e o sistema de centros de comércio e serviços hierarquizados e integrados por uma rede estrutural de transportes. Esta proposta aponta para uma cidade dividida espacialmente segundo as funções morar, trabalhar e circular, vinculada, portanto, ao urbanismo funcionalista atualmente considerado inadequado às reais necessidades urbanas. Há que se repensar uma nova proposta de estrutura urbana para a Cidade. O décimo segundo item diz respeito aos instrumentos de regulação do uso e ocupação do solo indicados no Plano Diretor de 1992: a Lei de Uso e Ocupação do Solo - LUOS e o Projeto de Estruturação Urbana – PEU. Sobre eles cabem as algumas observações, tendo em vista alguns equívocos quanto ao seu tratamento e a larga experiência já adquirida pela Secretaria Municipal de Urbanismo na sua aplicação, e a revisão das disposições que lidam com a matéria no Plano Diretor. O objetivo central do PEU definido no Plano Diretor Decenal de 1992 é regulamentar o controle do uso e ocupação do solo e orientar as ações da administração para as Unidades Espaciais de Planejamento - UEP, desde que atendido o disposto no Plano Diretor e ouvida a população envolvida. Entretanto, não é relacionado no Plano como legislação de controle do uso e ocupação do solo. Em decorrência, o PEU fica também sem um contorno exato. A referência no Plano de 1992 ao Projeto de Estruturação Urbana enquanto instrumento que trata da estruturação das UEP pela hidrografia, hierarquização das vias, definição das intensidades de uso e ocupação e determinação de áreas para equipamentos urbanos, não tem uma correspondência na definição do conteúdo mínimo da lei do PEU. Se o Projeto de Estruturação Urbana atendesse às exigências previstas exigiria a abordagem de diretrizes próprias das políticas setoriais. O atendimento à determinação de áreas para equipamentos urbanos seria dificultado pela ausência de especificação dos equipamentos a serem tratados. Quanto à Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS), onde deveria ser mencionado seu conteúdo no Plano Diretor de 1992, consta apenas a previsão da divisão do Município em Zonas e Áreas, e as denominações e definições de cada uma delas. A LUOS é apresentada como a legislação geral de controle do território e a base para a elaboração dos Projetos de Estruturação Urbana. Nela constariam as principais diretrizes e orientações para o uso e a ocupação do solo no território municipal, refletindo-se nos PEUs e nas demais normas que abrigassem uma regulamentação urbanística. p. 12 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Áreas de planejamento são recortes territoriais estabelecidos pelo Plano PUB-Rio em 1977 para a gestão descentralizada do Município. Atualmente a cidade do Rio de Janeiro possui cinco áreas de planejamento correspondentes a: AP1 – área central, área portuária, Santa Teresa e Paquetá; AP2 – Zona Sul, Tijuca, Vila Isabel e imediações; AP3 – área suburbana; AP4 – Barra da Tijuca e Jacarepaguá AP5 – Zona Oeste. Cabe ainda mencionar, relativo ao uso e à ocupação do solo no Plano Diretor de 1992, as chamadas áreas de crescimento limitado, sendo aquelas consideradas como saturadas pelo poder público, segundo critérios de densidade demográfica frente às condições físicas, urbanísticas e ambientais. São áreas que se delimitam por uma ou mais ruas, uma ou mais quadras, ou o bairro, incompatíveis com o aumento de suas densidades. A densidade máxima indicada no Plano é de 500 habitantes por hectare, sem definição de índices ou parâmetros de referência para estabelecer esta limitação. Há que se repensar o critério de densidade e o índice estabelecido no Plano, pois se considerado o bairro como unidade de referência, não há efetivamente nenhuma área saturada na Cidade. Os bairros mais densos do Rio de Janeiro são Catete e Copacabana, que apresentam, respectivamente, densidades de 422,3 hab/ha e 389,50 hab/ha, portanto, abaixo dos 500 hab/ ha estabelecidos como marco para saturação. Densidade Demográfica por Bairro - 2000 Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.13 3. PREMISSAS PARA REVISÃO DO PLANO DIRETOR A lei do Plano Diretor de 1992 expressa em seus princípios e instrumentos propostos, conquistas democráticas resultantes de um processo de luta política vivido no país ao longo da década de 1980. Suprindo lacunas deixadas pela Lei Orgânica Municipal5, cumpriu seu papel constituinte, mas ao remeter planos e regulamentos urbanísticos à elaboração posterior, não se constitui como instrumento acabado de gestão da política urbana. Permanecem atuais os princípios que nortearam o Plano Diretor de 1992 e grande parte das ferramentas nele instituídas. São princípios no Plano: O cumprimento da função social da cidade e da propriedade urbana. No encaminhamento das discussões relativas à revisão do Plano Diretor Decenal, tendo em vista o prazo estabelecido pelo Estatuto da Cidade e o ambiente político e social em que o trabalho se insere, optou-se por, além de preservar ao máximo as conquistas obtidas com o Plano Diretor em vigor, incorporar a ele o aprendizado com os sucessos e insucessos vividos ao longo dos anos de sua implementação. A valorização e a proteção do meio ambiente e do patrimônio natural, cultural e paisagístico no processo de desenvolvimento da Cidade. No novo texto de lei revisada do Plano Diretor foram absorvidas críticas existentes e incorporadas novas propostas construídas no âmbito do Executivo Municipal, sem, contudo, romper com os pressupostos, os princípios e as diretrizes do Plano Diretor Decenal de 1992. A proposta foi de reforçar seu conteúdo, com o foco na complementação do previsto para uma fase posterior, em atualizar o que já havia sofrido alteração no período dos últimos 15 anos desde a aprovação do Plano vigente, e em cumprir as exigências do Estatuto da Cidade. A prevalência do interesse coletivo sobre o interesse particular. A universalização do acesso à terra e à moradia regular. A efetiva participação da sociedade no processo de planejamento. Quanto à abordagem da gestão do planejamento, optou-se nesta revisão em 2006 por um maior detalhamento do Sistema Municipal de Planejamento, prevendo-se a integração das políticas setoriais e a possibilidade de articulação com os municípios vizinhos. 4. PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA REVISÃO DO PLANO DIRETOR A distribuição justa e equilibrada da infraestrutura, dos serviços públicos e dos benefícios da urbanização. As ferramentas instituídas pelo Plano Diretor de 1992 que se mantém atualizadas são: O processo de revisão do Plano Diretor Decenal de 1992, a partir da instituição do Grupo de Trabalho já citado, no âmbito do Executivo Municipal, através do Decreto nº. 25.247 de 14/05/2005, compreendeu a realização de uma série de atividades desenvolvidas por técnicos dos órgãos municipais, tendo como referência o texto da lei Complementar n° 16/ 1992 – Plano Diretor Decenal. A inclusão da obrigatoriedade de participação popular. Os instrumentos propostos pelo Movimento Nacional de Reforma Urbana. O reconhecimento da cidade real através da criação de Áreas de Especial Interesse Social. Integraram oficialmente o Grupo de Trabalho os seguintes órgãos: Secretaria Municipal de Urbanismo – coordenação A criação de programas habitacionais: programas de urbanização e regularização fundiária de favelas e loteamentos de baixa renda; programa de lotes urbanizados; programa de construção de habitação para a população de baixa renda. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos; Secretaria Municipal de Fazenda; Secretaria Municipal de Habitação (atual Secretaria Municipal do Habitat); Secretaria Municipal de Transportes; Os instrumentos de controle de impacto ambiental. Secretaria Municipal de Meio Ambiente; Os conselhos e fundos municipais. Secretaria Municipal das Culturas; Os instrumentos que auxiliam na gestão pública das particularidades regionais e locais. Secretaria Especial de Turismo; Secretaria Especial do Plano Estratégico (atualmente dissolvida). p. 14 5 A Lei Orgânica Municipal foi publicada em 05/05/1990. PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Além dessas, a Procuradoria Geral do Município e a Secretaria Municipal de Obras e Serviços prestaram uma colaboração. No início dos trabalhos do Grupo acima referido foram debatidos os estudos já consolidados pela Secretaria Municipal de Urbanismo anteriormente, e promovidas avaliações dos representantes dos outros órgãos em relação às atividades e aos programas implementados em seus respectivos setores. Atribuições dos subgrupos temáticos: Subgrupo 1: Políticas Públicas Setoriais Sistematização das informações e diagnósticos existentes. Revisão e articulação das políticas públicas setoriais. Subgrupo 2: Planejamento Territorial Concepção de um modelo de ordenamento territorial e revisão das diretrizes por Área de Planejamento. Definição das disposições sobre uso e ocupação do solo e quanto à estrutura urbana básica. Subgrupo 3: Instrumentos da Política Urbana Revisão das disposições relativas aos instrumentos de regulação e controle do uso e ocupação do solo. Definição dos instrumentos de preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural. Revisão dos institutos jurídicos, políticos, financeiros e tributários. Subgrupo 4: Gestão da Política Urbana Concepção de um modelo de implementação do Sistema de Planejamento Urbano. Proposição da consolidação dos sistemas existentes: de Planejamento e Gestão Ambiental, de Informações Urbanas e de Defesa da Cidade. Estes debates iniciais também buscaram identificar as questões relevantes e os problemas ou aspectos da realidade urbana específicos da Cidade do Rio de Janeiro que deveriam ser abordados na revisão do Plano Diretor. Com base nas avaliações e na definição das questões relevantes, foram definidos e consolidados os princípios e objetivos do Plano Diretor revisto, que passaram a constituir as referências gerais a orientar a revisão das políticas, instrumentos, programas e ações a ser incluídos no novo Projeto de Lei. GRUPO DE TRABALHO E SUBGRUPOS TEMÁTICOS Coube à Secretaria Municipal de Urbanismo, através da sua Coordenadoria de Planejamento Local, exercer a coordenação técnica e dar suporte ao Grupo de Trabalho criado em 2005. Como assessoramento a este Grupo instituiu-se quatro subgrupos com atribuições especificas. As atividades dos quatro subgrupos foram desenvolvidas paralelamente às do Grupo de Trabalho oficialmente instituído, cabendo-lhes a elaboração de propostas de acordo com as temáticas definidas para cada um dos subgrupos. Cada subgrupo, coordenado por um técnico da Coordenadoria de Planejamento Local da Secretaria Municipal de Urbanismo, contou com a presença de representantes dos órgãos municipais participantes do Grupo de Trabalho. As inúmeras interfaces e complementaridades entre as áreas temáticas abordadas nos subgrupos foram trabalhadas nas reuniões semanais do Grupo de Trabalho, bem como em reuniões gerais com todos os técnicos participantes, realizadas com o objetivo de promover a articulação e integração das propostas. AUDIÊNCIAS PÚBLICAS E SEMINÁRIOS Durante os meses de agosto e setembro de 2005 foi realizado um ciclo de audiências públicas e seminários, coordenados pelo Secretário Municipal de Urbanismo, coordenador geral da revisão do Plano Diretor Decenal de 1992, com o objetivo de debater as propostas preliminares desenvolvidas no Grupo de Trabalho de Acompanhamento e Coordenação e nos subgrupos temáticos. Participaram dos seminários representantes de associações e órgãos de classe da sociedade civil, além dos órgãos municipais que integravam o Grupo de Trabalho. Os seminários foram organizados em torno dos seguintes temas: Estatuto da Cidade e Instrumentos; Educação, Saúde e Assistência Social; Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.15 Transportes; Infra-estrutura e Águas; Habitação; Patrimônio Ambiental e Cultural; Desenvolvimento Econômico, Turismo, Esporte e Lazer; Uso e Ocupação do Solo. Paralelamente foram realizadas audiências públicas para avaliação e debate das diretrizes para cada Área de Planejamento, promovidas nas seguintes regiões: Santa Teresa, Catumbi, Rio Comprido e Paquetá; Zona Sul; Madureira e Méier; Tijuca e Vila Isabel; Ilha do Governador e Penha; Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes; Campo Grande e Bangu; Jacarepaguá; Santa Cruz, Guaratiba e Sepetiba. REDAÇÃO DO PROJETO DE LEI A redação do Projeto de Lei para revisão do Plano Diretor Decenal de 1992 acompanhou a seqüência das seguintes atividades: Consolidação das propostas em uma minuta de lei preliminar, executada pela coordenação técnica do Plano Diretor. Avaliação e ajustes finais pelo Grupo de Trabalho de Acompanhamento e Coordenação da revisão do Plano Diretor. Encaminhamento da minuta de lei preliminar ao Conselho Municipal de Política Urbana – COMPUR. Realização de oficina convocada pela Comissão de Relatoria do Plano Diretor, do COMPUR. Sistematização das propostas e ajustes decorrentes dos trabalhos realizados junto ao COMPUR, pela coordenação técnica do Plano Diretor. Encaminhamento e apresentação da proposta ao Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro. Em outubro de 2006, a versão final do projeto de lei foi encaminhada à Câmara Municipal sob a forma de Substitutivo n° 3 ao projeto de lei anteriormente encaminhado em 2001, com a proposta de ajustes no Plano Diretor Decenal de 1992. p. 16 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano PARTE II RECONHECIMENTO DA CIDADE A Parte II deste Relatório embasa as propostas contidas na revisão do Plano Diretor do Rio de Janeiro. Apresenta uma avaliação do contexto atual que se inicia no Plano Diretor de 1992, descrito nos respectivos estudos que serviram para a sua elaboração, passa pela análise do desenvolvimento da Cidade nos 15 anos transcorridos de 1992 até 2006 e conclui com a estimativa das perspectivas atuais. Apóia-se, entre outros, nos seguintes estudos: Relatório de Indicadores Ambientais do Rio de Janeiro6 ; Relatório de Gestão da Secretaria de Meio Ambiente no período 1994-20047; Plano Municipal de Redução de Risco8; Plano Diretor de Transportes da Cidade do Rio de Janeiro9; Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro10; Relatório de Licenças e Habite-se no ano de 200611. Esta parte do trabalho foi feita com base nas informações levantadas por diferentes orgãos da Prefeitura, especialmente a Diretoria de Informações Geográficas do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. Nesta parte do Relatório aborda-se o crescimento urbano, as condições ambientais, o patrimônio histórico e cultural, os transportes e os assentamentos informais urbanos. O Rio de Janeiro, pelo seu destaque nacional e internacional, tem sido ao longo do tempo objeto de inúmeros estudos e análises da sua evolução urbana, que avaliam os caminhos do seu desenvolvimento e estruturação sócioterritorial. Porém a compreensão dos fatores que determinaram o crescimento urbano do Rio de Janeiro por vezes ultrapassa as fronteiras municipais, exigindo para o seu entendimento uma visão mais abrangente. 6 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Secretaria Municipal de Urbanismo, Secretaria Municipal de Meio Ambiente – 2005. 7 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Meio Ambiente – 2004. 8 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Geo-Rio – 2006. 9 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Transporte – 2005. 10 Governo do Estado do Rio Janeiro, Secretaria Estadual de Transportes – 2003. 11 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Urbanismo, Coordenadoria de Planos Locias – 2006. Como visto no Prefácio deste Relatório, a Cidade foi e continua sendo objeto de uma série de planos, programas e projetos, realizados ou não. O diaa-dia do Rio de Janeiro é debatido e exposto constantemente na mídia, refletindo a sua importância. Em decorrência, torna-se desnecessário aprofundar-se nos aspectos do cotidiano. Mas é preciso entender seus impactos e mostrar como as propostas feitas de revisão do Plano Diretor, buscam dar conta de pontos positivos e negativos da Cidade na tentativa de um crescimento socialmente includente e ambientalmente sustentável. Através do “Reconhecimento da Cidade” o objetivo é encontrar as bases para entender a formulação de diretrizes e medidas voltadas a implementar um plano que possibilite encaminhamentos. Em suma, direcionado a um processo contínuo de planejamento, referencial para a gestão da política urbana. Ao identificar os principais problemas da Cidade, apontou-se para a necessidade de fortalecer instrumentos e ferramentas previstas no Plano Diretor. Os dados mostram que um dos principais desafios a serem enfrentados é o crescimento da ocupação informal e a pressão resultante em áreas de preservação ambiental, a ser freado através da articulação entre política habitacional e controle urbano e ambiental. Mostram também a premência da integração entre políticas de transporte, de uso e ocupação do solo e de habitação como estratégia para um desenvolvimento urbano sustentável. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.17 1. CRESCIMENTO URBANO 1.1 BREVE HISTÓRICO Uma breve retrospectiva de como a cidade do Rio Janeiro ganha importância e complexidade mostra a relevância para a atual configuração de sua relação com o circuito do poder. No século XVIII a Cidade se tornou capital colonial. Meio século depois, distrito neutro da Corte. Logo a seguir, capital e principal cidade do Império. Antes mesmo do fim do século XIX, com o advento da República, tornou-se capital federal. Os seguintes períodos são indicativos da relação do Rio de Janeiro com estruturas de poder: 1763-1808: capital colonial 1808-1822: município neutro da Corte 1822-1889: capital do Império 1889-1960: capital federal Plano da Cidade do Rio de Janeiro Capital do Estado do Brazil, 1769 Fonte: PCRJ. SMU. CAU. Do Cosmógrafo ao Satélite – Mapas da cidade do Rio de Janeiro. 2000. Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro. (Manuscrito aquarelado sobre pergaminho) p. 18 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Município Neutro da Corte e municípios da província do Rio de Janeiro - 1840 Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados Estatísticos do Estado do Rio de Janeiro Nota: Mapa elaborado pela Fundação CIDE com base na carta da província do Rio de Janeiro 1840 (Litografia do Archivo Nacional) e na legislação referente à divisão político administrativa da época em questão. O núcleo central se originou na extremidade leste do Município. Na segunda metade do século XIX, por conta da modernização dos meios de transporte, começou a se estender para além da delimitação do antigo núcleo, hoje correspondente à área central. A cidade cresceu linearmente, condicionada pela topografia, mais precisamente em duas linhas: ao Norte e ao Sul dos maciços de montanhas. Desde aí a topografia destaca-se na construção da Cidade. A estrada de ferro possibilitou a expansão da cidade operária, industrializada, pela vertente ao norte do maciço da Tijuca, enquanto o bonde, além de complementar a estrutura viária da vertente norte, foi facilitador da expansão burguesa pela vertente sul. Deste duplo crescimento decorreu padrões de ocupação urbana distintos entre as duas vertentes. As diferenças se acentuaram com o tempo e, em conseqüência, os valores da terra foram se tornando cada vez mais díspares entre as duas áreas. A área correspondente à vertente sul sempre apresentou um forte interesse imobiliário, atraindo investimentos privados e absorvendo grande parte dos recursos públicos para urbanização. A atual zona sul, que ocupa um percentual pequeno do território municipal e que possui um patrimônio natural e paisagístico de grande valor, foi totalmente ocupada, restando apenas áreas sob algum regime de proteção ambiental. A expansão territorial e populacional da vertente sul ampliou-se, então, em direção à Barra da Tijuca, área pouco infra-estruturada e com grande fragilidade ambiental. A vertente norte obedeceu uma dinâmica de crescimento em direção ao oeste, semelhante à da vertente sul, porém com características urbanas distintas e, em relação à sua área e população, com menores investimentos em equipamentos e infra-estrutura urbana. As zonas norte e suburbana cresceram em direção à zona oeste. O legado do longo período como sede do estado nacional transparece na configuração urbana no século XX que ultrapassa os limites do território carioca. Em 1960, quando a capital é transferida para Brasília, o Rio de Janeiro é transformado na Cidade-Estado da Guanabara. Em 1975 quando a cidade do Rio de Janeiro se torna capital do Estado do Rio de Janeiro, já unificado com a Guanabara, sua malha urbana está bastante expandida. No século XX o Rio de Janeiro consolidou-se também como área metropolitana que alcança, no século XXI mais de 10 milhões de habitantes. Desses, 55% residem no Município do Rio de Janeiro que, como núcleo metropolitano, é ponto de concentração da região. Apesar deste contexto, e em prejuízo dele, há uma carência de uma estrutura de planejamento que dê conta das demandas de medidas e ações conjuntas, articulando as políticas setoriais em âmbito metropolitano. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.19 Entre 1974 e 1989 coube à Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana – FUNDREM - a atribuição de pensar e planejar a região. Mas a conjuntura política em que foi criada inviabilizou a participação ativa dos municípios envolvidos, fator principal para sua extinção com o advento da democratização 12. A Região Metropolitana do Rio de Janeiro inclui na atualidade os municípios de Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João de Meriti, Mesquita, Nilópolis, Japeri, Queimados, Seropédica e Paracambi. Quando da sua criação, abrangia o município de Petrópolis, posteriormente classificado como Região Serrana. Desde 2001, a divisão administrativa do Estado do Rio de Janeiro13 excluiu também os municípios de Maricá (incluído na Região das Baixadas Litorâneas) e os municípios de Itaguaí e Mangaratiba (incluídos na Região da Ilha Grande), ainda considerados nos dados demográficos mais recentes, do Censo de 2000 como integrantes da Região Metropolitana. O recorte vigente tem sido questionado por abranger municípios sem participação efetiva na dinâmica metropolitana. Estudos recentes14 constatam que na atual década consolidou-se a tendência de desaceleração das taxas de crescimento demográfico no Município e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sendo detectados fluxos migratórios em direção a outras regiões do Estado. 12 De acordo com Oliveira (2000), “inicialmente, a FUNDREM atuava como assessoria técnica às prefeituras, principalmente, na elaboração de planos diretores e na tentativa de gestão dos serviços de interesses comuns.... Mas sua importância como órgão de planejamento foi sendo esvaziada, por interesses coorporativos dos sucessivos governos estaduais e principalmente, pela desativação dos fundos federais de desenvolvimento urbano, no início dos anos 80, até sua extinção total em 1983. Sem recursos para estimular as demandas que a mantivessem com visibilidade, a FUNDREM foi extinta em 1989.” 13 A Lei Complementar 87/1997 alterada pelas leis 89/1998 e 97/ 2001 definiu as regiões administrativas do Estado do Rio de Janeiro e os municípios que as compõem. 14 Oliveira, F., Cavaliere, F., “.Novas estimativas do IBGE para a população do Rio de Janeiro Nota técnica“ de Fabrício Leal de Oliveira e Fernando Cavallieri no Instituto Pereira Passos onde foi realizada uma avaliação da situação demográfica do Estado do Rio de Janeiro e da proporção populacional do Município sobre Estado e Região Metropolitana. Imagem de satélite da região Metropolitana do Rio de Janeiro e arredores Fonte: www.maps.google.com Consulta em 14.10.2008 p. 20 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Região Metropolitana do Rio de Janeiro e municípios excluídos pela divisão administrativa vigente no Estado Fonte: PCRJ/ Secretaria Municipal de Urbanismo/Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano. 1.2 DINÂMICA DEMOGRÁFICA Para a primeira década do século XXI, os percentuais projetados da população do Município do Rio de Janeiro sobre as populações do Estado e da Região Metropolitana praticamente não mudam, permanecendo em torno de 40% e 55%, respectivamente. Isto se explica pela queda tanto das taxas do crescimento demográfico do Rio de Janeiro quanto de boa parte dos municípios fluminenses, especialmente para o período 2000-2006. (1) – Baixada Fluminense: Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti, Seropédica (2) – Leste Metropolitano: Guapimirim, Itaboraí, Niterói, São Gonçalo, Tanguá Evolução da população do Estado e da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (1970-2008) Fonte: IBGE, censos 1970, 1980, 1991, 2000. Estimativa 2008. Tabulação: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.21 Na comparação entre regiões de governo do Estado do Rio de Janeiro, boa parte registrou taxas decrescentes de crescimento demográfico a partir de 1980, o que já acontecia com a Região Metroplitana a partir de 1960. A partir das projeções de crescimento demográfico estimadas pelo IBGE em 2008, observa-se que, exceto pela maioria dos municípios mais beneficiados pelos royalties do petróleo, essas taxas foram revistas para baixo. Há uma tendência de taxas menores no Município do Rio de Janeiro em relação à Região Metropolitana, e desta em relação ao Estado do Rio de Janeiro, como aponta o IBGE. A constatação é de um saldo migratório negativo na capital, que pode ser traduzido e quantificado pela saída anual aproximada de mais de 20.000 habitantes. Evolução da população do Estado do Rio de Janeiro por regiões administrativas (1970-2000) Fonte: IBGE, censos 1970, 1980, 1991, 2000 Tabulação: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Na análise das taxas de crescimento anual das últimas décadas, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro apresentou entre 1950 e 1960, a sua maior taxa média de crescimento demográfico anual, de 4,36%. Após este período, as taxas médias, embora positivas, tiveram ritmo decrescente atingindo um ponto de inflexão, de 1,03%, no período entre 1980 e 1991. De 1991 a 2000 a taxa de crescimento da Região apresentou uma leve tendência de elevação, com 1,14% ao ano. Evolução do crescimento populacional do Estado do Rio de Janeiro (1940-2000) Fonte: Fundação CIDE. Centro de informações e Dados Estatísticos do Rio de Janeiro Dados: IBGE, CIDE p. 22 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano A Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de janeiro - CIDE elaborou um mapa da evolução do crescimento populacional dos municípios do Estado do Rio de Janeiro entre 1940 e 2000 através do qual espacializa as dinâmicas registradas nos intervalos censitários analisados. O Município do Rio de Janeiro, assim como a maioria dos municípios mais populosos da Região Metropolitana, se situa em na categoria “diminuição do crescimento”, indicando progressiva redução das taxas de crescimento, contraste com os municípios mais periféricos da Região Metropolitana, nos quais se registra um crescimento constantemente elevado. O Município do Rio de Janeiro mostra um perfil semelhante, porém, com taxas médias anuais inferiores às registradas na Região Metropolitana. A maior taxa média anual de crescimento, de 3,36%, foi na década de 1950 e o ponto de inflexão, de 0,67%, foi entre 1980 e 1991. Na última década a taxa média anual de crescimento registrou 0,74%, com uma ligeira alta em relação à década anterior. Taxa média geométrica anual de crescimento populacional do Município, da Região Metropolitana e do Estado do Rio de Janeiro,– 1960/2000 Fonte: IBGE, Censos 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 Na comparação dos mapas por municipios e também por distritos é possível perceber de forma mais clara os vetores de crescimento metropolitano. Identifica-se um núcleo metropolitano mais denso e áreas menos densas, com taxas de crescimento demográfico mais altas, nos distritos mais distantes. Estimativas do IBGE apontam que a população do Município do Rio de Janeiro cresceu 4,76% entre 2000 e 2006, considerando taxas médias anuais de crescimento de 0,78%15. Dados utilizados no PDTU16 indicam para uma tendência de esvaziamento das regiões administrativas de São Cristóvão (-9,8%), Centro (-13,7%) e Rio Comprido (-7,4%), enquanto que as regiões a oeste da Cidade, como Campo Grande (12,1%), Guaratiba (27,8%) e Barra da Tijuca (32,7%) além da Rocinha (13,9%), são as que apresentam maior crescimento. Em termos absolutos, Campo Grande (543.508 hab.) e Jacarepaguá (465.094 hab.) são as regiões administrativas que possuem maiores contingentes populacionais, seguidos das regiões de Bangu (442.713 hab.), Méier (387.062 hab.) e Madureira (374.719 hab.). As regiões centrais, por outro lado, são as que possuem menores contingentes populacionais. 15 O IBGE fez uma revisão das estimativas de crescimento demográfico anual na atual década, apontando para uma taxa de 0,59% no Município do Rio de Janeiro. 16 Plano Diretor de Transporte Urbano da Cidade do Rio de Janeiro A cidade do Rio de Janeiro possui uma densidade populacional média de 52,8 hab/ha. As regiões administrativas da Rocinha (446,8 hab/ha) e do Jacarezinho (362,1 hab/ha) são as que possuem maiores densidades populacionais, seguidas por Copacabana (315 hab/ha). As de menor densidade são Santa Cruz (20,9 hab/ha), Barra da Tijuca (17,0 hab/ha) e Guaratiba (8,5 hab/ha). Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.23 Região Metropolitana do Rio de Janeiro com taxas de crescimento demográfico anual por município (1991-2000) Fonte: PCRJ/ Secretaria de Urbanismo/Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Região Metropolitana do Rio de Janeiro com taxas médias de crescimento demográfico anual considerando as divisões administrativas por município (1991-2000). Fonte: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano / Gerencia de MacroPlanejamento p. 24 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Região Metropolitana do Rio de Janeiro densidade demográfica considerando as Áreas de Planejamento dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói (2000) Fonte: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano / Gerencia de Macro-planejamento Região Metropolitana do Rio de Janeiro densidade demográfica (2000) Fonte: PCRJ/ Secretaria de Urbanismo/Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.25 População, área territorial e densidade demográfica bruta nas áreas de planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1991/2000 Fonte: PCRJ, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos com base nos dados do IBGE. Para além da quantificação da dinâmica demográfica, há a qualificação do perfil deste crescimento que se materializa numa espacialização da qual se constata uma diferenciação sócioespacial, explicada pelas formas distintas de expansão urbana nas áreas de planejamento da Cidade Em 2005, a publicação “Indicadores Ambientais do Rio de Janeiro” apontava que “a desagregação para o nível das áreas de planejamento da Cidade com dados dos censos de 1991 e 2000 permitiu a demonstração de diferenças existentes entre os grupos populacionais nas principais compartimentações da cidade”17. A espacialização destes indicadores, seja por bairros ou por áreas de planejamento, permite uma compreensão da realidade em diversas escalas de aproximação que certamente ajudará na estruturação de políticas setoriais, de um modo geral, e de uma política de uso e ocupação do solo, em especial. 17 Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro. IPP 2005, p17 População e densidade demográfica bruta nas áreas de planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1991/2000 Fonte: PCRJ, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos com base nos dados IBGE Censos 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000. p. 26 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano (1) Exclusive os rendimentos dos moradores cuja condição no domicílio era pensionista, empregado doméstico e parente do empregado doméstico. (2) Inclusive os domicílios cujos moradores receberam somente em benefícios (3) Exclusive os domicílios sem declaração do valor do rendimento Domicílios particulares e valor do rendimento médio mensal domiciliar, segundo as classes de rendimento mensal domiciliar - 2001. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2001. Através dos levantamentos referentes à dinâmica demográfica, constata-se que, além da formulação de mecanismos de regulação urbanística, é fundamental criar condições de implementação de uma política de uso e ocupação do solo que observe as necessidades dos diferentes gurpos da população e as particularidades das regiões. Rendimento médio mensal em salários mínimos do responsável por domicílio – Município do Rio de Janeiro – 2000 Fonte: PCRJ, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.27 Média Anual de Transações Imobiliárias na década de 90, por regiões administrativas – Município do Rio de Janeiro – 2000 Fonte: PCRJ, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. 1.3 DINÂMICA ECONÔMICA A participação da cidade do Rio de Janeiro no contingente da população trabalhadora fluminense atingiu 40,7%, com mais da metade (53,8%) residente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em 200018. Para a mesma época, no Estado do Rio, 50% do Valor Adicionado Fiscal (VAF) e 54,9% do Produto Interno Bruto foram gerados pela economia carioca. A arrecadação de impostos no Município do Rio respondeu por 70,4% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e 65,2% do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Quanto à receita tributária fluminense em 1999, a carioca foi também a maior responsável pelos principais tributos oriundos da atividade econômica e do território urbano: 79,7% do Imposto sobre Serviços (ISS) e 71,8% do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que acrescidas de outras fontes de menor importância deram à capital do Estado, na média, participação em 72,3% de todas as receitas geradas19. 18 Anuário Estatístico (CIDE, 2002) 19 Idem. As informações citadas demonstram o elevado grau de importância da cidade do Rio de Janeiro para a sociedade e economia fluminenses. Quanto aos setores econômicos desenvolvidos, segundo estudo do economista do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Helcio de Medeiros Júnior (2003), o terciário sempre teve um papel proeminente ao longo da história da cidade por sua relevância política: capital da colônia (a partir de meados do século XVIII), local de recepção da família real portuguesa (1808), capital republicana (início do século XX) e do Estado p. 28 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano da Guanabara (até 1975). As atividades de serviços se desenvolveram e foram suportadas por uma fração populacional de alta renda. O mesmo estudo avalia que o setor primário é praticamente inexistente, dada à condição de quase completa urbanização do Município, com a crescente ocupação das áreas agropecuárias especialmente na Zona Oeste, por áreas industriais ou para moradia. Estima ainda que a orientação da produção industrial da cidade do Rio de Janeiro para seu mercado interno com pouca extroversão nacional e internacional, resultou numa estagnação que levou à mudança de empresas para fora da Cidade e do estado. A situação da distribuição dos setores econômicos está ilustrada na tabela a seguir, tendo como referência os anos de 1985 e 2000: Estrutura do Valor Adicionado do Brasil, do Estado do Rio de Janeiro e do Município do Rio de Janeiro, segundo a participação percentual dos setores e atividades - 1985/2000 Fonte: Armazém de Dados / IPP /PCRJ Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.29 A importância do setor terciário no Rio de Janeiro é constatada por sua posição na distribuição do Produto Interno Bruto por setores econômicos nas capitais brasileiras. O Rio de Janeiro é a 8ª capital em concentração no setor terciário (São Paulo é a 21ª), e a 17ª no setor secundário (São Paulo é a 7ª). Distribuição do PIB por setores econômicos nas capitais brasileiras- 2005 Fonte: Armazém de Dados / IPP com base nos dados do IBGE - Diretoria de Pesquisas - Departamento de Contas Nacionais Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005. A partir dos dados da Secretaria Municipal de Fazenda, relativos à arrecadação do Imposto Sobre Serviços – ISS verifica-se a distribuição das atividades econômicas por regiões administrativas. Em 2001, as maiores concentrações, em ordem decrescente, estavam no Centro, Botafogo, Lagoa, Barra da Tijuca e Rio Comprido. Em 2006, houve uma alteração, observando-se as maiores concentrações no Centro, Botafogo, Barra da Tijuca, Lagoa e Copacabana, apontando a ascensão da Barra e a queda de Rio Comprido. O Centro passou de 353 milhões para 591 milhões reais arrecadados. Para o período de 2001-2006, as maiores variações se deram nas regiões administrativas de Guaratiba (693%), Barra da Tijuca (153%), São Cristóvão (133%), Complexo do Alemão (125%) e Portuária (120%) – acima da média municipal (68%). As menores variações se registraram na Rocinha (-23%), Ilha do Governador (-7%), Cidade de Deus (10%) e Vigário Geral (29%). Apesar das variações percentuais, verificam-se menores alterações no Complexo do Alemão e na Rocinha em decorrência dos baixos valores arrecadados, situados abaixo de meio milhão de reais por ano. p. 30 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Arrecadação de Imposto Sobre Serviços por Regiões Administrativas – 2001, 2004 e 2006 - não incluídos valores recolhidos para inscrições genéricas e inscrições inválidas, e a receita de Inclusão Predial. Fonte: Armazém de Dados / IPP com base nos dados da Secretaria Municipal de Fazenda - SMF Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.31 1.4 DINÂMICA IMOBILIÁRIA De acordo com os últimos censos realizados, a área construída total da cidade do Rio de Janeiro, em 1991 e 2000, era de, respectivamente, 126.798.983m2 e 144.336.257m2. Dados relativos às transações imobiliárias e concessão de alvarás ajudam na compreensão da dinâmica imobiliária da cidade do Rio de Janeiro. As licenças concedidas para construção indicam a tendência do potencial de crescimento urbano, enquanto a concessão de “habite-se” aponta o que efetivamente se concretizou. Área construída total, residencial e outras, segundo as áreas de planejamento 2000 e 1991 Fonte: PCRJ/SMF/Armazém de Dados No período 1996-2006 foram licenciados cerca de 29 milhões de metros quadrados de área construída, correspondentes a aproximadamente 20% do total da área construída na Cidade, conforme apuração do Cadastro Imobiliário da Secretaria Municipal de Fazenda. O somatório das áreas das construções licenciadas nesse período, por áreas de planejamento, é apresentada no quadro abaixo. Em complemento a esses dados, verifica-se que o total da área de construção licenciada em 2006, incluindo modificações com acréscimos e legalizações de 3.942.986m². Assemelha-se ao observado para o ano de 2005, de 3.850.820m², um aumento de 2% em relação ao ano anterior20. Área das construções licenciadas, segundo as áreas de planejamento 1996-2006 Fonte: PCRJ/SMU - Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano. Nota: Os totais incluem construções, modificações com acréscimo e legalizações 20 Estes dados foram consolidados pelo Núcleo de Informações Urbanísticas, da Coordenadoria de Informações Urbanísticas, da Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano, da Secretaria Municipal de Urbanismo, em relatório produzido com base nas licenças de obras e de “habite-se“ concedidos para o ano de 2005 e 2006. p. 32 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Variação da Área total Construída Licenciada 2005/2006 Fonte: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano / Núcleo de Informações Urbanísticas. Evolução da Área Total Licenciada 1996-2006 Fonte: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano / Núcleo de Informações Urbanísticas. 21 A lei 41/99 foi objeto de um processo de inconstitucionalidade, por contrariar a Lei Orgânica Municipal, tendo recebido liminar em 2000, resultando na suspensão de novos licenciamentos, sendo finalmente deferida em 2005. Analisando-se os dados relativos à última década, observa-se que a média anual de área total licenciada no período 1996-2004 manteve-se em torno de 2,5 milhões de metros quadrados. Excetuam-se os anos de 1997 e 2000, cujos totais de área licenciada alcançaram os 3 milhões de metros quadrados, em grande parte devido ao movimento de licenciamento gerado com a aprovação de dispositivos legais especiais. Em 1997, foi aprovada a lei municipal complementar no 31/97, que dispõe sobre a regularização de obras de construção, modificação ou acréscimo já executadas em edificações que contrariassem as normas urbanísticas e edilícias vigentes. Dois anos depois, foi aprovada a lei municipal complementar no 41/99, que dispõe sobre o licenciamento e o funcionamento de hotéis residência no Município segundo parâmetros excepcionais21. Só em 2006 aproximouse dos 4 milhões de m², sob influência de uma conjuntura favorável. O ritmo elevado de licenças de área de construção iniciado em 2005 responde a fatores conjunturais mais duradouros. Diversos indicadores econômicos, como a abertura de capital das empresas imobiliárias com a captação de recursos externos; a participação dos fundos de pensão no mercado imobiliário; a queda da taxa de juros; e de indicadores sociais, como o aumento do salário mínimo e do rendimento médio das famílias, implicaram em mudanças significativas nos investimentos públicos e privados. Apesar da criação do Sistema Financeiro Imobiliário - SFI em 1997 com a aprovação da legislação sobre os Certificados de Recebíveis Imobiliários - CRIs, sua regulamentação só veio a ser aprimorada em outubro de 2005. O SFI representa a possibilidade de associação do capital financeiro e do capital imobiliário, disponibilizando mais recursos financeiros e conferindo maior agilidade às empresas construtoras. Os certificados são papéis emitidos por instituições securitizadoras baseados em contratos de financiamento de compra e venda, arrendamento e locação de longo prazo. Os investimentos são feitos por fundos de pensão e fundos de investimento que compram os certificados de longo prazo. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.33 A associação do capital financeiro e do capital imobiliário está também na origem da ligação do mercado imobiliário brasileiro com empresas americanas e européias. Diante das modificações, o mercado imobiliário ampliou sua atuação, atendendo uma gama maior do mercado consumidor e estendendo a área de abrangência dos seus investimentos. Percebe-se a preferência por regiões antes pouco valorizadas, que possibilitam a ocorrência de terrenos grandes a custos mais baixos. As principais características dos novos empreendimentos são a implantação em áreas maiores ou iguais a 10.000m² no caso de uso residencial, que possibilite a implantação de vários blocos e muitas unidades (como é o caso dos empreendimentos Cores da Lapa e Arena Park, entre outros). Em geral, a preferência é por unidades residenciais com área média de 75m², localização próxima a grandes eixos de transporte e ligação com a região da Barra da Tijuca. Nesses moldes são construídos prédios na área suburbana, no entorno do Norte Shopping e nas margens da Linha Amarela. O destaque nas áreas de construção licenciadas foram as Áreas de Planejamento 1 e 3 – AP 1 e AP 3 (equivalentes à área central e à área suburbana), com crescimento da área total licenciada de 48% e 42%, respectivamente, em relação a 2005. Área Total Licenciada por Bairro e Principais Eixos Viários e de Transporte – 2007 Fonte: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano / Núcleo de Informações Urbanísticas. Área Total Licenciada por Bairro e Principais Eixos Viários e de Transporte – 2007 Fonte: PCRJ / SMU / Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano / Núcleo de Informações Urbanísticas. Nota: Os totais não incluem modificações com acréscimo e legalizações p. 34 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano No caso da AP 1, observou-se a ocorrência de empreendimentos comerciais de porte, como o situado na Rua Henrique Valadares, com 132 mil m², de um hotel na Av. Marechal Câmara com cerca de 12 mil m² e outro conjunto comercial na Av. Chile, com 60 mil m². Além desses empreendimentos comerciais no Centro, foram licenciadas duas edificações residenciais multifamiliares no bairro de São Cristóvão totalizando 44 mil m² e 280 unidades no total. A preferência no uso comercial ainda está voltada para a área central, através da ocupação de terrenos vazios e de grandes imóveis construídos, visando a utilização por grandes empresas. A reforma e ocupação do Edifício Andorinhas pela Petrobrás é um exemplo deste último caso. A construção de empreendimento situado ao lado do Centro Administrativo São Sebastião, sede da Prefeitura, com locação contratada pela BR Distribuidora por 15 anos, enquadra-se no primeiro caso. A instabilidade que se observa entre a concessão de licença e de “habite-se” pode refletir o conjunto de mudanças que o mercado imobiliário vem experimentando ou traduzir a lentidão na concretização de grandes empreendimentos. Em geral, admite-se um período de até quatro anos para concretizar o potencial representado pela licença inicial. Nos empreendimentos com área igual ou superior a 1.000m², o tempo médio entre o início do processo - com o pedido para aprovação do projeto - e a emissão da primeira licença para obras é de cerca de um ano. Uma vez obtida a licença, o tempo médio até a concessão do “habite-se” é de aproximadamente três anos, totalizando quatro anos. Além disso, são possíveis, ainda, de serem expedidas várias licenças - de modificação de projeto aprovado, de acréscimo de área, de prorrogação da obra – prolongando o prazo entre a licença para obras e a concessão do “habite-se” da construção. Em relação à AP 3, a Região Administrativa do Méier representou 54% do total de área licenciada, em especial nas áreas próximas ao Norte Shopping, e dentro do perímetro ou nas proximidades da Área de Especial Interesse Urbanístico - AEIU do Engenhão, nos bairros do Engenho de Dentro, Cachambi e Méier. Destacam-se o empreendimento Arena Park na Av. Dom Helder Câmara, com 8 blocos de 12 e 15 unidades, totalizando 991 unidades e 148 mil metros quadrados de área licenciada, e o próprio Estádio João Havelange com mais de 140 mil metros quadrados. Ainda na AP 3, a Região Administrativa da Ilha do Governador participa com 11% do total de área licenciada, e a de Madureira, com 10%. Houve um crescimento de 9% no total de área licenciada na Área de Planejamento 4 - AP 4 e uma redução significativa nas Áreas de Planejamento 2 e 5 - AP 2 e AP 5. No caso da AP 2, este decréscimo reflete, sem dúvida, o esgotamento de áreas disponíveis para construção, além de confirmar uma tendência para diversificação da localização dos investimentos imobiliários. O principal fator de crescimento do licenciamento nos últimos anos na AP 5 tem sido a demanda por empreendimentos de natureza social regulamentados pela lei municipal no 40/99, dependentes dos financiamentos feitos pela Caixa Econômica Federal. Em termos absolutos, a liderança na distribuição de área total licenciada, para os anos de 2005 e 2006 é da Área de Planejamento 4 - AP 4, que representa 59% do total. Segue-se a Área de Planejamento 3 - AP 3 com 19%, a Área de Planejamento 5 - AP 5 com 8%, a Área de Planejamento 1 - AP 1 com 7% e a Área de Planejamento 2 - AP 2 com 6%. Diferentemente do verificado em termos de área total licenciada, para o período 2003 – 2006 houve um decréscimo de área total construída que recebeu o “habitese”. No ano de 2006, o total foi de 1.479.664m², uma redução de 26% em relação ao verificado em 2005. Notas: (1) Refere-se, apenas, as licenças contidas nas certidões de habite-se (2) No cálculo das áreas não estão incluídas as áreas de uso comum das edificações mistas. Habite-se – Licenças, Edificações, Unidades e Áreas licenciadas, segundo as Áreas de PLanejamento – Município do Rio de Janeiro – 2006 Fonte: PCRJ/ Secretaria Municipal de Urbanismo Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.35 2. CONDIÇÕES AMBIENTAIS 2.1 Meio Ambiente O Município do Rio de Janeiro apresenta condições geográficas que determinam a fragmentação da mancha urbana entre maciços. Boa parte desses maciços configura áreas de preservação pela grande importância ambiental e paisagística. No entanto, essas áreas sofrem pressões permanentes por ocupação, ameaçando seus atributos naturais e gerando situações de risco. Os índices relativos à variação da cobertura vegetal, variação da urbanização, relação entre unidades de conservação e população, poluição de corpos hídricos e qualidade do ar, apresentados no trabalho “Indicadores Ambientais da cidade do Rio de Janeiro”22 , foram importantes subsídios no levantamento sobre o meio ambiente visando a compreensão das transformações no espaço carioca. Muitos dos dados apresentados foram levantados e organizados pela Diretoria de Informações Geográficas do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. 22 Indicadores ambientais da cidade do Rio de Janeiro. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP, Secretaria Municipal de Urbanismo, Secretaria Municipal de Meio Ambiente – Departamento de Tecnologia e Informação. – Rio de Janeiro: IPP, 2005. 180p. Variação da Cobertura Vegetal No período de 1984 a 2001, houve uma redução gradual da área de cobertura vegetal do Município. Consideram-se como classes de vegetação a Floresta Atlântica e seus ecossistemas associados – Mangue e Restinga. A classe de Florestas sofreu uma variação percentual negativa da ordem de 16% de 1984 a 2001, enquanto Mangues e Restingas sofreram variações negativas da ordem de 2,84% e 30,04%, respectivamente. O Município apresenta, em geral, no período de 17 anos, uma redução de 15,70% da cobertura vegetal, considerando as três classes de vegetação. p. 36 Variação da Cobertura Vegetal Nativa – Município do Rio de Janeiro – 1984/2001 Fonte: PCRJ – IPP Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano (1) considerando-se “floresta” e “floresta alterada”. (2)considerando-se “mangue” e “apicum”. Variação da Cobertura Vegetal Nativa de acordo com as classes – Município do Rio de Janeiro – 1984/2001 Fonte: PCRJ – IPP Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro Em termos das áreas de planejamento, os indicadores apontam para a redução da cobertura vegetal, nas três classes consideradas, em todas as Áreas de Planejamento, excetuando-se a Área de Planejamento 1 – AP 1 que apresentou incremento de 0,7% (3 ha) em área de Floresta, no período de 1984 a 2001. Constata-se que as maiores perdas na área de cobertura vegetal de Floresta ocorreram nas Áreas de Planejamento 3, 4 e 5 - AP 3, AP 4 e AP 5, com índices de redução da ordem de 31%, 13,7% e 24,3%, respectivamente. As Áreas de Planejamento 4 e 5 apresentaram as maiores perdas absolutas de áreas com cobertura vegetal de Floresta, o que significa uma perda de 4.575 ha, cerca de 91% da área total suprimida no Município. As grandes transformações recentes no ambiente natural das AP 4 e AP 5 estão relacionadas com o processo de expansão da cidade em direção a essas áreas. Variação da Área de Floresta por área de planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1984/2001 Fonte: PCRJ, Secretaria Municipal de Meio Ambiente A área de cobertura vegetal correspondente à classe de Mangue sofreu maiores perdas relativas na AP 3. A redução de 17,4% equivale, em números absolutos, a 16 ha de área suprimida. A AP 5 apresentou a menor variação relativa de área de Mangue no Município, equivalente, às maiores perdas em números absolutos por área de planejamento, da ordem de 79 ha. Não existem ocorrências de mangue na AP 1 e AP 2. * considerando-se mangue e apicum Variação da Área de Mangue por área de planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1984/2001 Fonte: PCRJ, SMAC Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.37 A análise da evolução da cobertura vegetal da classe de Restinga permite observar a ampla variação da área deste tipo de vegetação, no período de 1984 a 2001. Nas Áreas de Planejamento 4 e 5, únicas a apresentarem vegetação de Restinga, verifica-se a redução de 42,2% e 22,2% da cobertura vegetal desta classe, expressando uma ampla ocupação dos ambientes costeiros. Em números absolutos, a perda total representa 30% ou 331 ha da cobertura vegetal em relação ao ano de 1984. Variação da Área de Restinga por Área de Planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1984/2000 Fonte: PCRJ, Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Variação da Urbanização O processo de urbanização ocasiona cada vez mais pressão sobre os ambientes naturais do Município do Rio de Janeiro. A variação da área urbana, de 1984 a 2001, alcançou um patamar de 9.857 ha em termos absolutos, significando um acréscimo de 23,3 % na área urbana em relação à 1984. p. 38 Crescimento da Urbanização – Município do Rio de Janeiro – 1984/2001 Fonte: Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro IPP / SMU / SMAC PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano As Áreas de Planejamento 4 e 5 apresentaram os maiores crescimentos absoluto e relativo - 2.809 ha e 40,9%; 4.964 ha e 35,0%, respectivamente, revelando os vetores de crescimentos intra-urbanos das últimas décadas. A Área de Planejamento 3 apresenta o maior percentual de área urbanizada do Município em 2001, equivalente a 16.769 ha, representando 82,4% de seu território total (20.349,1 ha). As menores variações do percentual de áreas urbanizadas correspondem às Áreas de Planejamento 1 e 2, algo em torno de 4% e 9%, respectivamente. Variação Percentual da Área Urbana por Área de Planejamento do Município do Rio de Janeiro - 1984-2001. Fonte: PCRJ, Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Evolução das Áreas Urbanizadas por Área de Planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1984-2001 Fonte: PCRJ, Secretaria Municipal de Meio Ambiente Unidades de Conservação De acordo com a lei federal n. ° 9.985, de 18 de julho de 2000, conhecida como lei do SNUC, unidade de conservação é o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”23. As unidades de conservação possuem atributos ecológicos específicos e demandam gestão diferenciada, estando submetidas a regras especiais para manutenção de suas qualidades ambientais frente a sua convivência com as demais áreas urbanas. 23 Inciso I do artigo 2º da lei 9.985 de 18/07/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. 24 Dados de 2004. Fonte: PCRJ, SMAC. Indicadores ambientais da cidade do Rio de Janeiro. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP, Secretaria Municipal de Urbanismo, Secretaria Municipal de Meio Ambiente – Departamento de Tecnologia e Informação. – Rio de Janeiro: IPP, 2005. 180p. O Município do Rio de Janeiro possui 23.408 ha de áreas protegidas24, algo em torno de 19,1% do território, incluindo as unidades de conservação. Em 2004, essa extensão correspondia a 93 áreas protegidas, sendo 34 parques, 26 áreas de proteção ambiental, 3 áreas de proteção ambiental e recuperação urbana, dentre outras importantes categorias de proteção. A maior alteração quantitativa ocorreu no período de 1999 a 2000 em função da criação, no final da gestão 1997/2000, de uma série de unidades de conservação. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.39 Áreas protegidas com tutela municipal, estadual e federal em território municipal – 2008. Fonte: Basegeo Web / Armazém de Dados / IPP / PCRJ - Confecção Gerencia de MacroPlanejamento / CGPU / SMU. Evolução das áreas protegidas de tutela municipal, valores acumulados – 1994-2004 Fonte: Relatório de Gestão da SMAC no período 1994-2004 p. 40 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano As Áreas de Planejamento 4 e 5 congregam 81% das áreas conservadas, cerca de 19.000 ha. Gráfico de Distribuição percentual das unidades de conservação por Áreas de Planejamento – Município do Rio de Janeiro – 2004. Fonte: PCRJ, SMAC. Adaptado de Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro. Unidades de Conservação e favelas – Município do Rio de Janeiro. Base: Adaptado de BaseGeo Web, IPP 2003. As unidades de conservação sofrem pressão do avanço de áreas urbanas, sobretudo de favelas que se encontram em seu interior ou próximas de seus limites. Segundo dados de 2003, 680 favelas foram mapeadas e 101, ou 15%, encontram-se a até 400 metros de distância de unidades de conservação. Somando-se a estas, e inseridas dentro dos limites das próprias áreas das unidades de conservação, encontram-se 17 favelas, cerca de 2,5% do total. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.41 Corpos Hídricos Os corpos hídricos da Cidade recebem diariamente boa parte dos esgotos domésticos sem tratamento e dos despejos industriais. As águas pluviais também contribuem para a sua contaminação, carreando às praias, rios e lagoas detritos e lixo urbano, formando as chamadas “línguas negras”. São 106,4km de extensão de praias oceânicas e interiores, uma área de 17,6km² de sistemas lagunares e 520,3km de extensão de rios e canais integrantes das diversas bacias e sub-bacias de drenagem do Município. A principal atividade contribuinte à poluição hídrica varia de acordo com a região da Cidade, destacando-se o extravasamento de esgoto doméstico, efluentes de postos de abastecimento e oficinas mecânicas nas Áreas de Planejamento 1 e 2 e os efluentes industriais e domésticos nas Áreas de Planejamento 3 ,4 e 5. A análise da qualidade das águas das praias do Município, no período que compreende os anos de 1996 a 2004, indica que as praias oceânicas apresentaram balneabilidade bastante superior às praias das baías. A tabela apresentada indica o alto grau de poluição das baías além dos corpos hídricos que contribuem para esses ambientes. Praias como Botafogo e Ramos chegaram a apresentar, em alguns anos, 100% das amostras analisadas impróprias ao banho. Outras praias das baías, como Praia da Bica, Praia do Flamengo, Praia da Engenhoca e Praia da Guanabara, na Baía de Guanabara, e Praia de Sepetiba e Praia das Brisas, na Baía de Sepetiba, apresentaram menos de 20% de amostras próprias para banho. As praias oceânicas apresentam um quadro mais satisfatório em relação às análises de balneabilidade. A maior parte das praias apresentou amostras próprias para banho em mais de 80% das análises. A Praia da Barra, junto ao Quebra Mar, apresentou os piores resultados, mantendo uma média anual de amostras próprias para banho em torno de 50%. Ressalta-se a importância de uma ampla distribuição dos pontos de monitoramento das praias do Município, sendo monitorados tanto as praias oceânicas, como as praias das Baías de Guanabara e de Sepetiba. Pontos de monitoramento de praia no município do Rio de Janeiro Fonte: Indicadores Ambientais da Cidade do Rio de janeiro IPP / SMU / SMAC p. 42 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Percentual anual de análises consideradas próprias para banho das praias da Baia de Sepetiba, da Baia de Guanabara e as praias oceânicas- Município do Rio de Janeiro – 1996/2004. Fonte: PCRJ, Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SMAC Dos 246 rios da Cidade, grande parte encontra-se com suas margens ocupadas. Este quadro dificulta a limpeza mecânica e a manutenção dos cursos d’água, pois os equipamentos muitas vezes não conseguem chegar ao leito destes rios. Ações de recuperação propostas para combater a poluição dos corpos hídricos, somam-se aos serviços especiais de limpeza em rios, canais e lagoas, priorizando-se os corpos d’água que se encontram em situação crítica de degradação, seja por resíduos sólidos e/ou pela perda da sua mata ciliar original. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.43 Qualidade do Ar Bacias e Sub-Bacias Hidrográficas do Município do Rio de Janeiro. Fonte: Basegeo Web / Armazém de Dados / IPP / PCRJ - Confecção Gerencia de Macro-Planejamento / CGPU / SMU. A qualidade do ar do Município do Rio de Janeiro pode ser medida a partir dos dados levantados no monitoramento das diversas bacias aéreas que fazem parte da Cidade e da Região Metropolitana. A influência de contribuições de municípios vizinhos na qualidade do ar das bacias aéreas do território municipal exige uma análise na escala da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. As bacias aéreas I, II e III indicadas no Mapa das Bacias aéreas e altimetria do Município do Rio de Janeiro, possuem maior expressão e abrangência territorial, enquanto a bacia aérea de Copacabana restringe-se espacialmente às fronteiras físicas do Maciço da Tijuca, a noroeste da praia de mesma denominação. Segundo a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente FEEMA, os poluentes provenientes do tráfego veicular destacam-se dentre os fatores que contribuem para a degradação da qualidade do ar na Região Metropolitana do Rio alcançando a marca de 77%. Contribuem ainda para a deterioração da qualidade do ar na Região Metropolitana a topografia acidentada, influência do mar e da Baía de Guanabara na distribuição e dispersão de poluentes, altas temperaturas que favorecem a formação de processos fotoquímicos, além da intensa ocupação do solo.1 25 FEEMA, 2008 A avaliação da qualidade do ar considera a configuração e densidade de pontos da rede de amostragem na cidade e Região Metropolitana, que, p. 44 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano de acordo com a FEEMA, orienta em sua quase totalidade para a medição das concentrações de poluentes provenientes do tráfego de veículos. A análise do comportamento anual de alguns parâmetros, como máxima concentração de poluentes, número de violações do padrão primário nacional e concentração média anual, classificando-os segundo padrões estabelecidos pela legislação vigente, permite chegar a conclusões acerca da qualidade do ar do Município do Rio de Janeiro. 26 Programa criado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA em 1986, com o principal objetivo de reduzir os níveis de emissão de poluentes nos veículos automotores estabelecendo limites máximos de emissão de poluentes segundo categoria de veículos. A série histórica de dados obtidos pela rede da FEEMA aponta para uma tendência estacionária ou de declínio das concentrações máximas e médias de poluentes. Os dados de máxima concentração anual de poluentes confirmam a afirmativa de estabilização ou redução dos índices observados ao longo do período avaliado. Os poluentes Partículas Totais em Suspensão (PTS), Partículas Inaláveis (PM-10) e Dióxido de Enxofre (SO2) apresentam uma tendência de redução ao longo dos anos, assim como o Monóxido de Carbono (CO). A redução de concentração deste último poluente é de grande significância, apresentando uma grande amplitude entre o primeiro e o último ano de avaliação. Tal fato pode ser associado parcialmente à redução das emissões de monóxido de carbono por veículos automotores fruto do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE2. O poluente Ozônio (O3), por outro lado, apresenta tendência de aumento de sua concentração, apresentando parâmetros acima dos permitidos pela legislação nos últimos anos de monitoramento. Bacias aéreas e altimetria do Município do Rio de Janeiro. Fonte: Basegeo Web / Armazém de Dados / IPP / PCRJ Confecção Gerencia de Macro-Planejamento / CGPU / SMU. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.45 Máxima concentração anual observada por poluente, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro - 1995-2006 Fontes: Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente FEEMA apresentado em Indicadores de desenvolvimento sustentável (2005); IBGE, 2008. Da mesma forma, os números de violações do padrão primário nacional apresentam em geral tendência de redução das ocorrências, excetuando-se o caso do parâmetro Ozônio (O3). Número de violações do padrão primário nacional de qualidade do ar, por poluente, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro - 1995-2006 Fontes: FEEMA apresentado em Indicadores de desenvolvimento sustentável (2005); IBGE, 2008. Os dados de concentração média anual por poluente apontam para a redução gradual e contínua das médias de Partículas Totais em Suspensão (PTS) e de Partículas Inaláveis (PM-10). As reduções observadas ao longo do período apesar de significativas, ainda não são suficientes para que se alcancem os padrões primários exigidos. Já os parâmetros de Dióxido de Enxofre (SO2) e Dióxido de Nitrogênio (NO2) mantém-se dentro dos padrões primários exigidos. p. 46 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Concentração média anual, por poluente, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro - 1995-2006 Fontes: FEEMA em Indicadores de desenvolvimento sustentável (2008); IBGE, 2008. Saneamento Ambiental Quadro geral A análise do saneamento ambiental remete às condições de prestação dos serviços de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais. O quadro geral do saneamento ambiental na cidade do Rio de Janeiro está traçado na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Total da população e percentual com acesso aos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo no Município do Rio de Janeiro – 1991/2000 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Censo 1991 e 2000 / PCRJ - Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos -IPP (tabulação por área de planejamento). Os dados dos censos efetuados nos anos de 1991 e 2000 indicam o aumento da porcentagem de acesso aos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo pela população carioca. A porcentagem da população com acesso a esses serviços aumentou de 87,71% para 90,67%. O resultado dos dados tabulados por áreas de planejamento apontam o aumento porcentual em todo território municipal, com destaque para a Área de Planejamento 5 – AP 5, com variação de 80,78% para 86,29%. As Áreas de Planejamento 1, 2 e 3 – AP 1, AP 2 e AP 3, apresentam números, para o ano 2000, acima dos 90%, o que lhes confere os melhores percentuais no Município. Os dados referentes às Áreas de Planejamento 4 e 5, para o mesmo ano, indicam uma maior deficiência de serviços nessas áreas, com percentuais de 82,43% e 86,29%, respectivamente. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.47 Abastecimento de Água O Município do Rio de Janeiro possui rede de abastecimento de água de aproximadamente 9.282km de extensão27. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2001/2006) indica que 99,5% dos domicílios particulares permanentes dispunham de acesso à rede geral de abastecimento de água no ano de 2006. Esse dado pode ser considerado muito satisfatório do ponto de vista quantitativo, mas não esclarece a qualidade do serviço prestado à população. O aumento do percentual de acesso à rede de abastecimento de água em relação ao ano de 2001 também é observado, ainda que haja oscilações dos valores ao longo dos anos. 27 Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB - 1989 e 2000. Percentual de domicilios particulares permanentes com acesso à rede geral de água no Município do Rio de Janeiro – 1991/2006. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, PNAD 1991/2006. Em relação à distribuição territorial dos serviços, as Áreas de Planejamento 4 e 5 – AP 4 e AP 5 apresentam os menores percentuais de abastecimento da rede geral - 93,40% e 95,80%, respectivamente. Para o ano de 2000, apresentam formas alternativas de abastecimento de água, através de poços, nascentes e outras formas, em 5,50% e 3,30%, respectivamente, dos domicílios. Na comparação entre os dados de 1991 e 2000 observa-se uma tendência de pequeno aumento no acesso à rede geral de abastecimento de água, com diminuição gradativa da participação de outras formas de abastecimento. A exceção ocorre na AP 5, onde há um aumento percentual na participação de outras formas de abastecimento e pequena queda no acesso à rede geral de abastecimento. (1) Inclui poços, nascentes ou outras formas de abastecimento. Total da população e percentual com acesso a rede de água, por área de planejamento - Município do Rio de Janeiro – 1991/2000. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Censo 1991 e 2000 / PCRJ - Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos - IPP (tabulação por área de planejamento). p. 48 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Em relação ao acesso à rede geral de abastecimento de água nos bairros, em geral, verifica-se um percentual de atendimento superior a 90%. Poucos bairros apresentam percentual inferior a 86-89%, sendo os piores resultados encontrados em Vargem Grande, Vargem Pequena e Camorim, na Área de Planejamento 4. Este grupo de bairros são contíguos a Guaratiba, bairro integrante da Área de Planejamento 5, que também apresenta baixo percentual. Na Área de Planejamento 3, Tomás Coelho destaca-se como o bairro com maior deficiência de atendimento. Percentual de pessoas que vivem em domicílios com água encanada por bairros. Fonte dos dados: IBGE. Censo Demográfico 2000. Cálculos e tabulação: Fundação João Pinheiro-MG (Convênio: IPP, IUPERJ, IPEA – 2003) Mapa temático: Gerência de Macroplanejamento/CGPU/SMU/PCRJ. 28 Dados referentes ao ano de 2004 25/06/2007. Fonte: Ministério das Cidades - Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS. Consultado em: www.armazemdedados.rio.rj.gov.br 29 Tratamento referente ao esgoto coletado no ano de 2004 25/06/2007. Fonte: Ministério das Cidades - Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS. Consultado em: www.armazemdedados.rio.rj.gov.br 30 Fonte: IBGE, PNAD 2006. Esgotamento Sanitário A cidade do Rio de Janeiro com seus 6 milhões de habitantes produz cerca de 470 toneladas/dia de esgotos domésticos, sendo que boa parte fica sem tratamento, além dos esgotos industriais. A rede geral de esgoto do Município tem a capacidade para atender o acesso de 73% dos seus domicílios, atingindo 4.192km de extensão28 e percentual de 83% de tratamento do esgoto coletado29. Verifica-se uma oscilação no percentual de domicílios com acesso à rede geral de esgoto, a partir de 1991, no período entre 2000 e 2006, permanecendo em uma média de acesso à rede de aproximadamente 72%30. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.49 Percentual de domicílios particulares permanentes com acesso à rede geral de esgoto no Município do Rio de Janeiro – 1991/2006. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, PNAD 1991/2006 Os percentuais do Município do Rio de Janeiro destacam-se frente às outras capitais do país, apesar de apresentar ainda certa deficiência desse serviço. Em relação às áreas de planejamento, o acesso ao sistema de esgoto quantitativamente é satisfatório, mas além da rede geral de esgoto, considera o uso de fossas sépticas. No período de 1991 a 2000, verifica-se o aumento percentual do sistema de esgoto total adequado em todas as áreas de planejamento. Destaca-se o crescimento do acesso à rede geral em todo o Município, especialmente na Área de Planejamento 5 - AP 5 que apresentou um acréscimo de 10,7% para 50%, reduzindo, ainda, a utilização de fossas sépticas e outras formas de descarte de esgoto – como fossa séptica sem escoadouro, fossa rudimentar e vala negra. (1) Inclui fossa séptica sem escoadouro, fossa rudimentar e vala negra, para o ano de 1991; inclui domicílio sem banheiro e sanitário, fossa rudimentar, vala, rio, lago ou mar e outro escoadouro para o ano de 2000. Total da população e percentual de acesso ao sistema de esgoto adequado por área de planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1991/2000. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Censo 1991 e 2000 / PCRJ - Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos - IPP (tabulação por área de planejamento). p. 50 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Manejo de resíduos sólidos No ano de 2007, foram coletados 1.519.338 toneladas de lixo domiciliar e 1.315.377 toneladas de lixo público em todo o Município, significando aproximadamente 0,26 e 0,22 toneladas por habitante/ano, respectivamente 31 . Os números expressam a magnitude e importância desse serviço do saneamento ambiental. 31 COMLURB; Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos/ SMU/ PCRJ. A análise de destino final do lixo coletado diariamente indica que, em geral, os aterros tem sido a opção mais utilizada pelo Município no descarte do lixo. No ano de 1989, aproximadamente 95% da quantidade de lixo coletado diariamente na Cidade eram dispostos em aterros controlados. Em 2000 do total de descarte do lixo produzido diariamente, passou a ser 23,38% em aterro controlado, e 73,40% em aterros sanitários. Destaca-se ainda a participação de 3,21% de estações de compostagem, indicando que novas alternativas ao descarte do lixo, menos agressivas ao meio ambiente, têm sido utilizadas pelo Município. (1) Em 2000, o item de destino final “reciclagem” não foi pesquisado. Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB, 1989 / 2000. Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB - 1989 e 2000. O sistema municipal de coleta de lixo é composto basicamente por serviço de limpeza geral e por serviço de limpeza por caçamba. Estes serviços atendiam, em 2000, 97,9% da população da Cidade, número bem satisfatório. Na análise do acesso ao serviço de coleta de lixo pela população por área de planejamento, nos anos de 1991 e 2000, verifica-se que houve um aumento significativo do atendimento em todas as áreas de planejamento, com destaque para a Área de Planejamento 5 – AP 5, que apresentou um acréscimo no serviço, passando de 89,8% em 1991 para 96,7% em 2000. Em geral, todas as áreas de planejamento apresentaram incremento no acesso ao serviço de coleta de lixo de 1991 a 2000, alcançando percentuais de atendimento acima dos 95 %. Cabe destacar que apesar da forte queda dos percentuais de utilização de outras formas de descarte de lixo (queimado, enterrado, jogados em terrenos baldios ou corpos hídricos), somente a sua presença já representa a existência de formas que provocam grande impacto ambiental. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.51 Na análise do serviço na escala dos bairros, se observa claramente onde se encontram as maiores deficiências do serviço de coleta de lixo dentro de cada área de planejamento. A variação, no entanto, entre a qualidade dos serviços nos bairros é pequena, com percentuais de atendimento em todos os bairros acima de 90%. Os dados indicam que apenas alguns bairros das Áreas de Planejamento 3, 4 e 5 – AP 3, AP 4 e AP 5, não apresentam percentuais superiores a 95% de acesso, situando, mesmo assim, acima de 90%. p. 52 (1) Inclui os itens: queimado, enterrado, jogado em terreno baldio, jogado em rio, lago ou mar e outro para 1991; queimado, enterrado, terreno baldio ou logradouro, jogado em rio, lago ou mar e outro destino para o ano de 2000. Total da população e percentual com acesso a coleta de lixo por tipo de coleta por área de planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1991/2000. PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Manejo de resíduos líquidos O Município apresenta grande parte do seu território de planície abaixo da cota altimétrica de 5 metros. Esta condição favorece eventos de inundações e alagamentos por ocasião de altos índices pluviométricos ou alteração positiva do nível do mar. Tal fato exige que uma atenção especial seja dada às áreas de baixada. Uma das áreas mais desfavorecidas em relação à drenagem é a baixada de Jacarepaguá. Com os elevados índices de crescimento urbano das últimas décadas essa situação tende a se agravar, podendo provocar inclusive repercussões negativas na saúde pública, no meio ambiente e no deslocamento da população. Outras áreas baixas, além das já altamente consolidadas, são as mais a jusante dos rios. Áreas Inundáveis do Município do Rio de Janeiro (Cotas altimétricas entre 0 e 5 metros). Fonte: Basegeo Web / Armazém de Dados / IPP / PCRJ Confecção Gerencia de Macro-Planejamento / CGPU / SMU. Percentual de pessoas que vivem em domicílios urbanos com coleta de lixo por bairros. Fonte dos dados: IBGE. Censo Demográfico 2000. Cálculos e tabulação: Fundação João Pinheiro-MG (Convênio: IPP, IUPERJ, IPEA – 2003) Mapa temático: Gerência de Macroplanejamento/CGPU/SMU/ PCRJ. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.53 3. SITUAÇÃO HABITACIONAL Para abordar a situação habitacional no Município foram utilizados, sobretudo, os dados levantados pelo IBGE e organizados pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos relativos aos domicílios em favelas, além da publicação elaborada pela Fundação João Pinheiro referente ao déficit habitacional no Brasil. A ênfase dada neste item do relatório foi à habitação para os segmentos da população não atendidos pelo mercado formal, que ocupam os assentamentos informais urbanos32 , que compreendem, no caso da cidade do Rio de Janeiro, principalmente as favelas e os loteamentos irregulares. A construção de moradias para os estratos sociais de mais baixa renda, que durante um período correspondeu basicamente aos conjuntos habitacionais, ficou muito aquém das demandas habitacionais deste segmento da população, e não impediu o intenso circuito da produção informal da moradia. Muitas vezes, alguns desses conjuntos, tornaram-se, por si só, em problemas, não só pela baixa qualidade das soluções habitacionais propostas, em termos construtivos e estéticos, como em termos urbanísticos, sendo indutores da favelização das suas imediações33 . 3.1 FAVELAS A favela é definida pelo Plano Diretor Decenal de 1992 como a área predominantemente habitacional, caracterizada por ocupação da terra por população de baixa renda, precariedade da infra-estrutura urbana e de serviços públicos, vias estreitas e de alinhamento irregular, lotes de forma e tamanho irregular e construções não licenciadas, em desconformidade com os padrões legais. As favelas estão presentes na paisagem carioca há mais de 110 anos. Elas surgiram ao final do século XIX, como resposta tanto aos ataques maciços empreendidos pelos governos daquela época contra os “cortiços”, a habitação coletiva típica do Rio oitocentista, quanto em decorrência da reforma urbanística de 1902-1906 que acabou expulsando um grande número de pessoas pobres da área central. As levas imigratórias ocorridas nas décadas de 1940 e 1950 difundiram ainda mais esses assentamentos informais pela Cidade que continuaram crescendo nas décadas seguintes. Somente a partir do censo demográfico de 1950, quando já abrigavam 169.305 pessoas, as favelas passaram a integrar os levantamentos oficiais, e apenas na década seguinte passaram a ser representadas na documentação cartográfica oficial da Cidade34 . Na década de 1960, foi adotado um amplo programa de erradicação de favelas que perdurou até meados dos anos 197035 . No bojo do processo de “abertura política” no país, as favelas passaram a ser reconhecidas como partes integrantes do tecido social carioca, sendo iniciado um período de execução de melhorias urbanísticas nos assentamentos informais, ao mesmo em que se tornam objeto de estudos mais acurados. O Plano Diretor Decenal de 1992 ao encarar a cidade real e a gravidade da situação habitacional das camadas de mais baixa renda do Município reconhece como direito a permanência das moradias nas favelas, exceto quando em situação de risco ambiental ou geotécnico. Nos anos 1980 surgiu o primeiro “cadastro de favelas” da Cidade, de início, sob a forma de um simples arquivo em papel, que guardava mapas e informações qualitativas e quantitativas sobre as favelas, muitas delas obtidas por meio de entrevistas realizadas com antigos residentes e líderes comunitários. Em 1990, o cadastro tornou-se mais complexo e a partir da compreensão de que os processos de ocupação das favelas demandavam p. 54 32 O IBGE tem usado a nomenclatura “assentamentos subnormais” para referir-se às ocupações urbanas que se caracterizam pela informalidade no processo de ocupação e pela precariedade tanto das construções como da infraestrutura. 33 IQM - Índice de Qualidade dos Municípios: Necessidades Habitacionais. Fundação CIDE (2005) 34 CAVALLIERI, Fernando, VIAL, Adriana, LOPES Gustavo, “Diferenciais Intra-urbanos no Rio de Janeiro: contribuição ao cumprimento da meta 11 do milênio” in Sistemas de Información Geográfica aplicados a Estudios Urbanos: experiencias latinoamericanas, Cambridge (EUA), Lincoln Institute of Land Policy (LILP). 35 ABREU, M. A. Reconstruindo uma história esquecida: origem e expansão inicial das favelas do Rio de Janeiro. Espaço & Debates, 14 (37), 1994, 34-46; PEREIRA DA SILVA, M. L . Favelas cariocas (1930-1964). PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano um sistema próprio de acompanhamento e avaliação, o governo municipal, através do IPLANRIO - atual Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, IPP – decidiu criar o Sistema de Assentamentos de Baixa-Renda – SABREN. 36 A relação completa das favelas do Município do Rio de Janeiro está disponível no Armazém de Dados do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos: www.rio.rj.gov.br. Na consulta realizada em 09.05.2008 constavam 643 favelas. O crescimento percentual da população em favelas entre os anos 1991 e 2000 foi muito superior ao crescimento do total do Município, excluindo ou não as áreas de favela. A tendência tem sido o crescimento no número de favelas no Rio de Janeiro36 , mas foi verificado também o adensamento das favelas existentes através da verticalização das construções existentes. Crescimento populacional nas favelas 1991 e 2000 Fonte: Armazém de Dados/ Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos a partir dos dados do IBGE Mapa das Favelas na Cidade do Rio de Janeiro - 2004 Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.55 Verifica-se que a Área de Planejamento (AP) com maior percentual de moradores em favelas é a AP 1, com 29%, seguida da AP 3, com 23%, e da AP 4, com 21%, todas acima da média municipal, de 19%. Entre 1991 e 2000 a maior mudança se deu na AP 4, onde a população residente em favelas passou de 14% da população total, para 21%, correspondentes a um crescimento de 100%, passando de 72.182 para 144.394 habitantes residindo em 41.289 domicílios, equivalente a um acréscimo de 22.499 domicílios em favelas. A Área de Planejamento 3 - a mais populosa do Município em 2000, com 2.3 milhões de habitantes - permaneceu como a de maior população em favelas, 544.737 habitantes, equivalentes a 23,1% do total, residentes em 153.617 domicílios, com um aumento de 31.482 domicílios em 9 anos. O acréscimo de população em favelas foi de 64.213 habitantes, correspondendo a um crescimento no período de 13,4%. A Área de Planejamento 1, que proporcionalmente tem mais habitantes residindo em favelas no Município - 29% - foi a única que apresentou declínio da população em favelas, reduzindo de 85.182 habitantes para 76.787. Mas esta redução se verificou também no número total da população residente, que passou de 303.395 para 268.280 habitantes, confirmando a tendência de expansão urbana rumo às Áreas de Planejamento 4 e 5 e confirmando a tendência de esvaziamento residencial das áreas centrais. A Área de Planejamento 5, a mais distante do Centro, embora permaneça com o menor percentual de moradores em favela, registrou um acréscimo populacional nas favelas de 53,2%, inferior apenas ao registrado na AP4 (que dobrou em 9 anos), e bem superior ao crescimento formal registrado no período. Evolução populacional das favelas do Município do Rio de Janeiro por área de planejamento - 1991 e 2000 Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos com base nos dados do IBGE p. 56 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano População vivendo em assentamentos formais e informais (favelas), em valores absolutos e relativos, por Áreas de Planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1991/2000 Fonte: IBGE, Censos 1991 e 2000/ PCRJ – Instituto Municipal de UrbanismoPereira Passos – IPP (Tabulação por Área de Planejamento) População vivendo em assentamentos formais e informais (favelas), em valores absolutos e relativos, por Áreas de Planejamento – Município do Rio de Janeiro – 1991/2000 Fonte: IBGE, Censos 1991 e 2000/ PCRJ – Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP (Tabulação por área de planejamento) Em relação às regiões administrativas observa-se que as de maior número de residentes em favelas - mais de 40.000 habitantes– são: Jacarepaguá, Bangu, Pavuna, Maré, Ilha do Governador, Rocinha, Complexo do Alemão, Madureira, Penha e Ramos. O Centro e Paquetá não possuem favelas e as Regiões Administrativas de Cidade de Deus, Guaratiba e Santa Teresa possuem menos de 9.000 residentes em favelas. As demais regiões, no ano 2000, apresentavam entre 40.000 e 10.000 moradores em favelas. Em termos da densidade domiciliar dos “aglomerados subnormais”37 recenseada pelo IBGE, em 2000, a variação entre as regiões é pequena– variando da máxima de 3,69 moradores por domicílio em Madureira à mínima de 3,38 em Copacabana. Merece destaque o fato da Região Administrativa de Guaratiba ter registrado um aumento de 195% na população de favelas. Outras regiões que apresentaram crescimento acelerado foram Santa Cruz, Barra da Tijuca e Jacarepaguá, com crescimento superior a 100%. Na tabela a seguir podemos observar as regiões administrativas com maior crescimento no período 1991-2000: 37 Os aglomerados subnormais (categoria usada pelo IBGE) nas regiões administrativas citadas abrangem basicamente favelas. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.57 Populacional nas favelas 1991 e 2000 por RA em ordem decrescente de população (2000) Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos com base nos dados do IBGE. p. 58 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Habitação – Domicílios, população residente em favelas (Setores Censitários – Aglomerados Subnormais) e densidade domiciliar, segundo as Áreas de Planejamento e Regiões Administrativas – 1991/2000. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Censo Demográfico 1991 e Base de Informações por setor censitário do Censo Demográfico 2000. Tabulação: IPP/DIG. Nota: Os dados do Censo 1991 são apresentados segundo a estrutura administrativa vigente em 2000 e foram obtidos através da compatibilização entre os setores censitários. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.59 Habitação – Domicílios, população residente em favelas (Setores Censitários – Aglomerados Subnormais) e densidade domiciliar, segundo as Áreas de Planejamento e Regiões Administrativas – 1991/2000. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Censo Demográfico 1991 e Base de Informações por setor censitário do Censo Demográfico 2000. Tabulação: IPP/DIG. Nota: Os dados do Censo 1991 são apresentados segundo a estrutura administrativa vigente em 2000 e foram obtidos através da compatibilização entre os setores censitários. p. 60 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano 3.2 LOTEAMENTOS IRREGULARES A coibição por parte do poder público à moradia nas favelas nos anos 1960, ainda que intermitente, propiciou a produção de um grande número de loteamentos em terras até então com uso agrícola. As características dessa modalidade de assentamento habitacional são: o padrão de ocupação extensiva em função dos baixos preços da terra onde se implantaram; a ausência ou deficiência de infra-estrutura urbana, abaixo dos requisitos mínimos exigidos pela legislação, e a distância das áreas centrais 38. A cidade do Rio de Janeiro possui aproximadamente 907 loteamentos irregulares e clandestinos, ocupados por população de baixa renda. Estimativas indicam que estes correspondem a 188.000 lotes e abrigam 750.000 moradores. Até 2006 haviam sido pré-inscritos no “Núcleo de Regularização de Loteamentos” 515 loteamentos, dos quais 129 foram regularizados, equivalentes a mais de 20.000 lotes nos quais residem aproximadamente 80.000 pessoas39. 38 IQM - Índice de Qualidade dos Municípios: Necessidades Habitacionais. Fundação CIDE (2005) 39 Núcleo de Regularización y Programa Morar Legal: un relato de la experiencia en regularización de loteos de la ciudad de Rio de Janeiro, VERÍSSIMO (2007), a partir de estimativas do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos 40 - Id. Em relação às áreas de planejamento, estima-se que aproximadamente 85% dos loteamentos irregulares e clandestinos estão situados nas Áreas de Planejamento 3, 4 e 5. Constata-se que na AP 4 - que possui as mais altas taxas de crescimento populacional, constituindo–se o principal vetor de expansão para o mercado imobiliário de rendas média e alta e destino de significativos investimentos públicos em equipamentos e infra-estrutura viária - tem proliferado atividades clandestinas de subdivisão do solo e acelerado processo de favelização do Município40. Favelas e Loteamentos irregulares Fonte: Basegeo Web, Armazém de Dados, IPP e IBGE confecção do mapa pela Gerencia de Macro Planejamento / CGPU / SMU Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.61 Já na Área de Planejamento 5 – AP 5 – a de menor densidade populacional do Município, com maior carência de serviços, equipamentos urbanos e meios de transporte coletivo - há predominância de loteamentos habitados por população de baixa renda, por ter sido até o inicio dos anos 1960 basicamente área agrícola e conter, ainda hoje, um número significativo de áreas sem uso, configurando uma forte predisposição à ocupação irregular. NÚCLEO DE REGULARIZAÇÃO DE LOTEAMENTOS O Núcleo de Regularização de Loteamentos foi criado para ser um canal de articulação entre moradores, lideranças comunitárias, técnicos da Prefeitura, Estado, Governo Federal e concessionárias de serviço público. As reivindicações debatidas e aprovadas pelos seus integrantes são encaminhadas ao órgão responsável para solução do problema e ao órgão municipal de habitação, que atua na regularização urbanística e fundiária dos loteamentos inscritos no Núcleo. Desde a sua criação, em 1987, já foram regularizados 167 loteamentos. O Núcleo tem as suas ações fundamentadas na participação popular das assembléias realizadas bimestralmente reuniões plenárias. Participam destes encontros representantes das Secretarias Municipais do Habitat, Urbanismo, Fazenda e Obras, do Instituto Municipalde Urbanismo Pereira Passos, da Procuradoria Geral do Município, das Subprefeituras, da RioLuz, Cedae, Defensoria Pública, Ministério Público Estadual, Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano e Light. Além desses encontros, representantes do Conselho de Moradores e de órgãos públicos realizam reuniões paritárias para discutir ou encaminhar temas específicos e assembléias nas comunidades - principalmente antes das intervenções - para esclarecer dúvidas em relação ao projeto e a obra. Representantes dos moradores também são convidados para acompanhar as licitações das obras que serão executadas nessas áreas. 3.2 DÉFICIT HABITACIONAL O déficit habitacional da cidade do Rio de Janeiro incorpora duas dimensões: a insuficiência quantitativa no número de moradias e a sua inadequação correspondente às deficiências de infra-estrutura básica, à inadequação fundiária ou à precariedade do próprio domicílio. Também se inclui no déficit, embora não acrescentado aos demais componentes, o ônus excessivo com aluguel, uma vez que, para os estratos de renda mais baixo da população, isso significa um limite para desagregação social. Verifica-se que a demanda na Cidade para incremento no estoque domiciliar para as camadas situadas nas faixas de renda mais baixas no ano de 2000 é de 126.612 unidades, representando um percentual de 43,49% em relação ao Estado do Rio de Janeiro, e de 57,09% em relação à Região Metropolitana. O total da demanda para o Estado do Rio de Janeiro é de 293.848 unidades, representando um percentual de 6,89% em relação ao estoque domiciliar permanente. Este percentual é acompanhado pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que apresenta 6,92%, e do Município do Rio de Janeiro, que apresenta 7%. p. 62 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Legislação aplicável à regularização de loteamentos Fonte: Secretaria Municipal do Habitat. Tabulação: GMP/CGPU/SMU (1) Refere-se aos domicílios duráveis ocupados, não incluindo vagos, rústicos ou improvisados. (2) Refere-se à necessidade de construção de novas moradias para a solução de problemas quantitativos e qualitativos habitacionais. (3) Não inclui os domicílios rústicos. (4) Compreende as moradias onde há soma das famílias conviventes secundárias. (5) Domicílios particulares compostos por um ou mais aposentos localizados em casa de cômodo, cortiço, e outras formas de habitação coletiva. (6) Em relação ao total de domicílios particulares permanentes. Déficit habitacional simplificado e ônus social com aluguel, Município, Região Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro - 2000 Fonte: IBGE - Censo 2000 - (Tabulação Fundação CIDE. 2005). Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.63 Com base em estudo elaborado pela Fundação João Pinheiro (2005)41 pode-se analisar características de inadequação dos domicílios localizados em assentamentos considerados “aglomerados subnormais”. Tanto na Região Metropolitana como no Município do Rio de Janeiro a principal inadequação refere-se à carência de infra-estrutura, seguida de perto pelo adensamento excessivo e pela inadequação fundiária. Entende-se adensamento excessivo quando o domicílio apresenta um número médio de moradores superior a três por dormitório e a inadequação fundiária urbana, a situação onde pelo menos um dos moradores do domicílio declara ter a propriedade da moradia, mas informa não possuir a propriedade, total ou parcial, do terreno ou a fração ideal de terreno (no caso de apartamento) em que ela se localiza. 41 Os resultados do Estudo da Fundação João Pinheiro/Ministério das Cidades (2004) e da Fundação CIDE (2005), para o Estado do Rio de Janeiro e Região Metropolitana do Rio de Janeiro, apresentam divergências em alguns componentes, provavelmente pela diferença entre as respectivas bases de dados utilizadas, apesar de não justificar algumas variações percentuais. (1) Apenas casas e apartamentos urbanos. (2) Casas e apartamentos urbanos que não possuem um ou mais dos serviços de infra-estrutura: iluminação elétrica, rede geral de abastecimento de água, rede geral de esgotamento sanitário ou fossa séptica, e coleta de lixo. Inadequação dos domicílios localizados em aglomerados subnormais (2000) Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos com base nos dados do IBGE, Censo 2000 e informações por setor (Tabulação da CGPU/SMU) Domicílios Urbanos Não-Atendidos por Serviços de Infra—Estrutura (2000) Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI) Em relação às áreas de planejamento, a “inadequação de moradia”, tendo por base os critérios estabelecidos na publicação “Déficit Habitacional no Brasil Municípios Selecionados e Microrregiões Geográficas – 2003” (Fundação João Pinheiro, 2004), verifica-se que as Áreas de Planejamento 3 e 5 – AP 3 e AP 5, apresentam os piores resultados em números absolutos, mantidos para o período de 1991 e 2000. Quanto ao percentual de moradias que não proporcionam condições mínimas de habitabilidade para os seus moradores em relação ao total de domicílios inadequados no Município, as Áreas de Planejamento 4 e 5 apresentam os piores resultados, observando melhorias para o período de 1991 e 2000. p. 64 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Evolução populacional das favelas do Município do Rio de Janeiro por área de planejamento - 1991 e 2000 Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos com base nos dados do IBGE A maior parte do déficit habitacional do Município (61% equivalentes a 146.003 unidades habitacionais) se encontra na faixa de renda de até 3 salários mínimos, que por sua vez representa 50,77% do déficit nessa faixa na Região Metropolitana. Na faixa de renda entre 3 e 5 salários mínimos situa-se 16% do déficit habitacional do Município, correspondendo a 58% do déficit na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Adensamento Urbano Excessivo, por Faixas de Renda – 2000 Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI) Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.65 4. PATRIMÔNIO CULTURAL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa, Desenvolvimento e Revitalização do Patrimônio e da Memoria Histórico Cultural da Cidade do Rio de Janeiro Patrimônio cultural é todo e qualquer testemunho do fazer humano que tenha caráter memorial e de pertencimento para uma sociedade. O conceito de patrimônio cultural, ao longo do século XX, evoluiu da proteção dos grandes monumentos isolados ao reconhecimento e valorização de obras modestas que, com o tempo, adquiriram significado cultural como referência de um grupamento social, incluindo-se a preservação da ambiência dos conjuntos urbanos e da memória coletiva e intangível de um povo. Esse conceito foi consolidado na Constituição Federal de 198842, que também conferiu aos municípios a defesa do patrimônio cultural local43. O Rio de Janeiro, apesar de cosmopolita, é uma cidade histórica. Foi capital da colônia portuguesa, sede do Reino Unido de Portugal e Algarves, sede do Império e capital da República, ditou moda e produziu referências. Por intermédio da sua arquitetura conseguimos identificar a história do Brasil. É dessa pluralidade e diversidade que o nosso patrimônio cultural, material e imaterial, é constituído. A Cidade guarda, entre seus bens tombados, bens naturais e paisagísticos, obras de arte (fontes, estátuas, pinturas, mobiliário), conjuntos urbanos e bens de natureza imaterial que, por sua representatividade coletiva, preservam a alma e o jeito de ser do carioca, como por exemplo: a Banda de Ipanema, os fotógrafos Lambe-lambe, a obra literária de Machado de Assis e as Escolas de Samba que desfilam na Cidade. Existem hoje cerca de 1.900 bens tombados no Município do Rio de Janeiro, que ajudam a contar a sua história e de seus moradores. São exemplares arquitetônicos do período colonial até construções modernistas de excepcional valor, mesmo após as diversas tentativas de “modernização” da cidade com a destruição de grandes exemplares. 4.1 Histórico A Cidade, fundada aos pés do Morro Cara de Cão, na Urca, em 1565, transferiu-se para o alto do Morro do Castelo, em 1567, por motivos estratégicos de defesa e, a partir daí, se desenvolveu. Até o século XVIII, a malha urbana do Rio de Janeiro restringia-se à área entre os morros do Castelo, São Bento, Santo Antônio e da Conceição. 42 Art. 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticos-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor históricos, paisagísticos, artístico, arqueológico, aleontológico, ecológico e científico. 43 Artigo 30 da Constituição Federal. Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, houve um grande impacto demográfico e grandes benefícios econômicos para a Cidade, promovendo novo impulso na expansão do seu espaço urbano. Entre 1808 e 1818 foram construídos mais de 600 sobrados na área urbana, onde predominavam casas térreas, e cerca de 150 chácaras ao redor da cidade, onde passou a morar a população mais abastada. Em direção à Zona Sul, a malha urbana passa a englobar a Lapa, o Catete e a Glória. Em direção à Zona Norte, começa a surgir a Cidade Nova, área que se separava da “Cidade Velha” pelo Campo de Santana. A área de São Cristóvão se desenvolveu devido à proximidade da Quinta da Boa Vista, residência da família Real, que se ligava à área central pelo Caminho do Aterrado. Com a revolução industrial iniciada na Europa nos fins do século XVIII, as cidades cresceram desordenadamente, criando aglomerados urbanos com pésp. 66 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano simas condições de habitabilidade. Isto vai se refletir no Brasil, principalmente, na sua capital. No século XX, os governantes e técnicos começaram a aplicar teorias e políticas de “planejamento” das cidades, alegando razões de higiene e modernização: alargaram ruas, abriram avenidas, destruíram conjuntos arquitetônicos. 44 George Eugène Haussman (1809/1891) - Prefeito de Paris entre 1853 e 1869 na gestão de Napoleão III. Entre as principais diretrizes da reforma urbana por ele implementada em Paris, destacamos: ilhar monumentos através de grandes perspectivas, melhorar o estado de saúde da cidade com a destruição de ruelas e assegurar a paz pública por meio da criação de amplos bulevares para melhor areação. 45 C.f. LIMA, Evelyn Furquim Werneck. Avenida Presidente Vargas – uma drástica cirurgia . Rio de Janeiro, SMCT, 1995 No Brasil, adquiriu-se o hábito de renegar e destruir o passado para valorizar a nova ordem. Este hábito tornou-se mais eloqüente no século XX. A Reforma Pereira Passos, a grande reforma urbana e “embelezadora”, que atingiu, sobretudo, o centro da cidade, entre os anos de 1903 e 1906, foi elaborada pelo Prefeito do Distrito Federal, Pereira Passos. Inspirada na reforma efetuada por Haussman44 no século anterior em Paris, esta nossa reforma abriu e alargou inúmeras vias (Avenidas Central, atual Rio Branco, Rodrigues Alves, Beira Mar, Rua da Carioca), criou e urbanizou praças e parques e ampliou o porto, visando facilitar a circulação urbana e “embelezar”, sanear e dar uma aparência moderna à cidade. Com isso, inúmeros conjuntos arquitetônicos foram destruídos, assim também como a malha urbana colonial. Na década de 1920, o Prefeito Carlos Sampaio, preparando a cidade para as comemorações do 1º Centenário da Independência, mandou demolir o Morro do Castelo, destruindo o sítio histórico mais antigo do Rio de Janeiro. Com a Revolução de 1930 e o início da era Vargas, há um grande incentivo ao setor industrial. Nesta época, a cidade já havia se expandido em direção ao sul, ao norte e aos subúrbios. O Estado definiu como zona industrial o subúrbio (ao longo da linha da Estrada de Ferro Central do Brasil) e incentivou a verticalização da Zona Sul. Foi aberta a Avenida Brasil (concluída em 1946). A área central caracterizava-se, então, como área comercial, de serviços e de administrações públicas. Em 1937, em plena ditadura Vargas, é criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) que viria a proteger bens de importância nacional; nesse sentido, protegem-se, por meio do tombamento, exemplares do Brasil colonial e imperial. São projetados os edifícios da Associação Brasileira de Imprensa e do Ministério da Educação e Saúde. Na década de 1940, houve a abertura da Av. Presidente Vargas, que mudou drasticamente a fisionomia da cidade com a demolição de uma grande quantidade de residências, casas de comércios e igrejas, algumas delas tombadas como patrimônio histórico e artístico nacional45. Em 1952, outro morro remanescente da ocupação inicial da cidade foi demolido, o Morro de Santo Antônio, cujas terras e pedras foram utilizadas para a realização do Aterro do Flamengo. É dessa época a construção do Conjunto Residencial Mendes de Morais, mais conhecido como Conjunto do Pedregulho, obra impar de Afonso Eduardo Reidy. Na segunda metade da década de 50, durante o governo Juscelino Kubitschek, houve um forte movimento modernizador na sociedade brasileira e no Rio de Janeiro que renegava suas tradições, revolucionando os costumes. Surgia a Bossa Nova e Copacabana abrigava o Beco das Garrafas, local onde se aglomeravam pequenos bares que apresentavam “pocket shows” com músicos iniciantes como Carlos Lira, Dom Um Romão, Silvinha Telles, Dolores Durand, Marisa Gata Mansa. Na década seguinte ficou conhecido como o “Templo da Bossa Nova”, apresentando para a vida musical brasileira, artistas como Nara Leão, Leny Andrade, Pery Ribeiro, Silvio César, Alaíde Costa e Elis Regina . Em 1960, a capital federal foi transferida para Brasília. A “Bela Cap” Rio de Janeiro é transformada em Estado da Guanabara. Carlos Lacerda é eleito o primeiro governador do novo Estado e durante sua gestão inúmeras transformações urbanas são realizadas e planejadas. Diante de radicais transformações, é criada a Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Guanabara que tomba diversos bens ameaçados de demolição. Ipanema se projeta no cenário cultural brasileiro. As Escolas de Samba passam por profunda transformação rumo à espetaculosidade que ocorrerá na década de 1970. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.67 Na década de 1960, um grupo de boêmios e escritores cria a Banda de Ipanema, símbolo do carnaval da Zona Sul. Ao final dessa década, a Cinemateca do MAM se impõe como pólo difusor do cinema de arte e o Cinema Paissandu fica famoso ao projetar filmes dos grandes diretores; ambos tornam-se centros de resistência cultural e das liberdades democráticas. Surge a “Geração Paissandu”. Os anos 1970, conhecidos como do “desbunde” geram espaços pela Cidade, aglutinando uma nova geração representativa da intelectualidade carioca: em Ipanema nas “Dunas da Gal” e na Feira Hippie da Praça General Osório. O Teatro Ipanema apresentava “Hoje é Dia de Rock” e “A China é Azul”, lançando autores como José Vicente, José Wilker e Isabel Câmara. Surge, em Copacabana, o Teatro Teresa Rachel, palco de grandes espetáculos e grandes diretores. A legislação urbanística modifica-se, proporcionando uma transformação radical na paisagem urbana em favor de um mercado imobiliário impiedoso. Surge o conjunto habitacional no Leblon, conhecido como “Selva de Pedra” dando início à verticalização daquele bairro e de Ipanema. O inicio das obras de implantação do Metrô proporcionou a uma nova era de demolições pela cidade e bairros perderam suas características históricas, como por exemplo, o Catete. Na segunda metade dos anos 1970, há a fusão do Estado da Guanabara com o antigo Estado do Rio de Janeiro, nascendo um novo Estado do Rio de Janeiro, com capital nesta Cidade. O governo estadual criou o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac – órgão responsável pela aplicação da política de proteção e valorização do patrimônio cultural no território estadual. A Cidade continua sofrendo transformações com prejuízo à memória urbana. O Palácio Monroe, antiga sede do Ministério da Agricultura, sobrados e edifícios da Cinelândia são demolidos. Até o início da década de 1980, o único instrumento que existia para a proteção do patrimônio cultural era o Tombamento, instituído pelo Decreto Lei 25/37, que criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Era preciso, portanto, criar outro tipo de proteção para o conjunto de edificações que conferiam identidade urbana a seus cidadãos, diferentemente do tombamento. Surgiu daí, pioneiramente no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, um novo tipo de proteção que conseguia conjugar o desenvolvimento urbano com a preservação do patrimônio edificado. Assim nasceu o conceito das Áreas de Proteção Ambiental - APA - para proteção dos conjuntos urbanos, futuras APAC – Áreas de Proteção do Ambiente Cultural. Este conceito de proteção baseia-se nas normas internacionais de preservação do patrimônio cultural, consolidadas nos encontros mundiais para discussão dos temas afins. Na década de 1970, quando a política mundial de urbanização negava o existente e privilegiava a reconstrução sucessiva da cidade sobre si mesma, ocorreu o encontro promovido pela Unesco, em Nairóbi (1976), que produziu a Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea, da qual o Brasil é signatário. Nos anos 1980 a Cidade ganha um novo Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural (CMPC) e uma nova legislação de tombamento. Movimentos populares pela manutenção da história e memória urbana conseguem impedir a demolição do Castelinho do Flamengo e da Fundição Progresso. É nesse momento que moradores criam suas associações representativas e começam a pressionar o Poder Público no sentido de salvaguardar seus bairros. Surge, em 1984, o Corredor Cultural e a Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Teresa e, em 1985, a APA dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. p. 68 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Em 1986, é criado o Departamento Geral de Patrimônio Cultural (DGPC) no âmbito da Secretaria Municipal de Cultural, para a gestão das áreas urbanas protegidas pelo instrumento da APA e estudar e propor proteção para outras áreas da Cidade, além de assessorar o Conselho Municipal de Proteção Cultural. Em 1986, é criada a APA de São Cristóvão e, em 1988, o bairro da Urca é protegido. A década de 1990 traz uma política de preservação que consolida os conceitos aplicados na década de 1980. Em 1992, a Lei Complementar 16/1992 criou o Plano Diretor Decenal, no qual estão estabelecidas as diretrizes para a proteção do patrimônio cultural edificado. Instituiu-se o sistema de gestão ambiental integrado, o qual criou oito Unidades de Conservação Ambiental, cuja APAC - Área de Proteção do Ambiente Cultural – é uma delas, diferenciando-se da Área de Proteção Ambiental (APA), que passou a ser aplicada, a partir de então, apenas para conjuntos naturais. As APAs anteriores ao Plano Diretor que possuem características de APAC, foram automaticamente reconhecidas como tal. A APAC é aplicada na proteção de conjuntos urbanos significativos. É um instrumento moderno de planejamento urbano, que equilibra a renovação e o desenvolvimento urbano sem prejuízo da proteção e da valorização dos conjuntos de interesse cultural, preservando signos que resgatam a identificação da população com sua cidade, fortalecendo a cidadania e o reconhecimento da cultura carioca. Permite-se proteger o que é tradicional e renovar o que é necessário, com a revitalização do patrimônio cultural e a utilização racional do acervo construído. Trata-se de uma tendência mundial. No inicio do século XXI, o foco das atenções voltou-se para a proteção do acervo arquitetônico que sobrevivera à drástica transformação urbana dos bairros da Zona Sul. Assim, Leblon, Jardim Botânico, Botafogo, Ipanema, Catete, Gloria e Humaitá passam a contar com uma política preservadora do seu acervo urbano tradicional. Em 2003, a Prefeitura acrescenta mais um instrumento de proteção da memória coletiva, ao instituir o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial através do Decreto no 23.162, de 21/07/2003. A instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial permitiu que fosse feito o registro de bens que não se enquadravam nas características preconizadas pelo Plano Diretor Decenal, por serem de caráter intangível, imensurável e dinâmico. Não podem ser tombados nem podem ser protegidos através da legislação de APAC. Encontram-se inscritos nos diversos Livros, os seguintes bens: Sítio Cultural de Ipanema, Banda de Ipanema, fotógrafos Lambe-Lambe, obra musical de Pixinguinha, Beco das Garrafas, Cordão da Bola Preta, Bossa Nova, Torcida do Flamengo, as Escolas de Samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro, obra literária de Machado de Assis. Em 2006, o Departamento Geral de Patrimônio Cultural é transformado em Secretaria Extraordinária de Promoção, Defesa, Desenvolvimento e Revitalização do Patrimônio e da Memória Histórico-Cultural da Cidade do Rio de Janeiro. Nos últimos 20 anos, o órgão executivo municipal do patrimônio cultural teve atuação ativa na formulação e aplicação de políticas públicas para proteção do patrimônio cultural carioca, ampliando sua participação nas decisões referentes ao planejamento da Cidade, atendendo a um dos objetivos do Plano Diretor Decenal da Cidade, qual seja “compatibilizar o desenvolvimento urbano com a proteção do meio ambiente pela utilização racional do patrimônio natural, cultural e construído, sua conservação, recuperação e revitalização”. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.69 4.2 Acervo cultural por Áreas de Planejamento A cidade do Rio de Janeiro, há mais de 4 séculos, é o espelho do Brasil ditando comportamentos, hábitos e costumes, confundindo sua história com a própria história do País. Consequentemente, incidem, no território da cidade do Rio de Janeiro, inúmeras legislações de proteção do patrimônio cultural em nível federal, estadual e municipal. Na Área de Planejamento 1, que corresponde à área central da cidade, encontramos a maior parte do acervo protegido por tombamento, principalmente os bens de valor nacional, com uma concentração de bens do século XVII até o século XIX, e alguns exemplares do século XX, tendo em vista a evolução da cidade. Alem disso, existem 10 APAC: p. 70 1. Catumbi/Cidade Nova 2. Corredor Cultural 3. Cruz Vermelha 4. Entorno do Ministério da Fazenda 5. Entorno do Mosteiro de São Bento 6. Estácio 7. Paquetá 8. Sagas 9. Santa Teresa 10. São Cristóvão PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Na Área de Planejamento 2, relativa à Zona Sul e parte da Zona Norte, além de remanescentes do século XIX e início do século XX, encontramse conjuntos urbanos das décadas de 1930 a 1960, repletos de significação cultural e referências simbólicas dos hábitos e costumes da população carioca. Além dos bens tombados individualmente, há 15 APAC, a saber: 1. Bairro Peixoto 2. Botafogo 3. Catete/Glória 4. Cosme Velho 5. Entorno do Colégio Batista 6. Entorno do Colégio Militar 7. Humaitá 8. Ipanema 9. Jardim Botânico 10. Jockey Club 11. Laranjeiras 12. Leblon 13. Lido 14. Urca 15. Vila Isabel Na Área de Planejamento 3, existem as casas de fazendas e igrejas remanescentes dos séculos XVIII e XIX, edificações do final do século XIX, românticos exemplares de arquitetura pitoresca, como quiosques, galpões com estruturas de ferro industrializadas, palacetes de natureza eclética, obras arquitetônicas e pictóricas de caráter moderno. Não há APAC nesta área. Na Área de Planejamento 4, há uma diversidade de bens tombados que vão desde antigas sedes de fazendas e igrejas do século XVIII a contemporâneos quiosques praieiros, passando por arquitetura do século XIX, represas, aquedutos, obras de arte, arquitetura moderna e elementos naturais e paisagísticos. Não há APAC. Na Área de Planejamento 5, que abrange a Zona Oeste, há uma interessante diversidade de exemplares de bens culturais tombados, tais como igrejas seculares, sede de fazendas, palacetes, pontes, fábricas, coretos românticos, hangar, bens de natureza paisagística, edificações do inicio do século XX. Há uma única APAC, Santa Cruz. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.71 5. TRANSPORTE 5.1. QUADRO GERAL Como em muitas cidades de porte médio e grande, o trânsito e as deficiências no sistema de transportes são considerados por boa parte dos moradores do Rio de Janeiro como o maior problema urbano. Nas décadas passadas, apesar dos principais investimentos no setor se destinarem a ampliação da malha viária, o crescimento da frota de veículos se deu num ritmo muitas vezes superior à sua capacidade. Em poucos anos se estará atingindo a média de dois veículos por habitante, com o conseqüente aumento no tempo de deslocamento da população e ônus para o desenvolvimento urbano. Nas décadas passadas, assim como aconteceu em muitos países, a opção no modal rodoviário, com ênfase no transporte individual, resultou na insuficiência de investimentos no transporte de massa. No caso do Município do Rio de Janeiro, que está consolidada como cidade metropolitana, trens, metrô e barcas ajudam a estruturar uma complexa rede de transportes, mas são incapazes de atender a demanda dos passageiros. Os estudos elaborados recentemente, como o Plano de Transporte de Massa (PTM), de caráter metropolitano, e principalmente o Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (PDTU/ RMRJ) elaborado em 2003, apoiado em ampla pesquisa de demanda e oferta, diagnóstico, simulações de alternativas e avaliações econômicofinanceiras e ambientais dos impactos das intervenções, serviu como subsídio para a elaboração deste item do relatório. O Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro indica que 50% das pessoas que se deslocam na cidade do Rio de Janeiro vivem fora do município sede da Região. O alto percentual das viagens apontam para a necessidade de compartilhamento da gestão do transporte das instâncias governamentais envolvidas com o setor. Esta análise tomou como base as seguintes macrozonas de trânsito: p. 72 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Macrozonas de trânsito da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 2005 Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Macrozonas de trânsito do Município do Rio de Janeiro, 2005 Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.73 O Rio de Janeiro possui um Plano Municipal de Transporte Urbano – PDTU, elaborado em 2006, que deverá orientar as ações futuras da Cidade na área de transportes. Prioriza o transporte público, o transporte não-motorizado e a sustentabilidade das propostas do ponto de vista ambiental, econômico e financeiro. O foco das propostas do PDTU aponta para a necessidade de racionalizar todo o sistema de transportes da Cidade, fundamentada em ações concretas. Linhas de desejo com origem e destino na macrozona de trânsito 1 (Centro do Município do Rio de Janeiro) Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Na tabela de viagens realizadas pelo modo principal na Região Metropolitana é identificada uma distribuição desequilibrada entre as opções existentes, com destaque para os deslocamentos a pé (33,85%) e em ônibus (33,08%). O transporte sobre trilhos (trem, metrô e bonde) totaliza 3,31%, menos da metade do transporte alternativo (8,19%). Viagens realizadas por modo principal Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Resultado da Pesquisa Origem destino 2002/2003. p. 74 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano No quadro geral dos transportes no Município, desde a década de 1960, pelo menos, o modal rodoviário vem prevalecendo, como demonstram as pesquisas feitas nos planos de transporte elaborados recentemente. A maior redução se deu transporte sobre trilhos, mesmo se somarmos trem e metrô. Desde 1994 houve o aumento do transporte individual, que havia caído se comparado com 1976. Evolução da divisão modal Fonte: SMTR – Plano Diretor de Transporte da Cidade do Rio de Janeiro Principais Vias Terrestres Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.75 Ciclovias Existentes e Projetadas Fonte: Armazém de Dados / Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos 5.2. SISTEMA VIÁRIO CARACTERÍSTICAS GERAIS O sistema viário principal de suporte ao transporte sobre pneus no Município do Rio de Janeiro possui um total de 3.357km, ressaltando-se que na categoria de vias locais são consideradas apenas aquelas significativas em termos de tráfego urbano. O sistema que suporta o transporte coletivo sobre pneus, por sua vez, totaliza 2.420km. As restrições impostas pela topografia do Município e a configuração radial das principais vias em direção ao centro da Cidade fazem com que haja uma grande concentração de viagens em poucos corredores com a quase totalidade deles convergindo para a área central. Os fluxos de veículos particulares somados aos de ônibus representam uma enorme solicitação ao sistema viário, nem sempre preparado para suportar adequadamente o tráfego, o que provoca congestionamentos em boa parte dos corredores. Nos corredores onde há grande fluxo de ônibus e, portanto, indicados para o transporte coletivo ser priorizado, existem problemas para acomodar os diversos tipos de tratamento indicados, que muitas vezes dependem de desapropriações e adequações no sistema viário. p. 76 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Carregamento de transporte coletivo no Rio de Janeiro Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano Carregamento de transporte individual na em parte daRegião Metropolitano Rio de Janeiro Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.77 Carregamento de transporte individual no Município do Rio de Janeiro Fonte: SETRAN – Plano Diretor de Transporte Urbano EXPANSÕES PREVISTAS Em termos de expansão da rede viária, existem alguns projetos visando a melhoria da circulação na cidade do Rio de Janeiro. Dentre eles destacase o projeto do Anel Viário, compreendendo melhorias em trechos já existentes. Prevê-se também a abertura de novos trechos, com a implantação de corredores de transporte coletivo em via segregada. Relacionam-se nos corredores previstos: Ligação B: ampliação da capacidade da Estrada do Margaça; Ligação C: construção de corredor viário; Ligação Via Light: prolongamento do trecho existente até a Av. Brasil; Linha Vermelha: construção do acesso norte ao Aeroporto do Galeão e Ilha do Governador; Linha Amarela: ampliação da capacidade com a construção de duas pistas laterais entre a Av. Brasil e o bairro do Méier. p. 78 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Há ainda a previsão da implantação do Projeto Sacode, que abrange um conjunto de 7 obras visando a melhoria do tráfego viário. São elas: 1) Ligação Madureira a Cavalcanti; 2) Ligação entre a Rua Teles e a Rua João Romeiro, em Campinho; 3) Ligação entre a Rua Andrade Figueira e a Rua Bezerra de Menezes, passando pela Rua Pescador Josino, em Madureira; 4) Duplicação do viaduto sobre a Supervia ligando a Av. Brás de Pina à Av. Lobo Júnior, em Penha Circular; 5) Ligação entre a R. Paranapanema e a Av. Itaoca, em Bonsucesso; 6) Ligação entre a Av. Meriti e a Estrada Velha da Pavuna (Linha Amarela), passando sob o Grotão da Penha e a Serra da Misericórdia, em diretriz sobre a Faixa da Light, com a alternativa da ligação entre a Av. Vicente de Carvalho e a Av. Brás de Pina (túnel sob o Grotão da Penha); Melhorias Físico-Operacionais na Rua Olinda Ellis e Adjacências, em Campo Grande. Cartograma do Arco Rodoviário Metropolitano Fonte: SETRAN 2008 Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.79 Cartograma das Principais intervenções de trânsito e transportes previstas no PDTU e incorporadas ao Plano de Legado Urbano e Ambiental Rio 2016 Fonte: GMP/CGPU/SMU 2008 5.3. SISTEMA SOBRE TRILHOS CONDIÇÕES GERAIS Embora haja diferenças tecnológicas significativas entre o metrô e o trem, no Rio de Janeiro, os modais sobre trilhos apresentam condições de operação semelhantes: a subutilização e as baixas eficiências e eficácias operacionais, o que resulta em quantidades de passageiros transportados muito aquém das desejáveis e em baixa eficiência energética. A integração entre o trem e o metrô no Rio de Janeiro é muito insatisfatória. Esta condição, embora não suficiente, é indispensável à viabilização econômica, financeira e energética do sistema sobre trilhos. Em função dos problemas citados, e à competição direta do transporte sobre pneus com os modais ferroviário e metroviário, o desempenho do sistema sobre trilhos tem sido bastante modesto, captando apenas 7% dos passageiros de transporte coletivo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Hoje os ônibus concorrem com os sistemas ferroviários e metroviários e oferecem freqüência de transporte e velocidades competitivas e valendose das deficiências do sistema sobre trilhos são responsáveis por 93% do transporte coletivo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Os valores indicados representam os carregamentos de passageiros-dia p. 80 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano estimados nos ramais e nas linhas e em algumas seções de via referentes aos passageiros de ônibus. Entre os sistemas sobre trilhos, o metrô tem condições operacionais mais vantajosas que os trens urbanos, as quais vão além do equipamento mais moderno. A linha 1 do metrô possui uma taxa de utilização muito maior que a dos trens. Por atravessar o centro da cidade e servir bairros de maior densidade populacional, distribui os fluxos de passageiros ao longo do dia em situação mais favorável. A distribuição é feita com três picos de passageiros: de manhã, ao meio dia e à tarde. É o modal que pode solucionar a carência de transporte nas áreas mais densamente urbanizadas, como o bairro de Copacabana, que recentemente teve concluída a Estação Cantagalo. Já os trens urbanos têm uma característica predominante de transporte pendular, com grande concentração nos horários de pico em um único sentido - para as áreas centrais de manhã e no sentido inverso, à tarde. Esse fator reduz de modo significativo a relação demanda/oferta, exigindo uma frota muito maior para o mesmo transporte, tornando-o mais caro. A linha 2 do metrô também tem demanda pendular, com um aproveitamento maior da distribuição de passageiros no fluxo dos dois principais picos horários: de manhã e à tarde. METRÔ O Metrô do Rio de Janeiro foi inaugurado em março de 1979. O início das operações contou com apenas 5 Estações: Praça Onze, Central, Presidente Vargas, Cinelândia e Glória. No ano seguinte, foram inauguradas as Estações Uruguaiana, Estácio, Catete, Morro Azul - hoje, Flamengo – Largo do Machado e Botafogo e foi inaugurada a linha 2, apenas com as estações São Cristóvão e Maracanã. Em 1982 entraram em operação as estações de Afonso Pena, São Francisco Xavier e Saens Peña, da linha 1. Em 1983 foram inauguradas as estações Maria da Graça, Del Castilho, Inhaúma e Irajá, da linha 2. A Estação Triagem da linha 2 foi inaugurada em 1988. Em 1991 foi inaugurada a Estação Engenho Rainha da linha 2. De 1991 até 1996 apenas duas estações foram inauguradas: Tomás Coelho e Vicente de Carvalho, ambas da linha 2. Em dezembro de 1997 o Consórcio Opportrans adquiriu o direito de explorar o serviço metroviário, durante 20 anos, assumindo em abril de 1998, o controle do serviço de transporte público metroviário. Em julho de 1998 foi a inaugurada a Estação Cardeal Arcoverde, em Copacabana, integrante da linha 1. No mesmo ano foram iniciadas as operações de mais 5 estações: Irajá, Colégio, Coelho Neto, Engenheiro Rubens Paiva, Acari/Fazenda Botafogo e Pavuna, na linha 2. Inicialmente, a concessionária tinha sob seu controle a administração e a operação do Metrô Rio, ficando as expansões da rede metroviária e aquisição de novos trens a cargo da Rio Trilhos, empresa do governo do Estado. No final de dezembro de 2007, a concessão foi renovada até 2038, mas o Metrô Rio assumiu a responsabilidade pela construção da linha 1A, que ligará a linha 2 à linha 1, a compra de 108 carros e a construção das estações Uruguai e Cidade Nova. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.81 O novo trecho da linha 1A evitará a transferência na Estação do Estácio, sobrecarregada com fluxo de passageiros. Os investimentos exigidos visam aumentar o número de pessoas atendidas diariamente pelo metrô, passando dos atuais 550 mil clientes/dia para 1,1 milhão clientes/dia. A partir de 2000, o Metrô Rio estabeleceu diversas parcerias com o intuito de facilitar e baratear o transporte coletivo da Cidade. Em 2000, foi implantada a integração metrô-trem. Em janeiro de 2002, foi inaugurada a linha de extensão “Metrô na Superfície” que ligava a Estação Cardeal Arcoverde, da linha 1, em Copacabana, a Ipanema. Com a inauguração da Estação Siqueira Campos, também em Copacabana, em março de 2003, a linha de extensão foi transferida para essa estação e passou também a atender aos bairros do Leblon e Gávea. Em 2004, o Metrô Rio deu início a operação aos domingos e a implementação das “linhas expressas metrô-ônibus”. Entre 2004 e 2005, foram inauguradas 12 linhas expressas metrô-ônibus. Em 2007 foi inaugurada uma nova estação em Copacabana, a Estação Cantagalo, e duas novas linhas de extensão: o Metrô Na Superfície que liga a Estação Botafogo à Gávea, passando pelo Humaitá e Jardim Botânico, e o Metrô Barra, que liga a Estação Siqueira Campos à Barra, passando por Ipanema, Leblon e São Conrado. Atualmente, a linha 1 - Cantagalo/Saens Peña - possui 13,7km de extensão e 17 estações, todas subterrâneas, conectando as Zonas Sul e Norte imediata, passando pelo centro da cidade e pelos bairros de maior densidade do Município. A linha 1 foi planejada para utilizar trens de 6 carros em intervalos de 3 minutos, mas não atingiu ainda a oferta pretendida por ter remanejado alguns trens disponíveis para a linha 2, ficando, portanto, limitada ao intervalo de 4 min. A linha 2 - Estácio/Pavuna - possui 22km e 16 estações, sendo 10 em nível, 5 elevadas e 1 subterrânea. Conecta os bairros do subúrbio do Rio, que é uma área com menos alternativas de transporte ao centro da cidade e, portanto, com uma demanda reprimida volumosa. A operação é feita com intervalo semelhante ao de um trem suburbano (4’55’’) e utilização de frota mista, com trens de 4, 5 e 6 carros. A linha 2 por não ter como ponto terminal o centro da cidade - destino da maior parte dos usuários - tem sua oferta limitada à capacidade de absorção dos passageiros pela linha 1 na Estação do Estácio, restringindo a sua oferta. A linha 2 opera num período pouco superior à linha 1 – de 5:30h às 23:00h - pois possui como ponto terminal norte a Estação Pavuna, localizada praticamente no Município de São João de Meriti e, dessa forma, população residente na região da Baixada. Por exigir enorme volume de recursos de investimentos para estar em condição de se tornar, efetivamente, um sistema eficiente de transporte de massa, é preciso estabelecer programas de curto, médio e longos prazos para a adequação do sistema de metrô no Rio de Janeiro. p. 82 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Em curto prazo, são prioridades para o sistema de metrô de: Na linha 1: melhorias nos sistemas de alimentação elétrica, de sinalização, de controle de trens e de configuração do terminal provisório da Zona Sul, que restringem o intervalo entre trens e conseqüentemente o número de trens em operação e a oferta de lugares. Na linha 2: melhorias nos sistemas de alimentação elétrica, de sinalização e de controle de trens; implantação do trecho EstácioCarioca, que permitirá integração com o modal ônibus, além descarregar o excesso de passageiros da linha 1 e uma integração mais racional com as linhas do sistema ferroviário em estações intermediárias como Maria da Graça, Triagem, Maracanã e São Cristóvão. Nas estações previstas para integrarem a linha 1 e linha 2, e nas estações das linhas 1 e 2 integradas com as linhas ferroviárias: ligação entre mezaninos com aumento da capacidade de circulação nas escadas/corredores e plataformas, e melhoria no funcionamento das plataformas. Aumento na frota de trens, modernização e eliminação de deficiências já detectadas nos atuais trens/carros. Linhas de Metrô. Fonte: www.metrorio.com.br Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.83 EXPANSÃO DO METRÔ NO MUNICÍPIO Linha 1: Trecho Siqueira Campos – General Osório É prevista a expansão da linha 1 até Ipanema com a estação General Osório. Com 1.080 metros de extensão total, o trecho será quase que inteiramente executado em rocha, inclusive as estações. O tempo de execução deste trecho deverá ser pequeno, já que no final da década de 1980 suas obras foram iniciadas e paralisadas pouco tempo depois, tendo sido executada a escavação de 670 metros de túnel em rocha até à Estação Cantagalo, o acesso da Rua Xavier da Silveira, em Copacabana, e parte do acesso da Rua dos Jangadeiros, em Ipanema. Linha 2: Trecho Estácio - Carioca Ainda sem prazo definido para iniciar as obras, mas considerada de importância vital à continuidade da expansão da rede metroviária, este trecho, de cerca de 3km de extensão que inclui uma estação (Cruz Vermelha), permitirá desafogar a linha 1 e aumentar a oferta da linha 2. Irá principalmente torná-la capaz de absorver a demanda proveniente dos trens suburbanos e de outras futuras linhas metroviárias transversais à rede existente, dotando a cidade do Rio de Janeiro de uma rede estrutural de transporte de massa. Sua implantação permitirá o atendimento pleno da demanda representando um acréscimo significativo de passageiros ao sistema metroviário e fazendo a ligação sem transbordos da Baixada Fluminense e subúrbios com o Centro da Cidade. Linha 3: Rio – Niterói - São Gonçalo - Itaboraí A ser implantada inicialmente nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, interligando-os, em uma fase posterior atinge o Município do Rio de Janeiro através de construção de túnel subaquático, conectando-se, em princípio à linha 1 e, posteriormente, à linha 2, quando implantada a ligação Estácio-Carioca, no Centro. A extensão total da linha é de 36km, com 16 estações, beneficiando uma população de cerca de 1,6 milhões de pessoas. A primeira fase, já licitada, liga Niterói a São Gonçalo (Estação Guaxindiba), com 22km e 14 estações, em superfície e elevado, aproveitando o leito da ferrovia existente. A segunda fase, até Itaboraí, com 14km de extensão encontra-se em estágio de estudo. A linha 3 é considerada estratégica em função da implantação do complexo petroquímico do Estado do Rio de Janeiro nas cidades de Itaboraí e de São Gonçalo. Linha 4: Ligação Barra da Tijuca - Botafogo Esta linha foi concedida em 1998, contando com a participação financeira do Estado para sua implantação. Liga a Barra da Tijuca, desde a localidade Jardim Oceânico até a linha 1 na Estação Rio Sul, situada no trecho Arcoverde/Botafogo, passando pelos bairros de São Conrado, Gávea, Jardim Botânico e Humaitá. Possui 16km aproximados de extensão e 6 estações. Cogita-se a mudança de seu traçado no trecho de Botafogo, para evitar a sobrecarga de passageiros na linha 1 e conseqüente cerceamento da expansão desta linha, restringindo a sua oferta, havendo, em estudo, algumas alternativas ao trajeto traçado. p. 84 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Linha 5: Aeroporto Tom Jobim – Rodoviária Novo Rio – Aeroporto Santos Dumont Esta linha, inicialmente concebida para atender a candidatura da cidade do Rio de Janeiro a sede das Olimpíadas de 2004, deverá ligar a Ilha do Governador/Aeroporto Tom Jobim ao Aeroporto Santos Dumont, atendendo também à Rodoviária Novo Rio e ao Terminal de Transporte Marítimo de Passageiros da CONERJ e TRANSTUR. Tal como as demais linhas, também se conecta à rede metroviária na Estação Carioca. Sua extensão aproximada é de 17km e contará com 11 estações. Será construída sempre que possível em elevado e superfície para reduzir o custo de implantação, à exceção do trecho próximo à Rodoviária que provavelmente será em subterrâneo. Linha 6: Terminal Alvorada – Penha Circular - Galeão Constitui-se no eixo transversal de maior importância no contexto da rede estrutural de transportes de massa do Município, por permitir a conexão não só com as linhas 2, 4 e 5 do metrô, como por seccionar todos os ramais ferroviários do lado oeste da baía de Guanabara, possibilitando rápido acesso para usuários da Baixada Fluminense aos bairros de Jacarepaguá e Barra da Tijuca. Inserida no Corredor Transversal T5, previsto pelo Plano Doxiades, esta linha inicia-se na Alvorada, no bairro da Barra da Tijuca, e termina na Ilha do Governador, passando pelas regiões de Jacarepaguá, Madureira e Penha. Sua extensão aproximada é de 38km, contando com 15 estações. As linhas previstas poderão vir a serem modificadas, dependendo de prioridades, análises e simulações que venham a ser estabelecidas. Cabe frisar que apresentam, de acordo com o Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (PDTU/RMRJ), uma base para o traçado da rede estrutural de transportes que se pretende para a Região Metropolitana. TREM O sistema ferroviário de transporte de massa da Região Metropolitana do Rio de Janeiro hoje é operado predominantemente pela concessionária Supervia. Originalmente o sistema ferroviário estava sob a responsabilidade do Governo Federal. Nessa época caracterizou-se pela falta de investimentos regulares e contínuos, gerando ao longo dos anos uma demanda por melhorias em infra-estrutura e material rodante. Antecedeu à privatização da operação dos trens metropolitanos ocorrida em 1998, o repasse do sistema ferroviário ao Governo Estadual, em 1993/1994, com a criação da Flumitrens. A malha ferroviária possui 245 km de extensão, sendo 214 km de tração elétrica. Atende 15 dos 20 municípios da Região Metropolitana e é responsável pelo transporte de cerca de 350.000 passageiros/dia. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.85 O sistema ferroviário é utilizado basicamente por usuários situados na faixa de renda familiar de até 3 salários mínimos, representando 83% da demanda, com uma freqüência semanal predominante de 3 a 5 dias (51%) e tendo o trabalho como motivo principal de 91% das viagens realizadas. Está dividido em 6 ramais, operados pela Supervia, e 2 ramais operados pela Central: Ramal de Santa Cruz Ramal de Japeri Ramal de Belford Roxo Ramal de Gramacho Ramal de Deodoro Ramal de Vila Inhomirim Ramal de Guapimirim Ramal de Niterói-Itaboraí Apesar de estar na faixa de domínio da Central, o ramal Niterói-Itaborai está sendo objeto de estudos para ser operado pelo sistema metroviário, como a linha 3. Não só os resultados operacionais obtidos no passado, mas ainda a configuração em rede que este apresenta, indicam a enorme importância do sistema ferroviário para a Região Metropolitana. Contudo, os enormes recursos necessários à adequação e à modernização das diversas linhas/ramais e as suas grandes extensões mostram que programas de curto, médio e longo prazo necessitam ser estabelecidos, viabilizados às possibilidades de empresa operadora e com o envolvimento dos diversos níveis governamentais (federal, estadual e municipal. O sistema de trens metropolitanos apresenta hoje entre seus problemas: Deficiências e obsolescência nos sistemas elétricos, de sinalização e de controle de trens e de telecomunicações. Trens necessitando de reformas/modernizações e de suplementação /substituição por materiais mais modernos. Inadequação da oferta às reais necessidades dos usuários. Inadequação dos espaços internos/externos das estações/terminais para a melhoria da acessibilidade dos passageiros lindeiros e provenientes da integração com outros modos de transporte. Deficiências nas estações e terminais, projetados para um sistema “sub-urbano” e que não foram adequados a um sistema metropolitano/urbano. Falta de abrangência de integração com as linhas de metrô e ônibus para maior eficiência e eficácia operacional e energética. p. 86 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano A expectativa com os investimentos no sistema de trens urbanos em vigor, através de financiamentos pelo Banco Mundial com a contrapartida de responsabilidade dos governos federal e estadual, é atingir, num primeiro momento, um total de 900 mil passageiros/dia; e, em seguida, de 1,3 milhões de passageiros/dia. 5.4. SISTEMA HIDROVIÁRIO O transporte hidroviário se compõe das linhas de barcas, catamarãs e aerobarcos entre a Praça XV, no Centro do Rio de Janeiro, e o Município de Niterói, e das linhas de barcas entre a Praça XV e a Ilha de Paquetá e a Ilha do Governador (na Ribeira), operadas pelo concessionário Barcas S.A. Este modal, que no passado chegou a participar com 3,8% das viagens de transporte coletivo na Região Metropolitana, hoje conta com apenas 0,7%, fruto principalmente da construção da Ponte Rio-Niterói. Além disso, há a competição direta com as linhas de ônibus intermunicipais. Estes ônibus saem do Terminal João Goulart, em Niterói, e chegam na Praça XV, em uma concorrência que, no mínimo, dificulta a integração intermodal. As questões importantes neste modo a serem consideradas são: Tratamento das questões do túnel metro-ferroviário da Linha 3, sob a Baia, em relação as linhas hidroviárias entre Niterói e Rio de Janeiro; As melhorias previstas com relação as barcas atuais que estão em processo de substituição por barcas mais rápidas com tempo de viagem de 11 minutos entre praças XV e Araribóia; A implantação pelo Contrato de Concessão para as ligações entre Praça XV com Charitas, já em operação, e com São Gonçalo; Processo licitatório do transporte seletivo (catamarãs) entre a praças XV e Araribóia. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.87 PARTE III PLANO DIRETOR EM 2006: PROPOSTA DE POLÍTICA URBANA O texto do Projeto de Lei encaminhado ao Legislativo Municipal está organizado em quatro títulos, com conteúdos bem definidos: O Título I - Política Urbana reúne a matéria relativa às bases que fundamentam o desenvolvimento do Plano: os princípios e as diretrizes da política urbana que se pretende implantar na Cidade; os objetivos do Plano Diretor como instrumento de aplicação desta política urbana; as normas e os procedimentos que o compõem e as exigências para o cumprimento da função social da propriedade, como rege a Constituição Federal. No Plano Diretor de 1992 esta matéria está distribuída nos Títulos I e II, além de ter alguns princípios e diretrizes mencionados no Título VI. O Título II - Ordenação do Território reúne e organiza as matérias que integram a política municipal de ordenação do território. Enuncia os elementos da estrutura urbana básica do Município, define e conceitua a ocupação urbana e suas restrições. Trata ainda da nova proposta de macrozoneamento, indicando vetores de crescimento da cidade, áreas sujeitas à intervenção e de ordenação do território para o planejamento, com o objetivo de orientar a ação do poder público municipal por macrozonas. No Plano Diretor de 1992 esta matéria está distribuída nos Títulos V e VI. O Título III - Instrumentos da Política Urbana reúne, organiza e regulamenta uma ampla gama de instrumentos necessários à implementação da política urbana. Os instrumentos estão classificados da seguinte forma: Regulação urbanística: são os que se referem ao parcelamento, uso e ocupação do solo, obras e edificações, licenciamento e fiscalização, além da menção a um novo módulo a ser estruturado, contendo normas para ocupação do espaço público, hoje extensivamente explorado por concessionárias dos serviços públicos. Planejamento urbano: são os que definem as atribuições dos planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano, com destaque para o Plano de Estruturação Urbana, sob novo formato decorrente das modificações propostas para a Lei de Uso e Ocupação do Solo. Gestão de uso e ocupação do solo: constitui o conjunto dos instrumentos instituídos pelo Estatuto da Cidade que precisam de regulamentação em Plano Diretor, e outros que vêm sendo utilizados como ferramentas de gestão, para os quais foram propostos aperfeiçoamentos. Gestão ambiental e cultural: reúne os instrumentos de gestão e de proteção ambiental, e os de gestão do patrimônio cultural, igualmente aperfeiçoados em decorrência da experiência acumulada com a aplicação destes instrumentos. Financeiros, orçamentários e tributários: dispõe sobre os fundos municipais existentes e os a criar, e sobre a vinculação entre as ações de planejamento e gestão urbana e o planejamento do orçamento municipal. p. 88 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Gestão da política urbana: dispõe sobre os sistemas de planejamento urbano, informações urbanas, planejamento e gestão ambiental, e defesa da cidade – como forma de gerenciar a implantação da política urbana expressa no Plano Diretor. No Plano Diretor de 1992 esta matéria somente contempla alguns pontos nos Títulos III e IV. O Título IV - Políticas Públicas Setoriais reúne as políticas setoriais que, em conjunto, integram a política urbana do Município e orientam as ações dos agentes públicos e privados no processo de gestão do espaço urbano. Foram acrescentadas às seis políticas setoriais constantes do Plano Diretor Decenal de 1992 as políticas de regularização urbanística e fundiária, trabalho e renda, turismo, educação, saúde, assistência social, cultura, informação, segurança urbana e administração tributária. No Plano Diretor de 1992 esta matéria é contemplada no Título VII. 1. PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA POLÍTICA URBANA A proposta de 2006 para revisão do Plano Diretor Decenal de 1992 reafirma os princípios e diretrizes que o nortearam, e reforça a ênfase que se deu à proteção do meio ambiente desde então, condicionando a ocupação urbana à proteção do patrimônio natural e cultural da Cidade. A proposta também busca aperfeiçoar instrumentos para: atender à crescente preocupação com o controle da irregularidade e com a expansão das favelas e sua integração à cidade formal; orientar o adensamento segundo disponibilidade de infra-estrutura; viabilizar a reabilitação do patrimônio construído em áreas degradadas ou subutilizadas. Na definição das linhas estruturadoras do Plano e dos objetivos e diretrizes da política urbana, foram considerados relevantes, os seguintes aspectos relativos à dinâmica da Cidade, destacados e debatidos ao longo do processo de revisão do Plano: SOCIOECONÔMICOS Centralidade regional político-administrativa e econômica do Município. Existência de instalações portuárias de relevância nacional. Polarização de atividades culturais e turísticas em âmbito estadual, nacional e internacional. Alterações nos processos de produção e de localização industrial. Esvaziamento da produção agrícola. Esvaziamento populacional e evasão das atividades econômicas nas áreas centrais e consolidadas. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.89 AMBIENTAIS Presença de maciços e de áreas com intensa vegetação junto às áreas urbanizadas. Importância da integração do ambiente natural com a ocupação urbana. Existência de topografia adversa à ocupação urbana. Longa extensão da orla marítima e de áreas baixas com mangues e lagoas. Crescente ameaça aos elementos naturais, à paisagem urbana e ao patrimônio cultural e histórico. Progressiva redução dos padrões de qualidade ambiental: poluição das praias, lagoas e demais corpos hídricos, desmatamento e erosão de encostas. DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Acentuado desequilíbrio do valor do solo entre os diversos bairros. Adensamento de áreas desprovidas de suficiente infra-estrutura. Crescimento das favelas e loteamentos irregulares e clandestinos, e das ocupações em áreas de risco e de proteção ambiental. Rigidez e inadequação da legislação de regulação urbanística e de gestão do uso e ocupação do solo. DE INFRA-ESTRUTURA URBANA Predominância da estrutura viária longitudinal, ampliando as distâncias, os custos e as dificuldades de deslocamento. Prevalência do sistema rodoviário sobre o transporte sobre trilhos para o transporte coletivo. Insuficiência das redes de drenagem, esgotamento sanitário e abastecimento de água em áreas efetivamente ocupadas. Carência de equipamentos públicos, especialmente nas áreas ao norte e oeste da Cidade. p. 90 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Identificados esses aspectos como relevantes, foram definidas como linhas estruturadoras e eixos de ação para a gestão físico-ambiental do Município, as seguintes estratégias de desenvolvimento: Acesso à terra e produção de moradia regular. Controle do adensamento das áreas consolidadas e estímulo à ocupação das áreas infra-estruturadas e subutilizadas. Preservação e valorização do patrimônio natural, cultural, histórico, artístico e turístico. Requalificação e revitalização das áreas consideradas degradadas. Promoção da mobilidade urbana. Implantação de infra-estruturas para o desenvolvimento econômico e social. Para a ordenação do território, foi prevista a divisão do Município em macrozonas, o estabelecimento de restrições à ocupação urbana e a definição de vetores de crescimento da cidade, com a indicação de áreas prioritárias para intervenção através de planos, projetos, obras ou novo regime urbanístico que busquem alcançar as transformações urbanísticas estruturais indicadas no Plano. A Cidade do Rio de Janeiro Fonte: SMU / Instituto Municipal de Urbansimo Pereira Passos Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.91 2. ORDENAÇÃO DO TERRITÓRIO O território municipal é ordenado de acordo com os vetores de crescimento, o macrozoneamento e as diretrizes de uso e ocupação do solo. A ordenação do território observa também as condições ambientais, tendo como referência as bacias e sub-bacias hidrográficas definidas pelos maciços montanhosos e baixadas. 2.1. USO E OCUPAÇÂO DO SOLO .ESTRUTURA URBANA BÁSICA O território municipal é considerado integralmente urbano. Possui áreas ocupadas ou comprometidas com ocupação e áreas destinadas ao crescimento da Cidade. Intercalam-se extensas áreas sob regime de proteção ambiental ou que estão submetidas a outras restrições para a ocupação urbana. Algumas dessas áreas são exploradas por atividades agrícolas. A estrutura básica deste ambiente urbano é constituída pelo ambiente natural, formado pelos maciços e montanhas, a vegetação, o litoral e o sistema hídrico, e pelo ambiente construído de uso predominantemente residencial ou misto, composto por áreas urbanizadas formais e áreas de ocupação irregular. Além da infra-estrutura - composta pelo conjunto das redes viária, de transportes, de saneamento básico e de equipamentos e serviços públicos -, abrange também os elementos que integram as funções urbanas e determinam o equilíbrio econômico e social intraurbano, sendo eles: Um sistema de centros e subcentros de comércio e serviços. Áreas industriais. Locais de desenvolvimento das atividades turísticas. Grandes equipamentos que dão suporte à dinâmica econômica da cidade. Os centros e subcentros de comércio e serviços concentram atividades diversificadas ou especializadas, formando uma rede de centros de alcance metropolitano, municipal e local. No Plano Diretor Decenal de 1992, com o objetivo de redução da atratividade de tráfego das áreas centrais ou da região sul da Cidade, os centros e subcentros de comércio e serviços foram hierarquizados. Nesta revisão do Plano Diretor em 2006, propõe-se que o desequilíbrio gerado pela elevada atratividade dessas áreas seja atenuado mediante ações - públicas ou privadas, orientadas por uma classificação do território municipal em macrozonas, com controles específicos das suas densidades, e fortalecimento da diversidade de usos e de padrões de urbanização e edificação. A localização industrial, no Plano Diretor 92 está condicionada aos seguintes fatores: Ciclo de produção e suas características. Possibilidade de escoamento da produção. Oferta de serviços básicos (energia elétrica, gás, telefone, água e esgotamento sanitário). Possibilidade de integração entre indústrias. Disponibilidade de mão-de-obra e seu acesso às áreas estabelecidas. Condições ambientais. p. 92 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Na proposta de revisão em 2006, são ainda reconhecidas as transformações ocorridas nos processos de produção industrial e, admitida a convivência entre usos e atividades diversificados, no intuito de evitar a segregação dos espaços. Na nova proposta, a atividade industrial passa a estar condicionada, fundamentalmente, ao adequado controle ambiental. Como diretriz para a regulação da densidade e da intensidade da ocupação e do uso do solo estabeleceu-se que sejam consideradas: Restrições de natureza ambiental. Elementos de relevante interesse da paisagem e do ambiente urbano. Densidades populacionais e construtivas existentes. Oferta existente ou projetada de equipamentos e serviços públicos, de infra-estrutura de transportes e de saneamento básico. Segurança individual e coletiva. Condições de mobilidade. Existência de vazios urbanos. Capacidade ociosa de áreas com possibilidades de absorção de maior densidade. ÁREAS DE RESTRIÇÃO Á OCUPAÇÃO As áreas de restrições à ocupação urbana, que no Plano Diretor de 1992 foram definidas como Macrozonas de Restrição à Ocupação Urbana, na revisão do Plano Diretor são caracterizadas como: 1) Áreas objeto de proteção ambiental: são aquelas instituídas legalmente como unidades de conservação da natureza ou áreas de preservação permanente, bem como as passíveis de serem protegidas. 2) Áreas com condições físicas adversas à ocupação: são as áreas frágeis de encostas, sujeitas a deslizamentos, desmoronamentos e outras alterações geológicas que comprometam ou possam comprometer a sua estabilidade, e as áreas frágeis de baixada, sujeitas a alagamento, inundação ou rebaixamento decorrente de sua composição morfológica. 3) Áreas de transição entre as áreas objeto de proteção ambiental e as áreas com ocupação urbana: são aquelas destinadas aos usos agrícola e residencial de baixa densidade, às agroindústrias e às atividades de comércio e serviços complementares ao uso agrícola, e às atividades turísticas, recreativas e culturais. Para as áreas assim caracterizadas são fixados na revisão do Plano Diretor condicionantes para sua ocupação. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.93 Fica estabelecido, ainda, que não serão permitidas construções em áreas consideradas impróprias pela administração municipal, tais como: Áreas de risco geotécnico. Faixas non aedificandi ao longo das margens de águas superficiais. Faixas de proteção de adutoras e de redes elétricas de alta tensão. Faixa de domínio de estradas federais, estaduais e municipais. Áreas que não possam ser dotadas de condições satisfatórias de urbanização e saneamento básico. 2.2. MACROZONEAMENTO A função do macrozoneamento do território municipal é o de indicar o modo pelo qual o poder público procederá no controle das densidades, da intensidade e da expansão da ocupação urbana. Esse controle poderá ser feito através de: Interferência sobre o processo de adensamento com a definição dos índices de aproveitamento de terreno. Implementação de planos, programas e projetos, segundo prioridades de intervenção. Aplicação dos instrumentos da política urbana instituídos pelo Estatuto da Cidade. Elaboração das normas urbanísticas de regulação do solo. Além de orientar a ação do poder público no controle sobre uso e ocupação do solo, o macrozoneamento serve como referência territorial para definição de prioridades para a distribuição dos investimentos públicos e privados. O Plano Diretor Decenal de 1992 apresenta um macrozoneamento para ordenação da ocupação do solo que divide o território em três macrozonas: urbana, de expansão urbana, e de restrição à ocupação urbana. A revisão do Plano Diretor em 2006 divide o território municipal em quatro macrozonas, levando em consideração fatores espaciais, sociais, culturais, econômicos e ambientais. Sob esse novo formato de macrozoneamento, construído com o objetivo de orientar a implementação das políticas públicas de forma articulada, as áreas sob restrição à ocupação urbana integram-se às demais áreas pertencentes à macrozona, respeitadas as suas características e os seus condicionantes. p. 94 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano MACROZONAS DE OCUPAÇÃO As Macrozonas de Ocupação estão assim definidas na revisão do Plano Diretor: I - Macrozona de Ocupação Controlada, onde o adensamento populacional e a intensidade construtiva serão limitados, a renovação urbana se dará preferencialmente pela reconstrução ou pela reconversão de edificações existentes, e o crescimento das atividades de comércio e serviços ocorrerá em locais onde a infra-estrutura seja suficiente, respeitadas as áreas predominantemente residenciais. II - Macrozona de Ocupação Incentivada, onde o adensamento populacional, a intensidade construtiva e o incremento das atividades econômicas e equipamentos de grande porte serão estimulados, preferencialmente nas áreas com maior disponibilidade ou potencial de implantação de infra-estrutura. III - Macrozona de Ocupação Condicionada, onde o adensamento populacional e a intensidade construtiva e a instalação das atividades econômicas serão restringidos de acordo com a capacidade das redes de infra-estrutura e subordinados à proteção ambiental e paisagística, podendo ser progressivamente ampliados com o aporte de recursos privados. IV - Macrozona de Ocupação Assistida, onde o adensamento populacional, o incremento das atividades econômicas e a instalação de complexos econômicos deverão ser acompanhados por investimentos públicos em infra-estrutura e por medidas de proteção ao meio ambiente e à atividade agrícola. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.95 Para orientar o desenvolvimento da Cidade e o uso e ocupação do solo foram estabelecidas no Plano Diretor de 1992, diretrizes por cada uma das 5 Áreas de Planejamento da Cidade do Rio de Janeiro, segundo suas características específicas, a serem obedecidas nas ações de planejamento e implementação de melhorias urbanas. Estas diretrizes foram reavaliadas e atualizadas ao longo das Audiências Públicas realizadas sob coordenação do Secretário Municipal de Urbanismo, consolidadas por macrozona de ocupação em Anexo do projeto de lei da revisão do Plano Diretor, encaminhado à Câmara dos Vereadores em 2006 da seguinte forma: Na Macrozona de Ocupação Controlada 1) Promover melhorias nas condições de mobilidade mediante: Racionalização do serviço de ônibus e redução de veículos em circulação, remanejamento de terminais e criação de corredores expressos para ônibus de alta capacidade. Apoio à implantação progressiva e contínua das linhas 1 e 4 do sistema metroviário e ampliação de sua abrangência para as áreas adjacentes, através do transporte integrado. Criação de alternativas para estacionamento e guarda de veículos compatíveis com as características locais em todos os bairros, com critério de prioridade para os moradores. Ampliação do sistema cicloviário existente, com infra-estrutura de apoio, regulamentação e fiscalização de sua utilização. 2) Elaborar plano geral para melhoria sócio-espacial do ambiente urbano nos assentamentos de baixa renda e seus entornos, para implantação de: Programas de regularização urbanística e fundiária. Projetos de urbanização. Subzonas de incentivo à moradia popular. Áreas de Especial Interesse Social - AEIS. 3) Promover a diversificação do uso e ocupação na Área Central, por meio de: Incentivo ao uso residencial, misto com residência e de hospedagem. Implantação de transporte de média capacidade na Área Central e adjacências, conexão intermodal, integração às barcas, Aeroporto Santos Dumont e à rede cicloviária. 4) Estimular a reconversão de imóveis tombados e preservados para o uso comercial e de serviços complementares ao uso residencial, atividades de hospedagem, apoio ao turismo, culturais, artísticas e de lazer. 5) Promover melhorias urbanísticas, preservando o patrimônio cultural e ambiental de Santa Teresa, mediante: Estímulo à ocupação de terrenos vazios e à reforma ou reconstrução de imóveis subutilizados, visando o aumento de unidades residenciais. p. 96 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Ampliação do comércio de apoio ao uso residencial e ao turismo, com estímulo às atividades turística e cultural, preservando a identidade local. Racionalização da mobilidade e ampliação da acessibilidade, por meio do transporte coletivo intrabairro e integração ao transporte de massa para as Zonas Sul e Norte. 6) Priorizar a requalificação em áreas urbanas com alto potencial para a reprodução dos investimentos. 7) Controlar o adensamento e a intensidade de ocupação do solo na Zona Sul, na defesa de um ambiente urbano de qualidade, por meio de: Contrapartidas para a preservação da qualidade do ambiente urbano na implantação de novos centros comerciais (shopping centers) de grande porte e ampliação dos já existentes. Restrição à promoção de empreendimentos residenciais, de comércio e serviços de grande porte em áreas consideradas saturadas. Preservação de ambientes construídos pela reutilização e conservação de imóveis de valor cultural Na Macrozona de Ocupação Incentivada 1) Priorizar o investimento na melhoria geral do ambiente urbano e das condições de ocupação, mediante reforço e ampliação de programas e iniciativas, tais como: Implantação de subzonas de incentivo à produção de moradias regulares de interesse social. Definição de Áreas de Especial Interesse Social. Urbanização de favelas. Regularização urbanística e fundiária. Reconversão de edificações e reaproveitamento das estruturas existentes, vazias ou subutilizadas em áreas industriais e outras áreas degradadas. 2) Promover a criação de áreas verdes, espaços para recreação, esporte, lazer e atividades culturais, mediante as seguintes iniciativas: Estímulo à criação de espaços públicos e privados para atividades culturais e recreativas. Estabelecimento de critérios para preservação do patrimônio cultural e em especial nos bairros da VIII Região Administrativa Tijuca e da IX Região Administrativa - Vila Isabel. Recuperação ambiental das áreas remanescentes da desativação de grandes instalações industriais, comerciais, complexos militares, industriais e de exploração mineral. Criação de vilas olímpicas em comunidades carentes. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.97 Implantação do Parque de Madureira, na área remanescente da compactação das linhas de transmissão da LIGHT, com melhoria da infra-estrutura de transportes, habitação, qualificação do comércio informal e incentivo a investimentos imobiliários. Instituição de unidades de conservação nas Serras da Misericórdia e do Engenho Novo. 3) Promover a requalificação urbana e ambiental em áreas consideradas degradadas, mediante: Estruturação, integração e recuperação das áreas ao longo das linhas dos sistemas ferroviário e metroviário e remanescentes da implantação de grandes obras viárias, com a implantação efetiva dos projetos de alinhamento e estímulo à ocupação adequada do solo. Investimento nas obras para recuperação do sistema de drenagem das bacias e sub-bacias. Redefinição das áreas destinadas à ocupação industrial e dos pólos industriais existentes. Priorização da intervenção urbanística nas áreas de favela na região do entorno ao complexo hospitalar de Acari, e em Vigário Geral, com a recuperação e ampliação do sistema de esgotamento sanitário e a criação de programas sociais e de oferta de empregos. Recuperação das faixas ao longo dos rios Acari, Pavuna e Trapicheiros, entre outros, para a circulação de pedestres e incorporação dos terrenos remanescentes do Metrô à malha urbana. Tratamento paisagístico e reurbanização dos espaços públicos e lindeiros aos acessos a túneis e viadutos. Recuperação das vias junto às estações ao longo das estradas de ferro e nos centros de comércio e serviço e ao longo das principais vias estruturadoras. 4) Promover melhorias nas condições de mobilidade, mediante: Remanejamento de terminais e racionalização do serviço de ônibus. Melhoria das condições de acesso rodoviário ao bairro do Caju. Melhoria da rede viária e de transportes. Estabelecimento de plano de prioridades para implantação dos projetos de alinhamento das principais vias de ligação do Centro com os bairros da Zona Norte. Criação de linhas de transporte integrado nos bairros servidos pelo sistema metroviário. Alargamento e melhorias no complexo viário nos arredores das estações e dos corredores lindeiros à linha férrea. p. 98 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Provimento de terminais rodoviários, viadutos, ciclo faixas, bicicletários e edifícios–garagem, fortalecendo as centralidades regionais. Melhoria das condições físicas dos terminais municipais especialmente as condições de integração dos terminais ferroviário, metroviário e rodoviário. Melhoria das condições de segurança das passagens sob as linhas férreas. Instalação de sinalização semafórica e gráfica, horizontal e vertical nas principais vias. 5) Rever a legislação de uso e ocupação do solo para promoção de melhorias específicas especialmente em Jacarepaguá e nos bairros da Ilha do Governador. 6) Promover a revitalização urbana da Zona Portuária e dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, mediante: Renovação urbana, com investimentos em infra-estrutura e produção de moradia. Requalificação dos espaços públicos, ampliação das áreas verdes e da arborização. Recuperação de imóveis com importância histórica, arquitetônica ou estética, do patrimônio arquitetônico e do patrimônio cultural. Estímulo à implantação de hotéis, lojas, escritórios, centros culturais e entretenimento. Melhoria das condições de acesso rodoviário ao bairro do Caju. 7) Estimular a reconversão de prédios ociosos, degradados, ou aqueles inadequados para os fins a que se destinavam originalmente, para novos usos e destinações. Na Macrozona de Ocupação Condicionada 1) Promover a melhoria do ambiente urbano mediante: Definição das áreas e comunidades onde deverão ser implantadas Áreas de Especial Interesse Social - AEIS. Incentivo à atividade hoteleira com a instalação de tipos diversificados de hospedagem. Elaboração de legislação específica e revisão de parâmetros de uso e ocupação do solo. Definição de critérios específicos de uso e ocupação para o entorno dos morros tombados. Elaboração de plano para a área da Colônia Juliano Moreira. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.99 2) Promover a proteção ambiental mediante: Criação de parques urbanos nas orlas das lagoas e no entorno das encostas. Efetivação da implantação do Parque Natural Municipal de Marapendi. Adoção de critérios para a ocupação das ilhas das lagoas da Baixada de Jacarepaguá. Reflorestamento de áreas degradadas em baixadas e encostas e implantação de ecolimites. Implementação de medidas que inibam a ocupação desordenada de áreas públicas e de áreas para implantação de infra-estrutura na Baixada de Jacarepaguá. 3) Estabelecer plano de prioridades para implantação do sistema viário principal e promover melhorias nas condições de mobilidade na Baixada de Jacarepaguá. 4) Incentivar o desenvolvimento de atividades turísticas, desportivas e culturais, em especial o eco turismo e atividades ligadas à educação ambiental e à pesquisa e proteção da fauna, flora e dos recursos naturais. 5) Estabelecer padrões de urbanização a serem adotados nas áreas em processo de ocupação pela iniciativa privada e condições de estabelecer as contrapartidas cabíveis visando à boa da qualidade do ambiente urbano e a proteção ambiental na implantação de novos empreendimentos de grande porte. Na Macrozona de Ocupação Assistida 1) Priorizar a melhoria das condições de ocupação, mediante o reforço e ampliação de programas e iniciativas, tais como: Implantação de subzonas de incentivo à produção de moradias regulares de interesse social. Urbanização de favelas. Regularização urbanística e fundiária. Implantação de infra-estrutura de saneamento ambiental. Desenvolvimento de subcentros funcionais na região de Santa Cruz. 2) Promover a melhoria nas condições do ambiente urbano, mediante: Reurbanização de áreas. Promoção da regularização urbanística. Desenvolvimento de subcentros funcionais. p. 100 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano 3) Promover melhorias nas condições de mobilidade e acessibilidade mediante: Reestruturação do sistema viário de circulação e de transporte público com prioridade para a criação de faixas exclusivas para transporte de alta capacidade nas vias estruturais e para a construção de terminais rodoviários de integração. Revitalização do ramal da rede ferroviária próximo à Avenida Brasil. Atendimento de todos os bairros por linhas de ônibus regulares. Ampliação do número das passagens de pedestres ao longo da Avenida Brasil e da via férrea. Implantação de melhorias físicas e alargamento das principais vias. Implantação de estação de integração de transporte público. Ampliação da rede cicloviária na região promovendo a ligação entre os bairros de Campo Grande, Bangu e Santa Cruz/Paciência e pontos de integração com outros sistemas modais ao longo da Avenida Brasil e no Parque Industrial de Campo Grande. Implantação de abrigos em todos os pontos de ônibus das principais vias. Intervenções visando à segurança dos usuários e acessibilidade no entorno das estações. Integração viária e de transportes entre Campo Grande e Guaratiba. 4) Promover a proteção do meio ambiente natural mediante: Controle da ocupação de faixas marginais de proteção de corpos hídricos, privilegiando a implantação de avenidas canais, áreas de lazer, ou replantio de mata ciliar, reassentando a população localizada em áreas de risco, quando necessário. Implantação de Unidades de Tratamento nos rios e dragagem permanente de rios e canais, principalmente aqueles próximos às áreas de produção agrícola e às áreas sujeitas à inundação. Instituição e regulamentação de Unidades de Conservação Ambiental. 5) Promover a proteção e conservação do patrimônio cultural utilizando-o para fins culturais, educativos e de lazer mediante: Definição de critérios de proteção para os bens integrantes da Área de Proteção do Ambiente Cultural - APAC Santa Cruz. Execução de projetos de recuperação e valorização dos bens de valor para o patrimônio cultural e do meio ambiente natural. Apoio à criação e implantação de projetos de museografia. Reconversão de prédios disponíveis para criação de equipamentos culturais e de lazer. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.101 6) Estimular as atividades turísticas na região litorânea, contemplando: Serviços e equipamentos com preservação das características ambientais e culturais. Inventário turístico dos bens históricos, pontos turísticos, serviços e trilhas da região. Implantação de Pólo Turístico e Gastronômico. Abertura de trilhas de acesso às paisagens naturais. 7) Revitalizar as atividades do setor agropecuário e pesqueiro, por meio da: Proteção das áreas e atividades remanescentes e em atividade. Criação de mercados do produtor para venda dos produtos da região. Apoio ao desenvolvimento da floricultura, priorizando a instalação de centro de comercialização de plantas e flores. Recuperação das vias de escoamento da produção e das estradas vicinais. Organização de centros de comercialização pesqueira direta ao consumidor. Criação de entreposto pesqueiro. Criação de Reserva Extrativista de Pesca Sustentável da Baía de Sepetiba e adjacências. VETORES DE CRESCIMENTO A diretriz contida no Plano Diretor Decenal de 1992 para orientação da ocupação urbana no Município é de consolidação dos grandes vetores de crescimento do centro da Cidade para a Zona Norte, para a Zona Oeste e para a Baixada de Jacarepaguá, bem como os que irradiam dos demais centros de comércio e serviços do Município. Na revisão do Plano em 2006, é mantida a orientação quanto à consolidação dos vetores de crescimento para as áreas de expansão urbana, acrescida da proposta de ocupação dos vazios urbanos em áreas infra-estruturadas e a indicação de áreas prioritárias a serem fortalecidas. São vetores de crescimento: Adensamento da população e das construções na Macrozona de Ocupação Incentivada, preferencialmente nas vias estruturadoras da Zona Norte e de Jacarepaguá. Reconversão de edificações na área central e adjacências da Macrozona de Ocupação Incentivada. Ocupação de vazios urbanos nas Macrozonas de Ocupação Incentivada e Ocupação Assistida, especialmente na faixa de território compreendida pela Avenida Brasil e o leito da estrada de ferro. p. 102 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Intensificação da ocupação junto aos centros de comércio e serviços e aos eixos viários estruturadores do espaço nos subúrbios e na Zona Oeste, respectivamente nas Macrozonas de Ocupação Incentivada e de Ocupação Assistida. Expansão da malha urbana nas Macrozonas de Ocupação Assistida e Condicionada a partir da associação de investimentos da iniciativa privada aos recursos federais, estaduais e municipais para implantação de infra-estrutura e equipamentos urbanos. Mapa Vetores de Crescimento Fonte: Coordenadoria geral de Planejamento urbano - SMU / PCRJ ÁREAS SUJEITAS À INTERVENÇÃO O Plano Diretor Decenal de 1992 declarou um conjunto de áreas sujeitas à intervenção, em função das seguintes situações: características urbanísticas e ambientais específicas; necessitarem de obras ou redefinição das condições de uso e ocupação ou de regularização fundiária. O instrumento Áreas de Especial Interesse, nas suas diferentes modalidades, instituído pela mesma Lei, respalda juridicamente as alterações relativas aos controles sobre o uso do solo que se façam necessárias nessas áreas sujeitas à intervenção. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.103 Na revisão do Plano Diretor em 2006 poderão ser definidas áreas sujeitas à intervenção para as seguintes situações: Estruturação ou alterações na estrutura física. Integração à malha urbana formal. Implantação ou readequação da infra-estrutura viária e de saneamento. Conservação e recuperação das condições do meio ambiente natural e construído. Implantação de equipamentos urbanos. Produção e regularização de moradias. A relação das áreas indicadas foi revista, estendendo-se a elas a possibilidade de utilização do instrumento da política urbana Operação Urbana, previsto pelo Estatuto da Cidade, como modalidade de intervenção. 2.3. ORDENAÇÃO PARA O PLANEJAMENTO Mapa Áreas Sujeitas a Intervenção do poder Público / Proteção Ambiental Fonte: Coordenadoria geral de Planejamento urbano - SMU / PCRJ O Plano Urbanístico Básico – PUB-Rio, elaborado em 1976, dividiu a cidade em 6 áreas de planejamento a partir de critérios de homogeneidade interna, compartimentação ambiental e características demográficas, fun- p. 104 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano damentado em pesquisa qualitativa realizada na época. Posteriormente as ilhas foram incorporadas às áreas de planejamento continentais, reduzindo seu número para 5, o que perdura até hoje como referência administrativa e histórico-geográfica. Integra o diagnóstico realizado para o PUB-Rio, a divisão do território municipal em 55 unidades espaciais de planejamento, das quais 9 foram objeto de projetos de estruturação urbana (PEU) segundo o conceito proposto naquele Plano. O Plano Diretor de 1992 institucionaliza essas 55 unidades espaciais de planejamento – UEP, que deveriam ser objeto de projetos de estruturação urbana - PEU. Passados mais de 10 anos, apenas 10 UEP foram objeto de 7 projetos de estruturação urbana, sendo que destes 7, somente 5 foram aprovados pelo Legislativo Municipal. Por outro lado, o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro, realizado no período 2000 – 2004, observando a heterogeneidade da Cidade, adotou a divisão da Cidade em 12 regiões. Essas regiões apresentam características histórico-geográficas únicas, ambiente e topografia distintas, sendo habitadas por populações com maneira de pensar, sentir e agir singulares. A caracterização de cada uma das regiões envolveu extenso levantamento de dados, de natureza qualitativa, oriundos de questionários de percepção, e de natureza quantitativa, cujos dados foram provenientes de várias fontes oficiais. Esta divisão espacial objetiva modernizar a gestão administrativa, política e social, de forma a promover o desenvolvimento intra-regional, levando em conta as especificidades das áreas. Posteriormente, o trabalho realizado junto aos diversos órgãos municipais apontou a necessidade de ampliação de 12 para 16 regiões, no intuito de compatibilizar as informações agregadas segundo as diversas divisões territoriais pelos órgãos municipais descentralizados. A revisão do Plano Diretor em 2006 adota a divisão em 16 regiões de planejamento, para efetivar a articulação das políticas públicas geridas pelos diferentes órgãos setoriais. 3. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA O Plano Diretor Decenal de 1992 prevê a aplicação de instrumentos da política urbana, sendo a maioria deles considerados pela revisão do Plano Diretor em 2006. Além de propor ajustes em alguns desses instrumentos, na revisão do Plano são incluídos outros que foram instituídos pelo Estatuto da Cidade. São também inseridos no Plano Diretor revisto, instrumentos de planejamento e gestão urbana em uso, ou formulados ao longo de trabalhos desenvolvidos no período de vigência do Plano Diretor de 1992. Outra modificação em relação ao Plano de 1992 foi o acréscimo das disposições que se referem aos instrumentos de regulação urbanística, incluindo-os no item que trata dos demais instrumentos da política urbana. No Plano de 1992 esta matéria estava disposta em outro capítulo. A intenção com esta alteração é atribuir um novo enfoque à Lei de Uso e Ocupação do Solo, alterando o seu papel na regulação urbanística. A integração do instrumento Plano de Estruturação Urbana aos demais instrumentos do planejamento, que em conjunto implementam a política urbana através do Sistema Municipal de Planejamento Urbano, tem como intenção evitar a fragmentação da regulação urbanística hoje verificada. Os instrumentos considerados de caráter institucional pelo Plano de 1992 - Sistema Municipal de Planejamento e Sistema de Defesa da Cidade Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.105 - e dispostos no título da Lei referente ao processo de planejamento, são tratados na proposta de revisão do Plano Diretor em 2006 como instrumentos de gestão da política urbana. A ampliação do capítulo sobre os instrumentos na revisão do Plano teve como objetivo criar condições efetivas para implementar um processo de planejamento contínuo e integrado. 3.1. INSTRUMENTOS GERAIS DE REGULAÇÃO URBANÍSTICA Constituem instrumentos de regulação urbanística: A legislação de parcelamento do solo, de uso e ocupação do solo, de obras e edificações e de licenciamento e fiscalização. Os instrumentos legais que se referem à forma de ocupação do solo instituídos através de Planos de Estruturação Urbana. Os instrumentos legais que se referem à forma de ocupação do solo instituídos para Áreas de Especial Interesse, para Áreas de Proteção do Ambiente Cultural e para Áreas de Proteção do Entorno de Bens Tombados. Integram as disposições contidas na revisão do Plano Diretor em 2006 os conceitos e o conteúdo básico das leis de Parcelamento do Solo Urbano, Uso e Ocupação do Solo, Código de Obras e Edificações e Código de Licenciamento e Fiscalização. Neste último são acrescidas disposições sobre procedimentos considerados básicos em relação ao conjunto de normas que regem o exercício da fiscalização. Em relação à Lei de Uso e Ocupação do Solo propõe-se uma modificação substantiva ao disposto no Plano de 1992. A Lei de Uso e Ocupação do Solo deixa de ter um papel basicamente conceitual, passando a ser o marco de regulação urbanística em substituição ao decreto municipal de zoneamento em vigor (Decreto municipal 322 de 1976), e às suas posteriores alterações, até hoje vigentes. Este novo marco deve ser construído tendo como referência a experiência técnica dos órgãos de licenciamento do Município e a nova linguagem desenvolvida com a elaboração dos vários Projetos de Estruturação Urbana (PEU) já implementados. Para a regulamentação de particularidades regionais e situações especiais que venham a exigir modificações desta norma urbanística maior, permanecem os instrumentos que vêm sendo adotados com esta finalidade desde a aprovação do Plano Diretor Decenal de 1992 – os Planos de Estruturação Urbana, as Áreas de Especial Interesse nas suas diferentes modalidades, as Áreas de Proteção Ambiental e as Áreas de Proteção do Ambiente Cultural, no que couber, além dos demais instrumentos legais disponíveis para a preservação ou proteção ambiental. Além da indicação dos índices de aproveitamento do terreno máximo, impondo limites para construção por unidades espaciais de planejamento, vistos mais adiante, foram incluídas na revisão do Plano Diretor em 2006, algumas disposições urbanísticas que deverão ser incorporadas aos instrumentos de regulação urbanística. Estas disposições tratam da obrigatoriedade de padronização de alguns parâmetros para o uso residencial em subzonas de incentivo à moradia popular e para edificação de pequeno porte nas Macrozonas de Ocupação Incentivada e Assistida, além da reconversão de edificações tombadas ou preservadas. p. 106 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano 3.2 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO URBANO Entre os novos instrumentos de gestão do uso e ocupação do solo do Estatuto da Cidade, vinculou-se obrigatoriamente ao Plano Diretor: Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios; Direito de Preempção; Outorga Onerosa do Direito de Construir e de Alteração de Uso; Na revisão do Plano Diretor em 2006, foi definida a natureza dos planos, programas e projetos da administração municipal, constantes como instrumentos de planejamento urbano. Em conseqüência da adoção das 16 regiões de planejamento em substituição às antigas 55 unidades espaciais de planejamento, como unidade territorial que possibilita viabilizar a articulação intersetorial das políticas públicas, na revisão do Plano Diretor prevê-se como principais instrumentos dessa articulação os Planos Regionais e Planos ou Programas Setoriais. Integram ainda os instrumentos de planejamento urbano, os órgãos municipais setoriais, o Plano Estratégico, a Agenda 21 e outras instâncias que venham a ser criadas com a finalidade de integrar políticas setoriais, desde que articuladas ao Plano Diretor, instrumento básico da política urbana. Transferência do Direito de Construir; Operação Urbana Consorciada. Abriu-se ainda a possibilidade de aplicação dos seguintes instrumentos através da sua previsão no Plano Diretor, não sendo obrigatória a sua vinculação: IPTU Progressivo no Tempo e a Desapropriação com Pagamento em Títulos da Dívida Pública, decorrentes da aplicação do Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios; Ao Plano de Estruturação Urbana – PEU caberá definir diretrizes de desenvolvimento e/ou preservação e indicação das áreas sujeitas à intervenção, para um bairro ou conjunto de bairros. Este instrumento mantém a função de revisão de índices e parâmetros urbanísticos no nível local, quando esta revisão ou detalhamento do disposto na Lei de Uso e Ocupação do Solo se fizer necessária devido a particularidades regionais. A proposta de revisão do Plano Diretor em 2006 inclui ainda o Projeto Urbano aos instrumentos de planejamento, definindo sua natureza e finalidades às quais se destina. 3.3. INSTRUMENTOS DE GESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Consórcio Imobiliário; O Plano Diretor de 1992 incorporou instrumentos da política urbana propostos no pelo Movimento Nacional pela Reforma Urbana. Entretanto, a maioria não foi regulamentada, motivada pela ausência de regulamentação federal ao longo dos anos que se seguiram, contribuindo ainda para retardar a falta de iniciativa do Município na regulamentação desses instrumentos. Relatório de Impacto de Vizinhança; Direito de Superfície; Concessão de Direito Real de Uso; Usucapião Especial de imóvel urbano individual e coletivo; Concessão de Uso Especial para fins de moradia individual e coletiva. Em 2001 com a aprovação do Estatuto da Cidade, foram criadas as condições efetivas para a instituição pelo Município de novos instrumentos de gestão do uso e ocupação do solo, particularmente aqueles voltados à captura da valorização imobiliária produzida por investimentos de toda a sociedade. Pela comprovação de sua eficácia para a cidade do Rio de Janeiro, na revisão do Plano Diretor em 2006, dos novos instrumentos de gestão do uso e ocupação do solo, instituídos pelo Plano Diretor 92, foram mantidos: Pode-se considerar que nas cidades, o valor da terra é função da inserção do terreno em uma divisão econômica e social do espaço, que por um lado é definida pela oferta e acessibilidade a equipamentos, serviços, emprego e outros bens urbanos, e por outro, por uma representação social, aleatória, produzida historicamente. No primeiro caso, o valor da terra pode ser entendido como o fruto de investimentos – em sua maioria, públicos – de toda a sociedade. No segundo, traduz-se como produto de uma convenção social que elege em quais áreas se confere status ou prestígio, e em quais, ao contrário, são estigmatizadas. Urbanização Consorciada; Operação Interligada; Áreas de Especial Interesse, nas suas diferentes modalidades. Mesmo no segundo caso, as localizações consideradas socialmente boas ou ruins, melhores ou piores, dependem, quase sempre, de condições mínimas de acessibilidade ou infra-estrutura que, também elas, foram produzi- Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.107 das por investimento de toda a sociedade, na maior parte através de investimento público. Assim, pode-se afirmar que o esforço de toda a sociedade, além dos investimentos públicos, tem produzido valores fundiários que são apropriados de forma desigual por proprietários privados durante o processo de urbanização e de reprodução social da cidade. Essa constatação justifica e dá legitimidade à criação, pelo poder público, de instrumentos de captura desta valorização fundiária. Com a aprovação do Estatuto da Cidade, prevendo a aplicação desses instrumentos da política urbana e estabelecendo as condições para sua utilização pelos municípios, ficou definida a abrangência a ser dada à sua regulamentação no Plano Diretor. ÁREAS DE ESPECIAL INTERESSE Instrumento instituído pelo Plano Diretor de 1992 para delimitar de forma permanente ou transitória áreas que serão submetidas a regime urbanístico específico. Na revisão do Plano Diretor em 2006 foram destacadas como importante instrumento da gestão do uso e da ocupação do solo urbano. A possibilidade de implementação de políticas públicas e formas de controle específicas sobrepostas aos controles urbanísticos definidos por zona ou subzona na legislação urbanística, comprovou sua eficácia ao longo dos anos de vigência do Plano Diretor de 1992. A natureza diferenciada entre os regimes urbanísticos específicos está expressa nas seguintes denominações e conceitos: 1) Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU) é aquela destinada a projetos específicos de estruturação ou reestruturação, renovação e revitalização urbana. 2) Área de Especial Interesse Social (AEIS) é aquela ocupada por favelas, loteamentos irregulares e conjuntos habitacionais, destinadas a programas específicos de urbanização e regularização fundiária. O Plano Diretor de 1992 definia também a possibilidade de delimitar como Área de Especial Interesse Social os imóveis públicos ou privados necessários à implantação de programas habitacionais. Previa inclusive a formação de consórcios com esta finalidade. 3) Área de Especial Interesse Ambiental (AEIA) é aquela destinada à criação de Unidade de Conservação ou à Área de Proteção do Ambiente Cultural, visando à proteção do meio ambiente natural e cultural. 4) Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) é aquela com potencial turístico e para qual se façam necessários controle de usos e atividades, investimentos e intervenções visando ao desenvolvimento da atividade turística. 5) Área de Especial Interesse Funcional (AEIF) é aquela caracterizada por atividades de prestação de serviços e de interesse público que exija regime urbanístico específico. 6) Área de Especial Interesse Agrícola (AEIG) é aquela destinada p. 108 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano à manutenção da atividade agropecuária, podendo abranger as áreas com vocação agrícola e outras impróprias à urbanização ou necessárias à manutenção do equilíbrio ambiental, recuperáveis para o uso agrícola. PARCELAMENTO, EDIFICAÇÃO OU UTILIZAÇÃO COMPULSÓRIOS A aplicação deste instrumento tem como principal objetivo induzir a ocupação e o aproveitamento racional de terrenos vazios ou subutilizados em locais que tenham sido objeto de investimentos em infra-estrutura urbana, buscando evitar a retenção especulativa dessas terras. Como estabelece o Estatuto da Cidade, este mecanismo constitui uma primeira iniciativa, no sentido de se alcançar o objetivo pretendido, com prazo de vigência estabelecido na lei federal. O procedimento previsto a seguir é o da aplicação do IPTU Progressivo no Tempo, instrumento que institui uma alíquota acrescida do imposto predial e territorial urbano para os terrenos vazios ou subutilizados. Sob o nome de Imposto Progressivo no Tempo, este instrumento, já havia sido previsto no Plano Diretor 92, porém nunca foi regulamentado. Ao final do processo, tendo um prazo definido pela lei federal se esgotado, caso se faça necessário, a previsão é da aplicação seqüencial do instrumento Desapropriação com Pagamento em Títulos da Dívida Pública. Na revisão do Plano Diretor em 2006 propõe-se a aplicação do Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios e os demais instrumentos seqüenciais, somente na Macrozona de Ocupação Incentivada, com sua utilização condicionada à regulamentação em lei específica de iniciativa do Executivo Municipal, de acordo com o que estabelece a lei federal. DIREITO DE PREEMPÇÃO Trata-se de instrumento para induzir o desenvolvimento urbano, instituído no Estatuto da Cidade, que permite o Poder Público exercer o direito de preferência na aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares. A intenção é abrir a possibilidade, com maior facilidade e menos ônus, para implantação de equipamentos ou instalação de infraestrutura necessária à Cidade. Eventualmente, é ainda um instrumento que viabiliza a regularização fundiária de áreas ocupadas irregularmente. Estão relacionadas na revisão do Plano Diretor as diferentes situações nas quais o Poder Público poderá exercer o direito de preempção, ficando para ser regulamentada em lei municipal a delimitação das áreas sobre as quais incidirá este direito. OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR E DE ALTERAÇÃO DE USO O Estatuto da Cidade instituiu o instrumento Outorga Onerosa do Direito de Construir que permite captar parte da valorização imobiliária incorporada a lotes urbanos em decorrência de um maior aproveitamento concedido a eles por parte do Poder Público. A justificativa para aplicação do instrumento decorre do fato de que as formas clássicas de captura da valorização fundiária – impostos como o Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.109 Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU e o Imposto de Transmissão de Bens Imobiliários - ITBI – não têm se mostrado eficazes para uma distribuição mais justa e eqüitativa dos benefícios da urbanização. Busca-se, desta maneira, um financiamento do desenvolvimento urbano onde os principais beneficiários do processo de urbanização devem arcar com uma parcela maior dos custos envolvidos. A opção no Plano Diretor de 1992, foi adotar um coeficiente de aproveitamento de terreno básico único fixado em 1, a partir do qual considerou-se solo criado sujeito ao pagamento de uma contrapartida financeira na utilização de todo e qualquer potencial construtivo concedido a mais pela legislação urbanística. Na revisão do Plano Diretor de 2006, a proposta é aplicar a Outorga Onerosa do Direito de Construir em áreas onde foram realizados ou estão previstos pelas diretrizes do Plano Diretor, expressivos investimentos públicos e privados. Essas áreas são aquelas consideradas também em condições de absorver densidade construtiva além da decorrente da aplicação do índice de aproveitamento do terreno permitido pela legislação urbanística. Para efeito da aplicação da Outorga Onerosa do Direito de Construir é instituído um coeficiente de aproveitamento de terreno básico, acima do qual será cobrado um ônus para a construção até um limite fixado como coeficiente de aproveitamento de terreno máximo. A possibilidade de utilização do instrumento Outorga Onerosa do Direito de Construir está prevista: Em praticamente toda a Macrozona de Ocupação Controlada. Nas áreas situadas ao longo dos eixos estruturais da Cidade situados na Macrozona de Ocupação Incentivada. Na maior parte da Macrozona de Ocupação Condicionada. Em alguns casos específicos na Macrozona de Ocupação Assistida. Na Macrozona de Ocupação Controlada – historicamente bastante beneficiada pelos investimentos públicos e com altos preços fundiários -, o coeficiente de aproveitamento do terreno básico é inferior ao índice de aproveitamento do terreno máximo permitido pelo Plano Diretor de 1992. Passa a ser somente passível de utilização dos coeficientes de aproveitamento iguais ou similares aos hoje vigentes mediante a aplicação da Outorga Onerosa do Direito de Construir, sendo indicados como índices de aproveitamento máximos. O objetivo é de impor um mecanismo de restrição ao aumento da densidade construída tendo em vista a saturação da área e suas características ambientais. A lei federal indica duas possibilidades para sua aplicação da Outorga onerosa do Direito de Construir:: 1) Utilização de um coeficiente de aproveitamento de terreno básico único para áreas sujeitas à aplicação do instrumento, a partir do qual, sendo indicado um coeficiente de aproveitamento de terreno máximo, é cobrada uma contrapartida financeira, pela adoção de potencial construtivo adicional. 2) Utilização de coeficientes de aproveitamento de terreno básicos e máximos diferenciados por áreas específicas dentro do território da Cidade, onde se prevê a aplicação do instrumento, a partir do qual é cobrada uma contrapartida financeira, pela adoção de potencial construtivo adicional. Na Macrozona de Ocupação Incentivada, ao contrário, prevê-se um aumento do índice de aproveitamento de terreno máximo em relação ao Plano Diretor de 1992. A intenção é fomentar o desenvolvimento para algumas áreas. Estima-se que a possibilidade de uso de potencial construtivo adicional mediante Outorga Onerosa do Direito de Construir ampliará as possibilidades de investimentos no desenvolvimento urbano daquela região. Na Macrozona de Ocupação Condicionada o aumento dos limites de construção através de Outorga Onerosa do Direito de Construir foi previsto tendo em conta a demanda do mercado imobiliário. A intenção é de obter uma contrapartida financeira, pois existe a necessidade de investimentos em assentamentos de baixa renda localizados em áreas impróprias à ocupação, além de problemas vinculados à proteção do meio ambiente. p. 110 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Na revisão do Plano Diretor em 2006, somente as áreas indicadas como Áreas Sujeitas à Intervenção poderão ser objeto de uma Operação Urbana Consorciada. Estas, de diferentes naturezas, estão relacionadas por Macrozona de Ocupação, podendo, ao serem delimitadas para aplicação do instrumento Operação Urbana, ter como finalidade básica as seguintes intervenções: Implantação de qualquer tipo de infraestrutura e, especificamente, da rede estrutural de transporte viário. Execução de programa ou projeto habitacional de interesse social. Implantação de equipamento urbano ou comunitário. Criação de espaço público de lazer e área verde. Requalificação de área de interesse histórico, cultural ou paisagístico. Na Macrozona de Ocupação Assistida, os fatores “demanda” e “fomento ao desenvolvimento” não justificam um aumento de índices de aproveitamento do terreno máximos. O que se deseja é a predominância do investimento público, principalmente considerando a carência de infra-estrutura adequada. Nas Áreas de Especial Interesse e nas áreas onde se prevê a aplicação do instrumento Operação Urbana Consorciada poderão ocorrer alterações nos limites estabelecidos nos índices de aproveitamento do terreno máximos estabelecidos como coeficientes de aproveitamento de terreno básicos, desde que inferiores ao coeficiente de aproveitamento de terreno máximo. Quanto ao instrumento Outorga Onerosa do Direito de Alteração de Uso, optou-se por restringir sua aplicação às áreas instituídas como de especial interesse ou objeto de aplicação do instrumento Operação Urbana Consorciada. A previsão na revisão do Plano Diretor em 2006 é de que os valores econômicos das contrapartidas financeiras auferidas pelo Poder Público com a aplicação dos instrumentos Outorga Onerosa do Direito de Construir e de Alteração de Uso sejam calculados com base nos valores do mercado imobiliário do Município, e sigam um índice corrigido, no mínimo, trimestralmente. TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR O instrumento Transferência do Direito de Construir, também instituído pelo Estatuto da Cidade, tem a finalidade de permitir a utilização de potencial construtivo em área distinta ao do imóvel considerado, quando sob este recai alguma restrição urbanística. As finalidades específicas para aplicação do instrumento estão previstas na lei federal. Na revisão do Plano Diretor em 2006, este instrumento tem sua utilização restrita a áreas objeto da aplicação do instrumento Operação Urbana Consorciada. Esta opção decorre da existência, na Cidade do Rio de Janeiro, de expressivo quantitativo em imóveis e edificações sob preservação ou tutela que estariam sujeitos a uma transferência do potencial construtivo. Estender a possibilidade de aplicação da Transferência do Direito de Construir para outras situações poderia diminuir substantivamente as chances de obtenção da captura de mais valias através da aplicação do instrumento Outorga Onerosa do Direito de Construir. A regulamentação para a utilização da Transferência do Direito de Construir fica, portanto, vinculada à lei que instituirá uma Operação Urbana Consorciada. Incluem-se na lei, os procedimentos que prevêem a possibilidade de conversão do potencial construtivo de imóveis atingidos por medidas voltadas à proteção ambiental ou cultural ou de interesse público, e a emissão dos certificados a serem livremente negociados na área objeto da Operação Urbana Consorciada. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.111 OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA Operação Urbana Consorciada é um conjunto de intervenções e medidas, coordenadas pelo Poder Público, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar transformações estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental de determinada área. Cada operação urbana, com seu respectivo plano, deve ser aprovada em lei específica. A Operação Urbana Consorciada permite atrair os investimentos privados oferecendo maiores oportunidades, pois entre outras medidas, prevê na lei que a cria, a modificação dos índices e dos parâmetros urbanísticos e edilícios constantes na legislação vigente para a área. Ao contrário do instrumento Outorga Onerosa do Direito de Construir, de natureza redistributiva, a Operação Urbana Consorciada, também prevista pelo Estatuto da Cidade, tem um caráter estratégico. O objetivo é induzir o desenvolvimento em uma área claramente demarcada do território da Cidade. Uma de suas características é a instituição de limitações territoriais para a redistribuição de investimentos. As contrapartidas obtidas no âmbito de uma Operação Urbana Consorciada só podem ser investidas na área onde foi aplicado o instrumento. A revisão do Plano Diretor em 2006 oferece outro incentivo para a iniciativa privada investir em área sujeita à aplicação da Operação Urbana Consorciada. Trata-se da permissão da emissão de Certificados de Potencial Adicional de Construção – CEPACs, em conformidade com as medidas previstas no Plano da Operação Urbana. Estes certificados, alienados em leilão ou utilizados diretamente no pagamento das obras necessárias à própria Operação Urbana, podem ser livremente negociados, podendo ser somente convertidos em direito de construção na própria área objeto da aplicação do instrumento. URBANIZAÇÃO CONSORCIADA A Urbanização Consorciada foi instituída pelo Plano Diretor de 1992 com a finalidade de ser aplicado nos empreendimentos a serem realizados em conjunto com a iniciativa privada ou com os governos federal e estadual. Como tem se apresentado como uma alternativa adequada às condições da cidade do Rio de Janeiro, esse instrumento foi mantido na revisão do Plano Diretor em 2006. A intenção foi de incentivar a sua utilização não só nos empreendimentos a serem realizados através de parceria público-privada, mas também nos programas de regularização a serem implementados nas Áreas de Especial Interesse. CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO O Consórcio Imobiliário é um dos instrumentos previstos pelo Estatuto da Cidade que consta da revisão do Plano Diretor em 2006. Sua aplicação possibilita viabilizar financeiramente o aproveitamento de um imóvel não utilizado ou subutilizado através de sua transferência ao Poder Público Municipal, que indenizará o proprietário cedente com unidades imobiliárias após a realização das obras de urbanização ou edificação. p. 112 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano OPERAÇÃO INTERLIGADA A Operação Interligada foi instituída no Plano Diretor de 1992, tendo sido regulamentada em lei específica. A previsão é de sua utilização em casos em que o Poder Público autoriza a alteração de determinados parâmetros urbanísticos, mediante contrapartida financeira dos interessados, nos termos definidos na referida lei. Na revisão do Plano Diretor em 2006, optou-se por manter a Operação Interligada pela eficácia que apresentou para a Cidade do Rio de Janeiro durante a vigência do Plano Diretor de 1992. RELATÓRIO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA – RIV O instrumento Relatório de Impacto de Vizinhança – RIV, previsto na revisão do Plano Diretor em 2006, destina-se à avaliação dos efeitos negativos e positivos decorrentes da implantação de um empreendimento ou de uma atividade econômica em um determinado local, e à identificação de medidas para a redução, mitigação ou extinção dos efeitos negativos. READEQUAÇÃO DE POTENCIAL CONSTRUTIVO A Readequação de Potencial Construtivo é um instrumento previsto pela revisão do Plano Diretor em 2006, que permite a concessão de parâmetros urbanísticos menos restritivos do que os já estabelecidos pela legislação em vigor. Essa concessão é aplicável desde que os parâmetros urbanísticos adotados não ultrapassem a área total edificável máxima permitida para a totalidade do terreno. O instrumento aplica-se aos imóveis incluídos nas seguintes situações: Atingido por ato de preservação ambiental ou cultural. Com obrigatoriedade de cessão de área de recuo quando da implantação de logradouro público nos casos de vinculação a projetos urbanos em execução. Como incentivo à renovação de áreas e de imóveis degradados. 3.4. INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL E CULTURAL As dimensões ambiental e do patrimônio cultural têm sido objeto de políticas setoriais implementadas com êxito, particularmente desde 1992, quando foi aprovado o Plano Diretor Decenal. A partir de então, os instrumentos de gestão ambiental e cultural nele instituídos, para dar suporte à implementação destas políticas setoriais, vêm sendo aperfeiçoados. Os instrumentos básicos de gestão ambiental e cultural que vêm sendo aplicados e aperfeiçoados pelos órgãos municipais competentes, sendo enunciados na revisão do Plano Diretor em 2006, são: Áreas de Especial Interesse Ambiental. Instrumentos de Gestão Ambiental. Instrumentos de Gestão do Patrimônio Cultural. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.113 ÁREAS DE ESPECIAL INTERESSE AMBIENTAL Como no Plano Diretor de 1992, a revisão do Plano em 2006, institui a Área de Especial Interesse Ambiental, de caráter temporário, para avaliação do interesse ambiental, visando: Proteção do meio ambiente natural e do ambiente cultural. Revitalização de áreas agrícolas. Manutenção de áreas com baixa densidade. INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL Além dos previstos na legislação pertinente, são instrumentos de gestão ambiental: Unidades de Conservação da Natureza. As Unidades de Conservação da Natureza previstas no SNUC e passíveis de delimitação na cidade do Rio de Janeiro dividem-se em dois grupos: I. Unidades de Proteção Integral, com o objetivo básico da preservação da natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Áreas de Preservação Permanente. Sistema Municipal de Licenciamento Ambiental. II. Unidades de Uso Sustentável, com o objetivo básico de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. A revisão do Plano Diretor em 2006 prevê que a criação de Unidades de Conservação da Natureza no Município, para proteção de recursos ambientais com características naturais relevantes, se dê conforme o disposto pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Outras categorias de Unidades de Conservação da Natureza poderão ser criadas desde que seja observada a normativa federal pertinente. As Unidades de Proteção Integral dividem-se nas seguintes categorias: São Áreas de Preservação Permanente aquelas estabelecidas pela Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro 1965, e pela Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002. Também serão consideradas de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as áreas cobertas por formas de vegetação natural destinadas a atenuar a erosão das terras, fixar dunas, proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico, asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção, ou assegurar condições de bem-estar público. O Sistema Municipal de Licenciamento Ambiental regulamenta o licenciamento ambiental relativo à localização, construção, instalação, ampliação, modificação, operação e desativação de empreendimentos, atividades e obras - de origem pública ou privada: Utilizadoras de recursos ambientais. Consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou capazes, de qualquer modo, de causar alteração no meio ambiente natural e na qualidade de vida. Inclui-se no licenciamento ambiental a indicação para adoção de medidas compensatórias ou mitigadoras relativa à degradação dos recursos naturais. p. 114 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano I. Parque Natural Municipal – área de domínio público, destinada à preservação de ecossistemas naturais de relevância ecológica e beleza cênica, permitida a visitação pública e o lazer em contato com a natureza. II. Monumento Natural – área de domínio público ou particular, destinada à preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. III. Reserva Biológica – área de domínio público, destinada à preservação integral da biota, sendo a visitação admitida apenas com fins educativos ou científicos, mediante autorização do órgão responsável. IV. Estação Ecológica – área de domínio público, com o objetivo de preservação da natureza e realização de pesquisas científicas, com a visitação pública apenas para fins educacionais. As Unidades de Uso Sustentável dividem-se nas seguintes categorias: I. Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE, área de domínio público ou privado, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com o objetivo de manter ecossistemas naturais e regular o uso admissível dessas áreas. II. Área de Proteção Ambiental – APA, área de domínio publico ou privado, com certo grau de ocupação humana, dotada de características ecológicas e paisagísticas importantes para a qualidade de vida, com os objetivos de proteger a diversidade biológica e disciplinar o processo de ocupação da área. III. Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana – APARU, de domínio público ou privado, que apresenta as características descritas no inciso anterior e depende de ações do Poder Público para a regulação do uso e ocupação do solo e restauração de suas condições ecológicas e urbanas. IV. Reserva de Desenvolvimento Sustentável – RDS, área natural, de domínio público ou privado, que abriga populações tradicionalmente estabelecidas na área, destinada a preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução dessas populações. V. Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN é uma área privada, gravada com perpetuidade, com objetivo de conservar a diversidade biológica. INSTRUMENTOS DE GESTÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL A utilização do instrumento tombamento está regulamentada na Lei Municipal nº 166, de 27 de maio de 1980. Para a proteção da integridade, ambiência e visibilidade dos bens tombados poderão ser estabelecidas Áreas de Entorno do Bem Tombado, de domínio público ou privado, que integre e componha a ambiência dos bens imóveis tombados. Na aplicação do instrumento são estabelecidas restrições para garantir a visibilidade do bem tombado e para preservar a harmonia da ambiência com as construções que guardam, com o bem tombado e entre si, afinidade cultural ou urbanística relevantes para a sua valorização. Entende-se Área de Proteção do Ambiente Cultural – APAC como território de domínio público ou privado, que apresenta conjunto edificado de relevante interesse cultural. A ocupação e renovação da Área de Proteção do Ambiente Cultural – APAC devem ser compatíveis com a proteção e a conservação de sua ambiência e suas características sócio-espaciais identificadas como relevantes para a memória da Cidade e para a manutenção da diversidade da ocupação urbana constituída ao longo do tempo. A aplicação desse instrumento poderá ocorrer através da sobreposição da área com zonas e subzonas definidas na legislação de zoneamento. Os bens situados dentro de Área de Proteção do Ambiente Cultural serão classificados como: I. Bens Preservados: que compõem os conjuntos urbanos de interesse para a preservação, por possuírem características tipológicas e morfológicas que conferem identidade cultural à área e não podem ser demolidos. II. Bens Renováveis: que integram a ambiência dos conjuntos urbanos preservados, conforme limitações estabelecidas em função das características do conjunto preservado do qual faz parte. O instrumento Sítio Arqueológico, enunciado na revisão do Plano Diretor em 2006, destina-se a proteger o local onde se tenham preservado vestígios materiais que refletem toda e qualquer atividade humana significante para a compreensão da ocupação pré-histórica e histórica de um determinado território. Entende-se por Reserva Arqueológica a área de domínio público composta por um ou mais Sítios Arqueológicos, para os quais serão estabelecidos mecanismos de preservação, conservação e valorização. O Sítio Cultural é o espaço da Cidade, de domínio público ou privado, que por suas características sócio-espaciais e por sua história constitui-se em relevante referência do modo de vida carioca. Também se enquadra como Sito Cultural o local de significativas manifestações culturais, ou que possua bens imateriais que contribuam para perpetuar sua memória. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.115 Integrados aos instrumentos de gestão do patrimônio cultural, instituídos na revisão do Plano Diretor em 2006, estão ainda os registros de bens de natureza material ou imaterial que compõem o Patrimônio Cultural carioca, quais sejam: São instrumentos básicos para proteção do patrimônio cultural, além de outros previstos na legislação pertinente: Tombamento. 1) Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. Instituição de Área de Entorno do Bem Tombado. 2) Livro de Registro das Atividades e Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social. Criação de Área de Proteção do Ambiente Cultural – APAC. 3) Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas. Declaração de Sítio Cultural. Declaração de Reserva Arqueológica. Instrumentos específicos relativos à preservação dos bens de natureza intangível. 4) Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos os espaços públicos e demais locais onde se concentram a se reproduzem práticas culturais coletivas. 3.5. INSTRUMENTOS FINANCEIROS, ORÇAMENTÁRIOS E TRIBUTÁRIOS Estão relacionados na revisão do Plano Diretor em 2006 todos os fundos municipais já instituídos em lei e os que se encontram em fase de formulação pelos respectivos órgãos municipais responsáveis, conforme seguem: Incentivos e benefícios fiscais e financeiros. Na aplicação dos instrumentos para proteção do patrimônio cultural devem ser obrigatoriamente estabelecidos: Delimitação das áreas. Classificação dos bens e imóveis. I. Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano: com a finalidade de dar suporte financeiro a programas e projetos relativos à regularização fundiária e urbanística, à recuperação de equipamentos urbanos, de áreas degradadas ou vinculadas a projetos de revitalização urbana e à implementação de programas de interesse público. II. Fundo Municipal de Conservação Ambiental: com o objetivo de oferecer financiamento para projetos de recuperação e restauração ambiental, prevenção de danos ao meio ambiente e de educação ambiental, com gestão a cargo do órgão executivo central do sistema de gestão ambiental e fiscalização e acompanhamento pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro. III. Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho: destinado ao apoio e fomento a pequenos e micro empreendimentos econômicos, formais ou informais, e a iniciativas de entidades que promovam ações indutoras do aumento do nível de emprego e da renda e que sejam instaladas na Cidade do Rio de Janeiro. IV. Fundo Municipal de Habitação: com a finalidade de dar suporte à implementação dos programas e projetos relativos à implantação de infra-estrutura de saneamento básico e urbanização, reassentamentos de populações situadas em áreas de risco e produção de moradia de interesse social. p. 116 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Indicação dos critérios de proteção e de conservação das áreas e dos bens. Definição das restrições edilícias e ambientais de uso e ocupação. Estabelecimento das disposições relativas à gestão das áreas. V. Fundo Municipal de Conservação do Patrimônio Cultural: de natureza contábil-financeira, sem personalidade jurídica e de duração indeterminada, com objetivo de proporcionar recursos ao planejamento e à execução dos programas e projetos da política de Patrimônio Cultural da Cidade. VI. Fundo Municipal de Transportes: deverá ser regulamentado em conformidade com a legislação federal e estadual sobre a matéria. Na revisão do Plano Diretor em 2006, além da previsão que os programas e as ações constantes do Plano Plurianual de Governo estejam relacionados às disposições do Plano Diretor, desdobrados em prioridades e metas anuais e incorporados pelos orçamentos instituídos por lei, exige-se a elaboração de Relatório de Acompanhamento e Controle do Plano Diretor, com base no desdobramento anual das metas contempladas nas diretrizes orçamentárias instituídas por lei. 3.6. INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA POLÍTICA URBANA Os instrumentos de gestão da política urbana se propõem a adequar o aparato institucional do Executivo Municipal de forma a organizá-lo e capacitá-lo para a implementação da política urbana proposta pelo Plano Diretor. Os instrumentos listados como de gestão da política urbana são: Sistema Municipal de Planejamento Urbano. Sistema de Planejamento e Gestão Ambiental. Sistema Municipal de Informações Urbanas. Sistema de Defesa da Cidade. SISTEMA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO URBANO O Plano Diretor de 1992 previa um Sistema Municipal de Planejamento a ser instituído por uma lei que definiria a sua estrutura. A Lei Complementar Nº16/92, que instituiu aquele Plano, apenas enumerou as responsabilidades do Sistema e estabeleceu que o Conselho Municipal de Política Urbana integraria o seu quadro. A lei de criação do Sistema Municipal de Planejamento prevista nunca chegou a ser elaborada e este acabou por não se concretizar. Desta forma, a revisão do Plano Diretor em 2006 optou por instituir o Sistema Municipal de Planejamento Urbano no próprio texto da lei do Plano. Integram as disposições relativas ao Sistema Municipal de Planejamento Urbano na revisão do Plano Diretor em 2006: a função do Sistema; a composição do Sistema; as atribuições de seus componentes. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.117 O Sistema Municipal de Planejamento Urbano proposto pretende possibilitar um processo contínuo e integrado de planejamento urbano no Município do Rio de Janeiro, onde as diversas ações setoriais se complementem segundo uma única política de desenvolvimento urbano. Este processo compreende: Formulação contínua da política urbana, através da regulamentação, detalhamento, revisão e atualização de diretrizes, programas e instrumentos do Plano Diretor. Gerenciamento e implementação do Plano Diretor, através da execução e integração intersetorial de planos, programas, projetos urbanos e ações decorrentes de suas propostas, assim como pela gestão de seus instrumentos legais. Monitoramento do processo de implementação do Plano Diretor e avaliação de seus resultados. O Sistema Municipal de Planejamento Urbano é composto por: Um órgão municipal de planejamento urbano. Demais órgãos setoriais da administração municipal, vinculados direta ou indiretamente ao desenvolvimento urbano e ambiental. Conselho Municipal de Política Urbana (COMPUR). Demais Conselhos Municipais vinculados, direta ou indiretamente, ao desenvolvimento urbano e ambiental. Cabe ao órgão de planejamento urbano: Suporte técnico-administrativo ao Sistema Municipal de Planejamento Urbano. Elaboração dos instrumentos de regulação urbanística e de planejamento urbano (exceto planos e programas setoriais). Aplicação dos instrumentos de gestão do uso e ocupação do solo – que estão previstos no Título III, Capítulo III do Projeto de Lei que faz ade revisão do Plano Diretor de 1992. Os demais órgãos setoriais da administração municipal são responsáveis por: Desenvolvimento e aplicação das políticas públicas setoriais estabelecidas no Plano Diretor. Aplicação de instrumentos de planejamento urbano. Elaboração dos planos e programas setoriais – que estão previstos no Título III, Capítulo II do Projeto de Lei de revisão do Plano Diretor 92. p. 118 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano A revisão do Plano Diretor em 2006 atende às exigências do Estatuto da Cidade quanto à adoção de uma gestão democrática. Suas propostas neste sentido visam garantir o acompanhamento e controle social das atividades de competência do Sistema Municipal de Planejamento Urbano, através do acesso às informações, e da participação da população e de associações representativas em todas as etapas do processo de planejamento municipal, regional ou local. São mecanismos para garantia da permanente participação social: Conselhos Municipais. Debates, audiências e consultas públicas. Conferências sobre assuntos de interesse urbano. Iniciativa popular de projeto de lei ou de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. Os Conselhos Municipais integrantes do Sistema Municipal de Planejamento Urbano são órgãos consultivos e de assessoria do Poder Executivo. Suas atribuições são: Analisar, propor e dar publicidade às medidas de concretização da política urbana definida no Plano Diretor. Verificar para que as medidas de concretização da política urbana sejam executadas de forma articulada. Para possibilitar um processo integrado de planejamento urbano, o Sistema de Planejamento Urbano se articula aos Sistemas de Informações Urbanas, de Defesa da Cidade, de Planejamento e Gestão Ambiental e a quaisquer outros sistemas municipais que forneçam subsídios à plena consecução de suas atribuições. Além disso, os órgãos executores do Sistema se articulam através de seus setores de planejamento e têm representação no Conselho Municipal de Política Urbana. Com a finalidade de integrar os processos de planejamento entre municípios da Região Metropolitana, a revisão do Plano Diretor em 2006 prevê que o Executivo Municipal firme convênios ou consórcios com os municípios vizinhos, para com eles articular planos, programas e ações de interesse, destinados à superação de problemas setoriais ou regionais comuns, que abranjam a totalidade ou parte de seu território. A revisão do Plano Diretor em 2006 ainda garante que o Relatório de Acompanhamento e Controle do Plano Diretor fique disponível para consulta pública. Este relatório tem por base o desdobramento anual das metas do Plano Plurianual de Governo que, por sua vez, incorpora os objetivos e diretrizes do Plano Diretor. SISTEMA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL Para execução da política de meio ambiente – com responsabilidade sobre os recursos naturais, paisagem natural, agentes modificadores do meio ambiente efetivos ou potenciais e suas intervenções - a revisão do Plano Diretor em 2006 prevê um Sistema Municipal de Planejamento e Gestão Ambiental, integrado ao Sistema Municipal de Planejamento Urbano. O Sistema Municipal de Planejamento e Gestão Ambiental é composto por: O Sistema de Planejamento e Gestão Ambiental compreende, entre outras atribuições: Formulação de programas e projetos de proteção, recuperação e conservação do patrimônio natural. Um órgão executivo central. Autarquias e fundações a ele vinculadas. Conselho Municipal de Meio Ambiente (CONSEMAC). Fundo Municipal de Conservação Ambiental. Integração das ações dos órgãos municipais encarregados da formulação e execução da política ambiental, e compatibilização com as ações dos órgãos estaduais e federais. Avaliação da situação ambiental do Município através de monitoramentos e diagnósticos ambientais, e acompanhamento do cumprimento das metas da política ambiental. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.119 SISTEMA MUNICIPAL DE INFORMAÇÕES URBANAS O Plano Diretor de 1992 atribui ao Sistema Municipal de Planejamento a responsabilidade de criação e atualização de um sistema de informações sobre a Cidade, compreendendo, entre outros, cadastro de terras e infraestrutura e dados gerais sobre uso e ocupação do solo urbano. A revisão do Plano Diretor em 2006 institui o Sistema Municipal de Informações Urbanas, com a finalidade de gerir e disseminar publicamente as informações sobre a Cidade do Rio de Janeiro. Estabelece que o Sistema Municipal de Informações Urbanas deverá ser constituído por Ato do Poder Executivo. Os princípios que deverão pautar este Sistema na utilização dos dados e na disseminação das informações urbanas municipais são: Transparência. Autonomia. Isenção. Neutralidade. SISTEMA DE DEFESA DA CIDADE O Plano Diretor de 1992 cria um Sistema de Defesa da Cidade, constituído por órgãos públicos municipais, visando coordenar as ações e atuar preventiva e imediatamente nos casos de ameaça ou dano às condições normais de funcionamento da Cidade. A revisão do Plano Diretor em 2006 amplia os objetivos e atribuições do Sistema de Defesa da Cidade. Com base nos princípios e diretrizes da Política Urbana expressos na revisão do Plano Diretor, compreende-se como ameaça ou dano às condições normais de funcionamento da Cidade as situações de risco à população e/ou de ameaça ao seu patrimônio. 4. POLÍTICAS PÚBLICAS SETORIAIS As políticas públicas setoriais constituem capítulo específico da proposta de Revisão do Plano Diretor em 2006, buscando abranger os diversos setores da administração municipal que possuem uma interface com a política urbana. Definem diretrizes e prioridades para o setor tratado, da mesma forma que estabelecem uma relação com o tema principal do Plano e que diz respeito aos princípios e condicionantes da ordenação do território municipal. Esses elementos estão expressos nas 17 políticas públicas setoriais que integram a proposta de revisão do Plano, que incluem, entre outros, setores até então não tratados pelo Plano Diretor de 1992, como: Saúde. Educação. A elaboração do conjunto das políticas no âmbito do Plano se desenvolveu conforme quatro vertentes distintas, mas relacionadas. A primeira vertente diz respeito à consolidação dos avanços observados no Plano Diretor Decenal de 1992. Neste sentido, foram seguidas as orientações das demais temáticas contempladas no Plano. A segunda refere-se à abordagem de alguns aspectos específicos referentes a cada uma das políticas públicas tratadas. A terceira, destacou um aspecto amplamente debatido, a importância do exercício da intersetorialidade no médio e longo prazo, como forma de superar os limites de uma atuação que, em geral, só são p. 120 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Assistência Social. Trabalho e Renda. Segurança Urbana. Informação. Administração Tributária. A separação das políticas de Habitação e de Regularização Urbanística e Fundiária se baseou nos seguintes aspectos: 1) Importância de enfocar a produção de moradias novas, a urbanização de favelas e loteamentos irregulares, o reassentamento de populações em áreas de risco e a ocupação de vazios urbanos e imóveis subutilizados na política habitacional. 2) Especificidade e abrangência de problemas distintos no que tange à regularização urbanística e fundiária. 3) Necessidade de aprofundar e detalhar aspectos relativos à regularização urbanística e fundiária, e a forma mais apropriada para equacionar problemas. superados quando “uma ação esbarra na outra”. Por fim, a necessidade de criar aderência entre as políticas públicas setoriais e uma política de ordenação do território capaz de orientar a localização dos equipamentos, gerou uma convergência entre os diversos aspectos setoriais, em uma política urbana, visando o bem estar da população e a melhoria de sua qualidade de vida. A partir de depoimentos sobre a situação atual em cada setor, dos avanços registrados nos últimos anos em diversas capitais e mesmo nacionalmente, sobre o que ao longo dos últimos 10 anos foi sendo elaborado no campo do planejamento e do desenvolvimento urbano, foi composto o amplo painel sob a forma de artigos e itens de um projeto de lei que constitui o capitulo sobre as políticas públicas setoriais. No que tange à consolidação dos avanços registrados no Plano Diretor 1992, sobressai a relevância atribuída a uma política de Habitação que, ao longo dos anos, se concretizou na criação de diversos tipos de programas: Urbanização e regularização fundiária de favelas e loteamentos de baixa renda. Lotes urbanizados. Construção de novas moradias. Destaca-se a proposição das Regiões de Planejamento como elemento de articulação entre todas as políticas setoriais no território. Outras proposições da revisão do Plano Diretor em 2006 para integração intersetorial são: Elaboração de Planos Regionais como forma de traduzir o trabalho intersetorial. Estabelecimento de focos e prioridades. Articulação/aderência entre as diretrizes das políticas públicas setoriais e os instrumentos previstos pelo Estatuto da Cidade. Posteriormente, essas iniciativas levaram à criação de uma Secretaria específica no âmbito da Prefeitura. Outro aspecto importante foi a preocupação com a adoção de uma política que contemplasse os assentamentos de baixa renda levando à criação do conceito de Áreas de Especial Interesse Social – as AEIS, da mesma forma a universalização do acesso à terra e o direito à moradia regular. Foi também dada a devida ênfase à política de Meio Ambiente como uma política determinante na Cidade. A relevância ao Meio Ambiente no Plano Diretor de 1992, por meio da criação de instrumentos de controle de impacto e preservação ambiental - este último através da implantação de unidades de conservação - refletiu-se na constituição de um órgão municipal específico. Merece igualmente destaque a valorização do patrimônio cultural, ambiental e paisagístico da cidade, por meio de instrumentos que garantem a preservação desse patrimônio. Um dos principais avanços da revisão do Plano Diretor em 2006 foi o de tentar abordar a universalidade de demandas e necessidades mais sentidas pela população e a completude dos aspectos que representam esse conjunto de preocupações referentes ao bem estar da população e sua qualidade de vida. Além de ampliar os setores tratados no Plano Diretor de 1992, a revisão do Plano Diretor em 2006, desdobra a política de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, tratadas em conjunto. O mesmo ocorre com Habitação e Regularização Urbanística e Fundiária. Por sua importância para a Cidade, se destacaram da política de Desenvolvimento Econômico traçada no Plano Diretor de 1992, políticas específicas para o Turismo e Trabalho e Renda. Articular as diferentes visões setoriais não é uma tarefa simples, pois a maioria das políticas públicas está atrelada a órgãos e instrumentos legais independentes. Esse é o caso do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural, Desenvolvimento Econômico e Administração Tributária, sem mencionar a Saúde, a Educação e a Assistência Social. As opções foram de fazer referência aos principais componentes das políticas setoriais e de apresentar graus diferenciados de associação com a política Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.121 urbana tradicionalmente centrada em Habitação, Transportes e Saneamento. Outro ponto considerado um avanço na revisão do Plano Diretor em 2006 foi o enfrentamento da dificuldade sistemática no encaminhamento das regulamentações, comprometendo a implantação de diversas iniciativas propostas no Plano Diretor de 1992. A alternativa encontrada foi a introdução de dispositivos que visam tornar auto-aplicáveis as propostas contidas nas políticas públicas setoriais a partir da aprovação da lei do Plano Diretor. A construção da intersetorialidade foi debatida de forma recorrente no processo de elaboração da revisão do Plano Diretor. A opção foi propor mecanismos possíveis de serem aplicados na prática, na experiência do trabalho em comum, adequados para o planejamento de médio e longo prazo e que possam servir de base para a elaboração do plano plurianual, das diretrizes orçamentárias e do orçamento anual da Cidade, além de se prestar para orientação para otimização dos recursos públicos. A produção de dados e informações compatíveis aos setores e a manutenção de cadastros - origem da inclusão de uma política de Informação nas Políticas Públicas Setoriais - foram propostas tendo em vista também construir a intersetorialidade. Os Planos Regionais aprimoram a proposta dos antigos Projetos de Estruturação Urbana – PEUs, adotando como referência territorial as 16 Regiões de Planejamento propostas na revisão do Plano Diretor em 2006. Para cada uma das políticas públicas setoriais tratadas na revisão do Plano Diretor em 2006, são previstos, no mínimo, um conjunto de disposições referentes aos objetivos e às diretrizes. As políticas públicas setoriais que apresentam uma maior interface com as políticas urbanas, como Transportes e Habitação, são enfatizadas. A proposta apresentada para a Política do Meio Ambiente foi extensa e abrangente, buscando avançar nas disposições previstas no Plano Diretor 92. Destaca aspectos da gestão e seus instrumentos, do licenciamento ambiental e dos programas responsáveis pela realização dos objetivos mencionados, além das definições das categorias de proteção das unidades de conservação. A Política do Patrimônio Cultural destaca os conceitos aplicáveis e as áreas de interesse de proteção cultural. Avalia igualmente a possibilidade de intervenção nessas áreas. Na Política de Habitação foi introduzido o conceito de Subzona de Moradia Popular – SIMP, como forma de contemplar o foco prioritário na produção de moradia, a partir da avaliação da necessidade de barateamento do acesso à terra e de reunião dos recursos imprescindíveis para essa produção. As Subzonas de Moradia Popular respondem à proposta de identificação de áreas específicas para promoção de novas moradias de habitação de interesse social, que no Plano Diretor de 1992 eram tratadas indistintamente como Áreas de Especial Interesse Social - AEIS em conjunto com as áreas de regularização urbanística e fundiária de habitação de interesse social. Esta modificação foi motivada pela experiência de planos diretores mais recentes ao adotarem as ZEIS – Zonas Especial Interesse Social, que identificam categorias distintas de áreas de habitação de interesse social. As AEIS continuam existindo, mas referem-se unicamente às áreas de regularização urbanística e fundiária. A Política de Segurança buscou responder ao surgimento recorrente nos debates da “questão da violência”, sem pretender esgotá-la. No intuito de dar uma feição organizada à discussão, foi destacado o papel da segurança centrada na promoção da cidadania, na inclusão social e na atenção aos segmentos mais vulneráveis da população como formas preventivas da segurança urbana. A Política de Informação trata do acesso público à informação e da compatibilização dos dados pelos setores. p. 122 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano 5. ÍNDICES DE APROVEITAMENTO DO TERRENO De um modo geral, ao longo do tempo, os índices de aproveitamento do terreno em vigor na cidade do Rio de Janeiro seguem as mudanças seqüenciais da norma urbanística que regulamenta o uso e a ocupação do solo, além de acompanhar também reformulações localizadas ou regionalizadas através de legislações específicas por bairro ou conjunto de bairros. No período anterior a 1976, quando foi instituído o decreto municipal no 322/76, só havia limitação do número de pavimentos para alguns bairros, ou trechos de bairros, estabelecida através de Projeto Aprovado de Alinhamento (PAA). O decreto municipal no 322 de 3/03/19/76 instituiu um zoneamento municipal para todo o território municipal, prevalecendo a exigência do gabarito de altura de 18 pavimentos em relação ao nível do mar para as edificações afastadas das divisas do lote e o número máximo de 5 pavimentos para as edificações coladas nas divisas. Havia algumas exceções para áreas com características peculiares. Quanto à Área Total Edificável (ATE), as restrições só existiam para as edificações coladas nas divisas, que deviam se adequar à fórmula ATE = N x S x 0,7, onde S corresponde à área do lote e N a um índice estabelecido de acordo com o bairro e a zona onde esteja situado o imóvel, que equivale na maioria das vezes ao número máximo de pavimentos permitido. Em 1987, com a edição do decreto municipal no 6.461/87, a mesma fórmula adotada para edificações coladas nas divisas foi aplicada às afastadas das divisas. Esta modificação foi motivada pela indução aos remembramentos e à predominância de grandes empreendimentos no decreto anterior (de 1976). Esta medida ocasionou a redução do potencial construtivo para as edificações afastadas das divisas, uma vez que o valor Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.123 de N é no máximo 5, que ao multiplicar por 0,7 resulta o índice 3,5, valor reafirmado na lei que aprovou o Plano Diretor de 1992 para grande parte dos bairros mais adensados da Cidade. Outro dispositivo que restringiu o potencial construtivo dos lotes foi a Lei Orgânica Municipal de 1990, que em seu Artigo 448 restringiu a altura das edificações coladas nas divisas a 12 metros de altura. Regulamentação posterior isentou dessa obrigação edificações situadas em bairros regidos por legislação urbanística específica. Os estudos sobre os indíces de aproveitamento do terreno realizados em 1992 através de oficinas - tiveram como referência as informações fornecidas pelo banco de dados da Prefeitura e documentos e dados existentes de diversas origens. Os levantamentos realizados geraram avaliações das densidades de construção hoje permitidas, através da análise das seguintes variáveis: Em 1992, com a aprovação do Plano Diretor Decenal, foram definidos limites do crescimento para as diversas áreas da Cidade, expressos através dos índices de aproveitamento de terreno máximos por unidades espaciais de planejamento. Os índices previstos resultaram de estudos, que além dos aspectos físico-territoriais, consideravam simulações desenvolvidas com base em um modelo de análise que relacionava o uso do solo com os grandes movimentos pendulares do sistema de transportes. Os índices de aproveitamento de terreno máximos consideram também a capacidade e a saturação da infra-estrutura, a oferta de empregos e a ameaça ao meio ambiente e à memória urbana. Na revisão do Plano Diretor em 2006, estes índices foram revistos e atualizados segundo critérios similares, tendo por base estudos realizados em 2002 já voltados para a revisão do Plano Diretor. Os índices de aproveitamento de terreno máximos revistos - que na revisão do Plano Diretor em 2006, correspondem aos coeficientes de aproveitamento básicos da intensidade de construção no lote admitida hoje ou em revisões futuras da legislação urbanística - foram definidos por bairro. A diferenciação entre os índices de aproveitamento de terreno máximos refletem a distribuição de vetores de indução da ocupação distintos em partes da Cidade, uma vez que a repartição de patamares máximos de densidade construída por lote induz à distribuição de densidades populacionais futuras diferenciadas. Um dos principais elementos para distinção dos índices é a capacidade de infraestrutura e a oferta existente de equipamentos e serviços de cada área para o adensamento, considerando-se os projetos existentes e o potencial de ampliação ou melhoria dos serviços que cada área oferece. Como esta capacidade geralmente não é homogênea em sua área de incidência, resulta na diferenciação dos índices. Em função do escopo e dos objetivos do Plano Diretor, a definição dos índices de aproveitamento do terreno máximos no Plano obedece a um limite máximo geral para a ocupação no lote. Uma restrição maior desses índices, em função de particularidades, caberá à legislação específica de uso e ocupação do solo. Fica assegurado o respeito à legislação vigente no caso em que o índice de aproveitamento de terreno resultante da aplicação da legislação em vigor for inferior ao previsto no Plano Diretor. Desta forma, situações específicas de restrição ao adensamento são atendidas até que seja feito novo estudo de revisão dos índices até o limite máximo estabelecido no Plano Diretor. O estabelecimento dos índices de aproveitamento de terreno máximo por bairro seguiu as seguintes orientações segundo o macrozoneamento municipal: Na Macrozona de Ocupação Controlada o adensamento populacional e a intensidade construtiva devem ser limitados, e os índices de aproveitamento de terreno máximos devem ser inferiores, ou no máximo iguais, ao que estabelece a legislação em vigor em 2006. Na Macrozona de Ocupação Incentivada - onde se quer estimular o p. 124 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Dinâmica entre os mercados imobiliário formal e informal. Dinâmica populacional. Renda da população. Condições do estoque imobiliário. Estrutura fundiária nas áreas de expansão urbana. Dinâmica das centralidades. Condições para moradia e realização de atividades econômicas. Acessibilidade aos centros de comércio e serviços e às fontes de trabalho. Segurança e segregação sócio-espacial. Existência de restrições ou inadequações na legislação urbanística conflitantes com a dinâmica local. Presença de assentamentos ilegais e condições de dinamismo do mercado imobiliário ilegal. Disponibilidade de áreas verdes e de lazer. Acesso a equipamentos públicos de saúde, educação e culturais e a serviços públicos. Distribuição do risco ambiental. Na definição dos índices de aproveitamento do terreno máximos foi levada em conta a articulação da legislação urbanística com as seguintes condições específicas do ambiente de implantação das edificações, entre outras: Restrições de natureza ambiental. Elementos de relevante interesse da paisagem e do ambiente urbano. Densidades populacionais e construtivas existentes. Oferta existente ou projetada de equipamentos e serviços públicos. Infra-estrutura de transportes e saneamento básico. Condições de mobilidade. Existência de vazios urbanos. Capacidade ociosa existente de absorção de maior densidade. adensamento e a intensidade construtiva - os índices de aproveitamento de terreno máximos podem ser mais altos do que estabelece o Plano Diretor de 1992, desde que caracterizada a maior disponibilidade de infraestrutura e a oferta adequada de equipamentos e serviços. Na Macrozona de Ocupação Assistida - onde as condições para o adensamento populacional e o incremento das atividades econômicas dependem de novos investimentos públicos em infra-estrutura e medidas de proteção ao meio ambiente e à atividade agrícola - os índices de aproveitamento de terreno máximos previstos são, de modo geral, mais baixos do que os índices de aproveitamento de terreno da Macrozona de Ocupação Incentivada. Deste modo, o estímulo aos vetores de expansão se dá para as áreas já servidas por infra-estrutura e serviços. Há, contudo, casos específicos – como as áreas próximas às estações de trem e aos centros de comércio e serviços – onde, dadas às condições satisfatórias de acessibilidade a equipamentos e serviços, são permitidos índices de aproveitamento de terreno maiores. Na Macrozona de Ocupação Condicionada - onde os índices em vigor são geralmente baixos e onde o adensamento populacional e a intensidade construtiva devem ser restringidos de acordo com a capacidade das redes de infra-estrutura e subordinados à proteção ambiental e paisagística - os índices de aproveitamento de terreno máximos podem sofrer alterações de acordo com as especificidades das diferentes áreas, mas devem permanecer baixos. Índices mais elevados serão permitidos apenas por meio da aplicação do instrumento Operação Urbana Consorciada, capaz de alterar e ampliar a capacidade das redes de infra-estrutura, de atendimento dos equipamentos e serviços, sem agredir o meio ambiente e a preservação da paisagem. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.125 ÍNDICES DE APROVEITAMENTO DO TERRENO NA MACROZONA DE OCUPAÇÃO CONTROLADA Integram a Macrozona de Ocupação Controlada: Centro da Cidade; bairros da Zona Sul; bairros de Santa Teresa e Alto da Boa Vista; Ilha de Paquetá. Na revisão do Plano Diretor em 2006, são objetivos em relação ao Centro: Controle do adensamento em bairro de ocupação já saturada em relação ao sistema viário e operando no limite da capacidade da rede de esgotos e drenagem. Criação de condições para a redistribuição dos investimentos públicos. Para o trecho do bairro do Centro inserido na área Central 2 (AC-2), o Plano Diretor de 1992 estabelece o índice 15. Na revisão do Plano Diretor em 2006, propõe-se a redução para o índice 11. A intenção é de criar condições para a aplicação pontual de índices mais elevados mediante aplicação do instrumento Outorga Onerosa do Direito de Construir, sem que sejam ultrapassados os índices hoje em vigor, reafirmados na legislação urbanística que regulamentou a Área de Especial Interesse Urbanístico do Centro da Cidade (AEIU-Centro) através da lei municipal no 2.236/94. Além disso, no Centro grande parte da área já se encontra protegida por Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APACs), e grande parte está edificada possuindo volumetria definida anteriormente por antigos projetos de urbanização, quando o índice podia chegar a 25. Macrozona Controlada – Índice de Aproveitamento do Terreno Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo sobre base elaborada peloInstituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos p. 126 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Para os bairros de Santa Teresa e Paquetá, o Plano Diretor de 1992 estabelece índice de aproveitamento de terreno igual a 1, visando manter suas características residenciais de baixa densidade. A legislação elaborada para os bairros ficou, no entanto, impossibilitada de ser aplicada com este índice igual 1. O aumento proposto de 0,5 no índice de aproveitamento de terreno objetiva viabilizar o tipo de edificação prevista pela legislação vigente, sem que haja comprometimento dos aspectos considerados na preservação da área. Além disso, ficam ampliadas as possibilidades de regularização das modificações realizadas em imóveis existentes, contribuindo para reverter a tendência de ocupação irregular e favelização que vem ocorrendo particularmente no bairro de Santa Teresa. A região que corresponde à Zona Sul, definida como Área de Planejamento 2, é constituída na maior parte pelos bairros mais valorizados da Cidade. Bem servida em termos de transporte e infra-estrutura, abriga grandes e diversificados centros de comércio e serviços e tem uma população que apresenta os indicadores sócio-econômicos mais favoráveis da Cidade. No entanto, a ocupação de seus bairros mais antigos, próximos à área central, remonta ao século XIX, e a expansão da malha urbana que se deu ao longo das áreas litorâneas durante o século XX, já tinha sofrido até a década de 1970 um acelerado processo de adensamento e verticalização. Com isso, a infra-estrutura instalada desde os primórdios de sua ocupação já dá mostras de desgaste, atuando no limite da capacidade em termos da rede de esgotos e de drenagem. Quanto ao sistema viário, a situação não é muito diferente - os constantes engarrafamentos atestam o quanto seus principais eixos estão próximos da saturação. Independente desse quadro, o interesse do imobiliário incessante fez com que restassem poucos lotes vazios, passando o mercado a se utilizar da renovação de imóveis. No princípio foram as casas e mais recentemente as edificações com até 4 pavimentos, resultando na descaracterização das ambiências e destruição das referências culturais e afetivas dos bairros. Com a constatação de que os processos de adensamento extremo e de verticalização ocorridos nos bairros Flamengo, Catete e Copacabana ameaçavam se reproduzir em outros bairros, a legislação urbanística foi se tornando cada vez mais restritiva, tentando corrigir os malefícios da intensa ocupação do solo. Em 1978, apenas dois anos após a publicação do decreto municipal no 322/76 que instituiu um zoneamento para todo o território municipal, foi elaborado e aprovado o primeiro Projeto de Estruturação Urbana (PEU) estabelecendo condições especiais de ocupação para o bairro da Urca (decreto municipal no 1.446/78). A esse PEU seguiram-se outros, sempre com a intenção de elaborar normas que fossem ao encontro à preservação das características dos bairros, todos encontrando grande interesse por parte da população. Apesar de diversos bairros dessa região ter sido objeto de PEUs, esse instrumento não foi suficiente para resguardar edificações tradicionais e conjuntos arquitetônicos importantes que representavam diferentes fases de ocupação dos bairros. A escassez de lotes vazios e imóveis renováveis, associada à intensa valorização imobiliária, passou a ameaçar em grande escala edificações que se julgava consolidadas, como as de 3 e 4 pavimentos, comprometendo a preservação da ambiência cultural de diversos bairros. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.127 Para garantir a preservação dos conjuntos arquitetônicos remanescentes institui-se, como política pública, a criação de Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APACs) em diversos bairros, nas quais foram definidos imóveis a serem preservados. Embora individualmente sua arquitetura possa não ser de extraordinário valor para tombamento, o conjunto de seus exemplares tem valor inestimável para o ambiente dos bairros e como parte da história de sua formação, o que torna imprescindível sua permanência como referência cultural para a Cidade. Na revisão do Plano Diretor em 2006, diante do quadro de saturação que se encontra a infra-estrutura nesses bairros sob vários aspectos, optouse pela redução do índice de aproveitamento de terreno em vigor através do Plano Diretor de 1992, buscando-se uma volumetria resultante similar à média das edificações preservadas ou tuteladas das áreas ou ainda decorrente do permitido pelo Artigo 442 da Lei Orgânica Municipal – edificações de 4 ou 5 pavimentos. Trata-se de uma escala adequada à disponibilidade existente de imóveis passíveis de renovação e à largura média das vias locais onde esses imóveis se encontram. Este índice de 2,5, que tende à produção de edificações de 4 ou 5 pavimentos, pode aumentar ou diminuir a altura máxima da edificação dependendo da taxa de ocupação do terreno utilizada no projeto. Exceção a esta diretriz geral constitui o bairro da Urca, onde foi estabelecido um acréscimo de índice em relação ao Plano Diretor de 1992. O já mencionado PEU, em vigor desde 1978 através do decreto municipal no 1.446/78, incontestavelmente atingiu seus objetivos de proteção ambiental e preservação paisagística, conservando no bairro a ambiência característica que se queria manter. Porém o Plano Diretor de 1992, fixando o índice de aproveitamento de terreno em 1, não viabiliza o tipo de edificação disposta naquela legislação. Tampouco reproduz o padrão característico do bairro. Na revisão do Plano Diretor em 2006 está sendo estabelecido o índice de 1,5 buscando compatibilizar índice de aproveitamento de terreno com os parâmetros da legislação de proteção, que permite a ocorrência do gabarito médio de 3 pavimentos, recorrente no bairro. Cabe a ressalva, que este índice permanece ainda abaixo do que resultaria no padrão edilício existente no bairro, que está em torno do índice 2, o que equivale a dizer que, se a Urca fosse reconstruída segundo o novo índice, ou mesmo ainda segundo o disposto no PEU, seria menos densa do que é atualmente. É importante registrar que esta modificação não visa novas construções, fato quase impossível neste bairro, mas sim aumenta a possibilidade de regularização de modificações em imóveis existentes, impossibilitada pela extrema rigidez do índice vigente igual a 1. Para o bairro Alto da Boa Vista, de ocupação antiga e consolidada e situado em meio a áreas de proteção ambiental, ficou mantido o índice vigente igual a 1. p. 128 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano ÍNDICES DE APROVEITAMENTO DO TERRENO NA MACROZONA DE OCUPAÇÃO INCENTIVADA Situam-se na Macrozona de Ocupação Incentivada: Área portuária; bairros da zona norte da Cidade; bairros que constituem os subúrbios até o Realengo; parte dos bairros que compõem a região de Jacarepaguá. Macrozona Incentivada – Índice de Aproveitamento do Terreno Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo sobre base elaborada pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos Para os bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo e parte do Centro foi mantido o mesmo índice de aproveitamento de terreno igual a 5, estabelecido no Plano Diretor de 1992. Este índice corresponde ao que foi previsto nos projetos realizados para a Área de Especial Interesse Urbanístico do Porto (AEIU do Porto), e consideradas ainda as várias Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APACs) existentes na área - SAGAS, Cruz Vermelha e Teófilo Otoni. Para o bairro do Caju, o Plano Diretor de 1992 reduziu para 2 os vários índices anteriormente em vigor, que podiam chegar a 4,2. Atualmente, com a previsão de implantação do Projeto Porto do Rio, o Caju passa a ter novas funções, que podem atrair empreendimentos que dêem suporte à atividade portuária. O índice de aproveitamento de terreno máximo foi ampliaRelatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.129 do para 3, com exceção da Avenida Brasil, para a qual está proposto o índice 4. O aumento do índice de aproveitamento do terreno nessa Avenida visa igualar aos demais trechos desta via e criar incentivo para a ocupação dos vazios urbanos ali existentes. Nos bairros do Catumbi, Estácio e Rio Comprido verificou-se grande estagnação urbanística e econômica após a redução dos índices promovida pelo Plano Diretor de 1992 (de até 5,8 para 2,5). A adoção de índice mais elevado, igual a 4, aproxima-os do previsto para o bairro da Tijuca, visando reverter este quadro e criar condições de dinamização nesses bairros por interesse imobiliário. Além disso, busca-se com essa medida, incentivar o preenchimento dos vazios urbanos resultantes da implantação do Metrô. Já na Cidade Nova, foi mantido o mesmo índice igual a 11 estabelecido no Plano Diretor de 1992, que visava a implantação dos projetos previstos para a área: Teleporto e Projeto SÁS. Esse índice também é coerente com a diretriz de renovação e ocupação dos grandes vazios ainda existentes na Avenida Presidente Vargas e na área do Teleporto, ressalvada a área da APAC Cidade Nova, com sua preservação garantida pela legislação em vigor. Nos bairros São Cristóvão, Mangueira, Benfica e Vasco da Gama foi estabelecido um aumento do índice em relação ao Plano Diretor de 1992 de 5,5 para 6, que visa promover a revitalização do bairro, por meio de incentivos ao uso residencial, de forma pontual, especialmente na reciclagem de edificações vazias ou subutilizadas, conforme previsto na lei municipal nº 73/04 (PEU São Cristóvão) e conforme ações previstas no plano desenvolvido para a reabilitação integrada desta área. Para os bairros da Tijuca e Praça da Bandeira, integrados à Área de Planejamento 2, os índices de aproveitamento de terreno estabelecidos pelo Plano Diretor de 1992 foram mantidos igual a 3,5. Os bairros de Vila Isabel, Maracanã e Andaraí tiveram seu índice reduzido de 4 para 3,5, tendo em vista que 4 somente encontra-se em vigor para poucas ruas ou trechos de ruas. Cabe mencionar que, pela legislação urbanística vigente, este índice aparentemente permissivo, na verdade, resulta em um potencial construtivo mais baixo que o mesmo índice aplicado em bairros limítrofes, uma vez que está incluída no cálculo da área total edificável (ATE), aquela destinada a estacionamento de veículos, não computada neste cálculo na maior parte da Cidade. Na redução para um índice igual a 3,5 em uma área que se pretende revitalizar, se busca criar as condições básicas para o tratamento integrado entre bairros limítrofes atravessados pelos mesmos grandes eixos viários estruturais – Avenida Maracanã, Rua Barão de Mesquita e Rua Uruguai. Quando da revisão da legislação urbanística destes bairros contíguos, já prevista, deverão ser adotadas as mesmas regras de cálculo, o que deverá resultar em uma paisagem urbana mais claramente definida em seu conjunto. O mesmo critério foi adotado para elevar o índice do bairro do Grajaú de 3 para 3,5 – evitar diferenças significativas em termos de densidade construtiva máxima entre bairros vizinhos, muitas vezes ao longo de um mesmo eixo viário. Para as áreas da Macrozona Incentivada que correspondem aos subúrbios da Cidade situados na Área de Planejamento 3, o Plano Diretor de 1992 estabeleceu índices de aproveitamento do terreno máximos com base em levantamentos relativos à área territorial, legislação de zoneamento vip. 130 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano gente, crescimento populacional, capacidade da malha viária, quantitativo de unidades residenciais e comerciais e densidades bruta e líquida. A dinâmica urbana ao longo dos quinze anos posteriores à aprovação do Plano Diretor de 1992 e os processos de ocupação que ocorreram em cada bairro dessa região, identificados ao longo de vários estudos e análises realizados, levaram a concluir pela necessidade de serem propostos índices de aproveitamento de terreno, com os seguintes critérios: Ajuste ao atual processo de perda de valor econômico dos imóveis situados nas áreas mais afetadas pela violência urbana, com conseqüente evasão do mercado imobiliário formal. Incentivo à permanência dos usos e atividades formais em locais hoje fragilizados, revertendo o quadro existente de degradação urbana. Possibilidade de adensamento equilibrado das áreas dotadas de infra-estrutura com potencial ou em processo de renovação. Os estudos desenvolvidos indicam que os índices constantes do Plano Diretor de 1992 são ainda adequados, para grande parte dos bairros desta região, nas áreas bem estruturadas. Esta constatação baseia-se principalmente na verificação do ainda não esgotamento do potencial construtivo previsto, por força de dispositivos mais restritivos constantes na legislação de uso e ocupação do solo em vigor. Além disso, justifica-se a manutenção dos índices de aproveitamento de terreno máximos do Plano Diretor de 1992 para garantir a preservação da tipologia residencial de pequeno porte nas áreas eminentemente residenciais. Por outro lado é diretriz da revisão do Plano Diretor em 2006 buscar reforçar os núcleos comerciais atrativos e os bairros em seu entorno, como Madureira, Cascadura, Rocha Miranda, Irajá, Méier, Del Castilho, Penha, Vila da Penha, Bonsucesso, Pavuna, e Portuguesa e Cacuia na Ilha do Governador. Desta forma, para 44 bairros de um total de 80, estão propostos na revisão do Plano Diretor em 2006 os mesmos índices do Plano Diretor de 1992, suficientes para atender a demanda e a oferta construtiva existentes, mesmo considerando as condições mais recentes de circulação, oferta de transporte coletivo e a busca de equilíbrio entre o processo de renovação desejável e a preservação das características locais. Para os eixos principais e áreas próximas às estações ferroviárias e metroviárias, elementos estruturadores na dinâmica de ocupação ou renovação urbana, a proposta é um maior adensamento com o objetivo de tirar proveito da infra-estrutura existente ou potencial - casos da Linha Amarela, da Avenida Dom Hélder Câmara, dos corredores lindeiros às linhas férreas, dos corredores ao longo da Linha 2 do Metrô, além dos importantes eixos viários Avenida Brasil, Rodovia Presidente Dutra e Rodovia Washington Luís, responsáveis pela integração com os municípios vizinhos e mais recentemente por abrigarem grandes equipamentos urbanos, como por exemplo os terminais de logística. Para os demais 36 bairros são propostos índices ligeiramente maiores, com acréscimos variando de 0,5 a 1 ponto. Estes índices foram levemente elevados para gerar uma expectativa de ganho construtivo que incentive a permanência no local, hoje esvaziado economicamente e suscetível à degradação urbana, em função de sérios problemas de segurança. Este é o caso, por exemplo, da Ilha do Governador e dos bairros de Inhaúma, JacaRelatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.131 ré, Vigário Geral e Jardim América, em significativo processo de fragilização urbana e perda de identidade. Integram ainda a Macrozona de Ocupação Incentivada os bairros Deodoro, Vila Militar, Campo dos Afonsos, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos e Realengo, situados na Área de Planejamento 5. Os investimentos e melhorias operacionais na Avenida Brasil que vêm sendo feitos desde 1992, com a construção de viadutos, vias laterais e passarelas, estenderam-se a esses bairros, com expressivos benefícios na fluidez do tráfego da via e nas interseções de acesso aos bairros adjacentes. Outros investimentos em equipamentos e melhoria de acessos feitos na Vila Militar e em Deodoro, ocorreram em função das competições dos Jogos Pan-Americanos em julho de 2007. A boa infra-estrutura viária e de transportes existente nesta área, com linhas de ônibus para diversos locais da Cidade, além de estações ferroviárias bem localizadas em relação às áreas mais populosas da região, somam-se à situação de proximidade do Centro e dos bairros das Áreas de Planejamento 3 e 4, conferindo-lhe uma posição privilegiada em relação aos outros bairros da Área de Planejamento 5. Há ainda extensas áreas militares nesta região, especialmente nos bairros de Deodoro e Vila Militar, em processo de desocupação pelas Forças Armadas. Nestas áreas com potencial de utilização para o uso residencial, onde se verifica a necessidade futura de parcelamento e de criação de novas vias integradas ao sistema viário estrutural da Cidade, o aumento do índice de aproveitamento de terreno em relação ao Plano Diretor de 1992 visa promover sua ocupação regular mediante incentivo aos investimentos do mercado imobiliário. Já nos bairros de Campo dos Afonsos e Jardim Sulacap, mais próximos da Área de Planejamento 4, este incentivo possibilita o adensamento ao longo de eixos viários já implantados e que constituem ligações importantes às Áreas de Planejamento limítrofes. São bairros da Área de Planejamento 4 inseridos na Macrozona de Ocupação Incentivada, os bairros: Magalhães Bastos e Realengo, bairros mais densos e populosos da região, com boa rede viária e de transportes, possuem parcelamento do solo consolidado e com pouca renovação edilícia. A definição de aumento para o índice de aproveitamento do terreno máximo atual possibilitará, futuramente, o adensamento e o desenvolvimento destas áreas. Para o trecho ao longo da Avenida Brasil está previsto o índice de aproveitamento de terreno igual a 4. Para os bairros Deodoro, Vila Militar, Campo dos Afonsos, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos e Realengo, onde o Plano Diretor de 1992 estabelece um índice de aproveitamento de terreno igual a 2, propõe-se o aumento para 3,5, permitindo-se dessa forma maior adensamento nos bairros próximos ou limítrofes a bairros pertencentes às Áreas de Planejamento 3 e 4, que permitem densidades similares. Freguesia; Pechincha; Taquara; Tanque; Praça Seca Vila Valqueire; Anil; Gardênia Azul; A recente entrada em vigor da lei que regulamenta o Projeto de Estruturação Urbana - PEU para os bairros Freguesia, Pechincha, Taquara e Tanque, deu um novo impulso a esta área. Apesar do Plano Diretor de 1992 ter estabelecido índices de aproveitamento de terreno generosos para os bairros contemplados com esta nova legislação, estes se encontravam limitados pela legislação que vigorava para a área, o decreto municipal no 2.418/79. Entre outras disposições restritivas, este decreto exigia parcelamentos em grandes lotes para extensa área no intuito de manter as grandes propriedades originais. p. 132 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Curicica; parte de Jacarepaguá; Cidade de Deus. O referido PEU, atendendo os ditames do Plano Diretor de 1992, promoveu a adequação da legislação urbanística, sendo já visíveis os resultados positivos destas novas disposições. Na revisão do Plano Diretor em 2006 permanece o índice máximo de aproveitamento de terreno estabelecido em 1992, já absorvido pela legislação de uso e ocupação do solo para a área – igual a 3 para Freguesia e Pechincha e igual a 4 para os bairros Taquara e Tanque. As áreas situadas fora dos limites de abrangência deste PEU vêm se ressentindo da falta de flexibilidade na legislação, com a construção apresentando quadro de estagnação. Excetuando-se os bairros de Vila Valqueire e Praça Seca, para os quais o Plano Diretor de 1992 já tinha fixado um índice de aproveitamento de terreno igual a 3, os demais, de características similares, permaneceram limitados por um índice igual a 1,0. Trata-se dos bairros Anil, Gardênia Azul e Curicica, hoje estagnados e ameaçados pela ocupação irregular, que necessitam de um incentivo à renovação urbana, a exemplo do que ocorre com os bairros que foram objeto de Projeto de Estruturação Urbana. Nesses bairros é recomendável a fixação de índices de aproveitamento de terreno maiores dos hoje permitidos. Desta forma, foram fixados para os bairros de Jacarepaguá, Anil, Gardênia Azul e Curicica o índice de aproveitamento de terreno máximo igual a 2, que conjugado a outras disposições urbanísticas tenderá a impulsionar o desenvolvimento urbano destes bairros de forma ordenada. Para os bairros de Praça Seca e Vila Valqueire foi mantido o índice igual a 3, que permanece compatível com a ocupação que se pretende para eles, semelhante aos bairros contíguos Tanque e Pechincha. O bairro Cidade de Deus, que devido às características singulares desde sua ocupação inicial, deve ter sua legislação revisada de forma a proporcionar um impulso renovador capaz de reverter a situação de abandono hoje existente. ÍNDICES DE APROVEITAMENTO DO TERRENO NA MACROZONA DE OCUPAÇÃO CONDICIONADA Foram definidas como Macrozona de Ocupação Condicionada as áreas que integram os bairros: Joá; Itanhangá; Barra da Tijuca; Recreio dos Bandeirantes; Camorim; Vargem Grande; Vargem Pequena; parte de Jacarepaguá. Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.133 Salvo o bairro do Joá, as demais áreas da Macrozona foram quase integralmente regulamentadas quanto ao uso e ocupação do solo pelo decreto no 3.046/81 – Plano Lúcio Costa, legislação, absorvida pelo Plano Diretor de 1992 como referência para esses bairros. Este decreto, tradução do “Plano-Piloto para a Urbanização da Baixada compreendida entre a Barra da Tijuca, o Pontal de Sernambetiba e Jacarepaguá” de autoria do arquiteto Lúcio Costa, pautou-se, principalmente, pela preservação da área, como se pode constatar nas notas iniciais do Plano por ele escritas, conforme segue: “A reserva biológica aspirava à preservação de toda essa área como parque nacional. E de fato, o que atraía irresistivelmente ali, e ainda agora, até certo ponto, atrai, é o ar lavado e agreste; o tamanho – as praias e dunas parecem não ter fim; e aquela sensação inusitada de se estar num mundo intocado, primevo.” Assim, o decreto acima citado - decreto municipal no 3.046/81 - determina para a área por ele abrangida – a baixada de Jacarepaguá - índices de aproveitamento de terreno entre os mais baixos do Município. A conjugação de fatores como a disponibilidade ainda existente de terrenos vagos, a proximidade com a Zona Sul e a ligação com os bairros da Zona Norte, tem sido, no entanto, indutora de ocupação urbana nesta área, em grande velocidade. Segundo as estatísticas oficiais, essa é a área que mais cresce em volume de construção na cidade do Rio de Janeiro. Apesar da ocupação, predomina a precariedade das redes de infra-estrutura, principalmente de esgoto sanitário. Também ocorre uma saturação do sistema viário existente, baseado primordialmente no transporte rodoviário individual. Esses fatores, aliados ao imperativo de proteção ambiental e paisagística, são impeditivos de fixação de índices de aproveitamento de terreno altos. O objetivo da revisão do Plano Diretor em 2006 foi o de conciliar a urbanização na escala que se impõe, com a salvaguarda, embora parcial, das peculiaridades ambientais e paisagísticas que importa preservar, considerando a capacidade de suporte da infra-estrutura. Reafirma-se, mesmo hoje, a necessidade de contenção dos índices de aproveitamento do terreno máximos, aos valores vigentes, quais sejam: igual a 3 para os núcleos de subzonas e 1,5 para as demais áreas. Como se constata através do volume de edificações licenciadas, estes índices não são impeditivos à ocupação de forma regular. Macrozona Condicionada – Índice de Aproveitamento do Terreno Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo sobre base elaborada pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos p. 134 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Para o bairro do Joá, não incluído na área abrangida pelo decreto no 3.046/81, foi mantido o índice 1 estabelecido pelo Plano Diretor de 1992, que permanece coerente com a legislação em vigor para a área, restrita ao uso residencial unifamiliar. Os bairros Recreio dos Bandeirantes, Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena, objetos de Plano de Estruturação Urbana recente, a revisão do Plano Diretor em 2006 manteve os índices de aproveitamento máximo definidos no Plano Diretor de 1992, quais sejam: 1,5 para o Recreio, Camorim, Vargem Pequena e as áreas situadas ao longo do eixo Avenida das Américas; 1 para Vargem Grande. Do mesmo modo, para os bairros Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba e Guaratiba, integrados à Área de Planejamento 5, foi mantido o índice de aproveitamento do terreno estabelecido no Plano Diretor de 1992, igual a 1,5. ÍNDICES DE APROVEITAMENTO DO TERRENO NA MACROZONA DE OCUPAÇÃO ASSISTIDA Integram a Macrozona de Ocupação Assistida os bairros identificados como da Zona Oeste da Cidade, situados na Área de Planejamento 5. Macrozona Assistida – Índice de Aproveitamento do Terreno Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo sobre base elaborada pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.135 Os bairros de Padre Miguel, Bangu, Senador Camará e Campo Grande possuem características similares de uso e ocupação do solo. Os índices de aproveitamento do terreno máximos para esses bairros foram estabelecidos, por zonas, pelo Projeto de Estruturação Urbana – PEU de Campo Grande, a lei complementar no 72/2004. Após alguns anos de vigência, esses índices têm se mostrado adequados à ocupação da região. Para as zonas residenciais, as predominantes, o índice de aproveitamento do terreno máximo é de 2,5. A proposta da revisão do Plano Diretor em 2006 foi manter o índice máximo igual a 3,5 estabelecido no Plano Diretor de 1992. O bairro de Santa Cruz tem seu uso e ocupação do solo regido pelo decreto municipal no 322/76. Os índices de aproveitamento do terreno nesse bairro é limitado em 2 pelo Plano Diretor de 1992. É um bairro com boa rede viária, sendo atendido por transporte de massa sobre trilhos. De importância estratégica para o Município, devido às suas fronteiras com municípios vizinhos e aos investimentos que vem recebendo em lazer e estrutura viária (Arco Rodoviário), e ainda devido à implantação da Companhia Siderúrgica do Atlântico, próxima ao Distrito Industrial, e da Companhia Siderúrgica Nacional, no Município de Itaguaí, além da proximidade com o Porto de Itaguaí, teve ampliado o índice de aproveitamento de terreno máximo para 3 pela revisão do Plano Diretor em 2006. O objetivo foi de criar incentivo à ocupação regular de seus vazios e de possibilitar o crescimento ordenado da região. O bairro de Paciência, vizinho à Santa Cruz, também tem como legislação urbanística em vigor o decreto municipal no 322/76, que estabelece índices variados entre 0,7 e 2,8 para cada zona em que é dividido o bairro. O limite estabelecido pelo Plano Diretor de 1992 é de 2. Ao longo destes 15 anos o bairro de Paciência, que dispõe de áreas livres com possibilidade de adensamento, passou por diversas melhorias em vias estruturais e favelas, justificando o aumento do índice de aproveitamento do terreno máximo pela revisão do Plano Diretor em 2006 para 2,5. Já Sepetiba é um bairro com fragilidade ambiental, similar a outros bairros da região de Guaratiba. Possui malha viária formada predominantemente por vias locais, precário atendimento por transporte coletivo, grande distância dos centros de trabalho, comércio e lazer, e pouca oferta de emprego local. Desta forma, ainda que estejam previstos investimentos prioritários, por parte da Prefeitura, e a implantação da rede de esgotos no bairro, a opção na revisão do Plano Diretor em 2006 foi de manter as características da sua ocupação atual e, consequentemente, o índice de aproveitamento de terreno máximo igual a 1,5, conforme estabelecido no Plano Diretor de 1992. p. 136 PCRJ | Secretaria Municipal de Urbanismo | Coordenadoria Geral de Planejamento Urbano Relatório do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janerio | DEZ.2008 p.137 REFERÊNCIAS ABREU, Maurício de. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: IPLANRIO/Zahar, 1987. ANDREATTA, Verena. Cidades quadradas, paraísos circulares: os planos urbanísticos do Rio de Janeiro no século XIX. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2006 CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. Lei Orgânica Municipal. Rio de Janeiro, 1990. 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