A Competitividade Responsável é um ingrediente
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A Competitividade Responsável é um ingrediente
“A Competitividade Responsável é um ingrediente essencial para mercados globais eficazes. Ela une estratégias corporativas avançadas, políticas públicas inovadoras e uma sociedade civil vibrante e engajada. Trata-se da criação de uma nova geração de produtos e processos comerciais lucrativos calcados em regras que apóiam de forma abrangente os objetivos sociais, ambientais e econômicos da sociedade. O Estado da Competitividade Responsável demonstra o potencial prático das estratégias de competitividade responsável para disseminar negócios e investimentos, e ao mesmo tempo alcançar um equilíbrio entre os interesses nacionais e globais, entre o benefício público e o privado”. Pascal Lamy, Diretor Geral, Organização Mundial do Comércio Sumário 5Prefácio por Al Gore 7 Prefácio à Edição Brasileira por Alex MacGillivray e Cláudio Boechat O Índice da Competitividade Responsável 11O Estado da Competitividade Responsável 2007, Simon Zadek, Diretor Executivo e Alex MacGillivray, Diretor de Programas, AccountAbility 32O Índice da Competitividade Responsável, Paul Begley, Pesquisador, AccountAbility; Edna do Nascimento, Estatística, Fundação Dom Cabral; Alex MacGillivray, Diretor de Programas, AccountAbility e Cláudio Boechat, Professor, Fundação Dom Cabral Construindo mercados com baixa emissão de gás carbônico 43O Relatório Stern Review. Dimitri Zenghelis, Consultor Econômico, HM Treasury (Ministério Britânico da Fazenda), Reino Unido e Nicholas Stern, IG Patel Chair da London School of Economics and Political Science 50 Preparativos para um futuro com baixa emissão de gás carbônico, Jonathan Lash, Presidente, World Resources Institute 54 Reformulando Mercados por meio de um Fundo Internacional do Carbono, Nick Butler, Diretor do Cambridge center of Energy Studies, Judge Business School Questões-Chave da Competitividade Responsável 61 Reconstruindo o Comércio Mundial e as Regras Econômicas, Guy Ryder, Secretário-Geral, International Trade Union Confederation 64 Transparência e Responsabilização como Incentivos para o Crescimento, Peter Eigen, Presidente do Conselho Consultivo Transparency International e Jonas Moberg, Dirigente do Secretariado da Extractive Industries Transparency Initiative 69 Better Work: Promovendo Padrões de Trabalho através da Competitividade Responsável, Ros Harvey, Administradora Global do Better Work Programme, Organização Internacional do Trabalho; Houria Sammari, Administradora Sênior do Programa, Environmental and Social Development Department e Annemarie Meisling, Especialista de Desenvolvimento do Setor Privado, International Finance Corporation 74 Igualdade de Gênero para Vantagem Competitiva, Laura Tyson, Professora de Administração Empresarial e Economia, Haas School of Business, University of California em Berkeley 77 A Sociedade Civil e a Competitividade Responsável, Kumi Naidoo, SecretárioGeral e Lorenzo Fioramonti, Pesquisador Sênior, CIVICUS: World Alliance for Citizen Participation AccountAbility 3 84 A Fé pode Incentivar a Competitividade? Ambreen Waheed, Diretor Executivo e Faiz Shah, Co-fundador, Responsible Business Initiative 88 Construindo Vantagens Competitivas por meio de Práticas de Negócios Responsáveis, Jean- Philippe Courtois, Presidente, Microsoft International Perfil de Países e Regiões 97 Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e Competitividade: Considerações da Comissão Européia, Günter Verheugen, Vice-presidente da European Commission encarregado do setor de Enterprise and Industry 101 Sudeste Asiático: Fomentando a Competitividade através de Responsabilidade Mútua, Anwar Ibrahim, Presidente Honorário, AccountAbility 108 BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China) e a Competitividade Responsável, Cláudio Boechat, Professor, Edna do Nascimento, Estatística, e Luana de Albuquerque Dapieve, Assistente de Pesquisa, Fundação Dom Cabral 113 RSC com Características Chinesas: Desbravando um Caminho, Aron Cramer, Presidente e CEO, Business for Social Responsibility 117 Competitividade Responsável em Nível Regional, Jeremy Nicholls, Diretor, Urban Strategy Associates e Paul Begley, Pesquisador, AccountAbility 125 Anexo 4 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Prefácio Por Al Gore Dou minhas calorosas boas vindas ao novo relatório referencial da AccountAbility, O Estado da Competitividade Responsável 2007. Um futuro sustentável implica em mercados que recompensem o desempenho a longo prazo. Isso significa encarar a prática empresarial responsável como a linha mestra para a qualidade dos negócios e da sua administração. Implica políticas públicas e ações de cidadania que ajudem as empresas a fazerem o que é certo. Na Generation Investment Management nós unimos pesquisas de ponta voltadas para a sustentabilidade com análises de classe mundial do mercado financeiro. Vejo hoje a competitividade responsável no topo da agenda para um número cada vez maior de CEOs que encontro. Ao ajudar a organizar o Live Earth em nove cidades espalhadas pelo mundo, fiquei emocionado com o crescente comprometimento de líderes políticos e empresariais, bem como de cidadãos participantes, sobre a questão da sustentabilidade. Isso torna o novo relatório da AccountAbility especialmente útil – para investidores, formadores de opinião, líderes empresariais e pesquisadores. O relatório é ambicioso em sua abrangência – fornecendo informações sobre a competitividade responsável em 108 países, cobrindo mais de 95 por cento da economia global. Seu escopo é vasto, abrangendo desenvolvimentos chave no combate às mudanças climáticas, melhorias de padrões trabalhistas, eliminação das diferenças entre os sexos e redução da corrupção. O Estado da Competitividade Responsável 2007 é desafiador em suas conclusões, mas é fundamentalmente animador: mais e mais companhias estão gerando valor para os investidores de forma duradoura, e o comprometimento é possível em todos os estágios do desenvolvimento. O relatório aponta oportunidades de mercado animadoras, como também riscos que políticos, empresários e investidores precisam administrar. Em suma, O Estado da Competitividade Responsável 2007 é um guia indispensável para entender como os mercados estão se reformulando para recompensar a competitividade no século XXI. Al Gore AccountAbility 5 6 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Prefácio à Edição Brasileira Em dezembro de 2003, AccountAbility e FDC se juntaram pela primeira vez para trazer a público os estudos sobre Competitividade Responsável, um conceito introduzido pela organização internacional sem fins lucrativos AccountAbility e seu Presidente Simon Zadek. Foi por ocasião do III Fórum de Aprendizagem do Pacto Global, realizado no campus da FDC em Nova Lima, e o primeiro relatório foi lançado e distribuído para os cerca de 250 representantes de mais de 30 países. O Pacto Global dava ainda seus primeiros passos para se firmar como o, hoje, forte instrumento de inspiração do mundo empresarial. De lá para cá, vários passos foram dados, como pode ser verificado no artigo introdutório deste Relatório, de autoria dos profissionais da AccountAbility. Sempre com a parceria das duas entidades, AccountAbility e FDC, aprofundou-se a consistência conceitual, depurou-se a busca de dados, aprimorou-se a metodologia de cálculo, encontraram-se novos canais de difusão do conhecimento gerado. Como pode atestar-se pela quantidade, diversidade e qualidade das contribuições dos diversos autores do Relatório 2007 (alguns de renome internacional, como Al Gore), o trabalho vem se firmando em nível internacional, atendendo à visão de seus criadores: contribuir para a eficácia da ação empresarial na construção de um mundo sustentável. Produzir a versão brasileira do Relatório O Estado da Competitividade Responsável 2007 tem, pelo menos, uma grande razão: popularizar o conhecimento sobre a Competitividade Responsável. Esperamos que a maior transparência dos fatores chave da Competitividade Responsável aumente o grau de consciência de empresários, trabalhadores, governantes e líderes sociais a respeito de como construir uma sociedade cada vez mais responsável. Agradecemos a nossos patrocinadores (Petrobras e Banco Real), apoiadores (Construtora Andrade Gutierrez e Serasa) e equipes técnicas a viabilização desta iniciativa. Alex MacGillivray – AccountAbility (www.accountability21.net) Cláudio Boechat – Fundação Dom Cabral (www.fdc.org.br) Fevereiro 2008 AccountAbility 7 O Índice da Competitividade Responsável O Estado da Competitividade Responsável Por Simon Zadek e Alex MacGillivray Reformulando a competitividade A competitividade responsável trata de fazer valer o desenvolvimento sustentável nos mercados globais. São os mercados que recompensam práticas de negócios que geram melhores resultados sociais, ambientais e econômicos; e implicam sucesso econômico para nações que encorajam essas práticas comerciais através de políticas públicas, normas sociais e ações de cidadania. O Estado da Competitividade Responsável 2007 é um relatório de progressos que tem uma abrangência global. Ele avalia práticas de negócios responsáveis em 108 países. E destaca quais países têm condições sociais e estão colocando em prática políticas públicas que encorajam a competitividade responsável. A conclusão deste relatório é que a responsabilidade pode e deve reforçar a competitividade, para países em todos os níveis de desenvolvimento. A competitividade responsável é parcialmente incentivada pelas forças do mercado. No nível micro de empreendimentos individuais, estratégias que incorporam os princípios e as práticas da competitividade responsável são cada vez mais reconhecidas como tendo enorme potencial na criação de valor econômico e resultados lucrativos. Ao longo da última década, a “responsabilidade corporativa” evoluiu do foco no que deveria ser evitado para uma agenda de inovação empresarial, que traduz os desafios sociais e ambientais da nossa época em oportunidades para a criação de valor econômico. No nível macro, o dramático crescimento econômico global das últimas décadas tirou centenas de milhões de pessoas da miséria. Os mercados globais fomentam o comércio internacional, que representa agora mais de 20% do Produto Econômico Global, e tem um papel crucial no impulso dos resultados positivos do sucesso econômico. Sociedades economicamente mais abastadas têm capacidade de serem mais responsáveis em relação aos cidadãos e ao meio ambiente, e são mais bem sucedidas em mercados onde educação, tecnologia, instituições maduras, cidadãos engajados e o cumprimento das leis são estímulos cruciais para a competitividade. Há muito que se esperar da nova geração de exportadores emergentes (China, México, Turquia, Índia, Indonésia, a Federação Russa, Malásia, Tailândia, Nigéria, África do Sul, Brasil e Venezuela), os assim chamados EE12, que são responsáveis por mais de um trilhão de dólares em mercadorias exportadas. Vantagens competitivas nos impacientes mercados da atualidade não irão por si só cumprir a promessa do desenvolvimento sustentável. Forças competitivas desenfreadas encorajam visões de curto prazo na obtenção de lucros e estratégias nacionais de competitividade enraizadas no mercantilismo paroquial e no nacionalismo econômico. Investidores voltados para lucros de curto prazo e consumidores absortos em conseguir preços mais baixos frequentemente impedem que estratégias empresariais de longo prazo consigam tração no mercado. As posições privilegiadas das nações mais ricas da atualidade nas cadeias globais de valor foram, afinal de contas, conquistadas através da imposição de um fardo social, ambiental e econômico sobre comunidades mais fracas. A força motriz do comércio global atual, embora extraordinária, continua a pesar sobre muitas nações mais pobres e enfraquecidas, convencidas de que aceitar a “inevitabilidade” de condições de trabalho AccountAbility 11 e controles ambientais inadequados são o preço a ser pago para se ter acesso aos benefícios da especialização internacional. E as novas gerações de potências econômicas e políticas nacionais estão, em grande parte, repetindo e reforçando esse padrão. O seu direito à prosperidade econômica coincide com nossa incapacidade coletiva de apoiar esse direito sem exacerbar os maiores desafios sociais e ambientais da atualidade das mudanças climáticas escassez de água potável, a segurança energética, migrações e direitos civis. Mercados que não valorizam o que realmente conta na sustentação de sociedades irão continuar gerando resultados negativos para as pessoas e para o meio ambiente. Competitividade irresponsável tem conseqüências catastróficas. Os primeiros impactos da mudança climática já estão nos afetando, derretendo não apenas os pólos, mas também o sustento arduamente conquistado de milhões de pessoas. Os mercados e a política econômica mais abrangente da atualidade são cada vez mais encarados como cúmplices no crescimento das desigualdades entre e dentro das nações, escassez crônica de água potável, nas migrações caóticas, na corrupção sem fim e no aumento do nacionalismo econômico. Sem a reversão desses fatores a legitimidade dos negócios e dos próprios mercados será enfraquecida, como também o seu potencial para contribuir na geração de soluções imprescindíveis para estes mesmos desafios. Competitividade responsável requer regras globais para reformular os mercados às necessidades do futuro. A competitividade que leva em conta o que é importante na sustentação de sociedades deve ser guiada por regras efetivas que rejam o negócio dos negócios, e o seu impacto no trato com a força de trabalho e com as comunidades, a imposição dos direitos humanos conquistados a duras penas e a administração eficiente de nosso patrimônio ambiental. Um exemplo são os princípios do Parto Global da ONU (Tabela 1). As instituições intergovernamentais criadas ao longo do século XX se provaram eficientes no estabelecimento de nítidos fundamentos normativos para orientar tais regras, exemplificados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. Entretanto, muitas instituições multilaterais enfrentam dificuldades na implementação de acordos globais que correspondam às nossas necessidades mais prementes, das mudanças climáticas e fontes de energia seguras ao livre comércio e os padrões trabalhistas. Falhas podem facilmente ser atribuídas a uma ou outra das partes. Mas as repetidas decepções frente a desafios tão tenebrosos levantam dúvidas quanto a se a atual estrutura global de governança, herdada do passado, é adequada às necessidades do amanhã. Trazer a competitividade responsável para o centro das tendências atuais requer inovações profundas, tanto em estratégias e práticas empresariais quanto em uma abordagem mais ampla nos meios de governo. Como argumenta Günter Verheugen, Vice-presidente da Comissão Européia, “empresas de todos os portes devem considerar os papéis que irão desempenhar na sociedade contemporânea ao tomarem decisões estratégicas e operacionais”. Modelos empresariais existentes oferecem ganhos modestos quando as oportunidades são facilitadas como, por exemplo, produtos mais saudáveis, processos de produção mais seguros e justos. Mas práticas que lucrem cuidando e renovando nossos recursos, e construindocomunidades sustentáveis requerirão o que Jonathan Lash, Presidente do World Resources Institute, chama de “um distanciamento da visão incremental de como se construir mercados”, uma mudança significativa da cultura das estratégias de negócios e talvez, fundamentalmente, nos propósitos. Jean-Philippe Courtois, pre12 O Estado da Competitividade Responsável 2007 sidente da Microsoft International, ilustra esse tipo de prática e de pensamento lateral em sua descrição sobre como o uso inovador de software por cidades pode ajudar a lidar com as mudanças climáticas. Estamos presenciando também os primeiros estágios de uma revolução nas formas de governança e de como lidar com os negócios globais. Assegurar padrões trabalhistas adequados como uma vantagem competitiva em mercados globais tão distintos como o têxtil, o de bananas e o de componentes eletrônicos tornar-se-á uma realidade pois as empresas estão se unindo a organizações trabalhistas e civis com o intuito de reformular as regras sob as quais esses produtos são comercializados e, portanto, produzidos. O Better Work Programme (da organização Internacional do Trabalho e Finance Corporation é um ótimo exemplo de tal colaboração. Peter Eigen e Jonas Moberg descrevem outra iniciativa semelhante focada na transparência financeira dos setores de óleo, gás e mineração: a Extractive Industries Transparency Initiative (EITI) – Iniciativa de Transparência das Indústrias de Extração. Da mesma forma, recursos florestais e marítimos estão sendo preservados através de iniciativas colaborativas encorajando o manejo sustentável como fundamento da vantagem competitiva. Programas de regulamentação cujo objetivo é a redução da emissão de gás carbônico serão implementados por causa de coalizões entre empresas e organizações ambientais, que juntos irão advogar as suas opções perante governos resistentes, ou simplesmente evitando-os por completo e estabelecendo estas diretrizes regionalmente. Um exemplo dramático é a Climate Action Partnership (Parceria Ativa para o Clima) nos EUA. AccountAbility 13 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Estratégias e práticas bem sucedidas de competitividade responsável oferecem enorme potencial para empresas e sociedades: De acordo com Sir Nicholas Stern e seus associados, em 2050, os mercados para tecnologias de baixas emissões de gás carbônico valerão cerca de US$500 bilhões; Eliminar as diferenças entre os sexos, assegurando às mulheres as mesmas oportunidades de acesso a saúde, educação e trabalho pode gerar, apenas na Ásia e no Pacífico, mais de US$40 bilhões, argumenta a professora da Haas, Laura Tyson; Desenvolver a governança e a prestação de contas reduziria os 10% do PIB que o Banco Interamericano de Desenvolvimento estima serem perdidos anualmente por causa da corrupção. O combate à corrupção, de acordo com pesquisas do Banco Mundial, pode, a longo prazo, aumentar os rendimentos nacionais em aproximadamente quatro vezes;1 14 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Competitividade Responsável Pontuação 2007 70+ 69-60 59-50 49-40 39-30 Dados indisponíveis Lidar com os padrões trabalhistas e com a produtividade simultaneamente pode levar a incrementos de produtividade de até 50% nas fábricas mais dinâmicas, considerando-se experiências na indústria de vestuário do Camboja, atualmente um negócio de US$1 bilhão. Competitividade Responsável requer inovação constante e colaboração no abandono de modelos empresariais e abordagens de governança ultrapassadas, além da criação de uma nova geração de mercados e economias sustentáveis. O fracasso pode ocorrer, e desencadearia forças políticas e ambientais que podem se tornar impossíveis de conter, e pior ainda de reverter. Embora escrevendo sob pontos de vistas diferentes e sobre desafios diversificados, os ensaístas de O Estado da Competitividade Responsável 2007 concordam em um ponto: a necessidade da competitividade responsável é urgente e irrefutável. O debate político é sobre como torná-la uma realidade. AccountAbility 15 Tabela 1: Os Princípios do Pacto Global da ONU O Pacto Global da ONU arregimenta agências da ONU, empresas, organizações trabalhistas e sociedades civis ao redor do mundo no apoio a princípios ambientais e sociais universais. Desde o seu surgimento em julho de 2000, o Pacto Global vem promovendo a cidadania corporativa responsável enfatizando dez princípios universais: 1. As empresas devem apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos proclamados internacionalmente. 2. As empresas devem evitar a cumplicidade nos abusos dos direitos humanos. 3. As empresas devem defender a liberdade de associação e o reconhimento efetivo do direito da negociação coletiva. 4. As empresas devem eliminar todas as formas de trabalho forçado ou compulsório. 5. As empresas devem erradicar efetivamente o trabalho infantil. 6. As empresas devem eliminar a discriminação no que emprego e na ocupação. 7. As empresas devem apoiar uma abordagem precaucionária para as desafios ambientais. 8. As empresas devem assumir iniciativas para promover umamaior responsabilidade ambiental. 9. As empresas devem encorajar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente saudáveis. 10.As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina. 16 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Compreendendo a competitividade responsável O Relatório sobre a Competitividade Responsável 2007 da AccountAbility é o nosso quarto relatório bianual sobre competitividade responsável no mundo desde 2001. O primeiro relatório, Corporate Responsibility and the competitiveness of nations, foi lançado em uma reunião entre a Comissão Européia e o nosso parceiro de pesquisas, o Copenhagen Center, órgão do governo dinamarquês. Esse relatório inicial demonstrou o desafio de como melhor aumentar o escopo e o impacto das ações responsáveis nos negócios, para tornarem-se a alavanca principal no aumento de produtividade, criação de riqueza e sucesso econômico. Pascal Lamy, então Comissário para o comércio da Comissão Européia, esquematizou as prioridades da Competitividade Responsável no prefácio do relatório. “Até agora, o debate deu grande ênfase naquilo que as empresas, individualmente, podem fazer para incrementar seus objetivos de desenvolvimento sustentável. Este folheto explora alguns desafios, dilemas e tensões envolvendo o debate sobre RSC- responsabilidade corporativa social, e, principalmente, a relação entre a RSC e o patrimônio competitivo das nações, o papel das parcerias entre as empresas, a sociedade civil e o setor público, e a contribuição que as políticas públicas poderiam fazer para reforçar as ligações entre responsabilidade corporativa e a competitividade.” O segundo relatório bianual, o Índice da Competitividade Responsável (ICR), foi lançado no final de 2003 em Nova Lima, Brasil, no UN Global Compact Learning Forum organizado pela ONU. O relatório apresentava um piloto do Índice da Competitividade Responsável, fornecendo, pela primeira vez, um índice abrangendo todo o país, explorando através de análise quantitativa a relação entre competitividade nacional e a situação nacional de responsabilidade corporativa. A inovação metodológica consistiu no desenvolvimento de uma medida para a situação da competitividade responsável do país como um todo, através do fluxo de informações embasadas de terceiros, e o uso dessa medida na avaliação de resultados contra medidas de competitividade nacional fornecidas pelo Fórum Econômico Mundial. Foi desafiador quantificar essa relação de forma apropriada devido a deficiências nas informações e ao complexo problema da causalidade. Contudo, desde então, investimentos maciços permitiram que melhorássemos a qualidade do ICR, e também através de nossa parceria com a Fundação Dom Cabral, uma escola de negócios brasileira. Assim, o ICR tornou-se uma ferramenta poderosa para aumentar a conscientização e conduzir os debates para além dos casos-modelo, na direção de uma exploração mais sistêmica de como melhor implantar práticas de negócios responsáveis no mercado global. Nota do tradutor * Os autores se referem ao III Internacional Global Compact Learning Forum Meeting, realizado no Campus da Fundação Dom Cabral, em dezembro de 2003 AccountAbility 17 O terceiro relatório bianual, Responsible Competitiveness 2005, foi lançado em dezembro de 2005, em Xangai no UN Global Compact Summit e, posteriormente, em Washington, Genebra e Salvador com diferentes parceiros, incluindo o Banco Mundial, a UNCTAD e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Isso incorporou uma nova série de metodologias inovadoras. Fundamentalmente baseou-se no “Diálogo Global sobre Competitividade Responsável”, durante dois anos, envolvendo dezenas de assembléias de diferentes stakeholders em que participavam centenas de organizações e profissionais interessados, de Santiago a Londres, e de Nova Déli a Joanesburgo. Além disso, foi incluído um conjunto de estudos setoriais de casos sobre a Competitividade Responsável na prática, dando ênfase ao papel chave das iniciativas colaborativas em mercados menos favorecidos e com impedimentos políticos para promover práticas de negócios responsáveis nos mercados globais. Pela primeira vez, foi preparada uma versão regional do relatório para América Latina - Competitividad Responsable - com dois outros parceiros, a INCAE, escola de negócios da América Central e a Fundemas, grupo RSC de El Salvador. A iniciativa da Competitividade Responsável promovida pela AccountAbility explorou a prática e o potencial de setores, fatores e aspectos geográficos específicos. Nosso recente relatório, Responsible Competitiveness in Europe, baseado em extensos diálogos entre vários stakeholders conduzidos pelos nossos quatro parceiros, duas escolas de negócios européias de renome, a ESADE e a INSEAD, o European Policy Center e a European Academy of Business in Society - EABIS, pesquisou como a competitividade internacional de três setores europeus, finanças, tecnologia da informação e comunicação, e farmacêuticos, poderia ser melhorada através de ações e iniciativas colaborativas para impulsionar todos os setores a praticarem ações responsáveis. Um estudo concluído em 2006 para a UNIDO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial) enfatizou como o desempenho de pequenas e médias empresas de países em desenvolvimento poderia ser melhorado através da integração das mesmas a “clusters de responsabilidades” mantidos por instituições públicas com participação de organizações da sociedade civil. Baseados nisso, Jeremy Nicholls e Paul Begley descrevem em seu artigo um esforço pioneiro para medir e implementar competitividade responsável regional e localmente. Competitividade Responsável é o DNA das estratégias eficazes para que a globalização crescente tenha uma face humana. Pesquisas práticas de meia década revelam padrões contemporâneos importantes e oportunidades associadas para o melhoramento de práticas regionais. No cerne dessa aprendizagem está o potencial para reformular os mercados através de inovações na criação de valor econômico e responsabilização. Construindo valores. A integração dos impactos sociais, ambientais e econômicos aos mercados pode ser intensificada e acelerada com o incentivo de oportunidades associadas á geração de valor econômico e ao sucesso nos negócios, ao invés de se dar ênfase exclusivamente em normas de conformidade. 18 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Governança colaborativa. Uma forma vigorosa para vencer as barreiras do mercado ao avanço das práticas de negócios responsáveis é desenvolver e promover uma nova geração de padrões voluntários e transformações institucionais através de iniciativas colaborativas de diferentes stakeholders. O Estado da Competitividade Responsável O quarto relatório bianual da AccountAbility, O Estado da Competitividade Responsável 2007, aproveita o impulso dos últimos anos no avanço da compreensão das práticas e do potencial da competitividade responsável, através de: Melhorias significativas no Índice da Competitividade Responsável (ICR), que agora traz mais e melhores informações, oferece uma cobertura mais abrangente de países e utiliza métodos estatísticos e analíticos mais sólidos. Uma coleção única de ensaios de experts de destaque mundial sobre as conexões entre questões específicas, impactos empresariais e competitividade internacional, inclusive mudanças climáticas, sociedade civil, corrupção, gênero, trabalho e crenças, bem como análises por países e por regiões. O ICR 2007 aprofunda a nossa compreensão das forças motrizes da competitividade responsável através de uma adoção aprimorada de mais e melhores fontes de dados. Atualmente as economias emergentes representam metade da economia mundial e a maioria dos habitantes do planeta. Nós cumprimos com o nosso compromisso de aumentar a cobertura de países pelo ICR, ampliando este grupo para 108 países, comparados aos 83 da segunda edição e aos 51 do ICR piloto de 2003. A lista agora inclui países que, juntos, somam 96% do Produto Interno Bruto global e inclui 17 países menos desenvolvidos. Essa maior abrangência inevitavelmente restringiu o uso de informações às séries de dados que cobrem a lista completa dos países. Apesar dessa restrição, aumentamos para 21 o número de bases de dados quantitativos e qualitativos utilizadas, que agrupamos em três domínios primários: Impulsionadores de políticas: sete medidas da força das políticas públicas e do “soft power” que estimulam as práticas empresariais responsáveis; Ação Empresarial: sete medidas para as empresas sobre a aplicação de boas práticas, códigos e sistemas de gestão voltados para a governança, o social e o meio ambiente; e Habilitadores Sociais; sete medidas do ambiente social e político que permitem às empresas, aos governos e às organizações da sociedade civil construírem colaborações efetivas na reformulação dos mercados. Crucialmente, todos os grupos de dados são obtidos de fontes externas oficiais, que vão desde a Transparency International ao World Bank Institute e ao Fórum Econômico Mundial. Cada um desses três domínios conjuga dados quantitativoscom descobertas baseadas em opiniões (ver Figura 1). Assegurar práticas empresariais responsáveis e de sucesso só é possível através dos esforços combinados de empresas engajadas, políticas públicas inteligentes e uma sociedade civil atuante. Assim, o ICR 2007 valoriza a medidas que refletem o papel da combinação de forças impulsoras que englobam estratégias e práticas empresariais, políticas públicas, sociedade civil e ativismo e engajamento trabalhista. A importância relativa desses elementos irá, obviamente, variar entre os países e ao longo do tempo, como esclarece Aron Cramer, o Chief Executive Officer da BSR, em sua análise das características da responsabilidade corporativa na China. AccountAbility 19 Isto requer um índice dinâmico que leve em conta as necessidades, habilidades e níveis de desenvolvimento do país. No capítulo a seguir, explicaremos mais detalhadamente a metodologia do Índice da Competitividade Responsável, e faremos observações sobre a qualidade dos dados, sensibilidade dos índices e cautelas estatísticas. O que vem a seguir é uma análise dos principais resultados do índice de 2007. 20 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Impulsionadores de políticas: yy Assinatura e ratificação de tratados ambientais yy Ratificação de direitos trabalhistas básicos yy Índice da inflexibilidade no emprego yy Seriedade da Regulamentação Ambiental yy Emissão de CO2 por bilhão de dólares yy Emprego de mulheres no setor privado yy Ambiente fiscal responsável Ação Empresarial: yy Eficácia dos conselhos Corpotativos ou diretorias yy Comportamento ético das companhias O Índice da Competitividade yy Igualdade salarial para cargos similares Responsável 2007 yy Solidez dos padrões de auditoria e contabilidade 108 países yy Extensão de treinamento do contingente de trabalho yy Quociente de certificação ISO yy Fatalidades ocupacionais Habilitadores Sociais: yy Índice de percepção da corrupção yy Orientação dos consumidores yy Liberdade de imprensa yy Transparência das transações yy Afiliação a Organizações não Governamentais (ONGs) yy Liberdades civis yy Impacto da salubridade do ar e da água nas operações empresariais Figura 1: Impulsionando a Competitividade Responsável AccountAbility 21 Principais resultados Os resultados mais marcantes do ICR 2007 indicam que nações maduras ou desenvolvidas, particularmente países europeus, são os mais avançados na assimilação de práticas empresariais responsáveis no cerne de suas economias. Países nórdicos encabeçam a lista, com a Suécia em primeiro lugar e Dinamarca, Finlândia, Islândia e Noruega ocupando as primeiras seis posições, ao lado do Reino Unido. Treze dos “top 20” da lista são países europeus. A eles se unem Hong Kong, Japão e Singapura, na Ásia; Canadá e Estados Unidos, e Austrália e Nova Zelândia. A África do Sul lidera os assim chamados BRICS, na 28ª posição, com o Brasil, a Índia, a Rússia e a China a seguir, nesta ordem (o artigo da Fundação Dom Cabral analisa o desempenho desses países detalhadamente). Economias emergentes como o Chile, Malásia e a República da Coréia estão entre o primeiro quartil e, de certa forma, com desempenhos melhores que vários países que recentemente se juntaram à União Européia; Entre os países de baixa renda, Zâmbia e Uganda têm melhor desempenho que outros países com níveis de desenvolvimento comparáveis, enquanto no Camboja, Marrocos e em Bangladesh as iniciativas de competitividade responsável no nível setoriais ainda estão por produzir resultados tangíveis no nível nacional. Análise Comparativa Os resultados do ICR 2007 podem ser comparados com os de 2005. Nos países analisados tanto em 2005 quanto em 2007 podemos observar um pequeno, mas perceptível avanço na competitividade responsável, de uma pontuação média de 56 para 59. Entretanto, este progresso não foi universal, havendo um significativo número de países que alcançaram grandes progressos, um grupo que aparenta ter atingido um patamar natural e ainda outro que retrocedeu. A comparação do ICR 2007 com medidas relevantes de competitividade e de desenvolvimento empresarial demonstra uma forte correlação entre a competitividade responsável dos países e o seu vigor econômico. Algo especialmente interessante, considerando-se a diversidade dos dados utilizados para os respectivos índices. A correlação entre o ICR e o Growth Competitiveness Index R2 = 0.85 do Fórum Econômico Mundial, aponta para uma forte correlação entre responsabilidade e a principal medida da competitividade dos países. 22 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Índice de competitividade de crescimento Índice de competitividade responsável 2007 Figura 2: O índice de 2007 de competitividade responsável e de competitividade do crescimento. Fonte: Growth Competitiveness Index Fórum Econômico Mundial – 06/07 A correlação entre o fator da ação empresarial do ICR e o índice “Facilidade para Fazer Negócios” (Ease of doing Business) do Banco Mundial (R2=0.53) indica que países que têm bom desempenho na implementação de práticas de responsabilidade empresarial tendem a ser lugares mais fáceis de se fazer negócios. Uma crítica aos esforços globais para medir a responsabilidade empresarial referese ao fato de que países abastados podem alcançar pontuações elevadas exteriorizando os impactos sociais e ambientais negativos que geram para suas cadeias de suprimentos globais o que, consequentemente, desfavorece países que sediam etapas importantes dessas cadeias de fornecimento (a assim chamada Pollution Haven Hypothesis - Hipótese dos Portos de Poluição). Por exemplo, um estudo recente mostrou que até 40% dos poluentes do ar no delta do Rio Pérola, na China, que tem baixa pontuação, estão relacionados às exportações para importadores com pontuações elevadas da Europa e América do Norte.2 Infelizmente, nesse estágio, não há dados sistemáticos adequados de nossa ampla amostra de países para testar esta hipótese dentro do ICR principal. Analisamos essa questão fazendo a correlação entre um subgrupo de países do ICR com dados obtidos da UNCTAD sobre importações de bens e serviços poluentes. Não encontramos correlação. Ou a hipótese de que uma melhor contabilização aproximaria os resultados das pontuações mais baixas e mais elevadas no ICR é enganosa, ou então, e talvez mais provavelmente, os dados ainda são insuficientes, nesse estágio, para testar essa hipótese com segurança. Comprometemos-nos a realizar mais pesquisas sobre essa questão em edições futuras. AccountAbility 23 Facilidade para Fazer Negócios Ação empresarial Figura 3: O índice de 2007 de competitividade responsável e de facilidade para fazer negócios. Fonte: Ease of Doing Business, www.doingbusiness.org, 2007 Análise de clusters A comparação entre países com alta pontuação como a Bélgica, Malásia e Costa Rica, como países de baixa pontuação com Paraguai, Paquistão e Mali tem implicações políticas limitadas, como em outros índices internacionais abrangentes tais como o Índice de Desenvolvimento Humano e os Índices de Competitividade do Fórum Econômico Mundial. O exame de subgrupos de países é mais proveitoso. Nossa análise revelou um conjunto estatisticamente robusto de quatro clusters de países, amplamente distintos em seus estágios de desenvolvimento. O que esses grupos mostram é que não pode haver uma abordagem padronizada, de “linha de produção” na consolidação da competitividade responsável. Os países precisam desenvolver as suas próprias estratégias, unindo ação empresarial, forças políticas e habilitadores sociais nas combinações mais efetivas e apropriadas aos seus estágios de desenvolvimento. Não obstante, algumas generalizações são possíveis na análise desses quatro abrangentes grupos de países. 24 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Inovadores Assertivos Cumpridores Índice de competitividade do crescimento Iniciantes Índice de competitividade responsável 2007 Figura 4: Identificando clusters de países pelo desempenho da competitividade responsável Fonte: Growth Competitiveness Index, Fórum Econômico Mundial 06/07 AccountAbility 25 Performance em cada sub-índice (%) Iniciantes Impulsionadores de Políticas Cumpridores Ação empresarial Assertivos Inovadores Habilitadores sociais Figura 5: O desempenho dos clusters em cada sub-índice Iniciantes (grupo quatro): este cluster, o de pontuação mais baixa, é composto de 31 países, ou 29% da lista total. Os maiores países inclusos neste grupo são a China, Bangladesh e a Federação Russa. Muitos desses países já assinalaram o seu comprometimento com a responsabilidade através da assinatura e de tratados internacionais, além de outros impulsionadores políticos, mas ainda lutam para implementar o básico, como saúde e segurança no trabalho e liberdade de organização entre empresas. A necessidade dos Iniciantes de darem ênfase a esses direitos básicos é fortemente destacada por Guy Ryder, secretário geral da International Trade Union Confederation. Esses países, em sua maioria, têm um escopo limitado a exportações de baixo valor e, não raro, de baixa qualidade, e estão longe de se elevarem na cadeia de valor ou de desenvolverem marcas globais. Cumpridores (grupo três): A Índia é um caso a parte por ser uma economia de baixa renda, enquanto os outros 32 cumpridores são classificados como países de renda média. Outros grandes países nesse grupo são o Brasil, a Turquia e o México. Os Cumpridores são responsáveis por cerca de US$1 trilhão do comércio mundial. Estes países procuram evidenciar os progressos em alcançar padrões trabalhistas, ambientais e de qualidade internacionais e, portanto, estão aumentando a capacidade de participação de mercado nas cadeias de suprimentos globais de marcas e consumidores mais atentos à qualidade. A sociedade civil nacional não é uma força motriz significativa no grupo dos Cumpridores. 26 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Tabela 1: Os países em cada grupo Iniciantes Angola Bangladesh Benin Bolívia Burquina Faso Camarões Camboja Chade China Equador Etiópia Gâmbia Madagascar Malawi Mali Marrocos Mauritânia Moçambique Mongólia Nepal Nigéria Paquistão Paraguai Quênia Quirguistão Rússia Tanzânia Ucrânia Uganda Zâmbia Zimbábue Cumpridores Assertivos Inovadores Albânia Argentina Brasil Bulgária Cazaquistão Colômbia Croácia Egito El Salvador Filipinas Geórgia Guatemala Honduras Índia Indonésia Jordânia Lesoto Macedônia México Moldávia Namíbia Nicarágua Panamá Peru Polônia República Dominicana Romênia Sri Lanka Trinidad e Tobago Tunísia Turquia Uruguai Venezuela Botsuana África do Sul Chile Costa Rica Emirados Árabes Unidos Eslovaquia Eslovênia Espanha Estônia Grécia Hungria Israel Itália Jamaica Kuwait Letônia Lituânia Malásia Maurício Portugal Rep. Coréia República Tcheca Tailândia Taiwan, China Austrália Alemanha Áustria Bélgica Canadá Dinamarca Estados Unidos Finlândia França Hong Kong, China Irlanda Islândia Japão Noruega Nova Zelândia Países Baixos Reino Unido Singapura Suécia Suíça AccountAbility 27 - Assertivos (grupo dois): esse grupo consiste de 24 países, um pouco menos de um quarto da lista total. Os países que estão provando as suas credenciais assertivas de responsabilidade englobam a Espanha, a Itália e os Emirados Árabes Unidos. Os Assertivos são países que deram um passo à frente, aproveitando as oportunidades da competitividade responsável. Alguns, como o Chile e a África do Sul, estão ativamente engajados no desenvolvimento e na promoção de padrões internacionais que lhes proporcionarão uma vantagem competitiva. Alguns Assertivos estão criando marcas nacionais associadas a práticas empresariais e de governo responsáveis que atraiam investimentos estrangeiros diretos e promovam uma primeira geração de produtos globais e marcas corporativas. Para muitos dos países Assertivos, uma sociedade civil vibrante – que desafia as empresas, mas que está pronta a colaborar na busca de soluções – é um elemento crítico no avanço do projeto nacionail mais abrangente. - Inovadores (grupo um): esse grupo, com a maior pontuação, é composto de 20 países, e a lista é encabeçada pela Europa, vindo a seguir outros países da OECD Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os Inovadores trabalham para imbuir responsabilidade no cerne dos seus mercados domésticos, direcionada por regulamentações relativamente bem aplicadas, estratégias de responsabilidade corporativa bem formuladas, na maioria das vezes enfatizada por ONGs atuantes, observadores da mídia e consumidores que exigem novos produtos responsáveis. Além disso, a inovação baseada em conhecimento acarreta no fator de liderança de todas essas economias. A inovação sustentada no contexto de talentos parcos e altamente volúveis requer condições de trabalho flexíveis e instituições públicas e privadas dinãmicas e confiáveis. Também exige atenção aos detalhes, delegando responsabilidades às empresas de pequeno ou médio porte e a investimentos no exterior, além de empresas domésticas de grande porte. Para esse grupo, a competitividade responsável não é mais um adendo, mas o coração do modelo econômico. Portanto, o ICR não é apenas uma tabela de ganhadores e perdedores, mas sim uma ferramenta para o diagnóstico do progresso e do potencial de países no desenvolvimento de suas economias e no incentivo dado às suas instituições para que se beneficiem dessas novas fontes de oportunidades econômicas em patamares mais elevados da cadeia de valor. Dentro desses quatro grupos, países podem melhorar os seus desempenhos juntamente com o processo orgânico de desenvolvimento. Mas o ICR demonstra que ter uma pontuação baixa não é um fenômeno “natural” que deve ser tolerado até que a prosperidade os alce escala acima. Ao contrário, o ICR é uma medida da eficiência das forças combinadas das estratégias e práticas empresariais com as políticas públicas no aprimoramento da posição econômica e no papel de um país no mercado global. É como uma lente que identifica as prioridades para cada país, região, cidade ou comunidade para que se alinhe de forma a avançar de um grupo a outro, mais elevado na cadeia de valor. A competitividade responsável, tanto no nível de uma empresa quanto para as comunidades, regiões e nações, fundamenta-se em estratégia e inovação. Fomentando a competitividade responsável A competitividade responsável personifica o potencial do empresariado e da economia de atender às nossas necessidades mais prementes através da combinação de inovação em produtos e processos e novas formas de colaboração e regulamentação civil. A iniciativa da AccountAbility de competitividade responsável, baseada 28 O Estado da Competitividade Responsável 2007 em pesquisa e prática envolvendo uma crescente rede de parcerias, destaca o potencial que a junção dessas duas formas de inovação oferece. Esse potencial é cada vez mais reconhecido por líderes de empresas e governantes de todo o mundo. A iniciativa “ecomagination” da GE exemplifica uma estratégia que efetivamente transforma desafios prementes, no caso mudanças climáticas, em novas fontes de criação de valor. A GE atualmente possui um portfólio de 45 produtos e serviços que consomem menos energia e não prejudicam o meio ambiente, e que têm como objetivo gerar pelo menos US$20 bilhões até 2010.3 Da mesma forma, a expansão e o potencial competitivo da governança colaborativa é exemplificado pelo apoio da empresa a um marco regulatório de captura e comércio das emissões de carbono para os EUA, como parte de uma iniciativa conjunta de proteção envolvendo organizações comerciais e ambientais. O diretor do Cambridge Center for Energy Studies, Nick Butler, descreve o nascimento de mais uma empresa inovadora, a Hydrogen Energy, uma parceria da Rio Tinto e da BP. Estratégias de competitividade responsável exigem fortes condutores de políticas. Não se trata de coincidência, por exemplo, que os países que estão progredindo no EIII (Extractive Industries Transparency Initiative) são também aqueles que têm desempenhos sólidos no nosso sub-índice referente aos Habilitadores Sociais. Outro exemplo é o engajamento do Reino de Lesoto com o Fórum MFA, uma iniciativa conjunta que trabalha para o avanço de padrões trabalhistas nacionais nos setores têxteis e de vestuário como uma vantagem competitiva que envolve empresas, a sociedade civil, organizações trabalhistas e instituições públicas internacionais. Os 45.000 trabalhadores têxteis de Lesoto temiam um eclipse completo da indústria quando as concessões do Multi-Fibre Arrangement (MFA) chegaram ao fim em 2005. Em 2007 as exportações têxteis já estavam na casa dos US$500 mihões e as condições de trabalho haviam melhorado.4 Como descreve Annemarie Meisling e seus colegas no ensaio sobre “Betler work”; o Vietnã, a Jordânia e o Marrocos também estão adotando e implementando programas de competitividade responsável no setor de vestuário. A realidade é que o potencial prático da competitividade responsável ainda não é suficientemente apreciado por líderes empresariais e políticos. Essa deficiência nociva é em grande parte enraizada em convenções retrógradas, conselhos ultrapassados, estatísticas mediócres e falta de competência: Empresas retardatárias, freqüentemente com aversão a riscos e provenientes de setores decadentes ou de associações empresariais cautelosas demais, efetivamente atravancam mudanças impulsionadas por políticas ou pelos negócios, de modo a continuar obtendo ganhos provenientes de práticas que desnecessariamente prejudicam as pessoas e o meio ambiente. Na África do Sul, na Rússia e na Hungria há uma “cauda longa” de companhias cujo desempenho está muito atrás dos líderes, de acordo com o índice de responsabilidade anual (AccountAbility Rating). Kumi Naidoo, secretário geral da CIVICUS, descreve a sensação de imunidade que algumas grandes companhias acreditam desfrutar nos países em desenvolvimento. Muitos governos ainda não se convenceram de que a competitividade pode ser fundamentada em inovações que criem valor associadas a novas formas de responsabilidade. Esses governos estão contaminados por práticas empresariais atrasados e pelo foco de seus assessores de competitividade no cumpimento legal ao trat de questões sociais e ambientais, e na abordagem da ação voluntária a partir de um marco exclusivamente empresarial. Países como a Nicarágua vêm perdendo prestígio por suas pontuações sempre baixas nos principais índices de competitividade. AccountAbility 29 A sociedade civil e as organizações trabalhistas dão importância demais a campanhas que visam à conformidade, e não compreendem a necessidade de alavancar oportunidades de criação de valor para as empresas, para os consumidores e para as comunidades locais. E também não sabem como fazê-lo. Essa deficiência não se restringe a mercados emergentes, como a Bolívia e o Egito; empresas em muitos países da Europa enfrentam dificuldades no engajamento de ONGs em prol da inovação responsável. São necessárias, portanto, políticas que superem a inércia institucional e impulsionem perspectivas e comportamentos mais criativos e, produtivos. Recomendações Para liberar o potencial das estratégias de competitividade responsável é necessário que esses impedimentos sejam superados. Felizmente estudos aplicados e a prática esclarecer em como esses objetivos podem ser alcançados por meio de um programa com três tópicos: A. Estabelecer um “Fundo de Competitividade Responsável” como um elemento central da próxima geração de ações de “auxilio para o comércio”, que podem germinar as iniciativas colaborativas cujo alvo é a superação da inércia institucional no avanço da competitividade responsável em cadeias de suprimentos globais, e em estratégias e práticas nacionais e regionais. Tal fundo deveria: Estar focado em Financiar a construção de conhecimento, diálogos e coalizões, que são pré-requisitos para as iniciativas de competitividade responsável, sejam elas específicas de um setor, como o Fórum MFA, ou temáticas como as da EITI; Ser interinstitucional, e consequentemente, acessível através de instituições chave de desenvolvimento internacional ou regional; Ter abordagens mais comparáveis a estudos abragendo vários países, com acordos de boas práticas entre os gerdores de dados sobre a inclusão de variáveis chave e uma lista mínima de países, levando em conta as questões das economias emergentes, e mantendo em evidência as pequenas e médias empresas, juntamente com uma abordagem setorial consistente; Estar associado a conselhos de competitividade nacionais e entidades similares que precisam se engajar no avanço das estratégias da competitividade responsável; Ser ilegitimados na governança e capacitados para agrupar e alavancar fundos existentes e outras fontes de investimento para financiar implementações em longo prazo, e capazes de apoiar monitorações e avaliações independentes. B. Aprimorar a eficácia das iniciativas colaborativas que comprovadamente se tornam elementos críticos no avanço da competitividade responsável, e que abrangem desde instituições criadoras de mercado de grande destaque como a International Carbon Fund, propostas neste relatório, até iniciativas de padrões voluntários em setor exportadores chave, tomando as seguintes medidas: Fortalecer e esclarecer o seu potencial de impacto nos regimes de comércio e de investimento; Aumentar sua credibilidade através do fortalecimento da governança e da responsabilidade; Expandir sua influência ao engajar os BRICS e outros governos de economias 30 O Estado da Competitividade Responsável 2007 emergentes, empresas e habilitadores sociais em prol do desenvolvimento de colaborações eficazes; Constituir um Observatório para o avanço de boas práticas de governança colaborativa. C. Fomentar a consciência da relação entre a competitividade e as práticas empresariais responsáveis através de: Análises melhores na avaliação dos desempenhos atuais da competitividade responsável, dos cenários e trajetórias potenciais em grupos específicos de países, sub-regiões, cidades e em setores chave (como por exemplo, uma força tarefa de análise sobre como as Tecnologias de Informação e Comunicação podem fornecer soluções para a diminuição de emissão de carbono em grandes cidades; ou um relatório de benchmarking das abordagens regionais em relação à competitividade responsável no nível Nórdico ou da Europa em geral, nos estados da América do Norte ou em cidades-estado da Ásia); Expansão de horizontes para compreender melhor como o ICR pode ser mais bem adaptado para atender às necessidades de informações dos gerenciadores de riscos, de investidores estrangeiros e gerentes da cadeia de suprimentos a anuciantes, gerentes de marcas nacionais e até a comunidade diplomática; Estudos aplicados sobre os impactos prováveis de intervenções políticas definidas, principalmente mudanças nas políticas de comércio, investimento e concorrência. Uma ênfase especial deveria ser em como facilitar os estimuladores e capacitadores fora da infra-estrutura do comércio internacional; outro foco seria o impacto de padrões da diminuição voluntários das emissões de carbono sobre os exportadores de baixa renda; um terceiro enfoque seria uma abordagem sistemática na alocação dos impactos das exportações de produtos altamente poluentes; Análise e compreensão de como as estratégias de negócios podem se alinhar para oferecer produtos e serviços que aprimorem as condições para os5 bilhões de habitantes de baixa renda do mundo todo. A AccountAbility tem o compromisso de trabalhar junto a empresas, governos, sociedades civis e parceiros de pesquisas ao redor do mundo nessas e em outras oportunidades para fazer valer a responsabilidade nos mercados globais. Sobre os autores: Simon Zadek é o Diretor Executivo da AccountAbility e Senior Fellow da Kennedy School of Government da Harvard University. Alex MacGillivray é o Diretor de Programas da AccountAbility Notas finais 1 Huguette Labelle, http://www.oas.org/speeches/speech.asp?sCodigo=06-0197, acessado em junho de 2007. The cost of corruption (O custo da corrupção): http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/NEWS/ontentMDK:20190187~menuPK:34457~page PK:34370~piPK:34424~theSitePK:4607,00.html 2 ‘Modeling Study of Air Pollution Due to the Manufacture of Export Goods in China’s Pearl River Delta’ (Modelo de estudo da poluição do ar causada pela manufatura dos bens de exportação fabricados no delta do Rio das Pérolas na China) David G. Streets, Carolyne Yu, Michael H. Bergin, Xuemei Wang, e Gregory R. Carmichael, Environ. Sci. Technol.; 2006; 40(7) pp 2099 - 2107; (Policy Analysis – Análise política) DOI: 10.1021/es051275n. 3 ‘GE Unveils Breakthrough ecomagination Products, Technologies and Services’, Press Release, 24 de maio de 2007. 4 http://www.finance.gov.ls/documents/Budget_Speech_2007.pdf AccountAbility 31 O Índice de Competitividade Responsável Por Paul Begley, Edna do Nascimento, Alex MacGillivray e Cláudio Boechat A Competitividade Responsável significa mercados que sistematicamente e de forma abrangente recompensem as empresas por estratégias e práticas que se preocupem explicitamente com os impactos sociais, econômicos e ambientais. Fazer com que o desenvolvimento sustentável conte no mercado futuro requer a implementação de políticas públicas efetivas por parte dos líderes políticos, de empresas e da sociedade civil, e que reforcem as condições sociais e apóiem mercados responsáveis. Então, como esta tão idéia abrangente pode ser analisada de forma sólida e imanejável? O Índice de Competitividade Responsável (ICR) foi formulado pela AccountAbility em associação com a escola de negócios brasileira Fundação Dom Cabral. O ICR pretende ser uma análise sólida do desempenho dos países em seus esforços para promover práticas de negócios responsáveis. O índice 2007 mostra o desempenho de 108 países, cobrindo mais de 96% do PIB global, com representação geográfica nos 5 continentes. A AccountAbility construiu com solidez sua competência na avaliação da a competitividade responsável, com o seu índice piloto publicado em 2003. Este artigo explica a arquitetura do índice, detalha os indicadores usados, fornece uma metodologia resumida e não técnica, e identifica nossos planos para continuar aprimorando o índice no futuro. Os leitores interessados em um relatório técnico mais detalhado podem baixá-lo da internet através do www.accountability21.net. Elaborando o ICR O ICR utiliza 21 indicadores de 13 fontes independentes. Cada indicador explora quais países estão implementando estratégias de competitividade queconsiderem de forma explícita seus impactos sociais e ambientais. Esses indicadores estão organizados em três sub-índices, cada um com sete indicadores: Os Impulsionadores de políticas incluem indicadores que demonstram os compromissos do governo, tais como a assinatura e ratificação de tratados internacionais, a composição de um sistema responsável de impostos, a implementação de regulamentos ambientais severos e medidas para reduzir as desigualdades entre os sexos. os impulsionadores de políticas eficazes requerem a coordenação de vários departamentos e agências do governo, e (particularmente em grandes países), mecanismos mais eficientes para combinar políticas centrais, regionais e locais. A Figura 1 demonstra a correlação positiva entre direcionadores de política e o Growth Competitiveness Index (GCI) do Forum Econômico Mundial (R2=0.34). Claramente, parece que a correlação seria mais forte se os índices de competitividade levassem em consideração, a igualdade sexual como deveriam tendo em vista os sólidos benefícios econômicos de se sanar a desigualdade entre os sexos detalhados no artigo de Laura Tyson. 32 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Índice de Competitividade do Crescimento Impulsionadores de Políticas Figura 1: Impulsionadores de Políticas e o Índice de Competitividade do Crescimento Fontes: Growth Competitiveness Index do World Economic Forum Fórum Econômico Mundial 06/07 Ação Empresarial: no nível das companhias, os sistemas de gestão responsáveis incluirão ações eficazes em questões como treinamento de funcionários, segurança e saúde ocupacional, e redução dos impactos ambientais. Milhares de empresas, incluindo as de pequeno e médio porte (PME) minúsculo comprometeram-se com iniciativas voluntárias de responsabilidade corporativa, conforme evidenciado do padrão ISO e na participação no Pacto Global da ONU. Em muitos países as empresas também têm critérios sobre se e como implementar regulamentos. Alguns elementos da prática de negócios responsável são agora formalmente reconhecidos como componentes de índices de competitividade como o GCI. A Figura 2 mostra que a relação entre nosso conjunto de ações empresariais e o índice GCI do Fórum Econômico Mundial é bastante sólida (R2=0.77). AccountAbility 33 Índice de Competitividade do Crescimento Ação Empresarial Figura 2: Ações Empresariais e Índice de Crescimento da Competitividade 06/07 Fonte: Erowth competitiveness Index, Fórum Econômico Mundial 06/07 Impulsionadores Sociais: À medida que os negócios avançam além da implementação de sistemas de gestão de responsabilidade básicos, e conforme os governos coordenam suas políticas de apoio ao setor privado, elas adentram um território em que a vantagem do primeiro a agir desaparece. Um forte tecido social torna-se necessário para apoiar outros progressos a favor da competitividade responsável: incluindo uma cultura da transparência, uma imprensa livre e inquiridora, intolerância à corrupção e uma rede densa de organizações não governamentais. As organizações da sociedade civil estimulam o cumprimento das leis e regulamentações existentes e fornecem uma fonte e um “grupo teste” para inovação e colaboração com empresas. A Figura 3 mostra a importância desse conjunto de impulsionadores sociais para a competitividade como um todo. (R2=0.73). 34 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Índice de Competitividade do Crescimento Figura 3: Habilitadores sociais e índice de competitividade do Crescimento Fonte: Growth Competitiveness Index, Fórum Econômico Mundial Disponibilidade de Informação Há hoje mais de 600 conjuntos de dados internacionais relevantes para a competitividade responsável, variando de impactos dos negócios na qualidade do ar e força da regulamentação anti-monopólio ao uso de e-mail na cadeia de suprimentos e a “opacidade” de diferentes sociedades. Usamos seis critérios de seleção no ICR. Os Indicadores devem ser: Relevantes para modelos comumente aceitos da prática de negócios responsável; Explicáveis através de teoria estabelecida ou evidência empírica. Por exemplo, países capazes de maximizar os recursos do capital humano capital humano através da oferta de melhores oportunidades para mulheres são provavelmente mais competitivos; Independentes, contudo, complementares. Há inúmeros meta-estudos relevantes, embora muitos incluam – em um nível ou outro – um trabalho de referência, tal como o Transparency International´s Corruption Perception Index (Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional); Disponível ao público através de fontes seguras, usando metodologias sólidas e transparentes. Centenas de estudos procuram testar, demonstrar ou refutar o argumento de que práticas de negócios responsáveis têm benefícios econômicos estratégicos, mas com freqüência a metodologia utilizada para apresentar a informação não é clara; Indicadores devem ser amplos quanto ao escopo geográfico e produzidos regularmente. Vários conjuntos de dados promissores têm uma cobertura pequena de países ou são realizados excepcionalmente; AccountAbility 35 Os indicadores devem ser receptivos e captar o desempenho real do país. Nos últimos anos as áreas como as de emissões de carbono das indústrias tornaram-se tópicos de políticas e ações empresarias, enfatizando a importância de se identificarem as mais recentes informações disponíveis. Após cuidadosa consideração, identificamos 21 indicadores que atendiam a esses critérios. Os indicadores provêm de fontes de uma ampla variedade e combinam estatísticas concretas de desempenhos reais com pesquisas de opinião pública ou de profissionais experientes. Esses indicadores são mostrados na Tabela 1. Tabela 1: Detalhamento dos indicadores do Índice 2007 de Competitividade Responsável 2007 Impulsionadores de Políticas A Assinatura e Ratificação de Tratados Ambientais refere-se a quatro tratados internacionais importantes: o United Nations Framework Convention on Climate Change (Convenção Marco da ONU sobre Mudança de Clima) em Nova York em 1992, a Convention on Biological Diversity (Convenção sobre Diversidade Biológica) no Rio de Janeiro em 1992, o Kyoto Protocol to the United Nations Framework Convention on Climate Change (Protocolo de Kyoto para a Convenção Marco da ONU sobre Mudança de Clima) em Kioto em 1997, e a Cartagena Protocol in Biosafety (Protocolo de Cartagena para Biosegurança) em 2000; A Ratificação das Convenções Básicas dos Trabalhadores abrange oito tratados: Freedom of association and collective bargaining (Liberdade de associação e negociação coletiva) (convenções em 87 e 98); Elimination of forced and compulsory labour (Eliminação de trabalhos forçados e compulsórios) (convenções 29, 105); Elimination of discrimintion in respect of employment and occupation (Eliminação da discriminação relativo a emprego e ocupação) (convenções 100, 111); Abolition of child labour (Abolição de trabalho infantil) (convenções 138,182); Índice de Rigidez Empregatícia, que engloba três sub-índices: índice de dificuldade de contratação, índice de rigidez de horas e índice de dificuldade de demissão; Rigor da Proteção Ambiental; Emissões de Dióxido de Carbono pelo Produto Interno Bruto, em bilhões de dólares; Contratação de Mulheres pela iniciativa privada; Ambiente Fiscal Responsável que combine o número de pagamentos de impostos a cada ano e o tempo necessário para que uma empresa cumpra. Ações Empresariais Eficácia dos Conselhos Empresariais; Comportamento Ético das Empresas; 36 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Igualdade de Salários para Trabalhos Similares; Rigidez dos padrões de Auditoria e Modelos Contábeis; Extensão do Treinamento de Funcionários Razão de certificações ISO 14001 por ISO 9001: a aplicação de sistemas de gerenciamento ambiental comparado a outros padrões ISO; Fatalidades no trabalho. Habilitadores Sociais Índice de Percepção da Corrupção; Grau de orientação dos clientes; Liberdade de imprensa; Transparência das transações; Afiliação a ONGs Liberdades civis: a existência de direitos políticos e liberdades civis básicas, medidas em comparação a partes relevantes da Declaração Universal dos Direitos Humanos; Impacto de ar e água limpos nas operações empresariais. Em conjunto, esses indicadores fornecem informação sobre 108 países. Pode-se dizer que um índice com apenas 21 indicadores oferece um enfoque minimalista sobre a competitividade responsável, se comparado a análises como o banco de dados do Doing Business do Banco Mundial. Existem algumas áreas sobre as quais atualmente não há dados confiáveis – tais como a prevalência de infrações dos padrões de trabalho, ou a concentração da economia em setores de exportação que intensificam a poluição. Entretanto, os 21 indicadores do ICR oferecem uma abrangência considerável sobre várias questões. Sempre que possível, procuramos examinar a adequação dos dados disponíveis frente a outras variáveis, muitas vezes disponíveis apenas em estudos exclusivos ou em amostras pequenas de países. Essas comparações se encaixam bem, como por exemplo, entre o subíndice de ações empresariais e um índice piloto sobre trabalho infantil. Calculando o ICR Os 21 indicadores estão agrupados em três sub-índices; impulsionadores de políticas, ações empresariais e habilitadores sociais, baseados em análises de regressão e ajuste teórico. Esses três fatores formam um modelo conceitual simples para a construção da competitividade responsável. O ICR usa uma metodologia sistemática compatível com outros estudos de competitividade complexos e suas técnicas estatísticas. Após a identificação de cada indicador, nós calculamos o desempenho de cada país com uma porcentagem baseada na melhor pontuação possível para cada indicador. Os sete indicadores de cada sub-índice são igualmente considerados e rateados para fornecer a pontuação percentual para cada sub-índice. AccountAbility 37 Então, é atribuído a cada país incluído no ICR um nível de desenvolvimento baseado em dados do Banco Mundial utilizando o método Atlas, em que os países são classificados como: baixa renda ($875 ou menos o PIB per capita), renda média ($876-$10,725 PIB per capita) ou alta renda ($10,726 ou mais PIB per capita). Essa classificação pode ser encontrada no Anexo. Observações detalhadas de versões anteriores do ICR indicam que o nível de desenvolvimento é uma variável importante para se compreenderem as diferentes prioridades na elaboração de uma estratégia para a competitividade responsável na Bélgica ou em Benin. Cada estágio do desenvolvimento sugere uma ponderação diferente para cada sub-índice, uma metodologia de acordo com o Índice de Competitividade do crescimento e outros índices de grandes amostras de países. A pontuação e o ranking do ICR são calculados através de um modelo de regressão multilinear, incorporando o nível de desenvolvimento (como 0; 5,6 ou 9,2 quando apropriado) usando-se a seguinte equação: Índice de 2007 da Competitividade Responsável = nível de desenvolvimento + (0,16* Impulsionadores de Políticas) + (0,46* Ação Empresarial) + (0,23* contexto habilitador) Os pressupostos e validade deste modelo foram conferidos usando-se uma variedade de técnicas estatísticas e o modelo parece ser confiável e sólido. Por fim, aplicamos análise de clusters para criar quatro grupos, e esses resultados são apresentados no capítulo anterior. Maiores detalhes desses testes podem ser encontrados no nosso relatório técnico. Aprimorando o Índice de Competitividade Responsável O ICR analisa os melhores dados disponíveis usando metodologias confiáveis e testadas. Contudo, ainda há muito espaço para aperfeiçoamento no futuro. No nível das empresas, estão sendo disponibilizados cada vez mais dados, como, por exemplo, através da Accountability Rating (Classificação de Responsabilidade) e do Carbon Disclosure Project (Projeto de Informações sobre Carbono). Menos recursos são direcionados para a medição do impacto cumulativo de práticas empresariais responsáveis em nível nacional. Dos estudos nacionais existentes, muitos enfatizam temas, como direitos humanos, corrupção e trabalho infantil, e são exercícios piloto ou têm recursos limitados e pequena amostragem de países. Enquanto instituições como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial disponibilizam uma vasta gama de indicadores de alta qualidade, sua abrangência das questões sobre responsabilidade permanece limitada, e essas organizações são a exceção e não a regra. Há falta de dados em muitas áreas essenciais, ou quando disponíveis, são, pobres. Mesmo com os melhores dados disponíveis, são necessárias algumas observações: Há defasagem de tempo em alguns dados. Algumas métricas apresentadas em publicações respeitadas. apresentam dados com atrasos de três ou quatro anos. Um exemplo evidente são as emissões de dióxido de carbono, em que a escala de dados mais abrangente geograficamentedata de 2004; Alguns indicadores podem prejudicar países com um grande setor de pequenas e médias empresas ou setor informal, já que eles levam em conta mais provavelmente ações de empresas maiores. Por exemplo, ao olharmos o le38 O Estado da Competitividade Responsável 2007 vantamento da ISO 14001 (Environmental Management Systems – Sistema de Gestão Ambiental), é importante discriminar essa informação para considerar a capacidade dos países para implementar certificações ISO em geral; Muitos dos mais recentes e maiores conjunto de dados são baseados em pesquisas de opinião entre especialistas. Os críticos questionam a confiabilidade e a comparabilidade de questionários completados por amostragem de empresários, pois espera-se que possam fornecer respostas mais confiáveis a algumas questões do que o público em geral, enquanto em outras áreas sua imparcialidade pode ser questionada;1 Mesmo a mais confiável e legítima fonte pode, simplesmente, falhar em fornecer informações exatas. Um ponto em questão são os dados sobre acidentes de trabalho. A proporção de acidentes relatados à Organização Internacional do Trabalho é de apenas 3,9% do número de acidentes estimados no mundo todo.2 Esses são problemas intrínsecos e inerentes à coleta de dados, mas ações combinadas ajudariam a melhorar a qualidade de dados disponíveis para aprimorar nosso entendimento acerca da competitividade responsável. Precisamos, primeiramente, expandir a abrangência geográfica da coleta de dados. Em todo este projeto, encontramos conjuntos de dados fascinantes como “empresas que devem dar presentes em reuniões com o inspetor do trabalho” ou “a porcentagem de empresas que fazem parte de redes de negócios”, e até mesmo um índice que demonstra quão dispostos estão os governos em abrir suas transações aos cidadãos, às empresas e à sociedade civil. Em cada caso, o número de países é muito limitado para ser assimilado ao nosso índice ou mesmo para permitir uma comparação tranversal proveitosa com nossa amostra de 108 países. Segundo, necessitamos de uma grande melhora na atualização desses conjuntos de dados chave para aumentar a compreensão e permitir a elaboração de um benchmarking anual de competitividade responsável. Em parte, isso é uma questão de capacidade: bancos de dados como o CIRI Human Rights (CIRI Direitos Humanos) poderiam reduzir o atraso com mais recursos. Mas trata-se, também, de uma questão de comprometimento institucional. Em assuntos importantes como violações trabalhistas ou intensidade de poluição, os órgãos internacionais responsáveis estão investindo pouco na aquisição de informação. Terceiro, há necessidade de direcionar mais recursos para algumas das questões chave da competitividade responsável. Estamos mal informados, por exemplo, quanto à força de iniciativas colaborativas, sobre o grau de participação nacional nos padrões de sustentabilidade voluntários. Também desconhecemos os aspectos principais relativos ao esforço contra as desigualdades sexuais e raciais nos locais de trabalho. Sequer existe um mecanismo, no momento, para reunir os resultados de milhares de inspeções a fábricas feitas por dezenas de organismos de inspeção no mundo todo. Esses e outros conjuntos de dados com relação ao progresso da competitividade responsável poderiam, facilmente, e com baixo custo, ser gerados, e nosso grupo de pesquisadores está comprometido para que tal fato se materialize. Por fim, nosso trabalho de três ciclos, de 2003 até a presente data, não resolve a questão da causalidade em exercícios como este. A meta perseguida é compreender melhor os mecanismos através dos quais as estratégias de responsabilidade e o desempenho econômico trabalham juntos. O quanto isso depende de um mercado inovador e de liderança política? quanto depende de uma abordagem colaboratiAccountAbility 39 va para reformular os mercados? Para responder a essas perguntas, o exercício do ICR precisa ser suplementado por estudos detalhados de cidades, regiões, setores e países que estão adquirindo vantagem competitiva e melhorando sua responsabilidade. Na seção seguinte, especialistas de ponta examinam exatamente essas questões, dando exemplos práticos de esforços estratégicos para que o desenvolvimento sustentável seja levado em conta em mercados futuros. Sobre os autores: Paul Begley é Pesquisador da AccountAbility. Edna do Nascimento é Estatística Associada e Conferencista na FDC. Tem experiência em Comércio Internacional e Estatística e é Professora de Estatística na Faculdade Milton Campos. Alex MacGillivray é Diretor de Programas na AccountAbility. Cláudio Boechat é Professor da Fundação Dom Cabral. Ele ensina e pesquisa gestão responsável de negócios, liderança responsável e questões correlatas. Sua experiência anterior era como executivo de negócios. Notas Finais 1 Aaron Chatterji and David Levine, Breaking Down the Wall of Codes, California Management Review, 2006. 2 Päivi Hämäläinen, Jukka Takala and Kaija Leena Saarela, (2006) Global Estimates of Occupational Accidents, Safety Science 44, pág. 137 – 156. 40 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Construindo mercados com baixa emissão de gás carbônico AccountAbility 41 42 O Estado da Competitividade Responsável 2007 O Relatório Stern Review Por Dimitri Zenghelis e Nicholas Stern O relatório Stern Review comissionado pelo Tesouro do Reino Unido estabeleceu os custos econômicos da mudança climática contra os custos econômicos de se tomar medidas para impedir o aquecimento global. Em seguida, expôs a larga abrangência dos instrumentos políticos e estruturas que seriam mais adequadas para motivar medidas coletivas internacionais razoáveis, e com custo eficaz. Ele enfatizou os custos e benefícios na redução das emissões a um nível que pararia a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, elevando acima de 550 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono (C02) e gases equivalentes. Se essa meta for atingida, poderão ser evitados os impactos mais catastróficos da mudança climática, mas ainda há a probabilidade de 50% de o planeta aumentar o aquecimento em 3ºC, com riscos significativos. Muitos julgam que isso constitui um salto em qualquer escala de estabilização. O relatório considerou que o custo esperado de cortar emissões para chegar a esse objetivo seria uma média de 1% do PIB (GDP) mundial por ano. Contudo, está claro que os custos não serão distribuídos, uniformemente, por todos os países e regiões. Um objetivo importante da política definida para mitigar emissões é mudança de comportamento. Isto não será possível sem que os preços relativos dos bens produzidos com emissões de gás de efeito estufa mudem, para que os mercados possam realocar recursos para atividades não poluentes. É possível que isto signifique que as atividades poluentes tornem-se mais caras. Isto pode ser feito através de vários mecanismos, incluindo, regulamentações diretas e estabelecimento de padrões, como por exemplo, os aplicados às construções, emissões de veículos e a eficiência de energia dos utensílios domésticos. A longo prazo, empresas e economias de êxito serão aquelas que se ajustarem às mudanças globais preferenciais, tecnológicas e de mercado, e puderem transferir recursos rapidamente e com flexibilidade para incrementar novos mercados. Além do mais, é provável ser mais atraente, para a maioria dos países, um caminho de desenvolvimento de baixas emissões de carbono do que o contrário, promovendo eficiência de energia e ao mesmo tempo induzindo à inovação, reduzindo poluição e, em muitos casos, promovendo segurança energética e independência. Contudo, o desafio será o gerenciamento da transição para atividades de baixas emissões de gases de efeito estufa. Uma preocupação especial surge quando alguns países, regiões ou empresas mudam mais rapidamente que outros na solução das emissões. O medo é que esses países se defrontarão com uma carga desproporcional de transição de custos à medida que as atividades carbono-intensivas encerrem suas atividades e se desloquem para jurisdições menos restritivas internacionalmente. Isto não só poderá exacerbar o custo econômico para os países que tomam as medidas cabíveis, mas acrescentará pouco na solução de emissões globais, já que os poluidores, simplesmente, se deslocam para outro lugar. Três questões são levantadas: qual é o preço “certo” para o carbono alcançar estabilização? O quanto a economia é suscetível a essa mudança de preços relativos causados por esse custo do carbono? E qual a probabilidade das empresas de realocarem suas atividades, se as jurisdições se movem em velocidades diferentes? Impacto na redução de custos Uma análise objetiva pode fornecer a resposta para essas questões, evitando argumentações especiais e ultrapassando interesses particulares. Temos uma estiAccountAbility 43 mativa do preço do carbono necessário para reduzir, significativamente, os riscos da mudança climática, que o relatório Stern Review coloca em aproximadamente trinta dólares por tonelada do equivalente de dióxido de carbono, compatível com a estabilização a 550ppm (equivalente a CO2) na atmosfera; conhecemos a estrutura de produção da maioria das economias; temos ainda uma evidência-base ampla para examinar a resposta comportamental das empresas. O custo total de energia fóssil representa apenas, aproximadamente, 5% dos custos variáveis da produção da maioria dos países. Isto se compara, por exemplo, a custos variáveis de mão-de-obra, que na maioria dos setores, representam entre um quarto e meio dos custos variáveis. Contudo, a percepção pública sobre a importância do custo de energia permanece crítica. Em economias desenvolvidas, em parte é por causa das lembranças do desempenho econômico fraco que coincidiu com o choque do preço do petróleo e racionamento no abastecimento nos anos 70. Contudo, hoje é amplamente aceito que as recessões dos anos 70 foram causadas por muitos fatores, sendo que o choque do petróleo representou uma pequena parte. Mas a energia é ainda um insumo significante para a produção, logo, é vital entendermos o provável impacto do preço do carbono. Entre os maiores usuários dos produtos de petróleo estão os setores de agricultura, silvicultura, pesca, química e transporte. Os principais usuários de carvão são eletricidade e cimento. Os principais usuários de eletricidade incluem o próprio setor de eletricidade, várias indústrias de manufaturados (como alumínio) e as empresas de serviços de gás e água. No Reino Unido, o custo total de energia fóssil representa 3% dos custos variáveis da produção do país. Com este preço, o custo de produção de toda a economia poderá sofrer um aumento único de apenas 1%. Ao nível mais desagregado, somente 19 entre 123 setores de produção, representando menos de 5% da produção total do Reino Unido, veriam os custos variáveis aumentarem em mais de 2%, e somente seis sofreriam um aumento de 5% ou mais. Os custos na maioria dos setores subiriam menos de 1%. Na realidade, a oportunidade para substituir tecnologias alternativas baratas por combustíveis fósseis, provavelmente, limitará o aumento do custo a níveis ainda mais baixos a longo prazo. Mas mesmo essa estimativa da mudança nos preços relativos, resultante da adoção do custo social do carbono nas atividades de produção, está bem dentro dos limites da escala “normal” de variação de preços sofrida em uma economia aberta. Flutuações normais em custos de insumos devido à taxa de câmbio e o preço mundial do petróleo impedem, no curto prazo, o aumento do custo de energia primária resultante do preço do carbono. Contextualizando, o preço do petróleo subiu de $27 por barril (Brent spot price, média anual) em 2003 para cerca de $70 em fins de 2005. Comparativamente, o preço do carbono somaria apenas $10 a um barril de petróleo. Impacto no comércio e na localização Os preços relativos mudam constantemente com a mudança no custo de suprimentos e produção e com a mudança internacional de gostos e preferências. O relatório Stern Review ressaltou uma forte mitigação, sendo totalmente consistente com as aspirações para o crescimento econômico continuado e desenvolvimento em países pobres e ricos. Medidas para mudar nosso uso de energia e nossa gestão do 44 O Estado da Competitividade Responsável 2007 solo não ameaçarão o crescimento, mas, ao contrário, corresponderão a um único aumento de 1% no índice de custo. E, como ficam os setores carbono-intensivos particularmente expostos à competição do exterior? É notável que esses setores que são, praticamente, todos carbono-intensivos, costumam ser menos comerciáveis além das suas fronteiras. Utilizando-se estatísticas do Reino Unido como ilustração, e aplicando-se os $30 do preço do carbono, podemos esperar que o preço ao consumidor da eletricidade e do gás aumente em mais de 15%, mas o produto é destinado quase que exclusivamente para o mercado doméstico. Em todos os outros casos, os aumentos de preço estão limitados para baixo – em geral bem abaixo – 10%, com a maior parte dos produtores se defrontando com aumentos de custos abaixo de 1%. Mesmo assim, poucos setores são vulneráveis. Independentemente da gasolina refinada, esses incluem pesca, carvão, papel e celulose, ferro e aço, fertilizantes, transporte aéreo e marítimo, químicos, plásticos, fibras e metais não-ferrosos, dos quais o alumínio é responsável por aproximadamente metade do valor agregado. Além do mais, o nível de agregação usado nesta análise mascara a probabilidade de que certos processos e as instalações dentro de setores serão extremamente enérgicos e expostos à competição global. Contudo, mesmo esses setores são responsáveis por uma fração muito pequena e de crescimento lento da produção do Reino Unido. A questão surge: seriam as empresas de setores que possuem custos de insumos de energia acima da média as mais prováveis de se realocarem cada vez mais? Um aspecto notável é que muitos produtos carbono-intensivos que são comercializados do outro lado da fronteira costumam não o ser a longas distâncias. A intensidade do comércio cai sete vezes mais na indústria do cimento, quando somente o comércio entre países fora da União Européia é considerado, já que cimento é volumoso e difícil de ser transportado em longas distâncias. O comércio de produtos agrícolas frescos produz quedas de um fator 5 quando restrito somente a países fora da União Européia. Outra queda maior no comércio ocorre com celulose e papel, plástico e fibras. Aqui, a intensidade do comércio é mantida fora do nível da União Européia. A intensidade do comércio de plástico, ferro e aço e transporte rodoviário, assim como pesca e fertilizantes cai dois terços. Por fim, a intensidade do comércio de transporte aéreo e produtos de refinaria está parcialmente em concordância com a média de todos os setores. Esta lista contém alguns dos maiores setores de combustíveis fósseis intensivos; recomendando que restrições aplicadas no nível da União Européia diminuiriam muito qualquer impacto de competitividade nas restrições de carbono. Contudo, o Reino Unido talvez não seja um exemplo para todos os países. Países que gastam muita energia e que fazem fronteira com jurisdições com políticas fracas contra os gases do efeito estufa, podem sofrer uma ameaça significativa à sua competitividade de forma mais evidente que no Reino Unido. É importante que esses países executem suas avaliações dos riscos de seus setores produtivos, e considerem que medidas melhor atenderiam às dificuldades que poderiam surgir. Comércio e localização Valeria examinar, nesta fase, a teoria que está por trás da susceptibilidade das decisões por parte das empresas com relação à legislação ambiental. Isso nos AccountAbility 45 revela que pequenas mudanças em qualquer fator de custo, provavelmente não causariam uma realocação importante de produção, mesmo nos setores com altos gastos de energia, e mesmo onde os países se movem em diferentes velocidades ao aplicarem políticas de abatimentos. Isto se dá porque as políticas ambientais são apenas uma determinante nas decisões para a localização de uma fábrica. Outros fatores de investimentos são mais determinantes para a localização e comércio. Em prazos mais longos, a competitividade de toda a economia está associada a uma gama de fatores que, no fundo, determinam o crescimento da produtividade, como o tamanho e a qualidade do capital e da força de trabalho, acesso a tecnologias e infra-estrutura, proximidade dos mercados consumidores, acesso aos parceiros do comércio, além de estruturas políticas, legais, regulamentais e fiscais. Isto explica a diferença substancial no custo médio de salários entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, que podem ser dez vezes maiores ou mais. Por comparação, é provável que o aumento único nos custos de produção do preço do carbono faça uma diferença muito pequena nos padrões de produção e oportunidades. A grande diferença no custo de mão-de-obra reflete as diferenças de vantagens comparativas para que a produção e o comércio em países desenvolvidos aconteçam de forma tão rentável quanto em países com salários baixos, apesar das diferenças nos custos da mão-de-obra. Mas a questão da propensão das empresas realocarem suas fábricas em resposta ao preço do carbono é, em última instância, comportamental, logo, é importante observarmos a evidência empírica. O exame do impacto das regulamentações ambientais nos estados dos Estados Unidos e em países de todo mundo sugere que as políticas ambientais afetam o comércio e a produção marginalmente, mas com pouca evidência de realocações expressivas. É provável que isto seja verdadeiro mesmo em países com fronteiras com grandes parceiros comerciais, com regimes mais abertos, como a Espanha, que fica perto do Norte da África, ou com países do leste da União Européia que fazem fronteiras com a Ucrânia e a Rússia. Mesmo em países que possuem fronteiras abertas e jurisdições similares (como as dos Estados Unidos e Canadá) as empresas costumam apresentar o que é chamado “viés doméstico”, onde o comércio através da fronteira é menos intenso que o comércio doméstico com distâncias similares. Este chamado “viés doméstico” limita o grau de liberdade que as empresas possuem para se realocar quando defrontadas com o preço do carbono. É o bem-vindo aumento dos padrões de vida dos países desenvolvidos que está colocando pressão nas emissões globais, e não o risco dos gases de efeito estufa provocado por atividades carbono-intensivas realocadas para esses países. A evidência empírica por trás das decisões de realocação é revisada no Capítulo 11 do relatório Stern Review, mas, geralmente, esses riscos são considerados limitados. Por exemplo, há evidência sugerindo que alguns estados dos Estados Unidos, como a Califórnia, não só não sofreram custos econômicos significativos com os rigorosos regulamentos ambientais, como também ganharam oportunidades substanciais provenientes do estabelecimento de padrões de mercados e desenvolvimento de tecnologias. Promovendo medidas coletivas Os impactos de competitividade são pequenos e podem ser reduzidos com medidas conjuntas. Isto requer comunicação e um entendimento comum da natureza do 46 O Estado da Competitividade Responsável 2007 problema, assim como uma distribuição equilibrada de esforços para a redução de emissões nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. O Protocolo de Montreal de 1989 apresenta um exemplo de medida coletiva global rápida na redução de emissões de hidrocarbonetos halogenados para impedir a diminuição da camada de ozônio. Havia uma compreensão mundial do problema, a indústria enfrentou o desafio de forma realista sem exagerar os custos e foram tomadas providências. Com relação à mudança climática, a mensagem está sendo passada. Se as empresas acreditam ser provável que o mundo todo vá ter restrições ao carbono, é possível que os benefícios tenham curta duração ao mudar os investimentos e equipamentos para uma nova localização. Além do mais, ao fracassar em investimentos de técnicas e produtos de baixas emissões de carbono, as empresas se arriscam a perder sua participação no mercado. Como mostra o exemplo californiano, a diminuição do carbono pode promover inovação na tecnologia limpa, e dirigir a vantagem comparativa de um país a aumentar os setores “limpos” incentivando outras melhorias na produtividade em grupos de negócios correlatos. As economias e empresas com grande capacitação, capacidade tecnológica, mercados flexíveis e governos que prevêem tendências gerenciarão melhor a transição. A Islândia usou energia limpa para atrair clientes com altos gastos energéticos, como as empresas de alumínio. A China começou a taxar a exportação de produtos que gastam muita energia na sua produção. Todos os países da OECD (Organization for Economic Co-operation and Development – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) possuem estratégias para mitigação e ajuda para energia de fontes renováveis. Empresas contemporâneas como a BP e a Toyota estão vendo oportunidades no futuro com baixas emissões de carbono. Fundos de investimentos estão também se animando ante essas possibilidades. Recentemente, o Goldman Sachs calculou que investimentos em fontes de eletricidade de baixas emissões de carbono poderiam valer acima de U$500 bilhões por ano até 2050. A mitigação também fornece benefícios auxiliares, como por exemplo, na forma de segurança energética e níveis mais baixos de poluição convencional. Há também ganhos significativos em termos de eficiência e inovação de energia. Estas podem ser difundidas e distribuídas através da economia, e são difíceis de serem identificadas (ao contrário dos custos), mas o seu efeito líquido pode ser amplo. Novos mercados serão criados. Agindo preemptivamente no gerenciamento da transição para um mundo com baixas emissões de gases de efeito estufa, é também possível reduzir-se custos nos países ou nas empresas. A adoção antecipada de políticas dentro de um modelo de confiança e de longo prazo ajuda a baixar os custos do planejamento. Reações antecipadas implicam em trabalhar com o ciclo de investimento na substituição de capital obsoleto de fábricas e maquinarias e de altas emissões de carbono, evitando a necessidade posterior de descarte e substituição de capital intensivo de gases de efeito estufa. Serve também para induzir a inovação necessária para desenvolver tecnologias que baixarão custos de energia de longo prazo. Como vimos, empresas e governos já estão tomando providências de forma independente, assim como através de uma série de combinações regionais e multilaterais. Mas medidas em nível regional ou multilateral são o passo principal para que as instituições se coloquem em posição de consolidar um consenso global sobre ação climática, para promover confiança e cooperação e melhorar as chances de AccountAbility 47 trazer novos aliados. Neste momento, é importante a liderança da União Européia, embora reconhecendo e respondendo às iniciativas dos Estados Unidos, Índia e China. Acordos setoriais internacionais também poderiam desempenhar um papel central, promovendo medidas e reprimindo impactos negativos na competitividade de cada país. As intensidades de emissões setorizadas variam enormemente no mundo, portanto a ênfase na transferência e distribuição de tecnologia através de abordagens setoriais poderia reduzir as intensidades de forma relativamente rápida. A cobertura global de setores específicos que estão internacionalmente expostos à competição e fabricam produtos relativamente homogêneos pode reduzir o impacto da política de mitigação na competitividade. Uma abordagem setorial pode também facilitar o financiamento da defasagem entre tecnologias entre países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Conclusão Para concluir – o objetivo principal da mitigação é redistribuir recursos de atividades carbono-intensivas. Para que a política funcione, é necessária a mudança de comportamento. O desafio será o gerenciamento da transição para um mundo com baixas emissões de gases do efeito estufa, e limitar os custos de ajuste. O custo total de energia de combustível fóssil é responsável por uma pequena parte dos custos de toda a economia, e a lógica e a experiência nos dizem que as indústrias carbono-intensivas comerciais dificilmente se desviarão do comércio significativamente, ou realocar-se-ão – em resposta a uma medida de nível nacional ou regional. Contudo, os custos de mitigação são mais baixos e os lucros mais altos se medidas antecipadas forem tomadas de forma coordenada através do mundo, refletindo um entendimento comum da natureza do problema, e uma distribuição equilibrada do peso da medida. Alguns setores de produção sofrerão custos transitórios, mas é importante não se exagerar na ameaça ou ignorar as possíveis oportunidades de gerenciamento de uma transição inicial para um mundo de restrições ao carbono. Medidas antecipadas podem elevar o crescimento no longo prazo de economias que prevêem mudanças, possuem técnica, flexibilidade e capacidade tecnológica para se adaptar. Sobre os autores: Dimitri Zenghelis é consultor econômico para o governo do Reino Unido. Ele foi o autor líder nos custos da mitigação, modelos de análise e comparações sobre os impactos da competitividade do Relatório Stern, e contribuiu de forma significativa para a estrutura conceitual, teórica e ética adotada na análise da economia das mudanças climáticas. Desde que ingressou no Tesouro da Sua Majestade, em 1999, Dimitri forneceu análises econômicas e conselhos para o governo do Reino Unido sobre as políticas econômicas da Europa e internacionais, como o diretor do MEU Analysis Branch e diretor do Economic Forecasting. Sir Nicholas Stern, FBA, é o IG Patel Chair da London School of Economics and Political Science. Ele foi conselheiro do Reino Unido do Economics of Climate Change and Development, reportando-se ao Primeiro Ministro. De 2003 a 2005 ele foi o Second Permanent Secretary do Tesouro da Sua Majestade e, entre 2004 e 2005, foi o Diretor de Política e Pesquisa para a comissão da África do Primeiro Ministro. Entre 2000 -2003, Sir 48 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Nicholas serviu como o Economista Chefe e Vice-presidente Sênior do Banco Mundial. Notas finais 1. Para o Reino Unido os custos totais de energia de combustível fóssil representam 3% dos custos variáveis de produção; para cada £10/tC, o preço do carbono teria um impacto econômico similar a um aumento de 6% nos preços de petróleo e gás. 2. Os principais fatores incluem uma redução autônoma no crescimento de produtividade tecnológica e políticas macroeconômicas de desestabilização. Ver, por exemplo, Greg Mankiw (vários) e David Walton (2006). 3. A contribuição do petróleo para esse aumento seria responsável por menos da metade e o restante dividido entre gás e carvão. 4.Estes números são obtidos mediante a elaboração dos aumentos de custo através de produção econômica, usando-se tabelas de insumo-produção de 2003 do Reino Unido. 5.O documento seminal de 1995 de McCallum e o modelo gravitacional de comércio intra-União Européia de Berger e Nitsch (2005), vários estudos canadenses são excelentes e de interesse até hoje, sobre a importância dos “efeitos da fronteira” e “viés doméstico”. Para uma discussão interessante, ver também o relatório do Governo Canadense sobre a Indústria (2002), bem como as representações da Associação Canadense da Indústria de Plástico. Essa foi a conclusão, reforçada por discussões subseqüentes, como a avaliação feita por Helliwell das relações econômicas entre o Canadá e os Estados Unidos, em que ambos acharam evidências significativas de “viés doméstico”, onde as fronteiras inibem o comércio, apesar de mercados abertos e distâncias curtas. 6.Anweiler, Copeland e Taylor (2001) apresentam uma avaliação detalhada disso e propõem um quadro de estimativas para mostrar como a suscetibilidade do comércio leva à realocação de empresas que gastam muita energia para países com padrões ambientais firmes, à medida que a atratividade de outros fatores pesa nos custos extras da limitação de poluição. AccountAbility 49 Preparativos para um futuro com baixa emissão de gás carbônico Por Jonathan Lash As mudanças climáticas não são apenas uma questão ambiental. Estão rapidamente se tornando um dos fatores que irão definir o desenvolvimento econômico do século XXI. Elas irão moldar investimentos, o emprego da tecnologia e o desenvolvimento humano ao redor do mundo, e nenhum setor será mais profundamente afetado que o energético. Dado as mudanças que os impactos climáticos trazem, prosperar nesse enorme e mutante mercado implicará em entender os riscos e oportunidades apresentados pelos mecanismos das políticas públicas que serão empregados para reduzir emissões, e das infra-estruturas necessárias para implementar essas escolhas. O impacto econômico das políticas climáticas globais é claramente dependente das circunstâncias políticas subjacentes e em como elas influenciam o processo de elaboração política. Essa dinâmica pode incluir a mistura de quais as opções políticas empregadas, o escopo geográfico e os limites jurisdicionais dessas políticas, a ênfase relativa entre mitigação e adaptação, e a severidade e urgência necessárias na redução de emissões. Políticas climáticas internacionais provavelmente incluirão cortes de emissões e redução progressiva das grandes fontes de emissão de CO2 com cláusulas para o comércio, regras específicas para fabricantes de automóveis, investimentos tecnológicos em grande escala, combustíveis mais limpos e desincentivos para produtos carbono-intensivos. Intervenções políticas nessa escala irão transformar as estruturas de custos de indústrias pesadas e criarão novos mercados para produtos e serviços que gerem menos emissões. Deve-se ressaltar que essas políticas também criarão espaço para companhias que estão ativamente gerenciando suas emissões e a sua exposição aos riscos das mudanças climáticas, ou oferecendo produtos e serviços que reduzem os gases do efeito estufa para ganhar vantagens competitivas. Entretanto, políticas climáticas não são a única fonte de riscos e oportunidades. As mudanças climáticas irão impactar diferentes setores da economia global, afetando o custo de energia, infra-estrutura, saúde, e o rendimento das populações e da agricultura. Compreender o potencial das repercussões econômicas das mudanças climáticas é compreender que, provavelmente, elas variam tanto dentro quanto entre os setores. Diferentes companhias terão diferentes perfis de risco climático – o que irá acarretar em desafios analíticos diferenciados para o entendimento dos impacto. Como outras mudanças de paradigmas, algumas companhias se sairão melhor do que outras. O impacto sobre o valor corporativo irá depender das habilidades da companhia em se salvaguardar contra os riscos climáticos físicos, em mitigar custos regulamentários, em administrar riscos climáticos dentro da cadeia de fornecimento, em investir capital em bens pouco poluentes e em medidas inovadoras ao lidar com novos produtos e novas oportunidades de mercado. Se este impacto será positivo, negativo ou neutro irá depender de uma gama de fatores, sendo um dos mais importantes, a habilidade no desenvolvimento de vantagens “climáticas competitivas”. Em um futuro com altas emissões de carbono, as companhias que administrarem e mitigarem a sua exposição aos riscos da mudança climática, enquanto buscam novas oportunidades para lucrarem, irão se sobressair perante os seus rivais. Aqui está um guia para identificar as maneiras que as mudanças climáticas podem afetar os seus negócios, e para criar uma estratégia que irá ajudá-lo a administrar os riscos inerentes e buscar as oportunidades. A mensagem é simples: Não basta fazer algo; é necessário fazer melhor – e mais rápido – que os seus competidores. 50 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Administração de riscos climáticos As práticas atuais sobre administração de riscos normalmente tratam os riscos ambientais como um problema de conformidade regulamentária, ações jurídicas potenciais devido a acidentes industriais e descargas poluentes. As mudanças climáticas apresentam riscos de natureza diferente: é uma questão global, de longo prazo, os danos são essencialmente irreversíveis e as respostas federais correntes não oferecem direcionamento algum sobre exigências futuras. Ignorar as conseqüências financeiras e competitivas da mudança climática pode acarretar em uma avaliação imprecisa sobre os riscos totais no perfil de uma companhia. Embora isso pareça óbvio para indústrias que gastam muitos recursos e energia, como a manufatura química é, na verdade, muito mais abrangente. Empresas como a Wall-Mart e o Bank of America vêm adotando políticas institucionais focadas nos efeitos das mudanças climáticas sobre tudo, das suas operações aos seus clientes. As distinções mais importantes não são entre os setores, mas dentro de setores onde a diminuição de riscos e estratégias de produção podem criar vantagens competitivas. Esses riscos tomam várias formas: Riscos regulamentários – legislações obrigatórias de redução de emissões Cadeias de fornecimento – fornecedores repassando seus custos relativos a emissões de carbono mais elevadas Tecnologia de produtos – rivais desenvolvendo ofertas mais benéficas ao meio ambiente Litígio – ações judiciais por causa de negligência, transtornos públicos ou transgressões Reputação – reações negativas dos consumidores ou dos acionistas Físico – danos aos bens causados por secas, inundações ou tempestades A estratégia climática de uma companhia começa com o reconhecimento pela sua cúpula administrativa de que as mudanças climáticas são um grande problema que o mundo terá que enfrentar. Ela requer um comprometimento na administração das emissões de carbono tanto em processos quanto em produtos. Esse compromisso certamente irá trazer um rápido aprendizado institucional. As companhias que irão prosperar nessa economia de baixas emissões serão as que tiverem uma estratégia clara para inventar soluções que diminuam riscos e aumentem as oportunidades. O World Resources Institute (Instituto dos Recursos Mundiais) vem trabalhando com várias companhias na criação de estratégias para lidar com as mudanças climáticas. Através dessas experiências, concluímos que as tentativas de maior sucesso levam em conta quatro etapas, e cada uma delas requer lideranças fortes e um aprendizado significativo por parte de toda a organização. Etapa 1: Quantificar a sua emissão de carbono. Só é possível administrar aquilo que você mede. As companhias precisam, antes de tudo, entender as fontes e os níveis das suas emissões de gases do efeito estufa e manter um registro dessas emissões ao longo do tempo. Um dos métodos para se fazer isso é através do Greenhouse Gas Protocol (Protocolo de Gases Efeito Estufa), que a nossa organização desenvolveu juntamente com o World Business Council for Sustainable Development (Conselho Mundial de Comércio para o Desenvolvimento Sustentável). Essa ferramenta, que foi organizada pela International Standards Organisation (Organização dos Padrões Internacionais), já foi usada por centenas de companhias AccountAbility 51 para medir e acompanhar as suas emissões de gases do efeito estufa, e por grupos industriais, incluindo o International Council of Forest and Paper Associations (Conselho Internacional de Associações Florestais e Celulose), para desenvolver ferramentas complementares de cálculo, específicas para as indústrias. Essa tarefa quantitativa e relativamente direta pode armar o palco para um olhar mais abrangente sobre os riscos e oportunidades. Ela oferece uma moldura para avaliar não apenas as emissões diretas e as relacionadas ao suprimento de energia, mas também as emissões indiretas relacionadas a cadeias de fornecimento, transporte e utilização de produtos. Etapa 2: Avalie os seus riscos e oportunidades relacionados a emissão de carbono. A quantificação das emissões é apenas uma parte da história. Após determinar os impactos específicos, diretos e indiretos, que a sua companhia está tendo sobre o clima, é preciso ampliar as análises e pensar estrategicamente sobre como os seis fatores de risco podem prejudicar ou beneficiar os seus negócios. Forças relacionadas ao clima terão um impacto financeiro direto e indireto nas companhias. Muitas abordagens vêm sendo desenvolvidas que podem auxiliar a quantificar esses impactos. Uma delas é a análise da “intensidade das emissões” dos diferentes centros de lucros – ou seja, a relação entre emissão de gases efeito estufa e os lucros gerados pelos diferentes produtos. Ou pode-se examinar as maneiras como as mudanças climáticas poderiam afetar os rendimentos e os custos. Pela perspectiva dos custos, as mudanças climáticas podem aumentar os preços de materiais brutos, regulamentações diretas, despesas de capital (como por exemplo, a construção de instalações com níveis mais baixos de emissões), ágios de seguradoras pelos bens localizados em áreas de risco (como a Costa do Golfo) e, possivelmente, até novas responsabilidades fiscais. Os rendimentos serão afetados pela sua habilidade de repassar esses custos aos seus clientes através de novas estruturas de cobranças e ao mesmo tempo explorar novas oportunidades de mercado e mantendo a participação no mercado. Etapa 3: Adapte os seus negócios em relação aos riscos e oportunidades. Após avaliar como as mudanças climáticas afetarão a sua companhia, você está preparado para desenvolver estratégias e tomar medidas baseadas nesse conhecimento. Essas medidas vão da óbvia redução de consumo de energia e emissões de carbono até, por vezes, reinventar completamente setores da sua empresa. Medidas criativas não se restringem a manufaturas pesadas e outras indústrias tradicionalmente nocivas ao meio ambiente. A Goldman Sachs implementou uma política ambiental coordenada que, entre outras coisas, exige que a firma meça e relate sobre emissões de gases efeito estufa atribuídos às suas operações internas. Etapa 4: faça melhor que os seus competidores. Administrar riscos climáticos, reduzir a exposição a esses riscos e criar novas oportunidades de lucro são importantes etapas na construção da competitividade climática. Mas se os seus competidores fazem isso de forma melhor, a sua companhia está do lado errado da equação. Companhias que pensam estrategicamente sobre como as mudanças climáticas podem afetar os seus negócios e os dos seus clientes também precisam avaliar a sua posição em relação à competição. Companhias com custos relacionados ao clima acima da média podem enfrentar mais dificuldades em relação aos seus iguais em uma economia de baixas emissões de carbono. Além disso, conforme os consumidores aumentam as suas exigências por produtos e serviços de baixas emissões de carbono, as companhias que estiverem à frente dos seus competido52 O Estado da Competitividade Responsável 2007 res provavelmente irão desfrutar das vantagens do pioneirismo, o que pode aumentar o valor das suas ações em um mercado cada vez mais competitivo. Conclusão As mudanças climáticas serão uma força dominante na economia global do futuro próximo. As soluções tecnológicas cruciais para lidar com esses problemas não surgirão sem estratégias econômicas que diminuam os riscos e mobilizem níveis suficientes de capital de investimento em prol do desenvolvimento de novas e promissoras tecnologias, como também do uso em larga escala de tecnologias já existentes. Sim, para que níveis suficientes de capital se formem ao redor de tecnologias de baixas emissões de carbono, as empresas terão que aprender e apoiar as políticas necessárias para estimular a demanda por produtos e processos de baixas emissões de carbono. As soluções para as mudanças climáticas exigirão inovações nos negócios e maior coordenação e engajamento por toda a cadeia de valores de produtos. Entender o desafio climático e aprender o projeto político necessário implica em um distanciamento da visão incremental sobre a construção de mercados. Preferivelmente, precisamos confrontar diretamente as implicações das mudanças climáticas sobre os negócios e desenvolver estratégias melhores para manter a competitividade em um mundo que exige baixas emissões de carbono. Essa não é uma história do futuro. As mudanças climáticas estão influenciando as dinâmicas da competitividade em mercados do mundo todo. Companhias que desenvolverem estratégias climáticas irão prosperar conforme a sociedade se debate com, talvez, o maior problema que a economia global enfrenta atualmente. Sobre o autor: Jonathan Lash vem liderando o World Resources Institute como seu presidente desde 1993 e foi co-presidente do Conselho para o Desenvolvimento Sustentável e do Grupo de consultor de Alto Nível Sobre o Meio Ambiente) da organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. AccountAbility 53 Reformulando Mercados por meio de um Fundo Internacional do Carbono Por Nick Butler Um dos legados nocivos do século XX é a divisão rígida da sociedade entre o estado e o setor público de um lado e o mundo corporativo privado do outro. De formas diferentes e em épocas diferentes as linhas divisórias entre esses dois fatores se transformaram em fronteiras de conflitos políticos. A nacionalização e o uso do poder público para regular ou controlar os mercados visando os interesses das massas moveram essas linhas em uma direção. A privatização e a asserção da primazia dos direitos de propriedade as levaram para outra. Essa divisão foi um produto do que Eric Hobsbawn denominou de o século ideológico. Antes de 1900, as esferas públicas e privadas eram bem menos definidas, comumente funcionando como uma coisa só. As conseqüências dessa ruptura drástica entre o público e o privado foram uma perda de potencial. O setor privado, em geral, se retraiu para uma posição em que os seus propósitos são definidos unicamente em termos de aumento dos lucros. Os lucros, supostamente, são a raison d’être de qualquer companhia, e outras atividades, incluindo qualquer senso de responsabilidade por coisas além da folha de balanço, se tornaram itens de luxo para os egos administrativos. A responsabilidade pela saúde da sociedade, pelo seu futuro e pela sua sustentabilidade fica a cargo do estado, e somente do estado. Acredito que esta visão é ultrapassada e deve ser substituída. As empresas fazem parte da sociedade – e podem existir e prosperar somente dentro de uma estrutura social próspera. Elas também são fontes de criatividade, talento e inovações – precisamente o que a sociedade como um todo necessita para avançar e enfrentar os desafios do momento. As mudanças climáticas são um grande exemplo da necessidade do intercâmbio entre o público e o privado. Apenas os governos podem colocar um preço sobre o carbono e incentivar mudanças que transformem comportamentos e levem o mundo na direção de uma economia baseada em menos emissões de carbono. Mas apenas as empresas podem responder aos incentivos apresentados. Apenas as empresas podem desenvolver mercados e redes de comércio que disseminem conhecimento e idéias que levem a um mundo mais sustentável. Os comentários a seguir são uma modesta contribuição para o debate. Eles foram escritos sob a perspectiva empresarial, após quase 30 anos de trabalho dentro da BP. Eles foram formulados para provocar respostas e estimular o debate. Não tenho dúvidas que no meio empresarial – nos setores de energia e além, que existem mais e melhores idéias. É agora crucial iniciarmos o debate e reconhecer que as empresas são parte da sociedade e tem um papel crucial a desempenhar no seu futuro. Nosso planeta em aquecimento Há fortes evidências de que as mudanças climáticas já começaram. Vinte e três dos 24 anos mais quentes, desde que, em 1850, se começaram a registrar as temperaturas, ocorreram desde 1980. O nível dos oceanos está se elevando com rapidez sem precedentes: quase que duas vezes mais que a média histórica entre 1993 e 2003. Outros fatores, como a intensidade dos ciclones, a incidência de grandes enchentes, velocidade média dos ventos e variações nos ciclos de crescimento da 54 O Estado da Competitividade Responsável 2007 agricultura, tudo isso indica que o clima está mudando e nenhum país está imune. Um relatório recente do Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas) demonstra o aumento da certeza que a comunidade científica tem sobre os impactos da atividade humana sobre o clima. Concluíram – com 90% de confiança – que o aumento da temperatura global, medido desde meados do século XX, deve-se a emissões antropogênicas e que temperaturas extremas, ondas de calor e eventos de precipitações cada vez mais fortes se tornarão mais freqüentes. Existem incertezas científicas sobre os detalhes de como o aquecimento atmosférico irá se manifestar no nosso sistema meteorológico, mas um fato é certo: as emissões dos gases de efeito estufa continuam aumentando. Concentrações agregadas de dióxido de carbono – o gás do efeito estufa mais abundante – se elevaram em 1,9 partes por milhão (ppm) ao longo dos últimos 10 anos. Antes da revolução industrial o nível estava em 280 ppm, agora se encontra em 380 ppm. Não há certeza sobre qual é o nível máximo “seguro”, mas o consenso entre especialistas sugere algo em torno de 400 e 550 ppm. Alguns países começam a reagir. A Europa está incentivando mudanças através dos créditos de troca de carbono; o governo chinês prometeu diminuir o uso de energia por unidade de GDP em 20% até 2010; o Brasil está investindo em combustíveis com baixas emissões de carbono. O acordo do Conselho Europeu para uma redução de 20% nas emissões até 2020 é uma grata surpresa, mas os impactos são limitados diante das demandas crescentes. Acesso a fontes de energia baratas, confiáveis e acessíveis é uma necessidade para o desenvolvimento: a cada ano surgem 200 milhões de novos clientes da energia comercial. Hidrocarbonetos têm um papel chave no sistema energético. Eles são responsáveis por cerca de 80% do fornecimento atual e devem permanecer uma fonte de energia importante ainda por um bom tempo. Atualmente os mercados não levam em conta o custo real do carbono e investimentos em suprimentos de energia com baixas emissões de carbono ainda são limitados. A energia nuclear (6%), hidroelétrica (2%), biomassa e resíduos (10%) e outros tipos de energias renováveis, como a solar e a eólica (1%), combinadas chegam a pouco mais de 17% do suprimento global de energia; e as previsões da International Energy Agency (Agência Internacional de Energia) são de que, sem mudanças drásticas ou uma inovação tecnológica, as energias renováveis continuarão a atender somente 3 por cento da demanda energética global até 2030. As mudanças climáticas não são limitadas por continentes ou fronteiras internacionais, portanto uma reação internacional que inclua as principais economias, como os Estados Unidos, a Índia e a China se faz necessária. Tomar medidas contra as mudanças climáticas não é, na verdade, algo tão dispendioso financeiramente. Sir Nicolas Stern delineou, com precisão, que os custos na redução das emissões dos gases do efeito estufa para evitar os efeitos mais catastróficos da mudança climática podem se limitar a mais ou menos 1% do produto interno bruto global a cada ano: uma fração dos 5 a 20% que pode se perder dessa mesma medida por causa dos impactos das mudanças climáticas. Os piores efeitos da mudança climática podem ser limitados. A realidade, entretanto, é que nada está realmente acontecendo; as emissões continuam a aumentar. AccountAbility 55 Um programa para mudanças O dilema atual sobre o clima reflete a situação econômica no final do verão de 1940. Conforme as tropas alemãs completavam a sua ocupação da França, o Dr. Walter Funk, presidente do Reichsbank, propôs uma nova ordem econômica para o mundo pós-guerra – um plano para um mundo regido pela Alemanha baseado na primazia do Reichsmark. No ministério da fazenda britânico, John Maynard Keynes, foi solicitado a preparar uma declaração “expondo o caráter falacioso das propostas alemãs”. E Keynes o fez, mas caracteristicamente transformou o desafio em uma oportunidade e propôs uma união internacional das moedas. Quatro anos mais tarde suas idéias foram formalmente adotadas em Bretton Woods, o que levou à criação do conjunto de instituições pós-guerra que permitiram um período de crescimento sem igual ao longo do último meio século. Uma nova transformação institucional se faz necessária, com uma visão prática, para reagir às mudanças climáticas: um Fundo Internacional do Carbono (FIC). O FIC estabeleceria estruturas dentro das quais as forças do mercado pudessem encontrar as soluções mais eficientes. Ao longo do último quarto de século nos acostumamos a acreditar que as forças do mercado podem resolver a maioria dos problemas. Em relação às mudanças climáticas isso, patentemente, não se aplica: o mercado livre não possui mecanismos para avaliar o custo externo das emissões de carbono. O custo real do uso de hidrocarbonetos simplesmente não se reflete no que se paga. Uma moeda de valor internacional para o carbono é necessária, e está ao nosso alcance, para incentivar esse processo de transição. Mudanças não estão acontecendo em todos os setores, mesmo com empresas progressistas explorando novos produtos e serviços com baixas emissões de carbono, aumentando a eficiência de cadeias de abastecimento e desenvolvendo novos processos para aumentar a produtividade e reduzir os custos. Empresas novas e inovadoras como a Hydrogen Energy, uma companhia formada em conjunto pela Rio Tinto e pela BP, será capaz de tornar projetos descarbonizados algo comum em todo o mundo e promover segurança energética. Mas há retardatários; dar ao carbono um preço iria melhorar o desempenho de países e empresas em todo o mundo. O FIC seria também uma instituição que poderia afixar uma meta, baseada nas melhores evidências disponíveis sobre o quanto se devem reduzir as emissões para manter a concentração de carbono abaixo de um limite estipulado por um acordo; o limite “seguro”. Cotas podem ser alocadas pelo fundo e cada participante será responsável por alcançar a sua meta. As metas podem ser distribuídas por país, mas também por setores. Essa alocação é uma questão para negociações políticas, mas fórmulas podem ser desenvolvidas para refletir variações nas rendas per capita, níveis correntes de emissões e potencial no aprimoramento de eficiência ecológica. Metas e cotas agregadas seriam revisadas para melhor se adaptar aos progressos e avanços no conhecimento científico. Não seria o objetivo do FIC oferecer soluções pré-fabricadas para resolver as necessidades dos participantes individuais. Ao invés disso, a estrutura de ampla cobertura encorajaria respostas lideradas pelo mercado para capacitar países e setores a manterem os seus compromissos com o fundo, refletindo culturas e escolhas pessoais e ao mesmo tempo promovendo inovações verdadeiras. 56 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Para que um fundo seja eficiente há que ter ferramentas apropriadas para monitorar e verificar se os compromissos na redução de emissões estão sendo cumpridos; e a capacidade para financiar o desenvolvimento de tecnologias limpas e de baixas emissões através de empréstimos ou concessões para os países mais pobres. O elemento chave final para um Fundo Internacional do Carbono seria desenvolver um sistema global de trocas de emissões para assegurar que as reduções necessárias sejam alcançadas com o menor preço possível. Atualmente não existe um acordo internacional amplo relacionado às mudanças climáticas; e, pior ainda, o consenso político para ações mais severas ou mesmo uma base por onde se começar, também não foi elaborado. Houve várias declarações retumbantes, mas a cada dia que passa, nossas perspectivas pioram e o custo da mitigação das mudanças climáticas aumenta. O Fundo Internacional do Carbono oferece uma visão prática para direcionar os produtores e consumidores de energia para uma economia global com baixas emissões de carbono. O enfoque principal do fundo seria mitigar as emissões de carbono, mas fazê-lo de forma a promover o crescimento sustentável e o progresso econômico. Como no final de 1940, nos deparamos com um grande desafio que deve ser transformado em uma oportunidade. Quando Keynes propôs as suas idéias ambiciosas ao Banco da Inglaterra isso acarretou no desenvolvimento do International Monetary Fund (Fundo Monetário Internacional) e outras instituições que vêm supervisionando mais de meio século de crescimento sustentável. Com as mudanças climáticas nos deparamos com um desafio de proporções similares. Necessitamos de uma resposta global para uma questão importante: uma instituição que afira ao carbono um preço verdadeiro e que forneça uma estrutura prática para que as forças do mercado inovem. Precisamos de um Fundo Internacional do Carbono capaz de transformar mercados em todos os seus setores e em todos os continentes de forma a promover crescimento sustentável e progresso econômico. Sobre o autor: Nick Butler é Diretor do Cambridge Center for Energy Studies na Judge Business School. De 1977 a 2006 trabalhou em uma série de cargos econômicos e políticos na BP, e durante os últimos quatro anos serviu como Vice-presidente de grupo do Strategy and Policy Department. AccountAbility 57 58 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Questões-Chave da Competitividade Responsável AccountAbility 59 60 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Reconstruindo o comércio mundial e as regras econômicas Por Guy Ryder Completar a rodada de Doha, um processo que foi reduzido a uma mera troca de acessos de mercado, não será necessariamente uma grande conquista. O sucesso ou o fracasso das negociações comerciais de Doha será inconseqüente se os trabalhadores do mundo não partilharem dos benefícios trazidos pelos acessos melhorados aos mercados. Pior, seguindo as tendências atuais, os trabalhadores de muitos países provavelmente ficarão em maus lençóis. Estabelecer um processo de globalização que acarrete em empregos mais decentes, um sistema que corrija os desequilíbrios econômicos e permita que os países em desenvolvimento tenham espaço para crescer requerem um redirecionamento para regras comerciais mais justas. Fomentar a solidariedade global é essencial no avanço conjunto de objetivos globais e para apoiar prioridades de desenvolvimento nacionais. Um ambiente de políticas globais precisa nutrir um comércio justo, mais e melhores formas de amparo, cancelamento e abatimento de dívidas, respeito aos direitos trabalhistas e a incorporação de dimensões sociais relevantes às políticas financeiras internacionais. Esses fatores precisam ser aplicados através de estratégias de nível nacional, que promovam a inclusão social, políticas a favor dos pobres, a participação da sociedade civil na tomada de decisões e o reconhecimento dos direitos humanos. É preciso haver um fortalecimento global de instituições, como as Nações Unidas e a Organização Internacional do Trabalho, que construam os pilares sociais de um sistema multilateral e que gerem políticas coerentes. Esses pilares sociais, tanto globais quanto nacionais, devem se guiar pela Decent Work Agenda (Agenda do Trabalho Decente). Empregos decentes, que respeitem os direitos fundamentais dos trabalhadores, dão a homens e mulheres o poder de melhorar as suas condições de vida, participar de decisões que afetam suas vidas e seu sustento, melhoram as condições sociais e os distanciam da pobreza. Seguir o rumo do desenvolvimento sustentável e unir o desenvolvimento social, ambiental e econômico é de importância vital. Conquistar isso requer políticas internacionais coerentes, o fortalecimento da cooperação interinstitucional e instituir sinergias entre a implementação de políticas e a boa governança. Na configuração atual há impedimentos para esse ideal e mudanças significativas se fazem necessárias: por exemplo, não é passado o momento para que a OIT tenha autoridade para interceder nas maiores instituições de desenvolvimento, como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial, quando constata que as intervenções dessas instituições estão causando efeitos negativos sobre empregos decentes e sobre os direitos dos trabalhadores em geral? Muitos dos problemas sociais e ambientais mais prementes precisam ser enfrentados globalmente, com a noção de que provavelmente haverá custos em curto prazo, mas que esses custos apenas aumentarão com a postergação de ações cabíveis. Enfrentar interesses e hábitos arraigados, romper radicalmente com práticas e ortodoxias do passado requer uma mudança fundamental das nossas estruturas governamentais. O sistema internacional desempenhou mal, por vezes muito mal, a sua tarefa de exercer a governança globalizada. Essas falhas recorrentes refletem um constrangimento subjacente: os governos caíram na ladainha da crença generalizada de que a melhor coisa que podem fazer é permanecerem insignificantes – desenfrear as forças do mercado e sair do caminho. A China, o “milagre econômico”, é um exemplo de como o sistema está desempenhando mal. É um mito que todo mundo é um vencedor enquanto o país ruma AccountAbility 61 cambaleante de uma economia rural para uma casa de força manufatureira. O engodo não leva em conta os 700 milhões de pessoas sobrevivendo com menos de 2 dólares por dia, os 10.000 trabalhadores chineses que morrem todo ano por causa de envenenamento com asbestos em seus locais de trabalho, e os milhões que trabalham 60 – 70 horas por semana por menos que um salário mínimo do país. Na verdade a disparidade entre os melhores e os piores de vida na China está apenas aumentando, fazendo com que a maior parcela da população fique mais pobre e seja ainda mais explorada. A China está praticamente alcançando o sucesso através da escravidão, baseando a sua vantagem competitiva em baixos salários e na exploração da força de trabalho, que não tem sequer um meio representativo eficaz. A China pode estar cada vez mais integrada à economia global, mas para que essa integração seja bem sucedida, ela deve enfatizar os direitos básicos humanos, sociais e políticos. Infelizmente, a China não é a exceção. Ao redor do mundo, dos Estados Unidos ao Camboja, da Guatemala ao Zimbábue, os direitos fundamentais dos trabalhadores e dos sindicatos trabalhistas são violados a cada dia. Essas violações não são exclusivas de tarefas mal remuneradas; grupos tecnológicos de alto desempenho podem sofrer tantos problemas quanto os trabalhadores em uma pequena fábrica têxtil. Os modelos atuais de globalização permitem que os empregos se mudem de um país para o outro, mas, intoleravelmente, as companhias mudam as suas centrais de produção e as suas cadeias de abastecimento de forma a evitar sindicatos trabalhistas e lograr os direitos dos trabalhadores. Não se trata de vantagem comparativa; trata-se apenas de abuso. O fato de que nem tudo no mundo é “ganhaganha” ilustra a necessidade de governança, de instituições com poderes legais e de estruturas que incluam negociações coletivas com organizações trabalhistas independentes. Os sistemas atuais têm sido falhos. 2007 está acomodado em uma era de governos pífios e economias de livre mercado, mas questões sociais prementes necessitam de novas regulamentações internacionais e delimitações para transformar os mercados e todos que neles participam. Provavelmente uma das maiores questões seja a mudança no clima. A mudança climática já foi descrita como o maior fiasco do mercado da história e requer um esforço concentrado e coordenado da comunidade internacional. Uma reação bem sucedida irá envolver projetar e implementar as transformações mais fundamentais nos processos de produção e consumo da história moderna; uma transformação maciça que irá requerer a renúncia de tecnologias e hábitos existentes, mesmo que continuem a oferecer vantagens em curto prazo significativas. Pelo menos para alguns. O impacto das mudanças climáticas sobre os trabalhadores ao redor do mundo é frequentemente negligenciado. Um redirecionamento para a produção sustentável requer interação entre uniões empresariais e sindicais, para que as empresas absorvam o considerável conhecimento e a experiência dos líderes sindicais, e para construir um futuro onde a reestruturação de empreendimentos e de setores preserve os empregos e o meio ambiente. Coordenar essa mudança de rumo para um sistema de comércio eqüitativo, onde os direitos trabalhistas sejam preservados e a mudança climática seja encarada de forma adequada, requer um novo ambiente regulamentar, mas dois fatores complicam essas mudanças necessárias. Como podem os nossos líderes convencer 62 O Estado da Competitividade Responsável 2007 a opinião pública e conquistar o seu apoio ao arcar com os custos imediatamente, sabendo que, por fim, haverá compensações consideráveis, mas que provavelmente seus mandatos já terão terminado? Isso só será possível se a comunidade internacional mostrar claras evidências de que isso é parte de uma ação global, com os custos e os benefícios partilhados por todos. Outro fator é: as mudanças são atravancadas por custos e benefícios distribuídos de forma desequilibrada. Uma solução eficaz requer eqüidade e solidariedade. Não se trata apenas de uma questão ética. Sem a solidariedade, a massa crítica necessária para o consenso internacional sobre questões como a degradação do meio ambiente e o acesso a programas de saúde jamais será alcançada. A comunidade internacional precisa se espelhar em países, como as nações nórdicas, que estão fazendo da solidariedade algo real e eficaz. Esses países têm um currículo excelente com trabalhadores representados em conselhos corporativos, padrões elevados de saúde e segurança, altos orçamentos para proteção social e alta qualidade de treinamento para a mão de obra. Além disso, frequentemente esses são os países citados entre os mais competitivos do mundo. Um ambiente renovado de regulamentações pode se beneficiar com a experiência e com o sucesso desses países. Questões sociais prementes, como as mudanças climáticas e o crescimento da desigualdade, precisam ser abordadas através de ações internacionais coordenadas e respostas eficazes. É preciso que ocorra o desenvolvimento da “transição justa” para promover um ajuste responsável rumo a processos ambientais sólidos e a criação de novas oportunidades para empregos decentes. Esses desafios fazem dos nossos dias uma época de importância fundamental para o movimento internacional dos sindicatos. Em países e setores onde os sindicatos são fracos, os trabalhadores estão sujeitos a se tornarem vítimas dos desenvolvimentos econômicos globais. Ao longo dos próximos anos haverá amplo espaço para melhorias para que se alcance o respeito pelos direitos dos trabalhadores ao redor do mundo e para implementar iniciativas eficazes em todas as instituições internacionais. Completar a rodada de negociações de Doha não pode ser mensurado através de maior acesso ao mercado ou correntes de livre comércio. O sucesso da rodada de Doha só pode ser medido através do impacto sobre os trabalhadores do mundo todo. O desafio que enfrentamos é o de colocar o desenvolvimento econômico global em uma nova trajetória, uma que junte coesão social, empregos decentes, segurança ambiental e desenvolvimento econômico. Sobre o autor: Guy Ryder é o secretário geral da International Trade Union Confederation. Nascido em Liverpool, no Reino Unido, ele trabalhou no Departamento Internacional do British Trades Union Congress de 1981 a 1985. Logo após se tornou secretário da Industry Trade Section da FIET (atual Union Network International) em Genebra, até se juntar ao quadro da ICFTU (organização predecessora da ITUC) em 1988. Após trabalhar como diretor dessa organização de 1993 até 1998, ele se tornou diretor do Bureau of Workers’ Activities da Organização Internacional do Trabalho, até ser indicado como diretor do OIT Director General’s Office em 1999. Em 2002 ele se tornou Secretário Geral da ICFTU e foi eleito secretário geral da ITUC e do seu congresso inaugural em Viena, em 2006. AccountAbility 63 Transparência e Responsabilidade como Incentivos para o Crescimento Por Peter Eigen e Jonas Moberg É bastante óbvio que a corrupção é a antítese das práticas empresariais responsáveis e do crescimento econômico. A corrupção continua a ser um dos maiores desafios para o desenvolvimento internacional. A competitividade responsável – entendida como o estado em que as forças do mercado dominam de forma livre e justa – é dependente da ausência da corrupção. Um dos muitos males da corrupção é que ela distorce a competição. Apesar de uma crescente ênfase internacional na boa governança e a luta contra a praga da corrupção em todo o mundo, vemos, infelizmente, muito poucas evidências de que é um fenômeno em declínio. A transparência – abertura – é um fator crítico para se alcançar a boa governança e continua sendo uma das melhores formas de diminuir o risco da corrupção. A transparência é uma base protetora da competitividade responsável não apenas como um meio de combate a corrupção; o livre fluxo de informação também é um pré-requisito para o bom funcionamento dos mercados. Já se passaram mais de dez anos desde que a Transparency International (Transparência Internacional – TI) foi fundada, e cinco anos desde o lançamento da Extractive Industries Transparency Initiative (EITI) [Iniciativa para a Transparência das Indústrias de Extrativismo]. A TI se tornou um movimento global no combate à corrupção – com mais de 100 países associados – e a EITI se tornou uma iniciativa de governança com inúmeros investidores que lida com as necessidades especiais para a transparência nos lucros nos setores do óleo, gás e mineração. Este artigo analisa brevemente a busca da transparência como um incentivo para o crescimento. Estuda também como a TI e a EITI, cada uma a seu modo, são uma parte dos esforços globais para promover a transparência. O problema da corrupção Primeiro cabe lembrar alguns dos inúmeros impactos negativos da corrupção. A corrupção não implica somente em pequenos valores para a elite que obtém as suas vantagens ilegalmente. Também leva a: oportunidades perdidas de negócio, já que os pobres são os que mais sofrem com a corrupção; gastos, já que a competição justa é frequentemente distorcida; ineficácia, já que nem sempre são comprados os melhores produtos e serviços; abusos dos direitos humanos, pois frequentemente significa que os direitos e interesses da população local são violados; danos ambientais, porque a corrupção frequentemente contribui para o descaso com as considerações ambientais. Quer estejamos lutando contra a pobreza, combatendo doenças como o HIV/AIDS, lidando com as mudanças climáticas, promovendo os direitos humanos, ou simplesmente tentando criar mercados de bom funcionamento para incentivar o crescimento, a corrupção está sempre presente, atravancando nossos esforços. O impacto exato da corrupção é difícil de ser medido. Isto se deve, em parte, é claro, ao fato de que a idéia por trás de qualquer transação corrupta é que ela permaneça em segredo. No entanto, o que sabemos é que não se trata de um problema apenas 64 O Estado da Competitividade Responsável 2007 dos países em desenvolvimento. Países ricos também sofrem e, mais importante, continuamos a ver como companhias e personagens baseados em países ricos estão envolvidos na corrupção dos lugares mais pobres do mundo. Embora também seja um problema nos países mais abastados, sabemos que normalmente não é um problema tão grave para as economias mais ricas. Uma rápida analise do Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional revela um número de países com altos rendimentos per capita aglomerados próximo ao topo da lista, enquanto um bom número de países pobres se encontra no fim da lista. Algo sobre o qual não sabemos muito é o quanto os países ricos devem a sua fartura a relativa ausência da corrupção ou se a corrupção não consegue se estabelecer em países ricos. Embora seja difícil quantificar a extensão da corrupção, Daniel Kaufman – do Instituto do Banco Mundial e uma das maiores autoridades sobre a natureza da corrupção – sugeriu que em 2001 o mundo gastou US$1.000 bilhão com a corrupção, o equivalente a mais de 3% da economia mundial da época. Soluções gerais A lição aprendida depois de mais de uma década trabalhando no combate à corrupção é que é uma batalha que pode ser vencida. Percorremos um longo caminho desde que a TI foi fundada. Atualmente há uma percepção bastante diferente sobre os males da corrupção e sobre a importância da boa governança. Agora existe a Convenção da ONU contra a corrupção, que a torna uma atividade ilegal no mundo todo. A introdução do décimo princípio do Global Compact contra a corrupção, juntamente com alguns escândalos corporativos, contribuiu para que o setor privado tomasse consciência do seu papel no combate à corrupção. Não há uma solução única para acabar com a corrupção. É uma batalha que requer comprometimento por uma gama de diferentes instituições: governos precisam, acima de tudo, assegurar o cumprimento das leis; os indivíduos precisam seguir essas leis; instituições de desenvolvimento precisam promover a boa governança; e a mídia e a sociedade civil precisam conscientizar, e fornecer as ferramentas e o treinamento. Assim como o Índice de Percepção da Corrupção da TI foi, e continua sendo, de importância vital na conscientização sobre a corrupção, é gratificante ver como o Índice de Competitividade Responsável também está incentivando a conscientização e a compreensão de soluções responsáveis do mercado. Embora esses índices não sejam ciências exatas e seja preciso o uso de cautela ao interpretar os seus achados, eles são úteis para chamar a atenção para alguns dos maiores desafios da nossa sociedade. As soluções específicas “No World Summit (Fórum Mundial) sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, em 2002, a comunidade internacional admitiu que o acesso a serviços de energia é essencial para o desenvolvimento... Desde então, o preço cada vez mais alto do petróleo e o temor de escassez no futuro, junto com a conscientização sobre as mudanças climáticas, levaram a energia ao topo da nossa agenda”. Presidência Alemã da UE – Commission Joint Background Paper sobre cooperação energética entre a África e a Europa, Março de 20071 Foi também em Joanesburgo que a idéia da Extractive Industries Transparency Initiative (Iniciativa de Transparência das Indústrias Extrativistas) foi primeiro aborAccountAbility 65 dada pelo então Primeiro Ministro Tony Blair. Em termos de desenvolvimento de um novo modelo de governança, de investimento internacional e de um novo padrão mundial, foi uma grande transformação. É um exemplo de como parceiros aparentemente improváveis – grandes companhias de petróleo, gás e mineração, ONGs e governos – se uniram em um processo voluntário para lidar especificamente com a necessidade de transparência sobre os rendimentos dos setores petrolíferos, de mineração e de extração de gás. É um esforço em conjunto cujo objetivo é incentivar a transparência entre companhias privadas e os governos anfitriões, o que leva a maior responsabilidade dos mesmos governos em relação aos seus cidadãos. Nada mais natural e justo que os cidadãos de um país saibam como e quanto o seu governo arrecada com os seus recursos naturais. Aqui está um problema bastante comum: quando petróleo, gás e minerais são extraídos, os governos anfitriões são inundados por grandes rendimentos. Entretanto, frequentemente, essa riqueza não se transforma em desenvolvimento, prosperidade, boa governança e estabilidade política. Países como o Botswana e a Noruega, que conseguiram lidar com esses ganhos extraordinários de forma eficaz, infelizmente são as exceções e não a regra. Muitos outros países sofrem com o que alguns chamam de “a maldição dos recursos”, quando os benefícios da extração de recursos naturais não provam ser tão proveitosos quanto poderiam ser, ou mesmo trazem uma diminuição de prosperidade e de práticas democráticas. A EITI pode ser parte da solução para o desafio de assegurar que os lucros se tornem, na realidade, em investimentos em escolas e hospitais, e levem ao fortalecimento da boa governança. Alguns dos objetivos alcançados pela EITI até agora: Tornou-se verdadeiramente uma coalizão global. 22 países se comprometeram em implementar a EITI e a maioria dos grandes exploradores de petróleo, gás e mineração apóiam a iniciativa. Houve um consenso de princípios e critérios universais sobre o que a EITI representa. Desenvolveu-se um processo para assegurar a qualidade, chamado validação. Países que estão compromissados concordam em ter os seus processos de implementação validados independentemente a cada dois anos. Há uma extensiva organização de apoio técnico. Com a liderança do Banco Mundial existem agora recursos consideráveis disponíveis para apoiar a implementação internacional da EITI. Há uma estrutura de governança própria. Em uma conferência internacional em outubro de 2006, em Oslo, a iniciativa ganhou uma estrutura de governança própria. Foi criada a diretoria da EITI, com representantes dos países compromissados, países simpáticos, mais as companhias e a sociedade civil. E em setembro de 2007 a EITI irá inaugurar o seu próprio secretariado em Oslo. O conceito subjacente da EITI também é bastante simples: a EITI é um processo em que as companhias divulgam os seus gastos e os governos divulgam os seus ganhos. Trata-se apenas de tornar públicos os impostos, royalties e os investimentos da exploração de uma forma significativa. 66 O Estado da Competitividade Responsável 2007 “Enfatizamos a nossa determinação de combater a corrupção e a má administração de recursos públicos tanto na arrecadação de lucros quanto nos gastos. Como parte dos nossos contínuos esforços para fomentar a transparência em relação ao fluxo de pagamentos provenientes de recursos naturais, continuaremos a apoiar a boa governança e as iniciativas contra a corrupção, como a Extractive Industries Transparency Initiave (EITI).” Declaração de Heiligendamm no G8 Summit em junho de 2007 A EITI não é uma panacéia que por si só garantirá o desenvolvimento e a estabilidade democrática. Mas o compromisso com os princípios que sustentam a EITI é uma condição quase certa para assegurar a boa governança e a responsabilidade governamental. De acordo com a EITI da Nigéria, uma das nações compromissadas mais progressivas, a transparência nos rendimentos tem muitos benefícios. Eles citam os seguintes benefícios da implementação: A transparência é necessária para permitir o debate democrático; A transparência aumenta a responsabilidade do governo; A transparência também é exigida por instituições financeiras internacionais, investidores e banqueiros e, portanto, possibilita o acesso a capital e a investimentos. Se alguém aprendeu essas lições do modo mais difícil foi a Nigéria. Após cinco anos testando, desenvolvendo e negociando os termos, princípios e critérios da EITI, chegou-se a um consenso sobre a sua estrutura. Os fundamentos foram estabelecidos e estamos no processo de aumentar a nossa capacidade de trabalho junto aos nossos parceiros para assegurar a implementação. Com uma massa de 3,5 bilhões de pessoas que, mesmo em países ricos em recursos naturais, vivem na miséria, o desafio é enorme. Estamos, no entanto, convencidos que a EITI é um elemento crítico para enfrentar alguns dos maiores desafios que teremos que encarar juntos. O Economist chamou a EITI de uma coalizão no mínimo curiosa, referindo-se à natureza múltipla dos seus investidores, com governos, companhias petrolíferas como a ExxonMobil e ONGs engajadas, como a Global Witness, todos à mesma mesa. A razão para essa coalizão incomum é simples: as ONGs querem construir um mundo melhor, fazendo pressão sobre as companhias para que ajam de forma responsável. Junto com essas companhias, elas querem assegurar que os campos de exploração sejam justos e equilibrados, para que alguns grupos – mercenários além do alcance das atuais ONGs ou de outros grupos de pressão – não consigam mais simplesmente servir-se inescrupulosamente dos recursos naturais. Conclusão Nesse novo mundo globalizado vemos novos padrões de governança emergindo. Podemos discutir sobre os poderes relativos de nações estados, empreendimentos privados ou estatais, e organizações da sociedade civil. Enquanto debatemos sobre AccountAbility 67 legislação e normas e convenções internacionais, as soluções pragmáticas – com grupos de interesse variados se unindo em abordagens inovadoras de múltiplos investidores – não devem ser deixadas de lado. Precisamos oferecer bens públicos globais, como a diminuição da corrupção, algo que só pode ser alcançado através de uma abordagem em conjunto. O dilema da reação coletiva – ou o assim chamado, dilema do prisioneiro – nunca está distante do debate e da compreensão da corrupção. Obviamente uma companhia ou um indivíduo irá reconhecer que a corrupção é nociva para si mesmo e para todo o resto a longo prazo, mas ainda assim se sentirão tentados. É uma coisa, que a curto prazo, pode ser proveitosa individualmente. A EITI é um exemplo de uma solução coletiva para um problema que exige reação coletiva. A TI é uma solução coletiva mais abrangente para um problema coletivo também mais abrangente. Ambos demonstram as necessidade e as soluções para assegurar a competitividade responsável. Sobre os autores: O Prof. Dr. Peter Eigen é o fundador e diretor do Advisory Council da Transparência Internacional (TI), uma organização não governamental que promove a transparência e a responsabilidade no desenvolvimento internacional. Com a sede em Berlin, ela apóia associados em mais de 100 países. Em 2005, Eigen foi o diretor do International Advisory Group da Extractive Industries Transparency Initiative (EITI) e assumiu o cargo de diretor da EITI em 2006. Jonas Moberg foi indicado como o diretor do Secretariado da Extractive Industries Transparency Initiative (EITI) em abril de 2007. Ele foi consultor sênior do Global Compact da ONU entre 2005 e 2006. Antes disso foi o diretor do Corporate Policy and Practice no Prince of Wales International Business Leaders Forum (IBLF), em Londres. Durante o período de 1996-2002 Jonas trabalhou para o Ministério do Exterior da Suécia. Durante o seu mandato trabalhou no Ministério do Exterior em Estocolmo e exerceu o cargo em Moçambique e no Reino Unido. Notas finais 1http://www.energypartnership.eu/download/EU_PRES-COM_Background_Paper_ AFRICA-ENERGY-COOPERATION.pdf 68 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Better Work: Promovendo Padrões de Trabalho através da Competitividade Responsável Por Ros Harvey, Houria Sammari e Annemarie Meisling Pode um país em desenvolvimento competir no comércio oferecendo boas condições de trabalho ao invés de incentivar negócios que não respeitam os direitos dos trabalhadores? Uma tentativa de dar uma guinada radical está sendo lançada através da parceria entre a International Labour Organisation (ILO)[Organização Internacional do Trabalho] e a IFC (International Finace Corporation – Corporação Internacional de Finanças). A Better Work (Melhores Empregos) se fundamenta em lições adquiridas do Better Factories Cambodia Project (Projeto para Melhores Fábricas do Camboja) da ILO, que monitora e reporta sobre as condições de trabalho na indústria exportadora de vestuário do Camboja. Beneficiando-se com essa iniciativa a indústria do Camboja cresceu substancialmente, com o número de empregos subindo para 340.000, um aumento de 28% desde janeiro de 2005.1 Background A ILO e a IFC fundaram a Better Work em agosto de 2006, com o objetivo de melhorar o desempenho dos padrões nos locais de trabalho e a competitividade em cadeias de abastecimento globais. A parceria envolve o desenvolvimento tanto de ferramentas globais quanto de projetos focados em países. Ela oferece soluções sustentáveis que fomentam a cooperação entre governos, empregadores, organizações trabalhistas e compradores internacionais. Aprimorar os padrões de trabalho em cadeias de abastecimento globais é um fator importante nas estratégias de desenvolvimento de países menos favorecidos. Quando os direitos e a capacitação dos trabalhadores são protegidos, os benefícios do comércio são distribuídos igualmente. A Better Work apóia investimentos na implementação de padrões trabalhistas internacionais básicos e leis trabalhistas nacionais. Isso aprimora a habilidade desses empreendimentos de competir em mercados globais, onde muitos compradores exigem que os seus fornecedores estejam de acordo com os padrões trabalhistas internacionais e nacionais. Os desempenhos aprimorados dos padrões trabalhistas também ajudam os empreendedores a se tornarem mais competitivos através da produtividade maior e da melhor qualidade, e por meio disso revigoram o apoio dos fornecedores em prol dessas melhorias. A Better Work se baseia em experiências tanto da IFC quanto da ILO. A IFC é o braço do setor privado que financia o World Bank Group e recentemente criou o Performance Standards on Labour (Padrões de Desempenho no Trabalho) para as suas operações de investimento. A ILO é a agência das Nações Unidas especializada no trabalho. A Better Work combina a experiência da ILO em relação aos padrões trabalhistas e as suas aplicações dentro da estrutura do desenvolvimento do setor privado apoiado pela IFC. Ambas trazem a credibilidade e os seus talentos para o programa. Os Produtos da Better Work Projetos direcionados para países Projetos para países geralmente combinam análises independentes de empreendimentos com assessoria e serviços de treinamento para apoiar melhoramentos atraAccountAbility 69 vés da cooperação nos locais de trabalho. Isso é feito com esquemas apoiados por empresas que enfatizam o desenvolvimento de programas empresariais. Informações sobre as fábricas podem ser compartilhadas com os compradores através do Better Work Information Management System (IMS) [Sistema de Informação sobre Gerenciamento do Better Work]. Isso permite que os compradores reduzam os seus próprios sistemas de auditorias e redirecionem os seus recursos para a solução de problemas e para o desenvolvimento de soluções sustentáveis. A chave do sucesso do projeto é o apoio das organizações empregatícias e dos sindicatos relevantes, bem como do governo nacional e dos compradores internacionais. Os projetos da Better Work para países fornecem treinamento que consiste de instruções em salas de aula e também serviços de assessoria para empreendimentos. O programa foi desenvolvido para aumentar o impacto do treinamento através do apoio para a implementação no nível de cada empreendimento. Já que as habilidades dos treinadores e dos gerentes são fundamentais para o sucesso dessa iniciativa, a Better Work criou programas de treinamento certificados para orientadores e assessores empresariais, uma rede de suporte, uma comunidade de apoio prático interativa na internet para os participantes e um programa de desenvolvimento profissional para esses grupos alvo. Os projetos para países são formulados para serem sustentáveis e com uma escala significativa. Um dos objetivos do programa é estabelecer organizações independentes que continuarão funcionando depois que o financiamento do projeto seja concluído. Normalmente, dentro de cinco anos espera-se que os projetos se tornem auto-suficientes. Uma estratégia de sustentabilidade e um plano de financiamento estão incluídos no projeto desde o seu começo, o que inclui o pagamento de taxas por serviços de empreendimentos que participem do programa e a criação de capacitação de fornecedores de serviços locais – o programa global será, então, responsável pela continuidade do controle de qualidade a partir do momento que os projetos para países se tornem independentes, e na adaptação de novas gerações de produtos relevantes ao programa de cada país. Ferramentas Globais A Better Work é estruturada em torno de uma variedade de ferramentas práticas para auxiliarem os empreendimentos a melhorarem o desempenho dos seus padrões de trabalho e a sua competitividade. Isso inclui: o Information Management System (IMS) [Sistema de Gerenciamento de Informações] para captar informações sobre esforços de conformidade e prevenção, e que também pode ser adaptado para fornecer auto-análises, projetos nacionais e para a administração trabalhista de setores públicos; um portal global que disponibiliza informações em várias línguas, para vários países e diferentes setores, funcionando também como um suporte para comunidades virtuais práticas que arregimentam investidores para o desenvolvimento do programa; uma análise da conformidade em relação aos padrões trabalhistas internacionais básicos e às leis trabalhistas nacionais, que também permite que os empreendimentos tracem um perfil do impacto dos padrões trabalhistas melhorados sobre os indicadores de qualidade e produtividade; recursos de treinamento, incluindo um programa modular de 12 meses, seminários, kits de treinamento introdutórios, e treinamento de primeiro nível para supervisores; 70 O Estado da Competitividade Responsável 2007 ferramentas para aumentar a consciência dos trabalhadores sobre os seus direitos e responsabilidades que utilizam técnicas inovadoras, como seriados e histórias em quadrinhos; work books para mini projetos, focados em empreendimentos de pequeno e médio porte, para lidar com problemas costumeiros nesse tipo de investimento; modelos de políticas e procedimentos trabalhistas e guias de boas práticas. As ferramentas da Better Work são desenvolvidas para serem práticas e fáceis de usar, e para demonstrar os benefícios da cooperação entre empregadores e trabalhadores em prol de melhores condições de trabalho. Elas estarão disponíveis globalmente e adaptadas para o uso por diferentes setores como parte de projetos para países. Mais ferramentas serão desenvolvidas conforme o programa se aprimore. Uma pequena equipe global apóia o contínuo desenvolvimento de ferramentas globais e o desempenho da Better Work em cada país. Essa equipe é também responsável pelo gerenciamento dos relatórios de análises de impacto, administração de conhecimento, coordenação, engajamento dos investidores, controle de qualidade contínuo, mobilização de recursos, gerenciamento estratégico e assessoria política. Medindo o impacto A IFC e a ILO estão desenvolvendo uma estrutura abrangente de monitoração e avaliação para medir os impactos nas fábricas, na indústria, em países e no mundo. Cada projeto em cada país incluirá estudos sobre análises de impacto. Esperase que esses estudos fortaleçam o argumento empresarial para o aprimoramento dos padrões trabalhistas, o que é uma parte importante da estratégia abrangente do programa. O monitoramento contínuo também permitirá que os participantes transformem as ferramentas e as técnicas no decorrer do tempo. A avaliação irá analisar: comprometimento com os padrões trabalhistas; produtividade e desempenho; componentes econômicos, como emprego, investimentos estrangeiros diretos e exportações; desenvolvimento humano e social. A Better Work tem como objetivo trazer benefícios para uma gama de pessoas e organizações das seguintes maneiras: trabalhadores, através da melhor proteção dos seus direitos, condições de trabalho aprimoradas e oportunidades contínuas de emprego; indústria, através de meios bem fundamentados para demonstrar a compradores internacionais o comprometimento com os padrões trabalhistas, aumentar a credibilidade, reduzir a rotatividade de trabalhadores e melhorar a produtividade, aprimorar a competitividade, e reduzir o número de auditorias sociais; compradores internacionais, através de informações com credibilidade sobre o comprometimento com os padrões trabalhistas das fábricas fornecedoras, apoio para que esses fornecedores possam remediar possíveis falhas nessa área, risco reduzido de violações trabalhistas na cadeia de fornecimento que possam afetar o valor da marca, custos de auditoria reduzidos; e mais fornecedores competitivos com produtividade e qualidade melhor; AccountAbility 71 países, através do crescimento potencial de exportações e tarifas, aumento do número de pessoas empregadas, uma indústria mais competitiva, e benefícios provenientes de acordos comerciais que recompensem o bom desempenho dos padrões trabalhistas; consumidores de todo o mundo que acreditam que o que consomem deve ser produzido em locais com boas condições de trabalho. Próximos passos No primeiro estágio do programa, três projetos piloto para países estão sendo explorados no Vietnã, na Jordânia e no Lesoto. Após o lançamento de um ou mais desses projetos, a Better Work irá expandir para outros países. Projetos para países adaptam as ferramentas globais e desenvolvem outras que, por conseguinte, serão disponibilizadas para a comunidade global da Better Work. Dessa forma essas ferramentas serão adaptadas e desenvolvidas para diferentes setores e regiões. A escolha dos países e dos setores para projetos nacionais é muito importante. O programa pretende desenvolver projetos em setores como agronegócio, têxtil e de vestuário, manufaturas de pequeno porte, transporte, construção e eletrônicos. A IFC e a ILO já foram abordadas por vários países interessados em participar da Better Work e irão desenvolver estratégias regionais para assegurar a implementação eficaz. Um exemplo é a planejada expansão do agronegócio na África em 2008. Para mais informações, por favor, visite o site www.betterwork.org. Sobre os autores: Ros Harvey é a Global Programme Manager do programa global da Better Work. Ela assume esse cargo após três anos como administradora do projeto Factories Cambodia da ILO. Sob a sua liderança o projeto desenvolveu uma gama de ferramentas e abordagens inovadoras para monitorar e remediar dentro da indústria de exportação de vestuário. Ela vem trabalhando durante 25 anos com questões envolvendo trabalhismo, desenvolvimento e justiça social, sendo os últimos 15 anos em nível internacional. Houria Sammari é a atual encarregada da área de Social Responsibility do Environmental and Social Development Department da IFC. A área desenvolve produtos e abordagens inovadoras na área de Responsabilidade Social Corporativa para beneficiar clientes da IFC, bem como o setor privado em geral. Suas áreas de atividade incluem desenvolvimento comunitário local e engajamento de investidores, estratégias e relatórios de sustentabilidade, direitos humanos e comerciais, com ênfase no trabalhismo. Annemarie Meisling é uma Private Sector Development Specialist na IFC e IFC Program Coordinator do Better Work Program. Além disso, ela trabalha para o Foreign Investment Advisory Services (FIAS) – um serviço em conjunto do Banco Mundial e da IFC – lidando com a responsabilidade social corporativa no setor de informação e telecomunicação da China. 72 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Notas finais 1 Better Factories Cambodia Quarterly Newsletter 7, fevereiro de 2007, http://www. betterfactories.org/content/documents/1/Better%20Factories%20Newsletter%20 No.7%20(en).pdf, acessado em junho de 2007. AccountAbility 73 Igualdade de gênero para vantagem competitiva Por Laura Tyson A determinante mais importante da competitividade de um país é o talento humano – as habilidades, educação e produtividade de sua força de trabalho. A mulher é responsável por metade do potencial da base de talento no mundo. Logo, com o passar do tempo, a competitividade de uma nação depende, significativamente de, se e como ela educa e utiliza o seu talento feminino. Para aumentar sua competitividade e o potencial de desenvolvimento, cada país deveria lutar pela igualdade de gêneros – ou seja, dar às mulheres os mesmos direitos, responsabilidades e oportunidades que os homens. O que estão fazendo os diferentes países para atingir essas metas? O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) foi o precursor do estudo sobre competitividade nacional, e para responder a esta pergunta lançou o Global Gender Gap Report (Relatório Global Sobre a Disparidade Entre os Gêneros). O Relatório examina a disparidade entre homens e mulheres em 4 categorias: participação econômica e oportunidade, nível educacional, saúde e sobrevivência, e capacitação política em 115 países onde as informações de comparação estão disponíveis. Os resultados mostram que apesar da maioria dos países ter conseguido um progresso considerável quanto à eliminação da disparidade entre os gêneros no tocante à educação e saúde, apenas pouco mais de 50% da disparidade entre os gêneros com relação à participação econômica e oportunidade foi superada no mundo. E nenhum país, individualmente, teve êxito na eliminação completa dessa diferença. Mais dramático ainda, é o fato de que das mulheres dos 115 países pesquisados, apenas 15% possuem poder político como os homens, medidos pela média de mulheres que ocupam posições elevadas na presidência, ministério ou parlamento. Os países diferem, significativamente, entre si no tocante a disparidade entre os gêneros. Através de um espectro de capacitação política, indicadores legais e sociais, oportunidades educacionais e mulheres em posição de liderança, os países nórdicos têm boa pontuação e diminuíram a disparidade entre os gêneros em 80%. A Suécia é o país mais progressista no mundo, em parte devido ao igual número de homens e mulheres ocupando posições no parlamento e nos ministérios, uma longa história das mulheres nas urnas, alta taxa de participação da força de trabalho feminina e licença maternidade longa. Outros países europeus, como Alemanha, Reino Unido e Irlanda possuem boa pontuação, mas com baixos níveis de participação feminina em posições políticas de alto nível, e desempenho relativamente fraco na igualdade de gênero no tocante à participação econômica e oportunidades levam a França, a Grécia, a Itália e o Chipre a pontuarem entre 69 e 83. Os Estados Unidos ocupam o 22º lugar, abaixo de muitos países europeus e do Canadá, em grande parte porque as mulheres possuem, relativamente, poucas posições no alto escalão político dos Estados Unidos. A África do Sul é o país subsaariano com o melhor desempenho, mas a atuação da maioria dos outros países da região é fraca. O Chade, o Benin e a Mauritânia estão entre os países com posições mais baixas, e a rápida disseminação do HIV/ AIDS afetou, desfavoravelmente, a expectativa de vida saudável das mulheres em Botswana. Na Ásia, as Filipinas têm boa pontuação, mas os grandes e altamente populosos países como a Índia, o Bangladesh e o Irã estão entre os mais baixos da lista. A China tem um desempenho médio, devido principalmente, à relação desproporcional de gênero na natalidade. 74 O Estado da Competitividade Responsável 2007 A América Latina, como um todo, tem a menor disparidade do mundo entre os gêneros em relação à saúde e sobrevivência. O Brasil e o México, com as maiores populações na região, têm bom desempenho no indicador da saúde, mas o Brasil ocupa apenas a 67ª posição, devido ao pobre resultado no desempenho educacional e capacitação política, enquanto o México está significativamente atrasado em participação econômica e medidas de oportunidade. Apesar do seu nível de desenvolvimento, a Argentina também tem um fraco desempenho em relação a essas medidas. O Kuwait é o país Árabe que tem a pontuação mais alta no índice como um todo, mas está situado no quartil mais baixo. O Iêmen e a Arábia Saudita ocupam as duas últimas posições. Juntos, as posições mais baixas do mundo estão ocupadas pelos países árabes, e por alguns dos mais populosos países em desenvolvimento, como a Nigéria, a Índia e o Irã. No geral, a classificação da disparidade entre os gêneros demonstra uma forte correlação entre igualdade de gênero e o nível de desenvolvimento econômico medido pelo PIB per capita, e entre a igualdade de gênero e a competitividade nacional medida pelo Índice de Competitividade do Fórum Econômico Global (World Economic Forum´s Global Competitiveness Index) por país. A correlação não prova causalidade, mas esses resultados são consistentes em teoria e elevam a evidência de que dar poder à mulher significa usar o talento humano de uma nação de forma mais eficiente e implica em crescimento econômico mais rápido. Inúmeros estudos do Banco Mundial durante a década passada confirmaram que a redução das diferenças de gênero intensifica a produtividade e o crescimento econômico. De fato, o Banco acredita não haver investimento mais efetivo para acelerar o desenvolvimento econômico, que a redução das diferenças de gênero em alfabetização, curso primário e secundário. Uma pesquisa do Banco Mundial demonstra que investimento na educação de meninas reduz as taxas de fertilidade feminina, diminui as taxas de mortalidade infantil e reduz as taxas de mortalidade materna, aumenta os ganhos e as taxas de participação da mulher no campo de trabalho, e promove o investimento em educação para crianças. Todos esses resultados, não só melhoram a qualidade de vida, mas também promovem um crescimento econômico mais rápido. Os executivos do Banco, recentemente, adotaram um novo projeto de Igualdade Entre os Sexos Como Plano Econômico Inteligente (Gender Equality as Smart Economics Plan) para reduzir as barreiras à participação feminina que marginalizam as mulheres em empregos de baixos salários ou barrando-as totalmente da força de trabalho em vários países em desenvolvimento. Os benefícios econômicos ao reverter-se essa escala de barreiras podem ser substanciais. Por exemplo, um relatório recente da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas (United Nations Economic and Social Commissions) para os países da Ásia e do Pacífico verificou que as restrições a oportunidades de emprego para mulheres custam à região entre $42 e $46 bilhões por ano. Uma pesquisa feita pelo Banco Mundial demonstra que os custos de restrições similares também acarretaram custos altíssimos em todo o Oriente Médio, onde décadas de investimentos substanciais reduziram extraordinariamente a disparidade entre gêneros na educação e saúde, mas esses benefícios não diminuem a disparidade entre gêneros nas oportunidades econômicas, que continuam sendo as mais altas do mundo, com apenas um terço das mulheres participando da força de trabalho. Baseados nas fortes evidências das ligações entre o desenvolvimento econômico sustentável e a educação da mulher e oportunidades de emprego, a comunidade mundial adotou AccountAbility 75 a igualdade de gêneros como um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (Millennium Development Goals). Mas os benefícios de oportunidades econômicas maiores para mulheres, certamente, não estão limitados aos países em desenvolvimento. Por exemplo, de acordo com pesquisa recente do economista Kevin Daly, da Goldman Sachs, a redução da disparidade de emprego entre homens e mulheres foi um importante condutor do crescimento econômico europeu na última década. A redução dessas disparidades teria implicações imensas para as economias desenvolvidas, aumentando o PIB dos Estados Unidos para quase 9%; o PIB da zona européia para em torno de 13%, e o japonês para aproximadamente 16%. A redução das diferenças de gênero nesses países pode ter um papel principal na solução de problemas futuros causados pelo envelhecimento das populações e o peso dos aumentos de pensões. Além do mais, o resultado da pesquisa de Daly confirma que nos países em que as mulheres têm relativa facilidade de trabalhar e de ter filhos, tanto o emprego quanto a fertilidade da mulher tendem a ser mais altos. Nas últimas décadas, tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento fizeram progressos substanciais na educação da mulher e na melhoria dos resultados da saúde. Em muitos países desenvolvidos, as mulheres são agora responsáveis por mais da metade dos graduados nas universidades e muitos países desenvolvidos reduziram, enormemente, o abismo entre gêneros na alfabetização e na educação primária e secundária. Contudo, mesmo nos países desenvolvidos, cuja dependência do conhecimento especializado na indústria e da capacitação do trabalhador é grande e crescente, ainda há disparidades significativas quanto às oportunidades de trabalho para mulheres e quanto ao salário a elas pago, comparado ao dos homens, e essas diferenças são ainda maiores nos países em desenvolvimento. As mulheres são responsáveis pela metade da população do mundo e metade de seus profissionais. O custo de não capacitar e não usar essas profissionais é imenso. As mulheres percorreram um longo caminho, mas ainda há um percurso considerável pela frente. A boa notícia é que um crescente número de empresas, líderes políticos e sociais ao redor do mundo estão adotando a igualdade entre os sexos como prioridade política. Sobre o autor: Laura Tyson é professora de Administração de Empresas e Economia na Haas School of Business, Berkley, Universidade da Califórnia, e ex-Reitora da London Business School, e Reitora da Haas School of Business em Berkley, Universidade da Califórnia. A Dra. Tyson trabalhou para o Governo Clinton como Presidente do Conselho do The Council of Economic Advisers entre 1993 e 1995 e Presidente do National Economic Advisers entre 1995 e 1996. Publicou livros e artigos sobre competitividade industrial e comércio, e sobre economias da Europa Central e sua transição para o sistema de mercado. Ela também é membro dos seguintes Conselhos: Council on Foreign Relations, Brookings Institution, Institute of International Economics, Bruegel, Eastman Kodak Company, Morgan Stanley Company e AT&T. 76 O Estado da Competitividade Responsável 2007 A Sociedade Civil e a Competitividade Responsável Por Kumi Naidoo e Lorenzo Fiaromonti Em 1995 na primeira Assembléia Mundial da CIVICUS na cidade do México, David Rockefeller falou do papel vital que as empresas desempenham como a força motriz da sociedade na criação de novas riquezas. Rockefeller enfatizou que esse papel central das empresas na sociedade representava um forte vínculo com a sociedade civil. Muitos técnicos na sociedade civil, como também nas empresas e no governo, reconhecem o papel vital que atores do setor privado desempenham ao promover o desenvolvimento sustentável, e possuem visão clara de como essa relação pode ser fortalecida. A sociedade civil e as empresas interagem em níveis diferentes, particularmente, através de esquemas de filantropia corporativa e projetos corporativos de responsabilidade social. Nos últimos anos, as doações do setor privado contribuíram significativamente para aumentar e diversificar os recursos disponíveis para as organizações da sociedade civil. Contudo, essas relações não são de mão única. Iniciativas de responsabilidade social proporcionaram uma oportunidade adicional para os dois setores colaborarem e identificarem objetivos comuns. Algumas organizações da sociedade civil estão buscando mais ativamente fazer com que as empresas se responsabilizem pelos impactos sociais e ambientais por elas causados, através de lobbies, campanhas, boicotes e às vezes, processos. Ao mesmo tempo, o não-comprometimento tem sido também uma estratégia para certos grupos da sociedade civil e das empresas que estão convencidos de que uma relação muito próxima seria prejudicial aos seus próprios objetivos, e poderia afetar suas prestações de contas junto aos acionistas, sejam eles cidadãos ou investidores. Através dessa colaboração, analisamos os resultados do Índice da Sociedade Civil da CIVICUS (ISC)1 sob o foco da pesquisa conduzida para o Relatório de Competitividade Responsável. Nosso objetivo é compreender se um “terceiro setor” forte e comprometido dentro de um país é o fator principal para desenvolver um ambiente de competitividade responsável empresarial. Nas seções seguintes, nós discutimos a relação entre o impacto da sociedade civil e o estado de competitividade responsável e responsabilidade corporativa em vários países, da Europa Oriental à América Latina, à África subsaariana, ao Oriente Médio e à Ásia Pacífica. A Sociedade Civil e a Competitividade Responsável A Figura 1 mostra a distribuição de diversos países seguindo dois parâmetros, o Índex de Competitividade Responsável 2007 e a avaliação do ISC sobre o impacto da sociedade civil no setor privado (ajustado a porcentagens). AccountAbility 77 Índice de Competitividade Responsável Alemanha Hong Kong Chile Coréia do Sul Grécia Itália Indonésia Turquia Argentina Guatemala Vietnam Rússia Uganda China Nepal Índice da Sociedade Civil Figura 1: O impacto da sociedade civil no setor privado e competitividade responsável (%) Países selecionados classificados Como indica a Figura 1, a maioria dos países está perto da linha de regressão (R=0,30). Isto indica uma relação importante entre a responsabilidade competitiva e o impacto da sociedade civil nas políticas do setor privado. Apesar da maioria dos países se agruparem em torno da linha central, há alguns com distâncias significativas (como a curva também indica). Há importantes casos (como o Chile e Hong Kong) onde a competitividade responsável é comparativamente mais alta que o impacto da sociedade civil no setor privado. Ao mesmo tempo, a maior parte dos países na parte inferior do gráfico, (particularmente o Nepal, mas também a China e a Mongólia) mostram que a média dos níveis do impacto da sociedade civil no setor privado pode co-existir com pontuações comparativamente mais baixas no índice de competitividade responsável. Logo, compreender o tipo de relação existente entre a empresa e a sociedade civil é fundamental. Neste aspecto, o ISC apresenta uma perspectiva adicional porque coleta informação a respeito da forma como os investidores avaliam o compromisso entre a empresa e a sociedade civil nos seus próprios países (Figura 2). 78 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Figura 2: Relação Empresa-Sociedade Civil (percepções dos stakeholders da sociedade civil) Como aparece claramente nos dados, os ativistas da sociedade civil e os investidores percebem a qualidade do comprometimento empresa-sociedade civil como sendo consistentemente baixa. Em uma escala de 0 (geralmente uma relação contrária) a 3 (geralmente uma relação conducente), a média global para o comprometimento empresa-sociedade civil é 1,15, indicando uma “indiferença” total entre ambos atores. Apenas a Europa Ocidental parece ter transformado suas relações entre as empresas e a sociedade civil de fria para morna. Isso é parcialmente confirmado pelos estudos do ISC sobre responsabilidade social corporativa, que são baseados nas percepções dos ativistas da sociedade civil e na informação disponível às suas organizações (Figura 3). AccountAbility 79 Figura 3: Responsabilidade Social Corporativa na visão da sociedade civil A pontuação varia de 0 (as grandes empresas não demonstram preocupação com seus impactos sociais e ambientais) a 3 (as grandes empresas tomam medidas efetivas em relação a seus impactos sociais e ambientais) A Europa Ocidental é a região onde a relação empresa-sociedade civil é classificada como a mais alta pela sociedade civil, e também onde as práticas de responsabilidade social corporativa são vistas como as mais desenvolvidas pelas organizações da sociedade civil. Entretanto, de acordo com os estudos do ISC, isso ainda não criou condições para um total comprometimento mútuo. Por exemplo, na Escócia, que é um dos países com a maior estrutura regulamentária para a filantropia e o comprometimento total empresa-sociedade civil, o National Advisory Group (Grupo de Assessoria Nacional) do ISC reconheceu que, apesar de alguns ocasionais “bons exemplos de empresas privadas, geralmente parece que o setor privado não está interessado no que a sociedade civil faz”. O relatório ISC italiano também observa, ironicamente, que apesar das regulamentações terem mudado e de haver um interesse crescente das empresas pela sociedade civil, a maioria das empresas ainda opera de acordo com o velho ditado “o que é bom para uma empresa é bom para a sociedade”. Na Grécia, pesquisas de opinião revelam que oito de cada dez cidadãos contestam a sinceridade do interesse das empresas pela sociedade civil, e afirmam que as empresas privadas apóiam a sociedade civil apenas para melhorar sua imagem pública. Um traço comum, que parece atravessar regiões, é que grandes empresas (particularmente, multinacionais e empresas estrangeiras) estão mais habituadas à responsabilidade social corporativa, e são geralmente mais perspicazes ao envolver as organizações da sociedade civil nessas áreas. Contudo, isso nem sempre significa que seu comprometimento com a RSC seja tão forte. Como relatado no estudo da 80 O Estado da Competitividade Responsável 2007 ISC da Mongólia, “grandes empresas são hipócritas em relação à ética empresarial e não assumem responsabilidade pelos grandes males sociais e ambientais causados pelos efeitos de seus trabalhos”. Média América Latina África Subsaariana Europa Oriental Oriente Médio Ásia e Pacífico Europa Ocidental A sociedade civil não se compromete com as empresas apenas procurando que estas reforcem sua responsabilidade social e promovam a competitividade responsável, mas também, para que prestem contas à sociedade como um todo. Deste modo, por trás da relação empresa-sociedade civil que os investidores da sociedade civil percebem como uma relação marcada pela “indiferença”, e que também sentem que as políticas de responsabilidade social são pouco desenvolvidas na maioria dos países, vale a pena analisar o desempenho da sociedade civil com relação à exigência da responsabilidade corporativa e competitividade responsável. Mais uma vez, a Europa Ocidental é a região em que a sociedade civil é mais forte em manter as empresas privadas responsáveis (ver Figura 4). Figura 4: A promoção da responsabilidade corporativa pela sociedade civil A pontuação varia de 0 (nenhuma atividade relevante da sociedade civil na responsabilidade corporativa) a 3 (a sociedade civil desempenha um papel importante na responsabilidade corporativa) De acordo com a experiência da CIVICUS, esses resultados mostram a importância de fatores contextuais na competência da sociedade civil de cobrar resultados das empresas. Por exemplo, em muitos países em desenvolvimento, os regulamentos legais em termos de conflito de interesses não são significativamente avançados. Consequentemente, as elites políticas têm um número significativo de ações de grandes empresas. Esta conexão próxima entre política e empresas permite um tratamento privilegiado a muitas grandes empresas (por vezes, uma espécie de “imunidade”), o que torna bastante difícil para as organizações da sociedade civil AccountAbility 81 cobrar uma prestação de contas. Além do mais, em países em que a sociedade civil é reprimida ou que as condições sócio-econômicas são duras, a responsabilidade corporativa e a competitividade responsável não são prioridades para as organizações da sociedade civil. Como se constata na maioria dos relatórios ISC, quando as campanhas de responsabilidade corporativa não se direcionam diretamente às empresas, elas têm dois outros alvos em potencial: o governo ou os cidadãos. Em situações em que as condições políticas e legais levem as necessidades de responsabilidade a serem apresentadas diante do judiciário (por exemplo, através de ações de classe), várias organizações da sociedade civil, como associações de consumidores, grupos ambientais e sindicatos, na maioria das vezes recorrem a instrumentos legais para impactar as políticas corporativas. Contudo, onde as estruturas legais não oferecem possibilidades para a sociedade civil manter as empresas responsáveis, as organizações da sociedade civil precisam contar com iniciativas da população, tais como boicotes e greves, se elas almejam exercer algum impacto nas empresas. Contudo, quando a participação do cidadão é limitada e as condições sócio-econômicas não permitem que a maioria das pessoas participe das campanhas, então, a responsabilidade corporativa pela mobilização de massa só é possível quando as questões em jogo são diretamente relevantes à vida das pessoas (por exemplo, os protestos anti-privatização na Bolívia, as campanhas contra os abusos nas empresas de mineração em Gana). Conclusão Essa análise desafia o princípio de uma relação inversa entre o financiamento de organizações da sociedade civil pelo setor privado e a capacidade das organizações da sociedade civil em promover responsabilidade corporativa e competitividade responsável. Na realidade, os dados do ISC mostram que nos países em que o diálogo empresa-sociedade civil e responsabilidade social corporativa são as mais baixas, são também aqueles na qual a sociedade civil é a menos interessada ou apta a manter as empresas responsáveis. Contudo, países que desfrutam ambientes legais favoráveis, participação significativa dos cidadãos e melhores contextos sócio-econômicos, são aqueles que têm melhores resultados em termos de comprometimento empresa-sociedade civil e responsabilidade corporativa. Tanto os dados como a experiência prática parecem indicar que onde a sociedade civil é mais desenvolvida e as organizações da sociedade civil desempenham papéis que vão dos serviços diretos à advocacia, elas podem ser mais eficazes em tornar as empresas responsáveis. Tal resultado, provavelmente, é devido ao fato de que nos países em que o ativismo da sociedade civil é mantido por um ambiente legal e social favorável, são também aqueles em que as empresas se tornaram mais abertas aos comprometimentos de grupos setoriais e às necessidades da responsabilidade social. Isto confirma que os “impulsionadores políticos” e os “impulsionadores sociais”, conforme indicado no Índex de Competitividade Responsável, são também os principais fatores que afetam a capacidade e a vontade da sociedade civil e das empresas de promover comprometimentos mútuos e responsabilidade. Por fim, deve ser observado que o sucesso da responsabilidade corporativa depende não só da capacidade da sociedade civil de interagir com as empresas e desenvolver alguma forma de conexão com atores do setor privado que pensem da mesma forma, mas também com os recursos e habilidades da sociedade civil. Nem 82 O Estado da Competitividade Responsável 2007 todas as organizações da sociedade civil têm recursos (não só financeiros, mas também tecnológicos) e especialistas para conduzir investigações sobre o comportamento das corporações. Em nossa opinião, uma recomendação importante seria institucionalizar fóruns para comprometimentos verdadeiros e considerações conjuntas de interesses comuns das empresas e da sociedade civil. Infelizmente, a maioria dos modelos que vemos serem desenvolvidos em vários países é ainda muito dependente das habilidades de liderança e do comprometimento das pessoas envolvidas. Sobre os autores: Kumi Naidoo é Secretário Geral da CIVICUS desde 1998. Foi nomeado pelo Secretário Geral da ONU para o Panel of Eminent Persons on UN Civil Society Relations e é membro do conselho consultivo do Fundo para a Democracia das Nações Unidas (UNDEF), do Fundo de Desenvolvimento para a Mulher das Nações Unidas (UNIFEM) e para a Clinton Global Initiative. Ele é membro do conselho da Global Reporting Initiative e presidente do Partnership for Transparency Fund, que apóia ações anticorrupção da sociedade civil. Lorenzo Fioramonti é Pesquisador Sênior da CIVICUS: World Alliance for Citizen Participation e editor científico da CIVICUS Global Survey do State of Civil Society. Comparative Perspectives (Kumarian Press). É membro do conselho consultivo para o Business Guide para associações com ONGs e com a ONU, que é uma iniciativa promovida pela Dalberg Global Development Advisors e pela UN Global Compact. Notas Finais 1 O ISC é um projeto de pesquisa participativa que avalia o estado da sociedade civil baseado em informações existentes, pesquisas de opinião, revistas e percepções de ativistas da sociedade civil. Durante 2003-2006, o ISC foi implementado em 54 países. Para mais informações, favor acessar www.civicus.org 2 Isso é uma média global, que esconde o fato de que em alguns países a relação pode ser mais desenvolvida, enquanto que em outros pode ser de total hostilidade e desconfiança. AccountAbility 83 A Fé pode Incentivar a Competitividade? Por Ambreen Waheed e Faiz Shah “Muitos dos fatores resultantes da lei islâmica são, na verdade, boas estratégias de investimento de longo prazo” Davis Kathman, Analista, Morningstar A competitividade responsável é algo realmente novo? O termo “Competitividade Responsável” eleva o discurso sobre a responsabilidade social corporativa (RSC) para além dos casos empresariais individuais para melhor tratamento, tanto de pessoas quanto do meio ambiente, em direção a uma compreensão de como modelos empresariais e mercados podem capacitar e recompensar a prática empresarial responsável. Na verdade, uma razão possível do por que o mundo não tenha se alinhado com os pregadores dos modelos de RSC, mesmo após as promessas iniciais, é porque, dentro dos paradigmas econômicos predominantes, as empresas simplesmente não encontram justificativa econômica suficiente para investir nos padrões de RSC. Entretanto, a responsabilidade nos negócios não é algo novo. Confiança, eqüidade e integridade sempre foram peças fundamentais no sucesso de empresas individuais. Da mesma forma, as sociedades sempre buscaram meios de imbuir valores como eqüidade, segurança, proteção aos mais fracos e guiar indivíduos e negócios para papéis, regras e relacionamentos sancionados pela sociedade. Ao tentarmos desenvolver novos modelos para promover a competitividade responsável dentro de sociedades e economias, e através de divisas globais, torna-se útil examinar algumas das estruturas de valores mais antigas, aquelas incluídas e transmitidas por meio da religião. Esse artigo analisa especificamente a forma como o Islã procurou conservar o bem social dentro do paradigma da atividade econômica. Uma das injunções fundamentais do Corão que sublinha os princípios islâmicos nos negócios é a completa proibição da riba, comumente traduzido como “usura”, mas provavelmente melhor definido como sendo um relacionamento financeiro de exploração em que uma das partes é compelida a assumir todos os riscos do empreendimento, enquanto a outra simplesmente usufrui dos lucros. Essa postura firme contra riscos desiguais emana do conceito de Justiça, ou Adl, que é a raiz da eqüidade social no Islã. Uma análise das tendências emergentes de investimentos socialmente responsáveis mostra que, dentro do segmento de investimentos baseados em valores os produtos desenvolvidos em conformidade com os preceitos islâmicos estão ganhando popularidade. Além disso, no mercado financeiro varejista de moradias e produtos de consumo, aqueles que exercem princípios islâmicos de eqüidade de risco estão tendo desempenho competitivo. Provavelmente ainda é muito cedo para dizer se o mundo das finanças e dos negócios está trilhando um novo caminho. Entretanto, com eqüidade e abertura se tornando questões centrais referentes à ética nos negócios, é bem provável que o mundo comece a perceber cada vez mais alternativas baseadas na fé e em valores. 84 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Uma perspectiva islâmica sobre a Competitividade Responsável? “O comércio é considerado uma das vocações mais indicadas para um muçulmano, por que é visto como a atividade com mais capacidade para o bem social e para causar impactos econômicos abrangentes”. Os ensinamentos islâmicos procuram encorajar o espírito empreendedor, mas definem limites morais e sociais muito claros para prevenir a exploração. A responsabilidade social é fundamental para os princípios empresariais islâmicos, com responsabilidades bem definidas para contratos, que garantem qualidade, asseguram transações éticas e trazem responsabilidade segura. O Corão é inequívoco em sua condenação às transações comerciais injustas. Regras que governam os princípios nos negócios enfatizam o conceito da Adl, onde um empreendimento é encorajado a buscar lucros, mas exige-se uma conduta honesta (Amaanah), para o bem da sociedade (Ihsaan) e em prol do interesse público (Istislaah). Princípios suplementares incluem os investimentos em causas sociais (Infaaq), em questões da fé (Tawakkal) e na moderação (Iqtisaad). A conformidade com princípios sociais justos torna os lucros “preferíveis”, ou “favoráveis” (Hallal), enquanto a ganância (Hirs), o entesouramento (Ihtikaar), a exploração (Iktinaaz), a injustiça (Zulm), ou o desperdício (Israaf) apresentam a ameaça de tornar os lucros “proibidos” (Haraam). A troca justa entre os mercados é encorajada e a produtividade é considerada uma virtude. Através da obrigação de compartilhar riquezas (Zakaat), os empreendimentos, via de regra, vão além dos lucros e partilham com os menos afortunados. Na verdade, esses valores também são discerníveis, com ênfases variadas, na maioria dos códigos morais. Entretanto, para o Islã, talvez de forma única, seja a forma como o risco é encarado através do prisma das normas sociais. Um negócio conduzido pelas normas islâmicas não permite um contrato de risco injusto, e opera com o principio do compartilhamento de risco em cada nível da corrente de negócios. A razão disso é que ao reconhecer os riscos como algo inerente a todas as transações de negócios e tomando as devidas providências, cada parte envolvida, do produtor ao negociante ao consumidor, assegura outros negócios. O resultado é um ambiente de negócios menos explorador, mais eqüidade e prudência nas transações e o desencorajamento do oportunismo especulativo. “Uma mão improdutiva é como uma mão suja. O caminho para as realizações econômicas é através do trabalho árduo e da assunção de riscos”. Maomé Essa visão holística e social dos negócios é diferente de outros modelos econômicos ao estabelecer a Adl e a eqüidade na sociedade tanto como um incentivo para os negócios quanto para lucrar de forma Halaal. Portanto, a atividade econômica em uma sociedade islâmica ideal é imbuída de valores sociais, onde os negócios devem permanecer firmemente dentro do que é Halaal e evitar o que é Haraam. Assim, as regras econômicas islâmicas se posicionam claramente sobre a necessidade da sociedade de reconhecer o bem social e encorajar a competitividade responsável. Obviamente sistemas baseados na fé ainda têm uma gratificação a mais, e uma fonte de responsabilidade extra que parece ser impossível em sistemas seAccountAbility 85 culares de lucros e regulamentação de negócios. Para os que crêem a “obrigação econômica” perante lucros socialmente responsáveis ou Halaal é aumentada pela promessa do julgamento e da recompensa na vida após a morte. A realidade: será que funciona? Índice de Competitividade do Crescimento Os 57 países membros da Organisation of Islamic Conference (OIC) (Organização da Conferência Islâmica) são o lar de 20% da população mundial. Entre si eles fornecem 70% das fontes de energia da terra, e 40% dos materiais brutos necessários para a indústria global. Entretanto, o Produto Interno Bruto coletivo de todos os membros da OIC é menos de 5% do PIB mundial, e o seu comércio mútuo é de apenas 7% do volume internacional de negócios. Não é surpresa, portanto, que 31 dos 57 (54%) são classificados como países com o “menor desenvolvimento e de baixa renda”. O que aparenta ser comum entre esses países, além da falha generalizada no equilíbrio dos recursos naturais e humanos significativos na obtenção de vantagem competitiva em um ambiente econômico globalizado. E a distância tende a aumentar entre os estados capazes de competir em uma economia global e os que não o são. Índice de Competitividade Responsável Figura 1: O Desempenho de Estados Islâmicos em Competitividade Responsável e Competitividade de Crescimento Fonte: Índice de Competitividade de Crescimento, Fórum Econômico Mundial, 06/07 Entretanto, é um paradoxo interessante notar que, dos quatro países identificados em um relatório Grant Thornton de 2007 como tendo o potencial para o maior impacto na economia global, três deles são membros da OIC. O que a Indonésia, a Malásia e o Paquistão têm em comum que os coloca como os favoritos mundiais para oportunidades de negócios enquanto os seus iguais na OIC ficam para trás? A resposta provavelmente está no fato de que esses países escolheram permitir que meios de negócios paralelos baseados em religião assumissem papéis no mercado 86 O Estado da Competitividade Responsável 2007 atual. Sejam as micro-finanças na Indonésia, o Islamic Banking na Malásia ou uma combinação de ambos no Paquistão, parece que essas abordagens, até agora experimentais, criaram oportunidades de negócios em larga escala em nichos de rápida expansão. Na vanguarda desse modelo alternativo está a indústria de serviços financeiros livres de riba que, estima-se, está crescendo 15-20% ao ano de um total de recursos de $166 bilhões em 1995. E há evidências de que fornecedores de serviços financeiros consagrados no ocidente estão desenvolvendo produtos livres de riba por causa do potencial de expansão mesmo entre clientes não muçulmanos. “As finanças islâmicas, se inseridas em um novo paradigma, podem se tornar uma alternativa viável para a crise sócio-econômica vivida pelo paradigma do ocidente”. Al Harran, 1996 No caso do Paquistão, apesar da fraca competitividade da indústria têxtil do país, Investimentos Estrangeiros Diretos em outros setores estão aumentando, mercados de ações estão em franca expansão e novos produtos, como banking e seguros livres de juros estão crescendo mais rápido do que competidores convencionais. O que é digno de nota nesse exemplo é que, exceto as privatizações de monopólios do estado, esse crescimento é, em grande parte, devido à crescente demanda por lucros livres de riba pela classe média em expansão. Enquanto o Paquistão e outras sociedades islâmicas estão longe de verdadeiramente estabelecer a Adl, o que alguns deles conseguiram demonstrar é que os seus valores e a sua busca por lucros são compatíveis. Em nível geral isso pode sugerir que valores baseados na fé, nesse caso injunções islâmicas, podem ser aliados úteis no desenvolvimento de um modelo viável de responsabilidade econômica relevante para os paradigmas atuais. E quem sabe, dada a crescente demanda, construir sobre esses sucessos pode nos levar a uma nova era de competitividade responsável entre países que seguem os credos islâmicos, aumentando, assim, oportunidades econômicas dentro, entre e para além dos países muçulmanos. Sobre os autores: Ambreen Waheed é fundadora e Diretora Executiva da Responsible Business Initiative, a única organização setorial de cidadãos dedicada à responsabilidade corporativa no Paquistão. Ela faz parte do Board Nominating Committee da Global Reporting Initiative, do Steering Board do Global Compact das Nações Unidas e da South Asia Alliance for Responsible Business. Ela foi um membro fundador do primeiro relatório Corporate Social Responsibility Status do Paquistão. Faiz Shah lidera uma organização de desenvolvimento institucional no Paquistão, e assessora governos, companhias, ONGs e programas da ONU sobre administração de mudanças e reorganização institucional. Atualmente ele atua como membro convidado da Punjab University, deu palestras na AIT Bangkok, na Michigan Business School e na Wharton School, treinou governos e líderes comunitários locais no Camboja, Nepal, Paquistão e no Siri Lanka, e supervisiona mais de 300 projetos de serviços em comunidades. Ele é o líder da maior companhia de bolas esportivas do Paquistão e é o co-fundador da Responsible Business Initiative. AccountAbility 87 Construindo Vantagens Competitivas por meio de Práticas de Negócios Responsáveis Por Jean-Philippe Courtois A competitividade no século XXI está cada vez mais atuante no papel que a tecnologia e a inovação desempenham na economia e na sociedade atual. A Information and Communication Technology (ICT) (Tecnologia de Informação e Comunicação) está se tornando fundamental em áreas tão abrangentes quanto saúde, educação, turismo, manufaturas, no setor de serviços e também para o desenvolvimento internacional. Ao redor do mundo governos e companhias privadas precisam trabalhar em conjunto, fundamentando-se em suas habilidades específicas, para criar sinergias na provisão de produtos e serviços de qualidade em diversas áreas. Imbuir práticas comerciais responsáveis no cerne das nossas estratégias empresariais é fundamental para o sucesso sustentável da Microsoft. De forma global estamos fornecendo produtos e serviços que ajudam a criar inclusão social, fomentam a inovação e o desenvolvimento econômico local, e promovem a proteção ambiental ao redor do mundo. Cada um desses três pilares de desenvolvimento sustentável apresenta desafios para soluções inovadoras, mas também grandes oportunidades. A Microsoft está adotando estratégias de competitividade responsável em suas estratégias e processos empresariais. Na prática isso quer dizer que estamos fomentando excessos positivos em várias áreas de atuação. Para ilustrar essa prática, gostaria de apresentar três exemplos, entre as muitas atividades que estamos desenvolvendo, como parte da nossa iniciativa global Unlimited Potential (Potencial Ilimitado): na Europa estamos trabalhando com parcerias para fomentar o capital humano e as habilidades para que sejam absorvidos no mercado de trabalho por toda a África estamos fornecendo oportunidades para que regiões e países se beneficiem com tecnologia de forma global estamos trazendo soluções de software inovadoras para a compreensão do maior desafio de todos: a mudança climática Fomentando a empregabilidade na Europa Cerca de 18 milhões de pessoas na Europa estão desempregadas atualmente e não têm as habilidades básicas necessárias de ICT para participarem efetivamente na economia de conhecimento do século XXI. A ICT é uma chave para a empregabilidade e para a criação de empregos na Europa e estamos capacitando pessoas para que consigam trabalho e se mantenham empregadas, para melhorias na produtividade nos locais de trabalho e, por fim, incrementar a competitividade da Europa. Estamos trabalhando para treinar a força de trabalho européia, especialmente os que se encontram longe do mercado de trabalho – os desempregados, os imigrantes, jovens com níveis de educação baixos e trabalhadores de indústrias tradicionais que estão sob a pressão da competição global. Ao longo desses últimos anos, construímos uma rede de parcerias e investimentos que já forneceram treinamento certificado em habilidades de TI para mais de meio milhão de professores europeus através do programa Microsoft IT Academy, e mais meio milhão de pessoas se graduam anualmente em nossas academias de ICT. Alcançamos mais de 3 milhões de aprendizes em centros tecnológicos comunitários e apoiamos mais de 3 milhões 88 O Estado da Competitividade Responsável 2007 de estudantes, dando-lhes acesso a softwares e currículos para equipá-los com as habilidades necessárias para o mercado de trabalho. Nosso foco tem sido para os desempregados, aqueles que abandonaram a educação formal, mas também trabalhadores com mais de 50 anos em indústrias em declínio – que podem se beneficiar de novas habilidades que aumentem a sua autoconfiança, estendam o seu tempo de serviço e que os mantenham incluídos na comunidade digital quando se aposentarem. Pesquisas de mercado mostram que a habilidade tecnológica é um elemento chave para a empregabilidade e a inclusão na Europa. Conhecimentos nessa área são cada vez mais o passe de entrada para o mercado de trabalho e para melhores empregos. Para nós é muito claro que, como companhia, temos um papel fundamental em ajudar a Europa a alcançar maior empregabilidade da sua força de trabalho. Mas mesmo para uma companhia do tamanho da Microsoft precisamos de alianças e sólidas parcerias na cadeia de valores empregatícios para lidar com o desafio de “mais e melhores empregos”. É por isso que somos membros fundadores da European Alliance on Skills for Employability (Aliança Européia sobre Habilidades para a Empregabilidade). Através dessa parceria com a Cisco Systems Inc, a Randstad, a State Street Corp, a Exin, a ECDL Foundation, a CompTIA e outros, almejamos fornecer a 20 milhões de europeus tecnologia, conteúdo, certificação e treinamento em tecnologia informática e outras habilidades até 2010. A European Alliance on Skills for Employability é crucial para permitir que cidadãos europeus alcancem o seu potencial e adquiram as habilidades de ICT básicas para que possam participar efetivamente da economia de conhecimento do século XXI. Até a presente data a Aliança vem alcançando resultados muito positivos e está oferecendo de forma eficaz novas oportunidades e empregos na Bélgica, em Luxemburgo, na Alemanha e na Escócia. Um bom exemplo de como estamos comprometidos com esse objetivo vem de Portugal. Através do nosso programa Community Technology Skills (Habilidades Tecnológicas Comunitárias), estamos trabalhando com uma associação do comércio têxtil para ajudá-los a manter os seus trabalhadores e outros grupos da mesma indústria que foram demitidos devido à realocação dos seus empregos para países com mão de obra mais barata. O setor emprega cerca de 20.000 trabalhadores, muitos dos quais são mais velhos, sem treinamento e que seriam forçados a se aposentarem com pouca segurança financeira. Ao nos associarmos com o Technological Centre for the Textile Clothing Industries of Portugal (Centro Tecnológico para a Indústria Vestuária Têxtil de Portugal), ou CITEVE, estamos trabalhando para aumentar os prospectos de empregabilidade de longo prazo através do fomento de novas habilidades e da capacitação para a obtenção de qualificações internacionalmente reconhecidas. Recentemente nos associamos com outros líderes da indústria para lançar o Industry Leadership Board (Conselho de Liderança da indústria). Esse conselho trabalhará em cooperação com instituições européias para implementar a estratégia de longo prazo da União Européia sobre a competitividade , o desenvolvimento e a empregabilidade relacionadas às habilidades tecnológicas. Criando vantagens competitivas na África O acesso à ICT é, frequentemente, menor em países em desenvolvimento, e regiões correm o risco de serem ainda mais marginalizadas já que o acesso à AccountAbility 89 informação e ao conhecimento é cada vez mais a fonte principal de vantagens competitivas. A Microsoft está trabalhando para capacitar governos e organizações na África na aplicação da tecnologia para problemas práticos, procurando assim aumentar a sua competitividade no mercado global. Acreditamos que a ICT oferece oportunidades especiais para estimular o crescimento e para aumentar a inovação em qualquer lugar, possibilitando, assim, que indivíduos e instituições interajam com maior produtividade com a economia global e com o mundo em geral. Embora não estejamos sugerindo que a tecnologia por si só fomente o desenvolvimento, ela com certeza deve fazer parte de uma mistura de mudanças produtivas e maior capacidade de sustento. Recursos devem ser igualados pela desenvoltura – e combinados a outras iniciativas de líderes locais, educadores e empresários para alcançar as metas de desenvolvimento locais e globais. Através de parcerias estratégicas com governos nós procuramos fortalecer a economia do conhecimento. Isso irá implicar no aumento da utilização da ICT na administração pública, treinamento de servidores públicos na prática da utilização da tecnologia e difundir a ICT nas comunidades educativas e comerciais. Essa abordagem do desenvolvimento econômico através da parceria é uma forma eficaz de capacitar países em desenvolvimento para que possam tirar proveito das oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias. No EU Africa Business Forum, em junho de 2007, demonstramos três programas colaborativos que lidam com esses objetivos cruciais: Fomentar inovações locais em relação à saúde: temos por objetivo usar a nossa informação e o nosso conhecimento sobre tecnologia de comunicação para enfrentar pandemias e necessidades ainda mais abrangentes de monitoração de saúde pública por todo o continente. No EU Africa Business Forum, em junho de 2007, comunicamos que, junto com a Nokia, estamos trabalhando no desenvolvimento de uma solução móvel para a saúde pública. Utilizando o nosso conhecimento combinado sobre ICT, esse projeto irá conectar profissionais da saúde e agentes governamentais, ligando clínicas regionais e hospitais com administrações centrais do governo. Essa solução irá facilitar a coleta local de informações de saúde pública, especialmente em se tratando de doenças infecciosas, permitindo o planejamento e a administração eficaz de incidentes potenciais. Médicos e profissionais da saúde serão conectados através de telefones celulares com bancos de dados centralizados que possibilitarão que eles mandem os seus dados através de SMS. Isso permitirá uma visualização ampla e atualizada das necessidades de saúde correntes em qualquer país, e fornecerá um sistema de aviso prévio para pandemias e outros problemas de saúde pública. Transformar a educação: continuaremos nosso trabalho com o NEPAD e com o nosso consórcio de parcerias nas iniciativas de eSchools para desenvolver programas extensivos e sustentáveis para integrar o acesso e o treinamento de ICT na educação na África. Um dos principais compromissos da Microsoft é a sua participação na Information Society Partnership for Africa’s Development (Sociedade de Parcerias de Informação para o Desenvolvimento da África), que faz parte da New Partnership for Africa’s Development (Nova Parceria para o Desenvolvimento da África). Estamos trabalhando em três projetos chave: eSchools, eParliament e eTourism; dos quais o eSchools é o que está mais avançado. O conceito da iniciativa das eSchools é para que cinco consórcios diferentes desenvolvam um modelo que irá posteriormente ser implementado na conexão de 600.000 escolas por todo o continente. Como foi dito pela NEPAD, “essa é a primeira vez que os governos africanos, a NEPAD e o setor privado estão cooperando em um projeto de ICT desse tamanho e com essa abrangência”. Atualmente o consórcio Microsoft está trabalhando em 25 escolas no Quênia, Lesoto, Mauritius, Camarões, Senegal, Moçambique e Ruanda. 90 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Estimular o crescimento e os empregos: estamos trabalhando com a UNIDO no apoio a empreendimentos, para promover investimentos e ajudar a criar oportunidades de negócios, especialmente para empresas africanas de pequeno e médio porte (SMEs). A “Investment Monitoring Platform for Africa” (Plataforma de Monitoração de Investimentos para a África) é um empreendimento de levantamento de larga escala institucionalizado pela UNIDO e projetado para dar apoio ao desenvolvimento do setor privado. Junto com a Microsoft, a UNIDO desenvolveu uma ferramenta para a internet que conecta os impulsionadores políticos e as instituições intermediárias desses países com o setor privado e a sociedade civil através de uma interface interativa. Ela é projetada para levar proteção baseada em evidências de forma a assegurar um maior apoio político para um processo de reforma de governança com investimentos contínuos para fomentar o desenvolvimento do setor privado. Ela auxilia as empresas a avaliarem tendências e identificar áreas de crescimento através da coleta de dados nessa plataforma; para trazer benefícios através de uma parceria público-privada mais aberta e transparente, que traga equilíbrio para processos de reforma e para o mercado, para efetuar análises comparativas de diferentes locações de investimentos e comparações do real desempenho de empreendimentos em diferentes países. Através da Plataforma autoridades nacionais poderão assinalar os atrativos dos seus mercados para diferentes categorias de investidores e destacar áreas que necessitam de melhorias urgentes; formular relatórios, testar estratégias e opções, e fazer uso de evidências empíricas para demonstrar os benefícios dos investimentos estrangeiros diretos e dos investimentos privados domésticos. O banco de dados para mais de 20.000 empreendimentos operando em 30 países africanos irá permitir uma compilação de indicadores regionais, tais como índices de previsões (correntes de investimento, exigências empregatícias e de habilidades, etc.), e irá facilitar o monitoramento do impacto de diferentes grupos de investidores na economia doméstica. Juntamente com a UNIDO apresentamos recentemente uma iniciativa para centros de renovação na África para lidar com as necessidades de hardware, software e treinamento de pequenos empreendimentos. A iniciativa é baseada em conceitos de empresas sustentáveis que irá fomentar a reciclagem de refugos de equipamentos e programas, bem como incentivar a transferência de conhecimento e novas oportunidades para empresas locais. O projeto terá o seu programa piloto baseado em Uganda, com o objetivo de criar um modelo para uma iniciativa Pan-africana. Esses empreendimentos fazem parte da nossa iniciativa global Unlimited Potential. É o nosso compromisso de servir a aproximadamente 5 bilhões de pessoas que ainda não têm acesso aos benefícios da tecnologia. Através desse compromisso de longo prazo acreditamos firmemente que será possível construir e sustentar um ciclo contínuo de crescimento social e econômico. Estruturar parcerias com organizações públicas e privadas é uma forma eficaz de promover uma abordagem abrangente e coordenada para lidar com muitos dos problemas nos países em desenvolvimento e nas economias emergentes. Soluções para entender as mudanças climáticas através de softwares A tecnologia tem o poder de fazer contribuições positivas e de longo prazo para reagir às mudanças ambientais no mundo. A Microsoft juntou forças com a Clinton Foundation para desenvolver um conjunto de ferramentas que irá permitir que cidades monitorem de forma exata, comparem e reduzam as suas emissões de gases efeito estufa. AccountAbility 91 Essa parceria irá incrementar a consciência ambiental e irá fomentar mudanças sustentáveis que irão ajudar a reduzir as emissões globais de carbono. Utilizando o banco de dados criado pelo Local Governments for Sustainability (Governos Locais Pela Sustentabilidade) e o Centre for Neighbourhood Technology (Centro de Tecnologia Para a Vizinhança) criamos novas ferramentas de software para desenvolver a Harmonised Emission Analysis Tool (HEAT) (Ferramenta de Análise Harmonizada de Emissões). Estamos orgulhosos por trabalhar com parceiros no desenvolvimento de uma solução única na internet que irá possibilitar que cidades possam lidar com questões ambientais globalizadas. Com essas informações, as cidades poderão aprimorar a sua eficiência energética, reduzir emissões de carbono e fazer escolhas baseadas em informações. Essas ferramentas de software irão possibilitar a colaboração e o trabalho em conjunto de cidades para monitorarem suas emissões e construir uma cultura de compartilhamento das melhores práticas. Embora esse software seja inovador, ele é um complemento de ferramentas já existentes, permitindo assim, a exportação e importação de dados de outros sistemas, para aumentar ainda mais a melhoria do monitoramento. Desde agosto de 2006 a Clinton Foundation vem exercendo uma parceria com um consórcio de 40 das maiores cidades do mundo que estão comprometidas na luta contra o aquecimento global, a Clinton Climate Initiative (Iniciativa Climática Clinton). As ferramentas on-line desenvolvidas por essa iniciativa e pela Microsoft irão prover essas cidades e servirão como um padrão global na sua prestação de contas climática, e nos seus esforços de mitigação e comunicação. Trabalhando com o World Wildlife Fund, a Intel Corporation, a Google, Dell, EDS, a Environmental Protection Agency, a HP, IBM, Lenovo e outras organizações, recentemente apresentamos a formação da Climate Savers Computing Initiave (www.climatesaverscomputing.org) (Iniciativa Computacional dos Salvadores do Clima). O alvo desse esforço ambiental novo e abrangente é conservar energia e reduzir emissões de efeito estufa com a instauração de novos e agressivos objetivos para computadores e componentes de baixo consumo de energia, e promover a utilização de computadores de baixo consumo e ferramentas de gerenciamento de energia no mundo todo. A Climate Savers Computing Initiave estabeleceu um novo alvo de 90% de eficiência para suprimentos de energia que, se alcançado, irá reduzir emissões de gases efeito estufa em 54 milhões de toneladas por ano – e poupar mais de $5,5 bilhões em gastos com energia. Existe uma oportunidade para empresas e indivíduos em todo o mundo para trabalharem em prol do melhor gerenciamento de energia dos seus equipamentos de informática e para a compra de computadores e softwares que consumam menos energia. Desenvolvendo uma estratégia sustentável A Tecnologia de Informação e Comunicação tem um potencial imenso para conectar comunidades e gerar crescimento social e econômico sustentável. Construir e manter a infra-estrutura para o crescimento de uma economia de conhecimento, encorajar empreendimentos em todos os setores de negócios e incentivar a ICT na educação são fatores criadores de uma força motriz poderosa para o aumento da produção econômica e o desenvolvimento. A Microsoft está comprometida em 92 O Estado da Competitividade Responsável 2007 trabalhar com governos, parcerias locais, companhias e a sociedade civil para construir soluções sustentáveis para a resolução de problemas locais e para trazer os benefícios advindos da tecnologia. A Microsoft precisa ser um parceiro forte e decidido para criar alianças que gerem frutos positivos na resolução de problemas sociais, ambientais e econômicos prementes. O envolvimento nessas iniciativas nos dá a oportunidade para aprender, desenvolver e inovar. Colocar a responsabilidade no cerne das operações de negócios é a única forma de garantir o sucesso no século XXI, e acreditamos que é a única forma da Microsoft gerar valores sustentáveis em todas as nossas operações. Nós aclamamos o trabalho da AccountAbility e seus parceiros no desenvolvimento de pesquisas e aplicação de conhecimentos sobre a Competitividade Responsável. Estamos orgulhosos por participar desse trabalho, que nos propiciou o aprendizado e a integração de idéias no desenvolvimento da nossa estratégia. O Estado da Competitividade Responsável está em constante evolução. Fomentar o diálogo e o intercâmbio através desse relatório é um marco importante, juntamente com a iniciativa de inovar e aplicar de forma concreta as nossas estratégias de negócios e as nossas práticas sociais. Sobre o Autor: Jean-Philippe Cortois, em seus 22 anos de Microsoft, já trabalhou em vários setores no papel de executivo sênior. Como Presidente da Microsoft International, ele é o líder de serviços, vendas e marketing para todas as regiões fora dos EUA e do Canadá, e também partilha da responsabilidade da equipe mundial do setor público da Microsoft Corp. Ele é membro da CSR Europe, do Advisory Council do European Policy Centre e é co-diretor do Global Digital Divide Initiative Task Force do Fórum Econômico Mundial. Ele é formado pela École Supérieure de Commerce em Nice. AccountAbility 93 94 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Perfil de Países e Regiões AccountAbility 95 96 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e Competitividade: Considerações da Comissão Européia Por Günter Verheugen A criação de melhores condições para o crescimento econômico e a criação de empregos são prioridades políticas da maior relevância para a União Européia. A conquista do crescimento e do emprego é essencial para uma melhor qualidade de vida dos nossos cidadãos, e necessária para preservar e desenvolver valores que nos são importantes, tais como, desenvolvimento sustentável e inclusão social. Sejamos claros, nosso sistema econômico e social está baseado na iniciativa privada. O crescimento e os empregos não serão criados apenas pela administração pública ou por quaisquer políticas ingênuas – eles só podem ser criados de forma sustentável pela disposição do povo em explorar oportunidades de negócios. Qualquer pessoa que decidir se arriscar, investir dinheiro e técnica em um negócio especulativo, aprimorar técnicas para encontrar emprego mais facilmente, ou participar de alguma outra forma no sistema econômico deve ser justamente reconhecida. Essa é a forma principal para que todos contribuam para a conquista do objetivo comum de prosperidade compartilhada. Minha percepção de responsabilidade social corporativa (RSC) reflete esta visão estratégica e um pouco mais. A responsabilidade social das empresas européias não deve ser vista apenas como um subproduto de seu sucesso econômico e, menos ainda, como um obstáculo imposto pela legislação, mas sim, como um de seus impulsionadores. Estou convencido que no futuro o mercado recompensará a habilidade das empresas de compreender e corresponder às expectativas da sociedade além de simplesmente cumprir com as regulamentações e satisfazer a demanda básica do consumidor. Empresas bem sucedidas, grandes ou pequenas, serão aquelas que tiverem alcançado o desafio de integrar a RSC à sua estratégia de negócio e ao seu objetivo. De uma forma mais visionária, a RSC pode ser vista como um fator crítico para a preservação do nosso sistema econômico, à medida que nos deparamos com os desafios do século XXI. Se os negócios forem vistos como parte do problema ao invés de parte da solução, e se os cidadãos acreditarem que as empresas não estão cumprindo sua parte para defender nossos valores comuns, perderemos as chances que a globalização oferece. Qualquer um que concorde que a liberdade e a empresa privada são essenciais para a nossa busca pela prosperidade e uma melhor qualidade de vida deve, então, ficar preocupado com pesquisas que sugerem que as empresas não inspiram confiança suficiente nas nossas sociedades. RSC confiável e transparente, corretamente coordenada com outros grupos de acionistas, desempenha um papel essencial na implantação de um ambiente que permita que empresas utilizem seu potencial em benefício de todos. Por esse motivo, mais do que nunca, empresas de qualquer magnitude devem avaliar seu papel na sociedade de hoje ao tomarem decisões estratégicas e operacionais. E foi por isso que a Comissão Européia solicitou às empresas da comunidade européia para aumentar seu comprometimento com a RSC indo além de um mero cumprimento das exigências legais, e deu grande suporte ao lançamento da Aliança Européia na RSC em março de 2006. Estamos bem conscientes de que para serem competitivas no mundo atual, as empresas devem ter possibilidades de se concentrar no desenvolvimento de estratégias corretas e abordagens inovadoras, ao invés de gastar dinheiro e esforços AccountAbility 97 enrentando encargos reguladores desnecessários. Elas devem estar aptas a vender seus produtos e serviços o mais facilmente possível, e a empregar trabalhadores que possuam as técnicas necessárias. A Comissão Européia está empenhada em fazer o máximo para contribuir com a criação de um ambiente que permitirá que os negócios floresçam. O comprometimento da comunidade empresarial para com a RSC é a resultante necessária dessa estratégia. Estou feliz com o fato de que o conceito de unir competitividade e responsabilidade esteja ganhando terreno nos círculos de tomadores de decisões europeus, e que esta foi endossada pelo Parlamento Europeu em recente resolução sobre a RSC. Uma pesquisa sobre ligações significativas entre competitividade e responsabilidade avançou recentemente, graças à AccountAbility e às suas organizações parceiras. A Comissão Européia está satisfeita em ter podido patrocinar o estudo recente que fizeram sobre como o conceito pode ser aplicado em três setores industriais europeus: farmacêutico, TI e serviços financeiros. Em bases gerais, vejo pelo menos cinco áreas onde a competitividade e a RSC se reforçam mutuamente. Em primeiro lugar, inovação é a palavra chave para competitividade na economia atual baseada em conhecimento, e as melhores empresas chegaram à conclusão de que a RSC e a inovação estão intimamente ligadas. Maior atenção a questões sociais e ambientais, e cooperação mais estreita com outros investidores são catalisadores para que as empresas desenvolvam novos produtos e serviços, e novos modelos de negócios. A RSC não consiste apenas em proteger o valor de uma empresa evitando ações que possam prejudicar a reputação e a lealdade do cliente. Consiste, também, cada vez mais, em criar novos valores através de inovações que resultam da consideração maior que é dada aos problemas sociais e em cultivar relações mais profundas com uma variedade mais ampla de investidores. Em segundo lugar, como a mudança tornou-se uma característica diária do nosso sistema econômico, a capacidade para gerenciá-la com sucesso afeta, não só, a competitividade das empresas, mas também o bem estar dos funcionários e cidadãos. Logo, empresas socialmente responsáveis necessitam de administradores capacitados para prever o desenvolvimento do ambiente externo e a adaptar-se a tempo, em vez de simplesmente reagir contra, fechando suas operações. Isto, por sua vez, não só permitirá que seus negócios prosperem, mas também ajudará a proteger os empregos e a tranqüilizar os funcionários. Em terceiro lugar, investimentos feitos por empresas no desenvolvimento técnico e treinamento de seus funcionários são, evidentemente, do interesse do próprio negócio. Mas eles também atendem a propósitos maiores, sociais e econômicos, nos ajudando a continuar sendo competitivos na economia do conhecimento global e a enfrentar o envelhecimento da população ativa na Europa. Conforme a média de idade da população ativa aumenta e o passo da mudança tecnológica acelera, o treinamento interno assumirá uma importância estratégica para a economia e para a sociedade como um todo que não teve no passado. Da mesma forma, empresas com políticas diversas que as ajudam a recrutar mais pessoas de grupos com necessidades especiais, também ajudam a criar níveis mais altos de inclusão social, enquanto abrem o potencial de uma força de trabalho até agora subutilizada. 98 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Quarto, como a mudança de clima tornou-se uma das maiores preocupações de tomadores de decisões em todo o continente, e cada vez mais, em todo o mundo, os investimentos de empresas em inovações ecológicas e em sistemas de gerenciamento ambiental podem nos ajudar a trabalhar a favor do uso mais racional dos recursos naturais e da redução dos níveis de poluição. Ao mesmo tempo, investimentos em produtos e processos ambientais amigáveis permitirão às empresas competir com inteligência com as tecnologias disponíveis, que deverão tornar-se a chave para a competitividade à medida que a consciência ambiental se espalhe pelo globo. Por fim, enquanto a União Européia e seus Estados Membros gastam grandes somas de dinheiro com a redução da pobreza e na promoção de boa governança e dos direitos humanos em países em desenvolvimento, há um reconhecimento crescente do papel da sociedade civil. Empresas, governos e organizações nãogovernamentais estão trabalhando construtivamente em conjunto, por exemplo, para promover respeito por padrões centrais de trabalho e para progredir em direção ao UN Millennium Development Goals (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio- ONU). Muitas empresas compreenderam que, ao agir a favor de um desenvolvimento harmonioso dos países e regiões onde elas operam, criam valores para essas comunidades, o que é também benéfico para seus negócios. Essas áreas demonstram claramente como a RSC pode contribuir para a competitividade de cada empresa enquanto nos ajuda a alcançar objetivos políticos mais amplos. E, claro, bons exemplos poderiam ser multiplicados de acordo com setores, dimensão dos negócios e áreas de operação. É por isso que nossa estratégia sobre a RSC é uma estratégia com bases amplas. Empresas de todos os tamanhos, grandes ou pequenas, podem contribuir para com a sociedade e ao mesmo tempo se beneficiar através do comportamento responsável. Em uma escala macro ou regional, a lógica da competitividade responsável necessita que não nos concentremos apenas em um pequeno grupo de grandes multinacionais que conhecem e usam o termo RSC. Aliás, significa reconhecer e maximizar as abordagens “RSC” de todas as empresas, incluindo as pequenas e médias (PMEs). De fato, muitas PMEs fazem muitas coisas que podemos chamar de RSC, quer ou não elas saibam, ou usem o termo. A relativa flexibilidade e a estreita identificação com a região ou comunidade na qual operam dão uma posição específica às empresas pequenas. Não deve ser surpresa, mas algumas das empresas líderes mundiais em RSC são PMEs. O relatório do Grupo Técnico Europeu em RSC e PMEs demonstra que os tomadores de decisões e outros fariam bem em dar maior reconhecimento ao que as PMEs já fazem neste campo. Olhando para o futuro, apesar das empresas que operam de forma responsável serem importantes, somente a cooperação com investidores relevantes pode assegurar que as empresas e a sociedade como um todo obtenham os benefícios totais da RSC. AccountAbility 99 Sobre o autor: Günter Verheugen é atualmente Vice-Presidente da Comissão Européia, encarregado das Empresas e Indústrias, com um papel importante, também, em duas áreas horizontais de trabalho da Comissão, especificamente, a Better Regulation e a Competitiveness Agenda. O Sr. Verheugen nasceu em 1944, estudou História, Sociologia e Política em Colônia e Bonn. Após ter começado sua carreira política no Free Democratic Party-FDP (Partido Democrático Livre) onde foi Secretário Geral de 1977 a 1982, ele juntou-se ao Social Democratic Party-SPD (Partido Social Democrático). Durante muitos anos foi Membro do German Bundestag (Parlamento alemão), de 1993 a 1995 como Diretor Federal do Partido do SPD (Partido Social Democrático) e entre 1998 e 1999 foi Ministro de Estado no Ministry of Foreign Affairs (Ministério de Relações Exteriores). 100 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Sudeste Asiático: Fomentando a Competitividade através de Responsabilidade Mútua Por Anwar Ibrahim 2007 marcou o aniversário de 10 anos da crise financeira asiática, um episódio que desequilibrou décadas de confiança conquistada pelo desempenho econômico da região. O impacto foi inacreditável. Milhões ficaram desempregados quando as companhias, grandes e pequenas, viram seus recursos financeiros evaporarem da noite para o dia. As economias da região que foram mais afetadas encolheram em média mais de 7%. Isso foi um alerta para aqueles que haviam se deleitado na euforia de tantos anos de acúmulo de riqueza e que haviam se tornado arrogantes com o sucesso fácil. O sucesso conquistado sem esforço está destinado ao fracasso e, certamente, a arrogância proveniente de tal sucesso é uma metáfora branda para os males que acompanharam esse período de aparente prosperidade. No período pós-recuperatório a questão da competitividade responsável é, portanto, de importância fundamental para os países do sudeste asiático. Após a crise os setores implementadores de políticas se deram conta de que estratégias de crescimento sustentável e uma sociedade civil mais vibrante são necessários para assegurar maior prestação de contas, reduzir a corrupção e o nepotismo, mitigar a especulação desenfreada e o crescimento econômico sem bases sólidas. Isso acarretou reformas políticas e o fortalecimento de princípios através de ajustes macro-políticos, bem como regras mais severas para governar a prestação de contas corporativa e maiores informações sobre as práticas empresariais. Entretanto, dada a mais ou menos rápida recuperação, muitas das mudanças sistêmicas que são tão necessárias ainda não foram alcançadas. Vale a pena revisar as lições aprendidas, e rapidamente esquecidas, não meramente como um exercício histórico sobre as razões que levaram ao colapso, mas também para abrir um caminho para o futuro que assegure a competitividade sustentável em uma economia globalizada e ao mesmo tempo criando proteções contra choques sistêmicos recorrentes. O sudeste asiático ainda é uma das regiões do planeta com a economia mais vibrante e com uma diversidade cultural imensa. Onze países juntos exportam para os Estados Unidos $650.000 milhões em mercadorias e, há já várias décadas, são solo fértil para investimentos estrangeiros nos setores têxtil, manufatureiro e tecnológico. A região é o lar do maior país muçulmano do mundo, bem como de culturas ricas e vibrantes que provêm de tradições hinduístas, budistas, confucionistas e cristãs. Em geral esses grupos se relacionam em relativa paz e harmonia, e formam a base para a criatividade e a inovação que caracterizam a economia da região há muitos anos. A globalização apresenta ao sudeste asiático um novo conjunto de desafios, porque desde a crise a China e a Índia se elevaram para novos patamares e passaram a desempenhar um papel central na economia mundial. A sua ascensão tornou impossível para outras nações do sudeste asiático competir exclusivamente com base nos custos da mão de obra. Sabiamente, algumas vêm demonstrando o potencial para competir pelo investimento estrangeiro com os maiorais através de políticas sólidas que promovem vantagens domésticas comparativas e oferecem um ambiente favorável de investimentos para os mercados estrangeiros, em alguns casos através da criação de estruturas colaborativas que resolvem questões trabalhistas e de manufatura complexas e contenciosas. Em outros lugares as reações têm sido menos inovadoras. Em alguns países a corrupção persistente combinada a estruturas legais obsoletas atoladas na filosofia do protecionismo distancia os investidores e canaliza o seu tão necessário capital para localidades mais favoráveis. AccountAbility 101 A competitividade responsável no sudeste asiático O índice da Competitividade Responsável da AccountAbility esclarece e destaca bastante a relação entre responsabilidade e uma economia competitiva. Seis países do sudeste asiático estão relacionados no índice de 2007, e entre eles podemos observar desempenhos variados. Singapura se encontra em 15º, mas no geral a região está decaindo. Índice da Competitividade Responsável 2007 Impulsionadores de Políticas Ações Empresariais Habilidades Sociais 15 Singapura 71.3 83.7 74.4 63.5 25 Malásia 63.7 82.3 68.4 59.2 37 Tailândia 60.0 76.3 65.3 53.5 48 Indonésia 56.1 72.5 59.0 51.3 61 Filipinas 54.0 74.5 60.9 37.3 99 Camboja 44.3 75.4 50.9 38.6 Relação ICR 2007 País Tabela 1: O desempenho dos países do sudeste asiático no índice da Competitividade Responsável de 2007 Esses resultados não devem causar grande surpresa. A aceitação ampla pelo setor corporativo de uma estrutura de competitividade responsável requer o acúmulo de uma “massa crítica” de companhias. O que impede tal cenário são políticas profundamente enraizadas da patronagem pública que tornaram o solo fértil para atividades exploradoras que sugam o potencial criativo e inovador da economia. Esses riscos morais florescem com um sistema que é mais reagente às demandas dos interesses de capital investido do que aos sinais do mercado, e desestimulam o setor privado de tomar a direção correta, especialmente quando, ao tomar tais atitudes, isso acarreta na diminuição dos seus lucros vis-à-vis com os competidores do mercado. Os primeiros passos em direção a um clima mais propício para a competição mais sustentável devem ocorrer no nível de políticas públicas com o desmantelamento do monopólio do estado na alocação de recursos. O direito de posse do estado, uma característica das economias do sudeste asiático, ainda representa um obstáculo formidável, inibindo o setor privado de experimentar novas estratégias de tradução de objetivos de desenvolvimento sustentável em práticas de negócios competitivas que respondam às mudanças dinâmicas que ocorrem em mercados globalizados. A evolução de políticas públicas na região tem sido lenta já que os acionistas primários, os políticos e os seus cupinchas, fazem questão de não implementar mudanças que diminuam o seu poder e que redistribuam a riqueza do estado. O banco de dados Voice and Accountability do Banco Mundial, que mede o quanto os cidadãos são capazes de participar na seleção de seus governantes, ilustra bem a paisagem 102 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Avaliação Voice and AccountAbility da governança no leste asiático. Enquanto algumas economias tomaram medidas para resolver questões de governança e capacitar os cidadãos com as habilidades para influir nos desfechos políticos, por todo o sudeste asiático as tendências, nos últimos nove anos, têm sido em geral desfavoráveis e o desempenho abaixo dos padrões (ver Figura 1).1 Taiwan Coréia, Rep. Hong Kong Tailândia Indonésia Singapura Malásia Vietnã Figura 1: Mudanças no Voice and AccountAbility nas principais economias do sudeste asiático Fonte: Voice and AccountAbility rating, Banco Mundial, 2006 Apesar dos obstáculos que persistem no nível da governança nacional, há nichos de atividade que demonstram o potencial do setor privado de quebrar os moldes da intervenção estatal e alavancar mecanismos direcionados ao mercado na alocação de recursos. Um exemplo promissor é o programa “Better Factories” no Camboja.2 Notório por sua indústria têxtil claudicante e pelas condições deploráveis que os trabalhadores quase escravos tinham que suportar, o Camboja se renovou em resposta aos desafios da globalização do século XXI, e também por causa da intensa competição por investimentos estrangeiros e mercados de exportação que atualmente valorizam as práticas trabalhistas responsáveis. Isso foi conseguido através de um processo garantindo a prestação de contas mútua entre investidores chave da indústria têxtil. O Vietnã e o Laos estão seguindo o exemplo do Camboja, visto que eles também estão começando a colher os benefícios de melhores padrões de transparência e responsabilidade dentro dos seus programas de acionistas múltiplos (e.g. a iniciativa Vietnam Business Linkages). Seus progressos vêm identificando caminhos bem demarcados para o sucesso, bem como as áreas que necessitam de maiores atenções. Esses casos demonstram que os déficits de informação são barreiras para a compreensão de muitos países sobre como operar de forma a atender códigos AccountAbility 103 e padrões internacionais que, frequentemente, são pré-requisitos na participação dessas parcerias. Sem o acesso a redes que já compreenderam os benefícios econômicos que práticas mais sustentáveis produzem, e sem os incentivos financeiros adequados, a tendência dessas companhias é não procurar informação que, no fim das contas, irá motivá-las a seguir estratégias semelhantes. O Better Factories Camboja O Better Factories Camboja é um programa exemplar da International Labour Organisation (Organização Internacional do Trabalho). Ele beneficia trabalhadores, empregadores e as suas organizações. Também beneficia os consumidores nos países ocidentais e ajuda a reduzir a pobreza em uma das nações mais pobres do mundo. O Better Factories Camboja é administrado pela International Labour Organisation e tem o apoio do Royal Government do Camboja, da Garment Manufacturers’ Association do Camboja (GMAC) e dos sindicatos. O Better Factories Camboja trabalha junto com outros acionistas, incluindo compradores internacionais. Governando o desenvolvimento O investimento estrangeiro ainda é a chave para os objetivos de desenvolvimento no sudeste asiático, onde milhões ainda têm que encarar a dura realidade da vida na mais profunda miséria. Os países precisam encontrar formas de atrair investimentos estrangeiros através de meios que assegurem o crescimento, e que estejam conscientes do potencial para que governos e corporações criem relacionamentos que tragam benefícios para grupos que dependem do desfecho desses acordos, mas que praticamente não tem voz ativa nessas negociações. O aumento do acesso ao mercado nos países em desenvolvimento é uma faca de dois gumes, e a experiência nos mostra que isso pode acarretar em diversas conseqüências negativas. A reação a tais desenvolvimentos é, frequentemente, clamar ao estado para que crie novas regulamentações e estatutos para remediar a situação. Entretanto, regulamentações inapropriadas aplicadas em momentos inoportunos podem ser tão ineficazes na resolução do problema quanto soltar as rédeas do mercado para determinar todo e qualquer desfecho. Novas formas de governança voltadas para o mercado, que congregam os atores dos setores públicos, privados e da sociedade civil em fóruns internacionais e nacionais estão demonstrando potencial na criação de relacionamentos positivos, capazes de alcançar objetivos como a sustentabilidade ambiental e a proteção dos direitos humanos. 104 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Índice do Desempenho do Investimento Estrangeiro Direto Singapura China Turquia Nigéria Malásia México Brasil Rússia Tailândia Filipinas África do Sul Indonésia Índia Bolívia Índice da Competitividade Responsável 2007 Figura 2: Competitividade Responsável e o Desempenho dos Investimentos Estrangeiros Diretos para o EE12 e o Sudeste Asiático Fonte: Foreign Direct Investment Performance, UNCTAD 2005 Iniciativas como o Vietnam Business Link, que foi criado como resposta às profundas preocupações sobre os padrões trabalhistas na indústria dos calçados, bem como o programa Better Factories do Camboja, são exemplos práticos de como criar as condições certas e fomentar relacionamentos simbióticos, ao invés de parasitários, entre os diversos atores de uma economia podem incrementar o potencial e a capacidade de inovação de um povo, de guiar e sustentar economias mais responsivas e mais responsáveis. A aplicação dessas parcerias nos setores público, privado e sem fins lucrativos é variada e potencialmente de amplo alcance, especialmente nas economias do sudeste asiático, algumas das quais irão passar por liberalizações de mercado cada vez maiores nos próximos anos. Com a participação significativa dos acionistas relevantes desses mercados e com uma intenção coletiva para a tomada de decisões financeiras reais, padrões e práticas comerciais aceitáveis, esses fóruns estão reformulando a maneira como as políticas voltadas para o mercado podem ser mais sustentáveis sem sacrificar o fundamental. Ao unir as peças chave do jogo em um mercado e permitir que eles negociem sobre as questões cruciais, esses fóruns criam um sistema de prestação de contas mútuo, e frequentemente auto-governável, que transformam a sustentabilidade e um bom nível de lucro em coisas possíveis. O envolvimento da AccountAbility em uma dessas iniciativas, o MFA Forum, que envolve muitos dos participantes do programa Better Factories no Camboja,3 pode se refletir em vários mercados do sudeste asiático. AccountAbility 105 O MFA Forum O MFA Forum é uma coalizão internacional de agências públicas, empresas e organizações civis e trabalhistas, que surgiu após o fim do Multi-Fibre Arrangement, com o objetivo de criar redes de fornecimento responsável nas áreas têxteis e de vestuário. As agências públicas não têm o papel de impor a lei, mas sim de alinhavar políticas e recursos com as deliberações das resoluções reais do mercado. As ONGs e as organizações trabalhistas não cumprem a tarefa de supervisionar, mas estão profundamente envolvidas no desenvolvimento de redes de fornecimento que atendam condições sociais e ambientais chave, como parte de um processo que irá acarretar na competitividade responsável crucial para as empresas, setores inteiros e comunidades que vão do Lesoto até Bangladesh. O MFA Forum funciona bem porque os seus membros reconhecem as suas interdependências e a sua necessidade de cooperação dentro de uma estrutura de confiança, mesmo que, em muitos casos, os seus interesses sejam contraditórios e potencialmente hostis na ausência de uma instituição que garanta uma representação justa e uma prestação de contas mútua. O caminho a seguir A globalização amplificou o chamado por práticas comerciais mais responsáveis nos países em desenvolvimento. Esses esforços vêm enfrentando a feroz resistência dos críticos que argumentam contra a imposição de regras e regulamentações que beneficiam corporações multinacionais e os mercados do ocidente à custa dos lucros e da sustentabilidade dos negócios locais. Ao expandir a estrutura dentro da qual as práticas responsáveis podem ser promovidas e capacitando atores antes marginalizados, as nações do sudeste asiático poderão apaziguar os receios que acompanham a meta de alcançar maior responsabilidade. Entretanto, qualquer estratégia para alcançar a competitividade responsável provavelmente não irá demonstrar sustentabilidade de longo prazo a não ser que a região continue a sua marcha em direção à democracia. Em alguns países a falta dos pré-requisitos básicos para um ambiente comercial sustentável e atraente, como liberdade de imprensa, um judiciário independente e garantias do cumprimento da lei, ainda são deficiências severas. Nesses lugares os excessos da globalização são usados como bode expiatório para justificar o papel universal do estado e da contínua proteção de mercado contra os negócios e os investimentos estrangeiros. Mas sem a abertura pública a cumplicidade desses estados em minar o desempenho econômico dos seus países permanece oculta da visão pública. Por outro lado, a transição histórica da Indonésia de três décadas de ditadura autoritária para a democracia merece um crédito imenso, especialmente sob a luz do fato de que a transição se deu vários anos depois da destruição causada pela crise financeira. Embora a nação ainda enfrente a corrupção desmedida e ainda tenha que lidar com o fato de que milhões de seus cidadãos permanecem soterrados pela mais absoluta miséria, existem mecanismos para enfrentar esses problemas por meio de um processo social transparente. O melhor desempenho da Indonésia visà-vis os seus vizinhos em atrair investimentos estrangeiros demonstra que, embora problemas como a miséria não sejam resolvidos de uma noite para outra, políticas consistentes baseadas em uma estrutura de prestação de contas provavelmente renderão resultados demonstráveis. 106 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Sobre o autor: Datuk Seri Anwar Ibrahim, atual e estimado Presidente Honorário da AccountAbility, foi Deputy Prime Minister da Malásia de 1993 até 1998 e Minister of Finance de 1991 até 1998. Altamente respeitado pela sua postura contra a corrupção e pela sua hábil administração da economia da Malásia durante o período turbulento da sua crise financeira, Anwar também é considerado um dos pais da Renascença Asiática e um dos líderes na cooperação entre as civilizações. Ele é um defensor ardente da democracia e uma voz atuante na aproximação do Oriente com o Ocidente. Notas finais 1 Kaufmann, D., Kraay, A., & Mastruzzi, M (2006) Governance Matters V: Governance Indicators for 1996–2005, World Bank Institute, Washington DC. 2 http://www.betterfactories.org 3 http://www.mfa-forum.net AccountAbility 107 BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China) e a Competitividade Responsável Por Cláudio Boechat, Edna do Nascimento e Luana de Albuquerque Dapieve Megatendências Em 40 anos o mundo será multipolar, liderado por cinco economias emergentes que irão suplantar as potências econômicas atuais. Essa é a previsão do Goldman Sachs Group para 2050.1 O grupo considerou que o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, juntos, serão mais potentes que as antigas economias do G6 – França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e EUA. Chegou-se a essa conclusão através do exame de cinco tendências principais: tamanho econômico; crescimento econômico; renda e demografia; padrões de demandas globais e circulação de moeda corrente. Com aproximadamente 30% da superfície terrestre mundial, os BRICS, como é chamado esse bloco, com a inclusão do “S” para a África do Sul, têm uma porção considerável dos recursos minerais, hídricos e energéticos. E de igual importância, 43% da população mundial vive nesses cinco países. Entretanto, no seu caminho para a prosperidade, esses países irão enfrentar desafios ambientais e sociais enormes. A temperatura e os níveis dos oceanos provavelmente continuarão a se elevar, mesmo que os gases do efeito estufa se estabilizem, embora o verdadeiro grau do aquecimento irá depender da atividade humana durante o próximo século. O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) estima, com muita segurança, que irão ocorrer cada vez mais períodos de aquecimento, ondas de calor e chuvas torrenciais nos anos vindouros, e com confiança de média a alta, que áreas tropicais irão sofrer com o aumento de secas, ciclones e eventos extremos de marés.2 Devido às mudanças climáticas os grandes investimentos terão que reduzir as emissões de gases do efeito estufa, adaptar infra-estruturas e enfrentar prováveis catástrofes. As previsões das conseqüências das mudanças climáticas são pessimistas para os países em desenvolvimento, sendo que os maiores impactos serão sentidos pelos países mais pobres. Além do meio ambiente, outras áreas irão mudar, seguindo novas tendências. Um dos desafios mundiais é diminuir as disparidades de rendimento e riqueza entre os países e entre as pessoas. Teremos que encontrar meios de produzir economias mais ricas, porém mais inclusivas. A inclusão de novos grupos de pessoas nas economias de consumo irá pressionar os recursos naturais e, ao mesmo tempo, criará novas oportunidades de negócios. Tecnologias inovadoras terão que fornecer energia, alimentos, transporte e moradia. Qual a relação disso tudo com os BRICS? Como devem os BRICS lidar com esses desafios de forma a realizar suas aspirações de crescimento? Quais as medidas diferentes que eles devem tomar para aproveitar as oportunidades e resolver os problemas do nosso mundo em mudança? Evidentemente, países que desenvolverem um modelo de crescimento capaz de lidar com esse mundo diferente estarão nas posições de liderança. Os BRICS têm esse potencial em suas mãos, mas ainda há um longo caminho a percorrer. O pensamento tradicional sobre desenvolvimento considera o papel do setor privado como o produtor de grandes lucros sem se preocupar com as conseqüências sociais ou ambientais. Nesse modelo, o governo dá prioridade ao crescimento econômico, medido pelo PIB e pela renda per capita. Isso costumava ser o suficiente para o desenvolvimento da prosperidade, mas durante as próximas décadas esse enfoque terá que mudar. 108 O Estado da Competitividade Responsável 2007 A Competitividade Responsável dos BRICS No índice de Competitividade Responsável 2007 a África do Sul é o país mais bem situado no ranking dos países do BRICS, em 28º lugar. O Brasil situa-se sete pontos abaixo e está na posição 56 entre os 108 países, à frente da Índia (70º), Rússia (83º) e China (87º). A China, por muitos alardeada como o líder econômico global em 2050, é o país dos BRICS com o desempenho mais fraco. Essa situação é analisada mais detalhadamente nos ensaios encontrados neste volume por Aron Cramer e Guy Ryder. O que fica claro na Figura 1 é que o sucesso de exportação para as economias emergentes que estão na liderança é compatível e muito correlacionado com a competitividade responsável. Por outro lado, os BRICS ainda não estão liderando os outros países em direção à exportação responsável. Impulsionadores de Políticas Ações Empresariais Habilitadores Sociais África do Sul ZAF 62.5 75.8 66.9 61.3 56 Brasil BRA 55.0 72.3 56.4 52.3 70 Índia IND 52.2 67.4 64.0 52.5 83 Federação Russa RUS 48.0 61.7 51.9 38.0 87 China CHN 47.2 64.2 50.4 35.9 País 28 Ranking ICR 2007 Índice da Competitividade Responsável 2007 Tabela 1: Desempenho dos BRICS no ICR de 2007 Índice de competitividade do crescimento Tamanho da bolha = exportações de 2005 em $m África do Sul Índia China Russia Brasil Índice da Competitividade Responsável 2007 Figura 1: Desempenho dos BRICS em Competitividade Responsável e Competitividade de Crescimento, 2007, mostrando o sucesso em exportações Fonte: Growth Competitiveness Index, World Economic Forum, 06/07: Exports World Trade Organization AccountAbility 109 Quando esmiuçamos essa análise nos três sub-componentes do índice (detalhes de todos os 108 países estão incluídos no anexo técnico), a África do Sul e a Índia lideram os BRICS nas ações empresariais, enquanto a África do Sul e o Brasil têm melhor desempenho em relação aos impulsionadores de políticas. A China e a Rússia são notavelmente mais fracos quanto ao componente dos habilitadores sociais, e a África do Sul tem o desempenho mais significativo nesse quesito. Isso sugere que cada país do BRICS tem diferentes forças e fraquezas e, portanto, diferentes prioridades na sua busca por melhorar o seu desempenho na competitividade responsável. Não é correto falar sobre os BRICS como se todos eles enfrentassem o mesmo conjunto de desafios de responsabilidade empresarial. Quais são então os maiores desafios de sustentabilidade que os países do BRICS têm que enfrentar? Perspectivas futuras sobre os desafios da sustentabilidade A busca da sustentabilidade impõe desafios para países e sociedades. Por exemplo, cada país irá sofrer diferentes conseqüências em relação às mudanças climáticas, como a desertificação na China, enchentes na Índia e o degelo do permafrost no norte da Sibéria. Além disso, a sustentabilidade depende não apenas da saúde dos ecossistemas, mas também da saúde dos indivíduos e das sociedades, e da relação entre o bem-estar humano e ambiental. Educação, inclusão financeira, saúde pública e direitos humanos devem ser considerados como questões relativas à sustentabilidade. A análise das questões da sustentabilidade nos mostra que cada país do BRICS irá enfrentar desafios de naturezas e intensidades diferentes. A energia é uma questão chave. Quais serão as conseqüências dos padrões atuais de uso de energia para as próximas gerações? No Brasil, a produção de etanol está sendo desenvolvida como uma solução para a demanda de energia limpa e renovável. Embora seja uma grande oportunidade, há também riscos. A produção de biocombustíveis pode trazer conseqüências negativas para a seguridade da produção de alimentos e para o meio ambiente. Portanto, o Brasil tem um grande desafio pela frente: desenvolver um modelo de crescimento onde o etanol possa ser produzido sem impactos negativos sobre as florestas ou a produção de alimentos. As empresas no Brasil devem desenvolver tecnologias e modelos de negócios que permitam o desenvolvimento rural, e a produção simultânea de bio-combustíveis e alimentos. A Rússia, com a maior reserva de gás natural do mundo, também tem um enorme potencial para investir e aprimorar o seu setor de energia, mas após a controvérsia em Sakhalin, a responsabilidade variável de muitas das suas companhias de energia vem sendo questionadas.3 A África do Sul se encontra em uma situação tão difícil quanto, sendo o maior consumidor de energia na África e o segundo maior produtor de carvão. Com a demanda contínua por carvão, novas minas de extração estão degradando áreas ambientais, inclusive áreas sensíveis. Em outros lugares dentro das economias dos BRICS, é evidente que a Índia e a China continuam a liderar no consumo de combustíveis hidro-carbonados, predominantemente o carvão, sendo que a China continua como o segundo maior consumidor de energia no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Entretanto, cada vez mais as questões da segurança energética ameaçam exercer pressão sobre as tendências atuais da produção e uso de energia hidrocarbonada. Para que essas ameaças sejam superadas, novas parcerias energéticas precisam ser formadas. Assegurar suprimentos de água sustentáveis diante da expansão populacional e industrial também será um grande desafio para os países do BRICS. A Rússia tem uma vantagem, devido às suas grandes reservas de água potável, da qual poderá se valer quando regiões densamente povoadas se tornarem mais secas. Entretanto, se os recursos naturais forem mal administrados devido à burocracia, mercados negros e corrupção, eles não poderão contribuir para os fundamentos da competitividade responsável de longo prazo no país. 110 O Estado da Competitividade Responsável 2007 A exclusão econômica, a pobreza e os altos índices de analfabetismo continuam sendo um problema, especialmente na Índia, que continua com grandes desequilíbrios de classes, castas e gêneros. As mulheres continuam abaixo dos homens em todas as áreas, mas predominantemente nos índices de analfabetismo, com apenas 48% das mulheres alfabetizadas em comparação com 73% dos homens, conforme divulgado pelo World Development Report (Relatório do Desenvolvimento Mundial). Para que essas barreiras possam ser superadas, a educação feminina deve ser encarada como um investimento inteligente, como argumenta Laura Tyson no seu ensaio neste relatório. A China é a economia emergente com o maior potencial para alcançar o topo da economia global. Em 2006 ela se tornou a segunda maior economia do mundo, atrás dos EUA, em termos de paridade de poder de compra (purchasing power parity – PPP). Porém, com mais de quatro vezes mais habitantes do que os EUA, os rendimentos per capita são muito mais baixos. Aproximadamente 10% da população chinesa situa-se abaixo dos níveis internacionais de pobreza. A corrupção e condições de trabalho ruins são desafios que o governo tem dificuldade para resolver. A rápida transformação da economia trouxe mudanças substanciais para o contexto social e ambiental, e a geografia do país o torna suscetível à desertificação induzida pelas mudanças climáticas. A Índia e a China têm em comum grandes populações, dando a ambos os países grandes reservas de mão de obra e grandes mercados em potencial. Entretanto, eles terão que aderir às limitações ambientais. É impossível para populações tão grandes se incorporarem nos mercados consumidores atuais sem inovações radicais dos produtos e dos processos de produção. A África do Sul tem setores financeiros, legais, de comunicação, energéticos e de transportes bem desenvolvidos. Tem também abundância de recursos naturais. A falta de artérias fluviais importantes ou de lagos requer medidas rigorosas de conservação e controle de água. Por outro lado, o crescimento não foi forte o suficiente para diminuir os altos índices de desemprego do país. A pobreza e a falta de poder econômico entre os menos afortunados são problemas que persistem desde a época do apartheid. Há cerca 5,3 milhões de pessoas na África do Sul vivendo com o HIV/AIDS, o que não é apenas uma tragédia, mas também um grande desafio para o desenvolvimento econômico do país. Como a avaliação do ICR se encaixa com outras medidas para a competitividade? Desempenhos medianos ou baixos no banco de dados do Doing Business e no Opacity Index nos alertam que os BRICS ainda não são os países mais propícios para se fazer negócios ou investimentos quando se leva em conta todos os riscos – corrupção, ineficácia do sistema judiciário, políticas econômicas deletérias, práticas de prestação de contas e de governança inadequadas e estruturas de regulamentação danosas. Os países do BRICS estão melhorando as suas políticas anti-monopólio, sendo a África do Sul a melhor colocada nesse ranking, e a China em último. Apesar dos seus desempenhos similares no Global Competitiveness Index (Índice de Competitividade Global) a Rússia oferece menos riscos do que o Brasil em relação a investimentos. Os resultados também mostram desafios nos relacionamentos entre os grupos da sociedade civil, os criadores de políticas e os negócios, especialmente, mas não somente, na Índia e na África do Sul. Isso reduz o potencial para a colaboração ao lidar com as questões sociais. Pode até ser um aviso prévio sobre os grandes obstáculos no caminho do fortalecimento da democracia nesses países. AccountAbility 111 Considerações Os riscos aqui discutidos são apenas algumas das questões sociais e ambientais que os países do BRICS terão que enfrentar na sua busca para alcançar posições mais elevadas dentro da economia global. Os cinco países do BRICS irão cada vez mais competir entre si e com outros exportadores dinâmicos para construírem marcas competitivas. Encontrar estratégias eficazes para fornecer trabalho decente, diminuir as diferenças entre os sexos, desenvolver uma produção de baixos níveis de carbono e enfrentar a corrupção serão componentes chave para o desenvolvimento da competitividade responsável. O que se faz necessário agora é uma avaliação mais detalhada dos riscos e oportunidades perante os países BRICS dentro de um escopo de desenvolvimento sustentável. O que irá acontecer quando os recursos naturais se esgotarem? Como as mudanças ambientais, especialmente o clima, irão afetar o desenvolvimento social e econômico? Qual o equilíbrio ideal entre os impulsionadores de políticas, os habilitadores sociais e as ações empresariais? A Fundação Dom Cabral está comprometida em trabalhar com a AccountAbility, e com institutos de pesquisa em outros países do BRICS para usar a estrutura do ICR para responder justamente essas questões. Sobre os autores: Cláudio Boechat é Professor da Fundação Dom Cabral. Ele ensina e faz pesquisas na área de gestão responsável de negócios, liderança responsável e questões relacionadas. Sua formação anterior é como executivo empresarial. Edna Nascimento é Estatística Associada e conferencista da Fundação Dom Cabral. Sua formação é em Comércio Internacional e Estatística e ela é professora de estatística na Faculdade Milton Campos. Luana de Albuquerque Dapieve é Assistente de Pesquisa na Fundação Dom Cabral. Notas Finais 1 Goldman Sachs. (2003) Dreaming with BRICs: The Path to 2050. Global Economics, Paper nº99. 2 Intergovernmental Panel on Climate Change. (2007) Climate Change 2007: Mitigation of Climate Change. Approved at 9th Session of Working Group III of the IPCC, Bangkok. 3 Litovsky, A. & MacGillivray, A., Development as Accountability, AccountAbility, April 2007; Adams, J., Burchell, K. (2007) Living with the Climate Change, Newsweek, April 16. 112 O Estado da Competitividade Responsável 2007 RSC com Características Chinesas: Desbravando um Caminho Por Aron Cramer Nos últimos 15 anos, em sua maior parte, conforme o desenvolvimento do movimento da responsabilidade social corporativa (RSC), as visões sobre a China tendem a expressar mais sobre o observador do que sobre a própria China. O papel da China na formulação de um mundo sustentável está, finalmente, deixando para trás a sua “Era de Teste Rorschach” e rumando para uma “Era de Recriação da China”, em consonância com a mudança do país sobre os debates globais de todos os tipos. As implicações dessa transição são de enorme significância, para a China e para o mundo. Antes de analisarmos o presente e o futuro, vale a pena avaliar algumas das maiores influências sobre como a RSC na China tem sido compreendida ao longo dos últimos 15 anos. As visões ocidentais da RSC na China foram moldadas por uma combinação de ansiedades sobre o declínio ligado ao desenvolvimento chinês, e preocupações de que a economia do país não é controlada por regras justas e eficazes. Vejam as questões que ocuparam os pensamentos ocidentais ao longo desse período. Houve primeiro um grande destaque sobre os padrões trabalhistas da imensa estrutura de manufatura chinesa, e da habilidade de outros países de competir face a capacidade de manufatura chinesa de baixo custo. Some-se a isso a preocupação sobre a falta de direitos civis e políticos, demonstrada ao longo dos últimos dois anos em debates sobre a privacidade na internet e a liberdade de expressão. Mais recentemente os consumidores nos EUA e na América Latina ficaram chocados com a chegada de comida e produtos para o lar estragados importados da China. Para muitos no ocidente o fio que liga todos esses episódios é a falta de fiscalização da economia de exportação mais poderosa do mundo. Tudo isso resulta em preocupações sobre competição desleal e condições sociais e ambientais em declínio. Embora essa perspectiva seja baseada em evidências consideráveis, ela também demonstra uma falta de compreensão das mudanças sociais e econômicas extremamente dinâmicas que estão ocorrendo na China. A perspectiva chinesa sobre a sustentabilidade irá, em última análise, moldar como a economia do país cresce, e essas perspectivas estão em rápida transformação. E embora qualquer generalização que se faça sobre a China esteja destinada a não ser correta, pelo menos em parte, desenvolvimentos recentes nos dão razões para o otimismo. A abordagem da China sobre o comércio responsável está se desenvolvendo de uma forma que conjuga perspectivas locais e debates globais. Embora a visão dos consumidores ocidentais ainda seja importante, a RSC na China está amadurecendo sem se basear tanto nos interesses ocidentais, mas sim sobre as experiências distintas de companhias ocidentais na China, companhias crescendo na própria China, e companhias chinesas operando no resto do mundo, bem como a conscientização crescente dos consumidores e oficiais governamentais chineses. As experiências da BSR (Business for Social Responsibility – Negócios em Prol AccountAbility 113 da Responsabilidade Social) na China, onde atuamos por mais de uma década, revelam a emergência tanto de uma visão chinesa de RSC única, como também uma crescente convergência de perspectivas chinesas e internacionais. Iniciativas atuais sobre os padrões trabalhistas demonstram bem essas duas tendências. Quando a BSR começou a trabalhar com companhias ocidentais e os seus fornecedores chineses em meados da década de 1990, nos deparamos com reiteradas afirmações de que tais esforços eram um produto de importação que não era bem vindo. Hoje há indícios numerosos que essas idéias foram bem mais aceitas, com benefícios diretos e indiretos. Esses desenvolvimentos demonstram que mesmo a economia mais vibrante do mundo está reconhecendo a necessidade de acatar práticas de comércio responsável como uma parte central da sua estratégia de competitividade. Essas mudanças se refletem em alguns dos casos a seguir: A BSR já trabalhou de perto com várias companhias de eletrônicos, como o Shenzhen Municipal Government (Governo Municipal de Shenzhen), com o Foreign Investment Advisory Service (FIAS – Serviço de Assessoria sobre Investimentos Estrangeiros) do Banco Mundial, com a International Finance Corporation (Corporação Internacional de Finanças) e com o Environment Programme (Programa Ambiental) da ONU (UNEP) para construir capacitação de fornecimento que atenda às expectativas internacionais de práticas sociais e ambientais. Esse tipo de abordagem tão ampla era completamente desconhecido – e provavelmente impossível – há poucos anos atrás. Muitos acreditam que Shenzehn – o arquétipo chinês da máquina de exportação – acatou esse programa por causa do aumento do rendimento dos trabalhadores que procuram melhores condições trabalhistas e ambientais. Agora que a cidade não pode mais depender tanto quanto antes da mão-de-obra barata, ela procura novas – e mais sustentáveis – formas de continuar competitiva. Ao longo dos últimos três anos a China Training Initiative (Iniciativa de Treinamento Chinesa) da BSR vem fornecendo educação e treinamento para mais de 1.000 gerentes de mais de 500 fábricas que contratam mais de um milhão de trabalhadores. Tão importante quanto, a CTI vem enfatizando a construção de capacitação de treinamento local para que instituições locais possam se desenvolver e oferecer continuidade e reforço na geração de capacitação para conseguir resultados. Se tudo correr bem, essa iniciativa irá fomentar a capacidade administrativa de empresas chinesas, o que irá permitir que elas continuem a incrementar os seus sistemas de valores. Por fim, o Chinese National Textile and Apparel Council (Conselho Nacional Chinês Têxtil e de Vestuário) desenvolveu os seus próprios padrões administrativos para práticas trabalhistas nas fábricas chinesas: CSC9000T. Embora esse padrão obedeça às leis chinesas e, portanto, não aceite representantes sindicais eleitos democraticamente, é um esforço significativo que aceite e encoraja o conceito de uma abordagem baseada em princípios para o gerenciamento de grandes fábricas. A criação do CSC9000T também provou ser uma plataforma para diálogo com importadores dos EUA, da Europa e do Japão. E é também uma ferramenta de posicionamento da indústria para fazer uma transição bem sucedida para um modelo mais tecnológico que pode surgir ao longo da próxima década. Essas reformas, que vêm acelerando ao longo dos últimos dois anos, sugerem alguns temas muito importantes: Maior ênfase na capacidade de construção: Instituições, tanto chinesas quanto ocidentais, estão cada vez mais focadas na criação de capacidades, tendo chegado à conclusão das limitações de imposição de RSC através de 114 O Estado da Competitividade Responsável 2007 modelos fortemente calcados na complacência. Isso acarretou diretamente em progressos quanto aos importantes objetivos de engajar os fornecedores chineses como parceiros com os seus consumidores na aceitação de desempenho social e ambiental. Maior envolvimento e liderança das instituições públicas chinesas: As instituições públicas chinesas têm se envolvido bem mais na promoção da RSC. Isso é atribuído em grande parte à adoção do Partido Comunista de uma meta para a construção de uma “sociedade harmoniosa”, e uma atenção maior à natureza do crescimento econômico em vez da atenção exclusiva sobre quanto se cresceu. Isso legitimou o conceito da RSC crucial, dada a estrutura política chinesa. A confiança crescente em modelos colaborativos: A colaboração está crescendo. Embora ainda não se compare ao volume ou aos modelos ocidentais, as colaborações entre as sociedades públicas, privadas e civis estão crescendo, como também crescem os esforços de grupos industriais e colaborações com instituições acadêmicas. Isso é significativo por diversas razões. Primeiro, embora o envolvimento do governo chinês não seja garantia de sucesso, é impossível alcançá-lo sem isso. Até os conceitos fundamentais da RSC serem publicamente aceitos, as interrupções freqüentes no progresso dentro da China eram a norma. Significativamente, vemos agora um engajamento do governo chinês nas grandes iniciativas globais, incluindo o Global Compact da ONU, esforços para implantar padrões ISO 26000 de responsabilidade social, e a entrega, no ano passado, de 20 relatórios sobre RSC por companhias chinesas, a maioria dos quais fazendo referências ao Global Reporting Initiative Guidelines (Guia da Iniciativa de Relatório Global). Espelhando a integração da China e na sua crescente liderança no comércio internacional, a sua aceitação em participar de iniciativas RSC é um bom augúrio para estabelecer um movimento verdadeiramente global. Segundo, e significativamente, pode ser que os esforços voluntários para estabelecer normas sobre as condutas comerciais contribuam para um maior respeito pela lei na China. Empresas necessitam de leis bem estabelecidas, aplicadas com equilíbrio, com informação transparente para criar mercados eficientes. Terceiro, está claro que o comércio é um forte impulsionador para o aumento de normas de RSC. O respeito por padrões trabalhistas, maior transparência e preocupação ambiental são todos impulsionados pelo crescente interesse das cinco bilhões de pessoas fora da China que estão agora diretamente integradas à economia chinesa. O crescente debate sobre o impacto dos investimentos externos da China, mais visivelmente na África, mas também na América Latina, irá levar a harmonização de normas e práticas que provavelmente resultarão no aumento da integração de RSC. Conforme a RSC na China se distancia de modelos dominados por códigos de conduta impostos por multinacionais, para aumentar a capacitação, propriedades locais e colaboração entre setores, iniciativas baseadas em normas amplamente aceitas estão se solidificando. O projeto supracitado do Banco Mundial une os atores dos setores público e privado, e participantes dentro e fora da China, usando padrões como fundamento da sua colaboração. Essa iniciativa, e outras similares, deixam em seu rastro não apenas um desempenho social e ambiental melhor, mas também padrões e normas internalizados para guiar as práticas comerciais. AccountAbility 115 O fato de estarmos presenciando “milhares de colaborações florescerem” na China demonstra a força desse modelo. Se parcerias público-privadas estão aumentando em um ambiente que retém numerosas características de uma política econômica de comando e controle, isso traz uma validação única. Seria, entretanto, um erro presumir que irão se desenvolver do mesmo modo que o fizeram no ocidente. A própria natureza e atitude dos grupos civis na China continuam diferentes daquelas encontradas em ambientes mais abertos, e muitas das parcerias são “GONGOs”, ou seja, ONGs orientadas pelo governo, o que para muitos pode parecer uma contradição. E embora os participantes dessas parcerias possam ser bem diferentes dos encontrados em outros lugares, é significativo que a vontade de colaborar é agora um fator comum dentro e fora da China. Citando uma análise geopolítica, os códigos de conduta têm tanto “hard power” quanto “soft power”. O primeiro se equivale com os impactos diretos desejados do fortalecimento à adesão de regras estabelecidas, e isso é de importância vital. Mas os códigos e padrões, e os esforços voluntários do segundo estão espalhando o princípio de que as regras são importantes, e que se forem aplicadas de forma justa elas são uma parte essencial de um sistema econômico moderno que queira ter um bom desempenho social e ambiental. Conforme a China continua a se afastar de códigos estrangeiros impostos e adotando cada vez mais práticas comerciais responsáveis, vemos, pela primeira vez, milhões de trabalhadores expostos a regras explícitas nos seus locais de trabalho, exemplos cada vez maiores de esforços conjuntos para transformar a promessa dessas iniciativas em realidade, e mecanismos mais fortes para implantá-las através da mídia e de oficiais públicos. Ainda existem muitas falhas no sistema. Ainda é necessário muito trabalho, idéias criativas e persuasão. Mas apesar disso tudo, é possível ver as sementes da mudança começando a dar frutos. Sobre o autor: Aron Cramer é Presidente e CEO do Business for Social Responsibility (BSR – www.bsr.org) uma associação comercial sem fins lucrativos que se dedica a fomentar uma justa e sustentável economia através do trabalho com outras empresas, incluindo a sua rede de companhias membro Global 1000. 116 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Competitividade Responsável em Nível Regional Por Jeremy Nicholls e Paul Begley Remodelar os mercados e lidar com as necessidades sociais e ambientais de forma que os negócios se desenvolvam é essencial para assegurar a prosperidade sustentável. Vantagens competitivas estão disponíveis para países, regiões e cidades que alcancem o objetivo da competitividade responsável. Mas como podem os governos e as agências de desenvolvimento regional assegurar que as suas decisões estão promovendo a competitividade responsável? Quais as ferramentas e as estruturas necessárias para mapear as mudanças no comportamento empresarial? Uma região que está se posicionando para tirar vantagem dos mercados em mudança é o noroeste da Inglaterra. A região – berço da Revolução Industrial, do Livre Comércio e dos Beatles – trocou as colunas de fumaça provenientes das chaminés por manufaturas limpas, fábricas de algodão se tornaram apartamentos chiques e galerias de arte, e cidades construídas pela indústria viraram centros turísticos para compras e eventos culturais. O noroeste da Inglaterra tem agora um dos setores de alta tecnologia que mais se desenvolve na Europa e a maior concentração de trabalhadores nos setores de biotecnologia e química do Reino Unido. Mas outras transformações estão ocorrendo: projetos animadores estão em andamento para integrar e imbuir a responsabilidade corporativa no desenvolvimento regional. Uma ferramenta chave nessa abordagem é a iniciativa Responsibility Northwest que irá fomentar o desenvolvimento das estratégias econômicas regionais. A Responsibility Northwest é o carro-chefe de um projeto de parceria financiado pela Northwest Regional Development Agency do governo do Reino Unido, e liderada pelo fundo de caridade Sustainability Northwest, cujo objetivo é aumentar as práticas locais de comércio responsável. É um dos maiores programas em prol do comportamento responsável entre as pequenas e médias empresas (PMEs) da Europa. A Responsibility Northwest está adotando uma abordagem multifacetada na promoção do crescimento dos negócios sustentáveis que encoraja a inclusão social e previne a degradação ambiental. Uma das estratégias é trabalhar diretamente com as empresas para ajudar a identificar e lidar com os riscos e oportunidades mais importantes relacionados ao cerne dos seus negócios nos setores sociais, ambientais e econômicos. Outra estratégia é responder às preocupações em áreas como decisões sobre infra-estruturas, políticas sobre recursos e práticas empregatícias. Outros projetos enfatizam a criação de compreensão e capacitação em redes empresariais e organizações de apoio para negócios, para incentivar os seus acionistas a adotarem práticas comerciais mais responsáveis. Outra forma é através da mensuração de como a responsabilidade está imbuída nas estratégias comerciais e usar isso para criar um Índice Regional de Competitividade Responsável. Embora existam situações onde os “ganhos” são praticamente certos quando as práticas comerciais responsáveis são aplicadas para aumentar o desempenho, nem sempre isso ocorrerá. Nem todos os comportamentos responsáveis irão contribuir para a competitividade. A prática da responsabilidade empresarial depende das condições do mercado, do estágio de desenvolvimento comercial e da capacidade das empresas na implementação de mudanças. Os primeiros passos para o desenvolvimento de um ambiente macroeconômico que seja conducente às práticas comerciais responsáveis precisam ser flexíveis o suficiente para levar todos esses fatores em conta. Para entender quais os tipos de práticas comerciais responsáveis que podem aumentar o desempenho, a Responsibility Northwest desenvolveu um índice bastante robusto. AccountAbility 117 Como o Índice de Competitividade Responsável nacional supracitado, o Índice Regional de Competitividade Responsável fundamenta-se em uma teoria prática para mudanças. Isso requer que as empresas compreendam o quanto elas impactam as áreas sociais, econômicas e ambientais, e que elas administrem os impactos que apresentem riscos ou oportunidades de forma a se tornarem mais competitivas e para aumentar a sua produtividade. Para influenciar as políticas, o índice regional precisa avaliar os desfechos do programa da Responsibility Northwest e demonstrar se, como antecipado, as mudanças na compreensão dos riscos e oportunidades nos negócios levam a mudanças na competitividade regional. Mas como pode uma região avaliar precisamente esses ajustes? O primeiro passo é a inclusão de um pequeno número de perguntas em uma pesquisa trimestral que acontece por toda a região promovida pelo Chambers of Commerce (Câmara do Comércio). Elas devem abordar a percepção das empresas sobre os riscos e oportunidades que estão nos horizontes correntes de planejamento. O segundo passo é um conjunto de dados disponível para o público, avaliando os impactos sociais, econômicos e ambientais dos negócios nas cinco sub-regiões do noroeste da Inglaterra. Desempenho entre cada sub-índice Em complementação a essa abordagem sub-regional, a Responsibility Northwest se aliou à AccountAbility em meados de 2006 para criar o índice regional, que se fundamenta em projetos de outras regiões do Reino Unido e avalia 26 indicadores (como treinamento de pessoal e sistemas de administração ambiental) que refletem o desempenho social, ambiental e econômico em relação aos empregados, aos consumidores, fornecedores e vizinhos. A Figura 1 destaca o desempenho da região em relação a regiões similares no Reino Unido, como Yorkshire e Humber, e também com a média nacional. Empregados Noroeste Clientes Fornecedores Yorkshire Vizinhos Nacional Figura 1: Desempenho regional para cada tipo de stakeholder 118 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Total (Proporção de 25%) Em todos os 26 indicadores parece que o noroeste da Inglaterra tem uma pontuação abaixo da média nacional, com exceção dos impactos sobre os empregados. Talvez não seja uma surpresa que a região tenha uma pontuação especialmente boa em relação aos empregados – os índices de redundância caíram recentemente e a região tem mais de um quarto de todos os representantes de treinamento dos sindicatos de toda a Inglaterra. A região tem pontuações mais baixas em todos os indicadores relacionados a fornecedores e um desempenho fraco na reciclagem de resíduos comerciais e industriais. Um índice regional robusto permite aos implementadores de políticas identificar em quais as áreas eles podem melhorar as práticas de responsabilidade comercial. A questão chave será então o relacionamento com a competitividade, cujo primeiro estágio é uma comparação entre a responsabilidade e a competitividade. Desempenho entre cada sub-índice A publicação anual do Robert Huggins Associates, o European Competitiveness Index (Índice Europeu de Competitividade), fornece uma avaliação independente do desempenho econômico regional. O índice de 2006/07 usa uma gama de indicadores, incluindo níveis de atividade econômica; produtividade no trabalho; aplicação de patentes, passageiros de aviões e densidades de ferrovias; níveis de desemprego e densidade de emprego baseada em dados para avaliar a competitividade das 118 regiões dos 27 países europeus.1 A edição mais recente mostra que o noroeste da Inglaterra caiu sete posições (para 53º) na competitividade desde 2004/05. Ambiental Noroeste Social Econômico Yorkshire Total (Proporção igual) Nacional Figura 2: Desempenho regional para cada tipo de impacto A Figura 2 avalia o Índice Regional de Competitividade Responsável em relação ao índice de competitividade regional. O noroeste da Inglaterra tem uma pontuação mais elevada do que os vizinhos Yorkshire e Humber, mas abaixo do desempenho nacional, tanto em competitividade quanto em responsabilidade. AccountAbility 119 Índice do Desempenho regional de competitividade responsável Essa simples conclusão destaca que o noroeste da Inglaterra está enfrentando um desafio em uma sociedade cada vez mais integrada. Mas de fato, através da implementação de iniciativas como a Responsibility Northwest, a região encontra-se bem posicionada para melhorar o desempenho, reconstruir vantagens competitivas e tirar proveito dos mercados que premiam as práticas comerciais responsáveis. Através da liderança política forte, uma abordagem coordenada para aumentar a responsabilidade e desfechos tangíveis como o aumento da capacidade das redes comerciais de apoiar as práticas comerciais responsáveis, e o índice de dois patamares, a Northwest Development Agency e a Responsibility Northwest estão trabalhando para preparar a região para mercados que premiam as práticas comerciais responsáveis. Nacional Noroeste Yorkshire Competitividade Figura 3: Desempenho regional de competitividade responsável Fonte: Competitividade do Robert Huggins Associates. O índice descrito aqui irá criar uma base para compreender como as empresas podem obter vantagens das condições mercadológicas em mudança, e como identificar quais as áreas da responsabilidade corporativa que podem guiar o desempenho regional. O índice foi desenvolvido para assegurar a sua reprodução e a sua comparação com outras regiões. Ao longo do próximo ano o índice será testado em Chipre2, o que permitirá ainda mais análises sobre o relacionamento entre a competitividade e as práticas comerciais responsáveis. No nível sub-regional, os indicadores precisam ser desenvolvidos para assegurar que comparações possam ser feitas entre anos e entre regiões. O apoio de indicadores regionais por indicadores que são relevantes para setores e grupos chave permite a comparação com outras regiões, e podem ser eventualmente programados para lidar com as diferenças entre os tipos de negócios operando dentro daquela região. 120 O Estado da Competitividade Responsável 2007 As abordagens atuais para medir a competitividade não levam em conta a extensão da compreensão e da administração dos impactos causados pelas empresas. Estratégias regionais geralmente são a inclusão social e a proteção ambiental, e cobrem questões similares para aqueles listados no Índice Regional de Competitividade Responsável. Entretanto, esse índice vai além, focando em empresas, a administração empresarial das questões sociais e ambientais, e explora o relacionamento com a competitividade. O noroeste da Inglaterra, uma região que foi crucial na primeira grande onda do desenvolvimento industrial, tem a visão de se tornar uma região responsável que promove o crescimento, a inclusão e a sustentabilidade. O desenvolvimento de ferramentas práticas para apoiar a tomada de decisões comerciais e avaliar o relacionamento entre a responsabilidade e a competitividade em níveis regionais e sub-regionais oferece uma abordagem útil para outras regiões que buscam objetivos semelhantes. Sobre os autores: Jeremy Nicholls é Senior Associate da AccountAbility e o Diretor do Urban Strategy Associates, do BETA Model, e da companhia de treinamento ético Cat’s Pyjamas. Jeremy é membro do conselho da Câmara do Comércio de Liverpool e um parceiro no desenvolvimento e na implementação do Responsibility Northwest, um programa para divulgar a responsabilidade corporativa entre as PMEs do noroeste da Inglaterra. Paul Begley é pesquisador da AccountAbility Notas finais: 1 O índice 2006/07 pontuou regiões pela média européia, que tem pontuação 100. Bruxelas é apontada como a região mais competitiva da Europa e têm uma pontuação de 193,5. O noroeste (103) e Yorkshire e Humber (102,3) têm pontuação acima da média européia, mas bem abaixo da região mais competitiva. 2 Como parte de um projeto paralelo apoiado pela European Commission e chamado Mainstreaming, que envolve a Sustainability Northwest, a Câmara do Comércio de Liverpool, o Cat’s Pyjamas e o Institute for Social Innovation (Instituto para inovações Sociais). AccountAbility 121 122 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Anexo AccountAbility 123 124 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Impulsionadores de Políticas Ações Empresariais Habilitadores Sociais SWE 81.5 86.0 90.2 74.7 2 Dinamarca DNK 81.0 89.9 86.9 76.6 3 Finlândia FIN 78.8 83.9 84.1 76.7 4 Islândia ISL 76.7 83.5 74.9 86.3 5 Reino Unido GBR 75.8 88.8 75.9 76.6 6 Noruega NOR 75.5 83.8 77.3 75.9 7 Nova Zelândia NZL 74.9 88.6 72.2 80.0 8 Irlanda IRL 74.6 85.0 73.8 78.1 9 Austrália AUS 73.0 82.7 73.6 73.3 10 Canadá CAN 73.0 83.7 72.5 74.8 Abreviação dos países Suécia País 1 Ranking ICR 2007 Índice da Competitividade Responsável 2007 Tabela 1: Ranking do Índice da Competitividade Responsável 2007 11 Alemanha DEU 72.7 81.8 74.8 70.1 12 Países Baixos NLD 72.6 81.6 75.0 69.5 13 Suíça CHE 72.5 87.8 74.5 65.7 14 Bélgica BEL 71.9 86.1 70.1 73.0 15 Singapura SIN 71.3 83.7 74.4 63.5 16 Áustria AUT 70.9 84.1 71.6 67.2 17 França FRA 70.1 76.9 69.2 73.6 18 Estados Unidos USA 69.6 72.6 72.1 68.6 19 Japão JPN 68.8 80.7 68.9 65.7 20 Hong Kong, China HKG 68.3 84.5 68.9 60.6 21 Portugal PRT 65.9 79.2 63.1 65.7 22 Estônia EST 65.0 73.5 67.4 73.0 23 Eslovênia SVN 64.1 76.0 61.3 63.7 24 Chile CHL 64.0 80.3 65.4 67.9 25 Malásia MYS 63.7 82.3 68.4 59.2 26 Espanha ESP 63.7 73.3 61.4 63.3 27 Coréia KOR 63.0 69.3 62.8 60.7 28 África do Sul ZAF 62.5 75.8 66.9 61.3 29 Emirados Árabes Unidos UAE 62.4 75.1 63.6 52.1 30 Lituânia LTU 62.1 78.7 64.0 63.6 AccountAbility 125 Abreviação dos países Índice da Competitividade Responsável 2007 Impulsionadores de Políticas Ações Empresariais Habilitadores Sociais ISR 61.6 76.9 63.1 64.2 32 Itália ITA 61.2 76.0 55.8 61.6 33 Grécia GRC 61.0 72.9 61.1 52.6 34 Taiwan, China TAI 60.7 68.8 62.5 67.5 35 Letônia LVA 60.3 77.6 61.0 62.1 36 Costa Rica CRI 60.2 78.8 64.2 54.8 37 Tailândia THA 60.0 76.3 65.3 53.5 38 Jamaica JAM 59.8 77.0 64.9 52.8 39 República Tcheca CZE 59.7 78.0 61.1 59.1 40 Maurício MUS 59.3 79.4 58.0 62.7 41 Botswana BWA 59.3 82.0 57.5 61.8 42 Kuwait KWT 58.7 74.1 61.6 56.5 43 República Eslovaca SVK 58.2 77.9 59.0 57.0 44 Hungria HUN 57.7 79.9 57.8 55.9 45 Peru PER 56.8 70.3 60.7 52.8 46 Trinidad e Tobago TTO 56.7 76.6 57.4 54.4 47 Namíbia NAM 56.4 77.6 55.5 56.1 48 Indonésia IDN 56.1 72.5 59.0 51.3 49 El Salvador SLV 55.9 77.8 55.7 53.5 50 Jordânia JOR 55.7 74.9 57.9 50.3 51 Turquia TUR 55.6 72.4 56.9 53.6 52 Uruguai URY 55.6 75.5 52.7 59.8 53 Croácia HRV 55.5 73.1 58.0 50.6 54 Polônia POL 55.4 74.7 53.6 57.8 55 Colômbia COL 55.1 77.4 56.0 49.9 56 Brasil BRA 55.0 72.3 56.4 52.3 57 México MEX 54.8 70.5 57.6 50.1 58 România ROM 54.6 68.1 54.9 56.4 59 Bulgária BGR 54.4 70.4 51.3 60.9 60 Tunísia TUN 54.3 79.4 60.6 35.8 126 País Israel Ranking ICR 2007 31 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Impulsionadores de Políticas PHL 54.0 74.5 62 Panamá PAN 53.9 63 Geórgia GEO 53.4 64 Moldávia MDA 65 Macedônia, FYR 66 67 37.3 70.1 55.2 51.1 80.0 53.4 45.8 53.3 69.7 55.2 48.9 MKD 53.1 70.2 54.6 49.0 Argentina ARG 53.1 69.8 52.1 54.0 Egito EGY 52.6 69.5 58.3 39.9 68 Sri Lanka LKA 52.4 76.9 54.9 40.6 69 República Dominicana DOM 52.4 70.9 51.2 52.0 70 Índia IND 52.2 67.4 64.0 52.5 71 Lesoto LSO 52.1 78.6 51.8 44.2 72 Guatemala GTM 52.0 75.1 53.1 43.3 73 Kazaquistão KAZ 50.8 64.8 55.0 41.7 74 Albânia ALB 50.4 73.2 53.1 37.8 75 Honduras HND 49.9 72.1 51.1 40.4 76 Venezuela, RB VEN 49.8 64.1 53.5 41.1 77 Nicarágua NIC 49.5 73.5 47.4 45.1 78 Zâmbia ZMB 49.0 80.4 58.4 40.5 79 Equador ECU 49.0 72.3 49.0 40.5 80 Uganda UGA 48.1 85.2 52.2 45.6 81 Nigéria NGA 48.0 76.3 56.3 43.6 82 Quênia KEN 48.0 78.5 55.0 44.3 83 Federação Russa RUS 48.0 61.7 51.9 38.0 84 Bolívia BOL 47.5 63.1 47.9 42.6 85 Camarões CMR 47.4 69.3 46.0 41.5 86 Paraguai PRY 47.3 70.0 42.1 48.4 87 China CHN 47.2 64.2 50.4 35.9 88 Zimbábue ZWE 47.2 66.1 60.1 39.5 89 Mali MLI 47.2 74.4 50.4 52.9 90 Tanzânia TZA 47.1 72.5 55.5 43.8 País 60.9 Ranking ICR 2007 Habilitadores Sociais Índice da Competitividade Responsável 2007 Filipinas Ações Empresariais Abreviação dos países 61 AccountAbility 127 47.0 92 Benin BEN 46.9 93 Madagascar MDG 94 Burquina Faso 95 77.1 53.1 44.8 73.9 51.4 50.2 46.9 74.3 52.9 46.7 BFA 46.6 71.9 51.6 49.8 Marrocos MAR 46.4 67.4 42.4 46.1 96 Moçambique MOZ 46.1 73.5 51.2 47.3 97 Ucrânia UKR 45.2 50.7 48.4 40.8 98 Gâmbia GMB 45.1 79.1 52.5 36.3 99 Camboja KHM 44.3 75.4 50.9 38.6 10 Mongólia MNG 43.9 63.8 49.9 47.1 101 Angola AGO 43.4 59.4 42.5 38.2 102 Mauritânia MRT 41.6 65.1 49.3 37.1 103 Paquistão PAK 41.4 68.5 48.4 35.8 104 Quirguistão KGZ 41.1 66.7 45.5 41.6 105 Etiópia ETH 40.8 76.4 47.2 29.9 106 Bangladesh BGD 39.8 74.3 40.6 40.1 107 Nepal NPL 37.5 65.1 41.0 35.8 108 Chade TCD 35.1 64.6 40.3 27.1 Ranking ICR 2007 Habilitadores Sociais Índice da Competitividade Responsável 2007 MWI Ações Empresariais Abreviação dos países Maláui Impulsionadores de Políticas País 91 128 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Tabela 2: Classificando os países pelos rendimentos (baseado nos dados do Banco Mundial, usando o método Atlas) Baixa Renda ($875 ou menos GNI per capita) Bangladesh; Benin; Burquina Faso; Camboja; Chade; Etiópia; Gâmbia; Índia; Quênia; Quirguistão; Madagascar; Maláui; Mali; Mauritânia; Mongólia; Moçambique; Nepal; Nigéria; Paquistão; Tanzânia; Uganda; Zâmbia; Zimbábue. Renda Média ($876 - $10.725 GNI per capita) Albânia; Angola; Argentina; Bolívia; Botswana; Brasil; Bulgária; Camarões; Chile; China; Colômbia; Costa Rica; Croácia; República Tcheca; República Dominicana; Equador; Egito; El Salvador; Estônia; Geórgia; Guatemala; Honduras; Hungria; Indonésia; Jamaica; Jordão; Kazaquistão; Letônia; Lesoto; Lituânia; Macedônia, FYR; Malásia; Maurício; México; Moldávia; Marrocos; Namíbia; Nicarágua; Panamá; Paraguai; Peru; Filipinas; Polônia; Romênia; Federação Russa; República Eslovaca; África do Sul; Sri Lanka; Taiwan; China; Tailândia; Trinidad e Tobago; Tunísia; Turquia; Ucrânia; Uruguai; Venezuela, RB. Renda Alta ($10.726 ou mais GNI per capita) Austrália; Áustria; Bélgica; Canadá; Dinamarca; Finlândia; França; Alemanha; Grécia; Hong Kong, China; Islândia; Irlanda; Israel; Itália; Japão; Coréia, Rep; Kuwait; Países Baixos; Nova Zelândia; Noruega; Portugal; Singapura; Eslovênia; Espanha; Suécia; Suíça; Emirados Árabes Unidos; Reino Unido; Estados Unidos. AccountAbility 129 Sobre as Organizações AccountAbility A Accountability é uma organização internacional, sem fins lucrativos, criada em 1995 para estimular inovações de responsabilidade que promovam práticas responsáveis nos negócios, no governo, na sociedade civil e em outras instituições. Nossos 200 associados incluem empresas, prestadores de serviços, organizações não-governamentais, grupos de pesquisas, e elegem nosso Conselho internacional composto de representantes de todos os cinco continentes. A AccountAbility desenvolveu a Série AA1000 de Garantia de Sustentabilidade (Series Sustainability Assurance) e os Padrões de Engajamento do Investidor (Stakeholder Engagement Standards), como também liderou uma importante pesquisa de governança e responsabilidade das parcerias e ligações entre práticas responsáveis de negócios e a competitividade das nações. A AccountAbility trabalha com seus membros para ajudá-los a fazer o alinhamento entre responsabilidade corporativa e estratégia de negócios, promovendo aprendizagem conjunta e desenvolvimento de ferramentas analíticas e de comparação. 250 – 252 Goswell Road, Londres, EC1V 7EB, Reino Unido Telefone: +44 (0)20 7549 0400 Fax: +44 (0) 20 7253 7440 Email: [email protected] Website: www.accountability21.net Escritório 3501 1250 24th Street, N.W. Suite 300 Washington, DC 20037 130 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Fundação Dom Cabral A Fundação Dom Cabral (FDC) procura contribuir para o desenvolvimento da sociedade mediante educação e desenvolvimento dos executivos, pessoas de negócios e empresas. Desde o inicio, a FDC seguiu a premissa de que é importante trabalhar com o cliente e não somente para o cliente, numa constante busca para renovar o conhecimento. Ao estabelecer grupos que trabalharão crítica e estrategicamente na assistência a empresas no desenvolvimento sustentável, a FDC influencia e guia o processo de desenvolvimento de soluções educacionais combinando conhecimento teórico e prático. Nesse esforço contínuo para gerar e disseminar conhecimento através do gerenciamento de metodologias e conceitos aplicados às organizações, a FDC investe significativamente no desenvolvimento de pesquisa em áreas de interesse estratégico do mundo dos negócios. Deste modo, mantém alianças com algumas das melhores escolas de negócios no mundo e faz parcerias com elas em programas, ao mesmo tempo em que estabelece contratos de cooperação com instituições renomadas nacionais e estrangeiras para promover troca de experiências e para fazer pesquisas conjuntas. Fiel aos seus valores, a FDC pratica os conceitos de responsabilidade corporativa no seu gerenciamento e nos programas, nas pesquisas e nos estudos que desenvolve, procurando compartilhar esse conhecimento com as empresas e seus executivos, contribuindo, assim, para torná-los agentes do desenvolvimento sustentável da sociedade. Campus Aloysio Faria Av. Princesa Diana, 760 Alphaville 34000 000 Nova Lima MG Brasil Telefone: +55 (31) 3589 7200 Website: www.fdc.org.br AccountAbility 131 Banco Real Nossa Visão de Competitividade Responsável Quando o Banco Real iniciou, há quase dez anos, sua busca pelo resgate do papel dos Bancos como agentes de desenvolvimento econômico e social, a atuação pautada pela ética e transparência podia ser vista como uma vantagem competitiva. Hoje, a emergência das demandas sociais e ambientais tornou a governança corporativa e as boas práticas de gestão uma condição para estar no jogo. Favorecidos pelo fluxo global de informação, consumidores e investidores aprenderam a se organizar contra a ineficiência e a falta de transparência. A sociedade pressiona cada vez mais por regulamentação para as atividades empresariais e se apropria das questões sociais e ambientais como temas prioritários da agenda política. Problemas globais e nacionais exigem a articulação inteligente da sociedade civil, governo e empresas. O Banco Real acredita que não é possível ir bem em um país que vai mal. Queremos dar certo junto com o Brasil e mostrar que a sustentabilidade, além de uma cobrança da sociedade, é um novo jeito de fazer negócios de maneira lucrativa e inovadora. Assimilamos este desafio em nossa própria linha de negócios. Entre outras iniciativas, criamos um fundo de investimentos socioambientalmente responsável e promovemos o empreendedorismo em comunidade de baixa renda por meio do microcrédito. Passamos a analisar os pedidos de empréstimos de clientes corporativos sob a ótica do risco socioambiental e, antes de negar o crédito, estimulamos a adequação das práticas das empresas. Em 2007, criamos o Programa de Sustentabilidade na Construção Civil, que incentiva a adoção de práticas responsáveis no setor imobiliário. A bem-sucedida experiência em iniciativas como essas, citadas como exemplo, nos ajudou a ver com mais clareza o potencial de um banco para influenciar a mudança da realidade. Por isso, demos mais um passo nessa jornada: decidimos disseminar de maneira estruturada o conhecimento que acumulamos na integração da sustentabilidade à atuação empresarial. Por meio do Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade vamos compartilhar com clientes, fornecedores e sociedade o que aprendemos com a inserção da sustentabilidade no negócio. Faremos isso porque acreditamos que todas as empresas têm um importante papel a desempenhar na construção de um mundo mais sustentável: o de reinventar o jeito de fazer negócios. Av. Paulista, 1374 - 7º andar São Paulo – SP CEP 01310-916 www.bancoreal.com.br/sustentabilidade 132 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Petrobras As ações e projetos relacionados à Responsabilidade Social e Ambiental são parte da gestão de negócios da Petrobras e estão presentes no relacionamento da companhia com todas as partes interessadas. Foi a primeira empresa da América Latina a integrar o comitê do Pacto Global das Nações Unidas (ONU), além de integrar o Dow Jones Sustainability Index (DJSI), o mais importante índice internacional de sustentabilidade, e o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bovespa. A Petrobras é a empresa brasileira que mais investe em projetos sociais, ambientais e culturais no Brasil. A empresa vem mantendo, ano a ano, a estratégia de investimentos crescentes na área de Responsabilidade Social e Ambiental. No final de 2007 foi lançado seu novo programa social, o Desenvolvimento & Cidadania Petrobras, que inaugura uma nova fase na gestão do investimento social da companhia. Com vigência até 2012, o programa vai investir, no período, R$ 1,2 bilhão em projetos com foco em Geração de Renda e Oportunidade de Trabalho, Educação para a Qualificação Profissional e Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. O objetivo do Programa é contribuir para o desenvolvimento local, regional e nacional, gerando a inserção social, digna e produtiva, de pessoas e grupos que vivem em risco ou em desvantagem social no país, reduzindo a pobreza e a desigualdade. Visando alcançar uma transformação consistente no cenário social das comunidades, a Petrobras definiu um conjunto de indicadores e metas de desempenho que irão integrar o monitoramento das ações e a avaliação dos resultados do programa em todo o território nacional . Além de facilitar a identificação, o registro, a sistematização e a multiplicação das ações bem-sucedidas, o novo Programa vai estimular a adoção de boas práticas de gestão pelas organizações sociais brasileiras. O apoio a ações de redução da pobreza e desigualdade é uma prática constante da Petrobras. Resultados expressivos têm sido alcançados em várias ações desse tipo. São iniciativas como o Mova-Brasil, que em três anos alfabetizou 46 mil jovens e adultos. A geração de renda é outro objetivo, contemplado em projetos como Agricultura Familiar em Faixa de Dutos. Também a inclusão – o projeto Cidadão Capaz adaptou 10 postos da Petrobras para empregar pessoas com deficiência – e a educação para a capacitação profissional – como acontece nos telecentros de inclusão digital – são tratados em vários projetos. Há muitas outras ações, e em 2008, a companhia vai destinar, R$ 27 milhões ao patrocínio de iniciativas de Responsabilidade Social via seleção pública. Av. República do Chile, 65 - Centro Rio de Janeiro - RJ CEP 20031-912 www.petrobras.com AccountAbility 133 Serasa Criada em 1968, a Serasa é a maior empresa do Brasil em pesquisas, informações e análises econômico-financeiras para apoiar decisões de crédito e negócios e referência mundial no segmento. Participa ativamente no respaldo às decisões de crédito e de negócios tomadas em todo o Brasil, facilitando aproximadamente 4 milhões de negócios por dia, para mais de 400 mil clientes diretos ou indiretos. É uma empresa do grupo Experian, líder mundial no fornecimento de serviços de informações, análises de crédito e marketing a organizações e consumidores, com o objetivo de auxiliá-los a gerenciar riscos e benefícios de decisões comerciais e financeiras. O negócio da Serasa está visceralmente relacionado à sustentabilidade, tanto ao prover informações para tornar os negócios mais seguros, quanto ao contribuir para que as empresas possam tomar e conceder crédito com qualidade. Para a Serasa, o crédito tem importante função social: a de financiar o consumo, elevar a produção, gerar empregos, aumentar o bem-estar dos cidadãos e contribuir para o crescimento do País. Constantemente orientada para soluções inovadoras em informações para negócios, a Serasa vem, há quase duas décadas, contribuindo para a transformação da cultura de crédito no Brasil, com a incorporação contínua dos mais avançados recursos de inteligência e tecnologia. Os reconhecimentos e as certificações internacionais atribuídos à Serasa tornam-na referência em diversos parâmetros globais, o que é fruto da busca pela excelência como filosofia e de sua prática no cotidiano da empresa. Consciente da necessidade do avanço da pesquisa científica para o desenvolvimento sustentável do País, entre outras ações corporativas nessa área, a Serasa mantém, desde 2004, o Núcleo Serasa de Inovação em Serviços da Fundação Dom Cabral (FDC). A parceria com a Fundação Dom Cabral tem como objetivo desenvolver pesquisa sobre práticas e processos inovadores entre as empresas do setor de serviços, a fim de produzir melhorias, disseminar novos conhecimentos e otimizar os resultados das organizações. Ao patrocinar a versão brasileira do livro “O ESTADO DA COMPETITIVIDADE RESPONSÁVEL 2007”, resultado de um trabalho conjunto da Fundação Dom Cabral e da AccountAbility, a Serasa reafirma o seu compromisso com o apoio à competitividade das empresas, o que é fundamental para o desenvolvimento do Brasil. Alameda dos Quinimuras, 187 – Planalto Paulista São Paulo – SP - Brasil CEP 04068-900 Telefone : 55 (11) 3373 7272 www.serasa.com.br 134 O Estado da Competitividade Responsável 2007 Agradecimentos A realização de O Estado da Responsabilidade Competitiva é uma verdadeira colaboração global, envolvendo centenas de ensaístas, pesquisadores, revisores e debatedores de dezenas de países. Estamos profundamente agradecidos a todos por terem disponibilizado o tempo de suas agendas ocupadas para contribuir com este relatório. O relatório tornou-se possível mediante o apoio generoso do nosso patrocinador central, Roberto Murray Meza da Fundemas de El Salvador, e dos nossos patrocinadores mantenedores, Stephen Heintz e Hope Lyons, Rockefeller Brothers Fund e Elena Bonfiglioli, Microsoft. Além de todos os nomes que aparecem no índice, as seguintes pessoas merecem agradecimentos especiais: Maya Forstater, Anita Househam, Signe Jensen, Thomas Krick, Rebecca Parsons, Fernanda Polacow, Sasha Radovich, Peter Raynard, Steve Rochlin, Anna Turrell e Aris Vrettos da AccountAbility; Gloria de Olmedo, Agrisal; Aasil Ahmad, Anwar Ibrahim Consulting Associates; Cynthia Okita, Berkeley Roundtable on the International Economy, University of California; Grace Prado, BSR; Ernst Brugger, Brugger Consulting; Guillermo Monroy e Nikki Bahr Leonowens, CentraRSE; Georgina Nunez, CEPAL; Kim Jurgensen, Vincent Motau e Hannelore Wallner, CIVICUS; Lara Blecher e Rachelle Jackson, CSCC; Carsten Ingerslev e Jakob Faarvang, Danish Commerce and Companies Agency; Peter Lacy na EABIS; Roger Conant no EStandards Forum; Pedro Ortun, Louise Schmitz, Jiri Plecity e Thomas Dodd, European Commission; Peris Homberger, Extractive Industries Transparency Initiative; Irene Liang, Fortune China; Hugo Vergara e Pablo Frederick, Forum Empresa; Jorma Immonen, Finnish Trade Ministry; Paige Lee, Futures Group, Singapore Ministry of Trade & Industry; Peter Knight, Generation Investment Management; Tim Kitchin, James Thellusson e Michael Hoevel do Glasshouse Partnership; Elisabeth Dahlin, Globalt Ansvar; Chris Coulton, Globescan; Nick Robins, Henderson Global Investors; Albert Lai e Trini Leung, Hong Kong People’s Council for Sustainable Development (PCSD); Arturo Condo, INCAE; Chang Li Lin, Institute of Policy Studies, Singapore; Nigel Twose, International Finance Corporation; Carole Antiochus e Fabienne Money, International Labour Organisation; Gisela Helberling, ISO Central Secretariat; Natalia Khonyakova, International Projects Bureau Delovaya Kultura; James Howard e Tim Noonan, International Trade Union Confederation; Julianne Lee, Lehman Brothers; Cristiano Oliveira, London School of Economics; Helene Løken, Mandag Morgen; Maggie Burns, MFA Forum; Johann Graf Lambsdorff, Passau University; Soledad Teixidó, ProHumana; Giulia Cosulich, SCS; Lawrence Yau do TDC Hong Kong; Anthony Miller, UNCTAD; Georg Kell, Matthias Stausberg e Ursula Wynhoven, UN Global Compact; Kai Bethke, UN Industrial Development Organisation; Matthias Dietrich, Unirse; Naren Prasad, UN Research Institute for Social Development (UNRISD); Robin Carrington, UN Statistics Division; Fred Wellington e Georgia Moyka, World Resources Institute; e Jackie Janosi, World Wildlife Fund International. AccountAbility 135 Notas 136 O Estado da Competitividade Responsável 2007