Relatório Clínico de Pediatria - Sara Rosado
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Relatório Clínico de Pediatria - Sara Rosado
Actividade 2 Relatório Clínico Sara Rosado Nº 1905 Módulo 11| Raciocionio clínico nas Disfunções Pediátricas Unidade Curricular | Estudos de Caso I Responsável do Módulo | Prof. Aldina Lucena Índice: INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 3 AVALIAÇÃO .............................................................................................................................................. 3 PRINCIPAIS PROBLEMAS ...................................................................................................................... 10 DIAGNÓSTICO FUNCIONAL ................................................................................................................... 10 PROGNÓSTICO ........................................................................................................................................ 11 OBJECTIVOS DA INTERVENÇÃO .......................................................................................................... 11 INTERVENÇÃO ......................................................................................................................................... 11 REAVALIAÇÕES ...................................................................................................................................... 14 CRITÉRIOS DE ALTA................................................................................................................................ 14 CONCLUSÃO ............................................................................................................................................ 14 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................... 15 1 Introdução No âmbito da Unidade Curricular Estudos de Caso I foi-nos solicitada a elaboração de um relatório sobre a condição Clínica do Silvino, com diagnóstico médico de queimadura profunda nas palmas das mãos e sequelas de queimaduras anteriores, quadro clínico agravado por infecção respiratória. Exame Subjectivo O Silvino, de 4 anos, encontra-se internado por queimadura da região palmar das mãos, ocorrida há dois meses por contacto com a porta do forno. Este acidente ocorreu na presença da irmã mais velha, 12 anos de idade, sendo que, a mãe se encontrava ausente de casa. O utente foi observado 3 dias após o acidente no Posto Médico, tendo sido feita desinfecção com betadine (SIC). Teve alta, sem penso e sem indicação para reavaliação médica (SIC). Segundo a avaliação da fisioterapeuta, o Silvino é pouco sorridente e reage mal ao toque, resiste a sair do colo da mãe, embora seja possível estabelecer uma boa relação com a criança por ser colaborante. Analisando o desenvolvimento segundo Erikson, entre os 3 e os 5 anos, a criança situa-se no estágio do controlo locomotor e, neste estágio a criança já se exprime com à-vontade, mostrando que adquiriu confiança e autonomia, pois corre e brinca, orgulha-se de enfrentar problemas, mostrando um sentido de iniciativa (Santos e Monteiro, 2003). De acordo com a descrição feita pela fisioterapeuta, o Silvino não demonstra estas características, não é possível rever o utente neste estágio, importa perceber quais são os factores que o fazem agir desta forma e afastar-se do padrão estabelecido. Normalmente, quando a criança se encontra nesta faixa etária e se dá conta que existem situações que estão acima das suas capacidades, vai realizando um tipo de treino que na verdade é um teste de personalidade que aplica em si mesma, utilizando jogos, testando a sua capacidade mental, e dramatizações, testando as várias personalidades nela mesma. Tudo isso é o que vai fazer a conexão saudável entre o mundo interno e externo da criança. (Rabello e Passos, s.d.). Fazendo uma relação entre as capacidades do Silvino e o estadio de desenvolvimento em que este se deveria integrar, podemos perceber que entre os 3 e os 5 anos é esperado que a criança se exprima de forma natural, ganhando autonomia e confiança que lhe são úteis para desenvolver um espírito de iniciativa, estas características são fundamentais para a exploração da personalidade através do recurso a vários instrumentos. O Silvino, tendo queimadura em ambas as mãos, fica com o potencial físico, a capacidade para aprender novas habilidades e reaprender habilidades antigas afectada (Cabral, 2006), como tal, por questões físicas, ser-lhe-á dificultada esta descoberta da personalidade para a sua relação com o mundo. No entanto, não é apenas a dificuldade a nível físico que limita esta descoberta, a queimadura é uma situação traumática e umas das lesões pediátricas mais dolorosas, é acompanhada de um grande sofrimento, colocando em risco o bem-estar físico e psicológico da criança (Dise-Lewis, 2 2001; Bicho e Pires, 2002, citados por Silva & Santos, 2011). Existem, portanto, uma série de alterações que não se restringem à limitação física mas que podem ser consequência dela. A nível social, a queimadura está associada, muitas vezes, a dificuldades em lidar com o comportamento dos outros e com o seu próprio comportamento, resultando em inibição social (Corry, Pruzinsky, Rumsey, 2009). Seria pertinente questionar a mãe relativamente ao seu comportamento de uma forma geral, dado que, sendo a queimadura uma experiência traumática e tendo este passado por outra experência há 2 anos, esta postura apática poderá advir da experiência anterior negativa ou então pelo facto de, neste momento, estar deslocado do seu ambiente natural, estando num país diferente e num contexto diferente (casa da tia). Como tal, é importante salientar que o espírito de iniciativa caracerístico das crianças desta idade pode ser afectado pela queimadura e os seus efeitos psicossociais, isso juntamente com a incapacidade física, especialmente nas mãos, originam uma dificuldade em usufruir dos instrumentos necessários para começar a sua relação com o mundo exterior. A criança que sofre de queimadura, pode mesmo regredir a estágios de desenvolvimento anteriores, adoptando comportamentos imaturos para a sua idade (Silva & Santos, 2011) como tal, a pessoa que mais próxima se encontra da criança, no caso do Silvino, a sua mãe, será o nosso guia, ajudando-nos a perceber alguns factos que não podem não ser tão perceptíveis. Por outro lado, a situação familiar é um factor que contribui em grande parte para o bem-estar da criança, principalmente numa condição como a do Silvino. A adaptação da criança à queimadura é um processo complexo, que inclui diferentes desafios, como o desconforto físico, a ausência de recursos para perceber o que se passa, incapacidade para brincar e, principalmente, as alterações físicas (Silva & Santos, 2011). As figuras parentais desempenham um papel importante no desenrolar deste processo, se a criança desenvolve um modelo de funcionamento inseguro nas relações, apresenta uma maior probabilidade de desenvolver um modelo de funcionamento de Sefl negativo, desvalorizado e sem amor (Bretherton, 1990) Assim sendo, apesar das crianças que sofrem queimaduras poderem apresentar um modelo interno de Self negativo e, consequentemente, uma baixa na auto-estima, factores como a qualidade da vinculação podem minimizar este facto (Silva & Santos, 2011). É necessário perceber a dinâmica desta família para conseguir apurar os factores que podem afectar negativamente o Silvino. A única informação disponível relativamente à figura do pai é o facto de ser desconhecido, não são esclarecidas as circunstâncias da não existência da figura paternal. A família é numerosa e a mãe do Silvino teve o seu primeiro filho aos 17 anos de idade, oriundos de África, encontram-se em Portugal por preocupação relativamente à situação do utente, com vista à obtenção de melhores cuidados médicos. Sabendo o impacto que as figuras de vinculação têm numa criança queimada, será importante estar atento à informação que se pode apreender relativamente a este parâmetro. Enquadrando esta família num contexto, partindo da informação básica que temos, através da literatura, podemos concluir que 90% dos acidentes no mundo ocorrem em países com um salário médio e baixo (Atiyeh, Costagliola & Hayek, 2009), sendo África um país em desenvolvimento e com um nível de 3 pobreza elevado, esta família poderá enquadrar-se neste padrão. Nos países em desenvolvimento, a maioria das lesões em casa estão associadas à cozinha, ao uso de fogões que são colocados no chão, bem como a tendência do uso de roupas largas feitas com materiais altamente inflamáveis (Ahuja & Bhattacharys, 2004; Hyder et al, 2009) Em suma, os factores socioeconómicos que aumentam o risco de queimaduras nas crianças são: baixo grau de literacia na família; viver em habitações com muitas pessoas; falha na supervisão das crianças; história de queimaduras em irmãos; e a ausência de leis e regulamentos de construção, detectores de fumos e roupas inflamáveis. (Direcção Geral de Saúde (DGS), 2004) Mesmo com pouca informação relativa à dinâmica familiar, podemos enquadrar o Silvino em alguns destes parâmetros. Como tal, é importante durante a relação com esta família, estar atento relativamente a alguns aspectos que podem influenciar a condição do utente e sobre os quais pudemos actuar. Por último, outro factor importante poderá esta a influenciar a condição actual do Silvino é o trauma causado pela queimadura anterior, perante a queimadura, a criança é confrontada com inúmeros factores de stress, o traumatismo da lesão, a hospitalização, os procedimentos médicos, a reabilitação e a reintegração (N. Kaslow, K. Koon- Scott, & A Dingle, 1994). O Silvino já passou por todo este processo e, não conhecendo a experiência anterior podemos considerar que é natural a ansiedade da criança perante a antecipação e expectativa da ocorrência dos mesmos. (B.Carter, D. Bennett,& J. Urey, 1994; D. Chedekel, L. Rizzonev & A Antoon, 1998) Exame Objectivo: As complicações físicas mais comuns na sequência de uma queimadura são, as contraturas que causam diminuição da amplitude articular e deformidades articulares. Estas contraturas são causadas pela imobilização, ossificação heterotopica na articulação do cotovelo e cicatrizes hipertróficas. (Esselman, 2009) Para a realização de um exame objectivo é necessário ter estes factores em consideração. Observação • Queimadura da palma das mãos: Dado que se trata de uma queimadura, é necessário em primeiro lugar observar o estado da pele. Neste utente, isso torna-se muito importante, no sentido em que, é necessário estar atento a sinais de cicatriz hipertrófica, dado que, os individuos com a pele escura e as crianças estão mais predispostos ao desenvolvimento de uma cicatriz hipertrófica. (Juckett & Hartman-Adams, 2009). O Silvino reúne ambas as características, como tal é importante estar atento a sinais como a cor da cicatriz, a sua espessura e rigidez. Uma cicatriz hipertrófica caracteriza-se por ser encarnada, rígida e espessa. (Esselman, 2009) É de extrema importância salientar que se a cicatrização ocorre depois dos 21 dias, a incidência de hipertrofia da cicatriz aumenta para 78%. (Tecklin, 2002) O Silvino apresenta-se com uma ferida aberta e penso nas mãos e a queimadura tem 2 meses, a pele que sofre de queimadura profunda demora cerca de 21 dias a cicatrizar (Campbell, 2000), o não cumprimento deste prazo estabelecido pode-nos indicar infecção, e esta poderá estar relacionada com procedimentos não correctos na fase emergente, como por exemplo, o facto de o utente ter tido alta sem penso e sem indicação para reavaliação médica. Numa fase emergente, todas as feridas devem ser 4 envoltas com compressas estéreis para prevenir a infecção (Kliegman; Behrman; Jenson, & Stanton, 2009). Quando há uma infecção no processo cicatricial, converte-se em queimadura de 3º grau. (Kliegman; Behrman; Jenson, & Stanton, 2009), como tal, é necessário estar atento a este facto. Através da observação, podemos perceber um padrão marcado pela flexão em ambas as mãos, esta será a sua posição de conforto, o que pode levar à contractura, devido à formação de novas fibras de colagénio na ferida. (Campbell, 2000) • Queimadura da região anterior abdominal: Atravéz da observação realizada nos serviços de urgência do hospital ao qual temos acesso, podemos concluir que esta cicatriz se apresenta com bom aspecto. Esta análise permite-nos despitar a presença de cicatriz hipertrófica ou quelóide. No entanto, torna-se igualmente importante perceber a mobilidade e textura da cicatriz (Campbell, 2000) para perceber de que forma poderá estar a afectar a expansão torácica e outras actividades da vida diária. • Queimadura da região anterior da anca: De acordo com o exame objectivo realizado pela fisioterapeuta, existe uma brida na região antero-lateral esquerda que confere um padrão marcado pelo flexo da anca. As bridas são mais frequentes em indivíduos de cor negra, extendem-se para além dos limites da ferida, aparecem aos 3 meses da queimadura ou mais tarde, não regridem expontaneamente e são dolorosas, resultam de uma deposição excessiva e desorganizada de colagénio. (Juckett. & Hartman-Adams, 2009). Estas alterações provocam diminuição da amplitude de movimento por retracção e também por dor, como referido. Como tal, a brida será o factor que origina o flexo da anca esquerda. • Queimadura da região anterior do antebraço: Nesta região, segundo os dados disponibilizados, também existe brida anterior que, pelos motivos acima descritos, causa uma limitação marcada pela incapacidade de realizar a extensão completa do cotovelo. • Postura: Segundo os dados disponíveis, o utente apresenta um encurtamento do tronco do lado esquerdo, esta alteração postural poderá estar associada ao flexo da anca. Ao existir um padrão flexão ao nível coxo-femural, o utente terá tendência a compensar flectindo o tronco para o mesmo lado. Ao flectirmos a coxo-femural esqueda, deslocamos o centro de massa para o lado direito, sendo que, dentro da base de sustentação o centro estará mais deslocado para a direita. Para compensar este deslocamento, o utente inclina o tronco para o lado esquerdo, o suficiente para haver um retorno do centro de massa ao centro da base de sustentação. Concluindo, o encurtamento do tronco do lado esquerdo será devido ao flexo da anca esquerda, como forma de compensação. • Marcha: A análise da marcha é um dos pontos que faz parte da avaliação objectiva da criança queimada, quando as queimaduras se localizam em sítios que possam comprometer um padrão de marcha normal. (Tecklin, 1999) Tendo em conta que existe um flexo da anca esquerda, é esperado que este apresente um padrão de marcha atípico, adpatado às limitações de amplitude que apresenta. Uma das componentes para que exista movimento normal é a liberdade de amplitude (Shumway-Cook, & Woollacott, 2003). , o Silvino, 5 por todos os motivos já referidos, não cumpre este requisito, como tal, não é esperado que apresente um padrão de marcha normal. Amplitude articular: No exame inicial da queimadura aguda, a atenção cuidadosa deve ser dada a examinar a amplitude articular das articulações afectadas e não afectadas. (Tecklin, 1999) • Punho e Mãos: As mãos representam a localização mais comum de perda de amplitude articular em pacientes com queimaduras (Kowalske, 2009). No entanto, o utente encontra-se numa fase aguda e é necessário respeitar os limites da dor. Alguns dos procedimentos aplicados pelo terapeuta provocam a dor, e esta quando mal controlada, juntamente com a ansiedade sentida pela criança tem efeitos psicológicos e fisiológicos adversos, como o stress pós-traumático (Tecklin, 2002). A informação a que temos acesso relativamente ao exame objectivo, remetem-nos para um padrão de flexão do punho e das metacarpo-falangicas, da mão direita e esquerda, o que nos sugere uma retracção cicatricial em flexão. Esta é uma das complicações das queimaduras nas mãos (BENDLIN; LINHARES; BENAIN, 1993). • Cotovelo: A avaliação da amplitude articular é pertinente e fornece resultados objectivos e mensuráveis. Assim sendo, encontra-se disponibilizada a amplitude articular no movimento de extensão no cotovelo esquerdo (-15º). Segundo a literatura, contracturas que resultam numa diminuição entre 11º- 49º de extensão na articulação do cotovelo são classificados como leves. (Schwarz, 2007) • Tronco: Dada a queimadura na região anterior do abdomén é necessário medir a amplitude articular ao nível do tronco, principalmente no movimento de extensão, para perceber de que forma a queimadura está a limitar a capacidade de distensibilidade dos tecidos. • Anca esquerda e joelho esquerdo: A anca esquerda apresenta um padrão marcado pela flexão, pelos motivos já mencionados anteriormente, sendo assim, é espectável que a extensão esteja limitada, portanto este seria um movimento a ser medido. A abdução seria, igualmente, um movimento alvo de avaliação, dado que, está associado à flexão e coloca em tensão a região da cicatriz, como tal, seria necessário avaliar a liberdade deste movimento. A necessidade de avaliar o joelho esquerdo surge devido ao facto da flexão do joelho estar muito associada à flexão da anca. Se o Silvino apresenta um flexo na anca esquerda, provavelmente irá optar por uma posição do joelho também em flexão, este padrão poderá comprometer a capacidade do joelho em realizar extensão (aspecto que poderá ser visível na análise da marcha). • Força muscular: A força é um aspecto essencial a avaliar neste utente de forma a conseguirmos compreender melhor quais as suas limitações. Sabe-se que as condições as sequelas de queimaduras conduzem à imobilização, e que esta, por sua vez, leva à diminuição da força muscular (Campbell, 2000). Para avaliar este parâmetro, irei utilizar os testes musculares (Petty, 2007). Sendo assim, seria importante avaliar a força muscular dos grupos musculares envolvidos nas sequelas das queimaduras, tasi como, grupos musculares que actuam ao nível de ambas as mãos e punho esquerdo, bem como os que actuam ao nível do tronco, cotovelo e anca esquerda, e que poderão estar afectados pelas alterações posturais. 6 Logo, iria avaliar os flexores, abdutores e adutores dos dedos; flexores, extensores e músculos que efectuam desvio radial e cúbital do punho; flexores, extensores, supinadores e pronadores do cotovelo; flexores, extensores e abdutores da anca. Durante a avaliação, a dor é um dos principais parâmetros a ter em conta, como tal só se aplica o teste forte quando este é tolerado pela criança. • Desenvolvimento motor/ Funcionalidade: Tendo em conta todas as repercussões que as queimaduras têm a nível das AVD’s, seria importante avaliar a funcionalidade adpatada à sua idade, pois a informação é restrita dizendo-nos apenas que o Silvino tem dificuldade em manusear objectos pequenos, tais como os lápis-de-cor para pintar. Por conseguinte, este parâmetro deve ser tido em especial atenção, pois uma das actividades que o Silvino mais gosta de realizar é pintar animais e flores (sic). Por outro lado, associado à funcionalidade está a avaliação do desenvolvimento motor. Este parâmetro é essencial, visto que as sequelas provocadas pelas queimaduras podem comprometer a aquisição das competências de desenvolvimento motor normal esperadas para a idade da criança, como por exemplo correr (Tecklin, 2002). Logo, para avaliar estes dois parâmetros optei pela Peabody Developmental Motor Scales-2 (PDMS-2), uma vez que esta avalia tanto a mmotricidade grossa como a fina, o que é importante para percepcionar as habilidades posturais e de locomoção, bem como a manipulação fina (Fernandes, 2011), que se encontram comprometidas devido à condição actual da criança. Avaliação respiratória: Observação: • Sinais Vitais: Os sinais vitais que seria relevante avaliar no Silvino são a temperatura corporal, a dor e a frequência respiratória (FR). Neste caso, seria importante avaliar a temperatura corporal, uma vez que esta está associada a infecção (Palminha & Carrilho, 2003; Rafla & Tredget, 2011). Logo, esta seria um indicador bastante fiável acerca da existência de infecção a nível respiratório, apresentando o utente um historial de infecções respiratórias de repetição, bem como infecção ao nível das queimaduras nas mãos, já que as crianças são bastante propícias à criação de infecção se os cuidados primários prestados à queimadura e as noções de assépsia em contexto domiciliário e de ambulatório não forem cumpridas (Rafla & Tredget, 2011). Os 37,5º de temperatura corporal que o Silvino apresenta, desviam-se dos valores padrão de temperatura: 36,5º-37,5º (Pryor & Webber, 2001) Esta poderá ser uma consequência da queimadura, dado que, a febre é uma reacção comum do estado hipermetabólico de uma criança seguido a uma lesão por queimadura (Women´s and Children´s Hospital, 2010) podendo não estar directamente relacionada com a infecção respiratória. Por conseguinte, a avaliação da dor é extremamente importante, pois associada a queimadura térmica é uma dor contínua e extremamente intensa (Kliegman et al.,2009), pode não ser proveniente não só da queimadura em si, como também de procedimentos e actividades realizados no quotidiano da criança (Tecklin, 1999), o que justifica o facto da criança choramingar com dor sempre que se mexe ou se pedem movimentos dos punhos e mãos, bem como a presença de dor ao contacto. Para avaliar a dor iria utilizar a “Wong Baker Faces Pain Scale”, pois esta pode ser aplicada a crianças a partir dos 3 anos e permite à criança associar as expressões faciais à dor que sente no momento (Antunes et al, 2007). Por fim, seria 7 essencial perceber se o Silvino compensa a diminuição da capacidade de expansão torácica com o aumento da frequência respiratória, logo seria essencial avaliar este parâmetro, com o intuito de averiguar se esta se encontra dentro dos valores expectáveis para a idade da criança, 20-30 respirações/minuto (Lissauer & Clayden, 2009) • Mobilidade torácica: A expansão torácica aparece como um parâmetro a avaliar dado que, embora a cicatriz da queimadura da região anterior abdominal esteja com bom aspecto, a retracção cicatricial é um processo recorrente em qualquer queimadura, como já foi referido anteriormente. Assim sendo, esta retracção poderá estar a comprometer a expansão do tórax durante a inspiração. Partindo do príncipio que a expansão torácica faz variar o diâmetro antero-posterior, vertical e transversal e que para isso é necessário que a pele tenha as suas propriedades viscoelásticas conservadas, ao existir um comprometimento dessas características devido a retracção cicatricial originada pela queimadura, a expansão fica comprometida. O encurtamento do tronco do lado esquerdo, já mencionado anteriormente, poderá também levar à dificuldade de expansão do tórax. Biomecanicamente, se o tronco se encontra inclinado lateralmente as costelas do lado contralateral afastam-se, ao contrário das costelas do mesmo lado do encurtamento que se aproximam. O alinhamento fica comprometido e consequentemente, a expansão do tórax também. Com o alinhamento e viscoelasticidade comprometidos, o trabalho do diafragma sofre também alterações, este fica em desvantagem mecânica e o seu trabalho não é suficiente para suprir as necessidades do utente com infecção respiratória. • Auscultação: A auscultação constitui a base da exploração específica do fisioterapeuta (Postiaux, 2000) Ela fornece-nos informação relativamente aos ruídos respiratórios e adventícios e permite-nos localizar as secreções. Neste caso, dado que o utente apresenta uma tosse produtiva, podemos supor que as secreções se localizam numa região proximal. O facto de apresentar rinorreia permite-nos prever, igualmente, que as secreções estão lovalizadas proximalmente, visto que, este sintoma está, de forma genérica relacionado com uma infecção das vias aéreas superiores. (Palminha, & Carrilho, 2003). Esta rinorreia pode ser classificada como mucopurulenta pelo seu aspecto amarelado. (Palminha, & Carrilho, 2003). • Eficácia da tosse: A eficácia da tosse pode estar comprometida por diferentes factores, como por exemplo, não conseguir, pelos motivos já mencionados, recrutar 60 a 80% da capacidade pulmonar total durante a inspiração (Bach e Saporito, 1996)., associado à desvantagem mecânica do diafragma e também poderá estar afectada pela perda da relação comprimento/tensão muscular devido ao encurtamento do lado direito, o que sugere um comprometimento na capacidade de gerar força (Petty, 2007) aquando da contracção necessária para a tosse. A eficácia da tosse é medida pelo Peak Cough Flow e é eficaz quando se encontra dentro de valores iguais ou superiores a 160 l/min, sendo que o valor ideal será 270 l/min. (Bach e Saporito, 1996). • Sinais de dificuldade respiratória: A cianose representa um sinal físico observacional que sugere hipoxémia (Dean & Frownfelter, 2006), segundo a informação que nos é fornecida no caso, o Silvino 8 apresenta a pele e as mucosas hidratadas e coradas o que sugere que este não apresenta hipoxémia e consequentemente não está em insuficiência respiratória. Outro dos sinais que nos indica dificuldade respiratória é a tiragem supra-costal (Dean & Frownfelter, 2006), de acordo com a informação referente à avaliação objectiva da fisioterapeuta, é notável uma discreta tiragem supra costal o que nos indica dificuldade respiratória com necessidade à recorrência de músculos acessórios. Esta tiragem pode ser resultado da fraca mobilidade torácica, associada a uma desvantagem mecânica do diafragma que origina uma recorrência aos músculos acessórios para ventilar. As costelas superiores, durante a inspiração aumentam, essencialmente o diâmetro antero-posterior do tórax, auxiliadas pelos músculos acessórios (Terry et al, 2006). Como tal, por efeito da queimadura o tórax inferior terá maior dificuldade em expandir, logo o padrão ventilatório será marcado pelo aumento do diâmetro antero-superior. Principais problemas: (1) Dificuldade em manusear objectos pequenos, o que origina dificuldade na utilização de lápis de cor e poderá comprometer outras actividades como comer e brincar devido a dor, diminuição da mobilidade das mãos e punho esquerdo, com um padrão marcado pela flexão e diminuição da amplitude articular de extensão do cotovelo esquerdo (-15º) devido a brida/ quelóide retráctil na região anterior e diminuição da força muscular ao nível dos músculos flexores, abductores e adutores dos dedos, flexores e extensores do punho e músculos responsáveis pelo desvio cubital e radial e pronosupinadores do cotovelo. (2) Alteração da postura e do padrão de marcha devido a diminuição do ROM nos movimentos globais provenientes de: sequelas de queimadura da parede abdominal e brida/ quelóide retráctil na região anterior da coxa esquerda, que origina um encurtamento do tronco do lado direito como forma de compensação e diminuição da força muscular nos músculos flexores e extensores da anca. (3) Dificuldade em manter as vias aéreas limpas e permeáveis por desvantagem mecânica do diafragma, redução da moblidade torácica, que poderão originar uma diminuição da eficácia da tosse. Todos estes problemas são influênciados pelo contexto familiar, sendo esta uma famílas destruturada e numerosa, bem como pelas condições habitacionais e restrição social por parte do Silvino. Diagnóstico Funcional: O silvino, de 4 anos, apresenta dificuldade em manusear objectos pequenos como os lápis de cor, o que compromete actividades como comer e brincar; alteração da postura e do padrão de marcha e dificuldade em manter as vias aéres limpas e permeáveis, devido a dor, diminuição das amplitudes articulares nas mãos, punho, cotovelo e ancas esquerdas; brida/ quelóide na região da anterior coxa e cotovelo esquerdos, encurtamento do tronco do lado esquerdo, desvantagem mecânica do diafragma, redução da mobilidade torácica e diminuição da eficácia da tosse. Factores contribuintes: Tendo em conta os principais problemas do Silvino, é necessário perceber que há factores que contribuem para a manutenção e agravamento dos mesmos. Estes são influenciados pelo contexto familiar destrutorado e pela existência de uma família numerosa, bem como pelas condições habitacionais, restrição social da parte do Silvino, falta de educação da mãe sobre a prevenção de acidentes, pelo facto da irmã possuir episódios de IRR, que vai contribuir para a ocorrência de contágios sucessivos; manutenção das mesmas rotinas e práticas quotidianas que induziram às 9 situações de queimaduras; o pouco tempo de intervenção, apenas num mês, uma vez que este é o tempo eectável pela mãe para voltar para junto da família. Objectivos de intervenção: (1)Transmissão de informação à mãe e irmãos mais velhos relativamente a cuidados a ter na condição do Silvino, prevenção de acidentes domésticos e técnicas de intervenção a fazer em casa; (2) Diminuir a dor nas mãos esquerda e direita, punho e cotovelo esquerdos de forma a que este consiga realizar as suas AVD’s e as tarefas esperadas para o seu estadio de desenvolvimento; (3) Prevenir encurtamentos, formação de contraturas e cicatrizes hipertróficas ao nível nas mãos, de modo a promover a mobilidade normal, motricidade fina e capacidade de preensão adequada; (4) Promover o aumento da amplitude articular nas articulações metacarpo-falângicas e inter-falângicas das mãos esquerda e direita para ganhos na motricidade fina; no punho e cotovelo esquerdos com vista ao manuseamento dos lápis de cor; anca esquerda e tronco para tornar o padrão de marcha e a postura mais próximos do normal. (5) Aumento da força muscular nos flexores, abdutores e adutores dos dedos; flexores, extensores e músculos que efectuam desvio radial e cúbital do punho; flexores, extensores, supinadores e pronadores do cotovelo; flexores, extensores e abdutores da anca por forma a obter ganhos na motricidade e padrões de movimento mais próximos do normal; (6) Aumento da mobilidade torácica; (7) Desobstrução das vias aéres (8) Melhorar a postura e o padrão de marcha; (9) Incentivar a um padrão respiratório diafragmático, (10) Promover a autonomia nas actividades comprometidas, como comer e manusear lápis de cor; Prognóstico: Como factores negativos de prognóstico temos a profundidade da queimadura (Tecklin, 2002), existência de bridas/ quelóide na anca esquerda e cotovelo, que têm pior prognóstico que a cicatriz hipertrófica (Juckett, & Hartman-Adams, 2009), as infecção respiratorias, o atendimento na fase emergente que não foi o indicado, um bom procedimento contribui para uma melhor e mais rápida cicatrização (Campbell, 2000), possível infecção da cicatriz, a idade, visto que, crianças com uma idade inferior a 12 anos têm pior prognóstico (Tecklin, 2002), as sequelas das lesões anteriores, a forte probabilidade de desenvolver cicatriz hipertrófica, como referido anteriormente, falta de suporte familiar, factor essencial na minimização de consequências a nível psicossocial (Corry; Pruzinsky; Rumsey, 2009), as fracas condições socio-económicas que estão associadas a acidentes por queimadura (DGS, 2004), o início retardado da fisioterapia, esta deve ser iniciada o mais rápido possível (Tecklin, 2002). Como factores positivos de prognóstico são: o bom aspecto da cicatriz na região anterior do abdomén, pele e mucosas hidratas e coradas que são um sinal de que não há insuficiencia respiratoria e o facto da criança se mostrar colaborante. Através da análise dos factores de prognóstico negativo e positivo, podemos concluir que o Silvino apresenta um prgnóstico negativo. Intervenção: “Crianças com queimaduras moderadas e graves requerem 1 a 5 horas de tratamento diário, incluindo períodos de descanso. À medida que a criança demonstra aumento da independência e atinge objectivos, as sessões são reduzidas para 2 a 3 vezes por semana e eventualmente a avaliações semanais” (Campbell, 2000) 10 O sucesso da reabilitação pode ser influenciado pela habilidade com que a equipa melhora a angústia psicológica dos familiares (Rossi, 2001). Assim, é importante iniciar a intervenção pela transmissão de informação à mãe e irmãos mais velhos, dado que passam muito tempo com o Silvino. Para a transmissão de informação, o fisioterapeuta tem que ter em conta que a queimadura afecta não só as crianças em sim mas também os pais, sendo assim as pessoas podem apresentar dificuldades em concentrar-se, relembrar ou até realizar alguns tipos de tarefas. Os profissionais de saúde têm que estar preparados para repetir as informações transmitidas as vezes necessárias e partilhar informação escrita (caso não seja analfabeta) e as pessoas devem sentir-se livre para colocar as suas questões quando for necessário (Women´s and Children´s Hospital, 2010). No caso desta mãe, sabemos que se apresenta ansiosa pelo facto de estar fora do seu país e ter expectativas de regressar a Cabo-Verde dentro de 1 mês. Os factos relativos à cultura, referidos no exame subjectivo, devem ser tidos em conta na transmissão de informação, no sentido em que, conhecer a cultura de um grupo é importante não para apontar as diferenças, mas para compreender e aprender a lidar com elas (Rossi, 2001). Assim, a transmissão de informação deve ser direccionada para esta família em específico, tendo em conta factores como as condições habitacionais e rotinas diárias. A mãe deve ser informada da importância do suporte familiar nestes episódios, da condição geral do Silvino, dos cuidados a ter, principalmente em casa, técnicas de intervenção que podem realizadas em casa e estratégias de prevenção de acidentes domésticos, focacionando este último ponto para as condições habitacionais da família. Sempre que se ensinam técnicas de intervenção para fazer em casa, a mãe deve praticar o cuidado sob observação do profissional de saúde (CAMPBELL, 2000). A dor é, sem dúvida, um dos factores mais marcantes nos episódios de queimadura e os procedimentos durante a intervenção podem ser dolorosos e comprometer assim o decorrer natural do processo e a colaboração da criança e, muitas vezes, a familiaridade que temos com os procedimentos podem levarnos a subestimar o quão assustador este processo pode ser para as crianças e famílias (Women´s and Children´s Hospital, 2010). . Assim sendo, é importante definir estratégias para minimizar a dor durante os procedimentos. Sabemos que, a atenção humana é limitada a uma quantidade finita de processamento de informações em qualquer momento e que ao desviarmos a atenção para um estímulo não doloroso a intensidade da dor percebida é menor (Askay et al, 2009). Como estratégia de minimização de dor durante a intervenção temos a distracção que envolve o aumento da estimulação dada pelo ambiente com música, jogos, canções para as crianças e visionamento de desenhos animados (Bonham, 1996; Landolt, Marti, Widmer & Mallot, 1984; Miller, Hickman, Lemasters, & Lemasters, 1992, citados por, Askay et al, 2009) e o relaxamento, usado para diminuir a ansiedade, (Schaile, 2005, citado por Askay et al, 2009). Uma estratégia de relaxamento passa pela respiração diafragmática, que envolve o relaxar da tensão nas vias aéreas superiores porque é feita utilizando maioritariamente o diafragma. Este tipo de respiração pode ser assistida colocando uma mão sobre o estômago e outra no peito e usando o feedback do movimento para orientar a respiração, sendo que, a 11 mão sobre o estômago deve mover e a mão sobre o peito não deve (Askay, 2009). Para além de técnica de relaxamento com o objectivo de minimizar a dor, este procedimento pode ser utilizado para atingir o objectivo de alteração do padrão ventilatório. O objectivo associado ao uso de talas prende-se com a manutenção ou aumento das amplitudes de movimento, contrapondo-se às forças de contracções do tecido. A órtotese pode ser aplicada com coberturas de banda elástica durante a fase aguda, a menos que persista um edema significativo (Procter, 2010), no caso não é referido que o Silvino apresente edema. O material ideal é o plastico termoactivo de baixa temperatura, porque é leve, e pode voltar a moldar-se quando é necessário ajustá-lo e permite uma boa definição dos contornos “Cardboard”- este material também é bom para utilizar numa fase aguda, sendo particularmente bom/indicado para posicionamento e alongamento nas crianças com queimaduras nas mãos. É leve e tem custos mínimos, pode ser utilizado algo para “prender” a tala na região dorsal da mão e entre osdedos para promover o alongamento e segurar a tala, no entanto nao pode ser demasiado apertado. (Procter, 2010) A tala inibe padrões indesejados, restringindo selectivamente os movimento, no entanto, não promove a função quando utilizada ao nível das mãos. Como tal, o uso de talas seria recomendado para o período nocturno, sendo que, durante o dia a criança seria incentivada pela mãe, que depois da transmissão de informação estaria informada acerca da condição clínica, e irmãos para a realização de movimentos activos pelo menos 2 vezes ao dia (Care of Burns in Scotland Managed Clinical Network (COBIS), 2009). A realização de movimentos que promovam a amplitude de movimento deve ser feita no primeiro dia após a admissão (COBIS, 2009), ou seja, o mais precocemente possível. A mobilização deve ser feita activamente, percorrendo a amplitude de movimento que a criança consegue realizar, caso a amplitude disponível não seja completamente explorada, o fisioterapeuta deverá mobilizar passivamente (COBIS, 2009). Este procedimento, embora necessário, pode sempre causar dor e poderá ser necessário recorrer à distracção, como referido anteriormente ou a profissionais de saúde com competências vocacionadas para a analgesia. Os movimentos astivos-assistidos são importantes porque promovem um feedback sensorial, aumentam a circulação, mantêm a função muscular e preservam a motricidade grossa e fina na mão. (Tecklin, 1999) Relativamente ao uso de factos compressivos, nas mãos não será o sítio indicado, dado que, como referido em cima, ao não cumprimento do tempo de cicatrização normal para uma queimadura de 2º grau profunda, à cicatrização aberta, à recorrência aos serviços 3 dias depois do episódio de queimadura poderá estar associada uma infecção. Em caso de infecção não é aconselhável o uso de fatos compressivos (Women´s and Children´s Hospital, 2010). O Silvino apresenta brida/quelóide ao nível do cotovelo esquerdo e anca esquerda, para o tratamento deste tipo de complicações são sugeridas as folhas de silicone, é um tratamento não invasivo que provoca o aumento da temperatura, hidratação e possivelmente tensão do oxigénio da cicatriz fechada, tornando-a mais macias e com menos relevo (Juckett, & Hartman-Adams, 2009). Para ser efectivo deve 12 ser aplicado 12 a 24 horas por dia, durante 2 a 3 meses (Juckett, & Hartman-Adams, 2009). Faz sentido recorrer à terapia com folhas de silicone dado que, embora tenham passado 2 anos após a queimadura e a fase activa (hipermetabolismo) da cicatriz diminua gradualmente e seja concluído 1,5 a 2 anos após a lesão (Campbell, 2002), é possível supor, avaliando pela experiência actual, que a experiência das queimaduras anteriores não terá sido muito favorável ao processo cicatricial. A mãe mesmo com experiência anteriores de queimaduras em outros filhos, demorou 3 dias a levá-lo ao posto médico e no posto médico teve alta, sem penso e sem indicação para reavaliação médica, como tal, é possível supor que nas queimaduras anteriores o procedimento não tenha sido, igualmente, o mais indicado. Sendo assim, o processo de cicatrização poderá ter sofrido, igualmente, um atraso o que nos poderá indicar que as quelóides que o Silvino apresente ainda estejam activas, sendo relvante aplicar as folhas de silicone. Esta terapia não será aplicável às mãos porque não é aconselhável em feridas abertas. (Juckett, & Hartman-Adams, 2009). A alteração postural que o Silvino apresenta é devida ao flexo da anca, que origina um encurtamento do tronco. Este encurtamento pode ser minimizado se durante a intervenção houver um enfoque em actividades da vida diária que promovam um alongamento da região lateral do tronco. Uma das actividades esperadas para a idade é o conseguir vestir/despir sozinho. A realização desta actividade durante a intervenção vai promover o alongamento das estruturas encurtadas, contribuindo assim para diminuir a alteração postural. Ao nível das mãos, para além da mobilização activa-assistida, já referida, também é necessário dar um enfoque às actividades da vida diária que, para além de aumentarem a amplitude e a força muscular, promovem a funcionalidade. Lavar os dentes, pintar e trabalhar no computador, que para além de uma actividade funcional enquadra-se numa técnica para minimizar a dor durante a intervenção. Outras actividades poderão ser, pentear o cabelo da mãe com o membro superior esquerdo, de forma a promover a mobilidade do cotovelo esquerdo e para estabelecer uma relação mais próxima com esta, envolvendo-a na intervenção, agarrar objectos de diferentes formas e tamanhos, que podem ser colocados em posições estratégias por fim a obtermos, por exemplo, a extensão do cotovelo esquerdo. O treino de marcha será outra estratégia a ser utilizada, tentando, através das Técnicas do NeuroDesenvolvimento, tornar aquele padrão o mais funcional e próximo do normal possível, contribuindo para a manutenção da amplitude articular da anca esquerda e joelho esquerdos, aumento da força nos grupos musculares que afectam estas articulações e diminuição da alteração postural associada ao encurtamento do tronco. As Técnicas de Neuro- Desenvolvimento fornecem resultados baseados numa visão holística para resolver o objectivo de aumento de amplitude, estabilidade postural e mobilidade (Campbell, 2000). Sendo assim, actividades como o rolar, em que o eixo permanece alongado durante todo o movimento, sendo que o eixo seria o lado esquerdo; a passagem de sentado para decúbito ventral, em que é necessário o controlo excêntrico e o alongamento do lado do eixo, seriam importantes de forma a influenciar os factores que contribuem para as alterações posturais e da marcha. 13 Também com principal enfoque durante as actividades funcionais e AVD’s, seriam realizados exercícios de coordenação, pois estes são essenciais para a criação de padrões postural e de movimento menos atípicos (Campbell, 2002). Intervenção Cardio-Respiratória: De acorco com os dados do exame objectivo que nos permitem apenas chegar à conclusão e que as sercreções se encontram nas vias aéreas superiores, as técnicas usadas para estas obstruções são as de expiração forçada. Estas técnicas realizam-se na sequência das expirações lentas quando as secreções alcançam os troncos bronquiais principais e estão associadas à depuração das vias aéreas proximais. A Tosse dirigida é uma das técnicas utilizadas, requere a colaboração da criança, necessita de ajuda manual por parte do fisioterapeuta, realizada por meio de uma pressão manual de contenção que faça com que o efeito de expulsão seja óptimo. (Postiaux, 2001) Com idades inferiores a 8 anos, esta técnica deve ser aplicada na posição de decúbito dorsal (Postiaux, 2001). Exercícios de ventilação dirigida abdominodiafragmática contribuem para a limpeza dos brônquios. (Postiaux, 2001) Podemos aconselhar a mãe a elevar a cabeceira da cama onde a criança dorme sempre que surgam episódios de infecção respiratória, para potenciar a posição do pulmão, a expansão do tórax e promover a permeabilidade das vias aéreas (Tecklin, 2002). Critérios de Alta: A definição de critérios de alta para o Silvino baseiam-se na obtenção dos seguintes resultados no processo de intervenção: (1) diminuição da dor ao nível das mãos, (2) aumento das amplitudes articulares ao nível das mãos e manutenção das restantes amplitudes articulares; (3) aumento da força muscular ao nível de ambas as mãos, punho, cotovelo e anca esquerdos, bem como ao nível do tronco; (4) aumento da flexibilidade e diminuição dos encurtamentos ao nível das estruturas encurtadas no membro superior e inferior esquerdos e tronco, que tem como objectivo obter um melhor alinhamento postural, um padrão de marcha mais funcional, bem adquiris capacidade para realizar as tarefas esperadas para o seu estadio de desenvolvimento motor (vestir/despir, comer sozinho) e o seu principal hobbie, pintar com lápis-de-cor. A nível da infecção respiratória, é espectável que no final do processo de intervenção a criança se apresente com: (5) ausência de rinorreia e (6) redução da tiragem supra-costal. No entanto, também é importante considerar, o conhecimento da mãe acerca da informação dada pelo fisioterapeuta, a capacidade para tomar decisões de acordo com os objectivos funcionais pretendidos para a criança, Reavaliações: A reavaliação da dor deve ser feita todos os dias, através da aplicação da escala FACES; a avaliação das amplitudes articulares através da goniometria nas articulações do punho esquerdo, cotovelo esquerdo, anca esquerda e ambas a mãos e dedos, deve ser feita de semana a semana, bem como a medição da força nos grupos musculares que, segundo a avaliação que seria efectuada no exame objectivo estariam comprometidos. A escala de Desenvolvimento Motor seria aplicada no fim da intervenção (sensivelmente 1 mês), a mudança de resultados nesta escala é esperada em períodos de tempo superiores às alterações da intensidade da dor, amplitude articular e força. A 14 reavaliação dos sinais vitais, mobilidade torácica, eficácia da tosse e auscultação também seriam efectuados no fim do período de intervenção. Conclusão: A realização deste relatório permitiu-me compreender melhor as condições clínicas associadas à queimadura em crianças e suas consequências bem como a possível intervenção que se deve realizar . 15 Bibliografia: • Tecklin, J. (1999) Rehabilitation of the Child with Burns (4ª ed.), Pediatric Physical Therapy. USA. Lippincott Williams & Wilkins. • Dissanaike, A & Rahimi, M. (2009). Epidemiology of burn injuries: Highlighting cultural and sociodemographic aspects. International Review of Psychiatry. 21 (6), 505-511 • Corry, N; Pruzinsky, T; Rumsey, N. (2009). 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