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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA VANESSA FERRAZ LEITE TECNOLOGIAS DO CUIDADO NO COTIDIANO: DESCRIÇÕES SOIOTÉCNICAS DE COMPUTADORES QUE HABITAM UMA PEDIATRIA CUIABÁ – MT 2012 VANESSA FERRAZ LEITE TECNOLOGIAS DO CUIDADO NO COTIDIANO: DESCRIÇÕES SOIOTÉCNICAS DE COMPUTADORES QUE HABITAM UMA PEDIATRIA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação – Mestrado - em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para obtenção do título de Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea na Área de concentração: Estudos Interdisciplinares de Cultura. Linha de Pesquisa: Epistemes Contemporânea. Orientação da Prof.ª Drª. Cristina Gomes Galindo. CUIABÁ – MT 2012 Dolores Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso L533t Leite, Vanessa Ferraz. Tecnologias do Cuidado no Cotidiano: descrições sociotécnicas de computadores que habitam uma pediatria / Vanessa Ferraz Leite. -- Cuiabá (MT): Instituto de Linguagens/ IL, 2012. 300 f.: il. ; 30cm. Dissertação (Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea). Universidade Federal de Mato Grosso. Instituto de Linguagens. Programa de Pós - Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea. Orientadora: Profª. Drª. Dolores Cristina Gomes Galindo. 1. Tecnologias do Cuidado 2. Estudos sociotécnicos. 3. Computadores. 4. Enfermagem Pediátrica. I. Título. CDU: 616-083-053.2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA DISSERTAÇÃO APRESENTADA PARA DEFESA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA Aprovada: 27/06/2012 ______________________________________________________ Prof. Dr. RICARDO PIMENTEL MÉLLO Examinador Externo (Universidade Federal do Ceará - UFC) ______________________________________________________ Profª. Drª. ROSA LÚCIA ROCHA RIBEIRO Examinadora Interna (Faculdade de Enfermagem – UFMT) ______________________________________________________ Profª. Drª. DANIELA BARROS DA SILVA FREIRE ANDRADE Suplente (Departamento de Psicologia – UFMT) ______________________________________________________ Profª. Drª. DOLORES CRISTINA GOMES GALINDO Orientadora (ECCO/UFMT) CUIABÁ – MT 2012 Ofereço este trabalho: aos meus pais, Neide e Anízio; aos meus irmãos, Marcelo, Thiago e Walmir; às crianças e adolescentes hospitalizados; à Enfermagem, e aos meus queridos Mestres! AGRADECIMENTOS À sombra de um pé de Ipê amarelo da Universidade Federal de Mato Grosso, redijo os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles com quem estive durante minhas longas andanças, e que, de alguma forma, ajudaram-me a compor este trabalho; ou melhor, a materializar, a fazer um ―inédito viável‖ ganhar vida em linhas. ... A minha orientadora Profa. Dra. Dolores Galindo, o meu muito obrigado por me escolher como orientanda, pela condução desse estudo com paciência e consenso com meu Curso de origem (Enfermagem), concomitante às conexões a novos saberes; e por me manter firme ao meu sonho de ser uma professora-pesquisadora-enfermeira diferenciada: aquela que saiba pensar com as confusões das práticas cotidianas. ... Aos colegas, amigos e colaboradores do Grupo de Pesquisa Tecnologias, Ciências e Contemporâneo (TECC). Obrigada pelas sugestões, pelas conversas, pelos empréstimos de livros, pela colaboração para compras de livros dentro e fora do país, pelas trocas de experiências, pelos estudos em coletivo: um verdadeiro Laboratório de experimentações metodológicas! Andréa Basílio, Anny Rodrigues, Ângela Coradini, Claudia Wanessa Rocha Poletto, Daniele Milioli, Diego Larrea, Dolores Galindo, Estêvão Cabestré, Hassen Zardetti, Leihge Rondon, Morgana Moura, Patrícia Souto, Renata Vilela, obrigada a todos vocês, e a todos que vieram posteriormente – como Anna Natale, Bruna Tondin e Leonardo Sousa! Wuldson Marcelo, um assíduo colaborador do grupo, os meus sinceros agradecimentos, pois leu atentamente minha dissertação, fazendo sugestivas indicações de correções textuais! ... Aos amigos e grandes colegas que reconheci no ECCO. Obrigada pela cumplicidade e parceria: Albília Almeida, Claudia Wanessa, Diego Larrea, Glorinha Iamasaki, Maira Jeannyse e Wuldson Marcelo. ... À Banca Examinadora, pela disponibilidade e pelo cuidado com que avaliaram a minha dissertação ainda na qualificação. Acatei muitas das sugestões de vocês: Dolores Galindo, Ricardo Pimentel Méllo e Rosa Lúcia Rocha Ribeiro! E aos suplentes: da qualificação, Leonardo Lemos, e da defesa, a professora Daniela Freire. Obrigada! ... Aos professores do ECCO. Não me esquecerei das aulas das professoras Dolores, Lúcia Helena, Ludmila, Maria Thereza, Patrícia Osório, e dos professores Yuji Gushiken e José Leite. ... À dedicação e acolhida do secretariado do ECCO: Diego e Évila. Valeu! ... Ao pessoal da limpeza do 2º piso do IL: o café na copa ganhou do que é feito nas cantinas do IL e IE! Obrigada! ... À Faculdade de Enfermagem (FAEN)/ UFMT e ao Grupo de Pesquisa em Enfermagem, Saúde e Cidadania (GPESC) por continuarem presente em minha jornada. Em especial, pelos professores que me presenteou como referência, tanto por competência e idoneidade. Em especial, eu faço coro de agradecimentos para vocês: Aldenan Ribeiro, Maria Aparecida Vieira, Rosa Lúcia Ribeiro e Solange Salomé. Mestras, vocês moram em meu coração! ... Aos Educadores e amigos do EIC- hospitais, agora, Programa Cuidar Brincando com quem vivenciei os melhores momentos de atuação hospitalar junto às crianças hospitalizadas: inesquecível Profª. Norma Machado, atendente Alenir, Allan, Aline Nogueira, Amanda Arraes, Anne Siqueira, Beluci Bianca, Carolina Rocha, Cícero Penha, Claudia Granjeiro, Daniela Portela, Débora Medeiros, Enfª Antônia, Enfª Francisca, Enfª Juliene Lima, Enfª Marta Cury, Eliza Britto, Fabiana Almeida, Flávia Campos, Flávia Ferreira, Heidy Hellebrant, Jackeline Brito, Jackeline Félix, Jenifer Sene, Juliana Leonel, Juliana Lima, Juliana Rizzini, Karen Araújo, Laura Barbosa, Laura Padilha, Sirlene Guimarães, Shai Lima, Luana Dal Cortivo, Maria Barros, Mercilene Barbosa, Michele Pereira, Mona Lisa Carrijo, Kelly Kachniasz, Profª. Cláudia Martins, Prof. Clóvis, Profª. Fátima Ramalho, Tamires Ponce, Técnica de enfermagem Ana longo, Técnica de enfermagem Anaíza, Técnica de enfermagem Cristina, Técnica de enfermagem Elizabeth/Beth, Técnica de enfermagem Ivete, Técnica de enfermagem Juscelia, Técnica de Enfermagem Vera, Thaís Resende, Thaís Stranieri, Thaís Trigueiro, Vanessa Silva, Wesney Martins/The Cat, Wilson/ ULA... A todos, muito obrigada!! Desculpem-me se me esqueci de algum nome – é que um dia éramos alguns, hoje somos muitos! E, com certeza, à professora e psicóloga social Mírian Sewo, por ser uma referência em formação e luta social para o grupo! ... À Superintendência, à Diretoria de Enfermagem do HUJM e Coordenação do Programa Cuidar Brincando, pois sem os créditos de vocês esta pesquisa não teria acontecido! ... Às crianças e adolescentes hospitalizados, seus familiares e aos profissionais de Enfermagem da Clínica Pediátrica do HUJM! Vocês são especiais! Minha escolha como causa. São por vocês que luto, quem defendo! Vejo-os como integrantes do cotidiano das práticas do cuidado. E se respeito as entidades não/humanas de uma pediatria, respeito também, as humanas porque juntas compõem relações vívidas, conexões de cuidado! ... Ao acaso, por ter me levado a topar com uma senhora artífice bonsaísta, uma paciente renal crônica, e que ao me contar a sua história de vida enquanto fazia diálise, apresentou-me também, a arte de confeccionar bonsais tanto como sua profissão, quanto também uma parte vigorosa de seu tratamento físico, mental e espiritual. Uma verdadeira aula de espécie companheira, de uma companhia que auxilia no cuidado. Obrigada! ... Aos meus amigos dos tempos de Universidade: Arthur Carvalho, Jacqueline Navarro, Layana Melo, Leíse Grayce, Maria José Lima, Priscila Costa, Priscila Gonçalves, Willams Blank. E, claro, Ana Maria, a ―culpada‖ por ter me indicado o EIC – Hospitais como uma Extensão Universitária, por apostar que teria tudo a ver comigo. Eternamente grata! ... À galera da República do ―seu Rai‖. Valeu! Onde convivi com um coreano, uma canadense, um português, e com uma diversidade de brasileiros. Coisa de república universitária. Saudades de nossos bons e maus momentos de convivência. Aprendi muito com vocês: aos irmãos Fernando (Morcegão) e Katiane, aos gêmeos Jânio e Jakeline Moura, a Paulo Ghizoni, à Marilda Zucci, à Letícia Soares e, aos Thiagos (Portuga, Thiaguinho e Ferraz/cafezinho). Que todos estejam bem! E aos proprietários da República: ―seu‖ Raimundo, e, seus filhos Wandeléia e Michel. Nordestinos, gente do bem! ... Aos meus amigos Hugo Monteiro e Grazyelle Yuri. Obrigada pelo apoio. Pela disponibilidade de tempo, uma vez que me ajudaram na busca de livros para estudar para a prova de mestrado. ... Aos meus amigos de infância e adolescência, meus primeiros contatos, círculos de amizade sincera, aqueles de época de jogos de interclasses, dos desfiles de 7 de Setembro, dos passeios de bicicleta, das apresentações de coral, das brincadeiras e conversas bobas, dos encontros de finais de semana e férias e, dos estudos: Ailon Filho, Arthur Emílio, Camyla Piran, Fabiana Lima, Fabien Harumy, Joel Roberto (que não está entre nós), à Flaviane, Núbia Rodrigues, Nathália, Patrícia Cristine, Augusto Mário, Ana Vanessa, os irmãos Júlio César Reider e Vanusa Reider, Shinarley, Thadeu Deluque, Jarbas, às irmãs Tania e Tatiane Ferreira e seu irmão Renato, Wagno e William Caxito (galera do ISM, vocês foram importantes em minha formação!). Não posso me esquecer de exemplos de pessoas: Frei Matheus e Frei Maurício. Holandeses que deixaram os países baixos para se dedicarem ao nosso! Obrigada pela influência. Aprendi Matemática e ter gosto por outras culturas com Frei Maurício. E, confesso que as noções de mosaico saíram das paredes do colégio Instituto Santa Maria, assim como das pinturas e artesanatos confeccionados pelo Frei Matheus. ... Aos meus bons amigos e vizinhos de bairro, de rua: dona Aninha, seu João, seus filhos Roseli, José e Ricardo. Ao seu Casemiro e dona Isabel e seus filhos Lidu, Luli e Darci. À Cida e Altamir. Obrigada! Vocês são todos cúmplices de minha boa e gostosa infância de cidade pequena – interiorana. ... Aos meus primos Augusto César, Kleber, Larissa, Rapahel, Vania, Waldson, Wagner, Willian (são muitos!), tios (Ana Déa, Benedito, Edson, Joanita, José, Maria, Marilice, Nilza), padrinhos (Enio e Julieta) e minha avó paterna (Estevina, mulher de fibra, com 95 anos de idade de pura lucidez), ao meu avô paterno Joaquim Monteiro (que não está mais entre nós) e avô materno Benedito e avó materna Maria do Carmo (que também não está mais entre nós). Foram com vocês que convivi lado a lado os meus primeiros dezessete anos de vida em Cáceres. Obrigada pela acolhida em Cuiabá: padrinho Henrique e madrinha Regina e seus filhos Renata, Rejane e Rodrigo (primos queridos!), bem como a irmã de meu padrinho, a tia Natalina. O meu muito obrigado às minhas primas-amigas-irmãs Cristiane e Geane, meu primo Roney e meus tios Eduarda e Agnaldo (que não está entre nós), que me acompanharam nos meus primeiros anos fora de casa. ... Obrigada pela cuidadosa presença de minha madrinha Lucylene Ramsay, uma grande amiga de minha mamãe e seu esposo Césio Antunes. E, pelas orações de minha madrinha de consagração Iolanda Pires (a ―irmã Ana Laura‖, sempre se lembrando de mim em suas orações em qualquer lugar do mundo onde esteja). Às tias tortas, irmãs de tio/padrinho Ênio: Iolete e Marilene Pires: tias, que cuidado tiveram comigo durante minhas andanças por Curitiba! Obrigada! ... À minha base de formação, que amo incondicionalmente: meus pais Neide e Anízio, exemplos de luta e perseverança. Aqueles que acreditaram que o melhor caminho para nós, seus filhos, seguirem seria o da educação, dos estudos, dos livros, do trabalho e, do bom caráter. Obrigada por me ensinarem amar a natureza e as pessoas! E aos meus irmãos Thiago e Walmir, meus anjos tortos de ontem, hoje e sempre, obrigada! Ao meu irmão primogênito Marcelo, com quem não pude conviver, mas que sempre esteve presente nas lembranças de meus pais. Irmão que não conheci e que me fez pensar em cuidados de crianças hospitalizadas em um país pobre pela primeira vez. Obrigada por me despertar as primeiras inquietações sobre cuidado na infância! ... À companhia dos animais, plantas e objetos nos meus momentos de recolhimento, oração-meditação: minhas gatinhas de estimação; meus Bonsais de Ipês amarelos e o som de um móbile (anunciador de mudanças da direção dos ventos), obrigada! Estes também me ensinaram muitas coisas sobre estar conectada com Deus, com as forças da Natureza, com as altas vibrações do Universo. ... Enfim, a Deus e ao Universo, porque percebi que foram estes que me proporcionaram as melhores companhias, amizades e que me fizeram compreender as causas que valeriam a pena abraçar ao longo desta jornada, e, a entender que esta não termina aqui. E, sinceridade, agradeço por conspiram a meu favor constantemente, e serem pacientes diante de tantos pedidos que fiz e faço a vocês! Obrigada! EPÍGRAFE O cuidado de um corpo múltiplo subverte barreiras entre corpo e práticas cotidianas (Annemarie Mol, 2002a). LEITE, Vanessa Ferraz. Tecnologias do Cuidado no Cotidiano: descrições sociotécnicas de computadores que habitam uma pediatria. Cuiabá. Dissertação (Mestrado em Estudos de Cultura Contemporâneo). Universidade Federal de Mato Grosso, 2012. RESUMO Este trabalho se insere no âmbito interdisciplinar das Pesquisas em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) em diálogo com a Enfermagem e a Psicologia Social. Trata-se de estudos sociotécnicos, os quais se caracterizam pela ênfase nas descrições de arranjos sociomateriais, compostos por actantes humanos e não/humanos que se traduzem nas práticas de cuidado ou tecnologias de cuidado. A pesquisa objetivou estudar as Tecnologias do Cuidado de uma pediatria, especialmente as provenientes da relação computadores-criança hospitalizada, e seus efeitos de modulação de afetos, espacialidades e Humanização em Saúde por artefatualidades nas crianças, famílias e equipe envolvida. Para isso, em um primeiro momento, estudamos cuidado na prática; objetos sociotécnicos do cuidado que estão articulados à noção de arranjos sociomateriais. Abordamos espacialidades e modulação de afetos como interferências. Discorremos sobre modulação de afetos em conexão à humanização em saúde por artefatualidade. Conceituamos tecnologias e tecnoculturas do cuidado. Em uma segunda etapa, descrevemos a elaboração do método praxiográfico, ou seja, da concepção do tipo etnográfica que enfatiza os diversos desempenhos das Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar. Em um terceiro momento, descrevemos a história do Hospital Escola de nossa escolha. Em uma quarta ocasião, contamos sobre os locais por onde andamos, o que fizemos, com quem conversamos e o tempo despendido para tais atividades. Mostramos, através de Desenhos Praxiográficos, os lugares e objetos que compuseram cada prática do cuidado realizada pelos computadores na brinquedoteca, no Laboratório de Informática e na enfermaria. Em uma quinta etapa, fazemos descrições da brinquedoteca onde os computadores vivem. Mostramos alguns efeitos produzidos pelos computadores que habitam a brinquedoteca. Enfatizamos as espacializações e modulações de afetos encontradas. Mostramos as vinculações de espacialidades e modulações de afetos aos efeitos de Humanização em Saúde por artefatualizações. Em um sexto momento, na enfermaria, enfocamos os efeitos produzidos por dois Netbooks sobre o leito de duas crianças hospitalizadas (espacialidades e modulação de afetos). Descrevemos também os efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades encontrados. Quanto às considerações finais, o Cuidado na Prática no cotidiano da pediatria nos permitiu refletir, a partir dos computadores, sobre como os objetos sociotécnicos e arranjos de cuidado podem dizer não de uma, mas de diversas Tecnologias do cuidado. Contribuímos para os estudos e práticas de Cuidado em Enfermagem ao trazermos uma concepção de cuidado não/antropocêntrica, porém, não desumana. Propomos oficinas educativo-estéticas para apresentar o modo de narrar a nossa pesquisa. Palavras - chave: Cuidado, Tecnologias, Enfermagem Pediátrica, Psicologia Social. LEITE, Vanessa Ferraz. Technologies of Care in Daily Routines: sociotechnical descriptions of computers that inhabit a pediatrics department. Cuiabá. Dissertation (Master Degree in Contemporary Cultural Studies). Federal University of Mato Grosso, 2012. ABSTRACT This work falls within the scope of an interdisciplinary research in Science, Technology and Society (STS) in dialogue with the Nursing and Social Psychology. Those are sociotechnical studies, which are characterized by an emphasis on descriptions of sociomaterials arrangements composed of human and nonhuman actants which are reflected in the care practices or care technologies. The research aimed to study the Technologies of a pediatric care, especially about the technologies from the relationship computers - hospitalized child, and the effects of modulation of affect, spatialities and Health Humanization artefactualities in children, families and team involved. To do this, at first, we studied care in practice, sociotechnical objects of care, those articulated to the notion of sociomaterials arrangements. We approach spatialities and modulation of affects as interference. We discourse modulation of affect in connection with the Health in the Humanization artifactualities. We conceptualize tecnocultures and technologies of care. In a second moment, we describe the development of the praxiography method, in other words, the type of design that emphasizes ethnographic performances of the various practices of care in the hospital routine. In a third time, we describe the history of the teaching hospital of our choice. In a fourth time we tell about the places where we walk, we did, we talked and the time spent for such activities. We show through Praxiographics Drawings, places and objects comprising each care practice performed by computers on the playroom, the Computer Laboratory and in the ward. In a fifth time, we make a description of the playroom where the computers live. We show some effects produced by computers that inhabit the playroom. We show some effects produced by computers that inhabit the playroom. We emphasize the affections, spatializations and modulations that were found. We show the linkages between spatialities and modulation affects and the effects of Health Humanization by artifactualizations. In a sixth time in the infirmary, we focus on the effects produced by two Netbooks on the bed of two hospitalized children (spatialities and modulation of affect). We also describe the effects of Health Humanization by artifactualities found in pediatrics. As for final consideration Care in Practice in daily pediatric allowed us to think, from computers, about how objects sociotechnical and care arrangements can tell, not one, but several Technologies of Care. We contribute to the study and practice of Nursing Care, by bringing a non-anthropocentric concept of care, but not inhuman. We propose educational-aesthetic workshops to provide the way of narrating our research. Key - words: Care, Technologies, Pediatric Nursing, Social Psychology. LISTA DE FIGURAS FIGURA Nº.1: bloquetes para pavimentação ecológica ........................................................129 FIGURA Nº. 2: corredor ao lado da pediatria ........................................................................129 FIGURA Nº. 3: pátio em reforma ..........................................................................................130 FIGURA Nº. 4: blocos de cimento retirados .........................................................................130 FIGURA Nº. 5: tênis com barro vermelho .............................................................................130 FIGURA Nº. 6: sobre pedregulhos ........................................................................................131 FIGURA Nº. 7: estacionamento .............................................................................................131 FIGURA Nº. 8: estacionamento 2 ..........................................................................................132 FIGURA Nº. 9: desenho praxiográfico da brinquedoteca .....................................................135 FIGURA Nº. 10: desenho praxiográfico do Laboratório de Informática ..............................136 FIGURA Nº. 11: desenho praxiográfico da enfermaria ........................................................137 FIGURA Nº. 12: porta de vidro (visão da brinquedoteca) .....................................................140 FIGURA Nº. 13: porta de vidro (visão do refeitório) ............................................................140 FIGURA Nº. 14: pia da brinquedoteca ..................................................................................142 FIGURA Nº. 15: cercadinho e barraca ..................................................................................142 FIGURA Nº. 16: puffs em blocos ..........................................................................................142 FIGURA Nº. 17: televisão 1 e criança deitada ......................................................................143 FIGURA Nº. 18: televisão 2 e videogame .............................................................................143 FIGURA Nº. 19: aparelho de DVD e rádio ...........................................................................143 FIGURA Nº. 20: caixa de brinquedos ....................................................................................143 FIGURA Nº. 21: estante de livros ..........................................................................................143 FIGURA Nº. 22: Laboratório de Informática ........................................................................144 FIGURA Nº. 23: depósito de brinquedos sujos .....................................................................144 FIGURA Nº. 24: quadros murais do Laboratório de Informática ..........................................145 FIGURA Nº. 25: jardim de inverno (visão superior) .............................................................145 FIGURA Nº. 26: jardim de inverno (solo) .............................................................................145 FIGURA Nº. 27: estante de brinquedos .................................................................................146 FIGURA Nº. 28: baú de madeira para brinquedos ................................................................146 FIGURA Nº. 29: atividade de informática e cidadania .........................................................147 FIGURA Nº. 30: tapete da brinquedoteca .............................................................................148 FIGURA Nº. 31: propés nos pés de estudantes .....................................................................149 FIGURA Nº. 32: propés e calçados na estante ......................................................................150 FIGURA Nº. 33: propés e calçados (estante do refeitório) ....................................................151 FIGURA Nº. 34: almotolia ....................................................................................................151 FIGURA Nº. 35: brinquedos (estante da brinquedoteca) .......................................................153 FIGURA Nº. 36: computador (Laboratório de Informática) .................................................153 FIGURA Nº. 37: Carlos e o computador ...............................................................................156 FIGURA Nº. 38: criança, pai e computadores .......................................................................162 FIGURA Nº. 39: bola .............................................................................................................163 FIGURA Nº. 40: jardim de inverno .......................................................................................164 FIGURA Nº. 41: criança, computador e pai (laboratório de informática) .............................165 FIGURA Nº. 42: enfermaria dos lactentes e pré-escolares ....................................................179 FIGURA Nº. 43: placa de identificação .................................................................................180 FIGURA Nº. 44: leito com lençol com estampas de bichinhos .............................................180 FIGURA Nº. 45: Netbook ......................................................................................................181 FIGURA Nº. 46: poltrona ......................................................................................................182 FIGURA Nº. 47: Carlos e o computador recluso ...................................................................183 FIGURA Nº. 48: Boneco Ben10 com tapa olho, sobre o leito, ao lado do Netbook .................................................................................................................................................194 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS: Acquired immunodeficiency syndrome AVC: Acesso Venoso Central AVP: Acesso Venoso Periférico CEP: Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos CNPq: Conselho Nacional de Pesquisa CONANDA: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente COREN – MT: Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso CPP: Cuidado Progressivo dos Pacientes CTS: Ciência, Tecnologia e Sociedade ECCO: Estudos de Cultura Contemporânea ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente FAEN: Faculdade de Enfermagem HUJM: Hospital Universitário Júlio Müller HU – USP: Hospital Universitário da Universidade de São Paulo NPT: Nutrição Parenteral Total ONG: Organização Não Governamental PIBIC: Programa de Bolsa de Iniciação Científica PICC: Peripherally Insert Central Venous Catheter PNH: Programa Nacional de Humanização PSF: Programa de Saúde da Família SUS: Sistema Único de Saúde SVD: Sonda Vesical de Demora TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TICs: Tecnologias da Informação e Comunicação UFMT: Universidade Federal de Mato Grosso USP: Universidade de São Paulo UTI: Unidade de Terapia Intenso SUMÁRIO Introdução ...............................................................................................................................18 Capítulo 1 – Tecnologias do cuidado: reflexões e pesquisas ..............................................30 1.1. O Cuidado na Prática ....................................................................................................32 1.2. Arranjos sociomateriais e objetos sociotécnicos ..........................................................36 1.3. Tecnologias ou práticas de cuidado ..............................................................................45 1.4. Interferências: espacialidades e modulações de afetos em práticas de cuidado ..............................................................................................................................................52 1.5. Modulação de afetos e interferências nas espacialidades .............................................56 1.6. Conexões entre modulação de afetos, espacialidades e Humanização hospitalar ..............................................................................................................................................65 Capítulo 2 – Uma Praxiografia do Cuidado .....................................................................77 2.1. Saberes localizados e multiplicidades ..........................................................................81 2.2. Incidentes Críticos ........................................................................................................87 2.3. Incidentes Críticos e os Incidentes Mosaicos ...............................................................89 2.4. Sobre a ética dialógica ..................................................................................................92 2.5. Sobre interrupções das entrevistas e conversas ............................................................97 Capítulo 3 – Um Hospital Escola ..........................................................................................98 3.1. O Hospital Universitário Júlio Müller e os primórdios da assistência na pediatria ............................................................................................................................................100 3.2. A pediatria atual: ensino e pesquisa, os projetos de extensão e a brinquedoteca ............................................................................................................................................110 3.2.1. O Programa Cuidar Brincando ................................................................................116 3.3. Algumas reflexões que nos levaram a escolher a pediatria e alguns de seus objetos sociotécnicos para estudos .................................................................................................123 Capítulo 4 – As andanças pela Pediatria ...........................................................................126 4.1. Desenho Praxiográfico ..................................................................................................134 Capítulo 5 – Computadores que Cuidam I – A Brinquedoteca .......................................139 5.1. Espacialidades ............................................................................................................147 5.2. Computadores que cuidam e Modulação de afetos ....................................................160 5.3. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualização ............................................169 5.3.1. Acolhimento ............................................................................................................169 5.3.2. Autonomia ...............................................................................................................170 5.3.3. Corresponsabilidade e protagonismo ......................................................................173 Capítulo 6 – Computadores que Cuidam II – A Enfermaria ..........................................177 6. 1. Enfermarias dos bebês ...............................................................................................179 6.2. Enfermaria 104 ...........................................................................................................179 6.3. Enfermaria 105 ...........................................................................................................180 6.4. Apresentando os cuidadores sociotécnicos ................................................................181 6.5. Netbooks que cuidam de Carlos .................................................................................183 6.6. Netbooks que cuidam de Lucas ..................................................................................190 6.7. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualização ............................................196 6.7.1. Acolhimento ............................................................................................................197 6.7.2. Autonomia ...............................................................................................................198 6.7.3. Corresponsabilidade e protagonismo ......................................................................199 7. Considerações finais .........................................................................................................201 8. Referências ........................................................................................................................206 9. Apêndices ..........................................................................................................................223 10. Anexos .............................................................................................................................289 18 INTRODUÇÃO 19 A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é o tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes (Poema A arte da Enfermagem, Florence Nightingale). Certa vez, a Dama da Lâmpada , Florence Nightingale, escreveu um poema, A arte 1 da Enfermagem (NIGHTINGALE, 1946), no qual declara que os gestos e trabalho que envolvem a arte de cuidar do corpo humano são tão belos e rigorosos quanto a arte de se pintar uma tela artística ou de esculpir uma estátua. Para ela, a arte de cuidar seria mais fascinante em decorrência de seus efeitos estéticos estarem vinculados à manipulação de uma entidade viva, enquanto a pintura de um quadro e o esculpir de uma estátua estariam restritas apenas à fabricação de algo inerte, bem como à fixação de sensações neste algo considerado morto. Para nós, como pesquisadoras em sociomaterialidades hospitalares, ao compor o nosso próprio processo de pesquisa, percebemos um profícuo movimento de dilatação fronteiriça da 1 Florence Nightingale é precursora da Enfermagem Moderna. Antes dela, a enfermagem era exercida por leigos e/ou religiosas, ela deu caráter científico à profissão, principalmente no que diz respeito à necessidade de formação para exercícios profissionais. Foi uma enfermeira britânica que ficou famosa por ser a pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Criméia (1854-1856), conflito iniciado entre turcos e otomanos, que acabou posteriormente envolvendo França e Inglaterra. Florence ficou conhecida na história pelo apelido de "A Dama da Lâmpada", pelo fato de servir-se deste instrumento para auxiliar na assistência aos feridos durante a noite. Para os feridos cuidados por ela e sua equipe, a Lâmpada acesa era simétrica à esperança, e, para as que exerciam o trabalho da enfermagem, a Lâmpada correspondia à liderança e aprendizagem. Florence foi reconhecida também pelas contribuições para a melhoria das condições sanitárias dos hospitais militares. É reonhecida como uma mulher notável, por sua paixão pela matemática, especialmente estatística, e de como esta paixão desempenhou um papel importante em seu trabalho. O fato de ser mulher denotava, em seu dia a dia, enfrentar a hierarquia e hostilidade de médicos homens e demais militares a cada passo para efetivar as reformas necessárias no sistema hospitalar. Como por exemplo, as condições das locações dos soldados; estes ficavam deitados no chão bruto, rodeados por insetos e ratos. Assim como as operações efetuadas em condições anti-higiênicas presenciadas por ela quando chegou a Scutari (principal hospital britânico de campo). Teve que enfrentar inimigos difíceis, neste caso as doenças como cólera e tifo, as mais comuns nos hospitais militares. Tais condições aumentavam em setes vezes as chances de soldados feridos morrerem de uma doença hospitalar do que no campo de batalha. Enquanto esteve na Turquia a Dama da Lâmpada coletou dados e organizou um sistema de manutenção de registros, fazendo desses dados uma ferramenta para melhorar as condições dos hospitais civis e militares. Seu conhecimento matemático foi útil para se valer das informações coletadas para o cálculo das taxas de mortalidade nos hospitais. Apesar de ter trabalhado em poucos hospitais, sua facilidade com a matemática, bem como seu conhecimento em filosofia e em educação, estes associados às suas noções sobre arquitetura hospitalar e realidades geográficas (por ter viajado muito, bem como por ter conhecido o trabalho de diversos hospitais), fizeram-na analisar e refletir apuradamente os relatórios de suas práticas hospitalares e do ambiente dos hospitais locais. A equipe de Florence interviu na alimentação servida, na lavanderia/rouparia e na manutenção das estruturas das enfermarias. Diante da Guerra, considerada uma hecatombe, frente aos despreparo e desorganização para assistir tantos feridos, a deterninação dessa enfermeira, vinculada a sua maneira de gerenciar e liderar, levou-a a ser reconhecida e respeitada pelos britânicos, pelos soldados que cuidou e inclusive pela então Rainha Vitória. Ao passo que revolucionou as concepções sobre ser mulher e sobre as práticas da enfermagem como profissão (BASSI, 2002; KRUSE, 2006; LOPES & SANTOS, 2010). 20 concepção de Nightingale. E, melhor ainda, de subversão de qualquer barreira entre o inorgânico e o orgânico, assim como entre o não/humano e o humano. Recordamo-nos de Florence Nightingale, aqui, não com o intuito de evocá-la ao longo de nosso trabalho, mas porque a enfermeira britânica nos instigou a pensar o Cuidado no contemporâneo, ou melhor, no cuidado de um corpo múltiplo (MOL, 2002a), que a nosso ver compreende relações entre humanos e não/humanos, contribuintes para o cuidado dos humanos (apesar dessa não ter sido a sua intenção ao falar sobre a importância da água fresca, da circulação do ar, da higiene, da alimentação para o reestabelecimento do corpo), que podem ser flagrados em Notes on Nursing: what it is, what it is not (NIGHTINGALE, 1898). E foram justamente às exigências desta multiplicidade, que nos fez mudar o enfoque de nossos estudos. A princípio, nossa pesquisa de mestrado se deu pela vontade e curiosidade de estudar crianças hospitalizadas e sua relação com modos alternativos de cuidado, mais especificamente sobre a vinculação de crianças hospitalizadas com computadores e sua Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs). Entretanto, logo percebemos que para tal investigação deixaríamos de lado um mundo sociomaterial que compõe as atividades de informática e cidadania, além das performances de outros objetos sociotécnicos, habitantes dos espaços da brinquedoteca2 e de uma enfermaria da pediatria, contribuintes para o cuidado desencadeado pela relação computador-criança hospitalizada. Os quais, por sua vez, são capazes de modular afetos e reordenar espacialidades locais. Sendo assim, passamos a enxergar novas possibilidades de estudo. De certa forma, já não poderíamos lidar com a coletividade heterogênea da pediatria como meros instrumentos engessados, cristalizados. Ou mesmo, como refere Sennett (2009), o aperfeiçoamento do trabalho só é possível por meio da cooperação entre homens e máquinas. Para o nosso contexto, seria o de reconhecer que existe uma diversidade de entidades morando na pediatria. Pois há habitantes não/humanos se relacionando com humanos na clínica, que são relevantes para o cuidado das crianças hospitalizadas. Mas por que inserir uma bomba de infusão na abertura da Introdução ao invés de um computador? Não foi por acaso essa inserção – essa que aparecerá novamente no início do capítulo um. Como parafernália médico hospitalar, a bomba foi flagrada por nós não apenas 2 Para maiores informações sobre a trajetória acadêmica da Mestranda, consultar Memorial Descritivo (APÊNDICE C), o qual se encontra na seção de apêndices. 21 realizando suas funções esperadas: conexão à rede venosa de uma criança (que não aparece na foto por conta do sigilo de imagens), assim como a programação digital para infundir uma solução em determinada vazão. Mas também aparece em meio a uma diversidade sociomaterialidades do refeitório das crianças, que, de certa forma, nos provocaram interferências locais. E tais interferências contribuíram para o nosso pensar sobre os efeitos provenientes da relação computadores-criança hospitalizada, esses como compositores de tecnologias de cuidado. A bomba de infusão, um possível estudo posterior? Potencialmente sim! A nossa dissertação faz um diálogo interdisciplinar entre Enfermagem, Psicologia Social e Estudos Sociotécnicos. Insere-se no âmbito do grupo ―Tecnologias, Ciências e Contemporâneo‖ (TECC), na linha de pesquisa ―Práticas e políticas de acesso a saberes e tecnologias‖. Encontra-se alocada no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), vinculada à linha de pesquisa ―Epistemes Contemporâneas‖. O ECCO/UFMT tem como objetivo sondar, rastrear, perseguir, descrever, avaliar e criticar as inúmeras transformações sociais e culturais provocadas pelos novos processos que surgem tanto no âmbito global quanto local, ou mesmo os que se encontram em uma instância transnacional. Nosso objetivo geral foi estudar as Tecnologias do cuidado, em especial, às ligadas a computadores de uma brinquedoteca, que estão presentes na unidade de internação pediátrica de um Hospital Público e seus efeitos de modulação de afetos e espacialidades, que contribuem para Humanização em Saúde por artefatualidades nas crianças, familiares e equipe envolvida. Focalizamos nosso estudo na vida cotidiana de uma unidade pediátrica por acreditarmos que seja possível pesquisar os múltiplos efeitos de transformações sociais, tecnológicas e culturais vinculados às reordenações que resultam em ―habitabilidade‖, proporcionadas pela ―oficina do fazer‖ promovida pelas Práticas de cuidado. Esta noção encontra-se constantemente imbricada às modulações de afetos e efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades. Apesar da disponibilidade de obras sobre os Estudos Sociotécnico no Brasil (LATOUR, 1994; 1997; 2000; 2001; 2008; LATOUR & WOOGAR, 2002; MOL, 2007), entendemos que a sua abordagem não é tão comum para diversas áreas, entre elas as das 22 Ciências Humanas (como psicologia), assim como da Saúde (Enfermagem). Por isso, segue algumas noções de termos que serão constantemente retomados ao longo da dissertação: Actantes se referem às entidades não inertes, ou seja, a elementos que realizam actâncias (ações) (LATOUR, 1994); Objeto sociotécnico do cuidado compreende todo elemento, seja ele humano ou não/humano, capaz de se relacionar, haja vista suas fricções relacionais, ou ainda, suas recalcitrâncias que produzem alguns efeitos notáveis (LEITE; GALINDO, 2010); Arranjo sociotécnico é um conjugado momentâneo de objetos sociotécnicos, o qual é capaz de alterar espaços e modular afetos (Ibid); Interferência é um tipo de mediador de ações (actâncias) produzidas por um coletivo sociotécnico. Esse coletivo pode ser constituído por humanos e não/humanos. Mas a relevância está em dizer que a relação conjugada por estes não configura dominância de uma das partes. Havendo sim a produção de alguém ou algo ―a mais‖, de transformações, notada como efeito (LATOUR, 2001); Espacialidades são as reordenações espaciais provocadas pelas interferências no ambiente hospitalar no qual foram instaladas. Ou ainda, são efeitos das recalcitrâncias dos arranjos sociotécnicos, ou melhor, de objetos sociotécnicos que ao se relacionarem transformam, modificam um local ou um momento, não precisando, necessariamente, estarem alocados ou terem construídos quatro paredes para que ocorram. Porém, são capazes de mudar essas quatro paredes. Não são eternas, mas suas intensidades as materializam como momentos eternos (RODRIGUES; GALINDO; LEITE, 2011); Modulação de afetos é outro efeito de interferências das tecnologias e de seus objetos sociotécnicos de cuidado, ou seja, efeito emitido das relações entre humanos ou entre humanos e não/humanos, ou ainda, entre não/humanos, com potência para amenizar dor, angústia, medo, promover enfrentamentos, motivar aceitação, promover segurança, aflorar raiva, assim como configurar situações de esforço físico, de cansaço, mal-estar (LEITE; GALINDO; GAMBÁ; RODRIGUES; ZARDETTE, 2011). Neste estudo será enfatizada a alteração de ambiências e modulação de afetos, que traz consigo uma noção de social, não no sentido comum desta palavra, uma vez que não será, 23 necessariamente, um humano efetivando relações sociais, mas poderá vir a ser um não vivente ou qualquer orgânico não/humano que se mostre social. Por isso, fala-se de uma técnica que é social, já que se relaciona, coparticipa, atua, faz (LEITE; GALINDO; GAMBÁ; RODRIGUES; ZARDETTE, 2011); Performances ou enactments, como prefere Mol (2002a), referem-se não apenas a encenações, o que seria esperado por um ator diante de determinado cenário, mas esta vai além; considera relevante a encenação de um ator, mas adiciona uma noção de atuação, ou ainda, declarações. No final, porém, prefere manter a grafia em inglês enactments, ou utilizar performances, observando sempre a noção da palavra enactments/to enact. Para o nosso trabalho, adotamos Performances [enactments], sempre em associação; Tecnologias do Cuidado ou Práticas do Cuidado se referem ao modo como objetos sociotécnicos e seus arranjos, em articulação, transformam as práticas em saúde, enfim, o serviço prestado ao usuário ao longo de seu enfrentamento aos diferentes problemas de saúde. Sendo, portanto, mais amplo que discutir tecnologias como equipamentos modernos ou novos (LEITE; GALINDO; MACHADO; MOURA; RODRIGUES, 2011); Tecnoculturas do Cuidado é uma expressão simétrica à ―Lógica do Cuidado‖ encontrada nos estudos de Mol (2008). Neste trabalho, entretanto, a escolha por Tecnoculturas do Cuidado deve-se ao fato destas se encontrarem mais próximas da noção de Promoção de Saúde, onde as composições tecnológicas que cuidam, ou ainda, os arranjos sociotécnicos de cuidado deste estudo, podem ou não estarem vinculadas às entidades que configuram, ao mesmo tempo, racionalidade, objetos, técnicas e afetividades; Sociomaterialidades compreendem não apenas as materialidades que envolvem a tecnociência, isto é, a ciência das técnicas, mas também todas as demais materialidades, que ao se articularem, mesmo sendo de ontologias (realidades) distintas, até mesmo notadas como incoerentes ao estarem juntas, efetivam transformações. Dessa maneira, poderá ser encontrado no texto o termo sociotécnico, mas muitas vezes, colidirá com a palavra ―sociomaterialidades‖ (HARAWAY, 1995; LAW & MOL, 1995; SPINK, 2003; SPINK, 2009). Os critérios para a configuração de nosso estudo foram aplicados conforme as necessidades que surgiram. Para a construção deste processo de pesquisa descrevemos os 24 instrumentos fabricados e as reflexões teóricas utilizadas. Lembrando que os instrumentos nunca são meras ferramentas inertes feitas para se aplicar, elas, em conjugação com o homem, cooperam e podem modificar as metas que se tem em mente (LATOUR, 1994; SENNETT, 2009). Segundo Law (1992), a sociedade é uma rede heterogênea, constituída não apenas de humanos, mas de efeitos relacionais entre diversos elementos de ontologias distintas. Nela, os actantes, sem distinção de relevância, atuam, isto é, são protagonistas. Isso quer dizer que consideramos a importância do homem do mesmo modo que de suas produções, criações, em outros termos, dos seus objetos, de suas técnicas, de suas práticas, de suas máquinas, de suas ambientações; porém, sem a pretensão de igualá-los, bastando-nos apenas os inserir em uma mesma trama sociotécnica. Os estudos sociotécnicos, portanto, propõem uma valorização de simetria de atuação. Arranjos ao invés de hierarquias ou oposições (SIMONDON, 1958; LATOUR, 2001; LATOUR & WOOLGAR, 1997; LATOUR, 2001; LAW & MOL, 2002). Por se tratar de um trabalho sobre ―descrições sociotécnicas de computadores que habitam uma pediatria‖, anunciamos que trabalhamos com a noção de ―habitar‖, ―morar‖ e ―visitar‖ vinculadas a espécies humanas ou não/humanas (HARAWAY, 2004) ao longo do nosso texto. Segundo Ferreira (2009) e Houaiss (2009), ―habitar‖ compreende ocupar como residência, tornar habitável onde se reside, tornar habitado. Simetricamente, ―morar‖ refere-se a viver, habitar, ter residência, ou ainda pode reportar-se a se encontrar, achar-se. E ―visitar‖ é um verbo transitivo que pode ser entendido como ―ir ver‖ alguém em casa ou noutro lugar onde esteja (visita médica), por cortesia, dever ou afeição. As noções sobre ―habitar‖ e ―morar‖ encarnam uma temporalidade topológica derivada de transformações em decorrência de estarem ligadas a uma estadia mais envolvente, com o estabelecimento de vínculos. Portanto, não tão ligadas à permanência prolongada ou curta no local. Apesar de, na maioria das vezes, morar ou habitar compreenderem permanecer no local. Já a noção de ―visita‖, revela-se como uma relação sem vínculos, descompromissada, porém capaz de transformar uma temporalidade topológica passageira (FERREIRA, 2009; HOUAISS, 2009). Em nosso estudo os computadores da brinquedoteca moram ou habitam o espaço da pediatria. E, assim como os profissionais da equipe de saúde, a variedade de computadores (Netbooks) também visitam os quartos-enfermarias, isso através do deslocamento para estes lugares ou através de efeitos que emitem quando auxiliam nos cuidados das crianças. Como 25 os efeitos produzidos se mostraram relevantes, uma vez que alcançam outras localidades da pediatria (posto de enfermagem, jardim de inverno, refeitório, corredor, rouparia, etc.), a noção de visita que adotamos é transformadora, apesar de ser passageira. Acatamos as noções de morar e habitar porque também são promotoras de ―vínculos transformadores‖ (LATOUR, 2000). Desse modo, prendemo-nos à intensidade das relações estabelecidas, logo, não tão dependente do tempo das relações estabelecidas entre computadores e crianças na brinquedoteca ou nas enfermarias sobre o leito das crianças. Sobre ―praxiografia‖ o estudo de Mol (2002a) enfatiza o momento em que as atuações das Práticas de cuidado acontecem, isto é, quando se encontram em exercício. Refere-se às ontologias múltiplas das entidades; seria o estar diante do modo como estas se fabricam, como se constroem, como atuam ou promovem intervenções. Abrindo possibilidades de discussão sobre uma destas fricções contemporâneas de escolha, mas de um modo que esta se mostre em trama, como se entrelaça, como se faz, compõe-se, ou seja, essa pesquisa em estudos sociotécnicos apresenta as redes técnicas e sociais como são, dentro da qual, todos são importantes: ―os seres humanos e os não/humanos‖ (LATOUR, 1994; MOSER & LAW, 2001; LAW & MOL, 2002; HARAWAY, 2011), levando sempre em consideração as suas respectivas origens ontológicas (MOL, 2007). A dissertação tem como ambiente uma pediatria e toma dois espaços contextuais como ponto de partida para o estudo das Tecnologias do Cuidado ligadas à relação computador-crianças hospitalizadas: o projeto de Informática e Cidadania e a Brinquedoteca Hospitalar. Entretanto não nos atrelamos a esses espaços, passamos por eles (uma vez que fazem parte da proposta inicial), do mesmo modo que de uma das enfermarias da pediatria. Com este trabalho pretendeu-se colaborar para reflexão sobre o cuidado atravessado por objetos, técnicas e tecnologias na clínica pediátrica, incorporando-se a uma preocupação largamente presente na enfermagem que concerne simultaneamente ao incremento do cuidado na vida diária da pediatria e à garantia de direitos das crianças hospitalizadas (DIAS & MOTTA, 2004; MITRE & GOMES, 2004; RAMALHO, 2007; BRITO et al, 2009; RIBEIRO et al, 2009; FONTES et al, 2010; LEMOS et al, 2010). Os capítulos são separados por imagens-mosaico que derivam de montagens provenientes de objetos sociotécnicos habitantes da pediatria de nosso estudo. Não nos restringimos às imagens de computador-criança por flagrarmos outras entidades não/humanas contribuindo para pensar cada um dos capítulos de nossa pesquisa. 26 Na primeira imagem-mosaico, inserimos fotografias de diversos objetos localizados em diferentes lugares da pediatria, com o intuito de incitar pensamentos sobre as inúmeras possibilidades de arranjos sociotécnicos do cuidado. Deixamos como destaque a bomba de infusão, pois esta foi flagrada no refeitório infundindo solução de eletrólitos em uma criança em meio a outras entidades não/humanas, como mesas, cadeiras, brinquedos e propés. Na segunda imagem-mosaico, trazemos fotografias de várias superfícies que requerem manipulação, que são ao mesmo tempo complexa e simples. Portanto, incluímos desde fotos de materiais que exigem grandes habilidades técnicas como os de emergência, bem como fotografias daquelas que requerem ações aparentemente simples: pegar e segurar o fone do telefone público, empurrar uma cadeira de rodas, segurar e prensar um copo para enchê-lo d‘ água enquanto se inclina e segura uma garrafa térmica com a água desejada, pegar a vareta enquanto brinca, rabiscar e pintar uma folha de papel, lavar as mãos ou aplicar álcool nas mãos e friccioná-las, o segurar uma criança para pesar na balança, assim como identificar no mapa as localizações geográficas de postos de saúde. Ficando em destaque uma fotografia onde há como superfícies, um termômetro, uma caneta e um livro de registro, com a intenção de intensificar que até mesmo a noção de grafar algo interpela actâncias de objetos e mãos. Na terceira imagem-mosaico, misturamos aparelhagens convencionais de ambiente hospitalar, como rede e entradas/saídas de ar comprimido, oxigênio, vácuo, caixa de descartes de perfuro-cortantes com objetos nada convencionais encontrados na pediatria, como cadeira de fio para descanso no posto de enfermagem, desenho colorido na porta de acesso à sala de procedimentos. E, como destaque, temos uma fotografia na qual o pedido de silêncio não se cala frente às escalas de serviço, dos informativos, pelo contrário, ganha uma voz tênue em meio a um coração de pelúcia e um desenho de um menino bastante alegre, concomitantemente à mensagem que deseja passar. Na quarta imagem-mosaico, damos ênfase para o chão, para os pés. Por esse motivo selecionamos recortes de várias fotografias nas quais o olhar estivesse direcionado para baixo. A fotografia das bailarinas como destaque foi com a menção de pensarmos nos passos, nas andanças, como contribuintes da configuração das superfícies topográficas pesquisadas. Na quinta imagem-mosaico, elencamos fotografias de aparatos não médicos hospitalares como brinquedos, lixeiro decorativo, uma mangueira utilizada para lavar brinquedos no jardim de inverno, fones de ouvidos utilizados na sala de informática em meio 27 a fotografias de cuidadores médicos hospitalares como as bombas de infusão, soros fisiológicos armazenados na sala de procedimentos. Enfatizamos a criança que brinca com o computador com a intenção de apresentar esta relação como uma desencadeadora de múltiplas conexões sociotécnicas de cuidado. Na última imagem-mosaico, temos em destaque objetos que potencializaram a relação entre crianças e Netbooks. A fotografia do Netbook sobre o leito de uma enfermaria foi intencionalmente recortada e alargada para destacar que o computador portátil e a diversidade de interpelações que ele desencadeia também são contribuintes para o cuidado da criança hospitalizada. No capítulo um, intitulado “Tecnologias do cuidado: reflexões e pesquisas”, mostramos que o trabalho encontra-se inserido no campo interdisciplinar dos estudos sociotécnicos, também nomeado Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Destacamos a sua ênfase nas descrições de arranjos sociomateriais compostos por actantes humanos e não/humanos que, em nosso estudo, traduzem-se nas práticas de cuidado ou tecnologias de cuidado e objetos sociotécnicos (MOSER & LAW, 2001; MOL, 2002a; MOL, 2002b; LAW, 2004; MOSER, 2005; SORENSEN, 2007; CALLON, 2008). Falamos sobre ―Cuidado na prática‖; procuramos conceituar ―objetos sociotécnicos do cuidado‖, estes articulados à noção de ―arranjos sociomateriais‖; conceituamos tecnologias para chegarmos à noção de ―tecnologias do cuidado‖ ou de ―práticas de cuidado‖; abordamos às interferências promovidas por Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar, como espacialidades e modulação de afetos; e, por fim, discorremos sobre ―modulação de afetos em conexão à humanização em saúde‖, que nos permitiram falar sobre efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades. No capítulo dois, nomeado “Uma Praxiografia do Cuidado”, descrevemos a elaboração do método que confeccionamos para a presente pesquisa. Expomos a sua aproximação com o cotidiano das práticas, no qual o desafio foi ter habilidades para imprimir imagens através de palavras, ou melhor, que fosse competente para mostrar as minúcias do que se vivencia e a experiência em campo (SENNETT, 2009). Mostramos que na produção deste trabalho se considerou as múltiplas atuações dos objetos sociotécnicos que apareceram no cotidiano da pediatria do Hospital Escola como insumos para a tessitura de um escopo teórico-metodológico. Especificamente, trabalhamos as descrições das diversas versões emitidas pelas entidades que compõem as Tecnologias do Cuidado no cotidiano. Contamos o 28 motivo da adoção da noção de praxiografia, ou seja, de uma concepção do tipo etnográfica que enfatiza os diversos desempenhos das Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar, a partir dos estudos da pesquisadora Annemarie Mol, os quais transpõem os paradigmas que provocam separações entre entidades orgânicas ou inorgânicas, humanas ou não/humanas, que compreendem performances [enactments] múltiplas de seus objetos sociotécnicos, que são atravessados por várias formas de coordenação, sendo enfatizadas as de adição e a de calibração (MOL, 2002a). Falamos sobre os instrumentos construídos e que compuseram a pesquisa: diário de campo (andanças/itinerário) e inventário dos objetos. Discorremos sobre o nome eleito para cada momento de práticas presenciadas, ou seja, sobre incidentes mosaicos, derivados dos incidentes críticos, conforme estudos de Galindo (2002). Tecemos também uma reflexão sobre os Saberes locais (HARAWAY, 1995). E para finalizar o capítulo, pensamos a Ética em pesquisa com seres humanos e refletimos sobre algumas contradições da Lei nº. 196 do Conselho Nacional de Saúde quanto à avaliação de pesquisas realizadas por estudiosos em Ciências Humanas e áreas da Saúde (MENEGON, 2003) como a Enfermagem. Fazemos também a descrição das características dos participantes da pesquisa. No capítulo três destacamos o Hospital Júlio Müller como o lugar de nossas andanças. Por isso, nomeou-se este segmento de estudo de “Um Hospital Escola.” Procuramos contar uma versão da ―história‖ do hospital a partir de actantes provenientes de fragmentos de notícias documentadas em sites ―regionais‖ e relatos verbais consentidos por uma professora, que destacam momentos de transformações administrativas e prediais do hospital, mais especificamente, da pediatria. Não só descrevemos brevemente a história do hospital, sobre os primórdios da relação entre recreação, ludicidade e cuidado, como também deixamos algumas reflexões sobre ensino e pesquisa na pediatria, bem como as interferências da brinquedoteca no cotidiano dessa ala de assistência à criança, além de apresentarmos o motivo da escolha da pediatria para a realização de nossos estudos. O capítulo deixa em aberto diversas possibilidades para estudos posteriores. No capítulo quatro, que chamamos de “As andanças pela Pediatria”, descrevemos os locais por onde a pesquisadora principal da pesquisa andou, o que fez, com quem conversou, o tempo despendido para tais atividades. Contamos sobre a indumentária composta para realizar suas andanças. Fazemos uma reflexão sobre as andanças no campo de pesquisa ser um processo iniciado antes mesmo de adentrarmos a pediatria, ou melhor, ser anterior a nossa entrada no hospital. Mostramos, através de Desenhos Praxiográficos, os 29 lugares e objetos que compuseram cada prática do cuidado realizada pelos computadores na enfermaria 105, assim como no Laboratório de Informática da Brinquedoteca. No capítulo cinco, intitulado “Computadores que cuidam I – A Brinquedoteca”, fazemos uma breve descrição da brinquedoteca onde vivem. Em seguida, mostramos alguns efeitos produzidos pelos computadores que habitam a brinquedoteca. Mais especificamente, sobre os ―Computadores que não saem do Laboratório de informática‖. Por conseguinte, enfatizamos as espacializações do tipo: biossegurança, companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço. Sobre modulações de afetos do tipo: motivação, desmotivação; contentamento, descontentamento. Por fim, as vinculações de espacialidades e modulações de afetos aos efeitos de Humanização em Saúde por artefatualizações (acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo). No capítulo seis, nomeado “Computadores que cuidam II – A enfermaria”, descrevemos as enfermarias da pediatria; em seguida, evidenciamos os efeitos produzidos pelas práticas de cuidado de dois Netbooks sobre o leito de duas crianças. Em destaque, temos efeitos de espacialidades, modulações de afetos e Humanização em Saúde por artefatualidades de modo ora próximos ora distintos entre os dois meninos cuidados pelos computadores portáteis. Entre os efeitos destacados temos espacialidades do tipo: clínica; biossegurança; companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço. Estas se ligam com modulação de afetos do tipo: motivação, desmotivação; contentamento, descontentamento. Por fim, Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades: acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo. Por fim, nas “Considerações finais”, o Cuidado na Prática, topologicamente localizado na pediatria deste estudo, nos permitiu refletir sobre como os objetos sociotécnicos e arranjos de cuidado podem dizer não de uma, mas de diversas Tecnologias do cuidado. Fazemos um exame sobre como as pesquisas sociotécnicas contribuem para os estudos e práticas de Cuidado em Enfermagem, porém em uma concepção de cuidado não/antropocêntrica. Como pesquisamos com crianças, acompanhantes e equipe em uma perspectiva sociotécnica, propomos, como um dos desdobramentos de nossos estudos, o compartilhamento do texto da pesquisa na forma de oficinas sociotécnicas educativo-estéticas (GALINDO et. al., 2012). 30 CAPÍTULO 1 TECNOLOGIAS DO CUIDADO: REFLEXÕES E PESQUISAS E, de repente, me vejo entre homens, animais e objetos falantes. 31 O trabalho se insere no campo interdisciplinar dos estudos sociotécnicos, conhecido também como Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), caracterizados pela ênfase nas descrições de arranjos sociomateriais compostos por actantes humanos e não/humanos, que, em se tratando do nosso estudo, traduzem-se nas práticas de cuidado ou tecnologias de cuidado e objetos sociotécnicos (LAW, 1997; MOL, 2002a; MOL, 2002b; LAW, 2004; SORENSEN, 2007; CALLON, 2008). Tendo em vista a composição de nossas reflexões ao trabalharmos noções teóricas, procuramos envolver cenas do dia-a-dia em que ocorrem conformações de diversos elementos sociomateriais e sociotécnicos que podem corroborar para a efetivação do cuidado, sejam eles matérias de jornais ou resultados de pesquisas com as quais dialogamos. Inicialmente falamos sobre o ―Cuidado na prática‖ apresentando alguns estudos sociotécnico para nos ajudar a conceituar ―cuidado‖, tentando aproximá-los de alguns estudos da Saúde Coletiva, bem como de textos científicos da Enfermagem que falam sobre ressignificação e ciborguização em saúde, para pensarmos Cuidado como vinculado a um emaranhado de sociomaterialidades. Em um primeiro momento, conceituamos ―objetos sociotécnicos do cuidado‖ via ilustrações provenientes de resultados de pesquisas realizadas com uma diversidade de sociomaterialidades, ora não tão próximas ao ambiente hospitalar ora próximas, ou mesmo, inseridas no ambiente hospitalar, ficando a noção de ―arranjos sociomateriais‖ atrelada à ―tradução‖ da composição, assim como ao contexto em que inserirmos os ―objetos sociotécnicos‖, cujos efeitos conferidos correspondem às interferências no curso das práticas cotidianas. Em uma segunda etapa, conceituamos tecnologias, e, em seguida, estendemos o conceito, de modo a chegarmos à noção de ―tecnologias do cuidado‖ ou ―práticas de cuidado‖; também partimos de diversos modos de cuidar, através dos quais emergem concepções de tecnologias ou práticas de cuidado, conceito-base que integra os conceitos de ―objetos sociotécnicos do cuidado‖ e ―arranjos sociotécnicos‖. Para abordamos as interferências promovidas pelas Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar, foram necessárias, primeiramente, incitarmos um diálogo entre pesquisadores das sociomaterialidades e das humanidades para apresentarmos algumas noções referentes às espacialidades ou reordenações de espaços; a seguir, tratamos de afetações a partir do 32 discurso psicológico em Vinciane Despret, haja vista que possui afinidades com os trabalhos que realizamos sobre os efeitos de modulação de afetos produzidos pelas Tecnologias do Cuidado e seus objetos sociotécnicos do cuidado. Por fim, falamos sobre modulação de afetos em conexão à humanização em saúde. Apresentamos os vários modos de ocorrência do acoplamento da modulação de afetos a uma ―lógica do cuidado‖, isto é, Tecnoculturas do Cuidado, onde os Efeitos de Humanização em Saúde configuram articulações de agenciamentos3 sociomateriais, os quais nos permitem pensar nos princípios da Política Nacional de Humanização (PNH) e como se efetivam de maneiras alternativas. 1.1. O Cuidado na prática Em The Logic of Care: Health and the problem of patient Choice (2008), Mol tem o cuidado como foco de estudos empíricos, porém, prende-se ao cuidado em saúde e aos atores em estudos das sociomaterialidades hospitalares. O que a pesquisadora procura enfatizar é uma lógica do cuidado (como uma maneira de valorizar e fortalecer o campo de pesquisa em cuidado da saúde), acreditando que tal proposta seja possível por intermédio da tradução das práticas de cuidado por meio de palavras, pois ao descrevê-las nota-se que no cotidiano, mesmo estas não sendo racionais, não exatas, não purificadas, passam a ser visualizadas de uma forma lógica. Essa noção de lógica do cuidado, conforme retrata a pesquisadora, seria a evocação de um discurso, mas uma evocação de discurso das práticas via as ações que promovem. E, diante de qualquer cenário que o cuidado venha compor, o discurso se revela como um processo, dentro do qual, pacientes e profissionais, por exemplo, vão produzindo juntos uma determinada lógica do cuidado. Essa noção faz com que haja o desprendimento das habilidades e competências exigidas das pessoas como meta a se alcançar. Ao invés disso, destaca-se o modo de vida diária das pessoas em meio às inconstâncias cotidianas (MOL, 2008). 3 Noção de agenciamento: são possíveis agências, ou melhor, desdobramentos, variações ou potências múltiplas de um único objeto, isto é, seriam as inúmeras atuações e formas como este objeto se configura, de acordo com as circunstâncias em que se encontra não se prendendo a sua função ou forma original (GALINDO et al, 2009). 33 A lógica que Mol (2008) busca destacar rende-se às incertezas, àquilo que não se pode controlar. Ou ainda, vincula-se a promoção, a uma estabilização parcial em vez de promessas de uma cura total. Enfim, fala-se de uma lógica que sugere possibilidades de lidar, de conviver com determinadas condições, como é o caso das condições crônicas de saúde4 citadas no estudo. Mostra a necessidade do paciente de se engajar, enfrentar a situação para que essa possa ser modulada, de tal forma que seja sustentável e tolerável a convivência diante de minúcias não esperadas e que passam a compor o cotidiano da pessoa. A lógica do cuidado se faz ao longo de uma relação colaborativa, de proximidade, de modo mútuo e continuado entre profissionais de saúde e pacientes. Ressaltando também que se compreende como atores do cuidado, tanto às pessoas como às tecnologias que as rondam. Desta maneira, o intuito, é descrever o cuidado como uma ―lógica do cuidado‖, sobrepondo qualquer alienação sobre este. No Brasil, no contexto do Sistema Único de Saúde, práticas de cuidado não são atos de bondade, mas atos que asseguram direitos, materializando diretrizes de humanização. O termo ―humanização‖ pode conduzir, como alertou Ayres (2004), a equívocos atribuídos a uma polarização humano versus máquina; ao primeiro, sendo atribuída afetividade, calor, aconchego, e à última, confere-se a exterioridade, a frieza, o estatuto de um mal necessário que garante a sobrevivência, mas que desumaniza. Recorrendo aos repertórios históricos da literatura sobre ―cuidado‖ (MOL; MOSER; POLS, 2010), o termo traz como ranço a vinculação à caridade e à bondade, do qual a saúde tem buscado se desvencilhar. Por isso, questiona-se, como se encontra a relevância do cuidado, como esta vem sendo pensada? Inicialmente, é sabido que a tradição iluminista celebrou a mente, elegendo-a como unidade racional, deixando de lado a dor, o corpo e seus prazeres. Como resquícios dessa tradição sobre a ciência, o corpo era relevante apenas em laboratórios, onde, a partir de mensurações, o objetivam, o explicavam e tencionavam fazê-lo mais ―interessante‖. Do contrário, à comunidade acadêmica desinteressavam-se as confusões, os ruídos da respiração ofegante, assim como o ato de engolir, falar, gritar ou quaisquer necessidades corporais que inferissem ―fraquezas‖ ou ―descontroles‖ ao corpo humano. Estes eram vinculados à 4 Condição crônica de saúde/chronic disease condition, refere-se ao modo de vida levado por uma pessoa a partir do momento em que se comprova que está com uma doença sem cura total. Compreende a convivência com tipicidades de uma ou mais doenças há mais de três meses. São doenças crônicas: hipertensão, diabetes, câncer, alcoolismo, tabagismo, etilismo, malária, DST/AIDS (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2007). 34 necessidade de cuidado, sendo assim, para o meio universitário ―cuidado‖ se revelava como uma prática tediosa, por isso, de pouco interesse intelectual. Ou pior ainda, o cuidado dificilmente se configurava como algo que pudesse ser estudado, estando atrelado, desse modo, à esfera privada, sem nenhuma propensão entre os estudiosos de que esse viesse à tona, ou melhor, a ser compartilhado, de que fosse inserido nos predomínios públicos (MOL, 2008). Os estudos sociotécnicos contribuem para a releitura do mundo artefatual hospitalar como promotores de humanização. Os estudos sociotécnicos do cuidado reforçam a importância de que todo o processo terapêutico produzido junto ao paciente deve transpor a dicotomia entre humanos e máquinas (LATOUR, 1994). Termômetros e máscaras de oxigênio, exames laboratoriais e câmeras de vídeo são todos bem-vindos. A capacidade de cuidar é uma habilidade que atravessa a vinculação entre artefatos, técnicas, práticas, ambientes e pessoas, além de afetos (MOSER, 2005; MOL, 2008; MOL; MOSER; POLS, 2010; LEITE; GALINDO; MACHADO; MOURA; RODRIGUES, 2011; LEITE; GALINDO; GAMBÁ; RODRIGUES; ZARDETTE, 2011). Em A textualização de corpos doentes através de imagens: uma das lições da UTI contemporânea e Ressignificações do humano no contexto da “ciborguização”: um olhar sobre as relações humano-máquina na terapia intensiva (2003; 2005), as pesquisadoras Vargas e Meyer discutem o processo de ciborguização de membros da equipe de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva, confirmando que tanto o humano quanto as máquinas encontradas no setor são significados culturalmente e esses significados são produzidos discursivamente de maneiras específicas. Isto é, as pesquisadoras se certificaram ao estudar alguns materiais pedagógicos (protocolos e manuais de assistências) do setor (compreendidos como parâmetros bem definidos para a prestação de cuidados), que tais significados podem se revelar ambíguos em determinadas circunstâncias. E por conta disso, mesmo diante de padronizações, assim como de polaridades/dicotomias estabelecidas na UTI, o hibridismo aparece. Surge de tal modo que acaba compondo ressignificações locais, as quais fazem com que as fronteiras entre natural e não natural, entre orgânico e inorgânico se desintegrem. Criando, desse modo, oportunidades para pensar na possibilidade de se des-cristalizar aquilo que foi concebido como ―rotineiro‖, ou ainda, como ―padrão‖ da enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva. 35 Eis que há mudança nos manuais de enfermagem diante da tecnobiomedicina, da bioeletrônica e da informática. Ao se perceber mudanças significativas na abordagem da enfermagem, via modos diversificados de monitoração de pacientes, o saber fazer cuidado em saúde diante do hibridismo homem-máquina, faz com que a enfermagem ―ciborgue‖ questione o que vem a ser humano no contemporâneo? É o caso de produção de imagens de corpos doentes e de sua decodificação através de um complexo sistema de monitoramento no qual se conectam, de diferentes maneiras e com diferentes efeitos, corpos doentes, máquinas e corpos de profissionais da enfermagem (VARGAS & MEYER, 2003; 2005). A concepção sociotécnica convida-nos a olhar para a pediatria do nosso estudo, de modo que levemos em consideração as movimentações dos corredores da pediatria, para se notar as enfermarias, a brinquedoteca, o parquinho, o laboratório de informática, as salas de procedimentos, o corpo do paciente ou mesmo as mãos dos profissionais de saúde. Porque, mesmo as artes mínimas do cuidado, como um curativo e os objetos técnicos do cotidiano local, têm potencialidades para performar múltiplos efeitos de humanização (LATOUR, 1994). É a pediatria, entendida como arranjo múltiplo, cenário local das pequenas práticas de movimentação e atuação das parafernálias sociotécnicas dentro de um hospital, que nos chama atenção, pois entendemos que estão diretamente ligadas à Humanização em Saúde (BENEVIDES & PASSOS; 2005; SOUZA & MENDES, 2009). O nosso desenho em composição compreende descrever performances de sociomaterialidades que transformam e reordenam espacialidades, que modulam afetos na pediatria. Em especial, as sociomaterialidades que se encontram alocadas e em trânsito na unidade pediátrica do Hospital Universitário, provenientes da brinquedoteca, assim como as envolvidas com as atividades de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. As práticas de cuidado são uma forma de ingressar no universo de articulação entre a garantia de direitos e o cotidiano. Mol, Moser e Pols, em Care in practice: On tinkering in Clinics, Homes and Farm (2010), declaram que Cuidado e Tecnologias hospitalares se encontram imbricados. Desse modo, a contribuição para às efetivações dos direitos do paciente estão adstritas ao relacionamento entre Cuidado e práticas em pediatria; logo nem distantes nem separados, no entanto, os mesmos se apresentam coesos. 36 1.2. Arranjos sociomateriais e objetos sociotécnicos A noção de arranjos [arrangements] sociomateriais é de interesse para a nossa pesquisa, pois nos leva a entender o dia-a-dia das Práticas de cuidado alocadas na clínica pediátrica. Com esse conhecimento, abre-se o cenário para a atuação de uma diversidade de entidades [entities] que ―habitam‖ em um único local (HARAWAY, 1995; LAW & MOL, 1995; LAW, 2004; MOSER, 2005; CALLON, 2008). Na vida cotidiana, temos diversos elementos heterogêneos, isto é, objetos sociotécnicos, também nomeados como mesclas, quase objetos, ―actantes‖, sendo identificáveis por suas ações ou performances. São ―ontologias de ação‖ que, em decorrência de suas múltiplas atuações, podem reverberar pontualmente, ou melhor, em uma esfera micro, ou conectar dimensões sociais, políticas e econômicas etc. (LATOUR, 1994; LAW, 1997; LAW, 2004). Os objetos sociotécnicos se constituem como entidades híbridas capazes de mediar, conectar e vincular; são simétricos, ou seja, não fazem distinção entre dicotomias caras à tecnociência moderna, tais como natureza e sociedade, ou ainda, humanos e não/humanos. Nos arranjos, as fronteiras entre humanos e não/humanos estão em constante definição, por isso, a opção pelo termo arranjo, que deixa clara a instabilidade que no termo rede pode ser obscurecida (HARAWAY, 1995; LATOUR, 1994). Tanto a composição como o contexto no qual objetos sociotécnicos estão inseridos, carecem de uma tradução em arranjos. Neste sentido, evita-se a tendência de naturalizá-los ou racionalizá-los, colocando-os apenas como alvo do estudo das ciências naturais, ou de socializá-los, tomando-os como simples componentes do cenário da vida humana. No cotidiano contemporâneo, proliferam objetos sociotécnicos híbridos que são, simultaneamente, sociais, naturais e técnicos (LATOUR, 2008; FONSECA et al, 2008). Como definir o que chamamos de objetos sociotécnicos? Para efeito deste trabalho, objetos sociotécnicos são unidades de ―devires‖, em outras palavras, estão sempre em transformação. Os objetos, em meio aos arranjos, resultam de esgotamentos e de saturações. Dessa maneira, são arranjos de heterogeneidades, multiplicidades que se dão como intermediários entre o informe e a matéria. Tal caracterização faz com que os objetos se 37 mantenham, com diferenças entre graus de estabilidade, em uma abertura a rearranjos. Por isso, podemos falar em uma ―construção da técnica‖, em um ―processo de criação híbrido‖, na medida em que algumas propriedades dos objetos não remetem nem à pura matéria, nem à pura forma, mas encontram-se em um nível intermediário (DAMASCENO, 2007; FONSECA et al, 2008). Objetos sociotécnicos são mais do que instrumentos. A forma que adquirem está diretamente ligada aos modos como são postos em funcionamento e às maneiras como se agenciam com humanos e outras artefatualidades (FONSECA et al, 2008). Vejamos um relato de pesquisa sobre objetos sociotécnicos. Em Care and killing tensions in veterinary practice (2010), Law considerando uma epidemia no Reino Unido, narra múltiplas performances de cuidado de animais. A partir de palavras e fotografias propõe quatro ―objetos do cuidado‖ que correspondem a versões de práticas diante da paradoxal tensão entre cuidar e matar animais. O autor os divide para finalidades didáticas, mas enfatiza que tais ―objetos‖ encontram-se imbricados no cotidiano, pois se traduzem em arranjos sociotécnicos. Os veterinários preocupam-se com a sedação dos animais, em separar os animais doentes dos sadios, vinculando a prática de criação de animais à noção de negócio. Os fazendeiros, da sua parte, sentem-se afetados e veem a morte dos animais com os quais convivem como perdas nominais. Falam de traumas, dores, nostalgias desencadeadas diante do sacrifício dos animais que criaram e cuidaram. Já o pesquisador procura manter uma relação de cuidado com cada um dos agentes envolvidos, que varia da indiferença do negócio à dor de perder um animal querido. Os epidemiologistas, por sua vez, tomando como base os grandes números, mesclam a morte, o sacrifício dos animais à dimensão da saúde coletiva e econômica, indagando-se sobre quais animais devem ser sacrificados, a extensão do raio de contaminação e assim por diante. Vemos que se trata, aparentemente, de um único animal, mas que nas distintas performances de cuidado, adquire versões diferenciadas, ganha multiplicidade. Nota-se que o episódio referente às performances de cuidado de ―um animal‖ se configura por meio da composição de vários elementos, ou seja, quase sempre os desempenhos de cuidado são provenientes de um coletivo. E esses diversos arranjos heterogêneos, mostram-se como infiltrações e interferências em dispersão, levando ao entendimento de que estes ―andam‖, sobretudo, acompanhados, nunca isolados, trazendo consigo modos e modulações de outras entidades. Esse evento compõe a transmutação de uma homogenia, mostra o rompimento com a noção de que cada elemento ou conglomerado deve 38 estar cada um no seu canto. Por sua vez, as coreografias efetuadas por esses arranjos, revelam-se capazes de provocar reverberações pontuais e locais e, ao mesmo tempo, afetarem algumas dimensões, como a esfera social, cultural, política e econômica (LAW, 1997; LAW & MOL, 2002; MOL, 2007). Em This is not an object (2003), Law & Singleton também descrevem as múltiplas versões desencadeadas por um ―objeto do cuidado‖, ou melhor, por uma entidade não humana, o álcool, que põe em andamento diversas atuações. Os autores discutem as performances a partir de uma série de condições e problemas parcialmente conectados que se desencadeiam nas pessoas que consomem álcool e adquirem doença hepática. Considerando distintas formas de tratamento, observam que as conexões das performances de cada paciente com problemas hepáticos por etilismo incluem desde a papelada de plano de cuidado que se preenche aos objetos, passando pelas tecnologias às práticas, técnicas e atuação da equipe multiprofissional. Concluem que, ao falar da doença hepática, não se está lidando com um objeto inerte, subjugado a um conjunto específico de sintomas. Chamam a esse objeto de sociotécnico, dada a sua multiplicidade de performances e difícil apreensão de ―objetos fogo‖, cujas chamas variam na medida em que entram em contato com o ar. Essas chamas variam de tal modo que se conformam como um processo híbrido em que seres orgânicos e outros seres inorgânicos criam um terceiro meio que por si só é instável. Consequentemente, a concretização, como organização autônoma da matéria inorgânica, ganha uma autonomia histórica diferente da dos homens que os fabricaram (NEVES, 2007). Law & Singleton (2003) comentam que construir um roteiro, desenhar um mapa com o intuito de descrever as instalações e locais por onde os pacientes circulam em decorrência das exigências e necessidades ligadas às condições e problemas desencadeados pela doença hepática alcoólica, exige paciência. Haja vista que muitos dos locais por onde passam simplesmente não se correlacionam diretamente, mas mantém uma relação parcial, às vezes de maneira pouco consistente. A perseguição das recalcitrâncias requer a consideração das inconstâncias provenientes das possíveis ―versões‖. Logo, as performances sempre correm o risco de se mostrarem aparentemente desarticuladas, ao mesmo tempo em que configuram rastros de entidades atuantes. Law & Mol (1999) argumentam que os arranjos sociomateriais são conformações que se constituem de modo interativo e que fora de suas interações deixam de existir, pois simplesmente não ativam realidade alguma. 39 Em Política ontológica: algumas ideias e várias perguntas (2007), Mol relata a história de diversas versões da anemia. Questionando-se sobre o que seria a anemia diante de controvérsias investigativas, a pesquisadora sugere entendê-la (para poder tratá-la) como uma entidade que possui múltiplos modos de investigação, uma vez que a variedade de agenciamentos que atrai a revela como um elemento intermediário, que é social e material ao mesmo tempo, proveniente de arranjos em instabilidade. Para o presente estudo, a pesquisadora apresenta apenas três performances, ou seja, desempenhos da anemia, deixando aberta a possibilidade de se estudar outras variantes. Como informa Latour (1994), permanecem as mais resistentes, ou ainda, as recalcitrantes. Como primeira versão da anemia, Mol (2007) descreve o seguinte relato clínico: há um paciente no consultório, este se queixa de tonturas e cansaço ao médico. O médico questiona-o perguntando sobre quando e como os sintomas se manifestaram. Seguindo sua atuação, o médico se aproxima do paciente e manipula as suas pálpebras com o intuito de verificar a coloração. Como indagações há: estão brancas? Vermelhas? Muito ou pouco? Qual coloração tem a pele? A investigação sobre a versão ―clínica‖ da anemia acaba sendo composta por arranjos que incluem técnicas e protocolos, os quais propiciam conexões ao discurso do doente, do médico e, concomitantemente, às traduções sobre as observações referentes ao segmento exterior do corpo do paciente, que estão relacionadas com a anemia. O que se examina é o modo como a ―clínica da anemia‖ se coreografa. Obtém-se como resposta que a anemia é simétrica a um conjunto de sintomas visíveis, que se articula com as queixas do doente. Já para o segundo desempenho da anemia, ―temos a anemia laboratorial‖ ou ―anemia estatística‖. Para esta versão, interessa-nos mostrar que em qualquer hospital as rotinas laboratoriais fabricam outras coisas. Ou seja, os arranjos de objetos sociotécnicos laboratoriais resultam em novas entidades. Para a pesquisa produzida por Mol (2007), a anemia se mostra equivalente ao baixo nível de hemoglobina no sangue de uma pessoa. Como rotina, o sangue tirado das veias humanas é, em seguida, introduzido em algumas máquinas capazes de constituírem números correspondentes a cada amostra acoplada a elas. O resultado gerado é comparado a um padrão de normalidade para a hemoglobina. Entretanto, a pesquisadora ressalta que há diferentes maneiras de definir o padrão para um nível normal de hemoglobina. Lembrando-se do método estatístico, o qual implica reunir dados relativos a uma população, sendo o padrão de normalidade estipulado a partir de alguns segmentos padrões para desvios 40 em relação à média da população, são caracterizadas com anemia às pessoas cujos testes sanguíneos revelarem um nível de hemoglobina inferior ao padrão da norma. Na terceira e última atuação se ativa a ―anemia fisiopatológica‖. Esta provoca uma investigação que relacionada ao individual de cada paciente, mostra a demarcação da linha do nível sustentável de hemoglobina para transporte correto de oxigênio pelo corpo, assim como para o reconhecimento do nível anormal que pode surgir, que, ao contrário, é demasiado baixo, insustentável (MOL, 2007). Como conclusão indaga-se: como as três se relacionam? Pois nos manuais tendem a ser descritas como coisas ligadas, dando a entender que tais aspectos se referem a um desvio único. Supõe-se que um nível de hemoglobina, excessivamente baixo para transportar oxigênio dos pulmões aos outros órgãos de um indivíduo em quantidades que os permitam abastecer (fisiopatologicamente), fique deslocado do normal, do que é estabelecido por cálculos assentados em dados populacionais (estatísticos), e que se manifestam através de sintomas que incomodam de modo tão intermitente o paciente fazendo com que este procure apoio médico (clínico) o mais rápido possível. Na prática, porém, as coisas não funcionam necessariamente desta forma. Porque pode acontecer de haver pessoas que não tenham tonturas, nem pálpebras brancas e, no entanto, os seus níveis de hemoglobina assemelhar-se a níveis desviantes quando mensurados. Ou podem estar relacionados a órgãos em que pessoas não tenham oxigênio, pois os seus níveis de hemoglobina decaíram, contudo, se mantiveram dentro do padrão de normalidade. O que quer dizer que, efetivamente, as três formas de diagnosticar a ―anemia‖ indicam coisas diferentes, uma vez que os objetos de cada arranjo da anemia (das variáveis técnicas, por exemplo) não se sobrepõem necessariamente entre si (Ibid.). Vale ressaltar que as performances da anemia estão atreladas a um fenômeno que é bastante politizado – a diferença sexual. No caso da relação entre as práticas clínicas e laboratoriais, torna-se ainda mais embaraçado durante o instante em que se estabelecem os padrões pelos quais passarão a ser distinguidos como normal e/ou patológico. Estes padrões não são informações com uma prática clínica e laboratorial, são partes dessas práticas. Como exemplo, a partir da norma estatística se tem elementos normativos; tais elementos são constituídos pelos níveis de hemoglobina. Inclui-se aí, por exemplo, cem homens, mulheres, grávidas e crianças de diferentes grupos de idade. Porém, também é possível que estas 41 questões se dissolvam e que passem a ser mais uma viragem para o repertório teórico, tornando-se, desse modo, outras formas de se investigar o presente (MOL, 2007). Em Regions, Networks and Fluids: anaemia and Social Topology (1994), Mol & Law também têm a anemia como uma das entidades em arranjo. Entretanto, o enfoque aqui recai sobre pressupostos topológicos que envolvem o desempenho de proximidade e de diferença social para com as ―localidades‖ de onde se encontram a anemia. Argumentam que o ―social‖ não ocorre como se fosse uma única forma espacial, pelo contrário, performam-se a partir de repetições e de modos topológicos heterogêneos. Como efeito de exemplificação, os pesquisadores partem de algumas práticas cotidianas, aproveitando-se de estudos sobre a maneira pela qual os médicos tropicais lidam com a anemia, explorando três topologias sociais diferentes. As questões iniciais são: onde está a sua anemia agora? Onde encontrá-la? Está nos pulmões, nas pernas, no cérebro? Questionamentos um pouco estranhos, não? Fica claro que a anemia espalha-se pelo corpo humano a partir de uma variedade de conexões de vasos, veias, capilares e artérias, pois são por esses espaços que o sangue percorre e atinge todos os órgãos do paciente. O sangue, desse modo, tem por função armazenar células que são responsáveis por manter os órgãos vivos e em funcionamento. Até aqui estamos apreciando a atuação de um anatomista, isto é, aquele que disseca e estuda as reentrâncias de um corpo (MOL & LAW, 1994). Entretanto, diante da recalcitrância topológica da anemia, a pesquisa mostrou a necessidade de o anatomista ir além, passando a exercer habilidades topológicas, ou seja, realizar uma investigação que levasse em consideração não apenas as dimensões e incidentes alocados na ―pessoa-paciente-corpo‖, mas também, revelar a localização e as dimensões sociais que estão fora do corpo, que são fortemente ativadas por conta das espacialidades produzidas pela anemia. Diferente da anatomia, a topologia não localiza objetos a partir de coordenadas dadas; pelo contrário, articula-as com diferentes regras para obter localizações por meio de sistemas de coordenadas variadas e de arranjos alternativos, incorporando atividades de ―mapeamento‖ para se estudar as diferenças entre distintos lugares. A topologia, em poucas palavras, amplia as possibilidades matemáticas levando-a rumo a outro mundo, que, neste caso, transpõem as restrições matemáticas euclidianas. Portanto, intuito do estudo foi o de realizar um estudo empírico, que considerasse a vinculação da anemia às teorias sociais (MOL & LAW, 1994). 42 Vejamos as três topologias em estudo. Para cada caso (topológico), nota-se a conformação de arranjos específicos. De interesse para nossos estudos, restringimos à noção de topologia, a qual poderá ser vista neste estudo, que se configura de modo distinto a cada instante (MOL & LAW, 1994). Na primeira atuação, tem-se a revelação de que há ―regiões‖ em que os objetos são colocados em agrupamentos e as fronteiras são desenhadas ao redor de cada um desses grupos. Aqui, como já comentado, prefere-se localizar a anemia na superfície do mundo, ao invés de tentar encontrá-la no corpo. Em uma pesquisa quantitativa nos Países Baixos, houve variações dos números para a caracterização da anemia. Em ―países tropicais‖ a anemia é causada por muitos fatores, envolvendo muitas pessoas, sendo a doença com maior número de incidências. Enfocando os estudos em países africanos, não significa que seja tão óbvio comparar a anemia como entidade atuante na África com a anemia encontrada na Holanda. O que se notou nos estudos é que a anemia em países africanos refere-se à má-nutrição. Assim, se falamos de uma doença tropical, na realidade, estamos falando de uma doença nutricional. Na África, a anemia é mais frequente que na Holanda, além de ser mais severa. Pois na Holanda os hospitais que admitem pessoas com anemia, quase sempre atendem casos relacionados a acidentes ou em decorrência de algum procedimento cirúrgico. Vale ressaltar que o nível de hemoglobina no mundo não é único. Há regiões em que há mais pessoas com anemia que outras. Através da noção topológica, percebe-se a complexidade de se definir um desenho exato das fronteiras regionais. Por isso, as delimitações topológicas dos Países Baixos e países africanos referentes aos casos de anemia ficam cada vez mais difíceis de distinguir, já que o nível de hemoglobina na África e na Holanda é baixo, logo, há necessidade de se descobrir a possibilidade de se criar um mapa regional da anemia. Este mapa procura representar uma homogeneidade do campo dividido em regiões onde a anemia é abundante e em outra escassa, possibilitando, dessa maneira, construir uma versão social em que o espaço denota exclusividade de estudo. Por meio de uma organizada divisão, o aqui ou o ali – cada lugar – fica localizado em um lado da fronteira. A anemia está tanto dentro quanto fora dos espaços criados. O que é similar está próximo, e o que é diferente está em outro lugar (Ibid.). Quanto à segunda topologia, caracteriza-se por conformar ―redes‖. E estas declaram que a distância se apresenta com a função de relacionar elementos e se referem, também, a um ponto de partida, através do qual é possível se diferenciar da variedade relacional. Criar um 43 mapa regional é estressante quanto às semelhanças entre as regiões, assim como as diferenças referentes às fronteiras. Mas também compreende números que revelam o nível de hemoglobina, e números demandam medidas. Contudo, ao contrário do que se pensa, medir nível de hemoglobina não é fácil. Requer maquinário. Além de conhecimento para lidar com a tecnologia que concentra. Na Holanda existe em todos os seus laboratórios um medidor fotoelétrico, o qual é caro e ao mesmo tempo parece ser um simples dispositivo que compreende muitas práticas genéricas. Mas, e quanto à África? Pensando a partir da realidade do continente, ao invés de criar um mapa regional, há a necessidade de construir uma rede para mensurar o nível de hemoglobina. E que este arranjo tenha em sua composição pessoas com habilidades para mensurar o nível de hemoglobina, assim como o maquinário. Deduz-se que seja como o trabalho de criação de números e gerações de espaços homogêneos sem que as noções de confecção e de fronteiras se tornem possíveis. A rede compreende uma série de elementos com relações bem definidas entre eles. Fica claro que os elementos da rede podem ser maquinários ou gestos. No espaço da rede, a proximidade não é métrica, o aqui e o lá não são objetos ou atributos que estejam dentro ou fora do sistema de fronteiras. Proximidade, pelo contrário, faz com que a identidade da semiótica5 se modele (MOL & LAW, 1994). Redes coexistem e elas podem interconectar-se umas as outras. Os pesquisadores realçam e lembram que o diagnóstico clínico não é variante; pois, na realidade, elementos mudam, modificam-se na maneira em que suportam juntos às variantes de um lugar a outro. O móvel não restringe a mover, mas a ser mutável também. Por isso abre mais possibilidades para a defesa da existência de outros tipos de espaços sociais, já que consideram um possível terceiro espaço, isto é, de uma ―espacialidade fluídica‖. Para o terceiro espaço, os lugares não são nem delimitados por fronteiras, nem ligados através de relações estáveis; em vez disso, as entidades podem ser semelhantes e diferentes em locais distintos, em espaços fluídos. Além disso, elas também podem se modificar sem uma criação diferenciada. Como no caso da Holanda, aonde as pessoas que vão até o consultório de um clínico geral não passam por todos os tipos de testes de laboratório de consulta médica. O nível de hemoglobina holandês, por exemplo, é apenas medido depois que as pessoas tenham relatado suas queixas. Assim, a clínica precede ao laboratório. A ―escuta‖ das queixas – as histórias revelam a tontura, cansaço e respiração curta do paciente – é um elemento crucial da clínica na Holanda. Na 5 Neste trabalho adotamos a noção de Semiótica material estudada e defendida pelos pesquisadores em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). A Semiótica material compreende os efeitos provenientes das relações estabelecidas entre entidades não/humanas, ou entre humanas e não/humanas – consideradas tão potentes quanto os efeitos provenientes das relações entre humanos e humanos (HARAWAY, 1995; LAW, 1997). 44 África é diferente. Os médicos tropicais dizem que suas práticas africanas não questionam os pacientes quanto suas queixas. As especificidades, caso ocorram, acabam não chegando a aparecer. Correlacionado a essa situação, há o problema da língua. Como diz um médico holandês, o médico não fala a língua local e o paciente não fala holandês. Felizmente, o médico e a enfermeira falam inglês. A tradução continua. Isto faz com que surjam lentos progressos. Mas nesse ínterim, o problema da língua contribui para exacerbar problemas na rotina cotidiana, durante a urgência e nas consultas ambulatoriais, momentos em que as queixas do paciente poderiam confirmar a anemia e, consequentemente, partes da realidade (MOL & LAW, 1994). Em um espaço fluídico não é possível determinar com exatidão identidades e ordenamentos de um ou de todos os espaços. O mesmo pode-se dizer quanto à distinção entre o lado de dentro e o de fora para qualquer que seja o local. As semelhanças e diferenças locais são compostas por uma série de obscuras variações. Para a lógica do objeto fluídico não é diferente, e, ligado a este, as alterações fluídicas não compreendem apenas à simples permutações de elementos. Um mundo fluídico é um mundo de misturas. Mesclas que às vezes podem ser separadas, mas nem sempre é necessário que isso aconteça. Então em que se diferem os espaços dos que estão em rede? Para coisas em rede, tem-se a noção de que as coisas devem estar juntas, havendo dependência uma da outra, diferindo do fluídico, pois para tal mundo, não existe um ponto de passagem obrigatória. Este é sem local, sem centro, sem vigias, sem centros de tradução. Em decorrência disso, entende-se que muitos elementos quando vistos individualmente são compreendidos como supérfluos. A diferença dentro de um espaço fluídico não é, necessariamente, feita de fronteiras. É móvel. O espaço fluídico nem sempre é compreensível como uma rede é. Para um elemento fluídico cada um informa ao outro, mas de modo que eles possam continuamente se alterar. Por isso, compreende-se que as três topologias têm pontos de imbricação. Elas coexistem. Entretanto, as variações dentro das regiões são amplas e fixas, enquanto que para espaços fluídicos são os arranjos que conformam tudo e todos são variáveis. (MOL & LAW, 1994). Dessa maneira, para fins de síntese, definimos ―objetos sociotécnicos do cuidado‖ como resultantes de efeitos relacionais de ―arranjos sociomateriais‖ que interferem no curso de práticas cotidianas. A estes, conferimos o potencial de mediar e vincular [attachement]6 6 Designa o que comove, transforma e que coloca em movimento. Portanto, há que atentar para os bons vínculos, ou seja, para o que estes vínculos produzem, bem como para quais efeitos decorrem de tais alianças, arranjos; uma vez que maus vínculos não mobilizam nada e ninguém (LATOUR, 2000). 45 entidades intermediárias, de outra forma, aquelas que são concomitantemente sociais e materiais. No caso do nosso estudo, os objetos sociotécnicos a serem analisados correspondem àqueles presentes, topologicamente falando, pelos espaços de uma unidade pediátrica que estão diretamente vinculados à prestação de cuidados às crianças e adolescentes em atendimento (LATOUR, 2001). 1.3. Tecnologias ou práticas de cuidado Os estudos que serão elencados a seguir contribuíram para pensarmos nas Práticas de cuidado encontradas no cotidiano hospitalar, permitindo a sua compreensão como arranjos que se confeccionam no dia-a-dia das práticas hospitalares (MOL, 2002a; LAW, 2004; MOL, 2008). As Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar nos convidam a refletir sobre as diversas entidades promotoras de potentes modos de cuidar, ao mesmo tempo, que nos indicam o seu caráter contingente. São possuidoras de objetos que não são inertes, pelo contrário, são compostas por artefatos que se conectam entre si, assim como se ligam às pessoas, produzindo efeitos de humanização, por isso, podem ser nomeados como objetos sociotécnicos de cuidado (MOL, 2008). Podem ser provenientes, também, de minúcias ou da ativação de formas criativas e inventivas de cuidar (AYRES, 2004). No cotidiano hospitalar da enfermagem pediátrica, no que se refere às situações de média e alta complexidade, é visível a insustentabilidade de qualquer dicotomia entre ordem artefatual e ordem orgânica, uma vez que assistir uma clientela pediátrica que necessita de cuidados mínimos, alta-dependência, intermediários, semi-intensivos a intensivos, 7 em decorrência do quadro de cronicidade e gravidade, coloca os profissionais diante de uma relação íntima com uma variedade de tecnologias (BRASIL, 2007; PERROCA, 2008; ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009; DINI et al, 2011). E, principalmente, porque a classificação em cuidados pediátricos não se encontra definida, nem validada (DINI et al, 2011). 7 No Brasil, o sistema de classificação de pacientes foi abordado pela primeira vez em 1972, como um conceito de Cuidado Progressivo dos Pacientes (CPP), ou seja, como uma forma de organizar o cuidado médico e de enfermagem de acordo com o grau de enfermidade e cuidado requerido. Passando constantemente por um processo de reavaliação, haja vista, a variação das necessidades para cada categoria a ser cuidada (PERROCA, 2008, DINI et al, 2011). 46 Segundo Ferreira (2009), o termo ―técnica‖, etimologicamente, vem do grego techné, que significa habilidade e arte. Podemos ainda acrescentar o ato de fabricar, produzir, fazer ou construir (KOERICH et al, 2006). E, quanto ao termo ―tecnologia‖, conforme Nietsche & Leopardi (2000); Koerich et al (2006), compreende uma ampla conotação e se refere às técnicas, métodos, procedimentos, ferramentas, equipamentos e instalações que permitem a concretização e aquisição de um ou diversos insumos. Nesta concepção, a tecnologia atende tanto à categoria de produto (equipamentos, instalações físicas, ferramentas, instrumentos, materiais) como de processos (constituição de técnicas, instrumentos metodológicos, escalas e procedimentos). Pesquisadores como Merhy, em Em busca de ferramentas analisadoras das Tecnologias em Saúde: a informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo trabalho em saúde (2007), dividem as tecnologias em leve, leve-dura e dura. Ou seja, são classificadas como leve quando falamos de relações, acolhimento, gestão de serviços; levedura quando nos referimos aos saberes bem estruturados, como o processo de enfermagem; e dura quando envolvem os equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, as normas. Segundo Ayres (2000); Arone e Cunha (2007), devemos ter cuidado com a conceituação de tecnologias como instrumentos, para que o cuidado em enfermagem não se limite a um mero tecnicismo. Desse modo, falar sobre Tecnologias de Cuidado não é discutir tecnologias como equipamentos modernos ou novos, mas de como se articulam às práticas em saúde a serviço do usuário para enfrentar os diferentes problemas de saúde (KOERICH et al, 2006; MOL, 2008; MOL; MOSER; POLS, 2010; ROCHA et al, 2008; DINI et al, 2011). No cuidado de Enfermagem, tecnologias e humanos estão interligados, pois as formações sociotécnicas, ao se relacionarem com o humano, são responsáveis pelos efeitos de manutenção da vida humana e de promoção de saúde (LATOUR, 1994; BARNARD & SANDELOWSKI, 2001; MOL, 2002a; MOL, 2002b; MOL, 2008). Por este motivo, definimos Tecnologias do Cuidado como dispositivos 8 que conjugam objetos sociotécnicos e que, por algum momento de tensão, compõem uma ambiência de cuidado, que são as 8 Noção foucaultiana para ―dispositivos‖ equivale às ―tecnologias do cuidado‖ enquanto conjunto multilinear de ―objetos sociotécnicos‖ com uma finalidade estratégica que pode variar, derivando em novos arranjos. Essas linhas não ficam delimitadas, muito menos envolvem sistemas homogêneos por sua própria conta, como objeto, sujeito ou linguagem etc., mas seguem direções, traçam processos que estão sempre em desequilíbrio, em tensão, e que ora se aproximam ora se afastam um do outro ou provocam fusão ou fissão entre todos (FOUCAULT, 2000). 47 ambientações produzidas por determinados dispositivos e seus consecutivos objetos sociotécnicos promotores de modulações de afetos. Desse modo, consideramos que envolvem actâncias múltiplas, nem sempre coerentes entre si e cujo estudo requer atenção às performances que produzam ou desfaçam realidades (MOL, 2002b; MOL; MOSER; POLS, 2010). Logo, Práticas de cuidado compreendem tecnologias de cuidado e objetos sociotécnicos do cuidado, não podendo ser reduzidas a um ou a outro (MOL, 2008). Vejamos alguns estudos que se situam como pesquisas sobre Práticas de cuidado. Em Care: putting practice into theory (2010), Mol, Moser e Pols descrevem os cuidados efetivados por fazendeiros para com os animais de suas fazendas. Trazem para a discussão as práticas de cuidados de animais de uma fazenda holandesa nos anos sessenta, onde os animais eram submetidos a diferentes cuidados – alguns animais tinham cuidados individualizados e ganhavam nomes, enquanto outros não. Alguns eram abatidos, outros não. Ulteriores tinham entrada garantida na casa da família, centenas de outros não. E, para países ocidentais, até aquele momento, mesmo diante da inexistência de uma declaração universal dos direitos dos animais, ou seja, de princípios éticos favoráveis à boa convivência entre homens e animais, já se notava a rica e complexa relação entre ambos. E, a saber, também se inclui a questão econômica nessa densa relação de vínculos afetivos, pois, considerando que a família dependia economicamente de seus animais, não havia como excluir da importância de cuidado aqueles com os quais se relacionava (MOL; MOSER; POLS, 2010). No trabalho On recognation, caring and dementia (2010), a pesquisadora Taylor relata a sua experiência com o quadro de demência por Alzheimer em sua mãe, na qual o cuidado prestado estava estritamente ligado a um reconhecimento. Sendo assim, as relevâncias passaram a estar relacionadas a questionamentos inversos, como por exemplo: ao invés de perguntar se ela ―me‖ reconhece como sua filha, passa a questionar se ―eu‖ ou ―nós‖ a reconhecemos? A autora descreve e mostra como busca ―pistas‖ afetivas (a voz, o sorriso) que a façam reconhecer sua mãe em meio à progressiva modificação provocada pela degeneração cognitiva. Em face à descrição, é notável a alta complexidade e ―baixa densidade tecnológica‖ utilizada pela filha-pesquisadora. São habilidades que transcendem o palpável, que se materializam por meio de feições e gestos de rememoração. Uma abordagem, que até então, circula em nível de atenção primária do cuidado (BRASIL, 2007), mas que não nos impede de utilizá-la para o cuidado em saúde em média e alta complexidade, haja vista o entendimento 48 de nossa equipe de estudo sobre ―complexificação‖ em tecnologias do cuidado (LAW & MOL, 2002). As ações efetivadas pela filha-pesquisadora correspondem ao que Gane & Haraway (2009) nomeiam de Tecnologia de Pensar. Em entrevista, Haraway foi interpelada sobre o significado de Tecnologias de Pensar? Ela respondeu o questionamento através de uma ilustração complexificante. Ou seja, disse crer que o ato de ―treinar‖ sua cadela é uma Tecnologia de Pensar. Segundo Haraway (Gane & Haraway 2009), tanto ela como treinadora, quanto a cadela como aprendiz, são provocadas e motivadas a mudarem; isto porque a prática exige que ambas foquem uma na outra para avançarem, uma vez que estão diante de uma experiência nova; por conta disso, seria impossível de se fazer algo isoladamente, ou melhor, sozinhas, separadas. A pesquisadora complementa dizendo que esse ―fazer‖ compreende a um fazer de maneira regrada, que se liga a jogar um jogo específico com regras eventuais que permitem jogar ou inventar algo novo, algo que transponha a comunicação funcional, que crie algo aberto. Não bastando, Gane & Haraway (2009) ampliam o exemplo ilustrativo ligado a viventes não/humanos, pois argumentam que Tecnologias de Pensar, na verdade, é exatamente o que o ―brincar‖ significa: um jogo que possibilita um espaço suficientemente seguro para fazer algo que seria perigoso de outra maneira. Ao falar sobre o modo de brincar dos cães, Haraway comenta que estes sabem que quando ―deitam‖ fazem seu parceiro fazer algo que não conseguiriam se não tivessem ―deitados‖. O que ocorre, a partir da ação, é o estabelecimento de um sinal meta-comunicativo com o seu parceiro (quem o treina) de que é um momento que não é necessário atacá-lo, porque reciprocamente não haverá ataque. Há um reconhecimento entre ambos. A leitura que obtêm (treinador e cão) diz respeito à criação de um espaço livre e instigante, no qual os jogadores acabam fazendo coisas que os constituem como seres diferenciados do que eram anteriormente. Conforme a pesquisadora, brincar é realmente interessante, e os humanos estão longe de serem os únicos que brincam. E a brincadeira como parte do treinamento é, de certa forma, uma Tecnologia de Pensar, porque nos faz acessar a material-semiose de uma maneira diferente e nos leva a pensar sobre ligações e invenções. 49 Em parte, devido a este pensar em Tecnologias de Pensar ser diminuto. Por isso, Haraway acredita que as práticas do tipo etnográficas também são Tecnologias de Pensar. Acredita que quase todos os projetos de conhecimento que sejam sérios podem ser Tecnologias de Pensar, na medida em que refazem seus participantes. Tecnologias rearranjam o mundo para determinados propósitos, mas vão além da função e do propósito para algo aberto, algo que ainda não é (GANE & HARAWAY, 2009). Sobre os estudos em Care and its values: good food in the nursing home (2010), Mol revela não um final feliz [happy end] ou um ―bom‖ desfecho, mas nos sugere caminhos alternativos para se perceber como, por exemplo, uma ―boa‖ comida vincula uma série de ―bons‖ modos de cuidar da individualidade de um idoso que mora em casa de repouso. Nossa reverência recai sobre o processo de preparo da comida que uma das pesquisadoras do estudo fez questão de acompanhar de perto, pois ―visitou‖, ou melhor, aprendeu como se come e bebe ao habitar uma casa de repouso. Isto significa que o estudo toma como cenário de análise o modo como o valor nutricional é acatado por cada idoso. Para isso, coube investigar a relação entre cada refeição (café, almoço, lanche, jantar) com a habilidade de ingesta do idoso. Portanto, em seguir as práticas diárias da ―boa comida‖ que é preparada, servida e que é, por fim, ingerida pelos idosos da casa de repouso – perambular pela cozinha, pela enfermaria e notar como a comida é processada pela boca do idoso (se a comida tem que ser triturada ou se é de densidade líquida ou com textura tipo pasta). Ou ainda, se é atrativa pelo odor ou pela coloração. Investiga-se o tipo de talher que costumam e podem utilizar para manipular as refeições. Não bastando, denota-se relevante aprender sobre o tipo de bebida que gostam e tem condições de ingerir (MOL, 2010). Sobre o grau de dependência do idoso quanto a essa habilidade diária, faz-se necessário observar o envolvimento de cada um dos assistentes responsáveis por produzir e servir cada idoso para se obter uma sutil percepção sobre os motivos que levam algumas enfermeiras e assistentes de enfermagem a gastarem parte de seu tempo olhando ou auxiliando um idoso durante as refeições. E, a partir do que é servido, notar os sentidos e sensações mais aguçados neste: visão? Olfato? Ou se a comida que se sente motivado a ingerir está relacionada com ―boas‖ lembranças ou por ser típica da cultura local (holandesa). E, como comentado, de estar diante do enfrentamento do que é inesperado, dos conflitos entre o que é apreciado pelo idoso e o valor nutricional da comida que se espera que ele consuma, 50 mas que, às vezes, não coincidem. Enfim, estar frente-a-frente com finais imperfeitos, poucos felizes, em meio a tensões ou perante a iminência de uma separação de interesses; portanto, de saber lidar com modos diferentes de se eleger o que vem a ser uma ―boa‖ comida, de lidar com a multiplicidade que esta comporta, já que a refeição se mostra como um evento social, bem como se conecta a uma forma de acolhimento (MOL, 2010). López et al., em How to become a guardian angel: providing safety in a home telecare servisse (2010), descrevem os cuidados em saúde prestados domiciliarmente a idosos e seus familiares. Portanto, através da tele-assistência em saúde, se possibilita o exercício de autonomia dos idosos, assim como comodidade e conforto, pois permanecem em casa, além de garantir segurança e o atendimento imediato ao idoso, despreocupando a sua família. Ainda destacamos Moser e Law, pois em “Making Voices”: New Media Technologies, Disabilities, and Articulation (2001) exploram uma história sobre deficiências e uma tecnologia. Ou melhor, falam da multiplicidade emitida pelas Novas Mídias Tecnológicas quando em articulação com pessoas com alguma deficiência degenerativa. A contribuição do estudo se assenta em discorrer como essa multiplicidade pode facilitar que pessoas consigam conviver com suas deficiências, uma vez que o artefato permite que pessoas gravemente incapacitadas possam falar ou agir por si mesmas de maneira que de outra forma não seria possível. A pesquisa também está vinculada à noção de afetividade material, pois os múltiplos efeitos de afetações partem da relação estabelecida entre um sistema computacional e pessoas. O artefato do trabalho se chama Roltalk, o qual performa afetividades de maneiras específicas. Roltalk refere-se a um sistema de computador integrado, composto por hardware e software, para uso de pessoas com uma diversidade de deficiências. Ele comanda uma séria de funções – por exemplo, permite ao usuário expressar suas necessidades e desejos quanto orientar a movimentação de sua cadeira de rodas ou através de um controle de ambiente, permitindo-lhe também abrir a porta de casa. Ou simplesmente ―dizer‖, por meio de comandos, que deseja ficar sozinho, assim como ―confessar‖ que esteja cansado. Possibilita também que o usuário expresse satisfação por estar escutando sua música preferida, mesmo sem emissão de palavras pelo sistema (Roltalk em silêncio) (MOSER & LAW, 2001). O interesse pelo sistema, em parte, está ligado ao menu, por articular o Roltalk aos usuários. Mas também é atrativo porque determinadas afetações são consideradas 51 particularmente importantes para pessoas com perdas de habilidades, ou para pessoas que tem interesse pelo desenvolvimento das Novas Mídias Tecnologias (Ibid.). Entretanto, o Roltalk desperta estímulos para estudos devido as suas limitações. Porque tais limitações, de certo modo, inferem afetividades singulares aqueles que utilizam o sistema. O que os pesquisadores concluíram é que se deve evitar uma história excessivamente otimista, que enfatize o poder do Roltalk quanto a gerar uma discriminada autonomia a seus usuários. Mas também há que se poupar o sistema de descrições excessivamente pessimistas. Em especial aquelas que apontam a incapacidade do Roltalk para entender as demandas de conversas fluídicas ou de expressão verbal; desse modo, tendo como opção, uma ―verdade‖ mediana. Ou melhor, a ―verdade‖ em que indivíduos competentes são ora autônomos, ora dependentes. E, em diferentes momentos, são ativos ou passivos quando articulado com o Roltalk (MOSER & LAW, 2001). Outro tópico da conclusão desse estudo refere-se à utilização da expressão ―articulação‖ ao invés de ―dar voz‖, porque as descrições da pesquisa provaram que ―dar voz‖ é um termo um pouco injusto. Este implica que uma pessoa tem uma voz e está simplesmente esperando para expressá-la – o que nem sempre acontece. Enquanto ―vozes‖, ou como foi denominado ―articulações‖, cria uma lógica emergente e do tipo ―como-ciborgue‖, ou ainda ―uma vida do estilo ciborgue‖, na qual uma companhia se estabelece entre humanos e não/humanos para que o humano possa se expressar ou escolher por permanecer em silêncio. Por isso, falar é um modo de articulação, mas apenas um tipo. O que os pesquisadores notaram é que há várias outras maneiras ―de falar‖ – o que acontece a partir das articulações, ou até mesmo das resistências (silêncio) (Ibid.). Contribuição importante também advém das reflexões de Mol em Cutting Surgeons, Walking Patients: some Complexities Involved in Comparing (2002b). Nessa pesquisa, a autora descreve práticas de cuidado. A partir de seus estudos, Mol compara a prática terapia do caminhar com a prática cirúrgica, sendo duas formas de tratamento para pessoas com claudicação (obstrução) de artérias e veias de membros inferiores. Aponta como é fundamental levar em consideração as particularidades de cada paciente quando se fala de formas diferentes de tratamento, ou melhor, sobre o efeito que cada uma delas pode beneficiar pacientes distintos. Alerta sobre a relevância de se incluir a técnica de dialogar (típico da terapia do caminhar) na prática de investigação do processo saúde-doença do paciente. Chama atenção para a importância de se comunicar ao paciente que haverá melhoras após a cirurgia 52 ou após a prática da terapia do caminhar, entretanto, não necessariamente apresentará uma cura total, pois esta, em muitos casos, não acontece. As tecnologias de cuidado e objetos sociotécnicos, não necessariamente arranjados sob a configuração de dispositivos, participam da produção de práticas de cuidado compostas por modulação de afetos. Práticas de cuidado se materializam e se traduzem em conjuntos de operações sociotécnicas imiscuídas de afetos (MOL, 2002a; MOSER, 2005; MOL; MOSER; POLS, 2010; MANN et al, 2011; DESPRET, 2011). Em pediatria, as práticas de cuidado são mais visíveis quando falamos em crianças cujas vidas dependem diretamente de tecnologias assistivas. No entanto, se inserem também em situações nas quais as crianças necessitam de acolhimento em enfermarias quando se veem instadas a regularizar condições de saúde a partir de intervenções clínicas ou cirúrgicas (BRASIL, 2007; LEITE & CUNHA, 2007; GAVAZZA et al, 2008; ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009; FROTA et al, 2010). A mobilização de objetos sociotécnicos e de tecnologias para manutenção da vida são uma constante no cotidiano de crianças hospitalizadas. Práticas de cuidado são complexas e se imbricam, inclusive, com questões éticas referentes à fronteira legal entre a morte e o morrer, ou seja, em discussões sobre a permanência ou retiradas dos cuidados sociotécnicos e sobre manter e sustentar a vida de crianças terminais ou de pacientes portadores de alguma anormalidade genética (CANTOR, 1987; GARROS, 2003; BRASIL, 2007). 1.4. Interferências: espacialidades e modulação de afetos em práticas de cuidado Ao falarmos de interferências mencionamos um tipo de mediador de ações (actâncias) que é produzido por um coletivo sociotécnico. Esse coletivo pode ser constituído por humanos e não/humanos. Mas a relevância está em dizer que a relação conjugada não configura dominância de uma das partes. Mas a produção de alguém ou algo ―a mais‖, de transformações notadas como efeito (LATOUR, 2001). Em On becoming disabled and articulating alternatives: the multiple modes of ordering disability and their interferences (2005), é possível perceber como as interferências 53 acontecem no cotidiano. Ou melhor, Moser descreve os efeitos das interferências produzidas por determinadas tecnologias, os quais as fazem eficientes cuidadores de pacientes em condições de perdas de habilidades motoras. Mostrando, portanto, que as tecnologias contribuem para o cuidado, pois possibilitam múltiplas maneiras de se ordenar perdas de habilidades ocasionadas por acidentes automobilísticos. Vertemos para as espacialidades e modulações de afetos como efeitos. Sendo assim, aludem às ações promovidas por entidades sociotécnicas para reordenações de espaços, ou melhor, as novas espacialidades em determinadas ambientações relacionadas à modulação de afetos dos usuários e equipe envolvidos (LAW & MOL, 2001; DESPRET, 2011). As interferências nas espacialidades, bem como a modulação de afetos, podem, segundo nossos estudos, aparecer constritas aos cuidados prestados em saúde. Entendemos modulação de afetos em ambiências como resultado de interferências das tecnologias e de seus objetos sociotécnicos de cuidado. Para nossos estudos, com o intuito de evitar polaridades, a palavra interferência vem imbricada à espacialidade, estabelece-se entre elas uma relação de interdependência. Para chegar a essa conexão passamos por alguns estudos sobre os conceitos de espaço, lugar encontrado nos estudos da Geografia da Infância antes de penetrarmos nos estudos de pesquisadores em sociomaterialidades. Um grupo de pesquisa no Brasil, com sede na Universidade Federal Fluminense (UFF), tem como foco de estudos os conceitos de Espaços, Lugares, Territorialidades onde a infância é vista, ao realizar uma ocupação topográfica, como um constructo social e cultural. Por isso falam desses conceitos como componentes de uma Geografia da Infância, na qual a criança se revela como protagonista, ou seja, como um artefato social que imprime sua história ao produzi-la em um lugar (SARMENTO, 1997; 1999; 2009; LOPES & VASCONCELLOS, 2006). Temos como intuito configurar um diálogo com o conceito de ―espaço‖, no momento que este se verte em ―lugar‖ da infância (TUAN, 1987); (LOPES & VASCONCELLOS, 2006). Segundo esses pesquisadores, espaço se faz ao se materializar como um lugar, isto é, quando passa a ser habitável, identificado e reconhecido por quem o habita. Retomando Tuan (1983), o ambiente habitável, o lugar, é locus que vem da consequência de uma relação de afeto com uma pessoa. Esse instante de conjugação entre espaço-lugar, ou seja, o elo entre pessoas e espaço físico (TUAN, 1983); (LOPES & VASCONCELLOS, 2005) aproxima-se da noção de reordenações de espaços, ou ainda, de 54 espacialidades, conforme estudos de pesquisadores em sociomaterialidades Lopez (2005); López & Sánchez-Criado (2009); Schillmeier & Domènech (2009). Schillmeier e Domènech (2009) convidam para pensar as entidades das práticas do cuidado ligadas a uma prática do espaço. Convida-nos para repensar práticas do cuidado na sociedade contemporânea. Como ilustração, trazem a noção de que ―habitat‖ interfere no cotidiano; por isso, os autores assinalam que se deve perceber o habitat como uma entidade que cuida e requer cuidado. Logo, é preciso falar em habitabilidade como cuidado (dwelling as caring). Para os pesquisadores, habitabilidade do cuidado se configura via sociomaterialidades e através de relacionamentos estabelecidos entre coletivos heterogêneos, que são um arranjo de humanos e não/humanos. Ao se pensar espacializações do cuidado como uma arte do habitar, que constantemente relaciona uma extensa heterogenia sociomaterial, fala-se de Cuidado como uma arte, por conta de performar ―o estar no lar‖ através de reordenações corporais, emocionais, tecnológicas, lugares com elevadas especificidades, conectados a modos complexos, geralmente frágeis e delicados das sociomaterialidades em atuação. Frisando a noção de Habitabilidade, temos o significado de viver em meio às coisas (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009). ―Estar em casa‖ e ―sentir-se em casa‖ configuram simetrias (próximos) quando utilizamos meios com potências para dissolver as delimitações de fronteiras. Para os pesquisadores, não basta apenas à instalação de um aparelho com competências em Tecnologias da Comunicação e Informação (TIC) na casa de um idoso que permita a comunicação com seus familiares, seria preciso à incorporação de toda a sociomaterialidade que compreende o ―serviço de tele-assistência‖, pois se fala de novas espacialidades nas quais se encontram juntos o público e o privado. Isso significa que o que seria restrito às particularidades de quatro paredes passa a transitar também pelo espaço público (LÓPEZ & SÁNCHEZ – CRIADO, 2009); (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009). Portanto seria possível repensar os processos de reordenação de corpos, mentes, emoções, tecnologias. E, tendo esses como elementos que se arranjam, é possível pensar em suas performances [enactments] como promotoras de uma arte da habitabilidade, isto é, como potentes re-configuradores de espaços, os quais se transformam em habitat familiares (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009). 55 As espacialidades resultantes podem configurar ―habitabilidade‖. É essa noção em espacialidades que nos interessa. A habitabilidade é entendida por nós como uma ambiência que propicia aproximações, um espaço que configura relações de familiaridade. Ou ainda, como um lugar que tem dimensões e uma topologia que é reconhecido por quem o hospeda, que o tem como um lar, por conta de deixar quem o habita mais que confortável, à vontade para intervir sobre este, transformando-o em um habitat (LÓPEZ & SÁNCHEZ – CRIADO, 2009); (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009). Ou como argumenta Sarmento (1997; 1999; 2009), sociólogo da Infância, modificar um espaço compreende torná-lo um lugar mais habitável e justo. Galindo (GALINDO et al, 2009) contribui para pensar espacialidades vinculadas à interferências . De acordo com os seus estudos em refugos urbanos, é possível perceber que as sociomaterialidades que chegam ao centro de reciclagem promovem concomitantemente reordenações espaciais e interferências, ficando perceptível que as espacialidades e interferências produzidas pelos refugos no local pesquisado se constituíram de maneira singular. Ou seja, que os agenciamentos que emergiram de algumas materialidades em destaque no local – como, por exemplo, o ferro – transformaram um espaço através de relações singulares estabelecidas, produzindo, portanto, novas ambiências, novos lugares. Temos desse modo, a ocorrência de reordenações espaciais via materiais que, por algum momento, transpuseram suas funções originais, ou ainda, desembrulharam-se de sua função inicial. A preferência por adotar a noção de ―espacialidades‖ como simétrica à ―interferência‖ justifica-se pelo fato da confecção de novos lugares – ou das reordenações de espaços em espacialidades –, além de ambiências relacionais, que sempre acontecerão quando há ―interferências‖. Segundo Law (1997), o ponto relevante é que espacialidade não é algo dado, muito menos cristalizado, ou uma parte da ordem de outras partes. Pelo contrário, é potência para várias versões. No caso de nosso trabalho, reordenações acontecem no ato da fabricação de tecnologias do cuidado, ocorrem em meio aos arranjos de objetos sociotécnicos do cuidado, fugindo a fixação de espaços, ou seja, da delimitação de um lugar, como se esperaria classicamente, conforme a concepção Euclidiana. 56 1.5. Modulação de afetos e interferências nas espacialidades Compomos uma trajetória que corresponde à constituição do saber sobre modulação de afetos, para assim entendê-la como interferência nos espaços do hospital. Portanto, a seguir aprofundaremos um pouco mais a temática ―afetos‖ e o motivo que nos levou a adotar a concepção de afetos ao invés de emoções. Pretendemos nos aventurar pela complexa ―geografia‖ dos afetos. Seria uma tentativa vibrátil de elucidar e ampliar os movimentos de uma afetividade que se faz e refaz continuamente, se exterioriza e interioriza a todo instante, de tal modo que o interno tem o externo e o externo tem o interno. Isto é, são próximos, encontram-se juntos. E esta afetação compreendendo um interno-externo seria nada mais nada menos que diagramas que se constituem momentaneamente e que em seguida se desfazem. Estão incluídos nesses diagramas não apenas noções abstratas, aquilo que não é palpável, mas também elementos materiais que de algum modo acabam materializando o que é sensível (SIMONDON, 1958; DESPRET, 2004; DAMASCENO, 2007). E por isso são convidativos para se pensar as fronteiras éticas e culturais sobre o que seriam afetos. Para se pensar na afetação como algo que se esparrama e se infiltra entre as fissuras e dobras da pele, não se limitando ao coração ou ao cérebro, mas nesses, entre esses, bem como em/entre todos os órgãos e sistemas que compõem, e desses em relação a tudo com que se diagramam; o que no campo dos Estudos Sociotécnico se chama de arranjos de sociomaterialidades capazes de provocar interferências, produzindo assim, reordenações espaciais e modulações de afetos. (SIMONDON, 1958; DESPRET, 2004; DAMASCENO, 2007). Sendo assim, escolhemos conceituar ―afetos‖ a partir de estudos sobre subjetividade em Vinciane Despret. Em princípio, Despret (2011) propõe uma releitura dos clássicos em subjetividades, e, a partir destes, propõe a reformulação do termo ―emoções‖, uma vez que o considera restritivo; a seguir fala sobre afetos como um conceito mais amplo; por fim, enfatiza sua escolha (a qual adotamos) por noção de afeto, por este ser aberto e porque a incorpora, ao invés de segregar a noção de emoções. 57 Em uma concepção ocidental, as emoções estariam atreladas depreciativamente ao gênero minoritário (mulheres), assim como aos vulneráveis, o que inclui não apenas mulheres, mas também crianças e idosos. São identificadas como emissoras de irracionalidade, subjetividades, como pontos de fraquezas e de subordinação declarados por aqueles que não escapam a manifestação de afeto. Seriam as responsáveis por congregar ―sensibilidade‖ apenas aos espaços familiares ou privados, enquanto os espaços públicos estariam vinculados à razão. Estariam, também, ligadas ao caótico, enfim, sempre associadas a alguma característica negativa. O conceito de emoções sofreu com constantes ataques dicotômicos, pois as emoções sempre estiveram ligadas às múltiplas contradições. Aproveitando-se disso, constitui-se de um sistema de relações de poder que se alimenta do controle das emoções. As emoções, desse modo, estariam atreladas à sociedade, e, por conta disso, se encontrariam vinculadas à política, ou seja, à relação de afiliação e de aliança – por conseguinte, adstritos à noção de normalidade e desvio. É dito, também, que nossas emoções são ―vida‖, por isso devemos valorizá-las, já que correspondem ao núcleo mais autêntico de uma pessoa (DESPRET, 2011). A polaridade entre natural e social é arriscada. É preferível tentar refletir a partir de uma concepção sobre as multiplicidades, isto é, de buscar entender como parte das emoções os ―desvios‖ e as ―anormalidades‖, e de uma noção não depreciativa ou de subordinação. Logo, não devemos apenas cultivar uma experiência de paixão que se defina como ―evento fora de controle‖, mas como ―modos‖ do transbordamento passional, e, em decorrência disso, podemos ser induzidos ao transbordamento e essa indução será reconhecida como uma verdade (Ibid.). Em Das emoções-visões aos afetos-versões: uma crítica do discurso psicológico em Vinciane Despret (2008), Vianna, Sánchez-Criado e Gómez-Soriano deixam ainda mais clara a diferente concepção separatista do projeto modernista sobre ―emoções‖ em relação à noção conectiva da ―modulação de afetos‖ estudadas por feministas e demais pesquisadoras e/ou pesquisadores ligadas (os) à defesa de uma ciência aberta, de percepção parcial, de estudos localizados, favoráveis à pesquisa dos ―afetos‖ como ―objetos‖ não tão frágeis, e sim como ―potentes objetos‖ a se investigar, aceitando-os como híbridos proliferativos fabricados no cotidiano. Portanto, em uma concepção modernista, ―as emoções‖ encontram-se atreladas à ―visão‖ e, concomitantemente, esta à noção machista em estudos que se vertem em 58 observações dicotômicas, nos quais, hegemonicamente, há aquele que julga e aquele que é julgado, onde um é sempre subordinado ao outro, ou seja, onde há o estabelecimento de polarização de lados. Já em relação à concepção feminista, a ―modulação de afetos‖ está vinculada às ―versões‖. E, como dito anteriormente, atribui-se a esta a noção de composição, conexão, arranjos, bem como de ―maneiras diversas‖ ou ―formas múltiplas‖ sobre como as ―emoções‖ se apresentam, por isso insistimos em nomeá-las de ―afetos‖, ―modulação de afetos‖. Vale ressaltar que ―emoções-visões‖ remetem a imposições ou rechaçamentos, enquanto ―afetos-versões‖ estão ligados a sugestões, assim como a noção de contar algo. E ainda, a versão é construída, a ela não se atribui uma verdade absoluta, mas uma forma de devir (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Esse conceito de afeto – a emoção como a efetiva interlocução do sujeito com o seu entorno – aliado ao conceito de versão – a multiplicidade de formas de conhecimento e modos de vida que surgem quando nos permitimos (especialmente nós, investigadores) ser afetados – que dá a Vinciane Despret as ferramentas necessárias para colocar sob suspeita o discurso de uma ciência purificada, objetiva. (VIANNA; SÁNCHE-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008: 05). O trabalho Perhaps tears should not be counted but wiped away on quality and improvement in dementia care (2010), de Moser, ilustra bem a modulação de afetos por meio de tecnologias de cuidado mediadas pelo uso de uma câmera. Moser argumenta que registros em vídeo de pacientes com demência, em situações de atendimento por enfermeiras, podem produzir afetos que sem a câmera não adquiriam realidade. De quais modulações de afetos fala a autora? De pequenos gestos, expressões faciais, movimentos que tornam expressivos os pacientes com os quais a equipe de enfermagem possuía dificuldade de comunicação. Ao considerar as minúcias da vida diária dos pacientes, mudanças foram produzidas não só na modulação de afetos, mas na aquisição de habilidades, tais como retomar a operacionalidade das mãos a ponto de voltar a escovarem sozinhos os seus próprios dentes. As enfermeiras, que tiveram a oportunidade de presenciar as evoluções dos pacientes participantes do método de uso de câmeras de vídeo, comentam que pareciam estar diante de ―outras pessoas‖. Parafraseando Despret (2011), as pessoas permitem serem ―induzidas‖ por transbordamentos afetivos a partir de conexões que estabelecem com determinados acontecimentos, como é o caso das comemorações pelas minúcias (a exemplo, escovar os dentes) conquistadas. As experiências mediadas pela câmera, que do ponto de vista tradicional poderiam ser lidas como 59 ―induzidas‖, não podem levar a conclusão que os afetos que produzem são menos ―verdadeiros‖: são modos de se relacionar, por consequência, verossímeis e reais. Para complementar, Vianna, Sánchez-Criado e Gómez-Soriano (2008) falam como o ―modo de fazer ciências‖, a partir da realidade localizada produzida por afetações (a exemplo, as comemorações das minúcias do estudo supracitado), tem se convertido, entre integrantes da comunidade científica, em ―objetos‖ caros e de desejo, tornando-se, desse modo, assuntos de estudos que em nada lembram algo que seja barato, piegas e muito menos semelhante a algo desajeitado. Os estudos de Moser (2010) propiciam também a introdução da discussão sobre locus de afetos, debatido, também, na pesquisa sobre discursos psicológicos em Vinciane Despret, por Vianna, Sánchez-Criado e Gomez-Soriano (2008). Como já comentado, aos olhos do projeto modernista as emoções seriam um ―inimigo‖ que requer controle; entretanto, para os estudiosos em sociomaterialidades, as afetações são atratores preciosos, já que se encontram em arranjos com outras entidades, em intercâmbio com diversos elementos, por isso são exóticos, instigam curiosidade, e, de fato, exalam esperança, pois estão sempre a disposição para novos acoplamentos (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Enfim, são puras possibilidades, já que em Moser (2010) a realidade do cuidado foi modulada, isto é, habilidades e afetações positivas foram alcançadas por pacientes com demência a partir de um simples gesto de motivação, através da simples reinvenção da utilização de imagens captadas por uma câmera. Prosseguido os estudos referentes às interferências provocadas por tecnologias do cuidado e seus objetos sociotécnicos do cuidado, faz-se necessário comentar alguns estudos de discursos em Despret nos quais há a possibilidade de pensar modulações de afetos como algo mutável, como eventos que se fabricam no dia-a-dia, localmente e de maneiras distintas, portanto, desvinculados de padrões pré-estabelecidos (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Inicialmente, pesquisadores neo-darwinistas defendiam a existência de seis emoções básicas e universais (tristeza, raiva, felicidade, surpresa, asco e medo) (EKMAN, 1993), que estariam atreladas às conformações emocionais de ―adaptação‖, com funções préestabelecidas, com a justificativa de que ajudariam a melhorar a sobrevida de um indivíduo no 60 coletivo em que vive. Tais conformações remetem a padrões faciais, expressões de rosto habituais e utilizáveis na difusão ou decodificação de mensagens entre pessoas. Em configuração, elas seriam pontos de partida básicos por meio dos quais se articulam o fluxo de comunicação. Estes seis padrões seriam acionados na determinação de estados polares de comportamento ou ―disfunções adaptativas‖, estando um dos polos (disfuncional ou normal, adequado ou inadequado) em destaque em momentos alternados (VIANNA; SÁNCHEZCRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Do trabalho produzido por Vianna, Sánchez-Criado e Gomez-Soriano (2008), o que nos importa neste momento é destacar que não há apenas seis ―emoticons‖. Os pesquisadores discutem os programas de computador para Bate-papo online. Mais especificamente, a existência de signos faciais utilizados em conversações via Internet, e que vem, na maioria das vezes, com uma legenda explicativa e interpretativa, na qual se atribuem e se efetivam sentidos apenas em termos pragmáticos. Por isso questiona-se, em meio às inconstâncias e em decorrência do intenso estado de coisas, a existência de uma gramática pré-definida de gestos e sua atribuição emocional (de ―conteúdo‖ ou ―referência‖ emocional). E há uma complexificação afetiva, pois surgem novos emoticons e até mesmo a criação de funções que permitem que cada pessoa desenhe suas próprias figuras emocionais. Desta forma, os emoticons do Bate-papo estariam participando da produção de novas formas conectivas do ―repertório afetivo‖. Em uma concepção sociomaterial, este estudo nos permite abrir uma discussão ainda maior, que leva aos estudos sobre ―afetos‖ como entidades que devem se desvencilhar do encarceramento que as restringem ao mundo ―orgânico‖, ―vivente‖, pois que estão em arranjo com outras entidades, ou seja, fazem parte de um repertório que inclui não só o orgânico como também o mundo ―inorgânico‖, ―não vivente‖, esteja esse mundo vinculado às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) ou às demais sociomaterialidades que o rodeia, como os próprios criadores dos emoticons, os computadores em rede, os esboços de criação, assim como a razão que motiva alguém a utilizar um emoticons, isto é, se caracterizar como tal, ou a criar semelhante ou próximo do que está sentindo ou deseja sentir (LÓPEZ, 2005). É por esse motivo que retomamos Vinciane Despret, uma vez que a autora nos faz pensar em maneiras de subverter a padronização ou a fixação de um discurso psicológico dominante sobre emoção, de se desconectar da noção de ―visão‖ e de partir rumo à defesa da 61 afetividade como um evento de multiplicidade, como versões que se arranjam e que são resultados de interferências sociomateriais locais. Portanto, a ―realidade‖, assim como os afetos, pode variar – não apenas de forma passiva ou reativa diante de situações e contextos, já que as situações e contextos envolvidos não são constantes, não seguem um padrão, não são tão imutáveis como se apresentam e como parecem ser (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008; DESPRET, 2011). No cotidiano, práticas de cuidado se encontram conectadas às variações das espacialidades. Vejamos o caso da bomba d‘água instalada em comunidades carentes do Zimbábue, com o objetivo de reduzir as vítimas por bactérias, como a E. coli, decorrentes da precariedade, da escassez de água, por conseguinte da falta de higiene. Como interferência há reordenação das espacialidades da comunidade devido à necessidade de manutenção das peças que fazem a bomba d‘água funcionar. Em virtude da distante localização das comunidades em relação aos centros urbanos foram geradas impossibilidades para a contínua manutenção da bomba d‘água. Em contrapartida, os integrantes das comunidades se mobilizaram como verdadeiros artífices e, através de improvisos, foram substituindo as peças da bomba d‘água por pedaços de madeira ou qualquer outro fragmento que se acoplasse à bomba com o intuito de fazê-la funcionar (DE LAET & MOL, 2000). Ainda que não seja o foco da pesquisa levada a cabo pela equipe, observamos que a inclusão da bomba d‘água no cotidiano das comunidades do Zimbábue provoca modulação de afetos. Os usuários manifestam felicidade em acessar água limpa, assim como os engenheiros mostram-se entusiasmados ao se depararem com a bomba d‘água que os surpreende por funcionar, justamente, por ser pouco sofisticada e passível de ajustes pela comunidade (Ibid.). A relação não se define de maneira homogênea, mas como uma armação de coafetação, que, de certa forma, fez com que os usuários da bomba se mobilizassem e manifestassem suas potencialidades, criatividade e habilidades para que novas versões da bomba d‘água se manifestassem. Neste caso, temos a bomba que leva os engenheiros a se entusiasmarem, pois confrontam uma nova versão do artefato que criaram em decorrência da manutenção inusitada que a faz funcionar. Assim como a nova versão da bomba tira expressões de alegria e satisfação das comunidades, já que conseguiram manter a obtenção de água limpa para todos que tem acesso ao equipamento (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). 62 Interferências provocam efeitos (modulação de afetos) que não tem a ver com uma totalidade prefixada do mundo. Seria desse modo, aquilo que podemos nomear de uma relação de coafetação mútua, sendo, nesse sentido, todas aquelas interferências que veiculam ou estão ligadas às experiências ou práticas diárias. Podemos, assim, chamar ―afetos‖ de uma multiplicidade de elementos em constante fazer-se, causar-se e afetar-se. Recordemos a multiplicidade da bomba d´água. Esta, assim como as artes, se mostra conspirando a favor de uma ecologia afetiva, ou melhor, para a constituição de um repertório afetivo, sendo, de modo concomitante, adepta à construção de versões de mundos possíveis (VIANNA; SÁNCHEZCRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). A reconfiguração põe à prova a declaração de que não encontramos essências no início do caminho, mas entidades heterogêneas estabilizadas, construídas por intermédio de práticas e pela mediação de elementos que passam além e ao longo das formas canônicas (referente ao pensamento ocidental) de atribuir segregações ―ao mundo‖ (LATOUR, 1994). As ferramentas que compõem as Práticas de cuidado advêm da vida diária, estando submetidas não a métodos, protocolos ou configurações previamente estabelecidas, mas aos acontecimentos momentâneos. Assumimos a responsabilidade de constantes visitas ao ateliê, ao laboratório, à funilaria ou qualquer estabelecimento de criação, para um contínuo acompanhamento dos momentos de quando ocorrem as reformulações, as performances múltiplas dos objetos sociotécnicos do cuidado e a própria reconfiguração do método de criação. Estamos falando de um estabelecimento criativo, no qual as interferências sociomateriais são consideradas peças-chave para a confecção dos efeitos de modulação de afetos e reordenação de espacialidades que estão por vir (LATOUR, 1994; HARAWAY, 1995; DE LAET & MOL, 2000; LAW, 2004; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZSORIANO, 2008; HARAWAY, 2011). Retomamos a noção de epistemologia política, pois esta nega em seu estatuto político qualquer forma de controle (HARAWAY, 1995; SÁNCHEZ-CRIANDO, 2005; VIANNA; SÁNCHE-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Preferimos aceitar que as formas de conhecimento nos encharcam de afetos, nos transformam, inventam-nos, engendram-nos, como também permitem que participemos de todas essas ações junto a tais achados. Seria apenas uma questão de pensá-los e perscrutar o modo como eles nos desafiam e nos interrogam (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). 63 A pesquisadora Vinciane Despret fala de um processo de constituição e reconstituição constante de tradições, no qual as emoções seriam uma espécie de obra de arte em que uma metafísica de imanências a constituiriam como veículo e conteúdo de uma tradição. Sendo assim, da mesma maneira que construímos nossos mitos, inventamos através deles, ou ainda, fabricamos nossas emoções para que elas nos fabriquem (DESPRET, 2004; SÁNCHEZCRIADO, 2005). Não é diferente em um ambiente hospitalar. Pesquisas sobre tele-assistência domiciliar revelam que as interferências que produzem modulações de afetos também estão vinculadas às reordenações de espaços. As papeladas, o funcionamento de equipamentos tais como impressoras, a velocidade da Internet, o cabo de fibra ótica se mostram tão essenciais quanto às atendentes que devem estar prontas para responder ao chamado de um idoso usuário do serviço (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009; LÓPEZ & TOMAZ-CRIADO, 2009): ―Tornar-se um guardião‖ de usuários idosos que requer serviços de tele-assistência que em nada lembra os anjos etéreos (LÓPEZ, 2010). A atuação desses guardiões está muito mais próxima das imagens dos arranjos sociotécnicos fabricados que marcam o cotidiano de qualquer unidade pediátrica: enfermeiras com brinquedos, enfermeiras assistindo através de animais9, desenvolvendo ludoterapia, convidando os pacientes para prática de Yoga 10, assim como instalando frascos de medicamentos ou uma hidratação endovenosa (soro fisiológico) ou, simplesmente, distribuindo abraços de conforto, conversando e transportando conversações de um a outro 9 A Terapia Assistida por Animais (TAA) tem sido utilizada como mais um suporte no tratamento de algumas doenças, mostrando uma série de efeitos benéficos em pacientes psiquiátricos, adultos, crianças hospitalizadas e idosos. Embora a prática com animais tenha sido comentada como tratamento no Século XIX, a introdução desta nos espaços hospitalares aconteceu apenas no ano de 1962, ano em que se encontraram documentos contendo registros sobre os benefícios em humanos que tiveram animais como parte da terapia enquanto hospitalizados (PEREIRA; PEREIRA; FERREIRA, 2007). 10 A palavra Yoga tem origem no sânscrito ―yuj‖ que significa comunhão, união, junção. Yoga consiste em um método de autorregulação consciente que conduz à integração física, mental e espiritual e possibilita relação harmônica do homem com o meio que o rodeia. A execução de exercícios de Yoga proporciona mudanças e benefícios no funcionamento de todo o organismo e permite melhora das funções psíquicas, tanto cognitivas como emotivas, melhorando a memória, reduzindo tensões, a depressão, a ansiedade e a irritabilidade. Essa prática também traz benefícios para o tratamento de doenças de ordem psíquica, tais como neuroses, estados psicóticos e pré-psicóticos, e melhora de sintomas relacionados ao estresse, promovendo relaxamento e maior sentimento de autodomínio. Além disso, os exercícios de Yoga podem melhorar a coordenação psicomotora e os processos de atenção e concentração (GONZÁLEZ, 1998; ELIADE, 2009). No Brasil, desde 2003, o Yoga é reconhecido pelo Ministério da Saúde como uma Prática Complementar de Saúde (BRASIL, 2006; SIEGEL & BARROS, 2010). 64 membro da família (SADALA; ANTONIO, 1995; ANDRADE & PEDRÃO, 2005; PEDROSA et al, 2007; PEREIRA;PEREIRA; FERREIRA, 2007). É possível traçar um paralelo entre a política e a cientificidade dos afetos com os afazeres diários confeccionados por uma ―guardiã que não é etérea‖. Isto é, as ações de cuidado efetivadas por uma enfermeira são fabricadas continuamente. E, por conta dessas atividades que realizam, bem como em decorrência dos aliados que conquistam dia após dia, fica declarado que o cerne ―epistemológico‖ depende inevitavelmente da incorporação de humanos (políticos, sociais), não/humanos (materiais, naturais) e elementos discursivos (textos, ―significações‖), sendo todos integrantes de um grande conglomerado sociotécnico (LATOUR, 2001). Os afetos vinculados às ações realizadas pelas enfermeiras, devido aos arranjos que continuamente constituem, acabam por renunciar às sanções que as pré-definem. Neste caso, epistemologicamente seria transpor os ícones como ―auras‖, ―asas aladas‖, ―auréola‖ ou qualquer outro adorno que remeta a ―anjos‖ como o único signo cultural que valha para configurar as emoções que emanam dos afazeres das enfermeiras. Estas, em verdade, dependem inevitavelmente de processos originados a partir de suas ações sociotécnicas habituais, e, portanto, necessitam de uma noção para a função que realizam como guardiãs ou heroinas que, deste modo, vá além das concepções de ―devoção‖, ―sacerdócio‖ ou ―dom‖, assim como não as restrinjam a adjetivos de sublimação, como ―pureza‖ e ―bondade‖, ou serem confundidas com entidades ―etéreas‖11. Por isso não é possível que fiquem atreladas apenas ao ato de ―emocionar‖, sendo melhor ―deixar-se afetar‖. Esta última remete a um processo que continuamente se constitui a partir de formas distintas de se cultivar relações e remete às maneiras que se tem de constituir os corpos e mundos cambiantes (LATOUR, 1994; HARAWAY, 1995; LÓPEZ, 2010; DESPRET, 2011). Por fim, não há um despojamento ou ―des-apaixonar-se‖ do mundo, pelo contrário, trata-se justamente de permitir o ato da vinculação e, portanto, deixarem-se afetar por todas as entidades que estão em volta (HARAWAY, 1995; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). Essa proposta permite pensar em distinções mais férteis, em que as guardiãs, ao ―sobrevoarem‖ e ―flutuarem‖ sobre novos ―ares‖ (conhecimentos), promovam 11 Tais adjetivos são inspirados na religiosidade de Florence. Esta que era vista como uma “mulher gentil”, que foi “chamada por Deus”, conforme descrições encontradas online na página Florence Nightingale Museum (http://www.florence-nightingale.co.uk/cms/index.php/media-centre/florence-biography). 65 novos modos de lidar com as interferências cotidianas, nos quais as enfermeiras-guardiãs são, na realidade, meandros, entidades que se mesclam, ainda que interfiram e se deixem interferir com uma infinidade de outros elementos partidários das Tecnoculturas de cuidado. 1.6. Conexões entre modulação de afetos, espacialidades e Humanização hospitalar O Sistema Único de Saúde (SUS) como política pública carece ser pensado com suas fronteiras para além do Estado, com o intuito de que haja uma articulação simétrica entre o interior e seu exterior. Mas devemos considerar que o SUS é uma política que tem seu fulcro no Estado a partir de políticas de governo. O Sistema tem como desafio se consolidar como política pública através da produção de saúde encarnada nas práticas dos trabalhadores e usuários. Entretanto, há necessidade do Humaniza SUS se situar no limiar da máquina de Estado, cujas idiossincrasias tendem a capturar e amortecer exatamente aquilo que permite e justifica a presença da PNH no SUS: sua natureza instituinte e desviante (PASCHE, PASSOS, HENNINGTON, 2011). Assim, a Política Nacional de Humanização (PNH) se apresenta como um importante marco de referência para a construção de práticas de saúde que efetivamente respeitem o cidadão em seus valores e necessidades. Todavia, é necessário que se avance e se amplie o senso de cidadania do povo brasileiro, que em muitas situações resigna-se aos maus tratos e ao desrespeito. Saúde digna é direito e compromisso do usuário e dever do Estado, que precisa garantir a oferta de atenção de acordo com as necessidades de saúde da população. Mas a amplitude desta missão não pode ser alcançada sem a mobilização das forças sociais que se agenciam para além do Estado. Ao dever do Estado e das equipes de governo soma-se o do fomento da autonomia dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde, multiplicando os agentes do direito e do dever (PASCHE, PASSOS, HENNINGTON, 2011). Uma aposta nesse sentido é que a PNH sirva como estratégia de mobilização social, não apenas de denúncia e de reivindicação de direitos, mas de afirmação de um modo de construção de alternativas de enfrentamento dos desafios que a saúde tem pela frente e que considera as diferenças e singularidades. Um modo de fazer que permita que os sujeitos entrem em contato para se afetarem mutuamente, para produzirem acordos que nos 66 transformem a cada dia em uma sociedade mais justa e fraterna (PASCHE, PASSOS, HENNINGTON, 2011). O Sistema Único de Saúde (SUS) estabeleceu uma política pública de saúde que visa integralidade, universalidade, aumento da equidade e incorporação de novas tecnologias e especialização de saberes (BRASIL, 2007). O termo humanização, que orienta a Política Nacional de Humanização (PNH), apresenta um caráter polissêmico, que conduz a diferentes objetivos, métodos e formas de trabalho (SOUZA; MENDES, 2009). A PNH é o resultado de um conjunto heterogêneo de tecnologias e dispositivos necessários à configuração e fortalecimento de redes de saúde. De um lado, no documentomarco desta política, enfatiza-se o termo diante da construção de um conceito abstrato, tecnoburocrático, distante da realidade diária, muitas vezes genérico, bem como atravessado por especialidades engessadas; por conseguinte, pouco útil no que se refere às práticas realizadas no cotidiano dos serviços (DESLANDES, 2005; BRASIL, 2006). De outro, pode-se argumentar que a polissemia dos conceitos que orientam o SUS é uma possibilidade de estabelecimento de horizontes mais do que práticas concretas, abrindo a possibilidade de constantes reinvenções (AYRES, 2004). Em uma primeira leitura, humanizar remete ao humano. Como pensá-lo simétrico a uma composição artefatual que reordena emoções, ou melhor, constituída de objetos sociotécnicos do cuidado com competência de modulação de afetos? Os princípios norteadores da Política de Humanização passam, necessariamente, por uma rede artefatual heterogênea, um conglomerado de objetos sociotécnicos (LATOUR, 1994, LAW, 2004). Humanizar no cotidiano das práticas é deparar-se com aquilo que no projeto de construção da modernidade foi delegado ao polo oposto ao humano. Como argumenta Latour (1994), é necessário adotar uma larga escala de entidades heterogêneas como aptas para transpor o ―projeto de modernidade‖, que se constitui de operações de ―purificação‖, ou melhor, compreende separação das estâncias representativas do mundo: de um lado a natureza, do outro o social; como consequência, de um lado a razão, do outro a emoção. Enfim, de um lado o homem, do outro as tecnologias, as práticas e as técnicas. 67 Em Atendimento de média e alta complexidade no SUS (BRASIL, 2007) e no documento O SUS de A à Z (BRASIL, 2009), as Tecnologias do Cuidado podem ser identificadas atuando na assistência de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar, as quais contemplam ―redes de complexidades‖, onde as ações e procedimentos articulam um elenco de responsabilidades, serviços e procedimentos relevantes para a garantia da resolutividade e integralidade da assistência ao cidadão. Entende-se por ―média complexidade‖ a atenção em saúde que está relacionada ao nível de atendimento formado por ações e serviços que visam a atender aos principais problemas de saúde e agravos da população, cuja prática clínica demande disponibilidade de profissionais especializados e o uso de recursos tecnológicos de apoio diagnóstico e terapêutico. E compreendemos ―alta complexidade‖ como as que envolvem tecnologias do cuidado de última geração (de ponta) e, muitas vezes, são de alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde. A Humanização é, assim, um arranjo conectivo, não sendo suficiente visualizá-lo em níveis e estruturas fixas. Apesar de centrarmos nossa atenção nas modulações de afetos como simétricas à humanização hospitalar, sabemos que as Tecnologias do Cuidado, e os objetos sociotécnicos do cuidado que as promovem, podem atravessar todos os níveis de atenção. Em meio às tensões e incertezas, a humanização que efetiva a expressão ―Sistema Único de Saúde que dá certo‖ (AYRES, 2004) é proveniente de atitudes, técnicas, práticas criativas e inventivas, baseadas em alternativas competentes, haja vista que reordenam ambientações hospitalares a ponto de colecionar efeitos como as modulações de afetos quando pensamos em processo saúde-doença. Em uma revisão de pesquisas sobre o tema, verificamos ilustrações de traduções das modulações de afetos em meio aos processos de ―acolhimento‖, ―autonomia‖, ―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖, princípios que norteiam as políticas de humanização em saúde. Há que se levar em consideração a explanação para cada um destes princípios separadamente apenas para efeitos didáticos, uma vez que podem coexistir em interdependência e, do mesmo modo, podem atuar individualmente. No âmbito da literatura pediátrica temos o trabalho Desafios da humanização no contexto do cuidado da enfermagem pediátrica de média e alta complexidade, no qual as autoras analisam situações cotidianas que propiciam ou dificultam relações de acolhimento e autonomia, mostrando, também, situações e ambientações em que o protagonismo e a 68 corresponsabilidade são expressos na relação entre enfermagem, usuários e seus acompanhantes, através de técnicas, práticas, interesses e competências profissionais (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). É possível notar que esse cotidiano se constitui de um conglomerado artefatual responsável pela materialização de princípios presentes e defendidos pela PNH. Encontramos uma permeabilidade entre o técnico e o não técnico no cenário do cuidado. Nos meandros existentes nas relações entre a equipe, os pacientes e acompanhantes, encontramos vários eventos referentes à modulação de afetos via articulações momentâneas entre objetos sociotécnicos do cuidado. A expressão ―acolhimento‖ compreende todo um arranjo sociotécnico que envolve recepção de pessoas no serviço de saúde. Ou seja, compreende a utilização de tecnologias do cuidado, como, por exemplo, o escutar terapêutico das queixas dos pacientes já na chegada ao hospital, responsabilizando-se integralmente por eles e lhes permitindo expressar suas preocupações, angústias, e, ao mesmo tempo, instituindo limites necessários, garantindo desta maneira, atenção resolutiva e a articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência (BRASIL, 2006). Compreender a conexão entre o princípio norteador ―acolhimento‖ e as modulações de afetos no cotidiano é entender que a equipe, os pacientes e seus acompanhantes se encontram vinculados a um conjunto de técnicas: banhos e troca de curativos, administração de dieta, procedimentos invasivos, os medicamentos, maquinários, novos termos, palavras e as sensações de dor e sofrimento. E dependendo do modo como esses eventos acontecem, as reordenações que eles promovem se tornam decisivas quanto à ocorrência ou não de aproximação entre os atores, ou seja, reordenações e/ou modulações que levem a melhor aceitação ou menor estranhamento da criança e do adolescente para com o ambiente hospitalar (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). Percebe-se que há uma reflexão quanto à necessidade de se pensar em um projeto terapêutico, através do qual se compõe e se considere a família e seus saberes, assim como as tecnologias a prestação de cuidados à criança e ao adolescente internados em uma unidade pediátrica (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). Enfim, de se considerar as diversas tecnologias do cuidado e seus objetos sociotécnicos que compõem as Práticas de cuidado do local descrito. 69 Oliveira et al, em O processo de trabalho da equipe de enfermagem na UTI neonatal e o cuidar humanizado (2006), mostra que a noção de ―acolhimento‖ é desconhecida por muitos profissionais de enfermagem, haja vista que muitos desconhecem que o que realizam está vinculado a um processo de trabalho. E, apesar da enfermagem brasileira estar produzindo satisfatoriamente em termos de pesquisa acerca da humanização do cuidado, ainda há muito que se esclarecer em vista às especificidades dos locais e quanto à clientela que assiste, bem como estudar as características de quem integra esta equipe. Segundo os pesquisadores, a humanização da assistência de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI - Neonatal) do estudo pauta-se no cuidado voltado para recém-nascidos e sua família. Fala-se de um encontro entre o cuidador e quem é cuidado. Esse encontro ocorre por meio de um fio condutor que é proveniente do acolhimento. Apesar de poucos compreenderem como se dá o acolhimento, em entrevistas muitos profissionais de enfermagem comentaram que o que realizam como trabalho da área está relacionado com o que aprenderam na universidade ou no curso técnico. Aliado a esses tópicos, falam sobre suas práticas cotidianas, ou seja, os saberes técnicos que efetivam no dia-a-dia. Incluindo como um desses saberes, a habilidade da escuta sensível, a qual facilita a integralidade de tecnologias que se têm disponíveis às necessidades do recém-nascido e de seus familiares (OLIVEIRA et al, 2006). A reportagem Árvore construída12, publicada no jornal online intitulado ―Circuito Mato Grosso‖, pode nos mostrar e nos instigar a pensar sobre ―acolhimento‖, assim como ilustrar um modo alternativo de Práticas de cuidado a partir da prática de criação de ―bonsais‖. Plantas cultivadas ―a chineses e a japoneses‖ em meio a maquinários de diálises, a corpos em hemodiálise que interagem com vidas não humanas, mãos que se mostram como verdadeiras artífices, como fabricantes de esperança, de concentração, de redutores de estresse, produtores de hormônios do equilíbrio do humor. Aqueles que seguram e conversam com as miniaturas de árvores permitem que as máquinas de diálise trabalhem, façam o serviço de seus rins com menos resistência. O pequeno grande mundo produzido a partir da interação que efetiva com quem o fabrica ou cultiva-o, não percebe o tempo passar, não fica limitado a 12 A pesquisadora responsável por esta dissertação, a fim de entender melhor a “construção” de uma árvore Bonsai entrou em contato com a bonsaísta através da equipe do CTR. Foi visitá-la em um dia de diálise. Conversando com ela enquanto esta dialisava, puderam construir um diálogo de saberes sobre o artífice trabalho de se confeccionar Bonsais. A árvore de bandeja ficou considerada como uma companhia (HARAWAY, 2011) pela paciente, e o manejo da planta ficou considerado por ambas (pesquisadora e paciente) como um modo de cuidar em saúde. 70 um espaço estéril, cheio de rotinas do local. Devolve a confiança, traz a luminosidade dos raios de sol para dentro do CTR. Enfim, reconstitui a vontade de interagir com aqueles que estão a sua volta. Quanto ao princípio de ―autonomia‖, no seu sentido etimológico, significa ―produção de suas próprias leis‖ ou ―faculdade de se reger por suas próprias leis‖. Ou seja, aquele que é capaz de construir regras de funcionamento para si e para o coletivo. Pensar os indivíduos como sujeitos autônomos é considerá-los como protagonistas nos coletivos de que participam como corresponsáveis pela produção de si e do mundo em que vivem (BRASIL, 2006). Acoplando as políticas de humanização em saúde à concepção sociotécnica dos efeitos de modulação de emoções, observamos que o princípio da ―autonomia‖ está relacionado com a apropriação do espaço e dos cuidados realizados nas crianças pelas mães. O maior tempo e acompanhamento das crianças pelas mães faz com que estas se apropriem do espaço, adquirindo conhecimentos e habilidades de cuidado (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). Sobre o princípio de ―autonomia‖, em Oliveira et. al. (2007) fala-se do constante risco de fragmentação ou parcelamento do cuidado em UTI neonatal, pois muitas vezes a equipe se esquece de que estão cuidando de uma criança que precisa ser preparada para reacender um vínculo afetivo com algum responsável por ela ou com qualquer ente familiar, em especial, seus pais. Faz-se necessário, nestes casos, a conciliação dos saberes da equipe aos saberes/fazeres da família no processo de cuidado do recém-nascido. Muitos dos profissionais de enfermagem, mesmo em meio à fragmentação do cuidado, enfatizam que, sempre que possível, incluem os familiares do recém-nascido nas ―trocas de fralda‖, na ―realização do banho‖ ou os convida para auxiliar na pesagem da criança. Quanto à prática de bonsais, apesar de não ser a primeira intenção da autora, é possível realizar uma reflexão sobre o princípio de ―autonomia‖. Enquanto aguarda todo o processo dialítico, aquele que tem em suas mãos uma bandeja contendo um bonsai tem a oportunidade de retomar a responsabilidade de cuidar de algo, tomar decisões ou questionar sobre o modo de cuidar da arvorezinha, que, simetricamente, denota um modo de cuidar, de sugerir como cuidar de si, assim como a ter como uma companheira caseira nas seções de diálise (JORNAL CIRCUITO MATO GROSSO, 2011). 71 Sobre ―protagonismo‖, temos a ideia de que a ação, a interlocução e a atitude dos sujeitos ocupam lugar central nos acontecimentos e no processo de produção da saúde, e também diz respeito ao papel de sujeitos autônomos, protagonistas e implicados no processo de produção de sua própria saúde (BRASIL, 2006). A partir dos estudos de Alves, Deslandes e Mitre (2008), protagonismo esteve relacionado com o tempo de internação de uma criança e com a consideração do conhecimento comportamental que a mãe tinha sobre sua filha. Essa situação a fez observar a necessidade de chamar uma fisioterapeuta. Portanto seria necessário considerar esse saber da mãe. Ou melhor, favorecer uma negociação que facilite aos familiares serem protagonistas do cuidado da criança hospitalizada, que suas opiniões sejam acatadas. E, indiretamente, essa aproximação entre equipe e familiares são modos de transpor lacunas, pois, no caso citado, a mãe identificou a necessidade de uma atenção maior da equipe para com a criança. Neste caso, o protagonismo precisou ser considerado, já que para muitos poderia ser levada a sério a existência de um antagonismo entre a família e a equipe. No que se refere ao protagonismo da criança, a sua presença ocorreu em várias situações do estudo relacionado com o ato de brincar, do interagir com brinquedos, proporcionado por um projeto implantado na ala pediátrica do hospital no qual foi realizada a pesquisa em questão (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). Por último, a ―corresponsabilidade‖. Esta, para humanização em saúde, compreende a conexão entre usuário, gestor e trabalhador/equipes de saúde, e devem ser considerados, a perspectiva de ações inter-setoriais, a rede social de que o usuário faz parte, o vínculo usuárioequipamento de saúde e a avaliação de risco/vulnerabilidade (Ibid.). Para as sociomaterialidades de uma micro realidade das práticas, a ―corresponsabilidade‖ se apresenta como uma dificuldade a se transpor, uma vez que traz à tona um paradoxo no gerenciamento artefatual que compõe as técnicas de cuidados, ou seja, a princípio, o conhecimento técnico e sua realização ficavam restritos à equipe. E quando os cuidados se vinculam aos pacientes e seus familiares afloram conflitos, pois há um aumento no risco de erros, havendo a necessidade de uma re-interação, da reflexão sobre os procedimentos e do aumento da atenção aos cuidados delegados, já que ocorre uma dependência de maior gerenciamento da equipe para com as técnicas desenvolvidas pelos acompanhantes e pacientes (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). 72 Segundo Oliveira et al (2007), por meio da ativação do ―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖ entre os pares interessados pelo cuidado, há o fomento e o aumento do grau de vínculos afetivos, além da participação e o interesse de familiares, assim como da própria equipe, por gerar uma ambiência de valoração do trabalho, ao passo que permite a atuação de atores até então vistos como secundários: saberes comuns dos familiares, interação afetiva entre os profissionais e a relação afetiva destes para com a criança que cuidam e seus familiares. Sobre ―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖ em meio às práticas de bonsai no setor de diálise (Centro de Tratamento Renal), descrita na reportagem Árvore construída (JORNAL CIRCUITO MATO GROSSO, 2011), percebe-se um ―concerto‖: máquinas que dialisam, enfermeiros e médicos que transitam pelo setor com o intuito de prestar seus afazeres, poltronas que são preparadas para confortar os pacientes para as horas de diálise, práticas e técnicas de punções realizadas nos pacientes que se mesclam com as mãos construtoras de árvores de bandeja. A corresponsabilidade se apresenta com a manipulação de bonsai, ou seja, a partir do momento que cuida de algo, o paciente, indiretamente, se faz responsável por seu cuidado. Seria mais ou mesmo assim: cuido de quem cuida de mim, pois é semelhante à ação de cuidar de mim. Ou ainda, tenho ao meu lado um companheiro de seções de diálise, por quem me responsabilizo. Trazemos para nos ajudar a pensar de modo alternativo os ―afetos‖ imbricados à humanização em saúde, o estudo The Logic of Care: Health and the problem of patient Choice (MOL, 2008). Em sua pesquisa, Mol trabalha com a expressão ―Promoção em Saúde‖ [Improving in Health] em vez de ―Humanização em Saúde‖. Essa expressão de escolha foi acatada em seu país de origem (Holanda). Segundo a pesquisadora, esse conceito possibilita concatenar os mais diversos saberes localizados. O que pode contribuir e ajudar a pensar a Humanização em Saúde no Brasil. A maneira como a Promoção em Saúde acontece vincula uma Lógica do Cuidado. Como essa concepção foge à clássica lógica descrita como saber objetivo, duro, exato e valorado porque foram testados e aprovados em um laboratório (MOL, 2008), preferimos adotar a expressão Tecnocultura do Cuidado. Esta, como uma Lógica do Cuidado, tem como característica não se render a uma prática de normalização e de controle do corpo. Tecnocultura do Cuidado, inclusive, tem 73 como peculiaridade o desprendimento da nostalgia quando permeia as articulações de pessoas e tecnologias hospitalares. E, através da observação de hábitos diários, a pesquisadora mostra que é notável a mutualidade que emana da relação entre tecnologias e pessoas. A pesquisa ainda descreveu como se configuram os arranjos que fluem dos contos das pessoas com condições crônicas de saúde que participaram do estudo (MOL, 2008). Ao falar sobre uma Tecnocultura do Cuidado, Mol faz uma reflexão sobre a expressão ―o bom cuidado‖, configurando-o atrelado à Promoção em Saúde. Por isso, a pesquisadora mostra que o bom cuidado coexiste com outras lógicas, assim como com as negligências e erros, não devendo se esperar uma linearidade temporal dessa disposição; é caracterizado, também, por não ser óbvio e não se cristalizar, muito menos se deixar capturar pelo racionalismo demandado pela academia; e, em específico, compreende validar um estudo, validar argumentos, conforme exigências dos parâmetros científicos. Entretanto, a Tecnocultura do Cuidado, como algo relevante a ser estudado, mostra-se como ciência ao articular experiências particulares/casos/contos dos pacientes a textos filosóficos. Para exemplificar, trazemos o cuidado de pacientes com diabetes estudados por Mol (2008). Isto é, incidentes cotidianos que mostram a Tecnocultura do Cuidado na prática, aonde a vida diária de pacientes tiveram significativas alterações pancreáticas e, por conseguinte, viram-se obrigados a conviver com a não produção ou não produção suficiente de insulina para controle do nível de açúcar na corrente sanguínea. A versão de Humanização em Saúde que temos, a partir de Tecnoculturas do Cuidado, permite, de modo nunca neutro, analisar a qualidade de vida de pacientes com alguma condição crônica de saúde. Essa ―lógica‖ reconhece a articulação de uma diversidade de entidades sociomateriais que se arranjam e, por conta disso, reordenam espacialidades, assim como as potencialidades de modulação de afetos. Por ser multidimensional e heterogênea, a Lógica do Cuidado proposta por Mol (2008), que aqui chamamos de Tecnocultura do Cuidado, põe em xeque as dicotomias, não aceitando classificações entre práticas boas ou más de cuidado, mas sim de um ajuste em que o cuidado sugerido articule a ambas, já que para esta lógica as fronteiras encontram-se terminantemente indefinidas. Assumem-se também as possibilidades de erros e acertos como um conjugado, uma vez que não está livre de fricções e conflitos diários. E, como não se segmenta a Lógica do 74 Cuidado, revela-se impregnada de política, assim como de ética. Desse modo, permite a conexão entre diversas noções de estilos diferentes de julgamentos provenientes dos pacientes, que são ao mesmo tempo clientes e cidadãos. Privilegiando, deste jeito, tanto os direitos individuais quanto os coletivos (MOL, 2008). Para a Promoção em Saúde, isto é, para as ―Tecnoculturas do Cuidado‖, a conversa em consultório é um momento relevante, pois permite a exposição das concepções do paciente, facilita uma aproximação, a inteiração dos fatos e de ficar diante dos conflitos e complicações, e ainda possibilita trocas de ideias, a transmissão ao paciente de algumas palavras de conforto. Essa conversa compreende um modo de acolhimento. No cotidiano, é através dessa conversa que os pacientes e profissionais da saúde olham e analisam em parceria os resultados de exames laboratoriais na tela do computador ou em qualquer impresso (Ibid.). Tecnoculturas do Cuidado mostram que, muitas vezes, a aderência do paciente a determinado tratamento (a exemplo, hormonal ou cirúrgico) depende dessa interação inicial. Ao paciente não houve a negação de autonomia, porém, diante de várias situações de enfrentamento e de decisões para se tomar, a pesquisa revela que foi necessário repensar a noção de autonomia como algo que esteja associada ao apoio dos profissionais de saúde e dos familiares (aos seus questionamentos e as sugestões sobre que caminho o paciente deve seguir), evitando, ao máximo, imposições. A pesquisadora enfatiza a reflexão sobre autonomia, utilizando como exemplo os casos de pacientes com limitações mentais. A partir destes casos, mostra que a ―autonomia‖ não pode ser atribuída apenas à família, ou seja, ser jogada toda a responsabilidade de tomada de decisões para a família e para o paciente. Tal situação requer que os profissionais participem, estejam juntos, cooperem, auxiliem, sugiram, indiquem alternativas e modos de tratar (Ibid.). Como a Promoção de Saúde acompanha os passos dos pacientes ativos, e como não é neutra, os esforços despendidos para ―inventar‖ algo que contribua para a qualidade de vida de pacientes com alguma condição crônica de saúde, revela também as nuances que comportam a produção de uma técnica, tecnologia ou até mesmo as drogas (MOL, 2008). Também perpassa pela moral, como por exemplo, traz a tona situações que correspondem a refletir sobre estar ou não de acordo com o fato dos produtos a serem utilizados pelo paciente, assim como os sugeridos pelo profissional de saúde, estarem associados ao sacrifício de 75 algum animal em teste. Esclarecimentos, aconselhamentos quanto à decisão para se inserir em procedimentos e invenções, que, muitas vezes, a pessoa será a primeira a testar. Segundo a pesquisa, em meio ao emaranhado vivenciado por quem tem uma condição crônica de saúde, como no caso da diabetes, observa-se uma ligação com a aprendizagem, assim como interesse em aprender sobre as técnicas que terá que utilizar no dia-a-dia, incluindo cuidados específicos, como o cuidado da pele danificada pelas inúmeras aplicações de insulina, resultando no cuidado com o descarte de materiais biológicos (seringas de insulina, por exemplo). Não bastando, todo esse processo tem por trás o esforço individual (físico, psicológico, emocional) do inventor que busca novidades, tecnologias que venham amenizar o cotidiano das pessoas que tem alguma condição crônica de saúde (MOL, 2008). Em outras palavras, a partir da Lógica do Cuidado descrita por Mol (2008), percebemos que o cuidado imbrica uma série de eventos, conexões de objetos sociais e técnicos. Por isso, pensamos nessa Lógica como Tecnoculturas do Cuidado. E, por conta dos arranjos sociomateriais que produzem, é que se notou que permitem transcender a noção de ―cura‖, pois há ―Tecnoculturas do Cuidado‖ em associação, haja vista que articulam os hábitos de vida diária de uma pessoa às questões biomédicas em vez de separá-las. Logo, se vinculam às intervenções ligadas às necessidades básicas da vida diária – em que o paciente muitas vezes está sem condições alguma de realizá-las – e são percebidas junto às atribuições médicas (como por exemplo, as alterações fisiopatológicas, ou seja, o quadro clínico, laboratorial, assim como farmacológico, ou ainda, epidemiológico), que se apresentam imbricadas às tecnologias inventadas para uso do paciente. A Lógica do Cuidado/Tecnoculturas do Cuidado possibilita uma reflexão praxiográfica dos princípios do SUS, ao considerar, como integrantes da Promoção de Saúde, os erros e as incoerências encontradas no meio do caminho de uma prática a ser efetivada. Ampliando, portanto, as possibilidades para lidarmos com a polissemia da PNH em campo de prática (BENEVIDES & PASSOS; 2005), ao sugerir que é preciso conviver e acompanhar cotidiana e localmente (HARAWAY, 1995) como a PNH se configura. A noção de Tecnoculturas do Cuidado conecta-se à presença e ao envolvimento de um coletivo heterogêneo (CALLON, 2008), assim como se aproxima das afetações que fabricam o homem, arraigadas à política (DESPRET, 2004). 76 Em Enacting death in the intensive care unit: medical technology and the multiple ontologies of death (2009), Hadders explora várias maneiras de performances da morte em saúde de uma pessoa acoplada a um ventilador mecânico (como tratamento) em casos de pacientes paliativos internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Exploram-se as práticas médicas em um exercício. Enfocam-se as intervenções médicas e performances de saúde dentro das práticas de saúde. Associa-se, de modo cuidadoso, como as técnicas médicas fazem com que a morte seja algo crítica, relativa, tangível, visível, conhecida e real. Ou seja, implica perceber as alterações que as práticas em ação produzem sobre a concepção de morte. Estamos falando, portanto, do conhecimento do objeto, indo além da funcionalidade deste. Para o reconhecimento de um processo de Promoção em Saúde [Improving Health] na Humanização em Saúde, é preciso perceber que as Práticas de cuidado conjugadas às pessoas em condições crônicas de saúde, emitem uma extensa lógica em cuidado, a qual precisa ser revelada para que uma pessoa venha a conviver bem com sua condição até o fim da vida, assim como com aqueles que se encontram com ela nesse emaranhado sociotécnico (MOL, 2008). Desse modo, somos conduzidos a pensar em uma humanização hospitalar não/antropocêntrica, isto é, de artefatualidades como simétricas a efeitos de humanização. Neste caso, carregados de afetações que reordenam espaços e vice-versa. Desfazendo as dicotomias instituídas pelo hábito (SPINK, 2003), vinculamos nossa análise a um estudo de arranjos sociomateriais localizados, no qual encontramos o ―humano‖ sendo permeabilizado pelo ―não/humano‖, ou melhor, ―objetos sociotécnicos do cuidado‖ em relacionamento, mas mantendo sempre as distinções ontológicas (LAW & MOL, 2001; MOL, 2007; DESPRET, 2008; LATOUR, 2008). 77 CAPÍTULO 2 UMA PRAXIOGRAFIA DO CUIDADO As mãos de um pesquisador praxiográfico parecem ampliar o seu olhar metodológico. 78 Neste segmento temos como objetivo principal descrever a elaboração do método confeccionado para a presente pesquisa, a partir do que se experimentou e se vivenciou em campo. Latour (2008) adverte que o pesquisar é um processo cujos parâmetros não precedem a construção do método, pois este segue um percurso próprio. Em se tratando da produção de um método que se aproxime do cotidiano das práticas, o desafio, conforme Sennett (2009: 115), é o de ―sermos hábeis o bastante para imprimir imagens através de palavras‖, e que estas últimas, quando empregadas, sejam competentes o bastante para mostrar as minúcias daquilo que fazemos. Para o autor, um Artífice insistente soluciona problemas ―fazendo‖ algo. Ou melhor, o Artífice contorna erros ou falhas quando se engaja em entender que o ato de fazer concebe o ato de pensar. Ainda segundo Sennett (2009), o que o Artífice confecciona pode ser sim um sinônimo de orgulho, uma vez que foi mérito dele. No entanto, o seu trabalho de artífice não pode cegá-lo, mas ser luz para contínua reflexão ética sobre o que está fazendo. Ou conforme os estudos de Haraway (2004), que as descrições do que realizamos possam compor imagens13 que configurem as ações ou os eventos efetuados pelos objetos sociotécnicos estudados, permitindo que os mesmos se mostrem situados e localizados, ou seja, que se mostrem possuidores de uma topologia. Para essa estudiosa, as descrições são potentes aliadas das sociomaterialidades. Haraway alerta que, mesmo no caso da imagem descrita convencer alguns, para muitos a sua configuração pode vir a levantar questionamentos, chegando a ser cogitado, inclusive, o grau de sua veridicidade e inventividade (GAEN & HARAWAY, 2009). Estamos constantemente buscando formas alternativas para pensar as práticas de pesquisa do cotidiano. Por isso, a nossa praxiografia permite proximidades com a noção de figuração trabalhada por Haraway (2004). As figurações das práticas cotidianas permitem pensar sobre as múltiplas realidades, uma vez que não estamos buscando uma verdade absoluta, muito menos questionar o que é real ou não é real. E, mesmo diante dessa multiplicidade, estas não são alienantes, nem dão vidas a monstros ou quaisquer anomalias; não é esse o nosso interesse, e sim o de nos conduzir a um cotidiano não tão visitado, que 13 Utilizamos a metáfora de Mosaico apenas com o intuito de mostrar que os recortes dos incidentes em estudo compõem uma imagem que lembra um Mosaico. 79 incitem contínuas reflexões sobre actâncias de elementos não viventes, não/humanos, tão relevantes quanto os humanos, mas que por conta do antropocentrismo acabam passando despercebidos. Conforme o trabalho de Mol (2002a), as descrições são ―lentes de aumento‖ capazes de mostrar aquilo que foi vivenciado em campo, de tal maneira, que é sensível perceber os movimentos e ações de cada entidade estudada, ou seja, as descrições revelam que cada entidade estudada não se cristaliza e nunca está só. São múltiplas, relacionam-se, configuram topologia, podendo se arranjar com humanos e, na mesma medida, com não/humanos. Para Spink (2003), não há múltiplas formas de coleta de dados, mas múltiplas formas de conversar com as materialidades e sociabilidades em que buscamos entrecruzá-las, juntando os fragmentos para ampliar as vozes, argumentos, fotografias e possibilidades presentes. Na produção deste trabalho foram consideradas as múltiplas atuações dos objetos sociotécnicos que apareceram no cotidiano da pediatria do Hospital Escola como insumos para a tessitura de um escopo teórico-metodológico. Especificamente, trabalhamos as descrições das diversas versões emitidas pelas entidades que compõem as Tecnologias do Cuidado no cotidiano. Para isso, adotamos a noção de praxiografia, ou seja, de uma concepção do tipo etnográfica que enfatiza os diversos desempenhos das Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar (MOL, 2002a). O conhecimento da praxiografia transpõe os paradigmas que provocam separações entre entidades orgânicas ou inorgânicas, humanas ou não/humanas. Busca ser um caminho metodológico que favorece a coexistência entre actantes heterogêneos. Isto é, a ontologia de cada objeto que compreende uma prática não se trata de ontologia cristalizada, única, mas de versões, porque são decorrentes de muitas fricções entre os objetos ou simples adições, configurando assim, uma nova prática, enfatizando que cada prática é múltipla, ela não é fragmentada. Compreendendo, desse modo, performances [enactments] múltiplas de seus objetos sociotécnicos, atravessados por várias formas de coordenação, cada uma com padrões, tradução, posição, adição, inclusão e distribuições. Neste trabalho, enfatizamos que exercitamos a organização dos incidentes em estudos a partir da noção de coordenação, que é a adição por discrepância e não discrepância, assim como, coordenação por calibração (MOL, 2002a). 80 A primeira forma de coordenação por adição refere-se a acréscimos de relações. Ela se apresenta em duas variedades. Uma das formas de adição projeta um objeto comum por trás dos vários outros elementos que compõem uma nova relação. Se as projeções não se sobrepõem, uma delas é feita para prevalecer. Uma relevância temporária é estabelecida e a discrepância entre as relações são explicadas. A segunda forma de adição isenta-se de preocupações quanto às discrepâncias. Não sugere que as relações tenham um objeto em comum. Em vez disso, tomam as relações como sugestões para ação: uma relação ruim pode ser motivo para seguir determinada ação; duas ou três relações desse gênero dão mais razões para seguir a ação (MOL, 2002a). Uma segunda forma de coordenação é aquela da calibração das relações. Se os efeitos de uma ação foram ouvidos como se cada um falasse por si sozinho, eles podem ficar confinados em diferentes paradigmas. A questão se diferentes efeitos dizem a mesma coisa ou se dizem algo diferente não seria respondível – de fato mal poderia ser perguntada. A possibilidade de se negociar entre elementos distintos só surge graças aos estudos de correlação que ativamente os tornam comparáveis um com o outro. A ameaça da incomensurabilidade é combatida na prática se estabelecendo medidas comuns. Estudos de correlação permitem a possibilidade (nunca sem atrito) de traduções (Ibid.). A Praxiografia consiste em um ―fazer metodológico‖ no qual o pesquisador em exercício, encontra-se inserido no cotidiano da pesquisa, das Tecnologias do Cuidado e de seus objetos sociotécnicos. Estamos falando de uma ―maneira de investigar‖, isto é, de um ―modo de olhar‖ os actantes em pesquisa. Mas, diferentemente das perspectivas de observação que supõe o observador, a Praxiografia supõe uma pessoa que na posição de pesquisadora transita pelo local em estudo, participa de algumas de suas atividades, conversa com as pessoas que por ali circulam e descreve as práticas do local que a chamou atenção. Caracteriza-se por uma ênfase em acompanhar as práticas e seus efeitos (MOL, 2002a). A Praxiografia contempla o entendimento das necessidades de se visualizar não apenas rastros, mas a intensidade de como as movimentações de "actantes" selecionados para o estudo se dão (LATOUR, 1994), haja vista que as Tecnologias de Cuidado e seus objetos sociotécnicos estão em constante movimentação, conectando-se e se vinculando. Por isso, a Praxiografia, pela sua atenção a essa intensidade, mostra-se um aporte metodológico fundamental para lidarmos com as confusões, as bagunças cotidianas (MOL, 2002a; LAW, 2004). 81 A Praxiografia prevê a impossibilidade de fixar ―actantes‖, pois estes são entendidos como entidades inconclusas, abertas a novas conexões em decorrência da potencialidade em transformação que possuem. Tal postura metodológica pressupõe uma atenção constante às performances dos ―actantes‖ (MOL, 2002a; LAW, 2004; LATOUR, 2008). Aliando a Praxiografia como postura metodológica ao recurso dos incidentes críticos, isto é, aos nossos incidentes mosaicos, definimos que é aquilo que descrevemos não é representativo de uma série maior de eventos. São entendidos como eventos-chave que podem ilustrar aspectos que se deseja investigar, possibilitando micro-análises de determinadas práticas em estudo. Descrevemos pontos de acesso a arranjos – ―instantâneos‖ de modulações –, pois, de outra maneira, suporíamos uma concepção realista acerca da produção de conhecimento. Tendo em vista o caráter não representativo das situações analisadas, essas serão organizadas como fragmentos que não apresentam conexão causal entre si. Tratamo-las como fragmentos e como partes, pois não supomos qualquer totalidade a ser recomposta (GALINDO, 2003; GALINDO et al, 2009). 2. 1. Saberes localizados e multiplicidades Para Mol (2007) não existe uma só realidade, mas uma multiplicidade delas. E, para falarmos de uma realidade, não basta a colocarmos no plural, como se fosse vários olhares, vários pontos de vista acerca de uma mesma realidade, como se fosse o bastante para dar conta desta multiplicidade. Para a pesquisadora, a multiplicidade não pode soar como uma simetria de pluralidade; por pluralidade se aproximar de perspectivismo, não ajuda muito na compreensão do que seria a realidade, que, em última instância, seria Una. Falar da realidade como múltipla depende de outro conjunto de metáforas, ou seja, faz-se necessário deixar o perspectivismo e o construcionismo de lado e adotar a concepção de intervenção e performances, já que estas sugerem uma realidade que é feita e performada e não tanto observada. Em Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial (2005), Haraway, ao falar sobre realidade, defende a concepção desta ser múltipla, e por conta disso, seus atores e agentes não tolerarem demarcação de terrenos, 82 territórios ou de serem impressos como meros fragmentos inertes em uma tela. São como sugere Mol (2007), entidades abertas, inconclusas, como as autodenominam a própria tecnologia e política. Por isso, nesta dissertação fizemos existir diversas movimentações entre teorias conectadas ao cotidiano das sociomaterialidades que habitam o local em estudo. Quando ―performados‖, quando se declaram [enacting], os objetos sociotécnicos que habitam a pediatria não são apresentados como uma realidade dada, mas sim proliferam suas versões de materialidades que compreendem práticas de cuidado, que passam a existir, são criações que provém de um processo de produção, de montagem. Desse modo, a escrita deste texto não se pretende um todo coerente, mas um composto de incidentes mosaicos localmente compreensíveis. Fazemos existir um arranjo no qual a teoria e a experiência não se separam; pelo contrário, fabricam-se conjugadamente. É preciso sublinhar que o modo como essas descrições foram montadas declara a escolha feita por nós, para assim mostrarmos performances [enactments] de certa realidade, de um determinado saber local (HARAWAY, 1995; MOL, 1999). Colocar-nos diante do ato de conhecer implica em fabricação, burilagem, remontagem, além de uma permanente reinvenção de um método que venha do próprio cotidiano em estudo, isto é, dos arranjos sociotécnicos; e, por isso, que contempla a sua metamorfose, coletividade heterogênea, inconstância e multidimensão não totalizante (HARAWAY, 1995; STENGERS, 2002). Estas particularidades põem em xeque o modo de fazer ciência, de produzir conhecimento, até então enraizado no projeto iluminista, que é ao mesmo tempo racionalista e positivista. Sendo assim, entender o objeto como um composto de incidentes musivos, proveniente de arranjos, de conexões, que leva a erosão de conceitos tidos como ―pontos de passagem obrigatórios‖ da pesquisa científica moderna: sujeito e objeto, pesquisador inerte e distante, generalização e totalização, confirmação de uma verdade científica etc. (STENGERS, 2002; GERGEN & GERGEN, 2006). Haraway (1995) e Despret (2004) convidam-nos a pensar na possibilidade de construção de um conhecimento que se aproxime de um saber localizado, capaz de respeitar a multidimensão e coletividade, bem como a complexidade do que se investiga. Estamos 83 falando de um conhecimento que ―dá‖ voz ao híbrido, ao tido como ―frágil‖, ―afetivo‖. Como diria Latour (1994), ―ouvir‖ ou ser ―porta-voz‖ daquilo que foge a purificação ou qualquer reducionismo idealizado pela ciência moderna. Segundo Stengers (2002), pesquisadores afiam suas armas e vão à luta, em defesa de sua verdade ameaçada. Que verdade seria essa? No Ocidente, a ciência fala de verdades, ou melhor, em um conjunto de parâmetros que validam e certificam o conhecimento produzido, para que este seja um ―produto‖ exato, reto. Porém, escondem em seus porões as contínuas barbáries: testes em animais, que são dissecados e esquartejados em vida. Exalta-se e padroniza-se a figura do cientista como aquele que salva o mundo através de invenções imediatistas e totalizantes. Esquece-se de comemorar o processo do produzir ciência, que em si não é nada imediato. Perde-se a oportunidade de celebrar a vida nos estabelecimentos de pesquisa, e até mesmo a vida em meio ao processo de morte-morrer14, assim como os contínuos e vívidos arranjos sociotécnicos encontrados no cotidiano de um laboratório ou em qualquer lócus de estudo, de investigação, enfim, de pesquisa. À vida, resta apenas o silêncio. Tornando solene, entretanto, a obsessão pela autópsia e necropsia de órgãos e a observação de células e de moléculas de modo descolado do mundo, sem percebê-los como componentes de um arranjo social (HARAWAY, 1995; STENGERS, 2002; MOL, 2002a; DESPRET, 2004; HARAWAY, 2011). No cotidiano de nossa pesquisa, uma das enfermeiras compartilhou: Tem sido uma constante luta. Por vários motivos. Primeiro, nós funcionários do Hospital Universitário (HU) estamos passando por uma fase de desmotivação. Não pelo serviço que temos que realizar, mas pelo descaso, pelas angústias que tem acontecido no sistema como um todo. Então, assim, está faltando muito material, está faltando muitos equipamentos. Materiais que vem de má qualidade, e que você luta, que você briga para que se mude. Você fica aguardando a anuência de outros setores quanto a mudar o material, por conta do material não servir, por estar dando muito problema. Aí você fica na insistência até que alguém lá de cima (da administração) nos atenda. Alguém para nos ajudar está sendo muito mais complicado a cada dia. O mesmo acontece quando você pede um material X. Equipamentos, nós trabalhamos sem equipamentos de emergência de verdade. Temos falta de alguns materiais em 14 Segundo um estudo de enfermagem, este processo teria múltiplas concepções, entre elas, a que seria resultante de uma construção social, histórica e cultural (SILVA; RIBEIRO; KRUSE, 2009). Segundo Menezes (2010), o processo morte-morrer é um processo que vincula um ―morrer bem‖, ―com dignidade‖. Fala-se também, da produção de uma morte humanizada, e que esta passou atualmente a ser objeto da atenção de profissionais de cuidados paliativos. Revelando que o processo interpela pela necessidade de uma assistência espiritual aos doentes e a seus familiares. Onde o tema sobre o processo da morte está envolto por dilemas que se apresentam, na prática, entre todos os envolvidos (médico- paciente-familiares-equipe). Os quais parecem estar vinculados à diferentes valores e religiões. 84 situações de emergência para a criança aqui. Não que não fazemos a assistência, fazemos... Fazemos tudo o que pudemos pela criança. Mas se eu e minha equipe tivéssemos os equipamentos certos, no momento certo e na hora certa, não passaríamos pela angústia, que muitas vezes passamos. Por quê? Porque está faltando materiais para que o nosso trabalho fosse melhor realizado. A angústia seria menor. Então, essa falta de equipamento, essa falta de estrutura física no hospital. A manutenção das coisas. Então, isso é o que leva a muitos funcionários a ficarem extremamente desmotivados. Enquanto eu não estou. Digamos que eu esteja numa fase assim, da minha vida que eu estou vivendo o hospital. Vivendo o hospital plenamente. Até brinquei esses dias com o pessoal que a minha vida hoje é a pediatria do Hospital. Eu estou aqui no Estado única e exclusivamente para trabalhar no Hospital Escola. Então, eu tenho um gás para sentar, para correr atrás das coisas, para tentar resolver os problemas da clinica. Ao mesmo tempo, a me colocar no lugar das mães das crianças para tentar entender a família, a criança, para assim realizarmos a assistência dessa criança, dessa família. Mas nem sempre é assim com os demais colegas, que muitas vezes não são exclusivos, ou não se colocam como exclusivos do hospital. (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). Desafios para se fazer pesquisa em meio à carga horária, escassez de materiais, dupla ou tripla jornada de trabalho, mudanças necessárias para a real efetivação da carga horária de serviço de 12 X 60 horas15, falta de engajamento científico generalizado ou de se perceber em um composto tecnocultural. Entretanto, a enfermeira Tamires16 acende uma luz, quando ela mesma identifica na pediatria: (...) graças ao incentivo de docentes da Faculdade de Enfermagem da Universidade Pública, muitas das técnicas de enfermagem fizeram nível superior, e, apesar de não exercê-los, o experimento de se realizar uma pós-graduação, já faz um diferencial entre as funcionárias, bem como desta clínica em relação às demais. Esta é uma das clínicas com funcionárias com menos falta, onde as prescrições de enfermagem são realizadas pelas enfermeiras utilizando, inclusive o sistema de prontuário eletrônico, e, a seguir, os impressos são checados corretamente pelas técnicas de enfermagem. Assim, como a constante participação de professores com projetos dentro da pediatria desde sempre. Estas são consideradas pela Enfermeira Tamires, como verdadeiras parceiras da equipe de enfermagem da Pediatria! (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). A presente pesquisa aposta em um modo de construção de um método que se distancia da investigação urgente, que produza rupturas com a ―velha‖ rotina arraigada à hegemonia masculina e machista de se fazer pesquisa, ou de separatismos entre o ―fazer ciência‖ e ―não ciência‖, inaugurada pela modernidade (HARAWAY, 1995). Contrariando, portanto, o pensamento moderno, a pesquisa se desenvolve na tentativa de configurar uma praxiografia 15 Refere-se à redução de carga horária de 40 para 30 horas semanais do Projeto de Lei 2295/2000 (site: http://www.portaldaenfermagem.com.br/30-horas.asp), que regulamenta a Jornada dos Profissionais de Enfermagem. Na prática seria trabalhar 12 horas e folgar dois dias. Foi adotada pela reitoria da Universidade junto com o Conselho Gestor do HU. 16 Nome fictício, com o intuito de manter o sigilo da participante da pesquisa. 85 dos arranjos sociotécnicos, tendo este objeto como um permanente produtor de eventos (MOL, 2002a). Trazemos conosco instrumentos (descrições das visitas de campo como um aparato, inventários dos objetos seguidos, atividades das idas e vinda à pediatria), assim como aparatos particulares (óculos de sol e de grau, mochila, chapéu, blusa de manga longa – que serão melhores declarados no capítulo 4) para deslocamento e trabalho em campo e também para nos ajudar na montagem de nossos incidentes. Fizeram parte de nossos instrumentos de campo: diário de campo para anotação descritiva de nossas andanças (APÊNDICE D), gravador digital e as entrevistas, máquina fotográfica e fotografias, um mapa de atividades (por onde andei, com quem eu falei, o que fiz e por quanto tempo) (APÊNDICE A); para análise construímos um inventário dos objetos (funções iniciais e funções diversas efetivadas por cada objeto) (APÊNDICE B) e Desenhos do tipo Praxiográficos, que serão descritos no capítulo das ―Andanças pela Pediatria‖. Nas narrativas de cada ―andança‖, cada objeto perseguido ficou nomeado conforme dia de andança e linhas que falam sobre ele (ex: Itinerário 1, Linha 2 a 4: IT.1. L2-L4) para recortes e análises, passando à nomeações definitivas: Andanças nº x, quando houve apenas descrições ou Andanças nº y, mais nome fictício do participante, quando houve fala de um participante da pesquisa. O mapa das andanças, o inventário dos objetos e os desenhos praxiográficos são instrumentos que foram montados após conversarmos com o grupo TECC sobre as primeiras experiências de campo, lidando com as ―incoerências ou bagunças sociotécnicas‖ que acontecem no cotidiano da pediatria (LAW, 2004). Enfatizamos que estes foram de suma importância para a composição da narração de nossa pesquisa. As descrições foram compostas de modo a explicitar os diversos incidentes críticos, isto é, os diversos atores que se encaixam de modo único, as múltiplas partes que se aproximam e se conectam de maneira ímpar. Já não nos restringimos à superfície de uma tela ou à arte de pintar quadros, parafraseando o poema escrito pela enfermeira Florence Nightingale (NIGHTINGALE, 1946), mas sim de ―praxiografarmos‖ incidentes mosaicos17, 17 Para saber mais sobre Arte do Mosaico: O Mosaico, conhecido também como técnica musiva, é uma montagem de pequenos fragmentos de materiais como pedras, azulejos de várias cores, pastilhas, cacos de vidro – os mais usados –, conchas, papéis, botões, plásticos, couros, grãos de alimentos e outros mais, denominados tesselas, sobre planos anteriormente dispostos para este fim, resultando em figuras. A expressão ―mosaico‖ provém do grego ―mouseîn‖, mesma raiz que originou o termo ―música‖, o que mantém um ritmo, é também a mesma raiz da palavra ―musas‖. A prática musiva é proveniente da antiga Grécia e do Império romano. Seu 86 ou seja, de juntarmos recortes de descrições, as quais configuram ilustrações das ações de cuidado. Declaram-se não apenas na superfície de um corpo, ou em uma tecnologia, mas em uma superfície híbrida entre ambos. Sendo assim, temos como atravessamento as potencialidades dos incidentes críticos/incidentes mosaicos. É a partir destes apostamos na construção de ilustrações capazes de configurar as performances18 [enactments] das Práticas de cuidado que habitam a pediatria do estudo. Encontramos muitas possibilidades e formas de estudar as Tecnologias do cuidado (MOL, 2002a). Esta constatação nos levou a entender que nosso objeto de pesquisa possui uma especificidade que se traduz por um contínuo movimento, ou seja, por um constante processo de confecção. As Práticas de cuidado envolvem articulações, as quais podem se processar ora intencionalmente ora ao acaso, fazendo com que sejam verdadeiras produtoras de múltiplas realidades locais (HARAWAY, 1995), portanto, arranjos locais, singulares, nunca neutros, propósito técnico é de ocupar superfícies diversas, como tetos, chão, pisos, paredes e também, atualmente, esculturas. Por serem muito duradouros, os mosaicos são chamados de pinturas para a eternidade. Os próprios sumérios deram início a esta prática na Mesopotâmia, por volta de 3.000 a.C. Suas produções tinham influências do modo como se confeccionava tapete, por isso eram simétricas a estes, sendo muitas vezes do tipo geométricas. Os mosaicos são encontrados especialmente na Itália, no Egito, na Macedônia – hoje ocupada pelos territórios da Grécia, Iugoslávia e Bulgária –, China e outros países. Uma era histórica que muito cultivou a técnica musiva foi o Renascimento, período no qual se destaca a edificação da Basílica de São Pedro. Posteriormente o artista catalão Gaudi rompeu com as convenções desta técnica e foi o responsável pela criação dos mosaicos em Barcelona. Exemplos de mosaicos são os resgatados nas ruínas de Conímbriga, provavelmente compostos em II d.C., em Portugal, antigo domínio da Roma Antiga; os da villa romana de Torre de Palma, mais ou menos do mesmo período, também em terras portuguesas. No Brasil, temos o calçadão de Copacabana, podemos encontrar numa possível combinação de pisos e azulejos em algumas casas. E, até mesmo, em certas gravuras do holandês M. C. Escher (BIGGS, 2004). Ainda no Brasil, segundo o jornalista e mosaicólogo Gougon, o Mosaico é confeccionado por indígenas utilizando penas, reconhecidos como ―arte plumária‖ na forma de cocares, mantos e ornamentos. Os povos pré-colombianos usaram pedras como topázios, esmeraldas, turquesa e também madrepérolas para revestir caveiras, objetos cerâmicos, objetos de madeiras em forma de serpente e artefatos variados. (http://mosaicosdobrasil.tripod.com/). 18 A pesquisadora se identifica como uma filósofa do empirismo, por isso como termo alternativo para estudar casos empíricos, adotou o termo enactment. Utilizando dentro da teoria ator rede, ela lança mão do termo enactment para contar sobre como os objetos e entidades se fazem real dentro das práticas hospitalares. O termo enactment descreve como as entidades são constituídas através de complexas relações em redes de atores e actantes, humanos, bem como agentes não/ humanos. A palavra ―performance‖ tem várias conotações que a prende a necessidade de encenar algo estudado previamente, a um possível roteiro a ser seguido, requer um palco onde algumas entidades ficam em destaque em detrimento de outras. Mas se a palavra ―performance‖ for substituída por ―enactment‖, obtemos uma metáfora que permite que todas as entidades de um enredo atuem com toda a sua potência, sem bastidores, não havendo uma realidade escondida a ser revelada. Esta seria uma palavra que não sugere uma totalidade em demasia. Da língua inglesa enactment possibilita dizer que nas práticas cotidianas, os objetos são enacted. Essa palavra não tem uma tradução fiel para o português que se aproxime do que se pretende para os estudos praxiográficos. Mas em si, ela deve ser lida de modo que leve a entender que as práticas estejam acontecendo, que os objetos se mostrem declarantes, atuantes, arranjando-se, relacionando-se. Também sugere que, no ato, e apenas lá naquele local e naquele momento, algo está sendo enacted. Por isso, quando falarmos em perfornances, é necessário aproximá-la da noção de enactment (MOL, 2002b). 87 sendo também, duvidosos em determinado momento. E, por conta da identificação destas características, não podem ser descritos como genéricos ou totalizantes. Em face às ações que nos apresenta, resta-nos descrever as variações e seus diferentes ordenamentos (MOL, 2002a). 2.2. Os Incidentes Críticos O que seriam incidentes críticos? Estes podem ser definidos como eventos que dão visibilidade às diferentes posições de atores sociais situados em uma controvérsia e às possibilidades de negociação entre eles. As controvérsias são momentos privilegiados para visualizar os atores humanos e não/humanos situados em redes, uma vez que rompem o habitual exigindo que os diferentes atores se posicionem e sejam posicionados pelos demais. Estamos chamando de controvérsias a contestação de sentenças ou fatos tidos como verdadeiros, que mobilizam atores, arregimentam recursos e participam da construção de fatos (LATOUR, 2000). Simétrico ao termo, preferimos utilizar incoerências, por estarmos lidando com entidades de ontologias distintas, que, por determinado momento, conjugam e promovem múltiplas performances [enactments] (MOL, 2002a; MOL, 2007). Quando se trata de performances, entra em cena um ator coletivo, um ator-rede, que em nosso estudo chamamos de actante ou objeto sociotécnico, o qual não pode ser reduzido nem aos atores individuais nem aos arranjos sociotécnicos que compõem. A noção de rede aqui, apesar de ser utilizada por Galindo (2002), foi repensada por nós, da qual temos percepção do risco em adotá-la. Esta compreende conjunções heterogêneas, porém, traz consigo uma imagem clássica de redes como algo organizado, facilmente visualizado. E, no entanto, as sociomaterialidades constituem arranjos, que, na maioria das vezes, são incoerentes, inicialmente bagunçados, inesperados (LAW, 2004; SPINK, 2009). Assemelham-se às redes por possuírem múltiplas entradas e por serem caracterizadas pela presença de subconjuntos restritos que apresentam fatores e relações de interferências entre si (LAW, 2000). Os arranjos se tornam visíveis por meio de incidentes que nos conduzem não por um emaranhado de fios e nós, mas por conexões, por intensidades que os atores técnicos e sociais compõem. E, como referido por Galindo (2002), ao longo de uma controvérsia – no nosso caso, referente às incoerências – as posições dos atores se definem por aquilo que fazem, sendo 88 considerados atores tanto os humanos como os não/humanos. As controvérsias ou incoerências correspondem a estudarmos os momentos de intensidade das relações que sustentam os arranjos sociotécnicos, conferindo-lhes uma aparente autonomia: atores, ações e conexões. Galindo (2002) apoia-se em estudos da Psicologia Discursiva para compreender as controvérsias, ou, como preferimos chamar, as incoerências. Segundo a pesquisadora, as incoerências requerem que saibamos mais sobre as posições de pessoas, assim como de não/humanos. Ela recupera a noção de posicionamento, e, em seguida, amplia-a no sentido de incluir também atores não/humanos, contemplando às materialidades que também participam dos arranjos relacionais. No dia-a-dia, as pessoas descobrem a dimensão e a aplicação das regras apenas quando as colocam em prática, descobrindo que tais regras podem não ser adequadas quando aplicadas; podendo funcionar, inclusive, de maneira insuficiente. Eis o momento em que as regras podem vir a gerar estranhamentos em relação à organização habitual do cotidiano. Nota-se que estão sendo negociados novos posicionamentos na relação. O momento ideal para estudar as posições dos atores em exercício, os Incidentes, seria quando o fluxo cotidiano habitual se rompe. Ou seja, nos momentos de reordenações, de modulações, ou ainda, no instante em que houve alguma transformação. Há várias possibilidades para o emprego de incidentes críticos como recurso na pesquisa, e para exemplificação, mencionaremos os estudos de Galindo (2002) e Bernardes (2004). Um incidente crítico pode ser uma mobilização de atores em torno de determinados fatos científicos ou políticas públicas na área da saúde, como foi encontrado em Galindo (2002), que visou analisar o uso de dados científicos como argumentação. Em seu trabalho, os incidentes críticos foram definidos como eventos-chave que ilustram aspectos que se deseja investigar, funcionando como possibilidades de micro-análises para vislumbrar processos de construção de sentido sobre determinado acontecimento. Portanto, incidentes críticos em seu estudo são ilustrações. Bernardes (2004) buscou analisar documentos de domínio público a partir dos discursos encontrados durante a pesquisa. Mais especificamente, examinou o debate atual sobre a formação em Psicologia no Brasil. Trabalhou com os incidentes críticos como modo de seleção dos documentos para análise. Como auxiliares para a identificação de incidentes críticos, o autor contatou os profissionais envolvidos na discussão sobre a formação em 89 Psicologia, os quais o auxiliaram na identificação dos incidentes. O emprego de incidentes críticos por Bernardes foi para identificar documentos cuja produção levaria à resolução de controvérsias ou de qualquer incoerência. Nos dois exemplos citados, a análise de incidentes críticos não coincide com o estudo dos grandes eventos ou documentos considerados importantes; pode coincidir com momentos ou documentos que, do ponto de vista da história de uma área, pareçam mesmo banais. E é isto que nos interessa, pois nosso estudo é pontual, focalizado e localizado; seriam ações que habitualmente passariam despercebidas, já que são corriqueiras mesmo insignificantes no local. A essas insignificâncias demos o nome de cacos narrativos ou incidentes mosaicos. Como veremos mais a frente, a conjugação destes compuseram diversos mosaicos, as Tecnologias do Cuidado (GALINDO, 2003; BERNARDES, 2004). Em função desse processo de seleção e montagem dos incidentes críticos, Galindo (2003: 09) sugere três cuidados metodológicos: 1. evitar que os eventos selecionados sejam tomados como representativos de uma série maior de eventos. Estes podem apenas ser vistos como ilustrativos de um certo processo de construção de sentido, mas não representam, o que exigiria uma análise de significância; 2. os critérios utilizados para seleção de cada evento crítico devem ser expostos com clareza, deixando ao leitor margem para crítica. Não havendo critério inequívoco para sua seleção, o rigor repousa na visibilidade do processo de interpretação; 3. o uso de tal recurso é indicado, sobretudo, quando se pretende fazer micro-análises dos eventos selecionados. Pode funcionar como um momento de desfamiliarização inicial ou constituir o foco do trabalho. 2.3. Incidentes Críticos e os Incidentes Mosaicos Incidentes críticos referem-se à identificação de momentos tensos, porém tais momentos são concernentes aos estudos de fragmentos em destaques de documentos em estudo. Quando falamos em estudar incidentes mosaicos, estamos falando de uma derivação dos incidentes críticos, a partir dos quais estudamos fragmentos, instantes efusivos das performances das sociomaterialidades que habitam uma determinada topologia; neste caso, 90 estamos falando de estudos pós-descritivos de sociomaterialidades do cuidado com os quais trombamos ao andarmos pela pediatria. Então, partindo de algumas características dos incidentes críticos, bem como da noção de montagem de imagens proveniente da geometria e topologia da prática musiva, temos os incidentes mosaicos. Incidentes que compreendem os estudos de arranjos de objetos sociotécnicos que, de certo modo, ao se conectarem se apresentam como configuradores de tecnologias do cuidado. E, a cada instante, essas conexões são inéditas, e assim como os mosaicos, configuram imagens impares e incidentes críticos. Os incidentes mosaicos compreendem a potencialidade de transposição de tensões entre objetos sociotecnicos, e ao final dessa resolução, levam a uma mediana estabilidade, como a configuração inédita de uma tecnologia do cuidado; produção de seu próprio roteiro, sinalização das tecnoculturas que são fabricadas a partir de suas performances/declarações [enactments]. Aos incidentes críticos entende-se que podem estar vinculados documentos ou acontecimentos que pareçam insignificantes do ponto de vista histórico. Para os incidentes mosaicos, buscamos analisar praxiograficamente as actâncias de objetos sociotécnicos que se mostram fabricantes de cuidado. Neste caso, promoção de saúde a partir de modulação de afetos e reordenações das espacialidades (GALINDO, 2002). Como os Incidentes Mosaicos são uma derivação dos Incidentes Críticos, fizemos, a seguir, uma relação de proximidades entre ambos com o intuito de mostrar uma continuidade dos Incidentes Críticos nos Incidentes Mosaicos ao invés de apontar oposições entre eles. 1. Os Incidentes Críticos trabalham com pontos de ―controvérsias‖ em documentos ou eventos selecionados. Já nos Incidentes Mosaicos passamos a buscar as ―incoerências‖ das práticas diárias nos Diários das andanças (pós-descrições); 2. Para os Incidentes Críticos os eventos estudados, composto por humanos e não/humanos, são denominados ―ilustrações‖ ou presentificações. Nos Incidentes Mosaicos permanecemos com a denominação ―descrições‖, ―incidentes‖, também compostos de humanos ou não/humanos; 3. Os Incidentes Críticos consideram os humanos, assim como os não/humanos, como entidades ―actantes‖, de ―ação‖, ou ainda, que performam. Para os Incidentes Mosaicos, 91 seguimos realizando a utilização desses termos. Entretanto, Performance passou a ser utilizada com mais cautela, sempre com a noção de [Enactment]; 4. Em Incidentes Críticos, trabalhou-se muito com a noção de ―desembrulhar redes‖, com a noção de ―dobras‖, haja vista a tentativa de superar a noção clássica de redes. Sendo assim, nos Incidentes Mosaicos demos continuidade nos estudos que consideram rede uma noção um pouco arriscada; por isso, preferimos adotar as seguintes palavras: arranjos, conjugações, encaixe por aproximação, ligações, conexões; 5. Tanto para Incidentes Críticos quanto para Incidentes Mosaicos, conforme comentado anteriormente, mantemos o cuidado em lidar com ―a não representação de um todo; são análises de significâncias‖; 6. Como derivação dos Incidentes Críticos, os Incidentes Mosaicos também são acontecimentos, ligações ou conexões ―momentâneas‖, são vínculos transformadores; 7. São ―mutáveis‖; 8. Realizam ―ruptura com o habitual‖; 9. São provenientes do Cotidiano, dos saberes localizados; 10. São multidimensionais, mas nos Incidentes Mosaicos adicionamos a noção de ―topologia‖, ―geografia‖; 11. Ambos trazem a noção de ser necessário lidar com os eventos, com os objetos, com as práticas cotidianas em estudo como entidades ―não familiares por alguns instantes‖; 12. Nos Incidentes Críticos trabalhamos com ―microanálises de documentos e eventos‖, já nos Incidentes Mosaicos permanecemos com ―microanálises‖. Entretanto, ―microanálises‖ de versões de um mesmo objeto (objeto conhecido), que em arranjo tem como efeitos de interferências: modulação de afetos e/ou reordenação de espacialidades (habitabilidade). Surgindo também incidentes emissores de Efeitos do tipo Humanização em Saúde por artefatualidades, o que nos permitiu estudar as diretrizes de Humanização em Saúde: acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo; 92 13. Para os Incidentes Críticos, o pesquisador e seus auxiliares realizaram coletas de fragmentos dos eventos e documentos que aparentemente seriam ―insignificantes‖. Nos Incidentes Mosaicos também permanecemos trabalhando com algo pontual, aparentemente insignificante, porém, os ―incidentes‖ são provenientes de uma confecção do tipo ―artesanal‖. Por isso adicionamos a noção de ―artífice‖, de um artífice do tipo ―mosaicista‖, pois trabalha com mosaicos, ainda que textuais. Este que pacientemente burila as minúcias entendidas como ―insignificantes‖. 2.4. Sobre a ética dialógica Nossa pesquisa encontra-se fundamentada em uma ética dialógica, a qual considera a competência ética dos envolvidos; a possibilidade de estabelecimento de parcerias e de uma relação de confiança entre o pesquisador e os interlocutores; a busca pelas relações de poder horizontais; e a garantia do anonimato como condição de possibilidade para o desenvolvimento da pesquisa. Trata-se, portanto, de um compromisso no qual se pensa pesquisa como uma prática social; há a preocupação em se garantir a visibilidade dos procedimentos de busca de incidentes e análise destes. E, por fim, se aceita a dialogia como intrínseca à relação que se estabelece entre pesquisador e participantes (SPINK & MENEGON, 1999). Sendo assim, nesta pesquisa além de seguirmos a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996) – pois foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) de um Hospital Universitário de uma Universidade Pública, estando o parecer aprovado, sob o protocolo nº 079/ CEP-HU/ 2011 (ANEXO C) – mantivemos o compromisso conforme os itens aprovados pelo CEP vinculados a uma ética dialógica. Foram os seguintes aspectos respeitados: sigilo e confidencialidade, critérios de exclusão e inclusão que lidam com a especificidade da pesquisa com crianças internadas, assim como os termos de consentimento dirigidos aos cuidadores e equipe de saúde. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi apresentado em linguagem acessível a todas as pessoas antes do início das atividades que envolveram as descrições praxiográficas, sendo explicitados os objetivos, método e aplicações dos resultados. 93 O termo de consentimento é um documento recomendado por declarações internacionais, códigos de ética e resoluções e leis específicas, para ser utilizado na prática cotidiana em saúde e na realização de pesquisas envolvendo seres humanos (MENEGON, 2004: 845). Aproveitamos para pensar sobre o Termo de Consentimento, uma vez que a literatura consultada aponta que existem diferentes compreensões sobre determinadas práticas a se pesquisar e, que muitas vezes, as exigências do CNS 196/96 não contemplam as necessidades das pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, assim como as realizadas pela Enfermagem, pois que esta última produz trabalhos que se aproximam ou encontram-se vinculados às Ciências Humanas e Sociais. Tais exigências têm concepção racional, que, geralmente, são voltadas para as Ciências Exatas e Biomédicas, as quais acabam forçando os estudos das Ciências Humanas e Sociais e da Enfermagem, às adequações de terminologias e escrita para poder realizar pesquisas envolvendo seres humanos, por exemplo, ao realizarem um estudo de caso (MENEGON, 2003). Por isso, de um lado, o Termo de Consentimento significa um processo que humaniza as relações, tanto por significar respeito pela autonomia de pacientes como por se constituir em proteção aos profissionais, emergindo assim como uma estratégia de gestão das relações e das técnicas empregadas. Por outro lado, é compreendido como uma prática ambígua e problemática, cujas dificuldades parecem aumentar com a complexidade do aparato biomédico empregado, principalmente ante a assinatura de um documento, pois não estão incólumes às falhas quanto às questões que envolvam as complexificações biomédicas. Em especial, no que se refere à separação do psicossocial e as tecnologias, as quais, paradoxalmente, encontram-se constantemente vinculadas, contrariando as dicotomias dos Termos de Consentimento atual. Portanto sugerimos, ao empregá-la em nosso trabalho, repensar a documentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, já que temos como intuito buscar melhores documentações éticas, cuja principal preocupação da mesma, seja entender as linguagens sociais utilizadas nos trabalhos, com atenção especial à linguagem dos riscos e suas implicações para a relação entre humanos e tecnologias estudadas (MENEGON, 2003). Para cada categoria (Cuidador e Equipe de saúde) foi apresentada um TCLE específico (ANEXOS A e B). Sobre a autorização da criança, foi feita de maneira prescritiva, 94 de modo oral, permitindo-lhe a recusa de continuar participando em qualquer momento da pesquisa. Às crianças alfabetizadas, permitimos, inclusive, assinar o termo do Cuidador, sendo o documento, portanto, de valor para ambos, criança e cuidador. Uma cópia ficou em posse do pesquisador e outra do sujeito participante da pesquisa. Pensamos na manutenção da relação com os participantes da pesquisa, o sigilo e a confidencialidade quanto à identidade dos sujeitos da pesquisa, que será garantida por meio da preservação do anonimato durante a análise e publicações subsequentes. Além disso, nas publicações e apresentações, os sujeitos receberão codinomes que não evoquem seus nomes originais e/ou as iniciais dos mesmos. Ficamos à disposição dos participantes quanto ao acesso em qualquer etapa do estudo ao que estava sendo realizado, do mesmo modo aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas, assim como foram informados de que poderiam desistir de participar ou ceder informações a qualquer momento da realização da pesquisa. A pesquisa realizou-se com um total de 23 participantes. E, referente à equipe de saúde, temos: uma (1) professora-enfermeira; três (3) enfermeiras; uma (1) atendente de enfermagem com desvio de função para limpeza de mobiliário; uma (1) auxiliar de enfermagem com desvio de função atuando como recreadora da brinquedoteca; e sete (7) técnicos de enfermagem. Das enfermeiras participantes, duas eram do período diurno e uma do período noturno. Ainda sobre os integrantes das equipes de saúde, duas (2) técnicas de enfermagem trabalhavam no período noturno, e as demais no período diurno. Sobre o número de acompanhantes (cuidadores) e crianças tivemos cinco (5) cada. Sobre os cuidadores que participaram de nosso estudo, constituíram-se de pais ou responsáveis, que estiveram acompanhando uma criança hospitalizada na pediatria. E eram maiores de 18 anos, podendo ser ou não alfabetizados. Aos selecionados foi relevante a compreensão da língua portuguesa. Como critérios de participação ou não dos cuidadores convidados para a pesquisa vale salientar: Foram incluídos pais ou responsáveis que participaram ou acompanharam a criança hospitalizada em atividades na brinquedoteca ou no projeto de informática e cidadania, que consentiram previamente assinando o Termo de Consentimento Livre e esclarecido; 95 Para seleção dos cuidadores ou responsáveis foi utilizado como critério a presença destes por períodos continuados nos cuidados, sendo excluídos aqueles que participaram apenas incidentalmente. Foram entrevistadas quatro mães (4), houve uma conversa informal com um pai, o qual delegou a responsabilidade da assinatura do termo a sua esposa. Além de realizada uma conversa e entrevista com um pai de uma criança adotiva. Sendo 29 anos a idade do responsável mais novo e 51 anos a do mais velho. Na maioria, donas de casa, dependentes do cônjuge, ou trabalhadores assalariados. Referente às crianças que participaram da pesquisa, incluímos crianças de ambos os sexos; as idades não ficaram previamente definidas, mas verificamos que participaram crianças de 1 ano e 7 meses à 13 anos de idade, que estiveram hospitalizadas na pediatria do Hospital Universitário (HU), e que cujos pais e/ou responsáveis consentiram em seu ingresso na pesquisa. As com idade escolar, muitas vezes com alguma condição crônica de saúde, encontravam-se afastadas da escola. Em sua maioria, os participantes da pesquisa foram crianças com alguma condição crônica de saúde, em destaque para as crianças com alguma modalidade de alteração renal, por exemplo: Síndrome Nefrótica. Assim como crianças com problemas pulmonares crônicos. As demais crianças estiveram ligadas à cirurgia de remoção e/ou correção ou procedimentos invasivos do tipo biópsia. Sobre o tempo de internação, variaram entre 8 a 62 dias sequenciais. As crianças foram respeitadas quanto ao seu direito de recusar a participação na pesquisa mesmo existindo um consentimento prévio dos cuidadores e responsáveis. Ao serem questionadas sobre a participação na pesquisa, algumas crianças permitiram observações e que seus acompanhantes falassem sobre elas, entretanto, negaram-se a conversa ou entrevista gravada. Uma criança apenas consentiu entrevista, conversa informal e observações, tanto dela quanto de sua mãe. Vale ressaltar que antes da realização de qualquer atividade de pesquisa com as crianças, a equipe de saúde responsável foi consultada sobre a presença da pesquisadora no local para a atividade específica, neste caso, o convite para a pesquisa, para a realização de entrevistas gravadas e conversas ou observações. Como critérios para participação na pesquisa, elencamos os seguintes: 96 Participaram apenas as crianças hospitalizadas na pediatria do HU que acessaram a ―Brinquedoteca‖ e/ou participaram das atividades do ―Projeto Informática e Cidadania‖; Não participaram da pesquisa crianças que não estiveram internadas, ou seja, que apenas visitaram temporariamente o local, bem como aquelas que estiveram sob o cuidado ambulatorial. Pensando no bem-estar da criança, nenhuma foi retirada de sua rotina, e procuramos não interferir nas práticas de cuidado hospitalar. As atividades de pesquisa realizadas foram, preferencialmente, em presença dos pais e/ou responsáveis. Não houve nenhuma intercorrência de saúde; entretanto, acessamos o campo de pesquisa ciente de que isto poderia ocorrer. Da equipe de saúde foram incluídas na pesquisa as técnicas da equipe de enfermagem que trabalham na pediatria em atividades de atenção à saúde de crianças hospitalizadas e que acessam os serviços da brinquedoteca e/ou do Projeto Informática e Cidadania. Como critérios de inclusão e exclusão, utilizamos os seguintes: Participaram da pesquisa apenas técnicas de enfermagem vinculadas à Pediatria e que atenderam as crianças que acessaram a ―Brinquedoteca‖ e/ou o Projeto Informática e Cidadania; Não participaram alunos de graduação presentes na Unidade Pediátrica. Não participaram funcionários de outros setores que não tinham vínculo com atividades da Brinquedoteca e/ou do Projeto Informática e Cidadania. Sobre as técnicas de enfermagem: Equipe diurna – Uma funcionária com vínculo efetivo e único HU, possui curso de esteticista, porém não exerce; uma funcionária com vínculo efetivo e único HU, possui formação em Biologia, porém não exerce; uma funcionária com vínculo efetivo e único HU, sem formação superior, mas trabalha na área alimentícia como autônoma (venda de marmitas); há uma funcionária com vínculo por contrato com HU e possui vínculo com o Estado, que também trabalha no Hospital Psiquiátrico do município; há três funcionárias 97 sendo uma com formação em nível superior e duas que não são exclusivas do HU; há uma funcionária com vínculo efetivo e único HU, mas que já tem aposentadoria (por serviço anterior na enfermagem); há outra funcionária, sem formação superior, com vínculo com HU por contrato e único; há uma funcionária que cursa Enfermagem, possui vínculo efetivo HU e Estado; e há uma funcionária com graduação em enfermagem, que, porém não exerce a titulação, atuando como técnica de enfermagem com vínculo efetivo e único HU. Equipe noturna – Há uma funcionária com vínculo efetivo e único HUJM, possui formação em direito, mas não exerce por não ter passado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); outra com formação em pedagogia, mas não exerce, é efetiva do Estado; há uma funcionaria que é efetiva do HUJM e também trabalha no Estado; há uma outra funcionária que é efetiva HU, mas que trabalha no Hospital e Pronto Socorro do Município tendo vínculo neste também – no entanto, não foi possível saber se possui formação em nível superior ou não; há outra funcionária que é efetiva HU e que trabalha no hemocentro (Estado), sendo efetiva deste – também não obtivemos informações sobre sua formação extracurricular; a pediatria também possui uma funcionária efetiva e aposentada pelo Estado, finalizando o último semestre de enfermagem, com vinculação única com HU; possui uma funcionaria com formação em Assistência Social, que, entretanto, não exerce a profissão na qual é graduada; há duas funcionárias contratadas, vínculo único, cursando enfermagem, sendo que uma tem vínculo com um município próximo; e, por fim, uma funcionária aposentada como pedagoga pelo Estado. 2.5. Sobre interrupções das entrevistas e conversas Houve necessidade de interrompermos imediatamente nossas atividades apenas diante da falta de funcionários na Clínica, e após conversar com as enfermeiras do plantão, privamos pelos cuidados da Clínica Pediátrica lotada, não realizando entrevistas com a equipe de enfermagem no período, aproveitando para fazer entrevistas com cuidadores de crianças estáveis, situações mais frequentes no período noturno. E, como a pesquisadora responsável por esse trabalho de pesquisa é enfermeira, pôde, inclusive, compreender as minúcias e prioridades, as conturbações da clínica, conforme suas competências como profissional de saúde em enfermagem. 98 CAPÍTULO 3 UM HOSPITAL ESCOLA À medida que documentos e conversas gravadas nos contam de um hospital, sentimo-nos mais curiosas para andar por seus espaços e conhecer os seus objetos sociotécnicos do cuidado. 99 O Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) e a assistência diferenciada encontrada em sua pediatria serão contados brevemente neste capítulo. Tomamos como actantes desta história, fragmentos de entrevistas e informativos encontrados em sites do Hospital Universitário, da Universidade Federal de Mato Grosso, da Acessoria de Comunicação do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso e do Conselho Regional de Mato Grosso (COREN-MT), portanto, páginas ―regionais‖ online, assim como trabalhos que descrevem versões sobre o contexto do período de implantação do hospital, bem como incidentes orais provenientes de uma conversa 19 concedida por uma professora-enfermeira sobre sua vivência no hospital e na pediatria, que aconteceu, segundo ela, um pouco após o contrato de cessão do Hospital à Universidade Federal de Mato Grosso. A seguir, destacamos algumas narrativas da docente e enfermeira que nos situam sobre os primórdios da pediatria, ou melhor, sobre sua estrutura física, administrativa e assistencial, que desde o início configuravam um sonho em cuidados de enfermagem quando comparada à que existia na Santa Casa de Misericórdia, hospital onde também trabalhou. Mais à frente, selecionamos incidentes reflexivos da fala da professora-enfermeira que descrevem a ala pediátrica atual como um lugar onde ensino e pesquisa coexistem com o cuidado de enfermagem. Como conclusões, as quais coincidem com os nossos interesses em pesquisar alguns dos objetos sociotécnicos (os computadores) que habitam a pediatria, trouxemos incidentes descritos pela professora que falam sobre pesquisa, projetos, enfim, do papel da academia no hospital, na pediatria, em meio às práticas de cuidados. A estas, associamos informações extraídas da página da UFMT, além de algumas reflexões de artigos científicos que falam sobre o Programa de Extensão Cuidar Brincando, a respeito da conquista da construção da nova brinquedoteca (RIBEIRO, 2008; RIBEIRO et al, 2010; RIBEIRO, 2012), a qual percebemos como um espaço aberto e múltiplo, evidenciando-se como uma potencializadora do cuidado prestado à criança hospitalizada, assim como aos adultos – como pais e os próprios profissionais de saúde que a frequentam (GALINDO et al, 2009; 2012). 19 A entrevista/conversa com a professora-enfermeira da FAEN/UFMT, conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foi cedida e encontra-se na íntegra na sessão de apêndices, mais especificamente, refere-se ao Apêndice E “Andanças/Itinerário extra”. Ficou intitulada como “Andanças extras”, pois corresponde a sugestões posteriores provenientes da Banca examinadora da defesa desta dissertação. 100 3.1. O Hospital Universitário Júlio Müller e os primórdios da assistência na pediatria O Hospital Júlio Müller nasce nos anos cinquenta do século XX, durante o período da Campanha Nacional contra Tuberculose, tendo suas obras concluídas apenas na década seguinte. No entanto, após sua finalização, ainda não cumpria a função de escola, mas de hospital que tratava pacientes com quadro clínico de tuberculose (FERREIRA, 2003). Durante a gestão do reitor Benedito Pedro Dorileo, em 1982, como conta o professor Eduardo De Lamonica Freire20 (HUJM, 2006), a Universidade Federal de Mato Grosso se viu pressionada pelas necessidades de melhora da qualidade dos estágios oferecidos por seus cursos de saúde. Em conversa com a professora-enfermeira da FAEN/UFMT, uma versão sobre o início do HUJM nos é revelada: Olha, eu não estava na época do acontecido, mas sei, o que se falava era que houve uma paralisação, uma manifestação, uma movimentação dos estudantes. Os estudantes de medicina estavam próximos para ir para campo e estavam sem lugar para estagiarem, não havia um hospital. E, a enfermagem e a nutrição estagiavam na Santa Casa e no Hospital Geral. Então o que eu sei é que os alunos de medicina estavam perto de iniciar o internado e não tinham hospital apropriado e que os comportasse. Aí os alunos fizeram uma pressão para que vissem o mais rápido possível um hospital. Talvez tenham acontecido outros movimentos a favor da construção de um hospital escola, não sei dizer ao certo. Acatado a necessidade de um hospital, aí vieram às questões políticas, o acordo, o envolvimento da reitoria, diante da realidade postada pelos alunos. Houve também uma pressão e exigência para o hospital ser dentro do campus, muita gente defendia que fosse construída no campus. Mas o que sei é que na época não foi possível, pelo tempo, aproveitando de uma estrutura pronta do Estado (Andanças extras – professora-enfermeira). O Hospital Escola, segundo o professor Eduardo De Lamonica Freire (HUJM, 2006), foi criado por conta das dificuldades na oferta de estágio para os estudantes dos cursos de saúde por parte da Universidade Pública. Até aquele momento, a realidade dos hospitais do município de Cuiabá não condizia com as necessidades pedagógicas para ensinoaprendizagem em saúde. Nesse período, os hospitais conveniados, nos quais eram realizados 20 Foi o 1º Diretor da Faculdade de Ciências Médicas (1979/1983), Sub-Reitor Acadêmico (1983/1984), Reitor (1984/1988), Chefe do Departamento de Clínica Cirúrgica (1990/1992), Diretor Superintendente do HUJM (1992/1994). Professor Adjunto IV do Departamento de Clínica Cirúrgica (http://200.17.60.196/hujm/site/institucional/default.asp?menu=institucional&submenu=historico). 101 os estágios dos Cursos de Enfermagem e Nutrição, assim como o primeiro ciclo profissionalizante do Curso de Medicina, não proporcionavam uma ambiência ideal para o exercício pedagógico em saúde, pois apresentavam dificuldades administrativas no que se referia aos interesses acadêmicos. Ou seja, não disponibilizavam acesso aos seus ambulatórios (porque eram utilizados por médicos não docentes) e não dispunham de prontuários e registros de internação organizados para sustentar um apoio de boa qualidade ao ensino. Outro empecilho referia-se ao corpo clínico ser composto de docentes e não docentes. Essa heterogeneidade não tinha um teor positivo, mas negativo, pois os não docentes resistiam quanto a dividir seus espaços com alunos e professores, a ponto de dificultar o acesso dos estudantes aos leitos de internação e ao acompanhamento de alguns procedimentos. Conforme segmento ―Apresentação‖ (2006) do site do HUJM, Freire revela que foi feito um acordo entre o reitor e o governador do Estado, que compreendia um contrato a cessão do Hospital Júlio Müller estipulado em 20 anos, consolidando, dessa forma, um decreto (Decreto Nº 2045 de 14/09/1982) no qual firmava que o hospital passaria a ser administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso ao invés da Secretaria do Estado de Saúde. O Hospital foi reconstruído e ampliado pelo Governo do Estado, por intermédio financeiro da até então Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO). Sua inauguração aconteceu no dia 31 de julho de 1984, operando, a princípio, as suas atividades com cerca de 80 leitos, distribuídos pelas áreas de clínica médica, clínica cirúrgica, ginecologia e obstetrícia e pediatria. Passando, ao longo do tempo, por ampliações e instrumentalização. Desde os seus primórdios, o HUJM como Hospital Escola já contava com o apoio de atendimento ambulatorial, pronto atendimento, serviço de imagem (radiologia e ultrassom), laboratório clínico e UTI neonatal. Na década de 2000 passou a oferecer, também, atendimento de UTI de adultos (HUJM, 2006). Falas da professora-enfermeira nos trazem informações a respeito da nova composição da equipe do hospital, em especial, a equipe da pediatria, que segundo ela, era formada exclusivamente por professores que conquistaram umas das vagas do concurso realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso, e que, desde o início, se envolveram com a configuração administrativa, pensaram junto a Sistematização de Enfermagem. 102 [...] teve um concurso no início do ano realizado pela UFMT, em janeiro de 1984, e quem entrou, eu falo do pessoal da pediatria (Andanças extras – professora – enfermeira) [...] Esse pessoal que entrou nessa época, eles fizeram todo um preparo antes do funcionamento. Então elaboraram os manuais de normas e rotinas. Tudo era feito junto, pessoal da medicina e enfermagem, serviço social e nutrição. Porque na época, todos os profissionais que foram para o Júlio Müller eram só professores. No Júlio Müller não tinha técnico administrativo. Então houve um grande concurso para professores e esses professores é que foram para o hospital escola. E foram ele que pensaram o Júlio Müller como Hospital Escola. Então, quando eu entrei a pediatria já era um lugar que estava funcionando há trinta dias. Já tinham as equipes (Andanças extras – professora-enfermeira). O que se esperava do Hospital Escola era uma transposição do que se tinha, até o momento, como modelo de serviços hospitalares, que, de certa forma, já sofria modificações em hospitais das redondezas com a presença das enfermeiras egressas da UFMT (ALMEIDA, 2010). Em meio às mudanças trazidas pelo HUJM, a professora-enfermeira confessa que várias vezes chegou a comparar a assistência que prestava no Hospital Escola com a que realizava na Instituição Santa Casa de Misericórdia, local que conhecia, já que durante sua graduação havia estagiado lá, e onde estava trabalhando. Questionava as minúcias exigidas no HUJM, ao atender poucas crianças em uma pediatria que não faltava nada (ao contrário da Santa Casa, onde ela cuidava de muitas crianças e havia muitas falhas, carências e apenas ela de enfermeira, sendo a assistência prestada praticamente por atendentes). Por várias vezes – por conta da assistência de enfermagem implantada antes de sua entrada no hospital – a professora-enfermeira comenta que foi tratada como uma estranha, como alguém que não sabia nada sobre crianças. Entretanto os depoimentos da professora-enfermeira nos revelam que, aos poucos, o número de crianças foi crescendo, o perfil delas mudando, uma vez que o pronto-atendimento infantil por muito tempo ficou funcionando dentro da pediatria. O que a levou a reconhecer a relevância de uma Sistematização de Assistência de Enfermagem, que antes ela não conseguiu exercitar, pois era precária a assistência na Santa Casa. Sistematização que tinha mais a ver com o que pensava para efetivar a especialidade em pediatria que fizera, que a levou a perceber a importância da recreação como parte da assistência a uma criança hospitalizada, assim como marca o início da presença das mães/ou acompanhante, que desconhecia na Santa Casa. Das comparações negativas primordiais, portanto, agradece saudosamente por ter participado da construção do começo de um sonho. 103 E eu me lembro assim ... Que pra mim o início foi um choque. Não gostei. Eu estava vindo da Santa Casa, eu era a única enfermeira da Santa Casa, lá eu atendia 60 crianças, era muito trabalho, muito trabalho mesmo. E, de repente eu vou para o Júlio Muller e encontro 8 crianças internadas. E era muita gente para cuidar de pouca criança. E uma exigência muito grande. Eu ficava de manhã na Santa Casa e à tarde eu ia para lá, para o Júlio Müller. E eu dizia assim que na Santa Casa eu saía com as pernas que não me aguentavam, mas minha cabeça leve. E no Júlio Müller era o contrário. Porque como era muita gente que queria fazer o melhor possível, acabavam fazendo tudo exageradamente. Tudo era exagerado. E então, de repente, tinha uma criança que insistia em ver alguma coisa de errado nela, e eu me lembrava das crianças lá da Santa Casa, numa situação terrível. Então, nas primeiras semanas de trabalho, eu fiquei assim, meio que revoltada por causa do excesso de zelo por aquelas crianças, e enquanto aquelas outras 60 que estavam lá (Santa Casa), estavam praticamente jogadas. E no Júlio Müller pessoas preocupadas com detalhes, um exagero de detalhes. Claro que eram importantes, mas pela realidade que eu conhecia, eu achava que ali tinha muita gente, muito exagero para cuidar de poucas crianças. Uma criança só, e não podia olhar diferente, que estava um monte de gente em cima. Então foi um choque. Já cheguei e o pessoal já tinha pensado as normas e rotinas. E, eu chegando, eu era uma pessoa de fora que estava chegando, me tratavam como se eu não conhecesse nada de cuidado de crianças. A única coisa que senti é que me respeitavam era porque além de eu ser especialista, sabiam que eu vinha de experiência de pediatria em outro hospital. Mas havia situações que vinham me questionar porque determinada criança havia morrido, queriam que eu respondesse o motivo. Questionando porque eu havia deixado morrer. Às vezes, eu mudava o berço do lugar, no dia seguinte já vinham me perguntar por que tinha mudado o berço do lugar, já que o berço tinha que ficar na posição anterior à mudança. Porque eles haviam pensando nas enfermarias, na distribuição de berços e em suas disposições. Então o início foi muito difícil para mim lá. Eu achava que a hora não passava, que não era tanto serviço assim. Mas com o tempo foi mudando, o perfil das crianças atendidas foram mudando. Assim como o tipo de assistência prestada, a estrutura da pediatria também. Foi ficando muito mais complexo, né. O pronto atendimento infantil chegou a funcionar por muito tempo dentro da pediatria. Sobre a questão da recreação, sempre houve uma preocupação que esta acontecesse. Isso desde o início. Mas assim, nós sempre fizemos atividades com as crianças. Mas foi apenas com a entrada da Nilzalina (professora de educação física) que esta preocupação ganhou espaço. Quando Nilza chegou, ela fez a diferença, porque ela veio para a recreação, mas nunca foi um trabalho só realizado pela professora. O diferencial foi que quando todas as pessoas que entraram na pediatria (enfermeiros) tinham especialização pela UNESP (Escola Paulista de Enfermagem), era um curso de mais 1000 horas, éramos especialistas mesmo! Éramos especialistas em pediatria. Então essa questão da criança, os pediatras também eram bastante competentes. Éramos muito jovens. Eu lembro de todo mundo com uma faixa etária de 24 a 30 anos. Aí eu falo que naquela época foi um sonho sendo realizado, estávamos ajudando a pensar um hospital. Estávamos com um hospital em mãos. Nossa! Foi um sonho! Dou graças a Deus de ter participado disso tudo. Tudo era muito certinho. Tudo funcionado direitinho (Andanças extras – professora-enfermeira). Só que na Santa Casa era um lugar onde só havia atendentes. Era precária a realidade, mas só que assim, dentro da realidade daquela época. Mas a gente fazia, veja só, para você ter uma ideia, a gente atendia as crianças das enfermarias, que estavam sem 96 acompanhantes, crianças que ficavam sozinhas. Tinham enfermarias de 8 leitos, olha só, oito bebês. Agora você imagina o que é você passar um plantão, só de uma enfermaria com 8 crianças, né? E você passar plantão de todas as enfermarias lotadas. Então as meninas já passavam dizendo: ―este tá bem, este tá bem e, este está com febre...‖. E eu chegava na porta, assim e ficavam três atendentes à noite, com 30 crianças em cima e 30 crianças embaixo. Então eu lembro que chegava e dizia, ―aquele ali não pode ficar sem soro, porque senão vai desidratar. E aquele não pode ter febre porque vai ter convulsão‖. Eu tinha que priorizar a prioridade da prioridade. Entendeu, porque eu sabia que através dos meus alertas de passagem de plantão, eu sabia que aquela criança ali, as meninas, se a criança perdesse veia, elas iriam pegar logo, né? Então assim, eram muitas crianças. Não ficavam mães, são aquelas 104 histórias, de criança morrer, de abandonos de crianças por famílias que moravam longe ou chegavam tarde pela distância para poder saber da criança, já que não podiam permanecer. E, mesmo naquela época tinha uma professora, mas ela só assistia televisão, o que quero dizer é que ela não se envolvia com a equipe, com a assistência das crianças inteiramente. Ah, a Francisca, a enfermeira Francisca já trabalhava lá, mas ela começou na pediatria da Irmã Iracema, outra instituição. Mas era ela, assim como eu, a gente tinha essa preocupação, essa coisa de brincar, de inventar brincadeiras com as crianças. Isso a gente fazia lá na pediatria, com as crianças maiores. O nosso maior problema eram as criança que ficavam sozinhas. No Júlio Müller já começou com a presença das mães. No outro hospital, no Geral, já tinha as mães também. Na Santa Casa eram visitas diárias. E aí, quando eu comecei, a gente começou a deixar, a incentivar as mães das crianças mais graves ficarem. Aos poucos as mães começaram a ficar lá dentro. Porque naquela época, para você entender, o perfil epidemiológico era diferente, era relevante a diarreia, mais que pneumonia ainda. Eu não sei se a diarreia acabou, ou se o tratamento de reidratação oral realmente resolve essa questão da não desidratação da criança, mas eu acho que é isso mesmo, aí os modos de acessar o serviço de saúde diferenciou. Porque o que acontecia, a criança desidratava. Qual era a conduta? Dieta zero, entendeu? E, em casa, era orientado não dar dieta, então a criança chegava muito desidratada. E não existia soro de hidratação oral. Então só hidratávamos as crianças apenas com terapia intravenosa. Então a criança ficava o tempo todo com o soro. Não existia, por exemplo, o scalp heparinizado, o scalp de manutenção. Então toda a criança com antibiótico ficava constantemente com a hidratação venosa. Porque não existia nem aqui, nem no país mesmo, porque isso chegou bem depois, a prática de colocar heparina, ou de salinizar o acesso venoso para não precisar ficar constantemente com o soro, no caso que não havia necessidade de ficar com essa hidratação. O que dificultava a liberdade para brincar. Se tinha que tomar antibiótico, ela ficava o tempo todo com esse soro conectado a veia. Então assim, naquela época, scalp, só tinha agulhas, eram materiais de luxo. A gente recebia dois scalps estéreis para a noite. A gente deixava dentro do vidro, armazenado num solvente (Andanças extras – professora-enfermeira). [...] O que se falava muito era hepatite, tinha muito caso de transmissão de hepatite. Casos de AIDS surgiram depois, mesmo assim, a gente nem tinha noção dela (Andanças extras – professoraenfermeira). No Júlio Müller era um sonho de consumo. Era tudo estéril, tudo certinho. Só não havia seringa dessas de agora, eram de vidros esterilizados, mas acho que isso era em todo o país, não havia chegado essa tecnologia para gente mesmo, essa coisa de material descartável foi surgindo bem depois. Mas no Júlio Müller nunca faltou material. Hoje tem faltado, mas naquela época não (Andanças extras – professora-enfermeira). O HUJM surgiu como um novo horizonte, pois ofereceria o que Hospitais das redondezas do município, quiçá do estado, não estavam preparados, naquele momento, para disponibilizar: refinamento das técnicas de enfermagem por ter poucas enfermeiras graduadas; ensino-aprendizagem em saúde hospitalar ligados aos saberes e práticas empíricas, de modo a transformar e tornar mais apurados estes últimos, obtidos por muitos atuantes em saúde sem formação universitária; assim como também foi considerado a abertura para o mercado de trabalho, já que o HUJM requisitaria de profissionais para atuar na administração e assistência à saúde, incluindo os profissionais recém-formados das áreas de saúde, muitos deles graduados pela UFMT (MOREIRA & RAMOS, 2004). 105 Com a criação do Hospital Escola surgiu o momento para o reconhecimento da enfermagem. Segundo Moreira e Ramos (2004), nos dois primeiros séculos de sua criação, o trabalho de enfermagem não pareceu impactante e tampouco se ressaltou méritos para o seu reconhecimento, quer no âmbito hospitalar ou do espaço coletivo. Havia um absoluto silêncio e anonimato das categorias de enfermagem em seus espaços de trabalho. Em face ao ensinoaprendizagem, as noções de pesquisa vieram a ser mais profundas com a vinculação de uma instituição de saúde a uma de cunho universitário. Pode-se, de acordo com Moreira e Ramos (2004), inferir que com a inauguração de um Hospital Escola, o trabalho de enfermagem no espaço urbano de qualquer município traz mudanças. Abre possibilidades para sensíveis melhorias e transformações, pois desloca o eixo da enfermagem, que, às vezes, está centrada em atividades puramente tecnicistas, restritas a atividades caritativas e de abnegação ou dependente de uma racionalidade capitalista, subjugada às classes burguesas e dominantes. O Hospital Universitário é, até hoje, conforme argumenta De Lamonica Freire (HUJM, 2006), um hospital essencialmente público, que atende plenamente apenas pacientes referenciados pelo SUS, via Central de Regulação, ou pelo Hospital e Pronto Socorro do Município. Também foi o primeiro hospital, ao longo de anos, a tratar na região onde se localiza, tanto em regime ambulatorial quanto em regime de internação, pacientes portadores do vírus HIV (mesmo nos anos em que a doença era vista pela sociedade mundial como um flagelo e, por isso, os ―tratavam‖ com segregação). Destaque-se que essa atuação – de relevância social – só ocorreu graças a uma equipe multiprofissional de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio que compunham o corpo clínico do HUJM. Atualmente, continua expandindo os leitos e seus serviços oferecidos em articulação com o SUS. O Hospital serve de campo de estágio de alta qualidade para os estudantes de Medicina, Nutrição, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia e Serviço Social entre outros. Desde o início dos anos 90, com a aprovação da Comissão Nacional de Residência Médica, o Hospital Universitário serve de apoio fundamental para os Programas de Residência Médica em Clínica Médica, Cirurgia Geral, Obstetrícia e Ginecologia, Anestesiologia, Pediatria, entre outros, credenciados e sob a responsabilidade da Faculdade de Ciências Médicas (HUJM, 2006). No HUJM os investimentos em ensino-aprendizagem continuaram. Nos últimos anos da 106 década de 2000, o curso de especialização em ―Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso em Condição de Hospitalização Clínica e Cirúrgica‖ comporta docentes e discentes de enfermagem, psicologia e serviço social (COREN – MT, 2009). A professora-enfermeira fala sobre suas expectativas pela residência multidisciplinar que irá inserir na pediatria alunos de áreas diferentes, com previsão para as seguintes áreas: enfermagem, psicologia e serviço social. Será uma residência com enfoque hospitalar, mas que contemplará também estágios em Programas de Saúde da Família (PSFs). Estamos pensando em uma residência onde alunos de áreas diferentes estarão presentes na pediatria (enfermagem, psicologia e serviço social). O que a gente quer cobrar deles esse olhar para a criança, pensando nessa criança com pele limpa, hidratada, cabelo limpo, bem cortado, como pensar nos cuidados de medicamentos, das necessidades recreativas, se está bem confortável onde está deitada, fazer massagem na criança para ela dormir melhor. Tudo isso é relevante! E o que é isso? É cuidado! O que acontece em muitos lugares é que teorizam, teorizam, teorizam e chega lá na prática, não acontece nada disso. Você vê criança sentindo dor, queixas da apatia da enfermagem a ponto de se questionar para que enfermagem, por que não intervém pelo paciente? Não queremos isso! Estamos acreditando muito no diferencial da residência multidisciplinar. Que seja mais que uma especialização onde as pessoas vejam o problema no corpo da criança, e que através dela os alunos percebam as alterações nesse corpo, das necessidades desse corpo que precisa ser tratado, que o foco seja em todas as necessidades da criança (Andanças extras – professora-enfermeira). O Hospital Escola, desde sua inauguração, passou por diversas obras. Entretanto, elencamos aqui apenas às dos últimos setes anos. A seguir algumas das alterações que a estrutura hospitalar sofreu: a construção das salas e de auditório como um anexo didático ao hospital; ampliação e informatização da biblioteca setorial; inserção do hospital em estudos via recursos para construção de uma ala para vídeo conferência (tele-medicina); construção de um novo CME; sala de pesquisa da enfermagem do HUJM; construção de uma nova ala administrativa para centralização das diferentes coordenações dos diferentes serviços que movem o hospital; construção de uma sala para realização de atividades de Humanização no centro do hospital; implantação do Sistema de Gestão de Saúde MV 21; reforma do jardim do hospital; construção de um novo lactário; reformas na lavanderia e em várias enfermarias; implementações e investimentos foram empregados nas UTIs do hospital; e novos 21 Linha de Sistemas de Informação e Serviços. Os softwares desenvolvidos pela MV padronizam e integram processos, garantindo a transformação de dados em informações (http://www.mv.com.br/mv/ ). 107 ambulatórios foram construídos enquanto outros reformados (LEITE, 2011a). Incidentes da exposição da professora declaram que mudanças prediais sempre aconteceram no hospital; em específico, uma das alterações que fez grande diferença foi a decisão de professores e do pessoal da pediatria, juntamente com a diretoria do hospital, de ampliar a pediatria com um ―quintal‖. A partir da construção acentuaram a convergência da importância de um espaço de recreação à assistência prestada à criança hospitalizada e seus familiares. Pelo ―quintal‖ veio à possibilidade de acesso a um lugar que ficasse fora das enfermarias. A seguir, esse espaço foi complementado com brinquedos do tipo ―parquinho‖. Concomitantemente, vieram ―festinhas comemorativas‖ – um incentivo de professores, depois de alunos de diversos cursos da UFMT, bem como a equipe da pediatria. Aos poucos, o ambiente foi ficando ―agradável‖, devido às parcerias citadas, como também aos alunos de escolas secundaristas. Foi criado um pequeno espaço no quintal para a recreação das crianças, onde uma professora de educação física passou a ser referência para a equipe, uma ―actante‖ que conseguia conectar a equipe ao mundo das crianças através de intervenções com brinquedos. Esta conseguia se articular tanto com as crianças hospitalizadas como também realizar atividades com adultos hospitalizados. Junto à professora, por um longo período de tempo, passou a trabalhar uma docente cedida pela Secretaria de Educação, surgindo assim, a Classe Hospitalar. As falas da professora rememoram momentos cotidianos que enfatizam a relevância daquele espaço, da ―conquista‖ do quintal para o dia-a-dia das crianças, equipe, familiares. Assim, lembra-se do momento de conquista do quintal, da porta fechada a aberta, das conversas à noite, do coqueiro (xodó), da melancia que apareceu no quintal, da amenização das brigas e conflitos entre as crianças, familiares e equipe, das queixas sobre a sensação de estarem em uma prisão após o quintal – o que se exacerbaram com a construção atual da brinquedoteca. A respeito do belo espaço, ela destaca a climatização, o adeus aos mosquitos, enfim, a configuração de espacialidades onde as crianças brincam, mães se distraem, descansam, conversam, aprendem, acompanham seus filhos. A esse espaço, frisa que, em certo momento, eram poucas pessoas que se envolviam com as questões de recreação; entretanto, com a inserção de projetos e pesquisas mais incisivos, a pediatria passou a ser frequentada por muita gente. Houve um aumento no número de pessoas para cuidar das crianças, que diferentemente do início da implantação do hospital, já não são tão poucas assim. 108 Sempre houve reformas, construções, modificações no HU, na pediatria. Sempre aconteceram mudanças desde o período em que eu entrei no hospital. Por exemplo, ali na pediatria, onde é o refeitório das crianças hoje, onde há uma porta de vidro que leva a brinquedoteca, ali era uma parede com uma porta que dava para o ―quintal‖, ou melhor, que dava para parte de fora do prédio do Júlio Muller. Então, no início, aquela porta permanecia fechada. Entendeu? Quando a gente abria a porta, a gente ficava ali, porque a porta dava para fora do hospital. Então, a criança só tinha o refeitório. Então, eu lembro que, uma vez, eu conversando com a Marta, uma pediatra que já morreu, né. ―- Marta, a gente podia fazer um quintal aqui, né?‖ E, ela estava no departamento de pediatria, e ela disse: ―- Mas é mesmo, né! Vamos fazer?‖. Eu falei: ―- Porque se a gente fizer um quintal aqui, a gente pode deixar essa porta aberta. Aí as crianças podem sair aqui para fora, fica mais fácil deixar elas virem para cá.‖ Aí o que aconteceu, ela mandou fechar esse espaço, ficamos com um quintal. A porta já permanecia aberta. Depois construíram uma salinha no quintal, onde a Nilzalina (professora de educação física) e depois a Maria de Fátima (professora da Classe Hospitalar) trabalhava com as crianças a parte educativa, a recreação. E, há dois anos atrás, é que conseguiram, com apoio financeiro... É que construíram essa linda brinquedoteca. Mas eu fico imaginando, se a gente não tivesse tido a ideia de construir o quintal, aquela estrutura da parte administrativa, da farmácia, vinha até ali na nossa porta. Então, quando a gente fez o quintal, a gente ampliou a pediatria. Como a Marta era chefe de departamento, a coisa ficou bem mais fácil. Naquela época, tudo que a gente pedia a gente conseguia com uma facilidade maior. Isso do quintal foi mais ou menos antes de eu sair para o mestrado, nos anos noventa. Então quando a gente cercou, a gente tinha essa possibilidade de manter a porta aberta. Eu lembro que a gente tinha um coqueiro que era xodó (risos). Depois arrancaram o coqueiro, diziam que ia cair coco na cabeça dos outros (risos), eu fiquei brava por arrancarem, mas depois eu entendi. Então à noite o pessoal ficava ali fora. E se não estou enganada, foi a pediatria Marta que também conseguiu aqueles brinquedos para o parque que fixaram no quintal. Sempre as pessoas pensavam nessa coisa de entretenimento, mas o mais importante foi ter definido, conquistado e cercado aquele espaço. Porque se a gente não tivesse feito isso, tenho certeza que não seria da pediatria. Ah, não posso esquecer de contar da melancia (risos). O que aconteceu, pareceu um pé de melancia, e aí surgiu uma melancia. Só que ela cresceu fora da grade. Aí a gente colocou uma placa lá dizendo que não podiam pegar porque era da pediatria, das crianças da pediatria. Mas não sei quem foi, no Natal, eu cheguei lá e tinham pego a melancia, roubaram a melancia. Eu acho que essa melancia nasceu de alguma criança que fez coco ali, e que tinha uma semente (risos). Pode ser. E sobre o entretenimento em si, acho que a professora de educação física é referência para a recreação com as crianças, a professora Áurea Christina da enfermagem era quanto às festas, a Maria de Fátima era quanto às atividades educativas, havia enfermeiras e técnicas que se envolviam também. Eu lembro que eu trazia os alunos da Escola Livre Porto para cantar, fazer festas, como a festas juninas, eram alunos envolvidos com o grêmio da escola. A gente vinha, nossos filhos se envolviam também, tenho foto de meus meninos dançando festa junina lá, eu tenho fotos minhas e da professora Rosa com as filhas dela também. Eles (alunos) contavam histórias, brincavam com as crianças, entendeu? Então, naquela época, era pouca gente que se envolvia, apesar de tudo (Andanças extras – professora-enfermeira). Não é que pararam de ir (alunos da escola Livre Porto), é que essa coisa de fazer atividades no hospital ampliou muito na pediatria, então, começou a ter gente demais, por isso. A Medicina Veterinária tinha uma época caninoterapia, mas isso foi bem recente e logo parou. Aí vieram os projetos, as pesquisas, enfim, muitas pessoas. Na realidade nossas pesquisas sempre foram voltadas e preocupas com a questão do exercício da Humanização em todos os sentidos, a começar com a possibilidade da criança poder brincar (Andanças extras – professora-enfermeira). Ainda sobre as modificações prediais, as mudanças não pararam. Podemos destacar a 109 pavimentação do pátio externo e a construção da área de lazer da pediatria (brinquedoteca), como já descrevemos através de falas da professora-enfermeira. E estas estão entre os primeiros passos dados quanto à construção de seu novo complexo em outra localidade. A nova configuração predial do HUJM terá 38 mil metros quadrados e abrigará 250 leitos. Será o segundo maior hospital do Estado (JORNAL 24HORAS NEWS, 2011). Vale ressaltar que o Hospital Escola vem passando por reformulações estruturais e de equipamentos, mas também administrativas22, como declaram, a seguir, os incidentes de fala da professora-enfermeira, ao dizer ser importante a academia se envolver com essas questões, pois podem mudar acentuadamente o modo de gerir um Hospital Escola. O que não é um fato isolado, haja vista que essas incertezas assolam todos os Hospitais Escolas de Universidades Federais. A reformulação administrativa tem gerado expectativas internas e externas ao HUJM. Ou seja, tanto para a comunidade do Hospital (funcionários, estudantes e professores), como para a sociedade (os usuários do serviço). Não posso esquecer de falar... A academia ajuda a pensar essa nova forma de gerenciamento que vem por aí, que afeta diretamente a pediatria, os cuidados. Será uma empresa que poderá descaracterizar ou não o hospital como Escola, que poderá tirar desse lugar a característica de ensino e pesquisa, proveniente de uma luta lá do inicio dos anos 80, no caso do HUJM. (Andanças extras – professora –enfermeira). 22 Reformulações administrativas de estância Federal referem-se à Ebserh. Esta foi criada pela Lei nº. 12.550, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no último dia 15 de dezembro e publicada no dia 29 de dezembro de 2011 no Diário Oficial da União. O Estatuto Social da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) será responsável por administrar os recursos financeiros e humanos dos hospitais universitários das Instituições Federais de Ensino Superior. Vinculada ao Ministério da Educação e sediada em Brasília (DF), a Ebserh será uma empresa pública de personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, com capital social inicial R$ 5 milhões. A Ebserh tem por finalidade a prestação de serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, ―inseridos integral e exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)‖. Prestará também serviços de apoio à geração do conhecimento em pesquisas básicas, clínicas e aplicadas nos hospitais universitários federais. O estatuto prevê, ainda, que a empresa observará as diretrizes e políticas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, além de ser orientada ―pelas políticas acadêmicas estabelecidas no âmbito das instituições de ensino com as quais estabelecer contrato de prestação de serviços‖ (BRASIL, 2011). 110 3.2. A pediatria atual: ensino e pesquisa, os projetos de extensão e a brinquedoteca A seguir, destacamos falas da professora-enfermeira elucidativas no que concerne a atuação da academia frente ao novo perfil epidemiológico de crianças hospitalizadas, sobre as novas tecnologias que passaram a ser exigidas pelo cuidado destas. Encontramos nas falas incidentes preocupações da professora-enfermeira referente aos pontos nos quais há falhas da academia, assim como as conquistas contempladas através das ações de ensino e pesquisa. As narrativas mostram que a professora-enfermeira exercita questionamentos, pesquisas junto à equipe de enfermagem, realçam a constante feitura de pesquisas voltadas para o brincar, mas essas atividades a lembram que o que acontece na brinquedoteca deve acontecer proporcionalmente com as outras formas de cuidado que há na pediatria, ou seja, pesquisas sobre os novos tipos de maquinários, medicamentos que estão entrando na pediatria e que geram questionamentos, exigem treinamentos, capacitações. Os incidentes declaram a defesa do modelo biomédico23 pela professora-enfermeira, ou melhor, apontam que sua defesa está vinculada ao modelo biomédico, que não pode ser forçado a contemplar todas as necessidades de um corpo; sendo esses convidativos para pensarmos em um cuidado que proporcione espaço para o pensamento biomédico, assim como para outros modos de cuidar que venham compreender que uma criança tem um corpo múltiplo, que exige banho, trocas, uma vez que pode vir a cheira mal, pois transpira, secreta, excreta substâncias, pode acumular sujeiras. Este corpo precisa de carinho, afago, abraço, beijos, palavras de conforto, de um lugar que contribua para o seu bem-estar; necessita de medicamentos; e precisa brincar e estudar. As narrativas não falam de um cuidado integral, elas questionam o cuidado integral, caso venha a deixar de lado as concepções biomédicas. Destacam-se, como já foi evidenciado em sessões anteriores, que há expectativas frente à residência multidisciplinar com atuação na pediatria. Os incidentes dão margem para pensarmos em uma Humanização em Saúde, que no cotidiano estão envolvidas com uma diversidade de entidades que contribuem para o cuidado. Olha, a gente, eu, nesse caso, tenho muita preocupação. Sempre fazemos pesquisa lá na pediatria. E sempre, como eu já disse, vinculada a humanização, trazendo em pauta os direitos da criança, a questão do brincar. Nossas pesquisas sempre foram voltadas para esse lado, né? Hoje, o que eu vejo de problema, o que tem me 23 O que é modelo biomédico? Trata-se de uma concepção da medicina moderna que compreende o corpo humano como um templo de entidades patológicas. E, conforme tal concepção, o corpo doente necessita ser tratado através de intervenções curativas (KOIFMAN, 2001). 111 preocupado, é que o perfil epidemiológico mudou muito. É outro. Antes era diarreia. Com isso também veio o avanço muito grande de tecnologias, de medicações nem se fala. Então naquela época a gente calculava a quantidade de gotejamento manualmente, hoje é digital, você tem a bomba de infusão de agulha, aquela outra bomba de infusão para frascos. Tudo digital. Que facilita e muito o nosso trabalho, mas que requer, precisa de uma habilidade muito grande para manipular, não pode ser qualquer um. Uma coisa que me inquieta e que já falei que nos dias de meus plantões que se eu ver, eu vou retirar é monitor, desses de multiparametros. Porque se for para deixar ele ligado para ficar apitando a noite inteira, e apenas falar para a mãe ficar apertando quando o barulho incomodar, para interrompê-lo, ele então, não servirá de nada, não estará fazendo o papel dele. Não é apenas ensinar a mãe e deixar ele apitando e ela mexendo com o botão. Porque o monitor, qual o papel dele? É o de alerta! E se a criança, por exemplo, está saturando 80%, a gente sabe que é uma saturação ruim, mas que para essa criança é o ―normal‖ dela, e não vamos fazer nada, por que então não programar para o monitor alertar em 75%? Por que não reprogramar o monitor? Não pode acostumar com o barulho do monitor apitando. Não pode, porque ele é um alerta! Aí o residente diz que não vai fazer nada, então porque deixar o aparelho ligado? Não tem lógica! Ele tem que funcionar de modo que me auxilie a intervir no momento certo, caso contrário não serve para parâmetros de nada. A mesma coisa a bomba de infusão, se apita, significa que algo está errado. E, aí falam que a bomba está dando problema mesmo, então não pode usar! Não está certo! E se eu deixo apitando, não dou atenção para isso, é muito arriscado. Essa coisa de fazer medicamentos como o aciclovir 24 na criança, sem paramentos corretos, é muito perigoso, ela é um medicamento teratogênico! Tem princípios de um quimioterápico, é citotóxico 25. E o pessoal de enfermagem preparando. Fazendo de conta que nada está acontecendo. E é aí o papel da academia, e que tem falhado. E, não vejo isso há um tempo atrás, quando eu comecei, porque as coisas eram tão simples. Você só passava sonda nasogástrica, enteral, os antibióticos não eram como esses de hoje que tem semelhança a quimioterápicos, são vesicantes26. Não existia risco de preparar medicamentos como hoje. Sem contar que antes os problemas eram agudos. As crianças internavam, e tinha dois caminhos apenas: ou ela se recuperava e recebia alta ou ela morria. Uma criança com fibrose cística morria antes de completar oito anos. Hoje não, a gente tem adultos com fibrose cística 27, sobreviveram! E, todas essas crianças renais, elas vivem a base de tratamentos farmacológicos fortíssimos, além da possibilidade de diálise. Eles estão vivendo a custo de drogas pesadas (Andanças extras – professoraenfermeira). Se a criança com uma Síndrome Nefrótica28 faz tratamento com 24 É um medicamento antiviral (BRASIL, 2008). 25 São medicamentos que provocam lesões em células cancerígenas como também atingem as células sadias de uma pessoa (CAMARGO, 2000). 26 Referem-se a medicamentos que provocam lesões de pele (bolhas, necroses) (CAMARGO, 2000). 27 Também conhecida como Mucoviscidose, é uma doença genética autossômica (não ligada ao cromossoma x) recessiva (que são necessários para se manifestar mutações nos 2 cromossomas do par afetado) causada por um distúrbio nas secreções de algumas glândulas, nomeadamente as glândulas exócrinas (glândulas produtoras de muco). O organismo não consegue eliminar o excesso de muco produzido pelas glândulas. Embora o sistema de transporte mucociliar não se encontre afetado pela patologia, ele vai ser incapaz de transportar uma secreção assim tão viscosa. Devido a essa incapacidade vai haver uma maior acumulação de muco, conduzindo ao aumento do número de bactérias e fungos nas vias, o que vai ser muito prejudicial, podendo levar mesmo a uma infecção crônica nos pulmões. É uma situação grave que pode também afetar o aparelho digestivo e outras glândulas secretoras, causando danos a outros órgãos como o pâncreas, o fígado e o sistema reprodutor (WINKELSTEIN, 2006, p. 824). 28 Refere-se a um conjunto de alterações, onde o estado clínico alterado inclui proteinúria maciça, hipoalbunemia, hiperlipidemia e edema. O distúrbio pode ocorrer como: doença primária conhecida como idiopática, nefrose de infância ou síndrome nefrótica por lesões mínimas. A doença proveniente de um distúrbio secundário compreende uma manifestação clínica após ou associada a lesões glomerulares de origem conhecida 112 corticóides para resolver o problema dela, ele acaba também tendo que cuidar das complicações que essa medicações trazem, como é o caso do desenvolvimento da síndrome de cushing29. E aí a gente está lidando com isso, então a enfermagem precisa de respaldo. Então hoje eu vejo que a pesquisa que a gente tem feito tem que estar associado a todas essas tecnologias que estão inseridas lá dentro da pediatria. E se você me perguntar como eu me sinto lá dentro, eu vou te responder que eu me sinto presente, eu me sinto parte da equipe, me sinto enfermeira da pediatria. A ponto de, se houver uma reunião para discutir qualquer tema e eu não for chamada para participar, eu vou ―derrubar‖ a casa. Eu sou plantonista e eu me sinto enfermeira da pediatria. E como enfermeira da pediatria, eu quero participar das tomadas de decisões. Então, há tempo atrás, e isso nós vamos apresentar num fórum... A questão do aciclovir. A equipe preparando, o pessoal fazendo a medicação. Bom, eu disse que não iria interromper a terapia que a criança já estava realizando. Então como lá estava dizendo que era para enfermeiro preparar, eu fui preparar. Porque há um tempo atrás tinha uma menina que era técnica de enfermagem na equipe, uma jovem, que eu me preocupei, fui perguntar a ela sobre como estava a questão de ter filho, ela me disse que estava sem tomar anticoncepcional para ter filhos. Aí eu tomei a decisão de que ele saísse por um tempo da pediatria enquanto eu preparava a medicação. Usei capote, fiz a medicação. Depois liguei para a diretoria para questionar sobre esse tipo de medicamento que estavam expondo a equipe. Falei com a enfermeira Marta por telefone. Ela me disse que procurou e leu na bula e disse que não tinha nada dizendo. Mas quando eu li, vi lá: este medicamento deve ser preparado nas mesmas proporções que se prepara um medicamento quimioterápico. Pronto! Não tem mais nem o que discutir! Então é potencialmente perigoso, né? Aí falei para Marta por telefone, vou fazer um levantamento aqui (no computador do posto de enfermagem) na Internet bem rápido, sobre as leis, aí quando ela viu aquilo, ela tirou xérox e levou na diretoria para dizer que não seria mais feito. O diretor disse: ―Que história é essa, como assim vocês não vão fazer, já que isso é feito até em posto de saúde, e vocês não vão fazer? Vocês não vão preparar? Como assim?‖ Aí foi mostrado para ele as leis, todas as referências que diz sobre isso. Dizia que é teratogênico, que é isso e mais aquilo e que a gente queria as condições necessárias para mexer com esse medicamento. Comentei ainda depois com ele: me admira muito o senhor, um sanitarista, achar que a nossa equipe poderia correr o risco preparando essa medicação assim. Aí ele disse que não sabia disso. Só que quando a gente foi falar com o pessoal da medicina. Eles disseram que a gente tinha que fazer, já que a criança precisava do medicamento. Okay, certo. Aí fomos à farmácia, e ela me traz liofilizado para gente fazer, e dissemos que não íamos fazer! Sem condições alguma para parar! Aí esse medicamento na pediatria. Pressão de um lado, medico quer que prepara, do outro, farmácia só disponibiliza o pó em frasco para preparação. A equipe sendo forçada a fazer. Eu disse: gente, não vamos preparar! Vamos ter que resolver, é um problema institucional. A farmácia não tem, a medicina lavou as mãos, só que eu não vou preparar! O que que aconteceu? O diretor mandou comprar o frasco em sistema fechado. Até que se adeque a ala de preparo de medicamentos para preparo desse tipo de medicamentos. Resolvido. Então, eu acho que é esse o tipo de presença da academia na pediatria. Por exemplo, quinta me ligaram para dizer que estão prescrevendo aquele medicamento, um composto híbrido, o anticorpo monoclonal. Ele é um anticorpo homogêneo produzido por uma célula híbrida, uma espécie de clone de linfócito B descendente de uma só e única célula mãe e uma célula plasmática tumoral. Ela simula o sistema imune do paciente para atacar as células oncogênicas e previne seu crescimento bloqueando os receptores específicos da célula. É sintetizado em laboratório, em ratos em fusão com celular ou presumida. E, o terceiro modo de ocorrer está relacionado a uma forma congênita herdada como um distubio autossômico recessivo. Esse distúrbio caracteriza-se por permeabilidade glomerular aumentada a proteínas plasmática, que resulta em grande perda urinária de proteínas (HOCKENBERRY, 2006, p.995.) 29 Compreende uma desordem hormonal provocada pelo excesso do hormônio cortisol no sangue, o que leva inchaço generalizado na pessoa. Tipicamente, fica com o rosto edemaciado (HOCKENBERRY, 2006, p. 1076 1077). 113 de humanos, é um composto que ao agir em células específicas dá efeito muito devastador na criança. E as meninas preocupadas em como preparar, se elas iam ou não preparar. As meninas ligaram para mim. Pediram que eu estudasse sobre isso, dizendo que não entenderam a bula, que estavam preocupadas com os efeitos de algo que era parecido com quimioterápicos. Pediram para eu estudar e ir falar para elas. Eu acho que é esse o papel da academia. A gente ser referência para essas questões de resolvermos juntos, pesquisando essas dúvidas. No trabalho sobre aciclovir, eu coloquei nome do pessoal da pediatria, porque elas fizeram, elas participaram da pesquisa, entende. Acho que esse é o papel, veja, como não é difícil escrever com a equipe. Isso é humanização também! Aí eu me questiono sobre o cuidado integral. O que é o cuidado integral, se a gente deixar totalmente essas questões que são tidas como biomédicas de lado? A parte técnica, isso também faz parte da humanização, está junto com a recreação, com a educação, não dá para desfazer dela. Está acontecendo ali. Aí eu te pergunto, o ser humano é composto de quê? Ele não tem corpo? Ele não tem ferida? Ele não tem piolho? Ele não tem sujeira? Ele não tem necessidades fisiológicas? Ele não tem assadura? Se eu pensar nisso eu sou biomédica? E quem mete a mão na ferida? Como é que se abre a barriga de uma pessoa para tirar um câncer? Isso não faz parte da integralidade também? Acho que nós não podemos esquecer que o modelo biomédico tem relevância sim. Às vezes escuto alunos falando: eu odeio o modelo biomédico! Coisas que aprendem lá no primeiro ano do curso. E eu na oportunidade respondo, como assim? O modelo biomédico tem sim importância, ele não pode ser descartado! É através dele que avançamos em muitas, a enfermagem tem vida a partir dele. Entretanto, o que temos que pensar é que ele sozinho não dá conta de outras particularidades do cuidado! O que não se pode pensar é que o modelo biomédico venha responder a tudo! Você entendeu? Por isso eu digo que eu adoro o modelo biomédico, eu amo o modelo biomédico (risos). Quando eu falo de PICC30, eu estou falando de alta tecnologia, requer horas de práticas, requer muito estudo de anatomia, fisiologia. O que para criança significa menos estresse com punções, significa menos gastos! Isso está vinculado ao modelo biomédico e eu não vou gostar disso? Temos que voltar sim para essas tecnologias sim! Mas também lembrar do quê? Do cuidado com o curativo, de treinar todo o pessoal para cuidar, e quem mais competente para fazer isso? Eu acho que ainda é a enfermagem (risos). Então, isso é ser ignorante, não aceitar isso é uma tremenda ignorância, e as pessoas estão muito ignorantes. O que é o PICC? É um cateter periférico que tem acesso a uma via central do corpo da criança e que, diferentemente de uma dissecção venosa, você não perde a veia. Da mesma forma, é cuidado denso o cuidado da pele de uma criança. Não dá para enfermagem se desfazer da relevância de um banho bem tomado, da cavidade oral higienizada, cabelo bem cortado, unhas bem feitas, orelhinhas limpas, nariz sem secreção, as partes íntimas sem assadura. É inadmissível criança com marca de esparadrapo, eu fico doente com isso. Gente, um óleo no algodão, num instante você retira. Trocas de cadarço de traqueostomia, aspiração. Você vai esperar o fisioterapeuta para fazer isso? Claro que ele tem uma técnica que só ele conhece que, junto com a aspiração, fará um melhor efeito. Mas se ele não está por ali, você vai esperar para aspirar? Sendo que é algo comum para ambas as profissões. Daqui a pouco então, o fisioterapeuta vai estar dando banho, e, saindo com maior qualidade, pronto, mais uma vez enfermagem perdendo espaço, porque fica parando para pensar o que é ou não pertencente às suas competências. Então, se não tiver fisioterapeuta, eu não vou trocar o cadarço, limpar a cânula? Por favor, a enfermagem pode muito bem fazer! Não dá para negar da importância também da cama bem arrumada, dos quartos limpos e arejados. São por essas questões que estamos lutando pela residência multidisciplinar na pediatria. Estamos pensando numa residência onde alunos de áreas diferentes estarão presentes na pediatria (enfermagem, psicologia e serviço social). O que a gente quer cobrar deles esse olhar para a criança, pensando nessa criança com pele limpa, hidratada, cabelo 30 Do inglês Peripherally Insert Central Venous Catheter. Ou seja, Cateter venoso Central de inserção periférica. Um enfermeiro habilitado pode fazer esse procedimento, conforme a Legislação do Exercício Profissional de Enfermagem (PEDREIRA, 2008, p 206). 114 limpo, bem cortado, como pensar nos cuidados de medicamentos, das necessidades recreativas, se está bem confortável onde está deitada, fazer massagem na criança para ela dormir melhor. Tudo isso é relevante! E o que é isso? É cuidado! O que acontece em muitos lugares é que teorizam, teorizam, teorizam e chega lá na prática, não acontece nada disso. Você vê criança sentindo dor, queixas da apatia da enfermagem, a ponto de se questionar para que enfermagem, por que não intervém pelo paciente? Não queremos isso! Estamos acreditando muito no diferencial da residência multidisciplinar. Que seja mais que uma espacialização onde as pessoas vejam o problema no corpo da criança, e que através dela, os alunos percebam as alterações nesse corpo, das necessidades desse corpo que precisa ser tratado, que o foco seja em todas as necessidades da criança (Andanças extras – professoraenfermeira). O próximo trecho entoa pequenos eventos reflexivos nos quais a professoraenfermeira questiona a quantidade de brinquedos em excesso sobre o leito estarem ou não em harmonia com as propostas dos projetos e ações de entretenimento e educação da brinquedoteca; interroga se em determinadas situações de negociação com as crianças hospitalizadas, a equipe não estaria em dissonância com a autoridade dos pais; interpela a respeito de se checar a necessidade da criança permanecer no leito, conforme a farmacoterapia em curso, já que permanecer no leito também é uma intervenção importante, é um modo de cuidar por conta de determinados medicamentos, que provocam efeitos de alteração hemodinâmica; e pondera com momentos que realmente a medicação possa permitir transladar para a brinquedoteca e se não haverá alterações significativas. Todos esses pequenos eventos elucidados pela fala da professora-enfermeira nos fazem pensar sobre Humanização em Saúde. Lembro de um plantão que, quando eu cheguei, encontrei as crianças com brinquedos sobre a cama. Não há problemas quanto a isso, mas o que me preocupou foi o excesso de brinquedos na cama, não pode ser assim. Tem que rever as propostas dos projetos, das ações que são provenientes da brinquedoteca. Pensar nessas ações que acontecem numa pediatria, não numa escola. É diferente. Precisamos lembrar que na escola o professor é a autoridade, mas na pediatria, é a mãe, a gente tem que pensar sempre na mãe como alguém que será a referência para a criança fora do hospital. Então temos que pensar nisso, na autonomia da mãe. Precisamos pensar no modo como negociamos com a mãe, nunca deixá-la de lado, ou do responsável. Outra questão que também é inerente à humanização, e que, às vezes, rompemos, é questão de que algumas medicações precisam sim ser realizadas no leito, porque precisa de monitoramento. É o caso da albumina 31. É no leito! Isso 31 A albumina humana é um expansor do volume plasmático do sangue. Sendo assim, é a parte proteica do sangue e atua mantendo a pressão coloidal osmótica no plasma capilar (é o equilíbrio desta pressão que mantém o sangue dentro dos vasos sanguíneos. Quando alterada, pode ser percebida através de edemas/inchaços pelo corpo. Isso significa que aconteceu um extravasamento de líquidos para os tecidos). É indicada para hipovolemia (pouco volume na corrente sanguínea); queimadura; hipoproteinemia (quadro proteico reduzido). Efeitos colaterais: aumento da salivação; febre; náusea; urticária; vômito; calafrios; efeitos variáveis na pressão sanguínea (podendo aumentar assim como diminuir bruscamente); respiração e batimentos cardíacos. Esta 115 quer dizer que é importante ele ficar na cama sim. E, mesmo se for quatro horas, mas é importante. Não pode ser visto por nós como algo que seja negativo para o tratamento, faz parte do tratamento. A criança está internada para se tratar. E aí eu digo que isso não quer dizer que seja mais importante que ir à brinquedoteca, de forma alguma. Porque, lá vamos nós ao modelo biomédico (risos). Também é humanização! É importante nesse momento! Depois ela vai poder fazer as outras coisas, ninguém está ali para ir contra isso, pelo contrário. Acho que essas coisas vão se resolvendo aos poucos, na conversa, porque estamos a favor da humanização do cuidado. Temos que pensar, já de início, que a pediatria não é escola. É uma pediatria para cuidados de crianças hospitalizadas. Temos que pensar que os pais precisam participar dos cuidados, precisam se mostrar autoridade frente ao cuidado de seu filho, junto a este e conosco da equipe. A gente não pode romper com essa autoridade dos pais, não estou falando em autoritarismo, veja bem, estou falando em autoridade. Estou falando daqueles que seguirão com as crianças em sua educação e cuidados lá fora (Andanças extras – professora-enfermeira). A nova brinquedoteca, segundo a professora-enfermeira, é um sonho realizado, um direito efetivado. Contudo, conforme já expomos em incidentes anteriores, com ela vieram questionamentos. Os eventos a seguir declaram interpelações quanto à necessidade de diálogo e pesquisas sobre as possíveis interferências das sociomaterialidade da brinquedoteca sobre a vida da criança e de seus familiares. Olha só... Acho que a palavra que me preocupa se chama ―excesso‖. Sou totalmente a favor da brinquedoteca, é uma conquista nossa, lá da época do quintal, depois com a salinha funcionando, aí com as festinhas, assim como as atividades de projetos de nossas pesquisas. O que é necessário agora é pensar essa nova estrutura, esse novo espaço da brinquedoteca, conversar melhor sobre as ações ligadas à brinquedoteca, aos projetos que tem lá, dos alunos que se envolvem com isso tudo. Pensar com carinho mesmo. É algo nosso, mas que às vezes é bom ver, de repente, até pesquisar como é que está sendo esse impacto sobre as crianças, quais os valores dessa criança agora. Claro que não somos influência total, mas tenha certeza, que nossas ações individuais mexem sim com as crianças, com os valores das crianças, contribuindo ou não para a estrutura familiar dessas crianças. Por isso falo, vale a pena conversamos mais sobre os ―exageros‖. Porque esses dias eu vi uma criança com um comportamento rústico com a mãe e, essa criança não era assim. Como eu disse, nem tudo vem da pediatria, mas, de alguma forma, a pediatria, todos nós, as coisas que são feitas lá, tudo o que vivenciam, as coisas que disponibilizamos para elas provocam influências nelas. Será que não estaríamos mimando essas crianças (veja! mimando no mau sentido, não no bom, porque também há um bom mimo, a gente sabe disso)? O que temos que buscar é questionar coletivamente, buscando ponderamentos (Andanças extras – professora-enfermeira). Claro que sim! Quando eu falo de brinquedos falo de algo que defendo muito, brincar e brinquedo são importantes para as crianças. Mas me questiono de caixa e mais caixa de brinquedos, de lápis, de papéis sobre a cama da criança. Para mim isso é exagero! Em casa a gente não faz isso! A criança não dá conta de brincar com tudo isso! Porque já está acontecendo de crianças rejeitarem presentes de terceiros porque não era de marca, o que é isso então? Onde é que ela está aprendendo esse tipo de alternativa. A gente conhece seus espaços de interação, que é restrito, ela convive solução intravenosa pode ser encontrada com várias designações comerciais dentre elas; Albumax, albuminar20%, Blaubimax,Beribumi ou Plasbumin 20 (GOLDENZWAIG, 2012). 116 nesse ambiente da pediatria e em casa praticamente. Não estou colocando culpa na brinquedoteca, na pediatria, em nós, não é isso, mas estou me questionando, sobre o nosso papel, sobre nosso modo de apresentar a brinquedoteca e as suas ações a essa criança? É este tipo de preocupação que tenho. Que tipo de criança, então, estamos ajudando a criar? Não estou dizendo que ela não tenha direito a essas coisas. Mas, de repente, pesquisar, como eu já disse, verificar junto às mães sobre essas crianças que passaram por lá como é que é e está em termos de brinquedos, em termos de aceitação de seu lugar de origem. Se não estamos mimando essas crianças e enviando elas para casa e provocando desestruturas familiares. Não nos esquecendo do agravante, retorno para casa de uma criança doente. Repito, isso não tem nada a ver com brinquedoteca. Tem a ver com nossas ações ao apresentar os brinquedos de um modo que incentive a busca de coisas de marca, por exemplo. Porque antes do espaço que conquistamos, antes de espaço lindo que temos hoje, que tínhamos eram enfermarias escuras, as mães falavam que parecia estarem numa prisão. E, hoje, eu vejo mãe conversando no jardim, mãe dormindo nos puffs, mães brincando com seus filhos, mães assistindo filmes com seus filhos. Já não escuto ninguém reclamar da pediatria e compará-la a uma prisão. Nossa! Antes tinha muita briga, confusão, porque não havia o que fazer, ficava mais fácil para as pessoas se estressarem e iniciarem uma briga entre filhos, entre mães e filhos, mães e mães. E, mesmo com o quintal, não era fácil, porque lá fora era quente, tinha mosquito. Agora a gente tem um espaço enorme, climatizado, cheio de brinquedos, televisões, revistas, jogos, banheiros, pias para lavar as mãos, salas com computadores. Muitas atividades para se envolverem. As mães vão para os quartos para dormir, porque passaram maior parte do tempo se distraindo na brinquedoteca. Os quartos são climatizados, são melhores iluminados. Houve uma melhora significativa na estrutura da pediatria, que vem refletindo muito bem na internação, no tratamento da criança e na convivência desta e de seus familiares com as rotinas do lugar. O único questionamento que faço é repensar em como estamos apresentando a brinquedoteca a essas crianças, aos seus familiares. Porque não há uma filosofia da pediatria, não há mais valores da pediatria, isso acaba vindo de cada um de nós. Então, como isso está sendo passado para as crianças? Isso é um problema nosso! Isso vem do modo como acionamos, individualmente, os espaços, os objetos! Não é culpa apenas da pediatria, da brinquedoteca, dos projetos. Acho que isso é o nosso papel, a academia precisa repensar constantemente a pediatria como um lugar de ensino e pesquisa, e agora a trabalhar com esses excessos também. A brinquedoteca é nosso sonho realizado. Ela tem muito a nos ensinar (Andanças extras – professora-enfermeira). 3.2.1. O Programa Cuidar Brincando O Programa Cuidar Brincando, criado em 2008, é uma atividade que está vinculada à Área de Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso. O Programa tem como objetivo promover os direitos de crianças e adolescentes hospitalizados e suas famílias por meio de atividades lúdicas, lúdico-terapêuticas e educativas, que atenda tanto os pacientes e seus familiares quanto os trabalhadores da Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (RIBEIRO, 2008). O Programa se fundamenta em teorias, práticas, tecnologias, legislações e metodologias que auxiliam a construção da autonomia e cidadania dos usuários de saúde, em 117 especial das crianças, adolescentes e de seus familiares. Dentre os fundamentos, destacam-se a Pedagogia de Paulo Freire, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 32, os Direitos da Criança e do Adolescente hospitalizados – Resolução CONANDA nº41 de 17/10/199533 e o Sistema Único de Saúde (RIBEIRO, 2008). Articula seis projetos: (1) o projeto Escola de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas; (2) Pediatria em Rede; (3) Brinquedo Terapêutico; (4) Biblioteca Livre; (5) Terapia Comunitária para familiares de crianças hospitalizadas; e (6) Comitê de Defesa da Criança hospitalizada (Ibid.). O primeiro foi o precursor do Programa de Extensão, sendo que seu início se deu no ano de 2003, com o nome de Projeto Escola de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas (EIC-Hospitais). O mesmo foi criado por meio de uma parceria entre o Comitê para a Democratização da Informática do Paraná, o HU de nosso estudo e um Hospital Universitário do Estado do Paraná, mediante a qual foram implantadas Escolas de Informática e Cidadania nas unidades pediátricas dos dois hospitais. O projeto foi inovador e inédito, por utilizar a informática como uma ferramenta para o desenvolvimento de atividades lúdicoterapêuticas e educativas para crianças e adolescentes hospitalizados e por promover a interatividade entre crianças dos hospitais envolvidos, possibilitando a construção de conhecimentos e a promoção da inclusão digital. Os demais projetos foram criados paulatinamente a partir de 2005, sendo que em 2008 foram articulados em forma de um Programa (Ibid.). O programa conta com a participação da comunidade acadêmica da Universidade Federal, com a atuação de alunos provenientes de diversas áreas. Já atuaram no Programa, alunos dos cursos de biologia, medicina, pedagogia, economia, computação, enfermagem e de psicologia. Presentemente, os alunos atuantes são da enfermagem, psicologia e computação. Junto a eles, há professores que divulgam e apoiam o Programa, incentivando acadêmicos a participarem das atividades do Programa de alguma maneira. Contam com a parceria de um professor vinculado à Secretaria da Comunicação da Universidade desde 2010, o qual articula com o Programa de Extensão, mais precisamente o subprojeto Biblioteca Livre, que passou a 32 33 Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Refere-se ao Estatuto da criança e do adolescente (BRASIL, 1990). Resolução nº. 41 de outubro de 1995. Refere-se aos direitos da criança e do Adolescente hospitalizados (BRASIL, 1995). 118 acontecer em parceria com a ideia da Inclusão literária desenvolvida pelo professor em questão (RIBEIRO, et al 2010). Há diversos professores da Faculdade de Enfermagem (nem todos ligados à área da criança e do adolescente) que contribuem para as atividades referentes à Terapia Comunitária para funcionários, crianças e seus familiares – atividades que acontecem no jardim de inverno da Pediatria (Ibid.). Sobre a Pediatria em rede, o subprojeto conta com a parceria da pediatria do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), que está vinculado à UFMT onde o Hospital Universitário tem sua sede. E, através desta parceria, as crianças hospitalizadas do HUJM de nossa pesquisa entram em contato com crianças hospitalizadas de outra região do país. A parceira que representa a pediatria do HU-USP é uma psicopedagoga bastante empenhada nos estudos sobre a atuação de recreadores e sobre brinquedoteca (Ibid.). O Brinquedo Terapêutico se iniciou em 2010, após aprovação do projeto, com campo de atuação no hospital do HUJM, em especial na pediatria, assim como na Pediatria, UTI pediátrica e neonatal de um Hospital e Pronto Socorro do Município de Cuiabá. Em principio, compreendeu a capacitação através de cursos teóricos, seguidos de práticas no campo hospitalar, com distribuição de uma maleta para cada setor participante para realizar o preparo das crianças antes da punção venosa. Contou com a participação de uma professora de uma Universidade de Belo Horizonte e outras duas professoras de Universidades Públicas de São Paulo, mais especificamente ligadas a um grupo de estudos do brinquedo (Ibid.). E, por fim, o Comitê de Defesa da Criança hospitalizada que conta com alguns parceiros, entre eles a Promotoria de Infância e Juventude do município, o Conselho Tutelar e Professores do Instituto de Educação e de Enfermagem da UFMT, a qual o Hospital Escola encontra-se vinculado. Entretanto, o Comitê não se restringe ao HUJM, atuando em qualquer instituição hospitalar pública com o intuito de defender os direitos das crianças e adolescentes hospitalizados que muitas vezes são violados (Ibid.). Da enfermagem atuam principalmente os alunos bolsistas da professora coordenadora do programa. E proveniente da psicologia, há atuação intensa de alunas bolsistas orientadas por professoras da área que se interessam em desenvolver atividades na pediatria. Realizando atividades (reciclagem de materiais, técnicas de leitura com as crianças) paralelas às atividades do Programa, atuaram em atividades do Projeto de Extensão (informática e 119 cidadania), inclusive participando das reuniões e capacitações promovidas pelo grupo, além de interagirem com os integrantes, uma vez que se encontram cadastradas no grupo virtual do Programa, constituindo-se relevantes parceiros para pesquisas (LEITE, 2011a). Quanto aos alunos da computação, estiveram presentes nos primeiros três anos da então Escola de Informática e Cidadania, atuando como educadores e pesquisadores mediante a parceria estabelecida entre as coordenadoras do projeto ―Escola de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖ com professoras da computação. Os alunos da computação retornaram ao Programa de modo pontual no final de 2009, após uma apresentação do ―Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖. Essas apresentações aos alunos da Ciência da Computação ficaram mais elaboradas, passando de convites e divulgações em lugares e momentos informais a lugares e momentos formais. O Programa voltou a ser divulgado no Departamento de Computação em 2010, e, em 2011, retornando a ter como fulcro estratégico os alunos da computação, assim como uma das professoras do Departamento da Computação, justamente a que coordena e ministra a disciplina semestral intitulada ―Tecnologia e Sociedade‖ (LEITE, 2011b). Essa professora apoia, é ―Amiga‖ do programa, e por isso aproveita sua disciplina para articular com as atividades de informática e cidadania do Cuidar Brincando; desse modo, influencia e incentiva a participação de seus alunos na pediatria. Os alunos que assistem à aula sobre Tecnologia e Sociedade – e vinculada à aula a apresentação do programa – atuam em parceria com o Programa de Extensão reciclando computadores, ministrando pequenos cursos, como por exemplo, ―Noção de como trabalhar no computador utilizando o Linux 34‖ (Ibid.). Além destes alunos, há também aqueles considerados seguidores do programa, ou melhor, os voluntários que se interessam e aderem às atividades na pediatria já no início do curso de enfermagem, da psicologia ou da computação, após assistirem a apresentação do Programa e a divulgação realizada pelas veteranas à comunidade de enfermagem no início da 34 Na realidade, os alunos de computação instalaram o Ubuntu nos computadores do Laboratório de Informática. Segundo Carmo do Val (2010) muita gente confunde o Linux com o sistema operacional, entretanto, o GNU/ Linux é o kernel do sistema operacional. O kernel é o componente central da maioria dos sistemas operacionais e serve de ponte entre o sistema operacional (o que vemos na tela) e o hardware (as peças do computador). O Ubuntu, assim como o Mandriva, o Fedora, o CentOS e outros, são sistemas operacionais confeccionados a partir da solidez do kernel do Linux. Sendo assim, o Ubuntu, não é o Linux. De um modo genérico, o Linux é o coração do Ubuntu. A filosofia do Ubuntu compreende criar um sistema operacional e uma série completa de aplicações exclusivamente compostas de Software Livre e Código Fonte Aberto. 120 semana dos calouros. Outros meios de divulgação são o site da Universidade e impressos. Vale ressaltar, que todos os alunos participantes como educador ou como voluntários do programa sob outra função recebem certificações ou declarações de participação, os quais são gerados pelos professores vinculados às atividades desenvolvidas no Programa ou são confeccionados para aqueles cadastrados no SIGProg 35, como integrantes do Programa (LEITE, 2011b). A área de recreação teve um investimento de R$ 186.467,03 do Poder Público para a construção e ampliação, a qual foi inaugurada em fevereiro de 2011. A iniciativa proveio de uma equipe que representava o projeto que ―Abraçou‖ o Hospital em 2008. Entretanto, essa pôde ser efetivada apenas em 2010, com a concretização do investimento. A proposta teve o apoio profissional de docentes da Faculdade de Enfermagem da UFMT, em especial quanto à compra e instalação dos móveis, computadores, brinquedos pedagógicos, escorregador, balanços e gangorras. O novo espaço da brinquedoteca, cerca de oitenta metros quadrados de área, conta com laboratório de informática e classe hospitalar; há televisão e videogame; foi organizado um espaço para os bebês; sendo edificado conjuntamente à brinquedoteca um jardim de inverno; e somou-se cerca de 80 metros quadrados para a nova ala de recreação (JORNAL DA UFMT, 2011; ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DE MATO GROSSO, 2011). A ludicidade sempre esteve presente na pediatria do HUJM, pois onde há criança, certamente haverá brinquedos. No entanto, é importante destacar que no HUJM a ludicidade fez parte do cotidiano, como declarado na fala da professora-enfermeira, desde o início do hospital, mas de forma intencional. Aqueles (as) jovens que iniciaram o hospital em 1984, e compuseram a equipe da pediatria, trouxeram desde o princípio a ludicidade como um valor e como parte do cuidado (RIBEIRO, 2012). Havia mobilização de ludicidade especialmente na pediatria, quando a ―tia‖, professora de educação física, chegava. Ela era recreadora e pessoa de referência em lazer no ambiente, como já comentado anteriormente, não apenas para as crianças, mas também para os adultos. Ela sempre foi uma parceira no cuidado às crianças, e quando foi proposta a 35 O Sistema de Informação e Gestão de Projetos (SIGProj) tem como objetivo auxiliar o planejamento, gestão, avaliação e a publicização de projetos de extensão, pesquisa, ensino e assuntos estudantis desenvolvidos e executados nas universidades brasileiras. O SIGProj está sendo desenvolvido por pesquisadores e alunos de várias universidades brasileiras (formando uma comunidade SIGProj) sob a coordenação do Ministério da Educação (BRASIL, 2011). 121 inserção do Projeto EIC-Hospitais na pediatria, negociou-se com a ―tia‖ um cantinho da pequena brinquedoteca, conhecida como ―Salinha‖; assim, um espaço foi disposto para cinco reformados Pentium 236. Hoje, o que parece corriqueiro, nada de mais – computadores para brincar –, era, minimamente, motivo para diversas observações, como: ―Mas nem o pessoal do hospital tem acesso a computadores e à internet, agora as crianças da pediatria já têm?; mas e a infecção cruzada?; mas as crianças não estragariam esses computadores em pouco tempo?; mas e a manutenção?; mas quem vai cuidar?; como assim, uma lan house no hospital?; mas, afinal, para que computadores para as crianças?‖ (RIBEIRO, 2012). Conforme as reflexões de Ribeiro (2012) vieram às pesquisas que mostraram os benefícios dos computadores como um recurso a mais para entretenimento das crianças. O ―Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖, alocado no espaço da brinquedoteca, portanto, confirma que a Faculdade de Enfermagem da Universidade vem contribuindo para a efetivação da ampliação da brinquedoteca, pois, desde 2004, compreende uma ação estratégica favorável à efetivação dos direitos da criança hospitalizada quanto à garantia de um espaço para brincar e ter continuidade de seu processo de aprendizado cognitivo e intelectual, conforme preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. E, no decorrer de sua existência, diversos trabalhos vinculados ao Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas, que tiveram cunho avaliativo, confirmaram a relevância dessa ação de extensão e pesquisa: favoreceram o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social das crianças e efetivaram possibilidades de expressão e verbalização das angústias, dos anseios e das necessidades físicas e emocionais. As crianças, envolvidas no projeto, compararam o tempo em que ficaram restritas ao leito com o tempo que vivenciaram no projeto, e todas que participaram do projeto qualificaram-no como algo que as beneficiavam, as auxiliavam na percepção da própria doença e que pode levá-las a se recuperar mais rapidamente. Para os trabalhadores da pediatria, o projeto tornou a criança mais receptiva ao tratamento e aos profissionais que cuidam dela, modificou o ambiente, trouxe alegria, otimismo, favoreceu a comunicação, a socialização, a recuperação e a inclusão digital. O espaço da Escola de Informática e Cidadania, diferentemente do ambiente das enfermarias, proporcionava vivências e atividades que incentivavam e possibilitavam a interação, a troca de ideias, a 36 Microprocessador fabricado pela empresa Intel em 1997. 122 conversa, o estabelecimento de amizades e a cooperação entre as crianças, fazendo com que elas não sentissem tanto a hospitalização. As repercussões da interatividade proporcionadas pelo projeto (chats, e-mails, redes sociais, navegação na Internet) mostraram que as crianças hospitalizadas tiveram a oportunidade de ―sair‖ do isolamento do hospital e interagir com pessoas importantes e que estavam distantes, mantendo o vínculo interrompido pela internação; além disso, a interatividade permitiu a ampliação de sua rede de relacionamento, efetivando novas amizades, em especial com outras crianças internadas nos hospitais participantes do projeto (RIBEIRO et al, 2003; RIBEIRO et al, 2004; OLIVEIRA et al, 2004; CONSSETIN et al, 2004; MARTINS; PEREIRA, 2005; MARTINS; SASAKE, 2005; MARTINS et al, 2006; RIBEIRO et al 2005; RIBEIRO; SEWO, 2005; OLIVEIRA et al, 2005; BORGES et al, 2005; RIBEIRO, 2006; BARROS; VIEIRA; RIBEIRO, 2006; LEITE; VIEIRA; RIBEIRO, 2006; LEITE et al, 2007; LEITE, 2007b; LEITE & RIBEIRO, 2007; SEWO, RIBEIRO, VIEIRA, 2007; LEITE & RIBEIRO, 2008; RIBEIRO et al, 2010). Como já mencionado, em 2008, o Projeto de Informática e Cidadania passou a ser um Programa de Extensão e pesquisa. E este, após ganhar autonomia da Organização NãoGovernamental (ONG) vinculada à Democratização da Informática, solidificou suas ações não apenas através das atividades de informática e cidadania, mas de outras práticas com sede na brinquedoteca da pediatria do HUJM, bem como por meio de atividades que se estendem para outras localidades institucionais, isto é, além do hospital universitário, estando vinculadas às práticas de cuidar de crianças e adolescentes hospitalizados e de seus familiares (RIBEIRO, 2008). A professora e enfermeira responsável pelo Programa de Extensão Cuidar Brincando, especialista em Enfermagem Pediátrica e doutora em Enfermagem em Saúde Pública, diz acreditar que o espaço da brinquedoteca incentiva o desenvolvimento dos pacientes e possibilita a oportunidade de se relacionarem com outras crianças e com a família, favorecendo, dessa forma, o processo de recuperação da criança hospitalizada. Para a professora e enfermeira, a Brinquedoteca faz parte do Programa de Extensão, pois é uma atividade de extensão do curso de Enfermagem da Universidade e da Enfermagem Pediátrica do HU (JORNAL DA UFMT, 2011ab). O HUJM, conforme entrevista de uma médica pediátrica do hospital, atende crianças em que a média de período de internação varia entre um a cinco meses. Sendo os diagnósticos mais frequentes: imunodeficiência adquirida e congênita, cirurgia pediátrica (de reparo de 123 defeito da face), fibrose cística, assim como abuso sexual agudo (violência sexual contra crianças). A equipe conta com especialista em adolescente, cardiologista, assim com há uma UTI neonatal. Informa também que a pediatria, atualmente com 27 anos, tem capacidade para 20 leitos, estando ativos 14 deles37. Mantém a característica de atender a maioria dos casos que tem procedência interiorana. E, para todo caso de internação, o procedimento inicial é o de investigação diagnóstica, para então ser encaminhado para tratamento específico (JORNAL DA UFMT, 2011a). Para a coordenadora do Programa de Extensão, em decorrência do longo período de hospitalização, a brinquedoteca veio para melhorar o dia-a-dia das crianças e de seus acompanhantes (JORNAL DA UFMT, 2011ab). 3.3. Algumas reflexões que nos levaram a escolher a pediatria e alguns de seus objetos sociotécnicos para estudos Em ―Algumas reflexões sobre as relações entre crianças, cidades e brinquedotecas‖, Galindo et al (2010) nos convida a pensar o espaço da brinquedoteca como um lugar não homogêneo, como um ambiente múltiplo, por onde transita uma heterogeneidade sociomaterial. E por conta dessas variações de espacialidades e diversidade de elementos que ali se encontram, a brinquedoteca torna-se um objeto científico atrativo para pesquisas científicas. Conforme Galindo et. al. (2010; 2012), a brinquedoteca pode ser compreendida como um espaço múltiplo, aberto, onde é potencial de entretenimento para as práticas lúdicas vinculadas ao universo infantil. Entretanto, devido à multiplicidade de eventos que uma brinquedoteca pode desencadear, decorrente da porosidade de suas fronteiras para com outros saberes localizados, que por ali se espalham, percebe-se que é possível encontrar não apenas o mundo infantil, lúdico e de entretenimento, como há uma mescla deste com o mundo do adulto. 37 Em entrevista, uma das enfermeiras participantes de nossa pesquisa confirmou as informações obtidas no site da Universidade. No site, encontramos informações sobre a demanda atendida pelo hospital e o número de leito contratualizados e, por isso, ativos, 14 leitos. Assim como a relevância da nova brinquedoteca para as crianças e adolescentes hospitalizados no HUJM. 124 O que nos faz pensar na atuação e nos trânsitos dos profissionais de saúde que passam pela brinquedoteca, assim como o modo como adultos que cuidam (responsáveis pelas atividades programadas no local) as efetivam; do mesmo modo perceber como aqueles que acompanham os que são cuidados utilizam o espaço da brinquedoteca, que muitas vezes pode estar ou não ligadas ao entretenimento, ao lúdico. Não deixando de lado os embates de adultos com crianças, isto é, as crianças criam os seus espaços, às vezes subvertendo o que foi produzido pelo adulto, ou melhor, confeccionam novos lugares com ranhuras próprias, com suas fissuras típicas, em meio a contradições específicas delas, enfim, do jeito mais adequado ao mundo delas. Lembrando que os adultos também produzem ranhuras, fissuras e contradições típicas deles (GALINDO et al, 2010). Alguns estudos apontam para a existência de diversos tipos de brinquedotecas, assim como de diferentes alocações às quais ficam atreladas (VECTORE & KISHIMOTO, 2001; MAGALHAES & PONTES, 2002; WANDERLIND, 2006; DRUMMOND et al, 2008; OLIVEIRA & GEBARA, 2010). Entretanto, a de nosso interesse, restringe-se aos espaços e espacialidades da brinquedoteca hospitalar de unidade pediátrica (RODRIGUES; LEITE; GALINDO, 2011). Diante das complexas entidades envolvidas nas ações e mobilizações administrativas, arquitetônicas, políticas, educacionais e científicas interpeladas pelos Cursos de saúde da Universidade Federal de Mato Grosso para se conquistar um Hospital Escola (décadas de 70 e 80), e na própria pediatria, conforme contam os incidentes textuais encontrados em sites, artigos científicos e falas cedidas, não tivemos a presunção de estudar todas as sociomaterialidades que estas possam assumir, mas nos restringir, neste momento, a potencialidade dos computadores, não só como entretenimento, mas como objetos sociotécnicos que contribuem para o cuidado na pediatria. Por isso nosso foco permaneceu apenas restrito a alguns incidentes de sociomaterialidades que habitam a pediatria, ou seja, de buscarmos e seguirmos ações marcantes de alguns objetos sociotécnicos que se encontram localmente situados (em especial, computadores que moram na brinquedoteca e visitam enfermarias). Portanto, a nossa pesquisa se restringe à clínica pediátrica como lócus de escolha, por perceber que ―pequenas ações locais‖ de objetos sociotécnicos que ―vivem‖ no hospital possuem uma complexa ontologia que carece ser estudada. Não bastando, a escolha da clínica pediátrica foi intencional, já que tem em funcionamento práticas de ensino, pesquisa e 125 extensão a todo vapor. Por conta disso, nossos estudos partiram de algumas atividades do ―Programa de Extensão Cuidar Brincando‖, mais especificamente, as atividades de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas que acontecem na brinquedoteca, que se declaram espalhadas pela pediatria e se caracterizam como habitantes, moradoras da pediatria. O nosso estudo se conecta as parafernálias – ou mesmo as práticas e tecnologias ligadas às materialidades médicas cirúrgicas do ambiente hospitalar de média e alta complexidade – e transita entre os brinquedos originados da inventividade e da criatividade, ou melhor, provenientes do reaproveitamento de materiais (oficinas de confecção de brinquedos). Nelas também estão incorporados os brinquedos tradicionais industrializados (carrinhos e bonecas) e os eletrônicos (computadores e videogames). No Projeto ―Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖ (EIC-Hospitais), por sua vez, utiliza-se de computadores e de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para transportar a criança hospitalizada, via Internet, para um mundo que transpõe os muros do hospital (LEITE; VIEIRA; RIBEIRO, 2006). Em todos esses contextos as tecnologias e arranjos sociomateriais possuem extrema relevância para o cuidado. Sendo assim, ao longo de nosso percurso, ou seja, as idas e vindas à pediatria, tivemos como atravessamentos para as investigações, e em seguida para as análises, os seguintes contextos: 1) as práticas na brinquedoteca e 2) atividades do Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. 126 CAPÍTULO 4 AS ANDANÇAS PELA PEDIATRIA Andanças: nada mais são que reinvenções de caminhos conhecidos. 127 As andanças (itinerários) pela pediatria ocorreram durante um período de três meses, entre Outubro e os primeiros dias do mês de Dezembro de 2011. Foram 17 visitas, não sequenciais. O tempo das andanças variou de 3 a 8 horas, portanto, cada visita não contemplou às 12 horas de um plantão hospitalar. O contexto de estudo foram os espaços da Unidade Pediátrica do Hospital Universitário, como já apresentado anteriormente. Houve três sessões fotográficas da pediatria para compor nosso trabalho, duas durante os três meses de pesquisa (entre Outubro e Dezembro) e a última adicionada um mês depois (em Janeiro de 2012). Posteriormente foi preciso retirar a foto, uma vez que houve algumas mudanças significativas e imediatas na pediatria. Como exemplos, pode-se citar a inserção de um computador mais potente na sala de repouso da enfermeira e a mudança da decoração do posto de enfermagem. A cada espaço da unidade visitado, a intensidade variou conforme o tempo que a pesquisadora permaneceu no local ou com quem conversou e o que fez; estando às atividades realizadas ligadas às ações dos objetos sociotécnicos da brinquedoteca e do Projeto Informática e Cidadania, revelaram-se vinculadas, ou acontecendo paralelamente, a outras atividades do Programa de Extensão ou da Brinquedoteca, assim como a outras Práticas diárias que acontecem na pediatria. Para chegar ao campo das Tecnologias do Cuidado, a própria pesquisadora principal deste trabalho teve que se relacionar com uma diversidade de aparatos sociotécnicos por conta das condições climáticas da região: calor constante, intensos raios solares. Na prática, significou proteger sua pele com filtro solar, cobrir seu corpo com uma camiseta de manga comprida, óculos escuros, andar com um tênis confortável, por fim, experimentou a utilização de um chapéu de palha, e para hidratação do corpo optou-se pelo constante consumo de água mineral. Indumentária que experimentou aos poucos e que acabou por ser uma necessidade cotidiana ao longo dos trânsitos que realizou até chegar ao hospital. Entendemos por produção sociotécnica os processos de conhecimento que inscrevem e materializam o mundo através de formas (HARAWAY, 2004). Percebemos que não dá para descolarmos a pesquisadora dos objetos sociotécnicos que interpelam junto a ela enquanto anda, conversa, participa, atua no hospital e na pediatria. No que concerne a sua apresentação ao ingressar no hospital, atores e actantes arranjam-se constantemente, simultaneamente. A pesquisadora escolheu manter-se à paisana, pois que 128 optou por não utilizar jaleco branco. Essa decisão por deixar o jaleco branco de lado foi com o intuito de evidenciar que a pesquisadora principal deste trabalho não era uma nova integrante da equipe de enfermagem, assim como evitar incitar qualquer hierarquia ou poder (status) entre a pesquisadora com relação à equipe, crianças e seus familiares. E quanto à identificação, isto é, para ser reconhecida como aluna da Universidade à qual o hospital está vinculado, bem como educadora do Programa de Extensão, optou por utilizar o crachá da instituição. Decisão que se tornou premente ao perceber que reduziria as resistências e gasto de tempo no portão de entrada do estacionamento, junto aos guardas de uma empresa terceirizada, distintos daqueles que ficam na porta de entrada dos fundos do hospital. Em seus momentos de chegada à pediatria, por maior proximidade com o local da descida do ônibus ou das caronas que pegou, teve que caminhar por um campo de obras, já que as áreas externas dos fundos do hospital estavam em meio à pavimentação3839. O que a incitava passar pelo local era a movimentação de obras, e porque passar por ali fazia parte do cotidiano da maioria das pessoas que trabalham no hospital, haja vista que a entrada dos fundos compreende um acesso de carros de funcionários, docentes e discentes legalmente identificados. A pesquisadora preferiu ingressar no hospital pelo fundo ao invés de entrar pela porta da frente, o que, convencionalmente, visitantes fariam, ficando, assim, mais próxima da ala Administrativa do Hospital e da Clínica Pediátrica. Percebendo-se, desse modo, como um híbrido educadora/pesquisadora, como um actante vinculador entre Hospital Escola e Universidade. Como paisagem, um estacionamento (Figuras nº. 7 e 8) em reformas, no qual avistou muita terra vermelha sobreposta por sobras de frondosas mangueiras. Como som de fundo, britadeiras misturadas com o tintilar de martelos, esguichos de tintas na ala de consertos de 38 A empreitada que é realizada com recursos da Secretaria de Transportes e Pavimentação Urbana Construções desde março. São 13.448,23 m² de pavimentação em concreto e bloquetes, calçadas e meios-fios. As benfeitorias junto ao Hospital Universitário Júlio Müller, administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso, garantem mais saúde, acessibilidade e qualidade de internação a todos os pacientes. O projeto de pavimentação atende totalmente as normas técnicas e de acessibilidade. Optou-se pela necessidade da pavimentação de partes em concreto e partes em bloquetes ecológicos (que não impermeabilizam o solo) devido à utilização dos estacionamentos. Dos sete estacionamentos, três são de acesso a caminhões de até 30 toneladas; um de caminhões de até 15 toneladas; e outros três de veículos leves. O projeto original não previa a construção de rampas de acesso nem a tubulação para passagem de cabos de fibra ótica para a modernização e adequação do setor de informática do Hospital. Em virtude desses acréscimos foi necessário aditivar a obra que chegou a R$ 1,8 milhão, orçada inicialmente em R$ 1,5 milhão. A inclusão, agora, desses tópicos compreendeu preservar o pavimento contra danos futuros (http://www.sinfra.mt.gov.br/TNX/conteudo.php?sid=1&cid=2020). 39 Em decorrência das obras, o estacionamento fora deslocado para outro espaço próximo ao hospital. Mesmo assim, alguns funcionários, professores e alunos ou visitantes permaneceram estacionando carros e motocicletas próximos ao portão dos fundos do estacionamento (LEITE, 2011a). 129 equipamentos e maquinários. Ao longe, ainda na primeira visita, próximo ao anexo didático (salas de aula, auditório e biblioteca setorial do complexo hospitalar), principiava o que durante 17 visitas foi se aproximando do portão dos fundos: amontoados de bloquetes ecológicos (Figura nº.1), cinzas dos blocos de cimento (Figura nº. 4) e bloquetes ecológicos no pátio em reforma (Figura nº.3), que, aos poucos, foram se infiltrando e se mesclando com a terra vermelha que a recepcionara a priori. Antes de alcançar à calçada, à grama e à falta de sombra, o caminho para a pediatria (em destaque) era o desnível de solo, a sombra das mangueiras, o vermelho da terra; esta última passou a acompanhar a pesquisadora várias vezes. A princípio, o vermelho chegou a incomodá-la, pois o percebeu como camadas de terra impregnadas em seus tênis (Figuras nº. 5 e 6) ao chegar à porta dos fundos do hospital, Figura nº.1 - bloquetes para pavimentação ecológica necessitando limpá-los no carpete de entrada do portão, após o corredor ao lado da pediatria (Figura nº.2). O que motivou a pesquisadora a andar com cautela sobre a terra vermelha, e, nos raros momentos de chuvas, sobre o barro vermelho, para não levar consigo um excesso de sujeira. Figura nº. 2 – corredor ao lado da pediatria. Adentrei ao hospital pela porta dos fundos. Dia de calor, abafado, suor escorrendo pelo corpo. Cumprimentei os guardas. Um deles me perguntou sobre o meu vínculo com o hospital. Expliquei que era estudante da Universidade a qual pertence o HU e que tinha pessoas me esperando na Pediatria (Andanças 2) (continua). 130 Desculparam-me pelo questionamento, dizendo que não havia porteiro na porta dos fundos do hospital por isso a abordagem na porta da garagem. Disse não ter problemas. Área externa do hospital em construção (pavimentação do pátio dos fundos do hospital), por isso muita terra vermelha nos calçados. Retirei meus óculos de sol e blusa de manga.. Pensei em retirar o meu crachá de educadora do Programa de Extensão, mas pensei em não utilizar no hospital por hora. Mas como não havia ninguém na porta (como já haviam me dito no portão de entrada) (Andanças 2) (continua). Figura nº. 3 – pátio em reforma. tive que percorrer todo o corredor externo, sair na rua da entrada do hospital, para pegar um crachá na entrada. Pensei em utilizar o crachá do programa nas próximas visitas para não ter problemas de identificação, já que eu queria continuar adentrando pelos fundos. Resolvido o problema do crachá, fui para a pediatria (Andanças 2). Figura nº. 4 – blocos de cimento retirados . Ficou salientado na portaria que a referida pesquisadora é aluna de Pós-Graduação da Universidade, à qual o HU se encontra vinculado, atua como educadora no Projeto Informática e Cidadania, assim como já havia estagiado na pediatria e trabalhado anteriormente na Brinquedoteca como bolsista. Portanto, encontrou-se livre para atuar na pediatria sob a autorização da Superintendência, Diretoria de Enfermagem e Coordenação do Programa Cuidar Brincando para a realização da pesquisa. Para essa pesquisa pôde contar com documentos de ciência e autorização dos responsáveis pelos Figura nº. 5 – tênis com barro vermelho projetos (ANEXOS D, E, F e G). 131 Sendo necessária a utilização do crachá pela educadora, por conter informações que a vinculam às atividades da pediatria e da Universidade (Pós-graduação). Apresentei-me na Coordenação [Diretoria] 40 de Enfermagem como aluna de PósGraduação, falei da aprovação do meu projeto mostrando o parecer do Comitê de Ética do HU, os TCLE e uma cópia do projeto. Expliquei sucintamente o projeto, falando de meu objetivo, minha metodologia e o que eu espero produzir através desse trabalho em andamento para os presentes na coordenação no dia. Receberamme muito bem, desejaram-me muita sorte no trabalho que desejo realizar (Andanças 1) (continua). Aproveitei para deixar um folder sobre o Programa de Pós-Graduação – Mestrado – com a coordenadora para fins de compressão de que seria a Pós Graduação que se refere um Programa proveniente da Interdisciplinaridade dos estudos em Cultura. Ao me despedir, orientaram me ir à Coordenação de Enfermagem em Pediatria, representação direta da enfermagem na Clinica Pediátrica. Assim o fiz, fui até a sala da Chefia Imediata da Pediatria. Percorri todo o Hospital até chegar à Chefia, ao adentrar a porta da chefia imediata, nem me apresentei e já haviam me reconhecido. Falei sobre o motivo que me levava até ali, refiz a apresentação que havia feito na Coordenação de Enfermagem, (Andanças 1) (continua). Figura nº. 6 – sobre pedregulhos. dizendo para eu ir à pediatria e que estariam ligando para lá a fim de informar que eu, a partir de então, estaria indo e andando pela clinica com o intuito de pesquisar sobre Práticas de cuidado da pediatria e que estaria realizando apresentação dos TCLE para entrevistas e observação de crianças, equipe de enfermagem e familiares interessadas em participar do meu trabalho. Fui para a Clínica Pediátrica, andei novamente todo o corredor do HU. Bom, chegando à Pediatria. Fiz um de meus hábitos costumeiros, abrir a porta da sala de repouso da enfermagem, local que também é utilizado durante o período diurno por professores e alunos da enfermagem que estagiam na clínica (Andanças 1). (continua). Figura nº. 7 – estacionamento Cumprimentei a professora com um abraço, pois esta já me conhecia, apresentoume aos seus alunos como ―enfermeira Padrão‖, estes me cumprimentaram também. A professora quis saber o motivo de minha presença na clínica, comentei que estava iniciando minha pesquisa de campo referente à minha dissertação de mestrado. Ela 40 Adição posterior nossa. 132 me disse que estava na clínica há duas semanas com esses alunos do 7º semestre, estavam estagiando, realizando cuidados e medicações no período matutino (das 7h00 às 13h00). Despedi momentaneamente, comentei que ia me apresentar à enfermeira da clinica para informar o motivo que me trazia a clínica (Andanças 1). Andando pelo corredor, notei bastante movimento, conversei com um aluno de enfermagem que estava no nono semestre, período de internato urbano, como costumamos chamar. Encontrei com a fisioterapeuta do setor, percebi os outros alunos da professora perambulando pela clínica desenvolvendo suas atividades, pessoal do banco de leite entregando mamadeiras, residente de medicina conversando com a equipe de enfermagem sobre internação de paciente, sobre mudança de prescrição de uma criança, técnicas de enfermagem preparando medicação junto com aluno da enfermagem, secretária trazendo pedidos feitos pela enfermagem, limpeza levando materiais para o expurgo, crianças no quarto e no refeitório, crianças na brinquedoteca, crianças com seus acompanhantes e educadores na sala de informática (Andanças 1) (continua). Novamente, cumprimentos de algumas técnicas que já me conheciam. Andando por toda a pediatria para ter uma noção geral, retornei ao posto de enfermagem (Andanças 1). No posto, logo passou a professora de enfermagem [...] Ela comentou que a Enfermeira Tamires estava em procedimento, mas logo conversaria comigo [...] 10 minutos em frente do posto, um interno de enfermagem puxou conversa, mais 5 minutos e, pronto, vi a Tamires que saia com uma criança nos braços, de uns 11 meses, que vinha da sala de procedimento indo em direção ao quarto de lactentes, ao lado do posto, foi (Andanças 1) (continua) Figura nº.8 – estacionamento 2 possível vê-la colocando a criança no berço, pois essa ala dos bebês tem janelas de vidro transparente que permitem visualizar tudo lá dentro e vice-versa (Andanças 1). Ela conversou um pouco comigo, perguntando-me em que ela podia me ajudar e, se possível, o que eu também poderia contribuir e sorriu. Parou no corredor e pediu que eu falasse que ela aguardaria, sem problema algum. Falei sucintamente do meu objetivo, que eu já havia ido às demais chefias de enfermagem. Ela se interessou dizendo que estaria à disposição para o que eu precisasse para a efetivação de minha pesquisa de campo. Pediu licença apenas para lavar as suas mãos. Frisei que inicialmente estaria realizando uma conversa com a equipe, para verificar se na equipe dela haveria alguma interessada. Sugeri uma apresentação em Power Point no posto de enfermagem mesmo. Entretanto, ela disse que seria melhor individual e durante o horário próximo do almoço, pois era um dia atípico, teve que puncionar duas crianças lactentes com acesso venoso muito difícil e que demandou metade de sua manhã, e, nesse dia, ainda, havia alunos de enfermagem, crianças internando, alegou estar muito corrido. Comentou comigo de como estava o funcionamento do cuidado: seguem uma escala mensal, que contém 3 equipes diurnas e 3 noturnas, carga horária é de 12 por 60 recentemente implantada [...] falou que há enfermeiros visitadores, enfermeiros que circulam, esses ajudam quando vão à clinica, há uma enfermeira voluntária [...] Após sua explanação, aceitei a proposta de realizar a conversa individual ou em dupla, conforme fossem ficando com um tempo livre. Estratégia que passei a utilizar com as demais equipes (diurno ou noturno) (Andanças 1). 133 Segundo P.Spink (2003), o pesquisador não sai a campo, pois o campo não é um lugar específico, delineado, separado, distante, ou seja, o campo compreende os produtos sociais e suas relações, são composições de materialidades e sociabilidades que se interconectam das mais diversas formas e maneiras. Por isso acreditamos que a pesquisa já estava se compondo há mais tempo, e constatamos que seus eventos, a posteriori, já na pediatria, transitaram, movimentaram-se e não se restringiram apenas à ala da Brinquedoteca e à sala de Informática e Cidadania ou enfermarias, mas já se construía nas conversas, nos estudos realizados, nos lugares onde esteve a pesquisadora, sempre a pensar nas Tecnologias do Cuidado encontradas na pediatria. Na pediatria andamos por todos os lugares, com o intuito de nos deparar com os efeitos produzidos pelos computadores cuidadores que habitam esta ala de internação. Quem diria que uma pesquisa sobre computadores moradores e visitantes de uma pediatria, assim como sobre a diversidade de objetos que a eles se arranjam, aleatória ou intencionalmente, revelariam múltiplas espacialidades do cuidado! Quem diria que descrever conjugações incoerentes de objetos sociotécnicos traria a tona vibrantes momentos em que há modulação de afetos! Surpresos quanto a essas possibilidades? De certo modo, sim. Não pelas possibilidades de arranjos em si, pois a literatura em sociomaterialidades e sobre tecnociência já nos anunciava sobre tal acontecimento, mas por presenciar in locu conexões inéditas se fazendo, se dizendo na prática. Aparentemente sutis, delicadas, mas ao se conectarem, tornaram-se fortes, intensas, sendo capazes de imprimir novas ambiências e produzir modulação de afetos. Enfim, efeitos que se revelam como cuidado. Andando pela pediatria encontramos 18 computadores que estão distribuídos por diversos locais, com funções específicas. Específicas? É o que se esperava em princípio, entretanto, notamos que essas especificidades são múltiplas, transcendendo as funções iniciais para as quais os computadores foram atribuídos. Estes que são da pediatria ficaram intitulados de ―moradores‖ ou ―visitantes‖. De todos os computadores que visitamos, escolhemos apenas alguns, por conta da intensidade das relações que estabelecemos com tais computadores portáteis, assim como por nos depararmos com instantes em que sinalizaram como coparticipes de Tecnologias do Cuidado. Quais seriam os computadores moradores? Como entender os computadores como actantes que habitam, que moram em algum lugar, o que seria isso? Em princípio os 134 identificamos como computadores que são patrimônio do hospital. Estes foram encontrados na sala de repouso da enfermagem, no posto de enfermagem, na sala de prescrição médica, no laboratório de informática, ou deslocados desse local para as mesas da brinquedoteca e para as camas ou poltronas do quarto-enfermaria (os Netbooks). Porém, enfatizamos nossos estudos em uma das enfermarias e, obviamente, na brinquedoteca e no Laboratório de Informática. E o foco de nosso estudo foram os efeitos (espacialidades, modulações de afetos e Humanização em Saúde por artefatualidades) produzidos pelos computadores que moram na brinquedoteca, na sala de informática, assim como os Netbooks que visitam as enfermarias da pediatria. 4. 1. Desenhos praxiográficos Os Desenhos Praxiográficos são composições topológicas de cuidado, ou melhor, são aproximações ou interligações entre os diversos espaços da pediatria com as habitações dos computadores via interpelações (exigências) da relação computador-criança. Cada Desenho Praxiográfico revela que não são apenas os computadores as entidades em actância, mas todas com as quais estes se relacionam, tendo como efeitos as reordenações de espacialidades e modulação de afetos, que, por fim, são contribuintes da Promoção em Saúde daqueles que utilizam o computador. Portanto, nossos desenhos praxiográficos se enfocaram nos lugares onde encontramos os computadores (fixos ou portáteis) relacionando-se com crianças hospitalizadas. Em destaque, temos os da brinquedoteca, da sala de informática e da enfermaria 105, que não configuram plantas de arquiteturas. Enfatizamos que nossos desenhos praxiográficos acabam não dando conta de algumas entidades, que, devido às interpelações da relação computador-criança, se mostram transpondo os muros do Hospital Escola. Na Brinquedoteca, temos um desenho praxiográfico (Figura nº. 9), no qual a topologia constituída é proveniente da interpelação de computadores do Laboratório de Informática adjuntos aos brinquedos e demais objetos que ali moram ou visitam. O acesso aos diversos objetos da pediatria, ou ainda, aos lugares da pediatria onde se encontram, acontece por meio das exigências dos computadores fixos ou portáteis (desinfecção, limpeza, adentrar ao local com sapatilhas, realizar flexões corporais para colocar as sapatilhas ou testar a fiação de computadores que ficam embaixo das bancadas, lavagem das mãos ou fricção com álcool, 135 realização de curso básico de informática na Universidade, são algumas das exigências declaradas). Temos então objetos sociotécnicos transitando pela pediatria, a princípio, por causa de computadores que cuidam de crianças hospitalizadas. Conforme citado anteriormente, há computadores fixos assim como portáteis na brinquedoteca, entretanto, este desenho praxiográfico é resultado das actâncias adjuntas aos computadores reclusos. O desenho praxiográfico da brinquedoteca nos permite exercitar a montagem de uma coerência proveniente das mess (LAW, 2004) dos computadores fixos. E, apesar das espacialidades, em um determinado instante, serem provenientes de actâncias dos computadores reclusos, os demais brinquedos e objetos que se conectam aos computadores, conforme as interpelações (exigências) junto às crianças hospitalizadas, não ficam dependentes dos computadores fixos para agir, não competem com os computadores para se destacar ou parecerem relevantes, melhor que isso, eles aparecem como adições que contribuem para configurar topologias do cuidado. Vejamos o desenho praxiográfico da brinquedoteca: Figura nº.9– desenho praxiográfico da brinquedoteca A todo instante, como indicado no desenho praxiográfico referente às interpelações de computadores reclusos (fixos) e crianças, temos objetos, como propés e tapete, conectando o 136 refeitório à brinquedoteca, à sala de informática. A rouparia se liga aos computadores via coero, flanela. E, dentro da própria brinquedoteca, há objetos que, a princípio, não tem nada a ver com os computadores, mas que logo passam a atuar, a contribuir para o cuidado proporcionado pelos computadores. Na brinquedoteca encontramos objetos, cadeiras, ar condicionados, que acabam fazendo parte dos arranjos de cuidado desencadeados pelos computadores. São copartícepes, por isso fazem parte deste desenho praxiográfico. Quanto ao desenho praxiográfico do Laboratório de Informática (Figura nº 10), ficou configurado conforme as interpelações de computadores reclusos, simétrico ao desenho praxiográfico da brinquedoteca; uma vez que ambos descrevem o atravessamento do corredor, visitam a sala de materiais e equipamentos, necessitam passar pelo posto de enfermagem, adentrar algumas vezes nas enfermarias, ir até à rouparia, encontram-se na flexão do corpo no refeitório, aparecem no deslocamento de compressas, inseridos no álcool 70%, no molho de chaves, propés, hampers. Lembrando que tais interpelações transpuseram os muros do hospital, como foi o caso da necessidade da recreadora fazer um curso básico de informática para contribuir com a efetivação da relação computador-criança hospitalizada. Assim como flagramos a necessidade de manutenção da Internet pelo pessoal do Central de Processamento de dados (CPD) do Hospital Escola. É constante a participação de pais e educadores no laboratório de informática. Vejamos o desenho praxiográfico da sala de informática: Figura nº. 10 – desenho praxiográfico do Laboratório de Informática 137 O desenho praxiográfico mostra que as articulações incitadas pelos computadores reclusos à sala de informática, apesar de se deslocarem momentaneamente a brinquedoteca e seus objetos à posição de colaboradores, assim como acontece no desenho praxiográfico da brinquedoteca, permanecem declarantes [enacts]. Dentro do laboratório de informática, os computadores fixos interagem com uma almotolia41 de alcool 70% que já se encontrava no local. Juntos com as cadeiras, encontramos-os provocando interferências na relação entre criança e computador, assim como na de pai e computador (esta relação também foi flagrada), fones de ouvido, armários, informativos no quadro mural, além de objetos visitantes como Notebook, celular, gravador digital. Todos cúmplices do cuidado das crianças hospitalizadas. Por último, temos o desenho praxiográfico da Enfermaria 105 (Figura nº 11), por onde os computadores portáteis se deslocam. Como ênfase, há conexões estabelecidas entre estes e o refeitório das crianças, a brinquedoteca, o jardim de inverno, a sala de materiais e equipamentos, assim como o Laboratório de informática da pediatria. São as interpelações da relação computador-criança que ativam a cada instante conexões com determinados objetos, sendo tais interligações as responsáveis pela topografia de cuidado proporcionada pelos Netbooks. A seguir, o desenho praxiográfico da enfermaria: Figura nº. 11 – desenho praxiográfico da Enfermaria. 41 Recipiente para armazenamento de álcool a 70% (gel, líquido); antissépticos com sabão ou sem sabão, às vezes para veselina. Possui um bico fino que se conecta ao corpo do recipiente após esse ser girado/roqueado. 138 Dentro da enfermaria, os Netbooks, ao se relacionarem com as crianças em repouso sobre o leito, interpelam conexões entre elementos não hospitalares e hospitalares. Cama, boneco de pano (Ben 10), extensão de borracha, almotolia com álcool, pendrive com joguinhos, hampers configuram topologias de cuidado na enfermaria. Por isso, muitos desses aparecem no desenho praxiográfico da enfermaria. O intuito foi grafar apenas aquele momento, haja vista que outros poderão acontecer, porém, de modos diferenciados. 139 CAPÍTULO 5 COMPUTADORES QUE CUIDAM I: A BRINQUEDOTECA O mouse e mãos transpiram diversão. Não se importam com o cateter sobre agulha salinizado e a tala de PVC. 140 Na pediatria, para termos acesso aos espaços da Brinquedoteca, foi necessário percorrermos primeiramente um corredor de extensão mediana; o qual nos presenteou com configurações de ambiências concomitantemente silenciosas e ruidosas ou uma mais proeminente, por alguns instantes, que a outra. As quais dificilmente configuraram ambiências estáticas. Haja vista que nos levou à configuração de flashes de cuidado nas enfermarias, na sala de procedimento, dentro da sala de equipamentos e materiais, na rouparia, na sala de repouso da enfermagem, inserido no posto de enfermagem, na sala de repouso dos técnicos de enfermagem, dentro do expurgo, assim como no refeitório das crianças e, por fim, na Brinquedoteca. Neste capítulo, especificamente, mostraremos alguns efeitos de cuidado produzidos pelos computadores que habitam a brinquedoteca de nosso estudo. A princípio faremos uma breve descrição da brinquedoteca onde os computadores e demais brinquedos moram. Figura nº. 12 – porta de vidro (visão da Brinquedoteca). Após o refeitório há uma porta de vidro (Figura nº.12 e 13) que abre bilateralmente. A porta tem informativos do tipo: ―Tire os sapatos!‖ e ―É proibido entrar com alimentos‖. A brinquedoteca é um amplo espaço com ar climatizado através de dois Figura nº. 13 – porta de vidro (visão do refeitório). aparelhos de ar condicionado, iluminação com 10 lâmpadas fluorescentes no teto e a coloração da parede da brinquedoteca alterna amarelo, branco e vermelho. O local possui brinquedos de todos os tipos, tamanhos, formas, materiais, textura, coloração. A maior parte dos brinquedos é de plástico, o que permite 141 lavagem com sabão e água, e há alguns eletrônicos que possibilitam desinfecção42 com álcool a 70%43. Há também os artesanais,44 que são brinquedos para as crianças levarem para casa; porém, não podem ser comunitários, por não permitirem lavagem e por ser impossível realizar desinfecção com álcool a 70%. A brinquedoteca tem um cercadinho colorido à esquerda da porta de vidro, onde se encontra um tatame (colchonete) para as crianças menores brincarem com bolas. Nesse cercado há uma barraca com uma face de cachorro, que contém bolas coloridas (Figura nº. 15). O cercado é colorido de azul e vermelho. Ao lado dele (esquerda) há uma janela transparente com grades que possibilita a visualização tanto do quarto 107 quanto da brinquedoteca. Em frente à janela tem uma pia (Figura nº. 14) com um ejetor de sabão líquido e um porta-toalhas de papel fixado à parede, que está ao lado da torneira. A parede dessa pia compreende um dos banheiros da brinquedoteca. 42 Desinfecção, limpeza, lavagem e antissepsia: são procedimentos médico-cirúrgicos distintos. Desinfecção compreende retirada de organismos infecciosos do tipo que estejam sobre objetos, equipamentos, aparatos não/humanos em geral. Limpeza é um modo mais brando de retirada de organismos infecciosos de aparatos não/humanos, bem como de superfície humana. Lavagem, água corrente associada a algum produto emoliente (sabão neutro, clorexidina 2%, hipoclorito, degermante 1% iodo). Denomina-se antissepsia ao conjunto de medidas empregadas com a finalidade de destruir ou inibir o crescimento de microrganismos existentes nas camadas superficiais (microbiota transitória) e profundas (microbiota residente) da pele e de mucosas, pela aplicação de agentes germicidas, classificados como antissépticos. Geralmente utiliza-se álcool 70%, PVPI (iodo tópico ou degermante), ainda clorexidina 2%, etc. (OPPERMANN, 2003). 43 Alcool 70%: é um desinfetante importante para o ambiente assistencial e um antisséptico excepcional, por possuir características microbicidas direcionadas aos microrganismos mais frequentes neste meio, possui fácil aplicabilidade, baixo custo e reduzida toxicidade. Produto que também aparece em textura gel. O álcool é classificado como desinfetante de nível intermediário e devido à praticidade de uso, é encorajada a sua aplicação na desinfecção de superfícies de mobiliários e equipamentos, termômetros, 16 diafragmas e olivas de estetoscópios, bandejas de medicação, ampolas e frascos de medicamentos, fibra óptica de endoscópios. O uso do álcool na desinfecção de mesas cirúrgicas e demais equipamentos pode reduzir o tempo de espera entre um procedimento e outro. O álcool etílico e o isopropílico possuem atividade contra bactérias na forma vegetativa, vírus envelopados (p.ex.: vírus causadores da influenza, das hepatites B e C, e da SIDA), microbactérias e fungos. Não apresentam ação contra esporos e vírus não envelopados (p.ex.: vírus da hepatite A e Rinovírus), caracterizando-se como desinfetante e antisséptico, porém sem propriedade esterilizante. Em geral, o álcool isopropílico é considerado mais eficaz contra bactérias, enquanto o álcool etílico é mais potente contra vírus (OPPERMANN, 2003). 44 Seria um tipo de low-tech, ou ainda, “brinquedos confeccionados” a partir de atividades propostas pela recreadora. As crianças podem levar para casa, porque muitas vezes são brinquedos oriundos de papelão, colagens, amarração de barbantes, sendo assim, inapropriados para uso coletivo, haja vista, que não permitem lavagem ou desinfeção antes de outra criança utilizá-lo. 142 Figura nº. 14 – pia da brinquedoteca. Figura nº. 15 – cercadinho e barraca. Há dois banheiros, ambos contêm pia, vaso sanitário e chuveiro. Em um dos banheiros está guardada a mangueira para lavagem dos brinquedos. No centro da brinquedoteca, temos uma ala livre, mas que pode ser montada com blocos de puffs, tornando-se um local para deitar ou sentar. Cada puff em bloco é de uma coloração (verde, laranja, azul, rosa, vermelho) (Figura nº. 16). Uma das paredes da brinquedoteca tem janelas de vidro transparente em formato circular que permitem visualizar o lado de fora da pediatria, desse modo, os passantes veem o interior da brinquedoteca. Nessa parede há duas estantes, uma maior e uma menor, onde ficam diversos brinquedos, entre carrinhos, jogos de tabuleiro, peças de montar, pega vareta, bonecas de todos os tipos e tamanhos. Figura nº. 16 – puffs em bloco. 143 Figura nº 17 – televisão 1 e criança deitada. Figura nº. 18 – televisão 2 e videogame. Existem duas televisões na brinquedoteca (Figura nº 17 e 18), cada uma em um canto, uma específica para assistir o que passa na televisão conectada a um aparelho DVD (Figura nº. 19) e a outra apenas para o videogame. Figura nº. 19 – aparelho de DVD e Rádio. A brinquedoteca também possui caixas (Figura nº. 20) de madeira, de coloração branca, montadas para guardar brinquedos maiores. Localizam-se entre as estantes de brinquedos. Figura nº. 20 – caixa de brinquedos. Há uma pequena estante de livros e revistas (Figura nº 21) para leituras referentes à literatura infantil ou a artesanato, revistas sobre novelas ou programas de televisão e revistas informativas. Figura nº. 21 – estante de livros. 144 A brinquedoteca conta com duas salas para atividades específicas. Uma delas para as atividades e práticas da Classe Hospitalar45, onde há cadeiras coloridas e mesinhas para estudos. Possui climatização com ar condicionado, assim como a ala maior da brinquedoteca. Há uma janela transparente em formato circular, com algumas gravuras coladas com o intuito de trazer informações sobre o alfabeto para as crianças e diminuir a visão para o lado de fora e vice-versa. Já a sala do Laboratório de Informática (Figura nº. 22) tem uma porta de vidro transparente com abertura bilateral, e no local encontram-se 8 computadores ligados à rede de internet. Há também cadeiras coloridas e com rodas para cada computador e duas sem rodas, para quem está como educador se Figura nº 22 – Laboratório de Informática. sentar. Encontra-se na sala armários para guardar os materiais do Programa Cuidar Brincando, como também um pequeno cercado onde se coloca brinquedos novos e um balde grande (Figura nº 23) para armazenamento de brinquedos sujos. Figura nº 23 – depósito de brinquedos sujos. 45 A criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento formal de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, também têm necessidades educativas. Por isso Classe Hospitalar se refere ao acompanhamento do currículo escolar da criança no hospital (BRASIL, 1994). Entre os 20 itens que se referem aos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados encontra-se o de no 9, o qual preconiza: Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programa de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar (BRASIL, 1995). 145 O Laboratório possui um quadro mural (Figura nº. 24) numa de suas paredes, no qual pode se fixar pinturas realizadas pelas crianças e alguns informativos e recados da equipe do Programa de Extensão. Há álcool a 70% e compressas que os educadores pegam na enfermaria para a limpeza e desinfecção dos computadores. Figuras nº. 24 – quadros murais do Laboratório de informática. No jardim de inverno (Figuras nº. 25 e 26) tem uma área azulejada onde ficam o escorregador e alguns cavalinhos de balanço, todos de plástico. Na parte não azulejada, o jardim de inverno em si, há uma armação de madeira com dois balanços coloridos de plásticos, fixados com cabo tipo corda. Figura nº. 25 – jardim de inverno (visão superior). Há algumas plantas, gramíneas, sob a área dos balanços. A área externa é visível para brinquedoteca a por parte conta interna das da portas também serem de vidro e de abertura bilateral. Na ala externa é possível ver a movimentação de pessoas saindo e entrando por conta de ser cercada com gradeado. É possível visualizar os quartos dos lactentes por causa de suas janelas, . entretanto, apenas quando estas ficam a- Figura nº. 26 – jardim de inverno (solo). 146 bertas, porque não são transparentes Portanto, a brinquedoteca possui topologias distintas, ou seja, espaços previamente organizados para cada tipo de brinquedo. Possuem estantes para que alguns brinquedos fiquem a mostra, mas também para proporcionar acesso fácil para as crianças e seus acompanhantes. No espaço da estante de brinquedos (Figura nº. 27) encontram-se bonecas, carrinhos, jogos de tabuleiro, pega-vareta, casinhas, algumas tupperware (vasilhames de plástico) contendo blocos de montar de inúmeros tamanhos, assim por diante, como já comentado anteriormente. Os quais podem ser espalhados Figura nº 27 – estante de brinquedos. pelas crianças, ou melhor, organizados a maneira delas. Os brinquedos podem ser utilizados pelos educadores do Programa Cuidar Brincando, pela recreadora ou qualquer profissional (fisioterapia, psicologia, equipe de enfermagem, nutrição, etc.) ligado à pediatria, mesmo que não vinculado às atividades de extensão do Programa, mas interessado em realizar alguma atividade com as crianças e os acompanhantes. E para alguns brinquedos maiores, digamos aqueles que ocupam espaços que superariam os oferecidos pelas gazelas das estantes, a brinquedoteca tem um espaço específico. Trata-se de um tipo de baú de madeira (Figura nº 28) que não tem tampa, ou como nomeado anteriormente, caixas grandes, que as crianças podem a qualquer instante ter acesso aos brinquedos maiores utilizando a sua própria força ou com Figura nº. 28 – baú de madeira para brinquedos. 147 ajuda para fabricar o seu espaço de brincadeiras (LOPES & VASCONCELLOS, 2006). As crianças podem ser ajudadas por um adulto (acompanhantes, recreadora, acadêmicos do Programa de Extensão, equipe da clínica), ou ainda, por outra criança. Agora nos ocuparemos dos computadores do Laboratório de Informática e Cidadania e seus efeitos sociotécnicos de cuidado. Afinal, o que fazem dos computadores do Laboratório de Informática e Cidadania cuidadores? São as interferências que promovem. A partir de uma atividade de informática e cidadania (Figura nº. 29), notamos que há uma exigência de que os computadores diversidade se de relacionem entidades da com uma pediatria, independente de sua localização topológica. E, em decorrência dessa interpelação (exigência), temos como efeitos espacialidades Figura nº. 29 – atividade de informática e cidadania. do a tipo: conformação de biossegurança; ergonômica; controle; companhia e entrete- nimento; organizacional; entrelaçamento de tempo e espaço. Além destas, há efeitos de modulação de afetos, do tipo: contentamento, descontentamento e motivação. Assim como efeitos de Humanização em saúde por artefatualidades: acolhimento, autonomia, protagonismo e corresponsabilidade. 5.1. Espacialidades Basta ativar os computadores da sala de informática para uma atividade prática, que uma multiplicidade de vínculos transformadores se desencadeia. Por esse motivo computadores que cuidam interpelam que educadores se dirijam à rouparia ou à sala de 148 equipamentos para obter materiais para realizar desinfecção (compressa, aventais, flanelas, coeros e álcool a 70%), demandam a todos que os procurem, que, ao passarem pelo refeitório, antes de entrarem na brinquedoteca, assim como no Laboratório de Informática e Cidadania, retirem os calçados, coloquem propés (sapatilhas de pano) ou andem descalços pela brinquedoteca e pela sala de informática e cidadania. Na porta do refeitório há fixados, como já descrito no início das reflexões, lembretes concernentes a não comer na ala da brinquedoteca e dos computadores. Assim, a própria porta de vidro que fica entre o refeitório e a brinquedoteca passa a exercer função de estandarte para avisos. Ainda no refeitório, em um de seus ―cantos‖, há um espaço (uma estante) para armazenamento de propés limpos e sujos, com repartições para guardar sapatos, chinelos, sandálias ou qualquer tipo de calçados dos interessados em entrar na brinquedoteca. Já na entrada da brinquedoteca, além dos cartazes, topamos com um tapete (às vezes encontramos um de coloração verde e marrom, outros dias encontramos outro de coloração laranja e preto) com o anúncio ―tire os sapatos‖ (Figura nº. 30). Ou seja, o tapete tem outra função além de limpar a sola dos sapatos, como comumente esperado. Figura nº.30 – tapete da brinquedoteca. Portanto, estar na brinquedoteca, assim como participar das práticas de informática nos computadores, compreende conjugar uma ambiência harmoniosa, livre de infecção hospitalar. Sendo assim, temos uma espacialidade de biossegurança 46 como efeito que demarca os lugares por onde andam os arranjos dos computadores, ao passo que torna a sala de informática segura e habitável, via objetos sociotécnicos, como tapete, propés, canto de estante, anúncio na porta de vidro (SCHILLMEIER & DOMÈNECH, 2009). 46 O que seria biossegurança? Trata-se de um conjunto de medidas necessárias para a manipulação adequada de agentes biológicos, químicos, genéticos, físicos (elementos radioativos, eletricidade, equipamentos quentes ou de pressão, instrumentos de corte ou pontiagudos, vidrarias) dentre outros, para prevenir a ocorrência de acidentes e consequentemente reduzir os riscos inerentes às atividades desenvolvidas, bem como proteger a comunidade e o ambiente e os experimentos (OPPERMANN, 2003). 149 Os arranjos dos computadores encontram-se distribuídos pela pediatria. São congregações de objetos diversos, os quais se deslocam de diferentes lugares para colaborarem tanto para a limpeza e desinfecção dos computadores da Sala de Informática e Cidadania quanto ao preparo do ambiente para as atividades, assim como para a manutenção das máquinas durante e após as práticas. E, cada um desses objetos, como são actantes, promovem interpelações próprias, e, mesmo colaborando com os ―Computadores moradores do Laboratório de informática e cidadania‖, possuem as suas exigências particulares, mas, de certa maneira, acabam alinhando-se por adição, mesmo que temporariamente discrepantes. Isto é, uma das partes prevalece por um breve momento, neste caso, favorecendo a espacialidade de biossegurança dos computadores que cuidam diante dos riscos de infecção hospitalar (MOL, 2002a; LAW & MOL, 2001). Sendo assim, temos compressas de ontologia múltipla (MOL, 2007), que uma vez processadas na Central de Materiais de Esterilização (CME) são confeccionadas para limpar feridas estéreis ou para ocluir feridas de grandes extensões, estejam tais feridas limpas ou contaminadas. Em caso de compressas limpas, não estéreis, são bastante utilizadas para auxiliar no banho, e acabam sendo usadas, também, como toalhas para limpeza e desinfecção de mobílias hospitalares. Para os computadores do laboratório é preciso procurar por compressas limpas ou por trapos na lavanderia. Ou seja, exige-se do educador e da recreadora, noções básicas sobre onde localizar as ―coisas‖ no hospital, assim como ter alguma noção de biossegurança hospitalar para atuarem junto aos computadores, já que estamos falando de efeitos de espacialidades do tipo biossegurança. Os propés (Figuras nº 31, 32 e 33) são outra entidade multifacetada. Essas sapatilhas, assim como os computadores, devem ser espacialidade encaradas de como uma biossegurança. Os propés trazem consigo singularidades, como por exemplo, a de compreender a necessidade de obtê-los na rouparia ou Figura nº 31 – propés nos pés de estudantes 150 lavanderia do hospital (nos dias em que estivemos na pediatria, sempre os encontramos). Não houve necessidades de buscá-los. Os propés da brinquedoteca são de coloração vermelha. Além disso, exigem constantemente do corpo de quem os coloca ou os tira, pois obriga quem os usa a abaixar-se para executar tais tarefas. E as flexões não cessam, porque ao se sentar numa das cadeiras do refeitório, abre-se para novas interpelações, como a do uso ou não de uma cadeira do refeiFigura nº 32 – propés e calçados na estante tório, ou de se agachar para calçá-los, bem como para retirá-los. Ao final da utilização, tanto dos propés quanto das compressas, há necessidade de descarte no hamper47 das enfermarias. E, a seguir, lavagens das mãos ou fricção com álcool 70%. Temos, portanto, um efeito de espacialidade do tipo biossegurança confluindo com efeito de espacialidade do tipo ergonômica48. Este último leva o primeiro a ficar em risco, visto que fica no limiar para ser desrespeitado, já que toma tempo, exige flexões corporais. Assim como se exige lavagem das mãos após manipular sapatos e os pés descalços para entrar ou sair da brinquedoteca. Na verdade, você toca os seus pés quando tira os sapatos. Pés que estão sujos e são manipulados pelo toque. 47 Armazenador de panos sujos, contaminados. São de pano (vermelho), possui uma armação de ferro, tem rodinhas para deslocamento. 48 Sobre ergonomia: estudo científico dos problemas relativos ao trabalho humano, e que devem ser levados em conta na projeção de máquinas, equipamentos e ambiente de trabalho (HOUAISS, 2009). 151 Ao olhar para o armário de propés, percebo que têm alguns deles já usados espalhados na parte de baixo (nas gazelas inferiores do armário). Na parte superior encontrei dois sacos de propés abertos, estes limpos sem uso. Peguei um par. Tive que colocar minha mochila e meu chapéu que estavam em minhas mãos na parte superior do armário de propés e sapatos para, mais uma vez, me sentar e colocar os propés sobre os meus tênis que estava calçando. Com propés adentrei com meu material na brinquedoteca. Atrás de mim vem entrando um pai com o seu filho. Pai retirando o calçado do filho, a seguir, colocando propés em seus próprios pés, entrou na brinquedoteca. Nesse dia, a sala de informática pela manhã estava fechada. Resolvi pegar as chaves para abrir a sala, a princípio para guardar meus materiais, como também tinha em mente fazer uma observação participativa, ou seja, realizar uma atividade no computador com crianças no laboratório de informática. (Andanças 15). Figura nº. 33 – propés e calçados (estante do refeitório). No que se refere às almotolias de álcool 70% (Figura nº.34), uma delas até pode ficar na sala de informáticas e cidadania. Entretanto, exige data de validade para a sua constante troca a cada sete dias e quem deve realizar isso, necessariamente, são pessoas da equipe de enfermagem, ou ainda, a pessoa encarregada pela limpeza de móveis do hospital, a secretária do posto de Figura nº. 34 – almotolia. enfermagem da pediatria ou a recreadora e acadêmicos do Programa de Extensão. Enfim, pessoas da clínica que têm habilidades para manejo de transferência de álcool do reservatório maior para as almotolias. Estas, segundo a responsável da limpeza de móveis da pediatria, ―são levadas, semanalmente, para o CME para realização de esterilização‖ (Andanças 8 Angelina). Em se tratando de aventais para acompanhantes (pessoas visitantes), a pediatria os disponibiliza. As peças ficam armazenadas na rouparia da clínica. Geralmente, são de coloração azul ou estampada, e os acompanhantes e visitantes são incentivados a utilizá-los, já que são um modo de reduzir o translado de infecção de fora para dentro do hospital e viceversa. Os aventais são de pano, sendo descartados no hamper ao final do dia ou quando 152 apresentam sujidade. Do mesmo modo, é necessário o uso do material pelos pais e acompanhantes no Laboratório de Informática. Compressas, propés, almotolias, aventais são alguns dos elementos heterogêneos convocados a todo instante para a composição de espacialidades do tipo biossegurança, enquanto há translado pela brinquedoteca, quando se realiza práticas nos computadores e ocorre movimentação na sala de informática. Não bastando, os computadores necessitam de desinfecção constantemente, antes e depois de sua utilização. Há que se lembrar, inclusive, das bancadas, das cadeiras, assim como de todas as minúcias periféricas que o compõe (fone de ouvido, caixa de som, teclado, mouse). Em decorrência da distribuição topológica das entidades responsáveis pela conjugação de uma espacialidade do tipo biossegurança, notamos que ocorre um atrelamento a uma espacialidade do tipo organizacional (LAW, 1992), na medida em que todo o processo de preparo, manutenção e fechamento da sala exigem que o educador ou recreadora, ou qualquer pessoa autorizada, que acesse o ambiente, saiba onde localizar as coisas e com quem conversar, para que, assim, as práticas de informática aconteçam. Não se restringindo à limpeza e desinfecção dos lugares, deparamo-nos com a espacialidade de controle. É preciso lembrar-se de uma constante exigência: quem pega as chaves do laboratório não se relaciona apenas com as dificuldades de abrir a porta (tal tarefa não é tão fácil assim), ela exige intensa aproximação dos dois lados das portas de vidro transparentes, isso tanto para abri-la como para fechá-la. Entretanto, há outra dificuldade, ou melhor, um cuidado: abrir a porta requer autorização. Porque a sala fica sob a responsabilidade de apenas algumas pessoas, por isso, sua abertura fica restrita à recreadora, educadores do Programa de Extensão ou por conta das enfermeiras da clínica, e com a condição de ficar aberta somente no caso de haver acompanhamento de algum responsável ou educador, não sendo possível a permanência de crianças sozinhas com os computadores. ―Os brinquedos aparecem de várias formas, como carrinhos, jogos, bonecas, estes ficam na estante (Figura nº 35), ou computadores que ficam na sala de informática. Estes ficam sobre a responsabilidade da professora, da recreadora, dos alunos do Programa Cuidar Brincando‖ (Andanças 6 – Técnica de enfermagem Nina). 153 Figura nº 35 – brinquedos (estante da brinquedoteca). Figura nº 36 – computador (laboratório de Informática). Os computadores, semelhantes ao da página anterior (Figura nº. 36), ainda se articulam com outros objetos, moradores ou visitantes, como por exemplo: pendrives em geral (porta memórias portáteis), cadernos, livros, notebook, netbooks, canetas, assim como uma variedade de mãos que os manipulam, que podem ser manuseados pelas crianças, educadores, acompanhantes, mas também pelo pessoal da enfermagem, da manutenção predial, da Central de Processamento de Dados entre outros. Reúnem materialidades sociais que vêm em visita ao hospital, outras provenientes da cibercultura, ou melhor, provenientes da Internet, baixadas ou acessadas, compondo uma espacialidade de organizacional. Os computadores dividem a moradia com informativos em papel e pinturas feitas à mão que ficam anexadas no quadro mural do laboratório. Podemos também encontrar brinquedos novos para reposições posteriores que, vez ou outra, dividem os espaços da bancada dos computadores, por conta da constante organização e limpeza dos mesmos ou pela simples retirada de teias de aranha ou de alguma traça que esteja insistindo em habitar o local (com limpeza ou dedetização). Há momentos que interpelam com entidades que ficam fora da pediatria, como foi o caso da necessidade da pesquisadora-educadora precisar ir ao setor Central de Processamento de Dados (CPD) para desbloquear alguns sites para o projeto poder atuar. Estive com as meninas da escola de informática. Duas crianças em atividades (entretenimento nos computadores). Fiquei com elas por alguns instantes, conversamos. Aproveitei para verificar a situação das atividades e se tinha algum problema para ser resolvido, comentaram que alguns sites estavam bloqueados, como o Youtube e o Facebook e que tinham dois computadores que não estavam conectando à Internet. Disse que verificaria o mais rápido possível a questão do 154 acesso à página do Youtube e Facebook na Central de Processamento de Dados (CPD)49, a coordenadora do Programa de Extensão já havia comentado sobre esse problema em reunião. Depois verificaria o problema da conexão (Andanças 10 – descrições). [...] passei no setor administrativo, mais especificamente no setor CPD para falar sobre a liberação de alguns sites que ainda estavam bloqueados na brinquedoteca e que para as atividades seriam importantes enquanto manipulação dos computadores (Andanças 16 - descrições). [...] compreenderam a necessidade de acesso aos sites e que também acharam estranho o bloqueio, uma vez que já havia recebido autorização para liberação, frente ao pedido da coordenadora do projeto de informática da pediatria. Agradeci, reforçando para não esquecer de verificar isso para o grupo, e caso necessitasse de outro pedido, o faria via sistema do hospital, mas a pessoa com quem conversei disse que não haveria necessidade, pois já era uma solicitação aceita (Andanças 16 – descrições). Vale ressaltar que os computadores, ligados ou não à internet, configuram espacialidades de companhia e entretenimento, pois podem ser utilizados por pais para entretenimento e busca de informações na Internet sobre a doença de suas crianças, ou, simplesmente, podem permanecer ao lado dos filhos. Como comentado, os arranjos que se configuram compreendem muitos atuantes, denotando, desse modo, uma mescla do infantil com o universo adulto (SARMENTO, 2005; TEDRUS, 1998; LEITE; GALINDO; RODRIGUES, 2011). Nos outros lugares visitados também notamos o universo infantil vinculado ao adulto, contudo, materializando-se em prontuários, trabalhos científicos via planos de trabalhos, em coloridos das paredes, nos objetos que enfeitam os locais. Enquanto que no laboratório encontramos actâncias dos ―Computadores moradores do laboratório‖, aos quais as crianças se vinculam sem ―reprensentes‖ ou ―porta-vozes‖ (LATOUR, 1994), do mesmo modo que na brinquedoteca e enfermarias, espaços que visitamos e habitamos. Nessas ambientações os ―computadores moradores do laboratório‖ atuam como companheiros das crianças, relacionando-se com elas por meio de atividades online (via Internet) ou não que envolvam entretenimentos, assim como aulas planejadas pelos integrantes do Cuidar Brincando. Diante do computador as crianças ―brincam‖ de poder tudo. O que Haraway (2009) define como a possibilidade de realizar aquilo que de uma outra maneira poderia ser perigoso. No caso de uma criança com condição crônica renal, há a possibilidade de brincar com jogos que envolvam alimentação, nos quais ela pode ser um pizzaiolo (profissional que sabe fazer muito bem pizzas), por exemplo, e escolher a quantidade de sal que quiser, ingerir a 49 Adição posterior nossa. 155 quantidade de gordura que desejar, assim como aprender um pouco mais sobre as consequências reais de consumir essas ―proibições‖ no seu dia-a-dia. Mãe brinca que seu filho não pode nem pensar em sal. Complementa dizendo que a enfermeira Tamires falava para ele nem imaginar sal em sua comida, pois poderia inchar. Lembra de um fato que ocorreu no laboratório de informática. Estava brincando de fazer pizza a partir de um site online no computador. Dizendo que o Matheus fez a pizza com tudo o que tinha direito e, sal, sem comentários, pizza com o sal que ele quisesse (risos). Aí a enfermeira disse, ―olha só a pizza do Matheus, lotada de sal‖. (risos). Completando: ―- você vai inchar desse jeito menino‖ (risos). Ele deu uma gargalhada, dizendo que ali ele podia. (Andanças 8 – Mãe de Matheus). Precisamos ressaltar que as atividades proporcionadas pelos educadores estiveram abertas para a participação dos pais ou de qualquer outro acompanhante, pois é um direito, assim como optar apenas por acompanhá-las. Não há problema algum na utilização dos computadores pelos acompanhantes, na condição de não entrarem em sites inapropriados, como já comentamos. A mãe de Matheus disse que pesquisou sobre medicamentos, alimentação e a doença de seu filho. Sempre diretamente com a enfermagem, medicina, mas também olhei na internet. Sempre fui um pouco curiosa. Claro que já havia olhado na internet (no computador) antes do tratamento, assustei, muita coisa não entendia, mas ao longo do tratamento, e olhando novamente na internet (no computador da brinquedoteca, comenta ela após a entrevista), já fazia sentido sim. Aprendi muita coisa no dia, e se eu não sei muito, já estou muito próximo de saber sobre tudo do que o meu filho tem. E mesmo sabendo que poderia ser algo que poderia me machucar, em especial para a gente que é mãe, mas eu procurei saber, mesmo se eu fosse chorar eu ia atrás. (Andanças 12 – Mãe de Matheus). A mãe de Matheus ainda comenta que as informações obtidas pela Internet, a princípio, assustaram-na, já que não compreendia muitos dos termos médicos ligados à Síndrome Nefrótica (doença renal crônica). Os dados coletados passaram a ser mais proveitosos após convivência com a equipe da clínica e experiências cotidianas ao lado de seu filho. Sobre adultos e interpelações dos computadores do laboratório, temos outra espacialidade do tipo companhia e entretenimento, os quais exigiram da recreadora noções 156 básicas de informática. Uma vez que trabalhando na brinquedoteca, após o desvio de função e diante da constante procura das crianças para ter acesso aos computadores por meio dela, e frente à inexistência de conhecimento sobre computador, a recreadora partiu em busca de um curso de informática, para assim lidar com a tecnologia existente no laboratório. Após a articulação dos computadores com a recreadora da pediatria, a moradia desses artefatos computacionais foi transformada, haja vista que, a partir desta conexão, os saberes da recreadora a respeito de informática contribuíram para uma melhor manipulação dos micros, deixando a moradia dos computadores digna tanto para os próprios quanto para qualquer aparato não/humanos, ou ―quanto para qualquer cidadão‖ (SARMENTO, 2007). Neste caso, para as crianças, seus acompanhantes, bem como para a própria recreadora. ―De computação eu fiz na Universidade, me matriculei no básico de informática‖ (Andanças 10 - recreadora). Ainda sobre os ―Computadores moradores do laboratório‖, observamos o momento em que a educadora passa a participar das atividades no Laboratório; tal experiência trouxe a tona uma diversidade de objetos sociotécnicos que, em congregação com um dos computadores do local, contribuiu para a configuração de Tecnologias do Cuidado no local todo preparado para esse trabalho, pois que a configuração da educadora aconteceu dentro do laboratório de informática. E, através da relação Carlos e computador (Figura nº. 37), ou ainda, em meio às interferências da Tecnologia do Cuidado confeccionada a partir desse vínculo, foi possível notar como um dos efeitos, a aceleração do tempo desta criança de 8 anos de idade, cujo diagnóstico médico conclusivo é bronquite obliterante, que o mantém há mais de uma semana internado. Figura nº. 37– Carlos e o computador Temos, portanto, um entrelaçamento de tempo e espaço quando Carlos ―esquece‖ por um tempo da doença, da hospitalização, deixando que o seu companheiro, o computador, brinque com ele. 157 Durante a checagem dos computadores para verificar se estavam ou não ligados nas tomadas, assim como em meio aos testes da internet, da verificação da vibração das caixas de som e dos fones de ouvidos, temos uma espacialidade do tipo organização. Estando inclusa, também, a averiguação das fiações que ficam abaixo das bancadas. A educadora, com almotolia de álcool 70% que encontrou no local, teve que ir atrás de compressas para realização da desinfecção do local. Ao conseguir as compressas realizou desinfecção de todos os computadores, independente de todos serem ou não utilizados no dia. Compressas limpas interagindo com mãos da educadora e álcool a 70%; a seguir, este conjugado, agindo e se relacionando com as superfícies dos computadores e de seus periféricos, realiza a limpeza das cadeiras. Nesse dia, o chão já havia sido desembaraçado da sujeira pelo pessoal da limpeza. Acionando desse modo, concomitantemente, às espacialidades do tipo organizacional e de biossegurança e às do tipo ergonômica, pois mais uma vez notamos que são interpeladas flexões sobre o mobiliário, os computadores e as cadeiras do recinto para desinfecção dos mesmos. Teve que se inclinar sobre as gavetas do armário do Laboratório para ter acesso ao controle do ar-condicionado do local, assim como manejar com seus dedos e punho o controle do ar-condicionado para manter a temperatura agradável, já que a sala tem apenas a porta de vidro como entrada de ar. Mantive, assim, a porta fechada. Em meio a esse ―fazer‖, a educadora se conservou atenta a uma criança e seu pai, possíveis educandos daquela manhã. E ao perceber que eles brincavam de futebol no jardim de inverno, aguardou que interagissem com bola por mais tempo para, em seguida, chamá-los. Ao entrarem na sala foi imediata a conexão entre criança e computador. Essa relação possibilitou que mais uma atividade, assim como o jogo de futebol que efetivava com o pai e a bola, compusesse efeitos de espacialidades do tipo entrelaçamento de tempo e espaço. Nesse instante, a ―coordenação‖ passou para a relação entre computadores, criança e, também, por conta da insistência da educadora, para o pai de Carlos. Até então, existia outro arranjo sociotécnico do cuidado em atuação, onde a bola, o pai e a criança, por coordenação, estavam alinhados se relacionando, que acabou rompido pela interferência do ―convite‖ para participarem de uma atividade nos computadores. Segundo Mol (2002a), a coordenação de entidades heterogêneas mobiliza uma noção de ―social‖ no sentido que foge do comum da palavra, na medida em que não se restringe às relações estabelecidas entre pessoas, instituições e a forma como elas funcionam ou a 158 sociedade e qualquer indício que tenha tendência a estar ligada a ordem social. Em vez disso, trata-se de arranjos que contam sobre práticas e eventos. E, apesar de Carlos não perceber, por alguns instantes, o computador prevaleceu. E foi por conta desse potencial para prevalecer, que a educadora poupou o convite para a atividade no computador. Apesar de que o momento configurado pela criança-pai-bola também era uma modalidade de Tecnologia do cuidado relevante, pois declarou espacialidades do tipo companhia e entretenimento. Sendo assim, a limpeza dos computadores, a organização da sala, como feituras para postergação de atividade no computador foram interferências favoráveis para prolongar a relação composta por Carlos, seu pai e a bola. Essa gerência do melhor momento para convidar Carlos e seu pai para mexer no computador se refere a um efeito do tipo entrelaçamento de tempo e espaço. Nota-se que há toda uma minúcia sociotécnica que em actância mostra-se promotora de uma ambiência de entretenimento, que incentiva a presença e participação de seus responsáveis tanto para apoiar e incentivar seus filhos a se relacionarem com o computador, a se envolver com as atividades disponibilizadas pelo laboratório, assim como a utilizarem de modo responsável os computadores ligados à rede da internet. Nesse dia a sala de informática pela manhã estava fechada. Resolvi pegar as chaves para abrir a sala, a princípio para guardar meus materiais, como também tinha em mente fazer uma descrição participativa, ou seja, realizar uma atividade no computador com as crianças no laboratório de informática. Deixei minhas coisas sobre um pequeno armário que fica na brinquedoteca e fui até ao posto de enfermagem ver a chave e avisar a enfermeira que eu estaria abrindo a sala de informática para atividades com as crianças. Ao retornar, abri discretamente a sala, sem perturbar a atenção de uma mãe que assistia DVD com sua filha, ambas sentadas nos puffs da brinquedoteca e, no lado de fora, no jardim de inverno, pai e filho brincando de bola (criança com punção salinizada no dorso da mão direita) Decidi organizar o laboratório. Exercer a minha função de educadora no laboratório, onde aquele maquinário exigia alguns cuidados. Ou seja, realizar desinfecção das bancadas com álcool a 70% mesmo que nem todos os computadores fossem utilizados. Realizado isso com a almotolia de álcool a 70% que encontrei no laboratório, datada recentemente, menos uma semana de preenchimento. Atividades no computador também exigiram desinfecção das cadeiras. Exigiram que eu ligasse os computadores. Havia no mural do laboratório, a informação que dizia que dois computadores não estavam conectando a rede, testei todos e verifiquei que havia dois que não estavam realmente conectando a rede. Atividades no dia seriam mais de entretenimento, procurei nos computadores por jogos instalados, acabei nem mexendo com internet, esses foram instalados pelo pessoal da computação. Os testei por alguns instantes. Entendi como funcionavam. Perceptível que eram computadores novos. Deixei o ar condicionado ligado para manter temperatura amena. Vendo que o menino brincava com o pai de bola, resolvi deixá-los brincando. Aproveitei para abrir meu netbook para deixá-lo ligado - pretendia repassar algumas fotos caso eu conseguisse tirar algumas de minha atividade. Aguardei mais um tempo, aí sim, resolvi chamá-los, pai e a criança que jogavam bola. O menino parou de jogar bola e veio com o pai no mesmo instante para a sala 159 de informática. Disse que poderia brincar no computador que tinha alguns jogos interessantes para ele jogar. Ele quis. Era uma criança de 8 anos. Pedi para que lavassem as mãos antes, aí pai e filho foram a pia lavar as mãos. As mãos pequenas sobre mouse aparentemente feito para ele, pois era um mouse pequenino também. A mão com o acesso salinizado, mão com tala de PVC movendo mouse. Perninhas e pés descalços levitando quanto a distancia do chão, pois Carlos estava sentado numa cadeira de escritório para pessoas maiores que ele. Era uma cadeira de escritório colorida, de plástico, com rodinhas, e, de preferência, para os educadores se sentarem. O pai estava querendo sair da sala, pedi que ficasse para brincar com o seu filho. Ele disse que sim, mas disse que estava aguardando a mãe dele chegar, pois ia trabalhar. Compreendi, mas disse para ele aproveitar um pouco com o filho dele ali enquanto a mãe vinha. Ele consentiu acompanhando o seu filho. Logo me perguntou se ele podia ligar e mexer num dos computadores. Disse que sim. Desde que não acessasse sites com assuntos inapropriados. Ele compreendeu. (Andança 15 descrições). Não demora e a mãe do menino aparece. Deixei a família. Fiquei mexendo no meu computador. Percebei que o pai do menino já estava quase saindo. Cumprimentei a mãe. Conversei com ela. Ela revela que aquele lugar era tudo o que o seu filho e seu esposo queriam para estarem (risos). Ela complementou dizendo que eles jogam e brincam muito no computador que tem em casa, e se não é isso é assistindo futebol (Andança 15 - descrições). O pai se despediu e saiu logo em seguida. Pedi para que ele passasse álcool nas mãos antes de sair, este entendeu e passou, saindo em seguida. Alertei e orientei a mãe sobre a conduta do uso do álcool também, ela compreendeu. Fomos conversando. Perguntei para a mãe o que seu filho tinha. A mãe comenta comigo que ele tem problema de pulmão, que fica com muita falta de ar repentinamente – enquanto isso, Carlos brincava com os joguinhos pedagógicos. Mouse e alguns dígitos do teclado manipulados por suas mãozinhas a todo o momento, e, sonoridade saindo pelas caixinhas de som (Andança 15 descrições). Os brinquedos da brinquedoteca, assim como a sala dos computadores, pedem muita atenção, exigem do corpo de quem os manipulam. Não foi a toa que a enfermeira Tamires comentou em entrevista que ―acadêmicos do Programa Cuidar Brincando são imprescindíveis para o momento que a brinquedoteca está vivendo‖ (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). Estes, segundo ela, ―fazem parte de uma ação de Extensão e Pesquisa, fazem funcionar a brinquedoteca, a sala dos computadores‖. O Programa Cuidar Brincando se vincula a enfermagem e academia, atuando junto a uma equipe multiprofissional, buscando, desse modo, congregar o pessoal que se reúne semanalmente nas terças-feiras, isto é com o pessoal da medicina, serviço social, fisioterapia, nutrição. E, mesmo com a falta de uma (um) psicóloga (o) específica (o) para o setor nesses últimos meses, Tamires revela que ―há alunos de psicologia da Faculdade de Psicologia da Universidade, que participam das conversas em reunião e procuram contribuir através de ações: acionando o conselho tutelar, aconselhando pais, desenvolvendo atividades recreativas e pedagógicas com as crianças e seus familiares‖ (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). Para o que dizemos, fundamentando-nos em Gane & Haraway (2009), estão a fabricar espacialidades de organização a partir de uma Tecnologia de Pensar. 160 A enfermeira Tamires complementa dizendo que ―na pediatria, as equipes são abertas, sabem que estão trabalhando em um hospital escola e, por isso, sabem que estarão lidando com alunos, tem conhecimento que haverá professor e seus alunos tentando colaborar com estudos, com ações, como a do Programa Cuidar Brincando‖ (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). Tamires diz que ela mesma tenta conciliar sua atuação no que considera lúdico com a parte técnica, mas faz isso mais no final de semana, pois ao longo da semana a parte administrativa toma muito tempo. Por isso, enfatiza que os acadêmicos são primordiais, são soma. Mas há ações que não compete apenas aos alunos. Para ela, estes não estariam realizando as atividades do Programa, como as atividades nos computadores ou casos que se restrinjam à desinfecção dos brinquedos. Assim, Tamires alega que é necessária uma pessoa específica para trabalhar no local. Ressalta também que há uma recreadora, mas por conta das exigências do lugar e devido às condições de saúde dela, não consegue dar conta sozinha de tudo. [...] há momentos que não dá para você conciliar. Porque eu mesma, no meio da semana, eu brinco com as crianças dizendo: gente hoje não dá! Tem criança que vem até mim e diz: a tia abre a sala do computador. Eu tenho que ser verdadeira e dizer: olha hoje não dá. Se eu estiver aqui no sábado ou no domingo, aí é possível, eu consigo abrir a sala para vocês. - Por quê? Porque durante a semana eu sou consumida pelo administrativo de uma forma maior. Já no sábado e domingo é possível, é mais calmo. Fica mais light administrativamente falando, então, é o momento que você consegue dar atenção ao lúdico, eu tenho conseguido fazer desse modo (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). E, nós não podemos estar exigindo que os acadêmicos do Programa fiquem fazendo essas atividades [lavagem e desinfecção terminal dos brinquedos],50 pois seria pedir para que eles fizessem coisas que não é do Programa Cuidar Brincando. Vez ou outra a gente tem que falar para parar: Parô! Hoje é dia de parar. Aí a gente chama à senhora da limpeza de leitos para ajudar, porque a nossa recreadora não está tendo, realmente, mais condições para estar fazendo isso. Porque o ideal é realizar a desinfecção terminal semanal e, sempre que necessário, dos brinquedos, do chão (Andanças 14 – Enfermeira Tamires). 5.2. Computadores que cuidam e Modulação de afetos Concomitante as espacialidades produzidas pelos computadores da brinquedoteca, temos também uma modulação de afeto do tipo motivação; contentamento e 50 Adição posterior nossa. 161 descontentamento (MOL; MOSER; POLS, 2010; MOL, 2010; MOSER; 2010; TAYLOR, 2010; DESPRET, 2011). Identificamos artefatualidades que modulam afetos do tipo motivação enquanto contribuintes para espacialidades de biossegurança, haja vista que se encontram vinculados ao incentivo do uso de propés, aventais, avisos fixados na porta de vidro, tendo como estratégia, portanto, a coloração, frases curtas e formato: aventais estampados ou azuis e propés personalizados para a brinquedoteca de coloração vermelha; assim como a utilização de um tapete verde ou laranja, no formato de um pé, no qual há o alerta para a retirada dos calçados. Já o balde para depósito de brinquedos sujos é verde e possui uma identificação direta que se refere a ―deposite aqui os brinquedos sujos‖. A gente criou uma caixa de depósito de brinquedos, onde coloco os brinquedos que vejo que a criança usou, brincou com ele. Tendo uma quantidade grande de brinquedo eu trago para fazer a desinfecção e coloco no lugar.(Andanças 10 Recreadora). Quanto às espacialidades efetivadas pelas práticas de entretenimento e atividades planejadas, obtivemos modulações de afetos do tipo contentamento. Como os computadores da sala de informática, diferentes de um notebook, netbook ou qualquer aparelho aproximado, são maiores e dependentes de uma gama de parafernálias periféricas, tornam-se moradores fixos do laboratório, portanto, não se deslocam do local. Mesmo assim, os efeitos como a modulação de afetos que produzem, com quem interage com eles, são notáveis, isto é, da relação criança, pai e computadores (Figura nº. 38 e 41) o contentamento se materializa no rosto das crianças, no entusiasmo de como falam dos computadores, e nas falas de seus pais, satisfeitos em perceber que seus filhos estão sendo ―bem cuidados‖: ―Eu assim gostei muito de tudo. Principalmente, o cuidado que elas têm com ele, né? E, eu acho que para gente que é mãe, que está aqui com o filho acompanhando, às vezes pode até maltratar a gente, mas tratando bem o filho da gente é essencial, né?‖ 162 Sobre as espacialidades de companhia e entretenimento referente à possibilidade dos pais utilizarem os computadores, também esteve vinculada à modulação de afetos do tipo contentamento, outras vezes por motivação. Haja vista que o acesso à sala permite, conforme o informativo fixado na porta da sala de informática, que a criança seja acompanhada por seus pais ou responsável, como também possibilita que quem esteja com a criança se divirta tanto com seus filhos como utilizando o computador para Figura nº38 – criança, pai e computadores. uma atividade de escolha. Desse modo, temos uma convivência entre o mundo infantil e adulto na brinquedoteca, no qual adultos também brincam (GALINDO et al, 2010, 2012). No caso do pai de Carlos, como já descrito anteriormente, a alternativa recaiu sobre ―o jogo de sinuca‖. A mãe de Matheus utilizou o computador para pesquisas nos momentos em que esteve com seu filho hospitalizado. E, sendo assim, motivada pela vontade de querer saber mais sobre as condições crônicas renais, buscou informações na Internet. Entretanto, relembramos que tais informações obtidas via Internet vieram a ser melhor aproveitadas após sua convivência com a equipe da pediatria, deixando de ser assustadora como comenta: [...] olhei na internet. Sempre fui um pouco curiosa. Claro que já havia olhado na internet (no computador) antes do tratamento, assustei, muita coisa não entendia, mas ao longo do tratamento, e olhando novamente na internet (no computador da brinquedoteca), já fazia sentido sim. Aprendi muita coisa no dia a dia, e se eu não sei muito, já estou muito próximo de saber sobre tudo do que o meu filho tem (risos). E mesmo sabendo que poderia ser algo que poderia me machucar, em especial para a gente que é mãe, mas eu procurei saber, mesmo se eu fosse chorar eu ia atrás (no computador) ou com a equipe (médicos, nutricionistas e as enfermeiras) da clínica (Andanças 12 – Mãe de Matheus). A sala de informática é um espaço onde se tem o poder do ―fazer de conta‖, onde se pode tudo o que não é admitido na ―vida real‖. Retomando a ―brincadeira do pizziaolo, fazer 163 pizza com condimentos salgados‖. Nesta flagramos que o computador permite simular a alimentação que a criança adora, mas que precisa evitar devido a não ser ―boa‖ (MOL, 2010) para a sua condição crônica renal. É o caso de Matheus que brinca em um joguinho online de fazer pizzas, com tudo o que ele tem direito, e mostra para a enfermeira, provocando-a ao dizer que estava comendo uma pizza com todo o sal e gordura que o agrada. Eis, portanto, uma modulação de afetos do tipo contentamento vinculada às espacialidades de companhia e entretenimento, configuradas durante uma atividade de informática. Sua mãe mostra contentamento pelas atividades promovidas pelos educadores, uma vez que ajudou seu filho a lidar com o estilo de vida que poderia levar a partir das exigências da doença, como a situação de provar ou consumir a alimentação com mínimo ou nenhum sal de cozinha através da visualização e da experimentação pelo ―toque das pontas de seus dedos‖ no teclado (MANN et al, 2011). Mãe brinca que seu filho não pode nem pensar em sal. Complementa dizendo que a enfermeira Tamires falava para ele nem imaginar sal em sua comida, pois poderia inchar. Lembra de um fato que ocorreu no laboratório de informática. Estava brincando de fazer pizza a partir de um site online no computador. Dizendo que o Matheus fez a pizza com tudo o que tinha direito e, sal, sem comentários, pizza com o sal que ele quisesse. (risos). Aí a enfermeira disse: olha só a pizza do Matheus, lotada de sal. (risos). Completando: ―- você vai inchar desse jeito menino‖ (risos). Ele deu uma gargalhada, dizendo que ali ele podia. (Andanças 8 – descrições). As meninas da enfermagem, dos computadores, as técnicas, as atividades na brinquedoteca, no computador também ajudaram a criar oportunidades de conversas, explicações, brincadeiras para enfrentamento da comida sem sal, que era complicado para ele. Para saber que seria assim a alimentação dele para ele não inchar [...] (Andanças 12 – Mãe de Matheus). Temos também modulação de afetos do tipo motivação vinculada às espacialidades entrelaçamento de tempo e espaço. E como se configurou? Ao notar que a relação de contentamento, ou melhor, a modulação de afetos do tipo contentamento e motivação entre uma criança, seu pai e uma bola (Figura nº 39) acontecia no jardim de inverno, do lado da área externa da brinquedoteca, a Educadora, como já havíamos comentado, decidiu postergar Figura nº. 39 – bola. 164 o convite para a atividade de entretenimento na sala de informática. A prevalência para Tecnologia do cuidado configurada no jardim de inverno (Figura nº. 40) deve-se também a outra espacialidade que potencialmente pode conjugar companhia e entretenimento, bem como entrelaçamento de tempo e espaço. Figura nº.40 – jardim de inverno. Sendo assim, não apenas a criança brinca, mas também o pai enquanto o tempo passa. Essa prática de cuidado foi respeitada, inclusive, pelas/para as conformações de espacialidades de biossegurança e a organizacional, efeitos da atividade de informática e cidadania. Dessa forma, após a realização da limpeza, desinfecção de todos os aparatos da sala e a organização dos demais objetos que compõe o laboratório, o convite foi efetuado. Havendo, de imediato, a mudança da prevalência da prática de cuidado que acontecia no jardim de inverno para a Tecnologia do cuidado da sala de Informática e Cidadania. Vale ressaltar que a interrupção do ―jogo de bola‖ nos suscitou questionamentos. Dissemos que o respeitamos, mas infelizmente, o convite feito para brincar no computador, acabou interrompendo as relações pai-criança-bola estabelecidas em detrimento da atividade que envolveria criança, computador, pai (Figuras nº 41). Aproximando-se mais de uma competição: ―jogo de bola‖ X ―práticas no computador‖, na qual os computadores e suas potencialidades auxiliariam mais e melhor no cuidado. De certo modo, emitiu-nos uma Tecnologia do Pensar (GANE & HARAWAY, 2009), e o veredicto final foi que atrapalhamos o ofegar compartilhado entre pai e filho, o entretenimento com a bola. Galindo et al (2010) ao fazer reflexões sobre as relações entre crianças, cidades e brinquedotecas, traz em uma de suas análises algumas experimentações de 165 oficinas com crianças que ―não deram certo‖, ou melhor, as crianças que participaram contribuíram por assimetria aos adultos administradores da oficina para a reinvenção dela, porque ao invés de seguirem o script previamente formulado pelos estudantes, as crianças brincaram, divertiram-se mais livremente, com os fragmentos do cenário da oficina do que com a oficina em si. Tais experiências permitiram repensar pesquisa com crianças, assim como respeitar as relações que estas estabelecem com aquilo que consideram brinquedo, brincadeira. O que nos levou a ficar em alerta e estar mais sensíveis às assimetrias entre adulto e criança, bem como à fugacidade dos momentos em que acontecem as configurações das Tecnologias do cuidado. Porque se não dermos conta de percebê-las, as afogaremos, em detrimento de nossos objetivos estabelecidos a priori. Nesse dia, o foco seria descrever alguma atividade de crianças junto aos computadores. Por isso, a relação de criança-pai-bola foi desfeita para dar lugar à conexão criança-computador-pai (Figura nº 41). Com relação à modulação de afeFigura nº 41 – criança, computador, pai (laboratório de informática). tos do tipo motivação vinculada à espacialidade organizacional (arrumação local), corresponde a um educador que esteja com vontade e à vontade. Ou seja, que queira e se disponha a testar os computadores, a flexionar seu corpo para mexer nos periféricos do computador que ficam sobre a mesa (fone de ouvido, caixas de som); assim como averiguar a fiação que fica abaixo dos computadores, que esteja disposto a ir atrás de materiais necessários para limpeza e desinfecção dos computadores e da parte superior das bancadas e cadeiras, ir atrás do pessoal da limpeza para limpar chão e teto; procurar e conversar com pessoal de manutenção predial ou do setor do CPD quando necessário; a se relacionar com o pessoal da enfermagem para obter mais informações sobre as crianças e pais; e para ficar à vontade, pois tanto a educadora quanto a recreadora necessitam ter noções de biossegurança, 166 topologia da pediatria e do hospital e precisam saber mexer no computador ou procurar por aqueles do hospital que saibam. Vejamos novamente o incidente: Aproveitei para verificar a situação das atividades e se tinha algum problema para ser resolvido, comentaram que alguns sites estavam bloqueados, como o Youtube e Facebook, que tinha dois computadores que não estavam conectando à internet. Disse que verificaria o mais rápido possível a questão da acesso às paginas do Youtube e Facebook na Central de Processamento de Dados (CPD) 51, a coordenadora do Programa de Extensão já havia comentado sobre esse problema em reunião. Depois verificaria o problema da conexão (Andanças 10 - descrições) [...] passei no setor administrativo, mais especificamente no setor CPD, para falar sobre a liberação de alguns sites que ainda estavam bloqueados na brinquedoteca e, que para as atividades seriam importantes enquanto manipulação dos computador [...] (Andanças 16 - descrições) [...] compreenderam a necessidade de acesso aos sites e, que também achou estranho o bloqueio, uma vez que já havia recebido autorização para liberação, frente ao pedido coordenadora do projeto de informática da pediatria (Andanças 16 - descrições). Agradeci, reforçando para não esquecer de verificar isso para o grupo, e caso necessitasse de outro pedido o faria via sistema do hospital, mas a pessoa com quem conversei disse que não haveria necessidade, pois já era uma solicitação aceita (Andanças 16 – descrições). A recreadora se sentiu motivada pela necessidade de saber lidar com computadores, ou seja, sentir-se à vontade quando uma criança pedisse que a acompanhasse no computador, assim auxiliando-a sem muitas dificuldades. Foi o que a levou a fazer um curso de informática básica, assim como a participar das capacitações de informática e cidadania proporcionadas pelos alunos do Programa de Extensão aos novos educadores, não sendo tão problemático para ela lidar com o ambiente hospitalar em si, visto que era técnica de enfermagem, antes do desvio de função. Sendo assim, enfatizamos ao retomar a seguinte declaração: ―de computação eu fiz na Universidade, me matriculei no básico de informática‖ (Andanças 10 - Recreadora). Encontramos modulações de descontentamento ligadas à espacialidade de ergonômica, porque a recreadora tem que lidar com atividades na brinquedoteca por conta da idade e dos problemas na perna. Isso faz com que sinta desconforto nos membros inferiores e na coluna, queixe de dor quando fica muito tempo em uma mesma posição ou sinta cansaço quando precisa flexionar seu corpo para mexer com artefatualidades da brinquedoteca e da sala de informática. 51 Adição posterior nossa. 167 O trabalho que eu poderia exercer passou a ser proporcional as minhas limitações para andar. Por causa do meu problema no trabalho. Eu não consigo ficar mais que duas horas em pé. E, seis horas sentada também me cansa, e prejudica meus pés, incham, fico com dor na coluna. (Andanças 10 – Recreadora). Temos também algumas modulações de afetos que se misturam. A mães de Matheus e a de Pedro revelaram que, apesar de não ser uma vida fácil na pediatria, eles são bem atendidos, e, associado a esse cuidado, em seus comentários, ao serem questionadas sobre a brinquedoteca, falam sempre positivamente, não deixando de lado o interesse de seus filhos pelo computador. E Pedro, um garoto de 11 anos, com um quadro de diarréia crônica há cerca de um ano, ligada a fortes dores abdominais, febre e fraqueza, contou já ter ficado internado no hospital. Acrescenta lembrar-se da pediatria de 2007, onde a brinquedoteca era pequenina, mas que mesmo assim continha computadores, e revela que agora tem um notebook em casa, comprado por sua mãe. Pedro diz querer estudar para ser um profissional que trabalha com computadores. E que, se já ―gostava‖ da brinquedoteca por causa dos computadores em 2007, agora, com os novos, todos funcionando, com o espaço da brinquedoteca ampliado, está melhor. É um lugar onde ele pode brincar, e ao qual se refere como ―legal para mim‖. E confidencia que outros hospitais, nos quais já ficou internado, não são tão agradáveis, porque não tinham nada com que brincar ou se distrair, como na pediatria em que está agora. Não é a mesma coisa que minha casa, mas eu tenho um lugar para brincar, assisto, mexo no computador, isso já é muito legal para mim (Andanças 10 Criança Pedro). Eu já conhecia aqui antes, eu fiquei internado aqui bastante tempo atrás, acho que foi em 2007. Não me lembro mais quem eram as professoras, mas já gostava daqui por causa que já tinha computador. Passei a gostar de computador por causa daqui. Eu ganhei um computador há pouco tempo de minha mãe. Quero estudar para aprender tudo sobre computadores (Andanças 10 – Criança Pedro). [...] mas não tinha espaço como aqui [o outro hospital onde ficou internado],52 não tinha coisa para fazer, para distrair. Aqui o tempo passa rápido, no outro hospital parecia não passar, não tinha computador, nada de videogame. (Andanças 10 - Criança Pedro). A mãe de Matheus revela sentimentos que aparentemente seriam antagônicos, pois se referem ao hospital, ou seja, à hospitalização que ocorreu para buscar a recuperação de seu filho; entretanto, em meio ao cotidiano, acabou fazendo amizades, gostou do lugar, confessa 52 Adições posteriores nosso. 168 que sentirá falta, que terá saudades das pessoas que conheceu. A pediatria apresentando a opção de um lugar para ela e seu filho brincar, se relacionar com outras crianças, com as educadoras, com os brinquedos, fez com que se aproximassem, que tivessem afeto pela brinquedoteca, contentamento pela estrutura sociotécnica que congrega (brinquedos, sala de informática, educadores, práticas no computador), que, reciprocamente, os motivaram a lidar melhor com a hospitalização. A convivência foi benéfica para ele e para mim. Aprendemos muita coisa, fizemos muitas amizades também. Tem muita coisa daqui que a gente vai levar para sempre (olhos marejados com lágrimas, emocionada) (Andanças 12 – Mãe de Matheus) [...] vou sentir falta, gosto daqui (Andanças 12 – Mãe de Matheus). Ah, as meninas chamam para jogar, mas ele não curte muito videogame, ele vinha mais para o computador, tinha ele, outras crianças internadas que brincavam no computador, aí as meninas do computador criaram um Messenger para ele. E ele ficou mais envolvido com isso, porque em casa a gente também tem internet, e ele gosta disso. Ele gosta de jogo no computador alguns do videogame. Era o que ele mais curte [...] (Andanças 12 – Mãe de Matheus). Apresentamos entre o ―gostar daqui‖, a ―vida não ser fácil na pediatria‖, ―diarréia crônica‖, ―internação após fortes dores abdominais e febre‖, ―eu já estive aqui antes‖, ―é legal para mim‖, ―sentir saudades, falta das amizades feitas no hospital‖ algumas modulações de afetos, uma vez que congregam descontentamentos e contentamentos que convivem. Estas vinculadas às espacialidades de entrelaçamento de tempo e espaço, bem como de companhia e entretenimento, declaradas nas frases em destaque. Law (2004) fala de uma convivência confusa, bagunçada, enfim, de incoerências sociais, emocionais e tecnológicas. Enquanto Despret (2011) remeteria essas incoerências às afetações, que vão se ajeitando, mas com uma estabilidade momentânea. Mol (2008) diria que tais modulações congregadas compreendem uma Lógica do Cuidado, ou seja, as actâncias sociotécnicas negociam suas afetações confessadas, em meio às incertezas desencadeadas pelas condições crônicas e o apaziguamento proporcionado pelas Tecnologias do cuidado vinculadas ao diálogo, assim como às atividades na brinquedoteca, entre elas, às ligadas aos computadores. 169 5.3. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades Os ―Computadores moradores do laboratório‖, como objetos sociotécnicos do local, ligados ao Programa de Extensão, ou ainda, componentes da brinquedoteca, mostram-se emissores de efeitos de Humanização em Saúde, pois efetivam as diretrizes da Política de Humanização do SUS: ―acolhimento‖, ―autonomia‖, ―protagonismo‖ e ―corresponsabilidade‖. Mas como se dão? Os efeitos de Humanização em Saúde de nosso estudo consideram o artefatual, sendo que brinquedos e computadores moradores ou visitantes da brinquedoteca nunca serão percebidos como neutros, mas como potencializadores de uma qualidade de vida para pacientes que terão que conviver com alguma condição crônica de saúde (LEITE & GALINDO, 2010). 5.3.1. Acolhimento A mãe de Henrique53 nos revela que a pediatria conforma conglomerados do cuidado capazes de acolher adequadamente às crianças hospitalizadas e seus familiares. Para ela, mesmo diante da preocupação quanto à gravidade da saúde de seu filho, assim como diante dos momentos deprimentes expressos por Henrique – por conta da saudade de entes familiares e amigos –, eles foram bem recepcionados e permanecem sendo assistidos satisfatoriamente. Atendo-nos à brinquedoteca e aos computadores, a partir do que a mãe de Henrique disse, notamos que ambos contribuem para o cuidado através das espacialidades de companhia e entretenimento que efetivam, do mesmo modo que às modulações de afetos do tipo motivação e contentamento, mesmo diante das situações entendidas como ―íngremes‖. Os computadores e demais entidades que se encontram em um arranjo sociotécnico compreendem, portanto, à conjugação de tecnologias do cuidado que materializam uma atenção alternativa e resolutiva para os momentos em que a criança e seus familiares precisam passar o tempo, a qual requer uma articulação com outras localidades da pediatria e do hospital para que haja uma continuidade de uma assistência (BRASIL, 2006), mesmo que tal aconteça somente na brinquedoteca em frente de computadores. 53 Henrique é uma criança de 8 anos com condição crônica renal em investigação. Aguardando resultado de biopsia renal para verificar o melhor tratamento. 170 A vida aqui na pediatria não é fácil porque a doença do meu filho é grave, é séria. Mas a assistência médica é boa, a enfermagem, a higiene do hospital, todo atendimento aqui no hospital é muito bom. É maravilhoso. A alimentação é boa também. A brinquedoteca também é excelente, nela tem de tudo, tem bastante brinquedo, brincadeiras, games, computador, mais as meninas e os rapazes que vem brincar com as crianças no computador no domingo também são maravilhosos. Então a assistência daqui é boa demais para a gente. Acho que ajuda muito no desenvolvimento e recuperação da criança, né? (Andanças 13 – Mãe de Henrique). Olha, tem dia que é difícil. Tem dia que fica deprimido, declara que está com saudade do irmão. Saudades dos coleguinhas (Andanças 13 – Mãe de Henrique). [...] aqui (brinquedoteca) tira da depressão, só da criança vir para cá parece que o dia passa mais rápido (Andanças 13 – Mãe de Henrique). Fazemos, portanto, um encontro entre o computador e diversos actantes como cuidadores e quem é cuidado (a criança ou o seu acompanhante que se acoplam ao computador para entretenimento ou estudos). E esse encontro ocorre por meio de um fio condutor que é proveniente do acolhimento incentivado pelos educadores, ―as meninas e os rapazes que brincam com as crianças no domingo‖ como se refere à mãe de Henrique. Notamos que na brinquedoteca uma das maneiras de se efetivar acolhimento é através das atividades no computador, que são práticas cotidianas, ou seja, são os saberes localizados e técnicos que efetivam no dia a dia uma das topologias da pediatria. Simetricamente à arte dos Bonsais, apesar de complexificações (MOL & LAW, 2002) das distintas artefatualidades, como os computadores quando interagem com humanos, as mãos se mostram como verdadeiros artífices, como fabricantes de múltiplas espacialidades – adicionamos aqui mais uma: a do tempo que entrelaça o espaço. Em decorrência destas, a criança e/ou o acompanhante se envolvem com textos, clicks no mouse, navegação na Internet, sons emitidos pela caixa de som, e, com o intuito de entreter, aprendem algo a mais; enfim, devido ao pequeno grande mundo produzido a partir da interação de ternura com quem o fabrica, não percebe o tempo passar. Ou melhor, o tempo acaba sendo entrelaçado ao espaço, ―o tempo passa mais rápido‖ como comentam muitas crianças e acompanhantes, não ficando limitados ao espaço e às artefatualidades médico-hospitalares e às rotinas do local. 5.3.2. Autonomia Mais uma vez a inserção da criança na brinquedoteca – a sua participação nas atividades com o computador – é percebida pelas mães de Henrique e Pedro como lugares e 171 momentos onde seus filhos podem satisfazer suas próprias vontades, ou seja, efetivar sua autonomia. Notamos que as mães sabem que o computador e a brinquedoteca reordenam espaços, modulam afetos. Do mesmo modo, são potentes produtores de efeitos de Humanização; neste caso, efetivados pela ―autonomia‖. Sendo assim, quando as mães incentivam seus filhos a irem à brinquedoteca, a participarem das atividades no computador, não estão apenas contribuindo para que o computador, ou as demais atividades na brinquedoteca, os ―animem‖, faça o seu ―tempo passar mais rápido‖, mas possibilitando que seus filhos encontrem junto aos computadores modos alternativos de serem capazes de construir suas próprias regras de funcionamento, de compreensão de si, para poder lidar e se relacionar com o coletivo (BRASIL, 2006) heterogêneo da pediatria. E pensar em Henrique e em Matheus como crianças autônomas é considerá-los, concomitantemente, como actantes que protagonizam junto aos computadores e à brinquedoteca da pediatria. Logo, como objetos sociotécnicos que se arranjam com os computadores, e, deste conglomerado sociotécnico, temos como efeito uma Humanização em saúde, na qual humanos e não/humanos se encontram imbricados. (MOL, 2008). Correlacionando às políticas de Humanização em Saúde à concepção sociotécnica de efeitos de Humanização, efeitos de modulação de afetos, assim como reordenações de espaços (espacialidades), observamos que o princípio da ―autonomia‖ é simétrico à apropriação do espaço pelas crianças. Assim como sentir-se no controle de sua vida, de seus cuidados – mesmo sobre a interferência de um adulto responsável por elas – quando ela brinca, quando ela manipula o computador. É fundamental para a autonomia da criança as espacialidades companhia e entretenimento, mas também a de entrelaçamento de tempo e espaço, haja vista que, quanto mais tempo e acompanhamento das crianças pelas mães, mais estas se apropriam da noção de relevância da brinquedoteca para a recuperação de seus filhos, pois adquirem conhecimentos e habilidades para lidar com as necessidades das crianças, por isso sabem quando motivá-los a andar, a participar das atividades da brinquedoteca (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). 172 O mesmo acontece com a criança sobre si. Sarmento (2007) fala da necessidade da criança imprimir suas vontades. Mol (2008) descreve uma Lógica do Cuidado, ou melhor, uma Promoção de Saúde, a partir da qual o paciente não decide sozinho sobre o seu cuidado, mas participa, negocia, com a equipe de saúde e seus acompanhantes. O que mantém a criança autônoma, mas inserida em uma autonomia segura, junto aos adultos. Aí eu falo para ele vir para cá (brinquedoteca), eu converso com ele, falo para ele que vai passar. Às vezes ele vem para o videogame, porque nem tem vontade de ir para o computador. Ele não é de conversar com as crianças, ele não é de conversar bastante, eu é que conversava mais com as crianças, com as outras mães. Ele só conversa mais com as pessoas que ele pega um pouco de intimidade. E nisso a brinquedoteca também ajuda bastante, cria momentos para as crianças estarem juntas. E aqui (brinquedoteca) tira da depressão, só da criança vir para cá, parece que o dia passa mais rápido. Ele está contando os dias (para ir embora) e nisso a brinquedoteca ajuda também (Andanças 13 – Mãe de Henrique). Aí eu o chamei para vir para cá, para andar um pouco, motivado pelos computadores ele veio. Ele sempre que interna não pensa duas vezes em vir para a brinquedoteca por causa dos computadores (Andanças 10 - Mãe de Pedro). Para ele assim como para qualquer criança que precisar ficar internada é muito importante para animá-los (brinquedoteca)54, para não ficar só deitado. E quando o meu filho vem para cá ele fica mais animado, mesmo estando fraco, ele encontra ânimo para brincar, se alegra. Caso contrário ficaria deitado, tenho certeza. Porque ele confessa isso para mim, anda lentamente, mas que se movimenta para a brinquedoteca. Ele vem para cá para assistir televisão também, gosta de jogar dominó comigo, ou dama também. Mas gosta mesmo é de mexer no computador (Andanças 10 - Mãe de Pedro). O computador contribui para uma autonomia segura, a qual extrapola o risco de fragmentação. Já na brinquedoteca, as atividades no computador reordenam espaços, onde tanto crianças como seus pais ou responsável por elas possam participar, ajudando a fortalecer os vínculos entre pais e filhos. Há, dessa maneira, através das atividades com computador ou na brinquedoteca, uma conciliação entre os saberes/fazeres destes com os da equipe de saúde, educadores, recreadora. A criança que se conecta ao computador enquanto aguarda o término da hospitalização configura arranjos sociotécnicos. Através dos arranjos a criança tem a oportunidade de transpor o tempo, a dor, a saudade, a rotina hospitalar e de exercitar sua autonomia ao poder brincar. E, ao inserirmos os computadores de uma brinquedoteca como um objeto que age, coopera para o cuidado, estamos pondo em xeque, segundo Mol (2008), as dicotomias, não aceitando, inclusive, classificações entre práticas boas (equipe de saúde) e 54 Adição posterior nossa. 173 más (concepções da mãe, da criança) de cuidado, mas mostrando que o cuidado é composto de ambos, já que para esta lógica da Promoção em Saúde, as fronteiras entre saberes/fazeres se encontram terminantemente indefinidas. 5.3.3. Corresponsabilidade e protagonismo A princípio, como conta a recreadora, as atividades com computadores restringiam-se as educadoras do projeto, que, conforme as exigências dos computadores, tinham acesso a eles por conta de suas atribuições de educadoras e por fazerem parte do projeto de Extensão, assim como também haviam passado por uma capacitação para lidar com crianças acopladas a computadores. Entretanto, conforme o aumento da demanda de crianças querendo realizar atividades nos computadores, e muitas vezes os educadores não cobriam todos os dias, tanto a professora da Classe Hospitalar da época55 quanto à recreadora passaram a ser cobradas pelas crianças; uma vez que conviviam com a professora e a recreadora, aproveitavam para pedir para brincar nos computadores. Em negociação, as crianças passaram a realizar primeiro as atividades da Classe Hospitalar e, num segundo momento, as atividades de Informática e Cidadania. A partir de então, por conta destas e de outras atividades, a recreadora (foi desviada de função, de técnica de enfermagem para recreação) se viu obrigada a fazer diversos cursos, entre eles, o de computação. No que diz respeito às atividades planejadas ou de entretenimento com computadores, como já mencionado, a recreadora esteve constantemente relacionada com espacialidades do tipo ergonômica, de organização ou de biossegurança. Aqui, enfatizamos a espacialidade ergonômica (pois esses impõem exigências ao corpo daquele que os limpa, faz a desinfecção, realiza testes de seus periféricos) vinculada a modulações de afetos do tipo descontentamento, contentamento ou motivação. Todos são confluentes para a efetivação de corresponsabilidade e protagonismo tanto da recreadora quanto da acoplagem entre crianças e computadores. 55 A recreadora contou sobre o início de sua atuação na brinquedoteca no ano de 2007. Antes da reforma da brinquedoteca, cuja época existia apenas o Projeto de Informática e Cidadania para crianças Hospitalizadas. 174 [...] comecei ajudando as meninas do computador, mais a abrir a sala e tomar conta das crianças que brincavam no computador nos momentos em que as meninas do computador não estavam em atividades (Andanças 10 - Recreadora). Aqui elas brincam, vão para o computador, conversam com outras pelo computador (Andanças 10 - Recreadora) - Quanto o curso de informática quando você viu que tinha que fazer? Aconteceu o seguinte, pela manhã elas tinham horário de estudos com a professora da Classe Hospitalar, mas acabava pedindo para ir para o computador. O que fizemos foi um acordo, fariam as atividades da professora Iná e depois iam para outras atividades no computador. Mas em dias que não tinha educador do Projeto de Informática e Cidadania sobrava para mim, elas me cobravam para abrir a sala, pediam para a professora da Classe Hospitalar também. E não podíamos abrir a sala sem um educador para acompanhar a criança, ia contra os objetivos do Projeto. Aí eu me vi mais uma vez obrigada a fazer um curso sobre informática, e fiz. (Andanças 10 - Recreadora). Protagonismo para Humanização em Saúde compreende, neste caso, à ação de uma recreadora para que a conexão entre criança e computadores se efetive. Sendo assim, o vínculo usuário-equipamento de saúde só aconteceu a partir do estabelecimento da viabilidade dos acoplamentos sociotécnicos proporcionado pela recreadora (ALVES; DESLANDES; MITRE, 2009). Para as sociomaterialidades de realidade pontual das práticas, a Corresponsabilidade se apresenta como uma dificuldade da recreadora em transpor a sua falta de conhecimento sobre computadores, diante da cobrança das crianças, visto que esta trouxe à tona um paradoxo no gerenciamento artefatual que compõe as técnicas da utilização de computadores. Ou seja, a princípio, o conhecimento técnico e sua realização ficavam restritos aqueles que sabiam mexer nos computadores, como as educadoras. E quando a responsabilidade de lidar com crianças e computadores começou a exigir da recreadora, os conflitos afloraram. Junto a essas exigências, aumentaram o risco de travamento do computador, provocações de erros, desconfigurações, já que essa não dominava o computador com propriedade. Houve, por esse motivo, a necessidade de uma re-interação, por a recreadora ser alguém também responsável pelos computadores. Como ela mesma comenta: ―E não podíamos abrir a sala sem um educador para acompanhar a criança, ia contra os objetivos do Projeto‖ (Andanças 10 – Recreadora). E, à medida que foi se inteirando através do curso, no dia a dia das práticas com os computadores, fomentou seus vínculos com a informática, desvinculando-a do descontentamento. Passou, então, a mostrar-se motivada, contente com a sua função de recreadora, assim como de educadora (quando liga os computadores para as crianças e as acompanha); o que ocasionou o aumento do grau de vínculos afetivos, além de sua 175 participação e o interesse em auxiliar as crianças e/ou acompanhantes a mexerem no computador, passando a gerar uma ambiência de valoração de seu trabalho, ao passo que foi se vendo como protagonista, como corresponsável por uma assistência, como as práticas nos computadores que criam espacialidades de companhia e entretenimento à criança que brinca no computador, aos acompanhantes e para si própria. Eu acho a vida aqui um pouco difícil. Tem 28 anos que trabalho aqui. Mas o difícil foi que tive um acidente e um problema a seguir na perna. Passei pela perícia médica, que desviou a minha função, não fiquei satisfeita. Porque fiquei sem função definida. Fui jogada para lá e para cá, fiquei perdida por conta do hospital (as coordenações do hospital) não saber onde me colocar para trabalhar. O trabalho que eu poderia exercer passou a ser proporcional as minhas limitações para andar. Por causa do meu problema no trabalho. Eu não consigo ficar mais que duas horas em pé. E, seis horas sentada também me cansa, e prejudica meus pés, incham, fico com dor na coluna. A minha vinda para a brinquedoteca é por conta de não ter outro lugar para ficar. Bom, agora tudo bem, agora eu trabalho, desenvolvo atividades com as mães, (Andanças 10 - Recreadora) [...] Também com as crianças maiores, incluindo as crianças que ficam em leitos das enfermarias, as que estão em isolamento. Está incluso em minhas atividades diárias o brincar com a criança, tenho que desenhar com ela, ou mexer no computador, atividades que as deixem satisfeita enquanto hospitalizadas (Andanças 10 - Recreadora). A corresponsabilidade se apresenta também com o aprendizado que a levou a manipulação do computador com maior presteza, ou seja, a partir do momento que fez o curso, indiretamente, a recreadora se responsabilizou por sua atual função no hospital. Seria, mais ou mesmo, assim: ―aprendo a lidar com os computadores, e, estes e eu, poderemos cuidar melhor das crianças que nos procuram. Ou ainda, tenho ao meu lado um companheiro de trabalho que é o computador, e eu me responsabilizo por ele, já que me foi permitido ter acesso a eles para que as crianças possam realizar atividades nos momentos em que não há educadores do Cuidar Brincando‖. Como não se segmenta a Promoção em Saúde/Lógica do Cuidado, a mesma se revela impregnada de política, assim como de ética. Desse modo, permitem a conexão entre diversas noções de estilos de julgamentos provenientes dos pacientes, de seus familiares, da recreadora, equiparadamente, considerando todos, antes de tudo, como cidadãos. E é sabido que ao cidadão competem deveres e atribuem-se direitos. Podemos enfatizá-los nos fazeres da recreadora: ao se mostrar ―obrigada‖ a fazer um curso de informática para poder assistir melhor às crianças frente ao computador. Desse modo, com a qualificação de seus afazeres e saberes a respeito de computadores, a recreadora ―vendeu‖ às crianças e acompanhante – 176 como clientes – uma assistência de qualidade. É relevante que as crianças e acompanhantes sejam considerados clientes e cidadãos, independente do serviço que utiliza, seja esse público ou privado, já que de uma maneira ou de outra, alguém está pagando pelo serviço prestado. Tais noções são simétricas à modulação de afetos do tipo contentamento pela recreadora, efetivando tanto os direitos individuais quanto os coletivos da criança, de seu acompanhante quando se acoplam a um artefato (MOL, 2008) da brinquedoteca, como os computadores e práticas de entretenimento e/ou pedagógicas. Os ―Computadores moradores do laboratório de informática‖ participam da montagem das Tecnologias do Cuidado da pediatria, não sendo um ―novo‖ modo de proporcionar ―benevolência‖, de se fazer ―altruísmo‖ ou de se pregar ―salvadorismo‖ pela recreadora ou pela equipe de enfermagem (MOL; MOSER; POLS, 2010). São somente objetos sociotécnicos que vinculam afetos, que contribuem para a melhora da criança hospitalizada, que aproximam os pais de seus filhos e motivam a participação de pais no cuidado, estimulam habilidades individuais e coletivas das crianças hospitalizadas. Portanto, esses objetos sociotécnicos veiculam práticas educativas, imprimem metodologias, uma pedagogia própria, cuidados singulares, por isso, falamos de afetos de um modo não clássico (DESPRET, 2011), já que nos referimos a afetos provenientes de uma relação entre crianças, acompanhantes e uma recreadora por um computador. E que, ao mesmo tempo, se encontram impregnados de políticas públicas (Humanização em Saúde) e de uma ética de ensino e pesquisa (do Programa Cuidar Brincando) e profissional (o desvio de função da funcionária e a necessidade de aprender a mexer com computadores), que se espalham e atravessam o cotidiano da pediatria (BRASIL, 2006). 177 CAPÍTULO 6 COMPUTADORES QUE CUIDAM II: A ENFERMARIA O computador ofega junto com os pulmões e conexões de oxigênio, enquanto mãos e olhos de um menino questionam o travamento do joguinho do Yoshi. 178 Por conta de nossas andanças pela pediatria pudemos visitar ou morar em algumas das enfermarias, por isso, descreveremos cada uma delas. Entretanto, neste capítulo daremos, especificamente, destaque à enfermaria das crianças maiores. A nossa escolha se deu pelo fato de ter sido moradia de objetos que estiveram em densa atividade. Em destaque, temos os seguintes objetos atuantes: leito, multiparâmetro, glicosímetro, medicamentos, cateter tipo óculos, entrada-saída de oxigênio/ar comprimido/vácuo, extensões, tala de PVC, cateter sobre agulha, avental, compressas limpas, hamper, álcool a 70%, frasco umidificador, todos considerados aparatos médicos-hospitalares. E, comumente, quando em arranjo, espera-se que sejam fabricantes de Tecnologias do cuidado, aparentemente específicas à prática médica. No entanto, tais objetos se revelam artífices de espacialidades e de modulações de afetos, não apenas por executarem suas funções específicas, mas pela aptidão de produzirem ontologias distintas das esperadas, assim como de se vincularem a outros objetos sociotécnicos do cuidado não médico-hospitalares, levando a consumar os efeitos de reordenações de espaço e de modulação de afetos, como também os efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades. Neste caso, os efeitos emitidos foram provenientes do relacionamento com Computadores do tipo Netbooks56, assim como coero, flanela, lençóis, pia, boneco, joguinhos (softwares). 56 Netbook é um termo usado para descrever uma classe de computadores portáteis tipo subnotebook, com dimensão pequena ou média, peso-leve, de baixo custo e geralmente utilizados apenas em serviços baseados na internet, tais como navegação na web e e-mails (HOUAISS, 2009). 179 6.1 Enfermarias dos bebês São duas enfermarias de lactentes e pré-escolares (Figura nº. 42). Possuem vidro transparente, poltronas para cada leito montado, com regulagem de posição. Possuem berços com grades reguláveis, entradas/saídas para ar comprimido, vácuo e oxigênio para cada berço. Uma das enfermarias apresenta paredes algumas infiltrações e desgastes. com Figura nº.42 – enfermaria e lactentes e pré-escolares. A coloração dos quartos é verde claro (coloração padrão para todas as enfermarias). Ambas possuem janelas com abertura bilateral para o lado de fora, vidro pintado de branco para manter a privacidade ou restringir raios solares enquanto fechadas; cada leito tem uma mesinha. Para cada quarto há uma garrafa térmica com água que é preenchida pela Nutrição diariamente. Possuem hastes (suporte de soro) para infusão de medicamentos. Existe um banheiro central, estratégico para o uso das duas enfermarias. Contém uma balança digital, pia de mármore, armário, porta sabão líquido, porta papel toalha. Ambas possuem porta gel alcoólico, o qual se encontra na saída de cada uma das enfermarias. São climatizadas por meio de ar condicionado, sendo que cada uma possui um ar condicionado. 6.2. Enfermaria 104 Este quarto é ocupado pelas ―meninas‖ maiores. Possui quatro leitos, referente a cada leito ativo, temos uma garrafa térmica e quatro conjuntos de entradas/saídas (vácuo, ar comprimido, oxigênio). É um quarto climatizado através de ar condicionado. Não possui janelas. Há um banheiro comunitário específico para quem fica nesse quarto. 180 6.3. Enfermaria 105 Trata-se do quarto dos ―meninos‖ maiores, que está identificado com uma placa (Figura nº. 43) na porta. É semelhante ao quarto feminino, porém um pouco menor. Possui 4 leitos, 4 poltronas, uma garrafa térmica e 4 conjuntos de entradas (vácuo, ar oxigênio). Climatizada. comprimido, Sem janelas. Banheiro comunitário específico para quem fica nesse quarto. Imagem nº. 43 – placa de identificação. A partir de agora passaremos a discorrer sobre os incidentes que aconteceram no quarto-enfermaria 105. Neste notamos espacialidades, modulações de afeto e efeitos de Humanização em Saúde que se consumam sobre o leito das crianças em atividades com os Netbooks. Em circulação pela enfermaria dos meninos, primeiro nos momento, deparamos, num com leito um referenciado por Pedro como um ―lugar para doentes [...] é cansativo ficar só deitado‖. Ou espacialidade modulação seja, produzindo clínica, de bem uma como afeto do tipo descontentamento, e efeitos Humanização em de Saúde, “acolhimento”, já que se configura num leito limpo, com lençóis com estampas (Figura nº. 44). Figura nº. 44 – leito, lençol com estampas de bichinhos. 181 Em um segundo momento, com o Netbook do Laboratório de Informática sobre a cama, Pedro declara-a como múltipla. Por isso, escrevemos ―cama‖ no plural ―cama (s)‖, em decorrência das actâncias desencadeadas pela relação estabelecida entre criança e computador portátil sobre a superfície do leito, que, por conta disso, interpela multiplicidades da cama. Simetricamente, também temos Netbook (s) no plural, haja vista as suas múltiplas versões ao habitarem o leito das crianças. Percebemos por diversas vezes que suas variações levaram a cuidar das crianças no leito, por conta de restrições clínicas, de maneiras diversas. Ao passo que também puderam se conectar a outros espaços (topologias) da pediatria através de articulações sociotécnicas. Esses nos renderam uma larga descrição das espacialidades, modulação de afetos e efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades (MOL, 2007). 6.4. Apresentando os cuidadores sociotécnicos Na mesma enfermaria 105, diversos arranjos configurados a partir de dois Netbooks pertencentes ao ―Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas‖, produzem potentes Tecnologias do cuidado capazes de modularem afetos. Ao lado, temos Carlos brincando com um Netbook, que, ao brincar com o menino, cuida (Figura nº. 45). Figura nº. 45 – Netbook. 182 Os Netbooks são utilizados em atividades fora do Laboratório diante da necessidade de se desenvolver atividades nas mesas da brinquedoteca, ou como na maioria das vezes acontecem, sobre as poltronas (Figura nº. 46) das enfermarias e em cima da cama. Figura nº. 46 – poltrona. Computadores portáteis têm sido fiéis companheiros de entretenimento de crianças hospitalizadas. Sendo uma ―entidade mais‖, como diria Latour (2001) – por seus conjugados serem eficientes auxiliares na prática do cuidado em enfermagem na clínica pediátrica – também são atrativos devido a sua praticidade, uma vez que são pequenos e leves, permitindo, desse modo, que crianças menores os manipulem, carregue-os, teclem ou deslizem os dedos sobre o touch57 dos computadores portáteis sem muitos empecilhos. E mostram-se vigorosos fabricantes de espacialidades e modulação de afetos por ciberespaço, como já acontece no Laboratório de Informática da Brinquedoteca (LEITE; RIBEIRO; VIEIRA, 2006; LEITE & GALINDO, 2010), com a possibilidade de implantação de Internet sem fio (Wireless) na Pediatria ou através de Internet móvel. As atividades com Netbooks transformaram o leito em um local mais agradável. Ir até o leito, como já previamente comentado, leva os Netbooks a transitarem por topologias distintas, ou seja, a se deslocarem por lugares onde acontecem atividades diversificadas; lugares, de certo modo, incoerentes em relação àqueles ligados a computadores (LAW, 2004). Uma vez que os Netbooks passam pela brinquedoteca, atravessam o refeitório, e, por fim, ingressam no corredor da pediatria, chegando a um destino de atividades, aparentemente distante dos balcões do Laboratório de informática: as enfermarias. Se os computadores reclusos já apresentam suas exigências e mobilizam uma diversidade de elementos, ou seja, congregam uma espacialidade organizacional para compor seu arranjo do cuidado, com os Netbooks, que se deslocam para realizarem visitas, pois também são moradores do laboratório de informática, não é tão diferente assim. 57 Superfície do Netbook sensível ao toque. 183 As Tecnologias do Cuidado vinculadas aos computadores sobre o leito emitem os seguintes efeitos: espacialidades do tipo – clínica, companhia e entretenimento, biossegurança, ergonômica e organizacional; quanto às modulações de afetos, encontramos as do tipo – contentamento, descontentamento, motivação e desmotivação; e, referente os efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidade, temos em destaque – acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo. 6.5. Netbooks que cuidam de Carlos O início dos cuidados prescritos para Carlos acontece a partir do instante em que interferências provocadas por sua doença, bronquite obliterante, configuram uma espacialidade do tipo clínica, já que o desconforto por causa da falta de ar o faz pedir para ir ao seu quarto, levando a interromper as atividades na sala de Informática e Cidadania, ou seja, finalização da relação entre Carlos e o Figura nº. 47 – Carlos e computador recluso. computador recluso (Figura nº. 47). Portanto, nesse momento, as interpelações ligadas ao quadro clínico da criança falaram mais alto, fazendo com que esta se desacoplasse do computador do Laboratório de Informática. Não demorou muito e ele disse estar cansado, querendo ir para o quarto. A mãe frisou: ―- isso é a falta de ar que ele já esta sentindo‖ (Andanças 15 – Mãe de Carlos) [...] Lucas desceu da cadeira com a ajuda da mãe, indo direto para o colo dela. Disse que eu iria vê-lo lá no leito dali mais um pouco de tempo. Disse para a mãe que poderia ver uma bala de O2, se ele precisasse, era só ela falar, nem precisaria ir para o leito. Mas não quiseram, acharam melhor ir para a cama (Andanças 15 – descrições). 184 A educadora sugeriu uma bala de oxigênio para continuar as atividades na sala, que, de certa maneira, tornaria as atividades no computador mais prevalente58 às interpelações da doença (MOL, 2002a). Entretanto, não conseguira convencê-lo. A partir de então, percebe-se que a criança se desvincula (desacopla) do computador por conta de se sentir incomodada com a falta de ar, e, concomitantemente, por causa do cansaço que acarreta à sua caixa torácica e ao músculo diafragmático. Temos, portanto, uma modulação de afeto do tipo desmotivação por desconforto provocada pela falta de ar. Assim, a doença prevaleceu temporariamente onde outros objetos sociotécnicos da enfermaria interpelaram de modo mais intenso, entre eles: a rede de oxigênio como suporte de O2, a cama diante da necessidade de se confortar um corpo que pedia por uma suplementação de oxigênio. Entretanto, como as demais crianças estavam na companhia da televisão, a educadora percebeu que deveria investir nas atividades com crianças no leito. E, somado à existência de Netbooks, a ideia de utilizá-los no leito foi potencializada. Principalmente porque permitiria uma atuação pareada com a rede de O2 e pulmão da criança, já que Carlos pôde brincar um pouco mais, porém, dessa vez, sobre o leito. Os Netbooks contribuíram ao produzir uma espacialidade do tipo organizacional, concomitantemente à de biossegurança. Isso porque atravessando o convite à criança para brincar no leito, do mesmo modo que permeando o deslocamento do computador portátil para a sala de informática, como organizar o ambiente para o computador ―brincar‖ com a criança no leito, diversas entidades sociotécnicas são mobilizadas. [...] por ver que as outras estavam assistindo televisão com suas mães, lembrei dos Netbooks do Programa de Extensão. Peguei-os, realizei desinfecção. Deixei tudo pronto. Fui até o posto, falei para a enfermeira que brincaria com as crianças no leito, se haveria algum problema ou não. Disse que não. Que poderia, deveria sim realizar as atividades. Perguntei em seguida de pano para cobrir a cama, bem como um avental para eu colocar, já que não estava utilizando jaleco. Orientou-me pegar na rouparia da clínica (Andanças 15 - descrições). A noção de afetividade, que evocamos nesse momento, permitiu-nos circunscrever e explorar os meandros de uma complexa ―geografia‖ de outro efeito do tipo modulação de 58 Noção de Coordenação por adição do tipo discrepante refere-se a um das formas de adição (add upp) que projeta um objeto comum por trás dos vários outros elementos que vem a compor uma nova relação. Se as projeções não se sobrepõem, uma delas é feita para prevalecer. Uma relevância momentânea é estabelecida e a discrepância na relação deve ser explicada (MOL, 2002b). 185 afeto do tipo contentamento, diante da possibilidade da criança poder receber oxigênio no lugar onde ela sugeriu (a cama), assim como permanecer brincando. Então temos contentamento como um efeito de transformação visível e que foi montado. Porque este se materializa através da fabricação de uma ambiência onde as conexões entre diversas entidades acontecem por meio de um manejo intencional ou não intencional. Sendo assim, já no quarto, a criança se encontrava no colo da mãe, ambas sentadas em uma poltrona oferecida pelo hospital. Carlos conectado à rede de oxigênio por meio de uma extensão típica para pacientes com dificuldades respiratórias. Portanto, confortado através de uma espacialidade do tipo clínica e organizacional montada no seu quarto, através de conexões entre sua cama e a rede de oxigênio fixada na parede anexa a sua cama. Extensão de borracha conectada, de um lado, a frasco umidificador, este contendo soro fisiológico a 0,90%, conectado a rede de O2 com fluxômetro a 2 ml/min. Do outro lado, borracha conectada a cateter de O2 tipo óculos a narinas da criança, com O2 fluindo pelas vias aéreas superiores, inferiores, enfim, fluindo pela circulação sanguínea de Carlos. Enquanto este brinca com o computador, o qual está ligado à rede de energia do hospital. Nesse dia, as baterias dos netbooks estavam descarregadas (Andanças 15 - descrições). No momento da oferta da companhia de um Netbook à criança, esta se encontrava envolta por uma espacialidade do tipo companhia e entretenimento proporcionada por uma tecnologia visitante, ou seja, pelo celular de sua mãe, que acoplada à criança (Carlos) auxiliou no cuidado. Juntos estavam convivendo com as parafernálias médico-hospitalares que, simetricamente à acoplagem com o celular, contribuíram com o cuidado da criança, haja vista a oferta de oxigênio suplementar. Ambas prevaleceram59 juntas, tanto a Tecnologia do Cuidado não médico-hospitalar quanto a médico-hospitalar, ou ainda, interferências por espacialidades do tipo clínica e a espacialidade do tipo companhia e entretenimento habitando o mesmo lugar. Configurando, conjuntamente, modulações de afeto do tipo contentamento. 59 Coordenação por adição do tipo não discrepante (MOL, 2002a). 186 Já estava com cateter O2 nas narinas, brincava com o celular da mãe, estava escutando música (Andanças 15 - descrições). A mãe dele comentou que seria o computador [Netbook] dele por hora, seria um computador temporariamente dele. (risos). Ele consentiu com a cabeça. A mãe complementou dizendo que seria um alívio para o celular dela que já estava para descarregar e que seu filho até então não parava de escutar música nele (Andanças 15 - descrições). Mas com a apresentação do Netbook, a companhia dos vídeos e das músicas emitidas pelo celular foi deixada de lado. A criança preferiu brincar com os jogos instalados no computador portátil. Constituindo aí, uma nova reordenação espacial de companhia e entretenimento. Sobre o leito, portanto, permaneceu uma espacialidade do tipo clínica e outra de companhia e entretenimento promovida por uma parafernália não médicohospitalar que mora e transita pela pediatria, mas que continuam modulando afeto do tipo contentamento. As pequenas mãos de Carlos manipulam os teclados do netbook. Dedos deslizam, teclam, chegando até vibrar os dedos por conta de cada novidade na tela, cada local em que descobriam com o Super Mário e o Yoshi (o amigo de aventuras do Mário) (Andanças 15 - descrições). A cama já não é apenas ―... para doentes [...]‖, um ―lugar que cansa‖ (Andanças 10), como a criança Pedro se refere ao leito. A cama emite outra ontologia, continua com a função de receber alguém doente, porém no caso da cama de Carlos, bem como na de Lucas (outro menino que descreveremos a seguir), é vibrante, movimentada, atrativa, não sendo apenas um lugar para se deitar, dormir, realizar procedimentos médicos, mas para se brincar estando ou não descompensado pela doença. E isso acontece porque a esta se vincula outros coletivos que são múltiplos, abertos, heterogêneos, como os Netbooks. Diferentemente da cama ―experienciada‖ por Pedro, ou seja, promotora de espacialidades clínicas (em uma concepção negativa) por estar vinculada à modulação de afeto do tipo descontentamento, na cama de Carlos prevalece o colorido, a estampa dos lençóis faz sentido, é alegre, divertida, uma vez que são realçadas pelas práticas com Netbooks. Sendo assim, junto às adições dos lençóis, os computadores, de modo não discrepante,60 contribuem para fabricação de espacialidade do tipo companhia e entretenimento para crianças com condições crônicas de saúde. 60 Coordenação por adição do tipo não discrepante - A segunda forma de adição vem sem preocupações quanto às discrepâncias. Não sugere que as relações têm um objeto em comum. Em vez disso, tomam as relações como 187 As tecnologias do Cuidado promovidas pelos Netbooks estão nos permitindo acessar as discrepâncias e não discrepâncias coordenadas pelos arranjos sociotécnicos que cuidam de modo alternativo por vinculações entre humanos e não/humanos, assim como os acoplamentos entre humanos e humanos, não/humanos e não/humanos. Desse modo, podemos repensar a afetividade vinculada aos Netbooks, crianças, familiares e profissionais como algo não abstrato ou impalpável, mas como afetação que se materializa por intermédio de elementos sociomateriais, configurando na prática o que é tocante, ou melhor, o que é sensível. Estes nos convidam a refazer as fronteiras éticas e culturais, onde os feitos não são apenas iminentes aos humanos, mas socialmente materializados por relações heterogêneas (LAW & MOL, 1992; LATOUR, 2001; MOL, 2002a; DESPRET, 2011). Assim para Carlos temos uma afetação do tipo sociomaterial, pois que a modulação de afetos através do sorriso da criança, ou seja, o seu contentamento, está ligada aos instantes em que suas mãozinhas e olhares se voltam para a tela do Netbook despertados pela sonoridade emitida por seus joguinhos (softwares instalados). Carlos está ligado a materialidades distintas, como o próprio Netbook, cateter, fluxômetro e a extensão de borracha, que configuram juntos uma Tecnologia do cuidado. Essa Prática do Cuidado nos faz pensar na afetação como algo que também se esparrama e se infiltra entre as fissuras e dobras da pele (da criança), não se limitando ao coração ou ao cérebro, mas em/entre esses e em/entre todos os órgãos e sistemas que o compõe, inclusive seus pulmões, e desses em relação a tudo com que diagramam sobre a cama e com todas as topologias que esta Prática fricciona, chega a acessar (DESPRET, 2004; DAMASCENO, 2007). Ou ainda, trata-se de uma Tecnocultura do Cuidado, que em meio a momentos de tensão ou simples adição de artefatos, compusera ambiências de cuidado, ou melhor, topologias do cuidado, que modularam afetos, mediante o envolvimento de objetos atuantes e múltiplos nem sempre coerentes entre si, mas que se prenderam por meio de performances [enactments] que produziram, ou desfizeram realidades sobre o leito hospitalar, referentes ao cuidado de uma criança hospitalizada (LAW, 1997; MOL, 2002a; MOL; MOSER; POLS, 2010). Assim o cateter O2 não incomoda Carlos nem a cama o entedia ou considerada apenas um lugar seguro por conta da rede de oxigênio que tem por perto. Do mesmo modo, como sugestões para ação: uma relação boa pode ser motivo para seguir determinada ação; duas ou três relações boas dão mais razões para seguir a ação (MOL, 2002b). 188 ficar entre quatro paredes do quarto-enfermaria não compreende ficar distante da brinquedoteca ou da sala de informática e cidadania, uma vez que seu corpo manteve um encontro marcado com a brinquedoteca, com a Sala de Informática, mesmo atrelado à superfície de sua cama. Assim, temos ―afetos‖ como elementos que devem se desvencilhar do encarceramento que as restringem ao mundo ―orgânico‖, do ―vivente‖, pois estão em arranjo com outras entidades, como os próprios criadores dos Netbooks, os seus softwares, dos joguinhos, daqueles que tiveram a ideia de inserir computadores no ambiente hospitalar para serem utilizados por crianças hospitalizadas como aparato pedagógico ou de entretenimento, bem como à conexão a outros artefatos, como é o caso de cateter de O2 tipo óculos, extensão de borracha, fluxômetro, o próprio O2 e a rede por onde circula o oxigênio, que possibilitam a oxigenioterapia à criança, mantendo sua estabilidade orgânica enquanto brinca (LÓPEZ, 2005; GÓMEZ-SORIANO, 2008; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO, 2008; DESPRET,2011). Por isso, para ficarem sobre a cama, atuando como companhias de crianças restritas ao leito, os netbooks requerem lençóis, interpelam por uma espacialidade organizacional. Sendo assim, exigem álcool 70%, compressas e hamper por perto, interagindo aí, com diversas entidades, espaços. É proveniente disto o encanto do computador, pois não agiu sozinho, mas na companhia de compressas limpas, lençóis e flanelas, cabo de energia elétrica conectada à rede elétrica, já que sua bateria estava descarregada. Permitindo-nos, sim, participar e apreciar, ao mesmo tempo, da montagem de uma ambiência de cuidado. Concomitantemente, ocorreu entre elas a constante atenção para que as atividades fossem efetuadas livres de infecção cruzada. Exigindo a configuração de uma espacialidade do tipo biossegurança, visto que a superfície da cama interpelou por isolamento por meio de lençóis, coero ou fraldas de pano, assim como por uma prévia desinfecção do Netbook e de seus cabos de energia; não sendo suficiente, a lavagem das mãos aconteceram a todo instante na pia. Assim como a antissepsia através de álcool 70% – ora pressionando a almotolia com álcool a 70%, ora pressionando os porta-géis alcoólicos, uma vez que as mãos da educadora e das crianças61 tocavam o computador a todo o momento. 61 A prática com Carlos aconteceu concomitantemente com a de outra criança (Lucas), ambos internados no mesmo quarto. 189 Levei uma almotolia álcool a 70% para passarem em suas mãos (Andanças 15 descrições). Passei álcool em minhas mãos mais uma vez – este hábito, eu percebi que foi o que mais fiz ao estar entre os dois meninos. Próximo à porta do quarto deles tinha um porta-gel 70% álcool. Ora era esse que eu usava, ora era o álcool líquido em uma almotolia que eu havia levado até lá e deixado por perto estrategicamente (Andanças 15 - descrições). As atividades com o computador promoveram uma espacialidade do tipo entrelaçamento de tempo e espaço, pois houve um aceleramento do tempo, ―passou mais rápido‖ (Andanças 15 – criança Carlos). Assim como interpelaram mais uma vez por uma espacialidade organizacional ao solicitaram por uma aproximação de diversos saberes e práticas, entre eles: o básico de informática, noções de infância, biossegurança, práticas e postura pedagógica, assim como o simples ato de conversar para convencer a criança da relevância do lanche em relação ao Netbook, já que havia brincado e aquele horário passaria a ser dedicado à alimentação. Brincou por mais uns 10 minutos. Já estava no horário do lanche. Foi então que decidi que a brincadeira no computador parasse, pois tinha que comer. A mãe reforçou que ele precisava parar para se alimentar. Ela lembra que ele e o pai, quando começam a brincar de videogame vão até tarde, inclusive, se deixar esquecem de se alimentar. Foi então que falei que havia um lanche gostoso chegando. Ele pareceu entender e parou de brincar. Pedi as mãos dele, ele não entendeu, eu ri e disse que era para passar álcool novamente, ele entendeu e estendeu as duas mãos. Passei em uma, a outra apenas nas pontas dos dedos, por causa da tala de PVC+ velcro com pano com estampa de bichinhos. Em seguida retirei o netbook, apliquei álcool 70%, o mesmo fiz com o cabo de energia (Andanças 15 - descrições). Não bastando, devido à exigência do computador portátil e os diversos elementos a ele arranjados, os corpos de quem o prepara para atividades e de quem brinca sobre o leito com ele, pede pela configuração de uma espacialidade do tipo ergonômica. Ambos, criança e educador ou um responsável (mãe), precisam se movimentar; os educadores ou responsáveis devem flexionar suas articulações ao colocar ou retirar propés para ter acesso à morada (Laboratório de Informática) das máquinas, para segurá-las, limpá-las, fazer a desinfecção, assim como deslocá-las para outras topologias. Enquanto a criança flexiona seu corpo, suas pernas, vertendo sua cabeça em direção à tela do computador, mexendo seus dedos sobre o teclado e touch. 190 Peguei-os [Netbooks], realizei desinfecção. Deixei tudo pronto. Fui até o posto, falei para a enfermeira que brincaria com as crianças no leito, se haveria algum problema ou não. Disse que não. Que poderia, deveria sim realizar as atividades. Perguntei em seguida de pano para cobrir a cama, bem como um avental para eu colocar, já que não estava utilizando jaleco. Orientou-me pegar na rouparia da clinica (Andanças 15 - descrições). Coloquei mais uma vez os propés e adentrei à brinquedoteca. Abri a sala de informática. Passei álcool novamente nos dois netbooks, em seus cabos de energia e os guardei (Andanças 15 - descrições). O pequeno Carlos sentado de pernas cruzadas sobre o leito, quem o visse, parecia estar na posição para meditação. Digamos que, de certa forma, era um modo de fazer meditação: concentrado no joguinho, na realidade, estava centrado em seu direito de brincar, enquanto junto a esse arranjo estava à conexão de oxigênio, cooperando ao complementar O2 para o corpo de Carlos (Andanças 15 - descrições). Sua mãe, no entanto, permanece na poltrona descansando; ela que por muitas vezes desloca-se carregando o filho em seu colo, como aconteceu ao levá-lo da Brinquedoteca para o quarto-enfermaria: "Carlos seguiu para a enfermaria no colo de sua mãe‖ (Andanças 15 – descrições). E, no momento em que seu filho brincava no leito, ela aproveitou para se sentar na poltrona e mexer no celular, o qual estava sobre o domínio da criança até a chegada do computador portátil. Já para o educador ou o responsável pelos computadores, o intuito é o de convergir e articular todas as exigências do computador portátil para que possa se deslocar com segurança até uma enfermaria para realizar algumas de suas potencialidades sobre o leito, junto à criança hospitalizada. Portanto, esse enquanto software, teclado, dígitos, sonoridade, ou seja, enquanto espacialidade de companhia e entretenimento, assim como moduladores de afetos do tipo contentamento e motivação, permite que a criança brinque. 6.6. Netbooks que cuidam de Lucas Para a singularidade de Lucas, assim como vimos em Carlos, descrevemos apenas alguns efeitos locais (realizados na Pediatria), pois nesse dia não utilizamos rede de internet do hospital para conexão62, ou seja, não foi possível verificar efeitos provenientes de interferências do ciberespaço – apesar de nos ter instigado a pensar sobre elas futuramente. Sendo assim, através do Netbook, mantivemos entretenimento a partir de jogos e atividades que foram previamente instalados. 62 A Internet do Hospital não tem Wireless (WiFi) disponível para a Pediatria, funciona por meio de pontos de rede que precisam de autorização para serem utilizadas. Como exemplo (sala de prescrição médica, o posto de enfermagem e o Laboratório de Informática). 191 As ferramentas sociotécnicas que contribuem para a composição de Tecnologias do Cuidado correspondem, simetricamente, à emissão de efeitos e, como já descrito, destacamos os de espacialidade, modulação de afetos e efeitos de Humanização em Saúde. Estes, tanto no caso de Carlos como de Lucas, advieram de inconstâncias de coletivos heterogêneos compostas por artefatualidades médico-hospitalares e/ou não médico-hospitalares, que não se restringem às submissões, métodos, protocolos ou configurações previamente estabelecidas, mas aos acontecimentos momentâneos (CALLON, 2008; MOSER & LAW, 2001). Esses arranjos do cuidado nos convocam a um constante re-fazer ou recomeçar, assim como a um contínuo acompanhamento dos momentos de quando ocorrem essas reformulações e das múltiplas performances [enactments] dos objetos sociotécnicos que compuseram cada ação de cuidado e da própria reconfiguração de como se planejou agir (LAW & MOL, 1992; LATOUR, 1994; HARAWAY, 1995; DE LAET & MOL, 2000; LAW, 2004; VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZ-SORIANO, 2008). No caso do interesse do menino Lucas em participar das atividades no leito, interpelou reordenação de espaço, sendo esta reordenação do tipo organizacional ligada às práticas de cuidado com computadores no leito, o que não era tão esperado. A reordenação, segundo Latour (1994), põe à prova o manifesto de que não encontramos essências em uma prática ou evento, como é o caso de um Netbook que se acopla ao menino Lucas, enquanto ele brinca no leito hospitalar. Ou seja, Tecnologias do Cuidado são confeccionadas a partir do que se tem em mãos; e, referente a um Netbook, promulgado [enacted] como um cuidador, é uma entidade que auxilia no cuidado de um menino sobre o leito, se articulando a vários outros objetos sociotécnicos que se encontravam disponíveis nos lugares próximos à enfermaria, para lidar e manejar os possíveis conjugados configurados pelo inesperado evento. Voltei ao quarto-enfermaria e perguntei a [Carlos] se queria brincar com o computador no leito. Consentiu na hora (Andanças 15 - descrições). Entretanto, outro menino, o que estava com a vendagem em um dos olhos [Lucas], escutou e também quis na hora (Andanças 15 - descrições). Surpresa, eu [...] perguntei para a mãe dele se [Lucas] poderia brincar. Ela deixou (Andanças 15 - descrições). Como a educadora estava com os dois Netbooks preparados, ou seja, com atividades e joguinhos instalados, acabou acontecendo sem empecilhos à composição de uma espacialidade organizacional, assim como de uma espacialidade de biossegurança – já que 192 estavam limpos e com a desinfecção feita, significando que emitiam segurança. Portanto, tais espacialidades somaram-se, possibilitando que a educadora reordenasse suas ações, proporcionando a Lucas que brincasse. As espacialidades do tipo organizacional e a do tipo biossegurança se declararam [enactment] por conta do acoplamento entre Lucas e o Netbook, bem como no momento do desacoplamento das entidades e de uma diversidade de elementos que compunham com elas tais espacialidades, apesar da montagem das espacialidades entre Lucas e o Netbook acontecer concomitantemente com as da cama ao lado. Isto é, paralelamente à fabricação das espacialidades provenientes do acoplamento e desacoplamento de Carlos e o outro Netbook da Brinquedoteca, as exigências foram singulares para cada arranjo sociotécnico. Sendo assim, as espacialidades de organização e de biossegurança em meio a eventos praticamente fixos, ou melhor, permeadas por móveis – imutáveis63–, como: abrir e fechar o Laboratório, transitar entre Laboratório de informática, brinquedoteca, refeitório, corredor, posto de enfermagem, circular pela enfermaria, deslocar até a rouparia, lavagem das mãos, aplicação de álcool nas mãos, utilização de avental, coero como forro protetor para o leito, realização de desinfecção, realizar descarte dos materiais no hamper e guardar os Netbooks limpos e com desinfecção feita. Vale ressaltar que a utilização de avental foi apenas para manter o corpo da educadora e seus microorganismos limitados a ela, haja vista que transitar entre as duas crianças com o mesmo avental, exigiu distanciamento do corpo da educadora das crianças e do leito que ocupavam. No entanto, outras conexões foram responsáveis por moldar e manter as singularidades das espacialidades de organização e a de biossegurança [enactments], dos acoplamentos e desacoplamentos de Lucas e o Netbook: a conexão inicial se deu a partir da não intencionalidade; sobre o coero isolamento, ficou o Netbook e um boneco de pano da criança; a antissepsia de Lucas abrangeu as duas mãos, pois não estava com acesso, ao contrário de Carlos que estava com tala e acesso salinizado, sendo realizada antissepsia completa em uma das mãos e apenas nas pontas dos dedos da mão com fixador de acesso venoso periférico. Quanto ao desacoplamento, aconteceu no instante em que a criança, o Ben10, a mãe, os chinelos e suas malas receberam a visita de um familiar que chegara para buscá-los; acelerando a retirada de todas as materialidades que estavam sobre o leito, na 63 São todos os tipos de transformações que materializam uma entidade em um signo, um arquivo, um documento, um pedaço de papel, um traço, permitindo novas translações e articulações ao mesmo tempo em que mantêm intactas algumas formas de relação (LATOUR, 2001: 350). 193 medida em que os seus moradores temporários iam se despedindo. O Netbook, sozinho, com desinfecção realizada, temporariamente permaneceu envolto por um saco plástico sobre a poltrona, onde a mãe de Lucas estava sentada, aguardando o momento de a educadora terminar as práticas com a outra criança, para ser levado para o armário do Laboratório de Informática. [...] lembrei dos Netbooks do Programa de Extensão. Peguei-os, realizei desinfecção. Deixei tudo pronto (Andanças 15 - descrições) [...] voltei à rouparia, peguei os panos, coloquei o avental, passei pelo quarto dele, coloquei nas camas, sala de informática. Fui para a sala de informática, abri novamente, peguei os Netbooks, fechei a sala e fui para o quarto (Andanças 15 – descrições). Porque tive que ligar e arrumar um de cada vez. Levei uma almotolia álcool a 70% para passarem em suas mãos (Andanças 15 - descrições). Em seguida eu recolhi o Netbook, passei álcool com uma compressa. Deixei sobre a poltrona, já envolvido com um plástico. Desprezei o pano (flanela no hamper do quarto). Passei álcool em minhas mãos mais uma vez, este hábito, eu percebi que foi o que mais fiz ao estar entre os dois meninos. Próximo à porta do quarto deles tinha um porta-gel 70% álcool. Ora era esse que eu usava, ora era o álcool líquido em uma almotolia que eu havia levado até lá e deixado por perto estrategicamente (Andanças 15 - descrições). Guardei, deixei junto com o outro, a seguir desprezei os panos no hamper. Peguei os Netbooks, fui guardá-los no Laboratório de informática (Andanças 15 - descrições). As particularidades clínicas de Lucas estavam em sua vedação ocular direita; este havia realizado uma cirurgia de correção de hemangioma64 recentemente, conforme foto mostrada com entusiasmo pela mãe. A fotografia mostrava uma anomalia infraorbital65 do lado direito da face, que fora corrigida através de práticas de cirurgia e sanado qualquer problema vascular futuro. O retrato compôs uma Tecnologia do Cuidado cujo efeito modulador de afeto mais relevante se vinculou a contentamento da mãe e de seu filho, frente a uma espacialidade clínica de pós-cirúrgico. 64 Refere-se a um tipo de tumor cutâneo benigno que envolve capilares de margens bem definidas, mas também pode envolver vasos mais profundos de bordas não tão bem definidas. Embora muitos dos hemangiomas não requeiram tratamentos devido a sua alta taxa de involução espontânea, a terapia pode ser necessária para corrigir a obstrução da visão e das vias aéreas (ASKIN & WILSON, 2006). 65 Noções de anatomia: região fica na base de cada olho. 194 Apesar de sua, a espacialidade configurada pela fotografia e pelo póscirúrgico, logo é deixada de lado, vindo a tona a espacialidade do tipo companhia e entretenimento promovida por seu parceiro de aventuras: o boneco de pano Ben10 com tapa olho (Figura nº. 48). Este, a princípio, um simples boneco industrializado, inspirado num desenho animado, mostra-se múltiplo, haja vista que o boneco também estava com uma Figura nº.48 – Boneco Ben10 com tapa olho, sobre o leito, ao lado do Netbook. vedação em seus olhos, um esparadrapo intencionalmente colocado no boneco por uma das técnicas de enfermagem a pedido da criança. Sendo assim, Lucas e seu amigo Ben10 possuíam uma simetria, o boneco era singularmente ―o amigo‖ do Lucas, ―companheiro‖ do Lucas (HARAWAY, 2011). E, acoplado ao menino, se fez Tecnologia do Cuidado, emissor de efeito de modulação do tipo motivação estabelecido pela simetria. E, ao aceitar as atividades no leito com o Netbook, ―o amigo‖ do Lucas mostrou-se tão relevante, que o computador só foi aceito definitivamente após uma negociação. Vale ressaltar que houve atrito de consentimento diante da cogitação de escolher entre ambos, mas que foi resolvida ao deixar o boneco ao lado. Sendo assim, não houve prevalência, já que a espacialidade e a modulação de afetos promovidos pelo boneco não foram substituídas. Mol (2002a) denomina situações como essa de coordenação por Calibração66, visto que ambos promovem espacialidades de companhia e entretenimento paralelamente, ou seja, sem se articularem, e não é uma simples adição, pois aconteceram 66 Coordenação por calibração - Uma segunda forma de coordenação é aquela da calibração das relações. Se os efeitos de uma ação foram ouvidos como se cada um falasse por si sozinho, eles podem ficar confinados em diferentes paradigmas. A questão se diferentes efeitos dizem a mesma coisa ou se dizem algo diferente não seria respondível – de fato mal poderia ser perguntada. A possibilidade de se negociar entre elementos distintos só surge graças aos estudos de correlação que ativamente os tornam comparáveis um com o outro. A ameaça da incomensurabilidade é combatida na prática se estabelecendo medidas comuns. Estudos de correlação permitem a possibilidade (nunca sem atrito) de traduções. 195 atritos, os quais necessitaram de uma tradução do evento envolvendo ambos, diferenciando-se do evento envolvendo Carlos e o Netbook – o momento em que a conexão de oxigênio estava acontecendo no leito, pois neste caso, apenas se adicionaram, não houve atritos, nem teve necessidade de negociações. As interpelações do Netbook no leito de Lucas ora se aproximaram das interpelações que aconteceram no leito de Carlos, ora se tornaram totalmente diferentes. Mas deve-se ressaltar que tanto os arranjos no leito de Carlos, como os configurados no leito de Lucas, mantiveram-se paralelos, sem interferirem um no outro. Exemplo de aproximações entre ambos temos a espacialidade do tipo organização efetivada sobre a superfície da cama de Lucas, que também foi feito utilizando, improvisadamente, um coero; entretanto, ao lado do computador, vale lembrar, permaneceu um objeto sociotécnico, como já descrito, o boneco ―amigo‖ do menino. O momento de Lucas era de pós-operatório, já com alta hospitalar assinada. Ele estava apenas ―descansando‖, ou melhor, brincando no leito com o seu boneco, e, agora, na companhia do Netbook, aguardando um parente buscar a ele e sua mãe. Segundo sua mãe, o menino estava com proposta de retorno para avaliação de rotina, após sete dias de alta hospitalar, isto é, para a semana seguinte. Ao lado de sua cama, seu chinelo o aguardava, na escadinha sua mala e de sua mãe estavam prontas para a partida, esses compunham uma espacialidade de organização, simétrica à alta hospitalar do tipo previamente avisada. A mãe, por perto, com o papel da alta hospitalar na mão, ora se sentava na poltrona ora se aproximava da criança, do Netbook e do boneco, para incentivar e vibrar por cada fase que o ―Mário e o Yoshi‖67 passavam, graças às habilidades de seu filho. A mãe do menino Carlos conversava com ele e ele comentava com ela sobre o jogo do Mário. Não só a mãe do lado, como também o seu boneco não saiu de perto dele, um companheiro de aventuras (Andanças 15 - descrições). Até um conhecido do menino (Andanças 15 – descrições) [...] chegar e falar que estava na hora de ir embora [...] (Andanças 15 – descrições). Perguntei se havia gostado de brincar, ele consentiu com a cabeça e, a seguir, com a ajuda da mãe sentou-se a beira da cama, colocou seus chinelos que estava sobre a escadinha e, a seguir, desceu. A mãe pediu para ele me agradecer e se despedir. O mesmo o fez de um modo especial, pois puxou o Ben10 da cama para junto de si e em seguida disse um ―tchau‖, foi sucinto (Andanças 15 - descrições). A mãe me agradeceu, cumprimentou apertando a minha 67 Software instalado nos Netbooks. Refere-se a um jogo de videogame desenvolvido pela empresa japonesa Nintendo (www.nintendo.com/ ). 196 mão, dizendo que ele voltaria na semana seguinte para avaliação médica. O conhecido dos dois pegou a mala e saiu na frente, em seguida o menino e a senhora (a mãe dele) (Andanças 15 – descrições). Sendo assim, tanto a expectativa da alta hospitalar quanto à companhia do boneco, assim como os joguinhos no computador, conjugaram uma espacialidade de companhia e entretenimento junto à mãe e filho, como também configuraram efeitos de espacialidades do tipo entrelaçamento de tempo e espaço, uma vez que fizeram com que o tempo se acelerasse, passasse mais rapidamente. Essa Tecnologia do Cuidado também fora responsável por modular afetos do tipo motivação e contentamento pelo momento vivido. Haja vista que motivou o desencadeamento de expressões de alegria e satisfação da mãe e da criança. Quanto à mãe, não necessariamente brincou, mas o tempo também passou para ela pelo simples fato de ver seu filho se divertindo, realizando atividades, após uma cirurgia recente. Havendo, desse modo, modulação de afetos e reordenação de espaço para mãe. A mãe se comportava como uma torcedora que permanecia ao lado de seu filho para incentivá-lo e vibrar junto a ele (com o menino conectado às parafernálias não médicas), enquanto aguardavam o momento de irem embora (VIANNA; SÁNCHEZ-CRIADO; GÓMEZSORIANO, 2008). 6.7. Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualização Assim como os ―Computadores não portáteis que moram no Laboratório de Informática da brinquedoteca‖, os Netbooks também são objetos sociotécnicos locais, ou seja, ligados ao Programa de Extensão, ou ainda, componentes da brinquedoteca, mas que se deslocam da Sala de Informática para os leitos, para as poltronas das enfermarias ou, como já mencionado, para as mesas da brinquedoteca. Em ação, foram capazes de efeitos de Humanização em Saúde, uma vez que efetivaram as diretrizes da Política de Humanização do SUS: ―acolhimento‖, ―protagonismo‖, ―corresponsabilidade‖ e ―autonomia‖, durante as atividades realizadas distintamente no leito com Carlos e Lucas. 197 6.7.1. Acolhimento Quando Carlos brincava com os jogos do Netbook sobre o leito, ou seja, no lugar escolhido por ele para estar, exerceu sua autonomia, mas também foi bem acolhido, visto que havia na pediatria artefatos que possibilitaram que ele brincasse no leito. Não sendo diferente para Lucas, pois que a pesquisadora-educadora tinha em mãos outro Netbook pronto para ser utilizado, que estava limpo, com desinfecção realizada, com jogos instalados. Os Netbooks, assim como os computadores que não saem do Laboratório de Informática, conjugaram tecnologias do cuidado que permitiram a materialização de uma atenção alternativa e resolutiva para os momentos nos quais as crianças precisaram passar o tempo, necessitaram brincar, mesmo estando restritas ao leito. Os Netbooks requeriram uma articulação com outras localidades da pediatria e do hospital para que houvesse a continuidade de uma assistência (BRASIL, 2006) na enfermaria sobre o leito, que não esteve diretamente relacionada a uma prática médica. Portanto, proporcionaram confecções de espacialidades, assim como modelações de afetos em constante conjunção com pelo menos uma das diretrizes da Política de Humanização em Saúde, neste caso, enfatizamos efeitos ligados ao acolhimento. As interpelações do Netbook o configuram como um cuidador desde o momento em que se acoplou às crianças que estavam sobre o leito. E essa conjugação ocorreu apenas através do consentimento das crianças, assim como pela disponibilidade de uma educadora, porta-vozes dos Netbooks, bem como pela motivação de pais ou responsáveis, porta-vozes das crianças. Notamos que na enfermaria um dos modos de se acolher a criança hospitalizada é através das atividades com o computador. Tais atividades são fazeres e saberes singulares à Pediatria do Hospital Universitário. Simetricamente à Terapia Assistida por Animais (TAA) (PEREIRA; PEREIRA; FERREIRA, 2007), levando em consideração as complexificações (MOL & LAW, 2002) das artefatualidades, como os Netbooks quando interagiram com humanos, configuraram uma relação de amizade e companheirismo. E, tanto para a relação que Carlos estabeleceu com o Netbooks, quanto a que Lucas estabeleceu, os acoplamentos favoreceram a fabricação de múltiplas espacialidades – sendo relevante na maior parte das vezes a do tipo entrelaçamento de tempo e espaço e companhia e entretenimento. E, em decorrência destas, a criança e/ou 198 o acompanhante se envolveram com os jogos, com a possibilidade de touch, com as teclas do teclado, com a sonoridade emitida e com o intuito de entreter, não percebendo o tempo passar. Ressaltamos que a relação estabelecida entre Lucas e um dos Netbooks, não rompeu o seu laço de amizade estabelecido com o boneco Ben10. O menino manteve os dois ao seu lado. 6.7.2. Autonomia Não fugindo ao que aconteceu entre crianças e os ―Computadores que não saem do Laboratório de Informática‖, notamos que Lucas e Carlos quando manipularam ―os seus Netbooks‖, mesmo sobre a atenção de um adulto, a autonomia se fez via espacialidades, assim como vinculada à modulação de afetos. Portanto, apesar de terem sido estudadas em tópicos separados no Capítulo cinco, tais efeitos podem se encontrar juntos e correlacionados às políticas de Humanização em Saúde por meio de artefatualidades. Por isso quando Carlos escolheu ir para o leito devido à falta de ar, mesmo tendo a bala de oxigênio como uma opção para permanecer na sala de informática, sua escolha foi ouvida e respeitada, o que levou a efetivação de sua autonomia. Pôde permanecer brincando com ―o seu computador temporário‖, como sua mãe referiu ao Netbook. Do mesmo modo, a escolha de Lucas por permanecer sobre o leito com os dois brinquedos, tanto com o Ben10 quanto com o Netbook, foi consentida. Sendo assim, as crianças, puderam satisfazer suas vontades, efetivar a autonomia via artefatualidades, a qual também revelou as performances [enactments] da criança. E para Carlos, ainda surgiu uma terceira opção, a de permanecer brincando sobre o leito com um Netbook enquanto recebia complementação de oxigênio (BRASIL, 2006). Relembrando, Lucas se acoplou ao computador portátil enquanto aguardava alguém que viria buscá-lo e a sua mãe. Em meio a esse arranjo sociotécnico, a criança e sua mãe tiveram a oportunidade de transpor o tempo que ainda os prendiam ao hospital. Enquanto para Carlos o tempo e o espaço da pediatria ainda permanecerão com ele, assim como os momentos de desconforto abrupto pela falta de ar, a dor ligada às novas punções, a saudade, as normas. Por isso, o brincar, a possibilidade de negociações foram as razões que o fizeram uma criança autônoma. E quando um computador portátil foi deslocado da sala dos computadores para a superfície dos leitos de Carlos e Lucas, cada computador se acoplou a 199 uma criança; as quais passaram a compor arranjos sociotécnicos distintos, que, por simetria, cooperaram para o cuidado, enfatizando a autonomia de coletivos heterogêneos em Saúde. Mantendo efetivo em ambos os casos a diretriz ―autonomia‖, ou seja, um dos modos de se emitir Humanização em saúde via artefatualidades. 6.7. 3. Corresponsabilidade e protagonismo As atividades com Netbooks, como nas demais do Laboratório, se restringiram às pessoas envolvidas com o Programa de Extensão, algumas enfermeiras e a recreadora, que conforme as exigências dos computadores portáteis tinham acesso às chaves da sala de informática, aos computadores, por conta do comprometimento com o subprojeto do Programa, ou seja, com o Projeto de Informática e Cidadania. Assim como reuniam as pessoas que já haviam passado por uma capacitação para lidar com crianças acopladas a computadores, o que inclui os que permanecem na sala de informática, como também os Netbooks. Como em um dia em que havia apenas uma educadora para lidar com as atividades de Informática, ela teve que fechar a sala enquanto atendia as crianças no leito, indo ao Laboratório apenas para pegar as artefatualidades necessárias para as atividades no leito. Os computadores portáteis exigem dos educadores espacialidades do tipo organizacional, haja vista que tiveram que saber onde não só os Notebooks estavam guardados, mas também onde encontrar os outros elementos necessários, a saber, com quem conversar e perguntar como conseguir os elementos que precisavam para compor a espacialidade de companhia e entretimento – como aconteceu de uma das educadoras ir ao posto e perguntar onde encontrar avental e ―panos‖ para cobrir a cama e, em seguida, compor uma ambiência para brincar sobre o leito, assim como ordenar um espaço livre do risco de contaminação cruzada. Por isso, interpelam à educadora, noções e biossegurança e a responsabilidade de ensinar a criança e o acompanhante tais noções, de incentivar que passem álcool gel em suas mãos antes e após lidar com os computadores. As práticas com computadores portáteis exigem flexões corporais, que não se restringem à emissão de espacialidades do tipo organização ou de biossegurança, mas também do tipo ergonômica, que se encontram ligados à flexão corporal daquele que os 200 limpam, faz a desinfecção e os carregam. Espacialidade que se encontra vinculada às modulações de afetos do tipo motivação do educador quanto a efetivar seu trabalho, assim como presenciar sorrisos das crianças que lidam com os computadores; do mesmo modo, se encontra vinculado ao contentamento da criança por poder brincar. Não fugindo ao que acontece com os demais computadores do Laboratório de Informática, com os Netbooks há confluência para a efetivação da corresponsabilidade e de protagonismo tanto pelo educador, que organiza uma ambiência segura e agradável para a criança brincar, o que potencializa o protagonismo e corresponsabilidade das artefatualidades, como pelas crianças. Enquanto o computador auxiliar no cuidado requererá cuidados do educador, das crianças, dos outros profissionais da clínica e dos acompanhantes ou responsáveis. 201 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Cuidado na Prática, topologicamente localizado nos espaços de uma pediatria, nos permitiu refletir a respeito de um Cuidado de Enfermagem contemporâneo, o qual não estaria mais restrito à benevolência ou ações promovidas por figuras angelicais ou santas, despedimo-nos, portanto, definitivamente do ranço iluminista. Também nos oportunizou pensar em uma Enfermagem ciborgue, ou melhor, flagramos uma Enfermagem na qual humanos e não/humanos (o que inclui outras entidades, não só as máquinas) compõem ―espécies de companhia‖ que configuram cuidado. Ainda incitou-nos a ativar, de certa forma, as Notas de Enfermagem [Notes on Nursing] escritas por Florence Nightingale, e percebê-las a partir de estudos sociotécnico, como preocupações sobre como intervir na vida diária das práticas de cuidado, com o intuito de promover a saúde das pessoas. Sendo assim, pudemos compreender, da perspectiva de nossos estudos, que os objetos sociotécnicos e arranjos de cuidado provenientes da relação computador-criança hospitalizada pode dizer, não de uma, mas de diversas Tecnologias do cuidado. E que estas não se excluem, e podem, ao contrário, serem complementares. Adotamos a praxiografia como recurso metodológico por enfatizar as diversas performances [enactment] nas práticas de cuidado. Incorporamos ainda a noção de artífices que nos ajudou a entender o ofício do mosaicista – mosaicistas pesquisadoras de incidentes do tipo mosaico, ao compormos, juntamente com inventário dos objetos/mapas, diários, andanças/itinerários, desenhos praxiográficos e fotografias, que foram de grande relevância para a nossa pesquisa, para as nossas análises. A partir da presente pesquisa apostamos em um modo de edificação de um método que se distanciasse da investigação urgente. Esta conseguiu produzir rupturas com a ―velha‖ rotina arraigada à hegemonia masculina e machista de se fazer pesquisa, bem como dos separatismos entre o ―fazer ciência‖ e ―não ciência‖, inaugurada pela modernidade. Contrariando, portanto o pensamento clássico, a nossa pesquisa se efetivou, pois conseguimos configurar uma praxiografia dos arranjos sociotécnicos de computadores, tendo estes objetos como permanentes produtores de eventos. 202 No capítulo ―Um Hospital Escola‖, compomos de certa forma, uma versão do Hospital pelo qual andamos. A composição aconteceu, portanto, através de ―actantes‖ como documentos online, falas de uma professora-enfermeira entrevistada, bem como reflexões concedidas, os quais declaram que na pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller, o cuidado sempre esteve ligado intencionalmente à atividade recreativa, o que foi fortalecido, segundo os incidentes de nossos estudos sociomateriais, por pequenas atitudes, conversas de corredores, e a seguir, potencializado pelos projetos de pesquisa e extensão da UFMT. Entre eles, o Projeto de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. Este, que se tornou atrativo para os nossos estudos sociotécnicos, principalmente porque alguns de seus componentes, os computadores, aos se relacionarem com crianças, demonstram-se potentes objetos sociotécnicos recreativos, mas também se declaram como fiéis entidades que auxiliam no cuidado. Com relação à seção das ―As Andanças pela pediatria‖, ressaltamos que os desenhos praxiográficos transbordam uma planta arquitetônica, ou melhor, não correspondem à planta de arquitetura da pediatria. Esses derivam dos itinerários de nossas caminhadas pela pediatria, ao seguirmos pistas de objetos sociotécnicos, em nosso caso, pelas intensidades das performances momentâneas dos computadores que se relacionaram com crianças hospitalizadas. E, a escolha de adentrar pelos fundos do hospital, foi uma necessidade de buscar argumentos que nos vinculassem como um híbrido (pesquisadora/educadora) conectivo entre a Universidade e o Hospital Escola. No capítulo ―Computadores que cuidam I‖, notamos que as Tecnoculturas do Cuidado se deram através de relação estabelecida entre ―computador fixo-criança hospitalizada‖. Ou seja, este vínculo foi o responsável pelo desencadeamento de diversos arranjos sociotécnicos do cuidado, cúmplices da Promoção de Saúde de uma criança hospitalizada. Discorremos, dessa maneira, enquanto exercitávamos a organização dos eventos por coordenação do tipo adição, sobre alguns efeitos produzidos pelos computadores que habitam a brinquedoteca. Além disso, enfatizamos as espacializações configuradas nos instantes que as artefatualidades colaboravam para cuidar da criança. Quando necessários incidentes mosaicos foram repetidos com a intenção de ampliar as reflexões ou revelar que outros efeitos estariam acontecendo ao mesmo tempo. Em destaque temos os seguintes efeitos: biossegurança, companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço. 203 E sobre modulações de afetos, pudemos descrever os do tipo: motivação, desmotivação; contentamento; descontentamento. Discutimos também vinculações de espacialidades e modulações de afetos aos efeitos de Humanização em Saúde por artefatualizações (acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo). Sendo assim, através do acoplamento computador-criança hospitalizada, o laboratório de informática se transformou em um lugar onde a criança tem o poder do ―fazer de conta‖, onde ela pode fazer tudo o que não é admitido na ―vida real‖. Acompanhantes declararam que a brinquedoteca e a sala de informática conectada a ela compreendem lugares e momentos onde seus filhos podem satisfazer suas próprias vontades, ou seja, efetivar sua autonomia. Pudemos flagrar rupturas com as rotinas hospitalares, ou melhor, a actância da criança-computador como desencadeadora de tecnologias de cuidado, que se declarou como contribuinte para a criança hospitalizada lidar e se relacionar com o coletivo heterogêneo da pediatria, bem como negociar com adultos o seu cuidado. Assim como nos deparamos com o entrelaçamento de tempo e espaço, também promovido pela relação computador-criança hospitalizada, que colaborou para ―o tempo passar mais rápido‖. As confusões cotidianas em meio às interferências de afetações (as provenientes das incertezas clínicas de uma criança) foram se ajeitando, mas vale dizer de uma estabilidade momentânea. Em nossos estudos, entendemos que reordenações de espacialidades e modulação de afetos configuram uma Lógica do Cuidado, ou melhor, Promoção de Saúde. Isto é, as actâncias sociotécnicas negociaram suas afetações confessadas, apaziguando-as via Tecnologias do cuidado, neste caso, atravessadas pelas interpelações da relação computadorcriança. No capítulo ―Computadores que cuidam II‖, enquanto exercitávamos a organização de eventos por coordenação do tipo adição, assim como por coordenação do tipo calibração, voltamo-nos para os efeitos produzidos pelas práticas de cuidado de dois Netbooks sobre o leito de duas crianças, com ênfase nas espacialidades, modulações de afetos e Humanização em Saúde. Novamente, ressaltamos que alguns dos incidentes mosaicos que montamos foram repetidos, mas com o propósito de ampliar nossas reflexões. As espacialidades configuradas foram: clínica; biossegurança; companhia e entretenimento; organizacional; ergonômica; entrelaçamento de tempo e espaço. As quais se ligaram com modulação de afetos do tipo: motivação, desmotivação; contentamento; descontentamento. Descrevemos também os Efeitos de Humanização em Saúde por artefatualidades: acolhimento, autonomia, corresponsabilidade e protagonismo. Deparamo-nos, portanto, com computadores móveis se 204 relacionando com meninos em descanso no leito de uma enfermaria. Tivemos a oportunidade de estudar os meandros de uma ―geografia‖ complexa das modulações de afetos e espacialidades efetivadas pela relação estabelecida entre computador móvel-criança. Assim como pudemos coparticipar da transformação da superfície de um leito hospitalar em uma cama a partir das interpelações provenientes da relação estabelecida. Portanto, trombamos com diversos coletivos heterogêneos em cada leito, que a partir das exigências da conexão Netbook-criança hospitalizada, compuseram diferentes tecnologias do cuidado. Frisamos que tais reordenações de espacialidades com interferências de modulações de afetos se declararam contribuintes para a Promoção em Saúde [ Improving in Health] de modos singulares e momentâneos. Entretanto, poderão se efetivar com distinção das primeiras, ou simplesmente não provocarem nenhuma interferência. Em uma releitura de duas distinções caras ao cuidado em saúde – a primeira condiz com tecnologias leves, leve-duras e duras e a segunda sobre tecnologias diferenciadas por níveis de complexidade – propomos pensar que as propriedades variam a depender do modo como performam: uma mesma tecnologia pode ser leve, leve-dura ou dura. Práticas cotidianas ou tecnologias, aparentemente insignificantes (GALINDO et. al, 2009), são complexas e simples ao mesmo tempo dependendo de como performam (MOL & LAW, 2002). O incremento do cuidado na vida diária concomitante à garantia de direitos das crianças hospitalizadas em pediatrias são preocupações constantes na enfermagem. Nesta pesquisa não deixamos estas inquietações de lado, entretanto, fomos conduzidas a pensá-las de modo sociotécnico, de uma maneira que fugisse aquilo que é ―instituído pelo hábito‖ (SPINK, 2003) da vida diária, ou seja, refletir de um modo não/antropocêntrico as práticas em enfermagem nas quais a distinção entre humanos e não/humanos é apenas uma das formas de falar sobre complexificações sociotécnicas em cuidado, porque flagramos objetos sociotécnicos, arranjos e tecnologias como integrantes de reordenações de espacialidades, modulação de afetos e da Promoção em saúde. Com as crianças, percebemos que o cuidado não se encontra na superfície do corpo, nem em uma tecnologia, mas na híbrida superfície do cotidiano. Durante a pesquisa, as crianças hospitalizadas, os acompanhantes e equipe foram parceiros de pesquisa. Sendo assim, propomos como um dos desdobramentos de nossos estudos, compartilharmos com eles o texto da pesquisa, ou melhor, o modo como narramos 205 nosso trabalho na forma de oficinas sociotécnicas educativo-estéticas (GALINDO et. al, 2012), abrindo a novos trabalhos e multiplicidades. 206 REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. M de. Fragmentos da história da enfermagem pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá-MT por meio do click fotográfico (Décadas de 70 e 80 do século XX). Monografia apresentada. Enfermagem. Universidade Federal de Mato Grosso. 2010. ALVES, C. A.; DESLANDES, S. F.; MITRE, R. M. A. Desafios da humanização no contexto do cuidado da enfermagem pediátrica de média e alta complexidade. Interface (Botucatu) [online], v.13, suppl.1, p. 581-594, 2009. ISSN 1414-3283. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v13s1/a10v13s1.pdf Acesso em: 10 jun. 2010. ANDRADE, R. L. P.; PEDRAO, L. J. 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Por quanto tempo? 18/out sala de coordenação de enfermagem; sala de V1 chefia imediata de enfermagem pediátrica; corredores do hospital; Pediatria (brinquedoteca; laboratório de informática; posto de enfermagem; sala de repouso da enfermeira; enfermarias de adolescentes; lactentes; sala de procedimentos, jardim de inverno; expurgo; apresentação do projeto; conversa, distribuição e recolhimento de assinaturas de termos da equipe de enfermagem; visita geral a pediatria observações e descrições gerais; brinquei no balando com uma criança apresentação do projeto; conversa, distribuição e recolhimento de assinaturas de termos da equipe de enfermagem; visita geral a pediatria; observações descritivas em geral; brinquei no balando com uma criança coordenação de enfermagem; chefia imediata de enfermagem; enfermeira da clinica técnicas de enfermagem; alunos de enfermagem; professora de enfermagem do 7 semestre; alunas de psicologia aluno de mestrado em educação infantil; alunos de enfermagem do nono semestre; crianças 8:30 às 13:30 225 V2 brinquedoteca; posto de enfermagem; 20/out laboratório de informática; repouso das técnicas de enfermagem; repouso de enfermeira; refeitório; corredor da pediatria apresentação do projeto; conversa, distribuição e recolhimento de assinaturas de termos da equipe de enfermagem; visita geral a pediatria observações e descrições gerais apresentação do projeto; conversa, distribuição e recolhimento de assinaturas de termos da equipe de enfermagem; visita geral a pediatria; observações descritivas em geral. enfermeira do setor; técnicas de enfermagem; professora de enfermagem; alunos de enfermagem; 8:45 às 12:30 técnicos de enfermagem; enfermeira V3 brinquedoteca; posto de enfermagem; laboratório de informática; repouso de apresentação do projeto; 21/out enfermagem; refeitório; jardim de inverno; conversa, distribuição e corredor da pediatria recolhimento de assinaturas de termos da equipe de enfermagem; sala de repouso da enfermeira; posto de enfermagem; brinquedoteca; posto de enfermagem; laboratório de informática; refeitório; jardim de inverno; corredor da pediatria V4 25/out apresentação do projeto; conversa, distribuição e recolhimento de assinaturas de termos da equipe de enfermagem; entrevista com uma técnica de enfermagem observações e descrições das atividades dessa técnica 12:40 às 15:00 enfermeira; técnicas de enfermagem; 12:45 às 18:00 226 V5 V6 V7 visita minuciosa em todas as alas da descrições minuciosas de todas alas da pediatria; pediatria, inclusive sala dos médicos as enfermeira; técnicos de enfermagem; mães e crianças. observações de incidentes (prontuários) envolvendo técnicos de enfermagem, enfermeiras, residentes de medicina; crianças e acompanhantes; observações e descrições 28/out minuciosas. enfermeira; técnicas de enfermagem; mães; crianças sala de repouso da enfermeira; brinquedoteca; posto de enfermagem; observações, descrições e 31/out refeitório; brinquedoteca; jardim de inverno; entrevista com uma técnica; repouso de técnicos de enfermagem; visita específica, marcada com corredor da pediatria técnica de enfermagem conversas; observações, sala de repouso da enfermeira; posto de descrições de técnicas de enfermeira; técnicas de enfermagem; mães; crianças enfermagem; refeitório; brinquedoteca; enfermagem que participam da laboratório de informática; jardim de pesquisa; entrevista com um das técnicas que participam de inverno; corredor da pediatria; pesquisa 03/nov 10:00 às 19:00 15:00 às 17:00 12:50 às 17:00 V8 sala de repouso da enfermeira; posto de enfermagem; refeitório; brinquedoteca; 04/nov laboratório de informática; jardim de inverno; corredor da pediatria; expurgo; isolamentos enfermeira; técnicas de enfermagem; crianças; mães; limpeza conversas; observações; de mobiliário descrições; entrevista com uma atendente de enfermagem com desvio de função (desinfecção de mobiliário da pediatria) 13:00 às 17:30 227 V9 V10 V11 V12 sala de repouso da enfermeira; posto de enfermagem; refeitório; brinquedoteca; 06/nov laboratório de informática; jardim de inverno; corredor da pediatria; enfermaria de adolescentes; enfermaria de lactentes sala de repouso da enfermeira; posto de enfermagem; refeitório; brinquedoteca; laboratório de informática; jardim de inverno; corredor da pediatria; enfermaria de adolescentes; apresentação de projeto, enfermeira; crianças; mães; professora de enfermagem do 7 conversa e apresentação de semestre de enfermagem; mães; crianças; termo e coleta de assinaturas de interessados da equipe e de crianças e acompanhantes; observações; descrições apresentação de projeto, conversa e apresentação de termo e coleta de assinaturas de interessados da equipe e de crianças e acompanhantes; observações e entrevista com 11/nov duas das técnicas participante da pesquisa e com uma criança; uma mãe conversa, observações e sala de repouso da enfermeira; posto de descrições de incidentes enfermagem; refeitório; brinquedoteca; específicos no refeitório, jardim laboratório de informática; jardim de de inverno e brinquedoteca. inverno; corredor da pediatria mães; crianças; enfermeira; 18/nov técnicas de enfermagem; sala de repouso da enfermeira; posto de enfermagem; refeitório; brinquedoteca; 24/nov jardim de inverno; corredor da pediatria; enfermaria de adolescentes; 17:00 às 21:00 mães; crianças; enfermeira; técnicas de enfermagem; recreadora; alunas de psicologia vinculadas ao Programa de Extensão 9:00 às 17:00 mães; crianças; enfermeira; técnicas de enfermagem; conversa, observação; mães; enfermeiras (circulante e do setor); professora de entrevista com uma das técnicas enfermagem; crianças; limpeza; limpeza de mobiliário; participante da pesquisa; estudantes de enfermagem; técnicas de enfermagem fotografias da brinquedoteca 17:00 às 20:30 18:00 às 21:00 228 coordenação de arquitetura; coordenação infraestrutura; coordenação de enfermagem; biblioteca setorial;sala de repouso da enfermeira; posto de enfermagem; refeitório; brinquedoteca; jardim de inverno; corredor da pediatria; enfermaria de adolescentes; V13 30/nov V14 posto de enfermagem; sala de materiais e equipamentos; enfermarias; refeitório; brinquedoteca; laboratório de informática; jardim 01/dez de inverno; busca de material referente a história do hospital; busca da planta da pediatria antiga e atual; conversa; observações e entrevista com uma mãe após apresentação de projeto, assinatura do termo de consentimento; apresentação do projeto, assinatura do termo por uma enfermeira; marcado dia de entrevista com duas enfermeiras; Marcado para buscar cópia de material do histórico do hospital com responsável por acervo na biblioteca setorial; marcado entrevista com professorea enfermeira sobre histórico do hospital e pediatria; visita ao site do HU para mais informações do histórico do hospital mães; pais; crianças; enfermeira do setor; nutricionista; secretariado da biblioteca, coordenação de arquitetura; secretariado geral da ala de coordenações; trabalhadores do setor de manutenção predial – estrutura física do hospital; professora de enfermagem; mães, crianças; limpeza; pessoal da nutrição; limpeza de mobiliário; técnicas de enfermagem; enfermeiras (circular; enfermeira do setor do plantão, enfermeira de outro dia de plantão) conversas; fisioterapeuta; professora; enfermeiras (do setor e circulante); observações;>descrições; alunos de enfermagem; pais; mães; crianças; limpeza; apresentação de projeto, termo de nutrição; secretária; limpeza de mobiliário consentimento para mae; coleta de assinatura; entrevista com mãe; fotografias 09:30 às 14:30 12:20 às 16:30 229 Posto de enfermagem; >enfermarias; sala de repouso de enfermeira; corredor; brinquedoteca; sala de informática e cidadania; jardim de inverno; refeitório; isolamento; rouparia da clinica; sala de materiais; sala de procedimento; sala de prontuário (prescrição médica) V15 03/dez corredores do hospital; refeitório das crianças; brinquedoteca; Posto de enfermagem; Setor administrativo; CPD; Quartos –enfermarias; biblioteca setorial; Posto de enfermagem V16 06/dez conversas; observações, descrições; apresentação de projeto, apresentação de termos e coleta de assinaturas de acompanhantes; rastreamento de diagnóstico médico de pacientes participantes da pesquisa; desenvolvi atividades como educadora do Programa de Extensão, atuando com crianças na sala de informática e no leito (atividades de entretenimento no PC convencional e no leito); iniciei construção de inventário de brinquedos e materiais que compõe arranjos de tecnologias do cuidado; verifiquei funcionamento do sistema em que enfermeria realiza prescrição e evolução de enfermagem; verifiquei as restrições dos sites para verificar com CPD liberação (youtube.com, por exemplo); tirei fotografias comemoração de despedida de algumas educadoras do programa de extensão; observações descritivas de práticas de técnicas de enfermagem e enfermeira; visita ao CPD para verificação de permissão de acesso a determinados sites pelo grupo de extensão que encontravam-se bloqueados. mães; pais; crianças; enfermeira do setor; nutricionista; com pessoal do Programa de Extensão via e-mail (despedida das primeiras alunas de psicologia que participaram do programa); 8:30 às 16:15 alunas de psicologia; mestranda da educação; enfermeira voluntária; professoras do sétimo semestre de enfermagem; enfermeira do setor; pessoal do CPD; pessoal do setor de arquitetura e infraestrutura; bibliotecários; pessoal da educação continuada; recreadora; pessoal da limpeza; técnicas 9:15 às 15:00 230 de enfermagem; fisioterapeuta; mães e crianças hospitalizadas V17 repouso da enfermeira; enfermarias posto de entrevista; observações; enfermeira; pais e mães das crianças; crianças técnicos de enfermagem; brinquedoteca; sala de informática; apresentação do projeto; coleta de enfermagem; alunas de psicologia 08/dez jardim de inverno assinatura; conversa com as meninas da psicologia 9:00 às 14:00 231 APÊNDICE B INVENTÁRIO DE OBJETOS SOCIOTÉCNICOS Objetos Lençóis Botas de cano longo Portão 68 Características e funções determinadas68 Características e funções diversificadas Incidentes mosaicos (Dia de andanças - IT) (Linhas - L) Forro, aquecer, isolante, protetor. Peça que Com estampa que serve com atrator para a criança brincar; peça que IT.1.L122-L124; IT. 6.L134cobre ou envolve o colchão de uma cama. compõe a brincadeira de esconder sobre o lençol; é utilizado para L136; IT.14.L517-L521; sobrepor a cama para colocar materiais de entretenimento sobre esta IT.16.L133-L135 (netbook; joguinhos como dominó; cartas, etc.) Proteção dos pés e pernas para trabalho de limpeza. Compõe a indumentária do pessoal da limpeza, o que distingue IT.14.L517-L521; IT.17.L9dos sapatos dos acompanhantes e equipe de saúde da clínica, L13 lembra que lugares estão sendo limpados. Limite entre estar dentro ou fora de diversos Local de aquecimento para entrada da pesquisadora; conversas setores do hospital, divisória, proteção. informativas; trocas de indumentárias. Porta grande, geralmente gradeado que dá acesso à uma área envolta por muros ou cercas. Nesta seção consultamos dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 2009; HAOUAISS, 2009). IT.7.L8-L10 232 Solo, assento, pavimentação. Terra (visitante externo) Conjunto de duas lentes para compensar defeitos visuais, montado em armação própria com duas hastes que se prendem á s Óculos orelhas. Óculos de sol: proteção ocular do (visitante sol; acessório. Óculos de grau: para leitura, externo) um acessório para melhorar visão durante estudos. Vestimenta, acessório. Camiseta/blusa (visitante externo) Identificação dos locais; algumas tem função de placa de homenagem; placa de Placas de apoio material ou financeiro. Encontramos identificação de PVC, metal; madeira, ou ainda de TNT. Grudando nos pés da pesquisadora, compôs o seu cominho de escolha para entrada ao hospital pelo lado em obras. Parte momentânea da indumentária da pesquisadora. IT.2.L14; Indumentária que compõe momentos distintos da pesquisadora IT.2.L15; IT.13.L8-L24; (antes de adentrar a pediatria - sol, e, após adentrar a pediatria - IT.14.L7-L13; IT.15.L9-L12 grau). Compõe a indumentária da pesquisadora (proteger contra os IT.10. L7-L9; IT.13.L8-L24 raios solares). ;IT.14.L7-L13; IT.15.L10L12 Função de atrativos para crianças, acompanhantes ou para IT.1.L123-L124;IT.11.L210agradar a qualquer um que acesse a pediatria, por isso, L216 apareceram como decorativas, algumas apareceram com o formato de Desenhos (golfinho rosa) ... 233 Portas Divisória, privacidade, limites entre lugares. camuflagem para crianças que brincam de esconder atrás dela; De metal, de madeira, de vidro transparente. estandarte para fixar informativos que condizem com a numeração do quarto da pediatria; caracteriza a entrada, dos fundos, frente, garagem,do hospital. Na pediatria, há portas de vidro transparente; estas permitem visualizar e acompanhar quem esta do outro lado com maior precisão e segurança e mostrar-se presente para os que estão por ali; sua transparência possibilita visualizar a movimentação; serve de quadro mural para anexar informativos (sobre os projetos que funcionam, retirada de sapatos); proibição de entrada de alimentos no local. IT.1.L102; IT.1.L123-L124; IT.1.L218-L220; IT. 1.L256L257; IT. 1.L270; IT. 2.L12; IT. 2.L59; IT. 4.L14; IT.4.L17-L18; IT.6.L7-L15; IT. 7. L139 – L141; IT.8. L 25 – L33; IT. 8. L212 – L220; IT.11.L13-L16; IT.11.L161-L163; IT.13.L42-L46; IT.14.L88L92; IT.14.L517-L521; IT. 1.L102; IT. 4.L106L107; IT.5.L89-L101; IT. 8. L83 – L88; IT.9. L177l180; IT.11.L15-L16; IT.11.L220-L227; IT.15.L44—L46; Copos Utilizado como recipiente para beber líquido,alimentos semilíquidos. Os mais comuns foram os copos descartáveis, estes apareceram em destaque no posto de enfermagem. Disponibilizado também pela copa do hospital para uso no refeitório ou nos quartos. De vidro e plástico não descartável foram encontrados para consumos particulares no repouso das técnicas. Pode ser encontrado como "copo do umidificador" que precisa ser preenchido com soro fisiológico até a marca indicada ou o frasco aspira que após uso ou preenchimento, precisa imediatamente ser lavado para reposição. Descartável do posto de enfermagem, para armazenar e deslocar medicamentos via oral; de vidro, de plástico não descartável no repouso das técnicas de enfermagem compõe os momentos de descanso, de distanciamento momentâneo do posto e dos cuidados. Os descartáveis levam a adentrar ao posto na maioria das vezes, aparece em meio a momentos de descanso na cadeira de fio do posto, final de alguma prática, final de atividades, despedidas, ou troca de ideias sobre Assistência de enfermagem, prescrição. Aparece como um conector entre copa/cozinha do hospital via carrinho de refeições ao posto, quartos e refeitório das crianças. Compõe um ambiente de refeição; consumo de alimento. 234 Acessos à tubulações de ar comprimido; É uma companhia, pois convive com as crianças que oxigênio; vácuo ao conectar-se em um necessitam de complementação de o2. E, em meio a atividades fluxômetro, frascos e extensões de borracha. de informática sobre o leito, ajuda a cuidar, ao interagir não só com extensões de borracha, frascos, fluxômetros, como Entradas/saídas também com rede de energia, netbook, superfície da cama, com lençóis, joguinhos instalados, mãos, dedos, tala, cateter sobre agulha. Assento ou banco para uma só pessoa, com Constituem espaços (descanso no posto; hora de alimentação costas e algumas vezes com braços.. Há de ou conversas no refeitório; no laboratório de informática; na vários tipos no setor: de fio, com rodas, brinquedoteca para atividades, para conversas de mesa, encosto de madeira infantil e adulto, cadeira cadeiras de banho). convencional, cadeira de alunos, São companhias que podem circular (do laboratório para a Cadeiras cadeira de plástico. brinquedoteca, ou jardim de inverno) ou ficar restrito nos lugares (posto); crianças sentadas nas cadeiras altas (para adultos) requerem auxilio de outra pessoa para a criança descer. Pequeno saco, de couro, plástico, pano, Compõe a indumentária da pesquisadora. Acompanha ela em habitualmente usado para carregar dinheiro suas andanças. Bolsas e miudezas.Armazenamento de objetos para (visitantes deslocamento, um acessório de mão. externo) IT.1.L93-L94 IT.16.L135137; IT.15.L155 – L159 IT.1.L102; IT.4.L54; IT.11.L161-L163; IT.11.L169L209;IT.11.L210L216;IT.15.L68-L69; IT.15.L84-L88; IT.15.L109L117; IT.16.L24-L27; IT.17.L106 IT. 15.L13-L14 235 Remate de metal ou madeira, de fôrma arredondada ou piramidal, para ornamento de móveis e outros objetos, ou por onde se pega para abrir ou empurrar portas, por exemplo. Maçaneta Entretenimento, meio para se obter diversas informações tanto para adulto quanto para criança. Televisões Crachá (visitante) Compõe situações, como a de ligar a pesquisadora às IT.1.L36; IT. 8. L253 – L259 memórias de suas vivências antigas na clinica ao adentrar a sala de repouso da enfermeira (afetações); neste local, sua função ao ser manipulada (empurrada) também virou um ato , pois de empurrar a maçaneta da porta teve como fim da expectativa de encontrar alguém conhecido do outro lado. Segurar e empurrar ou abrir algo que leva a outras espacialidades, não apenas a outro espaço, mas a um lugar de adultos que se conversa sobre crianças. Configura uma comunhão entre adultos e crianças ao ter que assistir o mesmo canal de escolha. Quando ligada a vídeo game, constitui lugares de entretenimento, as crianças passam o tempo, distraem para aguardar procedimentos, aproximam pais e filhos ao brincarem juntos na televisão com video game ou assistindo à canais de televisão.Nos quartos isolamentos, ampliam a dimensão de isolamento, pois as televisões que ficam anexadas à parede também compões ambiências de passagem de tempo, permeia interações, compõe entretenimento. Na brinquedoteca, as televisões também estão ligadas a determinados momentos que precisam ser obedecidos, pois lembram as normas da pediatria, como o caso dos horários que podem ser ligadas. Espécie de insígnia que fixa num local do corpo Atrator de crianças; vincula atividades com criança; vincula hospital (na roupa) onde fique visível a identificação. a universidade; companheiro de quem o utiliza, neste caso, a pesquisadora-educadora. IT.1.L244-L246; IT.5.L49-L57; IT. 6.L115 - L117; IT. 6.L177L181; IT. 7.L63-L67; IT. 7. L119 – L120; IT.8 L15 – L18; IT. 9. L24 – L28; IT.9.85; IT.10.L42-L54; IT.10.L294L303; IT.10.L620-L626; IT.10.L702-L704; IT.11.L74L79; IT.11.L89-L96; IT.12.L16-L19; IT.12.L109L112; IT.4.L72-L78 IT2.L15-L21; IT.2.L19; IT.7.L8-L10; IT.8.L7 -L9; IT.10.L7-L9; IT.13.L8-L24; IT.14.L7-L13; IT.15.L10-L12; IT.16.L11-L24 236 Da brinquedoteca; dos alunos, dos professores; Companheiros dos alunos, das crianças, dos educadores, dos da pesquisadora. São fonte de entretenimento, profissionais da clínica. Muitos que identificamos moram na IT. 15.L13-L14 informações. brinquedoteca, mas também visitam os leitos das crianças, assim como os brinquedos o fazem. São incentivadores da aproximação da relação maes/pais e filhos hospitalizados. Livros Cadernos Hampers Da pesquisadora, dos alunos; crianças e, estes É um companheiro que ao configurar espaços para pintura, rabiscos, são Locais para anotações, desenhar. Podendo esboços, enfim, para entretenimentos ou para um pensar educativo, serem visitantes o moradores da pediatria. tanto individual como em grupo ou junto com um educador ou pais (no caso das crianças), mas também acabam, ao mesmo tempo que se declararam companheiros, também passearam pelo leito da criança e mesas da brinquedoteca, dividiram espaço com livros, brinquedos e computadores. Armazenador de panos sujos, roupas contaminadas. É composto de um saco de pano e possui uma armação de ferro, e,tem rodinhas para deslocamento. IT.9. L23-L24; IT.11.L20L24; IT.13.L-105- L107; IT.14.L30-L37; IT.14.L63— L66; IT. 15.L13-L14 São ligantes de espaços, já que muitas vezes os panos sujos da IT.12.L651-L667; IT.17.L143brinquedoteca tem que ser descartadas nos hampers dos quartos. São L145; IT.15.L176-177; alertas sobre a necessidade de incorporar noções de biossegurança, IT.15.L189-L190 em especial, para as mãos de quem desloca com materiais sujos ou contaminado até eles precisam serem lavadas. Um armazenador de material utilizado nas atividades na brinquedoteca, superfície do leito, no laboratório de informática. 237 Estantes Propés Vídeogame Armazenar, organizar. Encontramos na clínica: para propés, para livros, para brinquedos, para medicamentos; rouparia, equipamentos médicohospitalares. São armazenadoras de roupas, aonde crianças, acompanhantes e profissionais vão para buscar tais materiais, específicos para as necessidades (coero, saco de hamper, capote fraldas, camisolas, conjunto camisa-shorts, aventais, lençóis, propés...). É apoio para criança que está com mobilidade de membros inferiores prejudicadas, para bebês que estão aprendendo a se deslocar. Configuram espaços, habitações de determinados objetos, reordenam e compõe ambientações distintas, dependendo da relação que estabelece com as pessoas que as acessam, e seus interesses quanto os objetos que armazenam; locais para se desbravar, haja vista os tipos de materiais que armazenam; Compositoras de momentos de autonomia para a criança e para a família ao pegar um propé, um livro, um brinquedo, estando estes a altura de sua estatura. Cobradoras de flexões, inflexões, quando armazenam coisas que ficam acima ou abaixo da altura das pessoas. Isolar os pés, evitar infecção cruzada pelos pés são recepcionistas e acompanhantes dos educadores, pais , crianças que transitam pela pediatria, pelo hospital, pelo para adentrar a brinquedoteca. São utilizados para brincar de lado externo do hospital e, que tem acesso a deslizar/ escorregar nos espaços da brinquedoteca. Como são lugares estéreis como o centro cirúrgico. grandes para os pés das crianças menores, ora ficam saindo de seus pés, ora ficam no pé. Compõe espaços que se dão fora da brinquedoteca, ou melhor, ficam na fronteira questionadora entre acessar ou não acessar a brinquedoteca com propés ou descalços? Também são aquecedores, pois aquecem os pés dos que não podem ficar com os pés no chão gelado. Ligam à enfermarias onde há Hampers para serem desprezados nestes. Cobra de quem os utilizam: realização de inflexões e flexões para colocá-los. Jogo que usa uma tela de monitor e um controle É uma estratégia para realização de um procedimento (puncionar, eletrônico. aceitar medicação); uma troca, distração enquanto espera medicação em acesso venoso terminar (mostrou-se um subversor espaçotempo); configura espaços para se brincar sozinho ou em coletivo; é um conjugador entre mães e filhos; são amplificadores do local, neste caso, a brinquedoteca. IT.11.L150-L160; IT.1.L248L250; IT.4.L79; IT. 5.L25L27; IT.8. L70-L76;IT.10.L88L90; IT.10.L326-L330; IT.11.L25-L48; IT.11.L150L160 IT.2.L50; IT.7.L21-L23; IT. 7.L86-L97; IT.8. L 12-L14; IT. 8. L212 – L220; IT.9. L23-L24; IT.10.L60-L68; IT.11.L16L19; IT.11.L124-L141; IT.11.L169-L209; IT.13.L-105L107; IT.13.L71-76; IT.14.L30-L37; IT.14.L63— L66; IT.15.L52-L54; IT.15.L47-L48; IT.15.L189L196; IT.15.L201; IT.16.L50L52; IT.17.L113-L114; IT.17.L134-L136; IT.17.L143L145 IT.1.L244-L246; IT.2.l69-L70; IT.4.L72-L78; IT.4.L350-L351; IT. 7.L28-L30; IT. 7.L30-L32; IT. 7.L55-L63; IT.7.L82-L85; IT. 7.L86-L97; IT. 7. L135L138; IT. 8.L16 – L18; IT. 8. L122 – L125; IT.10.L654L656; IT.10.L743-L745; 238 Display video (Dvd) Aparelho para assistir vídeos fílmicos, musicais, desenhos. São divisória. Abertura a meia altura de paredes que liga o lado interno ao lado externo. Permite claridade, circulação de ar. Janelas Notebook e netbook Notebook é um computador portátil. Netbook é uma variação mais simples do computador. São de fácil manuseio e mobilização. São pequenos e práticos. Com função de conexão via internet; produções textuais, em vídeos, fotos, gráficos, pinturas; permite entretenimento. Alguns podem IT.11.L83-L88; IT.12.L109L112; IT.12.L152-L166; IT.12.L388-L397; IT.13.L204L213; IT.14.L74-L75; IT.15.L181-L187 Configura momentos de decisões, onde crianças e adultos que IT.1.L244-L246; IT.14.L517mexem no aparelho, manipulam os DVD para se escolher de algo L521; IT.15.L60-L62 para assistir, negociam; crianças; acompanhantes e profissionais, ao escolherem um canal, compõe um espaço de entretenimento típico de cada DVD assistido. Se vidro transparente: acompanhar quem está do outro lado com IT1.L156-L156; IT.1.L233maior precisão e segurança; brincar de fazer bichinhos invisíveis L234; IT.5.L34-L41; IT.5.L77sobre o vidro (fazendo sonoridade no vidro, movimentos com a mão, L88; IT. 15.L14-L16 ; caras e bocas); não sair do alcance da visão da criança. Se de vidro IT.16.L85-L91; IT.16.141opaco permite ficar escutando ruídos externos, vozes, imaginando L143 quem poderia estar do outro lado. Com vidro transparente permite interação como destacado. É um objeto sociotécnico que aproxima espaços, contribui para um cuidado a distancia, contribui para segurança da criança e familiares, apesar de retirar privacidade. Com o vidro pintado, fica opaco, vira um protetor da luz do sol externo e privacidade quando necessário, há algumas em alguns quartos onde as tem não abrem, deixando quem está do lado de dentro ouvir alguns rumores externos e imaginar quem e o que está se passando do outro lado. Muitas das janelas são de vidro transparente e não abrem, permitindo isolar o quarto para ligar o ar condicionado, tendo contribuições das janelas que abrem e fecham (tanto as com vidro transparente ou não). Os netbooks e notebook do programa: são Cuidadores que se IT. 6.L49-L55; IT. 6.L174deslocam até o leito da criança restrita a este espaço; são brinquedos L176; IT. 7.L238-L241; e brincadeiras para/da/com a criança acamada (pós-cirúrgico, IT.11.L20-L24; IT.14.L63— isolamento, fraqueza generalizada, instabilidade generalizada, ou L66; IT.15.L77-L78 que está restrita ao leito por conta de alguma medicação que requer IT.15.L117-L199 uma séria monitoração de sinais vitais) ou simplesmente, numa IT.15.L135-L199 239 ser de alunos de professores, acompanhantes situação corriqueira, aguarda a alta hospitalar; é um bom e/ou crianças, ou do programa de Extensão companheiro que se agrega facilmente a outras materialidades, como Cuidar Brincando. mãozinhas de crianças pequenas e com atadura, tala; parafernália que protagoniza junto com criança, acompanhante e equipe; na pediatria requer desinfecção, utilização de lençóis ou flanela no leito quando cuida sobre o leito; muitas vezes requer presença de um educador do projeto, acompanhante ou alguém da equipe, caso a criança não saiba mexer nestes; é um uma entidade que contribui para alfabetização digital e computacional, ja´que a acessa ao mundo das TICs; requer retirada de parafernálias ao final das atividades; desinfecção lavagem ou passar álcool a 70% nas mãos de todos os participantes que mexeram no netbook ou notebook que estava com determinada criança. É um companheiro, um cuidador, mas também permite ser tomado como da criança provisoriamente. Em alguns momento, foi relevante este se agregar a bateria, o que permitiu que este efetivasse, ligado a rede de energia quando a bateria não estava carregada, brincar, cuidar. São subversores de espaço tempo. Os computadores de professores, alunos e pesquisadora foram flagrados como companheiros de reuniões, de estudo, de jogos de ideias, na maioria das vezes sem o uso de internet, mas vinculado à informações de armazenadores como pendrives. IT.15.L150-L152 IT.15.L152-L159 L176 IT.15.L183-L192 IT.15.L193-L196 IT.15.L172- IT.1.L216; IT.2.L23-L24; IT.1.l288-L289; IT.1.L291; IT.10.L628 – L631 240 Estes referem-se aos computadores fixos. Permitem conexão via internet; produções textuais, em vídeos, fotos, gráficos, pinturas; entretenimento; requerem manutenção continua; permitem aperfeiçoamentos razoáveis via periféricos e software. Encontramos computadores fixos no repouso da enfermeira, na sala de prescrição médica, no posto de enfermagem e no laboratório de informática da brinquedoteca. Computadores Entretenimento e demais produções coletivas e individuais com as crianças hospitalizadas; motivador de deslocamento da criança do quarto; pesquisa de informações pelas crianças ou familiares responsáveis por estas (medicamentos de auto-custo; sobre a doença); compõe uma espacialidade que se aproxima de um lugar conhecido (familiar, caseiro, doméstico); realização de atividades educativas; interação via internet com familiares e com outras crianças hospitalizadas no hospital universitário da USP via projeto paralelo ao do Informática e Cidadania, o que é intitulado Pediatria em rede; motivador de socialização com crianças hospitalizada com ela; aproximação de familiares e da equipe; ameniza necessidade de hospitalização; brinquedo e brincadeira da criança hospitalizada; parafernália que protagoniza junto com criança, acompanhante e equipe; requer desinfecção continua; requer lavagem com água e sabão ou passar álcool a 70% nas mãos da criança; requer presença de um educador do projeto, acompanhante ou alguém da equipe; apresentação ou acesso ao mundo das tics; tomado como seu provisoriamente; computadores integram a equipe multiprofissional; as atividades no laboratório de informática agregam alunos de vários cursos, necessidade de monitores-educadores; capacitação para lidar com crianças no hospital; na brinquedoteca associado à amplitude do local; um dos alteradores de espacialidades (cama que se transforma em ambiente de brincadeira); é motivo para quer ser internado rapidamente (novidades no local); é recepção da pediatria para as crianças já na internação; utilizado para pesquisa; confecção de conhecimento mútuo; aproxima pessoa; articula-se com outras materialidades. IT.1.L42; IT.1-L60; IT.1.L78L79; IT.1.L90; IT.1.L104L107; IT.1.L314; IT.2.L163; IT.4.L71-L78; IT.4.L252-L257; IT.4.L262-L263; IT.4.L351; IT.4.L385-L386; IT.5. L28L33; IT. 6.L49-L55; IT.6.L57L69; IT.6.L72-L75; IT.6.L102L107; IT. 6.L115 - L121.; IT. 6.L166-L176; IT.7.L15-L17; IT. 7.L238-L241; IT. 7.L254L262; IT.9.L56-L68; IT. 9. L166 – L175; IT. 9.L177-L182; IT.10.L14-L21; IT.10.L60-L68; IT.10.L139-L164; IT.10.L280L293; IT.10-L356-L357; IT.10.L358-L366; IT.10.L358L369; IT.10.L475 –L487; IT.10.L610-L618; IT.10.L620L626; IT.10.L706-L707; IT.10.L713-L718; IT.10.L743L745; IT.10.L743-L745; IT.11.L161-L163; IT.12.L152L166; IT12.L310-L316; IT.12.L388-L397; IT.12.L399L415; IT.12.L439-L457; IT.12.L494-L501; IT.13.L204- 241 Cadeiras com rodinhas Haste com rodinhas Parapeito Bolas L213; IT. 13.L147-L156; IT.13.L24L-L27; IT.14.L329L336; IT. 15.L12-L14; IT.15.L68-L69; IT.15.L64-L70; IT.15.L72-L75; IT.15.L96-L97; IT.15.L102-L103; IT.15.l150L159; IT.15.L179-L183; IT.15.L192-L201; IT.15.L202L203; IT.16.L59-L85; IT.16.L153-L156; IT.17.L13L17; IT.17.L22-L34; IT.1.L251-L255 IT.1.L251-L255 Assento com maior facilidade movimentação; ajuste de altura. para de plástico o que facilita a lavagem com água e sabão ou aplicação de álcool a 70%; girar na cadeira; com ajustes de altura brincar de elevar ou abaixar a cadeira; assento de criança e de seu acompanhante ao seu lado (aproximação). suporte de soro para fácil deslocamento Deslocamento facilitado de algo pesado.>brincar de empurrar a haste IT. 4.L58; IT. 4.L67-L69; IT. que geralmente encontra-se com bomba de infusão; 4.L78; IT. 7.L30-L32; IT. Responsabilidade dos acompanhantes de empurrar haste da criança. 7.L71-L85; IT. 7.L75-L85; IT.7. L102-L111; IT. 7. L108L111; IT.11.L236-L266; IT. 14.L65-L73 Parede de apoio que se eleva mais ou menos à Espaço de troca de ideias, conversas, encontro. Morada de IT.1.L88 altura do peito. prontuários de prescrição, telefone, exames laboratoriais. Objeto, geralmente esférico, para ser atirado, batido, chutado, empurrado, carregado, rolado ou arremessado, dependendo do jogo em que está sendo usada. As bolas podem ser duras ou macias, maciças ou cheias de ar. Muitos esportes importantes são jogados com bola. Entre eles está o futebol. De todos os tamanhos e coloração, material e textura. Brincadeira de jogos que une familiares à criança que se recupera, que precisa de se movimentar, que não tem restrição de movimentos bruscos; podendo ser utilizada no leito, sentando-se com a criança no chão para brincar de agarrar e jogar; algo que a criança morde; pode ser utilizada em seções de fisioterapia ligada a especificidades fisioterapeutas; subversão de tempo-espaço; brinquedo tomado como seu provisoriamente.; jogo de basquete, em cesta imaginarias (constituição com as mãos, baldes...); induz a construção imaginaria IT.1.L88 IT. 7.L75-L85; IT.7. L235 – L238; IT.9.L87-L98; IT.10.L507-L508; IT.10.L658L668; IT.11.L118-L123; IT.12.L162-L166; IT12.L310L316; IT.12.L388-L397; IT.15.L60-L63 242 Móbile Aparato móvel, composto de elementos suspensos, perfeitamente equilibrados, que se movimentam com a passagem do ar. Reproduz as formas humanas, predominantemente a feminina e a infantil. As bonecas industriais podem ser confeccionadas com diferentes materiais, acompanhando a evolução das novas tecnologias. É um brinquedo associado às meninas, no entanto, existem versões de bonecos direcionados aos meninos, guardando ambos, como elemento essencial para a sua caracterização, as formas que lembram a humana, ou humanizada. As bonecas (os) Bonecas(os) diferenciam-se de outros tipos de bonecos que industrializada representam outras formas de vida, como e artesanais animais do mundo real (bichos de pelúcia como ursos ou um coração de pelúcia), do mundo da fantasia, da literatura, do cinema ou do imaginário popular.Bonecas (os) artesanais são brinquedos confeccionados manualmente para crianças se divertirem, diferentemente de um toy arts, que seriam de carater expositivos (brinquedos para adultos), uma recordação, decorativo ( é o caso das bonecas russas de porcelana); as (os) bonecas (os) artesanais são de origem de diversos materiais, de de traves para gol (com outros materiais); compõe uma espacialidade de entretenimento; de vínculos/mediações; podem ser enfeite, como os de enfeite de natal. Sendo assim, podem ser brilhosos, chamarem atenção de crianças pelo brilho e coloração. Entretenimento, compõe uma espacialidade que reduz o estresse. Lúdico para a criança que passa por algum procedimento médico cirúrgico (passagem de cateter central); alivia tensão para o acompanhante que presencia procedimento e quer manter contato com seu filho sem muita tensão (interage com o bebe mexendo no móbile suspenso). Criança dormir abraçada; conversa com a boneca sobre a internação; conta suas historias de vida para a criança; faz teatrinho com as bonecas; boneco terapêutico, usado para catarse das crianças (preparo para exames, procedimentos cirúrgicos, punções venosas); são arremessados pelas crianças; são utilizados pela para descontar raiva, pois a criança bate na boneca; são brinquedos provisórios, emprestados; um dos responsáveis pelas alterações de espacialidades (cama-leito); compõe, portanto, vária modos de relação de afetos. Os bonecos no formato de ―papai Noel‖, compõe uma espacialidade de data festiva cristã. Bonecas artesanais:Produções provenientes de criatividade; produto de trabalho apresentado por uma artesã local como atividade a ser desenvolvida pelos interessados; Uma atividade com finalidades artesanais, concentração; subversão espaço-tempo; brincadeira aberta; como produto final para enfeitar a clinica, ser levada como lembrança e para futuras multiplicações do aprendizado; para venda para compra de mais materiais para se trabalhar na clinica; Terapêutico como simulador de um procedimento (punção, cirurgias); serve para arremesso (desconta na boneca); algo com o brigar com a boneca; Companheiro de aventuras como o Ben10 que divide espaço com o netbook num momento que uma criança aguarda para ir embora (alta hospitalar). Um simples coração de pelúcia que mora no posto de enfermagem com a função de "pedir silencio", não sendo apena algo decorativo. IT.5.L82-L88; IT.1. L 116-L117; IT. 4.L80; IT.4.L102-L105; IT.4.L190L194; IT.6.L18-L19; V4.L102L105; IT. 4.L359; IT.6.L44L49; IT. 6.L49-L51; IT.10.L171-L175; IT.10.L337L342; IT.10.L507-L508; IT.11.L118-L123; IT.12.L504L509; IT.12.L542-L551; IT. 14. L304 – L318; IT.15.L29L31; IT.15.L32-L36; IT.15.L139-L143; IT.15.L159L163; IT.15.L166-l174 IT.17.L17-L21; IT.17.L139L143 243 reaproveitados, como pedaço de pano, linhas, Há o caso do estetoscópio com bichos de pelúcia (algo animado), tintas. que compõe espacialidades que afetaram não só a criança, mas também outros profissionais - ameniza tensões, aproxima. Motoca Máscaras Gorro Pequeno veículo de três rodas, dotado de pedais, desloca-se pela brinquedoteca, jardim de inverno e refeitório e que se usa para transporte de pequenas cargas. corredores da pediatria; redobra a atenção do cuidador quando a Espécie de velocípede de três rodas. criança quer andar de moto e está com punção conectada a bomba de infusão fixada em uma haste de metal (um balé). Passar o tempo, entretenimento; compõe uma brincadeira móvel. Educativas, companhia de alunos, professores, profissionais da clinica, acompanhantes e pacientes. Proteção pessoal para inalação. Protege contra Educativas, companhia de alunos, professores, profissionais da partícculas grandes, gotículas. Há máscaras para clinica, acompanhantes e pacientes. proteção pessoal de partículas provenientes de aerossóis (com carvão ativado...). IT. 7.L71-L77; IT. 7.L71-L78; IT. 7.L98-L100; IT. 7. L100L111; IT.7. L102-L111; IT.11.L150-L160 IT. 6.L138-L141; IT. 8. L155 – L159; IT.14.L320-329; IT.16.L106-L113 IT. 6.L138-L141; IT. 8. L155 – L159; IT.14.L320-329; IT.16.L106-L113 Isolar os cabelos; evitar contaminação pessoal; Acompanham alunos, profissionais da clinica, professores. Colorido proteção pessoal. Podem ser coloridos, brancos. com estampas que subvertem o branco; atrator para as pessoas que Descartáveis ou de pano próprio dos interagem com o profissional de saúde, isso tanto para criança profissionais. quanto para o adulto. IT. 6.L138-L141; IT.11.L169L209;IT.14.L320-329; IT.16.L106-L113 244 Há de dois tipos de bombas na pediatria: infusão de frascos e outra de seringa; Podem funcionar ligados a rede elétrica ou a bateria; Infusão de medicações minuciosas em crianças. Controle digital. Bombas de infusão Maquinários (externo) Preferência para uma das enfermeiras participantes da pesquisa. Essa acredita que tem mais controle do que o sistema virtual recentemente implantado... Promove espacialidade de gestão hospitalar. Articula espaços da pediatria com outras localidades do hospital (manutenção; CME, CPD, administrativo, farmácia). São companheiras; As para infusão de soluções em frascos podem se anexar em haste pelo peso, é possível deslocar e manter em funcionamento; no caso das bombas de seringa, necessitam ficar sobre um aporte, na maioria das vezes, numa mesa, esta não permite deslocamento da criança; bateria descarregando requer novo deslocamento, interpela outras relações, outras ambiências, faz com quem utilize a bomba preocupe-se com o carregamento da bateria para não atrasar medicação ou hidratação em curso. Quando desconectada da criança (termino de medicamentos ou por não precisar mais dela devido finalização de terapia com determinado medicamento que necessitava dela, é sinônimo de liberdade, possibilidade de a criança ter acesso a outras companhias, seja esta humana ou não humana, que a permita brincar, deslocar com maior facilidade, sem tantas preocupações, ou sem muitas restrições, pois dependendo da medicação, por mais que a bomba permita deslocamento, as medicações que alteram sinais vitais as restringem ao leito). IT. 1.131; IT. 1.L137-L138; IT. 1.L169-L171; IT. 4.L58L61; IT. 4.L68-L69; IT. 4.L88-L89; IT.5.L86-L88; IT. 7.L30-L32; IT. 7.L71L85; IT. 7.L75-L85; IT. 7. L108- L111; IT. 7 . L194 – L198; IT. 8 L48- L50; IT. 8. L102 – L107; IT. 8. L108– L120; IT. 8. L127 - L131; IT. 8. L161 – L164 IT. 9.L37 – L48; IT. 9 L69 – L76; IT.10.L42-L54; IT.10.L70L78; IT.10.L510-L514; IT.10.L610-L618; IT.12.L71-L99; IT.12.L651L667; IT.13.L28-L30; IT.14.L51-L62 ; IT. 14.L65L73; IT.14- L390 – L397; IT.16.L91-L99; IT.16.L105L106; IT16.L113-L127; IT.17.L39-L40; IT.17.L45L47 Máquinas robustas utilizadas em pavimentações Atuam em outras localidades (pátio do hospital). Porém interferem IT.10.L79-L87 (tratores, máquinas para mistura para produção na pediatria através dos ruídos, barulhos que conseguem se propagar de cimento, britadeiras, escavadeiras, caçambas, e serem ouvidos no jardim da brinquedoteca. caminhões). 245 Seringas Talheres Bandejão Equipo Há seringas que armazenam volumes de 1, 3, 5, 10 e 20ml. Pequena bomba portátil, geralmente de vidro ou de plástico, usada para injeções ou extração de líquidos.Infusão se de soluções, soros, água destilada. Geralmente para via endovenosas, mas também ajuda para infusão enteral, oral. Requer certa habilidade na sua manipulação. Aparatos para se alimentar. Compõe ambientes de relações sociotécnicas. Esta inclui mãos, IT. 9.L37 – L48 conhecimentos, ideias, prescrições, legislações; habilidades; técnicas; receio; medo; dor. Também vincula outras entidades como medicamentos, equipos, veias, cavidade oral ou sondas enterais, horários; duplas vias; luvas de procedimento, agulhas, cateter sobre agulha. Compõe os momentos de alimentação que aproximam as mães ou acompanhantes às crianças que possuem coordenação motora alterada pela doenças ou ainda, por ainda não possuírem habilidade de movimentos finos das pontas dos dedos. Recipiente para se alimentar, é metálico. Compõe os momentos de alimentação que aproximam as mães ou acompanhantes às crianças que possuem coordenação motora alterada pela doenças ou ainda, por ainda não possuírem habilidade de movimentos finos das pontas dos dedos. Assim como compõe momentos de conversas com o pessoal da copa do hospital, bem como com outras crianças e mães/acompanhantes que conversam sobre a aceitação da dieta, falam sobre a dieta,falam sobre suas vidas. Conexão para infusão de líquidos/soluções Compõe ambiências de cuidado, acompanha o paciente. Interage endovenosos, enteral. com diversas entidades materiais enquanto contribui com a ambiência de cuidado. IT.8 L83- L88 ; IT.13.L8-L24 IT. 9 L28 – L31; IT.11.L169L209; IT.13.L8-L24 IT. 4.L59-L61; IT. 8. L102 – L107 246 Frascos Talas Avental Almotolias Compressas Comporta soluções; pós; gel; soros; dietas. Pode Acompanham as crianças, acompanhante, pesquisadora, educadores IT.4.L94-L95; IT. 9 L69 – L76 ser de plástico ou vidro. Às vezes requer no cuidado junto ao computador portátil sobre o leito, os lençóis da conexão com equipo, extensões de borracha, cama. acesso à veia ou via enteral, ou ainda septo nasal, respectivamente. Fazem companhia, contribuindo no cuidado: mãos (álcool gel ou liquido); alimentação (dietas); medicamentos endovenosos. Aerossóis, aporte de oxigênio. Fixar acesso venoso; imobilizar local de punção, Tala ergonômica de pvc + capa de pano (criação recente de alunos e evitar perda de acesso venoso periférico. enfermeiros da universidade); é colorida; fácil para remoção; reduz gastos com esparadrapos; é mais arejado; a tala de papelão + esparadrapo (criação de enfermeiros); relaciona-se com mouses na brinquedoteca. Isolar. Há coloridos e estampados, azul, verde. Há de pano, como também de TNT de coloração branco. com manga (capote para casos de pacientes em isolamento de contato), ou sem manga (sem tanto risco de transmissões por contato). Recipiente para armazenamento: álcool a 70% (gel, líquido); PVPI; degermante; sabão; vaselina Compressas estéreis -para curativos, estancar sangramento de feridas limpas, estéreis. Compressas limpas – feridas limpas ou contaminadas. IT.4.L94-L95; IT. 9 L69 – L76 IT. 7.L44-L49; IT. 7 L302L312; IT. 8 L83 – L88; IT.11 L25-L48; IT.15.L83-L84; IT.15.L183-L187; IT.16.L101L103 Chama atenção das crianças a coloração. na maioria das vezes IT. 6.L138-L141; IT. 8. L155 – causou boa aderência, sem momentos de desagrados. Deslocamentos L159; IT.15.L135-L136; para ter acesso a eles. Assim como estes permitem acesso as IT.15.L191; IT.17.L123-L127 crianças. Constituem novos espaços. Transpõe fronteiras ao mesmo tempo que isola. Promove trânsitos e interação entre espaços distintos (brinquedoteca IT.1.L124-L125; IT.1.L234com enfermaria, por exemplo). Composição de um ambiente de L235; IT.1.L262-L264; IT. 8. biossegurança. L235 – L239; IT.15.L65-L69; IT.15.L139; IT.15.L75-179 Limpar computador, netbooks antes de serem utilizados e após IT. 1.L264-L265; IT.15.L135serem utilizados também, limpar mesas onde realizam atividades L136 com as crianças, e refeições também. IT.15.L175 –L176 247 Cateter sobre agulha Ventilador mecânico Nebulizador Sapatos (visitantes externos) Poltronas Introdutório cânula flexível sobre agulha Numeração 24 para crianças. Provoca dor, medo acesso às veias periféricas. Há de vários calibres requer técnica para sua introdução. Quando retirado definitivamente, refere-se a possível alta hospitalar, melhoras, menos remédios, redução de dependência de medicamentos pelo corpo; maior participação da criança e de seus pais no cuidado, por passarem a depender de medicamento via oral, ou outras formas de cuidados. IT. 1.L124-L125; IT.4.L59L61; IT.4.L65-L69; IT.4.L85-L86; IT. 7 L. 285 – L 298; IT.10.L510-L514; IT.11.L25-L48; IT.11.L124L141; IT.12.L651-L667 Equipamento para respiração complexa de Em criança requer atenção para valores pequenos, para uma IT.10.L516-L523 pacientes graves. programação bem diferente do adulto; gera uma tensão naqueles que não sabe mexer; exige experiência e noções para manipulá-lo. Umidificador para o trato respiratório superior.. É um Pulverizador que dispersa líquidos, soluções ou suspensões em gotículas numa espécie de névoa; usado para inalações, visando a fins terapêuticos. Envolve os pés; proteção; conforto; isolamento dos pés. Requer noções para manipulá-lo e também para ensinar a criança e IT.10.L516-L523 seus manipularem; compreendem mascaras menores para crianças. Na entrada do hospital exigiu que a pesquisadora o limpasse; na IT.4.L62; IT.7.L21-L23; IT. brinquedoteca; retirado, por se suspeito de contaminação; visitante, 7.L86-L97; IT.8.L7-L9; IT. 8. ou envolvido com propés. L51-L60; IT. 8. L212 – L220; IT. 8. L212 L220; IT.11.L169-L209; IT.15.L49L52 Um tipo de cadeira estofada, confortável para Transforma-se em um Brinquedo do tipo balanço para a criança que IT5.L34-L41; IT. 5.L73-L76; sentar e/ou se deitar. se assenta nestas e balança fazendo movimentos para frente e para IT. 7. L121- L126; IT. 9. L112 trás quando sai do leito e prefere a poltrona. Para me que aguarda a – L140; IT.13.L36-L42; criança que brinca ou faz algum procedimento sobre o leito, a IT.14.L37-L39; IT.14.L50-L51; poltrona constitui com a mãe que mexe no celular uma "estação de IT.15.L31-L32 espera", é assento para netbooks, cabos e/ ou outras materialidades IT.15.L176-L177 limpos. 248 Parâmetros para padrões dos sinais vitais (r,pa, proveniente, muitas vezes da UTIN, é um cuidado educativo, pois a fc) e mensura saturação da circulação sanguinea. enfermagem permite que a criança experimente como se controla os seu parâmetros brincando, ao mesmo tempo que aprende a fazer o Monitor tão falado auto cuidado; é uma companhia que ameniza a angustia multiparametro das crianças instáveis, ou que estejam recebendo medicamentos que (visitante) alteram sinais vitais, enquanto esta aguarda no leito. Cercados IT.1.L132-L134; IT.5.L82-L88; IT. 7. L 168 – L176; IT. 7 . L194 – L198; IT. 8 L48- L50; IT. 8. L102 – L107; IT. 8. L108– L120; IT.9.L37 – L48; IT. 9. L 208 – L216; IT.12.L292-L308; IT.14- L390 – L397; IT.16.L91-L99 Isolar, proteger, separar, limitar espaços, um Brinquedo, uma distração ao ser saltada pelas crianças( com ajuda de IT1.L232-L232; IT1.L270; modo de materalizar fronteiras. suas mães, ou por si só), é um lugar-limite, onde algumas pessoas IT1.L271-L272; IT. 7.L75-L85; param para avistar sobre ou através deste, o lado de fora. IT. 7.L75-L85; IT.9. L87-L98 Aferir pressão arterial. Esfigmo Sofá Tatame / colchonete Colchões Assento. espécie de colchão fino utilizado para as crianças deitarem ou sentarem. O da brinquedoteca é encapado com um plástico para facilitar limpeza, desinfecção. IT.4.L192-L194; IT. 6.L18-L19 brinquedo para criança se aproximar do seu quadro (verificar os seus paramentros) auxiliado pelas técnicas de enfermagem. suporte para mochilas e materiais de alunos, professores, ponto de IT.1.L43; IT.1.280-281; IT. espera para entrevistas referentes a pesquisa (à espera de alguém). 15.L13-L14 é uma base para o cercadinho/chiqueirinho para crianças pequenas IT1-L230-L232; IT. 6.L177ficarem livres do risco de se machucarem. É um isolante para evitar L181; IT. 9. L24 – L28; o contato direto com o chão frio. Objeto que é retirado do cercadinho IT.12.L19-L29 para compor práticas da fisioterapia. Não só crianças, como adultos deitam sobre o colchonete. Utilizado para sentar, deitar. Os do hospital são Contribuem na constituição de uma ambiência de cuidado, seja este IT. 8. L178 - 181 encapados com plástico. Precisam ser lavados; composto apenas por materiais médico-hospitalares, ou na presença realização de limpeza, ou desinfecção. de materiais não médicos hospitalares. A princípio espera-se que constituam junto com lençóis, cama, um ambiente enfadonho, que lembre dor, medo, doença, procedimentos, entretanto, também vinculam brincadeiras, compreendendo um ponto de encontro com visitas do netbooks, auxiliando, portanto, no cuidado em meio a entretenimento e práticas educativas que permitam que a criança participe do seu próprio cuidado. 249 Mesas Paredes Molho de chaves Suportes ou lugares para sobreposição de algo . Encontramos as seguintes mesas:Bancada de preparo de medicamento - mármore mesa bancada para computadores do posto de enfermagem – madeira; mesa móvel-mayo-; mesa visitante – cme-; mesa nutrição –móvel; mesa visitante- banco de leite; mesa grande da brinquedoteca –madeira - para realização de pinturas, atividades com os maiores, suporte para materiais de atividades, conversas com os adultos; mesa pequena da brinquedoteca; para atividades com os menores, suporte para; materiais para realização de atividades; mesa da sala de repouso de enfermagem; mesa de refeição das crianças (pequena); mesa de refeição das crianças (maior); mesa de prescrição médica. Divisórias, delimitações. Compõem ambientes de entretenimentos, estudos, conversas, trabalho em meio à sobreposição de materiais e/ ou alimentos. Constituem espacialidades educativas, lúdicas, entretenimento, assim como de biossegurança já que exigem limpeza, desinfecção, portanto, exigem de pessoas e materiais para mantê-las organizadas e limpas. Pode compor ambiente familiar, pode compor ambiente pouco familiar, dependendo das relações estabelecidas nos lugares da pediatria. Podem ser transpostas por subjetividades. De colorações diversificadas, dependendo do local da pediatria, compõem ambiencias de cuidado por práticas médicos hospitalares ou, que muitas vezes, mesmo desbotadas, foram potencializadas ao se mesclarem com práticas não médico hospitalares, com o intuito de reduzir medo, dor, das crianças e pais. Conjunto de chaves especificas para abrir e Acesso apenas aos responsáveis, configura uma ambiencia de fechar os espaço da brinquedoteca e laboratório responsabilidade e de controle. É um objeto que conecta as crianças de informática e educadores à sala de informática, por isso é guardada em um lugar específicos para que aqueles que participam do projeto o encontre. IT. 1-L42; IT.1.L99-L100; IT.1.L115-L116; IT.1.L174; IT.1.L252; IT.1.L280; IT.1.L309-L310; IT 2.L58; IT.5.L30-L33; IT.5.L65-L71; IT. 6.L19-L21; IT. 7. L121L126; IT. 8. L122 – L125; IT. 8. L127 – L131; IT.8. L161 – L164; IT. 8. L253 – L259; IT.9. L23-L24; IT.10. L25; IT.10.L280-L293; IT.11.L161L163; IT.11.L210-L216; IT.13.L-105- L107; IT. 15.L13-L14; IT.15.L37-L41; IT.15.L41-L46; IT.16.L24-L27; IT.16.L44-L45 IT.16.L101-L103 IT.12.L531-L539 IT.2.L57; IT.2.L107-L108; IT.7.L22-L25; IT.15.L54-L60; IT.15.L201 IT..17.L111-L112 250 Chapéu (visitante externo) Mochila (visitante) Assoalho Proteção facial, proteção sol, refrigeração Faz parte da indumentária da pesquisadora, campanheiro da IT.13.L8-L24;IT.14.L7-L13; IT.14.L30-L37; diante do calor. educadora-pesquisadora. Utilizada por alunos, professores, integrantes da equipe multiprofissional, paciente e acompanhantes para guardar, armazenar objetos. Pode possuir compartimentos menores laterais ou sobrepostos ao compartimento central (saco), na maioria das vezes, possui alças reguláveis . Faz parte da indumentária da pesquisadora, uma companhia de estudos reflexivos; compõe um ambiência de visita (adere ao corpo na chegada e na saída da clinica; desacopla do corpo, ao ser manipulada, ao constitituir uma ambiencia de chegada na pediatria, na brinquedoteca). Assoalho seria sobre o que se pisa, a base de sustenção para os pés. Pode ser do tipo: piso, azulejo, cimento, solo com terra e gramado. Na pediatria quando é piso, azulejo (parte interna) compõe ambiencias de limpeza, desinfecção, aonde o pessoal da limpeza se envolve nos cuidados deste, para assim, juntos cuidarem das crianças que brincam sobre o piso, azulejo da brinquedoteca, como destaque. Este não somente é pisado, deitam-se sobre ele, é sobreposto por inúmeros materiais que não só o de limpeza, como também o de entretenimento. Sobre as pisadelas, exigem a retirada de sapatos, apenas aceitam pés descolados limpos ou com propés, assim como pés calçados, mas envolto com as sapatilhas (propés). IT.15.L9-L12; IT.15.L49-L52 IT.16.L11-L24; IT.16.L50-L52 IT.17.L31-L34 IT.1.145-L147; IT.2.L55L57;IT.2.L186; IT. 8. L7 – L9; IT. 9. L22- L23; IT.10.L91L94; IT.11.L20-L24; IT.11.L236-L266; IT.13. L140; IT.13.L131-L133; IT.14.L7L13; IT.14.L30-L37; IT.15.L49-L52; IT.15.L200L201 IT.16.L50-L52 IT.17.L31-L34 IT.13.L131-L133 251 Lugar para aconchego dos bebês; possuem grades móveis para proteção de traumas por quedas; são de metal; a cabeceira pode ser elevada se for necessário. Berços Chupetas (visitante) Bacias /banheiras Jogos de dominó Jogos de tabuleiro Blocos de montar Configuram ambiencias de cuidado a partir de sua relação com as mãos (de acompanhantes e técnicos e enfermeiros) e esforços daqueles que queiram levantar ou baixar suas grades laterais, asseguram nao só segurança para queda como também compreendem, através desse movimentar das grades, um momento de ludicidade, pois chama atenção da criança, para algumas crianças, esse movimento é pura brincadeira; às vezes precisa de ajuda dos pais para mexer com a grade. Relacionam-se com chupetas, carrinhos de Rx, com móbiles suspensos, mamadeiras, conexões de oxigênios, cateter do tipo óculos, angustias de mães, profissionais de saúde. Objetos industrializados utilizados para Muito utilizado em pediatria nos momentos de estresse da criança estimular o sugar, distrair a criança até a que passa por procedimentos que incomodam, geram dor, fome próxima alimentação. (jejum), falta de alguém que a criança gosta e está sentindo falta. Recipiente para banho. Há de plástico ou metal. Ambiência de entretenimento; biossegurança; higienização. Interage com ou está entre diversas entidades não/ humana ou humanas, para cuidar da humana, em destaque sua utilização na "hora do banho", porém também utilizado para armazenamento, está inserida como um dos objetos do arranjo da troca de curativos. Jogos de peças ratângulares. Joga-se em mais de Interações, passar tempo; entretenimento, compor ambiente de uma pessoa. brincadeira, de competição. IT.1.L155-L156; IT.5.L77L101; IT. 8. L127 - L131; IT. 9. L34 – L37; IT. 9. L112 – L140; IT.16.L133-L135 IT.16.L137 IT.17.L47-L48 IT.17.L49 IT.5.L77-L101 IT. 8. L127 - L131; IT. 8. L187 – L191 ; IT.16.L137 IT. 8. L102 – L107; IT.10.L60L68; IT.10.L620-L626; IT.10.L654-L656; IT.10.L658L668; IT.10.L702-L704; IT.10.L731-L732; IT.12.L388L397 Jogos de estratégia, dama, para brincar em Cuidadores utilizados para passar o tempo, aproximam as crianças, IT.10.L620-L626; IT.10.L654dupla. aproximam as crianças e seus familiares. L656; IT.10.L658-L668; IT.17.L22-L28 Bloquetes coloridos de plástico que possibilitam Incentivam as crianças a andarem; se deslocar; a transitar pela IT.4.L80 múltiplas montagens. brinquedoteca. IT.17.L22-L28 252 Blocos coloridos funcionais para se sentar, utilizado pelas acompanhantes como apoio para assistir televisão IT. 1.L238; IT. 1.L240-L242; enquanto o filho dorme no colo; utilizados em conjunto para compor IT. 4.L63-LL69; IT. 4.L79; IT. além de decorar o local. uma base para as mães deitarem para dormir após refeições; utilizado para crianças menores de 3 anos brincarem sobre eles na companhia das mães, educadores ou pessoal da equipe de saúde, viram traves para lances de bolas; são apoio para crianças que estão aprendendo a andar. 4.L83-L86; IT.4.L115; IT4.L206; IT. 6.L177-L181; IT. 7.L28; IT. 7.L36-L41; IT. 7. L115 – L118; IT. 8 L16 – L18; Puffs em bloco IT.8 L62 -L64; IT.9. L87-L98; IT.10.L88-L90; IT.11.L25-L48; IT.11.L65-L73; IT.11.L220L227; IT.13.L102-L105; IT.13.L61-L63; IT.15.L60-L62; IT.17.L116-L123 Ejetor que armazena sabão líquido para assepsia ATRATOR para criança pequena, quando apresentado como algo IT. 1.L235 das mãos. que se bate, se empurra para ter acesso ao sabão, na companhia dos pais ou de algum responsável; faz parte do arranjo da lavagem das Porta sabão mãos, é um contribuinte para o cuidado via técnicas educativas de líquido assepsia (biossegurança). Ejetor que armazena alcool gel. Encontra-se fixado pelos corredores a uma altura para ser acessado por adultos. Requer pressão para o gel ser disponibilizado. Precisa de reposição. É uma Porta álcool gel outra opção de armazenagem de álcool 70%, neste caso, de sua variação gel, para assim, alternar com álcool líquido que fica armazenado em almotolias. Aparato de entretenimento; as crianças brincam de deslizar. Possui uma escada de um lado e do outro uma inclinação para deslizamento. Escorregadores Insere-se nos arranjos de biossegurança, mas também nas IT. 5.L20-L24; IT. 8. L235 – espacialidades de cuidado via entretenimento, já que levar os L239; IT.15.L175-177 netbooks para as crianças, a educadora também se divertia com o ato de alternar a assepsia de suas mãos com o alcool 70% quanto alcool gel do porta gel dos corredores. é educativo via atitudes envolta por ações de diversões e brincadeiras. Crianças brincam, passam o tempo não apenas escorregando, mas brincando de subir pela parte de deslizamento. Crianças se encontram ao brincarem no escorregador. O escorregador não é fixo, pode ser puxado e empurrado pelas crianças e adultos para dentro da brinquedoteca ou para fora (jardim de inverno). IT.1.L265; IT.8. L 25 – L33; IT. 9. L100 – L111; IT.11.L108-L117; IT.11.L142L147; IT.12.L19-L29 253 Balanços Balançar. Balanços de plástico, com cordas, ficam na área externa da pediatria. Existe também na pediatria no formato de cavalo, de solo. Móbile para comunicação. Celular (visitante) Conexão de o2, ar comprimido, vácuo. Extensão de borracha Confecção através de pedrinhas para artesanato. Miçangas Lixeiras Barraca Entretenimento sozinho ou coletivo, liga pessoas, uma para empurrar outra para ser balançada, compõe histórias inventadas.Vira avião; é um passa tempo; amplia a brinquedoteca; os balanços no formato de cavalos são facilmente manipulados pelas crianças no solo, estas os tem como companhia, os puxam para todos os lados, tanto para dentro da área central da brinquedoteca, como também para o jardim de inverno (na parte azulejada, onde estes deslizam com facilidade). Aparelhos visitantes, não pertencem a clinica; distração para crianças; acompanhantes de acordo com as suas funcionalidades (vídeo, câmera; internet) ou apenas ligar para conversar com alguém; acompanhantes de muitos profissionais da clínica. IT. 1.L265; V1.L266-L267; IT.1.L267; IT. 1.L267; IT. 2.L73-L83; IT. 4.L72-L78; IT.8. L 25 – L33; IT. 9. L100 – L111; IT.11.L108-L117; IT.11.L142-L147 IT.4.L235-L236; IT.12.L460L492; IT.13.L63-L69; IT. 14.L76; IT.14.L97-L100; IT.15.L127-L132 IT.15.L145-l146 Relaciona, convive com crianças que necessitam de o2. Conecta, de IT.15.L146-L159 um lado ao umidificador, fluxometro e as entradas/saídas de, neste caso de o2; na outra ponta, conecta-se ao cateter o2. Fricciona-se e se sobrepõe o leito. Acompanha o netbook, flanelas, mãos das crianças. Permite filtragem de o2 pelos pulmões, complementação de o2 para repassar para as células do corpo da criança. Atividades para as pessoas que ficam internadas; é minucioso o catar IT.4.L243; IT.10.L171-L177; das pedrinhas, o organizar destas; relaciona e interpela por diversas IT.10. L372-L376 entidades sociomateriais para cada confecção. Lixeira para lixo comum e lixo hospitalar, Compreende um ambiente de higienização, educativo, IT. 7. L121- L126 conforme coloração dos sacos (saco preto lixo biossegurança. Relaciona-se com não/ humanos e humanos. comum, branco lixo hospitalar, risco biológico). Proteção, dormitório, privacidade, para acampamento Esconde – esconde armazenamento de bolas de plástico IT1.L231-L232; IT4.L72-L78; IT. 7.L75-L85; IT. 7.L75-L85; IT.9. L87-L98 254 Armazenamento, guardar algo. alocação de brinquedos; divisão de espaços (entre videogame e IT.4.L72-L78; IT.8. L70televisão convencional); configuram um espaço para habitação e L76; IT.10.L326-L330; organização dos brinquedos maiores; exigem inflexões e flexões IT.11.L25-L48 para mobilizar o que está guardado dentro deles no chão Banho, lavar algo banheiro da sala de repouso de enfermagem; banheiro enfermarias; banheiro da brinquedoteca; banheiro dos isolamentos; banheiro das técnicas Escoar água. Lavagem de mãos, materiais, banho. Encontrados na sala de repouso de enfermagem, enfermarias, posto de enfermagem, banheiros, ala de isolamentos, não há na sala de procedimento, não há no refeitório, encontrado na brinquedoteca, nos banheiros da brinquedoteca, no banheiro do repouso dos técnicos de enfermagem, no expurgo. Cada cama possui uma escadinha para a criança poder subir até o nível do leito lavagem de brinquedos. Ambiência de entretenimento; banho; IT.1.L238; IT. 8. L149 –L152 passar o tempo; higienização. Para absorção de secreção e contenção de extravasamentos de secreções; isolamento; descartar em lixos próprios. Envolver curativo; contenção de curativos oclusivos; trocadas quando sujas. Trocada quando suja (curativo); utilizado para limpeza de superfície, IT.15.L32-L36 estofamento de acessos venosos para reduzir abrasões. Baú Chuveiro Pias Escadinhas Gaze Faixa/atadura Ambiências educativas; de entretenimento; biossegurança. Relaciona IT.1.L116; IT.1.L168; mãos, com sabão, papel toalha, água, tempo para antissepsias. Ou IT.1.L236-L237; IT. 8. L127 – para encher algo, molhar algo. L131 Utilizada como acento, exigindo limpeza tanto para relação com os IT.15.L31-L32; IT.15.L166pés quanto para se sentar. No caso do sentar, muitas vezes necessitou L170; IT.17.L67-L68 de um guardanapo de papel como forro. Utilizado como ―assento‖ de malas e sacolas. Divide espaço com chinelos, sapatos. Convive com o corpo de pacientes, com outros materiais. Compõe IT.15.L32-L36 um ambiente de cuidado com o corpo das crianças. Lembra que o lugar envolvido por ela precisa de cuidado. 255 Calçado aberto. Chinelos Revistas Tapetes Companhia de pacientes, pais, profissionais. São retirados ou IT. 9. L49 – L54; IT.10. L372envoltos por propés quando se adentra a brinquedoteca. Podem ser L376; IT.10.L377-L388; visitantes. São bases para confecção de artesanato, ou melhor, IT.11.L169-L209; chinelos enfeitados. São bases para terapia artesanal, para passar o tempo. É um entretenimento, é educativo. Proporciona relacionamentos entre os participantes das atividades artesanais. Articula e se relaciona com agulhas, linhas, miçangas. Também se relaciona com a sola do pé das pessoas, com suor, com sujeira, poeira que acumula nele, à medida que seus donos movimentam-se na pediatria. Requer limpeza. Pode ser envolvido por propés quando adentra a brinquedoteca, ou tirado e guardado na estante do refeitório. Vira brincadeira quando a criança brinca de deslizar. Fonte de informações. Entretenimento; Companhia. Compõe ambiências para passar tempo. Aproximação IT. 8. L102 – L107 artesanato; gibis; educativo. Saúde, beleza. de pessoas. Motivador de deslocamento para obtê-las. Para limpar os pés, secar os pés. De pano, Na brinquedoteca podem ser confeccionado com barbante, IT. 8. L7 – L9;IT.10. L372artesanato, comprado (industrializado, de pano artesanato para passar o tempo, para promover ambiente de relações, L376; IT.10.L377-L388 ou de plástico, TNT). exige atenção, dedicação, envolve diversas entidades sociomateriais (agulhas, barbantes, revistas como modelos, mãos, ideias). Há também tapetes industrializados com frase informativa indicando para ser retirado os calçados antes de adentrar a pediatria. Lembrete de cuidados, risco que seria o pé, o sapato sujo para as crianças e demais pessoas que freqüentam a brinquedoteca, principalmente as crianças hospitalizadas. Tapete da entrada do hospital, parada para se apresentar, colocar crachá, retirar indumentária de proteção solar. Limpar os pés. Tapete apresentação do nome do Hospital 256 Toalhas Malas (visitante) De papel ou de pano. Para secar. Enxugar as Toalhas de papel: Sobrepor superfície para sentar (superfície da IT.10. L36-L40;IT. 15.L17mãos; superfícies. De pano proveniente do escadinha); L19; IT.15.L31-L32; artesanato para uso pessoal. Toalha de pano: são fabricadas pelas mães, é um entretenimento, IT.17.L67-L68 ajuda a passar o tempo; arte das mãos que faz companhia das mães; o bordado das toalhas motiva relacionamento com outras pessoas; esse relacionamento envolve outras entidades, como agulhas, linhas; movimentos das mãos. Armazenamento de objetos; roupas. Geralmente possui alças para transporte. Pode ser de couro, plástico, tecido. Há de diversos tamanhos e coloração... De madeira ou metal. Com gaveta ou porta ou sem. Armazenamento, organização. Armários Registrar imagens, momentos. Câmera Emissoras de som. Caixinhas de som Acompanha pacientes; familiares... Ocupa alguns espaços nas IT.14.L39-L43; IT.15.L31-L32; ―redondezas‖ da cama dos pacientes. IT.16.L137-L138 Compõe espaços para guardar medicamentos, materiais de escritório ou informática. Guardar propés, sapatos. Constitui espaços IT.11.L236-L266; IT.13.L121pedagógicos, ou de armazenamento de coisas ou objetos de alunos, L125; IT.14.L30-L37; IT.15.L47-L48; IT.15.L49-L52; professores ou profissionais (morada de visitantes). IT.15.L58-L60 Entretenimento, as crianças brincam, se divertem ao fazerem poses, IT.12.L19-L29 pedirem para serem fotografadas; compor o ambiente da pediatria via imagens fotográficas. Na brinquedoteca. Emissão de sons. Volume regulável.Volume IT.15.L105-L108 controlado pelas crianças em acordo com os educadores. Muito requisitado pelas crianças ou acompanhantes durante atividades com jogos, historinhas infantis, musicas. Relacionam-se com mãos, talas, equipos, melodias, músicas, jingles... 257 Mangueira Pilhas Ar condicionado Camas Cano de borra como extensão para levar água Conecta-se improvisadamente à torneira do banheiro através de um IT. 8. L149 –L152 um lugar um pouco mais distante do local, adaptador para lavar os brinquedos no lado de fora da brinquedoteca. torneira. Reúni pessoas, objetos. Compõe ambiências de entretenimento, educativa, limpeza e higienização e biossegurança. Tipo de bateria por parafernálias Restringe lavagens de brinquedos que as possui, pois podem ser IT.10.L250-L253 industrializadas; podem ser recarregadas ou danificados por oxidação (pilha e o tipo de funcionamento esperado substituídas. pelo brinquedo); Manutenção de temperatura amena: Sala de repouso, sala de procedimentos, sala de prescrição medica, enfermarias, posto de enfermagem, brinquedoteca, laboratório de informática, classe hospitalar, repouso dos técnicos de enfermagem, isolamentos de enfermagem. Deitar, descansar, dormir, esticar o corpo. Proporciona espacialidade de temperatura amena para descansos nos puffs, diante da TV, dos jogos. Permite uma aproximação de muitas pessoas num lugar, uma interação sobre uma temperatura de conforto. IT. 1.L114-L115; IT. 1. L252L255; IT. 4.L55-56; IT. 6.L26L27; IT. 7. L139 – L141; IT.11.L108-L117; IT.11.L236L266; IT.14.L30-L37; IT.15.L75-L76 Cama pode ser monótona, as crianças hospitalizadas querem sair dela, a brinquedoteca é um escape do quarto, da cama. Mas também, os Leitos- cama são sinônimos de brincar sobre, inclinações, desníveis. Cama da enfermagem é para armazenar mochilas de alunos, professores, notebook, é assento para conversas de pesquisa, de conversar aleatórias; Camas dos técnicos, são assentos para conversas aleatórias, lanches da tarde; relaciona-se com diversas parafernálias hospitalares, com excreções e secreções corporais. IT.1.L43; IT. 2.L84-L86; IT.4.L264-L265; IT.4.L357; IT.5.L89-L101; IT.6.L29-L36; IT.6.L72-L73; IT. 6.L134L136; IT. 6.L172-L173; IT. 6.L174-L176; IT. 6.L177-L181; IT. 6.L182-L184; IT. 7. L201 – L206; IT. 7. L222- L234; IT. 8 L48- L50; IT. 8 . L97 – L101; IT. 8. L102 – L107; IT. 8. L108– L120; IT. 8. L127 – L131; IT.8. L161 – L164; IT.8. L167 – L173; IT. 8. L178 –181; IT.10.L42-L54; IT.10.L100L118; IT.10.L139-L164; IT.10.L280-L293; IT.10.L510- 258 L514; IT.10.L610-L618; IT.10.L765-L767; IT.12.L161L289; IT.12.L651-L667; IT.15.L109-L117; IT.15.L153L159; IT.15.L166-l174; IT.16.L127-L133; IT.16.L133L135 IT.16.L138-L149; IT.17.L138-L139 Armazenador de água filtrada. Bebedouro Carrinhos Tem vários tipos de elementos na clinica que recebe o nome de carrinho: brinquedos para Entretenimento. De todos os tamanhos, coloração, diversidade de rodas, material, brinquedo industrializado com funções préestabelecidas (caminhão de boi, carro de corrida, trator, carreta, caminhão com caçamba, bombeiro), há de armazenamento, procedimentos de emergência. Há de limpeza; Há de raio X. No posto de enfermagem acesso apenas de pessoas autorizadas. Acesso ao posto. Cria momento de diálogo, interpela necessidade de copo para consumo da água. Molha o chão quando com problemas, precisa ser reposto. Os de brinquedo - De mão; de bebê; bombeiro, etc... Incentivam deslocamento das crianças para a brinquedoteca, ou pode acontecer o contrário, podem se deslocar para os quartos/para o leito das crianças; faz a criança ficar alegre; faz o tempo passar; Jogar, arremessar, colocar na boca, falar com ele; fantasia outra função que não a de carros (avião, carro que anda na parede); tomar com seu brinquedo; motivos para a criança se deslocar; querer andar pela brinquedoteca. Os de procedimento - de emergência... Serve de suporte para outros elementos não só da emergência (ferramenta de mecânico), divide espaço com computadores, cadeiras, medicamentos, quadros murais. Os de LIMPEZA – pessoal da limpeza circula pela pediatria (corredor); sempre fica próximo da porta do expurgo. Interpela que móveis saiam dos seus lugares de origem quando compõem os momentos de lavagem, limpezas. De Rx- perambula pela pediatria e seus quartos quando há necessidade de confirmação de algum procedimento que adentre a cavidade do trato gastrointestinal ou endovenoso que se possa fazer no quarto. No caso de uma criança em isolamento de contato, suas placas precisam ser isoladas com plásticos, o carrinho é manobrado por um técnico, mas no quarto interage com corpo da criança, com redes IT.1.L101 IT.1.L104-L107; IT.1.L243L244; IT.5.L62-L64; IT.5.L77L88; IT.6.L49-L51; IT.8. L70L76; IT.10.L507-L508; IT.11.L169-L209; IT.17.L103L106; IT.17.L107-L110; IT.4.L81; IT.4.L358; IT.15.L29-L31 259 elétricas do local, com o berço, com a ansiedade da mãe, com a expectativa dos profissionais de saúde que aguardam confirmação de um cateter picc, conforme algumas das descrições encontradas. Pega vareta Quebra cabeça Jogo de varetas coloridas. Exige concentração, Companhia que contribui para cuidado (não médico), passar tempo. leveza nas mãos, paciência. Passa tempo onde o objetivo é montar uma Relaciona-se com mãos, aproxima pessoas. Faz companhia IT. 1.L243-L244; IT. 7.L41imagem ou uma paisagem. IT.10.L60-L61; para pessoas. Interpela por superfícies planas para poder se L44; IT.10.L658-L668 configurar com imagem. Ajuda preencher o tempo das pessoas. Ressuscitador, conversor cardiológico. Divide espaços com pessoas e outras parafernália num quarto a IT.1.L106-L107 frente do posto. Encontra-se separado do carrinho de emergência por ser ―espaçoso‖. Mas acaba ficando num quarto estratégico, em frente ao posto. De jogos de boliches. Boliches – estas são companhias de entretenimento que fazem com IT.9. L87-L98 que seja composto um arranjo de crianças, adultos, chão, bola, puffs. Ajuda a passar o tempo, a aproximação das pessoas que nela encontram-se atraídas pela ambiência estabelecida por elas. Emite contentamento. Aceitação. Armazenar bebidas. Utilizado improvisadamente para organizar brinquedos; separar IT.10.L216-L217 brinquedos limpos dos sujos. Desfibrilador Garrafas Engradado de bebidas IT.1.L244; IT. 8. L108– L120 260 Termômetro Estetoscópio Quadros Jalecos (visitante) Verificar temperatura corpo (axilar, oral ou anal) Brincadeira quando colorido, com estampas e formatos IT.4.L187; IT. 8. L108– L120 requer desinfecção. variados.Brincadeira dependendo do movimento que se faz, os ruídos que se enfatiza durante o procedimento (bip-bip). Brincadeira e educativo quando o profissional permite que a criança ou o acompanhante o utilize e saiba os parâmetros tidos como ótimos para cada caso e o que se espera no geral.Passível de queda, cai no chão e precisou ser realizada desinfecção antes de novo uso. Também conhecido como fonendoscópio, é um Estetoscópio com bichos, um atrativo para criança e adultos, IT.4.L102-L105; IT.4.L190instrumento utilizado por diversos profissionais, subverte a seriedade e função especifica do artefato L194; IT.6.L18-L19; como médicos e enfermeiros, para amplificar Um brinquedo educativo e de entretenimento, com ou sem bichinhos sons corporais, entre eles: bulhas cardíacas; de pelúcia, quando é dado para a criança manipulá-lo para se ruídos adventícios; ruídos Hidroaéreos. auscultar. Expositores para Informativos de como Auscultar os pulmões, bulhas cardíacas,avaliação física, nomenclatura do corpo no exame físico, avaliação intestinal e ou qualquer achados ligados à doença. Informativos de palestras, cursos, etc. Há quadros do tipo Figuras, gravuras de artes.Anexo de nomes de pessoas conhecidas, personalizado; Aniversariantes do mês; Decoração; indicativo de religiosidade cristã. Artes infantis. Configuram espacialidades educativas que convergem pensamentos IT.1.L43-L47; IT.1.L97-L99; diversos, espaços estes específicos da equipe de saúde da clinica ou IT.2.L40; IT.5.L17-L20; IT. de outras equipes. Há quadros onde as crianças e familiares ajudam a 5.L17-L21; IT.11.L210-L216 compor, que seriam as de desenhos, agradecimentos, portando, quadros de autoria dos usuários da pediatria, a partir de entretenimento ou espacialidades educativas. Há também a configuração de ambiencias, a principio apenas expositivas, como quadros de teor artísticos, mas apelativos para religiosidade, que para alguns compreendem e interfere como atuantes do cuidado, mas que para outros, de outras religiões nao configuram ou não interfere em nada (não houve comentários de desagrado também). Proteção, pessoal da saúde. Estampas, com botões coloridos = atratores, compondo uma ambiência de entretenimento, aproximação. De confiança, potencializa a ruptura com a dor. (potencializa, mas não é garantia, pois depende de atitudes, ações). Conectada ao corpo de um aluno, professora ou profissional de saúde da clínica. Configura ambiência de dor, medo de branco. identificação quando bordado com nome e profissão; compõe a indumentária dos profissionais de saúde, o que IT.1.L62-L65; IT.4.L76-L77; IT.4.L78; IT.6.L85-L86; IT.10.L502-L504; IT.12.L113L135; IT.14.L320-329 261 inclui alunos e professores. Companheiro de plantão. Configura ambiências de proteção em biossegurança. Mamadeiras Prontuários Gramado Cesta de basquete Recipiente com uma ponta de borracha para É brinquedo na boca da criança, relação entre criança, mãe, nutrição, IT.1.L66; IT. 9. L34 – L37; sucção de Alimento líquido enfermagem, pessoal do banco de leito, prontuário, nomes, tipo de IT.11.L89-L96; IT.15.L44— dieta, tipo de leite oferecido. L46 Informações do paciente; Dividido em dois, um fica com a enfermagem = prescrições multiprofissional. Outro fica com a medicina – evolução médica. Reuni-se tudo na alta hospitalar do paciente e, durante a necessidade de se obter informações multiprofissional para se propor mudanças de prescrição alimentação, medicações, procedimentos. Mediador de conversas, centraliza informações provenientes de vários profissionais; através deste, vários locais da pediatria ou de fora da pediatria circulam. Potencia não só para arquivo de dados, mas de modos de cuidar das crianças, que não se restringem aos cuidados médico-hospitalares. IT.1.L67-L72; IT.4.L104-L107; IT.7.L15-L17; IT.16.L143-L149; IT.16.L84-L85; IT.17.L50-L52 Trata-se de um assoalho vivo, ou melhor, Contribuem para ao cuidado ao compor uma área externa IT. 1.L269; IT.4.L301-L302 composto por gramíneas (capim). Encontra-se diferenciada do lado interno da pediatria. Esta exige, requer cortes na área externa da pediatria. ou ser aparada para manter uma aparencia de jardim; Os da brinquedoteca da pediatria requerem também a retirada de propés, pedindo que utilizem calçados como chinelos, ou se descalço , mas a seguir a lavagem dos pés. aparato que compreende um aro e uma rede que IT.1.L266-L268 o envolve. É um alvo para os jogadores do jogo Reúne pais e filhos, compõe ambiência de entretenimento, ajuda a de basquetebol. Está fixado no jardim de passar o tempo. É composta por relações de pessoas e objetos, atos, inverno. emoções, clima, temperatura externa. 262 Assentos encontrados no posto de enfermagem para o secretariado e pessoal da equipe de enfermagem, na brinquedoteca, no jardim de inverno. São de madeiras. Bancos Enfeite natalino da nascimento de cristo Celebra As crianças brincam com os enfeites, com os picas-piscas. Bolas brilhantes, coloridas, os presépio. Compõe um ambiente festivo. É Árvore de natal entretenimento, quando crianças aproximam dela. É para passar o tempo. Destaca-se no período noturno. Introdutório para infusão de medicamentos Compõe ambientes de terapia farmacológica; biossegurança; compõe endovenosos para compor soluções de uso também ambiências de incomodo, dor, ansiedade e medo enteral; de diversos diâmetros. Agulhas de (agulhinhas). Crianças em condições crônicas já conhecem muito crochê, tricô. bem a agulhas. Algumas lembram muito de experiência de dor e Agulhas desagrado, medo, das sucessivas ―furadas‖. Agulhas de tricô e crochê acompanham mãos, compõe uma ambiência de entretenimento; de relacionamentos entre pessoas e coisas. Utilizar em pinturas, desenhar, rabiscar, Distração, atividades paras as crianças internadas, alguns Caixa de lápis, rascunhar. acompanhantes; um dos materiais que alteram a espacialidade da canetas, giz de cama das crianças restritas ao leito. cera festa cristã. No jardim de inverno configuram ambiencias de conversas, comemorações, atividades para passar o tempo, e, como está do lado de fora da pediatria, permite arejar e esquecer do ambiente hospitalar, permite contato com uma movimentação externa, com o ar e raios de sol, tanto para as crianças, seus pais ou pessoal da equipe de enfermagem ou visitantes; No posto de prescrição são bancos altos utilizados para sentar-se a frente do computador para prescrição de enfermagem , como também trocar ideias, arranjam-se com telefones, bebedouros, cadeiras de fio, configurando momentos de cuidados da equipe, ou troca de ideias para cuidado da criança via ações médico - hospitalares, como não hospitalares (trocas de ideias entre o pessoal do cuidar brincando quando passam por lá para pegar as chaves ou beber água). São empurrados ou retirados pelo pessoal da limpeza, compondo com estes, os dias de desinfecção terminal. IT.1.L103; IT.2.L60; IT.7.L15L17; IT.8. L 25 – L33; IT.8 L34 – L37; IT.11.L97-L107; IT.11.L124-L141; IT.12.L29L37; IT.12. L58-L59 IT.15.L202-L203 IT.11.L236-L266 IT. 7 L302- L312; IT.10. L36L40; IT.10.L171-L177; IT.10. L372-L376; IT.10.L443-L450; IT.10.L510-L514; IT.11.L59L64; IT.12.L531-L539 IT.4.L357; IT.10.L139-L164; IT.11.L20-L24; IT.13.L80-L84; IT.13.L73-L76; IT.14.L30-L37; IT.14.L63—L66 263 Iluminação . Composição de ambientes de interação através da iluminação dos IT.11.L236-L266; IT.12.L60lugares onde as pessoas se encontram; lâmpadas natalinas compõem L62 um ambiente festivo, iluminado. Gravar som, conversas, entrevistas. Compõe a indumentária da pesquisadora. Cateter agulhado (dispositivo para infusão de substâncias parenterais, introdutório é de metal), cateter sobre agulha (dispositivo para infusão de substâncias parenterais, introdutório é de metal, mas o que fica é uma cânula flexível de plástico), cateter de oxigênio (para conforto respiratório, um complemento de oxigênio); cateteres de biopsia. Cuidadores possibilitam medicação por via endovenosa, via IT.5.L86-L88; IT.5.L89-L101; inalação. Convivem, acompanham as crianças, acompanhantes, as IT.12-L361-L374; IT.14.L84práticas da enfermagem; requer explicações, conversas, são L87 mediadores de cuidados, tratamentos, geram estresses, dor, medo, raiva, expectativas. Lâmpadas Gravador digital (visitante) Cateteres Bala de o2 Permite suporte de o2 distante da fonte de o2 Opção de oxigênio ambulante, um visitante das localidades da IT.5.L89-L101; IT.12.L651por alguns minutos. Possibilita deslocamento. pediatria. Às vezes é aceito ou rejeitado pelas crianças que L667;IT.15.L109-L117 necessitam dela. Periférico de computadores. Diferentes tamanhos. Há visitantes e moradores. Há vários no posto, nas salas de enfermagem, na medicina e na sala de informática. Mouse IT.13.L-105- L107; IT.12. L58L59 IT.13.L80-L84; IT.13.L70L83; IT.14.L30-L37 Os da brinquedoteca interagem com crianças, educadores, pais. As IT.15.L82-L83; IT.15.L83-L84; mãos das crianças geralmente pequenas são privilegiadas por mouses IT.15.L105-L108 novos (pequenos). Mãos com tala, com soro, interagem com mouses. Interagem também com noticias, jogos na internet... No posto interagem com prescrições, medicamentos, pessoas, mesas, telefone, papéis, mouse pad, experiências, mãos... Nas salas de repouso de enfermagem interagem com alunos, professores, enfermeiros, papéis, livros, canetas, experiências, mãos... Na sala de prescrição médica, interagem com professores, alunos, livros, experiências, estudos, páginas da internet... 264 Armazenar, guardar, organizar. Armário do repouso de enfermagem, armário da sala de procedimento, armário de enfermarias de lactentes, armários do posto de enfermagem, armários da sala de materiais e equipamentos, armário da brinquedoteca, do laboratório de informática, repouso das técnicas de enfermagem. Do tipo gazela para medicamentos, materiais de procedimento. Cano flexível, um condutor que possui um Faz companhia de crianças, pais, profissionais de saúde e diversas lúmen. Pode conduzir líquidos. entidades não humanas, como soluções medicamentosas, conecta-se a veias, ou a conexões enterais. IT.1.L107-L109; IT.1.L124L125; IT.1.L172-L173 Micropore, esparadrapo, crepe E TEGADERM. Companhia do corpo do paciente; relaciona-se com diversos objetos Aderem, fixam, protegem, isolam. da pediatria; relaciona-se com cateter sobre agulha, gazes, talas, equipos. Compõe tecnologias atuais ou antigas desenvolvidas pela enfermagem (tala de papelão). Aderência incomoda quando retirada. Vincula momentos de desconforto quando ligado às punções, trocas de curativos. Como também momentos de alegria, interações na troca. Configuram momentos de cuidado, por higienização, isolamento, biossegurança e educação. Às vezes requer flexões, por Fitas aderentes isso ambiências de ergonomia.Compõe uma ambiência de cuidado, que envolve técnicas, objetos, sentimentos, tempo, toque, conversa, afagos, beijos. Esparadrapo:Relaciona-se constantemente com as talas de papelão ou de PVC; cateter sobre agulha. IT.1.L172-L173; IT. 7. L102 – L111; IT. 7 L302- L312; IT.11.L25-L48;IT.15.L32-L36; IT.16.L100-L101; IT.16.L106L113 Armários Equipos dispositivo para pesar para crianças, bebês e adultos. Balanças IT. 7.L64-L85; IT.7. L102-L111; IT.7.L158L166 Compõe uma ambiência, cuidando do peso, cria um momento de IT.1.L134-L135 conversa, observação de textura de pele, coloração, ambiência de contato. Relacionamentos entre superfícies, pés, mãos, antissepsia, números, papeletas, anotações, canetas, alimentações, medicamentos, aleitamento... 265 Geladeiras Roupa do hospital Glicosímetro Armazenamento refrigerado. Encontrado no Posto, repouso das técnicas de enfermagem, são utilizadas para posto de enfermagem e no quarto de repouso dos armazenamento de medicamentos, para alimentos, respectivamente. técnicos de enfermagem. Ambiências diferenciadas para medicamento, cuidado de medicamentos via temperatura para preservá-los para serem ministrados nas crianças. No repouso, aproxima-se de um cuidador caseiro, onde se armazena alimentos e líquidos para consumo nos horários de repouso/descanso e confraternização da equipe de enfermagem. IT.1.L107-L109; IT.10.L592L597 Uso específico de paciente internado, para evitar Compõe a indumentária de um paciente; relaciona-se com excretas e IT.12.L161-L289 contaminações, infecções; identificar pessoas secreções pacientes poupam gastos de roupas domésticas. como paciente; diversas cores, estampas; tamanhos variados Medidor eletrônico de glicemia no sangue. Brinquedo, entretenimento quando se relaciona com crianças como IT.12.L292-L308 participante de seu cuidado. É um mediador de conversa entre criança e profissional de saúde; estabilizador de estresses. Proteção de excreções; roupa de baixo. Ambiências de cuidado da pele, contato/toque, conversas, IT.4.L159 higienização, observação de textura da pele, coloração, relação de superfícies, atritos, odores, desconforto e conforto. É de pano macio, coloridos utilizado para Relaciona-se com computadores, com camas, com bateria, com IT.15.L135-L136; IT.15.L176envolver crianças após banho, sobrepor hampers durante atividade no leito com crianças que ficam sobre o 177 Coero - flanela superfície para as crianças. leito enquanto descansa, aguarda por alguém, realiza medicamentos, receber suplemento de oxigênio. Isola para evitar contaminação. Fralda 266 Folhas Impressora Luvas Calculadora Telefones Folha em branco para impressão; folhas Distração, atividades para as crianças e alguns acompanhantes; IT. 4.L246; IT.10.L139-L164; impressas (de prescrição; balanço hídrico; configura ambiências de entretenimento, passa o tempo; aproxima IT.10.L280-L293; IT.13.L73memorandos, etc.), recados formais. pessoas, interpela relações com várias entidades não humanas (lápis, L76 giz de cera, apontadores, mesas, cadeiras...).Criações préconfeccionadas ou não, a lápis, canetas, ou apenas pintura que tem papel educativo ou de entretenimento. Impressora ou dispositivo de impressão é um periférico que, quando conectado a um computador ou a uma rede de computadores, tem a função de dispositivo de saída, no caso da função específica do posto de enfermagem, impressão de textos de prescrições de enfermagem. É uma vestimenta que cobre as mãos, punho e parte do antebraço. Proteção – estéril para procedimentos estéril e limpos; as de procedimento, são usadas para práticas simples do dia a dia. No posto de enfermagem convivem com os pés, pernas, cadeiras, IT. 1.L100; IT.16.L59-L85 bancadas, telefones, parapeito. São utilizados para imprimir, mas não apenas textos formais como prescrições, são utilizados para imprimir informativos de festivas, cronograma de aniversários, fotografias, desenhos. É um dos dispositivos de telecomunicações desenhados para transmitir sons por meio de sinais elétricos nas vias telefônicas, agora vinculados também à Internet, tem outras funções múltiplas por aqueles que usam celulares, por exemplo. Tem como função Telefone do posto = está vinculado à uma lista que contém dicas para a sua utilização para manter a formalidade, não haver demora ao ser utilizado... Celular é um aproximador de mundos distantes, utilizados como entretenimento por visitantes ou pessoal da equipe de saúde, assim como por pacientes também. É um companheiro que auxilia no cuidado da criança hospitalizada, quando este reduz a Conectores de ambu (reservatório) ou para envolver ou guardar /armazenar algum objeto; balão, são atratatores para as crianças menores, viram brinquedos; seus fragmentos que viram garrote para puncionar veias. IT. 1.L131; IT.6.L138-L141; IT. 8. L155 – L159; IT. 8. L253 – L259; IT.10.L125L133;IT.11.L169-L209; IT.14.L320-329; IT.16.L106-L113 Calculadora é um dispositivo para a realização Configura uma estratégia de aproximação da enfermeira à criança. A IT.16.L87-L91; IT.16.L91-L99 de cálculos numéricos. criança enquanto se encanta e brinca com a calculadora no pescoço da enfermeira (amarrada com um fio), permite que a enfermeira à avalie suas condições físicas. IT. 1.L88; IT.9.L177 – L181; IT.10.L638-L646; IT.12.L29L37; IT.13.L22-L27; IT.16.L65-L66 267 Teclados do computador Baldes estabelecer ligações, contatos. Os tipos encontrados na pediatria: móvel, fixo no posto; orelhão.O do posto é Utilizado por enfermeiras, técnicos, alunos, professores, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, coordenação, secretária... Não pelos acompanhantes, familiares... Há telefone de alunos, pacientes, acompanhantes, professores, profissionais de multiprofissionais. Existem também o Orelhão, telefone público, que fica no corredor da pediatria. saudade, ao aproximá-la a seus familiares, ao ajudar passar o tempo, ao permitir que ouça música. O orelhão, ainda usado, também é um companheiro que contribuem para o cuidado. Também requerem limpeza e desinfecção para que não venha a prejudicar o cuidado, portanto, também precisam ser cuidados. Teclados de computador é um tipo de periférico utilizado pelas pessoas para a entrada manual no sistema de dados e comandos do computador. Possui teclas representando letras, números, símbolos e outras funções, baseado no modelo de teclado das antigas máquinas de escrever. Os teclados mais comuns são projetados para a escrita de textos e inserção de comandos de sistema. Juntamente ao mouse, é uma das principais interfaces entre o computador e o utilizador.Encontrados nos Computadores do posto; sala de repouso da enfermagem; sala de prescrição médica, brinquedoteca (computadores e netbooks da sala de informática). Podem ser moradores ou visitantes (celulares, notebooks, netbooks). Balde para armazenamento específico para líquidos. Relacionando-se com mãos, livros, cabos de energia e de fibra ótica, IT.15.L105-L108; IT.15.L152livros, talas, medicamentos, internet, prescrições, brinquedos, jogos L159 e atividades online ou software instalados, conhecimentos, experiências , compõe arranjos de cuidado que transpõe suas teclas. Contribui na composição não só de dados analítico, porque ao serem manipulados pela equipe de saúde, bem como pela criança, juntos cuidam em meio à essas relações estabelecidas. Os computadores que cuidam requerem limpeza para evitar contaminação (este cuidado é bastante intenso na brinquedoteca)... os teclados que cuidam transitam, circulam, ―andam‖ pela pediatria (netbooks) e celulares das pessoas que trabalham ou que estão internadas, ou visitando o lugar. Coletor de brinquedos sujos; muitas vezes, na ação de guardar os IT.8 L77 – L81; IT. 8. L149 – brinquedos sujos, são feitas de modo a brincar de arremesso à L152; IT.10.L230-L238 distancia; como possui uma identificação que diz que é um balde de deposito de brinquedos sujos, usados pelas crianças acaba sendo um 268 Oxímetro de pulso Dispositivo que mede indiretamente a quantidade de oxigênio no sangue de um paciente. Em geral é anexado a um monitor, para que se possa ver a oxigenação em relação ao tempo. A maioria dos monitores também mostra a freqüência cardíaca. selecionador de brinquedos em boas ou não boas condições para brincar com as crianças. Companheiros de crianças instáveis, ou recebendo infusões que IT. 9.L37 – L48; IT.14- L390 – alteram frequência cardíaca, assim como saturação. Compõe com as L397 crianças uma ambiencia de cuidado não só focado à patologia, como também, junto com a equipe e criança e familiares, constituem uma ambiencia educativa, participativa, todos são atores. 269 APÊNDICE C MEMORIAL DESCRITIVO Durante a minha graduação comecei a me interessar por pesquisa de modo progressivo, foi aos poucos. Inicialmente, em novembro de 2004, era apenas voluntária do Projeto de extensão EIC – Hospitais (Escola de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas), ofertado pela Faculdade de Enfermagem da UFMT. Minha atuação era como educadora do projeto implantado na sala de recreação da pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM). O projeto, em principio, contava com a parceria da Organização Não Governamental Comitê para Democratização da Informática do Paraná (CDI-PR), sendo esta uma concentradora de computadores doados por empresas, bem como recicladora dos mesmos e, em seguida, distribuidora desses para suas Escolas de Informática e Cidadania (EICs). Para a EIC- Hospital do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), o CDI-PR repassou, em sua inauguração (fevereiro de 2004), cinco computadores pessoais e quatro notebooks. E, inicialmente, essa ONG também era responsável pela capacitação dos educadores-voluntários de suas EICs, incluindo os que compreendiam as EIC-hospitais: EIC-Hospital do HUJM, com sede em Cuiabá/MT; EIC- Hospital do Hospital do Oeste do Paraná (HUOP), com sede em Cascavel/PR, EIC-Hospital do Hospital do Trabalhador (HT), com sede em Curitiba/PR. O meu contato com essas parcerias ocorreu em março de 2005, ao me contemplarem para ser uma das representantes do grupo de Mato Grosso para participar do encontro em Curitiba. Seria este o primeiro encontro com os parceiros EIC-hospitais. Essa oportunidade permitiu que eu entrasse em contato com educadoras que realizavam atividades próximas as que eu desenvolvia no HUJM, apesar de realidades distintas. Foi também uma oportunidade para a capacitação junto ao CDI-PR. E, após esse encontro, e já atuando como voluntária por nove meses, e, concomitantemente, mantendo um bom coeficiente acadêmico nas disciplinas ofertadas pelo quarto semestre da Faculdade de Enfermagem, fui indicada para ser bolsista de Iniciação Científica (Bolsa PIBIC/CNPq) de uma das professoras de Enfermagem do sétimo semestre (Área da saúde da Criança e do Adolescente), sendo esta também uma coordenadora do projeto. Logo passei a ser educadora e uma iniciante em pesquisa. E, a proposta que já havia sido discutida no encontro das EICs envolvidas com crianças hospitalizadas era de iniciar chats/bate-papos entre as crianças internadas nessas instituições via internet; a minha pesquisa, após conversa com minha orientadora, seria proveniente dessas interatividades. Passei a desenvolver as atividades dirigidas para atuar junto às crianças como eu sempre fazia e como era preconizado pelo projeto, mas reservando um dia da semana para a interatividade/chat/bate-papo conforme combinada 270 entre os hospitais parceiros com dia e horário acordados entre os educadores das três EIC-Hospitais. Em 2006, a minha permanência como bolsista foi decisão das coordenadoras, o que me permitiu continuar com as atividades de pesquisa, bem como de extensão até o ano de 2007, tendo apenas modificado a orientadora. Sendo assim, de 2005 a 2007, pude participar diretamente das etapas de pesquisa envolvendo crianças e adolescentes hospitalizados que participavam da interatividade via internet, do mesmo modo das atividades lúdico-pedagógicas entre crianças e computadores. Permeando a isso, tive a oportunidade de desenvolver relatórios, resumos e resumos estendidos, participar de eventos científicos locais, regionais e nacionais, assim como tive a oportunidade de ajudar na organização de oficinas de informática e cidadania para formação de novos educadores. Coincidindo a finalização da minha experiência como bolsista PIBIC/CNPq com o término de minha graduação em setembro de 2007. Em novembro de 2007, recebi proposta de permanecer como bolsista pelo Grupo de Pesquisa em Enfermagem, Saúde e Cidadania (GPESC) ao qual o EIC-Hospitais estava vinculado. Entretanto, seria como bolsista de terceiro grau, apoio técnico, bolsa ofertada pela Fundação de Amparo à pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT). Atuando como apoio técnico da pesquisa intitulada ―Ambiência hospitalar‖, de 2008 a 2009. Através desta tive contato com a parte de organização e estruturação de um ambiente para os integrantes das pesquisas dentro do Hospital Universitário Júlio Müller, sendo esta bolsa um modo de me manter financeiramente e, ao mesmo tempo, não perder ligação com o meio acadêmico. Nesse ínterim, mantive minhas atividades como voluntária do EIC-Hospitais, o qual em 2008 passou a ser chamado de Programa Cuidar Brincando após ampliar suas atividades e se emancipar do CDI-PR. No ano de 2008, assumi a responsabilidade de ser uma das formadoras de novos educadores. E, como os meus estudos em Paulo Freire haviam se aprofundado ainda em meio ao período de bolsista do EIC-Hospitais, passei a participar da organização de oficinas semestralmente, não parando, mesmo com as atividades de apoio técnico junto ao GPESC e mesmo já atuando como enfermeira assistencial – uma vez que sabia que dali sairia meus futuros estudos em pesquisa em tecnologias, políticas e acessibilidade e crianças hospitalizadas – senti-me instigada, o que me fez permanecer, enfim, o que me prendeu ao Programa Cuidar Brincando. E, com o ambiente acadêmico como foco, assim como também me interessava muito voltar a estudar tecnologias (resquícios do EIC), passei a ler sobre o assunto. E, durante minha atuação como apoio técnico, professores me incentivaram a retomar meus estudos, neste caso, buscar uma Pós-Graduação em Mestrado. E, foi uma dessas professoras que me apresentaram folders dos programas de Pós-Graduação – Mestrado no final de 2008: um sobre Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) e outro sobre Educação. Após me interessar pelo programa de Pós Graduação – Mestrado – Estudos de Cultura Contemporânea, sugeriram-me que eu fizesse algumas disciplinas especiais 271 oferecidas pelo ECCO para me inteirar mais do que seria essa Pós-Graduação. Matriculei-me em uma disciplina no primeiro semestre de 2009, mais especificamente ―Tópicos especiais em comunicação e mediações culturais‖, ministrada pelo professor Dr. Yuji Gushiken. Meu foco até então era Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) vinculada ao ambiente hospitalar, a criança hospitalizada, ao cuidado de enfermagem. Cursando a disciplina comecei a pensar no pré-projeto para o mestrado. Mantive o foco em TICs. E, apresentei ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, em outubro de 2009, o pré-projeto de pesquisa intitulada ―Interconexões: motivando relações colaborativas para a criação de um espaço online que eleve o potencial de cuidado mútuo entre os sujeitos que componham o cotidiano da pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM)‖. Após aprovação por meio de processo seletivo, matriculei-me no dia 01º de março de 2010 – matrícula nº 35208 –, e minha orientação ficou sob os cuidados da Profa. Dra. Dolores Cristina Gomes Galindo. Durante todo o primeiro ano do mestrado, fiz as disciplinas conforme orientação de minha orientadora, percebidas como necessárias para preencher a carga horária de 360 horas (ver disciplinas cursadas). Acabei me matriculando em algumas disciplinas extras por suas relevâncias, em especial: Tópicos especiais em Epistemes Contemporânea I, com o subtítulo ―Caminhando com Donna Haraway pelo fantástico mundo das tecnologias: ciborgues, ratos, cachorros e outras figuras de borda‖. Disciplina ministrada pela Profa. Dra. Dolores Cristina Gomes Galindo, cuja proposta da ementa referia-se a explorar o universo teórico e imaginativo da bióloga e filósofa feminista Donna Haraway. Ao longo do percurso de estudos no ambiente de mestrado, a pesquisa foi ganhando um novo norte, enfocando em um estudo empírico sobre as sociomaterialidades hospitalares que cuidam, em vez de concentrar apenas nas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), sem deixá-las completamente, haja vista que encontravam- se juntas. Nesse ínterim, portanto, fui apresentada a novos autores, estes encontrados em sua maioria apenas em inglês ou espanhol por serem literaturas européias, portanto, sendo mínimos os artigos com versões traduzidas para o português. Estudando esses pesquisadores, passei a articulá-los à literatura brasileira sobre brinquedotecas, crianças hospitalizadas, humanização em saúde, com o intuito de realizar uma reflexão sobre cuidado em saúde de um modo não/ antropocêntrico, mas como um evento em arranjos com diversas entidades, sendo estas humanas ou não. A minha orientadora me apresentou algumas de suas produções em formato de artigo, capítulo de livros, todos referentes à sociomaterialidades de brinquedotecas que ela já havia produzido. O que me ajudou a me aproximar da literatura de cunho europeu que eu estava estudando até então em meio às disciplinas que me encontrava matriculada, mais especificamente as ministradas por ela e outros professores ligados à linha de pesquisa em Epistemes Contemporâneas. 272 Os estudos se intensificaram através de estudos em dupla, sugestão de minha orientadora. Assim, ainda no primeiro ano de mestrado, passei a estudar com outra mestranda, com a qual, apesar de falarmos de lugares diferentes, tinha em comum o foco nos estudos, além da orientadora e os autores das sociomaterialidades para analisar. Passamos a estudos com um grupo maior, isto é, em colaboração, ao iniciar as atividades do Grupo de Pesquisa ―Tecnologias, Ciência e Contemporâneo‖ (TECC) em maio de 2011, no qual eu me encontrava inserida, por ser o grupo coordenado por minha orientadora. Fizeram parte de minhas atividades no grupo, a leitura de textos, pesquisa e rastreamento de artigos, compartilhamento de experiências sobre minhas vivências como enfermeira, bem como sobre o meu processo de redação dos meus textos e resumos, assim como do projeto de pesquisa, bem como da própria dissertação. Os estudos em dupla permaneceram, alternando as duplas, para maior envolvimento de todos com a pesquisa de cada um. Através do mestrado e do TECC, amadureci meu pensar em pesquisa, meu pensar científico. Atravessamentos possibilitados pelo TECC foram possíveis, ou seja, também pude continuar o exercício de ter e manter interação interinstitucional com outros alunos e pesquisadores via internet e presencialmente, sendo alguns vinculados à UFMT, campus Cuiabá ou Rondonópolis, outros à PósGraduação da PUC-SP, não bastando, tive contanto com pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, assim como a um discente, pós-graduando da Universidade Federal de Pernambuco. Além disso, exerci a função de tutora de alunos de graduação (graduandos de Psicologia) ligados ao grupo de pesquisa. Tendo como norte das reuniões desse minigrupo, textos referentes às Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar (textos previamente selecionados e indicados por minha orientadora, bem como textos que eu já havia rastreado e fichados, e que já haviam sido aprovados pela orientadora). Ao longo dos dois anos de mestrado participei de diversos eventos. A princípio, como ouvinte em dois: I Simpósio da Rede Centro-Oeste de Arte, Cultura e Tecnologias Contemporâneas - Rede CO3, realizado em Cuiabá - MT e em Curitiba - PR, na Conferência Internacional sobre Redes Sociais (CIRS) e Conferência Internacional de Cidades Inovadores (CICI), durante o ano de 2010. Ainda em 2010, com apoio da PROPG/UFMT, tive a oportunidade de participar do evento ABRAPSO 2010, o qual aconteceu na Universidade de Taubaté (UNITAU) em Taubaté/São Paulo. Nesse evento, pude interagir com outros pós-graduandos, pesquisadores, além de apresentar um resumo em formato pôster, Performances de objetos sociotécnicos: humanizações e artefatualizações em saúde. Essa produção me permitiu trocar ideias sobre humanização em saúde a partir da interação entre humanos e artefatualidades hospitalares. Nesse mesmo evento, também participei de um grupo de trabalho, no qual falei sobre, Sensações, um objeto sociotécnico e uma adolescente: tecnoestética em uma pediatria. Em que o assunto era a relação de alteridades distintas, ou seja, a relação de uma adolescente e a sua bolsa de colostomia, como esta última conectada a primeira produzia diversas sensações. Pude conversar sobre produção de subjetividade a partir da relação humano e não/ humano. 273 Durante o primeiro semestre de 2011, participei como coautora do trabalho, Interferências e Espacialidades: uma brinquedoteca hospitalar. Este foi apresentado em grupo de trabalho (GT) na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador/BA. Esse trabalho (resumo) permitiu que eu estudasse e me aprofundasse mais em noções sobre interferências e espacialidades, colaborando muito para a confecção de meu projeto de pesquisa, bem como para a produção de minha dissertação. Durante o segundo semestre de 2011 pude apresentar outro resumo em formato pôster, na Semana Integrada de Psicologia de Mato Grosso. O título do trabalho era Práticas de Humanização em saúde numa pediatria: um computador e suas performances. Eu como enfermeira pude trocar ideias com psicólogos e outros profissionais participantes do evento. Houve também a oportunidade de atuar junto aos alunos da tutoria, que me ajudaram na produção e elaboração do texto sob a orientação de minha orientadora. A seguir, participando da II Semana Acadêmica da UFMT, pude apresentar as reflexões que defendo em minha dissertação. Onde pude apresentar o ambiente de pesquisa de campo na qual realizarei minhas pesquisas. Tive a oportunidade de estar em meio às discussões do GT 17 “Infância” do Seminário de Educação que aconteceu na UFMT. Paralelamente a esse Evento, participei como ouvinte do Seminário Infância, promovido pelo Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância (GPPIN). Participei de dois trabalhos que foram apresentados no evento Nacional da ABRAPSO 2011 que aconteceu em Recife, mais precisamente, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um foi em formato mesa redonda, cujo título era Interlocuções sobre performatividades em práticas cotidianas de cuidados em saúde. Esse trabalho me permitiu interagir com alunos de pós-graduação da UFPE. Confeccionei um resumo estendido em coletivo. Sendo os participantes da mesa: eu, uma acadêmica de psicologia da UFMT – campus Rondonópolis e um mestrando em Psicologia Social da UFPE. A partir deste estudo pude apresentar uma experiência sobre modulações de afetos numa pediatria, tendo sociomaterialidades como potentes cuidadores de uma criança com um quadro avançado de anorexia nervosa infantil. O qual me permitiu pensar sobre modulações de afetos de uma maneira não clássica. Ainda para a ABRAPSO 2011 tive outro trabalho em formato pôster, no qual fui inserida como coautora, cujo titulo: Práticas de Humanização em saúde numa pediatria: um computador e suas performances. Esse foi apresentado por um dos alunos de graduação vinculado ao minigrupo de estudos sobre Práticas de cuidado no cotidiano hospitalar. O presente trabalho foi premiado entre outros apresentados em formato pôster. Participei como ouvinte do I Seminário Diálogos de Saberes: conhecimentos indígenas e pesquisa científica. O qual me possibilitou pensar em diversidades de 274 saberes, sobre saberes localizados e situados em ruptura com a noção dicotômica entre saberes não - científicos e científicos em saúde. Vale ressaltar que minhas atividades como colaboradora da Extensão da Faculdade de Enfermagem, Programa Cuidar Brincando, continuaram. Uma vez que mantive o meu interesse em vincular pesquisa ao ambiente de extensão proporcionado pela academia participando como instrutora das oficinas de formação de novos educadores em Informática e Cidadania, mantendo ―o método Freireano‖ para desenvolver tais oficinas. As atividades de Informática e Cidadania associam- se a um dos subprojetos do Programa Cuidar Brincando, sendo esse um de meus objetos de pesquisa. Ao longo de todo esse processo, entre várias tentativas com acertos e erros, várias experimentações com ou sem sucesso, o foco de meus estudos foi ficando cada vez mais claro. Levando, por fim, o meu trabalho de pesquisa a abarcar o máximo possível de ideias sobre uma nova concepção em Cuidado em Saúde, esta vinculada a arranjos sociomateriais de uma pediatria, de sua brinquedoteca e das atividades ligadas ao Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. Conseguimos alcançar um conceito denso capaz de abarcar o título a priori escolhido Tecnoculturas do Cuidado no Cotidiano: objetos sociotécnicos que habitam uma pediatria; entretanto, como enfocamos nas descrições dos ―computadores que cuidam‖, a dissertação ficou intitulada de ―Tecnologias do cuidado no cotidiano: descrições sociotécnicas de computadores que habitam uma pediatria‖. A postura metodológica adotada foi: Praxiografia do Cuidado. Esta proveniente de estudos do cuidado na prática encontradas principalmente nos trabalhos da pesquisadora empírica e filósofa Annemarie Mol. E, a partir das leituras desta autora e demais autores próximos a ela, isto é, pertencentes ao campo de pesquisa em Ciências, Tecnologias e Sociedade, o propósito foi de conciliar a pesquisa proposta às disciplinas cursadas, para exercitar e esclarecer os motivos da escolha da praxiografia como postura metodológica. Como nossos ―Incidentes‖ ficaram próximos à imagem de um ―mosaico‖, adotamos esta imagem apenas como uma metáfora, e, quem sabe para futuros estudos vir produzir uma metodologia a partir do processo de montagem de um mosaico. Sobre incidentes, foi necessário aprender sobre a noção de Incidentes Críticos (GALINDO, 2003). Para o delineamento da pesquisa em Práticas de cuidado hospitalar, foi necessário estudar as práticas do cuidado para se chegar a um conceito para objetos sociotécnicos, arranjos sociotécnicos e tecnologias do cuidado ou práticas do cuidado, conceitos-base que sustentam a minha dissertação. O percurso traçado procurou coexistir a literatura em estudo com o cotidiano das práticas, tecnologias e técnicas selecionadas para o estudo, enfim, para o entendimento destas em exercício, em movimento. Lembrando que o grupo de pesquisa TECC me ajudou e colaborou muito para uma tradução apurada dos textos em inglês (em sua maioria) e textos em espanhol. Ou seja, os integrantes do grupo de pesquisa colaboraram intensamente para que a leitura e entendimento das obras dos seguintes pesquisadores em destaque fossem possíveis: 275 Annemarie Mol, Bruno Latour, Donna Haraway, Daniel Lòpez, E. Sorensen; Ignunn Moser; J. Taylor; John Law, Jeannette Pols; Michael Schillmeier; Miquel Domènech; Tomás Sánchez-Criado; Vicky Singleton. Em virtude da relevância dos artigos e livros da Annemarie Mol, para se pensar a metodologia desta dissertação, como também para fulcro de um pensar crítico sobre a Política de Humanização em Saúde, a maioria dos textos desta pesquisadora, citados ao longo deste trabalho, foram impressas mantendo sua longa extensão. Por isso, vale ressaltar que a não síntese textual foi proposital. E entre as disciplinas cursadas, as que seguem foram decisivas para o que se pretendia nesta dissertação: Tópicos especiais em Epistemes Contemporâneas II, com o subtítulo, ―tecnoculturas, performatividade e subjetivação: pesquisas e estudos sociotécnicos‖. Essa disciplina me permitiu aproximar dos estudos da Annemarie Mol e John Law sobre performances em sociomaterialidades. Levando-me também a esclarecimentos quanto ao conceito de tecnologias, assim como a visualizar esse conceito inserido no cotidiano das práticas de cuidado em saúde. Não bastando, conduziu-me a compreensão da subjetividade emitida pelos elementos não/ humanos quando vinculados/ligados a um humano, isto é, a simetria dos não/ humanos com os humanos em determinados momentos. E a disciplina Tópicos especiais em Epistemes Contemporâneas III, com o subtítulo ―Serres e Latour: interfaces, articulações e assimetrias‖ foi bastante relevante, pois me esclareceu pontos da pesquisa que poderiam ser questionados, que poderiam fragilizar o que se pretendia estudar. Já que me ajudaram a pensar sobre a noção de ―redes‖, uma vez que abordam profundamente a concepção da Teoria Ator-rede. Em todo esse processo, percebi-me como uma enfermeira que partiu de sua insistência em querer estudar as tecnologias que permitiam acesso, na prática, aos direitos das crianças hospitalizadas e seus familiares ao cuidado em saúde. Por conta de minha curiosidade e interesse, em seguida com apoio de minha orientadora, acabei desaguando em uma área de pesquisa interdisciplinar em cultura, neste caso, das tecnologias hospitalares que vinculam cuidado. Portanto, passei de estudante e enfermeira a uma enfermeira-educadora, que pesquisa e estuda as culturas das práticas de cuidado produzidas pela enfermagem no ambiente hospitalar. E concomitantemente, permaneci atuante através de atividades colaborativas junto à atividade de extensão e pesquisa oferecida pela Faculdade de Enfermagem da UFMT, bem como enfermeira assistencial em meio a essas práticas, técnicas e tecnologias de cuidado, ou seja, das práticas de cuidado ligadas ao hospital, à enfermagem, que sempre, desde o inicio, ainda na graduação de enfermagem, chamavam-me à atenção. 276 APÊNDICE D FRAGMENTO DE UM DIA DE ANDANÇAS 277 APÊNDICE E Andanças/Itinerário Extra Entrevista/conversa na íntegra com uma Professora - Enfermeira 1.1. Conte para mim sobre sua relação e vivência com o hospital Júlio Müller e a pediatria. 2Vamos conversar (risos). Eu entrei no hospital em 84. Hospital Escola foi inaugurado 3no final de julho, dia 20. E, eu entrei um mês depois, dia 20 de agosto. É, teve um 4concurso no início do ano, em janeiro e, quem entrou, eu falo do pessoal da pediatria. 5Como a Mara Regina, Marta José, tem a Cida Gaíva. Esse pessoal que entrou nessa 6época, eles fizeram todo um preparo antes do funcionamento. Então elaboram os 7manuais de normas e rotinas. Tudo era feito junto, pessoal da medicina e enfermagem, 8serviço social e nutrição. Porque na época, todos os profissionais que foram para o 9Júlio Müller eram só professores. No Júlio Müller não tinha técnico administrativo. 10Então houve um grande concurso para professores e esse professores é que foram 11para o hospital escola. E foram eles que pensaram o Júlio Müller como hospital 12escola.Então, quando eu entrei a pediatria já era um lugar que estava funcionando há 13trinta dias. Já tinham as equipes. E eu me lembro assim que pra mim o início foi um 14choque. Não gostei. Eu estava vindo da Santa Casa, eu era a única enfermeira da 15Santa Casa, lá eu atendia 60 crianças, era muito trabalho, muito trabalho mesmo. E, 16de repente eu vou para o Júlio Müller e encontro 8 crianças internadas. E era muita 17gente para cuidar de pouca criança. E uma exigência muito grande. Eu ficava de 18manhã na Santa Casa e à tarde eu ia para lá, para o Júlio Müller. E eu dizia assim, 19que na Santa Casa eu saía com as pernas que não me aguentavam, mas minha cabeça 20leve. E no Julio Muller era o contrário. Porque como era muita gente que queria fazer 21o melhor possível, acabavam fazendo tudo exageradamente. Tudo era exagerado. E, 22então de repente tinha uma criança que insistiam em ver alguma coisa de errado nela, 23e eu me lembrava das crianças lá da Santa Casa, numa situação terrível. Então, nas 24primeiras semanas de trabalho eu fiquei assim, meio que revoltada por causa do 25excesso de zelo por aquelas crianças, e, enquanto aquelas outras 60 que estavam lá 26(Santa Casa), estavam praticamente jogadas. E no Júlio Müller pessoas preocupadas 27com detalhes, um exagero de detalhes. Claro que eram importantes, mas pela 28realidade que eu conhecia, eu achava que ali tinha muita gente, muito exagero para 29cuidar de poucas crianças. Uma criança só, e, não podia olhar diferente, que estava 30um monte de gente encima. Então foi um choque. Já cheguei e o pessoal já tinha 31pensado as normas e rotinas. E, eu chegando, eu era uma pessoa de fora que estava 32chegando, me tratavam como se eu não conhecesse nada de cuidado de crianças. A 33única coisa que senti é que me respeitavam era porque além de eu ser especialista, 34sabiam que eu vinha de experiência de pediatria em outro hospital. Mas havia 35situações que vinham me questionar porque determinada criança havia morrido, 278 36queriam que eu respondesse o motivo. Questionando porque eu havia deixado morrer. 37Às vezes, eu mudava o berço do lugar, no dia seguinte já vinham me perguntar 38porque tinham mudado o berço do lugar, já que o berço tinha que ficar na posição 39anterior à mudança. Porque eles haviam pensando nas enfermarias, na distribuição de 40berços e em suas disposições. Então o inicio foi muito difícil para mim lá. Eu achava 41que a hora não passava, que não era tanto serviço assim. Mas com o tempo foi 42mudando, o perfil das crianças atendidas foram mudando. Assim como o tipo de 43assistência prestada, a estrutura da pediatria também. Foi ficando muito mais 44complexo, né? O pronto atendimento infantil chegou a funcionar por muito tempo 45dentro da pediatria. Sobre a questão da recreação, sempre houve uma preocupação 46que esta acontecesse. Isso desde o inicio. Mas assim, nós sempre fizemos atividades 47com as crianças. Mas foi apenas com a entrada da professora e mestre em educação 48física, a Nilzalina, é que esta preocupação ganhou espaço. Quando ela chegou, ela fez 49a diferença, porque ela veio para a recreação, mas nunca foi um trabalho só realizado 50pela Nilza. O diferencial foi que quando todos as pessoas que entraram na pediatria 51(enfermeiros), tinham especialização pela UNESP (escola paulista de enfermagem), 52era um curso de mais 1000 horas, éramos especialistas mesmo! Éramos especialistas 53em pediatria. Então essa questão da criança, os pediatras também bastante 54competentes. Éramos muito jovens. Eu lembro de todo mundo com uma faixa etária 55de 24 a 30 anos. Aí eu falo que naquela época foi um sonho sendo realizado, 56estávamos ajudando a pensar um hospital. Estávamos com um hospital em mãos. 57Nossa! Foi um sonho! Dou graças a Deus de ter participado disso tudo. Tudo era 58muito certinho. Tudo funcionado direitinho. E aí quando a Nilza entrou ela tinha 59aquela preocupação em fazer recreação com as crianças, mas ela também sempre 60pensava em fazer algo com os adultos, em não abandoná-los. Não me lembro 61exatamente de quando ela entrou, mas que desde o princípio ela ficou lotada na 62gerencia de enfermagem, sobre responsabilidade da enfermagem. Também me 63lembro da professora Áurea, a Áurea foi outra. Foi ela que começou com a história 64das comemorações, das festas de aniversário das crianças foi a professora Áurea 65Christina quando ainda era da pediatria. A Áurea foi a responsável para dar esse tom 66de festa. Já havia a recreação estabelecida, o brinquedinho garantido. A professora 67dava jeito no bolo, nas bolas, agilizava tudo. A gente cantava parabéns, foi ela quem 68deu esse tom de festa mesmo, de arranjar tudo o que uma festa de aniversário precisa. 69Temos a enfermeira Francisca também gostava de mexer muito com isso, e o pessoal 70da pediatria, que entrava, embarcava nisso. Até orquestra elas conseguiam para as festas. 71Mas e o hospital escola, como ele nasce? 72Olha, eu não estava na época do acontecido, mas sei, o que se falava era que houve 73uma paralisação, uma manifestação, uma movimentação dos estudantes. Os 74estudantes de medicina estavam próximos para ir para campo e estavam sem um 75hospital adequado para estagiarem, não havia um hospital escola. E, a enfermagem e 76a nutrição estagiavam na santa casa e no hospital geral. Então o que eu sei é que os 279 77alunos de medicina estavam perto de iniciar o internado e não tinham hospital. Aí os 78alunos fizeram uma pressão para que vissem o mais rápido possível um hospital. 79Talvez tenham acontecido outros movimentos acontecendo a favor da construção de 80um hospital escola, não sei dizer ao certo. Acatado a necessidade de um hospital, aí 81vieram as questões políticas, o acordo, o envolvimento da reitoria, diante da realidade 82postada pelos alunos. Houve também uma pressão e exigência para o hospital ser 83dentro do campus, muita gente defendia que fosse construída no campus. Mas o que 84sei é que na época não foi possível, pelo tempo, aproveitando de uma estrutura pronta 85do Estado. 86Como era a estrutura da pediatria? 87Bom eu vou falar primeiro da pediatria da Santa casa. Enquanto aluna fiz estágio na 88pediatria da Santa Casa. Lá as crianças eram distribuídas em dois andares. No 89primeiro andar ficavam as crianças maiores, e no segundo ficavam os bebês. 90A Santa Casa era referência para você? 91É porque a Santa Casa foi o meu primeiro emprego. Mas antes de eu ir trabalhar lá, 92eu estagiei lá, eu fazia sete horas por dia e ia para lá todos os finais de semana. Só 93que na Santa Casa era um lugar onde só havia atendentes. Era precária a realidade, 94mas só que assim, dentro da realidade daquela época. Mas a gente fazia, veja só, para 95você ter uma ideia, a gente atendia as crianças das enfermarias, que estavam sem 96acompanhantes, crianças que ficavam sozinhas. Tinham enfermarias de 8 leitos, olha 97só, oito bebês. Agora você imagina o que é você passar um plantão, só de uma 98enfermaria com 8 crianças, né? E você passar plantão de todas as enfermarias lotadas. 99Então as meninas já passavam dizendo: ―este tá bem, este tá bem e, este está com 100febre...‖. E eu chegava na porta, assim e ficavam três atendentes à noite, com 30 101crianças encima e 30 crianças embaixo. Então eu lembro que chegava e 102dizia:‖aquele ali não pode ficar sem soro, porque senão vai desidratar. E aquele não 103pode ter febre porque vai ter convulsão‖. Eu tinha que priorizar, a prioridade da 104prioridade. Entendeu? Porque eu sabia que através dos meus alertas de passagem de 105plantão, eu sabia que aquela criança ali, as meninas, se a criança perdesse veia, elas 106iriam pegar logo, né? Então assim, eram muitas crianças. Não ficavam mães, são 107aquelas histórias, de criança morrer, de abandonos de crianças por famílias que 108moravam longe ou chegavam tarde pela distancia para poder saber da criança, já que 109não podiam permanecer. E, mesmo naquela época tinha uma professora, mas ela só 110assistia televisão, o que quero dizer é que ela não se envolvia com a equipe, com a 111assistência das crianças inteiramente. Ah, a Francisca, a enfermeira Francisca já 112trabalhava lá, mas ela começou na pediatria da Irmã Iracema, outra instituição. Mas 113era ela, assim como eu, a gente tinha essa preocupação, essa coisa de brincar, de 114inventar brincadeiras com as crianças. Isso a gente fazia lá na pediatria, com as 115crianças maiores. O nosso maior problema eram as crianças que ficavam sozinhas. 116E no Júlio Müller? 280 117No Júlio Müller já começou com a presença das mães. No outro hospital, no Geral, 118já tinha as mães também. Na Santa Casa eram visitas diárias. E aí, quando eu 119comecei, a gente começou a deixar, a incentivar as mães das crianças mais graves 120ficarem. Aos poucos as mães começaram a ficar lá dentro. Porque naquela época, 121para você entender, o perfil epidemiológico era diferente, era relevante a diarreia, 122mais que pneumonia ainda. Eu não sei se a diarreia acabou, ou se o tratamento de re123hidratação oral realmente resolve essa questão da não desidratação da criança, mas 124eu acho que é isso mesmo, aí os modos de acessar o serviço de saúde diferenciou. 125Porque o que acontecia, a criança desidratava. Qual era a conduta? Dieta zero, 126entendeu? E, em casa, era orientado não dar dieta, então a criança chegava muito 127desidratada. E não existia soro de hidratação oral. Então só hidratávamos as crianças 128apenas com terapia intravenosa. Então a criança ficava o tempo todo com o soro. 129Não existia, por exemplo, o scalp heparinizado, o scalp de manutenção. Então toda a 130criança com antibiótico ficava constantemente com a hidratação venosa. Porque não 131existia nem aqui, nem no país mesmo, porque isso chegou bem depois, a prática de 132colocar heparina, ou de salinizar o acesso venoso para não precisar ficar 133constantemente com o soro, no caso que não havia necessidade de ficar com essa 134hidratação. O que dificultava a liberdade para brincar. Se tinha que tomar 135antibiótico, ela ficava o tempo todo com esse soro conectado á veia. Então assim, 136naquela época scalp era raro, só tinha agulhas, scalps eram materiais de luxo. A 137gente recebia dois scalps estéreis para a noite. A gente deixava dentro do vidro, 138armazenado num solvente. 139Não se falava em AIDS? Em doenças transmissíveis? 140Não. O que se falava muito era hepatite, tinha muito caso de transmissão de 141hepatite. Casos de AIDS surgiram depois, mesmo assim, a gente nem tinha noção 142dela. 143E no Júlio Müller? 144No Júlio Müller era um sonho de consumo. Era tudo estéril, tudo certinho. Só não 145havia seringa dessas de agora, eram de vidros esterilizados, mas acho que isso era 146em todo o país, não havia chegado essa tecnologia para gente mesmo, essa coisa de 147material descartável foi surgindo bem depois. Mas no Júlio Müller nunca faltou 148material. Hoje tem faltado, mas naquela época não. 149Conte-me mais sobre as modificações prediais da pediatria. 150Sempre houve reformas, construções, modificações no HU, na pediatria. Sempre 151aconteceram mudanças desde o período em que eu entrei no hospital. Por exemplo, 152ali na pediatria, onde é o refeitório das crianças hoje, onde há uma porta de vidro 153que leva a brinquedoteca, ali era uma parede com uma porta que dava para o 154―quintal‖, ou melhor, que dava para parte de fora do prédio do Julio Muller. Então, 155no inicio, aquela porta permanecia fechada. Entendeu? Quando a gente abria a 281 156porta, a gente ficava ali, porque a porta dava para fora do hospital. Então, a criança 157só tinha o refeitório. Então, eu lembro uma vez eu conversando com a Marta, uma 158pediatra que já morreu, né? ―-Marta, a gente podia fazer um quintal aqui, né?‖ E, ela 159estava no departamento de pediatria, e ela disse: ―-mas é mesmo, né. Vamos fazer?‖. 160Porque se a gente fizer um quintal aqui, a gente pode deixar essa porta aberta. Aí as 161crianças podem sair aqui para fora, fica mais fácil deixar elas virem para cá. Aí o 162que aconteceu, ela mandou fechar esse espaço, ficamos com um quintal. A porta já 163permanecia aberta. Depois construíram uma salinha no quintal, onde a professora 164Nilzalina e depois professora Maria de Fátima trabalhavam com as crianças a parte 165educativa, a recreação. E, há dois anos atrás, é que conseguiram, com apoio 166financeiro, construíram essa linda brinquedoteca. Mas eu fico imaginando, se a 167gente não tivesse tido a ideia de construir o quintal, aquela estrutura da parte 168administrativa, da farmácia, vinha até ali na nossa porta. Então, quando a gente fez o 169quintal, a gente ampliou a pediatria. Como a Marta era chefe de departamento, a 170coisa ficou bem mais fácil. Naquela época, tudo que a gente pedia a gente conseguia 171com uma facilidade maior. Isso do quintal, foi mais ou menos antes de eu sair para o 172mestrado, nos anos noventa. Então quando a gente cercou, a gente tinha essa 173possibilidade de manter a porta aberta. Eu lembro que a gente tinha um coqueiro que 174era xodó (risos). Depois arrancaram o coqueiro, diziam que ia cair coco na cabeça 175dos outros (risos), eu fiquei brava por arrancarem, mas depois eu entendi. Então a 176noite o pessoal ficava ali fora. E se não estou enganada, foi a Marta que também 177conseguiu aqueles brinquedos para o parque que fixaram no quintal. Sempre as 178pessoas pensavam nessa coisa de entretenimento, mas o mais importante, foi ter 179definido, conquistado e cercado aquele espaço. Porque se a gente não tivesse feito 180isso, tenho certeza que não seria da pediatria. Ah, não posso esquecer de contar da 181melancia (risos). O que aconteceu,apareceu um pé de melancia, e aí surgiu uma 182melancia. Só que ela cresceu fora da grade. Aí a gente colocou uma placa lá dizendo 183que não podiam pegar porque era da pediatria, das crianças da pediatria. Mas não sei 184quem foi, no Natal, eu cheguei lá e tinham pegado a melancia, roubaram a melancia. 185Eu acho que essa melancia nasceu de alguma criança que fez coco ali, e que tinha 186uma semente, risos. Pode ser. E sobre o entretenimento em si, acho que a Nilza é 187referencia, a professora Áurea com as festas, a professora Maria de Fátima com a 188classe hospitalar, a enfermeira Francisca e as técnicas da pediatria se envolviam 189também. Eu lembro que eu trazia os alunos da Escola Livre Porto para cantar, fazer 190festas, como a festas juninas lá, eram alunos envolvidos com o grêmio da escola. A 191gente vinha, nossos filhos se envolviam também, tenho foto de meus meninos 192dançando festa junina lá, tem a Rosa com as filhas dela também. Eles contavam 193histórias, brincavam com as crianças entendeu. Então, naquela época, era pouca 194gente que se envolvia, apesar de tudo. 195E por que a Escola livre porto pararam de ir? 196Eles eram do grêmio da escola. Não é que pararam de ir, é que essa coisa de fazer 197atividades no hospital ampliou muito na pediatria, então, começou a ter gente 282 198demais, por isso. Veterinária tinha uma época caninoterapia, mas isso foi bem 199recente e logo parou. Aí vieram os projetos, as pesquisas, muitas pessoas. Na 200realidade nossas pesquisas sempre foram voltadas e preocupas com a questão do 201exercícios da Humanização em todos os sentidos, a começar com a possibilidade da 202criança poder brincar. 203Por falar nisso, como é que você percebe vocês como enfermeira, mas também 204como professora, a inserção da pesquisa e extensão na pediatria? 205Olha, a gente, eu, nesse caso, tenho muita preocupação. Sempre fazemos pesquisa lá 206na pediatria. E sempre, como eu já disse, vinculada a humanização, trazendo em 207pauta os direitos da criança, a questão do brincar. Nossos pesquisas sempre foram 208voltadas para esse lado, né? Hoje, o que eu vejo de problema, o que tem me 209preocupado, é que o perfil epidemiológico mudou muito. É outro. Antes era diarreia. 210Com isso também veio o avanço muito grande de tecnologias, de medicações nem 211se fala. Então naquela época a gente calculava a quantidade de gotejamento 212manualmente, hoje é digital, você tem a bomba de infusão de agulha, aquela outra 213bomba de infusão para frascos. Tudo digital. Que facilita e muito o nosso trabalho, 214mas que requer, precisa de uma habilidade muito grande para manipular, não pode 215ser qualquer um. Uma coisa que me inquieta e que já falei que nos dias de meus 216plantões que se eu ver eu vou retirar é monitor, desses de multiparametros. Porque 217se for para deixar ele ligado para ficar apitando a noite inteira, e apenas falar para a 218mãe ficar apertando quando o barulho incomodar, para interrompê-lo, ele então, não 219servirá de nada, não estará fazendo o papel dele. Não é apenas ensinar a mãe e 220deixar ele apitando e ela mexendo com o botão. Porque o monitor, qual o papel 221dele? É o de alerta! E se a criança, por exemplo está saturando 80%, a gente sabe 222que é uma saturação ruim, mas que para essa criança é o ―normal‖ dela, e não vamos 223fazer nada, por que então não programar para o monitor alertar em 75%? Por que 224não reprogramar o monitor? Não pode acostumar com o barulho do monitor 225apitando. Não pode, porque ele é um alerta! Aí o residente diz que não vai fazer 226nada, então porque deixar o aparelho ligado? Não tem lógica! Ele tem que funcionar 227de modo que me auxilie a intervir no momento certo, caso contrário não serve para 228parâmetros de nada. A mesma coisa a bomba de infusão, se apita, significa que algo 229está errado. E, aí falam que a bomba está dando problema mesmo, então não pode 230usar! Não está certo! E se eu deixo apitando, não dou atenção para isso, é muito 231arriscado. Essa coisa de fazer medicamentos como o aciclovir na criança sem 232paramentos corretos, é muito perigoso, ela é um medicamento teratogênico! Tem 233princípios de um quimioterápico, é citotóxico. E o pessoal de enfermagem 234preparando. Fazendo de conta que nada está acontecendo. E é ai o papel da 235acadêmica, e que tem falhado. E, não vejo isso há um tempo atrás, quando eu 236comecei, porque as coisas eram tão simples. Você só passava sonda nasogástrica, 237enteral, os antibióticos não eram como esses de hoje que tem semelhança a 238quimioterápicos, são vesicantes. Não existia risco de preparar medicamentos como 239hoje. Sem contar que antes os problemas eram agudos. As crianças internavam, e 283 240tinha dois caminhos apenas: ou ela se recuperava e recebia alta ou ela morria. Uma 241criança com fibrose cística morria antes de completar oito anos. Hoje não, a gente 242tem adultos com fibrose cística, sobreviveram! E, todas essas crianças renais, elas 243vivem a base de tratamentos farmacológicos fortíssimos, além da possibilidade de 244diálise. Eles estão vivendo a custo de drogas pesadas. Se a criança com uma 245síndrome nefrótica faz tratamento com corticóides para resolver o problema dela, ele 246acaba também tendo que cuidar das complicações que essa medicações trazem, 247como é o caso do desenvolvimento da síndrome de cushing. E aí a gente está 248lidando com isso, então a enfermagem precisa de respaldo. Então hoje eu vejo que a 249pesquisa que a gente tem feito tem que estar associado à todas essas tecnologias que 250estão inseridas la dentro da pediatria. E se você me perguntar como eu me sinto lá 251dentro, eu vou te responder que eu me sinto presente, eu me sinto parte da 252equipe, me sinto enfermeira da pediatria. A ponto de, se houver uma reunião para 253discutir qualquer tema e eu não for chamada para participar, eu vou ―derrubar‖ a 254casa. Eu plantonista e eu me sinto enfermeira da pediatria. E como enfermeira da 255pediatria, eu quero participar das tomadas de decisões. Então, há um tempo atrás, e 256isso nós vamos apresentar num fórum. A questão do aciclovir. A equipe 257preparando, o pessoal fazendo a medicação. Bom, eu disse que não iria 258interromper a terapia que a criança já estava realizando. Então como lá estava 259dizendo que era para enfermeiro preparar, eu fui preparar. Porque há um tempo atrás 260tinha uma menina que era técnica de enfermagem na equipe, uma jovem, que eu me 261preocupei, fui perguntar a ela sobre como estava a questão de ter filho, ela me disse 262que estava sem tomar anticoncepcional para ter filhos. Aí eu tomei a decisão de que 263ele saísse por um tempo da pediatria enquanto eu preparava a medicação. Usei 264capote, fiz a medicação. Depois liguei para a diretoria para questionar sobre esse 265tipo de medicamento que estavam expondo a equipe. Falei com a Marta por 266telefone. Ela me disse que procurou e leu na bula e disse que não tinha nada 267dizendo. Mas quando eu li, vi lá: este medicamento deve ser preparado nas mesmas 268proporções que se prepara um medicamento quimioterápico. Pronto! Não tem mais 269nem o que discutir! Então é potencialmente perigoso, né? Aí falei para Marta por 270telefone, vou fazer um levantamento aqui (no computador posto de enfermagem) na 271internet bem rápido, sobre as leis, aí quando ela viu aquilo, ela tirou xérox e levou 272na diretoria para dizer que não seria mais feito. O diretor disse: que história é essa, 273como assim vocês não vão fazer, já que isso é feito até em posto de saúde, e vocês 274não vão fazer? Vocês não vão preparar? Como assim? Aí foi mostrado para ele as 275leis, todas as referências que diz sobre isso. Dizia que é teratogênico, que é isso e 276mais aquilo e que a gente queria as condições necessárias para mexer com esse 277medicamento. Comentei ainda depois com ele: me admira muito o senhor, um 278sanitarista, achar que a nossa equipe não poderia correr o risco preparando essa 279medicação assim. Aí ele disse que não sabia disso. Só que quando a gente foi falar 280com o pessoal da medicina. Eles disseram que a gente tinha que fazer, já que a 281criança precisava do medicamento. Okay, certo. Aí fomos á farmácia, e ela me traz 282o liofilizado para gente fazer, e dissemos que não íamos fazer! Sem condições 284 283alguma para parar! Aí esse medicamento na pediatria. Pressão de um lado, medico 284quer que prepara, do outro, farmácia só disponibiliza o pó em frasco para 285preparação. A equipe sendo forçada a fazer. Eu disse: gente, não vamos preparar! 286Vamos ter que resolver, é um problema institucional. A farmácia não tem, a 287medicina lavou as mãos, só que eu não vou preparar! O que que aconteceu? O 288diretor mandou comprar o frasco em sistema fechado. Até que se adeque a ala de 289preparo de medicamentos para preparo desse tipo de medicamentos. Resolvido. 290Então, eu acho que é esse o tipo de presença da academia na pediatria. Por exemplo, 291quinta me ligaram para dizer que estão prescrevendo aquele medicamento, um 292composto híbrido, o anticorpo monoclonal. Ele é um anticorpo homogêneo 293produzido por uma célula híbrida, uma espécie de clone de linfócito B descendente 294de uma só e única célula mãe e uma célula plasmática tumoral. Ela simula o sistema 295imune do paciente para atacar as células oncogênicas e previne seu crescimento 296bloqueando os receptores específicos da célula. É sintetizado em laboratório, em 297ratos em fusão com celular de humanos, é um composto que ao agir em células 298específicas dá efeito muito devastador na criança. E as meninas preocupadas em 299como preparar, se elas iam ou não preparar. As meninas ligaram para mim. Pediram 300que eu estudasse sobre isso, dizendo que não entenderam a bula, que estavam 301preocupadas com os efeitos de algo que era parecido com quimioterápicos. Pediram 302para eu estudar e ir falar para elas. Eu acho que é esse o papel da academia. A gente 303ser referência para essas questões de resolvermos juntos, pesquisando essas dúvidas. 304No trabalho sobre aciclovir, eu coloquei nome do pessoal da pediatria, porque elas 305fizeram, elas participaram da pesquisa, entende? Acho que esse é o papel, veja, 306como não é difícil escrever com a equipe. Isso é humanização também! Aí eu me 307questiono sobre o cuidado integral. O que é o cuidado integral, se a gente deixar 308totalmente essas questões que são tidas como biomédicas de lado? A parte técnica, 309isso também faz parte da humanização, está junto com a recreação, com a educação, 310não dá para desfazer dela. Está acontecendo ali. Aí eu te pergunto, o ser humano é 311composto de que? Ele não tem corpo? Ele não tem ferida? Ele não tem piolho? Ele 312não tem sujeira? Ele não tem necessidades fisiológicas? Ele não tem assadura? Se eu 313pensar nisso eu sou biomédica? E quem mete a mão na ferida? Como é que se abre a 314barriga de uma pessoa para tirar um câncer? Isso não faz parte da integralidade 315também? Acho que nós não podemos esquecer que o modelo biomédico tem 316relevância sim. Às vezes escuto alunos falando: eu odeio o modelo biomédico! 317Coisas que aprendem lá no primeiro ano do curso. E eu na oportunidade respondo: 318como assim? O modelo biomédico tem sim importância, ele não pode ser 319descartado! É através dele que avançamos em muitas coisas, a enfermagem tem vida 320a partir dele. Entretanto, o que temos que pensar é que ele sozinho não dá conta de 321outras particularidades do cuidado! O que não se pode pensar é que o modelo 322biomédico venha responder a tudo! Você entendeu? Por isso eu digo que eu adoro o 323modelo biomédico, eu amo o modelo biomédico (risos). Quando eu falo de PICC, 324eu estou falando de alta tecnologia, requer horas de práticas, requer muito estudo de 325anatomia, fisiologia. O que para criança significa menos estresse com punções, 285 326significa menos gastos! Isso está vinculado ao modelo biomédico e eu não vou 327gostar disso? Temos que voltar sim para essas tecnologias sim! Mas também 328lembrar do que? Do cuidado com o curativo, de treinar todo o pessoal para cuidar, e 329quem mais competente para fazer isso? Eu acho que ainda é a enfermagem, risos. 330Então, isso é ser ignorante, não aceitar isso é uma tremenda ignorância, e, as pessoas 331estão muito ignorantes. O que é o PICC? É um cateter periférico que tem acesso a 332uma via central do corpo da criança e, que diferentemente de uma dissecção venosa, 333você não perde a veia. Da mesma forma, é cuidado denso o cuidado da pele de uma 334criança. Não dá para enfermagem se desfazer da relevância de um banho bem 335tomado, da cavidade oral higienizada, cabelo bem cortado, unhas bem feitas, 336orelhinhas limpas, nariz sem secreção, as partes intimas sem assadura. É 337inadmissível criança com marca de esparadrapo, eu fico doente com isso. Gente, um 338óleo no algodão, num instante você retira. Trocas de cadarço de traqueostomia, 339aspiração. Você vai esperar o fisioterapeuta para fazer isso? Claro que ele tem uma 340técnica que só ele conhece que junto com a aspiração, fará um melhor efeito. Mas se 341ele não está por ali, você vai esperar para aspirar? Sendo que é algo comum para 342ambas as profissões. Daqui a pouco então, o fisioterapeuta vai estar dando banho, e, 343saindo com maior qualidade, pronto, mais uma vez enfermagem perdendo espaço, 344porque fica parando para pensar o que é ou não pertencente às suas competências. 345Então se não tiver fisioterapeuta eu não vou trocar o cadarço, limpar a cânula? Por 346favor, a enfermagem pode muito bem fazer! Não dá para negar da importância 347também da cama bem arrumada, dos quartos limpos e arejados. São por essas 348questões que estamos lutando pela residência multidisciplinar na pediatria. Estamos 349pensando numa residência onde alunos de áreas diferentes estarão presentes na 350pediatria (enfermagem, psicologia e serviço social). O que a gente quer cobrar deles 351é esse olhar para a criança, pensando nessa criança com pele limpa, hidratada, 352cabelo limpo, bem cortado, como pensar nos cuidados de medicamentos, das 353necessidades recreativas, se está bem confortável onde está deitada, fazer massagem 354na criança para ela dormir melhor. Tudo isso é relevante! E o que é isso? É cuidado! 355O que acontece em muitos lugares é que teorizam, teorizam, teorizam e chega lá na 356prática, não acontece nada disso. Você vê criança sentindo dor, pais queixando da 357apatia da enfermagem a ponto de se questionar para que enfermagem, se não 358intervém pelo paciente? Não queremos isso! Estamos acreditando muito no 359diferencial da residência multidisciplinar. Que seja uma espacialização onde as 360pessoas vejam o problema no corpo da criança, e, que através dela os alunos 361percebam as alterações nesse corpo, das necessidades desse corpo precisa ser 362tratado, que o foco seja em todas as necessidades da criança. Lembro de um plantão 363que quando eu cheguei encontrei as crianças com brinquedos sobre a cama. Não há 364problemas quanto isso, mas o que me preocupou foi o excesso de brinquedos na 365cama, não pode ser assim. Tem que rever as propostas dos projetos, das ações que 366são provenientes da brinquedoteca. Pensar nessas ações que acontecem numa 367pediatria, não numa escola. É diferente. Precisamos lembrar que na escola o 368professor é a autoridade, mas na pediatria, é a mãe, a gente tem que pensar sempre 286 369na mãe como alguém que será a referencia para a criança fora do hospital. Então 370temos que pensar nisso, na autonomia da mãe. Precisamos pensar no modo como 371negociamos com a mãe, nunca deixá-la de lado, ou do responsável. Outra questão 372que também é inerente à humanização, e, que às vezes rompemos, é questão de que 373algumas medicações precisam sim ser realizadas no leito, porque precisa de 374monitoramento. É o caso da albumina. É no leito! Isso quer dizer que é importante 375ele ficar na cama sim. E, mesmo se for quatro horas, mas é importante. Não pode ser 376visto por nós como algo que seja negativo para o tratamento, faz parte do 377tratamento. A criança está internada para se tratar. E ai eu digo que isso não quer 378dizer que seja mais importante que ir à brinquedoteca, de forma alguma. Porque, lá 379vamos nós ao modelo biomédico, risos. Também é humanização. É importante 380nesse momento! Depois ela vai poder fazer as outras coisas, ninguém está ali para ir 381contra isso, pelo contrário. Acho que essas coisas vão se resolvendo aos poucos, na 382conversa, porque estamos a favor da humanização do cuidado. Temos que pensar, já 383de inicio, que a pediatria não é escola, é uma pediatria para cuidados de crianças 384hospitalizadas. Temos que pensar que os pais precisam participar dos cuidados, 385precisam se mostrar autoridade frente ao cuidado de seu filho, junto a este e conosco 386da equipe. A gente não pode romper com essa autoridade dos pais, não estou 387falando em autoritarismo, veja bem, estou falando em autoridade. Estou falando 388daqueles que seguirão com as crianças em sua educação lá fora. 389Você tem preocupações quanto essa movimentação dos brinquedos pela 390pediatria? 391Olha só, acho que a palavra que me preocupa se chama ―excesso‖. Sou totalmente a 392favor da brinquedoteca, é uma conquista nossa, lá da época do quintal, depois com a 393salinha funcionando, aí com as festinhas, assim como as atividades de projetos de 394nossas pesquisas. O que é necessário agora é pensar essa nova estrutura, esse novo 395espaço da brinquedoteca, conversar melhor sobre as ações ligadas à brinquedoteca, 396aos projetos que tem lá. Dos alunos que se envolvem com isso tudo. Pensar com 397carinho mesmo. É algo nosso, mas que às vezes é bom ver, de repente até pesquisar 398como é que está sendo esse impacto sobre as crianças, quais os valores dessa criança 399agora. Claro que não somos influencia total, as tenha certeza, que nossos ações 400individuais mexem sim com as crianças, com os valores das crianças, contribuindo 401ou não para a estrutura familiar dessas crianças. Por isso falo, vale a pena 402conversamos mais sobre os ―exageros‖. Porque esses dias eu vi uma criança com 403um comportamento rústico com a mãe e, essa criança não era assim. Como eu disse, 404nem tudo vem da pediatria, mas de alguma forma, a pediatria, todos nós, as coisas 405que são feitas lá, tudo o que vivenciam, as coisas que disponibilizamos para elas 406provocam influencias nelas. Será que não estaríamos mimando essas crianças (veja, 407minando no mau sentido, não no bom, porque também há um bom mimo, a gente 408sabe disso)? O que temos que buscar é questionar coletivamente, buscando 409poderamentos. 287 410È possível a interconectar os modelos de cuidados? 411Claro que sim! Quando eu falo de brinquedos falo de algo que defendo muito, 412brincar e brinquedo são importantes para as crianças. Mas me questiono de caixa e 413mais caixa de brinquedos, de lápis, de papeis sobre a cama da criança. Para mim isso 414é exagero! Em casa a gente não faz isso! A criança não dá conta de brincar com tudo 415isso! Porque já está acontecendo de crianças rejeitarem presentes de terceiros porque 416não era de marca, o que é isso então? Onde é que ela está aprendendo esse tipo de 417alternativa. A gente conhece seus espaços de interação, que é restrito, ela convive 418nesse ambiente da pediatria e em casa praticamente. Não estou colocando culpa na 419brinquedoteca, na pediatria, em nós, não é isso, mas estou me questionando, sobre o 420nosso papel, sobre nosso modo de apresentar a brinquedoteca e as suas ações a essa 421criança? É este tipo de preocupação que tenho. Que tipo de criança então, estamos 422ajudando a criar? Não estou dizendo que ela não tenha direito a essas coisas. Mas de 423repente pesquisar, como eu já disse, verificar junto as mães sobre essas crianças que 424passaram por lá como é que é e está em termos de brinquedos, em termos de 425aceitação de seu lugar de origem. Se não estamos mimando essas crianças e 426enviando elas para casa e provocando desestruturas familiares. Não nos esquecendo 427do agravante, retorno para casa de uma criança doente. Repito, isso não tem nada a 428ver com brinquedoteca. Tem a ver com nossas ações ao apresentar os brinquedos de 429um modo que incentive a busca de coisas de marca, por exemplo. Porque antes do 430espaço que conquistamos, antes de espaço lindo que temos hoje, que tínhamos eram 431enfermarias escuras, as mães falavam que pareciam estarem numa prisão. E, hoje eu 432vejo mãe conversando no jardim, mãe dormindo nos puffs, mães brincando com 433seus filhos, mães assistindo filmes com seus filhos. Já não escuto ninguém reclamar 434da pediatria e compará-la a uma prisão. Nossa! Antes tinha muita briga, confusão, 435porque não havia o que fazer, ficava mais fácil para as pessoas se estressarem e 436iniciarem uma briga entre filhos, entre mães e filhos, mães e mães. E, mesmo com 437o quintal não era fácil, porque lá fora era quente, tinha mosquito. Agora a gente tem 438um espaço enorme, climatizado, cheio de brinquedos, televisões, revistas, jogos, 439banheiros, pias para lavar as mãos, salas com computadores. Muitas atividades para 440se envolverem. As mães vão para os quartos para dormir, porque passaram maior 441parte do tempo se distraindo na brinquedoteca. Os quartos são climatizados, são 442melhores iluminados. Houve uma melhora significativa na estrutura da pediatria, 443que vem refletindo muito bem na internação, no tratamento da criança, e na 444convivência deste e de seus familiares com as rotinas do lugar. O único 445questionamento que faço é repensar em como estamos apresentando a brinquedoteca 446a essas crianças, aos seus familiares. Porque não há uma filosofia da pediatria, não 447há mais valores da pediatria, isso acaba vindo de cada um de nós. Então, como isso 448está sendo passado para as crianças? Isso é um problema nosso! Isso vem do modo 449como acionamos, individualmente, os espaços, os objetos! Não é culpa apenas da 450pediatria, da brinquedoteca, dos projetos. Acho que isso é o nosso papel, a academia 451precisa repensar constantemente a pediatria como um lugar de ensino e pesquisa, e, 288 452agora a trabalhar com esses excessos também. A brinquedoteca é nosso sonho 453realizado. Ela tem muito a nos ensinar. A pensar no respeito do sono da criança e do 454familiar, de tal modo que não os acordem para ações que poderiam muito bem feitas 455no inicio do plantão ou na hora que a criança e sua mãe acordassem. Poxa! A gente 456vai embora, as crianças e as mães/ ou acompanhantes vão continuar internados. 457Entendeu? Depende do modo como você aborda a criança, a mãe, também, se é 458importante fazer a medicação. Esse é o valor da academia, a gente ajuda a repensar 459o modo como estamos cuidando. Agora com a possibilidade da residência então. 460Com alunos de áreas diferentes 24 horas. Estaremos formando residentes com 461enfoque na criança hospitalizada com dois anos de estudos teórico -prático. Não 462posso esquecer de falar, a academia ajuda a pensar essa nova forma de 463gerenciamento que vem por aí, que afeta diretamente na pediatria, nos cuidados, 464será uma empresa, que poderá descaracterizar ou não o hospital como Escola, que 465poderá tirar desse lugar a característica de ensino e pesquisa, proveniente de uma 466luta lá de 1984, nos anos oitenta, no caso do HUJM. 289 ANEXOS 290 ANEXO A Universidade Federal de Mato Grosso INSTITUTO DE LINGUAGENS – IL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA-ECCO Termo de Consentimento livre e esclarecido (TLCE) (CUIDADOR) Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa intitulada: ―Tecnoculturas do cuidado no cotidiano: objetos sociotécnicos que habitam uma pediatria‖, sob a responsabilidade da pesquisadora Vanessa Ferraz Leite, portadora do RG 13705822 SSP/MT e do CPF 957478771-00 regularmente matriculada no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) vinculado ao Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de permitir a pesquisa, que será realizada na Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra do pesquisador responsável. Podendo desistir de participar em qualquer momento. Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em relação com o pesquisador ou com a instituição que realiza assistência. Havendo dúvida você poderá procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso, no endereço: Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso. UFMT, Campus Cuiabá. Primeiro piso do Bloco CCBS I. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n. 2367. CEP: 78060-900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 36158254. O objetivo desta pesquisa é estudar alguns objetos, práticas, técnicas e tecnologias que estão presentes na pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller e os efeitos afetivos que produzem nas crianças e equipe envolvidas. Sua participação nesta pesquisa consistirá em ser entrevistado (a) e observado (a), enquanto acompanhante de alguma criança internada e que participa das atividades na brinquedoteca e/ou no Projeto Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas. 291 As entrevistas serão conversas, por isso, sem um roteiro previamente fixado. Em sendo abertas, as entrevistas partem apenas de uma pergunta-disparadora: ―Vamos conversar sobre a vida aqui na Pediatria?‖ Os dados serão gravados, na sequência serão digitados. Após leituras dos dados, estes serão cruzados com a literatura em estudo, com o intuito de produção de trabalhos científicos. As análises serão compartilhadas com você, o envolvido na pesquisa, com o propósito de inclusão de sua impressão na pesquisa. Você não correrá risco algum. Os benefícios para você serão: identificação dos efeitos que alguns objetos, tecnologias, práticas e técnicas produzem na criança que você acompanha, ao longo do dia a dia de hospitalização. Consequentemente, as contribuições para a efetivação do direito da criança hospitalizada, assim como, para a humanização dos cuidados em saúde, a partir de sua relação com os objetos, técnicas, tecnologias e práticas hospitalares. Os dados referentes a sua pessoa serão confidenciais e é garantido o sigilo de sua participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados serão divulgados em trabalhos científicos, porém fazendo-se uso de nomes fictícios, de forma a não possibilitar sua identificação ou da criança que você acompanha. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o meu nome, telefone e endereço (pesquisadora responsável) e da instituição na qual me encontro matriculada, para que você possa me localizar a qualquer tempo. Meu nome, como citado anteriormente, é Vanessa Ferraz Leite. Endereço para a minha localização: Rua Dr. Euricles Mota, Bairro Jardim Guanabara, nº 01, complemento – 173. CEP: 78010-715, Cuiabá/Mato Grosso. Carteira de Identidade: 13587022 SSP/MT. Telefone: (65) 3627-3590. e-mail: [email protected]. Endereço da Instituição responsável: Instituto de Linguagens (IL)/Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO)/UFMT. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n. 2367. Sala 38 IL. CEP: 78060900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 3615-8428. Fax.: (65) 3615.8413. Considerando os dados acima, CONFIRMO que estou sendo informado por escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação em formato de trabalhos científicos, AUTORIZO publicação. Eu_________________________________idade:______ sexo:_________Naturalidade:_________________portador(a) do documento RG Nº:______________declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. Assinatura do participante: __________________________ 292 Assinatura do pesquisador principal: _____________________________________ Testemunha* _______________________________________ * Testemunha só é exigido caso o participante não possa por algum motivo, assinar o termo. Data (Cidade/dia mês e ano) ____________ ___ de ______________de 20___ 293 ANEXO B Universidade Federal de Mato Grosso INSTITUTO DE LINGUAGENS – IL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA-ECCO Termo de Consentimento livre e esclarecido (TCLE) (Equipe de saúde) Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa intitulada: ―Tecnoculturas do cuidado no cotidiano: objetos sociotécnicos que habitam uma pediatria‖, sob a responsabilidade da pesquisadora Vanessa Ferraz Leite, portadora do RG 13705822 SSP/MT e do CPF 957478771-00 regularmente matriculada no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) vinculado ao Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de permitir a pesquisa, que será realizada na Pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em relação com o pesquisador ou com a instituição onde realiza assistência. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso, no endereço: Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso. UFMT, Campus Cuiabá. Primeiro piso do Bloco CCBS I. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n. 2367. CEP: 78060-900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 36158254. O objetivo desta pesquisa é estudar alguns objetos, práticas, técnicas e tecnologias do cuidado que estão presentes na pediatria do Hospital Universitário Júlio Müller e os efeitos afetivos que produzem nas crianças e equipe envolvidas. Sua participação nesta pesquisa consistirá em ser entrevistado (a) e observado (a). As entrevistas serão conversas, por isso, sem um roteiro previamente fixado. Em sendo abertas, as entrevistas partem apenas de uma pergunta-disparadora: ―Vamos conversar sobre a vida aqui na Pediatria?‖ 294 Os dados serão gravados, na sequência serão digitados. Após leituras dos dados, estes serão cruzados com a literatura em estudo, com o intuito de produção de trabalhos científicos. As análises serão compartilhadas com você, o envolvido na pesquisa, com o propósito de inclusão de sua impressão na pesquisa. Você não correrá risco algum. Os benefícios para você serão: identificação dos efeitos que alguns objetos, tecnologias, práticas e técnicas produzem em você, ao longo do seu dia a dia de trabalho na clínica junto às crianças hospitalizadas. Consequentemente, as contribuições para a efetivação do direito da criança hospitalizada, assim como, para a humanização dos cuidados em saúde, a partir de sua relação com os objetos, técnicas, tecnologias e práticas hospitalares. Os dados referentes a sua pessoa serão confidenciais e é garantido o sigilo de sua participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados serão divulgados em trabalhos científicos, porém fazendo-se uso de nomes fictícios, de forma a não possibilitar sua identificação. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o meu nome, telefone e endereço (pesquisadora responsável) e da instituição na qual me encontro matriculada, para que você possa me localizar a qualquer tempo. Meu nome, como citado anteriormente, é Vanessa Ferraz Leite. Endereço para a minha localização: Rua Dr. Euricles Mota, Bairro Jardim Guanabara, nº 01, complemento – 173. CEP: 78010-715, Cuiabá/Mato Grosso. Carteira de Identidade: 13587022 SSP/MT. Telefone: (65) 3627-3590. e-mail: [email protected]. Endereço da Instituição responsável: Instituto de Linguagens (IL)/Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO)/UFMT. Avenida Fernando Corrêa da Costa, n. 2367. Sala 38 IL. CEP: 78060-900. Cuiabá/Mato Grosso. Fone: (65) 3615-8428. Fax.: (65) 3615.8413. Considerando os dados acima, CONFIRMO que estou sendo informado (a) por escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação em formato de trabalhos científicos, AUTORIZO publicação. Eu_________________________________idade:______ sexo:_________Naturalidade:_________________portador(a) do documento RG Nº:______________declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. Assinatura do participante: _____________________________ 295 Assinatura do pesquisador principal: ______________________________________ Testemunha* ______________________________________ * Testemunha só é exigido caso o participante não possa por algum motivo, assinar o termo. Data (Cidade/dia mês e ano) ____________ ___ de ______________de 20___ 296 ANEXO C 297 ANEXO D 298 ANEXO E 299 ANEXO F 300 ANEXO G