Uma paisagem cheia de cores,Em Deir el-Bahari

Transcrição

Uma paisagem cheia de cores,Em Deir el-Bahari
Uma paisagem cheia de cores
No decorrer do trabalho de campo é comum que as missões
visitem outras escavações e sítios arqueológicos nas
proximidades. Escavar no complexo funerário de Neferhotep
significa ser vizinho de muitas escavações, sítios e
monumentos. Por exemplo, basta que viremos para o lado para
podermos admirar o templo da rainha Hatshepsut em Deir elBahri.
Caminhar pela necrópole tebana é um ótimo exercício de
apreensão da paisagem. Podemos
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perceber sua composição atual e também ter alguns indícios dos
significados atribuídos pelos egípcios antigos àquela paisagem
dinâmica, complexa e animada.
Bem ao lado do templo de Hatshepsut e nas proximidades de
Neferhotep encontra-se o “Vale das Cores”. Trata-se de uma
formação sedimentar cujas rochas sofrem oxidação, produzindo
uma variedade de cores. Dissolvidas em água pelos egípcios
antigos, eram a base para a produção dos pigmentos utilizados
em tumbas como a de Neferhotep, que apresenta uma decoração
muito elaborada.
Ao caminhar pelo “Vale das Cores”, pode-se encontrar inúmeros
fragmentos de rocha pela superfície. Também se pode encontrar
rochas sobressalentes na formação geológica. No interior da
rocha acha-se pigmentos diversos, como vermelho, amarelo,
violeta, com variantes de tonalidade. Coletamos alguns desses
fragmentos para análise. Este trabalho é importante porque nos
permite esclarecer outros aspectos da decoração da tumba de
Neferhotep e delimitar o local de onde se retirava matériaprima para a fabricação dos pigmentos.
No “Vale das Cores”, os deuses forneciam aos humanos aquela
variedade de pigmentos para que produzissem lindíssimas
representações. Configurava-se, assim, uma paisagem animada,
na medida em que se atribuía um simbolismo às características
do ambiente. Este deixa de ser natural e passa a ser
construído pelos seres humanos, organizando suas práticas,
fornecendo-lhes matéria-prima e garantindo, portanto, uma
paisagem animada e, neste caso, cheia de cores.
Em Deir el-Bahari
Na tradição cristã, o Domingo de Ramos marca a entrada de
Jesus em Jerusalém. Sua entrada na cidade é celebrada pelo
povo que trás ramos nas mãos, que são agitados representando a
alegria e a recepção deste momento. Encontramos algo
semelhante no templo da rainha Hatshepsut, construído em Deir
el-Bahari. Na Capela de Háthor, no segundo nível do pavimento
(foto) temos a chegada da expedição que esta rainha enviou à
terra de Punt (provavelmente próximo da atual Somália). Nela,
os membros da expedição que retornam à Tebas carregam palmas
como sinal de boas vindas. Encontramos ainda no Egito antigo a
presença
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destas palmas como símbolo de recepção a alguém que chega,
segura pelas divindades que guardam os portões do mundo
inferior, provavelmente por serem também um símbolo de
representação contra o mal. Não podemos afirmar que existe uma
correlação entre as palmas do Domingo de Ramos e as
encontradas no Egito antigo, mas é interessante observar que
os mesmos símbolos são encontrados em culturas diferentes com
sentidos semelhantes.
Antonio Brancaglion Jr.
Luxor, 14 de Abril de 2014
Escavações
na
necrópole
tebana: TT49, TT187 e TT362
(El-Khokha)
No dia 10 de abril de 2014 teve início a temporada de 2014 de
escavações, conservação e restauração no complexo funerário de
Neferhotep. Ele foi um alto funcionário do templo de Karnak,
portador do título de “Chefe dos escribas de Amun”. O Projeto
Neferhotep está em curso desde 1999 sob a direção da Dr.ª
María Violeta Pereyra, professora da Universidade de Buenos
Aires. Atualmente o projeto engloba uma equipe de arqueólogos
liderada pela Dr.ª Oliva Menozzi da Universidade de Chieti,
Itália, e uma equipe de restauradores alemães que levam à cabo
um importante trabalho de limpeza e consolidação da rica
iconografia presente na tumba.
No complexo funerário de Neferhotep encontram-se outras tumbas
menores associadas que fazem parte da concessão: as tumbas
tebanas 187, 362 e 363. Nesta temporada, a tumba de Neferhotep
é foco de conservação e restauração utilizando técnicas
modernas, como por exemplo a limpeza das pinturas com laser.
As escavações arqueológicas concentram-se nas tumbas 187 e
362. A primeira delas, cujo proprietário foi Pakhihet,
sacerdote wab, foi aberta em 2005 e mapeada. Em seguida foi
aberta novamente em 2013 e uma nova etapa de escavações está
sendo realizada. Neste ano a tumba 362, propriedade de
Paanemwaset, sacerdote de Amun, foi aberta. Resquícios de uma
interessante iconografia foram revelados, como por exemplo uma
barca solar no teto de uma das salas, assim como vários
fragmentos de múmias (sobretudo crânios), indicando uso
posterior dessas tumbas por comerciantes de múmias. Nesta
tumba foi encontrado um nicho com uma estátua do proprietário
com sua esposa, assim como estátuas de seus parentes.
O trabalho de restauração e escavação segue até o fim do mês
de abril. A antecâmara da tumba 187 será limpada e uma
escavação mais detalhada será conduzida no dromos que liga a
capela à câmara funerária, onde se percebe uma camada de areia
mais
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fina onde se encontra, assim como em outras tumbas, cerâmica
posterior e restos humanos. Na camada inferior encontram-se
fragmentos parietais com inscrições hieroglíficas e decoração
com coloração preservada, cartonagem, shabits, cerâmica do
período do Novo Império etc. A tumba 362 será mapeada e
documentada para escavação na próxima temporada. Nela, assim
como na tumba de Neferhotep, as paredes encontram-se
carbonizadas. Após a limpeza é possível que mais detalhes
importantes da iconografia sejam revelados.
A equipe arqueológica é composta pela Dr.ª María Violeta
Pereyra, Dr. Antonio Brancaglion, Dr.ª Oliva Menozzi,
Dr.ªMaria Giorgia Di Antonio, Angelo Palumbo, Maria Violeta
Carniel, Maria Laura di Giovanni, Marcella Giobbe, Rennan de
Souza Lemos, Cintia Prates Facuri, Pedro Luiz Diniz von
Seehausen.
Em breve mais notícias sobre o trabalho de campo que está
sendo desenvolvido no Egito!