1. Introduo - Escola Superior de Educação
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1. Introduo - Escola Superior de Educação
LUIS PAULO RODRIGUES ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS SÓCIO-FAMILIARES, SOMÁTICAS E DE APTIDÃO FÍSICA DE CRIANÇAS COM DIFERENTES NÍVEIS DE PRESTAÇÃO MOTORA. Dissertação elaborada sob a orientação do Professor Doutor Carlos Neto e apresentada à Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, com vista à obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento da Criança (Desenvolvimento Motor) UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA 1995 i ÍNDICE INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………1 REVISÃO DA LITERATURA…………………………………………………………5 1. DESENVOLVIMENTO E PERFORMANCE MOTORA................................................5 2. FACTORES ASSOCIADOS À PERFORMANCE MOTORA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ........................................................................................ 11 2.1. HEREDITARIEDADE ................................................................................................... 11 2.2. MATURAÇÃO ............................................................................................................ 12 2.3. CONDIÇÕES SÓCIO-FAMILIARES ................................................................................ 15 2.4. ENCORAJAMENTO PARA A PRÁTICA DA ACTIVIDADE FÍSICA .......................................... 19 2.5. EXPERIÊNCIAS OU PRÁTICAS MOTORAS PASSADAS E PRESENTES................................ 21 2.6. MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA .................................................................................... 23 2.7. DIMENSÕES CORPORAIS ........................................................................................... 26 2.8. MORFOLOGIA CORPORAL.......................................................................................... 30 2.9. COMPOSIÇÃO CORPORAL ......................................................................................... 38 2.10. APTIDÃO FÍSICA ................................................................................................... 45 2.11. CONCLUSÕES ...................................................................................................... 50 3. O PAPEL DA ESCOLA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE.................................................................................................................. 55 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS……………………..………………………….68 4. OBJECTIVO .............................................................................................................. 61 5. ENUNCIADO DO PROBLEMA ................................................................................. 61 6. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE ESTUDO............................................................ 64 i 7. PROCESSO DE SELECÇÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA ..... 65 8. PROCESSO DE SELECÇÃO DA AMOSTRA DE ALUNOS ................................... 66 8.1. CRITÉRIOS DE ESCOLHA DA AMOSTRA TOTAL DE ALUNOS............................................ 66 8.2. CRITÉRIO DE DIFERENCIAÇÃO DO NÍVEL DE DESEMPENHO MOTOR DOS ALUNOS ........... 67 8.3. CONSTITUIÇÃO FINAL DA AMOSTRA DE ALUNOS .......................................................... 71 9. VARIÁVEIS EM ESTUDO ......................................................................................... 73 9.1. VARIÁVEIS SOMÁTICAS ............................................................................................. 73 9.1.1. Medidas antropométricas ............................................................................. 73 9.1.2. Composição corporal.................................................................................... 77 9.1.3. Somatótipo.................................................................................................... 77 9.2. VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA................................................................................... 78 9.2.1. 9.3. Descrição dos testes .................................................................................... 80 VARIÁVEIS SÓCIO-FAMILIARES .................................................................................. 85 9.3.1. Descrição das variáveis................................................................................ 87 10. PROCESSO DE RECOLHA DE DADOS ............................................................. 89 11. PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS DE ANÁLISE DOS DADOS ..................... 90 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS………...……………102 12. ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS VARIÁVEIS SÓCIO-FAMILIARES......... 102 12.1. ESTATUTO SÓCIO-ECONÓMICO ........................................................................... 102 12.1.1. Nível sócio-profissional............................................................................... 103 12.1.2. Nível de escolaridade ................................................................................. 105 12.1.3. Tipo de residência familiar.......................................................................... 106 12.1.4. Nº de indivíduos por assoalhada ................................................................ 108 12.2. 12.2.2. ENCORAJAMENTO PARA A PRÁTICA DE ACTIVIDADES FÍSICAS ................................ 109 Número de irmãos ...................................................................................... 110 ii 12.2.3. Espaço envolvente à habitação familiar ..................................................... 111 12.2.4. Passado desportivo dos pais...................................................................... 113 12.3. 13. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS NAS VARIÁVEIS SÓCIO-FAMILIARES . 114 ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS VARIÁVEIS SOMÁTICAS ...................... 117 13.1. MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ............................................................................. 117 13.1.1. Altura........................................................................................................... 118 13.1.2. Peso............................................................................................................ 120 13.2. COMPOSIÇÃO CORPORAL ................................................................................... 121 13.2.1. Percentagem de massa gorda ................................................................... 121 13.2.2. Massa magra .............................................................................................. 123 13.3. SOMATÓTIPO ..................................................................................................... 123 13.4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS NAS VARIÁVEIS SOMÁTICAS ........... 127 13.4.1. Comparação entre os dois grupos ............................................................. 127 13.4.2. Comparação com os valores de referência................................................ 129 14. ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA ........ 132 14.1. SALTO EM COMPRIMENTO SEM CORRIDA PREPARATÓRIA ...................................... 133 14.2. ABDOMINAIS EM 60 SEGUNDOS .......................................................................... 135 14.3. PULL-UPS (FLEXÕES DE BRAÇOS NA BARRA)........................................................ 136 14.4. SIT AND REACH (FLEXÃO DO TRONCO À FRENTE, SENTADO).................................. 138 14.5. SHUTTLE RUN (CORRIDA DE VAIVÉM)................................................................... 139 14.6. CORRIDA DE 50 JARDAS ..................................................................................... 140 14.7. CORRIDA DE 9 MINUTOS ..................................................................................... 142 14.8. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DAS PROVAS DE APTIDÃO FÍSICA ........................... 143 14.8.1. Comparação entre os dois grupos ............................................................. 143 14.8.2. Comparação com os valores de referência................................................ 146 15. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS QUANTO À TOTALIDADE DAS VARIÁVEIS 149 iii CONCLUSÕES…………………………………………………………………….153 16. CONCLUSÕES PARCIAIS RELATIVAS AOS FACTORES SÓCIO-FAMILIARES153 17. CONCLUSÕES PARCIAIS RELATIVAS AOS FACTORES DE APTIDÃO FÍSICA154 18. CONCLUSÕES PARCIAIS RELATIVAS AOS FACTORES MORFOLÓGICOS155 19. CONCLUSÃO FINAL DO ESTUDO ................................................................... 157 20. LIMITAÇÕES ...................................................................................................... 159 21. RECOMENDAÇÕES........................................................................................... 162 iv Introdução É relativamente pacífica, entre os diversos autores, a ideia ou noção de que a formação motora se deverá estruturar desde as idades mais baixas, inicialmente através do desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais e depois através da exploração de variações e combinações dessas habilidades, permitindo a construção de um vocabulário motor generalizado sobre o qual assentarão as bases das aprendizagens das habilidades desportivas. Define-se, então, como uma importante necessidade para a aprendizagem de qualquer habilidade desportiva, que as crianças possuam os pré-requisitos necessários para a sua participação com sucesso nessa actividade (Maggil, 1988). Neste processo de desenvolvimento das habilidades motoras é usualmente reconhecido um estádio ou fase denominado geral ou de transição (Clenaghan & Gallahue, 1985), ou ainda de treino de base (Hahn, 1989; Knappe & Hummel, 1991; Sobral, 1994; Marques, 1993) - segundo os estudiosos do processo de formação desportiva - correspondendo aproximadamente às idades dos últimos anos escolares do 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB) e da entrada no 2º CEB (8-11 anos). Segundo Sobral (1994) esta fase de treino básico deverá cumprir-se na escola ocupando-se essencialmente da promoção do desenvolvimento geral das qualidades motoras através de uma oferta de experiências muito diversificadas, consolidando os complexos gestuais que servirão de base à 1 generalidade das aquisições motoras específicas. Infelizmente, no nosso país, esta fase fundamental de preparação desportivo-motora é normalmente negligenciada. Passe embora o actual esforço de organização e implementação da Educação Física no 1º CEB, a verdade é que a participação das crianças em actividades sistemáticas e organizadas, que possam prover as necessidades fundamentais desta fase de formação, é irrelevante; sendo apenas estas actividades realizadas habitualmente em clubes desportivos e em alguns desportos que iniciam a sua formação específica em idades muito baixas, porventura enfermando dos pressupostos duma formação desportivo-corporal especializada ou pelo menos orientada para uma especialização desportiva precoce. Tal realidade tem como consequência o facto de ser no ingresso no 2º CEB que a criança tem pela primeira vez um contacto com a participação em actividades organizadas, sistemáticas e orientadas para a melhoria dos factores de rendimento corporal. A escola, nesta fase etária, deve cumprir uma função de desenvolvimento da competência desportiva fundamental (Knappe e Hummel, 1991), procurando elevar os níveis de proficiência motora generalizada de todos os alunos. Por outro lado, pela sua situação estratégica no processo de ensino obrigatório, pela presença de profissionais habilitados pela sua formação e sensibilidade (Marques, 1991) e pela inerência dos seus objectivos de formação motora, constitui local privilegiado para a identificação de níveis diferenciados de aptidão e/ou performance motora expressos durante a participação das 2 crianças nas aulas de Educação Física. Curiosamente associam-se então num mesmo momento várias características da realidade educativa e da formação desportiva: 1- O primeiro contacto da criança com actividades motoras organizadas, sistemáticas e orientadas para a melhoria dos factores de rendimento corporal; 2- O primeiro contacto formal e completo (abrangendo toda a população) dos elementos especializados na condução da preparação motora e desportiva da criança - os professores de Educação Física; 3- A primeira possibilidade de avaliação dos níveis de performance motora demonstrados pelos alunos durante a prática das aulas de Educação Física curricular. Esta noção de performance ou rendimento motor, tal como é muitas vezes entendida no processo de orientação desportiva - porque redutiva ou especificamente direccionada - pode, principalmente durante uma fase crucial do desenvolvimento humano que é a infância, acarretar juízos errados quanto ao trajecto de desenvolvimento e da expressão do valor e aptidão futura da criança, com todos os inconveniente que daí poderão advir em desinvestimento pessoal e social no amplo espectro da actividade física e desportiva. 3 A questão, do nosso ponto de vista, estará então em saber se o professor de Educação Física, quando solicitado a avaliar ou diferenciar níveis de rendimento motor nos seus alunos, fazendo apelo a uma observação pedagógica extensiva ao longo do ano, o faz de acordo com os conhecimentos próprios que lhe advém do conhecimento do desenvolvimento motor da criança. Se assim for de facto, este especialista deverá ser de inestimável ajuda em todo o processo de detecção e orientação desportivas. Nesta conformidade, o tema do nosso trabalho, desenrolando-se no âmbito da avaliação do desenvolvimento motor da criança, centrar-se-á especificamente na relação entre as percepções e escolhas do professor de Educação Física e as características determinantes da performance ou rendimento motor das crianças. O seu objectivo principal será o de verificar se a diferenciação realizada pelos professores de Educação Física em ambiente escolar, relativamente ao desempenho motor evidenciado pelos alunos, é adequada à comparação das características de índole sócio-familiar, somática e de aptidão física, usualmente associadas à diferenciação presente e futura da performance motora. 4 Revisão da Literatura 1. Desenvolvimento e Performance Motora Relembramos a ideia inicial deste trabalho de que a formação motora se deverá estruturar desde muito cedo, quer através do desenvolvimento inicial das habilidades motoras fundamentais, quer posteriormente através da exploração de variações e combinações dessas habilidades, permitindo a construção de um vocabulário motor generalizado sobre o qual assentarão as bases das aprendizagens das habilidades desportivas. À semelhança de muitos outros colegas, Maggil (1988) define mesmo, como uma importante necessidade para a aprendizagem de qualquer habilidade desportiva, que as crianças possuam os pré-requisitos necessários à sua participação com sucesso nessa actividade, e Sobral (1994) sustenta que ao iniciar a sua preparação especializada (aos 10-12 anos na maioria das modalidades) a criança deveria ter já adquirido um variado reportório lúdico e motor. Por sua vez, Neto (1985) afirma que muitas das habilidades motoras específicas são variações, adaptações ou combinações de diferentes habilidades motoras fundamentais, sugerindo uma sequência evolutiva cujos rendimentos podem ser constatados no decorrer das 1ª, 2ª e 3ª infâncias. De facto, as características do desenvolvimento da criança apontam para que, até por volta do início da puberdade, se promova a construção e consolidação da globalidade gestual, a estabilidade emocional em situações 5 agonísticas e uma atitude positiva para aprender habilidades motoras de complexidade progressiva, base sobre as quais assentará a subsequente proficiência motora. Sobral (1994) chama-nos a atenção de que, no entanto, o significado preditivo da avaliação motora em idade precoce para a proficiência futura não é claro e normalmente não é considerado. A performance motora, na sua generalidade, deverá então ser sempre entendida como resultado de um conjunto de elementos interactuantes sistemicamente e sujeita a associações diversas de factores de ordem motora, orgânica e cultural (Malina, 1988a). Muito mais acutilante se torna esta necessidade de entendimento quando, como no presente caso, pretendemos tratar a performance motora em períodos etários de importância crítica no desenvolvimento da criança. Analisada na perspectiva do desenvolvimento da criança, a performance ou o rendimento motor, devem ser entendidos à luz da percepção das realidades biológicas individuais, expressas nas variações, configurações e ritmos de crescimento e maturação, das características genotípicas determinadas pelo potencial herdado, das condições sócio-culturais e familiares proporcionadas, bem como das condições de prática individualizada da criança em questão. Procurando a estrutura do sucesso do jovem atleta em termos de rendimento desportivo-motor, Maia e Vicente (1988) exprimem a necessidade do entendimento complexo da interacção entre as exigências físicas, motoras, 6 perceptivas, sociais, emocionais e intelectuais que constituem uma estrutura multifactorial da performance. Malina (1988b) defende que o desenvolvimento motor e o desempenho devem ser analisados bioculturalmente, sendo a separação destes factores extremamente difícil. Bem sintomático desta preocupação é a existência desde há longo tempo, da noção de período sensível, bem como as mais recentes de prontidão e de treinabilidade, que possuem de comum a perspectivação das condições para o desenvolvimento conducentes a características típicas de receptividade e reactividade da criança aos estímulos de desenvolvimento. Vista como processo e produto do desenvolvimento, a noção de performance, rendimento , proficiência ou mestria motora, deverá obrigatoriamente abranger um vasto conjunto de competências motoras, que em cada idade possam constituir base segura e eficaz de futuras aprendizagens. Assim, em qualquer momento do processo de desenvolvimento, mas particularmente até à idade adulta, a avaliação da performance motora cumpre um papel de diagnóstico do estado actual, de valoração do percurso anterior e de tentativa de prescrição do processo futuro. Relativamente a este processo, Nadori (1987) chama a atenção para o conceito equívoco de identificação precoce de talentos motores ou desportivos, bastante em voga entre alguns autores quando procuram descobrir quais são as características comuns (indicadores) da maior parte das crianças que parecem prenunciar um nível superior de performance desportiva. Se na primeira infância poderão ser detectados dotes gerais de inteligência, os dotes 7 motores apenas se revelarão depois do décimo ano de vida, sendo que esta noção de dotes motores se refere às características de crianças polivalentes, apresentando um domínio ou proficiência motora generalizada, capacidades de âmbito geral associadas ao que normalmente é designado de plasticidade adaptativa (Neto, 1982) ou disponibilidade motora e capazes, portanto, de se dedicarem com êxito no futuro em diversos campos desportivos (Nadori, 1987; Sobral, 1994; Hahn, 1982; Tschienne, 1986 e Marques, 1993). Maia (1994) estabelecendo a ponte entre o processo de selecção natural e o de selecção desportiva, esclarece mesmo que a variabilidade deve ser assumida, nomeadamente quanto à estrutura morfofuncional do rendimento desportivo, o que numa primeira etapa de prospecção ou detecção de jovens e crianças pressupõe o entendimento das vantagens da adaptação generalizada, englobando um conjunto maior de possibilidades de adaptações futuras. Um bom nível inicial de habilidade (aptidão motora), bem como das características físicas, oferecem à criança uma vantagem inicial para a entrada na actividade desportiva; mas mais importante do que isto é que normalmente asseguram que a sua participação poderá contar com o interesse do professor ou treinador para poder refinar estas particularidades iniciais (Malina, & Bouchard, 1991). Por tudo o que acabámos de dizer, entende-se que a avaliação da performance motora na idade pré-pubertária, pela sua complexidade, não é obviamente exequível duma forma simplista através da execução de testes ou medidas. De facto, torna-se imprescindível o acompanhamento da criança ao 8 longo da actividade por indivíduos que possuam um vasto grau de conhecimentos acerca do processo de desenvolvimento da criança, especificamente no âmbito motor, para que as características relevantes da proficiência motora possam ser identificadas, quer no momento presente quer com a possibilidade do prognóstico. De entre os comportamentos ou características apontadas pelos autores como ressaltando do envolvimento de crianças que evidenciam um nível mais avançado de performance, na prática de actividades físicas, encontram-se: (a) a capacidade de aprender rapidamente e com sucesso novas técnicas e comportamentos motores (Sobral, 1994; Nadori, 1983 e Tschienne, 1986); (b) a existência de uma habilidade motora generalizada (normalmente designada de disponibilidade motora) para realizar tarefas de natureza físico-motora (Sobral, 1994, Malina, 1988b); (c) um reportório motor alargado, traduzido pelo domínio de grande número de movimentos de forma fluída e segura (Sobral, 1994, Marques, 1993); (d) a interpretação das habilidades ou técnicas com sucesso (Tschienne, 1986); (e) a grande velocidade de assimilação de novas informações e estímulos, permitindo um ritmo rápido de aprendizagem das estruturas gestuais e motoras (Nadori, 1987, Marques, 1993) e uma aplicação mais correcta e criativa das habilidades e técnicas (Nadori, 1983); (f) a criatividade na solução individualizada dos problemas (Nadori, 1983) e (g) a aptidão para as actividades desportivas em geral (Tschienne, 1986). Deste conjunto de características podemos salientar cinco grandes factores ou categorias que, pelo grau da sua expressão particular na criança, 9 nos poderão permitir distinguir diferentes níveis de aptidão motora, adequados à avaliação da performance neste período etário : 1. A capacidade de aprendizagem motora; 2. A amplitude do reportório motor; 3. A capacidade de adaptação a novas e variadas situações de solicitação motora; 4. O grau de correcção na execução de técnicas e habilidades motoras decorrentes das aprendizagens desportivas; 5. A criatividade demonstrada na superação das dificuldades das tarefas propostas. 10 2. Factores associados à performance motora no processo de desenvolvimento da criança 2.1. Hereditariedade As estruturas do substracto material, a que a vida está intimamente ligada, desenvolvem-se e são controladas por um sistema informativo genético, cujas estruturas representam claramente o componente conservador e muitas vezes o componente limitante da interacção entre factores exógenos e endógenos (Bach, 1984). É comummente aceite que o crescimento, a maturação e a performance física e motora são afectadas pela hereditariedade biológica que representa a influência dos pais na geração dos descendentes e é mediada por causas biológicas ou genéticas (Malina & Bouchard, 1991). Segundo Volkov (1981, cit. por Harsany, 1987) a informação genética determina os níveis superior e inferior, bem como o ritmo de desenvolvimento das funções orgânicas do indivíduo. Esta realidade limita o resultado final conseguido através da educação, aprendizagem e treino . As características hereditárias são inatas (presentes no genótipo) mas a sua concretização (fenótipo) depende das possibilidades reais de prática vivenciada pelas crianças ao longo do seu desenvolvimento, de acordo com períodos de latência apropriados a cada uma delas (Harsany, 1987). Segundo Maia (1994) o universo dos fenótipos, sujeito ao conjunto diversificado de 11 pressões selectivas protagonizadas pelo envolvimento, resulta num processo de diferenciação adaptativa, com todas as consequências que daí advêm nos ritmos e expressões do próprio desenvolvimento motor. No processo de avaliação da performance com perspectivas de predição e selecção, a qualidade hereditária por si só é pouco significativa, apenas se evidenciando através do processo de estimulação ou treino. Os índices de selecção determinados pelo código genético, mesmo quando em presença de valores de estabilidade relativamente elevados, apenas se deverão ter em conta no prognóstico em relação com a idade biológica, o tempo de treino, o processo de socialização e a observação pedagógica continuada do especialista (Harsany, 1987). 2.2. Maturação Ao incidir sobre o desenvolvimento físico, a capacidade de trabalho e a eficiência desportivo-motora num dado intervalo etário, Maia e Vicente (1988), reforçando a opinião de outros autores, referem a falacidade da idade cronológica como um indicador sensível à variância evidenciada pelas crianças e jovens. É inequívoco que o ritmo de maturação influencia decisivamente o nível da performance motora ao longo do processo de desenvolvimento, condicionando não só o nível actual da performance, mas também as respostas aos estímulos de aprendizagem e treino (Sobral, 1990). Crianças que apresentam 12 um ritmo de maturação avançado (10-13 anos) devido às suas vantagens de tamanho e força possuem características positivamente associadas com o sucesso em diversas actividades físicas e desportivas (Malina, 1988a). Beunen et al. (1974, cit. por Maia & Vicente, 1988) verificaram que a aptidão física e a estrutura corporal de jovens de doze anos de idade, variava significativamente com a idade óssea evidenciada. A variabilidade da velocidade de maturação biológica e das mudanças relativas de dimensões, constituição, composição corporal, prestação e comportamentos são os elementos que o próprio jovem ou criança utiliza para validar e interpretar o seu processo de crescimento e maturação (Malina, 1978). Analisando os índices somáticos, sexuais e de maturação esquelética dos 10 aos 18 anos, Bielicki (1975) e Bielicki et al. (1984, cit. por Malina, 1978) encontraram duas componentes principais da variância. A primeira, responsável por 77% da variância encontrada nos rapazes com melhores performances, parece ser um factor de maturação geral que produz e discrimina indivíduos com maturação precoce, média ou retardada. A segunda, representa 12% da variância e incide positivamente duma forma notável sobre a maturação esquelética aos 11 e 12 anos, sendo um factor um pouco mais específico e que se refere ao grau de maturação esquelética durante a préadolescência. Momento crucial na determinação do ritmo de maturação, o início do salto pubertário é um dos factores fundamentais a ter em conta na avaliação do 13 desenvolvimento da criança e, obviamente, na performance motora, sendo que no rapaz a aceleração pubertária acontece normalmente entre os 11 e 12 anos (Sobral, 1992a; Simons, Beunen, Ostyn, Van Gerven & De Witte, 1980). As dificuldades de avaliação rigorosa da idade biológica da criança (devido sobretudo aos efeitos nefastos dos métodos de avaliação mais rigorosos como a radiografia dos ossos do pulso), levou os investigadores a utilizarem processos de informação alternativos, nomeadamente a classificação através dos sinais sexuais secundários, cuja associação com o ritmo de maturação é reconhecida, apesar de colocarem problemas evidentes de rigor e mesmo de acessibilidade. Vários autores são mesmo unânimes em referir que embora os índices de maturação sexual, esquelética e somática estejam geralmente correlacionados positivamente, poderá existir uma grande variabilidade (Tanner, 1962; Malina, 1978; Marshall, 1978 cit. por Malina, 1978). Por exemplo, embora em grande número de estudos se classifique como pré-pubertárias as crianças pertencentes aos estádios G1 e G2 da escala de desenvolvimento genital de Tanner, Haschke (1983, cit. por Malina & Bouchard, 1991) diz-nos que com os mesmo onze anos de idade cronológica existem diferenças entre as crianças situadas nestes mesmos dois estádios, relativamente à altura, peso e massa magra (FFM). Por último gostaríamos de chamar a atenção para a opinião de Sobral (1990), quando refere que embora constitua prática corrente a redução dos fenómenos de maturação à interdependência biológica, trata-se de facto de um 14 processo mais complexo, em que são reunidas as duas modalidades de transmissão hereditária em que se baseia o desenvolvimento humano: a cromossómica e a cultural. 2.3. Condições sócio-familiares Durante a primeira metade do séc XX acreditou-se que a maturação biológica da criança era a principal determinante na sua aprendizagem de habilidades. No entanto estudos posteriores chamaram a atenção para a evidente contribuição do meio ambiente (Seefeldt, 1988; Kube, 1990). Sobral (1990), a propósito das manifestações da performance ao longo do processo de desenvolvimento, refere que, como manifestação orgânica, a performance é também um fenómeno eco-sensível, entendida como susceptível de sofrer influências derivadas de factores ambientais, tais como diferentes formas de pressão cultural e familiar. Factores como as características do envolvimento em que a criança se movimenta, os estilos e condições de educação familiar, o nível de educação dos pais, a diferenciação do nível sócio-cultural de pertença, o grau de urbanização da zona de residência, o grupo étnico de pertença, o encorajamento parental para a prática de actividades físicas, as oportunidades de prática, a existência de brinquedos e equipamentos no ambiente familiar e próximo, a extensão da estimulação infantil, a dimensão da família, o número de filhos, a ordem de nascimento, etc, podem estar relacionados com a 15 variação na sequência do desenvolvimento motor, bem como com as melhorias da performance motora (Neto, 1984; Malina, 1980a, 1980b, 1980c, 1987, 1988a; Simons et al., 1980; Herkowitz, 1980; Treutlin, 1982; Ross, Pate, Caspersen & Kendrick, 1987; Malina & Bouchard, 1991). Malina e Bouchard (1991) chamam a nossa atenção para o que denominam de hereditariedade cultural, incluindo o ambiente familiar e as condições sociais e características de vida que são transmitidas de pais para filhos através da educação, a modelação cultural, estatuto sócio-económico, etc, e que têm um efeito directo ou indirecto nas características fenotípicas da criança. Sobral (1994) diz-nos mesmo que existe uma condição precedente para o êxito que se deve procurar nas formas de organização do grupo social, com os seus reflexos no estilo de vida, nos incentivos materiais e culturais para a prática física e desportiva e, talvez o mais determinante, na qualidade e intensidade das ocupações escolares. O desenvolvimento das habilidades, conhecimentos e atitudes para com a actividade física e a performance são extremamente influenciadas pelas características da família (Herkowitz, 1980), devendo esta ser considerada como um factor explanatório na análise do aparecimento da actividade física e desportiva na vida duma criança (Duarte & Silva, 1991). 16 Para Neto (1984), o contexto social é para a criança uma referência fundamental quanto à criação de motivações, valores e normas de conduta na prática das actividades motoras e lúdicas. Lewko e Greendorfer (1977, cit. por Duarte & Silva, 1991) referem que a estrutura social do meio em que a criança se insere pode determinar o seu envolvimento na prática da actividade física, sendo a família e particularmente os pais, os primeiros elementos socializantes. Renson, Beunen, De Witte, Ostyn, Simons e Van Gerven (1980) encontraram resultados significativos e progressivamente melhores ao longo da idade nos índices de força explosiva dos membros inferiores dos filhos de pais com formação superior (universitários), relativamente aos filhos de pais com pouca ou nenhuma formação. Em crianças pré-adolescentes foram encontradas algumas diferenças significativas nos índices de força do tronco e dos braços, entre os filhos pertencentes a classes extremas de formação dos pais (Renson et al, 1980). Num estudo realizado com 242 atletas na ex-RFA, Luschen, Artus e Emnid (cit. por Treutlin, 1982) concluem que quanto maiores as exigências e as performances da disciplina desportiva, maior é a frequência encontrada de indivíduos pertencentes a famílias de estatuto elevado, com rendimento acima da média. Por outro lado, a generalidade dos dados sugerem que as crianças provenientes de classes sócio-económicas mais desfavorecidas possuem maior liberdade de movimentação pela vizinhança, o que pode ser conducente a uma maior oportunidade de prática e melhor proficiência motora (Malina, 17 1980b, 1987). Sugestão que é compartilhada por Neto (1985), quando refere que a economia progressiva do espaço que caracteriza as cidades modernas têm como consequência a limitação da população infanto-juvenil ao acesso a determinadas experiências corporais. O estatuto sócio-económico tem sido relacionado em muitos estudos com a profissão do pai, mas nos anos mais recentes e em diversos países, esta indicação por si só não tem permitido uma correcta distinção, pelo que outros indicadores se tornam necessários para a complementar (Malina, 1987). Actualmente, nos EUA, Canadá e Europa Ocidental, as diferenças nas condições de vida entre as zonas urbanas e rurais é muito pequena, pelo que a diferença na estatura e no estatuto maturacional entre crianças é bastante pequeno. Em contraste, em alguns países europeus (nomeadamente de leste e países mediterrâneos) continuam a notar-se claras diferenças urbano-rurais no que respeita ao crescimento estatural e ao ritmo de maturação (Malina & Bouchard, 1991). A dimensão da família e o número de filhos, pode ser um dos factores que influenciam, ou mesmo potenciam ou medeiam, o efeito do estatuto sócio-económico no crescimento e maturação (Malina, 1987). Foram encontradas claras diferenças na estatura alcançada por crianças pertencentes a famílias de escassos recursos económicos com um ou dois filhos, relativamente a famílias com cinco ou mais filhos, onde os primeiros alcançam estaturas mais elevadas (Bogin, 1991). No entanto, em condições sócio-económicas mais favoráveis 18 (pais com ocupações não manuais) esta variável não parece influenciar o crescimento estatural (Malina & Bouchard, 1991). A propósito do estudo sobre o talento desportivo, Treutlin (1982) diz-nos que ele se reparte por todos os estatutos sociais; no entanto, a socialização diferenciada, específica de determinados níveis sociais, pode determinar, à partida, a possibilidade de desenvolvimento desse talento. Esta afirmação é completada por Harsany (1987) quando defende que factores ambientais desfavoráveis impedem a manifestação das qualidades latentes para a prestação motora e ao contrário, ambientes favoráveis permitem a potenciação dessas qualidades. A inter-relação entre os factores de influência familiar, sócio-cultural e genética devem então também ser considerados nos estudos de desenvolvimento e performance motora (Malina, 1988a). A base genética pode ser vista como uma representação de potencial que é ou não desenvolvido dependendo das condições do envolvimento no qual a criança é criada (Malina, 1980a). Porém, o efeito cumulativo e complexo exercido pelo ambiente familiar e social torna extremamente difícil a partição de efeitos devidos ou associados a factores específicos, pelo que deverá ser posto especial cuidado nas análises realizadas a propósito do desenvolvimento da criança. (Malina, 1980b) 2.4. Encorajamento para a prática da actividade física 19 Será correcto assumir que pais envolvidos na actividade física e desportiva, que dão valor à aptidão física e que recompensam a aquisição de habilidades, terão crianças mais competentes e interessadas nas actividades físicas ? Segundo Herkowitz (1980), parece evidente que os pais exercem desde cedo uma influência directa que “molda” a inclinação da criança para a acção e a quantidade de actividade vigorosa que vão evidenciar ao longo de diversas situações de brincadeira. De acordo com vários autores, o papel dos pais na atmosfera de encorajamento familiar para as actividades físicas é fundamental, desempenhando o seu próprio exemplo, neste domínio, uma das melhores garantias de sucesso (Shephard, 1982 cit. por Mota, 1993; Treutlin, 1982; Malina, 1988a). Weiss (1993) alarga este âmbito de influência familiar ao papel da modelação e reforço de pessoas significantes (pais, professores e amigos) constituindo, no seu entender, um dos factores segundo os quais a criança inicia a sua prática em desportos organizados. O mesmo autor sumariza os resultados de uma quantidade substancial de estudos que têm demonstrado que crianças com pais, amigos, irmãos, professores e treinadores que encorajam a sua participação, possuem maior possibilidade de se iniciarem/envolverem numa prática desportiva, podendo o envolvimento familiar favorecer a eficácia dos programas escolares (Corbin, 1991) . Por sua vez, Pfetsch (1975), Streubuhr e Gabler (1972) (cit. por Treutlin, 1976) encontraram grandes correlações entre a 20 existência na família de desportistas de élite e a prática desportiva passada ou presente dos pais. Malina (1988a) diz-nos que muitos dos atletas de alto nível começaram a sua participação e/ou competição em desporto por volta dos cinco ou seis anos de idade, sendo que muitos deles pertencem a famílias nas quais um ou ambos os pais participaram activamente em actividades desportivas. Parece então que a maioria dos desportistas de alto nível encontra nas experiências desportivas positivas dos seus pais um meio favorável para a sua própria actividade desportiva (Treutlin, 1982; Ross, Pate, Caspersen & Kendrick, 1987). 2.5. Experiências ou práticas motoras passadas e presentes Pensamos que todos os autores são unânimes em reconhecer a importância da qualidade e quantidade das experiências motoras na determinação do nível actual de desenvolvimento e performance motora duma criança ou jovem (Malina & Rarick, 1973; Zaichkowsky, Zaichkowsky & Martinek, 1980; Meinel, 1984; Clenaghan & Gallahue, 1985; Haywood, 1986; Maggil, 1988). As respostas geradas pela actividade física iniciada durante a infância influenciam favoravelmente a funcionalidade orgânica e motora durante os períodos posteriores (Espenshade, 1960; Malina, 1969, 1975; Bailey, 1973, Rarick, 1974; Bailey et al., 1978 cit. por Malina, 1980d), sendo para além disso, de esperar que a participação em actividades desportivas possa favorecer e 21 modelar o entendimento da actividade física como um valor a preservar (Mota, 1993). As oportunidades de prática durante a infância dependem não só das características de aproveitamento dos tempos livres da criança - suscitadas, por exemplo pelos espaços de brincadeira e pelo estilo de educação familiar mas também, e sobretudo no que diz respeito à qualidade da actividade, da participação sistemática e organizada em situações de aprendizagem e exercitação motora proporcionadas pela escola, ou fora dela, de forma a serem cumpridos os requisitos de estimulação apropriados a esta fase de desenvolvimento da criança. Singer (1973) diz-nos que as capacidades de aprendizagem podem ser influenciadas pelas práticas passadas, e que, já que a possibilidade de transfert ocorre de forma mais eficaz quando uma situação motora se assemelha a outra, quanto maior for a gama de experiências anteriores, maior a possibilidade de tansfert para novas situações. A existência de relação entre a actividade física diária da criança e alguns factores da aptidão física, nomeadamente o VO2 máx, tem sido referida por vários autores (Schumuker, Rigauer, Hinrichs & Trawinski, 1984; Bailey, 1973 cit. por Rowland, 1990; Atomi, Iwaoka, Hatta, Miyashita & Yamamoto, 1986). Embora não tenham encontrado tal relação antes da adolescência, Mirwald, Bailey, Cameron e Rasmussen (1981) verificaram que os jovens com maior nível de actividade se caracterizavam por um maior ritmo de crescimento da 22 potência máxima aeróbia durante a fase do pico de velocidade de crescimento em estatura. Também ao nível da regulação e manutenção do peso corporal, a actividade física é importante , principalmente através do incremento da FFM e correspondente decréscimo da massa adiposa (Parizkova, 1963, 1973; Dobeln & Erikson, 1972 cit. por Malina, 1980d), com as consequências reconhecidas nas melhorias do domínio motor. 2.6. Motivação para a prática As razões ou motivações que levam a criança a enveredar por um processo de prática de actividade física e/ou desportiva, ou mesmo a participar de forma mais relevante nas instituídas ou obrigatórias, têm também repercussão óbvia nas melhorias da performance motora. Os factores de variada ordem que influenciam a criança a iniciar a sua prática desportiva, a mantê-la ou a deixá-la, são de extraordinária importância, já que o padrão e a qualidade da participação em experiências de actividade física durante a infância têm profunda influência na futura participação como adulto, quer nos padrões de aderência, quer no estilo de vida mais ou menos activo (Weiss, 1993). Por outro lado, estudos desenvolvidos por algumas correntes da Psicologia pretendem e sustentam que uma menor capacidade de dotação para uma área específica (função de um genótipo mais limitativo) poderia ser compensada por um maior empenhamento e motivação para a actividade 23 (Marques, 1993). A forma como a criança opta na sua selecção pela actividade ou desporto pode ser influenciada pelos pais, pelo treinador ou por uma combinação dos três; no entanto a selecção própria é fundamental, já que é a criança que deverá treinar, realizar e competir (Malina, 1988a). Em 1990 a Athletic Footwear Association questionando 10 000 jovens dos dez aos dezoito anos acerca da sua motivação para o envolvimento em actividades desportivas verificou que o prazer / alegria é a principal razão para a participação desportiva e a sua falta uma das razões fundamentais para a desistência ou não envolvimento (Petlinchkoff, 1992). Também a auto-estima, e mais especificamente a percepção da capacidade motora própria, são preditoras de comportamentos dirigidos para a aquisição e desenvolvimento de habilidades, de motivação intrínseca e positiva (Weiss, 1993). Associadas a este conceito, a força e disponibilidade motora, normalmente relacionadas com o tamanho, a morfologia e a proficiência motora, podem por sua vez influenciar o nível habitual de actividade física e a procura da actividade desportiva pelas crianças (Malina, 1988a). Segundo Weiss (1993) jovens crianças (8-9 anos) tendem a confiar nos resultados dos jogos e nas informações e avaliações dos pais como principal fonte de informação para avaliação da sua competência motora. Crianças mais velhas (10-14 anos) dependem de uma forma mais preponderante da comparação social e da avaliação pelos seus pares, não sendo de estranhar que uma incorrecta percepção do sucesso possa, na comparação natural dos resultados com os seus colegas, levar a criança a ter um investimento pessoal 24 reduzido na actividade desportiva (Mota, 1993). Uma quantidade substancial de estudos tem demonstrado que crianças que têm familiares, amigos, professores e treinadores que encorajam a sua participação em actividades físicas possuem maior probabilidade de virem a participar numa prática desportiva (Weiss, 1993). Na comparação social com os seus pares, a criança inclui também a avaliação da aptidão física e atlética - factores particularmente valorizados entre crianças do 1º e 2º CEB (Buchanan, Blankenbaker & Cotten, 1976; Coleman, 1961; Duda, 1981 cit. por Passer, 1988) - bem como a variabilidade da velocidade de maturação biológica e das mudanças relativas de dimensões, constituição, composição corporal, prestação e comportamento motor (Malina, 1978). Dados de diversos estudos sugerem que é no período escolar do 1º CEB que a maior parte das crianças desenvolve um interesse na comparação social e procura situações competitivas especificamente com este propósito (Passer, 1988). No entanto, Weiner e Kuns (1978, cit. por Passer, 1986) referem que são necessárias certas capacidades cognitivas para que a criança possa avaliar a sua competência desportiva, em relação aos resultados obtidos, em termos de sucesso / insucesso e que isso só será possível por volta dos 10/12 anos de idade. Analisando o modelo conceptual da escolha profissional de Blau, e fazendo um paralelo para a aplicação específica na actividade física e desportiva, Woodman (1982) diz-nos que o investimento pessoal no desporto 25 resulta dum quadro de compromisso entre as preferências e as expectativas, sendo estas últimas reexaminadas à luz dos sucessos conseguidos. O mesmo autor fala-nos duma hierarquia de expectativas (como um dos processos de escolha), na qual a criança avalia as suas possibilidades e investe segundo a sua avaliação. Passem embora todas as opiniões referenciadas e que apontam para a inter-relação íntima entre factores da performance e motivação, não gostaríamos de deixar passar a opinião de Treutlin (1982), segundo a qual uma das causas das perdas de talentos em idade escolar é o facto de o interesse colocado no desporto de alto nível se formar somente após ou durante a puberdade , e não ser influenciável pelo desenvolvimento das performances na idade escolar pré-pubertária. 2.7. Dimensões corporais A relação de algumas medidas corporais de índole antropométrica com os níveis de prestação motora tem sido evidenciada ao longo dos tempos, quer em adultos quer em crianças. Provavelmente todos os estudos caracterizadores de populações específicas desportivas terão encontrado associações fortes entre algumas medidas de âmbito antropométrico e a performance. Exemplos do que acabámos de dizer tornam-se mesmo óbvios através da simples observação dos atletas de alta competição. A altura, o peso e as medidas de gordura corporal obtidas através das pregas adiposas são algumas das características 26 antropométricas mais utilizadas na descrição de perfis específicos de populações desportivas com sucesso. Numa amostra de 130 rapazes (12 anos idade) participantes no campeonato de natação de 1972 na Bulgária, Todorov e Lazarov (1982) encontraram uma relação evidente entre a estatura e a performance alcançada. Hensley e East (1982) por sua vez, num estudo envolvendo crianças prépubertárias dos sete aos dez anos, constataram que a altura se correlacionou de forma positiva e significativamente com várias performances testadas (salto vertical, salto a pés juntos sem corrida preparatória, corridas de 40 e 400 jardas). Por sua vez a soma das medidas das pregas adiposas associou-se negativamente com as mesmas performances. Mészáros e Szmodis (1980) utilizando um grupo de atletas seleccionados como os mais talentosos para o atletismo, encontraram diferenças significativas aos 12 anos de idade, comparativamente com um grupo de não-atletas, na medida de estatura (154.7 - 149.9), tal não acontecendo, porém, relativamente ao peso da massa corporal (41.9 - 41.5). Mirwald, Bailey, Cameron e Rasmussen (1981 cit. por Bell, 1993) transmitem-nos a ideia de que até ao salto pubertário a associação entre altura e performance não é evidente, tal como é relatado no estudo de crescimento de Saskatchewan, em que comparando crianças activas com sedentárias entre os sete e os dezasseis anos se verificou que os rapazes inactivos eram mais altos que os activos em todas as idades, embora com diferenças não significativas. Estes resultados são consistentes com os de Bell (1993) em que 27 os rapazes sedentários eram mais altos que os não sedentários até ao momento do pico de velocidade em crescimento ( peak height velocity ), após o qual os activos passaram a ser significativamente mais altos. Malina (1988) diz-nos que, comparativamente, os jovens atletas do sexo masculino entre os nove e os dezasseis anos são geralmente mais altos e pesados do que os não atletas, embora isto não aconteça para todos os desportos. Parece então poder concluir-se que, com crianças, nem sempre a relação entre os indicadores antropométricos e o nível de sucesso na performance é linear, já que se torna necessário levar em linha de conta características de crescimento e maturação do indivíduo e de desenvolvimento da performance. Ao procedermos ao levantamento de resultados relativos a populações infanto-juvenis encontramos diversas dificuldades que pensamos ser relevante salientar. Os estudos abrangentes até agora realizados, relativos à população nacional nesta faixa etária são raros, destacando-se apenas os de Rosa (1973) no Continente, o de Sobral (1989) nas ilhas dos Açores. Actualmente encontram-se em execução dois estudos alargados que no futuro poderão fornecer mais dados de comparação nesta matéria, nomeadamente o de Fragoso na região de Lisboa e o projecto FACDEX no Grande Porto. 28 Quadro 1 - Valores de média e desvio padrão da altura e peso registados em diversos estudos, com crianças do sexo masculino de 11 anos de idade. Autores População Altura Peso Saskatchewan Growth Study 143.1 (7.0) 35.4 (6.7) Rajic et al (1978) * Quebéc 104.4 (5.29) 33.53 (5.79) Demirjian et al (1976) * Montreal 139.99 (5.85) Saskatoon 143.44 (6.81) Igloolik 133.06 (8.24) Canadá Ellis, Carron & Bailey (1975) Demirjian (1980) * Welch et al (1971) * 139.8 (6.27) Winsor 141.8 (6.7) New Haven 145.8 (5.9) Johnston (1962) * Filadélfia 143.62 (5.97) Krogman (1970) * Filadélfia 142.8 (6.2) Malina, Mueller & Holman (1976) Filadélfia 143.0 (5.5) Estados Unidos da América Walker (1974) * Pate, Slentz & Katz (1989) 145.1 (21.3) 37.6 (14.5) Cureton & Warren (1990) 148.4 (6.9) 39.5 (7.7) Hammil et al (1970) * 145.7 (6.98) Lloyd-Jones (1941) * Los Angeles Snyder, Spencer, Owings & Schneider (1975) * McCammon (n pub) * Roche (n pub) * 143.0 141.9 (5.3) Denver 144.51 (4.96) Ohio 145.11 (5.99) Reed & Stuart (1959) * 35.3 (6.5) Martorell et al (1988) HHANES 146.2 (7.0) Martorell et al (1988) SHANES 145.9 (7.7) Tuddenham & Snyder (1954) * Califórnia 146.54 (6.14) 38.86 (7.42) USA 144.3 (5.84) 38.2 (5.98) Dodge & West (1970) * Galveston Ct 140.7 (8.6) 38.3 (12.5) Hamil et al (1977) * NCHS (p50) 149.9 Knott & Meredith (1963) * Fomon et al (1982) ** b) Lohman et al (1984) Slaughter et al (1991) a) 147.2 (12.4) 38.2 (9.5) 29 Autores População Altura Peso (natação) 148.6 (11.5) 39.9 (8.7) Sady et al (1982) (luta) 140.6 31.7 Malina (n pub) * (futebol) 142.7 37 cross country 144.3 31.9 141.4 (4.6) 32.5 147.5 (6.15) 39.86 (6.16) Mercier, Mercier, Le Gallais & Préfaut (1992) Bélgica 144.7 (2.3) 35.9 (1.3) Hebbelinck & Borms (1984) 141.4 (5.98) 33.8 (5.32) LLEGS 137.7 (5.5) 32.5 (5.9) Viana do Castelo 135.0 (6.1) 30.3 (5.0) Portugal 137.7 (6.8) 32.4 (5.9) Piedade (1977) Queluz 140.3 (7.76) 34.2 (7.1) Piedade (1984) Lisboa 140.3 34.2 Mota (1989) Porto 141.0 (6.4) 34.2 (2.7) Açores 142.6 (7.9) 37.1 (8.0) Slaughter et al (1991) a) Mayers & Gutin (1979) b) Inglaterra Brodie et al (1989) Itália Manno & Merni (1987) (vários desportos) França Vajda, et al. (1980) Portugal Rosas (1973) Sobral (1989) a) (11.4 anos) b) 10.5 anos * cit. por Roche & Malina (1983) ** cit. por Lohman (1986) 2.8. Morfologia corporal A classificação através do somatótipo é um método de avaliar a morfologia que tem sido utilizado para quantificar, na generalidade, a composição, a forma e o tamanho corporal (Carter, 1980, 1988), em que cada componente 30 contribui de forma variada (gordura relativa, desenvolvimento musculoesquelético relativo e linearidade relativa) em referência a um compósito que é a morfologia (Malina, & Bouchard, 1991). O princípio da existência de uma estreita relação entre a performance e a morfologia é geralmente aceite pela maioria dos estudiosos da matéria (Sobral, 1982; Holopainen, Hakkinen & Telama, 1984; Laska-Mierzejewska, 1980), sendo inclusivamente apontada uma relação positiva, embora baixa, entre o tamanho corporal e a performance motora (Pissanos, Moore & Reeve, 1983). Um endomorfo, normalmente, apresenta pior performance em tarefas que requeiram movimentos de deslocação; enquanto mesomorfos e ectomorfos são usualmente mais bem sucedidos (Hebbelinck & Borms, 1978; Malina & Rarick, 1973 cit. por Holopainen et al., 1984). Beunen et al. (1985, cit. por Maia, 1990) ao estudarem as relações entre performance e somatótipo em adolescentes do sexo masculino, verificaram que a componente mesomórfica se revelou como a melhor preditora de todos os testes motores. Na opinião destes autores a utilidade e validade do somatótipo é indiscutivel, dado que permite compreender melhor os fenómenos da performance de atletas jovens e adultos. Embora chame a atenção para alguns problemas metodológicos e de análise, na tentativa de procurar a associação do somatótipo com a performance física, Carter (1980) diz-nos que os estudos parecem indicar que a mesomorfia está positivamente associada com a maior parte das prestações físicas, a endomorfia associada negativamente e a ectomorfia demonstra 31 pouca ou nenhuma associação. Opinião que não é totalmente partilhada por Holopainen et al. (1984) quando concluem que a endomorfia dificulta todas as performances de aptidão física e de performance motora e a ectomorfia melhora-as. Malina (1975) refere que a endomorfia tende a ser negativamente correlacionada com a performance numa grande variedade de tarefas motoras, enquanto a ectomorfia tende a ser negativamente relacionada com a força. No entanto as correlações encontradas entre os componentes individuais do somatótipo e a performance são geralmente baixas ou moderadas e por isso limitadas na utilização preditiva. Os protótipos específicos das diversas modalidades desportivas revelamse nas fases mais precoces da preparação desportiva, constituindo referências fundamentais nos programas de prospecção de talentos (Sobral, 1993b), mesmo que neste âmbito o espectro total de elementos fenotípicos a considerar seja bastante vasto (Sobral, 1994). Os primeiro e segundo componentes do método de Heat-Carter (endomorfia e mesomorfia) introduzem conceitos específicos da composição corporal. No entanto as modificações resultantes do processo de crescimento e maturação podem resultar numa falta de consistência da avaliação em crianças e jovens. A falta de correlação entre a FFM e a segunda componente, bem como a apenas moderada correlação entre a percentagem de massa adiposa (%FAT) e a primeira, aconselha a utilização complementar da 32 estimação da composição corporal com crianças e jovens (Malina & Bouchard, 1991). Carter (1970) diz-nos que a participação e entrada voluntária num determinado desporto é provavelmente também dependente da existência de um somatótipo apropriado. Todos os desportistas têm como componente dominante a mesomorfia. O mesomorfo é solidamente musculado, a sua força e robustez física conferem-lhe uma aptidão particular para a prática desportiva (Boennec & Prevot, 1980; Bell, 1993) sendo geralmente o ecto-mesomorfismo que caracteriza o desportista confirmado e em plena actividade (Boennec, 1980). Quando analisados comparativamente, jovens atletas do sexo masculino (9-16 anos) são geralmente mais altos e pesados, mais mesomórficos e fortes do que os não atletas, embora estas conclusões não sejam inteiramente consistentes para todos os desportos (Malina, 1988a). Esta constatação é semelhante à encontrada em estudos do somatótipo de atletas de alto nível, que têm revelado uma distribuição limitada de valores, sendo normalmente mais mesomórficos e menos endomórficos do que a população de referência ou de atletas de níveis mais baixos de competição (Carter, 1988). Aliás, e independentemente da eventual perca de informação do processo utilizado na determinação dos somatótipos médios, o conjunto de resultados apresentados no quadro síntese 2 parece demonstrar exactamente essa associação, com a grande maioria dos somatótipos médios indicados a apresentarem valores reduzidos na primeira componente (o que mesmo em 33 termos de média é significativo dado a pequena dimensão dos valores) e com a segunda componente a ser dominante. Quadro 2 - Somatótipos médios referenciados em vários estudos, segundo a modalidade praticada e a idade das crianças. Autor citado Modalidade Somatótipo médio Idade Chovanova & Zapletalova, 1979 Basquetebol 3 - 3.5 - 4 13/14 anos Stepnicka, 1976 Ginastas 1.5 - 4.4 - 3.9 12 anos Thorland et al., 1981 Gin + Salt 2.3 - 5 - 3.2 16,2 Perez (1981) Ginastas 1.7 - 5.4 - 2.5 14 a 20 Carter, 1984 1.4 - 5.9 - 2.4 ? Stepnicka, 1977 1.5 - 6.9 - 2.1 ? 2.6 - 4.7 - 3.3 10 Stepnicka, 1976 1.6 - 4.3 - 3.9 10 Newton, 1978 3.2 - 4.8 - 3.2 13 a 15 Pirie, 1974 Hoquei gelo Faulkner, 1976 Patinagem 2.5 - 4 - 3.5 10,7 a 15,7 Ross & Day, 1972 Ski 1.7 - 4.6 - 3.7 10,9 Stepnicka & Broda, 1977 1.5 - 5 - 3.6 13 Chovanova, 1981 2.3 - 4.6 - 3.8 11 a 17 1.8 - 4.3 - 3.7 10 a 21 1.6 - 4.6 - 3.4 15,7 1.9 - 5.5 - 3.2 15 a 19 Sinning, Wilensky & Meyers, 1976 2.3 - 4.8 - 3.1 16,5 Thorland et al., 1981 2.6 - 5.4 - 2.9 16,9 4 - 4 - 2.7 16,7 Perez, 1981 Natação Bagnall & Kellet, 1977 Lucio, 1981 Lebedeff, 1980 Luta livre Ténis Valores citados por Carter (1988) Quando comparados com atletas adultos, os jovens atletas são em geral menos mesomórficos, menos endomórficos e mais ectomórficos. A maioria dos atletas jovens centra-se nas categorias ecto-mesomórficos, ectomorfosmesomórficos e meso-ectomórficos (Carter, 1988; Bell, 1993), demonstrando somatótipos idênticos aos de atletas de alto nível, mais velhos (Carter, 1980). 34 Stepnicka (1972, 1974, 1976 cit. por Carter, 1980) refere que, em crianças, os grupos de somatótipos estavam altamente relacionados com os testes de educabilidade motora ( motor educability tests ), actividades e aptidões desportivas e com a prática voluntária da educação física. Os endomórficos eram os mais pobres no domínio motor e os ecto-mesomórficos os melhores. Um outro factor importante a considerar quando se estudam somatótipos é a variação da população em causa, sabido que é que quanto mais elevado for o nível desportivo estudado, menor a variação na distribuição dos somatótipos (Carter, 1980). Assim, a variação encontrada no somatótipo de jovens atletas é bastante limitada quando comparada com a variação em populações de não-atletas da mesma idade e sexo (Clarke, 1971; Hebbelinck & Borms, 1978; Parizkova & Carter, 1976 cit. por Carter, 1988), sendo ainda que, embora exista variação no somatótipo entre desportistas jovens de diferentes especialidades, estas diferenças parecem ser menos pronunciadas nestes do que nos adultos, especialmente entre os rapazes (Carter, 1988). Relativamente à estabilidade demonstrada pelo somatótipo ao longo do processo de crescimento, Carter (1988), numa revisão efectuada com amostras de jovens atletas do sexo masculino, verificou uma tendência para o incremento em mesomorfia desde o início da adolescência até à idade adulta. Por sua vez, Malina e Bouchard (1991) dizem-nos que a morfologia dum indivíduo pode ser estabelecida bastante cedo, já que, embora ocorram mudanças no somatótipo durante o crescimento, não são em geral dramáticas, 35 pelo que a constituição física do jovem adulto é facilmente reconhecível em criança, apontando mesmo a idade de oito anos como aquela a partir da qual a estabilidade do somatótipo é bastante boa. Opinião compartilhada por Malina e Rarick (1973) quando nos dizem que parecem haver razões para afirmar que a morfologia do homem é determinada em tenra idade. Segundo Bale (1969 cit. por Holopainen et al., 1984) a idade ideal para a determinação do somatótipo é aos onze anos. Também Parizkova (1974, 1977 cit. por Malina & Bouchard, 1991) estudando três grupos de rapazes cumprindo diferentes programas de actividades físicas (treino regular, treino moderado e sem treino) não encontrou diferenças significativas nos somatótipos dos 11 aos 18 anos de idade, nem na FFM, o que parece indicar uma relativa independência destes dois parâmetros quanto aos efeitos do treino. Existiram, de facto, modificações em locais específicos (nomeadamente hipertrofia muscular localizada), mas não foram suficientes para influenciar marcadamente os valores do somatótipo e da FFM. Num estudo envolvendo crianças dos doze aos quinze anos, seguidas longitudinalmente, Bell (1993) verificou que durante o período da adolescência, crianças sedentárias demonstraram um aumento na endomorfia e um decréscimo na mesomorfia e ectomorfia. Em contraste, as crianças activas reduziram a endomorfia, mantendo razoavelmente estável a mesomorfia e a ectomorfia. As correlações inter-idades ao longo da adolescência (traduzindo a estabilidade do somatótipo) foram bastante elevadas no grupo de crianças activas (0.84 - 0.99 endomorfia; 0.94 - 0.99 mesomorfia e 0.89 - 0.99 36 ectomorfia), provavelmente devido à maior homogeneidade deste grupo relativamente às crianças não activas. De forma semelhante, também Parizkova e Carter (1976 cit. por Bell, 1993) comparando um grupo de crianças menos activas com um outro de maior grau de actividade, encontraram consistentemente maior aumento na endomorfia e diminuição na ectomorfia. Numa revisão de estudos efectuada por Malina e Bouchard (1991), as correlações encontradas revelam uma razoável estabilidade na ectomorfia e variação na mesomorfia e endomorfia nos rapazes, entre o início e o final da adolescência. Os somatótipos médios por fotoscopia variam pouco de idade para idade em rapazes, apenas se constatando uma pequena tendência por volta dos 13 anos para um ligeiro incremento em mesomorfia (Malina & Bouchard, 1991). Carter (1980) chama-nos a atenção para o cuidado que deve ser posto na análise da estabilidade do somatótipo durante a infância e adolescência, principalmente quando são utilizados valores médios referenciados à idade. Na opinião do autor, apesar de algumas crianças permanecerem relativamente estáveis no seu somatótipo, a maioria varia consideravelmente e poderá acabar por possuir um somatótipo adulto bem diferente do de criança. Daí resultará que, embora a realização da análise do somatótipo através da média dos grupos de idade pareça demonstrar apenas pequenas diferenças com o crescimento, de facto esta média poderá ser o resultado de grandes alterações dos elementos individuais que no seu conjunto eventualmente se anulam. Um outro factor a ter em conta na comparação de resultados deverá ser a forma de 37 obtenção do somatótipo, nomeadamente por fotoscopia ou por diferentes determinações do somatótipo antropométrico de Heat-Carter. Em conclusão, embora o papel representado pela morfologia corporal seja evidentemente apenas um dos apectos que influenciam a performance desportiva (Laska-Mierzejewska, 1980), pode fornecer-nos alguns critérios objectivos para a avaliação da performance motora do jovem, nomeadamente do ponto de vista prospectivo (Carter, 1988). 2.9. Composição corporal As proporções relativas da massa magra e massa gorda, embora diferentes para rapazes e raparigas durante a maior parte da vida, são dinamicamente dependentes do nível de desenvolvimento (Parizkova, 1973). Duma forma geral, os estudos apontam que a gordura corporal limita a performance na maior parte das actividades motoras (Corbin, 1980a), especialmente quando está em causa a habilidade de movimentação de todo o corpo (Hensley & East, 1982) Variados estudos demonstram que a composição corporal é um factor que afecta a prestação de várias medidas de aptidão física e motora (Cureton, Boileau & Lohman, 1975a; Cureton, Boileau, Lohman & Misner, 1977; Cureton, Hensley & Tiburzi, 1979; Slaughter, Lohman & Misner, 1977; Pate, Slentz & Katz, 1989; Laska-Mierzejewska, 1980; Maia, 1990). 38 Hensley e East (1982), num estudo envolvendo crianças pré-pubertárias dos sete aos dez anos, encontraram correlações negativas da gordura corporal avaliada pela soma das pregas adiposas, com as performances testadas (salto vertical, salto em comprimento sem corrida preparatória, flexões na barra modificadas, corridas de 40 e 400 jardas), embora apenas no teste de flexões na barra modificadas, uma quantidade importante da variação registada (20%) seja explicada pela gordura corporal. Os mesmos autores adiantam que a %FAT é frequentemente mencionada como um factor biológico responsável pela variação da performance em testes físicos, nomeadamente quando é requerida aceleração horizontal ou deslocamento vertical do corpo. Por exemplo, nos movimentos de lançar, Telama e Kiviaho (1966 cit. por Holopainen et al., 1984) não registaram diferenças entre alunos obesos e com peso normal . As vantagens e desvantagens dos valores de gordura corporal tornam-se mais evidentes nos casos em que todo o corpo está envolvido num deslocamento de apreciável distância. Parizkova (1973) diz-nos que a composição corporal, pela sua interacção significativa com o “turnover” energético, está intimamente relacionada com as capacidades funcionais do organismo, sendo portanto de considerável consequência na avaliação da aptidão física das crianças e adultos. Cureton, Boileau e Lohman (1975a) demonstraram que a composição corporal afecta os resultados obtidos no teste AAHPERD, e Gutin et al. (1978, cit por Corbin, 1980a) encontraram relação significativa entre os valores de composição corporal e o VO2 máx. 39 Pate et al. (1989) observaram que as correlações entre a adiposidade subcutânea medida pelo adipómetro e os resultados encontrados em testes de aptidão física, embora estatisticamente significativas, são relativamente pequenas, pelo que sugerem a inclusão de uma medida de composição corporal como componente independente na avaliação da aptidão física. Ao contrário da massa gorda, a percentagem de massa magra parece influenciar de forma positiva a prestação motora. Mercier, Mercier, Granier, Le Gallais, e Préfaut (1992) num estudo efectuado com crianças, demonstraram que o incremento da potência anaeróbica maximal, determinada pelo teste de força-velocidade de pernas, está relacionado de perto com características antropométricas, especialmente a FFM. Corbin (1980a) refere que, contrariamente à tese de que a criança fica mais magra à medida que cresce, a criança típica aumenta o tecido adiposo com a idade. Complementarmente, Malina e Bouchard (1991), relativamente aos rapazes, afirmam que a % FAT aumenta gradualmente até cerca do início do salto pubertário (11-12 anos) declinando progressivamente a partir daí. Opinião compartilhada por Rauh e Schumsky (1968) e Haschke (1983, cit. por Brodie, Atkinson, Buckler, Burkinshaw, Laughland & Reed, 1989) e Sobral (1992c) quando afirmam que em termos de composição corporal, a tendência durante o salto pubertário é para um incremento da massa magra e redução complementar da percentagem de gordura. 40 Heald (1966, cit. por Corbin, 1980a), referindo-se aos problemas da obesidade, relata que existe evidência convincente de que a obesidade juvenil persiste até à idade adulta. Relativamente à estabilidade dos valores de composição corporal ao longo do período da adolescência, Malina e Bouchard (1991) dizem-nos que as correlações entre a FFM aos 11 e 15 anos e aos 11 e 18 anos, são moderadamente altas e comparáveis às encontradas para a estatura e o peso. Em três grupos de rapazes cumprindo diferentes programas de actividades físicas (treino regular, treino moderado e sem treino) Parizkova (1974, 1977, cit. por Malina & Bouchard, 1991) não encontrou diferenças significativas na FFM dos 11 aos 18 anos de idade, o que parece indicar uma relativa independência deste parâmetro quanto aos efeitos do treino em idades de crescimento acentuado. Existem de facto modificações em locais específicos (nomeadamente hipertrofia muscular localizada), mas não são suficientes para influenciar marcadamente os valores globais de FFM. Já no que diz respeito aos valores de FAT e %FAT, os mesmos autores referem que as correlações entre a pré e a pós-adolescência são geralmente pequenas, embora Binkhorst, Kar e Vissers (1984) e Brodie et al. (1989) tenham verificado, em média, uma estabilidade ao longo de um período entre os onze e os dezanove anos. Conclui-se então que a determinação da adiposidade não é tão estável como a da FFM durante a adolescência. A medição da massa magra e massa adiposa durante o processo de crescimento, apresenta alguns problemas derivados sobretudo do processo de 41 maturação química dos tecidos da criança, o que aconselha cuidados na utilização dos métodos de determinação da composição corporal, bem como a necessária precaução nas constatações de estudos realizados com diferentes processos de medição. Como exemplo, Slaughter, Lohman, Boileau, Stliman, Van Loan, Horswill e Wilmore (1984) encontraram diferenças significativas na relação entre pregas adiposas e densidade corporal na pré-puberdade, puberdade e adolescência. Estas conclusões têm importantes implicações na determinação da composição corporal, já que se não forem tidas em linha de conta as mudanças na densidade da FFM ao longo do processo de crescimento, a estimativa da %FFM através de equações que apenas levam em linha de conta a densidade corporal tende a sobrestimar a gordura corporal na criança e alterar a relação aparente entre as pregas adiposas e a %FFM na criança (Slaughter, Lohman, Boileau, Horswill, Stllman, Loan, e Bemben, 1988). 42 Quadro 3 - Valores de percentagem de massa gorda e peso de massa magra registados em diversos estudos, com crianças do sexo masculino e respectivos processos metodológicos utilizados. Autores Cureton & Warren (1990) Fomon, Haschke, Ziegler & Nelson (1982) a Processos metodológicos Pregas adiposas (Lohman, 1986) Amostra Idade %FAT Illinois 11 17.4 (5.4) K40 França Mercier, Mercier, Le Gallais & Préfaut (1992) Pregas adiposas (Durnin & Rahaman, 1967) Slaughter, Christ, Stillman & Boileau (1991) Pes. hidrostática Mineral ósseo Slaughter, Christ, Stillman & Boileau (1991) TBW (natação) densitometria (luta) fórmula de Siri controlol Pregas adiposas cross country Shephard, Jones, Ishii, Kaneko & Olbrecht (1969) c densitometria fórmula de Siri Parizkova (1968) c densitometria Sady, Thomson, Savage & Petratis (1982) Mayers & Gutin (1979) b fórmula de Siri densitometria fórmula de Siri 10.5 27.96 11 32.1 11.4 15.4 (6.2) 32.0 (7.3) 11.4 13.9 (4.8) 34.3 (7.3) 13.3 (3.1) 27.5 20 (5.4) 28.3 10.5 15.8 26.8 Toronto (Canadá) 10-12 15.8 crianças muito activas 11 17.8 11 17.5 11 16.6 11 19.5 9-12 24.1 10 (0.9) 18.7 crianças pouco activas Wilmore & McNamara (1974)c FFM Califórnia Slaughter, Lhoman & Misner (1977) c K40 10 (1.6) 22.4 Forbes (1978) c K40 10.7 16.8 Mota (1988) Pregas adiposas Boileau et al (1985) Porto 24.8 Mota (1989) Pregas adiposas Boileau et al (1985) Porto 11.1 (1.7) 30.4 (1.9) a cit. por Sady, Thomson, Savage & Petratis (1982) cit. por Boileau, Lohman & Slaughter (1985) c cit. por Lohman (1986) b 43 Os mesmos autores, usando três tipos de estimativas para determinar a % FAT (a partir da densidade corporal apenas, da densidade e quantidade de água e da densidade, água e mineral ósseo), encontraram diferenças sistemáticas entre os resultados atribuídos para prépubescentes e pubescentes por cada um dos métodos. O facto de as estimativas de massa gorda obtidas pela conjugação da medição da densidade, água e mineral serem bastante semelhantes entre os grupos de pós-pubescentes e adultos parece indicar que a FFM deverá alcançar a maturidade química apenas nestas idades. Nos grupos pré-pubescentes e pubescentes a %FFM demonstrou ser mais facilmente previsível pelas pregas adiposas. Esta constatação deve-se sobretudo ao facto de as equações recomendadas para a predizer a partir das referidas pregas com crianças e jovens levam de facto em consideração a imaturidade química e um método de aproximação à composição corporal por multicomponentes, produzindo assim estimativas reais (Slaughter et al., 1988). Quando no decurso da nossa pesquisa pretendemos realizar um apanhado dos resultados encontrados em outras populações, com o objectivo de posteriormente comparamos com os nossos, deparamos com algumas limitações, não só quanto ao número de estudos encontrados abrangendo específicamente esta idade, mas também decorrentes das dificuldades já enunciadas de estimação das diferentes componentes de composição corporal antes do final da puberdade. Optamos ainda assim por referenciar os estudos en- contrados, indicando especificamente o processo metodológico utilizado para a estimação das diferentes componentes (quadro 3) 44 2.10. Aptidão física A aptidão física, ou pelo menos a expressão da condição física, é sem sombra de dúvidas um dos principais requisitos associados à performance motora, já que constitui pressuposto condicional para a execução das actividades ou movimentos com êxito. Seja na avaliação do rendimento específico das diferentes modalidades desportivas, seja na óptica da proficiência motora associada ao desenvolvimento, seja na visão mais generalizada do rendimento motor global, os índices de aptidão física têm sido um dos factores tradicionalmente mais estudados pelos autores. Também as capacidades de trabalho das futuras gerações, são, segundo Barabás (1989), parcialmente determinadas pela sua aptidão física, predita pelo estado biológico e morfológico da criança de hoje. No entanto, diferentes actividades expressam-se por diferentes características de aptidão, como bem sabem os estudiosos do treino desportivo e da selecção e detecção de talentos. Dum ponto de vista da expressão global do rendimento, a aptidão física é normalmente tomada como um todo, expressão ou pressuposto suficiente para o desenvolvimento alargado da motricidade. Exemplo disso mesmo é a ampla utilização das baterias de aptidão física ou dos seus testes constituintes, quer em estudos de crescimento, quer em associação com o domínio particular de habilidades ou movimentos, quer na sua relação com características antropométricas, quer ainda como factor de avaliação preditiva de determinado rendimento desportivo. 45 Ao longo dos tempos os estudiosos deste campo têm procurado identificar factores (à semelhança do factor g de inteligência) que, porque correlacionados com variadas tarefas motoras usualmente utilizadas para avaliar a prestação ou performance físico-motora, permitam a aglomeração de um constructo avaliativo da aptidão ou do valor físico. O trabalho clássico de Fleishman, em 1964, é disso mesmo ilustrativo, tendo permitido identificar factores específicos da aptidão física e reforçado o conceito emergente da sua multidimensionalidade. Quadro 4 - Exemplos de algumas das baterias mais utilizadas, de testes de aptidão física. Bateria Organização Ano Youth Fitness Test American Alliance for Health, Physical Education and Recreation 1957 1976 Fitness Performance Test Canadian Alliance for Health, Physical Education and Recreation 1966 Health Related Physical Fitness Test American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance 1980 FITNESSGRAM Institute for Aerobics Research 1987 Physical Best American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance 1988 Eurofit Conselho da Europa 1988 Caracterização do Adolescente Escolar Português Instituto Nacional dos Desportos 1981 FACDEX Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física do Porto 1992 Como resultado directo desse tipo de investigação, têm vindo a ser construídas e utilizadas em larga escala e em diferentes partes do mundo, 46 inúmeras baterias de testes de aptidão física das quais apresentamos alguns exemplos no quadro 4. Nos últimos tempos, e intimamente relacionadas com as preocupações de rastreio e controlo dos factores da aptidão física associados à saúde, surgiram não só novas versões em algumas baterias de teste (“Health Related Physical Fitness” e Eurofit), mas essencialmente um novo conceito de avaliação da aptidão física relacionada com os critérios mínimos referenciados à saúde (FITNESSGRAM e “Physical Best”). Encarada sob o ponto de vista da análise individualizada dos testes que as compõem, muitas das baterias utilizadas para a avaliação da aptidão física, embora incluam testes relacionados com os mesmos factores, poderão parecer bastante diferentes na sua concepção e objectivos. No entanto, se encaradas na sua globalidade (como expressão de um perfil) é possível apercebermo-nos das suas coerências internas. A aptidão física deve então ser entendida não só numa perspectiva multidimensional, mas também de interactividade entre todas as suas subdimensões ou componentes na produção do desenvolvimento físico completo (Corbin, 1991), apesar da inexistência de estudos de validação da estrutura interna das inúmeras baterias poder levantar problemas à sua dimensionalidade e, sobretudo, à descrição, interpretação e inferência dos resultados encontrados (Maia, 1995). 47 Um conceito mais recente de aptidão física é aquele que a apresenta na sua relação com a saúde, extravasando assim o âmbito da performance motora, qualquer que ela seja. A aptidão física pode ser vista como um conglomerado de componentes somáticos, motores e comportamentais, sendo estes componentes interdependentes, por sua vez parte de um sistema social de acção generalizada (Renson et al., 1980). Assim, embora a aptidão física esteja mais directamente condicionada pela hereditariedade e por componentes orgânicas e comportamentais, é também afectada por valores culturais, normas e símbolos. Sobral (1994) diz-nos que as respostas motoras que traduzem os níveis dos diversos factores condicionais também são, em situação de prestação simples ou complexa (implicando tecnicidade e mestria), elementos sobre os quais a selecção opera desde as etapas mais precoces de formação dos jovens. Esta opinião pode ajudar a esclarecer a razão pela qual os factores da aptidão física relacionados com a saúde ( health related fitness ), apresentam normalmente antes dos doze anos, um grau de evolução na performance inferior aos factores da aptidão física relacionados com as habilidades ( skills related ), provavelmente devido ao maior valor social dado a estes últimos, bem como à falta de qualquer esforço planeado para melhorar os primeiros (o que requer níveis de participação mais intensa e sistemática) (Corbin, 1980b). 48 Quadro 5 - Resultados referidos em diversos estudos nas diferentes provas constituintes da bateria da AAHPERD, com crianças de onze anos de idade. Valores apresentados em média e desvio padrão, mediana (percentil 50) ou referência critério. Autores População Hunsicken & Reiff (1980) a Safrit (n. pub.) a E.U.A. (Milwaukee) SC ABD PUP SR SHR 50j 157.22 2.6 11.0 8.2 (21.84) (2.8) (1.1) (0.8) 143.6 2.8 8.28 (19.2) (2.91) (0.74) Ellis, Carron & Bailey Saskatchewan child 169.42 39.4 (1975) growth and (14.99) (10.5) 9MIN development study Malina (n.pub.) a 149.94 (16.8) Keogh (1964) a 168.91 Cureton & Barry (1964) a (17.27) Manno & Merni (1987) 152.4 Itália jovens praticantes Barabás (1989) Hungria Sobral (1989) Açores Marques et al (1992) Duarte (1994) 165.6 26.7 (19.25) (6.02) 143 (18) 153.4 25 (16.6) (7.7) Portugal (Porto) 153.3 37.4 25.3 jovens praticantes (31.2) (8.9) (4.9) Madeira 154.0 33 22.9 (13.6) (8.15) (5.92) AAHPERD (1980) E.U.A. 157 37 CAHPER (1966) a Canadá 124.9 29 Hansom (1965) a E.U.A. Minnesota 154.94 27 Brown (n. pub.) a 147.32 Hardin & Ramirez (1972)a 139.7 FITNESSGRAM ** 2 25 10.9 8.0 12.2 8.4 1577 8.2 8.4 30 1 a cit. por Roche & Malina (1983) Os números em itálico referem-se ao percentil 50 49 Ao sumariarmos no quadro 5 os resultados de alguns estudos, tivemos a preocupação de fornecer indicações que nos parecem relevantes quanto à proveniência da amostra, bem como das suas características. As referências recolhidas são apresentadas em valores de média e desvio-padrão, de percentil 50 ou de valor de referência critério (no caso do FITNESSGRAM). É ainda conveniente referir que em alguns casos os valores são fruto da transformação do sistema de medida (pés em centímetros, por exemplo) e noutros foi necessário a relativização do valor zero da escala de medida (no teste de sit-and-reach nem todas as baterias apresentam o mesmo valor no mesmo nível de medida). 2.11. Conclusões Ao finalizar este ponto da revisão da literatura relativo aos factores associados à expressão da performance motora na criança, interessa resumir algumas das principais conclusões a reter: • Os níveis de desenvolvimento e performance evidenciados pelas crianças são potencialmente dependentes das características herdadas dos seus progenitores, mas dependem das condições reais do envolvimento para a sua expressão plena. As condições de vida familiares, a educação, a aprendizagem e o treino, constituem de facto os elementos preponderantes de desenvolvimento dos traços genéticos, assumindo um papel de preponderante importância no estudo do desenvolvimento e prestação motora ao longo das etapas de crescimento. 50 • Os ritmos diferenciados de maturação proporcionam, por si só, vantagens ou desvantagens decisivas na diferenciação das características associadas ao rendimento motor. Pode-se, para além disso, esperar que estas diferenças se acentuem no período de rápida aceleração do crescimento determinado pelo salto pubertário, pelo que qualquer comparação inter-individual realizada neste período deverá sempre ser devidamente referenciada à idade biológica dos indivíduos. • As pressões do envolvimento são determinantes na evolução das manifestações da performance ao longo da vida. Torna-se assim primordial, para a compreensão mais avalizada da sua expressão, conhecer as características do envolvimento social, desde as condições sócio-económicas da família, às de interacção educativa e às possibilidades de movimento. A enorme quantidade de indicadores referenciados pelos autores neste campo, bem como a sua, por vezes, completa oposição de resultados, leva-nos a concluir pela necessidade de caracterização específica de cada população ou nicho ecológico para melhor compreensão das complexas interacções existentes. • A importância do ambiente de encorajamento familiar para a prática de actividades físicas e desportivas - elemento fundamental na moldagem dos gostos e preferências das crianças - é bem notória na grande relação encontrada pelos autores entre a prática desportiva de pais e filhos, com especial relevância em atletas de alto nível. O alargamento do âmbito deste encorajamento a pessoas significantes (professores, amigos, 51 modelos) cumpre um papel cada vez mais relevante à medida que a criança cresce e se envolve cada vez mais em acontecimentos sociais. • As oportunidades de prática durante a infância revelam-se de extraordinária importância na determinação, presente e futura, do ritmo de desenvolvimento motor, favorecendo a funcionalidade orgânica e motora, bem como moldando o entendimento da actividade física como um valor a preservar ao longo da vida. • A motivação ou empenhamento colocado pela criança na prática da actividade física (factor primordial para o sucesso da sua participação) é influenciado por fenómenos tão diversos como a comparação social com os seus pares, a percepção do próprio sucesso e o encorajamento dos pais e pessoas significantes. • O facto de o sucesso do desempenho motor poder estar relacionado em determinados momentos com ritmos de maturação diferenciados, levanos a inferir do cuidado que é necessário colocar na avaliação desse mesmo sucesso pelos elementos intervenientes na educação motora da criança, de forma a obstar à eventual desmobilização desta no processo. De qualquer forma parece-nos natural que boas condições individuais de desempenho motor, normalmente associadas ao tamanho e morfologia, possam influenciar o nível de motivação e vice-versa, o que, se não entendido e corrigido poderá levar ao perpetuar das diferenças. • Vários autores apontam uma relação evidente entre a estatura e o ren- 52 dimento motor, no entanto, especialmente em idades pré-pubertárias, esta relação não é linear. Já no que diz respeito à forma corporal no seu conjunto, torna-se evidente a associação da componente muscular com o sucesso da actividade motora, bem como a relação negativa com a deposição de massa adiposa. Quando utilizado a técnica do somatótipo para o estudo de populações de crianças activas, confirma-se exactamente a importância da componente mesomórfica, normalmente associada a uma lineariedade características desta faixa etária. Um outro factor importante a salientar, diz respeito à reduzida variabilidade de valores na distribuição dos somatótipos em populações de jovens atletas, o que nos leva a concluir da grande utilidade deste processo na avaliação do desenvolvimento morfológico e motor do jovem. • Sabe-se hoje que as proporções relativas de massa magra e massa gorda são dinâmicamente dependentes do nível de desenvolvimento, constituindo um factor que afecta a performance de várias medidas de aptidão física e motora. A massa gorda é frequentemente apontada como um factor biológico responsável pela variação da performance em variadíssimas situações do âmbito motor, tornando-se mais evidente nos casos em que o corpo está sujeito a um deslocamento de apreciável distância, a uma aceleração horizontal ou a um deslocamento vertical. Ao contrário, a massa magra parece influenciar de forma positiva a prestação motora. • Os níveis de diversos factores condicionais são elementos sobre os quais 53 a selecção opera desde as etapas mais precoces de formação dos jovens, já que a sua relação com o sucesso em situações de prestação simples ou complexa, é evidente. • Apesar dos estudos realizados apontarem a evidente importância dos níveis de aptidão física para o sucesso do desempenho motor, sentimos dificuldades evidentes na recolha de dados relativos a idades prépubertárias, principalmente na Europa e especificamente no nosso país. Por outro lado, a restrição da análise a uma ou outra prova, não permite concluir do perfil completo da aptidão física do indivíduo, problema que é agravado pela especificidade dos valores relativamente à actividade desportiva praticada. Apesar disso, a referência dos parâmetros normais e dos valores percentílicos, podem-nos dar uma visão comparativa importante para a determinação das vantagens e/ou desvantagens para os níveis de performance evidenciados durante determinada fase de desenvolvimento. • Em conclusão, e para que se possa procurar entender na sua plenitude, as condições de desenvolvimento propícias à expressão actual e futura de níveis elevados de performance motora, torna-se imprescindível equacionar todos os factores enunciados, já que só na sua interacção os resultados se tornam verdadeiramente relevantes. 54 3. O papel da Escola no processo de desenvolvimento e avaliação da performance Na instituição escola a formação de base representa um domínio de formação autónomo, insubstituível e relativamente complexo, devendo cumprir uma função de desenvolvimento da competência motora e desportiva fundamental em todos os alunos (Knappe & Hummel, 1991; Marques, 1991; Sobral, 1992a). Por outro lado, e principalmente nestas fases etárias, a escola deve ser colocada no centro das avaliações, o que pressupõe a utilização de procedimentos simplificados de avaliação da performance motora e a valorização da observação pedagógica, desempenhando um papel de qualificação e de selecção adequado à necessidade de não sobrevalorizar aspectos parciais da aptidão desportiva. (Knappe, & Hummel, 1991; Marques, 1991). Interpretando a complexa organização das estruturas sociais da Educação Física e do Desporto, Bento (1985) comenta que esta significa também um sistema hierárquico de realizações e organizações no qual a escola e o clube local corporizam a estrutura primeira. Aqui, cada um é treinado, observado, analisado e interpretado. Segundo Thieb (1989, cit. por Marques, 1991) as crianças do ensino básico devem ser avaliadas pelo professor de Educação Física para ver se em função da participação na aula obrigatória de Educação Física se manifestam as capacidades desportivas necessárias para a participação, com êxito, nas tarefas do treino de base. Opinião compartilhada por 55 Racev (1989 cit. por Marques, 1991), Seefeldt (1988) e pelo próprio Marques (1991, 1993) quando defendem que o método mais racional para a detecção e selecção de novos desportistas é a observação directa nas aulas de Educação Física e Desporto realizadas pelos professores. Desde há muito tempo se aceita que as habilidades perceptivas de alguns especialistas podem estar ligadas ou associadas a adaptações próprias do treino dessas habilidades. Pilotos, polícias, xadrezistas, programadores de computadores e radiologistas, são algumas das populações estudadas e nas quais se evidenciaram diferenças na habilidade de percepcionar factores críticos de avaliação das situações específicas de cada actividade com o treino / experiência (Franks, 1993). Pouco estudos têm examinado as habilidades perceptivas da observação de especialistas no campo motor ou desportivo; no entanto, têm sido realizadas inúmeras investigações fundamentadas na opinião ou juízo valorativo do especialista desportivo (principalmente na área da detecção e selecção de talentos) e do professor de Educação Física (Pimentel, 1991; Dimas, 1992). Por sua vez, Maia (1994) ao sugerir que a análise das tarefas fundamentais a realizar pelos indivíduos, no âmbito da actividade proposta, deverá ser uma das referências fundamentais a utilizar para uma definição de performance que ofereça alguma consistência conceptual e operacional, aponta, entre outros, o recurso ao painel de peritos e aos questionários específicos, como solução corrente e apropriada. É de facto necessário que o professor domine um conjunto de conhecimentos relativos ao processo de desenvolvi- 56 mento e aprendizagem humanos, que o capacitem a observar e interpretar as diversas variáveis relativas ao percurso normal do desenvolvimento motor da criança e do adolescente, bem como as respectivas características de invariância (Neto, 1985) Sobral (1990) vem juntar a este conceito a ideia de que, nas sociedades desenvolvidas, a escolarização cobre virtualmente toda a população infantojuvenil, pelo que a escola se apresenta naturalmente como o espaço onde se reúnem os recursos de índoles várias, cabendo à sociedade identificá-los e promovê-los tendo em vista a sua máxima expressão. Nenhum investigador dos processos de avaliação desportiva tenta predizer o sucesso da performance motora antes do envolvimento da referida criança em actividades físicas e respectiva observação, sobretudo porque no processo de avaliação e eventual selecção, a qualidade hereditária por si só é pouco significativa, apenas se evidenciando através do envolvimento na actividade. Os índices de diferenciação do rendimento (entre eles os de performance motora) determinados pelo código genético, mesmo quando em presença de valores de estabilidade relativamente elevados, apenas se deverão ter em conta no diagnóstico e prognóstico em relação com a idade biológica, o tempo de treino, o processo de socialização e a observação pedagógica final (Harsany, 1987; Seefeldt, 1988; Tschiene, 1986). O rendimento e a capacidade de render constituem categorias didácticas das mais importantes na Educação Física e nos desportos (Bento, 1987). A escola afirma-se então, claramente, como um espaço privilegiado para 57 desempenhar o papel da avaliação da performance motora, não só porque permite abranger nas suas fases iniciais a mais vasta base de população juvenil, mas sobretudo porque lá se encontra o profissional que, pela sua formação e sensibilidade para as exigências motoras e pela sua posição estratégica no processo, está mais do que ninguém bem colocado para exercer tal função: o professor de Educação Física (Marques, 1991, 1993). Esta ideia ganha ainda maior consistência se nos lembrarmos que, a concepção de performance motora que temos vindo a sugerir, extravasa aquela que é normalmente adoptada nos processos organizados de detecção e selecção de talentos desportivos (DSTD). Objectivando um pouco mais esta nossa opinião, podemos dizer que o sucesso dos modelos de DSTD assenta não só na possibilidade de identificação precoce de indicadores de rendimento futuro em áreas específicas do domínio desportivo, mas, sobretudo na optimização plena (por vezes extrema) dessas condições individuais, quantas vezes à custa de uma desumanização e elitização crescente. Para além de todas as diferenças - metodológicas e mesmo ideológicas eventualmente existentes, todos (ou quase todos) os processos utilizados na DSTD apontam como principal vector orientador da sua intervenção o alto rendimento desportivo, específico de uma dada modalidade e necessáriamente exclusivo, eliminatório na sua essência, logo à partida e ao longo do tempo. As grandes vantagens da utilização do meio escolar e dos profissionais da Educação Física num processo similar, poderão ser , na nossa opinião: 58 • A adequação da avaliação da performance motora aos níveis e ritmos diferenciados de desenvolvimento da criança; • O alargamento dos objectivos do rendimento, actual e futuro, a um leque muito maior de actividades do domínio desportivo, não condicionando assim à partida a sua intervenção a domínios ou modalidades demasiado específicas; • O carácter inclusivo da prática da Educação Física, que possibilita não só a não exclusão precoce de crianças do processo de formação desportivo, mas também uma mais correcta orientação do mesmo, já que o ecletismo da prática aliado à menor pressão de decisão poderá potenciar uma escolha própria mais criteriosa pela criança, e mais consciente e humanizada pelo professor. É esta visão pedagógica, científica, mas sobretudo humanizada, que pensamos poder colher da participação dos professores de Educação Física nestes momentos iniciais do processo de orientação e formação desportivomotora. 59 Objecto do Estudo Objecto do Estudo Partindo do conjunto de ideias e conhecimentos expressos no capítulo anterior, onde se procurou: • dimensionar uma perspectiva de performance motora associada ao desenvolvimento; • definir aspectos caracterizadores dessa performance passíveis de utilização para uma avaliação diagnóstica e prognóstica pelos condutores do processo de formação; • apontar indicadores específicos, normalmente associados à diferenciação efectiva dos níveis de rendimento em várias idades; e • perspectivar a importância do professor de Educação Física, no processo de formação e orientação desportiva, também ao nível da avaliação (detecção) inicial; definimos como nossa intenção de trabalho, verificar a coerência sistémica da actuação deste conjunto de ideias ou pressupostos. Este estudo procura ser essencialmente um trabalho exploratório em que a validação da opinião do professor de Educação Física, enquanto sujeito responsável de um processo inicial de condução e orientação do rendimento físico-desportivo na escola, será realizada através de métodos indirectos de 60 Objecto do Estudo avaliação de alguns parâmetros relativos ao desenvolvimento e performance motora dos seus alunos. 4. Objectivo Constituirá objectivo geral deste trabalho verificar se a diferenciação resultante da escolha realizada pelos professores de Educação Física em ambiente escolar, relativamente ao desempenho motor evidenciado por crianças do sexo masculino de onze anos de idade, se adequa à comparação das características de índole sócio-familiar, somáticas e de aptidão física, usualmente associadas à diferenciação da performance motora, durante esta fase de desenvolvimento da criança. 5. Enunciado do problema Da apresentação inicialmente realizada resulta o nosso problema de estudo: Será que crianças pré-pubertárias, do sexo masculino, consideradas como evidenciando os melhores níveis, num conjunto de características associadas à performance motora generalizada, pelos respectivos professores de Educação Física, se diferenciarão também positivamente quanto aos indicadores sócio-familiares, somáticos e de aptidão física, normalmente relacionados a níveis superiores de 61 Objecto do Estudo prestação desportivo-motora ? Este problema básico, extraordinariamente complexo, é passível de subdivisão em questões mais objectivas e operacionalizáveis. Em primeiro lugar coloca-se a questão da comparação e diferenciação entre os pares: Será que as crianças, resultantes da escolha dos respectivos professores de Educação Física, se diferenciam dos seus pares relativamente aos indicadores sócio-familiares, somáticos e de aptidão física a estudar ? Uma vez respondida esta questão pela positiva, restará complementá-la relativamente ao objectivo pretendido e ainda no âmbito da população em causa: Será que as diferenças evidenciadas nos vários indicadores são suficientes ou de molde a, individualmente ou no seu conjunto, poderem reforçar e validar a classificação expressa pelos professores ? Por último interessará a integração dos resultados e conclusões retiradas no âmbito de uma questão mais alargada e prospectiva: Será que as características sócio-familiares, somáticas e de aptidão física registadas nas crianças escolhidas pelos professores, são de 62 Objecto do Estudo molde a podermos esperar destas um melhor comportamento para o rendimento actual e futuro, no que diz respeito às actividades físicas e desportivas ? 63 Objecto do Estudo 6. Definição das variáveis de estudo De forma a testar as questões colocadas, foram definidas as seguintes variáveis de estudo: • Variável Independente - Nível de desempenho motor generalizado, segundo a avaliação dos professores. • Variáveis Dependentes - Características sócio-familiares (estatuto sócio-económico, nível de escolaridade dos pais, tipo de habitação familiar, espaços envolventes à residência, número de pessoas por assoalhada, número de irmãos, ordem de fratria e passado desportivo dos pais), características somáticas (altura, peso, percentagem de massa gorda, massa magra e somatótipo) e características de aptidão física (medidas pelas provas pertencentes à bateria da AAPHERD - “Health related physical fitness test”). 64 Métodos e Procedimentos Métodos e Procedimentos O design experimental deste trabalho consiste essencialmente na constituição de dois grupos de alunos, escolhidos pelos respectivos professores de Educação Física, segundo critérios apontados pelos autores da especialidade como adequados à avaliação da performance motora em crianças. Os dois grupos foram então comparados entre si nos vários indicadores dos domínios sócio-familiar, somático e de aptidão física. 7. Processo de selecção dos professores de Educação Física A escolha dos professores de Educação Física, a quem foi solicitada colaboração neste trabalho, obedeceu a critérios mínimos de habilitação académica (licenciatura), profissional (professores do quadro de nomeação definitiva) e de experiência profissional (três anos completos de serviço docente no 2º CEB). Foram inquiridos todos os professores que, cumprindo estas condições, leccionavam turmas do 1º ano do 2º CEB numa das cinco escolas existentes no perímetro urbano de Viana do Castelo (Escola Preparatória Pedro Barbosa, Escola Preparatória Frei Bartolomeu dos Mártires, Escola C+S de Viana do Castelo, Escola C+S Pintor José de Brito e Escola C+S de Darque). Como resultado, participaram neste estudo nove professores, sendo cinco 65 Métodos e Procedimentos do sexo feminino e quatro do sexo masculino, apresentando uma média de idades de 34.5 anos, e de tempo de docência de 11.3 anos (Anexo G). 8. Processo de selecção da amostra de alunos 8.1. Critérios de escolha da amostra total de alunos Os critérios que presidiram à constituição da amostra total de alunos foram a idade (nascidos em 1983, possuindo portanto uma idade compreendida entre 10.5 e 11.5 anos decimais), o sexo (masculino) e o nível de maturação (pré-pubertário). Para a determinação deste último critério foram consideradas no nível pré--pubertário as crianças situadas nos estádios G1 e G2 da escala de desenvolvimento genital de Tanner (1962), conforme sugerido por Maia e Vicente (1988) e Slaughter et al. (1988). A avaliação deste critério foi realizada através do método de auto-classificação dos alunos perante fotografias da escala de Tanner, segundo os procedimentos sugeridos por Mascie -Taylor e Boldsew (1987), e Matsudo e Matsudo (1994). A constituição dos grupos foi realizada, como será referido posteriormente, segundo a diferenciação efectuada pelos professores relativamente aos dotes motores evidenciados pelos alunos ao longo do ano, nas tarefas da disciplina de Educação Física. 66 Métodos e Procedimentos A escolha destes três critérios, mutuamente exclusivos, justifica-se: • Pela necessidade de assegurar que todos os indivíduos testados se situavam num período pré-pubertário, procurando assim eliminar os efeitos da maturação nas variáveis em estudo; • Pelo interesse normalmente demonstrado pelos autores da especialidade no estudo desta idade (Sobral, 1994; Nadori, 1987, 1983; Tschienne, 1986; Malina, 1988; Marques, 1993; Neto, 1982; Maggil, 1988; Hahn, 1989; Knappe e Hummel, 1991; Maia, 1994), relativamente às possibilidades de prognose ou predição do rendimento desportivo-motor; • Pela facto de nesta idade as crianças serem normalmente confrontadas com o primeiro momento sistemático e organizado de actividades físicas; • Pelo facto de esta idade ser usualmente apontada como período ideal de iniciação na prática desportiva, o que faz dela um primeiro momento importante no processo de detecção de talentos. 8.2. Critério de diferenciação do nível de desempenho motor dos alunos O conceito que presidiu a este critério é reconhecidamente difícil de objectivar e consensualizar entre os vários professores. Pretendemos mesmo assim correr o risco de o utilizar, já que a possibilidade de participação do professor de Educação Física na fase inicial do processo de avaliação das qualidades motoras evidenciadas pelos seus alunos, constitui um dos objectivos centrais deste trabalho e da nossa própria convicção. 67 Métodos e Procedimentos Procurando minimizar eventuais divergências existentes, foi construída uma escala de avaliação baseada nas cinco categorias comportamentais anteriormente apresentadas aquando do ponto da revisão da literatura em que a noção de performance motora foi equacionada (pág. 10). Relembramos aqui que a congregação da opinião de diversos autores (Nadori, 1987, 1983; Tschienne, 1986; Malina, 1988; Marques, 1993; Sobral, 1994) levou à determinação de cinco grandes factores ou categorias que, pelo grau da sua expressão particular na criança, nos poderão permitir distinguir diferentes níveis de aptidão motora, adequados à avaliação da performance neste período etário: 1. A capacidade de aprendizagem motora; 2. A amplitude do reportório motor; 3. A capacidade de adaptação a novas e variadas situações de solicitação motora; 4. O grau de correcção na execução de técnicas e habilidades motoras decorrentes das aprendizagens desportivas; 5. A criatividade demonstrada na superação das dificuldades das tarefas propostas Cada uma dessas categorias foi dividida em quatro níveis possíveis de avaliação, sendo definidos os comportamentos relativos aos dois níveis extremos (Quadro 6). As vantagens da utilização de um instrumento de avaliação aberto na determinação do nível de rendimento motor - passe embora toda a possível crítica de falta de rigor - parecem-nos evidentes dadas as características sui generis de desenvolvimento da criança a que é necessário 68 Métodos e Procedimentos atender. Isto mesmo ficou bem patente na opinião dos autores quando, por um lado, reforçam a necessidade de entendimento complexo da interacção entre as exigências físicas, motoras, perceptivas, sociais, emocionais e intelectuais que constituem uma base multifactorial da performance (Maia & Vicente, 1988; Malina, 1988b, Sobral, 1994); chamam a atenção para o processo e conceito equívoco de identificação precoce de talentos motores, através da determinação infalível de indicadores ou características fiáveis, prenunciadoras do sucesso desportivo futuro (Nadori, 1987; Sobral, 1994) e esclarecem a importância da observação sujeita às características generalizadas (e menos deterministas e/ou determinadas) de uma proficiência motora adaptativa (ou disponibilidade motora), essa sim prenunciadora de um possível êxito futuro (Neto, 1982; Nadori, 1987; Sobral, 1994; Hahn, 1982; Tschienne, 1986; Marques, 1993). Quadro 6 - Escala de avaliação proposta aos professores para classificar os respectivos alunos. NÍVEL SUPERIOR NÍVEL INFERIOR O aluno demonstra grande facilidade na aprendizagem de novas habilidades, técnicas ou comportamentos motores. O aluno demonstra grande dificuldade na aprendizagem de novas habilidades, técnicas ou comportamentos motores. O aluno utiliza correctamente um reportório muito variado de comportamentos motores. O aluno denota grandes insuficiências no seu reportório motor. O aluno demonstra grande capacidade de adaptabilidade do seu comportamento motor a situações novas ou estímulos da aula. O aluno demonstra dificuldades na adaptabilidade do seu comportamento motor a situações novas ou estímulos da aula. O aluno interpreta/utiliza correctamente a grande maioria ou a totalidade das técnicas e habilidades ensinadas na aula. O aluno denota dificuldades na execução da grande maioria das técnicas e habilidades ensinadas na aula. O aluno demonstra criatividade nas soluções motoras utilizadas para ultrapassar situações de dificuldade. O aluno denota dificuldades na elaboração de soluções motoras para ultrapassar situações de dificuldade. 69 Métodos e Procedimentos São exactamente as características dessa chamada disponibilidade motora que, por impossibilidade de definição exacta, mensurável, nos levaram à opção por este instrumento de avaliação mais aberto, menos rigoroso talvez, mas, do nosso ponto de vista, mais adequado à realidade, ou ao indeterminismo da realidade infanto-juvenil. Os professores foram esclarecidos rigorosamente sobre o significado dos termos mais importantes utilizados na escala de avaliação, sendo-lhes pedido que situassem individualmente os seus alunos, do sexo masculino e nascidos em 1983, num dos níveis de cada uma das cinco categorias, de acordo com as seguintes instruções: • A classificação dos alunos em cada uma das categorias deverá dizer respeito ao desempenho motor evidenciado ao longo do ano e das diferentes actividades das aulas de EF, e não particularmente de um qualquer momento ou actividade. • O mesmo critério ou bitola de avaliação deverá ser mantido de aluno para aluno e de turma para turma. • As características individuais a levar em linha de conta na classificação dos alunos apenas deverão dizer respeito ao domínio motor, excluindo toda e qualquer afinidade com os aspectos afectivos e/ou disciplinares. Constituiu critério de inclusão no grupo A (alunos distinguidos pelos professores como apresentando melhores níveis de desempenho motor), o posicionamento pelo respectivo professor no nível mais elevado em todas as 70 Métodos e Procedimentos categorias da escala de avaliação. De entre os restantes alunos foram sorteados os pertencentes ao grupo B, num total de 40 crianças. 8.3. Constituição final da amostra de alunos No seu conjunto os nove professores inquiridos leccionavam 20 turmas, abrangendo um total de 145 alunos cumprindo os critérios de sexo e idade propostos. Quadro 7 - Síntese do conjunto de escolas, professores, e alunos participantes no estudo. Escola Professor Turma nº alunos * Grupo A Grupo B SM 1 A 11 2 3 B 8 1 4 C 5 1 3 D 9 1 3 E 6 0 0 F 4 1 2 G 7 1 3 3 H 7 2 3 4 I 7 2 3 J 11 0 0 K 8 2 3 L 3 0 0 M 3 0 0 6 N 6 1 3 FB 7 O 11 2 3 VC 8 P 6 0 0 Q 7 0 0 R 6 0 4 S 10 0 0 T 2 0 0 U 8 2 3 20 145 18 40 2 PB 5 D Totais 9 9 * nº de alunos do sexo masculinos e nascidos em 1983 existentes na turma. 71 Métodos e Procedimentos Os resultados da selecção resultante da análise realizada pelos professores é mostrada no quadro 7. Do total de alunos escolhidos inicialmente para constituição da amostra (18 - grupo A ; 40 - grupo B ) foram excluídos seis por ausência de dados em alguma das variáveis testadas e cinco por se encontrarem em níveis de maturação superiores ao pretendido, ficando a amostra final de alunos assim constituída: Grupo A - Dezassete crianças pré-pubertárias do sexo masculino, apresentando uma média de idade decimal de 11.1 e desvio padrão de 0.30 anos e consideradas pelos respectivos professores no nível mais elevado de todas as categorias comportamentais da escala de avaliação. Grupo B - Trinta crianças pré-pubertárias do sexo masculino, apresentando uma média de idade decimal de 11.0 e desvio padrão de 0.27 anos e não consideradas pelos respectivos professores no nível mais elevado pelo menos em uma das categorias comportamentais da escala de avaliação. Cabe ainda aqui registar uma particularidade comum a todas as crianças testadas, que foi a de nenhuma apresentar no seu passado qualquer prática regular de uma qualquer actividade física sistemática e orientada, quer na escola (1º ciclo), quer num clube. Esta característica constituía inicialmente um dos indicadores a estudar, mas pela sua completa ausência resolvemos referenciá-la neste momento. Para melhor entendimento esclarece-se que, por prática sistemática e orientada, se entendeu a participação em sessões 72 Métodos e Procedimentos organizadas, com frequência mínima bi-semanal durante um período nunca inferior a três meses. 9. Variáveis em estudo 9.1. Variáveis somáticas As variáveis somáticas em estudo neste trabalho foram a altura, o peso, a composição corporal e o somatótipo. A sua determinação exigiu o recurso a procedimentos de mensuração e cálculo que passamos a explicar resumidamente. 9.1.1. Medidas antropométricas 9.1.1.1. Fidelidade das medidas Todas as medições foram efectuadas pelo mesmo observador. O controlo dos erros de observador foi realizado em dois momentos: • o primeiro decorreu durante a fase de treino do observador, através da execução repetida das medidas a dez crianças com idades semelhantes às da amostra a testar; • o segundo momento aconteceu concomitantemente com a realização das sessões de mensuração aos alunos da amostra e consistiu na repetição de todas as medidas de um indivíduo escolhido aleatoriamente por grupo 73 Métodos e Procedimentos de testagem, num total de 15 crianças. As diferenças encontradas entre a primeira medida e a sua réplica não ultrapassaram em nenhum dos casos os limites de tolerância sugeridos por Sobral (1985) para qualquer uma das medidas tomadas. 9.1.1.2. Condições de observação Todas as medidas, com cada grupo de testagem, foram realizadas na primeira sessão de observação. Por ser impossível manter condições precisamente semelhantes de horário, local, humidade, espaço, etc., na mensuração de todos os alunos, optamos por observar e manter algumas regras e procedimentos com o intuito de minimizar essas diferenças e que passamos a descrever: • Todas as sessões foram realizadas pelo menos duas horas após a última grande refeição; • A ordem de execução das medidas foi sempre igual em todos os grupos de testagem. • Os grupos de testagem possuíam um número semelhante de alunos; • As observações decorreram sempre em local sossegado (balneário ou sala de apoio médico), de temperatura amena e isolado de outros elementos. • A execução das medidas foi precedida de explicação simplificada acerca 74 Métodos e Procedimentos do seu objectivo e, por vezes, de demonstração no observador (pregas adiposas), de forma a não criar receios nas crianças. 9.1.1.3. Técnicas de mensuração As técnicas de mensuração utilizadas foram as descritas por Lohman, Roche e Martorell (1988), que passamos a descrever sucintamente. Todas as medidas que exigiam a determinação de um dos lados foram tomadas no lado direito. 1. Altura (ALT) Medida entre o vértex e o plano de referência do solo, utilizando um antropómetro e segundo a técnica descrita por Lohman et al. (1988). O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 2. Peso (PESO) Medido com a criança envergando apenas calções. O registo fez-se com aproximação aos 200 gramas. 3. Prega adiposa tricipital (SKTRC) Prega vertical medida na face posterior do braço, a meia distância entre os pontos acromial e radial. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 4. Prega adiposa subescapular (SKSBC) Prega oblíqua para fora e para baixo, localizada no vértice inferior da omoplata. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 75 Métodos e Procedimentos 5. Prega adiposa supra-ilíaca (SKSUP) Prega oblíqua localizada sobre a crista ilíaca e no cruzamento desta com a linha axilar média. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 6. Prega adiposa geminal (SKGEM) Prega vertical medida na face interna da perna, ao nível da maior circunferência. Registada com aproximação ao milímetro. 7. Perímetro braquial em contracção (PBRc) Medido no ponto de maior circunferência do braço com a criança em contracção máxima efectuada com oposição do braço esquerdo. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 8. Perímetro geminal (PGEM) Medido ao nível da maior circunferência da perna com a criqnça em pé e com o peso repartido por ambos os apoios. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 9. Diâmetro bicôndilo-umeral (DBCH) Medido entre o epicôndilo e a epitróclea com o braço a 90o e a face dorsal da mão virada para o observador. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 10. Diâmetro bicôndilo-femoral (DBCF) Medido entre os pontos mais salientes dos côndilos femorais, com a criança sentada sem apoio dos pés. O registo fez-se com aproximação ao milímetro. 76 Métodos e Procedimentos 9.1.1.4. Material utilizado Durante as mensurações antropométricas foram utilizados: o antropómetro de Martin na medição da altura, uma balança portátil electrónica Salter na medição do peso, o compasso de pontas rombas na medição dos diâmetros e um plissómetro Slim Guide nas pregas adiposas 9.1.2. Composição corporal Para a obtenção da percentagem de massa adiposa (%FAT) foram utilizadas duas fórmulas propostas por Slaughter et al. (1988) para indivíduos prépubertários do sexo masculino e raça caucasiana. Estas fórmulas utilizam a soma de duas pregas de adiposidade subcutânea (tricipital e subescapular) e são utilizadas distintamente consoante essa mesma soma atinge ou não o valor de 35 mm: < 35 mm - %FAT= 1.21 (SKTRC + SKSBC) - 0.008 (SKTRC + SKSBC)2 - 1.7 > 35 mm - %FAT= 0.783 (SKTRC + SKSBC) + 1.6 9.1.3. Somatótipo A determinação das três componentes do somatótipo de Heat & Carter foi realizada segundo o procedimento proposto por Fragoso e Vieira (1994). 77 Métodos e Procedimentos 9.2. Variáveis de aptidão física Os valores das variáveis de aptidão física foram obtidos através da realização dos testes pertencentes à bateria da AAHPERD, “Health-Related Physical Fitness Test” (1980). A escolha desta bateria deveu-se : • à reconhecida validade, fidelidade e confiança que lhe é atribuída na testagem do perfil de aptidão física com crianças e jovens; • à sua ampla utilização que associada à existência de regras explícitas de admnistração e de tabelas normativas, assegura a possibilidade da comparação com outros estudos realizados; • à sua facilidade de execução em ambiente escolar, quer pelo material e espaços necessários, quer pela utilização de exercícios ou movimentos cuja execução é tradicionalmente familiar aos alunos, o que facilita a compreensão e correcção das regras de execução. As regras de execução, bem como as de mensuração e registo, foram as descritas pela AAHPERD (1980). Todos os procedimentos relativos aos testes foram assegurados pelo mesmo observador (ou observadores quando o teste assim o exigia), tendo sido estes anteriormente treinados na função. Embora os testes tenham sido realizados em momentos e locais distintos (diferentes escolas), foram observadas e mantidas algumas regras e procedimentos que passamos a descrever: 78 Métodos e Procedimentos • Todos os testes foram realizados pelo menos duas horas após a última grande refeição; • Foram utilizados dois momentos de testagem para cada grupo, correspondentes às duas aulas semanais de Educação Física. No primeiro momento foram realizadas as provas de pull-up, shuttle run e a de abdominais em 60 seg.. No segundo momento tiveram lugar os testes de salto em comprimento sem corrida preparatória, sit-and-reach, corrida de 50 jardas e corrida de 9 minutos. • A ordem de execução dos testes foi sempre igual em todos os grupos de testagem. • Os grupos de testagem possuiam um número semelhante de alunos. • As condições materiais foram semelhantes de escola para escola e adequadas à execução dos diferentes testes (nomeadamente os solos e trajectos a cumprir), não se tendo registado nenhuma situação em que aquelas condições prejudicassem ou alterassem consistentemente os resultados. Quando tal aconteceu, pontualmente, foi permitido ao aluno prejudicado a repetição da tentativa. • A explicação e demonstração de cada teste, bem como a explicitação clara do seu objectivo e as formas de encorajamento, foram mantidas em todas as sessões de testagem. 79 Métodos e Procedimentos 9.2.1. Descrição dos testes As descrições seguintes constituem apenas um resumo das características mais importantes de realização de cada um dos testes efectuados, bem como das suas condições específicas de realização. Uma descrição mais pormenorizada é apresentada em anexo no final deste trabalho (Anexo F). Foi sempre dada antecipadamente uma instrução acerca da natureza e objectivos da prova a cumprir, sendo os alunos encorajados a realizar o seu melhor. 1. Salto em comprimento sem corrida preparatória (SC) A partir de uma linha traçada no chão o aluno deveria procurar saltar o mais longe possível, a pés juntos e sem corrida ou qualquer passo preparatório, fazendo uso de balanços dos braços. A saída do solo teria de ser simétrica e sem ultrapassar a linha traçada. O salto foi medido da linha marcada até ao ponto mais recuado de contacto com o solo. Foram permitidas três tentativas, sendo registada a melhor marca, arredondada ao centímetro mais próximo. Condições de realização Após ter sido demonstrada e explicada a execução desta prova, foi permitido aos alunos experimentarem algumas vezes o movimento com a correcção do observador. Todos os testes foram realizados em solos de boa aderência. Uma fita métrica foi colada no solo, perpendicularmente à linha de salto. O ponto 80 Métodos e Procedimentos mais recuado de contacto com o solo foi marcado com uma marca adesiva pelo observador e medida na fita com a ajuda de uma régua. Quando a perpendicularidade da medida oferecia dúvidas (por afastamento do ponto de medida à fita) foi utilizada uma segunda fita métrica para medir directamente da marca à linha de salto. 2. Sit-and-reach (flexão do tronco à frente sentado) (SR) Na posição de sentado, e sem sapatos, o aluno testado encostava os pés ao tampo da caixa de flexibilidade previamente colocada junto de uma parede. Conservando os joelhos sem flectir, os braços deveriam ser estendidos à frente com uma mão colocada sobre a outra, palmas para baixo, procurando alcançar a maior distância possível. O valor foi registado ao quarto movimento de flexão do tronco, devendo este ser mantido na posição máxima alcançada durante aproximadamente um segundo. Resultado registado com aproximação ao centímetro mais próximo. Condições de realização Após ter sido explicada e demonstrada a execução do teste, foi permitido experimentar duas vezes o movimento antes da execução. O observador ajudou à manutenção da extensão das pernas, mantendo uma mão sobre os joelhos do executante. O teste foi repetido sempre que se verificou alguma falta na execução 3. Shuttle run (corrida de vaivém) (SHR) Partindo duma linha marcada no chão, o aluno deveria ir buscar dois blocos 81 Métodos e Procedimentos de madeira (um de cada vez) colocados atrás duma segunda linha, paralela à de partida e marcada a 9.14 metros desta, no menor tempo possível. O primeiro bloco era colocado atrás da linha de partida (não podendo ser atirado) e o segundo transportado enquanto esta é cruzada, finalizando a prova. As vozes de partida foram “Prontos?” e “Vai”. Foram concedidas duas tentativas intervaladas por algum tempo de descanso, sendo registado o melhor tempo com aproximação a 0.1 segundos. Condições de realização A prova foi realizada por dois alunos ao mesmo tempo, tendo sido registada por um único observador, com um cronómetro tirando dois tempos. Este teste foi realizado sempre em pavilhão, com superfícies permitindo uma boa aderência. No entanto, quando se verificou algum problema de aderência, foi permitido ao aluno a repetição da tentativa. Foi realçada a necessidade de não diminuir a velocidade antes da transição da linha de chegada. Os alunos foram também informados de que, embora competindo dois a dois na prova, o pretendido não era a vitória sobre o companheiro mas sim a realização do melhor tempo possível. 4. Abdominais em 60 segundos (ABD) Aos alunos foi pedido que durante 60 segundos realizassem o maior número possível de movimentos de flexão abdominal. Na posição inicial o aluno foi colocado em decúbito dorsal sobre um colchão, joelhos flectidos, pés apoiados no chão e seguros por um colega, braços 82 Métodos e Procedimentos cruzados sobre o peito e mãos colocadas sobre o ombro oposto. O movimento deveria ser efectuado até ao contacto dos braços com as coxas (movimento ascendente) e até ao contacto das costas com o colchão (movimento descendente). Os braços deveriam ser mantidos cruzados junto ao peito e os calcanhares a uma distância de 30 a 45 cm das nádegas. Qualquer incumprimento de uma destas regras implicou a não contagem do movimento efectuado. Condições de realização O teste foi realizado individualmente, tendo sido utilizado um tapete de ginástica como superfície de teste. Após visualisarem a demonstração e experimentarem a execução foi-lhes explicado quais as faltas que implicariam a não contagem do movimento efectuado. O observador permaneceu ao lado da criança, contando em voz alta o número de execuções. 5. Corrida de 50 jardas (50J) O teste consistiu em percorrer, no mínimo tempo possível, uma distância de 50 jardas (45,73 metros). Os alunos colocados atrás da linha de partida iniciam a sua prova às vozes de “Prontos?” e “Vai”. Esta última voz foi acompanhada do abaixamento do braço do indivíduo que deu a partida, de forma a dar um sinal visual ao cronometrista que se encontrava junto da linha de chegada. Resultado registado com aproximação a 0.1 segundos. 83 Métodos e Procedimentos Condições de realização O teste foi realizado numa pista de velocidade pertencente às escolas. A cada indivíduo testado foi permitida apenas uma tentativa, após um período de aquecimento. Nos casos em que se verificou alguma anomalia no decorrer da prova, foi pedido à criança em causa que repetisse a mesma. A prova foi realizada por dois alunos ao mesmo tempo, tendo sido registada por um único observador, com um cronómetro tirando dois tempos. Os alunos foram encorajados a manterem o máximo de velocidade até transporem a linha de chegada. 6. Pull up (flexões de braço na barra) (PUP) O teste consistiu na realização do maior número possível de flexões de braço completas, suspenso de uma barra de metal. O aluno foi colocado em suspensão pelo observador, mãos em supinação, braços completamente estendidos. Foi contado o número de vezes que conseguiu elevar o queixo acima da barra. Não foram permitidos movimentos de balanço com as pernas . Condições de realização Foi construído um mecanismo que permitiu fixar uma barra aos espaldares, adaptando-a à altura desejada. Após explicação e demonstração do exercício pelo observador, o aluno foi encorajado a realizar o número máximo de flexões. Foi permitida apenas uma tentativa, excepto quando se verificou 84 Métodos e Procedimentos que algum factor anormal, ou a falta de entendimento do que era pedido, levou a que o aluno não tivesse tido uma prestação adequada. 7. Corrida de 9 minutos (9MIN) Foi pedido aos alunos que percorressem a maior distância possível durante o tempo de duração da prova (nove minutos). Os alunos foram instruídos do objectivo da prova e incentivados a realizá-la sempre em corrida. A partida foi dada às vozes de “Prontos?”, “Vai”, tendo sido dada indicação de minuto a minuto durante o decorrer da prova. Um apito marcou o final dos nove minutos, tendo sido pedido aos alunos que permanecessem no local onde se encontravam até este ser marcado pelos observadores. Quando alguma das crianças parava a corrida era incentivada a continuá-la, ou pelo menos a prosseguir em passo rápido. Condições de realização O teste foi realizado no espaço exterior da escola ou à volta de um campo de andebol, num trajecto sinalizado por quatro pinos. Cada prova foi administrada a um máximo de cinco e a um mínimo de três alunos de cada vez. A distância percorrida foi controlada e registada por dois observadores, com aproximação a 1 metro. 9.3. Variáveis sócio-familiares Com o intuito de recolher os dados relativos às variáveis sócio-familiares foram realizados dois inquéritos (Anexos 3 e 4). 85 Métodos e Procedimentos Inquérito 1 (Anexo C) Teve como propósito a recolha de informações relativas ao estatuto sócio-económico da família (profissão e habilitações), bem como da prática desportiva dos pais. Este inquérito foi entregue aos alunos que por sua vez os entregaram aos pais para preenchimento. Conjuntamente, aproveitou-se para informar os pais da realização e natureza deste estudo, bem como para solicitar a sua permissão para a inclusão dos filhos no mesmo. Inquérito 2 (Anexo D) Visando a determinação da dimensão da família, ordem de nascimento, tipo de habitação familiar, número de assoalhadas e espaço envolvente às habitações utilizado pelas crianças nas suas brincadeiras e práticas de tempos livres. Foi realizado através da inquirição de cada criança individualmente, sendo a anotação realizada pelo observador. Como verificação da correcção das informações prestadas pelas crianças, nomeadamente no que diz respeito ao espaço envolvente da habitação, procedeu-se à escolha aleatória de dez alunos cujas habitações foram posteriormente visitadas pelo investigador que verificou in loco a veracidade das mesmas. Em nenhum destes dez casos existiu a necessidade de proceder a qualquer alteração nas anotações realizadas, pelo que aceitamos a veracidade das mesmas, na generalidade. 86 Métodos e Procedimentos 9.3.1. Descrição das variáveis Foram estudadas as variáveis relativas ao estatuto sócio-económico (estatuto sócio-profissional dos pais, o nível de habilitação escolar dos pais e o número de pessoas do agregado familiar por assoalhada), ao espaço habitacional e envolvente ( tipo de residência e espaço envolvente utilizado pelas crianças), à prática desportiva familiar (dos pais e das crianças) e à fratria (ordem de nascimento e nº de irmãos). Para cada um destes conjuntos de variáveis foram utilizados vários níveis ou categorias de classificação, a saber: 1. Estatuto sócio-profissional As diferentes categorias foram construídas tomando como referência a primeira adaptação para Portugal da escala de Warner (1977). 2. Nível de habilitação académica Foram consideradas quatro categorias relativas à conclusão do 1º Ciclo (1ºC), 2º Ciclo (2ºC) e 3º Ciclo do Ensino Básico (3ºC) e à conclusão do antigo Curso Complementar / 11º ano de escolaridade ou superior (11º). 3. Nº de indivíduos do agregado familiar por assoalhada Foram levados em conta os valores individuais registados em cada família. 4. Tipo de residência A classificação desta variável foi dividida em cinco categorias: bairro residencial (vivenda ou casa geminada integradas num conjunto de residências 87 Métodos e Procedimentos do mesmo género), bairro habitacional (apartamento pertencente a uma urbanização contendo vários blocos ou prédios do mesmo tipo), prédio (apartamento pertencendo a um prédio ou bloco isolado), casa (vivenda ou casa rural isolada com pequeno espaço anexo), quinta (propriedade rural contendo casa de habitação e espaços amplos de lavoura e/ou pomares). 5. Espaço envolvente da habitação Foram consideradas quatro categorias relativas aos espaços existentes junto às habitações e que são utilizados pelas crianças nos seus tempos livres: ruas ou caminhos, jardins (públicos ou privados), espaços verdes (pinhais, pomares e campos de cultivo) e espaços livres (largos públicos, campos de futebol, polivalentes desportivos e grandes espaços descampados). 6. Ordem de nascimento As categorias foram construídas tal como habitualmente são descritas em trabalhos deste âmbito (Fragoso, 1988) em grupo dos primeiros filhos, grupo dos segundos filhos e grupo dos terceiros filhos ou seguintes. 7. Número de irmãos Foram levados em conta os valores individuais registados em cada família. 8. Prática desportiva dos pais Foram consideradas três categorias relativas ao passado desportivo dos pais: sem prática desportiva, quando nunca praticaram de uma forma sistemática nenhuma actividade física ou desportiva; com prática desportiva a nível federado e com prática desportiva não federada 88 Métodos e Procedimentos embora praticada de forma sistemática. 9. Prática desportiva das crianças (passada e presente) Relativamente a estas variáveis foi considerada a opção dicotómica para diferenciação das categorias com e sem prática desportiva. A prática desportiva passada refere-se à participação em actividades físicas ou desportivas orientadas, sistemáticas e prolongadas durante pelo menos seis meses, realizadas até ao presente ano lectivo. A prática desportiva presente refere-se ao actual ano escolar. 10. Processo de recolha de dados O processo de recolha de dados foi realizado segundo as fases e procedimentos seguintes: 1ª fase - Selecção dos professores de Educação Física convidados a participar neste estudo, segundo os critérios anteriormente apresentados, esclarecendo-os relativamente aos objectivos e à terminologia utilizada na escala de avaliação utilizada, no sentido de uniformizar os critérios de escolha inter-professores. 2ª fase - Constituição dos grupos de alunos a testar segundo as escolhas realizadas pelos professores e estabelecimento de contactos com as escolas para autorização da efectivação dos testes e medidas durante as aulas de Educação Física curricular. 89 Métodos e Procedimentos 3ª fase - Realização de ensaio metodológico, consistindo no treino dos observadores, testagem do material e condições de realização das provas nas diferentes escolas, bem como do tempo necessário à recolha de dados por grupo de crianças. 4ª fase - Recolha de dados propriamente dita, que decorreu durante todo o mês de Junho, tendo sido realizadas duas sessões de testagem por cada grupo de alunos, precedidas da entrega pelos professores da turma do inquérito nº 1 destinado aos pais. Na primeira procedeu-se à recolha das medidas antropométricas, à determinação do nível de maturação, ao preenchimento do inquérito nº 2 e à realização da primeira parte das provas de aptidão física. Na segunda sessão foram recolhidos os inquéritos nº 1 e realizados os restantes testes de aptidão física. 11. Procedimentos estatísticos de análise dos dados Para a descrição das diferentes variáveis foram utilizados os seguintes procedimentos estatísticos: • nas variáveis medidas em escala de razão, os parâmetros de tendência central (média, moda) e de dispersão (desvio-padrão, valores de limite mínimo e máximo) mais apropriados a cada caso, consoante as características de distribuição evidenciadas; • nas variáveis medidas em escalas nominais ou dicotómicas, os valores de 90 Métodos e Procedimentos moda e de frequência relativa. Os pressupostos de normalidade das distribuições foram testados através do teste de Kolmogorov-Smirnov (Anexos K), e os de homocedasticidade entre distribuições foram considerados caso a caso através do teste de Levene para a homogeneidade de variâncias (Anexos L,M e N). Para efeitos de comparação entre os dois grupos nas diversas variáveis foram utilizados: • o teste t de Student, quando em presença de duas distribuições amostrais cumprindo os pressupostos de normalidade e homocedasticidade exigidos; • o teste U de Mann-Whitney, quando em presença de duas distribuições amostrais não cumprindo os pressupostos de normalidade e homocedasticidade exigidos; • o teste do Qui-quadrado quando em presença de variáveis expressas em escala nominal ou dicotómica. Em todas as provas estatísticas os resultados foram considerados significativos quando p ≤ 0.05. Todos os cálculos foram realizados com o programa SPSS em versão para Windows. 91 Apresentação e discussão dos resultados Análise e Discussão dos Resultados Por razões que se prendem com a clareza pretendida na exposição dos resultados, optámos por congregar num mesmo capítulo a apresentação, análise e discussão exploratória relativa a cada grupo de variáveis (sóciofamiliares, somáticas e de aptidão física) reservando para o final a sua discussão conjunta em função do objecto de estudo. 12. Análise dos resultados das variáveis sócio-familiares Ao longo deste ponto vamos procurar expor os resultados encontrados nas diversas variáveis sócio-familiares pesquisadas, agrupadas em dois grandes conjuntos de indicadores: o estatuto sócio-económico e o encorajamento para a prática das actividades físicas. 12.1. Estatuto sócio-económico Na análise deste factor foram estudados vários indicadores, cuja utilização complementar nos poderá ajudar a caracterizar e compreender de forma mais adequada a posição relativa das famílias pertencentes a cada um dos grupos. Embora normalmente neste tipo de análise, nomeadamente na classificação dos níveis sócio-profissionais e habilitações académicas, se faça uso exclusivamente das características do pai ou chefe de família, optámos neste nosso trabalho por tratar as informações relativas a ambos os 102 Apresentação e discussão dos resultados progenitores. Esta opção deve-se sobretudo ao facto de, hoje em dia, normalmente o rendimento familiar ser (ou poder ser) assegurado pelos dois pais em conjunto, pelo que o tratamento exclusivo de um só poderá levar a perda de rigor na informação pretendida. Cada um destes indicadores ou variáveis foi analisado descritivamente, procurando características relevantes quer da população em geral, quer de cada uma das amostras em particular. Seguidamente procedeu-se à comparação entre grupos. Fazendo uso das provas estatísticas adequadas a cada um dos casos em estudo, testou-se a legitimidade estatística das diferenças ou semelhanças referenciadas na análise descritiva. Por último, procurou-se interpretar de forma complementar a informação relativa a cada uma das variáveis. 12.1.1. Nível sócio-profissional No estudo deste indicador foram interpretadas e classificadas as profissões de ambos os progenitores, segundo a primeira adaptação para Portugal da escala de Warner (1977). Dela resultam cinco escalões, correspondendo o primeiro (N1) ao nível sócio-profissional mais elevado (Anexo E). Realça-se, na análise global das distribuições encontradas (Anexo H), o facto de ter sido o escalão mais desfavorecido (N5) aquele que possuiu maior quantidade de pertenças de ambos os grupos, bem como a quase inexistência de indivíduos no nível mais elevado (apenas um registo no grupo B), pelo que 103 Apresentação e discussão dos resultados optámos por juntar os dois escalões mais elevados (N1 e N2), nesta nossa análise. 50% 45% Grupo A 48.3% Grupo B 39.4% 40% 35% 31% 30% 24.2% 25% 20% 24.2% 15.5% 12.1% 15% 10% 5.2% 5% 0% N5 N4 N3 N1+2 Figura 1 - Distribuição percentual dos pais das crianças de cada grupo pelos escalões sócio-profissionais da escala de Warner. Como se verifica facilmente pela imagem gráfica da figura 1, os pais do grupo A evidenciaram pertencer, em maior percentagem do que os do grupo B, aos escalões superiores (à excepção do N1) e em menor valor percentual aos níveis sócio-económicos mais desvantajosos, o que parece indicar uma tendência para a existência de melhores níveis sócio-profissionais nas famílias pertencentes às crianças do grupo A. Procurando testar estas hipotéticas diferenças, os resultados foram submetidos à prova do prova do Qui-quadrado 2 tendo sido encontrado um valor de χ = 2.667, associado a uma probabilidade exacta de p= 0.263, o que não nos permite concluir, duma forma significativa, da diferença entre o estatuto sócio-profissional das famílias pertencentes aos dois grupos. Gostaríamos no entanto de sublinhar que, devido a limitações de 104 Apresentação e discussão dos resultados rigor estatístico, fomos obrigados para o efeito a juntar os três escalões mais elevados (N1+N2+N3) (Anexo L), pelo que a perda de informação se tornou maior nesta análise. 12.1.2. Nível de escolaridade Relativamente à distribuição pelos quatro níveis de escolaridade prédefinidos (conclusão do 1º ciclo, 2º ciclo, 3º ciclo, curso secundário ou superior), constata-se que, para ambos os grupos, a maior percentagem de pais se situa na segunda categoria (42.4% - Grupo A e 39.7% - Grupo B). 42.4% 39.7% 45% Grupo A 40% 34.5% Grupo B 35% 30% 25% 21.2% 18.2%17.2% 20% 18.2% 15% 8.6% 10% 5% 0% 1ºC 2ºC 3ºC >11º Figura 2 - Distribuição percentual dos pais das crianças de cada grupo pelos níveis de escolaridade. Comparativamente, e como podemos verificar pela imagem da figura 2, existe uma grande semelhança percentual nas duas categorias intermédias, notando-se apenas uma diferença mais notória nas categorias extremas, com os pais do grupo A a terem concluído em maior percentagem um curso 105 Apresentação e discussão dos resultados secundário ou superior e em menor percentagem apenas o 1º ciclo do ensino básico. Na globalidade, os pais das crianças do grupo A parecem possuir maior nível de habilitação literária do que os do grupo B, no entanto, a tentativa de comprovação estatística de tal facto, através do método do Qui-quadrado (Anexo O), indica-nos a não significância do mesmo (χ = 2.889 ; p=0.409), pelo 2 que concluímos não existirem diferenças significativas no nível de habilitação literária entre os pais dos dois grupos. 12.1.3. Tipo de residência familiar Pretendia-se com o estudo desta variável reforçar a interpretação do estatuto sócio-económico da família. Pela análise dos dados apresentados na figura 3, coadjuvada pela observação aleatória que foi realizada a um total de dez residências familiares (para constatar da veracidade dos elementos fornecidos no questionário), parece-nos que o propósito não terá sido conseguido, sobretudo porque as características sócio-culturais da zona envolvente à cidade de Viana do Castelo originam, por vezes, uma camuflagem evidente dos dados recolhidos e que passamos a explicar. Grande parte dos alunos intervenientes neste estudo habita em zonas que, embora adjacentes à cidade, possuem características de ruralidade típica o que origina, por exemplo, a existência duma casa familiar independente, ou mesmo duma pequena quinta familiar, sem que tal possa ser interpretado como indicador de abastança sócio-económica (ao contrário do que normalmente acontece no 106 Apresentação e discussão dos resultados meio urbano). Por outro lado verificámos ainda, em alguns casos, que a designada “casa independente” pertencia a bairros de habitação social, destinados a famílias com poucos recursos. Conclui-se então que, neste meio, a análise sócio-económica da habitação familiar deverá ser realizada sobretudo através do estudo dos índices de salubridade e habitacionalidade, tal como é sugerido por Feio (1985). 70% 63.3% Grupo A 60% Grupo B 50% 41.2% 40% 29.4% 30% 20% 16.7% 11.8% 10% 13.3% 11.8% 5.9% 3.3% 3.3% 0% Quinta Casa B.Res. B.Hab Prédio Figura 3 - Distribuição percentual do tipo de residência familiar em cada grupo. Curiosamente, a distribuição dos tipos de habitação pelos dois grupos parece indicar alguma diferença urbano-rural entre as famílias dos dois grupos, já que se concordarmos que a utilização de apartamentos se restringe, nesta área, quase que exclusivamente ao espaço urbano e semi-urbano, o grupo A porque apresenta uma maior percentagem (41.2%) de famílias a residir em apartamentos do que o grupo B (16.6%) - parece conter maior número de agregados familiares a habitar em locais tipicamente urbanos. Esta leitura dos 107 Apresentação e discussão dos resultados dados é também concordante com algumas diferenças registadas no nível sócio-profissional e de habilitação académica dos pais, já que tradicionalmente nos meios urbanos se encontram valores mais elevados desses dois indicadores. 12.1.4. Nº de indivíduos por assoalhada O rácio do número de elementos do agregado familiar pelo número de assoalhadas da residência, fornece-nos um índice precioso relativamente ao estatuto sócio-económico familiar. Neste estudo, as famílias dos indivíduos pertencentes a ambos os grupos apresentam um valor médio idêntico (quadro 8). Quadro 8 - Valores mínimo e máximo, média, desvio padrão e comparação entre o número de indivíduos por assoalhada relativos às famílias dos dois grupos. Média DP Min Máx t Student Prob. Grupo A 1.15 0.316 0.6 1.7 0.82 0.419 Grupo B 1.04 0.516 0.4 3.3 Embora os valores de desvio padrão e de amplitude entre o valor máximo e mínimo encontrados pareçam indicar uma maior dispersão deste índice no grupo B, na realidade tal facto fica a dever-se apenas à existência de um único 108 Apresentação e discussão dos resultados indivíduo que se situa destacadamente com um registo bastante superior a todos os outros. Levando em linha de conta as recomendações de Feio (1985) de que duas pessoas por assoalhada constitui o limite crítico de salubridade na habitação, verificamos ainda que este mesmo indivíduo é o único em cuja família tal não acontece. A análise comparativa através do teste t de Student permite-nos reforçar a ideia de que não existem diferenças entre os dois grupos neste indicador. 12.2. Encorajamento para a prática de actividades físicas À semelhança do ocorrido na análise do estatuto sócio-económico, vários indicadores foram utilizados complementarmente no estudo deste factor, procurando perceber eventuais diferenças entre as características familiares e ambientais que poderão constituir motivo de encorajamento para a prática da actividade física. 12.2.1.1.1.1.Ordem de nascimento Quanto à ordem de nascimento, a maior parte dos alunos testados eram primeiros filhos (figura 4), apesar de no grupo A se registar um acréscimo de cerca de 10% sobre o grupo B em tal ocorrência. 109 Apresentação e discussão dos resultados 80% 76.5% Grupo A 66.7% 70% Grupo B 60% 50% 40% 26.7% 30% 17.6% 20% 5.9% 10% 6.6% 0% 1º filho 2º filho 3º> filho Figura 4 - Distribuição das percentagens das crianças dos dois grupos segundo a ordem de nascimento. Utilizando o teste do Qui-quadrado para testar as diferenças entre os dois grupos (devido à pouca frequência registada nas duas últimas categorias, fomos obrigados a recorrer à junção das mesmas) quanto à ordem de 2 nascimento, constatamos que, mais uma vez, os valores encontrados (χ = 0.1024 , p= 0.48) não nos permitem afirmar o carácter significativo das diferenças descritas (Anexo L). 12.2.2. Número de irmãos No presente caso, e como podemos perceber na figura 5, as crianças de ambos os grupos possuem maioritariamente pelo menos um irmão. Destacase , no entanto, o facto de 30% das crianças do grupo B (mais 18.2% do que as do grupo A) serem filhos únicos. 110 Apresentação e discussão dos resultados 80% 70.6% Grupo A 70% Grupo B 60% 63.3% 50% 40% 30% 30% 20% 17.6% 13.3% 11.8% 10% 3.3% 0% Único filho 1 irm ão 2 irm ãos 3 irm ãos Figura 5 - Distribuição das percentagens das crianças dos dois grupos segundo o número de irmãos existentes na família. Comparando o número de irmãos existentes através do teste t de Student encontramos uma probabilidade exacta de 0.455 (t= 0.75), não suficiente para afirmarmos a existência de diferenças entre os dois grupos. Restringindo a análise à comparação entre a existência ou não de irmãos na família, através do coeficiente de contingência (Anexo L), verificamos também não poder atribuir significado estatístico à diferença registada (χ = 0.2026; p= 0.155). 2 12.2.3. Espaço envolvente à habitação familiar Na análise dos espaços envolventes referidos pelas crianças como os normalmente utilizados nas brincadeiras e tempos livres, um dado que nos parece significativamente importante é o de que apenas uma criança, na totalidade dos testados, indicou não utilizar espaços livres exteriores à habi111 Apresentação e discussão dos resultados tação como local habitual de brincadeira. Isto permite-nos inferir que as condições de urbanização de Viana do Castelo e seus arredores ainda permitem (ao contrário das grandes cidades) bastante movimentação e liberdade às crianças nos seus tempos livres. Tal facto levou-nos a excluir a hipótese de confrontação entre a existência ou não de espaços livres nesta análise, passando a comparar unicamente a tipologia dos espaços referidos pelas crianças. 80% 70% Grupo A 70.6% Grupo B 60% 46.7% 50% 43.3% 40% 30% 29.4% 26.7% 29.4% 16.7% 11.8% 20% 10% 0% Ruas Jardins EVerdes ELivres Figura 6 - Distribuição das percentagens de crianças dos dois grupos que utilizam nas suas brincadeiras cada um dos espaços envolventes à habitação (o somatório das percentagens de cada um dos grupos excede os 100% devido ao facto de a mesma criança utilizar vários espaços) Os dados recolhidos parecem reforçar a ideia anteriormente exposta de alguma diferença na localização urbano-rural da residência familiar. De facto, as crianças do grupo B utilizam, em maior número percentual do que as do grupo A, jardins e espaços verdes nas suas brincadeiras de tempo livre 112 Apresentação e discussão dos resultados (figura 6), enquanto as do grupo A se diferenciam pela maior utilização de espaços livres (normalmente associados nas cidades aos largos públicos e polivalentes desportivos públicos e escolares). Sujeitos os resultados à comparação estatística do teste do qui-quadrado, 2 foi encontrado um valor de χ = 2.43 e uma probabilidade exacta de p= 0.487, insuficiente para afirmar como significativas as pequenas diferenças encontradas através da análise descritiva, na utilização de espaços envolventes para as brincadeiras diárias. 12.2.4. Passado desportivo dos pais A constatação que nos parece mais importante neste conjunto de dados, é que, independentemente do grupo, a maior parte dos pais (63.6% - 72.4%) nunca realizou qualquer prática sistemática de actividade física (figura 7). 80% 70% 72.4% Grupo A 63.6% Grupo B 60% 50% 40% 30% 18.2% 20% 18.2% 19% 8.6% 10% 0% S/Prt. N/Fed. Fed. Figura 7 - Distribuição das percentagens de pais das crianças dos dois grupos segundo o seu passado desportivo. 113 Apresentação e discussão dos resultados Na globalidade, e em termos percentuais, os pais do grupo A são aqueles que no seu passado mais estiveram envolvidos em práticas sistemáticas, situando-se esta diferença sobretudo ao nível das práticas não federadas, com 18.2% dos pais do grupo A a referirem tal facto, em comparação com apenas 8.6% do grupo B. A significância estatística desta diferença, no entanto, não se verifica quando interpretamos os valores de qui-quadrado encontrados para a comparar (χ = 1.8316 ; p= 0.4) (Anexo L). 2 12.3. Discussão dos resultados encontrados nas variáveis sócio-familiares Quando interpretados, os vários dados disponíveis relativos ao estatuto sócio-económico familiar não possibilitam a diferenciação explícita entre as famílias das crianças pertencentes aos dois grupos em análise. Apesar disso, as pequenas tendências já apontadas como emergentes em cada uma das variáveis - nomeadamente para os elementos do grupo A pertencerem a níveis sócio-económicos mais elevados, com pais portadores de melhor habilitação académica e residindo num meio mais urbanizado - poderão permitir na sua interacção conjunta pequenas diferenciações, cuja relevância só poderia ser verdadeiramente aquilatada se em presença de uma análise mais exaustiva, quer em número quer em informação. Da mesma forma, retirar destes dados possíveis ilações quanto às condições associadas à diferenciação do desenvolvimento e performance motora tal como elas são relatadas por diferentes autores, parece-nos fora de questão. 114 Apresentação e discussão dos resultados Quanto aos indicadores analisados relativos às condições de vida familiares que poderão constituir clima de encorajamento para a prática de actividades relacionadas com o domínio motor, também não é possível concluir de qualquer diferença substantiva entre os dois grupos. Apesar disso, e de forma similar à utilizada na análise dos aspectos sócioeconómicos, no conjunto dos indicadores analisados alguns aspectos poderão ser realçados tendo em conta o objectivo proposto, nomeadamente: • as condições mais propícias à interacção com os irmãos por parte do grupo A, caracterizadas por este grupo ser constituído por filhos únicos e 1º filhos em menor percentagem do que o grupo B, já que parece que a presença de outros irmãos na casa, e principalmente se mais velhos, poderá favorecer o processo de aquisição e estimulação motora. • a grande percentagem de pais pertencente a cada um dos grupos que nunca praticou qualquer tipo de actividade física regular ao longo da vida, o que torna praticamente indiferente qualquer tentativa de associação desta variável a um hipotético comportamento de encorajamento à prática da actividade física e desportiva. • a existência junto a todas as residências familiares dos componentes de ambos os grupos, de espaços livres exteriores utilizados pelas crianças em momentos de brincadeira, o que permite excluir a influência limitativa destes espaços na eventual determinação do comportamento da criança face às actividades físicas, sabido que é da sua importância neste âmbito do desenvolvimento, 115 Apresentação e discussão dos resultados 116 Apresentação e discussão dos resultados 13. Análise dos resultados das variáveis somáticas No decorrer desta análise vamos procurar evidenciar os resultados de cada grupo em cada uma das variáveis estudadas, bem como proceder à sua comparação, quer entre os grupos em presença quer com alguns valores de referência propostos. 13.1. Medidas antropométricas Tendo sido nossa pretensão explorar as diversas variáveis caracterizadoras do universo morfológico de forma integrada, construindo as nossas ilações à medida que mais dados vão sendo tratados em cada uma das variáveis, iniciámos a apresentação dos dados relativos às características somáticas com a análise da altura e do peso (Quadro 9), dois dos indicadores usualmente mais utilizados e de mais fácil acesso em estudos desta natureza. Quadro 9 - Valores de altura e peso registados nos dois grupos e comparação entre grupos. Altura Peso Grupo Média Desviopadrão A 143.64 B Mín Máx. prob. 4.07 136. 3 151.8 0.799 * 146.17 7.0 127. 4 156.0 A 35.21 4.10 27.4 42.2 B 40.37 9.76 25.8 71.2 0.0763 * * diferença não significativa Foi nossa preocupação no capítulo de revisão da literatura fornecer 117 Apresentação e discussão dos resultados alguns dados de referência de vários estudos consultados, relativos à idade pretendida, quer no âmbito nacional quer internacional (quadro 1, página 33), a que iremos agora recorrer para comparação com os resultados do presente estudo. 13.1.1. Altura Os valores encontrados para a estatura média dos dois grupos são bastante semelhantes ( XA = 143.64; XB = 146.17). Ao contrário, os valores de desvio-padrão revelam características muito diferenciadas da distribuição, com o grupo A constituindo uma amostra mais homogénea (DPA = 4.07) e o grupo B (DPB = 7.0) a comportar maior dispersão, ou seja, contendo valores extremos bem melhores (mais altos) e bem piores (mais baixos) que o primeiro grupo. Comparando com os valores encontrados em dois estudos extensivos realizados em Portugal na décadas de setenta e oitenta - Rosa (1973) em Portugal Continental e Sobral (1989) no arquipélago dos Açores - verificamos que a média de qualquer um dos dois grupos em estudo é superior, sendo de salientar sobretudo a diferença existente entre estes valores e os registados no mesmo distrito há cerca de dez anos atrás (135.6). Também Piedade (1977) e Mota (1989), estudando grupos mais reduzidos desta faixa etária encontraram médias estaturais inferiores às reportadas no nosso estudo. Relativamente a populações não portuguesas, e pela análise dos resultados apresentados no quadro já referido anteriormente, podemos constatar que as médias estaturais de ambos os grupos se situam dentro da margem de 118 Apresentação e discussão dos resultados variação dos valores descritos, com o grupo A a apresentar similaridades, nomeadamente com as crianças do Saskatchewan Growth Study (143.1) (Ellis, Carron & Bailey, 1975) e de Saskatoon (143.4) (Demirjian et al., 1976, cit. por Roche & Malina, 1983) no Canadá, e com os estudos realizados em Filadélfia (143.0) nos Estados Unidos da América por Malina, Mueller e Holman (1976) e a serem em média mais altos do que os jovens belgas e ingleses da mesma idade (137,7 e 141.4) referenciados por Hebbelinck e Borms (1984), Vajda, Borms, Duquet e Hebbelinck (1980) e Brodie et al. (1989). Por sua vez os rapazes do grupo B encontram-se entre os valores médios mais elevados registados pelos diferentes autores , sendo apenas inferiores aos relatados por Manno e Merni (1987) com jovens desportistas italianos (147.5), por Cureton e Warren em 1990 (148.4) e Slaughter, Christ, Stillman e Boileau em 1991 com jovens nadadores e não-nadadores (148.6, 147.2) no continente americano, tendo no entanto este último utilizado uma amostra com 11.4 anos de idade média. Devido à não existência de homocedasticidade entre as distribuições amostrais (diferenças provenientes exactamente das diferenças de variâncias e registadas através do teste de Levene) fomos obrigados a recorrer à técnica estatística não-paramétrica do U de Mann-Whitney para comparação entre duas amostras independentes. Os resultados verificados (U= 243.5; p= 0.799) indicam, como seria de esperar, não existirem diferenças significativas entre os dois grupos nesta variável. 119 Apresentação e discussão dos resultados 13.1.2. Peso Do tratatamento dos dados recolhidos nesta variável constatamos que os alunos do grupo B são, em média, mais pesados ( XB = 40.37) do que os do grupo A ( XA = 35.21), pertencendo-lhes também o maior valor de dispersão (DPA= 4.10; DPB= 9.76), indiciando assim, de forma semelhante ao que aconteceu relativamente à altura, a existência de crianças com pesos bastante mais afastados da média do que no grupo A. O peso médio do grupo A situa-se sensivelmente no centro do intervalo de valores apontados nos estudos referidos no quadro 1, que variam de 31.7, em crianças praticantes de Wrestling (Sady, Thompson, Savage & Petratis, 1982) a 39.9 em jovens nadadores norte-americanos (Slaughter et al., 1991), sendo semelhante ao verificado por Ellis et al. (1975) no Saskatchewan Growth Study, e superior aos valores referidos por Rosa (1973) quer para Viana do Castelo, quer para Portugal. No que diz respeito ao grupo B, os seus elementos apresentam um peso médio superior ao encontrado em qualquer estudo com crianças desta idade, apenas se aproximando das já citadas crianças norte-americanas, e das estudadas por Cureton e Warren em 1990 (39.5) e Manno e Merni em 1987 (39.86). Tal como na variável anterior, o não cumprimento dos pressupostos de homocedasticidade entre as distribuições amostrais, levou-nos à utilização do teste U de Mann-Whitney para comparar os dois grupos nesta variável (U= 175.0; p= 0.0763), tendo-se concluído pela não significância das diferenças. 120 Apresentação e discussão dos resultados 13.2. Composição corporal Estando conscientes das limitações da medida do peso corporal na análise associada ao rendimento, pela impossibilidade de caracterização das componentes corporais, obtivemos a medida da massa magra e de percentagem de gordura corporal, de acordo com a metodologia anteriormente exposta, obtendo os resultados expressos no quadro 10. Quadro 10 - Valores de percentagem de massa gorda e peso de massa magra registados nos dois grupos e comparação entre grupos. % FAT FFM Grupo Média Desviopadrão A 11.47 3.31 B 16.99 8.40 A 31.11 3.25 B 32.88 5.46 Mín Máx. prob. 0.0576 ** 0.229 * * t-Student ** U Mann-Whitney Quando pretendemos comparar estes valores com os verificados em outras populações deparámos com algumas limitações já referidas anteriormente mas que gostaríamos de relembrar, nomeadamente o número relativamente reduzido de estudos, por nós encontrados, abrangendo específicamente esta idade, agravado ainda pelas dificuldades já enunciadas de estimação das diferentes componentes de composição corporal antes do final da puberdade e pela multiplicidade de metodologias utilizadas. 13.2.1. Percentagem de massa gorda Os resultados obtidos indicaram a existência de maior quantidade percentual de FAT associada ao grupo B quando comparada com o grupo A, 121 Apresentação e discussão dos resultados constituindo este último um grupo bastante mais homogéneo. Estas características indicam que não será de esperar que pertençam à população representada pela amostra A indivíduos obesos, enquanto o mesmo não se poderá afirmar do grupo B. A média da %FAT apresentada pelas crianças do grupo A destaca-se pelo seu baixo valor quando comparada com outros estudos em análise, perto do valor mais baixo encontrado por Mota em 1989 (11.1). As crianças do grupo B situam-se, por sua vez, perto dos valores intermédios observados no quadro 3 (pág. 48), sendo similares aos citados por Cureton e Warren em 1990 (17.4) e Parizkova em 1968 com crianças de nível médio de actividade (16.6). Pertence ainda ao grupo B o valor de desvio-padrão mais elevado de todos os encontrados. De qualquer forma, a magnitude destas diferenças entre estudos deverá ser interpretada com cuidado devido aos diferentes procedimentos metodológicos utilizados, bem como à percentagem de erro que normalmente lhes está associada. Pela interpretação do resultado alcançado quando sujeitos os valores dos dois grupos ao teste U de Mann-Whitney (U= 169.5; p= 0.0576) concluímos que, embora grandes, não podemos afirmar a existência de diferenças significativas entre a percentagem de gordura corporal nos dois grupos. 122 Apresentação e discussão dos resultados 13.2.2. Massa magra Relativamente à massa magra, ambos os grupos apresentam valores bastantes semelhantes ( XA = 31.11; XB = 32.88) e relativamente próximos dos indicados nos estudos referenciados no quadro 3. Quando sujeitámos os valores dos dois grupos à comparação estatística através do teste t-Student (t=-1.22) comprovámos a não existência de diferenças significativas (p= 0.229). Se associarmos a similaridade entre os grupos nesta variável às diferenças médias registadas anteriormente nas variáveis Peso e %FAT, podemos constatar, sem sombra de dúvida, que as dissemelhanças na massa corporal entre os elementos dos dois grupos se situam sobretudo ao nível da componente adiposa, com os elementos do grupo B a apresentarem valores médios mais elevados. Esta constatação leva-nos a concluir, tomando em linha de conta a associação testemunhada pelos autores entre a performance motora e a ausência de excessos de massa adiposa, que as crianças do grupo A apresentam, no seu conjunto e de forma mais homogénea, características de composição corporal mais propícias ao desempenho optimizado de tarefas motoras do que as do grupo B. 13.3. Somatótipo Como podemos verificar pela distribuição dos seus elementos pelos 123 Apresentação e discussão dos resultados somatótipos, representada na figura 8, os elementos do grupo A distribuem-se exclusivamente por quatro categorias de somatótipo (meso-ectomorfos, mesomorfo-ectomorfos, ecto-mesomorfos e mesomorfos equilibrados), estando na sua maioria grandemente associados ao mesomorfismo (52.9% dos casos) e tendo como segunda componente em ordem de influência o ectomorfismo. Em nenhum dos casos se verificou a predominância principal ou secundária da primeira componente (endomorfismo). 40% Grupo A 35% Grupo B 30% 25% 20% 15% 10% 5% Mesoendomorfo Mesomorfoendomorfo Endomesomorfo Mesomorfo equ. Ectomesomorfo Mesomorfoectomorfo Mesoectomorfo 0% Figura 8 - Distribuição percentual das crianças de cada grupo pelas categorias de somatótipo. Por seu lado, os elementos do grupo B distribuem-se pela maior parte das categorias da somatocarta, desde o meso-ectomorfismo até ao mesoendomorfismo (como aliás seria de esperar), revelando uma concentração em categorias associadas à primeira componente relevantemente diferente do outro grupo (26.7% de indivíduos pertencem a somatótipos em que a endomorfia é a componente dominante ou possui o mesmo peso que a 124 Apresentação e discussão dos resultados mesomorfia), existindo mesmo alguns casos extremos em que o valor dessa componente ultrapassa os limites considerados normais. Assim, e como podemos verificar nas somatocartas (figuras 9 e 10), a variação dos somatótipos dos alunos do grupo A é bastante menor que os do grupo B, indicando características mais homogéneas entre os seus elementos, evidenciando robustez física e alguma associação à linearidade e excluindo qualquer associação à presença excessiva de massa adiposa. Comparando as diferentes características somatotípicas dos dois grupos com as descritas por diversos autores em populações juvenis, constata-se que os alunos do grupo A se assemelham às evidenciadas por jovens atletas, nomeadamente quando assentam prioritariamente (82.4%) numa distribuição entre as categorias ecto-mesomórfica, mesomorfa-ectomorfa e meso- ectomórfica (Carter, 1988; Bell, 1993) e quando evidenciam como componente dominante a mesomorfia (Carter, 1988; Boennec & Prevot, 1980; Bell, 1993; Malina, 1988). Para além disso, a maior percentagem de ecto-mesomorfos neste grupo poderá constituir informação relevante de análise se atentarmos que, segundo Stepnicka (1972, 1974, 1976 cit. por Carter, 1980), as crianças ecto-mesomórficas apresentam um melhor domínio motor e na opinião de Boennec (1980) é exactamente este somatótipo que caracteriza o desportista confirmado e em plena actividade. Também relativamente à variação dos somatótipos individuais, em cada grupo, se constata a relação evidente entre o sucedido no grupo A e o descrito pelos autores em populações de jovens envolvidos em actividades físicas e 125 Apresentação e discussão dos resultados desportivas quando afirmam que a variação dos somatótipos dos últimos é bastante limitada relativamente a não atletas da mesma idade e sexo (Clarke, 1971; Hebbelinck & Borms, 1978; Pariskova & Carter, 1976 cit. por Carter, 1988) e que quanto mais elevado for o nível desportivo menor a variação da distribuição do somatótipo (Carter, 1980). 18 15 12 9 6 3 0 -3 -6 -9 -12 -15 -18 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Figura 9 - Distribuição dos somatótipos das crianças do grupo A. 18 15 12 9 6 3 0 -3 -6 -9 -12 -15 -18 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 126 Apresentação e discussão dos resultados Figura 10 - Distribuição dos somatótipos das crianças do grupo B. Procurando verificar estatisticamente a diferenciação somatotípica entre os dois grupos através do teste do qui-quadrado, associámos categorias adjacentes na somatocarta, tentando reunir em cada grupo condições ou características semelhantes na sua associação à performance motora (Quadro 11). Quadro 11 - Agrupamento de categorias de somatótipos contíguas e respectivas percentagens de distribuição por grupo. Grupos somatótipos Categorias associadas Grupo A Grupo B "Ecto" Meso-ectomorfos Mesomorfos-ectomorfos 47.1% 16.7% "Meso" Ecto-mesomorfos Mesomorfos equilibrados 52.9% 30.0% 0% 53.3% "Endo" Endo-mesomorfos Mesomorfos-endomorfos Meso-endomorfos O valor de qui-quadrado encontrado foi de 14.181 que, porque associado a uma probabilidade exacta de p=0.0008, indicia a existência de diferenças muito significativas entre a distribuição das características somatotipicas nos dois grupos em presença, reforçando assim todas as nossas considerações anteriores. 13.4. Discussão dos resultados encontrados nas variáveis somáticas 13.4.1. Comparação entre os dois grupos Conforme foi posível verificar ao longo da análise realizada anteriormente, à medida que vamos avançando na multidimensionalidade da variável 127 Apresentação e discussão dos resultados estudada, vai-se tornando evidente a diferenciação entre os elementos dos dois grupos. De facto, associando as semelhanças encontradas em algumas das medidas directamente relacionadas com a massa corporal total (altura e FFM) com as diferenças que, apesar de não significativas, foram registadas noutras (peso e %FAT), logo se tornou clara uma evidente diferença de forma e composição corporal entre os elementos dos dois grupos. As particularidades mais salientes foram encontradas ao nível dos valores de massa gorda e de somatótipo, com os alunos do grupo A a possuirem regra geral menos massa adiposa e a serem mais mesomórficos e ectomórficos do que os seus pares do grupo B. Se relembramos as relações negativas evidentes entre a massa adiposa e diferentes prestações motoras (Corbin, 1975, 1980b; Cureton, Boileau & Lohman, 1975a, 1975b; Cureton, Boileau, Lohman & Misner, 1977; Slaughter, Lohman & Misner, 1977; Cureton, Hensley & Tiburzi, 1979; Hensley & East, 1982; Pate, Slentz & Katz, 1989; Laska-Mierzejewska, 1980; Maia, 1990), facilmente concluímos - não só pelos valores médios registados, mas também pela sua grande homogeneidade - que as características apresentadas pelas crianças do grupo A indiciam a efectiva possibilidade de associação com melhores registos de performance motora. Esta vantagem torna-se ainda mais evidente quando agrupadas as diferentes valências morfológicas sob a forma de somatótipo, com os alunos deste grupo, como já foi referido anteriormente, a demonstrarem, com bastante homogeneidade, características de lineariedade associada à robustez física idênticas às descritas pelos autores como propícias 128 Apresentação e discussão dos resultados ao desenvolvimento de rendimentos desportivos mais elevados. Também as diferenças de variação observadas nos dois grupos, com o grupo A a possuir em todas as variáveis parâmetros de dispersão muito inferiores aos do grupo B, ajudam a concluir da forte relação entre um perfil somático bem determinado no primeiro grupo e de uma relativa indiferenciação quanto às componentes somáticas no segundo. Como finalização da análise comparativa, podemos afirmar que neste conjunto de indicadores relativos ao universo morfológico é bem notória a distinção entre os dois grupos em presença, distinguindo-se a notável aderência do perfil somático das crianças escolhidas pelos professores, às características predominantemente relacionadas pelos autores com a exibição de níveis superiores de desempenho motor, quer na juventude quer na idade adulta. 13.4.2. Comparação com os valores de referência Quando comparamos as características somáticas dos alunos pertencentes ao grupo A com as descritas pelos autores como sendo mais apropriadas à prática de actividades físicas e desportivas, na sequência das questões colocadas no início deste estudo, verificamos que, no que diz respeito à estatura, o facto de os valores observados não se distinguirem , quer do outro grupo em presença, quer dos estudos apresentados, não nos permite retirar grandes ilações acerca da adequabilidade desta variável ao objectivo pretendido. Contudo, gostaríamos de relembrar que, embora a altura seja 129 Apresentação e discussão dos resultados muitas vezes referida como um dos primeiros factores de distinção entre populações de atletas e não atletas, este dado é obviamente relativo à especificidade de cada um dos desportos, assumindo mesmo formas opostas (por exemplo entre basquetebolistas e ginastas). Assim, a estatura, quer actual quer final, não poderia nunca possuir uma associação num único sentido com as propriedades de performance motora em causa neste estudo, pelo que a sua indiferenciação na amostra não é por si só conclusiva de qualquer ilação. Já relativamente ao peso da massa corporal total, e porque referenciado aos valores de estatura, o mesmo não pode ser dito. É sabido que a relação entre as características da massa corporal e a performance é evidente, e que apesar de o peso ser um medida perfeitamente indiscriminada dessa massa corporal, reflecte, quando associado à altura, uma associação negativa com a performance motora, sobretudo nos valores extremos. No caso presente, e dada a comparação quer com o grupo B, quer com os valores de referência citados, pensamos poder dizer que as características apresentadas nesta variável pelo grupo A em nada limitam as condições de prestação motora. Como é evidente, e reforçando o que já foi dito aquando da apresentação e análise dos resultados, a determinação da composição corporal permite aprofundar a análise relativa à massa corporal, e o que se verifica é que os elementos do grupo A se distinguem consistentemente pela baixa quantidade de massa gorda exibida. No plano de análise pretendido, e lembrando-nos das referências dos autores quanto às desvantagens dos valores de gordura corporal na realização das mais variadas tarefas motoras, torna-se evidente a 130 Apresentação e discussão dos resultados grande adequabilidade apresentada por todas as crianças do grupo A nesta matéria. Quando finalmente nos propusemos uma análise mais integrada de todos estes factores, através do somatótipo, rapidamente nos apercebemos nos perfis do grupo A das características que reconhecidamente predispõem a níveis distintivos de rendimento motor, reforçando assim as nossas anteriores ilações. 131 Apresentação e discussão dos resultados 14. Análise dos resultados das variáveis de aptidão física Neste ponto apresentamos os resultados encontrados nos dois grupos em cada um dos testes levados a efeito (quadro 12), bem como o valor da comparação estatística realizada entre os resultados dos dois grupos em análise, encetando ainda uma breve comparação com outros estudos realizados neste âmbito com crianças da mesma faixa etária. Quadro 12 - Médias, desvios padrão, valores de comparação e significância entre os resultados dos dois grupos nas diferentes provas da bateria da AAHPERD. Média Desvio Padrão Comparação Grupo A Grupo B Grupo A Grupo B valor p Signific. SC 163.12 148.80 11.49 16.45 0.003 sig. SR 22.88 23.80 6.07 7.10 0.657 não sig. SHR 10.69 11.28 0.58 0.48 0.000 sig. ABD 32.94 31.93 6.6 8.9 0.686 não sig. 50J 8.25 8.70 0.42 0.45 0.002 sig. PUP 1.53 1.07 2.1 1.7 0.3112 não sig. 9MIN 1805.88 1536.27 210.02 283.37 0.001 sig. Gostaríamos de realçar a dificuldade sentida nesta recolha de dados, devido sobretudo às idade das crianças em causa e às diferenças nas condições protocolares de realização dos testes ou das baterias. Este último factor constituiu aliás uma das limitações na análise e discussão dos resultados, já que pequenas diferenças existem em maior ou menor escala, de país para país, entre baterias de testes e dentro da mesma bateria ao longo do tempo (como é aliás o caso da que por nós foi empregue). 132 Apresentação e discussão dos resultados Estas limitações, aliadas à reduzida tradição na realização de estudos envolvendo a avaliação da aptidão física no nosso país e mesmo na Europa, provavelmente terão contribuído para a dificuldade por nós sentida na recolha de dados de referência próximos da nossa realidade. 14.1. Salto em comprimento sem corrida preparatória 190 180 170 Grupo A Grupo B 160 Cms 150 140 130 120 110 0 20 40 60 80 100 Percentil Figura 11 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de Salto em Comprimento sem corrida preparatória Nesta prova as crianças pertencentes ao grupo A realizaram uma prestação média de 163.1 centímetros , valor superior ao do grupo B que apenas realizou 148.8. Para além disso a distribuição dos valores encontrados foi mais homogénea no primeiro grupo, como se pode verificar pela análise dos desvios padrões (DPA= 11.48; DPB= 16.45). Comparando as distribuições 133 Apresentação e discussão dos resultados segundo os respectivos percentis, verificamos que o grupo A apresenta sempre valores mais elevados que o B (figura 11). É ainda de realçar o facto de o valor do percentil 1 no grupo A corresponder ao percentil 40 do grupo B (Anexo O), atenuando-se as diferenças nos níveis superiores ( a partir do percentil 97). Em comparação com outros estudos verificamos que os elementos do grupo A alcançaram resultados médios superiores à maioria dos valores referidos (e de todos os encontrados em Portugal), à excepção dos jovens italianos praticantes desportivos analisados em 1987 por Manno e Merni (165.6) e das crianças canadianas do Saskatchewan Growth Study (169.4). No entanto, em ambos os casos, o desvio padrão registado (respectivamente 19.25 e 14.99) foi mais elevado do que o observado no grupo A, que aliás foi mesmo o mais reduzido de todos quantos encontrámos nesta prova, o que parece dizer bem da homogeneidade das prestações deste grupo. Ao contrário, as crianças pertencentes ao grupo B apresentaram valores mais baixos do que a maioria dos estudos referenciados, superiorizando-se apenas às crianças húngaras (Barabás, 1989) (143.18) e algumas americanas (Safrit, n. pub; Brown, n. pub) (143.6 e 147.32). Já no que diz respeito ao DP, o valor deste grupo assemelha-se à maioria dos indicados pelos autores citados. Empregando o teste t de Student para comprovar as diferenças descritas, encontramos um valor de t=3.17, associado a uma probabilidade exacta de 134 Apresentação e discussão dos resultados p=0.003, pelo que concluímos pela existência de diferenças significativas entre os dois grupos. 14.2. Abdominais em 60 segundos Nesta prova podemos afirmar que ambos os grupos realizaram um número médio de movimentos abdominais idêntico ( XA = 32.94; XB = 31.93). Ambos os valores, no entanto, se situam abaixo dos níveis médios referidos nos estudos citados no quadro 5 (pág. 54), apenas se assemelhando aos registados por Duarte na ilha da Madeira em 1994. Marques, Botelho, Oliveira, Costa, Graça e Maia (1992), numa amostra de rapazes participantes em actividades do Desporto Escolar na área do Grande Porto, encontraram uma média de 37.3, enquanto no estudo de crescimento de Saskatchewan, Ellis et al. (1975) registaram o número médio de 39.4 execuções e a AAHPERD categoriza nas suas tabelas de referência o valor 37 como percentil 50. Relativamente à dispersão de valores, o grupo A demonstrou maior homogeneidade, caracterizada por um valor de desvio padrão inferior ao do grupo B (DPA= 6.62; DPB= 8.89). Isso mesmo se pode comprovar na ilustração gráfica da comparação de percentis (figura 12), onde se visualizam apenas diferenças nos percentis mais baixos (até aos percentil 20, com os valores do grupo A a serem superiores) e nos percentis mais elevados (com a tendência a verificar-se de forma contrária a partir do percentil 90). 135 Apresentação e discussão dos resultados 50 45 40 Grupo A Grupo B 35 nº abd 60 seg 30 25 20 15 10 5 0 20 40 60 80 100 Percentil Figura 12 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de abdominais em 60 segundos. A comparação através do t-Student resultou num valor de t= 0.41 e p= 0.686, comprovando a inexistência de diferenças entre os dois grupos. 14.3. Pull-ups (flexões de braços na barra) Os alunos do gupo A realizaram, em média, maior número de elevações na barra (1.52) do que os do grupo B (1.06). No entanto, a grande assimetria encontrada nas distribuições devida ao facto de um número elevado de crianças não ter sido capaz de realizar qualquer elevação, impossibilita a comparação descritiva através dos valores de média e desvio padrão. O que se torna então relevante na análise destes resultados é que a Moda se situou em ambos os grupos nos valor zero, tendo 60% dos indivíduos do grupo B e 136 Apresentação e discussão dos resultados 41.2% dos do grupo A sido incapazes de realizar uma única elevação na barra (figura 13). 60% Grupo A 50% Grupo B 40% 30% 20% 10% 0% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura 13 - Distribuição percentual das crianças de cada grupo segundo o número completo de pull-ups. Comparativamente com os valores mencionados em outros estudos e reportados no quadro 5, constatamos que as prestações de ambos os grupos se situam abaixo, quer das médias (2.6 e 2.8) de crianças norte-americanas, quer do percentil 50 das tabelas de classificação da AAHPERD (2.0). Para realizarmos a comparação estatística intergrupos, e devido ao não cumprimento dos pressupostos de normalidade da distribuição de valores do grupo B (Anexo M), fomos obrigados a recorrer à prova não-paramétrica do U de Mann-Whitney, tendo sido registado um valor de U=213.0, associado a uma probabilidade exacta (p= 0.3112) demasiado alta para podermos aceitar a existência de diferenças entre os dois grupos nesta variável. 137 Apresentação e discussão dos resultados 14.4. Sit and reach (flexão do tronco à frente, sentado) Ao contrário dos outros testes de aptidão física, os resultados encontrados neste parecem indicar melhores prestações médias para os alunos pertencentes ao grupo B ( XA = 22.88; XB = 23.80). Verificando a comparação gráfica de percentis (figura 14), não se registam, no entanto, grandes diferenças entre as duas distribuições, sendo apenas de salientar que a partir do percentil 80 as crianças do grupo B se destacam pela positiva (Anexo O). 37,5 35 32,5 Grupo A Grupo B 30 27,5 Cms 25 22,5 20 17,5 15 12,5 0 20 40 60 80 100 Percentil Figura 14 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de sit and reach. Comparando com outros dados disponíveis, qualquer um dos grupos se situa, em média, ligeiramente abaixo dos valores encontrados em jovens praticantes quer por Marques et al. em 1992 (25.3), quer por Manno e Merni 138 Apresentação e discussão dos resultados em 1987 (26.7). Também na escala de percentis de AAHPERD a média de ambos os grupos se situa abaixo do percentil 50. Realizando o teste de comparação t-Student concluimos não existirem diferenças significativas entre os dois grupos (t= -0.45; p= 0.657). 14.5. Shuttle run (corrida de vaivém) Nas prestações relativas ao teste de shuttle run, os alunos do grupo A apresentam melhores resultados médios (10.69 seg) do que os do grupo B (11.28 seg), embora pela análise dos valores de desvio-padrão concluamos que a distribuição é um pouco mais dispersa (DPA= 0.58; DPB= 0.479). Em média a prestação do grupo A situa-se acima do percentil 50 referido pelos estudos da AAHPERD e CAHPER (10.9 e 12.2) para crianças desta idade, sendo também melhor do que o valor apontado por Hunsicken e Reiff em 1980 (11.0) (cit. por Roche & Malina, 1983). Ao contrário, a prestação média do grupo B nesta prova apenas se diferencia pela positiva relativamente aos valores apontados pelo CAHPER, sendo bastante semelhante aos outros valores referidos. Através da comparação dos percentis (figura 15), podemos verificar que os elementos do grupo A se destacam em todos os percentis, apresentando portanto sempre melhores marcas que os seus equivalentes do grupo B. 139 Apresentação e discussão dos resultados 12,5 12 11,5 Grupo A Grupo B Seg 11 10,5 10 9,5 0 20 40 60 80 100 Percentil Figura 15 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de shutle run. A comprovação dessas diferenças através do teste t-Student resulta num valor de t= -3.76 e numa probabilidade exacta de p= 0.000, a mais pequena encontrada entre os testes realizados e que indica enormes diferenças entre as distribuições encontradas nos dois grupos. 14.6. Corrida de 50 jardas As crianças do grupo A demoraram em média 8.25 seg (± 0.425) para cumprir a distância proposta, enquanto as do grupo B foram mais lentas, registando uma média de 8.69 seg (± 0.446). O valor médio do grupo A é bastante semelhante aos referenciados nos estudos consultados (8.2 e 8.28) (quadro 5) encontrando-se relativamente perto, embora inferior ao percentil 50 140 Apresentação e discussão dos resultados das tabelas da AAHPERD de 1980 (8.0), sendo ligeiramente melhor que o mesmo percentil na classificação da CAHPER de 1966 (8.4). Já no que diz respeito ao grupo B, a sua prestação média diferencia-se pela negativa de todos os valores citados, situando-se mesmo no percentil 25 dos resultados encontrados por Hansom (1965) e nas tabelas da AAHPERD (1980). Na comparação de percentis podemos constatar que, para toda a curva de distribuição, o grupo A apresenta valores mais baixos que o grupo B (figura 16 e Anexo O). 10 9,75 9,5 9,25 9 Seg 8,75 Grupo A Grupo B 8,5 8,25 8 7,75 7,5 7,25 0 20 40 60 80 100 Percentil Figura 16 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de corrida de 50 jardas. A comparação estatística efectuada através do teste t-Student forneceu-nos um valor de t= -3.335, resultando numa probabilidade exacta de p= 0.002, indicativa de diferenças muito significativas entre as duas populações 141 Apresentação e discussão dos resultados nesta prova. 14.7. Corrida de 9 minutos No teste de corrida de 9 minutos, os alunos pertencentes ao grupo A distinguiram-se por percorrerem em média (1805,88) mais 269,21 metros do que os do grupo B (1536,66), tendo obtido ainda um conjunto de prestações mais homogéneas (DPA= 210,015; DPB= 283,371). 2200 2000 1800 Mts Grupo A Grupo B 1600 1400 1200 1000 800 0 20 40 60 80 100 Percentil Figura 17 - Comparação de percentis entre os dois grupos na prova de corrida de nove minutos. A quantidade média de metros percorridos pelo grupo A situa-se acima do percentil 50 das tabelas de AAHPER (1577), enquanto a do grupo B se encontra ligeiramente abaixo. 142 Apresentação e discussão dos resultados Comparando os valores de percentis nas duas distribuições podemos verificar que, de facto, o grupo A se distingue pela positiva em todas as zonas da curva de distribuição. Sujeitas estas diferenças à prova estatística do t-Student, encontrámos um valor t=3.42, associado a uma probabilidade exacta de p=0.001, valor que nos relata com evidência a diferenciação significativa entre os dois grupos nesta variável. 14.8. Discussão dos resultados das provas de aptidão física 14.8.1. Comparação entre os dois grupos Neste ponto pretendemos proceder à análise conjunta dos resultados registados em cada grupo, ou seja, congregá-los num perfil ou compósito que transmita uma ideia mais real da noção de aptidão física na sua relação com a performance generalizada e o desenvolvimento. Para efeito de comparação entre os dois grupos no conjunto dos resultados das provas de aptidão física, reduzimos todos os valores resultantes dos diversos testes à mesma escala, utilizando para tal a transformação em scores Z tomando como valores de referência a média e desvio-padrão da totalidade dos pertencentes às duas amostras. Para além disso, e porque nas provas medidas em tempo, o sentido da prestação é contrário ao das provas medidas em número de execuções ou centímetros, todos os valores referenciados ao tempo de prestação foram convertidos no seu inverso, de forma a que os 143 Apresentação e discussão dos resultados scores Z resultantes do conjunto das provas pudessem ser adicionados sem perder o sentido da informação. A expressão gráfica dos resultados é dada na figura 18, onde se espelha bem a diferença do perfil médio entre os dois grupos, que já havíamos tido ocasião de perceber nas análises anteriormente efectuadas, com os alunos do grupo A a evidenciarem-se com uma prestação acima da média em seis das sete provas e o grupo B a demonstrar comportamento contrário. Em alguns dos casos a diferença entre os valores médios cifrou-se mesmo quase no valor de um desvio-padrão dos dados combinados. Grupo A 0.8 Grupo B 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 -0.4 -0.6 -0.8 SC ABD PUP SR SHR 50j 9MIN Figura 18 - Resultados médios dos dois grupos nos scores Z das diferentes provas Para nos possibilitar obter um valor individual representativo da totalidade das provas de aptidão física realizadas, recorremos ao somatório dos scores Z individuais, tendo os alunos do grupo A obtido em média um valor de 2.54 (DP= 3.95) e os do grupo B de -1.439 (DP= 4.54). A representação comparativa da 144 Apresentação e discussão dos resultados distribuição de percentis é apresentada na figura 19, sendo de notar a supremacia dos alunos do grupo A em todos os pontos da distribuição à excepção do percentil 99 (Anexo O). 12,5 10 7,5 5 2,5 Sum score Z Grupo A Grupo B 0 -2,5 -5 -7,5 -10 -12,5 0 20 40 Percentil 60 80 100 Figura 19 - Comparação de percentis entre os dois grupos no somatório dos scores Z da totalidade das provas. Sujeitos os valores encontrados nos dois grupos à comparação estatística através do teste t-Student, comprovámos existirem diferenças altamente significativas (t= 3.02; p= 0.004) entre o conjunto dos resultados dos testes de aptidão física (expressos pelo Sum score Z) registados nas duas amostras, com os alunos do grupo A a demonstrarem melhores resultados. Aceitando o princípio usualmente expresso pelos autores de que a expressão da aptidão física do indivíduo está naturalmente associada às possibilidades de desempenho motor (Malina, 1978; Barabás, 1989; Sobral, 1994), podendo 145 Apresentação e discussão dos resultados ainda influenciar a motivação ou empenho colocado pelo aluno na prática de actividades do domínio motor, presente e futura, não temos dificuldade em concluir que as crianças do grupo A apresentam de facto melhores condições do que os seus congéneres para a expressão de melhores níveis actuais de performance motora, fornecendo portanto também melhores indicadores para o futuro. 14.8.2. Comparação com os valores de referência No sentido de respondermos à terceira questão colocada no início do nosso estudo - e que diz respeito à conformidade dos valores registados pelo grupo A com os referidos noutros estudos como relacionados com bons níveis de prestação motora - foi nossa intenção, neste ponto da discussão, conjugar alguns dados de análise já referidos, completando-os e objectivando-os. Da análise realizada na apresentação individual dos resultados em cada uma das provas, fica-nos a ideia generalizada de que as prestações realizadas pelas crianças do grupo A não se distinguem claramente dos valores médios registados nos diversos estudos apresentados. Aliás, à excepção da prova de 9MIN (onde só foi possível comparar com um estudo) e da de SC, em todas as outras provas os valores médios alcançados foram similares ou mesmo inferiores (ABD, PUP e SR) aos referidos por outros autores. Existe, todavia, uma característica de homogeneidade nas prestações das crianças do grupo A, principalmente quando comparado com amostras de outras populações, que convém relembrar. De facto, esta circunstância 146 Apresentação e discussão dos resultados encontra-se normalmente associada a populações específicas, nomeadamente de desportistas, já que pressupõe a associação entre algo que lhes é comum e a variável ou característica estudada. Porque importava explorar um pouco mais, na nossa perspectiva, esta questão, não quisemos apenas inferir acerca dos valores médios realizados e procurámos algumas características que nos permitissem aperceber melhor do conjunto dos desempenhos individuais dentro do grupo. Quadro 13 - Número e percentagem de crianças de cada grupo que se situa acima do percentil 75 e abaixo do percentil 25 na tabela de AAHPERD. SC ABD PUP SR SHR 50J 9MIN Grupo A 29 % 6% 18 % 18 % 29 % 6% 71 % > p 75 (n=17) 5 1 3 3 5 1 12 AHHPERD Grupo B 10 % 7% 10 % 30 % 3% 0% 27 % (n=30) 3 2 3 9 1 0 8 Grupo A 0% 47 % - 35 % 6% 24 % 6% AHHPERD (n=17) 0 8 - 6 1 4 1 < p 25 Grupo B 37 % 37 % - 33 % 27 % 57 % 23 % (n=30) 11 11 - 10 8 17 7 Embora alertados para as limitações impostas na utilização de tabelas de percentis, específicas de determinadas populações, na avaliação dos nossos resultados, não nos pareceu descabida a utilização de alguns desses valores como referência geral de classificação no desempenho das provas desde que usando sempre de grande cuidado nesta análise. Assim, fizemos uso dos valores de percentil 25 e 75 das tabelas propostas pela AAHPERD (valores 147 Apresentação e discussão dos resultados usualmente utilizados para balizar os desempenhos normais) para determinar a percentagem de indivíduos de cada grupo que se situam, comparativamente à população norte-americana, nos extremos de classificação da bateria de testes empregue (quadro 13). Pela visão de conjunto apresentada, rapidamente nos damos conta que, tal como havíamos comentado relativamente aos valores médios, à excepção da prova 9MIN, onde 71% dos alunos realizou marcas superiores ao percentil 75, não podemos considerar as prestações do grupo A como francamente boas relativamente aos valores apresentados pelas crianças do estudo de AAHPERD. É mesmo de realçar a grande quantidade percentual de crianças deste grupo que se situa abaixo do percentil 25 na prova de ABD. Referenciando-nos a este conjunto de ilações, concluiríamos dizendo que os critérios utilizados pelos professores para diferenciar os alunos com melhores níveis de performance motora, parecem estar associados com a diferenciação do nível de aptidão física, não só porque as crianças escolhidas demonstraram ser mais aptas quando confrontadas com os seus pares, mas também pela homogeneidade dos resultados encontrados que parecem indiciar um perfil definido. No entanto esta diferenciação é sobretudo relativa ou referenciada à população infanto-juvenil de pertença, não sendo suficiente para, quando comparada com um conjunto mais amplo de valores relativos a outras populações, lhe poder ser imputada significado determinante quanto à associação com níveis distintamente elevados de performance motora. 148 Apresentação e discussão dos resultados 15. Análise e discussão dos resultados quanto à totalidade das variáveis Tomando para discussão a totalidade de indicadores estudados (sóciofamiliares, somáticos e de aptidão física) e procurando responder à primeira pergunta formulada no início deste trabalho, é nossa opinião que, quer pela existência de diferenças ao nível das variáveis individuais, quer pela pouca amplitude de variação registada nas mesmas, as crianças classificadas pelos professores nos níveis mais elevados das diferentes categorias comportamentais relativas à expressão da performance motora se diferenciaram efectivamente dos seus colegas, possuindo um perfil que embora contendo alguma pluralidade de estruturas, as mantém dentro de limites adequados ao sucesso motor. Relativamente à segunda questão colocada e que se referia à possibilidade de validação da opinião expressa pelos professores aquando da diferenciação inicial dos alunos, pela complexidade da interacção possível das variáveis em causa, torna-se muito difícil formular uma resposta ou opinião cabal. Na realidade, parece-nos que o perfil associado às crianças do grupo A em nada se encontra desadequado a um bom desenvolvimento individual dos factores de rendimento motor, bem como à sua natural evidenciação positiva no presente momento. No entanto mais dados seriam concerteza necessários para o confirmar plenamente, pelo que a perspectiva da validação da avaliação realizada pelos professores remete-nos única e exclusivamente à constatação de que o lote de alunos resultantes da sua escolha, reunem um conjunto de 149 Apresentação e discussão dos resultados atributos considerados vantajosos à exibição e prossecução de um bom desenvolvimento do domínio motor. E aqui já nos encontramos a tentar responder também à terceira questão colocada e que referia a possibilidade de as características sócio-familiares, somáticas e de aptidão física registadas nas crianças escolhidas pelos professores serem de molde podermos esperar delas um melhor comportamento para o rendimento actual e futuro, no que diz respeito às actividades físicas e desportivas. A resposta a esta pergunta terá obviamente de ser dada na continuidade do pensamento anterior, reforçando que embora o lote de particularidades exibido pelos alunos escolhidos em nada pareçam coartar as possibilidades de desenvolvimento posterior, como bem sabem os estudiosos da detecção de talentos, a efectiva concretização das possibilidades e aptidões expressas num dado momento de desenvolvimento da criança ou jovem em nada são pré-determináveis, podendo apenas ser cada vez melhor estimadas à medida que o percurso do jovem vai sendo seguido e orientado. O que no entanto pensamos não ser de excluir nesta nossa análise é o facto de que, num primeiro momento de contacto com actividades sistemáticas do domínio motor, estas crianças apresentam algumas particularidades vantajosas neste âmbito relativamente aos seus pares, com a particularidade de serem reconhecidas num nível de sucesso diferenciado pelos seus professores. No seu conjunto, a associação destas características poderá direccionar um investimento pessoal mais acentuado no seu próprio processo de desenvolvimento motor e desportivo (Corbin, 1991; Malina, 1988a; Weiss, 150 Apresentação e discussão dos resultados 1993; Mota, 1993; Passer, 1988), nomeadamente através da participação em actividades do desporto escolar ou mesmo do treino desportivo de competição. A ilação que nos parece mais pertinente retirar quanto a este ângulo do problema, é a de reforçar a validade da participação do professor de Educação Física, como especialista do processo global de desenvolvimento motor da criança e jovem, num eventual projecto inicial e necessáriamente amplo, de detecção ou melhor dizendo (evitando propositadamente a conotação decisiva que este termo parece conter) de indicação das características da performance motora dos seus alunos na perspectiva do desenvolvimento. 151 Conclusões Conclusões 16. Conclusões parciais relativas aos factores sócio-familiares Relativamente aos diferentes indicadores ou variáveis estudadas no âmbito das características sócio-económicas, conclui-se então que: • Não existem razões significativas para pretender diferenciar as famílias das crianças dos dois grupos em estudo, no que diz respeito ao estatuto sócio-económico. • Quando interpretados em conjunto os diferentes indicadores estudados, é no entanto possível detectar uma ligeira tendência para os elementos do grupo A pertencerem a níveis socio-económicos mais elevados. No que diz respeito aos factores associados ao encorajamento das condições sócio-familiares para a prática de actividades físicas, e apesar de não ter sido possível constatar diferenças significativas entre os dois grupos em estudo, alguns aspectos poderão ser realçados no conjunto dos indicadores analisados, nomeadamente: • as condições mais propícias à interacção com os irmãos por parte do grupo A, caracterizadas por este grupo ser constituído por filhos únicos e 1º filhos em menor percentagem do que o grupo B, já que parece que a presença de outros irmãos na casa, e principalmente se mais velhos, 153 Conclusões poderá favorecer o processo de aquisição e estimulação motora. • a grande percentagem de pais pertencente a cada um dos grupos que nunca praticou qualquer tipo de actividade física regular ao longo da vida, o que torna praticamente indiferente qualquer tentativa de associação desta variável a um hipotético comportamento de encorajamento à prática da actividade física e desportiva. • A exclusão da influência dos espaços envolventes à habitação na eventual atribuição de responsabilidades na determinação do comportamento da criança face às actividades físicas, já que, embora algumas diferenças posssam ser descritas, nenhumas são de molde a limitar ou distinguir a actuação motora da criança nos seus tempos livres. 17. Conclusões parciais relativas aos factores de aptidão física O grupo de alunos considerados pelos professores como possuindo um conjunto de características que os distingue num nível superior de performance motora, quando comparados com os outros colegas relativamente às suas prestações em provas de aptidão física, demonstraram: • Serem em média superiores aos outros alunos nas provas de salto em comprimento sem corrida preparatória, shuttle run, abdominais em 60 seg., corrida de 50 jardas, flexões de braço na barra e corrida de 9 min, apresentando apenas uma prestação média inferior no teste de sit-and- 154 Conclusões reach. • Serem, na generalidade, mais homogéneos nas prestações realizadas, o que se evidencia pelo menor valor de desvio-padrão registado em cinco das sete provas (salto em comprimento sem corrida preparatória, sit-andreach, abdominais em 60 seg., corrida de 50 jardas e corrida de 9 min). • Terem obtido resultados significativamente melhores do ponto de vista da comprovação estatística, nas provas de corrida de 9 min, salto em comprimento sem corrida preparatória, shuttle run e corrida de 50 jardas. • Possuir um perfil médio de aptidão física diferentes dos outros alunos e signicativamente melhor, já que se caracterizou por um melhor conjunto de prestações nas diversas provas. Contudo, quando temos por objectivo a comparação dos mesmos alunos em relação a outras populações, visando determinar a adequabilidade do perfil de aptidão física aos aspectos da performance motora, somos obrigados a concluir pela não diferenciação, já que no seu conjunto os resultados apresentados pelo grupo A não se distinguem das populações normais estudadas. 18. Conclusões parciais relativas aos factores morfológicos Como conclusão da análise deste conjunto de variáveis relativas ao universo morfológico podemos referir em síntese que: 155 Conclusões • Comparando as variáveis individuais, verifica-se que os elementos do grupo A se diferenciam por serem em média menos pesados, possuirem menos massa adiposa e serem mais mesomorfos e ectomorfos do que os do grupo B. • As flutuações das diferenças entre os dois grupos, quando considerado o valor da massa corporal indiscriminada (peso) e após a subtracção da massa adiposa (FFM) levam-nos a concluir da grande influência da última na determinação da massa corporal total dos elementos do grupo B, com as consequentes ilações negativas que daí advêm na relação motora. Ao contrário os valores de massa gorda presentes nos alunos do grupo A, não são de molde a limitarem ou influenciarem negativamente qualquer tipo de actividade motora. • As crianças pertencentes ao grupo A apresentam em todas as variáveis testadas uma maior homogeneidade do que as do grupo B, o que indica maior consistência na identidade morfológica entre os seus elementos, com a consequente posibilidade de associação a um perfil determinado. Ao contrário os alunos do grupo B dispersam-se por todo o espectro de valores encontrados, não demonstrando qualquer tipo de associação mais evidente a uma qualquer característica morfológica. • Ao explorarmos as informações fornecidas pelo somatótipo vimos a reforçar as nossas conclusões anteriores, com as crianças do grupo A a demonstrarem, com bastante homogeneidade, características de lineariedade associada à robustez física idênticas às descritas pelos autores 156 Conclusões como propícias ao desenvolvimento de rendimentos desportivos elevados. Ao inverso, os elementos do grupo B manifestam características relativamente indiferenciadas, ocupando praticamente todo o espaço possível da distribuição somatotipica. • O perfil morfológico associado aos elementos do grupo A revela-se adequado, quando referenciado às características indicadas por diferentes autores como associadas a melhores níveis de performance motora ao longo do desenvolvimento. Como conclusão final deste conjunto de indicadores, poderemos dizer que os alunos do grupo A, distinguidos pelos professores como evidenciando melhor rendimento motor, se distinguem efectivamente das outras crianças pelo conjunto da sua tipologia morfológica, apresentando características associadas a maior robustez física e melhores propriedades de desempenho motor, do que os seus congéneres. 19. Conclusão final do estudo No final deste estudo queremos apontar três grandes pontos conclusivos acerca do problema colocado inicialmente, procurando sintetizar os inúmeros elementos analizados, as interpretações e discussões realizadas, bem como as várias conclusões parciais traçadas: 1- As crianças classificadas pelos respectivos professores de Educação 157 Conclusões Física nos níveis mais elevados das diversas categorias comportamentais relativas à expressão da performance motora, diferenciaram-se efectivamente dos seus colegas no conjunto das características sóciofamiliares, somáticas e de aptidão física estudadas. 2- Apesar de não ser possível determinar o futuro percurso de desenvolvimento destas mesmas crianças no que diz respeito ao seu rendimento motor e desportivo, o conjunto de características apresentadas em nada se encontram desadequadas, quer à natural evidenciação positiva no momento presente, quer às perspectivas de sucesso no desenvolvimento individual futuro. 3- Tanto quanto nos é permitido inferir destas duas conclusões anteriores, a avaliação dos professores de Educação Física relativamente aos níveis de performance motora associados à especificidade do desenvolvimento desta faixa etária, foi eficaz e adequada 158 Conclusões Limitações e Recomendações 20. Limitações Neste nosso estudo existem limitações à consecução dos objectivos pretendidos, algumas que fazem parte integrante das características do design experimental utilizado e que desde o início quisemos assumir, outras com que fomos deparando ao longo da sua execução e que resultaram das particularidades dos resultados encontrados. Umas e outras deverão ser levadas em linha de conta para uma compreensão mais global deste nosso trabalho. Em primeiro lugar, ao pretendermos equacionar dum enfoque ecológico a expressão da performance motora como produto e imagem do processo de desenvolvimento da criança e na prespectiva do sucesso desse mesmo desenvolvimento, quer quanto às aptidões actuais quer quanto ás possibilidades futuras, corremos conscientemente o risco da impossibilidade de utilização da mensurações exactas, perfeitamente determinadas e que pudessem ser confrontadas com as opiniões avaliativas dos professores, já que, como diz Sobral (1990), não existe um protocolo capaz de definir uma aptidão ou um talento universal. Para além disto, porque a mensuração de cada uma das variáveis em estudo foi feita num só momento (apesar de a avaliação realizada pelo pro- 159 Conclusões fessor ter sido orientada pelo conhecimento dos alunos durante um ano lectivo) e essencialmente porque defendemos uma perspectiva da performance associada ao ritmo de desenvolvimento na sua continuidade e não em qualquer momento único, as constatações finais são sempre limitadas às possibilidades de predição orientadas pelas referências a alguns indicadores reconhecidos. A sua real validade e coerência só poderá ser acautelada através do seguimento destas mesmas crianças nos anos posteriores, até, pelo menos, à idade póspubertária. O pequeno colectivo de professores participantes da escolha, bem como o tamanho das amostras que daí resultou, constituiram outro tipo de limitações no alcance e generalização dos resultados e conclusões deste trabalho. Esta ocorrência ficou a dever-se sobretudo à necessidade imposta inicialmente de limitar os constrangimentos físicos e sócio-culturais da população de crianças, bem como de serem utilizados apenas professores com habilitação própria, de nomeação definitiva e com um mínimo de três anos de experiência de leccionação neste grau de ensino. O pequeno tamanho das amostras de alunos teve consequências sobretudo ao nível da perca de informação estatística, já que em vários momentos fomos obrigados a realizar agrupamentos de dados e/ou a fazer uso de provas estatísticas com menor poder discrimanatório, devido a esse facto. Os indicadores utilizados na análise da realidade sócio-económica de cada família, não foram, em nossa opinião muito adequados pelas razões que já apresentamos aquando da análise dos mesmos, podendo ser completados 160 Conclusões com informações relativas ao vencimento per capita e com a determinação da possessão ou não de casa própria. A determinação do estatuto maturacional através da avaliação do desenvolvimento genital poderá constituir também uma limitação ao estudo, por duas ordens de razão: • as eventuais diferenças operadas por ritmos diversos de maturação, não só entre os dois níveis considerados como pré-pubertários, como mesmo dentro de um único nível; • o processo de auto-avaliação utilizado, uma vez que embora esta método seja usualmente aconselhado devido à não intrusividade na privacidade, algumas discrepâncias foram sugeridas por Matsudo e Matsudo (1994) entre a auto-estimação e a opinião de especialistas, especialmente no nível G2. Uma última limitação, e pensamos a mais importante, é aquela que de- corre da utilização de técnicas estatísticas de comparação univariadas. De facto, a análise variável a variável poderá aumentar a hipótese de ocorrência de um erro tipo I e não permite, por outro lado, extrair informações relevantes que se expressam na existência de correlações entre as variáveis. 161 Conclusões 21. Recomendações Em face das conclusões e limitações anteriormente enunciadas, propomos que no seguimento deste nosso trabalho e procurando continuar a responder a questões do mesmo tipo, se possam continuar a realizar estudos neste âmbito, levando em linha de conta as seguintes recomendações: • Seguir as crianças participantes neste estudo, ao longo do seu percurso futuro de desenvolvimento, continuando a verificar quer a valoração que os professores lhes atribuem, quer os seus desempenhos e medidas específicas em cada uma das variáveis. Esta recomendação é do nosso ponto de vista essencial, uma vez que o processo de desenvolvimento e a expressão de performance que lhe é própria, não se esgotam num dado momento, pelo que é nossa intenção proceder à sua colocação em prática. • Utilizar maior número de professores e como consequência, provavelmente maior número de alunos, de forma a verificar e aprofundar as conclusões resultantes deste estudo. • Fazer uso, na medida do possível, de técnicas estatísticas multivariadas no estabelecimento de comparações entre conjuntos de indicadores ou variáveis pertencentes a um mesmo factor. • Recorrer ao uso de indicadores mais precisos na avaliação do estatuto sócio-económico. 162 Conclusões • Confirmar a diferenciação realizada pelos professores através do recurso a um painel de especialistas, validando assim a identidade e coerência inter-professor. • Confrontar os resultados e conclusões encontrados nesta área populacional, com os de outras localidades mais e menos urbanizadas e com contextos sócio-culturais diferenciados. 163 Conclusões BIBLIOGRAFIA Siegel, S. 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