Boletim Atrás da Estante – V.7 nº4
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Boletim Atrás da Estante – V.7 nº4
Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Farmácia Boletim Atrás da Estante Um projeto do CEMED Centro de Estudos de Medicamentos da UFMG Volume 7, nº4 30/09/2011 Estudo divulga novas informações sobre o FDA e MHRA divulgam alerta para prescrição perfil de segurança do Champix® e uso da finasterida Um estudo publicado na última edição do Canadian Medical Association Journal (CMAJ) emitiu novas informações sobre o perfil de segurança da vareniclina, medicamento comercializado com o nome Champix®. Além de provocar depressão e tendência suicida, o medicamento antifumo mais usado no mundo apresenta riscos cardiovasculares significativos. Estima-se que cerca de 13 milhões de pessoas no mundo receberam prescrição do medicamento. Vendido em mais de 90 países, o produto rendeu um mercado de US$ 775 milhões (R$ 1,2 bilhão), só no ano passado. No início deste ano, cerca de 1.200 usuários do fármaco nos Estados Unidos processaram o laboratório, alegando que tiveram episódios de pensamentos suicidas ou de depressão provocados pela droga. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Johns Hopkins University School of Medicine (EUA), da Universidade de East Anglia (Reino Unido) e da Wake Forest University (EUA), com cofinanciamento do Centro Nacional de Pesquisa de Recursos (NCRR). Em uma revisão sistemática com meta-análise incluindo 14 ensaios clínicos duplocegos, controlados e randomizados, avaliando um total 8216 pessoas,os pesquisadores concluíram que a vareniclina está associada a um aumento significativo do risco de eventos cardiovasculares. A Pfizer, em nota à imprensa, rejeitou as acusações alegando que a análise divulga- da reúne um número muito pequeno de eventos cardiovasculares para sustentar qualquer conclusão sobre os riscos do medicamento. E acrescentou que o medicamento trouxe benefícios imediatos e substanciais à vida de ex-fumantes. Antes da publicação do estudo na revista canadense, a Food and Drug Administration (FDA), agência americana de controle dos fármacos comercializados nos EUA, baseada em um estudo clínico com aproximadamente 700 pessoas, solicitou à Pfizer que incluísse na bula do produto um alerta sobre um risco ligeiramente maior de problemas cardiovasculares em pessoas que já têm histórico de doença cardíaca. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou à Pfizer o envio do último relatório de segurança do medicamento. Por fim, motivada pela alteração da bula nos EUA, solicitou também a inclusão de um alerta aos pacientes cardíacos. A revisão sistemática das evidências dos efeitos da vareniclina inspira cautela em relação ao perfil de segurança do medicamento. Apesar dos valores absolutos aparentarem pouco significativos, demonstrou-se aumento significativo do risco de eventos adversos cardiovasculares graves asso ciados com a vareniclina em comparação ao placebo, situ ação com possíveis implicações regulatórias e clínicas. (Luana Faria da Cruz) A finasterida, nome genérico de medicamentos como Proscar® e Propecia®, é um antiandrógeno sintético que age inibindo a enzima que converte a testosterona em diidrotestosterona e foi desenvolvido originalmente como um medicamento para o tratamento de hiperplasia prostática benigna (BPH), com dose recomendada de 5mg/dia. Em dezembro de 1997 a finasterida teve seu uso aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) para o tratamento de alopecia androgênica (calvície) na dosagem de 1mg/ dia, após ter sido observado que, devido ao mecanismo de ação da droga, o crescimento de cabelo ocorre como um efeito colateral do medicamento. Apesar da eficácia comprovada no tratamento da calvície, estudos realizados por órgãos reguladores de medicamentos em vários países, como FDA e MHRA (Reino Unido), apontam uma relação entre o uso da finasterida, em maior ou menor dosagem, com o desenvolvimento de câncer na próstata, câncer de mama masculino e problemas relacionados à perda de libido e disfunção erétil. O ensaio clínico randomizado “Prostate Cancer Prevention Trial (PCPT)”¹, usado pelo FDA em sua revisão sobre o assunto aponta que 37% dos tumores diagnosticados no grupo que fez uso da finasterida por sete anos eram de alto grau (escore de Gleason ≥7), enquanto que 22% dos tumores diagnosticados no grupo placebo apresentavam esta característica. Segundo o estudo, este dado sugere que através de mudanças em andrógenos intraprostáticos e/ou sinalização de estrógenos a finasterida pode levar ao aumento do risco de cânceres de alto grau. No entanto, como os dados se referem apenas ao primeiro ano de utilização do medicamento e nos anos subseqüentes não foi registrada nenhuma alteração, outros fatores podem ter influenciado o desenvolvimento de cânceres agressivos. Apesar de não fornecer dados suficientes para determinar se o medicamento aumenta ou não a ocorrência de câncer de alto grau, o estudo aponta que existe uma relação entre o uso da finasterida e o desenvolvimento deste grau de câncer. A relação entre o uso de finasterida e a ocorrência de câncer de mama masculino também não pôde ser claramente determinada em revisão realizada pelo MHRA² já que não foi significativa a diferença registrada para o desenvolvimento da doença entre os pacientes que usaram e os que não usaram a finasterida. Contudo, devido ao relato de casos de câncer relacionados ao uso do medicamento, do mesmo modo que o FDA³, o MHRA divulgou um alerta direcionado a médicos e pacientes para que sejam cautelosos na prescrição e uso da finasterida em tratamentos tanto para BPH quanto para alopecia androgênica. (Raissa Carolina F. Cândido) Boletim Atrás da Estante Limitações de dose da Sinvastatina A sinvastatina, medicamento atualmente mais utilizado no Brasil para o controle do colesterol está tendo sua dose diária restringida a valores menores que 80 mg. A recomendação partiu do FDA, órgão americano de controle de alimentos e medicamentos, e foi baseada nos resultados de um estudo¹ realizado durante sete anos. Tal estudo evidenciou a correlação entre o uso de sinvastatina com dose diária acima de 80 mg e maior incidência de danos musculares (miopatia). O risco apresenta-se maior no primeiro ano do tratamento, e em pacientes com variação genética que afeta a codificação do transportador responsável pela captação de sinvastatina para o fígado. Dada a maior probabilidade de comprometimento muscular (que em sua forma mais grave pode levar ao comprometimento renal e óbito) e do benefício adicional de apenas 6% em relação à dose de 40 mg/dia, a prescrição de 80 mg/dia deve ser mantida apenas para pacientes que fazem o seu uso há mais de 12 meses sem apresentarem evidência de miopatia, não devendo ser iniciada em novos pacientes. O FDA está exigindo mudanças na bula do medicamento, que deverá conter a limitação da dose diária a ser prescrita e a citação de novas interações medicamentosas também descobertas no estudo. (Vívian Thaise da Silveira Anício) Alternativa terapêutica para o tratamento de crianças portadoras de HIV– 1 "Por não saber que era impossível ,ele foi lá e fez” (Jean Cocteau) Está disponível desde setembro deste ano através do SUS o Tipranavir, alternativa terapêutica para menores de 6 anos de idade no tratamento de cepas resistentes HIV-1. O Tipranavir, também chamado AptivusÒ é um inibidor da enzima protease aprovado pelo FDA desde 2008 para uso em crianças a partir de 2 anos de idade em associação com o Ritonavir. A inclusão dessa droga no esquema terapêutico terapêutico para o tratamento de crianças e adolescentes portadores do vírus da aids representa um avanço importante das políticas públicas de saúde, pois é o primeiro antirretroviral disponibilizado pelo SUS para tratamento em casos de resistência do vírus cujas indicações incluem o uso em crianças. Segundo informação do Ministério da Saúde, existem hoje no Brasil 4.006 menores de 13 anos em tratamento, representando um investimento nacional de cerca de R$ 9,7 milhões para o acesso a antirretrovirais (ARVs). A Você sabia? disponibilização do Tipranavir significa mais segurança na terapia de crianças HIV-1 positivas resistentes ao tratamento usual e que antes eram tratadas com ARVs indicados para adultos. (William Pereira Alves) EQUIPE: Os Limites da Inteligência Neurocientistas modernos defendem que a “inteligência humana pode estar próxima de seu limite evolutivo”. Aparentemente, as opções para o desenvolvimento das estruturas físicas de nosso sistema nervoso enfrentam um dilema termodinâmico. O aumento do volume do cérebro e a ampliação do número de neurônios, ou o crescimento da rede de axônios e sinapses são situações que ampliariam muito o gasto de um sistema já responsável pelo maior consumo energético do organismo. Por outro lado, o adelgaçamento dos axônios provocaria a ampliação do „ruído‟ na geração e emissão de sinais elétricos. Com isso, e a exemplo das abelhas, talvez nossa evolução tenha a opção do desenvolvimento da inteligência coletiva. Para nós fica a pergunta: qual o papel das drogas nesse processo? - Luana Faria da Cruz1 - Raissa Carolina Fonseca Cândido2 - Vivian Thaíse da Silveira Anício1 - William Pereira Alves2 - Farmacêutica Alba Valéria S. Melo Moraes - Professora Cristiane Menezes - Doutoranda Daniela Rezende Garcia Junqueira - Professor Edson Perini ¹ Alunas do 3º período de Farmácia/UFMG ² Alunos do 4º período de Farmácia/UFMG Realização: Apoio: Os textos assinados são endossados por toda a equipe. Maiores informações e o material que serviu de fonte para o boletim estão disponíveis sob solicitação através do email: [email protected] “Estudos divulgam novas informações sobre o perfil de segurança do Champix®” Referências: NPS RADAR – Rational Assessment of Drugs and Research - Varenicline (Champix) safety update: possible increase in serious cardiovascular events. Acessado em setembro/2011: http://www.nps.org.au/health_professionals/ publications/nps_radar/2011/august_2011/brief_item_varenicline Singh, S. Loke, YK. Spangler, JG. Furberg, CD. Risk of serious adverse cardiovascular events associated with varenicline: a systematic review and meta-analysis. CMAJ 2011. In Press. http://www.cmaj.ca/content/early/2011/07/04/ cmaj.110218 FDA Drug Safety Communication: Chantix (varenicline) may increase the risk of certain cardiovascular adverse events in patients with cardiovascular disease. Acessado em setembro/2011: http://www.fda.gov/Drugs/DrugSafety/ ucm259161.htm “FDA e MHRA divulgam alerta para a prescrição e uso da Finasterida” Referências: ¹ “Finasteride and High-Grade Prostate Cancer in the Prostate Cancer Prevention Trial”. Journal of the National Cancer Institute. Acessado em 27/09/2011. Disponível em: http://www.medscape.com/viewarticle/564696 ² “The risk of male breast cancer with finasteride”. MHRA. Acessado em: 27/09/2011. Disponível em: http:// www.mhra.gov.uk/home/groups/pl-p/documents/websiteresources/con065504.pdf ³ “5-alpha reductase inhibitors (5-ARIs): Label Change - Increased Risk of Prostate Cancer”. FDA. Acessado em: 27/09/2011. Disponível em: http://www.fda.gov/Safety/MedWatch/SafetyInformation/ SafetyAlertsforHumanMedicalProducts/ucm258529.htm “Limitações de dose da Sinvastatina” Referências: 1-SEARCH Study Collaborative Group Oxford, United Kingdom. Study of the effectiveness of additional reductions in cholesterol and homocysteine (SEARCH): Characteristics of a randomized trial among 12064 myocardial infarction survivors.(Am Heart J 2007;154:815-823.e6.). Acessado em setembro/2011: http://www.searchinfo.org/ SEARCH_baseline_paper.pdf FDA. FDA Drug Safety Communication: New restrictions, contraindications, and dose limitations for Zocor (simvastatin) to reduce the risk of muscle injury. Acessado em setembro/2011: http://www.fda.gov/Drugs/DrugSafety/ ucm256581.htm “Alternativa terapêutica para o tratamento de crianças portadoras de HIV– 1” Referências: 1-Durable efficacy of tipranavir-ritonavir in combination with an optimised background regimen of antiretroviral drugs for treatment-experienced HIV-1-infected patients at 48 weeks in the Randomized Evaluation of Strategic Intervention in multi-drug reSistant patients with Tipranavir (RESIST) studies: an analysis of combined data from two randomised open-label trials. The Lancet. Acesso em setembro de 2011: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16890833? dopt=Abstract 2- Ministério da Saúde: Acesso em setembro de 2011: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm/? portal=pagina.visualizarNoticia&codConteudo=2051&codModuloArea=162&chamada=ms-amplia-tratamento-paracriancas-com-aids. 3- Univerty of California. HIV InSite. Acesso em setembro de 2011: http://hivinsite.ucsf.edu/insite?page=ar-03-09 “Os limites da inteligência” Referências: Fox, D. Os limites da inteligência. Scientific american Brasil. Ano 10, n. 111, p.38-45. Agosto de 2011.
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