CONDIÇÕES FINANCEIRAS DA PRELAZIA O Acre, segundo os

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CONDIÇÕES FINANCEIRAS DA PRELAZIA O Acre, segundo os
CONDIÇÕES FINANCEIRAS DA PRELAZIA
O Acre, segundo os missionários, era uma região potencialmente rica, mas
infelizmente os seus produtos não podiam ser aproveitados devido às distâncias,
levando-se meses para chegar ao seu destino, através do seu único meio natural
constituído pelos rios. A mesma borracha, que em outros tempos dava altíssimos
lucros, já nessa época, não compensava mais o trabalho, por ter seu preço caído
definitivamente diante da concorrência da Ásia.
O Acre, portanto, atravessava uma grave crise econômica e, se no
passado, especialmente no período de 1900 a 1918, se verificou um grande
movimento migratório, depois de 1920, aconteceu um movimento em sentido
inverso. Isso levava muito a pensar que daquele jeito, o Acre se tornaria
despovoado em pouco tempo com a exceção dos centros maiores.
Essa crise econômica se refletiu naturalmente sobre o estado financeiro da
Prelazia. A Prelazia não possuía um patrimônio que lhe rendesse entradas certas
e fixas. As autoridades tinham ajudado, sobretudo, no começo, mas o povo
nunca tinha sentido como próprio o
trabalho pastoral. Por isso até as
entradas provenientes dos serviços
religiosos, eram muito reduzidas, ao
ponto de se tornarem nulas no meio
popular, a fim de que a aceitação dos
sacramentos fosse facilitada.
Em compensação começaram a
chegar, desde o início, generosas
ofertas do exterior, da Itália e dos
Estados Unidos. Tanto os frades como
as irmãs viviam em casas relativamente
boas em comparação ao povo, sendo a comida boa e farta. E, em alguns
períodos, foram as irmãs as que sentiram mais necessidade, sobretudo, no
compromisso assumido de amparar crianças órfãs.
Mas, até então, a Prelazia não olhava para realizações grandiosas, não só
por falta de recursos, mas também devido à incerteza quanto ao futuro da região
que se lhes configurava catastrófico. Era fazer sacrifícios superiores às próprias
forças sem nenhuma esperança de resultados proporcionais. De fato a apreciação
a respeito do futuro e das capacidades dos acreanos era das mais negativas e
pessimistas.
Porém, algum dos religiosos apontava ideias novas, reconhecendo erros
cometidos na sua prática pastoral. No relatório que frei Gregório Dal Monte
preparou em 1930, deixou uma descrição preocupante: “Há quase dez anos que
os Servos de Maria trabalham na Prelazia do Acre e Alto Purus (...) A Prelazia
não possui patrimônio e rendas com uma certa estabilidade. Também as
entradas são muito reduzidas por causa dos grandes erros cometidos desde a
nossa chegada, não excluindo a econômica que se agravou cada vez mais. O
nosso erro foi este: Para convidar com mais facilidade os fiéis a batizar seus
filhos e a benzer suas uniões, foram dispensados quase sistematicamente de dar
suas ofertas, pensando que a maior dificuldade era a falta de meios. Das
viagens por serviço religioso, dos quais os sacerdotes que nos precederam
retornavam com quantias consideráveis, Mons. Bernardi voltava com dívidas.
(...) Dizem que somos ricos. (...) As irmãs e os padres vivem em casas boas,
para estes lugares. A alimentação é boa e abundante. Os maiores desafios que
não podem ser evitados são as viagens ao longo dos rios e no meio da floresta.
As viagens são necessárias, porque o missionário deve procurar o povo no meio
da densa e grande floresta. Os sacramentos são ministrados em lugares
previamente estabelecidos. Precárias são as condições morais no Acre. (...)
Perto do cearense até um pouco escrupuloso, se encontra o aventureiro sem
escrúpulos que deseja e quer enricar, custe
o que custar. Neste campo difícil, os Servos
de Maria, durante estes dez anos de
presença, recolheram bons frutos. (...) Sem
os Servos de Maria, Sena Madureira,
estaria morta, declarou o orador oficial
por ocasião da inauguração do Colégio
Santa Juliana; o autor queria se referir ao
lado material e espiritual. Precisa chegar
ao ‘mea culpa’. Apesar das boas intenções,
nós quisemos implantar no Acre, um rigor excessivo. Para comprovar chegaria
a expressão de Mons. Bernardi: ‘Precisamos ter muito rigor e dureza, pois
assim os maus que se encontram na Prelazia possam ir embora e aqueles que
estão fora, não entrem. Os efeitos foram vários, bons e ruins saíram da Prelazia
e da Igreja”.1
Os frades tiveram uma experiência fracassada, quando adquiriram
máquinas, no sul do país, para iniciarem alguma indústria local, O resultado
esperado não apareceu, no parecer dos religiosos, por falta de pessoal capacitado
a manejá-las e pelo povo que, indolente, não correspondia.
Em conclusão, eram muito pessimistas e já carregados de fatalismo, até
que escreveram "a única via a seguir era o de satisfazer o empenho assumido
diante da Santa Sé ao aceitar a missão, com manter um número de sacerdotes
suficientes e cuidar da assistência religiosa não somente na cidade, mas
também nos seringais de uma maneira regular e decorosa". 2
1
AGOSM, Relazione sullo stato della prelatura San Pellegrino nell’Alto Acre e Alto Purus, in: Busta Acre e
Purus, lettere e documenti (1926-1.932) fl. 1-12.
2
Relatório de frei Tiago Mattioli. Archivio Generale OSM. Roma.