abril 2013 - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
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issn 0004-2730 Edição Especial: Consensos em Tireoide abril 2013 Editoras Convidadas: Laura S. Ward, Lea M. Z. Maciel 57/3 sumário Volume 57 | Número 3 | abril 2013 Edição Especial: Consensos em Tireoide Editoras Convidadas: Laura S. Ward, Lea M. Z. Maciel editoriais 161 Consensos em tireoide – Guias para a prática clínica Laura S. Ward, Lea M. Z. Maciel 163 Destaques dos novos consensos sobre doenças da tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia João Hamilton Romaldini, Danilo Villagelin, Ana Beatriz Pinotti Pedro Miklos consensos 166 Consenso brasileiro para a abordagem clínica e tratamento do hipotireoidismo subclínico em adultos: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Jose A. Sgarbi, Patrícia F. S. Teixeira, Lea M. Z. Maciel, Glaucia M. F. S. Mazeto, Mario Vaisman, Renan M. Montenegro Junior, Laura S. Ward 184 Hipotireoidismo congênito: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Léa Maria Zanini Maciel, Edna Teruko Kimura, Célia Regina Nogueira, Glaucia M. F. S. Mazeto, Patrícia Künzle Ribeiro Magalhães, Marilza Leal Nascimento, Suzana Nesi-França, Sandra E. Vieira 193 Utilização dos testes de função tireoidiana na prática clínica Gisah Amaral de Carvalho, Camila Luhm Silva Perez, Laura Sterian Ward 205 Consenso brasileiro para o diagnóstico e tratamento do hipertireoidismo: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Ana Luiza Maia, Rafael S. Scheffel, Erika Laurini Souza Meyer, Glaucia M. F. S. Mazeto, Gisah Amaral de Carvalho, Hans Graf, Mario Vaisman, Lea M. Z. Maciel, Helton E. Ramos, Alfio José Tincani, Nathalia Carvalho de Andrada, Laura S. Ward Assistente editorial e financeira: Roselaine Monteiro [email protected] Auxiliar administrativa: Debora Villela [email protected] Rua Botucatu, 572 – conjunto 83 – 04023-062 – São Paulo, SP Telefax: (11) 5575-0311 / 5082-4788 Submissão on-line / Divulgação eletrônica www.abem-sbem.org.br • www.scielo.br/abem Rua Anseriz, 27, Campo Belo 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br • [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editorachefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Gerentes de negócios: Marcela Crespi e Philipp Santos Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial: Cristiane Mezzari Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Assistentes editoriais: Camila Mesquita e Patrícia Harumi Designer: Flávio Santana Revisora: Glair Picolo Coimbra Produtor gráfico: Fabio Rangel Cód. da publicação: 14860.4.13 Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº96/08 Assessoria Comercial: AC FARMACÊUTICA LTDA. Rosangela Santos Consultora de Negócios | AC Farmacêutica rosangela·santos@grupogen·com·br Tel / Fax: 11-5641-1870 Cel: 11-99124-0164 GEN | Grupo Editorial Nacional Alameda Arapoema, 659 06460-080 | Barueri - SP www·grupogen·com·br Tiragem desta edição: 2.800 exemplares Preço da Assinatura: R$ 450,00/ano – Fascículo Avulso: R$ 55,00 Indexada por Biological Abstracts, Index Medicus, Latindex, Lilacs, MedLine, SciELO, Scopus, ISI-Web of Science ARQUIVOS BRASILEIROS DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. – São Paulo, SP: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, v. 5, 1955Nove edições/ano Continuação de: Arquivos Brasileiros de Endocrinologia (v. 1-4), 1951-1955 Título em inglês: Brazilian Archives of Endocrinology and Metabolism ISSN 0004-2730 (versões impressas) ISSN 1677-9487 (versões on-line) 1. Endocrinologia – Periódicos 2. Metabolismo-Periódicos I. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia II. Associação Médica Brasileira. CDU 612.43 Endocrinologia CDU 612.015.3 Metabolismo Apoio: Órgão oficial de divulgação científica da SBEM – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Departamento da Associação Médica Brasileira), SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes, ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica e SOBEMOM – Sociedade Brasileira de Estudos do Metabolismo Ósseo e Mineral 2013-2014 EDITOR-CHEFE Comissão Editorial Nacional Manoel Ricardo Alves Martins (CE) Sérgio Atala Dib (SP) Ana Luiza Silva Maia (RS) Márcio Faleiros Vendramini (SP) André Fernandes Reis (SP) Márcio Mancini (SP) Antônio Carlos Pires (SP) Margaret Cristina S. Boguszewski (PR) Antônio Marcondes Lerário (SP) Mário Vaisman (RJ) Antônio Roberto Chacra (SP) Marise Lazaretti Castro (SP) Ayrton Custódio Moreira (SP) Milton César Foss (SP) Berenice B. Mendonça (SP) Mônica Andrade Lima Gabbay (SP) Carlos Alberto Longui (SP) Mônica Roberto Gadelha (RJ) Carmen C. Pazos de Moura (RJ) Nina Rosa de Castro Musolino (SP) Célia Regina Nogueira (SP) Regina Célia S. Moisés (SP) César Luiz Boguszewski (PR) Ricardo M. R. Meirelles (RJ) EDITORES ASSOCIADOS Denise Pires de Carvalho (RJ) Rodrigo Oliveira Moreira (RJ) Presidentes dos departamentos da SBEM Eder Carlos R. Quintão (SP) Rui M. de Barros Maciel (SP) Edna Nakandakare (SP) Sandra R. G. Ferreira (SP) Adrenal e Hipertensão Edna T. Kimura (SP) Simão A. Lottemberg (SP) Eduardo Rochete Ropelle (SP) Sonir Roberto Antonini (SP) Elaine Maria Frade Costa (SP) Suemi Marui (SP) Eliana Aparecida Silva (SP) Tânia A. S. Bachega (SP) Eliana Pereira de Araújo (SP) Ubiratan Fabres Machado (SP) COEDITORES Alexander A. L. Jorge (SP) Bruno Geloneze Neto (SP) Francisco de Paula (SP) Evandro S. Portes (SP) Laura Sterian Ward (SP) Renan M. Montenegro Jr. (CE) Editor associado internacional Antonio C. Bianco (EUA) Sonir Antonini (SP) Diabetes Melito Balduino Tschiedel (RS) FUNDADOR Waldemar Berardinelli (RJ) EDITORES e CHEFES DE REDAÇÃO* 1951-1955 Waldemar Berardinelli (RJ) Thales Martins (RJ) 1957-1972 Clementino Fraga Filho (RJ) 1964-1966* Luiz Carlos Lobo (RJ) 1966-1968* Pedro Collett-Solberg (RJ) 1969-1972* João Gabriel H. Cordeiro (RJ) 1978-1982 Armando de Aguiar Pupo (SP) 1983-1990 Antônio Roberto Chacra (SP) 1991-1994 Rui M. de Barros Maciel (SP) Dislipidemia e Aterosclerose Fernando de S. Flexa Ribeiro Filho (PA) Endocrinologia Básica Tania Ortiga Carvalho (RJ) Francisco Bandeira (PE) Gil Guerra-Júnior (SP) Gisah M. do Amaral (SP) Comissão Editorial Internacional Hans Graf (SP) Charis Eng (EUA) Helena Maria Ximenes (SP) Décio Eizirik (Bélgica) Henrique de Lacerda Suplicy (PR) Efisio Puxeddu (Itália) Ileana G. S. Rubio (SP) Fernando Cassorla (Chile) Janice Sepuvelda Reis (MG) Franco Mantero (Itália) João Roberto de Sá (SP) Fredric E. Wondisford (EUA) Jorge Luiz Gross (RS) Gilberto Paz-Filho (Austrália) José Augusto Sgarbi (SP) Gilberto Velho (França) Mario Khedi Carra (SP) José Gilberto H. Vieira (SP) James A. Fagin (EUA) Tireoide Josivan Gomes de Lima (RN) John P. Bilezikian (EUA) Laércio Joel Franco (SP) Norisato Mitsutake (Japão) Léa Maria Zanini Maciel (SP) Patrice Rodien (França) Leandro Arthur Diehl (PR) Peter A. Kopp (EUA) EndoCRINOLOGIA Feminina e Andrologia Dolores P. Pardini (SP) Endocrinologia Pediátrica Paulo Cesar Alves da Silva (SC) Metabolismo Ósseo e Mineral Sergio Maeda (SP) Neuroendocrinologia Antônio Ribeiro de Oliveira Jr. (MG) Obesidade Carmen Cabanelas P. Moura (RJ) Representantes das Sociedades Colaboradoras SBD 1995-2006 Claudio Elias Kater (SP) Balduino Tschiedel (RS) 2007-2010 Edna T. Kimura (SP) Mario Khedi Carra (SP) Luiz Armando de Marco (MG) SOBEMOM Madson Queiroz Almeida (SP) João Lindolfo C. Borges (DF) Magnus R. Dias da Silva (SP) ABESO Luciano Giacáglia (SP) SBEM – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Diretoria Nacional da SBEM 2013-2014 Presidente: Vice-presidente: Primeiro Secretário: Segundo Secretário: Primeira Tesoureira: Segunda Tesoureira: Nina Rosa de Castro Musolino Victoria Zeghbi Cozhenski Borba Luiz Henrique Maciel Griz Alexandre Hohl Rosane Kupfer Marise Lazaretti-Castro Rua Humaitá, 85, cj. 501 22261-000 – Rio de Janeiro, RJ Fone/Fax: (21) 2579-0312/2266-0170 Secretária executiva: Julia Maria C. L. Gonçalves www.endocrino.org.br [email protected] Departamentos Científicos - 2013/2014 Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Adrenal e Hipertensão Diabetes Mellitus Presidente Sonir Antonini [email protected] Presidente Balduino Tschiedel www.diabetes.org.br Vice-PresidenteTania Longo Mazzuco Secretária Milena Coelho Fernandes Caldato TesoureiraTânia A. Soares Bachega [email protected] Vice-PresidenteJoão Eduardo Nunes Salles Secretária Geisa Maria Campos de Macedo Tesoureira Lenita Zajdenverg Diretores Adriana Costa e Forti Airton Golbert Hermelinda Cordeiro Pedrosa Suplentes Antônio Carlos Lerário Levimar Araujo Dislipidemia e Aterosclerose Endocrinologia Básica Presidente Fernando de S. Flexa Ribeiro Filho [email protected] PresidenteTânia Maria Ortiga Carvalho www.fisio.icb.usp.br Vice-Presidente Maria Tereza Zanella [email protected] Secretárias Monica Maués Vice-Presidente Catarina Segreti Porto Gláucia Carneiro Diretores Doris Rosenthal Diretores Fernando Giuffrida Maria Izabel Chiamollera Rodrigo de Oliveira Moreira Maria Tereza Nunes Magnus R. Dias da Silva Ubiratan Fabres Machado Departamentos Científicos - 2013/2014 Endocrinologia Feminina e Andrologia Presidente Dolores Perovano Pardini Endocrinologia Pediátrica Presidente Paulo Cesar Alves da Silva [email protected] www.feminina.org.br www.andrologia.org.br [email protected] Vice-Presidente Diretores Carlos Alberto Longui Vice-Presidente Ruth Clapauch Marília Martins Guimarães Diretores Ricardo Martins da Rocha Meirelles Maria Alice Neves Bordallo Rita de Cassia V. Vasconcellos Weiss Amanda Valéria Luna de Athayde Poli Mara Spritzer Carmem Regina Leal de Assumpção Julienne Ângela Ramires de Carvalho Secretária Geral Angela Maria Spinola-Castro Metabolismo Ósseo e Mineral Neuroendocrinologia Presidente Sergio Maeda www.sobemom.org.br Presidente Antônio Ribeiro de Oliveira Júnior [email protected] [email protected] Vice-Presidente César Luiz Boguszewski Vice-Presidente Dalisbor Marcelo Weber Silva Diretores Lúcio Vilar Diretores Cynthia Maria Alvares Brandão Luiz Antônio de Araújo Henrique Pierotti Arantes Luciana Ansanelli Naves Luiz Claudio G. de Castro Mônica Gadelha Carolina Kulak Marcello Delano Bronstein Paulo Augusto C. Miranda Obesidade Tireoide Presidente Mario Khedi Carra www.abeso.org.br [email protected] Presidente Carmen Cabanelas Pazos de Moura www.tireoide.org.br [email protected] Vice-Presidente João Eduardo Nunes Salles Vice-Presidente Gisah Amaral de Carvalho Secretária Maria Edna de Mello Secretária Célia Regina Nogueira Diretores Márcio Correa Mancini Diretores Ana Luiza Silva Maia Rosana Bento Radominski Janete Maria Cerutti Laura Sterian Ward Rosalina Camargo Comissões Permanentes - 2013/2014 Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Acompanhamento do Planejamento Estratégico Presidente Airton Golbert [email protected] Membros Ricardo M. R. Meirelles, Ruy Lyra, Marisa Coral, Valéria Guimarães Campanhas em Endocrinologia História da Endocrinologia Presidente Henrique Suplicy [email protected] Membros Adriana Costa e Forti, Thomaz Cruz Internacional Presidente César Boguszewski [email protected] Membros Ruy Lyra, Valéria Guimarães, Ana Cláudia Latrônico Presidente Adriana Costa e Forti [email protected] Membros Laura S. Ward, Rodrigo Moreira Científica NORMAS, QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO Presidente Victória Borba [email protected] Membros Presidentes Regionais, Presidentes dos Departamentos Científicos Indicados pelas Diretorias Alexander Lima Jorge, Carolina Kulak, Mirian da Costa Oliveira, Estela Jatene, Paulo Miranda, Victor Gervásio, Milena Caldato, Marcello Bertolucci, Manuel Faria Presidente Ronaldo Rocha Sinay Neves [email protected] Membros Eduardo Dias, Vivian Ellinger, Leila Maria Batista Araújo, Nilza Torres Comunicação Social Paritária – CAAEP Presidente Angela Maria Spinola-Castro [email protected] MembrosOsmar Monte, Maria Alice Neves Bordallo, Presidente Ricardo M. R. Meirelles [email protected] Nomeada pelo Presidente Marise Lazaretti Castro Editor ABEM Sérgio Atala Dib Membros Severino Farias, Luiz Cláudio Castro PESQUISAS Educação Médica Continuada Projeto Diretrizes Presidente Dalisbor Marcelo W. Silva [email protected] Membros Adelaide Rodrigues, Gustavo Caldas, Ruth Clapauch Coordenador Guilherme Alcides F. Soares Rollin [email protected] Adrenal e Hipertensão Sonir Antonini Dislipidemia e Aterosclerose Fernando de S. Flexa Ribeiro Filho Diabetes Mellitus Balduino Tschiedel Endocrinologia Básica Tânia Maria Ortiga Carvalho Endocrinologia Feminina e Andrologia Dolores Perovano Pardini Endocrinologia Pediátrica Paulo Cesar Alves da Silva Metabolismo Ósseo e Mineral Sergio Maeda Neuroendocrinologia Antônio Ribeiro de Oliveira Júnior Obesidade Mario Khedi Carra Tireoide Carmen Cabanelas Pazos de Moura Estatutos, Regimentos e Normas Presidente Airton Golber [email protected] Membros Ruy Lyra, Marisa Coral, Henrique Suplicy Representante da Diretoria Nacional Evandro Portes Presidente Membros Freddy Eliaschewitz [email protected] Antônio Roberto Chacra, Luiz Augusto Russo Ética e Defesa Profissional Corregedor João Modesto [email protected] Vice-CorregedorItairan de Silva Terres 1º vogal Diana Viega Martin 2º vogal João Eduardo Salles 3º vogal Cleo Mesa Junior 4º vogal Neuton Dornellas 5º vogal Maite Chimeno DESREGULADORES ENDÓCRINOS PresidenteTânia Bachega [email protected] Membros Alexandre Hohl, Elaine Maria F. Costa, Ricardo Meirelles, Angela Spinola, Laura Ward, Luiz Cláudio Castro, Renan Montenegro Jr., Milena Caldato Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia Presidente: Francisco Bandeira [email protected] Vice-Presidente: Osmar Monte Membros: Josivan Lima, César Boguszewski, Marisa Coral, Marília Guimarães, Márcio Mancini Valorização de Novas Lideranças Presidente Felipe Gaia [email protected] Vice-Presidente André Gustavo P. Sousa Sociedades e Associações Brasileiras na Área de Endocrinologia e Metabologia SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes Diretoria Nacional da SBD (2012/2013) Presidente Vice-Presidentes 1o Secretário 2a Secretária 1o Tesoureiro 2o Tesoureiro Conselho Fiscal Balduino Tschiedel Hermelinda Cordeiro Pedrosa Lenita Zajdenverg Levimar Rocha Araújo Luiz Alberto Andreotti Turatti Reine Marie Chaves Fonseca Domingos Augusto Malerbi Cristina Figueiredo Sampaio Façanha Antonio Carlos Lerário João Eduardo Nunes Salles Geísa Maria Campos de Macedo Luiz Antonio de Araujo Marcos Cauduro Troian Silmara Oliveira Leite Rua Afonso Brás, 579, cj. 72/74 04511-011– São Paulo, SP Fone/Fax: (11) 3842-4931 [email protected] www.diabetes.org.br Secretária Executiva: Kariane Krinas Davison Gerente Administrativa: Anna Maria Ferreira ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica Diretoria Nacional da ABESO (2013-2014) Presidente Vice-Presidente 1a Secretária 2o Secretário Tesoureira Mario Khedi Carra João Eduardo Nunes Salles Cintia Cercato Alexander Benchimol Maria Edna de Melo Rua Mato Grosso, 306, cj. 1711 01239-040 – São Paulo, SP Fone: (11) 3079-2298/Fax: (11) 3079-1732 Secretária: Luciana Bastos [email protected] www.abeso.org.br SOBEMOM – Sociedade Brasileira de Estudos do Metabolismo Ósseo e Mineral Diretoria Nacional da SOBEMOM (2011-2013) Presidente Vice-Presidente Secretária Geral 2o Secretário Tesoureiro Geral 2a Tesoureira Conselho Fiscal João Lindolfo C. Borges Victória Zeghbi Cochenski Borba Cynthia Maria Alvares Brandão Nilson Roberto de Melo Luiz Claudio Gonçalves de Castro Ana Patricia de Paula Marise Lazaretti-Castro, Dalisbor Macerlo Weber Silva, Francisco Alfredo Bandeira e Farias Av. Angélica, 1757, cj. 103, Higienópolis 01227-200 – São Paulo. SP Fones: (11) 3822-1965/3826-4677 [email protected] www.sobemom.org.br editorial Consensos em tireoide – Guias para a prática clínica Laura S. Ward1*, Lea M. Z. Maciel2* Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 * Coeditoras da Edição Especial em Consensos em Tireoide Laboratório de Genética Molecular do Câncer, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCMUnicamp), Campinas, SP, Brasil 2 Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil 1 Correspondência para: Laura S. Ward Laboratório de Genética Molecular do Câncer, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas Rua Tessalia Vieira de Camargo, 126 13083-887 – Campinas, SP, Brasil Recebido em 30/Abr/2013 Aceito em 30/Abr/2013 161 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. A ciência avança a passos rápidos e o acesso à comunicação científica vem se tornando cada vez melhor e mais amplo, de modo que novas informações nos bombardeiam constantemente. Essas informações jorram a uma velocidade vertiginosa, nos afogam em novidades e nem sempre conseguimos distinguir quais são as realmente importantes, quais as que poderiam ser aplicadas à nossa prática diária. Mesmo pesquisadores dedicados em tempo integral e com exclusividade ao estudo de determinados tópicos enfrentam dificuldades em interpretar, qualificar e aplicar todas as informações. Como decidir o que é melhor para o meu paciente? Várias sociedades e entidades, como a AMB/CFM/ANS em seu Projeto Diretrizes (1), têm se dedicado a estabelecer formas de otimizar o cuidado aos pacientes com base nas evidências de literatura. O processo de elaboração de Diretrizes, Consensos ou Guias de aplicação de tais evidências na prática médica é árduo, demorado e exige que todas as evidências existentes sejam consideradas de forma crítica e desprovida de interesse. A American Thyroid Association (2) e a European Thyroid Association (3), em particular, vêm produzindo valiosos consensos que muitos de nós já utilizamos. Mas nem sempre o que é recomendado nos Estados Unidos ou na Europa pode ser aplicado em nosso meio ou nos convém. Por isso, o Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia reuniu alguns colegas especialistas que não apenas se dedicam ao estudo das evidências, mas também as produzem e publicam. Esta Edição Especial apresenta quatro consensos que mostram a experiência brasileira na condução de pacientes, na implementação de diagnósticos e de propostas terapêuticas para o manejo de indivíduos com Hipotireoidismo Congênito, com Hipotireoidismo Subclínico e com Hipertireoidismo, além de um consenso sobre a melhor forma de se utilizar e interpretar os Testes de Função Tireoidiana. Consensos são guias para a condução prática, escritos pensando em populações, em maiorias, em situações comuns. Eles devem ser interpretados e aplicados com equilíbrio e bom senso, considerando-se a particularidade de cada situação, a disponibilidade de exames e de profissionais no meio em que atuamos, as preferências do paciente, a nossa própria experiência como médicos. Consensos não são leis, não são absolutos nem definitivos. Novas evidências os modificam constantemente. Os consensos não devem, de forma alguma, substituir a relação médico-paciente. O que estamos oferecendo para vocês é um instrumento, um guia. Todos os consensos aqui apresentados foram revisados pela Dra. Nathalia Carvalho de Andrade, com quem também temos trabalhado na elaboração de Diretrizes para a AMB/CFM/ANS, seguindo a mesma metodologia e o mesmo rigor científico (1). Consensos em tireoide Publicamos esses consensos em português para facilitar a leitura de nossos colegas neste vasto país. Mas também publicamos em inglês, na versão digital de nossa revista, para que nossos consensos possam ser comparados com os das demais sociedades. Esperamos que eles sejam muito úteis para amparar suas decisões clínicas e para facilitar sua rotina de trabalho. 1. Projeto Diretrizes AMB/CFM/ANS. Disponível em: http://www. projetodiretrizes.org.br/ans/diretrizes.html. Acessado em: 3 Mar, 2013. 2. American Thyroid Association Professional Guidelines. Disponível em: http://thyroidguidelines.net/. Acessado em: 3 Mar, 2013. 3. European Thyroid Association guidelines. Disponível em: http:// www.eurothyroid.com/guidelines/eta_guidelines.php. Acessado em: 3 Mar, 2013. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. REFERÊNCIAS 162 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 editorial Destaques dos novos consensos sobre doenças da tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia João Hamilton Romaldini1,2, Danilo Villagelin1, Ana Beatriz Pinotti Pedro Miklos2,3 C onsenso é um processo de grupo em que a entrada de todos os membros é cuidadosamente considerada. É um longo processo de sintetizar a sabedoria de todos os participantes na melhor decisão possível. A raiz de consenso é o consentimento, que significa dar permissão. Quando se concorda com uma sugestão, com base nas evidências apresentadas, é dada permissão para o grupo prosseguir com a recomendação. Pode-se não concordar com a sugestão, mas, como foi alcançado um consenso, deve-se considerar a decisão de ir em frente, porque foi a melhor solução encontrada no momento atual. Esses novos consensos da diretoria de tiroide da SBEM foram o resultado de uma longa cooperação de seus membros, resultando em um excelente trabalho. Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas, SP, Brasil 2 Hospital do Servidor Público Estadual, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSP), São Paulo, SP, Brasil 3 Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Santo André, SP, Brasil 1 Consenso brasileiro para o diagnóstico e tratamento do hipertireoidismo: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Correspondência para: Danilo Villagelin Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Faculdade de Medicina, Campus II Av. John Boyd Dunlop, s/nº 13060-904 – Campinas, SP, Brasil [email protected] Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. O hipertireoidismo é uma doença que apresenta diversas etiologias, com quadro clínico variável dependendo da idade do paciente acometido, dos níveis dos hormônios tireoidianos e do tempo entre o início dos sintomas e o início da terapia. Está associado ao aumento da mortalidade tanto na forma aguda (crise tireotóxica) como na sua apresentação subclínica. Os autores realizaram 53 recomendações a respeito do diagnóstico, tratamento e monitoramento das diversas formas de hipertireoidismo. Algumas recomendações merecem destaques: Diminuição do uso do propiltiouracil (PTU): nos últimos anos aumentaram as evidências do potencial hepatotóxico do PTU, sobretudo em crianças. Atualmente seu uso se resume quase que exclusivamente no primeiro trimestre da gestação. O aumento do uso de metimazol: com a diminuição do uso do PTU devido aos potenciais efeitos colaterais e o aumento do uso de drogas antitireoidianas demonstrado pelas últimas pesquisas, o metimazol vem ganhando papel de destaque. Outro importante fato foram os estudos demonstrando a pequena possibilidade de teratogenecidade e seu uso seguro na gestação, particularmente após o primeiro trimestre. Radioiodo e oftalmopatia de Graves: reconhecimento que o radioiodo pode agravar o quadro de oftalmopatia de Graves, especialmente nos pacientes com fatores de risco (tabagismo, oftalmopatia preexistente e altos títulos do TRAb). Uso de glicocorticoides para a prevenção da oftalmopatia de Graves: indicação do uso de glicocorticoides em pacientes com oftalmopatia de Graves com fatores de risco que irão ser submetidos ao radioiodo. Recebido em 7/Abr/2013 Aceito em 7/Abr/2013 163 Destaques dos novos consensos Gestação e TRAb: orientação para realizar a dosagem do Trab em pacientes gestantes com doença de Graves, incluindo aquelas que já foram tratadas com iodo radioativo, com finalidade de pesquisar o hipertireoidismo fetal e neonatal. Apesar do grande esforço da diretoria do Departamento de Tiroide da SBEM, faz-se necessário mencionar que a maioria das recomendações não foi baseada em trabalhos duplo-cegos prospectivos e randomizados. Infelizmente, para algumas das recomendações talvez isso nunca seja possível em função do número de pacientes a serem estudados e o tempo de estudo necessário. Além desse fato, restam-nos algumas perguntas que ainda causam inquietude e não foram respondidas: • Por quanto tempo devem ser usadas as drogas antitireoidianas no hipertireoidismo por doença de Graves? • Existe diferença em relação à qualidade de vida entre as diferentes formas de tratamento para a doença de Graves? A oftalmopatia da doença de Graves continua sendo um desafio para a tiroidologia, com inúmeras perguntas ainda a serem respondidas. Entre elas, não está definido qual o melhor regime do uso de glicocorticoide para a profilaxia da oftalmopatia de Graves nos pacientes que forem submetidos ao radioiodo. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Consenso brasileiro para a abordagem clínica e tratamento do hipotireoidismo subclínico em adultos: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia O hipotireoidismo subclínico (HipoS) é hoje a alteração da função tireoidiana mais comumente observada, acometendo todas as faixas etárias, entre ambos os sexos, e está associada em alguns casos ao aumento da morbidade/mortalidade. O atual consenso vem em um excelente momento, trazendo respostas objetivas para assuntos controversos e guiando não apenas os endocrinologistas, mas grande parte dos médicos deste país diante de uma situação frequentemente encontrada na prática clínica. Algumas recomendações de destaque entre as 29 realizadas por esse grupo de renomados endocrinologistas são: Repetição da dosagem do TSH: o HipoS é uma situação em que existe a permanência do TSH acima 164 do limite da normalidade e o T4 livre normal. Em algumas situações, o TSH se eleva temporariamente e, após determinado período, retorna para valores da normalidade. Sempre se deve realizar ao menos uma dosagem com intervalo de, no mínimo, 3 a 6 meses para confirmação do diagnóstico e posterior tratamento. Existem fatores de risco bem determinados que estão associados à progressão do HipoS, como o TSH > 10 mUI/L, presença de anticorpos e sexo feminino. Classificação do HipoS: o HipoS está associado a mortalidade e a eventos cardiovasculares. Para facilitar a estratificação desses pacientes, podemos agrupá-los em formas leves a moderadas (TSH entre 4,5-9,9 mU/L) e severa (TSH ≥ 10 mU/L). Mortalidade cardiovascular e HipoS: associação em pacientes menores de 65 anos nessas condições, indicando o tratamento do HipoS nesses indivíduos. Gestação e HipoS: elaboração de valores de acordo com os trimestres da gestação e tratamento do HipoS na gestação. Apesar do extraordinário esforço desse grupo de endocrinologistas, algumas questões infelizmente não foram respondidas. Esperamos que o novo Consenso de Doenças Tireoidianas na Gestação, que está sendo elaborado pelo Departamento de Tireoide, possa responder a tais questões. Em relação ao screening do HipoS na gestação, talvez falte o rigor da evidência científica para endossar o screening universal, embora a quase totalidade dos endocrinologistas felizmente já faça uso de tal conduta. Outro importante aspecto que talvez em um futuro próximo se compreenda melhor é de que maneira pequenas flutuações da função tiroideana, como ocorre no HipoS, interferem na qualidade de vida e na função cardíaca. Qual será a melhor forma de mensurar esses achados? Hipotireoidismo congênito: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia O início da triagem neonatal para hipotireoidismo congênito (HC) levou ao reconhecimento e tratamento de bebês acometidos antes do aparecimento clínico de sinais e sintomas de hipotireoidismo. Esse método, muito difundido, tem em grande parte reduzido, se não eliminado, os efeitos neurológicos adversos do HC. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Destaques dos novos consensos Alguns importantes pontos a serem destacados nessa recomendação são: Obrigatoriedade de toda a criança realizar o screening e instituição precoce da terapia com L-tiroxina: o principal objetivo da triagem neonatal para o HC é evitar as sequelas, principalmente o retardo mental secundário ao hipotiroidismo. A triagem deve ser realizada em toda criança e, quando necessário, o início da terapêutica deve ocorrer nas duas primeiras semanas de vida. Diagnóstico diferencial entre formas de hipotiroidismo congênito permanente e transitório: o hipotireoidismo neonatal pode ser permanente ou transitório. Nas formas em que a etiologia do hipotireoidismo não está estabelecida, deve-se reavaliar esses pacientes após os 3 anos de idade, com a suspensão da levotiroxina (L-T4). Necessidade de investigação de outras anomalias congênitas: o HC está associado a anormalidades cardíacas, renais e neurológicas. Deve-se realizar o screening auditivo em portadores de HC. Todavia, alguns pontos em relação ao screening ainda estão em aberto. Não está definido qual o melhor método para a realização da triagem: TSH? TSH e T4? T4 apenas? Utilização dos testes de função tireoidiana na prática clínica Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Determinação de TSH: foram feitas importantes observações, tais como a importância do uso do TSH na avaliação inicial das doenças tiroidianas e a definição de seus valores de normalidade, questionando os eventuais benefícios em se tratar pacientes com TSH ≥ 2,5 e < 4,5 mIU/L, mas sugerindo um acompanhamento e observação desses últimos pacientes; avaliação e monitorização cuidadosa dos pacientes com TSH entre 4,5-10 mIU/L e T4L normal; utilização do TSH a cada cinco anos em mulheres acima dos 35 anos e em gestantes, além de pacientes com risco aumentado para doenças tireoidianas e as indicações pediátricas (crianças com baixa estatura e retardo de crescimento, hiperatividade, déficit de atenção e baixo rendimento escolar). Determinação do TRAb: outro ponto importante é o uso do TRAb no final do tratamento como mais uma ferramenta para avaliar a possibilidade de remissão ou não. Com o passar do tempo e o aumento das informações nas diversas áreas do conhecimento e da medicina, tornou-se cada vez mais difícil conseguir acompanhar todos os trabalhos e atualizações em tempo real. Os “consensos” são ferramentas extremamente úteis para todos os profissionais e, nesse sentido, compilam, organizam e classificam, de maneira prática, as diversas perguntas que se têm feito para determinadas situações. E o mais importante: respondem a essas perguntas com base na evidência científica que existe de melhor e mais atual. Entretanto, devem servir como guias e não como verdades absolutas ou imutáveis, sendo usados aliados ao bom senso e à realidade de cada indivíduo. Com o avanço cada vez maior da medicina, das áreas do conhecimento da genética e com esses exames mais acessíveis à população, talvez se alcance uma medicina mais personalizada, ajustando a terapêutica de maneira única para cada caso. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 165 consenso de tireoide Consenso brasileiro para a abordagem clínica e tratamento do hipotireoidismo subclínico em adultos: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia The Brazilian consensus for the clinical approach and treatment of subclinical hypothyroidism in adults: recommendations of the thyroid Department of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism Jose A. Sgarbi1, Patrícia F. S. Teixeira2, Lea M. Z. Maciel3, Glaucia M. F. S. Mazeto4, Mario Vaisman2, Renan M. Montenegro Junior5, Laura S. Ward6 RESUMO Disciplina de Endocrinologia e Metabologia, Faculdade de Medicina de Marília (Famema), Marília, SP, Brazil 2 Serviço de Endocrinologia, Departamento de Clínica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brazil 3 Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brazil 4 Disciplina de Endocrinologia e Metabologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (FMB-Unesp), Botucatu, SP, Brazil 5 Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brazil 6 Laboratório de Genética Molecular do Câncer, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCMUnicamp), Campinas, SP, Brazil Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. 1 Introdução: O hipotireoidismo subclínico (HSC), definido por concentrações elevadas do TSH em face de níveis normais dos hormônios tireoidianos, tem elevada prevalência no Brasil, particularmente entre mulheres e idosos. Embora um número crescente de estudos venha associando o HSC com maior risco de doença arterial coronariana e de mortalidade, não há ensaio clínico randomizado sobre o benefício do tratamento com levotiroxina na redução dos riscos e o tratamento permanece controverso. Objetivo: Este consenso, patrocinado pelo Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e desenvolvido por especialistas brasileiros com vasta experiência clínica em tireoide, apresenta recomendações baseadas em evidências para uma abordagem clínica do paciente com HSC no Brasil. Materiais e métodos: Após estruturação das questões clínicas, a busca das evidências disponíveis na literatura foi realizada inicialmente na base de dados do MedLine-PubMed e posteriormente nas bases Embase e SciELO – Lilacs. A força da evidência, avaliada pelo sistema de classificação de Oxford, foi estabelecida a partir do desenho de estudo utilizado, considerando-se a melhor evidência disponível para cada questão e a experiência brasileira. Resultados: Os temas abordados foram definição e diagnóstico, história natural, significado clínico, tratamento e gestação, que resultaram em 29 recomendações para a abordagem clínica do paciente adulto com HSC. Conclusão: O tratamento com levotiroxina foi recomendado para todos os pacientes com HSC persistente com níveis séricos do TSH ≥ 10 mU/L e para alguns subgrupos especiais de pacientes. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):166-83 Descritores Hipotiroidismo; hipotiroidismo subclínico; consenso; diretriz Correspondência para: José A. Sgarbi Disciplina de Endocrinologia e Metabologia, Faculdade de Medicina de Marília Av. Tiradentes, 1310 17519-000 – Marília, SP, Brazil Recebido em 5/Mar/2013 Aceito em 5/Mar/2013 166 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo subclínico ABSTRACT Introduction: Subclinical hypothyroidism (SCH), defined as elevated concentrations of thyroid stimulating hormone (TSH) despite normal levels of thyroid hormones, is highly prevalent in Brazil, especially among women and the elderly. Although an increasing number of studies have related SCH to an increased risk of coronary artery disease and mortality, there have been no randomized clinical trials verifying the benefit of levothyroxine treatment in reducing these risks, and the treatment remains controversial. Objective: This consensus, sponsored by the Thyroid Department of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism and developed by Brazilian experts with extensive clinical experience with thyroid diseases, presents these recommendations based on evidence for the clinical management of SCH patients in Brazil. Materials and methods: After structuring the clinical questions, the search for evidence in the literature was initially performed in the MedLine-PubMed database and later in the Embase and SciELO – Lilacs databases. The strength of evidence was evaluated according to the Oxford classification system and established based on the experimental design used, considering the best available evidence for each question and the Brazilian experience. Results: The topics covered included SCH definition and diagnosis, natural history, clinical significance, treatment and pregnancy, and the consensus issued 29 recommendations for the clinical management of adult patients with SCH. Conclusion: Treatment with levothyroxine was recommended for all patients with persistent SCH with serum TSH values ≥ 10 mU/L and for certain patient subgroups. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):166-83 Keywords Hypothyroidism; subclinical hypothyroidism; consensus; guidelines O hipotireoidismo subclínico (HSC) tem sido definido bioquimicamente pela presença de níveis séricos elevados do hormônio estimulador da tireoide (TSH) em face de concentrações séricas normais dos hormônios tireoidianos (1-3). Estima-se que a prevalência na população geral seja em torno de 4% a 10%, sendo maior no sexo feminino, em idosos e inversamente proporcional ao conteúdo de iodo na dieta (4-7). No Brasil, a prevalência de TSH elevado em uma amostra representativa de 1.220 mulheres adultas da cidade do Rio de Janeiro foi de 12,3%, alcançando 19,1% entre aquelas acima de 70 anos (8). Na região metropolitana de São Paulo, a prevalência de hipotireoidismo em 1.085 indivíduos foi de 8,0% (9), enquanto entre 1.110 indivíduos ≥ 30 anos da população nipo-brasileira de Bauru foi de 11,1% no sexo feminino e 8,7% no masculino (10) e, em uma população idosa da cidade de São Paulo, a prevalência de HSC foi de 6,5% e 6,1% para os sexos feminino e masculino, respectivamente (11). Na última década, um número crescente de estudos tem associado o HSC com maior risco de doença arterial coronariana e de mortalidade (12,13), mas, apesar disso, não há nenhuma evidência suficientemente forte e conclusiva em estudos prospectivos randomizados e duplo-cegos sobre potenciais benefícios da reposição com levotiroxina. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Recentemente, a Associação Americana de Tireoide em conjunto com a Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos publicou suas recomendações (14) para a abordagem do hipotireoidismo, mas com poucas recomendações específicas sobre a disfunção subclínica. No Brasil, não há nenhum consenso anterior sobre a abordagem diagnóstica e terapêutica do HSC. O consenso que apresentamos reúne esforços do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no desenvolvimento de recomendações baseadas em evidências disponíveis na literatura para a abordagem do paciente com HSC em nosso meio. Os principais objetivos foram o desenvolvimento de recomendações que auxiliem o clínico na melhor conduta para seu paciente, em um processo que evite procedimentos desnecessários, obedecendo às características do sistema de saúde brasileiro. MÉTODOS Este consenso obedece à política estratégica do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no desenvolvimento de consensos nacionais para as principais patologias da tireoide, dirigidos à nossa população e considerando a realidade do sistema de saúde brasileiro. O modelo seguido foi nos moldes do Programa Diretrizes (15) da Associação Médica Brasileira (AMB) e 167 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO Hipotireoidismo subclínico Conselho Federal de Medicina (CFM), por representar uma iniciativa genuinamente nacional e já conhecida pela comunidade médica e acadêmica do país. Após a escolha de participantes com reconhecida atua ção acadêmica e vasta experiência clínica em tireoide, elaboraram-se as questões clínicas a serem respondidas. A recuperação das publicações foi obtida por meio de busca nas bases MedLine-PubMed, Embase e SciELO – Lilacs. Os descritores foram identificados por diferentes mecanismos, como acessando o Citation (no PubMed) após a recuperação de publicações conhecidas que respondiam às questões elaboradas. Para a classificação (Tabela 1) do grau de recomendação ou força de evidência do trabalho, utilizou-se a classificação de Oxford (15), que estabelece a força da evidência a partir do desenho de estudo utilizado, considerando-se a melhor evidência disponível para cada questão e a experiência brasileira. A escolha deste sistema deu-se principalmente por ser a mesma já utilizada pelo Programa de Diretrizes da AMB/CFM (16), com o qual a comunidade médica e os meios acadêmicos brasileiros já estão habituados. Tabela 1. Definição do grau de recomendação das evidências segundo a classificação de Oxford (adaptado das referências 15 e 16) Recomendação Força da evidência A Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência B Estudos experimentais e observacionais de menor consistência C Relatos de casos (estudos não controlados) D Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO Qual a definição para HSC? Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 1 doenças tireoidianas, em um intervalo de confiança de 95% (entre os percentis 2,5 e 97,5) (17). Idealmente, os níveis normais de TSH deveriam se basear em valores obtidos por dosagens de material coletado em jejum, pela manhã, de indivíduos sem história pessoal ou familiar de doença tireoidiana, sem bócio, sem alterações tireoidianas ao exame ultrassonográfico e com anticorpos antitireoperoxidase (aTPO) e antitireoglobulina (aTg) negativos (18). Obter tal tipo de população, no entanto, é difícil e os valores de referência comumente utilizados para todas as raças, gêneros e etnias provêm, atualmente, de grandes estudos populacionais norte-americanos, que definiram como valores de referência para adultos normais níveis séricos do TSH entre 0,4 e 4,5 mU/L (4,19). Uma reanálise estatística dos dados populacionais norte-americanos, levando em conta o efeito de idade, raça/etnia, gênero e peso corporal em indivíduos com ausência de doença tireoidiana, bócio ou uso de medicamentos, ausência de gravidez, uso de estrógenos, andrógenos, lítio, ausência de anticorpos antitireoide e concentração urinária normal de iodo, mostrou que as médias dos valores normais de TSH se situam entre 1,40 e 1,90 mU/L, sendo 1,0 mU/L mais elevados em brancos do que nos negros (19). A tabela 2 mostra os níveis médios e percentis 2,5 e 97,5 obtidos nesta análise de uma população de 13.296 indivíduos sem doença tireoidiana aparente, em diferentes faixas etárias (19). Em um estudo nacional com 960 adultos entre 18 e 60 anos (excluindo grávidas) sem bócio, sem anticorpos antitireoidianos, que não usavam medicamentos potencialmente modificadores de função ou status tireoidiano, não tinham história pessoal ou familiar de tireopatia e que possuíam níveis normais de T4L sérico, o valor médio Tabela 2. Distribuição média e percentis 2,5 e 97,5 dos valores de TSH obtidos em 13.296 indivíduos de todas as raças e ambos os gêneros, livres de doenças tireoidianas (modificado da referência 19) Percentil 2,5 Média Percentil 97,5 Apesar de o termo subclínico associar-se com a ausência de sintomas óbvios da falência de produção hormonal pela glândula tireoide, o HSC é definido bioquimicamente pela elevação dos níveis séricos do TSH na presença de concentrações séricas normais do T4 livre (T4L) (1,2) (D). Todas as idades 0,42 1,40 4,30 13-19 0,41 1,30 3,78 20-29 0,40 1,30 3,60 30-39 0,38 1,25 3,60 40-49 0,44 1,40 3,90 Qual o valor normal do TSH na população geral, de acordo com a idade e em populações específicas? Os níveis de referência para o TSH, assim como os de qualquer ensaio, são obtidos pela média do valor de TSH em uma população saudável supostamente sem 50-59 0,49 1,50 4,20 60-69 0,46 1,66 4,70 70-79 0,47 1,74 5,60 80 + 0,44 1,90 6,30 168 Idade (anos) Valores expressos como TSH, mU/L. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo subclínico obtido para o TSH foi de 1,52 mU/L, com percentil 2,5 de 0,43 mU/L e percentil 97,5 de 3,24 mU/L (20). O efeito da idade no limite superior do que se deve considerar como normal deve ser sempre lembrado, particularmente quando se considera o tratamento com levotiroxina em indivíduos mais idosos, nos quais a elevação fisiológica dos níveis séricos de TSH pode representar um fator de proteção cardiovascular (21) e estar associado com maior longevidade (22). Os valores de referência na população pediátrica são mais elevados logo após o nascimento, diminuindo rapidamente nos primeiros dias e progressivamente com o evoluir da idade (23,24). A tabela 3 mostra os percentis obtidos numa população de 654 meninos e meninas de até 18 anos de idade (23). A concepção se acompanha de diminuição dos valores séricos de TSH (25). No entanto, a complexidade e dinâmica das alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez, particularmente no primeiro trimestre, dificultam o estabelecimento de valores de referência. Alterações no metabolismo do iodo, produção de gonadotrofina coriônica (beta-HCG), aumento nas proteí nas carregadoras de hormônios tireoidianos, alterações da excreção e elevação dos níveis dos hormônios tireoidianos per se modificam os valores de referência (26). Assim, é importante o estabelecimento de padrões laboratoriais de referência para cada população, particularmente em regiões onde pode haver déficit de iodo. Na ausência desses padrões locais, podem ser considerados como limites superiores de normalidade valores de TSH até 2,5 mU/L no primeiro trimestre e de até 3,5 mU/L nos dois trimestres seguintes, como descrito em estudos com grande número de gestantes (27,28). Tabela 3. Percentis de referência para TSH em crianças (modificado da referência 23) O valor de referência de TSH sérico normal para adultos é entre 0,4 e 4,5 mU/L (4,19) (A). Para pacientes pediá tricos (23) (B) e idosos (22) (B) é importante avaliar os valores de acordo com os intervalos de normalidade propostos para cada faixa etária. Na gravidez, valores de TSH de até 2,5 mU/L no primeiro trimestre e de até 3,5 mU/L nos dois trimestres seguintes devem ser considerados como limites superiores de normalidade na ausência de referências laboratoriais locais (27) (B). Como diagnosticar o HSC? Em geral, a investigação laboratorial das disfunções tireoidianas é direcionada a indivíduos com suspeita clínica de tireopatia. O HSC pode estar associado a sintomas de hipotireoidismo (5), mas as manifestações clínicas não costumam ser evidentes e, quando ocorrem, podem apresentar caráter bastante inespecífico. Assim, a investigação seria realizada em situações nas quais existe a suspeita para o HSC ou como screening em grupos específicos de indivíduos, como em mulheres acima de 35 anos a cada cinco anos, pacientes com historia prévia ou familiar de doença tireoidiana, submetidos à cirurgia de tireoide, terapia prévia com iodo radioativo ou radiação externa no pescoço; diabetes tipo 1, história pessoal ou familiar de doença autoimune, síndrome de Down e Turner, tratamento com lítio ou amiodarona, depressão, dislipidemia e hiperprolactinemia (1,14). O diagnóstico do HSC é bioquímico e consiste na detecção de concentrações séricas elevadas do TSH na presença de níveis normais do T4L, excluindo-se outras causas (Tabela 4) de elevação do TSH (2,17). Embora Tabela 4. Causas de elevação das concentrações séricas do TSH em vigência de concentrações normais do T4L que devem ser diferenciadas do HSC Causas Percentil 2,5 25 50 75 97,5 7 dias 0,32 1,66 3,11 5,30 12,27 14 dias 0,34 1,64 3,01 5,06 11,44 21 dias 0,35 1,61 2,89 4,76 10,43 28 dias 0,36 1,58 2,80 4,55 9,75 3 meses 0,32 1,78 3,25 5,32 11,21 1 ano 0,38 1,55 2,62 4,10 8,14 4 anos 0,66 1,52 2,18 3,02 5,15 7 anos 0,80 1,69 2,35 3,19 5,24 12 anos 0,66 1,48 2,11 2,90 4,88 18 anos 0,49 1,22 1,79 2,51 3,38 Valores expressos com TSH, mU/L. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Elevação transitória de TSH Ajustes recentes na dosagem de levotiroxina Hipotireoidismo subtratado com levotiroxina Recuperação da tireoidite subaguda Após administração de radioiodo para doença de Graves Fase de recuperação da doença de Graves Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Idade Recomendação 2 Outras causas de elevação de TSH Elevação do TSH com o passar da idade Uso de TSH recombinante em pacientes operados para câncer da tireoide Insuficiência adrenal primária não tratada Reação cruzada do TSH com anticorpos heterófilos contra proteínas de ratos Mutações no receptor de TSH 169 Hipotireoidismo subclínico um valor de corte superior exato e absoluto para o TSH possa nunca ser definido (28), valores do TSH entre 4,5 mU/L e 20 mU/L têm sido aceitos como de corte (4,19) e o máximo (13), respectivamente, para o diagnóstico do HSC. O HSC deve ser diferenciado ainda de outras causas (Tabela 4) de TSH elevado em vigência de concentrações séricas normais do T4L, tais como a elevação fisiológica do TSH com o passar da idade (29), uso de TSH recombinante em pacientes operados para câncer da tireoide (30), insuficiência adrenal primária não tratada (31), reação cruzada do TSH com anticorpos heterófilos contra proteínas de ratos (32) e presença de mutações no receptor do TSH (33). Na maioria dos casos, a realização de uma anamnese cuidadosa auxilia o clínico no estabelecimento do diagnóstico correto. Recomendação 3 O HSC é diagnosticado bioquimicamente pela concentração sérica de TSH ≥ 4,5 mU/L na presença de níveis normais do T4L (4,19) (A), excluindo-se outras causas de elevação do TSH. O consenso aceita valores até 20 mU/L como limite máximo para o TSH no diagnóstico de HSC (13) (D). Recomendação 4 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. A determinação sérica do TSH deve ser solicitada em situações nas quais existe a suspeita clínica para o HSC (5) (A) ou como screening em grupos específicos de indiví duos com alto risco (1) (D). Como diferenciar o HSC persistente e progressivo das formas transitórias? Somente pacientes com HSC persistente devem ser considerados para tratamento. Assim este ser diferenciado de situações associadas à elevação transitória do TSH (Tabela 4), tais como na recuperação da tireoidite subaguda (34), após administração de radioiodo para tratamento de doença de Graves (35) e na fase de recuperação de doenças debilitantes (36). Uma proporção significativa de pacientes com HSC apresenta normalização das concentrações de TSH durante os primeiros 2 a 5 anos de seguimento (37), particularmente aqueles com valores séricos do TSH ≤ 10,0 mU/L (38). Assim, tem sido proposto que, na suspeita de HSC, a determinação do TSH seja repetida em período de 3 a 6 meses para excluir erro laboratorial ou causas transitórias de elevação do TSH (1). 170 Recomendação 5 O HSC persistente ou progressivo deve ser diferenciado de causas transitórias de elevação do TSH, as quais podem regredir durante o seguimento (37) (A), particularmente em pacientes com níveis séricos do TSH ≤ 10 mU/L (38) (B). O TSH deve ser repetido, inicialmente, em três meses para confirmação de HSC persistente (1) (D). Como classificar o HSC de acordo com os níveis do TSH? O HSC tem sido classificado de acordo com a magnitude da elevação das concentrações séricas de TSH, de acordo com o risco de progressão para o hipotireoidismo manifesto e de associação com comorbidades. Níveis séricos de TSH ≥ 10 mU/L associam-se com maior risco de progressão ao hipotireoidismo manifesto (39), de doença arterial coronariana e de morte (13). Assim, alguns autores têm proposto subclassificar o HSC de acordo com sua gravidade, em HSC leve-moderado (TSH > 4,5-9,9 mU/L) ou grave (TSH ≥ 10 mU/L) (2). Recomendação 6 HSC poderia ser classificado, de acordo com as concentrações séricas de TSH, considerando-se as taxas de evolução para hipotireoidismo manifesto (39) (B) e o risco de eventos coronários e de mortalidade (13) (A), em leve-moderado (TSH 4,5 - 9,9 mU/L) e grave (TSH ≥ 10,0 mU/L) (2) (D). HISTÓRIA NATURAL Quais os fatores preditores de progressão ao hipotireoidismo manifesto? O HSC pode progredir para o hipotireoidismo clínico e manifesto, manter-se relativamente estável por longos períodos ou regredir para normalização da função tireoidiana, na dependência de características individuais e da população (40). No estudo de Whickman (7), em mulheres com níveis de TSH elevados (> 6 mU/L) e anticorpos antitireoidianos positivos, a taxa de progressão anual para hipotireoidismo manifesto foi de 4,3%, enquanto naquelas com níveis de TSH elevados e anticorpos tireoidianos negativos foi de apenas 2,6%. Em pelo menos mais um estudo longitudinal, a combinação de TSH elevado e anticorpos antitireoidianos positivos foi preditora de progressão ao hipotireoidismo manifesto no sexo feminino (41). Estudos prospectivos não populacionais mostraram taxas Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo subclínico Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 elevação progressiva do TSH parecem ser preditores de hipotireoidismo manifesto nessa faixa etária (51,52). Recomendação 7 Sexo feminino (7,39) (B), nível do TSH sérico (39) (B), autoimunidade tireoidiana (7,39,41) (B) e ingestão aumentada de iodo (45) (A) são fatores de risco associados com a progressão ao hipotireoidismo manifesto. Níveis de TSH ≥ 10 mU/L associam-se com maior risco para progressão ao hipotireoidismo manifesto em adultos (38,39,41,42) (B) e idosos (48) (A). Não há evidências de risco no sexo masculino, possivelmente em razão da baixa prevalência do hipotireoidismo entre homens. Recomendação 8 O risco de progressão ao hipotireoidismo manifesto é baixo entre crianças e adolescentes (49,50) (B), sendo mais provável na presença de bócio, doença celíaca, anticorpos antitireoidianos positivos e com níveis mais elevados do TSH (51,52) (B) Recomendação 9 A determinação de anticorpos aTPO (7,39,42) (B) e o ultrassom da tireoide (43,44) (A,B) podem ser úteis na determinação da etiologia do HSC e na predição do risco de progressão ao hipotireoidismo manifesto. SIGNIFICADO CLÍNICO O HSC afeta a qualidade de vida e a função neurocognitiva? Os efeitos do hipotireoidismo manifesto sobre a qualidade de vida são bem estabelecidos, mas permanecem controversos no HSC. Apenas 24% dos pacientes com HSC foram classificados como clinicamente hipotireóideos em um estudo para o desenvolvimento de um índice clínico baseado em escores para avaliação da gravidade do hipotireoidismo (53). No estudo transversal de Colorado (EUA) (5), indivíduos classificados como portadores de HSC reportaram mais sintomas de hipotireoidismo em comparação aos controles eutireóideos, mas a sensibilidade e o valor preditivo positivo foram baixos. Em um estudo da comunidade australiana (54), HSC não se associou com piora do bem-estar ou da qualidade de vida, resultado similar a um estudo transversal realizado no Brasil (55). Em populações específicas de idosos (56-58), o HSC não se associou 171 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. de progressão mais elevadas, mas, em geral, também associadas ao nível sérico do TSH e à presença de autoimunidade tireoidiana. Assim, Diez e Iglesias (39) observaram que pacientes com HSC e níveis de TSH < 10 mU/L tiveram uma taxa (1,76%) de incidência de hipotireoidismo manifesto menor comparados aos pacientes com níveis de TSH mais elevados, de 10-14,9 mU/L (19,7%) e de 15-19,9 mU/L (73,5%). No estudo de Huber e cols. (42), a taxa de incidência anual de hipotireoidismo manifesto variou de 3,3% (TSH 6 – 12 mU/L) para 11,4% (TSH > 12 mU/L), e na dependência da presença de anticorpos antitireoidianos positivos. No Brasil, Rosario e cols. (43) mostraram que não apenas a presença de anticorpos aTPO, como também aspectos ultrassonográficos sugestivos de tireoidite autoimune, associam-se com maior risco de progressão ao hipotireoidismo manifesto. Similarmente, Marcocci e cols. (44) concluíram que pacientes com tireoidite autoimune e hipoecogenicidade ao ultrassom da tireoide tinham maior probabilidade de progredir ao hipotireoidismo manifesto. Ingestão aumentada de iodo também se constituiu em um fator de risco para progressão em um estudo populacional chinês (45). Por outro lado, uma proporção significativa de pacientes com níveis séricos elevados do TSH em uma primeira determinação pode evoluir com normalização do TSH em uma segunda determinação. Em um grande estudo populacional israelense (37), a taxa de normalização foi de 62% em cinco anos de seguimento, tornando obrigatória a repetição do TSH antes de qualquer possível decisão sobre o tratamento. A regressão ao estado de eutireoidismo tende a ser mais frequente em pacientes com concentrações séricas do TSH de 4-6 mU/L, enquanto valores de TSH entre 10-15 mU/L são associados à baixa frequência de normalização da função tireoidiana (38,39,46,47). A maioria de pacientes idosos com HSC persiste nessa condição após 12 (76,7%) (38) e 24 meses (56%) (48), sendo que valores de TSH ≥ 10 mU/L foram um preditor independente de risco para progressão ao hipotireoidismo manifesto (39,48). Em crianças e adolescentes, o HSC parece ter baixo risco de progressão para hipotireoidismo manifesto (49,50). Em um estudo prospectivo, a maioria dos pacientes (88%) cursou com normalização ou estabilização dos níveis de TSH (49). A presença de bócio, doença celíaca, anticorpos antitireoidianos positivos, níveis mais elevados de TSH na apresentação inicial ou Hipotireoidismo subclínico com efeito significativo sobre a cognição, depressão e ansiedade. No Brasil, os resultados de estudos transversais têm sido controversos. Almeida e cols. (59) não observaram nenhuma diferença da avaliação neurocognitiva entre 65 pacientes com HSC e 31 controles normais. O mesmo grupo constatou, em outro estudo, que, apesar de sintomas de depressão e ansiedade associarem-se positivamente com níveis de TSH em pacientes com HSC, não houve benefícios com a reposição de levotiroxina sobre os mesmos achados (60). Recomendação 10 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. O HSC pode ser sintomático em uma proporção pequena de pacientes (5,53) (A,B), mas não há evidência contundente sobre os efeitos do HSC na qualidade de vida e na função cognitiva (54) (A). Em idosos, o HSC não se associou com efeitos sobre a função cognitiva, depressão e ansiedade (56-58) (A,B,A). Há associação entre HSC e dislipidemia? Sabe-se que os hormônios tireoidianos atuam em diferentes vias do metabolismo lipídico e que o hipotireoidismo manifesto pode cursar com dislipidemia por diferentes mecanismos (61). A postulação de que tais alterações possam ocorrer já no HSC tem sido levantada nos últimos anos, mas os resultados de diferentes estudos são discrepantes. No estudo de Rotterdam (Holanda) (62), embora tenha sido observada forte associação do HSC com o risco de aterosclerose e infarto do miocárdio em mulheres idosas, nenhuma diferença significante foi encontrada nos níveis séricos de colesterol total e colesterol não-HDL (triglicerídeos e LDL-c não foram avaliados) entre os grupos de indivíduos com HSC e eutireoidismo. Dados obtidos do estudo NHANES (National Health and Nutritional Examination Survey) (63) na população norte-americana reforçaram esses achados ao não demonstrarem evidência de associação do HSC com dislipidemia. Da mesma forma, nenhuma associação de HSC com anormalidades no perfil lipídico foi encontrada na população nipo-brasileira (10). Em um grande estudo (64) transversal com 7.000 pacientes ambulatoriais consecutivos, não houve associação do HSC com alterações nos níveis séricos de colesterol total, LDL-c e triglicerídeos. Por outro lado, outros estudos populacionais encontraram associação entre HSC e dislipidemia. No estudo The Health, Aging, and Body Composition Study (65), HSC associou-se significativamente com aumento dos níveis séricos do colesterol total, mas apenas entre 172 mulheres negras. No estudo australiano em Busselton (66), níveis séricos elevados do LDL-c associaram-se ao HSC mesmo após ajustes para sexo e idade, e o estudo populacional de Tromso (67) também constatou uma correlação positiva entre TSH sérico com variáveis lipídicas. O estudo de Colorado (5), com mais de 25.000 participantes (2.336 com HSC), demonstrou associação significativa do HSC com níveis séricos elevados do colesterol total e uma correlação positiva entre os níveis séricos do TSH e do colesterol total, mas as análises não foram ajustadas para idade e sexo. Mais recentemente, os resultados de associação do HSC com dislipidemia também foram demonstrados em uma população chinesa (68). Fatores que parecem contribuir e fortalecer a associação do HSC com dislipidemia incluem níveis de TSH > 10,0 mU∕ L (69,70), tabagismo (71) e resistência insulínica (72,73). Além disso, estudos populacionais envolvendo indivíduos eutireoidianos sugerem que pequenas elevações dos níveis séricos de TSH, mesmo dentro da faixa da normalidade, podem associar-se com elevações de variáveis lipídicas (74,75). Recomendação 11 Há discordância entre os estudos populacionais sobre uma potencial associação do HSC com dislipidemia, mas níveis séricos de TSH > 10 mU/L (69,70) (A), tabagismo (71) (B) e resistência insulínica (72,73) (B) associam-se com maior risco para dislipidemia no HSC. Quais os efeitos do HSC sobre o endotélio vascular? Os hormônios tireoidianos exercem efeitos sobre o endotélio e as células musculares lisas vasculares, que, por sua vez, desempenham papel primordial na modulação do tônus vascular (76). Sabe-se ainda que o receptor de TSH é expresso nas células musculares lisas vasculares (77) e que um efeito direto do TSH nas células endoteliais humanas tem sido demonstrado (78,79). Lekakis e cols. (80) foram os primeiros a descrever uma relação negativa entre HSC e a vasodilatação dependente do endotélio utilizando a técnica da medida da dilatação fluxo-mediada da artéria braquial, posteriormente confirmada por outros estudos (81,82). Em ensaio randomizado duplo-cego cruzado, Razvi e cols. (83) mostraram que a terapia de reposição com levotiroxina aumentou a dilatação fluxo-mediada da artéria braquial em pacientes com HSC. Mais recentemente, Traub-Weidinger e cols. (84) observaram uma disfunção microvascular coronariana reversível após tratamento com levotiroxina em 10 pacientes com HSC por doença autoimune. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo subclínico Há escassos estudos na literatura sobre os efeitos do HSC sobre o endotélio vascular, a maioria com amostra insuficiente de pacientes, limitando o poder de evidência sobre a relação causa-efeito. Quais os efeitos do HSC sobre a função cardíaca? Os hormônios tireoidianos exercem importantes efeitos na fisiologia cardíaca por meio de mecanismos gênicos e não gênicos e especula-se que alterações desses mecanismos no HSC poderiam associar-se com alterações da estrutura e função cardíaca, assim como ocorre no hipotireoidismo manifesto (76). Alterações das funções sistólica e diastólica têm sido reportadas em pacientes com HSC em estudos pequenos e com limitações metodológicas (85-91), enquanto nenhuma alteração estrutural ou funcional foi associada ao HSC em dois estudos populacionais (92,93). Por outro lado, a associação do HSC com insuficiência cardíaca tem sido demonstrada de forma mais consistente em estudos epidemiológicos e de metanálise, particularmente para concentrações séricas do TSH > 10 mU/L (94-97) e em idosos (94,95,97). Por outro lado, em uma única coorte com determinações repetidas da função tireoidiana através do tempo, a associação do HSC persistente com insuficiência cardíaca em pacientes idosos não se confirmou, sugerindo que efeitos do HSC transitório poderiam mascarar aqueles do HSC persistente em estudos baseados em apenas uma única determinação da função tireoidiana (98). Recomendação 13 Estudos populacionais não observaram evidência consistente de efeitos do HSC sobre a estrutura cardíaca e nas funções sistólica e diastólica (92,93) (B,A). Recomendação 14 Há evidência mostrando associação significativa do HSC com insuficiência cardíaca congestiva, particularmente em idosos (94,95,97) (A) e para níveis de TSH acima 10 mU/L (96) (A). Há associação do HSC com o risco cardiovascular e de mortalidade? Vários estudos populacionais prospectivos (10,12,62, 94-107) exploraram potenciais associações do HSC com o risco cardiovascular e mortalidade, mas os resultados são divergentes, possivelmente em razão de múltiplos fatores, como diferenças nas definições empregaArq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 das para HSC e doença arterial coronariana, inclusão de populações com características específicas, com diferentes etnias e faixas de idade, diferentes critérios de inclusão e exclusão e por diferenças em ajustes para fatores de confusão com interferência no prognóstico, entre outros (108). No Brasil, em um único estudo populacional prospectivo na comunidade nipo-brasileira de Bauru (10), o HSC associou-se significativamente com maior risco de morte por qualquer causa em 7,5 anos de seguimento, mas não com a mortalidade por causa cardiovascular. No entanto, o número de eventos foi pequeno, o que deve ter limitado o poder estatístico de encontrar significância. Além disso, por se tratar de uma população específica de nipo-brasileiros, os dados não podem ser extrapolados para toda a população brasileira. O impacto do HSC no risco cardiovascular tem sido ainda investigado em diferentes metanálises (109-112), mas os resultados obtidos também se mostraram divergentes, possivelmente em razão da heterogeneidade entre os estudos. Mais recentemente, entretanto, uma complexa metanálise (13) baseada em dados individuais de 11 estudos prospectivos incluiu 55.287 participantes com critérios homogêneos de inclusão e exclusão e uma definição única para HSC e doença arterial coronariana. Neste estudo (13), HSC associou-se significativamente com maior risco de doença arterial coronariana e de morte por doença arterial coronariana. Os riscos para ambos os desfechos foram maiores para concentrações do TSH ≥ 10 mU/L, mas a mortalidade por doença arterial coronariana foi significativa a partir de 7 mU/L. Em idosos, por outro lado, uma metanálise (21) não encontrou associação do HSC com o risco cardiovascular e mortalidade, sugerindo que o HSC não exerce o mesmo efeito sobre o risco cardiovascular em idosos comparando-se a uma população mais jovem. Recomendação 15 Há evidência consistente sobre a associação do HSC com o risco de doença arterial coronariana e de morte por doen ça arterial coronariana, particularmente para valores do TSH ≥ 10 mU/L (13) (A), mas não em idosos > 65 anos (21) (A). TRATAMENTO Quando tratar o paciente com HSC? 173 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 12 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipotireoidismo subclínico O risco de progressão ao hipotireoidismo franco pode ser um primeiro parâmetro a ser considerado na decisão clínica sobre o tratamento. Nesse sentido, pacientes com HSC persistente, particularmente com concentrações séricas do TSH ≥ 10 mU/L (38,39,41,42), aTPO positivo (7,39,41) e/ou com alterações ultrassonográficas (44) sugestivas de autoimunidade tireoidiana, seriam candidatos ao tratamento em razão das características associadas com maior taxa de progressão ao hipotireoidismo manifesto. A presença de sintomas atribuíveis ao hipotireoidismo é frequentemente considerada por clínicos na indicação do tratamento, entretanto, os efeitos da terapia de reposição com levotiroxina no HSC sobre o humor, cognição e qualidade de vida divergem entre diferentes estudos, de acordo com o tipo de população estudada, com a forma de definição de HSC e com os métodos de mensuração dos desfechos em questão. Poucos foram os ensaios clínicos, randomizados e controlados por placebo que avaliaram o impacto do tratamento nesses desfechos. Alguns demonstraram efeitos benéficos (113-116), enquanto outros não confirmaram tais resultados (117-120). Em idosos com HSC, o tratamento com levotiroxina não resultou em melhora da função cognitiva em um estudo randomizado comparado por placebo (120), embora somente 27 dos 42 indivíduos tratados com placebo tenham completado o estudo, o que pode ter influenciado os resultados. Outro possível benefício do tratamento com levotiroxina em pacientes com HSC seria na dislipidemia. No entanto, poucos estudos randomizados controlados por placebo avaliaram o efeito da levotiroxina no perfil lipídico de pacientes com HSC. Alguns deles não encontraram redução nos níveis das variáveis lipídicas com o tratamento (112-115,118), enquanto outros demonstraram efeitos favoráveis (67,83,121-123). Duas metanálises também avaliaram os efeitos da reposição com levotiroxina no perfil lipídico de pacientes com HSC (69,70). A primeira metanálise (69) foi favorável ao tratamento, mas a maioria dos estudos selecionados foi não randomizada. Por outro lado, na segunda metanálise (70), que selecionou apenas estudos randomizados comparados por placebo, os efeitos benéficos do tratamento com levotiroxina foram apenas marginais e somente sobre o colesterol total. Ambas as metanálises (69,70) mostraram que potenciais benefícios do tratamento ocorreriam em pacientes com níveis de TSH > 10,0 mU/L. Posteriormente, alguns estudos randomizados foram publicados com o mesmo objetivo, mas 174 todos com limitações metodológicas. Ravzi e cols. (83) observaram efeitos benéficos do tratamento com levotiroxina nos níveis de colesterol total e LDL-c em um estudo randomizado e cruzado, porém também sem diferenças em relação ao grupo placebo e, ao final de três meses, somente 71/100 pacientes estavam com níveis de TSH na faixa alvo. Adrees e cols. (124) demonstraram efeitos favoráveis do tratamento com levotiroxina em mulheres com HSC em um estudo de análise pareada (pré- e pós-intervenção) e, no Brasil, Teixeira e cols. (125) demonstraram que a reposição com levotiroxina proporcionou redução dos níveis de LDL-c e colesterol total em um ensaio randomizado controlado por placebo, especialmente em mulheres menopausadas, com anticorpos antitireoidianos positivos e com níveis séricos do TSH > 8,0 mU/L. No entanto, apenas 38 dos 60 participantes concluíram 6 meses de tratamento. Também são escassos os estudos randomizados controlados por placebo que demonstraram efeito benéfico do tratamento do HSC na função endotelial (83,122), assim como sobre a estrutura e função cardía ca, os quais ainda apresentam limitações metodológicas e resultados conflitantes (83,87,88,126-129). Há, entretanto, evidência (13) consistente de associação do HSC com maior risco de doença arterial coronariana e morte por doença arterial coronariana, particularmente para níveis de TSH acima de 10 mU/L. A mortalidade por doença arterial coronariana foi ainda significativamente maior para valores de TSH a partir de 7 mU/L. Em uma metanálise (21), a associação do HSC com maior risco cardiovascular e de mortalidade foi significativa apenas para indivíduos com idade inferior a 65 anos. Apesar desses dados sobre associação de risco entre o HSC e desfechos cardiovasculares e de mortalidade, até o momento nenhum ensaio clínico randomizado controlado por placebo foi conduzido para avaliar o impacto do tratamento com levotiroxina sobre esses desfechos em pacientes com HSC. Há, no entanto, indícios indiretos de potenciais benefícios deduzidos a partir de dados obtidos de estudos de coortes populacionais para avaliação desses desfechos, nos quais parte da população com HSC foi tratada e outra não. Na coorte do Cardiovascular Health Study, indivíduos com HSC tratados com levotiroxina apresentaram menor risco de desfechos cardiovasculares comparados aos não tratados (97). A reanálise do estudo de Whickham (12) demonstrou que o tratamento do HSC associou-se com redução na mortalidade total após 20 anos de seguimento, mesmo após múltiplos ajustes para outros Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo subclínico fatores de influência no prognóstico. No estudo PreCIS –Preventive Cardiology Information System, Cleveland Clinic – EUA (106), pacientes com HSC moderado (TSH > 6,0-10,0 mU/L) e hipotireoidismo franco apresentaram maior risco de mortalidade por todas as causas, especialmente nos indivíduos com menos de 65 anos e que não receberam levotiroxina ao longo da coorte. Finalmente, em uma coorte do Reino Unido (130), pacientes adultos jovens (40-70 anos) com diagnóstico recente de HSC (TSH, 5,01 – 10 mU/L), que haviam recebido tratamento com levotiroxina, apresentaram menor risco de eventos de doença arterial coronariana e de mortalidade por todas as causas em 7,6 anos de seguimento comparados aos indivíduos que não receberam levotiroxina. Porém, nenhum efeito favorável foi observado para indivíduos idosos (> 70 anos). Recomendação 16 O tratamento do HSC permanece controverso e não sustentado por evidência, uma vez que inexistem estudos randomizados e controlados por placebo com número suficiente de pacientes que demonstre benefícios do tratamento sobre o risco cardiovascular e de mortalidade. Assim, o tratamento deve ser considerado em situações específicas, na dependência de evidências disponíveis sobre o significado clínico do HSC, em subgrupos de pacientes que poderiam se beneficiar do tratamento e mediante julgamento clínico individual (D). Recomendação 17 O tratamento do HSC deve ser considerado apenas para pacientes com HSC persistente, após confirmação dos níveis séricos do TSH após 3 a 6 meses (37) (A). Recomendação 18 O consenso recomenda o tratamento com levotiroxina para todos pacientes com HSC persistente e concentrações séricas do TSH ≥ 10 mU/L (Tabela 5), em razão da maior probabilidade de progressão ao hipotireoidismo franco (39,41,42) (B), maior risco de insuficiência cardíaca (96) (A), doença arterial coronariana e de mortalidade (13) (A). Há ainda estudos de coorte populacional com indícios indiretos mostrando benefícios do tratamento do HSC sobre o risco cardiovascular e de mortalidade (12,97,106,130) (B). Além disso, há evidência (70) (A) sugerindo efeito favorável do tratamento com levotiroxina sobre os níveis séricos do colesterol total em pacientes com HSC e níveis de TSH > 10 mU/L. Recomendação 19 Para pacientes com HSC persistente e níveis séricos do TSH < 10 mU/L (Tabela 5), o tratamento pode ser considerado para subgrupos de pacientes com características específicas, conforme abaixo: Pacientes do sexo feminino (7,39) (B), com aTPO positivo (7,39,41) (B) e/ou com alterações ultrassonográficas sugestivas de tireoidite de Hashimoto (43,44) (A,B) e com elevação progressiva dos níveis séricos do TSH, em razão do maior risco de progressão ao hipotireoidismo franco. Pacientes com doença cardiovascular preexistente ou com risco cardiovascular elevado (ex.: síndrome metabólica, dislipidemia, diabetes, hipertensão arterial), particularmente para indivíduos com idade < 65 anos (21) (A) e com níveis de TSH > 7 mU/L (13) (A), em razão do maior risco cardiovascular e de morte por doença cardiovascular. O consenso não encontrou evidência que sustente recomendação do tratamento com levotiroxina em pacientes com HSC com objetivo de alívio de sintomas, melhora da qualidade de vida ou da função cognitiva. No entanto, o consenso concorda com recomendação prévia (1) (D), na dependência de julgamento clínico individual, da realização de teste terapêutico com levotiroxina durante curto período de tempo. Se as manifestações clínicas permanecerem inalteradas após normalização do TSH, o tratamento deverá ser suspenso. Parâmetro TSH (> 4,5 < 10 mU/L) TSH (≥ 10 mU/L) Não Sim Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Tabela 5. Recomendações (R) para o tratamento do hipotireoidismo subclínico persistente Idade ≤ 65 anos Sem comorbidades (R18) Risco de progressão ao hipotireoidismo franco (R 19-A) Doença cardiovascular preexistente ou risco cardiovascular (R 19-B) Sintomas de hipotireoidismo (R 19-C) Idade > 65 anos (R 20, R21) Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Considerar tratamento Sim Considerar tratamento se TSH ≥ 7,0 mU/L Sim Considerar teste terapêutico Sim Não Sim 175 Hipotireoidismo subclínico Quando tratar o paciente idoso com HSC? Grandes estudos populacionais não demonstraram associação do HSC com disfunção cognitiva, ansiedade ou depressão em pacientes com mais de 65 anos (5658) e um estudo randomizado (120) controlado por placebo não encontrou nenhum benefício do tratamento de reposição com levotiroxina sobre a função cognitiva em pacientes > 65 anos e HSC. Há evidências baseadas em estudos de coorte populacional (94,95,97) associando HSC com maior risco de insuficiência cardíaca em idosos com níveis de TSH > 10 mU/L. No entanto, em um estudo recente de uma coorte populacional com determinações da função tireoidiana através do tempo, a associação do HSC persistente com insuficiência cardíaca em pacientes idosos não se confirmou (98). Além disso, não há estudo sobre potenciais benefícios do tratamento do HSC em idosos sobre o risco de insuficiência cardíaca. Postula-se que o HSC leve-moderado (TSH > 4,5 ≤ 10 mU/L) em idosos possa estar associado a benefícios, seja como fator de proteção cardiovascular e de mortalidade (21,22,99) ou por demonstrações de que tais pacientes apresentem melhor função física e velocidade de marcha, conforme estudo de seguimento de 2 anos com pacientes de 70-79 anos (131). Além disso, em estudos de coorte populacional (97,106,130), o tratamento do HSC não mostrou efeito favorável na redução de risco cardiovascular e/ou de mortalidade em pacientes idosos, mas sim para indivíduos adultos jovens. Recomendação 20 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. O tratamento do HSC em pacientes idosos > 65 anos é recomendado apenas em face de níveis sustentados do TSH > 10 mU/L (Tabela 5), em razão da ausência de associação com o risco cardiovascular e de mortalidade nesta faixa etária (21) (A), da inexistência de efeitos favoráveis do tratamento em estudos de coorte populacional (106,130) (B), e pelo maior risco de insuficiência cardíaca em idosos com HSC e níveis de TSH > 10 mU/L (94,95,97) (A). Recomendação 21 Não há recomendação de tratamento de pacientes idosos (> 65 anos) e HSC com objetivo de alívio de sintomas e melhora da qualidade de vida (120) (A). Quais os riscos do tratamento? Estima-se que uma proporção significativa de pacientes em reposição com levotiroxina pode estar usando doses suprafisiológicas, com consequente hipertireoidismo subclínico ou mesmo manifesto. No estudo Colorado (5), foram aproximadamente 40% dos pacientes, enquanto no Brasil (132) um estudo multicêntrico recente mostrou que aproximadamente 14,4% dos pacientes com hipotireoidismo em tratamento com levotiroxina estavam hipertratados. O hipertireoidismo subclínico induzido nesses casos associa-se com maior risco de fibrilação atrial (133), principalmente em idosos acima de 65 anos (134), e da redução de massa óssea em mulheres pós-menopausadas (135). Recomendação 22 Os riscos do tratamento do HSC são inerentes ao uso de doses excessivas de levotiroxina, de particular relevância clínica em idosos, pelo maior risco de fibrilação atrial (133,134) (A) e em mulheres pós-menopausadas, pelo risco de osteoporose (135) (B). HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO NA GESTAÇÃO Como diagnosticar HSC na gestação? O diagnóstico do HSC na gestação é laboratorial, caracterizado por concentrações elevadas de TSH (até 10 mU/L) em face de concentrações normais de T4L para a idade gestacional (136). Existem fortes evidências de que a faixa de referência para o TSH é mais baixa na gestação em comparação com a faixa usual de referência em não gestantes, em torno de 0,45 a 4,5 mU/L (17,18). A maior diminuição nos valores de TSH é observada no 1o tri- Tabela 6. Valores de referência de TSH (mU/L) nos diferentes trimestres da gestação Estudo Trimestre da gestação Primeiro Segundo Terceiro Stricker and cols. 1,04 (0,09-2,83) 1,02 (0,2-2,79) 1,14 (0,31-2,9) Soldin and cols. 0,98 (0,24-2,99) 1,09 (0,46-2,95) 1,2 (0,43-2,78) Bocos-Terraz and cols. 0,92 (0,03-2,65) 1,12 (0,12-2,64) 1,29 (0,23-3,56) Valores expressos em mediana e percentis (2,5-97,5%). 176 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo subclínico Recomendação 23 Valores de referência para o TSH deverão ser determinados para cada trimestre da gestação pelo laboratório local. Caso esses valores não estejam disponíveis, os seguintes valores de referência deverão ser utilizados: primeiro trimestre: 0,1-2,5 mU/L; segundo trimestre: 0,2-3,5 mU/L; terceiro trimestre: 0,3-3,5 mU/L (27) (B). Recomendação 24 Se os melhores métodos de dosagem de T4L não estiverem disponíveis, os clínicos deverão utilizar os métodos usuais para sua determinação. Entretanto, deverão estar cientes das limitações destes, bem como das faixas de referência, considerando-se o método em uso (138,139) (B). Recomendação 25 Para o diagnóstico do HSC no primeiro trimestre da gestação serão considerados os valores de TSH que se situam entre 2,5 e 10,0 mU/L associados a valores de T4L dentro da faixa da normalidade para a idade gestacional (136) (D). O HSC aumenta o risco materno? A maioria dos estudos em gestantes com HSC que analisaram complicações durante a gestação sugere que o HSC está associado a efeitos adversos na gestação. Perda fetal foi a complicação obstétrica mais frequentemente associada. Benhadi e cols. (140) encontraram Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 uma relação linear positiva entre perda fetal e aumento das concentrações de TSH. Negro e cols. (141) encontraram uma taxa aumentada de perda fetal em mulheres com aTPO negativos e TSH entre 2,5 e 5,0 mU/L quando comparadas àquelas que apresentavam TSH < 2,5 mU/L. Allan e cols. (142) também observaram que gestantes com TSH elevado (> 6 mU/L) apresentaram maior porcentagem de morte fetal em relação aos controles. Outras complicações associadas com o HSC foram hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia, parto prematuro, baixo peso ao nascer, descolamento de placenta e hemorragia pós-parto (143). Entretanto, em uma coorte de 10.990 gestantes (144), o HSC detectado no 1o e 2o trimestres não se associou com efeitos adversos. Recomendação 26 Diversos estudos, ainda que retrospectivos (142,143) (B), sugerem que o HSC está associado com um maior risco de complicações obstétricas. Apenas dois estudos prospectivos (140,141) (B) sugerem que o tratamento dessas gestantes apresentam redução do risco dessas complicações, mas necessitam de confirmação por meio de outros estudos randomizados. O HSC aumenta o risco fetal? Os hormônios tireoidianos são determinantes para o desenvolvimento cerebral e suas deficiências podem causar déficits na diferenciação e na migração dos neurônios, nos crescimentos axonal e dendrítico, na formação de mielina e na sinaptogênese (145). Entretanto, os efeitos deletérios do HSC no desenvolvimento neurocognitivo fetal são menos claros. Dois estudos mostraram que concentrações baixas de hormônios tireoidianos em fases precoces da gestação foram associadas à diminuição do quociente intelectual (QI) em crianças quando testadas aos 10 meses e 7 anos (146,147). Um grande estudo (Controlled Antenatal Thyroid Study – CATS) foi conduzido na Inglaterra (148) em gestantes até a 16a semana de gestação. Aquelas com TSH acima do percentil 97,5% e/ou T4L abaixo do percentil 2,5% foram tratadas ou não com levotiroxina. Os resultados demonstraram que não houve diferença no QI entre os dois grupos ao avaliarem as crianças aos 3 anos. Entretanto, esse estudo avaliou apenas crianças com 3 anos de idade, o que pode ter limitado o poder de achado significativo em razão da dificuldade técnica de avaliação de QI nessa faixa de idade. Além disso, a 177 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. mestre e é transitória, relacionada com as concentrações de beta-HCG, que podem estimular o receptor do TSH. As concentrações de TSH sobem gradualmente nos trimestres subsequentes. Os valores de referência de TSH na gestação (mediana e os percentis 2,5% e 97,5%), obtidos de diversos estudos (25,28,137), são apresentados na tabela 6. Os melhores métodos para a dosagem do T4L na gestação são a espectrometria de massa em Tanden, cromotografia líquida e a diálise de equilíbrio. Os métodos usuais de dosagem do T4L sofrem influência do aumento de globulina transportadora de hormônios tireoidianos (TBG) e de diminuições das concentrações de albumina que ocorrem na gestação. Essas alterações podem influenciar os diversos imunoensaios para T4L, o mesmo acontecendo para o T4 total e o índice de T4L (138). Recomenda-se cuidado na interpretação de seus valores, bem como que cada laboratório estabeleça sua faixa de normalidade para cada trimestre da gestação (139). Hipotireoidismo subclínico porcentagem de crianças com QI < 85 foi maior no grupo de gestantes com HSC não tratadas em relação ao controle. Recomendação 27 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Há escassas evidências sugerindo potenciais efeitos deletérios do HSC no desenvolvimento neurocognitivo fetal (146,147) (B,C), mas não há evidência de benefício do tratamento com levotiroxina em gestantes com HSC sobre esses efeitos (148) (A). Há indicação de rastreamento de HSC na gestação? Há controvérsia quanto à realização de triagem universal para o hipotireoidismo em todas as gestantes. No hipotireoidismo franco não diagnosticado e não tratado durante a gestação, as consequências para a mãe e feto já estão bem estabelecidas, entretanto no HSC permanecem não definidas, pois existe apenas um estudo randomizado e prospectivo avaliando os efeitos da terapia com levotiroxina e o subsequente desenvolvimento da criança (148). Sendo assim, o American College of Obstetricians and Gynecologists (149) não recomenda a triagem universal em gestantes, mas apenas para as gestantes de alto risco para disfunção tireoidiana. Recentemente, a American Thyroid Association (136) também se posicionou, apontando não existirem evidências suficientes para recomendar a favor ou contra a triagem universal com TSH em gestantes no primeiro trimestre. Um estudo (150) comparando a detecção de disfunção tireoidiana por meio de triagem universal de gestantes com a abordagem de busca ativa em gestantes de alto risco observou que 30% das gestantes com disfunção tireoidiana deixariam de ser detectadas com essa última abordagem. São gestantes de alto risco para desenvolver disfunção tireoidiana as mulheres que apresentam uma das seguintes condições: 1) história de hipertireoidismo ou hipotireoidismo ou tireoidite pós-parto prévia; 2) passado de irradiação cervical; 3) bócio; 4) história familiar de doença tireoidiana; 5) anticorpos antitireoidianos positivos; 6) diabetes melito tipo 1 ou outra doença autoimune; 7) história de abortos ou partos prematuros; 8) sintomas e sinais de disfunção tireoidiana incluindo anemia, elevação de colesterol e hiponatremia; 9) tratamento com amiodarona (150). Recomendação 28 Não há evidências suficientes para que se recomende a favor ou contra a triagem universal do hipotireoidismo com 178 TSH em gestantes no primeiro trimestre da gestação, mas o consenso concorda com a recomendação de uma busca ativa em gestantes de alto risco para disfunção tireoidiana (136,149-151) (D,D,B,B). Quando e como tratar o HSC na gestação? A maioria dos estudos retrospectivos (142,143) sugere associação do HSC com efeitos adversos na gestação, mas há falta de estudos prospectivos randomizados sobre potenciais benefícios do tratamento do HSC durante a gestação. Sabe-se, entretanto, que o tratamento com levotiroxina durante a gestação é seguro e de baixo risco quando instituído cuidadosamente. Uma vez iniciado, o tratamento com levotiroxina deverá ser em doses menores que as estipuladas para o tratamento do hipotireoidismo franco. As concentrações de TSH e T4L deverão ser mensuradas após quatro semanas do início do tratamento (151) e mensalmente até a metade da gestação e pelo menos na 26ª e 32a semanas de gestação (149). A meta é manter as concentrações de TSH em valores menores do que 2,5 mU/L no 1º trimestre da gestação ou 3,5 mU/L no 2º e 3º trimestres (27). Recomendação 29 Não há evidência consistente para recomendar contra ou a favor o tratamento do HSC durante a gestação. No entanto, este consenso aceita que o tratamento deva ser instituído no momento do diagnóstico, em razão de estudos retrospectivos que sugerem efeitos adversos na gestação e pelo baixo risco do tratamento (142,143) (B). Agradecimentos: à Dra. Nathalia Carvalho de Andrada pela revisão do nível da recomendação e força da evidência. Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. REFERÊNCIAS 1. Surks MI, Ortiz E, Daniels GH, Sawin CT, Col NF, Cobin RH, et al. 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Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 183 consenso de tireoide Hipotireoidismo congênito: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Congenital hypothyroidism: recommendations of the Thyroid Department of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism Léa Maria Zanini Maciel1, Edna Teruko Kimura2, Célia Regina Nogueira3, Glaucia M. F. S. Mazeto3, Patrícia Künzle Ribeiro Magalhães1, Marilza Leal Nascimento4, Suzana Nesi-França5, Sandra E. Vieira6 RESUMO Divisão de Endocrinologia e Metabologia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRPUSP), Ribeirão Preto, SP, Brasil 2 Instituto de Ciências Biomédicas, USP, São Paulo, SP, Brasil 3 Divisão de Endocrinologia e Metabologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Botucatu, SP, Brasil 4 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil 5 Unidade de Endocrinologia Pediátrica, Departamento de Pediatria, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil 6 Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), SP, Brasil 1 Correspondência para: Léa Maria Zanini Maciel Av. Bandeirantes, 3900 Departamento de Clínica Médica 14049-900 – Ribeirão Preto, SP, Brasil [email protected] Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recebido em 19/Mar/2013 Aceito em 19/Mar/2013 O hipotireoidismo congênito (HC) é o distúrbio endócrino congênito mais frequente, com incidência variando de 1:2.000 a 1:4.000 crianças nascidas vivas e uma das principais causas de retardo mental que pode ser prevenida. Os Programas de Triagem Neonatal para a doença permitem a identificação precoce dos afetados e seu tratamento de modo a evitar as complicações da falta do hormônio. A maioria dos casos de hipotireoidismo congênito é decorrente de disgenesias tireoidianas (85%), entre elas a ectopia, hipoplasia ou agenesia tireoidianas, e os demais resultam de defeitos de síntese hormonal. As crianças afetadas (> 95%) geralmente não apresentam sintomas sugestivos da doença ao nascimento. Os sintomas e sinais mais comuns são: icterícia neonatal prolongada, choro rouco, letargia, movimentos lentos, constipação, macroglossia, hérnia umbilical, fontanelas amplas, hipotonia e pele seca. Várias estratégias são utilizadas para a triagem do HC. No Brasil, esta é obrigatória por lei e geralmente é feita com a dosagem de TSH em sangue seco coletado do calcanhar. A idade recomendada para sua realização é após as 48 horas de vida até o quarto dia. A confirmação diagnóstica é obrigatória com as dosagens de TSH e T4 livre ou T4 total. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):184-92 Descritores Hipotireoidismo congênito; triagem neonatal ABSTRACT Congenital hypothyroidism (CH) is the most common congenital endocrine disorder, with an incidence of 1:2,000 to 1:4,000 live births and it is a leading preventable mental retardation. Neonatal Screening Programs allow early identification of the disease and the adequate treatment of affected children can avoid the complications related to deprivation of the hormone. Most cases of primary congenital hypothyroidism (85%) are due to thyroid dysgenesis (ectopia, hypoplasia or agenesis) while the remaining result from defects in hormone synthesis. Affected children (> 95%) usually have no symptoms suggesting the disease at birth. The most frequent symptoms and signs are prolonged neonatal jaundice, hoarse cry, lethargy, slow movements, constipation, macroglossia, umbilical hernia, large fontanelle, hypotonia and dry skin. Around the world, various strategies are used for the screening of the CH. In Brazil, screening for CH is mandatory by law and usually done by serum TSH in dried blood collected from the heel. The recommended age for performing this test is after 48 hours of life until the 4th day. Diagnostic confirmation is required dosing TSH and free T4 or total T4 in serum. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):184-92 Keywords Congenital hypothyroidism; neonatal screening 184 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 INTRODUÇÃO O hipotireoidismo congênito (HC) é o distúrbio endócrino congênito mais frequente e com incidência variando de 1:2.000 a 1:4.000 crianças nascidas vivas em países com suficiência iódica (1,2) (B). No Brasil, a prevalência de HC é aproximada a esses valores, variando de 1:2.595 a 1:4.795 (3,4) (D). Entretanto, estudos recentes apontam para uma maior incidência do HC nos Estados Unidos, de 1:4094 em 1987 para 1:2372 em 2002 (5) (B). As razões para isso não estão muito claras, mas é justificada por alguns pesquisadores pela maior detecção de casos subclínicos da doença devido à utilização de níveis de corte mais baixos para o teste de triagem com hormônio estimulante da tireoide (TSH) e pela inclusão de hipotireoidismos transitórios (6-9) (D). A prevalência do HC é variável entre os grupos étnicos, sendo consideravelmente menos prevalente entre os negros americanos que entre os hispânicos (1:10.000 x 1:2.700), assim como é mais prevalente em mulheres (2:1). Crianças com síndrome de Down têm um risco 35 vezes maior para apresentar o HC que a população geral (10) (B). Na ausência de um diagnóstico precoce e tratamento adequado, a maioria das crianças desenvolverá vários graus de deficiências neurológicas, motoras e de crescimento, incluindo o retardo mental irreversível. MÉTODOS Foram realizadas buscas ativas nas bases de dados primárias MedLine e SciELO, utilizando os seguintes termos descritivos (MeSH Terms): congenital hypothyroidism; neonatal screening. Grau de recomendação e força de evidência: A: Estudos experimentais e/ou observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais e/ou observacionais de menor consistência. C: Relato de casos. D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. 1. QUAIS SÃO AS CAUSAS DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO? A causa mais frequente de HC permanente resulta de defeitos na formação glandular durante a embriogêArq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 nese, denominados disgenesias tireoidianas, e representa 85% dos casos (Tabela 1). Esse grupo inclui a ectopia, a agenesia e a hipoplasia tireoidianas, que representam 30%-45%, 35%-45% e 5% dos casos, respectivamente (11) (D). O entendimento preciso dessas alterações permanece desconhecido, apesar de mutações em fatores transcricionais que regulam o desenvolvimento da glândula tireoide como o thyroid transcription factor 2 (TTF-2), NKX2.1 (também conhecido como TTF-1) e o PAX-8 tenham sido implicadas. Entretanto, somente 2% dos casos de disgenesias apresentam essas mutações genéticas (12) (B). Esses fatores de transcrição se manifestam em outros tecidos e estão associados com HC sindrômico. Assim, mutações no NKX2.1, gene que participa do desenvolvimento do pulmão e cérebro, leva o recém-nascido (RN) a apresentar insuficiência respiratória neonatal e coreoatetose. Pacientes com mutações no TTF-2 se apresentam com cabelo espetado, palato fendido, atresia de anus e agenesia tireoidiana (11) (D). Outras etiologias de HC permanente são os defeitos na produção hormonal, denominados de disormonogênese, e representam cerca de 15% dos casos. São defeitos autossômicos recessivos e incluem mutações em genes que codificam o transportador de iodo-sódio (NIS) (gene SLC5A5), a tireoperoxidase (TPO), a geração de peróxido de hidrogênio [thyroid oxidase e dual oxidase maturation factors (genes DUOXA1 e DUOX2)], a tireoglobulina (Tg) e a iodotirosina deiodinase (13). Causas incomuns de HC incluem defeitos no transporte de hormônio tireoidiano (HT), como mutações no gene MCT 8 (monocarboxylate transporter 8) (14) (C), a resistência à ação do HT (síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano) (15) (D), a resistência ao TSH (16) (C) e o hipotireoidismo central (17,18) (B). O hipotireoidismo central decorre da deficiência isolada de TSH ou, mais comumente, do hipopituitarismo resultando na deficiência de diversos hormônios da adeno-hipófise. Mutações de diversos genes envolvidos no desenvolvimento ou função hipofisária foram implicadas, entre eles HESX1, LHX4, PIT-1 e PROP1. A resistência ao hormônio liberador de tireotrofina (TRH) (mutação no gene do receptor do TRH) também pode causar hipotireoidismo central (18). A síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano é uma doença rara com espectro clínico variável decorrente de diminuição da responsividade aos HT. 185 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipotireoidismo congênito Hipotireoidismo congênito A resistência ao TSH é definida quando as concentrações séricas de TSH são elevadas (hipertireotrofinemia) na ausência de bócio. Indivíduos afetados têm glândula tireoidiana normal ou hipoplásica e valores séricos de T4 e T3 normais ou baixos. Defeitos no transporte de HT causados por mutações no gene MCT-8, localizado no cromossomo X, fazem com que o transporte de T3 fique prejudicado, levando ao retardo mental. A síndrome é caracterizada por concentrações séricas elevadas de T3, baixas de T4 e elevadas de TSH. • mutações em heterozigose das enzimas DUOX1 (gene DUOXA1) e de DUOX2 ou THOX (gene DUOX2); • hemangiomas hepáticos de grandes dimensões (aumento da atividade da desiodase do tipo 3) (7,8) (D). Pacientes considerados como sendo portadores de HC transitório foram acompanhados por três anos e apenas 47% evoluíram com hipotireoidismo permanente. Dessa forma, recomenda-se a reavaliação aos 3 anos para definir a permanência ou não da doença (19) (B). Recomendação 1 Recomendação 2 A causa mais frequente de hipotireoidismo congênito permanente é a disgenesia tireoidiana, que inclui agenesia, ectopia e hipoplasia de tecido tireoidiano (B). Em segundo lugar, estão as disormonogêneses (B). Causas raras de HC são: hipotireoidismo central (B), síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano (D), síndrome de resistência ao TSH (C) e mutações no MCT-8 (C). O hipotireoidismo neonatal pode ser permanente ou transitório. Recomenda-se a reavaliação após os 3 anos de idade com a suspensão da levotiroxina (L-T4) nas crianças em tratamento, que não apresentem etiologia do hipotireoidismo estabelecida (B). 2. O HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO PODE SER TRANSITÓRIO? O HC pode ser transitório e resultar de diversas causas: • ingestão excessiva (ou deficiente) de iodo pela mãe; • ingestão materna de drogas antitireoidianas em mães portadoras de hipertireoidismo; • passagem placentária de anticorpos maternos bloqueadores do receptor de TSH. Esse diagnóstico deve ser considerado quando houver relato de mais de um filho com hipotireoidismo transitório detectado pela triagem neonatal. Geralmente perdura 1 a 3 meses até que os anticorpos desapareçam da circulação; 3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO A maioria das crianças com HC (> 95%) apresenta poucas ou nenhuma manifestação clínica da doença ao nascimento (20) (B). Isso se deve ao fato de o T4 materno passar a barreira placentária (21) (B) e também em função de a maioria das crianças afetadas apresentar algum tecido tireoidiano funcionante. Como o HT tem meia-vida de seis dias, por volta de 3-4 semanas de vida do RN, o hormônio materno será metabolizado e excretado. As crianças afetadas, tipicamente, apresentam peso e estatura dentro da faixa de normalidade. Um dos primeiros sinais observados é a icterícia neonatal prolongada (22,23) (B). À medida que o tempo passa a criança sem diagnóstico se apresentará letárgica, com movimentos lentos, choro rouco, engasgos frequentes, Tabela 1. Principais etiologias do hipotireoidismo congênito e as alterações hormonais encontradas Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Etiologia Hipotireoidismo primário Disgenesias (ectopia, hipoplasia, agenesia) Disormonogênese Incidência TSH T4 Livre T4 Total 1:2.000 a 1:4.000 85% dos casos 15% dos casos Elevado Diminuído Diminuído Hipotireoidismo central 1:50.000 a 1:100.000 Diminuído, normal ou discretamente elevado Diminuído Diminuído Hipotireoidismo transitório Deficiência de iodo Excesso de iodo Passagem de anticorpos maternos 1:100 – Europa 1:50.000 – USA 1:25.000 a 1:100.000 Elevado, com normalização posterior Diminuído com normalização posterior Diminuído com normalização posterior 186 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo congênito Tabela 2. Prevalência de sintomas e sinais do hipotireoidismo congênito no momento do diagnóstico de acordo com a gravidade da doença Icterícia prolongada T4 total < 2,5 µg/dL n = 215 (%) T4 total > 2,5 µg/dL n = 232 (%) 128 (59) 77 (33)** Dificuldade de sugar 75 (35) 36 (16)** Letargia 73 (34) 32 (14)** Hérnia umbilical 68 (32) 42 (18)* Macroglossia 53 (25) 28 (12)* Constipação intestinal 38 (18) 24 (10) Pele fria 39 (18) 24 (10) Choro rouco 16 (7) 15 (6) Fácies hipotireoidiana 12 (6) 6 (2) Hipotermia 6 (3) 7 (3) Hipotonia Sem sintomas 6 (3) 7 (3) 34 (16) 78 (33)** * p < 0,01; ** p < 0,001. Adaptada de Grant e cols. (24) (B). Recomendação 3 Apesar da possibilidade de ausência de manifestações clínicas em recém-nascidos com hipotireoidismo congênito, os sinais e sintomas descritos na tabela 2 devem servir de alerta (B). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 4. O HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO PODE OCORRER EM ASSOCIAÇÃO A ANORMALIDADES CONGÊNITAS? Crianças com HC têm risco adicional de apresentar malformações (10% vs. 3% nas crianças normais), afetando principalmente o coração (4 vezes mais), mas também os rins, o trato urinário e os sistemas gastrointestinal e esquelético (26,27) (B). Crianças com HC e palato fendido podem apresentar mutações no TTF-2 (gene FOXE-1) (28) (C) e as com sintomas neurológicos persistentes, incluindo ataxia, são suspeitas de apresentarem mutações no gene NKX2 (29) (C). Problemas auditivos ocorrem em até 20% das crianças com HC e todas as crianças afetadas deverão ser submetidas a teste de screening auditivo (30,31) (B). Não existe um consenso para a realização de testes de screening para anomalias congênitas, entretanto, um exame físico cuidadoso é importante e, na presença de qualquer alteração ao exame, a criança deverá ser encaminhada para avaliação. O conhecimento precoce de outras malformações em portadores de HC pode modificar o prognóstico dos pacientes (32) (B). Recomendação 4 É recomendado o screening auditivo e um exame físico cuidadoso para a pesquisa de outras anormalidades congênitas em crianças com hipotireoidismo congênito (B). 5. A TRIAGEM NEONATAL É EFICAZ PARA O RASTREAMENTO PRECOCE DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO? O principal objetivo da triagem neonatal para o HC é evitar as sequelas, principalmente o retardo mental secundário ao hipotiroidismo, o que pode ser conseguido com o início da terapêutica adequada nas duas primeiras semanas de vida (33) (B). A triagem neonatal para o HC é rotina nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa, em Israel, no Japão, na Austrália e na Nova Zelândia e está em desenvolvimento no Leste Europeu, na América do Sul, na Ásia e na África. A sensibilidade dos testes de triagem neonatal para HC é elevada, o que a torna eficaz para rastrear a doen ça. Estudos populacionais realizados na Europa e nos Estados Unidos relatam sensibilidades próximas de 97% a 100% e especificidades de 98% a 100% (34,35) (A). 187 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. constipação, macroglossia, hérnia umbilical, fontanela ampla, hipotonia, pele seca, cabelos ralos e adquire a fácies típica com nariz em sela. Poucos RN com disormonogênese apresentam bócio palpável ao nascimento, porém este pode aparecer mais tarde mesmo com tratamento (23). A radiografia de epífises do joelho poderá revelar atraso de ossificação, o que reflete a gravidade do hipotireoidismo fetal. Na tabela 2, encontram-se os sintomas ou sinais apresentados em crianças afetadas recém-diagnosticadas de acordo com a gravidade da doença (24) (B). Na triagem de neonatos brasileiros, o HC associou-se a hérnia umbilical (48,9%), base nasal alargada (46,6%) e icterícia prolongada além de 7 dias (44,4%); e 20% dos casos não tinham nenhuma manifestação clínica (25) (A). Quando o diagnóstico etiológico do HC for hipopituitarismo, a criança terá tendência à hipoglicemia pela deficiência de hormônio do crescimento e do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)/cortisol e, se for do sexo masculino, apresentará micropênis. Essa criança corre risco de morte se não for detectada precocemente e geralmente não será detectada pela triagem neonatal quando esta é feita com a dosagem do TSH. Hipotireoidismo congênito Recomendação 5 A triagem neonatal é recomendada para o rastreamento do hipotireoidismo congênito (A). 6. QUANDO DEVEM SER FEITOS OS TESTES PARA TRIAGEM NEONATAL DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO? Para o teste de triagem neonatal, o sangue do calcanhar é coletado em cartões nos quais são inseridos os dados da criança (data de nascimento, idade gestacional, sexo, peso, se houve transfusão ou não etc.) e como localizá-la. Nesse cartão de dados, é anexado o papel de filtro onde o sangue será impregnado e seco antes do envio para o laboratório de triagem. A idade do RN recomendada para essa coleta é após as 48 horas de vida até o quarto dia (36), quando já ocorreu a diminuição do pico pós-natal de elevação fisiológica do TSH. Idealmente, o teste deve ser colhido antes da alta da maternidade; no entanto, coletas em altas precoces (< 48 horas) podem resultar em resultados falso-positivos mais frequentes. Nas crianças criticamente doentes ou pré-termos, a recomendação é para a coleta ser realizada aos sete dias de vida; entretanto, é importante ter presente que as coletas obtidas após quatro dias de vida poderão ser tardias para as crianças portadoras de hiperplasia adrenal congênita ou doença metabólica (36). Devido à imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal dos prematuros, alguns autores recomendam a repetição do teste de triagem nesses bebês com duas a quatro semanas de vida. Quando houver necessidade de transfusão de sangue total, o teste deve ser coletado antes que a criança seja transfundida, independentemente da sua idade (37) (D). Recomendação 6 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. A idade recomendada para a coleta de sangue do RN para a triagem neonatal é após as 48 horas de vida até o quarto dia ou antes que o RN deixe o hospital nas altas precoces e sempre antes de transfusões sanguíneas (D). 7. QUAIS OS EXAMES ADOTADOS NO BRASIL PARA A TRIAGEM DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO? Existem diversas estratégias para a triagem do HC: 1. Dosagem de TSH. 188 2. Dosagens de TSH e T4 simultaneamente. 3. Dosagem inicial de T4 seguida da dosagem de TSH nas amostras com T4 abaixo de determinado limite (usualmente abaixo do percentil 10). A dosagem de TSH tem maior especificidade em relação à dosagem isolada de T4. A dosagem simultânea de TSH e T4 tem maior sensibilidade em relação a todos os protocolos, mas também leva a maior número de falsos-positivos (38) (B). No Brasil, no sistema público, adota-se a triagem com TSH (TSHneo) apenas, com valores de corte de TSHneo variando de 5-20 μU/ml. Crianças com TSHneo elevado são convocadas para avaliação e confirmação (25) (A). Em alguns centros de triagem neonatal, crianças com valores de TSHneo entre 10-20 μU/ml são reconvocadas para uma segunda coleta em papel-filtro e, somente após esse resultado – caso o TSH se apresente acima de 10 μU/ml –, a criança é convocada para a confirmação no soro. Com a dosagem inicial de TSH apenas, crianças com hipotireoidismo central ou que apresentarem elevação tardia do TSH poderão ser perdidas. Elevações tardias de TSH são particularmente comuns nas crianças com baixo peso ao nascimento (PN < 2.500 g) e em prematuros (39) (B). Quando a triagem é feita com a dosagem inicial de T4 seguida da dosagem de TSH, além de permitir a detecção dos casos de hipotireoidismo primário, poderá detectar o hipotireoidismo central e identificar crianças com deficiência de proteína transportadora de hormônio tireoidiano (TBG). Essas últimas apresentam T4 total (T4T) baixo e T4 livre (T4L) normal e não requererão tratamento para o HC. Entretanto, essa abordagem não detectará crianças com HC e que apresentam T4 normal por disfunções tireoidianas mais leves. Uma comparação entre as duas abordagens que envolvem as dosagens de TSH e T4 em sequências diferentes mostrou que 1 criança entre 93.000 triadas não seria diagnosticada com a abordagem inicial com T4, o que não aconteceria, caso se utilizasse o TSH como o exame inicial (40) (B). Recomendação 7 No Brasil, a triagem neonatal para HC é realizada por meio da dosagem de TSH em papel-filtro, seguida de dosagem de T4 total e/ou livre no soro, quando necessária. Essa estratégia é eficaz e também adotada em outros países (A). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 8. OS TESTES DE TRIAGEM COM RESULTADOS ALTERADOS DEVEM SER CONFIRMADOS? Os testes de triagem neonatal para HC não são diagnósticos e os resultados alterados devem ser confirmados por métodos quantitativos de rotina para as dosagens de concentrações séricas de TSH e T4T ou T4L (41) (B). A maioria dos testes confirmatórios deve ocorrer por volta da primeira à segunda semana de vida do RN, quando a faixa superior de normalidade para o TSH caiu para 10 μU/mL. Deve-se ter presente que a faixa de normalidade é diferente da observada em adultos. Assim, entre 4 e 30 dias de vida do RN, a faixa normal de T4T é de 7-16 μg/dL e de T4L de 0,8 a 2,3 ng/dL (42). Valores de TSH acima de 10 μU/mL e T4L ou T4T baixos confirmam o diagnóstico do hipotireoidismo primário e as crianças deverão ser tratadas (36). Crianças com TSH confirmatório entre 6-10 μU/ mL e T4T/T4L normais deverão ser seguidas cuidadosamente com novas dosagens em uma semana. Caso o TSH persista discretamente elevado por volta de 1 mês de idade da criança, mesmo com T4 na faixa da normalidade, alguns pesquisadores sugerem o tratamento com reavaliação após os 3 anos (19,43) (B,D). Crianças prematuras e doentes de qualquer natureza (síndrome do doente eutireoidiano) poderão ter T4T/T4L baixos com TSH normal e não se recomenda o tratamento com L-T4, a não ser que apresentem evidências de doença hipotalâmica ou hipofisária (44). • • Recomendação 8 Os testes de triagem para hipotireoidismo congênito com resultados alterados devem ser confirmados por meio da dosagem quantitativa venosa de TSH, T4T/ T4L (B). • 9. IDENTIFICAÇÃO DA ETIOLOGIA DO HIPOTIREOIDISMO Se o diagnóstico de hipotireoidismo for confirmado, outros estudos serão necessários para a pesquisa da etiologia da doença; entretanto, a decisão de se tratar a doença é baseada nas dosagens hormonais e os exames adicionais são opcionais, não devendo ser motivo para o retardo do início do tratamento. Os exames que podem ser solicitados para a elucidação etiológica do HC são: • Ultrassonografia cervical – seria o principal exame inicial. Uma vez localizada a tireoide, a Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 • agenesia ou ectopia seriam descartadas. Entretanto, a ultrassonografia é menos sensível que a cintilografia tireoidiana para a detecção da glândula ectópica, apesar de a ultrassonografia com Doppler poder identificar 90% das glândulas ectópicas (45). A ultrassonografia apresenta sensibilidade e especificidade de 90,5% e 47,8%, respectivamente, para o diagnóstico de agenesia, e 100% e 80,4%, respectivamente, para hipoplasia, porém tem baixa sensibilidade para o diagnóstico de ectopia (somente 10%) (46) (B). Apresenta como vantagens evitar a exposição à radiação e ter menor custo (47) (B). Mapeamento com 99mTc – indicado quando a ultrassonografia não detecta a glândula ectópica. A cintilografia poderá ser feita com pertecnetato de tecnésio (99mTc) ou iodo (123I), em vez do 131 I, devido à menor irradiação que proporciona à criança. Bócio pode ser observado quando existe um defeito enzimático. Possui sensibilidade e especificidade de 92% e 97,1%, respectivamente, nos casos de glândula ectópica (46) (B). Dosagem de tireoglobulina – existe uma grande sobreposição de valores de tireoglobulina nas diferentes etiologias de HC e, portanto, ela é utilizada em situações especiais. A associação entre o nível da tireoglobulina e a ultrassonografia pode distinguir entre atireose e ectopia glandular. Se não é visualizado nenhum tecido tireoidiano em localização normal e os níveis de T4 e tireoglobulina são mensuráveis, algum tecido funcional ectópico está presente (36,42). Dosagens de anticorpos antitireoidianos (anticorpo antiperoxidase [TPO] e anticorpo bloqueador do receptor do TSH [TRAb]) – podem ser úteis para justificar a presença de TSH elevado em filhos de mães com tireoidite de Hashimoto (hipotireoidismo transitório), assim como em filhos de mães com doença de Graves (36). Iodúria – poderá confirmar a falta ou excesso de iodo em casos suspeitos, e o tratamento com L-T4 deverá ser instituído por vários meses até ser gradualmente reduzido. Recomendação 9 Exames complementares são utilizados para estudar a etiologia do hipotireoidismo congênito (B), mas nunca devem postergar o início do tratamento. 189 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipotireoidismo congênito Hipotireoidismo congênito 10. QUANDO O TRATAMENTO DEVE SER INICIADO? A idade de início do tratamento, a dose de L-T4 administrada e o monitoramento do tratamento são essenciais para o desenvolvimento cerebral do paciente com HC. Existe uma relação inversa entre a idade do diagnóstico/tratamento e o quociente de inteligência (QI). Crianças detectadas pelos programas de triagem neonatal e tratadas nas primeiras semanas de vida geralmente têm QI normal, embora alguns estudos mostrem alguns déficits cognitivos (48,49) (B). Recomendação 10 O início do tratamento deve ser o mais precoce possível, preferencialmente nas duas primeiras semanas de vida (B). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. 11. A TERAPÊUTICA COM L-T4 SÓDICA É EFICAZ PARA A NORMALIZAÇÃO DOS NÍVEIS HORMONAIS NA CRIANÇA COM HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO? A administração oral de L-T4 sódica é o tratamento de escolha para o HC. A dose recomendada pela Academia Americana de Pediatria é de 10-15 µg/kg/dia e deve ser iniciada o mais precocemente possível, idealmente até 14 dias de vida, mesmo na ausência de sintomas (36) (D). Estudos mostram que com essas doses as concentrações de T4L ou T4T se normalizarão em três dias e as de TSH, em duas a quatro semanas (50) (A). Devem ser utilizados comprimidos de L-T4, uma vez que não existe aprovação de soluções líquidas do hormônio. O comprimido deve ser macerado e dissolvido com pequena quantidade de água e administrado pela manhã, idealmente em jejum. Manter 30 minutos sem alimentação. Em caso de vômitos imediatos, repetir a mesma dose. Com boa absorção por via oral, e com meia-vida de aproximadamente sete dias, a L-T4 é administrada em dose única diária (36) (D). Apesar de ser recomendada a administração com estômago vazio e evitar alimentação após 30-60 minutos, isso não é prático em uma criança. Assim, a L-T4 poderá ser administrada no intervalo entre as mamadas e as doses devem ser ajustadas baseando-se nas concentrações séricas dos hormônios. A L-T4 não pode ser administrada com outras substâncias que interferem na sua absorção, como soja, ferro ou cálcio. 190 Recomendação 11 O tratamento do HC deve se iniciado o mais precocemente possível, preferencialmente antes de 15 dias de vida. É recomendada levotiroxina por via oral, na dose inicial de 10-15 µg/kg/dia (A). 12. COMO DEVE SER MONITORADO O TRATAMENTO? O desenvolvimento do cérebro tem uma dependência importante dos hormônios tireoidianos nos primeiros dois a três anos. Existem estudos que mostram que concentrações persistentemente baixas de T4 sérico (T4T abaixo de 10 μU/mL) no primeiro ano de vida foram associadas à QI inferior a 18 pontos (51) (B). As recomendações da Academia Americana de Pediatria (36) (D) quanto ao tratamento e monitoramento das crianças estão na tabela 3 (43). Testes laboratoriais mais frequentes poderão ser necessários quando não há boa aderência ao tratamento, valores anormais observados ou nas mudanças de posologias. A meta do tratamento é assegurar à criança o crescimento adequado e o desenvolvimento psicomotor mais próximo possível do seu potencial genético. Cuidado terá que se ter para evitar tratamento excessivo por período prolongado, pois isso poderá levar a craniossinostose e alterações no temperamento da criança (51). Tabela 3. Tratamento do hipotireoidismo congênito, monitoramento e concentrações hormonais alvo Dose de ataque de L-T4 10-15 μg/kg/dia Monitoração com T4 livre ou T4 total e TSH Após 2-4 semanas do início da L-T4 A cada 1-2 meses nos primeiros 6 meses A cada 2-3 meses dos 6 aos 36 meses A cada 6-12 meses até que o crescimento se complete Valores alvo dos hormônios tireoidianos T4: na faixa superior para idade Ex.: T4 livre: referência: 0,8-2,3 ng/dL – Deixar na faixa de 1,4 a 2,3 ng/dL T4 total: referência: 10-16 μg/dL nos primeiros 2 anos de vida – Após, deixar na metade superior para a faixa etária TSH: < 5 μU/mL, idealmente entre 0,5-2,0 μU/mL Adaptada de LaFranchi, 2011 (43). Recomendação 12 A monitorização do tratamento do hipotireoidismo congênito necessita ser mais frequente nos primeiros Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipotireoidismo congênito Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. REFERÊNCIAS 1. 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O objetivo deste artigo é fazer uma análise crítica do uso apropriado dos principais testes de função tireoidiana, entre eles a dosagem sérica do hormônio estimulante da tireoide (TSH), dos hormônios tireoidianos e dos anticorpos antitireoidianos. Mediante um levantamento na base de dados do MedLine, são discutidas as principais armadilhas e interferências relacionadas ao uso cotidiano desses testes e apresentadas recomendações para otimizar a utilização dessas ferramentas diagnósticas na prática clínica. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):193-204 1 Serviço de Endocrinologia e Metabologia, Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Paraná (SEMPR/HCUFPR), Curitiba, PR, Brasil 2 Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), Campinas, SP, Brasil Descritores Testes de função tireoidiana; tireotropina; triiodotironina; tiroxina; hipotireoidismo; hipertireoidismo ABSTRACT Laboratory tests are essential for accurate diagnosis and cost-effective management of thyroid disorders. When the clinical suspicion is strong, hormonal levels just confirms the diagnosis. However, in most patients, symptoms are subtle and unspecific, so that only biochemical tests can detect the disorder. The objective of this article is to do a critical analysis of the appropriate use of the most important thyroid function tests, including serum concentrations of thyrotropin (TSH), thyroid hormones and antithyroid antibodies. Through a survey in the MedLine database, we discuss the major pitfalls and interferences related to daily use of these tests and recommendations are presented to optimize the use of these diagnostic tools in clinical practice. Arq Correspondência para: Gisah Amaral de Carvalho Rua Agostinho Leão Júnior, 285 80030-110 – Curitiba, PR, Brasil [email protected] Recebido em 30/Jan/2013 Aceito em 7/Mar/2013 Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):193-204 INTRODUÇÃO D isfunções tireoidianas são condições prevalentes na prática clínica e podem apresentar consequências significantes. O auxílio de testes de laboratório de qualidade é fundamental para o diagnóstico preciso dos distúrbios da tireoide, já que, na maioria dos pacientes, os sinais e sintomas da doença tireoidiana são sutis ou ausentes e apenas testes bioquímicos podem detectar o transtorno. Assim sendo, é importante para o médico, de qualquer especialidade, saber solicitar exames laboratoriais, Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 assim como saber interpretar seus resultados para um correto diagnóstico e manejo custo-efetivo das disfunções tireoidianas. Foram revisados artigos nas bases de dados do MedLine (PubMed), sem limite de tempo, com o objetivo de fornecer uma visão geral sobre os testes de função tireoidiana habitualmente utilizados, discutindo os pontos fortes e limitações de cada teste. Recomendações destacam pontos importantes sobre cada tema, sendo categorizadas pela força de evidência na qual estão baseadas, conforme detalhado na tabela 1. 193 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Keywords Thyroid function tests; thyrotropin; triiodothyronine; thyroxine; hypothyroidism; hyperthyroidism Função tireoidiana na prática clínica Tabela 1. Grau de recomendação e força de evidência Recomendação Força de evidência A Revisões sistemáticas, estudos experimentais e observacionais de melhor consistência B Estudos experimentais e observacionais de menor consistência C Relatos de casos (estudos não controlados) D Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. QUAL O MELHOR EXAME DE TRIAGEM PARA DISFUNÇÕES TIREOIDIANAS? A dosagem do hormônio tireoestimulante (TSH) é o teste mais confiável para diagnosticar as formas primárias de hipotireoidismo e hipertireodismo, principalmente em regime ambulatorial (1,2) (D,D). A secreção hipofisária de TSH regula a secreção de T4 (tiroxina) e T3 (triiodotironina), que, por sua vez, exercem feedback negativo no tireotrofo hipofisário com uma relação log-linear (3,4) (B,B). Dessa forma, pequenas alterações nas concentrações dos hormônios tireoidianos (HTs) livres resultam em grandes alterações nas concentrações séricas de TSH, tornando o TSH o melhor indicador de alterações discretas da produção tireoidiana (5) (D). Os ensaios de primeira geração do TSH permitiam apenas o diagnóstico de hipotireoidismo. Com a utilização dos ensaios de TSH de segunda geração (sensibilidade funcional de 0,1-0,2 mUl/L) e de terceira geração (sensibilidade funcional de 0,01-0,02 mUl/L), foi possível sua utilização também na detecção do hipertireoidismo (6) (D). Os ensaios de primeira geração do TSH apresentam sensibilidade de 75% e especificidade de 90%, fornecendo razão de verossimilhança positiva (RV+) de 7,50 (IC 95%4,12-13,65) (7) (B). Os ensaios de segunda geração aumentam a certeza diagnóstica, pois têm sensibilidade e especificidade de 96% e 93%, respectivamente, com aumento da RV+ para 13,71 (IC 95% 6,71-28,05) (8) (B). Exame de terceira geração pouco modifica a certeza diagnóstica em relação ao de segunda geração, com sensibilidade de 97%, especificidade de 93%, mantendo quase o mesmo valor da RV+ = 13,86 (IC 95% 6,78-28,33), mas permite resultado do exame em 18 minutos (9) (B). Exames de segunda e terceira gerações permitem aumentar a certeza diagnóstica em população com prevalência da doença de 1% para 12% e população com prevalência da doença de 4% para 36%-37% de certeza. Já a primeira geração aumenta a certeza diagnóstica em 7% e 24%, respectivamente. 194 Ensaios de quarta geração já estão disponíveis. Como eles não aumentam a acurácia diagnóstica, os ensaios de terceira geração são utilizados de forma rotineira. Recomendação A dosagem do TSH é o teste mais útil na avaliação inicial da função tireoidiana (B). Não há diferenças significativas ao utilizar ensaios de segunda (B) ou terceira geração (B), mas deve-se evitar dosagem do TSH com ensaios de primeira geração (B), pois fornece menor certeza diagnóstica em relação aos dois outros métodos já descritos. Ensaios de terceira geração com sensibilidade ≤ 0,002 mUI/L devem ser utilizados para avaliação inicial da função tireoidiana. QUAIS VALORES SÃO CONSIDERADOS NORMAIS PARA O TSH? A secreção do TSH é pulsátil e possui um ritmo circadiano com os maiores pulsos de secreção ocorrendo entre 22h e 4h da madrugada, sendo seus níveis médios entre cerca de 1,3 e 1,4 mUl/L, com limites inferiores entre 0,3 e 0,5 mU/L e limites superiores entre 3,9 e 5,5 mUl/L (10) (B). Variações na concentração sérica de TSH podem ser atribuídas a essa secreção pulsátil e à liberação noturna do TSH (11) (B). Atualmente, o valor de referência para adultos considerado normal para níveis de TSH sérico é entre 0,44,5 mUl/L (12,13) (D,D). Contudo, é difícil estabelecer um valor de referência universal já que variações entre diferentes ensaios utilizados podem ocorrer e que os níveis circulantes de TSH são heterogêneos em relação à glicosilação e à atividade biológica (12) (D). O limite superior do TSH dito normal (aproximadamente 4,5 mUI/L) tem sido questionado nos últimos anos e sua redução para 2,5 mUl/L é defendida por alguns pesquisadores (14) (D). A favor dessa posição, tem-se o fato de que a taxa de progressão para hipotireoidismo franco e a prevalência de anticorpos antitireoidianos é maior em pacientes com TSH acima de 2,5 mUl/L em comparação com indivíduos com TSH entre 0,5 e 2,5 mUI/L (15) (B). Estudos realizados com rigorosos critérios de seleção, excluindo os indivíduos com doença tireoidiana, não apenas baseados em dados clínicos, mas também na presença de autoanticorpos e alterações na ultrassonografia, suportam essa mudança, mostrando que, na população saudável, os níveis médios de TSH ficam em torno de 1,5 mUl/L e que mais de 95% da população normal tem níveis de TSH ≤ 2,5 mU/L (16,17) (B). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Função tireoidiana na prática clínica Recomendação O valor de referência de TSH sérico normal para adultos é entre 0,4-4,5 mUI/L (D). É necessária demonstração mais convincente do impacto positivo em identificar e tratar pacientes com TSH normal-alto antes de reduzir o cutoff para 2,5 mUI/L. Recomenda-se acompanhamento de pacientes assintomáticos, com TSH entre 3,0-4,5 mU/l, especialmente naqueles com autoanticorpos positivos (B). Também se deve avaliar cuidadosamente pacientes com níveis entre 4,5-10 mU/L e que mantêm níveis séricos de T4 livre (T4L) normais (hipotireoidismo subclínico) e acompanhá-los, observando a evolução dos níveis hormonais (A). Para pacientes pediátricos é importante avaliar os valores de acordo com os intervalos de normalidade propostos para cada faixa etária (B). EM QUAL SITUAÇÃO DEVE SER REALIZADA A DOSAGEM DO TSH? A mensuração do TSH tem sido utilizada como triagem no diagnóstico de disfunção tireoidiana, especialmente na insuficiência tireoidiana mínima (hipotireoidismo subclínico). A dosagem de TSH está recomendada a Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 cada cinco anos em indivíduos com idade igual ou superior a 35 anos (1) (D). Em função de o hipotireoidismo não detectado na gravidez poder afetar o desenvolvimento neuropsicomotor (29) (B) e a sobrevida do feto (30) (B), além de ser acompanhado de hipertensão e toxemia (31) (B), também tem sido recomendada a dosagem de rotina do TSH em mulheres grávidas (29,32) (B,B), porém ainda não existe consenso sobre essa indicação em gestantes (33) (D). A triagem também é apropriada para pacientes com risco aumentado de disfunção tireoidiana, como (1) (D): história prévia de disfunção tireoidiana; presença de bócio; história prévia de cirurgia tireoidiana; história prévia de radioterapia cervical; presença de outras doenças autoimunes (por exemplo, diabetes melito tipo 1, vitiligo, anemia perniciosa, insuficiência adrenal primária etc.); uso de medicações: lítio, citocinas, amiodarona, agentes contrastados; história familiar de doença tireoidiana ou outra doença autoimune; presença de alterações laboratoriais que sugerem hipotireoidismo: hipercolesterolemia, hiponatremia, anemia, elevações de creatinofosfoquinase e lactato desidrogenase, hiperprolactinemia; presença de comorbidades como apneia do sono, depressão e demência. Na faixa pediátrica, são também condições clínicas que podem refletir risco de disfunção tireoideana e merecem triagem: crianças e adolescentes com baixa estatura e/ou baixa velocidade de crescimento (34,35) (B,B); crianças com distúrbios da evolução puberal (34,35) (B,B); crianças e adolescentes com suspeita de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou queda no rendimento escolar sem causa reconhecida (36,37) (C,C). Em todas as situações, deve-se confirmar a elevação de TSH, repetindo sua dosagem, antes de iniciar a reposição com levotiroxina (1,12) (D,D). Além disso, a concentração de TSH reflete adequadamente a reposição de T4 em pacientes com hipotireoidismo primário, sendo o melhor marcador para avaliação da dose de T4 e controle de tratamento (38) (D). Recomendação O TSH sérico deve ser dosado como triagem em pacientes acima de 35 anos a cada cinco anos, em gestantes e em pacientes com fatores de risco para disfunção tireoidiana, adultos ou crianças (D). No caso de uma dosagem com TSH elevado, uma segunda amostra confirmatória deve ser realizada antes de se instituir o tratamento, acompanhada da dosagem de T4 livre (D). 195 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Entretanto, nem todos os investigadores concordam com essa mudança (18,19) (D,D), já que níveis séricos de TSH entre 2,5-4,5 mU/L podem identificar alguns indivíduos em estágios iniciais de hipotireoidismo e aqueles com suspeita de tireoidite de Hashimoto, mas só existem evidências de benefício comprovado do tratamento limitadas a determinadas faixas etárias e a níveis de TSH acima de 7 mUI/L (20) (A). Alguns estudos sugerem que níveis de TSH mais elevado podem ser normais em idosos, particularmente nos muito idosos, acima de 80 anos, e em determinadas etnias (21,22) (A,B). O perigo de se modificar a faixa de normalidade é que, se com valores de 0,4-4,5 mUl/L diagnosticamos hipotireoidismo em 9,7%-12,9% dos indivíduos acima de 65 anos em grandes grupos populacionais como os do estudo do NHANES, baixando para 2,5 mUI/L teríamos o diagnóstico de hipotireoidismo em 35% dessa mesma população (23) (A). Estudos de boa consistência reforçam que os níveis séricos de TSH são idade-dependente e mostram que os valores de referência para adultos não correspondem aos observados ao longo da faixa etária pediátrica, na qual se observam valores continuamente decrescentes desde o período neonatal até o final da adolescência (24-28) (B). Função tireoidiana na prática clínica Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. QUAIS SÃO AS SITUAÇÕES ESPECIAIS QUE DEVEM SER AVALIADAS NA DOSAGEM DO TSH? Em diversas situações não se pode depender apenas da dosagem do TSH na avaliação da função tireoidiana, que pode apresentar algumas limitações no seu uso. Em pacientes com hipotireoidismo ou hipertireoidismo crônico e grave, o TSH pode permanecer alterado apesar da normalização dos níveis livres de HTS. Nessas situações, que podem levar de dois meses até um ano após a normalização dos níveis hormonais de T3 e T4, a dosagem do TSH pode não indicar adequadamente o estado tireoidiano, em função da prévia hipertrofia ou supressão dos tirotrofos, respectivamente (4,39) (B,B). Em pacientes com hipotireoidismo sem adesão adequada ao tratamento e que fazem uso intermitente de T4, podemos encontrar valores discordantes de TSH e T4L. Enquanto a mensuração de TSH reflete um set point de 6 a 8 semanas de uso da tiroxina, a dosagem de T4L reflete a adequação mais recente no uso de T4. Nesses pacientes, a dosagem de TSH pode estar elevada, apesar de níveis normais ou elevados de T4L (4) (B). O TSH sérico confirma ou exclui o diagnóstico em todos os casos de hipotireoidismo primário, mas não é um teste confiável nos casos de hipotireoidismo secundário (central), já que nestes a dosagem do TSH pode estar baixa, normal ou até discretamente elevada. Quando há suspeita de doença hipofisária ou hipotalâmica, o diagnóstico e o controle da reposição com levotiroxina devem ser realizados pela medida do T4L e não pela dosagem do TSH sérico (1,2) (D,D). Finalmente, é importante reconhecer que anormalidades isoladas do TSH sérico não correspondem sempre à disfunção tireoidiana e podem ser causadas por outras condições e medicações. São causas de elevação de TSH isolada (1,2) (D,D): recuperação após hipotireoxinemia decorrente de doença não tireoidiana (40,41) (B,D); medicações como lítio (42) (D) e amiodarona (43) (D): inibição da produção de hormônio tireoidiano por essas drogas pode causar tanto elevações reversíveis e transitórias do TSH como hipotireoidismo verdadeiro; presença de anticorpos heterófilos no soro de pacientes. Excetuando-se o hipertireoidismo central e a síndrome de resistência hipofisária aos HT, os demais tipos de hipertireoidismo encontrados na prática clínica são acompanhados de concentrações supressas de TSH, tipicamente abaixo de 0,1 mUl/L. A dosagem do T4 e do T3 está indicada na avaliação complementar de pacientes com TSH abaixo de 0,1 mUI/L (1,2) (D,D). 196 Supressão do TSH pode estar presente em outras situações, além da doença tireoidiana: recuperação de hipertireoidismo (39) (B); doença não tireoidiana grave: pode ocasionar um real hipotireoidismo central transitório, com T4L baixo (44,45) (B,B); primeiro trimestre de gestação (46) (C); uso de medicações como dopamina (47) (C), glicocorticoides (48) (C), entre outros com ação supressiva na secreção do TSH. O diagnóstico de disfunção tireoidiana em um paciente criticamente doente, com uma ou mais comorbidades, é um desafio, não devendo ser feito apenas com a dosagem do TSH, pois o estresse e o uso de diversas drogas podem suprimir ou elevar o TSH (40,41) (B,D). A história clínica é o dado mais importante que vai auxiliar no diagnóstico diferencial entre as alterações nos testes de função tireoidiana decorrentes de doenças sistêmicas e doença tireoidiana. Não é raro o endocrinologista ser apresentado a um paciente grave que não possui história prévia de doença hipofisária nem tem sinais clínicos de hipotireoidismo, porém apresenta laboratorialmente níveis de TSH e T4L normais ou reduzidos e, se forem dosados, T3 total e T3 livre (T3L) também baixos. Dessa forma, a avaliação dos testes de função tireoidiana não deve ser realizada de rotina em pacientes criticamente enfermos, exceto quando há uma suspeita forte de disfunção tireoidiana, por exemplo, história prévia de disfunção tireoidiana, bócio, oftalmopatia ou bradicardia inexplicada (40) (B). Existem dois tipos raros de hipertireoidismo TSH-mediado: adenoma hipofisário produtor de TSH e síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano seletiva à hipófise, que não serão identificados apenas com a medida do TSH. A dosagem de T4 e T3 deve ser solicitada se essas condições forem suspeitas (1,2) (D,D). Recomendações Nos primeiros meses de tratamento para hipotireoidismo ou hipertireoidismo crônico e grave, o TSH pode permanecer alterado apesar da normalização dos níveis de HT. Neste caso, a utilização do T4L é mais confiável do que o TSH para avaliação da função tireoidiana (B). Em pacientes com hipotireoidismo e com má aderência ao tratamento com levotiroxina, TSH e T4 livre devem ser usados para monitoramento, já que pacientes não aderentes podem exibir valores discordantes de TSH e T4L (TSH alto/T4L alto) (B). O TSH não pode ser avaliado isoladamente em paciente com suspeita de doença hipotálamo-hipofisária, sendo fundamental o uso do T4L (D). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Função tireoidiana na prática clínica COMO AVALIAR AS IODOTIRONINAS (T4 E T3)? A tiroxina (T4) é o principal hormônio secretado pela glândula tireoide. Cerca de 80% da triiodotironina (T3) plasmática é derivada da conversão periférica por meio da 5’-monodeiodinação do T4 nos diversos tecidos. Os HTs circulam na corrente sanguínea quase que totalmente ligados às proteínas plasmáticas e apenas 0,02% do T4 e 0,2% do T3 circulam na forma livre (49) (D). As concentrações de T4L e T3L são mais relevantes do que as do hormônio total. Primeiramente, o hormônio livre é o hormônio biologicamente ativo. Além disso, as várias alterações nas proteínas transportadoras (adquiridas ou herdadas) alteram as concentrações séricas do T4 e do T3 total (T3T), independente do status tireoidiano (50,51) (B,B). O TSH e o T4L são utilizados de rotina na avaliação da função tireoidiana e no seguimento do tratamento do hiper e do hipotireoidismo. O T4L não é suscetível às alterações nas proteínas transportadoras de hormônio tireoidiano e possui uma variação intraindividual muito pequena (52) (D). O T4 total (T4T) deve ser avaliado quando há discordância nos testes anteriormente citados (53) (D). O T3 tem baixa acurácia para o diagnóstico de hipotireoidismo, já que a conversão aumentada de T4 para T3 mantém concentração sérica de T3 nos limites normais até o hipotireoidismo se tornar grave (52) (D). A dosagem do T3, em conjunto com a interpretação do T4L, tem utilidade no diagnóstico e monitoramento do hipertireoidismo (2,54) (D,B): razão T3T/T4T alta (> 20) sugere doença de Graves (DG); T3 alto ou paradoxalmente normal pode indicar hipertireoidismo em paciente crítico com doença não tireoidiana e TSH supresso (< 0,01 mUl/L); T3 alto ou inapropriadamente normal pode indicar hipertireoidismo induzido por amiodarona; T3 alto é comum nos tumores hipofisários secretores de TSH e em pacientes com síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano sem clínica de hipertireoidismo; dosagens de T3 são úteis na monitorização da resposta aguda ao tratamento da tireotoxicose da DG; T3 elevado frequentemente é sinal precoce de recorrência de DG; T3 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 pode ser utilizado para detectar recorrência precoce de tireotoxicose após suspensão de drogas antitireoidianas. As concentrações séricas de T3 e T4 total e livre são medidas por imunoensaios competitivos (IMAs) (55) (D). O valor de referência para adultos para o T4T é de 4,5-12,6 μg/dL (58-160 nmol/L) e para o T3T de 80-180 ng/dL (1,2-2,7 nmol/L) (2,56) (D). Os métodos que são usados de rotina para medir T3 e T4 livre são dependentes de proteínas ligadoras de HTs. Portanto, esses métodos não são totalmente confiáveis quando utilizados em pacientes portadores de doença não tireoidiana, de alterações nas proteínas transportadoras (alterações de afinidade à globulina ligadora de tiroxina – TBG ou proteínas transportadoras anormais) e de anticorpos anti-T3 e T4 (2,57) (D,B). Os valores de referência para adultos para os métodos diretos comparativos de T4L são de 0,7-1,8 ng/dL (9-23 pmol/L), e do T3L são de 2,3-5,0 pg/mL (35-77 pmol/L). No método direto absoluto que utiliza diálise de equilíbrio, considerado o método padrão-ouro, o limite superior de normalidade do T4L é de 2,5 ng/dL (58) (B). Para pacientes pediátricos, os valores de T4 e T3 totais e T4 e T3 livres são idade-dependente, a exemplo do que acontece com o TSH, com níveis séricos maiores no período neonatal e que apresentam diminuição contínua e gradual até a adolescência, quando atingem os valores dos adultos (24-28) (B). Recomendações A dosagem do T4L, em conjunto com o TSH, é recomendada para avaliação de rotina diagnóstica da função tireoidiana e no seguimento do tratamento do hipertireoidismo, podendo ou não ser utilizada no seguimento do hipotireoidismo (D). Níveis anormais de T4 e T3 total são frequentemente decorrentes de alterações das proteínas transportadoras e não propriamente da função tireoidiana (D). Ensaios de hormônios totais devem ser utilizados apenas quando houver discordância na avaliação dos hormônios livres (D). A medida do T3 sérico tem baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico do hipotireoidismo (D). A dosagem de T3 sérico, interpretada em conjunto com T4L, é útil para diagnosticar apresentações complexas e incomuns de hipertireoidismo (D). Na população pediátrica, os valores de T4 e T3 totais e livres devem ser avaliados de acordo com o grupo etário do paciente (D). 197 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Outras condições, além das doenças tireoidianas, devem ser consideradas diante de um TSH alterado: alteração fisiológica da gestação, presença de doença grave não tireoidiana, uso de medicações (amiodarona, lítio, dopamina, glicorticoides etc.) (D). Função tireoidiana na prática clínica Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. QUAIS SÃO AS SITUAÇÕES ESPECIAIS QUE DEVEM SER CONSIDERADAS NA DOSAGEM DAS IODOTIRONINAS (T4 E T3)? A desnutrição, a inanição e o jejum causam diminuição do T3 livre e total. Por outro lado, a superalimentação causa aumento destes (59,60) (C). O estresse, seja físico ou emocional, causa aumento da atividade adrenocortical e inibe a produção de T3, com consequente diminuição dos níveis séricos de T3 livre e total (61) (C). Alterações na absorção, encontradas mais comumente em pacientes submetidos à cirurgia intestinal, devem ser consideradas nos casos em que o TSH permanece elevado e o T4 e T3 diminuídos após a terapia de reposição ter sido iniciada (62) (C). Alterações nas proteínas transportadoras de hormônio tireoidiano, adquiridas ou herdadas geneticamente, causam alteração dos níveis séricos de T3T e T4T. O aumento ou diminuição de TBG (globulina ligadora de tiroxina), principal proteína transportadora de HTs, vai ocasionar um aumento ou diminuição do T3T e do T4T com níveis séricos normais de TSH, T3L e T4L (63) (C). A maioria das alterações da função tireoidiana observadas com uso de amiodarona é semelhante às encontradas com contrastes iodados, que incluem uma marcada diminuição do T3 e uma modesta elevação de T4, devido à inibição das enzimas 5’-desiodase do tipo 1 e 2 (64) (B). O hiperestrogenismo endógeno (gravidez, mola hidatiforme) ou exógeno ocasiona elevação sérica dos níveis de TBG. Como consequência, encontramos níveis mais elevados de T3 e T4 com níveis normais de TSH (65) (C). Em contraste, o androgênio diminui a concentração de TBG, e, consequentemente, os níveis de T3 e T4, sem alterar os níveis de TSH (66) (B). Vários medicamentos deslocam T3 e T4 da TBG, levando a um aumento de T3L e T4L. As principais drogas que competem com o T4 pela ligação com a TBG são os salicilatos, fenitoína, carbamazepina e furosemida. Os salicilatos aumentam a fração de T4L em até 100% e a carbamazepina e o furosemida em cerca de 30% (67,68) (D,C). A fenitoína assim como o fenobarbital carbamazepina, rifampicina e sertralina também aceleram o metabolismo hepático de T4 e T3, levando à diminuição das suas concentrações séricas sem, entretanto, alterar os níveis de TSH (69,70) (C,C). O efeito da heparina ao aumentar o T4L é um importante fenômeno in vitro. A armazenagem ou a incubação de amostras de pacientes tratados com heparina 198 induz a atividade da lipase lipoproteica. Essa enzima aumenta a concentração de ácido graxo não esterificado com consequente aumento de T3L e T4L (71) (C). A maioria das interferências nos ensaios de T4 e T3 total e livre causa valores inapropriadamente anormais destes na presença de concentração sérica normal de TSH (72) (B). As interferências nos imunoensaios podem ser atribuídas a reação cruzada, interações com drogas e presença de anticorpos (autoanticorpos ou heterófilos). A prevalência dessas interferências na população é de cerca de 0,1% a 2% e de cerca de 1% a 10% nas doenças tireoidianas (73) (B). Recomendações Os níveis séricos de T4 e T3 podem alterar-se em qualquer condição, hereditária ou adquirida, que influencie os níveis de proteínas plasmáticas, principalmente a TBG (B). Pacientes que fazem uso de medicações como salicilatos, fenitoína, carbamazepina, furosemida, anticoncepcionais orais, entre outros, podem apresentar alterações nos níveis séricos de T4 e T3 (D). Na análise dos testes de função tireoidiana, devem ser consideradas as condições de coleta e armazenamento das amostras, assim como possíveis interferências nos imunoensaios (D). Cerca de 0,1% a 0,2% da população apresentam essas interferências, mas aumenta para 1% a 10% diante de doenças tireoidianas (B). Deve-se associar as dosagens do TSH com T4L em situações especiais em que se dosam os níveis séricos de T4 e T3 totais (D). COMO INTERPRETAR TESTES DE FUNÇÃO TIREOIDIANA NA GESTAÇÃO? Durante a gravidez, a produção de estrogênio aumenta progressivamente, elevando a concentração sérica de TBG e, assim, ocasionando níveis séricos elevados de T3T e T4T (74,75) (B). Além disso, ocorre uma queda nos níveis de TSH durante o primeiro trimestre de gestação, de tal forma que valores subnormais de TSH sérico podem ser vistos em aproximadamente 20% das gestações normais (75) (B). Essa diminuição no TSH é decorrente da atividade tireoide-estimulante da gonadotrofina coriônica humana (hCG), devido à sua homologia estrutural ao TSH. O pico de hCG e o nadir do TSH ocorrem juntos por volta da 10-12ª semanas de gestação (76) (B). A queda no TSH durante o primeiro trimestre da gravidez está Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Função tireoidiana na prática clínica Recomendações Os achados de hipotireoidismo materno causando efeitos adversos no desenvolvimento psicomotor fetal chamam a atenção sobre a importância de se avaliar a função tireoidiana na gestação (B). A triagem para disfunção tireoidiana deve ser realizada pré-gestação ou no primeiro trimestre, com a dosagem TSH para detecção de insuficiência tireoidiana leve (TSH > 2,5 mUI/L) (D). Durante a gestação, os níveis de T3 e T4 totais encontram-se elevados pelo aumento da TBG e os níveis de T4 livre podem apresentar um discreto aumento no primeiro trimestre e diminuem posteriormente no segundo e terceiro trimestre (B). COMO INTERPRETAR TESTES DE FUNÇÃO TIREODIANA NO PACIENTE CRITICAMENTE DOENTE? O paciente criticamente doente frequentemente apresenta anormalidades nos testes de função tireoidiana, mas, na maioria das vezes, não tem disfunção tireoidiana (77) (B). Os termos “doença não tireoidiana” (DNT) ou “síndrome do eutireoidiano doente” ou “síndrome do T3 baixo” são usados para definir a presença de testes anormais de função tireoidiana em paciente com doença sistêmica grave (78) (D). Nessa condição, geralmente ocorrem queda nos níveis de T3 e aumento dos níveis de T3 reverso (T3r) com níveis normais ou baixos de T4 e normais ou baixos de TSH (78) (D). Essas alterações laboratoriais ocorrem na DNT por diferentes mecanismos: inibição da ação da 5’-desiodase, supressão do eixo hipotálamo-hipófise, distúrbios na captação de iodo, diminuição das proteínas carreadoras de hormônios tireoidianos e uso de medicações como glicocorticoides, dopamina, amiodarona, furosemida, salicilatos, fenitoína e agonistas beta-adrenérgicos (79) (D). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 O grau de anormalidade da função tireoidiana nos pacientes com doença sistêmica aguda se correlaciona com a gravidade do quadro clínico, e baixos valores de T3 e T4 totais estão associados com menores taxas de sobrevida (79) (D). Considerando todos os possíveis fatores de confusão já citados, testes de função tireoidiana não devem ser realizados de rotina em pacientes gravemente enfermos, exceto se forte suspeita de doença tireoidiana (80) (D). Quando necessário, deve-se medir o TSH com um ensaio sensível (TSH < 0,02 mU/L) que vai diferenciar os pacientes hipertireóideos com TSH suprimido dos pacientes com TSH reduzido pela DNT. O paciente eutireóideo com DNT apresenta níveis transitoriamente reduzidos de TSH e valores normais ou baixos de T3 e T4L. O paciente com DNT e hipertireoidismo, em geral, apresenta TSH suprimido e valores normais ou elevados de T3 e T4L. O paciente hipotireóideo apresenta níveis normais ou elevados de TSH e baixos de T3 e T4L (81) (B). Recomendações Em razão da pouca especificidade dos testes de função tireoidiana na DNT, sua avaliação não deve ser feita de rotina nesses pacientes, exceto em casos de forte suspeita de doença tireoidiana (B). Na DNT, as concentrações séricas de TSH e T4 (total ou livre) devem ser interpretadas com cautela, porém, em conjunto, são a forma mais confiável de distinguir doença tireoidiana primária real (TSH e T4 concordantes) das anormalidades transitórias típicas da DNT (TSH e T4 discordantes) (B). Níveis elevados de T3 (total ou livre) são indicadores de hipertireoidismo em pacientes hospitalizados, porém níveis normais ou baixos não afastam esse diagnóstico (B). QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ANTICORPOS ANTITIREOIDIANOS? EM QUAIS SITUAÇÕES CLÍNICAS PESQUISAR A PRESENÇA DOS ANTICORPOS ANTITIREOPEROXIDASE E ANTITIREOGLOBULINA? Os três principais antígenos tireoidianos envolvidos na patogênese das doenças autoimunes da tireoide (DAT) são: tireoglobulina (Tg), tireoperoxidase (TPO) e receptor de TSH (TSH-R). 199 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. associada a um modesto aumento nos níveis de T4L, mas em apenas 10% dos casos (ou seja, 2% das gestações) ocasiona aumentos suprafisiológicos, que podem levar a graus variados de sinais e sintomas de tireotoxicose (hipertireoidismo fisiológico da gravidez) (75) (B). Posteriormente, os níveis de T3L e o T4L diminuem no segundo e no terceiro trimestre para cerca de 30% abaixo do valor médio normal. Os métodos dependentes de albumina podem fornecer resultados até 50% menores devido à diminuição da albumina sérica nas gestantes (74,75) (B,B). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Função tireoidiana na prática clínica Altos níveis de anticorpos antitireoidianos estão geralmente presentes no soro de pacientes com DAT. Entretanto, em uma proporção significativa de indivíduos saudáveis, níveis de anticorpo antitireoglobulina (TgAb) e de antitireoperoxidase (TPOAb) podem ser detectados, variando de 9% a 25% (15) (B). Os TgAb estão presentes em 70% a 80% dos pacientes com tireoidite autoimune (TA), em 30% a 40% dos pacientes com doença de Graves (DG) e em 10% a 15% dos pacientes com doenças não autoimunes da tireoide. Os métodos de RIA, IRMA e ELISA são recomendados para detecção de TgAb (82) (B). O TgAb interfere nos ensaios de Tg, mesmo nos ultrassensíveis. Isso é importante em pacientes com câncer diferenciado de tireoide, nos quais a Tg é um importante marcador laboratorial após a tireoidectomia. O TgAb deve sempre ser dosado junto com a Tg em pacientes com câncer de tireoide e sua interferência deve ser considerada (83) (D). Os TPOAb estão presentes no soro de 90% a 95% dos pacientes com TA, em cerca de 80% dos pacientes com DG e em 10% a 15% dos pacientes com doenças não autoimunes da tireoide. Os métodos IRMA de detecção são os mais sensíveis e devem ser usados preferencialmente (84) (B). É possível realizar a dosagem de TgAb e TPOAb quando há suspeita de TA, com base na história familiar, na presença de hipotireiodismo primário e/ou de bócio difuso. No entanto, a ausência não exclui uma tireoidite, pois em uma minoria dos pacientes os anticorpos podem ser indetectáveis. Por outro lado, a presença dos anticorpos por si só não é suficiente para fazer o diagnóstico de DAT, uma vez que uma minoria de indivíduos normais e de pacientes com doença não autoimune da tireoide pode ter níveis detectáveis de anticorpos. Assim sendo, outros testes clínicos são necessários para confirmar o diagnóstico de TA, como a ultrassonografia de tireoide (85) (B). Independente da doença tireoidiana subjacente, os TPOAb são mais frequentemente observados do que os TgAb e são o teste mais sensível para detectar DAT. Deve-se dar preferência ao TPOAb se restrições de custo forem necessárias. Na DG, a dosagem sérica de TgAb e TPOAb pode auxiliar na demonstração da natureza autoimune do hipertireoidismo, ainda que o anticorpo antirreceptor de TSH (TRAb) seja mais específico (86) (B). A dosagem de TPOAb no início da gestação pode auxiliar a predizer a probabilidade do desenvolvimento de tireoidite puerperal, que ocorre em 5% a 10% das mulheres nesse período. Cerca de 50% das gestantes 200 com TPOAb positivo vão apresentar a tireoidite puerperal, que é geralmente transitória. Das mulheres com tireoidite puerperal, 67% têm clínica e 33% apresentam o quadro subclínico, mesmo tendo TSH anormal (87) (B). Na avaliação da infertilidade, a dosagem de TPOAb pode ser útil, já que níveis altos de TPOAb foram associados com maior risco de aborto e de insucesso em terapia de fertilização in vitro (88) (C). A pesquisa de TgAb e TPOAg está indicada durante o tratamento com amiodarona, interferon e lítio, pois a presença desses autoanticorpos aumenta o risco de alterações da função tireoidiana decorrentes de tratamentos com essas drogas (89-91) (B,B,C). Com o tratamento da DG e do hipotireoidismo autoimune, há evidências de que ocorre uma redução dos níveis de anticorpos (92) (C), porém medidas dos autoanticorpos para monitorizar tratamento de DAT não são recomendadas na maioria dos casos (93) (B). Recomendações A dosagem sérica de TgAb e TPOAb auxilia na demonstração da natureza autoimune da disfunção tireoidiana (B) e deve ser associada a dosagens do TSH e T4L (D). A prevalência de TPOAb é maior que TgAb, sendo o TPOAb o teste mais sensível para detectar DAT (B). A dosagem de TgAb e TPOAb pode ser feita: a) na suspeita de DAT, b) para pacientes de risco para disfunção tireoidiana; c) para pacientes em uso de interferon, lítio, amiodarona; d) para pacientes com histórico de infertilidade ou falência em terapias de fertilização assistida (D). A mensuração de TPOAb pode ser utilizada para avaliar risco de tireoidite pós-parto (ATPO elevado) (B). O TgAb deve ser dosado em conjunto com a Tg, no seguimento de pacientes com câncer diferenciado de tireoide, já que a presença de TgAb no soro do paciente pode determinar resultados falsamente baixos de Tg (falso-negativos) (B). Não há indicação de monitorizar os níveis dos anticorpos antitireoidianos durante o curso do tratamento do hipotireoidismo (D). EM QUAIS SITUAÇÕES CLÍNICAS PESQUISAR A PRESENÇA DO ANTICORPO ANTIRRECEPTOR DE TSH? O anticorpo antirreceptor de TSH (TRAb) pode estimular diretamente a função tireoidiana ou inibir os efeitos biológicos do TSH (94) (B). O ensaio comumente Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Função tireoidiana na prática clínica Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Recomendações A dosagem do TRAb apresenta boa especificidade para o diagnóstico da DG, porém não é fundamental para o diagnóstico na maioria dos casos. Em alguns casos, pode auxiliar no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo (B). A avaliação do TRAb inicial é útil como um marcador de gravidade da doença e pode, em combinação com outros indicadores clínicos, contribuir para a decisão de tratamento (D). Avaliar níveis de TRAb antes de interromper o tratamento com drogas antitireoidianas pode auxiliar a identificar quais pacientes podem iniciar a retirada da medicação, uma vez que níveis normais de TRAb é indicativo de uma maior chance de remissão (D). Recomenda-se dosar o TRAb em gestantes com DG, no início e no terceiro trimestre de gestação (entre a 20ª e 24ª semanas de gestação), para avaliar risco de hipertireoidismo fetal e tireotoxicose neonatal transitória (B). SUMÁRIO DE RECOMENDAÇÕES Após revisão e discussão dos principais tópicos relacionados ao uso dos testes de função tireoidiana, as principais recomendações a serem destacadas são: • A dosagem do TSH é o melhor método para triagem de disfunções tireoidianas e para monitoramento dos pacientes em tratamento do hipotireoidismo, sendo bom indicador da dose de reposição de levotiroxina. • TSH alterado não é sinônimo de doença tireoidiana, devendo ser consideradas outras condições. • O T4L é fundamental na avaliação do paciente com doença hipotálamo-hipofisária. Também pode ser útil para avaliar a resposta à levotiroxina nos casos de má aderência e nos primeiros meses de tratamento de pacientes com hipotireoidismo crônico grave. • Anormalidades de T3/T4 totais são geralmente decorrentes de alterações das proteínas transportadoras e não propriamente da função tireoidiana. Assim sendo, ensaios de hormônios totais devem ser utilizados em casos excepcionais. • Não existe indicação de uso rotineiro da medida do T3 sérico no diagnóstico e seguimento do paciente com hipotireoidismo. • A dosagem do T3 sérico, interpretada em conjunto com T4L, é útil na avaliação de quadros de hipertireoidismo. 201 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. utilizado (radiorreceptor) não diferencia o anticorpo estimulador do anticorpo bloqueador. O TRAb está presente no soro de mais de 90% dos pacientes com DG, mas sua utilidade diagnóstica é limitada. Os critérios clínicos e os testes diagnósticos comumente usados para avaliar o status da tireoide tornam o TRAb desnecessário para confirmação da DG, na maioria dos pacientes (95) (B). Situações especiais no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo podem justificar um ensaio de TRAb: hiperêmese gravídica com tireotoxicose, hipertireoidismo subclínico com bócio difuso, oftalmopatia de Graves eutireoidiana (96) (D). Os valores de TRAb ao diagnóstico não apresentam alto valor preditivo para, isoladamente, determinar as chances de resposta ao tratamento com drogas antitireoidianas. No entanto, avaliando os títulos de TRAb e com outros indicadores clínicos (idade, sexo, volume da tireoide, gravidade do hipertireoidismo), subgrupos de pacientes podem ser identificados com um alto ou baixo risco de remissão com tratamento medicamentoso: pacientes do sexo feminino, com doença leve, bócios pequenos, e TRAb negativo têm uma taxa de remissão acima de 50%, tornando o uso de drogas antitireoidianas potencialmente mais favorável neste grupo de pacientes (96,97) (D,D). Níveis persistentemente altos de TRAb após o tratamento medicamentoso estão associados a maiores taxas de recidiva da DG (98,99) (B,B). Avaliação dos títulos de TRAb é útil para avaliar grau de atividade da DG em gestantes. Em muitas pacientes, a DG gradualmente remite durante a gestação. O desaparecimento do TRAb é um indicador de que a terapia com drogas antitireoidianas pode não ser mais necessária e que sua continuidade pode colocar o feto em risco para hipotireoidismo (96,100) (D,D). A dosagem do TRAb também pode ser usada para avaliar o risco de tireotoxicose neonatal, que ocorre em cerca de 2% das gestantes com DG. Para predizer essa disfunção tireoidiana, o TRAb deve ser dosado no terceiro trimestre gestacional, quando existe história prévia de hipertireoidismo neonatal ou quando a mãe tem DG ou teve no passado (96,101) (D,B). A prevalência de TRAb varia de 10% a 75% em pacientes com tireoidite atrófica e de 0% a 20% em pacientes com tireoidite de Hashimoto (102) (D). Altos títulos são observados nas mães de crianças com hipotireoidismo neonatal transitório. Para uma predição eficiente desse hipotireoidismo, recomenda-se a dosagem de TRAb durante a gravidez em mães com hipotireoidismo autoimune (101) (B). Função tireoidiana na prática clínica • A função tireoidiana deve ter avaliação cuidadosa durante o período gestacional, visto o impacto negativo que o hipotireoidismo materno pode ter em desfechos obstétricos e no desenvolvimento fetal. A dosagem de TSH deve ser realizada pré-gestação ou no primeiro trimestre e a detecção de insuficiência tireoidiana leve é feita com valores de TSH > 2,5 mUI/L no primeiro trimestre de gestação. • Em pacientes hospitalizados, gravemente enfermos (DNT), testes de função tireoidiana não devem ser realizados de rotina. • A dosagem de TPOAb e TgAb auxilia na demonstração da etiologia autoimune da disfunção tireoidiana. Não há indicação de monitorizar os níveis dos anticorpos antitireoidianos durante o curso do tratamento do hipotireoidismo. O TPOAb é o mais prevalente e sensível, tendo utilidade também em avaliar o risco de tireoidite pós-parto. • O TgAb tem fundamental importância no seguimento de pacientes com câncer diferenciado de tireoide, em conjunto com a dosagem de Tg. • A dosagem do TRAb auxilia no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo, tem boa especificidade para DG, mas não é essencial para o diagnóstico na maioria dos casos. A avaliação do TRAb inicial é útil como um marcador de gravidade da doença e pode contribuir para decisões no tratamento e chances de remissão. É recomendado dosar o TRAb em gestantes com DG, no terceiro trimestre de gestação, para avaliar risco de tireotoxicose neonatal transitória. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este manuscrito demonstra a importância da adequada avaliação dos testes laboratoriais no manejo das disfunções tireoidianas, doenças bastante frequentes na rotina do endocrinologista. É necessário saber a indicação precisa de cada teste, assim como suas particularidades. Diretrizes auxiliam a avaliar os dados disponíveis na literatura de forma esquemática, mas o clínico deve sempre avaliar cada paciente de forma individualizada, sempre considerando o contexto clínico em conjunto com os exames complementares. Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. 202 REFERÊNCIAS 1. 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J Clin Endocrinol Metab. 1990;71:40-5. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 consenso em tireoide Consenso brasileiro para o diagnóstico e tratamento do hipertireoidismo: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia The Brazilian consensus for the diagnosis and treatment of hyperthyroidism: recommendations by the Thyroid Department of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism Unidade de Tireoide, Serviço de Endocrinologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCUFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil 2 Departamento de Medicina Interna, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre, RS, Brasil 3 Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Botucatu, SP, Brasil 4 Serviço de Endocrinologia e Metabologia, Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Paraná (SEMPR-HCUFPR), Curitiba, PR, Brasil 5 Serviço de Endocrinologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 6 Divisão de Endocrinologia e Metabologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP), SP, Brasil 7 Departamento de Biorregulação, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil 8 Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), Campinas, SP, Brasil 9 Projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina (AMB/ CFM), São Paulo, SP, Brasil Ana Luiza Maia1, Rafael S. Scheffel1, Erika Laurini Souza Meyer2, Glaucia M. F. S. Mazeto3, Gisah Amaral de Carvalho4, Hans Graf4, Vaisman5, Lea M. Z. Maciel6, Helton E. Ramos7, Alfio José Tincani8, Nathalia Carvalho de Andrada9, Laura S. Ward8 RESUMO Introdução: O hipertireoidismo é caracterizado pelo aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide. A tireotoxicose refere-se à síndrome clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes, secundário ao hipertireoidismo ou não. Este artigo descreve diretrizes baseadas em evidências clínicas para o manejo da tireotoxicose. Objetivo: O presente consenso, elaborado por especialistas brasileiros e patrocinado pelo Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, visa abordar o manejo, diagnóstico e tratamento dos pacientes com tireotoxicose, de acordo com as evidências mais recentes da literatura e adequadas para a realidade clínica do país. Materiais e métodos: Após estruturação das questões clínicas, foi realizada busca das evidências disponíveis na literatura, inicialmente na base de dados do MedLine-PubMed e posteriormente nas bases Embase e SciELO – Lilacs. A força das evidências, avaliada pelo sistema de classificação de Oxford, foi estabelecida a partir do desenho de estudo utilizado, considerando-se a melhor evidência disponível para cada questão. Resultados: Foram definidas 13 questões sobre a abordagem clínica inicial visando ao diagnóstico e ao tratamento que resultaram em 53 recomendações, incluindo investigação etiológica, tratamento com drogas antitireoidianas, iodo radioativo e cirurgia. Foram abordados ainda o hipertireoidismo em crianças, adolescentes ou pacientes grávidas e o manejo do hipertireoidismo em pacientes com oftalmopatia de Graves e com outras causas diversas de tireotoxicose. Conclusões: O diagnóstico clínico do hipertireoidismo, geralmente, não oferece dificuldade e a confirmação diagnóstica deverá ser feita com as dosagens das concentrações séricas de TSH e hormônios tireoidianos. O tratamento pode ser realizado com drogas antitireoidianas, administração de radioiodoterapia ou cirurgia de acordo com a etiologia da tireotoxicose, as características clínicas, disponibilidade local de métodos e preferências do médico-assistente e paciente. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):205-32 Descritores Tireotoxicose; doença de Graves; bócio nodular tóxico; drogas antitireoidianas Correspondência para: Ana Luiza Maia Serviço de Endocrinologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre Rua Ramiro Barcelos, 2350 90035-003 – Porto Alegre, RS, Brasil [email protected] Recebido em 19/Mar/2013 Aceito em 19/Mar/2013 Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 205 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. 1 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento ABSTRACT Introduction: Hyperthyroidism is characterized by increased synthesis and release of thyroid hormones by the thyroid gland. Thyrotoxicosis refers to the clinical syndrome resulting from excessive circulating thyroid hormones, secondary to hyperthyroidism or due to other causes. This article describes evidence-based guidelines for the clinical management of thyrotoxicosis. Objective: This consensus, developed by Brazilian experts and sponsored by the Department of Thyroid Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism, aims to address the management, diagnosis and treatment of patients with thyrotoxicosis, according to the most recent evidence from the literature and appropriate for the clinical reality of Brazil. Materials and methods: After structuring clinical questions, search for evidence was made available in the literature, initially in the database MedLine, PubMed and Embase databases and subsequently in SciELO – Lilacs. The strength of evidence was evaluated by Oxford classification system was established from the study design used, considering the best available evidence for each question. Results: We have defined 13 questions about the initial clinical approach for the diagnosis and treatment that resulted in 53 recommendations, including the etiology, treatment with antithyroid drugs, radioactive iodine and surgery. We also addressed hyperthyroidism in children, teenagers or pregnant patients, and management of hyperthyroidism in patients with Graves’ ophthalmopathy and various other causes of thyrotoxicosis. Conclusions: The clinical diagnosis of hyperthyroidism usually offers no difficulty and should be made with measurements of serum TSH and thyroid hormones. The treatment can be performed with antithyroid drugs, surgery or administration of radioactive iodine according to the etiology of thyrotoxicosis, local availability of methods and preferences of the attending physician and patient. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):205-32 Keywords Thyrotoxicosis; Graves’ disease; toxic nodular goiter; antithyroid drugs 1) INTRODUÇÃO Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. O termo hipertireoidismo refere-se ao aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide. Tireotoxicose refere-se à síndrome clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes, secundário à hiperfunção da glândula tireoide ou não. A tireotoxicose por T3 decorre do aumento isolado dos níveis séricos de T3 e supressão do TSH. As manifestações clínicas comumente encontradas no hipertireoidismo estão listadas na tabela 1. De modo geral, é observada uma correlação entre os níveis hormonais e a apresentação clínica, sendo que os sinais e sintomas secundários ao estímulo adrenérgico, como taquicardia e ansiedade, são mais evidentes em pacientes jovens e com bócios volumosos (1,2) (A). Perda de peso é um achado frequente, no entanto alguns pacientes, especialmente os mais jovens, podem relatar ganho ponderal devido ao aumento do apetite (3) (B). Em idosos, predominam sintomas cardiopulmonares, tais como taquicardia (ou fibrilação atrial), dispneia e edema. O termo “tireotoxicose apática” é utilizado para descrever o paciente idoso assintomático, exceto pela presença de fraqueza e astenia (2,4) (A,D). 206 2) COMO AVALIAR E MANEJAR INICIALMENTE O PACIENTE COM TIREOTOXICOSE? O paciente com suspeita de tireotoxicose deve ser submetido a anamnese e exame físico cuidadosos, no intuito de buscar o diagnóstico e estabelecer sua etiologia (Tabela 2). O tempo de início dos sintomas, uso de medicamentos, exposição ao iodo (realização de exames com contraste iodado ou uso de compostos com alto teor de iodo), gestação recente e história familiar de doença autoimune da tireoide devem ser questionados. No exame físico, a determinação do peso corporal, pressão arterial e frequência cardíaca são particularmente importantes. Taquicardia sinusal e hipertensão arterial sistólica são comuns, e a fibrilação atrial pode estar presente, principalmente em idosos. Sinais oculares como retração palpebral, olhar fixo ou assustado e sinal de lid-lag são decorrentes da hiperatividade adrenérgica e podem ser observados em qualquer quadro de tireotoxicose. No entanto, a presença de sinais como hiperemia conjuntival e palpebral, edema palpebral, quemose, paralisia de músculos extraoculares ou exoftalmia são característicos da oftalmopatia da doença de Graves (DG). No quadro de tireotoxicose, a pele geralmente é quente e úmida. Tremor fino de Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Tabela 1. Manifestações clínicas do hipertireoidismo Sintomas % Sinais % Nervosismo 99 Taquicardia 100 Sudorese excessiva 91 Bócio 97 Intolerância ao calor 89 Tremor 97 Palpitação 89 Pele quente e úmida 90 Fadiga 88 Sopro na tireoide 77 Perda de peso 85 Alterações oculares 71 Dispneia 75 Fibrilação atrial 10 Fraqueza 70 Ginecomastia 10 Aumento do apetite 65 Eritema palmar 8 Queixas oculares 54 Edema de membros inferiores 35 Hiperdefecação 33 Diarreia 23 Distúrbios menstruais 20 Anorexia 9 Ganho ponderal 2 Tabela 2. Captação de radioiodo (131I ou tireotoxicose I) nas diferentes causas de 123 Captação normal ou elevada Captação baixa ou ausente Doença de Graves Tireoidite indolor (silenciosa) Bócio multinodular tóxico Tireoidite induzida por amiodarona Adenoma tóxico Tireoidite subaguda (granulomatosa, de Quervain) Doença trofoblástica Tireotoxicose iatrogênica Adenoma de hipófise secretor de TSH Ingestão factícia de hormônios tireoidianos Resistência aos hormônios tireoidianos Struma ovarii Tireoidite aguda Metástases extensas de carcinoma folicular da tireoide O iodo é um elemento fundamental para síntese dos hormônios tireoidianos, sendo a captação de iodo um excelente indicador da função tireoidiana. A taxa de captação de iodo pela tireoide pode ser avaliada utilizando-se iodo radioativo (131I ou 123I) e permite diferenciar as causas de tireotoxicose associadas ao aumento da captação (hipertireoidismo) daquelas com captação baixa ou ausente (Tabela 2) (11) (B). A captação de iodo é geralmente elevada em pacientes com DG ou bócio multinodular tóxico (BMNT), estando praticamente ausente nas tireoidites ou na tireotoxicose factícia. A captação também diminui em indivíduos que usaram contrastes radiológicos iodados nos 30 a 60 dias prévios ou que 207 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. extremidades, fraqueza muscular proximal e hiperreflexia são achados frequentes. Dermatopatia infiltrativa (mixedema pré-tibial) é uma manifestação rara da DG. A palpação e ausculta da glândula tireoide permitem avaliar o tamanho, a consistência, a presença de nódulos ou o sopro tireoidiano. Bócio de tamanho variado é geralmente observado na DG e no bócio multinodular tóxico (BMNT). Dor espontânea ou à palpação da tireoide é característica da tireoidite subaguda, enquanto a presença de nódulo único leva à suspeita de adenoma folicular hiperfuncionante. Nos pacientes com suspeita clínica de tireotoxicose, a avaliação inicial consiste na determinação dos níveis séricos do TSH e dos hormônios tireoidianos. A determinação dos níveis do TSH, por meio de metodologia ultrassensível (sensibilidade funcional < 0,02 mUI/L), é o método mais sensível para diagnóstico de tireotoxicose (sensibilidade de 95%, especificidade de 92%) (5) (B). Sempre que possível, deve ser solicitada a determinação da fração livre da tiroxina (T4L), visto que anormalidades nas proteínas carreadoras dos hormônios tireoidianos (secundárias ao uso de medicações ou determinadas condições clínicas) podem alterar a concentração total do T4 ou T3 (6,7) (D,B). Exceto nos raríssimos casos de hipertireoidismo secundário ao adenoma produtor de TSH (< 1%, vide item 13) ou à síndrome de resistência aos hormônios tireoidianos (doença autossômica dominante, com incidência de 1:40.000 nascidos vivos, vide item 13), o excesso de hormônios tireoidianos circulantes, independente da causa, resultará em supressão do TSH (usualmente < 0,1 mUI/L). No hipertireoidismo franco, tanto o T4L quanto o T3 séricos estão aumentados e o TSH está indetectável. No entanto, em fases iniciais da DG ou do adenoma funcionante, pode ocorrer aumento isolado do T3, condição clínica denominada de “T3-tireotoxicose”. Em casos suspeitos de tireotoxicose factícia (ingestão de hormônios tireoidianos), níveis séricos baixos ou indetectáveis de tireoglobulina sérica podem ser úteis no diagnóstico (8) (D). A dosagem do anticorpo antirreceptor do TSH (TRAb) é raramente necessária para o diagnóstico do hipertireoidismo de Graves, sendo indicada apenas em casos selecionados. Como regra, considera-se adequado determinar os níveis de TRAb em gestantes com DG ou história médica pregressa de DG para avaliação do risco de tireotoxicose neonatal por passagem transplacentária dos anticorpos (9) (B); no diagnóstico diferencial da tireotoxicose gestacional (10) e nos indivíduos eutireoidianos com exoftalmopatia, especialmente bilateral. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. possuem dieta muito rica em iodo (alimentos como algas marinhas). No entanto, de modo interessante, a captação de iodo pode estar presente em usuários de amiodarona, apesar de a droga ser altamente iodada (12)(B). A cintilografia de tireoide evidencia a distribuição do radiomarcador na glândula e tem indicações limitadas na avaliação do hipertireoidismo. É caracteristicamente difusa na DG e heterogênea no BMNT (focos de hipercaptação entremeados com áreas hipocaptantes). A principal indicação da cintilografia é na suspeita de adenoma folicular hiperfuncionante (nódulo quente) (11) (B). A ultrassonografia (US) da tireoide não está indicada rotineiramente na avaliação do hipertireoidismo e está reservada somente nos casos de nódulo tireoidiano pela palpação (13) (D). No entanto, quando o exame da captação de iodo não pode ser realizado ou é contraindicado (gestação e amamentação), ou ainda não for elucidativo no diagnóstico (exposição recente ao iodo), a US da tireoide com Doppler pode ser útil no diagnóstico etiológico (14,15) (C,D). A Dopplerfluxometria da tireoide pode contribuir no diagnóstico diferencial dos subtipos de tireotoxicose induzida por amiodarona (tipos 1 e 2) e entre DG e tireoidite destrutiva (14,16) (C,B). O tratamento com betabloqueadores deve ser considerado em pacientes sintomáticos, com suspeita ou diagnóstico de tireotoxicose (17,18) (B,D). Esses medicamentos diminuem a frequência cardíaca, a pressão arterial, os tremores, a labilidade emocional e a intolerância aos exercícios (18) (D). O betabloqueador não seletivo propranolol é o mais utilizado, com melhora dos movimentos hipercinéticos, tremores finos de extremidades e mãos úmidas (19) (B), mas também podem ser prescritos betabloqueadores cardiosseletivos (atenolol, metoprolol) ou com meia-vida mais curta (esmolol) (19,20) (B,C). A dose oral habitual de propranolol ou atenolol varia de 20 a 80 mg a cada 6 a 12 horas e 50 a 100 mg uma vez ao dia, respectivamente, e deve ser ajustada conforme a resposta clínica (21) (D). Os bloqueadores de canais de cálcio, verapamil e diltiazem, administrados oralmente, podem ser utilizados nos casos de contraindicação ao uso de betabloqueadores (22,23) (B). Recomendação 1 O diagnóstico de hipertireoidismo de Graves pode ser estabelecido com relativa segurança em pacientes com quadro moderado ou grave de tireotoxicose, oftalmopatia de início recente e bócio difuso, não sendo necessários exames adicionais para investigação etiológica. 208 Recomendação 2 A suspeita clínica de tireotoxicose deve ser confirmada por meio da determinação concomitante dos níveis séricos do TSH e hormônios tireoidianos (B). A maioria dos pacientes com tireotoxicose apresenta TSH baixo ou indetectável. Níveis elevados de T4L e/ou T3 confirmam o diagnóstico de tireotoxicose. Recomendação 3 A determinação sérica do TRAb está indicada em gestantes com DG ou história médica pregressa de DG, para avaliação de risco da tireotoxicose neonatal por passagem transplacentária dos anticorpos; no diagnóstico diferencial da tireotoxicose gestacional (1º trimestre) e em indivíduos eutireoidianos com oftalmopatia (B). Recomendação 4 A captação de iodo radioativo (131I ou 123I) é útil no diagnóstico diferencial da causa da tireotoxicose, especialmente para diferenciar as tireoidites da DG e do BMNT (B). É contraindicada na gestação e na lactação (D). Recomendação 5 US da tireoide não é indicada rotineiramente na avaliação do hipertireoidismo (D). A Dopplerfluxometria pode ser útil no diagnóstico diferencial dos subtipos de tireotoxicose induzida por amiodarona (B). Recomendação 6 A prescrição de betabloqueadores está indicada em pacientes sintomáticos com suspeita ou diagnóstico de tireotoxicose (B). 3) COMO TRATAR O PACIENTE COM HIPERTIREOIDISMO SECUNDÁRIO A DG? A DG é a causa mais comum de tireotoxicose e sua patogênese envolve a formação do TRAb. Esses anticorpos se ligam aos receptores de TSH, presentes na membrana da célula folicular tireoidiana, causando, assim, a hiperfunção glandular. O excesso de hormônios tireoidianos secundário ao hipertireoidismo de Graves pode ser controlado por meio da inibição da síntese hormonal, utilizando-se drogas antitireoidianas (DAT), destruição de tecido tireoidiano com iodo radioativo (131I) ou tireoidectomia total (TT). Os três tratamentos apresentam Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento A. O uso de DAT como tratamento inicial no hipertireoidismo de Graves A utilização de DAT é a única modalidade de tratamento que possibilita a cura sem necessidade de intervenção cirúrgica ou exposição radioativa. As DAT são as tionamidas: propiltiouracil (PTU), metimazol (MMI) e carbimazol, este último não disponível no Brasil. Essas drogas inibem a síntese dos hormônios tireoidianos por interferência na utilização do iodeto intratireoidiano e na reação de acoplamento, ambas as reações catalisadas pela peroxidase tireoidiana (24) (D). As tionamidas também têm efeito imunomodulador, embora o mecanismo ainda não tenha sido esclarecido. Doses elevadas de PTU inibem a conversão periférica de T4 em T3, ação adicional benéfica quando se deseja um controle mais rápido do quadro de tireotoxicose. No entanto, devido aos efeitos hepatotóxicos do PTU e à redução da eficácia do 131I em possível terapia no futuro (vide abaixo), a utilização dessa droga como primeira opção terapêutica deve ser restrita aos casos de hipertireoidismo grave, crise tireotóxica e no primeiro trimestre da gestação (25,26) (B,D). O uso do MMI está associado à aplasia cútis congênita, sendo contraindicado no primeiro trimestre gestacional (27) (C). A dose inicial do MMI em paciente com tireotoxicose leve a moderada é de 10 a 30 mg, em dose única diária. Em casos de hipertireoidismo grave, a dose diária pode variar de 40 a 60 mg (28) (B). A maioria dos pacientes alcança o eutireoidismo após seis a oito semanas de tratamento. Nessa fase, a dose pode ser reduzida gradativamente, sendo o MMI mantido entre 5 e 10 mg por dia e o PTU entre 50 e 100 mg por dia. Os efeitos colaterais leves ocorrem em 1% a 5% dos pacientes em uso de tionamidas. São considerados como efeitos leves: rash cutâneo, prurido, urticária ou artralgia. Caso não ocorra desaparecimento espontâneo dos sintomas, pode ser feita a substituição de uma DAT pela outra, embora haja reação cruzada em até 50% dos casos. Anti-histamínicos podem ser utilizados para controle das manifestações cutâneas (24) (D). Efeitos colaterais graves são descritos em aproximadamente 1% dos pacientes e incluem poliartrite grave, agranulocitose Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 e, mais raramente, anemia aplástica, trombocitopenia, hepatite tóxica (PTU), vasculites, síndrome lúpus-like, hipoprotrombinemia (PTU) e hipoglicemia (MMI) (29,30) (B,C). A agranulocitose é o mais frequente dos efeitos colaterais graves, ocorrendo em 0,5% dos pacientes em uso de DAT (31) (C). Desse modo, ao iniciar o tratamento, o paciente deve ser orientado a procurar o médico e suspender a DAT se apresentar febre, odinofagia ou lesões na mucosa oral. Se confirmado o diagnóstico, o paciente deve ser hospitalizado para uso de antibioticoterapia de amplo espectro e fator estimulador de colônia de granulócito (1 a 5 μg/kg/ dia, por via subcutânea) (32) (D). Quando ocorre um efeito colateral grave, o medicamento deve ser suspenso imediatamente e não deve ser reintroduzido. O monitoramento da função tireoidiana deve ser feito com medida de T4L e T3 total após aproximadamente quatro a seis semanas do início do tratamento e depois em intervalos de quatro a oito semanas até que o eutireoidismo seja alcançado com a menor dose do medicamento. Nesse momento, a avaliação clínica e laboratorial pode ser realizada a cada dois a três meses. O TSH pode permanecer suprimido por meses após o início do tratamento e não deve ser utilizado para monitorização na fase inicial (33,34) (B). Após 12 a 24 meses de tratamento, a DAT deve ser descontinuada. A taxa de remissão da DG varia de 30% a 50% (35,36) (B,A). Pacientes com doença de longa duração, bócio volumoso e níveis elevados de T3 (> 500 ng/dL) têm maior probabilidade de recidiva (33,34,37) (B). Como a maioria das recidivas ocorre nos primeiros meses após a suspensão da DAT, é recomendado que a função tireoidiana seja monitorada mensalmente nos primeiros seis meses, depois a cada três meses e, após o primeiro ano de remissão, o paciente deve ser monitorado anualmente por tempo indeterminado (38-40) (B). Recomendação 7 O tratamento com DAT é eficaz no controle do hipertireoidismo de Graves e pode ser utilizado como tratamento inicial, na tentativa de remissão da disfunção autoimune. A taxa de remissão da doença após 12 a 24 meses de tratamento varia de 30% a 50% (B). Recomendação 8 Devido aos potenciais efeitos hepatotóxicos do PTU, a utilização dessa droga como primeira opção terapêutica 209 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. vantagens e desvantagens, sendo que os dois últimos são considerados tratamentos definitivos. A escolha de uma modalidade em detrimento de outras deve ser feita com base em características clínicas, socioeconômicas e preferências do médico-assistente e do paciente. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento deve ser restrita aos casos de hipertireoidismo grave, crise tireotóxica e no primeiro trimestre da gestação (B). O uso do MMI tem sido associado à aplasia cútis congênita, sendo contraindicado no primeiro trimestre gestacional (C). Recomendação 9 Efeitos colaterais de graus variados são descritos em 1% a 5% dos pacientes em uso de tionamidas. Quando ocorre um efeito colateral grave, a DAT deve ser suspensa imediatamente e não deve ser reintroduzida (D). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. B. Quando utilizar o 131I como tratamento inicial do paciente com hipertireoidismo de Graves O 131I foi introduzido na prática clínica em meados de 1940, sendo hoje amplamente utilizado na terapia do hipertireoidismo. Assim como a cirurgia, é classificado como um tratamento definitivo do hipertireoidismo. É considerado um tratamento simples, seguro e até mesmo a opção mais econômica quando comparada aos outros tratamentos disponíveis, incluindo as DAT (4143) (B,D,D). O 131I é indicado como primeira escolha terapêutica nos casos de pacientes com contraindicações para o uso de DAT e/ou cirurgia, ou recidiva do hipertireoidismo após tratamento com DAT. Também deve ser considerado como terapia inicial em casos em que o controle definitivo e rápido do hipertireoidismo é desejado, como em pacientes cardiopatas e idosos, e mulheres em idade fértil que planejam gravidez no futuro, evitando os riscos do hipertireoidismo para a gestação e puerpério. O tratamento é contraindicado na gestação, lactação, na presença de lesão suspeita ou confirmada de câncer de tireoide, e em mulheres com planos de gestação em período inferior a quatro a seis meses. Deve ser solicitado exame para exclusão de gravidez a todas as mulheres em idade fértil, antes da administração da dose (43) (D). A administração do 131I é realizada por via oral e este pode ser dissolvido em água ou em cápsula, sendo prontamente absorvido e organificado pelas células foliculares da tireoide. A radiação induzida pelo 131I provoca uma resposta inflamatória seguida de destruição local e fibrose progressiva, contribuindo para a redução do volume da glândula, mais pronunciada no primeiro ano após a dose (43) (D). Não é necessário recomendar uma dieta especial, mas apenas deve ser evitada a inges210 tão de quantidades excessivas de iodo (por exemplo, compostos contendo multivitaminas). O uso prévio de betabloqueadores deve ser considerado em pacientes muito sintomáticos e/ou com risco aumentado para complicações no caso de piora do quadro de tireotoxicose (17,18) (B,D). A indicação do tratamento prévio com DAT para evitar a exacerbação do quadro de tireotoxicose é controversa. Estudos prospectivos e randomizados que avaliaram os níveis dos hormônios tireoidianos após administração do 131I observaram diminuição significativa dos níveis de T4L e T3 em pacientes pré-tratados ou não com MMI (1,44) (A). No caso de ser realizado o pré-tratamento com DAT, estas devem ser interrompidas por quatro a sete dias antes do tratamento com 131 I. O pré-tratamento com MMI não altera a eficácia do tratamento do hipertireoidismo (45) (A), mas o pré-tratamento com PTU pode resultar em aumento da falência terapêutica (46,47) (B). A reintrodução do MMI após sete dias da terapia com 131I parece evitar a exacerbação da tireotoxicose, não interferindo na eficácia do tratamento (48) (B). A dose escolhida pode ser calculada para cada paciente considerando a captação de iodo e o volume da glândula ou fixa (49) (D). Ensaios prospectivos indicam que a dose fixa ou regime individualizado têm eficácia similar sobre a taxa de cura do hipertiroidismo (50,51) (A). A dose é geralmente calculada em microcuries (uCi) ou megabecquerels (MBq) por grama (g) de tecido da tireoide, com base no tamanho da tireoide e captação de iodo de 24 horas. Recomenda-se 160-200 uCi/g [5,9-7,4 MBq/g] para assegurar o tratamento bem-sucedido. Alternativamente, uma dose fixa de 10 a 15 mCi [MBq 370-555] pode ser utilizada (52-54) (B,D,D). A administração de doses baixas de iodo pode ser uma tentativa de curar o hipertireoidismo sem causar hipotireoidismo, mas essa abordagem resulta numa maior taxa de falha de tratamento (55) (B). Doses maiores são recomendadas em pacientes com comorbidades que podem ser agravadas pela persistência do hipertireoidismo, em condições de aumento de radiorresistência (bócios com maior volume, hipertireoidismo grave) (42,56) (D). Usando cálculo de dose, as atividades ficam tipicamente na faixa de 5 a 15 mCi 131I (correspondente a 185-555 MBq). Aproximadamente 20% dos pacientes tratados com 131 I apresentam falha terapêutica. As características associadas a uma maior taxa de falha são a presença de bócio volumoso (> 50 ml), captação de iodo elevada Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 (> 90%) e níveis séricos de T3 elevados (> 500 ng / mL) no diagnóstico (45) (A). A administração de glicocorticoide não tem se mostrado eficaz na melhoria do hipertireoidismo, mas é indicada na profilaxia de desenvolvimento ou progressão de oftalmopatia da doença de Graves e no tratamento da crise tireotóxica (vide item 10). Recomendação 10 O tratamento com 131I é eficaz no controle do hipertireoidismo de Graves e pode ser utilizado como tratamento inicial, principalmente em pacientes com baixa probabilidade de remissão com o uso de DAT, necessidade de controle definitivo e rápido da tireotoxicose ou com contraindicações ao uso de DAT e/ou cirurgia (B). Recomendação 11 O tratamento com 131I é contraindicado na gestação, na lactação e na presença de lesão suspeita ou confirmada de câncer de tireoide. Também deve ser evitado em mulheres que planejam engravidar em período inferior a quatro a seis meses (D). Recomendação 12 O 131I é administrado por via oral, em dose fixa ou calculada. Pré-tratamento com betabloqueadores e DAT devem ser considerados em pacientes com risco para complicações (B). C. Qual a conduta na recidiva após dose terapêutica 131I? A taxa de resposta satisfatória ao tratamento com 131I, com desenvolvimento de hipotireoidismo ou eutireoidismo, é de cerca de 80% a 90% (42,43) (D). O desenvolvimento de hipotireoidismo ocorre não só pela ação da radiação sobre a glândula, mas também pela história natural da doença autoimune. Bócios volumosos, com hipoecogenicidade ao exame ultrassonográfico, presença de anticorpos contra a tireoperoxidase (anti-TPO) e doses maiores de 131I aumentam a chance de hipotireoidismo (42,45,52) (D,A,B). A resposta ao 131I deve ser avaliada por meio dos sinais e sintomas de tireotoxicose, volume e função tireoidiana. O seguimento após um a dois meses da administração do iodo radioativo deve incluir uma avaliação do T4L e T3 total. Se o paciente permanece Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 hipertireóideo, essa monitorização deve ser continuada em intervalos de quatro a seis semanas. Quando o hipertireoidismo persiste seis meses após o tratamento, deve ser considerada uma nova dose de 131I. A presença de TSH suprimido com T3 total e T4L normais não requer novo tratamento imediato, mas deve ser cuidadosamente monitorizada quanto à recidiva ou ao desenvolvimento de hipotireoidismo (43) (D). Os fatores associados à falência do tratamento são sexo masculino, tabagismo, bócios volumosos (maiores que 50 g), captação de iodo elevada em 24h, administração de doses baixas de 131I e níveis de T3 muito elevados (> 500 ng/dL) (45) (A). A presença de tecido autônomo com diferenças funcionais na captação e organificação do iodo pode ser uma explicação adicional em alguns casos (57) (B). A persistência de níveis elevados de TRAb e do aumento do fluxo sanguíneo ao Doppler de tireoide são fatores que aumentam a chance de recidiva (42,52) (D,B). Em geral, recomenda-se uma segunda dose 131I para os pacientes que não responderam à primeira dose terapêutica (58) (D). Na pequena porcentagem de pacientes com hipertireoidismo refratário ao 131I, a utilização de lítio (900 mg/dia, durante 12 dias) (59) (B) ou intervenção cirúrgica pode ser considerada. Em longo prazo, além do hipotireoidismo, existe um risco pequeno, mas significativo, do aumento de eventos cardiovasculares em pacientes tratados com 131I. Contudo, não se sabe ao certo se isso é um efeito do hipertireoidismo ou da própria terapia (56) (D). Não existem evidências de aumento de incidência de câncer de tireoide ou aumento de mortalidade por qualquer outra forma de neoplasia (42,60,61) (D,B,B). No entanto, é descrito um pequeno aumento na incidência de tumores em pacientes portadores de hipertireoidismo após cinco anos de tratamento com 131I, em relação à população geral, de 118,9 vs. 94,9 por 10.000 pessoas -ano (RR = 1,25 com IC 95% 1,08-1,46). Esse aumento da incidência está relacionado com a dose utilizada do 131I, especialmente nas faixas etárias entre 50 e 59 anos (RR = 1,44) ou mais de 70 anos (RR = 1,39), particularmente para tumores de rim (RR = 2,32), estômago (RR = 1,75) e mama (RR = 1,07) (60) (B). Em alguns homens, há uma queda modesta da testosterona e do hormônio luteinizante, subclínica e reversível. A prole de pacientes tratados não mostra maior prevalência de anomalias congênitas em relação à população em geral (42,62) (D,C). É recomendado adiar a concepção por quatro a seis meses em mulheres, de forma a garantir um eutireoidismo estável, e três a quatro meses em 211 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento homens. Recomenda-se também evitar lactação por, no mínimo, seis semanas após administração do radioiodo (42) (D). Recomendação 13 A resposta ao 131I deve ser acompanhada por meio do seguimento clínico e laboratorial. Se o paciente permanece tireotóxico, a monitorização laboratorial com T3 e T4L deve ser continuada em intervalos de quatro a seis semanas. Em pacientes com hipertireoidismo persistente após seis meses do tratamento com 131I, a administração de nova dose deve ser considerada. A presença de TSH suprimido com T3 total e T4L dentro dos limites da normalidade deve ser monitorizada quanto à possibilidade de recidiva (D). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. D. Quando deve ser indicada a tireoidectomia para o paciente com DG? A cirurgia é o tratamento mais antigo da DG (63) (B). O objetivo principal é o controle rápido e definitivo dos efeitos do excesso dos hormônios tireoidianos. Isso é conseguido pela remoção de todo ou quase todo o tecido funcionante da glândula tireoide. As indicações de cirurgia no tratamento da DG não são bem estabelecidas na literatura, sendo classificadas por alguns autores em indicações absolutas e relativas. As indicações consideradas absolutas são bócio volumoso com sintomas compressivos, nódulo suspeito ou maligno, gestante que não obtém controle com DAT, recusa ao tratamento com 131I, mulher planejando gravidez dentro de seis a 12 meses e intolerância a DAT. As indicações relativas são bócio volumoso, oftalmopatia grave, pouca aderência e ausência de resposta ao tratamento com DAT (63,64) (B). As vantagens da tireoidectomia sobre as demais formas de tratamento incluem a rápida normalização da disfunção hormonal e maior efetividade nos casos com sintomas compressivos (42) (D). As desvantagens são o custo, a necessidade de internação hospitalar, o risco anestésico, e os riscos inerentes ao ato cirúrgico (hipoparatireoidismo, lesão do nervo recorrente, sangramento, infecção, cicatriz e hipotireoidismo) (42) (D). Liu e cols. (65) (B), analisando 58 pacientes tratados cirurgicamente por DG, descrevem como as principais indicações de cirurgia: persistência da doença após tratamento clínico (47%), preferência do paciente (21%), doença multinodular ou nódulo 212 frio (20%), falha do tratamento com 131I (16%) e oftalmopatia (12%). Após a definição pelo tratamento cirúrgico, alguns cuidados pré e pós-operatórios são essenciais. Deve ser considerada a administração prévia de DAT associada ou não à administração de betabloqueador, na tentativa do controle da função tireoidiana para diminuir o risco de crise tireotóxica, que pode ser desencadeada pelo estresse cirúrgico, anestesia ou manipulação da glândula (66) (B). A administração pré-operatória, por sete a dez dias antes da cirurgia, de iodeto de potássio ou solução saturada de iodeto de potássio pode ajudar a diminuir o fluxo sanguíneo intraglandular, a vascularização e reduzir a perda sanguínea durante a cirurgia. As doses sugeridas são: iodeto de potássio = SSKI (50 mg/gota) 1 gota três vezes ao dia ou solução de Lugol (6 mg/gota) – 5-10 gotas três vezes ao dia (67,68) (B). No pós-operatório imediato, devem ser pesquisados os sintomas (parestesias, câimbras) e sinais (Chevostek e Trousseau) sugestivos de hipocalcemia, e os níveis séricos de cálcio devem ser monitorados (em especial nos pacientes que apresentam sintomas). A administração de cálcio oral suplementar e calcitriol reduz o risco de desenvolvimento de hipocalcemia sintomática e da necessidade de administração de cálcio endovenoso (69) (B). A disfunção do nervo recorrente deve ser avaliada por meio do exame de mobilidade das pregas vocais pela laringoscopia, quando houver manifestações clínicas desta (70) (D). Apesar de a tireoidectomia parcial (TP) ou subtotal (TST) ter sido o tratamento cirúrgico de escolha durante décadas, não é possível determinar a quantidade de tecido remanescente da glândula para manter o estado eutireóideo (63) (B). De outra forma, a chance de recorrência da doença deixando-se tecido residual varia de 5% a 20% (71,72) (B), enquanto o risco de recorrência é praticamente zero na TT (72) (B). Em relação às complicações, o risco de paralisia permanente do nervo recorrente é de 0,9% para TT e de 0,7% para TST. A hipocalcemia transitória é observada em 9,6% dos casos de TT e 7,4% de TST (sendo o risco de hipoparatireoidismo definitivo de 0,9% e 1,0%, respectivamente) (73) (B). Dessa forma, quando indicado, o tratamento cirúrgico para DG deve ser a TT, se possível com cirurgião experiente (volume cirúrgico acima de 100 tireoidectomias/ano) (74) (B). A reposição hormonal com levotiroxina sódica deve ser realizada no dia subsequente à cirurgia nos casos de TT. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento O tratamento cirúrgico (tireoidectomia total) está indicado nos pacientes com DG que apresentam bócios volumosos associados a sintomas compressivos, nódulos suspeitos ou com confirmação de doença maligna, gestantes sem controle da doença com DAT, pacientes com intolerância a DAT ou recusa ao tratamento com 131 I (B). 4) COMO DEVE SER AVALIADO E TRATADO O PACIENTE COM DG E NÓDULOS TIREOIDIANOS? O câncer de tireoide ocorre em menos de 2% dos pacientes com DG, sendo a maioria microcarcinoma papilar com excelente prognóstico (75,76) (D,B). Os pacientes com DG que apresentam nódulos tireoidianos pela palpação e/ou US da tireoide devem ser avaliados antes da dose terapêutica de 131I. Os nódulos maiores do que 1 cm devem ser submetidos à punção aspirativa com agulha fina (PAAF) guiada por US para descartar malignidade. Ocasionalmente, nódulos menores do que 1 cm requerem avaliação adicional caso apresentem achados ecográficos suspeitos, associação com linfoadenomegalia cervical, história prévia de irradiação de cabeça e/ou pescoço ou história familiar de câncer de tireoide (13,77) (D). Se a citologia for indeterminada ou maligna, a TT está indicada após a normalização dos níveis hormonais com DAT (13,77) (D). Recomendação 15 Pacientes com DG e nódulos tireoidianos maiores do que 1 cm devem ser avaliados seguindo os mesmos critérios propostos para nódulos em geral, antes da administração de dose terapêutica de 131I (B). 5) COMO TRATAR O PACIENTE COM HIPERTIREOIDISMO DEVIDO A BMNT E ADENOMA TÓXICO (AT)? O BMNT e o AT constituem as principais causas de hipertireoidismo no paciente idoso (70) (D) e são frequentes em regiões com ingestão insuficiente de iodo. O AT comumente resulta de mutações ativadoras no receptor do TSH. O BMNT resulta da história natural do BMNA, quando áreas autônomas se tornam evidentes, muitas vezes também devido a mutações no receptor do TSH (78) (D). O controle do hipertireoidismo por meio do uso de DAT é temporário e o tratamento Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 de escolha deve ser a ablação com 131I ou tireoidectomia. A alcoolização dos nódulos por injeção percutânea guiada por US ou mesmo a ablação térmica com laser podem ser utilizadas como tratamentos alternativos em casos selecionados (70) (D). A. O uso de DAT no paciente com BMNT ou AT O tratamento do hipertireoidismo com DAT nos pacientes com doença nodular não autoimune não induz à remissão da doença. No entanto, pacientes com BMNT ou AT que apresentam hipertireoidismo importante devem ser tratados com DAT até atingir o eutireoidismo no preparo para a cirurgia. A droga de escolha é o MMI na dose de 10 a 30 mg/dia. Pacientes idosos, com contraindicação para cirurgia ou 131I, podem ser mantidos de forma contínua com doses baixas MMI (79) (D). Recomendação 16 Pacientes com BMNT ou AT que apresentam hipertireoidismo importante devem ser tratados com DAT no preparo para a cirurgia ou tratamento com 131I, preferencialmente MMI (10 a 30 mg/dia) até atingir o eutireoidismo. Em casos de hipertireoidismo leve/moderado ou em bócios de tamanho moderado, pode-se utilizar apenas betabloqueadores no preparo (D). Recomendação 17 Em pacientes idosos, com contraindicação para cirurgia ou 131I, pode-se manter o tratamento contínuo com doses baixas de MMI (D). B. Indicação do 131I no paciente com BMNT ou AT O uso do 131I pode ser indicado no tratamento do BMNT ou AT em pacientes com contraindicação ou que recusam a cirurgia (42) (D). O uso do 131I está especialmente indicado em pacientes idosos que apresentam comorbidades e com captação de 131I nas 24 horas suficientemente elevadas para permitir um tratamento adequado com radioiodo. Em pacientes idosos, com doença cardiovascular e que podem potencialmente desenvolver taquiarritmias após o 131I, está indicado o uso de betabloqueadores (21,80,81) (D,D,C). O tratamento com 131I está contraindicado em pacientes grávidas, ou que planejam engravidar nos próximos seis meses, e durante a amamentação. Como a incidência de câncer de tireoide é a mesma em nódu213 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 14 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento los únicos ou bócio multinodular (82) (B), o paciente com BMNT deve ser submetido à PAAF para análise citológica do nódulo suspeito e/ou nódulo dominante, antes de receber a dose terapêutica de 131I (13,26,83) (D,D,B). Frequentemente, o BMNT apresenta captação baixa de 131I necessitando de doses terapêuticas elevadas e consequente necessidade de internação hospitalar. Uma alternativa é o uso do TSH recombinante que, por meio do aumento da captação, permite uma maior redução do tamanho do BMNT (83) (B). A terapia com 131I em pacientes com BMNT usualmente leva à redução do tamanho do bócio em cerca de 40% a 50% após seis a 36 meses, permitindo que mesmo pacientes com bócios volumosos apresentem melhora dos sintomas compressivos (84) (D). Aproximadamente 40% a 50% dos pacientes apresentam hipotireoidismo pós-tratamento (82) (B). A dose de 131I, calculada para o tamanho do bócio para liberar 150-200 µCi por grama de tecido corrigido para a captação de 131I em 24h, é usualmente maior do que a necessária para tratar a DG, ficando na faixa de 30 a 50 mCi. No AT, apesar de a captação se concentrar no nódulo dominante, também pode ocorrer hipotireoidismo após o 131I, sendo que a incidência aumenta com o tempo pós-tratamento. A dose para o tratamento do AT é semelhante à descrita para o BMNT (150-200 µCi por grama corrigido para a captação de 131I em 24h), calculada de acordo com o tamanho do nódulo. Dessa maneira, a dose total em geral é menor (10-20 mCi) (85) (B). Raramente um paciente com AT submetido à dose terapêutica adequada de 131I necessita de uma segunda dose (42) (D). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 18 Pacientes com BMNT ou AT que não apresentam condições clínicas para o tratamento cirúrgico ou que não querem ser submetidos à cirurgia são candidatos para o tratamento com 131I (D). Pacientes sintomáticos devem ser tratados previamente com DAT e betabloqueadores ou, em casos leves, apenas com betabloqueadores (C). C. Indicação de tireoidectomia para o paciente com BMNT ou AT A primeira opção de tratamento para os pacientes com BMNT ou AT deve ser cirúrgica (86) (B). Os pacientes podem ser tratados previamente com DAT e betabloqueadores até a obtenção do eutireoidismo. A droga de escolha é o MMI na dose de 10 a 30 mg/dia. A recorrência após a realização da TT é menor de 1% e as indicações para a TT estão associadas a sintomas de disfunção tireoidiana, sintomas compressivos (dispneia e disfagia), suspeita de malignidade e bócio mergulhante ou intratorácico (70,87,88) (D,D,B). Nos AT, que se caracteriza por lesão única, está indicada a TP por meio da lobectomia total (retirada do lado com nódulo e extensão da ressecção para o istmo até o lobo contralateral) (70,87,88) (D,D,B). O acompanhamento após a realização de TT deve ser feito como descrito no item 3, com avaliação da possibilidade de complicações pós-operatórias (hipocalcemia, disfunção de cordas vocais) e reposição de levotiroxina 70 (D). A necessidade de uma nova cirurgia é praticamente nula no paciente submetido à TT (89,90) (B). No entanto, quando ocorre a recidiva do hipertireoidismo, nos casos de TP ou TST, está indicada a complementação para TT após a avaliação do lobo remanescente da tireoide pela US (70) (D). Caso a opção seja para o tratamento com 131I, o tecido remanescente deve ser avaliado para descartar nódulos e, em caso positivo, estes devem ser avaliados de acordo com os critérios recomendados (13,70,87,88) (D,D,D,B). Recomendação 20 O tratamento cirúrgico oferece boas chances de controle do hipertireoidismo nos pacientes com BMNT e AT. A TT é o tratamento definitivo de escolha no BMNT, enquanto nos casos de AT está indicada a lobectomia (B). Recomendação 21 O preparo, as complicações e o acompanhamento no pós-operatório são semelhantes aos descritos no tratamento cirúrgico para DG (D). Recomendação 19 As doses terapêuticas de 131I recomendadas para pacientes com BMNT e AT estão na faixa de 150-200 µCi por grama de tecido corrigido para a captação de 131I em 24h (B). 214 6) O USO DE OUTRAS MODALIDADES TERAPÊUTICAS NO TRATAMENTO DO BMNT E AT O uso do etanol constitui uma alternativa terapêutica no tratamento de nódulos císticos (91-93) (B) e nóArq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Recomendação 22 A escleroterapia de nódulos císticos ou autônomos é uma opção terapêutica segura em pacientes nos quais os tratamentos tradicionais (cirurgia ou 131I) estão contraindicados ou foram recusados pelos pacientes (B). O tratamento deve ser feito com múltiplos medicamentos, objetivando o bloqueio do sistema adrenérgico, a síntese de hormônios tireoidianos e a liberação dos hormônios já formados. As classes farmacológicas utilizadas são os betabloqueadores, as tionamidas e os compostos com iodo inorgânico (Tabela 4). Adicionalmente, é importante o manejo de suporte, preferencialmente em ambiente de unidade de terapia intensiva (66) (B). O uso de betabloqueadores tem como objetivo controlar os sinais e sintomas de hiperativação do sistema adrenérgico. O medicamento mais utilizado é o propranolol, porém também podem ser utilizados betabloqueadores cardiosseletivos (atenolol, metoprolol) ou com menor meia-vida (esmolol) (20) (C). Em pacientes com contraindicações ao uso de betabloqueadores, o diltiazem pode ser uma alternativa (22) (B). Tabela 3. Critérios diagnósticos de Burch-Wartofsky Disfunção termorregulatória (temperatura ºC) 7) COMO DIAGNOSTICAR E TRATAR A CRISE TIREOTÓXICA? O diagnóstico de crise ou tempestade tireotóxica é essencialmente clínico. As manifestações são as mesmas apresentadas pelos pacientes com tireotoxicose, porém de forma exacerbada. Essas incluem taquicardia (habitualmente > 140 batimentos por minuto), insuficiência cardíaca, hipertermia, agitação, ansiedade, delírio, psicose, coma, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, insuficiência hepática e icterícia. Em 1993, foi proposto um escore por Burch e Wartofsky para avaliação objetiva desses pacientes, com pontos de corte para o diagnóstico de crise tireotóxica (Tabela 3) (101) (D). Recentemente, novos critérios foram propostos. Esses envolvem as mesmas alterações apresentadas no critério anterior: combinação de tireotoxicose e manifestações em outros sistemas do organismo (alterações em sistema nervoso central, taquicardia, insuficiência cardíaca, alterações em sistema gastrintestinal, febre) (102) (B). A avaliação laboratorial da função tireoidiana apresenta o mesmo padrão encontrado no hipertireoidismo (elevação dos níveis séricos dos hormônios da tireoide e supressão do TSH). Uma vez que o diagnóstico depende de julgamento clínico, recomenda-se que pacientes com suspeita de crise tireotóxica sejam tratados como tendo a condição. Os fatores desencadeantes descritos incluem cessação abrupta das DAT, cirurgias tireoidianas e não tireoidianas e enfermidades agudas graves (infecções, cetoacidose diabética, eventos vasculares) (66) (B). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Pontos 37,2 – 37,7 5 37,8 – 38,2 10 38,3 – 38,8 15 38,9 – 39,4 20 39,4 – 39,9 25 > 40,0 30 Efeitos sobre o sistema nervoso central Leve (agitação) 10 Moderado (delírio, psicose, letargia extrema) 20 Grave (convulsões, coma) 30 Disfunção gastrintestinal e hepática Moderada (diarreia, náuseas/vômitos, dor abdominal) 10 Grave (icterícia não explicada) 20 Disfunção cardiovascular (frequência cardíaca) 99 – 109 5 110 – 119 10 120 – 129 15 130 – 139 20 ≥ 140 25 Fibrilação atrial 10 Insuficiência cardíaca Leve (edema em membros inferiores) 5 Moderada (crepitantes em bases pulmonares) 10 Grave (edema pulmonar) 15 História de fator desencadeante Negativa 0 Positiva 10 Somam-se os pontos de cada item. Um escore > 45 é altamente sugestivo de tempestade tireotóxica, um escore de 25 a 45 sustenta o diagnóstico e um < 25 torna o diagnóstico improvável. Adaptado de: Burch HB, Wartofsky L. Endocrinol Metab Clin North Am. 1993;22:263 (101) (D). 215 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. dulos autônomos (94-98) (B,B,B,B,C). A injeção de etanol é bem tolerada com descrição de dor leve ao procedimento na maioria dos pacientes (96) (B). Esse procedimento é eficaz, seguro, de baixo custo e apresenta resultados adequados em longo prazo. No entanto, essa modalidade vem sendo abandonada quando os nódulos tireoidianos são sólidos. A ablação de nódulos sólidos com o método de ablação percutânea a laser (97,99) (C,B) ou radiofrequência tem se mostrado eficaz no tratamento de nódulos tireoidianos benignos, independente da extensão do componente sólido (100) (D). Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Tabela 4. Doses dos medicamentos utilizados no tratamento da crise tireotóxica Betabloqueadores Propranolol VO: 60-80 mg de 4/4 a 6/6 horas. EV: 0,5-1,0 mg em 10 minutos, seguido de 1-2 mg de 10/10 minutos Esmolol EV: dose de ataque 250-500 mcg/kg, seguida de infusão de 50-100 mcg/kg por minuto Atenolol VO: 50-200 mg uma vez ao dia Metoprolol VO: 100-200 mg uma vez ao dia Nadolol VO: 40-80 mg uma vez ao dia Tionamidas Propiltiouracil VO: 200-400 mg de 4/4 a 6/6 horas Metimazol VO: 20-25 mg 4/4 a 6/6 horas Soluções de iodo Solução de Lugol VO: 4-10 gotas de 6/6 a 8/8 horas SSKI VO: 5 gotas de 6/6 horas Contrastes iodados Ácido Iopanoico VO: 0,5-1 grama uma vez ao dia Ipodato de sódio VO: 1-3 gramas uma vez ao dia Glicocorticoides Hidrocortisona EV: 100 mg de 8/8 horas Dexametasona EV: 2 mg de 6/6 horas VO: via oral; EV: via endovenosa. As doses via oral também podem ser administradas via sonda nasoentérica ou nasogástrica. SSKI: solução saturada de iodeto de potássio. Tabela 5. Vias de administração alternativas das tionamidas Propiltiouracil Enema 8-12 cápsulas de 50 mg dissolvidas em 90 mL de água esterilizada Supositório 200 mg dissolvidos em base de polietileno glicol . Dissolver comprimidos em salina isotônica com pH alcalino (utilizando hidróxido de sódio) Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Metimazol Supositório 1.200 mg dissolvidos em 12 mL de água com duas gotas de polissorbato 80, misturados com 52 mL de manteiga de cacau Endovenoso Dissolver comprimidos em salina isotônica e filtrar com filtro de 0,22 µm As tionamidas têm como objetivo bloquear a síntese de hormônios tireoidianos. Essa ação se inicia cerca de uma a duas horas após sua administração. O PTU é considerado a droga de escolha na crise tireotóxica, devido a seu efeito adicional no bloqueio da conversão periférica do T4 para o T3, especialmente em doses elevadas (Tabela 2) (103) (B). Os dois medicamentos podem ser administrados por vias alternativas (retal e endovenosa) quando os pacientes não tiverem a via oral disponível 216 (104-109) (C,B,C,C,B,C) (Tabela 5). Naqueles pacientes que desenvolverem efeitos colaterais graves ou alergia às tionamidas, recomenda-se a realização de TT. O preparo deve ser realizado com betabloqueadores, glicocorticoides e soluções de iodo por cerca de cinco a sete dias, sendo a tireoidectomia realizada entre o 8º e 10º dia (110) (C). O uso de soluções de iodo tem como objetivo bloquear a liberação dos hormônios tireoidianos já formados. O uso desses compostos deve ser precedido pela administração de tionamidas. Os dois compostos com iodeto disponíveis são a solução de Lugol e a solução saturada de iodeto de potássio (SSKI). Esses medicamentos também podem ser administrados por via retal. Os meios de contraste com iodo (ácido iopanoico, ipodato de sódio) também podem ser utilizados e apresentam a vantagem de bloquear simultaneamente a liberação dos hormônios tireoidianos e a conversão periférica de T4 para T3) (111) (B). Da mesma maneira que as soluções de iodo, estes só devem ser utilizados após o bloqueio da síntese dos hormônios tireoidianos com uma tionamida. Os glicocorticoides, em altas doses, têm o papel de reduzir a conversão periférica de T4 para T3. Além disso, existem evidências de que os pacientes com hipertireoidismo grave apresentem reserva adrenal diminuída, podendo ocorrer necessidade de reposição desses hormônios (112) (B). O uso de colestiramina, no intuito de diminuir a circulação entero-hepática, também está descrito (113) (C). O uso de plasmaférese, em pacientes que não responderam às terapias descritas, tem sido descrito com melhora do quadro clínico e laboratorial (114) (C). O fator desencadeante, quando identificado, deve ser agressivamente tratado. Além disso, a hipertermia deve ser corrigida, evitando-se o uso de salicilatos, pois esses medicamentos podem aumentar a fração livre dos hormônios tireoidianos (66) (B). Recomenda-se hidratação endovenosa e reposição com multivitamínicos, especialmente tiamina. Recomendação 23 O diagnóstico de tempestade tireotóxica deve ser feito por meio de critérios clínicos (D). Para o tratamento, são utilizados betabloqueadores, DAT, compostos iodados e glicocorticoides (B). Naqueles pacientes que não respondem, deve ser considerada a tireoidectomia total (C). Os pacientes devem receber tratamento de suporte em unidade de terapia intensiva e fatores desencadeantes devem ser identificados e tratados (B). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 8) COMO TRATAR CRIANÇAS OU ADOLESCENTES COM DG? Crianças com DG podem ser tratadas com DAT, 131I ou tireoidectomia. Apesar de o tratamento com DAT constituir-se na abordagem inicial, a maioria dos pacientes pediátricos necessitará de terapia definitiva com 131 I ou cirurgia (115) (B). A. O uso de DAT como tratamento inicial da criança com DG Como a remissão com o uso de DAT por um a dois anos ocorre em algumas crianças, esse tipo de tratamento ainda é considerado a primeira linha de terapia para a maioria dos casos (26) (D). O eutireoidismo é alcançado na maioria dos casos durante o tratamento com DAT (116) (B). Apesar disso, as taxas de remissão são modestas e as de recidivas são elevadas. A taxa de remissão, com tratamento inicial apenas com DAT, é de cerca de 30%, nos casos que recebem a medicação por dois anos (113,117) (B). São fatores associados à remissão: concentrações baixas de hormônios tireoidianos, resposta mais rápida ao tratamento e idade (115) (B). As taxas de recidivas do hipertireoidismo são de cerca de 60% após 1 ano e 70% após dois anos do tratamento e os fatores de risco associados a recidivas são pacientes não caucasianos e níveis elevados das concentrações de TRAb e T4L ao diagnóstico. Por outro lado, o risco de recidiva diminui com o aumento da idade e com o aumento da duração do primeiro curso de DAT (118) (B). A duração do tratamento com DAT é um dos pontos-chave da abordagem da DG, e maiores tempos de uso da medicação têm sido associados a remissões prolongadas em crianças (119) (B). Uma metanálise recente sobre o tratamento do hipertireoidismo da DG demonstrou que a duração ótima para o tratamento com DAT seria de 12 a 18 meses (120) (B). Porém, a idade e o desenvolvimento puberal parecem influenciar no tempo necessário para remissão, sendo este maior em crianças pré-púberes do que em púberes, com correlação positiva entre as concentrações de TRAb ao diagnóstico e a duração do tratamento com DAT, nos casos com remissão (117) (B). Assim, o MMI poderia ser administrado por um a dois anos e então interrompido, ou sua dose reduzida, para avaliar se o paciente está em remissão. Se após a interrupção do MMI a remissão não for atingida, 131I ou cirurgia devem ser considerados, dependendo da idade da criança. Alternativamente, o Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 MMI pode ser mantido por períodos mais longos. Essa abordagem pode ser usada como uma ponte para, mais tarde, em uma idade apropriada, a utilização de terapia com 131I ou cirurgia, caso a remissão não ocorra. Em situações selecionadas, em que o 131I ou a cirurgia podem não ser adequados ou possíveis, o uso de baixas doses de MMI pode ser mantido. Recentemente, foi relatado impacto positivo da utilização de DAT por um tempo mais longo sobre a taxa de remissão da DG (121) (A). As doses diárias habituais de MMI variam de 0,2 a 0,5 mg/kg de peso, podendo variar de 0,1 até 1,0 mg/kg, com dose máxima diária de 30 mg (116,122-127) (B, D,B,B,B,D,B). Nos casos em que o MMI, a tireoidectomia e o 131I não possam ser utilizados, o PTU pode ser considerado uma opção, por um curto período de tempo, com doses de 4,7 a 8,6 mg/kg de peso (116) (B), com acompanhamento clínico e laboratorial rigoroso. O principal problema com o uso de DAT são as reações adversas. São relatados efeitos colaterais em cerca de 6% a 35% dos casos, os quais são mais frequentes e/ou graves com o uso de PTU, o que faz do MMI a DAT de escolha em pacientes pediátricos (115,117,118,128,129) (B). Entre os efeitos colaterais atribuídos particularmente ao PTU em crianças e adolescentes, destacam-se os relacionados à hepatotoxicidade e à vasculite (130) (B). O uso do PTU também está associado à maior prevalência de anticorpos citoplasmáticos antineutrofílicos, mesmo sem evidências de vasculite ou nefrite (131) (B). Apesar de o MMI estar relacionado a um melhor perfil de segurança do que o PTU, efeitos colaterais podem ocorrer em até 20% das crianças tratadas (128) (B). Dessa forma, antes de se iniciar o tratamento, sugere-se que os pacientes pediátricos sejam submetidos a exames de hemograma completo e dosagens séricas de bilirrubinas, transaminases e fosfatase alcalina (132,133) (C,B). Os pacientes e seus cuidadores devem ser informados dos efeitos colaterais das DAT e da necessidade de informar imediatamente seu médico se ocorrer: erupção pruriginosa, icterícia, acolia fecal ou colúria, náuseas, artralgias, dor ou aumento abdominal, mal-estar, fadiga, febre ou faringite (134) (D). Apesar de a agranulocitose ser raramente descrita na América Latina (0,38 casos/milhão de habitantes/ano), o MMI é a principal droga relacionada à sua ocorrência, principalmente em doses mais elevadas (135,136) (B). Dados sobre a prevalência de agranulocitose em crianças não estão disponíveis, mas estima-se ser muito baixa (26) (D). 217 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Reações cutâneas leves e persistentes ao MMI em crianças podem ser tratadas com anti-histamínicos. Com o PTU, elevações das transaminases de duas a três vezes o limite superior da normalidade, sem melhora dentro de uma semana, indicam a retirada da DAT. Após a retirada da droga, as concentrações de bilirrubinas, fosfatase alcalina e transaminases devem ser monitoradas semanalmente até que haja evidência de melhora. Se esta não ocorrer, o paciente deve ser encaminhado a um gastroenterologista ou hepatologista (26) (D). Em crianças com hipertireoidismo que apresentam sintomas significativos, incluindo taquicardia, fraqueza muscular, tremor, ou alterações neuropsicológicas, o tratamento com betabloqueadores pode levar à melhora das queixas (134) (D). Nos casos com doença reativa das vias aéreas, betabloqueadores cardiosseletivos podem ser usados, com observação quanto à exacerbação desta (137) (A). Após o início da terapia com DAT, testes de função tireoidiana devem ser solicitados mensalmente nos primeiros meses e depois a cada dois a quatro meses. Dependendo da gravidade do hipertireoidismo, vários meses são necessários para que as concentrações hormonais atinjam a faixa de normalidade (138) (B). Recomendação 24 O MMI constitui-se a droga de escolha no tratamento do hipertireoidismo da DG em crianças e adolescentes (B). Em função da maior incidência de efeitos colaterais graves associados ao uso do PTU, essa droga deve ser evitada (B). Recomendação 25 O uso de betabloqueadores pode ser indicado em crianças e adolescentes com hipertireoidismo para o controle dos sintomas (D). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 26 Reações cutâneas leves ou persistentes as DAT em crianças podem ser tratadas com anti-histamínicos (D). No caso de efeito colateral grave a uma DAT, não é recomendada a troca por outra DAT e a opção pelo iodo radioativo ou tireoidectomia deve ser considerada (D). Recomendação 27 O acompanhamento de crianças com DG, com avaliação clínica e dosagens hormonais, deve ser mensal ini218 cialmente e depois, de acordo com o controle, a cada dois a quatro meses (D). Recomendação 28 Em geral, as DAT deveriam ser mantidas pelo menos 12 a 18 meses, podendo ser utilizadas, em crianças, por até dois anos, buscando-se a remissão (A). B. O uso do 131I na criança e adolescente com DG Vários estudos têm demonstrado que o tratamento com 131 I, quando comparado às DAT, é superior na obtenção do eutireoidismo (RR 1,70; intervalo de confiança de 95% 1,29-2,24) em pacientes pediátricos com DG (139-141) (B). As doses de 131I utilizadas podem ser fixas ou calculadas, levando-se em consideração o peso da tireoide e a captação de 131I em 24 horas (142) (B). As doses fixas variam de 10 a 15 mCi e são mais efetivas em bócios menores (143-145) (B). Quando atividades maiores do que 150 µCi de 131I/g de tecido tireoidiano são administradas, o hipotireoidismo ocorre em aproximadamente 95% dos casos (142) (B). Não existem estudos, em crianças, comparando os resultados das duas formas de tratamento. Em adultos, resultados semelhantes têm sido relatados com as duas abordagens (146) (D) (vide item 3). Recomenda-se que crianças com DG e concentrações séricas de T4 total > 20 ug/dL (260 nmol/L) ou de T4L > 5 ng/dL (60 pmol/L) sejam tratadas com MMI e betabloqueadores até a normalização desses hormônios, antes do tratamento com 131I (26) (D). Nesses casos, o MMI deve ser suspenso entre três e cinco dias antes do 131I, ficando os pacientes em uso de betabloqueadores até que as concentrações de T4 total e/ou livre sejam normalizadas (26) (D). Como as concentrações dos hormônios tireoidianos começam a cair na primeira semana após o 131I, o uso de DAT não seria necessário após essa terapia (26) (D). A literatura refere raros casos de pacientes pediátricos com hipertireoidismo grave que desenvolveram crise tireotóxica depois de suspender o MMI e receber 131I (147) (C). Não há evidências de que o tratamento do hipertireoidismo com 131I esteja associado com câncer de tireoide ou de outros sítios particularmente quando são utilizadas doses > 160 µCi/g de tecido tireoidiano (148,149) (B,D). No entanto, com base em projeções de risco, considerando-se a exposição à radiação de baixo nível em relação à idade, é teoricamente possível haArq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento ver um baixo risco de neoplasias malignas em crianças muito jovens tratadas com 131I (150) (B). Desse modo, recomenda-se que a terapia com 131I seja evitada em crianças muito jovens (< 5 anos) (149) (D). O uso do 131 I é aceitável, em pacientes entre 5 e 10 anos de idade, se a atividade calculada administrada for menor que 10 mCi e, em crianças maiores de 10 anos de idade, se a atividade for maior que 160 µCi/g de tecido tireoidiano (149) (D). Foi relatada maior incidência de hipotireoidismo em crianças tratadas com 131I em relação às tratadas com DAT (RR = 6,46, IC 95% = 1,16-35,81). Nenhuma diferença significativa foi observada entre os dois tratamentos em relação à oftalmopatia de Graves (agravamento ou aparecimento) (RR = 1,30, 95% IC = 0,563,00) (141) (B). tireoidismo temporário ou mesmo definitivo) são reduzidos nas mãos de cirurgiões experientes (151) (D). Na eventualidade de remoção acidental da paratireoide, esta, após ser identificada, deve ser transplantada em músculo da região cervical (151-153) (D,B,B). A reposição hormonal com levotiroxina deve ser iniciada no pós-operatório imediato e a dose deve ser ajustada ao longo dos anos, conforme o crescimento e o desenvolvimento da criança (152) (B). Recomendação 29 9) COMO TRATAR O HIPERTIREOIDISMO NA GESTANTE? C. A indicação de tireoidectomia para criança ou adolescente com DG A cirurgia é uma opção para tratamento definitivo da DG em crianças ou adolescentes. Atualmente, a indicação da TT é a conduta cirúrgica mais aceita, em função do risco de recidiva da TP (151,152) (D,B). Essa forma de tratamento é segura, quando realizada em mãos experientes, e demanda pouco tempo de hospitalização (65,151-153) (B,D,B,B). No preparo pré-operatório, o paciente deve estar eutireóideo. A solução de Lugol (5 a 10 gotas, 3 vezes ao dia) pode auxiliar na redução da perda sanguínea durante a cirurgia, mas não é realizada de rotina. Além de bloquear a liberação dos hormônios tireoidianos, é descrito que essa substância reduz a vascularização da glândula, proporcionando um período transoperatório com menores intercorrências. A maior perda sanguínea ocorre nos casos em que a cirurgia parcial é realizada por conta da secção da glândula (65) (B). Os potenciais problemas como dor e desconforto pós-operatório, tempo de cicatrização, riscos envolvendo o ato anestésico e riscos específicos relacionados ao ato cirúrgico (lesão dos nervos recorrentes e hipoparaArq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 O tratamento cirúrgico por meio da TT proporciona um tratamento definitivo e de baixo risco para o hipertireoidismo, ocasionado pela DG em crianças, adolescentes e adultos jovens (B). Os dois principais diagnósticos diferenciais em pacientes gestantes com tireotoxicose são DG e hipertireoidismo gestacional. Em ambas as situações, as manifestações clínicas da doença são semelhantes, entretanto a ausência de história prévia de doença tireoidiana e de sinais clínicos de DG (bócio, oftalmopatia) favorece o diagnóstico de hipertireoidismo gestacional. Nos casos duvidosos, a determinação do TRAb está indicada, uma vez que 95% dos casos de DG apresentam TRAb positivo (10) (B). O hipertireoidismo na gestação pode levar a complicações como doença hipertensiva, aborto espontâneo, parto prematuro, baixo peso fetal, natimortos, crise tireotóxica e insuficiência cardíaca materna (154-156) (C,B,B). A. Como deve ser tratada a gestante com DG? Mulheres com o diagnóstico de DG deverão ser aconselhadas a não engravidarem enquanto não atingirem o eutireoidismo, sendo fortemente recomendado o uso de anticoncepcionais (157) (D). Deve ser discutida com as pacientes que planejam a gravidez a possibilidade dos tratamentos definitivos (131I ou cirurgia) ou o uso de DAT. Casos leves, diagnosticados no primeiro trimestre, com ganho adequado de peso e em boas condições obstétricas, podem ser seguidos cuidadosamente sem tratamento. A meta é controlar o hipertireoidismo materno normalizando as concentrações de T4L tão rapidamente quanto possível, sem causar o hipotireoidismo fetal (158) (D). 219 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. A terapia com 131I deve ser evitada em crianças menores que 5 anos (D). Em crianças maiores com DG, o tratamento com 131I é eficaz e seguro, podendo ser feito com doses fixas ou calculadas (B). Naqueles pacientes com níveis muito elevados dos hormônios da tireoide, deve ser considerado o pré-tratamento com DAT (D). Recomendação 30 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento O tratamento poderá ser realizado com MMI ou PTU. Recomenda-se o tratamento preferencial com PTU no primeiro trimestre da gestação, em face da sua menor passagem pela barreira placentária, bem como em decorrência dos relatos de aplasia cútis, atresia cloacal, fístula traqueoesofágica e anomalias faciais com o uso de MMI (157,159,160) (D,C,D). A dose inicial das DAT vai depender da gravidade dos sintomas e do grau da hipertiroxinemia. Em geral, doses iniciais variam de 5-15 mg/dia de MMI em dose única e 50-300 mg/dia de PTU divididas em três tomadas. Os níveis séricos de T4L e TSH deverão ser avaliados em duas a quatro semanas após o início do tratamento e repetidos a cada quatro a seis semanas depois de alcançado o eutireoidismo. Neste momento, a dose da DAT deverá ser diminuída progressivamente, podendo até ser suspensa em um terço das pacientes (161) (D). Os ajustes da dose deverão ser efetuados de acordo com as concentrações do T4L, devendo-se utilizar a mínima dose possível, com o objetivo de deixar as concentrações de T4L na faixa específica para o trimestre ou em nível ligeiramente superior. Quando os valores de referência dos hormônios para a gestação não estiverem disponíveis, deverá ser utilizada a faixa de referência para mulheres não grávidas (157) (D). A utilização dos níveis de T3 como referência para o tratamento não é recomendada, pois a normalização das concentrações de T3 maternas poderá resultar em hipotireoidismo fetal (161) (D). As mulheres em uso de MMI, previamente à gestação, deverão ser orientadas para substituir a medicação para PTU até o final do 1º trimestre, quando deverão voltar ao uso de MMI (157,162,163) (D,D,B). Outras indicações para o uso do PTU são gestantes com alergia ao MMI e na crise tireotóxica. Betabloqueadores são úteis no controle dos sintomas adrenérgicos. Propranolol (20-40 mg, duas a três vezes/dia) ou atenolol (25-50 mg/dia) podem ser utilizados quando necessário. Entretanto, o uso prolongado poderá acarretar diminuição do crescimento uterino, bradicardia fetal e hipoglicemia (164) (B). A terapia com 131I é contraindicada na gestação, uma vez que o iodo radioativo cruza a barreira placentária e poderá causar bócio, hipotireoidismo e até asfixia fetal (165,166) (D). Na crise tireotóxica, compostos iodados podem ser utilizados por curto período de tempo (menos que duas semanas, 5 a 7 gotas de iodeto de potássio, duas vezes por dia) (vide item 7). 220 A tireoidectomia total é uma maneira efetiva para controlar o hipertireoidismo, porém, atualmente, é pouco utilizada, sendo indicada apenas para situações especiais como reação adversa importante a ambas as DAT ou pacientes não aderentes ao tratamento (167) (C). Recomenda-se que seja realizada no segundo trimestre da gestação, idealmente antes da 22ª-24ª semanas de gestação. O preparo da gestante com betabloqueadores e iodeto de potássio por curto período (50-100 mg/dia) é recomendado (168) (B). A determinação dos valores de TRAb no momento da cirurgia é adequada para avaliar o potencial risco do hipertireoidismo fetal (9) (B). Recomendação 31 Mulheres com hipertireoidismo deverão ser orientadas a não engravidarem antes de alcançar o eutireoidismo (D). Recomendação 32 No primeiro trimestre da gestação, a DAT recomendada para o tratamento de hipertireoidismo é o PTU (C), sendo necessária a substituição do MMI em mulheres que já usavam previamente à gestação (B). Após o primeiro trimestre, o tratamento pode ser feito com MMI (D). Recomendação 33 Mulheres tratadas com DAT na gestação deverão ser monitoradas com T4L e TSH aproximadamente a cada duas a seis semanas e as concentrações de T4L, mantidas na faixa superior da normalidade ou discretamente acima do nível para a gestante. A utilização dos níveis de T3 como referência para o tratamento não é recomendada, pois a normalização das concentrações de T3 maternas poderá resultar em hipotireoidismo fetal (D). Recomendação 34 A terapia com 131I é contraindicada na gestação (D). Recomendação 35 A tireoidectomia na gestação é raramente indicada. Se necessária, o período ideal de sua realização será no segundo trimestre da gestação entre a 22ª e 24ª semana (C). Recomendação 36 Vigilância fetal com exame ultrassonográfico deverá ser realizada em mulheres com hipertireoidismo descomArq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 pensado e/ou concentrações elevadas de TRAb (maiores que três vezes o limite superior da normalidade). Nesse monitoramento, deverão ser incluídos a frequên cia cardíaca fetal, o crescimento fetal, o volume do fluido amniótico e volume do bócio fetal (D). B. Como deve ser o tratamento do hipertireoidismo gestacional (relacionado à gonadotrofina coriônica – hCG)? No primeiro trimestre, o hipertireoidismo poderá estar relacionado à hCG ou a variantes moleculares desse hormônio. O quadro de hipertireoidismo poderá manifestar-se de modo variável: Tireotoxicose transitória gestacional: ocorre no primeiro trimestre, entre a 8ª e 14ª semana de gestação, com prevalência de 2,4% das gestações (169) (B). A glândula tireoide não está aumentada e a paciente raramente requer tratamento, pois é de natureza transitória. Hiperêmese gravídica: representa uma séria complicação, pois está associada à perda de peso e à desidratação grave (170) (B). Hipertireoidismo bioquímico é encontrado na maioria das mulheres. O tratamento é realizado com medidas de suporte para controle dos vômitos, da desidratação e das anormalidades eletrolíticas. O uso de DAT não é indicado (171) (B). Em situações quando o diagnóstico diferencial com a DG é duvidoso, a terapia com DAT poderá ser instituída por curto período de tempo. Caso o hipertireoidismo retorne após a descontinuação da DAT, o diagnóstico mais provável será a DG e poderá requerer continuação da terapia. Hipertireoidismo gestacional recorrente: casos de hipertireoidismo recorrente na gestação têm sido descritos (172) (B). Um dos casos foi associado a uma mutação no domínio extracelular do gene que expressa o receptor de TSH, tornando-o hipersensível a níveis normais de hCG (173) (B). Recomendação 37 Nas pacientes diagnosticadas com tireotoxicose transitória gestacional, hiperêmese gravídica ou hipertireoidismo gestacional recorrente, não há indicação para a utilização da DAT (B). Outras causas de hipertireoidismo poderão ocorrer na gestação, incluindo o AT e o BMNT. Nessas condições, há a presença de bócio uni ou multinodular, respectivamente, e o tratamento com DAT deverá ser Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 realizado, deixando o tratamento definitivo (131I ou cirurgia) para o período pós-parto. Após o parto, a terapia com DAT deverá ser mantida e as mulheres devem ser orientadas sobre o aleitamento materno. As pacientes que descontinuaram a DAT na gestação deverão ser orientadas a buscar atendimento, caso voltem apresentar os sintomas do hipertireoidismo. Nas pacientes que permanecerem assintomáticas, a determinação rotineira de TSH e T4L deverá ser realizada seis semanas após o parto, e o seguimento deve ser programado em intervalos regulares, uma vez que recorrências são comuns (174) (B). O hipertireoidismo neonatal é raro, com incidência < 1% nas crianças nascidas de mães hipertireóideas. É causado pela transferência pela mãe de anticorpos estimuladores da tireoide (175) (D). Quando a mãe é adequadamente tratada com DAT, o feto se beneficia do tratamento materno e permanece eutireóideo durante a gestação. Entretanto, o efeito protetor é perdido após o parto e o hipertireoidismo clínico poderá se desenvolver, podendo requerer tratamento com DAT. Altos títulos de TRAb identificados no terceiro trimestre da gestação são preditores de hipertireoidismo neonatal (176) (D). Preconiza-se a dosagem de TRAb entre a 26ª e 28ª semana de gestação, incluindo aquelas mulheres com história prévia de DG tratada com 131I ou cirurgia. Naquelas com valores elevados de TRAb, deve ser realizado US fetal para avaliar a presença de bócio ou outro sinal de hipertireoidismo, como retardo de crescimento intrauterino ou insuficiência cardíaca (177,178) (D). Existem relatos de hipotireoidismo central em filhos de mães com DG, cujo hipertireoidismo não foi controlado na gestação. A explicação para essa ocorrência é a passagem de altas concentrações de T4 maternas para o feto, levando à supressão da hipófise fetal. O diagnóstico é estabelecido após o nascimento, sendo observados valores baixos de T4L e TSH normal-baixo ou inapropriado para os níveis de T4L. A função tireoidiana fetal retornará ao normal após semanas ou meses. Entretanto, é recomendado o tratamento com tiroxina e seguimento em longo prazo (179,180) (B). O aleitamento é permitido às mulheres em uso de DAT. Entretanto, deverão utilizar a mínima dose possível da droga; recomendam-se, no máximo, 300 mg/ dia de PTU ou 20-30 mg/dia de MMI (181) (D). As crianças deverão ser acompanhadas com os testes de função tireoidiana. 221 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Recomendação 38 A determinação do TRAb é recomendada em mulheres com história passada ou presente de DG e deverá ser obtida entre a 20ª-24ª semana de gestação (D). 10) COMO TRATAR O HIPERTIREOIDISMO NO PACIENTE COM OFTALMOPATIA DE GRAVES (OG)? A OG ocorre em 50% dos pacientes com DG e em 20%-30% dos casos tem expressão clínica importante, requisitando um tratamento mais agressivo e específico (182) (B). As duas características primordiais da OG são atividade e gravidade (183) (B). A OG evolui por meio de uma fase ativa (inflamatória), seguida de estabilização (plateau) e fase final de doença inativa (184) (D). Um método útil de se avaliar o grau de atividade é a utilização do clinical activity score (CAS) (185) (A). O CAS inclui: edema palpebral, eritema palpebral, eritema conjuntival, quemose, edema de carúncula, dor ocular espontânea e dor ocular à movimentação. A OG é considerada ativa quando apresenta, no mínimo, três desses sete itens. Enquanto isso, avaliação de gravidade baseia-se em alterações de tecidos moles, proptose, envolvimento da musculatura extraocular extrínseca e de nervo óptico ou acometimento corneano (183) (B). O tratamento com DAT não parece exercer nenhum impacto na evolução da doença ocular, contudo, acredita-se em um efeito benéfico indireto por meio de resolução do estado de hipertireoidismo, principalmente se associado a decréscimos nos níveis de TRAb (186) (D). A desvantagem dessa estratégia são as possíveis recidivas do hipertireoidismo (34) (B). Essas podem reativar o processo autoimune e elevar os níveis de TRAb e outros autoanticorpos e, embora a ligação entre a resposta autoimune contra antígenos compartilhados pela tireoide e órbitas não esteja completamente estabelecida, uma reativação e progressão da OG pode ocorrer (182) (B). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 39 Os pacientes com hipertireodismo e OG podem ser tratados com DAT. No entanto, essa estratégia apresenta a desvantagem de uma taxa maior de recidivas, que podem impactar negativamente na evolução da OG (B). Quanto ao uso de 131I para o tratamento do hipertireoidismo, os estudos randomizados existentes são concordantes em mostrar um risco de progressão ou surgimento de OG após o tratamento em 15%-39% dos 222 casos (187,188) (A). A exacerbação é mais observada em indivíduos que possuem diagnóstico de OG antes do tratamento e pode ser prevenida com administração oral de corticosteroides (182,187) (A). O protocolo usual recomenda prednisona (ou esteroide oral equivalente), em dose de 0,5 mg/kg por dois a três meses (186) (D). Contudo, doses menores de 0,2 mg/kg, utilizadas por períodos mais curtos (seis semanas), mostraram semelhante eficácia (189) (B). A profilaxia com prednisona (ou esteroide oral equivalente) é eficaz na prevenção da progressão de OG em pacientes nos quais a OG já existia antes do tratamento com 131I (187) (A). O surgimento ou a exacerbação da OG após o tratamento com 131I acontece na minoria dos pacientes e alguns fatores de risco já foram identificados: a) início recente do hipertireoidismo (188) (A); b) OG preexistente (especialmente se ativa) (182) (B); c) gravidade do hipertireoidismo (níveis muito elevados de hormônios tireoidianos) (190) (A); d) níveis séricos elevados de TSH (186) (D); e) níveis séricos elevados de TRAb (186) (D); f) tabagismo (188) (A). A administração de 131I em pacientes sem sinais de OG ou com OG minimamente ativa ou inativa na ausência de fatores de risco muito raramente leva à piora das condições oculares (186) (D). Apesar disso, um estudo retrospectivo sugere que OG pós-radioiodo pode ocorrer mesmo em pacientes sem fatores de risco (191) (B). Contudo, acredita-se que mesmo que a administração de 131I possa ser prejudicial em curto prazo, possivelmente possui benefícios a longo prazo (182) (B). O uso do 131I está relacionado a um aumento do TRAb e, embora os níveis de TRAb ajudem a identificar pacientes em uso de DAT que possuam maior risco de desenvolver OG, a relação entre a elevação pós-radioiodo e piora da OG ainda não é clara (187) (A). Recomendação 40 O tratamento do hipertireoidismo de 131I está associado com piora da OG, especialmente naqueles pacientes com OG prévia (B), e com atividade moderada a grave (A) e na presença de tabagismo (A). Nesses pacientes e naqueles com fatores de risco para desenvolvimento da OG (D) ou risco de progressão da OG prévia (A), pode-se usar corticosteroides (D). A TT parece não ter efeito significativo no curso da OG. Estudos randomizados e controlados não encontraram diferença significativa entre TT ou TST na evolução da OG (61,183,192) (C,B,B). A TT ou 131 I isolados não estão associados à completa ablação do tecido tireoidiano, mesmo que o hipotireoidismo Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Recomendação 41 O tratamento cirúrgico do hipertireoidismo não parece ter efeito significativo nos pacientes com OG (B). O tratamento do hipertireoidismo de Graves com OG pode ser selecionado de acordo com grau da OG. Esta pode ser classificada de acordo com sua gravidade e atividade inflamatória em OG leve inativa, OG moderada-grave ativa, OG moderada-grave inativa, OG grave com risco à visão. OG leve inativa Recomendação 42 A escolha terapêutica do hipertireoidismo parece não influenciar nas alterações oculares. Se a opção for 131I, não há indicação de profilaxia com corticosteroide oral, a menos que fatores de risco para progressão estejam presentes (B). OG moderada-grave ativa Recomendação 43 A escolha do tratamento do hipertireoidismo é controversa. O uso isolado de DAT em geral restaura o eutireoidismo e isso favorece a melhora da OG. Contudo, além de não ser adequadamente sustentado por estudos, questiona-se se o risco aumentado de recidiva e a manutenção da atividade da glândula, associados às flutuações nos níveis hormonais, possam exercer efeito deletério na evolução da OG (42,184,187,194,195) (D,D,D,D,B). Com base nesses argumentos, uma segunda linha terapêutica sugere que, nesse tipo de paciente, após estabelecimento do eutireoidismo com DAT, a glândula deve ser ablada (194) (D). OG moderada-grave inativa Recomendação 44 A escolha do tratamento para o hipertireoidismo é menos crítica. Profilaxia com corticosteroide oral pode ser evitada na ausência de fatores de risco (186) (D). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 OG grave com risco à visão Recomendação 45 A maioria dos pacientes nesta categoria possui neuropatia óptica ou acometimento grave da córnea. O hipertireoidismo deve ser tratado com DAT (186) (D). Tratamento com 131I ou cirurgia deve ser adiado até melhora das condições oculares (186) (D). 11) COMO TRATAR A TIREOTOXICOSE INDUZIDA POR DROGAS? O tratamento da tireotoxicose induzida pelo iodo é complexo, pois a tireoide enriquecida pelo iodo torna inviável o tratamento com 131I por várias semanas e o tratamento com DAT é menos eficaz. O tratamento clínico com DAT deve ser feito por período prolongado, podendo ser necessários seis a nove meses a partir da suspensão do iodo antes da administração do 131I. O perclorato de potássio pode ser associado para liberar o iodo inorgânico e prevenir a captação de iodo pela tireoide (196) (D). A tireotoxicose induzida por amiodarona (TIA) pode ser classificada em tipo I, quando há síntese e liberação excessiva de hormônio tireoidiano, ou tipo II, que é uma tireoidite destrutiva. Quando possível, a amiodarona deve ser suspensa. No entanto, devido sua meia-vida longa e falta de resposta da TIA tipo I e II com a retirada da amiodarona, o tratamento medicamentoso em geral deve ser instituído. A TIA tipo I deve ser tratada com doses elevadas de DAT, pois o conteúdo aumentado de iodo intratireóideo reduz a eficácia dessas drogas (197) (D). O perclorato de potássio (1 g/dia) pode ser adicionado para bloquear a captação de iodo e reduzir seu conteúdo intraglandular, mas deve ser usado por um período limitado para evitar efeitos nefrotóxicos e em medula óssea (198) (B). A associação de carbonato de lítio (900 a 1.350 mg/dia) por quatro a seis semanas pode ser feita para reduzir a síntese e liberação dos hormônios tireoidianos (199) (B). Na TIA tipo I, a tireotoxicose pode recorrer ou não chegar a remitir, tornando necessário o tratamento definitivo com 131I (se a amiodarona foi retirada) ou cirurgia. Na TIA tipo II, a suspensão da amiodarona algumas vezes é suficiente, sendo o eutireoidismo alcançado dentro de três a cinco meses. O tratamento com glicocorticoides (prednisona 0,5 a 1 mg/kg/dia ou dexametasona 3 a 6 mg/dia por dois ou três meses) acelera a recuperação clínica e bioquí223 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. se desenvolva (193) (D). Em estudo randomizado recente, pacientes submetidos à ablação total do tecido tireoidiano para tratamento do hipertireoidismo e concomitante corticoterapia endovenosa apresentaram uma melhor resposta geral à imunossupressão quando com pacientes submetidos a TT, no entanto a diferença observada entre os grupos analisados não foi expressiva (194) (B). Portanto, a utilidade dessa estratégia precisa ser testada em estudos com maior seguimento. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento mica (200) (D). Nas formas mistas de TIA ou enquanto a diferenciação dos dois tipos permanecerem inconclusiva, o tratamento deve ser feito utilizando uma combinação de DAT e glicocorticoide (197,198,200) (D,B,D). A TT está indicada quando é necessário o controle imediato, em casos de crise tireotóxica, insuficiência cardíaca grave ou arritmias intratáveis. O tratamento com interferon-alfa (INF-alfa) pode causar tireoidite destrutiva ou induzir DG em 21% e 17% dos pacientes, respectivamente. O tratamento do hipertireoidismo pode ser efetuado sem necessidade de interrupção do INF-alfa. Betabloqueadores podem ser usados na fase tireotóxica da tireoidite destrutiva, enquanto no caso do hipertireoidismo de Graves deve ser instituído o tratamento com DAT (201) (C). Em geral, a função tireoidiana normaliza quando o tratamento com INF-alfa é descontinuado. Pacientes têm risco aumentado de desenvolver disfunção tireoidiana autoimune no futuro. O tratamento com interleucina-2 (IL-2) pode causar tireotoxicose em 5% dos casos (202) (D). O tratamento da disfunção tireoidiana deve ser feito como descrito anteriormente naqueles pacientes que utilizaram INF-alfa. Recomendação 46 Na tireotoxicose induzida por drogas secundária a sobrecarga de iodo (TIA tipo I), o tratamento deve ser feito com altas doses de DAT (D). Na TIA tipo II, a cessação da amiodarona pode ser suficiente e glicocorticoides podem ser utilizados (B). Na tireotoxicose por INF-alfa (C) e IL-2 (D), devem ser considerados a suspensão dos medicamentos e o uso de betabloqueadores para alívio dos sintomas. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. 12) COMO TRATAR A TIREOTOXICOSE ASSOCIADA A TIREOIDITES? As tireoidites destrutivas caracterizam-se pela inflamação da tireoide e consequente liberação desregulada dos hormônios tireoidianos, secundária à destruição dos folículos tireoidianos e proteólise da tireoglobulina armazenada (203) (D). As tireoidites podem apresentar-se com dor cervical (tireoidite subaguda e aguda) ou de forma “silenciosa” (tireoidite indolor). As manifestações clínicas da tireotoxicose são, na maioria das vezes, mais leves do que nas outras causas de hipertireoidismo e têm curso autolimitado (com duração de duas a seis semanas) (204) (B). Por essas ra224 zões, recomenda-se o tratamento com betabloqueadores somente naqueles pacientes sintomáticos (18) (D). Não é recomendado o uso de tionamidas, uma vez que a causa da tireotoxicose não é decorrente do aumento da produção dos hormônios tireoidianos. O uso de radioiodo também não é indicado, pois a captação é caracteristicamente baixa nas tireoidites (26,203,205) (D). Naqueles raros pacientes em que a tireotoxicose se apresenta com maior gravidade, existem relatos de uso de contrastes iodados com objetivo de controle mais rápido dos níveis de hormônios tireoidianos (206) (C). Recomendação 47 No tratamento da tireotoxicose associada a tireoidites, recomenda-se o uso somente de betabloqueadores (D). Nos pacientes que apresentarem quadros clínicos mais graves, o uso de contrastes iodados pode ser considerado (C). 13) COMO TRATAR A TIREOTOXICOSE DEVIDO A OUTRAS CAUSAS? A. Como avaliar e tratar a tireotoxicose devida a tumor produtor de TSH? Tumores produtores de TSH correspondem a menos de 1% de todos os tumores hipofisários e geralmente causam bócio difuso e tireotoxicose clínica (207) (B). Ao contrário da DG, os níveis de TSH são elevados ou inapropriadamente normais para os níveis séricos de hormônios tireoidianos (207) (B). Esses pacientes podem secretar também prolactina em até 25% dos casos, hormônio de crescimento em até 25%, ambos em 1% e gonadotrofinas em 1%. Geralmente, são maiores do que 1 cm de diâmetro, o que os torna diagnosticáveis com ressonância magnética de crânio (208) (D). O tratamento dos tumores produtores de TSH consiste na sua remoção cirúrgica preferencialmente com o paciente em eutireoidismo após uso de DAT. O uso de octreotide diminui os níveis séricos de TSH em mais de 50% dos pacientes e a maior parte dos pacientes retorna ao eutireoidismo com diminuição do tamanho tumoral em 20% a 50% dos casos (207) (B). Bromocriptina também pode ser usada embora produza resultados menos importantes (208) (D). Pacientes com tumores incompletamente ressecados podem se beneficiar do uso adjuvante de octreotide, assim como nos pacientes sem condições cirúrgicas (207) (B). É importante diferenciar tumores produtores de TSH da resistência aos hormônios tireoidianos, pois, Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento Recomendação 48 O diagnóstico de tumor produtor de TSH deve se basear em níveis inapropriadamente elevados de TSH sérico associados a T3 e T4 elevados (B), usualmente com imagem de adenoma hipofisário na RMN (D) e ausência de história familiar ou de testes genéticos compatíveis com resistência a hormônios tireoidianos. Deve ser indicada a cirurgia hipofisária para retirada do tumor. O uso de octreotide pode ser considerado (B). B. Como avaliar e tratar a tireotoxicose devida à resistência aos hormônios tireoidianos? Pacientes com síndrome de resistência aos hormônios tireoidianos (SRHT) apresentam elevadas concentrações séricas de T3 e T4 associadas a TSH sérico elevado ou inapropriadamente normal, característico da sensibilidade reduzida do tireotrofo-hipofisário. Refetoff e cols., em 1967, foram os primeiros a descrever a síndrome clínica em dois indivíduos que apresentavam bócio, surdo-mudez e atraso na idade óssea. Os níveis séricos de hormônios tireoidianos eram elevados, contrastando com os sintomas de hipotireoidismo. A administração de tiroxina exógena não produziu o efeito metabólico esperado e também não suprimiu o TSH estimulado pelo TRH (209) (C). O diagnóstico da SRHT é estabelecido pela presença de níveis séricos elevados de T3 e T4L associados à TSH não suprimido, na ausência de defeito de transporte de hormônio tireoidiano ou de interferência por anticorpos nos ensaios; ausência de supressão do TSH a doses suprafisiológicas de hormônio tireoidiano; presença eventual da síndrome em outros familiares. Conforme descrito anteriormente, o diagnóstico diferencial com tumor hipofisário secretor de TSH pode ser confirmado pela dosagem da subunidade alfa do TSH e/ou pela demonstração das anormalidades genéticas etiopatogênicas da SRHT como mutações do TR beta (210) (C). Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/3 Não é necessário tratamento na maioria dos casos em que a resistência ao hormônio tireoidiano parece ser adequadamente compensada pelo aumento endógeno de hormônios tireoidianos. Pacientes com maior resistência em nível hipofisário e sintomas de hipertireoidismo se beneficiam de tratamento sintomático com agente bloqueador beta-adrenérgico (209,211) (C,D). Tratamento com L-T3 pode melhorar os sintomas de hiperatividade e déficit de atenção em crianças (212) (B). Recomendação 49 Pacientes com síndrome de resistência aos hormônios tireoidianos podem apresentar hipertireoidismo e serem confundidos com portadores de tumores hipofisários secretores de TSH. O diagnóstico diferencial é importante já que esses pacientes geralmente não necessitam de tratamento ou se beneficiam apenas do uso de betabloqueadores e, eventualmente, de L-T3 (C). C. Como avaliar e tratar a tireotoxicose devida a struma ovarii? O struma ovarii representa uma forma rara de teratoma ovariano composto inteira ou predominantemente por tecido tireoidiano e, em geral, é um tumor benigno, embora 5% a 37% dos casos possam ser malignos (213) (C). O tecido tireoidiano ectópico pode conter células cancerígenas e produzir hormônio tireoidiano com consequente quadro de tireotoxicose em 5% a 10% dos pacientes, além de eventualmente se associar a DG concomitante (214, 215) (D,C). O diagnóstico diferencial com outras causas de tireotoxicose é auxiliado pela baixa captação de iodo radioativo e imagem do tumor ovariano (213, 215) (C,D). O tratamento consiste no uso de DAT para atingir o eutireoidismo e ressecção cirúrgica do tumor. O uso pós-cirúrgico de iodo radioativo permite a eliminação de células malignas residuais tanto tireoidianas quanto ovarianas. Recomendação 50 Nas pacientes com tireotoxicose com baixa captação de iodo e imagem de tumor ovariano deve ser considerado o diagnóstico de struma ovarii. Se confirmado, o tratamento é cirúrgico com remoção do tumor (C). D. Como avaliar e tratar a tireotoxicose devida à hipersecreção de gonadotrofinas? A produção de níveis muito elevados de gonadotrofina coriônica (HCG) pode estimular o receptor do TSH e causar hipertireoidismo em pacientes com coriocarci225 Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. embora os testes laboratoriais sejam similares, o tratamento dessas duas condições é muito diferente. Pacientes portadores de tumores hipofisários geralmente têm elevação da subunidade alfa do TSH, resposta de TSH ao TRH bloqueada, níveis elevados de globulina transportadora de hormônios sexuais e sinais clínicos evidentes de tireotoxicose com anormalidades anatômicas demonstráveis pela RM de crânio. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento nomas, gravidez molar (mola hidatiforme) ou câncer de testículo (216-218) (C,C,B). O diagnóstico diferencial com outras causas de tireotoxicose é auxiliado pela baixa captação de 131I pela tireoide, pelos elevados níveis séricos de gonadotrofinas e pela documentação do tumor produtor correspondente. O tratamento nesses casos consiste primariamente na remoção do tumor e no restauro do eutireoidismo com DAT. Recomendação 51 Pacientes com tireotoxicose com baixa captação de 131I, elevados níveis de gonadotrofina e coriocarcinomas, mola ou tumores de testículo, devem ser tratados com ressecção cirúrgica do tumor após a obtenção do eutireoidismo com DAT (B). E. Como avaliar e tratar a tireotoxicose factícia? A tireotoxicose factícia é um problema grave em nosso meio, principalmente devido ao uso abusivo de hormônios tireoidianos visando à perda de peso (219) (B). O diagnóstico pode ser difícil nos casos de uso inapropriado, sem recomendação médica, pois o paciente pode omitir tal fato, e também se torna um desafio diagnóstico nos casos de uso acidental pela contaminação de alimentos ou por erro farmacêutico (220) (C). O diagnóstico diferencial se baseia na ausência de bócio, supressão dos níveis de tireoglobulina e baixa captação de 131I. Pacientes que ingerem T3 ou uma combinação de T4 e de T3 apresentam níveis desproporcionalmente elevados de T3. O tratamento consiste na suspensão da administração/tomada dos hormônios tireoidianos e uso de betabloqueadores para controle dos sintomas. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Recomendação 52 O diagnóstico de tireotoxicose factícia deve ser considerado em pacientes com sintomas do excesso de hormônios tireoidianos, sem bócio ou outros dados sugestivos de doença tireoidiana. Níveis indetectáveis de tireoglobulina sérica e baixa captação de 131I confirmam o diagnóstico. O tratamento consiste na suspensão da ingestão inapropriada de hormônios tireoidianos e uso de betabloqueadores para tratamento dos sintomas (B). F. Como avaliar e tratar a tireotoxicose devida a metástases funcionais de câncer diferenciado da tireoide? Foram descritos alguns raros casos de hipertireoidismo secundário a metástases funcionais de tumores folicula226 res, geralmente lesões muito grandes ou extensas, causando tireorotoxicose (221) (C). Esses pacientes apresentam tumores facilmente identificados e devem ser tratados com ressecção cirúrgica e/ou 131I adicionado a DAT para restauro do eutireoidismo. Recomendação 53 Pacientes com lesões ou metástases extensas de carcinoma folicular de tireoide podem apresentar hipertireoidismo. O tratamento pode ser cirúrgico ou por meio da administração de 131I (C). Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo. Referências 1. Andrade VA, Gross JL, Maia AL. Effect of methimazole pretreatment on serum thyroid hormone levels after radioactive treatment in Graves’ hyperthyroidism. J Clin Endocrinol Metab. 1999;84(11):4012-6. 2. Boelaert K, Torlinska B, Holder RL, Franklyn JA. 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Aos autores que não são fluentes na forma escrita do idioma inglês, recomenda-se que seu MS seja revisado e editado por um expert nesse sentido antes da apresentação. Essa iniciativa deve facilitar e acelerar todo o processo de revisão e potencial publicação do seu MS. Trabalhos que não cumpram esses requisitos serão devolvidos ao autor para adequação necessária antes da revisão pelo corpo editorial. Todas as submissões são a princípio cuidadosamente avaliadas pelos editores científicos. Os MS que não estejam em conformidade com os critérios gerais para publicação serão devolvidos aos autores no período de três a cinco dias. Os MS em conformidade são enviados habitualmente para dois revisores. Categorias de Manuscritos Contribuições originais de pesquisa podem ser submetidas aos ABE&M como artigo original ou comunicação resumida. Outras categorias especiais de MS são descritas abaixo. Todos os MS devem seguir as limitações de número de palavras para o texto principal, conforme especificado a seguir. O número total de palavras não inclui o resumo, as referências ou legendas de tabelas e figuras. O número de palavras deve ser anotado na página de rosto, juntamente com o número de figuras e tabelas. O formato é semelhante para todas as categorias de MS e é descrito em detalhes na seção “Preparação do Manuscrito”. Artigos Originais O artigo original é um relatório científico dos resultados de pesquisa original, clínica ou laboratorial, que não tenha sido publicado, ou submetido para publicação, em outro periódico, seja em papel ou eletronicamente. O artigo original não deve exceder 3.600 palavras no texto principal, incluir mais de seis figuras e tabelas, e deve possuir até 35 referências. Comunicação Resumida A comunicação resumida consiste de dados originais de importância suficiente para justificar a publicação imediata. É uma descrição sucinta dos resultados confirmatórios ou negativos de um estudo focado, simples e objetivo. Objetividade e clareza aumentam a possibilidade de um manuscrito ser aceito para publicação como comunicação rápida. O texto principal deve ter no máximo 1.500 palavras, até 20 referências e não mais que duas ilustrações (tabelas ou figuras ou uma de cada). Artigos de Revisão Os ABE&M publicam artigos de revisão que apresentam uma avaliação crítica e abrangente da literatura sobre questões atuais no campo da endocrinologia e da metabologia nas áreas clínica ou básica. Todos os artigos de revisão são submetidos preferencialmente após convite dos ABE&M e estão sujeitos à revisão pelos pares. Artigos nesta categoria são encomendados pelos editores a autores com experiência comprovada na área de conhecimento, ou quando a proposta direcionada pelos autores em contato prévio receber a aprovação do conselho editorial. Esses MS não devem ter mais de 4.000 palavras no texto principal, não podem incluir mais de quatro figuras ou tabelas e devem conter até 60 referências. Os autores devem mencionar a fonte e/ou solicitar autorização para o uso de figuras ou tabelas publicadas previamente. Diretrizes ou Consensos Consensos ou diretrizes propostos por sociedades de profissionais, forças-tarefa e outras associações relacionadas com a Endocrinologia e Metabologia podem ser publicadas pelos ABE&M. Todos os MS serão submetidos à revisão por pares, devem ser modificáveis em resposta às críticas e serão publicados apenas se cumprirem as normas editoriais da revista. Esses MS habitualmente não devem ultrapassar 3.600 palavras no texto principal, não devem incluir mais de seis figuras e tabelas e devem conter até 60 referências. Relato de Caso Comunicação breve utilizada para apresentar relatos de casos, ou de caso isolado, de importância clínica ou científica. Estes relatórios devem ser concisos e objetivos. Devem conter dados de pacientes isolados ou de famílias que adicionem substancialmente conhecimento a etiologia, patogênese e história natural da condição descrita. O relato de caso deve conter até 2.000 palavras, não incluir mais de quatro figuras e tabelas, e deve conter até 30 referências. Carta ao Editor Cartas ao Editor podem ser apresentadas em resposta a artigos publicados nos ABE&M nas últimas três edições. As cartas devem ser breves comentários relacionados a pontos específicos, de acordo ou desacordo, com o trabalho publicado. Dados originais publicados relacionados ao artigo publicado são estimulados. As cartas podem ter no máximo 500 palavras e cinco referências completas. Figuras e tabelas não podem ser incluídas. Preparação do Manuscrito Formato Geral Os ABE&M exigem que todos os MS sejam apresentados em formato de coluna única, seguindo as seguintes orientações: • O manuscrito deve ser apresentado em formato Word. • Todo o texto deve ser em espaço duplo, com margens de 2 cm de ambos os lados, usando fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 11. • Todas as linhas devem ser numeradas, no manuscrito inteiro, e todo o documento deve ser paginado. • Todas as tabelas e figuras devem ser colocadas após o texto e devem ser legendadas. Os MS submetidos devem ser completos, incluindo a página de título, resumo, figuras e tabelas. Documentos apresentados sem todos esses componentes serão colocados em espera até que o manuscrito esteja completo. Todas as submissões devem incluir: • Uma carta informando a importância e relevância do artigo e solicitando que este seja para publicação nos ABE&M. No formulário de inscrição, os autores podem sugerir até três revisores específicos e/ou solicitar a exclusão de até outros três. O manuscrito deve ser apresentado na seguinte ordem: 1. Página de título. 2. Resumo (ou Sumário para os casos clínicos). 3. Texto principal. 4. Tabelas e figuras. Devem ser citadas no texto principal em ordem numérica. 5. Agradecimentos. 6. Declaração de financiamento, conflitos de interesse e quaisquer subsídios ou bolsas de apoio recebidos para a realização do trabalho. 7. Referências. Página de Título A página de rosto deve conter as seguintes informações: 1. Título do artigo. 2. Nomes completos dos autores e coautores, departamentos, instituições, cidade e país. 3. Nome completo, endereço postal, e-mail, telefone e fax do autor para correspondência. 4. Título abreviado de, no máximo, 40 caracteres para títulos de página. 5. Palavras-chave (recomenda-se usar MeSH terms e até 5). 6. Número de palavras – excluindo a página de rosto, resumo, referências, figuras e tabelas. 7. Tipo do manuscrito. Resumos Todos os artigos originais, comunicados rápidos e relatos de casos deverão ser apresentados com resumos de, no máximo, 250 palavras. O resumo deve conter informações claras e objetivas sobre o estudo de modo que possa ser compreendido, sem consulta ao texto. O resumo deve incluir quatro seções que refletem os títulos das seções do texto principal. Todas as informações relatadas no resumo devem possuir origem no MS. Recomenda-se o uso de frases completas para todas as seções do resumo. Introdução O propósito da introdução é estimular o interesse do leitor para o trabalho em questão com uma perspectiva histórica e justificando seus objetivos. Materiais e Métodos Deve ser descrito em detalhe como o estudo foi conduzido de forma que outros investigadores possam avaliar e reproduzir o trabalho. A origem dos hormônios, produtos químicos incomuns, reagentes e aparelhos deve ser indicada. Para os métodos modificados, apenas as novas modificações devem ser descritas. Resultados e Discussão A seção Resultados deve apresentar brevemente os dados experimentais tanto no texto quanto por tabelas e/ou figuras. Deve-se evitar a repetição no texto dos resultados apresentados nas tabelas. Para mais detalhes sobre a preparação de tabelas e figuras, veja a seguir. A Discussão deve focar na interpretação e no significado dos resultados, com comentários objetivos, concisos, que descrevam sua relação com outras pesquisas nessa área. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Informações Gerais Na Discussão, deve-se evitar a repetição dos dados apresentados em Resultados, pode-se conter sugestões para explicá-los e deve-se terminar com as conclusões. Autoria Os ABE&M adotam as diretrizes de autoria e de contribuição definidas pelo Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (www.ICMJE.org). A coautoria irrestrita é permitida. O crédito de autoria deve ser baseado apenas em contribuições substanciais para: 1. concepção e desenho, análise ou interpretação de dados; 2. redação do artigo ou revisão crítica do conteúdo intelectual; 3. aprovação final da versão a ser publicada. Todas essas condições devem ser respeitadas. O primeiro autor é responsável por garantir que todos os autores contribuíram para a realização do MS e concordaram com seu conteúdo e sua submissão aos ABE&M. Conflito de Interesses Uma declaração de conflito de interesse para todos os autores deve ser incluída no documento principal, seguindo o texto, na seção Agradecimentos. Mesmo que os autores não tenham conflito de interesse relevante a divulgar, devem relatar na seção Agradecimentos. Abreviaturas Padrão Todas as abreviaturas no texto devem ser definidas imediatamente após a primeira utilização da abreviatura. Pacientes Para que o MS seja aceito para submissão, todos os procedimentos descritos no estudo devem ter sido realizados em conformidade com as diretrizes da Declaração de Helsinque e devem ter sido formalmente aprovados pelos comitês de revisão institucionais apropriados, ou seu equivalente. As características das populações envolvidas no estudo devem ser detalhadamente descritas. Os indivíduos participantes devem ser identificados apenas por números ou letras, nunca por iniciais ou nomes. Fotografias de rostos de pacientes só devem ser incluídas se forem cientificamente relevantes. Os autores devem obter o termo de consentimento por escrito do paciente para o uso de tais fotografias. Para mais detalhes, consulte as Diretrizes Éticas. Agradecimentos A seção Agradecimentos deve incluir os nomes das pessoas que contribuíram para o estudo, mas não atendem aos requisitos de autoria. Os autores são responsáveis por informar, a cada pessoa listada na seção de agradecimentos, sua inclusão e qual sua contribuição. Cada pessoa listada nos agradecimentos deve dar permissão – por escrito, se possível – para o uso de seu nome. É da responsabilidade dos autores coletar essas informações. Os pesquisadores devem divulgar aos participantes do estudo potenciais conflitos de interesse e devem indicar que houve essa comunicação no MS. Referências As referências da literatura devem estar em ordem numérica (entre parênteses), de acordo com a citação no texto, e listadas na mesma ordem numérica no final do manuscrito, em uma página separada. Os autores são responsáveis pela exatidão das referências. O número de referências citadas deve ser limitado, como indicado anteriormente, para cada categoria de apresentação. Descrição Genética Molecular Usar terminologia padrão para as variantes polimórficas, fornecendo os números de rs para todas as variantes relatadas. Detalhes do ensaio, como, por exemplo, as sequências de iniciadores de PCR, devem ser descritos resumidamente com os números rs. Os heredogramas devem ser elaborados de acordo com as normas publicadas em Bennett et al. J Genet Counsel. 2008.17:424-33. DOI 10.1007/s10897-008-9169-9. Tabelas As tabelas devem ser apresentadas no mesmo formato que o artigo (Word). Atenção: não serão aceitas tabelas com arquivos em Excel. As tabelas devem ser autoexplicativas e os dados não devem ser repetidos no texto ou em figuras e conter as análises estatísticas. As tabelas devem ser construídas de forma simples e serem compreensíveis sem necessidade de referência ao texto. Cada tabela deve ter um título conciso. Uma descrição das condições experimentais pode aparecer em conjunto como nota de rodapé. Gráficos e Figuras Todos os gráficos ou figuras devem ser numerados. Os autores são responsáveis pela formatação digital, fornecendo material adequadamente dimensionado. Todas as figuras coloridas serão reproduzidas igualmente em cores na edição online da revista, sem nenhum custo para os autores. Os autores serão convidados a pagar o custo da reprodução de figuras em cores na revista impressa. Após a aceitação do manuscrito, a editora fornecerá o valor dos custos de impressão. Fotografias Os ABE&M preferem publicar fotos de pacientes sem máscara. Encorajamos os autores a obter com os pacientes ou seus familiares, antes da submissão do MS, permissão para eventual publicação de imagens. Se o MS contiver imagens identificáveis do paciente ou informações de saúde protegidas, os autores devem enviar autorização documentada do próprio paciente, ou pais, tutor ou representante legal, antes de o material ser distribuído entre os editores, revisores e outros funcionários dos ABE&M. Para identificar indiví duos, utilizar uma designação numérica (por exemplo, Paciente 1); não utilizar as iniciais do nome. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Unidades de Medida Os resultados devem ser expressos utilizando o Sistema Métrico. A temperatura deve ser expressa em graus Celsius e tempo do dia, usando o relógio de 24 horas (por exemplo, 0800 h, 1500 h). Animais de Experimentação Deve ser incluída uma declaração confirmando que toda a experimentação descrita no MS foi realizada de acordo com padrões aceitos de cuidado animal, como descrito nas Diretrizes Éticas. Nomenclaturas Para genes, use a notação genética e símbolos aprovados pelo Comitê de Nomenclatura HUGO Gene (HGNC) – (http://www.genenames.org/~~V). Para mutações, siga as diretrizes de nomenclatura sugeridas pela Sociedade Human Genome Variation (http://www.hgvs.org/mutnomen/). • Fornecer e discutir os dados do equilíbrio Hardy-Weinberg dos polimorfismos analisados na população estudada. O cálculo do equilíbrio de Hardy-Weinberg pode ajudar na descoberta de erros de genotipagem e do seu impacto nos métodos analíticos. • Fornecer as frequências originais dos genótipos, dos alelos e dos haplótipos. • Sempre que possível, o nome genérico das drogas deve ser referido. Quando um nome comercial de propriedade é usado, ele deve começar com letra maiúscula. • Siglas devem ser usadas com moderação e totalmente explicadas quando usadas pela primeira vez. TRABALHOS APRESENTADOS EM INGLÊS O MS deve ser escrito em inglês claro e conciso. Evite jargões e neologismos. A revista não está preparada para realizar grandes correções de linguagem, o que é de responsabilidade do autor. Se o inglês não é a primeira língua dos autores, o MS deve ser revisado por um especialista em língua inglesa ou um nativo. Para os não nativos da língua inglesa e autores internacionais que gostariam de assistência com sua escrita antes da apresentação, sugerimos o serviço de edição científica do American Journal Experts (http://www.journalexperts.com/index.php) ou o PaperCheck (http://www.papercheck.com/). Instructions for authors General Information We emphasize the importance of following these instructions carefully. Failure to do so will delay the processing of your manuscript. Manuscripts should be submitted solely to ABE&M and may not have been published, or be under consideration for publication, in any substantial form in another periodical – rofessional or lay. Manuscripts must be written in idiomatic English or Portuguese and conform to the specifications described below. If authors are not fluent in written medical and scientific English, they are strongly encouraged to have their manuscripts reviewed and edited by an expert English writer prior to submission. This will increase the chances that the paper will be accepted and will speed the publication of those manuscripts that are accepted. Papers that do not meet these requirements will be returned to the author for necessary revision before formal review. All submissions are initially evaluated in depth by the scientific editors. Papers that do not conform to the general criteria for publication will be returned to the authors without detailed review, typically within three to five days. Otherwise, manuscripts will be sent to reviewers (most commonly two). Manuscript Categories Reports of original research may be submitted to ABE&M as an Original Article or Brief Report. Other special categories of manuscripts are described below. All manuscripts must adhere to the word count limitations, as specified below, for text only; the word count does not include the abstract, references, or figure/table legends. The word count must be noted on the title page, along with the number of figures and tables. The format is similar for all manuscript categories and it is described in detail in “Manuscript Preparation” section. Original Articles Original Article is a scientific report of the results of original research that has not been published or submitted for publication elsewhere (either in print or electronically). Represent a substantial body of laboratory or clinical work. In general, original paper should not exceed 3,600 words in the main text, include no more than six figures and tables and 35 references. Review Articles The ABE&M publishes review articles which present a balanced perspective on timely issues within the field of clinical endocrinology. All reviews are submitted upon invitation and are subject to peer review. Articles in this category are requested by the Editors to authors with proven experience in the field. Authors considering the submission of uninvited reviews should contact the editors in advance to determine whether the topic that they propose is of current potential interest to the Journal. These manuscripts should be no longer than 4,000 words in the main text, include no more than four figures and tables and 60 references. The author should mention the source and/or request authorization for use of previously published figures or tables. Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Consensus Statements Consensus Statements related to the endocrine and metabolic health standards and healthcare practices may be submitted by professional societies, task forces, and other consortia. All such submissions will be subjected to peer review, must be modifiable in response to criticisms, and will be published only if they meet the Journal’s usual editorial standards. These manuscripts should typically be no longer than 3,600 words in the main text, include no more than six figures and tables and 60 references. Brief Report Brief report should consist of new data of sufficient importance to warrant immediate publication. It is a succinct description of focused study with important, but very straightforward, negative or confirmatory results. Brevity and clarity are always likely to enhance the chance of a manuscript being accepted for publication. A maximum of 1,500 words in the main text plus up to 20 references and normally no more than two illustrations (tables or figures or one of each). Case Report A brief communication presenting collected case reports, or single case reports of clinical or scientific significance. These reports should be concise and focused. They should address observations of patients or families that add substantially to the knowledge of the etiology, pathogenesis and delineation of the natural history or management of the condition described. Brevity and clarity are always likely to enhance the chance of a manuscript being accepted for publication. These manuscripts should be 2,000 words or less, with no more than four figures and tables and 30 references. Letter Letters to the Editor may be submitted in response to work that has been published in the Journal. Letters should be short commentaries related to specific points of agreement or disagreement with the published work. Letters are not intended for presentation of original data unrelated to a published article. Letters should be no longer than 500 words with no more than five complete references, and may not include any figures or tables. Manuscript Preparation General Format The Journal requires that all manuscripts be submitted in a single-column format that follows these guidelines: • The manuscript must be submitted in MS-Word format. • All text should be double-spaced with 2 cm margins on both sides using 11-point type in Times Roman or Arial font. • All lines should be numbered throughout the entire manuscript and the entire document should be paginated. • All tables and figures must be placed after the text and must be labeled. Submitted papers must be complete, including the title page, abstract, figures, and tables. Papers submitted without all of these components will be placed on hold until the manuscript is complete. All submissions must include: • A cover letter requesting that the manuscript be evaluated for publication in ABE&M and any information relevant to your manuscript. Elsewhere on the submission form authors may suggest up to three specific reviewers and/or request the exclusion of up to three others. The manuscript must be presented in the following order: 1. Title page. 2. Structured Abstract (or summary for case reports). 3. Main text. 4. Tables and Figures. They must be cited in the main text in numerical order. 5. Acknowledgments. 6. Funding statement, competing interests and any grants or fellowships supporting the writing of the paper. 7. Reference list. Title Page The title page must contain the following information: 1. Title of the article (a concise statement of the article’s major contents). 2. Full names, departments, institutions, city and country of all co-authors. 3. Full name, postal address, e-mail, telephone and fax numbers of the corresponding author. 4. Abbreviated title of not more than 40 characters for page headings. 5. Up to five keywords or phrases suitable for use in an index (it is recommended to use MeSH terms). 6. Word count – excluding title page, abstract, references, figures and tables. 7. Article type. Structured Abstracts All Original Articles, Brief Reports, Reviews, Case Reports should be submitted with structured abstracts of no more than 250 words. The abstract must be self-contained and clear without reference to the text and should be written for a general journal readership. The abstract format should include four sections that reflect the section headings in the main text. All information reported in the abstract must appear in themanuscript. Please use complete sentences for all sections of the abstract. Introduction The article should begin with a brief introductory statement that places the work to follow in historical perspective and explains its intent and significance. Materials and Methods These should be described and referenced in sufficient detail for other investigators to repeat the work. The source of hormones, unusual chemicals and reagents, and special pieces of apparatus should be stated. For modified methods, only the modifications need be described. Results and Discussion The Results section should briefly present the experimental data in text, tables, and/or figures. For details on preparation of tables and figures, see below. The Discussion should focus on the interpretation and significance of the findings with concise objective comments that describe their relation to other work in that area. The Discussion should not reiterate the Results. Conflict of interest A conflict of interest statement for all authors must be included in the main document, following the text, in the Acknowledgments section. If authors have no relevant conflict of interest to disclose, it should be indicated in the Acknowledgments section. Acknowledgments The Acknowledgments section should include the names of those people who contributed to a study but did not meet the requirements for authorship. The corresponding author is responsible for informing each person listed in the acknowledgment section that they have been included and providing them with a description of their contribution so they know the activity for which they are considered responsible. Each person listed in the acknowledgments must give permission – in writing, if possible – for the use of his or her name. It is the responsibility of the corresponding author to collect this information. References References to the literature should be cited in numerical order (in parentheses) in the text and listed in the same numerical order at the end of the manuscript on a separate page or pages. The author is responsible for the accuracy of references. The number of references cited should be limited, as indicated above for each category of submission. Tables Tables should be submitted in the same format as your article (Word) and not another format. Please note: we cannot accept tables as Excel files within the manuscript. Tables should be self-explanatory and the data they contain must not be duplicated in the text or figures. Tables must be constructed as simply as possible and be intelligible without reference to the text. Each table must have a concise heading. A description of experimental conditions may appear together with footnotes at the foot of the table. Tables must not simply duplicate the text or figures. Figures and Legends All figures must display the figure number. Sizing the figure: The author is responsible for providing digital art that has been properly sized, cropped, and has adequate space between images. All color figures will be reproduced in full color in the online edition of the journal at no cost to the authors. Authors are requested to pay the cost of reproducing color figures in print (upon acceptance of the manuscript, the publisher will provide price quotes). Photographs The ABE&M strongly prefers to publish unmasked patient photos. We encourage all prospective authors to work with families prior to submission to address the issue of permission for review and possible publication of patient images. If your submission contains ANY identifiable patient images or other protected health information, you MUST provide documented permission from the patient (or the patient’s parent, guardian, or legal representative) before the specific material will be circulated among editors, reviewers and staff for the purpose of possible publication in ABE&M. If it is necessary to identify an individual, use a numerical designation (e.g. Patient 1) rather than using any other identifying notations such as initials. Units of Measure Results should be expressed in metric units. Temperature should be expressed in degrees Celsius and time of day using the 24-hour clock (e.g., 0800 h, 1500 h). Standard Abbreviations All abbreviations in the text must be defined immediately after the first use of the abbreviation. Experimental Subjects To be considered, all clinical investigations described in submitted manuscripts must have been conducted in accordance with the guidelines in The Declaration of Helsinki and must have been formally approved by the appropriate institutional review committees or its equivalent. The study populations should be described in detail. Subjects must be identified only by number or letter, not by initials or names. Photographs of patients’ faces should be included only if scientifically relevant. Authors must obtain written consent from the patient for use of such photographs. For further details, see the Ethical Guidelines. Investigators must disclose potential conflict of interest to study participants and should indicate in the manuscript that they have done so. Experimental Animals A statement confirming that all animal experimentation described in the submitted manuscript was conducted in accord with accepted standards of humane animal care, as outlined in the Ethical Guidelines, should be included in the manuscript. Molecular Genetic Description • Use standard terminology for variants, providing rs numbers for all variants reported. These can be easily derived for novel variants uncovered by the study. Where rs numbers are provided, the details of the assay (primer sequences, PCR conditions, etc.) should be described very concisely. • Pedigrees should be drawn according to published standards (See Bennett et al. J Genet Counsel. 2008;17:424-33. DOI 10.1007/s10897-008-9169-9). Nomenclatures • For genes, use genetic notation and symbols approved by the HUGO Gene Nomenclature Committee (HGNC) – (http://www.genenames.org/). • For mutation nomeclature please use the nomenclature guidelines suggested by the Human Genome Variation Society (http://www.hgvs.org/mutnomen/). • Provide information and a discussion of departures from Hardy-Weinberg equilibrium (HWE). The calculation of HWE may help uncover genotyping errors and impact on downstream analytical methods that assume HWE. • Provide raw genotype frequencies in addition to allele frequencies. It is also desirable to provide haplotype frequencies. • Whenever possible, drugs should be given their approved generic name. Where a proprietary (brand) name is used, it should begin with a capital letter. • Acronyms should be used sparingly and fully explained when first used. FOR PAPERS SUBMITTED IN ENGLISH Papers must be written in clear, concise English. Avoid jargon and neolo gisms. The journal is not prepared to undertake major correction of language, which is the responsibility of the author. Where English is not the first language of the authors, the paper must be checked by a native Engligh speaker. For non-native English speakers and international authors who would like assistance with their writing before submission, we suggest American Journal Experts for their scientific editing service (http://www.journalexperts.com/index.php) or PaperCheck (http://www.papercheck.com/). Copyright© ABE&M todos os direitos reservados. Authorship The ABE&M ascribes to the authorship and contributorship guidelines defined by the International Committee of Medical Journal Editors (www.ICMJE. org). Unrestricted joint authorship is allowed. A maximum of two corresponding authors is allowed. The uniform requirements for manuscripts submitted to medical journals state that authorship credit should be based only on substantial contribution to: 1. conception and design, or analysis and interpretation of data. 2. drafting the article or revising it critically for important intellectual content. 3. and final approval of the version to be published. All these conditions must all be met. The corresponding author is responsible for ensuring that all appropriate contributors are listed as authors and that all authors have agreed to the manuscript’s content and its submission to ABE&M. A PRECISÃO QUE TODOS OS SEUS PACIENTES PRECISAM 1-8 • Disponível em 11 apresentações 8 • Embalagem com 30 comprimidos em cores diferentes 8 • Blister alumínio-alumínio 8 • Fábrica exclusiva • Cuidado com o meio ambiente* INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA MEDICAMENTOSA: AMIODARONA, GLICOCORTICOIDES, ANTIÁCIDOS (HIDRÓXIDOS DE ALUMÍNIO E MAGNÉSIO), CONTRACEPTIVOS ORAIS COMBINADOS, ANTIDIABÉTICOS ORAIS. CONTRAINDICAÇÃO: PACIENTES COM QUADRO SUBCLÍNICO NÃO TRATADO OU EVIDENTE DE TIREOTOXICOSE DE QUALQUER ETIOLOGIA. * Referente à diminuição da embalagem. 1. Stagnaro-Green A, Abalovich M, Alexander E, Azizi F, Mestman J, Negro R, Nixon A, Pearce EN, Soldin OP, Sullivan S, Wiersinga W. Guidelines of the American Thyroid Association for the Diagnosis and Management of Thyroid Disease During Pregnancy and Postpartum. Thyroid. 2011;21(10):1081-1125. 2. Garber JR, Cobin RH, Gharib H, Hennessey JV, Klein I, Mechanick JI, Pessah-Pollack R, Singer PA, Woeber For The American Association Of Clinical Endocrinologists And American Thyroid Association Taskforce On Hypothyroidism In Adults KA. Clinical Practice Guidelines for Hypothyroidism in Adults: Cosponsored by the American Association of Clinical Endocrinologists and the American Thyroid Association. Thyroid. 2012:22(12):1200-1235. 3. Pitoia F, Ward L, Wohllk N, Friguglietti C, Tomimori E, Gauna A, Camargo R, Vaisman M, Harach R, Munizaga F, Corigliano S, Pretell S, Niepomniszcze H. Recommendations of the Latin American Thyroid Society on diagnosis and management of differentiated thyroid cancer. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53:884-897. 4. Hipotireoidismo congênito. Projeto Diretrizes AMB. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/4_volume/18-Hipotiroid.pdf. Acesso em 05/12/2012. 5. Iervasi G, Molinaro S, Landi P, Taddei MC, Galli E, Mariani F, L’Abbate A, Pingitore A. Association between increased mortality and mild thyroid dysfunction in cardiac patients. Arch Intern Med. 2007;167:1526-1532. 6. Arinzon Z, Zuta A, Peisakh A, Feldman J, Berner Y. Evaluation response and effectiveness of thyroid hormone replacement treatment on lipid profile and function in elderly patients with subclinical hypothyroidism. Arch Gerontol Geriatr. 2007;44:13-19. 7. Somwaru LL, Arnold AM, Joshi N, Fried LP, Cappola AR. High frequency of and factors associated with thyroid hormone over-replacement and under-replacement in men and women aged 65 and over. J Clin Endocrinol Metab. 2009;94:1342-1345. 8. SYNTHROID® (levotiroxina sódica) comprimido [bula do medicamento]. São Paulo, SP. Abbott Laboratórios do Brasil; 2013. SYNTHROID® (levotiroxina sódica). MS nº 1.0553.0289 (apresentações com 25 mcg, 50 mcg, 75 mcg, 88 mcg, 100 mcg, 112 mcg, 125 mcg, 150 mcg, 175 mcg e 200 mcg) e MS nº 1.0553.0329 (apresentação com 137 mcg). Indicações: Hipotireoidismo: na terapia de reposição ou suplementação em pacientes com hipotireoidismo congênito ou adquirido de qualquer etiologia (exceto no hipotireoidismo transitório, durante a fase de recuperação de tireoidite subaguda). Nesta categoria incluem-se: cretinismo, mixedema e hipotireoidismo comum em pacientes de qualquer idade (crianças, adultos e idosos) ou fase (inclusive gravidez), hipotireoidismo primário resultante de déficit funcional; atrofia primária; ablação total ou parcial da glândula tireoide, com ou sem bócio; hipotireoidismo secundário (hipofisário) ou terciário (hipotalâmico). Supressão de TSH hipofisário: tratamento de tireoidite linfocítica subaguda ou crônica (tireoidite de Hashimoto) e como adjuvante nas cirurgias e radioiodoterapia para controle de câncer tireoideano bem-diferenciado tireotropina dependente. Contraindicações: SYNTHROID® (levotiroxina sódica) é contraindicado a pacientes com quadro subclínico não tratado (nível sérico de TSH suprimido com níveis normais de T3 e T4) ou evidente de tireotoxicose de qualquer etiologia e a pacientes com infarto agudo do miocárdio. Também é contraindicado a pacientes com insuficiência adrenal não corrigida e a pacientes com hipersensibilidade a levotiroxina sódica ou aos demais componentes do produto. Cuidados e Advertências: SYNTHROID® (levotiroxina sódica) não deve ser utilizado para o tratamento da obesidade ou perda de peso e no tratamento da infertilidade masculina ou feminina, a menos que esta condição esteja associada ao hipotireoidismo. Em pacientes com bócio difuso atóxico ou doença tireoidiana nodular, particularmente idosos ou com doença cardiovascular subjacente, o medicamento é contraindicado caso os níveis séricos de TSH já estejam suprimidos, devido ao risco de precipitação de tireotoxicose evidente. Uma titulação cuidadosa da dose do medicamento é necessária para evitar consequências de tratamento com doses excessivas ou insuficientes. Em mulheres, o tratamento por longo prazo com levotiroxina foi associado a um aumento da reabsorção óssea, resultando em diminuição da densidade mineral óssea. Recomenda-se cautela na administração de levotiroxina em pacientes com distúrbios cardiovasculares e idosos nos quais há risco aumentado de doença cardíaca oculta. O tratamento com dose excessiva de levotiroxina sódica pode resultar em efeitos adversos cardiovasculares, tais como aumento da frequência cardíaca, hipertrofia da parede miocárdica, aumento da contratilidade miocárdica e quadro de angina ou de arritmias. Pacientes com doença arterial coronariana tratados com levotiroxina devem ser monitorados rigorosamente durante procedimentos cirúrgicos. A administração concomitante de levotiroxina e agentes simpatomiméticos em pacientes com doença arterial coronariana pode precipitar insuficiência coronariana. Recomenda-se cautela na administração de levotiroxina em pacientes com bócio difuso atóxico ou doença tireoidiana nodular a fim de impedir o desencadeamento de tireotoxicose. Ocasionalmente, pode ocorrer tireoidite autoimune crônica em associação a outros distúrbios autoimunes, tais como insuficiência adrenal, anemia perniciosa e diabetes Tipo I. Pacientes pediátricos com hipotireoidismo congênito parecem apresentar risco aumentado para outras anomalias congênitas, sendo as mais comuns as anomalias cardiovasculares. Gravidez e lactação: os estudos em mulheres que receberam levotiroxina sódica durante a gestação não mostraram risco aumentado para anomalias congênitas. O hipotireoidismo diagnosticado durante a gestação deve ser tratado imediatamente. Durante a gestação, os níveis séricos de T4 podem diminuir e os níveis séricos de TSH aumentar a valores fora dos limites de normalidade. Considerando que podem ocorrer elevações dos níveis séricos de TSH em períodos tão precoces quanto 4 semanas de gestação, o TSH deve ser avaliado a cada trimestre nas gestantes tratadas com SYNTHROID® (levotiroxina sódica). Recomenda-se cautela ao administrar SYNTHROID® (levotiroxina sódica) em mulheres durante a lactação. Uso pediátrico: em crianças nas quais o diagnóstico de hipotireoidismo permanente ainda não foi estabelecido, recomenda-se que a administração de levotiroxina seja descontinuada por período teste de 30 dias, mas apenas depois que a criança tiver pelo menos 3 anos de idade. Os níveis séricos de T4 e de TSH devem então, ser reavaliados. Se T4 for baixo, o TSH elevado e o diagnóstico de hipotireoidismo permanente estabelecido, o tratamento com levotiroxina deve ser reinstituído. Se os níveis de T4 e TSH forem normais, pode-se assumir o eutiroidismo e, portanto, o hipotireoidismo pode ser considerado como transitório. No caso de hipotireoidismo congênito e hipotireoidismo adquirido, o tratamento com SYNTHROID® (levotiroxina sódica) deve ser iniciado imediatamente no momento do diagnóstico e deve ser mantido por toda a vida. O paciente deve ser monitorado rigorosamente para evitar tratamento insuficiente ou excessivo. Uso em idosos: em virtude da prevalência aumentada de doenças cardiovasculares em indivíduos idosos, o tratamento com levotiroxina não deve ser iniciado com a dose de reposição completa. Reações adversas: fadiga, aumento do apetite, perda de peso, intolerância ao calor, febre, sudorese excessiva, cefaleia, hiperatividade, nervosismo, ansiedade, irritabilidade, instabilidade emocional, insônia, tremores, fraqueza muscular, palpitações, taquicardia, arritmias, aumento de pulso, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, angina, infarto do miocárdio, parada cardíaca, dispneia, diarreia, vômitos, dores abdominais, aumento da atividade hepática, queda de cabelos, rubor facial, redução da densidade mineral óssea, irregularidade menstrual e alterações da fertilidade. Pseudotumor cerebral e luxação da epífise femural foram relatados em crianças sob tratamento com levotiroxina. Convulsões foram raramente relatadas com a instituição de tratamento com levotiroxina. Reações de hipersensibilidade aos ingredientes inativos ocorreram em pacientes tratados com produtos do hormônio da tireoide. Interações medicamentosas: dopamina/agonistas da dopamine, glicocorticoides, octreotida, aminoglutetimida, amiodarona, iodeto (inclusive agentes de contraste radiográfico contendo iodo), lítio, tioamidas (metimazol, propiltiouracil (PTU) e carbimazol), sulfonamidas, tolbutamida, amiodarona, iodetos (incluindo agentes de contraste radiográfico contendo iodo), antiácidos (hidróxidos de alumínio e magnésio, simeticona), sequestrantes de ácidos biliares (colestiramina e colestipol), carbonato de cálcio, resinas trocadoras de cátions (poliestireno sulfonado de sódio), sulfato ferroso sucralfato, clofibrato, contraceptivos orais contendo estrogênio, estrogênios (orais), heroína / metadona, 5- fluorouracil, mitotano, tamoxifeno, furosemida (> 80 mg IV) heparina, hidantoínas, anti nflamatórios não esteroides, fenamatos, fenilbutazona, salicilatos (> 2 g/dia), carbamazepina, hidantoína, fenobarbital, rifampicina, amiodarona, antagonistas beta-adrenérgicos (ex. propranolol > 160 mg/dia), glicocorticoides (ex. dexametasona ≥ 4 mg/dia), propiltiouracil (PTU), anticoagulantes orais, derivados cumarínicos, derivados da indandiona, antidepressivos, tricíclicos (ex. amitriptilina), tetracíclicos (ex. maprotilina), inibidores seletivos da recaptação de serotonina - ISRS (ex. sertralina), agentes antidiabeticos, biguanidas, meglitinidas, sulfoniluréias, tiazolidinedionas, insulina, glicosídeos cardíacos, citocinas (interferon-α e interleucina – 2), hormônios do crescimento (somatrem e somatropina), cetamina, broncodilatadores metilxantínicos (ex. teofilina), agentes radiográficos, simpaticomiméticos, hidrato de cloral, diazepam, etionamida, lovastatina, metoclopramida, 6-mercaptopurina, nitroprussiato, para-aminossalicilato sódico, perfenazina, resorcinol (uso tópico excessivo), diuréticos tiazídicos, anticoagulantes orais e glicosídeos digitálicos. Interações com alimentos: farinha de soja (preparação pediátrica), farinha de caroço de algodão, nozes, cálcio e suco fortificado com cálcio e fibras dietéticas. Interações com exames laboratoriais: devem-se considerar alterações na concentração de TBG ao se interpretar os valores de T4 e T3, que necessitam de medida e avaliação do hormônio não ligado e/ou determinação do índice de T4 livre (FT4I). Posologia: SYNTHROID® (levotiroxina sódica) deve ser administrado em dose diária, de preferência 30 minutos a 1 hora antes do café da manhã, com um intervalo mínimo de 4 horas da administração de outros medicamentos que alteram a sua absorção. Para recém-nascidos, a dose inicial recomendada é de 10 a 15 mcg/kg/dia. Para crianças acima de 3 meses, pode-se iniciar o tratamento com 25 mcg ao dia, com aumentos a cada 2 a 4 semanas até que o efeito desejado seja atingido. Para mais informações, inclusive sugestão de administração, vide bula. Para adultos, a dose de reposição média é de aproximadamente 1,7 mcg/kg/dia (100 a 125 mcg/dia para um adulto de 70 kg). Recomenda-se uma dose inicial de 25 a 50 mcg/dia, com aumentos graduais na posologia a cada 6 a 8 semanas, conforme a necessidade, em pacientes com mais de 50 anos, ou pacientes com idade inferior a 50 anos mas com doença cardíaca subjacente. A dose inicial recomendada de SYNTHROID® (levotiroxina sódica) em pacientes idosos com doença cardíaca é de 12,5 a 25 mcg/dia, com aumentos graduais em intervalos de 4 a 6 semanas de 12,5 a 25 mcg, até que os pacientes sejam clinica e laboratorialmente considerados eutireoideanos. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Registrado por: Abbott Laboratórios do Brasil Ltda. Rua Michigan, 735, São Paulo – SP. CNPJ 56.998.701/0001-16. ABBOTT CENTER 0800 703 1050. Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde prescritores. Reprodução proibida. Material produzido em 01/2013. 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