análise de capacidade de operação de aeronaves nos boxes
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análise de capacidade de operação de aeronaves nos boxes
Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 ANÁLISE DE CAPACIDADE DE OPERAÇÃO DE AERONAVES NOS BOXES DO AEROPORTO DE SÃO PAULO-CONGONHAS, POR MEIO DE FERRAMENTA DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL Alexandre Luiz Dutra Bastos Derick Moreira Baum Anderson Ribeiro Correia Instituto Tecnológico de Aeronáutica RESUMO O Aeroporto de São Paulo-Congonhas é atualmente o mais movimentado do Brasil com uma média de 700 movimentos/dia, tendo o comprimento de pista o fator de restrição para o porte das aeronaves e o pátio como possível fator limitante para quantidade de aeronaves que operam neste aeroporto. O citado aeroporto sofreu alterações na estrutura de seus pátios, porém não aumentou sua capacidade, disponibilizando apenas 22 boxes para utilização pela aviação regular. Foi imposta ao Aeroporto de Congonhas, pelo órgão regulador de aviação civil, uma política específica de tempo máximo permitido às aeronaves para permanecerem nos boxes de estacionamento, entretanto, este tempo é comumente ultrapassado, alterando a capacidade do Aeroporto. Será realizada análise do comportamento das aeronaves no pátio, verificando comprimento médio e o tempo médio de permanência nas filas, através da utilização da ferramenta de simulação computacional ARENA, representando a lógica que envolve o comportamento das aeronaves imediatamente após o pouso. Para a análise da influência do pátio na capacidade do Aeroporto, foram criados cenários variando a separação entre os tráfegos no pouso, dentro do permitido em legislação, e o tempo de permanência das aeronaves nos boxes. Admitindo que o pátio seja um limitante para a capacidade de operação do Aeroporto de Congonhas, os resultados deste trabalho deverão prover subsídios consistentes a ANAC para a confecção de HOTRAN, ao DECEA, através do CGNA, para o cálculo de operações autorizadas por hora e à INFRAERO na divulgação da real capacidade de do Aeroporto de Congonhas. ABSTRACT Nowadays, São Paulo - Congonhas Airport is the busiest airport in Brazil, in terms of air traffic, operating within the average of 700 flights/day, having its runway length as a restricting factor to the types of aircrafts which operate there and its aprons as a possible limiting factor to its amount of aircrafts. The mentioned airport suffered changes on its apron structure but its capacity hasn’t increased and only disposes of 22 boxes to be used by regular aviation. The Civil Aviation Policy Maker has imposed to Congonhas Airport a particular policy of maximum time allowed to aircrafts standing on the parking boxes, but this policy seems not to be respected, what modifies the airport capacity. An analysis of the aircrafts behavior in Congonhas apron will be conducted, verifying the average length and the average time they stand on the queue by using ARENA, a computational simulation tool, presenting the logic which involves the aircraft behavior immediately after landing. In order to analyze the influence of the apron on the airport capacity, it has been created many scenarios which different possibilities of separation between the traffic on landing, considering the actual policy, and the parking time. Taking into account that its apron is a limiting factor to its operation capacity, the results of this work must provide ANAC consistent subsidies to develop HOTRAN, even as DECEA, through CGNA, will be able to develop the calculation of the authorized operations per hour and INFRAERO publicizes the real capacity of Congonhas airport. 1. INTRODUÇÃO O Aeroporto de São Paulo-Congonhas possui características peculiares, pois alia o maior movimento de tráfego aéreo do Brasil a uma estrutura aeroportuária limitada. Alguns fatores impedem o aumento de sua capacidade e, dentre eles, possivelmente o pátio da aviação regular. 193 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 O movimento do Aeroporto de Congonhas, entre os anos de 2003 a 2006, apresentou crescimento de 4,5% em seu tráfego (fig. 1.1). Porém, medidas estão sendo tomadas para limitar a sua operação. Figura 1.1: Evolução do tráfego aéreo no Aer. Int. de São Paulo - Congonhas Fonte: INFRAERO – 2007 O aeroporto sofreu alterações na estrutura de seus pátios, porém não aumentou sua capacidade, totalizando 22 boxes disponíveis para utilização pela aviação regular, sendo destes 12 com pontes de embarque e 10 considerados remotos. Ressalta-se que, de acordo com o tipo da aeronave, a operação fica restrita a determinadas posições de estacionamento, ou seja, o planejamento neste caso deverá ser ainda mais apurado. Sempre houve, então, a necessidade de limitar o tempo de operação nestes boxes, garantindo a rotatividade das aeronaves. A Portaria 188/DGAC, de 08 de março de 2005, define que somente será permitido, para vôos domésticos de passageiros, um máximo de 40 (quarenta) minutos de permanência nos boxes de estacionamento (ANAC, 2007). Porém, este tempo é normalmente excedido (fig. 1.2), fazendo com que outras aeronaves aguardem a liberação de box através de esperas no solo ou no ar, gerando custos adicionais às empresas aéreas (Bastos et al, 2007). Aliado ao incremento de custos das empresas, os atrasos diminuem o nível de serviço no aeroporto refletido na insatisfação dos passageiros, além de gerar aumento da carga de trabalho dos controladores. Várias ações foram e estão sendo realizadas, modificando as características das operações no Aeroporto de Congonhas, dentre elas: estudo para redução do número de operações regulares autorizadas de 38 para 33 operações/hora; limitação pela ANAC para operações regulares a vôos com distâncias limitadas; proibição de vôos chartes e fretados; restrições das operações somente a vôos diretos ponto a ponto, garantindo que o Aeroporto não seja ponto de distribuição, conexões e escalas de vôo e, que as operações regulares de partidas e chegada sejam restritas ao tempo máximo de 120 (cento e vinte) minutos (ANAC, 2007). 194 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 1.2 - Média de permanência nos boxes pelas aeronaves da TAM (março/2007) Fonte: Bastos et al, 2007 Transferir ou proibir vôos é impedir o crescimento da demanda sem buscar as causas que impactam a operação, além de fazer mau uso dos recursos disponíveis. O objetivo deste trabalho é calcular a capacidade de operação no pátio do Aeroporto de Congonhas, com base no tempo de permanência da aviação regular nos boxes, por meio da ferramenta de Simulação Computacional ARENA. 2. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA Um aeroporto é composto de duas partes: lado aéreo e lado terrestre. O lado aéreo inclui as pistas de pouso e decolagem, as faixas de pista, as pistas de táxi ou rolamento e o pátio de estacionamento das aeronaves. O lado terrestre inclui os gates, terminais, áreas de apoio como, comissaria, parque de combustíveis, hangares e outras facilidades aeroportuárias. Para efeito de análise operacional os pátios de estacionamento podem ser identificados como pátio de terminal de passageiros, pátio do terminal de cargas, pátio de permanência e pátio de manutenção. Este estudo se concentrou no pátio de terminal de passageiros, assim, o termo pátio referir-se-á a este tipo de pátio de estacionamento. O pátio tem sua localização geralmente nas adjacências do terminal de passageiros, ou de maneira fácil acessível a este, e é projetado para que possa, de maneira eficiente, atender as atividades de transferências de passageiros e de atendimento às aeronaves (limpeza, abastecimento, comissaria), que sucedem as operações de pouso e decolagem. Deve permitir os serviços de reabastecimento de combustível, embarque e desembarque de passageiros, bagagens e carga, serviços de manutenção da aeronave, entre outros, sem interferir com o fluxo de tráfego do aeródromo (ICAO, 2004). Estas atividades são desenvolvidas com as aeronaves estacionadas em posições específicas no pátio, denominadas boxes. Os boxes são espaços definidos destinados ao estacionamento de uma aeronave de cada vez e são projetados para acomodarem aeronaves de tipos específicos, dentro de uma faixa de dimensão, não podendo ser utilizadas por aeronaves que não se enquadrem nestas faixas (Ribeiro, 2003). Dependendo da distância e como são atendidas, as posições podem ser remotas ou próximas. As posições próximas são aquelas onde os passageiros desembarcam por meio de pontes ou escadas (neste último caso dirigem-se ao terminal de passageiros caminhando pelo pátio). 195 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Para as posições remotas o deslocamento do passageiro é feito por veículos terrestres (ônibus especializados). O Aeroporto de Congonhas tem um movimento em média de 700 aeronaves por dia, com uma estrutura de duas pistas de pouso e decolagem e três pátios, sendo dois para a aviação geral e um para a aviação regular (fig. 2.1). O pátio reservado para a aviação regular é o de número 3, possuindo, no período de análise, 24 boxes, porém somente com 22 disponíveis para utilização (fig. 2.2). Neste complexo sistema, o gerenciamento de boxes é realizado pela INFRAERO, definindo a fluidez do tráfego aéreo. Quando o número de boxes disponível se torna crítico, são tomadas providências para possibilitar o atraso das aeronaves em vôo com destino a Congonhas, com esperas, vetorações e reduções de velocidades, no intuito de evitar que estas aeronaves aguardem acionadas no solo a desocupação do box, podendo com isso lotar totalmente a estrutura do pátio, tornando o aeródromo impraticável (DECEA, 1994). Aeródromo impraticável é aquele cuja praticabilidade das pistas fica prejudicada devido à condição anormal (aeronave acidentada na pista, pista alagada, piso em mau estado etc.), determinando a suspensão das operações de pouso e decolagem (DECEA, 2007). Figura 2.1: Carta de Aeródromo de Congonhas Aeronaves Fonte: AIP/MAP-DECEA (2007) Figura 2.2: Carta de Fonte:AIP/MAP- 196 Estacionamento DECEA de (2007) Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Todos os tráfegos da aviação regular prosseguem após o pouso, inevitavelmente, pela taxiway November (N), situada dentro do pátio. Quando há necessidade de aguardar a desocupação de box, a aeronave se mantém acionada nesta pista de rolagem. Quanto aos critérios de ocupação, as aeronaves da TAM (exceção do Foker 100) e as aeronaves da GOL, e outras de categoria semelhante, ocupam qualquer box, independente de ser com ponte de embarque ou remoto. Já as aeronaves Foker100 da TAM e da Oceanair e as aeronaves ATR da Pantanal, e outras de categoria semelhante, ocupam somente os boxes remotos. 3. FERRAMENTA DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL ARENA O aumento da demanda do transporte aéreo nos últimos anos tem obrigado aeroportos do mundo todo a realizar grandes investimentos para aumentar a capacidade, melhoria da eficiência e controle dos congestionamentos. Em resposta a esta tendência, tem-se utilizado ferramentas de suporte a tomada de decisões (Confessore, 2005). A fim de avaliar, estudar e validar estes novos conceitos, pesquisadores de sistema ATM baseiam-se, principalmente, em modelos e ferramentas computacionais por meio de métricas relacionadas com segurança, capacidade e eficiência (Hupalo, 2003). Ferramentas de simulação são freqüentemente usadas para propiciar soluções em sistemas complexos, podendo ser utilizadas para auxiliar o desenho, o planejamento ou aperfeiçoar o sistema em estudo. Os resultados de simulação são comumente utilizados como “apoio à decisão” a fim de permitir tomar as melhores decisões possíveis baseadas nas informações disponíveis. Para grandes e complexos sistemas, tais como ATM em espaço aéreo e aeroportos, a simulação fast-time é a opção com menores custos para estudos alternativos e que reduz as opções de custo elevado em sistemas reais ou simulações em tempo real. Para a simulação de espaço aéreo, encontramos na literatura vários modelos para tráfego aéreo e aeroportos, tais como o TAAM e o SIMMOD, bastante eficazes na modelagem do lado terrestre aeroportuário. Na utilização do SIMMOD no tráfego aéreo da região de São Paulo, destacam-se Santana (2002), Hupalo (2003) e Moser (2007). Os modelos para representar os sistemas podem ser classificados em: modelos simbólicos (ou icônicos), analíticos e modelos de simulação. • Os modelos simbólicos (ou icônicos) são constituídos de símbolos gráficos (como retângulos e retas) utilizados para dar noção de seqüência ou outras relações entre entidades; • Os modelos analíticos basicamente podem ser reduzidos a um conjunto de equações que, ao serem resolvidas, permitem obter a solução esperada; Outra classificação pode ser feita em relação às variáveis com que os modelos de simulação trabalham. Os modelos de simulação que utilizam variáveis aleatórias são denominados Modelos Estocásticos, enquanto que os Modelos Determinísticos trabalham somente com variáveis do tipo não probabilísticas, e o resultado da simulação é sempre o mesmo, não 197 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 importando quantas vezes seja gerado. A grande maioria dos modelos de simulação é constituída por variáveis estocásticas (Chwif, 1999). O Programa de simulação ARENA é uma das ferramentas mais efetivas quando na modelagem e análises de negócios, serviços, processos ou fluxos. Ferramentas genéricas como o ARENA foram utilizadas por Almeida (1998) e Feitosa (2000) em simulações para terminais de passageiros e por Ribeiro (2003) em simulação de pátio de aeronaves. Ao analisar um modelo de simulação, pode-se distinguir, basicamente, três elementos: uma entidade, que é qualquer objeto de interesse do modelo; um atributo que é uma propriedade desta entidade; e atividade que é qualquer processo que pode causar uma mudança no modelo (Chwif, 1999). Portanto, neste modelo de simulação de operação de pátio de estacionamento, uma entidade são as aeronaves que entram no sistema (após o pouso), os portes das aeronaves são seus atributos e o seu processamento para estacionamento, uma atividade. 4. DESCRIÇÃO DA OPERAÇÃO NO AEROPORTO DE CONGONHAS No aeroporto de Congonhas, pode-se afirmar que mesmo com as condições meteorológicas próximas dos mínimos operacionais, a separação suficiente entre duas aeronaves na aproximação final é a distância entre o marcador externo (OM) e a cabeceira. Em média, a velocidade de aproximação final das aeronaves é de 130 KT (130 NM/h), sendo de 2.15 min. o tempo necessário para percorrer a distância do marcador externo até a cabeceira (fig. 4.2). No modelo apresentado neste trabalho, será utilizada a separação inicial de 3.64 min. em média e, posteriormente, será reduzida paulatinamente, porém permanecendo dentro do previsto em legislação em vigor, a fim de se verificar o impacto que será causado no pátio de Congonhas. Porém, quanto maior for o fluxo de aeronaves pousando, maior deverá ser o fluxo de aeronaves decolando, caso contrário o pátio de Congonhas rapidamente colapsará. Nem sempre é disponível aos planejadores fazer uso de soluções como construção de uma nova pista de pouso e decolagem, ou de um novo terminal de passageiros. Entretanto, a capacidade do sistema não aumenta somente com o desenvolvimento da infra-estrutura (pistas e terminais). A limitação está localizada no fator mais fraco do sistema onde está inserido, quer seja a capacidade de espaço aéreo, da pista de pousos e decolagens, pátio de estacionamento, do terminal de passageiros ou simplesmente a acessibilidade dos passageiros ao terminal. Como conseqüência, observa-se uma necessidade na busca de soluções, quer seja para o sistema completo – espaço aéreo até o acesso ao terminal – ou simplesmente para cada fator que a envolve (Santana, 2002). Um gerenciamento deficiente dos boxes dará a sensação de que o aeroporto está operando acima de sua real capacidade. Um fator que é fundamental para o aumento da capacidade de um aeroporto com pouca possibilidade de expansão em seu pátio é o tempo de permanência das aeronaves nos boxes. Atrasos que aparentemente podem ter pouca significância poderão gerar gargalos significativos em todo o sistema. 198 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Entretanto, outros aspectos têm que ser considerados na análise do problema de solo dos aeroportos e seus respectivos congestionamentos de tráfego. O movimento no solo em pátios e taxiways estão sujeitos a regulamentação e restrições relacionadas à segurança, tais como: separação entre aeronaves, prioridades de decolagens, pontos de cruzamento, abastecimento (Confessore, 2005). Figura 4.2: Carta de Aproximação por Instrumento Fonte: AIP/MAP-DECEA (2007) 5. COLETA DE DADOS Os dados utilizados para este trabalho foram disponibilizados pela INFRAERO e pelo DECEA. Os dados da INFRAERO dispunham da identificação do vôo, horários de pouso e decolagem e horários de entrada e saída do box. Estes dados foram complementados pelos dados de origem e destino disponibilizados pelo órgão de controle do Aeroporto de Congonhas. Para a análise de comportamento nos boxes, foram utilizados os dados diários no período de 01/01/2007 a 22/03/2007. Entretanto, devido ao período conturbado no tráfego aéreo, pósoutubro de 2006, e aos problemas de infra-estrutura da pista associada às condições meteorológicas, foi necessário uma análise criteriosa do comportamento destas informações. Para a simulação foram utilizados os tempos de espaçamento entre os tráfegos na aproximação final e o tempo de permanência das aeronaves nos boxes. Para a descrição do comportamento dos tráfegos na aproximação final foi utilizado o dia de 22/09/2006 do Aeroporto de Congonhas, por ser o dia de maior movimento deste ano e não ter sofrido influências de fatores meteorológicos, além de ser anterior à crise aérea que foi desencadeado com o acidente da aeronave da GOL. Foram retiradas da análise as aeronaves que após o 199 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 pouso seguirão para o pátio da aviação geral e os helicópteros que aproximam para pontos variados no aeródromo. O tempo de espaçamento entre os tráfegos da aviação regular na aproximação final durante todo o dia da análise se comportou como uma distribuição LogNormal, definida por 0.5LogN(4.14, 2.85). Este tempo equivale a 3,64min. em média de separação. As aeronaves foram divididas em três categorias de acordo com o comportamento das aeronaves nos boxes: 1. Airbus (TAM) - utilizam boxes com pontes de embarque e boxes remotos; 2. Boeing 737 (GOL) - utilizam boxes com pontes de embarque e boxes remotos; 3. Foker 100 (TAM e Ocenair) e ATR (Pantanal) – utilizam somente boxes remotos. 6. DESCRIÇÃO DA MODELAGEM Nesta modelagem foram considerados 22 boxes, sendo 10 em posições remotas e 12 com pontes de embarque disponíveis para 17 horas de simulação, tendo em vista que o Aeroporto de Congonhas opera das 06:00 às 23:00 horas local, conforme Portaria 188/DGAC. Foram criados três grupos de cenários: a. grupo 1- o tempo de permanência das aeronaves nos boxes foi o obtido no mês de janeiro de 2006 (Bastos et al, 2006), representado para as três categorias de aeronaves, respectivamente pelas seguintes médias e pelo desvios padrões: 1) 48.43 min. e 18.16 min.; 2) 41.75 min. e 15.27 min.; 3) 45.25 min. e 18.42 min.; b. grupo 2 - o tempo de permanência das aeronaves nos boxes foi o obtido no mês de março de 2006 (Bastos et al, 2006): 1) 52.18 min. e 18.28 min.; 2) 44.86 min. e 15.97 min.; 3) 48.75 min. e 19.84 min.; c. grupo 3 - o tempo de permanência das aeronaves nos boxes foi estipulado de forma a manter-se na maior parte do tempo dentro do estipulado na Portaria 188/DGAC: 1, 2 e 3) 38.00 min. e 05.00 min. Em todos os cenários foi utilizado o tempo de separação encontrado no comportamento de distribuição LogNormal. Entretanto, a fim de estabelecer cenários comparativos, foram gerados resultados que permitem observar uma redução paulatinamente na separação entre tráfegos, porém dentro do previsto de legislação em vigor. No caso de ocorrência de variáveis não observáveis, tais como: condições meteorológicas adversas e maiores separações empregadas pelo órgão de controle, geradas pelo controle de fluxo, entre outras, os cenários apresentados podem não fornecer a real capacidade dos pátios de Congonhas. Para a montagem do modelo é fundamental conhecer o cenário que se deseja explorar, reproduzindo de forma fidedigna a comportamento das entidades durante a simulação. No caso do Aeroporto de Congonhas foi possível reproduzir as estrutura aeroportuária, para que seja possível acompanhar a todo a instante o comportamente das aeronaves durante a simulação (fig. 6.1). 200 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 6.1: Modelagem do cenário com ferramenta ARENA A modelagem apresentada na figura 6.2 segue conforme abaixo descrita: Pouso de aeronaves: Define a separação entre os tráfegos na aproximação final; Porcentagem de Aeronaves: Define a porcentagem de operação de cada categoria de aeronaves; Decide 1: Decisão de destino. Se a aeronave for categoria 3, prosseguirá para boxes remotos, caso contrário prosseguirá para Decide 3; Decide 2: Decisão de necessidade de espera para as aeronaves categoria 3. Se os boxes das posições remotas estão ocupados, a aeronave prosseguirá para espera, caso contrário prosseguirá diretamente para o box; Espera de Aeronaves para Remotas: As aeronaves categoria 3 efetuarão espera para ingresso nas posições remotas, aguardando a desocupação de um box; Posições Remotas: As aeronaves permanecerão nas posições remotas o tempo estipulado na modelagem; Decide 3: Decisão de necessidade de espera para as aeronaves categorias 1 ou 2. Se os boxes das posições remotas e das pontes de embarque estão ocupados, a aeronave prosseguirá para espera, caso contrário prosseguira para um dos boxes disponível; Espera das Grandes Aeronaves: As aeronaves categorias 1 ou 2 efetuarão espera para ingresso nas posições remotas ou nos boxes com pontes de embarque, aguardando a desocupação de um box; Decide 4: Decisão se as aeronaves categoria 1 ou 2 prosseguirão para os boxes com pontes de embarque ou se prosseguirão para posições remotas; Pontes de Embarque: As aeronaves categoria 1 ou 2 permanecerão nos boxes com pontes de embarque o tempo estipulado na modelagem; Saída do Box: A aeronave desocupou o box iniciando o táxi. 201 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 6.2 - Modelagem Arena 7. RESULTADOS E ANÁLISE Todos os resultados apresentados nos gráficos abaixo constam no Apêndice. Os gráficos mostram resultados comparativos entre os três diferentes grupos de cenários com médias de aeronaves no sistema, fila média na remota, fila média na ponte de embarque, fila média total do sistema, tempo médio de espera na remota, tempo médio de espera na ponte de embarque e tempo médio de espera total no sistema. O tempo de separação entre as aeronaves inicia-se com fator 1, ou seja 100% da separação inicial, sendo reduzido paulatinamente seu fator em 0.05 (5%) a cada cenário, totalizando 33 cenários. Todos os resultados gerados para a distribuição de março apresentaram valores muito superiores aos demais. Quando utilizado o fator 0.50, o número de aeronaves no sistema ultrapassou a capacidade de resolução do programa. Portanto, os gráficos abaixo não apresentam valores para março utilizando o fator 0.50. O aumento da média de aeronaves no sistema é proporcional ao aumento do tempo de permanência das aeronaves nos boxes. A diferença entre as médias se manteve pouco significativa até que fosse utilizado fator 0.70. Com fator 0.65 a distribuição de março distanciou-se significativamente dos demais. Com fator 0.60, a distribuição de janeiro também se distanciou da portaria. O número médio de aeronaves no sistema só se tornou significativo para o tempo previsto na portaria quando utilizado fator 0.50, ou seja, reduzida a separação inicial para 50%. Pode ser observado que até o fator 0.65, janeiro comporta-se de forma similar a portaria (fig. 7.1). 202 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 7.1 - Número médio de aeronaves no sistema A fila média na Remota será sempre maior do que a fila média na ponte de embarque, pois todas as aeronaves da modelagem podem utilizar os boxes remotos, assim como na prática. Observa-se que para o fator 0.75 não existem filas significativas, porém para o fator 0.70 a fila de março é em média de 4 aeronaves. Com fator 0.60 janeiro distancia-se da portaria e março atinge o número médio de 25 aeronaves. As filas só começam a existir para a portaria com fator 0.5 (fig. 7.2). Figura 7.2 - Fila média de aeronaves nas posições remotas Embora a fila média de março utilizando fator 0.7 distancia-se das demais, ainda sim, mantém somente 0.4 aeronaves em média na fila. Com fator 0.55 março atinge 1.60 aeronaves em média na fila. A portaria somente atinge 0.40 aeronaves em média na fila quando utiliza fator 0.5 (fig. 7.3). 203 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 7.3 - Fila média de aeronaves nas posições com ponte de embarque Analisando a fila média total no sistema, março distancia-se dos demais quando utiliza fator 0.7 e atinge fila média de 25 aeronaves quando utiliza fator 0.6. Com este mesmo fator o mês de janeiro atinge a fila média de 10 aeronaves e com fator 0.55 atinge a fila média média de 15. Com fator 0.5 a portaria atinge a fila média de 13 aeronaves (fig. 7.4). Figura 7.4 - Fila média total de aeronaves no sistema Exatamente como no comportamento da fila média, o tempo médio de espera na remota será a todo momento superior ao tempo médio de espera nas pontes de embarque. Março atinge um tempo médio de mais de 30 minutos quando utilizado fator 0.7 e com fator 0.65 ultrapassa 40 minutos, porém, quando utilizado fator 0.6 atinge 120 minutos de tempo médio de espera. Janeiro se comporta de forma similar a portaria até o fator 0.65, entretanto, com fator 0.60 o tempo médio de espera na remota ultrapassa 50 minutos. A Portaria atinge tempo médio de espera significativo na remota somente quando atinge o fator 0.5 (fig. 7.5). 204 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 7.5 - Tempo médio de espera na fila para as posições remotas Março atinge o tempo médio de espera na Ponte de Embarque de 2 minutos quando utilizado fator 0.85. Janeiro distancia-se da portaria somente quando utilizado fator 0.7. Quando utilizado fator 0.6 janeiro atinge mais de 5 minutos de tempo médio de espera e chega a ultrapassar março, porém com fator 0.55 março distancia-se consideravelmente. A portaria atinge 4 minutos de tempo médio de espera quando utiliza fator 0.5 (fig. 7.6). Figura 7.6 - Tempo médio de espera nas posições com pontes de embarque O tempo médio de espera total no sistema se mantém relativamente equivalente até o fator 0.75. Quando utilizado fator 0.7 março atinge o tempo médio total de 40 minutos e com fator 0.6 atinge o tempo médio de 120 minutos. Janeiro atinge 60 minutos de tempo médio de espera quando utilizado fator 0.6 e a Portaria mantêm um tempo médio aceitável até o fator 0.55, porém quando utilizado fator 0.5 atinge o tempo médio de espera de 60 minutos (fig. 7.7). 205 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Figura 7.7 - Tempo médio total de espera no sistema 8. CONCLUSÃO A modelagem apresentada neste trabalho descreve o comportamento das aeronaves no procedimento de ocupação dos boxes no Aeroporto de Congonhas, de forma totalmente eficaz e contínua, ou seja, quando um box é desocupado imediatamente outra aeronave de categoria compatível ocupa a sua vaga. Na prática, o gerenciamento de ocupação dos boxes é feito pela INFRAERO e constantes mudanças são necessárias no planejamento, pois o operador se depara a todo o momento com fatores inesperados, como, por exemplo, demora excessiva de determinada aeronave ou não autorização do órgão de controle para início de táxi. É imprescindível a utilização de ferramenta computacional que auxilie os operadores da INFRAERO na tomada de decisões. É necessário também que a ANAC fiscalize o cumprimento do tempo máximo de permanência nos boxes determinado na Portaria 188/DGAC. Quando utilizado o tempo de permanência nos boxes previsto na portaria, o sistema se comportou com tranqüilidade até a utilização do fator 0.55 de redução na separação, que corresponde a 2.00 minutos de separação. Quando utilizado o tempo de permanência nos boxes de janeiro, o sistema se comportou de forma tranqüila até a utilização do fator 0.65, que corresponde a 2.36 minutos, acima da separação mínima necessária. Quando utilizado o tempo de permanência nos boxes de março, o sistema foi suportável até a utilização do fator 0.70, que corresponde a 2.58 minutos de separação, bem acima da separação mínima necessária. Assim, se as aeronaves mantivessem os tempos de permanência nos boxes previstos em legislação, as aeronaves poderiam ser seqüenciadas com separação reduzida e teríamos um aumento da capacidade de operação em 16,7% do tráfego em relação a março e de 9,9% em relação a janeiro. Outro fator muito importante é o impacto que uma não autorização de início de táxi causa em todo sistema. Muitas vezes quando o órgão de controle responsável em autorizar o plano de vôo impõe restrições definindo atrasos no solo, obriga a aeronave a manter-se no box, modificando todo o comportamento de capacidade do Aeroporto de Congonhas. Quando a quantidade de pousos aumenta é fundamental que a quantidade de decolagem também aumente para que a fluidez do tráfego seja mantida. Para isso, o planejamento dos serviços de tráfego aéreo deve manter a fluidez das aeronaves, pois poderá também dar a falsa impressão de saturação no aeroporto. 206 Sitraer 7 (2008) 193-208 – Tr. 373 Todavia, em períodos de possível saturação no pátio, devido a total ocupação dos boxes, ocorre uma coordenação prévia entre os órgãos de controle para aumento da separação entre tráfegos na aproximação. Com isso, a esperas que ocorreriam no solo são diluídas e repassadas para as aeronaves ainda em vôo, aumentando ainda mais o consumo de combustível, dando a falsa impressão de eficiência no gerenciamento de box e capacidade de pátio. O ARENA mostrou-se uma ferramenta computacional eficaz na criação da referida modelagem, podendo ser criada representação gráfica que mostrasse a validade do modelo e a ilustração da rotina das aeronaves. Se houver redução da separação entre as aeronaves na aproximação, aliada a alta rotatividade das aeronaves nos boxes, além do eficiente gerenciamento no processo de ocupação dos boxes por parte da INFRAERO, poderá ser percebido que existe ainda a possibilidade de crescimento do Aeroporto de Congonhas. Agradecimentos Os autores agradecem à INFRAERO e ao DECEA pela disponibilidade dos dados para análise. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, P.M.S (1998). Utilização de Simulação na Análise de Componentes de Terminais de Passageiros de Aeroportos Brasileiros. 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