DE EUCLIDES E OS ELEMENTOS AOS NOSSOS DIAS MARIA
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DE EUCLIDES E OS ELEMENTOS AOS NOSSOS DIAS MARIA DOLORES COSTA LHAMAS CARDOSO Email: [email protected] ORIENTADORA: Drª Giselle Costa De Sousa ([email protected]) RESUMO A proposta principal deste trabalho é apresentar Euclides e sua obra Os Elementos de uma forma ampla, porém com seu foco voltado para a aplicação da Geometria plana no universo atual da docência. Os Elementos é a obra matemática grega onde foram compilados, por Euclides de Alexandria, todos os conhecimentos matemáticos da época, sendo utilizado durante séculos como única fonte de estudos geométricos. Este trabalho permeia a época pré-Euclidiana − citando os antecessores de Euclides, os quais tiveram seus estudos e tratados demonstrados organizadamente nos Elementos − tratando ainda de alguns detalhes a respeito do período no qual a atividade foi desenvolvida, bem como, discorre sobre a época pósEuclidiana - quando é evidenciada a influência dos conceitos axiomáticos nas obras que surgiram posteriormente, principalmente no que concerne ao surgimento de novas Geometrias, chamadas de não-Euclidianas, que ocorreu enquanto os matemáticos, tentavam comprovar a inconsistência do quinto postulado. Para tanto, mediante uma pesquisa bibliográfica, descreve-se sumariamente o conteúdo dos treze livros da obra citando ainda outros trabalhos atribuídos a Euclides, alguns existentes e outros perdidos no tempo, além dos que são descritos como de Euclides, apesar de existirem inquirições a respeito do assunto. Discorre-se também sobre a metodologia utilizada para formular os Elementos aliada a uma explanação sobre as dificuldades encontradas pelos docentes atuais na utilização e abordagem da Geometria Euclidiana na sala de aula, seus principais motivos e algumas sugestões sobre conceitos pedagógicos que podem facilitar e dinamizar a Geometria. Para tanto, é proposta a utilização de um princípio lúdico, dinâmico e atual, mediante o uso do software livre GeoGebra como mecanismo de interatividade e entretenimento, auferindo uma maior leveza e dinamização as aulas de Geometria Plana, podendo ser usado em qualquer escola sem impingir ônus. Palavras-chave: Euclides. Elementos. Matemática. Axiomas. Didática. GeoGebra. 1 INTRODUÇÃO Com exceção de um texto de Autólico (360 a.C / 290 a.C) a respeito da esfera móvel, os livros de Euclides são os mais antigos tratados de matemática grega de que dispomos. Conforme consta no site Galeria ..., (1991, p.20-21) Talvez nenhum outro livro, além da Bíblia, se possa gabar de tantas edições em diversas línguas e certamente nenhuma outra obra matemática teve tanta influência como a exercida pelos Elementos: durante mais de dois mil anos, eles serviram como modelo de raciocínio lógico para todo o mundo, e pode afirmar-se que, durante todo esse tempo, todos os estudantes que aprenderam geometria, aprenderam-na de Euclides. Este trabalho tem como objetivo um maior conhecimento desta obra e de seu autor, além da exploração de seu conteúdo através dos recursos atualmente disponíveis para educação. 2 EUCLIDES DE ALEXANDRIA 2.1 Fontes históricas. Matemática grega pré-euclidiana Os problemas para o estudo da matemática grega principiam pelas fontes históricas disponíveis, pois os mais antigos manuscritos matemáticos gregos datam do século X d.C. Isto é, são cópias, mais próximas da nossa época do que da época de Euclides. A J.L. Heiberg, estudioso dinamarquês da antiguidade clássica, devemos as edições definitivas da maior parte dos textos matemáticos gregos. Seguindo a cronologia do período grego da Matemática (600 a.C. – 450 d.C.) indicada por H. Eves (2007), em sua Introdução à História da Matemática 2 apresentamos quatro contribuições da matemática pré-euclidiana e seus principais colaboradores: (i) Introdução e depois desenvolvimento significativos da geometria dedutiva (Tales de Mileto, 600 a.C.; Pitágoras de Samos, 540 a.C.); (ii) Início da teoria dos números (Escola Pitagórica, 540 a.C.); (iii) Descoberta das grandezas incomensuráveis (Escola Pitagórica, pré 340 a.C.); (iv) Sistematização da lógica dedutiva (Aristóteles, 340 a.C.). A essas contribuições, acrescentamos as lúnulas de Hipócrates, os paradoxos de Zenão e os trabalhos de Eudoxo. Mais informações são encontradas no livro Episódios da História Antiga da Matemática, de Asger Aaboe (1984). 2.1 A época helenística. Alexandria. O Museu A cidade de Alexandria, fundada por Alexandre em 332 a.C., no Egito, se tornou o centro mais suntuoso e cosmopolita do mundo. Com sua morte o império foi dividido em três partes independentes. Em 306 a.C., o controle da parte egípcia passou às mãos de Ptolomeu I, entre seus primeiros atos está à criação em Alexandria de uma escola ou instituto conhecido como Museu, chamado também de escola de Universidade de Alexandria. Neste sentido, Eves (2007, p.166) comenta: “Trata-se da primeira instituição do gênero e sua organização e objetivos logo vieram a se assemelhar aos das universidades atuais”. O Museu era um centro de ensino e investigação fundado e sustentado, principalmente, pelo estado e dispunha de salas de aula e de trabalho, de uma extraordinária biblioteca que incluía cerca de 400 000 papiros, de um observatório astronômico e de jardins botânicos e zoológicos. Para multiplicar os livros, numerosos copistas eram utilizados. 3 2.2 Euclides de Alexandria Euclides, o autor do texto de matemática mais bem sucedido e influente de todos os tempos – Os Elementos (em grego, Stoichia), não contou com a mesma fama de seu best seller, pois pouco sabemos sobre sua vida. Algumas edições de Os Elementos identificam erroneamente o autor como Euclides de Megara que era um discípulo de Sócrates. Nosso Euclides é conhecido como Euclides de Alexandria, porque lá foi chamado para ensinar matemática. Da natureza de seu trabalho podemos presumir que tivesse estudado com discípulos de Platão, ou na própria Academia. Proclo (410-485 d.C.), que escreveu comentários sobre Os Elementos, foi obrigado a apresentar raciocínios de plausibilidade para afirmar que Euclides viveu durante o reinado de Ptolomeu I Sóter do Egito (304-285 a.C.). Ele diz ainda que Euclides precedeu Arquimedes (287-212 a.C.), pois Arquimedes cita Os Elementos, que foi posterior a Eudoxo e Taeteto, pois os trabalhos destes foram incorporados ao livro Os Elementos. Existe uma história, citada por Carl Boyer (1996) em sua História da Matemática ligando Euclides a um rei Ptolomeu. Segundo Aaboe (1984) Proclo conclui que esse soberano deve ser Ptolomeu I. A matemática grega pré-euclidiana apresenta um desenvolvimento rápido, inspirado e acrítico (depois de Tales de Mileto); em seguida, um estágio de crítica e de dúvidas e, finalmente, uma disposição e polimento cuidadosos das várias partes. A Euclides competiu essa última parte, na obra Os Elementos, apresentou de maneira lógica e racional, podemos até dizer didática, todo o conhecimento matemático acumulado por seus antecessores. Depois de Euclides e ainda dentro do período grego da matemática, destacamos as seguintes contribuições: (i) germes do Cálculo integral (Arquimedes, 300 a.C.); (ii) Geometria das secções cônicas (Apolônio, 225 a.C.); (iii) Geometria prática (Herão, 75 d.C.); (iv) Trigonometria (Hiparco, 140 a.C.; Menelau, 100 d.C.; Ptolomeu, 150 d.C.); (v) Teoria dos números, sincopação da Álgebra (Diofanto, 250 d.C.). Percebemos nitidamente a influência do trabalho de Euclides. Não só devemos considerar o Euclides de Os Elementos como um excelente sistematizador de questões já conhecidas, pois a ele se deve, também, uma grande quantidade de resultados próprios de investigação (WUSSING, 1998). 4 3 OBRAS DE EUCLIDES Além da obra os Elementos, muitos foram os trabalhos e tratados atribuídos a Euclides de Alexandria, segundo Lancon Jr (1995), mas poucas alcançaram os dias de hoje, relataremos a seguir os trabalhos que sobreviveram ao tempo e os que são tratados como perdidos. 3.1 Trabalhos existentes de Euclides Lancon Jr (1995) em seu texto cita como trabalhos sobreviventes de Euclides: Data, On Divisions of Figures, Phaenomena, e Optics. Todos são encontrados preservados, como da forma original, em Grego exceto On Divisions, que foi parcialmente preservado em árabe. Todos seguiram a mesma estrutura de os Elementos, tendo sido rigorosamente definidas e provadas todas as proposições matemáticas existentes. • Data – Obra intimamente relacionada com os quatro primeiros livros dos Elementos. É um conjunto de diversas definições seguidas por 94. Data também é considerada importante no desenvolvimento da álgebra geométrica dos gregos é abordado na discussão do Livro II dos Elementos. • On Divisions of Figures – obra que sobreviveu numa tradução árabe, que consiste de 36 proposições relativas à divisão de diferentes figuras. Este trabalho é semelhante às Divisions of Figures feito por Heron de Alexandria, por escrito de, talvez, o século III dC, exceto pela parte relativa a discussão sobre cálculos numéricos feita por Heron. • Phaenomena - é um tratado sobre sphaeric, ou seja, um estudo da geometria esférica, a fim de explicar movimentos planetários, bastante semelhante On the Moving Sphere, de Autolycus de Pitane, que floresceu em torno de 310 aC No entanto, as proposições de Autolycus são mais abstratas do que as de Euclides, que utiliza os termos convenientes: astronômico, horizonte e círculo do Zodíaco, na sua apresentação. É no Phaenomena que Euclides faz a 5 primeira observação de que uma elipse pode ser obtida a partir do corte de um cilindro • Optics – é o mais antigo tratado sobre Ótica escrito em grego. Nas suas definições Euclides segue a tradição platônica, onde a visão é causada por raios discretos que emanam do olho. São 36 proposições onde Euclides relaciona o tamanho aparente de um objeto para a sua distância a partir do olho, e investiga a aparência das formas de cilindros e cones quando olhadas de diferentes ângulos. 3.2 Trabalhos perdidos de Euclides Dos tratados perdidos atribuídos a Euclides, quatro foram inquestionavelmente suas obras: Conics, Porisms, Pseudaria, and Surface Loci. ( Lancon Jr, 1995). • Conics – é uma compilação feita por Euclides, a qual segundo Pappus, foi dado o crédito para Aristaeus, um contemporâneo, pelas descobertas sobre cônicas. • Porisms - Tratado que continha 171 teoremas e 38 lemmas. Tem sido sugerido que todo o trabalho foi um subproduto das investigações de Euclides quando estudava as cônicas. Acredita-se que este trabalho poderia conter aproximações à Geometria Analítica. • Pseudaria – também conhecido como o livro de falácias, no qual ele mostrou como evitar erros no raciocínio usando uma contradição para chegar a uma verdade. • Surface Loci - A última das obras de Euclides a serem incluídas no Treasury of Analysis foi Surface Loci. Não se sabe se este título referiase à loucos por superfícies ou superfícies para loucos. Em qualquer caso, as provas parecem favorecer a interpretação de que os loucos eram as próprias superfícies. Alguns acreditam que Loci podem se referir as quadricas complexas (paraboloids, hyperboloids, prolate spheroids), porém, nenhum texto sobreviveu para confirmar qualquer hipótese. 6 3.3 Outros trabalhos De acordo com a pesquisa de Lancon Jr (1991) algumas obras perdidas como Catoptrica e algumas outras sobre música e mecânica são atribuídas a Euclides, porém deixam dúvidas quanto a veracidade da autoria. • Catoptrica - sobre a teoria dos espelhos é atribuída a Euclides por Proclus. É geralmente aceito, no entanto, que Proclus errou, pois é mais provável que este trabalho seja de autoria de Théon de Alexandria (IV século dC), que editou algumas obras de Euclides. (Bulmer-Thomas, p. 430; Heath, Greek, II, p. 526-8 apud LANCON JR, 1995). • Proclus também atribui a Euclides um trabalho chamado Elementos da Música. Os dois tratados existentes, identificados com este trabalho foram: Introduction to Harmony e Sectio Canonis (Division of the Scale). O primeiro é baseado em uma teoria musical da Aristoxenus, considerado como sendo o trabalho do seu aluno Cleonides. Este último trabalho é baseado na teoria Pitagórica da razão matemática entre notas musicais. Não é um tratado muito importante e acredita-se que tenha sido escrito baseado em originais de Euclides. (Bulmer-Thomas, p. 430-1 apud LANCON JR, 1995). • Vários trabalhos sobre mecânica são atribuídas a Euclides quando baseados em fontes Árabes. On the Heavy and the Light, que contem nove definições e cinco proposições Noções aristotélicas sobre corpos em movimento e o conceito específico de gravidade. Book on the Balance trata a teoria da alavanca, escrito de uma forma semelhante ao formato usado por Euclides, contendo uma definição, dois axiomas, e quatro proposições. Um terceiro fragmento, sobre os círculos descritos pelo final do movimento de alavanca, contém quatro proposições. Estas três obras são complementares entre si, de tal forma que tem sido sugerido que são remanescentes de um único tratado sobre mecânica, possivelmente escrito por Euclides. (Bulmer-Thomas, p. 431; Heath, Greek, I, p. 445-6 apud LANCON JR, 1995). Mas, de todas as obras de Euclides os Elementos foi a que melhor sobreviveu ao tempo, principalmente pelas diversas cópias que foram feitas e das diversas traduções a que foi submetida. É concernente mencionar que, também, devido a esses fatos alguns pequenos fragmentos de idéias podem ter se perdido no 7 decorrer de todo processo, porém ainda é a mais completa e mais bem estruturada obra da época conhecida por nós. Faremos, a seguir, uma breve explanação sobre ela. 3.2 Os Elementos Os textos de maior parte dos matemáticos gregos não chegaram aos nossos dias na sua versão original, uma vez que eram escritos em papiro e os rolos de papiro eram muito frágeis e com o constante manuseio deterioravam-se. Apenas os trabalhos considerados importantes, como os Elementos de Euclides, e que foram copiados freqüentemente é que resistiram até aos nossos dias. (Friberg, 2005 apud LAGARTO, 2002). Os treze livros da obra podem ser comparados atualmente a capítulos de um livro, que de acordo com Souza (2004) e possuem o seguinte conteúdo: • Livro I: Definições, axiomas e postulados; os três casos de congruência de triângulo; teoria das paralelas; relações entre áreas de paralelogramos, triângulos e quadrados. A proposição quarenta e sete (penúltima) é o conhecidíssimo Teorema de Pitágoras. • Livro II: Trata o que usualmente se designa por álgebra geométrica ou geometria das áreas. Num total de 14 proposições. • Livro III: Consiste em trinta e nove proposições contendo muitos dos teoremas conhecidos sobre ângulos, círculos, cordas, secantes e tangentes. • Livro IV: Construção de alguns polígonos regulares, bem como a sua inscrição e circunscrição num círculo. • Livro V: Teoria das Proporções de Eudoxo. • Livro VI: Aplicação dos resultados do Livro V à geometria plana. • Livros VII, VIII e IX: Livros consagrados à Teoria de Números. • Livro X: Versa sobre as grandezas irracionais. É o Livro mais extenso deste conjunto. • Livros XI, XII e XIII: Sobre geometria tridimensional. 8 Ressaltemos que em toda obra estão contidas, proposições e teoremas com demonstrações irrefutáveis daquilo que os seus antecessores tinham mostrado de uma forma descuidada, porém Euclides não deve ser considerado apenas como um compilador, mesmo que tenha sido esta sua principal função no decorrer da obra e sua colaboração para a História, mas deve ser visto como um inovador na forma de pensar matemática. Conforme consta a seguir. Os Elementos de Geometria de Euclides, reunião sistemática das proposições sobre esta ciência que no seu tempo se conheciam e de outras que ele próprio inventou; obra admirada pelos matemáticos e filósofos de todos os países e de todos os tempos pela pureza do estilo geométrico e pela concisão luminosa da forma; modelo lógico para todas as ciências físicas pelo rigor das demonstrações e pela maneira como são postas as bases da Geometria em conceitos fundamentais, apresentados sob o nome de definições, axiomas e postulados. Nesta mesma obra aparece, sob forma geométrica, a origem da Álgebra, com a resolução das equações do segundo grau. É bem sabido que os antigos matemáticos gregos, tendo a noção de grandeza incomensurável, mas não tendo a noção correspondente de número irracional, constituíram a Matemática sob forma geométrica, considerando em vez de números, segmentos de recta, para assim abrangerem nas suas teorias as grandezas comensuráveis, e portanto os números racionais e as grandezas incomensuráveis. As últimas páginas do livro segundo dos Elementos do grande lógico de Alexandria contêm, com efeito, os teoremas necessários para a construção das raízes das equações do segundo grau definidas geomètricamente. Foram estes os primeiros vagidos da Álgebra, que depois, tomando forma algarítmica e crescendo mais e mais, levou nas suas asas às alturas, em vôos soberbos, a Geometria, a mãe que a criara. (TEIXEIRA, 1934, p.1) Comentaremos, a seguir, a maior inovação introduzida por Euclides na época, sua metodologia. 9 4 A METODOLOGIA DE EUCLIDES As noções de verdade de Platão e Aristóteles (384-322 AC) estiveram presentes em Os Elementos. Para Platão a realidade era o que pensamos. Para Aristóteles era também o que percebemos. Definições, postulados, axiomas e proposições (teoremas e problemas) e processo logico-dedutivo para chegar a novos conhecimentos com base nos anteriores e seus pressupostos, consistem num reflexo desses discursos, uma forma fazer ciência: a razão e a visão, ou seja, axiomática e diagramas explicativo-demonstrativos. (MOURA, 2003) Os antigos matemáticos faziam distinção entre postulado e axioma. Axioma é um conceito em todos os ramos do saber, ou seja, uma afirmação assumida como auto-evidente. Postulado é uma hipótese relativa a um saber peculiar a uma ciência em particular. (Heath, Elements, I, p.117-9. apud LANCON JR, 1991). Não se tem precisão sobre quais afirmações Euclides assumiu como seus postulados e axiomas, pois variam conforme as traduções utilizadas como base de informações. (AMARAL, 2003). O quinto postulado de Euclides é o mais polêmico de todos. Muitos matemáticos apresentaram preocupação devido ao fato da propriedade axiomática da independência, não estar tão evidente uma vez que o ponto de interseção poderia ocorrer a milhares de quilômetros foi a tentativa de confrontar esse postulado que originou o princípio da geometria não Euclidiana. O padre jesuíta G. Saccheri (1667 - 1733) provavelmente foi o primeiro a ensaiar uma abordagem inteiramente nova. No seu último livro Euclides ab omni naevo vindicatus tentou utilizar a técnica de redução ao absurdo, admitindo a negação do postulado do paralelismo de Euclides com vista a obter algum absurdo ou contradição. Sem o saber Saccheri tinha descoberto a geometria não-euclidiana. O trabalho de Saccheri permaneceu ignorado durante século e meio. Outros grandes matemáticos, como Karl Gauss (1777 - 1855), o príncipe dos matemáticos, redescobriu e desenvolveu a geometria em bases semelhantes às de Saccheri (negando o quinto postulado), sem nunca chegarem a uma contradição (POMBO, 2000). 10 5 APRENDENDO E ENSINANDO GEOMETRIA ATRAVÉS DO LÚDICO Pesquisas feitas nos últimos 10 anos com professores atuantes, mostraram que muitos têm dificuldades para solucionar problemas e explicar conteúdos relacionados à geometria e a trigonometria, dificuldades decorrentes da deficiência no ensino desses assuntos nas décadas de 70 e 80, devido a lacuna deixada na década de 60 quando a axiomática Euclidiana foi substituída pela Boubarkiana, eliminando o ensino da geometria e trigonometria dos livros didáticos, voltando a vigorar apenas na década de 80, momento em que se reconhece, novamente, a importância relevante da geometria Euclidiana na formação do aluno. Desde o início do século XX as aulas de Matemática têm sido na maioria das vezes limitadas ao estudo dos conteúdos trazidos nos livros didáticos, onde os métodos de ensino são mais centrados na memória, fazendo assim vigorar no aluno um comportamento de passividade e conformismo. Acreditamos que na realidade a melhor opção seria dosar a memória, lógica e criatividade, colocando em prática atividades que suscitam a curiosidade e desencadeiam um comportamento de pesquisa, tornando o aprendizado muito mais eficaz, já que o ensino lúdico e desafiador prolongam a aprendizagem para fora do ambiente escolar, estendendo-a pelo cotidiano do aluno. Se faz mister, portanto, um bom planejamento por parte do docente para que não seja imposto um único objetivo didático, voltado apenas para o conteúdo, mas também objetivos comportamentais, desenvolvendo métodos que exijam mais habilidades motoras, lógicas e de raciocínio, estimulando assim a inteligência, a criatividade, a mobilidade e a maturidade. Em relação à Geometria, em particular, é de suma importância que os alunos vejam sua geometria aplicada ao seu cotidiano. Há inúmeras formas de trabalhar a Geometria de forma criativa e interessante, afinal aspectos geométricos podem ser vislumbrados em vários ambientes e situações cotidiana, basta que para tal o professor planeje sua aula, incluindo atividades práticas e inovadoras conforme indicam os Parâmetros Curriculares Nacionais (...), entre elas, jogos, aulas de campo, textos históricos sobre a matemática, além do uso de softwares livres como GeoGebra, cuja potencialidade abordaremos posteriormente, dando ao aluno uma origem plausível e palpável daquilo que ele está aprendendo. 11 Desta forma a matemática deixará de ser algo rígido, chato e sem finalidade, e tanto o professor quanto o aluno terão o prazer da descoberta. Assim, para os professores que declaram não terem aprendido muito bem geometria e sentem dificuldade para explorar o conteúdo em sala de aula, o melhor é expor suas dúvidas, realizar atividades de maneira autônoma, refletir e socializar seus saberes construídos, tanto nos momentos da formação acadêmica, quanto na sua prática docente. Torno a enfatizar que os usos de softwares livres podem auxiliar muito no desenvolvimento pessoal, no que tange a geometria. Explanaremos a seguir sobre o uso de softwares livres, em particular o GeoGebra. 6 EXPLORANDO O GEOGEBRA O GeoGebra é um software disponibilizado gratuitamente, onde aplicamos o conhecimento da geometria e a álgebra dinâmica e didaticamente incluindo a possibilidade do lúdico que se apresenta como mais atraente. Existe um esforço do Ministério da Educação com a finalidade de fazer com que todas as escolas públicas possuam um laboratório de informática. Inicialmente era dispendioso mantê-lo em funcionamento, pois os sistemas operacionais oferecidos no mercado tinham que ser registrados e esses registros eram caros, hoje, porém esse problema foi resolvido com a utilização do Linux, o qual existe, inclusive, numa versão especial chamada Linux Educacional que possibilita a utilização de vários softwares livres voltados para educação, especificamente, entre eles encontra-se o GeoGebra, que é de fácil instalação e devido ao nível de interatividade com o usuário torna-se de fácil manuseio e entendimento, podendo ser usado desde a mais tenra infância, como ferramenta para fazer desenhos, assim como o paint brush, ou pelos discentes mais avançados para cálculos e demonstrações dos mais diversos níveis, proporcionando um entendimento visual que é praticamente impossível quando se usa apenas quadro e giz ou papel e as ferramentas de desenho comuns. A criança provavelmente terá mais facilidade no manuseio da ferramenta, pois é mais curiosA e não tem medo de explorar o novo. Com uma pequena orientação ela será capaz de visualizar a Geometria de uma forma natural. Através de 12 pequenas tarefas como unir os pontos determinados ela será levada a criar figuras geométricas que poderão ser exploradas pelo professor da forma que melhor lhe aprouver. Aos professores que possuam deficiência no trato com a Geometria também poderão ser beneficiados pelo uso da ferramenta para explorar e intensificar seus estudos, incluindo elaboração de aulas, figuras para provas e material didático. Os alunos mais graduados poderão visualizar demonstrações matemáticas, as quais serão assimiladas mais facilmente, além da exploração de uma variedade de casos e exemplos que apenas com lápis e papel seriam demasiadamente cansativos. Atualmente ferramentas como o GeoGebra são utilizadas em trabalhos sobre Geometria, como por exemplo, as ilustrações existentes no site Euclid’s Elements (JOYCE, 1998), as quais foram feitas com Geometry Applet um software similar, que permite ao usuário uma intervenção direta na figura, o que propicia melhor compreensão e fixação do conteúdo. Apontamos ainda o próprio site do do GeoGebra onde existem vários exemplos de trabalhos direcionados para aprendizagem de matemática e estatística. Devido a essa dinamização do estudo da Matemática podemos concluir que a matéria dita de menor interesse para a maioria dos alunos e professores pode tornar-se a mais prazerosa e interessante das aulas. 7 CONCLUSÃO A partir do percurso histórico de Euclides e os Elementos aos nossos dias enveredamos num conhecimento da época pré-euclidiana e da influência que Euclides exerceu sobre seus sucessores passando por elucidações de sua biografia e obras literárias a fim de discorremos sobre a importância da própria Geometria e seu ensino. Neste sentido, podemos evidenciar também que Euclides compilou todo conhecimento matemático existente em sua época de uma forma axiomática, lógica e até didática. Utilizou-se de conhecimentos pré-existentes já demonstrados adequando-os a uma linha lógica de pensamentos matemáticos, mas também demonstrou vários teoremas visando uma maior consistência lógica. 13 De fato, o trabalho executado por Euclides nos apresenta uma visão Platônica e Aristotélica. Ele era mais Platônico quando formulava proposições cujos encadeamentos mentais eram suficientes para evidenciar a verdade e era mais Aristotélico quando, por necessidade ou por sistema, construía diagramas que tornavam a verdade (mais) acessível. Frente a força e importância dos Elementos e do próprio Euclides discutimos a postura do professor de matemática, perante a Geometria, em sala de aula, as dificuldades encontradas e então sugerimos algumas alternativas para dinamizar o processo da busca de conhecimento, como o uso de softwares livres voltados ao ensino de Geometria, que poderão tornar auxiliar a vida do discente e do docente, fazendo com que seja despertado o interesse pessoal de cada um pela Geometria, proporcionando maior fixação e entendimento do conteúdo apresentado. 14 REFERÊNCIAS AABOE, Asger. Episódios da História Antiga da Matemática. 1984. Coleção Fundamentos da Matemática Elementar, Sociedade Brasileira de Matemática. Tradução: João Bosco Pitombeira de Carvalho. AMARAL, AMM, Euclides e os Elementos I. 1, 2003. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/amma/af18/t1/t1.htm>. Acesso em 27 mai. 2009. BOYER, Carl. História da Matemática. 2. ed. 1996. São Paulo: Editora Edgard Blücher LTDA. Tradução: Elza F. Gomide. DANTE, Luiz Roberto. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. Editora Ática, 2002. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. 2007. Campinas, São Paulo: Editora Unicamp. GALERIA de Matemáticos do Jornal de Mathematica Elementar, 1991, pág. 20-21. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/amma/af18/t1/t1.htm>. Acesso em: 28 mai. 2009. JOYCE, David E. Euclid`s Elements. 1998. Disponível em:< http://aleph0.clarku.edu/~djoyce/java/elements/elements.html > Acesso em 27 mai. 2009. LANCON JR, Donald, An Introduction to the Works of Euclid with an Emphasis on the Elements. 1991. Disponível em: < http://www.obkb.com/dcljr/euclid.html#def>. Acesso em: 27 jun. 2009. LAGARTO Maria João, Historia da Matemática – Historia dos Problemas, História da Matemática Grega. 2002. Disponível em:<http://www.malhatlantica.pt/mathis/Grecia/Grecia.htm>. Acesso em: 27 jun. 2009. MOURA, António N. R., Euclides e os seus Elementos. 2003. Disponível em: <http://www.mat.uc.pt/users/rsdmoura/accao18trab1.htm> Acesso em 27 mai.2009. 15 POMBO, Olga. O Quinto Postulado, Works in Progress, Grandes Matemáticos, Euclides, Os Elementos . 2000. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/euclides/index.htm > Acesso em 27 mai. 2009. SOUZA, José Miguel, Os Elementos de Euclides. 2004. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/miguel/histmat/cursoapm/elementos.htm >. Acesso em 27 mai. 2009. TEIXEIRA, Francisco José, História das Matemáticas em Portugal. 1934. Disponível em: < http://www.mat.uc.pt/~jaimecs/livrogt/livrogt.html>. Acesso em 27 jun. 2009. WUSSING, H. Lecciones de Historia de las Matemáticas. Madrid: Siglo XXI de España Editora S.A. , 1998. . 16
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