2002 CÂMARA, Sônia Aparecida Viana
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2002 CÂMARA, Sônia Aparecida Viana
SÔNIA APARECIDA VIANA GAMARA SURTOS DE TOXINFECÇÕES ALIMENTARES NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL,NO PERÍODO DE 1998 - 001. prcc CAMPO GRANDE 2002 SONlA APARECIDA VIANA GAMARA SURTOS DE TOXINFECÇÕES ALIMENTARES NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, 1998 - 001. Monografia apresentada à Escola de Saijde PiJBLicA " DR. Jorge David Nasser", Campo Grande -MS, para obtenção do título de ESPECIALISTA. Ál^A DE CONCEN'1'RAÇÂO; Gestão em Saúde (JRIENTAlXíR : PROF. MIÍSTRE EUGÊNIO O . M. DE BARROS . CAMPO GRANDE 2002 gitlOTECÂ CIÊNCIAS DA SAÜDI í>r<.Sérgio ^mica AGRADECIMENTOS Os meus sinceros agradecimentos ao Prof. Mestre Eugênio O . M . de Baixos pela orientação prestada. Ao Dr. João Cândido da Câmara Neto, Mestrando na Faculdade Paulista de Medicina, médico pediatra do Hospital Universitário da UFMS, pela relevante contribuição para a realização desta monografia . Aos colegas do LACEN, Gabriel e André, pelas contribuições em informática . LISTA DE TABELAS Pag TABELA 01. Distribuição anual dos surtos quanto à confirmação, MS, 1998-001 38 TABELA 02. Microrganismos identificados nos surtos confirmados,MS,1998-001 41 TABELA 03. Espécies de Salmonellas identificadas nas amostras remetidas para IAL/SP, 1998-001 TABELA 04. Alimentos envolvidos nos surtos, MS, 1998-001 41 42 TABELA 05. Classificação, quanto a RDC N° 12 / 01/ANVISA, dos alimentos envolvidos nos surtos, MS, 1998-001 43 TABELA 06. Grupos de alimentos e Número de amostras para cada microrganismo isolado, MS, 1998-001 44 TABELA 07. Alimentos envolvidos, com respectivos microrganismos identificados nos surtos, MS, 1998-001 45 TABELA 08. Ocorrência dos surtos, MS, 1998-001 46 TABELA 09. Municípios notificadores de surtos, MS, 1998-001 47 TABELA 10. Distribuição anual do número de pessoas expostas, doentes e hospitalizadas, nos surtos com FIE ,MS,1998-001 49 TABELA 11. Faixa etária e gênero dos surtos com FIE, MS, 1998-001 50 TABELA 12. Distribuição mensal de surtos em MS, 1998-001 51 TABELA 13..Freqüência e percentual de surtos de DTA ocorridos em cada estação do ano, MS, 1998- 001 52 LISTA DE FIGURAS Pág. Figura 01.. Amostras positivas e negativas dos surtos,MS, 1998-001 37 Figura 02. Distribuição anual dos surtos notificados quanto à confirmação no MS,1998001 Figura 03. Surtos notificados quanto à confirmação, MS, 1998-001 38 39 Figura 04.Surtos quanto à apresentação de Ficha de Investigação Epidemiológica ,MS, 1998-001 39 Figura 05. Evolução anual de surtos sem Ficha de Investigação Epidemiológica, MS, 1998001 40 Figura 06. Surtos quanto a origem ,MS, 1998-001 40 Figura 07. Freqüência e Percentual de Municípios Notificadores de surtos, MS, 1998- 001 48 Figura 08.Total de Pessoas expostas dos surtos, hospitalizadas ou não, MS, 1998-001 49 Figura 09. Percentual por gêneros acometidos nos surtos, MS, 1998-001 51 LISTA DE ABREVIATURAS R. cereus - BaciUtis cereus Clperfringem - Clostridium perfringem E. coli - Esherichia coli EaggEC - Escherichia coli eníeroagregativa EHEC - Escherichia coli enterohemorrágica EIEC- Escherichia coli enteroinvasiva EPEC - Escherichia coli enieropatogênica ETEC - Escherichia coli enterotoxigênica S. aureus - Síaphylococcus aureus S. boydi - Shigella boydi S. chesíer- Salmomlla chester S. chromogens - Síaphylococcus chromogens S. delphini - Síaphylococcus delphini S. dyseníeríae - Shigella dyseníeríae S. eníerítidis- Salmonella eníeriíidis S.flexneri - Shigellaflexneri S. gatUnarum - Salmonella gallinarum S. hyicus - Síaphylococcus hyicus S. oranienburg - Salmonella oranienburg S. pullorum - Salmonella ptdlorum S. shieiferi - Salmonella shieiferi S. sonnei - Shigella sonnei S. typhinmrmm - Salmonella íyphimurium LISTA DE SIGLAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APHA - American Public Health Association CDC - Center for Disease Control CENEPI - Centro Nacional de Epidemiologia CVE - Centro de Vigilância Epidemiológica DBQ - Divisão de Bromatologia e Química DTA - Doenças Transmitidas por Alimentos FDA - Food and Drug Administration FIE - Ficha de Investigação Epidemiológica HACCP - Hazard Analysis Criticai Control Points HUS - Hemolytic Uremic Syndrome IAL - Instituto Adolfo Lutz ICMSF - International Commission on Microbiological Specification for Foods LACEN - Laboratório Central de Saúde Pública MS - Mato Grosso do Sul OMS - Organização Mundial da Saúde PACS - Programa de Agente Comunitário de Saúde PORT. GM - Portaria do Gabinete Ministerial PSF - Programa de Saúde da Família RDC - Resolução da Diretoria Colegiada RIMSA - Reunião Interamericana Ministerial de Saúde Ambiental SES - Secretaria Estadual de Saúde SIH - Sistema de Informação Hospitalar SIM - Sistema de Informação de Mortalidade SMA - Setor de Microbiologia de Alimentos SP - São Paulo SUS - Sistema Único de Saúde TSST - Toxina da Síndrome do Choque Tóxico TST- Toxic Shock Toxin UFC/g - Unidades Formadoras de Colônia por grama UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul VE - Vigilância Epidemiológica VEDTA - Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos SUMARIO Pág. 1. INTRODUÇÃO 13-17 2. REVISÃO LITERÁRIA 18-33 2.1 Staphylococcus aureus 19-21 2.2 Bacillus cereus 22-23 2.3 Clostridium perfringens 23-25 2.4 Salmonella 25-29 2.5 ShigeUa. 29-31 2.6 Escherichia coli 31-33 3. OBJETIVOS 34-35 4. METODOLOGIA 36-37 5. RESULTADOS 38-53 6. DISCUSSÃO 54-62 7. CONCLUSÃO 63-64 8. RECOMENDAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS ANEXO N.01 Ficha de Investigação Epidemiológica 65 66-74 75-79 76-77 ANEXO N.02 Planilha para Coleta de Dados 78 ANEXO N.03 Planilha para Coleta de Dados de Faixa etária/Sexo 79 RESUMO Este trabalho foi realizado com objetivo de conhecer o perfil epidemiológico dos surtos de toxinfecção alimentar no Estado de Mato Grosso do Sul, a partir da identificação dos agentes etiológicos, possibilitando adoção de medidas efetivas de prevenção e controle. Foram avaliados os resultados laboratoriais e Fichas de Investigação Epidemiológica , que acompanharam amostras de alimentos envolvidos nos surtos, examinados pelo Laboratório Central de Saúde Pública Estadual, no período de 1998 - 001. Foram analisadas 156 amostras de alimentos,64(41%)positivas e 92(59%)negativas. Notificou-se sessenta e três surtos, trinta e nove(62%)confirmados laboratorialmente e vinte e quatro (38%)não confirmados; vinte e dois(35%)não apresentaram FIE e quarenta e um (65 %)apresentaram; trinta e sete (95%)foram de origem biológica e dois(5%) química. Os microrganismos isolados foram ; Staphylococcus coagulase + em dezoito surtos(46,2% ), Salmonella sp em quatorze (35,9% ), E. coli em doze(30,8%),Cl. perfringem em cinco (12,8%), B. cerens em quatro (10,3%) e nenhum surto com Shigella sp. Observou-se prevalência da S. enteritidis (81,4%). Os principais locais de ocorrência foram; residência (47,6% ), estabelecimentos comerciais (15,9% ), escolas ou creches (12,7% ), refeitórios de empresa (7,9% ), festas (4,8%),instituições (1,6%), clubes (1,6%) e 7,9% não relatados. De acordo com a RDC N°.12/2001/ANVISA, os alimentos envolvidos foram distribuídos nos seguintes grupos: produtos de confeitaria com dezenove amostras(29,7%); pratos prontos para o consumo com vinte e três amostras (36%); carnes e derivados com treze amostras (20,3% ); leite e derivados com quatro amostras(6,3% ); gelados comestíveis com duas (3,1% ); bebidas não alcoólicas com duas amostras (3,1 %) e pescados e derivados com uma amostra (1,6%).. Vinte e quatro municípios( 31,2%) notificaram surtos; com 877 pessoas expostas, 155 (17,7%) doentes hospitalizados e 397(45,3%)doentes não hospitalizados; o sexo feminino foi predominante (51%) em relação ao sexo masculino (49%); a faixa etária foi de 20 a 49 anos (60,1% ); os surtos aconteceram no verão (31,7%) e primavera (28,6%). Os surtos de toxinfecções alimentares resultaram em diarréia, que é um agravo da atenção básica do SUS que tem um forte impacto sobre a mortalidade infantil. Conclui-se que implementação de cursos de educação básica em saúde e higiene dos alimentos , das boas práticas de fabricação e dos princípios da análise de riscos e pontos críticos de controle para manipuladores tanto dos domicílios quanto dos estabelecimentos coletivos , aliados ao desenvolvimento de políticas sociais, econômicas e de saneamento, são instrumentos significativos para prevenção dos surtos de DTA. Palavras chaves : surtos de toxinfecções alimentares, perfil epidemiológico, agente etiológico, diarréia. ABSTRAT . The research's objective to know epidemilogical profíIe's poisoning food outbreaks of Mato Grosso do Sul, through etiologic agent identification, to make possible the accept of eíTective measure of the prevention and control. The laboratories resuits and epidemilogical investigation cards, ofthe outbreaks foods samples was analised,(1998-001 ). One hundred fifly six food samples was analised, sixty four (41%) positive samples and ninety two (59% )negative samples, corresponding to sixty three outbreaks, thirty nine (62%)conflrmed outbreaks and twenty four(38%) no confirmed outbreaks; twenty two (35%)outbreaks weren't had epidemiological investigation cards, and forty one (65%) were had. The outbreaks source was the biologic (95%) and chemistry (5 %). The isolated microrganisms were : Síaphylococcus positive coagulase with eigteen outbreaks (46,2% ), Salmonella sp with forteen (35,9% ). E. coli with twelve (30,8% ), Cl. petfringens with five ( 12,8 %), B. cereus with four (10,3%)and none outbreak with Shigelia sp. Strains of S. enteriíidis (81,4% )were detected. Home( Al,6% ), commercial establishments (15,9% ), schools( 12,7%),firm refectoiy(7,9%),party(4,8% ), institutions (1,6 % ), clubs( 1,6%) and no related (7,9%)were the occurrence locality. Conform RDC No. 12-12/01/AN VISA , the foods samples were distributed in the groups: products of confectionary with nineteen samples(29,7% ), plates ready to be consumed with twenty three samples(36% ), meat and derivate with thirteen samples( 20,3 % ), milk and derivate with four samples (6,3 % ), comestibles frozen foods with two samples (3,1%), no alcoholic drunks with two samples (3,1 %) and fishes and derivated with one sample (1,6 %). Twenty four cities (31,2%) made notification. Eigth hundred seventy seven were exposed persons, one hundred fifty five (17,7%)were hospitalized sick persons and three hundred ninety seven (45,3%)were sick persons no hospitalized.; the female sex predominancy (51%) and male sex (49 %); the age was in the 20 to 49 years(60,1% ). Summer(31,7%) and spring (28,6%) were the predominancy seasons. The poisoning food outbreaks resulted in the diarrhea , that is a disease of SUS basic attention, which has a high impact about the young children mortality. The health basic education course implementation and foods hygiene, the good manufacturing practice and hazard analysis and criticai control points, to home and collective establishments food handler's, together with the social, economic and sanitation politic development; it is the significative instruments to the food bome disease prevention. Key Words : poisoning food outbreaks, epidemilogical profile, microrganisms, diarrhea . 13 1,INTRODUÇÃO A Doença Transmitida por Alimentos (DTA )é uma sindrome de natureza infecciosa ou tóxica causada pela ingestão de alimentos e ou de água que contenham agentes etiològicos de origem biológica, física ou química em quantidades que afetem a saúde do consumidor individual ou de um grupo da população. A ocorrência de DTA, vem aumentando de modo signifícativo mesmo em países desenvolvidos. De acordo com o Center for Disease Control and Prevention(CDC) dos Estados Unidos , tem sido descrita mais de duzentas Doenças Transmitidas por Alimentos(CDC,2001). Vários são os fatores que contribuem para a emergência dessas doenças, entre os quais destacam-se; o crescente aumento da população, a existência de grupos populacionais vulneráveis ou mais expostos, o processo de urbanização desordenado e a necessidade de produção de alimentos em grande escala . Contribui ainda ,o defíciente controle dos órgãos públicos e privados, no tocante à qualidade dos alimentos ofertados às populações(CENEPI,MS,2001 ). Acrescentam-se outros determinantes para o aumento da incidência das DTA,tms como a maior exposição das populações a alimentos destinados ao pronto consumo coletivo "fast - foods",o consumo de alimentos em vias públicas, a utilização de novas modalidades de produção , o aumento no uso de aditivos e a mudança de hábitos alimentares, sem deixar de considerar as mudanças ambientais, a globalização e as facilidades atuais de deslocamento da população(CENEPI,MS,2001 ). A multiplicidade de agentes causais e as associações dos fatores citados, resultam em número signifícativo de possibilidades para a ocorrência das DTA, infecções ou intoxicações que podem se apresentar de formas crônica ou aguda, com características de surto ou de casos isolados, com distribuição localizada ou disseminada e com formas clínicas diversas (CENEPI, MS,2001). Mesmo em países desenvolvidos, onde o abastecimento de gêneros alimentícios é considerado seguro do ponto de vista de higiene e saúde pública, a ocorrência de DTA é signifícante, apesar dos avanços tecnológicos nas áreas de produção e controle de alimentos. A incidência anual nos Estados Unidos é de 76 milhões de casos de DTA,com 325 mil hospitalizações e 5 mil mortes( CDC,2000) 14 O sintoma mais comum das DTA de origem microbiana, com manifestações gastrointestinais, é a diarréia. Dependendo da patogenicidade do microrganismo envolvido no processo e das condições gerais do indivíduo afetado, a doença pode ser aguda ou crônica. Porém as DTA podem não se limitar ao trato gastrointestinal, e afetar outros órgãos causando distúrbios no sistema nervoso central, na corrente circulatória, no pulmão, no fígado, nos rins, nos olhos, no feto,...(FRANCO & LANDGRAF,1996 ). Apesar da comprovada relação de várias doenças com a ingestão de alimentos contaminados, do elevado número de internações hospitalares e a persistência de altos índices de mortalidade infantil por diarréia, em algumas regiões do país,pouco se conhece da real magnitude do problema , devido à precariedade das informações disponíveis (CENEP,MS,2001). As dificuldades em vigiar as doenças diarreicas decorrem, fundamentalmente, de sua elevada incidência , da inobservância da obrigatoriedade de notificação de surtos e da aceitação tanto de parte leiga quanto da maioria dos técnicos de que o problema da diarréia é "normal" no Brasil(CENEPI, MS,2001). No Estado de Mato Grosso do Sul, no ano de 2001, foram notificados 52.420 casos de doenças diarreicas agudas, sendo a população mais acometida pertencente à faixa etária menor de quatro anos, com um total de 29.244 casos, o que representa 55,8% do total de casos notificados ; enquanto que no município de Campo Grande foram registrados 29.583 casos(VE,2001 ). De acordo com registros da Organização Mundial da Saúde(OMS ). são detectados anualmente, nos países em desenvolvimento, mais de um bilhão de casos de diarréia em crianças menores de 5 anos, dos quais 5 milhões evoluem para o óbito; considerando que as informações epidemiológicas são subnotificadas, estima-se que apenas 1 a 10% dos casos são computados pelas estatísticas oficiais . Conforme dados oficiais do Estado - MS em 2001, houve 29.244 (55,8% )casos de diarréia na faixa etária menor que quatro anos (VE,2001 ), com 2.405 internações; e conforme registro no SIM (Sistema de Informação de Mortalidade) houve oitenta e dois óbitos por diarréia, sendo cinqüenta e sete(69,5 %)em menores de quatro anos. De acordo com informações obtidas no DATASUS (1998-2001 ), Mato Grosso do Sul gastou R$ 4. 002.716,40 em 15.421 internações hospitalares com diarréia . Essas constatações não se aliam, porém, a um conhecimento da dinâmica da doença e não têm resultados em ações objetivas para a sua prevenção ou controle. E premente a necessidade de organizar um sistema capaz de colher, registrar e analisar com suficiente 15 agilidade os dados referentes às doenças diarreicas, para definir medidas efetivas de prevenção e controle .Para que isto se tome viável em futuro próximo, estas ações deverão ser simplificadas e descentralizadas, atendendo as condições atuais de municipalização da Vigilância Epidemiològica(CENEPI, MS ,2001 ). Vários países na América Latina estão implantando ou implementando sistemas nacionais de vigilância epidemiològica das DTA,face aos limitados estudos que se tem dos agentes etiològicos , a forma como esses contaminam os alimentos e as quantidades necessárias a serem ingeridas na alimentação para definir seu risco. Estas medidas vêm sendo estimuladas por recomendações e acordos internacionais, onde se destacam os subscritos pelo Brasil na VII Reunião Interamericana de Saúde Ambiental de Nível Ministerial(RIMSA)e na XXXV Reunião do Conselho Diretor da Organização Pan - Americana da Saúde - OPAS (CENEP1,MS,2001). No Brasil, através da Portaria GM /MS n°1461, 22 de dezembro de 1999, a ocorrência de surto de DTA passou a ser de notificação compulsória. A notificação é obrigatória por médicos e outros profissionais de saúde, no exercício da profissão, bem como pelos responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde. O perfil epidemiológico das DTA ainda é pouco conhecido , somente alguns estados ou municípios dispõem de estatísticas e dados fidedignos sobre os agentes etiològicos mais comuns, alimentos mais freqüentemente implicados, populações de maior risco e fatores contribuintes (CENEP1,MS,2001 ). Define-se como surto de DTA,um episódio no qual duas ou mais pessoas apresentam, num determinado período de tempo , sinais e sintomas semelhantes, após ingestão de um mesmo alimento considerado contaminado por evidência clinica - epidemiològica e ou laboratorial(CENEPI ,MS,2001). A vigilância das doenças transmitidas por alimentos está dirigida para a notificação e investigação de surtos. A investigação epidemiològica de surtos de DTA, tem como objetivo: coletar informações básicas necessárias ao controle do surto de DTA; identificar a população de risco; identificar os fatores de risco associados ao surto; diagnosticar a doença e identificar os agentes etiològicos relacionados ao surto; identificar a fonte de contaminação; propor medidas de prevenção e controle pertinentes e imediato . Normalmente as ocorrências de surtos de DTA estão associadas á presença de alguns fatores de risco, ou seja procedimentos que favorecem as toxinfecções e que podem ser identificados na inspeção sanitária ,dentre os quais, destacam-se : - falhas na cadeia de refrigeração de alimentos; i?.tst:ffiq ■ v.¥; 16 conservação de alimentos momos à temperatura ambiente; alimento preparado várias horas antes de seu consumo, e cujo acondicionamento prévio ao consumo foi inadequado; falhas no processo de cocção dos alimentos; manipuladores de alimentos com práticas de higiene pessoal inadequada ou portadores de lesões ou doenças passíveis de contaminação; utilização de matéria prima contaminada; falhas no processo de higienização de utensílios e equipamentos utilizados no preparo de alimentos; existência de condições ambientais favoráveis ao crescimento de agentes etiológicos; alimentos obtidos de fontes não confiáveis; práticas inadequada de armazenamento; uso de utensílios passíveis de liberação de resíduos tóxicos; adição intencional ou acidental de substâncias químicas tóxicas aos alimentos; utilização de água cuja potabilidade não é controlada; contaminação da água a partir da ocorrência de avarias na rede de abastecimento (CENEPI,MS,2001). As tentativas realizadas de estudos do perfil dos surtos ocorridos têm sido pontuais ou individuais, de pesquisadores ou instituições ,decorrendo do interesse de se analisar algumas características ou ocorrências isoladas. Dos 198 surtos investigados pelo Serviço de Vigilância Sanitária do Município de São Paulo ,no período de 1990 e 1991, 26,8% ocorreram em alimentos domiciliares, 27,8% nos restaurantes, 9,1% em lanchonetes, 7,1% em refeitórios, 4,5% em rotisserias e 3,0% em hospitais. Apesar dos locais de alimentação coletiva representarem a maioria dos surtos notificados; o percentual de surtos nos domicílios é elevado(41,5%)(GER1VLANO,2001). De acordo com dados do CVE,SP (2001), a faixa etária de 20 a 49 anos foi de maior prevalência, seguida de 1 a 4 anos, apresentando uma sazonalidade com maior incidência no verão seguida do outono; com 21.386 expostos, 2.233 doentes(10,4%)e dois óbitos. No Paraná, entre 1978 e 1997, 67,1% dos surtos alimentares foram de origem bacteriana. Do total de 1389 surtos notificados, 38,6% foram confirmados laboratorialmente, 29,7% foram clínica e ou epidemiologicamente suspeitos e em 31,6% não foi determinado o agente etiológico. Quanto aos microrganismos mais envolvidos, em 28,5% dos surtos isolouse S. aiireus coagulase(+), 20,3% Salmonelía spp ,7,9% CL perfringens, 4,3% B. cereus e 3,8% K. coli As principais categorias de alimentos envolvidos foram : preparações mistas M 17 (30,3%), came e derivados (19,8% ), leite e derivados (8,3% ), cereais (3,2%) e outros (10,7%). O principal local de ocorrência dos surtos foi nos domicilio (49,1%), seguido dos refeitórios comerciais (16,3% ), refeitórios industriais (10,8%), escolas (6,1%), festas comunitárias(2,7%)e outros(15,0%)(CAMARGO et al., 1978-1997). O presente estudo visa contribuir para o conhecimento das DTA com manifestações gastrointestinais por contaminação biológica de origem bacteriana, tendo como objetivo identificar o perfil epidemiológico no Estado, estabelecer medidas preventivas futuras, e reduzir o impacto deste agravo no sistema de saúde , tais como ; reduzir o custo da assistência ambulatorial e hospitalar ; reduzir a mortalidade infantil e contribuir para a promoção da saúde com a prevenção e redução deste agravo na saúde pública. Este trabalho tem como finalidade descrever os surtos, considerando os agentes etiológicos , alimentos envolvidos , local de ocorrência ,faixa etária ,sexo, sazonalidade e municípios que realizaram investigação epidemiológica, através das amostras de toxinfecções alimentares diagnosticadas no Setor de Microbiologia de Alimentos (SMA)da Divisão de Bromatologia e Química ( DBQ ) do Laboratório Central de Saúde Pública Estadual (LACEN)no período de 1998 a 2001. 18 2. REVISÃO LITERÁRIA A contaminação dos alimentos pode ser classificada em três tipos de perigos: químico, físico e biológico : -Perigos de natureza Química : -metais pesados, pesticidas, detergentes, toxinas de plantas ,animais e fungos, antibióticos,... -Perigos de natureza Biológica : - bactérias patogênicas : Salmonella, Shigella,...; parasitos : amebas, helmintos, criptosporidium,... ; vírus : hepatite A ,rotavírus, norwalk,.... -Perigos de natureza Física : - poeira, partículas metálicas, fragmentos de insetos, pedaços de vidro,.. (FRANCO & LANDGRAF ,1996). As autoridades da área de proteção dos alimentos classificam a contaminação de natureza biológica de origem microbiana, como o perigo principal para a Saúde Pública (GERMANO,2001). As DTA de natureza biológica por contaminação microbiana se subdividem em duas categorias: a-intoxicações Alimentares - são causadas pela ingestão de alimentos contendo toxinas microbianas pré - formadas. Estas toxinas são produzidas durante a intensa multiplicação do microrganismo patogênico no alimento. Neste grupo estão : Clostridium hotuUnum, Síaphylococcus aurcus, BaciUus cereus forma emética, e os fungos produtores de micotoxinas (CENEPI,2001). b-Infecções Alimentares - são causadas pela ingestão de alimentos contendo células viáveis de bactérias patogênicas. Estes microrganismos aderem á mucosa do intestino humano e proliferam colonizando - o . Em seguida , pode ocorrer invasão da mucosa e penetração nos tecidos, ou ainda produção de toxinas. Entre as bactérias invasivas, destacam -se : Salmonella, Shigella, Escherichia coli invasora, Yersinia enterocoUtica, ... . Entre as toxigênicas que utilizam mecanismo de aderência, estão : Vihrio cholerae, Escherichia coli eníeroíoxigênica, (\impylohactcrjejuni(CENEP1,2001). Serão detalhadas a seguir as bactérias patogênicas aeróbias e anaeróbias , de maior ocorrência relatadas nos trabalhos de investigação epidemiológica em Saúde Pública: Salmonella, Shigella, Escherichia coli invasora, eniero/oxigênica, Staphylococcns aiireits, Bacillns cereus e Clostridium perfringens. 19 2.1 Staphytococcus aureus As bactérias do gênero Staphylococcus são cocos gram positivas , pertencentes à família Micrococcaceae, são anaeróbias facultativas e aeróbias, apresentam temperatura de crescimento na faixa de 7 a 47,8° C; as enterotoxinas são produzidas entre 10 e 46 ° C ,com temperatura ótima entre 40 e 45 ° C, portanto quanto mais baixa for a temperatura , maior será o tempo necessário para a produção de enterotoxina .Em condições ótimas, a enterotoxina toma-se evidente em quatro a seis horas(FRANCO & LANDGRAF ,1996). Dezenove (19) espécies fazem parte deste gênero, e dentre estas , as seguintes apresentam interesse em microbiologia de alimentos ; S. aureus, S. hyicus, S. chromogens e S. intennedius, sendo S. aureus o mais importante. Com exceção de S. chromogens, as demais espécies apresentam testes positivos para coagulase e termonuclease. O S. aureus pode ser encontrado no solo, água, ar , no homem, e nos animais . Em seu principal reservatório, o homem, pode ser encontrado nas fossas nasais, de onde se propaga direta ou indiretamente para a pele e feridas(BERGDOLL,1989). As bactérias deste gênero são tolerantes a concentrações de 10% a 20% de cloreto de sódio e nitratos, o que toma os alimentos curados veículos potenciais para as mesmas (FRANCO & LANDGRAF ,1996). A maioria das cepas de S. aureus cresce na faixa de pH 4,5 a 9,3, sendo que o valor de pH mais adequado para a produção de toxina está na faixa da neutralidade , entre 6 e 7 (BERGDOLL,I989 ). O ó'. aureus é um patógeno relacionado a DTA que possui capacidade de crescer em um teor de umidade bastante variável , ou seja, na mais ampla faixa de atividade de água ( 0,83 a 0,99 ), em condições aeróbias . A produção de enterotoxina é possível a partir de uma atividade de água de 0,86, sendo a ótima 0,99(BENNETT, 1992 ). O período de incubaçào de um surto varia de trinta minutos a oitos horas, sendo a média de duas a quatro horas, após a ingestão do alimento contaminado(FRANCO & LANDGRAF ,1996). 20 O S. aureits tem potencial para causar intoxicação no consumidor mediante ingestão de alimentos que apresentem a enterotoxina estafilocócica preformada , portanto , o agente causador dos sintomas, não é a bactéria, mas sim suas toxinas ; A, B,Ci,C2,€3 D ,E e TST Dentre elas somente a TST (Toxic Shock Toxin )não está relacionada a intoxicação alimentar, as mais freqüentemente associadas são A e D . São proteínas de peso molecular entre 28.000 e 35.000 daltons imunologicamente distintas, com características de resistência ao calor e de hidrossolubilidade(VARNAM e EVANS, 1991 ). As toxinas podem ser identificadas quando números iguais ou maiores que 10"* células de S. aureus estão ou estiveram presentes no alimento; casos de intoxicação estafilocócica tem se verificado com quantidades inferiores a uma micrograma de toxina A, a mais comum (BENNETT, 1992.). CARMO et al.( 1991-1992),relataram oito surtos ocorridos no período de 11/1991 a 10/1992 em Minas Gerais ; sendo cinco surtos associados com queijo minas frescal, um com bolo recheado, um com prato a base de arroz e outro de carne. A contagem de Síaphylococcus variou entre 10^ e 10^ UFC/g de alimento. Detectou - se a presença de enterotoxina A em um dos surtos; A e B em quatro surtos; A,B,e C em um surto e A e C em um outro surto, ainda linhagens não enterotoxigênicas foram isoladas em um outro. Os sintomas são : náuseas, vômitos, eólicas abdominais e sudorese, variam com o grau de suscetibilidade do indivíduo, concentração da enterotoxina no alimento, quantidade de toxina ingerida(FRANCO & LANDGRAF ,1996). Os métodos de diagnósticos que se utilizam com mais freqüência estão fundamentados na verificação da capacidade dos Síaphylococcus produzir várias enzimas, como : catalase, coagulase, lipase, lecitinase, DNASE e termonuclease. O método que se baseia na habilidade para coagular o plasma é o mais difundido. Algumas cepas de S. Xugdunensis e espécies associadas a área de saúde animal como o S. iníermedius, S. hyicus, S. delphini e S. schleiferi também são coagulase positivas, por isso se recomenda provas adicionais diferenciais (BERGDOLL,1989). As cepas de S. aureus enterotoxigênicas podem encontrar-se nos alimentos a partir de sua obtenção primária ,em especial nos de origem animal ,(um exemplo típico é a mastite estafilocócica do gado leiteiro ), ou chegar posteriormente durante o processamento, a partir dos manipuladores. BRABES et al. , identificaram S. aureus coagulase positiva e produção de enterotoxina em leite de animais com mastite clinica e subclinica, em amostras procedentes de São Paulo e Minas Gerais. 21 CÂMARA el al. (2000),avaliaram a presença de S. aureus coagulase positiva em vinte amostras de queijo frescal artesanal comercializados no Mercado Municipal em Campo Grande -MS, das quais 70% (quatorze) apresentaram contagem de microrganismos acima dos limites permitidos. A manipulação inadequada dos alimentos por parte dos portadores da bactéria ou por pessoas com feridas nos braços e mãos, constitui a principal fonte de contaminação dos alimentos com estafilococos(LANCETTE, 1992). Segundo MOSSEL & MORENO GARCIA (1982), nem todas as cepas com características de patogenicidade apresentam a propriedade de produzir enterotoxina, porém quando as cepas são de origem humana, este percentual é bastante elevado, da ordem de 80%. Um percentual bastante elevado de pessoas sadias são portadoras de S. aureus em fossas nasais e garganta; cerca de mais de 50% da população humana(BERGDOLL ,1989). HERRERO et al. (1997), detectaram S. aureus produtor de enterotoxinas e toxina TSST (Toxina da Síndrome do Choque Tóxico) na garganta e fossas nasais de funcionários da cozinha e copa de hospitais em Maringá. FERNANDES et al. (1998 ), relatam um surto de toxinfecção alimentar no município de Contagem, MG, em almoço para três mil pessoas, oitocentas foram hospitalizadas. Os resultados revelaram que a contaminação dos alimentos por S. aureus teve origem nos manipuladores; pois do material coletado da orofaringe e sub-ungueal dos treze cozinheiros, 84,6% havia presença de enterotoxina do tipo A, B, C,e D . RIBEIRO et al. (1998 ), avaliaram um surto ocorrido em Colina, SP, onde foi detectado contagem superior a 3,0x10^ UFC/g de S. aureus em bolo confeitado e nas amostras de orofaringe e sub-ungueal dos manipuladores. Para prevenir a intoxicação estafílocòcica, é importante além de manter a saúde dos manipuladores, manter os alimentos sob refrigeração, pois desta forma impede-se a multiplicação bacteriana e conseqüentemente a produção de enterotoxina, evitando os surtos de intoxicação(FRANCO & LANDGRAF ,1996). 97 2.2 Bacillus cercus (K cercus} O B. cereits pertence ao gênero Bacillus, é um bacilo gram - positivo, aeróbio, mesófilo, ou seja cresce na lempeialura de 35° C, móvel por flageles periíríquios, e produtor de esporos que podem ser centrais ou subterminais. Todas as cepas são produtoras de hemolisinas, sendo conhecidas pelo menos duas : cereolisina termoestável e hemolisina termolábil {FRANCO & LANDGRA.F ,1996). O B. cercus multiplica-se bem entre 10° C e 48 ° C , apresentando um ótimo de temperatura entre 28° C e 35 ° C . A» atividade de água mínima necessária para seu crescimento é 0,95, sendo o crescimento bastante reduzido quando a concentração de cloreto de sódio do meio é 7,5 %. A faixa de pH em que ocorre multiplicação varia de 4,9 a 9,3 (FRANCO & LANDGRAF ,1996). O B. cereus é um microrganismo que se encontra amplamente distribuído no meio ambiente, sendo o solo seu reservatório natural , por esta razão contamina facilmente a vegetação, cereais e derivados de cereais, alimentos, águas naturais, leite ,produtos lácteos, e condimentos(VARNAM, 1991). Em estudos feitos com arroz cozido, esporos de B. cereus apresentaram um tempo de geração de vinte e seis a cinqüenta e sete minutos quando a temperatura foi mantida próxima de 30° C (JOHNSON , 1983 ). A freqüência de isolamento de B. cereus em arroz e de 40% a 100%(FRANCO & LA^iDGRAJ ,1996). Os fatores de virulência do B. cereus estão relacionados com a produção de várias toxinas extracelulares, entre elas uma toxina diarreica termolábil , que é inativada em cinco minutos a 56° C e uma toxina termoestável de ação emética que se mantém inalterada após uma hora a 120° C . Este microrganismo tem sido responsável por 1% a 23% dos casos de DTA relatados na literatura. Podem apresentar duas formas clínicas : a síndrome diarreica e a emética(BENNETT, 1992). A síndrome diarreica caracteriza-se por um período de incubação que varia de oito a dezesseis horas e seus principais sintomas são ; diarréia intensa, dores abdominais, tenesmos retais raramente ocorrendo náuseas e vômitos. A. duração da doença é de doze a vinte e 23 quatro horas ; geralmente está associada ao consumo de alimentos de composição protéica, contaminados com aproximadamente 10*' UFC/g ( Unidades Formadoras de Colônias / grama). Estes microrganismos podem fazer parte da flora fecal , dependendo do tipo de alimento e da sazonalidade, principalmente no verão ;entretanto não coloniza o intestino, não persistindo por longos períodos (FRANCO & LANDGRAF ,1996). A síndrome emética caracteriza-se por um período de incubação curto, de uma a cinco horas, causando vômitos, náuseas e mal estar geral, com seis a vinte e quatro horas de duração. Esta sindrome está associada a alimentos com alto teor de amido e que contenham número elevado de microrganismos viáveis de B. cereus (maior ou igual a lO^UFC/g ) (RHODEHAMEL & HARMON,1995). ALMEIDA et al.(2001), observaram elevada ocorrência de B. cereus em farinha de mandioca comercializada em Salvador ,BA, e BRUM.& RIBEIRO (2001), em diferentes alimentos a base de amido, obtidos no comércio da cidade de Pelotas ,RS. MARTINS - VIEIRA et al., relataram que no período de agosto de 1991 a agosto de 1998 ,o B. cereus foi responsável por 3,5% dos surtos de toxinfecções alimentares no estado de Minas Gerais; e CAMARGO et al., 4,3% no Estado do Paraná(1978 - 1997 ). A Secretaria da Saúde do Estado da Bjihia relata um surto ocorrido em maio de 2001 , no restaurante da Assembléia Legislativa, cujo alimento veiculador era a salada crua e cozida; acometendo mais o sexo feminino(53,8% ), com a média da faixa etária de 36,7 anos. O consumo de alimentos recém preparados não oferece risco. Dentre as várias formas de tratamento térmico, o cozimento em vapor sob pressão, a ffitura e o assar em forno quente destroem tanto células vegetativas quanto esporos. O cozimento em temperaturas inferiores a 100° C pode não ser eficaz para a destruição de todos os esporos de B. cereus(FRANCO & LANDGRAF,1996 ). A intoxicação alimentar causada por B. cereus, pode ocorrer quando alimentos preparados são mantidos à temperatura ambiente por várias horas antes do consumo (RHODEHAMEL & HARMON,1995). 2.3 Oostridium perfringens(O.perfringens) 24 O Cl. perfringens é um bacilo gram - positivo, anaeróbio, esporulado, apresenta cápsula e é imóvel. As cepas de Cl. perfringens são classificadas em cinco tipos ; A, B, C, D, e E,de acordo com a produção de quatro toxinas extracelulares mais importantes:alfa, beta, épsilon e iota. Todos os cinco tipos produzem a toxina alfa que é hemolítica. A toxina beta é produzida por Cl. perfringens dos tipos B e C,a toxina épsilon por Cl. perfringens tipos B e D e a toxina iota é produzida somente pelo tipo E(FRANCO & LANDGRAF ,1996 ). Em geral a toxina não se forma previamente no alimento, sendo liberada em vivo, no intestino, e são necessárias oito a dez mg de toxina para desencadear a enfermidade(LABBE, 1992) . A toxina é formada em pH entre 6,0 e 8,0. Atividade de água entre 0,98 e 0,99, e temperatura entre 35 e 40° C. Como a toxina do Cl. perfringens forma-se durante a fase de esporulação, e esta se dá depois da ingestão do alimento contaminado, no intestino delgado, a temperatura de esporulação se aproxima da temperatura corporal do homem( LABBE, 1992) O número de células necessárias para desencadear a sintomatologia e a intoxicação se acha compreendido entre cerca de 10^ ou mais por grama do alimento(JAY, 1992). Este microrganismo faz parte da microbiota do solo , especialmente as cepas do tipo A, sendo também comum no conteúdo intestinal do homem e de muitos animais. Sua ampla distribuição na natureza é devida aos esporos que o Cl. perfringens produz, altamente resistentes às condições ambientais(FRANCO & LANDGRAF ,1996). As células vegetativas de Cl. perfringens perdem rapidamente sua viabilidade em temperaturas de congelamento, porém os esporos não demonstram a mesma sensibilidade que a forma vegetativa em baixas temperaturas(ICMSF,1980 ). O Cl. perfringens é responsável por dois tipos diferentes de toxinfecção alimentar. As cepas do tipo A causam intoxicação de forma clássica e as do tipo C causam enterite necrótica , bem mais grave .Os sintomas da intoxicação alimentar por Cl. perfringens do tipo A são dores abdominais agudas, diarréia com náuseas e febre, sendo os vômitos raros. Aparecem entre oito a doze horas após a ingestão do alimento contaminado, cuja duração é de doze a vinte e quatro horas. A enterite necrótica é rara; os sintomas são dores abdominais agudas , diarréia sanguinolenta e inflamação necrótica do intestino delgado, sendo freqüentemente fatal(FRANCO & LANDGRAF ,1996 ). O primeiro relato de Cl. perfringens como agente de intoxicação alimentar data de 1943, desde então surtos tem sido relatados em crescente número, envolvendo grande quantidade de pessoas , tendo como locais de ocorrência escolas , hospitais e restaurantes, porém não apresenta nenhuma prevalência de sazonalidade(ICMSF,1996) 25 Os alimentos comumente associados com CL perfringens são ; carnes e produtos cámeos, leite e derivados , peixes e produtos de pescado e vegetais. Em carnes cruas , a presença deste microrganismo indica más condições higiênicas no abate; já em carnes cozidas, uma baixa contagem reflete o nível de contaminação da matéria prima e uma contagem elevada indica processamento ou cozimento inadequado. Nos Estados Unidos os produtos cámeos são responsáveis por 70% dos surtos de toxinfecção alimentar (VARNAM& EVANS, 1991). Leite e produtos de leite pasteurizado podem raramente estar contaminados por CL perfringens oriundos das fezes do animal. A estocagem em temperaturas elevadas contribui para a espomlação do microrganismo(VARNAM,EVANS, 1991). De acordo com ICMSF(1986) , o isolamento de Cl. perfritrfens em peixe considerado um incidente, ou seja, falhas durante o processamento é e preparo, porém LABBE et al., relatam que a superfície do corpo e o canal alimentar de algumas espécies de peixes abrigam naturalmente o microrganismo. O C.D.C (1988), relata um grande surto no Reino Unido ,o qual envolveu oitocentas pessoas, em dois incidentes, em dias consecutivos, atribuídos a maionese de salmão, devido a estocagem por longo tempo entre o preparo e o consumo RUDGE (1982 ), isolou CL perfringens e detectou a presença da toxina A em duas amostras de hamburguer em Botucatu-SP. CAMARGO et al. (1978-1997 ), relatam que o CL perfringens é responsável por 7,9% dos surtos ocorridos no Estado do Paraná, e, MARTINS- VIEIRA em 3,5% dos surtos no Estado de Minas Gerais no período de agosto de 1991 a agosto de 1998. O consumo de grande número de células vegetatívas é pré requisito para toxinfecção por CL perfringens, portanto seu controle efetivo consiste em impedir a multiplicação bacteriana, que pode ser atingido através do resfriamento rápido, de 55 C para 10 C, ocorrendo choque térmico matando todas as células vegetatívas; e uma outra medida é o reaquecimento do alimento a 70° C antes de ser consumido(ICMSF,1996 ). 2.4 Salmonella 26 A Salmomlla é uma das principais bactérias envolvidas em surtos de doenças de origem alimentar, ocasionando perdas econômicas em todo o mundo; nos Estados Unidos por exemplo, estima-se gasto de um bilhão por ano com esses surtos(C.D.C., 2000). O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae e compreende bacilos gram- negativos não produtores de esporos. São aneróbios facultativos, a maioria é móvel, através de flagelos peritríquios, exceção feita à S. pullorum e à 51 galVmarum , que são imóveis. O pH ótimo para multiplicação das salmonelas fica próximo de 7,0, sendo que valores superiores a 9,0 e inferiores a 4,0 são bactericidas. Não toleram concentrações de sal superiores a 4% . O nitrito é inibitório e seu efeito é acentuado pelo pH ácido. A temperatura ideal para multiplicação de Salmonella é 35- 37° C, sendo o mínimo de 7° C e máxima de 47° C,a atividade de água é maior que 0,94(JAY ,1992 ). As doenças causadas por Salmonella se subdividem em três grupos ; a febre tifóide, causada por Salmonella lyphi, as febres entéricas, causadas pela Salmonella paratyphi(A,B e C) e as enterocolites ou salmoneloses, causadas pelas demais Salmonellas( FRANCO & LANDGRAF ,1996 ). As salmoneloses se caracterizam por sintomas que incluem ; diarréia, febre, dores abdominais; com um período de incubação de doze a setenta e duas contaminação; com duração de quatro a sete dias. Em horas após crianças , idosos e pessoas imunodeprimidas, a salmonelose pode apresentar um quadro grave, levando a sepse e óbito (CDC,2001). Existem aproximadamente 2.324 sorotipos que causam doença em humanos, sendo a Salmonella soroíipo Typhimurium e Salmonella sorotipo eníeritidis as mais comuns nos Estados Unidos(CDC,2000). Nos Estados Unidos estima-se que ocorra 1,4 milhões de casos de salmonelose anualmente, e destes 40.000 são confirmados laboratorialmente, aproximadamente mais de quinhentos casos são fatais e 2% apresentam artrite crônica como complicação. A Salmonella ocupa o segundo lugar como agente etiológico mais envolvido em doença diarreica (CDC,2001). No Brasil, em estudo realizado em São Paulo, a salmonela foi a terceira bactéria mais isolada em crianças menores de um ano de idade com diarréia aguda (FOCACCIA & VERONESl, 1999). Entre os agentes de DTA, o gênero Salmonella é um dos principais causadores de casos mortais, decorrente das complicações surgidas entre os pacientes afetados. A taxa de mortalidade situa-se ao redor de 4,1 % e ovos, carnes de aves, produtos cámeos e seus 27 derivados são os alimentos que ,mais comumente, transmitem a Salmonella ao homem . Quando estão envolvidos laticínios, há ligação com o consumo de leite cru, leite pasteurizado de forma inadequada e queijos. Casos relacionados ao consumo de ovos e ou derivados, envolvem o consumo de saladas ã base de ovos( maionese ), sorvetes e outras sobremesas de fabricação caseira, além de produtos de panificação e confeitaria(JAY ,1992 ). O principal reservatório natural das Salmonellas é o trato intestinal do homem e dos animais; dentre os animais, as aves são o reservatório mais importante. Suínos, bovinos , eqüinos e animais silvestres( roedores ,anfíbios e répteis )também apresentam Salmonella. Os animais domésticos ( cães, gatos, pássaros) podem ser portadores de salmonelas, representando grande risco de infecção, principalmente para as crianças. As aves têm um papel especialmente importante, pois podem ser portadoras assintomáticas, excretando continuamente salmonela pelas fezes. Animais nessas condições podem causar contaminações cruzadas de grande importância nos abatedouros de aves (FRANCO & LANDGRAF ,1996). Nos últimos anos tem se observado um aumento de incidência da salmonelose causada por S. enieriíidis, envolvendo ovos e produtos a base de ovos. Este sorotipo tem a peculiaridade de colonizar o canal ovopositor das galinhas, o que causa a contaminação da gema durante a formação do ovo (FRANCO & LANDGRAF ,1996 ). A S. entehtidis veiculada por ovos e carne de aves vem sendo citada como responsável por gastroenterites nos Estados Unidos, Europa e Brasil( CVE/SP,2001) . No nordeste dos Estados Unidos, para cada dez mil ovos, um se apresenta contaminado( CDC, 2001). Já na Europa este problema tem sido controlado através da exclusão competitiva, o qual impede que Salmonella colonize o trato gastrointestinal das aves ainda na fase inicial de suas vidas; este processo consiste em submeter os animais recém- nascidos a um tratamento com culturas microbianas mistas contendo bactérias inócuas, que vão para os sítios de adesão das Salmonella^, excluindo-as da flora intestinal dos animais; desta forma reduz consideravelmente a presença deste microrganismo em granjas, reduzindo o índice de contaminação das aves(FRANCO & LANDGRAF ,1996). No Brasil, signifícativo aumento de S. enteritidis ocorreu a partir de 1993, tomando -se desde 1994 o sorotipo mais freqüentemente isolado com vinte e três surtos de salmonelose em 1998(CVE,SP,2001) JAY (2000) cita ocorrência de um dos maiores surtos de salmonelose registrados nos Estados Unidos, em 1994, e envolveu mais de 224.000 pessoas, devido a S. eníeritidis, atingindo quarenta e um estados. O veículo foi sorvete produzido de leite transportado em caminhão tanque que carregou anteriormente ovo líquido. 28 PERESI et al. (1998 ), descreveram vinte e três surtos provocados por S. etUerUidis, durante o período de 1993 -1997, na região Noroeste do Estado de São Paulo. O número de pessoas expostas em dezenove deles foi 906, com 295 hospitalizações; verificaram que em vinte e dois surtos a salmonella foi veiculada por alimentos contendo ovos e um por carne de aves. De acordo com avaliação feita pela Vigilância Sanitária / SES e Instituto de Ciências e Tecnologia de Alimentos /UFRGS sobre surtos de salmonelose no período de 1997-1999, verifícou-se exposição de mais de oito mil pessoas, das quais 1.557 foram hospitalizadas, com incidência elevada no período da primavera, sendo a faixa etária mais atingida de 15 a 50 anos; e os principais alimentos envolvidos foram saladas com maionese. CAMARGO et al. (1999), relatam que o aumento da incidência de salmonelose no Paraná , vem modificando o quadro epidemiológico nos últimos cinco anos. Em 1993 7,1% dos surtos alimentares foram causados por Salmonella sp e 34,0% por S. aureus. A partir de 1995 a salmonelose passou a ser a principal DTA notificada; sendo que em 1997, 52,3% dos surtos foram causados por Salmonella sp, contra 42,8% de intoxicação estafilocócica. MARTINS et al.(1998),relataram a evolução dos surtos de toxinfecções alimentares no Estado de Minas Gerais, no período de 08/ 1991 a 08/1998. Até 1995 manteve-se o perfil de prevalência para S. aurens(65% ), com grande envolvimento dos queijos e Salmonellas com 35% (maioneses) , destas, 30% foram S. enteriíidis. Já em 1996, verificou —se a inversão deste perfil, e o isolamento de Salmonela atingiu 68,8% contra 43,8% de S. aureus em 1997 houve permanência deste perfil ,verificando uma situação de igualdade em 1998. CARMO et al., relataram surto ocorrido em restaurante de Brasília - DF ,com 280 pessoas, sendo a maionese o alimento envolvido, e , os microrganismos isolados foram Salmonella enteriíidis e S aureus . Constatou-se que a fonte de contaminação eram vários manipuladores eram portadores de 5". aureus enterotoxigênicos; e a fonte de S. enteriíidis eram ovos utilizados no preparo da maionese. TSUJl & HAMADA (1999), descreveram no Japão em maio de 1998 ,um surto causado por S. chester e S. oranienhurg, isolados em salgadinhos a base de peixe. A dose infectante é variável, segundo o sorotipo envolvido e espécies de Salmonella, as adaptadas ao homem possuem dose infectante menor que as não adaptadas.Em geral o número de células necessárias para desencadear os sintomas oscila entre 10^ e 10^ UFC/g de alimento para algumas espécies, e entre 10*^ e lO" para outras. Há estudos epidemiológicos nos quais a Salmonella Thyphimurium, fagotipo 10, pode somente uma célula (JAY ,1992 ). apresentar dose infectante de 29 Cerca de 5% das pessoas que sofrem salmonelose, transformam - se em portadoras assintomáticas, por um tempo considerável. Passam ,então, a exercer um importante papel na disseminação do agente, especialmente se participarem da cadeia de produção e comercialização de alimentos(JAY ,1992) . Hábitos alimentares podem influenciar consideravelmente a epidemiologia das salmoneloses. No Iraque, é comum salmonelose humana causada por leite de ovelha e de búfala, que são consumidos após ligeiro aquecimento e conservação em temperatura ambiente. O consumo de vísceras de animais em determinados países ,como China, Áfnca do Sul e Israel , tem causado vários surtos de salmonelose (FRANCO & LANDGRAF ,1996). O calor é forma eficiente para destruir ás salmonelas dos alimentos, sendo algumas mais resistentes que outras ao calor . A composição do alimento onde a salmonela se encontra é extremamente importante. A presença de sacarose dobra a resistência térmica de S. typhimurium. A presença de água é também importante, sendo que em ambiente úmido a resistência é muito inferior àquela apresentada em ambiente seco. Experimentos conduzidos com ovos desidratados e ovos inteiros indicam que a resistência térmica nos ovos desidratados pode ser de seiscentos e cinqüenta vezes maior do que nos ovos líquidos( FRANCO & LANDGRAF ,1996). 2.5 ShigeUa Bactérias do gênero Shigella são bacilos gram - negativos, não formadores de esporos, pertencentes à família Eníerohacteriaceae. Este gênero é constituído por quatro espécies. Cada uma delas possui distintos sorogrupos ; S. dysenteriae( sorogrupo A ), S. flextieri( sorogrupo B ), S. boydii( sorogrupo C )e .9. sonnei( sorogrupo D ) ( FRANCO & LANDGRAF ,1996). Shigellose é a doença infecciosa causada pelo grupo de bactérias do gênero Shiy^eUa; os sintomas são diarréia com sangue, febre, convulsões, eólicas abdominais, que aparecem num período de incubação de um a dois dias após a contaminação, cuja duração é de cinco a sete dias. Em crianças e idosos, a diarréia pode ser tão severa que os pacientes precisam ser 30 hospitalizados. Algumas pessoas são infectadas , porém não apresentam sintomas, sendo importante na cadeia de transmissão (CDC,2001 ). As shigeloses de maior incidência nos Estados Unidos, são as causadas pela S. sonnei e S.flexnerr, porém epidemias fatais são causadas pela S. dysenteriae tipo 1 (CDC ,2001 ). É disseminada através da via fecal - oral, mas algumas vezes alimento e água participam como veículo. O número de microrganismos necessários para causar infecção é de 10 a 10^ organismos; esta pequena dose infectante é dependente da maior resistência que a Shigella apresenta ao suco gástrico . Está sempre associada à higiene pessoal e condições sanitárias deficientes(VERONESI & FOCACCIA,1999). A S. dysenteriae produz uma citotoxina que provoca morte celular, chamada toxina Shiga, muito semelhante à toxina da E. coli enterahemorrágica (EHEC), inclusive no seu mecanismo de ação . A toxina é responsável pela Síndrome Hemolítica Urêmica(HUS ), que se caracteriza por plaquetopenia e anemia microangiopática e falência renal, podendo ser fatal .Outra característica do bacilo Shiga, é sua capacidade de causar extensas epidemias. Como por exemplo, a epidemia que ocorreu na América Central e no sul do México, entre 1969 e 1970, causando mais de 500.000 casos de disenteria e 20.000 mortes(VERONESI & FOCACCIA,1999). No Brasil , de acordo com PEREIRA E LEOCÁDIO FILHO (1994 ), é alta a freqüência de isolamentos de Shigella em amostra fecal de pacientes diarreicos em hospitais. Entretanto é praticamente nula a constatação do microrganismo na água e alimentos, possivelmente pelo baixo poder competitivo do microrganismo, aliado a não existência de uma técnica específica para detecção do mesmo; porém relataram um caso de isolamento de S.flexneri por consumo de alimento contaminado em duas crianças em Belo Horizonte. A freqüência das infecções por Shigella aumenta com a idade da criança; sendo a prevalência de 8% a 10 % em crianças menores de um ano de idade e de 15% a 18% em crianças maiores que dois anos e adultos(VERONESI & FOCACCIA,1999). As complicações e letalidade da shigelose são baixas em países desenvolvidos, porém têm relevante importância em áreas endêmicas de comunidades em desenvolvimento, onde condições de saneamento básico e higiene pessoal são precárias, principalmente quando se trata de crianças desnutridas e idosos(VERONESI & FOCACCIA,1999). A shigelose pode causar as seguintes complicações : peritonite secundária à perfuração intestinal, insuficiência renal aguda, síndrome hemolítica urêmica e hemorragia 31 digestiva; são menos usuais: pneumonia, conjuntivite, uveíte, úlcera de cómea, prolapso retal, osteomielite e artrite asséptica(VERONESI & FOCACClA,1999). As medidas de controle e prevenção das shigeloses de origem alimentar estão relacionadas com a boa higiene pessoal e educação dos manipuladores de alimento. A contaminação de alimentos ou água com Shigella sp indica contaminação recente com fezes humanas(FRANCO & LANDGRAF ,1996). 2.6 Escherichia coli Patogênica A Escherichia coli (Rco//) é espécie predominante da flora intestinal de animais de sangue quente. Pertence à familia Eníerohacieriacceae, são bacilos gram- negativos , não esporulados, apresentam diversas linhagens comprovadamente patogênicas para o homem e para animais. A E. coli é responsável por 3,8% dos surtos ocorridos no estado do Paraná em 19781997(CAMARGO ). Com base nos fatores de virulência, manifestações clínicas e epidemiológicas, as linhagens de E.coli consideradas patogênicas são agrupadas em 5 classes( FRANCO & LANDGRAF ,1996): -EPEC(E. coli enteropatogênica clássica) -EIEC (E. coli enteroinvasora) -ETEC (E. coli enterotoxigênica) -EHEC(E. coli eníero-hemorrágica) -EagghlC (E. coli enteroagregativa). EPEC está associada a diarréia infantil ; é importante microrganismo causador de diarréia em crianças; sendo recém - nascidos e lactentes mais suscetíveis . A duração da doença varia entre seis horas a três dias, com período de incubação variando de dezessete a setenta e duas horas (FRANCO & LANDGRAF ,1996) A doença causada pela E. coli enteropatogênica,é atribuída a uma toxina similar a da S. dysenteriae , também chamada verotoxina , ocasiona diarréia prolongada , levando à 32 desidratação e morte, tem sido relatado 50% de mortalidade nos países de terceiro mundo (FDA,2001). PEREIRA et al.(2001),relatam a presença de E. coli verotoxigênica em leite cru, em Pelotas -RS. A E. coli(EPEC 0127B8)é responsável por 2,6% dos surtos ocorridos no Estado de Minas Gerais no período 1991-1998(MARTINS-VIEIRA et al.). As cepas de EIEC são responsáveis pela dísenteria bacilar, doença caracterizada por fezes muco sanguinolentas ,capazes de penetrar em células epiteliais e causar manifestações clinicas semelhantes às infecções causadas por Shigella. O período de incubação varia entre 12 e 72 horas; a dose infectante é baixa, pouco menos de 10 células. Acomete mais crianças maiores e adultos. Tem como complicação, especialmente em casos pediátricos, a Síndrome Hemolítica Urêmica(HUS)(FDA,2001). O isolamento deste microrganismo em alimentos é extremamente difícil , porque mesmo níveis não detectáveis, causam a doença(FDA,2001 ). Um dos maiores surtos atribuídos a E. coli eníeroinvasiva ocorridos nos Estados Unidos, foi em 1973, devido ao consumo de queijo importado da França(FDA,2001). E. coli enterotoxigênica causa gastroenterite; são cepas capazes de produzir enterotoxina, cujo efeito é uma diarréia aquosa, conhecida como diarréia dos viajantes (FDA,2001). O período de incubação varia de oito a vinte e quatro horas. A quantidade de microrganismos capazes de gerar infecção também é alta, 10*^ a 10^ células . Pode produzir uma enterotoxina termolábil, inativada a 60° C por trinta minutos e uma enterotoxina termoestável, que suporta 100° C por trinta minutos (FRANCO & LANDGRAF ,1996). GIL et al. (2001), relatam ocorrência da E7EC em dezesseis amostras de queijo colonial consumido em Pelotas -RS. A ETEC tem causado vários surtos de origem alimentar nos Estados Unidos, estimados em 79420 casos a cada ano(CDC,2001 ). EHEC produz uma colite hemorrágica que pode evoluir para HUS . O mecanismo de patogenicidade está relacionado com produção de Toxina Shiga, , citotoxinas, chamadas verotoxinas; está relacionada com o sorotipo 0157:H7. O gado é reservatório natural da EHEC, razão pela qual os alimentos de origem animal, principalmente a carne bovina, parecem ser o principal veículo desse patógeno. Vários surtos ocorridos nos Estados Unidos, Canadá e Japão foram associados com o consumo de hambúrgueres (FRANCO & LANDGRAF ,1996). 33 A Argentina tem a maior incidência de HUS no mundo, isto se explica pela elevada freqüência de diarréia induzida pela Toxina Like Shiga produzida pela E. coli Ol57:H7 (LOPEZ et al.,1989 ). Porém há relatos pessoais de ocorrência no Mato Grosso do Sul, através de evidências clínicas e epidemiológicas, no CTI pediátrico do Hospital Universitário da Universidade Federal do MS(CÂMARA NETO & FREITAS ,J.). GONZALEZ et al., detectaram em fezes de animais bovinos ,em propriedades distintas da região norte Fluminense, a E. coli Ol57:H7, produtora de toxina Shiga A E. coli enleroagregcmte provavelmente causa a diarréia crônica nos pacientes com HIV positivo(CDC,2001). 34 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Conhecer o perfil epidemiológico dos surtos de intoxicação alimentar ocorridos no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de janeiro de 1998 a 31 de dezembro de 2001. A partir da identificação dos agentes etiológicos , para avaliar a prevalência das DTA, possibilitando a adoção de medidas de prevenção e controle, que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população. 3.2 Objetivos Específícos 3.2.1 Conhecer o comportamento das DTA de origem diarreica ocorridas na população; .3.2.2 Conhecer e definir as características dos surtos de DTA de origem diarreica ocorridos no MS,1998-001; 3.2.3 Identificar agentes etiológicos mais envolvidos nos surtos de DTA; 3.2.4 Identificar e classificar os alimentos mais freqüentes nos surtos de DTA , utilizando a padronização por grupo, conforme RDC N°I2 /2001/ANVISA; 3 2.5 Identificar locais de maior ocorrência dos surtos de DTA no MS; 3 2.6 Quantificar os Municípios que fizeram notificação dos surtos em MS; 3 2.7 Quantificar o número de pessoas expostas e de doentes hospitalizados ou não ,nos surtos em MS; 35 3.2.8 Identificar faixa etária e gênero dos surtos de DTA em M S, 1998-001; 3.2.9 Caracterizar a sazonalidade dos surtos de DTA em MS, 1998-001. 36 4. METODOLOGIA 4.1 Delineamento da Pesquisa Trata-se de um levantamento Epidemiológico Descritivo Longitudinal Retrospectivo Quantitativo, segundo modelos descritos(ANDRADE,2001 ). 4.2 Local de Ocorrência A pesquisa foi realizada no Laboratório Central de Saúde Pública Estadual -LACEN , localizado no município de Campo Grande - MS, que recebe amostra de alimentos coletados nos municípios de ocorrência. 4.3 Universo e Amostra Os dados foram coletados após reunir todos os resultados laboratoriais( 156 )e analisar as fichas de investigação epidemiológica ( FIE ), modelo em anexo, que acompanharam as amostras de surtos de DTA diagnosticados no LACEN, ocorridos no período de janeiro de 1998 a 31 de dezembro de 2001. O universo da pesquisa foi cento e cinqüenta resultados laboratoriais e quarenta e uma fichas de investigação epidemiológica. 4.4 Procedimentos e Instrumentos de Coleta de Dados 37 Foram analisados resultados laboratoriais e Fichas de Investigação Epidemiológica , com objetivo de identificar agentes etiológicos, locais de respectivos grupos, faixa etária , gênero, sazonalidade ocorrência , alimentos com e municípios envolvidos em ocorrência de surtos de DTA. Os dados secundários foram coletados dos arquivos da Divisão de Bromatologia e Química do LACEN através de planilhas(Anexo 2 e 3 ). As amostras são sobras de alimentos consumidos no episódio, e foram coletadas pela Vigilância Sanitária dos municípios, transportadas em caixa isotérmica sob refrigeração até ao LACEN - Campo Grande - MS . Os métodos utilizados para o isolamento dos microrganismos são padronizados pelo Standart Methods for the Examination of Foods - American Public Health Association (APHA)- 14 ° edição, Washington, D.C. -1984,e pela normas do Instituto Adolfo Lutz (IAL /São Paulo ). Análise microbiológica realizada por técnicos , do Setor de Microbiologia de Alimentos da Divisão de Bromatologia e Química,treinados no Instituto Adolfo Lutz, SP. 4.5 Plano de Tabuiação e Técnica de Análise Os dados foram tabulados através de planilhas no programa Excel, e, estão demonstrados através de tabelas e gráficos, com freqüências simples e percentuais 38 5. RESULTADOS 5.1 Características dos Surtos Através da análise dos resultados laboratoriais e das FIE dos surtos nos arquivos da DBQ/LACEN,do período de 1998 a 2001, observa-se que foram analisadas cento e cinqüenta e seis amostras de alimentos, correspondente a sessenta e três surtos no Estado . Deste total de amostras , sessenta e quatro (41%) foram positivas e noventa e dois (59% )negativa (Figura 1). Figura 1. Amostras positivas e negativas dos surtos, MS,1998-001 im Negativas Snasiti\as 92 Talai , • I T I I 20 40 eo 80 100 1 120 I 140 I I 160 180 Amostras Fonte: LACEN/FUNSAU/SES/MS A Tabela 1 mostra a distribuição anual quanto á confirmação, o dos surtos notificados no MS,no período de 1998-001. total e percentual 39 TABELA 1. Distribuição anual dos surtos quanto à confirmação, no MS,1998-001, Surtos 1998 1999 2000 2001 TOTAL Confirmados 09 07 08 15 39 62 Não Confirmados 05 08 02 09 24 38 Total 14 15 10 24 63 100 Fonte:LACEN /FUNSAU/SES/MS A figura 2. apresenta a distribuição anual dos sessenta e três surtos notificados; mostra o número de surtos analisados, confirmados ou não no Estado de MS,no período de 1998-001. Figura 2. Distribuição anual dos surtos notificados, quanto à confirmação, no MS, em 1998-001. Surto^O Analisados S Confirmados 24 25 BINão confirmados 20 15 H 14 15 15 1O 10 7 8 8 5 O 1 998 1 999 2000 2001 Ano Fonte: LACEN/FONSAU/SES/MS 40 Do total de 63 surtos notificados em Mato Grosso do Sul no período de 1998-001 , trinta e nove(62%)foram confirmados e vinte e quatro(38%)não foram confirmados, como mostra a Figura 3 . Figura .3 Surtos Notificados quanto à confirmação, no MS,1998-001. t—I confirm ados Cd nSo coofirm ados S u r to s 2 O 4 O 6 O 8 O Total Fonte: LACEN/FUNSAU/SES/MS Dentre o total de surtos analisados(63 ), observa-se que 22(35%)não apresentavam Ficha de Investigação Epidemiológica(FIE)e 41 (65%)apresentaram (Figura 4 ). Figura 4. Surtos quanto à apresentação da Ficha de Investigação Epidemiológica, MS, 1998-001. SCom FIE SSem FIE n S u rtos 20 40 60 80 T otal MüOW» ClissOAS m SAÚBE 2>r. Sérgio J^rotica 41 No período de 1998-001 , verifica-se aumento anual do número de fichas de investigação epidemiológica, enviadas ao LACEN, acompanhando amostras de alimento com conseqüente redução de surtos sem FIE (Figura 5 ). Figura 5. Evolução anual de surtos sem Ficha de Investigação Epidemiológica, MS, 1998-001. % 60 57.1 50 46,7 40 m 40 30 20 12.5 1 O O 1 998 1 999 2000 2001 Ano Fonte: LACEN/FUNSAU/SES/MS A demonstração da origem dos surtos confirmados(39), caracterizou 95% como de origem biológica(37)e 5%(2) de origem química(Figura 6). Figura 6. Surtos quanto à origem ,no MS,1998-001. B Biológica ■ Química Total 50 40 H 37 S Total 30 20 H 10 o SUTtOS Fonte: LACEN/FONSAU/SES/MS 42 5.2 Microrganismos Envolvidos: Observa-se que os microrganismos isolados mais freqüentemente envolvidos nos surtos confirmados no período de 1998-2001são Siaphylococcus coagulase (+)em dezoito surtos (46,2%) ,SalmoneIla sp em quatorze (35,9%), Escherichia coli em doze (30,8% ); Closlridhtm perjringens em cinco (12,8% ), B. cereus em quatro (10,3%)e nenhum surto com Shigella; (Tabela 2 ) . Dentre as espécies de Salmonella identificadas nas amostras remetidas para o Instituto Adolfo Lutz (TAL), SP, no período em estudo, observa-se a prevalência da Salmonella enteritidis no período estudado em 13 amostras, totalizando 81,49^(Tabela 3). TABELA 2. Microi'ganismos identificados nos surtos confirmados em MS, 1998-001. MICRORGANISMOS NÜMERO DE SURTOS 1998 1999 Siaphylococcus coagulase (+) 5 2 Salmonella sp 3 Escherichia coli Clostridium perfringens 2001 TOTAL 3 8 18 46,2 3 3 5 14 35,9 4 1 4 3 12 30,8 2 1 - 2 5 12,8 2 2 4 10,3 Bacillus cereus - Shigella sp 2000 - - - - - - % - Fonte ;LACEN/FUNSAU/ SES/MS TABELA 3. Espécies de Salmonella sp identificadas nas amostras remetidas para IAL /SP, 1998-001. Microrganismos 1998 1999 S. anatum 01 S. enteritidis 02 03 - - S. infantis S. enterica - Fonte:LACEN/FUNSAU/SES/ MS - - 2000 - 01 01 - 2001 - 07 - 01 Total % 01 6,2 13 81.4 01 6.2 01 6.2 43 5.3 Alimentos Envolvidos: A Tabela 4 mostra a freqüência anual dos sessenta e quatro alimentos envolvidos nos surtos confirmados, no período investigado. Observa- se que bolo confeitado é o alimento mais freqüentemente envolvido(dezesseis amostras). TABELA 4. Alimentos envolvidos nos surtos ,MS 1998- 001 Alimentos Número de Amostras 1998 Abobrinha refogada Arroz Bife a relê Bolinho de carne cozida Bolo confeitado Brigadeiro _ - - 3 2 - Carne de frango cozida Carne de hamburguer Chuchu refogado 1 Coxinha 2 1 - - - - - Milho verde cozido 1 Purê de batata Queijo frescal artesanal Refrigerante Risoto Salada Salada de maionese Sorvete caseiro Vinagrete Totai de Amostras Fonte: L,ACEN/FUNSAU/SES/MS 1 - 1 - 1 - - - - 1 - - 1 - - - - - - 1 Peixe defumado 1 - Mandioca cozida Molho c/ salsicha 1 5 1 Macarrão alho e óleo - - Carne crua Iogurte Lingüiça - — - 1 Farofa - 2000 - Carne assada Creme de milho 1999 - 1 - - - - - - - - 1 1 - - - 1 - - - - - - - 1 1 - 3 2 1 1 3 1 1 - - 16 - 11 - - 16 2001 Total 1 1 1 1 - 1 1 1 6 16 - 1 2 5 - 1 1 3 - 2 - 1 - 2 1 1 1 1 1 1 1 - - - - - - 1 1 2 1 1 1 1 2 3 2 2 - - - - 3 3 4 2 1 1 21 64 Quanto a classificação dos alimentos envolvidos , de acordo com RDC N°.12 janeiro de 2001/ANVISA, estes pertencem aos seguintes de grupos ; pratos prontos para consumo com vinte e três amostras(36%,), produtos de confeitaria com dezenove (29,7%), carnes e derivados com treze (20,3%), leite e derivados com quatro (6.3%), gelados comestíveis com duas (3,1%), bebidas não alcoólica com duas (3,1% )e peixe e derivado com uma(1,6%)(Tabela 5). TABELA 5. Classifícação quanto a RDC N°.12 /ANVISA, dos alimentos envolvidos nos surtos de MS,1998- 001. GRUPO NUMERO DE AMOSTRA % Produtos de confeitaria 19 29,7 Pratos prontos para o 23 36,0 Consumo Leite e derivados 04 6,3 Carne e derivados 13 20,3 Gelados comestíveis 02 3,1 Pescados e derivados 01 1.6 Bebidas não alcoólica 02 3.1 TOTAL 64 100 Fonte:LACEN/FUNSAU/SES/MS Quanto aos microrganismos envolvidos nos surtos e os respectivos grupos de alimentos,a Tabela 7 mostra que : o Staphylococcus caagitlase (ij foi isolado dos seguintes grupos : produtos de confeitaria( onze amostras ), pratos prontos para o consumo (nove amostras),carne e derivados (duas amostras)e leite e derivados( cinco amostras);sendo o grupo produto de confeitaria de maior predominância, com o alimento de maior envolvimento, bolo confeitado com 9 amostras..A Salmonella sp é veiculada por produto de confeitaria( seis amostras ), pratos pronto para o consumo ( sete amostras ), carne e produtos cárneos( quatro amostras),gelados comestíveis( uma amostra )e pescados(uma 45 amostra ); sendo o bolo confeitado(cinco amostras) do grupo produto de confeitaria, o mais freqüente nos surtos por este microrganismo. E. coli com uma, seis, três também ocorre nestes grupos e uma amostra respectivamente , com exceção do grupo gelados comestiveis, porém verifica -se sua presença no grupo de leite e derivados(duas amostras) . Observa-se a presença de Clperfrmgens nos grupos: carnes e derivados(quatro amostras)e pescados;( uma amostra ); já o B. cereus ocorre em pratos prontos para o consumo ( duas amostras)e produtos de confeitaria(duas amostras)(Tabela 6). TABELA 6. Grupos de alimentos e número de amostras para cada microrganismo isolado, MS, 1998-001. Grupos S. coag ( +) Salmonella E. coli Cl. B. cereus petfringens Bebidas não alcoólicas Carnes e derivados 02 Gelados Comestiveis - I.eite e derivados 05 Pescados e derivados Pratos prontos - - - 04 01 - - 03 04 - - 02 01 01 - - 01 - p/ 09 07 06 02 de 11 06 01 02 27 19 13 consumo Produtos Confeitaria Total 05 04 Fonte:LACEN/FUNSAU/SES/MS A Tabela 7 demonstra que em vinte e sete amostras de alimentos foram isoladas Staphyíococcus coag.('<) (42,2% ), observa-se que o bolo confeitado é o alimento mais acometido com este microrganismo seguido do queijo frescal ; em dezenove Salmonella sp (29,7%) , o bolo confeitado, também foi um dos alimentos responsável ; em treze E.ca/i (20%); em cinco Cl. perfrmgens(7,8%)e em quatro B. cereus (6,0%). 46 TABELA 7. Alimentos envolvidos com respectivos microrganismos identificados nos surtos ,MS, 1998-001. Alimentos S. coag. + Abobrinha refogada Arroz Bife a rolê Bolinho de carne cozida Bolo confeitado Brigadeiro Carne assada Carne crua _ 01 - - 09 - 01 - Carne de frango cozida Carne de hamburguer Chuchu refogado 1 Coxinha 2 - 1 Creme de milho 01 Farofa 01 Iogurte Lingüiça 01 Macarrão alho e óleo Mandioca cozida Milho verde cozido Molho c/ salsicha Peixe defumado Purê de batata - - - - - - - Queijo frescal artesanal Refrigerante 04 01 01 Salada de maionese 02 Total de Amostras Percentagem Fonte ;LACEN/FUNSAU/SES/MS CL sp coli perfríngens cereus 01 - 01 - 05 01 01 - 01 - - - 01 - - - 01 _ 01 - 01 B. _ - - 01 02 - - - 01 01 - - 01 - OI 01 - 01 - - 01 - - _ - - 01 01 - 01 01 01 01 - - Risoto Vinagrete E. - Salada Sorvete caseiro Salmonella - - 01 01 - - - 01 - - 01 - 02 - - - - - - - - 01 - - - 01 - - - 01 02 - 01 - - - - 27 19 13 05 04 42.2 29.7 20.0 7.8 6.0 47 5.4 L.ocais de Ocorrência A Tabela 8 mostra a distribuição dos locais de ocorrência dos surtos em MS, no período de 1998 a 2001. Há maior prevalência em residência (47,6%), seguido dos estabelecimentos comerciais (15,9% ), escola ou creche (12,7%,) refeitório de empresa (7,9%), não relatado (7,9%),festa(4,8%), instituição e clube (1,6% cada). TABELA 8. Locais de ocoiTência dos Surtos, MS,1998-001. Ocorrência 1998 1999 2000 RESIDÊNCIA 2001 TOTAL % 13 30 47.6 8 12.7 ESCOLA ou CRECHE REFEITÓRIO DE EMPRESA 7,9 ESTABELECIMENTO 10 15,9 COMERCIAL 4.8 FESTA INSTITUIÇÃO 1 1,6 CLUBE 1 1,6 7,9 NÃO RELATADO TOTAL Fonte: LACEN/FUNSAU/SES//1VIS 14 15 10 24 63 100 48 5.5 Municípios Envolvidos Durante o período de 1998-001 , verifica-se a participação de vinte e quatro municípios, 31,2% do total de setenta e sete municípios que compõe o Estado; de MS, sendo os que apresentaram constância de notificação : Campo Grande, município de maior população, com vinte e três surtos (36,5% ), seguido de Três Lagoas com sete surtos (11,1%)e Costa Rica com três surtos(4,8 %) (Tabela 9) . TABELA 9.Municípios notifícadores de surtos ,MS,1998-001. Município Número de Surtos 1998 1. 2. 3. 4. 5. Angélica Aquidauana Camapuâ Campo Grande Chapadão do Sul 6. Coronel Sapucaia 7. Corumbá 8. Costa Rica 9. Dourados 10.Fátima do Sul 11.Guia Lopes da Laguna 12.Inocência 13.Itaporã 14.Ivinhema 15.Ladário 16. Naviraí 17.Paranaíba 18.Pedro Gomes 19.Ponta Porá 20.Porto Murtinho 21. Rio Verde 22.Sete Quedas 23.Sidroiândia 24.Três Lagoas Total Fonte: LACEN/FLNSAU/SES/MS 1999 2000 2001 1 1 - 6 - 1 - - - 1 - - 1 - - - 6 - 2 - 1 1 1 - - - - - - 1 1 2 - - - - - - 1 1 - - - - 1 - - - - - - - 1 1 1 - - 1 1 - - - - 1 - 1 1 1 2 14 15 10 - total - - 1 1 1 9 23 2 2 - 1 1 2 1 3 1 1 2 - - - 1 1 1 2 2 2 - 1 - 1 - 1 - - - 3 24 1 2 2 1 2 1 2 1 1 7 63 49 A figura 7 mostra freqüência e percentual dos municípios que notificaram surtos no período estudado. Observa-se que em 1998 houve notificação em nove municípios(11,7%), em 1999 também em nove(11,7%),em 2000 oito(10,4%)e em 2001 doze(15,6%). Figura 7. Freqüência e percentual de IVIunicípios Notificadores de Surtos, MS,1998-001. 18 1 16 • 14- ■ 191998 12 El 1999 10 - ■ 8• 6 4 02000 □2001 2A O Percentual Freqüência Fonte: LACEN/FUNSAU/SES/MS 5.6 Quantificação do Número de Pessoas Expostas, Doentes e Hospitalizadas A distribuição anual do número de pessoas expostas, hospitalizadas e não hospitalizadas nos surtos com FIE em MS, no período de 1998-001, está sintetizada na Tabela 10, abaixo TABELA 10 . Distribuição anual do número de pessoas expostas, hospitalizadas, MS, 1998-001. Ano Expostas Doentes Hospitalizadas Não Hospitalizadas 1998 117 15 102 1999 104 50 54 2000 422 48 90 2001 234 42 151 Total 877(100%) 155(17,7%) 397 (45,3%) Fonte: LACEN/FUNSAU/SES/MS doentes e 50 Conforme mostra Figura 8 ,o número total de pessoas expostas nos surtos que apresentaram FIE foram oitocentos e setenta e sete pessoas, cx)m cento e cinqüenta e cinco (17,7 %)doentes hospitalizados e trezentos e noventa e sete (45,3 %)doentes não hospitalizados. Figura 8. Total de Pessoas expostas dos surtos, hospitalizadas ou não, MS,1998-001. Expostos 397 @Doentes hospitalizados EI3 Doentes não 877 155 hospitalizados Fonte: LACEN/FUNSAU/SES/MS 5.7 Faixa Etária /Gênero A Tabela 1 1 nos surtos mostra total e percentual dos sexos masculino e feminino envolvidos transcritos das FIE, e distribuição nas diferente faixas etárias. A faixa de idade mais acometida foi de 20 a 49 anos(60,1%) ,durante o período de 1998-001 . 51 TABELA 11 . Faixa Etária e Gênero dos surtos com Ficha de Investigação Epidemiológica , MS,1998-001. Faixa etária Masculino Feminino dos doentes em anos TOTAL Total % Total % N°. % <1 2 1.2 3 1,7 05 1,5 1 a 4 18 10,8 17 9.7 35 10,2 5a 9 11 6.6 19 10.8 30 8,7 10 a 19 22 13,2 25 14.2 47 13,7 20 a 49 105 62,8 101 57,4 206 60,1 9 5.4 11 6.2 20 5,8 167 100 176 100 343 100 50 e + Total Fonte:LACEN/FUNSAU/SES/MS Conforme Figura 9 o sexo predominante nos surtos do período 1998-001, foi o feminino com 51% em relação a 49% masculino. Figura 9. Percentual por gênero acometidos nos surtos, MS,1998-001. Masculino 49% Feminino 51% Fonte: LACEN/FONSAU/SES/MS 52 5.8 Sazonalidade dos Surtos A Tabela 12 apresenta a distribuição mensal dos surtos ao longo dos anos estudados. Observa-se maior ocorrência dos surtos no mês de março (17,5%), seguido do mês de agosto(15,9%). TABELA 12. Distribuição mensal dos surtos em MS,1998-001. Período 1998 1999 Janeiro 01 02 Fevereiro 01 01 Março 02 01 Abril - Maio - Junho - Julho - 01 2000 2001 Total % 01 04 6,4 01 02 05 7,9 01 07 11 17,5 01 02 3.2 02 3,2 02 04 6,4 01 03 4,8 04 10 15,9 01 04 6,4 01 06 9,5 06 9,5 06 9,5 - - 01 01 02 - 02 - Agosto 01 Setembro 03 Outubro 02 03 Novembro 02 01 03 Dezembro 02 - - 03 - 02 - - - - 04 Fonte :L,ACEN/FUNSAU/SES/MS A Tabela 13 demonstra a freqüência dos surtos climáticas. Nota-se que a estação de maior ocorrência foi primavera(28.6% ), inverno(25,4%)e outono(14.3%). de acordo com as estações verão( 31.7% ), seguida da 1 53 i I TABELA 13. Freqüência e percentual dos surtos de DTA ocorridos em cada estação do ano, MS, 1998-001. ESTAÇÕES FREQÜÊNCIA Vo DE SURTOS Primavera 18 28.6 Verão 20 31.7 Outono 09 14.3 Inverno 16 25.4 Total 63 100 Fonte ;LACEN/FUNSAU/SES/MS 54 6. DISCUSSÃO 6.1 Características dos Surtos Verificou - se que em 156 amostras examinadas, 41 % foram positivas( Figura 1), isto pode ser justificado pela coleta de amostras não ter sido conduzidas pelos cálculos estatísticos e dados extraídos da FIE , pela dificuldade da investigação epidemiológica ou por coletas direcionada unicamente pelo comensal. Observou-se ocorrência de 63 surtos ,através de evidências clinicas e epidemiológicas. Houve confirmação de 39 surtos(62%) através de diagnóstico laboratorial (Figura 3 ), tal fato pode ser explicado por coleta de porção da amostra que não continha agente etiològico, podendo estes distribuir - se de maneira não uniforme nos alimentos. Não ter havido sobras dos alimentos envolvidos ou, ainda, presença de agente patogênico para qual o LACEN não tinha método de diagnóstico implantado. Dos trinta e nove surtos confirmados laboratorialmente, trinta e sete(95 %)foram de origem biológica e dois(5%)de origem química (Figura 6 ); coincidindo com perfil dos surtos relatados no Paraná, no período de 1978 -97 por CAMARGO et al. . Caracterizando se assim a contaminação microbiana dos alimentos como principal agravo gerador de DTA com significado para a Saúde Pública no MS (1998-001 ). Conforme mostra Figura 4,quarenta e um (65%)surtos apresentaram FIE e vinte e dois(35 %) não apresentaram FIE, o que impede obtenção de dados mais detalhados sobre o surto. Notou-se que ao longo dos anos houve uma diminuição progressiva de surtos sem FIE. Em 1998 57,1% de surtos foram comunicados sem FIE e em 2001, 12,5 %(Figura 5 ). A justificativa pode ser a realização de treinamentos de VEDTA, ministrados a partir do segundo semestre de 2000,para vários municípios do estado. Além de exigência crescente do laboratório de bromatologia do acompanhamento da FIE com amostra de alimento para aumentar a eficácia do Sistema de Vigilância Epidemiológica . 6.2 IVficrorganismos Envolvidos nos Surtos Quanto aos microrganismos isolados, observou-se maior freqüência do Staphylococcus anreus caagtilase (i) em dezoito surtos (46,2% )em vinte ( 42,2% ). E sete amostras de alimentos segundo lugar Salmonella sp com quatorze surtos (35,9% )em dezoito amostras(28%) ,( Tabela 2 e 7). Perfil idêntico foi relatado por CAMARGO( 1978-97)no estado do Paraná e pelo CDC(2001)nos Estados Unidos. Divergindo dos dados evidenciados no estado de Minas Gerais publicado por MARTINS VIEIRA(1991-97). O encontro de 81,4% de prevalência no sorotipo enteritidis nas Salmonellas isoladas, confirma relatos do CVE,SP, 2001, que no Brasil desde 1994, este sorotipo é mais freqüentemente isolado. lí. coli foi isolada em 30,8 %(doze)dos surtos no MS, porém CAMARGO( 19781997)relata 3,8% dos surtos ocorridos no Paraná . C/. perfringens foi responsável por 12,8 % (cinco )dos surtos no MS , porém no Paraná por 7,9% e 3,5% no estado de Minas Gerais, segundo CAMARGO( 1978- 97) e MARTINS VIEIRA (1991-97),respectivamente . B. cereus foi identificado em quatro surtos( 10,3% )no MS, comparando com Minas Gerais 3,5% e 4,3% no estado do Paraná, de acordo com MARTINS VIEIRA (1991- 97)e CAMARGO(1978- 97 ), respectivamente . Shigella sp não foi isolada em nenhum alimento envolvido nos surtos . No Brasil é alta a freqüência de isolamentos deste microrganismo em amostra fecal de pacientes diarreicos internados em hospitais, entretanto microrganismo na água e alimentos. O que é praticamente nula pode constatação desse ser justificado pelo baixo poder competitivo do microrganismo, aliado a não existência de uma técnica específica para detecção do mesmo ou por alguma alteração deste microrganismo ainda não esclarecida. Porém, em Belo Horizonte houve um caso de isolamento de S. flexneri por consumo de alimento contaminado em duas crianças(PEREIRA e LEOCÁDIO FILHO, 1994). 6.3 Alimentos Envolvidos 56 Dentre sessenta e quatro alimentos envolvidos e trinta e nove surtos confirmados, bolo confeitado , foi o alimento mais envolvido com 25%(dezesseis amostras)e apresentando uma prevalência ao longo dos anos analisados, representando 84,2% das amostras do grupo produtos de confeitaria( Tabela 4 e 5). De acordo com a RDC N 12 /janeiro de 2001/ANVISA, os grupos de alimentos envolvidos nos surtos foram : produtos de confeitaria com dezenove amostras (29,7% ), pratos prontos para o consumo com vinte e três amostras(36%), leite e derivados com quatro amostras (6,3 % ), carnes e derivados com treze amostras(20,3% ), gelados comestíveis com duas amostras (3,1 %), pescados e derivados com uma amostra( 1,6% )e bebidas não alcoólicas com duas amostras(3.1%)(tabela 5). Os grupos mais envolvidos foram : pratos prontos para o consumo , produtos de confeitaria e carnes e derivados. O Staphylococcus aureus coagulase (+)foi veiculado por alimentos pertencentes aos seguintes grupos : produtos de confeitaria( onze), pratos prontos para o consumo (nove), leite e derivados(cinco)e carnes e derivados(duas );sendo o grupo mais envolvido, produto de confeitaria (40,7%), representado pelo bolo confeitado com 81,8% das amostras(nove)e coxinha com 18,8% das amostras( duas)(Tabela 6 e 7). Dentre os derivados lácteos, destacamos o iogurte por ser um produto fermentado através de mistura de culturas (starter), desenvolvendo um pH final menor que 4,5, prevenindo o desenvolvimento de microrganismos deteriorantes e patogênicos ; entretanto alguns fatores podem justificar a presença de S. aureus, tais como: qualidade microbiológica do leite utilizado como matéria prima, condições de processamento e manipulação. Resultados semelhantes também foram ;btidos por CARMO et al.( 1991-92 ); detecção deste agente em produtos lácteos foi caracterizado por BRABES et al.; isolamento deste microrganismo da garganta e fossas nasais de manipuladores sadios foi relatado por BERGDOLL; FERNANDES,(1998 ); RIBEIRO et al. (1998). HERRERO et al; Portanto presença de cepas de S. aureus coagulase (+) em alimentos pode ser a partir da obtenção, em especial nos de origem animal, ou chegar posteriormente durante o processamento, a partir dos manipuladores (franco & LANDGRAF, 1996). Salmonella sp foi veiculada por alimentos pertencentes aos seguintes grupos : pratos pontos para consumo( sete ), produtos de confeitaria (seis ), carnes e derivados (quatro ), gelados comestíveis (uma )e pescados e derivados( uma )(Tabela 6) ; sendo bolo confeitado , o alimento mais incriminado com cinco amostras (Tabela 7) ; porém carne de frango e salada de maionese também foram envolvidos, coincidindo com relatos de ; PERESl 57 et al. (1998) que em 23 surtos provocados por S. enteriíidis, vinte e dois foi em alimentos contendo ovos e um em carne de aves; CARMO et al., cuja origem da contaminação por S. eníeritidis foi os ovos utilizados no preparo da maionese. Nos últimos anos tem se observado aumento na incidência da salmonelose causada por S. eníeritidis envolvendo ovos e produtos a base de ovos, pois este sorotipo tem peculiaridade de colonizar o canal ovopositor das galinhas, ocasionando contaminação da gema durante formação do ovo, portanto é necessário adotar processo de exclusão competitiva nas granjas brasileiras ( FRANCO & LANDGRAF , 1996 ). Outra causa da salmonelose, é a contaminação dos alimentos através dos portadores assintomáticos, pois de acordo com JAY (1992 ), 5% das pessoas que sofrem salmonelose se tranformam em portadores assintomáticos, passando a exercer um papel importante na disseminação do agente etiológico, principalmente quando participam da cadeia de produção e comercialização de alimentos. K. coli foi isolada em doze alimentos pertencentes aos seguintes grupos ; produtos de confeitaria (coxinha ); pescados e derivados(peixe defumado ); carnes e derivados(carne de frango, carne e bolinho de carne ), pratos prontos para o consumo( mandioca cozida, salada, salada de maionese, risoto e arroz); leite e derivados(queijo frescal) ( Tabela 6 e 7) Não foi identificada nenhuma linhagem considerada patogênica, que pode ser justificado, pois, mesmo níveis não detectáveis podem causar a doença(FDA,2001 ). Portanto os resultados apresentados caracterizou contaminação de origem fecal ; definindo condições higiênicas insatisfatórias na produção dos alimentos. Estes resultados diferem de outros locais do Brasil conforme relatos de : CAMARGO (1997 ), onde E. coli é responsável por 3,8 % dos surtos ocorridos no estado do Paraná; de PEREIRA et al.(2001 ), que isolaram E. coli verotoxigênica(EPEC)no leite cru em Pelotas, RS.; MARTINS VIEIRA et al.(1991 - 98 ), 2,6% dos surtos no estado de Minas Gerais, foi devido E. coli enieropatogênica OI27- B8; GIL et al .(2001), relata ocorrência de ETEC em 16 amostras de queijo colonial em Pelotas,RS. Difere também da Argentina, onde LOPEZ et al.( 1989 ), relata alta incidência de HUS ,devido elevada incidência de E. coli O 157 : H7. Porém, no Brasil até o presente momento não há relatos oficiais de casos de diarréia produzida por este microorganismo. Em Mato Grosso do Sul ,CTI , Hospital Universitário, há relatos pessoais da incidência de HUS em pediatria através de evidências clínicas e epidemiológicas(CÂMARA NETO & FREITAS ). Foi isolada E coli 0157:H7 em fezes de animais bovino em propriedades da região norte fluminense(GONZALEZ et al). Cl. perfringens foi isolado em cinco amostras como mostra Tabela 7, pertencentes aos grupos : carne e derivados( com quatro amostras)e Pescados e derivados com uma 38 amostra de peixe defumado (Tabela 6).Observou-se predomínio do grupo de carnes e derivados com 80% ; estes resultados confirmam os relatos de VARNAM,EVANS (1991) ; GENl GEORGIS (1986) APUD. VARNAM, EVANS (1991) . relatam que os produtos cámeos são responsáveis por 70% dos surtos nos Estados Unidos; RUDGE (1982 ), isolou C7. perfriugens e presença de toxina A em duas amostras de hamburguer em Botucatu - SP. A presença deste microrganismo em carnes cruas indica más condições higiênicas no abate; em carnes cozidas com baixa contagem , reflete nível de contaminação da matéria prima e contagem elevada, processamento ou cozimento inadequado(VARNAM E EVANS , 1991 ). O isolamento de Cl. perfringens em peixe pode ser considerado como falhas durante o processamento e preparo(ICMSF 1986 ), ou este microrganismo pode fazer parte do c£mal alimentar ou ser encontrado na superfície do mesmo conforme relatam LABBE et al. . fí. cerens foi isolado em quatro amostras de alimentos confeitaria dos grupos: produto de com duas amostras e pratos prontos para o consumo duas amostras (Tabela 6). Observou-se que todos alimentos incriminados são derivados de cereais, com alto teor de amido : trigo (bolo ), arroz(risoto)e milho(creme de milho) (Tabela 7 ); caracterizando síndrome emética, cujo resfriamento lento do alimento permite desesporulação consequentemente e multiplicação das células vegetativas (RHODEHAMEL & HARMON ,1995). A associação deste microrganismo a alimentos com elevado teor de amido, foi relata da por ALMEIDA et al. (2001 ), em farinha de mandioca comercializada em Salvador, BA,; e por BRUM & RIBEIRO (2001 ),em alimentos constituídos de amido, comercializados em Pelotas ,RS. Intoxicação alimentar causada por B. cereus, ocorre quando alimentos preparados são mantidos à temperatura ambiente por várias horas antes do consumo (RHODEHAMEL & HARMON, 1995). 6.4 Locais de Ocorrência Dos 63 surtos analisados no período de 1998 -001, 47,6% ocorreram em residências, 1 5,9% em estabelecimentos comerciais, 12,7% em escolas ou creches, 7,9 % em refeitório de 59 empresas, , 4,8% em festas, 1,6% em instituições, 1,6% em clubes e 7,9°/o não foram relatados. Os domicílios representaram local de maior incidência dos surtos notificados, porém, observou-se expressiva notificação de surtos ocorridos em locais de consumo coletivos (44,5%)(Tabela 8). Perfil semelhante foi relatado por CAMARGO et al. (1978 97)no Paraná; já em São Paulo os locais de alimentação coletiva representam maioria dos surtos investigados (GERMANO,2001). A ocorrência no domicilio está relacionada com diarréia infantil, faixa etária em que este agravo apresenta alta letalidade , isto pode ser decorrente da aceitação do problema da diarréia ser considerada "normal", ou por questões sociais, econômicas e culturais. Alguns fatores de riscos favorecem toxinfecções no domicílio, tais como : falta de água potável, falta de equipamentos para refrigeração de alimentos( geladeiras ), alimentos preparados várias horas antes do consumo, cocção inadequada dos alimentos, falta de higiene pessoal, preparo de alimentos por pessoas doentes ou com lesões, higienização inadequada de utensílios (mamadeiras) (CENEPI ,2001 ). De acordo com dados oficiais do Estado do MS, diarréia na faixa etária menor de 4 anos representou 55,8% dos atendimentos(VE,2001 ); e conforme registros do SIM 69,5% de óbitos . Diante deste perfil é necessário que a Vigilância Sanitária e Epidemiológica façam um trabalho integrado com PSF e PACS, para realização de cursos de Higiene dos Alimentos para manipuladores domiciliares; para que mães tenham consciência dos riscos potenciais que práticas de manuseio dos alimentos podem acarretar à saúde da família . 6.5 Municípios Envolvidos Dos setenta e sete municípios que compõem o Estado , 31,2% notificaram surtos ocorridos; observando ao longo dos anos estudados, que dois municípios(Campo Grande e Três I>agoas)apresentaram constância na investigação dos surtos( Tabela 9 ); e , em 2001 15,6% dos municípios que constitui o Estado, fizeram investigação de surto(Figura 7 ). Este baixo percentual ,indica urgente necessidade de capacitação e treinamento dos municípios no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos 60 ( VEDTA ); pois a partir da publicação da portaria GM / MS N°. 1461 de 22/12/99, ocorrência de surto passou a ser de notificação compulsória(CENEPI,M.S.,2001 ). 6.6 Número de Pessoas Expostas,Hospitalizadas e Não Hospitalizadas. O número de pessoas expostas conforme registros na FIE,foram 877, sendo 155 pessoas (17,7%)doentes hospitalizados e 397(45,3%)doentes não hospitalizados; totalizando 63% de doentes( Tabela 10 e Figura 8); dados semelhantes são apresentados pelo CVE, SP (2001 ); com 21.386 expostos , 2.233 doentes (10,4%)e dois óbitos; por FERNANDES. (1998 ), em Contagem, MG, com 3000 expostos e 800 hospitalizações (26,7% ); e pela Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande com 23.537 casos de diarréia notificados em 1999; em 2000, 24.968; e em 2001 29.583, esta incidência ao longo dos anos pode ter duas hipóteses ; aumento de casos e ou aumento das notificações. No Estado de MS. ocorreu 52.420 casos de diarréia(CVE,2001 ); que de acordo com informações de morbidade hospitalar do SUS( DATASUS , 2001 ), MS gastou R$ 913.696,71 reais correspondente a 4.064 intemações com diarréia; sendo os maiores custos nos seguintes municipios ; Campo Grande com R$ 377.958,34 equivalente a 1.311 internações ; Três Lagoas com R$ 174.194,63 e Corumbá com R$97.968,69. E no período de 1998-001, o Estado de MS gastou RS 4. 002. 716,40 com 15.421 intemações hospitalares por diarréia. Estes dados caracterizam o impacto e custo da assistência hospitalar e ambulatoríal das DTA de origem diarréica no SUS. 6.7 Faixa Etária / Gênero De acordo com dados levantados no período estudado através da FIE, o sexo predominante foi o feminino, com 51%, seguido do masculino com 49% (Figura 9) A faixa etária de maior prevalência, 20 a 49 anos(60,1%), seguida pela 10 a 19 anos com 13,7 % e 61 1 a 4 com 10,2%(Tabela 11 ); relato semelhante foi realizado pela CVE,SES,MS,(1997-99); onde faixa etária de 15 a 50 anos foi mais atingida; CVE, SP (2001), relata que faixa etária de 20-49 anos foi mais atingida, seguida de 1 a 4 anos. Predomínio do sexo feminino pode ser justificado pelo local de ocorrência dos surtos, o domicilio, pois mulher permanece mais em casa que homem para cuidar dos filhos, manipular os alimentos, e por ser uma trabalhadora doméstica tende a comer sobras de alimentos(BRYAN & R1EMANN,1979). Outro fator seria o município de Campo Grande, por apresentar constância na notificação , ter a maior população do Estado (32%), e de acordo com dados do 1BGE,2000, tem mais mulheres que homens, porém o Estado de MS apresenta mais homens que mulheres . Quanto a faixa etária mais envolvida, trata-se da população mais vulnerável , ou seja, mais exposta a alimentos destinado a pronto consumo coletivo, tais como; fast - foods ou em vias públicas( CENEPI,MS,2001). Entretanto , de acordo com informações do DATASUS no MS, o sexo masculino apresenta maior número de internações (52% )enquanto que feminino 48,1%; e faixa etária apresenta seguinte ordem : de 1 a 4 anos , menor que lano e 20 a 49 anos ,com 36%,23,2%e 13%,observando morbidade da diarréia na infância(de O a 4 anos)com 59,2% das internações; predomínio do sexo masculino só ocorre na infância até quatro anos, pois a partir desta idade o sexo feminino apresenta maior prevalência De acordo com registros do SIM ,em 2001 houve 57 óbitos por diarréia(69,5%)em menores de 4 anos. Através da avaliação de dados verifica-se que diarréia causa perdas de horas trabalhadas, afetando economia do Estado ,e, contribui para aumento da mortalidade infantil. 6.8 Sazonalidade De acordo com a Tabela 12 , maior ocorrência de surtos foi no mês de março com 17,5%( onze surtos), seguido de agosto com 15,9%(dez surtos). A distribuição dos surtos nas estações climáticas foram : verão( 31,7% ), primavera (28,6%), inverno (25,4%)e outono ( 14,3% )( Tabela 13). Observou-se maior prevalência no verão seguido da primavera; porém dados do CVE.SP (2001 ), apresentaram sazonalidade diferente, maior incidência no verão seguida do outono. Observando os dados da Tabela 13 verifica-se que houve sazonalidade , mesmo MS não apresentando variação climática substancial, pois o tipo de clima que predomina na região 62 Centro- Oeste é tropical, constantemente seco com temperaturas bastante elevadas (LUCCI, 1993), evidenciado através dos microrganismos isolados, os quais são mesófílos, crescem à temperatura de 35" C. Incidência no período de inverno pode estar relacionada à diarréia causada por vírus, cujo diagnóstico laboratorial é realizado nas fezes, justificando número de surtos não confirmados (vinte e quatro )correspondendo a 38,1% da notificação. Portanto é necessário orientação aos municípios de que para diagnóstico de surto é necessário coleta de amostras bromatológicas e biológicas(CENEPl ,MS, 2001 ). 63 7, CONCLUSÃO Os principais fatores que contribuem para validar os resultados obtidos foram :a padronização dos métodos de isolamento dos microrganismos a partir de alimentos suspeitos com uso de normas internacionalmente preconizadas "Standard Methods for Examination of Foods( APUA, 1984)e normas adaptadas à realidade Brasileira(Instituto Adolfo Lutz, SP), pela capacitação e qualificação constante dos técnicos da DBQ pelos laboratórios de referência regional definidos pelo ministério, e pela participação do setor de microbiologia de alimentos em ensaios de proficiência. Os resultados obtidos permitem fazer as seguintes considerações: Houve aperfeiçoamento do sistema de registro de surtos, conforme demonstra o número crescente de FIE no período de 1998-001; Os surtos de toxinfecção alimentar ocorridos no período de 1998-001 no Estado de Mato Grosso do Sul foram principalmente de origem biológica(95%), por contaminação bacteriana; Os agentes etiológicos identificados foram : Staphylococcus coagulase + (46,2%), Sa/moneí/a sp (35,9 %),E. coU (30,8% ), Clperfringem (12,8%)e B. cereus(10,3% ); observou-se prevalência da S. enteritidís; Os grupos de alimentos envolvidos nos surtos foram : pratos prontos para o consumo(36 % ), produtos de confeitaria(29,7%)Carnes e derivados(20,3%), Leite e derivados (6,3 % ), gelados comestíveis (3,1 % ), bebidas não alcoólica (3,1%)e Pescados e derivados (1,6%) O alimento de maior veiculação foi bolo confeitado(25 %); O local de maior ocorrência dos surtos foi o domicílio (47,6% ), seguido pelos estabelecimentos de uso coletivos (44,5% ), o que demonstra o foco de atenção primária que mais necessita de medidas preventivas e eficazes; 64 As principais fontes de contaminação dos alimentos foram: manipulador , método de obtenção e origem da matéria prima, e com microrganismos encontrados, os prováveis mecanismos de contaminação que favoreceram toxinfecções foram : falhas na cadeia de refrigeração, manipuiadores de alimentos com práticas inadequadas de higiene pessoal ou portadores de lesões ou doenças passíveis de contaminação, existência de condições ambientais favoráveis ao crescimento de agentes etiológicos; exposição de alimentos mornos à temperatura ambiente, alimento preparado várias horas antes de seu consumo, utilização da matéria prima contaminada, práticas inadequadas de armazenamento e utilização de água não potável; Do total de municípios que compõem o Estado, 31,2% notificaram surtos de toxinfecção alimentar; A faixa etária de 20 a 49 anos e o sexo feminino foram os mais predominantes nos surtos de toxinfecção alimentar no período estudado; Os surtos em MS no período de 1998-001, apresentou sazonalidade, com maior prevalência no verão seguido da primavera; O DATASUS (1998-001 )indica que os custos da assistência hospitalar das diarréias no MS, totalizaram R$ 4.002.716,40 reais. A importância da toxinfecção alimentar é significativa pois 63 % dos expostos dos surtos com FIE, no período de 1998-001, adoeceram ,e destes 17,7% foram hospitalizados . A disseminação de cursos de educação básica em saúde e higiene dos alimentos , das boas práticas de fabricação e da análise dos perigos e pontos críticos de controle (APPCC) nos domicílios , estabelecimentos coletivos e escolas, aliados a uma política econômica , social e de saneamento, são instrumentos significativos para controle dos surtos de DTA; BIBUOTEClialNCtASiM SAÚDE l>r. Sérgio ^ouca 65 8. Devido grande número de ocorrência de surtos em domicilio, toma-se necessário uma parceria das Vigilâncias em Saúde com o Programa Saúde da Família (PSF )e o Programa dos Agentes Comunitários(PACS),pois mães não têm consciência dos riscos potenciais que práticas de manuseio dos alimentos podem acarretar à saúde da família, pela falta de informações e educação sanitária; Promover controle e tratamento dos portadores assintomáticos de Salmonella sp. 66 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . ALMEIDA, A . C. et aí. Ocorrência de B. cereus em farinhas de mandioca comercializadas em Salvador -BA. In : XII Encontro Nacional de Analista de Alimentos, 1 1,2001, Maceió. Anais MaceióAL; ENAAL , 2001.p.216. 2. ALVES, S E. Manual de Controle Higiênico- Sanitário em Alimentos. 4" edição, São Paulo, Editora Varela,2001 . 3. ANDRADE,S.M O Metodologia da pesquisa científica - A abordagem qualitativa. Campo Grande ,2001. 4. BARROS, V R M. ;PAIVA,C.P.;PANETA,J.C. 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São Paulo,1999. 75 ANEXOS 76 ANEXO 01 FICHA DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA .SIstrma linlco de Spúde Ministério da Saúde Secretaria de Estado de Saúde- MS I^CENVSESflVlS INQUÉRITO COLETIVO DE SURTO DE DOENÇA TRANSMITIDA POR ALIMENTO Nome e Endereço do Local de Ocorrência: Data de Notificação: 7 8 Primeiros Sintomas Nome dos comei»ais(doenleR e nio doentes)2 3 4 5 6 Sus setii Sinais e Sintomas Alimentos consumidos na rcfeiçio suspeita Exames Laboratoriais Lvoloçio 10 11 12 13 S s j» 1 e m <• M u o m LP m •s u m 5 0 •o e e Vi •8 ;3 n « < m e s •s "8 «d C3 e m 'S p XJ Ò 9 'Si c N e o d« O *5) Õ. s 1 O Ilina llnra Cd £ .3 £ s 1 > a ¥i «s 9 t; •• U m 'S s ã g b u m 1 li m •c •9 «d a* õ Q e "9 S 1 o ai 01 02 0.^ 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 Noroc <!o im'C8ttg«dor Dui ióMNgeua'sfcrol. Local de lovesilgacio Assiatiura Idade Cosdtçio CltDÍca Hocpilatizaçift Stnati e aiatcmia M^MeacuIiao A*Ano Doenlet* * Sim*" ♦ SINI-^ F* Femintao M-M« Nio docates" • Não-. Sexo NÂO •. D-Dii Alimentos consumidos na Matetial de Exame Laboratorial rcfeiçio suspeiia l*Saogiie SIM-* 2"Fczci NÂO-. 3"Vôinilos 4«lJrtaa l^Ç*1.dçj9çonéocia ê.ojtrçA-ml local onde as.pesaoas sc^oatamirpiram l^cit de Investigiaçio - lx>cal (is) onde os casos foram tns-estigados (serviço de saúde, residência, estabelecimento) Manifetlaçdes. Alêigícas ~ uriicáría^ edema de face ou dc membros, dificuldade de deglutir c respirar Uso de aotíbiótico Resultado Cora e Õbtio X'*com iaformaçio .••sem tnformiçio NA^^aio se aplica aoiesda colheita I'Shtgelta SIM-* 2'SalmontUa NÂO'. Í'S.aurros A^B.ctrewt 5•■Tecidos yc.peffnrtges 6=^ Outros 6'ti. coU 7*Oulro* MinifcflaçXn Ncuiológicu • •• Pcnli de cnmcicncii. diltUflo ds. pupilis. dificuldade dc deglulii. falai c icipiiai. paialisia rcapiialúiii. domtcncia. debilidade lu» iiKmbios infcriarcs. patalUit. dificuldade molnit. pc taidn ou mio caida i 78 ANEXO 2 PLANILHA PARA COLETA DE DADOS DA FAIXA ETÁRIA E SEXO Faixa etária dos doentes Sexo Masculino 1998 <1 1 a4 5a9 10 a 19 20 a 49 50 e + Total 1999 2000 2001 Total Sexo Feminino % 1998 1999 2000 2001 TOTAL Total % No. % i 79 ANEXO 3 PLANILHA PARA COLETA DE DADOS ANO Município No. De Alimentos Surto xp. Expostos DH. Doentes hospitalizados DNH.Doentes não Hospitalizados FIE. Ficha de Investigação Epidemiológica Agente Etiológico Local de Ocorrência No. de Pessoas Exp. DH período do surto FIE surto confirmado DNH
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