MODELO DE ARTIGO
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MODELO DE ARTIGO
O Ciúme Patológico: Síndrome de Othello The Pathological Jealousy: Othello Syndrome RESUMO: O presente artigo apresenta uma intertextualização do ciúme patológico no relacionamento conjugal na literatura, Otlhelo – obra de Shakespeare, com o referido ciúme na atualidade. Buscando destacar características dessa problemática, como: sentimento de posse, angustia, insegurança, ilimitação, falta de consciência, delírios psiquiátricos, tristeza... Atenta, também, para as causas dessa doença, bem como suas consequências na adequação emocional e na dinâmica de relacionamento afetuoso das pessoas, o ciúmes patológico pode levar à consequências bruscas e irreversíveis, assim como na literatura que o mesmo levou Otelo a assassinar a mulher, cuja desconfiança depositava, como vemos na atualidade, parceiros matam seus parceiros, muitas vezes sem provas, graças a desconfiança psicótica, amor possessivo, desconfiança plena que toma conta de todo o seu ser. Enfim, este artigo discutirá assuntos relacionados ao ciúme que vai além do aceitável, versa sobre o ciúme doentio, psicótico denominado Síndrome de Otelo; tendo como propósito contribuir para reflexão de causas e consequências, bem como soluções para amenizar os efeitos, e erradicar consequências drásticas como a apresentada na obra de Shakespeare. ABSTRACT: This paper presents a intertextualização of pathological jealousy in the marriage relationship in literature, Otlhelo - Shakespeare, with that jealousy today. Seeking to highlight features of this problem, as possessiveness, anxiety, insecurity, unboundedness, lack of consciousness, psychiatric delusions, grief ... Aware, too, for the causes of this disease and its consequences on emotional fitness and relationship dynamics affectionate people, pathological jealousy can lead to abrupt and irreversible consequences, as in the literature that it led Othello to murder his wife whose confidence reposed, as we see today, partners kill their partners, often without evidence, thanks to distrust psychotic, possessive love, mistrust that takes full account of your whole being. Anyway, this article will discuss issues related to jealousy that goes beyond what is acceptable, is about the insanely jealous, psychotic called Othello Syndrome, and its goal is to contribute to reflection on causes and consequences, and solutions to mitigate the effects, consequences and eradicate as this in Shakespeare. Palavras-chave: ciúme patológico, relacionamento conjugal, manifestações de ciúme, Otelo, Shakespeare. Keywords: pathological jealousy, conjugal relationship, manifestations of jealousy, Othello, Shakespeare. INTRODUÇÃO O ciúme desde tempos mais remotos é muito questionado por estudiosos ligados a questões afetivas, sendo o ciúme considerado basicamente um sentimento que pode interferir em maior ou menor grau nas relações afetivas, amorosas. “O ciúme foi definido por Sócrates como a dor da alma em sua forma mais agressiva e mutiladora, que pode até levar a morte do parceiro ou da própria pessoa que o sente (GRYZINSKI, 1996).” Assim, este artigo se propõe a investigar sobre as causas do ciúme que sobrepõe o normal, o aceitável, aquele que segundo o senso comum tem relação com a frase “Quem ama cuida quem ama sente ciúmes, protege...”, falaremos sobre o ciúme patológico, retratado na literatura por meio da obra de Shakespeare, Otelo: na obra o ciúme é retratado como o “monstro de olhos verdes”; apontando os principais fatores desencadeantes do ciúme patológico, bem como suas possíveis consequências para ambas as partes envolvidas. O referido artigo alvitra a possibilidade de novas visões e reflexões sobre o ciúme: quando o mesmo for caracterizado como patológico terá uma atenção especial, com o propósito de contribuir para atuação de profissionais da saúde no tratamento desta patologia, buscando evitar negativas consequências, como retratada na obra apontada: A morte. O Amor Para chegarmos à discussão sobre o ciúme, seja ele considerado normal ou patológico, é necessário que seja debatido o que está por trás dos ciúmes: o Amor, o amor é definido como: “sentimento que impulsiona o indivíduo para o belo, digno ou grandioso; grande afeição de uma pessoa a outra do sexo oposto; ligação espiritual, amizade; desejo sexual - tem sido descrito há séculos, por estudiosos de várias áreas do conhecimento. O primeiro deles foi Platão (427 a.C. 347 a.C.) que, em o "Banquete", definiu o "amor autêntico" como aquele que liberta o indivíduo do sofrimento e conduz sua alma ao "banquete divino" e sugeriu a distinção deste com o "amor possessivo", que persegue o outro como um objeto a devorar.””. Dependentes do objeto de amor, os seres demonstram o mais avassalador sofrimento quando desprezados por ele ou se quando se perde por causas de infidelidade ou de morte. Perder o amor do parceiro é igualmente perder o que organizava seu psicológico, seu psiquismo. Autores mais atuais sugerem que a maneira de fixar atenção em relação ao companheiro é esperada em qualquer relacionamento amoroso, porém, quando ocorre a falta de limites, controle, falta de liberdade, possessão, quando a vida gira em torno do parceiro, está qualificado um problema designado amor patológico, que pode ocasionar diversas situações doentias, como por exemplo, o ciúme patológico. O Ciúme na Literatura coleção particular / © archives charmet/the bridgeman art library/keystone A magnitude dramática do ciúme faz dele um tema atraente para escritores, sendo que alguns souberam tratá-lo com maestria e produziram obras primas, como: Otelo, de William Shakespeare (1603) e Dom Casmurro, de Machado de Assis (1899). Em Otelo, o protagonista Otelo, general mouro de Veneza, inseguro, acaba sendo envenenado pelas intrigas de Iago, um astucioso subordinado de Otelo que faz de tudo para arruinar esse casamento e prejudicar seu superior hierárquico, assim, para atingir este objetivo, insinua um romance entre Desdêmona, mulher de Otelo, e Cássio, um jovem tenente, instigando o ciúme que habitava dentro do mouro de Veneza. O ciúme se intensifica, acaba tornando-se doentio, delirante: sua mente vê coisas onde não há, ele torna-se possessivo, beira a loucura... O plano de Iago funciona tão bem que Otelo acaba matando a honesta, terna e doce mulher, e por fim, culpado do crime provoca sua autodestruição, suicidando-se... Nesta obra fica evidente que no âmbito do ciúme, basta instigar um pouco o que há dentro do ser, que a própria mente fantasia cada detalhe, mesmo Iago acusando sem muitas provas, sem algo concreto, a mente de Otelo transforma tudo em realidade, fantasia que a esposa, que sempre foi fiel, dedicada, companheira, está realmente traindo-o, de baixo de seu próprio teto; as provas que Iago aponta são risíveis, como um lenço perdido e misteriosamente encontrado no quarto de Cássio, um mal entendido durante uma conversa na qual Cássio fala o nome da sua amante Bianca, mas que Otelo entende erradamente por Desdêmona, e as mãos úmidas da mulher, para o mouro é um indicio de sua traição, sendo que na verdade a mesma estava ansiosa...·. Isto que Otelo sente é tão devastador que ele mesmo considera como prova da infidelidade da mulher, o sentimento que habita seu ser, considera o seu ciúme um indicio da traição da mulher. A seguir uma parte do relato de Otelo para a mulher, Desdêmona, ao matá-la: Tome cuidado, doce alma Não cometa perjúrio, pois estás no teu leito de morte Confesse livremente teu pecado Pois negar cada erro com juras Não poderá remover ou sufocar a forte certeza Que agoniza dentro de mim. Vais morrer Ó mulher falsa! Transformas meu coração em [pedra e vais fazer-me cometer um assassinato, [quando pretendia fazer um sacrifício. Ele confessou que te usou. Mesmo que ele tivesse tantas vidas quantos [cabelos tem, minha vingança á para todas elas. Deita-te prostituta! Não haverá espera. Desça ao inferno abrasador como mentirosa que és! Nesta variação excessiva do ciúme há a possibilidade de algumas pessoas interpretarem conclusivamente evidências de infidelidade a partir de ocorrências irrelevantes, se recusam a mudar suas crenças mesmo frente a informações conflitantes, e tendem a acusar o parceiro de infidelidade com muitas outras pessoas (Torres, Ramos-Cerqueira & Dias, 1999). Cabe citar que a pessoa ciumenta apresenta na sua personalidade um traço marcante de timidez e sentimentos de insegurança, problemas que costumam ter raízes na infância, e é exatamente isto que se percebe na obra de Shakespeare: Otelo apresenta muitos sinais de insegurança, pela cor, pela raça, como podemos ver na fala do Mouro: “Talvez por eu ser negro e não ter em minhas conversas as formas flexíveis dos intrigantes, ou talvez por eu já me inclinar sobre o vale dos anos; sim, talvez por tão pouco eu a tenha perdido! Estou ultrajado! E o consolo que me resta é desprezá-la”(SHAKESPEARE, 1997.) Iago nunca precisou forçar a natureza de Otelo – bastou que tocasse sua frágil autoestima, isso por si só fez com que Otelo desprezasse a si mesmo e suspeitasse da infidelidade de sua mulher, a seguir a fala de Iago: “Ter recusado tantos pretendentes de boa posição e que tinham com ela todas essas afinidades de pátria, de raça e de sangue, condições de que todos os seres são naturalmente tão ávidos! Hum! Isso revela um gosto bastante corrompido, uma horrenda depravação, pensamentos desnaturados; tudo o que eu temo é que como seu gosto se refere a inclinações pouco normais, ela termine por compará-lo às pessoas de seu próprio país de origem, e talvez termine por se arrepender do casamento”. (SHAKESPEARE, 1997) Enfim, a obra é uma mostra extraordinária do ciúme patológico, denominado Síndrome de Otelo, sugerido em 1955 pelas neuropsiquiatras, John Todd e Kenneth Dewhurst, com o intuito de indicar um complexo de emoções irracionais, muitas vezes associado a condutas exageradas e violentas, derivadas da acentuada inquietação, apreensão com o suposto adultério do parceiro, fundamentada em provas fantasiosas, contraditórias. A seguir uma fala de Otelo, acerca do ciúme que habita seu ser: “Mas que minutos infernais não conta quem adora e duvida, quem suspeitas contínuas alimenta e ama deveras” (SHAKESPEARE, 1997, p. 78). “O ciumento não perdoa e não confia. Se lhe faltam motivos no presente, busca-os no passado e até no imprevisível futuro, ainda que ilusórios, frutos de sua imaginação atormentada” (ROSA, 2005, p. 19). Quando transcorre o normal Para Freud (1922/1976) o ciúme normal é um estado emocional que pode ser comparado ao luto, caracterizando-se pelo sofrimento causado pelo pensamento de perder o objeto amado; pela ferida narcísica e também de sentimentos de inimizade contra o rival bem sucedido. Segundo o psiquiatra Antônio Mourão Cavalcante: O ciúme segue o amor como a sombra segue o homem. (...) Ele surge através de certos tipos de ligações intensas à pessoa amada e gera uma tendência de expressar uma possessão exclusivista, por medo ou risco de perda. É o medo de perder o objeto amado, o desejo de conservar a coisa que só queremos para nós. Tende ao isolamento, à defesa. Faz com que o amor viva de forma intranqüila. Supõe-se que essa segurança teria por base o processo de idealização. O amoroso criaria uma imagem do amado, nem sempre fundamentada no real. Se começa a não existir uma correspondência dessa idealização, a desconfiança se instala. Nasce o ciúme. Por outro lado, o ciúme pode nascer do amor servido. Isto é, ao indivíduo, tendo o amor plenamente correspondido e vivendo uma situação de plenitude, ocorre-lhe, não raro, de imaginar-se em perda ou abandono. Nessas circunstâncias, pode-se instalar o ciúme. Todos nós cultivamos um certo grau de ciúme. Quem ama cuida. Se gosto de uma árvore, vou protegê-la, não vou deixar que ninguém a corte ou a leve para casa. Podemos considerar essa sensação como de bom ciúme. Algo que é muito freqüente se dizer no sentido da linguagem popular. Ciúme aqui seria usado no sentido de zelo, cuidado, proteção, segurança Para Rosset: Todos nós cultivamos algum nível de ciúme, afinal, quem ama cuida. Porém, como este “cuidado” varia de uma pessoa para a outra, equivalentemente, o ciúme também variará. Para Rosset, desenvolve-se quando sentimos que nosso parceiro não está tão estreitamente conectado conosco como gostaríamos. Porém quando a pessoa portadora desse ciúme passa dos limites, apresenta morada à uma intensa obsessão, posse, fantasias, paranoia, o ciúmes já pode ser visto como algo preocupante, além do aceitável, agora trata-se de um ciúmes doentio, patológico... Para este referido ciumento, a fronteira entre imaginação, fantasia, crença e certeza se torna vaga e imprecisa, as dúvidas podem se transformar em ideias delirantes. Quem sente ciúmes dessa maneira, vive em função disso: é capaz de dedicar-se excepcionalmente a rastrear cada passo do parceiro (rastreia coisas pessoas, telefonemas, examina bolsos, segue o parceiro...), e mesmo que não encontre nada, não importa, o mesmo intensificará a busca por provas, tudo isto em busca de tenta diminuir a ansiedade causada pela insegurança, a angústia e o medo de perda. O sinal mais simbólico da síndrome de Otelo talvez seja esta busca obsessiva de “provas”: um mínimo gesto ou uma ocorrência qualquer são decifrados como demonstração evidente de que o parceiro tem uma ligação com outra pessoa. Confirma Léon Rabinowicz: E desde que o ciúme se instala no coração do homem, pobre dele. Não o deixa tão depressa, o vai roendo pouco a pouco, leva-o ao desespero, ao ciúme e à loucura. Estranha e formidável influência sobre a nossa alma! Imaginai, por um momento, a psicologia do ciumento; sente-se atingido em todos os seus sentimentos, sofre profundamente em todas as emoções que nele desperta a afeição pelo ente amado. É uma perturbação total, uma paralisia afetiva geral. Sofre no seu amor, na sua confiança, na sua tranqüilidade, no seu amor-próprio, no seu espírito de dominação e no seu espírito de posse. O Ciúme patológico consiste em: uma perturbação absoluta, uma perturbação afetiva grave, ocorre a invasão da dúvida que toma conta do ser, perturbando-o, fazendo com que ame e odeie ao mesmo tempo. Essa patologia é apontada por alguns autores como um estado de delírio, sendo que neste delírio, pacientes com ciúme patológico têm a tendência a serem violentos com o parceiro e em determinados episódios podem chegar a cometer crimes. Como confirma Ivair Nogueira Itagiba, “O ciúme denominado patológico, é o ciúme mórbido, que ultrapassa a paixão normal. São violentas as suas emoções. Na senilidade conduz ao delito; na histeria vai ao delírio; atinge a obsessão nos degenerados e epiléticos”. (ITAGIBA (1958)). Para Peixoto, o ciúme patológico é o “exagero doentio, e por isso desproporcionado, de uma paixão normal, que produz a reações violentas e até criminais. O ciúme mórbido não incomum leva ao hospício; (...) chega ao delírio, (...) ao crime”. É relevante citar, que o ciúme tanto o normal como o patológico diferenciam entre a mulher e o homem, segundo Buss (2000), estudos mostram que homens e mulheres são igualmente ciumentos: ambos são atormentados pelo ciúme, tanto em suas revelações cotidianas, quanto em seus procedimentos clínicos mais ostensivos, mas os acontecimentos que desfecham o ciúme são distintos em cada caso. Considerando que a maioria das mulheres desejam um envolvimento emocional, amor, homens maduros ou status financeiro; e os homens algo relacionado à sexualidade, levando em conta a beleza física; as mulheres são mais perturbadas com a infidelidade que é ligada ao emocional, enquanto o sexo masculino fica mais atormentado pela infidelidade sexual; Porém mesmo diante disto, são poucos os casos, tanto na literatura quanto na realidade, em que mulheres mataram seus cônjuges. Para Luiza Nagib Eluf: O pequeno número de crimes passionais praticados por mulheres talvez possa ser explicado por imposições culturais. Mulheres sentem-se menos poderosas socialmente e menos proprietárias de seus parceiros. Geralmente, não os sustentam economicamente. Desde pequenas, são educadas para compreender as traições masculinas como sendo uma necessidade natural do homem. Há religiões que, ainda hoje, admitem a união de um homem com várias mulheres, exigindo que a mulher aceite dividir, passivamente, o marido. Talvez por isso eles tenham mais dificuldades em suportar a rejeição, sentindo-se diminuídos na superioridade que pretendem ter sobre a mulher, e busquem eliminar aquela que os desprezou. Logo nos remete ao Mouro de Veneza, Otelo, um caso de ciúmes doentio que leva à tragédia. “Otelos” da Realidade Infelizmente, não é só na literatura que encontramos casos semelhantes ao Otelo, como Dom Casmurro de Machado de Assis. Existem muitos “Mouros” espalhados pela vida real. O ciúme obsessivo pode terminar em tragédia e morte, como podemos constatar nos casos abaixo: Um caso de grande repercussão no ano 2000 foi o assassinato de Sandra Gomide em agosto de 2000, ela foi assassinada pelo ex-diretor do jornal O estado de São Paulo, Antônio Pimenta Neves, num haras em Ibiúna. Transtornado com o fim do namoro, Pimenta Neves deu dois tiros nas costas da vítima e, depois, confessou o crime. A polícia remontou fatos do namoro de Sandra e Pimenta e constatou que o relacionamento era cercado por elementos que poderiam levar a um crime passional: existia paixão, ciúme, intriga, desconfiança, violência e agressão. Logo após o término do namoro, a vida do jornalista transformou-se: ele tornou-se explosivo, e começou uma perseguição obsessiva à ex-namorada, Sandra, sendo que constantemente suspeitava de traição e até contratava pessoas para perseguir a namorada. Após o fim do romance, chegou a invadir o apartamento da vítima. Por fim, confessou o crime. Outro caso que chocou o país foi o “Caso Eloá”; em 13 de outubro de 2008, inconformado com o fim do namoro, Lindemberg Alves Fernandes matou com um tiro na cabeça e outro na virilha a ex-namorada Eloá Pimentel, de 15 anos, após mantê-la refém por mais de 100 horas, no mais longo cárcere privado de São Paulo. Para Luiza Nagib Eluf a morte de Eloá foi apenas a concretização do objetivo que Lindemberg, inconformado com a rejeição, tinha desde o momento em que rendeu a ex-namorada "Ele iria matá-la de qualquer jeito, porque Eloá não o queria mais. Para ele, perder Eloá significava uma derrota inadmissível", considera. A grande exposição do caso na mídia, que fez de Lindemberg uma celebridade momentânea, só fez prolongar o desfecho trágico da história. "Nesse período, o Brasil todo o assistia pela TV. Então, sua auto-estima, que estava muito baixa, se reverteu para um patamar mais alto e ele titubeou. Ficou estacionado, aproveitando o momento, sem tomar a atitude agressiva que pretendia." Com o caso acima apresentado percebe-se que manifestações de ciúme, posse, obsessão não acontecem somente em casamentos, mas também em namoros. Conforme Buss afirma. A violência como medida mais severa para coibir a infidelidade não é limitada às parceiras conjugais; também prevalece durante o namoro. As manifestações de ciúme podem variar desde ameaças de violência, ocorrências de espancamentos até assassinatos. Muitas vezes, o parceiro ataca a mulher com uma raiva intensa, com a intenção de causar dano corporal ou, até mesmo, a morte. Relacionamentos positivos, fidelidade existe, porém o contrário também acontece, e é isso que perturba os amantes: o medo da mudança, este medo que leva ao extremo da violência, a inabilidade de pensar em dividir o outro que leva ao desespero, à falta de limites, mas não é somente por isso que os cônjuges matam. De acordo com Luiza Nagib Eluf: Os homicidas passionais trazem em si uma vontade insana de autoafirmação. O assassino não é amoroso, é cruel. Ele quer, acima de tudo, mostrar-se no comando do relacionamento e causar sofrimento a outrem. Sua história de amor é egocêntrica. Em sua vida sentimental, existem apenas ele e sua superioridade. Sua vontade de subjugar. Não houvesse a separação, a rejeição, a insubordinação e, eventualmente, a infidelidade do ser desejado, não haveria necessidade de eliminá-lo. Aqueles que matam por amor, matam porque detém um amor obsessivo, possessivo, de insensatez e ciúme delirante e doentio, o parceiro é o responsável pela sua existência, eles vivem para a outra pessoa e assim desejam que a outra aja, porém quando isso não acontece, quando o outro não atende suas expectativas obsessivas, ele é capaz de tudo, até mesmo matar... De acordo com Eduardo Ferreira Santos: A pessoa ciumenta fala com raiva daquele que é objeto do seu ciúme. E, à medida que o ciúme evolui, pior fica o tratamento dispensado pelo ciumento, chegando ao ponto, em casos extremos, de violência física e até de morte. Pergunto de novo: isso é amor? Talvez eu seja inocente demais, mas acredito no lema de que quem ama não mata. Quem ama não mata, ninguém mata por amor, quem ama somente quer ver a alegria do companheiro e jamais a tristeza tanto dele quanto dos familiares do mesmo, os sentimentos que dominam essa pessoa portadora do ciúme, do amor que é capaz de ir ao extremo são o ódio, a vingança, o rancor, a possessão... Mas não o amor. O psiquiatra norte-americano Brian Weiss aconselha: É sempre seguro amar completamente, sem reservas. Nunca seremos verdadeiramente rejeitados. É só quando nos deixamos envolver pelo ego que nos tornamos vulneráveis e nos machucamos. O amor em si é absoluto e abrangente. Nunca tire a alegria do outro. Enfim, observando a afirmação de Eduardo Ferreira Santos, dentre outros estudiosos, a saída para portadoras do ciúme é desenvolver sua personalidade, sua autoestima, tudo aquilo que realmente sente, para que assim evite situações e relações neuróticas, sendo que a neurose é uma doença que se auto alimenta, o neurótico procura situações que aumentam sua neura; o ciúme patológico em si ainda é a minoria dentre os tipos de ciúmes, porém sempre que houver manifestação de características tanto neuróticas, obsessivas, é de ampla importância procurar ajuda de um especialista. A saída, a solução. Primeiramente a pessoa deve buscar admitir o problema, e procurar ajuda; abrir-se com o parceiro, mostrando suas angústias e sentimentos é fundamental, revendo as atitudes tomadas, revendo suas ações e consequências, enfim, auto avaliar-se; tudo isto promove um autoconhecimento, que facilitará o trabalho de profissionais da área, sendo que se fazem necessários que os mesmos tenham ciência acerca do contexto e dos aspectos abrangidos na dinâmica de adaptação conjugal. O tratamento em si passa por um conjunto de técnicas de psicoterapia com o intuito de melhorar a confiança do paciente, o procedimento deve envolver a família, amigos, sendo que o apoio é imprescindível; após, reduzida a insegurança, espera-se que enfraqueça, suavize a agonia, amargura do ciúme. Cabe citar a importância também de tratar, atacar os sintomas físicos provocados por essa patologia: a intranquilidade no sistema nervoso pode elevar o nível de adrenalina ocasionando então muitas doenças psicossomáticas. O tratamento referido envolve observar as causas desses sintomas e consumir energia em atividades físicas, trabalho que exale prazer, gratificação. Enfim, observando o quão grave são as consequências desta patologia, é essencial o tratamento psicológico ou psiquiátrico. CONCLUSÃO Entendemos que o ciumento, independente do grau de ciúmes, é na verdade um infeliz que não “se encontra” no sentido psicológico-social, sendo que é exatamente isto que se observa em Otelo, um ser que não tem conhecimento de si mesmo, que não sabe que habita em si uma enorme insegurança, falta de autoconfiança, sendo que estas pessoas se deixam levar pela incerteza, pelo sentimento de vingança, possessão, obsessão. O ciúme não será da mesma forma em todas as pessoas: existe quem reconheça a existência deste sentimento e então busca controla-lo, e aqueles que se deixam levar pelo sentimento avassalador e destrutivo, são tomados pelo desejo de vingança e posse. O ciúme referido no 2°. tipo de pessoa trata-se do ciúme patológico, mórbido que vai além do normal, este ocasiona ações e reações violentas, brutas, ele toma conta da imaginação, vontade e intuitos: os seres insensatos, arrebatadores afrontam seus parceiros, podendo passar dos limites para vingarse da suposta e imaginada infidelidade. A relação do crime como consequência desta patologia fica clara, conclui-se que é fundamental que esta doença seja tratada, pois caso não seja, é grande a probabilidade de ocorrer um delito, um crime “passional”, como visto em Otelo e também nos casos apresentados na “vida real”. O amor não é capaz de fazer o mal, causar enfermidade, sofrimento; o amor é benigno, só quer o bem, conforme já dito: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se recente do mal; não se alegra com a injustiça...” (Coríntios I, cap. 13; vers. 1 a 13). O amor não tira pessoas do mundo, ele está a serviço da vida, não traz destruição. Num relacionamento conjugal maduro há compreensão, carinho e não finaliza em morte. Considerações Finais É de suma importância observar que há uma relativa escassez de estudos publicados enfocando esta temática. Portanto, julga-se que a verificação sobre o choque do ciúme na dinâmica das relações conjugais contribua para o trabalho de profissionais especialistas no assunto, bem como a localização de formas para amenizar, erradicar essa patologia: estudos podem aumentar o conhecimento sobre as manifestações patológicas de ciúme, assim como o que acarreta esta patologia, auxiliando a preparação de táticas para enfrentamento deste problema. Referências CRYINSKI, Vilma. O monstro Interior. Revista Veja, Edição: 1470 ano 29, n 46, p. 122 – 127, Rio de Janeiro, 13 de nov. 1996. PLATÃO. O banquete. Virtual Books Online, ed. cited 2005 Dec 5 Available WEISZFLOG W. Introdução: Novos termos. In: MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos; 1998. SHAKEASPEARE, William. Otelo: o mouro de Veneza. São Paulo, SP: Martin Claret, 2007. p.127-130. TORRES, A. R., Ramos-Cerqueira, A. T. A., & Dias, R. S. (1999). 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