Análise de Erros Radiográficos Cometidos por Alunos em Clínica de
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Análise de Erros Radiográficos Cometidos por Alunos em Clínica de
INSTITUTO DE ESTUDOS DA SAÚDE JAQUELINE OLIVEIRA DAS NEVES CHRISTIANE SANTOS FERREIRA Análise de Erros Radiográficos Cometidos por Alunos em Clínica de Pós-graduação em Endodontia. Belo Horizonte 2012 2 JAQUELINE OLIVEIRA D AS NEVES CHRISTIANE SANTOS FERREIRA Análise de Erros Radiográficos Cometidos por Alunos em Clínica de Pós-graduação em Endodontia. Monografia apresentada ao Programa de PósGraduação em Odontologia do Instituto de Estudos da Saúde, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Endodontia Orientação: Prof.Dra. Ana Cecília D. Viana de Castro Belo Horizonte Instituto de Estudos da Saúde 2012 3 SUMÁRIO 1. AGRADECIMENTOS................................................................................. 4 2. RESUMO ................................................................................................... 5 3. INTRODUÇÃO........................................................................................... 6 3.1.OBJETIVO................................................................................................ 6 4. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 7 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 9 6. CONCLUSÕES........................................................................................... 21 7. ABSTRACT................................................................................................ 22 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 23 4 Agradecimentos Aos pais por todo carinho, amor e dedicação que nos deram por toda a vida. É com enorme satisfação que temos a oportunidade de agradecer aos professores do Curso de Especialização em Endodontia do Instituto de Estudos da Saúde (IES), e em especial à querida professora Ana Cecília Diniz Viana de Castro que dentre muitas outras qualidades, a sua objetividade ao ensinar se deixa transparecer neste trabalho. Aos nossos namorados, pela força e paciência para que este sonho pudesse se tornar realidade. 5 Análise de erros radiográficos cometidos por alunos em clínica de pósgraduação em Endodontia Analysis of radiographic errors performed by students in a post-graduate clinic in endodontics Jaqueline Oliveira das Neves1, Christiane Santos Ferreira1, Ana Cecília Diniz Viana de Castro2 RESUMO Os exames radiográficos têm um papel fundamental na odontologia, pois são utilizados como ferramentas auxiliares do exame clínico. A qualidade das imagens radiográficas é fundamental para uma interpretação adequada, fornecendo informações complementares necessárias para o estabelecimento do diagnóstico e elaboração do planejamento integral. Este estudo foi realizado com o intuito de detectar e quantificar os erros encontrados em radiografias periapicais realizadas pelos alunos de Aperfeiçoamento em Endodontia do Instituto de Estudos da Sáude (IES) em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram avaliadas por dois examinadores um total de 566 radiografias. Cada uma das radiografias foi avaliada quanto aos erros de técnica, processamento e armazenamento. O erro mais prevalente encontrado neste estudo foi o de fixação (30,2%), seguido pelos erros de angulação/alongamento (18,5%), processamento - revelação(16,2%), falha durante a odontometria - que está enquadrada entre erros de técnica (11,3%) e , por fim, erros durante a etapa de armazenamento (8,3%). Descritores: Controle de qualidade. Endodontia. Radiologia Odontológica. 1 Aluna do curso de especialização em endodontia do Instituto de Estudos da Saúde(IES). Mestre e Doutora em endodontia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, professora do curso de especialização em endodontia do Instituto de Estudos da Saúde(IES). Contato: [email protected], [email protected], [email protected] 2 6 INTRODUÇÃO As radiografias são exames complementares de grande importância na Odontologia1. Como grande parte dos processos patológicos da cavidade bucal se localizam em tecidos duros como os dentes e os ossos e, portanto, são dificilmente visualizados apenas com o exame clínico, as tomadas radiográficas são necessárias para o diagnóstico, planejamento e execução do tratamento adequado, assim como para sua proservação2 . O principal objetivo da radiografia é reproduzir imagens com qualidade, mantendo-se a dose de radiação a mais baixa possível. Para que o exame radiográfico seja utilizado de maneira a contribuir eficazmente com o tratamento e beneficiar o profissional e o paciente, é necessário que se obtenha uma imagem, livre de erros de técnica, processamento e armazenamento, produzindo uma correta interpretação. Caso contrário, podem ser geradas interpretações errôneas que prejudiquem o diagnóstico, além de acarretar repetições desnecessárias do exame, com consequente aumento da exposição dos pacientes à radiação3. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a baixa qualidade de imagens radiográficas pode ser um fator responsável pela redução na precisão de diagnósticos. Na odontologia, o aprendizado de técnicas intraorais é iniciado durante a graduação, sendo fundamental que neste período o aluno consiga desenvolver uma interpretação crítica das radiografias realizadas. Este aprendizado é longo e vai sendo aperfeiçoado quanto maior for o treinamento do aluno. O uso de radiografias periapicais antes, durante e após o tratamento endodôntico é essencial para a determinação de características anatômicas e patológicas dos elementos dentários, da extensão do canal, da obturação e, nos casos de patologias periapicais, auxiliarão também no monitoramento periódico do caso até que se constate a conclusão do processo de reparo4. Além disso, as radiografias são consideradas parte importante de uma documentação legal, devendo ser adequadamente identificadas e arquivadas. 7 A análise das principais causas de perda da qualidade da imagem radiográfica e com que frequência que elas acontecem, constitui uma ferramenta fundamental na identificação da falha no processo ensino-aprendizagem do conteúdo de Radiologia Odontológica e Imaginologia. A identificação desses erros servirá como base para elaboração de novas metodologias de ensino, contribuindo para o aprimoramento dos conteúdos ministrados. O objetivo deste estudo foi avaliar e quantificar os erros mais prevalentes de técnica, de processamento e armazenamento de radiografias, cometidos por alunos que se encontram realizando um curso de aperfeiçoamento profissional em Endodontia. Estes estudantes já cursaram as disciplinas de Radiologia durante seus respectivos cursos de graduação e realizam rotineiramente radiografias em pacientes que recebem atendimento odontológico durante a sua execução nas clínicas práticas. Além disso, durante o referido curso de pós-graduação, já assistiram a aulas teóricas com conceitos e fundamentos sobre as técnicas radiográficas de uso na Endodontia, suas indicações e realização. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo envolveu a avaliação dos principais erros presentes em radiografias periapicais realizadas por alunos de uma turma de Aperfeiçoamento em Endodontia 2012, do Instituto de Estudos da Saúde (IES), em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. O curso de aperfeiçoamento compreende um período total de 12 meses, com início em agosto de 2011. Esta análise foi realizada durante o 6° módulo. Para as tomadas radiográficas, os alunos utilizaram duas técnicas; da bissetriz de cone longo sem o uso de posicionadores e a técnica do paralelismo, utilizando posicionadores Cone Indicator® (Indusbello, Londrina/PR, Brasil), livre escolha de cada um. Utilizaram-se filmes Kodak® Ultra–Speed E (Kodak do Brasil, São José dos Campos/SP, Brasil), sob exposição dos Raios -x do aparelho da marca Dabi Atlante®(Dabi Atlante S/A Indústrias Médico Odontológicas, Ribeirão Preto/SP, Brasil), modelo Spectro 70X. As radiografias foram processadas em solução reveladora Kodak®GBX (Kodak do Brasil, 8 São José dos Campos/SP, Brasil), pelo método de inspeção visual, em duas câmaras escuras portáteis. Para a avaliação proposta, dois examinadores foram calibrados por um dos docentes responsáveis pelo conteúdo de Endodontia do IES para identificação, padronização e quantificação dos erros. Os dois examinadores colheram os dados para elaborar este estudo e cada um analisou separadamente cada película em condições próprias para interpretação. Estas condições incluíam o uso de negatoscópio e lupa em um ambiente calmo e pouco iluminado. Os dados foram obtidos em três momentos diferentes, dois registros durante a clínica de atendimento e um registro feito por análise dos prontuários dos pacientes. O resultado da análise obteve 90% de concordância entre os dois examinadores e o docente. Importante salientar que cada radiografia poderiam ser detectados um ou mais erros, entre os possíveis erros de técnica, de processamento e de armazenamento das radiografias. As radiografias descartadas pelos alunos, aquelas que eles consideraram impróprias, foram guardadas com os nomes dos alunos e dos pacientes e somadas àquelas que estavam nos prontuários, consideradas boas, mas que foram registradas com algum erro. As informações obtidas foram arquivadas em uma ficha de registro de todos os dados, de acordo com as normas estabelecidas pelos examinadores que consideraram: 17 alunos, 145 pacientes e 566 radiografias. Os erros avaliados foram divididos em 3 ( três) grupos: 1. ERROS DE TÉCNICA 2. ERROS DE PROCESSAMENTO DA PELÍCULA DE RX 3. ERROS DE ARMAZENAMENTO DA PELÍCULA DE RX Estes grupos foram então subdivididos da seguinte forma: 1. TÉCNICA 1.1. ANGULAÇÃO 9 1.1.1 ALONGAMENTO 1.1.2. ENCURTAMENTO 1.2 ODONTOMETRIA 1.2.1 PRESENÇA DE MEIA LUA 1.2.2 POSICIONAMENTO DA PELÍCULA DE RX 2. 3. PROCESSAMENTO 2.1 REVELAÇÃO 2.2. FIXAÇÃO 2.3. LAVAGEM DA PELÍCULA ARMAZENAMENTO 3.1 MARCAS DE DIGITAIS NAS PELÍCULAS 3.2. PELÍCULAS COLADAS UMAS ÀS OUTRAS 3.3. RANHURAS NAS PELÍCULAS Após o preenchimento de todos dos formulários, com os dados tabulados, analisou-se a frequência dos erros citados anteriormente. RESULTADOS E DISCUSSÃO A radiografia dental é uma imagem fotográfica produzida em um filme pela passagem dos raios x através dos dentes e tecidos de suporte. Ela é essencial para o diagnóstico, pois permite o profissional identificar várias condições que não são facilmente identificáveis pelo exame clínico. As radiografias constituem uma representação bidimensional de uma estrutura tridimensional, e, portanto, as tomadas idealmente devem ser feitas em mais de uma angulação, numa tentativa de se reconstruir, mentalmente, a estrutura anatômica. Obviamente, isso só será possível se a técnica for realizada corretamente3. De acordo com Lanning et al.5, o método de visualização radiográfica é capaz de afetar a precisão de um diagnóstico correto. A turma de Aperfeiçoamento analisada era formada por 17 alunos com idades variando entre 22 a 52 anos, sendo que, destes, 85% se apresentavam em média, com 23 anos de idade, ou seja, se trata de uma turma jovem, com pouco tempo de experiência clínica. 10 De todos os alunos analisados, 90% apresentaram apenas 1 (um) ano de formado e todos se graduaram em faculdades de odontologia localizadas no estado de Minas Gerais. Do total, o Centro Universitário Newton Paiva, de Belo Horizonte, Minas Gerais, foi a instituição que mais formou alunos entre os avaliados, sendo responsável pela graduação no curso de Odontologia de 60% dos alunos da turma. A partir de um total de 145 prontuários, foram analisadas 566 radiografias intrabucais periapicais. Estas radiografias foram realizadas durante os atendimentos clínicos do referido curso, durante o módulo de número 6 (seis), estando ou não as mesmas identificadas por nome e datas. As radiografias interproximais presentes foram descartadas da amostra. Do total de películas analisadas; 323 radiografias foram classificadas como satisfatórias e 243 insatisfatórias, resultado em uma proporção total de erros de 43%. Durante as três clínicas em que foram feitos os registros, apenas 18 radiografias foram descartadas e consideradas como impróprias pelos alunos. Contudo, após a análise detalhada de todos os prontuários, foram registrados ao todo 225 radiografias apresentando algum tipo de erro. Esse valor, somado aos raios X descartados pelos alunos, dão um total de 243 raios X considerados insatisfatórios, com uma média de 1,09 erros por película. Dentre os erros verificados, 33,6% foram identificados como erros de técnica; 49,8% como erros de processamento e 11,7% como erros de armazenamento. Outros 4,9% foram agrupados como outros tipos de erros que não serão mencionados neste estudo por não serem objetivo da pesquisa como, por exemplo, filme invertido, imagem da asa de mordida quando do uso de posicionadores ou picote do filme invertido. Os cinco erros mais frequentes, se somados, representam quase 85% do total. Na Figura 1 encontram-se detalhados os independentemente da região ou arcada dentária. erros radiográficos encontrados, 11 Prevalência de Erros Radiográficos Cont. 35,0% 80 30,0% 25,0% 30,2% 49 20,0% 43 15,0% 30 18,5% 22 16,2% 11,3% 8,3% 10 3,8% 80 49 43 30 22 Porcent.% 30,2% 18,5% 16,2% 11,3% 8,3% 9 10,0% 13 9 Porcentagem Ocorrência 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Erro 5,0% 4,9% 3,4% 3,4% 10 9 9 13 3,8% 3,4% 3,4% 4,9% 0,0% Tabela 1 – Detalhamento dos erros radiográficos identificados Alguns autores1,6,7 também avaliaram a qualidade das imagens radiográficas realizadas por acadêmicos de odontologia e observaram um alto percentual de radiografias consideradas inadequadas. Nestes estudos, entre 70% e 82,62% das radiografias analisadas apresentaram algum tipo de erro na execução da técnica ou processamento radiográfico. Um dos fatores que pode explicar essa incidência de erros maior que a encontrada no presente estudo, pode ser o fato de que, nestes outros trabalhos, as falhas na execução das técnicas radiográficas foram cometidas por acadêmicos, alunos com uma experiência clínica ainda menor, e, também, ao número de radiografias analisadas, assim como o tempo maior de pesquisa. Este fator também pode ter interferido nos resultados relativos aos números de erros encontrados em cada película, uma vez que a média de 1,09 erros por radiografia, é menor que os valores médios apresentados por Felippe et al.8 (2008) e Dias et al.2,(2009); que foram de 1,46 e 2,38 erros por radiografias, respectivamente. 12 Devido à falta de experiência, muitos erros são cometidos durante a prática clínica (Figura 2), resultando em diversas repetições e em aumento da dose de exposição aos raios X ao paciente. Fig. 1 – Aspecto radiográfico do filme alto, evidenciando a ausência da imagem de parte das raízes dos dentes. Fig. 2 – Aspecto radiográfico do filme baixo, evidenciando a ausência da imagem de parte da coroa dos dentes. 13 O objetivo principal de um exame radiográfico é obter a diferenciação máxima da imagem dos tecidos no filme e uma maior reprodutibilidade possível da imagem3.São inúmeros os fatores que vão interferir na formação de uma imagem radiográfica de qualidade, sendo, portanto, de extrema importância o conhecimento destes fatores por parte dos profissionais. A nitidez refere-se ao grau em que o menor detalhe de um objeto é reproduzido na película. Já a densidade representa o grau de enegrecimento do filme e a quantidade de luz transmitida através dele. Quanto maior o enegrecimento, maior a densidade e menos a quantidade de luz que atravessará a radiografia quando colocada na frente de um negatoscópio ou de um foco de luz. As alterações de densidade radiográfica podem ocorrer em função de erros nos fatores de exposição ou durante a revelação, no entanto, a distinção da causa não pode ser identificada pela simples observação da radiografia. No presente estudo, para que estes erros não fossem computados duplamente, foram incluídos apenas no grupo dos erros de processamento. O contraste consiste na diferença entre o preto e o branco, e os vários tons de cinza. A função do contraste é tornar mais visíveis os detalhes anatômicos de uma radiografia3. Entre os resultados verificados neste estudo, 46,4% das películas avaliadas apresentavam níveis de contraste e nitidez indesejáveis. As distorções podem ser definidas como a representação errada do tamanho ou do formato do objeto, tal como projetado em um registro radiográfico. Um fator que interfere na quantidade de distorção apresentada por uma determinada imagem radiográfica é o alinhamento do objeto. Se o plano do objeto não está paralelo ao plano do filme, ocorre distorção. O erro na angulação vertical pode ser um encurtamento da imagem em comparação com o tamanho do objeto, que ocorre quanto maior o ângulo de inclinação vertical do cone do aparelho de raios-x ou o alongamento, nos casos em que a angulação vertical é menor do que o proposto pela técnica (Figura 3. A e B). Em contrapartida, o alinhamento correto do objeto (paralelo ao plano do filme) resulta em menor distorção. Toda distorção, seja de formato ou de tamanho, a não ser que seja proposital, é uma representação errada do objeto verdadeiro e, portanto, é inaceitável. Desta forma, a média verificada no presente trabalho foi de 18,5% de alongamento das imagens analisadas, podendo, esse número, ser considerado relativamente alto; 14 porcentagem semelhante aos 18% verificados por Eliasson et al.9(1990). O ângulo vertical inadequado foi o erro mais comum encontrado por Consolo et al.10 (1987). A média de encurtamento neste trabalho foi de 1,13%. Fig. 3(A)- Aspecto radiográfico do erro na angulação vertical diminuída, evidenciando a imagem com aspecto aumentado / alongado. 15 Fig. 3(B) – Aspecto radiográfico do erro na angulação vertical aumentada, evidenciando a imagem com aspecto diminuído / encurtado. Outro fator importante de controle de distorção é o uso correto do raio central (RC). O feixe de raios x deve ser orientado para englobar totalmente o filme radiográfico, sem deixar nenhuma área sem exposição à radiação. O erro no direcionamento do raio central (cone-cut), provocará uma imagem que se caracteriza por uma área radiopaca em forma de “meia lua”, em uma das extremidades do filme, correspondendo à área que não foi exposta pelos raios-x (Figura 4 A e B). A distorção aumenta à medida que aumenta o ângulo de divergência do centro do feixe de raios-x para as bordas externas. Portanto, quanto mais próximo do ponto do RC, menor é a distorção e, por esse motivo, a centralização correta é importante na minimização da distorção da imagem3. 16 Fig. 4(A) Fig. 4(B) Fig. 4(A e B) – Aspecto radiográfico do erro na direção do raio central, evidenciando a imagem da área radiopaca, em forma de “meia lua”, devido a não exposição pelos raios x. O velo de luz é um erro que acontece devido a uma exposição acidental do filme radiográfico à luz e normalmente ocorre devido a falta de vedamento da câmara escura portátil; rasgo nas mangas ou fresta no acrílico. A imagem radiográfica poderá apresentar-se total ou parcialmente velada (Figura 5). Fig. 5 – Aspecto radiográfico do velo de luz, evidenciando as áreas veladas (escuras). As radiografias periapicais são as mais utilizadas na endodontia e são obtidas através das técnicas da Bissetriz e do Paralelismo. Segundo Dellazzana et al.11 (2010), o 17 emprego de métodos que possibilitam a padronização do posicionamento do filme radiográfico pode ser útil na obtenção de imagens comparáveis no que se refere à suas dimensões e posicionamento das áreas merecedoras de um estudo mais acurado. A técnica periapical que utiliza um dispositivo para obtenção do paralelismo entre o feixe de raios-X e o filme radiográfico tem substituído, na maior parte dos casos, a técnica convencional da bissetriz, por proporcionar qualidade de imagem radiográfica e baixa taxa de repetição12. Nos prontuários avaliados não foram encontradas informações sobre a escolha de uma técnica específica ou o uso ou não de posicionadores durante as tomadas radiográficas por cada aluno, de forma que estas variáveis não poderão ser detalhadas no presente estudo. Entretanto, erros de posicionamento da película de raiosx e radiografias com a presença de “meias-luas”, quando somados correspondem a 18% de todos os erros de técnica encontrados, e denotam a dificuldade para radiografar dentes sob isolamento absoluto relatada por vários alunos. O uso do posicionador pode facilitar o aprendizado de alunos em radiologia aplicada à Endodontia e parece razoável supor que padronizar sua utilização durante o curso de aperfeiçoamento poderia ser uma proposta relevante, visto sua funcionalidade e possibilidade de obtenção de imagens adequadas, que facilitariam o diagnóstico preciso. Segundo a Portaria Federal SVS do Ministério da Saúde, n° 453, de 1° de Junho de 1998, que regulamenta as diretrizes de exames radiográficos em Odontologia, orienta o uso de dispositivos de alinhamento (posicionadores) para radiografias intraorais, a fim de reduzir a dose de radiação13. Outra forma de se tentar minimizar a ocorrência de erros de técnica está relacionada a metodologias de ensino. Brandt et al.14(1997) demonstraram que iniciando-se o ensino de aprendizado da técnica periapical pela técnica do paralelismo, e só em seguida demonstrando-se a técnica da bissetriz, o método é mais facilmente assimilado pelos alunos e resulta em um melhor desempenho. Segundo estes autores, a técnica do paralelismo é mais facilmente compreendida quando são transmitidas suas considerações teóricas. Por sua vez, a técnica da bissetriz, por envolver expressão matemática, requer mais raciocínio, sendo maior a abstração. Foi na fase do processamento radiográfico que a maior concentração de erros (49,8%) foi identificada. Entretanto, com cuidados simples pode-se minimizar alguns problemas 18 na aquisição do exame. Devem-se seguir as recomendações do fabricante de soluções processadoras (revelador e fixador) quanto à concentração da solução; temperatura e tempo de revelação. É importante salientar que o processamento radiográfico obedeça ao método tempo-temperatura, e que o armazenamento seja apropriado, de modo a propiciar uma imagem passível de análise comparativa15. Machado e Pardini16, que avaliaram apenas a qualidade de radiografias associadas ao processamento radiográfico, observaram que as clínicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORPUSP), às quais, faziam uso de método de inspeção visual em câmaras escuras portáteis, mesmo método utilizado no presente estudo, obtiveram radiografias de pior qualidade. Já a clínica de Radiologia, onde o processamento radiográfico era realizado pelo método temperatura/tempo, utilizando câmara escura apropriada, possuía a maioria de suas radiografias em perfeito estado para avaliação diagnóstica, mesmo após vários anos. A manipulação inadequada do filme poderá provocar arranhões no filme, que dependendo grau de injúria podem remover ou não a gelatina que recobre as películas (Figura 6). Fig. 6 – Aspecto radiográfico do arranhão no filme, evidenciando a remoção da gelatina. 19 A manipulação do filme dentro da câmara escura deve ser feita, preferencialmente, apenas com o uso de colgaduras apropriadas. Além disto, é necessário que as mãos do operador estejam secas, livres de líquidos como revelador ou fixador . Uma possível falha pode ser representada pela marca da impressão digital do operador no filme radiográfico (Figura 7). Fig. 7 – Aspecto radiográfico de impressão digital. Somados aos RX que se encontravam colados uns ao outros e àqueles com presença de marcas digitais, as películas arranhadas constituíram os erros de armazenamento, encontrados em 33 imagens radiográficas, o que corresponde a 12,4% do total de falhas verificadas. Entre os erros de processamento, Andrade et al.17(2003) verificaram que o erro mais comum foi o filme riscado/lacerado, representando 18,66% de todos os erros. Erros radiográficos frequentes geram a necessidade de repetições, resultando na exposição excessiva do paciente à radiação, e todos os esforços possíveis devem ser feitos para reduzir essa situação. Tomadas radiográficas excessivas também envolvem tempo profissional improdutivo, perda de filmes e soluções processadoras2. Isso 20 aumenta os custos para os consultórios particulares, instituições de ensino e serviços públicos de assistência odontológica. Talvez, a partir deste trabalho, sugestões possam ser feitas e modificações implementadas no IES, especialmente na etapa de processamento de imagens, com o objetivo de minimizar os erros e a exposição desnecessária dos pacientes à radiação. Deve ser dada cada vez mais ênfase, durante o processo de ensino/aprendizagem dos alunos, na importância de se executar corretamente as técnicas radiográficas, etapa complementar fundamental da Endodontia. CONCLUSÃO Dentre os erros observados e considerados mais prevalentes, o mais frequente foi de processamento – fixação (30,2%), seguido pelos erros de técnica – alongamento (18,5%) e processamento – revelação (16,2%). A proporção de radiografias consideradas insatisfatórias foi elevada (43%) e demonstra falta de experiência do profissional, pouco tempo de experiência clínica do mesmo e falta de atenção atribuída ao armazenamentos das películas. A necessidade de aprimoramento do ensino com a implementação e padronização do uso de posicionadores de raios x durante o curso de aperfeiçoamento, poderia ser uma proposta relevante, visto sua funcionalidade e possibilidade de obtenção de imagens adequadas e padronizadas. ABSTRACT Radiographic exams have a key role in dentistry because they are used as auxiliary tools of clinical examination. The quality of radiographic images is fundamental to a proper interpretation, providing additional information necessary to establish the diagnosis and preparation of comprehensive planning treatment. This study was conducted in order to detect and quantify the errors found in periapical radiographs taken by students in Professional Improvement Course of Instituto de Estudos da Saúde (IES) in Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. A total of 566 radiographs were evaluated by two examiners. The technical, processing and storage errors were evaluated for each radiograph. The most prevalent error in this study was the setting- 21 processing (30.2%), followed by the errors of vertical angle/elongation (18.5%), processing-disclosure (16.2%), working length rx (11 3%) and storage (8.3%). Uniterms: Dental radiology, Endodontic, Quality control. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Patel S, Dawood A, Whaites E, Pitt Ford T. 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