A Pedagogia da Sensibilidade
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A Pedagogia da Sensibilidade
Ano 13 - nº 108 - Maio de 2014 UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO A Pedagogia da Sensibilidade [Página 13] Gratidão por José Pacheco [Pág. 06] Escola e Família por Cleide Arantes [Pág. 11] Mudanças e Trasnformações por Marcus De Mario [Pág. 16] Maio 2014 1 SUMÁRIO 03 OS EDUCADORES 06 07 08 09 PELOS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO 10 EDUQUEMO-NOS 11 VAMOS CONVERSAR 12 EXPERIÊNCIAS QUE DÃO CERTO 13 Emmi Pikler: os cuidados com os bebês Gratidão por José Pacheco GESTÃO E agora, o que fazer? por Marcus De Mario OBSERVATÓRIO Periferias sem Educação ATUALIDADES Os interesses políticos e a Educação O desafio de educar por Ronaldo Gomes Escola e Família por Cleide Arantes Uma Escola sem Paredes CAPA A Pedagogia da Sensibilidade 16 APRENDENDO A EDUCAR 17 FAMÍLIA 18 20 21 22 ENTREVISTA: PESTALOZZI 23 EDITORIAL Mudanças e Transformações por Marcus De Mario Participação na Vida Escolar do Filho por Bruno Zaminsky Educando as crianças com amor e liberdade Fazendo Mais para Você Com o relançamento da revista ReConstruir, agora em nova formatação e diagramação, iniciamos um novo período no IBEM, dentro das comemorações de 15 anos de existência e atividades do Instituto. E aproveitamos para dar as boas-vindas a dois novos colaboradores, aos quais devemos o trabalho de relançamento da revista: a Fernanda Vasconcelos, que com sua experiência de designer formatou a revista, e também o Flávio Filipe, webdesigner, responsável pelo novo site. Devemos a eles novas ideias e vários projetos gráficos. Como anunciado, também relançamos o Programa Vivendo Sempre em Paz, agora disponibilizando seis Cadernos de Atividades Educacionais sobre a Paz, que podem ser acessados e baixados gratuitamente em nosso site. Nossos articulistas estão se empenhando em produzir textos inéditos para a revista, com abordagens práticas e instigantes, fazendo com que você, leitor amigo, não apenas pense e repense, mas igualmente tenha em mãos possíveis caminhos, sugestões práticas, para colocar em ação na sala de aula ou no ambiente familiar. O boletim IBEM on Line, trazendo informações variadas sobre o Instituto, está alcançando cada vez mais escolas e secretarias de educação, graças ao esforço que nossa equipe realiza em aumentar o banco de dados. E, por fim, aí está o Clube Amigos do IBEM, convidando a todos para se associarem e contribuírem com a manutenção de nossa organização. Não esqueça de enviar sua mensagem. Participe! Sua contribuição é muito importante. E agora ... Boa leitura! PENSANDO A EDUCAÇÃO Dar a mesma educação ATIVIDADES Dinâmicas Educacionais CONTANDO HISTÓRIAS Um simples desejo LITERANDO Leitura Sempre por Kate Portela A revista Reconstruir é uma publicação do IBEM - Instituto Brasileiro de Educação Moral Coordenção Editorial: Marcus De Mario Colaboradores: Bruno Zaminsky, Cleide Arantes, José Pacheco, Kate Portela e Ronaldo Gomes Projeto Gráfico e diagramação: Fernanda Vasconcelos Publicação online: Flávio Filipe www.educacaomoral.org www.facebook.com/educacaomoral Imagem: www.wikipedia.org OS EDUCADORES Emmi Pikler: os cuidados com os bebês Emmi Pikler, nascida em 09 de janeiro de 1902, em Viena, e falecida em 06 de junho de 1984 em Budapeste, teve como nome de nascimento Emilie Madleine Reich, e foi um pediatra húngara, que introduziu novas teorias da educação infantil, e colocou-os em prática em um orfanato que ela criou. SUA VIDA Emmi Pikler passou a infância em Viena. Ela era a única criança. Sua mãe era uma professora de Viena e seu pai era um artesão húngaro. Em 1908 seus pais se mudaram para Budapeste. Quando Emmi Pikler tinha doze anos de idade, sua mãe morreu. Ela retornou a Viena para estudar Medicina, onde recebeu seu diploma de médica em 1927. Recebeu seu treinamento pediátrico no Hospital Infantil da Universidade de Viena com Clemens von Pirquet e estudou cirurgia pediátrica com Hans Salzer . O terceiro professor da Emmi Pikler foi o seu próprio marido, um matemático e educador por cujas experiências foi confirmada em suas considerações fisiológicas de desenvolvimento. Juntos, eles decidiram no nascimento de seu primeiro filho, permitir que a sua liberdade de movimento e aguardar pacientemente o seu desenvolvimento. No início, eles viviam em Trieste e mais tarde em Budapeste. Em 1935 Emmi Pikler qualificou-se como pediatra na Hungria. Desde o início, seu objetivo era pro- mover o desenvolvimento saudável da criança. A partir da experiência com a filha, ela sabia que a criança não deve ser estimulada ao movimento e ao jogo e que cada detalhe em lidar com a criança e seu meio ambiente é importante. Mesmo nestes anos Emmi Pikler escreveu e deu palestras sobre o cuidado e a educação de crianças e jovens. O resultado foi o seu primeiro livro para os pais. Foi publicado em 1940 e passou por várias edições na Hungria e outros países. Os dez anos que trabalhou como médica de família foram difíceis para eles, não só porque a família era judia, mas também porque o marido estava na prisão por motivos políticos (19361945). Com a ajuda dos pais das crianças que ela cuidou , ela e sua família sobreviveram à perseguição dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, ela se tornou mãe de mais dois filhos. Ela não abriu seu consultório particular novamente, mas trabalhava para uma associação nacional para crianças abandonadas e desnutridas. Além de muitas outras atividades, fundou em 1946, a Lóczy, orfanato que ela dirigiu até 1979. Desde o início, ela procurou estabelecer uma atmosfera reconfortante, incluindo uma cuidadosa seleção do pessoal, permitindo que as crianças do orfanato crescessem sem o dano institucional habitual. Em 1946 Emmi Pikler fundou o Instituto Lóczy em Budapeste. Sob sua liderança, e com a publicação Abril 2014 3 OS EDUCADORES de livros e publicações científicas, a instituição foi reconhecida internacionalmente Depois que Emmi Pikler se aposentou em 1978, ela continuou o seu trabalho científico e consultivo em Lóczy. Nos últimos anos de sua vida, ela recebeu mais e mais reconhecimento na Hungria e outros países. Em 1984 Emmi Pikler morreu após uma breve doença. UM MÉTODOPARA BEBÊS Sua decisão de se tornar pediatra a levou de volta para estudar medicina em Viena onde recebeu o título de PhD em 1927, como especialista em pediatria do Hospital Infantil da Universidade de Viena com o professor Von Pirquet e cirurgia pediátrica com o Prof Salzer. O Método Pikler, conhecido em todo o mundo, foi desenvolvido através de anos de pesquisas com bebês, onde Emmi percebeu que atitudes vistas nas famílias e escolas, com intuito de acelerar o desenvolvimento motor da criança, como ajudá-la a ficar em pé, a andar, fazê-la sentar sem antes estar preparada, trazem como resultado uma criança insegura física e psicologicamente. A aplicação do método Pikler leva em consideração três princípios: 1) Autonomia, 2) Motricidade livre e Assistência Necessária, 3) Respeito pelo ritmo e autonomia da criança. A aplicação do método, respeitando esses princípios, tem como resultado crianças mais confiantes, alegres e ativas. O mesmo percebe-se nas relações com os adultos, sejam eles educadores ou a própria família. Diz-se que em Budapeste, “bebês Pikler” podem ser reconhecidos, mesmo quando forem mais velhos porque eles se movem com graça e liberdade. Segundo Pickler, isso se deve ao fato de ninguém tê-los forçado sentar ou andar, mas sim autorizados a aprender no seu próprio ritmo natural. O INSTITUTO No Instituto Lóczy, criado por Pikler para atender crianças órfãs ou abandonadas após a Segunda Guerra Mundial, a médica liderou estudos sobre o desenvolvimento dos bebês e a conduta dos adultos responsáveis por essas crianças. Ela deixou como legado uma sequência detalhada de ações que os profissionais podem adotar no cuidado cotidiano dos bebês, de modo a garantir seu crescimento em condições físicas, psicológicas e afetivas saudáveis. Lóczy, que é o nome da rua onde a instituição foi erguida, é hoje chamado Instituto Pikler e não é mais um or- 4 Abril 2014 fanato, mas uma creche, onde mesmo após as mudanças continua uma intensa atividade de pesquisa sobre a infância. Pikler tinha uma visão aberta de levar as crianças a serem ativas e autônomas. O mais visível está nos movimentos. Há 100 anos se colocava a criança de pé, se forçava a criança a determinadas posturas, ela era colocada em cadeiras e amarrada. As crianças eram completamente imobilizadas. Quando Emmi Pikler propôs, então, deixar a criança deitada de costas sobre uma superfície e de barriga para cima, ela liberou os movimentos do bebê. Ele não vive passivamente, fechado, enrolado. Ele pode seguir seus interesses e, assim, não é necessário a todo o momento provocar o bebê a fazer alguma coisa. Ela fundou o instituto em 1946, recebendo crianças em pequenos grupos e não 15 ou 20. Ela viu na Ucrânia dormitórios de 50 crianças. Então ela formou pequenos grupos, de dez, oito crianças, e propôs a estabilidade do adulto. Um adulto trabalha sempre com o mesmo grupo; três pessoas ou quatro por grupo, porque alguns trabalham menos. Mas a equipe era a mesma durante anos. E é necessário organizar uma estrutura: pequenas unidades, estabilidade, para a criança e o adulto se conhece- OS EDUCADORES rem. Então o adulto sabia que amanhã e depois de amanhã ele sempre cuidaria de determinada criança. E pensava: “eu sei como acalmar essa criança hoje, porque eu estava ao lado dela ontem”. Ela elaborou uma coreografia de como o adulto deve agir durante os cuidados. Emmi Pikler trabalhou os detalhes. Por exemplo: não é possível pegar um bebê sem dizer “olá, eu estou aqui, eu vou te pegar”. Não é permitido pegar e puxar o seu braço e fazer tudo rápido. Tem de falar, como quando nós falamos com as flores: “O que você está fazendo? Eu vou te levantar pelos braços. Eu vou te alimentar”. O bebê escuta atentamente, ele é humano, muito sensível. Se ele escuta o adulto, é mais fácil para ele aprender a falar. E para isso tem de dar tempo. TRABALHANDO COM BEBÊS Pikler, em suas pesquisas e trabalhos, viu que após o nascimento, os músculos do bebê saudável já estão prontos para funcionar, embora seus movimentos estejam ainda descoordenados. Ele mexe os braços e as pernas, mexe o tronco para os lados e seus gestos parecem em alguns momentos enrijecidos, não tendo controle sobre eles. Assim, ela descobriu que para que a criança desenvolva movimentos seguros e suaves, a criança deve percorrer um longo caminho no seu desenvolvimento físico e psíquico. Conforme o bebê vai crescendo, ele descobre novas possibilidades motoras e durante o período em que ele está desperto, ele se mexe bastante, exercendo sua musculatura e aos poucos torna-se cada vez mais hábil. É incrível ver como a criança é perseverante diante do intenso trabalho muscular que varia muito. A criança rola para o lado, rola para o outro, descobre que pode se movimentar no espaço, se arrasta, experimenta novos movimentos, novas posições, descobre o espelho… A riqueza do movimento livre e espontâneo desperta na criança um prazer constante, pois a cada novo movimento e mudança de posição ela se apropria mais de seu corpo, e desta forma sente-se mais segura consigo mesma. A conquista desses movimentos foram descobertos por ela mesma “de dentro para fora”, respeitando seu próprio ritmo e com movimentos leves, ela descobre novas possibilidades motoras. Um bebé não pode existir sozinho, ele é parte de uma relação. Embora o adulto não precise interferir diretamente nesse período em que a criança está desperta, deitada no chão, descobrindo a atividade autônoma livre, é fundamental que ele esteja disponível e proporcione um ambiente seguro, organize o cotidiano da criança, cuidando dela com respeito, tranquilidade e acolhimento de forma que ela possa evoluir, desenvolver-se e amadurecer emocionalmente de forma saudável. Clique e assista um vídeo sobre o método Pickler para bebês Abril 2014 5 PELOS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO por José Pacheco Doutor em Educação. Coordenador do Projeto Âncora (Cotia/SP). Gratidão Quando histórias reais fazem pensar e alcançar o verdadeiro valor da educação. Desta vez, trago-vos algumas histórias e fico grato pelo tempo que possa ser dispensado à sua leitura. Falam-nos de gratidão e poderão fazer-nos pensar no quanto a gratidão fará, ou não, parte das nossas vidas. Estou certo de que sabereis extrair a moral das histórias. Uma brasileira, sobrevivente de campo de extermínio nazi, contou que, por duas vezes, esteve numa fila que a encaminhava para a câmara de gás. E que, nas duas vezes, o mesmo soldado alemão a retirou da fila. Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal na França. Quando as tropas de Hitler invadiram esse país, Salazar ordenou que não se concedesse visto para quem tentasse fugir do nazismo. Contrariando o ditador, Aristides salvou dez mil judeus de uma morte certa. Pagou bem caro a sua atitude humanitária, Salazar destituiu-o do cargo e o fez viver na miséria até ao fim da vida. Diz um provérbio judeu que quem salva uma vida salva a humanidade. Em sinal de gratidão, há vinte árvores plantadas em sua memória no Memorial do Holocausto, em Jerusalém. E Aristides recebeu dos israelenses o título de “Justo entre as Nações”, o que equivale a uma canonização católica. Quando um empregado de um frigorífico foi inspecionar a câmara frigorífica, a porta se fechou e ele ficou preso dentro dela. Bateu na porta, gritou por socorro, mas todos haviam saído para suas casas. Já estava muito debilitado pela baixa temperatura, quando a porta se abriu e o vigia o resgatou com vida. Perguntaram ao vigia-salvador: Por que foi abrir a porta da câmara, se isso não fazia parte da sua rotina de trabalho? Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, vejo centenas de empregados que entram e saem, todos os dias e esse é o único funcionário que me cumprimenta, ao chegar, e se despede, ao sair. Hoje, ele me disse “bom dia”, ao chegar. E não percebi que se despedisse de mim. Imaginei que poderia lhe ter acontecido algo. Por isso, o procurei e o encontrei. 6 Maio 2014 A minha amiga Ângela enviou-me uma mensagem que a sua neta Giovanna redigiu para um ente querido, que falecera: (…) quero falar sobre o presente de Rei. Acredito que não possa ser algo material, pois não posso levá-lo com a morte. Meu presente de Rei é uma lembrança. Um dos grandes presentes que a vida nos deu foi o tempo passado ao lado desse grande amigo. Seu coração e sua casa sempre foram um grande albergue, recebendo cunhados, amigos e sobrinhos, como se fossem seus próprios filhos. Obrigado por ter estado presente em nossas vidas. Era uma vez… dois amigos: Amir e Farid. Durante uma viagem, Farid resolveu tomar um banho e foi arrastado pela correnteza do rio. Amir atirou-se no rio e o salvou. Grato, Farid ordenou a um seu escravo que escrevesse numa pedra, em letras grandes: “aqui, com risco de perder sua vida, Amir salvou o seu amigo Farid”. Mais tarde, numa discussão, Amir esbofeteou Farid. Este se aproximou da margem do rio, e escreveu na areia: “aqui, por motivos tolos, Amir esbofeteou Farid”. O escravo, que escrevera na rocha a frase anterior, ficou intrigado: Senhor, quando fostes salvo, mandastes gravar o feito numa pedra. Agora escreveis na areia a ofensa recebida. Por que agis assim? Farid olhou o escravo e respondeu: “os atos de amor devem ser gravados na rocha, para que todos os que tiverem oportunidade de tomar conhecimento deles, procurem imitá-los. Porém, quando recebermos uma ofensa, devemos escrevê-la na areia, bem perto das águas, para que seja por elas levada”. Talvez a gratidão devesse ser uma rotina nas nossas vida, algo indissociável da relação humana, mas talvez ande arredada dos nossos quotidianos gestos. E se começássemos cada dia dando gracias a la vida, como faria a Violeta? Os atos de amor devem ser gravados na rocha GESTÃO por Marcus De Mario Educador. Escritor. Diretor do IBEM. E agora, o que fazer? Suspensão, expulsão e polícia degradam a escola e mostram fraqueza da gestão escolar em enfrentar o problema da violência Para resolver o dramático problema da violência nas escolas sugestões e medidas as mais diversas estão em pauta: proibir o tema consumo de drogas na sala de aula; silenciar diante da descoberta de um aluno portar uma arma; criar bônus salarial para os docentes que lecionarem em escolas próximas a áreas violentas; instalar detectores de metal e circuito interno de vigilância através de câmeras; manter ronda policial permanente na porta das escolas. Entretanto, nada disso será solução. Ninguém cogita de rever a filosofia que rege a educação. Ninguém pensa em modificar o processo ensino-aprendizagem. Ninguém quer saber de reestruturar as escolas. E, pior, a maioria dos professores se nega a discutir a educação, pois ela seria questão exclusiva do foro familiar ou acadêmico, acreditando que estão na escola para ensinar, e ai de quem questionar como ensinam. Provavelmente devem pensar que Paulo Freire, educador de ponta do nosso Brasil, estava errado ao afirmar que aluno é gente, é um ser humano. Não deve ser, pois é trata- do como se não fosse. Deve haver professor que pense que talvez seja melhor transformar as escolas em prisões do sistema penitenciário. Por mais que melindre muitos professores e pedagogos, precisamos aprender a amar crianças, adolescentes e jovens, nossos alunos, e fazer a educação com amor. Precisamos humanizar o processo ensino-aprendizagem. Precisamos transformar a escola numa família em escala maior, no sentido estudado, compreendido e aplicado por Pestalozzi, marco da educação mundial. Mas, que estou dizendo? Citando Paulo Freire e Pestalozzi para uma massa de professores que muito mal ouvir falar deles? Proclamando o amor na educação para quem nunca ouviu falar disso enquanto fazia sua graduação? Sim, e continuarei falando e proclamando, e trabalhando, para que a verdadeira educação possa realizar o bom combate, e vencer a violência. Mas este é um texto sobre gestão escolar, e o que esta tem a ver com o assunto até aqui tratado? Tudo. Se a gestão escolar não se comprometer com transformações, se não acreditar nos alunos, se não se empenhar em capacitar periodicamente os professores, se não estiver aberta ao diálogo, se não implementar novas Maio 2014 7 Precisamos aprender a amar crianças, adolescentes e jovens, nossos alunos, e fazer a educação com amor” práticas pedagógicas, a violência continuará dominando o ambiente de ensino. A criança, o jovem e a família precisam estar inseridos no processo educacional da escola. Precisam ver e sentir a escola como um espaço que também é seu. E os professores só podem ser educadores se trabalharem com amor, dando amor, acreditando nos alunos. Expulsar o aluno é a medida mais fácil e inócua: o problema continua, só foi transferido, e no lugar desse aluno aparecerá outro. Aplicar uma suspensão é tudo o que o aluno quer: não terá de assistir as aulas por um período e voltará do mesmo jeito. Chamar a polícia é demonstrar a toda a sociedade que a escola não sabe mais educar, que os professores não sabem mais o que fazem. Para combater a violência não se pode usar de violência, deve-se utilizar o amor, a educação, mas insistem que educação é igual a ensino, que ensino é igual a transmissão de conhecimentos, deixando os valores humanos e a formação do caráter em segundo plano. Se você é gestor escolar, ou está pensando em ser, pense profundamente e não violente mais os alunos, os pais, os professores e a… educação. O B S E R VAT Ó R I O Quem percorre as periferias das grandes cidades brasileiras descobre um retrato bem parecido: grande número de habitantes, ausência de bibliotecas, poucas unidades de saúde, quase nenhuma praça, áreas de lazer improvisadas, escolas públicas sucateadas, falta de delegacias de polícia. Diante dessa realidade, o tráfico de drogas ganha espaço e as gangues ou facções são uma constante. Crianças e adolescentes saem da escola, ou nela não chegam, por conta não apenas da violência, mas também por outro fator sempre presente: a pobreza com todas as suas consequências, ou seja, condições precárias de moradia, ensino descontextualizado, situações de racismo, discriminação social, falta de transporte, entre outras questões. Segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70,8% da população extremamente pobre do país é constituída por pessoas dos grupos de raça ou cor preta 8 Maio 2014 e parda. A maioria (63%) das crianças e dos adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola no país é afrodescendente. O relatório Situação da Adolescência Brasileira 2011, do Unicef, mostra que 6,1% das garotas de 10 e 17 anos sem filhos não estudavam em 2008, último dado disponível. Na mesma faixa etária, entre aquelas com filhos, a proporção chegava a 75,7%. Também é grande a evasão de alunas por motivo de ter de cuidar de irmãos menores, em auxílio à mãe. Indisciplina, desinteresse pelos estudos, aulas sem criatividade provocam baixa aprendizagem, atraso escolar, repetência e distorção idade-série. Muitas escolas percebem os alunos como um problema, afastando-os do sistema de ensino para a realidade exterior, considerada pelos jovens mais atraente que a sala de aula. Imagem: http://www.inesc.org.br Periferias sem educação Em contrapartida assistimos o governo anunciar verbas fantásticas, de bilhões de reais, para obras de estádios de futebol, construção de avenidas, compra de refinarias no exterior e tantas outras coisas, deixando a educação de lado e solenemente fingindo não ver a miséria de boa parte da população brasileira. Até quando vamos ter periferias pobres? Até quando elas estarão marginalizadas? É bom lembrar que todo ser humano tem direito a uma vida digna e educação de qualidade. AT U A L I D A D E Os interesses políticos e a Educação Em ano eleitoral pais e professores precisam ter atenção redobrada. É fato histórico em nosso país os candidatos aos diversos cargos, em todas as esferas, utilizarem discursos e fazerem promessas em torno da educação. E é também fato histórico que, após eleitos, esquecem os discursos e promessas, deixando a educação à margem de suas atividades. E mais: muitas vezes interesses políticos se sobrepõem às prioridades da área educacional, com a descontinuação dos programas pedagógicos, com a substituição de secretários de educação e de diretores escolares. Há que se ter muito cuidado com discursos sobre qualidade do ensino, e também com a apresentação de índices e estatísticas, nem sempre fiéis à realidade. Muitos políticos têm a intenção apenas de ganhar votos, não possuindo real interesse na área da educação. Como os candidatos sabem que apelar para a educação rende audiência e votos, procuram valorizar esse aspecto, mas será que realmente possuem créditos para que possamos confiar nessa fala? Lembremos que prometer construir escolas, pagar melhor os professores e assim por diante, nem sempre impactam positivamente a educação. Podem ser canais abertos para mais desvio de verbas, e para a realização de acordos políticos usando a educação como moeda de troca. Precisamos escolher os candidatos com cuidado, pois outro grave problema são as mudanças na administração pública. Em ano eleitoral é frequente a troca de cargos por conta de alianças partidárias e, algumas vezes, a educação perde profissionais valiosos, assim como cargos técnicos são preenchidos levando-se em conta apenas o critério político. A saída de prefeitos para candidatarem-se a cargos estaduais e federais acarreta muitas vezes a troca de todo o secretariado por parte de quem assume, normalmente o vice-prefeito, ocorrendo quase sempre uma ruptura do processo educacional no município. É o eterno recomeço, verdadeira síndrome que abala as estruturas educacionais do país. A educação, de fato, precisa ser prioridade na administração pública. Basta de acordos partidários, transferências de cargos, descontinuidade dos projetos e outras práticas eleitoreiras que prejudicam o setor. Nem sempre novos planos de governo são positivos para a qualidade do ensino. Lembre-se o eleitor que a educação é um setor em que os resultados nem sempre aparecem a curto prazo, e a mudança constante de gestão impede a consolidação de um trabalho anteriormente proposto. Portanto, muita cautela diante dos discursos, que são fáceis de serem feitos, mas nem sempre revelam a verdade. Maio 2014 9 EDUQUEMO-NOS por Ronaldo Gomes Pedagogo. Psicopedagogo. Professor da UNISUAM. Diretor do IBEM. O desafio de educar A solução dos problemas sociais não é de competência apenas do governo, passa também pela escola e pela família Reconhecer o trabalho dos poderes públicos é fundamental, no entanto, discordar de alguns pontos quanto aos problemas sociais é ato de cidadania. Como cidadão com direitos e deveres, devo reconhecer os esforços dos Governos Federal, Estadual e Municipal, e de todos os seus Secretários das pastas, assim como os assessores que buscam efetivamente realizar, trabalhando frente a frente com a população, minimizando ao máximos os problemas sociais. Deixo apenas 3 pontos a serem observados e, se possível, analisados: 1. Maior fiscalização e supervisão efetivas de todos os secretários e assessores, ou seja, ir a campo. 2. N as escolas os profissionais Orientador Acadêmico e Psicopedagogo deveriam estar presentes na contribuição e colaboração psicopedagógica, frente às problemáticas que a direção, corpo docente, corpo discente, pais e comunidade vivenciam no dia a dia nas escolas. Trabalho de forma preventiva. 10 Maio 2014 3. Não há como separar as pastas, ou seja, todas as secretarias de governo devem estar uníssono, coesos e integrados, numa palavra: interligadas, minimizando problemas de distanciamentos dos problemas da população em geral. Ex: A escola integra todas as secretarias de governo. Transporte, Saúde, Segurança, Administração, Cultura, Pessoas com deficiência, Políticas das Mulheres etc. Desta forma as escolas são o termômetro das problemáticas sociais de uma comunidade, sinalizando para sérios problemas que existem e que hão por vir, mas que não são levadas a sério com a devida urgência, pelo poder público. Na escola pode-se trabalhar de forma preventiva, minimizando impactos em todos os setores da sociedade. Arregaçar as mangas e ir a campo, esse o trabalho para ser realizado com urgência. A evasão escolar, por exemplo, mostra que o pais não está realizando seu dever de casa em educar, instruir, ensinar, empurrando as crianças e jovens para fora das escolas. As escolas são o termômetro das problemáticas sociais de uma comunidade”. Outro problema: escolas não realizando seu dever de casa em ensinar, instruir e educar, rotulando alunos como difíceis, problemáticos etc.. Escola e família devem priorizar suas responsabilidades. Enquanto negligenciamos os compromissos, frente às ações educativas de nossos educandos, ambas sofrerão as consequências de sempre, afinal, é uma via de mão dupla: escola e família. Ficaremos fadados ao finjo que ensino e educo, enquanto você finge que aprende e está sendo educado? Sendo a escola e a família os núcleos de uma sociedade, estas deveriam de fato trabalharem desde cedo o resgate dos valores humanos, como o antidoto das problemáticas sociais da nação. Numa palavra: eduquemo-nos. VAMOS CONVERSAR por Cleide Arantes Pedagoga. Professora de Educação Infantil. Escola e Família Contribuições Sócio-Educativas As razões que levam a escola enxergar a família como um vínculo indissociável e participativo é a concepção filosófica em que se baseia. Como fazer um bom trabalho de educação se não se tem claro os objetivos e metas que se pretende alcançar? Quando a escola se compromete em trazer, aproximar a família, ela acredita que todos contribuem para o desenvolvimento integral desse aluno. E como desvincular algo que já “nasceu” vinculado? Ilustremos com algumas formas de realização este trabalho de aproximação: Feira Cultural, os pais se organizam com seus filhos com um tema relevante e proposto pela turma. Outro exemplo poderia ser uma excursão da turma, aqui os pais se reúnem e comparecem em um ambiente livre de lazer. Reuniões de Responsáveis, onde a família participa mais ativamente da construção dos projetos, iniciativas e contribuem com ideias. Citemos Andréa Cecília Ramal (2000), pesquisadora do Centro Pedagógico Pedro Arrupe e autora de Histórias de Gente que Ensina e Aprende, da EDUSC e doutora da PUC-Rio. A autora, em seu artigo para a Revista Pedagógica Pátio sobre avaliação escolar, diz: “Não é possível pensar em formação e autonomia com aulas estruturadas sobre um paradigma tradicional de ensino”. Ela aborda claramente a necessidade de se rever aspectos importantes da ação pedagógica. Ela ainda comenta que o aluno é o principal interessado em verificar o quanto rendeu seu estudo e como pode aprimorar as estratégias de construção desse saber. A família, como primeiro espaço de convivência, torna-se excelente celeiro de afetividade e de compromisso. Não importa a forma com que a família está constituída (modelos antigos ou modernos), o respeito e os limites precisam ser estabelecidos se pretendemos uma família sob as bases dos valores humanos, da ética e da cidadania. Os alunos querem mais liberdade e levam para a escola os reflexos que encontram e constroem dentro de casa. Hábitos que podem prejudicar ou contribuir positivamente para o convívio escolar. VASCONCELOS (1994) argumenta que o aluno precisa se envolver e entender o que é proposto para ele e assim ajudar os pais a compreender a proposta da escola. Os pais, ao estabelecerem com seus filhos, de forma bem clara, as regras básicas, estará contribuindo para a prevenção de situações não desejáveis em casa e na escola. Não é de hoje que se houve falar em filhos desatentos, tensão e violência no ambiente escolar e familiar. Que fazer diante dessa situação? Muitos métodos foram apregoados no passado em que era comum o uso da palmatória, das réguas, como meios de punição para os erros de alunos e filhos indisciplinados. No entanto, não se concebe mais tal atitude. O autor explica que “o enfoque tradicional no enfrentamento da indisciplina tem sido o “sermão” e a punição”. (VASCONCELOS, 1994 p. 90, 95). Em casa ou na escola não se faz um trabalho de conscientização porque não se tem “tempo a perder”. Pais e educadores deixam o “tempo” passar e o problema “só se avoluma, se multiplica, se agrava!”. As punições, segundo ele, partem do pressuposto de que o sofrimento provocado educa. Uma visão medieval carregada de equívocos. Já o sentido das sanções faz alterar a rotina para fazer pensar, ajuda na tomada de consciência, reparar a falta cometida. Não se trata de “fazer sofrer”, mas sim de ajudar a assumir as responsabilidades de seus atos. Os alunos e filhos que apresentam problemas de indisciplina precisam Maio 2014 11 VAMOS CONVERSAR por Cleide Arantes de uma ação educativa apropriada: aproximação, diálogo e estabelecimento de contratos. O autor amplia nossa compreensão quando fala que a sanção precisa ser relacionada à falta cometida. Ele chama de “sanção por reciprocidade”. Pais e professores devem pensar bem para não sancionar sem ter avisado antes o que esperava; não aplicar sanção maior à falta cometida; não prometer algo que não possa cumprir. A escola enfrenta grandes dificuldades para o estabelecimento de normas e limites. Instituição em crise gerada muitas vezes pela discordância entre a teoria e a prática, pela falta de diálogo entre os agentes educadores e todos da comunidade escolar, a escola se vê “so- zinha” com tantos desafios. Abriríamos outro tema se fôssemos desenrolar esse assunto. A escola precisa encontrar na família maior interação no processo de superação. Uma das melhores formas de se atingir a família é através dos próprios filhos e a escola desenvolver um trabalho participativo. REFERÊNCIAS PÁTIO. Revista Pedagógica. Porto Alegre, RS: Artes Médicas – ano 3, nº 12 – fev/abril, 2000. VASCONCELOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola / Celso dos S. Vasconcelos. –São Paulo: Libertad, 1994. – (Cadernos Pedagógicos do Libertad; v.4). Uma Escola sem Paredes A Escola Municipal Presidente Campos Sales, localizada em Heliópolis, zona sul da cidade de São Paulo (SP), implementou um projeto inovador: as paredes das salas de aulas foram derrubadas. No lugar, surgiram grandes salões de aula onde os alunos da mesma série são agrupados formando uma só turma. O objetivo é buscar uma alternativa à forma tradicional de educação, fazendo com que os alunos se tornem cidadãos ativos na sociedade, além de conseguirem ingressar no ensino superior e, posteriormente, no mercado de trabalho. Antes considerada uma favela, Heliópolis hoje é um bairro que possui cerca de 120 mil habitantes e tem uma área de quase um milhão de metros quadrados. “A escola exerce um grande papel no local, pois é um centro de liderança e os problemas da comunidade passam a ser também da escola. Tudo passa pela educação”, explica o diretor Braz Rodrigues Nogueira. Inaugurado em 1927, o colégio começou a se transformar em 1999. Nesse ano uma aluna envolvida com o tráfico de drogas foi assassinada depois de sair da escola. O fato fez com que Braz e outros integrantes da escola organizassem uma passeata pela paz com o objetivo de mobilizar a comunidade. O diretor lembra que se sentiu responsável pelo ocorrido 12 Maio 2014 EXPERIÊNCIAS QUE DÃO CERTO e que precisava promover uma mudança na escola, única que era mantida aberta na região na época. Foi então que, em 2006, em um encontro com pessoas ligadas à educação, Braz conheceu o modelo pedagógico da Escola da Ponte, de Portugal. Resumidamente, o projeto consiste em não oferecer aulas expositivas e um currículo definitivo. Os alunos escolhem suas áreas de interesse e desenvolvem o itinerário de aprendizado, por meio de projetos de pesquisa individuais e em grupo. À medida que se sente preparado, cada aluno procura o professor, e juntos fazem a avaliação do trabalho. Diante do modelo, o diretor brasileiro, junto com a comuni- dade, decidiu implementar um projeto semelhante na escola de Heliópolis. Hoje, o Campos Sales tem cerca de 1.300 alunos que ainda são separados por séries. Eles seguem o plano pedagógico da escola, não escolhendo suas áreas de interesse, mas estudam em grupos de trabalho, pesquisando da forma que preferem. Assim, os professores, sempre mais de um nos salões, não exercem o papel de transmissores do saber, mas sim de auxiliadores no processo de aprendizagem. Os alunos estão satisfeitos, pois conseguem aprender mais e, sempre que têm dúvida, é possível resolvê-la com os colegas, antes de recorrer aos educadores. Clique na imagem para assistir a reportagem sobre esta escola. C A PA UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO A Pedagogia da Sensibilidade A Pedagogia da Sensibilidade trabalha a teoria e a prática da educação moral e formação do caráter do homem, considerando-o um ser integral - inteligência e sentimento criado por Deus para um fim superior na vida. Sua base está em três princípios: educação com amor, educação com exemplo, educação com experiência própria. Estuda e desenvolve os valores humanos, promovendo a sensibilização dos sentimentos e a compreensão da vida, fazendo com que o educando tenha atitudes conscientes de valorização de si mesmo e dos outros. CONCEITO DE SENSIBILIDADE Pesquisando os dicionários encontramos para a palavra sensibilidade dois conceitos. O primeiro conceito é: "Faculdade de sentir; sentimento; faculdade de experimentar sentimentos de humanidade, ternura, simpatia." Sendo a sensibilidade uma faculdade, isso significa que a mesma pertence ao homem, é-lhe natural. Somos sensíveis porque a sensibilidade já está em nós, mas o grau de sensibilidade varia de indivíduo a indivíduo, e num mesmo Maio 2014 13 C A PA indivíduo sofre graduação de intensidade de acordo com o fato, o momento, as pessoas envolvidas. É que cada um de nós possui diversificadas experiências de sentimentos de humanidade, ternura e simpatia e está num determinado patamar de desenvolvimento da sensibilidade. Estudos revelam que crianças que raramente ou nunca são surradas têm melhor desempenho em testes de inteligência do que crianças que apanham freqüentemente. O atraso no desenvolvimento de suas capacidades cognitivas está relacionado com a falta de diálogo e afeto dos pais, fatores de estímulo e enriquecimento de sua capacidade de aprender. Quanto mais diversificadas as experiências, melhor desenvolvimento cognitivo e emocional. O segundo conceito encontrado para a palavra sensibilidade é: "Compaixão; emoção; sentimento; afetividade." Compadecer-se do sofrimento do outro; emocionar-se com a alegria do outro; sentir afeto por alguém, são estados sensíveis do ser, manifestações de sensibilidade, floração dos sentimentos. VISUALIZANDO A SENSIBILIDADE Eis a sensibilidade: 1. faculdade de experimentar sentimentos de humanidade; 2. possui graus variados de intensidade; 3. depende dos estímulos e do afeto que recebe; 4. exterioriza-se através da compaixão e da alegria; 5. sua promoção é feita através dos relacionamentos interpessoais; e 6. é característica predominante do homem moral. A sensibilidade, por possuir graus de intensidade, pode ser trabalhada pela educação, fazendo com que o ser eleve seus instintos naturais ao grau de sentimento, o que depende de uma pedagogia, ou seja, o conjunto teórico de ensino-aprendizagem que norteia o processo educativo. DEFININDO SENTIMENTO Sentimento é a disposição afetiva do ser em relação a coisas de ordem moral ou intelectual. Essa "disposição afetiva" é muito importante, pois compete à educação moral despertar essa disposição em cada ser, e isso a partir da infância. Se colocarmos a palavra "sentimento" no 14 Maio 2014 plural, ampliamos seu entendimento, pois então teremos o conjunto das qualidades morais do indivíduo. As qualidades morais podem ser listadas como sendo: paciência, humildade, benevolência, fraternidade, honestidade, solidariedade, tolerância, operosidade, ou seja, o conjunto das virtudes que fazem o homem moral. O educando deve trabalhar os sentimentos para: a) estar ligado ao ambiente em que vive; b) elaborar conceitos éticos; c) incorporá-los ao patrimônio psíquico; e d) realizar a aquisição do senso moral. Para que essa educação dos sentimentos se realize dependemos: a) do ambiente em que vivemos (natural e social); b) das influências que recebemos (do meio, dos outros, da sociedade); c) das prioridades escolhidas (uso da liberdade); e d) do esforço de nos auto-educarmos (querer, saber, amar). TRABALHANDO OS VALORES HUMANOS Podemos apresentar o seguinte quadro sintético dos valores humanos: 1. Valores Físicos: Corpo; Atividades Físicas; 2. Valores Intelectuais: Economia; Política; Cultura; Ciências; 3. Valores Morais: Sentimentos; Sociedade; Artes; Virtudes; Família; 4. Valores Espirituais: Religiosidade. Os valores morais e espirituais, de ordem superior, devem orientar os valores físicos e intelectuais, mas todos necessitam ser trabalhados em conjunto, pois fazem parte de um mesmo sistema, que é a educação. PROCESSO AVALIATIVOCONSCIENCIAL Os sentimentos e os conhecimentos estão integrados num processo dinâmico de desenvolvimento do educando, motivo pelo qual podemos dizer que a razão humana é formada de dois componentes básicos: 1. intelecto (a racionalidade); 2. sentimento (a disposição afetiva). C A PA Nem apenas Q.I. (coeficiente intelectual) nem apenas Q.E. (coeficiente emocional), mas ambos, num sistema funcional que chamamos de Processo Avaliativo Consciencial (PAC) quando o educando realiza seu auto-descobrimento. O Processo Avaliativo Consciencial leva o educando a: a) dar valor às experiências situacionais e pessoais; b) dar e receber cargas de sentimento; c) desenvolver a capacidade de afetar e ser afetado; d) vincular-se ao objeto (coisa ou sujeito) afetado e/ou que afeta; e) provocar relacionamento com o próximo. PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS A Pedagogia da Sensibilidade trabalha no sentido de dispor o educando para fazer por si mesmo a conquista das virtudes. Para tanto faculta o desenvolvimento do seu senso moral e coloca sua inteligência a serviço do bem. Isso não será alcançado pelo simples estudo teórico, necessário porém incompleto sem a prática, sem a experiência viva, pois o educando deve se sensibilizar diante do próximo através da resolução de conflitos, da cooperação, do exercício da fraternidade e da solidariedade. Tanto no lar como na escola devem ser propiciados ao educando práticas reais de vivência solidária, ao mesmo tempo em que exercita o conhecimento de si mesmo, como ser integral que é. O sentimento é conteúdo e também expressão das nossas relações, e tem por objetivo auxiliar na avaliação e compreensão do processo racional de tomada de decisão diante da vida. A Pedagogia da Sensibilidade leva o educando a se sensibilizar diante da vida e do próximo, a se descobrir como ser integral, a agir em benefício de si mesmo e dos outros. Para chegarmos às suas finalidades e consequências necessitamos colocar em ação uma metodologia interativa, mesclando conteúdo curricular com atividades de desenvolvimento dos sentimentos: exercícios de vida; práticas de bondade; vivências de solidariedade; técnicas de sensibilização; atividades de desenvolvimento do instinto, do cognitivo, do sentimento; técnicas de estudo; jogos cooperativos; jogos para estimulação das relações interpessoais. As expressões da criatividade pelas artes plásticas, o teatro, o cinema, a música, a literatura e outras manifestações culturais devem estar presentes no desenvolvimento tanto do educando enquanto "ser no mundo", como dos conteúdos curriculares das disciplinas. A Pedagogia da Sensibilidade deve permear todo o sistema ensino-aprendizagem, abarcando toda a escola, toda a dinâmica educacional, numa visão integral e espiritualizante do educando e da educação, por isso trabalhando num mesmo conjunto o educando, o educador, a escola, a família e a sociedade. A Pedagogia da Sensibilidade leva o educando a se sensibilizar diante da vida e do próximo, a se descobrir como ser integral, a agir em benefício de si mesmo e dos outros. PARA SABER MAIS Visite o site do IBEM: www.educacaomoral.org. Maio 2014 15 APRENDENDO A EDUCAR por Marcus De Mario Educador. Escritor. Diretor do IBEM. Mudanças e Transformações Resistência para as transformações necessárias sempre existirão, mas podem ser superadas Fazer mudanças pedagógicas na escola não é tão fácil, são muitas as resistências. A começar da gestão escolar, que muitos ainda chamam de direção escolar, nem sempre sensível aos reclamos da sociedade e dos pensamentos educativos. Há também a resistência dos professores, acomodados ao sistema, à prática pedagógica um tanto quanto “secularizada”, afinal mudar dá muito trabalho, não tanto em termos físicos, mas pessoalmente falando, pois mudar significa renovar posturas, o que nem todos estão dispostos a fazer. Temos um terceiro nível de resistência, externa, que é exercida pelos pais, acostumados a uma escola tradicional, envolvidos por um processo “passagem para a faculdade via vestibular”, e que cobram da escola as “notas” dos seus filhos como único meio possível será? - de avaliação. Como vemos, são muitas as resistências. Por esses motivos, porque não são poucos, as transformações são, em grande maioria, de “fachada”. Uma maquiagem física na escola - nova pintura, novos equipamentos - e está carimbada a “mudança”. Ou, em termos de procedimentos pedagógicos, a implantação de algumas novas ideias, a introdução de novas atividades - e, pronto, está feita a “transformação”. A verdade é que, apesar das inúmeras oportunidades de capacitação pedagógica, porque elas existem e são 16 Maio 2014 oferecidas, vários desses conteúdos são sumariamente arquivados/engavetados pelos professores após a capacitação, o que impossibilita que o processo educacional seja renovado. E o problema não são apenas esses professores arquivistas, mas também seus gestores, que não implementam na prática as capacitações. Agora, diante desse complexo quadro de resistências, podemos avaliar as barreiras a um projeto de educação moral, que muitos confundem com ensino religioso, confusão essa originada do encobertamento da crise moral pela qual passam o homem e a sociedade. Como poucos querem enxergar e discutir as inversões de valores, teimando em estabelecer diferença entre “ser ladrão”, por exemplo, e “ser corrupto”, não querendo entender que todos “roubam” e assim prejudicam a coletividade, a educação moral não tem espaço, não é prioridade, até porque, para trabalhar a formação do caráter do educando, é preciso antes trabalhar a nossa formação do caráter, e isso nem todos os gestores, professores e pais querem fazer. Dura realidade, mas verdadeira. De qualquer forma acreditamos na transformação através da educação moral, e que a escola fará significativas mudanças quando reconhecer que o caminho é a aplicação da educação moral. Ah, você quer saber o que é, afinal, educação moral? Convido-o a ler meu livro “A Educação Moral e Sua Aplicação”, disponível em formato digital (eBook) em www.almadolivro.com. Uma grande nação é construída pela educação. Uma educação que trabalhe valores humanos, ética, cidadania, espiritualidade do ser, humanização das ações, com o olhar voltado para o futuro enquanto mantém no hoje os pés no chão. Apesar das resistências, afirmamos que a educação tem solução, e que essa solução está intimamente associada à vontade política de fazer, de implementar ações continuadas, para que o quadro esteja muito melhor no futuro próximo. E nossa participação, como cidadãos, nesse processo de melhoria da educação é imprescindível. Vamos, pelo menos, pensar sobre o assunto? FAMÍLIA por Bruno Zaminsky Doutor em Educação. Professor universitário. Pais e Escola 1. comparecer na escola sempre que pedido ou por iniciativa própria; 2. participar ativamente e cooperar em atividades extracurriculares; 3. incentivar a criança a usar a biblioteca da escola, se existir. Participação na Vida Escolar do Filho Compete aos pais, na educação dos filhos, muito mais do que somente cobrar o dever de casa trazido da escola Assistimos, de há muito tempo, grande maioria dos pais limitarem-se, com relação à vida escolar dos filhos, a duas ações: 1 – comparecer na escola somente quando esta convoca; 2 – verificar e, às vezes, apoiar a realização do dever de casa. Convenhamos que é bem pouco, num momento tão rico para a criança, onde ela amplia e aprofunda seus conhecimentos, suas experiências de vida e insere-se em novos contextos sociais. Por que essa falta de interação entre os pais e a vida escolar dos filhos? Um dos motivos da baixa participação dos pais decorre da postura de grande parte das escolas, onde direção e professores não avaliam com muita satisfação essa presença, considerada intrusa, algo que atrapalharia o andamento pedagógico das atividades. Pais e responsáveis são vistos como pessoas que nada sabem de educação, de ensino e, portanto, seriam um incômodo, sendo melhor ficarem distantes do ambiente escolar. Esse pensamento, muito utilizado, é um equívoco. Diversas experiências e pesquisas mostram que quando os pais são bem-vindos e são integrados ao dia a dia da escola, participando mais ativamente das atividades de ensino, o rendimento dos alunos melhora significativamente. E os pais e responsáveis que pouco entendem de educação, passam a ter um outro olhar sobre a escola, a importância dos estudos e do relacionamento interpessoal no desenvolvimento dos filhos. Escolas que criam barreiras para a entrada dos pais cometem um grave erro pedagógico. Outro pensamento equivocado, agora por parte da família, é acreditar que a educação escolar é algo à parte, e que os pais nada têm a ver com isso. A escola deve tudo resolver e ponto final. Nessa consideração, pais e responsáveis enxergam o ensino apenas pelo viés das matérias curriculares, esquecendo que a escola e o ensino são muito mais do que isso. O ambiente escolar é rico de vivências e descobertas, e a criança nem sempre consegue absorver com equilíbrio tudo o que descobre, necessitando, portanto, igualmente do auxílio dos pais, responsáveis pela orientação moral dos seus filhos. Para mudar esse quadro e melhorar a participação dos pais na vida escolar dos filhos, recomendamos: Pais, Filhos e Escola 1. incutir nas crianças/alunos a compreensão nítida da necessidade de respeito pelo trabalho, o horário, os professores e as exigências disciplinares da escola; 2. incentivar a criança a participar nas atividades promovidas pela escola. Em Casa 1. proporcionar um local adequado em casa para que a criança possa estudar e fazer os deveres escolares; 2. respeitar algum silêncio quando a criança estiver fazendo os trabalhos de casa, para que seja um momento de concentração que permita uma melhor apreensão dos conteúdos das aulas. 3. estabelecer, em acordo com a criança, um horário para a realização dos trabalhos escolares. Em Geral 1. procurar criar o hábito de ser assídua e pontual às aulas; 2. atribuir pequenas responsabilidades, ajudando a criança a organizar-se nas atividades escolares para torná-la mais independente e segura de si; 3. mostrar interesse em tudo o que a criança realiza, incentivando-a nas pesquisas e esclarecendo dúvidas, sem, no entanto, fazer os trabalhos por ela; 4. favorecer o seu desenvolvimento de acordo com sua capacidade, não fazendo comparações com os colegas, mas estimulando-a a superar-se; 5. ser otimista perante a vida em geral, criando um ambiente positivo. Maio 2014 17 E N T R E V I S TA Educando as crianças com amor e liberdade Apresentamos uma entrevista que realizamos com o mestre Pestalozzi (17461827), naturalmente utilizando-nos de seus escritos para montagem do texto, na verdade a Carta de Stans, documento muito importante para a educação, onde ele revela suas ideias, seus princípios e sua metodologia de trabalho. A Carta de Stans é verdadeiro documento pedagógico, onde temos Pestalozzi com todo sentimento, com todo ardor pela educação, e onde encontramos a base de tudo o que ele viria posteriormente a desenvolver no Instituto de Iverdon (1805-1825). Vamos à entrevista: A política exercida pelos homens pode mudar o cenário da educação? Pestalozzi – Nunca acreditei na exterioridade da forma política, mas acredito que alguns conceitos trazidos pelos políticos à ordem do dia e alguns interesses suscitados, podem acarretar aqui e ali alguma coisa verdadeiramente boa para a humanidade. Isso quer dizer que ao falar da educação popular, não entende que ela deva ser feita pelo governo? Pestalozzi – Trouxe à baila, o quanto pude, meus velhos anseios de educação popular e confiei-os, primorosamente, com toda a envergadura em que os concebia, ao Diretório (governo provisório da Suíça). Eu e Legrand (membro do Diretório) concordávamos que a formação popular podia ter maior eficácia, atingindo um número apreciável das crianças mais pobres, dando-lhes educação completa, se essas crianças não fossem retiradas do seu meio, mas se tornassem, ao contrário, ´por meio da educação, muito mais atadas a ele. O governo me apoiou quando da tragédia de Unterwalden (1798), e pude ali instalar um Instituto (Orfanato de Stans), mas logo perdi o apoio governamental, era preciso investir o dinheiro em outras ações, e não na educação. 18 Maio 2014 Essa experiência foi dramática, educando crianças órfãs, pobres, abandonadas, vítimas da guerra … Pestalozzi – A completa ausência de formação escolar era o que menos me preocupava. Confiante nas faculdades da natureza humana, que Deus colocou também nas crianças mais pobres e mais desprezadas, eu não tinha apenas aprendido em experiências anteriores que essa natureza desdobra as mais formosas potencialidades e capacidades em meio ao lodo da rudeza, do embrutecimento e da ruína, mas via nas minhas próprias crianças irromper essa força viva, mesmo em meio a toda sua brutalidade. Eu sabia o quanto a própria miséria e as necessidades da vida contribuem para mostrar aos homens a relação essencial das coisas, para desenvolver a mente sadia e o bom senso e para estimular energias – que parecem estar no fundo da existência, cobertas de imundície, mas que, se limpas do lodo ao redor, brilham intensamente. família. Eu estava convencido de que apenas isso era preciso, e essas disposições naturais despontariam num sentido elevado, com energia superior, para se provarem capazes de tudo o que satisfaz o espírito e corresponde à mais profunda tendência do coração. E qual era seu objetivo nesse instituto, na verdade um orfanato de criança pobres? E o senhor teve apoio acadêmico? Pestalozzi – Não havia ninguém nessa terra de Deus que quisesse partilhar o meu ponto de vista a respeito das aulas e da orientação das crianças. Quanto mais instruída e cultivada era a maior parte das pessoas, menos me entendiam e menos se mostravam capazes de se firmar, nem ao menos teoricamente, nos pontos inciais a que eu procurava retornar. Todas as suas ideias a respeito da organização, das necessidades do empreendimento, etc. Eram totalmente estranhas às minhas. Resistiam sobretudo à ideia e à possibilidade de não se recorrer a nenhum recurso artificial, de se usar apenas como recurso educativo a natureza à volta das crianças, as necessidades diárias e sua atividade, sempre animada. Pestalozzi – Elevar as crianças da lama e transplantá-las para um ambiente simples, mas puro, doméstico, onde as relações fossem as de uma Pelo que entendemos o senhor usou o Orfanato de Stans como um laboratório para provar a certeza de sua teoria. Foi isso mesmo? C A PA Pestalozzi – Eu pretendia provar, com minha experiência, que as vantagens da educação familiar devem ser reproduzidas pela educação pública e que a segunda só tem valor para a humanidade se imitar a primeira. E como o senhor define o ensino escolar? Pestalozzi – Aos meus olhos, ensino escolar que não abranja todo o espírito, como exige a educação do homem, e que não seja construído sobre a totalidade viva das relações familiares, conduz apenas a um método artificial de encolhimento de nossa espécie. Ou seja, mais do que o ensino, importante é a educação? E os professores devem ser verdadeiros pais? Pestalozzi – Toda a boa educação exige que o olho materno acompanhe, dentro do lar, a cada dia, a cada hora, toda a mudança no estado de alma de seu filho, lendo-o com segurança nos seus olhos, na sua boca, na sua fronte. E exige essencialmente que a força do educador seja pura força paterna, animada pela presença, em toda a extensão, das circunstâncias familiares. E foi assim que o senhor fez no instituto? Pestalozzi – Sobre isso eu construí. Que o meu coração preso às crianças, que a sua felicidade era a minha felicidade; a sua alegria, a minha alegria; elas deviam ler isso na minha fronte; perceber isso nos meus lábios, desde manhã cedinho até tarde da noite, a cada instante do dia. Como discípulo de Rousseau, o senhor sempre acreditou no desenvolvimento da bondade da criança. No processo educacional como isso pode ser trabalhado? Pestalozzi – O homem quer o bem com tanto gosto, a criança tem tanto prazer em abrir os ouvidos para o bem! Mas ela não o quer por causa do professor, ela não o qualquer por causa do educador, ela o quer por si mesma. O bem para o qual o profes- sor deve conduzi-la, não deve ter nenhuma relação com os caprichos e as paixões do professor. É preciso que a natureza da coisa seja boa em si e pareça boa aos olhos da criança. Ela precisa sentir a necessidade da vontade do professor, conforme sua situação e suas carências, antes que ela queira a mesma coisa. Ela quer tudo o que a torna amável, tudo o que lhe traz reconhecimento, tudo o que excita nela grandes expectativas, tudo o que nela gera energias, que a faça dizer: “eu sei fazer”. Mas toda essa vontade não é produzida por palavras, e sim pelos cuidados que cercam a criança e pelos sentimentos e forças gerados por esses cuidados. As palavras não pro- duzem a coisa em si, mas apenas o seu significado. Desde o início do trabalho no Instituto de Stans sua teoria foi aprovada pela prática? Pestalozzi – Não. O primeiro efeito dessa teoria e dessa prática, no geral, não foi nada satisfatório, e não poderia sê-lo. As crianças não acreditavam tão facilmente no meu amor. Acostumadas à ociosidade, a uma vida de abandono e embrutecimento, se queixavam de tédio e não queriam ficar. Nem todas as crianças eram órfãs. Os pais apoiavam seu trabalho? Pestalozzi – O estado doentio de várias crianças durou longo tempo, e era agravado pela influência dos pais. Retiravam as crianças do instituto e a levavam para a rua, para esmolar. Os pais pensaram logo que me faziam um favor pessoal se seus filhos ficassem, pois acreditavam que aceitara esse trabalho por miséria, por não ter outra coisa melhor a fazer. Quais foram suas primeiras ações educativas no Orfanato de Stans? Pestalozzi – Minha meta principal direcionou-se, antes de mais nada, a tornar as crianças irmãs, cultivando os primeiros sentimentos da vida em comum e desenvolvendo suas primeiras faculdades nesse sentido. Com isso, minha intenção era fundir a casa no espírito simples de uma grande comunidade familiar e, sobre a base de tal relacionamento e da predisposição por ele gerada, suscitar em todos um sentimento de justiça e moralidade. E como conseguiu cultivar esse sentimento? Pestalozzi - Eu despertava os sentimentos das virtudes antes que se fizessem discursos sobre elas, pois considerava prejudicial tratar com as crianças de alguma coisa enquanto não soubessem do que falavam. Além disso, ligava esses sentimentos a exercícios de autodomínio, para lhes dar imediata aplicação na conduta da vida. Essas experiências me ensinaram que o habituar-se simplesmente às atitudes de uma vida virtuosa faz mais por uma verdadeira educação da capacidade moral que todos os ensinos e pregações não assentados sobre esses recursos. Como eram feitas as atividades diárias? Pestalozzi – Procurava em primeiro lugar fazer as crianças generosas. Pela satisfação diária de suas necessidades impregnava sua sensibilidade, sua experiência e sua ação de amor e de caridade, que iam se estabelecendo e se consolidando em seu íntimo. Em seguida acostumava-as às práticas em que podem exercitar e espalhar seguramente a benevolência em seu próprio círculo. Maio 2014 19 PENSANDO A EDUCAÇÃO Dar a mesma Educação Para educar uma criança é preciso conhecê-la muito bem e para isso é preciso conviver”. 20 Maio 2014 Diante de filhos rebeldes ou indiferentes, é comum ouvirmos pais se fazendo a seguinte pergunta: Onde foi que eu errei? Outros reclamam, desolados: Eu dei a mesma educação e cada um se comporta de forma diversa. Um exame mais detido talvez aponte onde está a nossa falha. Sabendo que cada criança é uma individualidade, entenderemos que não pode haver uma igual à outra, psicologicamente falando. Por essa razão, nosso primeiro erro está em dar a mesma educação a individualidades diferentes. O que funciona para uns, pode não funcionar para outros. Para educar uma criança é preciso conhecê-la muito bem e para isso é preciso conviver. Somente a convivência nos permitirá observar cada tendência dos nossos educandos. No convívio diário, observando a criança a brincar com os amiguinhos, saberemos logo se ela é egoísta ou altruísta, violenta ou pacífica, pela sua forma de falar e de se comportar. Se é egoísta, fala sempre na primeira pessoa: o meu carrinho, a minha bola, o meu robô, enfim, tudo é só dela e ninguém pode tocar. Já o altruísta tende a falar os nossos brinquedos e permite que todos brinquem com o que lhe pertence. O violento está sempre armado contra os irmãos e os coleguinhas. É aquele que bate na babá, joga os brinquedos e espanca os animais que encontra pela frente. O pacifista busca defender os amigos, mesmo que esses estejam equivocados. Trata bem os irmãos e a babá e está sempre disposto a ajudar. Há os que nunca assumem um erro, jogando sempre a culpa sobre algo ou alguém. Há os inseguros que nunca decidem sobre coisa alguma. Há os que buscam chantagear pais, irmãos, colegas e professores, colocando-se sempre na posição de vítimas, para que ninguém lhes cobre nada. Há, ainda, os que querem mandar em tudo e em todos, como verdadeiros generais que voltam ao mundo em roupagem diferente. Enfim, há tantas diversidades de caráter quanto o número de pessoas que habita a face da Terra. Por essa razão, é importante conhecer bem os filhos para poder ajudá-los a crescer moral e intelectualmente. Amar a todos sem distinção, dando a cada um uma educação específica, de acordo com as suas necessidades. Evitar as comparações entre um e outro, que tendem sempre a gerar ciúmes e antipatias. Cuidar para não exigir demais do filho que não tem condições de oferecer mais do que o que já oferece, em detrimento do outro que se esforça pouco e que poderia fazer muito mais. A educação é uma arte e como tal exige esforço e dedicação por parte do educador. Mas, sem dúvida alguma, é muito gratificante poder ajudar as almas a caminhar para Deus. *** Busque amar os filhos sem deixar de lhes oferecer o remédio necessário para a alma ansiosa por felicidade. Lembre-se sempre de que a escola forma o cidadão mas só o lar constrói o homem de bem. Fonte: www.momento.com.br AT I V I D A D E S Dinâmicas Educacionais A VIDA É UMA NOVIDADE VIBRANTE!! Desenvolvimento: Sentados(as) em pequenos círculos (5 a 6 educandos), cada participante pega um giz de cera de cor diferente da que o(a) companheiro(a) escolher. Ao som da música, cada um inicia um desenho, procurando expressar um problema ou uma ideia. Ao comando do educador cada participante passa o desenho para a pessoa da direita, recebe o desenho da pessoa da sua esquerda (sem mudar a cor do seu lápis) e prossegue a atividade, observando o que recebeu e completando o desenho com o que considerar oportuno para a solução do problema ou enriquecimento da ideia. Quando a folha com a qual cada participante iniciou a atividade, retornar às suas mãos, fazem-se os comentários e reflexões. Considerações que podem auxiliar: Permitir que o outro partilhe com você e que o(a) ajude; se você for forte, nunca tenha tanto orgulho de sua força, a ponto de pensar que não precisa de apoio. Refletir: A minha cor foi importante para o outro? A cor do outro foi importante para mim? Mesmo com uma cor escura no momento, você pode expressar bons sentimentos. A força interior existe! O mesmo lápis que escreve o ódio, escreve AMOR. Cada um de nós tinha uma cor, mas o desenho que está conosco não tem apenas mais uma cor, tem outras cores. COMO TRANSFORMAR DEFEITOS EM VIRTUDES? Desenvolvimento: Educador “Falando em cores do arco-íris...vamos pensar na harmonia que existe entre elas, nas partículas de água que refletem de formas diferentes, na água que bebemos, no ciclo da vida... e vamos escolher uma bexiga que retrate uma das cores desse arco-íris que estamos vendo.” Os participantes, em posse de suas bexigas, fecham os olhos e ouvem novamente o animador: - Vocês terão que encher uma bexiga, ao máximo, sem estourá-la e não poderão abrir os olhos. Deverão segurar o balão apenas pelo “caninho”. O animador solicita aos participantes que encham cada vez mais os seus balões e, quando observar que várias bexigas já estouraram, promove a reflexão. Pontos relevantes para serem refletidos: Quando paro sem encher muito a bexiga, contento-me com o pequeno porque tenho medo! (Colocamos menos do que poderia ser colocado). Mais e melhor, até estourar! Exagero também é erro. (A regra era clara: não podia estourar). Ter controle da situação é uma virtude, mas não posso querer controlar tudo! Qual é o nosso ponto de equilíbrio? É preciso ir em frente, porém, respeitando as regras do grupo, o limite do outro. Nosso grande desafio é NOS CONHECERMOS MELHOR! Veja mais sugestões de dinâmicas e atividades no site do IBEM: www.educacaomoral.org Maio 2014 21 C O N TA N D O H I S T Ó R I A S Um simples conselho Autor Desconhecido Certa vez um jovem muito rico foi procurar um mestre para lhe pedir um conselho. Toda a fortuna que possuía não era capaz de lhe proporcionar a felicidade tão sonhada. Falou da sua vida ao mestre e pediu a ajuda. Aquele homem sábio o conduziu até uma janela e lhe pediu para que olhasse para fora com atenção, e o jovem obedeceu. — O que você vê através do vidro, meu rapaz? — Vejo homens que vêm e vão, e um cego pedindo esmolas na rua. Então o homem lhe mostrou um grande espelho e novamente o interrogou: o que você vê neste espelho ? Vejo a mim mesmo, disse o jovem prontamente. — E já não vê os outros, não é verdade ? E o sábio continuou com suas lições preciosas : — Observe que a janela e o espelho são feitos da mesma matéria prima: o vidro. Mas no espelho há uma camada fina de prata colada ao vidro e, por essa razão, você não vê mais do que sua própria pessoa. Se você se comparar a essas duas espécies de vidro, poderá retirar uma grande lição. Dando tempo para que o jovem absorvesse a lição, voltou o mestre a ensinar: — Quando a prata do egoísmo recobre a nossa visão, só temos olhos para nós mesmos e não temos chance de conquistar a felicidade efetiva. Mas quando olhamos através dos vidros limpos da compaixão, encontramos razão para viver e a felicidade se aproxima. Por fim, o sábio lhe deu um simples conselho : — Se quiser ser verdadeiramente feliz, arranque o revestimento de prata que lhe cobre os olhos para poder enxergar e amar aos outros. E encerrou a lição com estas sábias palavras: — Eis a chave para a solução dos seus problemas. 22 Maio 2014 LITERANDO por Kate Portela Doutora em Língua Portuguesa. Professora. Escritora. Contadora de Histórias. Leitura Sempre A leitura é, sem dúvida, fundamental para o bom desenvolvimento de nossos potenciais, sejam morais ou intelectuais. Ela estimula a criatividade, o senso crítico, a fantasia, imaginação, além do estímulo ao bom nível de informação e de formação. De fato, estudiosos apontam dicas práticas para o incentivo à leitura: Juntamente com os brinquedos, a criança deve ter uma caixa de livros à sua disposição. As obras devem estar acessíveis, e não armazenadas nas estantes, distantes. Os pais podem estimular os pequenos por meio da leitura compartilhada, se estiverem lendo um jornal, por exemplo, eles podem selecionar uma história em quadrinhos, uma figura que seja do interesse da criança. E daí já surgirá uma conversa gostosa. Se os pais forem à livraria com os filhos, podem comprar apenas um livro por vez, para terem motivos de voltar sempre, manusear livros, conhecer novos formatos, junto com as crianças, num momento de diversão. Os livros têm se tornado brinquedos, atrativos para as crianças, como livros de banho, livros cujas páginas são quebra-cabeças, livros sonoros, livros 3D, livros digitais... então, que os pais sempre prefiram dar de presente aos filhos e às outras crianças um livro, ou um livro-brinquedo. Conhecer a biblioteca do bairro juntamente com os filhinhos também pode ser uma boa medida, algumas promovem apresentações de contação de histórias, de troca-troca de livros e outros eventos imperdíveis. No site Educar para crescer, temos indicações de livros altamente recomendáveis para as crianças, além de atividades interessantíssimas que envolvem a leitura prazerosa. De fato, conforme afirma Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Então, recomenda-se que se leiam jornais, revistas, novelas, quadros, peças de teatro, poesias e até que se leiam relacionamentos, pessoas, projetos, sonhos... A leitura precisar ser relacionada ao prazer, ao lúdico. Não deve, pois, ser uma mera obrigação enfadonha, cansativa. De acordo com os Parâmetros Curriculares, todo professor é professor de leitura. Portanto, precisamos dar o exemplo, tornando clara a nossa paixão pelos livros! Afinal, ‘quem lê nas entrelinhas, vê estrelinhas’... “Que os pais sempre prefiram dar de presente aos filhos e às outras crianças um livro”. Maio 2014 23 IBEM ON LINE O IBEM está realizando e você pode participar: PALESTRAS Marcus De Mario, diretor do IBEM, estará na Escola Municipal Profa. Carmen Correa, em Imbariê, Duque de Caxias/RJ, no dia 10 de maio, para falar sobre: “A Escola do Sentimento, Uma Escola Transformadora”. Sua escola também pode agendar uma palestra do IBEM. Faça contato. CLUBE AMIGOS DO IBEM O IBEM é uma organização não governamental sem fins lucrativos, e seus diretores são voluntários. Para manter as atividades temos o Cube Amigos do IBEM, onde você se associa e paga uma contribuição mensal. Seja um colaborador do Clube Amigos do IBEM. Associe-se! O Instituto Brasileiro de Educação Moral desenvolve palestras e seminários gratuitamente para as escolas públicas. Participe! PROGRAMA VIVENDO SEMPRE EM PAZ Disponibilizamos 6 (seis) Cadernos de Atividades Educacionais sobre a Paz, gratuitamente, no site do IBEM, e qualquer professor, escola ou organização social tem acesso, podendo fazer a leitura ou o download. Os Cadernos foram revisados, ganharam novo visual, inclusive uma nova marca e trazem dinâmicas educacionais e textos sobre a cultura da paz. E aguarde, fique atento, porque teremos mais novidades pela frente. Acesse www.educacaomoral.org. 24 Maio 2014
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