Vinhos: com ou sem sulfitos?
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Vinhos: com ou sem sulfitos?
Out./ Nov./ Dez. 2010 nº1 Número um • mensário newsletter • Director: Álvaro Vale Vinhos: com ou sem sulfitos? Entrevista com Mário Louro, director do Concurso Nacional de Vinhos e figura de referência do sector vitivinícola. O enólogo exige formação séria de profissionais dos restaurantes como “um imperativo para bem do mercado interno” 02 ViniPortugal: Conferência Internacional do Porto relança casta Touriga Nacional 13 Índia aderiu à OIV e já exporta vinho para União Europeia. Empresárias no rasto de Madame Cliquot e D. Antónia Ferreirinha. direitos reservados A Índia apesar de só ter aderido em Abril passado à Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), já está a exportar vinho dos quase 2.000 hectares de vinha cultivada 07 no estado de Karnataka, cuja capital é Bangalore Hoje em dia a produção de vinho tornou-se também um negócio de requinte, a que a elegância, o bom gosto e o empenho das herdeiras dão um toque de prestígio, derrubando fantasmas e barreiras impostas por um mundo masculino e, contribuindo para uma visão mais cosmopolita e humanista do sector. Por todo o mundo é assim, mas com muito mais intensidade em Itália, onde a Associação Nacional de Mulheres do Vinho tem quase 800 filiadas. Em França há apenas 80 empresárias e em Portugal uma meia dúzia... o que não obsta ao dinamismo existente. Nesta edição apresentamos alguns casos paradigmáticos de empresárias vitivinícolas na Itália, Portugal e no Chile 06 Uma boa colheita ao sabor da Meteorologia… Especialistas apontam dois grandes paradigmas do clima e da meteorologia que influenciam a produção vinícola mundial: El Niño e a Oscilação do Atlântico Norte. Estudos levados a cabo por cientistas concluíram que as previsões meteorológicas assumem grande importância nas poupanças dos produtores de vinho. Na cultura da vinha, uma previsão perfeita de três semanas de avanço resultou num lucro líquido de 150 euros por hectare . Cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA é afectado directa ou indirectamente pelo clima, sendo que 10 por cento é influenciado directamente, daí o valor das previsões meteorológicas 5 APRESENTAÇÃO 1. Correio dos Vinhos &.....é uma publicação nacional bilingue com carácter global e internacional, que implicitamente trata de vinhos e produtos certificados, sem perder evidentemente o seu leit-motiv, o vinho, essa bebida nobre que já se fazia na Pérsia há 6 mil anos, de onde veio exactamente o tipo Syrah. 2. Correio dos Vinhos &… pretende ser um espaço de reflexão e debate dos produtores portugueses em geral, especialmente aqueles ligados às empresas de menor escala, de carácter familiar, que de algum modo lograram implantar-se no circuito comercial português; e se preparam agora para os mercados externos, ou seja a exportação -- China, Índia, Brasil, Rússia e Angola estão aí receptivos aos bons vinhos portugueses; tudo depende de factores qualidade e preço e, naturalmente da promoção e marketing das entidades e das diligências que vitivinicultores desenvolvam. Dado o contexto global em que se integra o sector - é normal ver um bom vinho chileno na prateleira de hipermercados a menos de 2 euros a garrafa -- refira-se que a qualidade e preço (mesmo sem a quantidade) são a pedra de toque nas exportações portuguesas, aliadas a um terceiro factor... honestidade! Por outro lado, os vinhos ganham qualidade com a viagem de navio até África (Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique), Brasil, China ou Índia…semanas de mar melhoram muito os vinhos…passe o folclore literário! 3. A publicação pressupõe uma periodicidade mensal em formato digital, que a médio prazo será complementada com newsletters impressas oportunamente, visando outros produtos certificados, tais como azeite, queijos, frutas, carnes, entroncandose na perspectiva da geografia corográfica tradicional, ou seja, naquilo que as regiões podem oferecer a todos os níveis, incluindo a gastronomia e os circuitos turísticos. 4. Ser objectivamente um forum de debate sério e lúdico sobre a reabilitação de quintas e patrimónios abandonados e estimular a organização do território de forma equilibrada e racional, gerindo-se pelo rigor e pela diversidade de opinião e os elementares princípios de um Estado de Direito. A produção mundial de vinho continua a baixar, prevendo-se 259 milhões de hectolitros para 2010 Três vinhos portugueses entre os 100 mais da Wine Spectator: Carm Douro (9º), Dow Porto(14º) e Quinta do Vallado (22º). 01 Vinhos: Com ou sem sulfitos? ... uma questão “irrelevante” para Mário Louro A grande questão do lobby português do vinho é “a falta de profissionais no mercado interno que saibam vender os vinhos nos restaurantes”, diz o enólogo em entrevista ao “Correio dos Vinhos & ...”, realçando também a China, Brasil e India como mercados a não perder de vista pelos produtores-exportadores portugueses. Vinhos com ou sem sulfitos é uma questão irrelevante para o engenheiro Mário Louro, figura incontornável do sector vitivinícola português e director do Concurso Nacional dos Vinhos que se realiza todos os anos em Santarém. Os sulfitos começaram a ser usados há 20 anos pelos americanos como “exigência”, e a União Europeia só recentemente obrigou a essa introdução”. Quanto ao dito vinho biológico, sem sulfitos, os franceses e os espanhóis são os que mais produzem, tendo como principal mercado os países escandinavos , nomeadamente a Suécia. Para o enólogo, afinal, o grande problema do lobby português do vinho é que “anda distraído há muito tempo”, e “só podemos vender vinho no mercado interno se tivermos profissionais formados. Há que exigir do Estado essa formação nas escolas de hotelaria !... nos restaurantes existem umas pessoas que empurram os pratos e de certa forma expõem o vinho à mesa, pessoas sem noções de vinhos e sem qualquer formação adequada”, comenta. “Não posso vender vinho se não tiver um bom profissional no restaurante para o fazer...e tal requer formação... mas as cadeiras ou disciplinas específicas de sommeliers (escanções) não são leccionadas nas escolas hoteleiras”, sublinha. “Em termos de negócio, estamos com todo este trabalho específico especialmente para os estrangeiros; e se eu lhes perguntar o que é um escanção não sabem, mas se for sommelier conhecem o termo !, adianta. Mário Louro, que leccionou Enologia entre outras cadeiras durante 22 anos na Escola de Hotelaria do Estoril, diz que actualmente tais escolas não dão cursos para sommeliers, nem cursos de restaurantes ou cursos de cozinha ou tão pouco disciplinas específicas de vinho... “Portanto, no futuro não há quem nos sirva o vinho.!.. tudo isto é mau, acima de tudo para os produtores..mas as condições têm de ser criadas pelo Estado..”, reitera .. Outro problema, é o preço excessivo dos vinhos portugueses no mercado interno, “mas estamos a caminhar para servirmos vinho a copo e podermos beber um copo a preço aceitável... combatendo preconceitos de que o vinho não é rentável ..embora no mundo inteiro se sirva vinho a copo ou a taça “ Para o efeito a ViniPortugal lançou neste momento uma campanha promocional de vinho a copo, com o site www.vinhoacopo.com Brasil lança sites para vinhos lusitanos Sobre apetência global pelo vinho e os novos produtores, nomeadamente os países emergentes BRIC, como o Brasil, índia e China ( este o 7º maior produtor mundial) Mário Louro é categórico : “por muito que eles produzam… nós temos espaço para vender ... note-se que Brasil e China também exportam. E no caso da India, tem “60 milhões de consumidores de vinho” (pertencentes a uma classe média de 300 milhões), entre uma população de quase 1.000 milhões de pessoas. Trata-se de “um mercado com muito interesse para os produtores portugueses. Ou veja-se caso dos EUA, grande produtor…que se calhar é o maior importador de vinhos… Ora faz todo o sentido que sejamos agressivos e tenhamos capacidade para enfrentar as feiras e os locais de venda. “O Brasil é um grande mercado para nós … os brasileiros gostam dos vinhos portugueses, só têm um inconveniente as taxas altas que o Brasil aplica aos vinhos portugueses, porque eles só protegem os países do Mercosul, apesar de termos protocolos assinados com o Brasil.. E ainda que haja vinhos bons…. Chile, Argentina e Uruguai, mas isso não obsta à entrada dos nossos vinhos no mercado brasileiro”, regista. Aconselho a visitarem um site que se chama canal do boi e há outro adega atlântico … é o novo sistema brasileiro de venda de vinhos portugueses. O Canal do Boi vai em 20 milhões de casas, e com a Adega Atlântico estão a fazer uma promoção dos vinhos portugueses directamente ao consumidor ; são vendidos directamente na internet e, neste momento as coisas correm francamente bem. Neste canal estão 30 a 40 vinhos de 10 produtores portugueses, adianta o enólogo. Em matéria brasileira, Mário Louro, regista ainda o Estado do Rio Grande do Sul, zona produtora por excelência, essencialmente mais brancos que tintos, mas há várias zonas do Nordeste a produzirem vinhos por portugueses, tais como a Quinta do Cabriz, o engenheiro Paulo Laureano e mais dois ou três outros produtores portugueses. Concorda que o vinho é um negócio global como o petróleo, em que as grandes empresas vinícolas investem em todos os continentes como as petrolíferas? “Há uma diferença, porque o petróleo não precisa do terroir, e o terroir é sem dúvida a grande ciência do vinho. Quando temos terroir (que vem do latim, da mesma palavra território) temos um puzzle de quatro peças interligadas. E se o homem estiver em cima delas, naturalmente vamos perceber que o clima, o sol, a casta e a técnica devidamente articulados conseguem fazer um grande vinho. Mas isto tem de ser um puzzle e as peças encaixarem todas. Ora o petróleo só tem humanidade, falta-lhe o resto, está dependente de uma série de coisas nas zonas onde é produzido ou extraído… não tem vida… enquanto o vinho tem… é um ser vivo! Tem a sua evolução, nasce vivo e morre tal e qual uma pessoa”. Mas naturalmente, a gente precisa que essas condições do terroir sejam criadas para esse efeito”, explica o enólogo. 02 entrevista Suécia principal mercado dos sem sulfitos O anidrido sulfuroso é um antibacteriano, um anti-oxidante e conservante e, a Organização Mundial de Saúde (OMS) “estabelece limites muito baixos à introdução do composto”.“E até ao momento não temos outro substituto que possa alterar a forma de fazer vinho “, esclarece Mário Louro. Em relação ao vinho biológico, sem sulfitos, a “capacidade de conservação é diminuta e os caracteres dos vinhos biológicos não são assim tão evidentes; mas se tiver qualidade tudo bem, não ponho em dúvida” ! Por outro lado, lembra algumas vantagens do vinho, como sendo, “ um anti-oxidante das células, um co-adjuvante da nossa saúde em termos da circulação sanguínea”, e “muito mais prejudicial quanto consumido em excesso… Um copo ou dois de vinho por dia é positivo”!... Os sulfitos começaram a ser usados no vinho no século XX; antes usava-se o metabissulfito de potássio, substância que também libertava anidrido sulfuroso. Mas só o anidrido sulfuroso visando a eliminação das bactérias e a conservação do vinho …é a única substância química com função tripartida, embora se possa usar outros químicos com funções parcelares, explica o enólogo. Os americanos começaram usar o anidrido sulfuroso há 20 anos, e todos os vinhos que importam devem declarar se têm ou não… A Comunidade Europeia só recentemente obrigou a essa introdução pelos vitivinicultores. E os americanos obrigavam também que nessa informação as mulheres grávidas não podiam beber vinhos com sulfitos...isto há´20 anos… porque se verificou um grande evolução, diz Mário Louro.. Os pioneiros dos vinhos biológicos são os franceses, mas os espanhóis vão em frente com muitas marcas ditas biológicas, não usando o anidrido sulfuroso, mas outras substâncias permitidas. Em Portugal há meia dúzia de produtores com esse cuidado… acho interessante, mas não é mercado para nós. O grande mercado é a Suécia, que necessita de grandes quantidades e todos os países escandinavos são muito exigentes nessa matéria”, conclui. Vinho hoje é sustento de 2,5 milhões de portugueses “Preocupo-me com a formação das pessoas, que acho muito importante , sejam elas consumidores ou profissionais, de modo a serem esclarecidas, porque somos um país produtor que vive disto…Antigamente Salazar dizia que um milhão de pessoas vivia do vinho, e eu hoje digo que vivem dois milhões e 500 mil, e há muita gente a precisar de apoio e de mecanismos”, sublinha Mário Louro “Outra coisa importante é a nova geração de enólogos, que vai permitir que tenhamos cada vez melhores vinhos; mas vamos ter que saber vendê-los, para bem dos enólogos, já que eles são a grande força desta mudança”, adianta, reportando-se a outros tempos em que “havia pouca gente dedicada ao vinho em exclusivo, fazendo outras actividades”. “No tempo do meu pai (que era enólogo), havia meia dúzia de enólogos e também meia dúzia de produtores, e houvesse muita gente a fazer vinho em casa sem qualquer assistência…”, regista Mário Louro, que sempre se dedicou à sua actividade, de tal forma que aos 16 anos já frequentava os laboratórios da Junta Nacional dos Vinhos. Foi técnico da mesma junta, do IVV e da firma Carvalho Ribeiro & Ferreira, vindo a formar-se em Enologia na Université du Vin de Suze La Rousse, França. Nascido a 6 de Agosto de 1945, no dia da destruição de Hiroshima, Mário Louro é um homem do mundo, sempre solicitado para todo o lado, como técnico, como professor( deu aulas na Escola de Hotelaria do Estoril durante 22 anos e mais três anos em Macau e Hong Kong), como consultor da CAP, ou inclusive na qualidade de director do Concurso Nacional dos Vinhos, sempre disponível para esclarecer ou explicar de forma didáctica as dúvidas dos que o procuram, sendo um grande exemplo do exercício da cidadania. Angola vai produzir em 2014 ...”Porque há uma série de produtores portugueses que pretendem instalar-se em Angola, isto na Huíla, na zona da antiga Sá da Bandeira (hoje Lubango), que muito bem conheço, com condições para produzir vinho como nos outros países..e azeite também… E não nos vão tirar mercado, porque em Angola há a noção de que os vinhos portugueses ao bons”,afirma Mário Louro, lembrando que naquele mercado estão o Chile e o Brasil, mas os vinhos portugueses ainda são os mais aceites”. Porquê 2014 ? Porque, segundo o enólogo, “decorrem negociações e ao fim de três anos temos vinha”! Uma deixa que nos leva a reflectir sobre o facto de o antigo regime não autorizar que se produzisse vinho e azeite em Angola para proteger a produção portuguesa. Ainda hoje, a caminho do Namibe, se vêm zonas com grandes oliveiras, constatam empresários portugueses que ali têm negócios. O engenheiro Mário Louro tem contudo, uma explicação mais plausível e mais técnica: “havia um sentido de que o vinho e o azeite só se podiam produzir em determinados paralelos (geográficos) e esses paralelos estão ficar agora mais largos, e é natural que num futuro Angola venha ser um bom produtor de vinhos”. “ Não devemos ter medo e temos de procurar mais mercados, e quanto mais parceiros africanos tivermos melhor… os vinhos do mercado angolano não serão já de imediato de garrafeira ou de reserva. Mas vai ser preciso mais uma geração para Angola se transformar num colosso como o Brasil”, considera. Álvaro Vale 03 Vinho do Pico: queda de 80% As vindimas na Ilha do Pico sofreram uma baixa de 80%, mas no geral em todo o país, houve um aumento de 13 % nas colheitas de uvas As vindimas deste ano na Ilha do Pico registaram uma queda de 80 % nas colheitas face a 2009, enquanto que nas ilhas Terceira e Graciosa a baixa foi de 40 % conforme os cálculos das cooperativas locais, muito embora as previsões no final de Agosto da ViniPortugal baseadas nos enólogos apontassem uma baixa média de apenas 30 % para os Açores. As razões apontadas para esta forte descida nas colheitas das uvas nos Açores deveu-se às fortes chuvas na Primavera e em Agosto, deixando os vitivinicultores apreensivos. Recordese que o vinho do Pico é famoso, e nos séculos XVIII e XIX a maioria da produção era exportada para Inglaterra, norte da Europa e para a corte do czar da Rússia. Na Madeira, as colheitas para a campanha deste ano registaram uma baixa entre 10 a 15 por cento, ou seja 400 a 600 toneladas de uvas a menos face a 2009, segundo Paula cabaço, presidente do IVBAM (Instituto do Vinho, do Bordado e Artesanato da Madeira). Contudo, no geral em todo o país, as vindimas apresentaram uma subida média de 13% face a 2009., sendo as maiores subidas nas regiões Tejo (15%) Beira Interior (14%) e Douro (13%). Já na Península de Setúbal verificouse uma descida de 16% e no Algarve também uma baixa de 12 % na recolha das uvas face a 2009. No total, as uvas colhidas representam 6,347 milhões de hectolitros contra 5,868 milhões em 2009, e uma variação de menos 2% face à média dos últimos cinco anos. A produção mundial de vinho continua a baixar, prevendo-se 259 milhões de hectolitros para 2010, (após um pico de 300 M hl em 2004), anunciou em Novembro a Organização Internacional da Vinha do Vinho (OIV). Em 2009 a produção fora de 268,7 milhões de hectolitros. Para esta baixa em 2010 contribuiu a redução de 70 mil hectares de vinha na União Europeia e também a redução das áreas de cultivo no Hemisfério Sul (excepto na América do Sul) e nos EUA, adiantou a OIV. Entre os três grandes produtores de vinho europeus, apenas a Espanha manteve-se estável, enquanto que a Itália teve um baixa de 11 % face a 2009, a França menos 2% , Alemanha e Áustria e Suíça, países mais afastados do paralelo mediterrânico, registaram quedas respectivas de 5 %, 13 % e 15% face a 2009. (continua na pag.7) 04 Uma boa colheita no hemisfério Norte Austrália, Chile) !!! A um ano de boa colheita de vinhos na região Mediterrânica, não corresponde forçosamente o mesmo nas regiões vinícolas do hemisfério Sul, nomeadamente na África do Sul, Austrália, Chile ou Argentina, onde o fenómeno meteorológico El Niño pode comprometer uma boa vintage, afectar a qualidade e quantidade, seja por excesso de chuvas ou por acentuadas secas. Nessas regiões do hemisfério sul, pelo efeito intercontinental e com base nessas oscilações, especialistas sul-africanos, australianos e chilenos podem prever com antecedência se as produções vão ser piores ou melhores. Para o especialista em Climatologia e Agrometeorologia, professor José Paulo de Melo e Abreu (do Instituto Superior de Agronomia, ISA), “efectivamente não há grande relação entre os climas do hemisfério Norte e do hemisfério Sul, porque o clima do hemisfério Sul é mais marcado pelos anos em que surge El Nino e a El Niña, fenómeno inverso”. “Aqui no hemisfério Norte, nas nossas latitudes, - prossegue o especialista, temos a influência de um outro sistema, que é a oscilação do Atlântico Norte, embora no nosso hemisfério, existam pequenas zonas do continente americano, influenciadas pelo El Niño, designadamente o México e a Baixa Califórnia, onde se produz vinho”. Segundo o docente do ISA, o que já se está fazer em muitas regiões afectadas pelo El Niño, é incorporar essas oscilações climatéricas nos próprios modelos matemáticos e, com uma certa antecedência determina-se se as produções vão ser piores ou melhores em determinadas áreas do Globo, como na Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Chile. Já em Portugal, Espanha e sul da França, há a “oscilação do Atlântico Norte que tem alguma influência ao nível da precipitação, embora seja uma pouco obscura e menos marcada esta influência. Digamos, que não é tão forte nem tão claro, como o fenómeno do El Niño nas vastas áreas banhadas pelo Oceano Pacífico, no Sul. Portanto, uma boa colheita no hemisfério Norte (Portugal, França, Espanha, Marrocos, Itália), não quer dizer que seja o mesmo no hemisfério sul”, comenta Melo e Abreu. “Dado o desfasamento das culturas, podese saber com alguma antecedência se as colheitas ou produções vão ser favoráveis no hemisfério sul”, adianta. “Quando aqui é Inverno, lá é Verão, logo as colheitas fazem-se nessa altura e nós ficamos a saber mais cedo das colheitas no hemisfério Sul e, por consequência tirar conclusões ao nível do comércio mundial: África do Sul, Chile, Argentina , etc “.. O Chile, a Argentina que são grandes produtores de vinho, e o Brasil, que já produz bastante, são países também muito influenciados pelo El Niño, salienta Melo e Abreu. Quando há cheias no hemisfério Sul, a pluviosidade é menor no hemisfério Norte ? La Niña têm influências muito diferentes: nuns sítios há pluviosidades muito intensas e noutros há secas. Isto é bastante conhecido, e se ocorre muita chuva ao nível do Perú, pode haver secas ao nível da Austrália, portanto, influências diferentes. Dentro da zona do El Niño, aquando da ocorrência do fenómeno, umas zonas tornam-se muito pluviosas, e outras pelo contrário têmtendência para secas muito pronunciadas. Isto é bastante conhecido, e se ocorre muita chuva ao nível do Perú, pode haver secas ao nível da Austrália, portanto, influências diferentes. Que factores podem determinar uma boa ou má produção de vinho? “Há factores que influenciam o crescimento e a produção, nomeadamente se tivermos mais sol, mais temperatura, mais humidade, maior disponibilidade de água na fase de crescimento das plantas. Tudo isso vai influenciar no desenvolvimento e crescimento, porque as plantas precisam de sol e água. Mas por outro lado, há influências sobre pragas e doenças da vinha ao longo do ano. Há anos em que as principais doenças que atacam a vinha, por exemplo o míldio e o oídio, que necessitam de humidade e de água líquida para proliferarem, são mais importantes. Então, nos anos de maior pluviosidade, o número de tratamentos (curas) necessários aumenta muito. E, havendo muita chuva concentrada por altura da floração, pode resultar mesmo em vingamentos deficientes, que tem a ver com a formação dos bagos das uvas;ou seja, a passagem da flor para fruto - dá-se a polinização da parte feminina e depois forma-se o fruto. Se houver muita precipitação por altura da floração, o pólen fica num estado pastoso e de difícil libertação, e também há o arrastamento de constituintes que estão no estigma, fazendo com que as flores não sejam (França, Portugal, Espanha)… ... não significa o mesmo no hemisfério Sul (África do Sul, Melo e Abreu : “No hemisfério Norte os climas são marcados pela oscilação do Atlântico Norte, um sistema menos forte do que o El Ninño nas vastas zonas banhadas pelo Pacífico” polinizadas, resultando o escasso número de bagos de uva e, logicamente produções deficientes. Chuva abundante aquando da colheita dificulta esta e pode dar lugar ao aparecimento de fungos nos bagos, o que faz baixar a qualidade do vinho. Também o excesso de chuva vai encharcar o solo, provocando doenças ao nível das raízes e declínio de algumas videiras. Outro factor importante é o oposto, as secas, que prolongadas tornam as produções baixas. Depois temos a temperatura. O excesso de calor já na fase em que há bagos, impede dos bagos de crescer convenientemente; em situações extremas dá-se o, dando-se o chamado escaldão da vinha, que ocorre quando o desenvolvimento dos bagos de uvas é são afectados pela temperatura e radiações muito elevadas”. Sobre a pluviosidade nos diferentes países da Bacia Mediterrânica e suas repercussões na vinha , existem realidades diferentes, que Melo e Abreu especifica: “Os sistemas frontais muitas vezes atravessam a Península Ibérica e depois é que atingem esses países.e essa influência vai-se diluindo à medida que nos afastamos da frente atlântica. No caso da Turquia e Grécia são outra realidade climática, com influências de natureza continental”, conclui Melo e Abreu. Por outro lado, o agrónomo chama atenção para a possibilidade de se gerir previamente do ponto de vista empresarial a actividade, exemplo dos “australianos, que conseguem muitas vezes prever a produção dos seus vinhos com muitos meses de antecedência, por anteciparem se é ano de El Niño ou não!! E conseguem realmente grandes resultados e obter ganhos em termos de compra e venda de determinados produtos agrícolas, metendo essa influência nos modelos de gestão”. As cores amarelas, laranjas e vermelhas representam o aquecimento das águas do Pacílico que vão originar o fenómeno do El Niño, traduzindo-se por grandes precipitações de chuva, tempestades tropicais ou secas, conforme os continentes. 05 Empresárias na esteira de Madame Cliquot e D. Antónia Ferreirinha. Mulheres empresárias vitivinícolas continuam os passos de duas célebres mulheres que ficaram nos anais da História do Vinho como grandes pilares das respectivas casas, e em épocas tão conturbadas como a Revolução Francesa e a ascensão de Bonaparte ao poder, na França; ou as lutas liberais, em Portugal. São elas Barbe-Nicole Ponsardin Cliquot, mais conhecida por Madame Veuve Cliquot, que na região de Reims construiu o império do champanhe da mesma marca, e D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha,no Douro, contemporânea do marechal Saldanha e do romancista Camilo Castelo Branco, e que está na origem da famosa marca de vinho do Porto. Quando faleceu em 1896, D.Antónia deixou apreciável fortuna e cerca de 30 quintas. vista para além de uma mera indústria agro-alimentar, tornando-se também um acto cultural e de algum status. Registe-se que a Itália, é o país com mais mulheres empresárias produtoras de vinhos, com 780 filiadas na Associazone Nazionale Le Donne del Vino, contra uns escassos 80 da sua congénere francesa Femmes du Vin… Em Portugal não há uma associação específica das vitivinicultoras, mas podemos salientar três empresárias de renome, todas herdeiras de família e que se distinguem pela inovação ou pelos prémios obtidos Hoje em dia a produção de vinho tornou-se também um negócio de requinte, a que a elegância, o bom gosto e o empenho das herdeiras dão um toque de prestígio, derrubando fantasmas e barreiras impostas por um mundo masculino e, contribuindo para uma visão mais cosmopolita e humanista do sector. Aliada ao bom gosto e até à defesa do património de velhas quintas, a produção de vinho passou a ser Teresa Cadaval é descendente de várias casas reais europeias, nomeadamente de Frederico II, da Prússia, e de D. João I e D. Nuno Álvares Pereira, e lidera a Casa Cadaval, no Ribatejo, desde 1998. Madame Clicquot e sua neta Anne. Nascida em 1777, a Senhora Clicquot liderou negócios bancários, comércio de lã, além da famosa produção de champanhe de Reims. no estrangeiro: são elas Luísa Amorim, na sua quinta de Douro, Teresa Cadaval e Leonor Freitas, esta uma socióloga que herdou a Casa Ermelinda Freitas (em Fernando Pó, Palmela) ,e que em 2008 viu uma casta Syrah obter em França o prémio do melhor vinho do mundo entre 3.000 concorrentes. Luísa Amorim, fez a recuperação da Quinta de Nossa Senhora do Carmo, propriedade de família, onde adaptou um velho solar do século XVIII a hotel, lançando ao mesmo tempo sua própria marca de vinhos. Teresa Álvares Pereira Schoenborn-Wiesentheid, mais conhecida por Teresa Cadaval, é neta da célebre marquesa Olga Cadaval, grande mecenas das artes e da cultura, estando desde 1998 à frente da casa agrícola da família, com 400 anos de existência, embora as raízes de família remontem por parte de sua mãe a D. João I e a D. Nuno Álvares Pereira. Foi seu pai, o conde alemão Karl von Schoenborg-Wiesentheid quem aconselhou sua mãe Graziela Cadaval a plantar as castas cabernet sauvignon, pinot noir e trincadeiras em parcelas separadas, uma novidade na época numa parte da pro06 recepções... mas é na verdade uma empresária responsável pelo negócio de vinhos da família em Veneto desde os 29 anos… A família produz vinhos espumantes desde 1899 e Piera alargaria a produção aos vinhos tintos, expandindo-se para a região vizinha de Friuli, contribuindo para a produção de 8 milhões de garrafas anuais daquela casa italiana. direitos reservados priedade do Ribatejo, que totaliza 5.400 hectares, onde também fazem criação de cavalos de toureio. As principais castas da Casa Cadaval são:Touriga nacional, trincadeira, merlot cabernet e pinot nos vinhos tintos, enquanto que os brancos integram Fernão Pires, arinto e riesling. Em 2008, Teresa Cadaval foi distinguida com o Prémio Internacional EVA, na versão “Mujer del Vino”, criado pela Associação de Mulheres Empresárias de Navarra, e o único prémio internacional gastronómico feminino. Os Prémios Internacionais EVA são atribuídos a nível mundial e distinguem a “Cozinheira do Ano”, a “Jornalista gastronómica”, a “Empresária gastronómica”, a “Mulher Tendências” e “Uma Vida Gastrónómica”, além da “Mulher do Vinho”. Piera Martellozzo podia ser, para quem não a conheça, mais uma aristocrata italiana, ou uma das muitas distintas damas que assistem a passarelles, ou que participam em direitos reservados Teresa Cadaval numa das vinhas de Muge, Ribatejo marca de vinhos – Viña Casa Marin, numa quinta situada no Vale de Santo António, no litoral chileno, a escassos 5 kms do Oceano Pacífico, fazendo jus à tradição da tal geografia por excelência. As castas principais de uvas cultivada são: sauvignon blanc, sauvignon gris, pinot noir e syrah, entre outras. Maria Luz Marin é a única chilena vitivinicultora, pelo que foi eleita para fazer parte das “200 Mulheres Protagonistas do Bicentenário” do início do processo de independência do Chile,.que se comemora este ano, e que homenageia mulheres que se destacaram em todas as áreas da vida pública, desde as artes e cultura, passando pela política, ciências, desporto, sindicalismo, educação, jornalismo, entre muitas outras. A italiana Piera Martellozzo é o charme e a elegância em pessoa, e desde os 29 anos que lidera a casa centenária da família, no Veneto, Itália Maria Luz Marin foi a primeira enóloga do Chile há 30 anos, quando esta engenheira agrónoma, especializada em viticultura numa universidade francesa, começou a fazer consultoria…para em 2000, aos 50 anos de dade lançar a sua própria A chilena Maria Luz Marin decidiu fundar a sua própria casa vinícola no ano 2000 já com 50 anos de idade, tornando-se na primeira vitivinicultora do Chile Portugal, Grécia e Bulgária tiveram pequenas subidas face ao ano anterior, mas no cômputo dos países produtores de vinho da UE, a produção total caiu 6 %. face a 2009. Nos EUA prevê-se uma descida de 9,3%, Austrália ( -7%) mantendo-se estável na África do Sul e no Chile. Já a Argentina apresenta uma subida de 33 % na produção de vinho face a 2009. Para 2010, os dados de produção vinícola, segundo a OIV são os seguintes: França 44 milhões de hectolitros, Itália 42 M hl, Espanha 35 M hl, EUA 19 M hl, Argentina 16 M hl, Austrália 10 M hl, África do Sul 9 M hl; Chile 9 M hl, Alemanha, 8 M hl, Portugal 6 M hl. Do total mundial, a Europa produz 67,8%, Américas 17,9 %, Ásia e Oceânia 5,1 % e África 4,1 %. 07 Angola atrai produtores portugueses, consumo vai subir até 2011. Além de bons automóveis, boas casas e boas roupas, a classe média angolana também aprecia vinhos de boa qualidade...Angola tornou-se em 2009 o principal mercado dos vinhos portugueses, que detêm 97% dos vinhos engarrafados que ali entram. E só nos primeiros nove anos da actual década, as exportações vinícolas portuguesas para o mercado angolano aumentaram 600 por cento… As exportações de vinho para Angola aumentaram19 por cento em 2009 face a 2008. Só no À VOLTA primeiro trimestre de 2009, as exportações vinícolas DO portuguesas para o mercado angolano atingiram MUNDO 332 mil hectolitros, no valor de 40 milhões de euros, correspondendo a 22% do total das exportações portuguesas no sector vinícola. Mas nem tudo é um mar de rosas, já que as oscilações do preço no barril de petróleo veio trazer dificuldades de tesouraria ao mercado angolano e atrasar alguns pagamentos, levando alguns produtores da região de Lisboa a suspenderem as exportações. Agora, a estratégia visa tentar estabelecer parcerias com os importadores angolanos para obviar perdas, afim de serem repartidas. O problema do pagamento às empresas portuguesas foi um dos pontos da visita oficial do Presidente Cavaco Silva a Angola, tendo o Presidente José Eduardo dos Santos anunciado a solução para as pequenas médias empresas a breve prazo, e para as grandes empresas o pagamento de 40 por cento, e o reescalonamento do restante 60 por cento. Em Julho o montante em dívida às empresas portuguesas era de 2,5 mil milhões de euros. De qualquer forma, Portugal é o maior exportador de vinhos para Angola, detendo 97% dos vinhos engarrafados que entram naquele país, ou seja, 455 mil hectolitros, no montante de 54 ME. Coleccionismo de garrafas de marcas de vinho Nos primeiros nove anos da actual década, as exportações vinícolas para Angola aumentaram 600%, o que para os observadores tem também a ver com o surgimento de uma nova classe média que procura no vinho uma bebida de qualidade às refeições, à semelhança do que acontece com os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ou nos países da América do Sul, seguindo as pisadas dos EUA, onde o vinho (tal como o azeite) é considerado um produto ou uma bebida nobre. Nestes países, cresce um fenómeno, onde o coleccionismo de garrafas de marcas de vinho começa a ser uma realidade com requinte social, situação que paradoxalmente em Portugal não tem tradição. Por outro lado, a consultora americana Advance Brands, especializada em consumo alimentar, realizou um estudo para Vini -Portugal, sobre as características do mercado angolano, cuja população é de 18,5 milhões de pessoas, das quais 5 milhões em Luanda. O estudo salienta que os angolanos consomem vinhos cada vez mais caros, o que está associado à ideia de qualidade, estatuto social e da colecção de garrafeira de várias marcas e colheitas. Segundo a Brands, estima-se que dos 5 milhões habitantes da capital angolana, 3,5 milhões sejam consumidores de vinho, vinho que praticamente só se popularizou com a independência do país em 1975.Em Angola, a cerveja ainda é a bebida predominante, mas o vinho já tem 30 por cento da quota de mercado. Avenida marginal, ex-libris de todos os tempos e gerações... e Luanda by night, sabe sempre melhor com um bom copo de vinho português. Nas classes média e alta, o consumidor angolano prefere um vinho superior a 13 graus e um sabor adocicado. E no caso dos consumidores masculinos inquiridos, 60 por cento preferem vinho tinto. O estudo revela que 46 por cento dos consumidores compram vinho em cantinas ou minimercados e 25% nas “vendas de janela aberta”, 10% em armazéns, 6 % em vendedores ambulantes de rua e 7 % em mercados de ar livre. A imagem das garrafas é um factor importante, pelo que a Brands aconselha que os rótulos sejam “coloridos” de forma a causarem impacto. Angola é o segundo maior mercado de vinhos de África, depois da África do Sul. Em 2009, o vinho movimentou em Angola um volume de negócios na ordem dos 100 milhões de euros para 12,3 milhões de caixas de vinho engarrafado. No mercado de vinhos a granel, os portugueses têm a concorrência da Espanha e da África do Sul. O mesmo estudo adianta que o consumo per capita vai crescer até 2011, ou seja 12,2 litros /ano. 08 Vinhos portugueses: um sector campeão que pode ultrapassar crise macroeconómica Em 20 anos, a produção nacional de vinho diminuiu em quantidade, mas em contrapartida o factor qualidade foi preponderante na primeira década do século XXI, num sector considerado o grande campeão da economia portuguesa no meio de tantas adversidades, na sequência da crise macroeconómica desencadeada a partir do Verão de 2008. A esta qualidade, não foi estranha a nova filosofia dos produtores, que ao investirem no vinho de origem protegida (DOP - denominação de origem protegida) puseram igualmente o esforço na imagem dos rótulos, embalagens e novos modelos de garrafa... que invadiram supermercados e centros comerciais, por vezes para grande embaraço e hesitação do consumidor. Os resultados têm animado os pequenos e médios produtores, normalmente empresas familiares, cuja produção situa-se em média nos 300 mil litros por ano. Ainda assim, dizem os especialistas, ainda é “preciso queimar algumas etapas” no marketing e promoção dos vinhos portugueses nos mercados exter- Na década de 80, os três maiores anos de produção foram 1990/1991, com 11,351 milhões de hectolitros, e logo o ano a seguir 1991/1882, com 10,021 M hl, seguindo-se 1996/1997 com 9,712 M hl. O ano de menor produção foi de 1998/1999, com 3,750 milhões de hl. Por seu turno, a primeira década do século XXI teve na campanha de2001/2002 a maior produção dos últimos dez anos, com 7,789 M hl, seguindo-se 2006/200/com 7,543 M hl e 2004/2005 com7,481 M hl. O célebre ano de 2003(campanha 2002/2003) , que metaforicamente foi considerado a maior vintage dos últimos 500 anos, registou uma produção total de 6,677 M hl, dos quais 2,934 M hl relativos a vinho DOP (44%) e 3,743 M hl de vinho com IGP + vinho (56 %): A propósito recorde-se o que se passou em França, nesse Verão quente de boa memória para os vitivinicultores. Nos vales do Garona e do Ródano, onde os “grands crus” ficaram famosos em 2003, as vindimas foram antecipadas em um mês, para Agosto, bem como em muitas produções em Portugal. nos. Angola e alguns países BRIC, como China, Índia e Rússia são alguns destinos a incidir as acções nesse sentido... e jogar forte e fundo tanto no preço como na qualidade. Na primeira década do século XXI, os vinhos de origem protegida representaram 47% da produção total, contra 37% na anterior, sendo de realçar as melhores condições atmosféricas (melhor repartição da chuvas para o desenvolvimento das vinhas temperatura elevada no mês certo para melhores produções). Segundo estudos do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) a primeira década do século XXI face à anterior caracterizou-se por uma diminuição da Produção Total (9%), motivada essencialmente por uma diminuição da área de vinha e por um aumento significativo da produção de Vinhos com Denominação de Origem Protegida (DOP) face aos outros vinhos (Vinho com IGP + Vinho). Por outro lado, a última década ficou marcada por valores de produção mais uniformes face à anterior, com uma variação mínima 2,1 milhões de hectolitros (M hl), enquanto que nos anos 90 essa variação foi de 7,6 milhões de hectolitros de vinho. Produção Vinícola Nacional (milhares de hectolitros) (1990/1991 a 2009/2010) 12,000 10,500 9,000 7,500 6,000 4,500 3,000 1,500 0 Produção 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 11,351 10,021 7,771 4,871 6,521 7,255 9,712 6,124 3,750 7,859 6,710 7,789 6,677 7,340 7,481 7,266 7,543 6,073 5,689 5,868 09 À VOLTA DO MUNDO Em Julho passado a CIVB (Conseil Interprofissionel des Vins de Bordeaux) apresentou o Plano Amanhã (Plan Demain) para relançar toda a actividades dos vinhos da região, penalizada pela exorbitância nos preços e pela concorrência. Ainda a crise dos Bordeaux... € € O “Plan Damain” apresentado em 19 de Julho de 2010 na assembleia daquela associação, é fruto de uma reflexão de toda a fileira do sector vitivinícola de Bordeaux, com vista ao relançamento da competitividade dos vinhos daquela região francesa. com os vinhos “Stars”, no segmenO estudo preconiza a supressão to Arte; de produtos com níveis de “Perles”, no segmento Exploração; qualidade não coerentes com a .”petit luxe”, no dia a dia, imagem de marca, tendo como com os vinhos “Fun e Chics”, no primeira medida de urgência, a segmento Fun. aplicação do acordo interprofisRecorde-se que em 2009,a região sional sobre o controle de qualide Bordeaux foi notícia pelas dade dos operadores que pratidificuldades dos produtores face cam preços à queda nas vendas, anormalmente nomeadamente na Comerciantes Britânicos Rússia (um dos tais baixos... criticaram preços altos. países BRIC), onde Os esforços de promoção a importação do incidirão sobre o desenvolvimenvinho em geral caiu 50%, também to dos mercados compradores, decorrente da crise global. principalmente China, EUA e ReComerciantes britânicos criticarino Unido, e a defesa de bastiões am preços altos indispensáveis ao equilíbrio da Além da crise macroeconómica, fileira - França, Bélgica e Aletambém os preços eram considmanha. erados exorbitantes, nomeadaElaborado para os próximos três mente pelos ingleses, bem como anos, o estudo tem por objectivo extra crise, a concorrência dos aumentar o volume de vinhos vinhos de outros países a preços comercializado, ou seja, de 5,7 mais competitivos. milhões de hectolitros para 6,3 O ano passado as exportações do hectolitros dentro de cinco a oito Bordeaux situaram-se ao mesmo anos, para atingir uma facturação nível de há 20 anos, vendendo-se de 4,5 mil milhões de euros. 4,9 milhões de hectolitros, notiEsta nova estratégia coloca a ciava o jornal francês SudOuest. marca numa gama mais estreita Na altura, o presidente da assoe em três categorias de oferta: ciação bordalesa de vinhos dizia ..raridade (rareté) e exclusividade à revista britânica Decanter, que cerca de 90% dos produtores de vinho Bordeaux enfrentavam dificuldades e 50% tinham graves problemas financeiros. A revista apontava que tal situação se devia aos preços altos do vinho daquela região denominada de origem. Segundo a revista, os comerciantes do Reino Unido esperavam a meio do ano, que os produtores bordaleses não subissem demasiado os preços. A especulação deu azo a que algumas garrafas atingissem os 300 euros. 10 Índia aderiu à OIV... ... e já exporta vinho para União Europeia A Índia apesar de só ter aderido em Abril passado à Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), já está a exportar vinho dos quase 2.000 hectares de vinha cultivada na região de Karnataka, cuja capital é Bangalore, o grande centro internacional de investigação e formação de quadros da Índia. À VOLTA DO MUNDO A Índia apesar de só ter aderido em Abril passado à Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), já está a exportar vinho dos quase 2.000 hectares de vinha cultivada na região de Bangalore, o grande centro internacional de investigação e formação de quadros da Índia Sediada em Paris, a OIV é o organismo e que superintende os países produtores de vinhos. À partida havia alguma relutância na admissão indiana, por o país não ter uma legislação específica e cuja produção de vinhos ser um autêntico Far West, segundo os observadores Quando da entrada da Índia, esta anunciou a plantação de mais 400 hectares de vinha nos Estado de Maharashtra, vizinho de Karnataka, cuja capital Bangalore, a chamada Silicon Bay indiana ou a Harvard da Índia, onde se formam quadros indianos para todo o mundo - economistas, gestores, engenheiros, médicos, físicos, e muitos outros investigadores das mais variadas áreas. Bangalore é, de resto, a capital da Informação tecnológica, isto é, da Inovação e das tecnologias mais sofisticadas, da India, um dos países BRIC. Em Karnataka, a partir de programas específicos estão-se a formar quadros especialistas( agrónomos) na produção de vinhos, bem como na apreciação (enologia) e no respectivo negócio, no qual a Wine Society of India tem um papel pioneiro para a futura indústria do vinho da Índia e negócio vitivinícola.. Como cidade universitária voltada para a inovação e investigação científica, Bangalore também é conhecida pelos seus pubs e uma certa vida nocturna, já tendo alguns clubes de vinho, que os indianos fundaram na linha dos clubes britânicos, locais reservados e discretos. A Índia tem uma classe média de 300 milhões de pessoas, sendo por isso, à semelhança da China e Brasil, um dos mercados mais atractivos para os produtores ocidentais. A Índia deverá integrar este ano o ranking dos dez países que mais cresceram no consumo de vinho. Nos vinhedos de Karnataka, já existem nove adegas nos actuais 1.800 hectares de vinha cultivada nos Vales de Krishna e Nandi, exportando-se 30 por cento para o Reino Unido, França e EUA. Na região ficam situados 60 por cento da cordilheira dos Gates Ocidentais, que influenciam o clima de região, que é composta de uma grande.. biodiversidade e uma temperatura anual média de 15 graus…e onde existem 10% por cento dos elefantes da Índia, que são domesticados e usados para trabalhos. Registe-se que em Goa, antiga Índia portuguesa, e hoje um dos estados da União Indiana, existem ainda algumas adegas fundadas por portugueses, que levaram inclusivamente algum know-how de Portugal ao longo dos séculos, que se foi esboroando. A área mundial de vinha plantada é de 7,66 milhões de hectares, tendo a Espanha a maior fracção de vinha cultivada com 1,113 milhões de hectares, ou seja, 14,5% do total da vinha mundial, enquanto Portugal está no 8º lugar, com 243 mil hectares de vinha (3,2 %). Em 2º lugar vem a França com 840 hectares (11%), 3º Itália 818 mil há (10,7%), 4º Turquia, 5º China, 6º EUA, 7º Irão, 9º Argentina e 10 Roménia. 11 viajando... Terminal Santa Apolónia para navios de passageiros … traz mais turismo para Lisboa Deverá estar operacional em 2013 e substituirá os terminais de Alcântara e Rocha do Conde Óbidos, por estes dois ficarem demasiado afastados do centro histórico da cidade. Trata-se de um apport importante para a Baixa lisboeta, nomeadamente para o comércio de souvenirs, de pronto-a-vestir, sapatarias e... lojas de vinhos. Estimativas recentes apontam para uma média de 48 euros per capita de consumo nas lojas da Baixa, por parte dos turistas dos navios de cruzeiro. Com a nova estrutura, próxima de Santa Apolónia /Alfama, Terreiro do Paço /Baixa e Cais do Sodré/ Bairro Alto, inicia-se uma nova etapa para o comércio, especialmente para os restaurantes, que podem esmerar-se quer nas instalações, quer em termos de gastronomia. Com efeito, o novo terminal situado junto ao velho edifício da Alfândega, do Museu Militar e da Estação de Santa Apolónia, que a breve trecho poderá transformar-se em hotel, e resvés à tertúlia noctívaga Lux-Frágil, beneficia do carácter excepcional daquela zona ribeirinha, com áraeas qualificadas do Campo das Cebolas e Casa dos Bicos, onde está a Fundação Saramago, a Doca da Marinha; o Terreiro do Paço, Ribeira das Naus (antigo Arsenal da Marinha) e Cais do Sodré. Para a zona da Alfândega prevê-se a implantação de uma nova praça, enquadrando a entrada e saída do novo terminal de cruzeiros. funcionando como zona interface de transportes, e uma nova estação de Metro. zeiros marítimos é um dos sub-sectores turísticos que mais tem crescido, passando de 500 mil passageiros, em 1970, para 17,5 milhões, em 2009, ou seja, mais 3.400 por cento. O mercado norte-americano cabe a maior fatia, com 10,4 milhões de passageiros anuais, cabendo 5 milhões à Europa e 2,1 milhões ao resto do mundo. As previsões das duas principais associações dos operadores de cruzeiros, a CLIA e a ECC, apontam para uma continuação desta subida a nível mundial, em especial o mercado europeu, apesar do cenário de crise global. A nível nacional, a actividade tem igualmente crescido. Em 2009, passaram pelos portos portugueses mais de 945 mil passageiros em navios de cruzeiros. Só o porto de Lisboa recebeu em 2009 um total de 415 758 passageiros, dos quais 43 097 embarcados e 40 776 desembarcados. Os passageiros em turnaround (83 873) representaram 32 % do total e os passageiros em trânsito (331 885), 68 %. No total, foram registadas 294 escalas de navios. O porto de Lisboa prevê terminar o ano de 2010 com cerca de 450 mil passageiros (mais 8% face a 2009), e 308 escalas (mais 5%). Para 2011 perspectiva-se que se mantenha o crescimento da actividade em Lisboa. Actualmente estão anunciadas 336 escalas, estimando-se que o número de passageiros totalize os 490 mil. Indústria de cruzeiros marítimos subiu 3.400% desde1970... A nível mundial, a indústria dos cruO fenómeno climatérico El Niño pode existir há centenas ou há milhares de anos... Estudos realizados aos últimos 150 anos sobre o fenómeno, concluíram que os dois El Niños mais violentos registaram-se nos últimos 20 anos, em resultado dos efeitos de estufa. Uma grande tempestade ou dilúvio que ocorria de 100 em 10 anos, poderá passar a dar-se de 30 em 30 anos ou até de 20 em 20 anos, afirmam os cientistas. Chile, Perú, Austrália, Brasil, Califórnia, Austrália e África do Sul são os países mais afectados. 12 ViniPortugal: Conferência Internacional do Porto relança casta Touriga Nacional Um sucesso em toda a escala a I Conferência Internacional sobre Vinhos Portugueses, iniciativa da ViniPortugal e realizada na Alfândega do Porto, a começar pelo relançamento da Touriga Nacional,uma casta de uvas portuguesas, que esteve quase extinta há 30 anos, e actualmente aconselhada para servir de catapulta aos vinhos portugueses. Durante três dias 450 participantes de Portugal, EUA, Brasil, Reino Unido, Alemanha, Espanha, França, Áustria Noruega, China, Canadá, Rússia , Austrália debateram novas castas e novas regiões de vinhos, os vinhos na internet, alternando com prova de vinhos e visitas a quintas vinhateiras da região balho mais conjunto com a produção. A touriga ajuda nos lotes e na exportação, então, tem-se de trabalhar mais nas varietais de região para região “ defendeu o enólogo. A Mesa4 incidiu o debate sobre Regras/ regulamentação e rastreabilidade, juntando João Nicolau de Almeida, Luís Costa, Bento Amaral, Dora Simões, Tim Hogg, Paula Osório e António Luís Cerdeira. “A touriga representa 2 a 3% do vinho nacional”, disse Nicolau de Almeida apontando a estratégia a tomar para “a afirmação das regiões e afirmação das castas”. “Depois vêm os rótulos, e mais tarde ou mais cedo o mercado vai exigir a touriga nacional. Ainda estamos numa fase primária e as nossas universidades estão aptas para estudar e resolver o problema”, reportando-se ao ISA que está a fazer “um estudo sobre as características básicas “. “As castas não aparecem de repente, foi assim em Bordeaux, na Borgonha.. por isso não vamos dar tiros no pé e pôr a carroça à frente dos bois. Vamos promover as nossas regiões, e com isso se verá a touriga nacional”, acrescentou. O Forum dos Enólogos foi a primeira parte deste encontro internacional, em que os técnicos e investigadores responsáveis pelo apuro dos nossos vinhos discutiram amplamente em quatro mesas redondas as estratégias para fazer da Touriga Nacional a grande referência da vitivinicultura portuguesa; uma designação “talvez mais conhecida do que o próprio país em termos de vinhos””. Francisco Borba, presidente da ViniPortugal, nas conclusões finais do Forum dos Enólogos sintetizou três items: é incontroverso que a touriga é adequada para Portugal; a falta de notoriedade de Portugal é um facto e o programa de 2011 visa comunicar e 99 produtores e centenas colocar Portugal como grande produtor de vinhos”.. A Mesa nº 1 juntou os enólogos Nuno Cancela d’Abreu, João Paulo Martins, Francisco de marcas Campos, Sandra Tavares, Carlos Lucas, Joana Cunha e Tiago Alves de Sousa, sob o tema A presença de 99 produtores, repre“Como se projecta a Touriga Nacional como casta importante “? tendo o porta- sentando largas centenas de marcas porvoz, João Paulo Martins referido (....) “para além do vinho do Porto, precisamos de uma tuguesas, assinalou os três dias de provas bandeira que sirva de chapéu para os nossos vinhos, e a touriga nacional é uma cas- de vinhos na vasta sala do segundo andar ta suficientemente personalizada e marca os vinhos mesmo produzidos em regiões do edifício da antiga Alfândega do Porto, diferentes ..Bragança .. Faro..é um risco que se corre, mas depende da forma como é à beira-Douro, alternando com interventrabalhada pelos enólogos”, comentou. ções temáticas e visitas às quintas vin”Ou fazemos 10 /11 toneladas para vendermos a 2 euros , ou então optamos por 6/7 hateiras da região. toneladas para um preço mais ajustado. A casta touriga precisa de gente que trabalhe e investigue bem e que pense menos na questão financeira”, concluiu, A Mesa2 versando o tema Touriga nacional no ciclo das grandes castas mundiais, que falta fazer”? juntou José Maria Soares Franco, Luís Lopes, Rui Reguinga. Luís Pato, Álvaro de Castro, David Baverstock, António Graça e Maria João Almeida,. No final , J.M. Soares Franco apontou a casta como “âncora dos vinhos portugueses, faltando melhorar o carácter da casta em todas as regiões do país.É à volta da touriga nacional que se pode promover as outras castas portuguesas”. A Mesa3, sob “Touriga nacional, diferentes perfis em diferentes terroirs?, juntou Domingos Soares Franco, Rui Falcão, Manuel Soares, Anselmo Mendes, Filipa Pato, Luís Duarte e Jorge Queiroz. No final. Domingos Soares Franco, reportou-se à casta, quase extinta nos Anos 70, variar de região para região, em função do cima e solos. “Ela é melhor em lotes, não podemos ter a massificação da casta como outros países. Trata-se de uma casta antiga, e enquanto no estrangeiro A jornalista angolana Sofia Buco e o cameraman Carlos Gamboa, sabem par onde ir , nós ainda não sabemos o rumo. É preciso um tra- da TV Zimbro 13 Enólogos, produtores, investigadores, empresários, jornalistas, especialmente da imprensa especializada estrangeira, bloguistas e outros profissionais e visitantes por lá circularam, contribuindo para o debate e sucesso desta I conferência internacional de vinhos portugueses, que em termos de organização é também um ensaio preliminar para o XXIV Congresso Mundial da OIV, que se realizará no mesmo local, em Junho de 2011. Angola, um mercado em ascensão para os produtores-exportadores portugueses, enviou a esta conferência uma dezena de jornalistas, incluindo uma estação privada de televisão, a TV Zimbro, o que revela a atenção com que os angolanos seguem os vinhos portugueses. Mas a expectativa para com os vinhos portugueses também paira no Reino Unido e nos EUA , onde os apreciadores querem provar castas de regiões menos conhecidas”, uma nova moda” segundo o jornalista britânico Charles Metcalfe e “da qual a Espanha já se está aproveitar”. Jornalista britânico propõe uma Sala Ogival no Algarve Portugal e Espanha são os países com os vinhos de características mais distintas e, de 1.600 castas comercializadas no mundo Portugal é responsável por 10 % e “agora é C. Metcalfe o momento de arrancar… A França tem Paris, a Itália tem Milão, a Espanha tem a tourada, o flamengo e as tapas , e Portugal ainda não projectou uma imagem... é discreto e a mensagem passa despercebida. Portugal é o próximo país vinhateiro a ser visitado, e o Douro é uma região como o Bordeaux”, enfatiza. “Portugal tem uma localização privilegiada sobre vinhos e castas e agora é a altura certa de se promover”, aconselha Metcalfe, um dos críticos britânico de maior renome mundial, autor de programas de TV, vice-presidente da International Wine Challenge, e consultor da City of London Corporation para os vinhos e banquetes oficiais do Estado. Para o especialista britânico a “casta Touriga Nacional é de topo”, e o constitui “o começo do renascimento de Portugal”, embora seja também “apenas o início, porque plantar uma casta é um projecto a longo prazo”. “É um património, e só a Itália se lhe pode comparar, porque tem muitos vinhos diferentes e castas, mas a Itália é muito maior e mais conhecido”, comenta. “Os portugueses têm de ser criativos e imaginativos, porque não é só o golfe e a praia que têm para oferecer... precisam divulgar as suas aldeias, a arquitectura, os Descobrimentos, por exemplo, apostar nas quintas e hotéis vínicos, especialmente do Douro. E desta forma, haverá troca de ideias, vender-se-ão mais vinhos e os vossos livros também… Há excelentes unidades hoteleiras, grandes e pequenas que deveriam estar presentes em feiras e certames... e o proprietário do vinho não aparece... gostaria de ver uma sala ogival no Algarve, semelhante à do Terreiro do Paço”, rematou o jornalista inglês. A jornalista americana, da agência Bloomberg, Elin Elin McCoy McCoy, autora especializada em leilões e colecções de vinhos, reportou-se à importância da internet para o negócio e a divulgação dos vinhos “A net é algo global em qualquer parte do mundo, um caso paradigmático, e as pessoas querem histórias atractivas que as façam escolher o vinho”. Por sua vez, o consultor chinês de vinhos, Simon Tam, mas que cresceu e estudou na Austrália, falou do mercado da China, onde de momento imperam os vinhos franceses”, embora “Portugal tenha tanto para oferecer, tantas regiões, devendo encontrar uma forma de abrir as portas e promover as suas marcas, além de ter uma cultura muito antiga”. Portugal tem uma área de vinha com 237.000 hectares, ou seja 6,3% da superfície agrícola útil, estando os vinhos portugueses em crescimento na maioria dos mercados, com mais 11 % no primeiro semestre do ano face ao mesmo período de 2009. O ano de 2010 foi considerado excelente para os vinhos nacionais, e segundo o ministro da Agricultura, António Serrano, as exportações totais no sector do vinho deverão atingir os 600 milhões de euros. A revolução provocada pela Internet no negócio do vinho, designadamente na venda e promoção dos vinhos fora dos circuitos tradicionais, foi amplamente debatida durante quase três horas, com questões postas pela assistência, por experts como Ryan Opaz (americano radicado em Espanha e, chefe de cozinha e organizador de workshops e conferências), Joe Roberts (EUA, jornalista e bloguista responsável pelo1WineDude.com, eleito re- centemente o melhor blogue de vinhos) , Robert Mcintosh ( embaixador ou agente de marcas de vinho no Reino Unido, representando produtores de Rioja, ) Louise Hurren (França) André Ribeirinho (Portugal, bloguista e fundador da Adega), Neal Martin (jornalista britânico e bloguista do wine-journal.com com 100.000 leitores) e Jancis Robinson, editora da secção de vinhos do Financial Times. Sobre fenómeno da net e o impacto na indústria do vinho,“é importante interagir com as pessoas….imaginem a nosso vida sem telemóvel”, comentou Ryan Opaz, relembrando os 25 anos do telemóvel no Reino Unido. “As redes sociais para o negócio e promoção do vinho são como o telemóvel, temos de interagir, fazer parte desta rede social para nos afirmarmos. Há pessoas que estão no Facebook por causa da Moda ou do Futebol, então temos de puxá-las para os vinhos”, sugeriu o especialista americano, aludindo aos 500 milhões de membros do Facebook em todo o mundo, com um ritmo de crescimento anual de 2 milhões e 700 mil milhões de minutos por gastos pelas pessoas que nele comunicam. Há marcas de vinhos que não têm essa expressão na Comunicação Social clássica, daí ser importante estarmos online para ficarmos na corrida, porque o grande desafio é afirmar a nossa opinião no meio da multidão”, sublinhou. “Cada empresa vinícola tem uma história fantástica para contar. Interessa por trás do rótulo passarmos a conhecer melhor o homem ou a mulher que produz o vinho”. A registar também a presença nos trabalhos de José A. Salvador, do Expresso, Rui Falcão, da revista Wine Essência do Vinho, colunista do Público e, autor do Guia dos Vinhos; Tom Marthinsen (Noruega, ligado ao diário económico Dagens Naeringsliv e editor do Vinguiden, o maior site internet de enologia da Escandinávia; Tom Lam, de Hong Kong, e considerado a maior autoridade chinesa sobre Enologia., com um MBA; Kristine Baeder, editora –chefe da revista alemã German Sommelier Magazin. 14 p e n ú l ti ma s Enoturismo: Quintas e hotéis do Douro premiados com “Best of Wine Tourism 2011” Um júri internacional de nove países produtores de vinho distinguiu com o Prémio “Best of Wine Tourism 2011 três projectos de hotelaria e gastronomia no Vale do Douro --a Quinta da Avessada (Alijó) na categoria Inovação; a Quinta do pego (Tabuaço) na categoria Alojamento e, o Restaurante DOC (Armamar) na versão Restaurante Vínico. O concurso, que visa desenvolver o enoturismo, é instituído pela Great Wine Capitals Global Network, rede que integra as nove cidades e regiões vinhateiras mais importantes do mundo--Bordeaux (França), BilbaoRioja (Espanha), Cidade do Cabo (África do Sul), Christchurcg (Nova Zelândia), Florença (Itália), Mendoz (Argentina), Meinz-Reinhessen (Alemenaha), São Francisco - Napa Valley (EUA) e Porto. A Quinta da Avessada em Favaios, Alijó, desenvolveu um projecto de Enoteca interactiva, ou seja, um museu que recorre à multimedia, dando uma retrospectiva da cultura da vinha e do vinho no Alto Douro. O Restaurante DOC situa-se no Cais da Folgosa, entre o Pinhão e a Régua e constitui um marco na gastronomia da região, tendo sido eleito em 2008 como o melhor “Novo Projecto Privado”, Prémio Turismo de Portugal, e também distinguido com o “Garfo de Ouro pelo anuário “Boa Cama / Boa Mesa”. do semanário Expresso. Já o Hotel Rural Quinta do Pego nasceu da criatividade do dinamarquês Karsten Sondergaard, grande apaixonado da geografia duriense, onde adquiriu uma propriedade. A partir de então foi construído uma unidade topo de estrelas com 10 quartos, 30 hectares de vinha e piscina sobranceira ao Douro.. Viana do Castelo Cidade do Vinho 2011 Fundamental para esta eleição de Viana do Castelo foi o trabalho desenvolvido pelo município local à volta da marca “Vinhos das Terras do Gerez”, tendo em vista a criação de riqueza económica no concelho. Ao longo de 2011, Viana do castelo será palco de grandes eventos, tais como Gala da Cidade do Vinho, Dia de Reis, os Fins-deSemana Gastronómicos, Gala da Eleição da Rainha das Vindimas, Conversas à Volta do Vinho, Jornadas Europeias do património, Dia Europeu do Enoturismo, variados cursos de formação e promoções de vinhos no Mercado Municipal. Novo produtor lança vinho “Cultural” em Estremoz Artur Ferro, um novo produtor de vinhos no concelho de Estremoz, acaba de lançar a marca “Cultural”, da responsabilidade do enólogo Joachim Roque, começando a nova marca de vinhos com13.500 garrafas destinadas ao Alentejo e Algarve, embora os proprietários já tenham contactos para a exportação. Com uma pequena propriedade de 6,5 hectares, o casal Artur e Luísa Ferro, cultivam uvas das castas tintas Aragonez e Cabernet Sauvignon,, na Quinta D. Joaquim. ViniPortugal vinho a copo A ViniPortugal acaba de lançar a campanha “a copo” como vista a generalizar o consumo de vinho, à semelhança do que se passa em Itália desde há 20 anos, onde as pessoas escolhem o vinho e só pagam a taça que bebem, contribuindo assim para a expansão do mercado interno e incentivar o consumo moderado e saudável com qualidade, a preço acessível.. A campanha disponibiliza um Manual de Novas Práticas para o serviço de vinho a copo da autoria do escanção Manuel Moreira promovendo os estabelecimentos que adirem à campanha com a garantia de Selos a “copo”, diferenciados para restaurantes e bares. O site é www.acopo.pt Projecto de gestão de vinha vence prémio nos EUA Chama-se VinePAT e é um projecto para gestão da vinha que permite optimizar e rentabilizar a qualidade das uvas., através de uma espécie de raios X químico às uvas, fazendo a impressão digital das mesmas. E foi desenvolvido por quatro investigadores portugueses a saber: Rui Martins, do departamento de Biologia da Universidade do Minho, César Ferreira (Universidade Católica Portuguesa) e os estudantes do MBA João Ferreira e Joaquim Valente ( do laboratório Nacional de Energia e Geologia e da Universidade do Porto Business School). Em termos práticos , o estudo visa a comercialização de um sistema de recolha e análise de dados, baseando-se em Espectroscospia, permitindo aos produtores decidir sobre o tipo de tratamento durante a maturação das uvas e altura das vindimas. O prémio, lançado pela Universidade de Austin, Texas ( EUA) teve a concorrência de 18 equipas de oito países. Prova dos Sentidos nas Caldas da Rainha Chama-se Prova dos Sentidos, um restaurante a não perder pelos verdadeiros gourmets que visitam as Caldas da Rainha, junto à Praça da Fruta, e a dois passos do Parque e do Museu José Malhoa. Os donos, dois jovens amigos, Ricardo Leitão e Sara Couto, decidiram há um ano pôr mãos à obra, e arrancarem com um espaço de decoração minimalista, onde além da boa comida, é também ponto de tertúlias e de provas de vinhos.No cardápio da casa há a considerar os....petiscos e entradas, que só por si enchem um comensal menos precavido, sobretudo perante a excelente Morcela com ananaz, as Migas de broa de mel e legumes ou as Tostas de Chèvre (queijo de cabra) com tomate seco ou ainda a Farinheira com ovos mexidos, optando pelos pratos Francesinha à Porto e a clássica Picanha argentina.. Nos vinhos, pode ouvir os conselhos argutos de Ricardo, que desempenha o papel de um verdadeiro sommelier e provar as colheitas da Herdade das Servas (Alentejo), toda a gama da Casa Santar (Dão Sul) ou da Quinta de São Francisco (Óbidos); Vale Zias, cujo produtor é natural das Caldas, embora as vinhas situam-se no sopé da Serra do Montejunto, dando origem a uma óptima monocasta Syrah. Nas provas de vinhos efectuadas an prova dos sentidos, destacam-se as seguintes : Casa de Santar, Murganheira e Raposeira, Casal d’ Além (branco.. arinto de Bucelas) e Herdade do Rocim (Alentejo, Vidigueira, do grupo MoviCortes) Prova dos Sentidos - Rua General Queiroz, nº 50... indo de carro ou a pé, a partir da estátua da Rainha D. Leonor, subindo em direcção à tal Praça da Fruta. Concurso Nacional do Vinho, que se realiza de 10 a 13 de Maio de 2011, terá 200 provadores para avaliarem vinhos com computador, informaticamente, com uma ficha de prova, esperando-se este ano a vinda de 15 a 20 provadores estrangeiros. O director do Concurso, Mário Louro, chama a atenção para os critérios existentes entre a classificação de um evento desta dimensão e outros levados a efeito por algumas revistas, já que existem diferenças acentuadas.No concurso de 2010 estiveram 204 provadores a classificarem vinhos.. enquanto que as revistas fazem-no com apenas seis provadores.. Cada vinho a concurso é avaliado no mínimo por 14 pessoas e a seguir, as que vão à Medalha de Ouro, passam, por 21 provadores.. Quando se diz que no Concurso nacional concorreram 705 vinhos, temos o melhor vinho, que foi visto pelo menos por 14 mais 21 provadores. Portanto estamos a falar de 35 pessoas., sublinha o enólogo (vide entrevista). 15 p e n ú l ti ma s EFEMÉRIDE Infante D.Henrique: 550 anos de globalização A 13 de Novembro passaram 550 anos da morte do Infante D.Henrique, o Navegador, figura incontornável da História, grande mentor dos Descobrimentos e da expansão marítima portuguesa, iniciando a primeira globalização e, por assim dizer, as bases do sistema mercantilista-capitalista e da economia do mercado...afinal as traves mestras da civilização contemporânea. Cavaleiro, militar, general, estratega, matemático, cosmógrafo, empresário e grão-mestre da Ordem de Cristo (que substituiu os Templários), D.Henrique personificou o pioneirismo dos intelectuais e homens de ciência da Renascença, ou até o conceito de “estadista” da época, que Maquiavel viria a descrever na sua obra “O Príncipe”, publicada em 1513..., 53 anos após o desaparecimento do Infante. Rodeado de geógrafos, cartógrafos e homens da ciência árabes e judeus financeiros, D. Henrique soube aliar as diversas facetas da sua vida com o seu projecto de expansão da então geopolítica portuguesa… e foi neste contexto que tentou tomar Gibraltar ao Reino mouro de Granada, para melhor dominar a entrada do Mediterrâneo. Só que o mau tempo impede o desembarque, volta para Ceuta e recebe ordens de seu pai D.João I para não continuar o empreendimento... corria o ano de 1418 e, já tinha começado a Idade Moderna. Ele próprio, também homem de Estado, que a sua condição de príncipe e homem esclarecido lhe dava um ascendente sempre de primeira linha nas grandes decisões a tomar por seu irmão el-rei D. Duarte ou por seu sobrinho D. Afonso V. Foi assim quando tomou o partido do rei, a desfavor de seu irmão o Infante D.Pedro, o regente, outra grande figura da Renascença, que em 1428 lhe trouxera de Itália o livro de viagens de Marco Pólo, um excelente acicate para o seu projecto. Seja como for, no pensamento maquiavélico os fins justificam os meios nos assuntos do Estado, mas no caso de Henrique, este toma partido do sobrinho, contra seu irmão Pedro, o regente, considerado mais progressista e apoiado pela burguesia de então. Anos mais, tarde, é D. João II, filho de Afonso V, que acabará por centralizar o poder político, pondo fim a todo o tipo de escaramuças e conspirações internas. Uma efeméride praticamente despercebida do grande público, apenas umas breves cerimónias oficiais de circunstância em Lagos, numa época de crise global, ignorando-se um dos grandes mentores da primeira fase da globalização, que irradiou da Europa para todos os continentes. Álvaro Vale Pelo oitavo ano consecutivo, o analista de vinhos Rui Falcão publicou as impressões sobre mais de 4.200 vinhos nacionais e estrangeiros, com uma pontuação de 0 a 20, e considerações sobre as últimas colheitas e as principais regiões vitivinícolas portuguesas. Brancos estão a subir (Mário Louro) O enólogo Mário Louro discorda que o vinho esteja a passar por um fase de El Dorado em Portugal, apesar de andar “muita gente a produzir e a vender”.” “É certo que há cada vez mais produtores, mas é preciso estar atento a determinados mercados. Veja-se o mercado do vinho branco, que está a subir e se calhar, no futuro temos de plantar mais branco do que tinto, embora isto esteja num período pouco definido…há cada vez mais pessoas a consumirem branco, porque as pessoas começam a perceber que o vinho branco não é só para o peixe e o tinto para a carne…porque as estruturas do vinho é que definem o melhor acompanhamento”. “O vinho branco também tem menos carga de anti-oxidantes que o tinto, mas a quantidade de flavonas também ajuda nesse trabalho,” esclarece. (vide entrevista) Um economista e um neurologista são os novos concessionários do restaurante da Associação 25 de Abril, sito na Rua da Misericórdia, em plena zona histórica de Lisboa, imediações do Bairro Alto, nas traseiras do Teatro da Trindade e a dois passos do Chiado... O espaço chama-se agora Res Publica e os novos concessionários - o economista João Tubal e o médico neurologista Joaquim Cândido pretendem relançar uma série de tertúlias com jantares temáticos, provas de vinhos e gastronomia variada, especialmente os pratos relacionados com a diáspora lusófona. No local, - onde funcionou desde 1931 a redacção do antigo Diário da Manhã, que em 1971 ao fundir-se com a Voz originou o jornal Época até Maio de 1974, - funciona a sede da Associação 25 de Abril, totalmente remodelada pelo arquitecto Siza Vieira. Em Novembro último, quando da apresentação do novo projecto, o coronel Vasco Lourenço, presidente da associação, congratulou-se com a iniciativa da nova gerência, numa casa que se pretende aberta a toda a gente, ao diálogo e ao debate de ideias, em sintonia com os princípios democráticos. 16 ú l ti ma s FICHA TÉCNICA - proprietário: A . Henriques do Vale; nº de contrib.: 149010877; registado na ERC com o nº 125946; sede da redacção: Rua Gonçalves Crespo nº36 /3º 1.200-Lisboa. Director e editor: Álvaro Vale; publicidade: Júlia Andrade; grafismo: Celina Botelho; site: José Pereirinha. www.correiodosvinhos.com; www.correiodos.vinhosepetiscos.com Carm Douro em 9º nos 100 mundiais da Wine Spectator O vinho Carm Douro (Reserva 2007) da casa agrícola Reboredo Madeira alcançou o 9º lugar no top dos 100 melhores vinhos do mundo da revista americana Wine Spectator, a mais prestigiada publicação mundial do sector vitivinícola. A família Madeira está instalada no Douro desde o ano de 1600, e para grande surpresa de muitos está mais associada à produção de azeite e olivicultura. So mente em 1999 começou a produzir vinho. As castas do vinho premiado são touriga nacional, touriga francesa e tinto roriz. O primeiro lugar desta edição (referente a vinhos produzidos até 2009) da Wine Spectator foi atribuído ao tinto Saxum (2007) da Califórnia, das castas grenache, mouvedre e syrah,. O 2º,lugar coube ao syrah australiano Two Hands (2008), enquanto que até ao sexto lugar destacaram-se novamente os vinhos da Califórnia. Um desses, o 4º lugar, o tinto Revana (2007) das castas cabernet e sauvigon, foi produzido pelo médico cardiolologista de Houston, o indiano Madaiah Revana, que imigrou de uma zona rural da India para os EUA: O 7º lugar foi para um syrah da Austrália, o Schild (2008), enquanto que o 8º foi para o tinto da Toscana, Itália, da família Flacianello. Em décimo, o branco francês Clos des Papes (2009). Desde 1988, que a revista elege os melhores vinhos do mundo durante a tradicional avaliação que realiza anualmente na segunda quinzena de Novembro. Para este ano, a revista recebeu (para avaliar os vinhos até 2009) 15.800 concorrentes de 14 países. dos quais 3.400 mereceram a pontuação entre 90 a 100 na escala da WS. No fecho da edição Álvaro Vale Na Era da produção global de vinho, alguém me fala que o Chile, na sua longa faixa litoral junto ao Pacífico, de 4.300 kms por 300 kms de largura ((fronteiras políticas delineadas na primeira vintena do século XIX , quando as relações internacionais, a geoestratégia e a economia eram já um paradigma tripartido...entendido por profissionais e políticos)) tem os melhores terrenos do mundo e as condições naturais por excelência para a produção de vinho, que protegem a vinha das doenças endémicas, sem ser necessário recorrer a tratamentos de pragas, aliado à rega natural, com a abundância das águas provenientes do degelo da cordilheira dos Andes.....uma geografia inteligente que fez dos vinhos chilenos autênticas vedetas da excelência, tornando-os concorrentes dos Bordeaux e outros afamados. Estas virtudes das terras chilenas foram bem compreendidas logo no primeiro terço do século XIX, quer por franceses, espanhóis, nomeadamente bascos; e posteriormente americanos. Estavam lançados os dados para grandes vinhas e produção de qualidade, um processo que levaria à primeira cotação de uma empresa vitivinícola na Bolsa de Nova Iorque em 1994. Falta no entanto ao Chile, a longa História e a tradição do Mediterrâneo, neste caso o ocidente latino de Portugal, cruzado e erguido por gregos, fenícios, romanos, judeus, árabes, que nos moldaram, o pensamento, o paladar.... o nosso modus vivendis com uma variedade de produtos que fez a matriz da dieta mediterrânica. O mar, elemento moderador das amplitudes térmicas-- frio e calor, além de influenciar os sabores dos frutos e legumes, é por isso uma marca portuguesa a não esquecer, face à qualidade do que se produz em terra. Os vinhos portugueses, -- de escassa produção, comparada com as extensas áreas australianas, chilenas ou sul-africanas, - têm no entanto a grande carga da cultura mediterrânica, ou seja, a marca das civilizações greco-romana, judaico-cristã e árabe, que andaram por aqui e nos moldaram os sabores, e também aos franceses, espanhóis ou italianos, estes últimos referenciados pelos Gregos, que chamaram à Península Itálica “Oenotria”, a terra do (bom) vinho. Segundo a revista a qualidade manteve-se alta, acima dos 93 pontos, e o preço médio por garrafa dos vinhos a concurso foi 48 dólares (35,5 euros). Registe-se que a Wine Spectator também já distinguiu os 100 melhores queijos do mundo relacionados com o vinho, entre os quais o português de Nisa, entre queijos de 11 países concorrentes. Na altura do concurso, em Setembro de 2008, dos onzes países, os EUA lideraram com a apresentação de 32 tipos de queijo e a França com 29 a concurso. O queijo de denominação de origem protegida (DOP) de Nisa baseia-se em leite somente leite de ovelha, e a sua produção estende-se aos concelhos de Castelo de Vide, Marvão, Crato, Alter do Chão, Portalegre, Monforte e Arronches. Também a Vanity Fair distinguiu em Outubro de 2008 o queijo Amarelo da Beira Baixa, no Fundão, como dos melhores do mundo, e que se baseia em leite cru de ovelha e de cabra. Vinho Carcavelos premiado em Bordeaux O Vinho Carcavelos Conde de Oeiras foi laureado em Bordeaux como Prémio Aurum - Vinho com tradição pelo Conselho Europeu das Confrarias Enogastronómicas. Este vinho, que habitualmente se produzia na antiga quinta do Marquês de Pombal, esteve em vias de desaparecimento devido à construção civil. Actualmente é produzido pela câmara municipal de Oeiras, prevendo-se alcançar os 40 mil litros para a campanha de 2010/2011. Aquele município pretende triplicar a área de cultivo da vinha da casta Carcavelos, para chegar aos 20 hectares nos próximos quatro anos, o que representa um investimento de 2 milhões de euros.. O vinho é vendido na loja da autarquia no Oeiras Parque e na Estação Agronómica Nacional, e o presidente da edilidade, Isaltino Morais, pensa alargar a acção a outras áreas, nomedamente ao azeite, numa alusão ao Lagar de Azeite ali existente e propriedade da autarquia. Entretanto, para Abril de 2011, prevê-se a inauguração da sede da Confraria de Enófilos do Vinho de Carcavelos, que terá uma de vinhos e outros produtos agrícolas relacionados. 17